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DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
PROJECTO CIENTÍFICO
vertebrados do Niassa
Autor: Supervisor:
Macungo, Zanildo Augusto Prof.Dr. João Alberto Mugabe (UEM)
Co. Supervisores
Dr. Ricardo Araújo (S. M. U, M. da Lourinhã)
Dr. Rui Castanhinha (IGC, M. da Lourinhã)
dr. Nelson Nhamutole (M. Nacional Geologia)
Declaração de Honra
Declaro que esta tese de Licenciatura é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor e dos co-supervisores e que o seu conteúdo é original e todas as
fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia.
Declaro ainda que, este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
Macungo, Z. Augusto VI
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela vida e pelo acompanhamento nos meus estudos desde
o princípio até hoje.
Em seguida a Universidade Eduardo Mondlane e especialmente o Departamento de Geologia
pela qualidade de formação em Geologia.
Ao Professor Doutor João Alberto Mugabe pelo acompanhamento na formação e durante a
realização do Projecto Científico. Ao Professor Catedrático Lopo Vasconselos, Professor
Doutor Daud Jamal, Professor Doutor Mussa Achimo, Dra Sandra Sitoe, Professor Doutor
Amadeu dos Muchangos, Professor Doutor Estevão Sumburane, dr Aristides Langa, dra
Micaela, dr Elídio Massuanganhe e a todos os docentes que me transmitiram os conhecimentos
em Geologia na Universidade Eduardo Mondlane.
Agradecimento especial vai para o Doutor Luís Costa Júnior (em memória) do Museu
Nacional de Geologia (MNG), que pela sua permissão consegui realizar a minha tese no MNG
ao abrigo do Projecto PalNiassa.
Ao chefe do Departamento Técnico do MNG (Lino José), a chefe do Departamento de Finanças
(Estela Cuambe) e a todo o corpo técnico do Museu Nacional de Geologia e a toda a Equipa
científica “do Projecto PalNiassa” que me acompanhou durante a realização desta Tese,
especialmente o Dr Rui Castanhinha, Dr Ricardo Araújo e Nelson Nhamutole e os colegas
Albano Bento Nhassengo e Sérgio Ferreira Cardoso, bem como a todos os colegas de formação
na UEM. Os Projectos FNI (Fundo Nacional de Investigação) – Projecto PalNiassa: A study on
the diversity and evolution of the Late Permian vertebrates from the Niassa Province,
Mozambique e PaleoTech (EXPL/BIA-EVF/0665/2013) são igualmente reconhecidos.
Dedicatória
Dedico o presente trabalho aos meus Pais (em memória), por me terem gerado e por
colegas da carteira, amigos, irmãos, por terem confiado em mim e por me terem
Resumo
Macungo, Z. Augusto IX
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
ÍNDICE
CAPÍTULO I – GENERALIDADES .............................................................................................. 1
2. Introdução................................................................................................................................. 3
3. Objectivos ................................................................................................................................. 4
4.2. Geomorfologia........................................................................................................................ 5
Macungo, Z. Augusto X
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
8. O Wuchumpingiano .................................................................................................................. 17
2.1.3. Supra-occipital................................................................................................................... 27
Macungo, Z. Augusto XI
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
1. Conclusão .......................................................................................................................... 39
2. Bibliografia ....................................................................................................................... 40
Lista de abreviaturas
Índice de Tabelas
Tabela 1. Cronograma das Expedições do Projecto PalNiassa em Moçambique ....................................... 2
Tabela 2: Quadro resumo das principais Formações do Karoo Superior ..................................................10
Índice de figuras
Fig. 1: Localização geográfica da província do Niassa e do distrito de Lago. Representação das principais
vias de acesso e dos pontos de amostragem. ............................................................................................ 6
Fig. 2: Mapa geológico do Gaben de Metangula (geologia regional). Representação das grandes
Formações presentes na zona de amostragem a partir da geologia geral indicada no mapa do canto
superior direito........................................................................................................................................ 8
Fig. 3: Listostratigrafia principal do Graben de Metangula (Geologia local). Representação de todas as
Formações do Karoo. Adaptado de Verniers et al., 1879. .......................................................................12
Fig. 4: Principais bacias do Karoo da África Austral e Central. O cinzento representa as principais bacias
da África que são correlacionáveis em rochas como em fósseis. Adaptado de Catuneanu et al., 2005. ....14
Fig. 5: Correlação das unidades estratigráficas do Karoo da África do Sul e as de Moçambique. Os fósseis
de répteis (mamalianos) colhidos em Moçambique na K5 são equivalentes na camada de Cistecephalus da
África do Sul. Adaptado de Castanhinha et al., 2013 ..............................................................................15
Fig. 6: Ilustração das actividades desenvolvidas no campo (âmbito de prospecção de fósseis). ................21
Fig. 7: Dental do espécime PPN 2014-64 resultante da junção dos fragmentos 6 e 7 (separados pela linha
de fractura indicada na figura) na sua vista: A) anterior, B) posterior direita e C) dorsal. ........................25
Fig. 8: Região occipital do espécime PPN2014-70-16 nas suas vistas: A) anterior e B) posterior. ...........28
Fig. 9: Região occipital do espécime PPN2014-70-16 nas suas vistas: A) lateral direita, B) lateral
esquerda e C) ventral. ............................................................................................................................29
Fig. 10: Dental do espécime PPN2014-70-3A na sua vista: A) dorsal, B) ventral e C) posterior. .............30
Fig. 11: Dental do espécime PPN2014-70-3A nas suas vistas: A) Lateral direita, B) esquerda e C)
posterior direita. .....................................................................................................................................31
Fig. 12: Coluna vertebral do espécime PPN2014-70-3B. Ilustração das vértebras caudais e sacras
preservadas neste espécime. ...................................................................................................................32
Fig. 13: Secção da coluna vertebral do espécime PPN2014-70-B nas suas vista: A) lateral esquerda e B)
direita. ...................................................................................................................................................33
Fig. 14: Dental do espécime PPN2014-64 na sua vista dorsal. Ilustração da arrumação dos dentes em
grupos de 2 e 6 dentes respectivamente. .................................................................................................35
Fig. 15: Dental do espécime PPN2014-70-3 na sua vista dorsal. Ilustração da disposição dos dentes em
uma linha recta. .....................................................................................................................................37
CAPÍTULO I – GENERALIDADES
Desde os anos 1940, Moçambique tem-se tornado palco de alguns estudos paleontológicos, em
especial no domínio da paleontologia de vertebrados. Durante a pesquisa de carvão liderada por
A. Borges e com participação de M. Domingos Rocha em 1949, descobriu-se a existência de
fósseis de vertebrados no Niassa. Constituíram-se as primeiras colecções de fósseis, contendo
especialmente espécimes de Anomodontia, maioritamente compostas por Endothiodon
(Antunes, 1975; Latimer et al., 1995, Araújo et al., 2012, Castanhinha et al., 2013). Em 1963, S.
Haughton publicou os resultados dos fósseis colhidos em Moçambique e enviados para a África
do Sul para análise. Nos últimos anos a investigação Paleontológica do Niassa está a cargo do
PPalNiassa constituído pelos cientistas Rui Castanhinha (Instituto Gulbenkian de Ciência e
Museu de Lourinhã), Ricardo Araújo (Instituto Superior Técnico e Museu de Lourinhã), Luís
Costa Júnior (Museu Nacional de Geologia), Salimo Murrula e Nelson Nhamutole (Museu
Nacional de Geologia), entre outros cientistas e estudantes. O projecto PalNiassa nasceu em
2009 com uma recolha de fósseis no Graben de Metangula da Província do Niassa e posterior
descrição osteológica e identificação taxonómica de diversas amostras (Araújo et al., 2012 e
Castanhinha et al., 2013). Uma nova espécie no âmbito deste projecto foi erigida (Niassodon
mfumukasi), este espécime foi descoberto numa concreção calcária junto duma camada de
argilitos da sequência sedimentar do Karoo (Castanhinha et al., 2013). O espécime descrito é de
um novo dicinodonte inexistente nas camadas fossilíferas vizinhas contemporâneas da
Tanzânia, África do Sul, Zimbabwe, Zâmbia e Malawi (Castanhinha et al., 2013). A equipa
PalNiassa tem vindo a desenvolver campanhas de campo regulares com vista à recolha de mais
fósseis no mesmo local e prospecção em novos locais. Portanto, é com dados destas expedições
que se desenvolveu esta tese (ver Tabela 1, que ilustra resumidamente as actividades
desenvolvidas pelo PalNiassa desde o ano 2009).
Macungo, Z. Augusto 1
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Monte Chipalapala- 10 a 11 de Colecção dos primeiros fósseis de vertebrados numa camada no topo do Monte
Tete Julho Chipalapala.
2009 16 a 26 de Descoberta de um crânio de Endothiodontidae e vários fragmentos ósseos numa
Rio Lunho–Niassa Julho camada de argilito com concreções calcárias botrioidais.
Descoberta de um osteoderme e inúmeros fragmentos ósseos, dentre os quais, o ílio de
Sinapsídeo.
5 a 16 de Escavações de crânios fósseis e vários outros elementos esqueléticos de sinapsídeos na
2010 Rio Lunho–Niassa Agosto margem norte do rio Tulo, na camada K6. Descoberta de dentes e mandíbula de um
possível anomodonte.
2011 Rio Maputo 23 de Junho a Trabalho de campo na província de Maputo. Recolha de vários espécimes de
13 de Julho invertebrados com destaque para amonites cretácicas.
Prospecção em Nampula e escavação em Niassa. Visita a Bernard Price Institute em
2012 Nampula e Niassa Julho Joanesburgo, colecção que contem os fósseis de Moçambique entregues a S. Haughton.
Recolha de mais material fóssil no Niassa.
2014 Niassa, Graben de Setembro e Prospecção nas formações K5 (Tulo) e K6 (localidade de Lunho). Colecta de 70
Metangula. Outubro espécimes de vertebrados na Bacia do Metangula.
2015 Niassa, Graben de 11 a 21 de Prospecção nas formações K5 (Tulo) e K6 (Localidade de Lunho), que é a continuação
Metangula Agosto da prospecção nos sítios prospectados em 2014. Descoberta de restos de um possível
gorgonopsiano.
Macungo, Z. Augusto 2
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
2. Introdução
Macungo, Z. Augusto 3
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
3. Objectivos
O objectivo desta tese é fazer uma descrição osteológica e determinar a taxonomia de vários
espécimes de fósseis de vertebrados do Graben de Metangula da Província do Niassa usando
fósseis colhidos no âmbito do PalNiassa.
Macungo, Z. Augusto 4
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
A área de estudo localiza-se na Província do Niassa, na zona norte do País entre as latitudes 11º
25' N e 15º 26' S e entre as longitudes 35o 58' E e 34º 30' W. Faz fronteira a Norte com
a Tanzânia, a Sul com as províncias de Lago Niassa. Encontram-se presentes vias de acesso
primárias que ligam Lichinga a Pemba, Nampula e a outros Distritos da Província do Niassa.
Existem estradas secundárias e terciárias geralmente de terra abatida. O Graben de Metangula
localiza-se no distrito de Lago, limitando-se a norte pela Tanzânia, a Sudoeste pelo Malawi e a
Este pelo Cabo Delgado (fig. 1, Localização geográfica da província do Niassa. Encontra-se
destacado o distrito do Lago pois é nele que se encontra o Graben de Metangula, local onde se
fez a recolha de fósseis).
O Graben de Metangula é caracterizado por rios que correm em direcção ao Rio Rovuma que
desagua no Oceano Índico, como por exemplo o Rio Messinge, o Moola, o Nkuase e o Lu-
úlucia, porém existem outros que desaguam no Lago Niassa agrupados em três sub-bacias
nomeadamente, o Rio Cobué, Fubué-Chissogono e ao Rio Lunho (Jourdan et al., 1981).
4.2. Geomorfologia
A geomorfologia da região de estudo pode ser descrita em termos da presença de pontos altos
(montanhas do Pré-Câmbrico) assim como zonas baixas resultantes de erosão e consequente
formação de aluviões e coluviões ao longo dos rios grandes rios que atravessam a província do
Niassa (Jourdan et al., 1981). A erosão e activação de falhas, contribuíram para o
rejuvenescimento da geomorfologia (últimas actividades do Quaternário), tendo-a caracterizado
em geomorfologia de costas acentuadas associada a intrusões, o que deu origem as bacias do
Rio Lunho, do Rio Chissongo– Fubué e do Rio Mecondece–Cobué. De salientar que, na bacia
do Rio Lunho encontram-se as camadas argilosas-siltosas das Formações K5 e K6 (Grupo
Beaufort), onde foram colhidos os fósseis em estudo neste trabalho (Jourdan et al., 1981).
Macungo, Z. Augusto 5
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
5. Enquadramento Geológico
Macungo, Z. Augusto 6
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
No geral, o Karoo Inferior é composto por mais de 300 m de camadas de siltitos e arenitos e
com pequenos níveis carbonosos, enquanto o Karoo Médio consiste em cerca de 600 km de
camadas de argilitos avermelhados com presença de ossos de vertebrados atribuídos a répteis
mamalianos (Verniers et al., 1989). O Karoo Superior conta com aproximadamente 6 km de
rochas sedimentares e é representado por sequências de fracções de siltitos e areia, depositados
por sequências fluviais cíclicas (Verniers et al., 1989; Catauneanu, 2005).
Macungo, Z. Augusto 7
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Fig. 2: Mapa geológico do Gaben de Metangula (geologia regional). Representação das grandes
Formações presentes na zona de amostragem a partir da geologia geral indicada no mapa do canto
superior direito.
Legenda: P2UNef-Gneisses de Lichinga; PeE-Grupo do Ecca; PeB-Grupo Beaufort; JrFb-
Arenito conglomerático de gão médio a grosso, siltito e arenito; CrK-Intrusão de Kimberlitos;
Qa-Formações aluvionares.
Macungo, Z. Augusto 8
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
níveis calcários assim como anéis de fósseis de madeira – Dadoxylon, caracterizando a idade do
Ecca (Verniers et al., 1989).
A Formação K3, consiste numa alternância de arenitos esverdeados acinzentados, siltitos
vermelhos e cinzentos e argilitos (Verniers et al., 1989). Encontram-se também alguns
conglomerados e calhaus entre arenitos e, sem registos de carvão (Vasconcelos, 2009).
A Formação K2, é composta maioritariamente por conglomerados basais, arenitos finos,
argilitos, siltitos carbonáceos e pequenos veios de carvão. Esta Formação tem mais de 67 m.
Este encontra-se dividido entre as Formações K6 e K5. A Formação K6, compreende quatro
membros (K6b, K6a3, K6a2 e K6a1), estando o primeiro membro composto por siltitos
cinzento-avermelhados com uma sedimentação compacta, numa espessura de entre 52 a 75 m.
Possui ossos de répteis em todo o seu domínio, sugerindo sua idade ao Beaufort (Verniers et al.,
1989). O segundo membro (K6a3), é composto por siltitos e argilitos de variadas cores (entre
cinzento, esverdeados e escuro). Estes siltitos e argilitos são por vezes de estruturas laminadas
esferoidais e são micáceos por vezes duros ou muito compactos contendo níveis de
conglomerados cinzentos e escuros e podem ser carbonáceos com alguns fósseis de madeira
(Verniers et al., 1989).
O membro K6a2 é composto por siltitos avermelhados com pequenos conglomerados e um
horizonte de ossos de répteis mamalianos (sinapsídeos). Já o K6a1, possui siltitos e argilitos
acinzentados, finos com calcilutitos cinzento claros e avermelhados e algumas folhas de
Glossopteris e fósseis atribuídos a répteis, provavelmente do Beaufort (Verniers et al., 1989).
A Formação K5 é composta por siltes avermelhado – acinzentados, dividido em três membros,
K5c, K5b e K5a, todos com siltitos avermelhado-esverdeados, a primeira com laminações
esferoidais e a terceira com algumas camadas de arenitos ricas em cimento calcítico. Encontra-
se, próximo ao Rio Lunho e Lundo uma zona com dicinodontes do género Endothiodon descrita
por Antunes em 1975 (Verniers et al., 1989) e Pelecypoda em siltitos avermelhados bem como
outros ossos de répteis no membro K5c.
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Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Formação Descrição
Lupilichi Estimada em 1.5 km e a mais dominante, constituída por sequências cíclicas fluviais, com arenitos finos a médios.
(KSe) Possuem arenitos rosa-pálidos ao longo do troço Rio Magadge-Tulo (Verniers et al., 1989).
Possui arenitos com cimento calcítico, brilhantes nas suas superfícies frescas (Verniers et al., 1989).
Tende (KSd) A sua espessura é estimada em 800 a 1500 m. São caracterizados por arenitos (10%) e siltitos avermelhados
(90%). Possui nódulos calcilutitos esbranquiçados a avermelhados em siltitos (Verniers et al., 1989).
Matchedge Sua espessura é estimada para centenas de metros e encontra-se acima da Formação de Moola. Sua litologia é
(KSd?) semelhante à de Tende, com predominância de siltitos e arenitos bem graduados (Verniers et al., 1989). Próximo
ao contacto com o Precâmbrico, ocorrem arenitos e conglomerados com alguns pedaços de rochas do Precâmbrico.
Mecondece É composto por arenitos grosseiros de cores esbranquiçadas (±90%) com calhaus argilíticos próximo a base da
(KSc) sequência (Verniers et al., 1989).
Contém 1800 m de espessura na área do Rio Mecondece. Na base, compreende os arenitos massivos da Formação
de Fúbuè (Verniers et al., 1989).
Moola (KSc?) Possui cerca de 70 % de arenitos amarelados (em relação a Mecondece). Sua espessura é estimada em
aproximadamente 1000 m (Verniers et al., 1989).
Congresso Possui litologias semelhantes as Formações de Tende e Matchedge e a algumas partes da K5 e K6 do Karoo
(KSc?) Médio, mas é correlacionável principalmente ao Mecondece médio, implicando mudanças drásticas nas fácies.
Consiste de siltitos com arenitos de grão fino (Verniers et al., 1989). Estima-se ter 200 m de espessura.
Fúbuè (KSb) Encontra-se no vale do Rio Fúbuè. É composto por arenitos conglomeráticos médio a grosseiros.
O sistema de deposição é anastomosado ou braided, com mais de 200 m de espessura (Verniers et al., 1989).
Monte Lilonga Possui rochas de granulometria fina cinzento-esverdeadas. Possui na base, camadas de arenitos grosseiros
(KSa) esverdeados e siltitos finos. Sua espessura é estimada em 141 m (Verniers et al., 1989).
Macungo, Z. Augusto 10
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
As rochas constituintes são siltitos, argilitos, e arenitos finos e encontram-se muito separadas
das outras rochas do Graben. Os siltitos e argilitos são acinzentados, castanhos e avermelhados,
enquanto o arenito é amarelado e pobremente sorteado com níveis de conglomerados e
ocasionalmente ocorrem calhaus de silte e argila (Verniers et al., 1989).
Foi encontrado nesta formação, um fóssil Dadoxylon. A sua espessura é estimada para centenas
de metros e é considerada como variação lateral da Formação do Matchedge (Verniers et al.,
1989).
Esta Formação possui uma composição argilo-siltosa. Sua estratigrafia é pobremente conhecida,
sugerindo-se que foi muito falhada assim como afloramentos que encontram-se em estágio de
desaparecimento, contribuiu para baixa exploração da Formação (Verniers et al., 1989).
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Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Fig. 3: Listostratigrafia principal do Graben de Metangula (Geologia local). Representação de todas as Formações do Karoo.
Adaptado de Verniers et al., 1879.
Macungo, Z. Augusto 12
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
O Graben de Metangula faz parte das bacias da região Este de África. De uma forma geral,
supõe-se que a sua origem esteja ligada à sequência de um complexo de Rift que se estende do
rio Zambeze (bacia do Cahora Bassa) até na ponta Norte de África, com instalação de pillow
lavas e chert na base que depois foram cobertas por sedimentos em cinco sequências
deposicionais (Catauneanu, 2005). A sedimentação no Graben de Metangula iniciou-se no Ecca
com sistemas fluviais límnicos e mais tarde, na base do Karoo Superior, começaram a aparecer
as primeiras manifestações de estruturas Graben orientadas NE-SW com o afundamento dos
sedimentos de sequências fluviais cíclicas intensivamente durante a deposição da Formação de
Fúbué e Mecondece e moderadamente baixo durante a deposição da Formação de Tende
(Verniers et al., 1989). Mais tarde, houve o rejuvenescimento das falhas tendo causado a
deposição da Formação de Lupilichi durante o Beaufort Superior ou no Stormberg, coincidindo
com a formação das bacias/Graben de Lugenda e outras de Moçambique, do Zimbabwe, da
Zâmbia, Tanzânia, Quénia entre outros (Verniers et al., 1989). Estes falhamentos culminaram
com pequenas erupções vulcânicas ricas em Kimberlitos à volta da vila de Tulo no vale do Rio
Lunho, cortando os sedimentos do Karoo Inferior e Médio.
Macungo, Z. Augusto 13
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Fig. 4: Principais bacias do Karoo da África Austral e Central. O cinzento representa as principais bacias
da África que são correlacionáveis em rochas como em fósseis. Adaptado de Catuneanu et al., 2005.
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Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Macungo, Z. Augusto 15
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Os vertebrados na bacia do Luangua são conhecidos desde 1928 por intermédio das
investigações de F. Dixey. Mais tarde, tornou-se alvo de colecções, primeiro pela equipa de
investigação geológica da antiga Rodésia em 1961 e em 1963, pela brigada britânica. Destas
investigações, foram descobertos dois horizontes fossilíferos, o de Madumabisa (que se
encontra na porção superior da bacia de Luangua e que é ao mesmo tempo compartilhada com o
Zimbabwe) correspondente à zona de Daptacephalus do Pérmico Superior da África do Sul e à
Formação Ntawere considerada inferior à formação de Manda da Tanzânia e do Beaufort-
Stormberg do sistema do Karoo (Kemp, 1975). Em 1972, foram descobertos fόsseis de
terapsídeos e pareiassauros em nódulos de calcários argilíticos na formação de Madumabisa e
uma outra formação possivelmente rica em fósseis, denominada Munyamadzi (Kemp, 1975). A
formação de Madumabisa possui crânios de dicynodontes, gorgonopsianos e ainda fósseis de
peixes e muitos outros materiais do lado da Zâmbia. Possui ainda Endothiodon, Tropidostoma,
dicinodontes e dinocefalianos do lado do Zimbabwe e correlaciona-se com o Beaufort da África
do Sul pela co-ocorrência de Oudenodon e Tropidostoma.
Macungo, Z. Augusto 16
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
No Malawi o Karoo ocorre nos extremos Norte e Sul, sendo que no Sul está representado por
secções de carvão e xisto do Pérmico Inferior que se estendem até o limite Norte na camada de
basaltos de Chikwawa do Jurássico. Está também representado pelas camadas de Chiweta no
Norte ricas em Cistecephalus incluindo dicynodontes, oudenodontes e alguns géneros novos – o
burnetiamorfo biarmosuquiano do Pérmico Inferior. Alguns fragmentos ósseos de dinossauros
foram identificados no Stormberg em sedimentos abaixo dos vulcanitos do Karoo. A posição
estratigráfica destes fósseis poderá sugerir uma idade entre o Triássico ou Jurássico Inferior
(Jacobs et al., 2005). No norte do Malawi, não há registos de vulcanitos do Karoo nem mesmo
de sedimentos, portanto as únicas representações que cobrem o Sul estão correlacionadas com o
Beaufort da África do Sul do Pérmico Inferior.
Os primeiros ossos foram descobertos em 1883 por S. Houghton. Em 1925 F. Sidney visitou a
zona de terapsídeos (Chiweta), tendo colhido fósseis e enviado para Haughton na África do Sul.
Dentro das amostras recebidas, S. Houghton encontrou Gorgonopsianos e Dicynodontes. Em
1930 F. Migeod visitou igualmente Chiweta tendo concluído que havia no local, muitos
espécimes de dicynodontes e já em 1970 foram feitas várias revisões desse mesmo material
(Jacobs et al., 2005).
8. O Wuchumpingiano
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Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
O clima no Pérmico Inferior pode ser inferido com base nos rácios entre isótopos de oxigénio.
Esses resultados apontam para um domínio de massas de gelo (Henderson et al., 2012). Portanto,
de acordo com as rochas existentes e ausência de alguns depósitos ou rochas típicas de
glaciações no Niassa (ver a revisão litostratigráfica do Graben de Metangula; Verniers et al.,
1989), pensa-se que este não esteve coberto por massas de gelo. O Pérmico Superior é
87
caracterizado por uma subida dos valores dos isótopos de Sr/86Sr, sugerindo um aumento da
erosão continental por mudanças climáticas associadas a vulcanismo – clima húmido (Henderson
et al., 2012).
A presença de folhas de Glossopteris, sugere um clima húmido e provavelmente mais ameno
durante o Pérmico Inferior e Superior do Niassa (Antunes, 1975 e Castanhinha et al., 2013).
Macungo, Z. Augusto 18
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
1. Materiais usados
A primeira fase correspondente a preparação das amostras consistiu no uso dos seguintes
materiais:
Fósseis do PalNiassa: São três espécimes com os seguintes números: PPN2014-62,
PPN2014-64 e PPN2014-70. O primeiro espécime é composto por um fragmento, o
segundo por 19 fragmentos e o terceiro por 28 fragmentos, contabilizando um total de 48
fragmentos. Destes fragmentos, devido a maior apreciação do nível de detalhe que cada
um apresentava, foram seleccionados alguns (que serão especificados mais adiante para
o estudo). O restante dos fósseis poderá ser visto nos anexos.
Material de limpeza: água, pincéis, escova de dentes, baldes, assim como material de
acondicionamento dos fósseis, que inclui película aderente, jornais, papel higiénico, cola
de papel e por fim, câmara fotográfica para fotografar as amostras bem como todo o
processo de preparação efectuado.
Químicos: ácido fórmico (para a remoção da matriz no fóssil), consolidantes (Vinac,
acetona, fosfato de cálcio).
Diversos: marcador, escala, caderneta.
2. Metodologia do Trabalho
O trabalho baseou-se na preparação de alguns fósseis colhidos na expedição de campo do
PalNiassa desenvolvida em 2014. Descreve-se ainda o trabalho desenvolvido na expedição de
2015.
Macungo, Z. Augusto 19
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
O trabalho de campo foi realizado no Graben de Metangula durante duas semanas do mês de
Agosto do ano 2015. O trabalho foi baseado numa campanha de prospecção e escavação de
fósseis de vertebrados nas camadas K5 (localidade de Tulo) e K6 (localidade de Lunho) do
Graben de Metangula (ver fig. 1, 2 e 3). Assim, as actividades realizadas no campo foram:
Macungo, Z. Augusto 20
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Em A está representada a fase da limpeza da vegetação que se encontra à volta do fóssil bem
como todos os obstáculos presentes. Na figura B, está ilustrado um fóssil que para a sua
remoção, foi necessário cobri-lo com gesso de forma a permitir a boa integridade do mesmo. Na
figura C, está ilustrado o acto de transporte dos fósseis desde o campo até ao acampamento e na
figura D, está ilustrado o processo do último acondicionamento dos fósseis para se seguir o
transporte até ao laboratório.
Transporte dos fósseis. Esta fase correspondeu à recolha e transporte dos fósseis para o
acampamento e depois para o local de preparação. As amostras foram arrumadas em caixas
plásticas, onde primeiro foi colocado capim para a acomodação dos fósseis. Nestas caixas,
as amostras mais pesadas foram colocadas na base da caixa e seguidas das médias até às de
menor peso (no topo).
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Macungo, Z. Augusto 22
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
1.1.Descrição anatómica
No PPN2014-64 foram estudados dois fragmentos "6 e 7" cuja união, forma o dental. O fóssil
encontra-se envolvido por uma matriz calcária e sendo que se encontra preservado no seu
interior e com mais detalhes a parte anterior do dental deste espécime. Foi removida a sínfise e o
dental apresenta uma fractura que separa sensivelmente o ramo direito do esquerdo (ver fig.
7.A). Lateralmente o dental está coberto por rocha e não é notória qualquer informação
anatómica. Está preservado o angular no ramo do dental direito junto, apesar de não estar visível
a sua sutura.
1.1.1. Dental
O dental possui uma forma triangular, apesar de estar cortado anteriormente num plano coronal
ou frontal removendo a sínfise. O dental está coberto por uma concreção calcária. A mandíbula
do PPN2014-64 encontra-se no geral bem preservada, no entanto não foi preservada a placa
dental anterodorsalmente bem como a parte anterior da sínfise. O dental apresenta uma sutura
que separa o ramo direito do seu ramo esquerdo (ver fig. 7). Lateralmente a mandíbula está
coberta por rocha e não é visível qualquer informação anatómica nesse ângulo. A presença do
angular próximo ao dental, sugere que a fenestra mandibular embora provavelmente presente,
deverá estar coberta pela matriz rochosa. Os dentes são circulares em secção e estão
aglomerados em regiões ao longo do dental, sendo que os outros encontram-se cobertos pela
matriz e estão dispostos em padrões de 6 na parte posterior e medial do dental (ver fig. 7), dois
na parte anterior e outros dispersos ao longo do dental (ver fig. 7).
Macungo, Z. Augusto 23
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O ramo direito apresenta 14 dentes visíveis e possivelmente outros quatro cobertos por matriz
rochosa. Em comparação, o ramo esquerdo possui 18 dentes identificáveis numa vista dorsal.
No entanto, podem existir mais dentes além destes (provavelmente cobertos pela matriz).
Posteriormente, o dental encontra-se articulado com o angular (fig. 7). Lateralmente, o dental
encontra-se totalmente coberto pela matriz rochosa, razão pela qual estas vistas não estão
ilustradas no trabalho aqui apresentado.
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Fig. 7: Dental do espécime PPN 2014-64 resultante da junção dos fragmentos 6 e 7 (separados pela linha de fractura indicada na figura) na sua vista: A) anterior, B)
posterior direita e C) dorsal.
Legenda: ang – angular, dt – dentes, fd – fractura dental, sd – sutura dental, spe – sulco pós – dental esquerdo, spd – sulco pós-dental direito.
Macungo, Z. Augusto 25
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
O espécime PPN2014-70 foi colhido nas camadas calcárias da Formação K4 (da série 10 de
Lunho), K6 segundo Verniers et al. (1989), no vale do rio Lunho na localidade de Lunho, entre
as coordenadas: S 12° 30’ 45.4’’ e E 35° 01’ 58.9’’.
2.1.1. Opistótico
O opistótico encontra-se parcialmente partido nos dois lados da região occipital. No entanto é
possível identificar os contactos com o basioccipital e exoccipital posteriormente formando o
forámen jugular junto com o côndilo occipital. Ventralmente, o opistótico contacta o
basisfenóide e basioccipital. É ainda visível uma sutura entre o opistótico, o basiosfenóide e
proótico anteriormente (ver fig.8). Algumas suturas entre os ossos não são visíveis devido ao
estado de preservação do fóssil.
2.1.2. Basioccipital/exoccipital
O basioccipital encontra-se mal preservado mais é visível a sua articulação com os ossos
circundantes (ver fig.8). Forma o côndilo occipital mediodorsalmente e contacta o opistótico
laterodorsalmente, o basisfenóide ventralmente, os exoccipitais lateralmente. A fenestra jugular é
formada pelo basioccipital, opistótico e os exoccipitais. Os exoccipitais encontram-se em
articulação com o supra-occipital dorsalmente, com o côndilo occipital medioventralmente e
Macungo, Z. Augusto 26
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
com o opistótico lateralmente. Formam a borda lateral do forámen magno mediante a sua
articulação com o supra-occipital e o côndilo occipital (basioccipital).
2.1.3. Supra-occipital
Embora visível, o supra-occipital constitui um dos ossos mal preservados neste espécime. É
visível o seu contacto com os ossos circundantes como é o caso dos exoccipitais posteriormente
formando o forámen magno. Contacta lateralmente o proótico e posterolateralmente o opistótico
(ver fig.8.B).
2.1.4. Basisfenóide
2.1.5. Proótico
O proótico encontra-se fracturado e razão pela qual, a sua limitação exacta é de difícil
interpretação. No entanto, são visíveis os seus contactos com o supra-occipital na posição
posterior e com o basiosfenoide posteroventralmente. A sua fronteira com o opistótico é também
confusa devido a diversas fracturas ocorridas nessa região do espécime (ver fig.8.A e 9.A e B).
2.1.6. Dental
Macungo, Z. Augusto 27
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Em vista dorsal (fig.10.A), podem ainda ser identificados os dentes dispostos em padrões de
linhas rectas curtas contendo 2 a 6 dentes em cada linha, sendo que os mesmos começam a sair
da parte frontal para a posterior e tendem a ter tamanho mais pequeno na parte posterior do
dental (Latimer et al., 1995).
O angular encontra-se entre o dental e o esplenial e apresenta uma forma robusta, dada pela sua
secção circular com tendência a encaixar num dos espaços côncavos ou escavados do esplenial e
do dental. Encontra-se numa posição posterior em relação ao esplenial. O esplenial possui uma
forma convexa medialmente por onde encaixa o angular (fig. 10).
Fig. 8: Região occipital do espécime PPN2014-70-16 nas suas vistas: A) anterior e B) posterior.
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Fig. 9: Região occipital do espécime PPN2014-70-16 nas suas vistas: A) lateral direita, B) lateral
esquerda e C) ventral.
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Fig. 12: Coluna vertebral do espécime PPN2014-70-3B. Ilustração das vértebras caudais e sacras
preservadas neste espécime.
Legenda: apd – apófise direita (que liga o ílio direito), ape – apófise esquerda (que liga o
ílio esquerdo), apt – apófise transversa, id – ílio direito (referente a cabeça do ílio, uma vez
que a outra parte foi removida), ie – ílio esquerdo (referente a cabaça do ílio esquerdo), vc–
vértebras caudais e vs–vértebras sacras.
Macungo, Z. Augusto 32
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Fig. 13: Secção da coluna vertebral do espécime PPN2014-70-B nas suas vista: A) lateral esquerda e B)
direita.
Legenda: apd – apófise direita, apt – apófise esquerda, ie – ílio esquerdo, id – ílio direito, vc
– vértebras caudais, vs – vértebras sacras.
Macungo, Z. Augusto 33
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
1. IDENTIFICAÇÃO TAXONÓMICA
PALEONTOLOGIA SISTEMÁTICA
Clado: Synapsida. Osborn, 1903
Ordem: Therapsida Broom, 1905
Subordem: Anomodontia. Owen, 1860
Infraordem: Dicynodontia. Owen, 1860
Família: Endothiodontia. Owen, 1876
Género: Endothiodon. Owen 1876
Espécie: Endothiodon cf. bathystoma Owen 1876
Macungo, Z. Augusto 34
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
PALEONTOLOGIA SISTEMÁTICA
Clado: Synapsida. Osborn, 1903
Ordem: Therapsida Broom, 1905
Subordem: Anomodontia. Owen, 1860
Infraordem: Dicynodontia. Owen, 1860
Família: Endothiodontia. Owen, 1876
Género: Endothiodon. Owen 1876
Espécie: Endothiodon cf. bathystoma Owen 1876
Macungo, Z. Augusto 35
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
perfilados em linhas rectas, sendo que a sua erupção partiu da parte anterior para a posterior
do dental (ver fig. 15).
O PPN2014-70 difere-se do Niassodon por possuir um dental ainda que fracturado de 12 cm
e com 30 dentes visíveis, quando o Niassodon possui apenas 11 dentes. Possui um sulco pós-
dental de aproximadamente 5 cm de comprimento 1.2 cm de largura (ainda que partido),
enquanto o Niassodon possui aproximadamente 1.4 cm contra 0.2 cm. A região occipital do
PPN2014-70 possui uma largura de 8 cm (ainda que partida, sem contar com o escamoso
pois não está presente) enquanto a do Niassodon tem aproximadamente 6 cm de largura.
Apresenta três vértebras sacras (igual ao Eosimops newtoni, Angielczyk & Rubidge 2012) e
três vértebras caudais preservadas, enquanto o Niassodon possui quatro vértebras sacras.
O PPN2014-70 possui três vértebras sacras tal como o Eodicynodon (Rubidge et al., 1994),
no entanto o esqueleto pós-craniano é pouco conhecido nos dicinodontes.
Macungo, Z. Augusto 36
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
Fig. 15: Dental do espécime PPN2014-70-3 na sua vista dorsal. Ilustração da disposição dos dentes em
uma linha recta.
Os dentes estão dispostos em linhas rectas desde a parte anterior do dental até a posterior,
característica que é semelhante ao Endothiodon cuja mandíbula foi descrita por Latimer et al.,
1995, o qual foi também referenciado por Cox e Angielczyk (2015). Ang – angular, pd –
placa dental, spl – esplenial. A linha branca representa o sulco pós-dental que é característica
comum em dicinodontes e a azul está indicada a disposição dos dentes em linha recta.
Macungo, Z. Augusto 37
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2. INTERPRETAÇÃO PALEOBIOGEOGRÁFICA
O Pérmico foi um período em que os continentes estavam todos unidos permitindo com que
os vertebrados terrestres pudessem deslocar-se ao longo do planeta. Durante a transição para
o Triássico, ocorreu uma extinção em massa que eliminou muitos animais. A existência de
conexões terrestres entre os continentes, permitiu que estes se distribuíssem em alguns países
como Rússia, Brasil (na Formação do Rio Rasto), Índia, Tanzânia, Malawi, Zâmbia, e no
Zimbabwe.
A Gondwana foi dominada por glaciares durante o Carbonífero Superior que vieram a
desaparecer durante a sua fragmentação no Pérmico Inferior, movendo os glaciares para o
Norte (Benton, 2005). Esta fragmentação contribuiu para a formação de depósitos de
tetrápodes do Carbonífero Superior e do Pérmico Inferior no Hemisfério Norte e os do
Pérmico Superior no Hemisfério Sul. Portanto, os depósitos do Carbonífero foram
substituídos por coníferas para o HN e Glossopteris no HS durante o Pérmico Inferior e os
tetrápodes basais passaram para Amniotas no Pérmico Superior especialmente para Rússia e
África (Benton, 2005).
O facto de dois espécimes de fósseis aqui estudados apresentar características que apontam
para o género Endothiodon vem reforçar que, os continentes já estiveram juntos e a serem
habitados por mesmos animais tal como são encontrados espécimes de Endothiodon em
bacias dos Karoo de outros Países. Esta ocorrência permite correlacionar as bacias do Karoo,
contribuindo assim para melhor descrição dos vertebrados encontrados no Niassa. Para este
género já foram descobertos vários fósseis nas bacias do Karoo tanto da África, na América
(Brasil) em camadas de rochas similares o que confirma que no Pérmico estes continentes
estiveram juntos. Por exemplo, a ocorrência de Endothiodon cf. bathystoma, na formação K5
do Graben de Metangula pode ser correlacionada com a zona de Endothiodon do Karoo da
África do Sul (Castanhinha et al., 2013), e com isto pode se perceber que estes Países já
estiveram juntos e possivelmente com ambiente semelhante.
Macungo, Z. Augusto 38
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
1. Conclusão
Em linhas gerais, os fósseis usados para a elaboração desta tese, não fornecerem muitos
detalhes anatómicos adicionais devido ao seu estado de preservação, por exemplo, nos dois
dentais não está preservada a sínfise e pequenas porções do angular e esplenial. As condições
de preservação dos fósseis não permitiram portanto a determinação das suturas de alguns
ossos nos dois dentais. Apesar de estarem incompletos, os dentais apresentam uma forma
triangular, característica de Endothiodon.
Os dois espécimes possuem dentes numa posição medial do dental e possuem também sulco
pós-dental, que são características que possibilitam identificá-los como dicinodontes. Por
serem dicinodontes, sugere-se que ambos possuem uma mandíbula caracterizada por
processos propalinais. Entretanto, com as características observadas apesar do estado de
preservação dos fósseis, pode-se chegar à conclusão de que trata-se de Endothiodon, sem
portanto caracteres suficientes para descobrir o tipo de espécie dentro deste género.
Macungo, Z. Augusto 39
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
2. Bibliografia
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Macungo, Z. Augusto 44
Descrição osteológica e identificação taxonómica de vários fósseis de vertebrados do Niassa
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Anexo 1: Ilustração do espécime PPN2014-62-1 e do espécime PPN2014-64-(2, 4, 5, 6 e 8).
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