Sei sulla pagina 1di 156

vá Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“A Palavra se fez carne


e habitou entre nós!”
(Jo 1,14)

Roteiros Homiléticos do Ciclo Natalino


Ano B — 2008/2009

.n ij !
Projeto Nacional de Evangelização
A1
v 4 Queremos Ver Jesus
Caminho, Verdade e Vida

EB. PAULUS
1º edição — 2008

Capa: Ilustração de Dom Ruberval Monteiro, osb


(Mosteiro da Ressurreição — Ponta Grossa — PR)

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma
e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquiva-
da em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor — CINBB.

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB


SES, Quadra 801, Conjunto "B”, Asa Sul
CEP 70401-900, Brasília — DF (Brasil)
Tel: (61) 2103-8300
Site: www.cnbb.org.br/queremosverjesus — E-mail: queremosverjesusQenbb.org.br

Paulinas Paulus
Rua Pedro de Toledo, 164 Rua Francisco Cruz, 229
04039-000 — São Paulo — SP (Brasil) 04117-091 — São Paulo — SP (Brasil)
Tel: (11) 2125-3549 — Fax: (11) 2125-3548 Tel: (1 1) 5084-3066 — Fax: (1 1) 5579-3627
http://www. paulinas.org.br — editora(Opaulinas.com.br — http://www .paulus.com.br — editoriakDpaulus.com.br
Telemarketing e SAC: 0800-701008!
O Pia Sociedade Filhas de São Paulo — São Paulo, 2008
Apresentação

“Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não sabia!”


(Gn 28,16).

Chesterton termina o seu provocante livro Ortodoxia com


a afirmação: “Havia uma certa coisa que era demasiado grande
para Deus nos mostrar quando ele pisou sobre esta terra. As vezes
imagino que era a sua alegria”.
O Advento nos traz anualmente a alegria da esperança de
tempos novos, pelo fato de Deus ter pisado a nossa terra. O Início
do Ano Litúrgico nos permite colocar em destaque os motivos
dessa alegria: Deus, mediante seu Espírito, não só se aproximou
da humanidade, falando pelos profetas, mas nos enviou seu
próprio Filho.
Um acontecimento assim tão marcante deveria ser bem ce-
lebrado. Foi o que se deu com o tempo destinado à preparação do
Natal, chamado AÁdventus, desde o século IV, nas terras da futura
França. Já no final do século VII, Roma destinava cinco semanas
para o Advento. Mas o termo advento, que tinha a conotação de
acontecimento, em Roma passou a indicar simplesmente a vinda
do Senhor no fim dos tempos, fazendo referência a Mateus 24,27:
“Assim será a vinda do Senhor...”. O Ano Litúrgico terminava no
domingo anterior ao Natal, recordando a parusia, a presença final
do Senhor, concluindo o tempo de salvação da humanidade.
Hoje, a Liturgia nos apresenta três adventos do Senhor,
que vem com o Espírito Santo. Todos com forte conotação
missionária: o anúncio do Reino no fim dos tempos, o Natal e a
Epifania — a manifestação do Senhor aos povos.

| CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. Tradução de Almiro Piseta. São Paulo, Editora Mundo Cristão,
2008.

PNE - QV] - CVV nº 48


Em primeiro lugar, a vinda do Senhor no fim dos tempos
indica a conclusão do mistério salvífico de Cristo no tempo — a
consumação do Reino. Em segundo lugar, o advento natalício
comemora o nascimento do Salvador, na plenitude dos tempos,
cuja vinda é preparada pelos Profetas, especialmente Isaías e João
Batista (2º e 3º domingos), Maria e José. Em terceiro lugar, temos
o tempo da manifestação do amor misericordioso do nosso Deus,
com a apresentação do Cristo salvador às nações.
Somos gratos a Lúcia Soldera e a Jurema Kalua que nos ofe-
recem uma leitura espiritual e pastoral dos textos escriturísticos
e litúrgicos do Advento — Natal — Epifania, à luz do Documento
de Aparecida e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora
da Igreja no Brasil (2008-2010), a fim de que possamos preparar
e celebrar uma Liturgia alegre, viva e participativa.
“Pu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de
todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador,
que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,10-11).

Tt Joviano de Lima Junior, sss


Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Liturgia

PNE - QV) - CVV nº 48


Introdução

Quando falamos de “espiritualidade do Natal”,


de “mística natalina”,
estamos querendo dizer que o Ciclo Natalino,
com suas várias etapas e festas,
pode ser para nós, cristãos, uma fonte de espiritualidade,
um poço de águas profundas e límpidas,
onde poderemos saciar nossa sede de justiça;
um farol irradiante, capaz de dar rumo e sentido a nossas vidas.
Este Ciclo pode ser dividido em três etapas:
a primeira, de preparação, de gestação, é o Tempo do Advento!
A segunda, de realização e curtição, é a Festa do Natal!
À terceira, finalmente, de manifestação,
irradiação e divulgação, é a Festa da Epifania!
Três tempos de graça,
três toques do artista divino, a aprimorar sua obra:
fazer-nos mais semelhantes a Si próprio,
mais verdadeiramente filhos e filhas
no Filho “que nos foi dado” (ls 9,5).
Nestes tempos conturbados,
em que a humanidade se debate entre
o desenfreado consumismo de uns
e as muitas humilhações e frustrações de outros,
a imensa maioria de oprimidos e excluídos...
Nestes tempos de vertiginosa ascensão da civilização do mercado
e de avanço incontrolável da violência, no campo e na cidade,
quanto é importante resgatar ou produzir uma Cultura do Natal,
que seja cultura da ternura e da solidariedade,
cultura da partilha e da Paz!

Reginaldo Veloso

PNE - QV] - CVV nº 48


Belíssimas, profundas e atuais estas palavras de Reginaldo
Veloso. Lembramos ainda, para nos ajudar a adentrar no verda-
deiro espírito do Advento e do Natal, as orientações do Guia Li-
turgico Pastoral, p. 12, sobre o sentido deste tempo litúrgico:

Tempo do Natal — das primeiras vésperas do Natal do


Senhor até a festa do Batismo do Senhor. É a comemoração
do nascimento do Senhor, em que celebramos a “troca
de dons entre o céu e a terra”, pedindo que possamos
“participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa
humanidade”.' Na Epifania, celebramos a manifestação
de Jesus Cristo, Filho de Deus, “luz para iluminar todos
os povos no caminho da salvação”.

Tempo do Advento — das primeiras vésperas do domingo


que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe
fica mais próximo, até antes das primeiras vésperas do
Natal do Senhor. “O tempo do Advento possui dupla
característica: sendo um tempo de preparação para as
solenidades do Natal, em que se comemora a primeira
vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um
tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os
corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo
no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do
Advento se apresenta como um tempo de piedosa e
alegre expectativa” (Normas Universais — Ano Litúrgico
e Calendário, 39).

Recordamos uma Catequese de são Cirilo de Jerusalém,


bispo do século IV, comentando a característica principal deste
tempo do Advento, que é a expectativa e a esperança da segunda
vinda de Cristo:

Oração sobre as Oferendas, Missa da Noite de Natal.


2
Prefácio da Epifania do Senhor.

PNE - QVJ] - CVV nº 48


Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira,
mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a
primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a
segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo
tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um
duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes
dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude
dos tempos. Dupla descida: uma, discreta como a chuva
sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no
futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado
num presépio; na segunda, será revestido num manto de
luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua
ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de
uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda,
mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim
como dissemos na primeira: “Bendito o que vem em
nome do Senhor!” (Mt 21,9), aclamaremos de novo, no
momento de sua segunda vinda, quando formos com
os anjos ao seu encontro para adorá-lo: “Bendito o que
vem em nome do Senhor” (in Liturgia das Horas, vol. I,
p. 113).

PNE - QV) - CVV nº 48


1º Domingo do Advento
30 de novembro de 2008

Leituras: Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7


Salmo 79(80); 1 Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37

“A vossa libertação está próxima!”


1. Situando-nos brevemente

Mais um final de ano aproxima-se. Certamente já começaram


as propagandas comerciais do “bom velhinho” e de seu “trenó”
viajando por todos os lados, prometendo muita alegria e felicidade,
ilusoriamente “embutidas” nos produtos de consumo.
De nossa parte, como comunidade cristã, iniciamos hoje
nosso tempo de preparação para o Natal. A esse tempo chamamos
Advento: tempo de espera, de expectativa, de esperança. “Quando
virá, Senhor, o dia?...”. Expectativa de quê, afinal? A Palavra de
Deus proclamada no tempo do Advento vai nos dar a resposta.
Como nos aproximamos do final do ano civil, o Advento
torna-se um tempo próprio para fazermos um balanço e reto-
marmos o compromisso com o projeto de Deus. Se olharmos
a realidade do povo em nosso país, podemos constatar que há
ainda uma distância imensa entre o que Deus quer e a situação
na qual se encontra a maioria da nossa gente.
Mas o povo sofrido ainda acalenta muitas expectativas, as
quais coincidem com o plano divino: a paz, que é fruto da justiça;
dirigentes e governantes honestos, recém-eleitos, e que assumirão
seus cargos em janeiro, de quem possamos cobrar nossos direi-
tos; libertação da opressora ganância de tantos; fraternidade e
solidariedade entre todos.

10
PNE - QV) - CVV nº 48
2. Recordando a Palavra

A primeira leitura é tirada do Livro de Isaías, cuja redação


processou-se em um período de, no mínimo, três séculos (do
século VIII ao século V a.C.). Nos capítulos conclusivos (caps.
56-66), são recapitulados os grandes temas da Escritura: Deus
é criador e Deus é salvador.
O texto é uma oração tipicamente judaica. Começa com
uma recordação de como Deus é e de suas ações realizadas em
favor do povo. Depois, brotam a súplica, a lamentação, o arre-
pendimento. Conclui com um ato de entrega a Deus que é Pai
e Criador: “Senhor, tu és nosso Pai; nós somos barro; tu, nosso
oleiro, e nós todos, obras de tuas mãos”.
Durante o Advento, a leitura põe em nossos lábios a ora-
ção tão característica deste tempo: “Ah! Se rompesses os céus
e descesses!”.
Na segunda leitura, temos o início da primeira carta de Pau-
lo à comunidade de Corinto. Ele deseja à sua comunidade graça
e paz, dons que resumem as bênçãos messiânicas concedidas
em Cristo. Para Paulo, todo o sentido do Evangelho é orientar a
pessoa para Jesus Cristo. Ele expressa, ainda, sua ação de graças
a Deus por tudo o que realizou na comunidade através de Jesus
Cristo e apresenta sua mais profunda esperança.
A comunidade de Corinto foi chamada à comunhão com o
Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Esta última expressão
justifica o lugar deste texto na Liturgia do Advento. O cristão
espera, com efeito, a plena manifestação de Jesus em sua glória.
Jesus falou, em várias ocasiões, de sua função de juiz, no último
dia, em sintonia com o Pai. “Todo aquele, portanto, que se de-
clarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por
ele diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32). Às vezes
temos medo desse julgamento, mas, talvez, pudéssemos partilhar
a alegre visão da primeira geração cristã que, nesse julgamento,

11
PNE - QV) - CVV nº 48
via sobretudo o momento da realização da verdadeira justiça
de Deus.
O 1º Domingo do Advento não se inicia pela primeira pá-
gina do Evangelho de Marcos, mas sim por uma de suas últimas
páginas. Apresenta palavras sobre o fim do mundo e o retorno
do Cristo. O fim esclarece o começo, pois explica o sentido
das coisas.
A parábola do homem que parte em viagem e dá instruções
de vigilância noturna tem muitos aspectos que remetem ao es-
sencial da mensagem evangélica. Outro detalhe de importância
simbólica é a noite. Os momentos possíveis da volta são, por
essa razão, escolhidos durante a noite e não durante o dia. À
noite representa o império das trevas e a situação de tentação em
que se encontra o cristão. Os discípulos estão sempre sujeitos
ao perigo de cair, de serem novamente apanhados pelo mal do
mundo presente. A casa, como a Igreja, está cercada pelas trevas.
O pecado ronda a comunidade cristã. O que permite aos cristãos,
aos habitantes da casa, vencer o sono, a tristeza e o tédio é a
alegria antecipada do retorno do patrão. Vigiar é ter para com
Jesus a atenção que suscita o amor.

Jesus exige fé dos discípulos. Aqueles que esperam são,


como sempre nas parábolas de Jesus, gente pobre e simples. Seus
heróis são pastores, pescadores, vinhateiros, operários da última
hora, donas de casa, toda espécie de pessoas que não ficam menos
pobres ao assumir alguma responsabilidade. É preciso ver aí a
opção preferencial de Jesus pelos oprimidos que a miséria põe
à mercê dos poderosos.

3. Atualizando a Palavra

O que será que Deus está querendo nos dizer hoje, neste
1º Domingo de Advento, em preparação para a celebração da
vinda do Senhor Jesus?

12
PNE - QV) - CVV nº 48
Pelo fato de vivermos neste mundo, estamos sujeitos a pas-
sar por situações de escuridão. Não é à toa que faz tanto sucesso
uma canção intitulada “Noites traiçoeiras”. Em nossa sociedade,
percebemos “as condições de vida de muitos abandonados, ex-
cluídos e ignorados em sua miséria e dor, que contradizem este
projeto do Pai e desafiam os cristãos a um maior compromisso a
favor da cultura da vida” (Documento de Aparecida, 358).
Como vimos, vigiar é ter para com Jesus a atenção que
suscita o amor. Essa atenção se expressa no “forte chamado para
promover uma globalização diferente, que esteja marcada pela
solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos,
fazendo da América Latina e do Caribe não só o Continente da
esperança, mas também o Continente do amor” (Documento de
Aparecida, 64).
O Advento, como tempo de preparação para o Natal, é
um momento de alegria. A esperança da intervenção de Deus
no mundo é prenhe de amor por aquele que vem. Não há nada
fácil nessa atitude, pois a vigilância é necessária. À confiança em
Deus deve ser acompanhada da obediência à ordem do Mestre:
“Vigiai!”.
Sentimos que esta voz de Deus é também dirigida a nós, que
vivemos muitas vezes dormindo, sonolentos e desatentos ao que
acontece a nossa volta. Por isso, hoje cantamos para Deus, com
o Salmo 79(80): “Tluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos,
para que sejamos salvos! Despertai vosso poder, ó nosso Deus,
e vinde logo nos trazer a salvação!”.
Tempo de Advento é período de renovar a fé no Deus que
sempre quer nosso bem: “Visitai a vossa vinha e protegei-a! Foi
a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao rebento que
firmastes!”.
Brote sinceramente de nosso coração o pedido do salmista:
“Pousai a mão sobre vosso protegido, o filho do homem que es-

13
PNE - QV) - CVV nº 48
colhestes para vós! E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus!
Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome!”.
Que oração belíssima, profunda, encarnada, que o Salmista
e nós, hoje, somos convidados a fazer! A vinda gloriosa de Jesus
não deve produzir espanto, mas alegria, confiança e consolo
pela salvação que se aproxima: “O que vos digo, digo a todos:
Vigiai!”. A mensagem é esta: tenham ânimo e resistam diante
de tudo o que se opõe ao projeto de Deus, pois o Salvador que
vem é infinitamente mais forte do que a morte! E feliz quem
nele confia e abraça seu projeto de amor, justiça, paz, segurança
e vida para todos!
Se temos vivido com Deus “lado a lado”, como um “alia-
do”, voltando-nos para ele a cada instante, para lhe pedir ajuda
e apoio, ele não estará, na hora do juízo, “diante de nós”, como
um juiz e quase um “adversário”. Estaremos em sua presença
como amigos íntimos que não imaginávamos conhecer tão bem.
No momento, a vida cristã consiste em se familiarizar com esse
Deus Amor.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


O eterno plano de amor e o caminho aberto da salvação
foram para nós realizados pela vida, morte, ressurreição de
Jesus e presença do seu Espírito em nós. Páscoa esta que nos
garantiu e garante que, no final dos tempos, veremos concretizar
plenamente seu Reino de justiça, paz e vida para todos os justos.
Coragem! Vigiai!
Na celebração eucarística celebramos este mistério. Este
é o “mistério da fé”. Por isso cantamos em cada celebração eu-
carística: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a
vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. Ou como rezamos no
pai-nosso: “Venha a nós o vosso Reino!”. Ou ainda na oração que
segue o pai-nosso: “Vivendo a esperança, aguardamos a vinda
do Cristo Salvador!”.

14
PNE - QV] - CVV nº 48
Participando da ceia memorial do Senhor, fortalecemo-nos
em nosso peregrinar por este mundo passageiro em direção ao
Reino definitivo. Vale lembrar o que pedimos no início desta
celebração: “Que, acorrendo com nossas boas obras ao encontro
do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade
dos justos”.
Cristo veio, vem e virá. No Prefácio do Advento IA, reza-
mos: “Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro,
presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e
o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz rea-
lização de seu Reino”.
Por isso, ele merece nosso louvor, todo louvor, toda honra,
toda glória e ação de graças, em todo tempo e lugar. Como logo
mais vamos proclamar no início da oração eucarística: “E justo
e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e
em todo lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso,
por Cristo, Senhor nosso”. Pois “ele (o Cristo), revestido da nossa
fragilidade, veio a primeira vez para realizar seu eterno plano e
amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória,
ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens
outrora prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Prefácio do
Advento 1). Então, passado o mundo presente, “surgirá novo céu
e nova terra” (Prefácio Advento IA).
Que nossa participação na Páscoa de Jesus, neste primeiro
domingo de preparação para o Natal, nos ajude a andar por este
mundo transitório de tal maneira que, como peregrinos, abrace-
mos o Reino que de fato nunca se acaba, eterno, e pelo qual vale
a pena investir tudo o que temos! Assim rezamos na oração após
a comunhão: “Aproveite-nos, ó Deus, a participação nos vossos
mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora o que
é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as
que não passam”.

15
PNE - QV] - CVV nº 48
5. Sugestões para a celebração

L. No tempo de Advento, como em todos os tempos litúrgicos,


convém que se cuide, com o maior carinho, dos detalhes
externos: cantos, espaço litúrgico, orações etc.

Os instrumentos musicais (órgão e outros) sejam usados com


a moderação própria deste tempo, de modo a não antecipar a
plena alegria do Natal do Senhor. O mesmo vale para as or-
namentações com flores: discrição, moderação, expressando
o tempo de espera por algo bom que vai chegar!

Colocar no local da celebração uma coroa de Advento. Pode


ser posta junto ao altar ou junto ao ambão. Mas não deve
“roubar a cena” do altar e da mesa da Palavra! As velas
vão sendo acesas, gradativamente, nas quatro semanas do
Advento: no primeiro domingo, uma; no segundo, duas; no
terceiro, três; e no quarto, quatro. Estão presentes na coroa
três simbologias significativas: a luz como salvação, o verde
como a vida que esperamos e a forma arredondada como
símbolo da eternidade. Este símbolo expressa muito bem
(como o fazem as leituras bíblicas, as orações e os cantos) a
espera de Cristo como Luz e Vida para todos.

Pode-se abençoar a coroa de Advento no início da celebra-


ção, logo depois da saudação, antes do ato penitencial, ou
até antes da Liturgia da Palavra. Apresentamos uma sugestão
de oração: “Senhor, nosso Deus, a terra se alegra nestes dias,
e vossa Igreja exulta diante do vosso Filho que vem como
luz esplendorosa para iluminar os que jazem nas trevas da
ignorância, da dor e do pecado. Cheio de esperança em sua
vinda, o Vosso povo preparou esta coroa com ramos verdes
e a adornou com luzes. À medida que as velas desta coroa
forem acesas, iluminai-nos, Senhor, com o esplendor daquele
que, por ser a luz do mundo, iluminará toda a escuridão. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém”.

16
PNE - QV) - CVV nº 48
5. Este tempo é momento próprio para um bom “balanço” da
caminhada cristã, pessoal e comunitária, em direção ao Reino
definitivo. Por Isso, trata-se de um período muito adequado
para a celebração do Sacramento da Penitência e Recon-
ciliação. E a hora de valorizarmos também as celebrações
penitenciais, mesmo sem a presença de um presbítero. Como
diz o Ritual da Penitência: “Insista-se na utilidade das cele-
brações penitenciais sem absolvição sacramental” (cf. Ritual
da Penitência, n. 377). Estas podem, com grande proveito, ser
presididas por outros ministros que não sejam sacerdotes. As
celebrações penitenciais ajudam a educar a consciência dos
fiéis a buscar o perdão não apenas no sacramento, mas na
oração da Igreja, e especialmente na vivência renovada da
caridade.

6. As músicas e cantos têm de ser próprios deste tempo forte


da Igreja. O Hinário Litúrgico I da CNBB traz um excelente
repertório musical para as celebrações de Advento. Existe
um CD publicado pela Paulus com as músicas do Hinário
adequadas para este ano: o volume “Liturgia VII[”. Neste
período não se canta o Glória.

7. Para a missa deste domingo, use-se de preferência o Prefácio


do Advento I.

8. Recordamos um recado de frei José Ariovaldo da Silva, ofm:


“Nos últimos anos, muitas comunidades eclesiais, influencia-
das pela onda consumista por ocasião das festas natalinas e
de final de ano, estão assumindo o costume de enfeitar suas
igrejas já bem antes de o Natal chegar. Em pleno tempo de
Advento, que é “um tempo de piedosa e alegre expectativa”,
ornamentam já suas igrejas com flores, pisca-piscas, árvores
de Natal e outros motivos natalinos, como se já fosse Natal.
Não fica bem! Uma sugestão: não entremos na onda dos sím-
bolos consumistas da nossa sociedade. Evitemos enfeitar a

17
PNE - QV) - CVV nº 48
igreja com motivos natalinos durante o Advento. Deixemos
o Advento ser Advento e o Natal ser Natal. Enfeites natali-
nos dentro da igreja, só quando o Natal chegar. Então sim!
Então a festa com certeza será melhor! Sobretudo se houve
na comunidade uma boa preparação espiritual”.

E importante lembrarmos às comunidades a Coleta para a


Evangelização que será realizada no 3º Domingo do Advento,
dias 13 e 14 de dezembro (cf. sugestão que segue).

“O tempo litúrgico do Advento celebra a vinda do Salvador


e a riqueza dos seus dons. Se esses são os caminhos do
Senhor, cabe-nos acolher sua vontade e dispor-nos como
servidores e colaboradores de sua obra redentora. Somos
chamados e enviados a traduzir, em atitudes concretas de
amor, as promessas messiânicas. Em sua vinda gloriosa,
quando forem consumadas também em nós as promessas,
veremos a Deus face a face e contemplaremos sua glória
resplandecente na face de Cristo; então será plena nossa
comunhão de vida com Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo” (GoEDERT, Valter. Nasceu o Salvador: espirituali-
dade natalina. São Paulo, Paulinas, 2004. p. 29).

“Na força do Pai que nos ama, em Jesus, o missionário por


excelência, no fogo abrasador de Pentecostes, hoje senti-
mos o mesmo impulso desta presença do Espírito Santo
que nos move a nos colocarmos em estado permanente de
missão. Esta é a hora! Todos somos convocados: dioceses,
paróquias, vida consagrada e comunidades. Não deixemos
a graça passar em vão. É hora de nos unirmos no grande
mutirão evangelizador para que a América Latina seja,
de fato, o “Continente da esperança, da fé e do amor”?
(CNBB, apresentação do projeto “O Brasil na Missão
Continental”).

18
PNE - QV) - CVV nº 48
Campanha para a Evangelização —
CNBB — 2008
“Acolhamos o Príncipe da paz”
|* Domingo do Advento
29 e 30 de novembro

(Após as preces da comunidade e antes da apresentação das


oferendas.)
Leitor(a): Hoje entramos no tempo do Advento, momento
de preparação para recebermos o Senhor que vem e se manifesta
a nós. E tempo de espera, de atenta vigilância.
Assembléia: Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de ti!
(Cantado.)
Leitor(a): Toda a vida cristã é espera vigilante da manifes-
tação definitiva do Senhor. A Palavra de Jesus continua ressoando
em nosso coração: “Cuidado! Ficai atentos... Vigiai!”. Vivemos
um tempo carregado de esperança, de redenção, de construção
de um mundo novo, enfim, da realização do Reino de Deus, que
já começa aqui e agora. “Acolhamos o Príncipe da paz!”
Assembléia: Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de ti!
(Cantado.)
Leitor(a): A Igreja, para anunciar esta Boa-Nova e pro-
porcionar a seus filhos e filhas a vivência desta graça, precisa de
recursos financeiros. A Coleta da Evangelização, que realizaremos
no 3º Domingo do Advento, em todas as comunidades do Brasil,
será nossa resposta a esta necessidade.
Assembléia: Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de ti!
(Cantado.)

19
PNE - QV) - CVV nº 48
Presidente: Irmãos e irmãs, rezemos juntos para que a
Campanha para a Evangelização atinja seus objetivos.
Oração: Senhor Jesus Cristo, vós nos deixastes a missão
de evangelizar. Ajudai-nos a sentir a beleza de crer em vós. Des-
pertai em nós a consciência da grandeza da missão. Renovai o
ardor e a responsabilidade dos cristãos na participação da obra
da Evangelização. Dai-nos um coração generoso para colaborar
espiritual e materialmente na missão. Com nossa oferta, feita
com alegria, testemunhemos a alegria de sermos vossa Igreja,
discípula missionária. Amém!
Mensagem final: (Para antes da bênção, no momento
dos avisos.)
O Advento é um tempo em que a Igreja reaviva sua missão
de anúncio do Messias a todos os povos e a consciência de ser
sinal de esperança para toda a humanidade. Estamos em plena
Campanha para a Evangelização. O resultado da coleta destina-se
a inúmeras obras evangelizadoras e pastorais mantidas pela Igreja
no Brasil. Essas obras têm por finalidade promover o encontro
de todos com Jesus. Nossa colaboração é, mais do que nunca,
uma forte atitude missionária.

20
PNE - QV) - CVV nº 48
2º Domingo do Advento
7 de dezembro de 2008

Leituras: Isaías 40,1-5.9-11; Salmo 84(85);


2 Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8

“Todas as pessoas verão


a salvação de Deus”

1. Situando-nos brevemente

Iniciamos a segunda semana do Advento. E graça de Deus


estarmos aqui reunidos, como irmãos e irmãs, trilhando um mes-
mo caminho:o caminho de Jesus. Deus nos chamou. Atendemos
a seu convite e aqui estamos congregados em torno da sua Palavra
que ilumina e orienta em nosso caminhar.
A segunda vela que acendemos na coroa de Advento nos
ilumina e ajuda a perceber que estamos a caminho, peregrinando
rumo a um futuro bom que nos espera. Mas, até lá, temos ainda
muito que fazer.
Estamos a caminho, em meio a um mundo de tantas con-
tradições: quanta injustiça gerando mortes! Estamos a caminho,
também em meio a um mundo de tantos sinais de vida, com muita
gente humilde fazendo da sociedade um lugar do grande sonho de
Deus. Na introdução da Declaração do Congresso Missionário,
realizado em Quito no mês de agosto de 2008, lemos: “A missão
aviva a esperança de que outro mundo é possível, ainda que em
situações difíceis. Necessita de profetas e peregrinos que denun-
ciem as situações de pecado e as estruturas injustas, e anunciem
os valores da vida plena realizada em Cristo”.

21
PNE - QV) - CVV nº 48
Neste domingo, somos convidados a olhar para o grande
João Batista. Como rezamos no Prefácio do seu martírio, “ain-
da no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da
humanidade e seu nascimento trouxe grande alegria. Foi o único
dos profetas que mostrou o Cordeiro redentor”.

2. Recordando a Palavra

Os capítulos 40 e 55 do Livro de Isaías foram escritos por


volta de 540 a.C. O povo da época havia experimentado a maior
catástrofe que se podia imaginar: a queda de Judá e de Jerusa-
lém em 587 a.C., nas mãos do Império da Babilônia. O profeta
dirige-se a um grupo de exilados na Babilônia, para onde tinha
sido levada a elite da população. Esse grupo passara a duvidar
de sua eleição como povo escolhido e mesmo da existência de
Deus.
O profeta ouve, numa visão, vozes celestes anunciando
que Deus teve piedade de seu povo e proclamará, de fato, que é
dado o perdão a todos quantos queiram aproveitar-se da miseri-
córdia divina. O oráculo promete um caminho no deserto e João
Batista proclama, também ele, uma mensagem de conversão no
deserto.
O Advento é um tempo de conversão em que Deus derrama
sua misericórdia com abundância.
A segunda Epístola de Pedro tenta resolver um problema
que, muitas vezes, aparece no Novo Testamento. Trata-se do
momento do fim do mundo e da plenitude do Reino de Deus.
Segundo são Lucas, em Atos, no dia da Ascensão, os apóstolos
perguntaram: “E agora o tempo em que irás restaurar a realeza
em Israel?”. E ele respondeu-lhes: “Não compete a vós conhecer
os tempos e momentos que o Pai fixou com sua própria autori-
dade” (At 1,7).

2?
PNE - QV] - CVV nº 48
Na Igreja dos primeiros tempos, alguns pensavam que a
parusia (ou retorno do Cristo em glória) iria acontecer logo. Ora,
isso gerou atitudes erradas entre os cristãos. À carta de Pedro
corrige essa maneira de agir. Realmente, o julgamento está de-
morando, mas tal demora é intencional: mostra ser da vontade de
Deus que todos tenham tempo de se converter. O novo Catecismo
cita esse texto no parágrafo 2822, ao comentar a vontade de Deus
na oração do pai-nosso: “É a vontade de nosso Pai que todos os
homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Tm 2,3-4); “Ele está usando de paciência, pois não deseja que
alguém se perca” (2Pd 3,9).
A carta faz uma descrição do fim do mundo pelo fogo,
versão popular-na literatura pagã da época e também nos escritos
judeus sobre os últimos tempos. “Então os céus acabarão com
barulho espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se
dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez”
(2Pd 3,10). Essa maneira de se expressar não pode ser lida ao
pé da letra. Deve ser interpretada como uma profissão de fé no
Deus Criador. Se foi ele quem criou o mundo e o faz subsistir,
tem também o poder de destruí-lo ou de transformá-lo.
Se o mundo, tal como é visto, é perecível, não convém
se apegar a ele a ponto de se viver uma vida desregrada, numa
perspectiva materialista da existência: “Qual não deve ser o vosso
empenho numa vida santa e piedosa!” (2Pd 3,11).
O Ano Litúrgico começou no domingo passado com um
trecho do último discurso de Jesus sobre seu retorno glorioso.
Estamos agora preparados para considerar como isto começou,
ou seja, o desencadeamento do Evangelho. João Batista esteve
muito envolvido nesse começo. Com a entrada deste profeta no
cenário da história, anuncia-se uma nova era.

As primeiras palavras do Evangelho de Marcos são: “Prin-


cípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Marcos imita
o Gênesis, que abre a narrativa da criação com a palavra grega

23
PNE - QV] - CVV nº 48
arque (começo). Os fatos relatados são de igual importância aos
do começo do próprio universo, embora as aparências sejam
modestas.
A primeira cena, a qual apresenta João Batista, ressalta
justamente essa idéia de que Jesus vem a um mundo dominado
pelo mal e que quer mudança. O batismo de João é uma poderosa
expressão dessa vontade das pessoas, de acolherem a salvação
operada por Deus. Deus se faz preceder de um mensageiro. O
Livro de Isaías já havia falado desse porta-voz: “Eis que envio
meu mensageiro diante de ti, a fim de preparar o teu caminho;
voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor,
tornai retas suas veredas”.
João Batista é a figura mais eminente entre os que esperam
uma intervenção divina na vida da humanidade. Ele foi viver no
deserto como se quisesse reviver mais plenamente a experiência
do deserto e do dom de aliança no Sinai. Apenas uma diferença:
a salvação é anunciada no deserto, mas não é lá que se vai rea-
lizar. A salvação vai se produzir lá onde estão as multidões, nas
cidades da Galiléia e na cidade santa, Jerusalém.
João Batista tem um jeito, uma atitude, que o situa na estirpe
dos profetas dos tempos do Antigo Testamento. Como Elias, ele
veste-se com pele de camelo e traz um cinto de couro em torno
dos rins. Seu regime alimentar — gafanhotos e mel silvestre —
demonstra que não quer coisas “importadas” ou supérfluas. Sua
atenção concentra-se toda em Deus e em seu Messias: “Depois
de mim, virá alguém mais forte do que eu”.

3. Atualizando a Palavra

No contexto do Advento entra, hoje, a figura de João


Batista, anunciando a chegada de uma alternativa, de um novo
caminho para o povo pobre. E esse caminho é Jesus.

24
PNE - QV) - CVV nº 48
João prega um batismo de conversão para o perdão dos
pecados. Convida a assumir uma nova história: “Abandonai o
jogo dos poderosos! Preparai o caminho do Senhor! Então tudo
vai endireitar-se”. Esta é a saída. Para ter vida e liberdade, faz-se
necessário voltar atrás, converter-se: aceitar e assumir a novida-
de que está para chegar. O batismo era um sinal que marcava a
decisão das pessoas de “mergulhar de cabeça” no novo caminho:
o caminho de Jesus. O batismo marcava o início de uma nova
história. “O batismo não só purifica dos pecados. Faz renascer o
batizado, conferindo-lhe a vida nova em Cristo, que o incorpora
à comunidade dos discípulos e missionários de Cristo, à Igreja,
e o faz filho de Deus, e lhe permite reconhecer a Cristo como
Primogênito e Cabeça de toda a humanidade” (Documento de
Aparecida, 349).
João Batista tem clareza de quem é Jesus: “Depois de
mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me
abaixar para desamarrar suas sandálias”.
O sentido do Advento e do Natal não é algo sentimental:
chorar de emoção por causa de uma criancinha. É alegrar-se
porque aquele que podemos chamar de “Filho de Deus” veio
(e sempre vem!) viver no meio de nós para, com seu exemplo e
sua sabedoria, lucidez e entrega de vida, mostrar concretamente
o que significa o bem.
Eis a razão por que rezamos no início da missa: “Ó Deus
todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que
nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do
vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos
da plenitude de sua vida” (Oração do dia).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Novamente nos perguntamos: qual o mistério que celebra-
mos neste 2º Domingo de Advento?

25
PNE - QV] - CVV nº 48
“Anuncia-se a salvação para toda a humanidade. Aquilo
que foi anunciado por Baruc ao povo de Israel, aquilo que foi
anunciado por João Batista, realiza-se em Jesus Cristo, realiza-se
hoje na Igreja e pela Igreja. Já tem início o dia do Senhor, que
um dia chegará a todo o seu esplendor [...]. A comunidade cristã
reúne-se para a celebração da Eucaristia até que Ele venha. Sua
vinda transforma o hoje em dia do Senhor. A comunidade eucariís-
tica transforma-se em voz que anuncia a preparação do caminho
para a vinda do Senhor, assumindo a tarefa de aplainar as suas
veredas pela prática da justiça e do amor. Através dela, todas as
pessoas poderão ver a salvação de Deus. Ela está preparando o
dia de Cristo Jesus. É advento!”
Em outras palavras: “Celebrar a Eucaristia é reviver a pre-
sença do Deus que é Pai libertador, que salva em Cristo Jesus. A
comunidade cristã que celebra o memorial da morte e ressurreição
de Cristo é convidada ao discernimento: só o amor dinâmico que
conduz à prática da solidariedade e da justiça é capaz de atualizar
a vinda de Jesus”
r

Enfim, tudo é obra de Deus e não de nossos méritos. E


obra de Deus a vinda de Jesus como caminho novo, alternativo
ao caminho dos poderosos. Caminho novo pelo qual “seremos
batizados com o Espírito Santo”. Por isso, logo mais, colocando
nossas oferendas sobre o altar, vamos também pedir que a miseri-
córdia de Deus (e não nossos méritos!) venha a nosso socorro.
Então, fiquemos felizes porque, revestido da nossa fragi-
lidade, Jesus veio a primeira vez para realizar o eterno plano do
amor de Deus e abrir-nos o caminho da salvação, e, futuramente,
ele virá uma segunda vez para nos conceder em plenitude os

BECKHÁUSER, À. Viver em Cristo: espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis, Vozes, 1992.


p. 64.
BORTOLINI, ). Roteiros Homiléticos. Anos À, B, C. Festas e Solenidades. São Paulo, Paulus, 2006.
pp. 500-501.

26
PNE - QV) - CVV nº 48
bens prometidos que, hoje, vigilantes, esperamos; por tudo isso,
nós louvamos nosso Deus com todos os anjos e santos e todo o
universo: “Santo, santo, santo...” (cf. Prefácio do Advento). Lou-
vamos nosso Deus porque Jesus, pela sua morte e ressurreição,
pela entrega total de si ao Pai e a nós, orientou-nos para um novo
rumo, nos fez passar da morte para a vida em plenitude. Que
queremos mais?! Podemos sonhar outra coisa melhor?...
Eis a razão por que, depois de nos alimentarmos com o “pão
espiritual” (isto é, este mesmo Jesus agora feito pão e vinho),
suplicamos a nosso Deus que, pela participação nesta Eucaristia,
ele nos ensine “a julgar com sabedoria os valores terrenos e a
colocar nossas esperanças nos bens eternos” (Oração depois da
comunhão).
Que a Palavra de Deus que ouvimos e a Eucaristia que
celebramos, neste tempo tão importante de Advento, nos ajudem
e nos preparem para o que está por vir: para viver e celebrar
dignamente a vinda do Salvador e para que possamos festejar
um dia, com todos os justos, sua vinda gloriosa e definitiva, na
plenitude eterna.

5. Sugestões para a celebração

1. Cuidar para que as leituras sejam, de fato, proclamadas (não


apenas lidas!), pausadamente, com ênfase, de forma orante.
Isto seja feito de tal maneira que a assembléia possa sentir
que é Deus mesmo quem fala pela voz do(a) leitor(a).

2. É sumamente louvável que, quem preside a celebração euca-


rística em nome de Cristo, proclame o Prefácio também com
ênfase, pausadamente, em tom orante, com grata e vibrante
esperança. Para o povo que escuta, isso é muito importante.
Ajuda a alimentar a esperança. Por que não fazer o mesmo
com toda a oração eucarística e, inclusive, com as demais

27
PNE - QV) - CVV nº 48
orações? Para tanto, nada melhor do que uma adequada
preparação prévia, em algum momento da semana, com a
realização de uma boa leitura orante dos textos.

Seria bom que, para o início da celebração, se fizesse uma


recordação da vida, trazendo à memória os principais acon-
tecimentos locais, bem como os nacionais e internacionais:
sinais de vida e sinais de morte, sinais de justiça e sinais de
Injustiça.

Acender a segunda vela da coroa de Advento e, se possível,


acompanhar este gesto com um canto, ou com um refrão
meditativo, ou com uma oração apropriada.

As músicas e cantos têm de ser próprios deste tempo for-


te da Igreja (ver as indicações apresentadas no domingo
anterior).

Os instrumentos musicais (Órgão e outros) sejam usados com


a moderação que convém ao caráter próprio do tempo de
Advento, de modo a não antecipar a plena alegria do Natal
do Senhor. O mesmo vale para as ornamentações com flores:
discrição, moderação, expressando o tempo de espera por
algo bom que vai acontecer! |
Para a missa deste domingo, use-se de preferência o Prefácio
do Advento IT.

Lembrar que amanhã, dia 8/12, é a solenidade da Imaculada


Conceição (cf. Roteiro apresentado a seguir).

Lembrar ainda o sentido da Coleta da Evangelização no


próximo domingo (cf. sugestão que segue).

28
PNE - QV] - CVV nº 48
“O Advento sugere, pois, um caminho espiritual de de-
sapego; se estivermos preocupados apenas com afazeres
meramente humanos, mais uma vez não haverá lugar para
Jesus na hospedaria (cf. Lc 2,7). Corremos o risco de pro-
curar o menino onde ele não se encontra. O Natal somente
tem sentido quando abrimos o coração tal qual manjedoura
rústica, mas repleta de ternura, porque construída com muito
amor” (GOEDERT, Valter. Nasceu o Salvador: espiritualidade
natalina. São Paulo, Paulinas, 2004. p. 45).

“A paixão pelo Reino de Deus nos leva a desejá-lo cada vez


mais presente entre nós. Na força do Espírito Santo, que
sempre nos precede, a missão nos levará a viver o encon-
tro vivo com Jesus, capaz de impulsionar à santidade e ao
apostolado os batizados, e de atrair os que estão distantes
do influxo do Evangelho, ou que nem sequer experimen-
taram o dom da fé” (CNBB, projeto “O Brasil na Missão
Continental”).

29
PNE - QV) - CVY nº 48
Campanha para a Evangelização —
CNBB — 2008
“Acolhamos o Príncipe da paz
)

2' Domingo do Advento —


6 e / de dezembro

(Após as preces da comunidade e antes da apresentação das


oferendas.)
Leitor(a): João Batista, sinal da intervenção de Deus a
favor de seu povo; como precursor do Messias, tem a missão de
“preparar os caminhos do Senhor: aterrar os vales, aplainar as
colinas, endireitar as estradas tortuosas”.
Assembléia: João Batista, vem ensinar / os caminhos a
preparar! (Cantado.)
Leitor(a): Preparar os caminhos do Senhor significa pra-
ticar a caridade, partilhar o pão e amar o próximo. Preparar os
corações para Jesus significa empenhar-se no trabalho evange-
lizador.
Assembléia: João Batista, vem ensinar / os caminhos a
preparar! (Cantado.)
Leitor(a): Em nossa assembléia litúrgica, ressoa a voz
profética de Isaías, animando a nossa vida para a chegada do
Cristo que vem. O nosso profetismo inspira-se na esperança de
uma nova terra e de um novo céu, onde reinará para sempre a
Justiça, de braços dados com a paz (cf. Sl 85).
Assembléia: João Batista, vem ensinar / os caminhos a
preparar! (Cantado.)

30
PNE - QV| - CVV nº 48
Presidente: Irmãos e irmãs, rezemos juntos para que a
Campanha para a Evangelização atinja seus objetivos.
Oração: Senhor Jesus Cristo, vós nos deixastes a missão
de evangelizar. Ajudai-nos a sentir a beleza de crer em vós. Des-
pertai em nós a consciência da grandeza da missão. Renovai o
ardor e a responsabilidade dos cristãos na participação da obra
da Evangelização. Dai-nos um coração generoso para colaborar
espiritual e materialmente na missão. Com nossa oferta, feita
com alegria, testemunhemos a alegria de sermos vossa Igreja,
discípula missionária, Amém!
Mensagem final: (Para antes da bênção, no momento
dos avisos.)
A comunidade de fé renova continuamente, na celebração
da Liturgia, a sua consciência de ser sinal e instrumento não só
da íntima união com Deus, mas também da unidade de todas
as pessoas. Tornamo-nos promotores de comunhão, de paz, de
solidariedade, em todas as circunstâncias da vida. O próximo
domingo é o 3º Domingo do Advento. Nele acontecerá a Coleta da
Campanha para a Evangelização, gesto concreto de toda a Igreja
Católica no Brasil, testemunho dos discípulos na sua missão
evangelizadora. Hoje é dia de levar para casa os envelopes. Du-
rante esta semana, devemos participar ativamente da Campanha,
explicando às pessoas o destino do donativo e convidando-as ao
gesto de partilha, tão próprio deste tempo em que os corações se
abrem ainda mais à solidariedade.

31
PNE - QV] - CVV nº 48
Imaculada Conceição de Nossa Senhora
8 de dezembro de 2008

Leituras: Gênesis 3,9-15.20; Salmo 97(98);


Efésios 1,3-6.11-12; Lucas 1,26-38

“Alegra-te, cheia de graça,


o Senhor está contigo!”

1. Situando-nos brevemente

Estamos no tempo de Advento e, em pleno clima de pre-


paração para celebrarmos a vinda do Salvador, trazemos à nossa
mente e ao nosso coração a maravilhosa obra de Deus na pessoa
de Maria: para ser a mãe do Salvador, Deus a quis sem pecado.
Uma fé que sempre foi intuída e cultivada, sobretudo entre os
cristãos mais pobres e, ao mesmo tempo, pensada e refletida por
teólogos e místicos de renome. Santo Agostinho, pastor sensível
ao sobrenatural “instinto de fé” dos pobres, chega mesmo a di-
zer que “a piedade impõe reconhecer Maria sem pecado” e que,
“por honra do Senhor”, ela “não entra absolutamente em questão
quando se fala de pecado”. Na Idade Média, o povo chegava a
reagir com protestos, até violentos, contra teólogos e pregado-
res que colocassem em dúvida o valor da crença na Imaculada
Conceição. Maria foi concebida sem a marca do pecado — essa
fé foi solenemente proclamada como verdade pelo papa Pio IX,
no dia 8 de dezembro de 1854.
No Catecismo da Igreja Católica, lemos: “Para ser a Mãe
do Salvador, Maria foi enriquecida por Deus com dons dignos

Reflexão preparada por frei José Ariovaldo da Silva, ofm, e publicada nos Roteiros Homiléticos
do Advento de 2006.

32
PNE - QV) - CVV nº 48
para tamanha função. No momento da Anunciação, o anjo Ga-
briel a saúda como “cheia de graça”. Efetivamente, para poder
dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação,
era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça
de Deus” (n. 490).
No Brasil e em toda a América Latina, a fé na Imaculada
Conceição foi sempre cultivada com grande intensidade pelo
nosso povo. Isso se reflete nas inúmeras igrejas construídas em
sua memória. A própria padroeira do Brasil traz o título de “Nossa
Senhora da Conceição Aparecida”. Em seu discurso no final do
Santo Rosário no Santuário de Aparecida, em 12 de maio de 2007,
Bento XVI assim falou: “Maria Santíssima, a Virgem pura e sem
mancha, é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos
fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do
céu e da terra. O Papa veio a Aparecida com viva alegria para
lhes dizer em primeiro lugar: permaneçam na escola de Maria.
Inspirem-se em seus ensinamentos. Procurem acolher e guardar
dentro do coração as luzes que ela, por mandato divino, envia a
vocês a partir do alto”.
O que será que Deus está dizendo para nós hoje, no con-
texto desta solenidade, sobre a Imaculada Conceição de Maria?
Acheguemo-nos e mergulhemos um pouco mais no que ele nos
disse, quando forem lidas as Escrituras.

2. Recordando a Palavra

Ouvindo a proclamação do Evangelho, vimos o anjo sau-


dando a virgem Maria, prometida em casamento a um homem
chamado José, descendente de Davi. “Alegra-te, cheia de graça,
o Senhor está contigo!”, disse-lhe o anjo. Ela levou um susto
e ficou pensando o que significaria aquela saudação. O anjo
acalmou-a e lhe revelou: “Encontraste graça diante de Deus!...
E tenho uma novidade para te contar: Conceberás e darás à luz

33
PNE - QV) - CVV nº 48
um filho. E o nome da criança vai ser Jesus. Ele vai ser grande,
vai ser chamado de Filho do Altíssimo, herdeiro do trono do rei
Davi, e o seu reino não terá fim”.

Maria, ainda não entendendo bem a saudação, perguntou:


“Como vai acontecer Isso, pois eu não tive relação com nenhum
homem?”. Então o anjo lhe explica: “E por ação do Espírito Santo
que isso vai acontecer. Ele te cobrirá com sua sombra. Por isso,
o menino vai ser chamado de Santo, Filho de Deus. Vê, até tua
prima Isabel, já de idade bem avançada, considerada estéril para
o resto da vida, está grávida de seis meses! Olha, para Deus nada
é impossível”. Então Maria entendeu a mensagem, colocando-se
totalmente à disposição de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Anos após, depois que este Jesus, nascido de Maria, vi-
veu, morreu e ressuscitou (isto é, venceu o pecado e a morte),
os cristãos, relendo o livro do Gênesis, como estamos fazendo
hoje, lá onde se fala do casal primordial (Adão e Eva) vencido
pela astúcia da auto-suficiência humana (simbolizada pela ser-
pente), lembram-se de Maria e de sua descendência (Jesus e toda
a Igreja). Deus fala para a “serpente” da auto-suficiência: “Serás
maldita... viverás de arrasto... comendo a poeira da estrada. Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela”.
Hoje sabemos que, com Cristo ressuscitado, Filho de Maria, ficou
demonstrado que o poder destruidor da auto-suficiência humana
já tem sua derrota definitivamente registrada nos anais da história
da salvação de Deus.
Por isso, exclamamos com o Salmo 97: “Cantai ao Senhor
um canto novo, porque ele fez prodígios!”. De fato, como escre-
veu Paulo em sua Carta aos Efésios: “Bendito seja Deus, Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a bênção
do seu Espirito..., que nos escolheu em Cristo... para sermos san-
tos e irrepreensíveis..., para sermos seus filhos e filhas adotivos...
cumulando-nos de sua graça. Bendito seja Deus!”.

34
PNE - QV) - CVY nº 48
3. Atualizando a Palavra

Com Jesus, iniciam-se sociedade e história novas: “Ele será


grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe
dará o trono de seu pai Davi. Ele reimará para sempre sobre os
descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32-33).
Jesus é o Messias prometido, aquele que inaugura sociedade e
história novas. Com uma diferença, no entanto, em relação às
comuns tradições régias: “Jesus, ao se encarnar, escolhe um meio
alternativo: não se apresenta ao mundo a partir de um palácio da
capital, e sim da periferia, numa cidade da Galiléia, chamada Na-
zaré, desconhecida em todo o Antigo Testamento, lugar de onde,
na época do Novo Testamento, nada se esperava de bom (cf. Jo
1,46). Ele se encarna no seio de Maria, uma jovem galiléia, sim-
bolo de todos os empobrecidos que aguardam a libertação”.
“Alegra-te”, diz o anjo a Maria, feita toda disponível ao
mistério de Deus e, ao mesmo tempo, toda tomada pela presença
amorosa de Deus. A expressão bíblica “alegra-te” é um apelo
as alegrias messiânicas. A saber, chegou o tempo novo, uma
nova história, a nova história do ser humano criado por Deus
no seu estado original, sem mancha, sem mácula, sem pecado.
E Maria! Para que também nós, em Jesus, entremos no estado
original da graça que havíamos perdido! Esta é a fé que hoje
proclamamos.
Chegou o tempo novo, em que o “espírito” da auto-sufici-
ência representada pela serpente, isto é, o desejo que as pessoas
alimentam de ocupar o lugar de Deus (suprema idolatria que
só traz destruição e morte!), resultou num futuro inglório: sua
cabeça foi ferida e seu destino é andar de arrasto e comer o pó
do chão.
“O Evangelho mostra a total consagração de Maria a Deus
e à sua missão de ser mãe do Filho de Deus. Deus e sua missão

? BortTOLNI, Op. cit., p. 803.

35
PNE - QV) - CVV nº 48
tomaram conta de Maria... É um privilégio em função da salva-
ção de todos. É um serviço. Maria é a Serva por excelência...
Maria foi libertada de antemão, para que, graças à sua vocação e
missão, nós fôssemos libertados... Ela é a primeira em quem se
realizou a libertação.” Assim, através do seu “sim” livremente
dado, “corrigiu a desistência de Adão. Assumiu de mão-cheia o
original projeto de Deus, aquilo que Deus predestinou para ela
3
e para todos.”
“Contamos com muitas Marias assim [como Maria], em
nossas comunidades. Mulheres fortes, nas quais, graças à sua
adesão ao projeto de Deus, reaparece o estado original, livre e
sem pecado, da humanidade. São diferentes de Maria de Nazaré
nisto: que seu estado de graça não lhes veio de sua concepção,
mas de seu batismo e inserção na comunidade de fé, nas suas
lidas e lutas. Mas o resultado vai na mesma linha. Na Imaculada
Conceição celebramos o estado redimido de todas e de todos que
dedicam sua vida ao Salvador do mundo.”*
“Nossas comunidades têm muito carinho para com Maria,
e esse carinho crescerá mais à medida que formos descobrindo o
modo como ela correspondeu ao projeto de Deus, possibilitando
que o Filho de Deus se encarnasse em nossa história. Portanto,
Maria continua sendo um desafio para as pessoas de todos os
tempos: encarnando-se nas realidades da vida, fazer com que
a Palavra de Deus se encarne também em novas situações,
transformando-as à luz do projeto de Deus.”

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na Liturgia Eucarística da festa de hoje, tomamos parte do
“acontecimento mais importante e fundamental de toda a história

* Ibid., pp. 508-509.


* bid,, p. 509.
* Ibid,, p. 805.

36
PNE - QV) - CVV nº 48
da humanidade”, em previsão do qual Maria, “por singular graça
e privilégio de Deus onipotente, foi preservada de toda mácula
do pecado original” (DS, 2803). Trata-se do mistério pascal de
Cristo Jesus, Salvador do gênero humano. Nos planos de Deus
era inimaginável que esse Cristo tão pobre, humano e solidário,
a ponto de mergulhar em nossa crua realidade de morte para nos
libertar, pudesse ter como mãe uma mulher maculada pelo pe-
cado original. Para tal Filho, Salvador da humanidade, o projeto
do Pai foi o de dar-lhe uma mãe igualmente pobre (imaculada)
e imagem perfeita daquilo que a Igreja é chamada (e anseia e
espera) a ser.
Por isso, hoje, no momento da oração eucarística, o sacer-
dote louva e bendiz o bom Deus, dizendo o motivo do louvor:
“Senhor, a fim de preparar para o vosso Filho mãe que fosse
digna dele, preservastes a Virgem Maria da mancha do pecado
original, enriquecendo-a com a plenitude da vossa graça. Nela,
nos destes as primícias da Igreja, esposa de Cristo, sem ruga e
sem mancha, resplandecente de beleza. Puríssima, na verdade,
devia ser a Virgem que nos daria o Salvador, o Cordeiro sem
mancha, que tira os nossos pecados” (Prefácio).
Que a participação na Páscoa do Senhor pela celebração
eucarística, neste tempo de Advento e na festa da Imaculada,
ajude-nos a voltar à origem da qual viemos quando a humanidade
foi criada: sem mácula e com profundo espirito de comunhão com
tudo e com todos. Por isso, depois de participarmos do banquete
da Páscoa do Senhor, o sacerdote reza em nome de todos: “Se-
nhor, nosso Deus, que a comunhão na vossa Eucaristia cure em
nós as feridas do pecado original, do qual Maria foi preservada
de modo admirável ao ser concebida sem pecado. Por Cristo,
nosso Senhor”. E todos respondem: “Amém!”.
Com a festa da Imaculada Conceição, em pleno tempo
de Advento, “celebramos, ao mesmo tempo, a “bendita entre
as mulheres” e o “bendito fruto do seu seio”, o “menino que val

37
PNE - QV) - CVV nº 48
nascer e que será chamado Filho de Deus””; a vitória da “nova
humanidade” (em Jesus e na mãe Maria) sobre a serpente da
auto-suficiência que se pensa maior do que Deus. Por isso, com
Paulo podemos hoje dizer: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo: ele nos abençoou com toda bênção espiri-
tual, no céu, em Cristo” (segunda leitura). “Com Maria que se
proclama serva do Senhor, as comunidades que celebram sua fé
vão aprendendo a superar o espirito de auto-suficiência que gera
a morte em nossa sociedade (primeira leitura)”. 3 6

“A Imaculada pode ser considerada como Maria do Ad-


vento, pois o Senhor vem para restaurar os seres humanos,
assemelhando-nos mais e mais ao ser humano ideado por Deus,
realizado plenamente em Maria.”
“Na Imaculada Conceição celebramos o estado redimido
de todas e de todos os que dedicam sua vida ao Salvador do
mundo.”

5. Sugestões para a celebração

1. Sendo o Advento um tempo, por excelência, também mariano,


pode-se destacá-lo, dentro do espaço celebrativo, com alguma
imagem ou ícone de Nossa Senhora. Nunca, porém, colocar
a imagem sobre o altar. O melhor é deixar perto da coroa de
Advento.

2. Para que a Palavra seja, de fato, ouvida, sentida, vivenciada


e celebrada por todos, mediante sua escuta atenta durante
a celebração (é Palavra de Deus, Palavra da Salvação!), é
necessário que as leituras sejam proclamadas como Palavra

* Ibid., pp. 801-802.


BECKHÁUSER, OP. cit., p. 284.
KoniNGs, ). Liturgia Dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis (Anos À — B— O).
Petrópolis, Vozes, 2003. p. 509.

38
PNE - QV] - CVV nº 48
de Deus (e não como qualquer outra palavra) e fazê-lo com
dignidade, com espiritualidade, de forma orante, sem pressa,
diretamente do livro próprio para as leituras. Isso exige que
os leitores preparem-se bem, sobretudo pela oração e pela
meditação da Palavra a ser proclamada.

À preparação espiritual para a proclamação da Palavra alia-se


a preparação técnica: postura do corpo, tom de voz, semblan-
te, vestes, maneira de aproximar-se da mesa da Palavra.

A Palavra é realçada também por momentos de silêncio,


após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo a atitude
de acolhida. No silêncio, o Espírito torna fecunda a Palavra
no coração da comunidade, a exemplo de Maria.

Valorizar a presença das mães gestantes na celebração, dando-


lhes, ao final, uma bênção especial.

E importante entoar os cantos próprios de Advento, incluin-


do, neste dia, o Magnificat ou outro canto bíblico referente
a Maria. No final da celebração, pode-se cantar Imaculada,
Maria de Deus ou outro canto apropriado.

Hoje é uma ótima oportunidade para convidar a comunidade


a participar da novena de Natal.

Para a bênção final, privilegie-se a bênção solene n. 15 (Nossa


Senhora) do Missal.

No dia 12 de dezembro, celebramos a festa de Nossa Senhora


de Guadalupe, padroeira da América Latina. “No aconteci-
mento em Guadalupe, [Maria] presidiu, junto com o humilde
João Diego, o Pentecostes que nos abriu aos dons do Espírito.
A partir desse momento, são incontáveis as comunidades que

39
PNE - QV) - CVV nº 48
encontraram nela a inspiração mais próxima para aprenderem
como ser discípulos e missionários de Jesus” (Documento de
Aparecida, 269).

“Maria continua a desempenhar sua função maternal na


celebração dos novos adventos de Jesus, na Igreja e no
mundo. Aquela que preparou o primeiro Natal sabe, me-
lhor do que ninguém, como acolher o Salvador. Maria nos
introduz na escola de Jesus, que ela própria orientou com
inigualável sabedoria. Ela, que guardou todas as coisas,
meditando-as em seu coração (cf. Lc 2,19), ensinar-nos-á
a acolher o seu Filho. A Igreja encontra-se à espera de uma
plenitude que ainda não possui, mas que Maria já vive na
glória. Enquanto clamamos: *Vem, Senhor Jesus”, Maria,
qual estrela da manhã, mostra-nos o Menino que continua
nascendo nos dias de hoje” (GoeDERT, Valter. Nasceu o
Salvador: espiritualidade natalina. São Paulo, Paulinas,
2004. p. 41).

40
PNE - QV) - CVV nº 48
Objetivo da Campanha
para a Evangelização

A Campanha para a Evangelização tem como objetivos:

despertar a co-responsabilidade de todos na obra evan-


gelizadora;

conscientizar para o compromisso evangelizador e para


a responsabilidade pela sustentação das atividades pas-
torais;

ajudar a superar a mentalidade individualista e a visão


subjetiva da religião por uma atitude solidária, voltada
para o bem comum;

propor a vivência de uma fé adulta, testemunhada em


atitudes e ações coerentes de conversão pessoal perma-
nente e de transformação social segundo as exigências
evangélicas;

garantir que a Igreja tenha recursos para fazer o traba-


lho da Evangelização, seja nas regiões pobres, como a
Amazônia e a periferia das grandes cidades, seja nas
ações mais estratégicas, como a realização de grandes
encontros nacionais, como os de leigos e de Comuni-
dades Eclesiais de Base;

ajudar na manutenção da própria CNBB com seu Se-


cretariado Geral e seus Secretariados Regionais.

41
PNE - QV) - CVV nº 48
Campanha para a Evangelização

Estamos nos aproximando do 3º Domingo do Advento.


Como parte integrante desta preparação para o Natal do Senhor,
a Igreja no Brasil optou pela realização da “Campanha para a
Evangelização”, que neste ano escolheu como tema: Acolhamos o
Príncipe da paz. É importante termos sempre em mente o fato de
que, somente através do trabalho evangelizador, poderemos levar
todas as pessoas a celebrar conscientemente o mistério do Natal,
a fim de que esta celebração produza frutos permanentes.
A Campanha para a Evangelização, além de estar em per-
feita harmonia com o espírito do tempo do Advento, também tem
a finalidade de angariar fundos que garantam a continuidade da
obra evangelizadora no nosso país. Com o resultado da coleta
nacional para a evangelização, não só efetivamos a manutenção
da CNBB nacional e regional e a concretização dos seus traba-
lhos, como também financiamos projetos evangelizadores em
todo o território nacional; daí o motivo da nossa exortação para
que haja maior empenho de todos à sua realização.
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e
secretário-geral da CNBB

Dom Raymundo Damasceno Assis


Arcebispo Metropolitano de Aparecida e
presidente da Comissão Episcopal
da Campanha para a Evangelização

42
PNE - QV) - CVV nº 48
3º Domingo do Advento
14 de dezembro de 2008

Leituras: Isaías 61,1-2a.10-1; Cântico Magnificat — Lucas 1,46-54;


1 Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28

“Que devemos fazer?”

1. Situando-nos brevemente

Iniciamos a terceira semana de Advento, preparando-nos


para a celebração do Senhor que vem. Tempo de Advento é um
momento em que o Senhor nos alerta para a verdade de sua vinda
no meio de nós.
Lembramos aqui a famosa frase do livro O Pequeno Prin-
cipe, de Samnt-Fxupéry: “Se tu vens, por exemplo, às 4 horas da
tarde, desde às 3 horas já começarei a ficar feliz. Quanto mais a
hora for chegando, mais eu me sentirei feliz”.
À terceira vela, que acendemos na coroa de Advento, nos
faz sentir que já percorremos um bom caminho de preparação
para celebrarmos a verdade da vinda do Senhor. Aproxima-se a
festa da vinda do Salvador. Por isso, este domingo é chamado
“da alegria”, pelo prazer que começamos a sentir devido à pro-
ximidade da Vinda.
Mas como sentir alegria em um mundo com tantas triste-
zas, dores, escândalos, corrupção, violência, fome etc.? Como
poderemos ver a chegada da salvação no rosto de um Menino
que nasce na pobreza de uma gruta?
Nossa alegria não é simples festa, diversão ou euforia. E a
alegria da certeza de que o Reino de Deus está no meio de nós.

43
PNE - QV] - CVY nº 48
2. Recordando a Palavra

O profeta Isaías, enviado por Deus, conta sua vocação: “O


espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me
ungiu; enviou-me a anunciar a Boa-Nova aos pobres, a curar
as feridas do coração e proclamar a liberdade aos cativos, a
libertação aos que estão presos e a proclamar um ano de graça
do Senhor”.
Os reis eram ungidos com óleo; porém, é o espírito do
Senhor que unge o profeta. Os enlutados de Sião, destinatários
desta palavra, são convidados a se regozijarem. Não se trata só
de uma libertação política, mas, sobretudo, de uma libertação
espiritual. A escravidão a que Israel esteve submetido foi um
tempo de conversão a Deus.
A vocação e a missão do profeta conduzem à exultação de
alegria. O profeta entoa seu Magnificat e serve-se das imagens
de festa (vestimentas, jóias): “A própria terra faz brotar sua ve-
getação”. À alegria é profunda, não apenas exterior; é inocência,
salvação e justiça que exprimem esse louvor.
A Bíblia é fermento de mudança social. O Advento é um
tempo em que, preparando-se para celebrar o nascimento do Rei
num estábulo de pobres, a comunidade preocupa-se em anunciar
à humanidade um projeto de libertação total dos homens e das
mulheres de nosso tempo.
A primeira Carta aos Tessalonicenses é o primeiro escrito
do Novo Testamento. A palavra-chave dessa epístola de são Paulo
é “Evangelho”. Para são Paulo, a Boa-Nova de Jesus Cristo era
verdadeiramente boa, pois se destinava à salvação de todos os
homens. Embora os tessalonicenses precisassem corrigir sua
conduta em alguns aspectos da vida, a disposição fundamental
deles era louvável.

“Ficai sempre alegres!” Por quê? Para ele a alegria é um


elemento constitutivo do Reino de Deus entre os homens (Rm

44
PNE - QV) - CVV nº 48
14,17), é fruto do Espírito no coração dos cristãos (Gl 5,22). Ela
se mantém em meio às perseguições (I'Ts 1,6) e na perspectiva
do martírio (Fl 2,17-18). Ela é, portanto, normal e não se pode
considerá-la acessória, e muito menos circunstancial: é preciso
alegrar-se sempre. Essa alegria é plena porque está “com o
Senhor”. O futuro ilumina o presente: é possível regozijar-se,
porque “o Senhor está próximo” (Fl 4,5).
A alegria acompanha a aproximação do Natal. Nossos
motivos de estar felizes são maiores que nossa alegria: não é a
alegria que falta ao cristão, mas é ele quem, infelizmente, foge
e resiste à alegria. Entreguemo-nos à alegria que brota do amor
a Deus!
Mesmo estando no ano B, reservado a Marcos, a Liturgia
deste domingo usa o Evangelho de João. João Evangelista dá
grande importância a João Batista. Chegou mesmo a Inserir seu
nome no prólogo.
O evangelista João sublinha a diferença entre Jesus e o
Batista. “João era a lâmpada que arde e ilumina: e vós quisestes
vos alegrar, por um momento, com sua luz” (Jo 5,35). Sua missão
de iluminar é passageira, e a de Jesus, permanente.
Jesus age na humildade. Convinha que fosse anunciado por
homens humildes. Entre os profetas, João Batista é, ao mesmo
tempo, o maior (Mt 11,9-11) e o mais humilde. Ele nega ser o
Messias. Rejeita qualquer comparação com Elias ou Moisés. Ele
se diz, simplesmente, a voz.

3. Atualizando a Palavra
Agostinho, grande santo da Igreja que viveu no século V,
nos ajuda a comentar e atualizar a Palavra com sua mensagem
neste Advento, explicando para nós a relação entre Jesus e João
Batista:

Liturgia das Horas, vol. |, pp. 223-224.

45
PNE - QV) - CVV nº 48
JoÃo É A VOZ, CRISTO, A PALAVRA

João era a voz, mas o Senhor, “no princípio, era a


Palavra” (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a
Palavra eterna desde o princípio.
Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de
sentido, é apenas um ruído. À voz sem palavras ressoa
ao ouvido, mas não alimenta o coração. [...]
[João] está dizendo: “E necessário que ele cresça e
eu diminua?” (Jo 3,30). A voz ressoou, cumprindo sua
função, e desapareceu, como se dissesse: “Esta é a
minha alegria, e ela é completa” (Jo 3,29). Guardemos
a palavra; não percamos a palavra concebida em nosso
intimo. [...]
Justamente porque é difícil não confundir a voz com a
palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a
voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para
não prejudicar a palavra. “Eu não sou o Cristo” (Jo 1,20),
disse João. Nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe
então: “Quem és tu?”. “Fu sou”, respondeu ele, “a voz
que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor”
Jo 1,19.23). E a voz do que grita no deserto, do que
rompe o silêncio. “Aplamnai o caminho do Senhor”,
como se dissesse: “Sou a voz que se faz ouvir apenas
para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não
se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes
o caminho”.
O que significa: “Aplaimnai o caminho”, senão: Orai
como se deve orar? O que significa ainda: “Aplainai o
caminho”, senão: Tende pensamentos humildes”? Imitai
o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não
ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio
para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: “Eu sou o
Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era
considerado como tal antes que o dissesse. Mas não
disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que
não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação;

46
PNE - QV) - CVV nº 48
compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento
do orgulho pudesse apagá-la.

Observemos que a humildade de João Batista não destrói


sua personalidade. Ele mesmo diz, referindo-se a Jesus: “É pre-
ciso que ele cresça e eu diminua”. Orgulha-se, portanto, de ser
amigo de Jesus.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Este domingo tem sido chamado tradicionalmente de
domingo Gaudete, isto é, domingo do “Alegrai-vos”. O nome
vem da antífona de Entrada, tirada de Fl 4,4.5b: “Alegrai-vos
sempre no Senhor! De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor
está perto”. Por isso, rezamos no início da missa: “O Deus de
bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o Natal
do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las
sempre com intenso júbilo na solene Liturgia”.
Na Liturgia Eucarística, nós bendizemos nosso bom Deus
pela vinda de Jesus, “revestido da nossa fragilidade”, para rea-
lizar em nossa sociedade “seu eterno plano de amor e abrir-nos
o caminho da salvação”. Louvamos o bom Deus porque, “agora
e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em
cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemu-
nhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de
seu Reino”. Louvamos o bom Deus porque o Cristo virá uma
segunda vez, cheio de glória, “para conceder-nos em plenitude
os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Prefácio
do Advento Te TA).
Tudo em virtude da Páscoa de Jesus (sua morte, ressurrei-
ção e dom do Espírito), que se faz nitidamente presente na Euca-
ristia que celebramos (“ Anunciamos, Senhor, a vossa morte...”).

47
PNE - QV) - CVV nº 48
Participando desta Páscoa pela santa comunhão, nós assumimos
as mesmas atitudes de Jesus: solidariedade humana, amor, parti-
lha, justiça, paz, respeito pelos bens dos outros.
Por isso, depois de participarmos da santa comunhão, na
mesa do Senhor, quem preside implora, em nome de todos, a graça
da conversão: “Imploramos, ó Pai, vossa clemência, para que es-
tes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos preparem para
as festas que se aproximam” (Oração depois da comunhão).

5. Sugestões para a celebração

1. Por ser este um dia de esperançosa alegria, sugere-se que se


usem paramentos com cores rosadas. Seja toda a celebração
marcada por um toque de esperançosa alegria. Por exemplo,
nos ritos iniciais, as pessoas podem saudar umas às outras
com palavras inspiradas na antífona de hoje: “Alegre-se! O
Senhor está perto!”.

2. Acender a terceira vela da coroa de Advento, se possível


acompanhando este gesto com um canto, ou um refrão me-
ditativo, ou uma oração apropriada.

3. À Palavra é realçada também por momentos de silêncio, por


exemplo, após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo
a atitude de acolhida à Palavra. No silêncio, o Espirito torna
fecunda a Palavra no coração da comunidade (cf. Guia Li-
túrgico Pastoral, p. 32).

4. Para a missa deste domingo, o Missal sugere usar, de prefe-


rência, o Prefácio do Advento II.

5. Quanto à ornamentação do espaço celebrativo e às músicas,


foram dadas sugestões nos domingos anteriores.

6. Convém lembrar a importância da novena de preparação para


a celebração do Natal, reunindo nestes dias grupos e famílias

48
PNE - QV] - CVV nº 48
para juntos ouvirem a Palavra de Deus, rezarem e, assim, à
luz desta Palavra e da oração da fé, estreitarem seus laços de
amizade e solidariedade.

7. Fazer uma boa e adequada motivação para a Coleta da Evan-


gelização (cf. sugestão que segue).

“O grande desafio, particularmente em nossos dias, é re-


conhecer os limites humanos; a humanidade não acredita
na necessidade de salvação. O ser humano moderno está
convencido de ser, ele mesmo, o responsável pelos destinos
do mundo, e, por conseguinte, quer tornar-se salvador. A
esperança na felicidade perfeita, no além, é substituída pelo
bem-estar, aqui e agora. É preciso iniciar, aqui, a edificação
da morada definitiva; aqui se começa a construção do parai-
so” (GOEDERT, Valter. Nasceu o Salvador: espiritualidade
natalina. São Paulo, Paulinas, 2004. p. 81).

49
PNE - QV] - CVV nº 48
Campanha para a Evangelização —
CNBB — 2008
“Acolhamos o Principe da paz'
3º Domingo do Advento —
|3 e |4 de dezembro

(Após as preces da comunidade e antes da realização da coleta.)


Leitor(a): No tempo do Advento, celebramos hoje o do-
mingo da alegria. A alegria é uma atitude que perpassa a vida de
quem prepara a vinda do Senhor. Com o salmista, cantemos:
Assembléia: Exultai cantando alegres, habitantes de
Sião, porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!
(Cantado.)
Leitor(a): A Palavra do Senhor, dirigida a nós, hoje, fala
de alegria, de esperança, de promessa de justiça, de cura de fe-
ridas, de redenção aos cativos, de tempo de graça do Senhor, da
chegada do Messias.
Assembléia: Vem, Senhor, vem nos salvar! Com teu povo,
vem caminhar! (Cantado.)
Leitor(a): Santo Agostinho diz que “a busca de Deus é a
busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria”. A ale-
gria é atitude de pessoas que acreditam na redenção do povo, é
a atitude que caracteriza quem abre seu coração e sua vida para
Os outros.

Assembléia: Exultai cantando alegres, habitantes de


Sião, porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!
(Cantado.)

5O
PNE - QV) - CVV nº 48
Presidente: Para que todos possam participar da missão da
Igreja, muitos recursos se fazem necessários. Por isso, a Igreja
promove a Coleta Nacional da Evangelização, que tem a finali-
dade de angariar esses recursos. Pela oferta material damos nossa
contribuição, participando ativamente da missão da Igreja.
Todos: Deus ama a quem dá com alegria!
Leitor(a): O resultado desta coleta, que hoje se realiza em
todas as igrejas católicas do Brasil, ajudará a sustentar a ação
evangelizadora da Igreja e será assim destinado: 45% ficam
na Diocese, 20% vão para o Regional da CNBB, e 35% para a
CNBB nacional.
Todos: Deus ama a quem dá com alegria!
Presidente: Irmãos e irmãs, rezemos juntos para que a
Campanha para a Evangelização atinja seus objetivos.
Oração: Senhor Jesus Cristo, vós nos deixastes a missão
de evangelizar. Ajudai-nos a sentir a beleza de crer em vós. Des-
pertai em nós a consciência da grandeza da missão. Renovai o
ardor e a responsabilidade dos cristãos na participação da obra
da Evangelização. Dai-nos um coração generoso para colaborar
espiritual e materialmente na missão. Com nossa oferta, feita
com alegria, testemunhemos a alegria de sermos vossa Igreja,
discípula missionária. Amém!
(Enquanto as pessoas se aproximam do altar para depositar
o envelope com sua oferta, entoa-se o canto da procissão das
oferendas ou outro canto apropriado que fale de partilha e so-
lidariedade.)

51
PNE - QV) - CVV nº 48
4º Domingo do Advento
21 de dezembro de 2008

Leituras: 2 Samuel 7,1-5.8b-12.14a.16; Salmo 88(89);


Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38

“Bendito o fruto do teu ventre!”

1. Situando-nos brevemente

Estamos às vésperas do Natal! É o 4º Domingo do Ad-


vento. Neste domingo, já se forma um clima de expectativa e
preparação final.
Estamos reunidos com Maria, a “mulher cheia de graça”,
como ouvimos da boca do anjo! Com Maria ouvimos a Palavra.
Com Maria celebramos a Eucaristia: memória da Páscoa de Jesus
que deu sentido pleno ao Natal. Se não fosse a Páscoa, o Natal
não seria o que é: tão importante para nós! Nem mesmo Maria
seria o que ela é: tão importante para a humanidade como mãe
do Salvador e nossa mãe!
Estamos em pleno projeto de evangelização, intitulado
“O Brasil na Missão Continental”, com o lema: A alegria de ser
discípulo missionário! Na conclusão do texto que apresenta o
Projeto, lemos: “Foi a Mãe Aparecida quem, levando-nos pela
mão, inspirou toda esta profunda conversão missionária de nossa
Igreja: que ela continue a fecundar o Projeto do Brasil na Missão
Continental”.
Neste 4º Domingo do Advento olhemos, pois, com carinho,
para a mãe do Salvador!

2
PNE - QV) - CVV nº 48
2. Recordando a Palavra

A vida do rei Davi é um importante marco na história do


povo de Israel, como também na história da salvação universal.
Belo, valente guerreiro, amado dos homens, fiel a seu rei, con-
sagrado, Davi marcou sua época. Como rei sucessor de Saul, foi
fiel a seus amigos, humilde e misericordioso. A Bíblia o apresenta
como rei modelo e ideal pela piedade e amor a Deus, apesar de
seus pecados.
O capítulo 7 do Segundo Livro de Samuel narra o oráculo
de Natã ao grande rei Davi. É uma cena que resume muito bem
toda a história precedente de Israel. As vitórias militares de Davi
realizaram a promessa de uma terra, feita outrora a Abraão. Pela
boca do profeta, Deus diz: “Exterminei diante de ti todos os teus
inimigos”. É uma situação apenas passageira. “Vou preparar um
lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que
possa morar lá [...]. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te
de todos os teus inimigos”. O rei recebe o título de “servo”, o
que evoca o servo Moisés, que fora o mediador da aliança. A
intenção de Deus é realizar um gesto de importância tão grande
como o do Sinai.
Deus confirma sua benevolência para com Davi. Ele,
que nutria o projeto de construir um templo para Deus, ouve
uma revelação maravilhosa: “E o Senhor te anuncia que te
fará uma casa”.
A descendência de Davi será a “casa”. A descendência
que valerá para nós é Jesus, o Filho eterno do Pai, inserido na
filiação de Davi por seu pai adotivo, José, o que lhe confere um
estatuto legal.
A realeza em Israel foi estabelecida em proveito dos mais
desfavorecidos, os pequenos proprietários rurais de um pedaço
de terra. Deus se revelara salvador dos hebreus para livrá-los da
opressão e da tirania. “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair
da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20,2).

53
PNE - QV] - CVV nº 48
A dinastia de Davi deverá seguir o mesmo programa para
vir em socorro ao “terceiro mundo” da Palestina: “Com justiça
ele julgue os pobres do povo, salve os filhos do indigente e es-
mague seus opressores” (Sl 72,4). Mas todos precisam contribuir
para estabelecer, na sociedade, um poder conforme o projeto de
direito e de justiça do Senhor.
O Advento é um tempo de partilha no Reino do Cristo.
Na Epístola aos Efésios, a participação de não-judeus na
fé de Israel e na crença em um só Deus é chamada de Mistério.
“Esse mistério ficou no silêncio desde sempre, mas hoje se ma-
nifestou”. Esse mistério é que Jesus é o Cristo ou o Messias. Por
sua ressurreição, o Reino de Deus foi estabelecido, superando
em esplendor o reino de Davi.
O fim do Advento e a festa de Natal são momentos propícios
à partilha do entusiasmo de Paulo. A fraternidade universal pela
fé em um mesmo Deus manifesta-se a nossos olhos admirados.
Quem nasce é Jesus, o Salvador de todos os homens!
O 4º Domingo do Advento do ano B novamente não segue
o Evangelho de Marcos, mas toma um texto de Lucas. À medida
que se aproxima o Natal, é justo refletir sobre a Virgem Maria,
e Lucas falou dela em páginas conhecidas de todos os cristãos,
especialmente o relato da Anunciação.
Maria, no Evangelho de Lucas, tem um papel importante
e sua vocação é contada como as das maiores figuras da Bíblia.
Nas histórias de vocação, a ação de Deus é surpreendente: com
Moisés, enquanto guarda o rebanho de seu sogro (Ex 3,1), com
Gedeão, quando está ocupado batendo o trigo (Jz 6,11), e com
Maria, tranquilamente instalada em sua casa de Nazaré. A Inicia-
tiva de Deus é assim ressaltada. É ele quem chama; é sua decisão
livre que desencadeia a história da salvação. O anjo Gabriel
vai à casa de Maria. Por que esse anjo e não outro? Ninguém
lhe pergunta o nome, mas Lucas o identifica, porque é o anjo

54
PNE - QV) - CVV nº 48
dos últimos tempos, segundo a literatura judaica da época (Dn
8,16-17). Trata-se, portanto, de uma fase decisiva na história da
humanidade.
O anjo saúda Maria com as palavras: “Alegra-te, favorecida-
de-Deus, o Senhor está contigo!”. Estamos mais familiarizados
com a prece: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco”,
simplesmente uma tradução diferente do lecionário.
A escolha de Deus comporta grande responsabilidade.
Moisés tornava-se líder de um povo a ser libertado (Ex 3,10);
Gedeão passa a ser um juiz libertador dos oprimidos (Jz 6,14);
e Maria vai dar à luz um rei, embora não parecesse haver lugar
para o reino de Jesus (Herodes está firmemente instalado!).
Moisés e Gedeão protestaram sua pequenez (Ex 3,11; Jz
6,15). Não falta fé a Maria, mas ela pede uma explicação. “Como
acontecerá Isso se eu não conheço homem algum?”. A resposta
do anjo, tal como formulada por são Lucas, é cheia de delicade-
za. É algo semelhante à nuvem que envolvia o povo em marcha
durante a saída do Egito. Havia ali a presença de um Deus que
salva, e agora o “Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te
cobrirá com sua sombra”.
Não há anônimos entre os batizados. Ninguém desaparece
na coletividade, porque cada um tem uma vocação original. Uma
vez revelada, é preciso manter-se na obediência aos mandamen-
tos e na luz da revelação bíblica. É nossa maneira de imitar a
Virgem Maria!

3. Atualizando a Palavra

Queremos acolher e viver a Palavra de hoje assim como


Maria a acolheu e viveu. Com Maria, queremos “dar à luz” Je-
sus e sua mensagem para o mundo, onde há milhões de pobres
marginalizados, na expectativa de um futuro mais humano para

55
PNE - QV) - CVV nº 48
todos. “A missão do anúncio da Boa-Nova de Jesus Cristo tem
destinação universal. Seu mandato de caridade alcança todas as
dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da
convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer
estranho” (Documento de Aparecida, 380).
Maria aceita com fé a proposta divina e declara-se a serva
do Senhor. Ela é modelo do discípulo cristão e mãe da huma-
nidade. “Com sua fé, Maria chega a ser o primeiro membro da
comunidade dos crentes em Cristo, e também se faz colaboradora
no renascimento espiritual dos discípulos. Sua figura de mulher
livre e forte emerge do Evangelho, conscientemente orientada
para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente
toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos dis-
cípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante
do projeto do Par” (Documento de Aparecida, 266).
O Evangelho de hoje pode ser lido como a concretização
perfeita e definitiva da promessa feita a Davi na primeira leitura.
Os dois textos revelam a gratuidade da ação de Deus ao escolher
Davi e Maria e, através deles, realizar suas maravilhas. Davi, um
simples pastor de rebanhos, é ungido para ser chefe do povo de
Israel; Maria, moradora de uma aldeia sem importância, torna-se
a mãe do Filho de Deus, aquele que herdará o trono de Davi e
reinará para sempre. O Deus de Israel cumpre as promessas feitas
aos patriarcas, a Davi, a Maria. Davi e Maria experimentam a
gratuidade da ação de Deus.
Por isso, pedimos no início da missa: “Derramai, ó Deus,
a vossa graça em nossos corações para que, conhecendo a en-
carnação do vosso Filho, cheguemos, por sua paixão e cruz, à
glória da ressurreição”.
Como estamos respondendo ao chamado que o Senhor nos
faz? Como estamos participando do Projeto de Evangelização
— O Brasil na Missão Continental? Estamos “vivendo a alegria
de ser missionários”?

56
PNE - QV) - CVV nº 48
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Neste 4º Domingo do Advento, vivemos este grande
mistério: a Igreja está grávida de Cristo. Ela está para dar à luz
Jesus, no hoje do nosso tempo: Deus que vem morar entre os
empobrecidos; encarnar-se neles para salvá-los. Seria interes-
sante retomar o número 401 do Documento de Aparecida, que
» a
apresenta os “novos rostos pobres”, “os novos excluídos”, frutos
da globalização em que vivemos.
Em cada Eucaristia tornamo-nos, em Cristo, corpo dado,
dispostos a colocar-nos a serviço dos necessitados, a exemplo
de Maria.
É precisamente celebrando a Eucaristia que sentimos a
salvação nascer dos pobres que Maria tão bem representa. Por
Isso, na oração eucarística louvamos, bendizemos e glorificamos
a Deus pelo mistério da Virgem Maria, mãe de Deus. Pois — como
o presidente proclama no prefácio — “se do antigo adversário nos
veio a desgraça, do seio virginal da pobre Filha de Sião germinou
aquele que nos alimenta com o pão do céu e garante para todo o
gênero humano a salvação e a paz”. Sim, bendito seja Deus! Pois
“em Maria nos foi dada de novo a graça que por Eva tinhamos
perdido. Em Maria, mãe de todos os seres humanos, a materni-
dade, livre do pecado e da morte, se abre para uma nova vida”.
Realmente, “se grande era a nossa culpa, bem maior agora se
apresenta a divina misericórdia em Jesus Cristo, nosso Salvador”
(Prefácio do Advento IA).
Celebrando a Eucaristia, entramos em comunhão com o
Pobre mais pobre de todos os pobres: O Verbo eterno do Pai,
que, nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição hu-
mana (menos o pecado!), morreu e ressuscitou pela salvação
de todos, e agora, na condição humilde de pão e vinho, se torna
Corpo entregue e Sangue derramado. Comungando deste Corpo
entregue e deste Sangue derramado, assimilamos, dentro de nós,

57
PNE - QV] - CVV nº 48
o Pobre que Cristo é, para que com ele sejamos também servos
uns dos outros na construção de uma sociedade nova, onde rei-
nem a justiça, a comunhão e a paz. É isso que Deus quer de nós
ao celebrarmos o Natal do Senhor.
Por isso, depois da comunhão, quem preside reza em nome
de todos: “O Deus todo-poderoso, tendo recebido hoje o penhor
da eterna redenção (o Corpo de Cristo entregue por nós!), fazei
que, ao aproximar-se a festa da salvação, nos preparemos com
maior empenho para celebrar dignamente o mistério do vosso
Filho, que vive e reina para sempre. Amém”.

5. Sugestões para a celebração

1. Continuar dando destaque à coroa de Advento, fazendo um


rito de acendimento da quarta vela; se possível, acompanhar
este gesto com um canto, ou com um refrão meditativo, ou
com uma oração apropriada.

2. Embora estejamos perto do Natal, ainda é Advento. É oportu-


no, portanto, garantir ainda o seu clima, evitando elementos
festivos tipicamente natalinos (cantos de Natal, luzes, muitas
flores etc.).

3. Queos cantos expressem o mistério que estamos celebrando:


vamos cantar a Liturgia do 4º Domingo do Advento.

4. A Liturgia da Palavra seja muito bem preparada e proclamada.


Através da escuta da Palavra, nós nos deixamos engravidar
pela novidade trazida pelo mistério da encarnação.

5. No final da celebração, lembrando a gravidez de Maria,


pode-se dar uma bênção especial às gestantes presentes na
celebração.

6. Que o presépio seja, o quanto possível, expressão de nossa


fé cristã e de nossa cultura. E muito significativo construir o

58
PNE - QV] - CVV nº 48
presépio em mutirão. Ele deve ser simples como foi simples
e pobre a manjedoura onde Jesus nasceu. Se houver árvore
de Natal, pode-se colocar nela frutos de nossa terra e outros
simbolos que expressem nossos sonhos e esperanças.

““Tornar-se criança” em relação a Deus é a condição para


entrar no Reino; para Isso, é preciso humilhar-se, tornar-se
pequeno; mais ainda: é preciso “nascer do alto” (Jo 3,7),
“nascer de Deus” (Jo 1,13), para tornar-nos filhos de Deus
(Jo 1,12). O mistério do Natal realiza-se em nós quando
Cristo “toma forma” em nós (Gl 4,19). O Natal é o mistério
deste “admirável intercâmbio”: O Criador da humanidade,
assumindo corpo e alma, quis nascer de uma Virgem. Feito
homem nos doou sua própria divindade!” (Catecismo da
Igreja Católica, n. 526).

“A natureza divina torna-se visível para nós quando o Filho


de Deus assume um rosto humano. Na face do Deus-Menino
brilha o esplendor do Pai! Na fraqueza de uma criança,
o Todo-poderoso quer necessitar de tudo. No sorriso do
recém-nascido, revela-se a bondade do Espirito. No choro
do pequenino, as lágrimas de toda a humanidade estão em
busca de consolo. Em Jesus, o Pai da misericórdia e Deus
de toda consolação dá alívio a todas as nossas aflições (cf.
2Cor 1,3-4)” (GoeDERT, Valter. Nasceu o Salvador: espiri-
tualidade natalina. São Paulo, Paulinas, 2004. p. 99).

59
PNE - QV) - CVV nº 48
Natal do Senhor
25 de dezembro de 2008 — Missa da noite

Leituras: Isaías 9,1-6; Salmo 95(96);


Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14

“Hoje nasceu para vós um Salvador!”

1. Situando-nos brevemente

É Natal! Que bom estarmos reunidos neste instante em


torno do mistério do Deus pobre no meio dos pobres. Sentimos
este Deus bem pertinho de nós, bem do nosso jeito, menos no
pecado. Valeu a pena termos nos preparado para esta noite!
Durante o tempo do Advento, meditamos a Palavra de
Deus, avaliamos nossa caminhada de discípulos e discípulas
do Senhor rumo ao futuro, penitenciamo-nos de nossas falhas,
fizemos nossa novena de Natal, buscamos aperfeiçoar nosso espí-
rito de solidariedade. Feliz de quem aproveitou bem o tempo do
Advento para viver esta noite, de fato, como uma “noite feliz”.
A Palavra proclamada nos transmite esta Boa-Nova. A Eu-
caristia celebrada faz-nos viver este Mistério. “Glória a Deus no
mais alto dos céus e paz na terra aos homens por ele amados!”

2. Recordando a Palavra

A vocação de Isaías aconteceu no ano 740 a.C. A primeira


e notável intervenção do profeta foi precisamente um oráculo de
salvação. Em face da hostilidade dos vizinhos, ele anuncia como
sinal de esperança: “A Virgem conceberá um Filho”. O trecho de
Isaías proposto para o Natal é um poema litúrgico. A invasão do

60
PNE - QV) - CVV nº 48
norte da Palestina não desencoraja o profeta. De Jerusalém, ele
proclama sua esperança. “O povo que andava na escuridão viu
uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte,
uma luz resplandeceu”.
E no nascimento de Jesus que se realiza o oráculo, pois
nenhum filho da dinastia de Davi alcançará tamanha medida
de sabedoria, de poder e de paz. “Sim! Por que nasceu para nós
um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca
da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro Admirável,
Deus Forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz. Grande
será o seu reino e a paz não há de ter fim sobre o trono de Davi
e sobre seu reinado” (Is 9,1-6). “Deus Pai sai de si para nos
chamar a participar de sua vida e de sua glória” (Documento de
Aparecida, 129).
A Bíblia de Jerusalém, comentando o texto de Isaias 9,5,
explica os vários nomes atribuídos à criança: “Esses títulos são
comparáveis ao protocolo que era preparado para o faraó quando
de sua coroação. O menino de estirpe real terá a sabedoria de
Salomão, a bravura e a piedade de Davi e as grandes virtudes de
Moisés e dos patriarcas (cf. 11,2). A tradição cristã, que se ex-
prime na Liturgia do Natal, ao dar estes títulos ao Cristo, mostra
que ele é o verdadeiro Emanuel”.
A carta pastoral de Paulo a Tito pode esclarecer o sentido
do Natal, pois, além de seu nascimento, toda a pessoa do Cristo
é proposta como fundamento da vida cristã: a encarnação é a
sua fonte.
Não descuidemos desse aspecto do Natal: a esperança do
retorno glorioso de Jesus e o nascimento de um novo mundo.
Tudo isso já se realizou na Redenção. “Ele se entregou por nós
para nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo
que lhe pertença e se dedique a praticar o bem”.
Como o Pai falava de Israel chamando-o “meu povo”, as-
sim a Igreja para Jesus é seu povo, sua propriedade pessoal. “A

61
PNE - QV) - CVY nº 48
vocação ao discipulado missionário é con-vocação à comunhão
em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da
tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristão sem Igreja
e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a
fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial
e ela “nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja
Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz
à comunhão”? (Documento de Aparecida, 156).
Esse povo não é mais rico por ter sido adquirido pelo
ouro e pela prata, mas pelo sangue e pela carne manifestados no
Natal. O Natal deve ser contemplado como uma antecipação do
mistério pascal.
A Carta a Tito propõe o ideal de viver com equilibrio,
justiça e piedade. Com equilíbrio significa, provavelmente,
compreender que as desigualdades sociais não podem mais per-
sistir. “As condições de vida de muitos abandonados, excluídos
e ignorados em sua miséria e dor contradizem este projeto do
Pai e desafiam os cristãos a um maior compromisso a favor da
cultura da vida. O Reino de vida que Cristo veio trazer é incom-
patível com essas situações desumanas. Se pretendemos fechar
os olhos diante dessas realidades, não somos defensores da vida
do Reino e nos situamos no caminho da morte” (Documento
de Aparecida, 358). O desprendimento se impõe para celebrar
dignamente o Natal.
O Evangelho da noite de Natal é tirado de são Lucas, o
único dos quatro evangelistas que conta o nascimento de Jesus.
Ele escreve: “Aconteceu que naqueles dias, César Augusto
publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra”.
São Lucas relaciona o nascimento de Jesus com um fato universal
para que se avaliem as repercussões do Natal em toda a terra.
Imperador Augusto, atributo divino, era honrado com o título de
filho de Deus. Na realidade, o verdadeiro rei e o verdadeiro Filho
de Deus é Jesus que nasce.

62
PNE
- QV) - CVV nº 48
Só Jesus merece esse nome, porque ele impera no coração
do homem. Escrevia Orígenes: “Ele queria ser recenseado com
todos para santificar todos os homens”. É que Jesus é homem, e
o fato de seus pais e ele partilharem a sorte de todos o confirma.
Ele não veio de uma nave espacial. Para salvar a humanidade,
insere-se no destino da humanidade, de maneira humilde e
comum: ele nasce. Como homem, está em condições de salvar
seus irmãos.
Por meio de José, seu pai adotivo, Jesus pertence a uma
família real, ainda que decaída, da dinastia de Davi. Com sua
mulher, José leva uma vida modesta, pois nada de extraordinário
marca sua chegada a Belém. O parto de Maria é contado com
uma desconcertante simplicidade: “Enquanto estavam em Belém,
completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu
filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura,
pois não havia lugar para eles na hospedaria”. Diria o oráculo
de Jeremias: “Por que és, Senhor, como um estrangeiro na terra,
como um viajante que passa uma noite?” (Jr 14,8).
A revelação do prodígio não é feita a pessoas conhecidas,
mas a pequenos criadores de ovelhas. Lembram Davi que foi
pastor em Belém e que recebeu o primeiro anúncio de um Messias
em sua descendência (2Sm 7,14). São pastores de pequenos reba-
nhos, pessoas comuns. A mensagem dirigida a eles estranhamente
se parece com a da ressurreição. O corpo de Jesus é enfaixado e
deitado, como o será no sepulcro. Os títulos que serão dados a
Jesus ressuscitado já são mencionados para nos orientar para a
Páscoa: é o Salvador, o Messias, o Senhor.
O coro celeste louvava a Deus dizendo: “Glória a Deus no
mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.
Os anjos anunciam assim a história da salvação que virá. Na
Páscoa, Jesus dirá: “Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou; não
vo-la dou como o mundo dá” (Jo 14,27).

63
PNE - QV) - CVV nº 48
Uma meditação de santo Ambrósio nos conduz à contem-
plação: “Ele, portanto, foi pequeno, foi criança, para que possais,
vós, ser perfeitos adultos; ele foi envolvido em faixas, para que
sejais, vós, libertados das garras da morte; ele, na manjedoura,
para vos pôr sobre o altar; ele, na terra, para que estejais vós
entre as estrelas; não havia lugar para ele na sala comum, para
que tenhais vós várias moradas na casa do Par”.

3. Atualizando a Palavra

“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que


é o Cristo Senhor”, diz o Evangelho. Cristo Senhor é o título que
foi dado a Jesus depois que ele morreu e ressuscitou. A partir da
Páscoa, os cristãos se deram conta da importância daquela criança
nascida pobre entre os pobres: ela tem origem divina. A partir da
sua morte e ressurreição, convencemo-nos de ser ele de fato o
Salvador. É a partir da Páscoa que a festa do Natal tem toda sua
razão de ser como verdadeira festa da Luz que vem iluminar as
trevas da nossa história.
A Palavra nos mostra que a salvação não vem dos poderosos
(de César Augusto e outros) que dominam e abusam do poder,
mas de um pobre: Jesus, o Messias; este é o verdadeiro líder e
Salvador nascido na cidade de Davi, o Rei que unificou o povo,
trazendo-lhe vida, liberdade e paz.
“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que
é o Cristo Senhor”, anuncia o anjo. Esse tipo de notícia era bem
conhecido naquele tempo. A expressão era usada para anunciar o
nascimento ou a entronização de reis e imperadores, interpretados
como manifestação dos deuses. O anúncio era feito aos nobres e
grandes da sociedade. Mas com o Menino pobre de Belém é di-
ferente. Nada de aparato “oficial”! A comunicação vem de Deus:
um anjo do Senhor se encarrega de comunicar a grande novidade
à humanidade. E possui caminhos alternativos: não se dirige aos

64
PNE - QV) - CVV nº 48
poderosos, mas sim aos pobres pastores da sociedade de então.
Em uma palavra, o Evangelho testemunha que “a salvação não
vem de * Augusto” ou de seu sucessor, não parte de Roma, mas
nasce em meio ao povo sofrido e segregado; nasce em Belém,
cidade de Davi, o rei pastor”.21
Em outras palavras, “o Salvador é pobre e se comunica
a seu povo como pobre: * Vocês encontrarão um recém-nascido
envolto em faixas e deitado na manjedoura”. Deus utiliza a lin-
guagem dos empobrecidos (faixas, manjedoura), dos migrantes
e rejeitados da sociedade. A salvação entra na história com as
características do povo pobre, longe dos palácios e dos berços
dourados. O modo de nascer do Salvador já é comunicação per-
feita daquilo que irá realizar em vida: a glória de Deus e a paz
para as pessoas de sua predileção. A glória de Deus é a sua ação
na história, e sua ação Irá concretizar a paz para o povo no meio
do qual optou nascer”.
Depois, à luz da Páscoa, podemos finalmente ver o Menino
pobre entre os pobres como sendo o verdadeiro “Conselheiro
admirável” (mais sábio que Salomão), o “Deus forte” (mais forte
que o rei Davi), “Pai dos tempos futuros” (mais líder que o líder
Moisés), “Príncipe da paz” (mediante sua liderança, fazendo jus-
tiça e defendendo o povo, criará a verdadeira paz), vislumbrado
pelo profeta Isaias.
Sim, ele entregou-se por nós para nos resgatar de toda mal-
dade e fazer-nos participar da vida de Deus. Precisamos agora,
como ele, nos dedicar totalmente à prática do bem, abandonando
a impiedade e as paixões mundanas e vivendo neste mundo com
equilíbrio, justiça e piedade, no aguardo da manifestação gloriosa
do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (como nos aler-
tou a Palavra na segunda leitura). Por isso, rezamos: concedei ó
Deus, que, tendo vislumbrado na terra este mistério (o mistério
do Natal!), possamos gozar no céu sua plenitude!

Cf. BorTOLINI, OP. cit., p. 30.


* Ibid., p.31.

65
PNE - QV) - CVV nº 48
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Ouvimos, repetidas vezes, na Liturgia do Natal, a palavra
“hoje”: “hoje sabereis que o Senhor vem e nos salva”; “és meu
Filho, eu hoje te gerei”; “hoje nasceu o Salvador do mundo, des-
ceu do céu a verdadeira paz”; “fizestes resplandecer esta noite
santa com a claridade da vossa luz”; “hoje surgiu a luz para o
mundo”; “por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que
nos dá vida nova em plenitude”. Também, depois, na Epifania:
“hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela”;
“revelastes hoje o mistério de vosso Filho como luz para iluminar
todos os povos no caminho da salvação”.
“Este “hoje” quer significar que o que celebramos no Natal
não é um aniversário, mas um “sacramento”, ou uma atualização
do fato salvífico do nascimento humano do Filho de Deus. Nesta
festa Deus nos comunica a graça de um “novo nascimento” como
filhos na família de Deus. O Natal é a comemoração do “ontem”
de Belém e do “amanhã” da última vinda do Senhor no “hoje” da
celebração deste ano, que é um acontecimento sempre novo, não
só recordado afetivamente.””
A Liturgia que celebramos no Natal “é a comunicação
do Deus que optou pelos pobres, falando a linguagem deles,
resgatando-nos definitivamente, para que ninguém venha de novo
oprimi-los. Nasce para nós o Salvador. Hoje é dia de boas notícias,
pois a história toma rumo novo, manifestando a solidariedade do
Deus fiel. Glória a Deus no mais alto dos céus! Sua glória é ação
concreta repercutindo na terra, trazendo a paz para todos. Envolto
em faixas e colocado na manjedoura; envolto num lençol e colo-
cado num sepulcro; feito pão e vinho e posto a serviço dos que
ele ama: assim é o nosso Salvador, o Messias, o Senhor, aquele
que não reservou para si sua vida, mas a entregou a fim de nos

* ALDAZABAL, ). Enséfiame tus caminos 10: Domingos Ciclo C. Barcelona, Centre de Pastoral
Litúrgica, 2003. p. 57.

66
PNE - QV] - CVV nº 48
resgatar e purificar, tornando-nos seu povo, dedicado a praticar
. . dm . .
a Justiça”. Eis a grande Luz que a todos ilumina!
Celebrando a Eucaristia, nós louvamos e bendizemos a
Deus pelo mistério da encarnação de seu Filho em nossa história:
nova luz da glória de Deus brilhou para nós; na pessoa de Jesus
(visível aos nossos olhos), aprendemos a amar a divindade que
não vemos (cf. Prefácio do Natal 1); o eterno e invisível entrou
na história visível da humanidade para erguer o mundo decaído;
restaurando a integridade do universo, ele introduziu no Reino
dos céus o ser humano libertado (cf. Prefácio do Natal Il); é o
maravilhoso encontro dando-nos vida nova e plena que hoje se
realiza, pois, no momento em que o Filho de Deus assume nossa
fraqueza, “a natureza humana recebe uma incomparável digni-
dade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (cf.
Prefácio do Natal II).
Por tudo isso, nós louvamos nosso Deus. Louvamos prin-
cipalmente pela morte, ressurreição e pelo dom do Espírito que
deu pleno sentido ao mistério desta noite santa de Natal. Fazendo
memória da Páscoa do Senhor, anunciamos o verdadeiro sentido
do Natal como presença solidária do Pobre entre os pobres, Cor-
po entregue e Sangue derramado em favor da vida para todos.
Participando deste Corpo e deste Sangue, entrando com comu-
nhão com ele, assimilamos tudo o que ele significa em termos
de solidariedade com os pobres, para que também nós assim o
vivamos e, dessa maneira, com ele convivamos sempre. “Assu-
mindo com nova força essa opção pelos pobres, manifestamos
que todo processo evangelizador envolve a promoção humana
e a autêntica libertação “sem a qual não é possível uma ordem
justa na sociedade”. [...] Para a Igreja, o serviço da caridade, as-
sim como o anúncio da Palavra e a celebração dos sacramentos,
“é expressão irrenunciável da própria essência” (Documento de
Aparecida, 399).

* BORTOLINI, Op. cit., p. 28.

67
PNE - QV] - CVV nº 48
Por isso que, após a comunhão, quem preside reza em
nome de todos: “Senhor nosso Deus, ao celebrarmos com alegria
o Natal de nosso Salvador, dai-nos alcançar por uma vida santa
seu eterno convívio”.

5. Sugestões para a celebração

Os cantos desta celebração devem manifestar o mistério


que estamos celebrando: é preciso cantar “o Natal” e não
“no Natal”. O Hinário Litúrgico [da CNBB - publicado em
CD pela Paulus, no volume “Liturgia VIII” — traz excelente
>

repertório musical para celebrar o mistério da Encarnação


do Verbo na nossa história.

O canto do Glória é, sem dúvida, um dos momentos altos


da celebração. Deve ser cantado solenemente por toda a
assembléia. Deve-se estar atento na escolha dos cantos para
o momento do Glória. Ideal seria cantar o texto mesmo,
tal como nos foi transmitido desde a antiguidade, que se
encontra no Missal Romano, ou, pelo menos, o mesmo texto
em linguagem mais adaptada para o nosso meio (como já
existe!). Evitem-se, portanto, os “glorinhas” trinitários!

Dar destaque especial à Liturgia da Palavra, proclamando


bem as leituras, especialmente o Evangelho. Jesus é o Verbo
(Palavra) que se fez carne e habitou entre nós. Ao final da
leitura e do Evangelho, nunca se deve dizer “Palavras do
Senhor” e “Palavras da Salvação”, mas “Palavra do Senhor”
e “Palavra da Salvação” (usa-se o singular, pois é Jesus, a
Palavra do Pai, que acabou de falar!).

A celebração do Natal não é comemoração de um aniversá-


rio. E, antes de tudo, um “sacramento” (presença “hoje” da
Luz que nasceu e brilhou definitivamente na Páscoa). Por

68
PNE - QV) - CVV nº 48
Isso, pedagogicamente, é bom evitar qualquer identificação
simples do Natal com aniversário.

Usar o recurso da iluminação na igreja e também no pre-


sépio, com um foco de luz sobre a imagem do menino na
manjedoura. Evite-se, no máximo, o uso de pisca-piscas,
tanto no presépio como em árvores de Natal dentro do
espaço da celebração! Evitem-se também músicas comer-
ciais de Natal. Nada pode tirar a atenção, distrair, “roubar
a cena” do essencial, que é o mistério celebrado na mesa
da Palavra e no altar.

Precônio natalino (a ser proclamado na primeira missa


[“da noite”] após o sinal-da-cruz e a saudação presiden-
cial, antes da entoação do Glória. Pode ser feito por duas
pessoas, intercalando as frases):

transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo


e fez o homem à sua imagem;
* séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o
Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança
e de paz;
* vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão,
nosso pal;
* treze séculos depois da saída de Israel do Egito sob a
guia de Moisés;
* cerca de mil anos depois da unção de Davi como rei de
Israel;
* na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel;
* na nonagésima quarta Olimpiada de Atenas;
* no ano 752 da fundação de Roma;
* noano 538 do edito de Ciro autorizando a volta do exílio
e a reconstrução de Jerusalém;

69
PNE - QV] - CVV nº 48
* no quadragésimo segundo ano do império de César
Otaviano Augusto, enquanto remava a paz sobre a terra,
na sexta idade de mundo.
Jesus Cristo, Deus eterno e Filho do eterno Pai, querendo
santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra
do Espirito Santo e se fez homem;
transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria
em Belém de Judá.
Eis o Natal de nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza
humana. Venham, adoremos o Salvador!
Ele é Emanuel, Deus-Conosco!

“Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-


nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida;
uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de
alegria com a promessa da eternidade.
Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A
causa da alegria é comum a todos, porque nosso Senhor,
vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado nin-
guém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo,
porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque
lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é
chamado à vida.
Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelos 1n-
sondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a
natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador,
de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela
mesma natureza que antes vencera.
Eis por que, no nascimento do Senhor, os anjos cantam
jubilosos: “Glória a Deus nas alturas”; e anunciam: “Paz na
terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14). Eles vêem a
Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo.

70
PNE - QV) - CVV nº 48
Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não
devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os
anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam?
Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no
Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos
amou, compadeceu-se de nós. “E quando estávamos mortos
por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo”
(Ef 2,5) para que fôssemos nele uma nova criação, nova
obra de suas mãos.
Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos;
e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo,
renunciemos às obras da carne.
Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que
participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes
por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te
de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te que
foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e
o Reino de Deus.
Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito
Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede,
não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua
salvação é o sangue de Cristo” (Dos Sermões de são Leão
Magno, papa, séc. V, in Liturgia das Horas, vol. 1, pp.
362-363).

71
PNE - QV) - CVV nº 48
Natal do Senhor
25 de dezembro de 2008 — Missa do dia

Leituras: Isaías 52,7-10; Salmo 97(98);


Hebreus 1,1-6; João 1,1-18

“A Palavra se fez carne


e habitou entre nós”

1. Situando-nos brevemente

E Natal! Estamos reunidos em torno do mistério da Pala-


vra que se fez carne e veio habitar entre nós para nos resgatar a
imensa dignidade que tínhamos perdido. Na Prece Eucarística V,
rezamos: “Senhor, vós que sempre quisestes ficar muito perto de
nós, vivendo conosco no Cristo, falando conosco por ele...”.
Enquanto muitos ainda dormem, talvez descansando e se
refazendo das festas de ontem à noite, nós estamos reunidos para
celebrar Cristo, “Sol nascente que nos veio visitar!”.

2. Recordando a Palavra

Os capítulos 40 a 55 de Isaías são compostos de oráculos,


muitas vezes alegres, que anunciam, sob diversas formas, a Boa-
Nova da salvação. O Senhor serviu-se de um rei estrangeiro para
libertar seu povo da servidão da Babilônia. Ciro, estrangeiro,
não sabia que realizava um plano divino. Ele liberta o povo de
Jerusalém, que agora volta para casa, apoiado por um decreto
real que lhe abriu todas as portas.
Aqui, na leitura, um profeta vê chegar uma procissão.
Do alto das muralhas de Jerusalém, ele avista a vanguarda dos

72
PNE - QV) - CVY nº 48
exilados que retornam da Babilônia. Deus esteve com eles no
sofrimento e, agora, volta no meio de seu povo. Inicia-se uma
nova era do Reino de Deus. Alegrai-vos! Os primeiros que de
longe se vislumbra são mensageiros da Boa-Nova. São portadores
de um Evangelho, o Evangelho do Reino de Deus.
A paz é definida como a trangiiilidade da ordem. A paz
do Cristo foi por ele instaurada no mistério de sua Páscoa. O
pecado destruiu a paz no coração e a paz entre irmãos. A missão
do Cristo foi a de restaurar essa paz destruída pelo pecado. A
saudação predileta de Jesus a seus apóstolos era: “A paz esteja
convosco” (Lc 24,36; Jo 20,19).

A Carta aos Hebreus proclama o acontecimento capital:


Jesus morreu e ressuscitou. “Deus que outrora falou pelos pro-
fetas, nestes dias falou por meio do Filho.”
O Evangelho de João foi escrito por volta do ano 90, utili-
zando lembranças tradicionais sobre Jesus, segundo o discípulo
bem-amado. O último texto acrescentado ao conjunto foi certa-
mente o prólogo. Ele demonstra aquilo que, ao final do século
primeiro, se tornara o pensamento cristão a respeito do Cristo.
O prólogo é um grande poema de sóbria beleza.
“No começo era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e
a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus.” Como a
Sabedoria, a Palavra, ou seja, Jesus, estava intimamente próximo
de Deus “no começo”, o tempo antes do tempo que não pode ser
descrito com palavra melhor.
“Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que
foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a
luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la.” As
primeiras páginas da Bíblia são resumidas por João. Tudo veio
pela Palavra de Deus.
“A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio
dela — mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era

/3
PNE - QV) - CVV nº 48
seu, € Os seus não a acolheram. Mas, a todos que a receberam,
deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos
que acreditam em seu nome. E a Palavra se fez carne e habitou
entre nós. E nós contemplamos a sua glória, a glória que recebe
do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. De
sua plenitude todos nós recebemos graça por graça.”
João resume o mistério com as palavras “fez-se carne”. Ea
mesma palavra que utiliza para descrever a Eucaristia no discurso
sobre o pão da vida (cap. 6). O sacramento contém nele toda a
história da salvação revelada em Jesus.
“Como são belos [...] os pés de quem anuncia e prega a
paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação”, e diz a Sião:
“Teu Deus é rei!”. A alegria dos vigias é imensa, sabendo “que
verão com os próprios olhos o Senhor” marcando presença em
Sião. Alegria, muita alegria, pois o Senhor resgatou a cidade das
ruínas e trouxe um grande consolo para o povo. Enfim, “todos
os confins da terra hão de ver a salvação que vem de Deus”. Por
isso, hoje, nós cristãos, com a vinda da salvação na pessoa de
Jesus Cristo, cantamos com o Salmo 97: “Cantai ao Senhor Deus
um canto novo, porque ele fez prodígios!”.

3. Atualizando a Palavra

Ouvimos hoje o Prólogo do Evangelho de João: a mais


brilhante síntese deste Evangelho, contendo em miniatura todos
os seus grandes temas. Uma verdadeira poesia! Fala da Palavra
existindo desde sempre junto de Deus, fala da Palavra no mundo
e fala da Palavra no mundo voltada para Deus.
O que é a Palavra? É a força criadora que a tudo dá vida, mas
que existiu desde sempre junto de Deus. No fundo, é a eterna Sa-
bedoria criadora de Deus (cf. Pr 8,22-36; Sb 9,9-12; Eclo 24,3-32).

| CF. José ARIOVALDO DA SILVA, OP. cit., pp. 62-64.

74
PNE - QV) - CVV nº 48
Jesus é a Sabedoria criadora de Deus, existindo desde sempre
junto dele. O que é a Sabedoria? E o sentido da vida presente em
todas as coisas: “Nela estava a vida”, diz o Evangelho.
Na Palavra estava a vida. É como a chuva que cai e fecunda
a terra, fazendo-a produzir vida (cf. Is 55,10-11). Podemos dizer
então que Jesus é essa Palavra geradora de vida: “Tudo foi feito
por meio dela, e, de tudo o que existe nada foi feito sem ela. Nela
estava a vida” (Jo 1,3-4). Ele é a vida brilhando intensamente:
luz que vem brilhar nas trevas!
Essa Palavra geradora de vida assumiu um corpo humano,
encarnou-se em nossa história e foi rejeitada na própria casa.
Felizes os que a recebem, pois se capacitam a tornar-se filhos
e filhas de Deus, nascidos de Deus. E a Palavra “habitou entre
nós”, quer dizer, “armou sua tenda”, “acampou” em nosso meio,
e nós contemplamos sua glória. Em outras palavras, o corpo de
Jesus, a Palavra encarnada, é de agora e para sempre “o ponto de
encontro de Deus com a humanidade, o novo e definitivo Templo
onde se encontra e se adora a Deus [...]. Jesus é e será a presença
visível do Deus invisível [...]. A glória de Deus está presente no
humano Jesus. Ele é a manifestação da glória divina”.
, . a o . . 2

“Jesus é a comunicação de Deus, é o que Deus significa


para nós; e o que não condiz com Jesus contradiz Deus. O que
Jesus fala e faz, Deus é quem fala e faz. Quando esse filho de
carpinteiro convida os pecadores, é Deus quem os chama. Quando
censura os hipócritas, é Deus quem os julga. Quando funda a
comunidade fraterna, é Deus quem está presente nela. E quando
morre por amor fiel até o fim, é Deus quem manifesta seu amor
fiel e sua plenitude de vida. Tudo o que Jesus nos manifesta é
' 3
Palavra de Deus falada a nós, palavra de amor eterno”.

? BortOuNI, op. cit., p. 34.


3
KONINGS, Op. cit., pp. 52-53.

75
PNE - QV) - CVV nº 48
Esse Jesus, plenitude do amor e da revelação de Deus,
é portador de novidade absoluta: “De sua plenitude todos nós
recebemos, graça sobre graça” (Jo 1,16). Trata-se do amor que
dá a vida, como ele a deu (cf. Jo 13,1; 15,13). E corresponder ao
seu amor é fazer o que ele fez, a saber: amar sem limites.
“O Espírito Santo, que o Pai nos presenteia, identifica-nos
com Jesus-Caminho, abrindo-nos a seu mistério de salvação para
que sejamos filhos seus e irmãos uns dos outros; identifica-nos
com Jesus-Verdade, ensinando-nos a renunciar a nossas mentiras
e ambições pessoais; e nos identifica com Jesus-Vida, permitindo-
nos abraçar seu plano de amor e nos entregar para que outros
“tenham vida nele” (Documento de Aparecida, 137).
Trata-se de um amor que supera toda a Lei antiga. A saber,
a vida não está mais na Lei, e sim no amor fiel que se doa até
o fim. Pois Deus é esse amor, e Jesus vive em perfeita sintonia
e comunhão com esse Deus, seu Pai. Mais tarde, Jesus mesmo
dirá: “Quem me vê, vê o Pai” (cf. Jo 14,9b-11). “Quem deseja
conhecer e encontrar o Deus invisível tem agora o panorama
desvendado: ele se tornou visível na Palavra encarnada. Ver esta
º , , . 4
Palavra (isto é: Jesus) é ver o Par”.
Eis, portanto, presente em nosso meio, a expressão máx1-
ma da salvação e da paz sonhada desde os tempos antigos pelo
povo de Israel que sofria a dureza do exílio, quando então ouviu
a promessa: “Todos os confins da terra hão de ver a salvação que
vem do nosso Deus” (Is 52,10). Eis a Palavra que se encarnou e
armou sua tenda entre nós. Eis o Deus salvador falando-nos por
meio de seu Filho.
Em síntese: “Nosso povo, muitas vezes desesperançado e
abandonado como as ruínas de Jerusalém, tem hoje a oportuni-
dade de renovar a caminhada, escutando a boa notícia da che-
gada do reinado de Deus. À quem devemos ser hoje portadores

* BORTOLNI, Op. cit., p. 35.

76
PNE - QV) - CVV nº 48
de boas notícias? Para quem está chegando a salvação? [...] O
impensável acontece: Deus se faz gente como nós para reve-
lar o amor fiel que tem para conosco. Hoje os seres humanos
são convidados a se alegrar, pois, no Filho Deus, que assume
radicalmente o humano. Jesus é o ponto de encontro da hu-
manidade com Deus. Hoje começou a redenção do humano.
Deus tirou todos os véus que impediam sua comunicação com
a humanidade, falando-nos por meio do seu Filho hoje nascido.
E sua primeira linguagem é a de uma criança como qualquer
criança”.” E “à medida que nós formos novos Cristos, também
nossa “carne” (nossa vida e história) será uma Palavra de Deus
para nossos irmãos e irmãs, e mostrará ao mundo o verdadeiro
6
rosto de Deus: um rosto de amor”.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Celebramos hoje o mistério da Palavra (Sabedoria criadora
de Deus), força geradora de vida que esteve sempre junto de Deus
e que se fez “carne” em nossa história para nos tornar eternos.
E o mistério de encarnação de Cristo, nosso Senhor, pelo qual
“realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova
em plenitude”. Pois, no momento em que ele “assume nossa fra-
queza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade:
ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio
do Natal III).
A Eucaristia (memorial da Páscoa do Senhor que selou
definitivamente a aliança de Deus com a humanidade) “coroa
nossa celebração, e nela somos gratos ao Pai, pois na Palavra
feita gente recebemos o poder de nos tornarmos filhos de Deus,
7 . 7
nós que acolhemos Jesus e acreditamos em seu nome”.

* Ibid., n. 36
Konings, op. cit., p. 53.
” BortOLNI, Op. cit., p. 32.

71
PNE - QV) - CVV nº 48
Pela Liturgia Eucarística que vamos logo celebrar, louva-
mos e agradecemos a Deus por nos ter iluminado com o mistério
de Cristo, cuja encarnação restaurou tudo o que existe. Pois, “por
ele (Cristo) realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá
vida nova em plenitude. No momento em que ele assume nossa
fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade:
ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio
do Natal III). Graças ao mistério pascal que selou definitivamente
este encontro!
Por isso, na ação eucarística, trazemos presente o memorial
da morte e ressurreição de Cristo que nos salvou e o oferecemos
ao Pai. Participando deste memorial, comendo o Corpo entregue
e bebendo o Sangue derramado de Cristo, assimilamos toda a
sabedoria e amor da Palavra que se encarnou no humano e nos
fez renascer para a verdadeira vida. Assim, após a comunhão o
sacerdote reza em nome de todos: “O Deus de misericórdia, que o
Salvador do mundo hoje nascido, como nos fez nascer para a vida
divina, nos conceda também sua imortalidade”. Assim seja!

5. Sugestões para a celebração


(Como na missa da noite.)

“O mistério da encarnação, que celebramos no Natal, revela


o quanto Deus nos ama. Em Jesus de Nazaré vem participar
da vida humana para conceder-nos a vida divina. Ele é o
Filho amado do Pai que não se envergonhou de chamar-
nos irmãos (cf. Hb 2,11). Nele e por ele, Deus revelou em
palavras humanas sua mensagem divina. Tudo o que o Pai
nos quis ensinar no-lo revelou mediante seu Filho. Celebrar
o Natal é tomar parte nesse desígnio de amor. O Emanuel
— Deus conosco — vem divinizar a história humana; aquele
que nos pediu um lugar para nascer oferece-nos, agora, uma
morada definitiva com ele, junto do Pai, no amor do Espírito
Santo” (GoEDERT, Valter. Nasceu o Salvador: espiritualidade
natalina. São Paulo, Paulinas, 2004. p. 8.)

78
PNE - QV) - CVV nº 48
Sagrada Família
28 de dezembro de 2008

Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Salmo 127(128);


Colossenses 3,12-21; Lucas 2,22.39-40

“Meus olhos viram a tua salvação”

1. Situando-nos brevemente

Com renovada alegria festejamos a solenidade do Natal de


Jesus, o Emanuel — Deus que veio até nós.
A festa que hoje celebramos leva-nos a contemplar a família
de Jesus e, nela, a nossa família e todas as famílias cristãs.
Ao armar sua tenda entre nós, Jesus o fez no seio de uma
família, exatamente para valorizar e dignificar esta pequena co-
munidade humana e para nos mostrar o quanto ela é significativa
e essencial no contexto da sociedade e da Igreja.
Ao olharmos a família de Nazaré, vemos a importância
do lar, especialmente do lar cristão, mas não há como deixar
de perceber seu contraste com tantas comunidades familiares
desestruturadas, tantos lares arruinados.
Jesus quis também ser um exemplo humano de filho que
ama seus pais, porém sem deixar de procurar as coisas de Deus,
sem abrir mão da missão que o Pai Celeste lhe confiou.
Na encarnação do Filho divino em uma família humana,
encontramos os elementos que inspiram a constituição de nossas
comunidades familiares: amor, respeito, humildade, paciência,
compreensão mútua e doação.

79
PNE - QV] - CVV nº 48
Celebremos, pois, a festa de hoje como participantes da
grande família humana e, especialmente, como membros de uma
comunidade familiar. Com Ana e Simeão, louvemos a Deus por
nos ter enviado seu Filho para nos libertar.

2. Recordando a Palavra

Maria e José ouviam e cumpriam a Palavra de Deus, por


isso foram ao Templo apresentar Jesus, conforme estava escrito
na Lei do Senhor. Busquemos, também nós, ouvir e compreender
a Palavra proclamada e cumprir o compromisso a que ela nos
conduz.
A Liturgia da Palavra da festa da Sagrada Família, neste
ano B, inicia-se com a leitura do Eclesiástico. Por ser um livro
sapiencial, apresenta indicações para o bem viver. O trecho que
ouvimos traz orientações para as ações dos filhos em relação a
seus pais, porque é através dos filhos que Deus honra os pais.
São também mostradas as consegiiências positivas que as boas
ações filiais trarão a seus autores.
Na carta proclamada como segunda leitura, Paulo dirige-se
à comunidade de Colossos. Talvez essa carta tenha sido escrita
quando ele estava na prisão, no entanto, não se tem certeza disso.
Na segunda parte da carta que hoje escutamos, o Apóstolo eviden-
cia o que uma comunidade precisa para viver em paz e harmonia,
conforme os valores do Reino de Deus. Mostra que somos amados
por Deus e daí derivam as qualidades a serem cultivadas. Fala da
aceitação mútua e do perdão e ressalta o amor como vínculo da
perfeição. Conclama à ação de graças ao Pai. Ao final, reserva
um trechinho específico sobre a convivência familiar.
Nos tempos atuais, a frase “esposas, sede solícitas a vossos
maridos”, muitas vezes traduzida “esposas, sede submissas a
vossos maridos”, provoca reações ora de espanto, ora de contra-
riedade, ora de indignação. Para entendê-la, contudo, é preciso

80
PNE - QV] - CVV nº 48
considerar dois elementos. Primeiro, o contexto sociocultural
da época de Paulo era bastante diverso deste em que estamos
inseridos. Em segundo, essa tão polêmica frase ofusca a que lhe
segue: “maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros
com elas”. Portanto, na linguagem de seu tempo e conforme a
sociedade daquele período, o Apóstolo prega o valor evangélico
do respeito mútuo na convivência do casal.
O Evangelho hoje proclamado faz parte do chamado
evangelho da infância de Jesus. Os escritores sagrados não se
preocuparam em narrar fatos ou episódios do período infantil
da vida de Cristo, o que importa saber é quem é ele e qual sua
missão. O evangelista evidenciou estes aspectos pela fala e pela
ação de dois personagens. Primeiro, o discurso de Simeão: “Ago-
ra, Senhor, conforme tua promessa, podes deixar teu servo partir
em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste
diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do
teu povo Israel”; depois, o agir da profetisa: “Ana chegou nesse
momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos
os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
Notemos como Maria e José, ao levarem Jesus para ser
apresentado no Templo, obedeceram ao que previam as Escritu-
ras, isto é, submeteram-se à Palavra de Deus por estarem com-
prometidos com ela, porque a haviam interiorizado e a tornado
significativa em suas vidas. Isto tem muito a ver com a missão de
Jesus, que previa sua obediência à vontade do Pai Celeste, pois
ele encontrou, em sua comunidade familiar, em seu lar, o forte
testemunho da obediência à Palavra, aos preceitos de Deus.
Pela ação de Maria e José, pelas palavras de Simeão, pela
reação de Ana, configura-se tanto quem é Jesus — o Messias, O
Salvador, o Libertador — como qual sua missão: ser luz para as
nações, glória do povo escolhido e, na obediência ao Pai Celeste,
salvação da humanidade.

81
PNE - QV) - CW nº 48
Nesta festa da Sagrada Família, enriquecemo-nos com a
Liturgia da Palavra, particularmente plena de recomendações
sobre o agir cristão, quer na pequena comunidade do lar, quer na
grande comunidade dos filhos de Deus. Sintetizamos a essência
das leituras proclamadas quando cantamos o Salmo 127: “Feliz
és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos!”.

3. Atualizando a Palavra

Mais do que uma época de mudanças, vivemos, neste Início


de século XXI, uma mudança de época. Entre tantas alterações
positivas e negativas nas mais diversas áreas da vida humana,
percebe-se, no âmbito das relações, o crescente individualismo
que enfraquece os laços interpessoais.
A comunidade familiar não está imune às transformações,
pelo contrário, sente-as profundamente e, por isso, se debate
entre os valores que a alicerçam e os contravalores que a querem
destruir. Diante das inúmeras ameaças e dos fortes questiona-
mentos sobre seu significado e seu papel na sociedade atual, o
valor e a dignidade da família são reafirmados pela Igreja. Reu-
nidos em Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe
sublinham: “A família, “patrimônio da humanidade”, constitui
um dos tesouros mais valiosos dos povos latino-americanos.
Ela tem sido e é o lugar e escola de comunhão, fonte de valores
humanos e cívicos, lar onde a vida humana nasce e se acolhe
generosa e responsavelmente” (Documento de Aparecida, 302),
e nos apontam um compromisso missionário: “Em nossos países,
parte importante da população é afetada por difíceis condições
de vida que ameaçam diretamente a instituição familiar. Em nos-
sa condição de discípulos missionários de Jesus Cristo, somos
chamados a trabalhar para que tal situação seja transformada e
a família assuma seu ser e sua missão no âmbito da sociedade e
da Igreja” (Documento de Aparecida, 432).

82
PNE - QV) - CVV nº 48
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja
no Brasil (2008-2010) também nos chamam a refletir e a agir
em favor da comunidade familiar: “A família é reconhecida
como o maior valor pelo nosso povo. Por isso deve ser ajudada
por uma pastoral familiar intensa e vigorosa. [...] A pastoral
familiar poderá contribuir para que a família seja reconhecida
e vivida não somente como lugar de sacrifício, mas também de
realização humana, a mais intensa possível na experiência de
paternidade, de maternidade, de filiação, como estrutura de um
pertencer que desperte crescimento, maturidade, e proporcione
satisfação” (129).
É, pois, na família que primeiro cultivamos nossos valores
cristãos, alguns dos quais, como amor, respeito, acolhimento,
paciência e humildade, nos foram hoje explicitados tanto pelo
autor do Eclesiástico como por são Paulo.
Lembremos sempre que “Deus ama nossas famílias, ape-
sar de tantas feridas e divisões. A presença invocada de Cristo
através da oração em familia nos ajuda a superar os problemas,
a curar as feridas e abre caminhos de esperança. Muitos vazios
de lar podem ser atenuados através de serviços prestados pela
comunidade eclesial, família de famílias” (Documento de Apa-
recida, 119).

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A Liturgia da Palavra conduz à Liturgia Eucarística, e a
Liturgia Eucarística plenifica-se na Liturgia da Palavra. Na festa
que hoje celebramos, a Palavra proclamada leva-nos a rezar: “O
Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como exem-
plo, concedei-nos imitar em nossos lares a suas virtudes para que,
unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias
da vossa casa” (oração do dia). Leva-nos também a pedir que
“pela intercessão da Virgem Mãe de Deus e do bem-aventurado

83
PNE - QV) - CVV nº 48
são José, firmeis nossas famílias na vossa graça, conservando-as
na vossa paz” (oração sobre as oferendas). O Prefácio próprio
desta festa recorda que Jesus, ao assumir a natureza humana no
seio de uma família, nos trouxe incomparável dignidade e “ao
tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos”. Por essa ra-
zão, agora e sempre, nós cantamos: “Santo, Santo, Santo, Senhor
Deus do Universo”.
Como participantes da grande família cristã, reunimo-nos,
todo domingo, Dia do Senhor, para celebrar, para render graças a
Deus, para nos alimentar do pão da Palavra e do pão da Eucaristia.
Reconfortados e fortalecidos por este sacramento, retornamos
à missão mais comprometidos, e hoje, particularmente, com o
propósito de sempre imitar a Sagrada Família (cf. oração após
a comunhão).

5. Sugestões para a celebração

1. Antes da celebração, ensaiar os cantos e, assim, já criar O


clima celebrativo.

2. No dia de hoje, dar especial relevo à família. Na procissão de


entrada, uma família pode trazer as imagens de Jesus, Maria e
José e recolocá-las no presépio ou em um lugar previamente
preparado, onde fiquem em destaque.

3. Convidar famílias para exercerem diferentes ministérios:

a) uma família participa da procissão de entrada;

b) uma família proclama as leituras (adultos e jovens, não


crianças);

c) uma família invoca as preces da comunidade; e

d) uma família serve o altar.

84
PNE - QV) - CVV nº 48
Cantar o pai-nosso — a oração da família de Deus.

Depois do silêncio após a comunhão, retomando o texto do


Evangelho, cantar o Benedictus.

A cor litúrgica desta festa é o branco.

ÀS LIÇÕES DE NAZARÉ

“Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida


de Jesus: a escola do Evangelho.
Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o
significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifes-
tação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus.
Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender
quem é o Cristo.
[...] algumas breves lições de Nazaré.
Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a esti-
ma pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição
do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos
e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibi-
lizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a
interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações
e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a neces-
sidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação,
da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no
segredo.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que
é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples
e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos
de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e

85
PNE - QV) - CVV nº 48
insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no
plano social.
Uma lição de trabalho. O Nazaré, 6 casa do “filho do
carpinteiro”! E aqui que gostaríamos de compreender e
celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano;
aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho;
aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si
mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais
que de seu valor econômico, dos valores que constituem
o seu fim. Finalmente, como gostariamos de saudar aqui
todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes
seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as
causas justas, o Cristo nosso Senhor” (Alocução de Paulo
VI pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964).

86
PNE - QV] - CVV nº 48
Santa Mãe de Deus, Maria
1º de janeiro de 2009

Leituras: Números 6,22-27; Salmo 66(67);


Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21]

Deu ao mundo a luz eterna

1. Situando-nos brevemente

Ao completar-se a oitava do Natal, reunimo-nos como


filhos e filhas de Deus para celebrar o mistério de nossa fé, par-
tilhando da mesa da Palavra e da mesa da Eucaristia.
Hoje somos chamados ao encontro com Jesus, através de
Maria, a “cheia de graça”, aquela que é “bendita entre as mulhe-
res” por ter aceitado ser a mãe do Salvador.
“Em nossas comunidades, sua forte presença tem enrique-
cido e continuará enriquecendo a dimensão materna da Igreja
e sua atitude acolhedora, que a converte em “casa e escola da
comunhão” e em espaço espiritual que prepara para a missão”
(Documento de Aparecida, 272).
Hoje é o Dia Mundial de Oração pela Paz. Conforme
proposto pelo papa Paulo VI, em todas as missas celebradas
neste dia reza-se especialmente pela paz que emana de Cristo,
como ele mesmo disse: “Eu vos deixo a minha paz, eu vos dou
a minha paz”.
Primeiro de janeiro — tem início novo ano civil. Como todo
começo, este também nos instiga a olhar o passado e projetar o
futuro. Rezemos, pois, para que a bênção divina derramada sobre
Maria seja igualmente derramada sobre o mundo para que, por
nossa ação, torne-se mais justo e mais cristão.

87
PNE - QV) - CW nº 48
2. Recordando a Palavra

Maria “ensina-nos o primado da escuta da Palavra na vida


do discípulo missionário [...] nela a Palavra de Deus se encontra
de verdade em sua casa, de onde sai e entra com facilidade”
(Documento de Aparecida, 271). Sob o ensinamento de Maria
e inspirados pelo Espírito Santo, vamos acolher em nossos
corações e em nossas mentes a Palavra hoje proclamada, para
fazê-la frutificar em nosso dia-a-dia, pois “o anúncio e a acolhida
da Palavra são fundamentais para a vida e a missão da Igreja”
(Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
[2008-2010], 62).
Inicialmente, escutamos o relato do Livro dos Números
que nos apresenta uma belíssima fórmula de bênção.
A bênção é uma maneira de comunicar vida, não qualquer
vida, mas a vida plena no Espírito. Vamos perceber, mais pro-
fundamente, o sentido desta bênção de Aarão. No texto, ela está
individualizada, recai sobre uma pessoa (te guarde... sobre ti...
para ti...), porém esta pessoa representa todo o povo de Israel,
todos nós — povo escolhido.
A primeira invocação, “o Senhor te abençoe e te guarde”,
pede a proteção de Deus e que ele esteja sempre junto conosco.
A segunda invocação, “faça brilhar sobre ti sua face, e se
compadeça de ti!”, refere-se a que Deus nos seja favorável, que
seja benevolente conosco e compreensivo com nossas fraquezas
humanas.
A terceira invocação, “volte para ti o seu rosto e te dê a
paz!”, requer que Deus nos acolha em sua infinita bondade e nos
permita viver o dom da paz que dele emana.
Em síntese, o próprio Deus ensina o que pedir e como
pedir: “Assim invocarão o meu nome”, para obter sua bênção:
“eu os abençoarel”.

88
PNE - QV) - CVV nº 48
A carta paulina ouvida nesta solenidade da mãe de Deus
mostra-nos o Filho de Deus, nascido de uma mulher, que, ao
assumir a natureza humana, nos liberta, nos faz filhos e herdeiros
do mesmo Pai. Aos obtermos a condição de filhos do mesmo Pai,
desenvolve-se a fraternidade entre nós, e passamos todos a ser
irmãos em Cristo, com Cristo, por Cristo.
A festa de Natal estende-se por mais uma semana. Retoma-
se a leitura do Evangelho de Lucas no ponto em que se parou
na noite da grande festa. O Evangelho terminava, então, com o
anúncio do anjo aos pastores de que o Messias nascera. O coro
dos anjos entoou: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na
terra aos homens por ele amados!”. O evangelista pode agora
contar o que se seguiu e a reação dos personagens diante do
excepcional acontecimento.
O Evangelho retrata os pastores, na época grupo margina-
lizado, que encontram Maria, José e o Menino. Eles o reconhe-
cem como o Messias e testemunham o que viram, conforme a
narrativa de Lucas: “e todos os que ouviram os pastores ficaram
maravilhados com aquilo que contavam”. O Evangelho destaca
também Maria, mãe de Jesus, que é um testemunho de fé. No
dia da Anunciação, ela respondeu ao anjo com um sim. Isabel a
saudou como aquela que creu. Junto ao berço de Jesus, ela escuta
o que os pastores ouviram da boca dos anjos: “Nasceu para vós
um Salvador”. A Escritura diz, entretanto, que, mesmo numa
piedosa atitude de acolhida, ela experimentou as obscuridades
da fé: “Maria, entretanto, guardava todos esses fatos e meditava
sobre eles em seu coração”.
O anúncio dos pastores e a acolhida de Maria, e também
de José, evidenciam que ambas as atitudes são fundamentais
para a vida e a missão da Igreja (cf. Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 62).
O Evangelho hoje proclamado conclui com a significativa
frase: “deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo,

89
PNE - QV] - CVV nº 48
antes de ser concebido”. O nome Jesus significa “Deus salva”.
Portanto, mais uma vez, é aqui reafirmada a missão do Menino:
ser o Salvador, o nosso Salvador.

Por todas as maravilhas operadas em nosso favor, canta-


mos com o Salmo 66: “Exulte de alegria a terra inteira [...] que
as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos
glorifiquem!”.

3. Atualizando a Palavra

Os pastores, ao encontrarem o Menino repousando sobre a


manjedoura, perceberam os sinais de salvação. Saindo dali, eles
próprios tornaram-se sinais anunciadores de salvação “e todos os
que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que
contavam”. Nós também somos hoje chamados ao encontro pes-
soal com Jesus para que dele frutifiquem nosso ser e nosso agir,
pois somos como “discípulos missionários, chamados a encarnar
o Evangelho no coração do mundo” (Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 21). “Nosso
espirito missionário se fortalece em escutar, aprender e anunciar
explicitamente a Cristo nas diversas culturas”, como afirma a
declaração final do III Congresso Americano Missionário.
“Em Maria, encontramo-nos com Cristo, com o Pai e com
o Espírito Santo, e da mesma forma com os irmãos” (Documento
de Aparecida, 267). Que este quádruplo encontro seja frutuoso
em nossas vidas para que possamos ser portadores da Boa-Nova
ao mundo, mensageiros da paz.
“Maria é a grande missionária, continuadora da missão de
seu Filho e formadora de missionários” (Documento de Apare-
cida, 269). Se somos missionários, somos, pois, formados por
Maria e em Maria. Vamos nos esforçar para verdadeiramente
nos espelhar nela e ser testemunhas de “um outro mundo pos-
sível”, nesta sociedade tão conturbada, tão ameaçada por falsos

90
PNE - QV) - CVV nº 48
valores, na qual são desprezadas a solidariedade, a bondade, a
misericórdia e a ética. Neste contexto, somos convidados, con-
clamados, a responder às novas situações históricas, sociais e
eclesiais, comunicando o amor de Deus e a Boa-Nova do Reino
como um testemunho; e também a restaurar a ordem na nature-
za, a renovar em todos os povos, culturas e corações o rosto da
humanidade mediante a conversão e a salvação (cf. Declaração
do III Congresso Americano Missionário). Estejamos sempre
conscientes de que somos filhos do mesmo Pai Celeste, portanto,
irmãos no seguimento de Jesus, solidários na missão, no anúncio,
no testemunho.
Nesta caminhada de compromisso, não podemos, no en-
tanto, deixar de nos questionar, de avaliar se, de fato, assumimos
o testemunho de vida. Nunca é demais parar e pensar se acaso
não estamos sendo apenas transmissores de palavras que, por
ficarem desligadas da vivência, do gesto concreto, tornam-se
vãs. Surge forte a interrogação se efetivamente guardamos e
meditamos a Palavra em nosso coração e dela fazemos vida ou
se sucumbimos ao poder do individualismo, do consumismo, do
ter sobre o ser.
Certamente não é fácil nos mantermos no caminho do pro-
jeto de Deus, pois estamos imersos em um contexto desfavorável.
No entanto, contamos com uma grande força: a bênção de Deus
que se derrama sobre nós quando, esperançosos e confiantes, a
invocamos, dizendo: “Deus nos dê a sua graça e a sua bênção,
e sua face resplandeça sobre nós! Que na terra se conheça o seu
caminho e a sua salvação por entre os povos” (Sl 66). Em res-
posta, o Pai mesmo afirma “eu os abençoarer”.
O Projeto Nacional de Evangelização convoca-nos a entrar
em estado permanente de missão, a sair ao encontro das pessoas
para comunicar e partilhar o dom do encontro com Cristo que
plenificou nossas vidas de sentido, de verdade e amor, de alegria
e esperança.

91
PNE - QV) - CVY nº 48
4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica
Na festa da maternidade de Maria, celebramos com louvo-
res a Deus Pai (cf. Prefácio do dia).
No início da celebração, unimos nosso coração e, através do
presidente, pedimos todos juntos que possamos “contar sempre
com a intercessão de Maria, pois ela nos trouxe o autor da vida”
(Oração do dia).
Reforçamos este pedido quando, na Oração sobre as Ofe-
rendas, clamamos ao Pai: “concedei aos vossos filhos, na festa
da Mãe de Deus, que, alegrando-nos com as primícias da vossa
graça, possamos alcançar sua plenitude”. Completamos este
clamor, após a comunhão, orando: “O Deus de bondade, cheios
de júbilo, recebemos os sacramentos celestes; concedei que eles
nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos a Virgem
Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja”.
Neste Dia Universal de Oração pela Paz, com mais vigor
ressoa no mundo, na Igreja, em nossos corações o que rezamos
durante o Rito da Comunhão: “Senhor Jesus Cristo, dissestes
aos vossos apóstolos: “eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha
paz”. Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima vossa
Igreja; dai-lhe, segundo vosso desejo, a paz e unidade. Vós que
sois Deus, com o Pai e o Espírito Santo”.

5. Sugestões para a celebração

1. Colocar, próximo ao altar, ou trazer na procissão de entrada,


uma imagem ou ícone de Maria com o Menino.

2. Hoje é o Dia Universal da Paz. Por isso, com uma moti-


vação adequada, seja o abraço da paz dado no início da
celebração.

92
PNE - QV) - CVVY nº 48
A cor litúrgica desta solenidade é o branco. Esta mesma cor
é um dos símbolos da paz. Privilegiar o uso do branco na
ornamentação do espaço litúrgico.

Após a comunhão, reservar um momento de silêncio. Depois,


pode-se cantar o Magnificat.

Cuidar para que os cantos sejam litúrgicos e não “cantos de


Maria”, dissociados do que se está celebrando.

Invocar a bênção solene, própria para este dia, conforme o


Missal Romano.

Motivar para que, ao final da celebração, os participantes


manifestem uns aos outros os votos de um santo e abençoado
novo ano. Pode-se cantar o hino: “É bonita demais a mão de
quem conduz a bandeira da paz”, de autoria de Zé Vicente
(Ofício Divino das Comunidades, pp. 393-394).

93
PNE - QV) - CVV nº 48
Epifania
4 de janeiro de 2009

Leituras: Isaías 60,1-6; Salmo 7172);


Efésios 3,2-34.5-6; Mateus 2,1-12

“Nós vimos sua estrela”

1. Situando-nos brevemente

A manifestação do Senhor — é este o aspecto do mistério


Jesus Cristo que enfocamos, privilegiadamente, nesta festa da
Epifania.
O dia 6 de janeiro é popularmente conhecido como “Dia de
Reis” ou “Festa dos Reis Magos”. Tais denominações, no entanto,
são equivocadas, pois desviam para os reis magos a centralidade
de um importantíssimo acontecimento que deveria ser dirigido
ao Menino, “Sol nascente que nos veio visitar”.
Palavra de origem grega, epifania significa manifestação,
isto é, ato de dar a conhecer, de revelar, de pronunciar-se publica-
mente. A centralidade da festa não está, portanto, nos reis, embora
eles sejam personagens significativos, pois são instrumento de
Deus para mostrar que seu Filho amado veio trazer a salvação a
todos os povos, sem exceção.
A Liturgia da Solenidade da Epifania nos convida:
Elevai o olhar aos céus,
vós que a Cristo procurais.
E da sua eterna glória
podereis ver os sinais.
(Liturgia das Horas, Hino de Laudes)

94
PNE - QV) - CVV nº 48
Na festa da Mãe de Deus, vimos que, os pastores que per-
cebem o Menino como o enviado de Deus, hoje são os magos
que recebem esta revelação.
Neste domingo, Dia do Senhor, celebremos nossa Páscoa
semanal como os magos, atentos aos sinais da manifestação do
Senhor que está entre nós. Pela Palavra proclamada e pelo Pão
partilhado, reabastecemo-nos para, como discípulos missionários,
seguir o caminho apontado pela estrela-guia.

2. Recordando a Palavra

Os magos viram a estrela brilhar e puseram-se a caminho.


A Palavra que escutamos é a estrela a brilhar para iluminar nossa
mente e nosso coração. Vamos acolhê-la e colocá-la em prática
ao seguir pelo caminho.
O texto de Isaías, leitura inicial da solenidade da Epifania,
refere-se a Jerusalém, cidade do sol, por Deus iluminada da
aurora ao ocaso.
O profeta prediz a vinda do Salvador cuja luz dissipará as
trevas. A narrativa exala alegria e esperança: “os povos caminham
à tua luz e os reis, ao clarão de tua aurora. Teus filhos vêm chegan-
do; ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando”. Todos
acorrem a Jerusalém, onde a glória de Deus vai se manifestar.
O Evangelho nos mostra que a profecia se cumpre: “Che-
gou a luz, apareceu a glória do Senhor” — “a glória do Senhor
manifestou-se”.
Os versículos iniciais do capítulo 2 de Mateus, assim como
em Lucas nos domingos precedentes, remetem à infância de Jesus
e o fazem sob um enfoque catequético, não como uma crônica
ou um relato histórico.
Três elementos ressaltam nessa narrativa: a cidade de Be-
lém, os magos e a estrela.

95
PNE - QV) - CVV nº 48
Belém, diferente de Jerusalém — cidade grande e bela —, é
uma localidade simples, pobre. Foi ela a escolhida para, primeil-
ramente, acolher o Filho de Deus, prefigurando que os corações
simples, destituídos de falsas riquezas, são aqueles que têm con-
dição de acolher a Palavra e vivenciá-la. Os magos repetiram a
Herodes o que dissera o profeta: “Belém, terra de Judá, de modo
algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de
ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.

Os magos não são mágicos, como por muito tempo se di-


vulgou, mas são sábios, estudiosos, pertencentes a outros povos
e nações estrangeiras. Nesse trio estão simbolizadas todas as
nações, todas as “gentes”. E a síntese do mundo, evidenciando
que Jesus veio para que “todos tenham vida”. Os magos têm um
encontro pessoal com Jesus: “viram o Menino, ajoelharam-se e
o adoraram”. Eles vieram por um caminho, porém voltaram por
outro para não reencontrarem Herodes. Este queria a morte, a
destruição do Salvador; os magos, contudo, optaram pela vida e
retornaram a sua terra por outro trajeto.

Na segunda leitura, Paulo reafirma que Cristo veio para


todos, e “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros
do mesmo corpo e associados à mesma promessa de Jesus Cristo”.
A salvação, portanto, não se destina apenas ao povo escolhido,
mas a todas as “gentes”, sem exceção. Todos têm direito à herança
do Pai, trazida pelo Filho, no Espírito Santo.

Paulo também diz que há um mistério que “Deus não o fez


conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de revelar
agora” — este mistério é o projeto salvador de Deus, revelado em
Jesus. O apóstolo apresenta-se como testemunha dessa revelação:
“por revelação tive conhecimento do mistério”.

96
PNE - QV] - CVV nº 48
Ao escutarmos a Palavra de nosso Deus, com fé e esperan-
ça, proclamamos com o Salmo 71: “Os reis de toda a terra hão de
adorá-lo e todas as nações hão de servi-lo. Libertará o indigente
que suplica e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do
indigente e do infeliz, e a vida dos humildes salvará”.

3. Atualizando a Palavra

À primeira leitura e o Evangelho têm uma íntima correlação.


Além da temática, em si, eles evidenciam dinamismo, isto é, forças
que movem, que animam o ser. Em Isaías, os povos caminham;
em Mateus, os magos caminham (chegam, retornam). Em Isaías,
Jerusalém é exortada a levantar os olhos, ver e ficar radiante; em
Mateus, os magos vêem a estrela e alegram-se. Em Isaías, virão
todos; em Mateus, vêm os magos, síntese de todos os povos.
Hoje somos convocados a caminhar, a ver, a nos alegrar com
os elementos positivos de nossa Igreja e de nossa sociedade: os
discípulos missionários que se comprometem e anunciam que um
outro mundo é possível; tantas pessoas que se colocam a serviço
da vida, da renovação eclesial, do fortalecimento dos regimes de-
mocráticos latino-americanos, da crescente busca de proximidade
cultural entre os povos (cf. Documento de Aparecida).
Precisamos, no entanto, dedicar permanente atenção aos
sinais que hoje se delineiam, como se delineou a estrela para os
magos do Oriente. Precisamos constantemente nos perguntar:
“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”, e na lingua-
gem atual, “onde está Jesus que velo até nós?”.
O Documento de Aparecida nos diz que encontramos
Jesus: na fé recebida e vivida na Igreja; na Sagrada Escritura,
Palavra de Deus; na Liturgia, ao celebrar o mistério pascal; na
Eucaristia; no Sacramento da Reconciliação; na oração pessoal
e comunitária e, privilegiadamente, nos irmãos, sobretudo nos
pobres, aflitos e enfermos.

97
PNE - QV] - CVV nº 48
O caminho dos magos é o nosso caminho. Eles podiam ter
retornado pelo mesmo trajeto e respondido a Herodes, rei injusto,
dissimulado e auto-suficiente. No entanto, preferiram afastar-se
dele porque o Menino veio para reunir “as pessoas e os povos
na construção da harmonia e da paz” (III Congresso Americano
Missionário, 14), “veio para renovar em todos os povos, cultu-
ras e corações o rosto da humanidade mediante a conversão e a
salvação” (III Congresso Americano Missionário, 9). Então, se a
sociedade nos atrai para o caminho que leva a Herodes, façamos
como os reis e tomemos outro caminho, escolhamos o caminho
que leva ao Pai.
Ao nos comprometermos com o projeto de salvação tra-
zido por Jesus, assumimos uma missão, tornamo-nos discípulos
missionários para que todos tenham vida, seja qual for sua etnia,
cultura, gênero, crença, idade — estejam eles longe ou perto. Como
refere o papa Bento XVI, “o campo da Missão ad gentes se tem
ampliado notavelmente e não é possível defini-lo baseando-se
apenas em considerações geográficas ou jurídicas. Na verdade,
os verdadeiros destinatários da atividade missionária do povo de
Deus não são só os povos não-cristãos e das terras distantes, mas
também os campos socioculturais, e sobretudo os corações”.
Nós também temos uma estrela-guia. Nas palavras de D.
Erwin Krautler: “O Deus-Conosco é sempre o Deus que caminha
à nossa frente e ao nosso encontro”.
O que os magos viram era tão humilde, escreve João
Crisóstomo, que, sem a fé, eles não se teriam prosternado. A fé
é “esta luz com que Deus lhes enchera a alma”, uma luz muito
mais perfeita do que a estrela. A fé é seguida pela obediência e
é isso que explica o fim do episódio. “Avisados em sonho para
não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo
outro caminho” (v. 12). Para nós, a Epifania pode ser um des-
pertar da fé.

98
PNE - QV) - CVV nº 48
4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica
Na celebração da Eucaristia, apresentamos a Deus a verda-
deira e legitima oferenda, por isso dizemos ao Pai: “Olhai com
bondade as oferendas da vossa Igreja, que não mais vos apre-
senta ouro, Incenso e mirra, mas o próprio Jesus Cristo, imolado
e recebido em comunhão nos dons que o simbolizam” (oração
sobre as oferendas).
O prefácio de hoje traduz o sentido da Epifania: “Revelas-
tes, hoje, o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos
os povos no caminho da salvação”.
Na oração inicial, elevamos nosso pedido a Deus, estabe-
lecendo no hoje a ponte entre passado e futuro: “Ó Deus, que
hoje revelastes o vosso filho às nações, guiando-as pela estrela,
concedei aos vossos servos e servas que já vos conhecem pela fé,
contemplar-vos um dia face a face no céu” (oração do dia).
Iluminados pela Palavra e revigorados pelo Pão Eucarístico,
antes de partir novamente para a missão, dirigimo-nos ainda uma
vez ao Pai, dizendo: “O Deus, guiai-nos sempre e por toda parte
com a vossa luz celeste, para que possamos acolher com fé e
viver com amor o mistério de que nos destes participar” (oração
após a comunhão).
Como discípulos missionários, manifestemos ao mundo,
pelo testemunho, que o Salvador está no meio de nós.

5. Sugestões para a celebração

l. Antes da procissão de entrada, algumas pessoas entram com


incensários. Elas percorrem todo o templo, não só o corredor
central, e depois depositam os incensários próximo ao altar
e ao ambão.

99
PNE - QV] - CVV nº 48
Dar destaque ao símbolo da estrela que está acima do pre-
sépio, com iluminação especial, ou colocando uma estrela
próxima ao ambião.

Valorizar as etnias que constituem a comunidade ou a região


em que ela está inserida. Convidar representantes das diver-
sas etnias para a proclamação das leituras, a procissão das
oferendas, o serviço do altar.

No início da celebração, destacar que hoje Jesus Cristo


manifestou-se a todas as nações, povos, “gentes”, e nomear
as etnias que participam da comunidade.

O prefácio é o próprio para esta solenidade.

Nas regiões onde existe a Folia de Reis, seria bom convidar


o grupo para prestar uma homenagem ao Menino Jesus, no
final da celebração.

Depois da proclamação do Evangelho ou em seguida à Ora-


ção depois da Comunhão, faz-se o anúncio das solenidades
móveis do ano.
Anúncio das Solenidades Móveis de 2009
Irmãos caríssimos, a glória do Senhor manifestou-se,
e sempre há de manifestar-se no meio de nós,
até a sua vinda no fim dos tempos.
Nos ritmos e nas vicissitudes do tempo,
recordamos e vivemos os mistérios da salvação.
O centro de todo o Ano Litúrgico
é o Tríduo do Senhor crucificado,
sepultado e ressuscitado,
que culminará no Domingo de Páscoa,
este ano em 12 de abril.

100
PNE - QV) - CVV nº 48
Em cada domingo, Páscoa semanal,
a Santa Igreja torna presente este grande acontecimento,
no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte.
Da celebração da Páscoa do Senhor
derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico:
as cinzas, início da Quaresma, em 25 de fevereiro;
a Ascensão do Senhor, em 24 de maio;
o Pentecostes, em 31 de maio;
o 1º Domingo do Advento, em 29 de novembro.
Também as festas da Santa Mãe de Deus,
dos Apóstolos, dos Santos,
e na comemoração dos Fiéis Dejfuntos,
a Igreja peregrina sobre a terra
proclama a Páscoa do Senhor.
A Cristo que era, que é e que há de vir,
Senhor do tempo e da história,
louvor e glória pelos séculos dos séculos.
Amém.

AQUELE QUE QUIS NASCER PARA NÓS


NÃO QUIS SER IGNORADO POR NÓS
“Embora no mistério da encarnação do Senhor os sinais
de sua divindade tenham sido sempre claros, a solenidade
que hoje celebramos manifesta e revela de muitas formas
que Deus veio ao mundo num corpo humano, para que os
homens, mergulhados nas trevas, não perdessem por igno-
rância o que só puderam alcançar e possuir pela graça.
Com efeito, aquele que quis nascer para nós não quis ser
ignorado por nós: Por isso, manifestou-se desse modo, para

101
PNE - QV) - CVV nº 48
que o grande mistério de seu amor não desse ocasião a um
grande erro.
Hoje os magos que o procuravam resplandecente nas es-
trelas, o encontram num berço. Hoje os magos vêem cla-
ramente, envolvido em panos, aquele que há muito tempo
procuravam de modo obscuro nos astros.
Hoje os magos contemplam maravilhados, no presépio, o
céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no ho-
mem e, incluído no corpo pequenino de uma criança, aquele
que o universo não pode conter. Vendo-o, proclamam sua fé
e não discutem, oferecendo-lhe místicos presentes: incenso
a Deus, ouro ao rei e mirra ao que haveria de morrer.
Assim o povo pagão, que era o último, tornou-se o primeiro,
porque a fé dos Magos deu início à fé de todos os pagãos”
(Dos Sermões de são Pedro Crisólogo, bispo, séc. V, in
Liturgia das Horas, vol. I, p. 523).

102
PNE - QV] - CVV nº 48
Batismo do Senhor
11 de janeiro de 2009

Leituras: Isaías 42,1-4.6-7; Salmo 28(29);


Atos 10,34-38; Marcos 1,7-1l

“Viu o céu se abrindo


e o Espírito descendo sobre ele”

1. Situando-nos brevemente

Domingo, Dia do Senhor, a comunidade reúne-se para


celebrar, louvar a Deus.
A celebração de hoje nos conduz ao Batismo de Jesus, o fi-
lho bem amado do Pai. Com esta festa, encerra-se o ciclo do Natal,
tempo em que recordamos a vinda de Deus até nós. Concluem-se,
pois, as festas relacionadas à manifestação do Senhor.
O Batismo de Jesus nos remete a considerar nosso próprio
batismo, seu significado, os compromissos dele advindos.
O Espírito Santo desce sobre Jesus que ouve a voz do Pai:
“Tu é meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”. Com
certeza, o Espírito também paira sobre nós e o amor paternal do
Pai lança sobre nós seu imenso bem-querer.
O acontecimento do Batismo de Jesus evidencia nosso
Deus uno e trino: o Pai que envia seu próprio Filho, no Espírito
Santo, para que cumpra o projeto divino de salvação. A Igreja do
Brasil, em comunhão com a Igreja da América Latina, assume o
Projeto de Evangelização que tem como lema “A alegria de ser
discípulo missionário!”.

103
PNE - QV) - CVV nº 48
Acolhamos com alegria a mensagem desta festa. Que ela
nos comprometa ainda mais como discípulos missionários do
Filho amado do Pai.

2. Recordando a Palavra

“O anúncio e a acolhida da Palavra são fundamentais para


a vida e a missão da Igreja” (Diretrizes Gerais da Ação Evange-
lizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 62).
A Liturgia da Palavra hoje proclamada leva-nos a conhecer
alguns momentos importantes do projeto de Deus para nossa
salvação.
A primeira leitura pertence ao designado Deutero-Isaías ou
Livro da Consolação, cuja mensagem destinava-se a consolar o
povo que então estava exilado.
Conforme o texto, Deus envia o Servo a todos, pois também
“os países distantes esperam seu ensinamento”. O Servo será,
portanto, “luz das nações”, luz para todas as nações.

No início da leitura, percebemos como o Servo vai proce-


der: com calma (não levanta a voz), humildade (não se faz ouvir
pelas ruas), perseverante (não esmorece). O Senhor chamou o
Servo (“Eu te chamei”), desse modo, o vocacionou, atribuiu-lhe
uma missão. O Servo foi destacado a um serviço.
O texto de Marcos, proclamado no Evangelho, é uma apro-
ximação entre o Servo da primeira leitura e Jesus, que ora inicia
sua vida pública. Vemos em Jesus o próprio Servo: “Centro de
aliança do povo, luz das nações”, aquele que vai “abrir os olhos
dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que
vivem nas trevas”.
Jesus, evidentemente, não precisava ser batizado. Ele as-
sumiu nossa condição humana, tornou-se em tudo igual a nós,
menos no pecado. Sendo assim, não precisava ser purificado pela

104
PNE - QV) - CVV nº 48
água do batismo joanino. No entanto, quis ser batizado. Nessa
atitude vemos duas dimensões. Na primeira, ele quis, desde o
início, mostrar-se obediente ao Pai, para demonstrar que veio
cumprir o plano de salvação, o projeto de nossa libertação. Na
segunda, expressou sua solidariedade conosco, homens e mu-
lheres sujeitos ao pecado. Jesus não tinha pecado algum, mas
revelou-se, desde sempre, solidário com os pecadores.
Esclareçamos três imagens adotadas pelo escritor sagrado
que podem nos causar certa estranheza, se não forem bem en-
tendidas e contextualizadas.
Jesus, ao sair da água,“viu o céu se abrindo” — evitemos
tomar esta frase ao pé da letra (sentido literal). Não significa
que o céu ficou aberto como uma porta, uma janela, uma parede
rompida. Significa, sim, que céus e terra uniram-se, que Deus
mesmo velo até nós para fazer aliança conosco e reconciliar todas
as coisas: as do céu e as da terra.
Jesus, ao sair da água, viu “o Espírito Santo como pomba
descer sobre ele” — a figura da pomba evoca a nova criação. Em
certas tradições judaicas, já era tida como símbolo do espírito de
Deus. Nós, humanos, sentimos necessidade de ter sinais sensíveis
que representem aquilo que não podemos ver, mas sabemos exis-
tir. A pomba é uma destas representações, constitui uma forma
de concretizar o invisível.
Jesus, ao sair da água, ouviu que “do céu veio uma voz”
— eis aqui um modo, já utilizado pelos judeus, para expressar a
opinião de Deus sobre pessoas ou acontecimentos. Repete-se o
comportamento humano já relatado: a necessidade de dar con-
cretude ao que é invisível, imperceptível aos sentidos.
Em sintese, o Batismo de Jesus mostra-nos que Jesus é
Filho de Deus (“tu és o meu Filho amado”), que veio cumprir
o projeto de libertação da humanidade pecadora, a qual estava
perdida desde a desobediência ocorrida no paraíso.

105
PNE - QV) - CVV nº 48
A segunda leitura desta celebração é dos Atos dos Após-
tolos, livro que nos mostra como os discípulos assumiram a
missão que lhes fora conferida. Hoje se refere, especificamente,
à atividade de Pedro e reproduz uma de suas falas, as quais não
estavam dissociadas de seu testemunho. Ele reconhece a univer-
salidade da salvação trazida por Jesus: “Deus não faz distinção
entre as pessoas”; “Jesus andou por toda a parte”; “Jesus Cristo
é o senhor de todos”. E faz questão de assinalar que “Jesus de
Nazaré foi ungido pelo Espírito Santo e com poder”.
O discurso de Pedro na casa de Cornélio marca uma im-
portante etapa da vida da Igreja, pois afirma a abertura da fé
em Jesus a todas as nações, abertura marcada pelo batismo de
Cornélio, o envio do Espírito Santo (At 10,44-48) e a pregação
concernente a Jesus de Nazaré, agora o Cristo (At 10,37-43). Foi
Israel que recebeu a Boa-Nova em primeiro lugar, mas a partir
de agora o Evangelho da paz é anunciado a todos: “Jesus é o
Senhor de todos!”.
Nosso batismo nos obriga a perpetuar essa abertura num
diálogo franco e de convicção à prova das piores intempéries.
A Palavra de nosso Deus respondemos, cantando alegre-
mente com o Salmo 28: “Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua
voz sobre as águas imensas! Eis a voz do Senhor majestosa”.

3. Atualizando a Palavra

Disse João Batista: “Depois de mim virá alguém mais forte


do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas
sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com
o Espirito Santo”. “Os sacramentos são sinais da comunhão de
Deus, em Cristo, pelo Espírito Santo. [...] Pelo batismo, mergu-
lhando nas águas da morte e da ressurreição, a Igreja acolhe as
pessoas que, na fé, aderem a Cristo e as insere na comunidade

106
PNE - QV) - CVV nº 48
cristã” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no
Brasil [2008-2010/, 71).
A primeira leitura, do livro do profeta Isaías, fala que o
Servo foi constituído para abrir os olhos dos cegos, tirar os cati-
vos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas. Nossa
missão como discípulos tem origem na missão do Filho, feito
homem. Como o Servo de Isaías prefigura Cristo, encontramos
também aí algumas vertentes de nosso agir. Ao lado de muitos
aspectos positivos que emergem nesta mudança de época que ora
vivenciamos, há também fatores negativos que nos interpelam e
nos chamam à missão. Como refere o Documento de Aparecida:
“Os povos da América Latina e do Caribe vivem hoje uma reali-
dade marcada por grandes mudanças que afetam profundamente
suas vidas” (33). A globalização causa grande impacto em nossa
cultura, a ciência e a técnica são colocadas predominantemente
a serviço do mercado, os meios de comunicação de massa mo-
dificam a percepção da realidade, avançam o individualismo e o
subjetivismo, expande-se o consumismo.
Neste quadro, como discípulos missionários temos de nos
indagar: quem são hoje os cegos, os cativos, os que vivem nas
trevas, e o que podemos fazer para abrir seus olhos, tirá-los da
prisão, livrá-los da escuridão? O mesmo Documento diz: “A
missão não se limita a um programa ou projeto, mas é compar-
tilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo,
testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a
comunidade e da Igreja a todos os confins do mundo” (145); e isto
inclui “a opção preferencial pelos pobres, a promoção humana
integral e a autêntica libertação cristã. [...]. Por isso mesmo, o
discípulo missionário há de ser um homem ou uma mulher que
torna visível o amor misericordioso do Pai” (146.147).
Lembremos de nosso batismo, que nos insere na comu-
nidade dos filhos de Deus, e de nossa crisma, na qual fomos
ungidos com o óleo sagrado, e procuremos viver como Jesus,

107
PNE - QV) - CVV nº 48
que, batizado e ungido, “andou por toda parte fazendo o bem”.
Para isso não precisamos 11 muito longe: nossa própria família,
nosso ambiente de trabalho ou estudo, nossos grupos sociais são
para nós terra de missão.
O Projeto Nacional de Evangelização, entre outras ações,
refere-se a importância de “despertar a vocação e a ação mis-
sionária dos batizados e animar todas as vocações e ministérios
que o Espírito dá aos discípulos de Jesus Cristo, na comunhão
viva da Igreja”.
Na leitura dos Atos dos Apóstolos, vemos que Deus não
faz distinção entre as pessoas. “Não fazer distinção” pode ser
traduzido, na linguagem atual, por evitar as discriminações
(racial, sexual, cultural, social), evitar exclusões (do diferente,
do menos afortunado). O “não fazer distinção” está fortemente
relacionado com a dignidade humana e com os direitos de povos
e pessoas. As vezes nem percebemos que, a par da concentração
dos recursos físicos e monetários, a concentração dos recursos
humanos e de informação também produz exclusão — exclusão
daqueles que não tiveram oportunidade de ser suficientemente
capacitados e informados —, e que isso aumenta as desigualdades
e mantém na pobreza uma multidão de pessoas (cf. Documento
de Aparecida, 62). Como batizados, desejosos de agir como Jesus
agiu, somos chamados a “promover uma globalização diferente,
que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito
aos direitos humanos” (Documento de Aparecida, 64).
“A Igreja Católica na América Latina e no Caribe [...] tem
dado testemunho de Cristo, anunciado seu Evangelho e ofereci-
do seu serviço de caridade principalmente aos mais pobres, no
esforço por promover sua dignidade e também no empenho de
promoção humana nos campos da saúde, da economia solidária,
da educação, do trabalho, do acesso à terra, da cultura, da ha-
bitação e assistência, entre outros” (Documento de Aparecida,
98). Mas o projeto de salvação ainda não se completou, está em

108
PNE - QV) - CVV nº 48
curso, depara-se com inúmeros obstáculos; porém, nós, como o
Servo de Isaías, discípulos missionários, não podemos esmorecer
nem nos deixar abater.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Na festa do Batismo do Senhor, dizemos ao Pai: “Santo,
Santo, Santo, Senhor Deus do Universo”, pois hoje, “nas águas do
rio Jordão, revelais o novo Batismo, com sinais admiráveis. Pela
voz descida do céu, ensinais que vosso Verbo habita entre os seres
humanos. E pelo Espírito Santo, aparecendo em forma de pomba,
fazeis saber que o vosso Servo, Jesus Cristo, foi ungido com o
óleo da alegria e enviado para evangelizar os pobres” (prefácio).
Por isso, bendito seja o que vem em nome do Senhor!
Nosso pedido ao Pai, nesta celebração, justifica-se pela
filiação de Cristo e nossa: “Deus eterno e todo-poderoso, que,
sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espí-
rito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos
vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo,
perseverar constantemente em vosso amor” (oração do dia).
Na oração sobre as oferendas, referimos à missão de Jesus
iniciada, publicamente, nas águas do batismo: “Recebei, ó Pai, as
oferendas que vos apresentamos no dia em que revelastes vosso
Filho, para que se tornem o sacrifício do Cordeiro que lavou em
sua misericórdia os pecados do mundo”.
Ao final da celebração, ainda rogamos ao Pai: “Nutridos
pelo vosso sacramento, dai-nos, ó Pai, a graça de ouvir fielmente
vosso Filho amado, para que, chamados filhos de Deus, nós o
sejamos de fato” (oração após a comunhão).
Louvemos a Deus uno e trino, evidenciado no episódio que
refletimos na festa deste dia, dizendo com o Hino de Laudes:

109
PNE - QV) - CVV nº 48
A voz do Pai testemunha
que este é seu Filho, e reflui
sobre ele a força do Espírito
que todo dom distribui.
Protegei a todos, ó Cristo:
jamais tombemos no abismo.
Dai-nos viver as promessas
do nosso próprio batismo.
Ó Cristo, vida e verdade,
a vós a glória e o louvor.
Unido ao Pai e ao Espírito,
do céu mostrais o esplendor.

5. Sugestões para a celebração

Começar os Ritos Iniciais junto à pia batismal. Ao redor dela,


colocam-se o presidente da celebração e as demais pessoas
que vão exercer ministérios. Convida-se a assembléia a
voltar-se para esse local. No Ato Penitencial, é feita a aspersão
sobre o povo. Onde não houver batistério, preparar um local
apropriado em que estejam o círio pascal, a bacia e a jarra
de água usadas nas cerimônias batismais.

No ambiente celebrativo, colocar em destaque um arranjo


que contenha alguns símbolos do batismo: água, óleo, vela,
veste branca.

A cor litúrgica desta festa é o branco.

Fazer a profissão de fé com o Credo niceno-constantinopo-


litano e, após, renovar as promessas do batismo.

110
PNE - QV) - CVV nº 48
5. Durante a profissão de fé e a renovação, a assembléia pode
segurar velas acesas nas mãos.

6. “O culto eucarístico, a oração individual ou comunitária


diante do sacrário, a bênção do Santíssimo Sacramento, pro-
cissões, como a de Corpus Christi, são desdobramentos da
celebração do mistério da eucaristia, que não devem ofuscar
a natureza da eucaristia como celebração da memória do
sacrifício de Jesus Cristo em forma de ceia. Por isso, tais
devoções não devem ser inseridas na missa” (Guia Litúrgico
Pastoral, Edições CNBB, p. 24).

Os siNAIS DO BATISMO DO SENHOR

“O Evangelho nos conta que o Senhor foi ao Jordão para


ser batizado e quis ser consagrado neste rio por sinais
do céu.
Não é sem razão que celebramos esta festa pouco depois do
dia do Natal do Senhor, já que os dois acontecimentos se ve-
rificaram na mesma época, embora com diferença de anos;
Julgo que também ela deve chamar-se festa do Natal.
No dia do Natal, Cristo nasceu entre os homens; hoje renasce
pelos sinais sagrados; naquele dia, nasceu da Virgem; hoje
é gerado pelos sinais do céu. No Natal, ao nascer o Senhor
segundo a natureza humana, Maria, sua mãe, o acaricia em
seu colo; agora, ao ser gerado entre os sinais celestes, Deus,
seu Pai, o envolve com sua voz, dizendo: “Este é o meu
filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o”
(Mt 17,5). Sua mãe o traz nos braços com ternura, seu Pai
lhe presta o testemunho de amor. A mãe apresenta-o aos
magos para que o adorem, o Pai apresenta-o às nações para
que o reverenciem.

111
PNE - QV) - CVV nº 48
O Senhor Jesus foi, portanto, receber o batismo e quis que
seu santo corpo fosse lavado nas águas.
Talvez alguém diga: “Se ele era santo, por que quis ser
batizado?”. Escuta: Cristo foi batizado, não para ser santi-
ficado pelas águas, mas para santificá-las e para purificar
as torrentes com o contato de seu corpo. A consagração de
Cristo é, sobretudo, a consagração da água.
Assim, quando o Salvador é lavado, todas as águas ficam
puras para o nosso batismo; a fonte é purificada para que a
graça batismal seja concedida aos povos que virão depois.
Cristo nos precede no batismo para que os povos cristãos
sigam confiantemente o seu exemplo.
Vejo aqui um significado misterioso: também a coluna
de fogo 1a à frente através do mar Vermelho, para que os
filhos de Israel a seguissem corajosamente no caminho; foi
a primeira a atravessar as águas, a fim de abrir caminho aos
que vinham atrás. Este acontecimento, como diz o Apóstolo,
era uma figura do batismo. Foi certamente uma espécie de
batismo, no qual os homens eram cobertos pela nuvem e
passavam através das ondas.
Tudo isso foi realizado pelo mesmo Cristo nosso Senhor,
que agora, na coluna do seu corpo, precede no batismo os
povos cristãos, como outrora, na coluna de fogo, precedeu
através do mar os filhos de Israel. Sim, é a mesma coluna
que outrora iluminou os olhos dos caminhantes que hoje
enche de luz os corações dos que crêem. Outrora abriu um
caminho seguro entre as ondas, hoje firma no batismo os
passos da nossa fé” (Dos Sermões de são Máximo de Turim,
bispo, séc. V, in Liturgia das Horas, vol. I, pp. 553-554).

112
PNE - QV) - CVV nº 48
2º Domingo do Tempo Comum — Ano B
18 de janeiro de 2009

Leituras: 1 Samuel 3,3b-10.19; Salmo 39(40);


1 Coríntios 6,13c-154.17-20; João 1,35-42

“Tu me chamaste, aqui estou”

1. Situando-nos brevemente

Na passagem do Ciclo do Natal para o Tempo Comum, o


2º Domingo deste Tempo, do Ano B, tem como centralidade o
encontro com Jesus.
Todo encontro tem suas singularidades que repercutem em
nossas vidas, deixando marcas. Após o encontro com Jesus, ocor-
re uma transformação nas pessoas. A partir dele, não são mais as
mesmas, assumem uma nova proposta de vida e transformam-se
em apóstolos, discípulos missionários.
A experiência com o Mestre inunda os apóstolos de tal
forma que os faz desejar que muitos outros também o sigam.
Deixemos que o espírito missionário de nossa Igreja tam-
bém possa guiar nossos passos no caminho do Mestre! Não nos
esqueçamos de que estamos no grande projeto de evangelização
— O Brasil na Missão Continental. A alegria de ser discípulo
missionário!

2. Recordando a Palavra

A Liturgia da Palavra, hoje, nos coloca diante do chamado


de Deus, do encontro com Jesus e da consequência deste mistério
em nossa vida.

113
PNE - QV) - CVV nº 48
Deus chama Samuel, várias vezes. Ele não reconhece a
voz do Senhor. Não pode ouvir o que Deus deseja dele, enquanto
não souber que é o Senhor. Eli aponta-lhe o caminho e Samuel
coloca-se diante do Senhor.
O discipulado, que vamos encontrar no Evangelho, já está
aqui na leitura do Antigo Testamento: ouvir e identificar a voz do
Senhor, colocar-se ao seu dispor e, além disso, auxiliar o outro
a também encontrá-lo.
Ana, mãe de Samuel, foi a única mãe de profeta que mere-
ceu destaque na Bíblia. Sua oração para ter um filho e sua ação
de graças após o evento (ISm 1-2) demonstram uma fé que
certamente influenciou a resposta generosa de seu filho.
Assim como Saulo, futuro são Paulo, precisou de Ana-
nias (At 9) para compreender verdadeiramente seu chamado,
Samuel também necessitou de ajuda. Uma vida bem-sucedida
não se alcança senão conhecendo o plano de Deus. Famílias e
comunidades cristãs devem ajudar os profetas a se descobrirem
e ajudar também outros que são santificados pelo Espírito para
uma missão a cumprir.
A resposta do salmista é de clareza indiscutível: “Eis que
venho, Senhor! Com prazer, faço a vossa vontade!”.
Ir ao encontro do Senhor e, com alegria, fazer sua vontade,
declara nossa pertença a Deus.
Em consequência, são Paulo nos adverte que formamos
com Deus um só espírito, pois, a partir de sua adesão ao Senhor,
o discípulo transforma-se em templo de seu Santo Espírito. Ele
glorificará o Senhor, cuidando de seu corpo e respeitando a si
próprio.
Nas leituras do ciclo B, é a narrativa do Evangelho de João
(21 capítulos) que supre a do Evangelho de Marcos (16 capítulos),
quando este, que é o mais breve dos evangelhos, omite episódios

114
PNE - QV] - CVV nº 48
da vida de Jesus. E o caso de hoje. Marcos contou, em cinco
linhas, como Jesus e João Batista encontraram-se, enquanto o
quarto evangelho acrescenta à narração do batismo a história dos
discípulos de João Batista que seguem Jesus.
O encontro com Jesus mostrado no Evangelho não foi
superficial; os discípulos desejam ficar com ele, perguntam-lhe
onde mora e aceitam seu convite: “Vinde ver”.
A partir daí, a experiência de estar com Jesus é de tal forma
transformadora, que se torna impossível seguir o caminho sem
ele, da mesma forma que é impossível não partilhar essa alegria,
por isso chamam outros irmãos.
Fazer a experiência do encontro com Jesus leva à alegria,
à fraternidade, ao discipulado e à missão.

3. Atualizando a Palavra

Do mesmo modo que acontece com Samuel, nós também


necessitamos de muitos chamados de Deus para identificar a sua
voz e, especialmente, para compreender o que ele quer de nós.
Deus nos chama muitas vezes, na adesão aos Sacramentos,
no convite à vocação; chama-nos de muitas formas e, com cer-
teza, cada um de nós recorda o momento singular em que, como
Samuel, identificou claramente a sua voz, momento definitivo
de nossa adesão a ele.
Mesmo assim, ao escutá-lo, nem sempre é fácil decidir-nos,
como o salmista, pela alegria de fazer a sua vontade. Seguida-
mente, ousamos pedir-lhe que faça a nossa vontade e relutamos
em compreender quando esta não se concretiza.
Na verdade, só conseguimos entender as propostas do
Senhor quando experimentamos o encontro pessoal com Jesus
Cristo. A cada encontro nos vemos transformar e, mesmo que as

115
PNE - QV) - CVV nº 48
dificuldades envolvam nossa caminhada, não o deixamos. Dia
a dia nos comprometemos com ele e com seu plano de amor. O
encontro com Jesus, tal qual aconteceu com os discípulos, invade
nossa vida e, a partir daí, nunca mais seremos os mesmos.

“Essa realidade se faz presente em nossa vida por obra


do Espírito Santo, o qual também nos ilumina e vivifica através
dos sacramentos. Em virtude do Batismo e da Confirmação,
somos chamados a ser discípulos missionários de Jesus Cristo e
entramos na comunhão trinitária na Igreja. Esta tem seu ponto
alto na Eucaristia, que é princípio e projeto da missão do cristão”
(Documento de Aparecida, 153).
Experimentamos a presença de Jesus e nos tornamos seus
discípulos-missionários comprometidos em anunciá-lo para que
mais pessoas o conheçam, possam amá-lo e transformem-se,
também, em seus discípulos.
Nas exigências do mundo atual, esta não é uma tarefa fácil;
é preciso que estejamos constantemente na presença de Jesus
para que ele nos fortaleça e sejamos capazes de conduzir outras
pessoas para esse encontro.

O novo Projeto de Evangelização da Igreja do Brasil, à luz


da Conferência de Aparecida, propõe uma pedagogia da Missão
Permanente. Nesta pedagogia, o processo de formação do disci-
pulo-missionário tem como um de seus aspectos fundamentais
o encontro com Jesus Cristo, que culmina com a maturidade do
discípulo pelo testemunho pessoal, repercutindo no anúncio e na
ação missionária na comunidade.
“O encontro com Jesus, graças à ação invisível do Espírito
Santo, realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja” (Documento
de Aparecida, 246).
E onde encontramos Jesus hoje?

116
PNE - QV) - CVV nº 48
Nós o encontramos na oração pessoal e comunitária, na
Sagrada Escritura, na Sagrada Liturgia, assim como no irmão que
necessita de nosso auxílio e afeto, seja qual for o motivo.
Assim, temos o vivo convite para que o encontro com Je-
sus, o qual nos inunda com seu amor, não seja guardado apenas
para nós, mas que nos deixemos transformar e, como são Paulo,
digamos: “Ai de mim, se eu não evangelizar” (1Cor 9,16).
Por isso, aceitemos o que nos propõe a CNBB em suas
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja para 2008-
2010: “Com alegria, vamos a todas as pessoas para compartilhar
o dom do encontro com Cristo, que preenche nossas vidas de
sentido e de esperança, e nos coloca no caminho da realização
do Reino de Deus” (211).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na Liturgia, a cada celebração, encontramos Jesus: “Ao
vivê-la, celebrando o mistério pascal, os discípulos de Cristo
penetram mais nos mistérios do Reino e expressam, de modo
sacramental, sua vocação de discípulos e missionários” (Docu-
mento de Aparecida, 250).
E importante que identifiquemos a presença do Mestre,
quando ouvimos sua Palavra e a ele respondemos nas orações,
nos gestos, nos cantos, e, especialmente, depois sintamos sua
presença real no pão da Eucaristia,
Certificamos este encontro quando aclamamos o Evangelho
deste Domingo, com a antífona que diz: “Encontramos o Mes-
sias, Jesus Cristo, de graça e verdade ele é pleno; de sua imensa
riqueza graças, sem fim, recebemos” (Jo 1,41.16-17).
Sim, encontramos o Messias, nós também, como os disci-
pulos do Evangelho, e este é o anúncio que não podemos calar,
que devemos testemunhar, deixando que esse encontro nos faça

117
PNE - QV] - CVV nº 48
desejar ficar com o Mestre, transfcrmados e fortalecidos por sua
presença em nós, em nossas vidas, encorajando-nos a assumir O
discipulado e a missão, em unidade com a Igreja, atendendo ao
que nos diz a Mensagem da Conferência de Aparecida: “O pri-
meiro convite que Jesus faz a toda pessoa que viveu o encontro
com ele é o de ser seu discípulo, para colocar os seus passos sobre
suas pegadas e formar parte da sua comunidade”.
Firmemos nosso caminhar nas pegadas de Jesus e forme-
mos comunidade com ele no mundo!

5. Sugestões para a celebração

|. As preces da comunidade enfatizem a súplica ao Senhor, pelo


fortalecimento do discipulado na comunidade.

2. Aaclamação do Evangelho faz parte do Rito da Celebração,


por isso deve ocorrer como se encontra no Lecionário, poden-
do ser cantada com a melodia inculturada na comunidade.

3. Fazer uma prece especial para o Fórum Social Mundial, que


será realizado em Belém, PA, nos dias 27 a 31 de janeiro.

4. E recomendável que o canto de comunhão retome a mensa-


gem do Evangelho.

5. “O canto da comunhão, que pode retomar o Evangelho do


dia, garante a unidade das duas mesas (Palavra e Eucaris-
tia). Cantos de adoração ao Santíssimo e cantos de cunho
individualista ou temático não expressam a densidade desse
momento” (Guia Liturgico Pastoral, p. 29).

6. “Tomai e comei, tomai e bebei” foi o mandamento deixado


por Cristo na cela: tomar o pão e beber do cálice.

118
PNE - QV) - CVV nº 48
7. A verdade do sinal exige que o pão eucarístico seja reconhecido
como alimento, e que, portanto, sempre que possível, o pão
seja preparado de tal forma que possa ser repartido entre todos
(cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 320 e 321).

8. Não sendo possível repartir entre todos, convém, em razão


do sinal que se expressa, que alguma parte do pão eucarístico
obtido pela fração seja distribuída ao menos a algum fiel no
momento da comunhão (cf. Redemptionis Sacramentum, 49).

Da mesma forma, valorize-se, na medida do possível, a co-


munhão do cálice, sob a espécie de vinho, para todos os fiéis,
pois assim se “ressalta mais perfeitamente o sinal do ban-
quete eucarístico, e expressa-se com mais clareza a vontade
segundo a qual a nova e eterna Aliança foi selada no sangue
do Senhor, e, ainda, a relação entre o banquete eucarístico
e o banquete escatológico no Reino do Pai (cf. Mt 27-29)”
(Guia Litúrgico Pastoral, p. 30).

Instrução Eucharisticum Mysterium sobre o culto do mistério eucarístico (1967), n. 32.

119
PNE - QV) - CVV nº 48
3º Domingo do Tempo Comum
Celebração da Missa da Conversão
de São Paulo Apóstolo — 25 de janeiro de 2009

Leituras: Atos 22,3-16; Salmo II6(117);


1 Coríntios 7,29-31; Marcos 16,15-18

“Ide pelo mundo inteiro


e anunciai a Boa-Nova”

1. Situando-nos brevemente

Domingo, Dia do Senhor, a comunidade reúne-se para


celebrar, louvar a Deus.
Hoje, 25 de janeiro, comemoramos a conversão de são
Paulo. Estamos no 3º Domingo do Tempo Comum. Pelas normas
da Igreja sobre o Ano Litúrgico, a celebração do domingo tem
precedência sobre as festas dos santos. No entanto, como estamos
no Ano Paulino, por especial concessão da Sé Apostólica, pode-se
hoje celebrar a Missa da Conversão de São Paulo Apóstolo.
Sobre o Ano Paulino, em sua inauguração, disse o papa
Bento XVI: “Desejei proclamar (o Ano Paulino) para comemorar
o segundo milênio do nascimento de são Paulo, com a intenção
de promover uma reflexão cada vez mais aprofundada sobre a
herança teológica e espiritual, deixada à Igreja pelo Apóstolo das
nações, com a sua vasta e profunda obra de evangelização”.

2. Recordando a Palavra

A primeira leitura inicia-se com a apresentação que Paulo


faz de si mesmo e sua afirmação de que, efetivamente, perse-

120
PNE - QV) - CVV nº 48
guiu os seguidores de Jesus. Conta, então, o que aconteceu na
estrada de Damasco, quando ia prender mais adeptos de Cristo.
Conforme suas próprias palavras: “Uma grande luz que vinha
do céu brilhou ao redor de mim”; “caí por terra e ouvi uma voz”.
Saulo (nome judaico em homenagem ao rei Saul), ao saber que
a voz era daquele a quem perseguia, perguntou: “Que devo
fazer?”. Recebeu a ordem de 11 para Damasco. No entanto, ele
ficou repentinamente cego e precisou ser conduzido até o local
indicado. Lá ficou em oração, até receber a bênção de Ananias
e a missão que Deus lhe estava confiando: “O Deus de nossos
pais escolheu-te [...] tu serás, diante de todos os povos, a sua
testemunha a respeito daquilo que viste e ouviste”. Depois disso,
Paulo, que recobrara a visão, foi batizado, portanto, purificou-se
e foi recebido na comunidade eclesial.
A segunda leitura, constituída de apenas três versículos,
nos fala da transitoriedade das coisas deste mundo, da vida atual.
Mais adiante, nesta mesma carta aos Coríntios, o Apóstolo diz
que nossa esperança está posta em Deus e que “se é só para esta
vida que pusemos nossa esperança em Cristo, somos, dentre to-
dos os homens, os mais dignos de compaixão”. Nós cristãos não
visamos, pois, às coisas que se vêem, mas as que não se vêem,
por aspirarmos à outra vida, a que será eterna junto ao Pai.
O Evangelho, conforme Marcos, é a síntese do envio
missionário: “Ide e anunciai”. Como diz o livro dos Atos dos
Apóstolos, Paulo “pregava corajosamente”. Paulo é para nós,
hoje, o grande exemplo de alguém que se comprometeu e, em
plenitude, cumpriu o envio missionário.
A Palavra de nosso Deus, respondemos cantando com o
Salmo 116: “Amo o Senhor, porque escuta o clamor da minha
prece”.

121
PNE - QV] - CVV nº 48
3. Atualizando a Palavra

O que vemos no acontecimento de Damasco? Deus que


interpela e chama. Ele o faz em meio às atividades usuais de
cada pessoa. Lembremos que Paulo estava em sua atividade de
perseguir os seguidores de Jesus. O chamado que recebemos de
Deus é acontecimento, mas também processo, pois não somos
chamados uma única vez. Somos chamados no dia do batismo,
somos chamados no dia da crisma. Somos chamados tantas
outras vezes, quando nos sentimos como se estivéssemos na
estrada de Damasco e indagássemos: “Senhor, que queres que
eu faça?”. Todos nós, a exemplo de Paulo, temos, em nossa vida,
pelo menos um evento que constitui o episódio de Damasco para
nós, no qual sentimos uma grande luz que vem do céu e que nos
envolve e a ela livremente aderimos, escolhendo ser discípulos
missionários de Jesus.
Como aconteceu com Paulo, “a paixão pelo Reino de Jesus
Cristo nos leva a desejá-lo cada vez mais presente entre nós. Na
força do Espírito Santo, que sempre nos precede, a missão nos
levará a viver o encontro vivo com Jesus, capaz de impulsionar
à santidade e ao apostolado os batizados” (Projeto Nacional de
Evangelização, 3). Por isso, queremos, especialmente neste Ano
Paulino, cumprir o lema do projeto nacional de evangelização:
“A alegria de ser discípulo missionário!”,
Ao nos entregarmos e nos comprometermos com o projeto
de Deus, a nós trazido por seu Filho Jesus, assumimos que esta
vida é passageira. Que a Igreja é aqui peregrina. Nós, cristãos,
visamos às coisas que não passam, portanto, nosso comprometi-
mento com as coisas deste mundo é infinitamente menor do que
com as coisas do alto.
O Evangelho expressa o envio missionário atribuído a todos
nós. “A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem
sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o

122
PNE - QV] - CVV nº 48
desígnio do Pai” (Ad Gentes, 2). Conforme o texto conclusivo da
Conferência de Aparecida, no hoje de nossa história: “Assumimos
o compromisso de uma grande missão em todo o continente, que
de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e moti-
vações que permitam converter a cada cristão em um discípulo
missionário” (Documento de Aparecida, 362).
Paulo foi quem primeiro sistematizou a doutrina cristã.
Hoje com ele reafirmamos que realmente cremos que:
Deus sempre nos amou
como seres humanos e como pessoa;
somos chamados à santidade, no amor;
somos imagem e semelhança de Deus —
templo do Espírito Santo;
nossa missão é anunciar Jesus e seu projeto salvador;
nossa salvação é dom gratuito de Deus,
mas temos que querer;
somos chamados ao serviço de Deus e da Igreja;
somos frágeis e por isso colocamos
nossa confiança em Deus;
recebemos dons particulares para colocá-los a serviço;
devemos levar uma vida coerente com os valores evangélicos;
o Espírito Santo age em nós;
Deus é fiel e justo.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


“Nada substitui a experiência de Deus vivo, alimentada
constantemente pela escuta da Palavra” (Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 101).
Alimentamos também esta experiência pela oração constante,
por isso elevamos à Deus, Pai de bondade, súplicas, pedidos,
ação de graças.

123
PNE - QV) - CVV nº 48
Na celebração de hoje — conversão de são Paulo —, já na
Oração do dia pedimos a graça de seguir os exemplos do Apóstolo
e de “ser no mundo testemunhas do Evangelho”. Pedimos, portan-
to, para ser discípulos missionários de Jesus, como manifestado
pelos bispos, em nosso nome, na Conferência de Aparecida.
Na Oração sobre as oferendas, qual incenso, sobe ao Pai
nossa súplica para que ele “nos conceda a luz da fé que sempre
iluminou o apóstolo são Paulo”, com a grande finalidade de
anunciarmos o nome de nosso Deus aos povos, pois estamos
desejosos de viver a alegria de ser missionários.
Nos ritos finais, a oração sublinha o grande dom do amor,
tão enfatizado pelo apóstolo: “Que esta comunhão, Senhor nosso
Deus, alimente em nós o ardor da caridade”. Lembramos assim
o grande hino à caridade, registrado em 1 Coríntios 13.
Ano Paulino, festa da conversão de são Paulo, ao receber-
mos a bênção final desta celebração, com grande intensidade recai
sobre nós também o envio missionário: “Ide ao mundo inteiro e
anunciai a Boa-Nova!”.

5. Sugestões para a celebração

1. Enquanto as pessoas vão chegando, cantar suavemente o


Hino da Caridade (1Cor 13,1-7); há várias versões para
este hino, então, escolher o mais apropriado ao contexto da
comunidade.

2. Na procissão de entrada, trazer uma imagem ou um cartaz


representando Paulo e colocar em um local já preparado
no presbitério; no entanto, sem sobressair-se ao altar e ao
ambão.

3. Acor litúrgica desta festa é o branco.

124
PNE - QV) - CVY nº 48
Cuidar para que os cantos escolhidos sejam litúrgicos.

Solenizar a Liturgia da Palavra, com a incensação e rodeando


o ambão com velas acesas.

Fazer a profissão de fé com o Credo niceno-constantinopo-


litano.

Nas preces da comunidade, lembrar os irmãos e as irmãs


que receberam no batismo o nome de Paulo, Paula, Paulina.
Lembrar também as congregações da família paulina.

Solenizar a Liturgia Eucarística, cantando as respostas da


Prece Eucarística.

Ao final, fazer o envio missionário.

10. O Hino da Conversão de São Paulo é uma sugestão de oração


a ser feita nos encontros em que se for aprofundar a reflexão
sobre o Apóstolo, seu testemunho e sua missão (Liturgia
das Horas, Hino das Vésperas, do dia 25 de janeiro, festa da
Conversão de são Paulo, Apóstolo):
Concelebre a Igreja, cantando,
de são Paulo a grandeza e o esplendor.
De inimigo se fez um apóstolo
pelo grande poder do Senhor.
Contra o nome de Cristo lutara,
inflamado de grande furor,
mas ardeu maior chama em seu peito
anunciando de Cristo o amor.
Grande dom mereceu do Senhor:
no mais alto dos céus escutar
as palavras do grande mistério

125
PNE- QV) - CVV nº 48
que a ninguém é devido falar.
Espalhando as sementes do Verbo,
surgem messes com tais florações,
que o celeiro dos céus é repleto
com os frutos das boas ações.
Rejulgindo, qual luz, ilumina
todo o orbe com tal claridade
que, dos erros a treva expulsando,
faz reinar, soberana, a verdade.
Glória ao Cristo, a Deus Pai e ao Espírito,
que governam a toda nação,
e doaram aos povos da terra
um tal vaso de sua eleição.

126
PNE - QV) - CVV nº 48
4º Domingo do Tempo Comum — Ano B
1º de fevereiro de 2009

Leituras: Deuteronômio 18,15-20; Salmos 94(95);


1 Coríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28

“Ouvi, hoje, a voz de Deus” (S| 94/95)

1. Situando-nos brevemente

Neste 4º Domingo do Tempo Comum, na caminhada de


Jesus em sua vida pública, vemos o Mestre que ensina com
autoridade.
Autoridade suscita responsabilidade. Jesus deixa claro seu
lugar divino, sendo responsável por revelar a vontade do Pai aos
homens; por isso, o evangelista refere que ele ensinava “como
quem tem autoridade”.
Muitas vezes, confundimos autoridade com autoritarismo,
mas precisamos ter muito clara a diferença entre essas duas atitu-
des, pois autoritário é quem impõe o que não lhe compete, o que
não é de sua responsabilidade. Jesus jamais foi autoritário, pelo
contrário, sempre respeitou o outro; mesmo antes dos milagres
e das maravilhas que realizava, perguntava, como aos cegos, em
Jericó: “Que quereis que eu vos faça?” (Mt 20,32).

2. Recordando a Palavra

Na Liturgia deste domingo, na qual a centralidade é o ensi-


namento de Jesus com a autoridade de Filho de Deus, encontra-
mos na primeira leitura o desejo do Senhor para que ouçamos o
que ele quer de nós, pela voz do profeta. Fica evidente também a

127
PNE - QV] - CVV nº 48
responsabilidade do profeta para que anuncie somente a verdade
que lhe é revelada por Deus. O livro do Deuteronômio foi escrito
com o objetivo de fazer com que a tradição antiga ajudasse Israel
a superar uma época de crise. As grandes instituições de Israel,
como a monarquia, a profecia, o Templo, o sacerdócio, estavam
desgastadas e não conseguiam evitar que a nação chegasse à
beira da destruição. O Deuteronômio pede a Israel que reaprenda
a lição do deserto, dada por Moisés.
Na voz do salmista, temos o convite para que abramos o
coração ao que o Senhor pede, atualizando esta resposta: “Ouvi,
hoje, a voz de Deus” (S] 94[951).
São Paulo, indo além, já nos fala da atitude ante o chamado
da voz do Senhor, conclamando ao serviço pelo Reino de Deus.
Sugere que, para aqueles que querem dar atenção exclusiva às
coisas de Deus, o melhor seria estarem livres das preocupações
do mundo para que não ficassem divididos.
No Evangelho, Marcos fala do ensinamento de Jesus na
sinagoga de Cafarnaum. À firmeza de Jesus ao ensinar espanta
a todos. O evangelista repete duas vezes que Jesus ensina com
autoridade (vv. 22 e 27). Sua palavra afasta o mal, sua autoridade
suprema revela que ele é o Filho de Deus, que veio trazer a Boa-
Nova, o amor, o bem para todos, destruindo o mal.
Ele realiza sinais que comprovam sua autoridade, pois o
milagre é apenas o sinal; o importante é não permanecermos
no milagre, e sim olharmos o que revela. Então poderemos ver,
sentir e ouvir a voz de Deus.

E Jesus quem nos revela a voz do Pai, por isso é através


dele que sabemos o que o Senhor quer de nós; só ele é o caminho
que nos leva a Deus e é nele que encontramos o Senhor.

128
PNE - QV) - CW nº 48
3. Atualizando a Palavra

Somos batizados, confirmados na fé e convocados pelo


Senhor a professar nossa fé no mundo, como profetas, hoje.
Somos a voz que Jesus quer utilizar para anunciar o amor
de Deus no mundo. Sabemos que ele não é autoritário, já que
bate à porta e aguarda nossa decisão.
Se nos decidimos por ele, por sua proposta, mesmo pre-
ocupados com as coisas do mundo, precisamos priorizar nosso
testemunho e anunciá-lo com a autoridade de cristãos e batizados.
Essa é nossa autoridade e nossa responsabilidade.
“Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a
Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das
funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo sua
condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo.
São homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo
no coração da igreja” (Documento de Aparecida, 209).
Nos dias de hoje, encontramos inclusive muitas famílias
consagradas ao serviço de Deus, priorizando o Reino do Senhor
antes das coisas do mundo.
No testemunho de cada cristão que prioriza as coisas de
Deus, fortalecemos nossa missão de sermos sal da terra e luz do
mundo, como Jesus declarou.
Precisamos, porém, manter o olhar fixo no olhar do Mestre,
pois seja qual for a forma na qual vivemos nosso discipulado,
somos tentados por inúmeras situações do mundo, como poder,
egoísmo, soberba, e isso sim nos divide definitivamente, pois
não é coerente com as coisas do Reino de Deus.
Queremos e devemos ser reconhecidos como discípulos
de Jesus, por isso também a omissão ou a fragilidade em nossas
opiniões e atitudes diante do desafio de evangelizar nos afastam
do chamado do Senhor.

129
PNE - QV) - CVV nº 48
A Mensagem da Conferência de Aparecida nos provoca:
“Que ninguém fique de braços cruzados. Ser missionário é ser
anunciador de Jesus Cristo com criatividade e audácia em todos
os lugares onde o Evangelho não foi suficientemente anunciado
ou acolhido, especialmente nos ambientes difíceis e esquecidos
e além de nossas fronteiras”.
Mesmo que saibamos que sempre haverá o que realizar,
fazer a nossa parte, convidar outros para nos acompanhar e par-
tilhar a missão forma a comunidade, tornando-nos Igreja viva
no seguimento dos passos do Mestre.
Abrir nosso coração à voz de Deus, deixar-nos ser templos
de seu Santo Espírito fortalece e dá coragem, anima para que,
cada dia, renovemos nosso espírito missionário.
A caminhada de todos nós necessita de um grande objeti-
vo, colocado sempre à nossa frente. Assim, se queremos viver,
com alegria, nossa missão de discípulos missionários de Jesus
Cristo, tenhamos presente o objetivo geral do Projeto Nacional
de Evangelização (2008-2010): “Abrir-se ao impulso do Espí-
rito Santo e incentivar, nas comunidades e em cada batizado, o
processo de conversão pessoal e pastoral ao estado permanente
de missão, para a vida plena”.
Somos batizados, somos comunidade, não deixemos nunca
de ser missionários!

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Liturgia da Palavra é o momento maior de nosso diálo-
go com Deus. Ouvimos sua Palavra nas leituras, no Evangelho,
respondemos com o salmista, com nossas preces e gestos.
Na Celebração Eucarística ou da Palavra, busquemos
manter o coração aberto ao que o Senhor nos fala.

130
PNE - QV) - CVV nº 48
Não deixemos que as preocupações do mundo invadam
nosso pensamento, e, evidentemente, na preparação da Liturgia,
não façamos alterações arbitrárias que modifiquem esse diálogo.
É a voz do Senhor que nos fala hoje.
Possamos depois anunciar ao mundo o que Deus nos pede e
nos esforcemos em trazer outras pessoas para ouvi-lo; este é nosso
discipulado e nossa missão, é o desejo de unidade claramente
apresentado na antífona de entrada deste domingo: “Salvai-nos,
Senhor nosso Deus, reuni vossos filhos dispersos pelo mundo,
para que celebremos o vosso santo nome e nos gloriemos em
vosso louvor” (Sl 105,47).
Não esqueçamos: nosso dever é anunciar a todas as pesso-
as, mesmo para as mais dificeis e distantes de nós; este é nosso
grande desafio!
Pedimos ao Senhor, na oração deste dia, a fortaleza para tal
missão: “Concedei-nos, Senhor nosso Deus, adorar-vos de todo
o coração e amar todas as pessoas com verdadeira caridade. Por
nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho...”.

5. Sugestões para a celebração


|. Realizar uma procissão para a entrada do Lecionário, no
início da Liturgia da Palavra, acompanhada de uma música
que anuncie a Palavra, a voz do Senhor.
2. Os leitores, especialmente quem proclama o Evangelho, de-
vem ter uma atitude espiritual de quem está sendo porta-voz
de Deus que fala ao seu povo.
3. À preparação espiritual se alia a preparação técnica: postura
do corpo, tom de voz, semblante, a maneira de aproximar-se
da mesa da Palavra, as vestes.
4. A função do salmista é de suma importância. Sua função
ministerial corresponde à função dos leitores e leitoras, pois

131
PNE - QV) - CVV nº 48
o salmo é também Palavra de Deus posta em nossa boca
para respondermos à sua revelação. Por isso, o salmo deve
ser proclamado do ambão e, se possível, cantado (ao menos
o refrão).
A homilia (conversa familiar) interpreta as leituras bíblicas
dentro da realidade atual, tem o mistério de Cristo como
centro do anúncio e faz ligação com a Liturgia Eucarística e
com a vida.
A Palavra é valorizada também por momentos de silêncio, por
exemplo, após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo
a atitude de acolhida à Palavra. “No silêncio, o Espírito torna
fecunda a Palavra no coração da comunidade” (Guia Litúrgico
Pastoral, p. 32).
Dia 2/2, segunda-feira, celebramos a festa da Apresentação
do Senhor. Essa festa encerra as celebrações natalinas e,
com a oferta da Virgem Maria e a profecia de Simeão (cf. Lc
2,33-35), abre caminho rumo à Páscoa. As velas podem ser
bentas de duas formas (cf. orientações do Missal Romano):
primeira, com procissão; segunda, com entrada solene. Na
bênção de são Brás, cuja memória facultativa celebra-se no
dia 3/2, pode-se usar a seguinte fórmula: “Por intercessão de
são Brás, bispo e mártir, livre-te Deus do mal da garganta e
de qualquer outra doença. Em nome do Pai + e do Filho e do
Espírito Santo. Amém!”.

132
PNE - QV) - CVV nº 48
5º Domingo do Tempo Comum — Ano B
8 de fevereiro de 2009

Leituras: Jó 7,1-4.6-7; Salmos 146(147);


1 Coríntios 9,16-19.22-23; Marcos 1,29-39

“Ai de mim se eu não evangelizar!”


(ICor 9,16)
1. Situando-nos brevemente

A Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum tem na ação


libertadora de Jesus sua centralidade. Todos vivemos sobrecar-
regados, pela vida moderna, de numerosas atividades. Nossas
jornadas assemelham-se muitas vezes à primeira jornada de
Jesus, totalmente ocupada. Para manter o equilíbrio, precisamos
de momentos de oração, como os de Jesus no início de sua vida
pública. Além disso, é preciso trabalhar com vontade de servir.
Jesus está a serviço dos doentes. O que fez a sogra de Pedro,
após sua cura, pode valer como palavra de ordem: “Ela os servia”
(diakonia).
A experiência com Jesus provoca em nós uma cura do
corpo e da alma e nos compromete com a missão, como muito
bem expressa são Paulo: “Ai de mim se eu não evangelizar!”
(1Cor 9,16).
Na missão, buscamos constantemente a luz para guiar o
caminho, e essa luz é o próprio Cristo e podemos encontrá-lo na
oração, como ele próprio demonstra no Evangelho.

133
PNE - QV] - CVV nº 48
2. Recordando a Palavra

A fragilidade da vida humana, os sofrimentos e as lutas


diárias são expressos pela realidade de Jó na primeira leitura. Jó
ilustra a personalidade de Jesus, pessoa real, de quem é figura.
Contemplemos o mesmo Jesus Cristo, “que por causa de vós se
fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com sua pobre-
za” (2Cor 8,9). Continuamos sem ilusão sobre nossa capacidade
de compreender os grandes sofrimentos, enquanto Jesus sofreu
até a morte na cruz.
E no louvor do Senhor que recuperamos a força: “Ele
conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as
cura” (Sl 147[146]).
Com o espírito sempre confiante no Senhor, mesmo nas
situações mais dificeis, encontramos o caminho para a salvação
que ele nos oferece.
Ao glorificar seu nome, sentimos sua ação em nossa vida,
e essa ação nos compromete a anunciá-lo.
Paulo é claro sobre a necessidade de evangelizar: não é
uma escolha, mas uma imposição (embora livremente aceita),
tal a importância que tem em sua vida. Por isso e para isso, ele
vivencia todas as experiências humanas, precisa alcançar todas
as pessoas e vai até elas, vive com elas; é o verdadeiro sentido
da acolhida, ou seja, ir ao encontro do outro.
O impacto do aparecimento do Cristo na estrada de Da-
masco foi tal que deu a Paulo um impulso para toda a vida. A
luz brilhou com tamanha intensidade sobre ele que enfrentou
todos os obstáculos.
Nosso libertador é Jesus Cristo. No Evangelho deste do-
mingo, nos vemos diante de inúmeras curas por ele realizadas,
começando pela sogra de Pedro.

134
PNE - QV] - CVV nº 48
E significativo observar que, ao ser curada, ela imedia-
tamente passa a servi-lo, assim como são Paulo que tem, na
evangelização, o centro de seu viver.
Jesus não aplacou todas as tempestades do mar da Gali-
léia, não alimentou com pão todos os famintos da Palestina, não
ressuscitou todos os filhos mortos para viúvas chorosas, nem
deu paz a todos os possessos. Em Nazaré, Jesus realizou poucos
milagres por causa da falta de fé das pessoas dali (ver Mc 6,5-
6), e, certamente, para decepção de muitos. Ele, todavia, teve
maravilhosos gestos de compaixão e, realmente, foram muitos,
como afirma o evangelista Marcos.
Contar os milagres ajuda a captar a significação espiritual
da presença de Jesus em um verdadeiro meio humano.
Aquele que é salvo, que experimenta a ação libertadora de
Jesus, sente forte o compromisso com o serviço.
Se a libertação leva ao serviço, este precisa ser sustentado
pela oração, nosso encontro com o Senhor, onde somos por ele
iluminados e fortalecidos para a missão.
Jesus demonstra isso ao retirar-se para rezar após as curas
realizadas. É nesse momento que os discípulos o encontram,
encontram-no na oração; é nela, pois, que devemos buscá-lo
constantemente.

A proposta do Mestre, entretanto, não acaba aí! Uma vez


fortalecidos na oração, 5
Jesus é claro com os discípulos: “Vamos
a outros lugares!”.

A missão não é apenas na comunidade onde estamos in-


seridos, mas também em qualquer parte. Assim, como o próprio
Jesus convida, temos de partir para outros lugares, às vezes pró-
ximos, às vezes distantes, onde seja necessário levar a Palavra
do Senhor.

135
PNE - QV) - CVV nº 48
3. Atualizando a Palavra

Louvar a Deus, mesmo no sofrimento, pedir socorro a


ele, mas nunca abandoná-lo: essa é a atitude pela qual somos
reconhecidos, hoje, como cristãos?
E 1sso, no entanto, que ele nos pede, mesmo diante das
grandes aflições de nosso tempo.
Confiar na cura de Jesus, ir a seu encontro, buscá-lo na
oração diária, na Liturgia, na leitura da Bíblia; só dessa forma
teremos força para enfrentar as dificuldades.
“A oração pessoal e comunitária é o lugar onde o discípulo,
alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, cultiva uma relação de
profunda amizade com Jesus Cristo e procura assumir a vontade
do Pai. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho
do discípulo missionário. Por isso, é necessário aprender a orar,
voltando sempre a aprender essa arte dos lábios do Mestre”
(Documento de Aparecida, 255).
Nosso mundo atual produz sofrimentos como aqueles pelos
quais passou Jó.
À oração, o louvor a Deus, a confiança em Jesus são o ca-
minho da salvação. Esse caminho, não podemos fazê-lo sozinhos;
assim, “a missão nasce do impulso de compartilhar a própria ex-
periência da salvação com outros, de plenitude e de alegria feita
com Jesus Cristo” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora
da Igreja no Brasil [2008-2010], 92).
Como a sogra de Pedro, que, ao ser erguida por Jesus, pas-
sou a servi-lo, hoje: “Num tempo em que se tenta ligar religião
com intimismo, consumismo e individualismo, o discípulo de
Jesus Cristo é convocado a sair de si, tornando-se cada vez mais
missionário. Este é um desafio que se apresenta não apenas aos
cristãos individualmente, mas também às próprias comunidades”
(Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
[2008-2010], 172).

136
PNE - QV) - CVV nº 48
No decurso deste Ano Paulino, sigamos o exemplo firme
e corajoso de são Paulo, para que seja também para nós uma ne-
cessidade anunciar a paz trazida por Jesus Cristo e testemunhar
seu Evangelho.
Assim falou o papa Bento XVI, em seu discurso durante o
encontro com Bartolomeu I para a inauguração do Ano Paulino,
sábado, 28 de junho de 2008: “Aos cristãos de Corinto, entre os
quais tinham surgido discórdias, são Paulo não hesita em dirigir
uma vigorosa exortação, para que sejam unânimes na palavra,
eliminando as divisões entre eles e cultivando uma perfeita união
de pensamento e de intenções (cf. 1Cor 1,10). No nosso mundo,
em que se vai consolidando o fenômeno da globalização, mas,
entretanto, continuam a persistir divisões e conflitos, o homem
sente uma crescente necessidade de certezas e de paz”.
Vamos ao mundo, evangelizemos e anunciemos a paz do
Senhor!

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Liturgia é ação de graças, é nosso louvor agradecido a
Deus pelo seu imenso amor por nós, na criação, salvação e
santificação.
No Ato Penitencial, reconhecendo nossas faltas, pedimos
o perdão de Deus, sentimos sua misericórdia e sua ação liber-
tadora.
Mergulhados no clima de oração que deve ter nossa cele-
bração, glorificamos a Deus, ouvimos sua Palavra, recebemos o
Pão da Eucaristia e, fortalecidos, saímos em missão.
Não podemos guardar apenas para nós a experiência da
presença do Deus vivo.
Estando unidos a Jesus em comunhão, devemos também
ser fonte de salvação para o mundo.

137
PNE - QV) - CVV nº 48
Da Liturgia brota a força da Igreja para ser levada ao
mundo.

Por isso, depois da comunhão, rezamos: “O Deus, vós


> >

quisestes que participássemos do mesmo pão e do mesmo cálice;


fazei-nos viver de tal modo unidos em Cristo, que tenhamos a
alegria de produzir muitos frutos para a salvação do mundo. Por
Cristo, nosso Senhor”.
Cientes de nosso compromisso pela união em Cristo, parti-
lhando nossa experiência com ele, seguros de que estará sempre
conosco, “vivamos a alegria de ser missionários!”.

5. Sugestões para a celebração


l. No envio, ao final da celebração, salientar por meio de algum
gesto simbólico a missão de ir ao mundo evangelizar.
Fazer uma prece especial pelo 12º Encontro Intereclesial de
CEBs que se realizará nos dias 21 a 25 de julho de 2009,
em Porto Velho, RO, com o tema: CEBs, Ecologia e Mis-
são. O lema será: “Do ventre da terra, o grito que vem da
Amazônia”.
Dia 11 de fevereiro, quarta-feira, pode-se celebrar a memória
de Nossa Senhora de Lourdes. E também o Dia Mundial dos
Enfermos. Seria bom, hoje, fazermos uma prece especial por
todos os enfermos da comunidade e, no final da celebração,
invocar a bênção sobre eles.
Oração da bênção sobre os enfermos (cf. Ritual de Bênçãos,
307): “Senhor, que passastes pelo mundo fazendo o bem e
curando a todos, nós vos pedimos que abençoeis estes vos-
sos filhos enfermos. Dai-lhes a força do corpo e a firmeza
do espírito, a resistência à dor e a saúde completa, para que,
voltando ao convívio de seus amigos e familiares, com ale-

138
PNE - QV) - CVV nº 48
gria vos bendigam. Vós, que viveis e reinais para sempre.
Amém”,
“Já que a mesa da Palavra forma, com a mesa da Eucaristia,
um só ato de culto, há de se manter um equilíbrio de tempo
entre as duas. Demasiada atenção dada à procissão de entra-
da e a outras procissões, bem como homilias prolongadas,
introduções às leituras parecendo comentários ou pequenas
homilias prejudicam a Liturgia Eucarística que, em conse-
quência, passa a ser feita de forma apressada.
Priorize-se a entrada solene do Evangeliário na procissão
inicial. Na falta deste, embora não mereçam a mesma soleni-
dade, podem ser trazidos o Lecionário ou a Bíblia. A entrada
com a Bíblia se faça só em ocasiões bem especiais” (Guia
Litúrgico Pastoral, p. 32).

139
PNE - QV) - CVV nº 48
6º Domingo do Tempo Comum — Ano B
15 de fevereiro de 2009

Leituras: Levítico 13,1-2.44-46; Salmo 31(32),1-2.5.M (R/.7);


1 Coríntios 10,31-Il,1; Marcos 1,40-45

“Sede meus imitadores, como também


eu o sou de Cristo”

1. Situando-nos brevemente

Neste 6º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho narra


a cura de um leproso que se aproxima de Jesus confiando imen-
samente em seu poder.
Tanto no Antigo Testamento como no tempo de Jesus, os
leprosos eram excluídos do convívio social, pois sua enfermidade
era ligada diretamente ao pecado.
Jesus, considerando a vida humana mais importante que o
conceito formulado pela sociedade de então, acolhe o homem,
livra-o da lepra e possibilita sua inclusão social: “Vai, mostra-te
ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés orde-
nou, como prova para eles!” (Mc 1,44).
A promoção de uma sociedade mais justa e de uma cultura
de paz tem suas bases em valores como igualdade, solidariedade
e fraternidade, pois todos temos direitos e deveres iguais enquan-
to seres humanos e cidadãos. Todos temos direito à vida e a ser
respeitados em nossa dignidade humana.

140
PNE - QV) - CVV nº 48
2. Recordando a Palavra

A primeira leitura nos mostra como, naquele tempo, era


vista uma pessoa que sofria de lepra. Não havendo conhecimento
sobre a doença, nem tratamento para sua cura, tal enfermidade
foi ligada à impureza, tanto do corpo como da alma.
Dessa forma, os leprosos deviam andar malcuidados fisica-
mente, como sinal de sua impureza, era-lhes computada um culpa
arbitrária e desumana, eram condenados a uma injusta exclusão
social e deveriam “morar fora do acampamento”, isolados.
Para Jesus, como a vida e a dignidade do ser humano tinham
sempre prioridade, ele olhou o leproso com afeto e misericórdia,
estendeu-lhe a mão e tocou nele.
Levando em conta o que já vimos sobre como era conside-
rado o leproso naquela época, Imaginemos o espanto que Jesus
causou ao tocar naquele homem.
A verdade é que Jesus viu o homem, o ser humano, antes
de ver a lepra. Ele não pensou no que poderiam achar daquela
situação. Preocupou-se com o outro, com sua condição de sofri-
mento, não só físico, mas principalmente emocional e moral, pelo
abandono e exclusão como os quais viviam os leprosos.
Por isso, após tê-lo curado, mandou-o mostrar-se ao sa-
cerdote, remeteu-o novamente ao convívio social, resgatou-lhe
tanto o direito como membro da sociedade na qual vivia quanto
sua dignidade humana.
Olhemos, também, para esse homem que, sofrendo com
a lepra e todas as consegiiências da doença, não desanimou,
não ficou inerte nem conformado com a situação; ao contrário,
enxergou em Jesus a vida, confiou totalmente nele, buscou-o,
foi ao seu encontro, prostrou-se de joelhos diante dele e fez sua
profissão de fé: “Se queres, tens o poder de curar-me”.

141
PNE - QV] - CVV nº 48
Estas são as atitudes que devem caracterizar os cristãos.
São Paulo, na segunda leitura, recomenda, claramente, que
não devemos pensar apenas em nós, no que nos é melhor ou mais
vantajoso, de forma egoísta.
O apóstolo tinha em Corinto uma comunidade cristã
composta de amigos. Sentia-se muito à vontade com eles para
fazer confidências muito pessoais, que se misturavam com seus
ensinamentos. Dizia-lhes que, entre as testemunhas do Ressusci-
tado, considerava-se um aborto: “Eu sou o menor dos apóstolos”,
escreveu (1Cor 15,8-9). Por outro lado, com toda humildade,
sentia-se investido de uma missão: ser modelo para os coríntios.
“E pela graça de Deus que sou o que sou” (1Cor 15,10). Aqui,
ele gostaria que, em um problema de ordem moral, como o con-
sumo de carnes sacrificadas aos ídolos, o princípio deles fosse:
“Tudo o que fazeis [...| fazei tudo para a glória de Deus. Não
escandalizeis ninguém”. Paulo ousa propor-se como exemplo:
“Fazei como eu [...) não buscando o que é vantajoso para mim.
Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”.
São João Crisóstomo escreveu: “Paulo, sem dúvida, teve
conversações tão elevadas e contínuas com Deus que jamais teve
nenhum profeta e nenhum apóstolo, e ele se humilha ainda mais
com isso. Esqueçam aqueles que citou por escrito (2Cor 11), pois
manteve em segredo a maior parte deles. Ele não disse tudo, a fim
de não se atribuir uma glória considerável, e de outro lado, não
guardou tudo em segredo, para fechar a boca aos falsos apóstolos.
Pois esse homem jamais agia levianamente, mas sempre por um
motivo justo e razoável, e perseguia projetos opostos com tanta
sabedoria que alcançava em toda parte os mesmos elogios. Eis o
que quero dizer: é uma grande virtude nunca falar de si mesmo
em termos orgulhosos; mas o fazia com tanta oportunidade que
sua palavra, mais do que seu silêncio, merece louvores”.
Como cristãos, devemos defender os valores do Evange-
lho, pensando no que é justo e serve ao bem comum, como fazia
Jesus.

142
PNE - QV) - CVV nº 48
As imposições sociais que humilham o ser humano devem
ser questionadas e corajosamente mudadas.
Foi assim que são Paulo procurou viver sua fé. Ele convo-
cou os irmãos, a quem dirige a carta que lemos nesta Liturgia, a
serem seus imitadores, assim como ele, Paulo, era de Cristo.

3. Atualizando a Palavra

Atualmente, a lepra tem tratamento adequado e não cons-


titui mais um motivo de exclusão social. No entanto, outras
“lepras” geram preconceitos e causam sofrimentos a muitas pes-
soas. Há muitas formas de exclusão social no mundo de hoje. As
próprias condições desumanas em que vivem alguns fazem que
sejam excluídos e percam o acesso a condições dignas de saúde,
moradia, educação e trabalho. Portanto, também hoje, existem os
abandonados e destinados a “morar fora do acampamento”.
“Diante da exclusão, Jesus defende os direitos dos fracos e
o direito a uma vida digna para todo ser humano. O ser humano,
imagem vivente de Deus, é sempre sagrado, desde sua concepção
até sua morte natural, em todas as circunstâncias e condições de
sua vida” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja
no Brasil [2008-2010], 106).
Pensando que a palavra de são Paulo também é dirigida
a nós, seremos, como ele, imitadores de Cristo. Cabe-nos, pois,
quebrar as barreiras do preconceito como Jesus o fez e, acima de
tudo e em qualquer situação, valorizar a vida humana, priorizar
sempre o bem comum.
Como Jesus, vamos estender a mão a quem pede auxílio
para vencer suas dificuldades, tomar a postura de não ter medo de
estar ao lado dos que são vistos como excluídos, nem de causar
espanto nas atitudes que priorizem a vida.

143
PNE - QV) - CVV nº 48
“Tratar todo ser humano sem preconceito nem discrimi-
nação, acolhendo, perdoando, recuperando a vida e a liberdade
de cada pessoa, denunciando os desrespeitos à dignidade huma-
na e considerando as condições materiais, históricas, sociais €
culturais em que cada pessoa vive” (Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 105c).
O homem que sofria de lepra alcançou a cura ao buscar
Jesus e ao experimentar, em seu encontro com ele, amor e mi-
sericórdia. É preciso acolher a todos e integrá-los em nossas
comunidades e pastorais, possibilitando o encontro deles com
Jesus, sem preconceitos nem exclusões.
“O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus,
também possui altíssima dignidade que não podemos pisotear e
que somos convocados a respeitar e promover” (Documento de
Aparecida, 464).
Devido aos atuais recursos, a medicina conta com trata-
mentos que promovem a qualidade de vida e aliviam o sofrimen-
to, mesmo em doenças para as quais ainda não se descobriu a
cura completa. Nem todos, no entanto, têm acesso ao adequado
atendimento de saúde. Essa exclusão fere a dignidade da vida
humana, além de ser injusta e preconceituosa. O poder econô-
mico determina os que ficam “fora do acampamento” e, em
determinadas situações, é utilizado para manipular a vida em
vez de defendê-la.
“Os desejos de vida, paz, fraternidade e felicidade não
encontram resposta em meio aos ídolos do lucro e da eficácia,
da insensibilidade frente ao sofrimento alheio, aos ataques à vida
intra-uterina, à mortalidade infantil, à deterioração de alguns
hospitais e a todas as modalidades de violência contra crianças,
jovens, homens e mulheres” (Documento de Aparecida, 468).

144
PNE - QV) - CVV nº 48
Entre duas estadas em Cafarnaum, quando então Jesus se
encontra numa casa isolada da Galiléia, lhe é apresentado um
caso grave: um leproso. Da personalidade desse leproso pode-se
observar duas características:

1. Sua tenacidade na oração — os leprosos, segundo a lei, deviam


manter-se longe dos demais viventes. Mas aquele, em espe-
cial, tinha tanta confiança em Jesus que veio a seu encontro
mesmo em um lugar fora das cidades. Sua insistência é muito
comovedora. Cai de joelhos e suplica. Dirige-se a Jesus com
a fé absoluta dos salmistas: “Se queres, tens o poder de curar-
me”. Seu comportamento é tão profundamente tocante que
Jesus é tomado de piedade por aquele homem. A piedade
entre os hebreus é um sentimento materno. O leproso apela
para o lado materno de Jesus.

2. Seu papel de primeiro evangelizador — Jesus liberou o


leproso curado com a ordem de dar ao sacerdote levita co-
nhecimento de sua purificação, sem dúvida no Templo de
Jerusalém. A Boa-Nova da chegada do Reino e dos sinais
que o acompanham teria se difundido muito discretamente,
se o leproso tivesse seguido a orientação de Jesus: “Não
contes nada disso a ninguém!?. Levava muito tempo uma
viagem da Galiléia a Jerusalém. Ao contrário de Pedro, que
ficou em silêncio após a cura de sua sogra, o leproso, desde
que Jesus o despediu, “foi e começou a contar e a divulgar a
notícia, de modo que [...] de toda parte vinham à procura de
Jesus”. A palavra do leproso produz fruto, trinta, sessenta,
cem por um (cf. Mc 4,8).
Imitadores de Cristo, como são Paulo, tenhamos, sempre,
a coragem de enfrentar qualquer tipo de preconceito, colocando-
nos sempre do lado da vida!

145
PNE - QV) - CVV nº 48
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Na Liturgia, lugar privilegiado do encontro com Jesus, que
todos sejam acolhidos e se possa sentir, na celebração, vivo o
espírito de comunhão fraterna.
Devemos refletir nossa vida na Liturgia, assim como viver
a Liturgia em nossas vidas; por isso, na oração do dia pedimos
ao Senhor: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações
sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo que
possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo”.
Na Liturgia da Palavra, em nosso diálogo com Deus, pos-
samos ter os mesmos sentimentos do salmista, livres dos precon-
ceitos com os irmãos e corajosos nas atitudes em defesa da vida,
dizendo com sinceridade: “Regozijai-vos, ó justos, em Deus, e no
Senhor exultai de alegria! Corações retos, cantai jubilosos!”.
Quando comungamos o Cristo Eucarístico, Jesus está
inteiro e, assim, comungamos também sua Palavra; por isso,
comprometemo-nos, como ele, em estender a mão e tocar os que
estão excluídos e sofrem com alguma forma de abandono.
Ao sairmos da celebração, levamos conosco a experiência
do encontro com Jesus, sua presença em nós, e, desta Liturgia, o
forte convite de são Paulo: “Sede meus imitadores, como também
eu o sou de Cristo“ (1Cor 11,1).
O mal que nos afeta não é menos grave do que a lepra.
Basta pensar no ódio que muitas vezes habita nosso coração.
Como nossas preces são fracas para nos livrar dele! O ódio e
seus companheiros — a violência e o rancor — nos afastam das
pessoas. Se o Cristo estender a mão e tocar nosso coração, dei-
xemos brotar de nossa boca a Boa-Nova. Deus completa a obra
da salvação.

146
PNE - QV] - CVV nº 48
5. Sugestões para a celebração
l. Salientar o abraço da paz, para que todos possam tocar o
outro, em um gesto de acolhida.
“O altar dentro da igreja goza da mais alta dignidade, merece
toda honra e distinção, pois nele se realiza o mistério Pascal
de Cristo, do qual é símbolo por excelência. [...]. Pela sua
dignidade e valor simbólico, o altar não pode ser um móvel
qualquer ou uma peça sem expressão, mas precisa ser nobre,
belo, digno, plasticamente elegante. Nada se sobrepõe ao
altar. Ele pode ser realçado com a toalha, as velas, a cruz
processional, as flores. Todos estes elementos devem enfatizar
a sua nobreza e sobriedade, sem escondê-lo ou dificultar as
ações litúrgicas.
Os castiçais com as velas, a cruz processional, as flores
sejam preferivelmente colocados ao lado, deixando a mesa
livre para que apareçam os sinais sacramentais do pão e do
vinho. A toalha, caindo somente nas laterais, sem esconder
totalmente o altar, pode ser colocada para a celebração da
Eucaristia, dando ênfase ao banquete que o Senhor nos
prepara. Durante o dia, o altar pode permanecer desnudo
ou com “trilho” na cor litúrgica do tempo” (Guia Litúrgico
Pastoral, pp. 105-106).
“A decoração da Igreja deve manifestar o caráter festivo da
celebração. As flores, as velas e as luzes devem colaborar
para que as celebrações sejam de fato memória da Páscoa
de Jesus.
Os detalhes merecem cuidado especial, pois nunca devem se
sobrepor ao essencial. As flores, por exemplo, não são mais
importantes que o altar, o ambão e outros lugares simbólicos.
Os excessos desvalorizam os sinais principais. A sobriedade
da decoração favorece a concentração no mistério” (Guia
Litúrgico Pastoral, p. 110).

147
PNE - QV) - CVY nº 48
6. Fazer uma prece especial pelo Mutirão de Comunicação da
América Latina e Caribe, que se realizará nos dias 12 a 17
de julho de 2009, em Porto Alegre, com o tema: “Processos
de comunicação e cultura solidária”. (Maiores informações
no site: <http://www.muticom.org>.)

148
PNE - QV) - CVV nº 48
7º Domingo do Tempo Comum — Ano B
22 de fevereiro de 2009

Leituras: Isaías 43,18-19.21-22.24b-25; Salmo 40(41);


2 Coríntios 1,18-22; Marcos 2,1-12

Jesus Cristo nunca foi “sim e não”,


mas somente “sim” (2Cor 1,19)
1. Situando-nos brevemente

No domingo passado, o poder de Jesus, curando e resga-


tando ao leproso sua dignidade de ser humano, agora se revela
em amplitude neste 7º Domingo do Tempo Comum, quando ele
manifesta, a toda a humanidade, a infinita misericórdia do Pai.
Já estamos próximo do início do tempo da Quaresma —
tempo de graça e de convite à conversão.
O perdão e a reconciliação com nosso Deus são trazidos
por Jesus Cristo concretamente e, mais uma vez, o milagre da
cura do corpo é o sinal visível do qual a humanidade necessita
para enxergar as grandes maravilhas do Senhor.
E oportuno recordar uma frase de H. Lacordaire: “Quereis
ser felizes por um instante? Vingai-vos. Quereis sê-lo sempre?
Perdoar”.

2. Recordando a Palavra

O profeta Isaías faz o anúncio de que o Senhor fará “col-


sas novas”, Deus derramará sobre os homens sua misericórdia,
esquecendo-se de nossas faltas, e grandes sinais serão dados.

149
PNE - QV) - CVV nº 48
O Livro da Consolação de Israel é constituído da segunda
parte do Livro de Isaías. De fato, a partir do capítulo 40, o hori-
zonte muda. O eixo Babilônia — Jerusalém chama a atenção do
vidente. O povo, ou, antes, a elite deportada, voltará do exílio.
Surgem novas formas de ver Deus. O anônimo ou os anônimos,
na origem desses poemas de grande elevação, ousam dizer coisas
inéditas. A “sensibilidade” de Deus está muito mais presente.
Uma floração de novas imagens desabrocha para revelar Deus,
como se as formas antigas se desfizessem para deixar vê-lo no
que verdadeiramente é.
Jesus é o caminho que nos leva ao Pai, a estrada aberta pelo
Senhor no deserto da vida do povo. Os milagres e maravilhas que
realiza são como rios que irrigam a aridez humana, libertando-nos
do sofrimento e da morte, fazendo brotar a plenitude da vida.
No Salmo deste domingo, expressamos nossas limitações
e pedimos ao Senhor que nos cure do pecado, salvando-nos de
todo mal: “Curai-me, Senhor, pois pequei contra vós”.
No mesmo Salmo, unindo a súplica à confiança, demons-
tramos nossa certeza da salvação que vem de Deus: “Vós, porém,
me haveis de guardar são e salvo e me pôr para sempre na vossa
presença”.
Sim, nossa salvação vem de Deus e através de Jesus Cristo,
como afirma são Paulo: “Com efeito, é nele que todas as promes-
sas de Deus têm o seu “sim” garantido”.
A Segunda Carta aos Coríntios fo1 escrita por são Paulo no
ano 55. Na época, ele encontrava-se na Macedônia (Tessalôni-
ca, Filipos). A oportunidade adveio de uma informação que lhe
fora dada por Tito, seu colaborador. Uma carta de repreensão,
que Paulo lhes havia escrito, produzira frutos. A comunidade
lamenta agora não lhe ter dado apoio no confronto com um de
seus membros e tomou medidas disciplinares com relação a esse
membro. Reconfortado por essa boa notícia, o apóstolo escreve
uma carta para lhes assegurar sua confiança.

150
PNE - QV) - CVV nº 48
Alguns coríntios parecem ter duvidado de Paulo quanto
a sua pretensão de fazer as viagens anunciadas. Talvez alguns
suspeitassem de leviandade (v. 17). Ele reage com energia para
dizer que não há mentira ou fingimento em sua atitude. Ele é
um homem franco: “O ensinamento que vos transmitimos não
é “sim e não”?
Como sempre, seu modelo é o próprio Cristo: “O Filho de
Deus, Jesus Cristo, que nós — a saber: eu, Silvano e Timóteo —
pregamos entre vós, nunca foi “sim e não”, mas somente “sim”?
Todas as promessas de Deus tiveram seu “sim” em sua pessoa. A
fidelidade de Deus a suas promessas é expressa, com plenitude,
em Jesus Cristo. Seria, portanto, contraditório que Paulo, para
quem o anúncio do Cristo é sua única razão de ser, desmentisse
essa mensagem com atitude dúbia.
Os próprios coríntios o afirmam quando aderem ao Amém
do culto cristão: “[...] dizemos “amém” a Deus, nosso sim para
a glória de Deus”. Pelo Espírito de seu batismo, já fizeram a ex-
periência da solidez de Deus. “E Deus que nos confirma, a nós
e a vós, em nossa adesão ao Cristo. Ele nos adiantou como sinal
o Espirito derramado em nossos corações”.
Jesus é a certeza do amor do Pai, de seu perdão, da sua
misericórdia e salvação.
No Evangelho, sensibilizado com a fé daquele homelique
ultrapassara : a multidão que cercava Jesus, e, sendo descido pelo
teto, pedip- “fhe a cura, o Mestre lhe diz com afeto: “Filho, os teus
pecados estão perdoados”.
O retrato da vida de Jesus esboçado por são Marcos é muito
realista e humano. O lugar em que aconteceu o milagre do perdão
é a casa de Pedro, conservada pelos primeiros cristãos da Galiléia
e reencontrada pelos arqueólogos modernos. Ela media 10 m x
9 m. Havia um pátio que se enchera de gente. Não tinham mais
lugares, mesmo diante da porta. As pessoas, sem cerimônia,

151
PNE - QV) - CVV nº 48
entraram e ocuparam todo o espaço. O telhado da casa era for-
mado de longas vigas de pinho. Pilares não as deixavam vergar.
Sobre esses pilares estendiam-se travessas que suportavam telas
estreitas de caniços ou ramagens. Estendia-se sobre elas uma
camada de argila ou de outro barro socado. Os carregadores do
paralítico, não podendo entrar pela porta, subiram por uma escada
externa. Retiraram a terra, levantaram a tela entre a parede e a
primeira viga. Conseguiram espaço suficiente para fazer deslizar
o paralítico, não sem alguma poeira, Imagina-se.
Na época, alcançava-se o perdão dos pecados em sacrifícios
solenes no Templo de Jerusalém, uma das maravilhas arquite-
tônicas do mundo antigo. Jesus, em uma casa muito simples, na
margem do lago da Galiléia, concede o perdão do pecado median-
te a fé: “Vendo sua fé” — a do doente e dos padioleiros —, “Jesus
disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Os
escribas pensaram consigo mesmos que ele usurpava um poder
divino e que as palavras ditas não eram eficazes. Para provar o
contrário, ele falou: “Para que saibais que o Filho do Homem
tem, na terra, poder de perdoar pecados — disse ao paralítico — eu
te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para casa!”.
O perdão é dom invisível, e os homens incrédulos duvidam
do poder de Jesus; por isso, se faz necessário um grande sinal
através do milagre da cura.
Na palavra de Jesus “levanta-te” não está apenas o que os
homens podem ver; está, também e principalmente, o invisível,
a libertação completa e a restauração integral do ser humano.
Jesus, com firmeza, indica-lhes que o milagre é o sinal,
para que saibam de seu poder divino, de seu poder de perdoar e
de oferecer à humanidade a salvação.
Ele deixa-nos o sacramento do perdão, da misericórdia, da
reconciliação com Deus.

152
PNE - QV) - CVV nº 48
Demonstra que é por ele, Jesus, que aderimos ao plano de
Deus; é através dele que recebemos as graças do Senhor, o sim
de Deus para nós.
Como diz são Paulo, a palavra anunciada por Jesus Cristo
não deixa lugar à dúvida, pois Jesus “nunca foi “sim e não”, mas
somente “sim””,
Ouvindo e atendendo a sua palavra, encontramos a verda-
de, identificamos nossas faltas, nos arrependemos, alcançamos
a misericórdia de Deus e nos reencontramos com ele.
Jesus, cercado pelo povo, pregava a Boa-Nova, a Palavra
do Pai, quando trouxeram, com muito esforço, o homem que
pedia a cura e foi atendido pelo Mestre.
A fé vence todos os obstáculos para encontrar Jesus.
O milagre acontece no meio do anúncio da Palavra de
Deus revelada por Jesus Cristo, pois é da sua Palavra que brota
a vida para todos nós.

3. Atualizando a Palavra

O perdão do Pai trazido por Jesus é ofertado a nós, hoje,


especialmente através do sacramento da confissão, da recon-
ciliação. Temos ainda outras formas de alcançar o perdão e a
reconciliação.
No sinal visível da imposição das mãos e das palavras de
absolvição, sob a ação do Espírito Santo, recebemos o perdão
do próprio Deus e com ele nos reconciliamos.
“O Sacramento da Reconciliação é o lugar onde o pecador
experimenta de maneira singular o encontro com Jesus Cristo,
que se compadece de nós e nos dá o dom do seu perdão mise-
ricordioso, nos faz sentir que o amor é mais forte que o pecado
cometido, nos liberta de tudo o que impede de permanecer em

153
PNE - QV] - CVV nº 48
seu amor, e nos devolve a alegria e o entusiasmo de anunciá-lo
aos demais de coração aberto e generoso” (Documento de Ápa-
recida, 254).
Através do encontro com Jesus, sentimos a paz do Senhor
que inunda nosso coração, tomamos coragem para enfrentar
as dificuldades e nos fortalecemos num processo de constante
conversão.
Jesus conforta a todos, derramando abundantes graças em
nosso coração. Sua misericórdia é para todos e faz a vontade do
Pai, que é de sempre nos perdoar.
“Pela penitência-reconciliação, a Igreja celebra o amor
misericordioso do Pai que acolhe e perdoa os pecadores que
buscam a conversão e fazem penitência” (Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil [2008-2010], 71).
Se o Senhor nos torna melhores com seu perdão e amor, é
para que possamos nos colocar a serviço dos irmãos, imitando
o próprio Cristo, que sempre está disposto a acolher a todos,
ouvindo suas necessidades.
Vamos ao encontro de Jesus, mas depois nos coloquemos
a serviço da comunidade, a serviço do Senhor.
Não deixemos que a acomodação e o egoísmo sejam ou-
tra forma de paralisia para nós, hoje, pois que estas, sim, são as
verdadeiras paralisias. Mesmo que nossas pernas não tenham
movimento, nossa inteireza humana nos faz capazes de caminhar
de muitas outras formas.
O que realmente paralisa uma pessoa é quando ela própria
aprisiona-se em si mesma, não consegue ver o outro, não se
sensibiliza com o bem comum.
Se realmente desejamos ser discípulos missionários de
Jesus Cristo, devemos refletir seus gestos, espalhar sua paz onde
quer que estejamos. Para que isso aconteça, precisamos estar

154
PNE - QV] - CVV nº 48
constantemente diante do Senhor, experimentando sua miseri-
córdia e seu perdão.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Liturgia é ação de graças, e agradecemos ao Senhor o
sacrifício salvífico de seu Filho, Jesus Cristo; agradecemos por
todas as vezes que nos perdoou no Sacramento da Reconciliação
e o louvamos por todo o bem que nos faz.
Pedimos, no Ato Penitencial, que o Senhor tenha piedade
de nós, livrando-nos das limitações que nos impedem de ir ao
encontro de Jesus e do irmão.
Por isso, a antifona de entrada deste dia nos diz: “Confiei,
Senhor, na vossa misericórdia; meu coração exulta porque me
salvais. Cantarei ao Senhor pelo bem que me fez” (Sl 12,6).
Na experiência do encontro com Jesus, tornamo-nos mais
próximos dele, aprendendo a conhecer o que ele quer, aprendendo
a ser um pouco melhor a cada dia para poder refletir seu amor no
mundo, em nossas palavras, gestos e atitudes, realizando o plano
de amor que Deus traçou para nós.
Na oração do dia pedimos este fortalecimento ao Senhor:
“Concedei, é Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer
sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras
e ações. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo”.
Em nosso processo de formação como discípulos missio-
nários de Jesus Cristo, alimentemo-nos, sempre, na Eucaristia e
busquemos no Sacramento da Reconciliação o precioso encontro
com o perdão misericordioso do nosso Deus.

155
PNE - QV) - CVV nº 48
5. Sugestões para a celebração
l. Dar atenção especial ao Ato Penitencial, promovendo
momento de silêncio destacado para o pedido de perdão
pessoal.
E recomendável que o canto de comunhão retome a mensa-
gem do Evangelho.
“Para consagrar as hóstias é conveniente usar uma patena de
maior dimensão, onde se coloca tanto o pão para o sacerdote
e o diácono, bem como para os demais ministros e fiéis”
(Instrução Geral sobre o Missal Romano, 331).
“E conveniente que os utensílios assemelhem-se na forma
aos de uso cotidiano: patena mais parecida com prato, jarra
e bacia para o lavabo ao invés de pequenas galhetas” (Guia
Litúrgico Pastoral, p. 113).
No final da celebração, fazer o anúncio e a motivação para o
início da Quaresma e a abertura da Campanha da Fraternida-
de, na Quarta-feira de Cinzas, dia 25 de fevereiro. Convém
ainda lembrar que é dia de jejum e abstinência.
À equipe de Liturgia deve encontrar-se para preparar o início
da Quaresma. Como vamos preparar este novo tempo litúr-
gico que se está iniciando? Como vamos preparar e ajudar
os participantes de nossas celebrações a viverem intensa-
mente este tempo? Como e quando faremos as celebrações
penitenciais? Como será feito o lançamento da Campanha
da Fraternidade e como ela estará presente nas celebrações
durante a Quaresma? Temos adultos ou crianças que querem
ser batizados? Poderíamos prepará-los durante a Quaresma
e batizá-los na Vigília Pascal, seguindo o Ritual da Iniciação
Cristã dos Adultos ou, então, adaptando-o a nossa realidade
específica?

156
PNE - QV) - CVV nº 48
Sumário
Apresentação............. rr rerereeeerenecarerererranennacanara
coreana arara ananererrere arara 5

Introdução .......... erre reecererenaneaerrerananeaeererenantacerereneanarerereananeres 7

1º Domingo do Advento — 30 de novembro de 2008


(Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7; SI 79/80]; 1Cor 1,3-9; Mc 13,33-37)....... 10

Campanha para a Evangelização — CNBB — 2008 — “Acolhamos o Príncipe


da paz” — 1º Domingo do Advento — 29 e 30 de novembro .................. 19

2º Domingo do Advento — 7 de dezembro de 2008


(Is 40,1-5.9-11; SI 84/85]; 2Pe 3,8-14; Me IB)... 21

Campanha para a Evangelização — CNBB — 2008 — “Acolhamos o Príncipe


da paz” — 2º Domingo do Advento — 6 e 7 de dezembro....................... 30

Imaculada Conceição de Nossa Senhora — 8 de dezembro de 2008


(Gn 3,9-15.20; SI 97/98]; Ef 1,3-6. 11-12; Lc 1,26-38)..... 32

Objetivo da Campanha para a Evangelização..................ceemeee 41

Campanha para a Evangelização ................


e erereeerererareereraranaea 42

3º Domingo do Advento — 14 de dezembro de 2008


(Is 61,1-2a. 10-11; Cântico Magnificat — Lc 1,46-54; 1Ts 5,16-24;
Jo 1,6-8.19-28) «rir ererarrreerannareerecaarece
re eananeceranaanar ecran ananareernara 43

Campanha para a Evangelização — CNBB — 2008 — “Acolhamos o


Príncipe da paz” — 3º Domingo do Advento — 13 e 14 de dezembro .... 50

4º Domingo do Advento — 21 de dezembro de 2008


(28m 7,1-5.8b-12.14a.16; Sl 88/89]; Rm 16,25-27; Lc 1,26-38).......... 52

Natal do Senhor — 25 de dezembro de 2008 — Missa da noite


(Is 9,1-6; 81 95/96]; TH2,M-14; Le 2,11) eee 60

Natal do Senhor — 25 de dezembro de 2008 — Missa do dia


(Is 52,7-10; SI 97/98]; Hb L,l-6; Jo LI-IB).. erre 72
Sagrada Família — 28 de dezembro de 2008
(Eclo 3,3-7.14-17a; SI 127[128]; CI 3,12-21; Lc 2,22.39-40)..........
Santa Mãe de Deus, Maria — 1º de janeiro de 2009
(Nm 6,22-27; SI 66/67]; GI 4,4-7; Le 2,162]...
Epifania — 4 de janeiro de 2009
(Is 60,1-6; SI 71/72]; Ef 3,2-30.5-6; Mt 21-12) inn
Batismo do Senhor — 11 de janeiro de 2009
(Is 42,1-4.6-7; S! 28/29]; At 10,34-38; Mc 1,7-1])....s

2º Domingo do Tempo Comum — Ano B — 18 de janeiro de 2009


(1Sm 3,3b-10.19; SI 39/40]; Cor 6,13c-154.17-20; Jo 1,35-42) .....
3º Domingo do Tempo Comum — Celebração da Missa da Conversão
de São Paulo Apóstolo — 25 de janeiro de 2009
(At 22,3-16; SI 16[117]; 1Cor 7,29-31; Mc 16,15-18)......

4º Domingo do Tempo Comum — Ano B — 1º de fevereiro de 2009


(Dt 18,15-20; SI 94/95]; 1Cor 7,32-35; Mc 1,21-28)......

5º Domingo do Tempo Comum — Ano B — 8 de fevereiro de 2009


(Jó 7,1-4.6-7; 8! 146/1147]; 1Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39) .........

6º Domingo do Tempo Comum — Ano B — 15 de fevereiro de 2009


(Lv 13,1-2.44-46; 81 31/32/,1-2.5.11 [R/.7]; 1Cor 10,31-11,1;
Me 1,40-45) reitera
aereas rare reerertna
7º Domingo do Tempo Comum — Ano B — 22 de fevereiro de 2009
(Is 43,18-19.21-22.24b-25; SI 40/41]; 2Cor 1,18-22; Mc 2,1-12) .... 149

Potrebbero piacerti anche