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Caxias do Sul
2007
2
Caxias do Sul
2007
3
Para
RESUMO
ABSTRACT
The Brazilian legal system protects the right to the healthy environment and
ecologically balanced for the presents and future generations of ample form, also
elevated it the status of basic right tutored person constitutionally since the advent of
the Federal Constitution of 1988. Although this, the activities human beings still are
guided by predominantly economic interests, time that the growth of the economy still
is presented as the solution of all the problems, and incessantly searched for the
society contemporary. When considering the environment only as an interminable
raw material supply to the disposal of the human beings, the developed activities
cause diverse forms of ambient degradation, contributing for the causation of the
existing ambient crisis. Currently this anthropocentric and reductionist vision must
give place to another vision, ampler and worried about the sustainability of the planet.
For in such a way, it’s necessary the formation of a new conscience and the rescue
of basic values for the society, such as the participation, the responsibility and social
solidarity. In this direction, the present dissertation has for objective to identify the
contribution of the exercise of the citizenship while instrument for the reach of the
sustainability, and consequently, for the effectuation of the basic right to the healthy
environment and ecologically balanced. For this, aspects related to the
characteristics of the basic rights, to the search of the sustainability and the exercise
of the citizenship had been analyzed. The results allow to conclude that the
consumption can pass of a propeller activity of the ambient degradation the element-
key of the sustainability, and to contribute for the overcoming of the ambient crisis.
For in such a way, it’s necessary that the consumption is seen under an ampler and
complex perspective, not only as social activity with innumerable consequences in
the society, but as form of exercise of the citizenship.
ABREVIATURAS
art. artigo
CF Constituição Federal
ed. edição
n. número
p. página
rel. relator
v. volume
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10
1 CARACTERIZAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE
SADIO E ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO....................................................... 15
1.1 Considerações acerca das características dos direitos fundamentais................ 15
1.2 Aplicação dos direitos fundamentais................................................................... 26
1.3 Conteúdo e significado do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado................................................................................................................. 38
2 A CRISE AMBIENTAL E O NECESSÁRIO DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA....48
2.1 Delineamentos acerca da crise ambiental na sociedade contemporânea...........48
2.2 Em busca do desenvolvimento sustentável......................................................... 56
2.3 A importância da educação ambiental na formação de uma nova consciência.. 63
3 O EXERCÍCIO DA CIDADANIA EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL.................................................................................................. 75
3.1 A participação e a solidariedade social como base da cidadania........................76
3.2 Sociedade de consumo: de propulsora da degradação ambiental a elemento-
chave da sustentabilidade......................................................................................... 84
3.3 O papel do indivíduo/consumidor na efetivação do direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado....................................................................... 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 109
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 113
10
INTRODUÇÃO
proteção do meio ambiente, pois muitas vezes percebe-se uma grande distância
entre a previsão normativa e a realidade fática – não somente em relação à questão
ambiental, mas em diversos pontos da realidade social. Assim, o problema não
reside na falta de previsão normativa sobre a matéria, mas na não-aplicação das
normas jurídicas estabelecidas.
A segunda parte traz uma breve reflexão acerca da crise ambiental existente
atualmente e do necessário despertar de uma nova consciência, que possibilite o
restabelecimento da relação entre o homem e a natureza e busque a
sustentabilidade. Para isso, inicia-se com alguns delineamentos acerca da crise
ambiental na sociedade contemporânea, buscando-se apontar as suas principais
causas e os fatores que favorecem o seu agravamento, além de tratar da influência
da visão antropocêntrica no processo de degradação do meio ambiente, e a
conseqüente necessidade de se repensar a forma de pensar e de agir em relação à
natureza. Após analisar alguns aspectos da crise a ser enfrentada, aborda-se o
grande desafio da sociedade contemporânea: o desenvolvimento sustentável. Para
tratar dessa busca de equilíbrio entre o desenvolvimento socioeconômico e a
preservação do meio ambiente, é preciso diferenciar crescimento de
desenvolvimento, além de reavaliar a relação existente entre economia e meio
ambiente, sistemas totalmente interligados ou dissociados, de acordo com o ponto
de vista utilizado. Nesse ponto, além de considerar a relação entre os recursos
existentes e as necessidades humanas, confronta-se o direito das presentes e das
futuras gerações em relação a esses recursos. Avançando na questão da
necessidade de formação de uma nova consciência, passa-se a tratar da
importância da educação ambiental na consecução desta transformação. Nesse
sentido, além de avaliar a necessidade de construção de uma nova mentalidade,
busca-se fundamentos para uma nova forma de pensamento, que reaproxime não
somente o ser humano da natureza, como também os seres humanos entre si. Após
essa breve reflexão, analisa-se a educação ambiental nas diversas perspectivas que
a envolvem, incluindo seus objetivos, seus processos, seus princípios, seus
desafios, e sua estreita ligação com a cidadania.
Segundo Canotilho,
1
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra:
Almedina, 2000, p. 372.
2
Segundo Lorenzetti, “A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948
dispunha que ‘todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos’. O sujeito dos
direitos é o ‘ser humano’ e os direitos são ‘direitos humanos’, porque todos os indivíduos deles são
titulares, independentemente das questões de raça, nacionalidade, idade ou crença” (LORENZETTI,
Ricardo Luis. Fundamentos do direito privado. Trad. Vera Maria Jacob de Fradera. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998, p. 152).
3
ALEXY, Robert. Direitos Fundamentais no Estado Constitucional Democrático. Revista de Direito
Administrativo. Rio de Janeiro, n. 217, p. 55-66, jul./set. 1999, p. 57; SARLET, Ingo Wolfgang. A
eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2003, p. 33-34.
4
CANOTILHO, op. cit., p. 371.
17
5
ROBLES, Gregorio. Os direitos fundamentais e a ética na sociedade atual. Trad. Roberto
Barbosa Alves. Barueri: Manole, 2005, p. 7.
6
SARLET, op. cit., p. 36-37.
7
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004, p. 43-45.
8
CANOTILHO, op. cit., passim.
18
Segundo Bobbio,
Segundo Alexy,
12
SARLET, op. cit., p. 50.
13
BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e
possibilidades da constituição brasileira. 4. ed. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 101;
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 27. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2001, p. 29-30.
14
ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 2002, p. 419.
15
SARLET, op. cit., p. 51; LORENZETTI, op. cit., p. 153; LOPES, Ana Maria D'Ávila. Hierarquização
dos direitos fundamentais? Revista de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo, v. 9, n.
34, p. 168-183, jan./mar. 2001, p. 174-175.
20
16
SARLET, op. cit., p. 51; MORAIS, José Luis Bolzan de. Do direito social aos interesses
transindividuais: o Estado e o Direito na ordem contemporânea. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1996, p. 163-164.
17
BOBBIO, op. cit., p. 41.
18
BARROSO, O direito constitucional e a efetividade de suas normas, op. cit., p. 101.
19
SARLET, op. cit., p. 52; BARROSO, O direito constitucional e a efetividade de suas normas, op. cit.,
p. 101; FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais. 4. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2000,
p. 103.
21
20
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 57.
21
LORENZETTI, op. cit., p. 154.
22
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 57-58.
23
MORAES, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 44-46; SARLET, op. cit., p. 54; FERREIRA
FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 58.
24
LOPES, op. cit., p. 175-176.
25
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 28.
26
Ibidem, p. 57.
22
Para Rawls,
Nesse sentido, Sarlet questiona se, já que os direitos fundamentais têm por
base o princípio maior da dignidade da pessoa humana, e a proteção de valores
tradicionais – tais como a vida, a liberdade, a igualdade –, se esses novos direitos
não passariam de uma nova forma de reivindicar os direitos já reconhecidos, mas
nem sempre respeitados em sua plenitude.35
38
BOBBIO, op. cit., p. 25-26.
39
LORENZETTI, op. cit., p. 154-155.
40
SARLET, op. cit., p. 174-175.
41
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 101.
25
42
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 101-102.
43
Ibidem, p. 103.
44
BOBBIO, op. cit., p. 38.
26
45
ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. Trad. J. Batista Machado. 6. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, p. 126.
46
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha. Trad.
Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998, p. 61.
47
CANOTILHO, op. cit., p. 1165.
48
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 19.
49
Ibidem, p. 25-26.
27
simples leitura do texto legal fosse suficiente para a interpretação do direito, bastaria
que o intérprete fosse alfabetizado.
Não existe uma interpretação que seja absolutamente correta e definitiva. Isso
ocorre porque, diante da constante evolução social, a norma é aplicada de acordo
com o ordenamento jurídico e os valores vigentes e, invariavelmente, frente a novas
questões. De forma que o texto da norma pode permanecer igual, mas seu sentido
acompanha as transformações ocorridas na sociedade. Assim, as soluções
encontradas através da interpretação são variáveis, de acordo com o contexto em
que se encontrem.51
Nesse sentido afirma Eros Grau: “assim, o significado válido dos textos é
variável no tempo e no espaço, histórica e culturalmente. A interpretação do direito
não é mera dedução dele, mas sim processo de contínua adaptação de seus textos
normativos à realidade e seus conflitos”.52
50
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Trad. Joaquim Campos de Miranda.
Belo Horizonte: Líder, 2002, p. 25; LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Trad. José
Lamego. 5. ed. rev. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, p. 239-240; ASCENSÃO, José de
Oliveira. O direito – introdução e teoria geral: uma perspectiva luso-brasileira. 10. ed. rev. Lisboa:
Almedina, 1999, p. 385; MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 18. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1999, p. 33.38.
51
LARENZ, op. cit., p. 378.
52
GRAU, op. cit., p. 49.
53
FERRARA, op. cit., p. 25-26.
28
54
LARENZ, op. cit., p. 384.
55
Alguns autores tratam, além desses, de outros métodos de interpretação. Tércio Sampaio Ferraz
Júnior (FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão,
dominação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994, p. 286-293), por exemplo, menciona também os métodos
sociológico, evolutivo, axiológico e lógico. Cada autor tem sua percepção acerca dos métodos de
interpretação. Francesco Ferrara (FERRARA, op. cit., p. 33-38), por exemplo, divide os métodos em
literal/gramatical e lógico/racional, sendo que incluído dentro do último estão os critérios
racional/teleológico, sistemático e histórico.
56
Também chamada textual, literal, filológica, verbal ou semântica, BARROSO, Luís Roberto.
Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional
transformadora. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 127.
57
LARENZ, op. cit., p. 385; FRANÇA, Rubens Limongi. Hermenêutica jurídica. 7. ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 1999, p. 8.
58
FERRARA, op. cit., p. 33; LARENZ, op. cit., p. 390; ASCENSÃO, op. cit., p. 390; BARROSO,
Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 130.
59
LARENZ, op. cit., p. 390-391; ASCENSÃO, op. cit., p. 403.
60
BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 136.
29
Segundo Barroso,
No mesmo sentido, Eros Grau defende a idéia de que o texto legal somente
encontra significação enquanto parte integrante de um sistema da seguinte forma:
61
Ibidem, p. 136-137.
62
GRAU, op. cit., p. 34.
63
BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 138.
64
LARENZ, op. cit., p. 401.
65
FERRARA, op. cit., p. 36-37; LARENZ, op. cit., p. 407; BARROSO, Interpretação e aplicação da
Constituição, op. cit., p. 139-140.
30
66
Art. 5º/LICC. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências
do bem comum.
67
Segundo Diniz, a noção de bem comum pode dar origem a várias definições, já que é composto por
diversos elementos ou fatores. Em geral, considera-se esses elementos a paz, a liberdade, a justiça,
a segurança, a utilidade social, a solidariedade ou cooperação. Ao aplicar a lei, o julgador deve
harmonizar tais elementos, diante das circunstâncias fáticas presentes (DINIZ, Maria Helena. Lei de
introdução ao código civil brasileiro interpretada. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 167).
68
ASCENSÃO, op. cit., p. 411; BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 140.
69
ASCENSÃO, op. cit., p. 325-327.
70
Ibidem, p. 395. No mesmo sentido, FERRARA, op. cit., p. 29-32; BARROSO, Interpretação e
aplicação da Constituição, op. cit., p. 132.
71
ENGISCH, op. cit., p. 144-145; BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p.
125-126.
72
LARENZ, op. cit., p. 417.
31
Segundo Barroso,
73
Ibidem, p. 410-411.
74
MORAES, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 23.
75
BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 104.
76
HESSE, op. cit., p. 65-68.
77
CANOTILHO, op. cit., p. p. 1186-1189.
32
Segundo Barroso,
85
Ibidem, p. 151.
86
Ibidem, p. 153.
87
Ibidem, p. 161.
88
BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 188.
34
Segundo Moraes,
93
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 81-82. Barroso (BARROSO, O direito constitucional e a efetividade de suas normas, op. cit.,
p. 93-94) prefere classificar as normas constitucionais da seguinte forma: normas constitucionais de
organização (têm por objeto organizar o exercício do poder político); normas constitucionais
definidoras de direito (têm por objeto fixar os direitos fundamentais dos indivíduos); e normas
constitucionais programáticas (têm por objeto traçar os fins públicos a serem alcançados pelo
Estado).
94
SILVA, Aplicabilidade das normas constitucionais, op. cit., p. 116.
95
SILVA, Aplicabilidade das normas constitucionais, op. cit., p. 82-83.
36
Em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até
onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em
segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito
de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las,
conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições
existentes.97
96
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 100.
97
SILVA, Aplicabilidade das normas constitucionais, op. cit., p. 165.
98
BARROSO, Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 274.
99
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 310.
37
Para Bobbio,
104
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 3. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros,
2000, p. 20.
105
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 4. ed. rev. atual. e
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 99; SILVA, José Afonso da. Direito ambiental
constitucional, op. cit., p. 21. Alguns autores, a exemplo de Sirvinskas (SIRVINSKAS, Luís Paulo.
Manual de direito ambiental. 3. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 29-30), defendem que
dentre esses aspectos também se encontra o meio ambiente do trabalho. Entretanto, embora haja
diferentes posicionamentos na doutrina, não se trata se questão fundamental, vez que é mera
classificação didática.
39
106
SIRVINSKAS, Manual de direito ambiental, op. cit., p. 18.
107
SILVA, Direito ambiental constitucional, op. cit., p. 28.
40
Além desses, países como a Polônia (1976), a Argélia (1976), a China (1978)
também incluíram em seus textos constitucionais referências à proteção do
ambiente.112 Na América Latina, diversos países inseriram o meio ambiente no
âmbito de sua tutela antes da Constituição Brasileira de 1988: Equador, em 1979;
Peru, em 1979; Chile, em 1980; Guiana, em 1980; Honduras, em 1982; Panamá, em
1983; Guatemala, em 1985; Haiti, em 1987; e Nicarágua, em 1987.113
108
MILARÉ, op. cit., p. 181; FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 62.
109
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 62; MILARÉ, op. cit., p. 181.
110
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 63.
111
MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio Ambiente: direito e dever fundamental. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 52. Entretanto, Robles alerta para o fato que, na Constituição
espanhola, os chamados direitos de terceira geração não possuem o status de direitos fundamentais.
O direito ao meio ambiente equilibrado, disposto no artigo 45 da Constituição Espanhola, está
compreendido no Capítulo “Dos princípios que regem a política social e econômica” e, embora
chamado de “direito”, se trata em verdade de princípio de política legislativa, e não de direito
fundamental (ROBLES, op. cit., p. 8-9).
112
MILARÉ, op. cit., p. 181-182.
113
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 11. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 95.
41
Segundo Silva,
Para Silva,
114
SILVA, Direito ambiental constitucional, op. cit., p. 46.
115
Para Meirelles, “no uso comum do povo os usuários são anônimos, indeterminados, e os bens
utilizados o são por todos os membros da coletividade – uti universi –, razão pela qual ninguém tem
direito ao uso exclusivo ou a privilégios na utilização do bem: o direito de cada indivíduo limita-se à
igualdade com os demais na fruição do bem ou no suportar os ônus dele resultantes. Pode-se dizer
que todos são iguais perante os bens de uso comum do povo” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
administrativo brasileiro. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 498).
42
Nesse mesmo sentido, Derani afirma que “Para o direito ao meio ambiente
protegido fugir à mera formalidade, tem de buscar-se a raiz de seu significado. O
direito fundamental do meio ambiente protegido é um desdobramento do direito
fundamental à vida”.117
116
SILVA, Direito ambiental constitucional, op. cit., p. 24.
117
DERANI, Cristiane. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: direito fundamental e princípio da
atividade econômica. In: FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de (org.). Temas de direito
ambiental e urbanístico. São Paulo: Max Limonad, 1999. p. 91-101, p. 97.
118
SILVA, Direito ambiental constitucional, op. cit., p. 58.
119
Nesse sentido: “Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a consagração
constitucional de um típico direito de terceira geração” (RTJ 158/206).
120
FERREIRA FILHO, Direitos humanos fundamentais, op. cit., p. 62.
121
BOBBIO, op. cit., p. 25.
122
ALEXY, Teoria de los derechos fundamentales, op. cit., p. 429.
43
biente; o direito à proteção, ao direito a que o Estado proteja o titular do direito fun-
damental frente a intervenções de terceiros que causem dano ao meio ambiente; o
direito ao procedimento, ao direito a que o Estado permita que o titular do direito par-
ticipe de procedimentos relevantes ao meio ambiente; e o direito a uma prestação,
ao direito a que o próprio Estado realize medidas conducentes a melhorar o ambien-
te.
Nesse sentido, Derani esclarece que “direitos fundamentais não são simples-
mente aqueles que a Constituição literalmente explicita no seu art. 5º. Um direito é
fundamental quando seu conteúdo invoca a construção da liberdade do ser huma-
no”123. Rothenburg124 lembra ainda que tanto a posição normativa quanto o próprio
conteúdo do direito tutelado caracterizam a fundamentalidade de um direito.
Segundo Canepa,
123
DERANI, Meio ambiente ecologicamente equilibrado, op. cit., p. 91.
124
ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos fundamentais e suas características. Revista de Direito
Constitucional e Internacional. São Paulo, v. 8, n. 30, p. 146-158, jan.-mar. 2000, p. 146.
44
Para Milaré,
125
CANEPA, Carla. Educação ambiental: ferramenta para a criação de uma nova consciência
planetária. Revista de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo, v. 12, n. 48, p. 158-166,
jul./set. 2004, p. 161.
126
MILARÉ, op. cit., p. 185.
45
deve ser tutelado pelo Estado, o qual deve traçar um plano de ações voltado a sua
adequada e efetiva proteção.127
127
Segundo Derani, “A realização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pressupõe
a obediência ao princípio da defesa do meio ambiente nas atividades econômicas. Sendo um direito
fundamental a ser construído na atividade social, somente a atividade social – por conseguinte a
atividade econômica – que contemple o princípio da defesa do meio ambiente poderá concretizá-lo.
Assim, será conforme o direito aquela atividade que no seu desenvolvimento orienta-se na defesa do
meio ambiente e, deste modo, contribui na concretização do direito fundamental social ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado.” (DERANI, Meio ambiente ecologicamente equilibrado, op. cit.,
p. 100).
128
DIAS, Jean Carlos. Políticas públicas e questão ambiental. Revista de Direito Ambiental. São
Paulo, v. 8, n. 31, p. 117-135, jul./set. 2003, p. 120.
129
DIAS, op. cit., p. 120-121.
130
CARVALHO, Cláudio Oliveira de. Políticas públicas e gestão urbana-ambiental. Revista de Direito
Ambiental. São Paulo, v. 7, n. 26, p. 277-289, abr./jun. 2002, p. 288.
46
que podem viabilizar a implementação das políticas ambientais – seja pela aplicação
de medidas preventivas ou repressivas.131
Segundo Mirra,
[...] esse direito, para ser garantido, exige o esforço conjunto do Estado, dos
indivíduos, dos diversos setores da sociedade e das diversas Nações. Pelo
mesmo motivo, ou seja, por depender dessa conjugação de esforços para a
sua garantia é que o direito ao meio ambiente tem como conseqüência criar
também deveres para todos; não só para o Estado como também para os
indivíduos e os vários grupos sociais. Ao contrário, portanto, do que se
pensa freqüentemente em tema de direitos fundamentais, as pretensões à
proteção desse direito ao meio ambiente podem (e devem) ter como sujeito
passivo não apenas o Poder Público como ainda os particulares.133
131
ARAÚJO, Lílian Alves de. Ação civil pública ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 84.
132
SILVA, Direito ambiental constitucional, op. cit., p. 80-81.
133
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2. ed.,
rev. e ampl. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 57.
134
MEDEIROS, op. cit., p. 124.
47
Para Fagundez,
135
DERANI, Meio ambiente ecologicamente equilibrado, op. cit., p. 96.
136
FAGUNDEZ, Paulo Roney Ávila. O significado da Modernidade. In: LEITE, José Rubens Morato;
BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito ambiental contemporâneo. Barueri: Manole, 2004. p.
205-246, p. 216.
48
Nem sempre o meio ambiente foi objeto de tutela jurídica, vez que até um
passado recente, era considerado apenas como um estoque interminável de
matéria-prima à disposição dos seres humanos. Esse pensamento foi predominante
na maior parte da história da civilização ocidental, e até os dias de hoje é
manifestado em diversas ações humanas.
sentido, afirma Peter Singer: “Hoje, os cristãos debatem o significado dessa concessão de ‘domínio’,
e os que defendem a preservação do meio ambiente afirmam que ela não deve ser vista como uma
licença para fazermos tudo o que quisermos com as outras coisas vivas, mas, sim, como uma
orientação para cuidarmos delas em nome de Deus e sermos responsáveis, perante o Criador, pelo
modo como as tratamos. Esta interpretação, porém, quase não encontra respaldo no texto; e tendo
em vista o exemplo dado por Deus, quando afogou quase todos os animais da terra para castigar os
seres humanos por sua maldade, não admira que, na opinião das pessoas, a inundação do simples
vale de um rio não deva ser motivo de preocupação alguma.” (SINGER, Peter. Ética prática. Trad.
Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 281).
144
BACHELET, op. cit., p. 184.
145
PENNA, op. cit., p. 20-21.
52
Para Duarte,
146
MILARÉ, op. cit., p. 123.
147
CARVALHO, O que é direito ambiental, op. cit., p. 16.
148
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Trad.
Lucia Mathilde Endlich Orth. 3. ed. rev. e aum. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 247.
149
DUARTE, op. cit., p. 507.
53
Segundo Robles,
Tal concepção deve dar lugar a uma visão mais ampla, comprometida com as
gerações futuras, com base em uma consciência planetária e humanista. É preciso
abandonar o egocentrismo em prol do interesse comum, reconhecendo a
vulnerabilidade da natureza diante da técnica do homem. A natureza não pode mais
ser vista somente sob o aspecto econômico, como um objeto a serviço do homem,
mas como um todo integrado e interdependente, indispensável para a continuidade
da vida na Terra.
154
Ibidem, p. 21-22.
155
MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Trad. Paulo Neves. 4. ed. Porto Alegre: Sulina,
2003, p. 79.
156
OST, François. A natureza à margem da lei: a ecologia à prova do direito. Trad. Joana Chaves.
Lisboa: Instituto Piaget, 1997, p. 10.
157
Segundo Boff, “cuidado significa, então, desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato...
estamos diante de uma atitude fundamental, de um modo de ser mediante o qual a pessoa sai de si e
centra-se no outro com desvelo e solicitude”. (BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano –
compaixão pela terra. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 91).
158
BOFF, Leonardo. Ethos mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Rio de Janeiro:
Sextante, 2003, p. 83.
55
Para Duarte,
159
JUNGES, José Roque. Ética ambiental. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2004, p. 90-91.
160
FAGUNDEZ, op. cit., p. 239.
161
MORIN, Edgar. O método: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 100.
162
CARVALHO, O que é direito ambiental, op. cit., p. 22-23.
56
163
DUARTE, op. cit., p. 504.
164
MORIN; KERN, op. cit., p. 69.
57
Não se deve confundir crescimento, que diz respeito apenas a uma expansão
quantitativa, com desenvolvimento, que está relacionado à realização de um
potencial, a uma melhoria qualitativa.166 A sustentabilidade é compatível com o
desenvolvimento de uma sociedade, mas totalmente dissociada do simples
crescimento econômico. Nesse sentido, Penna afirma que “a tese do crescimento
está arraigada no sistema de valores da civilização humana, mas o crescimento
conjunto da população e da economia tem um efeito explosivo sobre a biosfera”.167
165
BINSWANGER, Hans Christoph. Fazendo a sustentabilidade funcionar. In: CAVALCANTI, Clóvis
(org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2002. p. 41-55, p. 41.
166
DALY, Herman E. Políticas para o desenvolvimento sustentável. In: CAVALCANTI, Clóvis (org.).
Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2002. p. 179-192, p. 182.
167
PENNA, op. cit., p. 136.
168
DALY, Herman E. Crescimento sustentável? Não, obrigado. Ambiente e sociedade. Campinas, v.
7, n. 2, 2004. p.197-201, p. 197-198.
169
Ibidem, p. 200.
58
170
Paradigma é termo de Thomas Kuhn (As estruturas das revoluções científicas) e redefinido por
Morin da seguinte forma: “Um paradigma contém, para todo discurso sob a sua influência, os
conceitos fundamentais ou as categorias essenciais de inteligibilidade, ao mesmo tempo que o tipo de
relações lógicas de atração/repulsão (conjunção, disjunção, implicação ou outras) entre os seus
conceitos ou categorias. Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os paradigmas
neles introjetados.” (MORIN, O método, op. cit., p. 209).
171
PENNA, op. cit., p. 127-129.
172
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro
comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991, p. 40.
173
Ibidem, p. 41.
59
Segundo Spínola,
174
CAVALCANTI, Clóvis. Uma tentativa de caracterização da economia ecológica. Ambiente e
sociedade. Campinas, v. 7, n. 1, 2004. p. 149-156, p. 149.
175
LOCATELLI, Paulo Antonio. Consumo sustentável. Revista de Direito Ambiental. São Paulo, v. 5,
n. 19, p. 297-300, jul./set. 2000, p. 297.
176
PENNA, op. cit., p. 130.
177
SPÍNOLA, Ana Luiza. Consumo sustentável: o alto custo dos produtos que consumimos. Revista
de Direito Ambiental. São Paulo, v. 6, n. 24, p.209-216, out./dez., 2001, p. 215.
60
178
PENNA, op. cit., p. 130-131.
179
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 46;
MOUSINHO, Patrícia. Glossário. In: TRIGUEIRO, André (Coord.). Meio ambiente no século 21: 21
especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante,
2003, p. 348.
180
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 49.
181
LEITE, JOSÉ Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Transdisciplinariedade e a proteção
jurídico-ambiental em sociedades de risco: direito, ciência e participação. In: LEITE, Jose Rubens
Morato; BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito ambiental contemporâneo. Barueri: Manole,
2004. p. 99-125, p. 114.
182
RAWLS, op. cit., p. 323.
61
183
LEITE, JOSÉ Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. A transdiciplinariedade do direito
ambiental e sua eqüidade intergeracional. Revista de Direito Ambiental. São Paulo, v. 6, n. 22, p.
62-80, abr./jun. 2001, p. 76.
184
DALY, Herman E. Sustentabilidade em um mundo lotado. Scientific American. Edição especial –
Brasil. São Paulo, n. 41, p. 92-99, out. 2005, p. 92.
185
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 9.
186
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 3. ed. Rio de Janeiro:
Garamond, 2002, p. 85-88.
187
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. 3. ed. São Paulo: Fundação Peirópolis, 2000, p. 61.
62
188
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Consumo sustentável.
Trad. Admond Ben Meir. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente/IDEC/Consumers International,
1998, p. 23.
189
BACHELET, op. cit., p. 186.
190
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 53.
191
Ibidem, p. 4.
63
192
NALINI, José Renato. Ética ambiental. 2. ed. rev., atual. e ampl. Campinas: Millennium, 2003, p.
XXXIII.
64
193
CARVALHO, O que é direito ambiental, op. cit., p. 7.
194
Ibidem, p. 200-201.
195
CANEPA, op. cit., p. 159.
196
MEDINA, Naná Mininni; SANTOS, Elizabeth da Conceição. Educação ambiental: uma
metodologia participativa de formação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 18.
65
Segundo Lipovetsky,
A idéia de que “a Terra está em perigo de morte” impôs uma nova dimensão
de responsabilidade, uma concepção inédita das obrigações humanas que
ultrapassa a ética tradicional, circunscrita às relações inter-humanas
imediatas. A responsabilidade humana deve, agora, estender-se às coisas
extra-humanas, englobar a dimensão da biosfera inteira, uma vez que o
homem possui os meios para pôr em perigo a vida futura no planeta.197
Para Robles, a ética deve ser entendida como uma verdadeira necessidade
do mundo contemporâneo, em que o individualista e utilitarista princípio da felicidade
deve ser substituído pelo princípio da responsabilidade, universalista e solidário.198
Nesse sentido, Singer alerta para o fato que “os princípios éticos mudam
lentamente, e o tempo que temos para desenvolver uma nova ética ambiental é
curto”.199
197
LIPOVETSKY, Gilles. O crepúsculo do dever: a ética indolor dos novos tempos democráticos.
Trad. Fátima Gaspar e Carlos Gaspar. 3. ed. Lisboa: Dom Quixote, 2004, p. 244.
198
ROBLES, op. cit., passim.
199
SINGER, op. cit., p. 301.
200
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Meio ambiente e cidadania. Revista do Instituto de Pesquisas e
Estudos. Bauru, n. 35, p. 305-307, ago. 2002, p. 306.
66
Para Singer,
204
LEONARDI, op. cit., p. 396-397.
205
RODRIGUES, Horácio Wanderlei. A educação ambiental no âmbito do ensino superior brasileiro.
In: LEITE, José Rubens Morato; BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito ambiental
contemporâneo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 395-409, p. 404.
206
RODRIGUES, op. cit., p. 407.
68
Para Leff,
207
MEDINA; SANTOS, op. cit., p. 24-25.
208
LEFF, op. cit., p. 250.
209
LEONARDI, op. cit., p. 397.
69
210
LEONARDI, op. cit., p. 397.
211
Ibidem, p. 398.
212
Ibidem, p. 400.
213
CANEPA, op. cit., p. 159.
70
O próprio art. 4º da Lei 9.795/99 determina, em seu inciso II, que princípio bá-
sico da educação ambiental é “a concepção do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependência entre o meio ambiente natural, o sócio-econômico
e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade”.
Segundo Morin,
223
MEDINA; SANTOS, op. cit., p. 19-20.
224
MORIN, O método, op. cit., p. 170.
225
MEDINA; SANTOS, op. cit., p. 21-22.
226
MEDINA; SANTOS, op. cit., p. 24.
73
De modo que, sem uma mudança nos valores que orientam a sociedade
através da educação ambiental, não há como alcançar os objetivos do
desenvolvimento sustentável.227 Assim, a educação ambiental é considerada
instrumento indispensável na formatação de uma sociedade sustentável.228
Segundo Leff,
227
LEFF, op. cit., p. 222.
228
CANEPA, op. cit., p. 158.
229
LEFF, op. cit., p. 251.
230
LEONARDI, op. cit., p. 403.
74
231
JUNGES, op. cit., p. 7.
76
Segundo Morin,
232
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Trad. Ruy
Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 41.
233
De acordo com Durkheim, a coesão pode ter por base a solidariedade mecânica ou a solidariedade
orgânica. A solidariedade mecânica está relacionada a um consenso acerca de valores, normas e
crenças, com base em cultura e estilo de vida comuns. Enquanto que a solidariedade orgânica
fundamenta-se em uma divisão de trabalho complexa, em que os indivíduos são interdependentes em
razão da especialização das atividades. (JOHNSON, op. cit., p. 41).
234
MORIN, Edgar. Complexidade e ética da solidariedade. In: CASTRO, Gustavo de (Coord.).
Ensaios de complexidade. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2002, p. 18.
77
De modo que as pessoas devem agir com cuidado e preocupação, já que são
responsáveis pelos outros seres humanos e por toda a natureza – não só para ga-
rantir a vida no presente, mas para possibilitar a existência das futuras gerações.238
Conforme Ost, “o que significa, muito simplesmente, que o que é bom para as gera-
235
MORIN, O método, op. cit., p. 61-62.
236
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 22.
237
CARVALHO, O que é direito ambiental, op. cit., p. 7.
238
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na
transição paradigmática. 4. ed. Rio de Janeiro: Cortez, 2002, p. 112.
78
239
OST, op. cit., p. 314.
240
MORIN; KERN, op. cit., p. 171.
241
Segundo Abbagnano, “Solidariedade (in. Solidarity; fr. Solidarité; al. Solidarität; it. Solidarietà).
Termo de origem jurídica que, na linguagem comum e na filosófica, significa: 1º inter-relação ou
interdependência; 2º assistência recíproca entre os membros de um mesmo grupo (p. ex.: S. familiar,
S. humana, etc.). neste sentido, fala-se de solidarismo para indicar a doutrina moral e jurídica
fundamentada na S. (Cf. L BOURGEOIS, La solidarité, 1897).” (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 4. ed., rev. e ampl. São Paulo: Martins
Fontes, 2000, p. 918).
242
AVILA, Fernando Bastos de. Ética da Solidariedade. Bem comum. São Paulo, n. 74, p. 5-10, set.
2001, p. 8.
79
243
COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. Trad. Eduardo Brandão. 1.
ed. 11. tir. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 98.
244
DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2. ed. rev. São Paulo: Max Limonad, 2001, p.
161.
245
CARVALHO, O que é direito ambiental, op. cit., p. 160.
246
Ibidem, p. 101.
247
Nesse sentido, ressalta Farias: “A solidariedade social não pode ser adquirida por uma simples
coação, ou pela única necessidade da divisão do trabalho; é preciso que a construção do espaço
social passe pela ‘crença’ na necessidade do respeito de certos valores sociais objetivos de
solidariedade.” (FARIAS, José Fernando de Castro. A origem do direito de solidariedade. Rio de
Janeiro: Renovar, 1998, p. 62).
248
Nesse sentido, importante ressaltar o alerta de Morin: “Quanto mais uma sociedade é complexa,
menos são rígidos ou coercitivos os limites que pesam sobre os indivíduos e os grupos, de maneira
que o conjunto social pode beneficiar-se de estratégias, iniciativas, invenções ou criações individuais.
Mas o excesso de complexidade destrói os limites, flexibiliza o laço social e, no extremo, a própria
complexidade dilui-se na desordem. Nessas condições, a única proteção de alta complexidade está
na solidariedade vivida, interiorizada em cada um dos membros da sociedade. Uma sociedade de alta
complexidade deveria garantir a sua coesão não somente por meio de ‘leis justas’, mas também pela
responsabilidade/solidariedade, inteligência, iniciativa, consciência dos seus cidadãos.” (MORIN,
Edgar. O método, op. cit., p. 148-149).
80
mesmo que a idéia de solidariedade possa aparecer ainda como uma utopia
distante, esse fato não pode ser um impeditivo para que ela constitua um objetivo a
ser alcançado por toda a sociedade.249
Segundo Duarte,
Assim, a cidadania deve ser vista não apenas em seu aspecto formal, como a
cidadania outorgada pela Constituição Federal de 1988 ou pela legislação
infraconstitucional que estabelece determinados direitos aos indivíduos, mas como
251
TEIXEIRA, João Paulo Allain. Efetividade constitucional e direitos fundamentais: a realizabilidade
da cidadania em uma perspectiva sistêmico-funcional. Revista da Faculdade de Direito de Olinda.
Olinda, v. 3, n. 5, p. 87-104, jun./dez. 1999, p. 87-88.
252
OUTHWAITE, William. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1996, p. 73; MARTÍN, Nuria Belloso. Op. cit., p. 15-16.
253
MARTÍN, op. cit., p. 16.
254
TEIXEIRA, op. cit., p. 99.
82
uma cidadania ativa, que permite à população atuar nas diversas esferas da
sociedade – e em especial, nas questões que envolvem o meio ambiente.
Para Martín,
Para Leonardi,
255
MARTÍN, op. cit., p. 111.
256
MACHADO, Direito ambiental brasileiro, op. cit., p. 80.
257
LEONARDI, op. cit., p. 398.
83
258
GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária. Trad. Sandra
Trabucco Valenzuela. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 23.
259
Ibidem, p. 22.
260
MORIN; KERN, op. cit., p. 177-178.
84
261
GUTIÉRREZ; PRADO, op. cit., p. 37-38.
85
Segundo Baudrillard,
De modo que o sistema capitalista, que tem por objetivo último o lucro – e
base do atual modelo de desenvolvimento econômico –, tem estreita ligação com o
problema da degradação ambiental. Nele, o estímulo ao consumo é constante, sem
qualquer preocupação com a exauribilidade dos recursos naturais e com a grande
quantidade de rejeitos lançados constantemente no meio ambiente.265
262
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995, p.
34.
263
BITTAR, op. cit., p. 263; JUNGES, op. cit., p. 52.
264
JUNGES, op. cit., p. 12.
265
SPÍNOLA, op. cit., p. 210-211.
86
266
PENNA, op. cit., p. 216.
267
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez,
2005, p. 25.
268
LYON, David. Pós-modernidade. Trad. Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 1998, p. 102.
269
PENNA, op. cit., p. 18.
270
BAUDRILLARD, op. cit., passim.
87
Segundo Penna,
271
PENNA, op. cit., p. 42-44.
272
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001, p. 90.
273
PENNA, op. cit., p. 52.
88
Segundo Bauman,
274
Segundo Canclini, “Certas condutas ansiosas e obsessivas de consumo podem ter origem numa
insatisfação profunda, segundo analisam muitos psicólogos. Mas em um sentido mais radical, o
consumo se liga, de outro modo, com a insatisfação que o fluxo errático dos significados engendra.
Comprar objetos, pendurá-los ou distribuí-los pela casa, assinalar-lhes um lugar em uma ordem,
atribuir-lhes funções na comunicação com os outros, são os recursos para se pensar o próprio corpo,
a instável ordem social e as interações incertas com os demais. Consumir é tornar mais inteligível um
mundo onde o sólido se evapora.” (CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos
multiculturais da globalização. Trad. Maurício Santana Dias. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
2006, p. 65).
275
BAUMAN, op. cit., p. 147.
276
SINGER, Op. cit., p. 285.
89
O caráter de durabilidade, que outrora era valorizado, nos dias de hoje perde
totalmente sua importância – quando não se transforma em uma característica
negativa, por poder representar uma privação diante de tantas possibilidades
colocadas à disposição. Diante de tantas opções de escolha, ficar restrito a apenas
uma delas é considerado perda de tempo – isso não ocorre somente no mercado de
consumo, mas também nas relações humanas.
277
BAUMAN, op. cit., p. 186-187.
278
FAGUNDEZ, op. cit., p. 221.
279
BAUMAN, op. cit., p. 186.
280
PENNA, op. cit., p. 34.
281
Nesse sentido, cabe ressaltar que “Numa economia de consumo sustentável, qualquer forma de
desperdício seria ofensiva: as pessoas seriam tão preocupadas com a justiça e os valores morais dos
outros seres humanos como com o seu próprio bem-estar material; e a preocupação natural dos
seres humanos com a liberdade para aproveitar o aqui e agora seria acrescida de um sólido sentido
de responsabilidade para com o destino do planeta e das gerações futuras.” (PROGRAMA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 45).
90
Segundo Feldmann,
288
SPÍNOLA, op. cit., p. 213-216.
289
FELDMANN, Fábio. A parte que nos cabe: consumo sustentável? In: TRIGUEIRO, André (coord.).
Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de
conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p. 143-157, p. 148.
290
MONTEIRO, António Pinto. O papel dos consumidores na política ambiental. Revista de Direito
Ambiental. São Paulo, v. 3, n. 11, p. 69-74, jul./set. 1998, p. 71.
291
MILARÉ, op. cit., p. 69.
292
LOCATELLI, op. cit., p. 300; MILARÉ, op. cit., p. 74-75.
92
293
PORTILHO, op. cit., p. 15; INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de
educação para o consumo sustentável, op. cit., p. 16.
294
A importância da sustentabilidade no consumo é destacada na própria Agenda 21 – importante
referencial mundial nos caminhos a serem seguidos na questão ambiental –, que trata em seu
capítulo 4 da necessidade de mudanças nos padrões de consumo, estabelecendo o exame dos
padrões insustentáveis de produção e consumo e o desenvolvimento de políticas e estratégias
nacionais para estimular mudanças nos padrões insustentáveis de consumo.
295
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 65.
296
INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL. Meio
ambiente e consumo. Brasília: INMETRO, 2002, p. 16.
93
bem como a abundância das sociedades ricas está associada com o desperdício”. 297
De modo que a grande quantidade de lixo produzida pela sociedade contemporânea
é apenas um reflexo da grande quantidade de bens disponíveis no mercado de
consumo.
Nesse sentido, Singer acredita que o consumo verde seja apenas uma
solução provisória, consistindo em “um mero degrau para se chegar a uma ética em
que se questione a própria idéia de consumir produtos desnecessários”.307 Já Portilho
vê com reservas a proposta do consumo verde, por entender que se trata de uma
estratégia muito dependente de ações individuais, o que poderia enfraquecer a via
social, e reduzir o ideal de cidadania e a participação na esfera coletiva. Entende,
assim, que ações coletivas seriam mais desejáveis e eficazes para a mudança dos
302
MILARÉ, op. cit., p. 70.
303
LOCATELLI, op. cit., p. 300.
304
Segundo Baudrillard, “Todas as sociedades desperdiçaram, dilapidaram, gastaram e consumiram
sempre além do estrito necessário, pela simples razão de que é no consumo do excedente e do
supérfluo que, tanto o indivíduo como a sociedade, se sentem não só existir, mas viver.”
(BAUDRILLARD, op. cit., p. 38).
305
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, op. cit., p. 7.
306
PORTILHO, op. cit., p. 114-115; INSTITUTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de
educação para o consumo sustentável, op. cit., p. 18.
307
SINGER, op. cit., p. 302
95
Para Locatelli,
308
PORTILHO, op. cit., p. 110-133.
309
SPÍNOLA, op. cit., p. 213.
310
LOCATELLI, op. cit., p. 299.
96
Dar preferência a produtos de empresas que têm uma clara preocupação com
o meio ambiente, não compactuar com a ilegalidade, não consumir de forma a
prejudicar as gerações futuras, reclamar os seus direitos, colaborar para reduzir a
quantidade de lixo produzido, evitando o desperdício e a compra de produtos com
embalagens inúteis ou que demorem a se decompor, dar preferência a materiais
reciclados, saber identificar as empresas que são éticas em seu relacionamento com
os consumidores, os trabalhadores, os fornecedores, a sociedade e o Poder Público,
são algumas das ações do consumidor consciente.311 312
311
INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL.
Direitos do consumidor e ética no consumo. Brasília: INMETRO, 2002, p. 59-62.
312
Segundo Spínola, "As ações fundamentais para que o consumo sustentável passe a existir na
prática são: a) promoção de padrões de produção e consumo que reduzam as pressões ambientais e
ao mesmo tempo atendam às necessidades básicas da humanidade; b) conscientização da
população para que entenda o custo ambiental do consumo; e c) desenvolvimento de políticas e
estratégias nacionais de estímulo e mudança nesses padrões atuais." (SPÍNOLA, op. cit., p. 214-
215).
313
INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL,
Direitos do consumidor e ética no consumo, op. cit., p. 41.
97
Segundo Ihering,
A luta pelo direito subjetivo é um dever do titular para consigo mesmo. A de-
fesa da própria existência é a lei suprema de toda vida: manifesta-se em to-
das as criaturas por meio do instinto de autoconservação. No homem, po-
rém, trata-se não apenas da vida física, mas também da existência moral; e
uma das condições desta é a defesa do direito. [...] Não basta a concessão
abstrata dessas condições de existência por parte do direito objetivo: neces-
sário se torna que o sujeito do direito as defenda em cada caso concreto.314
314
IHERING, op. cit., p. 41-42.
98
Segundo Wiegerinck,
318
COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS. Livro Verde: promover um quadro europeu para
a responsabilidade social das empresas. Bruxelas, 18.07.2001.
319
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Guia de responsabilidade social
para o consumidor. São Paulo, IDEC, 2004, p. 5.
320
MONTEIRO, op. cit., p. 74.
321
Ademais, ao defender o direito ao meio ambiente, o indivíduo/cidadão estará colaborando com a
manutenção de toda a ordem jurídica. Segundo Ihering, “Quem defende o direito subjetivo defende,
em seu âmbito, o direito em geral. Dessa forma, o interesse pela atuação do titular e as
conseqüências dessa atuação transcendem em muito a esfera puramente individual. O interesse
geral ligado a essa atuação não é apenas o interesse ideal da manutenção da autoridade e da
majestade da lei. Trata-se também de um interesse real e eminentemente prático, sentido por todos,
mesmo porque aqueles que não tenham a menor compreensão pelo interesse ideal a que acabamos
de aludir: é o interesse pela salvaguarda e manutenção de uma ordem permanente nas relações
entre os indivíduos, que toca a cada um de nós em determinado setor. No dia em que o patrão não se
atrever mais a fazer cumprir os regulamentos do trabalho, o credor, a fazer penhorar os bens do
devedor, a massa dos compradores, a exigir a exatidão nos pesos e preços, nesse dia estará em
perigo não apenas a autoridade ideal da lei, mas toda a ordem da vida civil terá sido sacrificada. Será
difícil dizer até onde chegarão as conseqüências nefastas de tal estado de coisas. [...] A
responsabilidade por tal estado de coisas não recai sobre a parcela da população que infringe a lei,
mas sobre aquela que não tem coragem de lutar pela sua observância.” (IHERING, op. cit., p. 60-61).
100
O consumidor deve ser incentivado a fazer com que o seu ato de consumo
seja também um ato de cidadania, ao escolher em que mundo quer viver. Cada
322
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de educação para o consumo
sustentável, op. cit., p. 24.
323
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Guia de responsabilidade social para
o consumidor, op. cit., p. 11.
324
Para o IDEC, “A atitude dos consumidores está mudando. Além de preço e qualidade, eles estão
cada vez mais atentos a aspectos relacionados ao comportamento das empresas, como o respeito
aos direitos humanos, trabalhistas e dos consumidores; a normas de preservação ambiental; à ética
na publicidade e nas práticas empresariais; a promoção do bem-estar social; etc. A transparência das
empresas em relação a essas informações também passa a ser valorizada, tornando-se a principal
ferramenta para o consumo consciente e cidadão.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR, Guia de responsabilidade social para o consumidor, Op. cit., p. 11).
101
pessoa deve escolher produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades sem
prejudicar o bem-estar da coletividade, seja ela atual ou futura.
Para Derani,
325
ROSSIT, Liliana Allodi; CANEPA, Carla. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
como direito fundamental. Revista de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo, v. 11, n.
42, p. 244-251, jan.-mar. 2003, p. 247.
326
DERANI, Direito ambiental econômico, op. cit., p. 161.
102
Segundo Duarte,
[...] para a assunção dessa nova responsabilidade social por parte dos
diversos setores sociais coobrigados à defesa e proteção do direito do meio
ambiente sadio, obtendo-se a participação popular na política ambiental,
imprescindível é a construção e amadurecimento de uma cidadania
ambiental, na qual possam ser implementados os direitos à educação e
conscientização ambiental tratados no art. 225, § 1º, inc. VI da Constituição
Federal.328
327
CANEPA, op. cit., p. 159.
328
DUARTE, op. cit., p. 528.
329
MARTÍN, op. cit., p. 16-17; CANCLINI, op. cit., p. 39.
103
Segundo Canclini,
330
CANCLINI, op. cit., passim; PORTILHO, op. cit., p. 194-195; INSTITUTO BRASILEIRO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de educação para o consumo sustentável, op. cit., p. 21.
331
INSTITUTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de educação para o consumo sustentável,
op. cit., p. 15.
332
Para o IDEC, “As atividades de consumo operam na interseção entre vida pública e privada. O
debate sobre a relação entre consumo e meio ambiente pode ser uma forma de politização do
cotidiano, recuperando as pontes entre estas duas esferas. Através desse debate, a questão
ambiental finalmente pode ser colocada num lugar em que as preocupações privadas e as questões
públicas se encontram.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de
educação para o consumo sustentável, op. cit., p. 22).
333
CANCLINI, op. cit., p. 72.
334
Ibidem, p. 42.
104
Mesmo que não existam respostas prontas aos problemas e aos desafios que
se apresentam, é possível perceber que a aproximação entre o consumo e a
cidadania é um elemento-chave para a melhoria da questão ambiental. Se a
sociedade de consumo é responsável por grande parte da degradação ambiental
existente, ela também pode – e deve – ser um importante instrumento no
enfrentamento deste grave problema.
335
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10.
ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 49.
336
BITTAR, op. cit., p. 178.
105
Segundo Morin,
337
MORIN, O método, op. cit., p. 177.
338
FELDMANN, op. cit., p. 156-157.
106
Para Feldmann,
339
FELDMANN, op. cit., p. 147.
340
PORTILHO, op. cit., p. 183.
107
também nos levar a novas formas de associação, de ação política, de lutas sociais e
reivindicação de nossos direitos”.341
Segundo Portilho,
341
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de educação para o consumo
sustentável, op. cit., p. 21.
342
PORTILHO, op. cit., p. 192.
343
Conforme Boff, “sentir-se responsável é sentir-se sujeito de ações que podem dar-se num sentido
de benevolência para com a natureza e os outros seres ou num sentido de agressão e
submetimento”. (BOFF, Ethos mundial, op. cit., p. 91).
108
No entanto, para que possa haver a efetiva participação dos cidadãos na vida
coletiva, é preciso resgatar o sentido individual de comprometimento e de
solidariedade com a sociedade. Sem o resgate de valores como ética e
responsabilidade, não há como falar em qualquer mudança neste sentido. Para
tanto, a informação e a educação são elementos fundamentais na construção de
uma nova consciência e na reconstrução da cidadania.344
344
Para o IDEC, o despertar da cidadania “é quando a noção de direitos e deveres transcende meros
interesses individuais para traduzir uma nova visão de mundo, que reflete a responsabilidade de cada
pessoa na construção de valores coletivos plenos, plurais e democráticos que assegurem o bem-
estar humano e o respeito a todas as formas de vida em suas mais variadas manifestações. Entre
esses valores coletivos se consagram o direito que todos temos a um meio ambiente saudável e
igualmente o dever ético, moral e político de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
(INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, Manual de educação para o consumo
sustentável, op. cit., p. 6).
345
BITTAR, op. cit., p. 296.
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O alcance global dos problemas ambientais não deixa margem para dúvidas:
para a viabilidade do planeta não há outro caminho senão a solidariedade entre os
indivíduos e a cooperação entre os povos. O individualismo predominante, que fazia
desconhecer os problemas enfrentados por outros países, não pode mais ter lugar.
Os problemas ambientais não conhecem fronteiras, de modo que são de interesse
global.
Ser consumidor e ser cidadão não são formas de atuação social excludentes
entre si – ao contrário, podem e devem ser complementares. Assim, o consumo
pode representar uma forma de exercício da cidadania, já que ser cidadão não diz
respeito apenas a titularidade de determinados direitos conferidos aos membros de
um Estado-nação, mas também a práticas sociais e culturais que dão sentido de
pertencimento e identidade.
De modo que se mostra urgente a assunção de certas atitudes para que a cri-
se ambiental possa ser, senão solucionada, ao menos minimizada. Se nada for feito,
a ampla proteção jurídica conferida ao meio ambiente pode restar sem qualquer re-
sultado prático. A simples inclusão do direito ao meio ambiente no rol dos direitos
fundamentais protegidos constitucionalmente não garante sua efetiva proteção. To-
dos os cidadãos devem exigir seu direito a viver em um meio ambiente sadio e eco-
logicamente equilibrado, e, ao mesmo tempo, colaborar para que esse direito seja
efetivado.
Ainda que não existam respostas prontas aos problemas que se apresentam,
é preciso prosseguir na busca de alternativas para a efetiva proteção do meio ambi-
ente, direito fundamental tutelado pela ordem constitucional. Para tanto, é preciso
que toda a sociedade esteja envolvida e comprometida com a sua realização. De
modo que é possível concluir que o exercício da cidadania tem papel fundamental
para que o meio ambiente seja efetivamente protegido, conforme impõe a Constitui-
ção Federal de 1988.
113
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