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SP Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Manifestei
tudo o que ouvi
de meu Pai
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum
Ano À - 1º parte

| |j Projeto Nacional de Evangelização


Queremos Ver Jesus
A Caminho, Verdade e Vida

EB, PAULUS
1º edição — 2005

Capa: Ilustração de Dom Ruberval Monteiro, osb


(Mosteiro da Ressurreição — Ponta Grossa — PR)

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O Pia Sociedade Filhas de São Paulo — São Paulo, 2005
Apresentação

Com o presente texto de Roteiros Homiléticos, estamos


iniciando o segundo ciclo do Tempo Comum, também chamado
Tempo Ordinário ou Tempo Durante o Ano. Este ciclo começa
na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina
antes das primeiras Vésperas do primeiro domingo do Advento.
Apesar de constituir o período mais longo — dois terços —
do ano litúrgico, o Tempo Comum tem sido considerado um tem-
po menor, “menos forte”, pois nele “não se celebra nenhum as-
pecto especial do mistério de Cristo”, como nos períodos privi-
legiados do Advento, da Quaresma e Páscoa.
No entanto, como lembra o papa Paulo VI, o Tempo Co-
mum também “goza de força sacramental e especial eficácia para
alimentar a vida cristã”.
Fixar-se somente nos “tempos fortes” significa esquecer
que durante o Tempo Comum “comemora-se o próprio mistério
de Cristo em sua plenitude” (Normas sobre o Ano Litúrgico e o
Calendário, n. 43).

A celebração do mistério de Cristo em sua globalidade,


própria do Tempo Comum, encontra sua fonte de vitalidade, de
modo especial, na liturgia do domingo, dia do Senhor e Páscoa
semanal. Em cada liturgia dominical é atualizada a experiência
total e totalizante da presença de Cristo vivo e glorioso. Domin-
go e Tempo Comum, portanto, se completam e se interpenetram
mutuamente.

“Não é certamente isto uma novidade da teologia pós-con-


ciliar: é uma idéia dominante na tradição eclesial, sobretudo
patrística. Santo Agostinho, por exemplo, fala com freqiiência

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do domingo como sacramentum paschae, isto é, de um sinal-
mistério que realiza uma presença viva e operante do Senhor;
sinal que, aceito e acolhido na fé, permite aos crentes entrar em
comunhão com Cristo ressuscitado e insere a Igreja, peregrina
no tempo, na nova ordem de coisas de que a sua ressurreição é o
princípio (L. Brandolini, Dicionário de liturgia).
Como se pode ver, o Tempo Comum não é um tempo “va-
zio” que precisa ser preenchido com dias e meses temáticos ou
práticas devocionais. Na verdade, o Tempo Comum é o suporte
que estrutura todo o Ano Litúrgico, tanto do ponto de vista his-
tórico, pois nasceu antes dos “tempos fortes”, quanto do ponto
de vista teológico-espiritual. Durante o Tempo Comum a comu-
nidade cristã, depois de ter feito o memorial da encarnação e da
redenção, avança, como peregrina, entre as tribulações do mun-
do e as consolações do Senhor, no caminho do Reino definitivo.
Estes Roteiros Homiléticos, preparados por frei Faustino
Paludo, ofm, procuram mostrar que os domingos do Tempo Co-
mum não são ilhas isoladas no grande mar do ano litúrgico. Existe
entre eles um fio que os liga e os referencia com a sua origem
comum, ou seja, o mistério pascal.
Meu desejo é que, neste Ano da Eucaristia, as comunida-
des, conforme o desejo do Papa, redescubram o valor do domin-
go (MND, nn. 23 e 29) e o sentido do Tempo Comum, expres-
sando tudo isso nos vários elementos rituais: monições, homilias,
orações, cantos, gestos e símbolos.

t Dom Manoel João Francisco


Bispo de Chapecó
Presidente da Comissão Episcopal
para a Liturgia — CNBB

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A LITURGIA NO TEMPO COMUM

como experiência do Mane Nobiscum


Domine no Ano da Eucaristia

Algumas sugestões para viver o ano litúrgico


1. O Tempo Comum (TC) do ano litúrgico prolonga no
dia-a-dia “o sabor da festa pascal”, dá um sentido à vida e às
lutas, reconcilia-nos com o que é comum e rotineiro e nos ajuda
a descobrir e vivenciar nos acontecimentos a presença da Pás-
coa de Cristo em realização na história. Nele celebramos todo o
mistério de Cristo em sua plenitude e globalidade.
2. A liturgia do TC proclama a presença atuante e amorosa do
Senhor que, pela ação santificadora e transformadora do seu Espíri-
to, realiza a Páscoa nas situações mais comuns da nossa realidade
humana, como: trabalhos, encontros, conflitos, cansaços, convivên-
cia, lutas, lazer, tornando-a, aos poucos, nova e ressuscitada.

3. O TC inicia-se na segunda-feira posterior ao domingo


do Batismo do Senhor e termina na terça-feira, antes da Quarta-
feira de Cinzas. Recomeça na segunda-feira de Pentecostes e se
conclui no sábado anterior ao primeiro domingo do Advento.
Dividido em duas partes, comporta 33 ou 34 domingos.
4. Os primeiros domingos fazem uma ligação maior com a
festa da Epifania e nos motivam a adorar o Senhor que se manifesta
anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Nos
demais domingos, recordamos os fatos que marcaram a missão de
Jesus. Os últimos domingos do ano litúrgico lembram a dimensão
escatológica e nos alimentam na esperança da vinda do Senhor.

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5. A celebração dominical deve ser, então, o grande en-
contro da comunidade cristã — assembléia pascal e festiva — reu-
nida para fazer a memória da Páscoa de Jesus, presente em sua
vida, dando-lhe sentido e direção.
6. Será muito importante neste TC lembrar o Ano da Eu-
caristia, proposto na Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine
(MND), onde o papa João Paulo II coloca como objetivos:
a) Preparar e valorizar a proclar::ção da Palavra de Deus,
feita durante a celebração da Eucaristia (MND, n. 13).
b) Descobrir e viver plenamente o domingo como Dia do
Senhor e da Igreja (MND, n. 23). Esse deve ser o pri-
meiro objetivo a ser buscado. Na opinião do Papa, o
Ano da Eucaristia já teria alcançado seu objetivo se con-
seguisse apenas renovar em todas as comunidades cris-
tãs a celebração da missa dominical (MND, n. 29).
c) Pôr em destaque a relação que existe entre participação
na Eucaristia e a urgência de testemunhar e evangelizar
(MND, n. 24).
d) Testemunhar com mais vigor a presença de Deus no
mundo (MND, n. 26).
e) Viver a Eucaristia como uma grande escola de paz em
que homens e mulheres se façam tecedores do diálogo
e comunhão (MND, n. 22).
f) Fazer com que as dioceses e paróquias se comprometam
de modo especial a 1r, com operosidade fraterna, ao en-
contro de alguma das muitas pobrezas do nosso mundo —
fome, doenças, solidão dos idosos, desemprego, fenô-
meno das migrações e tantas outras (MND, n. 28).
g) É aconselhável que a Carta do Papa seja lida e refletida
nas equipes de liturgia e partilhada com todos, em um

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esforço sério de implantar na comunidade as orienta-
ções do Papa.
7. É necessário e indispensável ligar a celebração semanal
da Páscoa com os apelos que nascem na vida, seja da religiosida-
de popular, das pastorais, das lutas pela vida, seja com a solicitude
pela paz mundial e convivência harmoniosa entre as nações.
8. Além da tônica pascal, o que caracteriza cada domingo
do TC é o Evangelho do dia que, neste ano de Mateus, e sobretu-
do no período do Tempo Comum, vai de domingo a domingo,
mostrando-nos que os verdadeiros seguidores de Jesus, que que-
rem ver e seguir Jesus, Caminho, Verdade e Vida, de algum modo,
terão que ser “pequenos” neste mundo; que o Pai dá mais chance
aos que são excluídos e rejeitados, do que aos bem instalados;
proclama que os pobres serão felizes no Reino e apresenta “gen-
te de nada” com quem Cristo se identifica em nossas relações
humanas (Mt 25,31-46). Evangelizados na escola de Mateus,
vamos nos educando para o espírito de renovação, partilha e
gratuidade, que é característico da celebração da Eucaristia.
9. Algumas ações simbólicas dão ao domingo a caracterís-
tica de Páscoa semanal: a comunidade reunida, a proclamação
da Palavra de Deus e a ceia do Senhor, ou ceia fraterna (ágape),
no caso das celebrações da Palavra. A comunidade encontre sua
maneira de vivenciar cada um desses gestos como expressão cria-
tiva e inculturada de sua vida e compromisso de fé.
10. À luz do Projeto “Queremos Ver Jesus: Caminho, Verda-
de e Vida”, será importante revalorizar durante o Tempo Comum o
rito pascal de acender o Círio, assim como o rito de aspersão ou
toque na água batismal como renovação da Páscoa e recordação
do batismo, no início da celebração, ou ligado à profissão de fé.
11. O Evangelho de cada domingo, trazendo presente um
acontecimento da vida de Jesus, ou mesmo as outras leituras e o

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salmo, em geral, sugerem um símbolo ou gesto que marca aque-
le domingo e ajuda a comunidade a “guardar no coração” a Pala-
vra, vivendo-a no decorrer da semana.

12. A cor verde nas vestes litúrgicas, no altar e na mesa da


Palavra está presente em todo o Tempo Comum, com exceção
das festas do Senhor e da Santíssima Virgem Maria e dos santos,
em que é usado o branco, exceto nas festas dos mártires e após-
tolos, quando se usa o vermelho.
13. A espiritualidade litúrgica, sobretudo no Tempo Comum,
permite “fazer do rito um ato de amor” e desenvolver um estilo
mais espontâneo, afetuoso, orante, alegre e comprometido de ce-
lebrar, em que as pessoas que se reúnem tornam-se o símbolo pri-
meiro e indispensável. É importante cuidar para que cada gesto,
rito ou ação simbólica seja realizado com o corpo todo, expres-
sando o sentido teológico e a atitude espiritual correspondentes.
14. Quanto ao canto e à música, o Hinário Litúrgico HI da
CNBB oferece, para este tempo, repertório rico e variado para a
escolha, de acordo com o critério do memorial da Páscoa, e não das
chamadas missas “temáticas” ou catequéticas. O Ofício Divino das
Comunidades traz inúmeras alternativas de refrões, aclamações,
hinos e versões de quase todos os salmos com melodias populares,
garantindo seu caráter litúrgico e a fidelidade aos textos bíblicos.

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8º Domingo do Tempo Comum
Festa da Santíssima Trindade

Leituras:

Primeira leitura: Ex 34,4b-6.8-9


Salmo Responsorial: Dn 3,52.53.54.55.56(R/. 52b)
Segunda leitura: 2Cor 13,11-13
Evangelho: Jo 3,16-18

A Santíssima Trindade,
fonte de comunhão e modelo
de comunidade

1. Situando-nos brevemente

Celebrando a Festa da Santíssima Trindade, retomamos o


Tempo Comum, depois de termos comemorado os cinquenta dias
da Páscoa. Somos convidados a vivenciar e celebrar, em comu-
nidade, o mistério pascal a caminho do Reino definitivo, partici-
pando ativa e conscientemente da celebração litúrgica.
A liturgia nos insere no mistério insondável da Santíssima
Trindade. Torna-nos participantes de sua comunhão e nos revela
Deus como fonte de toda a bênção e salvação, presente e atuante
na história como Pai e Filho e Espírito Santo, origem e fim de
nossa caminhada. Da Trindade viemos e para ela peregrinamos.
Enquanto Igreja, somos chamados a ser o ícone da Trindade.

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“Deus, modelo de comunhão na Trindade, não anula as
pessoas, mas as plenifica no amor. Ser imagem e semelhança do
Criador é também trazer no coração um enorme anseio de ser
comunidade” (DGAE, n. 120).
O mistério da Santíssima Trindade, que se revelou na his-
tória, é mistério criador, redentor e santificador, pelo fato de Deus
Pai, Filho e Espírito Santo habitarem no coração de cada batiza-
do. Celebremos, louvando a Deus por tão grande dom de amor.

2. Recordando a Palavra

O Livro do Êxodo lembra que o povo quebrou a aliança


com Deus e fez para si um bezerro de ouro. Deus abre seu cora-
ção e se revela como o Deus da compaixão e da piedade, da
graça e da verdade, lento para a cólera e cheio de amor e fideli-
dade. Moisés demonstra ter compreendido a revelação de Deus
e apela para que o povo, apesar de sua infidelidade (pecados),
seja reconhecido como sua herança particular. É o que aconte-
ceu com a aliança.
Na Segunda Carta aos Coríntios, Paulo apóstolo revela que
o mistério de Jesus na comunidade só se entende na relação das
três pessoas da Trindade. O amor do Pai comunica-se na graça
de Cristo e age na comunhão do Espírito Santo. O resultado des-
sa atuação é a paz e a alegria.
O Evangelho de hoje se situa no contexto dos diálogos
entre Jesus e Nicodemos. É um relato doutrinal ou uma catequese
sobre o batismo. A questão de fundo é a inquietação de todo
humano: “Como alguém pode ver o Reino de Deus”.
Jesus revela que pode “ver o Reino de Deus” quem nascer
do alto, mediante a efusão do Espírito. Todavia, essa efusão do
Espírito não é obra das forças humanas. Ela é uma graça que

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vem do alto. Isto é, só Jesus, o Filho do Homem, o único que
veio do céu, torna possível aos que nele crêem nascerem do alto.
O texto deste domingo revela que a obra da salvação é
fruto do amor do Pai, do Filho unigênito e do Espírito Santo. A
salvação do mundo é um rio que brota da fonte da ação amorosa
de Deus. Ele nos deu o seu Filho querido, que livremente se
entregou por amor à salvação do universo. As três pessoas divi-
nas estão unidas no mesmo amor por nós. À atitude de Deus ante
o mundo é de amor e misericórdia. Não se trata de um amor
genérico ou platônico, mas amor concreto e solidário com toda a
humanidade. Amor que gera vida, cria relações fraternas, im-
planta a justiça, promove a paz e invade os corações humanos,
tornando-os fecundos e cheios de misericórdia.

3. Atualizando a Palavra
A celebração litúrgica da Santíssima Trindade convida-nos
a considerar o mistério, a história de nossa salvação e, mais uma
vez, tomar consciência da dimensão trinitária de nossa vida de
batizados. Fomos batizados em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo. Hoje, sem descer a especulações abstratas, nos
perguntamos “quem é Deus”.
O projeto de nossa vida humana e cristã tem muito a ver
com o conceito e com a imagem de Deus que nos foi passada e
que cultivamos. Muitas pessoas assimilaram uma falsa imagem
e vivem a partir de uma experiência equivocada de Deus. Por
isso, para muita gente, Deus é um problema ou um simples
“solucionador de casos difíceis”. O Deus-supermercado, do qual
a gente se acerca nas horas da necessidade. Há quem imagine
Deus um velho bom de barbas brancas, sentado no seu trono,
contemplando o universo, ouvindo e resolvendo os pedidos de
todos quantos a ele se dirigem. Os textos bíblicos da festa de

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hoje nos apresentam o mistério de Deus de uma forma simples.
Aliás, mistério que não é tanto para ser especulado, mas vivido.
O mistério de um Deus uno, na comunhão de três pessoas,
é essencialmente diálogo, comunicação de amor. Alegra-nos
descobrir que nossa vida de batizados não se fundamenta em
idéias abstratas, mas em pessoas em comunhão. Nosso Deus não
é solidão. É um Deus que ama e é amado. Ele é comunhão. Deus
é unidade e diversidade. É união na diversidade,
A Santíssima Trindade não é um quebra-cabeça. Professar
a fé na Trindade é dizer amém, sem a pretensão de compreender
segundo a lógica humana. Nicodemos imaginava que crer era
acrescentar novas idéias à sua bagagem cultural ou acolher no-
vos dogmas. Descobre, porém, que ter fé significa crer no amor
e mergulhar na comunhão das três pessoas, com todos os seres
da criação. Ter fé significa também experimentar a vida, o amor,
a plenitude. Significa encontrar-se com o Pai, na qualidade de
filhos, pela mediação de Jesus Cristo e pela força transformadora
do Espírito Santo. Ter fé é crer no Filho que manifesta o amor do
Pai, no Espírito que difunde esse amor por todo o universo.
Nicodemos descobre que Deus é entrega mútua, intercâm-
bio, participação, amor inconfundível, relação e movimento em
relação ao outro. Deus entrega o que tem de melhor, seu Filho
querido, para a salvação do mundo. Moisés vê o verdadeiro ros-
to com o qual Deus olha para o homem. Um rosto que é miseri-
córdia, compaixão, amor fiel, perdão, paciência infinita.
“Deus, modelo de comunhão na Trindade, não anula as
pessoas, mas as plenifica no amor. Ser imagem e semelhança do
Criador é também trazer no coração um enorme anseio de ser
comunidade. A fecundidade da comunhão que vem de Deus nos
impulsiona para a transformação da sociedade: O amor de Deus
que nos dignifica radicalmente se faz necessariamente comu-
nhão de amor com os outros homens e participação fraterna; para

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nós, hoje em dia, deve tornar-se sobretudo obra da justiça para
com os oprimidos, esforço de libertação para quem mais preci-
sa. De fato, “ninguém pode amar a Deus a quem não vê, se não
ama o seu irmão a quem vê” (Jo 4, 20)” (DGAE, n. 120).
O mistério da Trindade não se explica, mas se “experien-
cia”, Quanto mais nos empenharmos no aperfeiçoamento pessoal
e dos irmãos, quanto mais cultivarmos a fraternidade e vivermos
na paz, mais próximos estaremos da comunhão que há entre o Pai,
o Filho e o Espírito Santo.
“A graça do Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espí-
rito.” À saudação proposta por Paulo aos cristãos de Corinto nos
revela que a Trindade confere-nos a plenitude dos dons e dos
bens necessários para a nossa vida cristã: a graça, o amor e a
comunhão.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração litúrgica é essencialmente trinitária. Os fiéis
louvam, agradecem e suplicam ao Pai, por Cristo, no Espírito
Santo. A celebração se inicia e se conclui em nome da Santíssima
Trindade. “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a
comunhão do Espírito Santo estejam convosco” — “Bendito seja
Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. À oração eucarística é
a ação de graças da Igreja dirigida ao Pai por suas maravilhas,
realizadas por Jesus Cristo no Espírito. O envio missionário tam-
bém acontece sob a bênção da Trindade: “Deus vos abençoe, Pai
e Filho e Espírito Santo”. À liturgia é um agir conjunto (sinergia)
entre Trindade e a comunidade reunida.
O memorial da Páscoa de Jesus faz a comunidade reunida
mergulhar no mistério da comunhão trinitária. E no mistério da
Trindade a Igreja celebra o mistério da criação, da salvação e da
santificação.

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A vida cristã que nasce da fonte batismal é Trinitária: “Eu
te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. No
Credo, a comunidade professa sua fé em Deus Pai criador, em
Jesus, Filho de Deus nascido de Maria, nosso redentor, e no Es-
pírito Santo, o santificador.
Na Santíssima Trindade, como cristãos, somos convida-
dos a renovar nosso compromisso batismal e no mundo dividi-
do, individualista e desesperançado, ser reflexos da Santíssima
Trindade, sinais de comunhão, partilha e esperança.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Domingo da Santíssima Trindade. Hoje, Deus Pai em e
por Jesus Cristo, no Espírito Santo, vem ao nosso encontro e nos
concede sua graça salvadora, tornando-nos participantes da co-
munhão trinitária. Na celebração somos envolvidos e transfor-
mados. O Pai novamente nos oferece seu Filho para nossa salva-
ção. E nós, como Igreja, rezamos: “Nós vos oferecemos, ó Pai, o
pão da vida e o cálice da salvação; e vos agradecemos porque
nos tornastes dignos de estar aqui na vossa presença e vos ser-
vir” (Oração eucarística — II).
Pela celebração eucarística fazemos memória da Páscoa
de Jesus Cristo. Vivenciando o mistério da comunhão do Pai e
do Filho e do Espírito Santo, somos impulsionados à missão de
libertar o mundo de tudo o que o oprime, sendo sinais de comu-
nhão, de partilha e de esperança.
Hoje, como comunidade reunida, somos convidados a renovar
a aliança com o Pai que nos criou e nos libertou, entregando-nos o
dom da vida de seu Filho querido e o dom do amor do Espírito Santo.

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A celebração é o momento privilegiado do encontro e de
comunhão com o Pai. Ele é o ator principal que, em Jesus Cristo,
nos congrega e no Espírito Santo nos santifica e envia em mis-
são. Tomar parte da celebração é permitir, no silêncio e na con-
templação, que as três pessoas divinas nos insiram na sua comu-
nhão. Somos santificados para santificar, por nossa presença e
atuação em favor da justiça, de dignas condições de vida e da
paz para todos.
Nesta liturgia, a Trindade renova e fortalece nossa comu-
nidade e a impulsiona para a transformação da sociedade.

2. Sugestões para a celebração


* À equipe de liturgia prepare com empenho a celebra-
ção, realçando o Mistério da Santíssima Trindade, como
comunidade de comunhão.
* Em um painel, à vista de todos, escrever: “A Santíssima
Trindade é a melhor comunidade” — ou comunidade de
amor.
*- Antes de iniciar a celebração, propiciar aos presentes
um momento de silêncio, de oração pessoal, auxiliado
pelo canto de um refrão meditativo.
- Enfatizar, possivelmente cantando, o sinal-da-cruz e a
saudação Inicial.
* Em lugar do ato penitencial, realizar a aspersão da água
benta, recordando que somos batizados em nome da
Santíssima Trindade.
* Depois da homilia, as pessoas se aproximam da pia
batismal e fazem o sinal-da-cruz com água, recordando
o seu batismo, enquanto a comunidade canta um refrão

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ou canto apropriado. Se a comunidade for numerosa,
quem dirige reza diante da pia batismal:
D.: Ó Deus, que pelo batismo nos tornastes filhos e filhas
em Jesus Cristo, escutai o grito do Espírito Santo que
dentro de nós nos faz clamar “Abbá”, ó Pai! Vinde em
socorro de nossa pobre e sofrida humanidade e tende
piedade de nós! Fazei-nos anunciadores do Evangelho
da salvação, testemunhas da esperança e construtores
da comunhão, da solidariedade e da paz no mundo em
que vivemos. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Segue-se o rito de aspersão com o canto apropriado.


e Destacar a dimensão trinitária da oração eucarística; se
possível, cantar o prefácio, o santo, as aclamações, a
doxologia e o amém final.
* Escolher uma oração sobre o povo, apropriada para a
festa, que se encontra no Missal Romano.
* Solenizar a bênção final da celebração, cantando a in-
vocação da Trindade.
* Cantar, possivelmente na comunhão, o hino: “O Trin-
dade, vos louvamos, vos louvamos pela vossa comu-
nhão...”.

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
26 de maio de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Dt 8,2-3.]4b-l6a


Salmo Responsorial: 147(147b),12-13.14-15.19-20 (Ri. 12a)
Segunda leitura ICor 10,16-17
Evangelho: Jo 6,51-58

Eucaristia, fonte de comunhão


Ano dedicado à Eucaristia

1. Situando-nos brevemente

Hoje nos reunimos, tendo presente a nossa vocação de pe-


regrinos para a casa do Pai. Caminhamos como povo, como Igre-
ja. Vivemos tantos conflitos. Presenciamos tanta violência. So-
nhamos com a paz. Estamos mergulhados no rio de injustiças e
divisões. Sentimos pouca solidariedade na sociedade. O povo
precisa de pão, casa, emprego e saúde. O povo necessita de Deus
e de amor.
A Igreja, povo de batizados, enviada em missão, sente-se
pequena diante de tantos desafios e situações de morte. Não quer
ser indiferente e muito menos infiel.

A comunidade organiza a procissão e sai pelas ruas e es-


tradas, levando o Santíssimo Sacramento, para dizer para si mes-
ma e para o mundo que, por Cristo, com Cristo e em Cristo, é

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solidária com todo sofrimento humano e para proclamar que, na
vitória de Jesus sobre a morte, repousa toda sua esperança.
Há pouco mais de dois meses, celebramos a Quinta-feira
Santa, dando início ao Tríduo Pascal. Celebramos a instituição
da Eucaristia, sacramento da doação, morte e ressurreição de
Jesus. A Festa do Corpo e Sangue de Cristo ressoa como eco da
celebração da Quinta-feira Santa — do Tríduo Pascal, véspera da
entrega de Jesus para fazer a vontade do Pai e trazer vida em
abundância para toda a humanidade.
A Igreja celebra a Festa do Corpo de Deus desde o século
XIII. O papa Urbano IV a prescreveu para toda a Igreja, em 1247,
em meio às polêmicas sobre a presença real de Jesus na Eucaris-
tia. Desde essa época, a festa de Corpus Christi foi marcada por
concentrações populares e procissões majestosas.
Neste Ano da Eucaristia, o Papa pede que seja vivida com
particular fervor, com a tradicional procissão. “A fé neste Deus
que, tendo encarnado, se fez nosso companheiro de viagem, seja
proclamada por toda parte, particularmente pelas nossas estra-
das e no meio de nossas casas, como expressão do nosso amor
agradecido e fonte inexaurível de bênção” (MND, n. 18). A festa
é expressão pública da fé na presença de Cristo em sua Igreja
por meio da Eucaristia, que congrega seu povo e o confirma na
unidade pela participação à mesa da comunhão do Corpo e San-
gue do Senhor, fazendo-o solidário na missão e no compromisso
com a libertação de todo pecado que mata e destrói a vida.

2. Recordando a Palavra

O que lembra a festa de Corpus Christi? A Eucaristia é


memorial da presença de Deus na história de seu povo. “Deus o
alimentou com o maná, que nem você nem seus antepassados co-
nheciam.” Na histórica caminhada do deserto, o maná se transfor-

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mou no sinal da presença amorosa e fiel de Deus no meio de seu
povo. Alimentando-se desse dom, o povo tinha forças para olhar o
futuro e caminhar em direção à terra prometida (primeira leitura).
Assim como na experiência do deserto os hebreus, alimen-
tando-se do maná, foram se transformando no povo de Deus,
hoje, na opinião de Paulo, a participação e a comunhão no Cor-
po e Sangue de Jesus, o novo maná, nos transformam em mem-
bros do Corpo de Cristo, a comunidade eclesial, o novo povo de
Deus a caminho da nova terra e do novo céu (segunda leitura).
Na celebração eucarística realiza-se a promessa de Jesus:
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão
viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria
carne, para que o mundo tenha vida” (Jo 6,51). Depois de rea-
lizar a multiplicação dos pães, Jesus, sensível à multidão fa-
minta e entusiasmada pelo miraculoso alimento, revela-lhe que
o “sinal”? é ele mesmo: “pão vivo que desceu do céu”, novo
dom de Deus à humanidade. Comendo do pão e bebendo do
cálice da Eucaristia, recebemos Jesus como alimento e bebida:
sua vida doada para a vida do mundo, até que a efusão de seu
sangue torne-se nossa vida, para a eternidade. A multidão re-
velou-se sensível aos problemas da fome que aflige o corpo. A
palavra de Jesus e seus gestos são o “pão” de que a multidão
tem maior necessidade. Um alimento que não só imortaliza,
mas também projeta a existência ao futuro, destrói a morte em
perspectiva da ressurreição. O evangelho de João, referindo-se
ao comer e beber, ao pão e vinho, ao corpo e sangue, é um
evidente direcionamento à ceia eucarística celebrada nas co-
munidades cristãs. Não se trata de um simples ágape, mas do
memorial da morte e da ressurreição do Senhor. Comer do pão
partido e beber do sangue derramado é um gesto simbólico,
por meio do qual a comunidade cristã assimila, como seu, o
projeto de vida de Jesus Cristo.

21
PNE - QV) - CVY nº 20
3. Atualizando a Palavra

O que se celebra na festa de Corpus Christi?


A festa de Corpus Christi é a festa do reconhecimento e da
memória. A comunidade cristã reconhece as obras realizadas pelo
Senhor. Celebra o memorial do Deus que se dá em alimento para
saciar a fome. A Eucaristia é memorial de Deus que atuou e conti-
nua presente na história. Por isso, a Eucaristia é uma memória diná-
mica, aberta, ágil e transformadora, que impulsiona na busca do
novo céu e da nova terra, comprometendo a organização e a vivência
de relações sociais e comunitárias, à luz do projeto de Jesus.
A aclamação memorial, após a narração da ceia, expressa O
sentido central da Eucaristia: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte
e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. Na ação
eucarística, pela ação de graças pronunciada sobre o pão e sobre o
cálice com vinho, atualizam-se ritualmente, de forma simbólica sa-
cramental, a vitória e o triunfo da morte de Jesus até que ele venha.
Aquilo que se realizou, uma vez para sempre na última ceia e na
morte de Jesus na cruz, acontece hoje para a comunidade, em mis-
tério, no sacramento, toda vez que celebramos como corpo eclesial.
À Eucaristia é o “memorial da morte e ressurreição de Je-
sus: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de carida-
de, banquete pascal, em que Cristo é comunicado em alimento,
o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura
glória” (SC, n. 47). Sem nos alienar das realidades cotidianas da
vida e do complexo sistema das relações sociais, “a Eucaristia é
verdadeiramente um pedaço do céu que se abre sobre a terra; é
um raio de glória da Jerusalém celeste, que vem iluminar nosso
caminho” (Ecclesia de Eucharistia, n. 19).
A Eucaristia é também sacramento do Reino em processo
de plena realização. Enquanto atuamos em favor do Reino, a Euca-
ristia é estímulo de ativa esperança na dedicação diária de cada um

2?
PNE - QV] - CVV nº 20
aos próprios deveres e a toda caminhada histórica (cf. idem, n. 20).
“Na Eucaristia, testamento de seu amor, ele se fez comida e bebi-
da espirituais, que nos sustentam na caminhada para a Páscoa eter-
na. Com esta garantia da ressurreição final, esperamos participar
do banquete do vosso Reino” (Prefácio da Eucaristia — II).
A Eucaristia é sacramento de unidade. Fla é pão formado por
muitos grãos de trigo, para que sejamos um só corpo. Karl Rahner
assim se expressa: “Que coisa mais típica da vida cotidiana que o
alimento de todos os dias? Todos os dias se passa o mesmo: come-
mos e bebemos, nos alimentamos... deste ponto de vista, a Eucaris-
tia é o alimento do homem (e da mulher) que sempre torna a ter
fome, que sempre volta a sentir fraqueza e que, portanto, na vida
espiritual, é um homem comum da vida cotidiana”. São João
Crisóstomo pergunta: “Com efeito, o que é o pão? É o corpo de
Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo
de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o
pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora
não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença
desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também
nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com
Cristo” (Ecclesia de Eucharistia, n. 23).
Jesus perpetua sua presença entre os seus como alimento.
O alimento consumido é o pão partido e repartido entre irmãos.
O vinho bebido é o sangue derramado, sinal da nova e eterna
aliança. O ato de comer o pão e beber o vinho envolve o com-
promisso de viver conforme ao mistério pascal em comunidade
e que supõe o compromisso de construir uma sociedade sem
fome, sem guerras, sem discriminações, buscando juntos os ca-
minhos da solidariedade, do respeito e da compreensão mútua.
A Eucaristia é sacramento de comunhão. O pão e o vinho
na Eucaristia que celebramos em memória do Senhor são o Cor-
po e o Sangue vivo e verdadeiro do Senhor. Santo Agostinho

23
PNE - QV) - CVY nº 20
explicita este mistério de comunhão com as seguintes palavras:
“Se vocês são o corpo e os membros de Cristo, é o sacramento
de vocês que é colocado sobre a mesa do Senhor. É o sacramen-
to de vocês mesmos que vocês recebem. Vocês respondem
* Amém" àquilo que recebem. Vivam, pois, como um membro de
Cristo, para que o Amém de vocês seja verdadeiro” (Homilia, in
ICor 27,4). É precisamente esta comunhão que suplicamos ao
Pai: “Concedei que, alimentando-nos com o Corpo e o Sangue
de vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos torne-
mos em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração eucarística
— ID. “Mas a Eucaristia não pode ser adequadamente compre-
endida, nem plenamente vivida, fora da comunhão eclesial. A
Igreja é o Corpo de Cristo: caminha-se “com Cristo” na medida
em que se está em relação com o seu corpo” (MND, n. 20).
A Igreja vive da Eucaristia. O Concílio Vaticano II afirmou
que a Eucaristia é a “fonte e o centro de toda a vida cristã (SC,
n. 10). Por esta razão, desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da
nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este
sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de
consoladora esperança. A Eucaristia contém o tesouro espiritual da
Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá a
homens e mulheres a vida mediante a sua carne vivificada e
vivificadora pelo Espírito Santo (cf. Ecclesia de Eucharistia, n. 1).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Saciada pelo pão em abundância, a multidão se pôs à pro-
cura de Jesus. Hoje, multidões tomarão parte das celebrações e
das manifestações públicas em homenagem ao Corpo do Senhor.
De maneira velada e sacramental, Jesus está presente no meio de
seu povo. Está presente em muitos sinais e gestos eucarísticos
de fraternidade e de solidariedade dos seus seguidores. Todavia,
as multidões continuam procurando “sinais” que plenifiquem a

24
PNE - QV) - CVV nº 20
vida. “E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que
o mundo tenha vida.” Milhões vivem passando fome.
A Eucaristia é para a vida de toda a humanidade e, de al-
gum modo, de todo o cosmo. Dou minha vida, “para que o mun-
do tenha vida”. O pão e o vinho, oferecidos e transformados,
pela ação do Espírito Santo, no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo,
são “pré-anúncio e penhor” da transformação de toda a realida-
de universal, material e humana, na glória do Reino, quando
“Deus será tudo em todos” (1Cor 15,20). Com razão a Igreja
reza: “Na verdade, vós sois santo, ó Deus do universo, e tudo o
que criastes proclama o vosso louvor, porque, por Jesus Cristo,
vosso Filho e Senhor nosso, e pela força do Espírito Santo, dais
vida e santidade a todas as coisas e não cessais de reunir o vosso
povo, para que vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr-do-
sol, um sacrifício perfeito” (Oração eucarística — III).
A Eucaristia nos compromete a viver a vida do Filho de
Deus que se fez pão e a criar sempre mais comunhão entre to-
dos. Ensina-nos a sermos pão para a vida do mundo. A Eucaris-
tia, memorial do mistério da doação de Cristo, nos abre à solida-
riedade com os que precisam de mais vida para viver felizes: os
famintos, os deserdados, os excluídos do banquete da vida de
nossa sociedade. Na comunhão com o Corpo e Sangue de Cris-
to, no sacramento da Eucaristia, comprometemo-nos na cons-
trução da comunhão entre todos os filhos e filhas de Deus.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Por que celebrar a festa de Corpus Christi
A celebração eucarística, no dia de hoje, em primeiro lu-
gar, recorda o mistério da encarnação de Jesus, proclama a sua

25
PNE - QV) - CVV nº 20
Palavra anunciada ao povo que buscava novos sinais e, vivenciada
na sua entrega total, até a morte na cruz, em obediência à vonta-
de do Pai, para a vida do mundo.
O Senhor, presente no meio de seu povo, nos alimenta com a
Palavra e com pão, para que tenhamos vida, e vida em abundância.
Neste dia de Corpus Christi, a fé no Deus que, encarnando-se,
se fez nosso companheiro de peregrinação, seja proclamada em
todo lugar e particularmente em nossas ruas e entre nossas ca-
sas, como expressão do nosso grato amor e fonte de inexaurível
bênção (cf. MND, n. 18).
Na apresentação das oferendas do pão e do vinho, frutos da
terra, e que serão transformadas pelo Espírito Santo em Corpo e
Sangue do Senhor, elevemos nossa ação de graças ao Pai pela obra
de suas mãos e de seu Filho para a salvação do mundo. “Bendito
sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa
bondade, fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresen-
tamos, e que para nós se vai tornar pão da vida e vinho da salvação.”
A comunidade cristã recorda o Deus que se fez compa-
nheiro de caminhada, armando sua tenda no meio do povo e es-
tabelecendo com ele a aliança; acolhe a Palavra libertadora e
proclama o triunfo sobre as forças da morte; renova a comunhão
com ele participando da ceia eucarística. “Todas as vezes que
comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Se-
nhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressureição enquan-
to esperamos a vossa vinda gloriosa!”
O encontro com Cristo, aprofundado na Eucaristia, suscita
na comunidade e em cada batizado a urgência de testemunhar e
de evangelizar. Entrar em comunhão com Cristo no memorial de
sua Páscoa significa, ao mesmo tempo, experimentar o dever de
fazer-se missionário do acontecimento libertador atualizado pela
celebração eucarística. O Senhor novamente nos envia para im-
pregnar a sociedade dos valores da Eucaristia.

26
PNE - QV) - CVV nº 20
2. Sugestões para a celebração
Grande mistério, a Eucaristia! Mistério que deve, antes de
tudo, ser bem celebrado. É preciso que a santa missa seja posta no
centro da vida cristã e que em cada comunidade se faça tudo para
celebrá-la com decoro, segundo as normas estabelecidas, com a
participação do povo. É preciso, em particular, cultivar, quer na ce-
lebração da missa, quer no culto eucarístico fora da missa, a viva
consciência da presença real de Cristo, tendo o cuidado de
testemunhá-la com o tom da voz, com os gestos, com os movimen-
tos, com todo o conjunto do comportamento (cf. MND, nn.17 e 18).
Destacar os ritos inicias, como ritos que constituem a
assembléia eucarística, corpo vivo do Senhor.
Dar destaque à mesa da Palavra: Cristo se faz presente
nos sinais de sua Palavra e do pão.
À segiiência, embora facultativa, onde for realizada,
poderá ser cantada ou dialogada.
Realizar a procissão de oferendas. Com o pão e o vi-
nho, dons da Eucaristia, trazer outros dons, sinais que
tornam presente os inúmeros gestos de amor, de carida-
de e de solidriedade da comunidade cristã. Aqui cabe-
ria bem a coleta de alimentos não-perecíveis e sua dis-
tribuição aos necessitados.
Onde for possível, confeccionar e usar pão ázimo, lem-
brando o que o Missal Romano propõe no seu número
283. Onde houver condições, pode-se pensar num ágape
fraterno após a celebração eucarística.
Dar particular ênfase à oração eucarística.
Cantar o Cordeiro de Deus de tal modo que dê relevo
particular à fração do pão. O ministro deve destacar bem
o “partir o pão”.

2/
PNE - QV] - CVV nº 20
Preparar o que for necessário e dar condições para que
todos participem da comunhão sob as duas espécies sa-
gradas: Corpo e Sangue do Senhor.
Solenizar os ritos de envio e bênção. “Os que reconhe-
ceram o Senhor ao repartir o pão, saíram apressada-
mente anunciar que o Senhor vive.”
À homilia poderá recordar os conteúdos básicos da Carta
Encíclica Mane Nobiscum Domine.
Onde houver procissão eucarística pelas ruas e aveni-
das, fazê-la após a missa, não antes. Consagra-se, en-
tão, uma hóstia grande para a procissão e omitem-se os
ritos finais.

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9º Domingo do Tempo Comum
29 de maio de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Dt 11,18.26-28.32


Salmo Responsorial: 30(31),2-3a.3bc-4.17 e 25(R/. 3b)
Segunda leitura: Rm 3,21-25a.28
Evangelho: Mt 7,21-27

Construir a casa com sabedoria

1. Situando-nos brevemente
Este domingo pode ser chamado: “O domingo do cristão e
da comunidade que edifica sua vida (sua casa) em bases sólidas”.
Volta e meia assistimos pelo noticiário da TV aos contras-
tes da realidade brasileira. Em uma região, chuvas destruidoras,
águas que invadem bairros e casas, arrastando tudo. Casas
construídas em “áreas de risco” são levadas pela fúria dos ven-
tos e das águas. Em outras regiões, é a seca devastadora.
A hturgia de hoje dá um recado bem claro: a comunidade
deve ser construída sobre alicerces sólidos. Isto é, sobre a escuta
e vivência da Palavra de Jesus. À partir da experiência da perda
da casa, por ter sido construída sobre a areia, Jesus nos convida
a edificar com sabedoria a vida sobre fundamentos sólidos. Quem
não deseja um futuro feliz? O caminho que garante um amanhã
feliz é a sabedoria de quem fundamenta sua vida na escuta e
prática da Palavra de Jesus.

29
PNE - QV) - CVV nº 20
Desejar “Ver Jesus” é aceitar que sua Palavra e suas obras
/ .

sejam fundamentos de nossa vida.

2. Recordando a Palavra

O texto do Evangelho de hoje conclui o grande Sermão da


Montanha. Para os que procuram ingressar no Reino, Jesus aponta
a condição indispensável: “Cumprir a vontade do Pai”. Não bas-
ta proclamar a pertença a Jesus só por palavras. Ninguém dá
crédito à confissão de fé que se resume num amontoado de pala-
vras. À fé prática, de quem faz a vontade de Deus, é ilustrada por
Jesus, por meio das duas casas: uma construída solidamente so-
bre terreno firme (a rocha) e a outra edificada sobre a areia. Por
esta ilustração, Jesus revela o verdadeiro e o falso discípulo. O
primeiro entra no Reino e o segundo é excluído. Firme, inabalá-
vel e apto para o Reino de Deus, é aquele que, além de escutar a
Palavra, também a põe em prática.
O mesmo esquema aparece na primeira leitura. Diante do
povo da aliança está a bênção ou a maldição. É a estrutura do
bem e do mal, da vida e da morte, como consegiiência da obediên-
cia ou da desobediência à aliança. A Palavra foi escrita no cora-
ção e o povo foi avisado para colocar em prática todos os estatu-
tos e normas da aliança, se quiser ter a vida. O bom israelita é
aquele que tem a lei diante dos seus olhos e no seu coração e a
cumpre com ardor. As pessoas são livres para escolher. O cum-
primento da vontade de Deus se traduz em vida e bênção.
Todavia, para Paulo (segunda leitura) a pessoa humana não
consegue salvar-se por suas próprias obras, mesmo que estas
estejam em conformidade com a lei. Como se a justificação fos-
se uma recompensa à observância legal. A salvação é dom de
Deus. “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus, mas
se tornaram justos gratuitamente pela sua graça” (Rm 3,23-24).

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PNE - QV) - CVY nº 20
Deus reintegra na sua comunhão (aliança) aquele que, na fé, aceita
a doação da própria vida que Jesus realizou pelo sacrifício da
cruz. À acolhida do dom de Deus não significa cruzar os braços
e esperar tudo da paternidade divina. A fé que torna as pessoas
acolhedoras da vontade de Deus se revela na prática das boas
obras. “O homem se tornou justo através da fé, independente-
mente da observância da lei.”

3. Atualizando a Palavra
Nas comunidades, há cristãos que vivem sua fé de modo
festivo ou sentimental. Proclamam em alta voz: “Jesus é o Senhor
e nosso rei”. Elevam seus braços e cantam sem cessar aleluias,
mas se eximem das ações práticas da vida comunitária. No culto,
falam bonito em ajudar os necessitados, mas na prática não se
integram em equipes de solidariedade, de assistência aos enfer-
mos e idosos. São mestres na pregação da justiça, mas depois, em
casa, desrespeitam os direitos da empregada, no mercado sone-
gam e na rua são os donos do espaço e do trânsito. Distinguem-se
por serem bons cumpridores dos deveres religiosos. Infelizmente,
estes estão construindo sua vida, sua casa, sobre a areia.

À tentação é a de minimizar as afirmações de Jesus: “Nem


todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino do Céu.
Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que
está no céu”. Observemos que alguém pode até fazer milagres
em nome de Deus e, depois, não ser reconhecido por ele como
um dos seus. Quantos indivíduos instrumentalizam a Palavra e o
nome de Deus em benefício próprio. Mas o Senhor não reconhe-
ce como “seus” os que apenas falam “em seu nome”. Somente
reconhece aqueles que praticam a sua Palavra.
“Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu
Pai.” Jesus é o modelo e servidor da vontade do Pai: “Meu ali-

31
PNE - QV] - CVVY nº 20
mento é fazer a vontade do Pai que me enviou” (Jo 4,34). “Pas,
não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Se quiser-
mos realizar a vontade do Pai, acertaremos se fizermos de “Cris-
to, nosso Caminho, Verdade e Vida”. Para cumprir a vontade do
Pai, temos de ir às fontes da Palavra de Jesus e transformá-la em
eixo e centro da vida cristã. Núcleo inspirador de nosso projeto
de vida pessoal e comunitária, a Palavra de Deus não se limita a
ser um fato interior: ela traça as coordenadas que dão direção à
vida; determina opções e comportamentos concretos; inspira a
conduta da comunidade.
Para ser acolhidos por Deus em seu Reino, precisamos agir.
Ele prefere os construtores. Todavia, é bom observar sobre o que
estamos construindo. Sobre terreno sólido ou sobre a areia? O
edifício destes últimos é falso e perigoso, apesar de ser grandio-
so, alto e imponente. Não suportará as investidas do tempo, das
adversidades. “Construir a casa sobre a areia é ficar na teoria,
sem passar à prática.” Como é triste assistir cenas de famílias
que perderam sua casa. De outra parte, há os que constroem so-
bre a rocha, isto é, sobre a Palavra de Deus escutada e praticada.
Apesar das tribulações, das críticas, das novas modas e ideolo-
gias dominantes, sua construção se revela sólida. “Construir a
casa sobre a rocha é viver e agir de acordo com a justiça do
Reino apresentado no Sermão da Montanha.”
Jesus, encerrando o Sermão da Montanha, revela que quem
deseja segui-lo, fazendo dele “Caminho, Verdade e Vida”, deve-
rá com sabedoria construir sua casa em bases sólidas, através da
escuta e da vivência de sua Palavra. Enfim, construímos nossa
história de vida sobre que alicerces: sobre pedra ou sobre areia?
A bênção ou a maldição emerge do como estamos construindo
nossa existência. A bênção não se acrescenta à existência. Brota
da direção que imprimimos à vida.

32
PNE - QV) - CVV nº 20
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
Neste domingo, fazemos a experiência de que somos a
comunidade dos seguidores de Jesus pela escuta e vivência de
sua Palavra. “A escuta e a acolhida da Palavra, traduzida coeren-
temente em atos, são fundamento da vida e da missão da Igreja.
Alimentar-nos da Palavra para sermos servos da Palavra no tra-
balho da evangelização” (DGAE, n. 20). “A Palavra é escutada e
acolhida pelos fiéis também para que Deus se valha deles para
difundir sua mensagem entre todos os povos” (DGAE, n. 25).
“A Igreja cresce e se constrói ao escutar a Palavra de Deus,
e os prodígios que de muitas formas Deus realizou na história da
salvação fazem-se presentes, de novo, nos sinais da celebração
litúrgica, de modo misterioso, mas real. Deus, por sua vez, vale-
se da comunidade dos fiéis que celebra a liturgia para que sua
Palavra se propague e seja conhecida, e seu nome seja louvado
por todas as nações” (OLM, n. '7).
Jesus nos garante que só é capaz de perseverar no cumpri-
mento das exigências propostas, e superar as investidas da tem-
pestade da vida, aquele que puser as suas palavras em prática. A
sua Palavra vivida é rocha, e sua Palavra apenas escutada é areia.
A íntima relação entre palavra escutada e palavra vivida se
concretiza na celebração eucarística, em que a liturgia da Palavra
e a liturgia da Eucaristia constituem uma única ação de culto. São
duas mesas, uma levando à outra. É o pão da Palavra para o pão da
Eucaristia e, juntas, para a missão evangelizadora. “As comunida-
des eclesiais tenham a viva consciência de que “aquilo que uma
vez foi pregado pelo Senhor” deve ser proclamado e espalhado até
os confins da terra, de modo que “tudo quanto foi feito uma vez
por todas, pela salvação dos homens, alcance o seu efeito em
todos, no decurso do tempo” ” (DGAE, n. 25).

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PNE - QV) - CVV nº 20
PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
O Senhor ressuscitado, presente na assembléia reunida para
a escuta de sua Palavra, nos orienta a construir com sabedoria a
“casa de nossa vida”, que nos garante um futuro feliz. A bênção
ou a maldição depende do fundamento sobre o qual edificamos
nossa existência.
Na celebração eucarística, o Senhor, em sua bondade, nos
acolhe e nos reconhece como seus convidados. Por seu Espíri-
to transforma-nos em seus filhos e criaturas novas em Cristo
ressuscitado.
A mesa da Palavra revela-nos que alcançaremos a justiça
do Reino de Deus, cimentados pela fé em Jesus Cristo, em sua
graça salvadora e no cumprimento da vontade do Pai. Deus é
quem nos concede o dom de crer e de atuar a fé pela prática da
caridade. A fé que se visibiliza pela caridade é a fé que salva.
O encontro com o Senhor na liturgia deste dia coloca em
nosso coração a sabedoria da Boa-Nova do Reino que orienta a
edificação da casa de nossa vida. Participamos da comunhão
eucarística não por simples devoção ou cumprimento de uma
obrigação, mas como fruto e dimensão importante de nossa fé
comunitária. Por isso, na ação litúrgica começamos escutando a
Palavra de salvação, para depois, pela Eucaristia, fundamentar
toda nossa vida cotidiana sobre a rocha que é Cristo.
Celebrando o memorial da morte e ressurreição de Jesus
Cristo, hoje, estabelecemos comunhão com todos os que labu-
tam para realizar o sonho da casa própria, com os que sofrem
pela perda de suas casas sob as intempéries de nossa sociedade,
com os que são despejados de suas casas e andam errantes sem

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PNE - QV) - CVV nº 20
saber onde morar. Em face de realidade tão dura, como Igreja
reza-se: “Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos supli-
camos humildemente, afastai de nós o que é nocivo, e concedei-
nos tudo o que for útil” (Oração da Coleta).

2. Sugestões para a celebração


- É sempre muito oportuno cantar algumas das partes fixas
da celebração para solenizar. A cor litúrgica é o verde.
* Na procissão de entrada, destacar pessoas de diversas
idades da comunidade, pois o tema da casa-identidade
favorece a abordagem do saber viver bem o momento
histórico de cada um, alicerçado na Palavra de Deus.
- Na saudação, acolher fraternalmente as famílias, desta-
cando a presença das mulheres. Hoje se dá o encerra-
mento da Semana Nacional da Família.

* (O Rito Penitencial pode ser cantado, porém, não se deve


esquecer de que o silêncio também ajuda a introspecção
e a revisão de vida.
e Destacar a entrada do Livro da Palavra de Deus, con-
forme os costumes locais, com alguma expressão cor-
poral ou simbólica. A primeira leitura seja proclamada
por uma mulher. Se possível, de cor. Durante as três
leituras, uma família segura velas acesas ao redor da
mesa da Palavra.
- Ahomilia deve ser sempre curta e clara. Terminá-la ressal-
tando os pontos que sugerimos “para guardar no coração”.
« Se o número de participantes favorecer, nas celebra-
ções eucarísticas pode-se fazer a comunhão sob as es-
pécies do pão e do vinho, de acordo com as orientações

35
PNE - QV] - CVV nº 20
em vigor, cuidando para que seja um gesto digno e sem
atropelos.
Na oração do pai-nosso, seria interessante destacar a
primeira parte erguendo-se os braços, em um gesto de
confiança absoluta de quem se lança nos braços do Pai;
e, na segunda parte, dar as mãos, manifestando tam-
bém confiança nos irmãos e nas irmãs.
Valorizar os ritos da bênção — a comunidade que escu-
tou a Palavra, agora, vai proclamá-la pela prática da
caridade.
Lembrar a comunidade que na sexta-feira é festa do
Sagrado Coração de Jesus e no sábado, do Imaculado
Coração de Maria.

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PNE - QV] - CVV nº 20
10º Domingo do Tempo Comum
5 de junho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Os 6,3-6


Salmo Responsorial 49(50),1.8.12-13.14-18 (R!. 23b)
Segunda leitura: Rm 4,18-25
Evangelho: Mt 9,9-13

A salvação é obra
da ação misericordiosa de Deus

1. Situando-nos brevemente
Domingo do chamado do publicano Mateus. Jesus passa
por nós e nos convida a segui-lo. Para todos quantos desejam
“Ver Jesus”, a condição é deixar tudo e acolhê-lo em sua casa,
isto é, na tenda de sua vida. Nesta poderemos compartilhar com
ele o dom da misericórdia do Pai.
Estamos inseridos numa sociedade violenta e cheia de pre-
conceitos, particularmente em relação aos pequenos, às minorias,
aos desempregados e pobres.
Como comunidade de fé reunida, celebramos o mistério da
Páscoa do Senhor que se revela em muitas pessoas e grupos que,
sem discriminações e preconceitos, vivem uma relação de terna
misericórdia, especialmente com os excluídos da sociedade.

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PNE - QV) - CVV nº 20
Neste domingo a sociedade comemora o Dia Mundial do
Meio Ambiente — Dia da Ecologia. No atual momento de nossa
história, não só as pessoas, mas todo o meio ambiente está cla-
mando por misericórdia.
“Vê e contempla a Jesus, quem faz da misericórdia e do
perdão caminho, verdade e vida”, na relação com seus familia-
res, amigos e a comunidade.

2. Recordando a Palavra

O profeta Oséias tem diante de si um povo que se afastou


do Deus da aliança. No contexto de uma liturgia penitencial e
em nome do Senhor, o profeta pede uma nova atitude religiosa:
“Esforcemo-nos para conhecer o Senhor”. Em outras palavras:
convertamo-nos ao Senhor. Oséias alerta que a Deus não inte-
ressam sacrifícios e ações cultuais exteriores e superficiais. A
ele agrada a prática da misericórdia e da fidelidade à aliança. O
Senhor se compraz de quem anda pelos caminhos do amor e
abomina a hipocrisia dos que se consideram justos.
Para o apóstolo Paulo, Deus salva (justifica) em razão de
nossa fé e não por causa do cumprimento de preceitos e de leis.
Abraão viveu da fé como entrega confiante às promessas do Se-
nhor. Diversamente de seus descendentes, inconstantes no amor
a Deus, Abraão permanece inabalável na fidelidade.
O Evangelho nos apresenta: o chamado de Mateus e a re-
feição de Jesus com os pecadores e o conflito com os fariseus.
Jesus, que acabara de curar muitos enfermos e expulsar demônios,
tem diante de s1 os que se arrogam o direito de controlar a justiça
e o perdão de Deus. Convida o publicano Mateus para integrar o
grupo dos Doze. Na casa do cobrador de impostos, compartilha
da mesa com ele e seus amigos (os impuros). Os que se conside-
ravam “justos” o criticam por comer com os impuros. À atitude

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PNE - QV] - CVV nº 20
de Jesus, de convidar um pecador como Mateus a partilhar da
sua refeição, coloca-o na contramão dos fariseus e doutores da
Lei. Estes não aceitavam entre os seus seguidores mais próximos
indivíduos de má fama, pecadores, pobres, pastores, leprosos, nem
sequer falavam com eles. Jesus não aceita tal prática discriminatória.
“Aprendam, pois, o que significa: *Eu quero a misericórdia e não o
sacrifício” ”. As portas do Reino dos céus se abrem para os “pe-
cadores, os impuros e os excluídos”. Para o Nazareno, o que
mais importa é a adesão ao projeto do Reino.

3. Atualizando a Palavra

O Evangelho coloca-nos diante de uma situação real das


comunidades. Muitos que se consideram zelosos no cumprimento
dos deveres cristãos, perguntam-se como tratar os pecadores (os
publicanos de hoje), os que vivem de forma irregular, os que não
se afinam com as normas da Igreja. Há quem se pergunte se só
devemos acolher as pessoas boas, íntegras e santas.
O convite a Mateus revela o chamado de Jesus dirigido a
todos: “Eu vim para que todos tenham vida”. O rico cobrador de
impostos era um marginalizado da salvação. Um discriminado
social, como são hoje os presidiários, os alcoólatras, os droga-
dos, as prostitutas... O “Segue-me” dignificou e restabeleceu a
pessoa de Mateus como filho de Deus. Na perspectiva do gesto
de Jesus, a autêntica pureza religiosa não reside na observância
dos preceitos, mas na conversão para a misericórdia.
A chave de leitura encontra-se nas palavras: “Eu quero a
misericórdia e não o sacrifício”, o “conhecimento de Deus mais
do que holocaustos”. Pode ocorrer que nós estejamos preocupa-
dos com o modo de proceder dos outros e não olhemos para
nós mesmos, crendo estarmos de bem com Deus pelo fato de
participar das celebrações, pagar o dízimo, frequentar algumas

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PNE - QV) - CVV nº 20
reuniões e colaborar com algum serviço da comunidade, esque-
cendo-nos da prática da justiça, do amor ao próximo e da recon-
ciliação fraterna. O que desagrada a Deus é a incoerência entre a
prática da oração, do louvor, da ação de graças e a conduta da vida
na verdade e no amor. Por exemplo, conheci uma comunidade
onde funcionavam dez grupos de oração e ninguém se dispunha à
visita e ao atendimento dos doentes e idosos. “O que Deus de
fato reprova é o culto vazio de espírito, de verdade e de vida.”
O Evangelho não assume uma atitude excludente ou
discriminatória. O fato de Jesus dar atenção “aos que estão doen-
tes”, aos “pecadores”, não exclui a atenção aos “justos”, Isto é,
aos que estão na lida dos serviços da comunidade, aos que parti-
cipam das celebrações. O que é colocado em evidência é a mise-
ricórdia de Deus que acolhe e perdoa. A atitude preferencial de
Jesus pelos pecadores, pobres e enfermos não é sinônimo de
cumplicidade de quem aprova ou aceita tudo. O Filho de Deus
veio para reintegrar e reconstruir. Em Cristo, o Pai vem em bus-
ca do que estava perdido para redimir.
Uma autêntica prática religiosa se fundamenta na fé, que
se exprime na abertura ao conhecimento de Deus, na disponibi-
lidade à ação misericordiosa em relação aos necessitados, na re-
conciliação como pressuposto prévio para a oferenda cultual, na
paixão pela justiça e pela libertação das pessoas, como expres-
são do culto espiritual de toda a vida (cf. Rm 12,1). A verdadeira
prática religiosa é aquela que conduz ao serviço dos pobres, dos
marginalizados, ao amor e estima pelos irmãos e discípulos de
Cristo, aos pecadores como Mateus. Esta recuperação dos que
andam perdidos é a obra de misericórdia que Deus pede em lu-
gar dos sacrifícios oferecidos no templo.
“O objetivo da evangelização é levar a uma fé vívida, a
uma adesão pessoal a Cristo, superando uma adesão meramente
cultural ao catolicismo. Para isso, deve-se dar atenção e acolhi-

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PNE - QVJ - CVV nº 20
da especial às pessoas que, embora não guardem o preceito da
missa dominical ou raramente se aproximam dos sacramentos,
continuam professando a fé católica, esforçando-se para praticar
a caridade fraterna e a ética cristã” (DGAE, n. 95).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


A ação litúrgica atualiza a ação misericordiosa de Deus
para com seu povo. Misericórdia que se revela na palavra: “Se-
gue-me” e no gesto de Jesus partilhar a mesa. “Por que o mestre
de vocês come com os cobradores de impostos e os pecadores?”
À ênfase recai sobre o comer. Compartilhar da refeição com
amigos é celebrar uma aliança, um pacto de solidariedade e de
amizade. Nossa Eucaristia é banquete da nova e eterna aliança
para a remissão dos pecados.
Todos nós somos “o publicano”, sequiosos de ver e seguir
o Senhor. Ele permanentemente passa por nós e nos convida:
“Segue-me”. Jesus velo para nos salvar mostrando a todos o amor
misericordioso do Pai. “A comunidade eclesial, no espírito do
“ministério da caridade”, procure oferecer, com generosidade e
dedicação, todos os serviços que puder, lembrando que “a cari-
dade das obras garante uma força indubitável à caridade das pa-
lavras” (DGAE, n. 85b).
No domingo de hoje, podemos dar um sentido especial ao
ato penitencial, reconhecendo-nos pecadores, necessitados da
misericórdia do Pai.

A liturgia da Palavra nos introduz no conhecimento de Deus


e renova o convite ao seguimento de Jesus Cristo.
Na preparação e apresentação dos dons eucarísticos, pela
oração de quem preside, a comunidade pede que sua vida se tor-
ne uma oferta agradável: “Senhor nosso Deus, vede nossa dis-

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PNE - QV) - CVY nº 20
posição em vos servir e acolhei nossa oferenda, para que este
sacrifício vos seja agradável e nos faça crescer na caridade”.
Que a oração eucarística, a ação de graças da comunidade
pela obra da salvação e a comunhão eucarística se transformem
numa súplica de todos: “Olhai, com amor, Pai misericordioso,
aqueles que atraís para vós, fazendo-os participar no único sa-
crifício do Cristo. Pela força do Espírito Santo, todos se tornem
um só corpo bem unido, no qual todas as divisões sejam supera-
das” (Oração eucarística sobre a reconciliação — 1).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
A celebração memorial da Páscoa de Jesus Cristo, hoje, se
transforma na Boa-Notícia da misericórdia de Deus. É para nós
que soa a voz profética: “Eu quero a misericórdia e não o sacri-
fício”, o “conhecimento de Deus mais do que holocaustos”.
A palavra proclamada no seio da comunidade é luz que
ilumina as trevas de quem não conhece a Deus e destrói em nós
e em nossas comunidades os preconceitos e as discriminações
de pessoas e de grupos.
Ao participarmos da ceia eucarística, o Senhor se dá em
alimento e renova em nós a aliança de vida, que nos torna mem-
bros de seu corpo e participantes do banquete do Reino. Comen-
do do mesmo pão e bebendo do mesmo cálice, comprometemo-
nos com ele na missão reconciliadora de todos os excluídos. Pois,
participar do sacramento do Corpo e Sangue de Jesus, é comun-
gar com quem ele se sentou à mesa e partilhou da refeição.
Celebramos a vida e a morte de Jesus acontecendo nas
pessoas e comunidades que vivem uma relação de misericórdia,

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PNE - QV] - CVV nº 20
de acolhida e de ternura em relação aos discriminados de nossa
sociedade.

2. Sugestões para a celebração


Um clima de acolhida misericordiosa deve caracterizar
as partes da celebração deste domingo.
Valorizar os ritos Iniciais, com o gesto de acolhida das
pessoas e entre as pessoas da comunidade.
Destacar o momento do ato penitencial como manifes-
tação de nossa realidade humana e proclamação da mi-
sericórdia de Deus.
Solenizar a proclamação do Evangelho, destacando-se
as frases centrais da revelação da misericórdia.
Na homilia, sublinhar o compromisso da prática da com-
paixão (da solidariedade) e da misericórdia a ser vivida
no cotidiano da vida.
Escolher a Oração eucarística — VII, sobre a reconcilia-
ção — II.
Destacar o abraço da paz no seu sentido de acolhida e
reconciliação. Este poderá ser deslocado para o momen-
to do ato penitencial.

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PNE - QV) - CVV nº 20
| |º Domingo do Tempo Comum
12 de junho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Ex 19,2-6a


Salmo Responsorial: 99(100),2.3.5 (Ri. 3c)
Segunda leitura: Rm 5,6-11
Evangelho: Mt 9,36-10,8

A compaixão de Deus
e o envio missionário

1. Situando-nos brevemente

Muitos são os que acorrem no desejo de ver e de encon-


trar-se com Jesus. “Ele viu as multidões e teve compaixão.” Hoje
somos tomados pelos mesmos sentimentos do Mestre. O Espíri-
to nos impulsiona a rezar pedindo mais trabalhadores para o cam-
po da ação evangelizadora e nos compromete na acolhida do
chamado e no envio para o anúncio da Boa-Nova do Reino. É a
partir da perspectiva missionária que se definem a vocação e a
identidade da comunidade eclesial na sociedade, com uma op-
ção preferencial pelos sofredores.
Celebremos o memorial da Páscoa de Jesus que se revela
em todos aqueles que assumem o ministério da evangelização,
colocando-se a serviço dos que são humilhados pela enfermidade,
pela discriminação e pela falta de dignas condições de vida. De
modo especial, hoje tenhamos presente os jovens enamorados.

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PNE - QV) - CVV nº 20
O desejo de “Ver Jesus” comporta a exigência da compai-
xão e do fazer-se solidário com os sofredores de nossos dias.

2. Recordando a Palavra

Na antiga aliança, Deus escolheu as doze tribos de Israel


para ser seu “povo sacerdotal”, o povo com a missão de revelar
aos outros povos a santidade do Senhor, sua lei e seu Reino (pri-
meira leitura).
O apóstolo Paulo, por sua vez, insiste na gratuidade da fé.
À situação atual do cristão imerso nas provações do tempo é
alimentada pela promessa da salvação, já realizada em e por Je-
sus Cristo, porém, ainda não plenamente. Pela fé e pelo batismo,
o cristão participa da morte e da ressurreição de Jesus. Isto é,
passa por uma profunda transformação, da morte à vida nova
(segunda leitura).
Na época em que o evangelho de Mateus foi escrito, as
comunidades cristãs passavam por momentos difíceis: proble-
mas internos, conflitos com as lideranças do judaísmo e a perse-
guição do Império Romano. Tudo isto demonstrava o ardor mis-
sionário. Em resposta a tal situação, temos o discurso sobre a
missão (9,35-10,42).

A perícope evangélica deste domingo divide-se em duas


partes. A primeira parte (9,36-38) nos concede um olhar panorâ-
mico e sintético da atividade de Jesus e sublinha a necessidade de
muitos “operários” para a obra evangelizadora. Com isto, Mateus
prepara o terreno para o grande discurso de Jesus referindo-se ao
apostolado. Tal é a situação do povo que se parece a um “rebanho
sem pastor”, expressão conhecida no Antigo Testamento (cf. Jr 23
e Ez 34). A urgência da missão se evidencia pela imagem da “co-
lheita é grande”; explicita a necessidade do maior número possí-

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PNE - QV) - CVV nº 20
vel de colaboradores. Para isto, faz-se necessário insistir junto ao
“Senhor da messe” que envie muitos operários.
Na segunda parte, Jesus escolhe e envia os Doze, confe-
rindo-lhes “a autoridade” sobre os espíritos, para os expulsar e
para curar toda enfermidade, ressuscitar os mortos e purificar os
leprosos. “Vocês receberam de graça, dêem de graça!” Ao enviar
os apóstolos, Jesus determina o âmbito da missão (o povo de
Israel), o objeto da pregação (a vinda do Reino dos céus) e o
modo de comportar-se (não visar ao lucro, mas à sobriedade e
total confiança na divina Providência).

3. Atualizando a Palavra
À Palavra realça a importância da missão da Igreja, entendi-
da como povo sacerdotal. Amplo é o panorama da missão evange-
lizadora. A Palavra de Jesus que tem compaixão do povo abando-
nado, como “ovelhas sem pastor”, faz pensar na evangelização
das populações abandonadas das grandes cidades, dos bairros e
periferias, sem contar as populações distantes das cidades, nas
florestas, nas margens dos rios e nos assentamentos que se mul-
tiplicam por toda parte. Como evangelizar as periferias de certas
cidades que acolhem milhares de pessoas todos os dias?
Jesus sente compaixão pelas multidões porque ninguém
se preocupa com elas, nem os políticos nem os dirigentes religio-
sos. Todos se preocupam com seus interesses e com o próprio
status. As grandes massas dos pobres desafiam a Igreja e a cons-
ciência cristã.
A tarefa evangelizadora foi descrita pelo papa Paulo VI,
nas seguintes palavras: “Para a Igreja não se trata tanto de pregar
o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou po-
pulações maiores, mas de chegar a atingir e como que transfor-

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PNE - QV) - CVV nº 20
mar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores
que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as
fontes inspiradoras e o modelo de vida da humanidade [...]. É
preciso evangelizar, não de maneira decorativa, como que apli-
cando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundi-
dade, e isto até as suas raízes — a cultura e as culturas humanas,
a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as
relações das pessoas entre si e com Deus” (EN, n. 4).
Jesus sabia que no mundo sempre haveria ovelhas sem
pastor e, por isso, deseja que na terra existam pastores para guiar
suas ovelhas — o seu povo. Os pastores são, sobretudo, os
presbíteros. Estes constituem uma minoria em relação à popula-
ção. Mas “em relação à missão, o Concílio Vaticano II entende
que toda a Igreja é missionária e a obra da evangelização é um
dever fundamental do povo de Deus” (cf. Missão e ministérios
dos cristãos leigos e leigas, Documento. da CNBB, 62, n. 47). A
partir da missão de Jesus, entende-se a missão da Igreja no mun-
do. Isto é, a nossa missão, a de todos os cristãos. A cada seguidor
de Cristo foi confiada uma tarefa no campo do mundo. Seja qual
for a situação em que se encontram, todos os cristãos têm esta
missão a cumprir: dedicar a própria vida para a libertação dos
irmãos, enchendo-os de esperança e de motivação na caminhada
em busca de vida digna e plena.
Os cristãos são convidados a “tornar presente” a vida do
seu Mestre e a empregar todas as energias na solução dos pro-
blemas que afligem as pessoas.
Hoje estamos assistindo ao fenômeno em que a pregação
do Evangelho está se transformando em negócio lucrativo. Pelo
exemplo de Jesus, evidencia-se que a evangelização não é
proselitismo sectário, nem propaganda de mercadoria, nem oferta
interesseira de uma tecnologia, mas anúncio da Boa-Nova que
liberta e salva.

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PNE - QV) - CVV nº 20
O seguidor de Cristo não trabalha em prol dos semelhan-
tes em vista de vantagens pessoais: para se tornar conhecido e
estimado, para enriquecer-se com seus serviços religiosos, como
faziam os rabinos. Como o Mestre, o cristão desenvolve seu tra-
balho evangelizador de forma gratuita. Sua recompensa será a
alegria de ter servido e amado os irmãos com a mesma generosi-
dade que ele aprendeu de Jesus. “Vocês receberam de graça, dêem
de graça!” Esta advertência, com a qual Jesus conclui o texto de
hoje, é, ao mesmo tempo, uma garantia da fidelidade a Jesus e
de autenticidade dos evangelizadores.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


O Evangelho deste domingo é, antes de tudo, uma palavra
de esperança e uma garantia do amor e da compaixão de Deus
para cada um de nós, membros do seu povo. Em Jesus, o Bom
Pastor, Deus se solidariza com as pessoas que mais sofrem. No e
por meio de seu Filho, o Pai continua o projeto da aliança com
os pobres da terra.
A Palavra proclamada no seio da comunidade reunida
manifesta o cuidado paternal de Deus para com seu povo esco-
lhido. Como outrora, hoje ele ouve o clamor dos abandonados
“como ovelhas sem pastor” e lhes envia novos mensageiros 1n-
vestidos de autoridade, tanto pela mensagem quanto pelas ações.
À ação litúrgica é ação conjunta dos companheiros da alian-
ça. Isto é, do Pai, de Jesus, do Espírito Santo e do povo sacerdo-
tal congregado em assembléia. A ação evangelizadora alimenta-
se desta ação conjunta. Os discípulos, escutando a Palavra de
Jesus, experimentando o amor benevolente, carinhoso e cheio
de ternura do Pai pela comunhão, não podem se calar e deixar de
transmitir à Boa-Nova aos outros. “O que ouvimos, o que vimos
com nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos

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PNE - QV) - CVV nº 20
apalparam da Palavra da vida... isto nós anunciamos, para que
possam partilhá-lo conosco” (1Jo 1,1-3). “Quando se fez verda-
deira experiência do Ressurgido, nutrindo-se do seu corpo e do
seu sangue, não se pode ter apenas para si a alegria provada. O
encontro com Cristo, continuamente, aprofundado na intimida-
de eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão a urgência de
testemunhar e de evangelizar” (Carta Apostólica de João Paulo IH —
Permanece conosco, Senhor, n. 24).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
À liturgia nos faz viver, sentir e celebrar a compaixão de
Deus para com seu povo escolhido e o envio missionário dos
discípulos como mensageiros da Boa-Nova do Reino. Hoje ce-
lebramos a compaixão e recebemos o envio.
A liturgia expressa o grito de todos os abandonados à sua
dura situação de sofrimento, que confiantes clamam: “Ouvi, Se-
nhor, a voz do meu apelo, tende compaixão de mim e atendei-
me. Vós sois o meu protetor: não me deixeis; não me abandoneis,
ó Deus meu Salvador!” (antífona da entrada).
À assembléia, consciente da autoridade e da força da Pala-
vra que afasta para longe o desânimo e revigora o entusiasmo
missionário pela causa do Reino, suplica: “Dá-nos a graça de
perseverar fiel e gratuitamente na missão, solidários com os pe-
quenos e sofredores”,
Hoje, Jesus nos incentiva a pedir ao Pai trabalhadores para
seu povo — sua colheita, chama-nos e nos envia para anunciar,
pelo testemunho, por palavras e ações, que o seu Reino está no
meio de nós.

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PNE - QV) - CVY nº 20
À oração eucarística, ao mesmo tempo em que proclama
as maravilhas da ação de Deus, por Jesus e pelo Espírito, renova
a súplica: “Fazei que todos os membros da Igreja, à luz da fé,
saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhem-se, de ver-
dade, no serviço do Evangelho. Tornai-nos abertos e disponíveis
para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias,
as alegrias e as esperanças, e andar juntos no caminho do vosso
Reino” (Oração eucarística para as diversas circunstâncias — IN).
Ao celebrarmos o memorial da morte e ressurreição do Se-
nhor, expressão máxima da compaixão de Deus, e participando da
comunhão eucarística, tornamo-nos promotores de comunhão, de
paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida.

2. Sugestões para a celebração


* Preparar a celebração de tal modo que manifeste e va-
lorize os diferentes ministérios da comunidade, desta-
cando-se aqueles que atuam em favor dos doentes, dos
idosos ou em pastorais sociais: da criança, da mulher
marginalizada etc.
* Cuidar bem da acolhida das pessoas, ajudando-as a se
sentirem parte do povo sacerdotal, congregado para
celebrar a ação de Deus na vida e na liturgia.
* Valorizar a participação de casais enamorados na cele-
bração. Onde há certa tradição, se poderia, no final da
celebração, abençoar as alianças dos que nesta data as-
sumem um compromisso mais sério, pelo noivado, ten-
do em vista o matrimônio.
e Pode-se trabalhar mais o momento do envio, do com-
promisso com as situações reais que necessitam ser
evangelizadas na comunidade ou na paróquia.

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PNE - QV) - CVV nº 20
e À bênção pode ser acompanhada com água perfumada
(onde for oportuno), como recordação do batismo, pelo
qual somos ungidos e enviados, em nome de Jesus, para
continuar sua missão na sociedade de hoje.
*« Onde é costume, lembrar a comemoração de santo Antô-
nio, abençoar os pãezinhos e distribuí-los entre os presen-
tes. Os pãezinhos podem ser levados ao altar, na prepara-
ção dos dons, junto com o pão e o vinho da Eucaristia.

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PNE - QV) - CVY nº 20
12º Domingo do Tempo Comum
|9 de junho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Jr 20,10-13


Salmo Responsorial: SI 68(69),8-10.14e.17.33-35 (R/. Idc)
Segunda leitura: Rm 5,12-15
Evangelho: Mt 10,26-33

A confiança do missionário
diante das provações

1. Situando-nos brevemente
As situações de violência geram medo e angústia. Nas gran-
des cidades ou nas periferias cresce o medo de sair à noite. Mui-
ta gente se recusa a participar de encontros e reuniões por medo
de assaltos. Dolorosa é a angústia de quem se sente ameaçado,
intimidado no desempenho de sua missão. Muitos preferem se
calar para evitar maiores complicações.
Jesus suscita confiança e firmeza nos missionários diante
das tribulações que surgem na missão. Ele nos liberta do medo e
nos reveste de coragem. O Espírito de Deus cuida de nós na hora
da provação.

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PNE - QV) - CVV nº 20
No memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo, ce-
lebramos a Páscoa que se manifesta em tantas pessoas que teste-
munham com firmeza e coragem a Boa-Nova do Reino, apesar
das intimidações e perseguições. Hoje lembramos tantos
irmãos(às) que, em nosso país, foram sacrificadas pela promo-
ção e defesa da vida.
O desejo de “Ver Jesus” implica a coragem de testemunhá-lo
em meio às muitas provações de nossa sociedade. Quem um dia
ouviu sua Palavra, não tem mais o direito de se calar.

2. Recordando a Palavra

O texto da primeira leitura faz parte da quinta confissão


do profeta. Desvela o íntimo de alguém que se entregou por in-
teiro à missão. Jeremias sente-se contrariado e depois experi-
menta, nas horas difíceis, lampejos de confiança ao perceber que
o Senhor estava com ele. Provou na sua própria carne o peso da
missão profética. Diante das perseguições e injúrias dos chefes
religiosos e do desprezo do povo, Jeremias naufraga numa arra-
sadora crise pessoal. É difícil ser profeta e falar a verdade (pri-
meira leitura).
O apóstolo Paulo faz uma comparação entre Adão e Jesus,
contrapondo as consegiiências do pecado do primeiro homem e
a salvação operada por Jesus. O projeto de Deus foi manchado
pelo pecado do homem que, desobedecendo e se afastando de
Deus, obteve a morte. Jesus, sendo inteiramente obediente ao
Pai, aceitou cumprir a sua vontade até a morte. Assim, pela obe-
diência de seu Filho, o Pai tornou a humanidade participante de
sua vida (segunda leitura).
O evangelista, depois de descrever os desafios da missão,
apresenta as orientações do Mestre no desempenho da obra
missionária. Jesus não manda enfrentar os perseguidores. Insis-

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PNE - QV) - CVV nº 20
te para não ter medo. O medo inibe e paralisa a ação missionária.
Nas perseguições e diante dos tribunais, “o Espírito do Pai de
vocês é quem falará através de vocês”. Jesus exorta os seus dis-
cípulos a se manterem firmes na proclamação do Evangelho,
confiantes de que tudo o que acontecer com eles não ocorrerá
sem o consentimento do Pai celeste. Pois, quem deposita seus
cuidados no Senhor, será cuidado por ele, até nos mais insignifi-
cantes gestos. Todavia, a salvação ou a condenação dependerá
da atitude que os indivíduos assumirem em face de Jesus: de
corajoso testemunho ou de covarde negação (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra
O Evangelho continua o sermão missionário de Jesus. O
discípulo associa-se à missão apostólica de Cristo. As recomen-
dações do Mestre aos apóstolos são dirigidas aos cristãos de to-
dos os tempos. Observemos que, no Evangelho, Jesus repete por
três vezes: “Não tenham medo”.
Quem não tem medo? O medo impede o pregador de ser
criativo e espontâneo. O medo inibe e bloqueia o fluxo natural
da vida. Ele não permite agir e fazer aquilo que conduz à realiza-
ção da vida. No medo, as pessoas se calam diante da verdade,
mentem e buscam alternativas, como amizades comprometedo-
ras ou atitudes pietistas e evasivas.
Em face da realidade em que vivemos, muitos são toma-
dos pela vergonha e pelo medo. Diante de um ambiente pouco
favorável à fé, às vezes, até hostil, a tentação mais frequente é
calar-se, refugiando-se no silêncio cauteloso. Com medo não se
pode construir nada de positivo para o Reino de Deus. Como
batizados, todos participamos da missão profética de Cristo. Ini-
bir-se por medo ou por comodidade é ser infiel à missão
evangelizadora que nos foi confiada.

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PNE - QV) - CVV nº 20
A audácia e a coragem são características do seguidor de
Jesus. “Não tenham medo!” O discípulo não deve temer as tri-
bulações do isolamento, das perseguições, da calúnia, nem se-
quer a morte.

a) O missionário teme, antes de tudo, porque receia que,


por causa das intimidações e da violência, sua missão
fracasse. Jesus garante que, apesar das dificuldades e
provocações dos inimigos, a força da Boa-Nova se di-
fundirá e transformará a sociedade.
b) O pregador tem medo de passar por maus-tratos e até
de ser ameaçado de morte. Para Jesus, nenhuma vio-
lência tem a força de privar os discípulos do verdadeiro
bem que eles mesmos possuem: o dom da vida que rece-
beram de Deus. Os inimigos podem tolher a liberdade de
expressão e de ação, mas não destruir a pessoa, o seu
espírito e seus ideais. Só há um inimigo a ser temido:
“aquele que pode ferir a alma e o corpo” — aquilo que
pode privar o missionário da vida de comunhão com
Deus. O missionário não deve ter medo dos homens,
mas temer a Deus.
c) As perseguições assustam o missionário pelo fato de
envolverem, não só sua pessoa, mas a dos seus familia-
res e amigos, que podem ser privados do apoio neces-
sário para a sobrevivência. Jesus convida à confiança
na Providência de Deus. O medo não combina com o
conhecimento de Deus, que é experiência de amor e
fonte de confiança e alegria. Ao amor de Deus nada
passa despercebido. Se ele zela por suas criaturas, até
as mais insignificantes, muito mais ele cuidará da mis-
são de quem está comprometido com a edificação do
seu Reino.

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PNE - QV) - CVV nº 20
Há dois tipos de pregadores: aqueles que não temem anun-
ciar a Boa-Nova, sendo intrépidas testemunhas de Cristo, mesmo
que isto lhes custe a própria vida — o martírio. Outros, por medo
das intimidações, se omitem na missão de revelar ao mundo a
presença de Jesus. Optar pelo Evangelho e proclamar corajosa-
mente a Jesus Cristo é tarefa cotidiana. Jesus testemunhará diante
do Pai em favor daqueles que não tiveram medo de anunciá-lo
como Senhor da história e da vida humana.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


No domingo de hoje, celebramos a missão apostólica da
Igreja em meio às muitas provações. Lembramos em Jesus Cris-
to os inúmeros apóstolos e mártires que, ao longo dos séculos,
foram perseguidos e doaram sua vida pela causa do Evangelho.
A liturgia lembra e acolhe o Filho de Deus, enviado ao
mundo pelo Pai para evangelizar os pobres, curar os contritos de
coração, anunciar a libertação dos presos e restituir a vista aos
cegos. Por força do Espírito Santo, a missão de Jesus Cristo se
prolonga pela presença e ação evangelizadora da Igreja.
Cristo Jesus, Evangelho de Deus, primeiro e maior anun-
ciador da Boa-Nova do Reino, transmitiu a todos os seus discí-
pulos e, através deles, à comunidade de fé que é a Igreja, a graça
e o mandato de evangelizar. Na liturgia lembramos, acolhemos e
assumimos esse mandato. Todos os batizados estão associados à
Igreja peregrina, que por missão de Cristo e do Espírito Santo
é missionária.
O memorial eucarístico leva a comunidade a mergulhar na
missão de Jesus, como enviado do Pai, e a assumir a sua missão
com nova força. A Eucaristia renova a missão porque renova a
fé e os compromissos cristãos na edificação do Reino.

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PNE - QV] - CVV nº 20
PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Neste domingo, celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que
se prolonga e amadurece nos(as) batizados(as) e em suas comu-
nidades, que dão testemunho firme e corajoso de sua fé diante
das dificuldades, sofrimentos e perseguições.
Diante de tantas situações que suscitam em nós o medo e a
vergonha de proclamar a Boa-Nova de Jesus, rezamos: “Ajudas,
Senhor, nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa
fé, como os mártires que não hesitaram em morrer por vosso amor”.
À Palavra de Deus arranca de nós todo medo que nos inibe e
nos reveste de coragem e confiança no Pai, que cuida com carinho
de cada um de nós. A mesma Palavra nos pede firmeza para sermos
comunidade missionária, pronta para o testemunho, disposta a en-:
tregar a vida, como discípulos do Mestre, que doou sua vida.
Na celebração eucarística, renovamos a missão e somos
realimentados e enviados solenemente para a missão.
Abandonados aos cuidados do Pai, em meio aos desafios e
solicitudes de nosso tempo, os discípulos rezam: “Vossa miseri-
córdia sustenta a fragilidade humana e nos dá coragem para ser-
mos testemunhas de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso”
(cf. Prefácio dos mártires).

2. Sugestões para a celebração


* Preparar um mural, na entrada da igreja, com fotos de
pessoas que se empenharam no anúncio do Evangelho.
Pessoas que por seu testemunho sensibilizam a comu-
nidade. Pessoas que nos momentos difíceis não se ne-
garam a testemunhar e a defender a verdade.
58
PNE - QV) - CVV nº 20
Na procissão de entrada, introduzir na assembléia uma
cruz com uma palma da vitória, acompanhada da Bíblia.
No ato penitencial, manifestar arrependimento pelas inú-
meras vezes que nós cristãos tivemos medo, nos sentimos
inibidos ou envergonhados diante das oportunidades de
anunciar ou testemunhar a Boa-Nova do Evangelho.
Dar especial destaque à proclamação do Evangelho.
Na homilia, poderiam ser lembradas situações difíceis
que causam medo e insegurança aos evangelizadores e
aos cristãos em geral.
Destacar o rito de bênção e envio missionário da comu-
nidade presente na celebração.
Lembrar a comunidade da festa de são João, no dia 24
de junho, sexta-feira.

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PNE - QV) - CVV nº 20
|3º Domingo do Tempo Comum
26 de junho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: 2Rs 4,8-Il J4-l6a


Salmo Responsorial: 88(89),2-3.16-17.18-19 (R/. 2a)
Segunda leitura: Rm 6,3-4.8.11.
Evangelho: Mt 10,37-42

Ver e seguir Jesus,


uma opção radical

1. Situando-nos brevemente
Quem quiser “Ver Jesus”, tem de renunciar a si mesmo,
abraçar a cruz de cada dia e estar disposto a perder, por causa de
Cristo, não só o afeto familiar, mas até a própria vida para ganhá-
la em plenitude.
Por causa da missão, o discípulo aceita viver situações di-
fíceis e priva-se de conviver com pessoas que tem maior afini-
dade afetiva e espiritual. São as exigências do seguimento de
quem abraça com radicalidade Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”.

Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se revela em to-


das as pessoas que acolhem os enviados de Jesus e aquelas que
têm coragem de abandonar tudo e abraçar as exigências do se-
guimento, doando-se inteiramente à missão.
O anseio de “Ver Jesus” — ser discípulo — traz consigo a
exigência de renunciar tudo em favor de uma causa maior.

61
PNE - QV) - CVV nº 20
2. Recordando a Palavra

A acolhida e a hospitalidade que a mulher sunamita ofereceu


ao profeta Eliseu são recompensadas com a vida. A hospitalidade é
sempre portadora de vida nova. Deus sempre recompensa quem
acolhe, vive com simplicidade e participa das iniciativas em favor
do bem comum do povo. Por isso, Deus recompensa a generosi-
dade da sunamita com a concepção prodigiosa de um filho (pri-
meira leitura).
Passando pela morte e ressurreição, por meio das águas do
batismo, que se prolonga na fidelidade da missão, o seguidor de
Jesus é admitido na comunhão misericordiosa do Pai. O cristão
missionário testemunha e anuncia o mistério de Cristo crucifica-
do e ressuscitado. Participante do mistério da luz pelo batismo,
o cristão faz brilhar pela vida a luz da verdade (segunda leitura).
O Evangelho diz respeito à parte final do discurso missio-
nário de Mateus. A situação dos missionários é desafiadora. Eles
se encontram em meios conflitivos. A Boa-Nova do Reino atin-
ge o coração da sociedade. Esta reage. Não só a sociedade, mas
os próprios familiares, os amigos e as pessoas mais próximas. O
que aconteceu com Jesus, acontecerá com os discípulos. Diante
do anúncio da Palavra da verdade, eles serão considerados Ini-
migos. Os adversários, do mesmo modo que agiram contra Cris-
to, agirão contra os missionários por causa de sua fé e de seu
testemunho cristão. Nesta situação, o maior risco não é perder a
vida física, mas desviar-se do caminho da opção. Jesus insiste
na fidelidade e na lealdade a ele e ao seu projeto: “Quem ama o
pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim”. O cha-
mado e o envio missionário, além de associar o discípulo a Cris-
to, supõe dele dedicação radical e disposição de seguir o Mestre
até o fim — o calvário —, ou seja, até a morte. “Quem não toma a
sua cruz...” Para o missionário, vale a pena renunciar aos bens
da vida terrena, em vista dos bens imperecíveis da vida eterna.

62
PNE - QV) - CVV nº 20
Quem assume intrepidamente a missão, transforma-se num si-
nal da presença de Jesus e num promotor da vida que procede do
Pai. Observe-se a insistência de Jesus sobre a acolhida do missio-
nário. Do versículo 40 ao 42, o termo “receber” aparece oito
vezes. À acolhida dos missionários era uma das notas caracterís-
ticas das comunidades primitivas. Ela imprimia visibilidade ao
senso de pertença fraterna dos seguidores de Jesus. No entender
do evangelista Mateus, a dimensão missionária da acolhida está
unida à prática da caridade fraterna (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra
Nossa vida cristã emana da união com Cristo pelo batis-
mo. Nosso modo de viver, à luz do mistério pascal, tem como
fundamento a incorporação em Cristo, por meio da passagem da
água para a vida nova da ressurreição (batismo). Isto requer o
empenho de seguir Jesus Cristo até o calvário (tomar e carregar
a cruz) e de acolher generosamente os irmãos.
Ser discípulo missionário de Jesus Cristo é muito exi-
gente. Ele quer a primazia sobre as demais realidades da vida
familiar e social. Para isto, o discípulo deve estar disposto a
sacrificar até os sentimentos familiares mais caros. “Tomar a
cruz” significa que o missionário está disposto a seguir o Mes-
tre, mesmo que isto implique sofrimento, humilhação e recusa
das pessoas mais próximas. Jesus pede aos escolhidos um amor
incondicional. Ao amor que ele revelou no alto da cruz, deve
corresponder uma dedicação total, uma integral adesão ao seu
projeto.
A adesão radical ao projeto de Jesus se concretiza em nos-
sa vida através das pequenas e contínuas opções entre Cristo e as
demais realidades do mundo em que vivemos, com sua arte de
encantamento. Na ordem do dia, o cristão é “seduzido” por inú-
meras solicitações. Contudo, a radicalidade do seguimento de

63
PNE - QV) - CVV nº 20
Cristo não admite “panos quentes” nem se reduz a uma “mera
simpatia pela causa do Reino”. Para Jesus, diante da urgência do
Reino, tudo passa para segundo plano, inclusive a própria vida e
os afetos familiares. Não há outro jeito de ser cristão (discípulo
de Jesus), senão amando incondicionalmente a Jesus, manifes-
tação viva do reinado de Deus.
A dedicação missionária, porém, terá recompensa. Se um
copo de água dado com generosidade a quem tem sede; se a aco-
lhida fraterna de um irmão, não passarão sem retribuição, muito
maior será a recompensa para quem se mantiver fiel na missão.
A acolhida ao irmão (profeta, discípulo e missionário...) é
o testemunho mais urgente e significativo que, hoje, as comuni-
dades são convidadas a dar. O povo é muito generoso na partilha
de bens. Basta lembrar as campanhas que se fazem em momen-
tos especiais. Há também quem seja generoso na acolhida. Esta
já é mais difícil. Modifica os planos, perturba a tranqiilidade e
até a privaticidade. Acolher é muito mais exigente do que doar
algo a alguém em necessidade. Da sua parte, a hospitalidade é
fonte de vida. A acolhida do outro gera encontro entre pessoas
diferentes, raças, culturas e religiões. E, por sua vez, suscita e
promove a esperança de uma sociedade sem guetos e fronteiras,
uma sociedade que se identifique com o Reino de Deus. “Qual-
quer pessoa que procure a comunidade eclesial deve ser recebi-
da por alguém que a escute e a ajude a encontrar uma solução
para sua necessidade e alguma forma de apoio, seja na comuni-
dade eclesial, seja em outras instituições” (DGAE, n. 85a).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Vivemos em uma sociedade marcada pela facilidade e pela
permissividade. Tudo é permitido, até pelas leis e pelos estatu-
tos sociais. Educa-se para o mais fácil e para o menor esforço.
Por isso, os critérios do Evangelho deste domingo são de difícil

64
PNE - QV] - CVV nº 20
aceitação. Todavia, para quem opta fazer de “Jesus, Caminho,
Verdade e Vida”, a proposta é diferente.
A Palavra de Deus não cega nem aliena. Ela liberta pro-
pondo coragem e sacrifício: “Quem ama seu pai e sua mãe mais
do que a mim...”, Quem não toma sua cruz...”. Onde encontrar o
alimento e a coragem para escolhas concretas e tão difíceis? Nas
opções de Jesus Cristo, que no mistério da Eucaristia se tornam
concretas para nós.
À celebração eucarística é o banquete das pessoas compro-
metidas com o projeto do Reino. Ceia em que os indivíduos super-
ficiais não encontram espaço. Na Eucaristia, de forma comunitária,
os membros do povo de Deus se confrontam com a Palavra viva
proclamada e que se oferece como artífice da conversão.
O anúncio da Palavra que ressoa no interior da celebração
eucarística perpetua-se na vida da comunidade e de cada um dos
participantes, como capacidade de participação no mistério da
morte e esperança de ressurreição.
A Eucaristia é princípio e fonte da “vida nova” que se re-
vela no modo de viver e no agir, unidos no amor e na missão.
Nesta perspectiva, a Igreja reza: “Ó Deus, o Corpo e o Sangue
de Jesus Cristo, que oferecemos em sacrifício e recebemos em
comunhão, nos transmitam uma vida nova, para que, unidos a
vós pela caridade que não passa, possamos produzir frutos que
permaneçam” (Oração depois da comunhão).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Na comemoração do memorial da morte e ressurreição de
Cristo, fundamento da reunião dominical da comunidade, o Pai

65
PNE - QV) - CVY nº 20
nos acolhe e nos torna participantes de suas graças e de suas
bênçãos. Ele nos dirige sua palavra de alento na missão, em face
da conflituosidade em que, como construtores de seu Reino, nos
encontramos.
Na oração, suplicamos ao Senhor que nos liberte de tudo o
que nos inibe no seguimento e na missão: “Concedei que não
sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas
vidas a luz da vossa verdade” (Oração da Coleta).
O memorial do “amor crucificado” renova em nós a mística
e o compromisso missionário de discípulos. Participantes deste
mistério de amor, aclamamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte
e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Na comunhão de seu Corpo e do seu Sangue, Jesus nos
associa (novamente) aos seus sentimentos, ao seu projeto, e nos
concede forças para prosseguir confiantes e serenos na cami-
nhada missionária.

2. Sugestões para a celebração


* Preparar bem o ambiente da celebração. O profeta
Eliseu, sem dúvida, sempre encontrava um ambiente
acolhedor na casa da mulher sunamita.

* Acolher carinhosamente as pessoas que chegam para


tomar parte da celebração.
* Introduzir na assembléia, na procissão de entrada, uma
grande cruz, que deverá permanecer à vista de todos
durante a celebração.
* Preparar a acolhida da Palavra de Deus com um refrão
meditativo, antes da primeira leitura.
* Cantar o Salmo Responsorial, pelo menos o estribilho.

66
PNE - QV) - CVV nº 20
Solenizar a proclamação do Evangelho.
Cantar a aclamação memorial do “Eis o mistério da fé!”.
Destacar os ritos de bênção e envio da assembléia para
a missão.

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PNE - QV) - CVV nº 20
|4º Domingo do Tempo Comum
3 de julho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: At 12,1-11


Salmo Responsorial: 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9 (R/.5)
Segunda leitura: 2Tm 4,6-8.17-16
Evangelho: Mt 16,13-19

Solenidade de São Pedro e São Paulo


Igreja comunhão e participação

1. Situando-nos brevemente

Neste domingo, celebramos a memória dos apóstolos Pedro


e Paulo. Duas colunas mestras da Igreja. Bendizemos a Deus
pela fé de Pedro e pelo ardor missionário do apóstolo dos povos,
são Paulo.
São Pedro e são Paulo sofreram o martírio em Roma sob o
imperador Nero (54-68). Pedro por crucifixão e Paulo por deca-
pitação. Apesar da impossibilidade histórica de se demonstrar
que tal acontecimento tenha-se realizado no mesmo ano e na
mesma data, a tradição atesta que, desde meados do século III,
ambos os apóstolos eram celebrados no dia 29 de junho.
Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primi-
tiva sobre a herança de Israel. Paulo anunciou a Boa-Nova, ma-
nifestando às nações o Evangelho da salvação.

69
PNE - QV) - CVV nº 20
Na solenidade destes dois apóstolos, comungamos com a
Igreja de Roma, que testemunhou o martírio deles, e com o Papa,
pastor desta mesma Igreja.

2. Recordando a Palavra

O evangelista são Lucas narra com particular vivacidade e


riqueza de detalhes a miraculosa libertação de Pedro da prisão.
Mais do que preocupar-se com os dados históricos, o autor dos
Atos dos Apóstolos sublinha a relação entre as perseguições sofri-
das por Cristo, Pedro e a Igreja nascente. Como Jesus, Pedro é
preso no dia dos pães ázimos e sua execução seria após a festa da
Páscoa. Assim, a prisão se transformou no sepulcro e a libertação,
uma espécie de ressurreição. Diferentemente de Jesus, para o Prín-
cipe dos Apóstolos, tudo aconteceu como um sonho e, ao cair em
s1, disse: “Agora sei que o Senhor de fato me enviou o seu anjo
para me libertar do poder de Herodes”. O fato de a comunidade
estar reunida em oração, intercedendo por Pedro, revela o signifi-
cado deste apóstolo para a comunidade (primeira leitura).
À Segunda Carta a Timóteo foi escrita por volta do ano 67
depois de Cristo. Nela o apóstolo dos gentios, na cadeia em Roma,
registra que não tem mais esperanças de ser libertado. Pressente
que o seu martírio se aproxima: “Meu sangue está para ser der-
ramado em libação, e chegou o tempo da minha partida”. O após-
tolo que “combateu o bom combate e terminou sua corrida con-
servando a fé”, consola-se com a proximidade da libertação e
com o Ingresso no Reino etemo (segunda leitura).
Jesus chega com seus discípulos à região de Cesaréia de
Filipe. O povo esperava um messias descendente da família de
Davi que respondesse às expectativas de todos. O Mestre, no de-
sejo de aprofundar com os discípulos sua verdadeira identidade,
lhes faz uma primeira pergunta: “Quem dizem os homens ser o

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PNE - QV) - CVV nº 20
Filho do Homem?”. Os discípulos vão narrando os comentários
que circulam entre o povo sobre a pessoa de Jesus. De modo ge-
ral, os israelitas o identificavam com João Batista, Elias, Jeremias
ou um outro profeta enviado por Deus. À pesquisa revelou que as
pessoas não tinham ainda entendido a originalidade do homem
Jesus e sua condição de Filho de Deus presente entre os humanos,
Jesus lhes dirige uma segunda pergunta: “E vocês, quem
dizem que eu sou?”, Pedro se faz porta-voz da comunidade dos
discípulos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!”. Jesus res-
ponde à profissão de fé de Pedro: “Você é feliz, Simão, filho de
Jonas.... por 1sso eu lhe digo: você é Pedro e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja...”. Pedro representa a comunidade do
novo povo de Deus, a quem o Pai faz a revelação do Reino, a
obra messiânica de Jesus. Pedro é a rocha sobre a qual Jesus
constrói a Igreja. O apóstolo recebe o poder de ligar e desligar as
chaves do Reino dos céus (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

Desde suas origens, a Igreja celebra os dois “apóstolos


Pedro e Paulo como colunas mestras”, pela diversidade de seu
carisma e atuação. Em uma só festa, privilegia a personalidade
de Pedro integrando a figura de Paulo.
A celebração conjunta de Pedro e de Paulo indica a natureza
da Igreja: sacramento de comunhão na diversidade de carismas e
de serviços. Os dois apóstolos foram as primeiras e exemplares
testemunhas dessa recíproca unidade: “Deus não faz diferença entre
as pessoas. Pelo contrário, viram que a mim fora confiada a
evangelização dos não circuncidados. De fato, aquele que tinha
agido em Pedro para o apostolado entre os circuncidados, tam-
bém tinha agido em mim a favor dos pagãos” (Gl 2,7-8). Pedro e
Paulo têm dons diferentes e um estilo de atuação próprio e diver-

71
PNE - QV) - CVV nº 20
so, que chegou a provocar conflitos (cf. At 15; 61 2,11-14). A
Igreja se fundamenta sobre a comunhão na diversidade de
carismas e de serviços.
Ão contemplarmos os últimos sucessores de Pedro, obser-
varemos que o Espírito de Deus os elegeu com dons diversos e
adaptados às necessidades de cada época. O reconhecimento da
diversidade dos carismas e, consequentemente, da atuação de
cada um dos Papas, solidificou a comunhão eclesial e a presença
pública da Igreja.
À base sólida sobre a qual está edificada a Igreja é Jesus
Cristo, morto e ressuscitado, e em Cristo é Pedro e, hoje, o Papa.
Portanto, nossa Igreja, santa e pecadora, não é uma associação
humana. Ela foi edificada em e por Jesus Cristo. Por essa razão, as
forças do mal não prevalecerão contra ela. Ela é pecadora pelo
fato de se constituir de pessoas humanas. É santa por causa de
Cristo. E se tornará ainda mais santa à medida que nós pecadores
nos convertermos e nos colocarmos no caminho da santidade.
No curso da história, a Igreja atravessou e superou devas-
tadoras tempestades. Hoje, volta e meia, os meios de comunica-
ção divulgam escândalos de membros da Igreja. Não podemos
negar que isto não nos atinja. Um membro doente faz todo o
corpo sofrer. Mas a Igreja é mais do que as fragilidades de seus
membros. Ela está edificada solidamente sobre a rocha: Cristo e
sobre o testemunho dos apóstolos e dos profetas (cf. Ef 2,20).
Os evangelhos apresentam o apóstolo Pedro como um ho-
mem em busca do conhecimento da vontade do Pai, intrépido na
defesa do amigo na hora do anúncio da morte na cruz: “Deus
não permita tal coisa, Senhor. Que isto nunca te aconteça” (Mt 16,22).
Frágil na tentação, nega por três vezes conhecer seu Mestre (cf.
Mt 26,69-75). Ao mesmo tempo, resoluto e sincero no arrepen-
dimento: “E caindo em si, chorou amargamente” (Mt 26,75). É
com “esses Pedros” que Jesus constrói a comunidade humana,
sinal do Reino, cujo fundamento é a fé.

72
PNE - QV) - CVV nº 20
Portanto, a solenidade de Pedro e Paulo resgata nossa iden-
tidade e auto-estima católica:
*- pela alegria de estarmos unidos na Igreja que se liga ao
testemunho e à “tradição” dos apóstolos Pedro e Paulo.
* pelo magistério do Papa, que, como Pedro, “confirma
os irmãos na fé” e no seguimento de Jesus Cristo;
* pela solicitude universal da nossa Igreja, presente em
todo o mundo, mas unida através da relação de cada
comunidade local com os sucessores dos apóstolos (os
bispos) e com o sucessor de Pedro (o Papa);
* pela oração em favor do Papa e a acolhida aos seus ape-
los e orientações para todos os católicos e a sociedade
em geral.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


A liturgia é ação da Igreja — Corpo de Cristo. Na e pela
liturgia professamos nossa fé na Igreja. Neste dia da solenidade de
são Pedro e são Paulo, seria muito oportuno, na recitação do
Credo, prestar atenção quando rezamos: “Creio na Santa Igreja
Católica” ou “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”.

A celebração da memória de Pedro e Paulo como comuni-


dade local nos abre à comunhão universal. A Igreja é o povo que
Deus reúne no mundo inteiro: “Reuni em vós, Pai de misericór-
dia, todos os vossos filhos e filhas dispersos pelo mundo intei-
ro”. Igreja que, vivendo da Palavra e da Eucaristia, se transfor-
ma em Corpo de Cristo.
O Papa, Bispo de Roma e sucessor de são Pedro, “é o perpé-
tuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos bispos,
quer da multidão dos fiéis” (CIC, n. 882). No atual momento da
humanidade, nunca é demais suplicarmos: “Fortalecei o vínculo

73
PNE - QV) - CVY nº 20
da unidade entre os fiéis leigos e os pastores de vosso povo, em
comunhão com o nosso Papa e o nosso bispo N. e os bispos do
mundo inteiro, para que o vosso povo, neste mundo dilacerado
por discórdias, brilhe como sinal profético de unidade e de paz”
(Oração eucarística para as diversas circunstâncias — |).
Portanto, neste dia, rezemos especialmente pelo Papa. Ele é
o pastor da comunhão universal da Igreja e memória permanente
da fidelidade da Igreja ao projeto de Jesus Cristo.
Esta é a oração da comunhão, expressa de forma concisa e
mística, da solenidade de são Pedro e são Paulo: “Concedei-nos,
ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na vossa Igreja
que, perseverando na fração do pão e na doutrina dos apósto-
los, e enraizados no vosso amor, sejamos um só coração e uma
só alma”.
A oferta da comunidade, neste dia, denominada “óbulo de
são Pedro”, é expressão de nossa colaboração solidária com as
obras da Igreja em favor das necessidades da humanidade. Com
o auxílio dos fiéis, a Igreja se faz solidária em muitas situações
de sofrimento, nas calamidades, nas guerras e nas migrações etc.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
E domingo, dia do Senhor. Dia memorial da ressurreição e
dia da Igreja. Os membros da Igreja estão reunidos em nome do
Senhor ressuscitado e presididos por ele.
Hoje, o coração de todos se volta para o testemunho de Pedro
e de Paulo. Um testemunho de fidelidade, de coragem e zelo, de
doação e entrega radical por Jesus Cristo. A festa desses apóstolos
alegra o mundo todo, até os confins, com júbilo profundo.

74
PNE - QV] - CVV nº 20
Neste dia, a comunidade louva a Pedro e Paulo que, por
causa de seu ministério e de seu sangue derramado, foram,
por Cristo, consagrados colunas da Igreja. Santo Agostinho nos
convida: “Celebremos o dia festivo consagrado para nós pelo
sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os so-
frimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos”
(Sermão 295.7-8).
Nesta celebração jubilosa, comunguemos com a Páscoa
de Jesus Cristo, proclamada por Pedro e Paulo, que está em rea-
lização nas pessoas de fé e que se dedicam com ardor ao anúncio
do Evangelho, por acreditarem que uma sociedade justa, frater-
na e solidária é possível.

2. Sugestões para a celebração


e Na entrada da igreja ou em um lugar à vista de todos,
pode-se colocar uma estampa do Papa ou imagens de
são Pedro e são Paulo.
* A cor litúrgica deste domingo é o vermelho, que nos
recorda o sangue derramado pelos insignes apóstolos.
e Valorizar o canto vibrante do Glória.

*- Antes da liturgia da Palavra, recordar brevemente a vida


de Pedro e de Paulo.
* (O Evangelho poderia ser dialogado: narrador, Jesus, os
apóstolos e Pedro.
« No Credo, destacar: “Creio na Santa Igreja Católica”;
ou, neste dia da Igreja, seria possível fazer a renovação
das promessas do batismo, no estilo da Vigília Pascal,
diante do Círio aceso.
* O Missal Romano apresenta um prefácio próprio para a
festa de Pedro e de Paulo.

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PNE - QV) - CVV nº 20
- Após uns Instantes de silêncio depois da comunhão, se
oportuno, pode-se entoar o hino de Paulo: “Quem nos
separará, quem vai nos separar do amor de Cristo, quem
nos separará...”.
- O Missal propõe uma bênção final própria para esta
solenidade (cf. bênção n. 16).

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PNE - QV] - CVV nº 20
|5º Domingo do Tempo Comum
|O de julho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Is 55,10-1


Salmo Responsorial: 64(65) 10abcd.1.12-13.14 (R'. Lc 8,6b)
Segunda leitura: Rm 6,18-23
Evangelho: Mt 13,1-23

A Palavra de Deus é
semente eficaz

1. Situando-nos brevemente
O 15º Domingo do Tempo Comum é conhecido como o
Domingo do Semeador.
A atividade de semear é uma atividade humana que impli-
ca certeza e confiança. É todo um processo de trabalho cuidado-
so, de preparar a terra, escolher a semente e semeá-la no tempo
certo, de regar e esperar que ela germine, cresça, amadureça e
produza os frutos desejados.
Jesus é o semeador da boa semente do Reino. Nós batizados,
como seus discípulos, nos reunimos em volta da pessoa de Jesus
para escutar sua Palavra — a semente do Reino. Como a terra
acolhe a semente, acolhamos a Palavra de Jesus no mais profundo
de nossa vida.

77
PNE - QV) - CVY nº 20
Celebremos a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, qual
semente que, pelo batismo, foi semeada no solo do coração de
cada pessoa e que hoje germina, cresce e amadurece no compro-
misso de acolher e vivenciar com radicalidade a Palavra de Deus.
O desejo de “Ver Jesus” requer que sejamos terra de boa
qualidade, que faz a semente de sua Palavra frutificar em grande
quantidade.

2. Recordando a Palavra

O Dêutero-Isaías (caps. 40-55) é o profeta da consolação.


O povo de Israel se encontra no exílio, embora pressinta que o
fim deste está próximo. A humilhação, a desolação, o choro são
“coisas do passado”. É necessário fixar o olhar no que vai acon-
tecer: a manifestação do triunfo da misericórdia e da bondade de
Deus, ou seja, da salvação. A garantia de que tudo isto está por
acontecer é “a Palavra de Deus”, símbolo da onipotência e do
amor do Senhor.
À harmonia da natureza ilustra o agir de Deus na história
da salvação. O profeta evoca a chuva e a neve. Estas descem do
alto como a Palavra de Deus, e “não voltam sem antes molhar a
terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produ-
zir semente para o semeador e alimento para quem precisa”.
Assim é a Palavra de Deus. Mais do que uma mensagem, ela é
manifestação da vontade e da ação do Senhor. A Palavra de Deus
é soberana como ele. Diante dela a humanidade e todas as cria-
turas se Inclinam ante as suas decisões. Inclusive os que mantêm
no exílio os povos de Israel. O profeta exalta a eficácia da Pala-
vra de Deus (primeira leitura).
São Paulo faz eco ao otimismo escatológico da parábola
do semeador. À criação espera ansiosa pela manifestação plena
da salvação. O empenho para superar o egoísmo é possível para

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PNE - QV) - CVV nº 20
aqueles que vivem no âmbito do Espírito. O exercício na busca
de superar o egoísmo é um processo: vivemos a esperança de
conseguir a vitória final. Tanto a humanidade quanto a natureza
esperam libertar-se das amarras do egoísmo (segunda leitura).
No terceiro discurso de Mateus (cap. 13), Jesus, através de
sete parábolas, revela a natureza do Reino do Céu. “O Semeador
saiu para semear.” Jesus, o Semeador do Reino, sai da casa onde
se encontrava com os discípulos e vai para a Galiléia, fronteira
com os gentios. As multidões se aproximam e Jesus se senta
para ensinar. Ele é o verdadeiro mestre que tem o poder para
ensinar, e O faz por meio de parábolas.
À primeira parábola é a do semeador que lançou a semente.
Umas sementes caíram em terra boa e produziram o esperado.
Outras caíram em terreno impróprio. Algumas, logo germinaram,
mas secaram. Outras, ainda, nem sequer chegaram a germinar,
pois foram lançadas à margem do caminho e os passarinhos
as comeram.
Os discípulos, porém, não entendem por que o Mestre fala
em parábolas. Consideravam que o povo tinha condições de com-
preender a mensagem. Jesus lhes explica que somente a eles (dis-
cípulos) foi dado entender “os mistérios do Reino do Céu”. As
multidões não estão em condições de compreender por estarem
presas ao espírito e ao modo de proceder dos fariseus e doutores
da Lei. Elas escutam com atenção, vêem e se admiram ante o
agir de Jesus, mas não conseguem aderir e segui-lo. Isto é, pro-
duzir os bons e abundantes frutos da conversão.
A parábola reflete a situação da comunidade de Mateus.
Nela se encontram a boa semente e o joio, bons e maus peixes,
discípulos fervorosos e displicentes, os que perseveram na fé
que abraçaram e aqueles que se deixam intimidar por provações
da sociedade, nomeadamente as perseguições (Evangelho).

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PNE - QV) - CVV nº 20
3. Atualizando a Palavra

A exemplo da comunidade de Mateus, estamos diante de


uma parábola que tem por objetivo avaliar a acolhida da Boa-
Nova do Reino. A semente, lançada à terra pelo semeador, é a
Palavra de Deus. O semeador é o próprio Jesus, que avalia posi-
tivamente a eficácia da Palavra do Reino. O semeador espalha
generosamente a semente, confiando sempre numa boa colheita.
Uma leitura superficial pode dar a impressão de aparente
fracasso. À eficácia da semente está assegurada apenas por uma
das partes. Três das partes refletem que a semente caiu em terre-
no estéril: o caminho, a terra pedregosa e a repleta de inço. A
abundância, porém, está assegurada pela terra fértil, compen-
sando a esterilidade das outras partes.
Observemos que o centro das atenções está na semente e
na qualidade do terreno. À eficácia da proclamação da Palavra
(semente) pode ser condicionada, em boa parte, à aceitação do
ouvinte (terra). Ou seja, na perspectiva da salvação, Deus toma a
iniciativa oferecendo seus dons e, respeitando a liberdade das
pessoas e da comunidade, aguarda uma resposta favorável.
Jesus, estrategicamente, utiliza a experiência de um esperto
agricultor que confia na fertilidade de seu pequeno terreno. Começa
falando do Reino de Deus, comparando-o a uma desastrosa semea-
dura, e conclui equiparando-o a uma colheita que superou as expec-
tativas. As cifras de cem, sessenta e trinta por um revelam a plenitu-
de do Reino de Deus. A Palavra acolhida, por um pequeno grupo de
pessoas, é fecunda e ultrapassa todas as previsões humanas.
No subsolo da parábola se esconde toda uma realidade de
vida da comunidade. Em meio às perseguições e às deserções de
muitos convertidos, a comunidade se pergunta pela eficácia da Boa-
Nova do Reino. Hoje, entre nós, não é diferente. Basta lembrarmos
a catequese: quantos jovens perseveram depois da primeira comu-

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PNE - QV) - CVV nº 20
nhão eucarística ou da celebração da Crisma? Depois de uma mis-
são popular que arrastou multidões, quantas pessoas participam as-
siduamente e se comprometem com as comunidades? No “quarto
dia” de muitos de nossos movimentos eclesiais, quantos perseve-
ram de fato? Há quem se interrogue, que anúncio do Evangelho é
esse, se, após quinhentos anos de evangelização, apenas uma mino-
ria participa da Igreja? Que força tem nosso anúncio da Palavra de
Deus, se o povo está aderindo às seitas? Que efeitos surtiram as
comunidades eclesiais de base e seus Intereclesiais”?
É providencial essa parábola para o nosso tempo. Na pers-
pectiva do Projeto “Queremos Ver Jesus”, como o evangelista
Mateus, hoje, a Igreja quer que suas comunidades sejam felizes
e acreditem mais em si mesmas e no fermento do Reino. Obter e
contemplar grandes resultados é a tentação imediata de todo ser
humano. A agricultura extensiva enche mais facilmente os olhos
do que um pequeno roçado. Mas quem alimenta o povo é a pe-
quena agricultura. A Boa-Nova do Reino de Deus é uma peque-
na semente que condensa em si um grande potencial. Lembre-
mos o que o apóstolo Paulo afirma: “Aquilo que parece frágil e
insignificante aos olhos humanos é instrumento da força da vida
do próprio Deus” (cf. 1Cor 1,27).
A parábola do semeador é uma exortação à comunidade
de fé, em vista de sua perseverança e do bom testemunho (da
produtividade) dos convertidos ao seguimento de Jesus e à pro-
posta do Reino. Contudo, cada um e cada comunidade deve se
perguntar que tipo de terreno é: beira de caminho, pedregoso,
cheio de pestes daninhas ou uma terra boa?

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Assim como a terra seca e sedenta aspira pela chuva, nós ne-
cessitamos do orvalho da Palavra de Deus que revitaliza nossa fé.

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PNE - QV) - CVV nº 20
A Igreja, com solicitude maternal, pela celebração da Eucaristia e em
todas as suas ações litúrgicas, abre os tesouros e distribui aos seus
filhos a abundância da Palavra de Deus: “Para que a mesa da Palavra
de Deus seja preparada, com maior abundância, para os fiéis, abram-
se largamente os tesouros da Bíblia” (SC, n. 51). Assim, a mesma
celebração litúrgica, que se sustenta e se apóia principalmente na
Palavra de Deus, converte-se num acontecimento novo e enriquece
a Palavra com uma nova interpretação e eficácia (cf. OLM, n. 3).
“A Palavra de Deus, proposta continuamente na liturgia, é
sempre viva e eficaz, pelo poder do Espírito Santo, e manifesta o
amor ativo do Pai, que nunca deixa de ser eficaz entre os ho-
mens” (OLM, n. 4).
Na celebração eucarística, antes mesmo de renovar seu
sacrifício, Cristo se faz presente e age através de sua Palavra (cf.
SC, n. 7). Entre a liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística, há
uma íntima unidade. Em ambas Cristo está presente e atua para
nossa santificação (cf. Eucharisticum Mysterium, n. 10). A Igreja,
alimentada da mesa da Palavra e da Mesa da Eucaristia, numa
instrui-se e na outra se santifica. Pois na Palavra de Deus se anun-
cia a aliança divina, e na Eucaristia se renova esta mesma aliança
nova e eterna. “Numa, recorda-se a história da salvação com
palavras; na outra, a mesma história se expressa por meio de
sinais sacramentais da liturgia” (OLM, n. 10).
A comunidade eclesial cresce e se constrói ao escutar a
Palavra de Deus, e os prodígios que de muitas formas Deus rea-
lizou na história da salvação fazem-se presentes, de novo, nos
sinais da celebração litúrgica. Anunciando e proclamando a Pa-
lavra, a Igreja se reconhece como o novo povo. Todos os cris-
tãos, pelo batismo e a confirmação no Espírito, se converteram
em mensageiros da Palavra de Deus; depois de receberem a gra-
ça de escutar a Palavra, devem anunciá-la na Igreja e no mundo,
ao menos com o testemunho de sua vida (cf. OLM, n. 7).

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PNE - QV] - CVV nº 20
PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Neste domingo nos reunimos junto de Jesus, Semeador
generoso, que lança na terra de nossa vida a semente fecunda de
sua Palavra. Como outrora aos discípulos, hoje, ele revela as
Escrituras e parte o pão para nós (cf. Oração eucarística para as
diversas circunstâncias — IND).
Na ação eucarística fazemos memória de Jesus, a boa se-
mente do Reino, grão escolhido que, com sua morte e ressurrei-
ção, aceitou ser lançado na terra da humanidade pelo Pai, e pela
força do Espírito Santo foi germinando e vencendo as forças da
morte. Tornou-se, assim, o primeiro fruto maduro do Reino que
ele mesmo anunciou.
Ê graças à participação do mesmo pão e do mesmo cálice
que podemos nos sentir “família de Deus” e, juntos, contribuir
específica e eficazmente para a construção de um mundo basea-
do nos valores da justiça, da liberdade e da paz.
Renovando, hoje, o memorial da Páscoa de Jesus, que se
realiza em todas as pessoas e comunidades que abrem os olhos,
os ouvidos e o coração e procuram acolher e viver a Palavra de
Deus, permitamos ao Espírito Santo transformar o solo de nosso
coração em terra fértil para acolher e fazer frutificar os dons que
o Pai nos confia.

2. Sugestões para a celebração


* Um especial destaque deve ser dado à Palavra de Deus
na celebração dominical deste dia.
* Preparar bem a mesa da Palavra, enfeitando-a com flo-
res e velas de acordo com a cultura e as possibilidades
da comunidade.

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PNE - QV) - CVY nº 20
Fazer a procissão de entrada com o Livro da Palavra,
acompanhado de um cântico apropriado e com expres-
são corporal.
Introduzir a liturgia da Palavra, com um refrão medita-
tivo solenizando a proclamação da Palavra de Deus nas
suas leituras.
Solenizar a proclamação do Evangelho, com pessoas
segurando velas, e, onde for possível, a assembléia pode
se aproximar da mesa da Palavra.
Com o pão e o vinho para a Eucaristia, ofertar outros
frutos como expressão da fertilidade da terra e do tra-
balho humano.
Realizar com especial esmero a liturgia eucarística, ação
em que, com Cristo, nos tornamos um único Corpo, ani-
mado pelo seu Espírito e tributamos ao Pai a mais per-
feita ação de graças.

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PNE - QV) - CVV nº 20
|6º Domingo do Tempo Comum
|7 de julho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Sb 12,13.16-19


Salmo Responsorial: SI 85(86),5-6.9-10.15-l6a (R!. Sa)
Segunda leitura: Rm 8,26-27
Evangelho: Mt 13,24-43

A paciência
e a hora de Deus

1. Situando-nos brevemente
Neste 16º Domingo do Tempo Comum, denominado o
domingo do trigo e do joio, continuamos na escuta das parábo-
las do Reino. Jesus nos garante que o Reino está presente entre
nós, caminhando para sua realização definitiva.
No domingo passado, a Palavra de Deus convidava a não
perder a confiança diante das situações adversas à vivência cris-
tã. Hoje, a mesma Palavra nos revela a paciência de Deus em
relação às pessoas e ao mundo, bem como o mistério do Reino.
No tempo da espera, da convivência tolerante entre bons e maus
(trigo e joio), somos convidados a prestar atenção ao Reino de
Deus que se realiza no silêncio, sem grandes publicidades, per-
cebido só pelos pequenos.
No memorial da Páscoa de Jesus que se revela em todas as
pessoas e comunidades que acreditam na convivência não vio-

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PNE - QV] - CVV nº 20
lenta, supliquemos ao Senhor para que ninguém de nós confun-
da a bondade de Deus com a fraqueza dos humanos e o silêncio
do Reino com desilusão.
Apesar da conflituosidade de nosso tempo suscitada pelo
joio, amparados pela paciência de Deus, “queremos ver Jesus e
fazer dele nosso Caminho, Verdade e Vida!”.

2. Recordando a Palavra

A história de Israel foi guiada pela sabedoria de Deus. O


Senhor agiu com justiça e misericórdia ao punir os inimigos de
seu povo. É para que ninguém acuse a Deus de ser um juiz injusto
ou de ter eliminado criaturas por ele criadas, o escritor sagrado
compõe uma espécie de hino à onipotência justa e misericordio-
sa de Deus. O poder do Senhor jamais é causa de injustiça. O
agir poderoso de Deus tem finalidade pedagógica. Ele espera
pacientemente que o pecador se arrependa do seu pecado (pri-
meira leitura).

O apóstolo Paulo nos apresenta o terceiro gemido: o do


Espírito. A eficácia da oração cristã se fundamenta na ação do Espí-
rito. É no Espírito que oramos como filhos de Deus. A atuação
do Espírito em nosso interior gera a harmonia e orienta à vontade
de Deus (segunda leitura).
Para animar as comunidades, a perícope do Evangelho de
hoje propõe (Mt 13,24-43) as parábolas: do trigo e do joio, do
grão de mostarda e do fermento na massa. “O Reino do céu é
como um homem que semeou boa semente.” Crescem o trigo e
o joio. Como eles são parecidos, só na hora da colheita é possí-
vel fazer a separação. Na comunidade convivem o trigo e o joio.
Há que se tolerar a convivência do bom e do mau. Na construção
do Reino é preciso ter paciência e esperar a hora certa para o
discernimento adequado. “O Reino do céu é como uma semente

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PNE - QV) - CVV nº 20
de mostarda”; “O Reino do céu é como o fermento...”. Ressalta
o contraste entre o Início pequeno e insignificante e o final ex-
cepcionalmente grande.
As parábolas são uma crítica ao triunfalismo messiânico e
aqueles que esperam uma manifestação espetacular de Jesus. Deus
age, pacientemente, a partir dos pequenos e dos insignificantes. O
Reino de Deus se expande e chegará à sua plenitude, apesar das
confusões, das incertezas e dos obstáculos (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

Hoje, como no domingo anterior, o Evangelho, recolhen-


do três fragmentos do capítulo 13 de Mateus, continua expondo
o mistério do Reino do céu, não a partir da Lei, mas da perspec-
tiva do novo povo — as comunidades das primeiras gerações
de cristãos.
Como nós, hoje, os discípulos de Jesus queriam ter as coi-
sas claras. Para eles, provavelmente, o Reino anunciado por Je-
sus, na prática, não era claro nem sua realização era transparen-
te. Esperavam que o Mestre definisse os limites e esclarecesse
as opiniões. Todavia, Jesus não só não faz o que eles esperam,
como também diz que Deus não o faz nem o quer fazer. Afirma
que o Reino do Céu é um campo em que tudo está misturado. A
separação só será possível no momento da colheita, e não antes.
Não nos cabe, em nome de Deus, afirmar que somos bons e os
outros maus; que somos do Reino e os outros, do maligno. À
paciência de Deus espera até que a plantação esteja madura para
fazer a separação do trigo e do joio no juízo final (a ceifa é ima-
gem do juízo final). Ali aparecerá a verdade da comunidade:
quem é justo e quem é pecador. No tempo do crescimento e do
amadurecimento, justos e pecadores convivem, mas no final a
sorte será diferente.

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PNE - QV] - CVY nº 20
Quantas vezes, em determinadas situações da comunidade
ou da sociedade, nós queremos fazer justiça com as próprias mãos:
“Queres que arranquemos o joio?”. À paciência de Deus devem
corresponder a tolerância e a não-violência entre os humanos. Neste
ano da Campanha da Fraternidade pela Paz (Bem-aventurados os
que promovem a paz), a parábola do Evangelho nos incentiva à
compreensão, à tolerância, à não-violência, ao respeito mútuo. Con-
vida-nos a ser tolerantes com os outros como somos tolerantes
conosco mesmos. “O fato de sermos pecadores não elimina a
fraternidade. Também os pecadores são irmãos” (DGAE, n. 115).
Junto com a intolerância, outras tentações que o Evange-
lho nos pede que superemos: a impaciência e o pessimismo em
face da realidade dos outros e da sociedade. “O justo deve ser
humano.” Isto é, compreensivo ao outro que pensa e age dife-
rente, que possui muitos valores. O crescimento e o amadureci-
mento do Reino seguem caminhos desconcertantes à nossa im-
paciência humana. Nele não há espaço para o pessimismo e o
desespero. O êxito final pertence a Deus.
As parábolas deste domingo são um estímulo às comuni-
dades, um empurrão aos desanimados que enxergam o mundo
com as lentes escuras do pessimismo. Ninguém detém o cresci-
mento do Reino de Deus (fermento). Segundo os critérios hu-
manos, ele pode se iniciar com realidades pequenas e insignifi-
cantes (grão de mostarda). Mas, apesar das dificuldades iniciais
e os obstáculos da caminhada, o projeto de Deus vence as duras
realidades sem empregar métodos e meios que violem a liberda-
de e a integridade das pessoas humanas. Compreender o dina-
mismo incontido do Reino de Deus é dom do Espírito, que inter-
cede por nós com gemidos que as palavras não explicam. Por
sua Inspiração, cresceremos na fé e na esperança de que um dia
o Reino chegará à plenitude.

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PNE - QV] - CVV nº 20
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
O mundo, a sociedade e nossas comunidades são o campo
onde convivem e amadurecem, contemporaneamente, o trigo e
o joio, o bem e o mal. Pessoalmente, cada um de nós é santo e
pecador. Deus é paciência e misericórdia, acolhe-nos como so-
mos e nos ampara com sua graça para não naufragarmos nas
tribulações. A Eucaristia é o sinal e a realidade mais evidente
desta ação amorosa da divina Providência.
A Eucaristia é a memória das maravilhas de Deus em fa-
vor da libertação de seu povo. Por meio da ação eucarística, Deus
realiza, hoje, nossa libertação e salvação.
As forças do mal foram vencidas pela cruz e ressurreição
de Cristo. A Eucaristia, como memorial do mistério pascal de
Cristo, nos torna participantes do triunfo da vida sobre a morte.
No processo de crescimento e amadurecimento do Reino
de Deus, onde amadurecem contemporaneamente o trigo e o joio,
Cristo, por meio de sua Palavra, constrói a Igreja — seu Corpo
místico — e a faz progredir na maturidade, alimentando-a cotidia-
namente com seu Corpo e Sangue, na Eucaristia. É nós, seus
discípulos, também contribuímos para o desenvolvimento da co-
munidade eclesial, em razão de nossa adesão vital a Jesus Cris-
to. A edificação da Igreja não acontece sem um grande empenho
e um generoso sacrifício. Nossa labuta e nossa dedicação se tor-
nam eficazes como participação no mistério da doação de Cris-
to, renovado em cada celebração eucarística. Desta forma, a nossa
atividade em meio às realidades sociais pode se transformar num
apostolado para o crescimento do Reino, até chegarmos “ao novo
céu e à nova terra”.

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PNE - QV) - CVV nº 20
PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Na celebração dominical deste dia, memorial da Páscoa de
Cristo e de todos os que formam seu Corpo, vivendo no tempo da
provação e gradativamente passando da morte à ressurreição, Je-
sus nos garante que o Reino já está em nosso meio e caminha para
a sua realização plena, apesar dos limites e contradições provoca-
dos pelo joio que, contemporaneamente, cresce no meio do trigo.
Nesta celebração, o Pai paciente e misericordioso vem em
auxílio dos fracos e pequenos para que, diante das artimanhas iní-
quas do joio (corrupção, injustiças, violência, fome...), não desani-
mem nem desistam da obra comunitária da construção do Reino.
O Espírito Santo, hoje, nos reúne em comunidade para
celebrarmos o memorial da morte e ressurreição de Jesus, anún-
cio e dom do Reino. “A graça do Espírito Santo desperta a fé, a
conversão do coração e a adesão à vontade do Pai. Estas disposi-
ções constituem pressupostos para receber as outras graças ofe-
recidas na própria celebração” (CIC, n. 1098).
Pela proclamação e acolhida da Palavra e participação na
mesa eucarística, Jesus Cristo se faz nosso “fermento”, para que,
em nossos corações e no Interior da comunidade, os dons de sua
graça germinem e produzam bons frutos.
Na convivência conflitiva com “o joio”, o Espírito fortale-
ça nossa confiança, porque “é Deus que nos ajuda, é o Senhor
quem defende a nossa vida. Senhor, de todo o coração havere-
mos de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome,
porque sois bom” (antífona do 16º domingo). Assim, na ceia
eucarística somos reconfortados pela certeza da esperança na
difícil luta pela libertação integral da pessoa humana e pela cons-
trução de uma sociedade justa, solidária e fraterna.

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PNE - QV) - CVV nº 20
2. Sugestões para a celebração
* Preparar um ambiente agradável e acolhedor para que
as pessoas que vêm do meio das tribulações diárias se
sintam acolhidas e valorizadas.
* Ensaiar os cânticos da celebração e, depois, reservar
um breve tempo para a oração pessoal; se oportuno,
pode-se cantar um refrão meditativo, como: “Onde rei-
na o amor, fraterno amor, Deus aí está”.

* Recordar, antes de iniciar a celebração, as pequenas 1ni-


ciativas comunitárias, que são sinais do Reino de Deus
presente no meio de seu povo. Em meio a tantas difi-
culdades, é o que está ajudando a comunidade a seguir
sua caminhada,
* Noato penitencial, de forma breve, recordando as ações
do joio que está em nosso coração e na comunidade,
proclamar a paciente misericórdia do Pai que se revela
em favor de seu povo.
- Valorizar o ministério do salmista, cantando, neste do-
mingo a antífona do Salmo Responsorial;
* À proclamação da oração eucarística seja expressiva,
não simplesmente recitada. Por ela a Igreja dá graças
pela ação amorosa de Deus em favor dos pequenos e
fracos de seu povo a caminho do Reino definitivo.
e Na bênção final e envio à missão, proferir sobre a co-
munidade reunida, a bênção n. 14 do Missal Romano:
“Que Deus vos livre sempre de toda adversidade...”.

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PNE - QV) - CVV nº 20
|7º Domingo do Tempo Comum
24 de julho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: IRs 3,5.7-12


Salmo Responsorial: 118(119),57 e 72.76-77.127-128.129-130 (R/. 97a)
Segunda leitura: Rm 8,28-30
Evangelho: Mt 13,44-52

O discípulo investe tudo


na conquista do Reino

1. Situando-nos brevemente

Domingo do tesouro escondido. Jesus orienta-nos para in-


vestirmos tudo na aquisição do bem maior: o Reino do Pai. Por
ele, devemos colocar tudo em jogo.
Em busca da própria felicidade e de sua família, muitas
pessoas venderam tudo e apostaram em outros negócios. Famí-
lias do Sul do País desfizeram-se de suas pequenas propriedades
para investir no Oeste, sonhando com grandes fortunas. Levas
de migrantes do Nordeste, ano após ano, deixam tudo para trás e
partem com a cara e a coragem (no dizer do povo) em busca do
tesouro de uma vida melhor. Quando a megasena acumula, au-
mentam as filas nas casas lotéricas e todos ali investem na espe-
rança de ser contemplados com um tesouro. Nos garimpos, em
condições quase subumanas, pessoas labutam de sol a sol na
expectativa de encontrar “a pedra dos sonhos”.

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PNE - QV) - CVV nº 20
Celebremos a Páscoa de Jesus que se manifesta em todas
as pessoas e comunidades que, com sabedoria, investem tudo na
busca e na edificação do Reino. Em especial, agradeçamos a
Deus pela sabedoria que ele concede aos pequenos e fracos na
busca do tesouro da felicidade.
Que a sabedoria de Deus ilumine todos quantos buscam o
tesouro do Pai: “Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida”.

2. Recordando a Palavra
À primeira leitura concentra-se na sabedoria, que, mais do
que uma filosofia ou uma arte de viver, é dom de Deus. Sábio é
aquele que sabe discernir entre os caminhos de Deus e dos ho-
mens. É aquele que conhece e compreende a si mesmo. A sabedo-
ria não é uma virtude da idade ou um fruto da boa vontade. É dom
de Deus. Um dom necessário para quem deseja andar pelos cami-
nhos do Senhor. E Deus o concede a quem o procura de coração
sincero e humilde. Salomão escolhe a sabedoria como o dom mais
precioso para um governante. Ele passa a ser apresentado como o
modelo da pessoa que considera a sabedoria com um bem precio-
so, que Deus concede a quem pede confiante (primeira leitura).
O apóstolo Paulo nos revela que o tesouro (desígnio) do Pai
é Jesus Cristo. Edificando sua morada entre nós, ele é a presença,
a reconciliação e o amor de Deus oferecido a toda a humanidade.
É ainda em Cristo que a humanidade, ferida pelo pecado, recebe
do Pai a vitória e a glorificação definitiva da ressurreição. O
projeto do Pai não exclui ninguém. Diante de sua proposta, cada
um é livre para aderir ou recusar, escolher a vida ou a morte
(segunda leitura).
À perícope evangélica de hoje, encerrando o sermão de Je-
sus sobre o mistério do Reino, revela que a alegria pela posse do
tesouro compensa a renúncia de todos os bens deste mundo. Na

94
PNE - QV] - CVV nº 20
Palestina, os ricos senhores enterravam seus tesouros para preservá-
los dos saques e das guerras. Muitos morriam sem revelar aos
familiares e amigos onde haviam escondido suas riquezas. Acon-
tecia que, inesperadamente, alguém encontrava um destes tesou-
ros enterrados no campo. Para o felizardo era uma ótima oportu-
nidade que impunha uma decisão imediata: “Vender tudo para 1n-
vestir na compra do campo”. Não basta vender uma parte, pois
pode acontecer que não seja suficiente para a aquisição do campo
onde o tesouro está escondido. A parábola da “pedra preciosa”
sublinha a busca e o discernimento do valor (do quilate da pedra
preciosa). O mercador, ao perceber sua “preciosidade”, vende tudo
para adquirir tal pedra. Novamente, aparecem a escolha e a deci-
são imediata: desfazer-se de tudo em vista da posse da pedra de
uma beleza incomparável — os bens do Reino de Deus.
Por sua vez, a parábola da “rede lançada ao mar”, que apa-
nha peixes de todo tipo, evidencia a separação entre bons e maus,
entre os que optaram e os que não escolheram o Reino. Os discí-
pulos são convidados a compreender bem os desígnios do Reino
para anunciá-los às gerações futuras. O “sim” dos discípulos
manifesta sua pronta decisão em acolher as orientações do Mes-
tre, em contraste com a lentidão das multidões e a hostilidade
dos fariseus e escribas.
As parábolas revelam os segredos do Reino de Deus para
quem tem fé. O doutor da Lei que se torna seguidor de Jesus
perceberá a unidade que existe entre o Antigo e o Novo Testa-
mento. No acontecimento Jesus, tudo se renova e assume novo
sentido (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

Hoje, a Palavra de Deus ressalta, para a comunidade reu-


nida, o valor absoluto do Reino de Deus. O Reino é um bem
supremo que enche de alegria incontida quem aposta tudo para

95
PNE - QV) - CVV nº 20
possuí-lo. Para colocar o Reino no topo da escala de valores, a
comunidade precisa do discernimento e da sabedoria que vêm
de Deus.
As pessoas que sonham com a felicidade, que partem em
busca de melhores condições de vida, se vêem obrigadas a fazer
escolhas e a renunciar a muitas outras coisas. À alegria da con-
quista “do tesouro” tem por fundamento a sabedoria das esco-
lhas, o sofrimento da renúncia de outros bens e a entrega incon-
dicional por aquilo que se procura.
Para quem deseja “ver e seguir Jesus, Caminho, Verdade e
Vida”, o Reino de Deus se torna tão singular e atraente que nada
neste mundo pode ser comparado a ele. À luz das parábolas do
Reino, podemos compreender melhor a história dos santos e das
santas, que sacrificaram tudo no seguimento de Cristo em busca
do tesouro do Reino. Santo Agostinho, em sua busca angustian-
te, clamava: “Senhor, meu coração não terá paz enquanto não
descansar em ti”.
Mas o que é o Reino de Deus? Apesar das inúmeras refe-
rências que o próprio Jesus fez sobre o Reino, ele não nos dei-
xou um tratado sistemático ou uma definição precisa. Como um
exímio artista, ele nos apresentou um mosaico de imagens, de
parábolas e de sentenças que constituem um todo a ser contem-
plado. E desta contemplação podemos afirmar: “O Reino de Deus
é a absoluta e amorosa ação do Deus vivo na vida e no mundo
dos humanos”; “ele é a fonte e o foco de referência de toda a
Boa-Nova da salvação da humanidade sonhada por Deus, me-
diante a vida, a morte e a ressurreição de Jesus”; “o Reino deter-
mina as opções evangélicas do seguidor de Jesus Cristo, que se
concretizam nas bem-aventuranças, no amor a Deus e ao próxi-
mo”; “é a razão da esperança e da alegria, da abertura aos ir-
mãos, da opção pelos empobrecidos, fundamento de nosso com-
promisso inerente à fé”. O Reino de Deus é um valor que está

96
PNE - QV) - CVV nº 20
acima de todas as especulações. E um valor supremo, pelo qual
todo sacrifício se torna pequeno.
O Reino de Deus é um tesouro escondido. Não é fácil
encontrá-lo, porque é pequeno, oculto e não está onde imagina-
mos. Ele é mistério. E não basta encontrá-lo. É preciso perseve-
rar e concentrar nele a vida.
Jesus disse: “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua jus-
tiça. Tudo o mais lhes será dado em acréscimo” (Mt 6,33). Quem
capta com sabedoria o mistério do Reino e assimila como critério
de sua vida o mandamento do amor, encontrou o tesouro escondi-
do que lhe ensina relativizar tudo o mais e manter-se em equilí-
brio e felicidade. Compreenderá que a felicidade não é sinônimo
de ter mais e gastar, acumular e consumir, mas sim compartilhar
solidariamente o afeto, o tempo e os bens com os irmãos.

Enquanto estamos a caminho do Reino definitivo, já 1n1-


ciado e presente no meio de nós, mas ainda não plenamente, a
sabedoria que ilumina nosso compromisso com a aventura do
Reino será a súplica do pai-nosso: “Venha a nós o vosso Reino,
Senhor!”.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Hoje, as pessoas não se cansam de buscar a felicidade. As
parábolas do tesouro e da pedra preciosa falam da descoberta da
felicidade. Por ela se está disposto a pagar um alto preço.
Deus Pai revelou em Cristo o tesouro escondido de seu
projeto salvador. O Cristo está presente na oferta eucarística que
apresentamos ao Pai. “Olhai com bondade para a oferta da vossa
Igreja. Nela vos apresentamos o sacrifício pascal de Cristo, que
vos foi entregue.” Esta oferta é a soma de todos os dons, é a
fonte de todo o bem da Igreja e de cada pessoa. Aproximar-se do

97
PNE - QV) - CVV nº 20
altar é como o sedento chegar junto à fonte de água; o faminto, à
mesa farta de alimentos.
À Eucaristia é a fonte da sabedoria que Salomão suplicou
ao Senhor para bem governar e que nos transforma no tesouro
de Deus, que edificou sua tenda entre os seus e, na ceia eucarística,
se faz nosso alimento.
O primeiro dom da sabedoria é convencer-nos de que nos-
sa maior riqueza consiste, antes de tudo, em conformar nossa
vida à do Cristo Senhor. É a partir de Jesus Cristo que o Pai
“conhece e predestina”, a quem ele “predestina também cha-
ma”, a quem ele “chama justifica”, a quem “torna justo também
glorifica”. Tudo isto acontece no memorial eucarístico.
Toda riqueza de graça — “o tesouro escondido”, “a pedra
»9 66

preciosa” — da qual a Eucaristia é sinal e causa, postula de quem


dela se aproxima que “venda todos os seus bens e invista no
tesouro único e necessário”. Pois o Pescador divino não deseja
excluir das suas redes nenhum daqueles que conquistou por obra
de seu amor.
“Concede-nos, Pai, que, pela força do Espírito do vosso
amor, sejamos contados, agora e por toda a eternidade, entre os
membros do vosso Filho, cujo Corpo e Sangue comungamos”
(Oração eucarística para as diversas circunstâncias — 1).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Neste domingo celebramos o acontecimento da Páscoa
como discípulos do Reino. Somos incentivados a buscar e en-
contrar o tesouro escondido, tirar dele, cada novo dia, coisas
novas e velhas, concentrando nele o projeto de nossa existência.

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PNE - QV) - CVV nº 20
O tesouro do Reino de Deus é como um grande amor, uma
forte paixão, pelo qual renunciamos a tudo para possuí-lo e vi-
ver dele. Esta mesma paixão fez com que Jesus doasse por intei-
ro sua vida pela salvação da humanidade.
Pelo anúncio de sua Palavra, hoje, o Senhor derrama em
nossos corações a sabedoria que nos torna ágeis nas decisões
em favor do único e necessário dom, que nos assegura estar entre
os eleitos do Reino de Deus.
Na ceia eucarística, penhor do banquete celeste, renova-
mos nosso compromisso na edificação da cidade terrena, com os
olhos voltados para o triunfo final de Deus, quando todas as coi-
sas lhe serão submetidas e quando Deus será tudo em todos
(1Cor 15,28). É o desfecho glorioso da história da salvação,
com a vitória absoluta e definitiva do Reino de Deus.

2. Sugestões para a celebração


* Acolher com afeto as pessoas que vêm participar da
celebração.
- Nas comunidades rurais, onde for conveniente, após a
saudação do ministro, fazer uma recordação das lutas e
conquistas dos agricultores.
* Preparar a procissão da acolhida do Livro da Palavra de
Deus, antes das leituras.

* Na apresentação dos dons do pão e do vinho, valorizar


as palavras do ministros: “Bendito sejais, Senhor, Deus
do universo, pelo pão que recebemos de vossa bonda-
de... pelo vinho...”. À assembléia responde com o cântico
de um refrão adequado.
* À oração eucarística poderia ser expressão mais forte
da alegria pelo mistério do Reino revelado, com o canto

99
PNE - QV] - CVV nº 20
do prefácio, do Santo, das aclamações e do amém da
doxologia.
* Servir a comunhão eucarística, onde for possível, sob
as duas sagradas espécies.
* No final da celebração, além de cumprimentar os agri-
cultores e motoristas pelo seu dia (25 de julho); nas co-
munidades rurais abençoar os agricultores e nas comu-
nidades urbanas, os motoristas. Lembrar também que
no dia 26 de julho é o dia dos avós.

100
PNE - QV) - CVV nº 20
18º Domingo do Tempo Comum
31 de julho de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Is 85,1-3


Salmo Responsorial: SI 144(145),8-9.15-16.17-18 (Ri. cf. 16)
Segunda leitura: Rm 8,35.37-39
Evangelho: Mt 14,13-21

O milagre da partilha solidária

1. Situando-nos brevemente
Neste 18º Domingo do Tempo Comum, o Senhor revela
sua compaixão para conosco e não nos despede com fome. Aben-
çoa o pouco que possuímos e multiplica nosso alimento.
Alimentar-se não é apenas uma necessidade vital, biológi-
ca, sem a qual não podemos sobreviver. É também sinal e ex-
pressão do nosso modo de viver humano, como comunidade ou
sociedade, que na procura e na distribuição do alimento revela a
sua solidariedade e seus valores.
Neste dia da Igreja, celebremos a Páscoa de Jesus Cristo
que amadurece e se completa em todas as pessoas que têm com-
paixão com os pequenos, os marginalizados e com todos aque-
les que se empenham para acabar com a fome.
Que o gesto de compaixão do Filho de Deus desperte na-
queles que “desejam ver Jesus e seguir seus passos”, os mesmos

101
PNE - QV) - CVV nº 20
sentimentos de solidariedade e de compromisso com os excluí-
dos dos bens da sociedade.

2. Recordando a Palavra

O texto referente à primera leitura deste domingo é a parte


final “do Livro da Consolação” do Segundo Isaías. O texto se
constitui no convite aos exilados para tomarem parte da abun-
dância dos bens da nova aliança, convertendo-se a Deus, en-
quanto é tempo e antes que os desígnios divinos sobre os fatos e
a história fechem as possibilidades. A primeira parte do texto
(vv. 1 e 2) faz uma clara alusão às condições econômicas de
muitos exilados. Estes, com seu trabalho, haviam acumulado ri-
quezas e atingido um satisfatório bem-estar. Por consegiiência,
esqueceram-se da pátria abandonada e da terra da promessa e do
próprio Deus. O profeta apela para que ninguém se acomode a
esta situação. Assegura que, na pátria distante, todos encontra-
rão em abundância água, vinho e leite. Estes são alimentos es-
senciais que se transformam em símbolos dos bens messiânicos.
Isaías critica a aquisição de bens materiais que promovem a esta-
bilidade do povo eleito em terra estranha. A segunda parte (v. 3)
alude à renovação das promessas da aliança. Aliança firmada
com Davi e extensiva a todo o povo eleito. É um aceno à nova
aliança (cf. At 13,34).
O texto da carta aos Romanos nos transporta à conclusão do
capítulo 8, no qual Paulo expôs a vida dos fiéis segundo o Espíri-
to. O apóstolo revela que a salvação é um fato realizado porque o
Espírito nos foi derramado pelo Pai e pelo Ressuscitado. Ele está
presente e atuante na missão da Igreja. As palavras da leitura deste
domingo são um hino ao amor de Deus que se revelou em Jesus
Cristo. Amparados por este amor, os fiéis nada devem temer: difi-
culdades, perseguições, divisões. Nada mais poderá impedir o tes-
temunho dos seguidores de Jesus (segunda leitura).

102
PNE - QV] - CVV nº 20
O texto evangélico deste domingo situa-se nos capítulos que
tratam da organização do novo povo de Deus (Mt 13,53-18,35). O
evangelista concentra suas atenções no novo povo de Deus que é a
Igreja. Povo que é desafiado no seu crescimento pelas forças des-
truidoras presentes na história. Para resistir, fazem-se necessários
alguns cuidados. Após receber a notícia da morte de João Batista
(cf. banquete da morte — 14,1-12), Jesus atravessa o lago e vai para
o deserto. A multidão sai da cidade e o segue. Ao ver a multidão,
Jesus “teve compaixão e curou os que estavam doentes”. Chega o
fim da tarde. O povo não tem para onde 17 nem o que comer. Os
discípulos percebem o drama e pedem a Jesus que despeça a multi-
dão. Mas ele toma a defesa do povo e ordena: “Vocês é que têm de
lhes dar de comer”. Eles, olhando para o pouco que possuíam, di-
zem: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. O Mestre ordena
que a multidão se sente na grama. Depois de abençoar os pães e os
peixes, determina que os distribuam à multidão. Todos comem e
ficam satisfeitos. E ainda sobram doze cestos cheios. O novo povo
de Israel está sob os cuidados de Deus (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

A Palavra de Deus deste domingo reflete a realidade histó-


rica da fome de séculos. No Brasil, múltiplas iniciativas visam
acabar com a fome. À realidade da fome é gritante.
No mundo, há milhões de pessoas que, ainda hoje, não
têm acesso à comida e à bebida. O maior escândalo deste início
de século e de milênio é a existência de pelo menos 800 milhões
de famintos entre os 6 bilhões de habitantes da Terra. Só no Bra-
sil, 40 milhões estão excluídos dos bens essenciais à vida. E
milhões trabalham, de sol a sol, para assegurar o pão de cada
dia. Em toda a América Latina morrem de fome, a cada ano,
cerca de 1 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade,
das quais 400 mil nascidas no Brasil.

103
PNE - QV) - CVV nº 20
“A fome mata mais que a Aids. No entanto, a aids mobili-
za campanhas milionárias e pesquisas científicas caríssimas. Por
que não há o mesmo empenho no combate à fome”? Por uma
simples razão: a Aids não faz distinção de classe social, conta-
mina pobres e ricos. A fome, porém, só afeta os pobres.
Não se pode comungar com Jesus sem comungar com os
que foram criados à imagem e semelhança de Deus. Fazer me-
mória de Jesus é fazer com que o pão (símbolo de todos os bens
que trazem vida) seja repartido entre todos” (texto de Frei Beto).
A fome de tantos milhões de pessoas é sinal de que o proje-
to de Deus não é respeitado e que seu Reino ainda não se comple-
tou. Apesar de que o próprio Jesus lembra: “Não só de pão vive o
homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

Somos responsáveis pela fome no mundo e por aqueles


que sofrem sob o peso da falta de bens partilhados. “Vocês é que
têm de lhes dar de comer.” Com nosso trabalho (os discípulos
distribuíram à multidão), damos prova de solidariedade.
Com a multiplicação dos pães, Mateus evidencia uma das
características das comunidades cristãs: a partilha. A comunida-
de que partilha concretiza a generosidade do Pai, Deus criador.
Seu projeto é libertar as pessoas do egoísmo que gera o acúmulo,
a fome e a morte. A partilha solidária realiza o milagre da multi-
plicação e da abundância, em que todos se saciam e ainda sobra
para aqueles que virão depois. “Todos eles esperam de ti que a
seu tempo lhes atires o alimento: tu o atiras e eles o recolhem,
abres tua mão, e se saciam de bens” (SI 104,27-28). “Ele dá o
pão a todo o ser vivo, porque eterno é seu amor” (Sl 136,25).
É ilustrativo o modo de proceder da multidão — “e o segui-
ram a pé”. O povo segue o Mestre sem se preocupar com a hora,
com o que comer, onde se abrigar à noite etc. Total disponibilida-
de. É um exemplo de como seguir autenticamente a Jesus, Mestre
e Guia. Ele ensinou: “Buscai primeiro o Reino de Deus e o restan-

104
PNE - QV) - CVV nº 20
te vos será dado por acréscimo”. Este Reino é: fraternidade, aco-
lhida, solidariedade, cuidado de uns pelos outros. O que temos de
pedir ao Senhor: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.
Na abertura solidária para os outros, não podemos esque-
cer que a melhor oferta de pão — pão que ninguém recusa porque
não marginaliza ou exclui — é o amor, a acolhida, o respeito à
dignidade de cada pessoa. Talvez, este seja o pão de que mais se
tem fome em nossos dias.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


O milagre da multiplicação dos pães aponta para a Eucaristia
como alimento do novo povo de Deus. A ação eucarística é verda-
deiro banquete de louvor, prenúncio e antecipação do banquete do
Reino. Lugar onde Cristo sacia nossa fome com os frutos de sua
morte e ressurreição. Mesa à qual todas as pessoas, sem exclusões,
são convidadas para saborear o alimento da salvação. Para esta mesa,
e não àquela do pão material, que o Cristo, presente e atuante na
Eucaristia, nos convida: “Vocês estão me procurando, não porque
viram os sinais, mas porque comeram os pães e ficaram satisfei-
tos... Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, não terá mais fome,
e quem acredita em mim não terá mais sede. Os pais de vocês
comeram o maná no deserto e morreram. Eis aqui o pão que des-
ceu do céu; quem dele comer nunca morrerá” (Jo 6,26.35.49-50).
Do pão material, Cristo passa ao pão do céu, aquele que sacia a
fome do povo. Do alimento material à Eucaristia — pão que des-
ceu do céu e do qual a humanidade tem necessidade.
No mundo, a fome provocada pela falta e má distribuição
de alimentos é grande e vergonhosa. A fome que só Jesus pode
saciar é, certamente, ainda maior. Aquela preocupa a todos por
sua visibilidade. Esta, não impressiona porque é íntima, profun-
da e escondida no coração das pessoas. Apesar de ser grande o
sofrimento de quem não pode saciar dignamente seu corpo, prova-

105
PNE - QV] - CVV nº 20
velmente, maior seja a angústia de quem não tem com que ali-
mentar as razões de sua vida, de sua fé e de sua esperança.
Participando da Eucaristia, ela nos transforma em promoto-
res de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstân-
cias da vida. À imagem dilacerada de nosso mundo, que iniciou o
novo milênio com o espectro da fome, do terrorismo e da tragédia
da guerra, mais que nunca chama os cristãos a viverem a Eucaristia
como uma grande escola de paz, onde se formam homens e mulhe-
res que, nos vários níveis de responsabilidade na vida social, cultu-
ral, política, se fazem construtores de diálogo e de comunhão.
À participação na Eucaristia, celebrada na comunidade, traz
em si uma força e um empenho eficaz na edificação de uma socieda-
de mais equânime e fraterna. Na Eucaristia nosso Deus manifestou a
forma extrema do amor, derrubando todos os critérios de domínio
que regem muito frequentemente as relações humanas e afirmando
de modo radical o critério do serviço: “Se alguém quer ser o primei-
ro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). São Paulo,
por seu lado, insiste com vigor que não é lícita uma celebração
eucarística na qual não refulja a caridade testemunhada pela par-
tilha concreta com os mais pobres (cf. 1Cor 11,17-22.27-34).
Por que, então, não fazer deste Ano da Eucaristia um perío-
do no qual as comunidades diocesanas e paroquiais se empenhem
de modo especial em 1r ao encontro, com fraterna operosidade, de
alguma das tantas pobrezas de nosso mundo? “Penso no drama da
fome que atormenta centenas de milhões de seres humanos, penso
nas doenças que flagelam os países em vias de desenvolvimento,
na solidão dos anciãos, nas necessidades dos desempregados, nas
travessias dos imigrados. São males, estes, que marcam — embora
em medida diversa — mesmo as regiões mais opulentas. Não po-
demos nos iludir: pelo amor mútuo e, em particular, pela solicitu-
de por quem está necessitado, seremos reconhecidos como verda-
deiros discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35; Mt 25,31-46). É com
base neste critério que será comprovada a autenticidade de nossas

106
PNE - QV) - CVY nº 20
celebrações eucarísticas” (Carta Apostólica do papa João Paulo II,
Mane Nobiscum Domine, nn. 27 e 28).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Hoje, celebrando a Eucaristia, Jesus renova sua compal-
xão e sacia nossa fome. O que ele fez em favor do povo que o
seguia no deserto, agora, o realiza em nosso meio. Outrora ele
saciou a fome da multidão por meio de seus discípulos; na atua-
lidade, alimenta a caminhada de seu povo, através de inúmeros
gestos de solidariedade dos que se comprometem com ele na
edificação de uma sociedade justa e fraterna.
Em cada ação eucarística renova-se o mandato de Jesus: “Fazei
isto em memória de mim”. Quer dizer, quando por nossos gestos de
partilha alimentamos um irmão, quando resolvemos as suas neces-
sidades materiais, tornamos presente a compaixão que Jesus teve
para com seu povo. À Eucaristia caracteriza a comunidade cristã
que toma o pão em conjunto, como comunhão e partilha.
Na procissão das oferendas, como os discípulos que entre-
garam nas mãos de Jesus os cinco pães e os dois peixes, apresen-
tamos nos dons eucarísticos o labor de nossas mãos e bendizemos
a Deus por sua grande generosidade expressa nos elementos da
natureza e nos frutos da terra.
Pela participação na comunhão eucarística, o Senhor nos
alimenta e garante para nós um lugar no banquete da assembléia
celeste. Tomando parte na “mesa eucarística”, comendo e be-
bendo do Corpo e do Sangue do Senhor, nos comprometemos a
partilhar com os irmãos o pão material, Pois, “pelo amor mútuo
e, em particular, pela solicitude por quem está necessitado, sere-
mos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo”.

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PNE - QV] - CVV nº 20
2. Sugestões para a celebração
A multiplicação dos pães evoca a celebração eucarística
e a partilha. Neste domingo, a equipe de liturgia deverá
providenciar pão ázimo para a celebração.
Valorizar a participação e a atuação dos ministros e ser-
vidores leigos nas diferentes partes e momentos da ce-
lebração. Os discípulos tiveram um papel importante
no milagre da multiplicação dos pães.
Destacar o momento da procissão e apresentação dos dons
eucarísticos de pão e de vinho, acompanhados de outras
oferendas da comunidade, especialmente os donativos
que são recolhidos para os mais necessitados.
Nos ritos de comunhão, o ministro destaque, de manei-
ra bem visível, o gesto da “fração do pão”, enquanto se
canta o Cordeiro de Deus, para que a assembléia parti-
cipe ativamente deste momento em que o Corpo de
Cristo é partido e repartido.
Onde for possível, servir a sagrada comunhão sob as
duas espécies.
Após uns instantes de silêncio depois da comunhão,
poderá ser entoado o cântico: “Quem nos separará” —
da segunda leitura do dia.
Antes da bênção final, seria significativo que o Conse-
lho da Comunidade tomasse os donativos ofertados e
os encaminhasse a uma organização comunitária de
atendimento aos necessitados.
Após a bênção e o envio missionário, neste domingo,
seria Interessante se a comunidade organizasse e tomas-
se parte de um momento fraterno — ágape, onde poderá
ser repartido o pão que se levou ao altar na apresentação
dos dons e que foi abençoado no final da celebração.

108
PNE - QV] - CVV nº 20
|9º Domingo do Tempo Comum
7 de agosto de 2005

Leituras:

Primeira leitura: IRs 19,9a.1-I3a


Salmo Responsorial: 84(85),9ab-10.1-12.13-14 (R/.68)
Segunda leitura: Rm 9,1-5
Evangelho: Mt 14,22-33

Nas tempestades da vida,


o Senhor é nossa segurança

1. Situando-nos brevemente

Comemoramos hoje o domingo da tempestade acalmada.


Em meio às tempestades, o Senhor garante que está em nosso
meio. Provadas pelas tribulações próprias da caminhada (ondas
e ventos), as comunidades duvidam da presença de Jesus.
Não esquecemos também as tempestades que atingem a
humanidade: guerras, terremotos, a violência nas cidades, os
conflitos no campo e na cidade etc.
Celebramos o memorial da Páscoa de Jesus que se revela
em todas aquelas pessoas e grupos que, no seguimento do Mes-
tre e diante das provações do dia-a-dia, têm a força de viver numa
profunda relação de confiança em Deus. Agradeçamos pelo dom
da fé.

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PNE - QV) - CVV nº 20
O desejo de “Ver Jesus” supõe discernimento dos sinais de
sua presença nas tempestades de nossa vida pessoal e da comu-
nidade eclesial.

2. Recordando a Palavra
O profeta Elias viveu e desenvolveu sua missão por volta da
metade do século IX a.C. No presente texto (1Rs 19,11-13), o pro-
feta desmascara os ídolos. Elias havia reconduzido o povo ao ver-
dadeiro culto e à autêntica compreensão do Deus de Israel. Por esta
razão, o profeta passa a ser perseguido. Na fuga e sem esperança
pede a Deus para morrer. Alimentado misteriosamente, chega no
cimo do monte Horeb. Diferentemente do que imaginava, foi na
serenidade do silêncio que ele se encontrou com o Senhor. À essên-
cia do mistério de Deus são a paz e o silêncio (primeira leitura).
O apóstolo Paulo encontra-se diante de uma encruzilhada
que o angustia. Como entender que o povo das promessas feitas
ao longo da história, agora, rejeite o Messias? Não é contraditó-
rio que o povo escolhido para ser o portador da história da salva-
ção, nesse momento seja excluído da salvação? O sofrimento do
apóstolo advém da constatação da pouca receptividade dos
israelitas à Boa-Nova de Jesus que, no meio deles, edificou sua
tenda, assumindo a condição humana (segunda leitura).
Depois que todos se saciaram, Jesus ordena que os discípulos
entrem na barca e sigam para o outro lado do mar, enquanto ele
despede a multidão. Teria sido a hora própria para comemorar o
efeito miraculoso. Mas ele evita que seus discípulos cedam à tenta-
ção pela busca de um “Messias poderoso”. Antes, ele se revela como
alguém que, no meio deles, serve e ampara na tribulação. Enquanto
no alto do monte Jesus se entrega à oração, a barca dos discípulos
navega em direção à outra margem, para a região dos gentios, a fim
de dar continuidade à missão de anunciar que a sociedade se cons-
trói pela partilha. O mar está agitado, isto é, os discípulos se ressen-

110
PNE - QV] - CVV nº 20
tem de deixar o lugar. Eles poderiam ter sido aclamados pelo povo,
saciado com tanto pão. Não é fácil partir para uma nova missão.
Jesus caminha ao encontro dos discípulos, que estão em dificulda-
des e com medo. Eles o confundem com um fantasma. É preciso
que ele se identifique: “Sou eu! Não tenham medo”. Mas Pedro o
desafia: “Se és tu, manda-me caminhar sobre as águas!”. O discí-
pulo, que ainda não tinha compreendido o mistério da presença e
atuação do Messias, vai ao encontro de Jesus, mas sente medo, co-
meça a afundar e grita por socorro. O Mestre o repreende: “Homem
fraco na fé, por que você duvidou?”. Jesus entra na barca e a im-
petuosidade do vento pára. Os discípulos fazem uma verdadeira
profissão de fé: “De fato, tu és o Filho de Deus” (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

A primeira leitura e o Evangelho unem-se pela temática da


revelação de Deus. O profeta Elias, em dificuldades, foge e se
encontra com o Senhor no alto do monte Horeb. Por sua vez, os
discípulos, em dificuldades no mar, reconhecem que Jesus, de
fato, é o Filho de Deus. O novo povo de Deus — a Igreja simbo-
lizada na barca — superará o medo, as dificuldades inerentes à
missão, confiando na presença de Deus e depositando sua fé na
presença do Ressuscitado.
Na multiplicação dos pães, Jesus foi reconhecido pelo povo
como “o Messias esperado”. Ao caminhar sobre as águas ao encon-
tro dos discípulos e acalmando os ventos, revela-se como Filho de
Deus. O encontro de Elias com Deus fortalece o profeta para retornar
à missão que o Senhor lhe confiara. Aos discípulos na barca em
dificuldades, Jesus garante que nunca está alheio à comunidade de
seus seguidores, mesmo quando as situações são adversas.
Através dos séculos, a Igreja atravessou muitas tormentas
internas e externas, sem naufragar, porque se cumpre a promes-
sa do Mestre: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o

111
PNE - QV) - CVV nº 20
fim do mundo” (Mt 28,20). A presença de Cristo no meio do seu
povo é real e eficaz por sua Palavra e pelos sacramentos, de modo
especial, pela Eucaristia. Por Isso, a cena do Evangelho de hoje
fala alto, tanto para as comunidades como em particular para a
pessoa de cada cristão. É uma lição de fé e de confiança diante
das crises, das dúvidas e dos fantasmas do medo.

Contemplando a figura de Pedro e do profeta Elias, no hori-


zonte da fé, percebe-se que em nossas comunidades há muitas
resistências ao novo. É bem mais cômodo buscar e acercar-se de
Jesus quando as coisas andam bem e se é aplaudido pelo sucesso
desta ou daquela atividade pastoral. O mar se agita, porém, quan-
do se tem de partir e ir ao encontro do diferente, do desconhecido
e ali, anunciar a Boa-Nova da partilha, da solidariedade. Como
“pessoas de fé temos medo, resistimos à entrega total aos desígnios
e cuidados de Deus”. Deixar a terra firme para caminhar sobre as
ondas em meio à tormenta não é nada fácil.
Muitos cristãos aprendem a lição de crer e confiar no Se-
nhor como Mestre, a exemplo de Pedro, a partir das crises, das
tempestades que redimensionam a experiência de fé. Embora
tenhamos, normalmente, medo das provações, elas podem se
converter em momentos sérios da graça de Deus que mudam
nosso modo de agir e de pensar. À exemplo de seus discípulos,
Jesus nos põe à prova para confirmar fé e nossa confiança.
E quando Jesus entrou na barca, o vento parou. Assim, as
comunidades e as pessoas, para superarem suas resistências, ne-
cessitam deixar o Mestre entrar na barca da vida.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


À celebração da Eucaristia é o lugar privilegiado da pre-
sença do Mestre que nos fala dizendo: “Coragem! Sou eu. Não
tenham medo!”.

112
PNE - QV) - CVV nº 20
Da sua parte, a Eucaristia é um “mistério de fé”. “Homens
fracos na fé, por que vocês duvidaram?” “Verdadeiramente a
Eucaristia é mysterium fidei, mistério que supera os nossos pen-
samentos e só pode ser aceita pela fé, como lembram freqiiente-
mente as catequeses patrísticas sobre este sacramento divino.”
“Não hás de ver — exorta são Cirilo de Jerusalém — o pão e o
vinho [consagrados] simplesmente como elementos naturais,
porque o Senhor disse expressamente que são o seu corpo e o
seu sangue: a fé assegura-te, ainda que os sentidos possam suge-
rir-te outra coisa” (Catequeses mistagógicas, IV, 6. Vozes, 1977;
citada na Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 15).

Na obscuridade das provações e do medo, a Eucaristia,


como presença de Jesus, é luz que ilumina e espanta as trevas do
medo que geram resistências ao novo e suscitam os sentimento
de abandonar a missão. A Eucaristia é luz antes de tudo porque,
em cada celebração, a liturgia da Palavra de Deus precede a
liturgia eucarística, na unidade das duas “mesas”, a da Palavra e
a do Pão. Para este foco de luz, concentram-se nossos olhares,
nossas esperanças e as da humanidade.
A Eucaristia que celebramos e recebemos de mãos abertas
é um germe de vida, de esperança, de força que dispomos na
fraqueza das tempestades. Alimentado por este dom, o cristão
olha confiante para a realidade cotidiana que experimenta e que
emerge ao seu redor.
A Eucaristia nos concede o dom do Filho de Deus que,
não se prevalecendo de sua condição divina, assumiu nossa
realidade humana (cf. FI 2,8). Ele que, conhecendo nossa con-
dição de pecadores até as últimas conseqiiências, nos acolheu,
amou e libertou. O medo do fracasso da missão e de tudo aqui-
lo que buscamos construir nos faz sofrer. A Eucaristia renova o
mistério de Jesus, que na cruz assumiu todas as nossas quedas
e decepções.

113
PNE - QV) - CVY nº 20
Na estrada de nossas dúvidas, de nossas inquietações e, às
vezes, de nossas ardentes desilusões, o Mestre nos surpreende:
“Sou eu. Não tenham medo!”. Quando o encontro se torna pleno,
à luz da Palavra surge aquela que brota do “Pão da vida”, com o
qual Cristo cumpre de modo máximo sua promessa: “Eis que eu
estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
Na Eucaristia, memorial do mistério pascal, concentra-se
o sentido de nossa existência, tanto no seu aspecto de provação e
de sofrimento quanto na sua dimensão de felicidade e de espe-
rança. Tudo sob o véu dos sinais e das expressões simbólicas,
acessíveis somente pela vida da fé.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Em face das provações a que somos submetidos todos os
dias, o memorial da Páscoa do Senhor, celebrado neste domin-
go, nos dá a certeza de que o Ressuscitado está sempre conosco.
Ele é a brisa suave capaz de acalmar a mais violenta tempestade
e nos libertar de todo naufrágio.
O Senhor entra, hoje, na barca de nossa comunidade e acal-
ma os ventos de nossas incompreensões, as tormentas de nossos
relacionamentos familiares e alimenta a esperança de chegar-
mos ao porto seguro com nossos gestos de partilha solidária.
Pois sua Palavra inspira-nos na prática da caridade e da partilha.
Como povo de Deus — Igreja —, reunimo-nos para celebrar
a Eucaristia, porque o Espírito Santo colocou em nosso coração
a esperança. No meio dos ventos e das tempestades do mar da
vida, a Palavra e a partilha suscitam a esperança. Sim, porque “a
tribulação produz a perseverança, a perseverança gera a fideli-

114
PNE - QV] - CVV nº 20
dade comprovada e a fidelidade comprovada produz a esperança.
E a esperança não engana...” (Rm 5,3-6).
Alimentados na mesa Palavra de Deus e na mesa da ceia
eucarística, livres do medo e da acomodação, como seguidores
do Cristo, retomamos a caminhada da missão pelo testemunho e
pela palavra, confessando: “De fato, tu és o Filho de Deus”!

2. Sugestões para a celebração


* Valorizar o gesto de acolhida às pessoas que chegam
para a celebração comunitária.
*- Neste primeiro domingo do mês vocacional, a comuni-
dade poderia lembrar os padres que nela atuam e as
novas vocações à vida e ao ministério sacerdotal.
* No ato penitencial, evocar, à luz da misericórdia de Deus,
os medos, as resistências e as fraquezas de fé na missão
evangelizadora, em face, das provações da realidade social.
- Entoar um refrão meditativo antes da liturgia da Pala-
vra para criar clima de escuta serena e de acolhida à
Palavra de Deus.
* Fazer a proclamação do Evangelho dialogada.
- O ministro que preside, na homilia, ajude a comunida-
de a identificar “os ventos, as tempestades e as ondas”
que ameaçam a serenidade das famílias, das comunida-
des cristãs.
- Após a homilia, o ministro reserve alguns instantes de
silêncio meditativo.

e Quem preside poderia concluir as preces da comunida-


de com a oração pelas vocações.

115
PNE - QV) - CVV nº 20
*- Valorizar a oração do pai-nosso como uma das primei-
ras orações do povo nos momentos de insegurança e
dificuldades.
- Nosritos finais, se oportuno, após a bênção, seria Inte-
ressante cantar um hino vocacional que lembrasse o
envio para a missão.

116
PNE - QV) - CVV nº 20
20º Domingo do Tempo Comum
|4 de agosto de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Is 56,1.6-7


Salmo Responsorial: 66(67),2-3.5.6 e 8 (R/.4)
Segunda leitura: Rm 11,13-15.29-32
Evangelho: Mt 15,21-28

A salvação é dom de Deus


para todos

1. Situando-nos brevemente

O Espírito do Senhor nos revela que a Boa-Nova do Reino


é dirigida a todos os povos. No coração de Deus, ninguém está
excluído do projeto da salvação. Jesus nos ensina que a comuni-
dade do novo povo deve ser realmente “católica”, disposta para
acolher a todos.
Celebrando a Páscoa de Jesus Cristo que se manifesta em
todas as pessoas e grupos humanos que se empenham na unida-
de dos povos, lembramos todos os que lutam e constroem a paz.
O querer “Ver Jesus” implica testemunho de comunhão e
reconhecimento fraterno para além de toda diferença de língua,
nacionalidade, cultura e expressão de fé.

Nos louvores a Deus, nosso Pai, rezemos pelos pais neste


dia a eles dedicado.

117
PNE - QV) - CVV nº 20
2. Recordando a Palavra

O povo de Israel, fundamentado sobre rígidas leis (cf. Dt 77,2-5),


antes do exílio, era fechado sobre si mesmo. Os israelitas imagina-
vam ser o único povo puro e santo. Os pagãos eram tidos como
cães, porque desconheciam a lei de Deus. Por isso, os judeus evita-
vam toda e qualquer relação com outros povos. O exílio, embora
fosse uma experiência sofrida, colocou-os em contato com a cultu-
ra desses outros povos. Israel descobriu que Deus não estava vincu-
lado exclusivamente a uma nação, mas era Senhor de todos os po-
vos. O profeta Isaías mostra, assim, que Israel abriu sua mente e seu
coração para a universalidade. Todos poderão ter aceso ao altar e ao
culto do único Deus e Senhor. “A minha casa será chamada casa de
oração para todos os povos” (primeira leitura).
O apóstolo Paulo, ainda angustiado por causa da rejeição
de Israel à Boa-Nova de Jesus, percebe que a rejeição (a desobe-
diência) dos judeus favoreceu a adesão dos pagãos a Cristo e sua
entrada na comunidade cristã. Mas a recusa de Israel tem seus
dias contados. Dias virão em que também os judeus reconhece-
rão, em Jesus de Nazaré, o Messias anunciado pelos profetas
(segunda leitura).
Jesus se encontra no território fenício, fronteira com a
Galiléia, nos arredores de Tiro e Sidônia. É o único momento no
qual se conta explicitamente uma atividade apostólica de Jesus
em território pagão. Aí Jesus é interpelado insistentemente por
uma mulher cananéia. Ela conhecia a tradição, segundo a qual a
missão do filho de Davi se restringia ao povo de Israel. Mas ela
insiste: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim. Minha fi-
lha está sendo cruelmente atormentada por um demônio” (v. 22).
Jesus não dá ouvidos, esperando que os discípulos resolvam a
questão. Eles, para se verem livres dela, pedem ao Mestre que a
mande embora. Jesus responde: “Eu fui mandado somente para
as ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 24). A mulher não se dá

118
PNE - QV] - CVV nº 20
por vencida, ajoelha e insiste em seu pedido. É Jesus responde:
“Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”
(v. 26). Ela concorda com Jesus, “mas os cachorrinhos comem
as migalhas que caem da mesa” (v. 27). Diante de tal insistência,
Jesus lhe diz: “Mulher, grande é tua fé! Seja feito como tu que-
res!” (v. 28). Esta mulher estrangeira tem convicções firmes em
sua fé e isto agrada a Jesus. Por sua fé e esperança, o evangelista
a apresenta como modelo das comunidades cristãs (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra
O Evangelho de hoje revela que nas comunidades cristãs
havia resistências à participação dos pagãos convertidos. Mateus
escreveu seu evangelho pensando nos cristãos advindos do ju-
daísmo. A mulher cananéia denuncia a discriminação dos es-
trangeiros da qual ela e sua filha são vítimas. Mateus exorta para
que sejam acolhidos os gentios que se convertem, aderindo ao
projeto do Reino anunciado por Jesus Cristo.
No diálogo de Jesus com a cananéia, o pão é símbolo do
Reino dos céus anunciado por Jesus “aos filhos” — o povo de
Israel. A mulher, na condição de estrangeira (cachorrinhos), é
uma anônima, excluída, humilhada, que reage a partir de sua
experiência em favor da vida. O que está em jogo, no entender
dela, não são tanto os preceitos legais, mas a vida escondida por
trás da falta de pão.
O que Jesus pretendia com esse fato? Ele desejava condu-
zir os seus discípulos (as comunidades) a uma mudança radical
quanto ao relacionamento com os estrangeiros que aderissem ao
projeto do Reino por ele anunciado. Jesus conduziu o diálogo
com tal pedagogia que expôs ao ridículo a prática arraigada no
povo e nos dirigentes religiosos que simplesmente exclufam os
estrangeiros. Os israelitas se consideravam os prediletos de Deus
e tinham certeza de que nunca perderiam seus privilégios. Mas

119
PNE - QV) - CVV nº 20
como são Paulo acena, devido à falta de abertura ao novo da
proposta de Jesus e aos sinais de salvação de Deus, eles se mar-
ginalizaram da alegria pela chegada do Reino.
Jesus foi ousado, mostrou que os pagãos (cães) têm mais
fé que os israelitas (os filhos). A atitude de Jesus desencadeou
todo um movimento de abertura das comunidades cristãs aos
outros povos. Isto é, tornaram-se católicas, missionárias, abertas
à universalidade. Pois Deus quer que todos os homens se salvem
e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4).
No Credo rezamos: “Creio na santa Igreja Católica”. Cris-
to é a luz dos povos. “A Igreja não tem outra luz senão a de
Cristo. Segundo uma imagem querida aos Padres da Igreja, ela é
comparável à lua, cuja luz é reflexo do sol” (CIC, n. 748). A
Igreja é o povo que Deus reúne no mundo inteiro, com a missão
de anunciar a todos os povos a Boa-Nova do Reino, sendo sinal
e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todos
os povos (cf. CIC, n. 775).
“A comunidade eclesial, tanto em sua vida interna como
em sua atuação na sociedade, deve dar um claro testemunho de
seu empenho para superar toda forma de discriminação, no espí-
rito do Evangelho e conforme as orientações do Concílio Vaticano
II: nós não podemos invocar a Deus, Pai de todos os homens, se
nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns
homens criados à imagem de Deus” (DGAE, n. 124).
“As comunidades eclesiais católicas devem, particularmen-
te, continuar a busca da reaproximação com os irmãos das outras
Igrejas cristãs. O empenho pela “espiritualidade de comunhão”
imprime um novo impulso ao ecumenismo, pois leva a discernir
formas e maneiras aptas a melhor favorecer a realização de anelos
à unidade de todos os cristãos” (DGAE, n. 125). O Concílio
Vaticano II recomenda “mútuo conhecimento e estima entre ju-
deus e cristãos” (DGAE, n. 127). “A busca de aproximação e

120
PNE - QV) - CVV nº 20
diálogo se estende além dos cristãos, aos seguidores de outras
religiões e a todas as pessoas empenhadas na busca da justiça e
na construção da fraternidade universal” (DGAE, n. 128).

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Somos membros do povo de Deus. “A Igreja é o povo que
Deus reúne no mundo inteiro. Existe nas comunidades locais e
se realiza como assembléia litúrgica, sobretudo eucarística. Vive
da Palavra e do Corpo de Cristo e ela mesma se torna assim
Corpo de Cristo” (CIC, n. 752).
Jesus qualificou a si mesmo como “luz do mundo” (Jo 8,12).
A Eucaristia, como memorial da Páscoa de Jesus e de seu povo,
é mistério de luz! Segundo o papa João Paulo II, pensar na Euca-
ristia, na diversidade das celebrações eucarísticas, “faz-me ex-
perimentar intensamente o seu caráter universal e, por assim di-
zer, cósmico. Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar
no pequeno altar duma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre
celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo. Une o céu e a
terra” (Ecclesia de Eucharistia, n. 8).
Diante da grandeza do sacramento da Eucaristia, santo
Agostinho exclama: “Ó sacramento de piedade! Ó sacramento
da unidade! Ó vínculo da caridade! Quanto mais dolorosas se
fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a participação à
mesa do Senhor, tanto mais prementes são as orações ao Senhor
para que voltem os dias da unidade completa de todos os que
nele crêem” (CIC, n. 1398).
Revestem-se de grande significado, então, na perspectiva
da espiritualidade da comunhão universal, as palavras do papa
João Paulo II na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 43: “Quan-
do se considera a Eucaristia como sacramento da comunhão
eclesial, há um tema que, pela sua importância, não pode ser

121
PNE
- QV) - CVY nº 20
transcurado: refiro-me à sua relação com o empenho ecumênico.
Todos devemos dar graças à Santíssima Trindade porque, nestas
últimas décadas em todo o mundo, muitos fiéis foram contagia-
dos pelo desejo ardente da unidade entre todos os cristãos. Foi
uma graça eficaz que fez caminhar pela senda ecumênica tanto a
nós, filhos da Igreja Católica, como aos nossos irmãos das ou-
tras Igrejas e comunidades eclesiais. A aspiração por chegar à
meta da unidade impele-nos a voltar o olhar para a Eucaristia,
que é o sacramento supremo da unidade do povo de Deus, a sua
condigna expressão e fonte insuperável. Na celebração do sacri-
fício eucarístico, a Igreja eleva a sua prece a Deus, Pai de mise-
ricórdia, para que conceda aos seus filhos a plenitude do Espíri-
to Santo de modo que se tornem em Cristo um só corpo e um só
espírito. Quando apresenta esta súplica ao Pai das luzes, do qual
provém toda a boa dádiva e todo o dom perfeito (cf. Tg 1,17), a
Igreja acredita na eficácia da mesma, porque ora em união com
Cristo, Cabeça e Esposo, o qual assume a súplica da Esposa unin-
do-a à do seu sacrifício redentor”.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
O Senhor, hoje, abre nossos horizontes e nos torna partici-
pantes do seu desígnio universal de salvação. Na liturgia acolhe-
mos, proclamamos e vivemos a salvação como um dom de Deus.
A acolhida da Palavra e a participação no Corpo e Sangue de
Jesus nos faz progredir “na unidade com Deus e com os irmãos,
para que finalmente Deus seja tudo em todos” (SC, n. 48).
À reunião das pessoas na diversidade de culturas, dons e
experiências de vida, constituindo a assembléia, em nome de
Cristo e sob a inspiração do Espírito, além de ser sinal da Igreja

122
PNE - QV] - CVY nº 20
Católica, nos transforma em uma fraternidade. A Eucaristia,
memorial da nova e eterna aliança, é fonte, caminho e ceia da
fraternidade universal. Participando da Eucaristia, somos envol-
vidos na nova aliança e selamos o nosso pacto de fidelidade,
confiantes na misericórdia do Pai.
Pela oração eucarística rendemos graças a Deus por todos
os povos: “Que na terra se conheça o seu caminho e a sua salva-
ção por entre os povos. Que as nações vos glorifiquem, ó Se-
nhor, que todas as nações vos glorifiquem” (S] 66[67],3-4).
“Pela palavra do Evangelho do vosso Filho, reunistes uma
só Igreja de todos os povos, línguas e nações. Vivificada pela
força do vosso Espírito não deixais, por meio dela, de congregar
na unidade todos os seres humanos” (Prefácio da Oração
eucarística para as diversas circunstâncias — 1).

2. Sugestões para a celebração


e Preparar a celebração destacando a acolhida aos pais
da comunidade. À eles poderão ser oferecidos serviços
da celebração, como levar algum símbolo na procissão
de entrada e na procissão das oferendas.
e Criar um agradável clima de oração no início da cele-
bração, por meio do canto de um refrão meditativo.
e« Cantar com entusiasmo o Salmo Responsorial — “Lou-
vor a Deus pelos povos e nações”.
« Proclamar o Evangelho de forma dialogada: narrador,
Jesus e a mulher cananéia,
- Entre as preces, apresentar alguma pelos pais e pela
unidade, pela comunhão de todos os povos e pela di-
versidade de vocações.

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PNE - QV) - CVV nº 20
* Neste dia, escolher a Oração eucarística para as diver-
sas circunstâncias — I: a Igreja a caminho da unidade.
* Sublinhar o pai-nosso como a oração da unidade dos
filhos com o Pai.
- (Onde for possível, favorecer a comunhão sob as duas
espécies, conforme as orientações da Igreja.
* Nosritos finais, abençoar os pais. Lembrar de rezar pela
semana da família.

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PNE - QV) - CVV nº 20
21º Domingo do Tempo Comum
21 de agosto de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab


Salmo Responsorial: 44(45),10bc.1] 12ab.l6 (Ri. 10b)
Segunda leitura: ICor 15,20-27
Evangelho: Lc 139-S56

A glória de Maria é
nossa esperança!

1. Situando-nos brevemente

Celebramos a solenidade de Nossa Senhora da Glória. A


Assunção de Maria ao céu em corpo e alma, no século IV, era
chamada de “a dormição de Maria” (no sentido da passagem
para a outra vida). A Assunção de Maria ao céu era professada
desde os primeiros séculos. Foi proclamada como verdade de fé
pelo papa Pio XII, em 1950. No Brasil, a devoção a Nossa Se-
nhora da Glória ou Assunção de Nossa Senhora é muito querida
do povo.
Cantemos as maravilhas que o Senhor realizou por nós,
porque, fazendo Maria passar da morte à vida plena (Páscoa),
nos concede um sinal da vitória de toda a humanidade pela mor-
te e ressurreição de Jesus Cristo, nosso salvador.

125
PNE - QV] - CVV nº 20
Na comemoração da Solenidade da Assunção de Maria
somos convidados a contemplar e render graças pela realização
da Páscoa de Jesus Cristo na vida das pessoas consagradas e nas
pessoas dedicadas ao serviço dos irmãos, especialmente os mais
pobres e abandonados.

2. Recordando a Palavra
Na primeira leitura, tomada do coração do Apocalipse,
surge a Mulher vestida de sol. Sobrepõôem-se duas figuras que se
complementam: a da humanidade grávida de esperança messiâ-
nica e a de Maria, a mãe de Jesus e de todos os cristãos. Ao som
da sétima trombeta (Ap 11,15), descortinam-se as visões culmi-
nantes do Apocalipse sobre o mistério central da história da sal-
vação, com sinais opostos: a Mulher e o Dragão. A Mulher ves-
tida de sol, isto é, envolta pela luz de Deus. Ela domina sobre as
vicissitudes da história, simbolizadas pela lua sob os seus pés.
Coroada de doze estrelas, lembra as doze tribos do antigo povo
de Israel, do qual fazem parte Jesus e os doze apóstolos do novo
povo de Deus, a Igreja perseguida. Grávida e atormentada para
dar à luz, evoca o sofrimento anunciado a Eva (Gn 3,16). O Dra-
gão da cor do fogo (vermelho), cor dos delitos humanos e do
sangue derramado, é enorme, de grande força agressiva. Repre-
senta o poder político destruidor, do qual o novo povo tem de se
esconder. O Dragão é símbolo de todo mal. Maria resume em si
todas as qualidades do povo grávido de Deus, aguardando a re-
velação de sua glória (primeira leitura).
O apóstolo dos gentios afirma que a ressurreição e a glória
são resultados do desenvolvimento e amadurecimento da vida
segundo o projeto de Deus. Cristo é o primeiro fruto e, depois,
todos aqueles que pertencem a Cristo. A Virgem Maria é a pri-
meira entre os seguidores de Cristo. Por isso, Maria nos precede
no céu. Este é o sentido da festa de hoje (segunda leitura).

126
PNE - QV) - CVV nº 20
O Evangelho narra a visita de Maria a sua prima Isabel e
canta o Magnificat. O evangelista exalta o dom do Espírito que
se revela nas duas mães, nos dois nascituros e na fecundidade da
fé pela aceitação da iniciativa de Deus. Isabel reconhece Maria
como a Bendita do Senhor, porque traz no seu ventre o fruto
bendito de Deus. Ela discerne e torna público o mistério que
envolve Maria: “Donde me vem a dita que a mãe do meu Senhor
me visite?”; “Bendita és tu entre as mulheres”. Mais do que exal-
tar as virtudes da jovem Maria, a experiente Isabel proclama a
realização das promessas da salvação, que se aproxima e que já
está no meio do povo. À libertação está próxima. Maria, pelo
Magnificat, antecipadamente, canta o triunfo da ação de Deus
sobre as forças dos inimigos que oprimem e matam. A morte e a
ressurreição de seu Filho Jesus invertem a ordem social: “Deus
privilegia os pobres e humildes, sacia os famintos e despede os
ricos sem nada”. No Magnificat, Maria “se manifesta como mo-
delo para os que não aceitam passivamente as circunstâncias
adversas da vida pessoal e social, nem são vítimas de alienação,
como se diz hoje, mas que proclamam com ela que Deus exalta os
humildes e, se for o caso, derruba os poderosos de seus tronos”
(João Paulo II, Homilia em Zapopán, citado em Puebla, n. 297).

3. Atualizando a Palavra

A solenidade de Nossa Senhora da Glória (Assunção de


Maria ao céu) é a festa da esperança da vida que vence as forças
da morte.
A força da piedade do povo em relação a Maria, expressa
desde as primeiras comunidades cristãs, contribuiu para a for-
mulação das verdades de fé, como, por exemplo, os dogmas da
Assunção ao céu e da Imaculada Conceição. Maria é invocada,
venerada e se encontra profundamente enraizada na fé e nas ex-
pressões da piedade do povo. Toda a gente simples a considera,

127
PNE - QV) - CVY nº 20
sobretudo, como “mãe e santa poderosa que intercede junto a
Jesus por todos aqueles que peregrinam no deserto da vida”. Ela
é companheira do povo que caminha nas estradas da vida em
direção ao Pai.
Conforme o plano de Deus, em Maria “tudo se refere a
Cristo e tudo depende dele” (Marialis Cultus, n. 25). Ela deu seu
sim a este projeto de amor. Tornou-se serva do Senhor. Elevada
à máxima participação com Cristo, Maria é a íntima colaboradora
de sua obra. Ela foi “alguém totalmente diferente de uma mulher
passiva e negligente ou de religiosidade alienante” (MC, n. 37).
Não é somente fruto admirável da redenção; ela é também
cooperadora ativa.
Maria, por sua cooperação livre com a nova aliança de
Cristo, é a grande protagonista da história em todos os séculos.
Por esta comunhão e participação, a Virgem Maria vive agora
imersa no mistério da Trindade, proclamando a glória de Deus e
intercedendo pela humanidade (cf. Puebla, n. 292).
Na Assunção de Maria que, hoje, celebramos, se manifes-
tam o sentido e o destino do corpo santificado pela graça de
Deus. No corpo glorioso de Maria, a criação material começa a
ter algo do corpo ressuscitado de Cristo. Maria assunta ao céu é
a integridade humana, corpo e alma que agora reina interceden-
do pela humanidade peregrina na história (cf. Puebla, n. 298).
Maria ressuscitada assunta ao céu, glorificada, concretiza
de modo eminente nosso futuro. “A mãe de Deus já glorificada
no céu em corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja que há de
atingir a sua própria perfeição no mundo futuro” (LG, n. 68).
Nossa Senhora da Glória é a imagem da Igreja celeste. O que
significa para nós? Maria vive Já, agora, em corpo e alma, aquilo
que nós também iremos viver quando atingirmos o céu. Enquan-
to caminhamos por este mundo, ela brilha como um sinal que
recorda e realiza o nosso futuro.

128
PNE - QV) - CVV nº 20
A festa da Assunção consola, porque, andando por entre as
tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao céu e reza-
mos: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, espe-
rança nossa, salve!”.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


A solenidade da Assunção de Nossa Senhora nos interpe-
la: “Alegremo-nos no Senhor, celebrando este dia festivo em
honra da Virgem Maria: os anjos se alegram pela sua assunção e
dão glória ao Filho de Deus” (antífona de entrada).
“Se quisermos redescobrir em toda a sua riqueza a relação
íntima entre a Igreja e a Eucaristia, não podemos esquecer Ma-
ria, Mãe e modelo da Igreja” (Ecclesia de Eucharistia, nn. 53ss).
A comunidade que celebra a Eucaristia tem diante dos seus
olhos a figura de Maria, e procura reproduzir os sentimentos e
atitudes que fizeram dela modelo exemplar de tudo o que o Es-
pírito Santo quer realizar na Igreja e no mundo.
Maria é sinal de consolo e de esperança. A Eucaristia, por
sua vez, é garantia; é sinal que nos assegura, na esperança, a
realização.
Maria é sinal de certeza na esperança, no sentido de que,
tudo o que se cumpriu nela, se cumprirá em nós, se fizermos tudo
o que seu Filho “nos disser” (Jo 2,5). Desta plena realização, na
Eucaristia nós temos a garantia. Ela é sinal da glória futura. Ban-
quete do Reino celeste. Na Eucaristia que se realiza em sinais
humanos e elementos naturais, a Palavra do Senhor lança na ter-
ra de nosso coração e da comunidade eclesial a semente da espe-
rança, que germinará e amadurecerá até que a vitória sobre a
morte seja plena, e nós, benditos (cf. Mt 25,34), diante do Cordei-
ro imolado e ressuscitado e de Maria assunta ao céu, gozaremos
sem-fim da vida plena.

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PNE - QV) - CVV nº 20
“Com boa razão, pois, a piedade do povo cristão vislum-
brou sempre uma ligação profunda entre a devoção à Virgem
Maria e o culto da Eucaristia [...). Maria conduz os fiéis à Euca-
ristia” (RM, n. 44d).
Ajude-nos, sobretudo, a Virgem Santa, que encarnou com
toda a sua existência, a lógica da Eucaristia. “A Igreja, olhando
Maria como seu modelo, é chamada a imitá-la também em sua
relação com este Mistério santíssimo.” O pão eucarístico que
recebemos é a carne imaculada do Filho: “Ave verum corpus
natum de Maria Virgine”. Neste Ano da Eucaristia, sustentada
por Maria, a Igreja encontre novo impulso para a sua missão e
reconheça sempre mais na Eucaristia a fonte e o vértice de toda
a sua vida (MND — Permanece conosco, Senhor, n. 31).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Hoje, na solenidade da Assunção, renovando o memorial
da Páscoa de Cristo e de sua Mãe Maria, o Espírito do Senhor
nos faz degustar a ceia da liturgia celeste. “Na liturgia terrena,
antegozando, participamos da liturgia celeste, que se celebra na
cidade santa de Jerusalém, para a qual, peregrinos, nos encami-
nhamos. Lá Cristo está sentado à direita de Deus” (SC, n. 8).
Alimentados do Corpo e Sangue do Senhor, seguimos a cami-
nhada, da qual Cristo é “Caminho, Verdade e Vida”.
Com Maria exultamos de alegria porque a salvação se reali-
zou. Damos graças a Deus que privilegiou os pobres e humildes,
como servos de seu Reino. “Na Eucaristia, a Igreja une-se ple-
namente a Cristo e ao seu sacrifício, com o mesmo espírito de
Maria. Tal verdade pode-se aprofundar relendo o Magnificat em

130
PNE - QV] - CVV nº 20
perspectiva eucarística. De fato, como o cântico de Maria, tam-
bém a Eucaristia é primariamente louvor e ação de graças. Quan-
do exclama: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito
exulta de alegria em Deus, meu Salvador”, Maria traz no seu ven-
tre Jesus. Louva o Pai por Jesus, mas louva-o também em Jesus e
com Jesus. É nisto precisamente que consiste a verdadeira “atitude
eucarística” ” (Ecclesia de Eucharistia, n. 58).
Na celebração de Maria assunta ao céu, sinal da nova hu-
manidade, a ternura e a bondade de Deus nos transformem em
pessoas solidárias, dedicadas e consagradas ao louvor e ao ser-
viço dos empobrecidos.
Pela escuta da Palavra e participação eucarística, os con-
sagrados e consagradas na vida religiosa, como Maria, renovam
seu “sim” confiante a Deus e ao serviço dos eleitos do Senhor.

2. Sugestões para a celebração


* No espaço celebrativo, colocar em evidência um ícone
ou uma imagem de Nossa Senhora da Glória.
e- Acolher e destacar a presença dos religiosos, em parti-
cular, das religiosas na comunidade e paróquia.
- (Organizar a procissão de entrada com a imagem de
Nossa Senhora, colocando-a, depois, em lugar de des-
taque no recinto da celebração (não, porém, em cima
do altar).

e Darrelevo ao cântico do Glória, neste dia da Assunção.


* O Evangelho seja dialogado e a parte do Magnificat,
cantada pela pessoa que representa Maria.
* Na homilia, o ministro que preside pode solicitar o tes-
temunho de um(a) ou outro(a) religioso(a).

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- Na preparação das oferendas, religiosos(as) e voca-
cionados(as) poderiam participar da procissão dos dons
eucarísticos e das ofertas da comunidade.
* No pai-nosso, se for oportuno, incentivar os(as) reli-
giosos(as) a se aproximarem do altar e participar, de-
pois da comunhão sob as duas sagradas espécies.
* Após breves momentos de silêncio depois da comunhão,
seria interessante se a assembléia cantasse o Magnificat.
*- Religiosos(as) e vocacionados(as) e toda a assembléia
são abençoados e enviados com um formulário próprio
da festa (Missal Romano, bênção n. 15).

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22º Domingo do Tempo Comum
28 de agosto de 2005

Leituras:

Primeira leitura: Jr 20,7-9


Salmo Responsorial: 62(63),2.3-4.5-6.8-9 (RI. 2b)
Segunda leitura: Rm 12,1-2
Evangelho: Mt 16,21-27

Renúncia e seguimento
a Jesus Cristo

1. Situando-nos brevemente

Domingo da renúncia de tudo para seguir livremente a Je-


sus. Quem deseja “ver e seguir Jesus, fazendo dele Caminho,
Verdade e Vida”, ouve de imediato o apelo: “Renuncie a si mes-
mo, tome sua cruz € siga-me”. É a certeza de que caminhar com
ele implica entrega e doação radical.
Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se revela e ama-
durece nas inúmeras pessoas e comunidades que, renunciando a
si mesmas € carregando a cruz, doaram sua vida em favor das
causas da Boa-Nova do Evangelho.
A vontade de “Ver Jesus” implica a coragem de fazer de
sua cruz o Caminho, a Verdade e a Vida.

Hoje é dia da festa de santo Agostinho.

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PNE - QV) - CVV nº 20
2. Recordando a Palavra

Jeremias, nas suas confissões, abre o coração e expressa as


dificuldades e o insucesso de sua missão de anunciar a Palavra do
Senhor em um ambiente hostil. O que mais o angustia é o silêncio
de Deus. Isto é, não vê nenhum sinal de sua atuação que confirme a
verdade da pregação dirigida aos concidadãos. Pessoalmente, o pro-
feta tem consciência do chamado de Deus e da missão de falar ao
povo em nome do Senhor. Vive um profundo dilema entre o
insucesso da missão e o fogo ardente da Palavra que deve anunciar
e que não lhe permite calar. Na missão, o profeta experimenta a
violência de Deus e da sua Palavra: “Tu me seduziste e eu me deixei
seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste” (v. 7). Da Palavra
que não surte resultados imediatos brota o grito de lamento e de
sofrimento de Jeremias em relação a Deus, que se transforma em
oração e em aceitação obediente à sua vontade (primeira leitura).
Paulo, no capítulo 12 da carta aos Romanos, ressalta o com-
portamento cotidiano do cristão. A vida cristã se caracteriza por
uma contínua busca da vontade de Deus, uma cotidiana adesão
ao seu projeto, como uma resposta total e fiel ao chamado, à
vocação, às orientações de sua Palavra e da Boa-Nova de Jesus
(segunda leitura).
Mateus revela uma nova fase da vida de Jesus: o mistério
de sua pessoa e de sua paixão e ressurreição. O Mestre passa a se
dedicar mais à formação dos seus discípulos. Anuncia que, che-
gando em Jerusalém, centro do poder político e religioso, será
preso, torturado e condenado à morte, mas que ressuscitará de-
pois de três dias (v. 21). Uma realidade dura demais para a cabe-
ça de Pedro. O discípulo que professa sua fé em Jesus Messias
não compreende o mistério do Filho de Deus e o repreende: “Deus
não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!”. Ele,
a exemplo do povo judeu, está arraigado a um messianismo pode-
roso e vencedor. Jesus, para ser fiel ao projeto do Pai, permanece

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PNE - QV] - CVV nº 20
firme e responde de forma violenta: “Fique longe de mim, Sata-
nás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as
coisas de Deus, mas as dos homens!” (v. 23). Aos que desejam
continuar a caminhada com ele, apresenta as condições: “Se al-
guém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me
siga” (v. 24). Adesão total ao projeto e à missão (Evangelho).

3. Atualizando a Palavra

A compreensão da Boa-Nova de Jesus constitui o funda-


mento da vida e da espiritualidade cristã, entendida como segui-
mento no cotidiano da existência. Querer ver e contemplar o
Cristo glorioso é fácil e consolador. Mas o Cristo do Evangelho,
apresentado como modelo da prática cristã e fonte de inspira-
ção, é o Mestre que convida ao seguimento, pela renúncia total e
pelo carregar a própria cruz. Pois quem deseja ser fiel ao projeto
do Reino deverá identificar-se com o Servo Sofredor, abando-
nando uma vez por todas a mentalidade do falso messianismo.
Os primeiros cristãos tinham o mesmo desejo de seguir
Jesus e viver como discípulos. Procuravam ter em seu coração
os sentimentos que animavam Jesus (cf. FI 2,5). Queriam segui-lo
a ponto de ser um com ele, tanto na vida como na morte e ressur-
reição. Mas o caminho era exigente e tornou-se fonte de muitas
tensões, para as quais não havia respostas prontas. Pedro, ao re-
preender Jesus, revela a tentação da comunidade, ou seja, recu-
perar o modo de pensar e de agir dos fariseus e dos escribas.
O seguimento supõe vinculação, adesão à pessoa de Jesus.
Vinculando-se à pessoa de Jesus, o seguidor adere à sua causa,
aos seus ideais e à sua missão e transforma-se “num pescador de
homens” para o Reino e num mensageiro da paz (cf. Mt 10,12s).
O seguimento requer renúncia dos próprios conceitos aca-
bados, ruptura das velhas seguranças, abandono dos projetos

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pessoais. Ao lado de Jesus não há espaço para outros mestres.
Para os seguidores dos rabinos, era recomendado que, no proces-
so de aprendizagem, tivessem diversos mestres. Aos seguidores
de Jesus, ao contrário, era-lhes ensinado: “Um só é o vosso Mes-
tre” (Mt 23,8.10).
A adesão incondicional a Jesus Cristo prolonga-se até a pai-
xão, morte e ressurreição. O assumir o projeto e as atitudes de
Jesus deixam o discípulo exposto às injúrias, à rejeição e à agres-
são. Isto é, os seguidores de Jesus acompanham o Mestre no ca-
minho da cruz e no sacrifício: “Se alguém quiser me seguir [...]
tome sua cruz e me siga” (v. 24). “Quem não carregar sua cruz e
não caminhar atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,277).
O seguimento traz consigo a exigência da inserção em uma
comunidade plural na sua expressão cultural, no modo de viver,
de pensar etc. Nesta comunidade, os seguidores são chamados a
constituir uma fraternidade alternativa à experiência social cotidia-
na: “Eles serão os irmãos, filhos do mesmo Pai” (cf. Mt 23,8s) pelo
serviço mútuo (cf. Mc 10,42s), no perdão fraterno (Mt 18,15s) e
com espírito de generosa gratuidade (cf. Mt 5,46).
A opção de seguir Jesus, Caminho, Verdade e Vida, traz
consigo a exigência da disponibilidade do discípulo a tudo o que
o Mestre lhe solicitar na realização da missão. Jesus vivia exis-
tencialmente cativado pelo Reino. Anunciar o Reino, torná-lo
presente, comunicá-lo, é missão de quem opta com radicalidade
pelo seguimento. À causa do Reino é tão apaixonante e tão ab-
sorvente que todo o resto é relativo e provisório.
No sentido amplo da Palavra, toda pessoa de fé é seguidora
de Jesus Cristo, aderindo a sua pessoa, comprometida com sua
causa, convidada a compartilhar do seu destino: morte e ressurrei-
ção, sofrimento da cruz e alegria pela vitória. A Igreja é sacramen-
to de Cristo porque é seguidora de Jesus. É o novo povo de Deus
que o Espírito Santo conduz nas pegadas do Senhor crucificado e

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ressuscitado. No tempo da continuidade da missão de Jesus, até
sua plena realização, o seguimento é obra do Espírito Santo.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como o profeta Jeremias, “nos deixamos seduzir pelo Se-
nhor” e aqui estamos reunidos para a escuta da Palavra, como
fogo aceso em nosso coração que impulsiona ao testemunho no
meio dos irmãos e inseridos na sociedade distante e indiferente
aos apelos da Boa-Nova do Evangelho.
São Paulo sublinha a relação do culto e a vida cristã no
cotidiano; não há nada mais reprovável do que a separação entre
a vida e a celebração e o culto puramente formal que não leva à
transformação da vida. “A liturgia é força em nosso peregrinar,
para que se leve a bom termo, mediante o compromisso trans-
formador da vida, a realização plena do Reino, segundo o plano
de Deus” (Puebla, n. 918). Quer dizer, tudo o que celebramos na
mesa eucarística deveria ser expresso e confirmado na vida. A Eu-
caristia não se reduz a um meio de regeneração interior. Ela é um
projeto de transformação da sociedade e do mundo. Ela perpassa os
sonhos, as buscas e as esperanças das pessoas. A Eucaristia é um
caminho em direção à terra prometida anunciada pela Palavra pro-
clamada no seio da comunidade reunida em nome do Senhor.
À participação à mesa eucarística, com a consequente iden-
tificação ao ser e à prática de Cristo, transforma nosso modo de
refletir, de julgar e ajuda-nos na busca das coisas com a mente e
a vida renovadas (cf. Ef 4,23). Assim iluminados pelo encontro
com Cristo-luz, nos será possível, com maior facilidade, discernir
a vontade do Pai, aquilo que é bom e que lhe agrada.
Neste dia, a comunidade reza: “Renova-nos com o teu Es-
pírito de verdade, ó Pai, para que não nos deixemos seduzir pe-
las solicitações deste mundo, mas como verdadeiros discípulos,

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convocados por tua Palavra, saibamos discernir aquilo que é bom
e te agrada, para carregar a cruz de cada dia no seguimento de
Cristo, nossa esperança”.
A Eucaristia, ceia memorial da Páscoa de Cristo, renova
nosso seguimento de Jesus Cristo, porque renova a fé e os com-
promissos dos batizados.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

1. Sentido litúrgico
Hoje, participando em comunidade da celebração eucarís-
tica, o Senhor nos revela e insere no seu mistério redentor, que
tem como caminho a cruz, a paixão.
O mesmo Espírito Santo que transforma os dons de pão e
de vinho em Corpo e Sangue do Senhor, nos faz assimilar a Pa-
lavra de Deus, purifica-nos do pecado e incorpora-nos a Cristo.
Ainda, o Espírito suscita em cada um de nós os mesmos senti-
mentos e as atitudes de serviço, doação de si mesmo, obediência
ao Pai e dedicação total à missão que marcaram a caminhada do
Filho de Deus.
A celebração eucarística é expressão culminante e fonte
de toda a vida cristã, entendida como seguimento de Jesus Cris-
to. Aquilo que aconteceu uma vez por todas na última ceia e na
morte de Jesus na cruz, acontece hoje para nós, no sacramento
da Eucaristia.
“Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste
cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos
a vossa vinda!”

Assim, a Eucaristia é sacramento do Reino de Deus.

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2. Sugestões para a celebração
* Acolher bem as pessoas que chegam e preparar o clima
orante com, quem sabe, um instante de silêncio, uma
oração pessoal ou um refrão meditativo.
* Introduzir na celebração, pela procissão de entrada, uma
cruz e colocá-la em lugar de destaque junto à mesa da
Palavra e da Eucaristia, fazendo referência ao segui-
mento de Jesus pobre e crucificado.
« Na oração da coleta, reservar uns instantes de silêncio
para a oração pessoal e, depois, solicitar à assembléia
que erga seus braços suplicantes durante a oração pro-
ferida pelo ministro.
* Após a homilia, erguer solenemente a cruz, enquanto a
comunidade canta: “Nossa glória é a cruz...” ou “Todos
nós devemos gloriar-nos na cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo...”, renovando sua fé. A seguir, faz-se as preces,
também diante da cruz.
*- Nas celebrações dominicais da Palavra onde não é pos-
sível a celebração eucarística, nunca deveria faltar um
momento de louvor e ação de graças feito com salmos,
hinos, cânticos, orações litânicas, ou ainda benditos e
outras expressões populares de louvor, terminando com
o Santo.
- Solenizar a ação de graças — a oração eucarística —, can-
tando as aclamações e incluindo a resposta do “Eis o
mistério da fé” e o amém do “por Cristo, com Cristo”
(a doxologia).
* Dar relevo ao “gesto da fração do pão”, acompanhado
pelo cântico do Cordeiro de Deus.
* Valorizar a comunhão sob as duas espécies, em confor-
midade com orientações da Igreja.

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- Nosritos finais, sublinhar a relação da vida com o mis-
tério celebrado — Vida como seguimento de Jesus Cris-
to. Compromisso de uns auxiliar os outros no ato carre-
gar a cruz.
* No envio da assembléia para a missão, a cruz trazida na
procissão de entrada poderá agora acompanhar a saída
para a missão — saída da igreja.

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