Boletim Operário Ano XII

Nº 619
Caxias do Sul,10/out/2020

A noite A noite
Rio de Janeiro Rio de Janeiro

10 de agosto de 1911 10 de agosto de 1911

Ano I – Edição nº 21 Ano I – Edição nº 21
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A greve dos marítimos A Espanha em Revolução

A Greve dos Marítimos, que já rebentou três vezes dentro de Grave situação em Cádiz e Barcelona

um semestre, tomou da última vez um caráter grave. Ao Madrid, 10 – Telegramas de Cadiz noticiam que os distúrbios
movimento dos marítimos aderiram os carroceiros e outros continuam. Os operários, com bandeiras negras, percorreram as

trabalhadores. Em Londres, há 62.500 homens em greve; em ruas, pedindo o indulto dos marinheiros no Numancia e

Liverpool, 8.000, e em Manchester, 12.000, perfazendo um total protestanto contra o fuzilamento de Sanchez. A guarda
de 82.500, a que se tem de acrescentar grande número de benemérita, por várias vezes, carregou contra os manifestantes

trabalhadores privados de ocupação, em consequência do que responderam a tiros de revolver e a pedradas. Os feridos
movimento. Nas ruas, os paredistas provocam tumultos a cada são em grande número. A polícia tem efetuado numerosas

instante. prisões. O Comércio permanece cerrado inteiramente. O

A fome ameaça a Inglaterra. Os vapores frigoríficos não movimento da cidade está inteiramente paralisado.
trabalharão, dentro em pouco tempo, por falta de carvão. Em Madrid, 10 – As notícias de Barcelona são alarmantes. As
terra, os depósitos frigoríficos vão sendo rapidamente desordens, motivadas pela revolta no Numancia, repetem-se
esvaziados, subindo os preços da carne na proporção do dobro. constantemente. As tropas de linha guardam as ruas e os

Nos lugares onde, por motivo de parede, não há descarga e edifícios públicos. A Federação Operária ordenou à proclamação
para os quais a carne procedente dos matadouros seria de todo da Greve Geral em sinal de protesto a situação criada pelo
modo insuficiente, nota-se a mesma alta nos preços do artigo. governo. A situação é inquietante.
Já tem sido inutilizado grande número de mercadorias

apodrecidas. Em Liverpool e Manchester, onde os empregados

das estradas de ferro continuam em parede, os paredistas têm
assaltado e virado carroças carregadas. A polícia montada
defende a provisão do leite destinado aos hospitais. A parede
parece agora desenvolver-se também no condado de

Derbyshire, onde a Companhia Midland tem mantido, noite e

dia, um serviço de vigilância nas pontes e nos tuneis.

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2 / Boletim Operário Nº 619
A noite
Rio de Janeiro
11 de agosto de 1911
Ano I – Edição nº 22
Capa
O que haverá na Espanha?
No dia dois ou três do corrente, quando o navio de guerra
Numancia estava em Tanger, deu-se uma insubordinação de
marinheiros. Pela República? O governo, depois de ter
conhecimento do fato, despois de ter feito processar os
revoltosos por um conselho de guerra sumario, fez publicar a
seguinte nota oficial:
“O incidente ocorrido a bordo do Numancia não foi mais do que
um ato de indisciplina militar cometido dentro de um vaso de
guerra por um foguista, um artilheiro e doze marinheiros. A
insubordinação durou apenas dez minutos, sendo facilmente
dominada por um oficial do mesmo navio. Em todos os outros
navios da Armada há perfeita disciplina”.
Todavia, as cartas publicadas e remetidas por marinheiros do
Numancia a varias pessoas asseguravam que a rebelião teve
um caráter francamente republicano e só abortou devido à
precipitação de alguns marinheiros, que entravam
movimento. Toda a equipagem estava implicada na revolta,
mas muito antes da hora fixada para a eclosão do movimento e
sem o mesmo ter sido dado o sinal combinado, uns vinte
marinheiros subiram, armados, ao convés do navio, soltando
gritos sediciosos. Neste momento, apareceu um oficial, que foi
ameaçado e intimado a recolher-se ao seu camarote. O oficial
encarregou corajosamente os marinheiros, exprobrando-lhes o
procedimento e ordenando-lhes que depusessem as armas. Os
soldados tiveram um momento de hesitação e o oficial,
aproveitando-se deste fato, desarmou os insubordinados,
dominando assim a rebelião. Seria louco se o movimento tinha
um caráter revolucionário, que o gesto dos marinheiros do
Numancia, depois de vitoriosos, não fosse secundado por um
movimento em terra. A revolta do Numancia falhou e os seus
autores foram sacrificados em nome da ordem.
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A esquadra, em alto mar, assistiu ao fuzilamento do foguista
Antonio Sanches Moya. A atual agitação, que os telegramas tão
mal informam, é devida ao rigor dos castigos, ou a
recrudescência do movimento revolucionário provocado pelos
republicanos e secundado pelos libertários?
Há apenas a certeza de que a situação na Espanha é
gravíssima.
Os nossos telegramas
Lisboa, 11 – O espirito público está seriamente apreensivo com
a falta de noticias sobre a situação na Espanha. O fuzilamento
do marinheiro Sanchez, implicado no levante do Numancia,
segundo os boatos correntes, continua a provocar boatos de que
em várias cidades espanholas, se tem dado sérios conflitos
entre os manifestantes e a força pública.
As comunicações estão interrompidas.
O Século afixou um boletim afirmando que, por noticias vindas
de Vila Real de Santo Antônio, sabe-se não terem regressado a
Cádiz os navios de guerra Pelkayo, Princesa das Astúrias,
Cataluna e Terror.
Madrid, 11 – Foram noticiados pelos jornais locais os
no pormenores do fuzilamento do foguista Sanchez Moya.
Os jornais referem que o foguista Moya, antes de ser executado,
manifestou o seu contentamento por ser o único que sofria a
pena capital.
Acrescentam os jornais que o condenado, ao ser colocado em
frente ao pelotão que devia executa-lo pediu para que não o
vendassem, conservando-se tranquilo e impassível até cair
fulminado pela descarga dos seus camaradas justiceiros.
Madrid, 14 – Ontem, em Biarritz, ocorreu um incidente
desagradável. Segundo a narração dos jornais, um oficial do
exército espanhol de passagem em Biarritz esbofeteou dois
indivíduos franceses que comentavam o fuzilamento do foguista
Sanchez.
O governo já chamou o oficial agressor, que vai ser submetido a
conselho de guerra.