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Trabalhando com Ética na Educação Infantil

Prof. Dr. Marcos Antonio Lorieri

O que apresentamos é um texto-roteiro contendo algumas idéias para serem


estudadas e dialogadas investigativamente pelos profissionais que trabalham
na Educação Infantil.

Dialogar investigativamente significa conversar de forma ordenada a respeito


de um assunto com a intenção de ter idéias mais claras tanto para si, como
para os outros que participam do diálogo.

A palavra diálogo significa isso: logo (palavra), diá (entre). Palavra que circula
entre várias pessoas devendo cada participante fazer circular a sua palavra,
sabendo que os demais a ouvem e a levam em consideração assim como ele
ouve e leva em consideração a palavra dos outros.

Levar em consideração a palavra do outro não significa simplesmente


concordar ou fazer de conta que concorda. Significa considerar se a entendeu
bem; se entendeu as razões que a fundamentam; se concorda com o que foi
dito, pela força das razões apresentadas; verificar se o que foi dito é igual ou é
diferente do que se pensava sobre o tema. Se igual, reforça-se o que pensava
e, se diferente, verifica-se a diferença e, aí, é possível discordar do outro,
apresentando razões para tanto, ou concordar, modificando o que se pensava.
Nesta última situação há uma modificação baseada em argumentos ou razões
boas para tal: ocorre uma autocorreção do pensamento.

Paulo Freire, no seu livro Educação como prática da liberdade, distingue


diálogo de polêmica. Na polêmica, discute-se com os outros para convencê-los
de nossas idéias; no diálogo, conversamos organizadamente e examinamos o
que pensamos e o que todos pensam a respeito de um assunto, e as razões de
cada um para pensar assim. Este exame deve levar a todos a estarem
dispostos a modificar ou complementar suas posições se os argumentos
(razões), assim o indicarem.

O Dr. Matthew Lipman propõe que o trabalho reflexivo com temáticas


filosóficas, como as temáticas da Ética, seja realizado através do diálogo
investigativo feito em Comunidade de Investigação. Cada sala de aula,
segundo ele, deve ser transformada em uma pequena comunidade de
investigação. Em um de seus livros, A Filosofia vai à Escola, ele diz:

"O fazer Filosofia exige conversação, diálogo e comunidade, que não são
compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional."

A filosofia impõe que a classe se converta numa comunidade de investigação,


onde estudantes e professores possam conversar como pessoas e como
membros de uma mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se das
idéias conjuntamente, construir sobre as idéias dos outros; onde possam
pensar independentemente, procurar razões para seus pontos de vista,
explorar suas pressuposições; e possam trazer para suas vidas uma nova
percepção do que é descobrir, inventar, interpretar e criticar."

Tomaremos pequenos trechos do Referencial Curricular Nacional para a


Educação Infantil (RCNEI) e tentaremos apresentar algumas idéias sobre o
nosso tema.

Na Introdução do RCNEI encontramos esta afirmação:


"A instituição de educação infantil é um dos espaços de inserção das crianças
nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade na qual estão
inseridas."

Relações éticas e morais: o que entender por isso?

Segundo manuais de Filosofia, moral é o conjunto de regras de conduta de


uma sociedade qualquer; ética é o nome que se dá ao esforço reflexivo que os
seres humanos fazem tendo em vista encontrar as razões, os princípios, os
critérios, as referências, a partir dos quais eles admitem como boas as regras
de conduta.

A Ética é mais do que isso: ela é o nome de uma parte da Filosofia que
investiga profundamente sobre o fato de toda e qualquer sociedade humana ter
regras de conduta, sobre o fato de estas regras variarem de um grupo social
para outro e de época para época num mesmo grupo social. Ela investiga
também, para saber se regras de conduta (moral) são mesmo algo necessário
e porquê.

Podemos chamar de ética ao esforço que todos podemos e devemos fazer


para compreender as regras morais que temos, se são suficientes ou não, se
são adequadas ou não e, se não o são, que outras regras precisamos ter.

Este é um problema complexo. Mas todo educador precisa enfrentá-lo para que
possa estar preparado para um trabalho reflexivo e investigativo com seus
educandos.

Noção de valor e de valor moral

Dizemos frequentemente que estamos numa crise de valores. Parece que, com
isso, queremos dizer que estamos numa crise de referências, de ideais
reguladores de nossas ações, numa crise de princípios. Mas o que
entendemos por valor ou valores?

Valor seria toda relação de importância, de preferência, ou de não-indiferença


que se estabelece entre o ser humano e objetos, fatos, situações, lugares,
atitudes, comportamentos.

Tal relação se estabelece quando avaliamos algo como importante ou


detestável, preferível ou não, ou como não indiferente.
Aqui nos interessa pensar e refletir sobre nossas valorações a respeito de
atitudes por ser este o campo da moral e da ética.

Pensemos quando dizemos a uma criança que sua atitude é feia ou bonita, boa
ou má, certa ou errada, correta ou incorreta. Nestes casos estamos valorando,
como boa ou ruim, a atitude em questão.

Mas por que boa ou ruim? Com base em que critérios, princípios, referências?
Ou com base em que regra de conduta?

O RCNEI, em várias passagens, aponta para princípios, critérios, referências e


valores que normalmente são aceitos por todos nós como guias para o
estabelecimento de regras de conduta em nossa sociedade.

Destacam-se os princípios: solidariedade, cooperação, respeito mútuo, respeito


às regras de convívio e a recusa a todo tipo de preconceito.

O que é Educar Moralmente Crianças e Jovens?

Podemos dizer que há dois tipos de Educação Moral:

A Educação Moral que comunica as regras de conduta, exige e vigia para que
sejam cumpridas. Neste tipo de educação moral não são discutidos
(dialogados) os motivos ou as razões das regras de conduta.
A Educação Moral que comunica as regras de conduta, mas que, ao mesmo
tempo, dialoga a respeito das razões, dos critérios, das referências e dos
princípios a partir dos quais as regras foram assumidas como boas para aquela
sociedade.

Qual das duas preferimos para nossas crianças e nossos jovens? Por quê?

No segundo tipo de Educação Moral há uma exigência de Investigação Ética: o


que seria isso? Para podermos ter esta resposta é necessário rever os
conceitos de autonomia e heteronomia presentes no RCNEI.

Heteronomia e Autonomia

Se alguém apenas recebe comunicados a respeito de regras que deve


obedecer, ele está se subordinando moralmente a outra pessoa. Outro, em
grego, diz-se hétero. Regras de conduta, em grego, diz-se com a palavra
nomia. Heteronomia quer indicar a situação de pessoas ou grupos que aceitam
prontas as regras de conduta sem discussão, sem procurar entendê-las ou sem
procurar entender as razões, os critérios, os princípios, as referências que as
justificam.

Se alguém recebe comunicados a respeito de regras de conduta já


estabelecidas na sociedade da qual faz parte ou na qual está ingressando (este
é o caso das crianças), e, ao mesmo tempo, escuta as razões, os critérios, os
princípios, as referências a partir dos quais tais regras foram adotadas pelo
grupo social e é convidado a se pronunciar a respeito, concordando ou
discordando e, no final, adere às regras porque se sente convencido por si
mesmo, então esta pessoa está numa situação de autonomia.

Em grego, eu mesmo se diz autos e regras se diz nomia. Autonomia é a


capacidade das pessoas se darem, por si mesmas, as regras de conduta ou de
aceitarem, a partir do seu próprio entendimento e convencimento, regras de
conduta já existentes na sociedade.

Vejamos alguns trechos dos RCNEI:


"A autonomia, definida como a capacidade de se conduzir e tomar decisões
por si próprio, levando em conta regras, valores, sua perspectiva pessoal, bem
como a perspectiva do outro, é, nessa faixa etária, mais do que um objetivo a
ser alcançado com as crianças, um princípio das ações educativas. Conceber
uma educação em direção à autonomia significa considerar as crianças como
seres com vontade própria, capazes e competentes para construir
conhecimentos e, dentro de suas possibilidades, interferir no meio em que
vivem.(...)
A passagem da heteronomia para a autonomia supõe recursos internos
(afetivos e cognitivos) e externos (sociais e culturais). Para que as crianças
possam aprender a gerenciar suas ações e julgamentos conforme princípios
outros que não o da simples obediência, e para que possam ter noção da
importância da reciprocidade e da cooperação numa sociedade que se propõe
a atender o bem comum, é preciso que exercitem o auto-governo, usufruindo
de gradativa independência para agir, tendo condições de escolher e tomar
decisões participando do estabelecimento de regras e sanções."

Mas como favorecer tais escolhas? O próprio Referencial nos fornece algumas
pistas:
"Em relação às regras, além de se manter a preocupação quanto à clareza e
transparência na sua apresentação e à coerência das sanções, é preciso dar
oportunidade para que as crianças participem do estabelecimento de regras
que irão afetar-lhes diretamente.

Na instituição coletiva, não são todas as regras que podem ser modificadas em
função dos acordos feitos entre professores e crianças. Os horários das
refeições, por exemplo, assim como o uso de espaços comuns ou mesmo
horários de chegada ou de saída dependem de uma complexa rede que
envolve funcionários, pais e o conjunto das crianças atendidas, dificultando a
sua modificação por pequenos grupos.(...)

Todavia, há muitas regras que são passíveis de serem discutidas e


reformuladas no âmbito de um grupo específico, como, por exemplo, as que
tratam das atitudes dos colegas, do uso de materiais, da organização do
espaço, etc. Promover debates em que as crianças possam se pronunciar e
exprimir suas opiniões até que se coordenem os pontos de vista para o
estabelecimento de regras comuns, é um procedimento a ser assegurado no
planejamento pedagógico."
Neste trecho é proposto explicitamente que haja conversas, debates,
discussões tendo em vista o desenvolvimento da capacidade de julgamento
próprio que depende de compreensão. Compreensão diz respeito a condições
cognitivas que precisam ser desenvolvidas juntamente com outras condições.
Nossa proposta é que tais condições cognitivas sejam desenvolvidas através
de diálogos investigativos, nas pequenas comunidades de investigação em que
devem ser transformadas nossas salas de aula, utilizando para tanto histórias
infantis que tenham como conteúdo temas relativos às atitudes e, em especial,
aquelas histórias que podem propiciar uma reflexão coletiva sobre as razões,
os motivos, os "porquês" das regras de conduta.

Ao trabalharmos assim, investigando a respeito de princípios, de critérios, de


razões, de referências para as regras de conduta, estaremos trabalhando ética,
ou melhor, estaremos realizando uma investigação ética.

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