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Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro

História Social da Cultura

Disciplina: Cidadanias ressignificadas em tempos de globalização e os


desafios da democracia na América Latina contemporânea

Marlon Ferreira dos Reis


Matrícula: 2012714

Resenha texto: ITUASSU, A.; CAPONE, L.; FIRMINO, L.M.;


MANNHEIMER, V.; MURTA, F.. Comunicación política, elecciones y democracia: las
campañas de Donald Trump y Jair Bolsonaro. Perspectivas de la Comunicación. Vol.
12, n. 2, 2019.

2020
Resumo
O objetivo do artigo analisado é refletir os impactos do meio digital na
comunicação política dentro da democracia, tendo como foco específico as eleições de
Donald Trump e Jair Bolsonaro. De maneira comparada, realiza-se uma
contextualização destas campanhas no que tange a comunicação política digital, a fim
de discutir conceitos como o de “americanização”, “modernização”, “pós-
modernização” e “hipermídia”. Somado a isso, os autores sugerem a possibilidade de se
pensar a comunicação política contemporânea com a proposição de John Dewey acerca
do “eclipse do público”.
A primeira seção do artigo se inicia com a discussão do termo “americanização”,
como sendo uma forma tradicional de enxergar os estudos da comunicação política, na
qual as democracias ao redor do mundo progressivamente se “americanizam”, ao passo
que suas estruturas seguem as práticas dos Estados Unidos da América. Soma-se com
isso o termo “modernização”, indicando o fato de que mudanças na comunicação
política não são advindas apenas por forças exteriores, mas também em processos
sociais internos. Nesse sentido, dialoga-se com o texto de Pipa Norris, no qual a autora
argumenta que as mudanças comunicacionais nas campanhas podem ser entendidas
como um processo evolutivo de modernização, transformadora das práticas de
organização de campanhas, de meios de comunicação e de eleitorado – o que produz a
tripartição entre campanhas pré-modernas (contato direto, com comunicação
interpessoal, em nível local, entre candidatos e eleitores), modernas (contato através da
grande mídia tradicional, e organizada pelos líderes políticos centrais, seus assessores e
profissionais. Assim como por viagens e pela luta por um local nos noticiários de
grande audiência) e pós-modernas (geridas pelos profissionais da publicidade,
marketing e opinião pública, que transcendem o momento de campanha, permanecendo
com o governo durante seu mandato. Da mesma maneira, é caracterizada pela
fragmentação em torno de múltiplos canais e de um eleitorado que se vê mais flexível
em suas ações). Norris, portanto, enfatiza que as mudanças devem ser enxergadas como
atreladas aos desenvolvimentos tecnológicos e políticos.
Philip Howard, na trilha de Norris, apresenta um tipo de campanha denominado
como “campanha hipermídia”. Sua característica mais acentuada seria a de que os dados
contribuem para estratégias de comunicação política, sendo utilizados pelos
profissionais a fim de formular e disseminar a comunicação política de forma mais
incisiva e acertada. As campanhas hipermidiáticas se desenvolvem com os novos meios
digitais (anúncios pessoalizados, criados e distribuídos digitalmente). O conteúdo,
ajustado aos dados do público alvo (e compartilhado por seu próprio alvo) criando uma
propaganda computacional, na forma de prática comunicativa com algoritmos,
automatização e curadoria humana para administrar e distribuir informações nas redes
sociais. Assim sendo, a partir das noções de modernização ou americanização das
campanhas, pode-se pensar a hipermídia digital, fruto do acesso de usuários das redes
sociais no mundo, na forma de um processo que possibilita as campanhas descobrirem e
dirigirem opinião pública, criando minorias e administrando o desenvolvimento
contemporâneo da cidadania.
O segundo tópico, ao focar nos Estados Unidos da América, atesta que, já nas
campanhas democratas de 2008 e 2012, estabeleceu-se uma nova estratégia relacionada
à internet e às eleições – marcada pelo uso ampliado das redes sociais. O que produziu
um certo otimismo acerca do uso da internet na comunicação política. No entanto, em
2016, ocorre a inversão deste otimismo com a campanha de Trump, que já começou
com a contratação de Brad Parscale para ser o primeiro consultor digital a dirigir uma
campanha presidencial na história do país. A estratégia focou na importância do
Facebook, na qual a equipe de Parscale foi capaz de difundir diversos anúncios
sistematicamente. Assim como o envio de dark posts direcionados para públicos
específicos, de forma que a campanha ganha mais liberdade para trabalhar conteúdos
negativos, sem que outros grupos descubram sua origem – vide a alta taxa de
compartilhamento. Com isso, Trump ganhou imensa vantagem no meio digital em
relação aos seus adversários, de forma que, como expressam os autores: “la campaña
estadounidense del 2016 fue un hito en el uso de automatización política y propaganda
computacional en el ambiente electoral del país”.1
Outra estratégia de dados deveras importante foram as denominadas fake news
dentro das redes sociais – notícias falsas estas que beneficiaram quatro vezes mais
Donald Trump do que Hillary Clinton. Ademais, tem-se também o exemplo dos grupos
que descobriram que poderiam ganhar dinheiro publicando notícias pró-Trump e anti-
Clinton em seus sites de notícias falsas. Por último, houve um caloroso debate, que se
estende, sobre a interferência russa nas eleições.
A terceira divisão do artigo, ao focar no caso brasileiro, afirma que a presença de
bots e fake news não foram novidades do ano de 2018, mas começaram ainda em 2013 e
1
ITUASSU, A.; CAPONE, L.; FIRMINO, L.M.; MANNHEIMER, V.; MURTA, F.. Comunicación
política, elecciones y democracia: las campañas de Donald Trump y Jair Bolsonaro. Perspectivas de la
Comunicación. Vol. 12, n. 2, 2019, p. 18
com o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, e em 2014, os bots já
tiveram papel nas interações do Twitter. O fato do Brasil ter um número expressivo de
usuários de redes sociais e pelas regras do Congresso Nacional em 2017, a propaganda
computacional em forma de bots, as fake news e a manipulação dos algoritmos “pasaría
a desempeñar un papel central en el sistema político brasileño y, de hecho, la
comunicación política digital de la campaña victoriosa de Jair Bolsonaro presenta
elementos claros de propaganda computacional”.2 As fake news brasileiras tiveram
maior expressão no WhatsApp, especialmente em grupos.
Os autores apontam que não há indícios de uma grande campanha de anúncios
paga a fim de apoiar a candidatura de Bolsonaro. O WhatsApp tem como característica
de que não oferece publicidade e nem direcionamento, a disseminação só ocorre se
alguém repassa para outros a informação que recebeu. Ou seja, há uma relação em rede,
na qual a infraestrutura comunicacional depende do papel ativo dos receptores. Fato que
é responsável por gerar uma “organização laboral” remunerada e outra (principal)
voluntária, de forma descentralizada.
No último tópico, busca-se juntar as teorizações propostas e os contextos
analisados. No que tange a pós-modernização e hipermídia, a proposta de hipermídia
possibilita o resgate de discussões tradicionais do campo para a análise do que ocorre
nos meios digitais, focando nos impactos destes sobre o ambiente democrático. Nesse
sentido, é necessário a atualização das propostas de classificação da comunicação, logo,
os termos de hipermídia e pós-modernidade surgem como opção. De maneira ainda
mais assertiva, “’hipermediatización’ de las campañas, que, a diferencia de la idea de
"posmodernización", se centra más en el período electoral y tiene como principal
atributo el uso político y estratégico de datos”.3 Em contextos hipermidiáticos, os
cidadãos se veem como produtores e disseminadores de conteúdos políticos
especificamente direcionados. Com isso, o artigo sugere que, em realidade, há o
ultrapasse da hipermídia, na forma de uma “hipermídia estendida” – que inclui aspectos
da própria pós-modernidade para chamar atenção às práticas de comunicação política
eleitoral e não eleitoral, com o uso de dados do eleitor.
O eclipse do público, teorizado por John Dewey na obra The Public and Its
Problems, tem como base de que há consequências indiretas, extensivas e prolongadas
no resultado das ações conjuntas ou do comportamento interativo. Para Dewey, a

2
ITUASSU, A.; CAPONE, L.; FIRMINO, L.M.; MANNHEIMER, V.; MURTA, F. Op. Cit.. p. 21
3
Ibidem, p. 24
modernização das sociedades multiplicou, intensificou e complicou o alcance das
consequências indiretas, formando um conjunto de combinações, de base impessoal e
não comunitária, de modo que o “público” resultante não consegue autoidentificar-se ou
distinguir-se. Dewey, portanto, propõe que a unidade do Estado moderno é possível
graças às consequências da tecnologia aplicada para facilitar a circulação de opiniões e
informações, criando, assim, uma esfera “pública” de comunicação.
Todavia, o que os autores do artigo propõem é que, vias de fato, as campanhas
hipermidiáticas apresentam um obstáculo a mais para a constituição de um “público” no
sentido proposto por Dewey. O problema se daria pela capacidade dessas campanhas
contemporâneas de criar minorias, minipúblicos, a partir de discursos dirigidos, gerando
um tipo de atomização política adicional na sociedade. Por definição, as atuais
campanhas hipermidiáticas tem por objetivo dirigir a opinião pública, em lugar de
obedecê-la, e gerir o desempenho da cidadania. Como afirmam os autores:
En nuestra opinión, pese a constituir un electorado, la unión de
varios pequeños públicos independientes sirve como obstáculo para
la constitución de un público com potencial capacidad de deliberar o
utilizar públicamente la razón (como deliberación) en beneficio
público, así como en torno a causas comunes, dificultando el
desarrollo democrático de la comunidad.4
Em conclusão, o isolamento dos indivíduos e a atomização política não
possibilitam o uso público da razão e, portanto, não são passíveis de se estruturarem na
forma de uma esfera pública democrática. Os minipúblicos roubam para si a ideia de
público e de uso da razão, construindo, assim, uma impossibilidade de diálogo.
Análise crítica
O texto analisado consegue perpassar de forma demasiadamente satisfatória seus
pontos, com rigor analítico e contextual. Não sou um especialista, tampouco um
conhecedor da área da comunicação política, no entanto, o texto foi claro o suficiente
para me situar no debate, que não poderia ser mais próximo de nós. Em minhas leituras,
consegui traçar alguns paralelos com o artigo aqui resenhado, especialmente na área que
é de meu maior interesse: a relação entre verdade e mentira na política.
Em um primeiro momento, gostaria de recuperar um ponto exposto por Michiko
Kakutani, em seu livro A morte da verdade, no qual o autor, analisando a campanha de
Donald Trump, afirma que dificilmente o candidato conseguiria tanto apoio se setores
do público não estivessem adotado uma postura blasé em relação à verdade. O fato é
que esses indivíduos que consomem e compartilham o produto midiático de campanha

4
ITUASSU, A.; CAPONE, L.; FIRMINO, L.M.; MANNHEIMER, V.; MURTA, F. Op. Cit..p. 27
(direcionado especificamente para eles) tem como perfil, de modo geral, um não-
letramento crítico-científico. De maneira que a internet sofre um processo de
disseminação de teorias da conspiração e fake news, usadas sistematicamente como
arma política.
O que se tem é que “o que se chama hoje de fake é um estruturante da vida
contemporânea, que não pode ser simplesmente eliminado com as ferramentas críticas
tradicionais da historiografia ou compreendido apenas como manipulação
falsificadora”.5 Essa nova realidade contemporânea põe em questão, como bem
acentuam os autores, as políticas públicas democráticas. Vivemos em um mundo no
qual a modernização, nos termos de Norris, a grande mídia (e seu papel político) ganha
concorrência.
Pesquisadores apontaram que o presidente Trump mentiu 103 vezes durante a
sua campanha eleitora, da mesma forma o jornal The Washington Post atualizou no dia
3 de abril de 2020 que, em 1.170 dias, o presidente realizou 18.000 afirmações falsas
e/ou equivocadas.6 De forma similar, no caso brasileiro, “as eleições de 2018 foram
marcadas pelo grande impacto que a internet teve sobre o resultado final, seja através
das fake news, de aplicativos de conversas, a informações disseminadas eram muitas, e
na maioria das vezes de fonte duvidosa”. 7 Em outras palavras, com o sistema de
hipermídia estendida o que se tem é que a informação começou a ser transmitida em
rede, de pessoa para pessoa, e não mais de modo verticalizado:
há uma distribuição horizontalizada e fragmentada que, certamente, trouxe algumas
importantes modificações nos processos de difusão e apropriação da informação.
Grosso modo, podemos dizer que, agora ela pertence a todos e a ninguém. Não que
a comunicação destinada às massas tenha deixado de existir, mas agora ela também
compete com o grupo de WhatsApp da família.8
Pensando na linha desses apontamentos, a meu ver, o problema é que a
substituição da verdade dos fatos por falácias não produz só o problema da mentira ser

5
ARAUJO, Valdei; KLEM, Bruna; PEREIRA, Matheus. O tempo presente e os desafios de uma
historiografia (in)atual. In: ___________. Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora
Milfontes, 2020, p. 8.
6
LEONHARDT, David; PHILBRICK, Ian P.; THOMPSON, Stuart A. Trump’s lies vs. Obama’s. New
York: New York Times, 14 dez. 2017. Disponível em:
<https://www.nytimes.com/interactive/2017/12/14/opinion/sunday/trump-lies-obama-who-is-
worse.html>. Último acesso em: 04/05/2020.; FACT CHECKER: Trump claims database. The
Washington Post, Washington, 19 jan. 2020. Disponível em:
<https://www.washingtonpost.com/graphics/politics/trump-claims-database/?noredirect=on>. Último
acesso em: 04/05/2020.
7
ARAUJO, Valdei; KLEM, Bruna, PEREIRA, Mateus. Op. Cit., p. 16
8
MENESES, Sônia. Bolsonarismo: um problema “de verdade” para a História. In: ARAUJO, Valdei;
KLEM, Bruna; PEREIRA, Matheus. Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora
Milfontes, 2020, p. 35.
aceita como verdade, e vice-versa, porém ocorre um processo de aniquilação de sentidos
mediante o qual nos orientamos. Inclui-se aqui os meios pelos quais encontram-se os
fins da oposição entre verdade e falsidade. Em outras palavras, o problema começa
quando não importa mais se a colocação feita é verdadeira ou falsa; a distinção entre
uma e outra se torna nublada e, em última instância, irrelevante.
Um sistema político democrático necessita de uma concordância na base dos fatos
que nos orientamos para, minimamente, o diálogo ser possível. O contexto atual, no
qual cada grupo da sociedade não se vê representado pelo mesmo vetor de disseminação
de informação é um solo profícuo para a criação de minipúblicos cada vez mais isolados
em si mesmo. Criando uma situação de estranhamento dentro do próprio tecido social.
Isso reforça uma prática na qual as pessoas se tornam pouco interessadas em saber
a veracidade de algo, na realidade, acabam por dar importância se isso é conveniente
para se acreditar e se faz parte do mesmo repertório (conspiratório e negacionista) que
estão acostumados a acreditar. O que acaba entrando em foco não é apenas uma opinião
de certo ou errado, verdadeiro ou falso, mas a própria relação complexa das noções de
pertencimento e não pertencimento a determinado grupo que moldou a identidade dos
sujeitos que fazem parte dele.
O fato é que a internet “produz, antes, bolhas de contemporaneidade algorítmicas,
que pouco ou nada interagem entre si”.9 Não há um contato global nas redes sociais
entre os internautas que possibilite um diálogo, uma sincronização, saudável entre seus
usuários. Temos a possibilidade de saber, o acesso, e não a aprendizagem em si. O
comum na internet são esses isolamentos; a fragmentação em função de forças, afetos,
aversões, que transcendem o virtual, mas que são potencializados pelo meio digital. O
processo de desenvolvimento da tecnologia digital resultou no cenário paradoxal do
distanciamento dos discursos – que só abrem-se uns para os outras em momentos de
crise e de polêmica, e apenas na forma de choque.
Portanto, como podemos notar no atual cenário brasileiro, as políticas e a
assessoria do governo não participam apenas da campanha, mas se estende por todo o
período do mandato, num constante processo de manutenção da governança através do
controle minipúblicos formados pelo processo de atomização política na internet. A

9
TURIN, Rodrigo. Tempos Precários: aceleração, historicidade e semântica neoliberal. Zazie Edições:
pequena biblioteca de ensaios (online), 2019. Disponível em:
<https://static1.squarespace.com/static/565de1f1e4b00ddf86b0c66c/t/5d6bbdd368abb200010a6389/1567
342037866/PEQUENA+BIBLIOTECA+DE+ENSAIOS_RODRIGO+TURIN_ZAZIE+EDICOES_2019.
pdf>. Último acesso em: 27/03/2020, p. 17)
busca atual é pelo controle dessa minoria expressiva dentro da sociedade (virtual) que
servirá de base de concordância com as opiniões do respectivo candidato.
Dessa forma, podemos chegar a conclusão prévia de que, ao fim e ao cabo, a
novidade dos meios de comunicação digital ainda não foi absorvida de forma positiva
pela grande política e nem pela esfera pública como um todo – salvo por algumas
poucas exceções. Os desafios são novos e não encontramos na nossa tradição de
pensamento a solução para tais dilemas. O que resta é o questionamento de que se o
eclipse do público significa o eclipse da democracia como a conhecemos.

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