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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO

ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Salvador
2018
CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO

ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade
de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, como
requisito para obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Carolina de Souza


Bierrenbach
Coorientadora: Profa. Dra. Juliana Cardoso Nery

Salvador
2018
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA),
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Maciel Filho, Carlos Cesar Menezes


Altenesch: técnica, estética e modernidade na
arquitetura de Aracaju nos anos 1930 / Carlos Cesar
Menezes Maciel Filho. -- Salvador, 2018.
361 f. : il

Orientadora: Ana Carolina de Souza Bierrenbach.


Coorientadora: Juliana Cardoso Nery.
Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo) -- Universidade Federal da
Bahia, Faculdade de Arquitetura, 2018.

1. Aracaju. 2. História urbana. 3. História da


arquitetura do século XX. 4. Modernidade
arquitetônica. I. Bierrenbach, Ana Carolina de Souza.
II. Nery, Juliana Cardoso. III. Título.
CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO

ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre


em Arquitetura e Urbanismo, pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia.

Aprovada em 6 de setembro de 2018.

Banca examinadora:

________________________________________
Ana Carolina de Souza Bierrenbach – Orientadora
Doutora em Teoría e Historia de la Arquitectura
pela Universitat Politècnica da Catalunya, Barcelona
FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia

________________________________________
Juliana Cardoso Nery – Coorientadora
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia
FAUFBA/MPCECRE/PPGAU – Universidade Federal da Bahia

________________________________________
Ana Maria de Souza Martins Farias – Avaliadora Externa
Doutora em História Urbana pela Universidade Federal de Pernambuco
DEC-Universidade Federal de Sergipe

________________________________________
Aline de Figueirôa Silva – Avaliadora Interna
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo
FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia
A
Aracaju, meu lugar.
A todos(as) aqueles(as) que ofertaram e ofertam diariamente seus
braços, mentes e corações pelo bem desta cidade amada.
AGRADECIMENTOS

Agradeço:

A Deusa-MÃE/Deus-PAI e aos Cristos MARIA, JESUS e GABRIEL pela concessão


desta oportunidade de aprendizado e serviço.

Ao Líder Espiritual, Professor e amigo Benjamin Teixeira de Aguiar e aos Espíritos


Eugênia-Aspásia e Matheus-Anacleto, meus Orientadores Espirituais, pelos
estímulos constantes à busca da realização plena do meu ser.

À minha mãe Romana e ao meu pai Cesar pelo amor que se revela nas atitudes de
apoio incondicional.

Ao meu príncipe Leandro por ter sido a maior testemunha das alegrias e frustrações
que permearam a construção deste trabalho e por ter reagido sempre com paciência
e aconchego.

A minha irmã Joana pela torcida perene e amorosa.

Ao meu amigo-irmão Italo Cristóvão pela presença leal e estimulante.

Às irmãs que pude encontrar em Salvador, igualmente recém-diplomadas Mestras


Ariane Pedrotti, Mariane Dall’Agnol e Naiara Amorim, por se terem feito família para
mim. À tão querida Caroline Dall’Agnol, que chegou depois, ficou por pouco tempo
em terras baianas e conseguiu ocupar um lugar todo espacial em meu coração. O
interesse de vocês pelo meu trabalho e os constantes estímulos foram fundamentais
para que eu conseguisse chegar até o fim.

À amada prima-irmã-dinda Rosevânia Fonseca, que me prometeu achar uma


fotografia de Altenesch (risos), à amada tia Salete, ao amado amigo Pedro Campos
e a todos os familiares e amigos que torceram sinceramente por uma conclusão
bem-sucedida desta etapa de minha jornada acadêmica. Aos irmãos e irmãs em
Ideal do Salto Quântico pelas vibrações de amor.

Às minhas queridas orientadoras Professoras Dra. Ana Carolina Bierrenbach e Dra.


Juliana Nery por terem entrado de coração e mente nesta aventura comigo e pela
condução afetuosa e engajada em todas as etapas deste trabalho.
À minha avaliadora interna Professora Dra. Aline de Figueirôa pelo cuidado
minucioso com meu texto e pelas contribuições precisas e valiosas.

À minha avaliadora externa Professora Dra. Ana Maria Farias por acompanhar
minha trajetória acadêmica desde a graduação, por saber do meu afeto pela
pesquisa e por isso se fazer efetivamente presente e contribuir na minha subida de
mais um degrau.

À minha primeira avaliadora interna, a Professora Dra. Anna Beatriz Galvão, por sua
avaliação norteadora para a consolidação do meu projeto de pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela


oferta da bolsa de mestrado.

Ao Professor Dr. Nivaldo Andrade, que generosamente se fez receptivo às primeiras


ideias para este trabalho e que de modo eficiente me conduziu às minhas
maravilhosas orientadoras.

Às Professoras Dra. Márcia de Sant’Anna e Dra. Paola Berenstein e aos Professores


Dr. Rodrigo Baeta, Dr. José Carlos Huapaya, Dr. Luiz Freire e Dr. Luiz Antonio
Cardoso por suas aulas que abriram novos panoramas para o meu entendimento da
arquitetura e do meu objeto de pesquisa.

À equipe da Secretaria do PPGAU, em especial a Sra. Maria Henriques, pela


sempre cordial disposição em prontamente tirar minhas dúvidas e me auxiliar com os
processos acadêmicos.

À Professora Dra. Gicélia Mendes pelas orientações sobre a administração do


tempo e pelas palavras de ânimo.

À Professora Ma. Carolina Chaves pela receptividade ao meu trabalho dentro da sua
pesquisa sobre a arquitetura moderna em Aracaju.

À querida amiga Professora Iris Souza pela contribuição generosa na revisão do uso
do inglês para o Abstract.

Agradeço, pelas contribuições para o desenvolvimento desta pesquisa e construção


deste texto ao (à):
Sr. Murillo Melins, Professor Luiz Soutelo, Sr. Wellington Mangueira, Sr. Cássio
Barreto, Dr. Humberto de Aragão Filho, Sr. José Augusto Machado, Dr. Waldefrankly
Almeida e Dra. Verônica Nunes pela generosidade das partilhas de suas memórias,
informações e conhecimentos e pelo interesse em minha pesquisa.

Arquiteta Marilia Ismerim, Sr. Carlos Aurélio Barreto, Sra. Cândida Barreto, Sra.
Cleia Barreto, Sr. Humberto de Aragão Neto, Arquiteta Solange de Aragão, Sra.
Maria Isabel Dantas, Dra. Léa Maciel Machado, Sr. Marcos Araújo (MPK
Contabilidade), Sra. Kadja Felix (MPK contabilidade), Sr. Augusto Fábio dos Santos
(Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura Municipal
de Aracaju) e Arquiteto Décio Carvalho (Secretaria do Estado da Saúde de Sergipe),
pelas contribuições para a minha aproximação aos objetos arquitetônicos que
compõem este trabalho.

Sra. Rita de Cássia Valença (Arquivo Público Municipal de Aracaju), Dr. Samuel
Albuquerque (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe), Professora Aglaé d’Ávila
Fontes (IHGSE), Sr. Alex Almeida (IHGSE), Sr. José Tomaz Dávila (Companhia
Estadual de Habitação e Obras Públicas de Sergipe), Sr. Valdomiro Nascimento
(CEHOP), Professor Milton Barboza (Arquivo Público do Estado de Sergipe),
Professor Pedrinho dos Santos (Biblioteca Pública Epifânio Dória), Sra. Monika
Marschalck (Hansestadt Bremen Staatsarchiv) e equipes do Arquivo Geral da
Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo Nacional,
Biblioteca Central do Estado da Bahia, Biblioteca Nacional e Instituto Tobias Barreto
pelo auxílio no acesso aos acervos consultados.

Sra. Edna Hartl e Sra. Ingeborg Hartl pelo auxílio na lida com o idioma alemão.

Sr. Expedito Souza, Dr. Humberto de Aragão Filho, Professor Msc. Rogério Freire
Graça, Arquiteto Benjamimvich Schuster, Arquiteta Ana Libório, Arquiteta Karoline
Mendonça, Arquiteto Adriano Linhares e Sra. Bianca Teixeira pela autorização do
uso de imagens de seus acervos pessoais.

Agradeço assim a todos e todas que dedicaram parcelas de seu tempo, atenção,
conhecimento e afeto. Foram combustíveis essenciais para que eu pudesse chegar
feliz ao término deste percurso. Sigamos rumo às próximas paradas!
Von Altenesch morreu. Mas não choremos a morte
dos artistas porque êles não são simples mortais.
Seu nome ficará unido à marcha evolutiva da cidade
que êle transfrormou e a posteridade dirá sempre,
no futuro mas [sic] remoto, glorificando sua
passagem pela terra. Glória, na imortalidade, ao
renovador da cidade!

Departamento de Propaganda e Divulgação


Estadual (Aracaju, 22 jun. 1940, p. 6)
MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. Altenesch: técnica, estética e modernidade
na arquitetura de Aracaju nos anos 1930. 2018. 361 f. il. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2018.

RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo investigar a trajetória e a atuação do construtor


alemão Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch no que concerne a sua ação e
interferência no âmbito da arquitetura residencial e institucional na cidade de Aracaju
na década de 1930, compreendendo a questão como fomentadora de uma
discussão acerca da modernidade e diversidade no fazer arquitetônico no Brasil da
primeira metade do século XX. Esta pesquisa se alicerça sobre os discursos
jornalísticos e oficiais da época, bem como a partir da bibliografia subjacente a este
trabalho, que posicionam a figura do alemão enquanto um renovador da cidade,
introdutor de novidades como a tipologia do bungalow, o uso do cimento/concreto
armado, bem como de vetores estéticos vinculáveis a supostos neocoloniais, Art
Déco e expressões de caráter racionalista. Partindo da compreensão de Walter
Benjamin, do objeto histórico visto como uma “mônada”, a obra de Altenesch em
Aracaju é analisada a partir de suas especificidades, de suas características
intrínsecas. Parte-se da hipótese de que as modernidades arquitetônicas por ele
propostas para a cidade, não só estariam alicerçadas em vetores modernos
advindos de padrões importados, mas primeiramente estariam atreladas aos
processos de tensionamento entre o seu conhecimento técnico, expressividade
estética e as demandas de seus clientes, em que teriam pesado os aspectos da
subjetividade e da busca pela novidade, fios essenciais na construção das tramas da
modernidade, da busca pela experiência do moderno. Este trabalho se propõe a
uma compreensão mais aproximada da dimensão da obra do alemão na cidade,
pela busca de dados mais precisos sobre a autoria dos projetos que são atribuídos a
ele, a partir de fontes iconográficas, textuais, por meio das memórias de usuário dos
objetos arquitetônicos analisados e também por intermédio da pesquisa de campo
para reconhecimento in loco destas arquiteturas. A análise destes objetos é
lastreada pelas categorias de análise propostas por Kenneth Frampton em seu livro
Genealogy of Modern Architecture. A partir dos achados da pesquisa são elaboradas
novas hipóteses sobre a trajetória e formação de Altenesch, bem como se revelam
informações inéditas sobre a sua atuação e obras em Aracaju. Estrutura-se também,
a partir do estudo da arquitetura identificada do alemão, um entendimento
aproximado do seu fazer arquitetônico, de seus partidos estéticos, técnicos e
espaciais. Esta análise dos projetos e obras do construtor europeu possibilita não só
a demonstração de sua adesão às multiplicidades de referências disponíveis no
período, como também é eficaz em delinear um repertório de elementos e soluções
que agrupam estes objetos arquitetônicos em uma produção pessoal e coesa.
Assim, assinalam-se as características das intervenções de Altenesch,
compreendidas como vetores centrais na renovação e formatação da modernidade
arquitetônica da Aracaju na primeira metade do século XX.

Palavras-chaves: Altenesch. Aracaju. História da Arquitetura do século XX.


Modernidade Arquitetônica.
MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. Altenesch: technique, aesthetics and
modernity in the architecture of Aracaju in the 1930s. 2018. 361 pp. il. Master
Dissertation – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2018.

ABSTRACT

This research has the aim to investigate the path and performance of the German
builder Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch regarding his action and
interference in the scope of residential and commercial buildings in the city of Aracaju
in the 1930s as a way to promote a discussion on modernity and diversity in
architectural making in Brazil in the first half of the twentieth century. This paper is
based on journalistic and official discourses of that time as well as on the
bibliography underlying this work, which place the German as a restorer of the city
who introduced novelties such as the typology of bungalow, the use of reinforced
concrete, aesthetic vectors supposedly linked to neocolonialism, Art Deco and
rationalist expressions. Grounded on Walter Benjamin's understanding of the
historical object as a "monad", Altenesch's work in Aracaju is analyzed from its
specificities, its intrinsic characteristics. It is grounded on the hypothesis that the
architectural modernities that he proposed for the city would not only be based on
modern vectors derived from imported standards but would also first be linked to the
processes of tension between his technical knowledge, aesthetic expressiveness and
the demands of his clients, in which they would have weighed the aspects of
subjectivity and the search for novelty, essential threads in the construction of the
plots of modernity, the search for the experience of the modern . This research
proposes a closer understanding of the dimension of the German’s work in the city,
by searching for more precise data about the authorship of the projects that have
been attributed to him based on iconography, textual sources, the user memories of
analyzed architectural objects and also on the fieldwork to recognize such
architecture in loco. The analysis of these objects is backed by Kenneth Frampton’s
categories of analysis proposed in his book Genealogy of Modern Architecture. From
these findings, nine hypotheses are elaborated on Altenesch’s path and formation as
well as unpublished information about his performance and works in Aracaju are
revealed. From the study of the identified German’s architecture, a close
understanding of his architectural making including his aesthetic, technical and
spatial parties is structured. This analysis of the projects and works of the European
constructor not only shows his adherence to the multiplicities of references available
in the period but also shows the efficacy in delineating a repertoire of elements and
solutions that group these architectural objects into a personal and cohesive
production. The characteristics of Altenesch’s interventions, understood as central
vectors in the renovation and formatting of the architectural modernity of Aracaju in
the first half of the twentieth century, are indicated thus.

Keywords: Altenesch. Aracaju. The History of 20th-century architecture.


Architectural Modernity.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 13
2 POR UMA TRAJETÓRIA DE ALTENESCH: ENTRE NARRATIVAS,
RASTROS E HIPÓTESES...................................................................... 45
2.1 EM BUSCA DAS ORIGENS.................................................................... 45
2.2 OS INDÍCIOS DA PASSAGEM PELO RIO DE JANEIRO...................... 52
2.3 ALTENESCH EM ARACAJU: UMA NARRATIVA AMPLIADA................ 57
2.3.1 A construção de relações profissionais em terras sergipanas........ 57
2.3.2 A questão da formação e da atuação profissional............................ 66
2.3.3 Entre propagandas e novidades na arquitetura residencial............. 72
2.3.4 Entre editais públicos, projetos e obras institucionais..................... 80
2.3.5 A atuação para além do projeto e construção................................... 92
2.3.6 O encerramento de um ciclo: das homenagens ao silenciamento.. 97
3 A ARQUITETURA RESIDENCIAL DE ALTENESCH............................ 101
3.1 OS BUNGALOWS DA RUA VILA NOVA E A NOVIDADE DA
TIPOLOGIA............................................................................................. 102
3.2 AS RESIDÊNCIAS FLÁVIO PRADO, GERVÁSIO PRATA,
TORQUATO FONTES E AS EXPERIÊNCIAS DAS FORMAS
PURAS.................................................................................................... 138
3.3 A RESIDÊNCIA CARVALHO NETO E AS EXPERIMENTAÇÕES DA
PLASTICIDADE ORNAMENTAL............................................................ 174
4 A ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH......................... 204
4.1 O PROJETO PARA O PALÁCIO DAS LETRAS..................................... 205
4.2 A SEDE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE 224
4.3 O QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS MUNICIPAIS DE
ARACAJU................................................................................................ 238
4.4 O PALÁCIO SERIGY.............................................................................. 248
4.5 A SEDE DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE SERGIPE........................... 270
4.6 A SEDE DO COTINGUIBA SPORT CLUB............................................. 281
4.7 A CIDADE DE MENORES “GETÚLIO VARGAS”................................... 290
5 CONCLUSÃO......................................................................................... 308
REFERÊNCIAS....................................................................................... 319
APÊNDICE A – Obras de Altenesch e atribuições indicadas no mapa
de Aracaju (bairros centrais)................................................................... 343
APÊNDICE B – Esquematização das informações referentes à
atuação de Altenesch em Aracaju........................................................... 344
ANEXO A – Certidão de nascimento de Hermann Otto Wilhelm
Arendt...................................................................................................... 353
ANEXO B – Declaração de morte de Hermann Otto Wilhelm Arendt..... 354
ANEXO C – Recibo em papel timbrado do escritório de Altenesch em
Aracaju.................................................................................................... 356
ANEXO D – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju............ 357
ANEXO E – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju............ 358
ANEXO F – Texto em homenagem a Altenesch..................................... 360
ANEXO G – Texto em homenagem a Altenesch.................................... 361
13

1 INTRODUÇÃO

DECRETO-LEI N.39

De 19 de Agosto de 1940
Denomina rua nesta Capital

O Prefeito do Município de Aracaju, na conformidade do disposto no


art. 12, n. 1. Do Decreto-Lei n. 1202, de 8 de Abril de 1939 e de acordo
com a resolução do Departamento Administrativo do estado,
considerando que cumpre o poder público homenagear a
memória dos homens que, pelos relevantes serviços que prestaram, se
fizeram credores da admiração coletiva;
considerando que o engenheiro civil Herman Otto Wilhelm
Arendt von Altenesch, aliando, a sua notável competência técnica,
extraordinário senso estético, transformou completamente, a
fisionomia arquitetônica da cidade;
considerando que ele, trazendo para ao nosso meio a influência
de novos métodos e modelos de arquitetura, contribuiu,
1
decisivamente, para o desenvolvimento e belesa de Aracaju;
considerando que foi ele, a rigor, quem introduziu entre nós a
inovação americana do bungalow, realizando, assim, pelo conjunto
dos próprios elementos construtivos, a agradável variedade de tipos
habitacionais;
considerando que, em toda a sua longa convivência entre nós
primou pela nobreza das suas atitudes e nítida compreensão dos seus
deveres humanos, sociais e profissionais;
considerando que foi ele, na consagração unânime da opinião
popular, o renovador da Cidade de Aracaju, afastando, pela
implantação de sua arte na paisagem urbana, a monotonia passadista
dos nossos motivos arquitetônicos,
considerando que ele, embora não sendo brasileiro, aqui
realisou grandes cousas em favor da nossa terra e da nossa gente,
aqui deixando, portanto, muito do seu cérebro e do seu coração, no
exemplo vivo de uma existência devotada ao trabalho, em homenagem
a sua memória,

DECRETA:

Art. 1º Fica denominada Rua Altenesch a atual Rua Vila Nova, nesta
Capital.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Gabinete do prefeito do município de Aracaju, 19 de Agosto de 1940.

GODOFREDO DINIZ GONÇALVES.


2
Pedro Pais de Azevedo.

DECRETO-LEI Nº 22

Dá a denominação de Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch

1
Para a escrita deste texto se decidiu pela manutenção das grafias originais de trechos transcritos
conforme redigido nas fontes. Esta escolha foi feita de forma a evitar excessiva repetição do [sic] e
uma consequente poluição do texto. O [sic] apenas foi empregado em casos de erro provável na
grafia das palavras, como aqueles referentes a nomes próprios.
2
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39, de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
14

O Prefeito do Município de Aracaju, na conformidade do art. 5º do


Decreto-lei nº 1.202, de 8 de abril de 1939,

DECRETA

Art. 1º - A Rua Altenesch, nesta cidade, passa a ter a denominação de


Rua Duque de Caxias.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.
Gabinete do Prefeito do Município de Aracaju, 21 de agosto de
3
1942.

―Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um


monumento da barbárie. E assim, como a cultura não é isenta da barbárie, não o é,
tampouco, o processo de transmissão da cultura‖, escreveu Walter Benjamin em
1940, em ―Sobre o conceito de história‖4. Elaborado no auge do nazi-fascismo, este
texto, fruto de seu tempo, mas também prenhe de sementes a serem germinadas no
porvir, sugere como a história e a transmissão de cultura têm sido construídas a
partir de um processo de sobreposições de vozes, por vezes de silêncios
estabelecidos e condenações ao esquecimento, que livremente poderíamos
compreender enquanto artifício da barbárie. É evidenciada a compreensão de uma
história construída a partir da eleição de um monumento — e aqui o discurso é
entendido como monumento — que se faz legítimo transmissor de uma memória
coletiva em detrimento de outros vetores. Esta noção de legitimidade permeia o
pensamento positivista de progresso, de uma história linear, daquele que vence ou
se quer vencedor, em cuja narrativa não há espaço para outras vozes, reveladoras
da existência de outros monumentos. Benjamin se insurge contra essa versão de
história baseada na oficialidade, na passividade e monocromia de um discurso que
se propõe homogêneo, ideologias refletidas na construção dos estados nazifascistas
e das polarizações que pervagaram a geopolítica dos anos 1930 e 1940.
Foi neste contexto de polarizações que o nome de Altenesch perdeu o seu
posto na nomeação do logradouro de Aracaju. A homenagem oficial àquele que
―embora não sendo brasileiro, aqui realisou grandes cousas em favor da nossa terra
e da nossa gente, aqui deixando, portanto, muito do seu cérebro e do seu coração‖

3
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 22, de 21 de agosto de 1942. Dá a denominação de
Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch. Decretos-Leis e Atos da Prefeitura Municipal de Aracaju,
Aracaju, separata da Revista de Aracaju, n. 1, p. 13-14, 1943.
4
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: ______. Obras escolhidas: Magia e técnica,
arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987, cap. 15, p. 225.
15

— nas palavras do então Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves5 — foi apagada e em


seu lugar o enaltecimento de um herói da independência. Este fato ocorreu como
consequência dos ataques à costa brasileira por Parte do Eixo. Com a quebra da
neutralidade do Estado Novo de Getúlio Vargas diante da Grande Guerra, qualquer
ligação com a Alemanha se tornou suspeita e evitável. Assim, Aracaju, que recebeu
em sua costa os corpos de inúmeras vítimas dos bombardeios de embarcações por
submarinos alemães, se tornou cenário de uma comoção popular contra a presença
dos estrangeiros dos países do Eixo, como alemães e italianos. Sobre isso, Luiz
Antônio Barreto6 fala que:

[...] alguns súditos estrangeiros passavam o constrangimento da


suspeição, fossem presos e revistados e tivessem suas casas e bens
atingidos pela violência produzida pela revolta popular, que desde o
dia 16 de agosto tomou as ruas de Aracaju e de Estância,
principalmente. Sergipe viveu, então, entre dois caminhos: o da dor e
do sofrimento pelos mortos e feridos, que exigia socorro e
solidariedade, e a revolta pela traição. Era tempo de prosperar toda a
boataria, suspeita, não faltando injustiças cometidas contra pessoas
de estrangeiros e suas famílias [...] Casas, móveis e outros pertences
foram retirados das casas dos estrangeiros, jogados na rua,
queimados, quebrados, como uma vingança desesperada, no transe
agressivo que mutilou a sociedade sergipana.7

Barreto8 também propõe que foi de Sergipe que ecoou o brado de revolta que
acabou contagiando todo o Brasil e ―mobilizando nas capitais do País as forças
esclarecidas, os jovens dos dois sexos, os estudantes, todos os patriotas
inconformados com a traiçoeira ação de guerra dos alemães e seus parceiros na

5
Godofredo Diniz Gonçalves nasceu em Aracaju em 1898 e faleceu na mesma cidade em 1994. Foi
jornalista, técnico em seguros, industriário e presidente da Associação Sergipana de Imprensa. Foi
eleito prefeito de sua cidade natal em 1934 pelo Partido Liberal e com a instauração do Estado Novo
por parte de Getúlio Vargas em 1937, foi mantido no cargo até 1941. Em 1962 foi novamente eleito a
prefeito de Aracaju pelo Partido Republicano e no cargo ficou até o final do mandato, em 1966. Cf.
GODOFREDO Diniz Gonçalves. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/godofredo-diniz-goncalves> Acesso
em: 24 jul. 2018.
6
Luiz Antônio Barreto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi um advogado, jornalista,
escritor e historiador sergipano, nasceu em Lagarto, Sergipe, em 1940 e faleceu em Aracaju, em
2012. Cf. SANTOS, Osmário. Luiz Antônio Barreto: o maior historiador que SE já teve. Jornal da
Cidade, Aracaju, 06 maio 2012. Disponível em: <http://jornaldacidade.net/noticia-
leitura/129/27953/luiz-antonio-barreto-o-maior-historiador-que-se-ja-teve.html#.WtkvbS7waM8>.
Acesso em: 19 abr. 2017.
7
BARRETO, Luiz Antônio. Os náufragos, uma história sangrenta no mar de Sergipe. Coisas de
Socorro, Nossa Senhora do Socorro, 8 fev. 2012. Disponível em:
<http://www.coisasdesocorro.com.br/2012/02/os-naufragos-uma-historia-sangrenta-no.html>. Acesso
em: fev. 2017
8
Ibid., loc. cit.
16

guerra‖. A mudança do nome da rua de Altenesch para Duque de Caxias, como se


pode aferir, foi uma tomada de postura ideológica, em que pesou o enaltecimento do
patriotismo reativo em detrimento de qualquer referência ao inimigo atacante. Não
havia espaço, naquele instante, para uma homenagem, ainda tão fresca na memória
local, a um cidadão alemão. Silenciou-se oficialmente, portanto, todo o valor que lhe
tinha sido atribuído, numa tentativa de excluir da história da cidade a marca de sua
presença. ―Desmonumentalizou-se‖, assim, pela tentativa de condenação ao
esquecimento, a figura de Altenesch.
O silêncio que se tentou estabelecer sobre a sua presença em Aracaju —
presença esta circunscrita à década de 1930 — parece ter se refletido também no
silenciamento acerca do conjunto de sua obra arquitetônica e das propostas de
modernidades a ela atinentes. Da mesma forma que vozes ultranacionalistas
apagaram a homenagem a ele feita pela prefeitura em 1940, por ser alemão, o
processo de valoração acerca do que seria uma arquitetura moderna genuína e
digna de rememoração também se estabeleceu por mecanismos de sobreposições e
silenciamentos. A construção da própria historiografia da arquitetura moderna
brasileira, que se refletiu nos discursos e práticas conservativas, procurou apagar da
memória coletiva todo um conjunto plural de modernidades possíveis e de
manifestações cotidianas destas modernidades, dentro do qual a obra de Altenesch
se insere.
Quase oitenta anos foram vividos desde que a segunda mudança do nome da
rua foi feita. Neste intervalo de tempo, o nome de Altenesch começou, pouco a
pouco, a ser revisitado e inserido nas reflexões sobre a cidade de Aracaju, numa
quebra sutilmente elaborada do silêncio que buscou sombrear a sua presença. A
sua arquitetura, resistente na cidade, fez ecoar o nome que se quis esquecer.
Elaborou-se, assim, um conjunto de narrativas que se propuseram a compreender a
atuação — utilizando-se aqui novamente das palavras presentes na homenagem a
ele realizada pela prefeitura em 1940 — do ―renovador da Cidade de Aracaju‖, bem
como os ―novos métodos e modelos de arquitetura‖ por ele propostos e implantados.
Estes textos são indicados aqui de forma a que se possa compreender a dimensão
da narrativa subjacente a este trabalho, e, por consequência, o arcabouço
informacional que norteia e serve de referencial para a pesquisa aqui elaborada. A
ordem de indicação está de acordo com a cronologia das publicações.
17

Em 1955, Bonifácio Fortes9 em seu livreto ―Evolução da Paizagem Humana da


Cidade do Aracaju‖10, lançado para celebração do centenário da fundação de
Aracaju, inaugura a discussão sobre a presença da obra de Altenesch na cidade, ao
dedicar um parágrafo de seu texto a reflexões sobre o construtor alemão. Além de
reforçar um suposto caráter revolucionário da obra de Altenesch para Aracaju — de
acordo com o que foi propagado no discurso oficial da supracitada homenagem feita
em 1940 — citando a introdução dos bungalows, novas características
arquitetônicas, a reforma do Palácio Serigy e o uso do cimento armado11, Fortes traz
à tona uma problematização acerca da atuação do alemão, rompendo com a
monocromia otimista das falas até aquele momento. Assim, o autor apresenta uma
crítica a uma suposta inadequação climática dos bungalows construídos pelo
alemão, mais especificamente os construídos na Rua Duque de Caxias. Em 1980,
com ―Aracaju, etc e tal‖, Alencar Filho12 reforça de modo sumário a problematização
lançada por Fortes acerca da suposta inadequação climática.
Em 1988, as historiadoras Verônica Nunes e Rosemary Helbing redigem um
artigo, não publicado, que destaca a figura de Altenesch como central na difusão de
um suposto Art Déco em Aracaju13. Este é o primeiro esforço que se tem
conhecimento acerca de uma investigação e reconhecimento dos edifícios
aracajuanos enquadráveis nesta modernidade que se convencionou chamar Art
Déco assim como também é a primeira tentativa de se listarem as obras públicas
atribuídas a Altenesch. Estas atribuições foram feitas por personalidades (não
identificadas no texto), que teriam convivido com Altenesch, e que, ao serem
entrevistadas pelas pesquisadoras, indicaram as seguintes obras como sendo de
autoria do construtor: a Biblioteca Pública do Estado — atual sede do Arquivo
Público do Estado de Sergipe (APES) —, a sede do Instituto Histórico e Geográfico

9
José Bonifácio Fortes Neto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi bacharel em Direito,
jornalista e escritor sobre a história e geografia de Sergipe. Nasceu em Aracaju em 1926 e faleceu
em 2004. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Bonifácio Fortes. Serigy: A História de um povo, 12 jul. 2006.
Disponível em: <http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=121&titulo=Biografias> Acesso em:
20 abril 2018.
10
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
11
A utilização das expressões ―cimento armado‖ e ―concreto armado‖ nos documentos e textos do
período estudado (década de 1930), que lastreiam este trabalho, parece sugerir que eram tidas como
sinônimas. Assim no correr deste texto as duas expressões são utilizadas livremente, partindo-se da
hipótese de que se referem a uma mesma tecnologia construtiva.
12
FILHO, Alencar. Aracaju etc & tal. Aracaju: Edições Desacato, 1980, p. 105.
13
NUNES, Verônica Maria Meneses; HELBING, Rosemary Bezerra. Manifestações da Arte Déco
em Aracaju. Aracaju, 1988, 11 f. (inédito), p. 3.
18

de Sergipe (IHGSE), o Palácio Serigy, o Quartel do Corpo de Bombeiros e o


Santuário Nossa Senhora Menina. As autoras também indicam a autoria de um
edifício chamado ―Guilhermino Rezende‖, cuja planta baixa teria sido localizada no
APES. Também neste artigo é transcrito o supracitado Decreto-Lei nº 22 de 1942,
que indica a mudança do nome da Rua Altenesch para Duque de Caxias.
Em seu livro de 1999, ―Ponte do Imperador‖14, a historiadora Ana Maria
Fonseca Medina indica que o Engenheiro Lauro Fontes15, em carta direcionada a
ela, teria afirmado que a última remodelação do famoso atracadouro aracajuano —
que dá nome ao livro — teria sido traçada pelo alemão.
Em 2000, em monografia de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Tiradentes (UNIT), em Aracaju, sob o título ―A Residência
Aracajuana no Centro e Bairro São José‖16, Benjaminvich Costa Schuster, ao
analisar o casario de Aracaju em seus bairros centrais, faz a indicação de dois
bungalows na Rua Duque de Caxias como sendo de autoria de Altenesch: aqueles
de números 508 e 521. Neste trabalho ele também estuda a residência Flávio Prado,
localizada na Praça Camerino, número 101, associando-a ao Art Déco. Em seu texto
ele não conecta esta casa diretamente a Altenesch, como é posteriormente feito por
outros autores. No entanto, a insere dentro das discussões acerca da arquitetura da
capital sergipana.
Em 2002, com a sua monografia de conclusão de curso em História pela
Universidade Federal de Sergipe (UFS) intitulada ―‗Fragmentos de uma
modernidade‘: Arte Decó na paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945‖17, o
historiador Waldefrankly Rolim de Almeida Santos dá continuidade à pesquisa de
sua orientadora, Verônica Nunes, coautora do artigo supracitado, e apresenta um
conjunto de informações mais concisas, frutos de um aprofundamento na busca e
14
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 1999, p. 42.
15
Lauro Barreto Fontes, sergipano de Laranjeiras, formou-se em Engenharia Civil em 1942 na Bahia,
foi agente do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sergipe por volta de
1960. Cf. FRAGATA, Thiago. Cinquentenário do MHS em 3 tópicos (1960/2010). Blog do Museu
Histórico de Sergipe – MHS, 13 maio 2010. Disponível em: <
https://seer.ufs.br/index.php/RASL/article/download/8011/6404> Acesso em: 05 fev. 2018.;
MACHADO, Manoel Cabral. Um sergipano na Bahia: Lauro Barreto Fontes. Aracaju: 23 set. 1984.
Disponível em: <http://museuhsergipe.blogspot.com.br/2012/05/cinquentenario-do-mhs-em-3-
topicos.html> Acesso em: 05 fev. 2018.
16
SCHUSTER, Benjaminvich Costa. A Residência Aracajuana no Centro e Bairro São José. 2000.
174 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2000.
17
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002.
19

análise de documentos. Altenesch, como se vê pelo título do trabalho, é novamente


inserido na discussão sobre a introdução de uma suposta modernidade Art Déco em
Aracaju. Em seu texto, Waldefrankly Santos relaciona a figura de Altenesch com a
inserção de novas estéticas na cidade como instrumento de legitimação da
aderência da modernidade por parte do Estado após a Revolução de 1930 e com a
instauração do Estado Novo. Também há um esforço por parte do pesquisador em
estabelecer as relações entre as intervenções e modernizações no campo da
arquitetura e a construção da cidade. Pela primeira vez são trazidas à escrita as
vinculações do nome de Altenesch à elaboração de um novo Código de Posturas
para a cidade18 bem como a íntegra da supracitada homenagem feita pela Prefeitura
de Aracaju a Altenesch, com a atribuição de seu nome à rua anteriormente chamada
Vila Nova. Waldefrankly Santos também apresenta um tratamento cuidadoso
referente às obras atribuídas ao nome do alemão19. Ele cita no âmbito público os
edifícios do IHGSE, a Biblioteca Pública do Estado (atual sede do APES), o Quartel
do Corpo de Bombeiros, o Palácio Serigy e a Associação Atlética de Sergipe e, no
campo residencial, a casa de Flávio Prado na Praça Camerino e várias casas nas
Ruas Itabaianinha, Duque de Caxias e na Avenida Barão de Maruim, sem indicá-las,
contudo. No entanto, indica que apenas nos casos da sede do IHGSE, da casa
Flávio Prado e da Associação Atlética seria possível afirmar uma conexão direta com
o alemão, já que em suas pesquisas pôde encontrar fotografias das construções
destas edificações nas quais estava presente a placa profissional de Altenesch.
Estas fotografias compõem uma publicação comemorativa do governo20 do
Interventor Eronides Ferreira de Carvalho21 que havia sido indicada nas referências
bibliográficas do supracitado artigo de Nunes e Helbing, mas que não foi localizada
por Waldefrankly Santos à época da escrita de sua monografia. Há neste trabalho
também um esforço por dar continuidade às reflexões de Fortes sobre a qualidade
da obra do alemão e a adaptação desta ao clima da cidade. Assim, o autor lança a

18
SANTOS, 2002, p. 41.
19
Ibid., p. 44-45.
20
SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São
Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
21
Eronides Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba, então povoado do município de Propriá,
Sergipe, em 1895 e faleceu em 1969 no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina pela Faculdade de
Medicina da Bahia em 1917, foi eleito governador de Sergipe entre os anos de 1935 e 1937 e com a
instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1937, assumiu o posto de interventor federal em
Sergipe até 1941. Cf. PECHMAN, Roberto. Eronides Ferreira de Carvalho. In: FGV CPDOC. (verbete
biográfico). Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/eronides-
ferreira-de-carvalho> Acesso em: 24 jul. 2018.
20

hipótese de que esta suposta inadequação estaria relacionada à formação de


Altenesch, que não teria sido propriamente um engenheiro, mas um construtor ou
mestre de obras formado nos canteiros europeus22.
Venícia Celi de Souza Rodomar, em trabalho intitulado ―Registros da
arquitetura moderna em Aracaju: Residência Almeida Maciel‖23, elaborado para
disciplina da graduação de Arquitetura e Urbanismo da UNIT, em 2002, sob
orientação da professora Juliana Cardoso Nery, oferta uma nova informação.
Segundo ela, a residência de número 565 na Avenida Barão de Maruim seria de
autoria do alemão, e esta informação teria sido coletada no contato com o projeto
original, localizado à época da pesquisa Junto aos proprietários da residência.
A publicação que se revela de maior relevância para este trabalho é
certamente o livro ―Alguns nomes antigos do Aracaju‖24 de 2003, escrito por
Fernando Figueiredo Porto25. A escrita de Porto apresenta uma característica ímpar
que o destaca entre os autores consultados e lhe pode conferir um status de maior
precisão aos escritos e memórias referentes ao construtor alemão. Refere-se aqui
ao fato de ter sido ele contemporâneo de Altenesch, ter travado contato pessoal e de
ter acompanhado de perto a sua atuação, já que à época Porto era engenheiro civil
atuante na Prefeitura de Aracaju e, consequentemente, participou de processos de
avaliação, licenciamento e acompanhamento de obras públicas e privadas na
cidade. Desta perspectiva, da memória de quem esteve próximo aos fatos narrados,
Porto oferta em seu texto indicações mais aproximadas concernentes às edificações
de autoria de Altenesch. No âmbito dos edifícios institucionais ele afirma estarem
vinculados ao alemão: a sede do IHGSE, o Palácio Serigy, o Quartel do Corpo de
Bombeiros (apenas o projeto), a Cidade de Menores "Getúlio Vargas", e um projeto,

22
SANTOS, 2002, p. 45.
23
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Tiradentes, Aracaju 2002.
24
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003.
25
Fernando Figueiredo Porto nasceu em Nossa Senhora das Dores, Sergipe, em 1911 e morreu em
São Carlos, São Paulo, em 2005. Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de Ouro Preto, Minas
Gerais, ocupou importantes cargos públicos, como chefe da seção técnica da Prefeitura de Aracaju e
Diretor de Obras do Estado de Sergipe. Foi professor universitário e escritor sobre a história e
geografia de Aracaju. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Fernando Porto. Serigy: A História de um povo,
02 jun. 2006. Disponível em:
<http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=106&titulo=Gente_Sergipana.> Acesso em: 20
abril 2018.; REGISTRO: Aniversários. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1206,
p. 4.
21

que não teria sido construído, da fachada de uma nova estação ferroviária para
Aracaju26.
No âmbito das obras residenciais, Porto afirma serem de Altenesch dois
bungalows na Rua Duque de Caxias (os de números 521 e 529)27, a reforma da
residência de Carvalho Neto (em uma das esquinas das Ruas Pacatuba e Estância,
onde atualmente está situado o Edifício Paulo Figueiredo) e as residências de
Gervásio Prata (na Rua Boquim, número 67), Flávio Prado (Praça Camerino número
101, na esquina com a Rua Boquim) e Deoclides Azevedo (na Rua Itabaiana, já
desaparecida)28. Haveria inúmeras outras residências de sua autoria em Aracaju,
segundo Porto, inclusive ele ilustra o seu texto com uma página da supracitada
publicação comemorativa à Interventoria de Eronides Ferreira de Carvalho, em que
foram dispostas fotografias de diversas casas dentre as quais estariam obras de
Altenesch e algumas outras de outros profissionais diretamente influenciados, de
acordo com Porto, pelas modernidades técnicas e estéticas do alemão.
Porto constrói o seu texto alicerçado na supracitada homenagem do Decreto-
Lei de 194029. Na busca por investigar o suposto ineditismo das intervenções de
Altenesch ele amplia a discussão acerca da condição estilística da obra do alemão,
indo além de um enquadramento em uma condição Art Déco, mas indicando
também associações a vertentes neocoloniais e modernidades arquitetônicas
esteticamente mais simplificadas, associáveis a uma postura mais racionalista. Porto
igualmente indica pormenores da prática profissional e das relações entretecidas por
Altenesch e sua obra com os anseios por modernidade e novidade da sociedade
aracajuana. O autor, assim, deixa pistas de como Altenesch lidava com as
demandas de seus clientes, particularmente no quesito estilístico, e como se fazia
receptivo aos seus gostos e preferências30.
Também em 2003, a então professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNIT Juliana Cardoso Nery publica nos Anais do V Seminário DOCOMOMO Brasil o
artigo intitulado ―Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de
50 e 60‖31. Neste texto, que reflete os esforços iniciais pelo reconhecimento de uma

26
PORTO, 2003, passim.
27
Ibid., p. 22.
28
Ibid., p. 49.
29
Ibid., p. 24-25.
30
Ibid., p. 49.
31
NERY, Juliana Cardoso. Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e
60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos:
22

arquitetura ―modernista‖ em Aracaju, é inserido pela primeira vez o nome de


Altenesch dentro de uma discussão mais ampla acerca da história da arquitetura
moderna na capital sergipana. A autora apresenta uma nova atribuição de obra a
Altenesch: a sede dos Correios e Telégrafos de Aracaju, erguida nos anos 1930 em
esquina da Rua Itabaianinha com a Rua Laranjeiras, contudo não há indicação da
origem de tal informação.
Luiz Antônio Barreto, em 2004, publicou em seu blog no site Infonet dois textos
que abordam a presença de Altenesch em Aracaju, a saber: ―Altenesch e Wladimir
Pires‖32 e ―As casas modernas de Altenesch‖33. Estes trazem um apanhado de
informações, que em sua maioria já haviam sido ventiladas pelos outros autores.
Contudo, estes artigos apresentam algumas pistas inéditas, principalmente sobre a
trajetória do alemão, como possível ano de nascimento, período da chegada à
América e dados sobre sua partida de Aracaju e sua morte. Percebe-se que houve
por parte deste historiador um contato com documentos que lhe teriam fornecido
alguns dos dados que apresentou, contudo a ausência de indicação das fontes
fragiliza sua narrativa, ainda que pistas sejam ofertadas a serem rastreadas em uma
pesquisa mais atenta.
Em 2007, em sua dissertação de mestrado em Educação, obtida pela UFS e
intitulada ―A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores ‗Getúlio
Vargas‘ (1942-1974)‖34, Alessandra Barbosa Bispo traz informações inéditas sobre
aquele complexo arquitetônico e algumas pistas referentes à atuação de Altenesch
no mesmo. Um dado importante que a autora revela é o Relatório do Serviço de
Menores, de 1941, assinado pelo seu então diretor Abelardo Maurício Cardoso 35,
onde são encontrados alguns pormenores sobre o processo da construção daquela

USP/DOCOMO, 2003. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-


content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018.
32
BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
33
Id. As casas (modernas) de Altenesch. Infonet, Aracaju, fev. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=25727&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
34
BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores
―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 46-47.
35
CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f.
(Relatório encontrado no Fundo de Relatórios do cervo do Arquivo Público do Estado de Sergipe, sob
o código BR SEAPES REL V15 D15).
23

Cidade de Menores, as edificações componentes e a participação do construtor


alemão.
Pôde-se contar também, para este trabalho, com as pesquisas e escritos da
arquiteta e urbanista Isabella Aragão Melo Santos, em sua dissertação de mestrado
em Arquitetura e Urbanismo de 2011, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
intitulada ―Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros centrais‖36. Sua
pesquisa teve enfoque nas décadas posteriores à atuação de Altenesch. Assim,
dando continuidade aos esforços iniciais de Nery37, a autora insere a figura de
Altenesch dentro de um entendimento geral acerca da elaboração da modernidade
arquitetônica aracajuana. Logo, a análise da obra do alemão, em seu trabalho, tem
um caráter de contextualização e introdução para a compreensão das intervenções
arquitetônicas que de fato são o foco de seu trabalho: aquelas produzidas nas
décadas seguintes à atuação do construtor europeu em Aracaju.
A pesquisadora elabora em seu trabalho uma discussão sobre a obra de
Altenesch ao nível da análise da arquitetura propriamente dita, principalmente com
relação às edificações institucionais e às residências supostamente vinculadas às
estéticas das vanguardas modernas. Isabella Santos38 faz um estudo mais atento
quanto à composição volumétrica das residências Almeida Maciel e Flávio Prado.
Quanto às edificações institucionais, ela inclui em seu estudo os edifícios do IHGSE
e o Palácio Serigy39. Para estas edificações ela realiza uma análise não só referente
aos aspectos formais e volumétricos, mas também no que tange à sua
espacialidade, através das plantas baixas.
Isabella Santos40 também elabora algumas hipóteses sobre Altenesch, dando
seguimento às reflexões críticas iniciadas por Fortes41 e continuadas por
Waldefrankly Santos42 sobre a adequação da obra do alemão ao clima local. Assim,
lança algumas questões a serem respondidas no porvir: seria a aparente não
preocupação com os aspectos climáticos de Aracaju fruto de uma associação do
construtor com o pensamento da ―nova‖ arquitetura do início do século XX, uma

36
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros
centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.
37
NERY, 2003.
38
SANTOS, 2011, p. 172.
39
Ibid., p. 142 et. seq.
40
Ibid., p. 105-106.
41
FORTES, loc. cit.
42
SANTOS, 2002, loc. cit.
24

maturação proveniente do propósito moderno das vanguardas, que propõe uma


arquitetura universal ou se trataria de reproduções desvinculadas ideologicamente
das vanguardas, a serviço apenas das meras novidades? Outra hipótese
apresentada seria a de que, engenheiro de formação ou não, o alemão não teria
conhecimento e sensibilidade suficiente para elaborar arquiteturas adaptadas ao
clima. Por fim, a autora indica outra hipótese: baseada no entendimento de que a
arquitetura elaborada era feita ―a gosto do cliente‖, definido o modelo estético da
residência, Altenesch a faria de forma fidedigna ao estilo, quer fosse adaptável ao
clima ou não. São questões lançadas pela autora, e que demandariam, conforme ela
mesma sugere, uma análise mais ampliada destes objetos arquitetônicos, na busca
dos rastros que possibilitassem uma maior compreensão dos trajetos feitos no
processo projetual.
Em artigo apresentado em 2011, intitulado ―Los agentes privados y la
producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y
segreagación (1930-164)‖, os pesquisadores Antônio Carlos Campos e Cristiane
Alcântara de Jesus Santos 43 revelam que Altenesch havia adquirido ao menos oito
terrenos em Aracaju e neles construiu em 1938 casas para venda. Três destas
estariam situadas na área norte — nas Avenidas Simeão Sobral e Coelho e Campos
—, e outras cinco casas estariam localizadas ao sul da zona central.
Em 2012 a arquiteta e urbanista Josinaide Silva Martins Maciel defende a sua
dissertação em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA intitulada ―Olhar aproximado
paras as residências Souza Freire e Hora Oliveira: bens modernistas de interesse
cultural‖44. Este trabalho, assim como iniciado em Nery45 e aprofundado na
dissertação de Isabella Santos, tem por enfoque a arquitetura ―modernista‖ em
Aracaju, ainda que desta vez o recorte tenha considerado principalmente as
residências. Altenesch é novamente inserido no texto como elemento essencial na
discussão acerca da elaboração da modernidade arquitetônica de Aracaju na
primeira metade do século XX.

43
CAMPOS, Antônio Carlos; SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. Los agentes privados y la
producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y segreagación (1930-
1964). In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPUR,
maio 2011.
44
MACIEL, Josinaide Silva Martins. Olhar aproximado para as residências Souza Freire e Hora
Oliveira: bens modernistas de interesse cultural. 2012. 269 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.
45
NERY, 2003.
25

No ano de 2013 um conjunto de trabalhos é elaborado com o intuito de


investigar a arquitetura Art Déco em Aracaju, dando continuidade aos esforços
iniciais de Nunes e Helbing46 e de Waldefrankly Santos47 e reforçando o nome de
Altenesch como introdutor destas expressões modernas na capital sergipana. Têm-
se: o trabalho de conclusão do curso em Arquitetura e Urbanismo pela UNIT de
Marília Ismerim Barreto, intitulado ―Cinema Rio Branco e Arquitetura: uma identidade
Déco‖48; o trabalho de extensão coordenado pela Professora Dra. Maria de Betânia
Uchôa Cavalcanti Brendle, à época do então Núcleo de Arquitetura da UFS,
intitulado ―Inventário da Arquitetura Art-Déco de Aracaju‖49 e o trabalho de conclusão
de curso de nossa autoria em Arquitetura e Urbanismo pela UNIT intitulado ―A
produção Art Déco em Aracaju: a identidade moderna da primeira metade do século
XX‖50, do qual foi gerado o artigo ―A estética Art Déco e a arquitetura estatal Era
Vargas em Aracaju‖51, publicado em 2014 pelos Cadernos de Graduação da mesma
instituição. Estes trabalhos, ainda que não tragam informações novas sobre a
trajetória e atuação do construtor alemão, revelam uma crescente atenção da
academia, na década corrente, pelo impacto de sua obra na cidade e pelas
modernidades arquitetônicas convencionalmente chamadas Déco.
Em 2015, um novo trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo
pela UNIT vem para indicar a figura de Altenesch como central na configuração da
arquitetura de Aracaju na primeira metade do século XX. Trata-se do texto de
Adriano Augusto Linhares de Souza, intitulado ―Umas casinhas bonitinhas: um
registro dos bangalôs no centro de Aracaju‖52, que é a primeira pesquisa a se
debruçar exclusivamente sobre a presença desta tipologia residencial na cidade.
Apesar de englobar o nome de Altenesch na discussão, o autor não chega a
46
NUNES; HELBING, 1988.
47
SANTOS, 2002.
48
BARRETO, Marília Ismerim. Cinema Rio Branco e Arquitetura: uma Identidade Déco. 2013. 53 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2013.
49
BRENDLE, Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti; MENDONÇA, Karoline; JESUS, Ana Paula Santos
de; BARBOSA, Juliane. Relatório Final: Inventário da Arquitetura Art-Déco de Aracaju. Programa
Institucional de Bolsas e Iniciação à Extensão-PIBIX. Universidade Federal de Sergipe, dez. 2013.
50
MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. A produção Art Déco em Aracaju: a identidade moderna
da primeira metade do século XX. 2013. 155 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013.
51
MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes; GRAÇA, Rogério Freire. A estética Art Déco e a
arquitetura estatal Era Vargas em Aracaju. Cadernos de Graduação: Ciências Humanas e Sociais.
Universidade Tiradentes. Aracaju, v. 2, n. 2, p. 99-123, out. 2014.
52
SOUZA, Adriano Augusto Linhares de. Umas casinhas bonitinhas: um registro dos bangalôs no
centro de Aracaju. 2015. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2015.
26

apresentar informações conclusivas sobre a atuação do alemão e impacto de sua


obra para a configuração do bungalow aracajuano.
Também em 2015 tem-se o registro da atribuição a Altenesch — que teria sido
feita originalmente por Luiz Antônio Barreto — do projeto do Palácio de Veraneio do
Governo na Atalaia Velha. Esta indicação aparece na dissertação em História de
autoria de Aquilino José de Brito Neto, intitulada ―‗Ao sul de Aracaju...‘: memória e
história da Atalaia Velha (1900-1952)‖ e apresentada em 2015 para a UFS53.
Ainda em 2015, em seu livro ―Aracaju, pitoresco e lendário‖54, o memorialista
Murillo Melins traz alguns escritos sobre Altenesch. Um dele refere-se à transcrição
de uma matéria do jornal Folha da Manhã, em sua edição de 22 de junho de 194055,
em que se lê homenagem ao construtor alemão em ocasião de morte. Neste texto
são indicadas algumas informações sobre as suas possíveis origens. Também neste
livro, Melins56 faz a transcrição de um texto do Diário Oficial do Estado de Sergipe,
datado de 27 de agosto de 194357, referente à mudança do nome da Rua Vila Nova
primeiramente para Altenesch e depois para Duque de Caxias. Neste texto, é
relatado o processo de insurgência popular contra o uso do nome do alemão para
aquela rua e a sua consequente mudança.
São estes os textos que trazem aos dias de hoje informações sobre a presença
e atuação de Altenesch em Aracaju, contudo, algumas lacunas ficaram por ser
respondidas. Não só persistiram silêncios sobre a própria figura do alemão, como os
que se referem à sua trajetória anterior e aos motivos de sua chegada a Aracaju,
como também se percebe uma fragilidade na análise de sua arquitetura e sua
integração com a cidade. A leitura da arquitetura proposta por ele ainda não havia
sido realizada considerando-se o conjunto da obra e uma abordagem integrada
das dimensões possíveis destes projetos ou objetos arquitetônicos, como as
questões atinentes à espacialidade, à técnica e ao aporte estético, a partir de
uma compreensão da modernidade — ou modernidades — divulgada e pretendida à
época. É sobre estas lacunas, particularmente, que este trabalho lança o olhar, no

53
BRITO NETO, Aquilino José de. “Ao sul de Aracaju...”: memória e história da Atalaia Velha
(1900-1952). 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2015, p. 28-29.
54
MELINS, Murillo. Aracaju, pitoresco e lendário. Salvador: EGBA - Empresa Gráfica da Bahia,
2015, p. 215-216.
55
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1. Cf. Anexo F.
56
MELINS, op. cit., p. 228-229.
57
RUA Vilanova – Altenesch – Duque de Caxias. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 27
ago. 1943.
27

intuito de contribuir para a continuidade da construção de uma história da arquitetura


de Aracaju e da constituição de sua modernidade.
Tendo por base a compreensão de que o construtor alemão Altenesch,
conforme indica a bibliografia subjacente a esta pesquisa, ocupou posição central na
proposição de modernidades arquitetônicas para a Aracaju dos anos 1930,
elaboram-se os objetivos deste trabalho. Esta pesquisa, portanto, tem por objetivo
principal investigar a trajetória e a atuação de Altenesch na cidade de Aracaju na
década de 1930, no que concerne a sua ação e interferência no campo da
arquitetura, compreendendo a questão como fomentadora de uma discussão
acerca da modernidade e diversidade no fazer arquitetônico no Brasil da
primeira metade do século XX. Este trabalho se propõe a uma compreensão mais
aproximada da dimensão da obra do alemão na cidade, pela busca de dados mais
precisos sobre a autoria dos projetos que são atribuídos a ele. Objetiva-se investigar
o agenciamento dos espaços, dos aspectos construtivos e princípios estéticos
que nortearam os seus projetos e obras residenciais e institucionais públicas e
privadas. Pretende-se também com esta investigação assinalar sobre a aderência
(ou não), em suas soluções espaciais, construtivas e plásticas, às proposições
das modernidades arquitetônicas do período.
Esta pesquisa tem por base epistemológica a compreensão de história
proposta por Walter Benjamin. Para ele, a articulação histórica do passado não
significa o conhecimento total dessa realidade, mas a apropriação dos fragmentos
deste tempo que chegam até o presente. Em suas palavras: ―Articular
historicamente o passado não significa conhecê-lo ‗como ele de fato foi‘. Significa
apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um
perigo58‖. A escrita da história, portanto, não é constituída de uma escrita de
verdades inquestionáveis, de uma descrição integral dos eventos ocorridos, mas de
uma narrativa possível elaborada pelo historiador através dos vestígios do passado
que sobreviveram à passagem do tempo.
Extrai-se de Benjamin, portanto, a compreensão sobre o objeto histórico
propriamente dito. Segundo ele, este deve ser confrontado enquanto mônada, ou
seja: o historiador, munido de um desejo de lutar por um passado oprimido, extrai do
curso aparentemente homogêneo da história um fato que guarde em si a

58
BENJAMIN, 1987, p. 224.
28

potencialidade de revelar as reminiscências do momento em que está inserido.


Assim, parte-se do princípio de que ―na obra o conjunto da obra, no conjunto da obra
a época e na época a totalidade do processo histórico são preservados e
transcendidos‖59.
Na adoção deste princípio epistemológico previne-se da tentação historicista,
como assinala Brandão60, quando a obra propriamente dita só é abordada após o
seu sentido ser previamente derivado de um contexto histórico-cultural que o
envolve. Ou seja, previne-se da compreensão da obra como uma mera
superestrutura reflexa da infraestrutura dominante, em que há perda do seu poder
determinante e formativo dentro do contexto em que se insere. Pretende-se, neste
olhar de bases ―benjaminianas‖, afastar-se desta estratégia historicista de
interpretação, compreendendo, portanto, a relação entre fato histórico e contexto
como uma relação de permanente diálogo e tensionamentos, para além de uma
noção linear e unidirecional de forças.
Parte-se desta compreensão dos tensionamentos entre obra individual e
contexto para o entendimento da criação em arquitetura: o objeto arquitetônico visto
como produto para onde convergem vetores da subjetividade daquele que projeta e
da objetividade da realidade externa em que e para o qual se projeta. Como fala
Nery61:

[...] a criação é uma ação autônoma do sujeito, no entanto se dá em


um contexto encarnado e corporificado seja do mais desconhecido
construtor aos mais celebrados arquitetos. A criação não é autista,
embora também não seja uma questão de reinterpretação simples de
modelos como pode parecer em uma primeira impressão. Ela se dá a
partir de novos encontros e ordenamentos compositivos que mesmo
fundada em referências, seja para reforçá-las ou rechaçá-las, se
reconfiguram num arranjo singular. Portanto a criação na arquitetura
não se dá nem na acéfala reprodução de modelos, nem no autismo
do ineditismo absoluto das especificidades e singularidades, mas sim
na interação desses polos, no movimento que se estabelece no entre
linguagem falada e linguagem falante.

59
BENJAMIN, 1987, p. 231.
60
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. A formação do homem moderno vista através da arquitetura.
2. ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999, p. 5.
61
NERY, Juliana Cardoso. Falas e ecos na formação da arquitetura moderna no Brasil. 2013. 463
f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2013, p. 24.
29

Propõe-se então, para este trabalho, o afastamento de uma perspectiva


rotuladora da arquitetura, na qual projetos e obras são compreendidos
exclusivamente como consequências de um contexto determinante. É assumida
para este trabalho uma concepção da arquitetura como resultante das relações entre
as suas características intrínsecas e as suas relações com o contexto. Também se
pretende afastar da tendência em enquadrar preliminarmente as obras
arquitetônicas nas caixas limitantes dos ―estilos‖. Certas expressões são utilizadas
neste trabalho — como Art Déco, neocolonial, colonial, Missões, moderna, stylo
moderno — mais para estabelecer diálogos entre o texto, a produção bibliográfica
existente e o próprio discurso da época sobre a arquitetura, do que propriamente por
uma necessidade de definir as obras estudadas com relação às suas condições
estéticas.
Segue-se assim a ideia lançada por William Curtis, quando propõe que as
edificações sejam compreendidas como ―densos emblemas, microcosmos,
combinando visões idealizadas da sociedade, como interpretações tridimensionais
da condição humana‖, das quais possa ser abstraído, a partir de um entendimento
das configurações e soluções técnicas, significados e intenções em cada obra, o
conteúdo mítico comum a todas as formas62. A noção de ―estilo‖, para o autor, é
―simples e enganosa, mascara um universo de pecados‖63, superficial por
desconsiderar a subjetividade de cada artista.
Esta pesquisa também tem seus alicerces numa compreensão da história
enquanto instrumento para se reconhecer aqueles cujas vozes foram silenciadas,
oprimidas. As palavras do historiador, como fala Jeanne Marie Gagnebin64 têm o
papel de ―ajudar a enterrar os mortos do passado e a cavar um túmulo para aqueles
que dele foram privados.‖ Um ―trabalho de luto‖, no descortinar dos espessos véus
do esquecimento, que se elabora a partir da exigência de um presente mais
verdadeiro. Evoca-se aqui a compreensão partilhada por Benjamin de uma
construção da história cultural que se estabelece por meio da barbárie, do
silenciamento de vozes por imposição de uma história oficial e linear. Esta
compreensão é naturalmente direcionada para o enfoque na gama de projetos e

62
CURTIS, William. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p. 13.
63
Ibid., loc. cit.
64
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, esquecer, escrever. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 47.
30

obras arquitetônicas que foram ignoradas pela historiografia inicial da arquitetura


moderna do século XX a nível mundial. Sobre isso, introduz Curtis:

Os primeiros historiadores da arquitetura moderna (talvez


devêssemos chama-los ―mitógrafos‖) tendiam a isolar seu objeto de
estudo, a supersimplificá-lo, a ressaltar sua singularidade, buscando
mostrar como a nova criatura era diferente de seus antecessores.
Desenvolvimentos paralelos, como a Art Déco, o Romantismo
Nacionalista, ou a continuação das Beaux-Arts clássicas, foram
relegados a uma espécie de limbo, como se pudesse dizer que uma
edificação no ―estilo errado‖ não pudesse ter valor. Isso era ao
mesmo tempo hediondo e enganoso. Parece-me que as várias
correntes da arquitetura moderna são melhor compreendidas e
avaliadas quando colocadas lado a lado com outros avanços da
arquitetura que lhes eram concomitantes, pois só assim pode-se
tentar explicar que patronos e grupos sociais usaram as formas
modernas para se expressar. Além disso, a qualidade artística, como
sempre, transcende o mero uso estilístico.65

O início da história da modernidade arquitetônica brasileira do século XX segue


essa tendência global, como bem revela a leitura de Yves Bruand, em seu livro
―Arquitetura Contemporânea no Brasil‖66, um dos textos pioneiros da historiografia
da arquitetura moderna brasileira. Essa escrita, fundamentada num contexto de
busca por genuína nacionalidade e autoafirmação dos autores culturais brasileiros, é
delineada por discursos que se querem hegemônicos e consequentemente se fazem
abafadores de outras vozes. Construída esta história a partir do olhar da escola
modernista carioca, foi estabelecido um percurso que mitificou certos cânones e
princípios técnico e estéticos em detrimento de uma diversidade de vetores
coexistentes, que ficaram às margens na elaboração desta história. Nery67, ao
abordar a construção deste discurso, indica Lúcio Costa como figura central, cuja
narrativa se converteu na semente desta historiografia:

[...] a versão traçada por Lúcio Costa em carta-depoimento (1948) e


no texto intitulado ―Muita construção, alguma arquitetura e um
milagre‖ (1951), também conhecido como ―Depoimento de um
arquiteto carioca‖ e posteriormente publicado sob o título ―Arquitetura
Brasileira‖ (1952) ainda permanece. Nessa construção narrativa a
origem da arquitetura moderna no Brasil é apresentada como um
milagre: o brotar no centro da capital do país do monumental Edifício
do Ministério da Educação e Saúde Pública como fruto das

65
CURTIS, loc. cit.
66
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2016.
67
NERY, 2013, p. 3.
31

―sementes de um gênio‖ que com o revelar do talento de um


―arquiteto, por assim dizer predestinado‖ (COSTA, 1962, p.124)
instaura a arquitetura moderna brasileira e aí se inicia a ―cruzada
santa‖ para a afirmação e disseminação dessa vertente como a única
expressão legitima das possibilidades arquitetônicas de seu tempo.

Moreira68, ao tratar dos textos de Lúcio Costa, indica nestes uma atitude
polarizante, em que o protagonismo na formação de uma arquitetura moderna é
sempre atribuído aos mesmos autores. Prestigiam-se as concepções francesas de
Auguste Perret e Le Corbusier e a alemã de Walter Gropius (como sinônimo da
Bauhaus) e de Mies van der Rohe, mas estas últimas referências muito mais como
uma estratégia de se manter na zona do politicamente correto. Não se encontrará
nos textos de Lúcio Costa uma única palavra sobre o pensamento e a arquitetura de
Adolf Loos, J.J.P. Oud, Richard Neutra ou Schindler, Erich Mendelsohn, Bruno e
Max Taut, Martin Wagner ou Ernst May, que representaram vertentes distintas, e
não menos relevantes, da formação da arquitetura moderna. Delimita-se, então, uma
esfera do silêncio que envolve os esforços de atores como Altenesch, que,
estrangeiros ou não, propuseram outras possibilidades de modernidade,
concorrentes com a proposta de centralidade da escola carioca para uma arquitetura
moderna brasileira.
De acordo com Nery69, os anos 1920 e 1930 — período em que se insere a
obra de Altenesch — ainda não receberam a devida atenção por parte dos
pesquisadores da arquitetura no delineamento de um campo de vetores ―pleno de
embates e tensões, numa heterogeneidade bem mais alargada que a polaridade
entre acadêmicos e modernos pôde sugerir na luta pela hegemonia de uma vertente
moderna que aqui se consagrou‖. Pretende-se, portanto, uma noção alargada da
modernidade arquitetônica da primeira metade do século XX no Brasil, em que se
considerem os aspectos da subjetividade dos autores criadores e a heterogeneidade
destes vetores exógenos de modernidade.
A investigação da obra de Altenesch, portanto, justifica-se pela contribuição
que pode oferecer, para além do valor para a história local, a uma reescrita, que já
acontece, da formação da arquitetura moderna brasileira. Entende-se que estas
modernidades arquitetônicas estão desamarradas dos sistemas das Beaux-Arts

68
MOREIRA, Pedro. Alexandre Altberg e a Arquitetura Nova no Rio de Janeiro. Arquitextos, São
Paulo, ano 05, n. 058.00, Vitruvius, mar. 2005. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/484>. Acesso em: dez. 2016.
69
NERY, 2013, p. 10.
32

como se distanciam das instruções canônicas do Movimento Moderno que poderiam


ser intituladas ―corbusianas‖, mas que se instauram num contexto de pluralidades de
experimentações e diversidade de estéticas que também se propõem modernas, em
um cenário de novidades, em que a linguagem hoje conhecida como ―modernista‖
era apenas uma das diversas possibilidades de expressões da modernidade do
período. Pululam nas páginas da revista ―A Casa‖ projetos nas mais diversas
expressões e essa diversidade se refletia igualmente nas paisagens das cidades
brasileiras70. No entanto, a historiografia da nossa arquitetura, em um primeiro
momento, não registra esta pluralidade.
A história é contada pelo vencedor, e este no Brasil, é o movimento moderno
carioca, de bases ―corbusianas‖, liderado por Lúcio Costa. A arquitetura moderna
nasceu como ―um milagre‖, de onde não havia nada. ―O milagre‖ da criação do
arquiteto com seu ―gênio criativo‖. Assim propõe Lúcio Costa tenha surgido o
moderno na arquitetura brasileira: uma arquitetura feita por arquitetos brasileiros,
cariocas, de bases ―corbusianas‖. O milagre é a construção do edifício do Ministério
da Educação e Cultura, iniciado em 1937. No mesmo período, Altenesch, construtor
alemão, estava em Aracaju trabalhando para o Estado Novo, erguendo prédios de
supostos Art Déco e neocoloniais.
Vislumbra-se um fenômeno emblemático, que bem pode caracterizar a
diversidade do cenário da produção arquitetônica nos anos 1930, paralela à
construção deste discurso hegemônico que perdura até os dias atuais: Altenesch é
alemão, quando há um forte apelo nacionalista no discurso dos modernistas; é
possivelmente um construtor de formação técnica, quando se reforça a ideia do
gênio criativo atribuído ao arquiteto formado; atua em Aracaju, capital de um estado
nordestino de pouca ou nenhuma expressividade a nível nacional, quando ―o
milagre‖ da arquitetura brasileira se estabelece na então capital do Brasil, o Rio de
Janeiro. Debruçar-se sobre essa atuação, que à primeira vista parece tão pontual e
local, pode ser reveladora e contribuir no trazer a lume outra face da história da
arquitetura moderna no Brasil, permitindo que outras vozes possam ecoar, vozes
essas silenciadas na construção da história para que apenas uma voz fosse
legitimada: as vozes dos ―outros modernos‖, dos estrangeiros, dos não arquitetos e

70
Revista sobre arquitetura editada no Rio de Janeiro, publicada entre 1923 e 1949 em 304 números.
Contou com relativa difusão à época no Brasil, principalmente entre os profissionais da arquitetura e
construção. Cf. NERY, 2013, p. 293 et seq.
33

daqueles que produziram em outras regiões fora dos principais centros econômicos
e políticos brasileiros.
As discussões sobre modernidade estão no cerne das definições desta
pesquisa, como pôde ser notado no decorrer do texto e no próprio título ―Altenesch:
técnica, estética e modernidade arquitetônica na Aracaju dos anos 1930‖.
Modernidade, numa acepção mais genérica, como indica os dicionários Priberam e
Caldas Aulete71, significa característica, qualidade ou estado do que é moderno.
Moderno, por sua vez, segundo os mesmos dicionários, é o que é contemporâneo,
dos tempos atuais ou mais próximos, recente, novo, ou que está na moda.
No campo da filosofia, compreende-se que esta noção de modernidade é
flagrada por Hegel, que utiliza a palavra moderno para nomear o momento histórico
que começa a se delinear por volta de 1500, com o renascimento e a descoberta do
Novo Mundo, em cujo modo de vida as preocupações são voltadas para o futuro72.
Como indica Habermas, o presente se torna uma eterna ―transição que se consome
na consciência da aceleração e na expectativa do que há de diferente no futuro‖73.
Moderno é um adjetivo que designa não só o tempo presente, mas uma ruptura com
a preexistência através do novo; significa ser oposto a algo antigo74.
Estes ―novos tempos‖ são caracterizados pela ausência de modelos, em que
se abre para o futuro e não se orienta mais pelas premissas do passado. As
tradições dos modelos do passado perdem o seu valor e uma nova tradição se
estabelece no presente, voltada para o futuro, uma tradição da transformação, da
constante mudança, da inovação contínua75. O rompimento com a tradição sugere o
rompimento com a noção cíclica de tempo, em que os acontecimentos tenderiam a
se repetir dentro de um determinado período, e passa a se compreender o tempo
em linearidade, em que os acontecimentos se sucedem sempre de forma distinta da
anterior. Estão embutidas nesse novo conceito de tempo duas noções: a de

71
Cf. MODERNIDADE. In: Dicionário Caldas Aulete. (verbete). Disponível em:
<http://www.aulete.com.br/modernidade> Acesso em: 6 nov. 2017; MODERNIDADE. In: Dicionário
Priberam. (verbete). Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/modernidade> Acesso em: 6 nov.
2017; MODERNO. In: Dicionário Caldas Aulete. (verbete). Disponível em: <
http://www.aulete.com.br/moderno> Acesso em: 6 nov. 2017; MODERNO. In: Dicionário Priberam.
(verbete). Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/moderno> Acesso em: 6 nov. 2017.
72
HABERMAS, 1998 apud NERY, Juliana Cardoso. Configurações da metrópole moderna: os
arranha-céus de belo Horizonte 1940/1960. 2001. 280 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001, p. 36.
73
Ibid., loc. cit.
74
NERY, 2001, p. 36.
75
HABERMAS, 1998 apud NERY, 2013, p. 52.
34

progresso, em que se compreende que o porvir traz evolução e superação do


presente; e noção da individualidade do ser, pela ―afirmação da subjetividade
criadora‖76. A cultura moderna é delineada, portanto, pela propagação do princípio
da subjetividade. Os conceitos morais modernos ―fundam-se no direito do indivíduo
de discernir como válido aquilo que é suposto fazer‖, ou seja, na liberdade subjetiva
do indivíduo, na autorrealização de sua expressividade77. Nas palavras de Nery78:

A modernidade então seria uma época, cuja principal característica


alicerça-se na reflexão e autocompreensão de si mesma numa busca
incessante de suas contradições, de sua superação. Uma era de
constante transformação que vê seu presente como uma transição
para um futuro que começa a ser preparado no hoje, mas que jamais
é alcançado, pois ao atingi-lo já se torna obsoleto e um novo futuro já
começa a se delinear no horizonte. Esse novo futuro é vislumbrado e
esperado com ansiedade para mais uma vez ser superado por algo
que há de vir.

A modernidade se desdobra no capitalismo industrial, que se apropria da ideia


de progresso para afiançar a sua própria existência. A necessidade de mudanças
constantes, de novidade, de atualização, a marcha constante em busca de algo
melhor no futuro, garante a manutenção do mercado criado pelo sistema industrial79.
As artes e a Arquitetura, imiscuídas nesta ideia de progresso industrial e em sua
dinâmica acelerada de consumo, adequam-se ao prestígio da reprodutibilidade
técnica, que massifica as experiências estéticas por meio da padronização e
estandardização advindas da máquina. A arquitetura, portanto, ―enquanto técnica
[...] terá a seu dispor todo o progresso gerado pela ciência no aprimoramento de
novos materiais e tecnologias apropriadas à construção civil‖80. Pretende-se uma
arquitetura renovável e universal, cujo caráter perecível e generalista se coloca em
constante sintonia com a técnica.
A ideia de progresso, portanto, ao mesmo tempo em que estabelece o ritmo da
reprodução técnica de valores estéticos, instala também a ideia da subjetividade
criadora, proponente da novidade e da inovação que se impõem sobre os modelos

76
BRANDÃO, 1999, p. 23.
77
HABERMAS, 1998 apud NERY, 2013, p. 55.
78
NERY, 2001, p. 46.
79
Ibid., loc. cit.
80
SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura moderna: a atitude alagoana. Maceió: SERGASA, 1991, p.
19.
35

obsoletos do passado81. Esta mentalidade acerca da modernidade e do que é ser


moderno permeia o discurso valorativo da arquitetura de Altenesch em Aracaju. Este
entendimento se explicitada em trechos (com grifos nossos) do supracitado Decreto-
Lei nº 39 de 1940, quando a prefeitura de Aracaju homenageia o alemão por ter sido
―o renovador da Cidade de Aracaju, afastando, pela implantação de sua arte na
paisagem urbana, a monotonia passadista dos nossos motivos arquitetônicos‖, por
ter proposto ―novos métodos e modelos de arquitetura‖ e que por consequência
―transformou completamente, a fisionomia arquitetônica da cidade‖.
Com relação à compreensão da modernidade arquitetônica brasileira da
primeira metade do século XX, em que se insere a obra de Altenesch, adota-se
neste trabalho a perspectiva ofertada por Segawa. O autor, numa ―postura que se
avizinha às tendências da fragmentação ‗regulamentada‘ do conhecimento, como
que uma reação às grandes leituras totalizadoras‖82, se volta para aquelas
arquiteturas do período que haviam sido deixadas de lado pela historiografia clássica
da arquitetura moderna brasileira: as outras modernidades. As arquiteturas de base
―corbusianas‖, difundidas principalmente pela ―escola carioca‖, ela as agrupa sob a
expressão ―modernidade corrente‖. Aquelas outras modernidades, que se
relacionam a experimentações de viés racionalistas e também se associam a
princípios funcionalistas e às tecnologias construtivas da era industrial, mas que se
distanciam das ―cartilhas corbusianas‖ propriamente ditas, são agrupadas no que o
autor chama de ―modernidade pragmática‖. Aí estão aquelas obras que foram
chamadas de ―modernas‖, ―cúbicas‖, ―futuristas‖, ―estilo 1925‖, ―gênero Perret‖ e
mais recentemente Art Déco, e que atenderam largamente às criações
arquitetônicas brasileiras, não apenas no âmbito privado, mas também nos
empreendimentos construtivos do Estado, especialmente na Era Vargas.
Sobre aquela última expressão, Art Déco, Segawa, em seu texto, a utiliza mais
como nomenclatura para uma manifestação essencialmente decorativa, e menos
para questões construtivas. De uma perspectiva crítica, Segawa propõe que, o que
se convencionou chamar de arquitetura Art Déco — expressão criada apenas na
década de 1960 — foi resultante do momento de euforia e frivolidade do período
Entreguerras. Tal momento se caracterizou quando na década de 1920 a busca por

81
SILVA, loc. cit.
82
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 13.
36

uma modernidade, por novidade e a empolgação que os avanços técnicos e


científicos promoviam na vida cotidiana (como a expansão do acesso aos meios de
transporte e de comunicação) levou à busca por ser moderno antes mesmo e se
compreender o significado da condição moderna, num momento em que se era
―incapaz de fixar uma escolha entre uma herança cultural do século 19 e as
perspectivas industriais da era da máquina‖83. Essa ambiguidade, promovida
incialmente pela França, com sua celebração à modernidade, na Exposition
Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, de 1925, acabou por
alimentar as expectativas eufóricas da sociedade estadunidense do período, que
adotou tais artifícios decorativos e os multiplicou, difundindo-os. Contudo, como
ainda sugere Segawa, a difusão desta estética recentemente alcunhada de Arte
Déco foi sustentada por uma diluição de diversas referências modernas próprias das
vanguardas europeias, que se distanciam em seus engajamentos políticos-
ideológicos da euforia ambígua e ingênua atribuída ao Art Déco, mas que
introduziram, para o início do século XX, as diretrizes básicas para um pensar e criar
a modernidade deste século em questão.
Com relação à arquitetura neocolonial, Segawa afirma que, ―na prática
concreta, afigurou-se como uma variação do ecletismo no que busca eleger um
‗estilo‘ mais adequado para o fim que se tinha em vista‖84. Contudo, estas
linguagens podem ser incluídas numa discussão sobre modernidade, segundo o
autor, porque a sua elaboração não é isenta de uma vontade modernizadora, de
atualização, pela introdução de um contraponto regionalista, nacionalista como fator
de renovação arquitetônica face às transformações da sociedade e da cultura
material do início do século XX.
Para esta pesquisa, esboçou-se uma metodologia baseada nos preceitos de
Benjamin e alicerçada por Brandão, como indicados anteriormente, em que o fato
histórico é analisado em sua singularidade, para, a partir daí, serem extraídas as
relações com o contexto. Por isso, antes de qualquer comparação ou filiação com a
produção arquitetônico do período, a nível nacional e mundial, é desenvolvida uma
análise da própria obra de Altenesch, investigando as especificidades, conexões,
tensionamentos deste conjunto em isolado.

83
SEGAWA, 2014, p. 54.
84
Ibid., p. 38.
37

O método de pesquisa das fontes para este trabalho partiu das orientações de
Carlo Ginzburg, em que reminiscências, entendidas como ―pegadas‖, ―sinais‖,
indícios — zonas privilegiadas que são sobre a realidade opaca do passado —
tornam-se capazes de nortear o trabalho do historiador na tentativa de decifrar algo
das tramas dos eventos ocorridos, e consequentemente delinear uma narrativa 85.
Este método, chamado ―indiciário‖, por se voltar para dados não controláveis e
imprevisíveis, como os rastros dos eventos históricos, não pode ser alicerçado sobre
uma base inflexível, e, portanto, se estabelece sobre os mecanismos da intuição do
pesquisador.
Consequentemente, um trabalho elaborado com auxílio da intuição de quem
rastreia sinais deixados não pode resultar em uma descrição exata dos fatos como
ocorreram. O trabalho do historiador é muito mais a construção de uma narrativa
aproximada e possível, de eventos que, por um motivo ou outro, se destacam por
seus vestígios que resistiram ao tempo em detrimento de outros que foram
apagados irremediavelmente. Desta forma, a pesquisa em história tem fragilidades
inerentes que não podem ser contornadas, mas compreendidas como estruturais à
sua metodologia. Sobre isso e sobre a tarefa do historiador, diz Gagnebin:

Interessa-me ressaltar que, através do conceito de rastro, voltamos


às duas questões iniciais, aquelas da memória e da escrita. O que
ganhamos neste percurso? Paradoxalmente, a consciência da
fragilidade essencial do rastro, da fragilidade essencial da memória e
da fragilidade essencial da escrita. E, ao mesmo tempo, uma
definição certamente polêmica, paradoxal e, ainda, constrangedora
da tarefa do historiador: é necessário lutar contra o esquecimento e a
denegação, lutar, em suma, contra a mentira, mas sem cair em uma
definição dogmática de verdade.86

Esta pesquisa sobre Altenesch e sua atuação em Aracaju se desenvolveu,


assim, sobre os rastros deixados, primeiramente, pelas narrativas sobre ele
elaboradas. Consideram-se aqui tanto aquelas narrativas construídas a partir da
memória de quem acompanhou os fatos de modo contemporâneo a eles,
particularmente referindo-se ao texto de Fernando Porto87, tanto aquelas narrativas
construídas do ponto de vista do historiador-pesquisador, baseada em acesso a

85
GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In:______. Mitos, Emblemas,
Sinais: Morfologia e História. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, cap. 5, p. 143-179.
86
GANEBIN, 2006, p. 44.
87
PORTO, 2003.
38

documentos e memórias de terceiros, como é o caso dos(as) outros(as) autores(as)


considerados(as). Estes textos são capazes de revelar fragmentos da trajetória e da
obra do alemão, bem como a indicação de documentação capaz de oferecer
maiores informações sobre ele. Datas e períodos de tempo são indicados, algumas
obras são destacadas, bem como sugestão de relações estabelecidas entre o
alemão e autoridades sergipanas. Contudo, muitas são as lacunas e áreas
sombreadas por serem preenchidas ou clareadas.
Para a investigação da trajetória do alemão, considerando-se as suas origens e
o seu percurso até a chegada em Aracaju, o enfoque foi dado nas bases
documentais referentes à emigração alemã para a América. Sites internacionais
como o FamilySearch, Ancestry e Passagierlisten foram consultados. Também foi
considerada a documentação nacional referente à entrada de navios estrangeiros,
como o acervo digital disponível no Sistema de Informações do Arquivo Nacional
(SIAN). Buscou-se igualmente o entendimento, a partir de publicações da época,
sobre a formação alemã de construtores, engenheiros e arquitetos. A pesquisa
referente aos rastros da passagem do alemão por outras localidades brasileiras foi
feita com o auxílio dos bancos de dados da Biblioteca Nacional, principalmente a
seção da Hemeroteca Digital, do acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro e do Arquivo Público do Estado da Bahia.
Quanto à atuação e trajetória em Aracaju, o enfoque inicial foi dado para os
arquivos locais nos quais poderiam estar localizados materiais gráficos referentes
aos projetos arquitetônicos. O acervo do Arquivo Público Municipal de Aracaju
(APMA), em que estão armazenadas licenças, registros e projetos das obras
erguidas em Aracaju, bem como os do APES e da Companhia Estadual de
Habitação e Obras Públicas (CEHOP), responsáveis pela guarda de documentos
referentes à atuação em obras do governo do Estado de Sergipe, foram
compreendidos como bases iniciais no levantamento da obra de Altenesch. Estes
documentos gráficos arquitetônicos teriam sua análise assessorada pelas
informações que viriam a ser investigadas em fontes de outras naturezas, como a
iconográfica, a textual e a memória.
Contudo, quando a realidade destas bases documentais prioritárias foi faceada,
se fez necessária uma mudança na busca e no trato com as fontes. A absoluta
inexistência na mapoteca do APMA de projetos originais da obra construída do
alemão em Aracaju deu notícia da dificuldade que se encontraria em compreender a
39

dimensão de sua obra na cidade. A impossibilidade de acesso à mapoteca do


APES, devido à insalubridade do material, também foi bem denunciadora desta
dificuldade. Excetuando-se pelo achado de um único projeto original — ainda assim
de uma obra não construída — localizado na mapoteca da CEHOP, que se
configurou uma luz no fim do túnel para o entendimento do processo projetual do
alemão, o cenário inicialmente se mostrou desolador. Não podendo ser consultada a
base documental preferencial para uma pesquisa em história da arquitetura — os
desenhos originais — direcionou-se um olhar mais cuidadoso para outras categorias
de fontes.
As Bibliotecas locais de Aracaju, como a Epifânio Dória e as Bibliotecas
Centrais da UFS e da UNIT, o IHGSE, o Instituto Tobias Barreto, o site Jornais
de Sergipe, bem como o próprio APMA e o APES, assim como acervos
particulares, entraram na rota na busca por fotografias, periódicos locais (como
revistas, anuários, jornais, Diário Oficial), correspondências, relatórios e todo e
qualquer documento que pudesse contribuir para o alcance dos objetivos desta
pesquisa88.
Para o acesso de informações através da memória, foram primeiramente
procuradas pessoas vinculadas ao registro das lembranças e da história de Aracaju,
como o economista e memorialista Murillo Melins, e o economista, membro da
Academia Sergipana de Letras e do IHGSE, o Professor Luiz Fernando Soutelo.
Também foram procurados os historiadores e professores Dra. Verônica Nunes e
Dr. Waldefrankly Santos, já que, como visto, foram dos primeiros a se debruçar
sobre a presença de Altenesch em Aracaju. A pesquisa também foi buscar junto à
memória daquelas pessoas ligadas aos edifícios aqui analisados informações sobre
estas obras, e consequentemente, pistas sobre a atuação de Altenesch na cidade.
Deve-se enfatizar que esta pesquisa, e a escrita deste texto, desenvolveram-se
a partir de pequenos fragmentos que foram sendo encontrados no caminho; pontas
de fios que por vezes levaram a pequenos novelos de informações novas e
revigorantes, mas que na maioria das vezes não passaram de simples pontas soltas
em uma planície de ausências, varrida pelo tempo.
Desta forma, ausência dos projetos originais das obras construídas conduziu a
uma atenção a outra tipologia documental possível: aos levantamentos cadastrais

88
A lista completa dos acervos e fundos consultados durante esta pesquisa pode ser verificada ao
final deste texto, nas Referências.
40

localizados nos arquivos, junto aos proprietários ou instituições responsáveis pelos


edifícios estudados, ou mesmo elaborados por outros pesquisadores. Em alguns dos
casos, a inexistência de representação gráfica levou inclusive à confecção de
levantamento e cadastro inéditos, delineando assim uma etapa de pesquisa de
campo.
Neste cenário da impossibilidade de serem faceados os projetos originais das
obras construídas, a memória dos usuários das obras estudadas assumiu uma
posição essencial na busca por se compreender de forma mais aproximada a
originalidade espacial, plástica e técnica de sua arquitetura. O acesso à memória de
quem, de alguma forma, guardou as lembranças dos espaços projetados e
construídos pelo alemão, vinculado aos levantamentos cadastrais localizados ou
elaborados, e o reconhecimento das obras in loco, quando possível, possibilitou a
elaboração de material gráfico para a representação desta produção arquitetônica.
Deve-se frisar, contudo, que a diversidade da condição dos desenhos localizados
(quando localizados), das obras (algumas inexistentes) e da memória resultou em
dados com características muito diversas e heterogêneas entre si. Os detalhes
sobre as condições específicas da documentação referente a cada projeto ou obra
são esmiuçados ao longo das seções de analise, já que se entende que revelá-las
na Introdução provocaria o adiantamento de resultados. Portanto, para que o(a)
leitor(a) não seja subtraído em sua curiosidade, que geralmente move o interesse
pela leitura, estes detalhes estão distribuídos no correr do texto.
O que se refere a uma metodologia de análise da arquitetura — abordada nas
seções 3 e 4 desta dissertação — são utilizadas as categorias de análise
propostas por Keneeth Frampton em seu livro Genealogy of Modern
Architecture89. Frampton propõe um método comparativo de análise de pares de
obras modernas compreendidas em tipologias ou programas similares e associadas
a partidos ideológicos diferençados entre si. O objetivo desta metodologia é revelar a
forma como uma gama de diferentes valores e referências está incorporada em cada
trabalho, incluindo os aspectos referentes às distribuições dos espaços e suas
hierarquias, as relações entre estrutura e membrana e os aspectos simbólicos e
psicológicos impressos nos materiais e elementos utilizados em cada obra.
Frampton oferece um roteiro de análise, que incluem as relações entre a tipologia

89
FRAMPTON, Kenneth. A Genealogy of Modern Architecture: Comparative Critical Analysis of
Build Form. Zurich: Lars Müller Publishers, 2015, p. 28 et. seq.
41

e o contexto de sua inserção; as categorias dos espaços90 enquanto públicos,


privados, semipúblicos e de serviço; as relações entre rotas e objetivos na
circulação; as relações entre membrana e estrutura e o tópico intitulado
Connotational Summation, em que se relacionam os aspectos simbólicos
expressos pelo uso dos materiais, elementos e sua vinculação aos princípios
norteadores da obra em análise. Deve-se frisar, contudo, que a metodologia de
Frampton não é utilizada neste trabalho, já que existem diferenças substanciais
entre o conjunto das obras analisadas por ele e o conjunto das obras sob análise
neste trabalho. As análises comparativas de Frampton se alicerçam nas diferenças
ideológicas de pares de edifícios de diferentes arquitetos que apresentam
programas, tipologias e características documentais similares. Por outro lado, neste
trabalho são considerados projetos de um mesmo autor, Altenesch, o que excluiu a
possibilidade de uma comparação forjada sobre diferenças ideológicas claras.
Excetuando-se dois conjuntos de residências — os bungalows e as residências de
dois pavimentos vinculáveis a expressões racionalistas —, as obras aqui estudadas
apresentam programas diferenciados entre si, o que exclui a possibilidades de uma
analise comparativa feita por pares de edificações de tipologias equivalentes entre
si. Além disso, há uma diversidade das condições das fontes e materiais
encontrados para cada obra ou conjunto de obras, inclusive com a consideração da
memória dos usuários sobre alguns destes objetos, o que demandou uma análise
muito particular para cada caso. Desta forma, pode-se afirmar que o que se
aproveita da proposta de Frampton são as suas categorias de análise. Também é
tomada de empréstimo a sua proposta de representação gráfica das plantas baixas,
com a indicação — por uso de manchas e linhas de cores variadas — das diferentes
categorias dos espaços, dos fluxos e o aporte estrutural. Estas categorias e
aspectos representativos herdados de Frampton são, pela variedade das obras
analisadas, e pelas especificidades de cada representação, adaptados caso a caso.

90
Frampton (2015, p.31-32), estabelece a sua diferenciação entre publico e privado a partir da tese
de Hannah Arendt. Para esta, o âmbito público se configura com o espaço da apresentação pública,
onde o corpo em sua condição política se manifesta potencialmente. Já o âmbito privado é reservado
para a domesticidade dos espaços de procriação e nutrição. Os espaços de serviço, segundo
Frampton, são aqueles que atendem às necessidades corporais básicas e a funções auxiliares, como
estocagem e circulação, e dentre eles estariam os banheiros, lavatórios, estacionamentos, depósitos
e elevadores. Quanto aos espaços semipúblicos, a definição de Frampton não é muito clara, apenas
afirmando que seriam espaços de transição entre o público e privado. Desta forma para este trabalho
foram entendidos como espaços semipúblicos aqueles em que há a possiblidade de acesso visual
por parte do público, ainda que o seu acesso de fato seja restrito aos ambientes privados, como
sacadas e varandas de pavimentos superiores.
42

Assim, as análises foram feitas não para pares de obras, mas de forma continuada,
obra após obra, revelando-lhes as diferenças e semelhanças, especificidades e
generalidades, que sejam capazes de indicar a presença das modernidades
técnicas e estéticas e o trato com a espacialidade, mas também na tentativa de
revelar os princípios projetuais que teriam norteado os partidos adotados pelo
alemão em sua obra.
Tem-se por hipótese, para a elaboração desta pesquisa, a compreensão de
que o construtor alemão Altenesch teria ocupado uma posição central na
proposição, edificação e difusão de modernidades estéticas e técnicas para a
arquitetura da cidade de Aracaju na primeira metade do século XX, mais
especificamente nos anos 1930. As modernidades arquitetônicas, que por ele
propostas, não só estariam alicerçadas em vetores modernos advindos de padrões
importados — como sugere, por exemplo, a conexão entre parte da sua produção
arquitetônica e aquela com bases racionalistas feita em outras partes do Brasil e do
mundo —, mas também estariam atreladas aos processos de tensionamento entre o
seu conhecimento técnico, expressividade estética e as demandas daqueles que se
tornaram seus clientes. Ao trabalhar a partir do ―gosto‖ do contratante, teriam
pesado os aspectos da subjetividade e da busca pela novidade, fios essenciais na
construção das tramas da modernidade, da busca pela experiência do moderno.
Tendo em vista essa hipótese de trabalho, algumas questões são assinaladas como
estímulos investigativos para este trabalho. Estas devem ser compreendidas como
norteadoras da pesquisa e condutoras às conclusões ao final do texto:
1- Qual o nível de entrosamento técnico e estético entre a obra
arquitetônica de Altenesch e o progresso tecnológico da era industrial,
baseado na aderência à máquina, na funcionalidade, na produção seriada,
na economia de recursos, na racionalização dos espaços associada à
racionalização das estruturas prediais, considerando-se, todavia, os
possíveis distanciamentos entre os avanços industriais em um nível global e
a permeabilidade destes artifícios na realidade das práticas construtivas de
Aracaju?
2- De que maneira e em qual nível o cimento/concreto armados foi de fato
integrado à sua arquitetura, já que a ele é associada a difusão desta
tecnologia construtiva entre os construtores de Aracaju? Esta tecnologia foi
utilizada em sua potencialidade construtiva? Foi utilizada em sua
43

potencialidade estética? Ou se configurou mais como instrumento


legitimador de associação à modernidade, no entanto distanciada de suas
potencialidades?
3- Aproveitando as críticas trazidas por Fortes91, por Alencar Filho92 e
posteriormente ampliadas em hipóteses por Waldefrankly Santos93 e
Isabella Santos94, sobre a suposta não adequação ao clima de algumas
das obras de Altenesch, mais especificamente os seus bungalows, tem-se
nesta pesquisa a oportunidade de serem problematizadas, faceadas e
talvez respondidas. Em que medidas seriam ou não pertinentes tais
críticas, considerando-se a mentalidade e a difusão dos discursos da
época referentes à relação entre a solução arquitetônica e os aspectos
ambientais e de conforto?
4- Quais seriam os vetores técnicos e estéticos convergentes na
configuração do conjunto das obras de Altenesch?
5- A que noção de modernidade(s) arquitetônica(s) a atuação de Altenesch se
associou?
O corpo do texto foi subdividido em cinco seções: três seções nucleares, onde
estão desenvolvidas a apresentação das informações coletadas e suas análises,
acompanhadas desta introdução e de uma conclusão. A segunda seção consiste de
uma narrativa ampliada sobre a trajetória de Altenesch, construída a partir dos
rastros oferecidos pela bibliografia que subjaz a este trabalho. Esta seção tomou por
base o trajeto delineado pelos pesquisadores e historiadores antecessores e foi
preenchida por novos dados e hipóteses de forma a ampliar o campo de visão
acerca da trajetória e da atuação do alemão em Aracaju. Esta segunda seção
representa, assim, a contribuição deste trabalho no sentido de oferecer uma
narrativa mais abrangente, referente ao percurso de Altenesch enquanto sujeito
histórico e agente do fazer arquitetônico em Aracaju. A terceira seção é referente ao
estudo de sua obra residencial e a quarta seção trata da obra institucional do
construtor alemão. A organização destas duas seções concernentes às análises
seguiram parâmetros diferenciados. A seção três está dividida em três subseções,
conjuntos de residências agrupadas por tipologia, principalmente, mas também

91
FORTES, loc. cit.
92
FILHO, loc. cit.
93
SANTOS, 2002, p. 45
94
SANTOS, 2011, p. 105-106.
44

pelas diferenças de suas visualidades e mesmo pelas características das fontes


disponíveis. A seção quatro está dividida em subseções para cada um dos projetos
ou obras, e a sequencia segue uma ordem cronológica aproximada. Buscou-se ao
máximo, com esta organização, o afastamento da tendência de se agrupar por
questões ―estilísticas‖. A proposta, reforçando o que foi apresentado anteriormente,
é evitar as rotulações e extrair da própria obra do alemão as respostas acerca da
vinculação (ou não) a matrizes de soluções estéticas, espaciais e técnicas vigentes
à época de sua atuação, dando ênfase, primeiramente, à particularidade do conjunto
da obra, ao aspecto da subjetividade imanente aos objetos arquitetônicos. Para a
seleção dos objetos arquitetônicos analisados nestas duas seções, foram adotados
dois critérios: a clareza acerca da vinculação da obra ao construtor alemão, e a
disponibilidade de informações — sejam estas de bases iconográficas, textuais,
gráficas e mesmo advindas da memória dos entrevistados. As informações mais
precisas sobre a qualidade e características de bases documentais e fontes que
lastreiam as analises de cada obra (ou conjunto) são indicados nos textos
introdutórios de cada subseção.
Ao final do texto, nos Apêndices, o(a) leitor(a) pode facear dois produtos
produzidos para este trabalho que auxiliam a leitura. O Apêndice A consiste da
indicação da localização, em mapa de Aracaju da década de 1930, de obras de
Altenesch e de alguns edifícios a ele atribuídos ou vinculados. Já o Apêndice B é
resultante de uma esquematização em tabelas das informações referentes à
atuação de Altenesch em Aracaju, com indicação das fontes originárias e também
com destaques para os dados inéditos trazidos por esta pesquisa. Os Apêndices são
seguidos por Anexos, que trazem na íntegra documentos localizados durante as
investigações e considerados fundamentais para a construção deste texto.
45

2 POR UMA TRAJETÓRIA DE ALTENESCH: ENTRE NARRATIVAS, RASTROS E


HIPÓTESES

Este capítulo tem por objetivo ofertar uma contribuição ao alargamento da


narrativa sobre a trajetória do construtor Altenesch. Delineia-se a partir da
apresentação de novas hipóteses e informações que possam vir a enriquecer a
compreensão referente à figura deste alemão e a sua passagem em terras
sergipanas e em momentos anteriores a sua chegada em Aracaju. Foi considerada
como base a bibliografia preexistente que aborda a sua presença em Aracaju, e, a
partir dos rastros e fios ofertados por estes textos indicados na Introdução, fez-se a
busca por novos dados, que são apresentados aqui.

2.1 EM BUSCA DAS ORIGENS

Até a realização desta pesquisa poucas foram as pistas localizadas referentes


às origens de Hermann von Altenesch. O documento local mais antigo a esboçar
uma trajetória é o artigo do jornal aracajuano Folha da Manhã, de 22 de junho de
19401, que, ao homenageá-lo por advento de sua morte, traz a informação de ser ele
de Hamburgo e de ter chegado à América aos 22 anos. Fernando Porto, por ter
trabalhado na seção técnica da prefeitura de Aracaju à época da presença de
Altenesch na cidade, travou contato direto com o construtor e, por isso, parece
ofertar informações mais seguras — ainda que não sejam dados precisos — sobre a
jornada e a chegada de Altenesch a terras sergipanas. Ele confirma a nacionalidade
alemã do construtor e afirma que ―constava ter vindo da Argentina, mas já trazia um
português razoavelmente falado‖2. Luiz Antônio Barreto, por sua vez, propõe
informações mais delineadas, como ter nascido o engenheiro em Hamburgo em
1900 e ter deixado seu país de origem com destino ao continente americano aos 18
anos de idade3. No entanto, não apresenta as fontes de onde teria encontrado tais
afirmações, o que fragiliza sua narrativa. Assim se configuram, portanto, as poucas

1
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju, 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1. Cf. Anexo F.
2
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 22.
3
BARRETO, Luiz Antônio. As casas (modernas) de Altenesch. Infonet, Aracaju, fev. 2004.
Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=25727&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
46

informações disponíveis sobre a trajetória do alemão até sua chegada a Aracaju.


Elas, no entanto, apesar de escassas, foram o ponto de partida para as pesquisas e
a elaboração de novas hipóteses sobre as possíveis origens e percursos do
engenheiro europeu, como serão revelados a seguir.
O ponto de partida desta etapa da pesquisa foi referente à migração do
construtor alemão até a América. Para isto primeiramente foram consultadas as
listas de passageiros disponíveis na internet referentes à emigração alemã para o
continente americano nos anos que se aproximam da virada da década de 1910
para 1920, período este sugerido pelos textos indicados anteriormente.
Considerando que a maioria dos emigrantes da Europa Central e Leste que partiram
na direção da América o fizeram pelos portos de Bremen, Bremerhaven e
Hamburgo4, foi possível iniciar as buscas a partir do que se encontrou sobre estas
estações5. Na busca a indícios da migração de Altenesch nos bancos digitais6 foram

4
WRIGHT III, R. S. German Ports: Geteways to America. Ancestry, v. 16, n. 2, p. 50-54, march/april,
1998. p. 50. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=9NS5WYRGCLAC&lpg=PA50&dq=German%20Ports%3A%2
0Gateway%20to%20America&pg=PA50#v=twopage&q&f=true> Acesso em: 12 dez. 2017.
5
Wright III traz em seu artigo uma série de informações sobre o fluxo de passageiros alemães nos
portos europeus. Um dado interessante que revela a importância dos portos de Bremen e Hamburgo
refere-se à distribuição dos passageiros alemães com destino aos portos do Atlântico e Costa do
Golfo na América do Norte na segunda metade do século XIX. Estes dados foram coletados nos
volumes editados por Ira Glazier e P. William Filby a partir de 1988 intitulados Germans to America.
Segundo o levantamento, para os anos 1850-51, 1859-60, 1870 e 1880, 38% das embarcações com
emigrantes alemães com destino à América do Norte saíram dos portos de Bremen e Bremerhaven,
17% saíram de Hamburgo, algo em torno de 16% saíram de Liverpool na Inglaterra e apenas 6%
saíram de Le Havre na França. Em inventário realizado por Peter Marschalck nos arquivos de
Bremen, concluiu-se que no período entre 1832 e 1958 mais de sete milhões de indivíduos
emigraram a partir dos portos de Bremen e Bremerhaven, e que destes, 90% dirigiram-se aos
Estados Unidos da América. A partir das pesquisas previamente realizadas, estima-se que
aproximadamente metade dos emigrantes alemães que se dirigiram à América do Norte teria saído
destes portos de Bremen e Bremerhaven. De acordo com Wright III, os arquivos referentes às listas
de passageiros destes portos sofreram algumas perdas ao longo dos anos: as listas de 1910 a 1920,
por exemplo, foram destruídas com os bombardeios dos Aliados sobre Bremen durante a Segunda
Guerra Mundial. Contudo, as listas referentes aos anos de 1921 e 1939 sobreviveram em boa parte e
ficaram disponíveis no Handelskammer Archiv de Bremen. Com relação às listas de passageiros
saídos de Hamburgo, os registros mais antigos sobreviventes começam do ano de 1850 e se
estendem aos anos de 1934 e localizam-se no Staatsarchiv Hamburg. Cf. WRIGHT III, op. cit., p. 51-
52.
6
A genealogista argentina Daniela Massolo oferece sugestões de acesso às listas indicadas por
Wright III para os portos de Hamburgo e Bremen, disponíveis a consulta por meios digitais. As listas
de Bremen foram organizadas e seus dados oferecidos gratuitamente no site Passangier List
(Disponível em: <www.passagierlisten.de> Acesso em: 13 dez. 2017) a partir de um acordo de 1999
entre a Câmara de Comércio de Bremen e a Sociedade de Bremen para Investigação Genealógica
DIE MAUS. As listas de Hamburgo (índices manuscritos) referentes ao período entre 1850 e 1934
foram adquiridas pelo site Ancestry (Disponível em: <www.ancestry.com> Acesso em: 16 dez. 2017)
e seu acesso integral requer uma assinatura paga. Interessante observar que, assim como ocorreu
com as listas dos portos de Bremen e Bremerhaven durante a Segunda Guerra Mundial, os registros
do porto de Hamburgo de 1915 a 1919 foram destruídos. Cf. MASSOLO, Daniela. Registros de
puertos y listas de embarque. Barcos e Inmigrantes: Buscando información del abuelo inmigrante,
47

consideradas as possíveis combinações e abreviações de seus nomes e


sobrenomes, bem como as possíveis mudanças e erros de grafias, além de dados
aproximados referentes à sua idade, data de nascimento e profissão, no entanto não
se obteve sucesso. Não foram encontrados registros em listas de embarques destes
portos que se aproximassem do que se sabe sobre Altenesch, talvez pelo fato de
sua migração ter ocorrido nas proximidades da Primeira Guerra Mundial, período
cujas listas de saída de passageiros tanto de Bremen quanto de Hamburgo foram
destruídas. Passou-se então a outras possibilidades de busca ofertadas pelas bases
de dados digitais e na seção de Registros de Passaportes referente aos índices
manuscritos dos passaportes retirados em Bremen7 alguns avanços foram
alcançados.
Foram encontrados, assim, registros de dois passaportes para um homem
jovem cujos dados se aproximam muito das informações preexistentes sobre
Altenesch. No primeiro registro, de número 45 e emitido em 26 de abril de 1920,
aparece gravado o nome Hermann Otto Wilh. [sic] e seu sobrenome como Arendt.
Este sujeito, de acordo com o registro do passaporte, teria nascido em 16 de maio
de 1901 em Bremen, e residiu na mesma localidade. Sua profissão é indicada como
techniker, o que poderia ser compreendido como técnico8 e o destino indicado é
Nordamerika. No segundo registro, de número 84 e emitido em 20 de julho de 1920,
aparece o nome Wilhelm Otto Hermann e o sobrenome Arndt, sem o e na grafia.
Os dados sobre data e cidade de nascimento, bem como de residência, são
idênticos àqueles do primeiro passaporte. Neste segundo caso, o destino indicado é
Mexiko e no que tange à formação, lê-se Bauingenieur, que em português seria
engenheiro civil9. A similaridade dos nomes e a data de nascimento, que se
repetem, bem como dos destinos – o México está inserido na América do Norte – e
a equivalência das formações indicadas – técnico e engenheiro civil – levam à
hipótese de que ambos os passaportes teriam pertencido a uma mesma pessoa.

jun. 2015. Disponível em: <http://www.barcoseinmigrantes.com/registros-salidas.html> Acesso em:


13 dez. 2017.
7
Seção Passregister. Disponível em: <www.passagierlisten.de> Acesso em: 14 dez. 2017.
8
TECHNIKER. In: Michaelis Dicionário Escolar Alemão. São Paulo: Melhoramentos, 2016. Disponível
em: <http://michaelis.uol.com.br/escolar-alemao/busca/alemao-portugues/techniker/> Acesso em 13
dez. 2017.
9
BAUINGENIEUR. In: Michaelis Dicionário Escolar Alemão. São Paulo: Melhoramentos, 2016.
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/escolar-alemao/busca/alemao-portugues/bauingenieur/>
Acesso em 13 dez. 2017.
48

Com estes dados encontrados, que representaram uma possibilidade de


avanço no conhecimento da trajetória de Altenesch, o passo seguinte foi entrar em
contato com o Bremen Staatsarchiv10, onde se localizam os documentos originais,
no intuito de confirmar as informações encontradas e verificar a possibilidade de
uma consulta no acervo em busca de mais dados sobre esta pessoa. A resposta do
Arquivo de Bremen veio11 e com ela outros dados que parecem encaminhar para um
entendimento de que de fato as informações encontradas tratariam de Altenesch.
Uma primeira questão, talvez pouco relevante, foram os outros dados presentes nos
registros de passaporte que foram negligenciados pela transcrição no sítio eletrônico
Passagier Listen: as características físicas (estatura média, cabelos louros escuros,
olhos azuis) e o endereço (Meyerstraße, número 12). Com a resposta também
vieram dois documentos: um equivalente à Certidão de Nascimento12 e uma
Declaração de Morte13.
O primeiro documento, datado de 22 de maio de 1901 indica que Hermann
Otto Wilhelm Arndt nasceu em 16 de maio de 1901 em Bremen, filho de George
Wilhelm Arndt14, carpinteiro, e Marie Martha Dorothee Möhring: ambos protestantes,
residentes em Meyerstraße, número 14, na cidade alemã de Bremen.
O segundo documento, que parece ser o de maior relevância para a pesquisa,
é referente a uma declaração de morte determinada pelo Tribunal Distrital de
Bremen em 11 de maio de 1962. Esta declaração foi resultante da solicitação feita
pelo mestre construtor William Koch referente ao ―engenheiro Hermann Otto
Wilhelm Arndt, nascido em 16 de maio de 1901, em Bremen, ultima residência na
Alemanha em Bremen, Meyerstraße 12‖ (tradução nossa), cuja data de morte

10
Arquivo Estatal de Bremen (tradução nossa).
11
Primeiramente foi envidado e-mail para <office@staatsarchiv.bremen.de> em 16 de agosto de 2017
com solicitação de auxílio na pesquisa e uma resposta confirmatória foi recebida em 17 de agosto de
2017. Em 24 de agosto de 2017 foi recebido e-mail enviado pela Sra. Monika Marschalck
<monika.marschalck@staatsarchiv.bremen.de>, em nome do setor de Informação e Pesquisa do
Arquivo Estatal de Bremen, contendo resposta sobre a solicitação e o envio dos dois documentos
aqui descritos: a Certidão de Nascimento (Anexo A) e a Declaração de Morte (Anexo B). O e-mail
utilizado para tal interação foi <academia.cesar.maciel@gmail.com>.
12
Anexo A.
13
Anexo B.
14
Foi possível encontrar em um catálogo de endereços de Bremen de 1921 o endereço de Georg
Wilhelm Arndt com indicação para a Rua Meyerstraße, número 12, mesmo endereço de Hermann
Otto Wilhelm Arndt, como indicado no registro de seu passaporte. Este pode ser compreendido como
um dado a mais na confirmação desta relação de parentalidade entre Georg e Hermann. Cf.
EINWOHNER. In: Bremer Adreßbuch. Bremen: Schünemann, 1921. cap. II, p. 1-755. p. 15.
Disponível em: <http://brema.suub.uni-bremen.de/periodical/pageview/720475> Acesso em: 15 dez.
2017.
49

declarada foi 31 de dezembro de 1931. Como é transcrito do documento, referente à


justificação de William Koch:

Ele solicitou e justificou o seu pedido com o fato de que o


desaparecido foi para a Argentina (grifo nosso) após a Primeira
Guerra Mundial em nome da sua empresa. De lá, ele enviou sua
última mensagem em 1926 (grifo nosso). Desde então, nada mais se
soube sobre ele. As investigações sobre o paradeiro do
desaparecido não foram conclusivas15 (tradução nossa).

A informação de que o engenheiro em questão migrou para a Argentina


possibilita uma sobreposição mais alinhada entre os fios que compõem a trajetória
deste sujeito e aqueles referentes à trajetória previamente conhecida em Aracaju
sobre Altenesch. Como revelado anteriormente a partir da memória de Porto16, o
alemão teria passado por aquele país antes de se estabelecer no Brasil. Houve
tentativas de buscas de registro da chegada de Altenesch na América a partir de
consultas em bancos de dados digitais sobre chegadas de passageiros na América
do Norte (México17 e Estados Unidos18) e na Argentina19, porém não se obteve
sucesso nas buscas.
Alguns pontos, contudo, parecem ficar em aberto, se considerarmos essa
hipótese de ser Altenesch de Bremen: como se explicaria a presença do suposto
sobrenome von Altenesch, se este não aparece nos nomes encontrados nos
passaportes? Por que o uso constante do Arendt com e, se na Certidão de
Nascimento a grafia aparece como Arndt? O que poderia justificar a repetição,

15
Anexo B.
16
PORTO, loc. cit.
17
Segundo a genealogista argentina Analía Montórfano em sua página Apellidos Italianos, além das
listas mexicanas na página Family Search (Disponível em: <https://www.familysearch.org/> Acesso
em: 16 dez. 2017), a outra possibilidade de busca digital por registro de passageiros estrangeiros no
México seria pelo site Movimientos Migratórios Iberoamericanos mantido pelo Governo da Espanha
(Disponível em: <http://pares.mcu.es/MovimientosMigratorios/buscadorAvanzadoFilter.form> Acesso
em: 16 dez. 2017). Cf. MONTÓRFANO, Analía. Entradas de Pasajeros a México. Apellidos
Italianos: Genealogía Italiana en Español... y más. Disponível em:
<http://www.apellidositalianos.com.ar/inmigracion/entradas-a-mexico.html> Acesso em: 16 dez. 2017.
18
As buscas dos sites Family Search e Ancestry oferecem acesso a inúmeras listas e índices de
chegadas de passageiros estrangeiros nos portos estadunidenses.
19
A genealogista Daniela Massolo indica alguns bancos de dados com registros de imigrantes na
Argentina, e o banco digital mais completo acessível pela internet é o mantido pelo Centro de
Estudios Migratorios Latinoamericanos, consultado nesta pesquisa (Disponível em:
<http://cemla.com/> Acesso em: 16 dez. 2017). Cf. MASSOLO, Daniela. Ingreso de Inmigrantes a
Argentina, Barcos e Inmigrantes: Archivos de Inmigración. Barcos e Inmigrantes: Buscando
información del abuelo inmigrante, jun. 2015. Disponível em:
<http://www.barcoseinmigrantes.com/ingresos-argentina.html> Acesso em: 16 dez. 2017.
50

desde os anos 194020, da afirmativa de que Altenesch seria de Hamburgo, e não de


Bremen, como sugere esta nova hipótese?
Durante as consultas aos bancos de dados referentes aos emigrantes alemães,
a ocorrência nas primeiras décadas do século XX do que seria o sobrenome von
Altenesch foi nula. Não existe registro algum deste sobrenome tanto nas listas
disponíveis de passageiros de Bremen quanto naquelas de Hamburgo. As poucas
ocorrências encontradas para o sobrenome von Altenesch nos bancos de dados da
internet datam dos séculos XIII ao XV e são referentes a índices genealógicos
holandeses 21. Nos documentos do século XX consultados, as únicas ocorrências do
von Altenesch, excetuando-se aquelas referentes ao próprio Hermann von
Altenesch, como será visto mais a frente, foram encontradas em duas notas de
jornais do Rio de Janeiro22 que noticiavam o falecimento de uma Condessa alemã
chamada Martha von Altenesch23. Falecida aos 63 anos no Palácio Altenesch, no
Estado de Oldenburgo, ao norte da Alemanha, deixou descendentes, entre eles ―[...]
dous filhos, há muito residentes no Brasil‖24. Não foi possível localizar nenhuma
outra informação sobre a tal Condessa, muito menos se haveria ou não ligação entre
esta casa aristocrática alemã e o construtor Hermann von Altenesch. Porém, estes
achados levam a deduzir que o von Altenesch seria em verdade um título de
nobreza, e não um sobrenome. O que então poderia justificar o uso do tal título pelo
alemão de origem aparentemente menos abastada? Se considerarmos a hipótese
aqui sugerida de que ele tenha nascido em Bremen e seja filho do carpinteiro
George Wilhelm Arndt, o título von Altenesch, transformado em um sobrenome
neste caso, pode ter sido utilizado como um artifício de enobrecimento de seu nome.
Outra hipótese, que naturalmente não excluiria a anterior, seria que o von
Altenesch seria indicativo de algum tipo de relação do construtor com a região de

20
ALTENESCH, loc. cit.; BARRETO, fev. 2004.
21
Cf. Ocorrências do nome ―Altenesch‖. Disponível em:
<https://www.ancestry.com/search/?name=_altenesch&name_x=1_1> Acesso em: 13 dez. 2017.
22
As buscas realizadas nos jornais do Rio de Janeiro foram feitas através do acervo da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional. A partir da tecnologia Docpro é possível pesquisar de uma só vez
todas as ocorrências de uma dada palavra-chave ou expressão em um conjunto grande de
documentos. Os filtros a serem utilizados podem ser: o período, que é divido por décadas, a
localidade da publicação ou o nome do periódico. Cf. Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional. Disponível em <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/> Acesso em: 20 dez. 2017.
23
FALLECIMENTOS. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 16 jan. 1927, ano 99, n. 16, p. 5.
Disponível em <http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22036> Acesso em: 13 dez. 2017.
24
A ARISTOCRACIA allemã de luto. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 jan. 1927, ano XXXVII, n.
14, p. 6. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53341> Acesso em: 13 dez.
2017.
51

Altenesch na Alemanha25. Esta possibilidade, inclusive, atribui muito mais sentido à


hipótese aqui apresentada de que Hermann von Altenesch seria natural de Bremen,
e não de Hamburgo, já que a região de Altenesch é limítrofe a Bremen, sendo
divididas apenas pelo rio Weser.
Apesar das tentativas de se traçarem as linhas sugeridas pelas poucas pistas
referentes ao início da trajetória de Altenesch, há de se convir que, ainda que se
tenha realizado alguma pesquisa e os dados encontrados tenham encaixes
aproximados com o que se sabia antes, toda hipótese que venha a ser elaborada
sobre esta fase da jornada deste alemão não poderá ultrapassar os seus próprios
limites de hipóteses, pela impossibilidade de, ao menos agora, completar certas
lacunas. Como explicar, sendo ele de fato o técnico/engenheiro de Bremen, o uso do
Arendt no lugar do Arndt? Teria ele adotado um erro de grafia de seu nome, como
teria ocorrido em um dos seus passaportes para torná-lo mais vocalizado, mais
palatável ao seu novo público latino-americano? Ou teria sido uma estratégia para
dificultar que o encontrassem, já que, sendo ele o engenheiro de Bremen, se
esquivou dos contatos com sua terra natal a partir de 1926, como é sugerido pela
solicitação para Declaração de Morte26? E porque se atribui a sua origem a
Hamburgo? Teria sido também um artifício para dificultar o reencontro com suas
origens? São muitas questões que ficam em aberto e qualquer tentativa de
respondê-las levará inevitavelmente a especulações. Aqui é apresentada uma nova
possibilidade de compreensão deste começo, ofertada como alternativa ao que
antes se configurava como uma grande interrogação, mas suscetível a ser refutada
no futuro, pela possibilidade de se encontrarem dados mais completos que venham,
eventualmente, a negar estas novas hipóteses.

25
Atualmente Altenesch é uma aldeia no município de Lemwerder, no distrito de Wesermarsch, no
Estado Alemão da Baixa Saxônia. Contudo, o nome Altenesch já foi utilizado para denominar uma
região muito maior. No século XIX a região que hoje se conhece por Lemwerder era dividida em duas
comunidades: Altenesch e Bardewisch, respectivamente pertencentes, desde 1879, aos escritórios de
Delmenhorst e de Elsfleth, do Grão-Ducado de Oldenburg. Em 1933 Altenesch e Bardewisch foram
unidas juntamente às comunidades de Berne, Neuenhuntorf e Warfleth ao município de Stedingen, no
distrito de Wesermarsch. Em primeiro de abril de 1948 o município de Stedingen foi novamente
dissolvido e dividido nas comunidades de Berne e Altenesch, que agora incluía Bardewisch. Até 15
de novembro de 1972 toda a comunidade Lemwerder recebia o nome de Altenesch. A compreensão
de Altenesch, portanto, para este trabalho, é o que se refere ao período anterior a 1933. Cf.
LEMWERDER. In: Wikipedia, okt. 2018. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Lemwerder>
Acesso em: 8 nov. 2018.
26
Anexo B.
52

2.2 OS INDÍCIOS DA PASSAGEM PELO RIO DE JANEIRO

Diferentemente das maiores fragilidades na construção de uma narrativa sobre


o primeiro momento da trajetória de Altenesch, um segundo momento, que deve ser
entendido aqui como as suas atividades iniciais no Brasil, antes e logo após a sua
chegada em Aracaju, parece menos difícil de ser compreendido. Certamente
inúmeras lacunas persistirão também nesta parte da trajetória, no entanto os dados
encontrados se configuram mais prováveis de serem lidos como genuinamente
referentes ao construtor alemão aqui tratado. Se haveria nos documentos
encontrados no Arquivo Estatal de Bremen margens para dúvidas, estas se fazem
pouco viáveis nos documentos que fundamentam a escrita desta etapa de sua
trajetória, já que os indícios, como a presença do suposto raro sobrenome von
Altenesch, se configuram como dados mais conclusivos. A base documental
consultada foi constituída principalmente de publicações periódicas, como jornais,
Diários Oficiais, revistas, anuários, tanto editados em Aracaju, como também em
outras cidades do Brasil, em especial o Rio de Janeiro, capital do país à época da
presença do alemão no país.
Conforme é sugerido, Altenesch teria chegado a Aracaju falando um pouco de
português27. Desta indicação, pode-se deduzir que antes de chegar a Aracaju já teria
vivido em alguma outra parte do Brasil. Esta dedução foi confirmada quando, ao
procurar pelas ocorrências do nome Altenesch na Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional para as décadas de 1920 e 1930, não apenas foram
encontradas as duas supracitadas referências a tal Condessa alemã Martha von
Altenesch, mas também foram encontradas notas, em diversas publicações, que
evidenciam a passagem do construtor alemão pela cidade do Rio de Janeiro. Duas
das inúmeras notas encontradas, inclusive, referentes à Diretoria Geral de Obras e
Viação do Distrito Federal, ostentam o seu nome completo, que, a despeito de
pequenas diferenças de grafia, são similares ao nome encontrado nas referências
sergipanas: Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch28. O achado destas

27
PORTO, loc. cit.
28
Ambas as notas foram emitidas pela Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura do Distrito Federal,
respectivamente em 1927 e 1928. A primeira delas, que releva o nome Hermann Otto Wilhelm
Arendt von Attenesch [sic], solicita satisfação de exigência do Escritório Central (Cf. DISTRICTO
FEDERAL. Directoria Geral de Obras e Viação: Exigências a Satisfazer. Jornal do Brasil, 18 dez.
1927, ano XXXVII, n. 301, p. 31. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/61340>
Acesso em: 3 jan. 2018). A segunda nota, referente a um despacho definitivo, traz a grafia do nome
53

notas possibilita uma dissolução de dúvidas sobre a presença do engenheiro na


então capital brasileira antes de sua estada em Aracaju, já que os nomes
encontrados nestes periódicos do distrito federal da época são similares ao nome
encontrado na documentação e bibliografia sergipana.
Por não ter sido possível detectar informações sobre obras e projetos em que
ele tenha se envolvido na capital do país daquele momento29, a contribuição deste
levantamento, para este período específico, volta-se para a ampliação de uma
narrativa biográfica. Desta forma, o achado mais antigo em uma publicação
brasileira com referência a Altenesch foi uma nota emitida no Jornal do Brasil de 22
de setembro de 192730 em que o alemão fazia comunicação ―à praça‖31:

Hermann Arnd [sic] Altenesch, comunica á praça ser ele a mesma


pessoa que sob o nome de Hermann Altenesch, que também usa,
faz parte, como socio solidario da firma Altenesch & Tetenberg, da
qual assumiu o activo e a responsabilidade do passivo, na qualidade
de seu sucessor.

Têm-se então que no final de 1927 ele deu início a uma carreira individual,
após ter estabelecido por algum tempo não identificado sociedade com o construtor
Tetenberg32. Com capital de 30:000$000, instalou na Rua General Câmara, número

Hermann Otto Wilhelm Areudt [sic] Altenesch. Cf. DISTRICTO FEDERAL. Directoria Geral de
Obras e Viação: Despachos definitivos. Jornal do Brasil, 1º mar. 1928, ano XXXVIII, p. 14.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/63234> Acesso em: 3 jan. 2018.
29
O setor responsável pela guarda e conservação da documentação de Licenças para Obras do
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro foi procurado durante a pesquisa a fim de se tentar
encontrar algum registro da atuação de Altenesch naquela cidade. No entanto, por não existir em
mãos quaisquer referências sobre possíveis atuações profissionais do alemão na então capital do
Brasil, e por estar a documentação de Licença para Obras daquele Arquivo organizada por
logradouro e não haver, por ora, uma catalogação por profissional, uma busca por registros de sua
atuação naquela cidade se tornou inviável para este trabalho.
30
Informações anteriores a esta data não foram encontradas, inclusive no que se refere à sua
chegada ao Rio de Janeiro. Não foi possível se ater a esta busca por muito tempo e o que se chegou
a fazer foi checar as listas de passageiros dos vapores provenientes da Argentina e Uruguai que
chegaram ao porto do Rio de Janeiro nos anos de 1926 e 1927. Estas listas se encontram
digitalizadas e são ofertadas pelo Sistema de Informações do Arquivo Nacional (Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp> Acesso em: 21 dez. 2017).
31
Á PRAÇA. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 set. 1927, ano XXVII, n. 226, p. 22. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/58995> Acesso em: 20 dez. 2017.
32
Muito provavelmente o sócio de Altenesch no Rio de Janeiro tenha se chamado Paulo Tetenberg
(ou Tetemberg). As ocorrências para este sobrenome (considerando-se as duas grafias) na
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional para a década de 1920 ficaram concentradas em
referências a este construtor de origem não identificada. A primeira ocorrência é datada de 1924 (Cf.
PENHA Clube: Sua Nova Directoria e A Posse Hoje. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 jul. 1924,
ano XXXIV, n. 167, p. 12. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/30508>
Acesso em: 21 dez. 2017). Em outras notas é possível identificar a vinculação deste sujeito às
atividades de construção, como em uma nota de Flagrante de infração de Posturas publicado no
Jornal do Brasil de 14 de março de 1929, quando Paulo Tetemberg ―[...] é multado em 100$000, por
54

357, seu comércio de engenharia e arquitetura33. Há também uma solicitação da


Diretoria Geral da Propriedade Industrial a que ele ―declare os artigos a que a marca
se destina‖34, o que parece revelar que além das atividades de engenharia e
arquitetura, Altenesch também esteve envolvido em fornecimento de algum tipo de
bem, não identificado.
É interessante observar que estes primeiros indícios da presença do alemão no
Brasil, se colocados lado a lado com aqueles indícios encontrados no Arquivo de
Bremen, como indicados na seção anterior, levam à construção de um traçado de
certa forma coerente, já que teria dado sua última notícia da Argentina em 1926 e a
primeira nota a citá-lo no Brasil é referente ao final de 1927. Estas informações
sugerem uma sequência temporal que parece corroborar a hipótese de que o
técnico/engenheiro saído de Bremen em meados dos anos de 1920 é o construtor
que chegou a Aracaju em meados da década seguinte.
É possível notar que ao menos até o ano de 1929 o seu escritório permaneceu
à Rua General Câmara, número 357, conforme indica o Almanak Leammert daquele
ano35. Em nota de maio de 193036, contudo, um novo endereço aparece: o primeiro
andar do número 86 da Rua São Pedro37. Já a sua residência esteve estabelecida à
Rua Buenos Aires, número 309, de acordo com publicação da prefeitura do Distrito
Federal referente a infração à Postura cometida por Altenesch ―por ter defronte de

início de negocio de engenharia e construcções, sem licença [...]‖. Cf. DISTRICTO FEDERAL.
Secretaria de Gabinete do Governo: Flagrantes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 mar. 1929, ano
XXXIX, n. 63. p. 16. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/73489> Acesso em:
21 dez. 2017.
33
JUNTA Comercial: Firmas Individuais. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 set. 1927, ano XXVII,
n. 10.031, p. 12. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/31923> Acesso em: 21
dez. 2017.
34
INFORMAÇÕES Diversas: Directoria Geral da Propriedade Intelectual. Correio da Manhã, Rio de
Janeiro, 10 jul. 1928, ano XXVIII, n. 10277, p. 12. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/35405> Acesso em: 9 jan. 2018.
35
ENGENHEIROS. Almanak Leammert: Annuario Commercial, Industrial, Agricola, Profissional e
Administrativo da Capital Federal e dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro: Officinas
Typographicas do Almanak Laemmert, v. 2, ano 85, 1929, p. 666. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/313394/102142> Acesso em: 3 jan. 2018.
36
FALLENCIAS. A Noite, Rio de Janeiro, 15 maio 1930, ano XX, n. 6643, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/348970_03/1045> Acesso em 3 jan. 2018.
37
Tanto a Rua General Câmara quanto a Rua São Pedro na cidade do Rio de Janeiro foram extintas
durante de abertura da Avenida Presidentes Vargas, inaugurada em 1944. Esta Avenida foi criada
justamente com o arrasamento dos quarteirões existentes entre as ruas supracitadas. Cf. BORDE,
Andréa de Lacerda Pessoa. Apresentação. Dossiê Avenida Presidente Vargas: vamos fazê-la!
Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n. 10, p. 105-108, 2016.
Disponível em: <http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/apresentacao-10/> Acesso em: 3 jan. 2018.
55

sua casa terra e páos para a entrada de vehiculos, acumulando lixo e aguas na
sarjeta‖38.
A maioria das ocorrências do nome de Altenesch nos jornais do Rio de Janeiro
refere-se a protestos de títulos em que o alemão aparece como devedor39 e
indicações de um processo de falência que ele sofreu em 193040. Este processo de
falência teve sua abertura decretada em 15 de maio daquele ano por requerimento
do estucador E. R. Goldbach41, credor de 7:412$70042, e foi julgada e encerrada em
outubro de 193143.
Tanto os sucessivos protestos de títulos de que foi alvo, bem como o processo
de falência levam a crer que o alemão tivesse alguma dificuldade de organizar e
gerir sua vida financeira e seus negócios, ao menos nesta fase em que esteve no
Rio de Janeiro. Assomam-se a esta questão os indícios de que a sua atuação
profissional na capital federal daquela época não foi realizada de forma legal no
âmbito fiscal, como é sugerido a seguir:

38
DISTRICTO FEDERAL. Superintendência do Serviço da Limpeza Pública e Particular: Infrações de
Postura. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7 nov. 1928, ano XXXVIII, n. 268, p. 17. Disponível em: <
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/70128> Acesso em: 3 jan. 2018.
39
Foram encontradas cinco ocorrências do nome de Altenesch vinculadas a protestos de títulos: um
primeiro no valor de 4:000$ (Cf. AVISOS: Protestos de Letras. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10
nov. 1927, ano XXXVII, n. 268, p. 1. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/60276> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado pelo
Banco Allemão no valor de 942$910 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda, Rio
de Janeiro, 14 fev. 1928, ano II, n. 193, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/72> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado por
Apollinario Maciel no valor de 1:000$000 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda,
Rio de Janeiro, 14 mar. 1928, ano II, n. 217, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/207> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado por João
Matheus no valor de 1:000$000 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda, Rio de
Janeiro, 29 maio 1928, ano II, n. 282, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/586> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado pelo Banco
do Brasil no valor de 2:000$000 e com Jeno Friedmann como avalista. Cf. INFORMAÇÕES uteis:
Titulos Protestados. A Esqueda, Rio de Janeiro, 22 set. 1928, ano II, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/1092> Acesso em: 4 jan. 2018.
40
É possível encontrar referências à falência de Altenesch nas seções jurídicas de diversos jornais do
Rio de Janeiro disponibilizados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: Correio da Manhã,
Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias, A Esquerda, Gazeta de Notícias, Jornal do Brasil e
Jornal do Comércio. Disponível em <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/> Acesso em: 20
dez. 2017.
41
Foi possível identificar a ocupação de E. R. Goldbach na lista de estucadores do Almanak
Leammert. Cf. ESTUCADORES. Almanak Laemmert: Anuario Comercial, Industrial, Profissional,
Administrativos, de Estatística e Informações Gerais sobre o Brasil. Rio de Janeiro: Officinas
Typographicas do Almanak Laemmert, v. 1, ano 90, 1934, p. 131. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/313394/113155> Acesso em: 4 jan. 2018.
42
FALLENCIAS, loc. cit.
43
BRASIL. Junta Comercial do Distrito Federal. Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil, Rio
de Janeiro, 28 out. 1931, ano LXX, n. 253, p. 17116. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2120208/pg-30-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-28-10-
1931?ref=previous_button> Acesso em: 4 jan. 2018.
56

Em resposta ao ofício número 359, de 20 de maio de 1930,


comunicando a falência de H. A. Altenesch [...] cientificando que a
Recebedoria do Districto Federal verificou ser esta firma sucessora
de Altenesch & Tetemberg, [...] não constando, no entanto, qualquer
lançamento feito pela referida recebedoria, a partir de 1927,
adeantando a informação desta repartição que a mesma firma talvez
só se tenha organizado, ―não tendo funcionamento legal‖, segundo
tudo consta do ofício n. 3140, de 9 de dezembro de 1931, da
Recebedoria do Distrito Federal.44

Apesar dos indícios sobre a passagem de Altenesch pelo Rio de Janeiro não
evidenciarem o teor de sua atuação nos campos da arquitetura e da construção
naquela cidade, eles contribuem para o entendimento da jornada do sujeito. Esta
provável dificuldade de inserção dentro do mercado da arquitetura e da construção
da então capital federal parece ser uma justificativa plausível para que o construtor
alemão, já habituado aos movimentos migratórios, partisse em busca de outros
cenários para a sua atuação. A cidade do Rio de Janeiro, como bem revelam os
anuários comerciais da época45, já apresentava um quadro extenso de profissionais
de engenharia, arquitetura e construção. Considerando-se que em 1927, o curso
regular de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro havia acabado de
completar o seu primeiro centenário46, assim como a Escola Politécnica do Rio de
Janeiro, que, àquela data, já guardava uma tradição de 135 anos na formação de
engenheiros47, é pode-se deduzir o quão bem estabelecido e consolidado estava
este mercado naquela cidade. Obviamente não é possível confirmar que este tenha
sido o motivo que levou Altenesch a deixar a capital federal, mas é inegável o
contraste entre o fracasso econômico que ali sofreu, e a prosperidade que encontrou
na jovem capital sergipana, carente à época de profissionais habilitados nos ramos
do projeto e construção. Conhecidos os fragmentos de sua trajetória em outra parte
do Brasil antes de sua chegada a Aracaju, ainda que ao menos no que concerne às
suas tentativas de estabelecimento e seus percalços financeiros no Rio de Janeiro, e

44
BRASIL. Diretoria da Receita Pública: Ofícios ao Sr. Dr. 3º procurador da República. Diário Oficial
dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, 21 out. 1932, ano LXXI, n. 247, p. 19520. Disponível
em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2277605/pg-16-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-21-
10-1932/pdfView> Acesso em: 4 jan. 2018.
45
ENGENHEIROS, loc. cit.
46
A FAU. FAU.UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/a-fau/> Acesso em: 9 jan.
2018.
47
HISTÓRIA da Escola Politécnica. Poli.UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.poli.ufrj.br/politecnica_historia.php> Acesso em: 9 jan. 2018.
57

não tendo sido possível encontrar mais nenhuma informação sobre a sua trajetória
antes da chegada a Aracaju, adentra-se agora aos resultados da pesquisa referente
à sua trajetória na capital sergipana.

2.3 ALTENESCH EM ARACAJU: UMA NARRATIVA AMPLIADA

2.3.1 A construção de relações profissionais em terras sergipanas

Não há um dado preciso, nos escritos sobre Aracaju, referente à chegada de


Altenesch à cidade. De acordo com Porto, o alemão teria chegado à capital
sergipana entre 1933 e princípios de 1934, ―não se sabendo donde veio nem por
que veio‖48. A informação mais remota indicada pela memória do engenheiro
sergipano sobre a presença de Altenesch na cidade é referente a uma petição feita
em janeiro de 1934, em nome de Heinrich [sic] Apenburg, com requerimento de
licença para a construção de duas casas na Rua Vila Nova (atual Rua Duque de
Caxias, no bairro São José). Com a pesquisa desenvolvida para este trabalho,
contudo, foi possível regredir um pouco mais no tempo na fixação de um documento
indicativo da presença do alemão em Aracaju. Assim, a informação deixada em
aberto por Porto de que o construtor já estaria em Aracaju em meados de 1933 é
confirmada por uma matéria encontrada na primeira edição do ―Cadastro
Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe‖49. Nesta
publicação encontra-se a informação de que o alemão já estava atuante em Aracaju
naquele ano, tendo em vista que foi ele o responsável pela obra da filial sergipana
da exportadora de peles e couros Cia Rovel da Bahia, S. A.50. Assim pode ser lido:

48
PORTO, loc. cit.
49
A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú. Cadastro
Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas
Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 387.
50
A Companhia Rovel S. A. foi uma empresa de exportação de peles e couros de caprinos e bovinos
atuante no nordeste brasileiro. Em propaganda encontrada em um jornal cearense para a Companhia
Rovel S. A. em Fortaleza, tem-se a indicação de que sua matriz seria pernambucana, ao passo que
empresas ―congêneres‖ estariam localizadas na Bahia e em Sergipe (Cf. COMPANHIA Rovel S/A. A
Razão, Fortaleza, 24 set. 1936, ano I, n. 109, p. 9. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/764450/7111> Acesso em: 17 jan. 2018). A referência à
Companhia Rovel mais antiga, de 1929, encontrada em jornais disponíveis na rede é de fato
referente a atividades em Pernambuco, o que parece confirmar a origem pernambucana da empresa
(Cf. PERNAMBUCO. Serviço Publico: Recebedoria. A Província, Recife, 6 jun. 1929, ano LVIII, n.
129, p. 4. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_02/23594> Acesso em: 18 jan.
2018). Em Aracaju, a Companhia Rovel esteve vinculada à sua sede baiana, localizada à Praça
Deodoro, número 4 e 5 em Salvador. A presença do diferenciador ―da Baía‖ em seu nome fantasia
58

No dia 15 de Outubro p. findo, com a presença de representantes


das autoridades locaes e muitas pessôas gradas, gentilmente
convidadas para este fim, realizou-se a inauguração do predio que a
importante Companhia Rovel da Bahia S.A., construiu á Av. da
Independencia, para nelle ser installado a filial de Aracajú, dirigida
pelo intelligente e esforçado cavalheiro Sr. Erich Apenburg. [...] foram
batidas varias chapas photographicas, sendo offerecido aos
presentes, doces e bebidas finas. O novo prédio inaugurado, foi
construído sob a direção technica do Eng. Hermann Altenesch
(grifo nosso), que o dotou de todos os requisitos da moderna
hygiene, adaptando-o da melhor maneira para o fim a que se destina
[...]51

O edifício em questão seria o de número quatro52, na Avenida da


Independência, nome antigo da atual Avenida João Ribeiro 53. Já que no texto
transcrito acima, assim como em todas as outras referências encontradas sobre a
sede da Companhia em Aracaju, não existe imagem do prédio, houve alguma
dificuldade na identificação deste. Esta dificuldade se deu principalmente ao se
deparar com a não equivalência da numeração da sede da Companhia nas
diferentes fontes encontradas. Se na propaganda encontrada no Cadastro de 1933
há a indicação do número quatro, em 1938, quando a avenida já recebe o nome de
João Ribeiro, o endereço indicado é o número 3554. Um novo número, 55455, no
entanto, aparece em 1940, quando é feito o anúncio público do fechamento daquela
filial na capital sergipana. Estes diferentes números de endereço podem indicar que,
assim como ocorreu uma mudança do nome do logradouro, também a sua
numeração sofreu alterações ao longo dos anos. Não há segurança para se afirmar
que os três diferentes números refiram-se a uma mesma edificação, contudo, há
margem para hipóteses. A inexistência atual de um imóvel que porte o número 35
naquela avenida, e por outro, lado a existência de um imóvel de número 554 na
mesma, abre margem para interpretação de que os números identificados tenham

parece indicar uma diferenciação administrativa desta sede baiana à matriz no Recife e sua filial em
Fortaleza. A Rovel ―da Baía‖ se instalou em terras sergipanas em 1932 e aí esteve até junho de 1940.
Cf. COMPANHIA Rovel da Baía S.A. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 26 jun. 1940,
ano XXII, n. 7909, p. 8.
51
A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú, loc. cit.
52
COMPANHIA Rovel da Bahia, S. A. Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do
Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1,
1933, p. 361.
53
BARRETO, Luiz Antonio. Pequeno Dicionário Prático de Nomes e Denominações de Aracaju.
Aracaju: ITBEC/BANESE, 2002, p. 164.
54
ALUGA-SE. Folha da Manhã, Aracaju, 8 mar. 1938, ano I, n. 36, p. 4.
55
COMPANHIA Rovel da Baía S.A., loc. cit.
59

sido subsequentes para a identificação de um mesmo imóvel. Associa-se a esta


possibilidade o fato de que a feição arquitetônica do imóvel de número 554 na
Avenida João Ribeiro (figura 153) porta traços similares a algumas das fachadas
institucionais vinculadas a Altenesch em sua fase inicial de atuação em Aracaju.
Logo, é aberta uma possibilidade de se haver encontrado na paisagem atual de
Aracaju os indícios materiais da sede da Companhia de exportação de couros e
peles supracitada. Portanto, delineia-se a uma possível compreensão do aspecto
estético das primeiras intervenções do construtor alemão na capital sergipana.
É interessante observar que há um elemento comum, um fio conector, entre a
informação sobre as casas da Rua Vila Nova inauguradas em 1934, indicada por
Porto56, e aquela encontrada no Cadastro de 1933 sobre a inauguração da sede da
Companhia Rovel: o nome de Erich Apenburg57. Estas conexões possibilitam um
entendimento mais aproximado das redes relacionais construídas por Altenesch em
seus primeiros anos em Aracaju, e que possivelmente se configuraram como um
elemento importante na conformação de sua trajetória profissional. Antes, porém, de
que se possa voltar às residências de 1934 de Apenburg, se faz necessário revelar
mais alguns achados referentes ao ano de 1933, e que parecem ser igualmente
eficientes para a compreensão acerca do estabelecimento do nome do construtor

56
PORTO, loc. cit.
57
Durante as pesquisas para este trabalho, o nome de Erich Apenburg apareceu algumas vezes.
Com a finalidade de contextualização e compreensão mais aproximada do caráter das redes
relacionais estabelecidas por Altenesch em Aracaju, foi realizado um conjunto de pesquisas sobre
Apenburg, para o qual é possível delinear um breve esboço biográfico. Erich George Richard
Apenburg foi um comerciante alemão nascido em 20 de agosto de 1896 em Hanover e falecido em
Frankfurt, Alemanha, em 13 de agosto de 1952 (Cf. Base de dados ―Deutschland, Hessen, Frankfurt,
Standesbücher 1928-1978‖, Disponível em: <https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:QKVW-
NFX5> Acesso em: 18 jan. 2018; ―New York, New York Passenger and Crew Lists, 1909, 1925-1957‖,
Disponível em: <https://familysearch.org/ark:/61903/1:1:KXGW-PT2> Acesso em: 18 jan. 2018).
Chegou a Nova Iorque em 1927 como bancário, após já ter residido por algum tempo não identificado
no Brasil, e lá ficou até 1930 (Cf. ―New York, New York Passenger and Crew Lists, 1909, 1925-1957‖,
Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:24JQ-D6K> Acesso em: 18 jan. 2018).
Em 1930 retornou ao Brasil e se dirigiu a Pernambuco (Cf. Relação de Passageiros do Vapor
Asturias, chagada no Porto do Rio de Janeiro em 1º de março de 1930, Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1
150907&v_aba=1> Acesso em: 18 jan. 2018). Em 1933 já estava estabelecido em Aracaju como
gerente e diretor da Companhia Rovel da Bahia S.A. em sua filial sergipana e nesta cidade atuou não
apenas como comerciante, mas também no setor imobiliário, investindo em imóveis e construções.
Em 1937 fez um requerimento de naturalização à Secretaria de Justiça e Negócios do Interior do
Estado de Sergipe e esta foi concedida em ato da Presidência da República em setembro de 1939.
Cf. SERGIPE. Secretaria de Justiça e Negocios do Interior: Requerimentos Despachados. Diário
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 4 jun. 1937, ano XIX, n. 7031, p. 1180; BRASIL. Actos do
Presidente da República. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 28 set. 1939, ano X, n. 5191, p.4.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/093718_01/40880> Acesso em: 18 jan. 2018.
60

alemão no panorama dos profissionais da arquitetura e construção atuantes em


Aracaju à época.

Figura 01 – Sede da Companhia ―A Construtora‖.

Fonte: Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e


Informativo do Estado de Sergipe (Aracaju, 1933, n. 1,
p. 462).

Um segundo achado acerca da atuação de Altenesch em Aracaju ainda no ano


de 1933 é concernente à sua vinculação a obras realizadas pela Companhia de
Imóveis para Sorteio “A Construtora”. Assim como Apenburg fez no início de
1934, esta Companhia escolheu a Rua Vila Nova para algumas de suas obras, e do
mesmo modo que o comerciante alemão, contratou Altenesch para conduzir os
trabalhos. Em uma série de notas publicadas no jornal A República, em finais de
outubro de 1933, esta empresa divulgou a associação do alemão a construções por
serem realizadas:

[...] Outro sim, temos a grata satisfação de participar-vos que


iniciamos no dia dez deste mez, a construção de treis novos e
lindos “BUNGALOWS” (grifo nosso) para sorteios á Rua de Villa
Nova, primeiro trecho, sob a direção do notável Engenheiro
Internacional Dr. H. O Arendt Von Altenesch (grifo nosso),
devendo a primeira das nossas casas estar pronta dentro de 30
dias.58

A associação de Altenesch a esta Companhia não se restringiu a contratos


isolados para prestação de serviços, mas este vinculado efetivamente como parte da
58
A CONSTRUTORA: Aos seus dignos associados e ao público em geral. O Estado de Sergipe,
Aracaju, 22 out. 1933, ano I, n. 191, p. 2.
61

equipe. Em nota59 sobre uma viagem de avião que ele fez de Aracaju para o Recife,
é indicado que ―o competente engenheiro H. A. von Altenesch‖ assumiu naquela
empresa, por período de tempo que não foi possível precisar, a chefia do
Departamento Técnico.

Figura 02 – Interior do escritório de ―A Construtora‖,


Companhia de Imóveis para Sorteios.

Fonte: O Estado de Sergipe (Aracaju, 12 jul. 1933, ano I, n.


105, p. 4).

A Companhia de Imóveis para Sorteios ―A Construtora‖, antigo ―Plano


Constructor da Mutua Sergipana‖, esteve sediada em escritório à Rua João Pessoa,
número 63, esquina com a Rua São Cristóvão, número 5960. Em publicidade do
início de 1934 é indicado que esta empresa teria agentes autorizados atuantes não
só em todo o estado sergipano, mas também em Maceió, Recife e Salvador61.
Originalmente de propriedade de F. Maciel & Cia62, foi adquirida em 1933 por Fausto
Vieira de Vasconcellos e Everaldo Ribeiro, respectivamente também agente-
banqueiro e inspetor, para o Estado de Sergipe, da ―Sul-America Capitalisação‖63.
Sob esta nova direção, a Companhia deu início a suas atividades de construção e
sorteios de residências e outros prêmios em títulos, cujo acesso à participação era

59
VIAJANTES. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 dez. 1933, ano I, n. 231, p. 4.
60
A CONSTRUTORA Companhia de imoveis para Sorteios. Renovação, Aracaju, jan. 1934, ano III,
n. 33, p. 28.
61
Ibid., loc. cit.
62
COMPANHIA de Immoveis para Sorteios. Annuario França: Indicador Commercial do Brasil. [S.l.:
s.n. 193-]. Obs.: Páginas avulsas encontradas na Biblioteca Pública Epifânio Dória, em Aracaju.
63
FAUSTO Vieira de Vasconcellos e Everaldo Ribeiro. Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e
Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices
de Sergipe, n. 1, 1933, p. 136.
62

feito através de inscrição, obtenção de uma caderneta e pagamento de


mensalidades de 5$00064. Sobre a companhia e o início dos sorteios das casas por
ela construídas, foi escrito:

As medidas iniciais que os seus novos proprietários Snrs. F. de


Vasconcelos & Cia, tomaram, ao iniciar a sua gestão administrativa,
constituem a nosso vêr, uma prova evidente de que aquela
Companhia vai integrar-se, definitivamente, na sua finalidade – que é
facultar a todas as familias a aquisição da casa propria, confortavel,
higienica e arquitetonicamente bela (grifo nosso), que sirva ao
mesmo tempo de descanço e abrigo para o corpo e motivo de
encantamento para o espirito. Os candidatos a um dos prédios
construidos á Av. Barão de Maroim – nós, inclusive, que tambem
temos a nossa caderneta de 5$000 – estão todos de parabens.65

Figura 03 – Maquete em ilustração de propaganda de Figura 04 – Propaganda de ―A


―A Construtora‖. Construtora‖.

Fonte: Annuario França [S.I, s.n., 193-]. Fonte: Revista Renovação


(Aracaju, jan. 1934, ano III, n.
32).

A primeira de duas casas construídas pela Companhia localizadas à Avenida


Barão de Maruim, a de número 7166, foi sorteada em 21 de agosto de 193367. Após o

64
4 COUSAS que ―A Constructora‖ precisa dizer ao publico. Cadastro Commercial, Industrial,
Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de
Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 278.
65
VIDA comercial: Uma empresa que se impõe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 28 jun. 1933, ano I,
n. 95, p. 2.
66
Duas casas teriam sido construídas à Avenida Barão de Maruim para os primeiros sorteios da
Companhia: as de números 69 e 71. As pesquisas puderam alcançar que apenas a de número 71
teve o seu sorteio divulgado. Cf. VAI ser realizado definitivamente o sorteio da primeira casa. O
Estado de Sergipe, Aracaju, 28 jun. 1933, ano I, n. 95, p. 2.
67
―A CONSTRUTORA‖ sorteou ante-ontem a primeira casa. O Estado de Sergipe, Aracaju, 23 ago.
1933, ano I, n. 140, p. 4.
63

sorteio desta casa naquela avenida, os esforços foram concentrados na construção


e na divulgação dos bungalows de autoria de Altenesch. O primeiro dos sorteios
destas novas casas ocorreu no dia 30 de novembro do mesmo ano68. Este primeiro
bungalow, de número 73, teve como ganhador o Senhor Adelson Silveira69. Com a
suspensão das atividades da Companhia, ―por circumstancias [sic] de ordem
interna‖70 ocorreu um atraso no sorteio do segundo bungalow da Rua Vila Nova, que
veio a ser realizado apenas em primeiro de julho de 193471, e o terceiro, no dia 31
de agosto do mesmo ano72. O segundo bungalow, igualmente situado no primeiro
trecho da Rua Vila Nova — entre as Ruas Itabaiana e Nossa Senhora da Glória
(atual Rua Dom José Thomaz) — teve como ganhador o Senhor Francisco de
Freitas Santos73. O terceiro dos bungalows, o quarto sorteio de casas realizado pela
Companhia, foi construído na Avenida 24 de Outubro74 (atual Avenida Augusto
Maynard). Não foi possível identificar na pesquisa o motivo de se ter construído
nesta avenida e não na Rua Vila Nova, como havia sido avisado inicialmente pela
própria empresa75. Tampouco fica claro se esta última casa teria sido também obra
do construtor alemão, já que ele deveria ter estado à frente de três obras na Rua
Vila Nova. Após a nota referente à sua viagem ao Recife76, em dezembro de 1933
nenhuma outra nota relativa à Companhia de Imóveis faz referência a Altenesch.
Tendo estado de fato envolvido ou não nas obras dos bungalows supracitados, é
fato que quando estes foram sorteados, aqueles de propriedade de Erich Apenburg
já haviam sido inaugurados há alguns meses. Não foram encontradas também notas
posteriores ao sorteio do bungalow da Avenida 24 de Outubro que tratassem de
outros sorteios, o que talvez indique uma pausa ou encerramento nas atividades da
Companhia.
Ainda para o ano de 1933 foi possível encontrar uma terceira informação
confirmatória da presença do alemão em Aracaju. Esta indica possivelmente o início

68
A CONSTRUTORA Companhia de Imoveis para Sorteios. O Estado de Sergipe, Aracaju, 3 dez.
1933, ano I, n. 222, p. 2.
69
AVISO d‘ ―A Construtora‖ ao Publico em Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1934, ano
II, n. 375, p. 4.
70
AVISO de Comunicação. Sergipe-Jornal, Aracaju, 27 fev. 1934, ano XIV, n. 3520, p. 1.
71
A ―CONSTRUCTORA‖ realisou o sorteio do lindo predio á Rua de Vila-Nova, 1º trecho. A
República, Aracaju, 1º jul. 1934, ano III, n. 772, p. 2.
72
O AVISO mais importante. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1934, ano II, n. 433, p. 1.
73
AVISO d‘ ‖A Construtora‖ ao Publico em Sergipe. O Estado de Sergipe. Aracaju, 23 ago. 1934,
ano II, n. 425, p. 2.
74
Ibid., loc. cit.
75
A CONSTRUTORA: Aos seus dignos associados e ao público em geral, loc. cit.
76
VIAJANTES, loc. cit.
64

das relações, que se intensificariam até o final de sua jornada na cidade, com o
poder público. Trata-se da vinculação do estrangeiro à elaboração de um projeto
para a nova estação ferroviária da cidade. Porto77 faz referência a este tópico,
indicando que Altenesch teria de fato elaborado um projeto para a nova estação78 a
ser construída na Baixa Fria, mas que não teria sido executado. Em matéria feita
pelo jornal O Estado de Sergipe, publicada em 24 de novembro de 1933 79, foi
transcrita uma entrevista feita com o engenheiro da Companhia Ferroviária Este
Brasileiro80, Carlos Freire de Carvalho, da qual é interessante destacar esta parte:

[...] O Estado quer saber se já ha local determinado para a estação a


ser construída.
— Ha um em vista, sim. É no prolongamento da avenida Barão de
Maroim, nas proximidades da lagôa da Coceira [...]
— E a construção, quando será iniciada?
— Isto depende. É desejo da estrada atacá-la o mais breve possível.
Está dependendo mais, atualmente, da planta da fachada, sobre a
qual a estrada declinou de opinar, deixando que o governo do Estado
forneça-a a seu gosto. Segundo fui informado foi encarregado pelo
Estado de fazer esta planta o arquiteto alemão H. O. von
Altenesch (grifo nosso). Logo que nos chegue esta planta da
fachada será tratada a do resto do edifício e enviadas ao ministério
da Viação e a administração geral da Estrada para a aprovação e o
levantamento dos respectivos orçamentos.

Em nota publicada no Diário Oficial do Estado de Sergipe81 do início de outubro


daquele ano, foi indicada uma conferência realizada entre o Interventor do Estado de
Sergipe à época, Augusto Maynard Gomes, e os engenheiros chefes daquela
Companhia férrea em Sergipe, os Senhores Santos Pereira e Freire de Carvalho,

77
PORTO, 2003, p. 51.
78
A antiga estação ferroviária de Aracaju foi construída em 1911, contudo só veio a ser inaugurada
em 26 de maio de 1913, quando os trilhos da Estrada de Ferro Timbó e Propriá chegaram a Aracaju.
Esta estação foi edificada nas proximidades do cais da Rua da Frente, no início da atual Avenida
Coelho e Campos. Em meados dos anos 1930 se fortalece a demanda por uma nova estação, já que
aquela primeira, bem como a sua localização, já não se apresentavam adequadas à cidade. Cf.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Patrimônio Ferroviário de
Sergipe {Brasil}. [S.l.], 2009. v. 1, p. 16.
79
A NOVA gare da Éste Brasileiro. O Estado de Sergipe, Aracaju, 24 nov. 1933, ano I, n. 214, p. 4.
80
Entre 1912 e 1934, a via férrea esteve sob a administração da Compagnie des Chemins de Fer
Fédéraux de l’Est Brésilien, que em 1922 passou a ser chamada Companhia Ferroviária Éste
Brasileiro. Em 1935, o Governo de Getúlio Vargas encampou as linhas da Rede de Viação Baiana, da
qual a linha de Sergipe fazia parte, encerrando o contrato de concessão com a empresa franco-belga,
criando assim a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB), autarquia ligada diretamente ao
Ministério da Viação e Obras Públicas. Em 1957, a VFFLB foi absorvida pela Rede Ferroviária
Federal S.A (RFFSA). Cf. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL,
2009, p. 16 et. seq.
81
NOTICIARIO. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 6 out. 1933, ano XV, n. 5792, p. 7.
65

aquele mesmo que viria a conceder a entrevista transcrita acima. Esta conferência
tratou das obras da nova estação e foi examinado pelo Interventor o projeto do
referido edifício. É provável, portanto, que este projeto incialmente apresentado pela
Companhia tenha sido reconsiderado, afim de que outro, encomendado pelo próprio
Interventor a Altenesch, fosse levado adiante.
Não foi possível encontrar, nem em jornais, nem no Diário Oficial, mais
informações sobre a atuação de Altenesch neste projeto, assim como não foram
encontrados registros e documentos gráficos e iconográficos daquela época que
pudessem revelar este projeto e sua associação ao alemão.
É interessante observar como, no provável primeiro ano de sua estada em
Aracaju, Altenesch alcançou um grau considerável de permeabilidade nas relações
profissionais no âmbito do projeto e construção. A ausência de qualquer indício no
Diário Oficial daquele ano referente a uma abertura de concorrência para a
elaboração do projeto da estação, que foi encomendado a Altenesch certamente por
uma deliberação direta do Interventor, sugere que seu nome chegou com
credibilidade aos círculos mais altos do poder político do estado sergipano. Seja por
ter seu nome associado às modernidades técnicas e estéticas ainda não — ou
pouco — presentes na cidade, ou mesmo por se tratar de um estrangeiro. Segundo
Porto estes eram tratados em Aracaju ―com rapapés e salamaleques e suas ideias e
opiniões aceitas dogmaticamente‖82. De toda forma, o fato é que rapidamente o
construtor alemão se inseriu no cenário profissional da arquitetura e da construção
em Aracaju como um nome de destaque.
Paralelamente ao desenvolvimento do projeto da estação, como afirma Porto 83,
Altenesch também elaborou o projeto para a sede do IHGSE. Provavelmente este
projeto, ou parte de seu esboço inicial, foi desenvolvido entre o final de 1933 e os
meses inicias de 1934. De acordo com Waldefrankly Santos84, o terreno, à Rua
Itabaianinha, teria sido comprado em janeiro de 1934. A pedra fundamental do
edifício foi solenemente assentada na manhã do dia 17 de março daquele mesmo
ano85, mas sua conclusão e inauguração só ocorreram cinco anos depois, como

82
PORTO, 2003, p. 54
83
Ibid., p. 51
84
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 53.
85
INSTITUTO Histórico e Geográfico. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 mar. 1934, ano II, n. 302, p.
2.
66

parte das solenidades do quarto aniversário do governo de Eronides Ferreira de


Carvalho, em dois de abril de 193986. De acordo com Dantas87, Altenesch teria
elaborado incialmente um projeto ambicioso composto de três pavimentos, cujo
orçamento ficou previsto para 350:000$000 (trezentos e cinquenta contos de réis).
Devido a este valor, que foi considerado elevado pelo os gestores do IHGSE, um
projeto menos pretensioso foi elaborado, orçado em 150:000$000 (cento e cinquenta
contos de réis).
Pode-se enumerar, assim, a partir do que foi possível encontrar com esta
pesquisa, que ao raiar do ano de 1934, o engenheiro alemão já colecionava um
conjunto diverso de vínculos profissionais: uma obra comercial — a sede da
Companhia Rovel —; um cargo de chefia no departamento técnico de
construção em empresa do ramo e seu nome vinculado a algumas das obras
residenciais — com a Companhia ―A Construtora‖ —; um projeto de equipamento
público diretamente encomendado pelo Interventor Estatal — a nova estação
ferroviária —; e um projeto institucional — a sede do IHGSE.

2.3.2 A questão da formação e da atuação profissional

Antes de dar continuidade ao relato sobre as obras e intervenções na cidade


de Aracaju, retornando ao caso dos bungalows de Erich Apenburg, faz-se
necessário a abertura de um parêntesis para refletir sobre a questão da formação de
Altenesch, e, sobre isso, apresentar algumas hipóteses.
A formação de Altenesch é um ponto incerto, contudo, há margens para
interpretações. De acordo com Porto, Jorge Maynard, que havia sido engenheiro do
município de Aracaju nos primeiros anos da década de 1930, revelou que Altenesch,
ao solicitar inscrição no rol dos construtores apresentou um título equivalente a
profissional de nível médio88. Há hipótese de que o alemão fosse um mestre de
obras, treinado nos canteiros de obras europeus, e que teria atuado em Aracaju já
que o Código de Posturas de 1926 oferecia uma licença para o exercício do serviço

86
SERGIPE. Departamento De Propaganda E Divulgação Do Estado: Reportagens completas sobre
as festas realizadas na passagem do quarto aniversário da administração Eronides Carvalho. Folha
da Manhã, Aracaju, 4 abr. 1939, ano II, n. 346, p. 1.
87
DANTAS, Ibarê. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE 1912-2012. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, p. 123.
88
PORTO, 2003, p. 22.
67

de construtor a profissionais não formados por meio de uma prova de competência,


um exame oral, como sugere Waldefrankly Santos89.

Figura 05 – Propaganda do escritório de Figura 06 – Propaganda do


Altenesch. escritório de Altenesch.

Fonte: Revista Novidade (Aracaju, fev. Fonte: Revista Novidade


1936, ano I, n. I p. 2). (Aracaju, abril 1936).

Algumas informações localizadas durante a pesquisa contribuem na


estruturação de uma compreensão sobre esta questão da formação. Foi possível
verificar a presença do nome do alemão na lista dos profissionais licenciados pelo
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da Terceira Região, exposta no
Diário Official dos Estados Unidos do Brasil no dia 12 de junho de 1936. Nesta lista,
Altenesch, cujo número de registro é 127, recebeu a licença de construtor para
atuar no estado de Sergipe90. No mesmo documento há listas de licenças para
outros profissionais, como arquitetos, engenheiros e agrimensores, mas o alemão ali
foi classificado como construtor. O fato é que, já no Rio de Janeiro, ele se
identificava publicamente como Engenheiro Civil91, e assim também procedeu em
Aracaju, como é visto nas propagandas em edições da revista Novidade92 (figuras
05 e 06) e em matéria publicada na revista Renascença93, além de, nesta, ter se
anunciado também como Architecto. Não existe documentação que possibilite

89
SANTOS, 2002, p. 45.
90
CONSELHO Federal de Engenharia e Architectura. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil,
Rio de Janeiro, 12 jun. 1936, ano LXXV, n. 136, p. 13131.
91
ENGENHEIROS, loc. cit.
92
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1, p. 2; H.
A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, abr. 1936, ano I.
93
ARCHITECTOS modernos. Renascença, Aracaju, nov. 1935, ano II, n. 7. Cf. Anexo D.
68

afirmar ou negar uma formação regular em engenharia civil ou arquitetura, mas os


indícios deixados possibilitam algumas interpretações e, consequentemente,
hipóteses.
Na Alemanha imperial do início do século XX, existia mais de um caminho
para as formações nas áreas de engenharias, arquitetura e construção. As
Baugewerkschulen, escolas de construtores, e as Höhere Technische Schulen,
escolas técnicas, eram opções para cursos de nível secundário. Em ambos os
casos, admitiam-se estudantes com aproximados 16 anos, e as formações variavam
de um a três anos. Existiam também as instituições de nível superior na área, as
Technische Hoshsculen, universidades técnicas, que ofereciam os currículos mais
completos, de caráter científico. Estes cursos recebiam estudantes com idades
mínimas entre 18 e 19 anos, formando-os em cinco anos aproximados94.
Consideradas as informações existentes sobre a idade de Altenesch e sua
chegada a terras americanas — 18 anos, segundo Barreto95; 22 anos, de acordo
com matéria da Folha da Manhã96 — bem como a hipótese apresentada neste
trabalho de ser Altenesch o técnico/engenheiro originário de Bremen que teria
deixado a Alemanha com aproximados 20 anos, foi descartada a possiblidade de
que ele tivesse concluído um curso de nível superior, já que não haveria tido tempo
hábil para isso. Por outro lado, as formações técnicas em nível secundário seriam
possibilidades consideráveis, tendo em vista o período de tempo aproximado que
esteve em seu país de origem, bem como a informação de que Altenesch teria
apresentado, à prefeitura de Aracaju, título equivalente a profissional de nível médio,
ou secundário.
Foi possível, durante as pesquisas, encontrar um documento que indica a
amplitude das habilidades profissionais do alemão. Trata-se de um recibo feito pelo
próprio em 1937 discriminando um valor pago a ele pela Diretoria de Obras do
Estado por ter fornecido ferro para as obras da Nova Chefatura de Polícia. Este
recibo foi feito em um papel timbrado do seu escritório em Aracaju, no qual consta a
identificação enquanto Engenheiro Civil e Architecto e a informação que teria

94
UNITED STATES OF AMERICA. Departament of Commerce and Labor. Special Consular
Reports: Industrial Education and Industrial Conditions in Germany. Washigton: Government Printing
Office, 1905 (v. XXXIII).
95
BARRETO, fev. 2004.
96
ALTENESCH, loc. cit.
69

representantes técnicos na Bahia e no Recife. Além disso, o timbre traz uma lista
com todos os serviços oferecidos por seu escritório, a saber:

Construccções em geral; Construcções em concreto armado; Obras


hydraulicas; Açudes; Barragem; Obras de drainagem; Pontes;
Construcções metálicas; Estradas de ferro; Estradas de rodagem;
Fundações; Obras Industriaes de qualquer especie; Architectura
classica e moderna; Decorações internas; Estudos e Calculos
estáticos para construcções em concreto armado, construcções
metálicas, etc; Analyses de rentabilidade de obras projectadas;
Geodesia em geral; Medições, triangulações, techeometria de
precisão; Consultas Tecnicas; Vistorias e Arbitragens.97

Apesar da impossibilidade de ser chegar a uma conclusão segura sobre a


formação de Altenesch, esta relação de competências talvez seja um indício de
uma formação técnica de fato, para além de um conhecimento restrito a vivências
em canteiros de obra, já que esta enumeração de habilidades é compatível com
os perfis dos currículos encontrados referentes às formações de construtores,
engenheiros e arquitetos de nível secundário na primeira década do século XX
na Alemanha. As escolas de construtores, as Baugewerkschulen98, por exemplo,
com cursos de um ano e meio a dois anos, dispunham de grades curriculares que
englobavam conteúdos referentes ao âmbito da arquitetura e da engenharia,
abrangendo estudos de representação gráfica e estilos arquitetônicos, bem como
disciplinas de engenharia hidráulica, mecânica, de estradas, de pontes etc. Foi
possível encontrar maiores detalhes sobre os currículos destas escolas instaladas
na Prússia99, onde foi adotado um padrão a partir de 1899. De um modo geral,
existiam duas modalidades de cursos oferecidos pelas escolas de construtores
prussianas: um curso com ênfase em ―construções acima do solo‖ (tradução nossa),
com uma vocação para a área arquitetônica, e um curso com ênfase em
―construções sob o solo‖100 (tradução nossa). Estes cursos de construtores, ainda

97
Anexo C.
98
UNITED STATES OF AMERICA: DEPARTAMENT OF COMMERCE AND LABOR, 1905, p. 61-66.
99
O Reino da Prússia, o maior da Alemanha, constituía o Império Alemão juntamente aos Reinos da
Baviera, da Saxônia e de Württemberg. O Império Alemão, resultante da unificação do Estado em
1871, foi destituído em 1918, quando se instaurou a República de Weimar.
100
Os cursos das Baugewerkschulen prussianas eram realizados em quatro semestres, com cargas
horárias semanais de 44 a 49 horas. Os currículos para ―construções acima do solo‖, do original
aboveground building, faziam referência aos currículos associados a departamentos das
Baugewerkschulen chamados Hoch-Bauabtheilung. Estes currículos compreendiam a formação de
construtores habilitados para uma prática do campo arquitetônico, principalmente. A grade curricular
era composta da seguinte forma: Primeiro semestre: alemão, aritmética, álgebra, geometria plana,
ciências naturais, geometria descritiva, ciência da arquitetura (pedra e madeira), estilos arquitetônicos
70

que ocupassem um degrau mais baixo no que tange à titulação (Mittlere Technika,
escolas técnicas de média formação) se comparados aos cursos oferecidos pelas
Höhere Technische Schulen (Höhere Technika, escolas técnicas de alta
formação) e pelas Technische Hoshsculen (universidades técnicas), pareciam
eficientes na formação de profissionais aptos ao exercício profissional no campo da
arquitetura e engenharia civil, como é indicado pelo trecho a seguir:

Parece que, sob um olhar estrangeiro, a Alemanha já é uma nação


muito bem servida de instituições para a instrução do carpinteiro, do
pedreiro e do arquiteto. A partir dessas escolas, saem todos os
principais engenheiros construtores do país. Eles são encontrados
em todos os Estados alemães. Eles erguem todos os magníficos
edifícios governamentais, constroem as ferrovias governamentais, as
pontes, as obras hidráulicas, as instalações de iluminação e trazem
para suas tarefas um conhecimento profundo de tudo o que há de
mais moderno e mais útil no âmbito da construção. O trabalho
científico, cuidadoso e correto destes profissionais estabeleceu as
bases para estas firmes e arquitetonicamente belas estruturas
alcançadas pelos olhos do estrangeiro em todas as partes do país101
(tradução nossa).

Bremen, que supostamente seria a origem de Altenesch, se considerada a


hipótese proposta neste trabalho, sediou uma instituição de ensino técnico na área
da construção. Esta instituição, de origem estatal, veio a ser o berço da Hochschule

(morfologia), desenho a mão livre, caligrafia e modelagem; Segundo semestre: álgebra, estereometria
e trigonometria, ciências naturais, materiais de construção, geometria descritiva, estática, ciências da
arquitetura, estilos arquitetônicos, desenho a mão livre, prática arquitetônica (Baukunst) e
modelagem; Terceiro semestre: ciências naturais, geometria descritiva, força e resistência da
arquitetura, ciência da arquitetura, prática arquitetônica, desenho arquitetônico, orçamento
arquitetônico, estilos arquitetônicos, levantamento topográfico e nivelamento geométrico, modelagem
e curso Samaritano (algo equivalente a estudos de segurança do trabalho); Quarto semestre:
materiais de construção (revisão), geometria descritiva, estática, força e resistência, ciência da
arquitetura, prática arquitetônica, desenho arquitetônico, orçamento da arquitetura e organização do
trabalho, estilos arquitetônicos, regulamentação arquitetônica e legislação e escrituração. Os
currículos para ―construções sob o solo‖, do original underground building, faziam referência aos
currículos associados a departamentos das Baugewerkschulen chamados Tief-Bauabtheilung. Estes
currículos compreendem a formação de construtores habilitados para uma prática do campo da
engenharia civil, principalmente. Para este curso a grade curricular era semelhante à do curso para
―construções acima do solo‖ nos dois primeiros semestres, diferenciando-se nos dois últimos com as
seguintes disciplinas: Terceiro semestre: ciências naturais, levantamento topográfico e nivelamento
geométrico, cálculos, geometria descritiva, ciência da arquitetura, força e resistência da arquitetura,
engenharia de fundações, engenharia hidráulica, construção de pontes, construção de ferrovias,
desenho de fundações e curso Samaritano; Quarto semestre: levantamento topográfico e
nivelamento geométrico, materiais de construção, estática, força e resistência, engenharia mecânica,
construção de estradas, engenharia hidráulica, construção de pontes, construção de ferrovias,
regulamentação arquitetônica e legislação, orçamento da arquitetura e organização do trabalho e
escrituração. Cf. UNITED STATES OF AMERICA: DEPARTAMENT OF COMMERCE AND LABOR,
1905, p. 63-64.
101
Ibid., p. 66.
71

für Technik, a Faculdade de Engenharia da atual Universidade de Ciências


Aplicadas da Cidade de Bremen. Até 1914, a Technikum de Bremen era uma
instituição de média formação técnica (Mittlere Technika), e entre seus
departamentos estava o de formação de construtores, uma escola aos moldes das
Baugewerkschulen. O curso oferecido por esta escola dava ênfase na engenharia
civil e nos estudos estruturais e de fundações, algo equivalente aos cursos
vinculados aos departamentos de ―construções sob o solo‖ das escolas prussianas.
A partir do ano de 1914, a instituição passou a ter departamentos de Construção e
Engenharia Civil (Hoch- und Ingenieurbau)102, fato que sugere uma evolução para
uma instituição de alta formação técnica (Höhere Technika). Não foi possível
localizar os currículos dos cursos de Construção e Engenharia Civil das Höhere
Technische Schulen, mas a análise dos currículos das escolas prussianas para
construtores dão notícia da amplitude e qualidade do conhecimento adquirido pelos
profissionais alemães da construção civil nos primeiras décadas do século XX.
Considerando-se a hipótese de que Altenesch fosse bremer103 e, portanto,
assim também levando em conta as informações referentes à profissão encontradas
nos passaportes alemães que compõem esta hipótese, como apresentado
anteriormente — techniker (técnico) e Bauingenieur (engenheiro civil) —, é possível
supor, por estas titulações, que ele obteve uma alta formação técnica de nível
secundário (Höhere Technika), já que aqueles formados nas instituições de média
formação técnica (as Mittlere Technika, como as Baugewerkschulen) recebiam
títulos de construtores. Aqui são apresentadas novas hipóteses, que ficam em
aberto, pela impossibilidade de ratificação, mas que contribuem para o entendimento
acerca da formação de profissionais da construção civil no contexto espaço-temporal
referente às origens de Altenesch. Logo, se ele obteve título ou não, não é possível
identificar, mas, como afirma Porto, a partir do convívio com o alemão, percebeu-se
que ―possuía conhecimento suficiente e competência satisfatória para as tarefas que
aqui executou‖104.

102
HOCHSCHULE Bremen. In: Wikipedia, 20 jan. 2018. Disponível em:
<https://de.wikipedia.org/wiki/Hochschule_Bremen> Acesso em: 30 jan. 2018.
103
Bremer, em alemão, é como é chamada a pessoa originária das cidades de Bremen ou
Bremerhaven, que integram o Estado Livre Hanseático de Bremen, na Alemanha. Cf. BREMER. In:
Wikipedia, 28 dez. 2017. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Bremer> Acesso em: 31 jan.
2018.
104
PORTO, loc. cit.
72

2.3.3 Entre propagandas e novidades na arquitetura residencial

Após esta breve reflexão concernente à questão da formação de Altenesch e


tendo-se compreendido de forma mais clara a abrangência de sua prática
profissional, como indicado pelo papel timbrado de seu escritório, dá-se seguimento
à construção da narrativa sobre sua atuação em Aracaju. Para começar, é dada
continuidade ao caso dos bungalows de Apenburg, abrindo-se, posteriormente, a um
entendimento mais alargado acerca da obra residencial.
Conforme indicado por Porto, no início de 1934 ocorreu então a petição, em
nome do comerciante Erich Apenburg, para a construção das duas casas na Rua
Vila Nova105. De fato, foi possível encontrar no Diário Oficial registros referentes a
estas obras. Um primeiro despacho à petição ―do dr. H. O. von Altenesch, por Enrich
Apenhurg‖ foi realizado no expediente do dia 10 de janeiro do Governo Municipal de
Aracaju106 e em 17 de abril daquele ano as duas residências receberam pelo
Departamento de Saúde Pública de Sergipe a autorização do ―Habite-se‖107. De
acordo com Porto, foram festivamente inauguradas naquele abril, e estas
festividades, na visão do engenheiro sergipano, soaram como uma estratégia
publicitária. Nas palavras do autor ―tais casinhas, em estilo diferente do que era
comum em Aracaju, caíram no gosto da população, fizeram grande sucesso. Ao aqui
chegarmos em fins de 1934, fomos quase intimidados a ir conhecê-las‖108. Foram
encontradas notas, em publicações diferentes, que denunciam a dimensão da
publicidade realizada com estas construções. Interessa observar que em todas elas
o nome de Altenesch é citado, e na última matéria transcrita abaixo, não há
economia nas palavras elogiosas ao se referir ao alemão e às suas obras, o que
reforça o viés propagandístico destes textos.

Serão inaugurados hoje, festivamente, ás 10 horas da manhã, os


novos bungalows construídos pelo engenheiro Altenesch, de
propriedade do sr. Erich Apenburg, á rua de Vilanova.109

105
PORTO, loc. cit.
106
ARACAJU. Governo Municipal. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 jan. 1934, ano
XVI, n. 5864, p. 111.
107
SERGIPE. Departamento de Saude Publica de Sergipe: Higiene das Habitações. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 19 abr. 1934, ano XVI, n. 5941, p 1193.
108
PORTO, loc. cit.
109
SERÃO inaugurados hoje dois bungalows. O Estado de Sergipe, Aracaju, 14 abr. 1934, ano II, n
323, p. 2.
73

O exmo. Sr. Interventor Federal recebeu o seguinte convite:


Tendo de inaugurar festivamente Domingo ás 10 horas da manhã, os
novos Bungalows construidos pelo engenheiro H. O. Arendt von
Altenesch, á rua Vilanova, nesta capital, convido-os a tomar parte na
dita festividade. Com estima e apreço.— Erich Apenburg.110

Foram inaugurados na manhã de ante-hontem, os dois mais lindos


bungalows dotados á Aracaju, pelo espirito altamente inspirado do
engenheiro architecto Altenesch (grifo nosso) e de propriedade do
sr. Erich Apenburg. As duas modernas e perfeitas construcções,
(grifo nosso) que são mais um attestado do valor technico do
jovem constructor Altenesch, (grifo nosso) então localizados á rua
de Villa Nova, trecho compreendido entre as de Itabaiana e N. S. da
Gloria. A solenidade de inauguração foi assistida pelas autoridades
estaduaes e federaes no Estado e representantes da imprensa local,
além de grande numero de pessoas de destaque em nossa
sociedade. Após o protocolo da inauguração, foram servidos doces e
bebidas finais aos presentes.111

De acordo com Porto112, foi com estas casinhas de Altenesch que o termo
bungalow recebeu adesão no linguajar aracajuano. O autor revela que antes de
Altenesch já existiam algumas outras casas que poderiam ser compreendidas como
bungalows, e que inclusive já havia uma lei para o município que previa este tipo de
construção. Assim, para ele, o construtor alemão poderia ser muito mais
considerado um propagador desta tipologia residencial do que propriamente um
inovador, como veio a ser afirmado na homenagem póstuma feita pelo prefeito
Godofredo Diniz, no Decreto-Lei 39, ao considerar ter sido Altenesch aquele ―que
introduziu entre nós a inovação americana do bungalow‖.
Voltando às duas casinhas, Porto113 as identificou em Aracaju ao localizá-las
nos números 521 e 529114 da atual Rua Duque de Caxias (figura 07). A primeira,
ainda preserva traços de sua originalidade, ao passo que a outra se encontra

110
NOTICIÁRIO. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 abr. 1934, ano XVI, n. 5938, p.
1154.
111
OS MAIS lindos bungalows da cidade. Sergipe-Jornal, Aracaju, 17 abr. 1934, ano XIV, n. 3558, p.
1.
112
PORTO, 2003, p. 24.
113
Ibid., p. 22.
114
A numeração atual das residências localizadas neste trecho da Rua Vila Nova (atual Duque de
Caxias) não é a mesma daquela utilizada nos anos 1930, já que àquela época a numeração estava
por volta do numero 70. Esta diferença é revelada com o número do primeiro bungalow sorteado por
―A Construtora‖: 73 (Cf. AVISO d‘ ―A Construtora‖ ao Publico em Sergipe, jun. 1934, loc. cit.), bem
como com o número 76 de um dos bungalows de Erich Apenburg, como indica anúncio de aluguel
para ―um bungalow, tipo moderno‖ cujo endereço para contato é a sede da Companhia Rovel da Baía
S/A, dirigida em Aracaju pelo próprio Apenburg (Cf. ALUGA-SE, loc. cit.). A não equivalência da
numeração antiga com a atual é um fator que dificultou uma identificação mais precisa da localização
dos bungalows indicados neste trabalho.
74

totalmente descaracterizada. Estas não foram as únicas intervenções do alemão no


logradouro, já que, ainda de acordo com Porto, ele fez nesta e em outras ruas
―pequenas construções e reformas dentro da linha de seu bangalôs‖115. De fato,
como foi indicado anteriormente, provavelmente ao menos mais dois bungalows de
sua autoria foram erguidos no mesmo trecho daquela rua, como consequência da
parceria com a ―A Construtora‖; um sorteado em novembro de 1933 e o outro em
julho do ano seguinte, após a inauguração dos dois bungalows de Apenburg.

Figura 07 – Condição atual das casas de números 521 e 529 da


antiga Rua Vila Nova (atual Rua Duque de Caxias).

Fonte: Google Street View (2017).

Em uma lista com os valores do imposto predial para a Rua Vila Nova disposta
na edição do Diário Oficial para o dia 5 de maio de 1936116, foram encontradas
referências a este conjunto de casas. Erich Apenburg foi creditado como proprietário
de três delas: duas foram classificadas como bungalows, e uma terceira; classificada
como ―casa de telha‖. Os dois bungalows estavam alugados117 e a ―casa de telha‖
era ocupada pelo próprio Apenburg. Também foi identificado o nome de Francisco
Freitas como proprietário de ―casa de telha‖; este fora o ganhador do sorteio do
segundo bungalow construído por ―A Construtora‖ naquela rua. É possível identificar
também que Altenesch igualmente ocupava residência naquela rua, em ―casa de
telha‖ pertencente à Senhora Flora Penna Nascimento. Provavelmente, esta casa

115
PORTO, 2003, p. 49.
116
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju,
5 maio 1936, ano XVIII, n. 6467, p. 3-4.
117
Alugados pelos Srs. Francisco Moreira e Juliano Simões.
75

seja a de número 85, já que este é um dos endereços que aparece em referências
ao seu escritório118. Estas residências estão listadas próximas umas às outras, o que
leva a deduzir que todas estivessem localizadas no trecho compreendido entre as
Ruas Itabaiana e Nossa Senhora da Glória (atual Rua Dom José Thomaz), já que
este é justamente o trecho dos dois festejados bungalows de Apenburg e do
bungalow de Francisco Freitas. Esta dedução parece ainda mais precisa ao se
observar que neste ponto da lista também se encontra a ―Casa Palacete‖ de
propriedade do Estado, à época ocupada pelo Departamento de Saúde Pública e
hoje o Palácio da Polícia Civil, justamente localizado naquele trecho da rua.
Fotografias de quatro dos bungalows construídos por Altenesch na Rua Vila
Nova, dentre os quais está um dos pertencentes à Apenburg — aquele que hoje
está sob o número 521 —, aparecem em duas publicações de 1935: uma no
Almanack de Sergipe para aquele ano119 e a outra na edição de novembro da revista
Renascença120, editada em Aracaju. Ambas as publicações, de cunho
evidentemente publicitário sobre o trabalho de Altenesch, trazem esta tipologia
residencial como a grande contribuição do construtor alemão para o progresso e
modernização da cidade, como pode ser visto a seguir:

É um facto. Todo mundo vê. Toda gente sabe. Isso aqui não é
philosophia. Nem politica. As coisas estão ahi se vendo. Aracajú
progride... Vai prá diante (grifo nosso). A menina de Gumercindo
não usa mais tamancos — não. Aracajú está se modernizando
(grifo nosso) cada vez mais. É um facto. Não se discute.
Progredindo (grifo nosso). Mais ruas calçadas. E os particulares
fazendo predios bonitos. „Bungalows‟ (grifo nosso) que atraem os
olhares da gente. E a gente fica satisfeita, se lembrando que isso é
Aracajú. A Aracajú encantada de sempre. A Aracajú adiantada de
hoje (grifo nosso). Que casinhas lindas! Parece romance. Mas é

118
Nos pequenos textos publicitários encontrados nas supracitadas edições da revista Novidade de
1936 é possível encontrar duas referências para endereços do escritório de Altenesch: na edição de
fevereiro, o endereço é o sobrado de número 72, na Avenida Rio Brando (Cf. H. O. ARENDT Von
Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; figura 05); na edição de abril, o endereço é o número 85 da Rua
Vila Nova (Cf. H. A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; figura 06). O sobrado da
Avenida Rio Branco teria sido a primeira localização de seu escritório, como é indicado em texto
presente em edição de 1935 da revista Renacença (Cf. ARCHITECTOS modernos, loc. cit.; Anexo D).
A partir de meados de 1936 este endereço teria mudado para as proximidades de seus bungalows na
Rua Vila Nova. Não é possível identificar se ele teria ficado nesta localização até sua partida de
Aracaju, mas em fotografia da obra da Associação Atlética de Sergipe localizada na revista
comemorativa dos dois anos da Interventoria de Eronides de Carvalho, de 1937, é possível identificar
este endereço. Cf. SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de
Carvalho. São Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
119
ARACAJÚ Progride. Almanack de Serpipe para 1935. Aracaju: Sociedade Editora Sergipana,
1935, ano 9, n. 5, p. 213-214. Cf. Anexo E.
120
ARCHITECTOS modernos, loc. cit. Cf. Anexo D.
76

realidade. E o engenheiro que as construiu, o dr. H. O. Ahrendt [sic]


Von Altenesh, semelha um fazedor de milagres (grifo nosso). Vocês
olhem: não parece romance?121

Este esplendor (grifo nosso) que se observa em grande numero de


‗bungalows‘ em varias ruas de nossa elegante Aracaju constitute
attestado flagrante da cultura architectural (grifo nosso) do illustre
engenheiro H. O. Akrendt [sic] von Altenesh, que faz pouco tempo
aqui chegou instalando escriptorio á Avenida Rio Branco. [...] Tudo
bem disposto em forma artística, cuidadosamente architectado,
desde a base á decoração, deixa-nos admirar o trabalho do Dr. H. O.
Altenesh como profissional de nomeada na execução de suas
contrucções. [...] O illustre engenheiro architecto (grifo nosso) H. O.
Altenesh operou o milagre de beleza (grifo nosso) o seu novo
systema (grifo nosso) de edificação, transformando a nossa „urbs‟
em um centro adiantado (grifo nosso). Actualmente é o maior
constructor no gênero (grifo nosso), sendo as suas plantas
aprovadas geralmente.122

Estes textos são reveladores de como foi construída ao redor da figura de


Altenesch e dos seus bungalows a ideia de um ―renovador da cidade‖ responsável
por afastar “a monotonia passadista dos nossos motivos arquitetônicos‖, como
afirmado pelo prefeito Godofredo Diniz em seu Decreto-Lei/Homenagem de 1940, e
comentado por Porto123. A associação do seu conhecimento técnico e das suas
propostas estéticas — diferentes daquelas preexistentes em Aracaju até então, e,
portanto renovadoras da visualidade urbana — a uma concepção de progresso,
adiantamento e avanço, sob as bases de um discurso publicitário recorrente,
parecem ter sido eficazes para vincular a Altenesch um sentido de modernidade no
contexto sergipano. A vinculação de Altenesch à tipologia do bungalow foi reforçada
pelo próprio nas supracitadas propagandas nas edições da revista ―Novidade‖ de
1936124 (figuras 05 e 06). Ambos os pequenos textos trazem em destaque a
informação de ser ele ―Especialista em construcções de ‗Bungalows‘ para
residências‖.
Além das fotografias de quatro bungalows da Rua Vila Nova, estas publicações
de 1935 também revelam mais três obras. O Almanack traz a fotografia de um
edifício comercial na Rua Itabaiana, e ambas as publicações exibem as fachadas
das residências do Coronel Guilhermino Rezende e do advogado Dr. Carvalho Neto.

121
ARACAJÚ Progride, loc. cit.
122
ARCHITECTOS modernos, loc. cit.
123
PORTO, 2003, p. 25.
124
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; H. A. ARENDT Von Altenesch:
Engenheiro Civil, loc. cit.
77

O edifício comercial, cuja localização à Rua Itabaiana não foi possível identificar, era
um edifício térreo, alinhado com o logradouro, e, pelo que se compreende da
fotografia, apresentava uma fachada de ornamentação simplificada, composta por
frisos na base e no coroamento. Quanto às duas residências citadas, são
indicadoras da vinculação do alemão às expressões estéticas de vocação
ornamental próprias da época.

Figura 08 – Edifício comercial na Rua Itabaiana


construído por Altenesch.

Fonte: Almanack de Sergipe (Aracaju, 1935, ano 9, n. 5,


p. 213).

Como afirma Porto125, a residência do Dr. Carvalho Neto foi reformada por
Altenesch em 1934, que ―trocou o eclético de porão alto por um pesado colonial, não
um colonial brasileiro, mas o colonial hispano-americano‖. Não mais existente, a
residência estava localizada à esquina da Rua Pacatuba com a Rua Estância. Ela é
possivelmente, assim como também parece ser a residência do Coronel Rezende,
dos primeiros exemplos destas residências que Porto associa à expressão
―Missões‖126, mas que depois etiqueta como ―alteneschiano‖127. De acordo com
Porto, esta linguagem fez grande sucesso nas ruas de Aracaju, e além das inúmeras
obras do alemão, outros profissionais vieram a ser contagiados. Sem se isentar da
apresentação de seu juízo de valor sobre estas obras, o autor aponta que a
justificativa para a grande adesão popular à ―arquitetura delirante‖ ―alteneschiana‖

125
PORTO, 2003, p. 49.
126
Ibid., loc. cit.
127
Ibid., p. 54.
78

teria sido o apreço dos clientes pela novidade e a suposta pouca instrução estético-
formal destes.

Figura 09 – Fotomontagem presente na revista comemorativa


do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho mostrando as
novidades arquitetônicas residenciais em Aracaju.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Como indica Porto — e em seu livro ele revela uma parte — na revista
comemorativa do Governo de Eronides de Carvalho há uma montagem com
inúmeras destas residências (figura 09), entre outras linguagens, que ele chama
―alteneschianas‖. De acordo com o autor, boa parte destas obras seria de autoria de
Altenesch, e as demais seriam obras resultantes da influência do alemão sobre
outros profissionais. Neste painel também estão fotografias de residências cuja
linguagem Porto entendeu como ―louvável‖, associáveis a uma plástica arquitetônica
de linhas mais limpas, geométricas. Nesta estética, que Altenesch adotava ―quando
o cliente não era ‗tupiniquim‘‖128, pelo julgamento de Porto, as intervenções foram
mais pontuais. Porto indica a residência Deoclides Azevedo, na Rua Itabaiana129, a
residência Gervásio Prata (Rua Boquim, número 67) e a residência Flávio Prado
(Praça Camerino, número 101). Assoma-se a esse grupo a residência Torquato
Fontes (Avenida Barão de Maruim, número 565) conforme indicado por Rodomar130.

128
PORTO, loc. cit.
129
Ao longo da pesquisa não foi encontrada nenhuma informação referente à residência Deoclides
Azevedo que contribuíssem na compreensão de sua compleição.
130
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
79

Estas residências foram construídas em uma fase posterior à edificação e


divulgação dos bungalows: entres os anos 1936 e 1938, conforme dados
encontrados durante a pesquisa131.
Em pesquisa apresentada em 2011, Campos e Santos132 puderam revelar que
além de autor de projetos e construções modernas para Aracaju, Altenesch também
assumiu o posto de promotor destas intervenções ao ter adquirido ao menos oito
terrenos na cidade e ter construído casas para venda. Elas teriam sido construídas
em 1938, e três delas estariam situadas na área norte — às Avenidas Simeão
Sobral e Coelho e Campos —, e outras cinco casas estariam localizadas ao sul da
zona central. Segundo Campos e Santos133, estas casas teriam sido, em sua
maioria, adquiridas por altos funcionários do governo e industriais, formadoras de
uma nova burguesia aracajuana. Sobre estas casas não foi possível, para esta
pesquisa, localizar informações mais detalhadas.
Seja como projetista e construtor contratado, ou como agente de suas próprias
construções, como indica este dado trazido por Campos e Santos134, Altenesch
apresenta uma produção ampla no campo residencial. De acordo com Barreto, ele
teria construído dezenas de casas em várias ruas da cidade: Pacatuba, Estância,
Itabaiana, Capela, Vila Cristina135, Maruim, Barão de Maruim136, entre outras, e por
isso, nas palavras do próprio historiador sergipano: ―Talvez seja Altenesch o
engenheiro e construtor que tenha dado, individualmente, a maior contribuição à
arquitetura de Aracaju‖137.

História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade


Tiradentes, Aracaju 2002.
131
A residência de Gervásio Prata, na Rua Boquim, estava em construção em 1936, a residência de
Flávio Prado, na Praça Camerino, estava em construção em 1937 e a residência de Torquato Fontes,
na Avenida Barão de Maruim, teve início em 1937 e foi concluída em 1938. Cf. ARACAJU. Prefeitura
Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 maio 1936, ano XVIII,
n. 6476, p. 688; ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 4 mar. 1937, ano XIX, n. 6706, p. 426; RODOMAR, 2002.
132
CAMPOS, Antônio Carlos; SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. Los agentes privados y la
producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y segreagación (1930-
1964). In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPUR,
maio 2011, p. 7.
133
Ibid., loc. cit.
134
Ibid., loc. cit.
135
BARRETO, fev. 2004.
136
Id. Altenesch e Wladimir Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
137
Id., fev. 2004.
80

2.3.4 Entre editais públicos, projetos e obras institucionais

Nas pesquisas para este trabalho foi possível localizar informações que
revelam uma atuação ampliada do construtor alemão, assim como é indicada pela
lista de serviços oferecidos por seu escritório, transcrita anteriormente. Esta atuação
ampliada está refletida em projetos e obras desenvolvidas para o âmbito público e
institucional. Um tópico identificado e que possibilita o alargamento da compreensão
sobre a inserção e continuidade do alemão nas práticas profissionais da arquitetura
e engenharia civil em Aracaju foi a sua participação em concorrências públicas
para projetos e construções lançadas pelos governos estadual e municipal. Há duas
concorrências, particularmente, que são eficazes em revelar como Altenesch não só
esteve envolvido em projetos de arquitetura, mas também naqueles de
infraestrutura, vinculáveis ao campo da engenharia civil propriamente dita. Estas
concorrências foram as referentes a projeto para construção de um cais de
proteção da Praia 13 de julho e a anteprojetos de quatro “obras d‟arte
especiaes, em concreto armado”, referentes a projetos para pontes sobre os rios
Sergipe (município de Riachuelo), Piauí (município de Boquim), Vasa-Barris
(município de Itaporanga) e Japaratuba (município de Japaratuba).
A concorrência para o projeto para a praia 13 de julho foi aberto em 27 de
janeiro de 1936138 e previa um cais de proteção com extensão de 800 metros, no
trecho compreendido entre o Depósito de Inflamáveis, ou Carvão139, até o rio
Tramandahy140. Concorreram as firmas Emilio Odebrecht & Cia. e Christiani &
Nielsen141, o construtor Manuel Franklin da Rocha e o próprio Altenesch. A
documentação entregue pelo alemão continha um memorial descritivo dos projetos,
uma planta de seção transversal da avenida marginal, planta da análise estática do

138
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas: Edital de concurrencia para apresentação de projectos
para a construcção de um caes de protecção ao longo da praia ―13 de Julho‖, em Aracaju (Estuario
do Rio Sergipe). Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 29 jan. 1936, ano XVIII, n. 6393, p.
226.
139
O Depósito de Inflamáveis localizava-se nas imediações de onde hoje se encontram as
instalações do Iate Clube de Aracaju.
140
O riacho Tramandaí, convertido em canal, ainda existe e cruza a Avenida Beira Mar na altura do
início da Avenida Francisco Porto.
141
A firma Emilio Odebrecht & Cia. tinha sua sede em Salvador, Bahia, e era comumente
representada em Sergipe pelo engenheiro Eugênio Odebrecht. A firma Christiani & Nielsen, sediadas
na então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, costumava ser representada em Sergipe pelo
engenheiro Hans Jensen Cristiensen. Cf. SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Ata da reunião da
comissão designada para o recebimento de propostas para a construção do Palacio das Letras.
Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 maio 1934, ano XVI, n. 5957, p. 1427-1428.
81

perfil do cais com respectivos cálculos, planta do perfil do cais e paramento e planta
da avenida marginal142.
O edital para o concurso dos anteprojetos das quatro pontes foi lançado em
quatro de março também do ano de 1936 e previa duas pontes para vãos livres de
50 metros (rios Sergipe e Piauí), outra para 40 metros (rio Japaratura) e outra para
30 metros de vão (rio Vaza-Barris)143. Foram apresentadas três propostas,
entregues sob pseudónimos, e à reunião de entrega dos anteprojetos
compareceram dois dos concorrentes, os engenheiros Eugênio Odebrecht e
Oswaldo Cohin Ribeiro, representantes da firma Emilio Odebrecht & Cia. e
Altenesch144.
Em nenhum dos casos, Altenesch saiu vitorioso já que ambos os editais de
projeto e anteprojeto foram vencidos pela firma Christiani & Nielsen145. O cais da 13
de julho foi construído pela firma Emilio Odebrecht & Cia e no termo de contrato para
a construção é possível notar que o projeto a ser construído é o de autoria do
engenheiro civil Oswaldo Cohin Ribeiro, integrante da própria Odebrecht, e não o
projeto originalmente vencedor da Christiani & Nielsen146. O motivo que levou a essa
mudança nos projetos não foi identificado. Aquele cais foi construído, portanto, pela
Odebrecht e inaugurado em princípios de abril de 1937, como parte integrante das
comemorações de dois anos de governo de Eronides Carvalho147. Com relação às
quatro pontes em concreto armado, a firma Christiani & Nielsen não só venceu o
concurso dos anteprojetos, como também foi a contratada para a execução
daquelas obras148. Ainda que Altenesch não tenha obtido sucesso nestas duas

142
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 14 mar.
1936, ano XVIII, n. 6430, p. 510-511.
143
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Edital de concurso de ante-projectos para a construcção,
no Estado, de obras d‘artes especiaes, em concreto armado. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 7 mar.1936, ano XVIII, n. 6424, p. 471.
144
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Acta da reunião da comissão designada para
recebimento dos ante-projetos de quatro obras d‘arte especiaes, a serem construídas no Estado, de
accôrdo com o edital de concurrencia desta Directoria, de 21 de Fevereiro de 1936. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, N. 6459, p. 734.
145
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Mensagem Apresentada pelo Governador do Estado de
Sergipe, á Assembléa Legislativa do Estado, em 7 de setembro de 1936. Diario Official do Estado
de Sergipe, Aracaju, 17 set. 1936, ano XVIII, n. 6572, p. 2170.
146
SERGIPE. Directoria de Finanças. Termo de contracto entre o Estado de Sergipe e a firma Emilio
Odebrecht & Cia., para a construcção de oitocentos e cinco metros de caes de saneamento e
proteção da praia ―13 de julho‖, nesta Capital. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 20 set.
1936, ano XVIII, n. 6575, p. 2212-2213.
147
NOTICIÁRIO. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 4 abr. 1937, ano XIX, n. 6730, p.
703.
148
SERGIPE. Expediente do Governador. Requerimentos despachados. Diário Official do Estado
de Sergipe. Aracaju, 11 nov. 1936, ano XVIII, n. 6617 p. 2184.
82

concorrências, a sua presença nos processos de seleção é um fato que corrobora as


suas habilidades profissionais ampliadas no âmbito da construção civil, como
reveladas no papel timbrado do seu escritório.
Mais duas concorrências envolvendo o seu nome foram encontradas nas
pesquisas para este trabalho, desta vez relacionadas a projetos de arquitetura: os
projetos para o Palácio das Letras e para o Quartel do Corpo de Bombeiros
Municipais de Aracaju.
Houve uma primeira concorrência para o Palácio das Letras, cujo edital foi
lançado em nove de abril de 1934149, e para esta apenas dois concorrentes
apresentaram propostas: as firmas Emilio Odebrecht & Cia e Christiani & Nielsen150.
Como foi considerado pela Comissão julgadora que os projetos apresentados não
satisfaziam as exigências do edital de concorrência, esta foi anulada 151. Assim, uma
nova concorrência foi aberta em 14 de junho daquele mesmo ano152 e desta vez,
três concorrentes apresentaram propostas de projeto: as duas construtoras que
haviam apresentado propostas para o edital anterior e Altenesch. Em 23 de junho os
projetos foram julgados e o projeto ganhador foi aquele apresentado pela Christiani
& Nielsen153. Esta firma e a Emilio Odebrecht & Cia. também participaram do edital
para apresentação de propostas para construção154 daquele projeto vencedor,
contudo, desta vez, quem venceu foi a Odebrecht. O Palácio das Letras, no entanto,
não foi construído. Em discurso proferido pelo Interventor Eronides Ferreira de
Carvalho, no dia cinco de outubro de 1935, na solenidade de assentamento da
primeira pedra da construção da Biblioteca Pública do Estado, foi possível identificar
a mudança de rumos acerca deste projeto:

[...] Encontrei o Estado vinculado, por força de um contracto, com a


firma Emilio Oldebrecht e Cia., para construcção do Palacio das

149
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas do Estado de Sergipe. Edital de concurrencia para a
construção do Palacio das Letras, á praça Fausto Cardoso, nesta capital. Diario Oficial do Estado
de Sergipe, Aracaju, 10 abr. 1934, ano XVI, n. 5934, p. 1085.
150
SERGIPE, maio 1934, loc. cit.
151
SERGIPE. Expediente da Interventoria. Oficio recebido. Diario Oficial do Estado de Sergipe,
Aracaju, 2 jun. 1934, ano XVI, n. 5973, p. 1635-1636.
152
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas do Estado de Sergipe. Edital de concurrencia para a
apresentação de projetos do ―Palacio das Letras‖, á praça Fausto Cardoso, nesta capital. Diario
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 jun. 1934, ano XVI, n. 5984, p. 1803.
153
SERGIPE. Expediente da Interventoria. Oficios despachados. Diario Oficial do Estado de
Sergipe, Aracaju, 25 jul. 1934, ano XVI, n. 6016, p. 2277-2278.
154
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Reunião da Comissão designada para receber, abrir e
julgar as propostas de construção do ―Palacio das Letras‖. Diario Oficial do Estado de Sergipe,
Aracaju, 4 set. 1934, ano XVI, n. 6095, p. 2805.
83

Letras, onde ficaria, também, a Bibliotheca Publica. Muito bom seria


que pudéssemos realiza-lo. Entretanto era elle muito superior ás
possibilidades financeiras de Sergipe. Entrei em entendimentos com
os contractantes e, finalmente, conseguimos um additivo ao referido
contracto, de modo que, hoje, venho bater a primeira pedra do
edifício da Bibliotheca Publica [...]155

Figura 10 – Desenho da
Fachada da Biblioteca Pública
do Estado de Sergipe.

Fonte: Emilio Odebrecht & Cia,


Eng. Civil Oswaldo Cohim
Ribeiro da Silva, Desenhista
Antônio Ramos (1936);
Desenho localizado na
mapoteca da CEHOP, sob
cadastro D23-0910-018.

Assim, por uma questão orçamentária, o projeto vencedor da Christiani &


Nielsen para o Palácio das Letras foi substituído por outro projeto, que, mais
simplificado, seria destinado apenas às instalações da Biblioteca Pública. Esta
edificação foi inaugurada festivamente no dia 14 de novembro de 1936 156.
Em consulta ao acervo da CEHOP, foi possível encontrar o projeto do edifício
que foi construído157. Neste conjunto de desenhos, datados de janeiro de 1936, que
incluem os projetos arquitetônico e estrutural do edifício já ―em construção‖, são
encontrados os nomes dos engenheiros Eugênio Odebrecht, Oswaldo Cohin Ribeiro

155
NOTICIARIO. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 6 out. 1935, ano XVII, n. 6306, p.
4803-4804.
156
INAUGURADO o novo predio da Bibliotheca Publica: A magnifica obra edificada por Emilio
Odebrecht & Cia. Sergipe-jornal, Aracaju, 16 nov.1936, ano XVII, n. 8491, p. 1.
157
Nas visitas ao acervo da CEHOP, realizadas em julho de 2017, além dos desenhos da Biblioteca
Pública, foi possível encontrar dois projetos para o Palácio das Letras; um de autoria de Altenesch e
outro proposto por Emilio Odebrecht & Cia com a assinatura do arquiteto Carlos Wüstefeld.
84

da Silva, do desenhista Antônio Ramos e a referência à firma Emilio Odebrecht &


Cia (figura 10). Não foi possível detectar nenhuma vinculação de Altenesch a este
projeto e a sua construção. Logo, a sua conexão com este momento, ao que parece,
está restrita ao processo inicial de escolha e definição do projeto para o Palácio das
Letras, que nem mesmo chegou a ser concretizado. Este conjunto de dados,
portanto, parece ser suficiente para refutar algumas narrativas construídas até o
momento que vinham atribuindo ao construtor alemão radicado em Sergipe
participação no desenho ou na construção da Biblioteca Pública, atual sede do
APES158. A não inexistência desta vinculação no texto de Porto159, compreendido
aqui como uma fonte mais precisa na construção desta narrativa, já indicava uma
fragilidade nesta afirmativa, que aqui se pretende corrigir.
O projeto do Quartel do Corpo de Bombeiros Municipais de Aracaju
também foi motivo de participação de Altenesch em concorrência pública. Porém,
desta vez, o alemão alcançou a vitória na seleção e seu projeto veio a ser
executado. Um primeiro edital para a edificação a ser localizada na Rua Siriri foi
lançado em 14 de janeiro de 1936160, mas como os projetos apresentados pelos
concorrentes para este primeiro edital não estavam de acordo com as exigências,
um segundo edital foi aberto em 29 de fevereiro daquele ano161. Assim, em 21 de
março, foi feita a indicação do vencedor, que veio a ser o projeto de Altenesch 162,
apresentado sob o pseudônimo “Sergipe”163. Para este edital mais dois projetos
foram apresentados, muito provavelmente da firma Emilio Odebrecht & Cia e do
construtor Manuel Franklin da Rocha, já que segundo o edital posteriormente

158
NUNES, Verônica Maria Meneses; HELBING, Rosemary Bezerra. Manifestações da Arte Déco
em Aracaju. Aracaju, 1988, p. 3; SANTOS, 2002, p. 44; NERY, Juliana Cardoso. Registros: as
residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e 60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil,
2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos: USP/DOCOMO, 2003. Disponível em:
<http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018;
BARRETO, fev. 2004.
159
PORTO, 2003, p. 21 et. seq..
160
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 2: Chama concorrentes para a construcção de um
quartel para a Companhia de Bombeiros, como abaixo se declara. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 15 jan. 1936, ano XVIII, n. 6381, p. 125.
161
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 6: Chama concorrentes para a apresentação de
projectos para a construcção do quartel da Companhia de Bombeiros. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 29 fev. 1936, ano XVIII, n. 6418, p. 420.
162
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Officios expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 15 abr. 1936, ano XVIII, n. 6452, p.667.
163
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 abr. 1936, ano
XVIII, n. 6464, p.591.
85

lançado com chamada de concorrentes para a construção do edifício 164, só


poderiam participar deste edital aqueles construtores que também houvessem
participado da concorrência do projeto, e estes nomes aparecem como concorrentes
à construção. A firma baiana foi a vencedora da concorrência para a construção165 e
no dia primeiro de maio de 1936 ocorreu o batimento da primeira pedra do
edifício166. A sua inauguração ocorreu em dois de abril de 1937167, como parte da
programação comemorativa do aniversário de governo de Eronides de Carvalho,
ocasião em que ocorreu também a inauguração do cais da praia 13 de julho. Estas
informações encontradas contribuem na confirmação da associação que vem sendo
feita entre a obra do Corpo de Bombeiros e Altenesch168. Porto169 inclusive afirmou
que a vinculação do construtor alemão a esta obra se restringia ao projeto,
informação esta que se confirma com os dados encontrados nesta pesquisa. A
segurança na informação trazida por Porto se deve ao fato de que, sendo ele o
engenheiro civil da municipalidade à época, participou das comissões julgadoras
para o projeto e para a construção do Quartel de Bombeiros.
O acesso a essas informações referentes às concorrências públicas para
projeto e construções de prédios públicos não só contribuem no esclarecimento
acerca da atuação de Altenesch em Aracaju, mas também possibilitam uma
compreensão dos mecanismos utilizados na seleção e contratação de firmas e
profissionais envolvidas nas obras públicas, assim como os valores e requisitos
considerados nas escolhas. Estes pontos são analisados à frente, no estudado das
obras de caráter institucional do alemão.
Afora as quatro concorrências indicadas, não foram identificados mais editais
públicos dos quais Altenesch tenha participado. No entanto, foi possível detectar
informações acerca de outras ações do alemão vinculadas ao poder público estatal,

164
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 7: Chama concurrente para construcção de Quartel da
Companhia de Bombeiros deste Municipio. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 25 mar.
1936, ano XVIII, n. 6438, p. 571.
165
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Officios expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, n. 6459, p.734.
166
O GOVERNADOR Eronides Ferreira de Carvalho Foi Recebido Jubilosamente Pelo Povo
Sergipano: O batimento da pedra simbólica do quartel dos Bombeiros Municipais. O Estado de
Sergipe, Aracaju, 3 maio 1936, ano IV, n. 901, p. 2.
167
AS FESTAS de hoje. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 abr. 1937, ano V, n. 1164, p. 1.
168
NUNES; HELBING, loc. cit.; SANTOS, 2002, loc. cit; SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura
moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2011, p. 104.
169
PORTO, 2003, p. 51.
86

que parecem revelar relações contratuais diretas, o que sugere estreitamento dos
laços entre o alemão e os administradores públicos. Esta condição contratual, a que
se fez referência quando se tratou da elaboração do projeto da fachada da estação
ferroviária, no governo de Augusto Maynard, é válida para intervenções do governo
de Eronides de Carvalho, que atribuiu diretamente a Altenesch o papel de delinear o
traçado de pelo menos mais duas obras arquitetônicas do Estado, o Palácio
Serigy170 e a Cidade de Menores “Getúlio Vargas”171. A atribuição destas obras a
Altenesch não é inédita, já compõem parte da narrativa mais consolidada acerca de
sua jornada profissional em Sergipe, como pode ser conferido na bibliografia. Assim,
pretende-se aqui corroborar, a partir das novas fontes que foram encontradas, com a
escrita desta trajetória, aprofundando-a quando possível e revelando outras
nuances.
―A planta do Palácio ‗Serigy‘ fui buscá-la à reputada competência artistica e
profissional do engenheiro civil e arquiteto sr. Von Altenesch‖172, relata Eronides de
Carvalho em seu discurso de inauguração daquele edifício. De acordo com o
mesmo, as obras tiveram início em 15 de junho de 1936173. Inicialmente, a reforma a
ser feita a partir das ruinas da antiga cadeia, localizada na Praça da Alfândega (atual
Praça General Valadão), seria destinada ao alojamento dos serviços agrícolas e a
Polícia Civil, incluindo a corporação da Guarda Civil e a Inspetoria de Veículos.
Contudo, posteriormente se resolveu instalar o Centro de Saúde nos dois primeiros
andares, mantendo no terceiro as repartições estaduais e federais de Agricultura do
Estado174. Em texto encontrado em edição do Correio de Aracaju de 1937175, foi
encontrada a confirmação de como foi caracterizada a contratação de Altenesch
para a obra. É afirmado que ―orçada em 512:000$000, está sendo executada sem
nenhuma concurrencia publica, o que é prohibido pelo código de contabilidade da
União, dado o seu valor superior a 10:000$000‖. Este texto, que se apresenta
enquanto uma crítica à administração do governador Eronides de Carvalho e sua

170
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39; NUNES; HELBING, loc. cit.; SANTOS, 2002, loc. cit.;
PORTO, 2003, p. 53; NERY, 2003; BARRETO, nov. 2004; SANTOS, 2011, loc. cit.
171
PORTO, op. cit., p. 50; BARRETO, nov. 2004; BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da
infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 46.
172
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy.
Noticiário. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3255.
173
CARVALHO, 1936, loc. cit.
174
CARVALHO, 1938, loc. cit.
175
PELA Directoria de Obras. Correio de Aracaju, Aracaju, 28 jun. 1937, ano XXXI, n. 775, p. 4.
87

Diretoria de Obras, faz uma denuncia da suposta irregularidade na contratação e


revela inclusive os honorários destinados do construtor alemão:

[...] Accresce ainda o agravante de estar sendo a mesma executada


por um constructor particular, que desde o inicio tem lá fixada a sua
placa, e que segundo estamos informados, percebe 6% sobre o valor
dos serviços executados, ou seja no final mais de 30:000$000, a
titulo de administração e certamente tambem de fiscalização de se
próprio, pois se houvesse quem o fiscalizasse, a custosa pintura do
edificio, não estaria toda manchada, antes mesmo de ser concluida.
E além de tudo isto, que mais admira é haver o sr. Paiva Mello
pedido por officio ao dr. governador o augmento da quota de 6 para
10% a ser pago ao constructor particular, quando sabemos que na
Directoria de Obras existe mais de um engenheiro sem ter no
momento o que fazer [...]176

Foi localizado no Diário Oficial do Estado de Sergipe, em edição de fevereiro


de 1937177, registro referente a esta forma de pagamento por porcentagem do valor
dos gastos da obra; no caso encontrado, a Altenesch eram destinados seis por
cento do valor total dos gastos.
Foi possível identificar que, durante as obras do Palácio Serigy, Altenesch
também esteve envolvido com a construção dos Studio da Estação Rádio
Difusora178, instalada no prédio do IHGSE, e na conclusão deste edifício, que
também era de sua autoria. Ao que parece, a obra do Studio foi vinculada aos
contratos do Serigy, já que os investimentos realizados pelo governo nesta estavam
inclusos no montante dos gastos totais da reforma da antiga cadeia, como indicado
pelo Governador Eronides Carvalho em seu discurso de inauguração do Palácio 179.
De acordo com Dantas180 em 1935, por escassez de recursos, a obra da sede do
Instituto, iniciada nos princípios do ano anterior, precisou parar quando a cobertura
já estava concluída. Apenas em 1937 houve retorno da construção, quando foi dado
início ao acréscimo de mais um andar para as instalações da estação. As atividades
da Rádio Difusora foram iniciadas em 1939, com a criação da Rádio Aperipê, a

176
Até a data de sua inauguração, ocorrida em 28 de novembro de 1938, o Palácio Serigy custou ao
Estado um total de 633:891$713. Cf. CARVALHO, 1938, loc. cit.
177
SERGIPE. Poder Executivo. Officios despachados. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 28 fev. 1937, ano XIX, n. 6703, p. 391.
178
SERGIPE. Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas: Officios expedidos. Diário
Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 abr. 1937, ano XIX, n. 6999, p. 856; SERGIPE.
Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas: Officios expedidos. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937, ano XIX, n. 7016, p. 1017.
179
CARVALHO, 1938, loc. cit.
180
DANTAS, 2012, p. 130.
88

pioneira na radiofonia sergipana181. Segundo Epifânio Dória182, teriam atuado na


construção deste edifício o construtor italiano Frederico Gentil e os engenheiros civis
José Rolemberg Leite e Fernando Porto.

Figura 11 – Sede do
IHGSE e da Rádio Difusora
em construção. Figura 12 – Palácio Serigy durante a reforma.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Também vinculado ao Estado, e possivelmente a última obra institucional de


Altenesch em Sergipe, foi a Cidade de Menores “Getúlio Vargas”. Este conjunto,
de edifícios, que conformava um pequeno aglomerado rural construído na estrada
de Aracaju para Nossa Senhora do Socorro, tinha como finalidade o abrigo de
menores abandonados. Sua pedra fundamental foi batida em 19 de abril de 1939 e a
inauguração aconteceu em 19 de novembro de 1942183, quando Altenesch já não
estava mais vivo. De acordo com Relatório apresentado em 1941 ao Governo do
Estado pelo Diretor da Cidade de Menores, o Sr. Abelardo Mauricio Cardoso 184,
Altenesch traçou as plantas de quase todos os edifícios, assim como orientou os
primeiros trabalhos — que tiveram início em 29 de maio de 1939 — e deixou
indicadas diretrizes que, mesmo à data da elaboração do relatório em 1941, ainda
norteavam os trabalhos de construção do conjunto. O alemão, segundo o Relatório,

181
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007, p. 249.
182
DÓRIA, 1974 apud DANTAS, 2012, p. 123.
183
BISPO, 2007, p. 56
184
CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f.
(Acervo do APES, referência para busca: BR SEAPES REL V15 D15).
89

acompanhou as obras até setembro de 1939 e, após a partida de Aracaju naquele


mês, colaborou à distância até a véspera de seu óbito, em junho de 1940.
Na edição da Folha da Manhã de nove de junho de 1940, poucos dias antes do
falecimento do construtor alemão, Mario Cabral publicou um texto185 relatando uma
visita sua às obras da Cidade de Menores. Ali ele cita as edificações que teve
oportunidade de conhecer: a portaria, a casa de triagem, a casa do diretor, o
pavilhão lar, o escritório, a enfermaria, a garagem e a olaria. Também é indicado
o conjunto de edificações que compreenderiam a parte final do projeto de
construção da Cidade de Menores, que são: um grupo escolar, uma escola
profissional, uma igreja, uma praça de esportes, um teatro, novas residências e
pavilhões lares e a urbanização. Considerando-se o fato de que sua visita foi
realizada antes da morte de Altenesch, e que, segundo o diretor da Cidade de
Menores, o alemão teria colaborado com as obras até a véspera de seu falecimento,
não seria inadequado supor que ao menos aqueles primeiros projetos, cujas obras já
se mostravam bem adiantadas em meados de 1940, tivessem a sua assinatura.
Outra obra pública cujo projeto tem sido atribuído a Altenesch é a da
reformulação da Ponte do Imperador (figura 13). Esta informação pôde ser obtida a
partir da memória do engenheiro Lauro Fontes, em carta endereçada à
pesquisadora Ana Medina186. Contudo, não foram encontrados quaisquer indícios,
nas fontes consultadas para esta pesquisa, que viesse a ratificar de forma
documental.
A construção do novo atracadouro à Praça Fausto Cardoso foi viabilizado por
um aditivo ao contrato travado entre o Governo do Estado de Sergipe e a firma
Christiani & Nielsen para a construção das quatro pontes em concreto armado, cuja
concorrência foi indicada anteriormente. De acordo com o termo do aditivo de maio
de 1937 a firma deveria seguir um projeto previamente aprovado pela Repartição de
Obras Públicas, que incluía os desenhos com perspectiva e memorial descritivo 187.
Como não houve abertura de concorrência para este projeto é provável que a
escolha do projetista tenha sido feita diretamente pelo governador. Considerando-se
que desde metade de 1936, Altenesch entretecia relações imediatas com o Estado

185
CABRAL, Mario. Cidade de Menores. Folha da Manhã, Aracaju, 9 jun. 1940, ano III, n. 689.
186
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: Editora J. Andrade, 1999, p. 42.
187
SERGIPE. Directoria do Thesouro. Copia do termo additivo ao contracto lavrado entre o Estado de
Sergipe e a firma Christiani & Nielsen. Diário Official do Estado de Sergipe. Aracaju, 22 de maio de
1937. Ano XIX, n. 7021, p. 1062.
90

nas obras do Palácio Serigy, é possível que o desenho da remodelação da ―Ponte‖


lhe tenha sido designado. No entanto, não foi localizado nenhum dado mais preciso
que viesse a corroborar esta atribuição. O atracadouro, chamado à época de ―Ponte
do Governandor‖, foi solenemente reinaugurado em 16 de novembro daquele ano de
1937, com vultosa presença popular, que ―lhe admiravam a beleza arquitetônica, o
valor da construção e a perfeição do acabamento‖188.

Figura 13 – Perspectiva da Ponte do Imperador ou Ponte do


Governador.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Altenesch também esteve envolvido em obras relacionadas a edificações


voltadas para as práticas esportivas e recreativas, promovidas por clubes privados.
A última sede da Associação Atlética de Sergipe tem sido vinculada a ele189 e a
segurança sobre tal informação alicerça-se em fotografia da época da construção do
edifício em que está visível a placa da obra com o nome de Altenesch 190. Já
inexistente, estava localizada à Rua Vila Christina, e foi construída entre os anos de
1936191 e 1937192, contudo não foi possível precisar as datas do início das
construções e a sua inauguração. Este edifício era representativo de uma

188
MAIS um grande melhoramento devido à Administração do Governador Eronides de Carvalho. O
Estado de Sergipe. Aracaju, 17 nov. 1937, ano V, n. 1345.
189
SANTOS, 2002, loc. cit.; NERY, 2003; BARRETO, fev. 2004; Id., nov. 2004; SANTOS, 2011, loc.
cit.
190
SANTOS, 2002, loc. cit.
191
A INAUGURAÇÃO no domingo 30 do corrente mês dos campos de tênis da Associação Atletica de
Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 ago. 1936, ano IV, n. 985, p. 1.
192
ASSOCIAÇÃO Atletica de Sergipe (Nota Oficial). O Estado de Sergipe, Aracaju, 6 fev. 1937, ano
V, n. 1422.
91

compreensão arquitetônica de lastreada na volumetria e em uma plástica de forma


puras.
Além da sede da Associação Atlética de Sergipe, foi possível identificar com
esta pesquisa que Altenesch esteve envolvido nas obras de outro espaço vinculado
às práticas esportivas e ao lazer em Aracaju: o Cotinguiba Sport Club, como pode
ser conferido nesta nota:

Obedecendo á criteriosa direção do ilustre técnico Arendt von


Altenesch, acham-se em vias de conclusão os serviços de
construção da sede do simpatizado grêmio alvi-azul ―Continguiba
Sport Club‖. Introduzidos que foram ultimamente vários detalhes que
dizem de perto da respectiva finalidade, taes como vestiários para
sócios e sociais, living-room, bar com galeria para orquestra,
marquises para banho solar e outros [...]193

Esta obra, que se consistiu em uma reforma de prédio existente, foi iniciada em
maio de 1938 e no final do mesmo ano a reconstrução do prédio estava prestes a
ser finalizada194.
Duas outras obras têm sido atribuídas a Altenesch: o Santuário Nossa
Senhora Menina195 (figura 14) e o Palácio de Veraneio do Governo na Atalaia196
(figura 15). No entanto, assim como para a atribuição referente à remodelação da
―Ponte do Imperador‖, não foi possível localizar qualquer indício documental que
resultasse em confirmações. Ambos os edifícios, de fato, são vinculáveis às
linguagens arquitetônicas utilizadas pelo alemão: o Santuário Nossa Senhora
Menina apresenta uma composição de fachada que se aproxima daquelas presentes
nas obras públicas dos primeiros anos de Altenesch em Aracaju, como a sede do
IHGSE, da Companha Rovel da Baía S.A. e o projeto do Palácio das Letras. Já o
Palácio de Veraneio apresenta uma morfologia que remete aos bungalows do
alemão, com seus telhados de alta inclinação, e sua arcada circular frontal se
aproxima daquela utilizada em um dos pavilhões-lares da Cidade de Menores. Caso

193
A FOLHA nos Sports: Mais uma afirmação de progresso do ―Cotinguiba Sport Club‖. Folha da
Manhã, Aracaju, 3 ago. 1938, ano I, n. 150, p. 2.
194
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube. Folha da Manhã, Aracaju, 28 dez. 1938, ano I,
n. 269, p. 1.
195
NUNES; HELBING, loc. cit.
196
BRITO NETO, Aquilino José de. “Ao sul de Aracaju...”: memória e história da Atalaia Velha
(1900-1952). 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2015, p. 28-29.
92

tenham sido de sua autoria, seriam obras póstumas, já que ambas foram concluídas
após a sua partida de Aracaju197.

Figura 14 – Santuário
Nossa Senhora Menina. Figura 15 – Palácio do Governo na Atalaia.

Fonte: Autoria não Fonte: WG; ClickSergipe, 24 abril 2018. Disponível em:
identificada [198-?]; <http://www.clicksergipe.com.br/cotidiano/6/41661/governo-
Localizada no acervo do de-sergipe-desativa-palacio-de-veraneio.html> Acesso em:
APMA. 17 jul. 2018.

2.3.5 A atuação para além do projeto e construção

A permeabilidade conquistada por Altenesch nas áreas do projeto e construção


em Aracaju, como agente de difusão de modernidades técnicas e estéticas, não
ficou restrita aos objetos arquitetônicos e da engenharia civil. Seu nome, que
fortemente se vinculou a uma alta competência técnica e apreço estético, foi cotado
para integrar comissões que revelam a confiança depositada no alemão pelo poder
públicos e instituições sergipanas.

197
Ao que parece, as obras do Santuário Nossa Senhora Menina foram iniciadas no inicio dos anos
de 1940, como indica notas sobre o arrecadamento de fundos para a sua construção em edições do
jornal Folha da Manhã (Cf. DONATIVOS para as Obras Diocesanas. Folha da Manhã, Aracaju, 5 jan.
1940, ano II, n. 563, p. 4.; DONATIVOS para as Obras Diocesanas. Folha da Manhã, Aracaju, 15 fev.
1940, ano III, n. 595, p. 1). O Santuário foi inaugurado em setembro de 1942 (Cf. FESTA do Santuário
Nossa Senhora Menina inicia hoje. Infonet, Aracaju, 5 nov. 2017, Disponível em: <
http://www.infonet.com.br/noticias/cultura/ler.asp?id=204552> Acesso em: 14 fev. 2018). Sobre o
Palácio de Veraneio do Governo na Atalaia não foi possível encontrar dados mais precisos sobre o
início de suas construções e mesmo sobre sua inauguração, mas esteve em construção ao menos
entre final de 1939 e início de 1941, como foi possível identificar em documentos referentes a recibos
e folhas de pagamentos da Repartição de Obras Públicas do Estado disponíveis no Fundo de Obras
2
e Viação V , volume 06, no APES.
93

A primeira das atividades, considerada a questão cronológica, que revela esta


atuação para além do projeto e da construção, é o seu envolvimento na elaboração
da reforma do Código de Posturas de Aracaju. O nome de Altenesch, junto com
Fernando Figueiredo Porto, Corintho Pinto de Mendonça e Aristides Araújo, aparece
no Ato nº 38 de 10 de setembro de 1935, assinado pelo prefeito de Aracaju
Godofredo Diniz Gonçalves, em que é nomeada comissão para elaboração do
anteprojeto do Código de Posturas da cidade198. Este Ato justifica a criação da
comissão pela necessidade de uma ―legislação moderna que melhor coadune com
as condições e tendências do meio‖199. No Ato há a indicação de que alertas acerca
da necessidade de elaboração de uma nova legislação urbanística haviam sido
feitos por ―urbanista de renome‖, ―de acordo com prescrições modernas de
urbanismo‖. Este urbanista foi o engenheiro paulista Lisandro Pereira da Silva, que
esteve em Aracaju para contribuir, junto à prefeitura de Aracaju, com as diretrizes do
novo Código200. Engenheiro da Prefeitura de São Paulo, Lisandro realizou na manhã
do dia 21 de julho anterior à publicação do Ato nº 38, no Teatro Rio Branco, uma
conferência intitulada ―Problema de Urbanismo‖201, em que apontou as
problemáticas percebidas por ele na cidade e cujo discurso refletiu as orientações
deixadas por ele para a elaboração da reforma no Código202,203. Em outubro do ano
seguinte, 1936, foi publicado o anteprojeto, em cujo enunciado se confirmou a
composição original da comissão e o fato de que estes teriam realizado adaptações
e ampliações nas propostas de reforma sugeridas pelo engenheiro paulista204. Dois
anos depois, em 26 de outubro de 1938, a reforma do Código de Posturas foi
finalmente aprovada, substituindo o vigente, de seis de setembro de 1926. Esta
aprovação se deu após aquele anteprojeto proposto pela comissão ter sido discutido

198
SANTOS, 2002, p. 41.
199
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Ato nº 38 de 10 de setembro de 1935. Nomeia comissão para
elaborar o ante-projeto do Codigo de Posturas do Municipio. Actos do Governo Municipal e Leis e
Resoluções da Camara Municipal, Aracaju, Est. Graph. J. Lins de Carvalho, 1936, p. 33.
200
SANTOS, 2002, p. 42; Id. Práticas e apropriações na construção do urbano na cidade de
Aracaju/SE. 2007. 144 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) –
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 122.
201
PROBLEMA de Urbanismo. O Estado de Sergipe, Aracaju, 21 jul. 1935, ano III, n. 677, p. 1.
202
DR. LYSANDRO Pereira da Silva. O Estado de Sergipe, Aracaju, 23 jul. 1935, ano III, n. 678, p.
1.
203
O discurso do engenheiro paulista Lisandro Pereira da Silva foi publicado na íntegra pelo jornal O
Estado de Sergipe, dividido nas seis edições do jornal publicadas entre os dias 27 de julho e 02 de
agosto de 1935, sob o título ―Problemas de Urbanismo‖.
204
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Projeto do novo Código de Posturas. O Estado de Sergipe,
Aracaju, 16 out. 1936, ano IV, n. 1033, p. 3; ARACAJU. Prefeitura Municipal. Projeto do novo Código
de Posturas. O Estado de Sergipe, Aracaju, 20 out. 1936, ano IV, n. 1037, p. 3.
94

na Câmara Municipal e a ele terem sido acrescidas ―pequenas alterações de


detalhe‖205. Este Código foi o primeiro elaborado para a Aracaju a ser incluída a ideia
do zoneamento da cidade pela definição de perfis prioritários de atividades para
ocupação por cada zona, criando as zonas comercial (ZC), industrial (ZI), residencial
(ZR) — subdividida em três zonas ZR1, ZR2 E ZR2 — e rural e agrícola (ZA). Não
ficam expostos nos documentos encontrados, os atos e decretos governamentais, o
peso da participação de cada um dos integrantes da comissão. Logo, a contribuição
de Altenesch não pode ser dissociada da contribuição dos outros três integrantes da
comissão.
Também no ano de 1935, quando se deu a nomeação do alemão para a
comissão do Código de Posturas, foi ele convidado para compor outra comissão,
desta vez aparentemente em função mais breve e pontual, mas por isso não menos
indicativa da credibilidade conquistada pelo alemão na elite intelectual de Aracaju.
Refere-se aqui à sua participação como membro do júri do 2º Salão Mixto de Artes.
Junto com o escultor Gatti, o professor José Augusto da Rocha Lima, o poeta Arthur
Fortes e o jornalista Zozimo Lima206, compôs a comissão que avaliou e premiou
trabalhos artísticos de variadas categorias. A exposição, realizada no salão de
danças do Recreio Clube, foi iniciada no dia primeiro de setembro207, e contou com
trabalhos de pinturas, desenhos, esculturas, cartografias e peças de artes
decorativas e aplicadas. Mais duas edições deste salão de mostras artísticas foram
identificadas208, contudo, nestas não há registro da participação de Altenesch.
A terceira e última comissão identificada a que se associa o nome do
engenheiro alemão foi aquela que seria responsável por dar início às atividades de
reconhecimento e controle dos bens de valor históricos localizados em São

205
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 37 de 26 de outubro de 1938. Aprova a reforma do
Código de Posturas do Município de Aracajú. Decretos-Leis 1938. Aracaju, Papelaria Lins, p. 37,
1939.
206
2º SALÃO Mixto de Artes. Correio de Aracaju, Aracaju, 6 set. 1935, ano XXIX, n. 418, p. 1.
207
2º SALÃO mixto de artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1935, ano III, n. 711, p. 2.
208
A primeira edição do Salão Mixto de Artes foi organizada pelo pintor José Freire Pinto. Realizada
durante a primeira semana do mês de setembro de 1934 em prédio da Rua Pacatuba, expôs
trabalhos de pintura, cartografia, arquitetura, escultura e artes aplicadas (Cf. 1º SALÃO Mixto de
Artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 set. 1934, ano II, n. 434, p. 4; FOI encerrado domingo, o 1º
Salão de Arte Mixta. O Estado de Sergipe, Aracaju, 11 set. 1934, ano II, n. 440, p. 2). Sobre a edição
do salão para o ano de 1936, apenas se identificou que a sua realização foi igualmente no início de
setembro, e que o salão ocupado, desta vez foi aquele do edifício da Maçonaria. Cf. NOTICIARIO.
Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 9 set. 1936, ano XVIII, n. 6565, p. 2089.
95

Cristóvão, a antiga capital do estado de Sergipe 209. A cidade havia sido elevada à
categoria de monumento histórico por Decreto-Lei 94 do Interventor Eronides
Ferreira de Carvalho em 22 de junho de 1938, como primeiro desdobramento em
Sergipe da política de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional instaurada
pelo presidente da República Getúlio Vargas com o Decreto-Lei 25 de 30 de
novembro de 1937210. A comissão em questão era formada pelo bacharel José
Calasans, por Altenesch, pelo secretário da Prefeitura Gabriel Dantas, servindo de
secretário, e o secretário da Justiça e Negócios do Interior do Estado Manuel de
Carvalho Barroso, que ocuparia a posição de presidente da comissão. À comissão
foram designadas as funções de:

[...]
a) Registrar e catalogar todos os edifícios, peças de mobília, etc.,
etc., de reconhecido valor histórico, arquitetônico e arquitetônico-
religioso;
b) Paralizar o processo de destruição e deterioração dos objetos
registrados;
c) Conservar ou restaurar todos os edificios, partes de edificios,
peças de mobília, quadros, etc., etc., de acordo com as
possibilidades e necessidades;
d) Pesquisar sobre a historia regional, com relação aos edificios,
peças de mobília, quadros, etc., etc., como sobre personalidades
legendárias, relacionadas ao local ou aos objetos em questão;
e) Tratar de descobrir o plano primitivo da cidade de São Cristóvão,
ou projetar um novo plano que se enquadre no primitivo indicado
pela disposição dos prédios antigos principais;
f) Rever o código de obras da cidade de São Cristóvão,
modificando-o, se fôr necessário, para adaptá-los os trabalhos da
comissão;
g) Aprovar as plantas de todas as construções que deverão
obedecer, assim, a uma rigorosa estilização [...]211

A Altenesch competiriam especificamente as ―pesquisas arquitetônicas e


arquitetônicas construtivas, conservação e restauração dos edifícios, peças, etc.‖.
Não foram encontradas informações posteriores ao lançamento da comissão que
indicasse avanços dos trabalhos e envolvimento efetivo de Altenesch. Excetuando-
se texto na edição da Folha da Manhã — do mesmo dia do lançamento da
209
SERGIPE. Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Instruções N. 1. Diario Oficial do Estado
de Sergipe. Aracaju, 12 jul. 1938, ano XX, n. 7346, p. 2059.
210
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Um intelectual a serviço do patrimônio: José Calasans e as
políticas do SPHAN em Sergipe. In: Samuel Albuquerque (Org.). José Calasans e Sergipe. Aracaju:
IHGSE; São Cristóvão: Editora UFS, 2016, p. 152-176, p. 156.
211
SERGIPE. Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Instruções N. 1. Diario Oficial do Estado
de Sergipe. Aracaju, 12 jul. 1938, ano XX, n. 7346, p. 2059.
96

publicação sobre a comissão no Diário Oficial, em 12 de julho de 1938 — em que é


afirmado que esta comissão começaria os trabalhos preliminares em São Cristóvão
em dois dias212, nenhum outro indício destas atividades foi encontrado.
Quando, em agosto de 1939, Sergipe recebeu a visita de Rodrigo Melo Franco
de Andrade, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(SPHAN), apenas o nome de José Calasans aparece como integrante da comissão
a acompanhar o visitante em viagens para São Cristóvão e outras cidades do interior
do estado213. Em setembro daquele ano Altenesch estaria deixando Sergipe para
cuidar da saúde, e, possivelmente, por já se encontrar adoecido, estivesse afastado
das atividades da comissão. Ao que parece, apenas em 1941, quando o Interventor
Eronides nominou Calasans delegado do SPHAN em Sergipe é que os monumentos
sergipanos passaram a ser de fato reconhecidos, identificados e listados para um
processo de proteção214. É possível, como sugere o Professor Luiz Fernando Ribeiro
Soutelo, que aquela comissão criada em 1938 não tenham completado suas
atividades de fato215, adiando assim, para anos seguintes algumas de suas
atividades, excluindo a possibilidade da participação mais efetiva e duradoura de
Altenesch.
Ainda que não seja possível atestar a participação do alemão nos trabalhos
incumbidos à comissão para São Cristóvão, o fato de ter sido escolhido entre outros
profissionais do projeto e da construção em Sergipe é mais uma pista do forte laço
entretecido entre ele e o poder público. À época da formação desta comissão,
Altenesch já estava com trabalhos adiantados na reconstrução da antiga cadeia,
renomeada ―Palácio Serigy‖, e a vinculação a estes dois projetos do governo de
forma paralela parece revelador de uma parceria fortemente estabelecida.
212
PARA execução do Decreto-Lei sobre São Cristóvão. Folha da Manhã, Aracaju, 12 jul. 1938, ano
I, n. 132, p. 1.
213
O diretor do SPHAN esteve em Aracaju, acompanhado do arquiteto e assistente técnico daquela
instituição José de Souza Reis e de Eurico Hess, auxiliar técnico, entre os dias 10 e 17 de agosto de
1939. Juntamente a José Calasans eles viajaram para São Cristóvão, Estância, Santa Luzia, Divina
Pastora, Maruim, Santo Amaro, Itaporanga, Socorro e Laranjeiras, a fim de realizar um
reconhecimento de bens de valor histórico nacional em Sergipe. Cf. EM SERGIPE o dr. Rodrigo Melo
Franco, diretor do Serviço de Patrimonio Historico e Artístico Nacional. Folha da Manhã, Aracaju, 13
ago. 1939, ano II, n. 449, p. 1; NOTICIÁRIO. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 11 ago.
1939, ano XXI, n. 7655, p. 2147; NOTICIÁRIO. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12
ago. 1939, ano XXI, n. 7656, p. 2167; NOTICIÁRIO. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju,
15 ago. 1939, ano XXI, n. 7658, p. 2186; NOTICIÁRIO. Diario Oficial do Estado de Sergipe,
Aracaju, 18 ago. 1939, ano XXI, n. 7660, p. 2202.
214
SANTOS, 2016, p. 159
215
SOUTELO, 2004 apud SOUZA, Fábio Silva. Breve reflexão acerca da identidade cultural: A
questão patrimonial no Brasil e em Sergipe. Canindé: Revista do Museu de Arqueologia de Xingó.
MAX, Universidade Federal de Sergipe, n. 5, p. 147-161, 2005, p. 154.
97

Interessante observar também que a participação nas outras duas comissões


anteriormente indicadas, para a reforma do Código de Posturas e no júri do Salão
Mixto de Artes, se dão em 1935, quando suas arquiteturas públicas de maior
relevância ainda não estavam construídas. Este fato parece ser indicador da
capacidade de integração social e particularmente, da eficácia das estratégias
publicitárias utilizadas pelo alemão nos três primeiros anos de sua atuação em
Aracaju, em que o ano de 1935 está incluso. O discurso publicitário associado à
difusão de modernidades estéticas e técnicas parece ter sido a fórmula ideal para
o sucesso de Altenesch em terras sergipanas.

2.3.6 O encerramento de um ciclo: das homenagens ao silenciamento

De acordo com o relatório de 1941 do diretor do Serviço Social de Menores do


Estado de Sergipe, como indicado anteriormente, Altenesch deixou as terras
sergipanas em setembro de 1939, em busca de tratamento para sua saúde e na
madrugada do dia 19 para 20 de junho de 1940 veio a óbito216. O seu falecimento
foi comunicado por meio de telegrama, como transcrito a seguir:

Faleceu hoje, em Teresópolis, onde se encontrava em tratamento, o


conhecido arquiteto Von Altenesch, a quem Aracajú deve a radical
transformação (grifo nosso) por que passou a sua arquitetura. A
Propósito do lutuoso fato recebeu o dr. Manuel Barbosa de Sousa,
Chefe de Polícia do Estado, o seguinte telegrama: ―Teresópolis, 20
— Comunico vossa excelência falecimento hoje nesta cidade
cidadão Hermann Otto Wilhelm Von Altenesch e que segundo
conhecimento desta Delegacia, o mesmo mantinha transações com o
Govêrno dêsse Estado nessa Capital. — Tenente Nicanor da Rosa
Estelita. Delegado Militar, em comissão.217

Percebe-se, em todos os textos que noticiam a morte do alemão e o


homenageiam, o destaque do seu papel de ―transformador‖ da cidade. Neste teor foi
escrita a nota sobre o seu falecimento no jornal Correio de Aracaju, onde se lê: ―a
quem Aracaju deve grande parte de sua transformação arquitetônica, no bom gôsto
das edificações de vivendas particulares que o extinto trouxe para o nosso meio‖ 218.
Esta transformação, como se observa nos discursos analisados, remete ao caráter
216
CARDOSO, 1941.
217
FALECEU o arquiteto Von Altenesch. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 21 jun. 1940,
ano XXII, n. 7906.
218
FALECIMENTO. Correio de Aracaju, Aracaju, 21 jun. 1940, ano XXXIV, n. 1645, p. 1.
98

de renovação e modernização de Aracaju inerente ao trabalho de Altenesch, como


indicado em texto de homenagem no jornal Folha da Manhã: ―[...] para Aracaju ele
foi o profissional idoneo que reformou os moldes passadistas da arquitetura da
cidade, povoando as suas ruas de uma centena de casas realmente novas [...]219. O
papel renovador e modernizador da obra de Altenesch é reforçado também em texto
feito pelo Departamento de Propaganda e Divulgação do Estado de Sergipe
(D.P.D.E) em que pesa a referência ao contraste entre a suposta monotonia de uma
arquitetura antiga e superada e o frescor da novidade de seus bungalows:

[...] Quando êle chegou a cidade de Inácio Barbosa ainda rescendia


a coisa passada, e o estilo indefinido ainda relembrava a passagem
dos arquitetos reinois. Foi como o toque da varinha mágica dos
velhos contos a chegada dêsse alemão admirável. As ―vilas‖
passadistas e monótonas, redutos da mentalidade bunguêsa do fim
do século, fôram enxotadas da paisagem urbana e os ―bangalôs‖
alegres e sorridentes, como colegiais estouvados, foram invadindo a
cidade. Um prurido de renovação estético-arquitetônica alvoroçou
Aracajú, que começou de fazer a sua ―toilete‖ encantadora pelos
últimos figurinos de Nova York. Aracaju se converteu num centro de
atração turística do nordeste pelo milagre do talento de Altenesch.
Foi o renovador da cidade (grifo nosso) [...] Como êle é, realmente,
rei do engenho podemos lhe aplicar a fórmula clássica, que os
romanos empregavam para saudar Augusto: ―Encontrou uma cidade
de tijolo e deixou uma de mármore‖ [...]220

É interessante observar que este paradigma da renovação, explicitado nos


discursos pelo contraste entre os aspectos da renovação que se estabeleceu com a
atuação de Altenesch e da ―monotonia passadista‖ da cidade, ao que parece, é
indicativo muito mais de uma demanda aracajuana, do que uma determinação
proveniente do construtor alemão. Esta hipótese é delineada quando se lê no papel
timbrado de seu escritório a indicação de que ele projetava tanto ―architectura
classica‖ quanto ―moderna‖221. Compreender com exatidão o que se entendia como
clássico, demandaria um aprofundamento nos discursos da época, mas é possível
que seja uma referencia à arquitetura historicista, de inspiração europeia, às
manifestações do ecletismo, que se configuram enquanto possibilidades plásticas à
arquitetura dos anos 1930.

219
ALTENESCH, loc. cit. Cf. Anexo F.
220
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6. Cf. Anexo G.
221
Anexo C.
99

Ao se observar o discurso sobre a presença de Altenesch em Aracaju e sua


atuação, entende-se que Aracaju optou pela versão ―moderna‖ da arquitetura de
Altenesch. Uma modernidade que pareceu se manifestar de múltiplas formas e que
foi o mote da divulgação de seu escritório 222: seja na novidade da tipologia do
bungalow, da qual se fez especialista, nas ―obras industriaes de cimento armado‖, e
em suas ―construções modernas em geral‖.
Referências à personalidade de Altenesch também compõem homenagens: ―foi
ainda um homem de intimidade, constituindo, então, o seu trato um real prazer.
Inteligente, culto, sensível, não poucos o conheceram sob esse aspéto [sic],
auferindo de suas relações um inapreciável benefício para as exigências do
espírito‖223. Este perfil cordial do alemão é confirmado por Porto, que em suas
palavras afirma que:

[...] foi muito correto o comportamento de Altenesch, o que fazemos


baseados em múltiplos contatos profissionais e pessoais. Era
altamente cordato, podia aborrecer-se, mas nunca o vimos irritado.
Não exibia nenhum traço de arrogância, o que o fazia singular entre
seus patrícios aqui residentes, que nos olhavam de cima para baixo,
numa soberba que crescia com o aumento do poder hitlerista [...]224

Possivelmente, se deve também a este seu perfil de personalidade a sua


permeabilidade na sociedade sergipana, particularmente nas altas instâncias do
poder público. Esteve em Aracaju por seis anos aproximados — considerando-se
que tenha chegado em 1933, e que ficou até final de 1939 — e, assim, em menos de
uma década foi capaz de vincular seu nome e sua obra não só a muitas ações
modernizadoras dos governos municipais e estaduais, mas a uma ideia de
atualização da visualidade da cidade de forma mais ampla, tornando-se, portanto, a
referência primeira na cidade no que se refere às técnicas e estéticas
arquitetônicas modernas da época.
Dessa forma, a amizade que se estabeleceu entre Altenesch e Godofredo
Diniz, perfeito de Aracaju à época, resultou na oficialização e consolidação da
vinculo do alemão à renovação da Aracaju dos anos 1930. Isso se deu com o
Decreto-Lei nº 39 de 19 de agosto de 1940, assinado pelo prefeito, que, ao

222
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; H. A. ARENDT Von Altenesch:
Engenheiro Civil, loc. cit.
223
ALTENESCH, loc. cit.
224
PORTO, 2003, p. 55.
100

reconhecer o valor da presença criativa e construtora do alemão para a cidade,


muda o nome da Rua Vila Nova para Altenesch225 por considerar, entre outros
motivos referentes ao seu papel modernizador, ―que foi ele, na consagração
unânime da opinião popular o renovador da Cidade de Aracaju‖226. Logo, a rua em
que havia residido, como visto anteriormente, e em que haviam sido construídas as
residências que foram as responsáveis por elevar o seu nome a um amplo
conhecimento e reconhecimento público, passou a ter o seu nome. A placa com o
novo nome da rua foi inaugurada dois dias após a promulgação daquele Decreto227.
Este decreto durou por dois anos apenas. Com os ataques de submarinos
alemães a navios brasileiros na costa sergipana nas noites de 15 e 16 de agosto de
1942, o sentimento xenófobo contra os alemães tomou conta das ruas de Aracaju.
Por isso, o prefeito à época, José Garcez Vieira, se viu obrigado a retirar, por
manifestação popular, o nome de Altenesch da antiga Rua Vila Nova. O economista
e memorialista Murillo Melins, em entrevista concedida para este trabalho, que
guarda memórias deste acontecimento, explicou como aconteceu esta mudança no
nome da rua:

[...] nós estudávamos aqui no Atheneu e ficamos revoltados com


aquilo... Todo alemão a gente julgava que era nazista, aí nós fomos
na Rua Altenesch e quebramos as placas, umas placas de ágata que
eram indicativas do nome. Quebramos e na outra semana o prefeito
recolocou as placas. E nós fomos lá e quebramos e pichamos
―Altenesch é nazista‖. Aí o prefeito depois tirou o nome de Altenesch
e botou Duque de Caxias [...]228

No dia 21 de agosto de 1942, exatos dois anos após a inauguração da placa da


Rua Altenesch, foi promulgado pelo prefeito Decreto-Lei nº 22, que suprimiu o nome
de Altenesch e atribuiu à antiga Rua Vila Nova o seu novo (e atual) nome Duque de
Caxias229. Desta forma, o nome do alemão sumiu das ruas da cidade, mas sua obra
persistiu, ainda que tenha, gradativamente, se rareado ao longo das décadas com
as contínuas demolições e descaracterizações.

225
PORTO, 2003, p. 21; SANTOS, 2002, p. 65.
226
ARACAJU, 1941, p. 14.
227
SERGIPE. Departamento de Propaganda e Divulgação. Noticiário Oficial. Boletim Mensal,
Aracaju, n. 2, jul. a out. 1940, p. 3.
228
Trecho de entrevista concedida por Murillo Melins para esta pesquisa em 26 de julho de 2017.
229
NUNES; HELBING, loc. cit.; PORTO, 2003, p. 51.
101

3 A ARQUITETURA RESIDENCIAL DE ALTENESCH

Esta parte do trabalho consiste no estudo das obras residenciais de


Altenesch. A primeira subseção trata dos bungalows da Rua Vila Nova; a
segunda aborda as residências Flávio Prado, Torquato Fontes e Gervásio Prata,
vinculáveis a estética de linhas e volumes puros, e a terceira e última subseção
aborda a plasticidade da residência Carvalho Neto e de outras edificações que
compõem um conjunto vinculado a experimentações no âmbito do ornamento.
Não é interesse deste trabalho, como exarado na Introdução, encaixar as obras do
alemão nas molduras de supostos estilos, e a subdivisão desta seção se dá a partir
da subdivisão por tipologias, dimensões das obras e aspectos plásticos. As obras
analisadas na subseção um e na subseção dois são estudadas quanto à
espacialidade e também com relação às técnicas construtivas e à
expressividade de suas fachadas e volumetrias. A divisão destas duas primeiras
subseções se dá pela compreensão de que se trata de tipologias residenciais
diferenciadas: enquanto as primeiras — os bungalows — são casas térreas, as
demais, em dois pavimentos, dizem respeito a obras de maior complexidade
espacial e técnica. A subseção três parte da analise da casa Carvalho Neto e tem o
foco na análise da plasticidade de um conjunto de residências associáveis entre si
pelo tratamento dado ao aspecto ornamental. Nesta subseção, ainda que englobe
casas de portes diferençados, não inclui análises da espacialidade. Isto se deu pela
impossibilidade de acesso a plantas baixas ou mesmo de reconhecimento in loco
destas edificações, já inexistentes em sua maioria, como a residência Carvalho
Neto. Logo, a análise nesta terceira parte, que foi elaborada por meio da iconografia
localizada, se concentra nos aspectos técnicos e estéticos relacionados aos
invólucros das edificações estudadas.
Este capítulo se propõe muito mais a analisar do que a indicar novos dados
confirmatórios que ampliem a dimensão da obra conhecida de Altenesch. Portanto,
boa parte das informações que sustentam esta análise, no que concerne à indicação
das edificações e confirmação da autoria de Altenesch, advém da bibliografia que
lastreia este trabalho na construção da trajetória e atuação do alemão em Aracaju.
Pela inexistência do material gráfico original das residências de Altenesch, as
análises de plantas presentes nas subseções um e dois deste capítulo são feitas a
partir de coleta de levantamentos cadastrais e do auxílio da memória daqueles que
102

guardam informações sobre estas edificações. Com relação aos levantamentos


cadastrais, alguns foram feitos para esta pesquisa e outros são levantamentos
preexistentes que puderam ser conferidos e ajustados a partir da pesquisa de
campo.
Apesar da imprecisão do material gráfico com relação ao traçado original, foi
possível um entendimento aproximado da verdade arquitetônica destas residências.
Esta compreensão se delineou a partir da observação da materialidade persistente
ao tempo em entrelaçamento com os relatos daqueles que vivenciaram estes
espaços e que, ao longo do tempo, até o presente ou por um período já encerrado,
acompanharam as permanências e mudanças destes objetos arquitetônicos.
Ainda que as leituras dos partidos e das disposições dos ambientes direcionem
a uma leitura destes espaços, é importante destacar que a indicação da função dos
ambientes foi elaborada a partir da memória do uso destes, e não necessariamente
corresponde com exatidão às indicações de uso propostas pelo autor das obras, a
que não se teve acesso.
Sobre a metodologia de analise aplicada, vale indicar que cada uma se atém
primeiramente às obras de Altenesch, a partir das categorias de analise propostas
por Frampton1. Depois, abre-se a breves reflexões sobre os vetores técnicos,
estéticos e espaciais exógenos que poderiam estar na gênese das obras
analisadas e a relação das obras do alemão com os seus contextos de inserção.

3.1 OS BUNGALOWS DA RUA VILA NOVA E A NOVIDADE DA TIPOLOGIA

Os bungalows de Altenesch são elementos centrais para o estabelecimento


de seu nome dentro do cenário das práticas projetuais e construtivas em Aracaju.
Como detalhado na segunda seção, estas pequenas construções receberam uma
atenção especial da imprensa e foram alvo de publicidade por parte do próprio
alemão. Fez-se especialista da tipologia na cidade, e a difusão deste tipo de casa
em Aracaju, seja por ação própria ou por influência sobre outros profissionais, foi

1
FRAMPTON, Kenneth. A Genealogy of Modern Architecture: Comparative Critical Analysis of
Build Form. Zurich: Lars Müller Publishers, 2015, p. 28 et seq.
103

creditada ao construtor alemão, como revela o texto de homenagem que recebeu do


prefeito Godofredo Diniz, no supracitado Decreto-Lei nº 39 de 19402.
A pesquisa sobre estas obras foi eficaz em traçar as relações que se
estabeleceram entre Altenesch e os demais atores que possibilitaram a construção
destas edificações — ao menos de algumas daquelas localizadas nos primeiros
trechos da Rua Vila Nova (atual Rua Duque de Caxias) e na Avenida 24 de
Outubro (atual Avenida Augusto Maynard) —: o comerciante Erich Apenburg e a
empresa local de capitalização e sorteio de imóveis “A Construtora”. No entanto,
apenas quatro destes bungalows puderam ser identificados e parcialmente
faceados em sua composição original de fachada, a partir das matérias publicadas
em edição da revista Renascença de 19353 e na edição do Almanack de Sergipe
para o mesmo ano4, e são eles os analisados nesta parte do trabalho. Eles estão
todos localizados no primeiro trecho da Rua Duque de Caxias, e ao menos para
um deles, o de número 521, inaugurado em abril de 1934, foi possível confirmar ter
sido de propriedade de Erich Apenburg5. Para identifica-los ao longo do texto são
utilizadas as numerações atuais, e estas são: 498, 508, 513 e 521.
A análise das espacialidades destes bungalows tem por eixo a planta
elaborada por levantamento cadastral feito em um deles, o de número 508 — o
único a que se teve acesso pleno — assessorado pela memória de integrantes da
família Barreto6, ali residentes desde final da década de 19307. Para a compreensão

2
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39 de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
3
ARCHITECTOS modernos. Renascença, Aracaju, nov. 1935, ano II, n. 7. Cf. Anexo D.
4
ARACAJÚ Progride. Almanack de Serpipe para 1935. Aracaju: Sociedade Editora Sergipana.
1935, ano 9, n. 5, p. 213-214. Cf. Anexo E.
5
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 22.
6
Foram realizadas visitas para levantamento cadastral da residência de número 508 na Rua Duque
de Caxias nos dias 23 de julho de 2017 e 10 de outubro daquele mesmo ano. O levantamento
cadastral foi realizado com o auxílio da arquiteta Marília Ismerim Barreto, neta da proprietária da
casa, a Sra. Joselita (Josefa Batista Barreto, nascida em 1920), e do Sr. Paulo Barreto (já falecido, e
que foi o proprietário, junto com seu irmão Juca Barreto, do já inexistente Cine Rio Branco, na Rua
João Pessoa). Nestas visitas aconteceram conversas informais com o Sr. Carlos Aurélio Barreto
(nascido em 1945) e com as Sras. Cleia Barreto (nascida em 1948) e Cândida Barreto (nascida em
1944), filho e filhas da Sra. Joselita, que fizeram indicações de modificações realizadas na casa ao
longo do tempo e partilharam algumas memórias indicativas do uso e da configuração da
espacialidade. No dia 27 de outubro de 2017 foi realizada uma entrevista gravada com o Sr. Cássio
Barreto (nascido em 1943), também filho da Sra. Joselita, que partilhou suas memórias sobre aquela
residência, mas também contribuiu com informações sobre as outras residências naquele trecho da
rua e sobre proprietários e moradores com quem conviveu ao longo dos anos. Um segundo diálogo
foi travado com o Sr. Cássio Barreto por telefone no dia 23 de março de 2018 para esclarecimentos
acerca da espacialidade e aspectos estruturais e construtivos daquele bungalow.
7
Informação ofertada pelo Sr. Cássio Barreto, em entrevista realizada no dia 27 de outubro de 2017.
104

da espacialidade dos bungalows de números 498 e 521, pode-se contar com a


representação das plantas baixas desenvolvidas a partir da memória do Dr.
Humberto Lima de Aragão Filho8, cuja família foi proprietária e residente desde
meados dos anos 19509. Com o levantamento cadastral do bungalow de número
508 (figura 16) realizado, foi feia uma investigação junto à memória da família
Barreto para compreender as modificações ocorridas ao longo dos anos. Também
se utilizou da observação in loco dos sinais deixados pela materialidade que
evidenciasse alterações. Esta reconstrução foi colocada lado a lado com os
desenhos enviados pelo Dr. Humberto (figura 17), na busca por compreender de
forma mais aproximada a originalidade da espacialidade daquelas residências.
Assim, foi possível chegar aos desenhos que servem de base para as analises desta
subseção (figura 17).
Deve-se levar em consideração, na análise da espacialidade, que apenas a
planta do bungalow número 508 traz correlações mais seguras com o construído e
suas dimensões, já que as plantas dos bungalows 498 e 521 foram elaboradas
unicamente a partir dos rastros indicados pela memória. Portanto, deve-se estar
atento que, apesar de aqui serem analisadas comparativamente em conjunto em um
esforço de se traçar similaridades e de se encontrar princípios projetuais que as una,
as fontes que dão base a essa análise são, por essência, distintas. Desta forma, é
válido frisar que esta análise espacial conjunta consiste muito mais em uma hipótese
do que propriamente uma reflexão elaborada sobre dados concretos.
Com relação ao bungalow de número 513, é analisado apenas no que
concerne às questões estéticas lidas em sua fachada, já que o material coletado

8
A interação com o Dr. Humberto Lima de Aragão Filho foi mediada por seu filho, o publicitário
Humberto Lima de Aragão Neto, através de e-mails trocados entre os dias 4 de dezembro de 2017 e
22 de março de 2018. As representações das plantas baixas das casas de número 498 e 521 foram
elaboradas pela arquiteta Solange Moura Lima de Aragão, também filha do Dr. Humberto Filho, a
partir das memórias deste. O e-mail utilizado para tal interação foi
<academia.cesar.maciel@gmail.com>.
9
De acordo com o Sr. Cássio Barreto, o Sr. Jayme de Aragão, comerciante no ramo de peças
automobilísticas, teria sido proprietário de ao menos três dos bungalows: os de números 498, 513 e
521. O fotógrafo Humberto, filho de Jayme, residiu e instalou seu estúdio na casa 498 e
posteriormente foi morar com sua irmã Edilde Lima de Aragão na casa 521, onde também havia
residido o próprio Jayme de Aragão. De acordo com informações repassadas pelo Dr. Humberto
Filho, a sua família passou a residir nestes bungalows a partir de 1954, tendo seu pai, o fotógrafo
Humberto, residido naquele de número 498 até 1966 e a sua tia, a Sra. Edilde, até 1983 no bungalow
de número 521. Aquele de número 513, como indicou o Sr. Cássio Barreto, foi residência, por algum
tempo, de um fiscal de rendas da Bahia conhecido como ―Chequinho‖, e posteriormente foi residência
do Dr. Ariosvaldo Machado, médico.
105

sobre esta edificação se restringe a fotografias antigas e sua condição atual se


distancia substancialmente da condição original.

Figura 16 – Planta baixa atual do Figura 17 – Representações das plantas baixas


bungalow de número 508. dos bungalows de números 498 e 508.

Fonte: Levantamento cadastral e Fonte: Material gráfico elaborado pela Arquiteta


edição elaborados pelo autor Solange de Aragão (2018) a partir da memória do
(2017). Dr. Humberto de Aragão Filho; Publicação
autorizada por escrito pelos autores das imagens.

O primeiro tópico a ser analisado refere-se à relação entre a tipologia e o lote.


Os bungalows de números 498, 508 e 521 (figura 18) foram implantados com
recuos para três de suas faces e uma das faces laterais sobrepôs-se aos limites do
lote. Já o de número 513, como se percebe por fotografias antigas (figuras 19 e 20),
originalmente estava destacado dos limites do lote. Os bungalows 508 e 498
compartilharam entre si este limite e foram, portanto, assim geminados por uma
parede de meação. As caixas edificadas tiveram suas paredes dispostas
paralelamente aos limites dos terrenos, de formas retangulares. Estas informações
são referentes ao bloco principal das residências, já que as edículas existentes nos
três lotes foram desvinculadas destes blocos principais e implantadas aos fundos,
nos limites posteriores dos terrenos, ao menos para os bungalows 498 e 508, os
quais puderam ser conferidos.
Com relação à espacialidade e aos fluxos presentes nas plantas obtidas para
a análise, é possível notar que seguiriam os mesmos princípios de composição. Os
106

cômodos teriam sido setorizados a partir de uma divisão legível e hierárquica


concernente às funções e à relação público/privado/serviço e o fluxo de circulação
teria sido delineado longitudinalmente ao longo das plantas.

Figura 18 – Localização e plantas baixas dos bungalows de números 498, 508 e 521
da Rua Vila Nova.

Fonte: Levantamento cadastral e edição elaborados pelo autor (2017).

A parte frontal dos bungalows, aquela que está voltada para a rua,
compreenderia de forma absoluta os ambientes para a vida social, de caráter
público, como as varandas de acesso (1 na figura 18), e as salas (2 na figura 18). Os
banheiros (5 na figura 18) seriam acessados a partir de uma área de circulação (4
na figura 18) — que serviria tanto às zonas íntimas dos quartos quanto às
107

necessidades daqueles situados nas zonas públicas frontais. Estas zonas de


circulação dos bungalows ocupariam áreas de pequenos núcleos centrais nos
bungalows geminados de número 498 e 508. Naquele de número 521, como
indicou a memória do Dr. Humberto Filho, esta zona de circulação central teria
possuído a forma de um longo corredor que cortava a planta longitudinalmente a
partir da sala frontal. Os quartos (3 na figura 18) estariam reservados da visibilidade
pública e assim garantiriam alguma privacidade a seus habitantes. As cozinhas (7 na
figura 18) estariam dispostas aos fundo. No bungalow de número 521, este
ambiente estaria conectado ao restante da casa pelo longo corredor central, e nos
outros dois bungalows geminados esta conexão se daria por uma área
alpendrada, sem vedações laterais, que servia como área para refeições (6 na figura
18).
Os bungalows 498 e 508, de acordo com as informações levantadas, teriam
apresentado uma relação de rebatimento e é provável que, quando construídas,
tivessem plantas similares. A família Barreto, residentes do bungalow 508 desde
final da década de 1930, não foram os primeiros moradores e a memória não foi
capaz de alcançar uma fase anterior da edificação que não trouxesse o perímetro
atual com a cozinha destacada ao fundo (figura 16). No entanto, a observação in
loco da materialidade da cozinha atual parece revelar que de fato ela foi construída
posteriormente, pela descontinuidade volumétrica e material que sugere. A memória
da família Barreto, contudo, foi capaz de indicar que a atual sala de jantar tinha
originalmente uma configuração de alpendre, com cobertura de telhado sem
forração, e que havia uma comunicação fácil com os vizinhos do bungalow 498 pelo
muro de meação que os dividia. Este relato é compatível com a representação a
partir da memória do Dr. Humberto Filho (figura 17), que traz uma área alpendrada
aos fundos da residência, livre de vedações, paralela e em comunicação direta com
a cozinha e com um dos quartos, assim como voltada para o limite entre as duas
casas. Esta compatibilidade das memórias se configura como um reforço à hipótese
aqui trazida de que as plantas destes dois bungalows geminados eram similares,
como representadas na figura 18. A representação do bungalow de número 521,
por outro lado, não apresenta aquele cômodo dos fundos utilizado com espaço de
refeições, de acordo com a memória do Dr. Humberto Filho. No entanto, segundo
ele, haveria em seu lugar uma área igualmente alpendrada, mas isolada da vivência
interna do edifício pela presença da parede oeste do corredor central. Se
108

originalmente esta área teria tido a configuração de integração com os espaços


internos como apresentada pelas memórias para os outros dois bungalows, não é
possível afirmar. É muito provável que sim. O fato é que, inegavelmente, as
representações possíveis das plantas das três pequenas residências parecem
guardar princípios compositivos similares no que concerne à espacialidade e ao
fluxo.

Figura 19 – Bungalows de números 513 e 521 da Rua Figura 20 – Acesso do


Vila Nova. bungalow de número 513.

Fonte: Almanack de Sergipe (Aracaju, 1935, ano 9, n. Fonte: Recorte de fotografia de


5, p. 213). Humberto de Aragão [195-?],
localizada em Aragão Filho
(2017, p. 23); Publicação
autorizada por escrito pelo
detentor dos direitos autorais
da imagem.

No que se refere aos aspectos volumétricos, percebe-se que estas pequenas


casas apresentaram originalmente uma elaboração paralela aos limites dos terrenos.
O arranjo destas volumetrias e sua variabilidade se deram, principalmente, no
agenciamento das varandas de acesso e dos elementos de cobertura. Os quatro
bungalows estavam unidos esteticamente pela presença da arquetípica cobertura
de telhados aparentes de duas águas com empena voltada para a rua, fator que lhes
atribuía um caráter pitoresco. Contudo, este elemento foi tratado de forma
diferenciada em cada um dos bungalows. Outro elemento presente nas fachadas e
que ditava a relação entre estas edificações e o logradouro é a existência de
pórticos laterais aos volumes das edificações propriamente ditos e que denunciam
o acesso dos veículos. Estes elementos, que estabeleciam um fechamento dos
109

planos da fachada sobre a largura dos lotes, pareciam indicar um partido


arquitetônico voltado muito mais para uma expressão de superfícies do que para
uma expressão volumétrica propriamente dita. No entanto, estes elementos
pareciam não ter apenas uma finalidade estética, mas também funcionavam como
obstáculos criadores de maior privacidade às janelas dos quartos, voltadas para os
recuos laterais emoldurados por estes pórticos. Outro ponto de semelhança entre os
bungalows é que estas construções foram erguidas a níveis baixos acima do chão.
O bungalow de número 513, (à esquerda, na figura 19 e detalhe na figura 20)
tinha sua fachada principal determinada por uma varanda de acesso cujos limites
laterais estariam alinhados com os limites laterais do corpo da edificação. O plano
da fachada da varanda se estendia até o limite lateral esquerdo (da perspectiva de
quem olha o bungalow a partir da rua) e uma envasadura com verga em arco pleno
indicava a entrada de veículos. O outro recuo lateral, à direita, mais estreito, também
recebeu um tratamento de fachada com as presenças de parede, recuada em
relação àquele plano primeiro da fachada, e possuía envasadura também com verga
em arco pleno. Estabeleceu-se assim uma solução contínua na fachada. Este
primeiro plano da fachada, da varanda de acesso, era delineado pela cobertura de
duas águas de telha canal com empena voltada para rua. Esta empena não possuía
beiral e era arrematada por fileira de telha canal sobre uma cimalha de rasa
proeminência. A cumeeira da cobertura estava alinhada com o eixo do acesso
frontal da varanda e tanto este acesso quando os laterais consistiam de
envasaduras de vergas retas. Estes acessos foram ornamentados por sobrevergas
compostas por fingimentos de cachorros apoiados sobre falsas vigas, que por sua
vez estavam apoiadas sobre pares de outros fingimentos de cachorros dispostos
nas laterais superiores dos acessos. A empena foi decorada com revestimento
quadrado disposto na diagonal e as superfícies das paredes externas, pintadas em
cor clara, receberam textura escameada. Estes elementos decorativos
possivelmente referenciavam elementos de uma arquitetura vernácula, de
materialidade rústica.
No bungalow 521 (à direita na figura 19, e nas figuras 21 e 22) alguns
aspectos de sua composição original de fachada persistiram até os dias atuais, fator
este que facilita a sua análise. O primeiro plano de sua fachada, assim como no
bungalow analisado anteriormente, também consiste na varanda de acesso. Neste
há igualmente uma cobertura de duas águas, com empena voltada para a rua.
110

Contudo, sobre a empena houve projeção da cobertura e esta foi formada por uma
estrutura sólida de testeira e forro que envelopou o telhado, também em telha canal
e atribuiu ao arremate deste plano da fachada uma demarcação legível e
proeminente da composição angular da coberta. Estes elementos de acabamento,
que serviam para esconder o madeiramento do telhado, costumavam ser feitos em
estuque aplicado à tela de arame esticada em terrugamento10. Aquela composição
angular foi repetida nas vergas das envasaduras de acesso à varanda, tanto a
frontal quando as laterais, e mesmo naquela abertura que indica o acesso de
veículos, recuada relativamente aos planos da edificação e construída como
fechamento parcial para o recuo lateral esquerdo.

Figura 21 – Bungalow de número 521 na Rua Vila Nova.

Fonte: Fotografia encontrada em página de divulgação de


sorteio de casa própria [S.I; s.n, 193-]. Disponível em:
<http://aracajuantigga.blogspot.com.br/2010/04/anuncios-de-
casas-comerciais-iii.html> Acesso em: 18 jul. 2018.

A cobertura proposta para o corpo fundamental do bungalow de número 521,


ao menos o que é possível identificar nas fotografias antigas, foi de duas águas,
assim como no bungalow 513. No entanto, apresentou também empena voltada
para as laterais do lote, deixando uma das águas visível para a fachada frontal. Este
direcionamento das águas se repetiu, em altura e dimensão reduzidas, no chapéu
que arrematava o pórtico lateral de acesso de veículo. Toda a fachada voltada para
a rua foi ornamentada por apliques de rasa sobressaliência, originalmente pintados
em cor escura, alinhados e destacados sobre os limites das vergas e sob os peitoris

10
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Alvenaria Burguesa. São Paulo: Nobel, 1985, p. 179.
111

das três janelas dispostas na fachada do volume fundamental. Este revestimento


apresentou um acabamento anguloso, em zigue-zague levemente achatado, a
dialogar com a angulação marcada e simétrica da empena da varanda e das
envasaduras de acesso. A cor escura original da superfície ornamental destes
apliques atribuía à fachada uma composição tripartite e horizontalizada, com
destaque para as vergas angulosas dos pórticos de acesso, escavadas sobre as
superfícies claras da fita central.

Figura 22 – Bungalow de número 521 na Rua Vila Nova.

Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada por escrito


pelo autor da imagem.

Sobre a superfície da empena do acesso à varanda foram aplicados elementos


ornamentais que consistem em: cinco volumes de secção triangular sequenciados,
dispostos na vertical, nascidos da angulação do zigue-zague e interrompidos por
uma secção retilínea no arremate; sobre estes volumes foram dispostas quatro
figuras petaliformes em baixo relevo, em forma concêntrica e em meia-lua. As
aberturas da fachada frontal do volume fundamental do bungalow — o trio de
janelas, a porta e o par de compridas seteiras fixas que a ladeiam — atenderam,
com suas vergas retilíneas, a uma verticalidade e simplicidade ortogonal. Notam-se
também pequenas seteiras vazadas nos pilares levemente inclinados da varanda, e
estas seguiram o mesmo princípio de verticalidade. A caixilharia original em madeira
trazia tramas em treliça, com formações radiais, vedações em vidro e presença de
postigos para abertura interna.
112

Imediatamente à frente daqueles dois bungalows estão os de número 498 (à


esquerda na figura 23) e 508 (à direita na figura 23 e detalhe na figura 24). Estes,
que são geminados, apresentavam-se igualmente conectados pelas coberturas, já
que seus telhados uniam-se sobre a parede de meação. Nas fachadas frontais este
encontro resultava em uma configuração unificada das testeiras e forros que davam
acabamento às projeções da cobertura sobre as empenas. Formava-se assim, como
também se deu com a cobertura da varanda do bungalow de número 521, uma
moldura que reforçava as arestas das águas voltadas para as laterais dos lotes.
Estes telhados foram originalmente constituídos de telhas francesas, fixadas por
amarrações de arame, como indicou o relato do Sr. Cássio Barreto. As coberturas
das partes posteriores dos bangalows, e que resultaram nos alpendres convertidos
em áreas para refeições, eram configuradas por meias-águas inclinadas no sentido
do muro de meiação e apoiadas na parede voltada para os recuos laterais. Nestas
paredes, a extensão destas coberturas foi indicada pela presença de platibandas
recortadas em formato de grandes meias-luas preenchidas (figuras 25 e 26).

Figura 23 – Bungalows na Rua Vila Nova, atualmente Figura 24 – Parte da varanda de


de números 508 e 498. acesso do bungalow de número 498.

Fonte: Almanack de Sergipe (Aracaju, 1935, ano 9, n. Fonte: Fotografia de Humberto de


5, p. 213). Aragão [195-?], localizada em Aragão
Filho (2017, p. 25); Publicação
autorizada por escrito pelo detentor
dos direitos autorais da imagem.

Voltando-se para a cobertura frontal do bangalow de número 498: ali ocorreu o


destaque de uma água, que, engastada sobre a empena frontal, fez a marcação do
volume que compreendeu a sala maior e indicou também o recuo para o acesso
113

pela varanda alpendrada. Este bangalow recebeu uma varanda em alpendre


sustentado por três pilares de sessão quadrada. Esses pilares se afilavam ao longo
de sua altura e foram pintados originalmente com listras de cores contrastantes. O
alpendre foi projetado sobre parte expressiva do recuo lateral na parte anterior do
lote e finalizado aos fundos da varanda com um painel em treliça. Possivelmente
este partido tenha sido adotado por Altenesch neste bungalow como forma de
compensar a ausência do portal de acesso a veículos presente nos outros três
bungalows aqui analisados, e que possibilitava uma continuidade da fachada sobre
a largura do lote e uma proteção à intimidade das janelas dos quartos. Quanto à sua
ornamentação, as paredes externas receberam um tratamento ornamental que
referenciava as construções em enxamel (também enxaimel ou pan-de-boi). Com
relação às envasaduras: no plano mais proeminente foi disposto, assim como no
bungalow de número 521, um trio de janelas idênticas verticais de vergas retas,
originalmente vedadas por caixilhos composto por treliça e aberturas internas por
postigos. Também compunham as envasaduras: duas aberturas em formato de
losango com vedação em treliça no canto formado pelo recuo entre os planos da
fachada; janelas verticais com caixilho de desenhos geométricos radiais e vedação
em vidro; porta de acesso disposta em parede chanfrada e uma segunda janela
vertical na parede paralela ao limite lateral do lote.
O bungalow de número 508 apresentava muitos pontos em comum com o de
número 498, principalmente no que se refere à distribuição dos elementos e do
partido arquitetônico, contudo, é possível listar uma série de especificidades que o
diferencia esteticamente daquele outro bungalow. O primeiro ponto de diferença é o
que se refere à cobertura: neste ocorreu uma quebra da cumeeira pela inserção de
uma água interrompida sobre a empena frontal. Também há diferença essencial com
relação à varanda de acesso: nele se delineou por uma marquise em balanço11,
sustentada por duas mãos francesas engastadas na parede (figura 27). Esta
marquise foi desenhada em projeção trapezoidal, mais estreita no ponto de engaste
com a parede e alargada ao passo que se direcionava para o logradouro. Outro
aspecto destacável da estética desta marquise é seu aspecto aerodinâmico, com o
arredondamento dos seus vértices. Este elemento era acompanhado, ao nível do

11
Os pilotis existentes, que podem ser vistos na figura 27, são frutos de uma intervenção recente,
pela demanda de reforço na sustentação da marquise após a construção de um edifício vizinho ter
colocado em risco a estabilidade estrutural do bungalow.
114

patamar da varanda, por um par de guarda-corpos, já inexistentes, nascidos da


parede e engastados ao solo e feitos em barras cilíndricas únicas de ferro e com
finalização curva.

Figura 26 – Cobertura da
Figura 25 – Parte posterior da parte posterior do bungalow
fachada lateral do bungalow de número 498, vista do
de número 508, com bungalow de número 508.
platibanda em meias-luas Presença de platibanda em
preenchidas. meias-luas preenchidas.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Figura 28 – Volume em
formato de bay window na
Figura 27 – Varanda de acesso do bungalow de fachada do bungalow de
número 508. número 508.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).


115

Outra diferenciação da fachada do bungalow de número 508 foi a proposição


de uma estrutura em bay window (figura 28). Um volume de três faces — a maior,
paralela ao plano da fachada, e as duas menores laterais dispostas de forma
angular — foi destaca da fachada, portanto uma janela em cada face. Este volume
originalmente era arrematado por cornija e por cobertura de telha em três pequenas
águas aplicada sobre o plano fachada (figura 23). Este plano se estende de um lado
a outro da largura do lote, contemplando o bungalow propriamente dito e o portal
construído para acesso de veículos ao recuo lateral. Esta superfície foi
ornamentada, até o nível do peitoril das janelas bay window por um aplique com
relevo em zigue-zague, formada por 5 faixas de secção triangular similares àquelas
aplicadas sobre a empena frontal do bungalow 521. Estas faixas, originalmente
pintadas em cor mais escura que o restante da parede, foram dispostas na
horizontal e ornamentaram o plano da fachada em toda a sua largura. Outros
elementos decorativos diferentes identificados no bungalow de número 508 são:
uma janela falsa e uma jardineira imediatamente abaixo, dispostos sobre a empena
da fachada frontal. A envasadura da porta de acesso foi feita em arco ogival, e este
formato se repetiu no portal de acesso para veículos do recuo lateral. Assim como
no bungalow 521, a porta foi ladeada por suas seteiras de caixilho fixo. Duas outras
seteiras também foram dispostas como aberturas para a sala de entrada, mas desta
vez na parede lateral do bungalow. O desenho dos caixilhos das seteiras e da porta
para a envasadura em ogiva — fracionada em duas folhas de abrir e duas fixas —
seguiram o padrão geométrico, como desenhos radiais e triangulares, presentes nos
caixilhos dos outros bungalows analisados. Os caixilhos das janelas do bay window
foram desenhados como engradados, ou seja, em padrão de quadrícula, e contaram
com postigos para abertura interna (figura 31). De acordo com a memória de alguns
dos integrantes da família Barreto, este padrão em quadrícula se repetia nas
esquadrias originais da lateral do bungalow.
Na seção sobre as residências modernas em Aracaju na revista comemorativa
do governo de Eronides de Carvalho de 193712 aparece a fotografia de uma
residência (figura 29), provavelmente erguida na Avenida Barão de Maruim, mas já
inexistente, que trazia elementos similares aos deste bungalow de número 508: a
projeção em bay window no pavimento térreo, com cornija e telhado; uma marquise

12
SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São
Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
116

de entrada em balanço sustentada por mãos francesas; envasaduras com vergas


em arco ogival e cobertura com água interrompida sobre a empena da fachada
frontal. O fingimento de enxaimel na empena desta casa também dialogava com
aquele utilizado no bungalow de número 489 e a estrutura em estuque a envelopar
os beirais, pintada de cor escura para destacar também é similar àquela presente
nos bungalows de números 498, 508 e 521. Estas características aproximam esta
residência da obra de Altenesch, e é muito provável que tenha sido de fato projeto
de sua autoria.

Figura 29 – Residência
(inexistente) provavelmente
localizada na Avenida Barão de
Maruim.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Os quatro bungalows analisados aqui eram precedidos por muretas cujos


padrões formais e elementos ornamentais se comunicavam com as geometrias e
ornamentos presentes nas respectivas fachadas. Enquanto a mureta do bungalow
de número 513 apresentava arremate em arcos abatidos, aquela do bungalow de
número 521 trazia o motivo do arremate anguloso. Destacavam-se o portal
escalonado e arqueado de acesso de pedestres com chapéu em telha colonial no
primeiro bungalow e no segundo bungalow as envasaduras quadradas e na diagonal
sobrepostas por delgadas barras de ferro. As barras cilíndricas de ferro, inclusive,
são perceptíveis em ambas as muretas (figura 19 e 21), como elementos de
composição, emprestando às estéticas pitorescas das pequenas residências a sua
modernidade industrial, assim como se dava com os guarda-corpos na varanda do
117

bungalow 508. O muro entre estes dois bungalows, os de número 513 e 521,
também assumia um caráter ornamental, com escalonamento irregular e
descendente na direção do logradouro e acabamento boleado. Com relação às
muretas dos bungalows de números 498 e 508 (figura 23), percebe-se que eram
similares e arrematadas por meias-luas preenchidas, tais quais aquelas presentes
na platibanda relativa à cobertura das partes posteriores dos mesmos. A mesma
morfologia foi utilizada na mureta que os dividia no recuo frontal.
Com relação aos aspectos construtivos apenas foi possível facear parte da
realidade do bungalow de número 508, já que foi o único a que se teve acesso à
materialidade. De acordo com o Sr. Cássio Barreto, este bungalow foi erguido com
alvenaria de tijolos maciços, em um sistema de alvenaria estrutural. A presença
de armações de ferro estraria restrita, portanto às estruturas de sustentação da
marquise em balanço na varanda de acesso. Não apenas a estrutura da própria
marquise teria sido construída a partir de uma trama de ferro, como as mãos
francesas que a sustentam estariam também firmadas por elementos internos de
ferro e estrutura de sustentação na parede em que foram engastadas. Estes
elementos de sustentação são notados pela presença de volumes proeminentes nas
arestas das paredes da sala de entrada imediatamente atrás das mãos francesas
(figura 30). Os demais bungalows, que não apresentam nenhum elemento com
demanda de reforço estrutural como aquela marquise, possivelmente teriam sido
completamente construídos a partir da mesma técnica de alvernaria estrutural a
partir do uso de tijolos maciços. A construção em alvenaria estrutural, um sistema
que não comporta grandes vãos, oferecia à época uma boa resposta às demandas
colocadas por construções de pequena escala e grande compartimentação, como é
o caso dos bungalows. Desta forma, pode-se deduzir que as tecnologias
modernas do cimento/concreto armado, quando usadas nesses bungalows, foram
feitas com parcimônia e teriam sido utilizadas apenas em situações em que estas
tecnologias se faziam estritamente necessárias, como na marquise em balanço do
bungalow de número 508, elemento este que atribuía modernidade ao bungalow,
ainda que esta modernidade não falasse de toda a constituição da edificação.
Com relação à ambiência e materiais de acabamento presentes nos
bungalows, novamente a análise foi baseada na experiência das visitas feitas ao
bungalow de número 508. Assim, algumas características da materialidade de seus
interiores puderam ser observadas. Outros aspectos, não resistentes ao tempo,
118

foram evocadas pelos integrantes da família ali residente. Sobre as superfícies, foi
possível notar que o piso da varanda de acesso foi revestido com placas de granilite,
paginado em damier (figura 27). O piso dos ambientes sociais e privados, ao menos
das salas e do primeiro quarto, que ainda guardam sua originalidade, foi feito em
parquet, como trios de tacos compondo igualmente um padrão em damier (figura
32). Os tetos, forros feitos em estuque, proporcionam um pé direito de aproximados
3 metros e 30 centímetros. As arestas destes forros junto às paredes foram
suavizadas por abaulamento e o mesmo tratamento foi dado às arestas entre as
paredes (figura 33). Interessante observar que esse abaulamento também foi
aplicado nas arestas das vergas, ombreiras e peitoris das janelas, bem como nas
arestas da mão francesa de sustentação da marquise da varanda de acesso.

Figura 30 – Volume
chanfrado na aresta entre
paredes denuncia estrutura
de sustentação à mão Figura 31 – Espaço interno Figura 32 – Parquet com
francesa da marquise de do volume em bay window tacos em padrão damier no
entrada. do bungalow de número 508. bungalow número 508.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Quando realizada a pesquisa, as paredes internas estavam pintadas em


branco, mas alguns fragmentos de memória dos integrantes da família Barreto
trouxeram a informação que ao menos as salas eram originalmente ornadas com
pintura de motivos geométricos que não puderam ser definidos de forma clara. Esta
informação reforça a ideia de que estes bungalows receberam, por parte de
Altenesch, uma atenção na ornamentação dos seus ambientes internos, como é
afirmado no texto publicitário sobre as obras do alemão em Aracaju:
119

Construcções solidas e elegantes, repletas de esthetica e conforto


interno, os ‗bangalows‘ ultimamente entregues aos proprietarios
nesta capital fascinam pela arte e perfeição, tão elevada é a
decoração interna e externa em muitos delles, além das suas
dependências.13

No trecho transcrito acima, uma palavra chama atenção para além da ênfase
na questão estética: conforto. O texto não deixa claro quais aspectos das
construções estariam relacionados a este estado de conforto, mas é possível
deduzir que se tratasse de questões relacionadas à salubridade da edificação.
Desde finais do século XIX, a morada urbana brasileira passou por transformações
devido ao ―progresso das condições higiênicas e desprestígio dos velhos hábitos de
dormir em alcovas, sem ventilação e insolação direta‖14, em que pesaram
principalmente a busca por um descolamento da construção dos limites dos
terrenos, possibilitando a entrada do vento e luz naturais nos ambientes. Sobre esta
questão do conforto ambiental dos bungalows, foi possível conferir, a partir da visita
feita àquele de número 508, que houve uma atenção a estes tópicos. Identificaram-
se não só a presença de aberturas voltadas para o exterior em todos os
cômodos, mas também a presença de pequenas janelas retangulares — quais
respiros — de caixilharia vazada, dispostas aos pares entre a sala de acesso e o
primeiro quarto, assim como também ainda presentes acima da porta deste quarto e
das portas da área central de circulação (figuras 33 e 34). Estes elementos parecem
indicar a busca por uma solução para a circulação do ar entre os ambientes.
Contudo, ao que parece, a aplicação de princípios de conforto ambiental nos
projetos destes bungalows estaria muito mais relacionada com o seguimento de
determinadas ideias incorporadas e aplicadas genericamente nas práticas
construtivas da época do que propriamente resultados de uma reflexão sobre a
relação entre o objeto arquitetônico, seu entorno e suas condições climáticas
específicas, como a insolação e vento incidentes no sítio. Este fator é perceptível
quando se observa, para o bungalow de número 508, que os seus cômodos de
maior permanência — os quartos e a sala de acesso, para os quais seria desejável
evitar a insolação poente — foram dispostos justamente na face oeste da edificação.

13
ARCHITECTOS modernos, loc. cit.
14
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 11. ed. São Paulo: Perspectivas,
2011, p. 49.
120

Esta questão foi indicada pelos integrantes da família Barreto, que destacaram, em
suas falas, a questão do calor dentro dos cômodos daquele bungalow.

Figura 33 – Bandeiras acima


da passagem do corredor e Figura 34 – Abaulamento em
da porta do primeiro quarto no arestas das paredes e forro
bungalow de número 508. do bungalow de número 508.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Esta condição ambiental do bungalow em questão parece ser reveladora do


aspecto da obra de Altenesch que teria fomentado a crítica sobre uma suposta
“inadequação ao clima” por parte da arquitetura destas suas pequenas
residências. Inaugurada por Fortes e seu texto de 195515, reforçada sumariamente
por Alencar Filho16, em Waldefrankly Santos17 esta crítica gerou a hipótese de que
esta inadequação climática de seus bungalows seria resultante de uma formação de
Altenesch de baixa especialização: ―de que ele não foi engenheiro, pelo menos
formado em escola especializada, mas um mestre de obras educado nos canteiros
da Europa‖18. Esta hipótese parece se fragilizar quando é faceada a lista de
atividades e habilidades na área da construção e projeto a que Altenesch se
vinculou na folha timbrada de seu escritório19, bem como a sua participação em
editais para a elaboração de projetos de infraestrutura, como aquele referente a um

15
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
16
FILHO, Alencar. Aracaju etc & tal. Aracaju: Edições Desacato, 1980, p. 105.
17
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 45.
18
Ibid., loc. cit.
19
Anexo C.
121

cais para a Praia 13 de julho20 e aqueloutro concernente a quatro pontes em


concreto armado21. A localização destes documentos conduz a uma interpretação
diferente acerca da atuação do construtor, ao indicar que ele era detentor de
conhecimentos técnicos que o capacitavam a atividades mais complexas no âmbito
da construção civil. Pelo que parece, esta crítica peca pelo anacronismo de suas
conjecturas, já que à época da construção dos bungalows a questão do conforto nas
práticas projetuais ainda não havia incluído as discussões referentes à adaptação
climática do objeto arquitetônico em sua relação com o sítio.
Como indica Segawa22, a questão do conforto no que se refere à adaptação da
arquitetura às especificidades do clima brasileiro, principalmente no que tange ao
controle da insolação, começou a ser elaborada, a partir de pontos isolados, entre o
final dos anos 1920 e durante a década 1930. Contudo, este discurso se
consolidaria apenas enquanto prática a partir da década de 1940, dentro de uma
experiência arquitetônica moderna de bases corbusianas, ou seja, em um momento
posterior ao período de atuação de Altenesch. Os avanços na relação entre o
ambiente e a arquitetura que já estavam consolidados nas práticas projetuais da
década de 1930 eram aqueles relacionados aos discursos sobre salubridade e
higiene dos espaços. A insolação, bem como a circulação do ar entre os cômodos,
havia, desde o inicio do século XX, adquirido um caráter profilático e terapêutico 23
para a configuração dos ambientes. Esta questão se refletiu na residência burguesa
com o estabelecimento de recuos mínimos para a implantação, bem como a
demanda pela abertura de envasaduras que autorizasse a entrada da luz do sol nos
ambientes. Estes tópicos foram atendidos nos projetos dos bungalows de Altenesch,
como pôde ser visto, indicando, portanto, a sua adesão às noções de conforto
próprias de sua época.
A leitura destes bungalows de Altenesch na Rua Duque de Caxias possibilita
perceber que, ao mesmo tempo que são objetos propositores de modernidade à

20
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 14 mar.
1936, ano XVIII, n. 6430, p. 510-511.
21
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Acta da reunião da comissão designada para recebimento
dos ante-projetos de quatro obras d‘arte especiaes, a serem construídas no Estado, de accôrdo com
o edital de concurrencia desta Directoria, de 21 de Fevereiro de 1936. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, N. 6459, p. 734.
22
SEGAWA, Hugo. Clave de Sol: notas sobre a história do conforto ambiental. Arquitextos, São
Paulo, ano 07, n. 073.03, Vitruvius, jun. 2006 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.073/345>. Acesso em: 17 jul. 2018.
23
Ibid., loc. cit.
122

cidade, são obras pautadas sobre esquemas tradicionais. Como indicado, desde
finais do século XIX, mas de forma mais efetiva entre a Primeira e a Segunda
Guerra Mundiais24, a morada brasileira sofreu alterações substanciais. Estas
modificações referem-se principalmente ao que concerne à sua implantação no lote,
com a adesão aos recuos para melhor aproveitamento, por questões higiênicas, da
ventilação e iluminação naturais. Contudo, como afirma Reis Filho25, a permanência
de hábitos sociais ainda atrelados a uma mentalidade colonial e escravista,
associada a uma lentidão na dissociação de tecnologias construtivas arcaicas, faz
com que a morada brasileira da época tenha sua espacialidade pautada por rígidos
esquemas.
Conforme Reis Filho26, é possível dizer que as residências dessa época não
apresentavam alterações tecnológicas fundamentais. Apenas, pouco a pouco
equipamentos e materiais inicialmente importados foram substituídos por produtos
nacionais. No entanto, manteve-se a essencialidade das matérias-primas da
construção: o tijolo cerâmico. Como visto na análise dos bungalows, a técnica
construtiva utilizada com paredes estruturais de tijolo, por seu caráter de rigidez,
levou a um encaminhamento compartimentado do espaço interno da edificação e
também a uma volumetria estanque. O agenciamento destes espaços, por sua vez,
foi eficaz em reproduzir uma noção hierárquica da espacialidade pautada na
valorização de um determinado setor em detrimento de outro. Sobre a reprodução
deste padrão nas residências mais modestas, em que estão inscritos os bungalows
aqui analisados, Reis Filho afirma que:

Pode-se perceber que essas casas conservavam, dentro do possível,


as mesmas tendências de valorização social e arquitetônica de
certos espaços e desvalorização de outros, que se encontravam nas
moradias das classes mais abastadas. Jardins de frente e fachadas
rebuscadas, em escala reduzida, às vezes mesmo miniaturas,
acentuavam a importância das frentes e ocultavam a modéstia dos
fundos.

As edículas, substitutas das antigas cocheiras, as lavanderias, quartos e


dormitórios de serviçais ocupavam estas áreas desprivilegiadas. Os fundos, longe
das vistas do mundo externo das aparências sociais, ficavam áreas de convívio

24
REIS FILHO, 2011, p. 64.
25
Ibid., p. 72.
26
Ibid., p. 78.
123

íntimo familiar, e em regiões de clima quente, como Aracaju, localizavam-se as


―varandas de uso familiar, onde se cumpriam diversas funções, inclusive as de sala
de almoço [...] como nas velhas salas dos fundos dos sobrados coloniais‖27. Estas
são características que se fazem presentes nas espacialidades dos bungalows de
Altenesch aqui estudados, ao menos no que foi possível acessar pelo levantamento
cadastral feito e pelas memórias que assessoraram a constituição virtual destes
espaços.
Para que se possa dar continuidade às reflexões sobre este conjunto de
pequenas obras do alemão, e assim compreendê-lo de forma mais ampliada, vale a
pena debruçar-se brevemente sobre as origens desta tipologia, o bungalow.
O termo bungalow, segundo Cigliano28, se refere uma tipologia de residência
que se configura por seu caráter unifamiliar, por possuir geralmente um único piso e
partido arquitetônico com ênfase na horizontalidade e na composição da planta em
formato retangular. O segundo nível, quando existente, consistiria de um ou dois
quartos de baixo pé direito ou de sótão sob o telhado. O termo bungalow tem sua
origem na expressão bangla, utilizada por colonos britânicos na Índia do século VII
para designar um tipo de residência colonial hindu com quartos voltados para um
arejado salão central e com varandas por todos os lados. Esta tipologia foi absorvida
pelos colonos britânicos, que gradualmente a transplantaram, de forma adaptada, na
Inglaterra. A tipologia se tornou popular naquele país, principalmente ao longo do
século XIX e durante os anos da influência maior do movimento inglês Arts and
Crafts, nas décadas de 1880 e 1890 principalmente. Em diálogo com sua origem
vernácula, a tipologia do bungalow britânico, sob forte influência do pensamento
daquele movimento, era pensada a partir de uma lógica artesanal e com o uso de
materiais naturais qual uma resposta a uma construção civil cada vez mecanizada e
distanciada da sensibilidade artística e das práticas tradicionais e manuais de
construção. Paralelamente à difusão na Inglaterra, esta tipologia ganhou espaços
nos Estados Unidos.
Com lastro no pensamento do movimento Art and Crafts, estas residências
eram executadas a partir dos materiais locais e evocando princípios estéticos e
técnicas construtivas tradicionais. Sua difusão em território estadunidense se deu
principalmente a partir de publicações periódicas especializadas na tipologia, como

27
REIS FILHO, 2011, p. 76.
28
CIGLIANO, Jan. Bungalow: American Restoration style. Layton: Gibbs Smith, 1998, p. 10.
124

The Crafstman (1901-1916) e Bungalow Magazine (1909-1918)29. Estas publicações


eram eficazes em divulgar a tipologia e uma diversidade de tratamentos estilísticos,
que se tornaram, entre as décadas de 1890 e 1940, corriqueiros na escolha da
estética destas residências. Crafstman, Mission Revival, Spanish Colonial Revival,
Califonia Bungalow, Prairie Style, English Tudor Revival Style, Swiss Chalet e
Airplane Bungalow30, e variadas combinações entre elementos de cada um dos
estilos foram possibilidades estéticas na construção destas residências em solo
estadunidenses da primeira metade do século XX.

Figura 35 – Capa de edição Figura 36 – Capa da


da revista estadunidense The primeira edição da
Craftsman. Revista A Casa.

Fonte: The Craftsman Fonte: A CASA (set., n.


(January, 1904, n. 4, v. V) 1, 1923 apud NERY,
Disponível em: 2013, p. 294).
<http://theantiquesalmanac.c
om/thefirsthomeimprovement
companion.htm> Acesso em:
18 jul. 2018.

No Brasil, a tipologia do bungalow ganhou grande difusão, principalmente a


partir dos anos 1920. A Revista A CASA, editada no Rio de Janeiro, principal
periódico nacional de divulgação de projetos de arquitetura à época — e bom
termômetro para compreender as discussões acerca das práticas arquitetônicas do
país daquele período — trouxe, em muitas de suas edições, exemplos de projetos
de bungalows. Estes estão presentes principalmente nas publicações da década de

29
CIGLIANO, 1998, p. 14.
30
Ibid., p. 17 et seq.
125

1920. Nesta década o bungalow americano, assim como os estilos propriamente


ditos — colonial, missões e californiano, bem como um ―estylo moderno‖,
relacionado a uma geometrização e simplificação formal — foram compreendidos,
pelo editorial da revista, enquanto possibilidades da arquitetura moderna31. Esta
arquitetura ―moderna‖, sinônimo de contemporânea, se apresentou como uma opção
aos agenciamentos estilístico do historicismo tipológico da arquitetura eclética, que
naquelas publicações ―quase não apareciam e já eram vistos como ultrapassados‖32.
Se na Inglaterra ou nos Estados Unidos a tipologia do bungalow e a cartilha
estilística que a acompanhou estavam vinculadas a um resgate estético e
construtivo da arquitetura autóctone, no Brasil foram utilizados como mecanismos de
modernização legitimados por sua origem estrangeira. A crescente ascendência
político-econômica dos Estados Unidos no período Entreguerras esteve refletida de
forma potente nos processos de difusão de aspectos da cultura, em que a
arquitetura e o morar se inserem. Este processo se fortaleceu após a Segunda
Guerra Mundial, tendo o cinema como grande instrumento de difusão em massa do
american way of life. Naquele momento imediatamente anterior à Segunda Grande
Guerra, a estética das vivendas estadunidenses se tornaram motivos de exportação,
e assim como os arranha-céus de Chicago e Nova Iorque, foram compreendidos e
absorvidos enquanto símbolos de adesão à modernidade33. Desta forma, como
revela a revista ―A Casa‖, principalmente na década de 1920, mas também nos anos
iniciais de 1930, esta tipologia foi difundida pelo Brasil. No contexto de Aracaju,
destaca-se a atuação de Altenesch.
Foi possível identificar nos bungalows de Altenesch, uma diversidade dos
motivos ornamentais e mesmo de soluções formais, como as que se referem aos
elementos de cobertura, que indicam associações a características daqueles estilos
estadunidenses. Essa conexão com a cartilha dos norte-americanos para os
aspectos decorativos de seus bungalows foi indicada no texto em homenagem ao
seu falecimento no Diário Oficial, como transcrito na seção dois deste trabalho,
quando é dito que ―Um prurido de renovação estético-arquitetônica alvoroçou

31
NERY, Falas e ecos na formação da arquitetura moderna no Brasil. 2013. 463 f. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2013, p. 134.
32
Ibid., p. 146.
33
VERÍSSIMO, Francisco Salvador; BITTAR, William Seba Malmann. 500 anos da casa no Brasil:
As transformações da arquitetura e da utilização do espaço da moradia. Rio de Janeiro: Ediouro,
1999, p. 74.
126

Aracajú, que começou de fazer a sua ‗toilete‘ encantadora pelos últimos figurinos de
Nova York‖34. Brevemente poderiam ser indicados, a guisa de elucidação: os planos
texturados, sem maiores ornamentos, a fileira de telha canal sobre a empena e o
madeiramento fingido com cachorros e vigas falsas do bungalow de número 513
(figuras 19 e 20), associáveis às estéticas rústicas dos estilos Mission Revival e
Spanish Colonial Revival; o enxaimel fingido do bungalow de número 498 (figuras
23 e 24), associável ao English Tudor Revival Style, bem como os pilares da
varanda do mesmo, com secção quadrada e o estreitamento no sentido da altura,
similares a pilares dos acessos de muitos dos bungalows estadunidenses nos estilos
California e Crafstman. A cobertura com a água interrompida e a projeção da bay
window no bungalow de número 508 (figura 23) revela uma adoção de elementos
presentes do English Tudor Revival e mesmo no Queen-Anne. Este bungalow, e o
de número 521 (figuras 21 e 22), associam-se a boa parte daqueles estilos pela
presença das coberturas pitorescas com águas aparentes, mas apresentam padrões
ornamentais geométricos e indicadores da associação a modernos sistemas
construtivos, como a marquise em balanço do bungalow de número 508, que os
distanciam das composições tradicionais dos bungalows estadunidenses,
aproximando-os de experimentações mais atualizadas, menos suburbanas e mais
cosmopolitas. É possível perceber, no entanto, que os bungalows de Altenesch,
ainda que sejam influenciados pelas cartilhas estilísticas importadas, apresentam,
pela diversidade dos elementos decorativos utilizados e seu livre agenciamento nas
fachadas, uma interpretação e releitura muito pessoais. Há, inclusive, elementos
presentes em suas fachadas que parecem compor um repertório próprio, como as
meias-luas preenchidas presentes nas platibandas laterais e nas muretas frontais
dos bungalows de número 508 e 498 (figuras 23, 25 e 26), cujo uso decorativo não
pôde ser identificado, durante a pesquisa para este trabalho, em nenhuma outra
obra.
Voltando às modernidades geométricas e técnicas presentes nos bungalows
de números 508 e 521, em sua análise é possível extrair ainda sentido a esta
vinculação de Altenesch a um suposto toilet nova-iorquino. Nova Iorque, assim como
Chicago, entre os anos 1920 e 1930, com a proliferação dos seus arranha-céus,
recebeu para a maioria destes edifícios um tratamento plástico de motivos

34
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6.
127

geométricos, em sua maioria baseados no escalonamento, na aceleração e na


verticalidade. Forjou-se um estilo que, de acordo com Segawa35, buscou a
expressão da modernidade por meio de artifícios decorativos que expressassem a
condição eufórica da sociedade estadunidense do período, empolgada com os
avanços técnicos e científicos promovidos na vida cotidiana (como a expansão do
acesso aos meios de transporte e de comunicação). Esta arquitetura tem sido
chamada de Art Déco, mas também foi alcunhada de ―estilo arranha-céu‖36, ―estilo
jazz moderno‖ ou simplesmente ―moderna‖37. Este repertório decorativo
estadunidense associado aos grandes arranha-céus da primeira metade do século
XX apresentava um caráter evocativo de símbolos da modernidade — os meios de
transporte, os maquinários industriais, os radiadores automotivos — em conexão
com padrões geométricos de origens autóctones. Não raramente apresentam
composições geométricas, seja nas superfícies ou nos arremates dos edifícios, que
evocam um efeito zigue-zague, fator este que inclusive tem levado a classificar a
arquitetura que assuma esses traços ornamentais enquanto Art Déco zigue-zague38.
A análise dos bungalows de números 508 e 521 indicou a presença de elementos
ornamentais que evocam estes motivos decorativos difundidos pela plástica aplicada
nos arranha-céus estadunidenses, como os apliques e superfícies em zigue-zague
de ambos os bungalows.
Interessante observar que, de acordo com Frampton, esta expressão estética
teria sido em solos estadunidenses um estilo exclusivamente urbano, direcionado
para tipologias como edifícios de escritórios e de apartamentos, hotéis, bancos, lojas
etc, enquanto para as casas particulares da região suburbana, estavam destinados
estilos variantes do que o autor chamou de ―Estilo Livre inglês‖, com influências
coloniais em algum caso39. Logo, enquanto em solo estadunidense o repertório
plástico geométrico evocativo da modernidade industrial esteve restrito às
edificações dos centros urbanos, no Brasil este repertório permeou também a esfera

35
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 54.
36
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 266.
37
CURTIS, William. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p. 223.
38
CONDE, Luiz Paulo Fernandez. Art Déco: modernidade antes do movimento moderno. In: Art Déco
na América Latina: 1º Seminário Internacional. Anais... Rio de Janeiro: Prefeitura Municipal do Rio de
Janeiro/SMU; PUC/RJ, 1997, p. 68-73, p.71.
39
FRAMPTON, op. cit., p. 267.
128

da arquitetura residencial unifamiliar, incluindo, como fica expressa neste trabalho, a


tipologia do bungalow, originalmente vinculada a expressões vernáculas.
Ainda que se tenha estabelecido um discurso que colocou Altenesch como
introdutor da tipologia em Aracaju, de acordo com Porto40 já havia em Aracaju
residências nesta tipologia antes da chegada do alemão, assim como já se utilizava
o termo bungalow para designá-las. Em meados da década de 1920 haviam sido
construídas em Aracaju quatro casas nesta tipologia pela Companhia Imóveis e
Construções, do grupo Lar Brasileiro, do Rio de Janeiro. Mais dois bungalows foram
construídos na Avenida Barão de Maruim, sob os números 529 (figura 37) e 692
(figura 38), originalmente as residências de João Tavares Filho e João Firpo Filho,
respectivamente. Esta tipologia foi motivo, inclusive, de legislação municipal
específica em 1930, três anos antes da provável chegada de Altenesch a Aracaju.

Figura 37 – Bungalow de número 529, na Figura 38 – Bungalow de número 692, na


Avenida Barão de Maruim, São José. Avenida Barão de Maruim, Centro.

Fonte: Google Street View (2017). Fonte: Schuster (2000); Publicação


autorizada por escrito pelo autor da imagem.

A Lei nº 40, de quatro de julho de 193041 trouxe recomendações para a


construção desta tipologia residencial, indicando diretrizes para a altura do piso, pés-
direitos, recuo, forma de muros e beirais. Nas palavras de Porto: ―Se considerarmos
que a administração pública é como o Corpo de Bombeiros, que só chega depois
que o incêndio começou, pode-se dizer que o estilo bangalô já tinha presença
sensível, na cidade, quando ela resolveu regulamentá-lo‖42. O Código de Posturas

40
PORTO, 2003, p. 24.
41
ARACAJU. Intendência Municipal. Lei nº 404 de 15 de julho de 1930. Estabelece condições para as
construções de casa do tipo bungalow. Leis do Conselho Municipal do anno de 1930. Aracaju:
SOARES & Cia editores, 1931, p. 7-8.
42
Ibid., loc. cit.
129

de 192643, vigente naquele momento, previa que deveria haver alinhamento das
fachadas das residências com o alinhamento da rua e as tipologias associadas aos
chalets ou quaisquer ―construções rurais‖ só poderiam ser construídas dentro do
perímetro urbano se respeitassem um recuo frontal de seis metros. Em 1930,
contudo, a supracitada Lei nº 40, ao abordar o tema do bungalow, suavizou a
necessidade deste amplo (e proibitivo, em termos do aproveitamento do solo
urbano) recuo, reduzindo para dois metros a distância entre as construções e os
logradouros. A mudança ocorreu também no que se refere ao pé direito mínimo —
enquanto no Código de Posturas de 1926 o pé direito mínimo é de quatro metros,
para a nova lei de 1930, foi aceito um pé direito mínimo de 3,20 metros.
Altenesch, desta forma, encontrou, com sua chegada em Aracaju, um contexto
legal já adequado à construção de bungalows. Esta adequação foi consequência
das demandas por construção das novas tipologias que passaram a ocupar a cidade
à época, afastadas morfologicamente das casas alinhadas com a rua, padrão
instituído nos Códigos de Postura iniciais de Aracaju e que conformaram a cidade no
seu arruamento inicial. Corrobora-se assim o que foi concluído por Porto44: de que
Altenesch em vez de inovador, no que concerne à inserção da tipologia do bungalow
em Aracaju propriamente dita, poderia ser compreendido como o grande
propagador, tendo-se em vista o grande número de projetos, e também, pela direta
influência provocada nos demais projetistas. Contudo, é possível considerar que
Altenesch tenha sido inovador no que diz respeito à composição de seus bungalows,
tanto espacialmente, quando nos aspectos técnicos e estéticos.
Esta questão dos ajustes na legislação urbana para a regularização da
presença dos bungalows revela uma mudança de postura diante do lote urbano e da
ocupação da cidade. Poderia ser compreendido como um sintoma pontual e
adaptado de práticas urbanísticas baseadas em noções de uma ―cidade jardim‖,
como propostas por Howard45, ainda que esvaziadas de seus princípios sociais e
econômicos, como a ideia da autossuficiência urbana. A aproximação com as teorias
inglesas da ―cidade jardim‖ se deu nas concepções paisagísticas, às noções de
integração da cidade com aspectos do campo.

43
SERGIPE. Código de Posturas do Município de Aracajú: Approvado pela Lei do Conselho
Municipal nº 338 de 6 de Setembro de 1926. Aracaju: Typographia Regina, 1927.
44
PORTO, loc. cit.
45
BENEVOLO. Leonardo. História da Arquitetura Moderna. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012, p.
362.
130

A descompactação e arejamento da cidade a partir da permeabilidade criada


com o afastamento da casa dos limites do lote e a possibilidade de integração com a
natureza, ainda que controlada, pela presença dos jardins ao redor das residências
e as fruteiras ao fundo, foram princípios que nortearam uma nova ideia de cidade.
Estas ideias, por sua vez, estão no cerne do partido de implantação dos bungalows.
Desta forma, esta tipologia não apenas indicou a inserção de novos parâmetros
estilísticos na cidade, mas também foram objetos legitimadores de um modo
atualizado, portanto igualmente moderno, para os parâmetros da época, de ocupar o
espaço urbano. Interessante observar também que foram estas práticas urbanísticas
vinculáveis a uma compreensão superficial e adaptada das teorias da ―cidade
jardim‖ que estiveram nas bases das formações dos subúrbios ingleses e
estadunidenses. Estas nações, portanto, não só se configuraram como pontos de
irradiação da tipologia dos bungalows, assim como das linguagens estéticas
vernáculas que os enveloparam, mas também de uma compreensão paisagística e
urbanística. Sobre estas mudanças ocorridas na arquitetura residencial e na
ocupação do espaço urbano, foi encontrado um texto, em edição de 1936 do jornal
O Estado de Sergipe46, que assim diz:

Aracaju moderniza-se (grifo nosso). Já não pode suportar as velhas


construções de longos corredores (grifo nosso), dos tempos em
que arquitetura, aqui em nosso meio, era bicho de sete cabeças, e os
humildes mestres de pedreiros traçavam as plantas no cérebro e
pacientemente iam levando avante... Naqueles tempos, quasi
desconheciamos as campainhas, e as comadres gritavam bem da
porta: ―Oh, de casa‖. E o clássico ―Quem é?‖ Era a resposta infalível.
Hoje, não. Estamos evoluindo (grifo nosso) em tudo e,
naturalmente, já nos preocupa as habitações faceiras, alegres
confortáveis (grifo nosso), em que não se tenha espaços inúteis
(grifo nosso) como os que eram dedicados aos tais corredores.
Observam-se, em todos os bairros da cidade, numerosas
construções (grifo nosso). O aracajuano é caprichoso. Prefere uma
boa casa para morar, do que dinheiro guardado. E o fato é que
cresce a olhos vistos a filha de Inacio Barbosa. Há 15 anos
passados, não existia o Bairro Siqueira Campos, nem a Praia 13 de
Julho [...] O bonde elétrico (grifo nosso), apezar de ainda não ser
barato, dadas as suas poucas linhas e o vultoso preço do seu
material, muito tem contribuído para que o aracajuano já se resolva a
morar fora do centro da cidade (grifo nosso), em local mais
tranquilo (grifo nosso), onde possa descansar das fadigas do dia de
trabalho. É assim que Aracaju vai crescendo [...] ruas e mais ruas
foram empiçarradas, permitindo o livre curso dos automóveis (grifo

46
VARIAS. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 set. 1936, ano IV, n. 1011, p. 1.
131

nosso) [...] Cidade alegre, cheia de sol, com o seu casario quase
todo renovado (grifo nosso), Aracaju está fadada a ser um das mais
encantadoras cidades do País, mercê ainda da estética de suas ruas
retilíneas, prazer que a bem poucas capitais brasileiras é dado ter.

Figura 39 – Conjunto de bungalows à Praça da Bandeira, Centro.

Fonte: Autoria não identificada [197-?]; Localizada no acervo do


APMA.

Em Aracaju não se configuraram ―bairros jardins‖ propriamente ditos, com


grandes áreas loteadas a partir de uma ideia de paisagismo aos moldes adaptados
de uma ―cidade-jardim‖, como se deu com aqueles planejados e vendidos pela Cia.
City em São Paulo47, mas é perceptível um processo equiparável. Refere-se aqui ao
processo de ocupação às bordas do perímetro inicial da cidade referente às
imediações dos primeiros trechos da Avenida Barão de Maruim, em direção ao sul,
entre os bairros Centro e São José. Estabeleceram-se aí, no período considerado
entre os anos 1900 e 1930, práticas projetuais e construtivas de melhoramentos que
estimularam a ocupação por parte das classes mais abastadas. Até o início da
década 1930, como indica Ribeiro48, a nova região do ―arrebalde Presidente
Barbosa‖— no extremo da Rua Aurora (atual Avenida Ivo do Prado), nas imediações
da Fundição, onde foi situada a sede do Cotinguiba Sport Club — havia recebido os
benefícios de infraestrutura e saneamento urbano, como a água encanada (1908),
energia elétrica (1913), serviço de esgoto (1914), rede telefônica (1919) e os bondes

47
REIS FILHO, 2011, p. 71.
48
RIBEIRO, Neuza Maria Góis. Transformações do espaço urbano: o caso de Aracaju. Recife:
FUNDAJ; Editora Massangana, 1989, p. 46.
132

elétricos (1926). Esta expansão ao sul, com suas ―ruas elegantes‖49, seguiram
recebendo a atenção da gestão pública na década seguinte, como o revelam a
construção do cais da Praia 13 de julho50 e uma estrada de rodagem às suas
margens51 e a urbanização da então Rua Altenesch (Rua Vila Nova, atual Duque de
Caxias), com o delineamento da Praça Getúlio Vargas 52 e a pavimentação daquele
logradouro53.

Figura 41 – Planta
baixa de bungalow,
Figura 40 – Desenho de fachada de bungalow, projeto de Francisco
projeto de Francisco Oliveira Dantas. Oliveira Dantas.

Fonte: Projeto do construtor Francisco Oliveira Dantas, desenho de Antônio


Ramos (1937); Localizado no acervo do APMA.

Foi justamente naquela região em que foram situados os quatro bungalows


aqui analisados, entre outras das residências de Altenesch a serem estudadas
adiante. Estas casas se configuraram como elementos componentes de um
processo de expansão e consolidação da cidade para o sul, pela formação de uma
área de perfil predominantemente residencial, habitada pelas famílias de classe
média e outras de maior poder aquisitivo. Assim, pode-se deduzir que, inseridos em

49
LOUREIRO, Kátia Afonso S. A trajetória urbana de Aracaju em tempo de interferir. Aracaju:
Instituto de Economia e Pesquisa – INEP, 1983, p. 56.
50
O CAIS da Praia 13 de Julho. O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 out. 1936, ano IV, n. 1028, p. 1.
51
ARACAJU. Relatório apresentado ao Exm.º Sr. Dr. Eronides Ferreira Carvalho, D.D.
Interventor Federal no Estado, pelo Prefeito da capital, Godofredo Diniz Gonçalves. Exercício
de 1939. Aracaju: [s.n.,194-], p. 23.
52
Ibid., p. 9.
53
ARACAJU. Relatório apresentado ao Excelentíssimo Senhor Doutor Eronides Ferreira
Carvalho, Dignissimo Interventor Federal no Estado, pelo Prefeito da capital, Godofredo Diniz
Gonçalves. Exercício de 1940. Aracaju: Imprensa Oficial, 1941, p. 20.
133

uma região de expansão urbana, os bungalows de Altenesch tenham assumido um


caráter norteador nas escolhas tipológicas e compositivas das obras residenciais
que vieram a ser construídas na região, influenciando assim o delineamento daquela
parte da cidade.

Figura 42 – Planta baixa do


bungalow João Vieira de
Carvalho, na Avenida Ivo do
Prado, projetado por Figura 43 – Planta baixa de Figura 44 – Planta baixa de
Frederico Gentil na década bungalow projetado por bungalow projetado por José
de 1950. Wagner José Leal em 1955. Álvaro Dantas em 1951.

Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada por escrito pelo autor das imagens.

Apesar da organização hierarquizada e compartimentada das plantas, fator que


vincula os bungalows de Altenesch a uma postura tradicional na concepção
espacial, é possível apontar em suas soluções alguns sinais de inovação, ao menos
para o contexto de Aracaju a que se pôde apreender. Observando algumas plantas
baixas referentes a bungalows em Aracaju projetados por outros profissionais, foi
possível perceber que a solução espacial de Altenesch (figura 18) se diferenciava da
maioria dos outros projetos pelo deslocamento da posição dos banheiros. Tanto no
bungalow54 projetado pelo construtor Francisco Oliveira Dantas (Yôyô)55 em 1937

54
Prancha localizada no acervo do Controle do Cadastro Imobiliário do APMA. Esta foi a única
prancha da década de 1930 referente a projeto residencial localizado neste arquivo.
134

(figuras 40 e 41), como naqueles identificados por Schuster56 — e que teriam sido
projetados na década de 1950 (figuras 42, 43 e 44) — aos banheiros é reservado
um posicionamento desprivilegiado, acessíveis a partir das copas/cozinhas ou
mesmo por uma circulação auxiliar, mas sempre aos fundos da edificação. Apenas
em um caso a que se teve acesso foi possível identificar solução similar à do
alemão. Trata-se da residência de número 53 (a primeira da esquerda para a direita,
na figura 45) localizada no primeiro trecho da Rua Estância. De acordo com Porto 57,
esta casa, originalmente pertencente ao Sr. José Vieira de Santana, foi construída
na segunda metade da década de 1920. Junto a ela foram construídas mais duas
com o mesmo porte, pertencentes aos Sr. Autran Costa e Dr. Francisco Fonseca,
respectivamente de números 65 e 8758. Como revela a representação feita por
Souza para seu trabalho final de graduação (figura 46)59, naquela residência de
número 53 o banheiro do primeiro pavimento foi integrado à parte central,
antecipando assim em alguns anos a solução de Altenesch.
Conforme sugerem Veríssimo e Bittar60, o banheiro da casa brasileira nas
primeiras décadas do século XX estava circunscrito em espaços de intimidade e de
serviço. De acordo com os autores, este ambiente, de um modo geral, era ―íntimo,
vedado a estranhos, constituindo grave falta de educação solicitar permissão para
usar o banheiro das casas visitadas‖61. Portanto, a solução do alemão ainda que não
tenha sido pioneira, como indica o partido da supracitada residência da Rua
Estância, poderia ser compreendida enquanto um vetor de inovação importante na
direção de uma mudança de postura diante de uma mentalidade tradicional ainda

55
Francisco Oliveira Dantas, conhecido por Yôyô, era construtor licenciado. Em propaganda de seus
serviços é indicado que possuía ―longa prática de construções em cimento armado‖. Cf. FRANCISCO
Oliveira Dantas (Yôyô). O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 abr. 1937, ano V, n. 1169, p. 2.
56
SCHUSTER, Benjaminvich Costa. A Residência Aracajuana no Centro e Bairro São José. 2000.
174 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2000.
57
PORTO, 2003, p. 47.
58
Esta informação ofertada por Porto e mesmo a fotografia encontrada no Album Photographico de
Aracaju, de 1931, exclui a possibilidade de ter sido este conjunto de casas resultante da atuação de
Altenesch, como leva a supor Luiz Antônio Barreto em seu supracitado texto ―Altenesch e Wladimir
Preiss‖, ao utilizar uma fotografia daquele conjunto de casas e expor junto a ela a legenda ―Casas da
rua Estância: marca da arquitetura de Altenesch‖. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir
Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
59
SOUZA, Adriano Augusto Linhares de. Umas casinhas bonitinhas: um registro dos bangalôs no
centro de Aracaju. 2015. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2015, p. 59.
60
VERÍSSIMO; BITTAR, 1999, p. 103.
61
Ibid., loc. cit.
135

arraigada nas práticas projetuais em Aracaju, como revelam as localizações


segregadas dos banheiros nos demais bungalows identificados. É possível presumir,
desta forma, que Altenesch teria contribuído para a valorização deste cômodo de
serviço, dispondo-o em posição central e estratégica, acessível a partir da circulação
nuclear, de forma a que atendesse a todos os setores da residência, incluindo a
zona social e pública dos ambientes frontais.

Figura 46 – Plantas baixas da


Figura 45 – Residências no primeiro trecho Rua residência de número 53 da Rua
Estância, Centro. Estância.

Fonte: Album Photographico de Aracaju (1931). Fonte: Souza (2015, p. 59); Publicação
autorizada por escrito pelo autor da
imagem.

Outro ponto de atualização promovido pelos bungalows de Altenesch, e este é


um aspecto que igualmente apareceu nas outras residências indicadas, referiu-se à
relação entre os edifícios e o espaço externo, particularmente a questão dos recuos.
Se nas obras mais abastadas, geralmente com dois pavimentos, a casa tomou o
lugar isolado ao centro do sítio, em casas mais modestas como os bungalows em
questão, devido à configuração geralmente estreita dos terrenos, apenas um dos
lados recebia o recuo. Este estaria vinculado, como já dito, aos acessos de serviço e
ao automóvel. Este objeto ainda não havia recebido o tratamento que viria a receber
nas décadas seguintes, particularmente a partir dos anos 1950, quando as garagens
frontais substituiriam as edículas aos fundos, e o carro assumiria um protagonismo
simbólico e na ocupação do espaço na residência moderna 62. Contudo, o automóvel

62
VERÍSSIMO; BITTAR, 1999, p. 53.
136

particular já marcava presença na cidade e possuí-lo, assim como ser dono de um


bungalow ajardinado, para a classe média brasileira, se configurava enquanto
desejo de consumo e legitimador de adesão à modernidade e ao futuro. Assim
sugeria Carmen Miranda ao cantar ―Meu amor, sempre pensei na possibilidade de
ter um bangalô / Um carro e um jardim / Um grande amor como tu és pra mim‖ 63,
ideal imageticamente representado na fotografia da década de 1930 do bungalow
de número 521 (figura 21), onde o carro se fazia presente demarcando o seu lugar
físico e afetivo na constituição daquele espaço.
Outro ponto de atualização na relação entre a casa e o espaço externo, de
acordo com Reis Filho64, é a introdução do nivelamento entre esses espaços. O
apoio das inovações tecnológicas dos impermeabilizantes e dos tacos de madeira e
os afastamentos da casa dos limites dos lotes, que haviam dispensado a
necessidade dos altos porões garantidores de intimidade aos interiores das
residências precedentes, proporcionaram uma integração do ambiente interno com o
externo, principalmente com os jardins frontais. Este é um ponto, inclusive, que
Fortes citou como inovação proposta por Altenesch para Aracaju, quando diz que o
alemão havia sido renovador por ter provocado a ―introdução da casa com espaços
laterais com piso baixo e sem as dimensões do ―Palacete‖ e do ‗Bungalow‘
aburguezados‖65.
Outra questão que indica atualização e, portanto modernidade, nos bungalows
de Altenesch, é referente ao aporte estético. É possível perceber com estas
análises, particularmente no que concerne às questões plásticas, que as referências
para a composição destes bungalows não foram condizentes com uma tradição
arquitetônica autóctone, genuinamente brasileira, mas que Altenesch se utilizou de
um repertório importado para a criação destas residências, ao qual ofereceu uma
leitura pessoal.
No final dos anos 1930 em Aracaju os bungalows seguiram ocupando um lugar
privilegiado no discurso acerca da modernidade arquitetônica da cidade. Esta
questão pode ser vislumbrada nos excertos a seguir, retirados de textos publicados
em jornais sergipanos:
63
Trecho da música ―Nosso amor não foi assim‖ marchinha de Synval Silva, cantada por Carmen
Miranda, acompanhada por Orquestra em disco Odeon 11741 B (matriz 6053). Música gravada em
05 de abril de 1939 e lançado em julho do mesmo ano. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=vHBjRGilV2M> Acesso em: 28 abril 2018.
64
REIS FILHO, 2011, p. 77 et seq.
65
FORTES, loc. cit.
137

É notorio o progresso que Aracaju registra em matéria de urbanismo.


Entre nós já desapareceu em definitivo a predileção pelas casas de
corredores longos, dispendiosa e deselegantes, cedendo lugar ao
estilo “bungalow” (grifo nosso) muito mais em conta e mais bonito.66

É Aracajú atualmente uma cidade moderna [...] À iniciativa particular


cabe, tambem, grande parte do seu progresso. Lindos “Bungalows”
(grifo nosso) e luxuosos palacetes constroem-se diariamente em toda
a ―urbs‖, onde aparece o fino gosto, dando ótima impressão ao turista
que lá aporta, surpreendendo o sergipano ausente, há longos anos,
que volta em visita á terra natal.67

Aracaju é uma das cidades mais bonitas e pitorescas do Nordeste.


Mas não é somente pelos seus dotes naturaes [...] os edificios
públicos, de linhas architectonicas impecáveis, as ruas bem traçadas
— as mais perfeitas do septentrião brasileiro, — as modernas
construções residenciais com os seus “bungalows” (grifo nosso)
floridos e bizarros, construindo um conjunto harmonioso, uma
afirmação do bom gosto e da operosidade dos seus dirigentes.68

Figura 48 – Bungalow na Rua Campos,


Figura 47 – Bungalow de número 1185 na no trecho entre as Ruas Dom José
Avenida João Ribeiro, Santo Antônio. Thomaz e Itabaiana, São José.

Fonte: Google Street View (2017).

Os bungalows estavam associados a uma ideia de progresso em que aspectos


do vernacular estrangeiro e pitoresco, da integração com a natureza, pela presença
dos jardins e isolamento da casa no lote, estavam inclusos. Estas características,
portanto, indicam o caráter da camada mais nova da visualidade urbana de Aracaju
durante aquela década. Ainda é possível encontrar vestígios pontuais, na cidade,

66
ARACAJU e suas construções modernas. O Estado de Sergipe, Aracaju, 13 jan. de 1937, ano V,
n. 1101, p. 1.
67
LEÃO, Hermenegildo. Fundação da Cidade de Aracajú. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 mar.
1938, ano XLVII, n. 65, Segunda secção – Suplemento, p. 2.
68
ATALAIA, a praia mais bonita do nordeste. Folha da Manhã, Aracaju, 21 maio 1939, ano II, n. 382,
p. 6.
138

destas presenças de outrora (como revelam as residências das figuras 39, 47 e 48)
e que parecem reverberar aos dias de hoje a influência da figura modernizadora de
Altenesch.

3.2 AS RESIDÊNCIAS FLÁVIO PRADO, GERVÁSIO PRATA, TORQUATO FONTES


E AS EXPERIÊNCIAS DAS FORMAS PURAS

Esta segunda subseção deste capítulo dedicado à obra residencial de


Altenesch em Aracaju é voltada para a análise das três residências de dois
pavimentos que se associam a experimentações orientadas pelo uso de linhas e
formas puras no trato de suas volumetrias e fachadas. Trata-se aqui das
residências: Flávio Prado, localizada à Praça Camerino número 101, bairro Centro,
em equina com a Rua Boquim, atualmente sede da empresa de contabilidade MPK;
Torquato Fontes, localizada à Avenida Barão de Maruim número 565, bairro São
José, ocupada por seus mais recentes proprietários, a família Almeida Maciel; e a
residência Gervásio Prata, na Rua Boquim número 67, no bairro Centro, atual sede
da Escola de Governo e Administração Pública da Prefeitura Municipal de Aracaju.
Como a documentação referente aos traçados originais dos projetos não foi
localizada, as análises aqui realizadas são baseadas em levantamentos cadastrais,
iconografia e na memória de alguns dos seus ocupantes.
Deve-se indicar que há especificidades nas fontes de cada uma das
residências, e que elas auxiliam a compreender os diferentes graus de proximidade
das análises em relação às obras em suas condições originais. Para a residência
Flávio Prado contou-se com o levantamento cadastral disponibilizado por
Schuster69, realizado para seu trabalho de conclusão de curso, com ajustes feitos
para esta pesquisa a partir de visita in loco. Neste trabalho de Schuster há também
publicação de algumas fotografias que revelam aspectos originais que não condizem
com o estado atual, indicando modificações realizadas. Segundo o autor, à época da
elaboração do seu trabalho a residência já estava ocupada por uma construtora e,
por ter passado por algum nível de adaptação para abrigar a empresa, não foi
possível acessar com clareza a divisão original do espaço. Ainda assim o autor
anexou ao seu texto o levantamento cadastral com a identificação dos cômodos, e

69
SCHUSTER, 2000.
139

esta é tomada como base para a análise aqui desenvolvida, já que nesta pesquisa
não foi possível acessar as dependências internas da edificação e, ao que parece,
estas sofreram ainda maiores alterações nos últimos anos. Conta-se também com a
fotografia desta residência publicada na supracitada revista comemorativa do
Governo de Eronides Carvalho70, de 1937, que a revela nos toques finais de sua
construção, ainda com a placa do alemão apregoada ao guarda-corpo da varanda
superior.
Para a residência Torquato Fontes, têm-se levantamento cadastral feito
durante esta pesquisa, alicerçado sobre representação elaborada por Rodomar71.
Para a análise desta casa, que é a moradia da família Almeida Maciel, foi possível
contar com a memória de alguns dos seus mais recentes ocupantes72. A partir
destas memórias foi possível acessar as indicações de alterações feitas ao longo
dos últimos anos, na busca pelo entendimento mais aproximado da originalidade do
plano.
Com relação à casa Gervásio Prata, a análise é feita a partir de levantamento
originalmente elaborado pela Prefeitura Municipal de Aracaju em 2015 73 e ajustes
feitos para esta pesquisa a partir de visita in loco. Este levantamento cadastral
parece evidenciar que antes da ocupação do órgão da prefeitura, a casa já havia
passado por alterações de forma a sediar outras atividades institucionais. Apesar
destas prováveis alterações, o levantamento localizado foi considerado por ainda ser
possível identificar proximidades com a volumetria original e por dar algumas pistas
da organização espacial no que concerne à setorização, fluxos e sua relação com os
aspectos técnico-construtivos. Há também uma fotografia antiga desta residência

70
SERGIPE (revista), [1937].
71
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2002.
72
Conforme indicou Rodomar em seu trabalho sobre a residência, desde 1961 esta casa é moradia
do casal formado pelo Sr. José Augusto Machado de Almeida (87 anos) e pela Sra. Léa Maciel (82
anos). O Sr. José Augusto, engenheiro civil aposentado, concedeu entrevista para esta pesquisa,
assim como o fez a Sra. Maria Isabel Dantas Santos (60 anos), funcionária doméstica da família
desde 1980, e cujas memórias possibilitaram um acesso mais aproximado à configuração original da
casa.
73
O levantamento cadastral em questão foi gentilmente disponibilizado pela Secretaria Municipal do
Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplog), da Prefeitura Municipal de Aracaju. O trabalho foi
elaborado por Lucy Lobão, Reginaldo Pina e Glaucia Barbosa e digitalizado por Breno Sávio em 09
de dezembro de 2015.
140

publicada naquela mesma revista de 193774, e este documento possibilita uma ponte
mais segura no acesso a parte da configuração original deste objeto arquitetônico.
Têm-se, portanto, para o conjunto das três residências, uma base documental
fragmentada e não equiparada entre si. Logo, as análises aqui feitas, principalmente
no que concerne à espacialidade, partem de um esforço por identificar alguns
padrões que auxiliem na compreensão do traçado original e seus princípios.
As três residências (figuras 49, 51 e 52), ainda existentes, foram implantadas
com recuos para todos os limites dos lotes, excetuando-se as edículas aos fundos,
como foi possível identificar na Torquato Fontes e na Gervásio Prata. As relações
da tipologia e os lotes, nos três casos, foram estabelecidas por um paralelismo
entre os limites dos terrenos e os volumes das residências e também atenderam aos
preceitos já vigentes à época referentes aos espaçamentos necessários à entrada
de luz e ventilação na edificação, da mesma forma como se previu para os
bungalows da Rua Vila Nova, conforme visto anteriormente. Mesmo no caso da
Flávio Prado, que ocupou um terreno mais estreito e de esquina, fez-se questão de
soltar toda a edificação, ainda que só tenha sido possível, para a face sul, um recuo
estreito e mínimo de um metro. Nesta residência o acesso para os veículos,
provavelmente teria sido feito aos fundos da edificação, enquanto nas outras duas
esta entrada, assim como em uns dos supracitados bungalows, estava determinada
pelo recuo lateral mais avantajado, que levava diretamente à edícula.
Com relação à espacialidade e aos fluxos, percebe-se que igualmente
seguiram princípios semelhantes entre si. A hierarquização da distribuição dos
ambientes e dos acessos, com a delimitação clara da setorização por espaços
públicos, privados e de serviço, bem como as presenças integradoras de varandas e
terraços e o próprio programa, são pontos que parecem conectar os partidos das
três residências. Contudo, portam características particulares que valem uma análise
separada para cada caso.
Para a residência Flávio Prado, foi possível perceber, ao comparar a sua
condição atual com a iconografia e o levantamento cadastral elaborado por
Schuster75, que esta sofreu algumas modificações. Atualmente, aos fundos, foi
construído um acréscimo, que vedou parte expressiva de sua fachada posterior.
Também houve o fechamento de parte da varanda lateral do térreo, integrando-a ao

74
SERGIPE (revista), [1937].
75
SCHUSTER, 2000.
141

hall da escada. Este fechamento deu continuidade à configuração do pavimento


superior, que originalmente já era fechado.

Figura 49 – Localização e plantas baixas da residência Flávio Prado.

Fonte: Levantamento cadastral realizado por Schuster (2000); Edição e ajustes elaborados
para este trabalho (2018).

A residência Flávio Prado (figura 49), implantada em uma esquina, apresenta


acessos para as os dois logradouros que a circundam. Ambos os acessos são
demarcados por breves escadas e são feitos por uma varanda em ―J‖ que envolve
parte expressiva dos espaços públicos da residência. Esta varanda se constitui, pela
integração com os ambientes sociais da casa — como as salas e hall da escada —,
no espaço público por excelência. Têm-se, assim, um acesso voltado para a Praça
Camerino, pelo qual se chega a um conjunto de salas contíguas, e um segundo
acesso, pela Rua Boquim, que leva diretamente ao hall da escada. Originalmente,
ao lado da porta para este hall, havia uma porta de acesso direto a um cômodo que
Schuster76 indicou como gabinete. Além destes dois acessos principais, existiam
dois acessos paralelos para o setor de serviços, isolados no canto sudoeste do
pavimento térreo. Voltando ao hall da escada, este se configurou enquanto um
centro de irradiação e integração do fluxo da circulação, tanto horizontal quanto

76
SCHUSTER, 2000.
142

vertical, pela presença da escada. No segundo pavimento esta região central de


circulação mantém a mesma função de irradiação e integração entre os cômodos,
dispostos a sua volta. Há também, neste pavimento, a presença integradora da
varanda, que repete parte da área compreendida na varanda do térreo.

Figura 50 – Plantas baixas da residência Torquato Fontes, de acordo


com levantamento cadastral atual.

Fonte: Levantamento cadastral feito pelo autor (2018).

Para a residência Torquato Fontes foi possível contar com o fator da memória
de alguns de seus ocupantes mais recentes, conforme revelado anteriormente.
Assim, algumas modificações puderam ser identificadas, a saber: a construção de
uma sala íntima/closet e oratório onde originalmente estava parte da varanda que
conectava a sala de jantar com a circulação de serviço; uma mudança na escada
externa de serviço para o pavimento superior e ampliação da circulação de serviço
do pavimento superior para criação de uma pequena cozinha77. Estas diferenças
podem ser vistas ao se comparar as plantas baixas da figura 50, que indicam o
estado atual da residência, e as da figura 51, que representam um traçado mais
aproximado à sua originalidade, conforme indicado pela memória dos ocupantes
consultados.
77
Estas modificações foram indicadas por relatos do Sr. José Augusto, engenheiro civil, a da Sra.
Maria Isabel, funcionária doméstica, como indicado anteriormente. As visitas realizadas à residência
possibilitaram o faceamento da materialidade, e, portanto, a checagem dos indícios destas
modificações.
143

Figura 51 – Localização e plantas baixas da residência Torquato Fontes.

Fonte: Levantamento cadastral e edição elaborados pelo autor (2018).

Esta residência, no que concerne aos acessos, apresenta uma característica


particular, reflexo do seu programa. Como indica Rodomar78, a casa foi construída
pelo casal o Sr. Torquato Fontes e a Sra. Celeste Hora, que residiram no pavimento
térreo ao passo que o pavimento superior foi destinado ao seu filho, o Sr. Osman
Fontes, que ali morou com a sua esposa Carolina e onde instalou o seu escritório de
advocacia. Logo, o programa da edificação deveria atender às necessidades de dois
núcleos familiares e uma atividade profissional para o pavimento superior. Assim,
além dos acessos para o térreo e a escada interna de integração dos pavimentos,
foram propostas duas escadas externas: uma anterior, que leva à varanda superior e
possibilita acesso independente ao gabinete, atendendo assim às demandas do
escritório de advocacia; e uma escada posterior, que faz a conexão direta do
pavimento superior com a área da edícula e a região de serviço da casa (figura 51).
Quanto ao pavimento térreo, o acesso se fez possível por três vias: por escada
central, que leva a uma varanda que envolve e dá acesso direto a três salas

78
RODOMAR, 2002.
144

contíguas (estares e jantar); por escada lateral em varanda posterior, que dá acesso
ao setor de serviços, mas que originalmente também possibilitava uma entrada
alternativa à sala de jantar; e um terceiro e último acesso que possibilita chegada
direta à circulação de serviço. O acesso interno para o pavimento superior foi
delineado por escada localizada em sala íntima e destinada à sala de jantar do
pavimento superior.
Assim como ocorreu na casa Flávio Prado, para as varandas na Torquato
Fontes, foi atribuída uma função integradora entre os ambientes internos e também
de integração da casa com os espaços externos. No pavimento térreo, as varandas
que originalmente envolviam aproximadamente metade do volume arquitetônico,
estabeleciam diretas conexões entre os espaços sociais e públicos e de serviço. No
pavimento superior, a varanda frontal não só serviu de acesso ao gabinete, como
também a um dos quartos e à sala. Neste pavimento há também uma varanda
posterior, mas apenas se chega a ela através dos quartos.
Nota-se que, diferentemente da casa Flávio Prado, que tem nos dois
pavimentos um núcleo central de irradiação dos fluxos da circulação e que tece de
forma direta a integração entre os diferentes cômodos e setores da casa, nesta
segunda casa é possível notar a presença de algo deste princípio na sala de jantar
do pavimento superior, que tanto serve de chegada da escada como de integração
entre a maioria dos cômodos daquele nível da residência. No pavimento térreo há
integração entre os cômodos, mas de forma dispersa, não sendo legível a presença
de um centro de convergência e irradiação destes fluxos. O relativo isolamento da
escada interna também parece ser um indício desta dispersão da circulação.
Possivelmente este isolamento tenha relação com o estabelecimento de um maior
controle do acesso ao pavimento superior, e maiores privacidade e independência,
portanto, entre os dois pavimentos, já que foram ocupados por núcleos familiares
distintos.
Para a residência Gervásio Prata delinearam-se quatro possibilidades de
acesso: um acesso principal, que se dá através de breve varanda frontal precedida
por escada e alinhada ao eixo longitudinal da edificação; um acesso lateral que leva
ao setor central da casa, onde está localizada a escada para o pavimento superior;
um acesso direto à cozinha e um acesso central pelos fundos, ambos por uma
mesma escada (figura 52). Os dois pavimentos integram-se pela escada localizada
na extremidade leste do setor central do edifício e no pavimento superior desemboca
145

em uma sala que estabelece a conexão entre os demais cômodos daquele andar.
No pavimento térreo também é possível identificar a mesma centralidade para onde
convergem e de onde irradiam os fluxos de circulação entre os ambientes. Ao que
parece, à área central, integrada ao reduto da escada, foi delegada a condição de
núcleo de uma circulação axial que atravessa a casa: no sentido longitudinal, este
fluxo parte das entradas frontal e posterior centrais, e no sentido transversal, parte
do acesso lateral aos limites impostos pelo cômodo situado no lado inverso ao local
da escada.

Figura 52 – Localização e plantas baixas da residência Gervásio Prata.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela Seplog (2015); Edição e ajustes feitos pelo
autor (2018).

Ainda que não seja possível afirmar com clareza acerca da divisão dos
cômodos e seu programa, já que o levantamento cadastral utilizado como base é
muito recente e em que se notam alterações, as projeções da planta sobre o sítio e
o agenciamento de suas massas levam a dedução de que se trata de um projeto
elaborado a partir de princípios de fácil legibilidade. A identificação da simetria e da
axialidade do traçado, bem como da distribuição radial dos fluxos de circulação e da
segmentação da planta em faixas bem definidas, conduzem a esta leitura.
146

Apesar das particularidades da edificação, podem-se localizar aspectos que a


assemelham às anteriormente analisadas. Além da questão da implantação, como já
afirmado anteriormente, percebe-se o deslocamento para uma das extremidades
aos fundos a localização da cozinha, geralmente vinculada de forma direta a outro
compartimento, como uma copa ou uma circulação de serviço. A presença da
varanda também é um elemento em comum. No pavimento térreo da residência
Gervásio Prata a varanda assumiu um papel exclusivo de recepção, assim como
ocorreu nos bungalows da Rua Vila Nova. Contudo, no pavimento superior ela tem
um caráter de integração entre os ambientes internos e o espaço, de forma
semelhando ao percebido nas outras duas residências.
Quanto aos aspectos volumétricos, assim como ocorreu com a distribuição
espacial, percebem-se semelhanças entre as três residências. Suas
particularidades, todavia, solicitam uma análise atenta para cada um dos casos.
A residência Flávio Prado (figuras 53 a 59), como já indicam as plantas, revela
uma composição assimétrica. A força desta composição está nas lajes
geometrizadas em balanço, nos guarda-corpos e platibandas das varandas que se
projetam sobre a fachada voltada para o leste e que denunciam os espaços sociais
da residência. As linhas que demarcam esta massa frontal, em conjunto com as
marcações ao plano das fachadas, com as linhas do embasamento/plinto e dos
peitoris e vergas das envasaduras, se estendem por todo o perímetro da residência.
Estas linhas são evidenciadas pelo contraste das cores utilizadas na pintura original
e, principalmente, pelo desnivelamento das superfícies que se intercalam. Esta
composição atribuiu um caráter de horizontalidade à visualidade do objeto
arquitetônico e lhe conferiu unidade e identidade.
Conforme sugere Isabella Santos79, devido à sua volumetria, a casa Flávio
Prado teria evocado uma composição náutica, estabelecendo assim uma relação
simbólica com a modernidade propagada pelas imagens das embarcações da
época. Além da própria volumetria, ―a experiência náutica engendrada‖ se valeria de
outros elementos, como as escotilhas em baixo-relevo nos guarda-corpos e
platibandas, o escalonamento de arremate da platibanda e até mesmo a escada
metálica (figura 57), que faz as vezes de uma escada de marinheiro e possibilita a

79
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros
centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011, p. 172.
147

conexão entre a varanda do pavimento superior e o pequeno terraço localizado


sobre o volume projetado na face leste da residência. Também atribuem identidade
à residência as sequencias de pilares e vigas, configuradas quais mãos-francesas
de acabamento arredondado, e que não só dão suporte às lajes das varandas como
também enfatizam a marcação dos vértices das lajes geometrizadas em balanço.

Figura 53 – Residência Flávio Prado.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 54 – Residência Flávio Prado, fachadas leste e norte.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2013).

As esquadrias (figuras 58 e 59), com caixilharia em madeiras e vedações em


vidro opaco e texturizado, seguem desenhos geométrico com padrões de zigue-
zagues e losangos. O motivo do zigue-zague foi empregado igualmente na mureta
que circundava os limites do lote, como é possível conferir na figura 53. Este motivo,
148

que possibilitava uma expressão ornamental e ao mesmo tempo moderna à


edificação — assim como as escotilhas — já havia sido utilizado, como visto
anteriormente, nas superfícies e mesmo em alguma das muretas dos bungalows da
Rua Vila Nova. Da mesma forma são novamente identificadas as barras cilíndricas
de ferro que compõe a altura destas muretas, e que, pela frequência nas obras
analisadas, parecem confirmar um padrão compositivo e de seleção de materiais por
parte de Altenesch.

Figura 55 – Residência Flávio Prado, fachada norte.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2017).

Figura 56 – Varanda e acesso principal da residência Figura 57 – Escada metálica


Flávio Prado. para acesso a terraço.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).


149

Figura 59 – Janela da
Figura 58 – Acesso lateral da residência Flávio Prado. residência Flávio Prado.

Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada por escrito Fonte: Registro fotográfico
pelo autor da imagem. feito pelo autor (2017)

Figura 60 – Residência Torquato Fontes.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2013).

O projeto para a casa Torquato Fontes (figuras 60 a 66), assim como a Flávio
Prado, seguiu um agenciamento assimétrico. Contudo, de forma diferente ao
proposto para a residência à Praça Camerino, há nesta uma organização mais
inclinada à simetria. O volume frontal projetado, que no térreo compreende uma das
salas e que no pavimento superior é onde se localiza o gabinete, determina a
tendência simétrica. Este aspecto também se expressa na escadaria de acesso à
varanda do térreo, nos pilares e pilotis da face frontal, na ampla laje em balanço da
varanda superior, nas largas portas de acesso ao próprio volume em questão e nas
larguras dos braços laterais das varandas que conduzem a outros ambientes da
150

casa. Há uma preponderância nesta residência das áreas permeáveis de varandas,


que circundam a casa e dominam quase toda a face frontal (norte), a face leste e
metade da face sul. A face oeste, contudo, que compreende basicamente os
cômodos de serviço e a caixa da escada, apresenta uma compleição cúbica, com
predominância dos cheios sobre os vazios.
Percebe-se na casa Torquato Fontes, assim como previsto para a Flávio
Prado, marcações horizontais que envolvem todo o perímetro externo da residência
e conferem uma unidade plástica ao objeto arquitetônico. Algumas destas
demarcações horizontais consistem em sutis desnivelamentos nas superfícies das
fachadas localizados à altura do embasamento/plinto, e aos limites dos peitoris e
janelas comuns. Uma pequena marquise que rodeia toda a edificação, e que indica
a divisão entre os pavimentos, e um friso de pingadeira, que faz a demarcação do
arremate da platibanda, também contribuem no delineamento desta horizontalidade.

Figura 61 – Escada do
acesso principal da residência Figura 62 – Face leste da
Torquato Fontes. residência Torquato Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

As envasaduras dos cômodos principais, como salas e quartos, são amplas e


foram vedadas por janelas e portas em madeira do tipo camarão e postigos para
abertura pelo interior dos ambientes. Todas estas janelas e as portas para acesso
externo do pavimento superior possuem um desenho simples com faixa de
venezianas no centro de cada folha (figura 65). Já as portas para a varanda frontal
possuem aberturas retangulares vedadas por vidro opaco e texturizado (figura 66).
As envasaduras dos banheiros e cozinha foram vedadas com basculantes metálicos
151

e vedação em vidro, e as janelas da caixa da escada foram previstas com os mesmo


materiais (figuras 63 e 64). Estas últimas janelas se destacam por sua verticalidade,
já que rompem os limites impostos pelas linhas das vergas e peitoris das janelas
comuns e revelam, nas fachadas que ocupam, a integração entre os níveis
promovida pela escada interna.

Figura 64 – Janela vertical do


Figura 63 – Face sul com volume do setor de serviço volume da escada na casa
e escada de serviço da casa Torquato Fontes. Torquato Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Figura 65 – Porta de quarto Figura 66 – Porta de acesso


de pavimento superior vista à sala frontal vista da varanda
da varanda da casa Torquato do térreo da casa Torquato
Fontes. Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).


152

A casa Gervásio Prata (figuras 67 a 71) apresenta uma volumetria assentada


igualmente sobre os preceitos da simetria, correspondendo assim à sua
espacialidade interna. Trata-se aqui especificamente da dianteira da residência, já
que, como pode ser visto na planta, na região posterior se propôs uma quebra deste
princípio pela presença do volume projetado da cozinha, de modo similar ao
proposto para a Torquato Fontes. Ao nível do térreo o acesso se faz por varanda
antecedida por breve escadaria. Esta varanda é limitada por soco de altura baixa,
sobre o qual estão dois pilares cuja seção quadrada se afunila no sentido da altura.
Há uma porta centralizada de acesso e esta foi disposta sobre parede recuada em
relação às paredes da fachada frontal. No pavimento superior, delineia-se uma
varanda-terraço sobre a varanda de acesso ao térreo. Esta varanda superior
também possui braços laterais que estão dispostos sobre parte do volume do
pavimento térreo. Diferentemente do térreo, em que há um recuo no plano da
fachada para a abertura da porta principal, no pavimento superior ocorre o avanço
de um volume central, e este se alinha justamente ao plano recuado do pavimento
térreo.

Figura 67 – Residência Gervásio Prata.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Percebe-se, assim como foi proposto para as duas outras casas analisadas,
uma ênfase na horizontalidade, pelo realce das linhas de demarcação dos
elementos componentes das fachadas, como o embasamento/plinto, os peitoris e
vergas de janelas, as platibandas e lajes projetadas. Sobre estas, há para esta casa
um jogo de sobreposições peculiar. Fazendo a demarcação entre os níveis da
153

residência, há uma laje projetada que se estende da fachada frontal até parte
considerável das laterais. No arremate do pavimento superior são percebidos três
níveis de lajes em balanço: uma primeira, mais alta, que antecede a platibanda
propriamente dita, e que segue um percurso equivalente ao da laje projetada do
pavimento térreo; uma segunda, intermediária e mais recuada, que percorre apenas
o volume frontal projetado do pavimento superior; e um terceiro e último nível de laje
em balanço, não mais existente nos dias atuais, que estava mais baixa e ainda mais
recuada, e que ocupava um trecho central do volume frontal do pavimento superior,
disposta imediatamente sobre duas envasaduras igualmente inexistentes na
atualidade. Na fotografia de 1937 (figura 67) não é dada a compleição da parte
posterior da residência, mas é possível que não tenha sofrido grandes alterações, já
que a forma em que se encontra atualmente muito se assemelha com a condição
dos planos das fachadas de fundo da casa Torquato Fontes, a saber: sem projeções
de marquises ou qualquer outro elemento que viesse a macular a condição cúbica
destes volumes, com predominância dos cheios sobre vazios (ver figuras 70 e 71).

Figura 68 – Residência Gervásio Prata.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2017).

Com relação às envasaduras e esquadrias, comparando a fotografia antiga e a


condição atual da edificação, é notório que foram modificadas, ao menos aquelas
localizadas na fachada frontal. As alterações não só se deram com a esquadria
propriamente dita, mas também com algumas das aberturas. Como já dito, no
pavimento superior havia duas aberturas no volume mais avançado que foram
substituídas por uma única porta. Percebe-se também a presença de ao menos
154

cinco seteiras, distribuídas simetricamente ao longo desta fachada, e estas não


existem mais. Nota-se que as esquadrias originais promoviam maior permeabilidade
que aquelas que estão agora em uso, com maior presença de superfícies de vidro.
Chamam a atenção para esta questão, principalmente, as antecedentes janelas
laterais da fachada no térreo, possivelmente de guilhotina, por seu despojamento
formal e ausência de qualquer motivo ornamental.

Figura 69 – Residência Gervásio Prata.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2017).

Figura 70 – Face sul da Figura 71 – Face sul e oeste


residência Gervário Prata. da residência Gervásio Prata.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Destacam-se também os elementos em barras cilíndricas de ferro, que


compõem o guarda-corpo da varanda superior, arremate decorativo curvo sobre a
155

laje na fachada lateral (figura 68) e originalmente compunha a mureta da residência


(figura 67). Este material também se faz presente no guarda-corpo da varanda do
pavimento superior na casa Torquato Fontes. Como visto na análise dos bungalows
e da residência Flávio Prado, foi um elemento quase onipresente nas obras
residenciais de Altenesch e a ele atribuídas. Estas barras, por sua condição pura, no
que se refere à forma, e por estarem simbolicamente relacionadas à inserção de
elementos industriais na construção civil, contribuem para atribuir às obras em que
se fazem presentes um aspecto eminente de modernidade.
Com relação à ambiência e materiais de acabamento, deve-se indicar que
esta análise se baseia principalmente na experiência obtida e registros realizados
durante as visitas à casa Torquato Fontes, que ainda guarda muito de sua
originalidade material, como pôde indicar a memória de seus usuários consultados.
As casas Gervásio Prata e Flávio Prado, por provavelmente terem sofrido maiores
alterações em suas ambiências, são tidas como pontos comparativos e
complementares de referência. Há, sobre a casa Flávio Prado, algumas informações
e registros ofertados por Schuster80, e estas são também levadas em consideração.
Foi identificado nos cômodos do pavimento superior da residência Torquato
Fontes o padrão do abaulamento dos vértices das paredes e entre paredes e teto
(figuras 72 e 73) conferido no bungalow de número 508. De acordo com Schuster81,
este é um padrão presente também na residência Flávio Prado. Para o pavimento
térreo da casa Torquato Fontes, os cantos entre as paredes são angulosos, mas
entre as paredes e os tetos da maior parte dos ambientes, excetuando-se a cozinha
que segue o padrão do abaulamento do pavimento superior, foi instalado rodateto de
moldura classicizante (figura 74). Este mesmo padrão de moldura foi identificado na
casa Gervásio Prata (figura 75).
O motivo do arredondamento das superfícies foi aplicado também na
concepção de alguns ambientes da casa Torquato Fontes, que portam paredes
curvas (figura 73). As paredes dos ambientes públicos e privados são lisas,
continuamente emolduradas por um rodapé em madeira e a cozinha e os banheiros
foram revestidos por azulejo monocromático até meia-parede (figuras 76 e 77). Os
pisos dos banheiros, como também da copa e da circulação de serviço, foram

80
SCHUSTER, 2000.
81
Ibid., loc. cit.
156

revestidos com pastilhas cerâmicas (figuras 77 e 78), e a cozinha recebeu o padrão


da cerâmica vermelha das varandas (figuras 65 e 76).

Figura 72 – Abaulamento das Figura 73 – Abaulamento


arestas das paredes e tetos nos de paredes no pavimento
cômodos do pavimento superior superior da residência
da residência Torquato Fontes. Torquato Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Figura 75 – Detalhe do rodateto


Figura 74 – Detalhe do rodateto no pavimento térreo no pavimento térreo da
da residência Torquato Fontes. residência Gervásio Prata.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Os demais cômodos receberam tacos de cores contrastantes em


diagramações de parquet de desenhos diversos (figuras 79 a 81). O uso dos tacos
em madeira para os pisos já havia sido utilizado também no bungalow de número
508, como visto anteriormente, e também foram notados em alguns ambientes da
157

casa Gervásio Prata, indicando assim outro ponto de conexão estética entre estas
obras de Altenesch.

Figura 78 – Detalhe do bidê,


Figura 76 – Cozinha Figura 77 – Piso do banheiro revestimentos do piso e
revestida por azulejo e do térreo revestido com parede do banheiro do
acabamento com friso do pastilhas e paredes com pavimento superior da casa
mesmo material azulejo. Torquato Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Figura 79 – Diagramação Figura 80 – Diagramação de Figura 81 – Diagramação de


de parquet na residência parquet na residência parquet na residência
Torquato Fontes. Torquato Fontes. Torquato Fontes.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2017).

Foi possível localizar durante a pesquisa informações confirmatórias acerca da


venda de tacos em Aracaju. Em edição do Correio de Aracaju de 1937 82, por

82
V. S. VAI construir? Correio de Aracaju, Aracaju, 29 maio 1937, n. 707, p. 2.
158

exemplo, pode ser localizada propaganda das serrarias de João Costa e João
Carvalho — cujo mostruário ficava localizado em sobrado da Rua João Pessoa,
número 40 — divulgando os tacos para parquet de peroba rosa e ipê. Por se tratar
de serrarias, entende-se que neste caso as peças eram produzidas localmente.
Outro comerciante de tacos em Aracaju na época era Edgar Menezes, e seu
comercio vendia as mais diversas madeiras, como ―louro, sucupira, cedro, putumuju,
peroba, canela, paraíba, gonçalo alves, vinhático e jequitibá‖83.
Com relação às escadas, como revela registro feito por Schuster84 (figura 82), a
escada da casa Flávio Prado originalmente possuía piso e espelho em pedra polida
e o seu guarda-corpo — que na atualidade ainda porta esta compleição original —
foi composto de uma guia em alvenaria com acabamento boleado, sobre a qual se
dispôs sequencia de volutas de ferro forjado e o seu corrimão esculpido em madeira.
O mesmo material do corrimão foi empregado na escada interna da casa Torquato
Fontes, mas o seu guarda-copo apresenta uma estrutura vazada e delgada em
serrilharia artística de geometria simplificada (figura 83).

Figura 83 – Corrimão e
guarda-corpo na escada da
Figura 82 – Escada da residência Flávio Prado. residência Torquato Fontes.

Fonte: Schuster (2000). Publicação autorizada por Fonte: Registro fotográfico


escrito pelo autor da imagem. feito pelo autor (2017).

Quanto aos aspectos construtivos, não se pode precisar com clareza toda a
constituição das três residências, mas há indícios na volumetria, alguns mais

83
AOS CONSTRUTORES. Folha da Manhã, Aracaju, 25 ago. 1938, ano I, n. 168, p. 2.
84
SCHUSTER, 2000.
159

velados e outros mais claros, da presença de estruturas em concreto armado. As


lajes em balanço que estão presentes nas três residências são os elementos que
mais conduzem a esta assertiva. Em fotografia da casa Gervásio Prata feita em
2015 pela equipe da Seplog, é possível ver, a partir de trecho do reboco deslocado,
parte da estrutura metálica que compõe o esqueleto deste elemento (figura 84). Em
uma das visitas realizadas para a elaboração desta pesquisa, foi possível registrar
em trecho da marquise do térreo outro deslocamento do reboco de revestimento.
Neste se detectou que estas lajes em balanço eram feitos com uma estrutura
metálica de sustentação e o concreto era composto de agregados graúdos (figura
85).

Figura 85 – Agregados e
ferragem componentes do
Figura 84 – Estrutura metálica exposta em laje em concreto armado em laje da
balanço na residência Gervásio Prata. residência Gervásio Prata.

Fonte: Seplog (2015). Fonte: Registro fotográfico


feito pelo autor (2017).

Ainda na casa Gervásio Prata, nos ambientes frontais é possível ver um


conjunto de vigas aparentes e também pequenos dentes dos pilares de sustentação
(figura 86). Na varanda superior desta mesma residência podem ser visualizados
trechos de vigas invertidas (figura 87) que certamente teriam sido assim locadas
para evitar que aparecessem nos ambientes imediatamente abaixo. A presença
destas vigas invertidas é reflexo das precondições estabelecida por esta tecnologia
no intuito de autorizar que houvesse uma liberdade volumétrica e espacial pautada
160

na independência entre os pavimentos, o que não seria possível caso se tratasse de


alvenarias tradicionais.

Figura 86 – Vigas aparentes na parte frontal Figura 87 – Viga invertida aparente na


do pavimento térreo da residência Gervásio varanda do pavimento superior na
Prata. residência Gervásio Prata.

Fonte: Registros fotográficos feito pelo autor (2017).

Figura 88 – Pilares e vigas de


sustentação na varanda na
residência Flávio Prado.

Fonte: Registro fotográfico


feito pelo autor (2017).

Destacam-se também as estruturas de sustentação das lajes das varandas da


casa Flávio Prado (figura 88) que são reforçadas no térreo e mais adelgaçadas no
pavimento superior, indicando a diminuição das cargas entre os andares. Outro
elemento estrutural nesta casa que se pronuncia é o pilar de seção quadrada
localizado no braço lateral da varanda térrea, cuja continuidade no pavimento
superior é enfatizada pelas fenestrações a ele vinculadas: a porta que dá acesso à
161

varanda pela circulação central e a larga janela deste mesmo ambiente, voltada para
o norte (figuras 53 e 54).
Com relação à casa Torquato Fontes, em diálogo travado durante as
pesquisas para este trabalho, o Sr. José Augusto, atual proprietário e engenheiro
civil aposentado, afirmou que esta residência teria sido construída com estrutura de
concreto armado e que haveria uma previsão para suportar uma carga de até mais
um pavimento além dos dois que foram construídos. Pôde-se verificar que é toda
lajeada, tendo recebido uma cobertura de telhado convencional. Além dos pilotis e
pilares externos que deixam aparente a sua realidade estrutural, o elemento que
mais alarma o emprego desta tecnologia construtiva são as a amplas lajes em
balanço que se projetam a mais de dois metros sobre as varandas do pavimento
superior (figura 89). Nesta casa estes elementos, de modo diferente daqueles
presentes na casa Flávio Prado que contam com pilares e vigas de apoio, são
amparados por vigas deitadas que estão dispostas ao longo de todo o engaste e
lhes proporcionam rigidez na sua sustentação (figura 65).

Figura 89 – Residência Torquato Fontes.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2017).

As três residências aqui estudadas parecem indicar diretrizes modernizantes


por parte de Altenesch, tanto no que concerne à estética, à técnica, quanto à
concepção espacial do projeto arquitetônico. Esta postura moderna não parece,
contudo, ter suas bases fincadas em diretrizes unilaterais, totalizantes e
desvinculadas da tradicionalidade. Ela se mostra permeada por ambivalências que
162

talvez sejam reveladoras da mentalidade — do autor e da circunstância espaço-


temporal — acerca do moderno na arquitetura.
No âmbito espacial, a observação das plantas indica uma organização que
dialoga com a distribuição tradicional na casa brasileira, em que pesam a
valorização dos espaços públicos, de vocação social, e o isolamento dos setores de
serviços, localizado nos três casos em um dos lados da parte posterior de
edificação. Por outro lado, as diferentes formas de agenciamento destes setores, e
principalmente, as diferentes localizações e importância dada às áreas de
circulação, parecem revelar uma prática projetual baseada nas especificidades do
programa demandado por cada cliente — na subjetividade —, na importância da
resolução da planta baixa, mais do que na repetição de padrões pré-definidos.
Esta subjetividade se expressa também no agenciamento das massas, cuja
movimentação se distancia da rigidez típica dos palacetes clássicos do início do
século. Ainda se segue a um paralelismo com relação às linhas do sítio, mas os
volumes se projetam de uma forma não ortodoxa.
Outro aspecto da modernidade destas edificações é a elaboração de estéticas
atreladas à tecnologia, a plasticidade do uso do cimento armado. Na casa Flávio
Prado foi adotado por Altenesch um partido mais decorativo, onde é vista um carga
simbólica mais forte, como a associação, consciente ou não, à forma náutica. Há
nela um caráter ornamental, não só no que concerne à presença de elementos
zigue-zagues, escalonamentos e escotilhas, mas a sua própria volumetria com as
lajes geometrizadas em projeção e suas estruturas de apoio. O próprio aspecto do
corrimão da escada, com suas volutas, falam deste apreço pelo ornamento.
Conecta-se, assim, aos bungalows da Vila Nova.
As duas outras residências apresentam uma estética mais racionalizada. No
caso da Gervásio Prata, a sobreposição de lajes em balanço ainda que possa
oferecer alguma resposta funcional de proteção das envasaduras, parece responder
muito mais a um apelo estético da técnica. Nesta mesma residência, os pilares da
varanda, de seção quadrada e estreitamento ao longo da altura, assemelham-se na
forma aos do bungalow de número 498 na Rua Vila Nova. Nesta residência é
possível identificar uma reminiscência da tradicionalidade, ainda que importada, já
que nesta compleição de pilar há uma direta evocação das varandas alpendradas
dos bungalows estadunidenses de expressão Craftsman. Na casa Torquato Fontes,
a extensão das lajes em balanço, ao mesmo tempo em que cumpre o seu papel
163

funcional de oferecer abrigo às varandas, exibe todo o potencial plástico possível do


material e tecnologia oferecida naquela circunstância.
Outro ponto desta ambivalência no âmbito volumétrico é com relação à
distribuição das demarcações nas fachadas e envasaduras. Há um diálogo com a
maneira clássica de se compor fachadas, particularmente pela demarcação
horizontal dos elementos como embasamento/plinto e platibandas, bem como pela
verticalidade das aberturas. No entanto, estas mesmas marcações revelam a
aderência às novidades plásticas ofertadas pela tecnologia do concreto/cimento
armado. Com relação às envasaduras, elas estão sempre livres de qualquer
guarnição ornamental, o que já revela modernidade por assim se distanciarem das
expressões historicistas. Mas se em alguns pontos se nota uma dupla ou trio de
envasaduras verticais de dimensões regulares ordenadas de forma harmônica e
simétrica sobre um plano de fachada, em outro ponto vê-se outra janela
horizontalizada, estendida, deslocada aos extremos de uma fachada e revelando a
condição estrutural da casa, por encontrar com uma de suas ombreiras um pilar de
sustentação. Este caso, particularmente, se dá na casa Flávio Prado, em sua
fachada norte (figuras 53 e 54).
Esta ambivalência entre racionalidade e uso do ornamento, como faces de uma
mesma modernidade possível, está impressa na compleição de outra casa que
igualmente aparece na montagem publicada na revista comemorativa do governo
Eronides de Carvalho85. Trata-se da casa que estava localizada em uma das
esquinas das Ruas Capela e Geru, no bairro Centro (figuras 90 e 91). Era um prédio
de três pavimentos, com cobertura plana configurando terraço, denunciado pelo
guarda-corpo em barras cilíndricas de ferro no arremate da edificação. Sua
compleição estava pautada no jogo volumétrico das massas e das lajes em balanço.
As demarcações horizontais também assumiram papel na plástica desta residência,
seja nos elementos em balanço ou nas linhas das envasaduras. Estas, nas fachadas
principais, estavam agrupadas de modo conservador em trios harmônicos e
simétricos, mas seu desenho extrapolou os limites do que se conhece da morfologia
de uma arquitetura clássica-tradicional ocidental e apresentou um apelo a outra
ornamentalidade, pautada numa expressão conduzida pelo uso abstrato da
geometria. Também se percebe nos pórticos da varanda de acesso e na envasadura

85
SERGIPE (revista), [1937].
164

em meio-arco do setor dos fundos a presença de uma plástica baseada numa


geometria expressiva e atribuidora de identidade ao edifício. É possível que esta
residência seja de autoria do próprio Altenesch pela similaridade, em relação às
outras residências analisada, no uso dos artifícios plásticos, contudo não foi possível
chegar a esta confirmação pela insuficiência documental.

Figura 90 – Casa (inexistente) na


Rua Capela, Centro. Figura 91 – Casa (inexistente) na Rua Capela, Centro.

Fonte: Revista Sergipe [1937]. Fonte: Registro fotográfico de Ana Libório (1995);
Publicação autorizada por escrito pela autora da
imagem.

Levando a discussão para o âmbito nacional, no intuito de compreender como


esta produção local de Altenesch se situou dentro de uma mentalidade mais
abrangente acerca da modernidade arquitetônica da época, vale observar a
construção do discurso referente ao moderno na arquitetura brasileira do período.
Volta-se o olhar, como feito na subseção anterior, ao que se encontrou nas
principais revistas especializadas, por se compreender que eram um dos meios mais
importantes de difusão dos discursos e orientações projetuais no período. Sobre as
edições das revistas ―A Casa‖ e ―Arquitetura e Urbanismo‖ nas décadas de 1920 e
1930, Nery afirma:

Os debates teóricos nos artigos presentes nessas duas revistas


mostram um alargado processo na formação da arquitetura moderna
no Brasil. Nos anos 20 esse debate acenava para uma busca latente
de uma linguagem própria para o concreto armado e sua devida
aceitação. Ainda muito incipiente os embates se davam entre os
adeptos das formas do passado e aqueles que sentiam a
necessidade de atualização da linguagem arquitetônica. De um lado
as pesquisas dos estilos ―Missões‖ e ―Colonial‖ e de outro o ―estylo
165

moderno‖ que denominava todas as pesquisas de simplificação


formal, principalmente o ―art déco‖. Já nos anos 30 as soluções
modernas aparecem aceitas e bem disseminadas, mas a discussão
voltava-se para qual seria o melhor caminho para as formas
modernas. Aparecem alternativas mais rígidas inspiradas no rigor
das soluções alemãs, muitas obras exploram a geometrização dos
elementos de linhagem ―déco‖, alguns arquitetos buscam a
purificação e simplificação das soluções e apostam na manutenção
dos telhados cerâmicos aparentes e alguns outros se vinculavam às
pesquisas modernistas de vertente corbusiana. Todas as
possibilidades modernas se preocupavam com a adequação das
soluções para a realidade brasileira, algumas inclusive atentas à
diversidade do território brasileiro e a variação das respostas para
cada região. Assim nesse segundo momento a questão se abria para
a discussão sobre as várias formas de ser moderno.86

Figura 92 – ―Edifício
Moderno‖ de autoria de Figura 93 – Casa em ―Stylo
Joaquim Gomes dos Santos Moderno‖ em capa da revista
em capa da revista ―A Casa‖. ―A Casa‖.

Fonte: A Casa (nov. 1931 Fonte: A Casa (mar./abr., 1933


apud NERY, 2013, p. 397). apud NERY, 2013, p. 375).

Nota-se que a compreensão da arquitetura moderna nos anos 1930, de um


suposto ―stylo moderno‖ (figuras 92 a 95), não estava atreita a uma homogeneidade
na expressão desta modernidade, mas abria-se a um leque amplo de referências.
Esta pluralidade nas formas de ser moderno, ao que parece, tem nas três casas de
Altenesch aqui analisadas um veículo de manifestação, como pode ser observado a
partir das análises.
86
NERY, Juliana Cardoso. Configurações da metrópole moderna – os arranha-céus de belo
Horizonte 1940/1960. 2001. 280 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade
de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001, p. 374.
166

Elaborar uma etiologia para as bases das modernidades nas casas de


Altenesch, principalmente referentes às vanguardas da arquitetura do início do
século XX, e que seriam as fontes primárias da constituição deste ―stylo moderno‖,
seria tema para um trabalho exaustivo e exclusivamente focado nesta questão.
Contudo, como ilustração, é possível estabelecer alguns paralelos.

Figura 94 – Perspectiva de projeto em Figura 95 – Planas baixas de protejo em


―Stylo Moderno‖ de J. Cordeiro de Azeredo. ―Stylo Moderno‖ de J. Cordeiro de Azeredo.

Fonte: A Casa (out. 1932, ano 10, n. 100 e Fonte: A Casa (out. 1932, ano 10, n. 100 e
101, p. 17). 101, p. 18).

De acordo com Curtis87, a geração dos modernos, que por variadas razões
estéticas e simbólicas, buscou a plasticidade dos planos finos, lajes em balanço e
simplicidade geométrica, teve como precursores o francês Auguste Perret e o
estadunidense Frank Lloyd Wright. Nos desenhos para a Cidade Industrial do
francês Tony Garnier, publicados em 1917, igualmente: as finas lajes projetadas, a
geometria cúbica e a idealização de uma arquitetura adequada à condição industrial
da sociedade que se modernizava e às construções em concreto armado88. Em
Wright, particularmente, algumas características definidoras de sua obra, parecem
estar presentes no desenho das três casas de Altenesch, como a dramaticidade dos
elementos em balanço, os volumes destacados, o seccionamento dos planos das
fachadas com ênfase na horizontalidade89 e a presença da base do tipo plinto90. Nos
pilotis da casa Torquato Fontes poderia ser visto uma influência formal e descolada
de Le Corbusier, assim como na estrutura das varandas da Flávio Prado uma
referência à repetição das vigas de apoio dos beirais na Villa Hauteroche, obra de

87
CURTIS, 2008, p. 82.
88
Ibid., loc. cit.
89
Ibid., p. 154.
90
Ibid., p. 122.
167

1913 do precursor francês do concreto armado François Hennebique. Os vetores de


influência que convergem para a construção deste plural ―estylo moderno‖ são
diversos e refletem as inúmeras propostas de modernidade delineadas a partir da
busca por expressar nos âmbitos plástico e espacial a integração às novas
tecnologias, principalmente o uso do concreto armado.
De acordo com Nery91, se as expressões plásticas são diversas, há menores
variações nas soluções das plantas baixas. A autora92, observando as plantas
publicadas nas revistas supracitadas, percebeu a ocorrência de uma crescente
preocupação com a implantação, bem como com as questões atinentes ao fluxo e à
organização espacial. Nos anos 1920 as plantas que ilustravam as revistas tendiam
para um grande retalhamento do espaço, bem como para ausência de setorização e
baixa integração horizontal e vertical dos espaços. Ao passo que se avançou na
década de 1930, ―as soluções começam a se tornar mais movimentadas e os
compartimentos setorizados, os quartos vão sendo colocados todos num ou no
máximo dois sentidos de orientação, há uma integração dos espaços sociais‖ 93,
ainda que a integração vertical tenha ainda sido pouco considerada nos projetos
indicados pelas publicações. Estas características se confirmam na obra de
Altenesch, como pode ser conferido pelas análises, principalmente no que tange à
setorização e integração dos espaços sociais, que se abrem interna e externamente
a partir das varandas.
Estas estéticas e novas soluções técnicas e espaciais receberam grande
divulgação por meio das publicações, e ocorreu uma difusão, principalmente nas
capitais e principais cidades brasileiras, como sugere texto publicado na edição de
março/abril de 1933 de ―A Casa‖:

O estylo moderno váe ganhando terreno em nosso meio. Raras são


as ruas que não possuem uma casa nesse gênero, destacando-se
das outras de uma maneira notável. As suas linhas, largas e sóbrias,
dão muito mais idéa de conforto e de hygiene do que as das
residências comuns.94

O aparecimento destas obras, no entanto, em áreas mais afastadas dos


grandes centros brasileiros, como Aracaju, parece não ter dispensado a presença de

91
NERY, 2013, p. 379.
92
Ibid., loc. cit.
93
Ibid., loc. cit.
94
JORDÃO, Braz; AZEVEDO, J. Cordeiro de, 1933, p. 3, apud NERY, 2013, p. 375.
168

figuras que atuassem como promotoras principais destas renovações, portadoras


assim de uma função central de dinamização dos processos de atualização visual da
cidade. Como indica Porto, com relação ao acesso por parte dos projetistas e
construtores em Aracaju às publicações especializadas: ―Não contávamos com
facilidades de divulgação dos temas de arquitetura por meio de revistas
especializadas, salvo a revista A CASA [...] Só o exemplar de nossa assinatura
existia na cidade‖95. Logo, entende-se que no caso de Aracaju a divulgação das
modernidades arquitetônicas tenha se dado, principalmente, por transmissão de
influência entre os profissionais e Altenesch, parece assumir uma posição
determinante neste processo.
Ao se referir à casa Torquato Fontes, Isabella Santos96 sugere a possibilidade
de ―que esta tenha sido a residência pioneira a apresentar os traços de
modernidade‖ que vinham sendo propostas pelas linhas e formas puras da
arquitetura do momento. Torquato Fontes, o seu primeiro proprietário, era sócio e
gerente da firma Fontes Irmãos & Cia97, que possivelmente foi uma das primeiras a
distribuir em Aracaju o cimento Portland nacional98. Fontes também foi agente, para
o estado de Sergipe, da Cia automobilística Chysler 99. A sua associação ao
comércio do cimento e do automóvel, símbolos da modernidade do período, parece
justificar a sua escolha por uma arquitetura de aspecto igualmente moderno para a
cidade. Nada seria mais apropriado a um ―importador‖ de novidades materiais do
que uma residência que também revelasse inovação, como parece ser o caso. Esta
casa, como revela Rodomar100, foi construída entre 1937 e 1938. A residência Flávio
Prado também estava em construção em 1937101 e o erguimento da Gervásio Prata
já estava em curso desde 1936102. Não fica claro qual delas ficou pronta primeiro,
mas as três representam juntas — e assim poderiam ser consideradas — um vetor
de pioneirismo para o casario de Aracaju e de propagação das novas estéticas e
utilização do cimento/concreto armado na construção civil.

95
PORTO, 2003, p. 54
96
SANTOS, 2011, p. 129
97
REGISTRO Social: Aniversários. Sergipe Jornal, Aracaju, 05 set. 1938, ano XIX, n. 9057, p. 4.
98
CIMENTO Nacional. O Estado de Sergipe, Aracaju, 04 fev. 1936, ano IV, n. 833, p. 3.
99
TORQUATO Fontes. Folha da Manhã, Aracaju, 22 ago.1939, ano II, n. 455, p. 1.
100
RODOMAR. 2002.
101
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju,
4 mar. 1937, ano XIX, n. 6706, p. 426.
102
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe. Aracaju,
15 maio 1936, ano XVIII, n. 6476, p. 688.
169

É possível que também a este conjunto de casa se refira Fortes103 quando ele
afirma que Altenesch introduziu ―a casa com espaços laterais com piso baixo‖, e
também a difusão do uso do ―cimento armado‖, já que depois dele os demais
construtores teriam aceitado o uso do novo material e este teria passado ―a ser regra
nas construções aracajuanas‖. Sobre o aspecto tipológico, a pesquisa conduz a uma
compreensão de que antes de Altenesch já estavam implantadas na cidade casas
burguesas sem porão, mais aproximadas do nível do logradouro, conforme indicado
Porto104. Com relação a esses ―espaços laterais‖, se Fortes se refere aos recuos em
relação aos limites do lote, sua afirmativa é igualmente refutável porque esta prática
já estava igualmente presente em algumas construções residenciais dos anos 1920,
como afirma igualmente Porto105, ou seja, antecede a chegada do alemão na cidade.
No entanto, se esses ―espaços laterais‖ se referem às varandas que envolvem a
casa enquanto elemento integrador entre os espaços internos e entre estes e os
externos, é possível que Altenesch tenha sido de fato um introdutor.
Quanto à difusão da tecnologia construtiva do cimento/concreto armado,
também não é improvável que Altenesch seja uma figura central. Refere-se aqui,
particularmente, às obras residenciais, já que a discussão concernente às obras de
caráter público se amplia quando são consideradas as presenças de outros agentes
que se evidenciaram na cidade naquele momento enquanto difusores de inovações
construtivas, como as firmas Emilio Odebrecht & Cia e Christiani & Nielsen,
conforme visto na seção anterior sobre a trajetória do alemão em Aracaju. Voltando
ao suposto pioneirismo no emprego de modernidades nas residências de Altenesch:
a presença de elementos arquitetônicos que denunciam a vinculação ao uso do
cimento armado já havia sido anunciada nos bungalows da Rua Vila Nova,
particularmente naquele de número 508 e sua marquise aerodinâmica em balanço.
As três residências analisadas nesta subseção — em cujas plásticas e estruturas
expõem o uso mais potente desta tecnologia construtiva — podem ter se constituído,
portanto, como instrumentos de afirmação da adesão do alemão às modernidades
técnicas e estéticas do momento em suas plenas potencialidades possíveis às
circunstâncias locais.

103
FORTES, loc. cit.
104
PORTO, 2003, p. 23.
105
PORTO, loc. cit.
170

Waldefrankly Santos106, em seu trabalho, transcreve tabela (tabela 01)


publicada pelo Departamento de Estatística Geral de Publicidade do Estado de
Sergipe referente à condição dos prédios de Aracaju para o ano de 1937. Nesta
tabela é possível compreender algo acerca das construções em Aracaju, bem como
das relações que se estabelecem entre as proposições modernizantes no âmbito da
técnica e da estética dos edifícios. Estes dados podem auxiliar a entender o grau de
permeabilidade, nas práticas construtivas da cidade naquela década, dos vetores de
inovação que supostamente estariam vinculados à atuação de Altenesch.

Tabela 01 – Relação de edificações existentes em Aracaju no ano de 1937.


DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICA GERAL E PUBLICIDADE
Estado de Sergipe
MUNICÍPIO DE ARACAJU – ANO 1937

PRÉDIOS
PRÉDIOS SITUAÇÃO POR ZONAS Informação de Bráulio Costa
Quanto ao número de pavimentos Urbana Suburbana Rural Total Sujeito ao Isento de imposto
imposto

Terreos.................................................... 4700 5340 580 10620 7370 3250


Assobradados......................................... 580 250 - 830 800 30
De um andar........................................... 112 72 - 184 170 14
De mais de um andar.............................. 90 6 - 96 89 7

Quanto á construção

De alvenaria (pedra e cal)....................... 282 44 3 329 294 35


De tijolos................................................. 3240 2030 62 5332 4720 612
De adobos............................................... 910 750 41 1701 1318 383
De cimento armado............................... 146 4 - 150 80 70
De taipa................................................... 904 2840 474 4218 2017 2201

Quanto à apresentação

Modernos em geral............................... 2192 2340 30 4562 3632 930


Em estilo “bungalow”........................... 620 90 10 720 720 -
Em estilo “colonial”.............................. 985 140 18 1143 1143 -
Antigos.................................................... 1290 1936 360 3566 2420 1146
Casebres................................................. 395 1152 156 1702 514 1188
Barracões................................................ 10 10 17 37 - 37

Quanto à utilização

Habitados pelos proprietários................. 1790 2688 220 4696 1447 3251


Habitados por inquilinos.......................... 3168 2315 340 5823 5823 -
Ocupados por est. Públicos.................... 28 25 - 53 13 40
Ocupados por est. Comerciais................ 395 570 12 977 977 -
Ocupados por estab. Agrícolas............... 12 7 - 19 9 10
Ocupados por estab. Industriaes............ 22 18 3 43 43 -
Ocupados por pequenas oficinas........... 67 45 5 117 117 -
Fonte: SERGIPE/DEGP (Diário Oficial, Aracaju, 25 set. 1938, ano XX, n. 7407, p. 2751 apud
SANTOS, 2002, p. 47-48).

Nesta tabela é possível perceber que até o ano de 1937, considerando-se o


montante de 11730 edifícios, apenas 1,28% destes fora construído em cimento

106
SANTOS, 2002, p. 47-48.
171

armado107. Dos edifícios, tem-se que aproximadamente 39% foram compreendidos


como ―modernos em geral‖, 6% como ―estilo bungalow‖ e 10% como ―estilo colonial‖.
É provável que os termos utilizados para categorizar os ―estilos‖ estivessem em
consonância com o uso dos mesmos termos nas publicações das revistas
especializadas, já que Fernando Porto, que era chefe da seção Técnica da
Prefeitura à época108, era assinante da revista ―A Casa‖, como relatado
anteriormente, e por isso, deveria estar a par destas discussões e usos de termos.
Esta hipótese se lastreia no fato de que as expressões utilizadas para esta tabela
são equivalentes às utilizadas à época para classificar as expressões plásticas
possíveis no momento.
De todo modo, o interessante a se observar nestes dados, como indica
Waldefrankly Santos109, é a incompatibilidade entre os números das construções
compreendidas como ―modernas em geral‖ e aquelas em ―cimento armado‖. Daí
pode-se concluir que a aderência ao nível plástico teria sido um processo muito mais
acelerado do que a adesão às novas tecnologias construtivas. Deve-se considerar,
também, que estes dados incluem não só residências, mas edificações públicas,
institucionais e comerciais, e que muito provavelmente a maior parte dos edifícios
em ―cimento armado‖ estariam contabilizados dentro desta categoria. Logo, levando-
se em conta o período de 1933, quando Altenesch provavelmente chegou em
Aracaju, até este ano de 1937, ano a que o levantamento se refere, têm-se que a
influência de Altenesch, tendo sido de fato efetiva como parece, estaria mais
vinculada às questões tipológicas e plástica. O número considerável de obras nestas

107
Nas buscas nos jornais locais da época foi possível perceber que a partir da segunda metade dos
anos 1930 se iniciou a divulgação do cimento em Aracaju, principalmente com publicidades
referentes ao cimento nacional. Este setor da indústria brasileira, que em 1926 havia produzido
13.382 toneladas, em 1934 teria chegado em 310.480 toneladas. Desta forma, o mercado foi
progressivamente substituindo o material importado pelo nacional. Destaca-se nos jornais sergipanos
da época a divulgação do produto da Companhia Paraíba de Cimento Portland S/A, de João Pessoa,
que havia sido utilizada em obras públicas, como a construção da Biblioteca Pública e da ponte sobre
o rio Poxim, ambas em Aracaju e conduzidas pela firma Emilio Odebrecht & Cia. O cimento paulista
da marca Perús também recebeu divulgação em Aracaju. Podem ser citadas, como distribuidores do
material na capital sergipana as firmas: H. Dantas, Manoel M. de Almeida, Dantas & Vieira, bem como
Hansen, D‘Angelo & Cia e Fontes Irmãos & Cia, esta última gerenciada por Torquato Fontes,
conforme indicado anteriormente. Cf. INFORMAÇÕES estatísticas e economicas. A República,
Aracaju, 25 abr. 1935, ano IV, n. 1014, p. 4; CIMENTO Nacional, loc. cit.; O CIMENTO Portland
Paraiba, em nosso estado. O Estado de Sergipe, Aracaju, 4 jul. 1936, ano IV, n. 950, p. 4; A
INDUSTRIA Brasileira de cimento. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 jul. 1937, ano V, n. 1256. p. 1;
CIMENTO. O Estado de Sergipe, Aracaju, 28 ago. 1937, ano V, n. 1281, p. 2; CIMENTO Perús.
Sergipe-Jornal, Aracaju, 4 de jun. 1938, ano XVIII, n. 8986, p. 3; CIMENTO Perús. Sergipe-Jornal,
Aracaju, 22 jul. 1938, ano XVIII, n. 9021, p. 4.
108
REGISTRO: Aniversários. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1206, p. 4.
109
SANTOS, 2002, loc. cit.
172

linguagens novas — ―modernas em geral‖, bungalows e coloniais —: um total de


55% aproximados frente aos demais referentes às construções de ―apresentação‖
―antigos‖, ―casebres‖ e ―barracões‖, sugere uma renovação na cidade.
A não localização em Aracaju de outras obras residenciais para o mesmo
período que viesse a portar características equivalentes referentes a estes aspectos
de modernidade parece ser condutora à interpretação do pioneirismo do alemão. No
entanto, a quase total inexistência de documentação referente aos projetos
arquitetônicos residenciais para a década de 1930 nos arquivos de Aracaju
impossibilita qualquer tentativa de traçar a dimensão da influência do alemão neste
âmbito da arquitetura civil, tanto a nível estético quanto com relação à adesão à
técnica do cimento e concreto armado para a construção residencial.

Figura 96 – Residência Pedrinho da Balsa em


Penedo, Alagoas.

Fonte: Acervo de Ana Carolina Bierrenbach [201-?];


Publicação autorizada por escrito pela autora da
imagem.

Se é difícil precisar, devido a escassez de fontes, o grau de influência do


construtor alemão na difusão destas modernidades arquitetônicas vinculadas às
formas mais puras e racionalizadas na Aracaju dos anos 1930, é possível identificar
a permeabilidade da sua influência para além dos limites do território sergipano, ao
menos para um caso. Como indicou o Sr. Murillo Melins em entrevista para esta
pesquisa110, o Sr. Pedrinho da Balsa, empresário no ramo do transporte hidroviário e
que fazia a travessia entre os municípios de Penedo (Alagoas) e Vila Nova (atual

110
Entrevista realizada com Sr. Murillo Melins em 26 de julho de 2017.
173

município de Neópolis, em Sergipe) chegou a Aracaju acompanhado de um


engenheiro, de forma a que registrasse a casa Flávio Prado e a replicasse em sua
nova residência naquela cidade alagoana. A casa foi de fato construída à Avenida
Getúlio Vargas (figura 96), a partir de uma reprodução aproximada do volume frontal
— com suas lajes geometrizadas e pilares estilizados — e do partido assimétrico.
Esta região onde a casa foi erguida, como indica Silva 111, o bairro Santa Luzia, fez
parte do programa de modernização daquela cidade alagoana na primeira metade
do século XX e foi ocupada, principalmente, por casas de famílias abastadas, com
exemplares dos neocoloniais, racionalismos e outras modernidades próprias da
época.

Figura 97 – Casario à Praça Camerino, Centro.

Fonte: Óticas Santana [195-?].

Semelhante foi a condição da implantação das três casas de Altenesch aqui


analisadas. Estas residências, assim como os bungalows da Vila Nova, compuseram
o processo de ocupação ao sul do núcleo central originário da cidade. Esta parte da
cidade, que compreende principalmente as imediações da Praça Camerino, no
Centro, até a antiga Avenida 24 de Outubro (atual Avenida Augusto Maynard),
esteve vocacionada no período, e assim se consolidou por algum tempo ao longo
das décadas, a receber as residências da classe média e alta aracajuana.
Juntamente aos bungalows, estas casas, delinearam uma região de aspecto

111
SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura moderna: a atitude alagoana. Maceió: SERGASA, 1991,
p. 177.
174

suburbano de caráter aburguesado (figuras 97 e 98), como pôde ser visto na


subseção anterior.

Figura 98 – Casario no primeiro trecho da Avenida Barão de


Maruim, São José.

Fonte: Autoria não identificada [194-?]; Localizada no acervo da


Biblioteca Virtual do IBGE.

3.3 A RESIDÊNCIA CARVALHO NETO E AS EXPERIMENTAÇÕES DA


PLASTICIDADE ORNAMENTAL

Em 1934, o ano em que os bungalows de Erich Apenburg foram inaugurados


na Rua Vila Nova, Altenesch esteve envolvido em uma reforma residencial que
introduziu em Aracaju uma expressão estética supostamente inovadora para a
cidade. Assim como seus bungalows, que ao que tudo indica popularizaram a
tipologia na cidade, esta reforma teria sido o início de outra face do processo de
renovação no casario aracajuano a ele atribuído, mas desta vez referente ao âmbito
estético. Trata-se aqui da reforma realizada na casa do advogado Carvalho Neto, já
inexistente, que estava localizada em uma das esquinas da Rua Pacatuba com
Estância, no bairro Centro. Segundo Porto, o alemão reformou a fachada,
originalmente eclética, para uma expressão que o autor compreende como ―um
pesado colonial, não o colonial brasileiro, mas o colonial hispano-americano‖112,
onde seria possível identificar a presença de elementos do estilo Missões.

112
PORTO, 2003, p. 49.
175

Em um processo de difusão que Porto entende como ―brusco‖ e ―explosivo‖ 113,


esta intervenção teria cativado parte da população da cidade e diversas outras
residências teriam sido construídas ou reformadas tendo em vista a adoção desta
novidade. Como afirma o autor, havia um anseio por mudanças, por coisas novas,
provocado pela euforia vivida após a Revolução de Outubro de 1930, para o qual as
proposições de Altenesch serviam como uma luva. Porto fala mesmo de uma
transformação ―alteneschiana‖ e de um suposto ―estilo alteneschiano‖, referindo-se a
este conjunto de obras aproximadas pela linguagem estética e que teriam como
ponto de partida referencial a casa de Carvalho Neto.
O autor deixa a entender que Altenesch não teria seguido uma cartilha fechada
de um neocolonial pré-definido, mas que a experiência da casa do advogado tornou
possível um conjunto de criações e experimentações muito pessoais. Estas
experiências arquitetônicas, tanto ornamentais e volumétricas, teriam alguma
relação com os supostos neocoloniais hispânicos difundidos à época, como o
Missões, mas seriam transcendentes às normativas estilísticas importadas, e
estariam atreladas muito mais à criatividade do alemão, casada à vontade de
novidade dos seus clientes. Atribuindo valor a este conjunto de obras, Porto entende
que não foi positivo, tanto pelas próprias intervenções do alemão, que ele considera
de gosto ruim, mas principalmente pelo impacto que Altenesch promoveu na obra de
outros profissionais a partir do sucesso obtido. De acordo com Porto, as cópias
realizadas por outros agentes da construção e pela própria população do suposto
―alteneschiano‖ teriam sido reveladoras de uma má influência pedagógica do alemão
na cidade114. Sobre esta questão, e deixando clara a sua visão pessoal, Porto diz:

Percebeu que ainda éramos ‗tupiniquins‘, sensíveis a espelhinhos,


miçangas, badulaques e panos coloridos, e encheu Aracaju das
coisas mais estranhas, exóticas e chocantes, em nome de um
pseudoneocolonial. Fachadas que chocavam ao ser reveladas e aos
poucos tornavam-se repelentes. Tivemos oportunidade de
comentar o fato com Altenesch ele nos expôs o seu dilema:
fachadas simples, equilibradas, honestas não agradavam o
cliente; ele exigia desenhos estapafúrdios, fachadas diferentes
de todas as demais, ou levaria a encomenda para outro (grifo
nosso). O pior, contudo, ocorreu quando ele foi copiado. Telhinhas
engastadas nas paredes eram exigidas dos desenhistas e por isso
foram aplicadas nos pontos mais extravagantes. Por nossas mãos,
como engenheiro da Prefeitura, passavam fachadas

113
PORTO, 2003, 54.
114
Ibid., loc. cit.
176

verdadeiramente teratológicas, que a legislação vigente não nos


permitia censurar. Procurávamos alertar, orientar os requerentes,
mas, na quase totalidade das vezes, éramos vítima de um ferino
olhar de censura, por nos atrever a criticar algo que o famoso
‗conselho de família‘ achara ser uma das maravilhas do mundo.115

Para além da questão da valoração da obra, o interessante a observar na fala


de Porto são as indicações deixadas sobre a relação entre a elaboração criativa de
Altenesch e as demandas dos seus clientes por novidade. Esta questão parece
sugerir, como dito anteriormente, uma obra de certa forma sui generis dentro do
quadro das múltiplas experimentações estéticas possíveis naquele período.
Apenas duas destas obras foram identificadas como tendo sido de fato de
Altenesch: a residência de Carvalho Neto e a residência do Coronel
Guilhermino Rezende. Porto indica a presença de outras obras de Altenesch e
algumas daquelas resultantes de sua influência, registradas em página da
supracitada revista comemorativa do governo de Eronides Carvalho, de 1937 116, que
ele utilizou para ilustrar seu livro117, mas não especifica quais teriam sido
propriamente criações do alemão.
No Almanack de Sergipe para 1935 foi possível encontrar a confirmação de
que a reforma da casa Carvalho Neto era de fato de Altenesch, já que sua
fotografia lá está ilustrando texto referente à obra do alemão118. No mesmo texto foi
encontrada a fotografia da residência Guilhermino Rezende, que apesar da baixa
qualidade da imagem e a impossibilidade de identificação clara dos elementos
ornamentais, indica a associação, por sua volumetria, às experimentações estéticas
tratadas nesta subseção. Assim, esta parte do texto se dispõe a, a partir destes
dados, investigar esta expressão arquitetônica do alemão. A casa de Carvallho Neto,
analisada em sua composição externa, oferece subsídios, para que, comparando-a
com as fotografias das outras residências, seja possível entender o repertório
plástico utilizado por Altenesch, e seus influenciados, na configuração desta
linguagem.
A análise se restringe ao aspecto externo da residência Carvalho Neto já que
os únicos documentos encontrados a retratar o edifício foram os iconográficos. A
sua inexistência igualmente impossibilitou qualquer tentativa de levantamento

115
PORTO, 2003, p. 49 et seq.
116
SERGIPE (revista), [1937].
117
PORTO, op. cit., p. 51.
118
ARACAJÚ Progride, 1935, p. 214. Cf. Anexo E.
177

cadastral. Com relação à residência Guilhermino Rezende, as informações são


ainda mais frágeis; concentradas na única foto localizada na supracitada matéria do
Almanak de Sergipe. Por este motivo mesmo, apesar de provavelmente estar
associada à mesma atitude plástica adotada na Carvalho Neto, a sua análise neste
texto assume um lugar complementar. Após estas análises, é dado seguimento à
identificação desta expressão em outras edificações e uma reflexão sobre a relação
deste conjunto com as experiências estéticas disponíveis à época, particularmente
aquelas compreendidas como neocoloniais, a nível nacional e local.
Em fotografia do primeiro trecho da Rua Estância, publicada no ―Album
Photographico de Aracaju‖119, de 1931, é possível vislumbrar algo da condição
original da residência Carvalho Neto, antes da intervenção de Altenesch (figura
99). A casa, que segundo Porto possuía porão alto120, parecia estar completamente
afastadas dos limites dos lotes. Pelo que é possível perceber, a edificação tinha uma
compleição volumétrica simplificada, com uma caixa compondo o primeiro pavimento
sobre o porão alto, e um segundo pavimento restrito a uma área pequena,
possivelmente referente a um cômodo, em um dos cantos da edificação. A estética,
ao que parece, consistia em uma simplificação do ecletismo.

Figura 99 – Residência Carvalho Neto antes da


reforma, vista do primeiro trecho da Rua
Estância.

Fonte: Album Photographico de Aracaju (1931).

119
ALBUM PHOTOGRAPHICO DE ARACAJU. Aracaju: Casa Amador, 1931. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon309877/icon309877.htm> Acesso
em: 5 maio 2018.
120
PORTO, 2003, p. 49.
178

Figura 100 – Residência Carvalho Neto após a reforma.

Fonte: Revista Sergipe [1937]; Edição gráfica elaborada


pelo autor (2018).

Figura 101 – Residência Carvalho Neto.

Fonte: Registro fotográfico feito por Expedito Souza (1975)


localizado em Souza (2012); Publicação autorizada por
escrito pelo autor da imagem.

É possível presumir que Altenesch tenha mantido parte da estrutura inicial da


residência, como indica a permanência do volume do segundo pavimento (figuras
100 e 101). É provável que uma das modificações volumétricas tenha sido o
acréscimo de um volume aos fundos, alinhando aos limites do terreno voltado para a
Rua Estância, provavelmente para acesso à garagem e serviços (figura 103). Outra
modificação que parece ter sido feita foi a abertura de uma varanda chanfrada na
quina da edificação. Brevemente recuada em relação aos volumes da casa, essa
varanda era indicadora do acesso principal e estabelecia uma relação direta do
179

edifício com a esquina. Dando seguimento às linhas indicadas pelo prédio original,
Altenesch manteve a composição assimétrica da residência, trabalhando o princípio
da simetria isoladamente em cada um dos quatros volumes que compuseram a obra
final, a saber: o volume mais alto, alinhado à Rua Pacatuba; aquele volume
chanfrado do acesso principal; o volume recuado, voltado para a Rua Estância, e
aquele último volume dos fundos, também voltado para esta rua e alinhado com os
limites do terreno.
Cada um destes volumes foi ornado a partir de um mesmo princípio estético,
no entanto, os elementos utilizados ofereceram a cada uma destas partes da
residência uma composição visual própria que proporcionou unicidade às suas
presenças e determinaram claramente os seus limites. São os elementos
ornamentais mais destacados os beirais de telhas-canal incrustados sobre as
paredes e platibandas e servindo como delimitação das sobrevergas de janelas ou
como marcação horizontal da transição entre pavimentos ou do início do arremate.
Estes beirais eram forrados e sob estes forros, quais elementos de sustentação,
estavam dispostos fingimentos de cachorros, ou consolos, com finalizações
superficiais de saias de arcos — ou meias-luas — preenchidos. Falsos cachorros
apareceram novamente compondo as guarnições de alguns conjuntos de janelas, e
finalizando as meias-colunas com fustes torsos entre as envasaduras, como revela a
fotografia de parte da fachada voltada para a Rua Pacatuba (figura 102). Os
arremates dos volumes foram compostos por agenciamentos diversificados de
frontões curvos, platibandas recortadas em padrões de meias-luas preenchidas,
óculos circulares ou ovais com gradis sobrepostos e escalonamento das platibandas
nas extremidades ou nas arestas dos volumes, arrematadas com chapéus de telhas-
canal.
A cor representou um papel importante na proposição de Altenesch, já que
proporcionou contrastes nas superfícies e, consequentemente, o destaque dos
planos e ornamentos aplicados sobre as fachadas. Esta havia sido um artifício
utilizado pelo alemão em seus bungalows da Rua Vila Nova, conforme visto na
subseção 3.1. A telha-canal enquanto elemento decorativo também já havia sido
utilizada nos bangalows, seja na própria fachada — como a cobertura da bay
window do bungalow de número 508 e no chapéu do pórtico de acesso ao recuo
lateral do bungalow de número 521 — ou no chapéu do pórtico de acesso ao
bungalow de número 513. Este motivo do chapéu sobre os elementos do muro
180

foram aplicados por Altenesch também na casa de Carvalho Neto, no abrigo de


acesso localizado no chanfro do muro e sobre cada um dos pilares componentes
desta estrutura. Outra característica presente no tratamento das fachadas daqueles
bungalows e que se repetiu nesta casa foi o prolongamento que Altenesch dava a
algumas fachadas. Ele lançou mão deste artifício na fachada do volume alinhado
aos limites do terreno (figura 103) e também na fachada voltada para a Rua
Pacatuba, indicando uma vedação parcial do recuo lateral ali presente (figura 100).

Figura 102 – Parte da


fachada da residência Figura 103 – Acesso da
Carvalho Neto vista da residência Carvalho Neto
Rua Pacatuba. pela Rua Estância.

Fonte: Registro Fonte: Porto (2003, p. 52).


fotográfico feito por
Expedito Souza (1984)
localizado em Souza
(2012); Publicação
autorizada por escrito
pelo autor da imagem.

Esta obra, ainda que tenha sido um marco nas intervenções de Altenesch na
cidade pelo processo de renovação que ela desencadeou, como sugere Porto121,
não poderia ser considerada uma obra por completo inovadora. Como afirmado, se
tratou de uma obra de reforma, levada a cabo a partir de uma edificação pré-
existente de características ecléticas, como a presença de um alto porão na base do
edifício. Este edifício originalmente tinha sua compleição volumétrica e sua
implantação associáveis a uma arquitetura residencial burguesa própria da virada do

121
PORTO, 2003, p. 54.
181

século XIX para o XX e das primeiras décadas daquele novo século. Naquele
período, as residências mais abastadas começavam a se afastar dos limites dos
terrenos, mas ainda apresentam posturas conservadoras, como o porão alto e a
rigidez volumétrica, conforme indica Reis Filho122. Altenesch, em seus projetos para
construção, como pode ser visto no estudo das subseções 3.1 e 3.2, aproximou o
nível da edificação ao nível do passeio, desconsiderando o artifício do porão. Em
seu lugar utilizou do precedente do embasamento/plinto de altura variável, que
elevava a casa a alguns poucos degraus de altura. Este partido do alemão revelou a
aderência a posturas que foram incorporadas nas residências brasileiras construídas
no período Entreguerras. Assim, entende-se que esta residência não poderia ser
compreendida como uma exemplificação mais apropriada do perfil inovador do
alemão. Contudo, não seria de todo inadequado tratar o jogo volumétrico por ele
proposto para esta casa como uma atitude modernizante, já que propôs um
rompimento da rigidez da arquitetura originária que a vinculava ao passado.

Figura 104 – Residência Coronel Guilhermino


Rezende.

Fonte: Almanack de Sergipe (1935, ano 9, n. 5, p.


213).

A residência do Coronel Guilhermino Rezende (figura 104), que estaria


localizada à Rua Maruim123, certamente poderia ser vinculada à expressão que
Porto chamou de ―alteneschiana‖124. Essa associação se daria não tanto pelo padrão

122
REIS FILHO, 2011, p. 56.
123
Informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins em entrevista realizada em 17 de julho de 2017.
124
PORTO, loc. cit.
182

ornamental, já que não é legível na fotografia, mas por sua fachada recortada, tanto
no arremate quanto nas envasaduras. Esta residência, assim como a de Carvalho
Neto, guardava vinculações com as composições tradicionais da residência urbana.
Neste caso, não só a provável presença do porão, mais baixo que na Carvalho Neto,
pela aparente existência de óculos nos níveis mais baixos da fachada, mas também
a implantação alinhada aos limites frontais do terreno. Talvez tenha se tratado de
mais um caso de reforma, mas também pode indicar resquícios de vinculação de
Altenesch aos moldes mais conservadores de composição do espaço arquitetônico e
locação deste no sítio. O fato é que esta residência também apresentava a mesma
ideia de uma fachada contínua, como nos bungalows e na casa Carvalho Neto, com
o prolongamento da fachada do volume principal até os o final do limite lateral. É
possível perceber a indicação nesta fachada de um acesso para automóveis e outro
para pedestre. Também se percebe uma grande abertura suspensa que deveria ser
referente à área da varanda lateral de onde certamente poder-se-ia ter acesso aos
cômodos sociais da residência125 e por fim, o trio de janelas da caixa da residência
propriamente dita.
Existem pistas que possibilitam facear outras residências, e, comparando-as
com estas duas de que se há clareza sobre a autoria de Altenesch, incluí-las num
grupo de obras que provavelmente seriam dele, ou ao menos que teriam sido muito
influenciadas por sua presença. A supracitada montagem de fotografias
representando o novo casario de Aracaju, publicada na revista comemorativa do
Governo de Eronides de Carvalho126, traz um conjunto de residências, entre as quais
estariam obras de Altenesch e outras resultantes de sua influência direta, conforme
indicado por Porto127. Aqui são analisadas algumas destas imagens, na busca por
identificar os elementos de conexão entre estes objetos arquitetônicos e aquelas que
se tem a confirmação acerca da autoria de Altenesch, com o intuito de compreender
de forma mais aproximada a expressividade plástica deste conjunto.
Um dos casos mais interessantes é da casa — ainda existente, apesar de
muito modificada — em uma das esquinas da Rua Itabaiana com Senador
Rollemberg, no bairro São José, que teria sido propriedade do Sr. José Domingues

125
REIS FILHO, 2011, p. 46.
126
SERGIPE (Revista), [1937].
127
PORTO, 2003, p. 51.
183

Fontes128 (figura 105). Esta residência apresenta a aplicação de um beiral sobre a


platibanda muito similar aquele aplicado na Carvalho Neto. A curta projeção da telha
colonial foi igualmente forrada por baixo, anteparada por uma fileira de consolos ou
fingimentos de cachorros, além da demarcação superficial muito semelhante em
arcos preenchidos. Este elemento se repetiu na sobreverga das portas do pavimento
térreo, quais indicativos do acesso principal. No arremate da platibanda foi utilizado
um padrão de meias-luas preenchidas que remetem àqueles presentes nas
platibandas posteriores dos bungalows 498 e 508, e que se repete em suas muretas.
No entanto, nesta residência na Rua Itabaiana, este acabamento assumiu toda a
platibanda e foi disposto de forma hierarquizada. A presença das esquadrias com
caixilharia treliçada também é um ponto em comum com os bungalows da Rua Vila
Nova. Outro elemento que aproxima esta residência de algumas das obras
conhecidas de Altenesch é o padrão da continuidade de planos de fachada para
além da caixa do edifício: este solução se faz presente nas duas fachadas alinhadas
com os limites do terreno a partir de paredes curvas com arestas de acabamento
denteado boleado.
Figura 106 – Residência (inexistente)
Figura 105 – Residência (atualmente em esquina da Praça Camerino
descaracterizada) em uma das esquinas da Rua (continuação da Rua Pacatuba) com a
Itabaiana com a Rua Senador Rollemberg, São José. Avenida Barão de Maruim.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Outra casa que vale destacar é aquela que estava localizada na esquina da
Avenida Barão de Maruim com a Praça Camerino, na continuidade da Rua Pacatuba
(figura 106). Esta apresentava cobertura em telhado aparente de quatro águas,

128
Informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho de 2017.
184

sobre beiral forrado, possivelmente lajeado. Imediatamente abaixo da caixa do beiral


foi aplicado um rodateto de padrão similar à ornamentação em arcos preenchidos
presentes sob os beirais engastados nas platibandas da casa Carvalho Neto (figura
100) e da casa da Rua Itabaiana (figura 105), contudo, nesta casa da Camerino os
arcos alternavam-se com pequenas formas lanceoladas. Esta faixa ornamental
também se repetiu na finalização das paredes do pavimento térreo. Um padrão
parecido aconteceu na Vila Cabral129 (figura 107), contudo nesta o rodateto foi
unicamente composto por uma sequência de arcos preenchidos. Ambas as
residências guardavam semelhanças com a proposta da varanda de acesso da casa
Carvalho Neto, demarcadas por beirais de telhas-canal e sobre as quais se situavam
outras áreas abertas da residência: mais uma varanda, no caso da casa à Praça
Camerino e terraços, para a casa Carvalho Neto e a Vila Cabral. Partido similar
estava repetido em residência que se localizava no primeiro trecho da Avenida
Barão de Maruim (figura 108): acesso por varanda no pavimento terreno, demarcada
por beiral em telhas-canal, sobre a qual se situava uma varanda para o pavimento
superior. Nesta se repetiu o padrão ornamental do rodateto da residência à Praça
Camerino (figura 106), composto por arcos preenchidos alternados por formas
lanceoladas, mas em dimensões diferentes.

Figura 107 – Vila Cabral (inexistente), à Avenida Coelho


e Campos.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

129
De acordo com informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho
de 2017, a Vila Cabral estava localizada em equina da Avenida Coelho e Campos com a Rua Apulcro
Mota.
185

Esta residência localizada no primeiro trecho da Avenida Barão de Maruim


(figuras 108) apresentava um trabalho de cobertura mais complexo que as duas
outras casas indicadas, ao menos na fachada frontal: telhados de planos diferentes,
relacionados diretamente com os volumes aos quais estavam sobrepostos, e uma
platibanda arrematada por telhas-canal remetendo a um frontão estilizado e
ampliado, possivelmente de inspiração barroca. Outro ponto de diferença desta
residência eram as suas envasaduras, principalmente aquelas presentes no volume
cilíndrico do torreão central: apresentavam uma velocidade que não estava presente
em nenhuma outra obra residencial até aqui analisada, mas que estabelece uma
conexão muito aproximada com o padrão acelerado da sequencia de envasaduras
que foi utilizado na sede da Associação Atlética, como é indicado na seção 4 deste
trabalho. Da mesma forma, os frisos, de cor clara, que demarcavam as vergas e os
peitoris destas janelas, foram dispostos de forma semelhante não só aos frisos
presentes nas janelas daquele clube, mas também nas janelas do Corpo de
Bombeiros e do Palácio Serigy, também indicadas na próxima seção referente à
obra institucional de Altenesch.

Figura 108 – Residência (inexistente) no primeiro trecho


da Avenida Barão de Maruim, São José.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Estas residências também se conectam a algumas das obras conhecidas de


Altenesch pelo uso de cores contrastantes que auxiliam no destaque dos motivos
ornamentais e na leitura dos elementos compositivos da fachada. Outro ponto de
semelhança — e este se refere a estas três ultimas casas analisadas (figuras 106,
186

107 e 108) e aos bungalows da Rua Vila Nova, particularmente o de número 513 —
é o padrão geométricos das muretas, com predominância de formas circulares e
arqueadas, e a presença de barras cilíndricas de ferro como estrutura compositiva.
Estas barras se repetem, inclusive, na constituição dos guarda-corpos das varandas
e terraço daquelas últimas três residências.
Outras residências aparecem na montagem da revista comemorativa do
Governo de Eronides de Carvalho130 que poderiam ser associadas a estas
experimentações ornamentais vinculadas ao alemão (figuras 109 a 117). Na mesma
publicação, mas em uma seção referente à Atalaia Velha, aparece uma fotografia
(figura 118) de parte do então novo casario ali presente e que revela uma casa, no
primeiro plano, com características aproximadas à suposta obra ―alteneschiana‖,
como a platibanda com meias-luas preenchidas, o escalonamento arrematado por
telhas-canal e os beirais da mesma telha incrustados sobre alguns trechos da
platibanda a indicar as varandas de acesso. As residências cujas fotografias
compõem a supracitada montagem, além das que já foram indicadas anteriormente
(figuras 100, 105, 106, 107 e 108), revelam uma variedade de soluções compositivas
a partir de muitos dos elementos aqui já identificados. Poder-se-ia analisá-las uma a
uma, mas por se considerar que esta iniciativa não iria trazer um aprofundamento na
compreensão da questão, elas estão incluídas enquanto ilustração e representação
desta expressão arquitetônica que teria sido provocada pela presença de Altenesch
em Aracaju. Algumas delas, no entanto, apresentam um conjunto de características
que as aproximam muito das últimas residências aqui analisadas, como o bungalow
Raimundo Carvalho (figura 110) e a residência não identificada da figura 111. A
presença dos beirais de telhas-canal como demarcação das platibandas e da
varanda de acesso, as cores contrastantes aplicadas nas superfícies, a
ornamentação baseada em formas de meias-luas ou arcos preenchidos — que
nestes casos também compõem demarcações ornamentais das envasaduras, e a
repetição destes padrões nos muros frontais, com a presença inclusive dos cilindros
de ferro no caso do bungalow de Raimundo Carvalho. Este, de acordo com Murillo
Melins131, teria sido a residência do irmão de Eronides de Carvalho, o interventor do

130
SERGIPE (Revista), [1937].
131
De acordo com informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho
de 2017.
187

Estado. Assim, pela proximidade deste com Altenesch, é possível que o alemão
tenha sido o autor deste projeto.

Figura 109 – Residência não identificada.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 110 – Bungalow Raimundo


Carvalho, na Avenida Barão de Maruim. Figura 111 – Residência não identificada.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 112 – Residência não identificada. Figura 113 – Residência não identificada.

Fonte: Revista Sergipe [1937].


188

Figura 115 – Residência não


Figura 114 – Residência não identificada. identificada.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 116 – Residência não Figura 117 – Residência não


identificada. identificada.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 118 – Casas de veraneio (inexistentes) na Atalaia Velha.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Antes que se possa continuar o estudo destas obras e sua repercussão na


cidade, parece de relevância voltar-se para a questão da arquitetura de viés
189

neocolonial, que supostamente teria ofertado as bases para a expressão chamada


por Porto de ―alteneschiana‖.
De acordo com Lemos, no início da década de 1920 ocorreu em toda a
América um ―despertar‖ nacionalista na proposição de uma nova arquitetura que
―voltou-se aos seus princípios e foi buscar nos primórdios coloniais a inspiração na
materialização de seu desenvolvimento‖132. Nos Estados Unidos, mais precisamente
na região da Califórnia, desenvolveu-se uma linguagem revivalista que tomava de
inspiração a materialidade da arquitetura espanhola dos franciscanos
catequizadores e colonizadores daquela região, e por isso foi chamada de ―Missões‖
(Mission Revival)133. Inspirada naquela arquitetura tradicional de adobe do século
XVIII, estas obras estadunidenses tendiam a apresentar linhas simples e limpas,
pouco ornamentadas, com superfícies de estuque texturizado, detalhamento rústico
e cobertura em telhas cerâmicas vermelhas, inspiradas nas estruturas religiosas
vernáculas. Os projetos mais decorados poderiam contar com uma ênfase na
fachada principal a partir de frontões altos e curvos, arcadas e parapeitos
arqueados, inclinados ou finalizados com volutas em ―S‖, além de ornamentos em
estilo mourisco e pérgolas nas entradas e pátios134. Tal como ocorreu no processo
de difusão da tipologia do bungalow para além do solo estadunidense, como
indicado na subseção 3.1 deste trabalho, o Missões, que inclusive compunha uma
das possibilidades expressivas daquela tipologia, foi amplamente exportado
enquanto símbolo de um american way of live e contou com o cinema hollywoodiano
como um dos principais meios de contágio135.
Esta linguagem encontrou solo fértil nas práticas projetuais brasileiras e teve
nas revistas especializadas em projeto o seu mais eficiente meio de divulgação entre
os profissionais. As nacionais ―Architetura no Brasil‖ e ―A Casa‖ ajudaram nesta
difusão, bem como a argentina ―Mi Casita‖, um almanaque de projetos muito
presente nas mãos dos construtores da época136. Em algumas edições a que se

132
LEMOS, 1985, p. 173.
133
CIGLIANO, 1998, p. 18.
134
Ibid., loc. cit.
135
LEMOS, loc. cit.
136
LUCENA, Emanoel Victor Patrício de; CAVALCANTI FILHO, Ivan. O Estilo Missões na cidade de
João Pessoa. In: Urbicentros 3: morte e vida dos centros urbanos. Anais eletrônicos... Salvador:
Faculdade de Arquitetura - Universidade Federal da Bahia, out. 2012, p. 11. Disponível em:
<http://www.ppgau.ufba.br/urbicentros/2012/ST303.pdf>. Acesso em: out. 2013.
190

teve acesso da revista ―A Casa‖137, principalmente aquelas dos anos 1920, é


possível perceber uma presença marcante de projetos delineados nesta linguagem.
Nesta revista, estas obras e projetos aparecem indicados com alguma variação da
nomenclatura, como ―Missões Hespanholas‖, ―Hispano-Missões‖, mas são
visivelmente provenientes da mesma origem estética, como a obra do arquiteto
Raphael Galvão (figura 119) e os projetos do arquiteto Moacyr Fraga para a Cia
Imobiliária Nacional (figuras 120 e 121), todos para o Rio de Janeiro.

Figura 119 – Casa ―Estylo Missões Hespanholas‖ do


arquiteto Raphael Galvão, no Rio de Janeiro.

Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n. 39, p. 17).

Figura 120 – Projeto de casa ―Hispano- Figura 121 – Projeto de casa ―Hispano-
Missões‖, do arquiteto Moacry Fraga. Missões‖, do arquiteto Moacry Fraga.

Fonte: Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n. 39, Fonte: Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n.
p. 30). 39, p. 31).

137
O acervo da revista ―A Casa‖ a que se pode ter acesso é aquele localizado na Biblioteca Central
do Estado da Bahia, no bairro Barris, em Salvador. A visita e coleta de dados neste acervo foram
realizadas no dia 23 de setembro de 2017.
191

De acordo com Bruand, esta expressão, que ele chama ―missão espanhola‖138,
teria representado um triunfo dos neocoloniais no âmbito da arquitetura residencial.
Contudo, este triunfo auferido pela expressão estadunidense ocorreu em detrimento
da expressão neocolonial genuinamente autóctone, que acabou por ficar quase que
restrita aos edifícios públicos. Esta suposta vitória do neocolonial de origem
estrangeira sobre o nacional no campo das obras residenciais teria se dado porque
o caráter ―gracioso e delicado‖ do Missões parecia se adequar mais ao projeto da
casa do que o neocolonial luso-brasileiro, de perfil ―grave e viril‖139.

Figura 122 – Projeto para casa de José Mariano Filho em Jacarepaguá,


projeto dos engenheiros-arquitetos Cortez & Bruhns.

Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n. 39, p. 21).

A arquitetura neocolonial de origem luso-brasileira, enquanto movimento,


nasceu da busca por uma expressão arquitetônica genuinamente nacional. Esta
busca seguia os fluxos do nacionalismo emergente na América, insuflados
principalmente pelas celebrações dos aniversários de Independência da maioria dos
países latino-americanos. Este movimento, no Brasil, foi intelectualmente elaborado
e teve como principais precursores e entusiastas o engenheiro português Ricardo
Severo, que inaugurou esta discussão com sua conferência de 1914 intitulada a ―A
Arte Tradicional no Brasil‖, e o médico e historiador da arte José Mariano Filho,
responsável pela denominação ―neocolonial‖ ao movimento em questão. Conforme
afirma Segawa, Mariano teve um papel central neste processo, já que ―seu ativismo,

138
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2016, p.
55.
139
SANTOS, 1977, p. 102 apud LUCENA; CAVALCANTI FILHO, 2012, p. 11.
192

a partir de 1919 como ideólogo e incentivador junto aos arquitetos e artistas, abriu
espaço para que uma série de obras públicas de porte fossem executadas com
inspiração na arquitetura tradicional brasileira‖140. Esta arquitetura buscava
inspiração basicamente nas construções sacras e civis feitas no Brasil durante o
período colonial141, e tinha como base a arquitetura portuguesa como principal
referência, em particular o barroco.
O apogeu desse movimento se deu na década de 1920, quando houve um
reconhecimento oficial e a construção, a partir das diretrizes de Mariano,
principalmente, de importantes edifícios públicos. No entanto, já durante, mas
principalmente após aquela década áurea para o movimento, a força contida nos
seus postulados teriam se diluído em elementos ornamentais destituídos da carga
ideológica de seus idealizadores, ―a ponto de serem apropriados, em todo o Brasil,
em edificações tão distintas quanto habitações populares ou postos de gasolina‖142.
Talvez seja apropriado pensar na relação entre o neocolonial importado e o
movimento nacional equivalente em termos mais de uma interação e fusão do que
apenas uma vitória de um em detrimento do outro. De acordo com Lemos, o
Missões, que fez concorrência com o neocolonial luso-brasileiro, também se
mesclou a esse e, conforme palavras do autor, foram ofertadas ―verdadeiras
soluções sincréticas‖143. É possível, inclusive, pensar na ideia de uma conjugação
das duas vertentes, como reflexo de um período de grande liberdade plástica no
âmbito da arquitetura, principalmente nos projetos e obras residenciais144. Esta
liberdade não dizia respeito apenas ao agenciamento de elementos e formas
reconhecidas da arquitetura do período colonial, mas também concernia a um
princípio inventivo que permeou as intervenções arquitetônicas englobadas neste
universo dos revivalismos autóctones. Um exemplo foi uma criação do arquiteto
francês radicado em São Paulo Victor Dubrugras: um padrão de guarda-corpo em
meias-luas vazadas (semelhante às escamas de peixe), que após ser elaborado
para o Largo da Memória em São Paulo, de 1919 — seu primeiro projeto neocolonial
— foi ―copiado, recopiado e repetido milhares de vezes pela cidade e afora,

140
SEGAWA. 2014, p. 35-36.
141
BRUAND. loc. cit.
142
SEGAWA, op. cit., p. 37.
143
LEMOS, 1985, p. 173.
144
SANTOS, 1977, p. 102 apud LUCENA; CAVALCANTI FILHO, loc. cit.
193

tornando-se inclusive uma das ‗marcas registradas‘ do neocolonial‖145. Sobre a


criatividade de Dubugras e a expressão neocolonial por ele forjada e aplicada em
muitos de seus projetos, Lemos fala que:

Em todas essas construções Victor Dubugras teve a oportunidade de


pormenorizar à minúcia detalhes de acabamento, particularizar perfis
de esquadrias, desenhar azulejos padrões e, enfim, criar um
repertório somente seu de elementos de composição que, em
conjunto, permitiam uma vaga ideia de uma arquitetura colonial
originária não se sabia de onde. É verdade: usou azulejos, empregou
telhas de canal muito parecidas com as antigas, projetou largos
beirais, alguns pináculos, e só. Com esses temas tradicionais
acrescidos de outras ricas invenções criou aqueles monumentos que
serviriam de modelo a centenas de milhares de construtores,
arquitetos e donas de casa ávidas por morar em ―casas brasileiras‖
retomando o ―estilo‖ de seus avós de quatrocentos anos.146

Em um período que se caracterizou, portanto, pela permissividade criativa,


como revela o sucesso obtido pela expressão ―tradicional‖ de Dubugras, não é difícil
compreender a possibilidade de difusão de linguagens híbridas de neocoloniais de
origens diferentes, permeadas pela expressão dos seus projetistas e pelo gosto de
seus clientes. Assim, o sincretismo do estilo Missões junto ao neocolonial nacional, a
que se refere Lemos, teve suas bases bem fundamentadas nesta mentalidade do
período. Frontões curvos de inspiração barroca, telhadinhos de barro interceptando
trechos das fachadas, painéis de azulejos, arandelas, luminárias e gradis de ferro
forjado, barras de pedra verdadeiras ou fingimentos, grupos conjugados de duas ou
três janelas geralmente interceptadas por meias-colunas torsas ou salomônicas,
assim como torreões (circulares, quadrangulares ou poligonais), e mesmo falsos
chaminés, poços ou chafarizes147, são elementos que, agenciados das mais
diversas formas, compuseram o quadro de possibilidades para a criação das
residências neocoloniais que permearam as ruas das cidades brasileiras; dos
casarões dos novos bairros suburbanos às versões populares e simplificadas das
moradias populares.
Aracaju também recebeu em sua visualidade a impressão destas referências
que caracterizaram as expressões neocoloniais, como é possível perceber nas
figuras 123 a 128, que revelam algumas residências nas quais se pôde identificar

145
LEMOS, 1985, p. 166
146
Ibid., loc. cit.
147
WOLFF, 2001, p. 228-229 apud LUCENA; CAVALCANTE FILHO, 2012, p. 14-15.
194

maior presença de elementos concernentes a essa linguagem. A residência


Calumbi148 (figura 125), ainda existente, foi a única destas obras sobre a qual foi
possível localizar alguma informação. ―Completamente reformada‖, ela foi posta a
venda em 1940, como revela nota encontrada em jornal149, o que reforça a ideia de
que ainda que os estilos neocoloniais tenham sido inseridos e alcançado o apogeu
nos anos 1920, sua difusão perdurou ao longo das décadas seguintes. O grande
arco pleno demarcando a varanda de acesso, cujo plano é arrematado por curva
fileira de telhas-canal, pelas pedras irregulares e pela voluta, bem como as meias-
colunas torsas (também presentes nas residências indicadas nas figuras 124 e 128)
na janela da extrema direita do pavimento superior, indicam a adesão das
referências coloniais para a reforma levada a cabo. Os torreões laterais (figuras 123
e 126), os frontões curvos de inspiração barroca (figuras 124, 126 e 128) e mesmo
os guarda-corpos em meias-luas vazadas — a supracitada criação de Dubugras que
se tornou ―marca registrada‖ do neocolonial no Brasil — se fazem presentes (figuras
127 e 128); são todos elementos que revelam a difusão destas estéticas e sua
chegada a terras sergipanas.

Figura 123 – Casa (inexistente) na Figura 124 – Residência na Rua Lagarto,


Avenida Ivo do Prado, Centro. Centro.

Fonte: Acervo de Carllos Costa [201-] Fonte: Google Street View (2017).
Disponível em:
<http://sergipeemfotos.blogspot.com.br/
2014/02/antigo-casarao-na-avenida-ivo-do-
prado_25.html> Acesso em: 20 jul. 2018.

148
SCHUSTER, 2000.
149
OTIMA casa. Folha da Manhã, Aracaju, 24 nov. 1940, ano II, n. 824, p. 2.
195

Figura 125 – Residência Calumbi, na Avenida Figura 126 – Residência na


Ivo do Prado, Centro. Rua Lagarto, Centro.

Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada Fonte: Acervo de Bianca


por escrito pelo autor da imagem. Teixeira (2018); Publicação
autorizada por escrito pela
autora da imagem.

Figura 127 – Residência na


Avenida Barão de Maruim, Figura 128 – Residência (inexistente) na Avenida
Centro. Ivo do Prado.

Fonte: Registro fotográfico feito Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Localizada
pelo autor (2013). no acervo do APMA.

Não é claro o quão contemporâneas estas obras são das obras conhecidas, ou
mesmo das atribuídas a Altenesch. A configuração ―colonial‖ da residência Calumbi,
como visto, é posterior, por ter sido finalizada após a sua morte. Apenas para a
residência na Avenida Barão de Maruim (figura 127), que há poucos anos sediava a
Fundação Augusto Franco, e que se encontra em franco processo de
descaracterização, é possível perceber que já estava erguida à época da publicação
da revista comemorativa do governo de Eronides Carvalho, já que parte de sua
196

lateral aparece na fotografia da residência localizada na esquina da Praça Camerino


com aquela avenida (figura 106).
É interessante observar que Porto, ao refletir sobre a arquitetura residencial
dos anos 1930 em Aracaju não faz referência a essas expressões neocoloniais.
Segundo ele os projetistas se alternavam entre os supostos Art Déco e o
―alteneschiano‖150, que ele compreendia como uma estética ―pseudoneocolonial‖151.
De acordo com o autor, um neocolonial brasileiro ―que floresceu no sul do país, nos
princípios dos anos 1920‖, certamente referenciando-se ao movimento que ocorreu
inicialmente no sudeste com Severo e Marianno Filho, como indicado anteriormente,
não teria aparecido em Aracaju. Assim, ao que parece, Porto desconsidera a
existência destas obras aqui indicadas (figuras 123 a 128) como possíveis
portadores de traços do neocolonial luso-brasileiro. Ele tampouco faz referências à
presença de obras de expressão Missões na cidade. Chega a associar a casa de
Carvalho Neto àquela expressão, mas que seria em verdade fruto da inventividade
de Altenesch a partir de elementos herdados daquela estética hispano-
estadunidense.
Segundo Porto, antes de Altenesch, o neocolonial teria sim aparecido em
Aracaju, mas em uma versão ―simplificada‖, tomando de empréstimo o termo criado
por Lemos para classificar uma expressão arquitetônica residencial tipicamente
paulista baseada em uma plástica e ornamentação de suposta essência colonial,
mas de conformação simplificada152. De acordo com Porto, estas casas, assim como

150
PORTO, 2003, p. 54.
151
Ibid., p. 49.
152
―Por enquanto, por falta de melhor denominação, chamaremos de ‗neocolonial simplificado‘ a esse
estilo ‗paulistano‘, logo espalhado pelas cidades próximas, como Campinas, Santos, Sorocaba, que
teve suas regras de composição arquitetônicas estabelecidas espontaneamente, sem um
responsável direto, constituindo essa ocorrência um verdadeiro ato de criação coletiva. Em poucas
palavras, podemos dar as regras básicas desse estilo: uso de telhas tradicionais, então chamadas de
‗paulistinhas‘ e industrializadas principalmente pela cerâmica fundada por Roberto Simonsen, em São
Caetano, não sendo, porém, vedado o emprego de telhas francesas; manutenção de profundos
beirais, agora quase sempre forrados por baixo com massa de estuque, às vezes com cachorros
fingidos; telhados com certo ‗movimento‘ e nunca de duas águas; paredes externas de tijolo à vista,
mas aceitando nos cunhais fingimentos de pedras angulares, como usava Ramos de Azevedo em
suas ‗casas francesas‘: o emprego de aduelas de granito verdadeiro no caso de existirem arcos de
alpendres e não tinha a mínima importância o fato dessas pedras embebidas na alvenaria de tijolos
estarem desencostadas umas das outras, tudo era puro fingimento mesmo; a previsão de pequenos
balcões no pavimento superior, todos necessariamente guarnecidos de guarda-corpos executados
com ―meias-luas‖ desencontradas, como aqueles semicírculos empregados por Victor Dubugras no
Largo da Memória, em 1919; a aplicação na altura da parede, ao nível da janela, de uma faixa
contínua, espécie de grega, apresentando relevos decorativos executados no cimento modulado, no
alto das paredes, ao nível das vergas das janelas; o uso de jardineiras em balanço abaixo dos peitoris
197

teriam sido os primeiros bungalows construídos em Aracaju — precedentes aos de


Altenesch, conforme tratado na subseção 3.1 —, foram erguidas nos anos 1920 pela
―Companhia Imóveis e Construções‖, do grupo carioca ―Lar Brasileiro‖. Tais
residências, segundo Porto153 teriam sido: a pertencente ao Sr. Gervásio Souza, na
Rua Pacatuba, número 333 (figura 129) e a do Sr. Isaac Udermann, na Rua
Itabaiana, número 1007 (figura 130), ambas existentes, porém bastante
descaracterizadas. Em linguagem parecida, na segunda metade daquela década,
foram construídas outras três casas no primeiro trecho da Rua Estância, já citadas
na seção 3.1 (figura 45) e algumas outras nos dois últimos trechos da Rua Itabaiana
(figuras 131 e 132). Segundo Porto, este conjunto de edificações portava estilo difícil
de ser classificado, mas seguia os moldes das residências que à época estavam
sendo feitas nos novos bairros do Rio de Janeiro154.

Figura 130 – Residência Isaac


Figura 129 – Residência Gervásio Souza, à Rua Udermann, à Rua Itabaiana, número
Pacatuba, número 333, Centro. 1007, São José.

Fonte: Porto (2003, p. 56). Fonte: Porto (2003, p. 53).

Estas residências apresentam características que posteriormente foram


exploradas por Altenesch em seus bungalows da Rua Vila Nova, como a cobertura
com uma água interrompida sobre a empena da fachada frontal e a presença de
pequena janela imediatamente abaixo que tanto se faz presente na maioria destas
casas indicas por Porto (figuras 129, 130 e 131) e que fora utilizada pelo alemão no
bungalow de número 508 (figura 23). A presença dos forros em estuque sob os

para plantio de gerânios, emprego exclusivo de venezianas nos dormitórios, sendo elas facultativas
nas salas de estar diurno; adoção de pequenos e grande vitrais.‖ Cf. LEMOS, 1985, 174-175.
153
PORTO, 2003, p. 47.
154
Ibid., loc. cit.
198

beirais e de bay windows também revelam conexões entre os bungalows de


Altenesch e estas residências que o antecederam na cidade. No entanto, o que
parece, ao serem comparados estes conjuntos de obras é que: enquanto estas
residências construídas nos anos 1920 pareciam estar essencialmente vinculadas a
tendências genéricas que se reproduziam em todo o país e que tinham o sudeste
como ponto de irradiação, a obra de Altenesch, ainda que se apropriasse deste
repertório comum à mentalidade de sua época, parecia indicar uma interpretação e
expressão pessoal para estas demandas estilísticas. Os padrões ornamentais
abstratos, as fusões estilísticas, a inserção de elementos industriais como as barras
cilíndricas de ferro nos guarda-corpos das muretas e a presença de elementos de
uma arquitetura do cimento armado, como a marquise em balanço do bungalow de
número 508, parecem configurar uma obra sui generis.

Figura 131 – Residência à Rua Figura 132 – Residência à Rua Itabaiana,


Itabaiana, número 864, São José. número 852, São José.

Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Localizada no acervo do APMA.

Conforme visto anteriormente, a concepção das estéticas neocoloniais ainda


que tenha se pautado em referências tradicionais autóctones, conformou-se dentro
de uma permissividade plástica, em que a criatividade, a inventividade e a
subjetividade foram forças atuantes, como revelou Lemos ao abordar a obra
neocolonial de Dubugras. Esta parece ser uma interpretação possível também no
que se refere à suposta obra ―alteneschiana‖ de que esta subseção busca se
aproximar e compreender. Diante das características gerais identificadas nas
linguagens neocoloniais — sejam as importadas, como o Missões, ou de origem
199

autóctone, como o neocolonial luso-brasileiro — percebe-se que é possível


identificar uma série de características muito particulares nas supostas obras de
bases neocoloniais de Altenesch, que contribuiriam para fomentar a discussão,
indiretamente lançada por Porto, de que se trataria de uma linguagem pessoal. O
alemão teria sim construído algo, no âmbito residencial, que se pudesse associar a
um Missões mais genuíno, e esta obra foi o bungalow de número 513 na Rua Vila
Nova (figuras 19 e 20). A simplicidade e rusticidade ornamental daquela pequena
casa vinculavam-se de forma muito fácil às características da expressão hispano-
estadunidense em suas origens. No entanto, quando se parte para a residência
Carvalho Neto, conjuntamente à maioria das residências que ilustram o painel da
supracitada revista de 1937155, percebe-se um repertório ornamental — e formal, em
alguns casos —, diferenciado.
Neste conjunto de residências atribuído a Altenesch e aos seus ―seguidores‖,
são identificados elementos das expressões neocoloniais, como colunas torsas,
telhas-canais — tanto nas águas das coberturas, nos beirais engastados sobre as
platibandas e mesmo sobre alguns trechos das platibandas — os elementos
decorativos em ferro forjado etc. Contudo, o padrão ornamental das meias-luas
preenchidas, que se repete em diversas obras, ainda que em escalas e
combinações diferentes (intercalados com dardos ou meias-luas menores), sob os
beirais e em alguns casos emoldurando envasaduras, não foi identificado em
nenhum outro lugar. Esta forma, a meia-lua preenchida, também apareceu em
platibandas e é também verificável em algumas das muretas por ele construídas.
Este padrão talvez possa ser entendido como leitura pessoal e um deslocamento do
motivo proposto por Dubugras das meias-luas vazadas nos guarda-corpos e que se
converteram em uma das ―marcas registradas‖ do neocolonial nacional. Estas
meias-luas preenchidas, quais simplificações geométricas e abstração das
complexas volutas barrocas, ganharam no ―neocolonial alteneschiano‖ as superfícies
das fachadas e suas volumetrias.
Assim como nos bungalows, percebe-se também a presença de barras
cilíndricas de ferro como componentes das muretas e dos guarda-corpos das
varandas; soluções estas também não identificadas nos repertórios coloniais, mas
que parecem indicar, pelo caráter industrial, a inserção de um elemento próprio a

155
SERGIPE (revista), [1937].
200

uma concepção racionalista dentro de um contexto ―colonial‖. Mesmo as soluções


volumétricas sugerem um caminho pessoal, como o revelam tanto a residência
Carvalho Neto como aquelas indicadas nas figuras 105 a 108. Novas formas
parecem surgir da abstração das formas tradicionais do barroco: o frontão
maximizado (figura 108) ou as arcadas ora distorcida (figura 107) ora deslocada
(figura 105). Evidencia-se um princípio expressionista e subjetivo potente nestas
obras, particularmente nas últimas quatro residências (figuras 105 a 108), já que
estavam desprendidas da composição ortodoxa ainda presente na residência
Carvalho Neto, elaborada a partir de casarão eclético. Estas parecem revelar, para
além de uma questão unicamente ornamental, uma preocupação com a dimensão
volumétrica da arquitetura, aspecto igualmente verificável nas residências de formas
e linhas geométricas puras analisadas na subseção 3.2.
Na pesquisa foi possível identificar, ainda resistentes na cidade, ou por
registros iconográficos, a difusão desta linguagem pelas ruas de Aracaju. Como
pode ser verificado nas figuras 133 a 140, que tanto podem indicar obras de
Altenesch, como também resultantes de sua influência, esta expressão recebeu
adesão para o invólucro de residências nas mais diversas configurações e
dimensões: em configurações mais tradicionais, alinhadas ao logradouro (figuras
133, 135, 136 e 140) e em propostas mais atualizadas, como bungalows e outras
tipologias pautadas na relação com os lotes a partir de afastamentos (figuras 137,
138 e 139). O impacto deste vetor expressivo para além dos limites de Aracaju ainda
é um tema por ser investigado, mas a fotografia da ―moderna e confortável‖156
prefeitura de Japaratuba encontrada em edição da Folha da Manhã (figura 141) e o
sobrevivente edifício do ―moderníssimo‖ Hotel Florelisa em Propriá, inaugurado em
1937157 e construído pela construtora Emilio Odebrecht & Cia.158 (figura 142),
parecem ser indícios de uma ampla adesão alcançada pelo repertório
―alteneschiano‖.

156
A MODERNA e confortavel Prefeitura Municipal de Japaratuba... Folha da Manhã, Aracaju, 12
abr. 1938, ano I, n. 64, p. 1.
157
FLORELISA Hotel: Duas heroínas do trabalho. O Estado de Sergipe, Aracaju, 18 ago. 1937, ano
V, n. 1272, p. 4.
158
PROPRIÁ-HOTEL. Sergipe-Jornal, Aracaju, 11 fev. 1936, ano XVI, n. 8274, p. 1.
201

Figura 133 – Residência (inexistente) à Figuras 134 – Residência (inexistente) à Rua


Rua Laranjeiras, que serviu como sede Laranjeiras, que serviu como sede do Colégio
do Colégio Tiradentes. Tiradentes.

Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Fonte: Gazeta de Sergipe (26 de abril, 1982).
Localizada em Mendonça; Silva (2012, Disponível em:
capa). <http://aracajuantigga.blogspot.com.br/2010/06/
colegio-tiradentes.html> Acesso em: 20 jul.
2018

Figura 135 – Residência à Rua Itabaiana


(atualmente descaracterizada), número Figura 136 – Edifício à Avenida Ivo do
394, Centro. Prado, Centro.

Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Localizada no acervo do APMA.


202

Figura 137 – Residência (atualmente


descaracterizada) em esquina da Rua Itabaiana
com a Rua Riachuelo, São José.

Fonte: Autoria não identificada [198-?];


Localizada no acervo do APMA.

Figura 138 – Residência à Rua Itabaiana,


São José. Figura 139 – Residência à Rua Arauá, Centro.

Fonte: Google Street View (2017).

Figura 140 – Casas na Rua Rosário, Santo Figura 141 – Fachada da Prefeitura do
Antônio. Municipal de Japaratuba, após reforma em 1938.

Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Fonte: Folha da Manhã (Aracaju, 12 abril 1938,
Localizada no acervo do APMA. ano I, n. 64, p. 1).
203

Figura 142 – Hotel Florelisa, em esquina das Ruas Serapião de Aguiar e


Presidente Getúlio Vargas, no município de Propriá.

Fonte: Google Street View (2012).


204

4 A ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH

Esta seção tem por finalidade analisar os projetos e obras institucionais de


Altenesch, em seus aspectos espaciais, técnicos e estéticos, com o intuito de
investigar a sua modernidade. Cada subseção volta-se para um dos objetos
arquitetônicos nesta categoria, e estes foram distribuídos a partir de uma linha
cronológica aproximada, já que houve concomitância no período de construção de
algumas destas obras.
O primeiro projeto analisado é o do Palácio das Letras. Este é o único projeto
de Altenesch a cujos desenhos originais se teve acesso, e igualmente o único, entre
os que aqui são elencados, que não foi construído. Apesar de não ter sido erguido,
entende-se que o acesso a este projeto de Altenesch tenha sido uma oportunidade
de compreender de forma mais aproximada a prática projetual do alemão.
Compreende-se que estes desenhos, por serem uma ponte direta com as mãos do
próprio Altenesch, são potentes em revelar rastros referentes ao entendimento do
alemão acerca do projeto arquitetônico e suas condicionantes técnicas, estéticas e
espaciais. A partir desta apreensão, foi possível potencializar a análise das demais
obras aqui estudadas, cuja documentação encontrada está distanciada
temporalmente das elaborações projetuais de Altenesch.
Nas subseções seguintes são analisados o edifício do IHGSE, o Quartel do
Corpo de Bombeiros Municipais de Aracaju, o Palácio Serigy, a sede da
Associação Atlética de Sergipe, a sede do Cotinguiba Sport Club e algumas das
edificações da Cidade de Menores “Getúlio Vargas”. O complexo da Cidade de
Menores apesar de ter sido construído no município de Nossa Senhora do Socorro,
foi considerado para este trabalho não só por compreender um conjunto de obras
importantes dentro da atuação de Altenesch, mas também porque sua criação e seu
funcionamento tinha uma relação direta com as políticas urbanas estabelecidas à
época em Aracaju.
Para o estudo destes edifícios foram considerados as análises iconográficas e
os levantamentos cadastrais disponíveis, auxiliados pelo reconhecimento in loco,
quando se fez possível. A seleção destes exemplares arquitetônicos teve como
critério a clareza acerca da autoria do alemão. Por este motivo, a Ponte do
Imperador, o Santuário Nossa Senhora Menina e o Palácio de Veraneio da Atalaia,
por não ter sido possível uma confirmação acerca da sua autoria, não foram
205

incluídos neste estudo. O edifício sobre o qual se lançou a hipótese de que seja a
antiga sede da filial da Companhia Rovel da Baía S.A. em Aracaju, justamente por
se tratar de uma hipótese, é incluído nesta analise de forma auxiliar.
Apesar da divisão em subseções, as análises das obras visam um
entrelaçamento entre estas no intuito de revelar seus fios de convergências e
divergências, e, portanto, promover uma compreensão, a mais ampla possível, das
particularidades da obra do alemão. Também é considerada uma breve reflexão,
como feito na seção anterior referente às residências, sobre os possíveis vetores
técnicos, estéticos e partidos espaciais que possam ter influenciado a concepção
das obras estudadas. Busca-se também construir uma compreensão introdutória da
relação destes edifícios com a cidade.

4.1 O PROJETO PARA O PALÁCIO DAS LETRAS

O projeto de Altenesch para o edifício do Palácio das Letras em Aracaju foi


resultante de uma concorrência aberta pela Diretoria de Obras Públicas do Estado
de Sergipe em 14 de junho de 19341. Antes desta concorrência outra havia sido
feita, mas acabou por ser cancelada. Altenesch participou assim de uma segunda
edição do processo e veio a alcançar o segundo lugar2. O projeto da vencedora, a
Christiani & Nielsen, não chegou a ser construído, já que mudanças de planos
cancelaram a sua construção e levaram adiante um projeto menor, destinado
apenas a aportar a Biblioteca Pública do Estado, projeto este que veio a ser traçado
e construída pela construtora Emilio Odebrecht & Cia.
De acordo com aquele segundo edital, para o qual Altenesch concorreu, o
edifício do Palácio das Letras seria localizado à Praça Fausto Cardoso, no mesmo
sítio em que posteriormente veio a ser erguida a Biblioteca Pública. O terreno, onde
anteriormente estava localizada a sede local dos Correios, possuía 27,35 metros de
largura por 15,63 metros de profundidade. O prédio deveria ser construído em
concreto armado e portar quatro pavimentos, considerando o térreo. Desta forma,
1
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas do Estado de Sergipe. Edital de concurrencia para a
apresentação de projetos do ―Palacio das Letras‖, á praça Fausto Cardoso, nesta capital. Diario
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 jun. 1934, ano XVI, n. 5984, p. 1803.
2
Altenesch alcançou 53 pontos, enquanto o primeiro colocado, a firma Christiani & Nielsen obteve 73
pontos, e a terceira e última colocada, a Odebrecht & Cia., obteve 34 pontos. Foram oito critérios
avaliados e para cada critério atribuiu-se nota máxima de 10 pontos. Cf. SERGIPE. Expediente da
Interventoria. Oficios despachados. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 25 jul. 1934, ano
XVI, n. 6016, p. 2277-2278.
206

previu-se que no andar térreo deveria estar a administração da biblioteca e o


principal armazenamento de livros; no segundo andar estaria um salão de festas
com palco destinado a representações e projeção de cinema; no terceiro andar
estariam os salões para as administrações do Instituto da Ordem dos Advogados, da
Academia Sergipana de Letras e da Associação Sergipana de Imprensa; no quarto e
último andar estariam o salão de leitura da Biblioteca e depósito para livros. Além de
escada, foi exigida no edital a previsão de um elevador com capacidade para cinco
pessoas e velocidade mínima de 45 metros por minuto com parada em todos os
andares. Também foram exigidas instalações hidráulicas e sanitárias em todos os
pavimentos, devendo haver nos projetos a indicação de um serviço especial de
elevação de águas. No que se refere ao layout, o edital se atém a solicitar a
apresentação de pormenores a respeito da instalação das estantes e distribuição
dos livros, de forma a comportar um acervo de mais de 120 mil volumes. Foi
demandada solução também para as questões referentes às ―condições de luz e ar‖,
e quanto ao aspecto estético da edificação, foi atribuída aos concorrentes a
liberdade de escolha estilística.
Atendendo a estas demandas explicitadas no edital, Altenesch elaborou o seu
projeto para o Palácio das Letras. A documentação encontrada no acervo da
CEHOP referente a este projeto consiste, ao que parece, em um anteprojeto já que
não são indicadas nas pranchas informações executivas como cotação completa,
dimensões das aberturas ou mesmo as áreas dos ambientes. Contudo, as pranchas
encontradas (figuras 143 a 149) são eficazes em evidenciar o partido assumido pelo
alemão.
Volta-se agora à análise das pranchas do Palácio das Letras propostas pelo
alemão. Altenesch propôs uma implantação alinhada com os limites frontais do lote,
enquanto as laterais seriam afastadas por recuos de dois metros. Aos fundos a
edificação encontraria os limites do terreno no trecho central e seria liberada nas
extremidades por recuo igualmente de dois metros (figura 143). O edifício seguiria
assim uma projeção comedida, paralela aos limites do lote. Na composição das
plantas, Altenesch adotou um partido pautado na simetria e na setorização da zona
de serviço. Excetuando-se o segundo andar (figura 144), cujo programa do salão de
festas demandaria uma configuração assimétrica com o palco e a cabine nas
extremidades da linha longitudinal da caixa principal do edifício, nos demais
pavimentos seria mantido o padrão do espelhamento integral — considerando-se,
207

portanto, os acessos, os eixos de circulação e a divisão dos ambientes. Foram


identificadas, nas pranchas, duas caixas que comporiam o corpo do edifício: uma
caixa maior, frontal, onde estariam os ambientes principais do Palácio, e uma caixa
menor, aos fundos, que consistiria no setor de serviços, com um núcleo de
circulação vertical (elevador e a caixa da escada em ―U‖) e os equipamentos
sanitários e ambientes de apoios. Com relação os demais compartimentos dessa
caixa de serviços, percebeu-se a seguinte organização: no pavimento térreo (figura
143) existiria um pequeno banheiro sob a escada e as extremidades deste setor
seriam ocupadas pela secretaria e pela direção da Biblioteca; no segundo pavimento
(figura 144), para servir ao salão de festas, um toilet feminino e um masculino
ocupariam os ambientes das extremidades daquela caixa, ao passo que nos
pavimentos terceiro e quarto (figuras 145 e 146) haveria apenas um toilet, disposto
igualmente em uma das extremidades, já que do outro lado, em ambos os
pavimentos, seriam instalados garderobes (guarda-roupas / guarda-volumes).

Figura 143 – Planta baixa do andar térreo da proposta de


Altenesch para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no


acervo da CEHOP sob o código D23-0910-001; Edição
elaborada pelo autor (2018).
208

A distribuição dos ambientes na caixa maior e frontal, que compreenderiam os


ambientes principais do Palácio, seguiriam, ao longo dos andares, as indicações do
edital da concorrência. Esta distribuição se daria pelas divisões tripartites dos vãos,
excetuando-se no segundo pavimento. No andar térreo (figura 143), além do hall
central, as seções laterais seriam ocupadas pelo acervo da biblioteca, com estantes
para mais de 120 mil volumes em cada um dos lados. O hall estaria divido dos
acervos por balaustradas, com acessos no início e no final do hall, em ambos os
lados. Estas balaustradas estariam alinhadas com dois pares de pilares e outros
dois pares de pilares, alinhados àqueles primeiros, estariam dispostos nos vãos dos
acervos.

Figura 144 – Planta baixa do segundo andar da proposta de


Altenesch para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no acervo da


CEHOP sob o código D23-0910-002; Edição elaborada pelo autor
(2018).

Nos andares terceiro e quarto (figuras 145 e 146) as divisões dos ambientes
seriam feitas por paredes de vedação e estas estariam alinhadas a dois pares de
pilares. Há, contudo, diferenças entre as configurações destes, e estas estão
209

relacionadas a necessidades específicas de cada um destes andares. No terceiro


andar o compartimento central possuiria uma largura maior que os laterais e não
existiria conexão direta entre os três, já que sediariam Instituições independentes
entre si. O quarto pavimento, diferentemente, apresentaria o compartimento central
mais estreito e os compartimentos laterais seriam integrados, já que se trataria de
dependências da Biblioteca e possuiriam, por sua vez, relação entre si. Como o
Palácio teria uma cobertura em laje impermeabilizada, um terraço estaria previsto no
projeto de Altenesch (figura 147), e nele estariam o reservatório e a caixa de
máquinas na parte posterior e um mirante na parte anterior.

Figura 145 – Planta baixa do terceiro andar da proposta de Altenesch


para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no acervo da


CEHOP sob o código D23-0910-003; Edição elaborada pelo autor
(2018).

Três acessos foram identificados para o edifício: um central, pela porta


principal do edifício, e dois outros nas extremidades da fachada frontal, que dariam
acesso de serviço aos recuos laterais e aos fundos do Palácio. Estas portas laterais
seriam envasaduras presentes em paredes que continuariam a linha da fachada
210

frontal. Percebe-se aqui a aplicação do mesmo princípio adotado por Altenesch nos
bungalows da Rua Vila Nova: a proposição de um plano de fachada a ocupar toda a
linha frontal do lote com a vedação dos recuos laterais. O acesso central, indicado
por breve escadaria de três degraus disposta em área côncava e chanfrada, abrir-
se-ia ao hall com pé direito de 6,40 metros e 4,35 metros de largura que cortaria o
edifício em sua transversal, desembocando no núcleo da circulação vertical da
edificação (figura 143). Estes equipamentos de circulação vertical levariam a
pequenos halls/vestíbulos nos demais pavimentos que possibilitariam, por sua vez,
acesso direto aos compartimentos de cada andar. Assim, o fluxo da circulação
principal se daria no sentido transversal no pavimento térreo e nos andares
seguintes, a partir da distribuição feita pela circulação vertical, este fluxo se daria no
sentido longitudinal a partir da zona de transição entre as duas caixas do edifício
composta por aqueles pequenos halls/vestíbulos.

Figura 146 – Planta baixa do quarto andar da proposta de


Altenesch para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no acervo


da CEHOP sob o código D23-0910-004; Edição elaborada pelo
autor (2018).
211

Figura 147 – Planta baixa do terraço da proposta de Altenesch para o


Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no acervo da


CEHOP sob o código D23-0910-005; Edição elaborada pelo autor
(2018).

Com relação às envasaduras, a implantação recuada do edifício sobre os


limites laterais e posterior do terreno permitiria as presenças de janelas ao longo de
quase todo o perímetro da edificação. Estas aberturas são indicadas nas pranchas
em um ritmo acelerado e frequente e se repetem em todos os andares.
Possivelmente, por esta grande quantidade de envasaduras e sua relação com os
recuos, Altenesch foi o único a ter obtido nota máxima referente às ―condições de ar
e luz‖ quando da avaliação dos projetos dos três concorrentes. O mesmo tópico
incluía a avaliação acerca da resolução do layout referente à instalação de estantes
e distribuição dos livros da Biblioteca.
O projeto de Altenesch não traz informações precisas sobre os aspectos
construtivos e estruturais, inclusive as suas mais baixas avaliações no processo
da concorrência referiram-se à insuficiência da documentação apresentada por ele
concernente a estes tópicos. No quesito sobre o ―memorial descritivo e justificativa
da execução do projeto‖ ele obteve nota dois e quanto ao ―calculo estático‖ há a
212

indicação de que ele não o tenha apresentado. Contudo, é possível verificar nas
pranchas encontradas a indicação de elementos que compõe o esqueleto de
sustentação em concreto armado.

Figura 148 – Elementos estruturais identificados no corte longitudinal da


proposta de Altenesch para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha localizada no acervo da


CEHOP sob o código D23-0910-006; Edição elaborada pelo autor (2018).

No corte longitudinal (figura 148), traçado rente à segunda fileira dos pilares
internos do edifício (figura 143), estão representadas fundações, pilares e vigas. As
fundações previstas seriam por estaqueamento coroado por blocos3, e destes blocos
nasceriam os pilares do andar térreo. São identificados, para este primeiro andar,
oito pilares internos, distribuídos de forma simétrica e alinhada (figura 143) e no
corte estão evidenciados os pilares dispostos nas paredes extremas do edifício.
Possivelmente em um projeto mais detalhado da estrutura seriam indicados ao longo
do perímetro de todo aquele primeiro andar pilares alinhados com os pilares

3
Como indica o edital da concorrência, as fundações deveriam ser propostas considerando o terreno
com resistência a uma carga de 500 g por centímetro quadrado para a faixa de 1,50 metros abaixo do
nível do logradouro. Esta característica indica um terreno de baixa resistência e que demandaria uma
fundação mais profunda.
213

internos. Percebe-se também na prancha de corte (figura 148) a indicação de vigas


em vista e em corte, o que revela a previsão de um vigamento em forma de trama.
Estas vigas eram finalizadas com mísulas, aplicadas para combater a força cortante
nas proximidades dos apoios.

Figura 149 – Projeto estrutural para o edifício


da Biblioteca Pública do Estado de Sergipe.
Figura 150 – Detalhe do esqueleto
estrutural de viga com mísulas para o
edifício da Biblioteca Pública do Estado de
Sergipe.

Fonte: Emilio Odebrecht & Cia., Oswaldo Cohin Ribeiro [1936]; Prancha localizada no acervo
da CEHOP sob o código D23-0910-019.

Os detalhes deste tipo de estrutura puderam ser encontrados no projeto


estrutural feito pela firma Emilio Odebrecht & Cia para o projeto da Biblioteca Pública
(figuras 149 e 150) que acabou por ser construída no lugar do Palácio das Letras e
inaugurada em 1936. Nesta prancha é possível perceber como estas vigas eram
elaboradas com o uso de um esqueleto de estribos, que à altura das mísulas eram
dispostos em sentido diagonal. É provável que viesse a ser essa a solução estrutural
proposta por Altenesch para as vigas de seu Palácio das Letras, já que se trata de
projetos contemporâneos entre si. Esta solução estrutural remete às proposições
pioneiras do francês François Hennebique (figura 151), um dos pioneiros do uso do
concreto armado na era contemporânea. Sobre esta questão, Curtis afirma:

A invenção da armadura do concreto, na qual barras de aço são


inseridas para aumentar sua força, surgiu na década de 1870. Ernest
Ransome, nos Estados Unidos, e François Hennebique, na França,
desenvolveram isoladamente sistemas de tramas estruturais que
empregavam esse princípio. Tais sistemas comprovaram sua
adequação à criação de espaços de trabalho com planta livre e com
grandes janelas, às quais o fogo costumava ser uma grande ameaça.
O sistema de Hennebique empregava esbeltos pilares verticais, finas
vigas laterais sobre mísulas e lajes de concreto. O resultado
214

lembrava uma trama de madeira, o que não surpreende, afinal as


formas eram em geral feitas em madeira.4

Figura 151 – Solução de Hennebique para estrutura


em concreto armado.

Fonte: Curtis (2008, p. 76).

Voltando à análise da estrutura do projeto de Altenesch para o Palácio das


Letras: percebe-se que o padrão da trama do vigamento do andar térreo é repetido
no segundo andar, contudo, neste caso, certamente pela necessidade de um vão
completamente livre de pilares, o desenho deste vigamento indica uma estrutura
mais robusta que aquela presente no andar térreo. Com relação à estrutura
evidenciada para os andares seguintes (figuras 145 e 146), percebe-se que a
quantidade de pilares é reduzida e, consequentemente, o vigamento assume uma
nova configuração, adaptada à nova quantidade e disposição dos pilares. É válido
observar que não há rebatimento do padrão dos pilares do térreo nestes outros
andares. Este fato revela que a estrutura interna para este edifício não seria
independente das funções específicas de cada andar. Como é possível notar
(figuras 145 e 146), os pilares daqueles andares seguem o traçado das paredes de
vedação, dispostas de acordo com as larguras necessárias para os ambientes ali
dispostos. Não se pode, portando, afirmar que a solução estrutural siga uma postura
puramente racionalista. A estrutura não é determinada levando-se em consideração
apenas a racionalidade estrutural, que levaria ao rebatimento de um padrão pré-
definido a fim de que se gerasse uma máxima redução de esforços e de custos. Por

4
CURTIS, William J. R. Arquitetura Moderna desde 1900. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p.
76.
215

outro lado, é possível compreender que a racionalidade do uso do concreto armado


teria sido adotada no projeto de Altenesch enquanto elemento coadjuvante,
vinculada às funções de cada andar e a um programa arquitetônico rígido, que
dialoga com a racionalidade do material utilizado, mas que não se define por ele.
Pode-se, considerar, portanto, que a modernidade da técnica deste projeto esteja
relacionada à aplicação dos princípios da funcionalidade. A racionalidade do sistema
estrutural em concreto também parece assumir, neste projeto de Altenesch, uma
função estética/ornamental: este fato pode ser atestado ao se perceber que a trama
do vigamento é exposta em sua nudez pela ausência de qualquer elemento de forro
que a oculte.
Ainda que se possam ver traços de tradicionalidade como os princípios de
simetria e axialidade na distribuição dos ambientes que indicam associação às
composições das Beaux-Arts, este projeto de Altenesch apresenta a sua
modernidade para a espacialidade e a técnica ao propor uma solução baseada em
uma estrutura de concreto independente. Esta estrutura permite uma liberdade no
traçado desta espacialidade, baseada nos aspectos da funcionalidade, que um
sistema tradicional de alvenaria estrutural não autorizaria por sua condição de
rigidez direcionadora de uma composição espacial repetida ao longo dos andares5.
Com relação à fachada (figura 152), apenas é possível facear a proposta para
o plano frontal, já que é a única elevação que foi encontrada deste projeto
Altenesch. Como afirmado anteriormente, ela segue a ideia de uma fachada que
ocupa toda a linha frontal do terreno, ocultando assim os recuos laterais. Esta
fachada transfere para a visualidade do prédio a concepção de simetria existente no
partido da espacialidade e da estrutura. Associam-se à composição simétrica, a
axialidade, a verticalidade e o escalonamento de parte dos elementos compositivos.
Há uma seção central delimitada por duas faixas verticais e duas seções laterais
idênticas entre si que elaboram a simetria do edifício e que são demarcadas por
mais quatro faixas verticais. Para cada seção lateral há uma faixa que divide os
pares de fitas de janelas e uma última faixa que indica os limites da edificação,
fazendo as vezes de ―pedra angular‖. Após estas últimas faixas, existem as paredes
que vedam os recuos laterais e apresentam um arremate com escalonamento de
alto espaçamento. Todas as seis faixas indicadas nascem da base do edifício e vão

5
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 11. ed. São Paulo: Perspectivas,
2011, p. 76.
216

até o seu arremate, compondo o coroamento escalonado, assim como determinam


os limites dos demais elementos compositivos. A seção central, limitada pelas duas
faixas centrais, apresenta reentrância chanfrada, triplamente emoldurada por faixas
côncavas escalonadas. A seção mais baixa desta reentrância envolve a porta de
acesso e é interrompida por marquise em balanço. Logo acima da marquise estão
dispostas quaro pequenas janelas em fita verticais, arrematadas pelo fechamento da
moldura escalonada. Acima da moldura está disposta superfície plana para a
inscrição do nome do edifício, e esta é encimada pela continuidade da reentrância
chanfrada, que segue o mesmo padrão da primeira seção, agora envolvendo apenas
um conjunto de janelas verticais de padrão idêntico às primeiras. Esta reentrância
emoldurada é novamente arrematada por um plano retangular, mas desta vez este
ostenta um baixo relevo. Acima do painel escultórico estão aplicados ornamentos
lanceolados que antecedem a uma marquise em balanço. Sobre esta marquise , que
indica a continuidade da laje do mirante, é lançado o arremate desta seção do
edifício, com faixas de seção côncava escalonadas de forma simétrica e ascendente
na direção das faixas delimitadoras desta parte central do Palácio. Estas faixas
atingem a altura máxima do edifício e sobre elas se propôs colocar as bandeiras do
Brasil e de Sergipe. Cada uma das seções laterais é composta por quatro fitas
verticais de janelas. As fitas de janelas estão escalonadas entre si em suas bases e
são interrompidas horizontalmente, ao longo de sua altura, por linhas que indicam a
marcação das lajes. As janelas referentes ao último pavimento apresentam um
tratamento diferente, com uma verga mais espessa, balcões e moldura ornamentada
com padrão geométrico. Sobre estas janelas encontram-se pequenas lajes
projetadas, que indicam a continuação da laje do terraço. Sobre as fitas de janela,
no arremate do edifício nas seções laterais, estão dispostas de forma igualmente
escalonada faixas de seção côncava semelhantes às dispostas no arremate da
seção central do edifício. Nas bases das fitas das janelas seriam aplicados frisos
verticais e estes estariam repetidos nas bases das paredes de vedação dos recuos
laterais e acessos de serviço.
Esta proposta de Altenesch se apresenta como uma elaboração ornamental,
mas não parece se afastar de uma postura de revelação de parte da verdade interna
do edifício e mesmo da sua condição construtiva. Esta afirmativa se justifica pela
presença das marcações horizontais — as interrupções entre as janelas, as
marquises e os níveis do escalonamento das paredes de vedação dos recuos
217

laterais — que denunciam, como já indicado, os níveis dos andares e a presença


das delgadas lajes de concreto, transformadas em linhas na composição da
fachada. Os elementos verticais também parecem revelar parte das linhas dos
pilares, contudo a insuficiência de informações, e as mudanças dos padrões dos
pilares entre os pavimentos, impossibilitam uma conclusão acerca do quanto os
elementos verticais da fachada evidenciam os pilares externos do edifício. De toda
forma, o adelgaçamento destes elementos, e a aceleração das envasaduras,
parecem indicar a capacidade do concreto armado em estabelecer uma integração
legível entre o sistema estrutural e a visualidade do edifício.

Figura 152 – Fachada da proposta de Altenesch


para o Palácio das Letras.

Fonte: H. Arendt. v. Atenesch [1934]; Prancha


localizada no acervo da CEHOP sob o código D23-
0910-007.

Da mesma forma que se dá com o agenciamento do espaço, o tratamento da


caixa do edifício e sua visualidade assumem uma postura dicotômica no que
concerne às associações à tradicionalidade e à modernidade. Um ponto importante
218

de associação ao tradicional é a compreensão fachadística do edifício: a sua


identidade visual atrela-se muito mais ao tratamento de um plano do que a uma
compreensão volumétrica da arquitetura. Também indicam associação à
tradicionalidade o seguimento de princípios de simetria e axialidade atrelados às
Beaux-Arts, assim como pode ser lido no agenciamento dos espaços internos. É
possível também identificar traços da divisão conservadora do edifício em base,
corpo e coroamento, como ditado na arquitetura clássica e herdado pelo ecletismo 6.
No entanto, esta divisão sofreu alguns desvirtuamentos, como o escalonamento da
suposta base e os rasgos da lógica tripartite com a presença das faixas horizontais a
conectarem o rés do chão ao arremate. O viés ornamental do tratamento da fachada
também associa o projeto à tradicionalidade, mas a modernidade dos elementos
geométricos e abstratos parece apontar para o futuro. Estas ambiguidades são
próprias daquela arquitetura moderna que se tem buscado agrupar enquanto Art
Déco. Assim como aconteceu a alguns dos bungalows de Altenesch, quando a
tipologia que geralmente teria vocação para um tratamento estético suburbano, e por
isso tradicional (como as referências rurais inglesas e coloniais) recebeu em
algumas daquelas casinhas de sua autoria uma ornamentação geometrizada,
abstrata e cosmopolita.
A esta experiência poderia ser associado o prédio que se acredita tenha sido a
sede da Companhia Rovel da Baía S.A. em Aracaju (figura 153). Esta empresa do
ramo da exportação de couros inaugurou a sua filial em Aracaju em 15 de outubro
de 1933, à antiga Avenida da Independência, atual Avenida João Ribeiro. Era
gerenciada na capital sergipana por Erich Apenburg, um dos proprietários originais e
idealizador de alguns dos bungalows da Rua Vila Nova, e a notícia da inauguração
de sua sede é a informação mais remota que se tem sobre a presença de Altenesch
na cidade7.
Em uma escala menor, por ser uma edificação térrea, esta construção porta na
composição de sua fachada características semelhantes às do projeto do Palácio
das Letras. A marcação dos elementos e a presença das duas portas centrais
indicam que provavelmente a construção abrigou duas lojas distintas. Ambas
6
LINS, Eugênio; SANTANA, Mariely Cabral de; BIERRENBACH, Ana Carolina de Souza. Verbetes
sobre Arquitetura Moderna. In: LINS, Eugênio; SANTANA, Mariely. (Org.). Salvador e Baía de
Todos os Santos. 1. ed. Sevilha: Consejería de Obras Publicas y Vivienda, 2012, v. 1, p. 1-712.
7
A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú. Cadastro
Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas
Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 387.
219

seguem os mesmos princípios de composição, contudo se diferenciam pelas


dimensões e por pequenas variações na utilização dos elementos de fachada. Estão
presentes as marcações verticais, a axialidade, as envasaduras de janelas em fita
nos planos intermediários, o escalonamento das superfícies e da platibanda e a
aplicação dos frisos em zigue-zague. Estas similaridades parecem conduzir a uma
confirmação acerca da hipótese de que este edifício seja aquela sede da Companhia
Rovel inaugurada no final de 1933, erguida sob a responsabilidade técnica de
Altenesch. Há uma grande proximidade temporal entre a inauguração daquele
edifício e a elaboração do projeto do Palácio das Letras, no início de 1944. Da
mesma forma se aproxima dos bungalows da Rua Vila Nova, não só pelo aspecto
cronológico, mas igualmente pelo aporte estético e pela vinculação ao nome de
Erich Apenburg.

Figura 153 – Suposta sede da Companhia Rovel da Baía


S.A. em Aracaju.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2018).

Assim como os supracitados bungalows da Rua Vila Nova, poder-se-ia afirmar


que o projeto para o Palácio das Letras associa-se à afirmação de que Altenesch
teria feito a ―toilete‖ de Aracaju aos moldes dos figurinos de Nova York8. Os figurinos
ianques referiam-se à estética dos arranha-céus, cuja modernidade se expressava,
particularmente, pela ornamentação geometrizada e pelo escalonamento tanto das
superfícies quanto do coroamento do edifício, na busca pela expressão de uma cada

8
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6.
220

vez maior verticalidade. Assim, mais do que nos bungalows, que herdaram apenas
os motivos ornamentais e um ou outro elemento da técnica moderna, como a
marquise em balanço da casa de número 508, o projeto do Palácio das Letras revela
para o contexto de Aracaju, respeitadas as devidas proporções e escalas, a
evocação da simbologia do arranha-céu. Obviamente não se trataria de um arranha-
céu, contudo, para uma cidade em que os prédios mais altos à época contavam com
no máximo dois pavimentos erguidos sobre um porão alto, e onde os marcos
verticais mais proeminentes eram as torres da Catedral e da Igreja São Salvador,
ambas no centro da cidade, não seria difícil prever o impacto que teria uma fachada
com gabarito equivalente a cinco ou seis pavimentos. Como afirma Segawa9:

Na década de 1930, a linguagem Art Déco estaria associada ao


envoltório por excelência das grandes estruturas que romperiam os
horizontes urbanos desenhados pelos homens, marcados sobretudo
(ou apenas) pela verticalidade de torres sineiras de igrejas ou
referências semelhantes. Assim, em São Paulo, o edifício Saldanha
Marinho competiria com o seiscentista convento e igreja dos
franciscanos; o edifício Oceania em Salvador — a maior construção
em todo o Norte e Nordeste na época [Azevedo 1988] — faria o
contraponto robusto ao esbelto farol da Barra, do século 18. [...] Na
maioria das grandes cidades brasileiras nas décadas de 1930 e 1940
as estruturas altas de gosto Déco ou variações predominariam na
verticalização das paisagens.

Ainda segundo Segawa10, essa arquitetura que se convencionou chamar Déco


surgiu da diluição das mais diversas manifestações da vanguarda arquitetônica
europeia do início do século XX. Poderiam ser citadas, como exemplificações
pontuais, dentro de uma vastidão de vetores possíveis: a experiência de Joseph
Hoffman para o Plácio Stloclet em Bruxelas (1905-1911)11; a proposta futurista de La
Cittá Nuova do italiano Sant‘Elia (1913-1914)12; a experiência de Jensen-Klint para a
igreja da Grundtvig na Dinamarca (1913-1940)13; a proposta de Tony Garnier para a
fachada do matadouro de La Mouche, em Lyon (1906-1932)14 etc.

9
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 64.
10
Ibid., p. 54.
11
CURTIS, 2008, p. 68.
12
Ibid., p. 111.
13
Ibid., p. 137.
14
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 122.
221

A verticalidade da arquitetura deste período no Brasil foi uma expressão que


refletiu, não raras vezes, uma vontade de modernidade por parte do Estado. O Brasil
a partir da década de 1930 adentrou uma fase cuja tendência político-econômica
tendeu a um nacionalismo modernizador e o golpe do Estado Novo de 1937,
liderado por Getúlio Vargas, pode ser encarado como um ponto potencializador
deste processo, a partir do qual se adotou uma postura protecionista e progressista,
estimulando a produção industrial nacional e o seu consumo. Intensificou-se,
portanto, a necessidade de modernização e de atualização dos sistemas produtivos
do país, que já vinham acontecendo há algumas décadas. O governo de Eronildes
Ferreira de Carvalho, em Sergipe, ao assumir rapidamente cumplicidade ao
programa federal, adotou a linguagem publicitária, promovida pelo Departamento de
Imprensa e Propaganda, na divulgação de uma gestão modernizadora e
progressista, na qual o simbolismo da arquitetura foi utilizado como elemento
legitimador da aderência à modernidade por parte do Estado. Como apresenta
Waldefrankly Santos15, é interessante observar como essa vontade de modernidade
se utilizou de um discurso simbólico que foi muito além das verdadeiras
possibilidades físicas e econômicas de Sergipe e de Aracaju, como o revela a capa
do livro de estatística ―O Estado de Sergipe em 1935‖ (figura 154) com a presença
ilustrativa de elementos referentes à modernidade: o avião, o dirigível, o navio de
luxo, o trem e o arranha-céu, associados aos emblemas de ―ordem‖, ―progresso‖,
―inteligência‖ e ―cultura‖.
Considerando-se esta mentalidade do Estado, compreendem-se certas
demandas presentes no edital para o projeto do Palácio das Letras16. Ainda que
não tenha havido condicionantes para a escolha estética, a determinação acerca da
técnica indica uma preocupação do poder público com a atualização de seus
equipamentos públicos com relação às modernidades vigentes no período, como o
uso do concreto armado, da cobertura plana com laje impermeabilizada e do
elevador. Como visto, o projeto da construção daquele edifício não foi adiante, mas
para o mesmo local foi construído um menor, o edifício da Biblioteca Pública do
Estado de Sergipe (figura 155) de autoria e construído pela Emilio Odebrecht & Cia.
Este edifício da Biblioteca foi recebido em Aracaju como um marco de inequívoca

15
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 42.
16
SERGIPE, jun. 1934, loc. cit.
222

modernidade17, sendo utilizado como símbolo de renovação da cidade e propaganda


da administração pública, como bem revela uma representação de sua fachada na
capa do anuário ―Alagôas-Sergipe‖ para 1937 (figura 156).

Figura 154 – Capa do anuário Figura 155 – Biblioteca Figura 156 – Capa do
estatístico ―O Estado de Pública do Estado de Anuário ―Alagôas-Sergipe‖
Sergipe em 1935‖. Sergipe. para 1937.

Fonte: SERGIPE/DEEPDC, Fonte: Alagôas-Sergipe Fonte: Alagôas-Sergipe –


(1937 apud SANTOS, 2002, – Annuario Illustrado Annuario Illustrado para 1937
p. 42). para 1937 (Maceió, (Maceió, [1936?], capa).
[1936?], p. 77).

O edifício projetado e construído para a Biblioteca Pública conversa com a


proposta de Altenesch para o Palácio das Letras no que concerne à vocação para
a verticalidade, escalonamento, composição fachadística e baseada em princípios
de simetrial e axialidade. Existem diferenças claras, principalmente no teor
ornamental, quando o projeto de Altenesch se apresenta mais festivo ao passo que
a edificação da Odebrecht sugere certa austeridade. De toda forma, elas se
comunicam em suas modernidades, facilmente enquadráveis como um Art Déco
zigue-zague, e revelam uma vontade de altura, uma demarcação forte na skyline
então horizontalizada de Aracaju. Assim, ainda que menor que o que teria sido a
altura do Palácio das Letras, o edifício da Biblioteca (figura 157) assumiu uma
posição de destaque na visualidade da cidade e parecia projetar nas ruas a vontade
por um futuro associado à modernidade e inspirado pela simbologia do arranha-céu.

17
A INAURUGAÇÃO do novo edifício da Biblioteca Publica. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 nov.
1936, ano IV, n. 1057, p. 1; INAUGURADO o novo Predio da Bibliotheca Publica. Sergipe-Jornal,
Aracaju, 16 nov. 1936, ano XVII, n. 8491, p. 1.
223

Figura 157 – Praça Fausto Cardoso na década de 1930, vista da


Ponte do Imperador. Destaque para a Biblioteca Pública (à direita).

Fonte: Autoria não identificada [194-?]; Publicada em Diniz (2009,


p. 206).

A atualização da visualidade urbana pela expressão da verticalidade foi


impressa também em edifícios de menor gabarito18. Estas edificações tiveram
possivelmente com a construção do edifício-sede da Companhia Rovel o gatilho
impulsionador. Esta suposição alicerça-se ao se considerar a fala amplamente
divulgada pelos discursos oficiais e pela historiografia de que Altenesch teria sido o
introdutor das modernidades arquitetônicas do século XX em Aracaju e pelo fato de
que este teria sido o seu primeiro edifício erguido na cidade. Para estes casos de
construções térreas, que naquela década eram maioria na cidade19, a vontade de
modernidade por meio da expressão da verticalidade assumia um caráter ainda mais
simbólico do que o que se dava naquelas edificações como a Biblioteca Pública,
ainda que não fossem propriamente arranha-céus, apresentavam algum nível de
adesão à verticalidade de fato. A sede da Companhia Rovel, parece ser
representativa, portanto, das apropriações e ajustes desta estética das alturas em
termos de uma arquitetura menor. Esta arquitetura, levada adiante pela iniciativa

18
Levantamentos de edifícios ―Art Déco‖ nos bairros centrais de Aracaju podem ser conferidos nos
seguintes trabalhos: BRENDLE, Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti; MENDONÇA, Karoline; JESUS,
Ana Paula Santos de; BARBOSA, Juliane. Relatório Final: Inventário da Arquitetura Art-Déco de
Aracaju. Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Extensão-PIBIX. Universidade Federal de
Sergipe, dez. 2013; MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. A produção Art Déco em Aracaju: a
identidade moderna da primeira metade do século XX. 2013. 155 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013, p. 100 et. seq.
19
Em 1937, Aracaju contava com 11.730 imóveis, dos quais 90,54% eram térreo Cf.
SERGIPE/DEGP, 1938, p. 2751 apud SANTOS, 2002, p. 47-48.
224

privada e popular consistiu, por ser maioria, no vetor de mais eficaz renovação
plástica da cidade.

4.2 A SEDE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE

Na fase inicial da atuação de Altenesch em Aracaju, como afirma Porto20,


Altenesch esteve envolvido na elaboração do projeto para a sede do IHGSE. A
pedra fundamental do edifício foi solenemente assentada na manhã do dia 17 de
março de 193421, mas por dificuldades financeiras da Instituição a obra ficou parada
de 1935 a 193722. Com o retorno das obras ocorreu a construção de mais um
pavimento para a instalação da Rádio Difusora23. A inauguração do edifício se deu,
por fim, como parte das solenidades do quarto aniversário do governo do Dr.
Eronides de Carvalho, em dois de abril de 193924.
Devido à inexistência de projetos originais da sede do IHGSE, a busca por um
entendimento mais aproximado do traçado primitivo levou a uma pesquisa baseada
em outras fontes disponíveis. Um dado importante foi oferecido pelo Dr.
Waldefrankly Santos, em entrevista realizada para esta pesquisa25, em que ele
afirmou ter o prédio atravessado algumas reformas após a sua inauguração em
1939, e que haveria algumas pranchas referentes a estas alterações no acervo do
próprio Instituto. De fato, foram localizados alguns desenhos neste acervo: duas
pranchas não datadas referentes a um acréscimo aos fundos para o pavimento
térreo e o primeiro superior, de autoria de Fernando de Figueiredo Porto26, e uma
prancha avulsa, igualmente sem data, com desenho assinado por Algenário Alves

20
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 51.
21
INSTITUTO Histórico e Geográfico. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 mar. 1934, ano II, n. 302, p.
2.
22
DANTAS, Ibarê. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE 1912-2012. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, p. 130.
23
SERGIPE. Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas. Officios expedidos. Diário
Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 abr. 1937, ano XIX, n. 6999, p. 856; SERGIPE.
Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas. Officios expedidos. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937, ano XIX, n. 7016, p. 1017.
24
SERGIPE. Departamento De Propaganda E Divulgação Do Estado. Reportagens completas sobre
as festas realizadas na passagem do quarto aniversário da administração Eronides Carvalho. Folha
da Manhã, Aracaju, 4 abr. 1939, ano II, n. 346, p. 1.
25
O Professor Dr. Waldefrankly Rolim de Almeida Santos concedeu entrevista para este trabalho no
dia 29 de outubro de 2017.
26
Estas pranchas, do acervo do IHGSE, estão cadastradas sob os códigos MPSI nº 197.MPS e MPSI
nº 200.MPS e foram acessada no dia 11 de junho de 2017.
225

Meneses, referente às escadas e ao segundo pavimento superior27, onde


originalmente esteve instalada a Radio Difusora. Se esta última prancha for referente
à construção do último lance da escada e daquele último pavimento, então compõe
provavelmente parte do projeto de Altenesch cuja execução se encerrou em 1939.

Figura 158 – Auditório do IHGSE antes das Figura 159 – Interrupções no rodateto das
reformas. janelas do salão de leituras.

Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Fonte: Registro fotográfico de Karoline


Publicada em Dantas (2012, p. 167). Mendonça (2013); Publicação autorizada
por escrito pela autora da imagem.

Em Dantas28 foi possível localizar algumas informações sobre as reformas do


prédio, confirmando as indicações ofertadas por Waldefrankly Santos. Em 1946,
durante a gestão do IHGSE por José Calasans Brandão da Silva, e com o auxílio do
engenheiro Lauro Fontes, algumas primeiras alterações ocorreram, como o
envidraçamento de janelas e o fechamento das envasaduras situadas no fundo do
salão de conferências no primeiro pavimento superior (figura 158)29. Uma segunda
reforma foi iniciada em abril de 195430, na gestão de Enoch Santiago, que visou a
ampliação do prédio, envolvendo os espaços do auditório e da biblioteca 31.
Certamente é a essa reforma que os desenhos de autoria de Porto se referem. A
condição atual da planta do IHGSE (figura 162), contudo, no que tange ao
prolongamento de sua parte posterior, diferencia-se do projeto de Porto. Neste,
previa-se um recuo aos fundos, ao passo que na condição atual o prédio está colado
aos limites posteriores do terreno. De uma forma ou de outra, a edificação sofreu

27
Esta prancha, do acervo do IHGSE, está cadastrada sob o código MPSI nº 199.MPS e foi acessada
no dia 11 de junho de 2017.
28
DANTAS, 2012, passim.
29
Ibid., p. 183.
30
Ibid., p. 237.
31
Ibid., p. 235.
226

alterações aos fundos e a partir desta constatação foi possível delinear linhas mais
próximas da condição original do edifício.

Figura 160 – Auditório do IHGSE antes das Figura 161 – Auditório do Instituto IHGSE
reformas. após as reformas da década de 1950.

Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Fonte: Autoria não identificada [19--];
Localizada no acervo do IHGSE. Localizada no acervo do Instituto Tobias
Barreto.

Figura 162 – Plantas baixas atualizadas do IHGSE.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela CEHOP (2001); Ajustes elaborados pelo
autor (2018).

Também auxiliaram nesta investigação as fotografias mais antigas. Nota-se


que houve alterações nas janelas centrais em fita, e mesmo nas janelas laterais
(figuras 163 e 164). Em fotografia antiga do auditório, percebe-se que originalmente
as janelas eram mais estreitas do que aquelas que estão dispostas atualmente
227

(figuras 160 e 161). Algumas marcas do rodateto nas paredes laterais do salão
principal (figura 159) também parecem indicar que ali originalmente estavam
dispostas janelas mais altas que as atuais e igualmente verticalizadas, seguindo o
padrão daquelas vistas na fotografia do salão. A partir destes dados encontrados, e
com um levantamento cadastral previamente feito32, foi possível elaborar uma
representação gráfica mais aproximada do traçado original.
A implantação do edifício do IHGSE (figura 163) guarda semelhanças com o
que foi proposto por Altenesch no seu projeto para o Palácio das Letras: a
centralidade no terreno e os recuos laterais, que seguiram uma mesma lógica
simétrica. Os projetos foram diferenciados nas suas relações com os recuos frontais
e posteriores, já que no IHGSE originalmente o seu projeto estabeleceu um recuo de
toda a face do fundo da edificação e também foi previsto um amplo afastamento
frontal, que se manteve até os dias atuais.
Com relação à espacialidade e fluxos de circulação, também como proposto
para o Palácio das Letras, delineou-se uma planta pautada na axialidade e simetria,
e no caso do IHGSE estes princípios são mais legíveis principalmente no pavimento
térreo (figura 163). Neste nível estabelecem-se dois grandes fluxos: um primeiro,
longitudinal, proveniente da entrada principal, que atravessa todo o comprimento do
edifício e chega até o recuo dos fundos por porta central localizada na fachada
posterior; e um segundo fluxo, transversal, que nasce no hall de acesso e se
encaminha para as escadarias laterais, possibilitando assim a integração vertical
com os outros pavimentos. A escadaria da direta termina no primeiro pavimento
superior, ao passo que a da esquerda chega até o segundo pavimento superior
(figura 164). Nestes andares, acoplados à escadaria da esquerda estão
compartimentos de serviço, basicamente instalações sanitárias. O primeiro
pavimento superior se abre em um grande salão de conferências enquanto o
segundo, circunscrito ao trecho frontal do edifício, atendia originalmente às
demandas da Radio Difusora por uma divisão funcional dos ambientes, integrados
por corredor diretamente advindo da escadaria.

32
Foi utilizado como base o levantamento cadastral do IHGSE elaborado pela CEHOP em 2001.
228

Figura 163 – Localização e planta baixa do pavimento térreo do IHGSE.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela CEHOP (2001); Edição elaborada


pelo autor (2018).

Figura 164 – Plantas baixas dos pavimentos superiores do IHGSE.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela CEHOP (2001); Edição elaborada pelo
autor (2018).
229

No pavimento térreo (figura 163) nota-se a seção dos espaços em duas


grandes partes. Há uma seção frontal, em que estão o hall de acessos e as caixas
das escadas, e que porta, portanto, um caráter essencialmente circulatório. A
segunda parte, posterior e maior, foi desenhada para receber os equipamentos
principais do Instituto, com seus acervos, e sua distribuição dos cômodos se deu a
partir de uma concepção radial, que tem o centro do salão — um heptágono virtual
— como ponto de irradiação de vetores de circulação. Identifica-se na organização
espacial conformada a partir de um núcleo central de irradiação de circulação um
princípio projetual que de certa forma se repetiria, alguns anos depois, em uma de
suas residências, a casa Gervásio Prata, analisada no capítulo anterior.

Figura 165 – IHGSE


antes das reformas na Figura 166 – IHGSE após as
fachada. reformas na fachada.

Fonte: Revista Fonte: Autoria não


Illustração Brasileira identificada (1971);
(Rio de Janeiro, nov. Localizada na Biblioteca
1940, ano XVIII, nº 67, Virtual do IBGE.
p. 52).

Com relação à volumetria (figuras 165 e 166), assim como proposto para o
Palácio das Letras, a ênfase foi dada principalmente ao tratamento das fachadas, já
que no que concerne à caixa percebe-se um partido monolítico. A formatação, assim
como naquele outro projeto, foi pautada na verticalidade, na simetria e na axialidade.
Também se assemelham os dois projetos por características que parecem indicar
um método compositivo similar, a saber: a secção da fachada por trechos verticais,
com proeminências nos indicativos dos limites laterais e destaque para o trecho
230

central devido ao maior gabarito e diferenciação de seus elementos de envasadura;


a indicação do acesso principal com a presença de ampla marquise e reentrância
escalonada emoldurando a porta de acesso ao hall (figura 167), a delimitação do
coroamento com aplicação de frisos (em zigue-zague, neste caso) e o
escalonamento do arremate do edifício. A fachada do IHGSE, contudo, é menos
permeável, com maior presença de cheios que a fachada proposta para o Palácio
das Letras, e possivelmente esta questão esteja relacionada às diferenças das
condicionantes orçamentarias para os projetos, já que havia uma limitação nos
fundos para a construção da sede do Instituto, e por isso uma fachada de menor
complexidade seria mais adequada. Outro ponto de diferença é que, ainda que o
IHGSE tenha em seu plano frontal da fachada uma relação de deslocamento em
relação ao volume do edifício, já que os limites laterais desta fachada passam dos
limites das paredes laterais do prédio, não há neste uma vedação de toda a largura
do sítio por parte deste plano frontal, como se percebe no projeto do Palácio das
Letras, em um padrão que também esteve presente nos partidos dos bungalows da
Rua Vila Nova e na casa Carvalho Neto. Apesar desse deslocamento lateral da
fachada frontal com relação ao volume, as fachadas laterais do IHGSE receberam
um tratamento ornamental com o escalonamento do arremate.

Figura 168 – Janelas da


Figura 167 – Acesso principal caixa da escada do
do IHGSE. IHGSE vistas por dentro.

Fonte: Registro fotográfico Fonte: Registro


feito pelo autor (2018). fotográfico de Karoline
Mendonça (2013);
Publicação autorizada
pela autora da imagem.
231

Esta obra, cujo começo da construção é contemporânea à construção dos


bungalows da Rua Vila Nova, guarda semelhanças no campo da visualidade com
algumas daquelas pequenas casas. Um destas diz respeito à aplicação da
sequência de frisos em zigue-zague — nos arremates da fachada e do volume do
sótão e do reservatório —, elementos que também compõem a estética das
fachadas dos bungalows de números 498 e 521. Este acabamento ornamental,
segundo Porto33, foi a maior aplicação de escariola (ou escaiola)34 já feita em
Sergipe, que segundo o autor, era chamada de ―beiju-fino‖ pela irreverência do
professor Costa Filho. O padrão geométrico radial da caixilharia em madeira e
vedação em vidro das janelas (figura 168) e a mureta, em sintonia com a expressão
estética do edifício e com acabamento em barra cilíndrica de ferro, são igualmente
aspectos desta obra que também muito se conectam com as proposições visuais
para aqueles bungalows. As barras cilíndricas de ferro também foram utilizadas
como contenções de segurança nas janelas (figura 168). Outro elemento que revela
uma inegável conexão entre esta obra institucional e aquele conjunto de residências
da Rua Vila Nova é a sua marquise de acesso (figura 167), construída com solução
idêntica à utilizada no bungalow da família Barreto, de número 498. Em balanço,
apoiada sobre mãos-francesas laterais maciças, apenas diferenciadas pela escala e
pela maior rigidez formal do elemento do IHGSE, menos aerodinâmico que o
proposto para o bungalow.
Foi possível perceber que antes do retorno das obras em 1937 (figura 174),
quando começou a construção do segundo pavimento superior para a instalação da
Rádio Difusora, a fachada já apresentava sua identidade formal, com a seção da
fachada por faixas verticais, seus elementos de demarcação e o destaque para a
centralidade, em que já se apresentava o mesmo gabarito da construção final.
Observa-se, assim, que a construção do novo pavimento promoveu modificação da
fachada frontal apenas com relação aos planos intermediários recuados, onde foram
instaladas novas janelas, alinhadas com os trios de janelas verticais já existentes.
Quanto aos aspectos construtivos do edifício, a observação de sua
espacialidade oferece sinais claros de uma construção elaborada a partir de um
sistema estrutural em cimento ou concreto armado. A supracitada marquise do

33
PORTO, 2003, p. 53.
34
ALBANAZ, Maria Paula; LIMA, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. São Paulo:
ProEDITORES, 1998, v. 1, p. 228.
232

acesso principal, mas também as vigas aparentes e robustas finalizadas em mísulas


que cruzam o teto dos ambientes do pavimento térreo (figuras 167, 169 e 170); da
mesma forma as vigas igualmente aparentes de sustentação da escadaria (figura
172), bem como os pilares no meio dos vãos de acesso ao salão de conferências
(figura 171) e no último pavimento, são elementos que denunciam a condição
material do aporte estrutural do edifício.

Figura 170 – Vigas aparentes em uma


Figura 169 – Vigas aparentes no salão do das salas laterais posteriores do
pavimento térreo do IHGSE. pavimento térreo do IHGSE.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Figura 171 – Pilares e vigas aparentes no Figura 172 – Vigas aparentes da


primeiro pavimento superior. sustentação do primeiro lance de escadas.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Como afirma Isabella Santos35, o uso da estrutura em cimento/concreto armado


autorizou a configuração de uma liberdade na configuração espacial de cada
pavimento. Assim como visto no projeto do Palácio das Letras, a liberdade
35
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros
centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011, p. 155.
233

alcançada no traçado do espaço com o uso desta técnica construtiva não se deu a
partir da aplicação de uma lógica racionalista lastreada em uma total autonomia da
estrutura. Nestes projetos se percebe que a estrutura está diretamente vinculada ao
programa, à distribuição dos espaços, seguindo assim uma compreensão
funcionalista do uso do sistema. Esta integração harmônica entre estrutura e
programa, no caso do IHGSE, fica legível principalmente no térreo, que apresenta
uma organização espacial mais articulada com as vigas e pilares. Com relação aos
elementos estruturais aparentes nos dois outros pavimentos, há pouca relevância no
que concerne à organização espacial e parecem cumprir absolutamente funções
estruturais. O conjunto estrutural aparente do primeiro pavimento superior, inclusive,
na área anterior ao auditório, apresenta uma baixa organização visual e pouco se
integra à espacialidade. Parece ter sido consequência da busca por se resolver
exclusivamente as demandas de sustentação do novo pavimento que foi construído
acima, deixando em segundo plano o equilíbrio visual entre espaço e estrutura.
Foram localizados durante as pesquisas alguns documentos que confirmam a
utilização destas tecnologias, inovadoras para a cidade àquela época, na construção
deste edifício. Em duas missivas diferentes, datadas de 25 de maio 36 e 12 de junho
de 193437, a presidência do IHGSE à época solicitou da Secretaria Geral do Estado
que fizesse a entrega, ―livre de direitos‖, de ―trezentos sacos de cimento nacional‖ e
―2.014 quilos de ferro em barra‖ ―para grande placa de cimento armado que há de
dividir o pavimento superior do edifício‖, respectivamente. Ambas as encomendas
viriam do Rio de Janeiro por embarcações a vapor e deveriam ser entregues à firma
Manuel M. de Almeida ―que se prestou a fazer preço de excessão, visto se tratar de
material destinado á construção do edifício do referido Instituto‖. Em uma fotografia
da construção do edifício em 1934 (figura 173) vê-se, ao nível do solo, a montagem
de uma malha com barras de ferro, que certamente indica uma fundação rasa em
radier. O posicionamento de sacos ao lado da estrutura, possivelmente cheios de
cimentos, talvez fossem um indicativo da proximidade do processo de concretagem.
Ao mesmo fornecedor, Manoel M. de Almeida, foi adquirido, já em 1937 na

36
O documento foi localizado no acervo do IHGSE, no fundo de Correspondências da década de
1930, sob a catalogação A, b, Cx. 040, Doc. 1541. O acesso foi realizado no dia 07 de junho de 2018.
37
O documento foi localizado no acervo do IHGSE, no fundo de Correspondências da década de
1930, sob a catalogação A, b, Cx. 040, Doc. 1543. O acesso foi realizado no dia 07 de junho de 2018.
234

construção do novo pavimento para as instalações da Rádio Difusora, telhas de


zinco e vergalhões redondos38.

Figura 174 – Primeira


etapa da construção
Figura 173 – Início da Construção do IHGSE. do IHGSE.

Fonte: Autoria não identificada (1934); Publicada em Dantas Fonte: Autoria não
(2012, p. 137). identificada (1935);
Publicada em Dantas
(2012, p. 138).

Sobre a obra levada a cabo a partir de 1937, referente à construção do novo


pavimento superior, foi localizado o orçamento proposto por Altenesch para a
instalação dos “Studios da Estação da Radio Transmissora de Aracaju” 39,
datado de nove de março daquele ano. Neste há a indicação de que, de acordo com
a planta da obra, a laje seria de cimento armado sobre colunas e vigas e do mesmo
material seria construída a escada de acesso ao novo pavimento. Quanto às
divisões dos ambientes seriam erguidas em tijolos ou estuque.
Este orçamento também indica o partido adotado quanto ao rebatimento do
acrescimento de um novo pavimento nos planos das fachadas já existentes.
Segundo ele ―A fachada do predio e as partes lateraes que correspondem a este
novo andar serão elevados, sempre acompanhando o conjunto harmonioso da
architectura exterior do predio‖. Há então uma confirmação textual do que se

38
SERGIPE, abr. 1937, loc. cit.
39
Este documento foi localizado no acervo do APES em pesquisa realizada em 17 de outubro de
2
2017. Consiste em uma folha avulsa encontrada no fundo Viação e Obras Públicas V volume 05.
235

percebe quando são comparadas as fotografias da obra em 1935 (figura 174) e do


edifício finalizado (figura 165).
Este documento também dá pistas importantes quanto à ambiência dos
espaços internos, a partir da indicação dos materiais de acabamentos e
equipamentos que viriam a ser utilizados naquele novo pavimento. Alguns materiais
indicados atenderiam às especificidades das demandas de um estúdio de Rádio,
como o revestimento das paredes, dos tetos e colunas em Celotex40 ou Isotex, os
vidros duplos de seis milímetros entre os ―studios e a técnica‖ e as portas de seis
centímetros de espessura forradas com feltro grosso. Há também a indicação de
outros materiais, com destinação mais genérica, e que por isso revelam com mais
proximidade as escolhas para a ambientação dos espaços à época:

[...] Todas as portas internas serão de cedro de 3 cm. de espessura,


envernizadas.
O W.C. será revestido com azulejos brancos até 1m50 de altura
como tambem o toilette.
No W.C. será installada uma latrina de louça branca com caixa
automatica e tampa dupla de madeira.
No toilette será installado um lavatório de louça branca e dois
espelhos nas paredes, além d‘um banquinho para assento.
[...]
O tecto nos outros compartimentos será de madeira.
[...]
O assoalho será de tacos de madeira de lei em todos os
compartimentos sendo colocados ladrilhos hydraulicos na passagem,
da W.C. e no toilette.
A discoteca e o armário serão imbutidos com portas de cedro
envernizadas.
[...]
A pintura de todos os compartimentos será de estilo moderno, (grifo
nosso) a cola; sendo a oleo com 3 demão todas as partes em
madeira e ferro [...]

Nos outros pavimentos do prédio também foi utilizado o piso de parquet com
tacos de madeira, em padrões bicolores de diferentes desenhos (figuras 175 e 176).
Este mesmo revestimento foi adotado em residências de autoria de Altenesch, como
pôde ser conferido no bungalow de número 498 e nas residências Torquato Fontes e

40
De acordo com o dicionário virtual Collins, Celotex é o nome de uma marca de placas feitas com
bagaços de cana-de-açúcar, cuja finalidade é o isolamento em construções. A empresa Celotex foi
fundada em 1921 na Florida, Estados Unidos da América, e produzia materiais de construção como
placas de isolamento e coberturas. Cf. CELOTEX. In: Collins Dictionary, 2018. Disponível em:
<https://www.collinsdictionary.com/pt/dictionary/english/celotex> Acesso em: 13 jun. 2018; MAUNEY,
Matt; PACHECO, Walter. Celotex Corporation History. Asbestos, oct. 11, 2018. Disponível em:
<https://www.asbestos.com/companies/celotex.php> Acesso em: 10 nov. 2018.
236

Gervásio Prata. Assim, deduz-se que, àquela época, este era um material bastante
difundido nas práticas construtivas de Aracaju.
Interessante observar a classificação da pintura enquanto ―estilo moderno‖.
Considerando-se que neste período o que se difunde sob a alcunha ―estilo moderno‖
nas páginas de revistas especializadas, como A Casa, são as expressões
racionalistas, da simplificação geométrica do ornamento — quando presente — e
dos volumes, é possível que ao se referir à pintura das paredes enquanto
―moderna‖, estivesse se tratando de um mesmo princípio estético. Ao serem
observadas as fotografias mais antigas do interior do edifício, que revelam paredes
claras e lisas, talvez se tenha notícia do que seria esta modernidade para os
revestimentos das paredes (figura 158 e 160).

Figura 175 – Salão de leitura do pavimento térreo do Figura 176 – Parquet do


IHGSE. auditório do IHGSE.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Ainda sobre o tratamento das superfícies internas, percebeu-se, nas visitas


realizadas ao edifício, que a maioria dos vértices entre as paredes e o teto dos
ambientes do pavimento térreo foi suavizada por abaulamento. Assim como o uso
dos tacos de madeira, a adoção deste acabamento também pôde ser verificada em
obras residências de Altenesch. Outro elemento de conexão entre a obra
residencial, mais precisamente o bungalow de número 498 e o edifício do IHGSE, é
a presença de pequenas envasaduras, quais respiros, situados no alto de algumas
paredes, criando conexão de ventilação entre alguns ambientes (figura 175). Estas
características em comum entre as obras residências não só contribuem para o
237

entendimento das práticas construtivas daquele momento, mas também indicam


soluções plásticas e técnicas que perpassam a obra do alemão e lhe dão coesão.
Ainda sobre os materiais e suas procedências, para a etapa da construção
iniciada em 1937, foi possível identificar também a contribuição do Instituto ―Coelho
e Campos‖. Na ata dos ofícios expedidos pelo interventor Eronides Carvalho
naquele ano de 1937, foram encontrados os registros dos pedidos dirigidos àquele
Instituto solicitando talhadeiras em aço de uma polegada e um reservatório de água
de 500 litros41. Em registro no Diário Oficial é indicada a solicitação ao mesmo
Instituto de confecção de 40 grampos de 5/8 que seriam utilizados naquela obra 42.
Segundo Malta43, este Instituto, que funcionou de 1922 a 1944 em Aracaju, tinha
como principal finalidade a profissionalização de jovens para as artes e ofícios
industriais, qualificando trabalhadores para serviços de infraestrutura, transporte,
construção civil, vestuário etc. Era um espaço educacional que também atendia às
demandas externas por meio de suas oficinas, contanto com profissionais e
aprendizes de marceneiros, ferreiros, fundidores, modeladores, torneiros,
fresadores, mecânicos, condutores de máquinas e motores e montadores
eletricistas44. Este achado contribui para o entendimento das relações e dos agentes
da construção civil em Aracaju, bem como acerca da condição e origem de parte da
materialidade constituinte das obras erguidas neste período.
Assim como havia sido proposto para o Palácio das Letras e se configurou na
construção da Biblioteca Pública, a implantação do edifício do IHGSE foi mais um
elemento de verticalização na visualidade da cidade. Ainda que possua apenas três
pavimentos, tinha desde a primeira fase de sua construção — que foi parada em
1935 (figura 175) — na sua seção central uma altura considerável para os padrões
da cidade (figuras 177 e 178). A sua composição zigue-zague, possivelmente
vinculada à vontade de altura do arranha-céu, parece ter se configurado como um
marco de modernidade para a então horizontalizada Aracaju.

41 1
Estas informações foram localizadas no volume 2275 do Fundo G do acervo do APES. Os ofícios
citados estão registrados respectivamente sob os números 205 e 453.
42
SERGIPE, maio 1937, loc. cit.
43
MALTA, Marina Oliveira. O ensino profissionalizante em Sergipe: contribuição do Instituto
profissional Coelho e Campos (1922-1944). 2010. 235 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010, p. 16.
44
Ibid., p. 82.
238

Figura 177 – O IHGSE destacado em altura Figura 178 – O IHGSE destacado em


(canto superior à direita) na Aracaju da altura (à esquerda) na Aracaju da década
década de 1940, em fotografia tirada do alto de 1940, em fotografia tirada do Parque
da Biblioteca Pública. Teófilo Dantas.

Fonte: Autoria não identificada [193-]; Fonte: Autoria não identificada [193-?];
Publicada em Diniz (2009, p. 219). Publicada em Melins (2007, p. 241).

4.3 O QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS MUNICIPAIS DE ARACAJU

Assim como ocorreu para o projeto do Palácio das Letras, Altenesch também
participou de uma concorrência pública para a escolha do projeto do Quartel do
Corpo de Bombeiros Municipais de Aracaju. Neste caso, contudo saiu vencedor,
tendo recebido por isso o prêmio de 500$000. Ele foi o autor do projeto, no entanto a
execução ficou a cargo da construtora Emilio Odebrecht & Cia. O batimento da
pedra ocorreu no dia primeiro de maio de 193645 e a inauguração do edifício foi
realizada em dois de abril de 193746.
O edital para a elaboração do projeto, originalmente aberto em 14 de janeiro de
193647, e depois reaberto em 29 de fevereiro do mesmo ano 48, oferecem
informações norteadoras sobre o projeto pretendido e as diretrizes ali contidas
auxiliam na compreensão do partido adotado por Altenesch em sua proposta. Foi
previsto um prédio de dois pavimentos, cujo programa de necessidades deveria
suprir as seguintes demandas: no primeiro pavimento estariam localizados o Estado

45
O GOVERNADOR Eronides Ferreira de Carvalho Foi Recebido Jubilosamente Pelo Povo
Sergipano: O batimento da pedra simbólica do quartel dos Bombeiros Municipais. O Estado de
Sergipe, Aracaju, 3 maio 1936, ano IV, n. 901, p. 2.
46
AS FESTAS de hoje. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 abr. 1937, ano V, n. 1164, p. 1.
47
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 2: Chama concorrentes para a construcção de um quartel
para a Companhia de Bombeiros, como abaixo se declara. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 15 jan. 1936, ano XVIII, n. 6381, p. 125.
48
Id. Edital N. 6: Chama concorrentes para a apresentação de projectos para a construcção do
quartel da Companhia de Bombeiros. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 29 fev. 1936,
ano XVIII, n. 6418, p. 420.
239

Maior, o Corpo de Guarda, depósitos específicos para guarda de material,


armamento e fardamento, garagem para nove carros (no edital fez-se referência a
―depósito‖ para carros), um xadrez, latrinas e banheiros. Estas instalações sanitárias
do primeiro pavimento contariam com três latrinas, sendo que uma seria privativa
para os sargentos; banheiros para dez pessoas, sendo que deveriam ser reservado
espaço para banheiro de dois sargentos; e dois mictórios. Ainda no primeiro
pavimento, junto ao Estado Maior, seria instalada uma área privativa para ―oficiais de
dia‖, composta por quarto, W.C. e banheiro. No segundo pavimento estariam: uma
sala de espera, os gabinete do comando e do subcomandante, a secretaria e
contadoria, além do alojamento e das latrinas respectivas. Este alojamento seria
projetado de modo a abrigar 100 praças e mais dez sargentos, aos quais seria
reservado compartimento à parte. Foi prevista também uma torre para a suspensão
das mangueiras para secagem e onde deveria ser instaladas sirene e ―holophone‖.
Quanto à materialidade e técnica construtiva, o edital indicou que as escadas e
o piso do segundo pavimento seriam de concreto armado e que a cobertura seria em
telha do tipo francesa. Conforme o item VI, ao participante foi solicitado não só a
resolução espacial, mas também estrutural: ―Para as peças em concreto armado o
interessado escolherá a escala de acordo com as dimensões das mesmas e sem
sacrificada clareza necessaria‖.
Naquele mesmo item VI, referente à apresentação do projeto, foram indicadas
as condições gráficas em que as propostas deveriam ser entregues. Nestas
solicitações — que revelam uma postura moderna e atual — percebe-se a ênfase
dada à planta baixa, à resolução espacial e à situação com o sítio, bem como à
questão volumétrica. Assim, foi solicitado dos concorrentes que entregassem o
material gráfico organizado do seguinte modo, indicando as escalas para
representação:

1:100 para as plantas dos pavimentos e do telhado.


1:50 para as fachadas, secções transversaes e longitudinaes.
1:20 para os detalhes.
1:200 para as plantas de situação, mostrando a posição do predio
dentro do terreno.
[...] Sem ser obrigatório a exigência, seria, todavia, de bom alvitre
que os srs. Concorrentes juntassem uma perspectiva da
construcção.
240

Em relatório de 21 de março de 1936, assinado pelos engenheiros Adbeel


Góes Ferreira e Fernando de Figueiredo Porto49, membros da comissão julgadora
das propostas para esta nova sede dos Bombeiros, foram encontradas as
justificativas da vitória do projeto de Altenesch, inscrito de forma anônima sob o título
de ―Sergipe‖. O alemão concorreu com mais dois participantes, certamente a
construtora Emilio Odebrecht & Cia e o construtor Manuel Franklin da Rocha.
Segundo os relatores, o projeto ―Sergipe‖ reuniu as melhores condições, já que
apresentou ―a melhor fachada, uma excellente disposição interna, disposição que se
destaca pela independência de quasi totalidade das diversas salas, o que não foi
conseguido pelos outros projectos‖. Além disso, Altenesch teria, sem aumento de
área, previsto a localização de um compartimento para serviços médicos, solução
esta não prevista no edital, mas que os julgadores compreenderam como louvável.
Com relação à solução estrutural, foi escrito que ―a folha de calculo das estructuras
em concreto armado mostra um estudo preciso que conduziu a dimensões mínimas
para as secções, o que é fator de economia‖.
O projeto ―Sergipe‖ de Altenesch obteve a nota 40, frente aos 30 pontos
obtidos pelo projeto ―Ima‖ e os 36 pontos obtidos pelo outro, submetido sem nome. A
nota obtida para a solução para a estrutura em concreto armado foi a maior dos três
concorrentes: obteve oito pontos frente aos sete do projeto ―Ima‖ e os cinco da outra
proposta.
No edital de concorrência para a construção do Quartel50, lançado em 24 de
março de 1936, foram dadas as diretrizes para a construção de forma que os
concorrentes apresentassem as suas propostas orçamentárias. Considerando-se o
fato de que o projeto de Altenesch já havia sido escolhido pela comissão julgadora,
pode-se afirmar que as diretrizes lançadas neste edital se alicerçaram na proposta
do alemão. Não é claro se a escolha dos materiais especificados estava indicada no
projeto de Altenesch ou se iniciativa da própria seção técnica da Prefeitura
Municipal, que estava à frente do processo. O fato é que este texto oferece detalhes
interessantes sobre a condição dos materiais de construção que estavam sendo
utilizados nas obras públicas sergipanas à época, bem como com relação às

49
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 abr. 1936, ano
XVIII, n. 6464, p.591.
50
Id. Edital N. 7: Chama concurrente para construcção de Quartel da Companhia de Bombeiros deste
Municipio. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 25 mar. 1936, ano XVIII, n. 6438, p. 571.
241

técnicas e práticas construtivas. O cimento nacional estaria presente em muitos


momentos da construção, mas também se utilizavam materiais extraídos no próprio
estado, como a ―areia grossa de Riachuelo‖ e a ―cal de Lagarto‖. Vale a pena a
transcrição da integralidade do item III do edital, que traz este detalhamento:

A construcção obedecerá ás seguintes especificações:


Alvenarias: Nas fundações deverão ser de pedras de bôa
qualidade ligadas por argamassa de cal, areia e cimento na
proporção de 1:3; 0,5. As paredes serão de alvenaria de tijolos,
duros, sonoros e bem cosidos, ligados por argamassa de cal e areia,
na proporção de 1:3.
Concreto armado: será feito de pedra granítica, areia grossa de
Riachuelo e cimento nacional, dosagem A-350 (350 kilos de cimento,
800 litros de areia e 800‘ de pedra por metro cubico).
Pisos: O piso do deposito de carros será de paralelepipedos
rejuntados a cimento, assentes sobre a baze bem consolidada.
Serão assoalhadas as salas do Estado Maior, Corpo da Guarda,
Alojamento e Xadrez. Os demais pisos serão, no pavimento inferior,
de lençol de cimento e areia traço de 1:3, sobre encalcetamento de
10 cms. de espessura e no andar superior, e lençol de cimento,
mesma dosagem, lançado sobre a placa de concreto.
Paredes: Serão rebocadas com argamassa de areia traço 1:2 e
caiadas a duas demãos com cal de Lagarto, excepto nas salas do
Estado Maior, Corpo da Guarda, Secretaria e Contadoria, Sub
Commandante, Sala de Espera e Commandante, que serão pintadas
a colla em desenhos e cores aprovadas por esta Prefeitura. As
fachadas visíveis na via publica serão coloridas incorporando-se na
argamassa de cal e areia lavada, no traço de 1:2, o corante que se
desejar. As portas, janelas e peças metálicas serão pintadas a oleo.
Forros: No primeiro pavimento servirá de forro a propria placa
de concreto, reparando-se as imperfeições resultantes da moldagem.
No segundo pavimentos as salas serão forradas de madeira.
Portas e janelas: Serão de madeira (cedro), aquellas
almofadadas e estas de acordo com o projecto. As plantas indicarão
as portas e janelas que podem ser lizas.
Trelhado: Será de telha do typo francez e armado com madeira
de lei. As calhas e conductores serão de ferro zincado.
Passeios: Internamente o predio será circundado por um
passeio de cimento, largura de 0,m60 e sargetas para aguas
pluviaes. Externamente terá um passeio a trotoir da largura de
1,m80.
Intallações sanitárias: Todo o material alli empregado será de
primeira qualidade. As paredes levarão azuleijo até a altura de
1,m80.
A porta central será metallica, dobradiça.
A cargo do constructor ficarão as intallações de agua, luz e esgoto.

Não foi possível localizar as plantas originais do projeto de Altenesch. Logo, a


representação gráfica aqui utilizada para as analises (figuras 179 e 180) são
242

resultados da sobreposição de levantamentos cadastrais encontrados junto às


fotografias antigas do prédio (181, 182, 183 e 184)51.

Figura 179 – Localização e implantação do Quartel do Corpo de Bombeiros


Municipais de Aracaju.

Fonte: Levantamento cadastral realizado pela CEHOP (2007); Edição elaborada


pelo autor (2018).

Para a implantação do Quartel (figura 179), originalmente foi adotado um


partido pautado no alinhamento simétrico com relação aos limites frontais do terreno.
Conforme indicado no edital para elaboração do projeto, o terreno tinha 68 metros
―de fundo‖ e 25 metros ―de frente‖, medida estas que não condiz com a largura atual

51
Foram localizados dois levantamentos cadastrais, ambos no acervo da CEHOP. O mais antigo, a
grafite, foi encontrado na mapoteca daquela instituição, datado de outubro de 1991 e de autoria de
Galdino e James. O segundo, mais recente, digitalizado por autocad, foi elaborado em 2007
igualmente pela CEHO e assinado pelo técnico em edificações Carlos Augusto Andrade Barros. Em
ambos os levantamentos é possível identificar uma massa construída muito maior do que aquelas
percebidas nas fotografias antigas do prédio, e que também excederiam em muito a dimensão do
programa original indicado pelo edital para o projeto. Assim, os desenhos que ilustram essa análise
tiveram como base esta documentação mais antiga que se aproxima da originalidade da arquitetura
do Quartel.
243

do terreno do Quartel já que no correr dos anos recebeu ampliação para sul. A
massa do edifício, que foi expandida por toda esta extensão frontal, respeitados os
recuos laterais de 1,70 m, recebeu um alongamento ao longo da face norte,
conformando assim uma composição em ―L‖. Esta implantação, em sua seção
frontal, muito se assemelhou com a proposta do projeto para o Palácio das Letras: o
alinhamento ao limite frontal do terreno, os recuos laterais, a extensão da fachada
frontal por toda a largura do terreno e a composição simétrica deste plano são
características que unem ambos os projetos. Aqueles recuos laterais autorizaram
que as fachadas mais próximas aos limites do lote — particularmente a fachada
norte, por ser mais extensa — recebesse uma serie de envasaduras, respeitando
assim o principio de que todos o cômodos do prédio viessem a ser providos de
―arejamento e insolação‖52. A noção da salubridade das edificações, associada à
permeabilidade ao sol e à ventilação, era uma questão consolidada na práxis
projetual da época e inclusive era quesito destacado nas avaliações dos projetos
concorrentes nos editais para obras públicas em Sergipe à época, como pôde ser
checado no processo de seleção do Palácio das Letras e igualmente no texto de
avaliação dos projetos para este Quartel.
Quanto à resolução da espacialidade e do fluxo de circulação (figura 180)53,
nota-se a adoção de uma postura delineada sobre princípios de funcionalidade e
racionalidade. A simetria presente na implantação da seção frontal e na fachada não
foi replicada ao nível da planta, indicando a vocação do partido em atender ao
programa de forma restritamente pragmática. Se em todo o projeto do Palácio das
Letras e no pavimento térreo do IHGSE percebe-se um partido pautado em simetria
e axialidade, para o Quartel do Corpo de Bombeiros Altenesch se ateve em
organizar os ambientes de forma a atender as demandas do uso, sem a
preocupação em deixar legível na planta as diretrizes tradicionais de composição
arquitetônica presentes na implantação daquela seção frontal e na fachada. Estes
princípios ditaram a centralidade do acesso principal, bem como das envasaduras
dos ambientes da dianteira, no entanto foram diluídos pela distribuição
despretensiosa dos espaços internos.

52
ARACAJU, abr. 1936, loc. cit.
53
A indicação dos ambientes exposta na figura 178 leva em consideração as informações localizadas
no levantamento cadastral de 1991, encontrado no acervo da CEHOP.
244

Figura 180 – Plantas baixas do Quartel do Corpo de Bombeiros Municipais de Aracaju.

Fonte: Levantamento cadastral realizado pela CEHOP (1991); Pranchas localizadas no


acervo da CEHOP sob os códigos D22-0879-001 e D22-0879-012; Edição elaborada
pelo autor (2018).

A circulação horizontal foi delineada por faixas dispostas nos limites da


edificação voltados para o interior do terreno. Estas faixas de circulação não só
possibilitaram a distribuição do fluxo, como também permitiram a integração visual e
espacial com o pátio. Para a circulação vertical comum foi designada uma escada na
interseção entre as duas seções do edifício. Para o acesso à torre, foi designada
uma escada em balanço nascida da circulação do pavimento superior. Ao aspecto
da funcionalidade da proposta certamente estaria vinculada a consideração da
245

comissão avaliadora quando elogiou o projeto de Altenesch pela ―excellente


disposição interna‖ e ―independência de quasi totalidade das diversas salas‖.
É possível supor que a adoção de um partido desvinculado de um
agenciamento tradicional, diferentemente daquele que permeou os projetos do
Palácio das Letras e do IHGSE, tenha se dado pelo perfil contido do programa.
Enquanto os dois outros supracitados projetos tinham em suas agendas a
integração com o espaço público — e, portanto as suas espacialidades se
configurariam também enquanto elementos de contemplação — o Quartel estava
destinado a aportar atividades exclusivamente internas, voltadas para si. Desta
forma, se a funcionalidade já estava presente na configuração daqueles outros
projetos — ainda que tangenciada por uma ambivalência devido à presença do traço
tradicional — para atender o Quartel de Bombeiros o princípio da funcionalidade foi
adotado de modo mais genuíno.

Figura 181 – Vista a partir do pátio interno Figura 182 – Vista a partir do pátio interno
do Quartel do Corpo de Bombeiros do Quartel do Corpo de Bombeiros
Municipais de Aracaju. Municipais de Aracaju.

Fonte: Autoria não identificada [197-?]; Localizadas no acervo do APMA.

A racionalidade também se faz perceptível na configuração do partido,


principalmente quando se observam os aspectos estruturais. Como revelou o
texto de avaliação dos projetos, a folha de cálculos das estruturas em concreto
armado presente na proposta de Altenesch mostrou um ―um estudo preciso que
conduziu a dimensões mínimas para as secções, o que é fator de economia‖. Esta
constatação fica clara ao se facear a configuração aparente da estrutura da
garagem, com sua trama de vigas misuladas e pilares distribuídos de modo regular
(figuras 180, 181 e 182). Nos projetos do Palácio das Letras e no IHGSE
246

(particularmente no térreo), a solução estrutural foi estabelecida a partir de uma


relação de interdependência com a solução espacial, o que restringia a
racionalidade no uso do concreto armado. No caso do Quartel do Corpo de
Bombeiros — mais especificamente nesta seção posterior do pavimento térreo
referente à garagem — pela ausência de um uso diferenciado que demandasse
agenciamento espacial determinante, foi possível alcançar uma independência total
da estrutura, aspecto que se refletiu na racionalidade do plano.
Com relação à questão volumétrica, para o edifício do Quartel do Corpo de
Bombeiros se propôs um tratamento similar àqueles dos projetos do Palácio das
Letras e do IHGSE. Esta semelhança está relacionada ao deslocamento da fachada
em relação aos limites do volume da edificação propriamente dita. Adotou-se um
partido fachadístico, em que a arquitetura estabelece a sua relação com a rua
através de um plano frontal; a partir de uma postura cenográfica. Atrás desta
fachada foi proposta uma arquitetura simplificada, funcional, coberta por telhas
francesas.

Figura 183 – Quartel do Corpo de Bombeiros Figura 184 – Quartel do Corpo de


Municipais de Aracaju. Bombeiros Municipais de Aracaju.

Fonte: Revista Illustração Brasileira (Rio de Fonte: O Estado de Sergipe (Aracaju, 2


Janeiro, nov. 1940, ano XVIII, n. 67, p. 54). abr. 1937, ano V, n. 1164, p. 10).

No plano da fachada principal foi delineada uma composição baseada na


simetria e axialidade. A porta de acesso encimada por balcão e envasadura do
pavimento superior, bem como a torre disposta sobre a cobertura daquela seção
frontal do edifício, são os elementos que indicam o eixo. Trios de envasaduras
vedadas por janelas basculantes elaboram os trechos laterais desta fachada.
Diferente das propostas do Palácio das Letras e do IHGSE, neste a ênfase
247

ornamental é dada à horizontalidade. Apesar da verticalidade do volume da torre,


bem como do escalonamento espaçado da platibanda, a predominância visual foi
conferida às linhas horizontais que seccionam o plano em questão. Não são
encontradas neste edifício a sobreposição e escalonamentos superficiais aplicados
naqueles outros projetos e o seu ornamento foi resumido às faixas delimitadas pelos
limites das janelas — em que se aplicou superfície em zigue-zague de padrão muito
semelhante àquele presente nos bungalows da Rua Vila Nova e no arremate do
IHGSE —, e aos frisos verticais que emolduram estas faixas.

Figura 185 – Quartel do Corpo de Bombeiros Municipais


de Aracaju.

Fonte: Registro fotográfico feito pelo autor (2013).

A solução estética para o Quartel dos Bombeiros desenhada por Altenesch,


ainda que se utilize de um repertório ornamental, formal e compositivo que o vincule
à plástica festiva daquelas outras suas propostas que aqui se associa a uma
suposta modernidade da verticalidade, anuncia o flerte com outras expressões da
modernidade arquitetônica da época. Estas outras modernidades se teriam como
pauta a horizontalidade, a simplificação ornamental das superfícies, maior
permeabilidade das envasaduras e mais clara expressão dos aspectos estruturais
no plano da fachada. A austeridade associável a uma instituição de segurança
pública pode ter sido a razão para que se adotasse para este edifício um semblante
igualmente austero, sóbrio e pragmático.
248

4.4 O PALÁCIO SERIGY

Quase paralelamente sucedeu às obras do Quartel do Corpo de Bombeiros a


reforma que viria a dar origem ao Palácio Serigy, ainda que pare este último tenha
sido necessário um tempo maior. O Palácio Serigy foi inaugurado em 28 de
novembro de 1938, tendo as suas obras começado em 15 de junho de 193654. De
início, a reforma feita a partir das ruinas da antiga cadeia localizada na Praça da
Alfândega (atual Praça General Valadão), seria destinada ao alojamento dos
serviços agrícolas e à Polícia Civil, incluindo a corporação da Guarda Civil e a
Inspetoria de Veículos. No entanto, em virtude do plano de reforma nacional da
Saúde Pública, e por orientação do Dr. Barros Barreto, diretor do Departamento
Nacional de Saúde à época, o Interventor Eronides de Carvalho resolveu instalar
naquele prédio o Centro de Saúde, destinando para tal fim os dois primeiros
andares, mantendo no terceiro as repartições estaduais e federais de Agricultura do
Estado55.
Em discurso proferido na solenidade de inauguração do Palácio, o Dr. Cláudio
Magalhães, diretor do Departamento de Saúde Pública de Sergipe, trouxe
informações que auxiliam na compreensão do programa do edifício e sua vocação
dentro da cidade56:

[...] O Centro de Saúde de Aracajú: que abre hoje suas portas à


população da cidade é uma unidade sanitária completa que enfeixa
em sua organização todas as atividades de Saúde Pública.
O Centro de Saúde é a última palavra (grifo nosso) em matéria de
Saúde Pública.
Ao par de ser econômico, porque agrupando em um só ponto todos
os seus Dispensários, tem facilitado a sua administração, é um
serviço de grande comodidade para a população, que para
frequentá-lo não perderá tempo (grifo nosso) nem fará despesas de
condução por encontrar no mesmo local remédio para todos os
males.
O Centro de Saúde é composto dos seguintes serviços:
Administração, Estatística, Higiêne Prenatal, Higiêne Infantil,
Higiêne Preescolar, Higiene Escolar, Oftalmo-Oto-Rino
Laringologia, Assistência a Psicopatas, Gabinête Dentário,

54
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Mensagem Apresentada pelo Governador do Estado de
Sergipe, á Assembléa Legislativa do Estado, em 7 de setembro de 1936. Diario Official do Estado
de Sergipe, Aracaju, 17 set. 1936, ano XVIII, n. 6572, p. 2170.
55
CARVALHO. Eronides Ferreira de. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy.
Noticiário. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3255.
56
MAGALHÃES, Cláudio. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy. Noticiário. Diário
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3256-3257.
249

Tuberculose, Doenças Venéreas e Lepra, doenças


Transmissíveis, Saneamento e Polícia Sanitária, Higiêne da
Alimentação, Higiêne do Trabalho, Exames de Saúde,
Laboratório e Serviço de Visitadorias de Saúde Pública. (grifo
nosso)
A ação do Centro de Saúde não se limitará, aqui nesta casa, em
seus Dispensários.
O Centro de Saúde exercerá sua influência nos domicílios, nas
Escolas, nas Fábricas, nas casas de Gêneros Alimentícios, no seio
da população enfim.
Convem porem não esquecer que ao par das instalações modernas
de que está dotada hoje a Saúde Pública de Sergipe, possue ela um
côrpo de técnicos especializados dos mais capazes e
empreendedores (grifo nosso)[...]

Percebe-se que o Centro de Saúde foi proposto para a cidade enquanto um


equipamento de modernização. Evidencia-se, neste texto, a postura getulista
centralizadora amparada em políticas públicas de controle social, por meio das
práticas higienistas e sanitaristas nos campos da Saúde e Educação, alicerçada nas
ideias de progresso técnico-científico e urbanidade. A arquitetura, assim, foi tomada
como meio de materialização desta postura governamental. Esta compreensão da
arquitetura enquanto ferramenta refletora do pretendido progresso se manifestou ao
nível do discurso oficial, como pode ser visto na fala do Interventor Eronides de
Carvalho, na sua fala à inauguração do Palácio57. Ali, a modernidade arquitetônica
está manifesta tanto no âmbito da sua espacialidade, como também na sua
visualidade e relação com o espaço urbano. Quanto à espacialidade, são
associadas noções de eficiência e funcionalidade, como se vê no excerto a seguir:

[...] Todas as dependências do Palácio ‗Sergiy‘ fôram construídas


para o mister a que se destinam [...] São absolutamente modernas,
também, as instalações do terceiro andar, de modo a preencher,
igualmente, as finalidades do serviço [...] Acredito que, nêste Palácio,
desenvolver-se-á, com eficiência, o nosso serviço de Saúde Pública
[...]

No que concerne ao aspecto visual, a modernidade do edifício foi indicada pelo


contraste à arquitetura da antiga Cadeia, ―monstrengo arquitetônico‖ a que se
associou problemas de salubridade e segurança social, como pode ser conferido a
seguir:

57
CARVALHO, 1938, loc. cit.
250

[...] Surgiu o Palácio ‗Sergigy‘, do antigo edifício da Cadeia Pública,


mostrengo arquitetônico que, no abandono em que estava, vinha
ameaçando a graça das nossas ruas e praças e a saúde do povo.
Não poderia jamais consentir que se perpetuasse essa situação em
que, afóra a parte estética, sofria, extraordinariamente, o lado
higiênico-social de Aracajú, uma vez que aqui o monturo corria
parelhas com o abandono, num desafio constante aos poderes
públicos. Resolvi solucionar a questão, fazendo desaparecer o que
era, sem exagero, uma nódoa na beleza inegualavel desta cidade de
céu tão claro [...]

Figura 186 – Antiga Cadeia de Aracaju.

Fonte: Livraria Brasileira (1908); Acervo Digital da Biblioteca


Nacional. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografi
a/icon1465655/icon1465655.jpg>. Acesso em: 7 jul. 2017.

Figura 187 – Antiga Cadeia de Aracaju.

Fonte: Autoria não identificada [19--?]; Publicada em Infonet.


Disponível em: <http://www.infonet.com.br/entretenimento/
fotosantigas/ler.asp?id=123683> Acesso em: 28 jun. 2018.
251

Em fotografias da antiga Cadeia (figuras 186 e 187), nota-se que possuía uma
visualidade associável às estéticas tradicionais do historicismo, com suas janelas
ogivais advindas do neogótico e modenatura classicizante. A reformulação do
edifício por Altenesch, portanto, serviu à renovação da cidade, afastando ―a
monotonia passadista dos nossos motivos arquitetônicos‖, para citar a fala do
Prefeito Godofredo Diniz ao homenagear o alemão em seu decreto nº 39 de 194058.
Esta atualização arquitetônica foi emblemática para os processos de modernização
urbana que ocorreram na Aracaju dos anos 1930, já que teve como cenário
justamente a quadra-inicial, o ―marco zero‖ da Aracaju capital fundada em 185559,
um dos pontos urbanisticamente mais consolidados nas primeiras décadas do
século XX. Tal fato recebeu grande atenção dos meios de comunicação e se
constituiu um marco na cidade de Aracaju a revelar os anseios pelo progresso
difundido no Estado Novo, como pode ser lido a seguir, em textos que revelam o
contraste entre o passado, representado pela antiga cadeia em ruínas, e a cidade
dinâmica que se moderniza, representada pela praça e edifício de linhas
―moderníssimas‖:

[...] Quem conheceu a velha fortaleza que até há bem pouco tempo
[...] serviu de penitenciaria, ficará em verdade surpreendido da
remodelação por que a fizeram passar, transformando-a no edificio
suntuoso e altaneiro, de linhas moderníssimas que hoje é, como si
uma Fada a tocara com a classica varinha de condão... [...] a
adaptação a que submeteram a CADEIA VELHA foi a mais integral,
de molde a surpreender pelo engenho de quem a delineou e
executou rigorosamente. Altenesch, o engenheiro inteligente e
operoso, a quem Aracaju deve já o aspecto renovado dos seus
grupos de bungalows distintíssimos, foi o executor emérito da
remodelação em apreço, empreendimento que, destacado de sua
atuação dinâmica como transformador da feição arquitetônica de
nossa formosa capital, bastaria recomendá-lo ao apreço dos
aracajuanos [...]60

[...] Em Aracaju, porém, havia um quê, contristando com o seu belo


panorama Marginando uma modernissima e artisticamente
arborizada praça de nossa capital, erecto no seu mal juxtaposto
esqueleto, erguia-se um velho pardieiro que infelizmente sobressaia-
se na negrura do seu semblante, tornando-se uma triste nota que
muito desprestigiava a nossa cidade. Mas, eis que a remodelação

58
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39 de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
59
PORTO, Fernando. A cidade de Aracaju 1855-1869: ensaio de evolução urbana. 2.ed. Aracaju:
Governo de Sergipe/FUNDESC, 1991, p. 16.
60
O PALÁCIO Serigí... Folha da Manhã, Aracaju, 30 nov. 1938, ano I, nº. 246, p. 1.
252

dinamica de Aracaju invade avassaladoramente as ruinas daquele


antiquado predio, e no seu desenvolvimento transforma-o no
majestoso edificio que hoje é honrado com o primeiro lugar entre os
seus iguais de Sergipe [...]61

Sobre a condição da praça citada no excerto anterior, cuja reforma antecedeu à


do Palácio Serigy, é possível perceber por fotografias (figuras 194, 204 e 205),
alguns elementos plásticos vinculados aos zigue-zagues e escalonamentos muito
próprios a algumas escolhas estéticas da época — como o coreto ao centro — fato
que indica a sua contemporaneidade referente à obra aqui estudada. É possível que
o paisagismo da praça tenha sido fruto da ação criativa de Vladimir Preiss, técnico
da Prefeitura do Distrito Federal que esteve por algum tempo a serviço da Prefeitura
de Aracaju por convite de Godofredo Diniz62. Preiss foi o autor, como relata Eronides
de Carvalho, dos jardins do Serigy, e estes foram desenhados no ―estilo marajoara‖,
compondo com o próprio nome do edifício a associação à temática indigenista em
voga no período.
Voltando-se propriamente para a análise do edifício, deve-se indicar que não
foram encontrados desenhos originais, mas levantamentos cadastrais e projetos de
reforma que conduziram, junto à observação in loco, à elaboração do material
gráfico aqui exposto e estudado63.

61
LIMA, J. Dantas de Brito. O Palácio ―Serigí‖. Folha da Manhã, Aracaju, 2 dez. 1938, ano I, n. 248,
p. 1.
62
BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
63
No acervo da mapoteca da CEHOP foram encontrados levantamento cadastral e projeto de
reforma elaborados em 1975 pela Superintendência de Obras Públicas do Estado (Sudope) em 8
folhas com os nomes dos seguintes profissionais, os técnicos em edificação: Edilson Barbosa, Abdon
Araujo, Nivaldo Ferreira Santos e Jair dos Santos. Estes desenhos, os mais antigos que se conseguiu
referentes ao Palácio Serigy, serviram como base para que pudessem ser feitas correções em
levantamento de 2005 digitalizado em Autocad. Estes últimos desenhos, assinados pelo engenheiro
civil Roberto Wagner N. Viana em serviço prestado à Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe,
foram cedidos pela arquiteta Msc. Isabella Aragão Melo Santos. As indicações no material gráfico
produzido para esta análise referentes ao aporte estrutural do edifício foram elaboradas a partir da
visita in loco realizada no dia 26 de junho de 2018. Algumas questões ficaram em aberto, e por isso o
material gráfico aqui exposto é lacunar. Não foi possível representar, por exemplo, o pavimento
superior do prédio anexo, pela fragilidade das informações encontradas nos desenhos consultados
concernentes a esta parte do edifício. De um modo geral, há fragilidade considerável na
representação das plantas baixas, já que as pranchas de 1975, as mais antigas encontradas,
apresentaram baixa legibilidade com relação às linhas indicativas de reforma. Também não se pôde
conferir em todo o prédio os indícios do sistema estrutural, já que muitos tetos estavam forrados à
época da visita. Questões como a presença do elevador e as modificações das divisões dos
ambientes ao longo dos anos ficaram em aberto pela impossibilidade de acesso às plantas originais
da reformar conduzida por Altenesch. Desta forma, a leitura destes desenhos deve focar
particularmente os quesitos referentes à distribuição geral dos cômodos e a circulação.
253

A implantação do Serigy (figura 188), por ter se tratado de uma reforma,


seguiu as bases do antigo edifício de origem. O lote do Palácio ocupa toda a
extremidade da quadra, sendo por isso margeado por três logradouros. A massa do
volume principal do edifício, em ―T‖, foi implantada de forma simétrica com relação à
praça. Posteriormente, após a inauguração do Palácio em novembro de 1938, foi
construído um anexo atrás deste prédio principal. Altenesch foi igualmente o
responsável pela execução que adentrou o ano de 193964. Este anexo não seguiu as
premissas de simetria do prédio principal para a ocupação do terreno e foi
construído na região posterior do terreno, alinhado àqueles limites.
Ao serem comparadas as fotografias da antiga Cadeia com a conformação final
do Palácio Serigy percebe-se que a projeção do corpo principal do edifício em forma
de ―T‖ foi mantido, mas parece haver ocorrido uma diminuição dos braços laterais do
edifício. Esta provável diminuição possibilitou a criação de recuos laterais, onde
foram delineados jardins e estacionamentos. Outra mudança é referente à
construção de um terceiro pavimento, que não existia no edifício originário.

Figura 188 – Localização e implantação do Palácio


Serigy.

Fonte: Sudope (1975); Prancha localizada no acervo da


CEHOP sob o código D36-1287-001; Edição elaborada
pelo autor (2018).

A espacialidade do Serigy (figuras 189, 190 e 191) foi formatada pela


distribuição dos ambientes ao longo dos perímetros das edificações, interconectados

64 2
Foram encontrados no acervo do APES, no fundo Viação e Obras Públicas V , no volume 06,
algumas folhas orçamentárias que vinculam Altenesch às obras do anexo ao Palácio Serigy.
254

por veios de circulação delineados ao longo dos eixos. No caso do volume


principal, reconstruído a partir da antiga Cadeia, a distribuição seguiu os princípios
de simetria identificados na implantação da massa. Há um acesso principal, a partir
do volume frontal, que encaminha a breve hall. Deste compartimento de entrada, foi
dado o acesso è região central do edifício, de onde se irradiam os vetores de
circulação: tanto horizontais, pelos corredores que levam aos braços laterais do
edifício e ao anexo aos fundos, quanto os verticais, pelas escadarias gêmeas em ―L‖
localizadas nas imediações do acesso à área central de circulação. Identifica-se
atualmente um elevador anexo à escadaria da direita, e este elemento já estava ali
indicado nos desenhos de 1975 que serviram como base para a elaboração do
material gráfico aqui exposto. No entanto, a não detecção de informações sobre este
item nos documentos e textos encontrados do período da reforma original do edifício
levam à suposição de que tenha sido instalado posteriormente.

Figura 189 – Planta baixa do pavimento térreo do Palácio Serigy.

Fonte: Levantamento cadastral feito pela Sudope (1975); Pranchas localizadas no


acervo da CEHOP sob os códigos D36-1287-002 e D36-1287-008; Levantamento
cadastral elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde (2005); Edição elaborada
pelo autor (2018).

O fluxo da circulação naquela área central foi estabelecido, no pavimento


térreo, ao redor de um canteiro, onde foi colocada a estátua do Cacique Serigy
255

(figura 192), símbolo da resistência indígena à colonização portuguesa nas terras


sergipanas no século XVI e patrono do edifício. Nos pavimentos superiores e sobre
este canteiro central foram propostas aberturas que possibilitaram, pela fenestração
presente igualmente ao nível da cobertura, a entrada zenital de iluminação.
Originalmente, como está indicado na proposta de orçamento assinada por
Altenesch para a reforma do Palácio65, para aquela envasadura na cobertura foi
proposto um abrigo em telheiro sobre pilares de alvenaria de tijolo e ―assoalhado
com uma boca de luz‖. Esta abertura vertical no centro do edifício não só possibilitou
a distribuição de luz ao longo das galerias, mas também permitiu uma
permeabilidade visual e espacial entre os três pavimentos (figura 193).

Figura 190 – Planta baixa do primeiro pavimento superior do Palácio Serigy.

Fonte: Levantamento cadastral feito pela Sudope (1975); Pranchas localizadas no


acervo da CEHOP sob o código D36-1287-003; Levantamento cadastral elaborado
pela Secretaria de Estado da Saúde (2005); Edição elaborada pelo autor (2018).

65
Foi localizada no acervo do APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 05, uma cópia do
Orçamento para reforma da Antiga Cadeia, assinado por H. O. Arendt von Altenesch em Aracaju no
dia 5 de dezembro de 1937 e destinada à Repartição de Obras Publicas do Estado. Este documento,
em quatro folhas, foi localizado incompleto, e nestas podem ser conferidas os 12 últimos itens dos 17
referentes aos aspectos construtivos da reforma.
256

Figura 191 – Planta Baixa do segundo pavimento superior do Palácio Serigy.

Fonte: Levantamento cadastral feito pela Sudope (1975); Pranchas localizadas no


acervo da CEHOP sob o código D36-1287-004; Levantamento cadastral elaborado
pela Secretaria de Estado da Saúde (2005); Edição elaborada pelo autor (2018).

Figura 192 – Circulação Figura 193 – Integração


central do pavimento térreo vertical entre os pavimentos
do Palácio Serigy. do Palácio Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).


257

Para o edifício anexo (figura 189), manteve-se a concepção da circulação axial,


no entanto houve quebra da disposição simétrica dos ambientes iniciada no volume
principal. Este prédio, possivelmente construído a partir do solo, sem a determinação
de qualquer preexistência construída, e mesmo pelo desprivilegio visual com relação
aos logradouros, certamente foi concebido para atender basicamente as demandas
funcionais do seu programa, sem a necessidade da preocupação em manter o
status plástico e harmonioso do Palácio propriamente dito. Este anexo também
recebeu um andar superior (onde atualmente está locado um auditório), mas não foi
possível ilustrá-lo. O acesso a este segundo pavimento seria realizado pelo
pavimento equivalente do edifício principal, por terraço intermediário, sem a
possiblidade de acesso por escada no próprio edifício anexo. Este fato parece
revelar que os pavimentos do anexo não teriam relação direta entre si. Assim, como
no prédio principal, as demandas de salubridade, com aberturas para iluminação e
ventilação, foram amplamente atendidas neste anexo. O recuo do edifício em
relação aos limites posteriores do terreno, com a criação de uma área aberta de
ventilação, autorizaram a presença de envasaduras para todos os cômodos e,
consequentemente, o cumprimento das exigências por conforto atinentes à época.
Com relação aos aspectos construtivos e estruturais, por se tratar de uma
reforma de um prédio antigo do século XIX, para o edifício principal têm-se uma
resultante mista de tecnologias construtivas. Uma analise mais acurada demandaria
um estudo mais aprofundado, mas a simples observação in loco e das plantas já
denuncia o aproveitamento de parte da materialidade antiga. Este fato se evidencia
pela maioria das paredes dos pavimentos térreos e do primeiro pavimento superior
que ostentam larga espessura. O contraste da largura destas paredes com aquelas
do prédio anexo, que foi uma construção nova, parecem ser um atestado desta
suposição. Apesar do provável aproveitamento da ―estrutura‖ original, alterações
como abertura de grande número de envasaduras e criação de um segundo
pavimento superior levaram a uma reconfiguração do aporte estrutural. A própria
necessidade de batimento de lajes, em substituição dos prováveis assoalhos que ali
deveriam existir, deve ter se configurado como fator promotor de expressivas
modificações no esqueleto do edifício.
O recibo sobre o papel timbrado do escritório de Altenesch, citado na seção 2
(Anexo C), referia-se justamente ao fornecimento para a Diretoria de Obras do
258

Estado de ferros para as obras da ―Nova Chefatura de Policia‖66. Foram ao total,


naquele momento, fornecidos 1015 kg de ferro redondo de 1/4‖ e 320 kg de ferro
redondo de 3/8‖. Este documento evidencia que além de envolvido com o projeto e
com a condução da construção, o alemão igualmente esteve envolvido no
fornecimento de material. Também se evidencia o uso da estrutura metálica para a
restruturação do edifício.
Parte da estrutura do Palácio Serigy pode ser vislumbrada no interior do
Palácio e na sua volumetria (figura 194). Muitos dos pilares são determinantes nas
marcações verticais das fachadas, assim como alguns se fazem perceptíveis no
interior. Os pilares de sustentação da laje das galerias internas, bem como alguns
que se pronunciam nas paredes, são indícios expostos da renovação estrutural do
prédio. Também o são, e principalmente, as tessituras das vigas aparentes, em sua
maioria com mísulas. Estes elementos foram notados na formação das arcadas das
galerias centrais de circulação (figuras 192, 193 e 199) e em sequência nos
corredores dos pavimentos térreo e primeiro superior (figuras 195, 196 e 198). Estas
vigas misuladas confirmam uma prática tecnológica e construtiva de Altenesch que
já havia sido anteriormente anunciada no projeto do Palácio das Letras, e nas
construções dos IHGSE e do Quartel do Corpo de Bombeiros.

Figura 194 – Palácio Serigy durante a reforma.

Fonte: Autoria não identificada [1937?]; Localizada no


acervo do Instituto Tobias Barreto.

66
À época, em dezembro de 1937, a reforma ainda visava a restruturação do prédio para receber a
Chefatura da Polícia, por isso o recibo assim está referendado.
259

Figura 195 – Vigas misuladas Figura 196 – Vigas misuladas


aparentes no pavimento térreo aparentes no primeiro
do Palácio Serigy. pavimento superior do Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Figura 197 – Vigas aparentes Figura 198 – Vigas e mísulas


na circulação central do aparentes no primeiro
primeiro pavimento superior pavimento superior do Palácio
do Palácio Serigy. Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

O mesmo padrão estrutural foi identificado ao longo de todo o corredor do


térreo do prédio em anexo (figura 200). Sobre as obras deste edifício complementar,
foram encontradas folhas de pagamento em que estão descritos os serviços que
vieram a ser executados por Altenesch, e que explicitam aspectos de sua
materialidade. Assim, foi possível descobrir que seus alicerces foram feitos em
alvenaria, alvenaria de tijolos foi utilizada para os dois andares, concreto foi utilizado
260

para as colunas, vigas e marquise67 e a laje feita de cimento armado com 10 cm de


espessura68.

Figura 199 – Vigas e mísulas aparentes Figura 200 – Vigas, mísulas e pilares
na circulação central do segundo aparentes na circulação do primeiro
pavimento superior do Palácio Serigy. pavimento do anexo do Palácio Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Algumas informações puderam ser coletadas acerca da ambiência do Palácio.


No orçamento anteriormente citado referente à reforma da Cadeia, existem algumas
indicações sobre os materiais utilizados na construção, referentes às instalações e
acabamentos. Os tetos teriam sido forrados por pinho ―Paraná‖ do tipo ―Americano‖;
alguns ambientes —―Injeções homens, Exames Médicos, Injeções Mulheres, Sala
espera, Laboratorio, Lactario, Pezagens creanças, Todos os W. C. e Lavatorios‖ —
seriam revestidos até 1,50 m com azulejos brancos nacionais e as pinturas internas
seriam de cola com ―decorações adequadas‖. Para os pisos foi indicado o uso de
ladrilhos hidráulicos, o que pode ser conferido em fotografia da época (figura 201).
Os encanamentos seriam de ferro galvanizado e a instalação elétrica, embutida,
forneceria 52 pontos de luz e 12 tomadas.
A partir de registro da época (figura 202), e pela observação in loco (figura
203), percebe-se o uso de barras cilíndricas de ferro como elemento de segurança
interno às fitas verticais das janelas do volume frontal. Este padrão de barras
cilíndricas, com a finalidade de proteção, foi igualmente observado nas janelas de
67
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 13 e fevereiro de
1939 a 7 de março de 1939 pelo Sr. H. O. Arendt von Altenesch contractante das obras de acrescimo
do ‗Palacio Serigy‘. Aracaju, 7 mar. 1939.
68
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 10 de fevereiro de
1939 a 10 de março de 1939 Pelo Sr. H. Arendt von Altenesch contractante das obras (de acrescimo
do ‗Palacio Serigí‘) Pronto Socorro, em construção. Aracaju, 8 mar. 1939.
261

configuração similar na sede do IHGSE. Outro padrão repetido nesta edificação, e


que foi observado em todas as outras obras a que se teve acesso, foi o abaulamento
das arestas das paredes e dos encontros das paredes com as lajes.

Figura 201 – Interiores do Palácio Serigy.

Fonte: Revista A Noite Ilustrada (Rio de Janeiro, 11 abr. 1939, n. 516, p. 33).

Figura 203 – Barras


cilíndricas de ferro como
Figura 202 – Gabinete do diretor do Centro de Saúde contenção em janela da
de Aracaju no Palácio Serigy. escada.

Fonte: Revista A Noite Ilustrada (Rio de Janeiro, 11


abr. 1939, n. 516, p. 32).

Fonte: Registro fotográfico


feito pelo autor (2018).

Assim como foi possível identificar que Altenesch forneceu material para a
construção, conforme revelado anteriormente69, outros fornecedores para a obra do
Serigy foram revelados na pesquisa. O Instituto Coelho e Campos, que também
contribuiu com os materiais da Radio Difusora na finalização do edifício do IHGSE,

69
Anexo C.
262

também teve participação na reforma do Serigy, conforme registrado em ata de


ofício expedido pelo Interventor em 23 de março de 1937 ―Pedindo confeccionar
alguns materiais nesse estabelecimento, conforme explicação do Eng.º Altenesch‖ 70.
Foram encontrados também registros do fornecimento de elementos de ferro (como
grades, porta, canos e suportes para pia) realizados por Rosendo José da Silva 71 e
de marmorite (pedras para bomba, filtro, pia e dragões) por Luiz Manoel de
Santana72.

Figura 204 – Palácio Serigy.

Fonte: Casa Amador [193-?]; Acervo do Instituto Tobias


Barreto.

No que tange à volumetria e visualidade das fachadas, esta intervenção de


Altenesch se diferencia dos seus outros projetos institucionais anteriormente
analisados, já que enquanto naqueloutros houve um partido muito mais voltado para
o tratamento da fachada principal, neste o edifício foi trabalhado plasticamente em
sua unidade volumétrica. A situação do prédio original certamente facilitou esta
tomada de postura, já que o terreno em três de suas faces já se abria para
logradouros circundantes e já demandava assim uma atenção às fachadas laterais.

70 1
Estas informações foram localizadas no volume 2275 do Fundo G do acervo do APES. O ofício
citado está registrado sob o número 184.
71
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 9 de maio de 1938 a
5 de setembro de 1938 Pelo Sr. Rosendo José da Silva contractante das obras do Edifício ‗Serigí‘.
Aracaju, 17 dez. 1938.
72
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 14 de abril de 1938 a
6 de setembro de 1938 Pelo Sr. Luiz Manoel de Santana contractante das obras Serviços de
marmorite no edifício Serigy. Aracaju, 24 set. 1938.
263

Logo, o alemão tomou partido desta pré-condição do edifício em sua relação com o
sítio e expressou algo de sua compreensão acerca da modernidade na arquitetura.

Figura 205 – Palácio Serigy.

Fonte: Revista Illustração Brasileira (Rio de Janeiro, nov. 1940,


ano XVIII, n. 67, p. 51).

O edifício principal, que consiste no Palácio Sergiy propriamente dito, como já


se nota na implantação e plantas, teve mantida igualmente nos planos das fachadas
a sua conformação simétrica (figuras 204 e 205). Foi-lhe atribuída uma configuração
cúbica, enfatizada pela regularidade da platibanda linear. Trata-se em verdade de
uma regularidade relativa, já que na finalização dos frisos do coroamento do volume
frontal, que avançam sobre o corpo posterior do prédio, se estabeleceu uma relação
de escalonamento irregular, que atribuiu movimento a estes elementos. Para este
edifício Altenesch, comparando-o com aqueles analisados anteriormente, adotou
uma ornamentação mais austera, menos recortada, cuja plasticidade parece ter sido
inspirada muito mais no simbolismo da velocidade — sugerida no dinamismo dos
frisos horizontais projetados e do abaulamento aerodinâmica das arestas do corpo
do prédio (figura 206)— do que na idealização das alturas, na verticalização zigue-
zague aplicada no Palácio das Letras, no IHGSE, na Companhia Rovel da Baía, e
em menor expressão no híbrido Quartel do Corpo de Bombeiros. A verticalidade
apareceu apenas nas janelas em fita do volume frontal, mas mesmo assim se tratou
de uma verticalidade contida, limitada pela marcação horizontal da base e do
coroamento do prédio. Estas janelas verticais do volume frontal foram divididas em
três trios na face frontal e trios de janelas isoladas nas faces laterais. As janelas da
264

parte posterior do edifício foram distribuídas em conjuntos tripartites, limitados por


frisos horizontais ao nível das vergas e peitoris. Nos conjuntos das fachadas frontais
e posteriores, entre cada trio de janelas, foram aplicados frisos equivalentes aos
presentes sobre a platibanda, dando ênfase assim ao caráter horizontal da obra.
Sobre a materialidade das esquadrias originais não foram encontradas informações,
mas as fotografias mais antigas parecem indicar que foram elaboradas em estrutura
metálica e vedação em vidro, do tipo basculante, como ocorreu nas vedações do
Quartel do Corpo de Bombeiros.

Figura 207 – Detalhe da


fachada do Palácio Serigy.
Figura 206 – Parte da fachada do Palácio Serigy. Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Para a demarcação de base do edifício, foi aplicada uma superfície


volumétrica. Este padrão de acabamento da fachada havia sido utilizado em outros
edifícios de Altenesch, como pôde ser verificado anteriormente. Contudo, no Palácio
Serigy foi adotada uma aparência convexa (figura 207), em contraste com o zigue-
zague das aplicações nas outras obras. Estes semi-cilindros foram mantidos
contidos entre um par de frisos horizontais ao longo de toda a edificação,
excetuando-se nas imediações da porta de acesso principal, quando estes
elementos foram libertados da contenção horizontal superior, delineando um arranjo
simétrico e escalonado. Este acesso recebeu além da demarcação promovida pelos
frisos cilíndricos, o coroamento com a presença de uma marquise apoiada por duas
vigas de apoio trapezoidais e por um balcão projetado em balanço ao nível do
primeiro andar (figura 208).
265

As expressões da modernidade foram apresentadas em nuances diferenciadas


quando se comparam o Quartel do Corpo de Bombeiros e o Palácio Serigy.
Enquanto no primeiro há a permanência do tratamento arquitetônico ao nível de uma
fragmentação do planto frontal da fachada com relação ao volume do edifício, no
outro a dimensão volumétrica da arquitetura foi a matéria-prima para a constituição
da identidade plástica. Em ambos, porém, são identificados elementos que indicam
o flerte de Altenesch com certa racionalidade, ainda que o fator do ornamento esteja
bastante presente.

Figura 208 – Acesso principal Figura 209 – Fachada do


do Palácio Serigy. anexo ao Palácio Serigy.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

A fachada do edifício anexo, aos fundos do Palácio propriamente dito, que foi
construído após a inauguração deste, recebeu tratamento de fachada equivalente,
com a aplicação de elementos similares, proporcionando ao conjunto alguma
homogeneidade visual (figura 209). Contudo, no que concerne à distribuição das
envasaduras nas fachadas, deu-se seguimento à proposta assimétrica indicada em
sua planta (figura 189), refletindo assim na sua visualidade externa o partido
prioritariamente funcional adotado para sua composição.
Chamam a atenção na configuração da visualidade deste conjunto de edifícios
uns elementos decorativos que compõe as marcações dos canteiros externos: umas
esferas em concreto (figuras 204, 205 e 210). Formas similares foram aplicadas
posteriormente no edifício Sulacap em Salvador, Bahia, projeto do arquiteto Roberto
266

Capello e inaugurado em 194673, marco da arquitetura de viés ―Déco-racionalista‖ na


capital baiana. Estas esferas parecem evidenciar o gosto pelas formas puras, a
tendência de simplificação dos ímpetos ornamentais às figuras geométricas
essenciais. Sobre este apreço, em resposta às censuras sofridas pela ausência de
ornamentos no seu projeto do Edifício Larkin (1902-1906), no qual as formas
esféricas aparecem sobre pilastras na fachada principal, disse Frank Lloyd Wright:

Há um certo prazer estético em deixar em paz a coisa que há


séculos vem sido torturada, distorcida e barganhada em nome da
Arte, em deixar sua dignidade originária mais uma vez evidente.
Confesso o amor pela aresta despojada; o cubo eu acho
reconfortante; a esfera, inspiradora. Na oposição do círculo e do
quadrado, encontro motivos para temas arquitetônicos...
combinando-os com o octógono, encontro materiais suficientes para
o desenvolvimento sinfônico. Posso casar essas formas de várias
formas sem as adulterar, mas as amo puras, fortes e imaculadas...
Há espaço mais do que suficiente dentro dessas limitações para um
artista trabalhar, tenho certeza, e para se adequar ao instinto por
princípios fundamentais.74

Figura 210 – Esfera de


concreto no Palácio Serigy.

Fonte: Acervo de Rogério


Freire Graça [194-];
Publicação autorizada por
escrito pelo detentor dos
direitos de uso da imagem.

73
GALEFFI, Lígia Maria Larcher. A linguagem Déco na arquitetura: uma dimensão da arquitetura
moderna – Salvador nas décadas de 1930-1940. 2003. 203 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2003, p. 169.
74
CURTIS, 2008, p. 127.
267

Assim como Wright em suas obras públicas do início do século, como o já


citado edifício Larkin e o Templo Unitário em Oak Park, Illinois (1905-1908),
Altenesch adotou no Palácio Serigy o gosto moderno pela forma geométrica, pelo
tratamento volumétrico da arquitetura, sem por isso se distanciar de princípios
plásticos tradicionais, como a atenção à simetria, à axialidade e à distribuição
hierárquica dos elementos nas fachadas.

Figura 211 – Fachada frontal do projeto Pax de Archimedes Memória.

Fonte: Lissovsky (1996 apud ALENCAR, 2010, p. 97).

Esta ambivalência entre a adesão de modernidades e a associação a princípios


tradicionais, assim como semelhanças volumétricas e espaciais, são pontos de
aproximação entre este projeto de Altenesch e a proposta do arquiteto Archimedes
Memória para a sede do Ministério da Educação e Saúde, que foi vencedora do
concurso aberto em 193575. Este projeto, intitulado Pax, não chegou a ser
executado, já que o então ministro Gustavo Capanema resolveu desconsiderar o
concurso e entregou a Lucio Costa a delegação de elaborar outra proposta. Este
novo projeto viria a ser considerado ―o ponto inicial de uma arquitetura moderna de
feitio brasileira‖, sendo elaborado a partir da cartilha de Le Corbusier, e sob a sua
direta orientação, e construído entre 1937 e 194576.
Voltando ao projeto de Memória, foi adotada uma composição cubista e
geométrica, levemente adornada, pautada na simetria, escalonamento e contraste

75
ALENCAR, Aurélia Tâmisa Silvestre de. Archimedes Memória: ―O futuro ancorado no passado‖.
2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010, p. 91.
76
SEGAWA, 2014, p. 92.
268

entre linhas horizontais e verticais77. A sua volumetria é mais complexa que a do


Palácio Sergiy, mas alguns aspectos de suas conformações se encontram, como o
destaque ao volume central projetado, a verticalidade das envasaduras neste e a
adoção da horizontalidade das aberturas em fita do volume posterior (figura 211). As
soluções espaciais também apresentam similaridades, mesmo que distanciadas
pelos níveis de complexidade diferençados. No Pax de Memória também havia sido
proposto um hall central que deveria abranger toda a altura do edifício, como num
magazine, para o qual desembocariam as galerias de circulação e de onde teriam
origem os braços laterais de circulação78 (figuras 212 e 213). Este projeto foi
vencedor e dentre as justificativas estava a superioridade da proposta em relação às
outras apresentadas quanto às soluções para o controle térmico natural e para a
circulação interna, que foram consideradas excelentes79.

Figura 212 – Planta baixa do projeto Pax de


Archimedes Memória.

Fonte: Lissovsky (1996 apud ALENCAR, 2010, p. 98).

O Palácio Serigy e o Pax aproximam-se também pela partilha do mesmo


simbolismo de caráter indigenista que se difundiu no Brasil àquela época como
busca de uma expressão moderna genuinamente nacional. A adoção de um suposto
―estilo marajoara‖80 na discreta ornamentação da projeto de Memória equipara-se à
escolha da mesma linguagem para os jardins do Serigy pelo paisagista Vladimir

77
ALENCAR, 2010, p. 97
78
Ibid., loc. cit.
79
Ibid., p. 91.
80
Ibid., p. 97.
269

Preiss e à homenagem, como a nomeação do Palácio, ao histórico cacique


sergipano. Não fica claro se a plástica adotada por Altenesch tenha sido forjada
intencionalmente para fazer coro a essa influência advinda dos traços geométricos
das cerâmicas da ilha de Marajó. De toda forma, esta obra está circunscrita na
temporalidade coberta por este ―espírito nacionalista‖ — que permeia as práticas
construtivas e discursos governamentais — e não seria de todo equivocado afirmar
que a visualidade de seu Palácio Serigy tenha servido bem ao simbolismo
sincrético da plasticidade moderna das formas puras e ornamentação geométrica
sob as vestes de uma expressão autóctone idealizada.

Figura 213 – Corte do projeto Pax de Archimedes Memória.

Fonte: Lissovsky (1996 apud ALENCAR, 2010, p. 98).

As semelhanças visuais, espaciais e simbólicas entre estes projetos talvez


indiquem uma linha de influência estabelecida a partir da proposta de Memória.
Tendo sido vencedora de concurso realizado por Ministério federal, provavelmente
alcançou alguma divulgação. A própria passagem de Altenesch pelo Distrito Federal
à época possivelmente tenha possibilitado a ele o conhecimento das realizações de
muitos dos profissionais mais destacados no âmbito da arquitetura, e estas
conexões possivelmente o seguiram em sua prática em Aracaju. São conjecturas,
suposições, possibilidade. De toda forma, as aproximações entre estes projetos
revelam as confluências das soluções plásticas e espaciais e das compreensões
acerca das modernidades arquitetônicas possíveis ao longo do território brasileiro.
270

4.5 A SEDE DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE SERGIPE

O edifício da Associação Atlética de Sergipe, já demolido, estava localizado


à Rua Vila Cristina, no bairro São José, e provavelmente teve sua construção
realizada entre os anos de 193681 e 193782.

Figura 214 – Associação Atlética de Sergipe.

Fonte: Óticas Santana [195-?]; Acervo do APMA.

Figura 215 – Associação Atlética de Sergipe.

Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Acervo da Biblioteca


Virtual do IBGE.

81
A INAUGURAÇÃO no domingo 30 do corrente mês dos campos de tênis da Associação Atletica de
Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 ago. 1936, ano IV, n. 985, p. 1.
82
ASSOCIAÇÃO Atletica de Sergipe (Nota Oficial). O Estado de Sergipe, Aracaju, 6 fev. 1937, ano
V, n. 1422.
271

Sua volumetria (figuras 214 a 217) consistia em um corpo central de forma


cúbica e arestas boleadas destacado em altura na relação com os demais volumes.
Deste cubo central se projetava, na face frontal voltada para a Rua Vila Cristina, um
semicilindro coroado por laje em balanço apoiada por vigas trapezoidais. Das faces
laterais e posterior deste volume central foram projetados volumes ortogonais
suspensos sobre pilares. Todas as fachadas receberam envasaduras em grande
número, fator que atribuiu velocidade e permeabilidade à sua visualidade.

Figura 216 – Volume do fundo da Associação Figura 217 – Associação Atlética de


Atlética de Sergipe. Sergipe.

Fonte: Cine Foto Walmir; Revista Roteiro de Fonte: Autoria não identificada [197-?];
Sergipe (Aracaju, 1970). Publicada em Melins (2007, p. 218).

A utilização da estrutura em concreto armado, que nas fachadas dos edifício


anteriormente analisados evidenciava-se principalmente pelas marquises em
balanço indicativas do acesso principal, na sede da Associação Atlética foram
reveladas também pela aceleração e leveza dos cheios nas imediações das
envasadura, assim como pela estrutura aparente na sustentação dos volumes
laterais e posteriores. O tema da permeabilidade e integração visual e espacial, que
também havia sido explorado em alguns projetos residências do alemão, recebeu
uma atenção especial neste projeto de forma a atender as demandas recreativas de
um clube social e esportivo.
Como pode ser visto na fotografia da construção do prédio (figura 218),
incialmente havia sido previsto um número ainda maior de envasaduras para o
semicilindro frontal, contudo não foram mantidas, como assim revelam as fotografias
posteriores. Também foram fechadas as escotilhas presentes ao nível do térreo
naquele mesmo volume projetado. Estas escotilhas foram também abertas na
272

parede interna, sobre o grande arco que dividia os ambientes, como pode ser
verificado na mesma imagem da construção. Estes elementos reforçam a
compreensão do gosto de Altenesch pelas formas puras, que já pôde ser
identificado, por exemplo, em algumas muretas de casas a ele vinculadas e nas
formas esféricas dos jardins do Serigy. Na obra da Associação Atlética, por sua
plástica racionalista, estas formas geométricas puras encontraram as superfícies
mais coerentes para o seu aparecimento.
Voltando à fotografia da construção (figura 218), não são notados ali os
volumes laterais, o que abre margem para dúvidas se teriam sido resultados, assim
como o volume dos fundos, de obras posteriores de reforma. A aplicação do
revestimento em pedra da seção inferior do semicilindro, bem como a forma
trapezoidal irregular das paredes de vedação no térreo dos volumes laterais,
igualmente revestidas por pedras, são itens não encontrados em nenhuma outra
intervenção do alemão. Duas hipóteses se apresentam, assim, a partir desta
observação: ou estes elementos teriam sido acrescentados posteriormente, de
forma desvinculada à ação de Altenesch, ou indicariam uma atualização das
expressões plásticas por parte do mesmo. Considerando-se a modernidade sui
generis da volumetria e permeabilidade desta obra quando comparada aos outros
edifícios institucionais conhecidos do alemão, não seria improvável esta última
alternativa.

Figura 218 – Associação Atlética de Sergipe em construção.

Fonte: Revista Sergipe [1937].


273

De acordo com o Sr. Murillo Melins83, ao tratar da espacialidade do edifício, o


volume frontal indicava o acesso principal, onde estavam a bilheteria, o hall e a
escada que levava ao salão no pavimento superior. No miolo do pavimento térreo
estavam instaladas a diretoria, secretaria, tesouraria e depósito, e, sob o volume
projetado aos fundos, funcionava um bar e restaurante84 que se integrava à área de
recreação. No pavimento superior a área do cubo central e dos volumes laterais
projetados servia como um grande salão de festas85, que incluía também os
banheiros. Naquele pavimento, no volume projetado ao fundo, funcionava o bar que
servia ao salão. Na parede entre o bar e o salão, e voltada para este, estava
instalado o palco para as performances que ali aconteciam frequentemente. Era
possível acessar aquele volume de fundos por dupla de escadas externas, dispostas
de forma simétrica com relação ao edifício, e que ligavam o bar do pavimento térreo
ao do pavimento superior.

Figura 219 – Associação Atlética de Sergipe e seu entorno.

Fonte: Autoria não identificada [197-?]; Publicada em Melins (2007, p.


218).

Este edifício foi construído em uma região de expansão para o sul da cidade,
às bordas do atual bairro São José. Assim como parecem ter sido os bungalows da

83
O memorialista e economista Murillo Melins, que foi sócio por muitos anos da extinta Associação
Atlética de Sergipe, concedeu uma segunda entrevista para este trabalho no dia 16 de novembro de
2017.
84
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007, p. 217.
85
Algumas imagens do salão de festas da Associação Atlética podem ser conferidas em vídeo (entre
02min09s e 03min12s) referente a registros do Carnaval de 1962 em Aracaju, e postado no canal do
Sr. Pascoal Maynard no Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_f0Tkyt51cE>
Acesso em: 1º jul. 2018.
274

Rua Vila Nova, as casas ―alteneschianas‖ e as três residências de linhas mais


racionalistas analisadas na seção 3.2, a sede da Associação Atlética deve ter
servido como elemento legitimador da modernidade visual daquela nova área da
cidade. Este edifício foi testemunha, nos anos e décadas seguintes à sua construção
do erguimento, de um grande número de residências de gosto ―corbusiano‖, que
determinaram a ―escrita do capítulo seguinte‖ acerca da modernização arquitetônica
da cidade. Este casario, construído na Rua Vila Cristina (onde se situava a sede da
Associação) e em suas proximidades, seguiu o princípio de renovação técnica e
estética que havia sido inaugurada, para aquela região habituada aos bungalows
suburbanos, pela obra de Altenesch.

Figura 220 – Associação Atlética de Sergipe e seu


entorno.

Fonte: Autoria não identificada (1971); Localizada no


acervo da Biblioteca Virtual do IBGE.

É possível que o edifício da Associação Atlética de Sergipe tenha representado


o auge, no âmbito da arquitetura institucional, da supressão do ornamento nas obras
institucionais de Altenesch. Para esta obra, o alemão potencializou a expressão
arquitetônica baseada na volumetria e podem-se notar diluídas características
presentes em muitas das manifestações arquitetônicas das vanguardas do início do
século. De forma pontual, poderiam ser citadas, a título de exemplificação: o edifício-
garagem de Auguste Perret na 51 rue de Ponthieu em Paris (1905)86; a Fábrica de
Turbinas AEG de Peter Behrens em Berlim (1908-1909)87; a Fábrica de Formas de

86
CURTIS, 2008, p. 79.
87
Ibid., p. 101
275

Sapatos Fagus de Walter Gropius e Adolf Meyer em Alfeld na Alemanha (1911-


1912)88; o conjunto habitacional para trabalhadores de J.J.P. Oud em Hoek van
Holland na Holanda (1924)89 e a Loja de Departamentos Schocken de Erich
Mensdelsohn, em Chemnitz na Alemanha (1928-1929)90. São exemplos dispersos
de experimentações arquitetônicas que tendiam para uma racionalidade visual e
técnica na busca por uma modernidade arquitetônica adequada às demandas de
uma sociedade industrial.
Estas equações arquitetônicas racionalistas, em que pesam conceitos como
funcionalidade, eficiência e economia, tiveram firme aplicação em obras públicas do
Brasil nos anos 193091. A construtora dinamarquesa Christiani & Nielsen, que atuou
em Aracaju, por exemplo, assumiu em Salvador o erguimento de alguns dos prédios
de maior expressão — a nível regional e nacional — deste período de
experimentações e inovações arquitetônicas, como o Elevador Lacerda, projetado
pelo Fleming Thiesen e construído em 1929 92; o Instituto de Educação da Bahia
(1937-1939) e a sede do Instituto do Cacau (1933-1936), projetados por Alexander
Buddeus, arquiteto belga radicado no Rio de Janeiro no início dos anos 1930 93. Este
último edifício, construtivamente sofisticado, aproximou-se, segundo Segawa94, pela
eficiência e coerência visual às idealizações fabris reproduzidas por Gropius no
International Architektur de 1925. Transferidos de forma simbólica, ainda que
destituídos da função industrial presente no prédio de Buddeus, aspectos desta
visualidade são percebidas nas propostas de Altenesch: o abaulamento
aerodinâmico dos volumes, a permeabilidade das superfícies com o aceleramento
das envasaduras no Palácio Serigy e na Associação Atlética e as amplas lajes em
balanço neste último. Estas aproximações parecem ser potentes em evidenciar as
trocas que ocorrem entre profissionais e vetores modernizantes em difusão na
época, apesar das diferenças a revelar o caráter da subjetividade e individualidade
que conduziram a criação destes projetos e construções.
A elaboração de modelos de edifícios escolares nos estados de São Paulo e
Rio de Janeiro após a ascensão de Getúlio Vargas representam este momento das

88
CURTIS, 2008, p. 104
89
Ibid., p. 251-252.
90
Ibid., p. 261
91
SEGAWA, 2014, p. 66
92
Ibid., p. 64
93
Ibid., p. 68.
94
Ibid., p. 69.
276

práticas arquitetônicas no Brasil. José Maria da Silva Neves (1896-1978),


engenheiro-arquiteto da Diretoria de Obras Públicas do Estado de São Paulo,
responsável por inúmeros desses projetos, citava arquitetos como Mallet-Stevens,
Le Corbusier e Piacentini como referências para a elaboração de seus projetos95.
Outro exemplo — e este mais abrangente, porque a nível nacional — de
intervenção estatal arquitetônica baseada em princípios de racionalidade foi a
construção de 141 novas sedes para o Departamento de Correios e Telégrafos em
diversas capitais e cidades importantes espalhadas por todo o país entre os anos de
1930 e 194096. Em 1932 este Departamento contratou vários arquitetos do Rio de
Janeiro, como Raphael Galvão, Paulo Candiota e Mario Fertin, que elaboraram os
projetos para as diversas agências através de programas funcionais pormenorizados
e fotografias do terreno para a construção. Sobre estes projetos, fala Segawa97:

São edifícios estrategicamente localizados na malha urbana (parece


haver um predomínio em lotes de esquina), caracterizados por
evidente separação de acessos ou por circulações independentes
conforme hierarquia funcional, amplos salões de atendimento
proporcionados pelo emprego de estruturas em concreto armado
com grandes vãos de despojados de decoração (agências
importantes, como Salvador, ostentavam interiores com motivos
marajoaras; Belém possuía imponentes e caprichosos gradis) e
exteriores de linhas geometrizadas, algumas ao gosto Déco.

A nova sede deste departamento em Aracaju, seguindo este modelo


modernizante, estava em construção em 193398 e foi inaugurada no dia 16 de julho
de 193599. Originalmente, este departamento ocupava um prédio térreo localizado à
Praça Fausto Cardoso, que foi demolido para dar lugar à Biblioteca Pública,
construída pela Emilio Odebrecht & Cia e inaugurada em 1936, como visto
anteriormente. Assim, um novo edifício, dentro das novas diretrizes programáticas e
plásticas de bases racionalistas, foi erguido em esquina das ruas Laranjeiras e
Itabaianinha100. Waldefrankly Santos supõe que esta tenha sido a primeira obra

95
SEGAWA, 2014, p. 66-67.
96
Ibid., p. 69-70.
97
Ibid., p. 70
98
O DIA da Comitiva Ditatorial, Ontem. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1933, ano I, nº 148, p.
2.
99
A INAUGURAÇÃO do Novo Predio dos Correios e Telegraphos. A República, Aracaju, 19 de julho
de 1935, ano IV, nº 1075, p. 4.
100
SANTOS, 2002, p. 39.
277

pública erguida em Aracaju ―dentro de um estilo Art Déco de caráter mais


racionalista‖.

Figura 221 – Sede do Departamento de Correios e


Telégrafos em Aracaju.

Fonte: Alagôas-Sergipe: Annuário Illustrado para 1937


(Maceió, [1936?], p. 167).

Nery101 chega a atribuir a autoria deste edifício a Altenesch, mas os indícios


são fortes no sentido de negar esta atribuição. Conforme indica Pereira102, em 1932
um total de 92 projetos ou estudos para reformas e construções de agências
especiais ou regionais do Departamento de Correios e Telégrafos, particularmente
no Nordeste, saíram das pranchetas da Seção de Edifícios daquele Departamento,
vinculado ao Ministério de Viação e Obras Públicas. Os projetos eram elaborados
pelos profissionais daquela Seção, lotada no Rio de Janeiro, e eventualmente por
arquitetos e engenheiros externos. Os partidos para estes projetos tinham como
base o desenvolvimento prévio de protótipos, desenvolvidos na capital federal, e que
deveriam ser adaptados às condições dos lotes que receberiam as novas
edificações. Inicialmente os projetistas não tinham conhecimento das
especificidades do local de implantação, mas a partir de 1933 passaram a contar
com fotografias da área urbana e do lote. De toda forma, na maioria das vezes

101
NERY, Juliana Cardoso. Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e
60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos:
USP/DOCOMO, 2003. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-
content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018.
102
PEREIRA, 1992, p. 103 apud REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana: o moderno
antes do modernismo. 2014. 278 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014, p. 166.
278

estavam destinadas ao inspetor de obras as adaptações finais do protótipo ao


terreno103. A Diretoria Regional de Sergipe, como visto, foi um destes edifícios
construídos a partir da deliberação do Ministério de Viação e Obras Pública, à época
conduzido por José Américo de Almeida, e sua concepção arquitetônica foi baseada
no projeto elaborado para a Diretoria de São Luís, também reproduzida em
Cuiabá104.

Figura 222 – Maquete da sede do Departamento de


Correios e Telégrafos em Aracaju.

Fonte: Autoria não identificada [193-?]; Publicada em


Reis (2014, p. 190).

No final de 1933, como visto, a sede da Companhia Rovel foi inaugurada, e


esta, até onde as pesquisas puderam alcançar, teria sido a primeira obra ―Art Déco‖
em Aracaju, considerando-se que o edifício identificado à Avenida João Ribeiro seja
de fato aquela sede da empresa. Esta suposta primeira obra de Altenesch em
Aracaju, no entanto, associa-se às experimentações plásticas baseadas na
expressão da modernidade por vias ornamentais, em que a verticalidade e o
escalonamento são os motivos principais. Diferencia-se, portanto, do edifício dos
Correios e Telégrafos, cuja arquitetura foi proposta a partir de um agenciamento
volumétrico de maior complexidade e tratamento estético mais sóbrio e
racionalizado. Desta forma, é plausível considerar que este prédio, de autoria não
identificada, tenha sido o primeiro de maior relevância para a cidade a introduzir uma
plasticidade racionalizada, baseada no jogo volumétrico e na simplificação

103
PEREIRA, 1992, p. 114 et seq. apud REIS, 2014, p. 167.
104
PEREIRA, 1992, p. 132 apud REIS, 2014, p. 167.
279

ornamental. Na obra de Altenesch, esta plasticidade viria a se manifestar,


particularmente e de forma mais enfática, nas residências Flávio Prado, Gervásio
Prata, Torquato Fontes e na Associação Atlética, edifícios circunscritos numa
segunda fase da obra do alemão em Aracaju, entre os anos de 1936 e 1938.
Em Sergipe, a arquitetura e a construção civil foram assumidas pelo Estado
como elementos de consolidação, mas igualmente de publicidade, de um governo
centralizador, irradiado de Getúlio Vargas através das Interventorias Estatais e
Prefeituras Municipais. A construção massiva das sedes do Departamento de
Correios e Telégrafos, que alcançou Aracaju com a construção da sua nova sede, é
indício desta postura por busca de uma unidade nacional. Também o são as
políticas sanitaristas e educacionais que construiram Centros de Saúde, Centros de
Puericultura, Asilos para Psicopatas, Hospitais para Tuberculosos, Cidades para
Menores — como a que será vista na seção seguinte, construída entre Aracaju e
Nossa Senhora do Socorro. Estas edificações, que em sua maioria se configuram
enquanto atestados da modernidade estatal, assinalam na cidade igualmente os
elementos concretos da modernidade, que passam a ser replicados em escalas
reduzidas, na arquitetura menor.
Na pesquisa para este trabalho foi possível identificar que a prática construtiva
estatal relacionada à elaboração de objetos modernizantes não se restringiu à
capital. Muitos destes edifícios, erguidos a partir de concepções plásticas de viés
racionalista, foram implantados no interior do Estado. Alguns deles podem ser vistos
nas páginas da supracitada revista comemorativa do Governo de Eronides de
Carvalho (figuras 223 a 225). Podem-se citar, a título de ilustração, os casos dos
grupos escolares dos municípios de Itabaiana (figura 223), Laranjeiras e Riachuelo
(figura 224), erguidas pelo construtor Manoel Franklin da Rocha entre princípios de
setembro de 1936105 e maio de 1937106. Nestes edifícios percebem-se elementos
adotados por Altenesch em suas obras mais racionalistas, como as lajes em
balanço, as amplas envasaduras vedadas por janelas basculantes e a
ornamentação restrita aos frisos horizontais. O tratamento destes elementos na
platibanda, inclusive, muito se aproximou da solução observada no palácio Serigy,
105
SERGIPE. Directoria de Finanças. Secção do Contenciosos: Termo de contracto entre o Estado
de Sergipe e o cidadão Manoel Franklin da Rocha, para a construcção de três grupos escolares nas
cidades de Riachuelo, Laranjeiras e Itabaiana. Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 set.
1936, ano XVIII, nº 6577, p. 2236.
106
SERGIPE. Repartição de Obras Públicas. Expediente do dia 4 de maio de 1937. Petições
recebidas. Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937, ano XIX, nº 7016, p. 1017.
280

com a finalização escalonada. A autoria destes projetos não pôde ser identificada
nas buscas, mas as proximidades e contemporaneidade com a produção de
Altenesch parecem indicar confluência dos vetores e expressões modernizantes na
obra pública construída não só na capital, mas também para além de seus limites.

Figura 223 – Grupo Escolar ―Guilhermino Bezerra‖ no município de Itabaiana, Sergipe.

Fonte: Revista Sergipe [1937].

Figura 225 – Edifícios


construídos no interior de
Sergipe durante a
Figura 224 – Grupo Escolar ―Francisco Leite‖ no município interventoria de Eronides de
de Riachuelo, Sergipe. Carvalho.

Fonte: Revista Sergipe [1937].


281

4.6 A SEDE DO COTINGUIBA SPORT CLUB

Sob a orientação de Altenesch, a execução da obra do Cotinguiba Sport


Club107 teve início em maio de 1938 e no fim daquele ano já estava em vias de
conclusão108. Foi uma reforma que não só envolveu a reformulação volumétrica e
estética, mas também a reconfiguração espacial, com a criação de ―vestiários para
socios e socias, living-room, bar com galeria para orquestra, marquises para banho
solar e outros‖109. Sobre esta intervenção do alemão, em texto publicado junto a
fotografia do prédio (figura 227), foi dito o seguinte:

Os dias passaram-se e, do inestético predio que era a sede do alvi-


azul, surgiu o belíssimo edificio, de lindas linhas arquitetônicas. Suas
instalações, bem modernas, são dotadas de grande conforto, sendo
tambem artisticamente decoradas todas as suas dependências. O
campo de basket e voley que lhe é anexo é o melhor desta capital,
sendo sua iluminação feita dentro das exigências técnicas.110

Figura 226 – Sede do Cotinguiba


Sport Club antes da reforma de Figura 227 – Sede do Cotinguiba Sport Club após
1938. sua reforma em 1938.

Fonte: Revista Sergipe [1937]. Fonte: Folha da Manhã (Aracaju, 28 dez. 1938, p.
1).

107
Atualmente adota-se o nome Cotinguiba Esporte Clube, mas para uma melhor contextualização
histórica foi escolhido para este trabalho o nome mais antigo, em seu original em inglês.
108
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube. Folha da Manhã, Aracaju, 28 dez. 1938, ano I,
n. 269, p. 1.
109
A FOLHA nos Sports: Mais uma afirmação de progresso do ―Cotinguiba Sport Club‖. Folha da
Manhã, Aracaju, 3 ago. 1938, ano I, n. 150, p. 2.
110
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube, loc. cit.
282

Um entendimento aproximado da condição original do clube após a intervenção


de Altenesch foi possível não só pela iconografia, que denunciou a sua compleição
volumétrica, mas também pela memória do Sr. Wellington Mangueira, atual
presidente do clube111, que possibilitou um acesso a aspectos da espacialidade do
edifício já não mais perceptíveis. As visitas in loco, auxiliadas por levantamento
cadastral recente112 (figura 228), também contribuíram para o reconhecimento,
identificação e elaboração deste espaço por meio de uma representação gráfica que
buscou se aproximar, de forma virtual, da materialidade inexistente ou modificada ao
longo dos anos.

Figura 228 – Localização e implantação da configuração atual do Cotinguiba Sport Club.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pelo Arquiteto Luiz Mangueira (2014); Edição
elaborada pelo autor (2018).

O Cotinguiba foi fundado em 1909 por um grupo de desportistas voltados


paras as práticas do remo, futebol, basquete e vôlei113. De acordo com o Sr.
Wellington Mangueira, quando Altenesch foi convidado para a reforma, o edifício do
clube consistia em um galpão e sua estrutura não excedia o perímetro da garagem

111
Durante as pesquisas para este trabalho foram realizadas duas visitas ao Cotinguiba Sport Club: a
primeira em 19 de novembro de 2017 e a segunda em 10 de julho de 2018. Ambas foram conduzidas
pelo Sr. Wellington Mangueira, atual presidente do Clube, que partilhou as suas memórias acerca das
modificações ocorridas na arquitetura do prédio, indicando como teria sido a sua configuração após a
intervenção de Altenesch. Nascido em 21 de agosto de 1945, o Sr. Wellington Mangueira formou-se
em Direito, História e Filosofia. Sua jornada está entrelaçada com a história do Cotinguiba, já que ao
nascer sua família já era vinculada ao clube e consta que o seu cordão umbilical foi ali enterrado.
112
O arquiteto e urbanista Luiz Mangueira, que tem sido responsável pelas mais recentes reformas
do Cotinguiba, concedeu gentilmente para este trabalho pranchas em arquivo de autocad referentes a
levantamento cadastral por ele realizado no ano de 2014.
113
MELIS, 2007, p. 219.
283

para os barcos do remo. Em fotografia localizada na supracitada revista


comemorativa do governo de Eronides de Carvalho de 1937, é possível facear a
configuração do edifício, aos moldes de um ecletismo simplificado (figura 226). Esta
edificação, em alvenaria tradicional de tijolos e assoalho em madeira ―canela‖
proveniente do Pará, estava locada — e assim permaneceu — na extremidade
frontal de um terreno na antiga Avenida 24 de Outubro (atual Avenida Augusto
Maynard).

Figura 229 – Sede do Cotinguiba Sport Club em visão panorâmica.

Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Localizada no acervo da Biblioteca


Virtual do IBGE.

Para a reforma, Altenesch propôs acréscimos lateral e posterior, em formato de


―L‖, envolvendo o edifício preexistente de projeção retangular (figura 230). Assim, no
pavimento térreo a área da garagem foi mantida, tendo sido acrescida aos fundos.
Em fotografia panorâmica antiga (figura 229), percebe-se que foi mantido um recuo
mínimo entre o clube e a casa a leste. Esta disposição autorizou a abertura de
janelas naquela fachada lateral e o arejamento e iluminação dos cômodos ali
existentes — ao menos para o pavimento superior, como revela a fotografia. Na
nova faixa lateral foram instalados: o hall de acesso com escada para o pavimento
superior, um acesso e apoio lateral independente para a garagem e dois vestiários.
No pavimento superior, no perímetro concernente à estrutura antiga demarcada pelo
assoalho em madeira, foi delineado o salão de festas. O anexo lateral possibilitou,
naquele pavimento, a caixa da escada, sanitário e o bar. Houve um aproveitamento
da verticalidade deste andar com a criação de um mezanino, onde foi instalado o
284

sanitário feminino — sobre o masculino do nível imediatamente inferior — e sobre o


bar e voltado igualmente para o salão foi instalado o espaço para a orquestra. O
acréscimo aos fundos, naquele segundo pavimento, foi evidenciado por criação de
um terraço, que se integrava ao salão de festas por conjunto de portas. A partir do
hall da escada era possível ter acesso a um balcão em balanço. Este elemento
ocupava parte expressiva da largura da fachada oeste e dali era possível assistir às
partidas de basquete e vôlei que ocorriam na quadra em cimento projetada e
construída por Altenesch imediatamente ao lado do edifício. Assim teria sido
organizada a intervenção quanto à questão espacial.

Figura 230 – Plantas baixas do Cotinguiba Sport Club.

Fonte: Levantamento cadastral elaborado pelo Arq. Luiz Mangueira (2014); Edição
elaborada pelo autor (2018).

Quanto aos fluxos de acesso e circulação (figura 230), percebe-se que


existe uma descontinuidade e fragmentação da circulação. Este fator parece indicar
uma divisão do edifício por suas funções distintas. Havia um fluxo de circulação
referente à garagem, com uma entrada independente pela fachada principal e uma
285

entrada lateral. Havia outro fluxo de circulação, vertical e concernente à escada, por
onde se acessava o salão de festas e suas dependências. E por fim, um terceiro
fluxo, externo ao edifício, que possibilitava o acesso aos vestiários e integrava a
lateral do pavimento terreno à quadra e ao terreno do clube.

Figura 231 – Sede do Cotinguiba Sport Club vista da Praça Inácio


Barbosa

Fonte: Revista Poliantéa (Aracaju, 1952, n. 2).

Com relação aos aspectos volumétricos (figuras 227, 229, 231 e 232), a
intervenção de Altenesch imprimiu nas fachadas do edifício o mesmo princípio da
divisão bipartite assimétrica que delineou a configuração espacial. Esta questão foi
evidenciada principalmente na fachada frontal pela legível configuração de dois
conjuntos distintos de elementos agrupados na verticalidade, e de forma mais
enfática pela diferença dos gabaritos entre as duas seções. O torreão refletiu no
aporte volumétrico a caixa da escada e a localização do reservatório de água.
Segundo Mangueira, naquele torrão e acima da escada, com acesso pelo mesmo
mezanino do banheiro feminino e da orquestra, originalmente havia sido instalada
uma sala para a guarda dos troféus e prêmios do clube. As envasaduras das portas
de acesso receberam vergas em arcos plenos e as janelas alternaram-se entre os
conjuntos harmônicos de escotilhas e fitas igualmente arrematadas por arcos
plenos. Destacam-se os elementos ornamentais dos fingimentos de cachorros, os
chapéus em telhas-canal sobre a platibanda com destaque nas extremidades, o
beiral incrustado sobre o conjunto de janelas do salão de festas e os baixos-relevos
em forma curva utilizados na finalização deste conjunto de janelas. De acordo com
286

Mangueira, originalmente as superfícies das fachadas haviam sido revestidas com


textura em padrão circular, o que atribuía um aspecto rústico à visualidade do
prédio. Na vedação das envasaduras foi utilizada caixilharia em madeira treliçada
com postigos envidraçados para abertura interna. A serrilharia artística também foi
adotada, como é o caso do portão em ferro fundido projetado por Altenesch e
utilizado no acesso às quadras (figura 233).

Figura 233 – Portão de ferro


original da intervenção de
Figura 232 – Sede do Altenesch no Cotinguiba Sport
Cotinguiba Sport Club. Club.

Fonte: Chaves (2008). Fonte: Registro fotográfico


feito pelo autor (2018).

Este conjunto de características, tanto no que concerne ao aparato volumétrico


quanto ao decorativo, possibilitam a vinculação desta obra às expressões
neocoloniais. Há neste clube, assim como se deu com o projeto para o bungalow de
número 513 na Rua Vila Nova, uma adoção mais alinhada com o que se
convencionou chamar ―estilo Missões‖. A rusticidade e nudez das superfícies, as
referências mouriscas das treliças, a volumetria da platibanda e do torreão, por
exemplo, são itens que simbolicamente vinculam esta intervenção de Altenesch às
experiências plásticas surgidas nas regiões estadunidenses de colonização
hispânica (particularmente a Califórnia) e que se referenciaram nas expressões
arquitetônicas dos jesuítas colonizadores daquela região 114. Se não foi a única, foi a
mais expressiva das obras institucionais em que Altenesch tenha se apropriado

114
CIGLIANO, Jan. Bungalow: American Restoration style. Layton: Gibbs Smith, 1998, p. 18.
287

desta plástica estrangeira. Não foi possível identificar nenhuma outra intervenção
nesta categoria, o que sugere essa particularidade e exclusividade da reforma do
Cotinguiba dentre as intervenções de Altenesch em Aracaju. Muitos destes
elementos haviam sido utilizados naquelas residências que Porto115 vinculou a um
pseudoneocolonial ―alteneschiano‖, porém nestas obras, como o próprio Porto
afirma, Altenesch teria feito uma apropriação pessoal e extravagante, distanciada
assim da singeleza formal e decorativa da expressão Missões, mais legível no
Cotinguiba e naquele bungalow da Vila Nova.
Nota-se também, no Cotinguiba, a presença de elementos que não só foram
utilizados nas intervenções de Altenesch de viés neocolonial, mas que parecem
sugerir um repertório formal que permeou os mais diversos vieses estéticos de sua
obra. Aqui se refere principalmente ao uso das formas puras, como as aberturas
circulares em escotilhas (figuras 227, 231 e 232) — também presentes nas fachadas
da casa Flávio Prado, por exemplo — e as envasaduras em fitas retangulares do
balcão e do guarda-corpo da escada (figuras 227, 234 e 236) — que estavam
presentes no guarda-corpo da escada externa aos fundos da casa Torquato Fontes.
Estas duas casas citadas podem ser entendidas como vinculáveis ao que se
entendia na época como ―stylo moderno‖, e o compartilhamento de formas nelas
presentes com aquelas utilizadas em obras ―neocoloniais‖ parecem indicar a
existência deste repertório formal do alemão alicerçado no uso da geometria pura.

Figura 234 – Escada do Cotinguiba Sport Figura 235 – Mísula na viga da escada do
Club. Cotinguiba Sport Club.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

115
PORTO, 2003, p. 49.
288

Quanto à estrutura e sistema construtivo (figuras 234 a 239), se percebeu


um sistema estrutural similar aos dos outros projetos do alemão. De acordo com
Mangueira, a condição original do assoalho em madeira do edifício preexistente foi
mantida e para o ―L‖ da nova construção foram adotadas lajes de concreto entre os
pavimentos. O esqueleto desta nova estrutura foi constituído de pilares e vigas
apoiadas por mísulas. O vigamento, que originalmente estava exposto, assim como
nos demais edifício analisado, encontra-se atualmente escondido. Em alguns
pontos, no entanto, as vigas e suas mísulas são denunciadas, como no hall da
escada (figuras 234 e 235) e no aporte estrutural do torreão (figuras 238 e 239).

Figura 236 – Escada e pilar aparente no Figura 237 – Pilares aparentes no


hall de entrada do Cotinguiba Sport Club. Cotinguiba Sport Club.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

Nas reformas ocorridas posteriormente no clube, Mangueira teve a


oportunidade de facear parte da condição material da edificação, e segundo ele as
paredes de vedação foram erguidas em alvenaria de tijolo maciço, um padrão da
época. Outra informação interessante é referente ao esqueleto metálico das mísulas
das vigas, que de acordo com a memória do Presidente do clube seriam de trilhos
de bonde. Este fato sugere a demanda por criatividade e adaptação do
conhecimento técnico às condições locais de oferta de material e as condicionantes
orçamentárias do cliente. Foi possível localizar documentos do final de 1938 que
indicam certa dificuldade financeira do clube para a finalização das obras. Uma
primeira correspondência, datada de 30 de novembro daquele ano, dirigida ao Sr.
Paiva Mello, diretor de Obras Públicas, pelo Sr. Luiz Andrade Vieira, segundo
secretário do Cotinguiba, releva solicitação à Interventoria Estatal de ajuda na
finalização da obra, com a doação de materiais de construção usados, como
289

azulejos e tacos. Na segunda correspondência, de primeiro de dezembro do mesmo


ano, o diretor de Obras Públicas transferiu aquele pedido ao Interventor, pedindo
permissão para o repasse de 300 azulejos retirados dos serviços sanitários do
Palácio do Governo, 105 tacos do depósito da repartição de Obras Públicas e um ―T‖
de ferro de 4‖ proveniente do Departamento de Saúde Pública116. A utilização dos
ferros para trilho de bonde podem, portanto, revelar esta adaptação às limitações
financeiras para a obra, ainda que pareçam ser indício também das possibilidades
de aplicação das tecnologias do concreto e cimento armado face às disponibilidades
de material na Aracaju daquele período.

Figura 238 – Acesso ao pavimento Figura 239 – Elementos estruturais no volume


superior do Cotinguiba Sport Club. do torreão do Cotinguiba Sport Club.

Fonte: Registros fotográficos feitos pelo autor (2018).

A reforma do Cotinguiba, localizado na mesma região da cidade em que


haviam sido erguidos os bungalows da Rua Vila Nova, pode ser entendido como
sintoma do esforço da elite aracajuana pela ocupação da região ao sul do núcleo
central originário da cidade. Em fotografia panorâmica, provavelmente das décadas
de 1940 ou meados dos anos 1950 (figura 240), que abrange a Praça Inácio
Barbosa, parte da Rua Vila Nova em seu trecho inicial, bem como os primeiros
trechos da antiga Avenida 24 de Outubro, se percebe como aquela região ainda
estava em seu início de urbanização. Assim como se deu com a construção da
Associação Atlética de Sergipe, a renovação do edifício do Cotinguiba — ambos os

116 1
Ambas os documentos foram localizados no acervo do APES, no fundo G , volume 1995, referente
às correspondências recebidas pelo Governo.
290

clubes voltados para a recreação e desporto da classe média e alta aracajuana —


pode ser compreendido como elementos promotor da consolidação daquela região
em sua vocação residencial pelo atendimento das demandas de lazer de seus
moradores.

Figura 240 – Sede do Cotinguiba Sport Club destacada


em foto aérea.

Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Localizada no


acervo da Biblioteca Virtual do IBGE.

4.7 A CIDADE DE MENORES ―GETÚLIO VARGAS‖

A Cidade de Menores “Getúlio Vargas” foi construída em área rural entre


Aracaju e o município de Nossa Senhora do Socorro. Sua pedra fundamental foi
batida em 19 de abril de 1939 e foi inaugurada em 19 de novembro de 1942, durante
a administração estatal do Coronel Augusto Maynard Gomes117. O início de sua
construção se deu durante a Interventoria de Eronides de Carvalho, que
desenvolveu políticas públicas voltadas para a higienização do espaço urbano, como
pôde ser exemplificado também com a abertura do Centro de Saúde no Palácio
Serigy.

117
BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores
―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 56.
291

Conforme afirma Bispo118, o projeto de urbanização e modernização das


cidades levada a cabo durante o estado getulista tinha como uma das premissas a
eliminação de focos de ―vadiagem e criminalidade‖, e para atender a esta demanda
em Aracaju uma das medidas foi a criação da Cidade de Menores. Ela se destinou
a receber menores abandonados ou delinquentes de sete a dezoito anos que sob o
regime de internato receberiam apoio educacional e profissional por meio do ensino
agrícola119. Estes meninos, submetidos a uma política coercitiva, eram distanciados
do centro urbano e assim, supostamente, seriam garantidas a segurança e
higiene120 da cidade desejosa de progresso.
Como se sabe, Altenesch foi o responsável pela elaboração de boa parte dos
projetos executados da Cidade de Menores, bem como pela indicação de diretrizes
iniciais para a construção do conjunto. Sobre a sua vinculação às atividades da
construção do complexo, foi escrito os seguinte:

De tudo quanto construiu e embelezou em chão sergipano, nada


mais importante do que a ―Cidade Vargas‖, que foi o supremo
cuidado da sua vida e enlevo maior da sua delicada sensibilidade
artística. Não quiz o destino que a visse finalizada; mas, na parte
arquitetônica e na urbanística, hoje, como remotamente, o seu nome
não pode ser olvidado naquela extraordinaria instituição.121

Conforme relatado pelo diretor do serviço de Menores à época da construção


da Cidade de Menores, o Sr. Abelardo Maurício Cardoso122, o alemão esteve
envolvido presencialmente nas obras deste seu início, em maio de 1939, até quando
partiu de Sergipe em busca de tratamento médico, em setembro do mesmo ano.
Mesmo a distância, ele teria dado assistência até o dia de sua morte, em 20 de
junho de 1940. Àquele momento, já estavam erguidos os edifícios da portaria, da
casa de triagem, da casa do diretor, do pavilhão lar, do escritório, da enfermaria, da
garagem e da olaria123. Em 1941 esta lista estava ampliada, como pode ser visto na
tabela 2.

118
BISPO, 2007, p. 58.
119
Ibid., p. 56.
120
Ibid., p. 59.
121
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1.
122
CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f.
(Acervo do APES, referência para busca: BR SEAPES REL V15 D15).
123
CABRAL, Mario. Cidade de Menores. Folha da Manhã, Aracaju, 9 jun. 1940, ano III, n. 689.
292

Foi possível localizar durante as pesquisas alguns levantamentos cadastrais


referentes a edificações componentes deste conjunto124. Quanto à iconografia,
algumas fotografias já haviam sido publicadas anteriormente e outras foram
encontradas durante a realização deste trabalho. Os levantamentos cadastrais
localizados, junto ao material iconográfico, alicerçados por outras informações
referentes aos programas dos edifícios ofertadas pela bibliografia, possibilitaram a
compreensão aproximada de parte da arquitetura projetada por Altenesch para este
complexo de abrigo de menores. A inexistência destes edifícios, por sua arruinação,
conduziu a uma analise exclusivamente documental, sem a possibilidade de
reconhecimento in loco. Aqui são analisadas volumétrica e espacialmente,
considerando-se as limitações próprias das fontes, três edificações: a Casa do
Diretor, a Casa de Triagem (ou Pavilhão de Ingressos “Melo Matos”) e o
Pavilhão Lar “Cândido da Mota”. Uma quarta é considerada apenas quanto à sua
volumetria, pela impossibilidade de localização de sua planta, a saber: a Portaria.

Tabela 02 – Construção dos prédios da Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖ no ano de


1941.
I Portaria 294 m2 Concluída
2
II Caixa d‘água 50 m Quase concluída
III Casa da Usina de eletricidade 160 m2 Em revestimento
IV Casa do vigia da fonte 100 m2 Em revestimento
V Fonte de estabelecimento d‘água - Quase concluída
VI Casa de Triagem 583 m2 Concluída
VII Garage 140 m2 Concluída
2
VIII Casa do Diretor 440 m Concluída
IX Pavilhão lar 748 m2 Concluído
X Escritório – Almoxarifado e Escola (adaptação) 276 m2 Dependendo de asseio
XI Serviço Médio e Enfermaria 382 m2 Concluído
XII Olaria 432 m2 Em funcionamento
XIII Total 3605 m2
Fonte: Cardoso (1941, apud BISPO, 2007, p. 53).

124
Foi localizado no acervo da mapoteca da CEHOP, em visita realizada em sete de julho de 2017,
um conjunto de pranchas de origens variadas (Secretaria da Justiça e Interior; CONDESE;
Superintendência de Obras Públicas), referentes a levantamentos cadastrais, planialtimétricos e
projetos de acréscimos e reformas para a Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖. Estes desenhos,
datados dos anos 1971, 1974 e 1975, foram agrupados na mapoteca da CEHOP sob o código D14-
0776.
293

Figura 241 – Distribuição dos edifícios na Cidade de Menores ―Getúlio


Vargas‖.

Fonte: Conselho do Desenvolvimento Econômico de Sergipe –


CONDESE (1975); Prancha localizada no acervo da CEHOP sob o
código D14-0776-001; Edição elaborada pelo autor (2018).

A Cidade de Menores “Getúlio Vargas” foi instalada em território rural de


1.081.240 m2 no município de Nossa Senhora do Socorro125, onde atualmente
localizam-se o Presídio Feminino e a Cadeia Territorial. Na prancha de situação
localizada (figura 241), foi possível perceber que as edificações foram implantadas
livremente, em sua maioria, ao longo de uma rota angulosa, nascida nas
proximidades da atual rodovia BR 101 e às margens de uma antiga estrada que

125
Informação localizada na prancha cadastrada sob o código D14-0776-001 no acervo da mapoteca
da CEHOP.
294

levava ao núcleo urbano de Nossa Senhora do Socorro. Aquela rota interna da


Cidade de Menores deu origem à estrada atualmente chamada de ―rua da frente‖126.
Esta rua é aquela que nos dias correntes proporciona o acesso, a partir da rodovia
federal, ao complexo prisional citado. Contudo, o acesso à Cidade de Menores
originalmente era feito por outra via que não aquelas identificadas, através de uma
Portaria (número 1 na figura 241) que ficava às margens da estrada de rodagem, em
frente a uma praça127.

Figura 242 – Representação da Portaria da Cidade de Menores ―Getúlio


Vargas‖ em desenho da década de 1940.

Fonte: Autoria não identificada [194-?]; Coleção Iconográfica de Rosa


Farias; Acervo do Memorial de Sergipe (apud BISPO, 2007, p. 47).

Esta Portaria, de acordo com representação em desenho (figura 242), foi


constituída volumetricamente de um bloco retangular, de composição simétrica e
cobertura de quatro águas em telha-canal. O pórtico de acesso, centralizado, foi
demarcado lateralmente por pares de colunas torsas e encimado por frontal curvo
com pináculos. A compleição de inspiração colonial do prédio recebeu o reforço
visual da cimalha sobre o beiral e das telhas de ponta arrebitada nas finalizações
dos espigões do telhado. As janelas com vergas em arcos plenos e óculos vedados
por treliça — em padrão semelhante às esquadrias encontradas no Cotinguiba Sport
Club — distribuídos harmonicamente ao longo das fachadas, bem como o
126
De acordo com informações coletadas no Google Maps. Disponível em:
<https://www.google.com/maps/place/R.+da+Frente,+Nossa+Sra.+do+Socorro+-+SE,+49160-000/@-
10.8655508,-
37.1332526,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x70552aecb228749:0xd8d3cc1c08a0fd3!8m2!3d-
10.8655508!4d-37.1310586> Acesso em: 06 jul. 2018.
127
BISPO, 2007, p. 50.
295

prolongamento das fachadas frontais nas meias-paredes de arremate curvo, são


igualmente elementos que enfatizam a escolha de uma expressão de viés revivalista
neocolonial por parte de Altenesch.
Entre as edificações que constituíram o primeiro grupo de obras completas da
Cidade de Menores, e para as quais há maior segurança acerca da autoria do
alemão, é muito provável que a Portaria tenha sida a mais ornamentada. Esta
proposição pôde ser elaborada a partir do enfrentamento às representações e
fotografias dos outros edifícios circunscritos naquela primeira etapa das obras. A
condição de um edifício de entrada, de ―boas-vindas‖, em que estariam guardadas
as cargas simbólicas referentes à vocação do estabelecimento, talvez justifique esta
preeminência decorativa da Portaria com relação àquelas outras obras. Como
afirmou o diretor do Serviço Social de Menores Abelardo Cardoso, aquela Portaria
era ―simbólica e rigorosamente a entrada de serviço‖128.
Conforme afirma Bispo129, a arquitetura na Cidade de Menores remetia a um
conjunto de residências. Esta configuração tipológica tinha a função de evocar uma
ambiência familiar, ainda que fosse regida por firmes princípios de disciplina e
hierarquia. ―Desta forma, cada pessoa, inserida nesse espaço tinha o seu lugar
específico — tanto o diretor, funcionários e internos tinham suas residências em
pavilhões separados‖130. Ainda sobre o caráter simbólico da arquitetura da Cidade
de Menores, afirma Bispo131:

Esses prédios de arquitetura simples tinham o intuito de incutir


valores de trabalho aos menores, que viam nos prédios simples
localizados no campo, elementos suficientes para uma vida digna no
meio rural, e, ao mesmo tempo, o discurso adotado visava
estabelecer uma relação harmoniosa entre o meio rural e o menor,
uma vez que caso estes estivessem na cidade representariam perigo
à sociedade.

De modo a canalizar uma ambiência campesina e genuinamente familiar na


arquitetura, Altenesch se apropriou das matrizes estéticas coloniais difundidas pelos
neocoloniais. Pode-se talvez tentar entender esta adoção plástica do alemão para o
conjunto da Cidade de Menores como evocadora da experiência brasileira rural das
grandes fazendas do Brasil Colônia, com seus casarões e Igrejas permeados de
128
BISPO, loc. cit.
129
Ibid., p. 64.
130
Ibid., loc. cit.
131
Ibid., p. 65.
296

referências barrocas e releituras autóctones. Aplicados na Portaria de forma mais


potencializada, os elementos decorativos da plástica neocolonial diluíram-se nos
demais edifícios, nos quais mais se enfatizou o tratamento volumétrico. Assim,
parece ser possível compreender a afirmação de Porto quando ele comparou este
conjunto arquitetônico da Cidade de Menores com as demais obras de Altenesch
associadas às expressões neocoloniais como as casas ―alteneschianas‖, indicando
que para este complexo rural o alemão havia se utilizado destas linguagens ―de
maneira justa e consentânea com o ambiente rural‖132.
A partir da Portaria, a primeira edificação a que se tinha acesso era a Casa de
Triagem ou Pavilhão de Ingresso “Melo Mato” (número 7 na figura 241; figuras
243 e 244). Neste edifício o menor era examinado de forma a identificar o seu perfil
de personalidade e os seus graus de resistência à internação, assim como era ali
feita a identificação das habilidades e tendências para o trabalho. De acordo com
Abelardo Cardoso, aquele edifício era o local onde o Estado realizaria todas as
investigações para uma educação efetiva daqueles meninos133.

Figura 243 – Casa de Triagem/Pavilhão de Ingressos ―Melo


Matos‖ da Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Jornal A Cruzada (Aracaju, 25 dez. 1953, 2º caderno,


Ano XVIII, n. 83, p. 1 apud BISPO, 2007, p. 61).

Este peso da autoridade estatal sobre os destinos dos internos parece ter sido
transferido para a forma do edifício em questão. Neste, não se aplicou a
descontração da ornamentalidade percebida nas fachadas da Portaria. Foi mantido

132
PORTO, 2003, p. 51.
133
BISPO, 2007, p. 51.
297

o partido simétrico, assim como o uso do telhado aparente em telhas-canal e das


envasaduras com vergas em arcos plenos, mas estes itens se colocaram a serviço
de uma volumetria rígida e austera. Apesar do grande número de janelas, foi
configurada enquanto uma arquitetura voltada para si mesmo. Esta questão se
refletiu, por exemplo, na configuração da sua varanda, reduzida a um pequeno
abrigo alpendrado de entrada, que se servia, possivelmente, a um maior controle do
fluxo de acesso. A sobreposição discreta das águas do telhado, bem como os
comedido frisos sob os peitoris das janelas deram o toque plástico possível a esta
obra de inspiração colonial e rural e a serviço do poder e controle estatal.

Figura 244 – Casa de Triagem/Pavilhão de Ingressos ―Melo


Matos‖ da Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Revista Illustração Brasileira (Rio de Janeiro, nov. 1940,


ano XVIII, n. 67, p. 52).

A rigidez, presente na volumetria, foi transferida para a espacialidade (figura


245). O indício do controle do uso do espaço, evidenciado pela restrição da área da
varanda, permeou a distribuição dos ambientes nesta Casa de Triagem. Esta
questão se refletiu na concentração do potencial do fluxo de circulação longitudinal
no pequeno cômodo de entrada. A baixa integração dos espaços internos e o
isolamento dos cômodos de permanência dos internos igualmente são corolários
deste partido.
298

Figura 245 – Planta baixa da Casa de Triagem/Pavilhão de Ingressos ―Melo Matos‖


Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Levantamento cadastral localizado no acervo da CEHOP sob o código D14-0776-


002; Edição elaborada pelo autor (2018).

O edifício seguinte na rota interna da Cidade de Menores, entre aqueles mais


seguramente projetados por Altenesch, era a Casa do Diretor (número 10 na figura
241). Esta foi idealizada para receber o diretor da instituição e sua família, que ali
residiriam134. O seu partido, assim como no caso das outras duas edificações
analisadas, foi baseado na simetria. Sua espacialidade (figura 246) foi pautada em
uma distribuição setorizada, com predominância dos espaços públicos e sociais e o
deslocamento do setor de serviços para os fundos. Em sua planta esta casa
guardava muita similaridade com os bungalows da Rua Vila Nova, principalmente
pela presença de um núcleo central — neste caso um corredor — nascido das salas
frontais e a partir do qual se tinha acesso às zonas íntimas dos quartos, ao banheiro,
e às áreas de serviço. Dissociava-se, no entanto, daquelas casinhas, pela total
liberdade na relação com o sítio. Enquanto nos bungalows havia uma limitação
imposta pela estreiteza de seus terrenos assim como pela necessidade de se
estabelecer limites na permeabilidade visual próprios às áreas urbanas, para a Casa
do Diretor estes condicionantes eram inexistentes. Os espaços internos foram assim
integrados à ambiência rural a partir da permeabilidade criada pelo grande número
de portas e janelas. Estas envasaduras estavam voltadas para as varandas

134
BISPO, loc. cit.
299

circundantes que funcionavam, junto ao corredor interno, como faixas potentes de


integração entre os ambientes.

Figura 246 – Planta baixa da Casa do Diretor da Cidade de


Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Levantamento cadastral localizado no acervo da CEHOP


sob o código D14-0776-018; Edição elaborada pelo autor (2018).

Quanto à questão volumétrica (figura 247) algumas considerações são


válidas. As varandas, que haviam aparecido de forma similar em algumas das casas
no ―stylo moderno‖ de Altenesch, na Casa do Diretor receberam não só uma
potencialização enquanto zona de integração dos espaços internos e da casa com o
entorno, como também no quesito volumétrico. Estas foram destacadas pela
independência de seus planos de telhado em relação à cobertura do corpo do
edifício, na criação de uma área de alpendre circundante delineada por arcada com
arcos plenos. Alguns motivos coloniais — o frontal curvo na fachada frontal, a telha
canal na tradicional composição em quatro águas, os beirais apoiados por cimalhas
300

e a finalização dos espigões com as telhas de ponta arrebitada — que haviam sido
utilizados na Portaria o foram novamente para esta residência, conferindo-lhe a
desejada aparência bucólica.

Figura 247 – Casa do Diretor da Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro, 6 ago. 1940, anno 66, n. 182, p. 7).

Por fim, têm-se o Pavilhão Lar “Cândido da Mota” (número 18 na figura 241;
figuras 248 a 251). Este edifício, na década de 1950, acolhia até quarenta e oito
crianças de onze aos dezesseis anos e era dotado de aparelhos sanitários, quarto
do monitor, apartamento para o Capelão e monitor chefe, refeitório, cozinha e quarto
de empregados135. Foi o primeiro Pavilhão Lar a ser construído e tinha como
finalidade ser a residência permanente de parte dos internos. Diferente do Pavilhão
de Ingresso, a composição deste outro indicava um partido pautado na maior
permeabilidade do espaço interno e na relação com o exterior, bem como uma maior
movimentação volumétrica. Esta foi a única intervenção de Altenesch, entre as
quatro aqui abordadas, em que houve o rompimento com a simetria. Neste edifício,
a expressão neocolonial de vocação rural serviu a uma solução de menor apego às
formas conservadoras de composição espacial. Percebe-se que a volumetria deste
Pavilhão anunciava uma distribuição funcional do espaço lastreada no princípio
da setorização. A varanda foi disposta com solução intermediária em relação
àquelas propostas para a Casa de Triagem e a Casa do Diretor: nem a restrição
espacial de uma nem a completa permeabilidade da outra. Esta varanda do Pavilhão
Lar, assim como naquelas outras duas edificações, foi destacada pela
135
BISPO, 2007, p. 60.
301

independência de sua cobertura em relação à cobertura do corpo do edifício.


Também se configurou ali um alpendre com arcos plenos.

Figura 248 – Planta baixa do Pavilhão Lar ―Cândido da Mota‖ na Cidade de Menores
―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Material gráfico elaborado pelo autor a partir de prancha localizada no acervo da
CEHOP.

Figura 249 – Pavilhão Lar ―Cândido da Mota‖ na Cidade de Menores


―Getúlio Vargas‖

Fonte: Jornal A Cruzada, Aracaju, 25 dez. 1953, 2º caderno, ano


XVIII, n. 83, p. 1 (apud BISPO, 2007, p. 61).
302

Figura 250 – Pavilhão Lar ―Cândido da Mota‖ no primeiro plano e a Casa do


Diretor ao fundo.

Fonte: Autoria não identificada [194-?]; Coleção Iconográfica de Rosa Farias;


Acervo do Memorial de Sergipe (apud BISPO, 2007, p. 50).

Este Pavilhão partilhava com as demais obras abordadas o repertório de viés


colonial composto por: cobertura em telha-canal com acabamento arrebitado, beiral
sobre cimalha e conjunto de envasaduras com vergas em arcos plenos. Neste,
assim como no Pavilhão de Ingresso, a expressão colonial foi adotada em sua
versão mais singela no âmbito ornamental, mas concentrada no aspecto
volumétrico.

Figura 251 – Pavilhão Lar ―Cândido da Mota‖ em segundo plano, à esquerda


e Pavilhão de Recreação em primeiro plano.

Fonte: Autoria não identificada [196-?]; Coleção Iconográfica de Rosa Farias;


Acervo do Memorial de Sergipe (apud BISPO, 2007, p. 62).
303

Figura 252 – Escola Rural ―Maximino Maciel‖ na Cidade de Menores


―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Relatório apresentado ao Exmo Sr. Presidente da República Dr.


Getúlio Vargas – pelo Interventor Federal do Estado de Sergipe, Coronel
Augusto Maynard Gomes referentes as atividades da administração
sergipana, durante o ano de 1942, p. 83 (apud BISPO, 2007, p. 89).

Figura 253 – Pavilhão Lar ―Augusto Maynard Gomes‖ na


Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖.

Fonte: Revista Vida Doméstica (Rio de Janeiro, ed. 329, p.


72).

Outros edifícios do complexo da Cidade de Menores foram identificados a partir


das fotografias. Estes, construídos em uma etapa posterior àquela primeira que
reuniu as intervenções mais diretas de Altenesch, mantiveram alguma conexão com
a proposta original, principalmente pelo uso da cobertura em telha colonial aparente.
Podem ser citados o caso do Pavilhão de Recreação, a Escola Rural ―Maximino
304

Maciel‖ e Pavilhão Lar ―Augusto Maynard‖ (respectivamente figuras 251, 252 e 253).
Destaca-se neste conjunto de obras construídas pós-Altenesch a capela Capela
―Nossa Senhora do Carmo‖, erguida em 1951136, e na qual se percebe uma adoção
cuidadosa da morfologia e ornamento barroco-colonial de origens luso-brasileiras
(figura 254).

Figura 254 – Ruinas da Capela Nossa Senhora


do Carmo na Cidade de Menores ―Getúlio
Vargas‖.

Fonte: Google Street View (2015).

A Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖ foi idealizada a partir de experiência


paulista equivalente, o ―Educandário Dom Duarte‖ (figuras 255 e 256). Em 1939 o
Sr. Cardoso, então diretor do Serviço de Menores conforme indicado anteriormente,
partiu em viagem pelo Brasil no intuito de conhecer instituições dedicadas ao abrigo
e educação de menores abandonados e encontrou na instituição religiosa mantida
pela Liga das Senhoras Católicas de São Paulo uma solução que lhe pareceu
adequada às demandas sergipanas137. Aquele projeto, que recebeu a colaboração
do arquiteto Adelardo Caibuy, delineou um agrupamento de edifícios afastado do
centro urbano paulistano onde viriam a ser acolhidas crianças abandonadas138.
Sobre a idealização deste projeto, foi dito que:

Tivemos a preocupação de procurar projetar uma verdadeira cidade,


em miniatura, a fim de que sua população, de cerca de mil crianças,

136
BISPO, 2007, p. 102.
137
Ibid., p. 114.
138
Ibid., p. 59.
305

pudesse viver como se estivesse em suas próprias casas, tendo


além disso a impressão de fazer parte de uma pequena sociedade.139

Figura 255 – Visão geral da Cidade de Menores Abandonados, o Educandário ―Dom


Duarte‖ em São Paulo.

Fonte: Autoria não identificada [193-?]; Publicada no Blog ―Educandário Dom Duarte
Memória da História Extra Oficial‖ (2015). Disponível em:
<http://andrepavi20.blogspot.com/search?updated-max=2015-11-16T18:34:00-
02:00&max-results=1&reverse-paginate=true> Acesso em: 09 jul. 2018.

Figura 256 – Edifícios da Cidade de Menores Abandonados, o


Educandário ―Dom Duarte‖ em São Paulo.

Fonte: Autoria não identificada [193-?]; Publicada no Blog


―Educandário Dom Duarte Memória da História Extra Oficial‖
(2015). Disponível em:
<http://andrepavi20.blogspot.com/search?updated-max=2015-
11-16T18:34:00-02:00&max-results=1&reverse-paginate=true>
Acesso em: 09 jul. 2018.

As proximidades entre as duas Cidades de Menores não só foram


estabelecidas quanto à distribuição dos edifícios ao longo do sítio, mas também no
aspecto arquitetônico e plástico. Assim como nas intervenções de Altenesch, na
139
CORRÊA, 2003, p. 92 apud BISPO, 2007, p. 59.
306

Cidade de Menores paulista havia sido adotada uma expressão de bases coloniais.
O frontão curvo na fronte interceptado pelos beirais do telhado em quatro águas, que
Altenesch havia adotado para sua Portaria e para a Casa do Diretor, era um padrão
nos edifícios da instituição paulistana. Assim, é possível supor que aquela Cidade de
Menores tenha influenciado os partidos estéticos do alemão para seu projeto.
Apesar das semelhanças e provável influência, é perceptível que a arquitetura
proposta para a Cidade de Menores sergipana apresentou maior diversidade
volumétrica entre os edifícios.
Altenesch, nesta sua última obra, concluída após a sua morte, parece ter
adotado pela primeira vez uma plástica associável ao neocolonial de bases luso-
brasileiras, ainda que híbrida. Até aquele momento, ao menos em se considerando a
sua obra conhecida, as referencias coloniais que ele tinha adotado estavam muito
mais ligadas às experiências hispano-estadunidenses, como a estética que se
convencionou chamar ―Missões‖ e que havia sido adotada de forma mais coerente
com a ―cartilha‖ no bungalow de número 513 da Rua Vila Nova e no Cotinguiba
Sport Club, mas que também que estava diluída nas experiências ―alteneschianas‖.
Esta relativa aproximação de Altenesch com o neocolonial nacional poderia ser
talvez entendida como consequência da absorção das referências dadas pela
Cidade de Menores paulista, mas também é possível que tenha relação com uma
provável interação inicial do alemão com as construções históricas e coloniais da
cidade de São Cristóvão. Como visto anteriormente, ele foi nomeado em julho de
1938 como parte da comissão que iria fazer o reconhecimento e controle dos bens
de valor histórico da antiga capital do estado de Sergipe 140, em uma atividade
relativa à elevação daquela cidade por parte do Interventor Eronides de Carvalho à
categoria de monumento histórico, pelo Decreto-Lei 94 do em 22 de junho de
1938141. Não se pode confirmar que esta comissão tenha de fato atuado, mas não
seria de todo improvável que tenha promovido uma maior aproximação do alemão à
estética colonial autóctone, base para o ―movimento neocolonial‖ brasileiro.
Contudo, apesar das referencias às estéticas neocoloniais — tradicionais,
portanto —, o conjunto de Altenesch para a Cidade de Menores indicou uma

140
SERGIPE. Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Instruções N. 1. Diario Oficial do Estado
de Sergipe, Aracaju, 12 jul. 1938, ano XX, n. 7346, p. 2059.
141
SERGIPE. Interventoria do Estado. Decreto-Lei nº 94 de 22 de junho de 1938. Eleva São
Cristóvão á categoria de monumento histórico. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 jun.
1938, ano XX, n. 7333.
307

orientação moderna, não só no partido volumétrico-espacial, mas também no trato


das superfícies. A limpeza das fachadas, destituídas das modenaturas e guarnições
próprias às releituras do barroco na arquitetura neocolonial luso-brasileira, e a
diferenciação volumétrica dos edifícios, são aspectos que indicam a
contemporaneidade de sua obra em seu tempo. O diálogo entre o passado e o
futuro, expressos nas formas, são reflexos da ambivalência e diversidade inerente à
sua arquitetura.
308

5 CONCLUSÃO

Elaborar esta pesquisa e a sua escrita foi como juntar pedaços soltos de um
velho mapa. Como um quebra-cabeça desgastado, com peças rasgadas e muitas
ausências, aos poucos foi sendo possível montar um quadro, que de muito perto não
teria sentido algum, mas observado a certa distância revelou algumas formas
reconhecíveis, outras fragmentadas, e a possibilidade de se identificar caminhos
possíveis de entendimento. Um trabalho repleto de pequenos achados, de surpresas
e também de frustrações. Como falar de alguém, nesta era da imagem e do
personalismo, sem ao menos conhecer o seu rosto, sua expressão? Assim foi
necessário desapegar da tentativa de trazer o passado a tona e focar no possível: o
entendimento do sujeito e sua obra a partir dos rastros, pegadas e lampejos
dispersos.
Cobrindo os pontos deixados pela literatura antecedente a este trabalho no que
concerne à presença e atuação de Altenesch em Aracaju, foi possível investigar as
suas origens, seu trajeto até chegar à capital sergipana e as possibilidades de sua
formação. Assim, algumas hipóteses foram lançadas. Ele teria sido Hermann Otto
Wilhelm Arndt, um técnico de nível secundário em engenharia civil, nascido em
Bremen, na Alemanha, em 16 de maio de 1901 e teria vindo para a América no
início da terceira década do século XX, depois da Primeira Guerra Mundial. Teria
ficado na Argentina, a serviço de uma construtora, até pelo menos 1926. Em 1927
já estava no Rio de Janeiro e de lá saiu por questões judiciais que o levaram a
falência.
Em Aracaju, a serviço de Erich Apenburg entre 1933 e 1934, dirigiu as
construções da filial da Companhia Rovel da Baía S.A. e de pelos menos dois dos
bungalows da Rua Vila Nova. Também trabalhou para “A Construtora”, empresa
de sorteio de imóveis, onde ocupou o cargo de chefia da divisão técnica e por esta
firma conduziu a construção de outros bungalows na Vila Nova. Além disso, no final
de 1933, envolveu-se, a pedido do então governador Augusto Maynard, na
elaboração da fachada de uma nova estação ferroviária e por aquele período já
estaria projetando a sede do IHGSE. Estes foram os seus primeiros movimentos na
cidade, e pela amplitude e rapidez no desenvolvimento destas relações parece estar
explicada a permeabilidade que brevemente alcançou no cenário da construção e
proposição de inovações na cidade.
309

A compreensão do objeto histórico enquanto “mônada”, levou a um esforço por


olhar a obra de Altenesch a partir dela mesma, pela compreensão que nestes
objetos estariam revelados os seus traços de modernidade. Como fala Benjamin “na
obra o conjunto da obra, no conjunto da obra a época e na época a totalidade do
processo histórico são preservados e transcendidos”1. Foi estabelecido assim um
embate constante para evitar determinismos, preconceitos, rotulações. Uma tarefa
árdua, mas necessária, já que se entende que a tramas da modernidade não são
tecidas apenas com os fios das propostas paradigmáticas de renovação, mas
também com as linhas da subjetividade, da criatividade, que gerenciam estes
vetores exógenos na busca pela criação de uma tapeçaria peculiar. No entanto, não
se trata este trabalho de uma busca pela comprovação de uma suposta originalidade
do traço, uma excepcionalidade do projeto. A busca é por uma compreensão
aproximada da configuração de uma modernidade possível e particular, expressa
nas soluções espaciais, técnicas e estéticas de um construtor alemão em uma das
menores e mais jovens capitais do nordeste brasileiro, compreendendo a questão
como representativa da diversidade do fazer arquitetura no Brasil durante a primeira
metade do século XX.
Foi possível perceber, apesar da pluralidade das propostas de Altenesch, tanto
a nível tipológico como no âmbito estético, alguns elementos ornamentais e
soluções espaciais e estruturais recorrentes, a indicar um fio de coesão do conjunto
da obra. Os apliques volumétricos em argamassa (angulosos ou convexos),
delimitando faixas horizontais nos bungalows de números 508 e 521, no projeto do
Palácio das Letras, no Serigy e também no Quartel do Corpo de Bombeiros; as
meias-luas preenchidas das platibandas e das muretas dos bungalows de número
498 e 508, que apareceram como mote ornamental nas fachadas da residência
Carvalho Neto e nas diversas casas “alteneschianas”; a utilização de cores
contrastantes para destaque dos elementos ornamentais e das marcações
horizontais das fachadas nos bungalows de números 508 e 521, na casa Flávio
Prado, no Corpo de Bombeiros e no Serigy; a presença quase onipresente das
barras cilíndricas de ferro na constituição das muretas frontais, principalmente nas
residências, mas também observadas no IHGSE; a presença das mesmas barras
como contenção interna nas janelas verticais das escadas do Serigy e do IHGSE; o

1
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: ______. Obras escolhidas: Magia e técnica,
arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987, cap. 15, p. 231.
310

abaulamento das arestas das paredes e do encontro entre tetos e paredes


identificado no bungalow de número 508, que também foi notado entre tetos e
paredes das residências Torquato Fontes, Gervásio Prata, no IHGSE e no Palácio
Serigy; as pequenas passagens de ventilação sobre as vergas de portas e no alto
da parede entre alguns cômodos, identificadas no bungalow de número 508 e no
IHGSE, são alguns dos itens que saltam à vista e indicam um repertório formal
subjacente à diversidade da obra do alemão.
No que tange ao uso da tecnologia do cimento/concreto armado, e da sua
expressividade, elementos também se repetiram: as marquises de aspecto
aerodinâmico apoiadas por mãos-francesas, presentes nos acessos principais do
bungalow de número 508, do IHGSE, do Palácio Serigy e da Associação Atlética; o
sistema de vigas com reforço por mísulas identificado no IHGSE, no Serigy, no
Quartel do Corpo de Bombeiros e no Cotinguiba Sport Club; as lajes projetadas
sobre as fachadas nas residências Torquato Fontes, Gervásio Prata e Flávio Prado,
e a composição destas lajes com vigas de apoio aparentes de distribuição radial
nas fachadas daquela última residência e da Associação Atlética. Estes elementos
apresentam uma adesão à tecnologia do cimento/concreto armado em sua
potencialidade plástica. Pode-se falar em termos também de uma potencialidade
simbólica, já que por terem sido expostos à visibilidade das fachadas, estes
elementos parecem informar a quem os contempla a vinculação daqueles edifícios à
modernidade.
Quanto à aderência à tecnologia do cimento/concreto armado e a sua
relação com o partido arquitetônico, algumas questões foram igualmente
observadas. É possível indicar que o uso da tecnologia construtiva em questão se
deu a partir de uma lógica da racionalidade, tendo em vista a redução de cargas e
a economia da obra. Contudo, o princípio da racionalidade não foi determinante para
a configuração da espacialidade, mas esteve sujeito ao aspecto da funcionalidade,
ao atendimento às demandas dos programas de cada edifício. Uma postura mais
racionalizada na solução estrutural, com um partido modular, foi percebida no aporte
de sustentação da laje da garagem do Quartel do Corpo de Bombeiros. Nesta
situação em particular, por se tratar de um programa de baixa complexidade
espacial já que consistiu em um vão livre, a solução predominantemente pautada na
racionalidade foi autorizada. Esta solução específica, no entanto, não se impôs
como parâmetro para o agenciamento da estrutura do restante daquele prédio, mas
311

compunha um partido geral alicerçado na dependência da estrutura em relação às


demandas funcionais e no agenciamento espacial. O projeto para o Palácio das
Letras, aquele com maior número de pavimentos e possivelmente o de maior
complexidade no programa de necessidades, revelou a aderência de Altenesch à
liberdade compositiva proporcionada pela tecnologia do cimento/concreto armado,
pela diversidade das soluções espaciais e da solução estrutural para cada
pavimento. Neste projeto, como visto no corte, o vigamento com suas mísulas foi
mantido aparente. Este foi um padrão que se observou nos prédios institucionais
cujos interiores se puderam observar, pela iconografia ou por visitas in loco. Desta
forma, assim como as marquises dos acessos principais e as lajes em balanço
imprimiram nas fachadas a adesão à novidade da tecnologia do cimento/concreto
armado, as vigas misuladas transferiram para a ambiência interna este discurso
visual.
Altenesch, em suas propagandas de 19362, indicou sua habilitação para o
trabalho em “Construcções modernas em geral. Obras industriaes de cimento
armado e etc”. A relação entre a modernidade proposta pelo alemão e o aspecto
industrial relacionado ao uso do cimento armado, ao que parece, esteve mais
relacionado com o uso de elementos advindos da indústria de materiais para a
construção civil do que propriamente a adoção, no canteiro de obras, de artifícios
industriais. Como foi verificado, a partir de 1936 se identificou nos jornais locais
publicidade de cimento Portland advindo de fábricas nacionais, com indicação de
distribuidores locais. Para o projeto do IHGSE, em correspondências de 1934, há
indicação da firma de Manuel M. de Almeida, que à época já vendia em Aracaju
sacos de cimento nacional e barras de ferro provenientes da capital federal à época,
o Rio de Janeiro. O próprio Altenesch parece ter trabalhado como distribuidor, como
pôde ser verificado no fornecimento ao governo de barras redondas de ferro para a
obra do Palácio Serigy em 19373. Nos canteiros de obra integravam-se a estes itens
industriais advindos da indústria nacional matérias-primas sergipanas como a areia
grossa de Riachuelo e a cal de Lagarto, utilizadas na construção do Quartel do
Corpo de Bombeiros. Além do material em estado bruto, o contexto local também
contribuiu com o fornecimento de mão de obra e elementos manufaturados

2
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1, p. 2; H.
A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, abr. 1936, ano I.
3
Anexo C.
312

provenientes das oficinas de artes e ofícios do Instituto “Coelho e Campos”, como


ocorreu para as obras finais do IHGSE e para a reforma do Serigy. Para a reforma
do Cotinguiba Sport Club, como revelado pela memória do Sr. Wellington
Mangueira, a adesão à tecnologia do cimento armado se deu a partir de uma
solução alternativa, pelo uso de estrutura metálica de trilhos de bonde para a
confecção das mísulas. É possível deduzir, a partir desta informação, que a
disponibilidade dos materiais e dos recursos influenciou decisivamente as
resoluções dos pormenores construtivos e estruturais e o grau de adesão às
tecnologias relacionadas ao concreto/cimento armado. O grau de vinculação aos
processos de industrialização, assim, estava condicionada às demandas da obra, e
no caso de Aracaju àquela época, parecia estar estritamente vinculada muito mais
aos materiais utilizados do que às práticas no canteiro.
Com relação às soluções espaciais, a diversidade tipológica e dos programas
conduziram a soluções diversas. De uma forma geral, houve uma preferência de
Altenesch pelas composições simétricas para as obras institucionais, ao passo que
as obras residenciais seguiram uma maior liberdade, ainda que nos casos como as
residências Torquato Fontes e Gervásio Prata a simetria tenha conduzido parte do
agenciamento dos cômodos e fachadas frontais, e na “Casa do Diretor” da Cidade
de Menores “Getúlio Vargas”, este seja o princípio norteador de todo o partido.
Alguns pontos parecem indicar atitudes inovadoras do alemão na
organização das plantas. O primeiro aspecto é justamente a diversidade das
soluções entre os edifícios, indicando uma atenção específica para cada programa
e suas demandas. Nos bungalows, que parecem ser as soluções espaciais menos
complexas do alemão, o deslocamento do banheiro de sua tradicional locação na
zona de serviço aos fundos, locando-o em área central, mais integrado aos espaços
públicos das salas e varanda, sugere um partido inovador. A preocupação com a
integração espacial permeia a obra do alemão. O delineamento de áreas
avarandadas, promotoras de permeabilidade entre ambientes internos e entre estes
e as áreas externas, é um ponto destacável nas residências Flavio Prado, Torquato
Fontes, Gervásio Prata e na “Casa do Diretor” na Cidade de Menores. Destaca-se
também, neste aspecto da integração espacial, a solução adotada no Palácio Serigy,
com a criação de uma galeria interna no centro de convergência dos eixos de
circulação, que possibilitou permeabilidade visual entre os pavimentos e também a
entrada de luz.
313

Percebe-se que, ao longo de sua atuação em Aracaju, Altenesch foi se


orientando a agenciamentos mais movimentados, integrados a soluções
volumétricas igualmente mais complexas. Os seus bungalows, o Palácio das Letras,
a sede da Companhia Rovel, o IHGSE e o Corpo de Bombeiros — circunscritos
entre os anos de 1933 e 1936 — apresentam partidos de massas rígidas, e um
tratamento plástico focado principalmente nos planos das fachadas frontais. Já nas
residências Torquato Fontes, Gervásio Prata e Flávio Prado, bem como na sede da
Associação Atlética e nos edifício da Cidade de Menores “Getúlio Vargas”, — obras
referentes a uma segunda fase, de 1936 a 1939 — percebe-se a diferenciação da
volumetria, pelo deslocamento de planos e massas.
Em relação ao aspecto do conforto, na obra de Altenesch, é perceptível que
tenha sido um ponto considerado em sua prática projetual. Não o foi como a crítica
iniciada por Bonifácio Fortes4 esperava, principalmente com relação aos bungalows.
A crítica que se fez a ele baseava-se em uma suposta inadequação daquelas
casinhas ao clima da cidade. No entanto, esta preocupação com a adaptação
climática da arquitetura não era uma questão colocada nas práticas projetuais à
época da atuação de Altenesch, mas se difundiriam, como afirma Segawa 5, apenas
a partir da década de 1940. A obra de Altenesch foi pautada, por usa vez, nas
preocupações que se referem à higiene e à salubridade da edificação. Para tanto,
há a preocupação com a entrada de ar e luz, pela proposição de recuos, aberturas
de janelas para todos os cômodos, bem como com as pequenas envasaduras
internas identificadas no bungalow de número 508 e no IHGSE. Estas características
observadas em sua obra dão o tom do alinhamento e aderência à compreensão de
conforto atinente ao seu período de atuação.
Quanto ao aporte estético, assim como para a solução das plantas, observa-
se uma diversidade nas resoluções. Esta diversidade em sua obra é condizente com
as possibilidades variadas de expressão da novidade à época. Em Altenesch são
vistos traços das linguagens divulgadas pela revista A Casa, por exemplo, que à
época possivelmente era a revista especializada de maior circulação no Brasil, e que
de certa forma traduzia em suas páginas as linguagens e padrões estéticos

4
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
5
SEGAWA, Hugo. Clave de Sol: notas sobre a história do conforto ambiental. Arquitextos, São
Paulo, ano 07, n. 073.03, Vitruvius, jun. 2006 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.073/345>. Acesso em: 17 jul. 2018.
314

difundidos pelos agentes da construção civil e da arquitetura no cenário brasileiro.


Podem ser indicadas as expressões ornamentais relacionadas à simplificação
geométrica, com zigue-zagues e escalonamentos (que se entende por Art Déco),
expressões neocoloniais e referências a uma arquitetura vernácula estrangeira,
como as diversas inspirações de origens anglo-estadunidenses adotadas
principalmente para os bungalows. Notam-se igualmente as presenças de plásticas
mais racionalizadas, com enfoque no aspecto volumétrico e na expressividade da
tecnologia do cimento/concreto armado.
Na obra de Altenesch estes vetores estéticos se manifestaram, mas é
possível observar que foram atravessados pelo crivo da sua subjetividade, como
indica a partilha entre obras de tipologias e expressões diferenciadas daqueles
elementos que compõem o repertório técnico e visual do alemão. Percebem-se
então soluções híbridas, como o bungalow de número 508, que ao mesmo tempo
em que assumiu uma compleição bucólica e tradicional, invocou a inovação com a
marquise aerodinâmica e os apliques em zigue-zague de sua fachada. Na solução
apresentada para a Residência Carvalho Neto, e nas demais advindas de sua
influência, é perceptível o uso de um repertório neocolonial subjacente, no entanto,
há uma ornamentalidade que vai além, como as meias-luas preenchidas, que parece
indicar uma solução pessoal. Ainda falando de neocoloniais, percebe-se uma
diversidade nas soluções para os edifícios da Cidade de Menores “Getúlio Vargas”,
onde a inspiração advinda dessas expressões serviu a proposições despojadas e
particulares em suas condições volumétricas e espaciais.
Como indica Porto, com a entrada da década de 1930 e diante das
modificações sócio-políticas ocorridas no país, instaurou-se uma vontade de
renovação generalizada6. A capa da publicação estatística do governo do Estado de
Sergipe de 1935 (figura 154), com os símbolos da modernidade — como o arranha-
céu, o navio e o avião — são reveladoras deste desejo por parte do poder público.
Igualmente ávida de renovação estava a população aracajuana, que, por exemplo,
aderiu de forma enfática, como revela Porto7, às proposições de inspiração
neocoloniais “alteneschianas” inauguradas com a residência Carvalho Neto.

6
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 54.
7
Ibid., p. 51.
315

Como observado no papel timbrado de seu escritório, Altenesch se habilitava à


“Architectura classica e moderna”8; este dado parece sugerir uma postura receptiva
e adaptável por parte do construtor alemão aos variados vetores estéticos e à
diversidade das demandas dos clientes à época. Esta sua característica se confirma
com a fala atribuída a ele por Porto9 de que, para não perder clientes, o alemão
preferia dar vasão ao gosto dos aracajuanos pelo diferente, pela unicidade. Por este
motivo teria se aventurado naquelas proposições de bases neocoloniais e “quando o
cliente não era „tupiniquim‟”10 ele construía obras de expressões mais
racionalizadas, de formas e volumetrias puras, como as residências Gervásio Prata
e Torquato Fontes.
Considerando-se a modernidade como constituída pelos fios da renovação e
da presença atuante da subjetividade criadora, talvez seja possível compreender
que o casamento entre a vontade aracajuana por novidade, tanto no âmbito estatal
quanto civil, e a presença do alemão, com seu arsenal de proposições inovadoras
nas soluções estéticas e técnicas, configure esta experiência ocorrida na Aracaju
dos anos 1930 como uma experiência genuinamente moderna. O hibridismo, as
características idiossincráticas, a manipulação do repertório formal exógeno, a
tessitura de um repertório próprio ao longo da obra do alemão, entrelaçados com a
subjetividade de seus clientes sergipanos desejosos de novidade configuraram o
caráter moderno da presença e da obra de Altenesch em Aracaju.
Parecer ser possível concluir afirmativamente, ao final desta pesquisa, a
questão referente à suposta centralidade da arquitetura de Altenesch na difusão de
modernidades estéticas e técnicas no panorama arquitetônico da Aracaju nos anos
1930. Tem-se aqui uma compreensão de centralidade afastada de ideais como
hegemonia e superioridade, mas relacionada à prevalência, já que se entende que a
complexidade das redes construídas nos processos de construção e reconstrução
de cidades conduz a um olhar mais abrangente. Contudo, é claro aos olhos de quem
passa pelas ruas de Aracaju, que parte importante das obras institucionais
associadas às modernidades dos anos 1930, por exemplo, estão vinculadas ao
nome de Altenesch, como o Palácio Sergiy, a sede do IHGSE, o Quartel do Corpo
de Bombeiros e a Associação Atlética de Sergipe (antes de ser demolida). Esta

8
Anexo C.
9
PORTO, 2003, p. 49.
10
Ibid., loc. cit.
316

lista aumentou com esta pesquisa, com a adesão da sede do Cotinguiba Sport
Club e provavelmente o edifício à Avenida João Ribeiro, onde teria funcionado a
filial sergipana da Companhia Rovel da Baía S.A. A lista pode ainda aumentar, se
houver maior clareza documental, como parece já haver no aspecto visual, sobre a
autoria da Ponte do Imperador, do Santuário Nossa Senhora Menina e do
Palácio de Veraneio na Atalaia. É provável que por esta prevalência simbólica e
material da obra e do nome do alemão na cidade tenha ocorrido a atribuição ao seu
nome do projeto da Biblioteca Pública (atual APES), que em verdade foi projeto e
construção da Emilio Odebrecht & Cia.
Talvez seja possível afirmar que Altenesch tenha sido o introdutor de algumas
inovações, como a expressão ornamental do zigue-zague e escalonamento,
entendida como Art Déco já que presentes nos seus bungalows de 1934 e na
possível sede da Companhia Rovel, inaugurada no final de 1933. O uso das
expressões neocoloniais talvez seja algo a se questionar, já que algumas casas de
um suposto neocolonial “simplificado” já existiam antes da intervenção de Altenesch.
No entanto, a proposição festiva, e aparentemente sui generis, da residência
Carvalho Neto, parecem indicar uma contribuição própria do alemão. É possível
também que o construtor tenha sido o propositor das expressões racionalistas, das
formas puras, para o âmbito residencial, com suas residências Torquato Fontes e
Gervásio Prata, erguidas entre 1936 e 1938. No âmbito institucional o edifício dos
Correios e Telégrafos, de autoria não identificada e inaugurado em 1935, saiu à
frente da Associação Atlética, inaugurada entre 1937 e 1938. Nesta obra o alemão
expressou de uma forma mais plena a adesão a uma pureza geométrica da forma.
Quanto ao uso do cimento/concreto armado, Altenesch pode ter sido também
um importante divulgador, principalmente devido à expressão desta tecnologia em
suas fachadas. Quanto à suposta influência que ele tenha exercido sobre outros
construtores no uso desta técnica construtiva, conforme indicado por Fortes, é algo
mais difícil de analisar pela inexistência de registros de projetos que possibilitem
esta comparação. Contudo, é possível afirmar que, se houve esta influência, ela não
gerou uma mudança imediata nas práticas construtivas. Como é revelado na tabela
1, em 1937, três anos após a chegada do alemão, o número de construções em
cimento armado em Aracaju ainda era insignificante, mesmo que a renovação
arquitetônica tivesse de fato acontecendo, como indica o expressivo número de
construções “modernas em geral” e bungalows.
317

Contemporâneas à atuação de Altenesch em Aracaju, estiveram envolvidas em


proposições de projetos e obras, particularmente os públicos, as construtoras Emilio
Odebrecht & Cia e Christiani & Nielsen. Outros nomes de profissionais relacionados
às práticas protejuais e construtivas em Sergipe apareceram durante a pesquisa.
Podem ser citados os desenhistas autodidatas Corintho Pinto de Mendonça, Artur
Santana e Antônio Ramos11; os construtores licenciados Aristides Araújo12,
Francisco Oliveira Dantas (Yoyô)13, Frederico Gentil14, Manoel Franklin da Rocha15,
Thomaz de Aquino Freitas16 e Jardelino de Oliveira17 assim como os engenheiros
civis Gentil Tavares18, José Rolemberg Leite19, Osvaldo Cohim Ribeiro20, Abdeel
Góes Ferreira21, Armando Cesar Leite22, Clodoaldo Vieira Passos23, Leandro Diniz
de Faro Dantas24, Clovis Mozart Teixeira25, Carlos de Carvalho26, Jorge Maynard27 e
o próprio Fernando de Figueiredo Porto28. A contribuição destes demais agentes
para a configuração da arquitetura e da construção civil na Aracaju dos anos 1930
parece ainda estar por ser trazida a lume. Talvez para o âmbito residencial seja uma
tarefa difícil, pela quase absoluta inexistência de informações sobre estes projetos
nos arquivos locais. Mas, para a atuação nas obras institucionais daquela década,
sejam públicas ou não, as possibilidades de pesquisas são mais alargadas: os
registros de editais, contratações e as mensagens governamentais transcritas nas
folhas do Diário Oficial do Estado de Sergipe, bem como matérias publicadas nos
jornais sergipanos, se configuram fontes profícuas para estas buscas.

11
PORTO, 2003, p. 54.
12
PROJETO e Construção. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 dez. 1936, ano IV, n. 1070, p. 4.
13
FRANCISCO Oliveira Dantas (Yoyô). O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 abr. 1937, ano V, n. 1169,
p. 2.
14
CONSELHO Federal de Engenharia e Architectura. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil,
Rio de Janeiro, 12 jun. 1936, ano LXXV, n. 136, p. 13131.
15
Ibid., loc. cit.
16
Ibid., loc. cit.
17
PRIMEIRA Escola Municipal. O Estado de Sergipe, Aracaju, 26 nov. 1936, ano IV, n. 1065, p. 1.
18
GENTIL Tavares. Diário da Tarde, Aracaju, 14 out. 1937, ano IV, n. 786, p. 2.
19
JOSÉ Rolemberg Leite. Diário da Tarde, Aracaju, 14 out. 1937, ano IV, n. 786, p. 4.
20
ESCRIPTORIO techinico de Oswaldo Cohim Ribeiro. Correio de Aracaju, Aracaju, 29 mar. 1937,
n. 707, p. 4.
21
BIBLIOTHECA Pública do Estado de Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 26 jan. 1936, ano IV,
n. 826, p. 1.
22
Ibid., loc. cit.
23
Ibid., loc. cit.
24
Ibid., loc. cit.
25
O NOVO farol da Barra da Estancia. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 jul. 1937, ano V, n. 1253, p.
6.
26
ENGENHEIRO Civil Carlos de Carvalho. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1.
27
O DIRECTOR de Obras foi à Bahia. Correio de Aracaju, Aracaju, 11 jan. 1935, n. 246, p. 1.
28
REGISTRO Aniversarios. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1208, p. 4.
318

Outra janela de possibilidades à pesquisa refere-se à própria produção


arquitetônica levada a cabo durante a administração de Eronides Ferreira de
Carvalho em Sergipe (1935-1941)29, não só aquelas erguidas em Aracaju na
administração do prefeito Godofredo Diniz Gonçalves (1934-1941)30, mas também
aquelas propostas e construídas para além dos limites da capital. Em matéria
encontrada na edição da revista Illustração Brasileira 31, por exemplo, estão
elencadas várias intervenções da construção civil e da arquitetura realizadas durante
aquela administração, para além dos já indicados neste trabalho. Podem ser
indicados: o Hospital Colônia de Assistência aos Psychopatas, o Hospital para
Tuberculosos, os Centros de Puericultura de Aracaju e Propriá, a Maternidade em
Estância e o Grupo Escolar no bairro Siqueira Campos, em Aracaju. O conjunto de
obras estatais que ilustram a revista comemorativa do seu governo de 193732 — em
que estão inclusos os grupos escolares construídos em Riachuelo, Itabaiana e
Laranjeiras — também é elemento instigante para busca, analise e compreensão
deste fazer arquitetônico e destas práticas construtivas vinculadas ao governo local
e à política federal.
Espera-se que este trabalho possa ofertar uma contribuição para a escrita da
história da cidade, pelo preenchimento de algumas lacunas, e também pela oferta de
um entendimento mais aproximado sobre a obra de Altenesch, de presença
marcante na cidade. Da mesma forma, deseja-se contribuir na escrita, já iniciada,
sobre a diversidade do moderno na arquitetura brasileira da primeira metade do
século XX, para além de um discurso e de uma historiografia de tendências
homogeneizantes e hegemônicas. Propõe-se uma história que seja escrita pela
abertura, não só à diversidade das proposições estéticas, técnicas e espaciais, mas
também à produção arquitetônica para além de um eixo geográfico restrito, incluindo
a multiplicidade e as particularidades de atuações de relevância espalhados na
vastidão do território brasileiro.

29
PECHMAN, Roberto. Eronides Ferreira de Carvalho. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico).
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/eronides-ferreira-de-
carvalho> Acesso em: 24 jul. 2018.
30
GODOFREDO Diniz Gonçalves. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/godofredo-diniz-goncalves> Acesso
em: 24 jul. 2018.
31
SERGIPE e a sua probidosa e fecunda Administração. Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro, nov.
1940, anno XVIII, n. 67, p. 51-53; ARACAJÚ, a cidade litorânea mais bella do Brasil. Ilustração
Brasileira, Rio de Janeiro, nov. 1940, anno XVIII, n. 67, p. 54-55.
32
SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São
Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
319

REFERÊNCIAS

1º SALÃO Mixto de Artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 set. 1934, ano II, n. 434,
p. 4.

2º SALÃO mixto de artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1935, ano III, n.
711, p. 2.

2º SALÃO Mixto de Artes. Correio de Aracaju, Aracaju, 6 set. 1935, ano XXIX, n.
418, p. 1.

4 COUSAS que “A Constructora” precisa dizer ao publico. Cadastro Commercial,


Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas
Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 278.

A ARISTOCRACIA allemã de luto. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 jan. 1927,


ano XXXVII, n. 14, p. 6. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53341> Acesso em: 13 dez. 2017.

A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú.


Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe.
Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1,
1933, p. 387.

A “CONSTRUCTORA” realisou o sorteio do lindo predio á Rua de Vila-Nova, 1º


trecho. A República, Aracaju, 1º jul. 1934, ano III, n. 772, p. 2.

A CONSTRUTORA: Aos seus dignos associados e ao público em geral. O Estado


de Sergipe, Aracaju, 22 out. 1933, ano I, n. 191, p. 2.

A CONSTRUTORA Companhia de Imoveis para Sorteios. O Estado de Sergipe,


Aracaju, 3 dez. 1933, ano I, n. 222, p. 2.

A CONSTRUTORA Companhia de imoveis para Sorteios. Renovação, Aracaju, jan.


1934, ano III, n. 33, p. 28.

“A CONSTRUTORA” sorteou ante-ontem a primeira casa. O Estado de Sergipe,


Aracaju, 23 ago. 1933, ano I, n. 140, p. 4.

A FAU. FAU.UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/a-fau/>


Acesso em: 9 jan. 2018.

A FOLHA nos Sports: Mais uma afirmação de progresso do “Cotinguiba Sport Club”.
Folha da Manhã, Aracaju, 3 ago. 1938, ano I, n. 150, p. 2.

A INAURUGAÇÃO do novo edifício da Biblioteca Publica. O Estado de Sergipe,


Aracaju, 17 nov. 1936, ano IV, n. 1057, p. 1.
320

A INAUGURAÇÃO do Novo Predio dos Correios e Telegraphos. A República,


Aracaju, 19 de julho de 1935, ano IV, nº 1075, p. 4.

A INAUGURAÇÃO no domingo 30 do corrente mês dos campos de tênis da


Associação Atletica de Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 ago. 1936, ano
IV, n. 985, p. 1.

A INDUSTRIA Brasileira de cimento. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 jul. 1937,


ano V, n. 1256. p. 1.

A MODERNA e confortavel Prefeitura Municipal de Japaratuba... Folha da Manhã,


Aracaju, 12 abr. 1938, ano I, n. 64, p. 1.

A NOVA gare da Éste Brasileiro. O Estado de Sergipe, Aracaju, 24 nov. 1933, ano
I, n. 214, p. 4.

A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube. Folha da Manhã, Aracaju, 28


dez. 1938, ano I, n. 269, p. 1.

A OBRA Administrativa do Interventor de Sergipe, resolve todos os problemas


estaduais. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 6 ago. 1940, anno 66, n. 182, p. 7.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/103730_07/2383> Acesso em: 11
nov. 2018.

Á PRAÇA. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 set. 1927, ano XXVII, n. 226, p. 22.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/58995> Acesso em: 20
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ALAGÔAS-SERGIPE: Annuário Illustrado para 1937. Maceió: [s.n., 1936?].

ALBANAZ, Maria Paula; LIMA, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de


Arquitetura. São Paulo: ProEDITORES, 1998. 2 v.

ALBUM PHOTOGRAPHICO DE ARACAJU. Aracaju: Casa Amador, 1931.


Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon309877/icon3098
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ALENCAR, Aurélia Tâmisa Silvestre de. Archimedes Memória: “O futuro ancorado


no passado”. 2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
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ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1.

ALUGA-SE. Folha da Manhã, Aracaju, 8 mar. 1938, ano I, n. 36, p. 4.

AOS CONSTRUTORES. Folha da Manhã, Aracaju, 25 ago. 1938, ano I, n. 168, p.


2.
321

ARACAJU. Governo Municipal. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12


jan. 1934, ano XVI, n. 5864, p. 111.

______. Intendência Municipal. Lei nº 404 de 15 de julho de 1930. Estabelece


condições para as construções de casa do tipo bungalow. Leis do Conselho
Municipal do anno de 1930. Aracaju: SOARES & Cia editores, 1931, p. 7-8.

______. Prefeitura Municipal. Ato nº 38 de 10 de setembro de 1935. Nomeia


comissão para elaborar o ante-projeto do Codigo de Posturas do Municipio. Actos
do Governo Municipal e Leis e Resoluções da Camara Municipal, Aracaju, Est.
Graph. J. Lins de Carvalho, 1936, p. 33.

______. ______. Decreto-Lei nº 22, de 21 de agosto de 1942. Dá a denominação de


Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch. Decretos-Leis e Atos da Prefeitura
Municipal de Aracaju, Aracaju, separata da Revista de Aracaju, n. 1, p. 13-14,
1943.

______. ______. Decreto-Lei nº 37 de 26 de outubro de 1938. Aprova a reforma do


Código de Posturas do Município de Aracajú. Decretos-Leis 1938. Aracaju,
Papelaria Lins, p. 37, 1939.

______. ______. Decreto-Lei nº 39, de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta


Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.

______. ______. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 abr. 1936, ano
XVIII, n. 6464, p.591.

______. ______. Edital N. 2: Chama concorrentes para a construcção de um quartel


para a Companhia de Bombeiros, como abaixo se declara. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 15 jan. 1936, ano XVIII, n. 6381, p. 125.

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______. ______. Acta da reunião da comissão designada para recebimento dos


ante-projetos de quatro obras d’arte especiaes, a serem construídas no Estado, de
accôrdo com o edital de concurrencia desta Directoria, de 21 de Fevereiro de 1936.
Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, N. 6459, p.
734.

______. Directoria de Obras Publicas. Ata da reunião da comissão designada para o


recebimento de propostas para a construção do Palacio das Letras. Diario Oficial
do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 maio 1934, ano XVI, n. 5957, p. 1427-1428.

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construcção de um caes de protecção ao longo da praia “13 de Julho”, em Aracaju
(Estuario do Rio Sergipe). Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 29 jan.
1936, ano XVIII, n. 6393, p. 226.

______. ______. Edital de concurso de ante-projectos para a construcção, no


Estado, de obras d’artes especiaes, em concreto armado. Diário Official do Estado
de Sergipe, Aracaju, 7 mar.1936, ano XVIII, n. 6424, p. 471.

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propostas de construção do “Palacio das Letras”. Diario Oficial do Estado de
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SERGIPE. Directoria de Finanças. Secção do Contenciosos: Termo de contracto


entre o Estado de Sergipe e o cidadão Manoel Franklin da Rocha, para a
construcção de três grupos escolares nas cidades de Riachuelo, Laranjeiras e
Itabaiana. Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 set. 1936, ano XVIII,
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Odebrecht & Cia., para a construcção de oitocentos e cinco metros de caes de
saneamento e proteção da praia “13 de julho”, nesta Capital. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 20 set. 1936, ano XVIII, n. 6575, p. 2212-2213.

______. Directoria do Thesouro. Copia do termo additivo ao contracto lavrado entre


o Estado de Sergipe e a firma Christiani & Nielsen. Diário Official do Estado de
Sergipe. Aracaju, 22 de maio de 1937. Ano XIX, n. 7021, p. 1062.

______. Expediente da Interventoria. Oficios despachados. Diario Oficial do


Estado de Sergipe, Aracaju, 25 jul. 1934, ano XVI, n. 6016, p. 2277-2278.

______. ______. Oficio recebido. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 2 jun.
1934, ano XVI, n. 5973, p. 1635-1636.

______. Expediente do Governador. Requerimentos despachados. Diário Official


do Estado de Sergipe. Aracaju, 11 nov. 1936, ano XVIII, n. 6617 p. 2184.

______. Interventoria do Estado. Decreto-Lei nº 94 de 22 de junho de 1938. Eleva


São Cristóvão á categoria de monumento histórico. Diário Oficial do Estado de
Sergipe, Aracaju, 23 jun. 1938, ano XX, n. 7333.

______. Poder Executivo. Officios despachados. Diário Official do Estado de


Sergipe, Aracaju, 28 fev. 1937, ano XIX, n. 6703, p. 391.

______. Repartição de Obras Públicas. Expediente do dia 4 de maio de 1937.


Petições recebidas. Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937,
ano XIX, nº 7016, p. 1017.

______. Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas. Officios


expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 abr. 1937, ano XIX, n.
6999, p. 856.

______. ______. Officios expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju,


16 maio 1937, ano XIX, n. 7016, p. 1017.

______. Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Instruções N. 1. Diario Oficial


do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 jul. 1938, ano XX, n. 7346, p. 2059.

______. Secretaria de Justiça e Negocios do Interior: Requerimentos Despachados.


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PERIÓDICOS SERGIPANOS

A REPÚBLICA. Aracaju: Partido Social Progressista, 1932-1935. Diário. Índice


acumulado. 1933-1935.

CORREIO DE ARACAJU. Aracaju: Partido Social Democrático de Sergipe, 1906-


1962. Diário. Índice acumulado. 1935-1937; 1938 (parcial); 1940 (parcial).

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SERGIPE. Aracaju: Imprensa Oficial do Estado


de Sergipe1895-1883; 1919 – Diário. Índice acumulado. 1933-1940 (avulsos).

DIÁRIO DA TARDE. Aracaju: Partido Republicano de Sergipe, 1933; 1937. Diário.


Índice acumulado. 1937.

FOLHA DA MANHÃ. Aracaju: Adroaldo Campos, 1938-1944. Diário. Índice


acumulado. 1938-1940.

O ESTADO DE SERGIPE. Aracaju: Gráfico-Editora de Sergipe, 1933-1937. Diário.


Índice acumulado. 1933-1937.

O NORDESTE. Aracaju: Tancredo J. Gomes, 1938-1960. Diário. Índice acumulado.


1938 (parcial); 1939 (parcial).

SERGIPE JORNAL. Aracaju: Partido Social Progressista. 1921-1936. Diário. Índice


acumulado. 1934; 1936; 1938-1939.

ENTREVISTAS

ALMEIDA, José Augusto Machado de. Entrevista concedida pelo engenheiro civil,
proprietário da casa de número 565 na Avenida Barão de Maruim. Entrevistador:
Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 14 out. 2017.

BARRETO, Cássio. Entrevista concedida pelo professor de educação física, filho da


Sra. Josefa Batista Barreto, proprietária do bungalow de numero 508 na Rua Duque
de Caxias. Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 27 out. de
2017.

______. Entrevista concedida pelo professor de educação física, filho da Sra. Josefa
Batista Barreto, proprietária do bungalow de número 508 na Rua Duque de Caxias.
Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 23 mar. 2018.
339

MANGUEIRA, Wellington. Entrevista concedida pelo bacharel em Direito e


presidente do Cotinguiba Esporte Clube. Entrevistador: Carlos Cesar Menezes
Maciel Filho. Aracaju, 19 nov. 2017.

______. Entrevista concedida pelo bacharel em Direito e presidente do Cotinguiba


Esporte Clube. Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju. 10 jul.
2018.

MELINS, Murilo. Entrevista concedida pelo economista e memorialista.


Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju. 26 jul. 2017.

______. Entrevista concedida pelo economista e memorialista. Entrevistador: Carlos


Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju. 16 nov. 2017.

NUNES, Veronica Maria Meneses. Entrevista concedida pela historiadora, Doutora


em Arqueologia e professora do curso de Museologia da Universidade Federal de
Sergipe. Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju. 25 out. 2017.

SANTOS, Maria Isabel Dantas. Entrevista concedida pela funcionária doméstica da


casa de número 565 na Avenida Barão de Maruim. Entrevistador: Carlos Cesar
Menezes Maciel Filho. Aracaju, 14 out. 2017.

SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Entrevista concedida pelo professor


Doutor em História, membro da Academia de Letras de Aracaju. Entrevistador:
Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 19 out. 2017.

SOUTELO, Luiz Fernando Ribeiro. Entrevista concedida pelo economista, membra


da Academia Sergipana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e
do Conselho Estadual de Cultura de Sergipe. Entrevistador: Carlos Cesar Menezes
Maciel Filho. Aracaju, 26 jul. 2017.

ARQUIVOS

Acervo pessoal do professor Doutor Walderfrankly Rolim de Almeida


 Anotações de pesquisa;
 Diário Oficial do Estado de Sergipe (edições digitalizadas dos anos 1930 a
1940);
 Iconográfico.

Ancestry
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em:
<www.ancestry.com>).

Arquivo da Câmara Municipal de Aracaju


(reconhecimento do acervo auxiliado por servidora).
340

Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro


 Fundo da Secretaria Municipal de Urbanismo (acervo digital, em consulta
virtual por ocorrência de palavras. Disponível em:
<http://wpro.rio.rj.gov.br/arquivovirtual/web/>).

Arquivo Público Municipal de Aracaju


 Biblioteca;
 Controle de Cadastro Imobiliário;
 Fundo de Governo Municipal (parcial; período entre 1933 e 1940);
 Iconográfico.

Arquivo Público do Estado da Bahia


(consulta ao banco de dados digital auxiliado por servidor da instituição).

Arquivo Público do Estado de Sergipe


 Fundo do Governo G1 (parcial; referente a Correspondências Recebidas entre
1933-1940);
 Fundo Relatórios;
 Fundo Viação e Obras Públicas V2 (parcial; período entre 1933 e 1940);
 Iconográfico.

Arquivo Nacional
 Listas de entradas no Porto do Rio de Janeiro (parcial; referente às
embarcações advindas da Argentina e Uruguai entre os anos de 1926 e 1927;
Acervo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp>);
 Registro Nacional de Estrangeiros (consulta a distância, por e-mail).

Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe


(catálogo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<https://pergamum.bibliotecas.ufs.br/pergamum/biblioteca/index.php>).

Biblioteca Central da Universidade Tiradentes


(catálogo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<https://wwws.unit.br/pergamum/biblioteca/index.php>).

Biblioteca Central do Estado da Bahia


 Hemeroteca (revistas; acervo digital do jornal “A Tarde”, em consulta
presencial por ocorrência de palavra).

Biblioteca Pública Epifânio Dória


 Documentação Sergipana (parcial; periódicos e anuários).

Biblioteca Pública Municipal Clodomir Silva


(reconhecimento do acervo auxiliado por servidora).

Biblioteca Nacional
 Hemeroteca Digital (acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de
palavras. Disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/>).
341

Biblioteca Universitária Reitor Macedo Macedo Costa – UFBA


(catálogo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<http://www.pergamum.bib.ufba.br/pergamum/biblioteca/index.php>).

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura – UFBA


(catálogo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<http://www.pergamum.bib.ufba.br/pergamum/biblioteca/index.php>).

Bremer Passagierlisten
Projeto mantido pela Sociedade para Pesquisa Genealógica de Bremen, em parceira
com a Câmara do Comércio de Bremen e o Arquivo do Estado de Bremen –
Alemanha.
 Bremeer Passagierlisten – Lista de Passageiros de Bremen (acervo digital,
em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em
<www.passagierlisten.de>);
 Passregister – Lista de Passaportes (acervo digital, em consulta virtual por
ocorrência de palavras. Disponível em <www.passagierlisten.de>).

Bremen Staatsarchiv
Arquivo do Estado de Bremen – Alemanha
 Consulta a distância, por e-mail.

Centro de Estudios Migratorios Latinoamericanos


(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em:
<http://cemla.com/>).

Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas de Sergipe


 Mapoteca.

FamilySearch
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em :
<https://www.familysearch.org/>).

Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe


 Correspondências do IHGSE (década de 1930);
 Fundo Fernando Porto;
 Hemeroteca (edições avulsas);
 Iconográfico;
 Obras Sergipanas;
 Revistas.

Instituto Tobias Barreto


 Iconográfico.

Jornais de Sergipe
(catálogo de jornais sergipanos do IHGSE, digitalizados pelo Sistema de Bibliotecas
da UFS para em consulta virtual. Disponível em : <http://jornaisdesergipe.ufs.br/> ).
342

JusBrasil
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em :
<https://www.jusbrasil.com.br/home>).

Staats- und Universitätsbibliothek Bremen


Biblioteca Estadual e Universitária de Bremen - Alemanha
(acervo digital, em consulta virtual. Disponível em: <https://www.suub.uni-
bremen.de/>).
APÊNDICE A – Obras de Altenesch e atribuições indicadas no mapa de Aracaju (bairros centrais).

343
APÊNDICE B – Esquematização das informações referentes à atuação de Altenesch em Aracaju.

ARQUITETURA RESIDENCIAL DE ALTENESCH


Obra Imagem Período Endereço Est. Conservação Fonte
Bungalow nº 498 Já estava Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Contribuição desta
pronto em 1935. São José. descaracterizada. pesquisa:
Informação Inédita
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Bungalow nº 508 Já estava Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Schuster (2000).
pronto em 1935. São José. com algumas Contribuição desta
alterações. pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Bungalow nº 513 Já estava Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Contribuição desta
pronto em 1935. São José. descaracterizada. pesquisa:
Informação Inédita
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).

344
Bungalow nº 521 Inaugurado em Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Schuster (2000);
1934. São José. com algumas Porto (2003).
alterações. Contribuição desta
pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Bungalow nº 529 - Inaugurado em Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Porto (2003).
1934. São José. descaracterizada.
Resid. Em construção Esquina da Rua Demolida. Porto (2003).
Carvalho Neto em 1934. Estância com Rua Contribuição desta
Pacatuba, Centro. pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Resid. Já estava Rua Maruim (segundo Não identificada. Nunes; Helbing
Cel. Guilhermino pronto em 1935. MELINS, 2017). (1988).
Rezende Contribuição desta
pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).

345
Resid. Em construção Rua Boquim, nº 67, Existente; com Porto (2003).
Gervásio Prata em 1936; já Centro. algumas
estava pronta alterações.
em 1937.

Resid. Em construção Praça Camerino, Existente; com Santos (2002); Porto


Flávio Prado em 1937. nº 101, Centro. algumas (2003); Revista
alterações. Sergipe [1937].

Resid. Projeto de 1937, Avenida Barão de Existente; com Rodomar (2002).


Torquato Fontes finalizada em Maruim, n° 565, São algumas
1938. José. alterações.

Resid. - - Rua Itabaiana, nº 855, Demolida. Porto (2003).


Deoclides São José, segundo
Azevedo MELINS, 2017; nº da
casa em Folha da
Manhã, Aracaju,18 jan.
1939, p. 1.

346
ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH
Obra Imagem Período Endereço Estado Fonte
Filial da Inaugurada em Avenida João Ribeiro, nº 554, Existente. Contribuição
Companhia 1933. Santo Antônio. desta pesquisa:
Rovel da Baía Informação
S.A. Inédita
Cadastro
Commercial,
Industrial, Agricola
e Informativo do
Estado de Sergipe
(1933).
Hipótese quanto
à localização
atual.
Nova estação - Projeto estava - Não foi Porto (2003);
ferroviária sendo feito no construída. Contribuição
final de 1933. desta pesquisa:
Confirmação
O Estado de
Sergipe (Aracaju,
24 nov. 1933).

347
Palácio das Projeto de Projeto para Praça Fausto Não foi Contribuição
Letras 1934. Cardoso, nº 348, Centro construído. desta pesquisa:
(onde foi construído o edifício Informação
da Biblioteca Pública, atual Inédita
sede do APES). Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 25 jul.
1934).

Edifício Em construção Rua Itabaiana. Não identificada. Contribuição


comercial na em 1935. desta pesquisa:
Rua Itabaiana. Informação
Inédita
Almanack de
Sergipe (1935).
Instituto Construção Rua Itabaianinha, nº 41, Existente; Nunes; Helbing
Histórico e iniciada em Centro. fachada com (1988); Santos
Geográfico de 1934 e poucas (2002); Porto
Sergipe/ inaugurada em modificações. (2003); Revista
Estação da 1939. Sergipe [1937].
Rádio Difusora.

348
Quartel do Construção Rua Siriri, nº 762, Centro. Existente; Nunes; Helbing
Corpo de iniciada em fachada com (1988); Porto
Bombeiros 1936 e algumas (2003).
Municipais de inaugurada em alterações. Contribuição
Aracaju 1937. desta pesquisa:
Confirmação
Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 30 abril
1936).
Palácio Serigy/ Reforma Praça General Valadão, nº Existente; Nunes; Helbing
Centro de iniciada em 32, Centro. fachada com (1988); Santos
Saúde 1936 e algumas (2002); Porto
parcialmente alterações. (2003).
concluída em Contribuição
1938. Anexo desta pesquisa:
em construção Informação
durante 1939. Inédita sobre o
edifício anexo
Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 28 abril
1939); Volume 06,
Fundo V2, acervo
APES.
Associação Em construção Rua Vila Cristina, São José. Demolida. Santos (2002);
Atlética de em 1937. Barreto (nov.
Sergipe 2004); Revista
Sergipe [1937].

349
Cotinguiba Reforma Avenida Augusto Maynard, nº Existente; Contribuição
Sport Club iniciada em 13, São José. fachada com desta pesquisa:
1938 e em alterações e Informação
conclusão no edifício com Inédita
mesmo ano. acréscimos. Folha da Manhã
(Aracaju, 03 ago.
1938).
Cidade de Construções Estrada para o município de Demolidas; Cardoso (1941);
Menores iniciadas em Nossa Senhora do Ruinas. Porto (2003);
“Getúlio 1939; As Socorro/SE (nas Bispo (2007).
Vargas” quatro proximidades da atual Rua
edificações da Frente, que leva para o
identificadas Presídio Feminino).
Portaria foram
concluídas em
1940. Estas
compuseram a
primeira etapa
da obra,
conduzida
Casa de Triagem / inicialmente
Pav. de Ingressos por Altenesch.
O complexo foi
inaugurado em
1942.

Pavilhão Lar
“Cândido da Mota”

350
Casa do Diretor

ARQUITETURA INSTITUCIONAL/PÚBLICA ATRIBUIDA A ALTENESCH


Obra Imagem Período Endereço Estado Fonte
Reformulação Obra de 1937. Praça Fausto Cardoso, Existente (não Atribuição feita por
da Ponte do Centro. analisado). Lauro Fontes em
Imperador carta dirigida a
Medina (1999).

Palácio de Em construção Avenida Beira Mar, nº 2240, Existente (não Nunes; Helbing
Veraneio em 1940. Atalaia. analisado). (1988).

Santuário Construção Rua Itabaiana, nº, São José. Existente (não Atribuição feita por
Nossa Senhora iniciada em analisado). Luiz Antônio
Menina 1940 e Barreto e indicada
inaugurada em em Brito Neto
1942. (2015).

351
OUTROS SERVIÇOS/ATIVIDADES PRESTADOS POR ALTENESCH
Serviço Período Fonte
Participação do corpo do júri do 2º Salão Mixto Evento realizado em setembro de Contribuição desta pesquisa:
de Artes. 1935. Informação Inédita
Correio de Aracaju (Aracaju, 6 set.
1935).
Participação da comissão responsável pela Ato de nomeação da comissão: n. Santos (2002).
elaboração de anteprojeto de revisão do 38 de 10 de setembro de 1935.
Código de Posturas de Aracaju. Publicação do anteprojeto: 16/20
outubro de 1936.
Aprovação da reforma do Código de
Posturas: 26 de outubro 1938.
Participação na concorrência para projeto do Edital de janeiro de 1936. Contribuição desta pesquisa:
Cais da Praia 13 de Julho. Informação Inédita
Dário Oficial do Estado de Sergipe
(Aracaju, 14 março 1936).
Participação na concorrência para anteprojeto Edital de março de 1936. Contribuição desta pesquisa:
de quatro pontes em concreto armado. Informação Inédita
Dário Oficial do Estado de Sergipe
(Aracaju, 24 abril 1936).
Nomeado para participar de comissão Soutelo (2004 apud SOUZA, 2005).
reconhecimento e controle dos bens de valor Contribuição desta pesquisa:
históricos localizados em São Cristóvão/SE. Confirmação
Folha da Manhã (Aracaju, 12 jul.1938);
Dário Oficial do Estado de Sergipe (12
jul. 1938).

352
353

ANEXO A – Certidão de nascimento de Hermann Otto Wilhelm Arendt.

Fonte: Acervo do Arquivo Estatal de Bremen.


354

ANEXO B – Declaração de morte de Hermann Otto Wilhelm Arendt.


355

Fonte: Acervo do Arquivo Estatal de Bremen.


356

ANEXO C – Recibo em papel timbrado do escritório de Altenesch em


Aracaju.

Fonte: Acervo do APES, fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 05. Acesso em
17 out. 2017.
357

ANEXO D – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju.

Fonte: ARCHITECTOS modernos. Renascença, Aracaju, nov. 1935. Ano II, n. 7.


358

ANEXO E – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju.


359

Fonte: ARACAJÚ Progride. Almanack de Serpipe para 1935. Aracaju: Sociedade


Editora Sergipana. 1935, ano 9, n. 5, p. 213-214.
360

ANEXO F – Texto em homenagem a Altenesch.

Fonte: ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju, 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1.
361

ANEXO G – Texto em homenagem a Altenesch.

Fonte: SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von


Altenesch. Diário Oficial do Estado de Sergipe. Aracaju, 22 de junho de 1940.
Ano XXII, n. 7907, p. 6.

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