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FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930
Salvador
2018
CARLOS CESAR MENEZES MACIEL FILHO
ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930
Salvador
2018
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA),
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
ALTENESCH:
TÉCNICA, ESTÉTICA E MODERNIDADE
NA ARQUITETURA DE ARACAJU NOS ANOS 1930
Banca examinadora:
________________________________________
Ana Carolina de Souza Bierrenbach – Orientadora
Doutora em Teoría e Historia de la Arquitectura
pela Universitat Politècnica da Catalunya, Barcelona
FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia
________________________________________
Juliana Cardoso Nery – Coorientadora
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia
FAUFBA/MPCECRE/PPGAU – Universidade Federal da Bahia
________________________________________
Ana Maria de Souza Martins Farias – Avaliadora Externa
Doutora em História Urbana pela Universidade Federal de Pernambuco
DEC-Universidade Federal de Sergipe
________________________________________
Aline de Figueirôa Silva – Avaliadora Interna
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo
FAUFBA/PPGAU – Universidade Federal da Bahia
A
Aracaju, meu lugar.
A todos(as) aqueles(as) que ofertaram e ofertam diariamente seus
braços, mentes e corações pelo bem desta cidade amada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
À minha mãe Romana e ao meu pai Cesar pelo amor que se revela nas atitudes de
apoio incondicional.
Ao meu príncipe Leandro por ter sido a maior testemunha das alegrias e frustrações
que permearam a construção deste trabalho e por ter reagido sempre com paciência
e aconchego.
À minha avaliadora externa Professora Dra. Ana Maria Farias por acompanhar
minha trajetória acadêmica desde a graduação, por saber do meu afeto pela
pesquisa e por isso se fazer efetivamente presente e contribuir na minha subida de
mais um degrau.
À minha primeira avaliadora interna, a Professora Dra. Anna Beatriz Galvão, por sua
avaliação norteadora para a consolidação do meu projeto de pesquisa.
À Professora Ma. Carolina Chaves pela receptividade ao meu trabalho dentro da sua
pesquisa sobre a arquitetura moderna em Aracaju.
À querida amiga Professora Iris Souza pela contribuição generosa na revisão do uso
do inglês para o Abstract.
Arquiteta Marilia Ismerim, Sr. Carlos Aurélio Barreto, Sra. Cândida Barreto, Sra.
Cleia Barreto, Sr. Humberto de Aragão Neto, Arquiteta Solange de Aragão, Sra.
Maria Isabel Dantas, Dra. Léa Maciel Machado, Sr. Marcos Araújo (MPK
Contabilidade), Sra. Kadja Felix (MPK contabilidade), Sr. Augusto Fábio dos Santos
(Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura Municipal
de Aracaju) e Arquiteto Décio Carvalho (Secretaria do Estado da Saúde de Sergipe),
pelas contribuições para a minha aproximação aos objetos arquitetônicos que
compõem este trabalho.
Sra. Rita de Cássia Valença (Arquivo Público Municipal de Aracaju), Dr. Samuel
Albuquerque (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe), Professora Aglaé d’Ávila
Fontes (IHGSE), Sr. Alex Almeida (IHGSE), Sr. José Tomaz Dávila (Companhia
Estadual de Habitação e Obras Públicas de Sergipe), Sr. Valdomiro Nascimento
(CEHOP), Professor Milton Barboza (Arquivo Público do Estado de Sergipe),
Professor Pedrinho dos Santos (Biblioteca Pública Epifânio Dória), Sra. Monika
Marschalck (Hansestadt Bremen Staatsarchiv) e equipes do Arquivo Geral da
Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo Nacional,
Biblioteca Central do Estado da Bahia, Biblioteca Nacional e Instituto Tobias Barreto
pelo auxílio no acesso aos acervos consultados.
Sra. Edna Hartl e Sra. Ingeborg Hartl pelo auxílio na lida com o idioma alemão.
Sr. Expedito Souza, Dr. Humberto de Aragão Filho, Professor Msc. Rogério Freire
Graça, Arquiteto Benjamimvich Schuster, Arquiteta Ana Libório, Arquiteta Karoline
Mendonça, Arquiteto Adriano Linhares e Sra. Bianca Teixeira pela autorização do
uso de imagens de seus acervos pessoais.
Agradeço assim a todos e todas que dedicaram parcelas de seu tempo, atenção,
conhecimento e afeto. Foram combustíveis essenciais para que eu pudesse chegar
feliz ao término deste percurso. Sigamos rumo às próximas paradas!
Von Altenesch morreu. Mas não choremos a morte
dos artistas porque êles não são simples mortais.
Seu nome ficará unido à marcha evolutiva da cidade
que êle transfrormou e a posteridade dirá sempre,
no futuro mas [sic] remoto, glorificando sua
passagem pela terra. Glória, na imortalidade, ao
renovador da cidade!
RESUMO
ABSTRACT
This research has the aim to investigate the path and performance of the German
builder Hermann Otto Wilhelm Arendt von Altenesch regarding his action and
interference in the scope of residential and commercial buildings in the city of Aracaju
in the 1930s as a way to promote a discussion on modernity and diversity in
architectural making in Brazil in the first half of the twentieth century. This paper is
based on journalistic and official discourses of that time as well as on the
bibliography underlying this work, which place the German as a restorer of the city
who introduced novelties such as the typology of bungalow, the use of reinforced
concrete, aesthetic vectors supposedly linked to neocolonialism, Art Deco and
rationalist expressions. Grounded on Walter Benjamin's understanding of the
historical object as a "monad", Altenesch's work in Aracaju is analyzed from its
specificities, its intrinsic characteristics. It is grounded on the hypothesis that the
architectural modernities that he proposed for the city would not only be based on
modern vectors derived from imported standards but would also first be linked to the
processes of tension between his technical knowledge, aesthetic expressiveness and
the demands of his clients, in which they would have weighed the aspects of
subjectivity and the search for novelty, essential threads in the construction of the
plots of modernity, the search for the experience of the modern . This research
proposes a closer understanding of the dimension of the German’s work in the city,
by searching for more precise data about the authorship of the projects that have
been attributed to him based on iconography, textual sources, the user memories of
analyzed architectural objects and also on the fieldwork to recognize such
architecture in loco. The analysis of these objects is backed by Kenneth Frampton’s
categories of analysis proposed in his book Genealogy of Modern Architecture. From
these findings, nine hypotheses are elaborated on Altenesch’s path and formation as
well as unpublished information about his performance and works in Aracaju are
revealed. From the study of the identified German’s architecture, a close
understanding of his architectural making including his aesthetic, technical and
spatial parties is structured. This analysis of the projects and works of the European
constructor not only shows his adherence to the multiplicities of references available
in the period but also shows the efficacy in delineating a repertoire of elements and
solutions that group these architectural objects into a personal and cohesive
production. The characteristics of Altenesch’s interventions, understood as central
vectors in the renovation and formatting of the architectural modernity of Aracaju in
the first half of the twentieth century, are indicated thus.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 13
2 POR UMA TRAJETÓRIA DE ALTENESCH: ENTRE NARRATIVAS,
RASTROS E HIPÓTESES...................................................................... 45
2.1 EM BUSCA DAS ORIGENS.................................................................... 45
2.2 OS INDÍCIOS DA PASSAGEM PELO RIO DE JANEIRO...................... 52
2.3 ALTENESCH EM ARACAJU: UMA NARRATIVA AMPLIADA................ 57
2.3.1 A construção de relações profissionais em terras sergipanas........ 57
2.3.2 A questão da formação e da atuação profissional............................ 66
2.3.3 Entre propagandas e novidades na arquitetura residencial............. 72
2.3.4 Entre editais públicos, projetos e obras institucionais..................... 80
2.3.5 A atuação para além do projeto e construção................................... 92
2.3.6 O encerramento de um ciclo: das homenagens ao silenciamento.. 97
3 A ARQUITETURA RESIDENCIAL DE ALTENESCH............................ 101
3.1 OS BUNGALOWS DA RUA VILA NOVA E A NOVIDADE DA
TIPOLOGIA............................................................................................. 102
3.2 AS RESIDÊNCIAS FLÁVIO PRADO, GERVÁSIO PRATA,
TORQUATO FONTES E AS EXPERIÊNCIAS DAS FORMAS
PURAS.................................................................................................... 138
3.3 A RESIDÊNCIA CARVALHO NETO E AS EXPERIMENTAÇÕES DA
PLASTICIDADE ORNAMENTAL............................................................ 174
4 A ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH......................... 204
4.1 O PROJETO PARA O PALÁCIO DAS LETRAS..................................... 205
4.2 A SEDE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE 224
4.3 O QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS MUNICIPAIS DE
ARACAJU................................................................................................ 238
4.4 O PALÁCIO SERIGY.............................................................................. 248
4.5 A SEDE DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA DE SERGIPE........................... 270
4.6 A SEDE DO COTINGUIBA SPORT CLUB............................................. 281
4.7 A CIDADE DE MENORES “GETÚLIO VARGAS”................................... 290
5 CONCLUSÃO......................................................................................... 308
REFERÊNCIAS....................................................................................... 319
APÊNDICE A – Obras de Altenesch e atribuições indicadas no mapa
de Aracaju (bairros centrais)................................................................... 343
APÊNDICE B – Esquematização das informações referentes à
atuação de Altenesch em Aracaju........................................................... 344
ANEXO A – Certidão de nascimento de Hermann Otto Wilhelm
Arendt...................................................................................................... 353
ANEXO B – Declaração de morte de Hermann Otto Wilhelm Arendt..... 354
ANEXO C – Recibo em papel timbrado do escritório de Altenesch em
Aracaju.................................................................................................... 356
ANEXO D – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju............ 357
ANEXO E – Matéria sobre a atuação de Altenesch em Aracaju............ 358
ANEXO F – Texto em homenagem a Altenesch..................................... 360
ANEXO G – Texto em homenagem a Altenesch.................................... 361
13
1 INTRODUÇÃO
DECRETO-LEI N.39
De 19 de Agosto de 1940
Denomina rua nesta Capital
DECRETA:
Art. 1º Fica denominada Rua Altenesch a atual Rua Vila Nova, nesta
Capital.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.
Gabinete do prefeito do município de Aracaju, 19 de Agosto de 1940.
DECRETO-LEI Nº 22
1
Para a escrita deste texto se decidiu pela manutenção das grafias originais de trechos transcritos
conforme redigido nas fontes. Esta escolha foi feita de forma a evitar excessiva repetição do [sic] e
uma consequente poluição do texto. O [sic] apenas foi empregado em casos de erro provável na
grafia das palavras, como aqueles referentes a nomes próprios.
2
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39, de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
14
DECRETA
3
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 22, de 21 de agosto de 1942. Dá a denominação de
Rua Duque de Caxias à Rua Altenesch. Decretos-Leis e Atos da Prefeitura Municipal de Aracaju,
Aracaju, separata da Revista de Aracaju, n. 1, p. 13-14, 1943.
4
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: ______. Obras escolhidas: Magia e técnica,
arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987, cap. 15, p. 225.
15
Barreto8 também propõe que foi de Sergipe que ecoou o brado de revolta que
acabou contagiando todo o Brasil e ―mobilizando nas capitais do País as forças
esclarecidas, os jovens dos dois sexos, os estudantes, todos os patriotas
inconformados com a traiçoeira ação de guerra dos alemães e seus parceiros na
5
Godofredo Diniz Gonçalves nasceu em Aracaju em 1898 e faleceu na mesma cidade em 1994. Foi
jornalista, técnico em seguros, industriário e presidente da Associação Sergipana de Imprensa. Foi
eleito prefeito de sua cidade natal em 1934 pelo Partido Liberal e com a instauração do Estado Novo
por parte de Getúlio Vargas em 1937, foi mantido no cargo até 1941. Em 1962 foi novamente eleito a
prefeito de Aracaju pelo Partido Republicano e no cargo ficou até o final do mandato, em 1966. Cf.
GODOFREDO Diniz Gonçalves. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/godofredo-diniz-goncalves> Acesso
em: 24 jul. 2018.
6
Luiz Antônio Barreto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi um advogado, jornalista,
escritor e historiador sergipano, nasceu em Lagarto, Sergipe, em 1940 e faleceu em Aracaju, em
2012. Cf. SANTOS, Osmário. Luiz Antônio Barreto: o maior historiador que SE já teve. Jornal da
Cidade, Aracaju, 06 maio 2012. Disponível em: <http://jornaldacidade.net/noticia-
leitura/129/27953/luiz-antonio-barreto-o-maior-historiador-que-se-ja-teve.html#.WtkvbS7waM8>.
Acesso em: 19 abr. 2017.
7
BARRETO, Luiz Antônio. Os náufragos, uma história sangrenta no mar de Sergipe. Coisas de
Socorro, Nossa Senhora do Socorro, 8 fev. 2012. Disponível em:
<http://www.coisasdesocorro.com.br/2012/02/os-naufragos-uma-historia-sangrenta-no.html>. Acesso
em: fev. 2017
8
Ibid., loc. cit.
16
9
José Bonifácio Fortes Neto, membro da Academia Sergipana de Letras, foi bacharel em Direito,
jornalista e escritor sobre a história e geografia de Sergipe. Nasceu em Aracaju em 1926 e faleceu
em 2004. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Bonifácio Fortes. Serigy: A História de um povo, 12 jul. 2006.
Disponível em: <http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=121&titulo=Biografias> Acesso em:
20 abril 2018.
10
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
11
A utilização das expressões ―cimento armado‖ e ―concreto armado‖ nos documentos e textos do
período estudado (década de 1930), que lastreiam este trabalho, parece sugerir que eram tidas como
sinônimas. Assim no correr deste texto as duas expressões são utilizadas livremente, partindo-se da
hipótese de que se referem a uma mesma tecnologia construtiva.
12
FILHO, Alencar. Aracaju etc & tal. Aracaju: Edições Desacato, 1980, p. 105.
13
NUNES, Verônica Maria Meneses; HELBING, Rosemary Bezerra. Manifestações da Arte Déco
em Aracaju. Aracaju, 1988, 11 f. (inédito), p. 3.
18
18
SANTOS, 2002, p. 41.
19
Ibid., p. 44-45.
20
SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São
Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
21
Eronides Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba, então povoado do município de Propriá,
Sergipe, em 1895 e faleceu em 1969 no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina pela Faculdade de
Medicina da Bahia em 1917, foi eleito governador de Sergipe entre os anos de 1935 e 1937 e com a
instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1937, assumiu o posto de interventor federal em
Sergipe até 1941. Cf. PECHMAN, Roberto. Eronides Ferreira de Carvalho. In: FGV CPDOC. (verbete
biográfico). Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/eronides-
ferreira-de-carvalho> Acesso em: 24 jul. 2018.
20
22
SANTOS, 2002, p. 45.
23
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Tiradentes, Aracaju 2002.
24
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003.
25
Fernando Figueiredo Porto nasceu em Nossa Senhora das Dores, Sergipe, em 1911 e morreu em
São Carlos, São Paulo, em 2005. Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de Ouro Preto, Minas
Gerais, ocupou importantes cargos públicos, como chefe da seção técnica da Prefeitura de Aracaju e
Diretor de Obras do Estado de Sergipe. Foi professor universitário e escritor sobre a história e
geografia de Aracaju. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Fernando Porto. Serigy: A História de um povo,
02 jun. 2006. Disponível em:
<http://clientes.infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=106&titulo=Gente_Sergipana.> Acesso em: 20
abril 2018.; REGISTRO: Aniversários. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1206,
p. 4.
21
que não teria sido construído, da fachada de uma nova estação ferroviária para
Aracaju26.
No âmbito das obras residenciais, Porto afirma serem de Altenesch dois
bungalows na Rua Duque de Caxias (os de números 521 e 529)27, a reforma da
residência de Carvalho Neto (em uma das esquinas das Ruas Pacatuba e Estância,
onde atualmente está situado o Edifício Paulo Figueiredo) e as residências de
Gervásio Prata (na Rua Boquim, número 67), Flávio Prado (Praça Camerino número
101, na esquina com a Rua Boquim) e Deoclides Azevedo (na Rua Itabaiana, já
desaparecida)28. Haveria inúmeras outras residências de sua autoria em Aracaju,
segundo Porto, inclusive ele ilustra o seu texto com uma página da supracitada
publicação comemorativa à Interventoria de Eronides Ferreira de Carvalho, em que
foram dispostas fotografias de diversas casas dentre as quais estariam obras de
Altenesch e algumas outras de outros profissionais diretamente influenciados, de
acordo com Porto, pelas modernidades técnicas e estéticas do alemão.
Porto constrói o seu texto alicerçado na supracitada homenagem do Decreto-
Lei de 194029. Na busca por investigar o suposto ineditismo das intervenções de
Altenesch ele amplia a discussão acerca da condição estilística da obra do alemão,
indo além de um enquadramento em uma condição Art Déco, mas indicando
também associações a vertentes neocoloniais e modernidades arquitetônicas
esteticamente mais simplificadas, associáveis a uma postura mais racionalista. Porto
igualmente indica pormenores da prática profissional e das relações entretecidas por
Altenesch e sua obra com os anseios por modernidade e novidade da sociedade
aracajuana. O autor, assim, deixa pistas de como Altenesch lidava com as
demandas de seus clientes, particularmente no quesito estilístico, e como se fazia
receptivo aos seus gostos e preferências30.
Também em 2003, a então professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNIT Juliana Cardoso Nery publica nos Anais do V Seminário DOCOMOMO Brasil o
artigo intitulado ―Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de
50 e 60‖31. Neste texto, que reflete os esforços iniciais pelo reconhecimento de uma
26
PORTO, 2003, passim.
27
Ibid., p. 22.
28
Ibid., p. 49.
29
Ibid., p. 24-25.
30
Ibid., p. 49.
31
NERY, Juliana Cardoso. Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e
60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos:
22
36
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros
centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.
37
NERY, 2003.
38
SANTOS, 2011, p. 172.
39
Ibid., p. 142 et. seq.
40
Ibid., p. 105-106.
41
FORTES, loc. cit.
42
SANTOS, 2002, loc. cit.
24
43
CAMPOS, Antônio Carlos; SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. Los agentes privados y la
producción del espacio urbano de Aracaju-Sergipe: acumulación, reproducción y segreagación (1930-
1964). In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPUR,
maio 2011.
44
MACIEL, Josinaide Silva Martins. Olhar aproximado para as residências Souza Freire e Hora
Oliveira: bens modernistas de interesse cultural. 2012. 269 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.
45
NERY, 2003.
25
53
BRITO NETO, Aquilino José de. “Ao sul de Aracaju...”: memória e história da Atalaia Velha
(1900-1952). 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2015, p. 28-29.
54
MELINS, Murillo. Aracaju, pitoresco e lendário. Salvador: EGBA - Empresa Gráfica da Bahia,
2015, p. 215-216.
55
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1. Cf. Anexo F.
56
MELINS, op. cit., p. 228-229.
57
RUA Vilanova – Altenesch – Duque de Caxias. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 27
ago. 1943.
27
58
BENJAMIN, 1987, p. 224.
28
59
BENJAMIN, 1987, p. 231.
60
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. A formação do homem moderno vista através da arquitetura.
2. ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999, p. 5.
61
NERY, Juliana Cardoso. Falas e ecos na formação da arquitetura moderna no Brasil. 2013. 463
f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2013, p. 24.
29
62
CURTIS, William. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p. 13.
63
Ibid., loc. cit.
64
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, esquecer, escrever. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 47.
30
65
CURTIS, loc. cit.
66
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2016.
67
NERY, 2013, p. 3.
31
Moreira68, ao tratar dos textos de Lúcio Costa, indica nestes uma atitude
polarizante, em que o protagonismo na formação de uma arquitetura moderna é
sempre atribuído aos mesmos autores. Prestigiam-se as concepções francesas de
Auguste Perret e Le Corbusier e a alemã de Walter Gropius (como sinônimo da
Bauhaus) e de Mies van der Rohe, mas estas últimas referências muito mais como
uma estratégia de se manter na zona do politicamente correto. Não se encontrará
nos textos de Lúcio Costa uma única palavra sobre o pensamento e a arquitetura de
Adolf Loos, J.J.P. Oud, Richard Neutra ou Schindler, Erich Mendelsohn, Bruno e
Max Taut, Martin Wagner ou Ernst May, que representaram vertentes distintas, e
não menos relevantes, da formação da arquitetura moderna. Delimita-se, então, uma
esfera do silêncio que envolve os esforços de atores como Altenesch, que,
estrangeiros ou não, propuseram outras possibilidades de modernidade,
concorrentes com a proposta de centralidade da escola carioca para uma arquitetura
moderna brasileira.
De acordo com Nery69, os anos 1920 e 1930 — período em que se insere a
obra de Altenesch — ainda não receberam a devida atenção por parte dos
pesquisadores da arquitetura no delineamento de um campo de vetores ―pleno de
embates e tensões, numa heterogeneidade bem mais alargada que a polaridade
entre acadêmicos e modernos pôde sugerir na luta pela hegemonia de uma vertente
moderna que aqui se consagrou‖. Pretende-se, portanto, uma noção alargada da
modernidade arquitetônica da primeira metade do século XX no Brasil, em que se
considerem os aspectos da subjetividade dos autores criadores e a heterogeneidade
destes vetores exógenos de modernidade.
A investigação da obra de Altenesch, portanto, justifica-se pela contribuição
que pode oferecer, para além do valor para a história local, a uma reescrita, que já
acontece, da formação da arquitetura moderna brasileira. Entende-se que estas
modernidades arquitetônicas estão desamarradas dos sistemas das Beaux-Arts
68
MOREIRA, Pedro. Alexandre Altberg e a Arquitetura Nova no Rio de Janeiro. Arquitextos, São
Paulo, ano 05, n. 058.00, Vitruvius, mar. 2005. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/484>. Acesso em: dez. 2016.
69
NERY, 2013, p. 10.
32
70
Revista sobre arquitetura editada no Rio de Janeiro, publicada entre 1923 e 1949 em 304 números.
Contou com relativa difusão à época no Brasil, principalmente entre os profissionais da arquitetura e
construção. Cf. NERY, 2013, p. 293 et seq.
33
daqueles que produziram em outras regiões fora dos principais centros econômicos
e políticos brasileiros.
As discussões sobre modernidade estão no cerne das definições desta
pesquisa, como pôde ser notado no decorrer do texto e no próprio título ―Altenesch:
técnica, estética e modernidade arquitetônica na Aracaju dos anos 1930‖.
Modernidade, numa acepção mais genérica, como indica os dicionários Priberam e
Caldas Aulete71, significa característica, qualidade ou estado do que é moderno.
Moderno, por sua vez, segundo os mesmos dicionários, é o que é contemporâneo,
dos tempos atuais ou mais próximos, recente, novo, ou que está na moda.
No campo da filosofia, compreende-se que esta noção de modernidade é
flagrada por Hegel, que utiliza a palavra moderno para nomear o momento histórico
que começa a se delinear por volta de 1500, com o renascimento e a descoberta do
Novo Mundo, em cujo modo de vida as preocupações são voltadas para o futuro72.
Como indica Habermas, o presente se torna uma eterna ―transição que se consome
na consciência da aceleração e na expectativa do que há de diferente no futuro‖73.
Moderno é um adjetivo que designa não só o tempo presente, mas uma ruptura com
a preexistência através do novo; significa ser oposto a algo antigo74.
Estes ―novos tempos‖ são caracterizados pela ausência de modelos, em que
se abre para o futuro e não se orienta mais pelas premissas do passado. As
tradições dos modelos do passado perdem o seu valor e uma nova tradição se
estabelece no presente, voltada para o futuro, uma tradição da transformação, da
constante mudança, da inovação contínua75. O rompimento com a tradição sugere o
rompimento com a noção cíclica de tempo, em que os acontecimentos tenderiam a
se repetir dentro de um determinado período, e passa a se compreender o tempo
em linearidade, em que os acontecimentos se sucedem sempre de forma distinta da
anterior. Estão embutidas nesse novo conceito de tempo duas noções: a de
71
Cf. MODERNIDADE. In: Dicionário Caldas Aulete. (verbete). Disponível em:
<http://www.aulete.com.br/modernidade> Acesso em: 6 nov. 2017; MODERNIDADE. In: Dicionário
Priberam. (verbete). Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/modernidade> Acesso em: 6 nov.
2017; MODERNO. In: Dicionário Caldas Aulete. (verbete). Disponível em: <
http://www.aulete.com.br/moderno> Acesso em: 6 nov. 2017; MODERNO. In: Dicionário Priberam.
(verbete). Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/moderno> Acesso em: 6 nov. 2017.
72
HABERMAS, 1998 apud NERY, Juliana Cardoso. Configurações da metrópole moderna: os
arranha-céus de belo Horizonte 1940/1960. 2001. 280 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001, p. 36.
73
Ibid., loc. cit.
74
NERY, 2001, p. 36.
75
HABERMAS, 1998 apud NERY, 2013, p. 52.
34
76
BRANDÃO, 1999, p. 23.
77
HABERMAS, 1998 apud NERY, 2013, p. 55.
78
NERY, 2001, p. 46.
79
Ibid., loc. cit.
80
SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura moderna: a atitude alagoana. Maceió: SERGASA, 1991, p.
19.
35
81
SILVA, loc. cit.
82
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 13.
36
83
SEGAWA, 2014, p. 54.
84
Ibid., p. 38.
37
O método de pesquisa das fontes para este trabalho partiu das orientações de
Carlo Ginzburg, em que reminiscências, entendidas como ―pegadas‖, ―sinais‖,
indícios — zonas privilegiadas que são sobre a realidade opaca do passado —
tornam-se capazes de nortear o trabalho do historiador na tentativa de decifrar algo
das tramas dos eventos ocorridos, e consequentemente delinear uma narrativa 85.
Este método, chamado ―indiciário‖, por se voltar para dados não controláveis e
imprevisíveis, como os rastros dos eventos históricos, não pode ser alicerçado sobre
uma base inflexível, e, portanto, se estabelece sobre os mecanismos da intuição do
pesquisador.
Consequentemente, um trabalho elaborado com auxílio da intuição de quem
rastreia sinais deixados não pode resultar em uma descrição exata dos fatos como
ocorreram. O trabalho do historiador é muito mais a construção de uma narrativa
aproximada e possível, de eventos que, por um motivo ou outro, se destacam por
seus vestígios que resistiram ao tempo em detrimento de outros que foram
apagados irremediavelmente. Desta forma, a pesquisa em história tem fragilidades
inerentes que não podem ser contornadas, mas compreendidas como estruturais à
sua metodologia. Sobre isso e sobre a tarefa do historiador, diz Gagnebin:
85
GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In:______. Mitos, Emblemas,
Sinais: Morfologia e História. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, cap. 5, p. 143-179.
86
GANEBIN, 2006, p. 44.
87
PORTO, 2003.
38
88
A lista completa dos acervos e fundos consultados durante esta pesquisa pode ser verificada ao
final deste texto, nas Referências.
40
89
FRAMPTON, Kenneth. A Genealogy of Modern Architecture: Comparative Critical Analysis of
Build Form. Zurich: Lars Müller Publishers, 2015, p. 28 et. seq.
41
90
Frampton (2015, p.31-32), estabelece a sua diferenciação entre publico e privado a partir da tese
de Hannah Arendt. Para esta, o âmbito público se configura com o espaço da apresentação pública,
onde o corpo em sua condição política se manifesta potencialmente. Já o âmbito privado é reservado
para a domesticidade dos espaços de procriação e nutrição. Os espaços de serviço, segundo
Frampton, são aqueles que atendem às necessidades corporais básicas e a funções auxiliares, como
estocagem e circulação, e dentre eles estariam os banheiros, lavatórios, estacionamentos, depósitos
e elevadores. Quanto aos espaços semipúblicos, a definição de Frampton não é muito clara, apenas
afirmando que seriam espaços de transição entre o público e privado. Desta forma para este trabalho
foram entendidos como espaços semipúblicos aqueles em que há a possiblidade de acesso visual
por parte do público, ainda que o seu acesso de fato seja restrito aos ambientes privados, como
sacadas e varandas de pavimentos superiores.
42
Assim, as análises foram feitas não para pares de obras, mas de forma continuada,
obra após obra, revelando-lhes as diferenças e semelhanças, especificidades e
generalidades, que sejam capazes de indicar a presença das modernidades
técnicas e estéticas e o trato com a espacialidade, mas também na tentativa de
revelar os princípios projetuais que teriam norteado os partidos adotados pelo
alemão em sua obra.
Tem-se por hipótese, para a elaboração desta pesquisa, a compreensão de
que o construtor alemão Altenesch teria ocupado uma posição central na
proposição, edificação e difusão de modernidades estéticas e técnicas para a
arquitetura da cidade de Aracaju na primeira metade do século XX, mais
especificamente nos anos 1930. As modernidades arquitetônicas, que por ele
propostas, não só estariam alicerçadas em vetores modernos advindos de padrões
importados — como sugere, por exemplo, a conexão entre parte da sua produção
arquitetônica e aquela com bases racionalistas feita em outras partes do Brasil e do
mundo —, mas também estariam atreladas aos processos de tensionamento entre o
seu conhecimento técnico, expressividade estética e as demandas daqueles que se
tornaram seus clientes. Ao trabalhar a partir do ―gosto‖ do contratante, teriam
pesado os aspectos da subjetividade e da busca pela novidade, fios essenciais na
construção das tramas da modernidade, da busca pela experiência do moderno.
Tendo em vista essa hipótese de trabalho, algumas questões são assinaladas como
estímulos investigativos para este trabalho. Estas devem ser compreendidas como
norteadoras da pesquisa e condutoras às conclusões ao final do texto:
1- Qual o nível de entrosamento técnico e estético entre a obra
arquitetônica de Altenesch e o progresso tecnológico da era industrial,
baseado na aderência à máquina, na funcionalidade, na produção seriada,
na economia de recursos, na racionalização dos espaços associada à
racionalização das estruturas prediais, considerando-se, todavia, os
possíveis distanciamentos entre os avanços industriais em um nível global e
a permeabilidade destes artifícios na realidade das práticas construtivas de
Aracaju?
2- De que maneira e em qual nível o cimento/concreto armados foi de fato
integrado à sua arquitetura, já que a ele é associada a difusão desta
tecnologia construtiva entre os construtores de Aracaju? Esta tecnologia foi
utilizada em sua potencialidade construtiva? Foi utilizada em sua
43
91
FORTES, loc. cit.
92
FILHO, loc. cit.
93
SANTOS, 2002, p. 45
94
SANTOS, 2011, p. 105-106.
44
1
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju, 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1. Cf. Anexo F.
2
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 22.
3
BARRETO, Luiz Antônio. As casas (modernas) de Altenesch. Infonet, Aracaju, fev. 2004.
Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=25727&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
46
4
WRIGHT III, R. S. German Ports: Geteways to America. Ancestry, v. 16, n. 2, p. 50-54, march/april,
1998. p. 50. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=9NS5WYRGCLAC&lpg=PA50&dq=German%20Ports%3A%2
0Gateway%20to%20America&pg=PA50#v=twopage&q&f=true> Acesso em: 12 dez. 2017.
5
Wright III traz em seu artigo uma série de informações sobre o fluxo de passageiros alemães nos
portos europeus. Um dado interessante que revela a importância dos portos de Bremen e Hamburgo
refere-se à distribuição dos passageiros alemães com destino aos portos do Atlântico e Costa do
Golfo na América do Norte na segunda metade do século XIX. Estes dados foram coletados nos
volumes editados por Ira Glazier e P. William Filby a partir de 1988 intitulados Germans to America.
Segundo o levantamento, para os anos 1850-51, 1859-60, 1870 e 1880, 38% das embarcações com
emigrantes alemães com destino à América do Norte saíram dos portos de Bremen e Bremerhaven,
17% saíram de Hamburgo, algo em torno de 16% saíram de Liverpool na Inglaterra e apenas 6%
saíram de Le Havre na França. Em inventário realizado por Peter Marschalck nos arquivos de
Bremen, concluiu-se que no período entre 1832 e 1958 mais de sete milhões de indivíduos
emigraram a partir dos portos de Bremen e Bremerhaven, e que destes, 90% dirigiram-se aos
Estados Unidos da América. A partir das pesquisas previamente realizadas, estima-se que
aproximadamente metade dos emigrantes alemães que se dirigiram à América do Norte teria saído
destes portos de Bremen e Bremerhaven. De acordo com Wright III, os arquivos referentes às listas
de passageiros destes portos sofreram algumas perdas ao longo dos anos: as listas de 1910 a 1920,
por exemplo, foram destruídas com os bombardeios dos Aliados sobre Bremen durante a Segunda
Guerra Mundial. Contudo, as listas referentes aos anos de 1921 e 1939 sobreviveram em boa parte e
ficaram disponíveis no Handelskammer Archiv de Bremen. Com relação às listas de passageiros
saídos de Hamburgo, os registros mais antigos sobreviventes começam do ano de 1850 e se
estendem aos anos de 1934 e localizam-se no Staatsarchiv Hamburg. Cf. WRIGHT III, op. cit., p. 51-
52.
6
A genealogista argentina Daniela Massolo oferece sugestões de acesso às listas indicadas por
Wright III para os portos de Hamburgo e Bremen, disponíveis a consulta por meios digitais. As listas
de Bremen foram organizadas e seus dados oferecidos gratuitamente no site Passangier List
(Disponível em: <www.passagierlisten.de> Acesso em: 13 dez. 2017) a partir de um acordo de 1999
entre a Câmara de Comércio de Bremen e a Sociedade de Bremen para Investigação Genealógica
DIE MAUS. As listas de Hamburgo (índices manuscritos) referentes ao período entre 1850 e 1934
foram adquiridas pelo site Ancestry (Disponível em: <www.ancestry.com> Acesso em: 16 dez. 2017)
e seu acesso integral requer uma assinatura paga. Interessante observar que, assim como ocorreu
com as listas dos portos de Bremen e Bremerhaven durante a Segunda Guerra Mundial, os registros
do porto de Hamburgo de 1915 a 1919 foram destruídos. Cf. MASSOLO, Daniela. Registros de
puertos y listas de embarque. Barcos e Inmigrantes: Buscando información del abuelo inmigrante,
47
10
Arquivo Estatal de Bremen (tradução nossa).
11
Primeiramente foi envidado e-mail para <office@staatsarchiv.bremen.de> em 16 de agosto de 2017
com solicitação de auxílio na pesquisa e uma resposta confirmatória foi recebida em 17 de agosto de
2017. Em 24 de agosto de 2017 foi recebido e-mail enviado pela Sra. Monika Marschalck
<monika.marschalck@staatsarchiv.bremen.de>, em nome do setor de Informação e Pesquisa do
Arquivo Estatal de Bremen, contendo resposta sobre a solicitação e o envio dos dois documentos
aqui descritos: a Certidão de Nascimento (Anexo A) e a Declaração de Morte (Anexo B). O e-mail
utilizado para tal interação foi <academia.cesar.maciel@gmail.com>.
12
Anexo A.
13
Anexo B.
14
Foi possível encontrar em um catálogo de endereços de Bremen de 1921 o endereço de Georg
Wilhelm Arndt com indicação para a Rua Meyerstraße, número 12, mesmo endereço de Hermann
Otto Wilhelm Arndt, como indicado no registro de seu passaporte. Este pode ser compreendido como
um dado a mais na confirmação desta relação de parentalidade entre Georg e Hermann. Cf.
EINWOHNER. In: Bremer Adreßbuch. Bremen: Schünemann, 1921. cap. II, p. 1-755. p. 15.
Disponível em: <http://brema.suub.uni-bremen.de/periodical/pageview/720475> Acesso em: 15 dez.
2017.
49
15
Anexo B.
16
PORTO, loc. cit.
17
Segundo a genealogista argentina Analía Montórfano em sua página Apellidos Italianos, além das
listas mexicanas na página Family Search (Disponível em: <https://www.familysearch.org/> Acesso
em: 16 dez. 2017), a outra possibilidade de busca digital por registro de passageiros estrangeiros no
México seria pelo site Movimientos Migratórios Iberoamericanos mantido pelo Governo da Espanha
(Disponível em: <http://pares.mcu.es/MovimientosMigratorios/buscadorAvanzadoFilter.form> Acesso
em: 16 dez. 2017). Cf. MONTÓRFANO, Analía. Entradas de Pasajeros a México. Apellidos
Italianos: Genealogía Italiana en Español... y más. Disponível em:
<http://www.apellidositalianos.com.ar/inmigracion/entradas-a-mexico.html> Acesso em: 16 dez. 2017.
18
As buscas dos sites Family Search e Ancestry oferecem acesso a inúmeras listas e índices de
chegadas de passageiros estrangeiros nos portos estadunidenses.
19
A genealogista Daniela Massolo indica alguns bancos de dados com registros de imigrantes na
Argentina, e o banco digital mais completo acessível pela internet é o mantido pelo Centro de
Estudios Migratorios Latinoamericanos, consultado nesta pesquisa (Disponível em:
<http://cemla.com/> Acesso em: 16 dez. 2017). Cf. MASSOLO, Daniela. Ingreso de Inmigrantes a
Argentina, Barcos e Inmigrantes: Archivos de Inmigración. Barcos e Inmigrantes: Buscando
información del abuelo inmigrante, jun. 2015. Disponível em:
<http://www.barcoseinmigrantes.com/ingresos-argentina.html> Acesso em: 16 dez. 2017.
50
20
ALTENESCH, loc. cit.; BARRETO, fev. 2004.
21
Cf. Ocorrências do nome ―Altenesch‖. Disponível em:
<https://www.ancestry.com/search/?name=_altenesch&name_x=1_1> Acesso em: 13 dez. 2017.
22
As buscas realizadas nos jornais do Rio de Janeiro foram feitas através do acervo da Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional. A partir da tecnologia Docpro é possível pesquisar de uma só vez
todas as ocorrências de uma dada palavra-chave ou expressão em um conjunto grande de
documentos. Os filtros a serem utilizados podem ser: o período, que é divido por décadas, a
localidade da publicação ou o nome do periódico. Cf. Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional. Disponível em <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/> Acesso em: 20 dez. 2017.
23
FALLECIMENTOS. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 16 jan. 1927, ano 99, n. 16, p. 5.
Disponível em <http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/22036> Acesso em: 13 dez. 2017.
24
A ARISTOCRACIA allemã de luto. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 jan. 1927, ano XXXVII, n.
14, p. 6. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/53341> Acesso em: 13 dez.
2017.
51
25
Atualmente Altenesch é uma aldeia no município de Lemwerder, no distrito de Wesermarsch, no
Estado Alemão da Baixa Saxônia. Contudo, o nome Altenesch já foi utilizado para denominar uma
região muito maior. No século XIX a região que hoje se conhece por Lemwerder era dividida em duas
comunidades: Altenesch e Bardewisch, respectivamente pertencentes, desde 1879, aos escritórios de
Delmenhorst e de Elsfleth, do Grão-Ducado de Oldenburg. Em 1933 Altenesch e Bardewisch foram
unidas juntamente às comunidades de Berne, Neuenhuntorf e Warfleth ao município de Stedingen, no
distrito de Wesermarsch. Em primeiro de abril de 1948 o município de Stedingen foi novamente
dissolvido e dividido nas comunidades de Berne e Altenesch, que agora incluía Bardewisch. Até 15
de novembro de 1972 toda a comunidade Lemwerder recebia o nome de Altenesch. A compreensão
de Altenesch, portanto, para este trabalho, é o que se refere ao período anterior a 1933. Cf.
LEMWERDER. In: Wikipedia, okt. 2018. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Lemwerder>
Acesso em: 8 nov. 2018.
26
Anexo B.
52
27
PORTO, loc. cit.
28
Ambas as notas foram emitidas pela Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura do Distrito Federal,
respectivamente em 1927 e 1928. A primeira delas, que releva o nome Hermann Otto Wilhelm
Arendt von Attenesch [sic], solicita satisfação de exigência do Escritório Central (Cf. DISTRICTO
FEDERAL. Directoria Geral de Obras e Viação: Exigências a Satisfazer. Jornal do Brasil, 18 dez.
1927, ano XXXVII, n. 301, p. 31. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/61340>
Acesso em: 3 jan. 2018). A segunda nota, referente a um despacho definitivo, traz a grafia do nome
53
Têm-se então que no final de 1927 ele deu início a uma carreira individual,
após ter estabelecido por algum tempo não identificado sociedade com o construtor
Tetenberg32. Com capital de 30:000$000, instalou na Rua General Câmara, número
Hermann Otto Wilhelm Areudt [sic] Altenesch. Cf. DISTRICTO FEDERAL. Directoria Geral de
Obras e Viação: Despachos definitivos. Jornal do Brasil, 1º mar. 1928, ano XXXVIII, p. 14.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/63234> Acesso em: 3 jan. 2018.
29
O setor responsável pela guarda e conservação da documentação de Licenças para Obras do
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro foi procurado durante a pesquisa a fim de se tentar
encontrar algum registro da atuação de Altenesch naquela cidade. No entanto, por não existir em
mãos quaisquer referências sobre possíveis atuações profissionais do alemão na então capital do
Brasil, e por estar a documentação de Licença para Obras daquele Arquivo organizada por
logradouro e não haver, por ora, uma catalogação por profissional, uma busca por registros de sua
atuação naquela cidade se tornou inviável para este trabalho.
30
Informações anteriores a esta data não foram encontradas, inclusive no que se refere à sua
chegada ao Rio de Janeiro. Não foi possível se ater a esta busca por muito tempo e o que se chegou
a fazer foi checar as listas de passageiros dos vapores provenientes da Argentina e Uruguai que
chegaram ao porto do Rio de Janeiro nos anos de 1926 e 1927. Estas listas se encontram
digitalizadas e são ofertadas pelo Sistema de Informações do Arquivo Nacional (Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp> Acesso em: 21 dez. 2017).
31
Á PRAÇA. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 set. 1927, ano XXVII, n. 226, p. 22. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/58995> Acesso em: 20 dez. 2017.
32
Muito provavelmente o sócio de Altenesch no Rio de Janeiro tenha se chamado Paulo Tetenberg
(ou Tetemberg). As ocorrências para este sobrenome (considerando-se as duas grafias) na
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional para a década de 1920 ficaram concentradas em
referências a este construtor de origem não identificada. A primeira ocorrência é datada de 1924 (Cf.
PENHA Clube: Sua Nova Directoria e A Posse Hoje. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 jul. 1924,
ano XXXIV, n. 167, p. 12. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/30508>
Acesso em: 21 dez. 2017). Em outras notas é possível identificar a vinculação deste sujeito às
atividades de construção, como em uma nota de Flagrante de infração de Posturas publicado no
Jornal do Brasil de 14 de março de 1929, quando Paulo Tetemberg ―[...] é multado em 100$000, por
54
início de negocio de engenharia e construcções, sem licença [...]‖. Cf. DISTRICTO FEDERAL.
Secretaria de Gabinete do Governo: Flagrantes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 mar. 1929, ano
XXXIX, n. 63. p. 16. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/73489> Acesso em:
21 dez. 2017.
33
JUNTA Comercial: Firmas Individuais. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 set. 1927, ano XXVII,
n. 10.031, p. 12. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/31923> Acesso em: 21
dez. 2017.
34
INFORMAÇÕES Diversas: Directoria Geral da Propriedade Intelectual. Correio da Manhã, Rio de
Janeiro, 10 jul. 1928, ano XXVIII, n. 10277, p. 12. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/089842_03/35405> Acesso em: 9 jan. 2018.
35
ENGENHEIROS. Almanak Leammert: Annuario Commercial, Industrial, Agricola, Profissional e
Administrativo da Capital Federal e dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro: Officinas
Typographicas do Almanak Laemmert, v. 2, ano 85, 1929, p. 666. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/313394/102142> Acesso em: 3 jan. 2018.
36
FALLENCIAS. A Noite, Rio de Janeiro, 15 maio 1930, ano XX, n. 6643, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/348970_03/1045> Acesso em 3 jan. 2018.
37
Tanto a Rua General Câmara quanto a Rua São Pedro na cidade do Rio de Janeiro foram extintas
durante de abertura da Avenida Presidentes Vargas, inaugurada em 1944. Esta Avenida foi criada
justamente com o arrasamento dos quarteirões existentes entre as ruas supracitadas. Cf. BORDE,
Andréa de Lacerda Pessoa. Apresentação. Dossiê Avenida Presidente Vargas: vamos fazê-la!
Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n. 10, p. 105-108, 2016.
Disponível em: <http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/apresentacao-10/> Acesso em: 3 jan. 2018.
55
sua casa terra e páos para a entrada de vehiculos, acumulando lixo e aguas na
sarjeta‖38.
A maioria das ocorrências do nome de Altenesch nos jornais do Rio de Janeiro
refere-se a protestos de títulos em que o alemão aparece como devedor39 e
indicações de um processo de falência que ele sofreu em 193040. Este processo de
falência teve sua abertura decretada em 15 de maio daquele ano por requerimento
do estucador E. R. Goldbach41, credor de 7:412$70042, e foi julgada e encerrada em
outubro de 193143.
Tanto os sucessivos protestos de títulos de que foi alvo, bem como o processo
de falência levam a crer que o alemão tivesse alguma dificuldade de organizar e
gerir sua vida financeira e seus negócios, ao menos nesta fase em que esteve no
Rio de Janeiro. Assomam-se a esta questão os indícios de que a sua atuação
profissional na capital federal daquela época não foi realizada de forma legal no
âmbito fiscal, como é sugerido a seguir:
38
DISTRICTO FEDERAL. Superintendência do Serviço da Limpeza Pública e Particular: Infrações de
Postura. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7 nov. 1928, ano XXXVIII, n. 268, p. 17. Disponível em: <
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/70128> Acesso em: 3 jan. 2018.
39
Foram encontradas cinco ocorrências do nome de Altenesch vinculadas a protestos de títulos: um
primeiro no valor de 4:000$ (Cf. AVISOS: Protestos de Letras. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10
nov. 1927, ano XXXVII, n. 268, p. 1. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/60276> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado pelo
Banco Allemão no valor de 942$910 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda, Rio
de Janeiro, 14 fev. 1928, ano II, n. 193, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/72> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado por
Apollinario Maciel no valor de 1:000$000 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda,
Rio de Janeiro, 14 mar. 1928, ano II, n. 217, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/207> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado por João
Matheus no valor de 1:000$000 (Cf. INFORMAÇÕES uteis: Titulos Protestados. A Esqueda, Rio de
Janeiro, 29 maio 1928, ano II, n. 282, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/586> Acesso em: 4 jan. 2018); título protestado pelo Banco
do Brasil no valor de 2:000$000 e com Jeno Friedmann como avalista. Cf. INFORMAÇÕES uteis:
Titulos Protestados. A Esqueda, Rio de Janeiro, 22 set. 1928, ano II, p. 2. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/297984/1092> Acesso em: 4 jan. 2018.
40
É possível encontrar referências à falência de Altenesch nas seções jurídicas de diversos jornais do
Rio de Janeiro disponibilizados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: Correio da Manhã,
Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias, A Esquerda, Gazeta de Notícias, Jornal do Brasil e
Jornal do Comércio. Disponível em <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/> Acesso em: 20
dez. 2017.
41
Foi possível identificar a ocupação de E. R. Goldbach na lista de estucadores do Almanak
Leammert. Cf. ESTUCADORES. Almanak Laemmert: Anuario Comercial, Industrial, Profissional,
Administrativos, de Estatística e Informações Gerais sobre o Brasil. Rio de Janeiro: Officinas
Typographicas do Almanak Laemmert, v. 1, ano 90, 1934, p. 131. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/313394/113155> Acesso em: 4 jan. 2018.
42
FALLENCIAS, loc. cit.
43
BRASIL. Junta Comercial do Distrito Federal. Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil, Rio
de Janeiro, 28 out. 1931, ano LXX, n. 253, p. 17116. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2120208/pg-30-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-28-10-
1931?ref=previous_button> Acesso em: 4 jan. 2018.
56
Apesar dos indícios sobre a passagem de Altenesch pelo Rio de Janeiro não
evidenciarem o teor de sua atuação nos campos da arquitetura e da construção
naquela cidade, eles contribuem para o entendimento da jornada do sujeito. Esta
provável dificuldade de inserção dentro do mercado da arquitetura e da construção
da então capital federal parece ser uma justificativa plausível para que o construtor
alemão, já habituado aos movimentos migratórios, partisse em busca de outros
cenários para a sua atuação. A cidade do Rio de Janeiro, como bem revelam os
anuários comerciais da época45, já apresentava um quadro extenso de profissionais
de engenharia, arquitetura e construção. Considerando-se que em 1927, o curso
regular de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro havia acabado de
completar o seu primeiro centenário46, assim como a Escola Politécnica do Rio de
Janeiro, que, àquela data, já guardava uma tradição de 135 anos na formação de
engenheiros47, é pode-se deduzir o quão bem estabelecido e consolidado estava
este mercado naquela cidade. Obviamente não é possível confirmar que este tenha
sido o motivo que levou Altenesch a deixar a capital federal, mas é inegável o
contraste entre o fracasso econômico que ali sofreu, e a prosperidade que encontrou
na jovem capital sergipana, carente à época de profissionais habilitados nos ramos
do projeto e construção. Conhecidos os fragmentos de sua trajetória em outra parte
do Brasil antes de sua chegada a Aracaju, ainda que ao menos no que concerne às
suas tentativas de estabelecimento e seus percalços financeiros no Rio de Janeiro, e
44
BRASIL. Diretoria da Receita Pública: Ofícios ao Sr. Dr. 3º procurador da República. Diário Oficial
dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, 21 out. 1932, ano LXXI, n. 247, p. 19520. Disponível
em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2277605/pg-16-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-21-
10-1932/pdfView> Acesso em: 4 jan. 2018.
45
ENGENHEIROS, loc. cit.
46
A FAU. FAU.UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/a-fau/> Acesso em: 9 jan.
2018.
47
HISTÓRIA da Escola Politécnica. Poli.UFRJ, Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.poli.ufrj.br/politecnica_historia.php> Acesso em: 9 jan. 2018.
57
não tendo sido possível encontrar mais nenhuma informação sobre a sua trajetória
antes da chegada a Aracaju, adentra-se agora aos resultados da pesquisa referente
à sua trajetória na capital sergipana.
48
PORTO, loc. cit.
49
A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú. Cadastro
Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas
Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 387.
50
A Companhia Rovel S. A. foi uma empresa de exportação de peles e couros de caprinos e bovinos
atuante no nordeste brasileiro. Em propaganda encontrada em um jornal cearense para a Companhia
Rovel S. A. em Fortaleza, tem-se a indicação de que sua matriz seria pernambucana, ao passo que
empresas ―congêneres‖ estariam localizadas na Bahia e em Sergipe (Cf. COMPANHIA Rovel S/A. A
Razão, Fortaleza, 24 set. 1936, ano I, n. 109, p. 9. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/764450/7111> Acesso em: 17 jan. 2018). A referência à
Companhia Rovel mais antiga, de 1929, encontrada em jornais disponíveis na rede é de fato
referente a atividades em Pernambuco, o que parece confirmar a origem pernambucana da empresa
(Cf. PERNAMBUCO. Serviço Publico: Recebedoria. A Província, Recife, 6 jun. 1929, ano LVIII, n.
129, p. 4. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_02/23594> Acesso em: 18 jan.
2018). Em Aracaju, a Companhia Rovel esteve vinculada à sua sede baiana, localizada à Praça
Deodoro, número 4 e 5 em Salvador. A presença do diferenciador ―da Baía‖ em seu nome fantasia
58
parece indicar uma diferenciação administrativa desta sede baiana à matriz no Recife e sua filial em
Fortaleza. A Rovel ―da Baía‖ se instalou em terras sergipanas em 1932 e aí esteve até junho de 1940.
Cf. COMPANHIA Rovel da Baía S.A. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 26 jun. 1940,
ano XXII, n. 7909, p. 8.
51
A COMPANHIA Rovel da Bahia S. A. inaugura o predio da sua filial em Aracajú, loc. cit.
52
COMPANHIA Rovel da Bahia, S. A. Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e Informativo do
Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1,
1933, p. 361.
53
BARRETO, Luiz Antonio. Pequeno Dicionário Prático de Nomes e Denominações de Aracaju.
Aracaju: ITBEC/BANESE, 2002, p. 164.
54
ALUGA-SE. Folha da Manhã, Aracaju, 8 mar. 1938, ano I, n. 36, p. 4.
55
COMPANHIA Rovel da Baía S.A., loc. cit.
59
56
PORTO, loc. cit.
57
Durante as pesquisas para este trabalho, o nome de Erich Apenburg apareceu algumas vezes.
Com a finalidade de contextualização e compreensão mais aproximada do caráter das redes
relacionais estabelecidas por Altenesch em Aracaju, foi realizado um conjunto de pesquisas sobre
Apenburg, para o qual é possível delinear um breve esboço biográfico. Erich George Richard
Apenburg foi um comerciante alemão nascido em 20 de agosto de 1896 em Hanover e falecido em
Frankfurt, Alemanha, em 13 de agosto de 1952 (Cf. Base de dados ―Deutschland, Hessen, Frankfurt,
Standesbücher 1928-1978‖, Disponível em: <https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:QKVW-
NFX5> Acesso em: 18 jan. 2018; ―New York, New York Passenger and Crew Lists, 1909, 1925-1957‖,
Disponível em: <https://familysearch.org/ark:/61903/1:1:KXGW-PT2> Acesso em: 18 jan. 2018).
Chegou a Nova Iorque em 1927 como bancário, após já ter residido por algum tempo não identificado
no Brasil, e lá ficou até 1930 (Cf. ―New York, New York Passenger and Crew Lists, 1909, 1925-1957‖,
Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:24JQ-D6K> Acesso em: 18 jan. 2018).
Em 1930 retornou ao Brasil e se dirigiu a Pernambuco (Cf. Relação de Passageiros do Vapor
Asturias, chagada no Porto do Rio de Janeiro em 1º de março de 1930, Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1
150907&v_aba=1> Acesso em: 18 jan. 2018). Em 1933 já estava estabelecido em Aracaju como
gerente e diretor da Companhia Rovel da Bahia S.A. em sua filial sergipana e nesta cidade atuou não
apenas como comerciante, mas também no setor imobiliário, investindo em imóveis e construções.
Em 1937 fez um requerimento de naturalização à Secretaria de Justiça e Negócios do Interior do
Estado de Sergipe e esta foi concedida em ato da Presidência da República em setembro de 1939.
Cf. SERGIPE. Secretaria de Justiça e Negocios do Interior: Requerimentos Despachados. Diário
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 4 jun. 1937, ano XIX, n. 7031, p. 1180; BRASIL. Actos do
Presidente da República. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 28 set. 1939, ano X, n. 5191, p.4.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/093718_01/40880> Acesso em: 18 jan. 2018.
60
equipe. Em nota59 sobre uma viagem de avião que ele fez de Aracaju para o Recife,
é indicado que ―o competente engenheiro H. A. von Altenesch‖ assumiu naquela
empresa, por período de tempo que não foi possível precisar, a chefia do
Departamento Técnico.
59
VIAJANTES. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 dez. 1933, ano I, n. 231, p. 4.
60
A CONSTRUTORA Companhia de imoveis para Sorteios. Renovação, Aracaju, jan. 1934, ano III,
n. 33, p. 28.
61
Ibid., loc. cit.
62
COMPANHIA de Immoveis para Sorteios. Annuario França: Indicador Commercial do Brasil. [S.l.:
s.n. 193-]. Obs.: Páginas avulsas encontradas na Biblioteca Pública Epifânio Dória, em Aracaju.
63
FAUSTO Vieira de Vasconcellos e Everaldo Ribeiro. Cadastro Commercial, Industrial, Agricola e
Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de Aprendizes Artífices
de Sergipe, n. 1, 1933, p. 136.
62
64
4 COUSAS que ―A Constructora‖ precisa dizer ao publico. Cadastro Commercial, Industrial,
Agricola e Informativo do Estado de Sergipe. Aracaju: Officinas Graphicas da Escola de
Aprendizes Artífices de Sergipe, n. 1, 1933, p. 278.
65
VIDA comercial: Uma empresa que se impõe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 28 jun. 1933, ano I,
n. 95, p. 2.
66
Duas casas teriam sido construídas à Avenida Barão de Maruim para os primeiros sorteios da
Companhia: as de números 69 e 71. As pesquisas puderam alcançar que apenas a de número 71
teve o seu sorteio divulgado. Cf. VAI ser realizado definitivamente o sorteio da primeira casa. O
Estado de Sergipe, Aracaju, 28 jun. 1933, ano I, n. 95, p. 2.
67
―A CONSTRUTORA‖ sorteou ante-ontem a primeira casa. O Estado de Sergipe, Aracaju, 23 ago.
1933, ano I, n. 140, p. 4.
63
68
A CONSTRUTORA Companhia de Imoveis para Sorteios. O Estado de Sergipe, Aracaju, 3 dez.
1933, ano I, n. 222, p. 2.
69
AVISO d‘ ―A Construtora‖ ao Publico em Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1934, ano
II, n. 375, p. 4.
70
AVISO de Comunicação. Sergipe-Jornal, Aracaju, 27 fev. 1934, ano XIV, n. 3520, p. 1.
71
A ―CONSTRUCTORA‖ realisou o sorteio do lindo predio á Rua de Vila-Nova, 1º trecho. A
República, Aracaju, 1º jul. 1934, ano III, n. 772, p. 2.
72
O AVISO mais importante. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1934, ano II, n. 433, p. 1.
73
AVISO d‘ ‖A Construtora‖ ao Publico em Sergipe. O Estado de Sergipe. Aracaju, 23 ago. 1934,
ano II, n. 425, p. 2.
74
Ibid., loc. cit.
75
A CONSTRUTORA: Aos seus dignos associados e ao público em geral, loc. cit.
76
VIAJANTES, loc. cit.
64
das relações, que se intensificariam até o final de sua jornada na cidade, com o
poder público. Trata-se da vinculação do estrangeiro à elaboração de um projeto
para a nova estação ferroviária da cidade. Porto77 faz referência a este tópico,
indicando que Altenesch teria de fato elaborado um projeto para a nova estação78 a
ser construída na Baixa Fria, mas que não teria sido executado. Em matéria feita
pelo jornal O Estado de Sergipe, publicada em 24 de novembro de 1933 79, foi
transcrita uma entrevista feita com o engenheiro da Companhia Ferroviária Este
Brasileiro80, Carlos Freire de Carvalho, da qual é interessante destacar esta parte:
77
PORTO, 2003, p. 51.
78
A antiga estação ferroviária de Aracaju foi construída em 1911, contudo só veio a ser inaugurada
em 26 de maio de 1913, quando os trilhos da Estrada de Ferro Timbó e Propriá chegaram a Aracaju.
Esta estação foi edificada nas proximidades do cais da Rua da Frente, no início da atual Avenida
Coelho e Campos. Em meados dos anos 1930 se fortalece a demanda por uma nova estação, já que
aquela primeira, bem como a sua localização, já não se apresentavam adequadas à cidade. Cf.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Patrimônio Ferroviário de
Sergipe {Brasil}. [S.l.], 2009. v. 1, p. 16.
79
A NOVA gare da Éste Brasileiro. O Estado de Sergipe, Aracaju, 24 nov. 1933, ano I, n. 214, p. 4.
80
Entre 1912 e 1934, a via férrea esteve sob a administração da Compagnie des Chemins de Fer
Fédéraux de l’Est Brésilien, que em 1922 passou a ser chamada Companhia Ferroviária Éste
Brasileiro. Em 1935, o Governo de Getúlio Vargas encampou as linhas da Rede de Viação Baiana, da
qual a linha de Sergipe fazia parte, encerrando o contrato de concessão com a empresa franco-belga,
criando assim a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB), autarquia ligada diretamente ao
Ministério da Viação e Obras Públicas. Em 1957, a VFFLB foi absorvida pela Rede Ferroviária
Federal S.A (RFFSA). Cf. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL,
2009, p. 16 et. seq.
81
NOTICIARIO. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 6 out. 1933, ano XV, n. 5792, p. 7.
65
aquele mesmo que viria a conceder a entrevista transcrita acima. Esta conferência
tratou das obras da nova estação e foi examinado pelo Interventor o projeto do
referido edifício. É provável, portanto, que este projeto incialmente apresentado pela
Companhia tenha sido reconsiderado, afim de que outro, encomendado pelo próprio
Interventor a Altenesch, fosse levado adiante.
Não foi possível encontrar, nem em jornais, nem no Diário Oficial, mais
informações sobre a atuação de Altenesch neste projeto, assim como não foram
encontrados registros e documentos gráficos e iconográficos daquela época que
pudessem revelar este projeto e sua associação ao alemão.
É interessante observar como, no provável primeiro ano de sua estada em
Aracaju, Altenesch alcançou um grau considerável de permeabilidade nas relações
profissionais no âmbito do projeto e construção. A ausência de qualquer indício no
Diário Oficial daquele ano referente a uma abertura de concorrência para a
elaboração do projeto da estação, que foi encomendado a Altenesch certamente por
uma deliberação direta do Interventor, sugere que seu nome chegou com
credibilidade aos círculos mais altos do poder político do estado sergipano. Seja por
ter seu nome associado às modernidades técnicas e estéticas ainda não — ou
pouco — presentes na cidade, ou mesmo por se tratar de um estrangeiro. Segundo
Porto estes eram tratados em Aracaju ―com rapapés e salamaleques e suas ideias e
opiniões aceitas dogmaticamente‖82. De toda forma, o fato é que rapidamente o
construtor alemão se inseriu no cenário profissional da arquitetura e da construção
em Aracaju como um nome de destaque.
Paralelamente ao desenvolvimento do projeto da estação, como afirma Porto 83,
Altenesch também elaborou o projeto para a sede do IHGSE. Provavelmente este
projeto, ou parte de seu esboço inicial, foi desenvolvido entre o final de 1933 e os
meses inicias de 1934. De acordo com Waldefrankly Santos84, o terreno, à Rua
Itabaianinha, teria sido comprado em janeiro de 1934. A pedra fundamental do
edifício foi solenemente assentada na manhã do dia 17 de março daquele mesmo
ano85, mas sua conclusão e inauguração só ocorreram cinco anos depois, como
82
PORTO, 2003, p. 54
83
Ibid., p. 51
84
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 53.
85
INSTITUTO Histórico e Geográfico. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 mar. 1934, ano II, n. 302, p.
2.
66
86
SERGIPE. Departamento De Propaganda E Divulgação Do Estado: Reportagens completas sobre
as festas realizadas na passagem do quarto aniversário da administração Eronides Carvalho. Folha
da Manhã, Aracaju, 4 abr. 1939, ano II, n. 346, p. 1.
87
DANTAS, Ibarê. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE 1912-2012. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, p. 123.
88
PORTO, 2003, p. 22.
67
89
SANTOS, 2002, p. 45.
90
CONSELHO Federal de Engenharia e Architectura. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil,
Rio de Janeiro, 12 jun. 1936, ano LXXV, n. 136, p. 13131.
91
ENGENHEIROS, loc. cit.
92
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1, p. 2; H.
A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, abr. 1936, ano I.
93
ARCHITECTOS modernos. Renascença, Aracaju, nov. 1935, ano II, n. 7. Cf. Anexo D.
68
94
UNITED STATES OF AMERICA. Departament of Commerce and Labor. Special Consular
Reports: Industrial Education and Industrial Conditions in Germany. Washigton: Government Printing
Office, 1905 (v. XXXIII).
95
BARRETO, fev. 2004.
96
ALTENESCH, loc. cit.
69
representantes técnicos na Bahia e no Recife. Além disso, o timbre traz uma lista
com todos os serviços oferecidos por seu escritório, a saber:
97
Anexo C.
98
UNITED STATES OF AMERICA: DEPARTAMENT OF COMMERCE AND LABOR, 1905, p. 61-66.
99
O Reino da Prússia, o maior da Alemanha, constituía o Império Alemão juntamente aos Reinos da
Baviera, da Saxônia e de Württemberg. O Império Alemão, resultante da unificação do Estado em
1871, foi destituído em 1918, quando se instaurou a República de Weimar.
100
Os cursos das Baugewerkschulen prussianas eram realizados em quatro semestres, com cargas
horárias semanais de 44 a 49 horas. Os currículos para ―construções acima do solo‖, do original
aboveground building, faziam referência aos currículos associados a departamentos das
Baugewerkschulen chamados Hoch-Bauabtheilung. Estes currículos compreendiam a formação de
construtores habilitados para uma prática do campo arquitetônico, principalmente. A grade curricular
era composta da seguinte forma: Primeiro semestre: alemão, aritmética, álgebra, geometria plana,
ciências naturais, geometria descritiva, ciência da arquitetura (pedra e madeira), estilos arquitetônicos
70
que ocupassem um degrau mais baixo no que tange à titulação (Mittlere Technika,
escolas técnicas de média formação) se comparados aos cursos oferecidos pelas
Höhere Technische Schulen (Höhere Technika, escolas técnicas de alta
formação) e pelas Technische Hoshsculen (universidades técnicas), pareciam
eficientes na formação de profissionais aptos ao exercício profissional no campo da
arquitetura e engenharia civil, como é indicado pelo trecho a seguir:
(morfologia), desenho a mão livre, caligrafia e modelagem; Segundo semestre: álgebra, estereometria
e trigonometria, ciências naturais, materiais de construção, geometria descritiva, estática, ciências da
arquitetura, estilos arquitetônicos, desenho a mão livre, prática arquitetônica (Baukunst) e
modelagem; Terceiro semestre: ciências naturais, geometria descritiva, força e resistência da
arquitetura, ciência da arquitetura, prática arquitetônica, desenho arquitetônico, orçamento
arquitetônico, estilos arquitetônicos, levantamento topográfico e nivelamento geométrico, modelagem
e curso Samaritano (algo equivalente a estudos de segurança do trabalho); Quarto semestre:
materiais de construção (revisão), geometria descritiva, estática, força e resistência, ciência da
arquitetura, prática arquitetônica, desenho arquitetônico, orçamento da arquitetura e organização do
trabalho, estilos arquitetônicos, regulamentação arquitetônica e legislação e escrituração. Os
currículos para ―construções sob o solo‖, do original underground building, faziam referência aos
currículos associados a departamentos das Baugewerkschulen chamados Tief-Bauabtheilung. Estes
currículos compreendem a formação de construtores habilitados para uma prática do campo da
engenharia civil, principalmente. Para este curso a grade curricular era semelhante à do curso para
―construções acima do solo‖ nos dois primeiros semestres, diferenciando-se nos dois últimos com as
seguintes disciplinas: Terceiro semestre: ciências naturais, levantamento topográfico e nivelamento
geométrico, cálculos, geometria descritiva, ciência da arquitetura, força e resistência da arquitetura,
engenharia de fundações, engenharia hidráulica, construção de pontes, construção de ferrovias,
desenho de fundações e curso Samaritano; Quarto semestre: levantamento topográfico e
nivelamento geométrico, materiais de construção, estática, força e resistência, engenharia mecânica,
construção de estradas, engenharia hidráulica, construção de pontes, construção de ferrovias,
regulamentação arquitetônica e legislação, orçamento da arquitetura e organização do trabalho e
escrituração. Cf. UNITED STATES OF AMERICA: DEPARTAMENT OF COMMERCE AND LABOR,
1905, p. 63-64.
101
Ibid., p. 66.
71
102
HOCHSCHULE Bremen. In: Wikipedia, 20 jan. 2018. Disponível em:
<https://de.wikipedia.org/wiki/Hochschule_Bremen> Acesso em: 30 jan. 2018.
103
Bremer, em alemão, é como é chamada a pessoa originária das cidades de Bremen ou
Bremerhaven, que integram o Estado Livre Hanseático de Bremen, na Alemanha. Cf. BREMER. In:
Wikipedia, 28 dez. 2017. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Bremer> Acesso em: 31 jan.
2018.
104
PORTO, loc. cit.
72
105
PORTO, loc. cit.
106
ARACAJU. Governo Municipal. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 jan. 1934, ano
XVI, n. 5864, p. 111.
107
SERGIPE. Departamento de Saude Publica de Sergipe: Higiene das Habitações. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 19 abr. 1934, ano XVI, n. 5941, p 1193.
108
PORTO, loc. cit.
109
SERÃO inaugurados hoje dois bungalows. O Estado de Sergipe, Aracaju, 14 abr. 1934, ano II, n
323, p. 2.
73
De acordo com Porto112, foi com estas casinhas de Altenesch que o termo
bungalow recebeu adesão no linguajar aracajuano. O autor revela que antes de
Altenesch já existiam algumas outras casas que poderiam ser compreendidas como
bungalows, e que inclusive já havia uma lei para o município que previa este tipo de
construção. Assim, para ele, o construtor alemão poderia ser muito mais
considerado um propagador desta tipologia residencial do que propriamente um
inovador, como veio a ser afirmado na homenagem póstuma feita pelo prefeito
Godofredo Diniz, no Decreto-Lei 39, ao considerar ter sido Altenesch aquele ―que
introduziu entre nós a inovação americana do bungalow‖.
Voltando às duas casinhas, Porto113 as identificou em Aracaju ao localizá-las
nos números 521 e 529114 da atual Rua Duque de Caxias (figura 07). A primeira,
ainda preserva traços de sua originalidade, ao passo que a outra se encontra
110
NOTICIÁRIO. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 abr. 1934, ano XVI, n. 5938, p.
1154.
111
OS MAIS lindos bungalows da cidade. Sergipe-Jornal, Aracaju, 17 abr. 1934, ano XIV, n. 3558, p.
1.
112
PORTO, 2003, p. 24.
113
Ibid., p. 22.
114
A numeração atual das residências localizadas neste trecho da Rua Vila Nova (atual Duque de
Caxias) não é a mesma daquela utilizada nos anos 1930, já que àquela época a numeração estava
por volta do numero 70. Esta diferença é revelada com o número do primeiro bungalow sorteado por
―A Construtora‖: 73 (Cf. AVISO d‘ ―A Construtora‖ ao Publico em Sergipe, jun. 1934, loc. cit.), bem
como com o número 76 de um dos bungalows de Erich Apenburg, como indica anúncio de aluguel
para ―um bungalow, tipo moderno‖ cujo endereço para contato é a sede da Companhia Rovel da Baía
S/A, dirigida em Aracaju pelo próprio Apenburg (Cf. ALUGA-SE, loc. cit.). A não equivalência da
numeração antiga com a atual é um fator que dificultou uma identificação mais precisa da localização
dos bungalows indicados neste trabalho.
74
Em uma lista com os valores do imposto predial para a Rua Vila Nova disposta
na edição do Diário Oficial para o dia 5 de maio de 1936116, foram encontradas
referências a este conjunto de casas. Erich Apenburg foi creditado como proprietário
de três delas: duas foram classificadas como bungalows, e uma terceira; classificada
como ―casa de telha‖. Os dois bungalows estavam alugados117 e a ―casa de telha‖
era ocupada pelo próprio Apenburg. Também foi identificado o nome de Francisco
Freitas como proprietário de ―casa de telha‖; este fora o ganhador do sorteio do
segundo bungalow construído por ―A Construtora‖ naquela rua. É possível identificar
também que Altenesch igualmente ocupava residência naquela rua, em ―casa de
telha‖ pertencente à Senhora Flora Penna Nascimento. Provavelmente, esta casa
115
PORTO, 2003, p. 49.
116
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju,
5 maio 1936, ano XVIII, n. 6467, p. 3-4.
117
Alugados pelos Srs. Francisco Moreira e Juliano Simões.
75
seja a de número 85, já que este é um dos endereços que aparece em referências
ao seu escritório118. Estas residências estão listadas próximas umas às outras, o que
leva a deduzir que todas estivessem localizadas no trecho compreendido entre as
Ruas Itabaiana e Nossa Senhora da Glória (atual Rua Dom José Thomaz), já que
este é justamente o trecho dos dois festejados bungalows de Apenburg e do
bungalow de Francisco Freitas. Esta dedução parece ainda mais precisa ao se
observar que neste ponto da lista também se encontra a ―Casa Palacete‖ de
propriedade do Estado, à época ocupada pelo Departamento de Saúde Pública e
hoje o Palácio da Polícia Civil, justamente localizado naquele trecho da rua.
Fotografias de quatro dos bungalows construídos por Altenesch na Rua Vila
Nova, dentre os quais está um dos pertencentes à Apenburg — aquele que hoje
está sob o número 521 —, aparecem em duas publicações de 1935: uma no
Almanack de Sergipe para aquele ano119 e a outra na edição de novembro da revista
Renascença120, editada em Aracaju. Ambas as publicações, de cunho
evidentemente publicitário sobre o trabalho de Altenesch, trazem esta tipologia
residencial como a grande contribuição do construtor alemão para o progresso e
modernização da cidade, como pode ser visto a seguir:
É um facto. Todo mundo vê. Toda gente sabe. Isso aqui não é
philosophia. Nem politica. As coisas estão ahi se vendo. Aracajú
progride... Vai prá diante (grifo nosso). A menina de Gumercindo
não usa mais tamancos — não. Aracajú está se modernizando
(grifo nosso) cada vez mais. É um facto. Não se discute.
Progredindo (grifo nosso). Mais ruas calçadas. E os particulares
fazendo predios bonitos. „Bungalows‟ (grifo nosso) que atraem os
olhares da gente. E a gente fica satisfeita, se lembrando que isso é
Aracajú. A Aracajú encantada de sempre. A Aracajú adiantada de
hoje (grifo nosso). Que casinhas lindas! Parece romance. Mas é
118
Nos pequenos textos publicitários encontrados nas supracitadas edições da revista Novidade de
1936 é possível encontrar duas referências para endereços do escritório de Altenesch: na edição de
fevereiro, o endereço é o sobrado de número 72, na Avenida Rio Brando (Cf. H. O. ARENDT Von
Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; figura 05); na edição de abril, o endereço é o número 85 da Rua
Vila Nova (Cf. H. A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; figura 06). O sobrado da
Avenida Rio Branco teria sido a primeira localização de seu escritório, como é indicado em texto
presente em edição de 1935 da revista Renacença (Cf. ARCHITECTOS modernos, loc. cit.; Anexo D).
A partir de meados de 1936 este endereço teria mudado para as proximidades de seus bungalows na
Rua Vila Nova. Não é possível identificar se ele teria ficado nesta localização até sua partida de
Aracaju, mas em fotografia da obra da Associação Atlética de Sergipe localizada na revista
comemorativa dos dois anos da Interventoria de Eronides de Carvalho, de 1937, é possível identificar
este endereço. Cf. SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de
Carvalho. São Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
119
ARACAJÚ Progride. Almanack de Serpipe para 1935. Aracaju: Sociedade Editora Sergipana,
1935, ano 9, n. 5, p. 213-214. Cf. Anexo E.
120
ARCHITECTOS modernos, loc. cit. Cf. Anexo D.
76
121
ARACAJÚ Progride, loc. cit.
122
ARCHITECTOS modernos, loc. cit.
123
PORTO, 2003, p. 25.
124
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; H. A. ARENDT Von Altenesch:
Engenheiro Civil, loc. cit.
77
O edifício comercial, cuja localização à Rua Itabaiana não foi possível identificar, era
um edifício térreo, alinhado com o logradouro, e, pelo que se compreende da
fotografia, apresentava uma fachada de ornamentação simplificada, composta por
frisos na base e no coroamento. Quanto às duas residências citadas, são
indicadoras da vinculação do alemão às expressões estéticas de vocação
ornamental próprias da época.
Como afirma Porto125, a residência do Dr. Carvalho Neto foi reformada por
Altenesch em 1934, que ―trocou o eclético de porão alto por um pesado colonial, não
um colonial brasileiro, mas o colonial hispano-americano‖. Não mais existente, a
residência estava localizada à esquina da Rua Pacatuba com a Rua Estância. Ela é
possivelmente, assim como também parece ser a residência do Coronel Rezende,
dos primeiros exemplos destas residências que Porto associa à expressão
―Missões‖126, mas que depois etiqueta como ―alteneschiano‖127. De acordo com
Porto, esta linguagem fez grande sucesso nas ruas de Aracaju, e além das inúmeras
obras do alemão, outros profissionais vieram a ser contagiados. Sem se isentar da
apresentação de seu juízo de valor sobre estas obras, o autor aponta que a
justificativa para a grande adesão popular à ―arquitetura delirante‖ ―alteneschiana‖
125
PORTO, 2003, p. 49.
126
Ibid., loc. cit.
127
Ibid., p. 54.
78
teria sido o apreço dos clientes pela novidade e a suposta pouca instrução estético-
formal destes.
Como indica Porto — e em seu livro ele revela uma parte — na revista
comemorativa do Governo de Eronides de Carvalho há uma montagem com
inúmeras destas residências (figura 09), entre outras linguagens, que ele chama
―alteneschianas‖. De acordo com o autor, boa parte destas obras seria de autoria de
Altenesch, e as demais seriam obras resultantes da influência do alemão sobre
outros profissionais. Neste painel também estão fotografias de residências cuja
linguagem Porto entendeu como ―louvável‖, associáveis a uma plástica arquitetônica
de linhas mais limpas, geométricas. Nesta estética, que Altenesch adotava ―quando
o cliente não era ‗tupiniquim‘‖128, pelo julgamento de Porto, as intervenções foram
mais pontuais. Porto indica a residência Deoclides Azevedo, na Rua Itabaiana129, a
residência Gervásio Prata (Rua Boquim, número 67) e a residência Flávio Prado
(Praça Camerino, número 101). Assoma-se a esse grupo a residência Torquato
Fontes (Avenida Barão de Maruim, número 565) conforme indicado por Rodomar130.
128
PORTO, loc. cit.
129
Ao longo da pesquisa não foi encontrada nenhuma informação referente à residência Deoclides
Azevedo que contribuíssem na compreensão de sua compleição.
130
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
79
Nas pesquisas para este trabalho foi possível localizar informações que
revelam uma atuação ampliada do construtor alemão, assim como é indicada pela
lista de serviços oferecidos por seu escritório, transcrita anteriormente. Esta atuação
ampliada está refletida em projetos e obras desenvolvidas para o âmbito público e
institucional. Um tópico identificado e que possibilita o alargamento da compreensão
sobre a inserção e continuidade do alemão nas práticas profissionais da arquitetura
e engenharia civil em Aracaju foi a sua participação em concorrências públicas
para projetos e construções lançadas pelos governos estadual e municipal. Há duas
concorrências, particularmente, que são eficazes em revelar como Altenesch não só
esteve envolvido em projetos de arquitetura, mas também naqueles de
infraestrutura, vinculáveis ao campo da engenharia civil propriamente dita. Estas
concorrências foram as referentes a projeto para construção de um cais de
proteção da Praia 13 de julho e a anteprojetos de quatro “obras d‟arte
especiaes, em concreto armado”, referentes a projetos para pontes sobre os rios
Sergipe (município de Riachuelo), Piauí (município de Boquim), Vasa-Barris
(município de Itaporanga) e Japaratuba (município de Japaratuba).
A concorrência para o projeto para a praia 13 de julho foi aberto em 27 de
janeiro de 1936138 e previa um cais de proteção com extensão de 800 metros, no
trecho compreendido entre o Depósito de Inflamáveis, ou Carvão139, até o rio
Tramandahy140. Concorreram as firmas Emilio Odebrecht & Cia. e Christiani &
Nielsen141, o construtor Manuel Franklin da Rocha e o próprio Altenesch. A
documentação entregue pelo alemão continha um memorial descritivo dos projetos,
uma planta de seção transversal da avenida marginal, planta da análise estática do
138
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas: Edital de concurrencia para apresentação de projectos
para a construcção de um caes de protecção ao longo da praia ―13 de Julho‖, em Aracaju (Estuario
do Rio Sergipe). Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 29 jan. 1936, ano XVIII, n. 6393, p.
226.
139
O Depósito de Inflamáveis localizava-se nas imediações de onde hoje se encontram as
instalações do Iate Clube de Aracaju.
140
O riacho Tramandaí, convertido em canal, ainda existe e cruza a Avenida Beira Mar na altura do
início da Avenida Francisco Porto.
141
A firma Emilio Odebrecht & Cia. tinha sua sede em Salvador, Bahia, e era comumente
representada em Sergipe pelo engenheiro Eugênio Odebrecht. A firma Christiani & Nielsen, sediadas
na então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, costumava ser representada em Sergipe pelo
engenheiro Hans Jensen Cristiensen. Cf. SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Ata da reunião da
comissão designada para o recebimento de propostas para a construção do Palacio das Letras.
Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 12 maio 1934, ano XVI, n. 5957, p. 1427-1428.
81
perfil do cais com respectivos cálculos, planta do perfil do cais e paramento e planta
da avenida marginal142.
O edital para o concurso dos anteprojetos das quatro pontes foi lançado em
quatro de março também do ano de 1936 e previa duas pontes para vãos livres de
50 metros (rios Sergipe e Piauí), outra para 40 metros (rio Japaratura) e outra para
30 metros de vão (rio Vaza-Barris)143. Foram apresentadas três propostas,
entregues sob pseudónimos, e à reunião de entrega dos anteprojetos
compareceram dois dos concorrentes, os engenheiros Eugênio Odebrecht e
Oswaldo Cohin Ribeiro, representantes da firma Emilio Odebrecht & Cia. e
Altenesch144.
Em nenhum dos casos, Altenesch saiu vitorioso já que ambos os editais de
projeto e anteprojeto foram vencidos pela firma Christiani & Nielsen145. O cais da 13
de julho foi construído pela firma Emilio Odebrecht & Cia e no termo de contrato para
a construção é possível notar que o projeto a ser construído é o de autoria do
engenheiro civil Oswaldo Cohin Ribeiro, integrante da própria Odebrecht, e não o
projeto originalmente vencedor da Christiani & Nielsen146. O motivo que levou a essa
mudança nos projetos não foi identificado. Aquele cais foi construído, portanto, pela
Odebrecht e inaugurado em princípios de abril de 1937, como parte integrante das
comemorações de dois anos de governo de Eronides Carvalho147. Com relação às
quatro pontes em concreto armado, a firma Christiani & Nielsen não só venceu o
concurso dos anteprojetos, como também foi a contratada para a execução
daquelas obras148. Ainda que Altenesch não tenha obtido sucesso nestas duas
142
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 14 mar.
1936, ano XVIII, n. 6430, p. 510-511.
143
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Edital de concurso de ante-projectos para a construcção,
no Estado, de obras d‘artes especiaes, em concreto armado. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 7 mar.1936, ano XVIII, n. 6424, p. 471.
144
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Acta da reunião da comissão designada para
recebimento dos ante-projetos de quatro obras d‘arte especiaes, a serem construídas no Estado, de
accôrdo com o edital de concurrencia desta Directoria, de 21 de Fevereiro de 1936. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, N. 6459, p. 734.
145
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Mensagem Apresentada pelo Governador do Estado de
Sergipe, á Assembléa Legislativa do Estado, em 7 de setembro de 1936. Diario Official do Estado
de Sergipe, Aracaju, 17 set. 1936, ano XVIII, n. 6572, p. 2170.
146
SERGIPE. Directoria de Finanças. Termo de contracto entre o Estado de Sergipe e a firma Emilio
Odebrecht & Cia., para a construcção de oitocentos e cinco metros de caes de saneamento e
proteção da praia ―13 de julho‖, nesta Capital. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 20 set.
1936, ano XVIII, n. 6575, p. 2212-2213.
147
NOTICIÁRIO. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 4 abr. 1937, ano XIX, n. 6730, p.
703.
148
SERGIPE. Expediente do Governador. Requerimentos despachados. Diário Official do Estado
de Sergipe. Aracaju, 11 nov. 1936, ano XVIII, n. 6617 p. 2184.
82
149
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas do Estado de Sergipe. Edital de concurrencia para a
construção do Palacio das Letras, á praça Fausto Cardoso, nesta capital. Diario Oficial do Estado
de Sergipe, Aracaju, 10 abr. 1934, ano XVI, n. 5934, p. 1085.
150
SERGIPE, maio 1934, loc. cit.
151
SERGIPE. Expediente da Interventoria. Oficio recebido. Diario Oficial do Estado de Sergipe,
Aracaju, 2 jun. 1934, ano XVI, n. 5973, p. 1635-1636.
152
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas do Estado de Sergipe. Edital de concurrencia para a
apresentação de projetos do ―Palacio das Letras‖, á praça Fausto Cardoso, nesta capital. Diario
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 15 jun. 1934, ano XVI, n. 5984, p. 1803.
153
SERGIPE. Expediente da Interventoria. Oficios despachados. Diario Oficial do Estado de
Sergipe, Aracaju, 25 jul. 1934, ano XVI, n. 6016, p. 2277-2278.
154
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Reunião da Comissão designada para receber, abrir e
julgar as propostas de construção do ―Palacio das Letras‖. Diario Oficial do Estado de Sergipe,
Aracaju, 4 set. 1934, ano XVI, n. 6095, p. 2805.
83
Figura 10 – Desenho da
Fachada da Biblioteca Pública
do Estado de Sergipe.
155
NOTICIARIO. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 6 out. 1935, ano XVII, n. 6306, p.
4803-4804.
156
INAUGURADO o novo predio da Bibliotheca Publica: A magnifica obra edificada por Emilio
Odebrecht & Cia. Sergipe-jornal, Aracaju, 16 nov.1936, ano XVII, n. 8491, p. 1.
157
Nas visitas ao acervo da CEHOP, realizadas em julho de 2017, além dos desenhos da Biblioteca
Pública, foi possível encontrar dois projetos para o Palácio das Letras; um de autoria de Altenesch e
outro proposto por Emilio Odebrecht & Cia com a assinatura do arquiteto Carlos Wüstefeld.
84
158
NUNES, Verônica Maria Meneses; HELBING, Rosemary Bezerra. Manifestações da Arte Déco
em Aracaju. Aracaju, 1988, p. 3; SANTOS, 2002, p. 44; NERY, Juliana Cardoso. Registros: as
residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e 60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil,
2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos: USP/DOCOMO, 2003. Disponível em:
<http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018;
BARRETO, fev. 2004.
159
PORTO, 2003, p. 21 et. seq..
160
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 2: Chama concorrentes para a construcção de um
quartel para a Companhia de Bombeiros, como abaixo se declara. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 15 jan. 1936, ano XVIII, n. 6381, p. 125.
161
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 6: Chama concorrentes para a apresentação de
projectos para a construcção do quartel da Companhia de Bombeiros. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 29 fev. 1936, ano XVIII, n. 6418, p. 420.
162
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Officios expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 15 abr. 1936, ano XVIII, n. 6452, p.667.
163
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 abr. 1936, ano
XVIII, n. 6464, p.591.
85
164
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 7: Chama concurrente para construcção de Quartel da
Companhia de Bombeiros deste Municipio. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 25 mar.
1936, ano XVIII, n. 6438, p. 571.
165
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Officios expedidos. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, n. 6459, p.734.
166
O GOVERNADOR Eronides Ferreira de Carvalho Foi Recebido Jubilosamente Pelo Povo
Sergipano: O batimento da pedra simbólica do quartel dos Bombeiros Municipais. O Estado de
Sergipe, Aracaju, 3 maio 1936, ano IV, n. 901, p. 2.
167
AS FESTAS de hoje. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 abr. 1937, ano V, n. 1164, p. 1.
168
NUNES; HELBING, loc. cit.; SANTOS, 2002, loc. cit; SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura
moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2011, p. 104.
169
PORTO, 2003, p. 51.
86
que parecem revelar relações contratuais diretas, o que sugere estreitamento dos
laços entre o alemão e os administradores públicos. Esta condição contratual, a que
se fez referência quando se tratou da elaboração do projeto da fachada da estação
ferroviária, no governo de Augusto Maynard, é válida para intervenções do governo
de Eronides de Carvalho, que atribuiu diretamente a Altenesch o papel de delinear o
traçado de pelo menos mais duas obras arquitetônicas do Estado, o Palácio
Serigy170 e a Cidade de Menores “Getúlio Vargas”171. A atribuição destas obras a
Altenesch não é inédita, já compõem parte da narrativa mais consolidada acerca de
sua jornada profissional em Sergipe, como pode ser conferido na bibliografia. Assim,
pretende-se aqui corroborar, a partir das novas fontes que foram encontradas, com a
escrita desta trajetória, aprofundando-a quando possível e revelando outras
nuances.
―A planta do Palácio ‗Serigy‘ fui buscá-la à reputada competência artistica e
profissional do engenheiro civil e arquiteto sr. Von Altenesch‖172, relata Eronides de
Carvalho em seu discurso de inauguração daquele edifício. De acordo com o
mesmo, as obras tiveram início em 15 de junho de 1936173. Inicialmente, a reforma a
ser feita a partir das ruinas da antiga cadeia, localizada na Praça da Alfândega (atual
Praça General Valadão), seria destinada ao alojamento dos serviços agrícolas e a
Polícia Civil, incluindo a corporação da Guarda Civil e a Inspetoria de Veículos.
Contudo, posteriormente se resolveu instalar o Centro de Saúde nos dois primeiros
andares, mantendo no terceiro as repartições estaduais e federais de Agricultura do
Estado174. Em texto encontrado em edição do Correio de Aracaju de 1937175, foi
encontrada a confirmação de como foi caracterizada a contratação de Altenesch
para a obra. É afirmado que ―orçada em 512:000$000, está sendo executada sem
nenhuma concurrencia publica, o que é prohibido pelo código de contabilidade da
União, dado o seu valor superior a 10:000$000‖. Este texto, que se apresenta
enquanto uma crítica à administração do governador Eronides de Carvalho e sua
170
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39; NUNES; HELBING, loc. cit.; SANTOS, 2002, loc. cit.;
PORTO, 2003, p. 53; NERY, 2003; BARRETO, nov. 2004; SANTOS, 2011, loc. cit.
171
PORTO, op. cit., p. 50; BARRETO, nov. 2004; BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da
infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 46.
172
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy.
Noticiário. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3255.
173
CARVALHO, 1936, loc. cit.
174
CARVALHO, 1938, loc. cit.
175
PELA Directoria de Obras. Correio de Aracaju, Aracaju, 28 jun. 1937, ano XXXI, n. 775, p. 4.
87
176
Até a data de sua inauguração, ocorrida em 28 de novembro de 1938, o Palácio Serigy custou ao
Estado um total de 633:891$713. Cf. CARVALHO, 1938, loc. cit.
177
SERGIPE. Poder Executivo. Officios despachados. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 28 fev. 1937, ano XIX, n. 6703, p. 391.
178
SERGIPE. Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas: Officios expedidos. Diário
Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 abr. 1937, ano XIX, n. 6999, p. 856; SERGIPE.
Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas: Officios expedidos. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937, ano XIX, n. 7016, p. 1017.
179
CARVALHO, 1938, loc. cit.
180
DANTAS, 2012, p. 130.
88
Figura 11 – Sede do
IHGSE e da Rádio Difusora
em construção. Figura 12 – Palácio Serigy durante a reforma.
181
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007, p. 249.
182
DÓRIA, 1974 apud DANTAS, 2012, p. 123.
183
BISPO, 2007, p. 56
184
CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f.
(Acervo do APES, referência para busca: BR SEAPES REL V15 D15).
89
185
CABRAL, Mario. Cidade de Menores. Folha da Manhã, Aracaju, 9 jun. 1940, ano III, n. 689.
186
MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. Aracaju: Editora J. Andrade, 1999, p. 42.
187
SERGIPE. Directoria do Thesouro. Copia do termo additivo ao contracto lavrado entre o Estado de
Sergipe e a firma Christiani & Nielsen. Diário Official do Estado de Sergipe. Aracaju, 22 de maio de
1937. Ano XIX, n. 7021, p. 1062.
90
188
MAIS um grande melhoramento devido à Administração do Governador Eronides de Carvalho. O
Estado de Sergipe. Aracaju, 17 nov. 1937, ano V, n. 1345.
189
SANTOS, 2002, loc. cit.; NERY, 2003; BARRETO, fev. 2004; Id., nov. 2004; SANTOS, 2011, loc.
cit.
190
SANTOS, 2002, loc. cit.
191
A INAUGURAÇÃO no domingo 30 do corrente mês dos campos de tênis da Associação Atletica de
Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 ago. 1936, ano IV, n. 985, p. 1.
192
ASSOCIAÇÃO Atletica de Sergipe (Nota Oficial). O Estado de Sergipe, Aracaju, 6 fev. 1937, ano
V, n. 1422.
91
Esta obra, que se consistiu em uma reforma de prédio existente, foi iniciada em
maio de 1938 e no final do mesmo ano a reconstrução do prédio estava prestes a
ser finalizada194.
Duas outras obras têm sido atribuídas a Altenesch: o Santuário Nossa
Senhora Menina195 (figura 14) e o Palácio de Veraneio do Governo na Atalaia196
(figura 15). No entanto, assim como para a atribuição referente à remodelação da
―Ponte do Imperador‖, não foi possível localizar qualquer indício documental que
resultasse em confirmações. Ambos os edifícios, de fato, são vinculáveis às
linguagens arquitetônicas utilizadas pelo alemão: o Santuário Nossa Senhora
Menina apresenta uma composição de fachada que se aproxima daquelas presentes
nas obras públicas dos primeiros anos de Altenesch em Aracaju, como a sede do
IHGSE, da Companha Rovel da Baía S.A. e o projeto do Palácio das Letras. Já o
Palácio de Veraneio apresenta uma morfologia que remete aos bungalows do
alemão, com seus telhados de alta inclinação, e sua arcada circular frontal se
aproxima daquela utilizada em um dos pavilhões-lares da Cidade de Menores. Caso
193
A FOLHA nos Sports: Mais uma afirmação de progresso do ―Cotinguiba Sport Club‖. Folha da
Manhã, Aracaju, 3 ago. 1938, ano I, n. 150, p. 2.
194
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube. Folha da Manhã, Aracaju, 28 dez. 1938, ano I,
n. 269, p. 1.
195
NUNES; HELBING, loc. cit.
196
BRITO NETO, Aquilino José de. “Ao sul de Aracaju...”: memória e história da Atalaia Velha
(1900-1952). 2015. 131 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe,
São Cristóvão, 2015, p. 28-29.
92
tenham sido de sua autoria, seriam obras póstumas, já que ambas foram concluídas
após a sua partida de Aracaju197.
Figura 14 – Santuário
Nossa Senhora Menina. Figura 15 – Palácio do Governo na Atalaia.
Fonte: Autoria não Fonte: WG; ClickSergipe, 24 abril 2018. Disponível em:
identificada [198-?]; <http://www.clicksergipe.com.br/cotidiano/6/41661/governo-
Localizada no acervo do de-sergipe-desativa-palacio-de-veraneio.html> Acesso em:
APMA. 17 jul. 2018.
197
Ao que parece, as obras do Santuário Nossa Senhora Menina foram iniciadas no inicio dos anos
de 1940, como indica notas sobre o arrecadamento de fundos para a sua construção em edições do
jornal Folha da Manhã (Cf. DONATIVOS para as Obras Diocesanas. Folha da Manhã, Aracaju, 5 jan.
1940, ano II, n. 563, p. 4.; DONATIVOS para as Obras Diocesanas. Folha da Manhã, Aracaju, 15 fev.
1940, ano III, n. 595, p. 1). O Santuário foi inaugurado em setembro de 1942 (Cf. FESTA do Santuário
Nossa Senhora Menina inicia hoje. Infonet, Aracaju, 5 nov. 2017, Disponível em: <
http://www.infonet.com.br/noticias/cultura/ler.asp?id=204552> Acesso em: 14 fev. 2018). Sobre o
Palácio de Veraneio do Governo na Atalaia não foi possível encontrar dados mais precisos sobre o
início de suas construções e mesmo sobre sua inauguração, mas esteve em construção ao menos
entre final de 1939 e início de 1941, como foi possível identificar em documentos referentes a recibos
e folhas de pagamentos da Repartição de Obras Públicas do Estado disponíveis no Fundo de Obras
2
e Viação V , volume 06, no APES.
93
198
SANTOS, 2002, p. 41.
199
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Ato nº 38 de 10 de setembro de 1935. Nomeia comissão para
elaborar o ante-projeto do Codigo de Posturas do Municipio. Actos do Governo Municipal e Leis e
Resoluções da Camara Municipal, Aracaju, Est. Graph. J. Lins de Carvalho, 1936, p. 33.
200
SANTOS, 2002, p. 42; Id. Práticas e apropriações na construção do urbano na cidade de
Aracaju/SE. 2007. 144 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) –
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 122.
201
PROBLEMA de Urbanismo. O Estado de Sergipe, Aracaju, 21 jul. 1935, ano III, n. 677, p. 1.
202
DR. LYSANDRO Pereira da Silva. O Estado de Sergipe, Aracaju, 23 jul. 1935, ano III, n. 678, p.
1.
203
O discurso do engenheiro paulista Lisandro Pereira da Silva foi publicado na íntegra pelo jornal O
Estado de Sergipe, dividido nas seis edições do jornal publicadas entre os dias 27 de julho e 02 de
agosto de 1935, sob o título ―Problemas de Urbanismo‖.
204
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Projeto do novo Código de Posturas. O Estado de Sergipe,
Aracaju, 16 out. 1936, ano IV, n. 1033, p. 3; ARACAJU. Prefeitura Municipal. Projeto do novo Código
de Posturas. O Estado de Sergipe, Aracaju, 20 out. 1936, ano IV, n. 1037, p. 3.
94
205
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 37 de 26 de outubro de 1938. Aprova a reforma do
Código de Posturas do Município de Aracajú. Decretos-Leis 1938. Aracaju, Papelaria Lins, p. 37,
1939.
206
2º SALÃO Mixto de Artes. Correio de Aracaju, Aracaju, 6 set. 1935, ano XXIX, n. 418, p. 1.
207
2º SALÃO mixto de artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1935, ano III, n. 711, p. 2.
208
A primeira edição do Salão Mixto de Artes foi organizada pelo pintor José Freire Pinto. Realizada
durante a primeira semana do mês de setembro de 1934 em prédio da Rua Pacatuba, expôs
trabalhos de pintura, cartografia, arquitetura, escultura e artes aplicadas (Cf. 1º SALÃO Mixto de
Artes. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 set. 1934, ano II, n. 434, p. 4; FOI encerrado domingo, o 1º
Salão de Arte Mixta. O Estado de Sergipe, Aracaju, 11 set. 1934, ano II, n. 440, p. 2). Sobre a edição
do salão para o ano de 1936, apenas se identificou que a sua realização foi igualmente no início de
setembro, e que o salão ocupado, desta vez foi aquele do edifício da Maçonaria. Cf. NOTICIARIO.
Diario Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 9 set. 1936, ano XVIII, n. 6565, p. 2089.
95
Cristóvão, a antiga capital do estado de Sergipe 209. A cidade havia sido elevada à
categoria de monumento histórico por Decreto-Lei 94 do Interventor Eronides
Ferreira de Carvalho em 22 de junho de 1938, como primeiro desdobramento em
Sergipe da política de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional instaurada
pelo presidente da República Getúlio Vargas com o Decreto-Lei 25 de 30 de
novembro de 1937210. A comissão em questão era formada pelo bacharel José
Calasans, por Altenesch, pelo secretário da Prefeitura Gabriel Dantas, servindo de
secretário, e o secretário da Justiça e Negócios do Interior do Estado Manuel de
Carvalho Barroso, que ocuparia a posição de presidente da comissão. À comissão
foram designadas as funções de:
[...]
a) Registrar e catalogar todos os edifícios, peças de mobília, etc.,
etc., de reconhecido valor histórico, arquitetônico e arquitetônico-
religioso;
b) Paralizar o processo de destruição e deterioração dos objetos
registrados;
c) Conservar ou restaurar todos os edificios, partes de edificios,
peças de mobília, quadros, etc., etc., de acordo com as
possibilidades e necessidades;
d) Pesquisar sobre a historia regional, com relação aos edificios,
peças de mobília, quadros, etc., etc., como sobre personalidades
legendárias, relacionadas ao local ou aos objetos em questão;
e) Tratar de descobrir o plano primitivo da cidade de São Cristóvão,
ou projetar um novo plano que se enquadre no primitivo indicado
pela disposição dos prédios antigos principais;
f) Rever o código de obras da cidade de São Cristóvão,
modificando-o, se fôr necessário, para adaptá-los os trabalhos da
comissão;
g) Aprovar as plantas de todas as construções que deverão
obedecer, assim, a uma rigorosa estilização [...]211
219
ALTENESCH, loc. cit. Cf. Anexo F.
220
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6. Cf. Anexo G.
221
Anexo C.
99
222
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil, loc. cit.; H. A. ARENDT Von Altenesch:
Engenheiro Civil, loc. cit.
223
ALTENESCH, loc. cit.
224
PORTO, 2003, p. 55.
100
225
PORTO, 2003, p. 21; SANTOS, 2002, p. 65.
226
ARACAJU, 1941, p. 14.
227
SERGIPE. Departamento de Propaganda e Divulgação. Noticiário Oficial. Boletim Mensal,
Aracaju, n. 2, jul. a out. 1940, p. 3.
228
Trecho de entrevista concedida por Murillo Melins para esta pesquisa em 26 de julho de 2017.
229
NUNES; HELBING, loc. cit.; PORTO, 2003, p. 51.
101
1
FRAMPTON, Kenneth. A Genealogy of Modern Architecture: Comparative Critical Analysis of
Build Form. Zurich: Lars Müller Publishers, 2015, p. 28 et seq.
103
2
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39 de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
3
ARCHITECTOS modernos. Renascença, Aracaju, nov. 1935, ano II, n. 7. Cf. Anexo D.
4
ARACAJÚ Progride. Almanack de Serpipe para 1935. Aracaju: Sociedade Editora Sergipana.
1935, ano 9, n. 5, p. 213-214. Cf. Anexo E.
5
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 22.
6
Foram realizadas visitas para levantamento cadastral da residência de número 508 na Rua Duque
de Caxias nos dias 23 de julho de 2017 e 10 de outubro daquele mesmo ano. O levantamento
cadastral foi realizado com o auxílio da arquiteta Marília Ismerim Barreto, neta da proprietária da
casa, a Sra. Joselita (Josefa Batista Barreto, nascida em 1920), e do Sr. Paulo Barreto (já falecido, e
que foi o proprietário, junto com seu irmão Juca Barreto, do já inexistente Cine Rio Branco, na Rua
João Pessoa). Nestas visitas aconteceram conversas informais com o Sr. Carlos Aurélio Barreto
(nascido em 1945) e com as Sras. Cleia Barreto (nascida em 1948) e Cândida Barreto (nascida em
1944), filho e filhas da Sra. Joselita, que fizeram indicações de modificações realizadas na casa ao
longo do tempo e partilharam algumas memórias indicativas do uso e da configuração da
espacialidade. No dia 27 de outubro de 2017 foi realizada uma entrevista gravada com o Sr. Cássio
Barreto (nascido em 1943), também filho da Sra. Joselita, que partilhou suas memórias sobre aquela
residência, mas também contribuiu com informações sobre as outras residências naquele trecho da
rua e sobre proprietários e moradores com quem conviveu ao longo dos anos. Um segundo diálogo
foi travado com o Sr. Cássio Barreto por telefone no dia 23 de março de 2018 para esclarecimentos
acerca da espacialidade e aspectos estruturais e construtivos daquele bungalow.
7
Informação ofertada pelo Sr. Cássio Barreto, em entrevista realizada no dia 27 de outubro de 2017.
104
8
A interação com o Dr. Humberto Lima de Aragão Filho foi mediada por seu filho, o publicitário
Humberto Lima de Aragão Neto, através de e-mails trocados entre os dias 4 de dezembro de 2017 e
22 de março de 2018. As representações das plantas baixas das casas de número 498 e 521 foram
elaboradas pela arquiteta Solange Moura Lima de Aragão, também filha do Dr. Humberto Filho, a
partir das memórias deste. O e-mail utilizado para tal interação foi
<academia.cesar.maciel@gmail.com>.
9
De acordo com o Sr. Cássio Barreto, o Sr. Jayme de Aragão, comerciante no ramo de peças
automobilísticas, teria sido proprietário de ao menos três dos bungalows: os de números 498, 513 e
521. O fotógrafo Humberto, filho de Jayme, residiu e instalou seu estúdio na casa 498 e
posteriormente foi morar com sua irmã Edilde Lima de Aragão na casa 521, onde também havia
residido o próprio Jayme de Aragão. De acordo com informações repassadas pelo Dr. Humberto
Filho, a sua família passou a residir nestes bungalows a partir de 1954, tendo seu pai, o fotógrafo
Humberto, residido naquele de número 498 até 1966 e a sua tia, a Sra. Edilde, até 1983 no bungalow
de número 521. Aquele de número 513, como indicou o Sr. Cássio Barreto, foi residência, por algum
tempo, de um fiscal de rendas da Bahia conhecido como ―Chequinho‖, e posteriormente foi residência
do Dr. Ariosvaldo Machado, médico.
105
Figura 18 – Localização e plantas baixas dos bungalows de números 498, 508 e 521
da Rua Vila Nova.
A parte frontal dos bungalows, aquela que está voltada para a rua,
compreenderia de forma absoluta os ambientes para a vida social, de caráter
público, como as varandas de acesso (1 na figura 18), e as salas (2 na figura 18). Os
banheiros (5 na figura 18) seriam acessados a partir de uma área de circulação (4
na figura 18) — que serviria tanto às zonas íntimas dos quartos quanto às
107
Contudo, sobre a empena houve projeção da cobertura e esta foi formada por uma
estrutura sólida de testeira e forro que envelopou o telhado, também em telha canal
e atribuiu ao arremate deste plano da fachada uma demarcação legível e
proeminente da composição angular da coberta. Estes elementos de acabamento,
que serviam para esconder o madeiramento do telhado, costumavam ser feitos em
estuque aplicado à tela de arame esticada em terrugamento10. Aquela composição
angular foi repetida nas vergas das envasaduras de acesso à varanda, tanto a
frontal quando as laterais, e mesmo naquela abertura que indica o acesso de
veículos, recuada relativamente aos planos da edificação e construída como
fechamento parcial para o recuo lateral esquerdo.
10
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Alvenaria Burguesa. São Paulo: Nobel, 1985, p. 179.
111
11
Os pilotis existentes, que podem ser vistos na figura 27, são frutos de uma intervenção recente,
pela demanda de reforço na sustentação da marquise após a construção de um edifício vizinho ter
colocado em risco a estabilidade estrutural do bungalow.
114
Figura 26 – Cobertura da
Figura 25 – Parte posterior da parte posterior do bungalow
fachada lateral do bungalow de número 498, vista do
de número 508, com bungalow de número 508.
platibanda em meias-luas Presença de platibanda em
preenchidas. meias-luas preenchidas.
Figura 28 – Volume em
formato de bay window na
Figura 27 – Varanda de acesso do bungalow de fachada do bungalow de
número 508. número 508.
12
SERGIPE (revista). Revista Comemorativa do Governo de Eronides Ferreira de Carvalho. São
Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
116
Figura 29 – Residência
(inexistente) provavelmente
localizada na Avenida Barão de
Maruim.
bungalow 508. O muro entre estes dois bungalows, os de número 513 e 521,
também assumia um caráter ornamental, com escalonamento irregular e
descendente na direção do logradouro e acabamento boleado. Com relação às
muretas dos bungalows de números 498 e 508 (figura 23), percebe-se que eram
similares e arrematadas por meias-luas preenchidas, tais quais aquelas presentes
na platibanda relativa à cobertura das partes posteriores dos mesmos. A mesma
morfologia foi utilizada na mureta que os dividia no recuo frontal.
Com relação aos aspectos construtivos apenas foi possível facear parte da
realidade do bungalow de número 508, já que foi o único a que se teve acesso à
materialidade. De acordo com o Sr. Cássio Barreto, este bungalow foi erguido com
alvenaria de tijolos maciços, em um sistema de alvenaria estrutural. A presença
de armações de ferro estraria restrita, portanto às estruturas de sustentação da
marquise em balanço na varanda de acesso. Não apenas a estrutura da própria
marquise teria sido construída a partir de uma trama de ferro, como as mãos
francesas que a sustentam estariam também firmadas por elementos internos de
ferro e estrutura de sustentação na parede em que foram engastadas. Estes
elementos de sustentação são notados pela presença de volumes proeminentes nas
arestas das paredes da sala de entrada imediatamente atrás das mãos francesas
(figura 30). Os demais bungalows, que não apresentam nenhum elemento com
demanda de reforço estrutural como aquela marquise, possivelmente teriam sido
completamente construídos a partir da mesma técnica de alvernaria estrutural a
partir do uso de tijolos maciços. A construção em alvenaria estrutural, um sistema
que não comporta grandes vãos, oferecia à época uma boa resposta às demandas
colocadas por construções de pequena escala e grande compartimentação, como é
o caso dos bungalows. Desta forma, pode-se deduzir que as tecnologias
modernas do cimento/concreto armado, quando usadas nesses bungalows, foram
feitas com parcimônia e teriam sido utilizadas apenas em situações em que estas
tecnologias se faziam estritamente necessárias, como na marquise em balanço do
bungalow de número 508, elemento este que atribuía modernidade ao bungalow,
ainda que esta modernidade não falasse de toda a constituição da edificação.
Com relação à ambiência e materiais de acabamento presentes nos
bungalows, novamente a análise foi baseada na experiência das visitas feitas ao
bungalow de número 508. Assim, algumas características da materialidade de seus
interiores puderam ser observadas. Outros aspectos, não resistentes ao tempo,
118
foram evocadas pelos integrantes da família ali residente. Sobre as superfícies, foi
possível notar que o piso da varanda de acesso foi revestido com placas de granilite,
paginado em damier (figura 27). O piso dos ambientes sociais e privados, ao menos
das salas e do primeiro quarto, que ainda guardam sua originalidade, foi feito em
parquet, como trios de tacos compondo igualmente um padrão em damier (figura
32). Os tetos, forros feitos em estuque, proporcionam um pé direito de aproximados
3 metros e 30 centímetros. As arestas destes forros junto às paredes foram
suavizadas por abaulamento e o mesmo tratamento foi dado às arestas entre as
paredes (figura 33). Interessante observar que esse abaulamento também foi
aplicado nas arestas das vergas, ombreiras e peitoris das janelas, bem como nas
arestas da mão francesa de sustentação da marquise da varanda de acesso.
Figura 30 – Volume
chanfrado na aresta entre
paredes denuncia estrutura
de sustentação à mão Figura 31 – Espaço interno Figura 32 – Parquet com
francesa da marquise de do volume em bay window tacos em padrão damier no
entrada. do bungalow de número 508. bungalow número 508.
No trecho transcrito acima, uma palavra chama atenção para além da ênfase
na questão estética: conforto. O texto não deixa claro quais aspectos das
construções estariam relacionados a este estado de conforto, mas é possível
deduzir que se tratasse de questões relacionadas à salubridade da edificação.
Desde finais do século XIX, a morada urbana brasileira passou por transformações
devido ao ―progresso das condições higiênicas e desprestígio dos velhos hábitos de
dormir em alcovas, sem ventilação e insolação direta‖14, em que pesaram
principalmente a busca por um descolamento da construção dos limites dos
terrenos, possibilitando a entrada do vento e luz naturais nos ambientes. Sobre esta
questão do conforto ambiental dos bungalows, foi possível conferir, a partir da visita
feita àquele de número 508, que houve uma atenção a estes tópicos. Identificaram-
se não só a presença de aberturas voltadas para o exterior em todos os
cômodos, mas também a presença de pequenas janelas retangulares — quais
respiros — de caixilharia vazada, dispostas aos pares entre a sala de acesso e o
primeiro quarto, assim como também ainda presentes acima da porta deste quarto e
das portas da área central de circulação (figuras 33 e 34). Estes elementos parecem
indicar a busca por uma solução para a circulação do ar entre os ambientes.
Contudo, ao que parece, a aplicação de princípios de conforto ambiental nos
projetos destes bungalows estaria muito mais relacionada com o seguimento de
determinadas ideias incorporadas e aplicadas genericamente nas práticas
construtivas da época do que propriamente resultados de uma reflexão sobre a
relação entre o objeto arquitetônico, seu entorno e suas condições climáticas
específicas, como a insolação e vento incidentes no sítio. Este fator é perceptível
quando se observa, para o bungalow de número 508, que os seus cômodos de
maior permanência — os quartos e a sala de acesso, para os quais seria desejável
evitar a insolação poente — foram dispostos justamente na face oeste da edificação.
13
ARCHITECTOS modernos, loc. cit.
14
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 11. ed. São Paulo: Perspectivas,
2011, p. 49.
120
Esta questão foi indicada pelos integrantes da família Barreto, que destacaram, em
suas falas, a questão do calor dentro dos cômodos daquele bungalow.
15
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
16
FILHO, Alencar. Aracaju etc & tal. Aracaju: Edições Desacato, 1980, p. 105.
17
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 45.
18
Ibid., loc. cit.
19
Anexo C.
121
20
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 14 mar.
1936, ano XVIII, n. 6430, p. 510-511.
21
SERGIPE. Directoria de Obras Publicas. Acta da reunião da comissão designada para recebimento
dos ante-projetos de quatro obras d‘arte especiaes, a serem construídas no Estado, de accôrdo com
o edital de concurrencia desta Directoria, de 21 de Fevereiro de 1936. Diário Official do Estado de
Sergipe, Aracaju, 24 abr. 1936, ano XVIII, N. 6459, p. 734.
22
SEGAWA, Hugo. Clave de Sol: notas sobre a história do conforto ambiental. Arquitextos, São
Paulo, ano 07, n. 073.03, Vitruvius, jun. 2006 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.073/345>. Acesso em: 17 jul. 2018.
23
Ibid., loc. cit.
122
cidade, são obras pautadas sobre esquemas tradicionais. Como indicado, desde
finais do século XIX, mas de forma mais efetiva entre a Primeira e a Segunda
Guerra Mundiais24, a morada brasileira sofreu alterações substanciais. Estas
modificações referem-se principalmente ao que concerne à sua implantação no lote,
com a adesão aos recuos para melhor aproveitamento, por questões higiênicas, da
ventilação e iluminação naturais. Contudo, como afirma Reis Filho25, a permanência
de hábitos sociais ainda atrelados a uma mentalidade colonial e escravista,
associada a uma lentidão na dissociação de tecnologias construtivas arcaicas, faz
com que a morada brasileira da época tenha sua espacialidade pautada por rígidos
esquemas.
Conforme Reis Filho26, é possível dizer que as residências dessa época não
apresentavam alterações tecnológicas fundamentais. Apenas, pouco a pouco
equipamentos e materiais inicialmente importados foram substituídos por produtos
nacionais. No entanto, manteve-se a essencialidade das matérias-primas da
construção: o tijolo cerâmico. Como visto na análise dos bungalows, a técnica
construtiva utilizada com paredes estruturais de tijolo, por seu caráter de rigidez,
levou a um encaminhamento compartimentado do espaço interno da edificação e
também a uma volumetria estanque. O agenciamento destes espaços, por sua vez,
foi eficaz em reproduzir uma noção hierárquica da espacialidade pautada na
valorização de um determinado setor em detrimento de outro. Sobre a reprodução
deste padrão nas residências mais modestas, em que estão inscritos os bungalows
aqui analisados, Reis Filho afirma que:
24
REIS FILHO, 2011, p. 64.
25
Ibid., p. 72.
26
Ibid., p. 78.
123
27
REIS FILHO, 2011, p. 76.
28
CIGLIANO, Jan. Bungalow: American Restoration style. Layton: Gibbs Smith, 1998, p. 10.
124
29
CIGLIANO, 1998, p. 14.
30
Ibid., p. 17 et seq.
125
31
NERY, Falas e ecos na formação da arquitetura moderna no Brasil. 2013. 463 f. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2013, p. 134.
32
Ibid., p. 146.
33
VERÍSSIMO, Francisco Salvador; BITTAR, William Seba Malmann. 500 anos da casa no Brasil:
As transformações da arquitetura e da utilização do espaço da moradia. Rio de Janeiro: Ediouro,
1999, p. 74.
126
Aracajú, que começou de fazer a sua ‗toilete‘ encantadora pelos últimos figurinos de
Nova York‖34. Brevemente poderiam ser indicados, a guisa de elucidação: os planos
texturados, sem maiores ornamentos, a fileira de telha canal sobre a empena e o
madeiramento fingido com cachorros e vigas falsas do bungalow de número 513
(figuras 19 e 20), associáveis às estéticas rústicas dos estilos Mission Revival e
Spanish Colonial Revival; o enxaimel fingido do bungalow de número 498 (figuras
23 e 24), associável ao English Tudor Revival Style, bem como os pilares da
varanda do mesmo, com secção quadrada e o estreitamento no sentido da altura,
similares a pilares dos acessos de muitos dos bungalows estadunidenses nos estilos
California e Crafstman. A cobertura com a água interrompida e a projeção da bay
window no bungalow de número 508 (figura 23) revela uma adoção de elementos
presentes do English Tudor Revival e mesmo no Queen-Anne. Este bungalow, e o
de número 521 (figuras 21 e 22), associam-se a boa parte daqueles estilos pela
presença das coberturas pitorescas com águas aparentes, mas apresentam padrões
ornamentais geométricos e indicadores da associação a modernos sistemas
construtivos, como a marquise em balanço do bungalow de número 508, que os
distanciam das composições tradicionais dos bungalows estadunidenses,
aproximando-os de experimentações mais atualizadas, menos suburbanas e mais
cosmopolitas. É possível perceber, no entanto, que os bungalows de Altenesch,
ainda que sejam influenciados pelas cartilhas estilísticas importadas, apresentam,
pela diversidade dos elementos decorativos utilizados e seu livre agenciamento nas
fachadas, uma interpretação e releitura muito pessoais. Há, inclusive, elementos
presentes em suas fachadas que parecem compor um repertório próprio, como as
meias-luas preenchidas presentes nas platibandas laterais e nas muretas frontais
dos bungalows de número 508 e 498 (figuras 23, 25 e 26), cujo uso decorativo não
pôde ser identificado, durante a pesquisa para este trabalho, em nenhuma outra
obra.
Voltando às modernidades geométricas e técnicas presentes nos bungalows
de números 508 e 521, em sua análise é possível extrair ainda sentido a esta
vinculação de Altenesch a um suposto toilet nova-iorquino. Nova Iorque, assim como
Chicago, entre os anos 1920 e 1930, com a proliferação dos seus arranha-céus,
recebeu para a maioria destes edifícios um tratamento plástico de motivos
34
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6.
127
35
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 54.
36
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 266.
37
CURTIS, William. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p. 223.
38
CONDE, Luiz Paulo Fernandez. Art Déco: modernidade antes do movimento moderno. In: Art Déco
na América Latina: 1º Seminário Internacional. Anais... Rio de Janeiro: Prefeitura Municipal do Rio de
Janeiro/SMU; PUC/RJ, 1997, p. 68-73, p.71.
39
FRAMPTON, op. cit., p. 267.
128
40
PORTO, 2003, p. 24.
41
ARACAJU. Intendência Municipal. Lei nº 404 de 15 de julho de 1930. Estabelece condições para as
construções de casa do tipo bungalow. Leis do Conselho Municipal do anno de 1930. Aracaju:
SOARES & Cia editores, 1931, p. 7-8.
42
Ibid., loc. cit.
129
de 192643, vigente naquele momento, previa que deveria haver alinhamento das
fachadas das residências com o alinhamento da rua e as tipologias associadas aos
chalets ou quaisquer ―construções rurais‖ só poderiam ser construídas dentro do
perímetro urbano se respeitassem um recuo frontal de seis metros. Em 1930,
contudo, a supracitada Lei nº 40, ao abordar o tema do bungalow, suavizou a
necessidade deste amplo (e proibitivo, em termos do aproveitamento do solo
urbano) recuo, reduzindo para dois metros a distância entre as construções e os
logradouros. A mudança ocorreu também no que se refere ao pé direito mínimo —
enquanto no Código de Posturas de 1926 o pé direito mínimo é de quatro metros,
para a nova lei de 1930, foi aceito um pé direito mínimo de 3,20 metros.
Altenesch, desta forma, encontrou, com sua chegada em Aracaju, um contexto
legal já adequado à construção de bungalows. Esta adequação foi consequência
das demandas por construção das novas tipologias que passaram a ocupar a cidade
à época, afastadas morfologicamente das casas alinhadas com a rua, padrão
instituído nos Códigos de Postura iniciais de Aracaju e que conformaram a cidade no
seu arruamento inicial. Corrobora-se assim o que foi concluído por Porto44: de que
Altenesch em vez de inovador, no que concerne à inserção da tipologia do bungalow
em Aracaju propriamente dita, poderia ser compreendido como o grande
propagador, tendo-se em vista o grande número de projetos, e também, pela direta
influência provocada nos demais projetistas. Contudo, é possível considerar que
Altenesch tenha sido inovador no que diz respeito à composição de seus bungalows,
tanto espacialmente, quando nos aspectos técnicos e estéticos.
Esta questão dos ajustes na legislação urbana para a regularização da
presença dos bungalows revela uma mudança de postura diante do lote urbano e da
ocupação da cidade. Poderia ser compreendido como um sintoma pontual e
adaptado de práticas urbanísticas baseadas em noções de uma ―cidade jardim‖,
como propostas por Howard45, ainda que esvaziadas de seus princípios sociais e
econômicos, como a ideia da autossuficiência urbana. A aproximação com as teorias
inglesas da ―cidade jardim‖ se deu nas concepções paisagísticas, às noções de
integração da cidade com aspectos do campo.
43
SERGIPE. Código de Posturas do Município de Aracajú: Approvado pela Lei do Conselho
Municipal nº 338 de 6 de Setembro de 1926. Aracaju: Typographia Regina, 1927.
44
PORTO, loc. cit.
45
BENEVOLO. Leonardo. História da Arquitetura Moderna. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012, p.
362.
130
46
VARIAS. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 set. 1936, ano IV, n. 1011, p. 1.
131
nosso) [...] Cidade alegre, cheia de sol, com o seu casario quase
todo renovado (grifo nosso), Aracaju está fadada a ser um das mais
encantadoras cidades do País, mercê ainda da estética de suas ruas
retilíneas, prazer que a bem poucas capitais brasileiras é dado ter.
47
REIS FILHO, 2011, p. 71.
48
RIBEIRO, Neuza Maria Góis. Transformações do espaço urbano: o caso de Aracaju. Recife:
FUNDAJ; Editora Massangana, 1989, p. 46.
132
elétricos (1926). Esta expansão ao sul, com suas ―ruas elegantes‖49, seguiram
recebendo a atenção da gestão pública na década seguinte, como o revelam a
construção do cais da Praia 13 de julho50 e uma estrada de rodagem às suas
margens51 e a urbanização da então Rua Altenesch (Rua Vila Nova, atual Duque de
Caxias), com o delineamento da Praça Getúlio Vargas 52 e a pavimentação daquele
logradouro53.
Figura 41 – Planta
baixa de bungalow,
Figura 40 – Desenho de fachada de bungalow, projeto de Francisco
projeto de Francisco Oliveira Dantas. Oliveira Dantas.
49
LOUREIRO, Kátia Afonso S. A trajetória urbana de Aracaju em tempo de interferir. Aracaju:
Instituto de Economia e Pesquisa – INEP, 1983, p. 56.
50
O CAIS da Praia 13 de Julho. O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 out. 1936, ano IV, n. 1028, p. 1.
51
ARACAJU. Relatório apresentado ao Exm.º Sr. Dr. Eronides Ferreira Carvalho, D.D.
Interventor Federal no Estado, pelo Prefeito da capital, Godofredo Diniz Gonçalves. Exercício
de 1939. Aracaju: [s.n.,194-], p. 23.
52
Ibid., p. 9.
53
ARACAJU. Relatório apresentado ao Excelentíssimo Senhor Doutor Eronides Ferreira
Carvalho, Dignissimo Interventor Federal no Estado, pelo Prefeito da capital, Godofredo Diniz
Gonçalves. Exercício de 1940. Aracaju: Imprensa Oficial, 1941, p. 20.
133
Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada por escrito pelo autor das imagens.
54
Prancha localizada no acervo do Controle do Cadastro Imobiliário do APMA. Esta foi a única
prancha da década de 1930 referente a projeto residencial localizado neste arquivo.
134
(figuras 40 e 41), como naqueles identificados por Schuster56 — e que teriam sido
projetados na década de 1950 (figuras 42, 43 e 44) — aos banheiros é reservado
um posicionamento desprivilegiado, acessíveis a partir das copas/cozinhas ou
mesmo por uma circulação auxiliar, mas sempre aos fundos da edificação. Apenas
em um caso a que se teve acesso foi possível identificar solução similar à do
alemão. Trata-se da residência de número 53 (a primeira da esquerda para a direita,
na figura 45) localizada no primeiro trecho da Rua Estância. De acordo com Porto 57,
esta casa, originalmente pertencente ao Sr. José Vieira de Santana, foi construída
na segunda metade da década de 1920. Junto a ela foram construídas mais duas
com o mesmo porte, pertencentes aos Sr. Autran Costa e Dr. Francisco Fonseca,
respectivamente de números 65 e 8758. Como revela a representação feita por
Souza para seu trabalho final de graduação (figura 46)59, naquela residência de
número 53 o banheiro do primeiro pavimento foi integrado à parte central,
antecipando assim em alguns anos a solução de Altenesch.
Conforme sugerem Veríssimo e Bittar60, o banheiro da casa brasileira nas
primeiras décadas do século XX estava circunscrito em espaços de intimidade e de
serviço. De acordo com os autores, este ambiente, de um modo geral, era ―íntimo,
vedado a estranhos, constituindo grave falta de educação solicitar permissão para
usar o banheiro das casas visitadas‖61. Portanto, a solução do alemão ainda que não
tenha sido pioneira, como indica o partido da supracitada residência da Rua
Estância, poderia ser compreendida enquanto um vetor de inovação importante na
direção de uma mudança de postura diante de uma mentalidade tradicional ainda
55
Francisco Oliveira Dantas, conhecido por Yôyô, era construtor licenciado. Em propaganda de seus
serviços é indicado que possuía ―longa prática de construções em cimento armado‖. Cf. FRANCISCO
Oliveira Dantas (Yôyô). O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 abr. 1937, ano V, n. 1169, p. 2.
56
SCHUSTER, Benjaminvich Costa. A Residência Aracajuana no Centro e Bairro São José. 2000.
174 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2000.
57
PORTO, 2003, p. 47.
58
Esta informação ofertada por Porto e mesmo a fotografia encontrada no Album Photographico de
Aracaju, de 1931, exclui a possibilidade de ter sido este conjunto de casas resultante da atuação de
Altenesch, como leva a supor Luiz Antônio Barreto em seu supracitado texto ―Altenesch e Wladimir
Preiss‖, ao utilizar uma fotografia daquele conjunto de casas e expor junto a ela a legenda ―Casas da
rua Estância: marca da arquitetura de Altenesch‖. Cf. BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir
Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
59
SOUZA, Adriano Augusto Linhares de. Umas casinhas bonitinhas: um registro dos bangalôs no
centro de Aracaju. 2015. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2015, p. 59.
60
VERÍSSIMO; BITTAR, 1999, p. 103.
61
Ibid., loc. cit.
135
Fonte: Album Photographico de Aracaju (1931). Fonte: Souza (2015, p. 59); Publicação
autorizada por escrito pelo autor da
imagem.
62
VERÍSSIMO; BITTAR, 1999, p. 53.
136
66
ARACAJU e suas construções modernas. O Estado de Sergipe, Aracaju, 13 jan. de 1937, ano V,
n. 1101, p. 1.
67
LEÃO, Hermenegildo. Fundação da Cidade de Aracajú. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 mar.
1938, ano XLVII, n. 65, Segunda secção – Suplemento, p. 2.
68
ATALAIA, a praia mais bonita do nordeste. Folha da Manhã, Aracaju, 21 maio 1939, ano II, n. 382,
p. 6.
138
destas presenças de outrora (como revelam as residências das figuras 39, 47 e 48)
e que parecem reverberar aos dias de hoje a influência da figura modernizadora de
Altenesch.
69
SCHUSTER, 2000.
139
esta é tomada como base para a análise aqui desenvolvida, já que nesta pesquisa
não foi possível acessar as dependências internas da edificação e, ao que parece,
estas sofreram ainda maiores alterações nos últimos anos. Conta-se também com a
fotografia desta residência publicada na supracitada revista comemorativa do
Governo de Eronides Carvalho70, de 1937, que a revela nos toques finais de sua
construção, ainda com a placa do alemão apregoada ao guarda-corpo da varanda
superior.
Para a residência Torquato Fontes, têm-se levantamento cadastral feito
durante esta pesquisa, alicerçado sobre representação elaborada por Rodomar71.
Para a análise desta casa, que é a moradia da família Almeida Maciel, foi possível
contar com a memória de alguns dos seus mais recentes ocupantes72. A partir
destas memórias foi possível acessar as indicações de alterações feitas ao longo
dos últimos anos, na busca pelo entendimento mais aproximado da originalidade do
plano.
Com relação à casa Gervásio Prata, a análise é feita a partir de levantamento
originalmente elaborado pela Prefeitura Municipal de Aracaju em 2015 73 e ajustes
feitos para esta pesquisa a partir de visita in loco. Este levantamento cadastral
parece evidenciar que antes da ocupação do órgão da prefeitura, a casa já havia
passado por alterações de forma a sediar outras atividades institucionais. Apesar
destas prováveis alterações, o levantamento localizado foi considerado por ainda ser
possível identificar proximidades com a volumetria original e por dar algumas pistas
da organização espacial no que concerne à setorização, fluxos e sua relação com os
aspectos técnico-construtivos. Há também uma fotografia antiga desta residência
70
SERGIPE (revista), [1937].
71
RODOMAR, Venícia Celi de Souza. Registros da arquitetura moderna em Aracaju: Residência
Almeida Maciel. 2002. 16 f. Trabalho apesentado como requisito parcial para aprovação na disciplina
História da Arquitetura e do Urbanismo III – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Tiradentes, Aracaju, 2002.
72
Conforme indicou Rodomar em seu trabalho sobre a residência, desde 1961 esta casa é moradia
do casal formado pelo Sr. José Augusto Machado de Almeida (87 anos) e pela Sra. Léa Maciel (82
anos). O Sr. José Augusto, engenheiro civil aposentado, concedeu entrevista para esta pesquisa,
assim como o fez a Sra. Maria Isabel Dantas Santos (60 anos), funcionária doméstica da família
desde 1980, e cujas memórias possibilitaram um acesso mais aproximado à configuração original da
casa.
73
O levantamento cadastral em questão foi gentilmente disponibilizado pela Secretaria Municipal do
Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplog), da Prefeitura Municipal de Aracaju. O trabalho foi
elaborado por Lucy Lobão, Reginaldo Pina e Glaucia Barbosa e digitalizado por Breno Sávio em 09
de dezembro de 2015.
140
publicada naquela mesma revista de 193774, e este documento possibilita uma ponte
mais segura no acesso a parte da configuração original deste objeto arquitetônico.
Têm-se, portanto, para o conjunto das três residências, uma base documental
fragmentada e não equiparada entre si. Logo, as análises aqui feitas, principalmente
no que concerne à espacialidade, partem de um esforço por identificar alguns
padrões que auxiliem na compreensão do traçado original e seus princípios.
As três residências (figuras 49, 51 e 52), ainda existentes, foram implantadas
com recuos para todos os limites dos lotes, excetuando-se as edículas aos fundos,
como foi possível identificar na Torquato Fontes e na Gervásio Prata. As relações
da tipologia e os lotes, nos três casos, foram estabelecidas por um paralelismo
entre os limites dos terrenos e os volumes das residências e também atenderam aos
preceitos já vigentes à época referentes aos espaçamentos necessários à entrada
de luz e ventilação na edificação, da mesma forma como se previu para os
bungalows da Rua Vila Nova, conforme visto anteriormente. Mesmo no caso da
Flávio Prado, que ocupou um terreno mais estreito e de esquina, fez-se questão de
soltar toda a edificação, ainda que só tenha sido possível, para a face sul, um recuo
estreito e mínimo de um metro. Nesta residência o acesso para os veículos,
provavelmente teria sido feito aos fundos da edificação, enquanto nas outras duas
esta entrada, assim como em uns dos supracitados bungalows, estava determinada
pelo recuo lateral mais avantajado, que levava diretamente à edícula.
Com relação à espacialidade e aos fluxos, percebe-se que igualmente
seguiram princípios semelhantes entre si. A hierarquização da distribuição dos
ambientes e dos acessos, com a delimitação clara da setorização por espaços
públicos, privados e de serviço, bem como as presenças integradoras de varandas e
terraços e o próprio programa, são pontos que parecem conectar os partidos das
três residências. Contudo, portam características particulares que valem uma análise
separada para cada caso.
Para a residência Flávio Prado, foi possível perceber, ao comparar a sua
condição atual com a iconografia e o levantamento cadastral elaborado por
Schuster75, que esta sofreu algumas modificações. Atualmente, aos fundos, foi
construído um acréscimo, que vedou parte expressiva de sua fachada posterior.
Também houve o fechamento de parte da varanda lateral do térreo, integrando-a ao
74
SERGIPE (revista), [1937].
75
SCHUSTER, 2000.
141
Fonte: Levantamento cadastral realizado por Schuster (2000); Edição e ajustes elaborados
para este trabalho (2018).
76
SCHUSTER, 2000.
142
Para a residência Torquato Fontes foi possível contar com o fator da memória
de alguns de seus ocupantes mais recentes, conforme revelado anteriormente.
Assim, algumas modificações puderam ser identificadas, a saber: a construção de
uma sala íntima/closet e oratório onde originalmente estava parte da varanda que
conectava a sala de jantar com a circulação de serviço; uma mudança na escada
externa de serviço para o pavimento superior e ampliação da circulação de serviço
do pavimento superior para criação de uma pequena cozinha77. Estas diferenças
podem ser vistas ao se comparar as plantas baixas da figura 50, que indicam o
estado atual da residência, e as da figura 51, que representam um traçado mais
aproximado à sua originalidade, conforme indicado pela memória dos ocupantes
consultados.
77
Estas modificações foram indicadas por relatos do Sr. José Augusto, engenheiro civil, a da Sra.
Maria Isabel, funcionária doméstica, como indicado anteriormente. As visitas realizadas à residência
possibilitaram o faceamento da materialidade, e, portanto, a checagem dos indícios destas
modificações.
143
78
RODOMAR, 2002.
144
contíguas (estares e jantar); por escada lateral em varanda posterior, que dá acesso
ao setor de serviços, mas que originalmente também possibilitava uma entrada
alternativa à sala de jantar; e um terceiro e último acesso que possibilita chegada
direta à circulação de serviço. O acesso interno para o pavimento superior foi
delineado por escada localizada em sala íntima e destinada à sala de jantar do
pavimento superior.
Assim como ocorreu na casa Flávio Prado, para as varandas na Torquato
Fontes, foi atribuída uma função integradora entre os ambientes internos e também
de integração da casa com os espaços externos. No pavimento térreo, as varandas
que originalmente envolviam aproximadamente metade do volume arquitetônico,
estabeleciam diretas conexões entre os espaços sociais e públicos e de serviço. No
pavimento superior, a varanda frontal não só serviu de acesso ao gabinete, como
também a um dos quartos e à sala. Neste pavimento há também uma varanda
posterior, mas apenas se chega a ela através dos quartos.
Nota-se que, diferentemente da casa Flávio Prado, que tem nos dois
pavimentos um núcleo central de irradiação dos fluxos da circulação e que tece de
forma direta a integração entre os diferentes cômodos e setores da casa, nesta
segunda casa é possível notar a presença de algo deste princípio na sala de jantar
do pavimento superior, que tanto serve de chegada da escada como de integração
entre a maioria dos cômodos daquele nível da residência. No pavimento térreo há
integração entre os cômodos, mas de forma dispersa, não sendo legível a presença
de um centro de convergência e irradiação destes fluxos. O relativo isolamento da
escada interna também parece ser um indício desta dispersão da circulação.
Possivelmente este isolamento tenha relação com o estabelecimento de um maior
controle do acesso ao pavimento superior, e maiores privacidade e independência,
portanto, entre os dois pavimentos, já que foram ocupados por núcleos familiares
distintos.
Para a residência Gervásio Prata delinearam-se quatro possibilidades de
acesso: um acesso principal, que se dá através de breve varanda frontal precedida
por escada e alinhada ao eixo longitudinal da edificação; um acesso lateral que leva
ao setor central da casa, onde está localizada a escada para o pavimento superior;
um acesso direto à cozinha e um acesso central pelos fundos, ambos por uma
mesma escada (figura 52). Os dois pavimentos integram-se pela escada localizada
na extremidade leste do setor central do edifício e no pavimento superior desemboca
145
em uma sala que estabelece a conexão entre os demais cômodos daquele andar.
No pavimento térreo também é possível identificar a mesma centralidade para onde
convergem e de onde irradiam os fluxos de circulação entre os ambientes. Ao que
parece, à área central, integrada ao reduto da escada, foi delegada a condição de
núcleo de uma circulação axial que atravessa a casa: no sentido longitudinal, este
fluxo parte das entradas frontal e posterior centrais, e no sentido transversal, parte
do acesso lateral aos limites impostos pelo cômodo situado no lado inverso ao local
da escada.
Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela Seplog (2015); Edição e ajustes feitos pelo
autor (2018).
Ainda que não seja possível afirmar com clareza acerca da divisão dos
cômodos e seu programa, já que o levantamento cadastral utilizado como base é
muito recente e em que se notam alterações, as projeções da planta sobre o sítio e
o agenciamento de suas massas levam a dedução de que se trata de um projeto
elaborado a partir de princípios de fácil legibilidade. A identificação da simetria e da
axialidade do traçado, bem como da distribuição radial dos fluxos de circulação e da
segmentação da planta em faixas bem definidas, conduzem a esta leitura.
146
79
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Arquitetura moderna na Aracaju dos anos 40 a 70: bairros
centrais. 2011. 363 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011, p. 172.
147
Figura 59 – Janela da
Figura 58 – Acesso lateral da residência Flávio Prado. residência Flávio Prado.
Fonte: Schuster (2000); Publicação autorizada por escrito Fonte: Registro fotográfico
pelo autor da imagem. feito pelo autor (2017)
O projeto para a casa Torquato Fontes (figuras 60 a 66), assim como a Flávio
Prado, seguiu um agenciamento assimétrico. Contudo, de forma diferente ao
proposto para a residência à Praça Camerino, há nesta uma organização mais
inclinada à simetria. O volume frontal projetado, que no térreo compreende uma das
salas e que no pavimento superior é onde se localiza o gabinete, determina a
tendência simétrica. Este aspecto também se expressa na escadaria de acesso à
varanda do térreo, nos pilares e pilotis da face frontal, na ampla laje em balanço da
varanda superior, nas largas portas de acesso ao próprio volume em questão e nas
larguras dos braços laterais das varandas que conduzem a outros ambientes da
150
Figura 61 – Escada do
acesso principal da residência Figura 62 – Face leste da
Torquato Fontes. residência Torquato Fontes.
Percebe-se, assim como foi proposto para as duas outras casas analisadas,
uma ênfase na horizontalidade, pelo realce das linhas de demarcação dos
elementos componentes das fachadas, como o embasamento/plinto, os peitoris e
vergas de janelas, as platibandas e lajes projetadas. Sobre estas, há para esta casa
um jogo de sobreposições peculiar. Fazendo a demarcação entre os níveis da
153
residência, há uma laje projetada que se estende da fachada frontal até parte
considerável das laterais. No arremate do pavimento superior são percebidos três
níveis de lajes em balanço: uma primeira, mais alta, que antecede a platibanda
propriamente dita, e que segue um percurso equivalente ao da laje projetada do
pavimento térreo; uma segunda, intermediária e mais recuada, que percorre apenas
o volume frontal projetado do pavimento superior; e um terceiro e último nível de laje
em balanço, não mais existente nos dias atuais, que estava mais baixa e ainda mais
recuada, e que ocupava um trecho central do volume frontal do pavimento superior,
disposta imediatamente sobre duas envasaduras igualmente inexistentes na
atualidade. Na fotografia de 1937 (figura 67) não é dada a compleição da parte
posterior da residência, mas é possível que não tenha sofrido grandes alterações, já
que a forma em que se encontra atualmente muito se assemelha com a condição
dos planos das fachadas de fundo da casa Torquato Fontes, a saber: sem projeções
de marquises ou qualquer outro elemento que viesse a macular a condição cúbica
destes volumes, com predominância dos cheios sobre vazios (ver figuras 70 e 71).
80
SCHUSTER, 2000.
81
Ibid., loc. cit.
156
casa Gervásio Prata, indicando assim outro ponto de conexão estética entre estas
obras de Altenesch.
82
V. S. VAI construir? Correio de Aracaju, Aracaju, 29 maio 1937, n. 707, p. 2.
158
exemplo, pode ser localizada propaganda das serrarias de João Costa e João
Carvalho — cujo mostruário ficava localizado em sobrado da Rua João Pessoa,
número 40 — divulgando os tacos para parquet de peroba rosa e ipê. Por se tratar
de serrarias, entende-se que neste caso as peças eram produzidas localmente.
Outro comerciante de tacos em Aracaju na época era Edgar Menezes, e seu
comercio vendia as mais diversas madeiras, como ―louro, sucupira, cedro, putumuju,
peroba, canela, paraíba, gonçalo alves, vinhático e jequitibá‖83.
Com relação às escadas, como revela registro feito por Schuster84 (figura 82), a
escada da casa Flávio Prado originalmente possuía piso e espelho em pedra polida
e o seu guarda-corpo — que na atualidade ainda porta esta compleição original —
foi composto de uma guia em alvenaria com acabamento boleado, sobre a qual se
dispôs sequencia de volutas de ferro forjado e o seu corrimão esculpido em madeira.
O mesmo material do corrimão foi empregado na escada interna da casa Torquato
Fontes, mas o seu guarda-copo apresenta uma estrutura vazada e delgada em
serrilharia artística de geometria simplificada (figura 83).
Figura 83 – Corrimão e
guarda-corpo na escada da
Figura 82 – Escada da residência Flávio Prado. residência Torquato Fontes.
Quanto aos aspectos construtivos, não se pode precisar com clareza toda a
constituição das três residências, mas há indícios na volumetria, alguns mais
83
AOS CONSTRUTORES. Folha da Manhã, Aracaju, 25 ago. 1938, ano I, n. 168, p. 2.
84
SCHUSTER, 2000.
159
Figura 85 – Agregados e
ferragem componentes do
Figura 84 – Estrutura metálica exposta em laje em concreto armado em laje da
balanço na residência Gervásio Prata. residência Gervásio Prata.
varanda pela circulação central e a larga janela deste mesmo ambiente, voltada para
o norte (figuras 53 e 54).
Com relação à casa Torquato Fontes, em diálogo travado durante as
pesquisas para este trabalho, o Sr. José Augusto, atual proprietário e engenheiro
civil aposentado, afirmou que esta residência teria sido construída com estrutura de
concreto armado e que haveria uma previsão para suportar uma carga de até mais
um pavimento além dos dois que foram construídos. Pôde-se verificar que é toda
lajeada, tendo recebido uma cobertura de telhado convencional. Além dos pilotis e
pilares externos que deixam aparente a sua realidade estrutural, o elemento que
mais alarma o emprego desta tecnologia construtiva são as a amplas lajes em
balanço que se projetam a mais de dois metros sobre as varandas do pavimento
superior (figura 89). Nesta casa estes elementos, de modo diferente daqueles
presentes na casa Flávio Prado que contam com pilares e vigas de apoio, são
amparados por vigas deitadas que estão dispostas ao longo de todo o engaste e
lhes proporcionam rigidez na sua sustentação (figura 65).
85
SERGIPE (revista), [1937].
164
Fonte: Revista Sergipe [1937]. Fonte: Registro fotográfico de Ana Libório (1995);
Publicação autorizada por escrito pela autora da
imagem.
Figura 92 – ―Edifício
Moderno‖ de autoria de Figura 93 – Casa em ―Stylo
Joaquim Gomes dos Santos Moderno‖ em capa da revista
em capa da revista ―A Casa‖. ―A Casa‖.
Fonte: A Casa (out. 1932, ano 10, n. 100 e Fonte: A Casa (out. 1932, ano 10, n. 100 e
101, p. 17). 101, p. 18).
De acordo com Curtis87, a geração dos modernos, que por variadas razões
estéticas e simbólicas, buscou a plasticidade dos planos finos, lajes em balanço e
simplicidade geométrica, teve como precursores o francês Auguste Perret e o
estadunidense Frank Lloyd Wright. Nos desenhos para a Cidade Industrial do
francês Tony Garnier, publicados em 1917, igualmente: as finas lajes projetadas, a
geometria cúbica e a idealização de uma arquitetura adequada à condição industrial
da sociedade que se modernizava e às construções em concreto armado88. Em
Wright, particularmente, algumas características definidoras de sua obra, parecem
estar presentes no desenho das três casas de Altenesch, como a dramaticidade dos
elementos em balanço, os volumes destacados, o seccionamento dos planos das
fachadas com ênfase na horizontalidade89 e a presença da base do tipo plinto90. Nos
pilotis da casa Torquato Fontes poderia ser visto uma influência formal e descolada
de Le Corbusier, assim como na estrutura das varandas da Flávio Prado uma
referência à repetição das vigas de apoio dos beirais na Villa Hauteroche, obra de
87
CURTIS, 2008, p. 82.
88
Ibid., loc. cit.
89
Ibid., p. 154.
90
Ibid., p. 122.
167
91
NERY, 2013, p. 379.
92
Ibid., loc. cit.
93
Ibid., loc. cit.
94
JORDÃO, Braz; AZEVEDO, J. Cordeiro de, 1933, p. 3, apud NERY, 2013, p. 375.
168
95
PORTO, 2003, p. 54
96
SANTOS, 2011, p. 129
97
REGISTRO Social: Aniversários. Sergipe Jornal, Aracaju, 05 set. 1938, ano XIX, n. 9057, p. 4.
98
CIMENTO Nacional. O Estado de Sergipe, Aracaju, 04 fev. 1936, ano IV, n. 833, p. 3.
99
TORQUATO Fontes. Folha da Manhã, Aracaju, 22 ago.1939, ano II, n. 455, p. 1.
100
RODOMAR. 2002.
101
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju,
4 mar. 1937, ano XIX, n. 6706, p. 426.
102
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Imposto Predial. Diário Official do Estado de Sergipe. Aracaju,
15 maio 1936, ano XVIII, n. 6476, p. 688.
169
É possível que também a este conjunto de casa se refira Fortes103 quando ele
afirma que Altenesch introduziu ―a casa com espaços laterais com piso baixo‖, e
também a difusão do uso do ―cimento armado‖, já que depois dele os demais
construtores teriam aceitado o uso do novo material e este teria passado ―a ser regra
nas construções aracajuanas‖. Sobre o aspecto tipológico, a pesquisa conduz a uma
compreensão de que antes de Altenesch já estavam implantadas na cidade casas
burguesas sem porão, mais aproximadas do nível do logradouro, conforme indicado
Porto104. Com relação a esses ―espaços laterais‖, se Fortes se refere aos recuos em
relação aos limites do lote, sua afirmativa é igualmente refutável porque esta prática
já estava igualmente presente em algumas construções residenciais dos anos 1920,
como afirma igualmente Porto105, ou seja, antecede a chegada do alemão na cidade.
No entanto, se esses ―espaços laterais‖ se referem às varandas que envolvem a
casa enquanto elemento integrador entre os espaços internos e entre estes e os
externos, é possível que Altenesch tenha sido de fato um introdutor.
Quanto à difusão da tecnologia construtiva do cimento/concreto armado,
também não é improvável que Altenesch seja uma figura central. Refere-se aqui,
particularmente, às obras residenciais, já que a discussão concernente às obras de
caráter público se amplia quando são consideradas as presenças de outros agentes
que se evidenciaram na cidade naquele momento enquanto difusores de inovações
construtivas, como as firmas Emilio Odebrecht & Cia e Christiani & Nielsen,
conforme visto na seção anterior sobre a trajetória do alemão em Aracaju. Voltando
ao suposto pioneirismo no emprego de modernidades nas residências de Altenesch:
a presença de elementos arquitetônicos que denunciam a vinculação ao uso do
cimento armado já havia sido anunciada nos bungalows da Rua Vila Nova,
particularmente naquele de número 508 e sua marquise aerodinâmica em balanço.
As três residências analisadas nesta subseção — em cujas plásticas e estruturas
expõem o uso mais potente desta tecnologia construtiva — podem ter se constituído,
portanto, como instrumentos de afirmação da adesão do alemão às modernidades
técnicas e estéticas do momento em suas plenas potencialidades possíveis às
circunstâncias locais.
103
FORTES, loc. cit.
104
PORTO, 2003, p. 23.
105
PORTO, loc. cit.
170
PRÉDIOS
PRÉDIOS SITUAÇÃO POR ZONAS Informação de Bráulio Costa
Quanto ao número de pavimentos Urbana Suburbana Rural Total Sujeito ao Isento de imposto
imposto
Quanto á construção
Quanto à apresentação
Quanto à utilização
106
SANTOS, 2002, p. 47-48.
171
107
Nas buscas nos jornais locais da época foi possível perceber que a partir da segunda metade dos
anos 1930 se iniciou a divulgação do cimento em Aracaju, principalmente com publicidades
referentes ao cimento nacional. Este setor da indústria brasileira, que em 1926 havia produzido
13.382 toneladas, em 1934 teria chegado em 310.480 toneladas. Desta forma, o mercado foi
progressivamente substituindo o material importado pelo nacional. Destaca-se nos jornais sergipanos
da época a divulgação do produto da Companhia Paraíba de Cimento Portland S/A, de João Pessoa,
que havia sido utilizada em obras públicas, como a construção da Biblioteca Pública e da ponte sobre
o rio Poxim, ambas em Aracaju e conduzidas pela firma Emilio Odebrecht & Cia. O cimento paulista
da marca Perús também recebeu divulgação em Aracaju. Podem ser citadas, como distribuidores do
material na capital sergipana as firmas: H. Dantas, Manoel M. de Almeida, Dantas & Vieira, bem como
Hansen, D‘Angelo & Cia e Fontes Irmãos & Cia, esta última gerenciada por Torquato Fontes,
conforme indicado anteriormente. Cf. INFORMAÇÕES estatísticas e economicas. A República,
Aracaju, 25 abr. 1935, ano IV, n. 1014, p. 4; CIMENTO Nacional, loc. cit.; O CIMENTO Portland
Paraiba, em nosso estado. O Estado de Sergipe, Aracaju, 4 jul. 1936, ano IV, n. 950, p. 4; A
INDUSTRIA Brasileira de cimento. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 jul. 1937, ano V, n. 1256. p. 1;
CIMENTO. O Estado de Sergipe, Aracaju, 28 ago. 1937, ano V, n. 1281, p. 2; CIMENTO Perús.
Sergipe-Jornal, Aracaju, 4 de jun. 1938, ano XVIII, n. 8986, p. 3; CIMENTO Perús. Sergipe-Jornal,
Aracaju, 22 jul. 1938, ano XVIII, n. 9021, p. 4.
108
REGISTRO: Aniversários. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1206, p. 4.
109
SANTOS, 2002, loc. cit.
172
110
Entrevista realizada com Sr. Murillo Melins em 26 de julho de 2017.
173
111
SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura moderna: a atitude alagoana. Maceió: SERGASA, 1991,
p. 177.
174
112
PORTO, 2003, p. 49.
175
113
PORTO, 2003, 54.
114
Ibid., loc. cit.
176
115
PORTO, 2003, p. 49 et seq.
116
SERGIPE (revista), [1937].
117
PORTO, op. cit., p. 51.
118
ARACAJÚ Progride, 1935, p. 214. Cf. Anexo E.
177
119
ALBUM PHOTOGRAPHICO DE ARACAJU. Aracaju: Casa Amador, 1931. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon309877/icon309877.htm> Acesso
em: 5 maio 2018.
120
PORTO, 2003, p. 49.
178
edifício com a esquina. Dando seguimento às linhas indicadas pelo prédio original,
Altenesch manteve a composição assimétrica da residência, trabalhando o princípio
da simetria isoladamente em cada um dos quatros volumes que compuseram a obra
final, a saber: o volume mais alto, alinhado à Rua Pacatuba; aquele volume
chanfrado do acesso principal; o volume recuado, voltado para a Rua Estância, e
aquele último volume dos fundos, também voltado para esta rua e alinhado com os
limites do terreno.
Cada um destes volumes foi ornado a partir de um mesmo princípio estético,
no entanto, os elementos utilizados ofereceram a cada uma destas partes da
residência uma composição visual própria que proporcionou unicidade às suas
presenças e determinaram claramente os seus limites. São os elementos
ornamentais mais destacados os beirais de telhas-canal incrustados sobre as
paredes e platibandas e servindo como delimitação das sobrevergas de janelas ou
como marcação horizontal da transição entre pavimentos ou do início do arremate.
Estes beirais eram forrados e sob estes forros, quais elementos de sustentação,
estavam dispostos fingimentos de cachorros, ou consolos, com finalizações
superficiais de saias de arcos — ou meias-luas — preenchidos. Falsos cachorros
apareceram novamente compondo as guarnições de alguns conjuntos de janelas, e
finalizando as meias-colunas com fustes torsos entre as envasaduras, como revela a
fotografia de parte da fachada voltada para a Rua Pacatuba (figura 102). Os
arremates dos volumes foram compostos por agenciamentos diversificados de
frontões curvos, platibandas recortadas em padrões de meias-luas preenchidas,
óculos circulares ou ovais com gradis sobrepostos e escalonamento das platibandas
nas extremidades ou nas arestas dos volumes, arrematadas com chapéus de telhas-
canal.
A cor representou um papel importante na proposição de Altenesch, já que
proporcionou contrastes nas superfícies e, consequentemente, o destaque dos
planos e ornamentos aplicados sobre as fachadas. Esta havia sido um artifício
utilizado pelo alemão em seus bungalows da Rua Vila Nova, conforme visto na
subseção 3.1. A telha-canal enquanto elemento decorativo também já havia sido
utilizada nos bangalows, seja na própria fachada — como a cobertura da bay
window do bungalow de número 508 e no chapéu do pórtico de acesso ao recuo
lateral do bungalow de número 521 — ou no chapéu do pórtico de acesso ao
bungalow de número 513. Este motivo do chapéu sobre os elementos do muro
180
Esta obra, ainda que tenha sido um marco nas intervenções de Altenesch na
cidade pelo processo de renovação que ela desencadeou, como sugere Porto121,
não poderia ser considerada uma obra por completo inovadora. Como afirmado, se
tratou de uma obra de reforma, levada a cabo a partir de uma edificação pré-
existente de características ecléticas, como a presença de um alto porão na base do
edifício. Este edifício originalmente tinha sua compleição volumétrica e sua
implantação associáveis a uma arquitetura residencial burguesa própria da virada do
121
PORTO, 2003, p. 54.
181
século XIX para o XX e das primeiras décadas daquele novo século. Naquele
período, as residências mais abastadas começavam a se afastar dos limites dos
terrenos, mas ainda apresentam posturas conservadoras, como o porão alto e a
rigidez volumétrica, conforme indica Reis Filho122. Altenesch, em seus projetos para
construção, como pode ser visto no estudo das subseções 3.1 e 3.2, aproximou o
nível da edificação ao nível do passeio, desconsiderando o artifício do porão. Em
seu lugar utilizou do precedente do embasamento/plinto de altura variável, que
elevava a casa a alguns poucos degraus de altura. Este partido do alemão revelou a
aderência a posturas que foram incorporadas nas residências brasileiras construídas
no período Entreguerras. Assim, entende-se que esta residência não poderia ser
compreendida como uma exemplificação mais apropriada do perfil inovador do
alemão. Contudo, não seria de todo inadequado tratar o jogo volumétrico por ele
proposto para esta casa como uma atitude modernizante, já que propôs um
rompimento da rigidez da arquitetura originária que a vinculava ao passado.
122
REIS FILHO, 2011, p. 56.
123
Informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins em entrevista realizada em 17 de julho de 2017.
124
PORTO, loc. cit.
182
ornamental, já que não é legível na fotografia, mas por sua fachada recortada, tanto
no arremate quanto nas envasaduras. Esta residência, assim como a de Carvalho
Neto, guardava vinculações com as composições tradicionais da residência urbana.
Neste caso, não só a provável presença do porão, mais baixo que na Carvalho Neto,
pela aparente existência de óculos nos níveis mais baixos da fachada, mas também
a implantação alinhada aos limites frontais do terreno. Talvez tenha se tratado de
mais um caso de reforma, mas também pode indicar resquícios de vinculação de
Altenesch aos moldes mais conservadores de composição do espaço arquitetônico e
locação deste no sítio. O fato é que esta residência também apresentava a mesma
ideia de uma fachada contínua, como nos bungalows e na casa Carvalho Neto, com
o prolongamento da fachada do volume principal até os o final do limite lateral. É
possível perceber a indicação nesta fachada de um acesso para automóveis e outro
para pedestre. Também se percebe uma grande abertura suspensa que deveria ser
referente à área da varanda lateral de onde certamente poder-se-ia ter acesso aos
cômodos sociais da residência125 e por fim, o trio de janelas da caixa da residência
propriamente dita.
Existem pistas que possibilitam facear outras residências, e, comparando-as
com estas duas de que se há clareza sobre a autoria de Altenesch, incluí-las num
grupo de obras que provavelmente seriam dele, ou ao menos que teriam sido muito
influenciadas por sua presença. A supracitada montagem de fotografias
representando o novo casario de Aracaju, publicada na revista comemorativa do
Governo de Eronides de Carvalho126, traz um conjunto de residências, entre as quais
estariam obras de Altenesch e outras resultantes de sua influência direta, conforme
indicado por Porto127. Aqui são analisadas algumas destas imagens, na busca por
identificar os elementos de conexão entre estes objetos arquitetônicos e aquelas que
se tem a confirmação acerca da autoria de Altenesch, com o intuito de compreender
de forma mais aproximada a expressividade plástica deste conjunto.
Um dos casos mais interessantes é da casa — ainda existente, apesar de
muito modificada — em uma das esquinas da Rua Itabaiana com Senador
Rollemberg, no bairro São José, que teria sido propriedade do Sr. José Domingues
125
REIS FILHO, 2011, p. 46.
126
SERGIPE (Revista), [1937].
127
PORTO, 2003, p. 51.
183
Outra casa que vale destacar é aquela que estava localizada na esquina da
Avenida Barão de Maruim com a Praça Camerino, na continuidade da Rua Pacatuba
(figura 106). Esta apresentava cobertura em telhado aparente de quatro águas,
128
Informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho de 2017.
184
129
De acordo com informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho
de 2017, a Vila Cabral estava localizada em equina da Avenida Coelho e Campos com a Rua Apulcro
Mota.
185
107 e 108) e aos bungalows da Rua Vila Nova, particularmente o de número 513 —
é o padrão geométricos das muretas, com predominância de formas circulares e
arqueadas, e a presença de barras cilíndricas de ferro como estrutura compositiva.
Estas barras se repetem, inclusive, na constituição dos guarda-corpos das varandas
e terraço daquelas últimas três residências.
Outras residências aparecem na montagem da revista comemorativa do
Governo de Eronides de Carvalho130 que poderiam ser associadas a estas
experimentações ornamentais vinculadas ao alemão (figuras 109 a 117). Na mesma
publicação, mas em uma seção referente à Atalaia Velha, aparece uma fotografia
(figura 118) de parte do então novo casario ali presente e que revela uma casa, no
primeiro plano, com características aproximadas à suposta obra ―alteneschiana‖,
como a platibanda com meias-luas preenchidas, o escalonamento arrematado por
telhas-canal e os beirais da mesma telha incrustados sobre alguns trechos da
platibanda a indicar as varandas de acesso. As residências cujas fotografias
compõem a supracitada montagem, além das que já foram indicadas anteriormente
(figuras 100, 105, 106, 107 e 108), revelam uma variedade de soluções compositivas
a partir de muitos dos elementos aqui já identificados. Poder-se-ia analisá-las uma a
uma, mas por se considerar que esta iniciativa não iria trazer um aprofundamento na
compreensão da questão, elas estão incluídas enquanto ilustração e representação
desta expressão arquitetônica que teria sido provocada pela presença de Altenesch
em Aracaju. Algumas delas, no entanto, apresentam um conjunto de características
que as aproximam muito das últimas residências aqui analisadas, como o bungalow
Raimundo Carvalho (figura 110) e a residência não identificada da figura 111. A
presença dos beirais de telhas-canal como demarcação das platibandas e da
varanda de acesso, as cores contrastantes aplicadas nas superfícies, a
ornamentação baseada em formas de meias-luas ou arcos preenchidos — que
nestes casos também compõem demarcações ornamentais das envasaduras, e a
repetição destes padrões nos muros frontais, com a presença inclusive dos cilindros
de ferro no caso do bungalow de Raimundo Carvalho. Este, de acordo com Murillo
Melins131, teria sido a residência do irmão de Eronides de Carvalho, o interventor do
130
SERGIPE (Revista), [1937].
131
De acordo com informação ofertada pelo Sr. Murillo Melins, em entrevista realizada em 17 de julho
de 2017.
187
Estado. Assim, pela proximidade deste com Altenesch, é possível que o alemão
tenha sido o autor deste projeto.
Figura 112 – Residência não identificada. Figura 113 – Residência não identificada.
132
LEMOS, 1985, p. 173.
133
CIGLIANO, 1998, p. 18.
134
Ibid., loc. cit.
135
LEMOS, loc. cit.
136
LUCENA, Emanoel Victor Patrício de; CAVALCANTI FILHO, Ivan. O Estilo Missões na cidade de
João Pessoa. In: Urbicentros 3: morte e vida dos centros urbanos. Anais eletrônicos... Salvador:
Faculdade de Arquitetura - Universidade Federal da Bahia, out. 2012, p. 11. Disponível em:
<http://www.ppgau.ufba.br/urbicentros/2012/ST303.pdf>. Acesso em: out. 2013.
190
Figura 120 – Projeto de casa ―Hispano- Figura 121 – Projeto de casa ―Hispano-
Missões‖, do arquiteto Moacry Fraga. Missões‖, do arquiteto Moacry Fraga.
Fonte: Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n. 39, Fonte: Fonte: A Casa (jul. 1927, ano 5, n.
p. 30). 39, p. 31).
137
O acervo da revista ―A Casa‖ a que se pode ter acesso é aquele localizado na Biblioteca Central
do Estado da Bahia, no bairro Barris, em Salvador. A visita e coleta de dados neste acervo foram
realizadas no dia 23 de setembro de 2017.
191
De acordo com Bruand, esta expressão, que ele chama ―missão espanhola‖138,
teria representado um triunfo dos neocoloniais no âmbito da arquitetura residencial.
Contudo, este triunfo auferido pela expressão estadunidense ocorreu em detrimento
da expressão neocolonial genuinamente autóctone, que acabou por ficar quase que
restrita aos edifícios públicos. Esta suposta vitória do neocolonial de origem
estrangeira sobre o nacional no campo das obras residenciais teria se dado porque
o caráter ―gracioso e delicado‖ do Missões parecia se adequar mais ao projeto da
casa do que o neocolonial luso-brasileiro, de perfil ―grave e viril‖139.
138
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2016, p.
55.
139
SANTOS, 1977, p. 102 apud LUCENA; CAVALCANTI FILHO, 2012, p. 11.
192
a partir de 1919 como ideólogo e incentivador junto aos arquitetos e artistas, abriu
espaço para que uma série de obras públicas de porte fossem executadas com
inspiração na arquitetura tradicional brasileira‖140. Esta arquitetura buscava
inspiração basicamente nas construções sacras e civis feitas no Brasil durante o
período colonial141, e tinha como base a arquitetura portuguesa como principal
referência, em particular o barroco.
O apogeu desse movimento se deu na década de 1920, quando houve um
reconhecimento oficial e a construção, a partir das diretrizes de Mariano,
principalmente, de importantes edifícios públicos. No entanto, já durante, mas
principalmente após aquela década áurea para o movimento, a força contida nos
seus postulados teriam se diluído em elementos ornamentais destituídos da carga
ideológica de seus idealizadores, ―a ponto de serem apropriados, em todo o Brasil,
em edificações tão distintas quanto habitações populares ou postos de gasolina‖142.
Talvez seja apropriado pensar na relação entre o neocolonial importado e o
movimento nacional equivalente em termos mais de uma interação e fusão do que
apenas uma vitória de um em detrimento do outro. De acordo com Lemos, o
Missões, que fez concorrência com o neocolonial luso-brasileiro, também se
mesclou a esse e, conforme palavras do autor, foram ofertadas ―verdadeiras
soluções sincréticas‖143. É possível, inclusive, pensar na ideia de uma conjugação
das duas vertentes, como reflexo de um período de grande liberdade plástica no
âmbito da arquitetura, principalmente nos projetos e obras residenciais144. Esta
liberdade não dizia respeito apenas ao agenciamento de elementos e formas
reconhecidas da arquitetura do período colonial, mas também concernia a um
princípio inventivo que permeou as intervenções arquitetônicas englobadas neste
universo dos revivalismos autóctones. Um exemplo foi uma criação do arquiteto
francês radicado em São Paulo Victor Dubrugras: um padrão de guarda-corpo em
meias-luas vazadas (semelhante às escamas de peixe), que após ser elaborado
para o Largo da Memória em São Paulo, de 1919 — seu primeiro projeto neocolonial
— foi ―copiado, recopiado e repetido milhares de vezes pela cidade e afora,
140
SEGAWA. 2014, p. 35-36.
141
BRUAND. loc. cit.
142
SEGAWA, op. cit., p. 37.
143
LEMOS, 1985, p. 173.
144
SANTOS, 1977, p. 102 apud LUCENA; CAVALCANTI FILHO, loc. cit.
193
145
LEMOS, 1985, p. 166
146
Ibid., loc. cit.
147
WOLFF, 2001, p. 228-229 apud LUCENA; CAVALCANTE FILHO, 2012, p. 14-15.
194
Fonte: Acervo de Carllos Costa [201-] Fonte: Google Street View (2017).
Disponível em:
<http://sergipeemfotos.blogspot.com.br/
2014/02/antigo-casarao-na-avenida-ivo-do-
prado_25.html> Acesso em: 20 jul. 2018.
148
SCHUSTER, 2000.
149
OTIMA casa. Folha da Manhã, Aracaju, 24 nov. 1940, ano II, n. 824, p. 2.
195
Fonte: Registro fotográfico feito Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Localizada
pelo autor (2013). no acervo do APMA.
Não é claro o quão contemporâneas estas obras são das obras conhecidas, ou
mesmo das atribuídas a Altenesch. A configuração ―colonial‖ da residência Calumbi,
como visto, é posterior, por ter sido finalizada após a sua morte. Apenas para a
residência na Avenida Barão de Maruim (figura 127), que há poucos anos sediava a
Fundação Augusto Franco, e que se encontra em franco processo de
descaracterização, é possível perceber que já estava erguida à época da publicação
da revista comemorativa do governo de Eronides Carvalho, já que parte de sua
196
150
PORTO, 2003, p. 54.
151
Ibid., p. 49.
152
―Por enquanto, por falta de melhor denominação, chamaremos de ‗neocolonial simplificado‘ a esse
estilo ‗paulistano‘, logo espalhado pelas cidades próximas, como Campinas, Santos, Sorocaba, que
teve suas regras de composição arquitetônicas estabelecidas espontaneamente, sem um
responsável direto, constituindo essa ocorrência um verdadeiro ato de criação coletiva. Em poucas
palavras, podemos dar as regras básicas desse estilo: uso de telhas tradicionais, então chamadas de
‗paulistinhas‘ e industrializadas principalmente pela cerâmica fundada por Roberto Simonsen, em São
Caetano, não sendo, porém, vedado o emprego de telhas francesas; manutenção de profundos
beirais, agora quase sempre forrados por baixo com massa de estuque, às vezes com cachorros
fingidos; telhados com certo ‗movimento‘ e nunca de duas águas; paredes externas de tijolo à vista,
mas aceitando nos cunhais fingimentos de pedras angulares, como usava Ramos de Azevedo em
suas ‗casas francesas‘: o emprego de aduelas de granito verdadeiro no caso de existirem arcos de
alpendres e não tinha a mínima importância o fato dessas pedras embebidas na alvenaria de tijolos
estarem desencostadas umas das outras, tudo era puro fingimento mesmo; a previsão de pequenos
balcões no pavimento superior, todos necessariamente guarnecidos de guarda-corpos executados
com ―meias-luas‖ desencontradas, como aqueles semicírculos empregados por Victor Dubugras no
Largo da Memória, em 1919; a aplicação na altura da parede, ao nível da janela, de uma faixa
contínua, espécie de grega, apresentando relevos decorativos executados no cimento modulado, no
alto das paredes, ao nível das vergas das janelas; o uso de jardineiras em balanço abaixo dos peitoris
197
para plantio de gerânios, emprego exclusivo de venezianas nos dormitórios, sendo elas facultativas
nas salas de estar diurno; adoção de pequenos e grande vitrais.‖ Cf. LEMOS, 1985, 174-175.
153
PORTO, 2003, p. 47.
154
Ibid., loc. cit.
198
155
SERGIPE (revista), [1937].
200
156
A MODERNA e confortavel Prefeitura Municipal de Japaratuba... Folha da Manhã, Aracaju, 12
abr. 1938, ano I, n. 64, p. 1.
157
FLORELISA Hotel: Duas heroínas do trabalho. O Estado de Sergipe, Aracaju, 18 ago. 1937, ano
V, n. 1272, p. 4.
158
PROPRIÁ-HOTEL. Sergipe-Jornal, Aracaju, 11 fev. 1936, ano XVI, n. 8274, p. 1.
201
Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Fonte: Gazeta de Sergipe (26 de abril, 1982).
Localizada em Mendonça; Silva (2012, Disponível em:
capa). <http://aracajuantigga.blogspot.com.br/2010/06/
colegio-tiradentes.html> Acesso em: 20 jul.
2018
Figura 140 – Casas na Rua Rosário, Santo Figura 141 – Fachada da Prefeitura do
Antônio. Municipal de Japaratuba, após reforma em 1938.
Fonte: Autoria não identificada [198-?]; Fonte: Folha da Manhã (Aracaju, 12 abril 1938,
Localizada no acervo do APMA. ano I, n. 64, p. 1).
203
incluídos neste estudo. O edifício sobre o qual se lançou a hipótese de que seja a
antiga sede da filial da Companhia Rovel da Baía S.A. em Aracaju, justamente por
se tratar de uma hipótese, é incluído nesta analise de forma auxiliar.
Apesar da divisão em subseções, as análises das obras visam um
entrelaçamento entre estas no intuito de revelar seus fios de convergências e
divergências, e, portanto, promover uma compreensão, a mais ampla possível, das
particularidades da obra do alemão. Também é considerada uma breve reflexão,
como feito na seção anterior referente às residências, sobre os possíveis vetores
técnicos, estéticos e partidos espaciais que possam ter influenciado a concepção
das obras estudadas. Busca-se também construir uma compreensão introdutória da
relação destes edifícios com a cidade.
Nos andares terceiro e quarto (figuras 145 e 146) as divisões dos ambientes
seriam feitas por paredes de vedação e estas estariam alinhadas a dois pares de
pilares. Há, contudo, diferenças entre as configurações destes, e estas estão
209
frontal. Percebe-se aqui a aplicação do mesmo princípio adotado por Altenesch nos
bungalows da Rua Vila Nova: a proposição de um plano de fachada a ocupar toda a
linha frontal do lote com a vedação dos recuos laterais. O acesso central, indicado
por breve escadaria de três degraus disposta em área côncava e chanfrada, abrir-
se-ia ao hall com pé direito de 6,40 metros e 4,35 metros de largura que cortaria o
edifício em sua transversal, desembocando no núcleo da circulação vertical da
edificação (figura 143). Estes equipamentos de circulação vertical levariam a
pequenos halls/vestíbulos nos demais pavimentos que possibilitariam, por sua vez,
acesso direto aos compartimentos de cada andar. Assim, o fluxo da circulação
principal se daria no sentido transversal no pavimento térreo e nos andares
seguintes, a partir da distribuição feita pela circulação vertical, este fluxo se daria no
sentido longitudinal a partir da zona de transição entre as duas caixas do edifício
composta por aqueles pequenos halls/vestíbulos.
indicação de que ele não o tenha apresentado. Contudo, é possível verificar nas
pranchas encontradas a indicação de elementos que compõe o esqueleto de
sustentação em concreto armado.
No corte longitudinal (figura 148), traçado rente à segunda fileira dos pilares
internos do edifício (figura 143), estão representadas fundações, pilares e vigas. As
fundações previstas seriam por estaqueamento coroado por blocos3, e destes blocos
nasceriam os pilares do andar térreo. São identificados, para este primeiro andar,
oito pilares internos, distribuídos de forma simétrica e alinhada (figura 143) e no
corte estão evidenciados os pilares dispostos nas paredes extremas do edifício.
Possivelmente em um projeto mais detalhado da estrutura seriam indicados ao longo
do perímetro de todo aquele primeiro andar pilares alinhados com os pilares
3
Como indica o edital da concorrência, as fundações deveriam ser propostas considerando o terreno
com resistência a uma carga de 500 g por centímetro quadrado para a faixa de 1,50 metros abaixo do
nível do logradouro. Esta característica indica um terreno de baixa resistência e que demandaria uma
fundação mais profunda.
213
Fonte: Emilio Odebrecht & Cia., Oswaldo Cohin Ribeiro [1936]; Prancha localizada no acervo
da CEHOP sob o código D23-0910-019.
4
CURTIS, William J. R. Arquitetura Moderna desde 1900. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, p.
76.
215
5
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 11. ed. São Paulo: Perspectivas,
2011, p. 76.
216
8
SERGIPE. Departamento de Propaganda do Estado de Sergipe. Von Altenesch. Diário Oficial do
Estado de Sergipe, Aracaju, 22 jun. 1940, ano XXII, n. 7907, p. 6.
220
vez maior verticalidade. Assim, mais do que nos bungalows, que herdaram apenas
os motivos ornamentais e um ou outro elemento da técnica moderna, como a
marquise em balanço da casa de número 508, o projeto do Palácio das Letras revela
para o contexto de Aracaju, respeitadas as devidas proporções e escalas, a
evocação da simbologia do arranha-céu. Obviamente não se trataria de um arranha-
céu, contudo, para uma cidade em que os prédios mais altos à época contavam com
no máximo dois pavimentos erguidos sobre um porão alto, e onde os marcos
verticais mais proeminentes eram as torres da Catedral e da Igreja São Salvador,
ambas no centro da cidade, não seria difícil prever o impacto que teria uma fachada
com gabarito equivalente a cinco ou seis pavimentos. Como afirma Segawa9:
9
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2014, p. 64.
10
Ibid., p. 54.
11
CURTIS, 2008, p. 68.
12
Ibid., p. 111.
13
Ibid., p. 137.
14
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 122.
221
15
SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma modernidade”: Arte Decó na
paisagem urbana de Aracaju: 1930-1945. 2002. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002, p. 42.
16
SERGIPE, jun. 1934, loc. cit.
222
Figura 154 – Capa do anuário Figura 155 – Biblioteca Figura 156 – Capa do
estatístico ―O Estado de Pública do Estado de Anuário ―Alagôas-Sergipe‖
Sergipe em 1935‖. Sergipe. para 1937.
17
A INAURUGAÇÃO do novo edifício da Biblioteca Publica. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 nov.
1936, ano IV, n. 1057, p. 1; INAUGURADO o novo Predio da Bibliotheca Publica. Sergipe-Jornal,
Aracaju, 16 nov. 1936, ano XVII, n. 8491, p. 1.
223
18
Levantamentos de edifícios ―Art Déco‖ nos bairros centrais de Aracaju podem ser conferidos nos
seguintes trabalhos: BRENDLE, Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti; MENDONÇA, Karoline; JESUS,
Ana Paula Santos de; BARBOSA, Juliane. Relatório Final: Inventário da Arquitetura Art-Déco de
Aracaju. Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Extensão-PIBIX. Universidade Federal de
Sergipe, dez. 2013; MACIEL FILHO, Carlos Cesar Menezes. A produção Art Déco em Aracaju: a
identidade moderna da primeira metade do século XX. 2013. 155 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju, 2013, p. 100 et. seq.
19
Em 1937, Aracaju contava com 11.730 imóveis, dos quais 90,54% eram térreo Cf.
SERGIPE/DEGP, 1938, p. 2751 apud SANTOS, 2002, p. 47-48.
224
privada e popular consistiu, por ser maioria, no vetor de mais eficaz renovação
plástica da cidade.
20
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 51.
21
INSTITUTO Histórico e Geográfico. O Estado de Sergipe, Aracaju, 17 mar. 1934, ano II, n. 302, p.
2.
22
DANTAS, Ibarê. História da Casa de Sergipe: os 100 anos do IHGSE 1912-2012. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, p. 130.
23
SERGIPE. Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas. Officios expedidos. Diário
Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 abr. 1937, ano XIX, n. 6999, p. 856; SERGIPE.
Secretaria da Agricultura, industria, Viação e Obras Publicas. Officios expedidos. Diário Official do
Estado de Sergipe, Aracaju, 16 maio 1937, ano XIX, n. 7016, p. 1017.
24
SERGIPE. Departamento De Propaganda E Divulgação Do Estado. Reportagens completas sobre
as festas realizadas na passagem do quarto aniversário da administração Eronides Carvalho. Folha
da Manhã, Aracaju, 4 abr. 1939, ano II, n. 346, p. 1.
25
O Professor Dr. Waldefrankly Rolim de Almeida Santos concedeu entrevista para este trabalho no
dia 29 de outubro de 2017.
26
Estas pranchas, do acervo do IHGSE, estão cadastradas sob os códigos MPSI nº 197.MPS e MPSI
nº 200.MPS e foram acessada no dia 11 de junho de 2017.
225
Figura 158 – Auditório do IHGSE antes das Figura 159 – Interrupções no rodateto das
reformas. janelas do salão de leituras.
27
Esta prancha, do acervo do IHGSE, está cadastrada sob o código MPSI nº 199.MPS e foi acessada
no dia 11 de junho de 2017.
28
DANTAS, 2012, passim.
29
Ibid., p. 183.
30
Ibid., p. 237.
31
Ibid., p. 235.
226
alterações aos fundos e a partir desta constatação foi possível delinear linhas mais
próximas da condição original do edifício.
Figura 160 – Auditório do IHGSE antes das Figura 161 – Auditório do Instituto IHGSE
reformas. após as reformas da década de 1950.
Fonte: Autoria não identificada [195-?]; Fonte: Autoria não identificada [19--];
Localizada no acervo do IHGSE. Localizada no acervo do Instituto Tobias
Barreto.
Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela CEHOP (2001); Ajustes elaborados pelo
autor (2018).
(figuras 160 e 161). Algumas marcas do rodateto nas paredes laterais do salão
principal (figura 159) também parecem indicar que ali originalmente estavam
dispostas janelas mais altas que as atuais e igualmente verticalizadas, seguindo o
padrão daquelas vistas na fotografia do salão. A partir destes dados encontrados, e
com um levantamento cadastral previamente feito32, foi possível elaborar uma
representação gráfica mais aproximada do traçado original.
A implantação do edifício do IHGSE (figura 163) guarda semelhanças com o
que foi proposto por Altenesch no seu projeto para o Palácio das Letras: a
centralidade no terreno e os recuos laterais, que seguiram uma mesma lógica
simétrica. Os projetos foram diferenciados nas suas relações com os recuos frontais
e posteriores, já que no IHGSE originalmente o seu projeto estabeleceu um recuo de
toda a face do fundo da edificação e também foi previsto um amplo afastamento
frontal, que se manteve até os dias atuais.
Com relação à espacialidade e fluxos de circulação, também como proposto
para o Palácio das Letras, delineou-se uma planta pautada na axialidade e simetria,
e no caso do IHGSE estes princípios são mais legíveis principalmente no pavimento
térreo (figura 163). Neste nível estabelecem-se dois grandes fluxos: um primeiro,
longitudinal, proveniente da entrada principal, que atravessa todo o comprimento do
edifício e chega até o recuo dos fundos por porta central localizada na fachada
posterior; e um segundo fluxo, transversal, que nasce no hall de acesso e se
encaminha para as escadarias laterais, possibilitando assim a integração vertical
com os outros pavimentos. A escadaria da direta termina no primeiro pavimento
superior, ao passo que a da esquerda chega até o segundo pavimento superior
(figura 164). Nestes andares, acoplados à escadaria da esquerda estão
compartimentos de serviço, basicamente instalações sanitárias. O primeiro
pavimento superior se abre em um grande salão de conferências enquanto o
segundo, circunscrito ao trecho frontal do edifício, atendia originalmente às
demandas da Radio Difusora por uma divisão funcional dos ambientes, integrados
por corredor diretamente advindo da escadaria.
32
Foi utilizado como base o levantamento cadastral do IHGSE elaborado pela CEHOP em 2001.
228
Fonte: Levantamento cadastral elaborado pela CEHOP (2001); Edição elaborada pelo
autor (2018).
229
Com relação à volumetria (figuras 165 e 166), assim como proposto para o
Palácio das Letras, a ênfase foi dada principalmente ao tratamento das fachadas, já
que no que concerne à caixa percebe-se um partido monolítico. A formatação, assim
como naquele outro projeto, foi pautada na verticalidade, na simetria e na axialidade.
Também se assemelham os dois projetos por características que parecem indicar
um método compositivo similar, a saber: a secção da fachada por trechos verticais,
com proeminências nos indicativos dos limites laterais e destaque para o trecho
230
33
PORTO, 2003, p. 53.
34
ALBANAZ, Maria Paula; LIMA, Cecília Modesto. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. São Paulo:
ProEDITORES, 1998, v. 1, p. 228.
232
alcançada no traçado do espaço com o uso desta técnica construtiva não se deu a
partir da aplicação de uma lógica racionalista lastreada em uma total autonomia da
estrutura. Nestes projetos se percebe que a estrutura está diretamente vinculada ao
programa, à distribuição dos espaços, seguindo assim uma compreensão
funcionalista do uso do sistema. Esta integração harmônica entre estrutura e
programa, no caso do IHGSE, fica legível principalmente no térreo, que apresenta
uma organização espacial mais articulada com as vigas e pilares. Com relação aos
elementos estruturais aparentes nos dois outros pavimentos, há pouca relevância no
que concerne à organização espacial e parecem cumprir absolutamente funções
estruturais. O conjunto estrutural aparente do primeiro pavimento superior, inclusive,
na área anterior ao auditório, apresenta uma baixa organização visual e pouco se
integra à espacialidade. Parece ter sido consequência da busca por se resolver
exclusivamente as demandas de sustentação do novo pavimento que foi construído
acima, deixando em segundo plano o equilíbrio visual entre espaço e estrutura.
Foram localizados durante as pesquisas alguns documentos que confirmam a
utilização destas tecnologias, inovadoras para a cidade àquela época, na construção
deste edifício. Em duas missivas diferentes, datadas de 25 de maio 36 e 12 de junho
de 193437, a presidência do IHGSE à época solicitou da Secretaria Geral do Estado
que fizesse a entrega, ―livre de direitos‖, de ―trezentos sacos de cimento nacional‖ e
―2.014 quilos de ferro em barra‖ ―para grande placa de cimento armado que há de
dividir o pavimento superior do edifício‖, respectivamente. Ambas as encomendas
viriam do Rio de Janeiro por embarcações a vapor e deveriam ser entregues à firma
Manuel M. de Almeida ―que se prestou a fazer preço de excessão, visto se tratar de
material destinado á construção do edifício do referido Instituto‖. Em uma fotografia
da construção do edifício em 1934 (figura 173) vê-se, ao nível do solo, a montagem
de uma malha com barras de ferro, que certamente indica uma fundação rasa em
radier. O posicionamento de sacos ao lado da estrutura, possivelmente cheios de
cimentos, talvez fossem um indicativo da proximidade do processo de concretagem.
Ao mesmo fornecedor, Manoel M. de Almeida, foi adquirido, já em 1937 na
36
O documento foi localizado no acervo do IHGSE, no fundo de Correspondências da década de
1930, sob a catalogação A, b, Cx. 040, Doc. 1541. O acesso foi realizado no dia 07 de junho de 2018.
37
O documento foi localizado no acervo do IHGSE, no fundo de Correspondências da década de
1930, sob a catalogação A, b, Cx. 040, Doc. 1543. O acesso foi realizado no dia 07 de junho de 2018.
234
Fonte: Autoria não identificada (1934); Publicada em Dantas Fonte: Autoria não
(2012, p. 137). identificada (1935);
Publicada em Dantas
(2012, p. 138).
38
SERGIPE, abr. 1937, loc. cit.
39
Este documento foi localizado no acervo do APES em pesquisa realizada em 17 de outubro de
2
2017. Consiste em uma folha avulsa encontrada no fundo Viação e Obras Públicas V volume 05.
235
Nos outros pavimentos do prédio também foi utilizado o piso de parquet com
tacos de madeira, em padrões bicolores de diferentes desenhos (figuras 175 e 176).
Este mesmo revestimento foi adotado em residências de autoria de Altenesch, como
pôde ser conferido no bungalow de número 498 e nas residências Torquato Fontes e
40
De acordo com o dicionário virtual Collins, Celotex é o nome de uma marca de placas feitas com
bagaços de cana-de-açúcar, cuja finalidade é o isolamento em construções. A empresa Celotex foi
fundada em 1921 na Florida, Estados Unidos da América, e produzia materiais de construção como
placas de isolamento e coberturas. Cf. CELOTEX. In: Collins Dictionary, 2018. Disponível em:
<https://www.collinsdictionary.com/pt/dictionary/english/celotex> Acesso em: 13 jun. 2018; MAUNEY,
Matt; PACHECO, Walter. Celotex Corporation History. Asbestos, oct. 11, 2018. Disponível em:
<https://www.asbestos.com/companies/celotex.php> Acesso em: 10 nov. 2018.
236
Gervásio Prata. Assim, deduz-se que, àquela época, este era um material bastante
difundido nas práticas construtivas de Aracaju.
Interessante observar a classificação da pintura enquanto ―estilo moderno‖.
Considerando-se que neste período o que se difunde sob a alcunha ―estilo moderno‖
nas páginas de revistas especializadas, como A Casa, são as expressões
racionalistas, da simplificação geométrica do ornamento — quando presente — e
dos volumes, é possível que ao se referir à pintura das paredes enquanto
―moderna‖, estivesse se tratando de um mesmo princípio estético. Ao serem
observadas as fotografias mais antigas do interior do edifício, que revelam paredes
claras e lisas, talvez se tenha notícia do que seria esta modernidade para os
revestimentos das paredes (figura 158 e 160).
41 1
Estas informações foram localizadas no volume 2275 do Fundo G do acervo do APES. Os ofícios
citados estão registrados respectivamente sob os números 205 e 453.
42
SERGIPE, maio 1937, loc. cit.
43
MALTA, Marina Oliveira. O ensino profissionalizante em Sergipe: contribuição do Instituto
profissional Coelho e Campos (1922-1944). 2010. 235 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010, p. 16.
44
Ibid., p. 82.
238
Fonte: Autoria não identificada [193-]; Fonte: Autoria não identificada [193-?];
Publicada em Diniz (2009, p. 219). Publicada em Melins (2007, p. 241).
Assim como ocorreu para o projeto do Palácio das Letras, Altenesch também
participou de uma concorrência pública para a escolha do projeto do Quartel do
Corpo de Bombeiros Municipais de Aracaju. Neste caso, contudo saiu vencedor,
tendo recebido por isso o prêmio de 500$000. Ele foi o autor do projeto, no entanto a
execução ficou a cargo da construtora Emilio Odebrecht & Cia. O batimento da
pedra ocorreu no dia primeiro de maio de 193645 e a inauguração do edifício foi
realizada em dois de abril de 193746.
O edital para a elaboração do projeto, originalmente aberto em 14 de janeiro de
193647, e depois reaberto em 29 de fevereiro do mesmo ano 48, oferecem
informações norteadoras sobre o projeto pretendido e as diretrizes ali contidas
auxiliam na compreensão do partido adotado por Altenesch em sua proposta. Foi
previsto um prédio de dois pavimentos, cujo programa de necessidades deveria
suprir as seguintes demandas: no primeiro pavimento estariam localizados o Estado
45
O GOVERNADOR Eronides Ferreira de Carvalho Foi Recebido Jubilosamente Pelo Povo
Sergipano: O batimento da pedra simbólica do quartel dos Bombeiros Municipais. O Estado de
Sergipe, Aracaju, 3 maio 1936, ano IV, n. 901, p. 2.
46
AS FESTAS de hoje. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 abr. 1937, ano V, n. 1164, p. 1.
47
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Edital N. 2: Chama concorrentes para a construcção de um quartel
para a Companhia de Bombeiros, como abaixo se declara. Diário Official do Estado de Sergipe,
Aracaju, 15 jan. 1936, ano XVIII, n. 6381, p. 125.
48
Id. Edital N. 6: Chama concorrentes para a apresentação de projectos para a construcção do
quartel da Companhia de Bombeiros. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 29 fev. 1936,
ano XVIII, n. 6418, p. 420.
239
49
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 abr. 1936, ano
XVIII, n. 6464, p.591.
50
Id. Edital N. 7: Chama concurrente para construcção de Quartel da Companhia de Bombeiros deste
Municipio. Diário Official do Estado de Sergipe, Aracaju, 25 mar. 1936, ano XVIII, n. 6438, p. 571.
241
51
Foram localizados dois levantamentos cadastrais, ambos no acervo da CEHOP. O mais antigo, a
grafite, foi encontrado na mapoteca daquela instituição, datado de outubro de 1991 e de autoria de
Galdino e James. O segundo, mais recente, digitalizado por autocad, foi elaborado em 2007
igualmente pela CEHO e assinado pelo técnico em edificações Carlos Augusto Andrade Barros. Em
ambos os levantamentos é possível identificar uma massa construída muito maior do que aquelas
percebidas nas fotografias antigas do prédio, e que também excederiam em muito a dimensão do
programa original indicado pelo edital para o projeto. Assim, os desenhos que ilustram essa análise
tiveram como base esta documentação mais antiga que se aproxima da originalidade da arquitetura
do Quartel.
243
do terreno do Quartel já que no correr dos anos recebeu ampliação para sul. A
massa do edifício, que foi expandida por toda esta extensão frontal, respeitados os
recuos laterais de 1,70 m, recebeu um alongamento ao longo da face norte,
conformando assim uma composição em ―L‖. Esta implantação, em sua seção
frontal, muito se assemelhou com a proposta do projeto para o Palácio das Letras: o
alinhamento ao limite frontal do terreno, os recuos laterais, a extensão da fachada
frontal por toda a largura do terreno e a composição simétrica deste plano são
características que unem ambos os projetos. Aqueles recuos laterais autorizaram
que as fachadas mais próximas aos limites do lote — particularmente a fachada
norte, por ser mais extensa — recebesse uma serie de envasaduras, respeitando
assim o principio de que todos o cômodos do prédio viessem a ser providos de
―arejamento e insolação‖52. A noção da salubridade das edificações, associada à
permeabilidade ao sol e à ventilação, era uma questão consolidada na práxis
projetual da época e inclusive era quesito destacado nas avaliações dos projetos
concorrentes nos editais para obras públicas em Sergipe à época, como pôde ser
checado no processo de seleção do Palácio das Letras e igualmente no texto de
avaliação dos projetos para este Quartel.
Quanto à resolução da espacialidade e do fluxo de circulação (figura 180)53,
nota-se a adoção de uma postura delineada sobre princípios de funcionalidade e
racionalidade. A simetria presente na implantação da seção frontal e na fachada não
foi replicada ao nível da planta, indicando a vocação do partido em atender ao
programa de forma restritamente pragmática. Se em todo o projeto do Palácio das
Letras e no pavimento térreo do IHGSE percebe-se um partido pautado em simetria
e axialidade, para o Quartel do Corpo de Bombeiros Altenesch se ateve em
organizar os ambientes de forma a atender as demandas do uso, sem a
preocupação em deixar legível na planta as diretrizes tradicionais de composição
arquitetônica presentes na implantação daquela seção frontal e na fachada. Estes
princípios ditaram a centralidade do acesso principal, bem como das envasaduras
dos ambientes da dianteira, no entanto foram diluídos pela distribuição
despretensiosa dos espaços internos.
52
ARACAJU, abr. 1936, loc. cit.
53
A indicação dos ambientes exposta na figura 178 leva em consideração as informações localizadas
no levantamento cadastral de 1991, encontrado no acervo da CEHOP.
244
Figura 181 – Vista a partir do pátio interno Figura 182 – Vista a partir do pátio interno
do Quartel do Corpo de Bombeiros do Quartel do Corpo de Bombeiros
Municipais de Aracaju. Municipais de Aracaju.
54
CARVALHO, Eronides Ferreira de. Mensagem Apresentada pelo Governador do Estado de
Sergipe, á Assembléa Legislativa do Estado, em 7 de setembro de 1936. Diario Official do Estado
de Sergipe, Aracaju, 17 set. 1936, ano XVIII, n. 6572, p. 2170.
55
CARVALHO. Eronides Ferreira de. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy.
Noticiário. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3255.
56
MAGALHÃES, Cláudio. Discurso pronunciado na inauguração do Palácio Serigy. Noticiário. Diário
Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 30 nov. 1938, ano XX, n. 7459, p. 3256-3257.
249
57
CARVALHO, 1938, loc. cit.
250
Em fotografias da antiga Cadeia (figuras 186 e 187), nota-se que possuía uma
visualidade associável às estéticas tradicionais do historicismo, com suas janelas
ogivais advindas do neogótico e modenatura classicizante. A reformulação do
edifício por Altenesch, portanto, serviu à renovação da cidade, afastando ―a
monotonia passadista dos nossos motivos arquitetônicos‖, para citar a fala do
Prefeito Godofredo Diniz ao homenagear o alemão em seu decreto nº 39 de 194058.
Esta atualização arquitetônica foi emblemática para os processos de modernização
urbana que ocorreram na Aracaju dos anos 1930, já que teve como cenário
justamente a quadra-inicial, o ―marco zero‖ da Aracaju capital fundada em 185559,
um dos pontos urbanisticamente mais consolidados nas primeiras décadas do
século XX. Tal fato recebeu grande atenção dos meios de comunicação e se
constituiu um marco na cidade de Aracaju a revelar os anseios pelo progresso
difundido no Estado Novo, como pode ser lido a seguir, em textos que revelam o
contraste entre o passado, representado pela antiga cadeia em ruínas, e a cidade
dinâmica que se moderniza, representada pela praça e edifício de linhas
―moderníssimas‖:
[...] Quem conheceu a velha fortaleza que até há bem pouco tempo
[...] serviu de penitenciaria, ficará em verdade surpreendido da
remodelação por que a fizeram passar, transformando-a no edificio
suntuoso e altaneiro, de linhas moderníssimas que hoje é, como si
uma Fada a tocara com a classica varinha de condão... [...] a
adaptação a que submeteram a CADEIA VELHA foi a mais integral,
de molde a surpreender pelo engenho de quem a delineou e
executou rigorosamente. Altenesch, o engenheiro inteligente e
operoso, a quem Aracaju deve já o aspecto renovado dos seus
grupos de bungalows distintíssimos, foi o executor emérito da
remodelação em apreço, empreendimento que, destacado de sua
atuação dinâmica como transformador da feição arquitetônica de
nossa formosa capital, bastaria recomendá-lo ao apreço dos
aracajuanos [...]60
58
ARACAJU. Prefeitura Municipal. Decreto-Lei nº 39 de 19 de agosto de 1940. Denomina rua nesta
Capital. Decretos-Leis e Atos 1940, Aracaju, Tip. Costa, p. 13-14, 1941.
59
PORTO, Fernando. A cidade de Aracaju 1855-1869: ensaio de evolução urbana. 2.ed. Aracaju:
Governo de Sergipe/FUNDESC, 1991, p. 16.
60
O PALÁCIO Serigí... Folha da Manhã, Aracaju, 30 nov. 1938, ano I, nº. 246, p. 1.
252
61
LIMA, J. Dantas de Brito. O Palácio ―Serigí‖. Folha da Manhã, Aracaju, 2 dez. 1938, ano I, n. 248,
p. 1.
62
BARRETO, Luiz Antônio. Altenesch e Wladimir Preiss. Infonet, Aracaju, nov. 2004. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=29079&titulo=Luis_Antonio_Barreto>.
Acesso em: 14 dez. 2017.
63
No acervo da mapoteca da CEHOP foram encontrados levantamento cadastral e projeto de
reforma elaborados em 1975 pela Superintendência de Obras Públicas do Estado (Sudope) em 8
folhas com os nomes dos seguintes profissionais, os técnicos em edificação: Edilson Barbosa, Abdon
Araujo, Nivaldo Ferreira Santos e Jair dos Santos. Estes desenhos, os mais antigos que se conseguiu
referentes ao Palácio Serigy, serviram como base para que pudessem ser feitas correções em
levantamento de 2005 digitalizado em Autocad. Estes últimos desenhos, assinados pelo engenheiro
civil Roberto Wagner N. Viana em serviço prestado à Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe,
foram cedidos pela arquiteta Msc. Isabella Aragão Melo Santos. As indicações no material gráfico
produzido para esta análise referentes ao aporte estrutural do edifício foram elaboradas a partir da
visita in loco realizada no dia 26 de junho de 2018. Algumas questões ficaram em aberto, e por isso o
material gráfico aqui exposto é lacunar. Não foi possível representar, por exemplo, o pavimento
superior do prédio anexo, pela fragilidade das informações encontradas nos desenhos consultados
concernentes a esta parte do edifício. De um modo geral, há fragilidade considerável na
representação das plantas baixas, já que as pranchas de 1975, as mais antigas encontradas,
apresentaram baixa legibilidade com relação às linhas indicativas de reforma. Também não se pôde
conferir em todo o prédio os indícios do sistema estrutural, já que muitos tetos estavam forrados à
época da visita. Questões como a presença do elevador e as modificações das divisões dos
ambientes ao longo dos anos ficaram em aberto pela impossibilidade de acesso às plantas originais
da reformar conduzida por Altenesch. Desta forma, a leitura destes desenhos deve focar
particularmente os quesitos referentes à distribuição geral dos cômodos e a circulação.
253
64 2
Foram encontrados no acervo do APES, no fundo Viação e Obras Públicas V , no volume 06,
algumas folhas orçamentárias que vinculam Altenesch às obras do anexo ao Palácio Serigy.
254
65
Foi localizada no acervo do APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 05, uma cópia do
Orçamento para reforma da Antiga Cadeia, assinado por H. O. Arendt von Altenesch em Aracaju no
dia 5 de dezembro de 1937 e destinada à Repartição de Obras Publicas do Estado. Este documento,
em quatro folhas, foi localizado incompleto, e nestas podem ser conferidas os 12 últimos itens dos 17
referentes aos aspectos construtivos da reforma.
256
66
À época, em dezembro de 1937, a reforma ainda visava a restruturação do prédio para receber a
Chefatura da Polícia, por isso o recibo assim está referendado.
259
Figura 199 – Vigas e mísulas aparentes Figura 200 – Vigas, mísulas e pilares
na circulação central do segundo aparentes na circulação do primeiro
pavimento superior do Palácio Serigy. pavimento do anexo do Palácio Serigy.
Fonte: Revista A Noite Ilustrada (Rio de Janeiro, 11 abr. 1939, n. 516, p. 33).
Assim como foi possível identificar que Altenesch forneceu material para a
construção, conforme revelado anteriormente69, outros fornecedores para a obra do
Serigy foram revelados na pesquisa. O Instituto Coelho e Campos, que também
contribuiu com os materiais da Radio Difusora na finalização do edifício do IHGSE,
69
Anexo C.
262
70 1
Estas informações foram localizadas no volume 2275 do Fundo G do acervo do APES. O ofício
citado está registrado sob o número 184.
71
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 9 de maio de 1938 a
5 de setembro de 1938 Pelo Sr. Rosendo José da Silva contractante das obras do Edifício ‗Serigí‘.
Aracaju, 17 dez. 1938.
72
Documento encontrado no APES, no fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 06: SERGIPE.
Repartição de Obras Públicas. Demonstração de mediação do trabalho feito de 14 de abril de 1938 a
6 de setembro de 1938 Pelo Sr. Luiz Manoel de Santana contractante das obras Serviços de
marmorite no edifício Serigy. Aracaju, 24 set. 1938.
263
Logo, o alemão tomou partido desta pré-condição do edifício em sua relação com o
sítio e expressou algo de sua compreensão acerca da modernidade na arquitetura.
A fachada do edifício anexo, aos fundos do Palácio propriamente dito, que foi
construído após a inauguração deste, recebeu tratamento de fachada equivalente,
com a aplicação de elementos similares, proporcionando ao conjunto alguma
homogeneidade visual (figura 209). Contudo, no que concerne à distribuição das
envasaduras nas fachadas, deu-se seguimento à proposta assimétrica indicada em
sua planta (figura 189), refletindo assim na sua visualidade externa o partido
prioritariamente funcional adotado para sua composição.
Chamam a atenção na configuração da visualidade deste conjunto de edifícios
uns elementos decorativos que compõe as marcações dos canteiros externos: umas
esferas em concreto (figuras 204, 205 e 210). Formas similares foram aplicadas
posteriormente no edifício Sulacap em Salvador, Bahia, projeto do arquiteto Roberto
266
73
GALEFFI, Lígia Maria Larcher. A linguagem Déco na arquitetura: uma dimensão da arquitetura
moderna – Salvador nas décadas de 1930-1940. 2003. 203 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2003, p. 169.
74
CURTIS, 2008, p. 127.
267
75
ALENCAR, Aurélia Tâmisa Silvestre de. Archimedes Memória: ―O futuro ancorado no passado‖.
2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010, p. 91.
76
SEGAWA, 2014, p. 92.
268
77
ALENCAR, 2010, p. 97
78
Ibid., loc. cit.
79
Ibid., p. 91.
80
Ibid., p. 97.
269
81
A INAUGURAÇÃO no domingo 30 do corrente mês dos campos de tênis da Associação Atletica de
Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 19 ago. 1936, ano IV, n. 985, p. 1.
82
ASSOCIAÇÃO Atletica de Sergipe (Nota Oficial). O Estado de Sergipe, Aracaju, 6 fev. 1937, ano
V, n. 1422.
271
Fonte: Cine Foto Walmir; Revista Roteiro de Fonte: Autoria não identificada [197-?];
Sergipe (Aracaju, 1970). Publicada em Melins (2007, p. 218).
parede interna, sobre o grande arco que dividia os ambientes, como pode ser
verificado na mesma imagem da construção. Estes elementos reforçam a
compreensão do gosto de Altenesch pelas formas puras, que já pôde ser
identificado, por exemplo, em algumas muretas de casas a ele vinculadas e nas
formas esféricas dos jardins do Serigy. Na obra da Associação Atlética, por sua
plástica racionalista, estas formas geométricas puras encontraram as superfícies
mais coerentes para o seu aparecimento.
Voltando à fotografia da construção (figura 218), não são notados ali os
volumes laterais, o que abre margem para dúvidas se teriam sido resultados, assim
como o volume dos fundos, de obras posteriores de reforma. A aplicação do
revestimento em pedra da seção inferior do semicilindro, bem como a forma
trapezoidal irregular das paredes de vedação no térreo dos volumes laterais,
igualmente revestidas por pedras, são itens não encontrados em nenhuma outra
intervenção do alemão. Duas hipóteses se apresentam, assim, a partir desta
observação: ou estes elementos teriam sido acrescentados posteriormente, de
forma desvinculada à ação de Altenesch, ou indicariam uma atualização das
expressões plásticas por parte do mesmo. Considerando-se a modernidade sui
generis da volumetria e permeabilidade desta obra quando comparada aos outros
edifícios institucionais conhecidos do alemão, não seria improvável esta última
alternativa.
Este edifício foi construído em uma região de expansão para o sul da cidade,
às bordas do atual bairro São José. Assim como parecem ter sido os bungalows da
83
O memorialista e economista Murillo Melins, que foi sócio por muitos anos da extinta Associação
Atlética de Sergipe, concedeu uma segunda entrevista para este trabalho no dia 16 de novembro de
2017.
84
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3. ed. Aracaju: Unit, 2007, p. 217.
85
Algumas imagens do salão de festas da Associação Atlética podem ser conferidas em vídeo (entre
02min09s e 03min12s) referente a registros do Carnaval de 1962 em Aracaju, e postado no canal do
Sr. Pascoal Maynard no Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_f0Tkyt51cE>
Acesso em: 1º jul. 2018.
274
86
CURTIS, 2008, p. 79.
87
Ibid., p. 101
275
88
CURTIS, 2008, p. 104
89
Ibid., p. 251-252.
90
Ibid., p. 261
91
SEGAWA, 2014, p. 66
92
Ibid., p. 64
93
Ibid., p. 68.
94
Ibid., p. 69.
276
95
SEGAWA, 2014, p. 66-67.
96
Ibid., p. 69-70.
97
Ibid., p. 70
98
O DIA da Comitiva Ditatorial, Ontem. O Estado de Sergipe, Aracaju, 1º set. 1933, ano I, nº 148, p.
2.
99
A INAUGURAÇÃO do Novo Predio dos Correios e Telegraphos. A República, Aracaju, 19 de julho
de 1935, ano IV, nº 1075, p. 4.
100
SANTOS, 2002, p. 39.
277
101
NERY, Juliana Cardoso. Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e
60. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003, São Carlos. Anais Eletrônicos... São Carlos:
USP/DOCOMO, 2003. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-
content/uploads/2016/01/079R.pdf> Acesso em: 6 nov. 2018.
102
PEREIRA, 1992, p. 103 apud REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana: o moderno
antes do modernismo. 2014. 278 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014, p. 166.
278
103
PEREIRA, 1992, p. 114 et seq. apud REIS, 2014, p. 167.
104
PEREIRA, 1992, p. 132 apud REIS, 2014, p. 167.
279
com a finalização escalonada. A autoria destes projetos não pôde ser identificada
nas buscas, mas as proximidades e contemporaneidade com a produção de
Altenesch parecem indicar confluência dos vetores e expressões modernizantes na
obra pública construída não só na capital, mas também para além de seus limites.
Fonte: Revista Sergipe [1937]. Fonte: Folha da Manhã (Aracaju, 28 dez. 1938, p.
1).
107
Atualmente adota-se o nome Cotinguiba Esporte Clube, mas para uma melhor contextualização
histórica foi escolhido para este trabalho o nome mais antigo, em seu original em inglês.
108
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube. Folha da Manhã, Aracaju, 28 dez. 1938, ano I,
n. 269, p. 1.
109
A FOLHA nos Sports: Mais uma afirmação de progresso do ―Cotinguiba Sport Club‖. Folha da
Manhã, Aracaju, 3 ago. 1938, ano I, n. 150, p. 2.
110
A NOVA séde social do Cotinguiba Esporte Clube, loc. cit.
282
Fonte: Levantamento cadastral elaborado pelo Arquiteto Luiz Mangueira (2014); Edição
elaborada pelo autor (2018).
111
Durante as pesquisas para este trabalho foram realizadas duas visitas ao Cotinguiba Sport Club: a
primeira em 19 de novembro de 2017 e a segunda em 10 de julho de 2018. Ambas foram conduzidas
pelo Sr. Wellington Mangueira, atual presidente do Clube, que partilhou as suas memórias acerca das
modificações ocorridas na arquitetura do prédio, indicando como teria sido a sua configuração após a
intervenção de Altenesch. Nascido em 21 de agosto de 1945, o Sr. Wellington Mangueira formou-se
em Direito, História e Filosofia. Sua jornada está entrelaçada com a história do Cotinguiba, já que ao
nascer sua família já era vinculada ao clube e consta que o seu cordão umbilical foi ali enterrado.
112
O arquiteto e urbanista Luiz Mangueira, que tem sido responsável pelas mais recentes reformas
do Cotinguiba, concedeu gentilmente para este trabalho pranchas em arquivo de autocad referentes a
levantamento cadastral por ele realizado no ano de 2014.
113
MELIS, 2007, p. 219.
283
Fonte: Levantamento cadastral elaborado pelo Arq. Luiz Mangueira (2014); Edição
elaborada pelo autor (2018).
entrada lateral. Havia outro fluxo de circulação, vertical e concernente à escada, por
onde se acessava o salão de festas e suas dependências. E por fim, um terceiro
fluxo, externo ao edifício, que possibilitava o acesso aos vestiários e integrava a
lateral do pavimento terreno à quadra e ao terreno do clube.
Com relação aos aspectos volumétricos (figuras 227, 229, 231 e 232), a
intervenção de Altenesch imprimiu nas fachadas do edifício o mesmo princípio da
divisão bipartite assimétrica que delineou a configuração espacial. Esta questão foi
evidenciada principalmente na fachada frontal pela legível configuração de dois
conjuntos distintos de elementos agrupados na verticalidade, e de forma mais
enfática pela diferença dos gabaritos entre as duas seções. O torreão refletiu no
aporte volumétrico a caixa da escada e a localização do reservatório de água.
Segundo Mangueira, naquele torrão e acima da escada, com acesso pelo mesmo
mezanino do banheiro feminino e da orquestra, originalmente havia sido instalada
uma sala para a guarda dos troféus e prêmios do clube. As envasaduras das portas
de acesso receberam vergas em arcos plenos e as janelas alternaram-se entre os
conjuntos harmônicos de escotilhas e fitas igualmente arrematadas por arcos
plenos. Destacam-se os elementos ornamentais dos fingimentos de cachorros, os
chapéus em telhas-canal sobre a platibanda com destaque nas extremidades, o
beiral incrustado sobre o conjunto de janelas do salão de festas e os baixos-relevos
em forma curva utilizados na finalização deste conjunto de janelas. De acordo com
286
114
CIGLIANO, Jan. Bungalow: American Restoration style. Layton: Gibbs Smith, 1998, p. 18.
287
desta plástica estrangeira. Não foi possível identificar nenhuma outra intervenção
nesta categoria, o que sugere essa particularidade e exclusividade da reforma do
Cotinguiba dentre as intervenções de Altenesch em Aracaju. Muitos destes
elementos haviam sido utilizados naquelas residências que Porto115 vinculou a um
pseudoneocolonial ―alteneschiano‖, porém nestas obras, como o próprio Porto
afirma, Altenesch teria feito uma apropriação pessoal e extravagante, distanciada
assim da singeleza formal e decorativa da expressão Missões, mais legível no
Cotinguiba e naquele bungalow da Vila Nova.
Nota-se também, no Cotinguiba, a presença de elementos que não só foram
utilizados nas intervenções de Altenesch de viés neocolonial, mas que parecem
sugerir um repertório formal que permeou os mais diversos vieses estéticos de sua
obra. Aqui se refere principalmente ao uso das formas puras, como as aberturas
circulares em escotilhas (figuras 227, 231 e 232) — também presentes nas fachadas
da casa Flávio Prado, por exemplo — e as envasaduras em fitas retangulares do
balcão e do guarda-corpo da escada (figuras 227, 234 e 236) — que estavam
presentes no guarda-corpo da escada externa aos fundos da casa Torquato Fontes.
Estas duas casas citadas podem ser entendidas como vinculáveis ao que se
entendia na época como ―stylo moderno‖, e o compartilhamento de formas nelas
presentes com aquelas utilizadas em obras ―neocoloniais‖ parecem indicar a
existência deste repertório formal do alemão alicerçado no uso da geometria pura.
Figura 234 – Escada do Cotinguiba Sport Figura 235 – Mísula na viga da escada do
Club. Cotinguiba Sport Club.
115
PORTO, 2003, p. 49.
288
116 1
Ambas os documentos foram localizados no acervo do APES, no fundo G , volume 1995, referente
às correspondências recebidas pelo Governo.
290
117
BISPO, Alessandra Barbosa. A educação da infância pobre em Sergipe: a Cidade de Menores
―Getúlio Vargas‖ (1942-1974). 2007. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007, p. 56.
291
118
BISPO, 2007, p. 58.
119
Ibid., p. 56.
120
Ibid., p. 59.
121
ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju. 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1.
122
CARDOSO, Abelardo Maurício. Relatório: Serviço Social de Menores. Aracaju, 1º ago. 1941. 11 f.
(Acervo do APES, referência para busca: BR SEAPES REL V15 D15).
123
CABRAL, Mario. Cidade de Menores. Folha da Manhã, Aracaju, 9 jun. 1940, ano III, n. 689.
292
124
Foi localizado no acervo da mapoteca da CEHOP, em visita realizada em sete de julho de 2017,
um conjunto de pranchas de origens variadas (Secretaria da Justiça e Interior; CONDESE;
Superintendência de Obras Públicas), referentes a levantamentos cadastrais, planialtimétricos e
projetos de acréscimos e reformas para a Cidade de Menores ―Getúlio Vargas‖. Estes desenhos,
datados dos anos 1971, 1974 e 1975, foram agrupados na mapoteca da CEHOP sob o código D14-
0776.
293
125
Informação localizada na prancha cadastrada sob o código D14-0776-001 no acervo da mapoteca
da CEHOP.
294
Este peso da autoridade estatal sobre os destinos dos internos parece ter sido
transferido para a forma do edifício em questão. Neste, não se aplicou a
descontração da ornamentalidade percebida nas fachadas da Portaria. Foi mantido
132
PORTO, 2003, p. 51.
133
BISPO, 2007, p. 51.
297
134
BISPO, loc. cit.
299
e a finalização dos espigões com as telhas de ponta arrebitada — que haviam sido
utilizados na Portaria o foram novamente para esta residência, conferindo-lhe a
desejada aparência bucólica.
Fonte: Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro, 6 ago. 1940, anno 66, n. 182, p. 7).
Por fim, têm-se o Pavilhão Lar “Cândido da Mota” (número 18 na figura 241;
figuras 248 a 251). Este edifício, na década de 1950, acolhia até quarenta e oito
crianças de onze aos dezesseis anos e era dotado de aparelhos sanitários, quarto
do monitor, apartamento para o Capelão e monitor chefe, refeitório, cozinha e quarto
de empregados135. Foi o primeiro Pavilhão Lar a ser construído e tinha como
finalidade ser a residência permanente de parte dos internos. Diferente do Pavilhão
de Ingresso, a composição deste outro indicava um partido pautado na maior
permeabilidade do espaço interno e na relação com o exterior, bem como uma maior
movimentação volumétrica. Esta foi a única intervenção de Altenesch, entre as
quatro aqui abordadas, em que houve o rompimento com a simetria. Neste edifício,
a expressão neocolonial de vocação rural serviu a uma solução de menor apego às
formas conservadoras de composição espacial. Percebe-se que a volumetria deste
Pavilhão anunciava uma distribuição funcional do espaço lastreada no princípio
da setorização. A varanda foi disposta com solução intermediária em relação
àquelas propostas para a Casa de Triagem e a Casa do Diretor: nem a restrição
espacial de uma nem a completa permeabilidade da outra. Esta varanda do Pavilhão
Lar, assim como naquelas outras duas edificações, foi destacada pela
135
BISPO, 2007, p. 60.
301
Figura 248 – Planta baixa do Pavilhão Lar ―Cândido da Mota‖ na Cidade de Menores
―Getúlio Vargas‖.
Fonte: Material gráfico elaborado pelo autor a partir de prancha localizada no acervo da
CEHOP.
Maciel‖ e Pavilhão Lar ―Augusto Maynard‖ (respectivamente figuras 251, 252 e 253).
Destaca-se neste conjunto de obras construídas pós-Altenesch a capela Capela
―Nossa Senhora do Carmo‖, erguida em 1951136, e na qual se percebe uma adoção
cuidadosa da morfologia e ornamento barroco-colonial de origens luso-brasileiras
(figura 254).
136
BISPO, 2007, p. 102.
137
Ibid., p. 114.
138
Ibid., p. 59.
305
Fonte: Autoria não identificada [193-?]; Publicada no Blog ―Educandário Dom Duarte
Memória da História Extra Oficial‖ (2015). Disponível em:
<http://andrepavi20.blogspot.com/search?updated-max=2015-11-16T18:34:00-
02:00&max-results=1&reverse-paginate=true> Acesso em: 09 jul. 2018.
Cidade de Menores paulista havia sido adotada uma expressão de bases coloniais.
O frontão curvo na fronte interceptado pelos beirais do telhado em quatro águas, que
Altenesch havia adotado para sua Portaria e para a Casa do Diretor, era um padrão
nos edifícios da instituição paulistana. Assim, é possível supor que aquela Cidade de
Menores tenha influenciado os partidos estéticos do alemão para seu projeto.
Apesar das semelhanças e provável influência, é perceptível que a arquitetura
proposta para a Cidade de Menores sergipana apresentou maior diversidade
volumétrica entre os edifícios.
Altenesch, nesta sua última obra, concluída após a sua morte, parece ter
adotado pela primeira vez uma plástica associável ao neocolonial de bases luso-
brasileiras, ainda que híbrida. Até aquele momento, ao menos em se considerando a
sua obra conhecida, as referencias coloniais que ele tinha adotado estavam muito
mais ligadas às experiências hispano-estadunidenses, como a estética que se
convencionou chamar ―Missões‖ e que havia sido adotada de forma mais coerente
com a ―cartilha‖ no bungalow de número 513 da Rua Vila Nova e no Cotinguiba
Sport Club, mas que também que estava diluída nas experiências ―alteneschianas‖.
Esta relativa aproximação de Altenesch com o neocolonial nacional poderia ser
talvez entendida como consequência da absorção das referências dadas pela
Cidade de Menores paulista, mas também é possível que tenha relação com uma
provável interação inicial do alemão com as construções históricas e coloniais da
cidade de São Cristóvão. Como visto anteriormente, ele foi nomeado em julho de
1938 como parte da comissão que iria fazer o reconhecimento e controle dos bens
de valor histórico da antiga capital do estado de Sergipe 140, em uma atividade
relativa à elevação daquela cidade por parte do Interventor Eronides de Carvalho à
categoria de monumento histórico, pelo Decreto-Lei 94 do em 22 de junho de
1938141. Não se pode confirmar que esta comissão tenha de fato atuado, mas não
seria de todo improvável que tenha promovido uma maior aproximação do alemão à
estética colonial autóctone, base para o ―movimento neocolonial‖ brasileiro.
Contudo, apesar das referencias às estéticas neocoloniais — tradicionais,
portanto —, o conjunto de Altenesch para a Cidade de Menores indicou uma
140
SERGIPE. Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Instruções N. 1. Diario Oficial do Estado
de Sergipe, Aracaju, 12 jul. 1938, ano XX, n. 7346, p. 2059.
141
SERGIPE. Interventoria do Estado. Decreto-Lei nº 94 de 22 de junho de 1938. Eleva São
Cristóvão á categoria de monumento histórico. Diário Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 23 jun.
1938, ano XX, n. 7333.
307
5 CONCLUSÃO
Elaborar esta pesquisa e a sua escrita foi como juntar pedaços soltos de um
velho mapa. Como um quebra-cabeça desgastado, com peças rasgadas e muitas
ausências, aos poucos foi sendo possível montar um quadro, que de muito perto não
teria sentido algum, mas observado a certa distância revelou algumas formas
reconhecíveis, outras fragmentadas, e a possibilidade de se identificar caminhos
possíveis de entendimento. Um trabalho repleto de pequenos achados, de surpresas
e também de frustrações. Como falar de alguém, nesta era da imagem e do
personalismo, sem ao menos conhecer o seu rosto, sua expressão? Assim foi
necessário desapegar da tentativa de trazer o passado a tona e focar no possível: o
entendimento do sujeito e sua obra a partir dos rastros, pegadas e lampejos
dispersos.
Cobrindo os pontos deixados pela literatura antecedente a este trabalho no que
concerne à presença e atuação de Altenesch em Aracaju, foi possível investigar as
suas origens, seu trajeto até chegar à capital sergipana e as possibilidades de sua
formação. Assim, algumas hipóteses foram lançadas. Ele teria sido Hermann Otto
Wilhelm Arndt, um técnico de nível secundário em engenharia civil, nascido em
Bremen, na Alemanha, em 16 de maio de 1901 e teria vindo para a América no
início da terceira década do século XX, depois da Primeira Guerra Mundial. Teria
ficado na Argentina, a serviço de uma construtora, até pelo menos 1926. Em 1927
já estava no Rio de Janeiro e de lá saiu por questões judiciais que o levaram a
falência.
Em Aracaju, a serviço de Erich Apenburg entre 1933 e 1934, dirigiu as
construções da filial da Companhia Rovel da Baía S.A. e de pelos menos dois dos
bungalows da Rua Vila Nova. Também trabalhou para “A Construtora”, empresa
de sorteio de imóveis, onde ocupou o cargo de chefia da divisão técnica e por esta
firma conduziu a construção de outros bungalows na Vila Nova. Além disso, no final
de 1933, envolveu-se, a pedido do então governador Augusto Maynard, na
elaboração da fachada de uma nova estação ferroviária e por aquele período já
estaria projetando a sede do IHGSE. Estes foram os seus primeiros movimentos na
cidade, e pela amplitude e rapidez no desenvolvimento destas relações parece estar
explicada a permeabilidade que brevemente alcançou no cenário da construção e
proposição de inovações na cidade.
309
1
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: ______. Obras escolhidas: Magia e técnica,
arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987, cap. 15, p. 231.
310
2
H. O. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1, p. 2; H.
A. ARENDT Von Altenesch: Engenheiro Civil. Novidade, Aracaju, abr. 1936, ano I.
3
Anexo C.
312
4
FORTES, Bonifácio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade do Aracaju. Aracaju: Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, 1955, p. 39.
5
SEGAWA, Hugo. Clave de Sol: notas sobre a história do conforto ambiental. Arquitextos, São
Paulo, ano 07, n. 073.03, Vitruvius, jun. 2006 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.073/345>. Acesso em: 17 jul. 2018.
314
6
PORTO, Fernando. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade
Ltda., 2003, p. 54.
7
Ibid., p. 51.
315
8
Anexo C.
9
PORTO, 2003, p. 49.
10
Ibid., loc. cit.
316
lista aumentou com esta pesquisa, com a adesão da sede do Cotinguiba Sport
Club e provavelmente o edifício à Avenida João Ribeiro, onde teria funcionado a
filial sergipana da Companhia Rovel da Baía S.A. A lista pode ainda aumentar, se
houver maior clareza documental, como parece já haver no aspecto visual, sobre a
autoria da Ponte do Imperador, do Santuário Nossa Senhora Menina e do
Palácio de Veraneio na Atalaia. É provável que por esta prevalência simbólica e
material da obra e do nome do alemão na cidade tenha ocorrido a atribuição ao seu
nome do projeto da Biblioteca Pública (atual APES), que em verdade foi projeto e
construção da Emilio Odebrecht & Cia.
Talvez seja possível afirmar que Altenesch tenha sido o introdutor de algumas
inovações, como a expressão ornamental do zigue-zague e escalonamento,
entendida como Art Déco já que presentes nos seus bungalows de 1934 e na
possível sede da Companhia Rovel, inaugurada no final de 1933. O uso das
expressões neocoloniais talvez seja algo a se questionar, já que algumas casas de
um suposto neocolonial “simplificado” já existiam antes da intervenção de Altenesch.
No entanto, a proposição festiva, e aparentemente sui generis, da residência
Carvalho Neto, parecem indicar uma contribuição própria do alemão. É possível
também que o construtor tenha sido o propositor das expressões racionalistas, das
formas puras, para o âmbito residencial, com suas residências Torquato Fontes e
Gervásio Prata, erguidas entre 1936 e 1938. No âmbito institucional o edifício dos
Correios e Telégrafos, de autoria não identificada e inaugurado em 1935, saiu à
frente da Associação Atlética, inaugurada entre 1937 e 1938. Nesta obra o alemão
expressou de uma forma mais plena a adesão a uma pureza geométrica da forma.
Quanto ao uso do cimento/concreto armado, Altenesch pode ter sido também
um importante divulgador, principalmente devido à expressão desta tecnologia em
suas fachadas. Quanto à suposta influência que ele tenha exercido sobre outros
construtores no uso desta técnica construtiva, conforme indicado por Fortes, é algo
mais difícil de analisar pela inexistência de registros de projetos que possibilitem
esta comparação. Contudo, é possível afirmar que, se houve esta influência, ela não
gerou uma mudança imediata nas práticas construtivas. Como é revelado na tabela
1, em 1937, três anos após a chegada do alemão, o número de construções em
cimento armado em Aracaju ainda era insignificante, mesmo que a renovação
arquitetônica tivesse de fato acontecendo, como indica o expressivo número de
construções “modernas em geral” e bungalows.
317
11
PORTO, 2003, p. 54.
12
PROJETO e Construção. O Estado de Sergipe, Aracaju, 2 dez. 1936, ano IV, n. 1070, p. 4.
13
FRANCISCO Oliveira Dantas (Yoyô). O Estado de Sergipe, Aracaju, 9 abr. 1937, ano V, n. 1169,
p. 2.
14
CONSELHO Federal de Engenharia e Architectura. Diário Official dos Estados Unidos do Brasil,
Rio de Janeiro, 12 jun. 1936, ano LXXV, n. 136, p. 13131.
15
Ibid., loc. cit.
16
Ibid., loc. cit.
17
PRIMEIRA Escola Municipal. O Estado de Sergipe, Aracaju, 26 nov. 1936, ano IV, n. 1065, p. 1.
18
GENTIL Tavares. Diário da Tarde, Aracaju, 14 out. 1937, ano IV, n. 786, p. 2.
19
JOSÉ Rolemberg Leite. Diário da Tarde, Aracaju, 14 out. 1937, ano IV, n. 786, p. 4.
20
ESCRIPTORIO techinico de Oswaldo Cohim Ribeiro. Correio de Aracaju, Aracaju, 29 mar. 1937,
n. 707, p. 4.
21
BIBLIOTHECA Pública do Estado de Sergipe. O Estado de Sergipe, Aracaju, 26 jan. 1936, ano IV,
n. 826, p. 1.
22
Ibid., loc. cit.
23
Ibid., loc. cit.
24
Ibid., loc. cit.
25
O NOVO farol da Barra da Estancia. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 jul. 1937, ano V, n. 1253, p.
6.
26
ENGENHEIRO Civil Carlos de Carvalho. Novidade, Aracaju, fev. 1936, ano I, n. 1.
27
O DIRECTOR de Obras foi à Bahia. Correio de Aracaju, Aracaju, 11 jan. 1935, n. 246, p. 1.
28
REGISTRO Aniversarios. O Estado de Sergipe, Aracaju, 30 maio 1937, ano V, n. 1208, p. 4.
318
29
PECHMAN, Roberto. Eronides Ferreira de Carvalho. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico).
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/eronides-ferreira-de-
carvalho> Acesso em: 24 jul. 2018.
30
GODOFREDO Diniz Gonçalves. In: FGV CPDOC. (verbete biográfico). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/godofredo-diniz-goncalves> Acesso
em: 24 jul. 2018.
31
SERGIPE e a sua probidosa e fecunda Administração. Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro, nov.
1940, anno XVIII, n. 67, p. 51-53; ARACAJÚ, a cidade litorânea mais bella do Brasil. Ilustração
Brasileira, Rio de Janeiro, nov. 1940, anno XVIII, n. 67, p. 54-55.
32
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Paulo - Rio de Janeiro: Graphicas Romiti & Lanzara, [1937].
319
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SANTOS, Osmário. Luiz Antônio Barreto: o maior historiador que SE já teve. Jornal
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______. ______. Oficio recebido. Diario Oficial do Estado de Sergipe, Aracaju, 2 jun.
1934, ano XVI, n. 5973, p. 1635-1636.
SOUZA, Adriano Augusto Linhares de. Umas casinhas bonitinhas: um registro dos
bangalôs no centro de Aracaju. 2015. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tiradentes, Aracaju,
2015.
PERIÓDICOS SERGIPANOS
ENTREVISTAS
ALMEIDA, José Augusto Machado de. Entrevista concedida pelo engenheiro civil,
proprietário da casa de número 565 na Avenida Barão de Maruim. Entrevistador:
Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 14 out. 2017.
______. Entrevista concedida pelo professor de educação física, filho da Sra. Josefa
Batista Barreto, proprietária do bungalow de número 508 na Rua Duque de Caxias.
Entrevistador: Carlos Cesar Menezes Maciel Filho. Aracaju, 23 mar. 2018.
339
ARQUIVOS
Ancestry
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em:
<www.ancestry.com>).
Arquivo Nacional
Listas de entradas no Porto do Rio de Janeiro (parcial; referente às
embarcações advindas da Argentina e Uruguai entre os anos de 1926 e 1927;
Acervo digital, em consulta virtual. Disponível em:
<http://sian.an.gov.br/sianex/consulta/login.asp>);
Registro Nacional de Estrangeiros (consulta a distância, por e-mail).
Biblioteca Nacional
Hemeroteca Digital (acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de
palavras. Disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/>).
341
Bremer Passagierlisten
Projeto mantido pela Sociedade para Pesquisa Genealógica de Bremen, em parceira
com a Câmara do Comércio de Bremen e o Arquivo do Estado de Bremen –
Alemanha.
Bremeer Passagierlisten – Lista de Passageiros de Bremen (acervo digital,
em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em
<www.passagierlisten.de>);
Passregister – Lista de Passaportes (acervo digital, em consulta virtual por
ocorrência de palavras. Disponível em <www.passagierlisten.de>).
Bremen Staatsarchiv
Arquivo do Estado de Bremen – Alemanha
Consulta a distância, por e-mail.
FamilySearch
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em :
<https://www.familysearch.org/>).
Jornais de Sergipe
(catálogo de jornais sergipanos do IHGSE, digitalizados pelo Sistema de Bibliotecas
da UFS para em consulta virtual. Disponível em : <http://jornaisdesergipe.ufs.br/> ).
342
JusBrasil
(acervo digital, em consulta virtual por ocorrência de palavras. Disponível em :
<https://www.jusbrasil.com.br/home>).
343
APÊNDICE B – Esquematização das informações referentes à atuação de Altenesch em Aracaju.
344
Bungalow nº 521 Inaugurado em Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Schuster (2000);
1934. São José. com algumas Porto (2003).
alterações. Contribuição desta
pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Bungalow nº 529 - Inaugurado em Rua Duque de Caxias, Existente; fachada Porto (2003).
1934. São José. descaracterizada.
Resid. Em construção Esquina da Rua Demolida. Porto (2003).
Carvalho Neto em 1934. Estância com Rua Contribuição desta
Pacatuba, Centro. pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
Resid. Já estava Rua Maruim (segundo Não identificada. Nunes; Helbing
Cel. Guilhermino pronto em 1935. MELINS, 2017). (1988).
Rezende Contribuição desta
pesquisa:
Confirmação
Almanack de
Sergipe (1935);
Revista Renascença
(nov.1935).
345
Resid. Em construção Rua Boquim, nº 67, Existente; com Porto (2003).
Gervásio Prata em 1936; já Centro. algumas
estava pronta alterações.
em 1937.
346
ARQUITETURA INSTITUCIONAL DE ALTENESCH
Obra Imagem Período Endereço Estado Fonte
Filial da Inaugurada em Avenida João Ribeiro, nº 554, Existente. Contribuição
Companhia 1933. Santo Antônio. desta pesquisa:
Rovel da Baía Informação
S.A. Inédita
Cadastro
Commercial,
Industrial, Agricola
e Informativo do
Estado de Sergipe
(1933).
Hipótese quanto
à localização
atual.
Nova estação - Projeto estava - Não foi Porto (2003);
ferroviária sendo feito no construída. Contribuição
final de 1933. desta pesquisa:
Confirmação
O Estado de
Sergipe (Aracaju,
24 nov. 1933).
347
Palácio das Projeto de Projeto para Praça Fausto Não foi Contribuição
Letras 1934. Cardoso, nº 348, Centro construído. desta pesquisa:
(onde foi construído o edifício Informação
da Biblioteca Pública, atual Inédita
sede do APES). Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 25 jul.
1934).
348
Quartel do Construção Rua Siriri, nº 762, Centro. Existente; Nunes; Helbing
Corpo de iniciada em fachada com (1988); Porto
Bombeiros 1936 e algumas (2003).
Municipais de inaugurada em alterações. Contribuição
Aracaju 1937. desta pesquisa:
Confirmação
Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 30 abril
1936).
Palácio Serigy/ Reforma Praça General Valadão, nº Existente; Nunes; Helbing
Centro de iniciada em 32, Centro. fachada com (1988); Santos
Saúde 1936 e algumas (2002); Porto
parcialmente alterações. (2003).
concluída em Contribuição
1938. Anexo desta pesquisa:
em construção Informação
durante 1939. Inédita sobre o
edifício anexo
Diário Oficial do
Estado de Sergipe
(Aracaju, 28 abril
1939); Volume 06,
Fundo V2, acervo
APES.
Associação Em construção Rua Vila Cristina, São José. Demolida. Santos (2002);
Atlética de em 1937. Barreto (nov.
Sergipe 2004); Revista
Sergipe [1937].
349
Cotinguiba Reforma Avenida Augusto Maynard, nº Existente; Contribuição
Sport Club iniciada em 13, São José. fachada com desta pesquisa:
1938 e em alterações e Informação
conclusão no edifício com Inédita
mesmo ano. acréscimos. Folha da Manhã
(Aracaju, 03 ago.
1938).
Cidade de Construções Estrada para o município de Demolidas; Cardoso (1941);
Menores iniciadas em Nossa Senhora do Ruinas. Porto (2003);
“Getúlio 1939; As Socorro/SE (nas Bispo (2007).
Vargas” quatro proximidades da atual Rua
edificações da Frente, que leva para o
identificadas Presídio Feminino).
Portaria foram
concluídas em
1940. Estas
compuseram a
primeira etapa
da obra,
conduzida
Casa de Triagem / inicialmente
Pav. de Ingressos por Altenesch.
O complexo foi
inaugurado em
1942.
Pavilhão Lar
“Cândido da Mota”
350
Casa do Diretor
Palácio de Em construção Avenida Beira Mar, nº 2240, Existente (não Nunes; Helbing
Veraneio em 1940. Atalaia. analisado). (1988).
Santuário Construção Rua Itabaiana, nº, São José. Existente (não Atribuição feita por
Nossa Senhora iniciada em analisado). Luiz Antônio
Menina 1940 e Barreto e indicada
inaugurada em em Brito Neto
1942. (2015).
351
OUTROS SERVIÇOS/ATIVIDADES PRESTADOS POR ALTENESCH
Serviço Período Fonte
Participação do corpo do júri do 2º Salão Mixto Evento realizado em setembro de Contribuição desta pesquisa:
de Artes. 1935. Informação Inédita
Correio de Aracaju (Aracaju, 6 set.
1935).
Participação da comissão responsável pela Ato de nomeação da comissão: n. Santos (2002).
elaboração de anteprojeto de revisão do 38 de 10 de setembro de 1935.
Código de Posturas de Aracaju. Publicação do anteprojeto: 16/20
outubro de 1936.
Aprovação da reforma do Código de
Posturas: 26 de outubro 1938.
Participação na concorrência para projeto do Edital de janeiro de 1936. Contribuição desta pesquisa:
Cais da Praia 13 de Julho. Informação Inédita
Dário Oficial do Estado de Sergipe
(Aracaju, 14 março 1936).
Participação na concorrência para anteprojeto Edital de março de 1936. Contribuição desta pesquisa:
de quatro pontes em concreto armado. Informação Inédita
Dário Oficial do Estado de Sergipe
(Aracaju, 24 abril 1936).
Nomeado para participar de comissão Soutelo (2004 apud SOUZA, 2005).
reconhecimento e controle dos bens de valor Contribuição desta pesquisa:
históricos localizados em São Cristóvão/SE. Confirmação
Folha da Manhã (Aracaju, 12 jul.1938);
Dário Oficial do Estado de Sergipe (12
jul. 1938).
352
353
Fonte: Acervo do APES, fundo Viação e Obras Públicas V2, volume 05. Acesso em
17 out. 2017.
357
Fonte: ALTENESCH. Folha da Manhã, Aracaju, 22 jun. 1940, ano III, n. 700, p. 1.
361