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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Vistos, etc.

Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo SINDICATO DOS


EMPREGADOS EM CLUBES, ESTABELECIMENTOS DE
CULTURA FÍSICA, DESPORTOS E SIMILARES DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – SINDECLUBES em face CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF) e CLUBE DE REGATAS DO
FLAMENGO.

Em síntese, afirma o autor que, no próximo dia 27 de setembro de


2020, está marcada partida de futebol a ser realizada em São
Paulo, válida pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro,
organizado pelo 1º réu, entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e o
2º Réu (Clube de Regatas do Flamengo).

Alega que, conforme amplamente noticiado nos meios de


comunicação, nessa semana, o 2º réu (CLUBE DE REGATAS DO
FLAMENGO) teve diversos empregados do departamento de
futebol contaminados pelo coronavírus (Covid-19) após viagem ao
Equador, para disputa de competição internacional.

Aduz, ainda, que o referido surto de contaminação será mais bem


detalhado na fundamentação da presente petição inicial, mas desde
já se pode concluir que vários profissionais foram - e estão -
contaminados, em que pese não ser possível afirmar que tal
contaminação se deu em tal viagem.

Segundo o autor, tal circunstância evidencia que o vírus está


potencialmente ativo dentre os empregados do departamento de
futebol do Clube de Regatas do Flamengo, razão por que o
Sindicato Autor entende que não existem as mínimas condições de,
com segurança, haver a realização da partida do próximo domingo
(27.09.2020), em virtude do elevado risco de contágio generalizado.

O autor, a fim de fundamentar o pedido, afirma:


“Em razão de viagem ao Equador, para disputa de 2
(dois) jogos internacionais, integrantes do
departamento de futebol do Clube de Regatas do
Flamengo (2º Réu) conviveram intensamente, dia e
noite, por mais de uma semana, dividindo hotel, ônibus,
avião etc.

Em que pese não ser possível afirmar que houve


contaminação dos empregados do 2º réu na referida
viagem, fato é que vários profissionais do 2º réu
empregados estão contaminados, uns com resultado
positivo, outros com resultado negativo (que pode ser o
conhecido "falso negativo"), conforme amplamente
noticiando na imprensa:

Surto de Covid, vulcão e "invasão" ao hotel: os


bastidores do Flamengo até a vitória em Guayaquil -
https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/
noticia/surto-de-covid-vulcao-e-invasao-ao-hotel-os-
bastidores-do-flamengo-ate-a-vitoria-em-
guayaquil.ghtml, acessado em 25.09.2020.

Com efeito, além dos atletas, foram contaminados


empregados do 2º Réu representados pelo Sindicato
Autor, tais como membros da comissão técnica,
responsáveis pela logística, seguranças, assessores de
imprensa, dentre outros.

Os especialistas em infectologia sinalizam que os


testes realizados pelo protocolo de segurança não são
capazes de assegurar a ausência do vírus entre os
empregados do departamento de futebol e os atletas,
sendo necessário um isolamento maior.

A propósito, o Sindicato Autor transcreve trechos de


opiniões médicas noticiadas na imprensa:

"Celso Ferreira Ramos Filho, professor da UFRJ e


membro titular da Academia Nacional de Medicina
O nome do que ocorre no Flamengo é surto. É o caso
de um grupo num espaço fechado que está em contato
próximo, evidentemente que frequentam as mesmas
instalações, foram no mesmo avião para o Equador e
estão transmitindo o vírus entre si. O nome disso é
surto.

(...) o teste PCR, por melhor que seja, não é 100%


confiável. Ele não garante com certeza absoluta que a
pessoa tenha o vírus e nem garante que ela não tenha.
É mais fácil haver um falso negativo do que um falso
positivo, no entanto. Mas pode ter pessoas que fazem
o teste sem o resultado positivo porque ainda não teve
tempo de o vírus de manifestar, está no período de
incubação. Isso sem sombra de dúvidas é possível.
(...)"

Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia


do Estado do Rio de Janeiro.

Não há como garantir que outros jogadores não


estejam contaminados porque o exame não é 100%.
Se todo mundo com o exame negativo fosse negativo,
poderia ser. Mas não é assim. Quem dá positivo é
positivo, mas quem dá negativo a gente não pode
assegurar que seja realmente negativo.

Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade


Brasileira de Infectologia

É claro que existe alguma chance de contaminação dos


outros jogadores, eles podem estar num período de
incubação do vírus. Todos foram testados, e esses
negativos teoricamente não estão transmitindo, embora
sempre exista o risco do falso positivo. Mas esse
protocolo é o que está sendo utilizado tanto pela CBF
quanto pela Conmebol de testagem dos jogadores pré-
jogo e liberação daqueles que são negativos. (...) O
que a gente tem visto é a transmissão entre o mesmo
time, como aconteceu agora com o Flamengo e como
já aconteceu com o Goiás. (...) Obviamente que,
quando há um surto tão grande assim num único time,
onde estão todos juntos, concentrados no mesmo
hotel, no mesmo avião, sempre vai existir o risco de
casos acontecendo posteriormente nesse time.

(https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/
noticia/especialistas-alertam-com-surto-no-flamengo-
testes-nao-garantem-ausencia-do-virus-em-
campo.ghtml, acessado em 25.09.2020.

Conquanto direcionadas aos atletas, as opiniões


médicas transcritas acima envolvem inegavelmente
todos os empregados do Flamengo (2º Réu) que dão
suporte aos jogares de futebol, empregados, esses
últimos, todos representados pelo Sindicato Autor, e
que igualmente serão novamente expostos ao risco de
contaminação pelo Covid-19, caso seja realizada a
partida do próximo domingo (27.09.2020).”.

Por fim, afirma haver inegáveis riscos sanitários e médicos na


realização da partida marcada para 27.09.2020, por conta da
situação excepcional a que foi submetido todo o departamento de
futebol do Flamengo (2º Réu), sendo medida imperiosa o adiamento
do aludido jogo de futebol profissional.

Passo a analisar o pedido.

O que pretende o sindicato autor, por meio da liminar pleiteada, é a


manutenção da saúde e integridade física dos empregados,
jogadores e do restante do elenco.

Evidente que há competência material da Justiça do Trabalho, uma


vez que a ação trata, em suma, da garantia de um meio ambiente
de trabalho saudável e hígido para os empregados do clube.

Como mencionado pelo próprio autor, merecem especial destaque


os comandos da Norma Regulamentadora n.º 9, que trata da
prevenção de riscos ambientais e concretiza o preceito
constitucional fundamental do art. 7º, inciso XXII, ao garantir a todos
os trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho.
Diante dos fatos narrados, evidentemente que há probabilidade do
direito e perigo do demora caso a tutela não seja efetivada
liminarmente.

No caso, sendo medida urgente, possível, ainda, a concessão da


liminar sem a oitiva da parte contrária.

Apesar disto, a 1ª ré, sem ser citada, manifestou-se


espontaneamente nos autos, por meio da petição ID. 3154610.

Pois bem. A pandemia existe e não há espaço para negacionismos.


A COVID-19 assola o mundo, infectando milhões de pessoas e, de
forma dramática, ocasionando milhares e milhares de mortes.

Apesar dos protocolos estabelecidos pela CBF e pelo 2º réu, é


público e notório, pelos documentos e notícias juntadas aos autos,
que há um surto focalizado entre os empregados e jogadores do
Clube de Regatas do Flamengo.

Em razão dos eventuais resultados falso-negativos e da


possibilidade de haver infectados dentro do período de incubação,
não há garantia de que os empregados saudáveis não terão contato
com outros empregados que possam estar infectados.

Deve-se ressaltar, ainda, que os exames são realizados com


antecedência de 2 a 3 dias, e que outros empregados podem ter
sido infectados após a realização do exame, em razão do surto
focalizado já mencionado. Neste contexto, não há como garantir
que empregados que tenham testado negativo estejam, de fato,
saudáveis e não estejam transmitindo o vírus, seja pela
possibilidade de resultado falso-negativo, seja pela possibilidade de
ter contraído o vírus após a realização do exame.

Ressalte-se que o sindicato autor representa o staff do clube,


composto, muitas vezes, por pessoas idosas e/ou pertencentes ao
grupo de risco, o que potencializa o risco da realização da partida
em questão.

Manter a partida implicaria risco demasiado para a saúde de


jogadores das duas equipes, comissão técnica e demais
empregados. Além disso, há risco de contaminação dos familiares,
quando do retorno para casa.

Tratando-se de tutela de urgência, desde que atendidos os fins


pretendidos, cabe ao juiz “determinar as medidas que considerar
adequadas para efetivação da tutela provisória (CPC, art. 297)”.

Portanto, por tudo acima exposto, a fim de garantir a integridade


física e a manutenção da saúde dos empregados do 2º réu (CLUBE
DE REGATAS DO FLAMENGO), concedo a tutela de urgência, em
caráter liminar, e determino que a suspensão do jogo designado
para o dia 27/09/2020, entre o Clube de Regatas do Flamengo e a
Sociedade Esportiva Palmeiras, em São Paulo.

Em caso de descumprimento da medida, ou seja, caso os réus


insistam na realização da partida, fica estipulada multa de R$
2.000.000,00 (Dois Milhões de Reais), a ser revertido para
instituições de saúde no combate ao COVID-19.

Rio de Janeiro, 26/09/2020.

Filipe Olmo

Juiz do Trabalho
Assinado de forma digital por FILIPE
FILIPE OLMO DE ABREU OLMO DE ABREU
MARCELINO:12035562767 MARCELINO:12035562767
Dados: 2020.09.26 14:28:09 -03'00'

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