OS 10 ELEMENTOS DA

AGROECOLOGIA QUE ORIENTAM A

TRANSIÇÃO
PARA ALIMENTOS E SISTEMAS AGRÍCOLAS
SUSTENTÁVEIS
 Introdução

Os sistemas alimentares e agrícolas de hoje conseguiram fornecer grandes

volumes de alimentos para os mercados globais. No entanto, sistemas agrícolas
de alto insumos externos e intensivos em recursos causaram desmatamento
maciço, escassez de água, perda de biodiversidade, esgotamento do solo e
altos níveis de emissões de gases de efeito estufa.
Apesar dos progressos significativos nos últimos tempos, a fome e a pobreza
permanecem como desafios globais críticos. Mesmo quando a pobreza foi
reduzida, as desigualdades generalizadas permanecem, dificultando a
erradicação da pobreza.

Integrante da Visão Comum para Alimentação e Agricultura Sustentável 1 da

FAO, a agroecologia é uma parte fundamental da resposta global a esse clima de
instabilidade, oferecendo uma abordagem única para atender a aumentos
significativos em nossas necessidades alimentares do futuro, garantindo que
ninguém fique para trás.

A agroecologia é uma abordagem integrada que aplica simultaneamente

conceitos e princípios ecológicos e sociais à concepção e gestão de sistemas
alimentares e agrícolas. Busca otimizar as interações entre plantas, animais,
seres humanos e meio ambiente, levando em consideração os aspectos sociais
que precisam ser adicionados para um sistema alimentar sustentável e justo.

Agroecologia não é uma invenção nova. Pode ser identificado na literatura

científica desde a década de 1920, e tem encontrado expressão nas práticas dos
agricultores familiares, nos movimentos sociais de base para a sustentabilidade
e nas políticas públicas de vários países ao redor do mundo. Mais recentemente,
a agroecologia entrou no discurso das instituições internacionais e da ONU. 2

Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas 1

O QUE TORNA A AGROECOLOGIA DISTINTA?
A agroecologia é fundamentalmente diferente de outras abordagens para o
desenvolvimento sustentável. Baseia-se em processos territoriais e de baixo para cima,
ajudando a fornecer soluções contextualizadas para os problemas locais. As inovações
agroecológicas baseiam-se na co-criação do conhecimento, combinando a ciência com o
conhecimento tradicional, prático e local dos produtores. Ao aumentar sua autonomia e
capacidade adaptativa, a agroecologia capacita produtores e comunidades como
principais agentes de mudança.

Em vez de ajustar as práticas de sistemas agrícolas insustentáveis, a agroecologia busca

transformar os sistemas alimentares e agrícolas, abordando as causas básicas dos
problemas de forma integrada e proporcionando soluções holísticas e de longo prazo. Isso
inclui um foco explícito nas dimensões sociais e econômicas de sistemas alimentares. A
agroecologia coloca um forte foco nos direitos das mulheres, jovens e povos indígenas.

QUAIS SÃO OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA?

Ao orientar os países a transformar seus sistemas alimentares e agrícolas, promover a
agricultura sustentável em grande escala3, e a alcançar a Fome Zero e vários outros ODS, os
seguintes 10 elementos surgiram dos seminários regionais da FAO sobre agroecologia4:

Diversidade; sinergias; eficiência; resiliência; reciclagem; co-criação e

compartilhamento de conhecimento (descrevendo características comuns de
sistemas agroecológicos, práticas fundamentais e abordagens inovadoras de íons)

Valores humanos e sociais; cultura e tradições alimentares (características do

contexto)

Governança responsável; economia circular e solidária (ambiente propício).

Os 10 elementos da Agroecologia são interligados e interdependentes.

POR QUE OS 10 ELEMENTOS SÃO ÚTEIS E COMO SERÃO USADOS?

Como ferramenta analítica, os 10 Elementos podem ajudar os países a operacionalizar a agroecologia.
Ao identificar importantes propriedades de sistemas e abordagens agroecológicas, bem como
considerações fundamentais no desenvolvimento de um ambiente propício para a agroecologia,
os 10 Elementos são um guia para formuladores de políticas, profissionais e stakeholders no
planejamento, manejo e avaliação de transições agroecológicas.

2 OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
Diversidade
A diversificação é fundamental para transições agroecológicas
para garantir a segurança alimentar e a nutrição, preservando,
protegendo e melhorando os recursos naturais.
Os sistemas agroecológicos são altamente diversos. Do
ponto de vista biológico, os sistemas agroecológicos
otimizam a diversidade de espécies e recursos
genéticos de diferentes formas. Por exemplo, sistemas
agroflorestais organizam culturas, arbustos e árvores
de diferentes alturas e formas em diferentes níveis ou
estratos, aumentando a diversidade vertical.
A intercultura combina espécies complementares para
aumentar a diversidade espacial. 5 Rotações de
culturas, muitas vezes incluindo leguminosas,
aumentam a diversidade temporal. 6 Os sistemas de
cultivo dependem da diversidade de raças locais
adaptadas a ambientes específicos. 7 No mundo
aquático, a agricultura tradicional de policultura de
peixes, a cultura Aquática Multi-Trófica Integrada
(IMTA) ou os sistemas rotacionais de peixes-culturas
seguem os mesmos princípios para maximizar a
diversidade. 8
O aumento da biodiversidade contribui para
uma gama de produção, socioeconômica,
nutrição e benefícios ambientais. Ao planejar
e gerenciar a diversidade, as abordagens
agroecológicas potencializam o
provisionamento de serviços ecossistêmicos,
incluindo polinização e saúde do solo, sobre os
quais a produção agrícola depende. A
diversificação pode aumentar a produtividade
e a eficiência do uso de recursos, otimizando a
biomassa e a água.
A diversificação agroecológica também fortalece a
resiliência ecológica e socioeconômica, inclusive
criando novas oportunidades de mercado. Por
exemplo, a diversidade de culturas e animais reduz o
risco de fracasso diante das mudanças climáticas.
Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas
Pastagem mista por várias espécies de ruminantes
reduz o risco à saúde por parasitas, enquanto diversas
espécies ou raças locais tem chances maiores de
sobreviver, produzir e manter níveis de reprodução em
ambientes adversos.
Por sua vez, ter uma variedade de fontes de renda de
mercados diferenciados e novos, incluindo produtos
diversos, processamento de alimentos locais e
agroturismo, ajuda a estabilizar a renda das famílias.
Consumir uma variedade diversificada de cereais,
frutas, legumes e produtos de origem animal
contribui para melhores resultados nutricionais. Além
disso, a diversidade genética de diferentes
variedades, raças e espécies é importante na
contribuição de macronutrientes, micronutrientes e
outros compostos bioativos para dietas humanas.
Para exemplo, na Micronésia, reintroduzir uma
variedade tradicional subutilizada de banana de
carne laranja com 50 vezes mais betacaroteno do
que a banana comercial de carne branca amplamente
disponível provou-se fundamental para melhorar a
saúde e a nutrição. 9
No nível global, três culturas de cereais fornecem cerca
de 50% de todas as calorias consumidas, 10, enquanto a
diversidade genética de culturas, gado, animais
aquáticos e árvores continua a ser rapidamente
perdida.
A agroecologia pode ajudar a reverter essas
tendências, gerenciando e conservando a
agrobiodiversidade, e respondendo à crescente
demanda por uma diversidade de produtos
ecologicamente corretos. Um exemplo é "amigo dos
peixes": arroz produzido a partir de ecossistemas
irrigados, com fados de chuva e arroz em águas
profundas, que valoriza a diversidade de espécies
aquáticas e sua importância para os meios de
subsistência rurais. 11
3
A agroecologia depende de conhecimentos específicos
do contexto. Não oferece prescrições fixas – as
práticas agroecológicas são adaptadas para se
adequarem ao contexto ambiental, social, econômico,
cultural e político. A co-criação e compartilhamento
de conhecimento tem um papel central no processo
de desenvolvimento e implementação de inovações
agroecológicas para enfrentar desafios em sistemas
alimentares, incluindo adaptação amudançasclimáticas.
Por meio do processo de co-criação, a agroecologia
mistura conhecimentos práticos e conhecimentos
tradicionais e indígenas, conhecimentos práticos de
produtores e comerciantes e conhecimento
científico global.
O conhecimento do produtor sobre biodiversidade
agrícola e experiência de gestão para contextos
específicos, bem como seus conhecimentos
relacionados a mercados e instituições são
absolutamente centrais nesse processo.
Educação – formal e não-formal – tem papel
fundamental no intercambio de inovações
agroecológicas que surgem de processos de co-criação.
Por exemplo:
Há mais de 30 anos, o movimento campesino tem
desempenhado um papel fundamental no
compartilhamento de conhecimento agroecológico,
conectando centenas de milhares de produtores na
América Latina. 12 Em contraste, os modelos de primeira
linha de transferência de tecnologia tiveram sucesso
limitado.
Promover processos participativos e inovações
institucionais que constroem confiança mútua permite
co-criação e compartilhamento de conhecimento,
contribuindo para processos de transição agroecologia
relevantes e inclusivos.

Diversidad
e

COCRIAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE
CONHECIMENTO

4 OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
A agroecologia presta atenção ao desenho de sistemas
diversificados que combinam seletivamente culturas
anuais e perenes, pecuária e animais aquáticos,
árvores, solos, água e outros componentes em
fazendas e paisagens agrícolas para melhorar as
sinergias no contexto de um clima cada vez mais em
mudança.
Construir sinergias em sistemas alimentares oferece
múltiplos benefícios. Ao otimizar as sinergias biológicas,
as práticas agroecológicas melhoram as funções
ecológicas, levando a maior eficiência e resiliência ao
uso de recursos. Por exemplo, globalmente, a fixação
biológica de nitrogênio por pulsos em sistemas de
intercropping ou rotações gera cerca de USD 10 mil de
economia em fertilizantes nitrogenados a cada ano,13
enquanto contribui para a saúde do solo, mitigação das
mudanças climáticas e adaptação. Além disso,
cerca de 15% do nitrogênio aplicado às culturas vem do
estrume da pecuária, destacando sinergias resultantes
da integração entre a cultura e a pecuária. 14 Na Ásia,
sistemas integrados de arroz combinam cultivo de arroz
com a geração de outros produtos, como peixes, patos
e árvores. Ao maximizar as sinergias, os sistemas
integrados de arroz melhoram significativamente os
rendimentos, a diversidade alimentar, o controle de
pragas, a estrutura do solo e a fertilidade, além de
fornecer habitat de biodiversidade e controle de
pragas. 15
Diversidad
e
COCRIAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE
CONHECIMENTO
Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas
No nível microrregional, a sincronização das atividades
produtivas no tempo e no espaço é necessária para
melhorar as sinergias. O controle de erosão do solo
usando linhas de Calliandra é comum em sistemas
agroecológicos integrados nas Terras Altas da África
Oriental.16 Neste exemplo, a prática de manejo da poda
periódica reduz a concorrência das árvores com as
culturas cultivadas entre as linhas e, ao mesmo tempo,
fornece ração para os animais, criando sinergias entre os
diferentes componentes. Pastoralismo e extensos
sistemas de pastagem pecuária gerenciam interações
complexas entre pessoas, rebanhos de várias espécies e
condições ambientais variáveis, construindo resiliência e
contribuindo para serviços ecossistêmicos como
dispersão de sementes, preservação de habitats e
fertilidade do solo.17,18
Enquanto abordagens agroecológicas se esforçam
para maximizar as sinergias, as trocas também
ocorrem em sistemas naturais e humanos. Por
exemplo, a alocação de direitos de uso de recursos ou
acesso muitas vezes envolve compensações. Para
promover sinergias dentro do sistema alimentar mais
amplo e melhor gerir trade-offs, a agroecologia
enfatiza a importância de parcerias, cooperação e
governança responsável, envolvendo diferentes
atores em múltiplas escalas.
5
 menos recursos

O aumento da eficiência do uso de recursos é uma Em última análise, a redução da dependência de

propriedade emergente de sistemas agroecológicos recursos externos capacita os produtores aumentando
que cuidadosamente planejam e gerenciam sua autonomia e resiliência a choques naturais ou
diversidade para criar sinergias entre diferentes econômicos.
componentes do sistema. Por exemplo, um desafio
Uma forma de medir a eficiência dos sistemas
chave de eficiência é que menos de 50 por cento
integrados é utilizando as Relações Equivalentes de
de fertilizantes nitrogenados adicionados
Terra (LER). 20 LER compara os rendimentos do cultivo
globalmente às terras agrícolas é convertido em
de dois ou mais componentes (por exemplo, culturas,
produtos colhidos e o resto é perdido para o
árvores, animais) juntamente como rendimento do
ambiente causando grandes problemas
cultivo individualmente dos mesmos componentes.
ambientais.19
Sistemas agroecológicos integrados frequentemente
Sistemas agroecológicos melhoram o uso de recursos demonstram LERs mais elevados.
naturais, especialmente aqueles abundantes e livres,
A agroecologia promove assim os sistemas agrícolas
como radiação solar, carbono atmosférico e
com os necessários sistemas biológicos,
nitrogênio.
socioeconômicos e diversidade institucional e
Ao melhorar os processos biológicos e a reciclagem alinhamento no tempo e espaço para apoiar maior
da biomassa, nutrientes e água, os produtores eficiência.
podem utilizar menos recursos externos, reduzindo
custos e os impactos ambientais negativos de seu
uso.

Diversidad
e

COCRIAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE
CONHECIMENTO

6 OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
O desperdício é um conceito humano – não existe em
ecossistemas naturais. Ao imitar ecossistemas
naturais, práticas agroecológicas apoiam processos
biológicos que impulsionam a reciclagem de
nutrientes, biomassa e água dentro dos sistemas de
produção, aumentando assim a eficiência do uso de
recursos e minimizando desperdícios e poluição.
A reciclagem pode ocorrer tanto em escala agrícola
quanto dentro de paisagens, através da diversificação
de uma construção de sinergias entre diferentes
componentes e atividades. Por exemplo, sistemas
agroflorestais que incluem árvores de raízes profundas
podem capturar nutrientes perdidos além das raízes
das culturas anuais.21 Os sistemas de cultivo-pecuária
promovem a reciclagem de materiais orgânicos usando
estrume para compostagem ou diretamente como
fertilizante, e resíduos de culturas e subprodutos como
ração animal.
O ciclo de nutrientes representa 51% do valor
econômico de todos os serviços ecossistêmicos não
provisionamento, e a integração da pecuária
desempenha um grande papel nisso.22 Da mesma
forma, nos sistemas arroz-peixe, os animais aquáticos
ajudam a fertilizar a cultura do arroz e reduzir as
pragas, reduzindo a necessidade de insumos externos
de fertilizantes ou pesticidas.
A reciclagem proporciona múltiplos benefícios ao
fechar ciclos de nutrientes e reduzir o desperdício que
se traduz em menor dependência de recursos externos,
aumentando a autonomia dos produtores e reduzindo
sua vulnerabilidade a choques de mercado e clima. A
reciclagem de materiais orgânicos e subprodutos
oferece grande potencial para inovações
agroecológicas.

Diversidad
e

RECICLAGEM

COCRIAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE
CONHECIMENTO

Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas 7

Sistemas agroecológicos diversificados são mais Em escala microrregional, paisagens agrícolas
resistentes – eles têm uma maior capacidade de se diversificadas têm maior potencial para contribuir para
recuperar de distúrbios, incluindo clima extremo, as funções de controle de pragas e doenças. 24
mesmo como seca, inundações ou furacões, e para
Abordagens agroecológicas podem igualmente melhorar
resistir a ataques de pragas e doenças.
resiliência socioeconômica. Por meio da diversificação
Após o furacão Mitch na América Central em 1998, e integração, os produtores reduzem sua
fazendas biodiversas, incluindo agrofloresta, agricultura vulnerabilidade caso uma única cultura, espécie de
de contorno e cultivo de cobertura, retiveram 20-40% gado ou outras mercadorias falhem.
mais o máximo, sofreram menos erosão e
Ao reduzir a dependência de insumos externos, a
experimentaram perdas econômicas menores do que
agroecologia pode reduzir a vulnerabilidade dos
as fazendas vizinhas que praticavam monoculturas
produtores ao risco econômico. O aumento da
convencionais.23
resiliência ecológica e socioeconômica anda lado
Ao manter um equilíbrio funcional, os sistemas a lado – afinal, os seres humanos são parte
agroecológicos são capazes de resistir a pragas e integrante dos ecossistemas.
ataques de doenças. As práticas agroecológicas
recuperam a complexidade biológica dos sistemas
agrícolas e promovem a necessária comunidade de
organismos interagindo para autorregular surtos de
pragas.

Diversidad
e

COCRIAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO DE
CONHECIMENTO

8 OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
A agroecologia coloca forte ênfase nos valores
humanos e sociais, como dignidade equidade,
inclusão e justiça todos contribuindo para a melhoria
da dimensão dos meios de subsistência dos ODS. Ela
coloca as aspirações e necessidades daqueles que
produzem, distribuem e consomem alimentos no
coração dos sistemas alimentares. Construindo
autonomia e capacidades adaptativas para gerenciar
suas agroecossistemas, abordagens agroecológicas
capacitam pessoas e comunidades para superar
pobreza, fome e desnutrição, ao mesmo tempo em
que promove os direitos humanos, como o direito à
comida e à administração do meio ambiente para
que as gerações futuras também possam viver em
prosperidade.
A ecologia agropecuária busca enfrentar as
desigualdades de gênero, criando oportunidades para
as mulheres. Globalmente, as mulheres compõem
quase metade da força de trabalho agrícola. Também
desempenham um papel vital na segurança alimentar
doméstica, na diversidade alimentar e na saúde, bem
como na conservação e no uso sustentável da
diversidade biológica. Apesar disso, as mulheres
permanecem economicamente marginalizadas e
vulneráveis a violações de seus direitos, enquanto suas
contribuições muitas vezes permanecem não
reconhecidas.25
RESILIÊNCIA DA EFICIÊNCIA DE
VALORES
HUMANOS E
SOCIAIS
Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas
Agroecologia pode ajudar mulheres rurais na
agricultura familiar a desenvolver níveis mais
elevados de autonomia construindo conhecimento,
através da ação coletiva e criando oportunidades
de comercialização. A agroecologia pode abrir
espaços para que as mulheres se tornem mais
autônomas e capacitá-las em níveis domésticos,
comunitários e além – por exemplo, através da
participação em grupos de produtores. A
participação das mulheres é essencial para a
agroecologia e as mulheres são frequentemente
líderes de projetos de agroecologia.
Em muitos lugares ao redor do mundo, os jovens rurais
enfrentam uma falta de emprego. A agroecologia
fornece uma solução promissora como fonte de
empregos decentes. A agroecologia baseia-se em uma
forma diferente de produção agrícola que é intensiva
em conhecimento, ambientalmente amigável,
socialmente responsável, inovadora e que se gasta com
mão-de-obra qualificada. Enquanto isso, jovens rurais
em todo o mundo possuem energia, criatividade e um
desejo de mudar positivamente seu mundo. O que eles
precisam é de apoio e oportunidades.
Como um paradigma de baixo para cima, o
paradigma de base para o desenvolvimento rural
sustentável, a agroecologia capacita as pessoas a
se tornarem seus próprios agentes de mudança.
DIVERSITY
RECICLAGEM SINERGIA RESILIÊNCIA
CO-CREATION AND
SHARING OF KNOWLEDGE
9
Tradições Culturais e Alimentares
Ao apoiar dietas saudáveis, diversificadas e culturalmente
adequadas, a agroecologia contribui para a segurança alimentar e
nutrição, mantendo a saúde dos ecossistemas.
Agricultura e alimentos são componentes fundamentais
da herança humana. Assim, as tradições culturais e
alimentares desempenham um papel central na
sociedade e na formação do comportamento humano.
No entanto, em muitos casos, nossos sistemas
alimentares atuais criaram uma desconexão entre
alimentos saudáveis e cultura. Essa desconexão
contribuiu para uma situação em que a fome e a
obesidade existem lado a lado, em um mundo que
produz alimentos suficientes para alimentar toda a sua
população.
Quase 800 milhões de pessoas em todo o mundo estão
cronicamente famintas e 2 bilhões sofrem de
deficiências de micronutrientes.26 Enquanto isso, houve
um aumento desenfreado da obesidade e das doenças
relacionadas à dieta; 1,9 bilhão de pessoas estão com
sobrepeso ou obesas e doenças não transmissíveis
(câncer, doenças cardiovasculares, diabetes) são a
causa número um da mortalidade global.27
Para enfrentar os desequilíbrios em nossos
sistemas alimentares e avançar em direção a um
mundo de fome zero, aumentar a produção
sozinho não é suficiente.
Diversidad
e
10
A agroecologia desempenha um papel importante no
reequilíbrio da tradição e dos hábitos alimentares
modernos, unindo-os de forma harmoniosa que
promova a produção e o consumo de alimentos
saudáveis, apoiando o direito à alimentação adequada.
Dessa forma, a agroecologia busca cultivar uma relação
saudável entre pessoas e alimentos.
A identidade cultural e o senso de lugar de pessoas
são intimamente ligadas a paisagens e sistemas
alimentares. À medida que as pessoas e os
ecossistemas evoluíram juntos, as práticas culturais e
o conhecimento indígena e tradicional oferecem uma
riqueza de experiência que pode inspirar soluções
agroecológicas. Por exemplo, a Índia abriga cerca de
50.000 variedades indígenas de arroz28 – criadas ao
longo de séculos por suas propriedades específicas de
sabor, nutrição e resistência a pragas, e sua
adaptabilidade a uma série de condições. Tradições
culinárias são construídas em torno dessas diferentes
variedades, fazendo uso de suas diferentes
propriedades. Tomando esse corpo acumulado de
conhecimento tradicional como guia, a agroecologia
pode ajudar a perceber o potencial dos territórios
para sustentar seus povos.
OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
Governança Responsável
Alimentos e agricultura sustentáveis exigem mecanismos de
governança responsáveis e eficazes em diferentes escalas – do
local ao nacional e global.
A agroecologia exige uma governança responsável e
eficaz para apoiar a transição para sistemas
alimentares e agrícolas sustentáveis. Mecanismos de
governança transparentes, responsáveis e inclusivos
são necessários para criar um ambiente propício que
apoie os produtores a transformar seus sistemas
seguindo conceitos e práticas agroecológicas. Exemplos
bem-sucedidos incluem programas de alimentação
escolar e compras públicas, regulamentações de
mercado que permitem a marca de produtos
agroecológicos diferenciados, subsídios e incentivos
para serviços ecossistêmicos.
A governança da terra e dos recursos naturais é um
exemplo primordial. A maioria das populações rurais
pobres e vulneráveis do mundo depende fortemente
de serviços terrestres e aquáticos de biodiversidade e
ecossistema para sua sobrevivência e qualidade de
vida, mas não têm acesso seguro a esses recursos.
Diversidad
e
Guiando O Transição Para Sustentável Alimentos E Agrícola Sistemas
A agroecologia depende do acesso equitativo à terra e
aos recursos naturais – uma chave para a justiça
social, mas também na concessão de incentivos para
os investimentos de longo prazo necessários para
proteger o solo, a biodiversidade e os serviços
ecossistêmicos.
A agroecologia é mais bem apoiada por mecanismos
de governança responsável em diferentes escalas.
Muitos países já desenvolveram legislação, políticas
e programas de nível nacional que recompensam a
gestão agrícola que melhoram a biodiversidade e a
prestação de serviços ecossistêmicos. A governança
territorial, paisagística e comunitária, como modelos
tradicionais e habituais de governança, também é
extremamente importante para promover a
cooperação entre as partes interessadas,
maximizando as sinergias e, ao mesmo tempo,
reduzir ou gerenciar as compensações.
11
Economia Circular e
Solidária
Economias circulares e solidárias que reconectam produtores e
consumidores fornecem soluções inovadoras para viver dentro de
nossas fronteiras planetárias, garantindo a base social para o
desenvolvimento inclusivo e sustentável.
A agroecologia busca reconectar produtores e
consumidores por meio de uma economia circular e
solidária que priorize os mercados locais e apoie o
desenvolvimento econômico local, criando ciclos
virtuosos.
Abordagens agroecológicas promovem soluções justas
baseadas em necessidades, recursos e capacidades
locais, criando mercados mais equitativos e
sustentáveis. O fortalecimento de curtos circuitos
alimentares pode aumentar a renda dos produtores de
alimentos, mantendo um preço justo para os
consumidores. Estes incluem novos mercados
inovadores,29, 30 paralelo a mercados territoriais mais
tradicionais, onde a maioria dos pequenos agricultores
comercializa seus produtos.
As inovações sociais e institucionais
desempenham um papel fundamental no
incentivo à produção e ao consumo
agroecológicos. Exemplos de inovações que
ajudam os produtores e consumidores de links
incluem esquemas de garantia participativa,
mercados de produtores locais,
DIVERSITY
RECYCLING EFFICIENCY SYNERGIES
GOVERNANÇA
RESPONSÁVEL
VALORES
12
denominação de rotulagem de origem, agricultura
apoiada pela comunidade e esquemas de comércio
eletrônico. Esses mercados inovadores respondem a
uma demanda crescente dos consumidores por dietas
mais saudáveis.
A reformulação dos sistemas alimentares com base
nos princípios da economia circular pode ajudar a
enfrentar o desafio global do desperdício de
alimentos, tornando as cadeias de valor dos
alimentos mais curtas e mais eficiente em recursos.
Atualmente, um terço de todos os alimentos
produzidos é perdido ou desperdiçado, deixando de
contribuir para a segurança alimentar e nutrição, ao
mesmo tempo em que exacerba a pressão sobre os
recursos naturais. 31
A energia usada para produzir alimentos perdidos ou
desperdiçados é aproximadamente 10% do consumo
total de energia do mundo,32, enquanto a pegada de
resíduos alimentares equivale a 3,5 Gt CO2 de emissões
de gases de efeito estufa por ano. 33
RESILIENCE
ECONOMIA CIRCULAR E
SOLIDÁRIA
H MANOS E SOCIAIS
U
OS 10 ELEMENTOS DA AGROECOLOGIA
Notas
1 11
A Visão Comum para Alimentação e Agricultura Sustentável da FAO
equilibra as dimensões sociais, econômicas e ambientais da
sustentabilidade em toda a paisagem agrícola e mosaicos marítimos. Ele
traça princípios gerais para sistemas alimentares e agrícolas sustentáveis
altamente produtivos, economicamente viáveis e ambientalmente 12
corretos, contribuindo para a equidade e justiça social. Os cinco princípios
da FAO para alimentação e agricultura sustentável são: 1) melhorar a
eficiência no uso dos recursos; 2) conservar, proteger e melhorar os 13
ecossistemas naturais; 3) proteger e melhorar os meios de subsistência 14
rural, a equidade e o bem-estar social; 4) aumentar a resiliência das
pessoas, comunidades e ecossistemas; 5) promover uma boa governança
tanto dos sistemas naturais quanto humanos. 15
2
Exemplos incluem: a Avaliação Internacional do Conhecimento Agrícola,
Ciência e Tecnologia para t o Desenvolvimento, que pediu o aumento e o
fortalecimento das ciências agroecológicas em 2008; o Relatório de 2011 16
sobre a oecologia da Agroecology e o direito à alimentação, apresentada
pela Relatora Especial sobre o direito à alimentação ao Conselho de
Direitos Humanos da ONU; a Iniciativa de Agricultura Orgânica Ecológica da
União Africana e a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe 17
(CELAC) têm promovido práticas e políticas agroecológicas em nível
regional; a Abordagem Ecossistêmica (incluindo pilares de bem-estar
18
ecológico, bem-estar humano e governança), endossada pela Convenção
sobre Diversidade Biológica e aplicada pela FAO por meio de sua
Abordagem Ecossistêmica da Pesca e da Aquicultura desde 2000.
3 O
programa Fome Zero do Brasil dá um exemplo revelador. Fome Zero
mostrou-se fundamental na redução do poverty extremo (de 17,5% em
19
2003 para menos de 3% em 2013) e na erradicação da fome. O programa
envolveu um grande número de instrumentos de política e
desenvolvimento, incluindo apoio à produção e consumo de alimentos
agroecológicos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2013. 20
Pesquisa nacional por amostra de domicílio: segurança alimentar
(disponível em: www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/).
4
Os 10 Elements de Agroecologia foram desenvolvidos por meio de um 21
processo de síntese. Baseiam-se na literatura científica seminal sobre
agroecologia – em particular, os cinco princípios da agroecologia de Altieri e
de Gliessman (2015) cinco níveis de transitio agroecológico. ns. Essa base
científica foi complementada por discussões realizadas em ambientes de
oficinas durante os encontros regionais multi-atores da FAO sobre 22
agroecologia de 2015 a 2017, que incorporaram valores da sociedade civil
sobre agroecologia e, posteriormente, várias rodadas de revisão por
23
especialistas internacionais e da FAO. experts. Altieri, M.A. 1995.
Agroecologia: A Ciência da Agricultura Sustentável . CrC Press. Gliessman
2015. Agroecologia: A Ecologia dos Sistemas Alimentares Sustentáveis . 3rd
Edição. Boca Raton, FL, EUA, CRC Press, Taylor & Francis Group.
5 24
Prabhu, R., Barrios, E., Bayala, J., Diby, L., Donovan, J., Gyau, A., Graudal, L.,
Jamnadass, R., Kahia, J., Kehlenbeck, K., Kindt, R., Kouame, C., McMullin, S.,
van Noordwijk, M., Shepherd, K., Sinclair, F., Vaast, P., Vågen, T.-G. & Xu, J.
2015. Agrofloresta: concretizando a promessa de uma abordagem 25
agroecológica. In: FAO. Agroecologia para Segurança Alimentar e Nutrição:
Procedimentos do FAFaO Simpósio Internacional, pp. 201-224. Em Roma.
6
FAO. 2011. Salve e Cresça – Um guia de formuladores de políticas para a 26
intensificação sustentável da produção agrícola de pequenos agricultores.
Em Roma.
27
7 OMS.
FAO. 2014. Serviços Ecossistêmicos Prestados por Espécies e Raças
Pecuárias, com Especial Consideração às Contribuições de Pecuaristas e
28
Pastores de Pequena Escala. . Comissão de Recursos Genéticos para Estudo
de Fundo alimentar e agrícola Artigo nº 66, Rev. 1 (disponível em:
www.fao.org/3/a- at598e.pdf).
29
8
Ridler, N., Wowchuk, M., Robinson, B., Barrington, K., Chopin, T.,
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