Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
21/09/2020
Número: 0706244-77.2020.8.07.0018
Classe: PETIÇÃO CÍVEL
Órgão julgador: 7ª Vara da Fazenda Pública do DF
Última distribuição : 21/09/2020
Valor da causa: R$ 50.000,00
Assuntos: Meio Ambiente
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
GUILHERME NASCIMENTO SANTOS (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
PAULO RICARDO DE SOUSA LEAL (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
MARCOS ANTONIO MONTEIRO GOMES (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
LUIZ PEREIRA DE MELO (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
ELIONE ALVES FERREIRA (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
MAICON ROGER ALVES FERREIRA (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
ANDREA RAIMUNDA DA SILVA (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
JERUZA CAMPOS DOS SANTOS (REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
INSTITUTO CULTURAL E SOCIAL NO SETOR
(REQUERENTE)
ALEX ZARKADAS BRANCO LINDOSO (ADVOGADO)
DISTRITO FEDERAL (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
72788980 21/09/2020 Decisão Decisão
20:02
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
7ª Vara da Fazenda Pública do DF
Fórum VERDE, 4º andar, Setores Complementares, BRASÍLIA - DF - CEP:
71686-67
Telefone: ( )
Horário de atendimento: 12:00 às 19:00
Vistos etc.
Sustenta que na manhã deste sábado passado (19/09/2020) a Secretaria de Segurança Pública do DF
realizou uma operação no Setor Comercial Sul para retirar todos os pertences dos moradores em situação
de rua, autores da presente demanda, sem qualquer justificativa e sem maiores explicações.
Esclarece que, ao todo foram quatro caminhões com materiais como roupas, cobertores, colchões,
Afirma, ainda, que O INSTITUO NO SETOR, também autor da presente demanda, é uma plataforma de
transformação do centro de Brasília, que, entre 2018 e 2019, promoveu intervenções em cultura,
inovação, turismo, hortas urbanas, através de debates e ações com moradores de rua, intentando
influenciar positivamente a vida de cerca de 200 mil pessoas que frequentavam o lugar.
Assevera que em 2020, a realidade de pandemia impôs uma nova compreensão de conjuntura, com a
emergência de sanar as demandas de sobrevivência dos moradores em situação de rua que ocupam o
local. Assim, mais de 200 moradores de rua foram cadastrados pelo INSTITUTO, que busca entender as
necessidades e demandas sociais destas pessoas, sendo que mais de 40 cidadãos foram retirados da
situação de rua nos últimos meses.
Por fim, alega que a ação do DISTRITO FEDERAL prejudica o trabalho do INSTITUTO e coloca em
risco a própria sobrevivência dos autores, visto que são moradores em situação de rua e vulnerabilidade,
não possuem renda, e que todo o seu patrimônio foi apreendido pelos agentes de segurança da parte
requerida, desconsiderando que faz frio na Capital e o recolhimento dos itens pessoais dos autores coloca
em risco a sua saúde e a própria vida dos autores, agravando a situação de vulnerabilidade dos autores e
aviltando o direito à dignidade e ao mínimo existencial dos mesmos, justificando-se a propositura da
presente ação.
Distribuído no plantão judicial, o feito foi remetido para a Vara do Meio Ambiente e, Desenvolvimento
Urbano e Fundiário do DF (ID 72669055) que, por sua vez, encaminhou o feito para este juízo por
entender que não existe relevância de ordem urbanística, ambiental ou fundiária que justifique a atuação
da Vara do Meio Ambiente (ID 72676402).
É o relato necessário.
DECIDO.
Ensina Daniel Amorim Assumpção Neves que ”segundo o art. 300, caput, do Novo CPC, tanto a tutela
cautelar como para a tutela antecipada exige-se o convencimento do juiz da existência de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito. A norma encerra existir suficiente para a concessão de tutela
cautelar e de tutela antecipada. (...) Numa primeira leitura pode-se concluir que o perigo de dano se
mostraria mais adequado à tutela antecipada, enquanto o risco ao resultado útil do processo, à tutela
cautelar. A distinção, entretanto, não deve ser prestigiada porque nos dois casos o fundamento será o
mesmo: a impossibilidade de espera da concessão da tutela definitiva sob pena de grave prejuízo ao
direito a ser tutelado e de tornar-se o resultado final inútil em razão do tempo” (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, Volume Único. 8ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p.
430-431).
Na hipótese dos autos, os documentos que instruem a inicial revelam a probabilidade do direito invocado.
Com efeito, convém destacar, logo de início, que a Constituição Federal de 1988 tutela uma série de
direitos fundamentais aplicáveis aos moradores em situação de rua, tais como artigo 5º, II (ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei), III (ninguém será submetido a
Além disso, os direitos fundamentais sociais, que deverão ser aplicados, obviamente, aos desamparados,
encontram-se arrolados no artigo 6º da Constituição da República de 1988, assim redigido: “São direitos
sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição”.
Como se isso não bastasse, o artigo 3º estabelece, como objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; III – erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Assim, há uma nítida exigência do Estado Democrático de Direito que determina a concretização de
direitos fundamentais sociais, de modo a prover os mais necessitados da assistência indispensável voltada
às minorias, dentre as quais se encontram o grupo dos moradores em situação de rua.
Conforme bem pontuou Isabella Viegas Moraes Sarmento, “a população em situação de rua sobrevive
atualmente em condições sub-humanas, a conjuntura de não estar abrigado em um lar é apenas o aspecto
mais marcante de sua realidade que também os faz carecer de todo aparato constituidor de uma vida
digna. Tais pessoas não tem acesso ao saneamento básico, nem para higiene pessoal, tampouco para
consumo próprio, não tem alimentação diária garantida, e, consequentemente, não desfrutam de boa
saúde. A saúde que lhes falta não é apenas a saúde pessoal, mas o acesso à saúde pública, já que,
diariamente, são negligenciados pelo Sistema único de Saúde - SUS, mesmo com previsão legal
contrária” (SARMENTO, Isabella Viegas Moraes. A ineficácia das políticas públicas brasileiras
destinadas à população em situação de rua. Dissertação de Mestrado em Direito do Centro
Universitário de Brasília – Uniceub, 2019, p. 39).
No presente caso, a medida adotada pelo órgão responsável pelo exercício do poder de polícia (DF
Legal), em uma análise superficial e perfunctória, típica deste momento processual, mostra-se desprovida
de fundamento fático e jurídico.
Note-se que foram apreendidos os objetos pessoais dos moradores em situação de rua, sem que estes
tivessem acesso à decisão estatal que motivou tais medidas e sem que fosse lavrado auto de apreensão dos
bens, em descompasso com diversas normas constitucionais que garantem o devido processo legal, a
proteção ao direito de propriedade, a tutela dos desamparados e a dignidade da pessoa humana.
Os autores informam que foram apreendidos cobertores, roupas, alimentos e documentos, o que coloca
em risco a própria sobrevivência dos autores, visto que são moradores em situação de rua e em estado de
vulnerabilidade, pois já não possuem renda e com todo o seu patrimônio apreendido pelo Estado, há um
agravamento da sua situação, passando para extrema vulnerabilidade.
Observa-se, ainda, que estamos no meio de uma pandemia da COVID-19, que tem sido bastante letal no
Distrito Federal ( ). Tal situação é ainda mais agravada em razão do frio e da chuva que começaram na
Capital Federal.
Desta forma, o recolhimento dos itens pessoais dos autores coloca em risco a sua saúde e a própria vida
dos autores, agravando a situação de vulnerabilidade dos autores e aviltando o direito à dignidade e ao
mínimo existencial.
Assim, é de se deferir o pleito postulado pelos autores, pois a medida praticada pelo réu, para além de
ausência de conteúdo racional e proporcional justificador, transparece medida de cunho higienista, em
total desconformidade com a Constituição Federal e com a Política Nacional para Inclusão Social da
População de Rua, instituída pelo Decreto Presidencial nº 7.053/2009.
Quanto à reversibilidade da medida – um dos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência
(art. 300, § 3º, do NCPC) -, constato que a hipótese dos autos caracteriza a chamada “irreversibilidade
recíproca”, de modo que, na ponderação dos valores em jogo, os direitos fundamentais à saúde e à vida
hão de prevalecer.
2. CITE-SE a para oferecimento de resposta, no prazo de 5 (cinco) dias (arts. 306 e 307, NCPC),
oportunidade em que deverão especificar todas as provas que pretendem produzir.
3. O autor deverá apresentar o pedido principal no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de cessar a eficácia
da tutela antecipada concedida.
5. Fixo prazo de 15 (quinze) dias para parte autora fazer a juntada das procurações, regularizando sua
representação processual, sob pena de extinção.
Intime-se.
Juiz de Direito
Os documentos do processo, cujas chaves de acesso seguem abaixo, estão disponíveis nos sítios
https://pje.tjdft.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam, www.tjdft.jus.br (aba lateral
direita "Advogados" > "Processo Eletrônico - PJe" > "Autenticação" > "1ª Instância") ou www.tjdft.jus.br
(aba lateral direita "Cidadãos" > "Autenticação de Documentos" > "Processo Judicial Eletrônico - PJe" >
"Documentos emitidos no PJe - 1º Grau"), observadas as orientações contidas no sítio
www.tjdft.jus.br/pje.