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WBA0126_v1.

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Saúde da Família
Saúde da Família
Autora: Yaisa França Formenton
Como citar este documento: FORMENTON, Yaisa França. Saúde da Família. Valinhos: 2015.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Atenção Primária à Saúde e a Estratégia Saúde da Família 05
Unidade 2: A Equipe na Estratégia de Saúde da Família 34
Unidade 3: Assistência Integral à Saúde do Adulto 63
Unidade 4: Saúde do Trabalhador 90
Unidade 5: Principais Agravos à Saúde do Adulto 114
Unidade 6: Saúde do Homem 143
Unidade 7: Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida 168
Unidade 8: Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida 197

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Apresentação da Disciplina

A disciplina de Saúde da Família tem como conceitos, avanços e desafio da ESF. No


objetivos principais capacitar profissionais tema 2 são trabalhados os conceitos de
da área de saúde e áreas afins, sobre trabalho em equipe e como ele se dá na
os preceitos da Atenção Básica como Saúde da Família, através de sua relação
estruturante do Sistema Único de Saúde, com os Núcleos de Apoio à Saúde da
através da Estratégia da Saúde da Família Família.
(ESF). No tema 3 são abordados aspectos
Os temas estão organizados de forma introdutórios da Atenção à Saúde do
que o conteúdo vai sendo introduzido de Adulto na Atenção Básica, que são
forma lógica, sendo que ao final o aluno complementados pelos temas 4, 5 e
seja capaz de entender a estrutura e a 6 que tratam da Atenção à Saúde do
importância da Saúde da Família para a Trabalhador, das Doenças e Agravos
atenção à saúde do indivíduo, família e epidemiologicamente importantes na
comunidade. Além disso, são apresentadas Saúde do Adulto e da Saúde do Homem,
as ferramentas disponíveis que auxiliam e respectivamente.
embasam as ações das equipes de saúde. Finalmente, nos temas 7 e 8 trazemos
No tema 1 é discutida a estrutura da ao conhecimento do aluno os principais
Atenção Básica no Brasil, bem como os Programas e Políticas lançados pelo
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Ministério da Saúde a fim de complementar
e instrumentalizar as equipes de Saúde
da Família para uma atenção integral,
resolutiva e de qualidade, são eles: Política
Nacional de Alimentação e Nutrição,
Programa Academias da Saúde, Programa
Melhor em Casa e Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares.

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Unidade 1
Atenção Primária à Saúde e a Estratégia Saúde da Família

Objetivos

» Discutir a estruturação da Atenção Primária no Brasil;


» Apresentar os conceitos de Atenção Básica e Estratégia de
Saúde da Família;
» Discutir os avanços e desafios da Estratégia Saúde da
Família.

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Introdução

A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil representou uma importante


mudança na organização dos serviços de saúde no país. Ainda que sua constituição formal
tenha se dado na Constituição Federal de 1988, suas origens remontam a mais tempo, a partir
da crise do modelo médico-assistencial privatista que se hegemonizou na segunda metade do
século XX, induzido pelo processo da industrialização brasileira.
O SUS segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território
nacional, sob a responsabilidade das três esferas autônomas de governo: federal, estadual
e municipal. Assim, não é um serviço ou uma instituição, mas um sistema, um conjunto de
unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum. Esses elementos integrantes
do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação
da saúde (BRASIL, 1990).
As ações de saúde devem ser realizadas à luz do princípio do universalismo, da
descentralização municipalizante e de um novo formato organizativo para os serviços, sob a
lógica da integralidade, da equidade, da regionalização, da hierarquização e da participação
social (VIANA; POZ, 2005).
Este novo sistema de saúde exigiu mudanças profundas nas estruturas organizacionais, nos
serviços de saúde e no atendimento, suscitando novas formas de prestação de ações e serviços

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de saúde à população que definiram a e nos menores custos para o sistema de
Atenção Primária à Saúde (APS) como saúde (BRASIL, 2011a).
diretriz norteadora e articuladora para a No cenário mundial, a APS vem sendo
transformação do modelo de atenção à discutida desde a década de 1970, sendo
saúde até então vigente. que seus princípios foram discutidos na
O tema APS está na pauta política de conferência de Alma Ata em 1978, que a
países com sistemas de saúde universais, define como:
como os da Europa, do Canadá e da Nova Atenção essencial à saúde baseada
Zelândia, fazendo um contraponto à em tecnologia e métodos práticos,
fragmentação dos sistemas de saúde, à cientificamente comprovados e
superespecialização e ao uso abusivo de socialmente aceitáveis, tornados
tecnologias médicas, que determinam universalmente acessíveis a
necessidades questionáveis de consumo indivíduos e famílias na comunidade
de serviços de saúde. Estes países vêm por meios aceitáveis para eles e a
acumulando experiências que demonstram um custo que tanto a comunidade
o impacto positivo deste modelo na como o país possam arcar em cada
saúde da população, no alcance de maior estágio de seu desenvolvimento,
equidade, na maior satisfação dos usuários um espírito de autoconfiança e
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autodeterminação. É parte integral
do sistema de saúde do país, do qual
é função central, sendo o enfoque
Para saber mais
principal do desenvolvimento A conferência internacional sobre Cuidados
social e econômico global da Primários de Saúde que aconteceu em Alma
comunidade. É o primeiro nível de Ata (Cazaquistão, URSS), em 12 de setembro
contato dos indivíduos, da família de 1978, ficou conhecida como Conferência de
e da comunidade com o sistema Alma Ata e teve o propósito de incentivar a ação
nacional de saúde, levando a internacional e nacional para que os cuidados
atenção à saúde o mais próximo de saúde primários fossem desenvolvidos e
possível do local onde as pessoas aplicados em todo o mundo, particularmente
vivem e trabalham, constituindo o nos países em desenvolvimento, num espírito de
primeiro elemento de um processo cooperação técnica, em consonância com a nova
de atenção continuada à saúde ordem econômica internacional.
(OMS citado por STARFIELD, 2002,
p. 30-31). A conferência de Alma Ata também
especificou os componentes da APS como
sendo a educação em saúde; saneamento

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ambiental; programas de saúde materno- pela organização do cuidado à saúde dos
infantis; prevenção de doenças endêmicas indivíduos, suas famílias e da população
locais; tratamento adequado de doenças ao longo do tempo, e busca proporcionar
e lesões comuns; fornecimento de equilíbrio entre as duas metas de um
medicamentos essenciais; promoção sistema nacional de saúde: melhorar
de boa nutrição; e medicina tradicional. a saúde da população e proporcionar
E embora estes conceitos tenham sido equidade na distribuição de recursos
pensados para serem aplicados em todos (BRASIL, 2011a; STARFIELD, 2002).
os países, há discordâncias a respeito da A Atenção Primária difere dos outros níveis
extensão na qual eles são aplicáveis nos de atenção por diversas características,
diferentes países. (STARFIELD, 2002). mas seus princípios definidores são:
A APS é uma forma de organização dos o primeiro contato, a coordenação,
serviços de saúde, uma estratégia para abrangência ou integralidade e a
integrar todos os aspectos desses serviços, longitudinalidade.
tendo como perspectiva as necessidades O primeiro contato significa acesso e
de saúde da população. Em sua forma mais utilização do serviço de saúde para cada
desenvolvida é o primeiro contato com novo evento de saúde ou novo episódio
o sistema de saúde e o local responsável de um mesmo evento. Um serviço é
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porta de entrada quando a população e outros pontos de atenção à saúde (BRASIL,
a equipe identificam-no como o primeiro 2011a).
recurso de saúde a ser buscado quando A coordenação significa acompanhar
há uma necessidade/problema de saúde e dar continuidade nas ações de saúde
(STARFIELD, 2002). da população, família e indivíduo de um
A essência da longitudinalidade é uma modo integrado e organizado, o que exige
relação pessoal que se estabelece ao disponibilidade das informações ao longo
longo do tempo, independentemente do do tempo e em diferentes espaços (MELO,
tipo de problemas de saúde ou mesmo da et al., 2008).
presença de um problema de saúde, entre A coordenação é essencial para o sucesso
indivíduos e um profissional ou uma equipe dos demais princípios. “Sem coordenação,
de saúde (BRASIL, 2011a). a longitudinalidade perde muito de seu
O cuidado integral pode ser entendido potencial, a integralidade não é viável e
como a capacidade da equipe de saúde o primeiro contato torna-se uma função
em lidar com as necessidades em saúde do puramente administrativa” (BRASIL, 2011a,
indivíduo, da família ou das comunidades, p. 34).
resolvendo-os por meio da oferta de Além destas quatro características já
ações e serviços, ou referindo-se aos
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descritas, podem-se destacar outras duas derivadas destas (BRASIL, 2011a).
A competência cultural, que trata da capacidade das equipes de saúde em reconhecer as
múltiplas particularidades e necessidades específicas de subpopulações, que podem estar
afastadas dos serviços pelas peculiaridades culturais, como diferenças étnicas e raciais, entre
outras. E a orientação comunitária, que se refere ao entendimento de que as necessidades
em saúde dos indivíduos/famílias/populações relacionam-se ao contexto social e que o
reconhecimento dessas necessidades pressupõe o conhecimento do contexto social.

1. A Atenção Primária à Saúde no Brasil

No Brasil a APS tem uma terminologia própria, sendo denominada pelo Ministério da Saúde
como Atenção Básica (AB), reflexo da necessidade de diferenciação desta proposta e dos
“cuidados primários de saúde”, interpretados como política de focalização à atenção primitiva
à saúde.

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A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), recentemente revista e regulamentada pela
Portaria nº 2.488/2011, define a AB como:

um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que


abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos,
o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a
manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção
integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e
nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. (BRASIL,
2011b, p. 2).

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Para o Ministério da Saúde, a AB caracteriza-se por utilizar tecnologias de cuidado complexas
e variadas no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior frequência e relevância
em seu território de abrangência, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e
os princípios do acolhimento. Deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta
de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios
da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade
da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social e
deve considerar o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a
atenção integral (BRASIL, 2011b).

Para saber mais


As Redes de Atenção à Saúde são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde que se integram
por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, a fim de garantir a integralidade do
cuidado ao indivíduo, família e comunidade no SUS.

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Na experiência brasileira a AB tem como suas necessidades de saúde;
fundamentos e diretrizes (BRASIL, 2011b): • Adscrever os usuários e
• Ter território adstrito, de forma desenvolver relações de vínculo e
a permitir o planejamento, a responsabilização entre as equipes
programação descentralizada e a população adscrita, garantindo a
e o desenvolvimento de ações continuidade das ações de saúde e a
setoriais e intersetoriais sempre longitudinalidade do cuidado.
em consonância com o princípio da • Coordenar a integralidade em seus
equidade; vários aspectos, como: integração
• Possibilitar o acesso universal de ações programáticas e demanda
e contínuo a serviços de saúde espontânea; articulação das
de qualidade e resolutivos, ações de promoção, prevenção,
caracterizados como a porta de tratamento, reabilitação e vigilância
entrada aberta e preferencial da rede à saúde; e manejo das diversas
de atenção, acolhendo os usuários tecnologias de cuidado e de gestão
e promovendo a vinculação e necessárias a estes fins e à ampliação
corresponsabilização pela atenção às da autonomia dos usuários e
coletividades; trabalhando de forma
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multiprofissional, interdisciplinar e em equipe;
• Estimular a participação dos usuários como forma de ampliar sua autonomia e
capacidade na construção do cuidado à saúde, a partir de lógicas mais centradas no
usuário e no efetivo exercício do controle social.
Para a operacionalização da PNAB no Brasil, utiliza-se de uma estratégia nacional prioritária
que é a Saúde da Família (SF), organizada de acordo com os preceitos do SUS e da AB. Esta
proposta constitui-se em um importante desafio, pois propõe uma transformação do modelo
de atenção e a construção de uma nova prática, com uma nova dimensão ética.

Link
PORTARIA Nº 2488, DE 24 DE OUTUBRO DE 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção
Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção
Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt2488_21_10_2011.html>. Acesso em: 02 jul 2015.

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2. A Estratégia Saúde da Família

A proposta da Estratégia Saúde da Família é romper com o tradicional modelo sanitário


brasileiro, médico, medicamentoso, curativo, individual e hospitalocêntrico, e construir modelo
de atenção à saúde coletivo, multi e interprofissional, centrado na família e na comunidade
(COSTA, et al., 2009).

Para saber mais


Um modelo de atenção à saúde refere-se ao modo como são organizadas, em uma dada sociedade, as
áreas de atenção à saúde, envolvendo diversos recursos físicos, tecnológicos e humanos disponíveis
para enfrentar e resolver os problemas de saúde de uma comunidade.

Para o Ministério da Saúde, a Estratégia Saúde da Família (ESF) visa atender indivíduo e a família
de forma integral e contínua desenvolvendo ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde mais próximas da vida cotidiana da população, imprimindo uma nova dinâmica de
atuação nas unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre serviços de

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saúde e população (ROSA; LABATE, 2005).
Em suma, a ESF é tida como uma:

estratégia de expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica


por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior
potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da AB,
de ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas
e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-
efetividade (BRASIL, 2011b, p. 12).

A “missão” a que se propõe a Saúde da Família não é pequena, uma vez que necessita inverter
toda uma lógica biomédica, centrada até então na consulta médica, agora direcionada a outras
práticas em saúde e ao trabalho interdisciplinar e intersetorial, ou seja, promover o diálogo
entre as famílias assistidas, os profissionais da saúde e os profissionais de áreas, como, por
exemplo, a educação, esporte e meio ambiente, sem as quais as práticas tradicionalmente
centradas na doença jamais se transformariam (COSTA, 2003).

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Nestes anos de implementação do SUS entre o discurso mudancista e a prática
e da ESF, o sistema de saúde brasileiro assistencial que implementa.
vem conseguindo superar obstáculos Nessa perspectiva, o conhecimento
importantes. Em tempos em que as e os instrumentais para a mudança
políticas neoliberais de redução de proposta pela Saúde da Família não
Estado são reforçadas, no Brasil houve estão prontos, ao contrário, precisam ser
uma ampliação dos serviços públicos de construídos, implementados e avaliados,
saúde, chegando a praticamente todos apropriando-se de novas teorias e
os municípios do país, cresceu o número práticas que permitam refletir sobre os
de trabalhadores no setor, recursos problemas identificados e buscar, de forma
mínimos vêm sendo assegurados. Há interdisciplinar, soluções apropriadas para
um sistema descentralizado, que conta eles (SOUSA, 2000).
com mecanismos democráticos de
funcionamento, que incluem instâncias de Segundo Feuerweker (2005), entre os
pactuação entre os gestores e mecanismos principais desafios a serem superados
de controle social (FEUERWEKER, 2005). podemos citar a baixa resolutividade
Entretanto, muitos desafios ainda precisam das equipes de efetivamente resolverem
ser trabalhados a fim de superar a distância os problemas da população, que pode
ser explicada de várias maneiras, entre
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as quais: pela desarticulação entre conjunto da equipe, elas são assumidas
a AB e os demais serviços de saúde, principalmente pelos agentes comunitários
já que os sistemas são organizados e profissionais de enfermagem, sendo que
por níveis e não há mecanismos de os médicos se ocupam basicamente das
articulação entre eles que são operados consultas clínicas.
e financiados segundo lógicas distintas Observa-se uma fragmentação do
(per capita x procedimentos); pelas trabalho, em que cada profissional acaba
importantes limitações da chamada assumindo uma ação sem necessariamente
média complexidade que restringe-se ao estar em sintonia com a ação do outro,
acesso a procedimentos diagnósticos e o que traz alienação do profissional ao
ao apoio de especialistas; e pelo próprio próprio objeto de trabalho (COSTA, et al.,
perfil dos profissionais, que enfrentam 2009).
profundas dificuldades para dar conta da
complexidade dos problemas de saúde. As práticas de saúde são estabelecidas
por meio de Programas em Saúde, e ao
Há, também, múltiplas tensões na mesmo tempo em que estes definem o
organização do trabalho na Saúde da repertório de ação dos trabalhadores,
Família, pois apesar das práticas com também o limita, já que desconsidera
o coletivo serem uma atribuição do as singularidades e oferecem poucas
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tecnologias para o cuidado e para lidar necessidades e à qualidade de vida. Nesta
com os aspectos subjetivos envolvidos outra lógica proposta, as ações, além de
no processo de viver e adoecer, ficando o produzirem procedimentos, centram-se
cuidado clínico ou restrito ou reprodutor do nas relações humanas, na produção de
modelo hegemônico (FEUERWEKER, 2005). vínculo e no acolhimento (COSTA, et al.,
Outro grande desafio está no fato de as 2009).
equipes enfrentarem muitas dificuldades Outra característica a ser superada é a
para lidar com a demanda espontânea e a centralidade do médico na organização do
atenção a elas quase sempre se conforma trabalho. A Saúde da Família, na maioria
no esquema queixa conduta, mais uma das vezes, ainda se organiza para atuar
vez restringindo o cuidado (FEUERWEKER, sobre problemas específicos por meio do
2005). atendimento médico, subordinando os
Este cuidado é ainda orientado aos saberes e ações dos outros profissionais
problemas e centrado na lógica de à lógica médica, diminuindo o espaço da
produção de procedimento. O desafio dimensão cuidadora da equipe (COSTA, et
está em modificar o centro para a lógica al., 2009).
da produção do cuidado que se traduz Outra limitação enfrentada em vários
no trabalho orientado aos problemas, às locais está no trabalho em equipe. Embora
20/227 Unidade 1 • Atenção Primária à Saúde e a Estratégia Saúde da Família
seja previsto o trabalho multiprofissional, tecnologias de relações, rompendo com
encontra-se ausência de responsabilidade o atual modo de produção de saúde, que
coletiva do trabalho e baixo grau de se resume à realização de procedimentos
interação entre as categorias, onde os centrados nos profissionais e que utiliza
membros das equipes de saúde da família tecnologias mais estruturadas (MERHY;
mantêm representações sobre hierarquia FRANCO, 2002).
entre profissionais de nível superior e
nível médio e entre médico, dentista e
enfermeiro (COSTA, et al., 2009).
Para que a Saúde da Família cumpra com
o seu objetivo de transformar o modelo
de atenção é necessário que haja uma
reestruturação produtiva na saúde, ou seja,
é preciso alterar os processos de trabalho
a partir da reinversão de suas tecnologias.
Processos de trabalho que têm como fonte
inúmeros campos de saberes e operem
de modo multiprofissional, centrados em
21/227 Unidade 1 • Atenção Primária à Saúde e a Estratégia Saúde da Família
Glossário
Adscrita: Integrar um grupo, fazer parte. Propõe a estruturação de equipes
multiprofissionais, às quais se adscreve um dado número de usuários.
Peculiaridade: característica de alguém ou de algo que se distingue por traços
particulares; originalidade, singularidade, particularidade.
Resiliência: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às
mudanças.

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?
Questão
para
reflexão

Tendo como base o texto fundamental e o volume


35/36 da Revista Brasileira de Saúde da Família,
lançada em comemoração aos 20 anos de Saúde
da Família e disponível em: <http://189.28.128.100/
dab/docs/portaldab/publicacoes/revista_saude_
familia35_36.pdf>, crie um breve texto com a
cronologia da Estratégia Saúde da Família e pesquise
como esta estratégia se deu em seu município.

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Considerações Finais

» A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil representou


uma importante mudança na organização dos serviços de saúde no
país.
» No Brasil a Atenção Primária à Saúde tem uma terminologia própria,
sendo denominada pelo Ministério da Saúde como Atenção Básica (AB).
» Uma estratégia nacional prioritária é a Saúde da Família (SF),
organizada de acordo com os preceitos do SUS e da AB.
» A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa atender indivíduo e a família de
forma integral e contínua desenvolvendo ações de promoção, proteção
e recuperação da saúde mais próximas da vida cotidiana da população.

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Referências

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Legislação Estruturante do SUS. Brasília:


CONASS, 2011a. 534 p.
______. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011b. Aprova a Política
Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização
da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2011/prt2488_21_10_2011.html>. Acesso em: 30 jun 2015.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. ABC do SUS –


doutrinas e princípios. Brasília: Ministério da Saúde, 1990. 10p.
COSTA, BLG. Desenvolvimento do Programa Saúde da Família no Brasil. Enfermagem Brasil,
São Paulo, v. 2, n. 1, 2003.
COSTA, G. D; CEZAR-VAZ, M. R.; CARDOSO, S; SOARES, L. S.; Saúde da Família: desafios no
processo de reorientação do modelo assistencial. Rev. Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.
62, n. 1, p. 113-118, 2009.
FEUERWEKER, L. M. Modelos tecnoassistenciais, gestão e organização do trabalho em saúde:
nada é indiferente no processo de luta para a consolidação do SUS. Interface - Comunicação,

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Referências

Saúde e Educação, Botucatu, v. 9, n. 18, p. 489-506, 2005.


MELO, E. M., et al. A organização da Atenção Básica em municípios integrantes do Projeto
de Expansão e Consolidação do Saúde da Família em Mato Grosso, Brasil. Caderno de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v.24, sup.1, p.S29-S41, 2008.
MERHY E. E.; FRANCO, T. B. Programa de Saúde da Família: somos contra ou a favor? Saúde em
debate. Rio de Janeiro, v. 26, n. 60, p. 118-122, 2002.
ROSA, W. A. D.; LABATE, R. C. Programa Saúde da Família: a construção de um novo modelo de
assistência. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 6, p. 1027-
1034, 2005.
SOUSA, M. F. A enfermagem reconstruindo sua prática: mais que uma conquista do PSF. Revista
Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 53, n. especial, p. 25-30, 2000.
STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia.
Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. 726p.
VIANA, A. L. D.; POZ, M. R. D. Reforma do Sistema de Saúde no Brasil e o Programa de Saúde da
Família. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, supl., p.225- 264, 2005.

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Questão 1
1. Com relação à doutrina e princípios administrativos do Sistema Único de
Saúde, podemos afirmar que:

a) O SUS não segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o


território nacional, existe uma grande variação a depender das patologias mais prevalentes na
região.
b) O SUS segue doutrina semelhante nos estados e municípios, mas os princípios
organizativos são iguais em todo o território nacional.
c) O SUS não precisa seguir a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo
o território nacional.
d) O SUS segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos nos estados, mas
isso não ocorre nos municípios.
e) O SUS segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território
nacional.

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Questão 2
2. Assinale a alternativa que preenche de forma adequada a lacuna na
afirmação abaixo:

A __________________ difere dos outros níveis de atenção por diversas


características, mas seus princípios definidores são: o primeiro contato, a
coordenação, abrangência ou integralidade e a longitudinalidade.
a) Humanização.
b) Atenção Primária.
c) Educação em Saúde.
d) Atenção secundária.
e) Atenção especializada.

28/227
Questão 3
3. Na Estratégia de Saúde da Família existe um grande desafio associado
ao fato de as equipes enfrentarem muitas dificuldades para lidar com
a demanda espontânea, e a atenção a elas quase sempre se conforma
no esquema queixa conduta, mais uma vez restringindo o cuidado.
Neste contexto, assinale a alternativa que melhor apresenta como é este
cuidado:
a) Não é oferecido, uma vez que demandas espontâneas devem ser tratadas em outros
ambientes.
b) O cuidado é limitado a ouvir o paciente e agendar consulta quando possível.
c) Este cuidado é ainda orientado aos problemas e centrado na lógica de produção de
procedimento.
d) Este problema não existe, a afirmação está incorreta.
e) O modelo de cuidado não prevê atendimento a demandas espontâneas.

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Questão 4
4. A ausência de responsabilidade coletiva do trabalho e o baixo grau de
interação entre as categorias, onde os membros das equipes de saúde da
família mantêm representações sobre hierarquia entre profissionais de
nível superior e nível médio e entre médico, dentista e enfermeiro, po-
dem ser considerados:
a) Situação de limitação enfrentada em vários locais com relação ao trabalho de equipe.
b) Limitação enfrentada somente em unidades afastadas do perímetro urbano.
c) Limitação enfrentada em locais em que não existem equipes completas.
d) Como situações de normalidade, já que o problema não tem solução.
d) Formas de organização adequadas ao modelo atual de saúde.

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Questão 5
5. Os componentes da Atenção Primária em Saúde foram definidos como
sendo a educação em saúde; saneamento ambiental; programas de saú-
de materno-infantis; prevenção de doenças endêmicas locais; tratamen-
to adequado de doenças e lesões comuns; fornecimento de medicamen-
tos essenciais; promoção de boa nutrição; e medicina tradicional. Em
que momento histórico isso ocorreu?
a) Durante a conferência de Alma Ata.
b) Durante o processo de criação do SUS.
c) Na 8ª Conferência Nacional de Saúde.
d) Na criação da Organização Mundial de Saúde.
e) No 1º Congresso Nacional de Saúde Pública.

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Gabarito

1. Resposta: E. 3. Resposta: C.

O SUS segue a mesma doutrina e os Este cuidado é ainda orientado aos


mesmos princípios organizativos em todo o problemas e centrado na lógica de
território nacional, assim, não é um serviço produção de procedimento.
ou uma instituição, mas um sistema, um
conjunto de unidades, de serviços e ações 4. Resposta: A.
que interagem para um fim comum.
Existe uma limitação enfrentada em
2. Resposta: B. vários locais que está no trabalho em
equipe. Embora seja previsto o trabalho
Atenção Primária difere dos outros níveis multiprofissional, encontra-se ausência
de atenção por diversas características, de responsabilidade coletiva do trabalho e
mas seus princípios definidores são: baixo grau de interação entre as categorias.
o primeiro contato, a coordenação,
abrangência ou integralidade e a 5. Resposta: A.
longitudinalidade.
Durante a conferência de Alma Ata, que

32/227
Gabarito
teve o propósito de incentivar a ação
internacional e nacional para que os
cuidados de saúde primários fossem
desenvolvidos e aplicados em todo o
mundo, particularmente nos países
em desenvolvimento, num espírito de
cooperação técnica, em consonância com
a nova ordem econômica internacional.

33/227
Unidade 2
A Equipe na Estratégia de Saúde da Família

Objetivos

» Discutir a importância do trabalho em equipe na


Estratégia Saúde da Família;
» Apresentar e discutir os preceitos dos Núcleos de Apoio
à Saúde da Família;
» Discutir o processo de trabalho dos Núcleos de Apoio à
Saúde da Família.

34/227
Introdução

A Estratégia Saúde da Família (ESF) sendo indispensável repensar os processos


constitui uma estratégia de ação de saúde de trabalho e adotar metodologias,
que tem como proposta a mudança do instrumentos e conhecimentos diferentes
modelo biomédico, hospitalocêntrico, dos geralmente instituídos que venham
curativista e fragmentado de assistência possibilitar a organização dos serviços,
para a consolidação de um modelo voltado na perspectiva da garantia do acesso e da
para o cuidado integral e a vigilância integralidade da atenção (VILAS BÔAS;
à saúde, o que pressupõe a criação de ARAÚJO; TIMÓTEO, 2008). Os profissionais
vínculo entre a equipe de saúde e a devem ser capazes de trabalhar em equipe
população. Tal transformação depende e tomar decisões considerando não
da superação de obstáculos relacionados somente a situação clínica individual, mas
à organização do trabalho, exigindo uma o contexto em que vivem os pacientes,
mudança nos modos de produzir cuidado à os recursos e as medidas eficazes
saúde no âmbito dos serviços (FERNANDES; (FEUERWEKER, 2001).
OTENIO; OTENIO, 2010). Na ESF o trabalho é viabilizado de modo
O grande desafio para os trabalhadores a prestar assistência com resolutividade
da ESF é a necessidade de rever suas às necessidades de saúde da população
práticas diante de novos paradigmas, adscrita, seja na unidade de saúde
35/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
2011a).
ou no domicílio. As equipes devem
intervir nos fatores de risco aos quais a O modelo preconiza uma equipe de saúde
população está exposta; eleger a família da família de caráter multiprofissional
e o seu espaço social como núcleo (médico generalista, enfermeiro,
básico de abordagem no atendimento auxiliar/técnico de enfermagem, agente
à saúde; humanizar as práticas de comunitário de saúde, cirurgião dentista
saúde através do estabelecimento de e auxiliar/técnico de consultório dentário)
vínculo com a população; proporcionar que trabalha com definição de território
parcerias através do desenvolvimento de abrangência, adscrição de clientela,
de ações Intersetoriais; contribuir para cadastramento e acompanhamento da
a democratização do conhecimento do população residente na área.
processo saúde/doença, da organização Recomenda-se que cada equipe fique
dos serviços e da produção social da saúde; responsável por entre 3.000 e 4.000
fazer com que a saúde seja reconhecida pessoas, respeitando critérios de equidade
como um direito de cidadania e, portanto, para esta definição. A equipe deve
expressão da qualidade de vida; estimular conhecer as famílias do seu território de
a organização da comunidade para o abrangência, identificar os problemas de
efetivo exercício do controle social (BRASIL, saúde e as situações de risco existentes

36/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


na comunidade, elaborar um programa de comunidades (ROSA; LABATE, 2005).
atividades para enfrentar os determinantes O trabalho em equipe é considerado um
do processo saúde/doença, e prestar elemento-chave para o desenvolvimento
assistência integral às famílias sob sua do trabalho na saúde da família.
responsabilidade no âmbito da atenção Considera-se o trabalho em equipe uma
básica (BRASIL, 2011a). modalidade de trabalho coletivo que se
As características do processo de trabalho configura como uma rede de relações entre
destas equipes passam, necessariamente, pessoas com múltiplas possibilidades de
pela interdisciplinaridade, vinculação, significados (MATUMOTO, et al., 2005).
acolhimento, competência cultural,
intersetorialidade e fortalecimento de uma
gestão local que deve ser participativa/
democrática (SOUSA; HAMANN, 2009).
Link
“A construção da interdisciplinaridade no
A ESF propõe uma reestruturação dos
trabalho da Equipe de Saúde da Família”.
serviços de saúde, promovendo uma
Disponível em: < https://www.scielosp.org/
relação dos profissionais mais próximos
pdf/csc/2013.v18n11/3203-3212/pt>. Acesso
do seu objeto de trabalho, ou seja,
em 21 mar 2019.
mais próximos das pessoas, famílias e
37/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
Peduzzi (2001) apresenta duas noções interdisciplinaridade, que faz referência
sobre a ideia de equipe: a equipe como à troca de conhecimentos e imprime ao
agrupamento de agentes e a equipe como trabalho a possibilidade de um profissional
integração de trabalhadores. se reconstruir na prática do outro, sendo
A noção de equipe como agrupamento ambos transformados para a intervenção
é caracterizada pela fragmentação em na realidade em que estão inseridos
“que ocorre a justaposição das ações e o (FORTUNA, et al., 2005; ARAÚJO; ROCHA,
agrupamento dos agentes”. Esta contrapõe 2007).
a noção de equipe como integração Para a construção do projeto de saúde
em que há a “articulação das ações e a da família em que a unidade produtora
interação dos agentes”, possibilitando de saúde é a equipe, o foco central é a
um atendimento integral a partir do família e a comunidade, e as intervenções
compartilhamento e integração dos necessárias para a produção de cuidado
saberes (PEDUZZI, 2001, p. 106). devem se sustentar no conhecimento
No contexto da segunda concepção, que contemple as determinações
o trabalho em equipe é considerado biopsicossociais da saúde, doença e
como a possibilidade de recomposição cuidado, a assistência à saúde passa
do trabalho em saúde no sentido da a ter a característica de um trabalho
38/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
coletivo em que a interdisciplinaridade Na equipe agrupamento não há um
e a integração são necessárias. Se esta compartilhamento de saberes e os
integração não ocorrer, corre-se o risco de trabalhadores acessam principalmente seu
repetir e perpetuar o modelo de atenção núcleo de competência e responsabilidade,
fragmentado, centrado na recuperação sendo que os saberes do campo e
biológica individual e com rígida divisão do complementaridade não são explorados
trabalho (ALMEIDA; MISHIMA, 2001). em toda sua potencialidade. Por núcleo de
competência entende-se o conjunto de
Para saber mais saberes e responsabilidades específicos de
cada profissional, demarca a identidade de
A interdisciplinaridade é o trabalho em que as
uma área do saber. Por campo entende-se
diversas ações, saberes e práticas profissionais
os saberes e responsabilidades comuns aos
se complementam numa interação dinâmica. Ela
vários profissionais, um espaço de limites
deve ser entendida também como uma atitude
imprecisos onde cada disciplina e profissão
de permeabilidade aos diferentes conhecimentos
buscariam em outras apoio para cumprir
que podem auxiliar o processo de trabalho e
suas tarefas (CAMPOS, 2000).
a efetividade do cuidado num determinado
momento e espaço. Entende-se que para a construção da
integralidade no SUS é necessário que os
39/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
trabalhadores atuem mais nos campos operar com dispositivos que possibilitam
de competência, nos quais atuam mais redefinir os espaços de relações entre os
os processos relacionais, possibilitando indivíduos envolvidos no processo (MERHY,
ampliar os espaços de ação em comum, 1999; ALMEIDA; MISHIMA, 2001).
a cooperação entre os diferentes saberes
e o partilhamento decisório, levando 1. Os Núcleos de Apoio à Saúde
a um enriquecimento do conjunto de da Família
intervenções em saúde, tornando-as
mais comprometidas com os interesses Com o intuito de apoiar a inserção da
coletivos. Sem, contudo, desconsiderar Estratégia de Saúde da Família na rede
a importância dos modos específicos de de serviços e ampliar a abrangência,
produzir saúde. a resolutividade, a territorialização, a
regionalização, bem como a ampliação
É na relação de complementaridade aliada
das ações da Atenção Básica no Brasil, o
à autonomia relativa do saber próprio
Ministério da Saúde, a partir da Portaria
que o trabalho dos distintos agentes da
GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008,
saúde da família deve acontecer. Articular
cria os Núcleos de Apoio à Saúde da
esta forma de trabalho não é rápido nem
Família (NASF). Os NASF, atualmente
responsabilidade de um único ator, exige
40/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
regulamentados pela Portaria nº 2.488, de O NASF deve ser constituído por uma
21 de outubro de 2011, não se constituem equipe com profissionais das diferentes
em porta de entrada do sistema, mas áreas do conhecimento que atuam junto
devem atuar de forma integrada à rede de com os profissionais da equipe de Saúde
serviços de saúde, a partir das demandas da Família, compartilhando e apoiando
identificadas no trabalho conjunto com as as práticas em saúde nos territórios sob
equipes Saúde da Família (BRASIL, 2010; responsabilidade da ESF. Ele deve atuar
BRASIL, 2008). dentro de algumas diretrizes relativas
à Atenção Primária à Saúde como ação
interdisciplinar e intersetorial; educação
Link permanente em saúde dos profissionais e
Acesse a portaria que cria o NASF na da população; desenvolvimento da noção
íntegra. Disponível em: <http://bvsms. de território; integralidade, participação
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/ social, educação popular; promoção da
prt0154_24_01_2008.html>. Acesso em: 5 jul saúde e humanização (BRASIL, 2010).
2015.

41/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


social; saúde da mulher; assistência
Para saber mais farmacêutica; atividade física/práticas
corporais; práticas integrativas e
A Participação Social no SUS envolve
complementares (BRASIL, 2010).
o fortalecimento dos espaços sociais,
comunitários e locais em geral, com foco no Eles podem ser classificados em
desenvolvimento da autonomia do usuário e na modalidades – NASF 1, NASF 2 e NASF 3,
gestão participativa (usuários, trabalhadores e sendo que a composição de cada serviço
sociedade civil). Trata-se, portanto, de fortalecer é definida pelos gestores municipais de
o partilhar de poder e construindo um processo acordo com as prioridades identificadas a
de conquista de cidadania e fortalecimento da partir das necessidades de saúde de cada
sociedade civil. comunidade/território e da disponibilidade
de profissionais.

O NASF é composto de nove áreas Os profissionais que os compõem são:


estratégicas, são elas: saúde da criança/ Médico Acupunturista, Assistente
do adolescente e do jovem; saúde mental; Social, Profissional de Educação
reabilitação/saúde integral da pessoa Física, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo,
idosa; alimentação e nutrição; serviço Farmacêutico, Médico Ginecologista,
Obstetra, Médico Homeopata,
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Nutricionista, Médico Pediatra, Psicólogo, Terapêutico Singular (PTS) e Projeto de
Terapeuta Ocupacional, Médico Psiquiatra, Saúde no Território (PST) (BRASIL, 2008).
Médico Geriatra, Médico Internista, Ao oferecer apoio e suporte à ESF, o
Médico do Trabalho, Médico Veterinário, NASF representa uma ampliação das
profissional com formação em arte possibilidades de se alcançarem melhores
e educação e profissional de saúde resultados em saúde, com enfoque
sanitarista (BRASIL, 2011b). na promoção da saúde e no cuidado à
No que tange à organização dos população. Ao incluir novos profissionais
processos de trabalho dos NASF, esta no cuidado, amplia-se a possibilidade de
deve ser estruturada priorizando se responder aos novos e antigos desafios
o atendimento compartilhado e da morbidade dos brasileiros (ANJOS, et al.,
interdisciplinar, com troca de saberes, 2013).
capacitação e responsabilidades mútuas,
gerando experiência para todos os
profissionais envolvidos, mediante
amplas metodologias, tais como estudo
e discussão de casos e situações, apoio
matricial, clínica ampliada, Projeto
43/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
2. Ferramentas para o desenvol-
Para saber mais vimento do processo de traba-
A Morbidade refere-se ao conjunto de lho no NASF
indivíduos, dentro de uma mesma população,
que desenvolvem determinados agravos à saúde Um aspecto de extrema importância que
num dado intervalo de tempo. Ela retrata o marca o processo de trabalho no NASF
comportamento das doenças e dos agravos à é a responsabilização compartilhada
saúde na população. entre as ESF e a equipe do NASF na
assistência à saúde, que prevê a revisão
da prática do encaminhamento com
A organização e o desenvolvimento do base nos processos de referência e
processo de trabalho dos NASF dependem contrarreferência, ampliando-a para um
de algumas estratégias, como o Apoio processo de acompanhamento longitudinal
Matricial, a Clínica Ampliada, o Projeto de responsabilidade da equipe de saúde
Terapêutico Singular (PTS) e o Projeto (MOURA, LUZIO, 2014).
de Saúde no Território (PST) (MARTINES; Este acompanhamento se dá nos moldes
CHAVES, 2007). do apoio matricial que tem por objetivo
principal criar espaços de discussão
44/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
voltados à gestão e à constituição de uma de enfermagem, agente comunitário
rede de cuidados. Propõe alterar a lógica de saúde, cirurgião dentista e auxiliar/
de encaminhamentos indiscriminados técnico de consultório dentário). Esta
para uma lógica de corresponsabilização forma de organização objetiva ampliar as
territorial, buscando maior resolutividade possibilidades de construção de vínculo
e assegurar retaguarda especializada entre profissionais e usuário, visto que a
às chamadas equipes de referência principal tarefa desta equipe é encarregar-
na Saúde da Família, promovendo se da atenção ao longo do tempo, ou seja,
o compartilhamento dos saberes e de maneira longitudinal (MOURA, LUZIO,
ampliando a resolução dos problemas 2014; BRASIL, 2010).
(SILVA, et al., 2012). O apoio matricial em saúde objetiva, então,
A equipe de referência é composta por assegurar retaguarda especializada a
profissionais que têm a responsabilidade estas equipes e profissionais encarregados
pela coordenação e condução de um da atenção e condução dos problemas
caso individual, familiar ou comunitário, de saúde. Ele será formado por um
que na saúde da família é a equipe conjunto de profissionais (representados
mínima proposta (composta por médico aqui pela equipe do NASF) que não têm,
generalista, enfermeiro, auxiliar/técnico necessariamente, relação direta e cotidiana
45/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
com o usuário, mas cujas tarefas serão e executadas a partir do compartilhar
de prestar apoio às equipes de referência e da integração das diferentes visões e
(MOURA, LUZIO, 2014; BRASIL, 2010). dimensões do problema, dos diferentes
O apoio matricial no NASF apresenta profissionais, potencializando a
dupla função: suporte assistencial possibilidade de uma atenção integral,
e técnicopedagógico. A dimensão resolutiva e de qualidade (BRASIL, 2010).
assistencial é aquela que vai produzir ação Outros instrumentos que se destacam
clínica compartilhada para atendimento no âmbito da discussão de casos clínicos,
dos usuários, e a ação técnico-pedagógica no processo de trabalho desta relação
vai produzir ação de apoio educativo com e NASF–equipe de referência são o Projeto
para a equipe (BRASIL, 2010). Terapêutico Singular (PTS) e o Projeto de
Outra importante ferramenta utilizada Saúde no Território (PST).
pelas equipes de saúde do NASF e
Saúde da Família é a prática da clínica
ampliada, que tem como preceito ampliar
a abordagem unidisciplinar na construção
de diagnósticos e terapêuticas. Assim,
propostas de intervenções são planejadas
46/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
Link
Acesse na íntegra documento do Ministério da Saúde que discute os conceitos de Clínica
ampliada, equipes de referência e Projeto Terapêutico Singular. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf>. Acesso em 06 jul 2015.

O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas que resultam da


discussão da equipe de saúde envolvida com o indivíduo, família ou comunidade. Geralmente
é dedicado a situações mais complexas, em que é necessário articular diferentes saberes e
atores para propostas de ações a fim de resolver o problema de saúde identificado. O PTS se
desenvolve em quatro momentos: avaliação e problematização culminando em um diagnóstico
da situação a ser enfrentada; a partir desta definição, a equipe trabalha em propostas de
ações a curto, médio e longo prazo, discutidas entre a equipe e entre equipe e usuário/família/
comunidade; definição clara das tarefas a serem realizadas por cada profissional e quem será
o coordenador do cuidado; e avaliação das atividades realizadas que pode gerar novas ações e
novas metas a serem alcançadas (BRASIL, 2010).

47/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Já o PST é uma estratégia de desenvolver podem ser envolvidos na resolução do
ações na produção de saúde a partir da problema. Sua grande potencialidade
articulação dos serviços de saúde com está em apropriar, reformular, estabelecer
os diferentes serviços disponíveis para responsabilidades e pactuar o projeto de
aquela comunidade, de forma a investir saúde para uma comunidade (BRASIL,
na qualidade de vida e na autonomia 2010).
de sujeitos e comunidades adstritas
àquela equipe. É baseado na promoção
da saúde, na participação social e na
intersetorialidade (BRASIL, 2010).
O seu desenvolvimento se dá a partir
das seguintes fases: identificação da
necessidade, estudo aprofundado do
problema com a compreensão do processo
histórico e social do território, definição
dos objetivos da equipe, estabelecimento
das ações a serem desenvolvidas e
identificação de outros atores que
48/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família
Glossário
Justaposição: situação de adjacência ou contiguidade em que se encontram duas coisas,
sem que nada as separe.
Intersetorial: é essa articulação entre sujeitos de setores diversos a fim de abordar
um tema ou situação em conjunto. Essa forma de trabalhar favorece a superação da
fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais
significativos na saúde da população.
Longitudinal: no decorrer de um longo período de tempo.

49/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


?
Questão
para
reflexão

Tendo como referência a leitura fundamental e o texto


de Peduzzi (2001) disponível em: <http://www.scielo.
br/pdf/rsp/v35n1/4144.pdf>, analise, no contexto em
que está inserido, como se dá o trabalho em equipe,
destacando as principais características dos processos
de trabalho envolvidos.

50/227
Considerações Finais

» A Estratégia Saúde da Família (ESF) constitui uma estratégia de ação de saúde que
tem como proposta a mudança do modelo de atenção para a consolidação de um
modelo voltado para o cuidado integral e a vigilância à saúde, o que pressupõe a
criação de vínculo entre a equipe de saúde e a população.
» O modelo preconiza uma equipe de saúde da família de caráter multiprofissional,
que trabalha com definição de território de abrangência, adscrição de clientela,
cadastramento e acompanhamento da população residente na área.
» Para a construção do projeto de saúde da família a produção de cuidado deve se
sustentar em um trabalho coletivo, em que a interdisciplinaridade e a integração
são necessárias.
» Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados com o intuito de
apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e ampliar
a abrangência, a resolutividade, a territorialização, a regionalização e a ampliação
51/227
das ações da Atenção Básica no Brasil.
» A organização e o desenvolvimento do processo de trabalho dos NASF
dependem de algumas estratégias, como o Apoio Matricial, a Clínica Ampliada,
o Projeto Terapêutico Singular e o Projeto de Saúde no Território.

52/227
Referências

ALMEIDA M. C. P, MISHIMA S. M. O desafio do trabalho em equipe na atenção à saúde da família:


construindo “novas autonomias” no trabalho. Interface – Comunicação, Saúde e Educação,
Botucatu, v. 5, n. 9, p. 150-153, 2001.
ANJOS, K. F. et al. Perspectivas e desafios do núcleo de apoio à saúde da família quanto às
práticas em saúde. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 37, n. 99. 2013.
ARAÚJO, M. B. S.; ROCHA, P. B. Trabalho em equipe: um desafio para a consolidação da
estratégia de saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de janeiro, v. 12, n. 2, p.455-464,
2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011a. Aprova a Política
Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização
da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS).
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria MS/GM nº 2.488, de 21 de
outubro de 2011. Brasília: Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, Seção 1, p.48-
55, 24 out. 2011. 2011b. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília:

53/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Referências

Ministério da Saúde, 2010. 152 p.


BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de
Apoio à Saúde da Família – NASF.
CAMPOS, G. W. S. Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas. Ciência
e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 219-230, 2000.
FERNANDES, M. C. G. O.; OTENIO, M. H.; OTENIO, C. C. M. Representação da participação
do enfermeiro no processo educativo e nas relações humanas do trabalho. Revista de
Administração em Saúde. v. 12, n. 46, p. 31-40, 2010.
FEUERWEKER, L. M. Estratégias para a mudança da formação dos profissionais de saúde.
Cadernos CE. v. 2, n. 4, p. 11-23, 2001.
FORTUNA, C. M; MISHIMA, S. M; MATUMOTO, S.; PEREIRA, M. J. B. O trabalho de equipe no
programa de saúde da família: reflexões a partir de conceitos do processo grupal e de grupos
operativos. Revista Latinoamericana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n.2, p. 262-268,
2005.
MARTINES, W. R. V.; CHAVES, E. C. Vulnerabilidade e sofrimento no trabalho do Agente
Comunitário de Saúde no Programa Saúde da Família. Revista da Escola de Enfermagem da

54/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Referências

USP, v. 41, n. 3, p. 426- 433. 2007.


MATUMOTO, S; FORTUNA, S. M.; MISHIMA, S. M.; PEREIRA, M. J. B; DOMINGOS, N. A. M.
Supervisão de equipes no Programa de Saúde da Família: reflexões acerca do desafio da
produção de cuidados. Interface - Comunicação, Saúde e Educação, v. 9, n. 16, p. 9-24, 2005.
MERHY, E. E. O ato de cuidar como um dos nós críticos “chaves” dos serviços de saúde.
Campinas, 1999. Disponível em: <http://www.uff.br/saudecoletiva/professores/merhy/
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MOURA, R. H.; LUZIO, C. A. O apoio institucional como uma das faces da função apoio no
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF): para além das diretrizes. Interface - comunicação
saúde educação, v. 18, supl 1, p. 957-970, 2014.
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Revista de Saúde Pública,
Ribeirão Preto, v. 35, n. 1, p. 103-109, 2001.
ROSA, W. A. D.; LABATE, R. C. Programa Saúde da Família: a construção de um novo modelo de
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SILVA, A. T. C., et al. Núcleos de Apoio à Saúde da Família: desafios e potencialidades na visão

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Referências

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Rio de Janeiro, v. 28, n. 11, p. 2076-2084, 2012.
SOUSA, M. F.; HAMANN, E. M. Programa saúde da família no Brasil: uma agenda incompleta?
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, supl., p. 1325-1335, 2009.
VILLAS BÔAS, M. F. M.; ARAÚJO, M. B. S.; TIMÓTEO, R. P. S. A prática gerencial do enfermeiro no
PSF na perspectiva da sua ação pedagógica educativa: uma breve reflexão. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4. p. 1355-1360, 2008.

56/227 Unidade 2 • A Equipe na Estratégia de Saúde da Família


Questão 1
1. A Estratégia Saúde da Família constitui uma estratégia de ação de
saúde que tem como proposta a mudança do modelo biomédico,
hospitalocêntrico, curativista e fragmentado de assistência. Sua
implementação visa:
a) A consolidação de um modelo voltado para o cuidado integral e a vigilância à saúde.
b) Fortalecimento da rede hospitalar.
c) Aumentar acesso à rede privada de serviços de saúde.
d) Limitar o trabalho multiprofissional a espaços definidos como unidades de saúde.
e) Aumentar a especialidade no tratamento em saúde.

57/227
Questão 2
2. Assinale a alternativa correta com relação à afirmação abaixo:

O grande desafio para os trabalhadores da ESF é a necessidade de rever


suas práticas diante de novos paradigmas, os profissionais devem ser
capazes de trabalhar em equipe e tomar decisões considerando:
a) Somente a situação clínica individual, sem considerar contexto em que vivem os
pacientes.
b) Somente a situação comunitária, sem preocupar-se com questões individuais.
c) Somente a situação clínica individual, otimizando recursos do SUS.
d) Somente a situação clínica individual, com isso sendo eficazes.
e) Não somente a situação clínica individual, mas o contexto em que vivem os pacientes, os
recursos e as medidas eficazes.

58/227
Questão 3
3. Assinale a alternativa que apresenta o conceito considerado um
elemento-chave para o desenvolvimento do trabalho na saúde da família,
configura-se como uma rede de relações entre pessoas com múltiplas
possibilidades de significados.
a) Trabalho em equipe.
b) Humanização.
c) Financiamento.
d) Gestão compartilhada.
e) Educação Permanente em Saúde.

59/227
Questão 4
4. Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) não se constituem em
porta de entrada do sistema, mas devem atuar de forma integrada à rede
de serviços de saúde, a partir das demandas identificadas no trabalho
conjunto com as equipes Saúde da Família. Como devem ser constituídas
as equipes de profissionais do NASF?
a) O NASF deve ser constituído por uma equipe com profissionais da psicologia e odontologia
que atuam junto com os profissionais da equipe de Saúde da Família.
b) O NASF deve ser constituído por profissionais da própria equipe de Saúde da Família.
c) O NASF deve ser constituído por uma equipe com profissionais de nível técnico.
d) O NASF deve ser constituído por uma equipe com profissionais das diferentes áreas do
conhecimento que atuam junto com os profissionais da equipe de Saúde da Família.
e) O NASF deve ser constituído por uma equipe com profissionais de diferentes unidades de
Saúde da Família que irão atuar em todos os níveis de atenção à saúde.

60/227
Questão 5
5. As equipes de saúde do NASF e Saúde da Família utilizam uma ferramen-
ta buscando ampliar a abordagem unidisciplinar na construção de diag-
nósticos e terapêuticas. Como é conhecida esta ferramenta?
a) Prática da clínica ampliada.
b) Acolhimento.
c) Treinamento.
d) Educação Permanente em Saúde.
e) Trabalho em equipe.

61/227
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: D.

A implementação da Estratégia Saúde O NASF deve ser constituído por uma


da Família visa à consolidação de um equipe com profissionais das diferentes
modelo voltado para o cuidado integral e a áreas do conhecimento que atuam junto
vigilância à saúde. com os profissionais da equipe de Saúde da
Família.
2. Resposta: E.
5. Resposta: A.
O trabalho deve considerar não somente a
situação clínica individual, mas o contexto A Prática da clínica ampliada é uma
em que vivem os pacientes, os recursos e as estratégia muito importante na Estratégia
medidas eficazes. da Saúde da Família que busca ampliar a
abordagem unidisciplinar na construção de
3. Resposta: A. diagnósticos e terapêuticas.

O trabalho em equipe constitui-se de


uma rede de relações entre pessoas com
múltiplas possibilidades de significados.
62/227
Unidade 3
Assistência Integral à Saúde do Adulto

Objetivos

» Discutir a importância da assistência à saúde do adulto na atenção


primária à saúde;
» Apresentar o impacto das transições epidemiológicas e
demográficas nos serviços de saúde no Brasil;
» Apresentar estratégias de atenção à saúde do adulto na Atenção
Básica.

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Introdução

A Estratégia Saúde da Família (ESF) por mudanças no cenário demográfico


visa atender o indivíduo, a família e e epidemiológico que têm trazido
coletividades de forma integral e contínua, grandes desafios aos gestores públicos
desenvolvendo ações de promoção, no direcionamento das ações de saúde,
proteção e recuperação da saúde mais exigindo a adoção de novas políticas
próximas da vida cotidiana da população, públicas de saúde (MENDES, et al., 2012).
imprimindo uma nova dinâmica de A transição epidemiológica é caracterizada
atuação nas unidades básicas de saúde, pela diminuição da mortalidade pelas
com definição de responsabilidades entre doenças infecciosas e parasitárias, o
serviços de saúde e população (ROSA; crescimento da importância das doenças
LABATE, 2005). crônicas degenerativas e dos distúrbios
Os serviços e ações de saúde devem ser mentais, além do crescimento das
voltados para a produção do cuidado com causas externas, com os homicídios
foco na melhoria da qualidade de vida, na substituindo as doenças infecciosas dos
produção social, nas condições de bem- adultos nas áreas mais pobres das regiões
estar coletivo, respondendo pelo acesso e metropolitanas, tendo como fatores de
oferecendo integralidade de atenção. risco aqueles associados às condições
Nas últimas décadas o Brasil vem passando de vida em grandes áreas urbanas, como
64/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
sedentarismo, o estresse e a violência Os principais fatores que levaram à
(MENDES, et al., 2012; VASCONCELOS; queda no número de mortes causadas
GOMES, 2012; OPAS, 2012). por doenças infecciosas e parasitárias
são os avanços na assistência à saúde
e ao expressivo êxito alcançado pela
Para saber mais área da saúde em relação às doenças
Doenças Crônicodegenerativas (DCNT) são todas imunopreveníveis (DUARTE; BARRETO,
as doenças que não foram causadas por agentes 2012).
etiológicos, vetores ou por meio do contato com Em contrapartida, o envelhecimento,
pessoas infectadas. Essas doenças abrangem a urbanização, as mudanças sociais e
um grande número e devido à sua prevalência econômicas e a globalização impactaram
são consideradas de extrema importância para o modo de viver, trabalhar e se alimentar
a saúde pública, tornando-se um problema dos brasileiros, levando ao crescimento da
decorrente dos elevados custos econômicos e prevalência de fatores como a obesidade,
sociais. o sedentarismo, o tabagismo e o abuso
de álcool, concorrentes diretos para o
desenvolvimento das doenças crônicas
degenerativas (DUARTE; BARRETO, 2012).
65/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
A partir da década de 1990, o país passa
por uma transição demográfica marcada
por um movimento de reduções das Link
taxas de natalidade, de fecundidade Para saber mais sobre as estatísticas
e de mortalidade infantil e o aumento sociodemográficas, acesse o site do Instituto
da expectativa de vida ao nascer, com Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
uma tendência de redução das taxas principal provedor de dados e informações do
de crescimento anuais, iniciando assim país, que atendem às necessidades dos mais
um processo de redução da população diversos segmentos da sociedade civil, bem
brasileira (MENDES, et al., 2012). como dos órgãos das esferas governamentais
federal, estadual e municipal. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br/home/
disseminacao/eventos/missao/default.
shtm>. Acesso em: 12 jul 2015.

Ao se analisar a evolução das faixas etárias


populacionais percebe-se uma efetiva

66/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


redução da população com menos 15 anos, atenção à saúde direcionada aos adultos
o aumento da população idosa (mais de 60 na atenção primária, considerando as
anos) e uma estabilização da faixa etária especificidades deste grupo populacional
entre 15 a 60 anos (MENDES, et al., 2012; a fim de tomar decisões e elaborar
VASCONCELOS; GOMES, 2012). propostas de implantação, reestruturação
Projeções demonstram que até 2020 e organização dos serviços de saúde
o Brasil terá uma estruturação etária que possibilitem a compreensão mais
da população com o crescimento e abrangente desta fase do ciclo de vida,
predomínio da população adulta, a redução com consequente abordagem mais
da população infantil e um crescimento da humana, acolhedora e compreensiva do
população idosa, emergindo a necessidade cuidar em saúde (PIANCASTELLI; SPITITO;
de estruturação de serviços e de FLISCH, 2013).
programas de saúde que possam responder
às demandas emergentes do novo perfil 1. O ser adulto
epidemiológico do país (MENDES, et al.,
Ao pensar no adulto, principalmente
2012).
quando estamos no contexto dos serviços
Neste sentido, cresce a importância e de saúde, em especial na Estratégia Saúde
a necessidade de pensar e qualificar a
67/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
da Família, é preciso extrapolar a questão cronológica para as condições sociais, culturais,
políticas e econômicas.
Cultural e socialmente, ser adulto significa ser capaz de agir e viver por si só, de construir
e desfazer laços afetivos, vivenciando momentos de escolhas, decisões, estabilidade
e instabilidades profissionais, financeiras e familiares sob diversas pressões, normas e
convenções sociais (PIANCASTELLI; SPITITO; FLISCH, 2013).
A faixa etária que considera o adulto também é culturalmente definida. Em nossa sociedade,
considera-se adulto aquele que está na faixa etária de 18 a 60 anos, tendo como referência o
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e o Estatuto do Idoso (2003). A vida adulta ainda
compreende três períodos, a saber: o adulto jovem (de 18 a 21 anos), o adulto (de 21 a 45 anos)
e meia idade (de 45 a 60 anos) (PIANCASTELLI; SPITITO; FLISCH, 2013).
Porém, temos que considerar que a idade cronológica de um ser humano e o seu respectivo
envelhecimento não conseguem definir por si só o que é um adulto ou mesmo uma criança, um
adolescente ou um idoso. Estas etapas têm sido apresentadas e associadas como comuns a
todas as pessoas e grupos humanos, mas esta perspectiva não leva em consideração aspectos
da história cultural específicos, da história individual dos sujeitos e da multiplicidade de
possibilidades de desenvolvimento humano (SILVA, 2004; OLIVEIRA, 2004).

68/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Tradicionalmente define-se o adulto como importantes, tomando em consideração
um indivíduo equilibrado, estável, instalado as mudanças socioeconômicas advindas
e rotineiro que atingiu a maturidade de uma sociedade industrial em expansão;
biológica, sexual e psicológica. Como um o desenvolvimento e impacto de novos
ser produto de uma confiança ilimitada no dispositivos técnicos e das novas
progresso e na possibilidade de controlar e tecnologias da informação; o incremento
projetar todas as dimensões da vida, num da sociedade de consumo e a evidência
ciclo linear, construída na perspectiva da do fenômeno da individualização (SOUSA,
inserção e da autonomia financeira. Este 2007).
conceito está integrado a um modelo de
sociedade masculina, do adulto viril, chefe
de família e inserido profissionalmente
(OLIVEIRA, 2004; SOUSA, 2007).
Este conceito de adulto já não mais atende
às perspectivas atuais da sociedade, e
desde a Segunda Guerra Mundial e o
desenvolvimento industrial o conceito
de adulto vem sofrendo mudanças
69/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
Deste modo, o conceito tradicional é substituído pela ideia do adulto como um ser sujeito a
um contínuo processo de construção e desenvolvimento, como perene aprendiz que tem de
dominar e aperfeiçoar as suas competências, numa atitude de experimentação, de progressão,
de formulação de desejos e concretização de projetos. Este adulto precisa ser ator de sua
própria vida, construindo sua autoidentidade e tendo de agir e tornar-se autônomo em relação
às prescrições sociais, assumindo e aceitando a impossibilidade do controle total sobre a vida,
tendo que se expor às diversas circunstâncias da vida (SOUSA, 2007).

70/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Em busca de uma atenção qualificada e as ações preventivas que podem ser
cada vez mais perto das reais necessidades realizadas no âmbito da atenção básica.
do indivíduo, cada equipe de saúde Políticas, estratégias e ações voltadas
da família tem que refletir e entender ao bem-estar que envolvem o contexto
quem é o adulto que atendemos, comunitário, familiar e individual, visando
contextualizando-o cultural, social e a promoção da saúde e a prevenção de
historicamente. doenças e agravos são essenciais na
promoção da qualidade de vida e redução
2. Estratégias de atenção à saú- da vulnerabilidade e riscos à saúde
de do adulto na Atenção Básica relacionados aos seus determinantes e
condicionantes (PIANCASTELLI; SPITITO;
Consideramos alguns importantes
FLISCH, 2013).
aspectos que já discutimos até aqui, como
o perfil de morbidade e mortalidade e a Uma das ferramentas da qual a Unidade
influência das condições socioculturais e de Saúde da Família pode lançar mão
históricas na saúde do adulto. Um ponto a fim de interferir no contexto de vidas
essencial a ser discutido ao pensar na das pessoas na dispensação do cuidado
atenção à saúde desta população são é a avaliação periódica de saúde (AvPS),
que possibilita ao profissional de saúde
71/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
conhecer os hábitos de vida do indivíduo rastreamento de doenças em fase inicial ou
e identificar comportamentos de risco, fatores de risco passíveis de modificação,
trazendo subsídios para o estabelecimento a imunização e a quimioprevenção
de um plano de cuidado com vistas ao (PIANCASTELLI; SPITITO; FLISCH, 2013).
aconselhamento sobre o estilo de vida A primeira fase da AvPS inclui a coleta
(PIANCASTELLI; SPITITO; FLISCH, 2013). de dados para a construção do plano de
A avaliação periódica de saúde (AvPS) cuidado a partir da realização de uma
ou revisão periódica de saúde (RvPS) é entrevista atenta, orientada e intencional,
uma abordagem que visa preservar ou em que o profissional de saúde pesquise
melhorar a saúde das pessoas, além de fatores comportamentais como tabagismo,
detectar e prevenir doenças precocemente, sedentarismo, alcoolismo, hábitos
sendo orientado pela idade, sexo, fatores nutricionais, riscos ocupacionais, sociais
de risco específicos de cada pessoa. Ela e familiares, seguida de completo exame
deve contemplar a entrevista e os exames físico.
físico/clínicos seletivos, a detecção dos As ações de aconselhamento têm
padrões de autocuidado e fatores de como principal objetivo a instituição de
risco, o aconselhamento e intervenções intervenções comportamentais capazes
que promovam hábitos saudáveis, o de promover hábitos saudáveis e atitudes
72/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
que façam diferença em saúde. O controle Para isso, vários programas podem ser
de fatores ligados ao estilo de vida, como utilizados, como:
tabagismo, abuso de álcool, dieta e falta
• Programa de Atividade Física Regular
de atividade física, por exemplo, contribui
na proporção de óbitos evitáveis (ATKINS, • Programa de Alimentação Saudável
2009). • Programa de Prevenção e controle do
uso prejudicial de bebidas alcoólicas
Para saber mais • Programa de Prevenção e Controle do
Hábitos saudáveis são um conjunto de atitudes Tabagismo.
que somadas trazem benefícios à pessoa. As ações de rastreamento são para
Devem ser trabalhadas na perspectiva de reduzir detectar precocemente uma doença
riscos e incorporação ao longo da vida, uma vez em seu estágio pré-clínico, antes que
que mudanças radicais são de difícil alcance, a pessoa manifeste algum sinal ou
e mudanças a médio ou longo prazo são uma sintoma. Geralmente os exames utilizados
forma de amenizar futuros problemas de saúde. no rastreamento não são específicos,
mas indicam e selecionam pessoas
que apresentam maior probabilidade

73/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


de apresentar alguma alteração que assim a situação vacinal dos adultos deve
deverá ser adequadamente investigada. ser conhecida e ser alvo de atenção das
Além disso, cada município precisa equipes de saúde. Vale ressaltar que cada
pactuar dentro da rede de atenção quais Estado pode complementar o calendário
exames serão realizados para cada básico de vacinação de acordo com a
situação encontrada, tendo como base realidade epidemiológica que enfrenta.
as evidências científicas disponíveis que
assegurem mais benefícios do que riscos e
não onerem o sistema de saúde (DUCAN;
SCHIMITH; GIULIGLIANI, 2004).
Outra estratégia utilizada na AvPS são
as ações de imunização, historicamente
utilizadas na prevenção de morbidade
e mortalidade por doenças infecciosas.
O Ministério da Saúde (MS), através do
Programa Nacional de Imunização (PNI),
estabelece um calendário básico de
vacinação para todas as faixas etárias,
74/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto
Outra condição a ser considerada nas ações de imunização dos adultos são as situações
especiais, como algumas condições clínicas, de caráter ocupacional ou de risco que necessitam
de imunobiológicos especiais, para isso cada unidade de saúde deve estar preparada para
referenciar os usuários aos Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIEs).

Para saber mais


O MS iniciou a implantação dos CRIEs no ano de 1993. São constituídos de infraestrutura
e logística destinadas a facilitar o acesso e o atendimento a portadores de quadros clínicos
especiais, como imunodepressão, asplenia, transplante, aids ou por motivo de convívio
com pessoas imunodeprimidas, por intolerância aos imunobiológicos devido a alergia
ou a evento adverso grave, por exposição inadvertida a agentes infecciosos por motivos
profissionais ou violência contra a pessoa.

Por fim, as ações de quimioprevenção, que consistem na instituição de medicamentos com


objetivos preventivos, devem ser utilizadas baseadas em critérios científicos com o intuito de
prevenir alguma complicação advinda de alguma condição específica, como, por exemplo,
o uso regular de ácido acetilsalicílico em portadores de Hipertensão Arterial para reduzir o

75/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


risco de infarto agudo do miocárdio e
acidente vascular cerebral isquêmico;
reposição hormonal em mulheres em
pós-menopausa ou o uso de cálcio para
prevenir a osteoporose.

76/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Glossário
Integralidade: um dos princípios doutrinários do SUS que garante ao usuário uma
atenção que abrange as ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, com
garantia de acesso a todos os níveis de complexidade do Sistema de Saúde. Pressupõe
também a atenção focada no indivíduo, na família e na comunidade.
Cronológico: relativo à cronologia, que acontece no decorrer do tempo, em ordem.
Riscos ocupacionais: são riscos relacionados à possibilidade de um trabalhador sofrer
um determinado dano durante a realização do seu trabalho. Estão associados a causas
de natureza humana (comportamentos individuais e metodologias no desenvolvimento
dos trabalhos), de natureza técnica (ambiente de trabalho, equipamentos, ferramentas,
máquinas e materiais) ou ainda causas exteriores ao trabalho (condições climatéricas
adversas ou outras provocadas por terceiros).

77/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


?
Questão
para
reflexão
Faça uma análise da situação de saúde dos adultos da
área onde vive ou trabalha, buscando conhecer e compreender
os processos sociais, culturais, econômicos que regem esta
comunidade. Para isso, responda às seguintes questões-guia:
» Como as pessoas vivem, adoecem e morrem?
» Quais os problemas de saúde mais comuns que acometem
estas pessoas? E como estes problemas são enfrentados/
resolvidos?
» Quais recursos estão disponíveis às pessoas e famílias para
atender suas necessidades de saúde?

78/227
Considerações Finais

» Tendo em consideração as transições epidemiológica e demográfica


pelas quais passa o Brasil, cresce a importância e a necessidade de
pensar e qualificar a atenção à saúde direcionada aos adultos na
atenção primária.
» Em busca de uma atenção qualificada, cada equipe de saúde da família
tem que refletir e entender quem é o adulto, contextualizando-o
cultural, social e historicamente.
» O adulto é considerado um ser em contínuo processo de construção
e desenvolvimento, que tem de dominar e aperfeiçoar as suas
competências, numa atitude de experimentação, de progressão, de
formulação de desejos e concretização de projetos.
» Uma das ferramentas da qual a Unidade de Saúde da Família pode
lançar mão a fim de interferir no contexto de vida das pessoas na
dispensação do cuidado é a avaliação periódica de saúde (AvPS).
79/227
Referências

ATKINS, D. O. Exame periódico de Saúde. In: GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil Medicina. 23. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, p. 76-81, 2009.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em:< http://www.planalto.gov.
br/CCIVIL_03/leis/L8069.htm>. Acesso em 10 jul 2015.

BRASIL. Lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras
providências. Brasília, 2003. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
l10.741.htm>. Acesso em 10 jul 2015.

DUARTE, E. C.; BARRETO, S. M. Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e


Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n. 4, p: 529-
532, 2012.
DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I.; GIUGLIANI, E. R. J. Medicina ambulatorial: condutas de Atenção
Primária baseada em evidências. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MENDES, A. C. G. et al. Assistência pública de saúde no contexto da transição demográfica
brasileira: exigências atuais e futuras. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 28, v. 5, p. 955-964,
2012.

80/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Referências

OLIVEIRA, M. K. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do adulto. Educação e


Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, 2004, p. 211-229.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE- OPAS. Saúde nas Américas 2012: panorama da
situação de saúde dos países das Américas. Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
PIANCASTELLI, C.H.; SPITITO, G. C. D; FLISCH, T. M. P. Saúde do Adulto. Belo Horizonte: Nescon/
UFMG, 20’3, 166p.
ROSA, W. A. D.; LABATE, R. C. Programa Saúde da Família: a construção de um novo modelo de
assistência. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 6, p. 1027-
1034, 2005.
SILVA, N. Ser adulto: alguns elementos para a discussão deste conceito e para a formação de
professores de adultos. Millenium – Revista do Instituto Politécnico de Viseu, n. 29, junho
2004. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/35.pdf>. Acesso em 15 jul
2015.
SOUSA, F. C. O que é “ser adulto”: as práticas e representações sociais sobre o que é “ser adulto”
na sociedade portuguesa. Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de
Língua Portuguesa, v. 1, n. 2, 2007, pp. 56-69.

81/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Referências

VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência brasileira.


Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, n. 21, v. 4, p. 539-548, 2012.

82/227 Unidade 3 • Assistência Integral à Saúde do Adulto


Questão 1
1. A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa atender o indivíduo, a família e
coletividades de forma integral e contínua, desenvolvendo ações de pro-
moção, proteção e recuperação da saúde mais próximas da vida cotidiana
da população. Como isso é realizado?
a) Imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definição
de responsabilidades entre serviços de saúde e população.
b) Substituindo totalmente as unidades básicas de saúde por unidades de saúde da família.
c) Facilitando o acesso aos serviços hospitalares como principal modelo de atenção.
d) Realizando atendimentos individuais com prioridade em atenção medicamentosa.
e) Fortalecendo o modelo biomédico de atenção.

83/227
Questão 2
2. Quando estudamos o processo de adoecimento, percebemos uma mu-
dança significativa nos tipos de patologias mais prevalentes. Neste contex-
to, quais são os principais fatores que levaram à queda no número de mor-
tes causadas por doenças infecciosas e parasitárias?

a) A mudança no padrão de doenças decorre da organização do processo produtivo.


b) Os avanços na assistência à saúde e ao expressivo êxito alcançado pela área da saúde em
relação às doenças imunopreveníveis.
c) O número de doenças infecciosas não diminuiu em quantidade, somente em percentil,
dado o aumento das patologias oncológicas.
d) A mudança ocorreu em função do aumento do diagnóstico das patologias crônicas, como
hipertensão e diabetes.
e) A mudança foi percebida em decorrência após início dos tratamentos de saúde mental
com incremento de muitas patologias que antes não eram consideradas doenças.

84/227
Questão 3
3. Assinale a alternativa que preenche de forma adequada a lacuna na
afirmação:

As ações de ___________________, que consistem na instituição de


medicamentos com objetivos preventivos, devem ser utilizadas baseadas
em critérios científicos, com o intuito de prevenir alguma complicação ad-
vinda de alguma condição específica.

a) Vacinação.
b) Diagnóstico por imagem.
c) Quimioprevenção.
d) Terapias cognitivas.
e) Diagnóstico situacional.

85/227
Questão 4
4. Assinale a alternativa que contenha os principais objetivos das ações de
aconselhamento em saúde:

a) O principal objetivo da instituição de intervenções comportamentais é promover


recuperação total da saúde.
b) O principal objetivo da instituição de intervenções comportamentais capazes de promover
hábitos saudáveis e atitudes que façam diferença em saúde.
c) O principal objetivo da instituição de intervenções comportamentais capazes de melhorar
a saúde sem alterar hábitos de vida diária.
d) O principal objetivo da instituição de intervenções comportamentais é responsabilização
do paciente no processo de cura.
e) O principal objetivo da instituição de intervenções comportamentais é a oportunidade de
reflexão sobre processo de adoecimento.

86/227
Questão 5
5. Assinale a alternativa que contém a abordagem que visa preservar ou
melhorar a saúde das pessoas, além de detectar e prevenir doenças preco-
cemente, sendo orientado pela idade, sexo, fatores de risco específicos de
cada pessoa:

a) Avaliação periódica de saúde.


b) Vigilância em saúde.
c) Intervenção medicamentosa.
d) Diagnóstico prévio.
e) Imunização.

87/227
Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: C.

A implementação da estratégia da saúde As ações de Quimioprevenção consistem


da família ocorre imprimindo uma nova na instituição de medicamentos com
dinâmica de atuação nas unidades objetivos preventivos, devem ser utilizadas
básicas de saúde, com definição de baseadas em critérios científicos, com o
responsabilidades entre serviços de saúde intuito de prevenir alguma complicação
e população. advinda de alguma condição específica.

2. Resposta: B. 4. Resposta: B.

Os avanços na assistência à saúde Assinale a alternativa que contenha


e o expressivo êxito alcançado pela os principais objetivos das ações de
área da saúde em relação às doenças aconselhamento em saúde é capacidade de
imunopreveníveis modificam o tipo de promover hábitos saudáveis e atitudes que
patologias observáveis. façam diferença em saúde.

88/227
Gabarito

5. Resposta: A.

Avaliação periódica de saúde visa preservar


ou melhorar a saúde das pessoas, além de
detectar e prevenir doenças precocemente,
sendo orientado pela idade, sexo, fatores
de risco específicos de cada pessoa.

89/227
Unidade 4
Saúde do Trabalhador

Objetivos

» Apresentar trajetória histórica da saúde do


trabalhador;
» Apresentar o processo de construção e
estruturação da saúde do trabalhador no Brasil;
» Discutir as ações e estratégias para a assistência
à saúde do trabalhador.

90/227
Introdução

A atenção à saúde do trabalhador no âmbito do Sistema Único de Saúde é orientada pela


Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, que foi instituída pela Portaria
nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Em seu artigo 2º, apresenta a definição dos princípios, as
diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de
Saúde (SUS) na atenção à saúde do trabalhador e trabalhadora.

Link
Conheça na íntegra a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/
prt1823_23_08_2012.html>. Acesso em: 13 jul 2015.

Devemos lembrar que a Política Nacional de Saúde do Trabalhador é uma política do SUS e,
portanto, deve seguir os mesmos princípios e diretrizes. As ações devem ser articuladas em
ações individuais e coletivas. As individuais podem incluir assistência e de recuperação a
agravos como acidentes ou doenças ocupacionais. Já com relação às medidas coletivas, devem
incluir medidas de promoção, prevenção, vigilância ambiental e de intervenção nos fatores que

91/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


determinam a saúde do trabalhador.

1. Saúde Do Trabalhador

Apesar da relação do homem com o trabalho ser bem antiga, a preocupação com o impacto
que a atividade laboral pode gerar na vida e na saúde do trabalhador é bem recente. O marco
histórico desta temática foi a publicação do livro: “De Morbis Artificum Diatriba” – traduzido
como: “As doenças dos trabalhadores”, de Bernardino Ramazzini, publicado em 1700, na Itália.
O autor desta obra descreve uma série de doenças diretamente relacionadas com 50 profissões
(CARVALHO, 2014).

Para saber mais


Bernardino Ramazzini foi um médico italiano nascido em Carpi, considerado o pai da Medicina
Ocupacional. Durante sua vida escreveu largamente sobre medicina geral, clínica médica,
epidemiologia, sanitarismo, meteorologia, ciências, filosofia, história, letras, poesia, literatura e
artes e foi membro de várias sociedades e academias. Ao todo são conhecidos 16 conferências e 42
trabalhos científicos, incluindo sua obra-prima De morbis artificum diatriba.
92/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
As transformações políticas e econômicas movimento intenso de pessoas migrando
sempre tiveram impacto sobre o trabalho para as cidades e o início do trabalho
e, por consequência, sobre a saúde do nas linhas de produção das indústrias
trabalhador. Um exemplo clássico de (MENDES, 2013).
mudança política, econômica e social foi Em conjunto com o nascimento das
o movimento conhecido como Revolução indústrias foi observado o movimento de
Industrial, iniciado na Inglaterra (1760- êxodo rural, ou seja, a saída do campo e a
1830), estendendo-se posteriormente fixação de moradia nas proximidades do
para Alemanha, França e toda a Europa ambiente fabril. Os vilarejos formavam
(CARVALHO, 2014). grandes adensamentos populacionais e em
A Revolução Industrial foi um momento decorrência já se observava a mudança na
histórico em que tivemos não só uma prevalência das principais patologias deste
intensa mudança de processo produtivo, grupo de pessoas trabalhadoras (SALIBA,
mas também uma profunda alteração da 2010).
sociedade como um todo. No período pré- As fábricas recrutavam basicamente
Revolução Industrial existia o predomínio mulheres e crianças. Em decorrência de
do trabalho rural, manual e até mesmo sua constituição física e por compor a
escravo. Com essa revolução, tivemos o porção mais vulnerável da população,
93/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
neste período são relatados diversos casos de violência e óbitos em decorrência de acidentes
de trabalho (SALIBA, 2010).
Os acidentes de trabalho no momento da industrialização eram numerosos, muitas vezes
causados por máquinas sem proteção, que eram utilizadas de forma improvisada, com correias
expostas e adaptações precárias (SALIBA, 2010).

Para saber mais


Define-se como acidente de trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional, permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da
capacidade para o trabalho. Consideram-se acidente de trabalho a doença profissional e a doença
do trabalho.

As fábricas eram pouco ventiladas, os ruídos eram intensos, levando a prejuízo direto sobre
audição e também para comunicação entre os trabalhadores, favorecendo o aumento de
acidentes de trabalho. A jornada de trabalho era iniciada de madrugada e finalizada ao

94/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


anoitecer, sendo utilizadas lamparinas morbidade da população neste momento
a gás para suprir as deficiências de histórico levou à mobilização da
iluminação (SALIBA, 2010). opinião pública, e como consequência o
O adoecimento da população aumentava Parlamento Britânico discutiu as precárias
em ritmo acelerado, acompanhando o condições de saúde e trabalho e aprovou
crescimento dos processos produtivos no em 1802 a primeira lei de proteção aos
ambiente fabril e as péssimas condições trabalhadores: a “Lei da Saúde e Moral dos
sanitárias das moradias que surgiam ao Aprendizes” (MENDES, 2013).
redor das indústrias (SALIBA, 2010). Em 1830 as condições sanitárias do
As condições sanitárias eram tão ruins que ambiente fabril ainda não estavam
a epidemia de tifo europeu foi conhecida melhores e como enfrentamento o governo
como “febre das fábricas”, a disseminação britânico nomeou o médico Robert Baker
desta patologia era facilitada pelas inspetor médico das fábricas. Robert
deficiências sanitárias, concentração iniciou as ações de medicina no ambiente
de pessoas e fragilidade nos hábitos de das fábricas, com reflexos por todo o
higiene (MENDES, 2013). mundo (MENDES, 2013).

O aumento das taxas de mortalidade e

95/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


2. Saúde do Trabalhador no
Brasil
Link
No Brasil, o processo de industrialização foi Acesse na íntegra a CLT- Consolidação das Leis
tardio quando comparado ao Continente de Trabalho. Disponível em: <http://www.
Europeu. As preocupações com questões planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
de saúde ocupacional foram iniciadas em Del5452.htm>. Acesso em: 13 jul 2015.
1940, com a criação da Associação de
Prevenção de Acidentes do Trabalho. E em
1943 entrou em vigor a CLT- Consolidação Na década de 1950 tivemos a
das Leis de Trabalho, marco histórico intensificação da criação dos institutos
da proteção ao trabalhador brasileiro de aposentadoria e pensões, em 1960
(CARVALHO, 2014). foram criados o FGTS – Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço e o INPS – Instituto
Nacional de Previdência Social, que
originou o atualmente conhecido INSS –
Instituto Nacional de Seguridade Social. No
mesmo período foi criada a FUNDACENTRO
– Fundação Jorge Duprat Figueiredo
96/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
de Segurança e Medicina do Trabalho riscos laborais e doenças ocupacionais
(CARVALHO, 2014). (CARVALHO, 2014).
O FGTS foi criado em 1967 pelo Governo De acordo com Moraes (2008), na atenção
Federal para proteger o trabalhador à saúde do trabalhador podemos dividir
demitido sem justa causa. Têm direito as atividades em funções: assistencial,
ao beneficio todo trabalhador brasileiro administrativa, educativa, de integração
com contrato de trabalho formal, regido e de pesquisa. Você irá estudar cada uma
pela CLT e, também, trabalhadores rurais, delas separadamente, todavia na prática
temporários, avulsos, safreiros e atletas as atividades são sobrepostas e ocorrem
profissionais. simultaneamente. Desta forma, temos:
Na saúde pública, as ações dos • A função assistencial refere-se ao
profissionais devem contemplar a conjunto de cuidados e medidas
promoção, proteção e recuperação da que tem como objetivo a promoção,
saúde. As estratégias, ferramentas e proteção e recuperação em saúde.
técnicas empregadas na saúde pública
• A função administrativa é composta
com enfoque na saúde do trabalhador
de atividades de organização, direção
são utilizadas visando a promoção da
e controle de atividades e serviços, é
saúde do trabalhador, proteção contra os
97/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
conhecida também como atividade gerencial. Entre as tarefas da função administrativa,
temos: a participação em projetos, elaboração de rotinas e normas, recrutamento e
seleção e controle de material e equipamentos.
• A função educativa é composta de ações de educação em saúde, tem por objetivo
realizar a educação dos trabalhadores e dos membros da equipe de saúde, sendo
esperada a utilização dos recursos da comunidade, como centros comunitários e
representantes de bairros.
• A função de Integração está relacionada à atividade de estimular o trabalho
multiprofissional e intersetorial nos serviços de segurança do trabalho, realizar parcerias
com órgãos de classe, como sindicados, e serviços de saúde, como as vigilâncias
epidemiológica e sanitária.
• A função de pesquisa é a atividade que estimula que a equipe de saúde atue como
pesquisador ou facilitador da realização de pesquisas relacionadas à saúde e trabalho.
As funções apresentadas são realizadas de forma integrada e têm como objetivo desenvolver
a promoção da saúde do trabalhador através de ações de prevenção primária, secundária e
terciária (MORAES, 2008).
A prevenção primária envolve ações de promoção da saúde e proteção específica, como
98/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
orientações e medidas de aquisição de hábitos saudáveis; a prevenção secundária visa o
reconhecimento imediato e precoce dos agravos de saúde visando a limitação do dano. Nesta
etapa deve-se realizar a associação entre o adoecimento e os riscos do trabalho, e quando se
realiza a prevenção terciária, objetiva-se a reabilitação em saúde, uma vez que já ocorreu o
agravo à saúde (MORAES, 2008).
Estas ações devem contemplar também a cura e reabilitação das doenças e agravos, tendo em
consideração o seu desenvolvimento.
História natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos
compreendendo as inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam
o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo
patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem
ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte
(LEAVELL & CLARK, 1976).
O curso da doença no organismo não é uniforme, podendo apresentar grandes variações,
porém é possível delinear alguns padrões de progressão da doença que podem ser colocados
em cinco categorias principais (PEREIRA, 2006):
1. Evolução aguda, rapidamente fatal.
99/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
2. Evolução aguda, clinicamente medidas podem ser medidas inespecíficas
evidente e com rápida recuperação ou gerais, têm o objetivo de promover o
na maioria dos casos. bem-estar das pessoas, e específicas ou
3. Evolução sem alcançar o limiar restritas incluem as técnicas para lidar
clínico, de modo que o indivíduo com dada doença ou agravo à saúde em
não saberá do ocorrido, salvo se for particular.
submetido a exames laboratoriais. As ações de Saúde do Trabalhador devem
4. Evolução crônica, que se exterioriza e ser organizadas em uma rede de serviços,
progride para o êxito letal após longo sendo, portanto, incorporadas pelo sistema
período. de saúde como um todo. Desta forma, a
5. Evolução crônica, com períodos entrada deve ser a rede básica de saúde
assintomáticos entremeados de e como retaguarda técnica os Centros de
exacerbações clínicas. Referência em Saúde do Trabalhador.

A equipe de saúde deverá considerar


medidas preventivas todas aquelas
utilizadas para evitar a progressão das
doenças ou suas consequências. Estas
100/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
Para saber mais
Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador são locais de atendimento especializado em Saúde
do Trabalhador, que além de atender diretamente o trabalhador, servem como uma fonte geradora
de conhecimento, indicando as doenças ou os sintomas das pessoas atendidas, relacionando com
as atividades que elas exercem. Esses dados podem ser utilizados para as negociações feitas pelos
sindicatos e também para a formulação de políticas públicas.

As ações da Atenção Primária à Saúde (APS), na abordagem do trabalhador, deverão promover


ações pautadas, sobretudo, na identificação de riscos, danos, necessidades, condições de vida e
trabalho, que determinam as formas de adoecer e morrer dos trabalhadores.
Além de identificar e registrar os riscos potenciais e perigos para a saúde do trabalhador
e do meio ambiente, a APS devera combater a existência de trabalho precoce (crianças e
adolescentes). Outra preocupação com a população trabalhadora é a ocorrência de acidentes
e/ou doenças relacionadas ao trabalho, que acometam trabalhadores inseridos tanto no
mercado formal como informal de trabalho.

101/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


Cabe à APS realizar análise de dados de governos dos 182 Estados-Membros
específicos da população trabalhadora; e de organizações de empregadores e de
Desenvolver ações educativas em Saúde do trabalhadores.
Trabalhador e, na ocorrência de acidente As ações e intervenções de saúde do
ou doença relacionada com o trabalho, trabalhador devem ser realizadas de
realizar o atendimento à vítima, promover acordo com os objetivos do Código de
cuidados necessários e notificar sua Ética Internacional para os Profissionais
ocorrência. de Saúde no Trabalho que foram definidos
pela OIT e OMS, em 1950, atualizados em
3. Saúde Do Trabalhador No 1995 pelo Comitê Misto OIT/OMS, e que
Contexto Internacional têm os seguintes objetivos:

No contexto internacional, a Organização • Manutenção e promoção da saúde


Internacional do Trabalho (OIT) é uma dos trabalhadores e de seu Código
agência multilateral ligada à Organização de Ética Internacional para os
das Nações Unidas (ONU), especializada Profissionais de Saúde no Trabalho.
nas questões do trabalho, possui sede • Manutenção e promoção da
em Genebra, tem representação paritária saúde dos trabalhadores e de sua
102/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador
capacidade de trabalho.
• Melhoramento das condições de trabalho, para que elas sejam compatíveis com a saúde e
a segurança.
• Desenvolvimento de culturas empresariais e de organizações de trabalho que contribuam
com a saúde e segurança e promovam um clima social positivo, favorecendo a melhoria
da produtividade das empresas.

Link
Código de Ética Internacional para os Profissionais de Saúde no Trabalho.
Disponível em:< <http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/
documentos_2412201387427055475.pdf>. Aceso em: 13 jul 2015.

103/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


Glossário
Adensamentos: Fenômeno associado ao crescimento populacional das cidades, que
resulta no uso intensivo do espaço urbano.
Laborais: relativo a trabalho. Trabalhar, lidar, esforçar-se.
Preparar gradualmente e com trabalho.
Tifo: é uma doença bacteriana que tem como principais vetores pulgas, piolhos ou
carrapatos que as adquiriram de animais como ratos, gatos, gambás, guaxinins e outros.
Dentre os sintomas estão: dor de cabeça, febre alta, indisposição, náusea e vômito,
diarreia, calafrio, erupção cutânea, tosse, dor abdominal, dor nas articulações e dor nas
costas.

104/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


?
Questão
para
reflexão
Considerando a relação entre saúde do trabalhador e a
Estratégia de Saúde da Família, escreva um texto crítico
reflexivo acerca dos seguintes temas:
» Qual o papel da ESF junto à comunidade de
trabalhadores?
» Quais são as atividades que a equipe de saúde
pode desenvolver na atenção à saúde do
trabalhador?
» Quais são os aspectos históricos que nos
permitem compreender a necessidade de
programas de atenção em saúde do trabalhador?

105/227
Considerações Finais

» A atenção à saúde do trabalhador no âmbito do Sistema Único de


Saúde é orientado pela Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora.
» No Brasil, as preocupações com questões de saúde ocupacional foram
iniciadas em 1940, com a criação da Associação de Prevenção de
Acidentes do Trabalho e a criação da CLT - Consolidação das Leis de
Trabalho, marco histórico da proteção ao trabalhador brasileiro.
» As estratégias, ferramentas e técnicas empregadas na saúde pública
com enfoque na saúde do trabalhador são utilizadas visando a
promoção da saúde do trabalhador, proteção contra os riscos laborais e
doenças ocupacionais.
» As ações e intervenções de saúde do trabalhador devem ser realizadas
de acordo com os objetivos do Código de Ética Internacional para os
Profissionais de Saúde no Trabalho.

106/227
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política


Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 24 ago. 2012. Seção I, p. 46-51. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html>. Acesso em: 13 jun. 2015. 

CARVALHO, Geraldo Mota de. Enfermagem do Trabalho. São Paulo: EPU, 2014. 236 p. 2 edição.


MORAES, Márcia Vilma Gonçalves. Enfermagem do Trabalho: Programas, Procedimentos e
Técnicas. 3 edição, 2009.
MENDES, René. Patologia do Trabalho. Guanabara Koogan, 3 ed. 2013.
SALIBA, T. M. Curso básico de segurança e higiene ocupacional. São Paulo: Editora LTR, 2010.
LEAVEL, H. & CLARK, E. G. Medicina Preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976, 744p.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

107/227 Unidade 4 • Saúde do Trabalhador


Questão 1
1. A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora é uma
estratégia importante para atendimento de uma parcela significativa da po-
pulação, esta política foi orientada pelo:

a) Sistema Único de Saúde.


b) Ministério do Trabalho.
c) Previdência Social.
d) Sindicatos.
d) Centro de referência em saúde do trabalhador.

108/227
Questão 2
2. Durante a Revolução Industrial as fábricas recrutavam basicamen-
te mulheres e crianças em decorrência de sua constituição física e por
compor a porção mais vulnerável da população. Neste período, quais re-
latos eram observados nesta população?
a) Durante a Revolução Industrial poucos casos de violência e óbitos eram registrados.
b) Durante a Revolução Industrial diversos casos de violência e óbitos em decorrência de
acidentes de trabalho foram relatados, principalmente entre homens.
c) Durante a Revolução Industrial diversos casos de violência e óbitos em decorrência de
acidentes de trabalho foram relatados, exclusivamente entre mulheres.
d) Durante a Revolução Industrial diversos casos de violência e óbitos em decorrência de
acidentes de trabalho foram relatados, exclusivamente com crianças.
e) Durante a Revolução Industrial diversos casos de violência e óbitos em decorrência de
acidentes de trabalho foram relatados, principalmente entre mulheres e crianças.

109/227
Questão 3
3. Durante o processo de Revolução Industrial as condições sanitárias
eram tão ruins que a epidemia de tifo europeia foi conhecida como “fe-
bre das fábricas”. A disseminação desta patologia era facilitada por quais
fatores?
a) As patologias eram disseminadas pela concentração de pessoas em ambientes quentes e
úmidos.
b) As patologias eram disseminadas pelas deficiências sanitárias e hábitos alimentares.
c) As patologias eram disseminadas pelas deficiências sanitárias, concentração de pessoas e
fragilidade nos hábitos de higiene.
d) As patologias eram disseminadas pela falha em ações de vacinação.
e) As patologias eram disseminadas pela alta virulência do patógeno.

110/227
Questão 4
4. Assinale a alternativa que preenche de forma adequada a lacuna no
trecho:

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência multilate-


ral ligada à _____________________especializada nas questões do tra-
balho, possui sede em Genebra, tem representação paritária de governos
dos 182 Estados-Membros e de organizações de empregadores e de tra-
balhadores.
a) Organização Mundial de Saúde.
b) Agência Europeia de Trabalho.
c) Organização das Nações Unidas.
d) Ministério do Trabalho e Emprego.
e) UNESCO.

111/227
Questão 5
5. As ações de Saúde do Trabalhador devem ser organizadas em uma
rede de serviços, sendo portanto incorporadas pelo Sistema como um
todo, desta forma a entrada deve ser a rede básica de saúde. Quem deve
prover a retaguarda técnica para este contexto?
a) Ministério do Trabalho e Emprego.
b) Centros de Referência em Saúde do Trabalhador.
c) Ministério da Previdência Social.
d) Sindicatos e entidades de classe.
e) Delegacia Regional do Trabalho.

112/227
Gabarito
1. Resposta: A. sanitárias, concentração de pessoas e
fragilidade nos hábitos de higiene.
Política Nacional de Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora é uma estratégia 4. Resposta: C.
estabelecida pelo SUS.
A OIT é uma agência especializada nas
2. Resposta: E. questões do trabalho, ligada à ONU, que
possui sede em Genebra.
Durante a Revolução Industrial, crianças
e mulheres eram recrutadas ao trabalho 5. Resposta: B.
em fábricas e diversos casos de violência
e óbitos em decorrência de acidentes de Os Centros de Referência em Saúde
trabalho foram relatados, principalmente do Trabalhador são responsáveis pela
entre mulheres e crianças. retaguarda técnica nos serviços de saúde
quanto atuam em questões relacionadas à
3. Resposta: C. saúde do trabalhador.

Os fatores que aumentaram a transmissão


do tifo estão relacionados às deficiências
113/227
Unidade 5
Principais Agravos à Saúde do Adulto

Objetivos

» Discutir a importância epidemiológica das


doenças crônicas degenerativas na Saúde do
Adulto;
» Apresentar os princípios da atenção aos
portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica
e Diabetes Mellitus na Atenção Básica;
» Apresentar os preceitos da Política de
Atenção Integral aos Usuários de Álcool e
Outras Drogas no âmbito da Atenção Básica.

114/227
Introdução

Nas últimas décadas o Brasil vem passando com diminuição do número de crianças,
por importantes transformações no manutenção do número de jovens e
seu perfil epidemiológico e em sua adultos e aumento da população acima
estrutura demográfica. Essas mudanças de 60 anos (MENDES, et al., 2012;
são evidenciadas pela redução da VASCONCELOS; GOMES, 2012).
mortalidade causada por doenças Nesse sentido, os problemas de saúde do
infecciosas e parasitárias, queda da adulto vêm se tornando cada vez mais
fecundidade, aumento da expectativa de importantes no âmbito dos serviços de
vida ao nascer, aumento de acidentes e saúde, principalmente ao considerar que
violência, em decorrência da urbanização no Brasil, tradicionalmente, as ações de
e o aumento de exposição a fatores de saúde pública estão voltadas para crianças,
risco, contribuindo com um maior número mulheres e idosos, levando a uma lacuna
da ocorrência de doenças crônicas não à assistência ao adulto (PIANCASTELLI;
transmissíveis (MENDES, et al., 2012; SPITITO; FLISCH, 2013).
VASCONCELOS; GOMES, 2012; OPAS,
2012). Assim, neste texto abordaremos os agravos
à saúde do adulto epidemiologicamente
Aliado a estas questões, temos o importantes, diariamente enfrentados
envelhecimento da população brasileira no cotidiano das Unidades de Saúde da
115/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
Família, a saber: hipertensão arterial, básica no sentido de responder à
diabetes mellitus, o alcoolismo e a complexidade das doenças crônicas
dependência química. que não são de resolução rápida, mas
permanecem ao longo da vida dos
1. Hipertensão Arterial e indivíduos e famílias. Recentes evidências
Diabetes Mellitus e a Atenção mostram que equipes multidisciplinares
Básica atuando de forma coordenada, preparadas
para orientar e apoiar as pessoas a lidar
A hipertensão arterial e o diabetes mellitus com suas condições e a responder às
são os principais fatores de risco para o agudizações desses processos, alcançam
desenvolvimento das doenças do aparelho melhores resultados (BRASIL, 2014).
circulatório, responsáveis por 30,69% Os principais aspectos para esta
das mortes em 2011 e por 1.140.282 estruturação estão na ampliação do acesso
internações no ano de 2014, gerando da população aos recursos e aos serviços
grandes demandas aos serviços de saúde das Unidades Básicas de Saúde, na busca
(BRASIL, 2015). de maior qualidade da Atenção à Saúde e
Nesse contexto, faz-se necessária a na persistência na busca à integralidade
estruturação das equipes de atenção da atenção. Além disso, as equipes devem
116/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
estar atentas a um conjunto de atividades, precisos, em tratamentos mais
metodologias e ferramentas apontadas adequados, em melhor uso de
na literatura como indicativos de melhor recursos e exames e em melhores
qualidade nos serviços de saúde, como resultados em saúde.
(BRASIL, 2014): • Estratificação segundo riscos
• Programação da assistência reconhecendo que as pessoas
conforme necessidades da têm diferentes graus de risco/
população. vulnerabilidade e, portanto, têm
necessidades diferentes.
• Recepção e acolhimento para que
as pessoas possam usufruir dos • A gestão de caso, que tem por
serviços de saúde que necessitam, no objetivos diminuir a fragmentação do
momento em que necessitam, com cuidado; defender as necessidades e
qualidade e equidade. expectativas de pessoas em situação
especial; aumentar a qualidade do
• O uso de diretrizes clínicas baseadas
cuidado; facilitar a comunicação
em evidências que está relacionado
com os prestadores de serviços; e
à melhor qualidade da assistência,
coordenar o cuidado em toda a rede
resultando em diagnósticos mais
de Atenção à Saúde.
117/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) com mais de 70 anos.
é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e
sustentados de pressão arterial (PA) Link
(PA ≥140 x 90 mmHg). Associa-se,
Acesse na íntegra as VI Diretrizes Brasileiras
frequentemente, às alterações funcionais
de Hipertensão Arterial disponibilizadas pela
e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração,
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Disponível
encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e às
em: <http://departamentos.cardiol.br/dha/
alterações metabólicas, com aumento do
vidiretriz/vidiretriz.asp>. Acesso e, 22 jul 2015.
risco de eventos cardiovasculares fatais
e não fatais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA, 2010). É considerada um dos principais fatores
de risco modificáveis e um dos mais
De acordo com dados da Sociedade
importantes problemas de saúde pública.
Brasileira de Cardiologia (2010), sua
Além de ser causa direta de cardiopatia
prevalência no Brasil varia entre 22%
hipertensiva, é fator de risco para doenças
e 44% para adultos (32% em média),
decorrentes de aterosclerose e trombose,
chegando a mais de 50% para indivíduos
que se manifestam, predominantemente,
com 60 a 69 anos e 75% em indivíduos
118/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
por doença isquêmica cardíaca, faixa etária de 55 anos ou mais de idade
cerebrovascular, vascular periférica e renal. (BRASIL, 2012).
Ou seja, a HAS está na origem de muitas
doenças crônicas não transmissíveis e,
portanto, caracteriza-se como uma das
causas de maior redução da expectativa
Para saber mais
O Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e
e da qualidade de vida dos indivíduos
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
(DUNCAN; SCHMIDT; GIUGLIANI, 2006).
Telefônico - Vigitel compõe o Sistema de
De acordo com dados da Vigilância de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas Não Transmissíveis do Ministério da
Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel Saúde e, conjuntamente com outros inquéritos,
– 2011), a prevalência média de HAS vem ampliando o conhecimento sobre as DCNT
autorreferida na população acima de 18 no país, subsidiando a definição de metas de
anos é de 22,7%, sendo maior em mulheres redução dos fatores de risco a serem atingidas
(25,4%) do que em homens (19,5%). A pelo país na próxima década.
frequência tornou-se mais comum com
a idade, mais marcadamente para as
mulheres, alcançando mais de 50% na
119/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
Além disso, a frequência de adultos que álcool, sedentarismo, genética e fatores
referiram diagnóstico de HAS esteve ambientais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
entre 12,9% em Palmas e 29,8% no Rio CARDIOLOGIA, 2010).
de Janeiro. No sexo masculino, as maiores Diversos estudos apontam que para
frequências foram observadas no Rio um efetivo controle e tratamento
de Janeiro (23,9%) e em Campo Grande dos portadores de HAS, é de extrema
(23,9%) e, entre as mulheres, as maiores importância uma atuação qualificada
frequências foram observadas no Rio da Atenção Básica com estratégias de
de Janeiro (34,7%) e em Recife (30,3%) prevenção, diagnóstico, monitorização e
(BRASIL, 2012). controle da hipertensão arterial. Devem
Entre os principais fatores de risco para o também ter sempre em foco o princípio
desenvolvimento da HAS podemos citar a fundamental da prática centrada na
idade (sendo mais prevalente em pessoas pessoa e, consequentemente, envolver
acima de 65 anos), gênero e etnia (sendo usuários e cuidadores, em nível individual
mais prevalente em mulheres, depois dos e coletivo, na definição e implementação
50 anos e em indivíduos não brancos), de estratégias de controle à hipertensão
excesso de peso e obesidade, ingestão (BRASIL, 2013a).
excessiva de sal, ingestão prolongada de Neste sentido, o Ministério da Saúde
120/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
preconiza que sejam trabalhadas ser metas prioritárias dos profissionais de
as modificações de estilo de vida, saúde (BRASIL, 2013a).
fundamentais no processo terapêutico e na O diabetes mellitus (DM) não é uma
prevenção da hipertensão. A alimentação doença única, mas refere-se a um
adequada, sobretudo quanto ao consumo grupo de transtornos metabólicos de
de sal e ao controle do peso, a prática de etiologias heterogêneas, caracterizado por
atividade física, o abandono do tabagismo hiperglicemia e distúrbios no metabolismo
e a redução do uso excessivo de álcool são de carboidratos, proteínas e gorduras,
fatores que precisam ser adequadamente resultantes de defeitos da secreção e/
abordados e controlados. O tratamento ou da ação da insulina. Está geralmente
medicamentoso deve ser reservado apenas associado à dislipidemia, à hipertensão
para os casos em condições de risco arterial e à disfunção endotelial, sendo
cardiovascular global alto ou muito alto considerado um problema de saúde
(GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO, 2009). sensível à Atenção Básica, ou seja, o bom
Além disso, a prevenção primária e a manejo precoce deste problema evita
detecção precoce devem ser amplamente hospitalizações e mortes por complicações
utilizadas, já que são as formas mais cardiovasculares e cerebrovasculares
efetivas de evitar as doenças, devendo (BRASIL, 2013b; ALFRADIQUE, 2009).
121/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
população. Além disso, as ocorrências
são mais comuns em pessoas com baixa
Link escolaridade e aumentam de acordo com a
Acesse na íntegra as Diretrizes da Sociedade idade da população (BRASIL, 2011).
Brasileira de Diabetes. Disponível em: <http:// A capital com o maior número de pessoas
www.diabetes.org.br/images/2015/area- com diabetes foi Fortaleza, com 7,3% de
restrita/diretrizes-sbd-2015.pdf>. Acesso em: ocorrências. Vitória teve o segundo maior
23 jul 2015. índice (7,1%), seguida de Porto Alegre,
com 6,3%. Os menores índices foram
registrados em Palmas (2,7%), Goiânia
No Brasil, segundo dados do Vigitel (4,1%) e Manaus (4,2%) (BRASIL, 2011).
de 2011, a prevalência de diabetes
autorreferida na população acima de O DM causa importante impacto na
18 anos aumentou de 5,3% para 5,6%, mortalidade e nos problemas de saúde
entre 2006 e 2011. Ao analisar esse dado que afetam a qualidade de vida dos seus
de acordo com o gênero, as mulheres portadores, acarretando altos custos aos
apresentaram uma maior proporção da serviços de saúde (BRASIL, 2013b).
doença, correspondendo a 6% dessa Estudos internacionais sugerem que

122/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


o custo dos cuidados relacionados ao fatores, as dificuldades de diagnóstico
diabetes é cerca de duas a três vezes precoce e ações de prevenção primária e
superior aos dispensados a pacientes não secundária (FERREIRA; FERREIRA, 2009).
diabéticos e está diretamente relacionado
com a ocorrência de complicações
crônicas, evidenciando a necessidade do Para saber mais
desenvolvimento de políticas públicas Prevenção Primária é a instituição de medidas
de saúde que interfiram diretamente e que promovam saúde com qualidade, antes
eficazmente no problema (BRASIL, 2013b, ) do acometimento do indivíduo por fatores
pré-patogênicos, inclui: promoção da saúde e
Os principais fatores de risco para o
proteção específica como Imunização, saúde
desenvolvimento do DM são o sobrepeso,
ocupacional, higiene, proteção contra acidentes,
o sedentarismo, os antecedentes
aconselhamento genético e controle de vetores.
familiares cardiovasculares e a hipertensão
arterial. Estudos demonstram ainda
que é expressivo o número de pessoas De acordo com as recomendações do
que chegam às Unidades de Saúde já Ministério da Saúde, os objetivos mais
apresentando sinais de estágio avançado importantes das ações de saúde em DM
da doença, o que demonstra, entre outros são controlar a glicemia e, com isso, em
123/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
longo prazo, reduzir a morbimortalidade intervenções com estímulo a uma dieta
causada por essa patologia. Os resultados saudável e prática de atividade física
no controle do DM advêm da soma de visando combater o excesso de peso, o
diversos fatores e condições que propiciam sedentarismo e as dislipidemias (OLIVEIRA;
o acompanhamento desses indivíduos, VENCIO, 2015).
o desenvolvimento do autocuidado, Em relação à prevenção secundária, são
o que contribuirá na melhoria da importantes ações no sentido de controlar
qualidade de vida. Além disso, mostra-se a hipertensão arterial, dislipidemias,
importante desenvolver ações educativas prevenir ulcerações, controle do tabagismo
sistematizadas e permanentes com os e rastreamento para diagnóstico e
profissionais de saúde a fim de mudar tratamento precoce das complicações
as práticas atuais em relação a esses como retinopatia, insuficiência renal e
problemas de saúde (BRASIL, 2013b, doenças cardiovasculares (OLIVEIRA;
OLIVEIRA; VENCIO, 2015). VENCIO, 2015).
A prevenção do início do DM também é
uma estratégia de grande importância
na atenção à saúde. Os programas de
prevenção primária devem basear-se em
124/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
2. O abuso de álcool e outras comprometeu a enfrentar os diferentes
drogas e a Atenção Básica problemas associados ao consumo de
álcool e outras drogas enquanto uma
O uso e abuso de álcool e drogas é questão de saúde pública (BRASIL, 2003).
atualmente um importante problema de
saúde pública, quando pensamos tanto
nas consequências físicas como nos
outros danos sociais associados a esse
Link
comportamento, tais como violência, Acesse A Política do Ministério da Saúde para a
sobretudo a doméstica, e acidentes Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras
de trânsitos, que oneram os custos Drogas na íntegra. Disponível em: <http://
dos atendimentos diretos e indiretos bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pns_
(LARANJEIRA et al., 2007). alcool_drogas.pdf>. Acesso em: 22 jul 2015.

Como marco na atenção a estes usuários,


em 2003 foi publicada no Brasil a “A A política para os usuários de álcool e
Política do Ministério da Saúde para outras drogas é convergente com os
a Atenção Integral aos Usuários de princípios e orientações do SUS, buscando
Álcool e Outras Drogas”. Esta política se a universalidade do acesso e do direito
125/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
à assistência aos usuários. Destacam-se prevenção, tratamento e redução de
como pontos principais (BRASIL, 2003): danos, de acordo com prioridades
locais e grau de vulnerabilidade;
• Integralidade das ações, que vai
envolver desde ações de promoção • Mobilizar a sociedade civil, bem
e prevenção destinadas à população como estabelecer parcerias locais
geral, até ações assistenciais para para a defesa e promoção dos
aqueles usuários que necessitam de direitos.
tratamento; A política do Ministério da Saúde se
• Descentralização e autonomia baseia nos princípios de Redução de
da gestão pelos níveis estaduais e Danos e a abstinência deixa de ser
municipais para o desenvolvimento a única possibilidade terapêutica
de ações voltadas para álcool e (BRASIL, 2003).
outras drogas e estruturação dos A abordagem da redução de danos
serviços mais próximos do convívio reconhece cada usuário em suas
social; singularidades, traça com ele
• Equidade do acesso dos usuários estratégias que estão voltadas não
de álcool e drogas às ações de para a abstinência como objetivo

126/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


a ser alcançado, mas para a defesa hospitalar, inserido na comunidade, de
de sua vida. A redução de danos caráter interdisciplinar e que evita a
oferece-se como um método cronificação dos pacientes e o isolamento
e, portanto, não excludente de social e tem como aparato organizativo os
outros em que tratar significa chamados Centros de Atenção Psicossocial
aumentar o grau de liberdade, de (CAPS) (BRASIL, 2003).
corresponsabilidade daquele que O CAPS é um serviço de saúde aberto e
está se tratando. Implica, por outro comunitário, referência para o tratamento
lado, no estabelecimento de vínculo de pessoas que sofrem com transtornos
com os profissionais, que também mentais, psicoses, neuroses graves e
passam a ser corresponsáveis pelos persistentes e dependência química.
caminhos a serem construídos pela Seu objetivo é oferecer tratamento à
vida daquele usuário, pelas muitas população de seu setor de abrangência,
vidas que a ele se ligam e pelas que realizando o acompanhamento clínico e a
nele se expressam (BRASIL, 2004). reinserção social dos usuários pelo acesso
A rede assistencial proposta pela política ao trabalho, lazer, exercício dos direitos
é baseada na criação de uma rede de civis e fortalecimento dos laços familiares e
atenção aos usuários de modelo extra- comunitários (BRASIL, 2004).
127/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
ações de saúde mental junto aos serviços
de Atenção Básica, entendendo que
Para saber mais a reinserção social dos portadores de
sofrimento mental deve ser realizada na
Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, CAPS AD e
comunidade onde vivem.
CAPS i. Os CAPS I, II e II oferecem atendimento
medicamentoso e de psicoterapia, visita É preeminente a necessidade de
domiciliar e atendimento à família, sendo que intervenções precoces para atender a esta
o CAPS III prevê assistência 24 horas. CAPS demanda crescente, e uma das formas
i destina-se ao atendimento de crianças e mais efetivas de atuação e também com
adolescentes e preferencialmente portadores a relação custo-benefício mais adequada
de transtornos mentais graves, e o CAPS ad é a utilização dos serviços de base
ao atendimento de usuários com transtornos comunitária, norteados dentro da lógica de
mentais decorrentes do uso e dependência Atenção Básica, com o intuito de detecção
de substâncias psicoativas. precoce e intervenção no consumo antes
que a própria dependência às drogas se
instale propriamente (RONZANI, 2005).
Dentro da perspectiva de trabalho em
rede e de atenção integral, cada vez O atendimento aos usuários de álcool e
mais se procura articular as atividades e outras drogas deve ser focado no processo
128/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
de reabilitação e reinserção social, dando álcool e drogas disfuncionais;
destaque à atuação das equipes de saúde • Ser suporte dentro do contexto da
da família na possibilidade de ação com rede de serviços de atendimento
uma equipe multiprofissional capaz a essa demanda norteado por
de reconhecer os usuários de drogas e princípios de Redução de Danos e
acompanhar as necessidades desses e seus tratamento.
familiares (PAULA et al., 2014).
As ações devem ir além do tratamento
Segundo Ministério da Saúde (BRASIL, de sintomas, mas estender-se para
2013c), a Atenção Básica deve ser capaz práticas de educação para a comunidade
de: envolvendo a comunidade, família,
• Identificar os usuários com profissionais, usuários e todos os recursos
necessidades relacionadas à ruptura que se possa utilizar para cada caso em
dos laços sociais; particular (PAULA et al., 2014). Entre as
principais ações desenvolvidas destacam-
• Articular com os CAPS o se as de rastreamento, intervenção
desenvolvimento de projetos breve, aconselhamento, atendimento
terapêuticos amplos; interdisciplinar e grupos de ajuda.
• Mapear e acompanhar usuários de
129/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
O grande desafio para a efetividade destas ações destaca-se com o preparo dos profissionais
e serviços para atender esses usuários e pensar novas formas de prevenção também dentro do
contexto comunitário (SOUZA; RONZANI, 2012).

Glossário
Dislipidemia: é um distúrbio nos níveis de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue.
Multifatorial: relativo a vários fatores ou a fatores de diferentes naturezas.
Preeminente: que tem preeminência; que ocupa posição mais elevada, superior, distinto.

130/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


?
Questão
para
reflexão
A partir da leitura do texto de Kanno; Bellodi; Tess (2012),
intitulado “Profissionais da Estratégia Saúde da Família diante
de demandas médico-sociais: dificuldades e estratégias de
enfrentamento”, discuta as dificuldades encontradas pelas
equipes de saúde da família no enfrentamento dos agravos
advindos do uso de álcool e drogas. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v21n4/v21n4a08.pdf>.
Acesso em: 27 jul 2015.

131/227
Considerações Finais

» Os problemas de saúde do adulto vêm se tornando cada vez mais importantes no


âmbito dos serviços de saúde.
» A hipertensão arterial e o diabetes mellitus são os principais fatores de risco
para o desenvolvimento das doenças do aparelho circulatório, levantando à
necessidade de estruturação das equipes de atenção básica no sentido de responder
à complexidade das doenças crônicas que não são de resolução rápida, mas
permanecem ao longo da vida dos indivíduos e famílias.
» Diversos estudos apontam que, para um efetivo controle e tratamento dos
portadores de HAS e DM, é de extrema importância uma atuação qualificada
da Atenção Básica com estratégias de prevenção, diagnóstico, monitorização e
controle da hipertensão arterial.
» O uso e abuso de álcool e drogas é atualmente um importante problema de saúde
pública, sendo preeminente a necessidade de intervenções precoces para atender
a esta demanda crescente, e uma das formas mais efetivas de atuação e também
com a relação custo-benefício mais adequada é a utilização dos serviços de base
comunitária.

132/227
Referências

ALFRADIQUE, Maria Elmira et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a
construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde
(Projeto ICSAP – Brasil). Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. 2015. Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/
DATASUS/index.php >. Acesso em: 22 jul. 2015.

_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Estratégias para o cuidado da


pessoa com doença crônica. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
_____. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:
hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013a.
_____. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:
diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013b.
_____. Ministério da Saúde. Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013c.
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica
e Participativa. Vigitel Brasil 2011: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
_____. Ministério da Saúde. A Saúde Mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial.
133/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto
Referências

Brasília: Ministério da Saúde. 2004.


_____. Ministério da Saúde. A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a
Usuários de Álcool e Outras Drogas. Brasília: Ministério da Saúde. 2003.
DUNCAN, B.; SCHMIDT, M. I.; GIUGLIANI, E. R. J. Medicina ambulatorial: condutas de atenção
primária baseada em evidência. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
FERREIRA, C. L. R. A.; FERREIRA, M. G. Características epidemiológicas de pacientes diabéticos
da rede pública de saúde: análise a partir do sistema HiperDia. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia e Metabologia, v. 53, n. 1, p. 80-86, 2009.
GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO. Serviço de Saúde Comunitária. Apoio Técnico em
Monitoramento e Avaliação em Ações de Saúde. Doenças e agravos não transmissíveis. Ação
programática para reorganização da atenção a pessoas com hipertensão, diabetes mellitus e
outros fatores de risco para doenças cardiovasculares no SSC-GHC. Porto Alegre: [s.n.], 2009.
LARANJEIRA, R.; et al. I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira. Brasília: SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 76 p.,
2007.
MENDES, A. C. G. et al. Assistência pública de saúde no contexto da transição demográfica

134/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


Referências

brasileira: exigências atuais e futuras. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 28, v. 5, p. 955-964,
2012.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE- OPAS. Saúde nas Américas 2012: panorama da
situação de saúde dos países das Américas. Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
PAULA, M. L. et al. Assistência ao usuário de drogas na atenção primária à saúde. Psicol. estud.
Maringá ,  v. 19, n. 2, p. 223-233, June  2014.
PIANCASTELLI, C. H.; SPITITO, G. C. D; FLISCH, T. M. P. Saúde do Adulto. Belo Horizonte: Nescon/
UFMG, 20’3, 166p.
RONZANI, T. M. Avaliação de um processo de implementação de estratégias de prevenção
ao uso excessivo de álcool em serviços de atenção primária à saúde: entre o ideal e o
possível. Tese de Doutorado, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo,
São Paulo,  2005.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 95, n. 1, p. 1-51, 2010. Suplemento 1.
OLIVEIRA, J. E. P.; VENCIO, S. (org). Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Diabetes 2014-2015. 3 ed. São Paulo: AC Farmacêutica, 2015, 400p.

135/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


Referências

SOUZA, I. C. W.; RONZANI, T. M. Álcool e drogas na atenção primária: avaliando estratégias de


capacitação. Psicol. estud., Maringá ,  v. 17, n. 2, p. 237-246, 2012.  
VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência brasileira.
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, n. 21, v. 4, p. 539-548, 2012.

136/227 Unidade 5 • Principais Agravos à Saúde do Adulto


Questão 1
1. A Hipertensão Arterial Sistêmica está relacionada à origem de muitas do-
enças crônicas não transmissíveis. Assinale a alternativa que apresenta o
impacto observado na sociedade:

a) A hipertensão arterial leva à maior redução da expectativa e da qualidade de vida dos


indivíduos.
b) A hipertensão arterial somente afeta e piora a condição de saúde dos pacientes obesos.
c) A hipertensão arterial é uma doença que não está relacionado ao aumento da
mortalidade.
d) A hipertensão arterial é uma consequência das doenças crônicas, ou seja, a afirmação está
incorreta.
e) A hipertensão arterial é uma preocupação somente da população idosa.

137/227
Questão 2
2. No enfrentamento da hipertensão arterial, as equipes de saúde devem
priorizar e utilizar ações mais efetivas de evitar as doenças. Quais são
estas ações?
a) Uso adequado de medicamentos.
b) Realização de exames com alta tecnologia.
c) Prevenção primária e a detecção precoce.
d) Prevenção secundária.
e) Diagnóstico preventivo e Prevenção secundária.

138/227
Questão 3
3. O controle da hipertensão arterial, dislipidemias, prevenção de ulce-
rações, controle do tabagismo e rastreamento para diagnóstico e trata-
mento precoce das complicações como retinopatia, insuficiência renal
e doenças cardiovasculares no atendimento ao paciente diabético são
ações de:

a) Prevenção primária.
b) Prevenção secundária.
c) Prevenção terciária.
d) Prevenção especializada.
e) Prevenção básica.

139/227
Questão 4
4. A abordagem do dependente químico tem como norteador a política
de redução de danos. Neste contexto, a equipe de saúde deve reconhe-
cer cada usuário em suas singularidades, traçando com ele estratégias
que estão voltadas para defesa de sua vida. Sobre estas ações, assinale a
alternativa correta:

a) A política de redução de danos busca a abstinência imediata do usuário.


b) A política de redução de danos orienta o isolamento do usuário.
c) A política de redução de danos orienta a internação hospitalar e terapia medicamentosa
no combate aos sintomas da abstinência.
d) A política de redução de danos não é eficaz e estimula o uso de drogas.
e) A política de redução de danos não busca a abstinência.

140/227
Questão 5
5. Com relação à rede assistencial de atenção aos dependentes químicos,
podemos afirmar que:
a) O modelo extra-hospitalar, inserido na comunidade, de caráter interdisciplinar e que evita
a cronificação dos pacientes e o isolamento social.
b) O modelo hospitalar é o mais efetivo e de menor custo.
c) A inserção e aproximação da sociedade são responsáveis pelo insucesso do tratamento.
d) A família não deve ser exposta e, portanto, não deve participar do tratamento.
e) Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm sido utilizados como espaços de cuidado,
mesmo sem autorização do Ministério da Saúde.

141/227
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: E.

A hipertensão arterial leva à redução da A política de redução de danos não busca a


expectativa e da qualidade de vida dos abstinência.
indivíduos em decorrência das patologias
associadas. 5. Resposta: A.

2. Resposta: C. O modelo de atenção ao dependente


químico busca não isolar o paciente e
A prevenção primária e a detecção fortalecer o cuidado com apoio da família.
precoce são estratégias mais efetivas para
prevenção de doenças.

3. Resposta: B.

As ações descritas são classificadas como


atividades de prevenção secundária.

142/227
Unidade 6
Saúde do Homem

Objetivos

» Discutir a importância da saúde do homem;


» Apresentar o perfil epidemiológico da população masculina no Brasil;
» Apresentar e discutir os preceitos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem e sua relação com a Estratégia de Saúde da Família.

143/227
Introdução

Tradicionalmente, quando olhamos para a população atendida em nossas unidades de saúde


da atenção básica, percebe-se que o uso dos serviços de saúde pelos homens difere daquele
feito pelas mulheres, ou seja, os homens procuram menos as unidades de saúde. Há diversos
fatores que explicam este fato, e entre eles os autores destacam as questões socioculturais
relacionadas às questões de gênero que envolvem a discussão da masculinidade (CAVALCANTE,
et al., 2014; MOURA, et al., 2014; PIANCASTELLI; SPITITO; FLISCH, 2013; GOMES; NASCIMENTO;
ARAÚJO, 2007).

Para saber mais


Gênero pode ser entendido como atributos e funções socialmente construídos, que configuram
diferenças e inter-relações entre os sexos, que vão para além do biológico. Assim, ser homem ou ser
mulher implica a incorporação desses atributos e funções, como forma de representar-se, valorizar-se
e atuar numa determinada cultura (KEIJZER, 2003).

Desde os primórdios da humanidade, a cultura patriarcal conduziu a construção da


masculinidade estabelecendo uma hierarquia entre homens e mulheres, apresentando uma
supremacia masculina em que o homem é considerado um ser invulnerável, forte e viril, que

144/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


não chora e reprime suas emoções (CAVALCANTE, et al., 2014).
Nesse contexto, culturalmente o cuidado à saúde é considerado como próprio do âmbito
feminino, e o homem, ao se aproximar do cuidado e verbalizar o que sente, demonstraria sinais
de fraqueza, medo, insegurança, o que colocaria em risco sua masculinidade (CAVALCANTE, et
al., 2014; GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).
Os homens costumam procurar os serviços de saúde em intercorrências graves, quando
o agravo à saúde causa dor insuportável ou leva a uma impossibilidade de trabalhar
(CAVALCANTE, et al., 2014; MOURA, et al., 2014; GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).
Sua presença se concentra nos programas de hipertensão, diabetes, consulta médica e
odontológica, muito mais numa perspectiva de cura e reabilitação do que na perspectiva da
prevenção à doença e proteção à saúde (PEREIRA, NERY, 2014).
Aliado a estas questões, ainda pode-se destacar a vergonha do homem em ficar exposto ao
procurar os serviços de saúde, o receio de descobrir que algo vai mal e a impaciência referente
aos atrasos e demora no atendimento, fazendo com que procurem com mais frequência
serviços que respondem mais rapidamente e objetivamente suas demandas, como farmácias
e serviços de pronto atendimento (CAVALCANTE, et al., 2014; MOURA, et al., 2014; GOMES;
NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

145/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


Outra questão importante a ser destacada é a inserção do homem no mercado de trabalho,
gerando uma incompatibilidade entre os horários de funcionamento dos serviços de saúde
com a disponibilidade após as atividades laborais, problema que não está restrito apenas à
população masculina, visto o crescimento cada dia maior do número de mulheres no mercado
de trabalho (CAVALCANTE, et al., 2014).
Porém, vale ressaltar que esse problema não está reduzido apenas a características específicas
ao homem, mas também à precarização dos serviços de saúde em relação ao atendimento
a esta população. Percebe-se a ausência de ações estratégicas específicas direcionadas aos
homens na idade adulta, especialmente no tocante à prevenção de agravos e promoção à
saúde (CAVALCANTE, et al., 2014).
Faz-se necessária uma reestruturação dos serviços de saúde a fim de aproximar o homem
para o cuidado de si, e a atenção básica assume papel estratégico, principalmente devido à
sua proximidade com a população e a ênfase nas ações preventivas e de promoção da saúde
(PINAFO, et al, 2011).
Há muito que ser feito, desde a adequação da estrutura/ambiência para o atendimento;
motivação e desenvolvimento de ações de promoção, proteção, tratamento e reabilitação
aos agravos mais frequentes a esta população; ações de educação em saúde por meio de uma
proposta inclusiva que leve o homem a se responsabilizar pelo cuidado da própria saúde, se
146/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
tornando protagonista de suas demandas, no sentido de romper com o paradigma cultural da
invulnerabilidade masculina e aproximá-lo dos serviços de saúde (CAVALCANTE, et al., 2014;
TEIXEIRA, et al., 2014;).

Link
Em 2010 o Ministério da Saúde disponibilizou um documento completo que caracterizou o Perfil da
Situação da Saúde do Homem do Brasil. Disponível em:< http://portalsaude.saude.gov.br/images/
pdf/2014/maio/21/CNSH-DOC-Perfil-da-Situa----o-de-Sa--de-do-Homem-no-Brasil.pdf>.
Acesso em: 28 jul 2015.

No âmbito organizacional, é preciso também ampliar o acesso desta população aos serviços
oferecidos, através da flexibilização dos horários de atendimento, com maior resolutividade
de suas necessidades, com acolhimento, vínculo e humanização, permeado por um canal de
comunicação efetivo entre indivíduo e equipe de saúde (CAVALCANTE, et al., 2014, PEREIRA;
NERY, 2014).

147/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


1. Perfil Demográfico e
Epidemiológico da População Para saber mais
Masculina As causas externas - acidentes e violências – são
consideradas um dos problemas mais sérios de
Conhecer e analisar os perfis demográfico
saúde pública no mundo. Estão presentes na
e epidemiológico da população
Classificação Internacional de Doenças (CID) em
masculina é uma estratégia importante
dois de seus capítulos: o capítulo XIX (Lesões,
no planejamento e definição de ações
envenenamentos, algumas outras consequências
específicas para implementação da
de causas externas) e capítulo XX (traumatismos,
atenção integral da saúde do homem. As
queimaduras, envenenamentos ocasionados
diferenças de morbimortalidade entre
nas pessoas, por quaisquer tipos de acidentes,
homens e mulheres são amplamente
homicídios e suicídios).
conhecidas: os homens morrem mais
cedo, principalmente por causas externas,
e são mais suscetíveis às doenças De acordo com dados do DATASUS (2015),
cardiovasculares (MOURA, 2012). a população brasileira, no ano de 2012,
foi estimada em pouco mais de 193
milhões de habitantes, sendo 49% do sexo

148/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


masculino. Essa proporção varia entre as
regiões, sendo a região Norte a única com
mais de 50% de homens. Destes 49%, Link
aproximadamente 56% estão na faixa Acesse e conheça os dados demográficos
etária entre 20 e 59 anos de idade. Em e epidemiológicos de sua região através do
relação à distribuição da faixa etária, a site do DATASUS disponível em: <http://
média nacional é de 18,4% entre 20 e 29 www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.
anos, 15,5% entre 30 e 39, 12,8,0% entre php?area=02>. Acesso em: 28 jul 2015.
40 e 49 e 9,3% entre 50 e 59 anos de idade,
explicitando a redução desta população
nas faixas etárias mais altas, exceto nas A taxa de mortalidade geral no Brasil, em
regiões Sudeste e Sul, onde verifica-se 2013, na faixa etária de 20 a 59 anos de
proporção maior de homens mais velhos idade foi igual a 1,61, porém é quatro vezes
(DATASUS, 2015). maior entre os homens do que entre as
mulheres (DATASUS, 2015).
Em relação às principais causas de morte
em 2013, percebe-se uma diferença
importante entre homens e mulheres.
149/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
Entre os homens, as três principais causas das doenças do aparelho circulatório e
são as doenças do aparelho circulatório neoplasias. Nas regiões Sul e Sudeste
(25,9%), seguida das causas externas as doenças do aparelho circulatório são
(18,1%) e neoplasias (15,3%); já nas seguidas das neoplasias e as causas
mulheres são as doenças do aparelho externas aparecem em terceiro lugar, já as
circulatório (30,8%), seguidas das regiões Nordeste e Centro-Oeste seguem
neoplasias (17,5%) e doenças do sistema as estimativas nacionais (DATASUS, 2015).
respiratório (12,6%) (DATASUS, 2015). Isto Quando olhamos para a morbidade
reforça as diferenças de gênero: homens se hospitalar no ano de 2014, as causas
envolvem mais em situações de acidentes externas aparecem como primeira causa
e violências, levando à morte prematura de internação, com 16,8%, seguidas das
(causas externas), de modo que não tem doenças do sistema respiratório (14%) e
como adoecer e morrer de outras causas, doenças do aparelho circulatório (12,2%)
como as mulheres (MOURA, 2012). (DATASUS, 2015).
Se olharmos para as diferenças regionais
em relação às causas de óbitos, apenas na
região Norte as causas externas aparecem
como primeira causa de morte, seguidas
150/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
2. A PNAISH e a Saúde da Família

No sentido de orientar os serviços de saúde para a promoção, proteção, prevenção e


reabilitação da saúde masculina, o Ministério da Saúde, em 2009, lançou a Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), institucionalizada formalmente pela Portaria
1.944, de 27 de agosto de 2009, alinhada à Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)
associada à Estratégia de Saúde da Família, fortalecendo ações e serviços em redes e cuidados
da saúde.

Link
Acesse a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) na íntegra. Disponível
em:<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/21/CNSH-DOC-PNAISH---
Principios-e-Diretrizes.pdf>. Acesso em: 28 jul 2015.

A etapa inicial da implantação da Política foi consolidada com a publicação do Plano de Ação
Nacional (PAN), (BRASIL, 2009a), da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) por meio da Área
Técnica da Saúde do Homem (ATSH) do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas
151/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
(DAPES) do Ministério da Saúde (MS), que redução dos índices de morbimortalidade
serviu de referência para a elaboração por causas preveníveis e evitáveis nessa
de Projeto-piloto em municípios população, com melhoria nas condições de
selecionados pelo MS e do Distrito Federal, saúde e qualidade de vida (BRASIL, 2009b).
que subsidiaram a pactuação de outros A PNAISH considera a heterogeneidade
municípios com a ATSH/DAPES/SAS/MS das possibilidades de ser homem, como um
para implantação da PNAISH (BRASIL, processo histórico e socioculturalmente
2009b). construído, em permanente
Os principais objetivos da política são transformação, reconhecimento dos
promover ações de saúde que contribuam determinantes sociais que resultam na
significativamente para a compreensão vulnerabilidade da população masculina.
da realidade singular masculina nos Isto é fundamental para a promoção da
seus diversos contextos socioculturais equidade na atenção a essa população, que
e político-econômicos; respeitando os deve ser considerada em suas diferenças
diferentes níveis de desenvolvimento e por idade, condição socioeconômica,
organização dos sistemas locais de saúde étnico-racial, por local de moradia urbano
e tipos de gestão, a fim de possibilitar ou rural, pela situação carcerária, pela
o aumento da expectativa de vida e a deficiência física e/ou intelectual e pelas
152/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
orientações sexuais e identidades de • Captação precoce da população
gênero não hegemônicas (BRASIL, 2009b). masculina nas atividades de
Tem como princípios a humanização e a prevenção primária relativa aos
qualidade e para cumpri-los devem ser agravos recorrentes;
considerados (BRASIL, 2009b): • Capacitação técnica dos profissionais
de saúde;
• Universalidade e equidade nas ações
e serviços de saúde voltados para a • Disponibilidade de insumos,
população masculina; equipamentos e materiais
educativos;
• Articulação com as diversas áreas
do governo, com o setor privado e a • Estabelecimento de mecanismos
sociedade; de monitoramento e avaliação
continuada dos serviços e do
• Informações e orientação à
desempenho dos profissionais de
população masculina, aos familiares
saúde;
e à comunidade sobre a promoção,
prevenção, proteção, tratamento • Elaboração e análise dos indicadores
e recuperação dos agravos e das que permitam redefinir as estratégias
enfermidades do homem; e/ou atividades que se fizerem
153/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
necessárias. profissionais, gestores e população
• Os eixos temáticos prioritários da sobre benefícios de envolver os
Política são: pais; pré-natal do parceiro; lei do
acompanhante; Unidade de Saúde
• Acesso e Acolhimento: que Parceira do Pai.
envolvem ações de sensibilização
de profissionais e gestores de saúde; • Prevenção de Violências e Acidentes:
Adequação do ambiente físico das com o desenvolvimento de cursos
unidades de saúde; Pré-natal do e campanhas sobre prevenção de
parceiro; Horários estendidos de violências e acidentes.
atendimento. • Doenças prevalentes na população
• Saúde Sexual e Reprodutiva: com masculina: campanhas de prevenção
o engajamento dos homens no e/ou conscientização; importância
planejamento familiar e estratégias do cuidado mais amplo com a saúde
de prevenção DST/Aids; Pré-natal do (exercícios, alimentação e exames de
parceiro. rotina).
A criação da PNAISH foi um grande
• Paternidade e Cuidado: com o
avanço no sentido do aprimoramento
desenvolvimento de campanhas para
154/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
do atendimento à população masculina, ampliando o diálogo entre os diferentes
porém na prática muitos desafios atores do setor saúde (universidades,
ainda precisam ser enfrentados para profissionais, gestores e usuários),
que mudanças efetivas sejam sentidas promovendo a valorização cultural e
(CAVALCANTE, 2014). histórica da saúde do homem (PEREIRA;
NERY, 2014).
É necessário repensar as ações de
planejamento e gestão observando a Além disso, considera-se como elementos
realidade local de cada comunidade e fundamentais para a implementação da
equipe de saúde, conhecendo a população política promover o acesso dos homens
envolvida neste processo a fim de definir aos serviços de saúde nos diferentes níveis
metas, propor ações de saúde e avaliar de atenção, organizados em rede; captar
constantemente a evolução da atenção a população masculina nas atividades de
integral à saúde do homem (PEREIRA; prevenção primária; melhorar o grau de
NERY, 2014). resolutividade dos problemas do usuário
e sensibilizar a população masculina
Os serviços de saúde devem acerca dos benefícios e da importância da
incorporar em suas práticas um novo prevenção à saúde (PEREIRA; NERY, 2014).
referencial ético, teórico e prático que

leve em consideração as questões gênero,
155/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
Para saber mais
O Sistema Único de Saúde está organizado em
níveis de atenção, que são a básica, a de média
complexidade e a de alta complexidade. Essa
estruturação visa à melhor programação e
planejamento das ações e serviços do sistema.
Não se deve, porém, considerar um desses níveis
de atenção mais relevante que outro, porque a
atenção à Saúde deve ser integral.

Para tanto, os profissionais de saúde


e gestores devem ser constantemente
capacitados para compreender a PNAISH e
desempenhar toda a articulação necessária
entre a oferta de serviços e as necessidades
e peculiaridades da população masculina
(PEREIRA; NERY, 2014).
156/227 Unidade 6 • Saúde do Homem
Glossário
Patriarcal: relativo a patriarca ou a patriarcado. Que inspira obediência e adoração;
respeitável, venerável.
Paradgima: algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada
situação. São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e que
determinam como um indivíduo deve agir dentro desses limites.
Peculiaridades: o que é atribuído e específico de cada pessoa ou coisa. Qualidade do que
é peculiar, ou seja, característica própria.

157/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


?
Questão
para
reflexão
Tomando como base o município em que você vive,
faça uma pesquisa na rede de saúde para saber
como está organizada a Atenção à Saúde do Homem
em relação à estrutura, metas, ações e estratégias
utilizadas, avanços e desafios enfrentados na atenção à
população masculina.

158/227
Considerações Finais

» O uso dos serviços de saúde pelos homens difere daquele feito pelas mulheres,
ou seja, os homens procuram menos as unidades de saúde.
» Os homens costumam procurar os serviços de saúde em intercorrências graves,
quando o agravo à saúde causa dor insuportável ou leva a uma impossibilidade
de trabalhar.
» Faz-se necessária uma reestruturação dos serviços de saúde a fim de aproximar
o homem para o cuidado de si e a atenção básica assume papel estratégico,
principalmente devido à sua proximidade com a população e a ênfase nas
ações preventivas e de promoção da saúde.
» No sentido de orientar os serviços de saúde para a promoção, proteção,
prevenção e reabilitação da saúde masculina, o Ministério da Saúde, em 2009,
lançou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

159/227
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. 2015. Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/


DATASUS/index.php>. Acesso em: 22 jul. 2015.

______. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.


Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Plano de ação nacional. Brasília,
DF: MS, 2009a.
______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem:
princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009b. 92 p.
CAVALCANTI, J. R. D., et al. Assistência Integral à Saúde do Homem: necessidades, obstáculos e
estratégias de enfrentamento. Esc Anna Nery, v. 18, n. 4, p. 628-634, 2014.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F.; ARAÚJO, F.C. Por que os homens buscam menos os serviços de
saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com
ensino superior. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n .3, p. 565-574, 2007.
MOURA, E. C.; et al. Atenção à saúde dos homens no âmbito da Estratégia Saúde da Família.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 2, p. 429-438, 2014.
PEREIRA, L. P.; NERY, A. A. Planejamento, gestão e ações à saúde do homem na estratégia de
saúde da família. Esc Anna Nery, v. 18, n. 4, p. 635-643, 2014.

160/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


PIANCASTELLI, C. H.; SPITITO, G. C. D; FLISCH, T. M. P. Saúde do Adulto. Belo Horizonte: Nescon/
UFMG, 20’3, 166p.
PINAFO, E., et al. Relações entre concepções e práticas de educação em saúde na visão de uma
equipe de saúde da família. Trabalho, Educação Saúde, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 201-221,
2011.
TEIXEIRA, D. C., et al. Concepções de Enfermeiros sobre a Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Homem. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 563-576, 2014.

161/227 Unidade 6 • Saúde do Homem


Questão 1
1. Ao analisar o perfil da população atendida em nossas unidades de saúde
da atenção básica, podemos perceber qual característica relacionada ao
gênero?
a) Notamos que homens procuram menos as unidades de saúde do que as mulheres.
b) Temos equilíbrio da procura de serviços de saúde quanto ao gênero da população.
c) Não existe predomínio da população feminina.
d) O homem tem procurado mais os serviços de saúde que as mulheres.
e) As mulheres têm buscado mais os serviços de saúde por apresentar saúde mais frágil que
a dos homens.

162/227
Questão 2
2. A reestruturação dos serviços de saúde é necessária, buscando a
aproximação do homem para o cuidado de si, utilizando a atenção
básica como estratégia, dada a proximidade com a população. Qual a
ênfase das ações neste contexto?
a) Ações de promoção da saúde.
b) Ações preventivas.
c) Ações preventivas e de promoção da saúde.
d) Ações de medicalização.
e) Ações de profissionais especializados.

163/227
Questão 3
3. Assinale a alternativa que preenche de forma adequada a lacuna no
trecho abaixo:

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem tem como


principais objetivos promover ações de saúde que contribuam significa-
tivamente para a compreensão da ____________________nos seus di-
versos contextos socioculturais e político-econômicos.
a) Patologias.
b) Realidade singular masculina.
c) Saúde mental do homem.
d) Saúde do trabalhador.
e) Mortalidade.

164/227
Questão 4
4. Para compreender a PNAISH e desempenhar toda a articulação neces-
sária entre a oferta de serviços e as necessidades e peculiaridades da po-
pulação masculina, o que é necessário quando pensamos nas ações dos
gestores e profissionais de saúde?

a) Os profissionais de saúde devem seguir as orientações dos gestores sobre a aplicação do


PNAISH.
b) Os gestores devem avaliar cada realidade local e recursos para traçar as estratégias do
PNAISH.
c) Os profissionais de saúde e gestores devem ser constantemente capacitados.
d) Os profissionais não têm influência e participação no PNAISH.
e) Os profissionais de saúde e gestores devem ser treinados somente na implantação do
PNAISH.

165/227
Questão 5
5. Os serviços de saúde devem incorporar em suas práticas um novo re-
ferencial ético, teórico e prático, que leve em consideração as questões
gênero, ampliando o diálogo entre os diferentes atores do setor saúde,
promovendo a valorização cultural e histórica da saúde do homem. Assi-
nale a alternativa que apresenta os atores deste processo:
a) Gestores e trabalhadores.
b) Universidades, profissionais, gestores e usuários.
c) Usuários e profissionais.
d) Somente profissionais de saúde.
e) Ministério da Saúde e Secretarias estaduais de Saúde.

166/227
Gabarito
1. Resposta: A. Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem.
A observação do perfil de pacientes
atendidos na atenção básica percebe que 4. Resposta: C.
os homens procuram menos os serviços de
saúde que as mulheres. Os profissionais de saúde e gestores devem
ser constantemente capacitados para
2. Resposta: C. compreender a PNAISH e desempenhar
toda a articulação necessária entre a oferta
Ações preventivas e de promoção da saúde de serviços e as necessidades.
devem ser a ênfase da reestruturação dos
serviços para atenção saúde do homem. 5. Resposta: B.

3. Resposta: B. As universidades, profissionais, gestores


e usuários são os atores envolvidos no
A compreensão da realidade singular processo de valorização cultural e histórica
masculina nos diversos contextos da saúde do homem.
socioculturais e político-econômicos é
um dos principais objetivos da Política
167/227
Unidade 7
Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida

Objetivos

» Entender e analisar o panorama da alimentação e nutrição no Brasil


e seu papel na promoção da saúde do cidadão;
» Apresentar o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição –
PNAN;
» Apresentar o Programa Academia da Saúde.

168/227
Introdução

A promoção da saúde na vida do ser


humano é um processo que envolve mais Para saber mais
que somente as questões relacionadas
A Organização Mundial da Saúde é um
ao processo saúde/doença. Para que um
organismo internacional de saúde pública
cidadão tenha plena saúde é necessária
fundado em 1948, dedicado a melhorar as
a garantia de condições econômicas e
condições de saúde dos países de todo o mundo.
sociais que proporcionem um ambiente
É subordinada à Organização das Nações Unidas
favorável à adoção de estilos de vida
(ONU) e tem sede em Genebra, na Suíça.
saudável. Por estes motivos, a Organização
Mundial da Saúde recomenda que os
países adotem abordagens de saúde que
A alimentação e a nutrição são
permeiem todas as políticas e estabeleçam
requisitos básicos e fundamentais para
articulação em todos os setores, com a
a promoção e proteção da saúde, pois
finalidade de ampliar o desenvolvimento
é a alimentação que possibilita o pleno
humano, a sustentabilidade e as condições
potencial do desenvolvimento humano
de saúde da população (ALVES; JAIME,
com qualidade de vida e cidadania. A
2014).
nutrição permeia diversos âmbitos da
esfera da saúde pública, uma vez que
169/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
“os riscos nutricionais, de diferentes Desta forma, em um país com
categorias e magnitudes, permeiam todo características epidemiológicas,
o ciclo da vida humana, desde a concepção territoriais, regionais, culturais e
até a senectude, assumindo diversas econômicas tão heterogêneas como o
configurações epidemiológicas em função Brasil, constata-se uma situação bastante
do processo saúde/doença” (BRASIL, 2007 complexa no que concerne à nutrição e
p. 5). alimentação.
Cabe ao Estado respeitar e facilitar aos Neste contexto, surgiu o interesse e
indivíduos e comunidades do país o direito compromisso do Ministério da Saúde
pela capacidade de alimentar-se de forma brasileiro em desenvolver estratégias
digna no sentido de ter uma vida saudável, de atuação frente aos males causados
ativa, participativa e de qualidade. Além pela escassez alimentar e à pobreza,
disso, é também dever governamental principalmente a desnutrição infantil
atuar nas questões voltadas a garantir e materna, além do complexo quadro
a segurança dos alimentos disponíveis configurado no Brasil pelas altas taxas
no país, tanto no âmbito de produção de sobrepeso e obesidade na população
agrícola, como no âmbito de importação e adulta (BRASIL, 2007, p. 7). Além disso, o
comercialização dos alimentos. governo brasileiro corrobora a indicação da
170/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
Organização Mundial da Saúde sobre a necessidade de criar políticas e ações que assegurem a
saúde alimentar do cidadão. Para o Ministério da Saúde,

Os documentos apontam para a necessidade de formulação e


implantação de estratégias nacionais, locais e regionais efetivas
e integradas para a redução da morbimortalidade relacionada à
alimentação inadequada e ao sedentarismo, com recomendações
e indicações adaptadas frente às diferentes realidades dos países e
integradas às suas políticas, com vistas a garantir aos indivíduos a
capacidade de fazer escolhas saudáveis com relação à alimentação e à
atividade física, prevendo ações de caráter regulatório, fiscal e legislativo
que visem tornar essas escolhas factíveis à população. (BRASIL, 2012, p.
12)
Baseado nestas premissas, o governo federal criou alguns programas dentro do âmbito
da atenção básica à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de auxiliar
na qualidade de vida do cidadão e no direito humano universal à alimentação e nutrição
adequadas. Esses programas funcionam como ações centralizadas à saúde do cidadão no que
171/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
concerne às questões relacionadas à nutrição, alimentação e obesidade.

1. Política Nacional de Alimentação e Nutrição - PNAN

Com o objetivo de uma ação de âmbito federal para cuidar do tema nutrição, o Ministério da
Saúde promoveu uma série de eventos participativos para debater o assunto, contando com a
participação de pessoas físicas e jurídicas, instituições governamentais e não governamentais
atuantes no campo da alimentação e nutrição.
Essas discussões deram origem à Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAM, que foi
criada no ano de 1999 através da Portaria nº 710 do Ministério da Saúde, determinando que os
órgãos e entidades do Ministério citado cujas ações se relacionassem com o tema alimentação
e nutrição elaborassem a readequação de seus planos, programas e projetos de acordo às
diretrizes estabelecidas na nova política.
De acordo com Brasil (2007, p. 17), o objetivo da PNAN é:

172/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


...a garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no país,
a promoção de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o controle
dos distúrbios nutricionais, bem como o estímulo às ações intersetoriais
que propiciem o acesso universal aos alimentos.
Desta forma, a PNAN é uma política que atua tanto no âmbito do acesso ao alimento quanto da
Segurança alimentar e Sanitária.
Para alcançar esse propósito, a Política Nacional foi criada baseada em sete diretrizes básicas,
eram elas: estímulo às ações intersetoriais com vistas ao acesso universal aos alimentos;
garantia da segurança e da qualidade dos alimentos e da prestação de serviços neste contexto;
monitoramento da situação alimentar e nutricional; promoção de práticas alimentares e
estilos de vida saudáveis; prevenção e controle dos distúrbios nutricionais e de doenças
associadas à alimentação e nutrição; promoção do desenvolvimento de linhas de investigação
e desenvolvimento e capacitação de recursos humanos.
Quando a Política Nacional de Alimentação e Nutricional completou dez anos de existência,
o Ministério da Saúde iniciou um processo de atualização de suas bases e diretrizes com a

173/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


intenção de consolidar-se como referência aos desafios da Alimentação e Nutrição no Sistema
Único de Saúde (BRASIL, 2012). Seguindo o mesmo modelo participativo utilizado em sua
concepção, a PNAN foi reorganizada em novas diretrizes, que abrangem a atenção nutricional
no SUS focando a vigilância, prevenção e cuidado integral de problemas relacionados à
alimentação e nutrição e atenção básica à saúde do cidadão.
Essas alterações foram publicadas pela Portaria nº 2.715 do Ministério da Saúde no ano de
2011, que atualiza a Política Nacional de Alimentação e Nutrição e revoga a Portaria nº 710, de
1999.

Link
Portaria nº 2.715, de 17 novembro de 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2715_17_11_2011.html>. Acesso em 17 jul
2015.

De acordo com Brasil (2012, p. 21), o propósito da PNAN é

174/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população
brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e
saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado
integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição.

A versão atual da PNAN está ordenada por nove diretrizes de atuação, são elas: Organização
da Atenção Nutricional; Promoção da Alimentação Adequada e Saudável; Vigilância Alimentar
e Nutricional; Gestão das Ações de Alimentação e Nutrição; Participação e Controle Social;
Qualificação da Força de Trabalho; Controle e Regulação dos Alimentos; Pesquisa, Inovação
e Conhecimento em Alimentação e Nutrição; e Cooperação e articulação para a Segurança
Alimentar e Nutricional.

175/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


A Política Nacional de Alimentação e Nutrição deve ser implementada de forma articulada, nas
três esferas da gestão da saúde brasileira (federal, estadual e municipal), em concordância com
os princípios do SUS.

Para saber mais


Os princípios do SUS são um conjunto de leis e normas que constituem a base jurídica da política de
saúde e do processo de organização do SUS no Brasil e estão explicitados no artigo 196 da Constituição
Federal (1988). Seu princípio fundamental afirma que “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

De acordo com Brasil (2012), para implementação da PNAN, de uma forma geral, o papel da
esfera federal (Ministério da Saúde) é elaborar o plano de ação e o planejamento da política
considerando as especificidades regionais; definir metas e estratégias com os gestores
de saúde; garantir fontes de recursos federais; avaliar e monitorar as metas nacionais de
alimentação e nutrição, assim como a situação epidemiológica nutricional do país; prestar
assessoria técnica e articulações de instituições nas três esferas; viabilizar parcerias e promover

176/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


pesquisas estratégicas para o setor. com o perfil epidemiológico regional;
Já a esfera estadual (Secretarias Estaduais desenvolver o plano de ação da PNAN de
da Saúde e do Distrito Federal) tem como forma articulada com o plano municipal e o
principais funções promover a implantação plano estadual; garantir fontes de recursos
da PNAN em seu respectivo estado de municipais, prover indicadores locais de
acordo com o perfil epidemiológico alimentação e saúde nos sistemas de saúde
regional; coordenar as comissões regionais e monitorar a ação da PNAN na população.
de gestores; desenvolver o plano de ação Estudos como os de Alves e Jaime (2014)
da PNAN de forma articulada com o e Brasil (2000) apontam que a PNAM já
plano estadual e o plano do SUS, garantir trouxe ao país resultados positivos em
fontes de recursos estaduais, promover diversas frentes, já tendo qualificado mais
capacitação dos trabalhadores da saúde, de 86% de municípios em protocolos de
viabilizar parcerias de acordo com a segurança alimentar e atendendo a alta
necessidade da população regional. parcela de crianças e adultos em risco
Por fim, à a esfera municipal (Secretarias nutricional. Além disso, já promoveu
Municipais da Saúde e do Distrito Federal) diversos estudos e pesquisas nutricionais
cumpre promover a implantação da PNAN para o mapeamento de carências
em seu respectivo município de acordo nutricionais e criação da tabela brasileira
177/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
de composição de alimentos, além da embora ainda cerca de 15 milhões de
organização de um banco de dados sobre brasileiros vivem na pobreza. Porém, a
alimentos e alimentação, que pode ser queda da desnutrição veio acompanhada
consultado pelo Disque Saúde. de um aumento preocupante nas taxas
de obesidade e sobrepeso em todas as
2. Programa Academia da camadas da população.
Saúde De acordo com a pesquisa Vigitel publicada
pelo Ministério da Saúde, as taxas de
A população mundial e notadamente a
obesidade e sobrepeso no Brasil estão em
população brasileira passou por diversas
crescimento há mais de 10 anos, e no ano
alterações sociais nas últimas décadas.
de 2014 mais da metade da população
De acordo com Brasil (2012), essas
(52%) está acima do peso, ou seja, em
transformações sociais contribuíram
sobrepeso. E destes, 17,9% são obesos,
para a diminuição da pobreza e
número que tem se mantido estável nos
consequentemente da fome e escassez de
últimos anos. A pesquisa aponta que
alimentos, além do aumento da garantia
dentre os principais fatores para o ganho
da disponibilidade média de calorias
do peso estão a falta de exercício físico,
necessárias para consumo da população,
o excesso e má escolha na ingestão de
178/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
alimentos e o estresse (BRASIL, 2014a). obesidade e sobrepeso e contava com
massiva participação da comunidade.
Inspirado nestes programas, o Governo
Para saber mais Federal lançou o “Programa Academia da
O Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e
Saúde”, no ano de 2011.
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Segundo Brasil (2014b), as experiências
Telefônico) é um sistema do Ministério da que balizaram a criação desse programa
Saúde desenvolvido para o monitoramento de foram os modelos adotados nas cidades
comportamentos de risco ou proteção para de Recife (PE), Curitiba (PR), Vitória (ES),
doenças crônicas na população das capitais Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG). Estes
brasileiras e do Distrito Federal.   modelos preconizaram as linhas gerais de
uma política que busca a articulação do
Dentro deste contexto, o Ministério Ministério da Saúde, estados e municípios
da Saúde começou a estudar algumas em uma ação até então inédita de
iniciativas de sucesso em âmbito municipal promoção de atividades físicas no escopo
em algumas cidades brasileiras. Essas do Sistema Único de Saúde (SUS).
iniciativas promoviam a atividade O Programa Academia da Saúde foi
física como ação no enfrentamento da regulamentado pela Portaria n. 719/GM/
179/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
MS, de 07 de abril de 2011, que instituiu o Programa Academia da Saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde e, dois anos depois, sofreu alterações e foi atualizado através da Portaria n.
2681, de 2013, que redefiniu o sistema, sendo a legislação regulamentadora do programa
até os dias atuais. O objetivo do programa é “promover práticas corporais e atividade física,
alimentação saudável, modos saudáveis de vida, produção do cuidado, entre outros, por meio
de ações culturalmente inseridas e adaptadas aos territórios locais” (BRASIL, 2014c).

Link
Portaria n. 2.681, de 07 de novembro de 2013 - Redefine o Programa Academia da
Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2681_07_11_2013.html>. Acesso
em: 18 jul. 2015

Aa principais diretrizes do programa, de acordo com Brasil (2014c. p. 7), são:


• Configurar-se como ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde, complementar e
potencializador das ações de cuidados individuais e coletivos na Atenção Básica;
180/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
• Referenciar-se como um programa • Integralidade do cuidado;
de promoção da saúde, prevenção e • Intergeracionalidade, promovendo o
atenção das doenças crônicas não diálogo e troca entre gerações;
transmissíveis;
• Territorialidade, reconhecendo o
• Estabelecer-se como espaço de espaço como local de produção da
produção, ressignificação e vivência saúde.
de conhecimentos favoráveis à
construção coletiva de modos de vida
O Programa Academia da Saúde é uma
saudáveis;
ação conjunta das áreas de vigilância à
• Participação popular e construção saúde e Atenção Básica do Sistema Único
coletiva de saberes e práticas em de Saúde do Brasil, compondo a rede de
promoção da saúde; atenção à saúde como uma das linhas
• Intersetorialidade na construção e de cuidado dessa rede. O Ministério da
desenvolvimento das ações; Saúde planeja que todos os planos de
ação integrantes da Atenção Básica,
• Interdisciplinaridade na produção do especialmente os integrantes dos Núcleos
conhecimento e do cuidado; de Apoio à Saúde da Família (NASF),

181/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


deverão incluir o Programa Academia da sendo elas: Básica com área total de 300
Saúde no planejamento de suas ações m2; Intermediária com área total de 312
(BRASIL, 2014c). m2 e avançada com área total de 550 m2.
As atividades físicas são desenvolvidas O programa provê estrutura e também
em polos regionais por profissionais custeio, construção e manutenção e
especializados do programa e geridos funcionamento do projeto. A adesão
pela rede de atenção básica. Essas do município ao programa partirá de
atividades devem ser potencializadas pelos um projeto apresentado pelo município
profissionais do NASF e da Estratégia de ao Ministério, através do qual será
Saúde da Família (NASF) e das Unidades feita uma análise da situação de
Básicas de Saúde (UBS) e devem abranger saúde e identificação da necessidade
práticas corporais e atividades físicas; e potencialidade de desenvolvimento
promoção de modos de vida e alimentação do projeto. Para isso é necessário que
saudáveis; práticas artísticas e culturais, o município observe o sistema de
educação em saúde e mobilização da Monitoramento de Obras que estará aberto
comunidade (BRASIL, 2014b). para inscrição de novas propostas (BRASIL,
Ainda de acordo com Brasil (2013; 2014b), 2014b; 2014c). Além disso, os municípios
os polos podem ser de três modalidades, que já tenham iniciativas parecidas podem
182/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
também submeter seus projetos existentes Desta forma, o Programa Academia da
para receber recursos de custeio do Saúde tem se mostrado muito eficiente na
Programa Academia da Saúde. promoção da saúde do cidadão e na busca
O programa vem apresentando resultados pela qualidade de vida e hábitos saudáveis
muito positivos, atrelados aos demais da população brasileira.
programas de promoção da saúde. Apesar
da tendência mundial de aumento da
obesidade, esses índices encontram-
se estabilizados no Brasil desde 2012,
e apesar dos altos índices de sobrepeso
ainda existentes no Brasil, esse número
apresentou queda no ano de 2014
(BRASIL, 2014a). Além disso, o número
de usuários das Academias da Saúde tem
tido aumento desde o início do programa
e os indicadores de qualidade de vida dos
Núcleos de Saúde da Família também
apresentaram melhorias (BRASIL, 2015b).
183/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
Glossário
Intersetoriais: Entre diferentes setores.
Preconizaram: Conjugação do verbo preconizar. Aconselhar; recomendar.
Senectude: Estado de senecto, velhice.

184/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


?
Questão
para
reflexão
Tendo como base o documento oficial de descrição da
Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN
do Ministério da Saúde, descreva de forma breve e
resumida cada uma das diretrizes de criação do PNAN.

185/227
Considerações Finais

» A promoção da saúde é um processo integrado que envolve, além das questões da saúde-
doença, os mecanismos para garantia de condições sociais, econômicas e de qualidade
de vida satisfatória.
» Cabe ao Estado respeitar as comunidades do país o direito pela capacidade de alimentar-
se de forma digna no sentido de ter uma vida saudável, ativa, participativa e de qualidade,
através de políticas e programas que forneçam essas condições aos cidadãos.
» A PNAM - Política Nacional de Alimentação e Nutrição foi criada em 1999 com o objetivo
de garantir qualidade dos alimentos colocados para consumo no país, a promoção de
práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o controle dos distúrbios nutricionais,
bem como o estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos
alimentos.
» A queda da desnutrição vivida pela população mundial e brasileira nas últimas duas
décadas veio acompanhada de um aumento preocupante nas taxas de obesidade e
sobrepeso em todas as camadas da população, demandando do Estado ações que
186/227
Considerações Finais
promovessem o enfrentamento dos problemas ocasionados pela obesidade.
» O Programa Academia da Saúde foi criado em 2011 com o objetivo de promover práticas
corporais e atividade física, alimentação saudável, modos saudáveis de vida, produção
do cuidado, entre outros, por meio de ações culturalmente inseridas e adaptadas aos
territórios locais

187/227
Referências

ALVES, K. P. S.; JAIME, P. C. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição e seu diálogo com
a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 19, n. 11, p. 4333-40, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. VIGITEL Brasil 2014: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: Editora MS, 2014a. Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/abril/15/PPT-Vigitel-2014-.pdf>. Acesso em
18 jul. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Academia da Saúde. 2014b. Disponível em:
<http://camaralebonregis.sc.gov.br/wp-content/uploads/2014/05/Academia-da-
Sa%C3%BAdeslides.pdf>. Acesso em 19 jul. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Academia da Saúde. Brasília – DF: Editora MS, 2014c. 18 p.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/academia_saude_cartilha.pdf>.
Acesso em 18 jul. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.687, de 8 de novembro de 2013. Redefine as
regras e os critérios referentes aos incentivos financeiros de investimento para construção de
polos e de custeio no âmbito do Programa Academia da Saúde e os critérios de similaridade
entre Programas em Desenvolvimento no Distrito Federal ou no Município e o Programa

188/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


Referências

Academia da Saúde. 2013. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/


prt2684_08_11_2013_rep.html>. Acesso em 19 jul. 2015

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília – DF:


Editora MS, 2012. 83 p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_
nacional_alimentacao_nutricao.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília – DF:


Editora MS, 2007. 48 p. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/politica_
alimentacao_nutricao.pdf>. Acesso em 17 jul. 2015
BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Setor
Saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 104-108, 2000.

189/227 Unidade 7 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


Questão 1
1. Qual a recomendação da Organização Mundial da Saúde para os países
com relação à promoção da saúde da população?

a) A Organização Mundial da Saúde exige que os países sigam protocolos de promoção de


saúde e programas internacionais para qualidade de vida do cidadão.
b) A Organização Mundial da Saúde não possui recomendações internacionais em relação à
promoção da saúde.
c) A Organização Mundial da Saúde recomenda aos países que adotem abordagens de
saúde que permeiem todas as políticas e estabeleçam articulação em todos os setores, com a
finalidade de ampliar o desenvolvimento humano, a sustentabilidade e as condições de saúde
da população.
d) A Organização Mundial da Saúde, que tem sua sede na Suíça, recomenda que os países
não tenham como responsabilidade de Estado o dever de promover o acesso ao alimento,
qualidade de vida e saúde da população. Sendo essa responsabilidade de cunho privado e
pessoal de cada cidadão.
e) A Organização Mundial da Saúde recomenda que os países desenvolvidos se
responsabilizem pelo envio e produção de alimentos nos países em desenvolvimento e
190/227 subdesenvolvidos.
Questão 2
2. Quais as diretrizes de criação da Política Nacional de Alimentação e
Nutrição – PNAN válidas a partir do ano de 2011?

a) Organização da Atenção Nutricional; Incentivo financeiro para compra de alimento;


Produção de alimentos; Parcerias privadas; Qualificação da Força de Trabalho e Contratação de
enfermeiros.
b) Organização da Atenção Nutricional; Promoção da Alimentação Adequada e Saudável;
Vigilância Alimentar e Nutricional; Gestão das Ações de Alimentação e Nutrição; Participação
e Controle Social; Qualificação da Força de Trabalho; Controle e Regulação dos Alimentos;
Pesquisa, Inovação e Conhecimento em Alimentação e Nutrição; e Cooperação e articulação
para a Segurança Alimentar e Nutricional.
c) A PNAN não possui diretrizes fundamentadas.
d) Vigilância Alimentar e Nutricional; Incentivo financeiro para compra de alimento;
Cooperação entre comunidades; Incentivo à prática esportiva; Parcerias privadas e Pesquisa,
Inovação e Conhecimento em Alimentação e Nutrição.
e) As diretrizes da PNAN são exatamente as mesmas diretrizes do Sistema Único de Saúde –
SUS.
191/227
Questão 3
3. De quem é a responsabilidade pela implementação da Política Nacio-
nal de Alimentação e Nutrição – PNAN?

a) A Política Nacional de Alimentação deve ser implementada e gerida exclusivamente pelo


Governo Federal.
b) A Política Nacional de Alimentação deve ser implementada e gerida pelo Governo
Estadual e as ações práticas são de responsabilidade do município.
c) A Política Nacional de Alimentação deve ser implementada e gerida exclusivamente pelo
poder municipal em concordância aos princípios do SUS.
d) A Política Nacional de Alimentação e Nutrição deve ser implementada de forma
articulada, nas três esferas da gestão da saúde brasileira (federal, estadual e municipal), em
concordância com aos princípios do SUS.
e) A Política Nacional de Alimentação e Nutrição deve ser implementada pelas três esferas
da gestão da saúde brasileira (federal, estadual e municipal), cada um participando com as
ações que lhe forem mais confortáveis e possíveis.

192/227
Questão 4
4) De acordo com o sistema Vigitel, em 2014 quais eram, respectivamen-
te, os índices de obesidade e sobrepeso da população brasileira?
a) 52% para sobrepeso e 17,9% para obesidade.
b) 85% para sobrepeso e 17,9% para obesidade.
c) 27% para sobrepeso e 35% para obesidade.
d) 52% para sobrepeso e 29,3% para obesidade.
e) 79 % para sobrepeso e 5,3% para obesidade.

193/227
Questão 5
5. Quais cidades possuíam os modelos de academias que inspiraram a
criação do Programa Academia da Saúde?

a) São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Recife (PE).
b) Recife (PE), Curitiba (PR), Vitória (ES), Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG).
c) Recife (PE), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Maceió (AL) e Fortaleza (CE).
d) Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES) e Aracaju (SE).
e) Recife (PE), Manaus (AM), Goiânia (GO), Uberaba (MG) e Vitória (ES).

194/227
Gabarito
1. Resposta: A. nove diretrizes estão apontadas no nono
parágrafo do Item 1. Política Nacional de
A Organização Mundial da Saúde Alimentação e Nutrição.
recomenda aos países a adotarem
abordagens de saúde que permeiem todas 3. Resposta: D.
as políticas e estabeleçam articulação
em todos os setores com a finalidade de O Ministério da Saúde deixa claro, na
ampliar o desenvolvimento humano, a descrição das responsabilidades do PNAN,
sustentabilidade e as condições de saúde que a política deve ser implementada de
da população Organização Mundial, forma articulada, nas três esferas da gestão
conforme descrito no primeiro parágrafo da saúde brasileira (federal, estadual
da introdução. e municipal), em concordância com os
princípios do SUS, conforme descrito
2. Resposta: B. no décimo parágrafo do Item 1. Política
Nacional de Alimentação e Nutrição.
As diretrizes do PNAN são nove diretrizes
regulamentadas pelo Ministérios da Saúde 4. Resposta: A.
pela portaria n. 2715 no ano de 2011. As
De acordo com o Vigitel, os índices para
195/227
sobrepeso e obesidade no Brasil no ano de
2014 são, respectivamente, 52% e 17,9%,
conforme explícito no segundo parágrafo
do item 2 – Programa Academia da Saúde.

5. Resposta: B.

O Programa Academia da Saúde foi criado


inspirado em modelos de sucesso que
já existiam em algumas capitais do país.
Essas cidades eram Recife (PE), Curitiba
(PR), Vitória (ES), Aracaju (SE) e Belo
Horizonte (MG), como explícito no quarto
parágrafo do item 2 – Programa Academia
da Saúde.

196/227
Unidade 8
Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida

Objetivos

» Entender e analisar o panorama da atenção


domiciliar e a prática de tratamentos
complementares no Sistema Único de Saúde;
» Apresentar o Programa Melhor em Casa;
» Apresentar a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares.

197/227
Introdução

A busca pela promoção da saúde práticas que garantam a integralidade


plena do cidadão tem sido uma realidade na atenção à saúde plena através de
em grande parte dos sistemas de saúde programas que visam proporcionar e
pública em todo o mundo. De uma maneira melhorar a qualidade de vida e bem-estar
geral, e de forma equivocada, a saúde das pessoas em diversas áreas da saúde
é encarada ou conceituada como um pública (BRASIL, 2006).
estado de não doença, ou de não mal- De acordo com Brasil (2012), no SUS
estar ou dor. No entanto, a busca pela as políticas, programas e serviços de
saúde da população engloba muito mais saúde existentes vêm sendo avaliados e
que o simples tratamento de doenças, atualizados de forma constante, isso ocorre
está diretamente ligada às condições devido às mudanças nos procedimentos
de conforto e qualidade de vida que o legais e administrativos do sistema e
indivíduo necessita para sentir-se bem. ao aumento da complexidade do perfil
No Brasil, essa realidade não é diferente. epidemiológico e demográfico do país.
Nas últimas décadas, em consonância com Essas mudanças exigem, portanto, novas
as recomendações da OMS (Organização formas de pensar políticas, programas
Mundial de Saúde), o Ministério da Saúde e serviços de saúde, e dessa forma
vem buscando meios de adotar e coordenar aumenta a necessidade de controlar os
198/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
investimentos em saúde.
Dentro desses preceitos, um dos grandes desafios de um sistema de saúde é prover qualidade
e bem-estar às pessoas que se encontram em uma situação de doença ou dor crônica e
permanente. A atenção a esse grupo de pacientes tem sido cada vez mais pensada de uma
forma plural, integrativa e inovadora. De acordo com o Ministério da Saúde,

A demanda por melhorias na qualidade da atenção e por cuidado integral


à saúde, além do envelhecimento da população associada à transição
epidemiológica que vem ocorrendo no país, têm fortalecido estratégias,
mecanismos e práticas inovadoras de cuidado em saúde, com destaque
para o surgimento de formas de cuidar próximas ao domicílio, como
Estratégia de Saúde da Família, os serviços de atendimento domiciliar
terapêutico destinados a pacientes com HIV/Aids, propostas de cuidados
paliativos, entre outros (BRASIL, 2015, p. 3).

Neste contexto, uma das frentes trabalhadas pelo Ministério da Saúde é a Atenção
Domiciliar (AD). A AD consiste numa modalidade de atenção à saúde que pode substituir
199/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
ou complementar as tradicionais, e se caracteriza por ações de prevenção e tratamento
de doenças, reabilitação e promoção à saúde, prestadas em domicílio e integradas à rede
de atenção à saúde. Desta forma, o ambiente domiciliar e as relações familiares diferem o
ambiente e a relação estabelecida pelo paciente, humanizando o cuidado e proporcionando
bem-estar ao paciente (BRASIL, 2012).
Atuando ainda no campo da prevenção, promoção e manutenção da saúde em uma abordagem
de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo, outra frente considerada
relevante pelo Ministério da Saúde no âmbito do SUS são as Práticas de Saúde Integrativas e
Complementares.

Para saber mais


Atenção humanizada é um processo que pode ocorrer em várias áreas, como Ciências da
Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas, que visa criar condições de ambientação e
de relações melhores e mais humanas para os trabalhadores ou utilizadores de um serviço ou
sistema.

200/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


Segundo Esper (2009. p.1), Práticas Neste contexto, o Ministério da Saúde
Integrativas e Complementares (PIC) possui, no âmbito do SUS, alguns
são “técnicas que visam assistência e a programas que visam fortalecer e facilitar
saúde do indivíduo, seja na prevenção, o acesso à saúde e qualidade de vida da
tratamento ou cura, considerando-o como população. Esses programas funcionam
mente/corpo/espírito e não um conjunto como ações centralizadas à saúde do
de partes isoladas”. Dessa forma, o objetivo cidadão através da melhoria das relações
dessas práticas é promover o equilíbrio do humanas, alívio da dor e aumento do bem-
indivíduo como um todo e não somente estar do cidadão.
tratando a doença ou órgão problemático.
A utilização das PIC tem alcançado 1. Programa Melhor em Casa
resultados muito positivos em diversas
iniciativas em sistemas de saúde em todo A Atenção Domiciliar (AD) é um serviço de
o mundo, e o Sistema Único de Saúde atenção que começou a aparecer no Brasil
brasileiro também tem gradativamente já na década de 1960, tendo assumido
integrando e investido nas PICs como diversos arranjos junto às equipes de saúde
auxiliar na promoção de saúde e qualidade no país. No entanto, a partir das décadas
de vida da população. de 1990 e 2000 algumas experiências de

201/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


alcance municipal começaram a avançar 2012).
no conceito de AD como uma modalidade Neste contexto, e com o objetivo de que
articulada, organizada em rede e composta mais municípios e também os municípios
por equipes com diferentes profissionais de menor tamanho também tivessem
de saúde e atendendo a toda a população acesso a esses serviços, o Ministério da
necessitada, não só aquele oriundo da Saúde lançou no ano de 2011 o Programa
internação hospitalar (BRASIL, 2014; Melhor em Casa, através da Portaria nº
2012). 2. 527, redefinindo a Atenção Domiciliar
Apesar dessas iniciativas bem-sucedidas, no âmbito do SUS brasileiro. Mais tarde,
o constante avanço da regulamentação no ano de 2013, o programa sofreu uma
e a necessidade de uma estrutura mais atualização através da Portaria nº 963, que
global e não somente municipal para tratar atualmente regulamenta os serviços de
desse tema criaram a necessidade de uma Atenção Domiciliar no país.
regulamentação federal para a legalização
e funcionamento desse tipo de serviço,
através de políticas públicas que pudessem
incorporar essas iniciativas isoladas no
Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL,
202/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
Link
Portaria nº 963, de 27 de maio de 2013 – Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2013/prt0963_27_05_2013.html>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Atenção Domiciliar pode ser conceituada como:

modalidade de atenção à saúde substitutiva ou complementar às já


existentes, caracterizada por um conjunto de ações de promoção à
saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação prestadas em
domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e integrada às redes
de atenção à saúde (BRASIL, 2012, p. 3)
Desta forma, o ambiente familiar e humanizado passa a integrar os esforços de promoção à
saúde do paciente, atingindo resultados mais eficazes no controle da doença e promovendo
203/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
bem-estar. Além disso, contribui para a atender, em média, 60 pacientes de forma
liberação de leitos de internação e controla simultânea e integrada à rede de saúde. As
gastos hospitalares. visitas aos pacientes devem ter frequência
De acordo com o Portal da Saúde, regular denominada conforme o estado
o Programa Melhor em Casa presta clínico e avaliação do indivíduo. Para a
assistência nos lares de pessoas com realização do trabalho haverá a figura do
necessidade de reabilitação motora, cuidador, que poderá ser alguém da família
pacientes crônicos sem agravamento ou ou alguém de confiança do paciente, e que
em pós-cirurgia e idosos. Este atendimento será a referência da família para as equipes
é feito por equipes multidisciplinares do Melhor em Casa (PORTAL DA SAÚDE,
formadas obrigatoriamente por médicos, 2013).
enfermeiros, técnicos em enfermagem, Dentre os benefícios que a Atenção
fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Domiciliar proporciona através do
Conforme a demanda e estrutura, a equipe Programa Melhor em Casa, podemos citar
pode contar também com profissionais como principais:
fonoaudiólogos, nutricionistas, • Melhoria e ampliação da assistência
odontologistas e farmacêuticos. Cada a pacientes com agravos de saúde,
equipe como esta tem capacidade de
204/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
recebendo atendimento humanizado, regulação dos serviços de urgência
em casa e perto da família através do hospitalar.
SUS; • Redução de custos com o paciente,
• Maior rapidez na recuperação de que podem chegar a uma redução
doenças devido ao sentimento de 80%, de acordo com dados do
de bem-estar, carinho e atenção Departamento de Atenção Básica
familiar, aliados à adequada e Coordenação Geral de Gestão
assistência de saúde; Hospitalar (BRASIL, 2014; PORTAL DA
• Redução de riscos de infecção e SAÚDE, 2013).
contaminação hospitalar no pós-
cirúrgico, uma vez que a recuperação A respeito do funcionamento do programa,
ocorrerá em casa; o Melhor em Casa ocorre no âmbito
da Rede de Atenção à Saúde (RAS) do
• Avanços na gestão do sistema público SUS, onde cada um dos hospitais deve
de saúde, uma vez que contribui para possuir um Núcleo de Acesso e Qualidade
a desocupação de leitos hospitalares Hospitalar visando a garantia da qualidade
e, consequentemente, melhorando assistencial. Esses núcleos devem ser
as possibilidades de atendimento e formados pelos coordenadores do serviço
205/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
de urgência e emergência, unidades e central de internação do hospital (incluindo as UTIs) e
por um representante do gestor local. O trabalho do núcleo deve ser acompanhado pelo Comitê
Nacional de Acompanhamento do S.O.S. Emergências e coordenado pelo Ministério da Saúde,
que tem a função de contribuição para o fortalecimento e implementação das ações previstas
pelo programa.

Para saber mais


As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos organizativos no âmbito do SUS que visam à
promoção de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por
meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado
à população.

As equipes de atenção domiciliar são 100% financiadas pelo Ministério da Saúde, através
de recursos federais transferidos do Fundo Nacional de Saúde para os fundos municipais
ou estaduais de saúde. Essa transferência, no entanto, não exclui a possibilidade de aporte
de recursos oriundos das gestões locais. Os recursos podem também ser utilizados para
manutenção dos serviços (compra de equipamentos, aquisição de medicamentos, insumos e
206/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
transporte) (PORTAL DA SAÚDE, 2013). possuem alcance global e interferência,
O Programa Melhor em Casa, desde seu inclusive nos processos de adoecimento
início em 2011, já implantou inúmeros e saúde, e seguindo as recomendações
serviços domiciliares em diversos da Organização Mundial de Saúde
municípios, tendo alguns como modelos para formulação de políticas visando a
de sucesso em todo o Brasil, representando integração de sistemas médicos complexos
grande economia de leitos hospitalares e recursos terapêuticos como auxiliares
em todas as cidades e recebendo um alto no processo de tratamentos e busca da
número de retornos positivos por parte dos saúde pelo cidadão, o Ministério da Saúde
pacientes e famílias atendidas (BRASIL, brasileiro começou a avaliar formas de
2014; PORTAL DA SAÚDE, 2013). desenvolver uma política que conseguisse
integrar tratamentos complementares a
alopatia e tratamento hospitalar do SUS
2. Política Nacional de Práticas
(BRASIL, 2006).
Integrativas e Complementares
Práticas Integrativas e
Considerando o indivíduo um ser Complementares (PIC) são práticas de
de dimensão holística, ou seja, onde tratamento que envolvem abordagens
todas as ações e acontecimentos que visam estimular mecanismos naturais
207/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
de prevenção de doenças e recuperação ganharam mais visibilidade na área da
da saúde por meio de técnicas seguras e saúde, uma vez que nessa conferência,
eficazes. Essas práticas seguem sempre impulsionada pela Reforma Sanitária,
um modelo de escuta acolhedora e foi deliberada em seu relatório final a
desenvolvimento de vínculo terapêutico necessidade de “introdução de práticas
para integração do ser humano com o meio alternativas de assistência à saúde
ambiente e a sociedade através de uma no âmbito dos serviços de saúde,
visão ampla do processo saúde/doença e possibilitando ao usuário o acesso
promoção do autocuidado (ECOMEDICINA, democrático de escolher a terapêutica
2015). preferida” (Guilhermino; Guerrero, 2011, p.
O processo de discussão de Práticas 23).
Integrativas e Complementares se inicia já
na década de 1980, quando o Ministério
da Saúde começou a promover diversas
conferências, documentos e discussões
sobre saúde pública. Foi então que na
ocasião da 8ª Conferência Nacional de
Saúde (CNS), no ano de 1986, as PICs
208/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
Para saber mais
A Reforma Sanitária foi um movimento originado no período de luta contra a ditadura, no
início da década de 1970. A expressão foi usada para se referir ao conjunto de ideias que
se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde. Essas
mudanças não eram restritas ao sistema, se relacionavam a todo o setor saúde, em busca da
melhoria das condições de vida da população.

As discussões e implementações piloto evoluíram, e no ano de 2006 o Ministério da Saúde


lançou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Completares (PNPIC), no SUS, através de
duas portarias, a Portaria nº 971 e a Portaria nº 1.600, com o objetivo central de:

209/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


Contemplar sistemas e recursos que envolvem abordagens que
buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e
recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com
ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico
e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade
(BRASIL, 2006, p. 10).

Link
Portaria nº 971, de 03 de maio de 2006 - Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006.html>. Acesso em 22 jul 2015.
Portaria nº 1.600, de 03 de maio de 2006 - Aprova a constituição do Observatório das Experiências de
Medicina Antroposófica no Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt1600_17_07_2006.html>. Acesso em 22 jul. 2015.

210/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


A PNPIC contempla cinco modalidades de curar efeitos semelhantes a estes
práticas complementares, são elas: num organismo doente.
• Plantas medicinais e fitoterapia: • Medicina Tradicional Chinesa
técnica terapêutica que utiliza – Acupuntura: sistema médico
plantas medicinais em diferentes integral e milenar originado na
formas farmacêuticas sem a China. Compreende um conjunto
utilização de substâncias ativas de procedimentos que permitem
isoladas. Tem origem muito antiga estímulo preciso em pontos
e relacionada aos primórdios da anatômicos predefinidos por meio de
sociedade. inserção de agulhas metálicas.
• Homeopatia: sistema médico • Medicina Antroposófica: Abordagem
holístico baseado em princípios médico-terapêutica de modelo
vitalistas e filosóficos e que interdisciplinar que busca a
desenvolve remédios homeopáticos integralidade do cuidado em saúde.
naturais acreditando que uma Utiliza medicamentos homeopáticos,
substância capaz de causar efeitos fitoterápicos e outros específicos da
em um organismo pode também abordagem Antroposófica.

211/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


• Termalismo – Crenoterapia: uso de da PIC para profissionais de saúde,
águas minerais para tratamento da gestores e usuários do SUS, considerando
saúde. Utilizado desde o império as metodologias participativas e o
grego, faz uso de águas minerais de saber popular e tradicional; Estímulo às
diferentes formas e temperaturas, ações intersetoriais, buscando parcerias
tanto para auxiliar na cura como para que propiciem o desenvolvimento
preservar a saúde. (BRASIL, 2006; integral das ações; Fortalecimento da
SCHVEITZER, 2012) participação social; Provimento do
A PNPIC segue 11 diretrizes para sua acesso a medicamentos homeopáticos e
implantação em todo o território nacional, fitoterápicos na perspectiva da ampliação
no âmbito da Rede de Atenção Básica: da produção pública, assegurando
Estruturação e fortalecimento da atenção as especificidades da assistência
em PIC no SUS; Desenvolvimento de farmacêutica nestes âmbitos na
estratégias de qualificação em PIC para regulamentação sanitária (BRASIL, 2006).
profissionais no SUS, em conformidade A Política Nacional de Práticas Integrativas
com os princípios e diretrizes estabelecidos e Complementares deve ser implementada
para Educação Permanente; Divulgação de forma articulada, nas três esferas
e informação dos conhecimentos básicos da gestão da saúde brasileira (federal,
212/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
estadual e municipal), em concordância com os princípios do SUS, sendo responsabilidade da
esfera federal o financiamento com verbas federais, o estabelecimento de normas técnicas e
treinamento e estabelecer critérios para a implantação das modalidades. Já a esfera estadual
deve implantar a PNPIC na rede de saúde do Estado, definir verbas estaduais de financiamento,
implementar treinamentos regionais e manter articulação com os municípios para apoio,
implantação e supervisão das ações. Por fim, cabe ao poder municipal gerenciar as ações
práticas da política dos municípios, definir recursos orçamentários municipais e exercer
vigilância sanitária no que diz respeito às práticas da PNPIC no município (BRASIL, 2006).
Conforme explicitado por Guerrero e Guilhermino (2011), atualmente o Ministério da Saúde
afirma que a aplicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
está presente em todos os estados da Federação. Os resultados apontam que as práticas
predominantes aplicadas no SUS são Fitoterapia, Homeopatia e Acupuntura. Os resultados
apontam ainda que a aplicação das técnicas, somada ao conhecimento popular e científico,
tem apresentado retornos extremamente positivos por parte do usuário e contribuindo com a
premissa central de facilitar e potencializar o acesso à saúde plena da população.

213/227 Unidade 8 • Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida


Glossário
Consonância: estar em concordância, acordo ou conformidade.
Preceitos: comando ou ordem dado como regra de conduta. Regra; aquilo que se
aconselha fazer ou praticar. 
Holística: Aquele que prega a compreensão integral dos fenômenos, não apenas das suas
partes separadas.

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?
Questão
para
reflexão

Baseado na descrição oficial do Ministério da Saúde a


respeito das Práticas Integrativas e Complementares
constantes nas páginas 13 - 24 do documento
disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/pnpic.pdf>, faça uma breve descrição
sobre cada uma das PIC aprovadas pela Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no
SUS.

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Considerações Finais

» A complexidade do perfil epidemiológico e demográfico do Brasil, as


políticas, programas e serviços de saúde existentes no SUS vêm sendo
avaliados e atualizados de forma constante. Essas mudanças exigem,
portanto, novas formas de pensar políticas, programas e serviços de
saúde, aumentando a necessidade de controlar os investimentos em
saúde.
» A AD consiste numa modalidade de atenção à saúde que pode
substituir ou complementar as tradicionais, e se caracteriza por ações
de prevenção e tratamento de doenças, reabilitação e promoção à
saúde, prestadas em domicílio e integradas à rede de atenção à saúde.
» O Programa Melhor em Casa presta assistência nos lares de pessoas
com necessidade de reabilitação motora, pacientes crônicos sem
agravamento ou em pós-cirurgia e idosos. Este atendimento é feito por
equipes multidisciplinares formadas obrigatoriamente por médicos,

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Considerações Finais
enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeuta e terapeuta
ocupacional.
» Práticas Integrativas e Complementares (PIC) são práticas de
tratamento que envolvem abordagens que visam estimular
mecanismos naturais de prevenção de doenças e recuperação da
saúde por meio de técnicas seguras e eficazes.
» A PNPIC contempla cinco modalidades de práticas complementares,
são elas: Plantas Medicinais e Fitoterapia; Homeopatia; Medicina
Tradicional Chinesa; Medicina Antroposófica e Termalismo –
Crenoterapia.

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de monitoramento e avaliação do Programa Melhor


em Casa. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/manual_monitoramento_avaliacao_programa.pdf>. Acesso em: Acesso em 20 jul.
2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Instrutivo do Melhor em Casa. Brasília: Ministério da
Saúde, 2012. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/geral/cartilha_melhor_em_casa.
pdf>. Acesso em: 20 jul. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares


no SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/pnpic.pdf>. Acesso em 20 jul. 2015.

ECOMEDICINA. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde: o que é isso? 2015.


Disponível em: <http://www.ecomedicina.com.br/site/conteudo/noticia110.asp>. Acesso em: 20
jul. 2015.
ESPER, M. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. 2009. Disponível: <http://www.
webartigos.com/artigos/praticas-integrativas-e-complementares-em-saude/24265/>. Acesso
em: 20 jul. 2015.

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Referências

GUILHERMINO, J. F. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS.


In: GENIOLE, L. A. I.; Kodjaoglanian, V. L.; VIEIRA, C. C. A. V. Material de apoio às atividades
didáticas do curso de Pós-Graduação em Atenção Básica em Saúde da Família /CEAD/
UFMS. Campo Grande, MS: Ed. UFMS: Fiocruz Unidade Cerrado Pantanal, 2011, p. 20-111.
Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/162>. Acesso em: 20 jul. 2015.
PORTAL DA SAÚDE – SUS. Melhor em Casa. 2013. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.
br/index.php/cidadao/acoes-e-programas/melhor-em-casa>. Acesso em 20 jul. 2015.

SchveitzeR, M. C.; ESPER, M. V.; SILVA, M. J. P. Práticas Integrativas e Complementares na


Atenção Primária em Saúde: em busca da humanização do cuidado. O Mundo da Saúde, São
Paulo, v. 36, n. 3, p. 442-451, 2012.

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Questão 1
1. Qual a definição de Atenção Domiciliar – AD?

a) Modalidade de atenção à saúde substitutiva ou complementar às já existentes,


caracterizada por um conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de
doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e
integrada às redes de atenção à saúde.
b) Prevenção, promoção e manutenção da saúde em uma abordagem de atenção
humanizada e centrada na integralidade do indivíduo.
c) Não há um conceito formalizado para Atenção Domiciliar.
d) São práticas de tratamento que envolvem abordagens que visam estimular mecanismos
naturais de prevenção de doenças e recuperação da saúde por meio de técnicas seguras e
eficazes.
e) Atendimento prestado pelas Unidades Básicas de Saúde para pessoas que residem no
próprio município onde a Unidade Básica está inserida.

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Questão 2
2. Qual tipo de usuário o Programa Melhor em Casa atende?

a) Todos os usuários internados na rede hospitalar do município.


b) Todos os pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus familiares.
c) Usuários com 60 anos ou mais.
d) Pessoas com necessidade de reabilitação motora, pacientes crônicos sem agravamento ou
em pós-cirurgia e idosos.
e) Todos pacientes crônicos, internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seus
familiares.

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Questão 3
3. Assinale a alternativa onde todos os itens são benefícios que a Atenção
domiciliar proporciona através do Programa Melhor em Casa.

a) Melhoria e ampliação da assistência a pacientes com agravos de saúde, treinamento de


familiares para atuar como enfermeiros, assistência psicológica para o paciente e a família.
b) Assistência psicológica para o paciente e a família, economia de dinheiro por parte das
famílias que não precisam pagar internação no SUS.
c) Melhoria e ampliação da assistência a pacientes com agravos de saúde, maior rapidez na
recuperação de doenças devido ao sentimento de bem-estar, redução de riscos de infecção e
contaminação hospitalar.
d) Redução de riscos de infecção e contaminação hospitalar, treinamento de familiares
para atuarem como enfermeiros, fornecimento gratuito de medicamento aos pacientes do
programa.

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Questão 4
4. O que são Práticas Integrativas e Complementares (PIC)?
a) Ideias que se tenham com relação às mudanças e transformações necessárias na área da
saúde.
b) Práticas de tratamento que envolvem abordagens que visam estimular mecanismos
naturais de prevenção de doenças e recuperação da saúde por meio de técnicas seguras e
eficazes.
c) Qualquer método terapêutico que não seja medicina tradicional ou alopática, incluindo
cirurgias espirituais ou credos religiosos.
d) Não há um conceito formalizado para Práticas Integrativas e Complementares.
e) Redução de riscos de infecção e contaminação hospitalar através de métodos
terapêuticos alternativos.

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Questão 5
5. Quais são as cinco práticas contempladas pela PNPIC?

a) Homeopatia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Psiquiatria e Feng Shui.


b) Feng Shui, Psiquiatria, Métodos religiosos, Homeopatia, Meditação.
c) Yoga, Terapia Ocupacional, Homeopatia, Fitoterapia, Meditação.
d) Acupuntura, Homeopatia, Yoga, Feng Shui, Psicologia.
e) Plantas Medicinais e Fitoterapia, Homeopatia; Medicina Tradicional Chinesa, Medicina
Antroposófica e Termalismo – Crenoterapia.

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Gabarito
1. Resposta: A. parágrafo do item 1 – Programa Melhor
em casa, como: pessoas com necessidade
O conceito de Atenção Domiciliar de reabilitação motora, pacientes crônicos
está descrito no quarto parágrafo do sem agravamento ou em pós-cirurgia e
item 1 – Programa Melhor em casa, idosos.
como: modalidade de atenção à saúde
substitutiva ou complementar às já 3. Resposta: C.
existentes, caracterizada por um conjunto
de ações de promoção à saúde, prevenção Os benefícios da Atenção domiciliar estão
e tratamento de doenças e reabilitação descritos no quarto parágrafo do item
prestadas em domicílio, com garantia de 2 – Programa Melhor em Casa, e são:
continuidade de cuidados e integrada às melhoria e ampliação da assistência a
redes de atenção à saúde. pacientes com agravos de saúde, maior
rapidez na recuperação de doenças devido
2. Resposta: D. ao sentimento de bem-estar, redução
de riscos de infecção e contaminação
Os usuários atendidos pelo Programa hospitalar.
Melhor em Casa estão descritos no sexto

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Gabarito
4. Resposta: B. Plantas Medicinais e Fitoterapia;
Homeopatia; Medicina Tradicional Chinesa;
O conceito de Práticas Integrativas e Medicina Antroposófica e Termalismo –
Complementares está descrito no segundo Crenoterapia.
parágrafo do item 2 – Política Nacional de
Políticas Integrativas e Complementares
como: práticas de tratamento que
envolvem abordagens que visam estimular
mecanismos naturais de prevenção de
doenças e recuperação da saúde por meio
de técnicas seguras e eficazes.

5. Resposta: E.

As cinco práticas contempladas pela


PNPIC no quinto parágrafo do item
2 – Política Nacional de Políticas
Integrativas e Complementares são:

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