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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por HENRIQUE ZIGART PEREIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo,

protocolado em 18/03/2020 às 18:04 , sob o número 20527227920208260000.


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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2052722-79.2020.8.26.0000 e código 1027231C.
EXCELENTÍSSIMO E DIGNÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

(...) ante a crise mundial do coronavírus e, especialmente, a


iminente gravidade do quadro nacional, intervenções e atitudes
mais ousadas são demandadas das autoridades, inclusive do
Poder Judiciário. (...)
[HABEAS CORPUS Nº 565.799 - RJ (2020/0061440-0). RELATOR:
MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ. Brasília (DF), 17 de
março de 2020.]

JOSÉ PEDRO SAID JUNIOR, PAULO ANTONIO SAID,


GABRIEL MARTINS FURQUIM, HENRIQUE ZIGART PEREIRA, brasileiros, Advogados,
inscritos, respectivamente, na OAB/SP sob o nº 125.337, 146.938, 331.009 e 386.652,
todos com domicílio para intimação pessoal na Avenida Dr. Campos Sales, 715, 10º
andar, cjs. 1.005/1007, Edifício Mesbla, Centro, Campinas/SP, CEP: 13.010-081, vêm, mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS
com pedido LIMINAR

em favor de ANTONIO MARCOS PIANCA, em razão de constrangimento ilegal imposto


pela Egrégia 07ª CJ – Foro de Plantão da Comarca de Mogi Mirim/SP, consubstanciado
na r. Decisão consignada em Termo de Audiência de Custódia ora anexa, nos autos nº
1500054-05.2020.8.26.0546 (cf. DOC. 01).

A presente impetração está alicerçada no fundamento


previsto no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e nos artigos 647 e 648, e
seguintes, do Código de Processo Penal, bem como pelos motivos de fato e de direito a
seguir expostos.

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I – DA SÍNTESE DOS FATOS

Aos 14 de fevereiro de 2019 o paciente foi recolhido em


flagrante delito por suposta infração ao crime de tráfico de entorpecente e ao crime de
transporte de arma de fogo de uso permitido (cf. DOC. 02).

Submetido à Audiência de Custódia, o Exmo. Magistrado


determinou a conversão em prisão preventiva (cf. DOC. 01).

Considerando que o paciente é tecnicamente primário, tem


trabalho lícito, família constituída e residência fixa, e principalmente que os crimes em
apreço não possuem como características a (grave)ameaça e/ou violência, e os
documentos informativos assim não demonstração também, há incompatibilidade da
manutenção de sua segregação cautelar, bem como está demonstrado o constrangimento
ilegal suportado.
Outrossim, em atenção às diretrizes estabelecidas em
Recomendação nº 62, de 17 de março de 2020, pelo Conselho Nacional de Justiça e pela
r. decisão proferida pelo Exmo. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, em Habeas Corpus
nº 565.799/SP, também na referida data, é preciso adotar ousadas, radicais e essenciais
medidas para determinar a concessão de liberdade dos reclusos no país, em decorrência
da pandemia do COVID-19 (Coronavírus) - SARS-CoV-2 – declarada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e dos gravíssimos sintomas e da facilidade de propagação do
referido vírus. O writ lastreia-se no registro consignado em ADPF nº 347, condições e
circunstâncias abaixo pormenorizadas.

II – PRELIMINARMENTE. RESOLUÇÃO Nº 62 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Aos 17 de março de 2020 foi divulgado pelo Conselho


Nacional de Justiça, com subscrição do Exmo. Ministro DIAS TOFFOLI, a Resolução nº
62, que em suma estipula e recomenda adoções de medidas preventivas à
propagação da infecção pelo novo ‘coronavírus’ – COVID-19, SARS-CoV-2.

Na referida Resolução, em especial no artigo 4º, adotou-se


como recomendação a reavaliação das prisões provisórias, para casos prioritários em
que, v.g.:

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I – a reavaliação das prisões provisórias, nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal,
priorizando-se:
(…) b) pessoas presas em estabelecimentos penais que estejam com ocupação superior à
capacidade, que não disponham de equipe de saúde lotada no estabelecimento, que estejam
sob ordem de interdição, com medidas cautelares determinadas por órgão do sistema de
jurisdição internacional, ou que disponham de instalações que favoreçam a propagação do novo
coronavírus;

c) prisões preventivas que tenham excedido o prazo de 90 (noventa) dias ou que estejam
relacionadas a crimes praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa; (grifos nossos)

O paciente encontra-se recolhido na PII de Itirapina/SP.


Referido estabelecimento é considerado como sendo um dos mais superlotados do
Estado de São Paulo:
Penitenciárias têm superlotação e são ‘bombas-relógio’, afirma especialista.
Unidade de Itirapina, SP, chega a ter 114% a mais de presos do que deveria.
Para professor da UFSCar, situação aumenta o risco de fugas e de rebeliões. “(...) A
Penitenciária II "João Batista de Arruda Sampaio" está com 84,2% de superlotação. Tem
2.358 presos ante 1.280 de capacidade. A Ala de Progressão Penitenciária está com
excedente de 55 presos. (...)”. Reportagem em 24/06/2014 09h39 - Atualizado
em 24/06/2014 09h44.1

Penitenciárias da região estão com nº de presos 46,7% acima da capacidade.


“(...) Já na penitenciária 2, deveria ter 1.280 presos, mas está com 1.607. Em uma das
celas, onde deveriam ter nove detentos, tem 17. (...)”. Reportagem em 08/02/2017
20h24 - Atualizado em 08/02/2017 20h24.

Referida condição de superlotação mostra-se atual conforme


relatório disponível no portal da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP/SP):

1 Disponível em: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/06/penitenciarias-tem-superlotacao-e-


sao-bombas-relogios-afirma-especialista-itirapina-araraquara-casa-branca.html
2 Disponível em: http://www.sap.sp.gov.br/uni-prisionais/pen.html#

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De toda sorte, esta preliminar tem como escopo demonstrar
ser público e notório o estado de coisas inconstitucionais do sistema penitenciário
brasileiro, como condições insalubres, condições de higiene limpeza precárias, sem
ventilação ou iluminação adequadas, celas superlotadas, dentre outras situações (ADPF
347/STF) [inclusive citada em Resolução nº 62, CNJ - lauda 2], conjunto desastroso
que favorece a circulação de patógenos e a incidência de doenças infecciosas, já
extremamente comuns nos presídios brasileiros3.

Por isso, dispensada a exposição deletéria das


recomendações internacionais, do critério de ‘pandemia’ já estipulado pela Organização
Mundial de Saúde, da gravidade dos sintomas de pessoas infectadas, verifica-se que,
considerando o norte estabelecido pela massiva imprensa, atendido e recomendado
prontamente pelo Governador Estadual, Sr. João Doria4, é imprescindível para o
controle efetivo da larga propagação desse vírus que pessoas não estejam
conglomeradas, independentemente do local.

O Exmo. Ministro deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça,


Dr. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, em 17 de março de 2020 se manifestou em Habeas
Corpus nº 565.799/SP, no sentido de que “ante a crise mundial do coronavírus e,
especialmente, a iminente gravidade do quadro nacional, intervenções e atitudes
mais ousadas são demandadas das autoridades, inclusive do Poder Judiciário”.
(grifos nossos).

Como bem pontuado pelo Exmo. Min., “salvo necessidade


inarredável da prisão preventiva - mormente casos de crimes cometidos com particular
violência -, a envolver acusado/investigado de especial e evidente periculosidade ou que
se comporte de modo a, claramente, denotar risco de fuga ou de destruição de provas
e/ou ameaça a testemunhas”. Nenhuma destas condições estão presentes no caso in
concreto. (grifos nossos)

3http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2019000100006&lng=pt&nrm=iso
4https://oglobo.globo.com/sociedade/doria-anuncia-suspensao-de-aulas-de-eventos-com-mais-de-500-
pessoas-24304293

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Ora, são centenas de casos confirmados só no Brasil (em
torno de 314 infectados – 17/03/2020 – 15h00)5, e outros tantos em investigação, sendo
que o Estado de São Paulo tem a maior prevalência destes, e na data de ontem –
17/03/2020 – houve o registro do primeiro óbito nacional6. Aliás, é uma Emergência de
Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).

Se este contexto já é alarmante para as pessoas que


estão fora da prisão, imagine-se para os que estão encarcerados, porquanto são
instalações que significativamente favorecem à propagação do novo “coronavírus”
(art. 4º, I, “b”, Resolução nº 62, CNJ).

Observa-se ainda o exemplo do Irã que, em razão da


pandemia de COVID-19, libertou milhares de pessoas encarceradas7; a questão é de
saúde pública internacional, não tendo mais lugar qualquer pretensão punitiva.

Não menos importante, em Tutela Provisória Incidental


na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347 Distrito Federal, o
Exmo. Ministro da Suprema Corte MARCO AURÉLIO, também em 17/03/2020,
recordou da imprescindibilidade das medidas cautelares diversas a inibir a
propagação de infectados.
É realmente preciso atitudes enérgicas e urgentes por
parte das Autoridades e representantes das Instituições deste Estado Democrático
de Direito. E com todo o respeito, o Poder Judiciário não pode socorrer apenas
quem detém o “poder” neste país; imprescindível que o Direito propriamente dito
socorra aqueles mais vulneráveis, não apenas no critério de saúde, mas também
aqueles que não possuem condições financeiras de constituir advogados
particulares e aqueles que sequer conseguem interpor recursos à instâncias
superiores. Estes (e tantos outros) não podem ficar à mercê do acaso, do
indefinido.

5 https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/17/casos-de-coronavirus-no-brasil-em-17-de-
marco.ghtml
6 https://exame.abril.com.br/brasil/sao-paulo-registra-primeira-morte-por-coronavirus-no-brasil/
7 https://istoe.com.br/aproximadamente-70-mil-prisioneiros-sao-soltos-no-ira-por-conta-do-coronavirus/

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Vivemos em um momento crítico global jamais visto na
história da humanidade e certamente não queremos ser responsáveis pela
mortandade a que se anuncia.

Reprisa-se que os tipos penais atribuídos ao paciente são


desprovidos de (grave) ameaça ou violência como característica, motivo pelo qual
para manutenção do cárcere prematura e ilegal.

Portanto, suplica-se, roga-se, por um critério de


dignidade de pessoa humana, baseada da pandemia atualmente vivenciada e com
perspectiva clara de aumento acentuado de casos, o recebimento e provimento do
habeas corpus em tela, aplicando-se, eventualmente e em caráter subsidiário,
tantas quantas medidas cautelares diversas do cárcere bastarem, tudo além de
corroborar com as garantias estabelecidas pelo código processual penal, mas
agora e principalmente em vista do critério de saúde pública global.

III – DO MANIFESTO CONSTRAGIMENTO ILEGAL.

O preceito constitucional estabelece a liberdade como regra


(artigo 5º, inciso LXVI, da Constituição Federal, artigo 9, item 1, do Pacto Internacional
Sobre Direitos Civis e Políticos, artigo 282, do Código de Processo Penal), sendo a
segregação cautelar exceção – a ultima ratio, em razão do princípio constitucional da
presunção de inocência (artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal e artigo 8º, item 2,
da Convenção Interamericana de Direitos Humanos) e do devido processo legal, sob
pena de ser a prisão verdadeira antecipação de pena corporal sem formação de culpa.

Nesse sentido:

“A liberdade individual é um direito fundamental, como que inerente


ao ser humano, reconhecido e amparado por todas as legislações
democráticas do mundo, e se não pode afirmar legalmente que um
indivíduo é culpado de um delito senão uma sentença, passada
com autoridade de coisa julgada, assim o tenha determinado, o
lógico seria que se aguardasse esse momento para proceder ao
encarceramento imputado, sendo, portanto, eloquente violação
dessa liberdade todo constrangimento corporal imposto
antecipadamente àquele ato”8

8 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, p. 487 – 33ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011.

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Além disso, cumpre repetir que o ordenamento jurídico prevê
a prisão processual como uma exceção (artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal) e
não admite seja utilizada em hipótese alguma como uma antecipação da sanção, ainda
mais quando ausente fundamentação para tanto.

Sobre o tema já se pronunciou a Corte Interamericana de


Direitos Humanos e a citação dos fatos reais é necessária, na medida em que no
presente caso ocorre violação de direitos humanos e fundamentais:

A prisão preventiva está limitada pelos princípios de


legalidade, presunção de inocência, necessidade e
proporcionalidade, indispensáveis em uma sociedade
democrática. Constitui a medida mais severa que se pode
impor ao acusado e, por isso, deve-se aplicar
excepcionalmente. A regra deve ser a liberdade do processado
enquanto se decide sobre sua responsabilidade criminal. A
legitimidade da prisão preventiva não provém apenas da
permissão legal para aplica-la em determinadas hipóteses gerais. A
adoção dessa medida cautelar requer um juízo de
proporcionalidade entre esta, os elementos de convicção para
proferi-la e os fatos que se investigam. Se não há
proporcionalidade, a medida será arbitrária. Do artigo 7.3 da
Convenção se observa a obrigação estatal de não restringir a
liberdade do detido além dos limites estritamente necessários para
assegurar que este não impedirá o desenvolvimento eficiente das
investigações nem eludirá a ação da justiça. As características
pessoais do suposto autor e a gravidade do crime do qual é
acusado não são, por si mesmos, justificativa suficiente para a
prisão preventiva. A prisão preventiva é uma medida cautelar e não
punitiva. Viola-se a Convenção quando se priva de liberdade,
durante um período excessivamente prolongado, e, portanto,
desproporcional, pessoas cuja responsabilidade criminal não foi
estabelecida. Isso equivale a antecipar a penal. (CASO LÓPEZ
ÁLVAREZ VC. HONDURAS. In: Jurisprudência da Corta
Interamericana de Direitos Humanos / Secretaria Nacional de
Justiça, Comissão de Anistia, Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Tradução da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p.52) (grifos e destaques
nossos)

Além disso, importante citar trecho de decisão do


Excelentíssimo e Digníssimo Ministro Rogério Schietti Cruz, em sede de HC nº 312.022 –
SP, em que colaciona importantes trechos de relatório da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sobre o uso da prisão preventiva:

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Recente relatório publicado pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH), intitulado Informe sobre el uso de la prisón preventiva
em las América, demonstra que uma das causas da superlotação
carcerária existente no país é o uso excessivo das prisão
preventivas. (http://www.oas.org/es/cidh/ppl/informes/pdfs/ Informe-PP-
2013-es.pdf)

Entre as conclusões do estudo - que coloca o Brasil em 2º lugar na


região, logo atrás dos Estados Unidos – destaca-se a “la inversión de la
larga de probar la necessidade de aplicación de la prisón preventiva [...]”
(op. cit., p. 34). São aproximadamente 550 mil presos, dos quais algo
em torno de 217 mil seriam réus aguardando julgamento definitivo,
que equivale dizer que cerca de 40% do total dessa população
carcerária – uma das maiores do mundo – é composta por presos
provisórios, cujos delitos de maior incidência são tráfico ilícito de
entorpecentes, roubo e furto (simples ou qualificado) e o homicídio
qualificado (op. cit. P. 22). Os números divulgados contrastam o disposto
no inciso LXI do artigo 5º da Constituição Federal, o qual preceitua que a
utilização da custódia cautelar deve ser reservada aos casos em que haja,
concretamente, a demonstração dos requisitos do artigo 312 do Código de
Processo Penal, mediante decisão fundamentado juiz natural da causa.
(grifos e destaques nossos)

De fato, a manutenção da prisão preventiva no caso em


questão não se trata de medida cautelar para garantir a finalidade do processo, mas para
antecipar medida corporal, ampliando as consequências negativas da criminalização
(desamparo familiar e social, aumento da população carcerária dada pelo número de
presos provisórios, descontentamento do indivíduo em relação a sua prisão
inadequadamente prematura, insatisfação essa que pode ser projetada na sociedade,
etc.).
Contudo, se brilhante fosse nosso sistema prisional, ele seria
capaz de diminuir a taxa de criminalidade e não permaneceria entre os cinco maiores
índices de encarceramento do mundo, contendo mais de meio milhão de pessoas9.
Porém, como bem salientava Foucault:
“As prisões não diminuem a taxa de criminalidade: pode-se aumentá-
las, multiplicá-las ou transformá-las, a quantidade de crimes e de
criminosos permanece estável, ou, ainda pior, aumenta. [...] A
detenção provoca a reincidência; depois de sair da prisão, se têm mais
chance que antes de voltara para ela, os condenados são, em proporção
considerável, antigos detentos. [...] A prisão, consequentemente, em vez
de devolver à liberdade indivíduos corrigidos, espalha na população
delinqüentes perigosos. [...] A prisão não pode deixar de fabricar
delinqüentes. Fabrica-os pelo tipo de existência que faz os detentos
levarem: que fiquem isolados nas celas, ou que lhes seja imposto um
trabalho inútil, para o qual não encontrarão utilidade, é de qualquer
maneira não “pensar no homem em sociedade; é criar uma existência
contra a natureza inútil e perigosa”. [...] A prisão fabrica também
delinqüentes impondo aos detentos limitações violentas; ela não se

9 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php> Acesso em: 23/03/2016 – 00h36.

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destina a aplicar leis, e a ensinar o respeito por elas; ora, todo o seu
funcionamento se desenrola no sentido do abuso de poder. [...]
Corrupção, medo e incapacidade dos guardas. [...] A prisão torna
possível, ou melhor, favorece a organização de um meio de
delinqüentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para todas
as cumplicidades futuras. [...] As condições dadas aos detentos
libertados condenam-nos fatalmente à reincidência: porque estão sob
a vigilância da polícia; porque têm designação de domicilio, ou proibição
de permanência. [...] Enfim a prisão fabrica indiretamente delinqüentes, ao
fazer cair na miséria a família do detento.”10 (grifos e destaques nossos)

Ora, parece ser plenamente adaptável a concepção de


Foucault em 2020, a qual também complementa Zaffaroni11.

A rigor, alternativa não há senão aplicar as previsões


constitucionais e infraconstitucionais criadas para mitigar as mazelas do encarceramento
em massa, cenário em face da qual estão sendo criados instrumentos para diminuir as
injustiças – como as audiências de custódias, mutirões carcerários, e por tempo
desproporcional.
Isso significa que, de um lado, manter o paciente preso e
legitimar o constrangimento ilegal é medida que vai de encontro com a perspectiva
propagada e defendida pelos E. Tribunais e sociedade civil organizada sobre a
necessidade de diminuição da população carcerária, sobretudo os presos provisórios,
como é o caso do paciente, e, por outro, pode ficar caracterizado excesso de execução,
não apenas aquele cujo cumprimento extrapassa a pena fixada, mas também, e
sobretudo, a permanência por mais tempo em regime mais gravoso.

10 JUNIOR, Luciano de Oliveira; FIGUEIRA, Manoel Augusto Sales. Direito e Tecnologia: Uma Alternativa ao

Sistema Carcerário Nacional. CIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO - REVISTA ELETRÔNICA DA FAINOR (C&D).
Vitória da Conquista, Bahia. Volume 01, número 01. 2008. ISSN 1984-4271. Disponível em:
<http://200.223.150.195/revista/index.php/memorias/article/view/12>;<http://200.223.150.195/revista
/index.php/memorias/article/view/12/31> Acesso em: 16/09/2015 – 17h00. Apud FOUCAULT, Michel. Vigiar e
punir: nascimento da prisão. 30. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
11 “A prisão ou cadeia é uma instituição que se comporta como uma verdadeira máquina deteriorante:

gera uma patologia cuja principal característica é a regressão, o que não é difícil de explicar. O preso
ou prisioneiro é levado a condições de vida que nada têm a ver com as de um adulto: é privado de
tudo que o adulto faz ou deve fazer usualmente em condições e com limitações que o adulto não
conhece. [...] Por outro lado, o preso é ferido na sua auto-estima de todas as formas imagináveis, pela perda
de privacidade, de seu próprio espaço, submissões a revistas degradantes, etc. A isso juntam-se as condições
deficientes de quase todas as prisões: superpopulação, alimentação paupérrima, falta de higiene e assistência
sanitária, etc., sem contar as discriminações em relação à capacidade de pagar por alojamentos e
comodidades. [...]”.11

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Observa-se que o paciente é tecnicamente primário e a
inconstitucionalidade da disposição contida na Lei nº 8.072/90, extraído de julgamentos do
E. Supremo Tribunal Federal (cf. Informativo 417 e 418 STF), permitem assegurar que o
cárcere baseado na gravidade abstrata mostra-se inadmissível.

Além disso, conforme documentos pessoais acostados


em anexo, dentre eles um exame médico (cf. DOC. 03), em que pese a ausência de
lesão, foi diagnóstico a presença de ateromatose12 na artéria:

Pela leitura dos elementos informativos, analisado


conjuntamente com a documentação anexada aos autos, conclui-se que estão ausentes
os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva (artigo 312 do Código de
Processo penal), ou seja, não hão de dizer mais em garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para garantir a aplicação da lei
penal. Consigna-se, ademais, que não há elementos concretos a justificar a manutenção
da medida cautelar de prisão.

A finalidade da prisão preventiva é garantir a


instrumentalidade do processo; não visa o espírito da lei a castigos inócuo-
contraproducentes, que nada representam senão mera vingança do Estado contra o
cidadão. Tudo isso demonstra que não se justifica o assujeitamento do paciente a regime
mais gravoso e, muito menos, justificável o distanciamento prematuro do convívio social,
ou seja, a liberdade é necessária no caso in concreto para se evitar a convivência
perniciosa do paciente com o ambiente prisional.

Desta feita, ao contrário do entendimento em r. Decisão,


conclui-se que a concessão da liberdade não representará qualquer risco à
aplicação da lei penal e à conveniência da instrução criminal.

12 A doença ateromatosa da aorta surge quando placas de gordura se formam na artéria aorta, que é o
principal vaso sanguíneo do corpo. Assim, essa doença é um tipo de arteriosclerose que impede a boa
circulação do sangue e pode causar problemas como infarto e AVC. Disponível em
https://www.tuasaude.com/ateromatose-da-aorta/

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por HENRIQUE ZIGART PEREIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 18/03/2020 às 18:04 , sob o número 20527227920208260000.
fls. 11

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2052722-79.2020.8.26.0000 e código 1027231C.
Contudo, caso oportunamente se entenda preenchidos
os requisitos para a imposição da prisão preventiva e, consequentemente, na sua
manutenção (o que não é o caso dos autos), é evidente que sua decretação deve
ser precedida por uma análise objetiva e fundamentada acerca da suficiência das
medidas cautelares diversas da prisão, contabilizadas em onze possibilidades
constantes do artigo 319 do Código de Processo Penal, que podem ser aplicadas
cumulativamente. Daí porque o inciso II, do artigo 310, do mesmo diploma legal, diz
que será convertida “a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os
requisitos descritos no artigo 312 deste Código [de Processo Penal], e se revelarem
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão”.
Igualmente, a doutrina:

Parafraseando Amilton Bueno de Carvalho, entendimento que o juiz deve


sempre partir do pressuposto de que, a princípio, nenhuma restrição
à liberdade do indiciado / acusado deverá ser aplicada.
Excepcionalmente, por motivo absolutamente relevante é que o juiz
deverá impor alguma medida, porém, alternativa à prisão. Se esta
medida, após análise criteriosa de razoabilidade / proporcionalidade /
eficácia / necessidade, não se mostrar suficiente para o caso em
concreto, poderá o magistrado cumular mais de uma medida cautelar
do artigo 319 do CPP alterado. Superada esta análise, e verificada
insuficiente esta medida, bem como se não houve outra possibilidade para
o caso concreto, ou seja, sendo absolutamente necessária a segregação,
somente ai estaria o juiz autorizado a decretar a prisão preventiva do
agente, o que deve ser feito mediante concisa inequivocada
fundamentação.13 (grifos e destaques nossos)

As medidas cautelares diversas da prisão não


constituem benefício ou prêmio processual, mas na verdade possuem a mesma
finalidade da prisão preventiva, de modo a garantir a aplicação da lei penal, assim
como para evitar a prática de infrações penais. Interpretação essa extraída do artigo
282 do Código de Processo Penal.

Se as circunstâncias fáticas concretas e as condições


pessoais não conduzem à revogação da prisão preventiva, é evidente que elas se
prestam à imposição de medida cautelar diversa da prisão, como se verifica na espécie e
em respeito à sistemática processual penal (artigos 282, inciso II, e 321, ambos do Código
de Processo Penal).

13OLIVEIRA, Paulo Sérgio. A aplicação da Lei 12.403/11 durante a vacatio legis. Boletim IBCCRIM, ano 19 –
nº 223 – Junho/2011 – ISSN 1676-3661. p. 14.

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fls. 12

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2052722-79.2020.8.26.0000 e código 1027231C.
A recente redação confeccionada pela Lei nº 13.964, de
2019, torna claro no artigo 282, §6º, do Código de Processo Penal, quanto a
imprescindibilidade da justificação de forma fundamentada nos elementos presentes do
caso concreto, e de forma individualizada [“A prisão preventiva somente será determinada
quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319
deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser
justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma
individualizada” (grifos nossos)]

Ora Excelências, o preceito constitucional presente no artigo


93, inciso IX, da Constituição Federal, assim como os artigos 283, 310 e 315, todos do
Código de Processo Penal, estipulam que a decisão deverá ser fundamentada em
elementos fáticos e circunstâncias pessoais concretas e provadas, em respeito ao Estado
Democrático de Direito – preceitos normativos esses violados no presente caso.

Destarte, estão presentes requisitos necessários à


concessão da liminar perseguida, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in
mora, para seja revogada a sua prisão preventiva, ou, subsidiariamente, seja
concedida medidas cautelares diversas da prisão tantas quantas bastarem à
assegurar a ordem pública e a instrução processual.

IV – DA LIMINAR
Os requisitos necessários à concessão liminar da medida
estão presentes. A pertinência do pedido (fumus boni juris) se comprova pelos
argumentos acima elencados (violação de direitos fundamentais e humanos), e está
fundamentado em jurisprudência e na legislação, o que demonstra de plano o
constrangimento ilegal a que submetido o paciente (artigo 648, inciso I e IV, do Código de
Processo Penal).
De outro modo, não é razoável e proporcional manter a
prisão preventiva por tempo indeterminado e sem perspectivas concretas para se
proceder com o juízo de certeza de culpabilidade do paciente, não se justificando a
permanência no deletério do ambiente prisional.

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Assinala-se ainda a diretriz estabelecida no artigo 4º,
inciso I, alíneas “b” e “c”, da Resolução nº 62, do Conselho Nacional de Justiça, a
demonstrar que dado o critério do caso in concreto, ou seja, a inexistência de
tipificação lastreada em grave ameaça e/ou violência, além da comprovação da
superlotação existente no sistema prisional hoje submetido ao paciente (conforme
exposição em preliminar), está suficientemente demonstrado o fumus boni juris e
periculum in mora.

A urgência (periculum in mora) decorre tanto da prisão ilegal


a que estará submetido o paciente quanto do risco da ineficácia da medida, caso a ordem
venha a ser concedida após o julgamento definitivo em sede de recursos ou,
principalmente, prolongando o estado de constrangimento sofrido pelo paciente e de
sofrimento psíquico decorrente do ambiente deletério da prisão sem culpa, bem como
consentindo com a indeterminação da pena de prisão; além disso, mostra-se como
sistêmica a manutenção do cárcere porquanto é ambiente hostil e capaz de
propagação do COVID-19 (coronavírus), devendo, em alta compreensão
humanitária, ser suficientemente minimizado a prisão cautelar nestas condições
propostas.

V – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, estando presentes a pertinência do pedido
(fumus boni juris) e a urgência (periculum in mora) e tendo em vista o noticiado
constrangimento ilegal pelas diversas razões apontadas acima, requer seja concedido a
ordem de habeas corpus, liminarmente, para que:

a) Reformar a r. Decisão proferida pela Egrégia 07ª CJ –


Foro de Plantão da Comarca de Mogi Mirim/SP, consubstanciado na r. Decisão (Termo de
Audiência de Custódia) anexa, nos autos nº 1500054-05.2020.8.26.0546 (cf. DOC. 01), a
fim de que seja sanada a coação ilegal de sua liberdade de ir e vir, segundo artigo 647 e
648, inciso I, do Código de Processo Penal, como medida justa que se espera;

b) Por ventura, em entendimento, sejam concedidas tantas


quantas medidas cautelares diversas da prisão, prevista no rol elencado pelo artigo 319
do CPP, por direito assegurado em texto expresso de lei e uma vez presentes os
requisitos e a plausividade e possibilidade jurídica e econômica da concessão, tendo em
vista, ainda, todos o caráter da ilegalidade de sua prisão e das lesões sofridas pela
atuação dos policiais militares;

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Termos em que,
Pede deferimento.

Campinas/SP, 18 de março de 2020.

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2052722-79.2020.8.26.0000 e código 1027231C.
fls. 65

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000258091

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Criminal nº


2052722-79.2020.8.26.0000, da Comarca de Conchal, em que é paciente ANTÔNIO
MARCOS PIANCA, Impetrantes HENRIQUE ZIGART PEREIRA, GABRIEL
MARTINS FURQUIM, JOSE PEDRO SAID JUNIOR e PAULO ANTONIO SAID.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO SERGIO COELHO DE OLIVEIRA, liberado nos autos em 14/04/2020 às 18:47 .
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 9ª Câmara de Direito Criminal
do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Denegaram a ordem. V.
U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SÉRGIO COELHO


(Presidente), GRASSI NETO E ALCIDES MALOSSI JUNIOR.

São Paulo, 14 de abril de 2020.

SÉRGIO COELHO
Relator
Assinatura Eletrônica
fls. 66

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 45677

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2052722-79.2020.8.26.0000 e código 104B3D5C.
HABEAS CORPUS Nº 2052722-79.2020.8.26.0000 - PD
COMARCA: CONCHAL VARA UNICA
PACIENTE: ANTONIO MARCOS PIANCA

Habeas Corpus. Tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO SERGIO COELHO DE OLIVEIRA, liberado nos autos em 14/04/2020 às 18:47 .
de uso permitido. Pedido de revogação da prisão preventiva ou
colocação em prisão domiciliar. Inadmissibilidade. Indícios de
autoria e prova da existência dos crimes. Necessidade da custódia
para garantia da ordem pública, conveniência da instrução
criminal e assegurar a aplicação da lei penal. Apreensão de 1050g
de crack, petrechos para fracionamento do entorpecente e uma
arma de fogo. Paciente que, ademais, embora seja tecnicamente
primário, já cumpriu pena alternativa (2ª Vara Criminal da
Comarca de Miranda/MS), fato que revela desajuste na vida em
liberdade e dá a exata medida do grau de periculosidade de que é
possuidor. Medidas cautelares diversas da prisão que se mostram
insuficientes no caso. Impossibilidade de adoção da
Recomendação nº 62/2020 do C.CNJ. Constrangimento ilegal não
caracterizado. Ordem denegada.

Os Drs. José Pedro Said Junior, Paulo Antonio Said, Gabriel


Martins Furquim, Henrique Zigart Pereira, Advogados, impetram a
presente ordem de habeas corpus, com pedido de liminar, em favor de
ANTONIO MARCOS PIANCA, apontando como autoridade coatora o MM.
Juízo do Plantão da Comarca de Mogi Mirim, que converteu em preventiva
a prisão em flagrante do paciente (fls. 15/18).

Sustentam, em resumo, que a decisão a quo carece de


fundamentação idônea, porquanto não demonstrou de modo concreto a
presença dos requisitos legais autorizadores da prisão cautelar.
Argumentam que o paciente é tecnicamente primário e que o delito não
envolveu violência ou grave ameaça à pessoa, sendo desnecessária e
desproporcional a manutenção da custódia. Ressaltam, outrossim, as
recomendações do Conselho Nacional de Justiça (Recomendação nº 62) e
da Suprema Corte (ADPF 347) no sentido de serem implementados

Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 2


fls. 67

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cuidados visando à proteção da população carcerária em relação à

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Covid-19. Afirmam, ainda, que as medidas cautelares alternativas à prisão
se afiguram suficientes e adequadas ao caso dos autos.

Pleiteiam, assim, a revogação da prisão preventiva do paciente,


com imediata expedição de alvará de soltura. Subsidiariamente, pugnam

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pela substituição da prisão preventiva pela domiciliar.

O pedido veio instruído com os documentos de fls. 14/45.

Indeferida a liminar (fl. 47), foram prestadas as informações de


estilo pela digna Autoridade apontada como coatora (fl. 49). Reiterado o
pedido de aplicação da Recomendação 62/2020 do C.STJ (fls. 53/55), que
veio acompanhado de documento (fl. 56), a douta Procuradoria Geral de
Justiça opinou pela denegação da ordem (fls. 60/64).

É o relatório, em síntese.

Não vislumbro o insinuado constrangimento ilegal.

Ora, ao que consta, o paciente foi denunciado como incurso artigo


33, caput, da Lei nº 11.343/2006 e artigo 14, caput, da Lei nº
10.826/2003, porque, no dia 14 de fevereiro de 2020, por volta das
20h30min, na estrada vicinal Conchal-Araras, cidade e Comarca de
Conchal, agindo em conluio e com unidade de desígnios com o corréu
Cassiano Junior de Oliveira, transportava, para o fim de fracionamento e
posterior comercialização, 1050g (mil e cinquenta gramas) de crack,
além de petrechos para o seu fracionamento, e uma arma de fogo, do
tipo cartucheira, calibre 22, sem marca e numeração aparentes, de
uso permitido, mas sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar para tanto (fls. 43/45).

Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 3


fls. 68

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Atento ao teor da Lei n. 13.869/2019, em especial ao disposto no

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art. 9º e respectivos incisos de seu parágrafo único, ressalto, desde logo,
que a privação da liberdade não se encontra, no caso em comento, em
evidente desconformidade com as hipóteses legais, não se tratando,
portanto, de situação na qual a concessão da ordem seria
“manifestamente cabível”. Ressalvado, é claro, nos termos do art. 1º, § 2º,

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do mesmo diploma legal, eventual entendimento divergente que possa ser
efetuado por Tribunal Superior na interpretação de lei ou na avaliação de
fatos e provas.

Ora, embora o exame aprofundado de provas não possa ser feito


nos limites estritos do habeas corpus, é possível vislumbrar no caso em
tela a existência de prova da materialidade e de indícios de autoria
razoavelmente sérios.

Ademais, a decisão que converteu em preventiva a prisão em


flagrante do paciente (fls. 111/114), encontra-se satisfatoriamente
fundamentada, não havendo dúvida de que se encontra justificada a
custódia preventiva para a garantia da ordem pública, conveniência da
instrução criminal e assegurar a aplicação da lei penal, forte nos seguintes
fundamentos:

“(...) Há de se ver ainda que a inexequibilidade e a insuficiência das


medidas avultam ao serem conjugadas com a condição de periculosidade
ostentada pelo autuado, pois os policiais relataram a apreensão de mais de um
quilograma de 'crack' no interior do veículo conduzido pelo autuado Cassiano e
que tinha Antônio como passageiro. Ademais, os policiais militares relatam a
apreensão de petrechos utilizados para o fracionamento e acondicionamento da
droga, além de uma cartucheira no porta malas do veículo. Com efeito, a
abordagem, de acordo com o relato policial, deu-se em local ermo e, neste
momento de cognição sumária, é realmente possível, como afirmou o policial José
Anderson, que os autuados buscassem um local na zona rural para o

Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 4


fls. 69

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fracionamento da droga. Nesse contexto, a apreensão de grande quantidade de


droga, de petrechos utilizados para seu fracionamento e, ainda, de arma de fogo,

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são indicativos da periculosidade concreta dos agentes, impondo-se a conversão
da prisão em flagrante em preventiva a bem da ordem pública.”

De fato, não há como negar que recaindo sobre o paciente a

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acusação de porte ilegal de arma de fogo e tráfico e tráfico de expressiva
quantidade de crack droga de maior incidência, atualmente, causadora
de dependência química rápida e danos irreversíveis, que podem levar o
usuário à morte em pouco tempo de uso -, a prisão processual para
garantia da ordem pública se faz imprescindível, não se revelando eficaz
nenhuma outra medida que não seja a segregação cautelar.

De fato, é inegável o perigo gerado pelo estado de liberdade do


acusado. Note-se, a propósito, que a enorme quantidade de entorpecente
apreendida (mais de 1kg de crack), droga causadora de dependência
química rápida e danos irreversíveis, atingiria, certamente, expressivo
número de usuários.

Além disso, o porte de arma de fogo constitui conduta gravíssima,


não em tese, mas na sua existência particular, de modo que, também por
essa razão, a custódia cautelar não se reveste das características próprias
do constrangimento ilegal, sendo necessária a manutenção da prisão do
paciente, não se revelando eficaz, no presente caso, qualquer outra
medida que não seja a segregação provisória. Como se sabe, não raras
vezes, o crime de porte ilegal de arma de fogo serve como efetiva
preparação para a prática de outros crimes graves homicídio, roubo,
latrocínio, extorsão mediante sequestro, etc., o que, por si só, evidencia o
risco que a liberdade do agente representa à sociedade.

Ora, malgrado a liberdade seja a regra prevista no texto


constitucional, admite-se sua privação antes da condenação definitiva, se,
Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 5
fls. 70

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como na hipótese vertente, houver prova da materialidade, indícios

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razoavelmente sérios de autoria, estiverem presentes os requisitos
previstos no art. 312 do CPP e não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar. De fato, se o réu coloca em risco a ordem pública, não há
espaço para a substituição da prisão por medidas cautelares alternativas,
que, como se sabe, são muito menos abrangentes e eficazes, sobretudo no

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caso dos autos em que desponta a periculosidade da conduta atribuída ao
paciente.

Acrescente-se que, em casos como o presente, em que


demonstrada a presença de circunstâncias fáticas aptas a evidenciar a
gravidade exacerbada da conduta, já se decidiu ser “Inaplicável medida
cautelar alternativa quando as circunstâncias evidenciam que as
providências menos gravosas seriam insuficientes para a manutenção
da ordem pública.“ (RHC 111196 / MG, relator Ministro Joel Ilan
Paciornik, j. 11/06/2019).

Realmente, em situações como a de que ora se cuida, comprovada


a materialidade do fato delituoso e verificada a existência de indícios
razoáveis de autoria, torna-se legítima a custódia cautelar. A bem dizer, a
periculosidade é a pedra de toque para que o acusado não possa merecer
os benefícios legais. De fato, a existência de ameaça à tranquilidade
pública justifica a privação cautelar da liberdade de indivíduo com
tendência para o cometimento de delito grave gravidade concreta, frise-
se -, como aqueles tratados nestes autos, de modo a evitar a prática de
novas infrações penais.

Nesse ponto, cuida ressaltar que, como bem enfatizado pelo E.


Desembargador Souza Nery, não se pode incorrer no equívoco de afirmar
eventualmente que a decisão se baseia na gravidade abstrata do delito.
Ora, “a abstração, a hipótese, a conjectura são apanágio do
doutrinador, do teórico, do cientista, do jurisconsulto. Jamais do

Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 6


fls. 71

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Magistrado que, mesmo quando emprega expressões de cunho genérico,


decide considerando as circunstâncias concretas do caso que tem

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diante de si” (TJSP, Recurso em Sentido Estrito n°
0016135-44.201.8.26.0050, 9ª Câmara de Direito Criminal, j.
22/06/2017, V.U.).

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Como ensina Fernando Capez, para garantia da ordem pública, “a
prisão cautelar é decretada com a finalidade de impedir que o
agente, solto, continue a delinqüir”, pois “há evidente perigo
social decorrente da demora em se aguardar o provimento
definitivo, porque até o trânsito em julgado da decisão
condenatória o sujeito já terá cometido inúmeros delitos” (Curso de
Processo Penal - 5ª ed. São Paulo - Saraiva, p. 229). Outrossim, o
renomado José Frederico Marques, dissertando sobre o tema, assim
pontificou: “Desde que a permanência do réu, livre e solto, possa
dar motivo a novos crimes, ou cause repercussão danosa e
prejudicial ao meio social, cabe ao juiz decretar a prisão
preventiva como garantia da ordem pública” (Elementos de Direito
Processual Penal, v. 4, p. 50).

Não se olvide, também, que há dúvida sobre a primariedade


técnica do paciente, o qual, ao que parece, já cumpriu pena alternativa (2ª
Vara Criminal da Comarca de Miranda/MS autos 00000055-23.2005
FA de fls. 57/63 dos autos de origem), circunstância que revela seu
desajuste na vida em liberdade e dá a exata medida do grau de
periculosidade de que é possuidor. Nesse aspecto, anoto que a reiteração
de práticas ilícitas justifica a decretação da prisão preventiva. Nesse
sentido a lição do sempre lembrado Basileu Garcia: “Para garantia da
ordem pública, visará o magistrado, ao decretar a prisão
preventiva, evitar que o delinqüente volte a cometer delitos, ou
porque é acentuadamente propenso a práticas delituosas, ou porque,
em liberdade, encontraria os mesmos estímulos relacionados com a

infração cometida” (Comentários ao Código de Processo Penal, Forense,


Habeas Corpus Criminal nº 2052722-79.2020.8.26.0000 -Voto nº 7
fls. 72

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vol. 3º, págs. 169/170).

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Diverso não é o entendimento da jurisprudência:

“CRIMINAL - HC - HOMICÍDIO - PRISÃO EM FLAGRANTE - PEDIDO


DE LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDO - PRISÃO PREVENTIVA -

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REITERAÇÃO DE PRÁTICAS ILÍCITAS - GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA -
MOTIVAÇÃO IDÔNEA CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO -
EXCESSO DE PRAZO - DEMORA JUSTIFICADA PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE
- TRÂMITE REGULAR CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO - ORDEM
DENEGADA - I. Não se vislumbra ilegalidade na custódia cautelar do
réu, tendo em vista que procedida em conformidade com as
exigências legais, atendendo aos termos do art. 312 do Código de
Processo Penal e da jurisprudência dominante. II. A reiteração de
condutas ilícitas, o que denota ser a personalidade do réu voltada
para a prática delitiva, obsta a revogação da medida constritiva.
Precedentes. III. Hipótese em que o feito tramita regularmente.
IV. Por aplicação do princípio da razoabilidade, justifica-se
eventual dilação de prazo para a conclusão da instrução
processual, quando a demora não é provocada pelo juízo ou pelo
ministério público. V. O constrangimento ilegal por excesso de
prazo só pode ser reconhecido quando a demora for injustificada.
VI. Ordem denegada”. (STJ, HC 59646/RS, Relator Ministro Gilson Dipp,
j. 19/09/2006).

“PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. FURTO


QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. RISCO
DE REITERAÇÃO DELITIVA. EXCESSO DE PRAZO. SÚMULA 52/STJ. INSTRUÇÃO
PROBATÓRIA ENCERRADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Havendo prova da existência do crime
e indícios suficientes de autoria, a prisão preventiva, nos
termos do art. 312 do Código de Processo Penal, poderá ser
decretada para garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal. 2. No caso dos autos, a prisão preventiva

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foi devidamente fundamentada na necessidade de se resguardar a


ordem pública, em face da periculosidade do recorrente, pois

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inserido na senda criminosa, evidência que se denota pela
reincidência, além de estar em curso execução de pena, de modo que
a medida se destina a evitar a reiteração delitiva. 3. "Conforme
pacífica jurisprudência desta Corte, a preservação da ordem
pública justifica a imposição da prisão preventiva quando o

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agente ostentar maus antecedentes, reincidência, atos
infracionais pretéritos, inquéritos ou mesmo ações penais em
curso, porquanto tais circunstâncias denotam sua contumácia
delitiva e, por via de consequência, sua periculosidade" (RHC
107.238/GO, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, DJe 12/03/2019). 4. "Encerrada a instrução criminal, fica
superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo"
(Súmula 52/STJ). 5. Recurso não provido.” (STJ, RHC 111090/BA,
Relator Ministro Ribeiro Dantas, j. 25/06/2019).

Em suma, embora a prisão provisória seja uma medida extrema,


certo é que em casos excepcionais, como o dos autos em que desponta a
gravidade concreta dos delitos - a ordem pública prevalece sobre a
liberdade individual, restando, portanto, descaracterizado o alegado
constrangimento ilegal.

Registre-se, ainda, que o princípio do estado de inocência (CF, art.


5º, LVII) apenas proíbe que aos acusados sejam aplicados os efeitos penais
decorrentes da sentença condenatória transitada em julgado, mas não
proíbe a prisão preventiva, desde que devidamente fundamentada, como
no caso em apreço.

Importa consignar, ademais, que estando o processo em fase de


dilação probatória, não é possível estimar os limites mínimos e máximos
da futura reprimenda a ser imposta, para saber se o paciente terá direito a
benefícios e regime prisional diverso do fechado, pois, para tanto, é

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necessária uma análise minuciosa do conjunto probatório, com a

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verificação de requisitos e critérios objetivos e subjetivos previstos na
legislação penal, impossível de ser feita nos limites estreitos do “habeas
corpus”.

Por fim, frente às colocações acima alinhavadas, inviável a

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aplicação das recomendações do Conselho Nacional de Justiça
(Recomendação nº 62) e da Suprema Corte (ADPF 347).

Realmente, de acordo com o bem elaborado parecer da douta


Procuradoria de Justiça, que fica adotado e vai a seguir transcrito, nesse
aspecto:

“Registre-se, por oportuno, que já foram adotadas medidas


preventivas contra a propagação da infecção pelo novo coronavírus
(Covid-19) no âmbito dos Sistemas de Justiça Penal e Socioeducativo por
parte do poder público, como se depreende da Recomendação nº 62, emitida
pelo Conselho Nacional de Justiça, e da Portaria Interministerial nº 7,
publicada em 18/03/2020, pelos Ministérios da Justiça e da Saúde para o
enfrentamento da situação emergencial. Ademais, cumpre ressaltar que, até
o momento, não há relatos de disseminação do vírus no interior dos
estabelecimentos prisionais.
Por sua vez, ainda que se conheça da respectiva matéria, certo é
que a impetração não trouxe comprovação inequívoca de que o
paciente se enquadre no grupo de vulneráveis do Covid-19 ou que
tenha a saúde fragilizada, tampouco restou demonstrada a impossibilidade
de o mesmo receber tratamento no estabelecimento prisional em que se
encontra.
Importante destacar que o plenário do C. Supremo Tribunal
Federal, no bojo da ADPF nº 347, alertou para a indispensabilidade da
análise casuística da prisão cautelar pelo juízo competente, não bastando a
alegação genérica da superveniência da pandemia para a concessão da
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liberdade provisória.

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Portanto, embora se trate de crime praticado sem violência ou grave
ameaça à pessoa, as circunstâncias da prisão acima destacadas, somadas
à falta de comprovação do alegado constrangimento ilegal, são suficientes a
fundamentar a manutenção da medida cautelar mais gravosa, mesmo no
cenário atual de pandemia, não merecendo acolhimento a tese veiculada

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pela impetração.” (fls. 62/64 grifos do original).

Assim sendo, deve o paciente seguir encarcerado, respondendo


pelos seus desvios.

Ante o exposto, denego a ordem.

SÉRGIO COELHO
Relator
(Assinatura Eletrônica)

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