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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA


MESTRADO ACADÊMICO EM DIREITO

ROBERTA ALINE OLIVEIRA GUIMARÃES

O TEMPO DOS PROCESSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: O


CASO DE VOLTA REDONDA

RIO DE JANEIRO
2016
1

ROBERTA ALINE OLIVEIRA GUIMARÃES

O TEMPO DOS PROCESSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: O


CASO DE VOLTA REDONDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação – Strictu sensu – Mestrado Acadêmico
em Direito da Universidade Veiga de Almeida,
como parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Direito. Área de concentração –
Cidadanias, Internacionalização e Relações
Jurídicas.

ORIENTADOR: ROBERTO KANT DE LIMA

RIO DE JANEIRO
2016
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
DIRETORIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU E DE PESQUISA
Rua Ibituruna, 108 – Maracanã
20271-020 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2574-8834 Fax.: (21) 2574-8871

FICHA CATALOGRÁFICA

G963t
FICHA CATALOGRÁFICA
Guimarães, Roberta Aline Oliveira.
O Tempo dos processos nos juizados especiais cíveis: o caso de Volta
Redonda. / por Roberta Aline Oliveira Guimarães. – 2016.
146 f.: il. color.; 30 cm.

Digitado (Original).
Dissertação (Mestrado) – Universidade Veiga de Almeida, Mestrado
Acadêmico em Direito, Rio de Janeiro, 2016.

Orientação: Prof. Dr. Roberto Kant de Lima, Coordenação de


Mestrado
em Direito.

1. Direito. 2. Processo – Duração. 3. Ato Processual. I. Roberto Kant


de Lima (Orientador). II. Universidade Veiga de Almeida. Mestrado
Acadêmico em Direito. III. Título.

CDD – 340
BN

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorial Tijucal/UVA


3

FOLHA DE APROVAÇÃO

ROBERTA ALINE OLIVEIRA GUIMARÃES

O TEMPO DOS PROCESSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: O


CASO DE VOLTA REDONDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação – Strictu sensu – Mestrado Acadêmico
em Direito da Universidade Veiga de Almeida,
como parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Direito. Área de concentração –
Cidadanias, Internacionalização e Relações
Jurídicas.

Aprovada em 24 de maio de 2016

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Professor Dr. Roberto Kant de Lima
Universidade Veiga de Almeida

__________________________________________
Professora Dra. Maria Stella Amorim
Universidade Veiga de Almeida

__________________________________________
Professor Dr. Wagner de Mello Brito
Universidade Estácio de Sá – Banca Externa
4

RESUMO

A presente dissertação tem por objetivo principal analisar o tempo dos processos
nos Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda, a fim de traçar a duração total dos
mesmos, bem como o tempo para realização de determinados atos processuais.
Através da pesquisa de campo, pautada, principalmente, na observação de
duzentos processos, amplia-se o conhecimento acerca de inúmeras práticas
jurídicas, possibilitando reflexões sobre a discrepância no tempo para realização de
um mesmo ato, pontos de semelhanças e distinções entre Juizados localizados em
um mesmo espaço geográfico, bem como sobre previsões legais que, na prática, se
mostram inócuas. Nesse sentido, insere-se a dispensa do advogado, haja vista que,
embora, exista tal possibilidade o desenrolar das ações depende de conhecimento
técnico específico, assim, se a parte não constitui advogado, normalmente se utiliza
de apoio fornecido pelo próprio Judiciário para preparar e acompanhar o processo. A
pesquisa também permite concluir que os prazos previstos na legislação, para
realização dos atos processuais, são comumente desrespeitados, inexistindo, dentre
os processos analisados, qualquer sanção decorrente desses atrasos. Assim,
percebe-se a fragilidade das disposições legais, cujo teor é comumente
desrespeitado. Por fim, amparada em entrevistas, a dissertação abordará a visão de
profissionais e usuários dos serviços jurisdicionais sobre a duração dos processos,
corroborando a ideia de não existir consenso sobre o tema, apesar da recorrente
insatisfação com o tempo despendido para encerramento dos processos judiciais.

Palavras-chave: Tempo do processo. Tempo dos atos processuais. Duração


razoável do processo.
5

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the main processes in small claims courts of Volta
Redonda, in order to trace the total duration of same, as well as the time required for
completion of certain procedural acts. Through field research, based mainly on the
observation of 200 cases, expanded the knowledge of numerous legal practices,
enabling observation of the discrepancies in time to perform the same Act, points of
similarities and distinctions between Courts located in one geographic area, as well
as on legal forecasts that, in practice, are harmless. Accordingly, the exemption of
the lawyer, since, although the possibility exists the conduct of actions depends on
specific technical knowledge as well, if the part is not a lawyer, usually uses to
support provided by the Judiciary itself to prepare and monitor the process. The
research also concludes that the time-limits laid down in legislation, to carry out
procedural acts, are commonly regarded, not existing, among the processes
analyzed, any sanction as a result of these delays. Thus, the fragility of the legal
provisions, which is commonly flouted. Finally, based on interviews, the dissertation
will deal with professional vision and judicial services users about the duration of the
procedures, corroborating the idea there is no consensus on the issue, despite the
applicant's dissatisfaction with the time taken for termination of court proceedings.

Keywords: Time of the process. Time of the procedural acts. Reasonable duration of
the process.
6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 08

2 A DESCOBERTA DA PESQUISA DE CAMPO 14

3 O TEMPO DO PROCESSO 19

4 DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL 29

4.1 OS DOIS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DE VOLTA REDONDA 40

4.2 OS PRINCÍPIOS DA INFORMALIDADE E SIMPLICIDADE EM XEQUE 48

4.3 A DEFENSORIA PÚBLICA 53

4.4 O LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO 54

5 O TEMPO DOS ATOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS ESPECIAIS 62


CÍVEIS DE VOLTA REDONDA

5.1 DOS ATOS PROCESSUAIS 65

5.1.1 Da Autuação, da Distribuição e dos Primeiros Movimentos 72

5.1.2 Da Citação 73

5.1.2.1 Da Citação no Juizado Especial Cível X 76

5.1.2.2 Da Citação no Juizado Especial Cível Y 78

5.1.3 Da Designação da Audiência 80

5.1.3.1 O Tempo para Agendamento de Audiência no Juizado X 82

5.1.3.2 O Tempo para Marcação de Audiência no Juizado Y 85

5.1.4. Da Juntada das Petições 90

5.1.4.1 Da Juntada de Petições no Juizado Especial Cível X 92

5.1.4.2 Da Juntada de Petições no Juizado Especial Cível Y 94

5.1.5. Da Leitura de Sentença 95

5.1.5.1 Da Leitura de Sentença no Juizado X 100

5.1.5.2 Da Leitura de Sentença no Juizado Y 103

5.1.6 Da Elaboração e Publicação dos Despachos 106


7

5.1.6.1 Da Elaboração e Publicação dos Despachos no Juizado X 107

5.1.6.2 Da Elaboração e Publicação dos Despachos no Juizado Y 109

5.1.7 Da Interposição de Recursos 111

5.1.7.1 Da Fase Recursal no Juizado Especial Cível X 114

5.1.7.2 Da Fase Recursal no Juizado Especial Cível Y 116

5.1.7.3. Quem foi o responsável pela elaboração dos Recursos? 121

5.1.7.4 O Resultado dos Recursos: Efetivos ou não? 123

6 O TEMPO DO PROCESSO: DA DISTRIBUIÇÃO AO 126


ARQUIVAMENTO DEFINITIVO

6.1 Considerações sobre o Tempo do Processo no Juizado Especial Cível X 129

6.2 Considerações sobre o Tempo do Processo no Juizado Especial Cível Y 130

6.3 Considerações sobre a Conciliação e o Tempo do Processo 131

6.4 A Sociedade e o Tempo do Processo 135

7 CONCLUSÃO 140

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 145


8

1 INTRODUÇÃO

Uma das maiores dificuldades encontradas por mim, no desempenho do


exercício profissional da advocacia, é a compreensão de inúmeros elementos que
cercam a prática jurídica. Afinal, após cursar uma graduação de 5 (cinco) anos,
voltada ao estudo dogmático e legal, mostrou-se extremamente curioso observar
que, na prática, temos um universo totalmente distinto.

Explica-se: nossa formação, dentro dos cursos de Direito, nem sempre se


preocupa em apresentar a empiria da profissão, somos levados à imersão
doutrinária e ao estudo das leis, dissociados do que realmente acontece quando as
situações ocorrem na prática. É como se as leis e o estudo jurídico tivessem um fim
em si mesmo, e não o objetivo de regulamentar e tornar o convívio social mais
fluente.

O resultado é que, em tantas vezes, embora tenhamos disposições legais e


doutrinárias em um determinado sentido, no cenário prático vemos resultados
totalmente diferentes. O descumprimento ou a relativização das leis acaba se
tornando corriqueiro, e pouquíssimos são os profissionais que se debruçam sobre
estudos que objetivam esclarecer ou entender a prática profissional.

Por esta razão, nosso aparato legislativo tende a correr em paralelo e abstrato
às condutas ou necessidades sociais, sendo comum importarmos material normativo
e cultural de outros países, sem estudar se tais elementos serão verdadeiramente
efetivos ou não quando aqui aplicados. Afinal, a pertinência prática nem sempre é
levada em conta.

Assim, embora minha graduação tenha contribuído para aquisição de


inúmeros conhecimentos do âmbito jurídico, por certo não foi satisfatória a me
apresentar o verdadeiro universo do Direito, que tantas vezes se dissocia do que é
ensinado pelas disciplinas. E, por mais que se convencione falar que a verdadeira
experiência só decorre da prática, não se pode ignorar o fato de que, muitas vezes,
estamos aprendendo e aplicando coisas totalmente distintas.
9

Sob a intenção de melhor compreender determinadas práticas jurídicas,


surgiu a ideia de pesquisar sobre os dois Juizados Especiais Cíveis da Comarca de
Volta Redonda – que serão chamados de “X” e “Y” –, afinal, os “juizados de
pequenas causas” – como costumam ser referidos pela sociedade – ganharam
grande relevo dentro de nosso ordenamento jurídico, amparados no ideal de que
prestariam a jurisdição de forma mais célere, simples e informal. Em outras palavras,
os Juizados Especiais poderiam ser acessados por quaisquer membros da
sociedade – em determinados casos, até mesmo desassistido de advogados – e, em
tese, todos os indivíduos teriam perfeitas condições de compreender o integral
transcurso de seu processo.

Mas será que isso ocorre na prática?

Acreditando que essas respostas, especialmente no que diz respeito ao


tempo do processo, principal foco deste trabalho, seriam obtidas com mais
fidedignidade utilizando a pesquisa de campo, e não por meio de manuais e
doutrinas jurídicas, é que se desenvolveu a pesquisa para a presente dissertação.

Por meio deste estudo, busca-se, através da análise de 200 (duzentas) ações
já encerradas nos Juizados Especiais Cíveis da Comarca de Volta Redonda,
levantar dados acerca do tempo dos atos processuais, a fim de inferir o tempo total
para conclusão dos processos observados.

Ao final da pesquisa, mostrar-se-á possível analisar quanto tempo leva para


que alguns atos processuais sejam realizados, com a apresentação, também, do
tempo total despendido para que as ações estudadas cheguem ao seu fim,
possibilitando aos interessados – e leitores do presente trabalho – tirar suas próprias
conclusões acerca da duração do processo, abalizados, também, no conhecimento
que cada um carrega dentro de si.

Cumpre registrar que nem todos os atos processuais serão objeto dessa
dissertação, mas apenas aqueles visualizados com maior frequência nos processos
em trâmite nos Juizados Especiais Cíveis: assim, abordar-se-á o tempo para
marcação de audiências, juntada de petições, conclusão e devolução dos processos
10

pelo juiz, publicação das decisões, julgamento de recursos e leitura de sentença. Por
fim, será apontado, de forma gráfica, o tempo total gasto para encerrar cada um dos
200 (duzentos) processos pesquisados.

Ademais, questões correlatas serão levantadas, permitindo reflexões sobre a


informalidade ou não dos processos nos Juizados Especiais Cíveis, sobre a
possibilidade de se atuar desamparado de advogados, dentre outras condutas
profissionais que, muitas vezes, podem nos deixar intrigados e não constam nos
tradicionais materiais utilizados para “ensinar o Direito”.

Vale, desde já, registrar duas situações, que mais à frente serão tratadas de
forma mais clara, para ilustrar questões práticas cujos manuais jurídicos
normalmente não tratam e que, no cenário prático, são facilmente visualizadas.

Afinal, o curioso de quando se realiza uma pesquisa de campo é o número de


informações ocultas que aos poucos vão se mostrando, despertando nossa
curiosidade e atenção, tendo em vista que, às vezes, a pesquisa de campo é bem
mais profunda e inusitada do que aquilo que os livros nos apresentam.

Assim, diante de tantas situações curiosas e antes não imaginadas, torna-se


impossível simplesmente ignorá-las, valendo o esforço de inseri-las no contexto da
pesquisa realizada.

A título exemplificativo, lança-se uma indagação: pode a parte que venceu a


demanda (procedência total caso se refira ao autor; e improcedência total, se
estivermos falando do réu) recorrer da decisão que lhe foi totalmente favorável?

Teoricamente, a resposta é não, afinal, a parte vencedora, seja o autor ou o


réu, não tem interesse de agir para recorrer da decisão que lhe foi integralmente
favorável (totalmente procedente ou improcedente).

Diante disso, indaga-se: será que esse tipo de recurso, na prática, é


interposto?
11

E aí a resposta já passa a ser positiva. Embora casos desse tipo não tenham
sido vistos por mim, nos processos analisados, funcionários dos cartórios nos quais
realizei a pesquisa me relataram que, em certas ocasiões, a parte cuja decisão lhe é
totalmente favorável recorre. E por que isso acontece?

A justificativa apresentada foi no sentido de que, como alguns escritórios


recebem por tempo de duração do processo, ou por ato realizado, muitas petições
desnecessárias ou infundadas são interpostas. E, dentre elas, inserem-se recursos
meramente protelatórios, donde nem mesmo se vislumbra interesse de agir.

De fato, ao longo da pesquisa, pude observar a realização de determinados


atos que, em um primeiro momento, pareciam desprovidos de qualquer sentido, tais
como: a mera juntada de atos constitutivos antes da realização da audiência ou da
apresentação de contestação; petições reiteradas cujo teor já foi objeto de
apreciação, dentre outras.

Outra situação curiosa, e que se mostrou presente ao longo da pesquisa, foi a


interposição de recursos, pela parte vencida, nos quais o valor para recorrer
superava o próprio valor da condenação. Sob a égide material, isso não parece fazer
sentido, afinal, o recurso tornou o processo mais caro do que o adimplemento da
obrigação. Todavia, pensando pelo lado profissional, talvez a busca pelo êxito
processual compense o maior prejuízo pecuniário.

Tais situações, conforme anteriormente mencionado, servem apenas para


alavancar maiores reflexões acerca da atuação profissional, sendo certo que,
embora de forma sutil, também afetam o tempo de duração do processo, por
representar atos processuais que acabam por demandar atuação dos funcionários
(juntada de petições, conclusão do feito e apreciação por parte dos magistrados).

São, no entanto, condutas que, apesar de corriqueiras, passam


despercebidas quando se promove um estudo totalmente voltado para a pesquisa
bibliográfica.
12

No total, a pesquisa pautou-se, oficialmente, na análise de 200 (duzentos)


processos findos no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda, sendo
que 100 (cem) foram observados no Juizado Especial X, e os outros 100 (cem) no
Juizado Especial Y.

A escolha destes processos foi aleatória, baseada na disponibilidade de


ações encerradas e de acordo com o que os funcionários me autorizavam ou
forneciam para que eu pesquisasse.

Em regra, todos os processos que se encerram nos Juizados Especiais Cíveis


são encaminhados para o arquivo geral, na cidade do Rio de Janeiro, e lá
permanecem por 90 (noventa) dias. Transcorrido este prazo, se o desarquivamento
do processo não for solicitado, ocorre a sua destruição.

Antes, porém, de ser enviado ao Rio de Janeiro, o processo vai para uma
pilha de processos encerrados, até que um funcionário promova os registros finais e
o coloque dentro de uma caixa, para aí sim serem encaminhados ao arquivo geral.

Os processos observados nesta pesquisa encontravam-se neste momento.


Ou seja, eram ações consideradas prontas para serem arquivadas – ou
definitivamente arquivadas –, e que ainda não tinham sido encaminhadas para a
cidade do Rio de Janeiro.

O objetivo era promover o mesmo tipo de análise nos Juizados Especiais


Cíveis de Volta Redonda, todavia, significativas diferenças foram encontradas entre
um e outro, inclusive, no que diz respeito aos processos disponibilizados para
realização da pesquisa.

O apontamento das diferenças serve para que não se caia na falsa premissa
de que a atuação dos Juizados Especiais Cíveis é exatamente a mesma. Afinal, a
empiria logo nos mostra que significativas distinções podem surgir no desempenho
da atividade jurisdicional, fazendo com que Juizados diferentes tenham condutas
distintas, aptas a afetar, inclusive, o exercício profissional.
13

Tais diferenças, aos poucos, acabam por ser apresentadas no presente


trabalho, visto que, ao longo da pesquisa de campo, passam a ser reconhecidas.

Além da análise de processos já finalizados, nos moldes acima assinalados,


entrevistas informais com funcionários e juízes (togados e leigos), bem como
conversas com outros profissionais da área jurídica (advogados, conciliadores) e
usuários da prestação jurisdicional auxiliaram na elaboração da presente
dissertação.

Antes, porém, de adentrar no mérito da pesquisa, vale abrir breve tópico para
tratar das primeiras impressões acerca da pesquisa de campo, e mostrar, ainda que
sucintamente, como foi desenvolver um trabalho tão diferente, tendo em vista que
toda a minha formação jurídica pautou-se no estudo dogmático e legal.
14

2 A DESCOBERTA DA PESQUISA DE CAMPO

Durante toda a minha graduação, e também no curso de especialização em


Direito Ambiental, por mim concluído, o trabalho de campo nunca foi incentivado ou
desenvolvido. Logo, esta dissertação sobre os Juizados Especiais Cíveis é, na
verdade, minha primeira experiência com a referida modalidade de pesquisa,
representando verdadeiro corte em meu aperfeiçoamento acadêmico.

E assim como a pesquisa de campo não se mostrou comum em meu


aprendizado, ela também não parece inserida, de forma relevante, no cotidiano dos
profissionais de Direito, o que torna extremamente raro encontrar, no dia a dia,
pessoas com tal formação que incentivem e valorizem esse método de investigação.

Claro que se trata de uma constatação pessoal, baseada no círculo social no


qual estou inserida. Todavia, vale registrar que, durante a realização de minha
pesquisa, na qual mantive contato com inúmeras pessoas distintas, nenhuma me
reportou ter executado pesquisa de campo para conclusão de qualquer curso, fosse
ele de graduação ou pós-graduação.

Inclusive, um magistrado que comigo dialogou fez o relado de ter concluído


seu curso de mestrado, pois, em determinada época, resolveu ministrar aulas em
cursos de graduação em Direito, porém, salientou, enfaticamente, que sua
dissertação se pautou em pesquisa bibliográfica, e que não teria tido tempo para
desenvolver um trabalho de campo.

A regra, de fato, ao menos nos cursos jurídicos, parece ser a extrema ligação
à pesquisa bibliográfica, sendo incomuns estudantes que se debruçam sobre
pesquisas de campo, a fim de compreender a realidade jurídica sob outro ponto de
vista, distinto daquele ensinado pelas doutrinas e manuais de Direito.

Além de levantar tal indagação, também conversei com outros 3 (três)


advogados, atuantes no município de Volta Redonda e mestrandos, concluindo que
nenhum deles voltou sua dissertação para a pesquisa de campo, optando por
trabalhar com a bibliográfica.
15

E não só mestres e mestrandos me relataram não ter tido nenhum contato


com a pesquisa de campo, como também alunos de graduação e servidores lotados
nos Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda disseram desconhecer a realização
de atividades nesse sentido.

Exceção desta informação foi obtida em conversa informal com um servidor


do Núcleo de Distribuição, Autuação e Citação do Juizado Especial Cível de Volta
Redonda – NADAC, na qual me foi informado que:

uma vez alunos da UFF fizeram pesquisa no Juizado Especial Cível,


acompanharam por quatro meses processos distribuídos. Eles vieram aqui
[no NADAC] num dia, escolheram processos que tinham acabado de iniciar
e fizeram esse acompanhamento. Era algo específico. Não recordo de outra
pesquisa nesse sentido.
(servidor do NADAC)

Ou seja, em anos de serviço, este servidor do NADAC presenciara apenas a


realização de uma pesquisa de campo, em sede dos Juizados Especiais Cíveis.
Além dele, nenhum servidor foi capaz de informar a existência de outra pesquisa de
campo já finalizada ou em trâmite, excetuando a minha.

Nessa linha, vale registrar que o município de Volta Redonda conta com 4
(quatro) instituições de ensino que oferecem o curso de Direito, sendo: 1) Centro
Universitário de Barra Mansa – UBM (reconhecimento do curso renovado pela
Portaria do MEC nº 3.055, publicada no Diário Oficial em 02 de setembro de 2005);
2) Fundação Oswaldo Aranha – FOA (curso reconhecido pela Portaria do MEC nº.
1.128, de 19 de dezembro de 2008); 3) Centro Universitário Geraldo di Biasi – UGB
(curso reconhecido pela Portaria do MEC nº. 899/2008); e 4) Universidade Federal
Fluminense (curso iniciado em 2011, ainda pendente de reconhecimento pelo MEC).

O Centro Universitário de Barra Mansa representou a primeira instituição de


ensino superior, no interior do Estado do Rio de Janeiro, voltada para as ciências
jurídicas. Atualmente, possui dois campi oferecendo o curso de bacharelado em
Direito, sendo um no município de Barra Mansa, cidade limítrofe e que guarda
estritas relações com Volta Redonda, e o outro situado neste município. Vejamos:
16

O curso de bacharelado em Direito teve início com o surgimento do Centro


Universitário de Barra Mansa. Criado em julho de 1966 através do decreto
n° 58.864/66, a oferta do curso consagrou a SOBEU como a primeira
instituição de ensino superior dedicada às Ciências Jurídicas no interior do
Estado do Rio de Janeiro. A partir do ano 2000, o curso de Direito passou a
ser ofertado também no Campus Cicuta 1.

Todavia, embora Volta Redonda tenha 4 (quatro) instituições de ensino com o


curso de bacharelado em Direito, sem contar os existentes em cidades próximas, a
expressão “pesquisa de campo” não compõe, de forma relevante, a construção do
conhecimento jurídico na referida região.

Com essa análise, não se objetiva, é claro, desmerecer ou supervalorizar um


ou outro método de pesquisa, apenas reforçar o fato de que, no âmbito jurídico, não
se mostra comum a realização de pesquisas de campo, sendo certo que as
dependências cartorárias e os próprios processos em andamento, indiscutivelmente,
se revelam fontes preciosíssimas de conhecimento, pouco acessadas pelos
estudantes.

Embora não se mostre uma prática corriqueira, os profissionais responsáveis


por autorizar a pesquisa em momento algum criaram embaraços que inviabilizassem
o estudo, mostrando-se solícitos e curiosos com o desenvolver da pesquisa.

Quando solicitei autorização para realizar a pesquisa, tanto o Juiz do Juizado


X, quanto do Y, se mostraram receptivos ao permiti-la. Assim foi que consegui
realizar a pesquisa em ambos os cartórios e, também, no Núcleo de Distribuição,
Autuação e Citação do Juizado Especial Cível de Volta Redonda – NADAC.

Ainda no primeiro contato com o Juiz responsável por um dos Juizados


Especiais Cíveis, me foi indagado sobre o tempo de realização da pesquisa. Ao
estimar o tempo restante até a conclusão do mestrado, considerei razoável
mencionar que a pesquisa duraria mais ou menos 8 (oito) meses e, como resposta,
uma reação de surpresa, e a seguinte declaração:

nos JECs as demandas são muito simples, e se tornam repetitivas, não


entendo porque precisaria de tanto tempo para a pesquisa.

1
DIREITO. Disponível em: <http://web.ubm.br/graduacao/direito>. Acesso em: 21 set. 2015.
17

(Juiz I)

Apesar da indagação, nenhum entrave foi apresentado, e o magistrado


anotou meus contatos, informando que a chefe do cartório entraria em contato para
que eu pudesse iniciar meus trabalhos.

Já no outro Juizado Especial Cível não tive nenhum questionamento acerca


do tempo da pesquisa, porém, após 3 (três) meses frequentando o cartório para
colheita de dados, fui surpreendida pela informação de que talvez não pudesse mais
continuar com a pesquisa.

A argumentação era no sentido de que, como eu era advogada atuante nos


Juizados Especiais Cíveis, isso poderia gerar problemas, porque os demais
advogados pensariam que eu estava sendo beneficiada de alguma forma, haja vista
ter autorização para adentrar nas dependências cartorárias.

A orientação foi no sentido de que eu me reportasse, novamente, ao Juiz


responsável, a fim de que ele autorizasse a continuação da pesquisa.

Depois de uma breve conversa com o magistrado, a situação se resolveu, e o


combinado foi que eu não desempenharia nenhuma atividade profissional naquele
Juizado – com ênfase em não comparecer ao balcão de atendimento –, enquanto
estivesse realizando a pesquisa. Quanto aos processos que estavam sob meu
patrocínio, deveria ser feito o substabelecimento, ainda que com reserva de
poderes.

No dia em que me informaram da suspensão temporária da pesquisa e me


orientaram a procurar o Juiz responsável, a servidora responsável assim se
pronunciou:

nós [referindo-se a ela e aos demais servidores do cartório] somos muito


visados. Se as pessoas te virem no balcão e aqui dentro [nas dependências
internas do Cartório] vão achar que estamos te beneficiando de algum
modo. A gente sabe que não tem nada disso, só que os advogados vão
falar e reclamar, e vai pegar mal.
18

Transcorrido este episódio – de ter tido a autorização da pesquisa


temporariamente suspensa –, pude continuar desempenhando meu trabalho como
pesquisadora, nos termos debatidos com o juiz titular, sem que qualquer outro
empecilho fosse imposto.

Problema semelhante não se levantou no outro Juizado Especial Cível, mas,


de qualquer forma, durante a realização da pesquisa, evitei comparecer como
advogada, para atendimento no balcão, a fim de afastar qualquer constrangimento
ou prejuízo para minha pesquisa.

Por fim, vale mencionar que, ao longo da pesquisa, a interação com os


funcionários foi ficando bem mais fluída. E, se em um primeiro momento existira
certo constrangimento em pedir autorização para adentrar nas dependências e
pegar os processos para análise, passados dois meses, essas questões já se
mostravam de somenos importância.

Aliás, nas primeiras idas a um dos Juizados Especiais Cíveis, era preciso
agendar dia e horário para pesquisar. Porém, depois das semanas iniciais, a chefe
do cartório deixou de fazer essa exigência, permitindo que eu adentrasse nas
dependências cartorárias de acordo com a minha disponibilidade, desde que
respeitado o horário normal de funcionamento da serventia.

Em síntese, se no começo o desenvolver da pesquisa de campo parecera


extremamente difícil, por pautar-se, além da análise processual, em inúmeras
relações interpessoais, aos poucos tudo foi se tornando mais fluído, e o
constrangimento inicial cedeu para uma interação mais natural e dinâmica, que
transcorreu sem qualquer conflito, possibilitando levantar os dados necessários para
análise do tempo dos processos, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis da
Comarca de Volta Redonda.
19

3 O TEMPO DO PROCESSO

A duração razoável do processo se tornou tema de grande relevo, ocupando


bastante espaço na mídia, seja ela especializada ou não. Assim, tanto os
profissionais de direito, quanto membros da sociedade debatem sobre o tempo dos
processos judiciais, em grande parte das vezes, mencionando a demora dos
processos judiciais no Brasil.

O assunto ganha maior relevo por ser a celeridade processual um direito


inserido no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, onde se assevera que

a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável


duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.

Sem adentrar no mérito se a inserção deste inciso, através da Emenda


Constitucional nº. 45 de 2004, foi ou não efetiva para acelerar o andamento das
demandas, é preciso esclarecer que não se pretende, com este estudo, descobrir
qual seria o prazo razoável de duração do processo, visto que tal tarefa se mostra
inviável, se analisadas as inúmeras variáveis. Porém, mostrar-se-á possível tecer
considerações acerca do tempo necessário para finalizar uma demanda nos
Juizados Especial de Volta Redonda, baseado nos dados colhidos.

O que se pretende é analisar o tempo dos processos nos Juizados Especiais


Cíveis de Volta Redonda, a fim de se descobrir, em média, qual o lapso temporal
necessário para se desempenhar determinados atos processuais específicos e,
assim, visualizar quanto tempo leva para que as ações, efetivamente, cheguem ao
fim.

Entretanto, a própria noção de “fim do processo” pode ser relativizada,


transformando uma simples questão em algo complexo e delicado.

Indaga-se: qual seria, efetivamente, o marco final do processo?


20

De plano, podemos apontar alguns momentos processuais que, bem ou mal,


poderiam representar o término da demanda, tais como: 1) trânsito em julgado da
decisão que considera o pedido procedente ou não; 2) celebração de acordo; 3)
adimplemento da obrigação; 4) arquivamento definitivo.

Muitos dirão que a sentença põe fim ao conflito, pois é esta a decisão apta a
dizer o direito, ou seja, estabelecer quem está com a razão – se o autor ou o réu –,
apontando, ainda, se e o que será devido de uma parte à outra.

Pode, porém, a parte que perdeu a ação ou a que teve seus direitos
reconhecidos de forma parcial, em 1ª Instância, optar por interpor o recurso cabível
que, no caso dos Juizados Especiais Cíveis, será o Recurso Inominado, direcionado
às Turmas Recursais. Nestas hipóteses, a decisão final será das referidas Turmas.

Porém, da decisão proferida pela Turma Recursal cabe, ainda, Recurso


Extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, se presentes os requisitos do artigo
102, III, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Assim, mais apropriado seria dizer que a decisão transitada em julgado é que
põe fim a demanda (tenha ela sido proferida pelo Juiz de 1ª Instância, pela Turma
Recursal ou pelo Supremo Tribunal Federal). Deve-se entender, por decisão
transitada em julgado, aquela contra a qual não cabe mais nenhuma espécie de
recurso: ou cumpre-se o decidido, ou se sujeita às sanções cabíveis.

Vale mencionar que, dentre os 200 (duzentos) processos pesquisados, em


apenas um deles foi possível observar a interposição de Recurso Extraordinário ao
Supremo Tribunal Federal. Logo, no universo pesquisado, só em 0,5% (meio por
cento) esta espécie recursal se mostrou presente.

Retornando ao trânsito em julgado, será mesmo que a parte se satisfaz


apenas com a decisão que aponta a existência ou não de um direito; ou ela espera
ver a satisfação da obrigação porventura imposta?
21

De igual modo, quando um acordo é celebrado, autor e réu se contentam


apenas com a homologação do acordo, ou pretendem o cumprimento das cláusulas
estipuladas?

Sem dúvida, a satisfação da obrigação se torna, na maior parte das vezes, o


resultado almejado. Assim, se a parte autora, por Sentença, passa a ser credora de
determinada quantia, só se mostrará verdadeiramente satisfeita no momento em que
receber aquele valor. Deste modo, dizer que a decisão transitada em julgado
encerra o processo seria, indubitavelmente, retirar das partes a fruição ao direito
reconhecido ou acordado.

Pensando pelo lado da satisfação da obrigação, não será, portanto, o trânsito


em julgado da decisão ou a celebração de um acordo que porão fim ao processo,
mas, sim, o momento em que a parte receber aquilo que lhe passa a ser devido.

A título exemplificativo, vale mencionar o processo mais antigo, objeto da


minha pesquisa:

O referido processo foi distribuído em 04 de outubro de 2006, e a realização


da primeira audiência aconteceu no dia 10 de abril de 2007. Inviável a conciliação,
agendou-se a Audiência de Instrução e Julgamento para a data de 31 de julho de
2007. Nessa ocasião, o juiz proferiu a sentença, julgando parcialmente procedente o
pedido do autor, condenando o réu a pagar a quantia de R$ 1.390,00 (um mil
trezentos e noventa reais), referentes aos danos morais e patrimoniais
reconhecidamente sofridos.

A sentença foi alvo de Embargos de Declaração, cujo teor da decisão saiu


publicado em 29 de outubro de 2007, sem promover qualquer alteração no
julgamento inicial. Assim, a partir desta publicação, iniciou-se a contagem de prazo
para o adimplemento voluntário da obrigação ou a interposição dos demais recursos
cabíveis.
22

Nenhum recurso foi interposto, e nem o pagamento foi efetuado, instaurando-


se a fase executória do processo, a fim de se proceder à constrição forçada dos
bens do devedor.

E assim foi que um processo com sentença favorável para o autor transitou
nas dependências do Juizado Especial Cível até a data de 17 de setembro de 2015,
quando finalmente foi arquivado definitivamente. A razão?

Transcorridos, aproximadamente, 8 (oito) anos da sentença favorável – e


aproximadamente 9 (nove) da data da distribuição – não logrou-se êxito em localizar
bens do executado. Ou seja, durante todo o trâmite do processo, o autor, através de
seu advogado, tentou obter o crédito que lhe era devido, peticionando em inúmeras
oportunidades com o oferecimento de alternativas para ver a satisfação da dívida.
Entretanto, nada surtiu o efeito esperado.

Em 10 de agosto de 2015 saiu publicada decisão declarando a extinção da


ação, porque “o processo de execução está paralisado há mais de 30 (trinta) dias,
sem que a parte exequente promova os atos e diligências que lhe competem”.

Em outras palavras, o autor, aparentemente vencido pelo cansaço, por ver


que não conseguiria receber os valores que lhes eram devidos, deixou de promover
novas diligências, acarretando o encerramento do processo.

Todavia, se considerada a posição de que a sentença põe fim ao processo,


os aproximados 8 (oito) anos de execução desta demanda deveriam ser ignorados,
o que não parece nada razoável.

Em outro processo, distribuído em 12 de agosto de 2011, a Audiência de


Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ) foi agendada para 15 de setembro de
2011, com a celebração de acordo entre as partes nesta mesma data. Ou seja, no
prazo de 1 (um) mês e 3 (dias), a parte autora conseguiu uma solução que lhe
agradava, disposta, então, a encerrar o litígio.
23

Porém, transcorrido o prazo para cumprimento do acordo, o réu quedara-se


inerte. A partir daí, não mais o localizaram pessoalmente, tampouco se logrou êxito
na penhora de bens.

Sem receber os valores combinados, restou ao autor contentar-se apenas


com a Certidão de Crédito (também chamada de Carta de Crédito), podendo utilizá-
la para fundamentar futura execução. Ventila-se, ainda, a possibilidade de utilizar tal
documento para promover o protesto em cartório extrajudicial ou inserir o nome do
devedor nos cadastros de inadimplentes. Todavia, nenhuma dessas medidas
garante que o credor conseguirá receber o que lhe é devido.

Em 25 de setembro de 2015 foi publicada a decisão para retirada da Certidão


de Crédito, com a determinação do consequente arquivamento do processo.

Desta vez, o acordo é que não se mostrou suficiente para encerrar o


processo, visto que, apesar da assunção de determinada obrigação, de forma
voluntária, o réu desapareceu, sem deixar bens passíveis de penhora. O autor,
entretanto, tentou por 4 (quatro) anos obter, judicialmente, a satisfação do crédito,
não logrando êxito.

A possibilidade de se utilizar a Certidão de Crédito para instruir futuras


execuções é citada no Enunciado nº. 75 do FONAJE:

A hipótese do § 4º, do 53, da Lei 9.099/1995, também se aplica às


execuções de título judicial, entregando-se ao exeqüente, no caso, certidão
do seu crédito, como título para futura execução, sem prejuízo da
manutenção do nome do executado no Cartório Distribuidor.

Situação semelhante à anterior aconteceu em outro processo, distribuído em


26 de abril de 2012, em que se obteve decisão favorável, mantida após a
interposição de Recurso Inominado para a Turma Recursal. Esta decisão data de 23
de agosto de 2013, e o retorno do processo, para Volta Redonda, se deu em 11 de
novembro de 2013. A partir daí, o demandante iniciou a busca pelo adimplemento da
obrigação e, também, não obteve sucesso, restando apenas retirar a Carta de
Crédito, datada de 23 de junho de 2015. Ou seja, após pouco mais de 3 (três) anos
24

da distribuição do feito, e decorridos aproximadamente 2 (dois) da decisão favorável,


a parte também não conseguiu ver seu direito respeitado.

Concluo, então, que não se mostra razoável considerar a celebração de


acordo ou a decisão transitada em julgado como marcos finais do processo, posto
que as diligências não se encerram neste momento. Na verdade, a partir daí inicia-
se um novo momento, o da busca pelo real adimplemento da obrigação (fase de
execução). O Judiciário continua a ser movimentado. E, infelizmente, nem sempre o
vencedor da demanda conseguirá obter aquilo que lhe é devido.

Por seu turno, é interessante registrar que, no universo dos processos


pesquisados, em 3 (três) deles vislumbrara-se situação em que a parte autora se
sagrou vencedora, o réu depositou o valor devido e, mesmo após intimada para
retirar o Mandado de Pagamento, o autor quedava-se inerte, e o processo era
arquivado sem o recebimento da quantia depositada.

Em duas destas dessas hipóteses, os autores estavam desassistidos de


advogado e receberam correspondência postal intimando-os para comparecer ao
cartório, a fim de receber o Mandado de Pagamento. Embora tenham assinado o
Aviso de Recebimento (AR), não adotaram qualquer diligência.

Na outra situação, a parte possuía advogado constituído e, mesmo após a


publicação da decisão para retirada do Mandado de Pagamento, através do Diário
Oficial, não aconteceu o levantamento da quantia depositada.

Em nenhum desses casos ocorreu posterior juntada de petição, informando


óbito ou situações análogas que impedissem o comparecimento ao cartório. De igual
modo, também não são processos marcados com a informação de prioridade, por
tratar-se de pessoa idosa.

Fica, então, a questão: por que essas pessoas, mesmo após o êxito e o
adimplemento da obrigação, não compareceram para retirar o que lhes caberia?
25

Tendo em vista que os indivíduos em questão não foram por mim localizados,
a fim de responder tal indagação, restam apenas reflexões e conjecturas, afinal,
trata-se de situação totalmente inusitada.

Um quarto caso se assemelha a estes mencionados. Porém, trata-se de


restauração de autos eliminados, objetivando apenas receber valores depositados
em processo anterior que, antes do levantamento da quantia, acabou por ser
eliminado. Decisão no processo assim dispôs:

1- Diante da comprovação nos autos às fls. 08 e 10 da realização de


depósito judicial no valor de R$200,00 (duzentos reais), realizado pelo
BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A., nos autos do processo 0021192-
92.2014.8.19.0066, que foi descartado, na conta judicial..., DETERMINO
que expeça-se mandado de pagamento no referido valor em favor do(a)
autor(a) e/ou sua patrona subscritora da referida petição, a essa, desde que
tenha procuração nestes autos, com poderes bastante. 2 - Confeccionados
os mandados de pagamentos, intime(m)-se a(s) parte(s) interessada(s) para
a retirada do(s) mesmo(s), diretamente no Banco do Brasil, no prazo
máximo de 90 (noventa) dias, sob pena de caducidade da validade do
mesmo. 3 - Após, independente da retirada do(s) mandado(s) de
pagamento(s) e, certificado o pagamento das custas ou a sua inexistência e
não havendo qualquer óbice, voltem-me conclusos para a extinção deste
feito secundário.

Na hipótese acima, também não ocorreu o levantamento da quantia


depositada, nos autos em que a parte saíra vitoriosa. Todavia, em momento
posterior ao descarte, o advogado do demandante interpôs nova ação, cuja
finalidade era apenas receber o que ficara para trás.

Exceções à parte – nas quais o vencedor não comparece ao juízo para


receber os valores depositados – resta responder a seguinte questão: será possível
dizer que, a partir do adimplemento da obrigação, as partes ficam totalmente
satisfeitas, inexistindo qualquer interesse na continuidade do processo?

Infelizmente, a resposta permanece negativa, pois podem surgir interesses


distintos, depois que se cumpre a obrigação principal. Abaixo listaremos algumas
situações em que, sem discutir o objeto da demanda, o processo permanece em
andamento.
26

Em dado processo, distribuído em 23 de julho de 2014, o autor deixou de


comparecer à Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento, agendada para 06
de novembro de 2014, ensejando sua condenação ao pagamento das custas
processuais. Sem ter sido dispensado desta obrigação, o processo permaneceu em
andamento de novembro de 2014 até agosto de 2015, portanto, por 9 (nove) meses,
só para que o pagamento das despesas processuais fosse realizado. A baixa do
processo ocorreu em 26 de agosto de 2015.

Em outra situação, em feito distribuído na data de 30 de outubro de 2013, a


parte autora obteve direito a certo crédito, cujo pagamento foi realizado em 12 de
fevereiro de 2014. O Mandado de Pagamento teve a expedição, originariamente, em
21 de novembro de 2014. Entretanto, o referido documento não serviu para a
finalidade, restando inviável o levantamento da quantia através dele. O Juizado
buscou informações junto ao Banco do Brasil, sobre a razão do não pagamento por
meio do instrumento fornecido, e, após várias diligências, apenas em 13 de agosto
de 2015, logo, 9 (nove) meses depois, é que se expediu um segundo Mandado de
Pagamento, viabilizando o levantamento da quantia depositada. O processo recebeu
baixa em 17 de setembro de 2015.

Ainda, em ação distribuída no dia 22 de setembro de 2014, foi necessário que


o processo, mesmo depois do recebimento dos valores depositados, por parte do
autor – o que ocorreu em abril de 2015 –, tramitasse por mais 5 (cinco) meses,
tendo em vista que a parte ré, no lugar de efetuar 1 (um) depósito, efetuara 2 (dois),
no mesmo valor. A fim de obter a restituição do valor depositado em duplicidade, o
processo continuou tramitando, até que o imbróglio fosse efetivamente solucionado.
A baixa do processo aconteceu em 17 de setembro de 2015.

Por fim, dado processo, iniciado em 25 de abril de 2013, teve o adimplemento


da obrigação comprovado através de petição protocolizada em 15 de julho 2013.
Porém, em situação semelhante a anterior, o réu depositou valor a maior e, a fim de
ser restituído da diferença indevidamente recolhida, tornou-se necessário inúmeros
atos, fazendo com que o processo só fosse definitivamente arquivado em 29 de
julho de 2015. Ou seja, foram despendidos aproximadamente 2 (dois) anos para que
o demandado obtivesse a restituição do valor indevidamente depositado.
27

Nítida, então, a existência de situações nas quais o processo encontra-se


sentenciado, a parte recebe os valores devidos ou as obrigações são cumpridas e,
mesmo assim, não é possível arquivar o processo, porque outras questões
permanecem sendo debatidas, sejam elas de interesses do Estado (pagamento das
despesas processuais), das partes (levantamento de valores depositados a maior ou
em duplicidade), necessidade de retirar documentos, dentre outros.

Para realização desta pesquisa, será considerado como término do processo


a data do arquivamento definitivo, momento este em que inicia a contagem para
eliminação do processo, em sede dos Juizados Especiais Cíveis.

O tempo despendido em eventuais solicitações do processo, feitas depois do


registro de que o feito foi arquivado em definitivo, não serão consideradas para fins
da presente dissertação.

A data do arquivamento definitivo pode ser acessada através do endereço


eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, sendo determinado
pelo juiz responsável, após entender não existir mais nada a ser feito no processo.
Normalmente o despacho determina que seja realizada a baixa e o arquivamento do
processo. As partes são cientificadas de tal decisão, com oportunidade de se
manifestarem. Se nada for solicitado, os servidores do Cartório providenciam o
arquivamento do processo e o devido registro da informação.

A determinação de baixa e arquivamento significa que não há mais


expectativa de prosseguimento da demanda, seja porque ocorreu o cumprimento da
obrigação, porque houve desistência, dentre outros.

O lançamento da informação de baixa definitiva fará com que o processo não


mais conste nos relatórios eletrônicos de feitos em andamento, devendo ser lançado
no sistema, além desta informação, a de que o processo está arquivado
definitivamente. Feito isso, o processo deve ser encaminhado ao arquivo definitivo,
situado na capital do Rio de Janeiro.
28

No momento da baixa, todas as pendências processuais são analisadas,


assim, por exemplo, verificada a existência de custas não recolhidas, o
arquivamento definitivo não pode ser realizado, devendo ocorrer a adoção das
medidas cabíveis para regularização processual.

Diante disso, somente quando o processo estiver definitivamente arquivado é


que se considerará o seu término. Logo, por tempo total do processo entenderemos
todo o transcurso desempenhado a partir da data da distribuição, até o momento em
que ele é arquivado em definitivo, desconsiderando o tempo que ele leva para ser
transportado e recebido no Rio de Janeiro, ato este realizado após o arquivamento.
29

4 DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

Os Juizados Especiais foram regulamentados pela Lei n. 9.099/95, que ainda


se encontra vigente, objetivando diminuir o número de demandas nas varas comuns,
adotando um procedimento diferenciado (sumaríssimo), que primaria pela
celeridade, simplicidade, informalidade.

Nessa linha, tem-se a redação do artigo 2º, da referida lei:

Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,


informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que
possível, a conciliação ou a transação.

A exposição de motivos da Lei nº. 9.099/95 também prevê, expressamente, o


ideal de “desburocratização” e “agilização” do processo:

Não se olvidou a experiência brasileira dos Juizados Especiais de


Pequenas Causas Civis, que tantos benefícios vêm prestando à
denominada "Justiça menor" e nos quais tantas esperanças se depositam
para a agilização e desburocratização da Justiça2.

A experiência brasileira dos Juizados Especiais de Pequenas Causas Civis se


refere à Lei nº. 7.244, de 7 de novembro de 1984, que previa procedimento
diferenciado para julgamento de causas de “reduzido valor econômico” (art. 1º, da
Lei nº. 7.244/84). Tais disposições, todavia, foram revogadas, na totalidade, pela Lei
nº. 9.099/95, que visava melhor abranger e disciplinar os procedimentos para
julgamento das causas consideradas, por lei, de menor complexidade.

Vale registrar que não são todos os tipos de demanda que podem ser
submetidos ao crivo dos Juizados Especiais Cíveis, mas apenas aquelas que estão
arroladas no artigo 3º da Lei nº. 9.099/1995, Vejamos:

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação,


processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim
consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;

2
TEMER, Michel. Exposição de Motivos da Lei 9.099, de 26-09-95 do Projeto de Lei nº. 1.480-A, de
1989. Disponível em: <https://www.tjms.jus.br/fonaje/pdf/Exposicao_de_motivos_da_lei_9099.pdf>.
Acesso em: 2 out. 2015.
30

II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;


III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao
fixado no inciso I deste artigo.
§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
I - dos seus julgados;
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o
salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.
§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de
natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e
também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e
capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.
§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao
crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese
de conciliação.

Estas são as causas que a lei considera de menor complexidade, e permite


sejam apreciadas pelos Juizados Especiais Cíveis, pautando-se em regras próprias
que deveriam facilitar o acesso à justiça, primando pela oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade.

Para levantar a bandeira da facilitação do acesso à justiça, as custas


processuais dos Juizados Especiais foram dimensionadas de forma diferenciada,
conferindo, até determinado momento processual, gratuidade para todos os
indivíduos. Assim, até o julgamento de primeira instância, não incide qualquer
despesa processual, havendo custas apenas em caso de necessidade de recurso
para instância superior, de condenação em litigância de má-fé, ou se o autor, sem
justificativa plausível, faltar à audiência previamente agendada.

No universo de processos pesquisados, deparei com várias situações em que


o autor, mesmo ciente da data designada para audiência, deixava de comparecer e,
em consequência, era condenado ao pagamento das despesas processuais. Na
maior parte dos casos, após a apresentação de justificativa (atestado médico,
declaração de trabalho, comparecimento em reunião), o juiz conferia a gratuidade de
justiça e dispensava o litigante de tal obrigação. Apenas em 2 (dois) dos processos
pesquisados o magistrado não promoveu tal dispensa, condenando, efetivamente, o
autor ao pagamento das despesas processuais.
31

Quando da ausência do autor, o juiz expressava, em suas decisões, a


necessidade de apresentar verdadeira justificativa, e não “mera desculpa”, posto que
esta não enseja a dispensa ao recolhimento das custas.

Se o indivíduo sofre tal condenação e está desassistido de advogado, ele é


orientado a procurar a Defensoria Pública, que promove o pedido de deferimento da
gratuidade e dispensa das custas, justificando a ausência do autor. Se assistido por
advogado particular, é este quem deverá fazer o referido pedido.

O curioso é que, antes da realização da pesquisa, eu desconhecia casos em


que o autor não comparecia à audiência, acreditando, fielmente, que isso poderia
não acontecer, até mesmo pelo prejuízo pecuniário que originava. Todavia, o campo
me mostrou que essas situações são bem mais comuns do que eu poderia acreditar,
sendo, inclusive, uma das principais causas para que as demandas terminem antes
de completar 6 (seis) meses.

Assim, dos processos pesquisados no Juizado Y, localizei 11 (onze) em que o


autor não compareceu à audiência designada, sendo certo que, com a exceção de 1
(um) caso, em todos os outros ocorreu posterior dispensa ao pagamento das custas
processuais, em virtude das justificativas apresentadas.

Já no Juizado X, 5 (cinco) autores se furtaram de comparecer à audiência


inicial e, de forma semelhante ao Juizado Y, 1 (um) deles não foi dispensado do
pagamento das custas processuais.

Ou seja, 8% (oito por cento) dos processos pesquisados tiveram seu


encerramento em virtude de ausência da parte autora.

Em 1 (um) dos casos em que ocorreu a dispensa das custas, não foi
necessária a apresentação de qualquer justificativa, por parte do autor, tendo em
vista que o juiz, da análise do caso concreto, entendeu que muito provavelmente o
demandante faltara a audiência em razão de celebração de acordo extrajudicial, cujo
teor foi juntado aos autos pelo réu, em data posterior à assentada. O autor em
momento algum retornou ao feito para informar a celebração do acordo ou
32

apresentar justificativa, todavia, o magistrado assim se pronunciou, a fim de


fundamentar a dispensa:

Considerando que os autores não têm advogado constituído nos autos e


que os mesmos realizaram acordo extrajudicial... em 04/03/2015, no valor
de R$590,00, cujo cumprimento dar-se-ia na conta corrente..., no prazo de
15 (quinze) dias úteis e que estando designada ACIJ para o dia 11/03/2015
às 11h30 e que nela não compareceram, nem tampouco a ré, os primeiros,
certamente, pela ignorância quanto aos trâmites processuais. Dito isto,
isento os autores do pagamento das custas. Dê-se baixa e arquive-se.

Trata-se, pois, de situação excepcional em que o magistrado de fato


reconheceu o desconhecimento das regras processuais por parte do autor e, em
virtude disso, considerou que a condenação em custas não seria uma medida
razoável. Atitude esta bem coerente, afinal, a referida decisão considerou os
princípios da simplicidade e informalidade, culminando na dispensa de realização de
atos desnecessários – por exemplo, o autor apresentar formalmente sua justificativa
–, o que, consequentemente, contribuiu para um término mais rápido do processo.

Em razão dos princípios da simplicidade e informalidade, norteadores dos


Juizados Especiais Cíveis, se mostra facultativa a figura do advogado, isso se o
processo estiver em primeira instância e não objetivar proveito econômico superior a
20 (vinte) salários mínimos. Entretanto, se o valor da causa for superior a 20 (vinte)
salários mínimos, no montante até 40 (quarenta) salários mínimos, embora a ação
possa ser interposta perante o Juizado Especial, a assistência de advogado será
obrigatória, assim como o será se houver necessidade e interesse na interposição
de recursos à Turma Recursal.

Em Volta Redonda, as pessoas que pretendem ingressar com uma ação, sem
constituir advogado, procuram o Núcleo de Distribuição, Autuação e Citação do
Juizado Especial Cível de Volta Redonda – NADAC, localizado no Fórum, próximo
aos Cartórios dos Juizados Especiais Cíveis.

Lá são atendidos por servidores públicos, para quem narram a história que
os levaram a procurar o Judiciário. Estes servidores indicam o caso para um dos
estagiários, sendo estes estudantes de Direito, que reduzem a termo a narrativa, a
fim de dar entrada com a ação.
33

Existem estagiários voluntários e outros que foram selecionados por meio de


processo seletivo. Para se voluntariar, parece não haver restrição quanto ao período
do curso em que o aluno está matriculado, sendo que, em outubro de 2015, a
estagiária mais nova estava inscrita no 3º (terceiro) período do curso de Direito.
Quanto aos que participaram de processo seletivo, depende da regra do edital, no
qual normalmente se consigna a necessidade de estar cursando o 5º período ou
adiante.

Feito o atendimento, o autor já lê e, se concordar com o que está escrito,


assina a petição inicial e o processo é distribuído. Além de uma cópia da inicial o,
agora litigante, já sai com o número do processo e a data da audiência, ciente de
que se não comparecer poderá ser condenado a arcar com as despesas
processuais.

Em havendo necessidade de solicitar alguma nova informação ou documento


ao autor desassistido de advogado, intimasse-o pessoalmente, para que compareça
à sede do cartório ou ao NADAC, munido da documentação pertinente.

Estes procedimentos foram criados exatamente em razão da dispensa do


advogado. Ou seja, ao permitir a interposição de demandas judicias, dispensando a
figura de profissional habilitado, tornou-se necessário instituir meios que
possibilitassem à população materializar suas queixas, posto que, muitas vezes, o
indivíduo, por conta própria e sem qualquer assistência, não teria condições de fazê-
lo.

Afinal, por mais que exista o ideal de “desburocratização” e “agilização” da


Justiça, indiscutível que os atos processuais, mesmo em sede dos Juizados
Especiais Cíveis, apresentam certa padronização e regras a serem cumpridas, que
não fazem parte do universo daqueles indivíduos que não lidam comumente com o
meio jurídico. Assim, inúmeras regras são de conhecimento apenas dos
profissionais da área, sendo totalmente estranha às pessoas leigas.

Exemplo disso ocorreu em um atendimento no balcão, presenciado por mim,


enquanto realizava a pesquisa: uma mulher, de aproximadamente 30 (trinta) anos,
34

dirigiu-se ao Cartório do Juizado Y, a fim de apresentar um documento que haviam


requisitado a ela, por meio de intimação postal. Ela compareceu diretamente ao
cartório, munida do documento e solicitou o processo. Quando este lhe foi entregue,
ela, de posse do documento, indagou: “como eu faço para furar e colocar aqui?”. O
servidor, de sobressalto, informou que ela não poderia fazer a juntada, e que
precisaria se dirigir ao NADAC, pois lá eles fariam uma petição e anexariam o
documento exigido.

Para quem atua na área, é de notório conhecimento que não estamos


autorizados a juntar ou retirar nenhum documento sem elaborar uma petição com tal
solicitação. Mas, para alguém dissociado do universo jurídico, isso é algo totalmente
novo.

Na mesma linha, vale registrar situação ocorrida no escritório em que


trabalho, quando informamos à secretária, recém-contratada (e sem nenhum
conhecimento jurídico), de que deveríamos separar determinado documento para
juntar ao processo. Ao ver que o processo estava em nosso poder, ela já se
preparou para, por conta própria, promover a juntada, momento este em que foi
necessário explicar que não poderíamos fazer isso, afinal, qualquer documento ou
informação adicional para a demanda deve ser apresentado por intermédio de uma
petição.

Em outras palavras, para quem está no meio jurídico, essa regra se mostra
basilar, mas, de fato, a ideia emanada pelas pessoas retro mencionadas revela uma
forma bem mais simples de se resolver a questão, devendo soar estranho a
necessidade de exigir uma petição própria, que será protocolizada em determinado
setor e, só depois, juntada ao processo.

Esse é apenas um detalhe informador do alto grau de burocracia. No fim das


contas, embora a parte possa estar desassistida de advogado, qualquer juntada de
documento ou informação a ser prestada depende da elaboração de uma petição
para que o material seja apresentado aos autos, o que normalmente demanda a
necessidade de suporte do NADAC. A parte, por conta própria, pouquíssimo pode
ou consegue fazer.
35

O NADAC tem função de auxiliar os indivíduos que não possuem condições


de elaborar a inicial e as petições correlatas. Todavia, se a parte se sentir preparada
para tanto, é perfeitamente possível que ela atue sozinha, elaborando todos os
documentos necessários no transcuro da lide, exceto, por determinação legal, a
elaboração de recurso, cuja capacidade postulatória é exclusiva dos advogados.

Sobre a especialização do conhecimento, Claus Offe registra que o:

repertório tradicional compartilhado e solidamente transmitido foi


enfraquecido e desmantelado gradualmente no decorrer do processo de
modernização e mobilização capitalista, o que afeta inclusive a esfera dos
serviços domésticos. O conhecimento e habilidades tradicionais foram
substituídos pelas habilidades de controle fundamentadas cientificamente
(por exemplo, as qualificações jurídicas, médicas, pedagógicas e técnicas)
que, por isso, só podem ser desempenhadas por especialistas, ou seja, por
um pequeno número de funcionários de serviços que foram formalmente
treinados como profissionais nessas áreas3.

Isso explica a necessidade de os indivíduos sem formação jurídica buscarem


auxílio do NADAC para instruir, apresentar e acompanhar o processo, mesmo nos
casos em que o Poder Judiciário autoriza a dispensa do advogado, haja vista que,
embora pautado no ideal da informalidade, percebe-se a presença, nos Juizados
Especiais Cíveis, de inúmeras práticas tradicionais e burocráticas, que fogem do
conhecimento de um indivíduo não socializado com o universo jurídico.

Dentre os processos analisados, em apenas 1 (um) deles foi o próprio autor


quem elaborou e ingressou com a petição inicial, tendo, também, assinado sozinho,
sem qualquer interferência do NADAC, as demais peças protocolizadas.

Excetuando este caso, em todos os outros em que a parte autora estava


desassistida de advogado pude observar que as petições haviam sido elaboradas
pelo Núcleo de Distribuição, Autuação e Citação.

Registro, apenas, que tais observações são mais pertinentes à parte autora,
afinal, na maioria esmagadora dos casos a parte ré é pessoa jurídica, fornecedora

3
OFFE, Claus. Capitalismo Desorganizado. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. p. 145.
36

ou prestadora de bens e serviços, sendo certo que tais empresas normalmente


atuam amparadas por advogado, devidamente constituído.

Nos poucos casos de ações movidas contra pessoas físicas, acabei por não
me atentar muito na forma de elaboração da defesa e, em especial, se ela era
redigida pela própria parte, por advogado particular ou pelo NADAC.

Cumpre registrar, ainda, que mesmo os processos movidos contra pessoas


naturais diziam respeito às questões envolvendo o que a professora Maria Stella de
Amorim trata por “conflitos no mercado” 4, como, por exemplo, descumprimento de
contratos de locação, ausência de pagamento de empréstimo, dentre outros.

Nessa linha, é válida a seguinte transcrição:

Repetidas práticas abusivas contra o consumidor passaram a colocar em


foco os Juizados Especiais Cíveis (JECs), hoje, o principal locus a que são
levados os conflitos de relação de consumo. Nos limites deste trabalho
importa destacar o elevadíssimo número dos conflitos de relação
consumerista e a recorrência dos mesmos nesses Juizados, uma vez que
ao serem criados pela Lei 9.099/95, ela não lhes conferiu a atribuição de
apreciar conflitos decorrentes de relações de consumo, mas conflitos cíveis
em geral, cujo valor da causa não excedesse a 40 salários mínimos e
fossem considerados de baixa complexidade. Por que então esse tipo de
conflito predomina nestes Juizados?5

Embora o texto discuta em maior relevo sobre a caracterização do


consumidor como hipossuficiente, é válida a observação, corroborada por esta
pesquisa, de que as causas relativas às relações de consumo, ou de mercado, estão
predominando nos Juizados Especiais Cíveis.

Retornando às formalidades, vale registrar que mesmo dentro dos Juizados –


e isso é uma prática existente na Justiça Comum, do Trabalho, Federal, Penal –
existe lugar certo para se sentar quando da realização da audiência. No caso dos
Juizados Especiais Cíveis, o autor fica à direita do juiz, e o réu, à esquerda. A

4
AMORIM. Maria Stella de. Conflitos no mercado de bens e serviços. Consumidores e consumidos.
Disponível em:
<http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%20
16/maria%20stella%20de%20amorim.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2015.
5
AMORIM. Maria Stella de. op cit. Acesso em: 2 dez. 2015.
37

questão é: como esperar que alguém dissociado do universo jurídico saiba disso,
sendo que até advogados, às vezes, se confundem com tal regra?

Aliás, trata-se de uma dúvida que assola muitos estudantes de Direito,


quando começam a assistir suas primeiras audiências. A dúvida se torna ainda mais
recorrente se considerarmos que, em audiências trabalhistas, a posição se inverte.
Ou seja, reclamante (autor) à esquerda, e reclamado (réu) à direita.

Recordo que nas primeiras audiências que participei, uma das dúvidas que
me assombrava dizia respeito exatamente ao lado em que me sentaria, chegando,
inclusive, a adentrar na sala da audiência depois da outra parte e de seu respectivo
procurador, a fim de deixar que eles tomassem o assento em primeiro lugar, pois aí
não haveria erro: bastaria me colocar no local não ocupado por eles.

Pesquisando em fóruns jurídicos, nos quais estudantes e advogados tiram


dúvidas mutuamente, pude observar que existem muitas indagações nesse sentido.
A fim de melhor ilustrar o debate, colaciono, abaixo, algumas mensagens
visualizadas:

Pessoa nº. 1: Tenho dúvidas quanto formalidades em audiência, como, por


exemplo, qual o lugar certo para sentar-se em audiência, qual o lugar certo
para ré e o seu defensor e qual o lugar certo para o autor e seu defensor?
Algum colega poderia me explicar? Não encontrei essa informação em
nenhuma doutrina ou manual.
(Postado em 06 de fevereiro de 2003)

Pessoa nº. 2: Eu também, quando me formei, nada sabia deste ritual, não
consta em qualquer "lugar" (procedimentos, leis, decretos, artigos,
instruções etc...). Aprendi na prática, sendo alvo de uma "brincadeira" do
outro colega mais experiente.
O autor e seu constituinte sempre ficam à direita do Juiz e o réu à esquerda.
Juízes de algumas varas colocam cartazes neste sentido...
(Postado em 07 de fevereiro 2003)

Pessoa nº. 1: Não entendi muito bem, seria do lado direito de quem entra na
sala, olhando a mesa e o juiz de frente, ou do lado direito do próprio juiz?
Porque dependendo da posição que se leva em conta os lugares se
invertem.
Outra dúvida, quem fica mais perto do juiz, ou seja, quem senta na cadeira
mais próxima da mesa do juiz, a parte ou o defensor?
Essa regra é usada em todas as áreas do direito?
(Postado em 07 de fevereiro de 2003)
38

Pessoa nº. 3: Primeiramente tomemos como ponto de referência a posição


de quem está adentrando na sala de audiência, ou seja, olhando de frente
para o juiz.
Na justiça trabalhista:
Do lado esquerdo da mesa, nesta ordem, advogado da reclamada e
preposto da reclamada.
Do lado direito da mesa, nesta ordem, advogado do reclamante e
reclamante.
Na justiça Cível:
Do lado esquerdo da mesa, nesta ordem, advogado do autor e autor.
Do lado direito da mesa, nesta ordem, advogado da reclamada e
reclamada.
Resumindo, as posições em relação a justiça cível e trabalhista se
invertem...
(Postado em 30 de outubro de 2011)6.

Se a dúvida assola até mesmo os estudantes de Direito e profissionais recém-


formados, o que dirá, então, de quem não tem o menor acesso ou conhecimento
sobre o assunto?

As mensagens anteriormente transcritas revelam o momento em que a


pessoa se sentirá familiarizada com tal situação: com a prática.

Esses rituais, muitas vezes, não constam em manuais ou doutrinas jurídicas.


Apenas o conhecimento prático os revela, situação semelhante a que ocorre com a
entrega de memoriais, em casos de sustentação oral:

Outra prática não legislada, porém instituída nos Tribunais, é a


apresentação de memoriais pelos advogados aos Desembargadores, antes
das sessões de julgamento...
Cuidam-se, os memoriais, de um instrumento escrito que só adquire valor
se for apresentado pessoal e oralmente pelo advogado aos julgadores do
recurso. Trata-se de um mecanismo que legitima uma espécie de oralidade
velada. Não têm previsão legal e não estão descritos, sequer, na doutrina.
Portanto, só reconhece os memoriais quem atua no cotidiano dos Tribunais,
o que significa dizer tratar-se de um instrumento representativo de um
conhecimento exclusivo, isto é, aqueles que o detêm possuem certa
vantagem sobre aqueles que não o detêm. 7

6
EXISTEM lugares (assentos) pré-determinados para advogados e partes se sentarem à mesa de
audiência? Quais são as regras?. Disponível em:
<http://uj.novaprolink.com.br/forum/18/discussao/1453/existem_lugaresassentos_predeterminados_pa
ra_advogados_e_partes_se_sentarem_a_mesa_de_audienciaquais_sao_as_regras/p=3>. Acesso
em: 14 out. 2015.
7
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti. Os rituais judiciários e o princípio da oralidade: construção da
verdade no processo civil brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris. Ed. 2008. p. 284.
39

Chamou a minha atenção a passagem transcrita da obra de Bárbara Gomes


Lupetti Baptista posto que, eu mesma, embora seja advogada, por não atuar muito
nos Tribunais do Estado do Rio de Janeiro, desconhecia tal prática.

E, se esses conhecimentos exclusivos, muitas vezes, fogem à ciência dos


próprios advogados, como fica a situação de quem não pertence a este universo,
como, por exemplo, um litigante desassistido de profissional da área? Bem, no que
diz respeito ao assento que deve tomar, este provavelmente será orientado na hora
da audiência e, dependendo do tato da pessoa que com ele dialoga, poderá deixá-lo
mais ou menos constrangido.

Entretanto, embora nem todas as burocracias e tradições sejam afastadas


nos Juizados Especiais Cíveis, a possibilidade de dispensar o advogado é real, e o
tema será abordado mais a frente, em tópico específico sobre a questão da
informalidade e simplicidade.

Por sua vez, quem ingressa com a ação através de advogado particular
presta e recebe as informações necessárias através dele. Nesta hipótese, o
procurador é intimado, via Diário Oficial, de todas as decisões proferidas ao longo do
processo, cabendo a ele diligenciar adequadamente para o bom andamento da
demanda, em atenção aos interesses do cliente.

Indiscutivelmente, o procedimento adotado nos Juizados Especiais é diferente


daquele utilizado nas Varas Comuns. Inclusive, pelo fato de que, nas Varas Cíveis,
não se dispensa, em qualquer hipótese, a atuação do advogado, visto que a
capacidade postulatória é exclusiva dele.

Todavia, embora fosse possível discursar sobre inúmeras diferenças


existentes entre os procedimentos adotados nas Varas Cíveis e nos Juizados
Especiais Cíveis, este não é foco do trabalho.

Assim, passa-se a discutir as diferenças existentes dentro do próprio Juizado


Especial Cível. Ou seja, surgirão pontos destoantes no modo de operação dos
Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda, visto que, embora ambos sejam
40

localizados no mesmo imóvel e regulamentados por uma lei comum, a Lei nº.
9.099/1995, inúmeras são as diferenças procedimentais encontradas.

4.1 OS DOIS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DE VOLTA REDONDA

Na Comarca de Volta Redonda existem dois Juizados Especiais Cíveis – o X


e o Y –. Ambos estão localizados na mesma sede, qual seja, o prédio do Fórum de
Volta Redonda, e o acesso a eles se dá pelo andar térreo da referida construção,
situando-se um de frente para o outro.

Mas, se geograficamente a distância entre eles é mínima, o mesmo não se


pode dizer acerca de seu funcionamento.

As diferenças podem ser encontradas desde o tipo de audiência inicialmente


marcada, até a forma de proceder aos registros e organizar os processos.

Importante trazer este destaque posto que, o fato de ambos serem


regulamentados pela Lei nº. 9.099/1995 pode trazer a falsa impressão de que suas
regras e condutas são exatamente as mesmas, o que, por certo, não condiz com a
realidade.

A verdade é que, em determinadas situações, cada Juizado segue regras


próprias, em razão dos magistrados e servidores que os dirigem. Obviamente,
existem procedimentos padrões e condutas unificadas. Todavia, também existem
pontos de grande afastamento.

Questões unificadas dizem respeito, por exemplo, à forma de distribuição dos


processos, à padronização das capas e informações nelas constantes, ao momento
processual em que a audiência é marcada (sendo no ato da distribuição), à
existência de um juiz responsável por cada serventia, à divisão de setores em cada
Juizado (contendo o gabinete, o cartório e salas para realização de audiências),
dentre inúmeras outras.
41

Porém, são as diferenças que chamam a atenção, posto serem passíveis de


alterar, substancialmente, o desenrolar dos processos, fazendo surgir grandes
descompassos entre uma serventia e outra.

Todas as ações direcionadas aos Juizados Especiais Cíveis – e isso vale


para o X e para o Y – são interpostas através do Núcleo de Distribuição, Autuação e
Citação – NADAC. Após a distribuição (realização de sorteio para saber se o
processo irá para o Juizado X ou Y), já se efetua o agendamento da primeira
audiência.

Assim é que a parte autora, ou o advogado constituído, já toma ciência da


data de realização da audiência após dar entrada com a petição inicial – às vezes,
pede-se apenas que aguarde um tempo, até que haja a distribuição e autuação do
processo, o que é feito na mesma hora, podendo levar até 20 (vinte) minutos, a
depender do volume de entrada –.

Restará, apenas, aguardar a realização da audiência designada, se não


houver pedido de antecipação de tutela ou outras providências urgentes a serem
adotadas.

O desencontro entre os Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda reside


no tipo de audiência marcada neste primeiro momento.

Enquanto no Juizado X a primeira audiência é a Audiência de Conciliação,


Instrução e Julgamento (ACIJ), no outro – o Juizado Y – se marca a Audiência de
Conciliação (AC) e, só depois dela, na ausência de acordo, é que será agendada a
Audiência de Instrução e Julgamento (AIJ).

A Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ) inicia-se com a


pergunta se existe ou não possibilidade de acordo e, não havendo, passa-se para o
saneamento e instrução do processo (juntada de contestação, oitiva de
testemunhas, etc). Feito isso, o juiz que preside a audiência pode optar por proferir a
Sentença de uma vez, ou agendar data futura para Leitura de Sentença.
42

Por repercutir na fase instrutória do processo, é obrigatório que a Audiência


de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ) seja presidida por um juiz, seja ele
leigo ou togado.

Em regra, pelo que observei na prática, são juízes leigos que presidem a
Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ), ficando a cargo do juiz
titular homologar ou não o projeto de sentença elaborado por aquele, ou promover
regularizações no curso do processo.

No Juizado X, em que se realiza, normalmente, a Audiência de Conciliação,


Instrução e Julgamento, observei, dentre os 100 (cem) processos pesquisados, 6
(seis) casos que fugiram a regra, sendo que dois deles eram de 2008, um era de
2006, outros dois de 2012 e o sexto era de 2013.

Certa vez, enquanto realizava a pesquisa, nas dependências deste cartório, o


magistrado responsável conversava com um dos servidores sobre um processo em
que haviam marcado Audiência de Conciliação, informando que: “aqui não
marcamos essa audiência, manda lá pra dentro [gabinete] que eu vou despachar
pedindo a designação de ACIJ [Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento]”.

Já no Juizado Y raramente se utiliza a Audiência de Conciliação, Instrução e


Julgamento (ACIJ). Assim, dentre os processos pesquisados, em apenas 6 (deles)
deles foram marcados esse tipo de audiência, representando casos excepcionais.

Na maior parte dos casos, não é aparente a razão de se optar pela Audiência
de Conciliação, Instrução e Julgamento em detrimento da de Conciliação, entretanto,
em um dos processos pesquisados, o juiz despachou solicitando a realização, de
plano, da ACIJ, tendo em vista que o autor trabalhava embarcado e, por esta razão,
seria difícil encontrar duas datas de disponibilidade, o que poderia resultar em
marcações desnecessárias de audiência, na qual o demandante não poderia
comparecer, atrasando o andamento do feito.

O curioso é que na inicial não constava pedido específico nesse sentido,


apenas sendo registrada a informação de que o autor trabalhava embarcado. Trata-
43

se, pois, de caso excepcional em que o magistrado responsável, atendo às


particularidades do caso, proferiu, de fato, despacho voltado a agilizar o processo e
facilitar a vida dos litigantes.

Nas demais situações não há informação que torne possível compreender o


porquê da marcação de um tipo de audiência, no lugar do outro.

Diferente da Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento, na Audiência


de Conciliação o único objetivo é conciliar as partes. Nada mais é ou pode ser feito
nesta audiência.

Por não influir na fase instrutória, a realização da Audiência de Conciliação


não depende da presença do juiz, sendo realizada por conciliadores. Normalmente
os conciliadores são estudantes de Direito, tendo como exigência cursar a partir do
2º período de Direito, sendo permitido ficar até a conclusão da graduação.

O treinamento, pelo que me foi reportado, parte da observação de outras


audiências e pelas orientações repassadas por conciliadores mais antigos, sendo
certo que nenhum curso específico é oferecido.

Segue, abaixo, o relato de uma estudante do 8º período, que trabalhou,


voluntariamente, como conciliadora:

Estudante: Eu fazia conciliação no Juizado Y. Eu parei, mas fiquei lá


durante o sétimo período e fazia pra ganhar experiência, porque estou sem
estágio e não queria ficar parada.
Eu: E como é feito o treinamento?
Estudante: Alguém que já faz conciliação faz com você por um período.
Você acompanha essa pessoa e tem vários modelos para facilitar e deixar o
trabalho mais rápido.

Se encerrada à Audiência de Conciliação sem que o autor e o réu entrem em


acordo, é agendada nova audiência, denominada Audiência de Instrução e
Julgamento (AIJ), para a qual as partes já são devidamente intimadas a comparecer.

A Audiência de Instrução e Julgamento (AIJ) é realizada em data posterior, e


necessita da participação de um juiz (leigo ou togado). Assim como normalmente
44

ocorre na Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ), a presidência da


sessão é feita por um juiz leigo e, posteriormente, a sentença prolatada passa pela
homologação do juiz titular.

Sobre a postura de não marcar Audiência de Conciliação no Juizado X,


manifestou-se, nos termos seguintes, um dos servidores do Núcleo de Distribuição,
Autuação e Citação do Juizado Especial Cível de Volta Redonda – NADAC:

Na minha visão, mas aí é o Juiz quem poderia melhor explicar, a opção por
realizar a ACIJ consiste no baixo número de acordos celebrados nas
audiências de conciliação e na dificuldade de se conseguir conciliadores
verdadeiramente empenhados em realizar a função. Há muito histórico de
falta, e outras quebras de compromisso. Então, o Juizado X trabalha com a
ACIJ, através de um maior número de juízes leigos.
Eu ainda acredito que as empresas deixam de fazer acordo pra
desestimular os consumidores mesmo, porque o tempo desanima o
ingresso de ações.
(Servidor do NADAC)

O referido funcionário ainda relatou ter atuado como conciliador durante 4


(quatro) anos, isso a partir de 1998, e que desde então prometia-se a remuneração
aos conciliadores, mas que isso nunca foi implementado, sendo a ausência de
contraprestação pecuniária um desestímulo para quem quer atuar na função. Assim,
só quem costuma aceitar tal atribuição são estudantes de Direito que pretendem
horas complementares, carga horária de estágio ou alguma experiência prática, na
qual se tenha contato com processos judiciais.

Dentre as diferenças observadas por mim, entre os Juizados, o tipo de


audiência marcada inicialmente é, sem dúvida, a de mais fácil percepção. Ademais,
é uma postura que afeta, diretamente, a prática profissional, tendo em vista que, em
se tratando de Audiência de Conciliação (AC), não se faz necessário que o réu
apresente sua defesa (contestação), podendo fazê-lo na Audiência de Instrução e
Julgamento (AIJ). Por outro lado, se o demandado optar por apresentar defesa
escrita, deverá fazê-lo na Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ),
sob pena de preclusão. Assim, a depender do Juizado Especial Cível para o qual o
processo seja encaminhado, a atuação profissional sofrerá alterações.
45

Quanto à influência no tempo do processo, não se pode dizer que a adoção


de um ou outro modelo seja mais célere, posto depender mais de disponibilidade de
dia e horário para realização das audiências. Em outras palavras – e este tema
retornará em tópico mais específico – é perfeitamente possível que as duas
audiências (AC e AIJ) sejam marcadas e realizadas em lapso temporal menor que a
audiência una (ACIJ), assim como o inverso também se mostra perfeitamente
possível.

Outras diferenças percebidas entre um e outro Juizado dizem respeito às


condutas procedimentais sobre os registros nos processos.

Por exemplo, um dos Juizados trabalha com uma Certidão de Recebimento


de Petições, que não encontra qualquer correspondente no outro.

A referida Certidão busca, apenas, demonstrar a data em que as petições


apresentadas no Protocolo Geral das Varas (PROGER) foram recebidas no Cartório.
Assim, temos na primeira página da petição o número e a data de protocolo,
fornecido pelo PROGER e, no verso, um adesivo adicionado pelos servidores do
Juizado Especial, informando a data em que a petição foi por eles recebida. Ou seja,
quando efetivamente passou a estar nas mãos dos servidores daquele Juizado.

Registre-se, desde já, que a Certidão de Recebimento não se confunde com a


data da juntada da petição no processo; enquanto esta se refere ao momento em
que determinado documento passou a integrar o corpo do processo, aquela apenas
expõe o dia que o Cartório a recebeu do PROGER.

Outra observação é que, em um dos Juizados Especiais Cível, é mais comum


a existência de etiquetas em branco, nas quais deveriam constar data da conclusão
do processo, devolução, certidão de publicação, etc. Enquanto isso, essas
informações possuem maior frequência de preenchimento no outro Juizado.

Embora essas informações sejam de extrema relevância para a apuração do


tempo dos atos processuais, a ausência delas no processo físico não constitui
empecilho à pesquisa, posto ser viável obtê-las através do andamento processual
46

eletrônico. Informações referentes à data em que ocorreu a juntada de petição,


publicação de decisão, conclusão e devolução do processo pelo juiz estão todas
disponíveis no endereço eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro.

A própria forma de desenvolver a pesquisa encontrou significativas diferenças


em se tratando de um ou outro Juizado, posto que a autorização concedida, nas
serventias, foi distinta.

Em um dos Juizados Especiais Cíveis tive mais autonomia para mexer nos
processos, pois não havia restrições sobre pegar processos nas estantes ou nas
caixas de arquivo. Em outras palavras, não forneceram nenhum limite à pesquisa de
processos. Já no outro Juizado, não obtive autorização para analisar as caixas
contendo os processos já preparados para serem encaminhados ao arquivo
definitivo.

O acesso que me foi fornecido neste Juizado dizia respeito aos processos
que se encontravam empilhados em uma estante (denominada “baixa”), mas que
ainda não haviam sido encaixotados, ou seja, encontravam-se em um momento que
antecedia esta fase. Assim sendo, o adesivo com a data da baixa nunca estava
preenchido, posto que essa informação só é lançada quando, efetivamente, o
processo vai ser colocado dentro da caixa de arquivo.

Nesta serventia, apenas um servidor era responsável pelo serviço de


encaixotar os processos e anotar a baixar, e a autorização para mexer no material
foi negada sob a alegação de que ele: “tinha ciúmes das caixas já preparadas para
encaminhar ao Rio de Janeiro”.

Já no outro Juizado Especial Cível tive acesso direto a essas caixas, sendo
que, nesta serventia, todos os funcionários eram responsáveis pelo serviço e tinham
suas próprias caixas de processos a serem enviados para o arquivo. A cada dia que
eu ia realizar a pesquisa, um funcionário diferente fornecia uma caixa, cuja
quantidade de processos variava entre 6 (seis) e 15 (quinze).
47

Isso mostra a possibilidade de controle das informações. Ou seja, os


funcionários podem restringir ou ampliar minha zona de pesquisa, de acordo com o
que eles querem que eu acesse ou não, situação que também foi discutida por
Wagner Brito em sua pesquisa nos cartórios da cidade do Rio de Janeiro 8.

O fato é que todos os processos encerrados nos Juizados Especiais Cíveis


são encaixotados, arquivados definitivamente e, posteriormente, encaminhados ao
Rio de Janeiro, onde ficam até a destruição, que ocorrerá dentro de 90 (noventa)
dias, caso não sejam solicitados pelas partes.

Os processos pesquisados encontravam-se no seguinte momento: eram


ações consideradas prontas para serem arquivadas, e que ainda não tinham sido
encaminhadas para a cidade do Rio de Janeiro.

Vale registrar que as caixas utilizadas para promover o arquivamento


possuem o mesmo padrão em ambos os Juizados, sendo aquelas plásticas,
comumente chamadas de “caixa plástica para arquivo morto”, cuja dimensão
corresponde a 350 mm (trezentos e cinquenta milímetros) de comprimento, 130 mm
(cento e trinta milímetros) de largura e 245 mm (duzentos e quarenta e cinco
milímetros) de altura.

O efeito de observar os processos apenas na estante de baixa – e que só fui


ter ciência posteriormente – foi o de que, embora o processo estivesse localizado na
pilha de processos destinados ao arquivo, ele ainda encontrava-se em fase final de
processamento. Logo, quando iniciei o levantamento dos dados, percebi que várias
ações analisadas, por motivos variados, continuavam em andamento. Isso
aconteceu em, aproximadamente, 30 (trinta) processos pesquisados.

Por não estarem encerrados, tais processos não puderam ser aproveitados
no cálculo do tempo dos processos, o que me fez retornar ao cartório e analisar

8
BRITO, Wagner de Mello. Instrumentos e Interferências no Desempenho do Judiciário no Rio de
Janeiro (Cartórios Judiciais: suas práticas, ritos e impactos na marcha processual). Tese de
Doutorado Defendida na Universidade Gama Filho. Novembro de 2013.
48

mais ações, a fim de preencher as lacunas deixadas. Entretanto, a proibição de


olhar os processos inseridos nas caixas de arquivo permaneceu.

No outro Juizado, em que observei os processos já inseridos na caixa, o


problema anteriormente relatado não surgiu, posto que essas ações já estavam
mesmo sendo arquivados definitivamente, com o posterior encaminhamento ao Rio
de Janeiro. Ou seja, todas se encontravam definitivamente encerradas. Deste modo,
quando acessei o sistema eletrônico do Tribunal de Justiça, todos os processos
pesquisados já haviam sido recebidos no Rio de Janeiro.

Conclui-se que nem todos os processos colocados na estante de baixa estão


efetivamente encerrados, existindo a possibilidade de pender alguma diligência.
Dentre os processos que se encontravam nessa situação, a maioria dizia respeito
àqueles em que se havia formalizado acordo e, enquanto aguardava-se o
cumprimento do mesmo, os autos ficavam na estante de baixa. Assim, se o acordo
fosse cumprido, o processo seria arquivado definitivamente; todavia, se não o fosse,
continuaria em andamento, a fim de se proceder à execução das obrigações.

Tecidas tais considerações, resta nítida a existência de profundas diferenças


entre as serventias, aptas a tornar o andamento dos processos diferenciado, em se
tratando de processos originários de um ou de outro Juizado Especial Cível.

4.2 OS PRINCÍPIOS DA INFORMALIDADE E SIMPLICIDADE EM XEQUE

Dentro da minha pesquisa, observei que os advogados tendem a seguir o


mesmo padrão para interpor uma ação no Juizado Especial e na Justiça Comum, o
modelo utilizado tende a ser o mesmo, e, perguntando para alguns advogados,
atuantes tanto nas Varas Comuns quanto nos Juizados Especiais, obtive a seguinte
informação sobre o tema:

Não faço diferente. Eu preciso falar dos fatos, do direito, fundamentar bem.
Por que eu faria diferente?
[advogada atuante há 11 (onze) anos em causas cíveis]

Outro advogado apresentou resposta semelhante:


49

Então, eu não mudo não. Porque não mudam os pedidos. E eu coloco ao


menos uma jurisprudência. Fico com medo de fazer algo mais simples e o
juiz questionar. Até vejo peças muito simples, mas quando não tem
advogado.
[advogada atuante há 4 (quatro) anos em causas cíveis]

De igual modo, um funcionário de um dos Juizados Especiais Cíveis de Volta


Redonda me fez a seguinte confissão:

Não acho que mude muita coisa [entre as petições direcionadas ou não ao
Juizado Especial], o que poderia ser dito em uma ou duas páginas continua
sendo escrito em dez ou mais. É só uma opção, as pessoas optam pelo
Juizado e aí seguem todas as regras daqui, mas as petições dos advogados
não são tão diferentes.

O que pude perceber foi que as petições redigidas pelo Núcleo de Primeiro
Atendimento costumam ser bem mais sucintas do que aquelas elaboradas por
advogados particulares; jurisprudências, por exemplo, não foram encontradas em
nenhuma peça redigida pelo Núcleo, embora sejam comuns em petições escritas
por advogados particulares.

Outra diferença é que, em regra, as petições iniciais transcritas pelos


servidores e estagiários são compostas apenas pelos tópicos “DO FATO” e “DO
PEDIDO”, enquanto os advogados tendem a inserir, ainda, a seção “DO DIREITO”,
na qual apresentam dispositivos legais, jurisprudências e outras transcrições textuais
pertinentes à demanda.

Sobre o uso de termos mais rebuscados ou expressões latinas, embora estes


sejam mais abundantes nas petições de advogados particulares, é preciso
mencionar que também podem ser visualizados em petições provenientes do Núcleo
de Distribuição, Autuação e Citação do Juizado Especial Cível de Volta Redonda –
NADAC.

Palavras latinas permeiam tanto as petições quanto as decisões proferidas e,


embora grande parte seja de amplo conhecimento dos advogados e servidores
envolvidos, podem soar totalmente desconhecidas aos litigantes.
50

Em uma das petições elaboradas pelo NADAC, observei a seguinte frase:


“prima facie, urge salientar que a Ré foi condenada a indenizar o requerente nas
esferas patrimonial e extrapatrimonial, consoante decisão transcrita abaixo”.
Conforme anteriormente mencionado, esse tipo de expressão latina é mais comum
nas petições de advogados particulares, mas permeia todo universo jurídico.

Os termos utilizados com maior frequência são: prima facie, ex positis,


conditio sine qua non, sine die; também não podemos perder de vista os requisitos
para concessão de algumas tutelas, a saber, fumus boni juris e periculum in mora.
Além destas, muitas outras se apresentam ao longo dos processos.

Outro ponto interessante é o volume de páginas das petições. Por exemplo, o


fato de as iniciais do NADAC não serem redigidas com o tópico “DO DIREITO”, torna
as referidas peças mais sucintas e, consequentemente, menores.

Todavia, a quantidade de folhas necessárias para dissertar sobre o tema varia


demais de um advogado para o outro. E, se por um lado, cheguei a observar
processos que foram encerrados com apenas 11 (onze) páginas (tiveram todo o
desenrolar em poucas laudas), por outro, também encontrei petições contendo mais
de 50 (cinquenta) folhas.

Por exemplo, no dia 26 de agosto de 2015, por volta das 16h (dezesseis
horas), enquanto realizava minha pesquisa, um dos servidores do Juizado Especial
Cível mostrava-se indignado, posto ter acabado de receber 2 (duas) petições de
interposição de Recurso Inominado, originárias do mesmo escritório, e que
constavam, cada uma, com aproximadamente 100 (cem) folhas.

Nas palavras dele: “petições assim deveriam ser inadmitidas no JEC”.

Percebe-se, portanto, que embora uma das vertentes dos princípios da


informalidade e simplicidade seja a elaboração de peças mais simples e de fácil
compreensão, na prática, isto não se mostra sempre presente, existindo, inclusive,
relatos, como o apontado anteriormente, de receio de elaborar algo diferente, que
51

seja mais simples, e de isso acabar não sendo aceito pelo magistrado responsável
pelo Juizado.

Deve-se considerar, ainda, que inúmeros rituais jurídicos presentes na Justiça


Comum são reproduzidos nos Juizados Especiais. Nessa linha, mencionei,
anteriormente, a necessidade de tomar o acento adequado no decorrer da
audiência.

Assim é que a parte desassistida de advogado pode, em alguns momentos,


encontrar dificuldades em compreender plenamente tudo que está acontecendo ao
longo do processo, embora os discursos relativos aos Juizados Especiais Cíveis
procurem construir a ideia oposta.

Sobre o tema, vale registrar que, certa vez, uma pessoa me procurou dizendo
possuir um caso que “queria colocar na justiça”. Quando realizei o atendimento, ela
fez a seguinte confissão: “uma vez entrei com uma ação sem advogado. Não
entendi nada do que aconteceu, só sei que perdi. Por isso estou procurando
advogado agora”.

De fato, o uso de certas expressões, ou a menção aos institutos jurídicos


próprios podem confundir as partes que não possuem auxílio de um procurador.
Exemplo disso pode ser retratado através de uma audiência presenciada por mim:

Na referida audiência, a juíza leiga, ao analisar o processo, alegou a


existência de ilegitimidade ativa, visto que a pessoa que celebrara o contrato de
locação não era a mesma que havia interposto a demanda.

Em outras palavras, o marido ingressara com a ação, sendo ele o autor,


porém, constava como contratante sua esposa. Ao dizer que existia ilegitimidade
ativa, a juíza informava que não era ele quem deveria ter proposto a demanda, mas
sim a esposa, e que, por isso, o processo seria extinto, sem analisar os pedidos
formulados.
52

Entretanto, a juíza não proferiu a sentença na hora, marcando data para a


Leitura de Sentença, embora já tivesse deixando claro que a ilegitimidade ativa
impossibilitaria a apreciação da questão de mérito.

Cumpre salientar que a postura da juíza alongou o tempo do processo, tendo


em vista que, já na audiência, poderia encerrar o processo, decretando a
ilegitimidade ativa. Todavia, postergou essa decisão, mantendo o processo em
andamento.

Apesar das explicações para o autor sobre o que era a ilegitimidade ativa,
este não compreendeu e permaneceu na sala afirmando que a justiça seria feita, e
que ele acreditava que sairia vencedor.

A juíza chegou a comentar que, nessas situações – quando a parte interpõe a


demanda sem possuir a assistência de advogado –, pode-se procurar a Defensoria
Pública para que o defensor público acompanhe a audiência, e que isso teria sido o
mais adequado naquele caso.

Assim, o que seria suficiente para convencer um advogado de que a ação


estava perdida, não o foi para orientar o autor, que saíra convicto da possibilidade
de se sagrar vencedor.

De toda sorte, trata-se de exemplo nítido acerca da não efetivação do


princípio da informalidade, posto ser impossível para as partes a plena compreensão
dos atos processuais. Soma-se a isso os demais exemplos apresentados,
caracterizadores de inúmeros rituais jurídicos estranhos à comunidade não jurídica.

Aliás, a noção da desnecessidade de advogado nos Juizados Especiais


Cíveis pode ser colocada em xeque, afinal, o próprio juiz leigo reconheceu que seria
melhor para a parte ter procurado a Defensoria Pública, a fim de que indicassem
alguém para acompanhá-la na audiência, demonstrando, claramente, o quão difícil
pode ser entender o que se passa na sala de audiência.
53

4.3 A DEFENSORIA PÚBLICA

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,
dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
Federal.

O artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição da República informa que “o Estado


prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos”.

Nos Juizados Especiais Cíveis pesquisados a atuação da Defensoria Pública


se dá em casos específicos, e normalmente não diz respeito ao acompanhamento
integral da demanda.

A propósito, como a parte pode litigar sem a presença de um advogado, em


nenhum dos processos que tive acesso a Defensoria Pública ingressou com a ação.
Normalmente, é a parte, por conta própria, quem interpõe a demanda e a
acompanha até o fim, com o auxílio do NADAC.

Todavia, pude observar a atuação da Defensoria Pública em dois momentos


diferentes: a) quando o autor perde a ação e quer recorrer; b) quando o autor não
comparece à audiência inicialmente marcada e, a fim de evitar a incidência de
custas, procura a Defensoria Pública para que esta justifique a ausência, peça a
gratuidade de justiça e o afastamento da condenação das despesas processuais.

Quanto à alínea “a”, a escolha por um profissional para apresentar recurso


pode incidir tanto no Defensor Público (se a parte é financeiramente necessitada),
quanto em um advogado particular.

Em um dos casos, contudo, embora o autor tenha manifestado o interesse em


recorrer, o Defensor Público titular entendeu que a decisão estava correta, e que
não constavam provas, nos autos, suficientes para interposição de Recurso. Ao
remeter o processo para o Defensor Público Tabelar, este teve o mesmo
54

entendimento, e o processo foi extinto sem interposição de Recurso Inominado. Ou


seja, a Defensoria Pública não é obrigada a recorrer, mesmo que a parte demonstre
interesse nesse sentido.

No que tange à alínea “b”, no universo dos processos pesquisados, nenhum


advogado particular apresentou a justificativa. Às vezes o próprio Núcleo de Primeiro
Atendimento elaborava uma petição, juntando o documento apto a justificar a
ausência do autor, porém, na maior parte das vezes, era a Defensoria Pública quem
atuava.

Nessa linha, vale registrar que todos os pedidos de isenção do pagamento


das custas elaborados pela Defensoria Pública foram acatados, sendo normalmente
fundamentados – e com a apresentação de documento comprobatório – em
atestados médicos ou faltas por motivo de trabalho ou reunião.

Além de tais hipóteses, também é possível que a parte, após ingressar com a
ação, procure a Defensoria Pública para que o defensor a acompanhe durante a
audiência. Tal situação foi levantada por uma juíza leiga quando, após explicar
várias vezes para a parte que ela não teria êxito na ação, em razão da ilegitimidade
ativa, esta continuou acreditando que sairia vencedora.

Na prática, porém, nunca verifiquei o acompanhamento das partes pela


Defensoria Pública, em se tratando de audiência.

4.4 O LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO

Quando iniciei a pesquisa, não passou pela minha cabeça desenvolver uma
discussão sobre o teor das decisões proferidas ao longo do processo; entretanto,
algumas acabaram sendo citadas – ou ainda serão – por representarem tópicos
curiosos ou pertinentes aos assuntos ventilados.

Algumas decisões que me chamaram a atenção diziam respeito à situações


em que o juiz, de fato, apreciando as condições do autor, proferira despacho
específico e direcionado ao caso, contribuindo para maior celeridade do feito.
55

De forma sintética, podemos mencionar dois casos: 1) quando o magistrado


marcou Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (e isso no Juizado que
trabalha com duas audiências), posto que o autor trabalhava embarcado, e seria
difícil encontrar duas datas de disponibilidade; e, 2) quando o autor faltou a
audiência de conciliação, sem apresentar posterior justificativa ao juiz, e este, em
virtude de informação prestada pelo réu, acerca da realização de acordo
extrajudicial, resolveu dispensá-lo do pagamento das custas.

Entretanto, não foram tais decisões que ensejaram a criação do presente


tópico. As ideias que aqui serão expostas se originaram de uma conversa informal
com um juiz leigo e da análise de três decisões sobre casos de profunda afinidade.
Ademais, também se trata de assunto com grande especulação no meio jurídico.

Algo que normalmente ronda conversas entre advogados é a sensação de


que as condenações nos Juizados Especiais tendem a ser inferiores àquelas
instituídas na Justiça Comum.

Sobre essa situação, eu costumava contar uma experiência vivenciada por


mim, quando, em certa época, movi processo contra uma empresa aérea, através da
Justiça Comum, solicitando, para o meu cliente, indenização por danos morais,
tendo em vista o extravio de sua bagagem.

A escolha pela Justiça Cível Comum foi voluntária, posto existir possibilidade
de impetrar a demanda no Juizado Especial Cível.

No momento de realização da audiência de conciliação, a advogada da


empresa ré apresentou proposta de acordo e, enquanto meu cliente analisava a
oferta, eu e a advogada iniciamos uma rápida conversa, na qual a advogada me
informou que só havia proposta de acordo por se tratar da Justiça Comum, pois
quando os casos são do Juizado, a empresa só encaminha a defesa, sem qualquer
oferta de transação.
56

Em síntese, a advogada deu a entender que, em se tratando de Juizados


Especiais Cíveis, é mais interessante aguardar por possível condenação do que
apresentar acordo, posto que os valores tendem a ser baixos.

Por curiosidade, ao longo da pesquisa, enquanto observava os processos,


verifiquei, por alto, os valores da condenação. Normalmente, eram inferiores a R$
3.000,00 (três mil reais). Exceção foram dois casos semelhantes em que a
condenação chegou próxima ao teto do Juizado.

Entretanto, ambos os processos diziam respeito a um golpe aplicado por


buffet e, só de indenização por danos materiais (valores efetivamente pagos para a
festa de casamento) eram devidos, em ambos os casos, valores próximos de R$
15.000,00 (quinze mil reais). Todavia, ainda assim, a indenização por danos morais
não superou o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Com essa questão em mente, tive a oportunidade de conversar com um juiz


leigo, que me fizera a seguinte confissão:

Eu não posso dar condenações altas. Quando entrei, falaram para eu


segurar a caneta, porque se a gente dá indenização muito alta, muita gente
vai querer entrar com ações, e é preciso frear isso, porque se não, não tem
como dar conta. Vai chover ação.
Não concordo com isso, porque é o juiz querendo administrar o número de
conflitos, e essa não é a tarefa. A tarefa é julgar os casos, e não atuar como
administrador.

A questão é que, como não existem parâmetros fixos para as condenações,


cada magistrado pode proferir sua decisão com base em seu próprio
convencimento, analisando as circunstâncias fáticas e o perfil dos litigantes.

Tem-se, no meio jurídico, o princípio do livre convencimento motivado. Por


ele, o magistrado tem a possibilidade de analisar livremente as provas produzidas
nos autos, proferindo sua decisão, bastando que apresente os motivos que o
levaram a decidir daquele jeito.

Contudo, o livre convencimento motivado pode contribuir para uma


distribuição desigual da justiça, na qual cada magistrado julga e decide de uma
57

forma diferenciada, fazendo com que questões semelhantes tenham tratamento


completamente distinto.

Cabe, então, registrar situação vivenciada por mim, referente a 3 (três) casos
de igual teor.

Trata-se, sucintamente, de ação proposta por indivíduo que, após realizar um


financiamento através de determinada instituição financeira, percebeu que os
valores cobrados eram sempre diferentes daquele acordado. Ou seja, se o contrato
dizia que seriam 12 (doze) parcelas de “x”, as cobranças sempre vinham a maior,
em valor distinto de “x”.

Foram celebrados 3 (três) contratos nessa linha, todos com a mesma


instituição, e cada um referente ao custeio de um semestre da faculdade.

Objetivando receber as diferenças pagas (devolvidas em dobro), mais


indenização pelos danos morais sofridos, o indivíduo interpusera 3 (três) ações, uma
para cada contrato celebrado. Entretanto, as petições iniciais possuíam os mesmos
argumentos, juntavam-se documentos equivalentes, distinguindo-se apenas no
semestre a que os contratos diziam respeito (e todos seguiam o mesmo padrão) e
nos valores devidos e efetivamente pagos.

Ao ter contato com as sentenças proferidas em cada um dos processos, pude


perceber que, embora todas tenham sido analisadas pelo mesmo Juizado, o teor era
sempre distinto.

Vejamos a decisão do primeiro processo:

Trata-se de ação de conhecimento, pelo procedimento sumaríssimo da Lei


n. 9.099/95, com pretensão condenatória, através da qual o autor objetiva a
declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro, a devolução na
forma dobrada das parcelas pagas a maior e reparação por dano morais.
Diante de estarem presentes e regulares os pressupostos processuais e
condições da ação, PASSO A ANALISAR AS QUESTÕES DE MÉRITO.
Inicialmente, cabe ressaltar que a relação ora discutida é de consumo,
ocupando o Réu a posição de fornecedor de serviços, tais como concessão
de crédito e financiamento, adequando-se na hipótese prevista no Código
de Defesa do Consumidor, art.º 3º parágrafo 2º e a Autora ocupa a posição
58

de consumidor, destinatário final deste serviço, parte mais fraca e vulnerável


dessa relação jurídica, seguindo a aplicação do verbete 297, da Súmula do
STJ: ´o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras´. Com efeito, verifico que a instituição financeira ré realizou
cobrança em desconformidade contratual, haja vista que, em fls. 23, restou
pactuado que as prestações mensais seriam de R$ 1.011,40 (prestação
essa que compreende: valor principal, Juros Remuneratórios e IOC). Assim,
vislumbro que, no item VI - Especificação do Financiamento, o valor da
prestação mensal deveria ser na quantia de R$ 1.011,40, não havendo
nenhuma informação quanto a incidência do IPCA. Desta forma, restou
comprovado a cobrança a maior das parcelas do contrato de empréstimo
em voga, devendo tal quantia ser restituída, sob pena de enriquecimento
sem causa. Cabe destacar o Superior Tribunal de Justiça, nos autos da
Reclamação n. 4892/PR pacificou o entendimento (uniformizando a
jurisprudência no âmbito dos Juizados Especiais) pela necessidade de
demonstração de má-fé do credor para devolução em dobro do indébito, o
que não restou demonstrado no presente caso, já que no seu entender
caberia a incidência do IPCA. Inexistente, por outro lado, dano moral a ser
compensado, considerando que a controvérsia não desborda do interesse
meramente patrimonial, sem qualquer repercussão no anímico ou sem que
se possa vislumbrar conduta violadora da dignidade da parte autora. Ante o
exposto, JULGO PROCEDENTES EM PARTE OS PEDIDOS contidos na
inicial, com fulcro no art. 269, I, do Código de Processo Civil para
CONDENAR o Réu a restituir ao Autor a quantia de R$ 357,24 (trezentos e
cinquenta e sete reais e vinte e quatro centavos), com correção monetária e
juros de 1% ao mês a contar da citação. JULGO IMPROCEDENTE o pedido
de dano moral, com fulcro no art. 269, I do Código de Processo Civil. Intime-
se as partes do disposto no art. 52, IV, da Lei 9.099/95 e o(a) ré(u) para o
que dispõe o art. 475-J do CPC, sob pena de penhora, dispensada nova
citação. Sem Ônus sucumbenciais ex vi do art. 55 da Lei 9099/95. Ficam as
partes cientes de que 90(noventa) dias, a contar do arquivamento definitivo,
os autos serão descartados. Volta Redonda, 24 de Março de 2015.

Na referida decisão ficou afastada a condenação por danos morais, porém, foi
deferido o pedido de restituição da diferença paga, tendo em vista que “restou
comprovado a cobrança a maior das parcelas do contrato de empréstimo em voga,
devendo tal quantia ser restituída, sob pena de enriquecimento sem causa”.
Entretanto, determinara-se a devolução simples do valor, e não em dobro.

A decisão do segundo processo seguiu uma linha semelhante, levando em


conta que o réu não apresentou sua defesa (revel). Assim, a sentença, embora
também afastasse a indenização por danos morais, concedeu a devolução dos
valores em dobro, o que não havia sido feito no primeiro caso. Vejamos:

Trata-se de ação de conhecimento, pelo procedimento sumaríssimo da Lei


n. 9.099/95, com pretensão condenatória, através da qual o autor objetiva a
declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro, a devolução na
forma dobrada das parcelas pagas a maior e reparação por dano morais.
Diante de estarem presentes e regulares os pressupostos processuais e
condições da ação, PASSO A ANALISAR AS QUESTÕES DE MÉRITO.
Inicialmente, cabe ressaltar que a relação ora discutida é de consumo,
59

ocupando o Réu a posição de fornecedor de serviços, tais como concessão


de crédito e financiamento, adequando-se na hipótese prevista no Código
de Defesa do Consumidor, art.º 3º parágrafo 2º e a Autora ocupa a posição
de consumidor, destinatário final deste serviço, parte mais fraca e vulnerável
dessa relação jurídica, seguindo a aplicação do verbete 297, da Súmula do
STJ: ´o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras´. O réu regularmente citado não se fez representar nesta
audiência sendo o caso de decretação de sua revelia (artigo 20, da Lei nº
9099/95). A pretensão do autor deve prosperar em parte. A matéria
discutida nos autos é de fato e sem a colaboração do réu na sua elucidação
presume-se verdadeira a alegação da autora. Com efeito, verifico que a
instituição financeira ré realizou cobrança em desconformidade contratual,
haja vista que, em fls. 22, restou pactuado que as prestações mensais
seriam de R$ 1.064,90 (prestação essa que compreende: valor principal,
Juros Remuneratórios e IOC). Assim, vislumbro que, no item VI -
Especificação do Financiamento, o valor da prestação mensal deveria ser
na quantia de R$ 1.064,90. Desta forma, restou comprovado a cobrança a
maior das parcelas do contrato de empréstimo em voga, devendo tal
quantia ser restituída, sob pena de enriquecimento sem causa. Assim,
vislumbro uma conduta de má-fé por parte do réu ao impor uma cobrança a
maior ao seu cliente objetivando o aumento de seus lucros, devendo tal
restituição ser na forma dobrada já que o Superior Tribunal de Justiça, nos
autos da Reclamação n. 4892/PR, pacificou o entendimento (uniformizando
a jurisprudência no âmbito dos Juizados Especiais) que a demonstração de
má-fé insurge ao direito da devolução em dobro do indébito. Inexistente, por
outro lado, dano moral a ser compensado, considerando que a controvérsia
não desborda do interesse meramente patrimonial, sem qualquer
repercussão no anímico ou sem que se possa vislumbrar conduta violadora
da dignidade da parte autora. Isto posto, DECRETO A REVELIA da ré, com
fundamento no artigo 20, cabeça, da Lei 9099/95 e JULGO
PROCEDENTES EM PARTE OS PEDIDOS contidos na inicial, com fulcro
no art. 269, I, do Código de Processo Civil para CONDENAR o Réu a
restituir ao Autor a quantia de R$ 2.129,80 (dois mil cento e vinte e nove
reais e oitenta centavos), já em dobro, com correção monetária e juros de
1% ao mês a contar da citação. JULGO IMPROCEDENTE o pedido de dano
moral, com fulcro no art. 269, I do Código de Processo Civil. Intime-se as
partes do disposto no art. 52, IV, da Lei 9.099/95 e o(a) ré(u) para o que
dispõe o art. 475-J do CPC, sob pena de penhora, dispensada nova citação.
Sem Ônus sucumbenciais ex vi do art. 55 da Lei 9099/95. Ficam as partes
cientes de que 90(noventa) dias, a contar do arquivamento definitivo, os
autos serão descartados. Determino que as futuras publicações do(s) réu(s)
sejam feitas conforme requerida na sua peça defensiva, bem como a
retificação do polo passivo, anotando onde couber, se eventualmente
requerida, esclarecendo ao patrono do réu a desnecessidade de constar
neste projeto de sentença o nome do patrono em que será realizada as
futuras publicações tendo em vista constar em sua contestação, a fim de
evitar repetições desnecessárias. O presente projeto de sentença se
submeterá a apreciação do MM Juiz de Direito, começando o prazo para a
interposição de eventual recurso a partir da publicação no D.J.E. da
homologação do projeto de sentença ou publicação da sentença substituta.

Já no terceiro e último processo adveio uma decisão bem diferente,


consagrando que o Juizado Especial Cível não era competente para apreciar a
matéria:
60

Trata-se de demanda em que o autor pretende a condenação do réu, nos


termos da petição inicial. Contestação, nos termos dos autos. Examinados.
Fundamento e Decido. Reconheço de ofício a incompetência absoluta do
juízo ante a necessidade de produção de prova pericial, haja vista se tratar
de matéria de ordem pública. A demanda não pode prosseguir em sede de
Juizado Especial Cível, porque é impossível a esta Julgadora formar sua
convicção acerca dos fatos alegados pelo autor, sem a produção de prova
pericial para verificar o quantum da cobrança praticada pelo réu é indevida,
uma vez que o valor da prestação mensal é composto por um valor fixo
principal somado mês a mês aos encargos incidentes. Assim sendo, não
restou demonstrada o acerto das cobranças praticadas pelo réu. Portanto,
ainda que seja indevida a integralidade da cobrança efetuada, é certo que o
autor deve algum valor a título empréstimo. Diante da impossibilidade de
realização de prova pericial nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais ou de
qualquer elemento que permita a prolação de sentença justa, não resta
outra solução que não seja a extinção do feito, sem exame do mérito. Em
conseqüência do exposto, JULGO EXTINTO O FEITO, sem exame do
mérito, com fundamento no artigo 51, II, da Lei 9099/95. Sem custas e
honorários advocatícios, ex vi artigo 55 da Lei nº 9.099/95. Certificado o
trânsito em julgado, autorizo o desentranhamento de documentos pelas
partes, se requerido até 10(dez) dias do trânsito em julgado. Se nada for
requerido nesse prazo, dê-se baixa na distribuição e arquivem-se os autos.
Publicação e intimação conforme requerido pelas partes. Submeto o projeto
de sentença à apreciação do juiz togado, na forma do artigo 40, da Lei nº
9.099/95. Volta Redonda, quinta-feira, 23 de setembro de 2015.

Ou seja, depois de analisar dois casos de igual teor, saíra, do mesmo


Juizado, decisão totalmente distinta, consagrando a incompetência do Juizado
Especial para apreciação do feito, pela impossibilidade de realizar perícia.

A ausência de padronização não só traz insegurança jurídica, por tornar


inviável o conhecimento acerca do destino do processo, ainda que com casos
semelhantes anteriormente julgados, como também afeta, significativamente, o
tempo dos processos, afinal, se houvessem parâmetros para julgamento, a partir do
momento em que se caracterizasse a repetição dos fatos, poder-se-ia aplicar a
sentença adequada. Todavia, cada processo recebe uma sentença distinta, que
pode ser completamente antagônica a outra formulada anteriormente.

E, considerando a situação mencionada, pode-se dizer que o tempo


despendido para distribuição e andamento do terceiro processo foi totalmente inútil,
afinal, o autor precisará recorrer novamente ao Judiciário, a fim de buscar uma
solução para seu conflito, visto que, depois de duas decisões em casos análogos, o
juiz representante entendeu não ser possível processar aquele tipo de demanda no
Juizado Especial Cível.
61

Com isso, ouso afirmar que a ideia de um livre convencimento também é apta
a influenciar no tempo dos processos.
62

5 O TEMPO DOS ATOS PROCESSUAIS NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DE


VOLTA REDONDA

A ideia de promover a presente pesquisa se origina da busca para averiguar,


dentro dos Juizados Especiais Cíveis, e mais especificamente, da Comarca de Volta
Redonda, o tempo do processo. Por possuir estrita relação com o tempo, os
princípios da informalidade, simplicidade e celeridade acabaram por permear a
dissertação.

O curioso é que, dentre as regras acima citadas, costuma ganhar maior


relevância em debates a questão da celeridade, ou melhor apresentando, do tempo
processual. Talvez uma das maiores críticas desferidas contra o sistema jurisdicional
seja exatamente esta: a excessiva demora para a conclusão (término) dos
processos.

Porém, tais comentários seguem, na maior parte das vezes, desprovidos de


maiores fundamentações ou pesquisas. A morosidade processual passou a ser
tratada como um problema de amplo conhecimento, mas poucos são os dados
estatísticos referentes ao tempo do processo. Ou seja, fala-se da excessiva demora
dos processos, mas pouquíssimos procedimentos para investigação são lançados
nesse sentido.

Vamos melhor exemplificar com fato ocorrido na Comarca de Volta Redonda,


localidade esta onde a presente pesquisa se realiza:

Em 2011, fora publicado no Jornal da Ordem – Órgão de Divulgação da OAB


Volta Redonda, notícia tecendo fortes elogios a um dos Juizados Especiais Cíveis
da Comarca de Volta Redonda/RJ e apontando certas críticas ao outro. Vejamos:

Os Operadores do Direito vem enfrentando difícil problema junto no ... JEC


[X] de Volta Redonda, senão vejamos: atendimentos de balcão; juntada de
petições que levam no mínimo 60 (sessenta) dias [...]; Mandados de
Pagamentos que tem levado Advogados e Clientes ao desespero por não
serem expedidos ou assinados nos prazos esperados, os quais também
levam em média mais de 60 (sessenta) dias.
A grande desculpa é a falta de Serventuários, entretanto, com
aproximadamente o mesmo número, o ... Juizado Especial [Y] vem
63

progredindo a passos largos no que tange ao atendimento dos Advogados e


as demais práticas acima relatadas.
A OAB-VR tem em seus arquivos, de 2007 a 2011, os Relatórios
Estatísticos Consolidados da competência de ambos os Juizados Especiais
de Volta Redonda, os quais [...], extraídos do .. JEC [X] em 16/09/2011 e, do
... JEC [Y] em 22/09/2011 demonstram a crescente evolução do ... [Y].9

Embora o artigo mencione a existência de Relatórios Estatísticos


Consolidados, a fim de embasar a matéria, deve-se registrar que os referidos
relatórios nunca foram apresentados, e nem se encontravam afixados em locais de
visibilidade. Permaneciam nos arquivos da OAB, sem apresentação plena à
sociedade.

Por seu turno, transcorridos mais de 3 (três) anos da referida publicação,


nenhum esclarecimento adicional foi prestado. E ninguém nunca soube, ao certo,
porque os dois Juizados, situados na mesma cidade – aliás, no mesmo prédio –,
possuíam características que, supostamente, os deixavam tão diferentes. Afinal, não
é costume, na área de Direito, promover pesquisas de campo.

A grande questão levantada pela matéria acima foi: como saber o tempo dos
processos? Como dizer, efetivamente, que um dos Juizados Especiais Cíveis da
Comarca de Volta Redonda leva mais tempo do que o outro para realizar
determinados atos, tais como juntada de petição, expedição de mandado de
pagamento, dentre outros?

E, através dos debates promovidos nos seminários com os professores


Roberto Kant de Lima e Maria Stella Amorim, percebi que a pesquisa de campo
seria a melhor forma para obter esclarecimentos acerca dessas questões.

Para eu saber sobre o tempo do processo, sobre dias, meses e anos que
determinadas práticas judiciárias podem demorar, só mesmo através do acesso
direto ao material, tendo em vista que não são numerosas as fontes sobre o
assunto.

9
FONSECA, Rosa Maria de Souza. A OAB de Volta Redonda na luta contra os problemas do Juizado Especial
Cível. Jornal da Ordem – Órgão de Divulgação da OAB Volta Redonda. Rio de Janeiro, set. 2011.
64

Por seu turno, deve-se ter em mente que a questão do tempo do processo
precisa ser analisada de forma específica, levando em conta as características de
cada região, de cada tribunal, de cada comarca. Nessa linha, não necessariamente
os dados levantados na Comarca de Volta Redonda valerão para a de Barra Mansa,
Rio de Janeiro, Quatis etc, posto existirem várias peculiaridades envolvidas.

Na presente pesquisa, por exemplo, tornou-se possível perceber as


significativas diferenças existentes entre os dois Juizados Especiais Cíveis de Volta
Redonda, que são geograficamente próximos, então, o que dizer daqueles que
estão mais distantes, com diretorias e coordenação totalmente distintas?

Fernando da Fonseca Gajardoni, em sua dissertação de mestrado


denominada “Técnicas de Aceleração do Processo”, também trata da necessidade
de se ampliar a pesquisa de campo, a fim de melhor compreender questões
diretamente relacionadas aos processos judiciais:

Já se asseverou outrora que a ânsia por alterações legislativas, muitas


vezes como mera importação de institutos alienígenas, é inversamente
proporcional ao prévio estudo técnico do efetivo impacto que as mudanças
trarão ao sistema processual nacional. Pior, mesmo após mudanças, não se
encontram dados estatísticos suficientes, tanto no espaço qualitativo quanto
quantitativo, sobre as alterações havidas, imprescindíveis para indicarem o
acerto ou erro da opção. 10

O autor ainda retorna a essa ideia, acrescentando que:

somente com pesquisa de campo e com a apresentação de elementos


estatísticos concretos é possível ser aferida a pertinência das
modificações operadas no plano processual, bem como se indicar
possíveis alterações para acelerar a outorga da tutela jurisdicional. 11

Resumidamente, o autor critica a importação de institutos alienígenas, sem


prévios estudos sobre a aplicabilidade ou não em território nacional, acentuando
que, mesmo após a implantação, ainda assim não se promovem pesquisas sobre o
tema. Com efeito, mostra-se complicado tecer considerações sobre a pertinência ou
não da medida adotada, posto inexistir dados concretos sobre o tema.

10
GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Técnicas de Aceleração do Processo. 1. ed. São Paulo: Lemos & Cruz,
2003. p. 18.
11
GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Op. Cit. p. 206.
65

De igual modo, tantas vezes discutimos questões ligadas ao tempo do


processo, sem nem ao menos saber qual a verdadeira duração dos processos e o
lapso temporal necessário para execução de determinados atos.

Assim sendo, a presente dissertação, baseada em pesquisa de campo,


buscará indicar o tempo que certos atos levam para ser desempenhados, tendo por
base a análise de 200 (duzentas) ações já encerradas e arquivadas, que tramitaram
nos Juizados Especiais Cíveis da Comarca de Volta Redonda.

No tópico seguinte, tratarei do lapso temporal necessário para realização de


alguns atos processuais, considerando aqueles de maior incidência e os quais a
pesquisa me possibilitou analisar.

Dentre eles, encontram-se: 1) Autuação e Distribuição; 2) Citação; 3)


Designação de Audiência; 4) Juntada de Petições; 5) Leitura de Sentença; 6)
Elaboração e Publicação de Despachos; e, 7) Interposição de Recursos. Por fim,
será apresentado o tempo necessário para que o processo se inicie (contado da
distribuição) e chegue ao fim (data do arquivamento definitivo).

5.1 DOS ATOS PROCESSUAIS

Cassio Scarpinella Bueno escreve que atos processuais “podem ser


entendidos como todos os atos jurídicos que têm relevância para o plano do
processo ou, de alguma forma, podem influenciar a atuação do Estado-juiz ao longo
de todo o procedimento” 12. Estabelece, também, que além daqueles praticados
dentro do processo, também pode ser que atos praticados fora dele afetem
fortemente o desenrolar da ação, como ocorre, por exemplo, em acordos celebrados
de forma extrajudicial, quando já existe ação em curso, e que, com a homologação
da transação, extinguem o processo.
Humberto Theodoro Júnior ressalta que “inicia-se, desenvolve-se e encerra-
se o processo por meio de atos praticados ora pelas partes, ora pelo juiz ou seus

12
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito
processual civil,1. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 467.
66

auxiliares” 13, considerando, ainda, que existem acontecimentos naturais que também
podem afetar o curso processual como, por exemplo, a morte de uma das partes.

Assim, pode-se afirmar que a maior ou menor demora no encerramento de


um processo também é influenciada pelo número de atos necessários para que ele
chegue ao fim. Nessa linha, valeria dizer que enquanto existem processos que, de
primeira, já se obtém a citação válida do réu; em outros ocorre a necessidade de se
repetir tal diligência, tendo em vista o retorno da citação com resultado negativo.
Nessa linha, cada vez que se renova a diligência, mais tempo é gasto, a fim de
atingir o objetivo.

Em outras situações, pode ser que as partes formulem acordo em audiência,


com o consequente cumprimento voluntário das obrigações devidas; enquanto, em
outros processos, mesmo existindo a conciliação, pode se mostrar imprescindível
requerer a constrição patrimonial forçada, em virtude do não adimplemento do
acordo.

O número de atos necessários, então, se incluiu entre as causas que podem


tornar as ações mais ou menos morosas.

Vale registrar que pude observar casos que se desenrolaram sem a


necessidade de juntar petições no intercurso do processo. Ou seja, as únicas
petições eram a inicial, contestação e, depois disso, em razão de acordo com
depósito diretamente em conta judicial, nem ao menos petição informando
cumprimento da obrigação eram necessárias.

Com isso, observei processos que encerram contendo pouquíssimas folhas,


haja vista realização de pequeno volume de atos. Registre-se, por exemplo, 2 (duas)
ações que me chamaram muito a atenção, por terem sido finalizadas com um total
de 11 (onze) e 12 (doze) páginas. Algo totalmente atípico, tendo em vista que, em
grande parte dos casos, só a petição inicial já apresenta essa quantidade de laudas.

13
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil e processo de conhecimento. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 229.
67

Por ouro lado, é preciso ter em mente que, mesmo se tratando de um único
Cartório, não existe tempo fixo e certo para realização dos atos, assim sendo, pode
ser que uma audiência, por exemplo, leve de 1 (um) mês a 13 (treze) meses para
ser agendada, o que, indiscutivelmente, afeta significativamente o tempo da ação.
Logo, o tempo para realização de certos atos também será elemento influenciador
do tempo total da ação.

Da análise dos processos e conversas com servidores do Cartório não foi


possível descobrir a razão de existir tantas variações no tempo de desempenho de
determinados atos. Todavia, às vezes a falta de magistrado titular, ou as férias do
mesmo, podem contribuir para que as ações fiquem paralisadas. Outra hipótese
apontada é o “acúmulo do serviço”, tema este extremamente subjetivo.

No que tange à marcação de audiência, às vezes elas são feitas bem antes
do tempo normal, posto entrarem em espaços vagos deixados por outras, que por
algum motivo foram canceladas.

Ou seja, em algumas situações, até o fator “sorte” pode contribuir para uma
demanda mais ou menos célere.

Baseado nos resultados de minha pesquisa, tem-se duas das principais


causas que afetam o tempo do processo: as variações existentes no tempo para
realizar atos de mesma natureza, e na maior ou menor quantidade de atos
necessário para levar um feito até o fim.

Além disso, existem situações em que atos desnecessários são realizados,


prejudicando sobremaneira o andamento do processo.

Em dado momento da pesquisa, servidores me relataram situação em que a


parte vencedora, no caso o réu, apesar da inexistência de interesse agir, por ter sido
a demanda julgada totalmente improcedente, interpôs Recurso Inominado.

O feito não chegou em 2ª Instância, pois o juiz responsável visualizou, de


plano, a falta de interesse de agir, inadmitindo o recurso. Porém, a referida petição,
68

embora desprovida de qualquer fundamento, demandou tempo para apreciação.


Afinal, foi necessário fazer sua juntada, remessa dos autos ao juiz para apreciação
do teor e, por fim, devolução e publicação da decisão.

É preciso chamar a atenção para o fato de que, muitas vezes, petições


desnecessárias são interpostas, acabando por interferir no curso normal do
processo.

Ilustrando ainda mais tal assertiva, pode-se registrar que os servidores


também relataram a juntada, por parte de alguns escritórios, de muitas petições
desnecessárias ou infundadas, donde se insere, também, recursos meramente
protelatórios (como no caso de inexistência de interesse de agir).

A justificativa apresentada pelos servidores é a de que existem escritórios de


grandes empresas que recebem por ato ou por tempo do processo, e isso justifica a
elaboração de certas petições que não encontram razão de ser.

De fato, ao longo da pesquisa, pude observar a realização de determinados


atos que, em um primeiro momento, pareciam desprovidos de qualquer sentido, tais
como: a mera juntada de atos constitutivos antes da realização da audiência ou da
apresentação de contestação; petições reiteradas cujo teor já havia sido objeto de
apreciação, pedidos sucessivos, e em curto período de tempo, para que o juiz
proferisse a sentença, dentre outras.

Outra situação curiosa, e que se mostrou presente ao longo da pesquisa, foi a


interposição de recursos, pela parte vencida, nos quais o valor para recorrer
superava o próprio valor da condenação. Sob a égide material e temporal, isso não
parece fazer sentido, afinal, o recurso tornou o processo mais caro e demorado do
que o adimplemento da obrigação. Todavia, pensando pelo lado profissional, a
busca pelo êxito profissional pode compensar o maior prejuízo pecuniário.

Nesse sentido, pude observar dois casos distintos. Em um deles, o réu pagou
mais para recorrer do que a condenação propriamente dita; ao final, sem êxito no
recurso, desprendeu tanto o valor das custas, quanto da execução. Já em outra
69

situação, a parte que impetrou o recurso obteve êxito, assim, embora o valor pago
tenha sido mais alto que o da condenação, ao menos o sucesso profissional pode
ser sopesado.

Tais situações, conforme anteriormente mencionado, servem apenas para


alavancar maiores reflexões acerca da atuação profissional, sendo certo que,
embora de forma sutil, também afetam o tempo de duração do processo, por
representar atos processuais que acabam por demandar atuação dos funcionários
(juntada de petições, conclusão do feito) e apreciação por parte dos magistrados.

Também vale mencionar as curiosas hipóteses em que, mesmo a parte


autora saindo vitoriosa, ela não comparecia ao Cartório para retirar o Mandado de
Pagamento ou não se dirigia às agências bancárias para receber os valores
depositados.

Sem adentrar nas questões que motivam o autor a não receber os valores, é
importante considerar que as reiteradas tentativas de contatar a parte vencedora
para receber o que lhe é devido também contam no tempo do processo, haja vista
demandar inúmeras intimações, despachos dos magistrados, expedição de
documentos, dentre outros. Ou seja, mesmo com o valor depositado e o mandado
de pagamento expedido, o processo não pode ser baixado e arquivado, por se
mostrar necessário intimar a parte para receber o valor. Só após várias tentativas,
sem sucesso, é que se determinou o arquivamento das ações.

Mais uma situação que influi sobremaneira no tempo dos processos é a


entrega da sentença no prazo previsto. Conforme será abordado em tópico
específico, após a realização da audiência, se o juiz não optar por já proferir a
decisão final, ele marcará data para “Leitura de Sentença”. Ocorre, porém, que nem
sempre os processos são devolvidos na data aprazada, inexistindo qualquer sanção
real aos juízes que descumprem o prazo, até mesmo pela falta de denúncias e
comunicações acerca desses casos.
70

Todavia, enquanto a Sentença não é apresentada, o processo fica paralisado,


não sendo possível realizar nenhum outro ato, salvo a protocolização de petições,
que serão juntadas e apreciadas somente após a devolução do processo pelo juiz.

Essas situações servem para refletir sobre o tempo do processo e como os


atos, percebidos de forma individualizada, podem contribuir para um encerramento
mais célere ou moroso da demanda.

Nos tópicos seguintes serão abordados alguns dos principais atos


processuais, todos alvo da pesquisa, a fim de se obter o tempo necessário para
realização de cada um deles.

Em alguns momentos, será possível traçar paralelos do tempo necessário


para a prática dos atos com o prazo preconizado pela Lei dos Juizados Especiais.
Em outros, porém, os quais não possuem dispositivo legal próprio, buscar-se-á atos
semelhantes, aplicando-se subsidiariedade o Código de Processo Civil, ou, então,
será considerado o prazo geral de 5 (cinco) dias, previsto no artigo 185 do Código
de Processo Civil de 1973, equivalente ao artigo 218, § 3º, do Código de Processo
Civil de 2015.

Entretanto, vale registrar que o prazo de 5 (cinco) dias, na verdade, diz


respeito aos atos que devem ser praticados pelas partes, razão pela qual serão
utilizados em última instância, apenas para que não se fique sem referência alguma.

Outra observação interessante é a de que, embora todos os atos processuais


objeto da presente pesquisa tenham sido realizados pelas regras de 1973, busquei
apresentar também os prazos de 2015, a fim de demonstrar que, mesmo com a
ampliação de alguns prazos, pelas novas regras processuais, muitos atos ainda
fogem do lapso temporal razoável preconizado pela lei.

A entrada em vigor de um Novo Código de Processo Civil vem atraindo


posições entusiasmadas, haja vista que o próprio anteprojeto alardeava uma série
de reformas que privilegiariam
71

a simplicidade da linguagem e da ação processual, a celeridade do


processo e a efetividade do resultado da ação, além do estímulo à inovação
e à modernização de procedimentos, garantindo o respeito ao devido
processo legal. 14

Calmon de Passos, entretanto, ao justificar a ausência de sua participação na


obra intitulada “Bases científicas pra um renovado direito processual”, por convite do
Instituto Brasileiro de Direito Processual, critica a transposição da legitimação do
legislador para o magistrado, reforçando como o Poder Judiciário vem ganhando
forças, e os prejuízos daí decorrentes. Vejamos:

Já o capitalismo da pós-grande indústria, que é o atual, em razão do que já


apontamos sumariamente, logrou subtrair dos Estados nacionais,
consequentemente das tradicionais funções legislativa, administrativa e
jurisdicional, qualquer poder de decisão econômica ou política em nível
macro. Daí seu total desinteresse quanto à organização, atribuições e
atuação dos legislativos, executivos e judiciários dos Estados nacionais. E
uma das conseqüências desse desinteresse, inclusive filho da anomia
política que tem marcado as últimas décadas, foi precisamente ampliação
do poder do Judiciário e de instituições satélites como forma de ainda mais
fragilizar o poder dos Estados nacionais.
Eis aí a explicação do açodamento nas reformas do nosso processo civil.
Não por coincidência, seus mais atuantes protagonistas são membros do
Poder Judiciário ou a eles afetiva ou umbilicalmente vinculados. Daí porque
as reformas sempre se voltaram, diria mesmo que exclusivamente se
preocuparam com dilatar o poder dos juízes em detrimento das partes
(consequentemente dos cidadãos) e resolver o problema de sua
sobrecarga, filha de uma Constituição que é mais um engodo, dentre os
muitos que historicamente nossa elite tem colocado para que o povo
brasileiro morda a isca e seja trazido para dentro do barco não como
tripulante sim como pescado.
Daí concluir esta minha arenga biliosa afirmando que realmente há um novo
processo civil brasileiro, um processo bem pragmático, nutrido pela ilusão
de que, embora a doença da árvores esteja na raiz, podemos conservá-la
podando alguns ramos, espargindo em suas folhas algum inseticida quando
nada para que ela não caia sobre nós, fiando o problema para outras
gerações. Problema delas e votos para que sejam tão inteligentes quanto
esta e consigam manter a árvore de pé mesmo com a doença de suas
15
raízes.

Ou seja, existe posição no sentido de que as mudanças previstas pela nova


legislação processual não alcançarão o resultado pretendido, servindo mais para
adiar um problema do que para efetivamente buscar a solução, tendo em vista que
14
BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela
Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto.
Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 29 fev. 2016.
15
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Há um novo Moderno Processo Civil Brasileiro? Revista
Eletrônica sobre a Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº. 18,
junho, julho, agosto, 2009. Disponível na Internet: http://www.direitodoestado.com/revista/RERE-18-
JUNHO-2009-CALMON-DE-PASSOS.pdf. Acesso em: 22 fev. 2016.
72

nem sempre pretendem o fortalecimento da instituição e do Estado nacional. Tal


cenário é agravado pela possibilidade de as reformas serem, em regra,
encabeçadas por membros do Poder Judiciário, com o escopo, apenas, de
satisfazer interesses relacionados as suas funções.

De fato, embora exista certo entusiasmo com o novo Código de Processo


Civil, percebe-se que a maior parte das discussões possui viés teórico, com
pouquíssima análise da situação prática, de modo que os resultados pretendidos
podem não ser obtidos (por exemplo, maior celeridade processual). Assim, acredito
que apenas a entrada em vigor de novas regras processuais não será capaz de
promover alterações visíveis no tempo dos processos, de modo que, se essa
pesquisa se realizasse com ações já encerradas no âmbito dos Juizados Especiais
Cíveis, seguindo as regras do Novo Código de Processo Civil, muito provável que o
tempo para realização dos atos fosse bem semelhante ao verificado nesta pesquisa,
se nenhuma alteração estrutural for realizada.

5.1.1 Da Autuação, da Distribuição e dos Primeiros Movimentos

O primeiro ato processual envolvendo o Judiciário, após a elaboração da


petição inicial, é a distribuição. Trata-se do momento em que se protocola a exordial
e, então, a ação é encaminhada, por sorteio, a um dos Juizados, com a consequente
autuação.

Nesta ocasião, a parte – ou seu procurador –, já sai com a informação de


quando e qual será a audiência a se realizar, tomando ciência da data e horário.

A partir daí são realizados os atos para a citação do(s) réu(s) e apreciação de
eventuais pedidos de tutela antecipada ou cautelar. Existindo pedidos dessa
natureza, os autos serão remetidos ao juiz, que irá proferir decisão concedendo ou
não a tutela pretendida.

Se indeferido o pedido, os autos já são encaminhados para a digitação do


mandado de citação e, após a juntada do referido documento, seguem para o
escaninho de “aguardando audiência”.
73

Quando a antecipação de tutela é deferida, embora o procedimento seja o


mesmo, além de citar o réu para comparecer à audiência e apresentar defesa,
também ocorre a intimação para cumprir a decisão antecipatória de tutela, na forma
e no prazo propalado.

Se a tutela antecipatória se tratar da retirada do nome da parte dos órgãos de


proteção ao crédito, oficia-se diretamente o órgão responsável pelo registro. Ou
seja, se a inscrição, por exemplo, consta nos registros do SERARA Experian, é ele
quem será oficiado, para que retire o nome do autor.

Um dos servidores me relatou que, há alguns anos, quem era intimado para
promover a retirada do nome do autor dos cadastros restritivos era o próprio réu.
Entretanto, o índice de descumprimento era muito alto, e perdia-se muito tempo para
investigar se o réu havia acatado ou não a determinação judicial. Assim, para
agilizar e facilitar o processo é que se passou a intimar diretamente os órgãos
responsáveis pelo registro.

Depois da autuação e distribuição do processo, que ocorre no mesmo dia em


que a petição inicial é protocolizada, ele já começa a ser preparado para a
audiência, com a realização dos atos correlatos.

5.1.2 Da Citação

A citação é o ato de comunicar ao réu a existência de um processo que contra


ele corre, informando ainda a data da audiência ou, em se tratando de processo de
execução, solicitar que o devedor pague a dívida.

O processo só pode seguir seu curso, validamente, após a efetiva citação


do(s) réu(s).

Se, porventura, o feito tramitar sem a citação adequada, todos os atos estarão
viciados, sendo passíveis de serem declarados nulos.
74

No Juizado Especial Cível, a citação pode ocorrer por correspondência ou por


oficial de justiça.

Em se tratando de intimação por correspondência (via postal), existe convênio


com os Correios. Todos os dias funcionário desta instituição se dirige aos cartórios,
recolhendo as correspondências que precisam ser entregues e devolvendo os atos
que já foram cumpridos. A comprovação da citação ou a informação de resultado
negativo é demonstrada através do Aviso de Recebimento (AR).

Compulsando os autos, tanto do Juizado X, quanto do Y, pude observar a


existência de inúmeras fases da citação, que assim podem ser definidas: 1)
digitação; 2) assinatura do documento; 3) expedição da correspondência (entrega
aos Correios); 4) recebimento pelo réu; 5) devolução dos Correios para o Cartório
com a informação de entrega ou o motivo da recusa (falecimento, mudança de
endereço); e, 6) juntada no processo.

Em se tratando de citação por oficial de justiça, ocorre a digitação do


documento, com sua consequente assinatura e entrega ao oficial de justiça, que
promove a citação do réu e devolve o documento ao Cartório, para que seja
promovida a juntada aos autos.

Se a citação tiver ocorrido com êxito, aguarda-se a audiência. Em caso de


citação negativa, se percebida antes da realização da audiência, pode-se desmarcar
a audiência, solicitando que a parte interessada apresente outro endereço ou, se
não houver tempo hábil para intimar a parte, realiza-se a audiência, conferindo prazo
para que o autor apresente novo endereço.

Cada um desses atos demanda tempo, sendo certo que algumas dessas
fases são de responsabilidade do Cartório e, outras, vinculadas diretamente à
atividade de terceiros, afinal, quem entrega e devolve as correspondências são os
Correios.
Logo, para que não se atrase a realização da audiência, é importante que
todo processo de citação se desenrole antes da data da audiência, sob pena de se
75

tornar necessário remarcar a assentada, aumentando, assim, a duração do


processo.

Dentre os processos pesquisados, 13 (treze) tiveram audiências redesignadas


em virtude da citação intempestiva, sendo que 4 (quatro) foram do Juizado X e 9
(nove) do Juizado Y. Nos demais, apesar da variação de tempo para realizar a
citação ou juntar o documento aos autos, a audiência pode ser realizada
normalmente.

Para cálculo do tempo levado para realizar a citação, considerei dois períodos
distintos, o primeiro diz respeito ao momento compreendido entre a digitação do
documento e a efetiva citação; e, o segundo, considera o lapso temporal da citação
(ciência do réu ou resultado negativo) até a juntada aos autos.

Sobre a juntada, vale registrar que, em alguns casos, o documento passa


despercebido, tendo presenciado situações que somente após a realização da
audiência é que o documento foi juntado. Nesses casos, ocorreu a citação, mas a
comprovação não foi anexada ao processo antes da audiência. De qualquer forma,
em todos os casos os réus comparecem à audiência, tornando indiferente a
presença ou não do documento comprobatório. Nessa situação, foram verificadas 1
(uma) citação do Juizado X e 10 (dez) do Juizado Y.

Ademais, pude observar 13 (treze) processos que, embora a citação tenha


ocorrido – o que se presume pela presença das partes –, não existe qualquer
informação sobre a citação no processo.

Além disso, em 3 (três) processos ocorreu a desistência da ação antes


mesmo da realização do ato citatório.

Registre-se que o procedimento para realizar a citação se assemelha aquele


desenvolvido para intimar as partes das decisões, quando desassistidas de
advogados. Afinal, nestes casos torna-se necessário digitar o documento que
cientificará a parte da decisão proferida, em seguida, o documento será
76

encaminhado pela via postal, e a comprovação da intimação válida será feita através
do Aviso de Recebimento, que deverá ser juntado aos autos.

Por fim, destaca-se que a Lei nº. 9.099/1995 não traz prazo para realizar a
citação, porém, o Código de Processo Civil (tanto o de 1973 quanto o de 2015)
prevê que a parte deverá promover “a citação do réu nos dez dias subsequentes ao
despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável
exclusivamente ao serviço judiciário” (art. 219, § 2º), podendo o prazo ser
prorrogado até o máximo de 90 (noventa) dias (art. 219, § 3º).

Alexandre Câmara explica que tal prazo é conferido para que a parte forneça
o endereço do réu, pague as despesas processuais, quando isso se mostrar
necessário, a fim de se afastar a prescrição pela citação válida16. Todavia, como o
artigo menciona a inexistência de prejuízo se a demora for imputável exclusivamente
ao serviço judiciário, é válido considerar o referido prazo como referência legislativa
para o tempo necessário para realização do ato citatório.

Seguindo este viés, registra-se que todas as citações, considerando apenas o


tempo entre a digitação do documento e a efetiva citação (data da ciência) foram
realizadas dentro do prazo de 90 (noventa) dias, sendo que em 86 (oitenta e seis)
casos ela ocorreu em até 10 (dez) dias, e isso considerando ambos os Juizados
Especiais Cíveis. Entretanto, embora dentro do prazo acima analisado, nem todas
foram feitas antes da audiência, sendo consideradas intempestivas.

5.1.2.1 Da Citação no Juizado Especial Cível X

No Juizado X, 4 (quatro) citações foram intempestivas. Assim, apenas em


audiência descobriu-se a ausência de citação válida, fosse porque o réu não foi
localizado ou porque o documento para citação nem ao menos havia sido entregue.
Em outros 2 (dois) casos tornou-se desnecessária a citação, em um porque
objetivava-se apenas o recebimento de mandado de pagamento, oriundo de
processo anterior regular e, no outro, pela desistência prévia.

16
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil: volume I. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009. p. 254.
77

Nas outras 94 (noventa e quatro) situações a citação ocorreu


tempestivamente, embora em 6 (seis) casos não haja, dentro dos autos, o
documento de comprovação.

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A DIGITAÇÃO


DO DOCUMENTO E A EFETIVA CITAÇÃO (EM
DIAS) – JUIZADO X
45 39
40
35
Processos

30 24
25
20
15 10 9
10 6 6
5 2 1 0 0 1 0 0 2
0 Processos

Dias

Após a citação, o Aviso de Recebimento (AR) deve ser devolvido ao cartório,


para que ocorra a juntada. O tempo despendido entre esses dois atos pode ser
registrado da seguinte maneira:
78

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A CITAÇÃO E


A JUNTADO DO DOCUMENTO
COMPROBATÓRIO AOS AUTOS (EM DIAS) –
JUIZADO X
30 24
25
Processos

18 19 19
20
15
10 5
5 2 2 0 1 1 0 0 0 1 2
0
Processos

Dias

5.1.2.2. Da Citação no Juizado Especial Cível Y

Das citações realizadas no Juizado Y, cumpre salientar que 9 (nove) foram


intempestivas, sendo que apenas em audiência é que se percebeu a ausência de
citação válida, fosse porque o réu não foi localizado ou porque o documento para
citação nem ao menos foi entregue. Em outros 3 (três) casos tornou-se
desnecessária a citação, em virtude da desistência prévia no prosseguimento da
ação. E nas outras 91 (noventa e uma) situações a citação ocorreu
tempestivamente, embora em 7 (sete) casos não haja, dentro dos autos, o
documento para comprovar a citação.
79

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A DIGITAÇÃO


DO DOCUMENTO E A EFETIVA CITAÇÃO (EM
DIAS) – JUIZADO Y
50 46
45
40
Processos

35
30 22
25
20 15
15 7
10 5
5 1 2 0 0 0 0 0 0 2
0 Processos

Dias

No Juizado Y, o tempo contado a partir da citação, até a juntada do Aviso de


Recebimento (AR) nos autos pode ser conferido pelo seguinte gráfico:

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A CITAÇÃO E


A JUNTADA DO DOCUMENTO
COMPROBATÓRIO AOS AUTOS (EM DIAS) –
JUIZADO Y
25 21
18
Processos

20
15 13
10
10 6 6 7
4 4 3
5 2 1 2 1 2
0
Processos

Dias
80

Analisando este último gráfico podemos perceber uma situação em que o ato
levou mais de 100 (cem) dias para ser realizado. Precisamente, o tempo entre a
citação e a juntada do Aviso de Recebimento foi de 195 (cento e noventa e cinco)
dias. Ou seja, mais de 6 (seis) meses foram necessários para realização do ato,
enquanto em outros processos a mesma atividade foi realizada num prazo de até 5
(cinco) dias. A partir daí, já podemos ver como existe discrepância para
desempenho dos atos processuais.

5.1.3 Da Designação da Audiência

Conforme mencionado, existem 3 (três) tipos de audiência, a de Conciliação


(AC), a de Instrução e Julgamento (AIJ) e a de Conciliação, Instrução e Julgamento
(ACIJ).

No momento em que se apontou as diferenças entre os Juizados Especiais


Cíveis, ficou registrado que, em um, normalmente se marca a Audiência de
Conciliação e, após a realização desta, a Audiência de Instrução e Julgamento. Já
no outro ocorre o agendamento direto da Audiência de Conciliação, Instrução e
Julgamento.

Excetuando as ações de restauração de autos – que totalizaram 3 (três) – e


execução direta, em todos os demais processos – que totalizam 185 (cento e oitenta
e cinco) – houve o agendamento de um dos tipos de audiência.

Em se tratando de ação de execução, só se marcará audiência se houver


garantia do juízo, nos demais casos, ocorrerá a execução forçada. Nesse sentido,
segue decisão contida em um dos processos analisados:

1- Cite-se em execução, na forma do art. 53 da Lei 9099/95, c/c art. 652 do


CPC, para pagamento ou nomeação de bens, em TRÊS DIAS, sob pena de
execução forçada. 2- Com a garantia do Juízo, designe-se a audiência
prevista no parágrafo primeiro do art. 53 da Lei 9.099/95, observando-se,
ainda, o disposto no Enunciado 13.2.1.

A Lei nº. 9.099/1995 não estabelece prazo para designação da primeira


audiência, entretanto, informa que se não for realizada a conciliação e não houver
81

interesse na escolha pelo juízo arbitral, realizar-se-á, imediatamente, a audiência de


instrução e julgamento, salvo se existir prejuízo para a defesa, casos em que a
mesma deverá ser agendada nos 15 (quinze) dias subsequentes. Vejamos:

Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes


presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as
conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art.
3º desta Lei.
(...)
Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum
acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.
(...)
Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à
audiência de instrução e julgamento, desde que não resulte prejuízo para a
defesa.
Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização imediata, será a
audiência designada para um dos quinze dias subseqüentes, cientes, desde
logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes.

De todos os processos pesquisados, 60 (sessenta) necessitaram da


realização de duas audiências, sendo que em apenas 13 (treze) o prazo de 15
(quinze) dias foi respeitado.

O Juizado Especial Cível X, em regra, trabalha com a audiência una, ou seja,


realiza a conciliação e a instrução e julgamento na mesma data, conforme previsto
no artigo 21 da Lei 9.099/1995. Nesse diapasão, foram realizadas 89 (oitenta e
nove) Audiências de Conciliação, Instrução e Julgamento no Juizado Especial X, e,
no Juizado Y, em que essa modalidade se revela como exceção, ela ocorreu em 6
(seis) processos.

No que diz respeito ao tempo para realização da primeira audiência, a lei não
prevê nenhum prazo, entretanto, se fossemos considerar os mesmos 15 (dias)
mencionados para a realização da fase de instrução e julgamento, nenhum processo
teria atingido a referida marca, tendo em vista que a conciliação mais rápida foi
marcada 29 (vinte e nove) dias após a distribuição.

Outro parâmetro que pode ser mencionado, e embora seja aplicado ao rito
ordinário, e não ao Juizado Especial, é o prazo de 30 (trinta) dias para marcação de
audiência preliminar, com previsão no artigo 331 do Código de Processo Civil. Trata-
82

se de audiência cujo principal objetivo é a tentativa de conciliar as partes, resultado


este que, quando não obtido, permite a adoção de diligências para sanear o feito.

Por possuir o viés de conciliação, assim como a Audiência de Conciliação dos


Juizados Especiais, também me parece razoável utilizar o prazo previsto naquela
como parâmetro. Entretanto, mesmo que se considere os 30 (trinta) dias, apenas 1
(um) dos processos teria alcançado a meta, o que demonstra que os aspectos
normativos não influenciam o tempo para marcação da audiência.

5.1.3.1 O Tempo para Agendamento de Audiência no Juizado X

Dos 100 (cem) processos analisados no Juizado Especial Cível X, em apenas


6 (seis) deles ocorreu a marcação de Audiência de Conciliação, com posterior
Audiência de Instrução e Julgamento, representando 6% (seis por cento) dos
processos pesquisados, sendo que 1 (um) destes processos era de 2006, 2 (dois)
eram de 2008, outros 2 (dois) de 2012 e 1 (um) era de 2013.

Nos casos em que a primeira audiência foi a de Conciliação, podemos


apresentar o tempo da seguinte maneira:
83

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL X
3

2 2
2
Processos

1 1
1 Processos

0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses
Tempo

Total: 6 (seis) processos.

Nestes processos do Juizado Especial X em que inicialmente aconteceu a


Audiência de Conciliação, a de Instrução e Julgamento foi marcada da seguinte
maneira: no processo de 2006 levou quase 4 (quatro) meses da AC para a AIJ, nos
de 2008, aproximadamente, 3 (três) meses, nos de 2012, 6 (seis) dias e, no de
2013, apenas 2 (dois) dias. Vejamos:
84

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


INSTRUÇÃO E JULGAMENTO NO JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL X
4

3
Processos

Processos
1

0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8
mês meses meses meses meses meses meses meses
Tempo

Total: 6 (seis) processos.

Logo, em 3 (três) deles, correspondente à metade, houve respeito ao prazo


estampado na Lei nº. 9.099/1995, com o agendamento da ACIJ nos 15 (quinze) dias
subsequentes à Audiência de Conciliação.

No que diz respeito ao padrão deste Juizado, que é a realização da Audiência


de Conciliação, Instrução e Julgamento, pode-se esquematizar da seguinte forma:
85

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL X
30
26
25
20 21
Processos

20 17
15
10
5 3 Processos
0 1 1 0 0 0 0 0
0

Tempo

Total: 89 (oitenta e nove processos) com ACIJ marcados.

A partir do gráfico é possível constatar a informação de que nenhum deles


respeitou o prazo de 15 (quinze) dias, utilizado como parâmetro para definir o que
seria razoável.

Por fim, cumpre esclarecer que, dentre os processos analisados, em 5 (cinco)


deles não ocorreu audiência, por se tratar ou de processos de execução, onde o réu
é intimado e citado para pagar a dívida, ou de restauração de autos, em que se
pretendia apenas ver cumprida obrigação já estabelecida em processo anterior que,
por falta de movimentação, foi arquivado e destruído. Foram analisados 3 (três)
processos de execução e 2 (dois) que se referiam à restauração de autos.

5.1.3.2 O Tempo para Agendamento de Audiência no Juizado Y

Já no outro Juizado Especial Cível, a situação se apresenta da seguinte


forma:
86

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Y
45
39 40
40
35
30
Processos

25
20
15
10 Processos
5 1 1 2 1
0 0 0 0 0 0 0
0

Tempo

Total: 84 (oitenta e quatro processos).

Logo, em 84 (oitenta e quatro) processos houve a realização da Audiência de


Conciliação, em um primeiro momento, sendo que apenas 1 (uma) foi agendada no
prazo de 15 (quinze) dias, considerado como razoável para fins da presente
pesquisa.

Vale mencionar que 10 (dez) dos processos pesquisados no Juizado Y não


precisaram de audiência, sendo que 9 (nove) diziam respeito à Ação de Execução, e
o décimo objetivava apenas promover a restauração de autos já eliminados.

Além da Audiência de Conciliação, outros dois tipos de audiência foram


verificados em sede do Juizado Y, sendo a audiência inaugural una, Audiência de
Conciliação, Instrução e Julgamento, que é a espécie majoritária no outro Juizado; e,
a Audiência de Instrução e Julgamento, realizada após a Audiência de Conciliação.

Dos 100 (cem) processos analisados, em 6 (seis) houve o agendamento, em


um primeiro momento, da Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento, e o
87

tempo para sua marcação, como audiência inaugural, pode ser representado da
seguinte forma:

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Y
5
4
4
Processos

2
Processos
1 1
1
0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses
Tempo

Total: 6 (seis processos).

Mais uma vez, não é possível visualizar audiências agendadas no prazo de


até 15 (quinze) dias.

O curioso é que, em um desses processos, em que se marcou a Audiência de


Conciliação, Instrução e Julgamento, o magistrado responsável o fez porque o autor
trabalhava embarcado. Assim, conseguir duas datas para comparecimento seria
mais complicado, optando, então, por marcar a audiência una, em respeito à
celeridade processual e as particularidades do autor.

Passa-se, então, para o tempo existente entre a realização da Audiência de


Conciliação, até que se chegue na Audiência de Instrução e Julgamento.

A Audiência de Instrução e Julgamento terá lugar após a realização da


Audiência de Conciliação, quando as partes não chegarem a um acordo e, de fato,
se tornar necessário o prosseguimento da ação.
88

De acordo com os dados levantados, não foram todos os processos que,


após a Audiência de Conciliação, precisaram ir para a Audiência de Instrução e
Julgamento. Em alguns casos, em razão de acordo, desistência da ação, dentre
outros, o processo pode ser extinto a partir daí, inexistindo qualquer motivo para
realizar uma segunda audiência.

As causas que tornaram desnecessária a realização de Audiência de


Instrução e Julgamento foram as seguintes: (a) em 6 (seis) dos processos
pesquisados o autor não compareceu à Audiência de Conciliação, implicando a
extinção do processo com a condenação em custas; (b) em 1 (um) dos processos
analisados o autor compareceu à Audiência de Conciliação informando que, embora
não tivesse nenhum acordo escrito, o réu quitara a dívida (neste caso, o demandado
nem sequer compareceu à audiência); (c) em 8 (oito) casos vieram a informação de
celebração de acordo extrajudicial, cujo teor foi juntado aos autos; (d) em 1 (um)
deles, durante a Audiência de Conciliação, o magistrado extinguiu o processo, sem
resolução de mérito, porque o Juizado Especial Cível de Volta Redonda não era
competente para julgar a lide; (e) e, 4 (quatro) processos foram alvo de desistência,
por parte do autor, no período que antecedia ou durante a Audiência de Conciliação;
e, por fim, (f) 9 (nove) ações tiveram acordos formalizados ao longo da Audiência de
Conciliação.

Afastadas essas 30 (trinta) hipóteses, e os 10 (dez) processos que não


precisaram de audiência, tivemos 54 (cinquenta e quatro) Audiências de Instrução e
Julgamento marcadas, cujo tempo para realização, contado a partir do término da
Audiência de Conciliação, pode ser representado da seguinte forma:
89

TEMPO PARA MARCAR AUDIÊNCIA DE


INSTRUÇÃO E JULGAMENTO NO JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL Y
25
21
20
Processos

15
12

10
6 6 Processos
5 4
3
2
0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8
mês meses meses meses meses meses meses meses
Tempo

Total: 54 (cinquenta e quatro) processos.

Dentre os processos que levaram até 1 (um) mês, chama atenção o fato de
que, em 2 (dois) deles, a Audiência de Instrução e Julgamento realizou-se no dia
seguinte à Audiência de Conciliação. Ou seja, em um lapso temporal de
aproximadamente 24h (vinte e quatro horas) foram realizadas duas audiências.

Considerado o prazo legal estampado no artigo 27, parágrafo único, da Lei nº.
9.099/1995, tais audiências deveriam ter sido marcadas nos 15 (quinze) dias
subsequentes à realização da Audiência de Conciliação, o que aconteceu apenas
em 10 (dez) dos 54 (cinquenta e quatro) processos pesquisados, totalizando 18,5%
(dezoito vírgula cinco por cento).

Outra observação a ser feita é que, diante da possibilidade de conciliar as


partes em qualquer fase do processo, aponta-se a existência de 2 (dois) acordos
celebrados na Audiência de Instrução e Julgamento. Ou seja, embora as partes não
tenham transacionado na Audiência de Conciliação, o fizeram em um segundo
90

momento. Todavia, mostra-se que a AIJ, ao menos nos processos pesquisados, tem
baixíssimo percentual de acordo.

Também foram verificadas 5 (cinco) situações em que o autor, embora tenha


comparecido à Audiência de Conciliação, deixou de se apresentar para a Audiência
de Instrução e Julgamento, ensejando a extinção do feito, com a consequente
condenação no pagamento das custas processuais.

5.1.4. Da Juntada das Petições

Toda informação ou documento deve ser apresentado no processo por


intermédio de petição, seja ela elaborada pela própria parte, por advogado particular,
defensor público ou pelo Núcleo de Distribuição, Autuação e Citação do Juizado
Especial Cível de Volta Redonda – NADAC. A regra é que elas devem ser
protocolizadas no setor próprio e, a partir daí, serão encaminhadas aos cartórios
responsáveis para que promovam a juntada no processo.

O Protocolo Geral das Varas (PROGER), além de receber as petições


destinadas aos Juizados Especiais, recebe, também, àquelas endereçadas à Justiça
Comum.

Nesse passo, embora a distribuição dos processos da Justiça Comum e dos


Juizados Especiais seja feita em setores distintos, o mesmo não ocorre com as
petições, que são protocolizadas em um mesmo setor.

Uma prática presente na atuação dos defensores públicos é a apresentação


da manifestação não por meio de petição própria, mas sim através de apontamentos
em espaços em branco da última folha do processo. Tais hipóteses dispensam,
obviamente, o protocolo, porém representaram pouquíssimos casos.

Após nova manifestação ou juntada de petição, o processo é encaminhado


para a conclusão, a fim de que o julgador tome ciência do teor do documento e
profira a decisão pertinente.
91

Tecidas tais considerações sobre o ato de protocolizar e juntar petições,


cumpre esclarecer que o tempo apresentado neste tópico será aquele contado a
partir da data do protocolo, até a efetiva juntada da petição no processo.

Para investigar esse tempo, foram selecionadas, aleatoriamente, 100 (cem)


petições de cada Juizado, totalizando 200 (duzentas), todas inseridas dentro dos
processos pesquisados.

Cabe registrar que foi analisando as datas de juntada das petições que
percebi uma das diferenças existentes entre os Juizados Especiais Cíveis de Volta
Redonda. Trata-se da mencionada Certidão de Recebimento de Petições, que
embora existente em um dos Juizados, não encontra qualquer correspondente no
outro.

Reforço a ideia de que a referida Certidão busca, apenas, demonstrar a data


em que as petições apresentadas no Protocolo Geral das Varas (PROGER) foram
entregues ao Cartório, não se confundindo com a data da juntada da petição no
processo, tampouco com a data de realização do protocolo.

Pelo que pude perceber analisando a Certidão de Recebimento, normalmente


as petições são encaminhadas em até 5 (cinco) dias para os Cartórios específicos,
excetuando situações que coincidiam com finais de semanas ou feriados, sendo
bastante comum que, já no dia seguinte, passem por esta transferência.

Como esta informação está disponível em apenas um dos Juizados, não


posso garantir que a regra se aplique também ao outro, todavia, tendo em vista que
o setor de protocolo é o mesmo, muito provável que siga essa linha para as duas
serventias.

Entretanto, a referida informação vale apenas para salientar que os


documentos, em regra, não ficam retidos no PROGER, sendo logo encaminhados
aos destinos próprios, e é no Cartório que aguardam o momento da juntada.
92

A Lei que regula os Juizados Especiais Cíveis não estipula um tempo mínimo
ou máximo para que ocorra a juntada, entretanto, por se tratar de tarefa da
competência dos funcionários, podemos invocar, em razão do princípio da
subsidiariedade do Código de Processo Civil, e para fins de referência, o artigo que
trata do prazo para que os servidores pratiquem os atos que lhes competem.

O artigo 190 do Código de Processo Civil de 1973 prevê o prazo de 48


(quarenta e oito) horas para que os serventuários realizem os atos processuais que
lhes competem, excetuando a conclusão, contados a partir da data em que
concluírem ato anterior lhe imposto por lei ou da data de ciência da ordem, quando
determinada pelo juiz.

Deste modo, pode-se considerar que a partir do momento em que o servidor


recebe as petições que lhes são encaminhadas pelo PROGER, ocorre o
encerramento do ato anterior, iniciando a contagem do prazo para que se formalize
a juntada.

O Novo Código de Processo Civil (2015) ampliou o prazo para 5 (cinco) dias,
mantendo os demais termos.

Em síntese, da data em que concluiu ato anterior, o serventuário tem 48


(quarenta e oito) horas para realizar a juntada, se considerado o antigo Código de
Processo Civil – que estava vigente quando os processos pesquisados tramitaram –
ou 5 (cinco) dias, se considerada as novas regras processuais.

5.1.4.1 Da Juntada de Petições no Juizado Especial Cível X

Ao todo foram examinadas 100 (cem) petições do Juizado X, a fim de montar


o gráfico abaixo:
93

DO TEMPO PARA JUNTADA DE PETIÇÃO NO


JUIZADO X (em dias)
30 28
27

25

20
Petições

15

10 9 9
8 Petições
6
5
5
2 2 2
1 1
0

Dias

Observa-se uma grande variação no tempo necessário para realização do


ato, entretanto, a maior parte das petições é juntada em um período de até 10 (dez)
dias da protocolização.

Considerando que o cálculo do tempo para juntada de petição inclui a data do


protocolo e se encerra com a efetiva juntada do documento aos autos, é preciso
promover um desconto de 2 (dois) a 5 (cinco) dias, que é aproximadamente o tempo
despendido para que a petição seja encaminhada do PROGER ao Cartório, pois só
quando chega à serventia é que a contagem deve se iniciar.

Feito isso, pelas novas regras processuais, teremos que 55% (cinquenta e
cinco por cento) das petições foram juntadas dentro do tempo de referência,
representado aquelas cujo ato ocorreu até 10 (dez) dias.

Lembrando que, se considerado o tempo previsto pelo Código de Processo


Civil de 1973, menos de 55% (cinquenta e cinco por cento) das petições teriam sido
juntadas dentro do prazo previsto em lei.
94

No que diz respeito às petições que levaram mais de 100 (cem) dias para
serem juntadas, tem-se que o tempo total necessário foi de 110 (cento e dez) dias
para uma, e 119 (cento e dezenove) para a outra. Aproximadamente 10 (dez) vezes
mais do que o tempo de referência.

Neste Juizado, um dos servidores comentou que, por dia, chegam mais de
400 (quatrocentas) novas petições, e que eles estavam conseguindo trabalhar sem
acumular muitas, tanto que, por um período em 2015, os documentos eram juntados
rapidamente. Entretanto, às vezes acontece de o serviço acumular bastante, ficando
mais demorado. Inclusive, já surgiu a necessidade de montar uma equipe de apoio
para agilizar o procedimento de juntada, pois apenas os servidores não estavam
conseguindo dar conta.

5.1.4.2 Da Juntada de Petições no Juizado Especial Cível Y

Também no Juizado Y pode ser observada uma grande variação no tempo


necessário para juntar as petições ao processo. Vejamos:

DO TEMPO PARA JUNTADA DE PETIÇÃO NO


JUIZADO Y (em dias)
30
26
25
20
20
Petições

15
15 14
12

10 Petições

5 4 4
2
1 1 1
0
0

Dias
95

Aplicando a mesma regra usada para analisar a juntada de petições no


Juizado X, verifica-se que apenas 35% (trinta e cinco por cento) dos atos
processuais foram realizados em até 10 (dez) dias, os quais, abatendo o tempo de
deslocamento entre PROGER e Cartório, são considerados como dentro do prazo
de referência.

Nesta serventia, verifiquei dois casos em que a petição foi protocolizada e


juntada no mesmo dia. Por outro lado, a mais demorada levou 182 (cento e oitenta)
dias para ser anexada ao processo, tempo este que equivale, aproximadamente, a 6
(seis) meses. Mais à frente, ao apresentar o tempo total necessário para o
encerramento dos processos, será possível encontrar ações que tiveram seu início e
término dentro deste prazo. Ou seja, às vezes leva mais tempo para se juntar uma
petição do que para encerrar um processo inteiro.

O porquê de existir tanta diferença de tempo para a realização de um mesmo


ato nunca é bem esclarecido, posto que diante das indagações sobre o tema, as
respostas costumam ser genéricas, normalmente girando em torno do acúmulo de
serviço, do alto volume de protocolos diários, ou, me disseram certa vez, que a
demora pode ser ocasionada em razão do processo não estar disponível no
Cartório, seja porque foi remetido ao juiz ou ao juiz leigo após a protocolização e
antes da juntada, ou porque ficou um tempo desaparecido.

5.1.5 Da Leitura de Sentença

Imperioso destacar que a possibilidade de flexibilizar os prazos processuais


torna impossível estimar quando determinado ato será efetivamente realizado.

Tratarei aqui da Leitura de Sentença. Em regra, as sentenças ficam a cargo


dos juízes leigos, mas também podem, obviamente, ser elaboradas, de plano, pelo
magistrado titular.

Na verdade, os juízes leigos escrevem o projeto de sentença, e a validade da


decisão proferida fica condicionada à homologação pelo juiz titular. Se homologada,
96

terá validade como sentença; se não, o juiz titular poderá proferir nova sentença ou
convertê-la em diligência.

Dentre os processos pesquisados, em apenas dois deles não houve a


homologação do projeto de sentença apresentado, sendo que, nas situações
ventiladas, o magistrado entendeu como necessário realizar mais algumas
diligências, antes de considerar o processo pronto para julgamento. Cumprida a
exigência, os processos foram remetidos ao juiz leigo, que proferiu nova decisão
para submeter ao titular, sendo, em ambos os casos, aprovada.

Mas qual o momento em que se profere a Sentença ou marca data para sua
Leitura?

De acordo com o artigo 28 da Lei nº. 9.099/1995: “Na audiência de instrução e


julgamento serão ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a
sentença”. Logo, a regra deveria ser que, ao final da audiência, seria lavrada a
sentença, de cujo teor as partes já sairiam cientes.

Na prática, porém, verifiquei um cenário em que na minoria das vezes o juiz


optou por proferir a sentença em audiência, designando data para fazê-lo (Leitura de
Sentença). Ou seja, o que é regra na teoria – Sentença proferida na Audiência de
Instrução e Julgamento – se mostra com exceção na prática.

Em outras palavras, para encerrar a Audiência de Conciliação, Instrução e


Julgamento (ACIJ) ou a Audiência de Instrução e Julgamento (AIJ), o juiz pode já
proferir a Sentença – agindo como preconizado na lei – ou, então, designar data
para Leitura de Sentença.

Existem, ainda, alguns casos que foram por mim taxados como “sem Leitura
de Sentença”. Esta situação diz respeito aqueles em que a sentença extintiva se deu
antes mesmo da realização da audiência, fosse pela desistência proclamada pelo
autor, pela celebração de acordo extrajudicial ou pelo adimplemento voluntário da
obrigação por parte do réu; refere-se, também, às situações em que o processo foi
extinto pela incompetência do Juizado Especial Cível; e, ainda, casos em que se
97

obteve êxito na conciliação judicial das partes. Ressalte-se, contudo, que tendem a
ser processos cujo término não se dá pela análise meritória

Nesses processos, o tempo para proferir a sentença se assemelha ao das


demais decisões, tendo em vista que não há agendamento prévio de quando serão
lançadas.

No caso da conciliação, por exemplo, normalmente a presidência da


audiência está por conta do conciliador ou do juiz leigo. Assim sendo, com a
intenção das partes em promover a transação, os termos são descriminados em ata
e, finda a audiência, os autos são conclusos ao juiz titular, para que este diga se
homologa ou não o acordo celebrado pelas partes. Dentre os processos analisados,
não consta nenhum em que esta homologação não se realizou.

Excluídas essas situações, aqui denominadas como “sem Leitura de


Sentença”, verifica-se que em apenas 12 (doze) processos ocorreu a elaboração do
Projeto de Sentença em audiência, sendo 3 (três) casos referentes à desistência –
comunicada no ato de realização da audiência –; 6 (seis) pela ausência do autor; e,
em apenas 2 (dois) casos, o projeto elaborado dizia respeito à decisão de mérito, ou
seja, aquela que de fato aprecia os pedidos autorais.

Ao todo, 90 (noventa) processos não tiveram nem data de Leitura de


Sentença, nem Sentença em audiência, embora todos tenham tido sentenças.

Em 98 (noventa e oito) processos ocorreu agendamento de data para que a


Sentença fosse proferida, data esta que sai consignada em ata, sendo que em 57
(cinquenta e sete) deles a decisão saiu dentro do prazo estipulado e, nos outros 41
(quarenta e um), fora do prazo preconizado.

Quando o juiz marca a data para Leitura de Sentença, as partes e os


procuradores correlatos já saem da audiência cientes do dia e da hora em que a
decisão estará disponível. Diante disso, devem, na data marcada, comparecer ao
Cartório para tomar ciência do teor decisório.
98

Tendo em vista que as partes têm conhecimento da data designada para


Leitura de Sentença, a publicação, no Diário Oficial, é dispensada, operando a
presunção de que, na data indicada, a parte tomou conhecimento da decisão,
iniciando o prazo para adoção das medidas cabíveis, incluindo o adimplemento
voluntário da obrigação (se houver condenação) ou interposição de recursos.

Este é o trâmite previsto para os casos em que a leitura é designada para


certa data e, dentro do aprazado, o processo é devolvido e colocado à disposição
das partes no Cartório. Caso não haja a devolução tempestiva, aí sim torna-se
necessário publicar o teor da decisão.

Os juizados trabalham com mais de um juiz leigo. Assim, não é incomum que,
alguns deles, atrasem a entrega do processo, com o respectivo Projeto de Sentença.

Embora a maioria das sentenças tenha sido proferida fora do prazo, não
observei nenhum caso em que essa demora tenha ocasionado sanções para quem
descumpriu os prazos legais. Conclui-se, portanto, que a falta de fiscalização quanto
ao cumprimento dos prazos, com a aplicação de sanções, possibilita que as
previsões legais sejam amplamente ignoradas, incluindo aí a necessidade de
formular a Sentença no prazo legal.

Em linhas gerais, a prolação da sentença na data marcada pode ou não ser


realizada, mas ainda que seja feita fora do prazo, não costuma acarretar qualquer
sanção para o julgador que o ignorou, tornando inúteis os prazos estipulados em lei.

Enquanto o processo não é devolvido com a Sentença, ele fica travado, e só


depois da devolução pelo juiz leigo é que poderá voltar a caminhar. Assim, os
verdadeiros prejudicados acabam sendo as partes e seus respectivos advogados,
diante da ausência de previsão real sobre quando o processo será decidido.

Quando ocorre atraso na devolução, é comum que os advogados peticionem


informando o não cumprimento do prazo e, em corolário, requeiram a publicação da
Sentença, no Diário Oficial, para que só a partir daí inicie o lapso temporal para
prática dos atos que lhes cabem.
99

Pode ser que o advogado só peticione, juntando o boleto de andamento do


processo, extraído da internet ou, então, pode ocorrer de o advogado ir até o
Cartório solicitar uma Certidão de que o processo ainda não foi devolvido, para
juntá-la à petição e aí sim protocolizá-la.

Esta petição, embora seja comum na prática da advocacia, foi definida por um
dos funcionários do Juizado Especial Cível como:

Uma perda de tempo. Serve só para dar mais trabalho e atrasar o serviço.
O advogado vem no balcão, pega a Certidão de que não saiu [a sentença],
aí a gente já tem que fazer o atendimento no balcão, parando os outros
serviços, depois junta no processo pedindo a publicação. E ele sabe que
não precisa fazer isso; se não publicar, não vai ter validade. Não precisa
pedir. Isso [a publicação] vai acontecer de qualquer jeito. Mas dá todo o
trabalho de ter que juntar a petição, apreciar o pedido e fazer o que já seria
feito.
(Servidor I)

Para o funcionário em questão, tal prática serve apenas para atrasar o


processo, pois gera mais serviço aos funcionários, em algo que é totalmente
desnecessário. Já para o advogado, revela uma garantia: a certeza de que,
futuramente, não dirão que o processo foi disponibilizado na data certa, quando, na
verdade, não o foi.

Outro funcionário apresentou constatação diferente, dizendo que muitos


advogados fazem isso de boa-fé, mas que outros pretendem contar número de
petições, pois recebem por ato praticado ou petições protocoladas. Para ilustrar a
situação, me mostrou um processo no qual constavam 4 (quatro) petições
consecutivas, com intervalo de aproximadamente 15 (quinze) dias entra elas, todas
com teor semelhante, que assim pode ser sintetizado: o processo com Leitura de
Sentença marcada não foi devolvido na data prevista, mostrando necessária a publi
ação, sob pena de nulidade.
100

5.1.5.1 Da Leitura de Sentença no Juizado X

No Juizado X, 9 (nove) processos tiveram a sentença em audiência, 48


(quarenta e oito) tiveram Leitura de Sentença agendada e 43 (quarenta e três)
puderam ser considerados como “sem Leitura de Sentença”.

No presente tópico, apontarei, em um primeiro momento, o lapso temporal


transcorrido entre a realização da audiência e a data prevista para Leitura de
Sentença para, depois, tratar do tempo que os juízes efetivamente levaram para
proferir a Sentença. Vejamos:

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A AUDIÊNCIA E A


14
DATA AGENDADA PARA LEITURA DE SENTENÇA NO
JUIZADO X
12
12
Agendamento da Leitura de Sentença

11
10
10

6
5 5
4
4

2
2

0 0 0 0 0
0
0-5 5-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 81-90 91-100 100+ Dias
Total: 48

Ou seja, as Leituras de Sentença nos processos pesquisados foram


agendadas em um período que varia de 5 (cinco) a 70 (setenta), contados a partir da
realização da audiência.
101

O menor tempo de espera foi de 6 (seis) dias e, o maior, de 69 (sessenta e


nove) dias. Devo lembrar, apenas, que esta é a previsão de quando a decisão será
disponibilizada, sendo bastante comum o não cumprimento desta expectativa.

Embora a Lei dos Juizados Especiais não traga qualquer prazo sobre o tempo
para proferir a sentença, quando esta não é apresentada na Audiência de Instrução
e Julgamento, pode-se buscar referências, mais uma vez, no Código de Processo
Civil.

A lei processual de 1973 prevê um prazo de 10 (dez) dias para que o juiz
profira a Sentença (artigo 456). Já o Código de Processo Civil de 2015 amplia este
tempo para 30 (trinta) dias.

Se for levado em conta que os processos pesquisados tramitaram na vigência


da lei processual de 1973, apenas 2 (duas) ações teriam tido a Leitura de Sentença
agendada dentro do prazo. Porém, se considerada a nova regra, 23 (vinte e três)
processos estariam dentro dessa condição.

Todavia, o gráfico anterior representa uma previsão, sendo imperioso


analisar, neste momento, quanto tempo realmente leva para que as sentenças
sejam elaboradas. Contar-se-á, então, quanto tempo os processos ficaram na posse
do juiz, seja ele leigo ou togado, para que fosse proferida a decisão.

Ou seja, o tempo a seguir considera a data da conclusão como início, e a


devolução do processo como fim, incluindo, também, o período de homologação da
decisão pelo juiz titular:
102

DO TEMPO PARA PROFERIR A SENTENÇA


(QUANDO AGENDADA LEITURA DE SENTENÇA)
NO JUIZADO X (em dias)
12
10
10 9
8
8
Sentença

6 5
4
4 3 3 3
Sentença
2
2 1
0 0
0

Dias

Total: 48

A Sentença mais rápida levou 6 (seis) dias para ser produzida e, a mais
demorada, 150 (cento e cinquenta) dias.

Voltando para a referência do Código Processual Civil, teríamos 3 (três)


ações dentro do prazo preconizado pela lei de 1973, e 20 (vinte) dentro do previsto
pela de 2015.

Se considerada a lei em vigência quando os processos estavam em


andamento, será possível perceber que, dos casos com Leitura de Sentença, um
número mínimo de demandas respeitou a previsão legal. E, ainda que se
considerassem as novas regras, nem 50% (cinquenta por cento) dos casos teriam
seguido o prazo estipulado.

Porém, ainda existe uma situação a ser analisada. Deixando de lado o prazo
legal usado de referência, é importante considerar se as Leituras de Sentença foram
ou não realizadas no dia e hora previstos.
103

Afinal, encerrada a audiência, o juiz leigo já fica em poder do processo,


cabendo a ele elaborar o projeto de sentença e submetê-la para apreciação do juiz
togado. Este, adotando a medida que achar mais conveniente (aprovando ou não o
projeto), devolve o processo ao Cartório, a fim de que as partes possam ter ciência
da decisão.

Dos 48 (quarenta e oito) processos com Leitura de Sentença, 18 (dezoito)


deles não respeitaram a data prevista, sendo que o menor atraso se refere a 2 (dois)
processos cuja devolução ocorreu no dia previsto, porém, em horário diferente do
pactuado, inviabilizando a ciência na data agendada. Por outro lado, o maior atraso
foi de 129 (cento e vinte e nove) dias.

Lembrando que, sempre que há atraso, a decisão deve ser publicada para
que tenha validade.

Sobre o tempo para publicação, no tópico “5.1.6. Da Elaboração e Publicação


dos Despachos”, será apresentado gráfico mostrando o tempo despendido para que
um despacho seja publicado no Diário Oficial, valendo, também, como referência
para se estimar o tempo que as sentenças levam para serem publicadas, quando
proferidas fora do prazo.

5.1.5.1 Da Leitura de Sentença no Juizado Y

No Juizado Y, apenas 3 (três) processos tiveram a sentença em audiência,


foram 50 (cinquenta) Leituras de Sentença agendadas e 47 (quarenta e sete) estão
marcados como “sem Leitura de Sentença”.

A primeira análise, correspondente a previsão para Leitura de Sentença, pode


ser registrada da seguinte maneira:
104

DO TEMPO DESPENDIDO ENTRE A AUDIÊNCIA


E A DATA AGENDADA PARA LEITURA DE
SENTENÇA NO JUIZADO Y
25
Agendamento da Leitura de Sentença

21
20

15
12

10
Agendamento da Leitura de
4 Sentença
5 3 3
2 2 2
1
0 0 0
0

Dias

Total: 50

Considerando o prazo de 10 (dez) dias previsto no Código de Processo Civil


de 1973, apenas 2 (dois) dos 50 (cinquenta) processos se encaixariam na
disposição legal. Mas, ainda que se considerasse os 30 (trinta) dias estampados na
nova lei processual, somente 7 (sete) processos teriam tido a marcação de Leitura
de Sentença em um prazo razoável.

Quando se analisa o tempo efetivo para prolação da Sentença, os números


sofrem pequenas alterações, como pode ser percebido no gráfico abaixo:
105

DO TEMPO PARA PROFERIR A SENTENÇA


(QUANDO AGENDADA LEITURA DE SENTENÇA)
NO JUIZADO Y (em dias)
10 9
9 8
8 7 7
7 6
Sentença

6 5
5
4 3
3 2 2 Sentença
2 1
1 0 0
0

Dias

Total: 50

Registre-se que o menor período de conclusão foi de 7 (sete) dias e, o maior,


de 125 (cento e vinte e cinco) dias.

De acordo com a lei processual de 1973, 2 (dois) processos teriam tido a


Sentença dentro de um período razoável, qual seja, de até 10 (dez) dias. Por seu
turno, o Código de Processo Civil de 2015, ao prever o prazo de 30 (trinta) dias, faz
com que 10 (dez) ações se encaixem no lapso temporal preconizado.

Por fim, acresce anotar que das 50 (cinquenta) demandas com Leitura de
Sentença marcada, 23 (vinte e três) delas não tiveram a decisão lançada na data
inicialmente prevista, sendo que o menor atraso foi em um caso que a devolução
ocorreu no dia certo, mas fora do horário previsto. Já o maior atraso foi de 131
(cento e trinta e um dias), ou seja, depois da data assinalada em audiência, ainda
levou praticamente 5 (cinco) meses até que a decisão fosse proferida.
106

Apesar da diferença mínima, pode-se afirmar, pelo menos, que a maioria das
Sentenças foram elaboradas dentro do prazo estipulado pelo juiz, embora não sigam
os prazos legais.

5.1.6 Da Elaboração e Publicação dos Despachos

Para que o processo tenha andamento, é necessário que o magistrado


promova inúmeros atos, sendo que alguns possuem natureza decisória, e outros
não.

Seguindo a linha de Humberto Theodoro Júnior, pode-se considerar como


atos decisórios as sentenças, as decisões interlocutórias e os despachos, e os não
decisórios são, por exemplo, oitiva de testemunha, presidência de audiências 17.

Na presente pesquisa, optei por trabalhar com o tempo para elaboração de


duas espécies de atos decisórios: sentença e despacho, deixando de lado as
decisões interlocutórias.

Tendo em vista que no tópico anterior tratei especificamente da Sentença,


resta falar sobre o tempo para elaboração e publicação dos despachos, que são
atos destinados a dar impulso ao processo.

Ao longo do processo, pode ocorrer de inúmeros despachos serem


proferidos. Para que isso ocorra, primeiro o processo é encaminhado ao juiz, através
do movimento denominado conclusão, permanecendo com ele até que elabore sua
manifestação e devolva os autos ao cartório. Após a devolução, os servidores
devem providenciar ou a intimação pessoal das partes, se estas não estiverem
constituídas de advogado – e aí o procedimento se assemelha ao da citação – ou
então diligenciar para que haja a publicação no Diário Oficial, o que se mostra
necessário com a existência de procuradores constituídos, a fim de que as partes
cumpram as determinações exaradas.

17
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit. p. 244.
107

Temos, então, dois momentos distintos, cujo lapso temporal foi avaliado em
separado: o primeiro diz respeito ao tempo em que o magistrado leva para, a partir
da data que tem o processo a seu dispor, proferir o despacho; e, o segundo, relativo
ao tempo em que, recebido os autos no Cartório, desprende-se até a efetiva
publicação da decisão, momento este em que inicia a contagem de prazo para
cumprir a determinação.

Assim, para que se tenha noção de quanto tempo leva para que um despacho
seja proferido e passe a ser exigível, deve-se somar o tempo para proferir a decisão,
mais aquele para que ocorra a intimação pessoal ou publicação no órgão
competente.

Para fins de referência, o Código de Processo Civil de 1973 prevê o prazo de


2 (dois) dias para que o juiz profira despachos de mero expediente, prazo este
estendido para 5 (cinco) dias pelo Novo Código de Processo Civil (2015).

5.1.6.1 Da Elaboração e Publicação dos Despachos no Juizado X

Após analisar 100 (cem) despachos no Juizado X, tem-se os seguintes dados


acerca da elaboração, contanto a partir da conclusão, até a devolução do processo
pelo juiz:
108

DA ELABORAÇÃO DOS DESPACHOS NO


JUIZADO X (EM DIAS)
70 64
60
Elaboração do Despacho

50

40

30
Elaboração do Despacho
20 17
11
10 6
1 0 0 1 0 0 0 0
0

Dias

Considerando a regra processual de 1973, o total de despachos proferidos


em até 2 (dias) atinge o montante de 43 (quarenta e três) unidades, portanto, menos
de 50% (cinquenta por cento) dos casos. Entretanto, pelo Código de Processo Civil
de 2015, mais 21 (vinte e um) processos devem ser somados ao número de duração
razoável, por terem sido proferidos entre 3 (três) e 5 (cinco) dias.

Pela antiga regra, apenas 43% (quarenta e três) despachos teriam sido
proferidos dentro do prazo legal de 2 (dois) dias, fazendo com que nem metade dos
casos respeitasse a previsão estampada em nosso ordenamento jurídico. Todavia, a
nova regra processual, que amplia o prazo para 5 (cinco) dias, levanta este número
para 64% (sessenta e quatro por cento).

Depois de devolvido pelo magistrado, os serventuários devem adotar as


medidas cabíveis para que se cumpra a decisão exarada. Assim, se houver
necessidade de notificar as partes, isto será feito ou por intimação postal, ou através
da publicação no Diário Oficial.
109

Quando se trata de intimação postal, segue-se trâmite semelhante ao da


citação por carta, apresentada no tópico “5.1.2 Da Citação”. Entretanto, se a
publicação do despacho for necessária, temos o seguinte tempo, contado da data da
devolução até a efetiva publicação:

DA PUBLICAÇÃO DOS DESPACHOS NO


JUIZADO X (EM DIAS)
50
43
Publicação do Despacho

45
40
35
30 27
25
20 17
Publicação do Despacho
15
10
5 4
5 2 1 1
0 0 0 0
0

Dias

Depreende-se que a maior parte das decisões é publicada em um prazo de


até 10 (dez) dias, todavia, 30% (trinta por cento) dos processos precisaram de mais
tempo.

5.1.6.2 Da Elaboração e Publicação dos Despachos no Juizado Y

No Juizado Y, a elaboração dos 100 (cem) despachos levou o seguinte


tempo:
110

DA ELABORAÇÃO DOS DESPACHOS NO


JUIZADO Y (EM DIAS)
80 73
Elaboração do Despacho

70
60
50
40
30 Elaboração do Despacho
20 16
8
10 3
0 0 0 0 0 0 0 0
0

Dias

Dentre os despachos que levaram até 5 (cinco) dias para serem proferidos,
59 (cinquenta e nove) respeitam o prazo razoável de 2 (dois) dias, estampado no
Código de Processo Civil de 1973. Entretanto, se a referência utilizada for o Código
de Processo Civil de 2015, mais 14 (quatorze) processos teriam respeitado o prazo
previsto em lei.

Ou seja, menos da metade dos despachos, nesse Juizado, foram proferidos


fora do prazo legal, embora o número ainda seja bem alto: 41% (quarenta e um por
cento) pela antiga regra e 27% (vinte e sete por cento) pela nova legislação.

Com a devolução do processo pelo magistrado, conta-se o tempo para


publicação, a fim de se chegar ao momento em que a decisão deverá ser cumprida
pelas partes:
111

DA PUBLICAÇÃO DOS DESPACHOS NO


JUIZADO Y (EM DIAS)
40 37
Publicação do Despacho

35
30
25 22
20
15 12 Publicação do Despacho
11 11
10
5 2 2 3
0 0 0 0
0

Dias

Aqui, 37% (trinta e sete por cento) dos despachos necessitaram de onze a 20
dias para serem publicados, representando a maior barra do gráfico.

Apesar 13% (treze por cento) dos despachos tiveram sua publicação no prazo
de até 10 (dez) dias, e 50% (cinquenta por cento) levaram mais de vinte dias para
serem publicados.

5.1.7 Da Interposição de Recursos

Nosso ordenamento jurídico prevê a existência de inúmeros recursos,


estipulando as regras para interposição de cada um deles. No bojo desta pesquisa,
interessa o Recurso Inominado, que é aquele cabível contra as sentenças proferidas
em sede dos Juizados Especiais Cíveis.

Embora se possa ventilar a existência do Mandado de Segurança – usado


para manifestar inconformismo contra decisões interlocutórias – vale registrar que,
dentro dos 200 (duzentos) processos pesquisados, não visualizei nenhuma
informação dessa natureza.
112

De igual modo, também não se fará maiores destaques ao Recurso


Extraordinário, tendo em vista que em apenas 1 (um) dos processos pesquisados
essa modalidade de recurso se mostrou presente.

Logo, o foco deste tópico é analisar a fase recursal, no que se refere à


interposição do Recurso Inominado.

Para o jurista José Carlos Barbosa Moreira, recurso é “o remédio voluntário


idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o
esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna” 18.

Alexandre Freitas Câmara complementa tal ideia afirmando que “a


interposição do recurso é um ato de vontade. O recurso é uma manifestação de
insatisfação. Recorre contra uma decisão judicial aquele que vê seus interesses
contrariados pelo provimento” 19.

Ou seja, não existe a obrigatoriedade em recorrer, apenas será feito se a


parte tiver interesse e vontade de fazê-lo, tanto é assim que, dos 200 (duzentos)
processos pesquisados, Recursos Inominados só se mostraram presentes em 35
(trinta e cinco) deles, correspondendo a 17,5% (dezessete vírgula cinco por cento).

A fase recursal, para fins desta pesquisa, será o tempo compreendido entre o
protocolo da petição de interposição do recurso, até a data em que ocorre a
devolução do processo à Comarca de origem.

Nesse ínterim, inúmeros atos são realizados: após a interposição do recurso,


o Cartório certifica a tempestividade ou não do mesmo, abrindo-se conclusão ao
magistrado. Em havendo pedido de gratuidade de justiça, o juiz pode, de plano,
concedê-lo ou não, ou, ainda, optar por solicitar documentos (declaração de imposto
de renda, comprovante de rendimentos), a fim de que o recorrente comprove a
necessidade da dispensa das custas; em se tratando desta última hipótese, o

18
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998. p. 207.
19
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil: volume II. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009. p. 49.
113

recorrente terá prazo para cumprir a exigência e, posteriormente, os autos serão


conclusos novamente.

Transpassada a questão da gratuidade de justiça, haverá o despacho para


que o recorrido apresente suas contrarrazões. O cartório certificará a apresentação
ou não desta peça processual e, após, o processo será encaminhado à Turma
Recursal, na Capital do Estado do Rio de Janeiro, para apreciação do recurso.

Recebidos os autos na Turma Recursal, ocorre a autuação e distribuição com


posterior conclusão dos autos ao Relator, que pedirá data para julgamento ou
solicitará medidas para regularização do feito.

Em um dos processos pesquisados, antes de marcar a data para julgamento,


o Relator despachou encaminhando o processo “ao Juízo de origem para certificar a
tempestividade das contrarrazões”. Somente após a realização de tal ato é que se
agendou data para julgamento.

O julgamento é colocado em pauta e a data é publicada no Diário Oficial.

Feito o julgamento, a decisão é disponibilizada eletronicamente e, de igual


modo, publicada, a fim de se contar o prazo para interposição de embargos de
declaração (caso exista omissão, obscuridade, contradição ou erro material na
decisão) e, se não for o caso, ocorre o trânsito em julgado, ou seja, o momento
processual em que não se mostra mais possível interpor qualquer tipo de recurso.

Sem prejuízo dos embargos de declaração, também é possível interpor


Recurso Extraordinário, fazendo com que o processo seja encaminhado ao Supremo
Tribunal Federal.

A interposição de embargos também aumenta o número de atos necessários,


haja vista tornar necessária a manifestação sobre o teor de tal petição em sessão de
julgamento, demandando, ainda, publicação da decisão proferida.
114

Se nada mais for feito, com o trânsito em julgado da decisão lavrada pela
Turma Recursal o processo tem sua baixa definitiva ao Cartório de origem, onde
voltará a seguir seu curso.

Dos apontamentos realizados a seguir, será possível perceber que, em


alguns casos, os processos ficaram mais tempo em 1ª Instância do que em 2ª, ainda
que na fase já considerada por mim como recursal.

Todavia, a opção por contar o tempo desde o protocolo da petição do recurso,


e não apenas do momento em que o processo está, de fato, em 2ª Instância, se deu
em virtude do seguinte fato: quando alguém pergunta “quanto tempo vai levar a mais
se eu recorrer?”, a pessoa não quer saber, especificamente, quanto tempo o
processo ficará em 2ª Instância, mas sim o tempo geral, ou seja, o que será
efetivamente acrescido, contado da data da interposição do recurso.

Por isso, a investigação aqui não definirá o tempo do processo na Turma


Recursal, mas sim todo lapso temporal despendido da data em que se interpõe o
recurso, até sua devolução à Comarca de origem, quando a decisão da Turma
Recursal já pode ser executada.

Todavia, mais uma vez observei uma variação imensa de tempo para
realização do ato, sendo que alguns processos tiveram a fase recursal resolvida em
aproximadamente 3 (três) meses, e outros levaram praticamente 2 (dois) anos para
chegar a um desfecho.

5.1.7.1 Da Fase Recursal no Juizado Especial Cível X

No Juizado Especial Cível X houve 26 (vinte e seis) processos com


interposição de Recurso Inominado, quase o triplo do observado no outro Juizado,
em que só se visualizaram 9 (nove) situações desta natureza.

Destes processos, 5 (cinco) recursos não foram apreciados, pelas seguintes


razões: (a) em 2 (dois) casos houve interposição fora do prazo (intempestiva),
ensejando decisões na seguinte linha: “Deixo de receber o recurso inominado da
115

parte ré, face sua intempestividade. Cerificado o trânsito em julgado, voltem-me os


autos conclusos...”; e, (b) nos outros 3 (três) não foi recolhido o preparo (custas
processuais).

Podemos visualizar o tempo na fase recursal da seguinte maneira:

DO TEMPO DO PROCESSO NA FASE RECURSAL


7
(JUIZADO ESPECIAL CÍVEL X)
6
6

5
5
Processos

3 3
3 Processos
2 2
2

0 0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-18 18-24
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 21

Menos da metade dos processos encerraram a fase de recurso em até 6


(seis) meses, e o restante precisou de 1 (um) até 2 (dois) anos para ser resolvido.

Nos casos mais demorados, várias situações puderam ser percebidas, sendo
que em um deles, no qual levou-se 1 (um) ano, 9 (nove) meses e 11 (onze) dias
para encerramento da fase recursal, o tempo foi maior porque, além de existirem
dois recursos para apreciação: um do autor, e o outro do réu; ocorreu erro de
julgamento. Ou seja, o processo foi decidido e, posteriormente, foi verificada a
existência de erro material na decisão, o que fez surgir a necessidade de agendar e
promover novo julgamento, após a declaração de nulidade do primeiro, ensejando o
seguinte acórdão:
116

Acordam os Juízes que integram a Turma dos Juizados Especiais Cíveis,


por unanimidade, em decorrência de detecção de erro material oriundo do
lançamento equivocado de súmula não pertencente a este feito, declarar a
nulidade dos atos praticados a partir do julgamento ocorrido em 18/11/2014
e esclarecer que o recurso inominado interposto pela ré foi conhecido e
provido, sendo o recurso inominado interposto pelo autor conhecido e
desprovido nos termos do voto abaixo.

Nos outros dois processos que levaram de “dezoito a vinte e quatro meses”
para serem apreciados, o processo ficou bastante tempo em 1ª Instância, até que
ocorresse o deferimento da gratuidade de justiça. Aliás, em ambos os casos,
aproximadamente 9 (nove) meses foram gastos para que o pedido de gratuidade
fosse apreciado, e, a partir daí, abrisse prazo para contrarrazões, sendo que só
depois o processo seria encaminhado para 2ª Instância.

Todavia, vale registrar que a Lei dos Juizados Especiais Cíveis não
estabelece prazos para julgamento dos Recursos Inominados e, por se tratar de
espécie recursal própria dos Juizados, nenhum paralelo com as demais normas
brasileiras foi traçado.

É possível que a fase recursal leve mais tempo do que o trâmite inicial do
processo. A título exemplificativo, vale mencionar um dos processos pesquisados,
no qual a sentença de primeiro grau levou 10 (dez) meses para ser proferida, tempo
este inferior ao da fase recursal, que durou 12 (doze) meses.

De qualquer forma, diante da presente pesquisa, é possível perceber que


quando se indaga sobre o tempo da fase recursal, a resposta se torna
extremamente complexa, tendo em vista a imensa variação percebida.

5.1.7.2 Da Fase Recursal no Juizado Especial Cível Y

Dos 100 (cem) processos pesquisados no Juizado Especial Cível Y, em


apenas 9 (nove) houve interposição de Recurso Inominado, sendo que, um deles,
chegou ao Supremo Tribunal Federal, com a interposição de Recurso Extraordinário.
117

Dentre os Recursos apresentados, 2 (dois) deles não foram nem ao menos


apreciados, posto que desacompanhados do preparado, ensejando a seguinte
decisão:

Tendo em vista a certidão retro, julgo deserto o recurso, o que faço com
base no art.42, § 1º da L. 9.099/95 c/c o Enunciado Jurídico Cível nº 11.6.1
da chamada Consolidação, constante do Aviso nº 23/2008, publicado no
D.O.E.R.J. de 03.07.2008. Condeno a recorrente ao pagamento das custas
processuais, consoante disposto no Enunciado nº24 do FETJ, a saber: 24.
Não dispensa o pagamento das custas, nem autoriza a restituição daquelas
já pagas: a) ... b) ... c) o recurso declarado deserto, seja por
intempestividade ou por irregularidade no preparo, falta de preparo ou
preparo insuficiente; Uma vez preclusa a presente, apure-se o valor das
custas processuais devidas, notificando-se a devedora para pagamento, por
via postal, ou publicação no Diário Oficial, no prazo de 05 dias, sob pena de
inscrição na dívida ativa estadual.

Da data da interposição dos recursos, até o efetivo julgamento de deserção,


levou-se, em ambos os casos, aproximadamente 8 (oito) meses.

E por que demandou esse tempo?

Ocorre que, até efetivamente julgar o recurso deserto, inúmeras petições e


despachos foram formulados, abrindo oportunidade para o recorrente apresentar
declaração de rendimentos, a fim de que o magistrado pudesse apreciar a
necessidade ou não da concessão do benefício da gratuidade de justiça. Vejamos o
extrato processual de um deles, abaixo colacionado, que inicia com o ato mais
recente, indo para os mais distantes (o último é a data da juntada da petição de
interposição do Recurso Inominado):

Tipo do Movimento: Recebimento


Data de Recebimento: 26/05/2015

Tipo do Movimento: Decisão - Não recebido o recurso de parte.


Data Decisão: 26/05/2015
Descrição: Tendo em vista a certidão retro, julgo deserto o recurso, o que
faço com base no art.42, § 1º da L. 9.099/95 c/c o Enunciado Jurídico Cível
nº 11.6.1 da chamada Consolidação, constante do Aviso nº 23/2008,
publicado no D.O.E.R.J. de 03.07.2008. Condeno a recorrente ao
pagamento das custas processuais, consoante disposto no Enunciado nº24
do FETJ, a saber: 24. Não dispensa o pagamento das custas, nem autoriza
a restituição daquelas já pagas: a) ... b) ... c) o recurso declarado deserto,
seja por intempestividade ou por irregularidade no preparo, falta de preparo
ou preparo insuficiente; Uma vez preclusa a presente, apure-se o valor das
custas processuais devidas, notificando-se a devedora para pagamento, por
118

via postal, ou publicação no Diário Oficial, no prazo de 05 dias, sob pena de


inscrição na dívida ativa estadual.
Documentos Digitados: Despacho / Sentença / Decisão

Tipo do Movimento: Conclusão ao Juiz


Data da conclusão: 26/05/2015

Tipo do Movimento: Publicado Despacho


Data da publicação: 22/04/2015
Folhas do DJERJ.: 581/602

Tipo do Movimento: Enviado para publicação


Data do expediente: 16/04/2015

Tipo do Movimento: Recebimento


Data de Recebimento: 06/03/2015

Tipo do Movimento: Despacho - Proferido despacho de mero expediente


Data Despacho: 06/03/2015
Descrição: Intime-se a parte autora pela derradeira oportunidade para juntar
aos autos algum documento que comprove sua renda, como cópia da
carteira de trabalho ou de extratos bancários, no prazo de 05 dias.
Documentos Digitados: Despacho / Sentença / Decisão

Tipo do Movimento: Conclusão ao Juiz


Data da conclusão: 06/03/2015

Tipo do Movimento: Juntada - Petição


Data da juntada: 06/03/2015
Número do Documento: 201500723097 - Prog Comarca de Volta
Redonda

Tipo do Movimento: Publicado Despacho


Data da publicação: 22/01/2015
Folhas do DJERJ.: 1168/1189

Tipo do Movimento: Enviado para publicação


Data do expediente: 15/01/2015

Tipo do Movimento: Recebimento


Data de Recebimento: 03/12/2014

Tipo do Movimento: Despacho - Proferido despacho de mero expediente


Data Despacho: 03/12/2014
Descrição: Indefiro gratuidade de justiça, ante a ausência de comprovação
da hipossuficiência. Venha o recolhimento do preparo em 48 h, sob pena de
deserção.
Documentos Digitados: Despacho / Sentença / Decisão

Tipo do Movimento: Conclusão ao Juiz


Data da conclusão: 03/12/2014

Tipo do Movimento: Juntada - Petição


Data da juntada: 30/10/2014
Número do Documento: 201406254188 - Prog Comarca de Volta Redonda

Tipo do Movimento: Recebimento


Data de Recebimento: 29/09/2014

Tipo do Movimento: Despacho - Proferido despacho de mero expediente


119

Data Despacho: 25/09/2014


Descrição: Intime-se a parte autora/recorrente, para que junte aos autos, no
prazo de 5 dias, cópia de seu comprovante de rendimentos atualizado,
assim como da última declaração do imposto de renda e de bens entregues
à SRF, a fim de ser analisado o pedido de gratuidade de justiça, sob pena
de indeferimento. Caso a parte nao declare imposto de renda, deverá fazer
juntar, no mesmo prazo acima, declaração neste sentido.
Documentos Digitados: Despacho / Sentença / Decisão

Tipo do Movimento: Conclusão ao Juiz


Data da conclusão: 25/09/2014

Tipo do Movimento: Trânsito em Julgado


Data do trânsito: 08/09/2014

Tipo do Movimento: Juntada - Petição


Data da juntada: 26/08/2014
Número do Documento: 201404541016 - Prog Comarca de Volta
Redonda

Mais uma vez, verifica-se grande tempo despendido em 1ª Instância, ou seja,


antes do encaminhamento do processo para a Turma Recursal.

Nessa linha, determinado serventuário fez a seguinte ponderação:

Serventuário: tem casos que se os advogados já juntassem os documentos


para comprovar a hipossuficiência, ia ser mais rápido para mandar o
processo para a Turma [Recursal]. Esse vai e volta do processo para ver a
gratuidade atrasa mesmo. Quando o advogado já junta, o processo pode
subir mais rápido.
Eu: E o que mais pode atrasar a fase recursal?
Serventuário: Lá na Turma eu já vi processo sumir. Sumir de verdade
depois que mandamos pra lá. Já vi demorar um ano pra aparecer. Aí eles
tem que julgar pra mandar de volta.

Sobre o tempo da fase recursal no Juizado Y, podemos apresentá-lo da


seguinte forma:
120

DO TEMPO DO PROCESSO NA FASE RECURSAL


4,5
(JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Y)
4
4

3,5

3
Processos

2,5

2
Processos
1,5
1 1 1
1

0,5
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-18 18-24
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 07

No que tange à fase recursal que teve duração superior a 1 (um) ano, trata-se
dos autos com Recurso Extraordinário, no qual a fase recursal durou 1 (um) ano, 7
(sete) meses e 22 (vinte e dois) dias. O Recurso Inominado foi interposto em 4 de
novembro de 2013. Com a vinda da decisão que lhe negava provimento, ocorreu a
interposição do Recurso Extraordinário, em 29 de outubro de 2014, também com
resultado desfavorável ao recorrente. Na data de 26 de junho de 2015 o processo
retornou ao Juizado, na Comarca de Volta Redonda.

Curioso que, embora este processo tenha sido encaminhado até o Supremo
Tribunal Federal, ganhando uma fase adicional antes de retornar, não se trata da
fase recursal mais demorada. Na verdade, se analisado apenas os processos do
Juizado Y, ele terá sim a maior duração nessa etapa. Entretanto, se ampliarmos a
comparação para incluir os processos verificados no Juizado X, teremos duas ações
cuja fase recursal foi mais demorada.
121

5.1.7.3 Quem foi o responsável pela elaboração dos Recursos?

Com base nos dados levantados, resolvi analisar e inserir a informação de


quem foi o responsável pela interposição dos recursos: se advogados particulares
ou defensores públicos.

Assim, dos 35 (trinta e cinco) Recursos analisados – 26 (vinte e seis) do


Juizado X e 9 (nove) do Juizado Y –, cheguei a seguinte conclusão:

DOS RECURSOS INTERPOSTOS NO JUIZADO X

Advogado Particular
Defensor Público

21

Dentre os 26 (vinte e seis) recursos do Juizado X, 5 (cinco) não foram nem


objeto de apreciação, posto serem intempestivos ou por estarem desprovidos de
preparo. A interposição de todos eles foi feita por advogados particulares.
122

DOS RECURSOS INTERPOSTOS NO JUIZADO Y

Advogado Particular
Defensor Público

No Juizado Y também foram apurados recursos que não preenchiam os


requisitos necessários para interposição, tornando-se inviável o julgamento dos
mesmos. Assim é que 2 (dois) recursos não foram objeto de julgamento, sendo
ambos interpostos por advogado particular.

Somando os dois Juizados, temos a informação de que 28 (vinte e oito)


recursos foram interpostos por advogados particulares, contra 7 (sete) apresentados
pela Defensoria Pública.

Ou seja, advogados particulares foram responsáveis por quatro vezes mais


recursos do que os defensores públicos. Entrementes, também foram os únicos
responsáveis por recursos não preenchiam os requisitos necessários para serem
julgados.

Por fim, pode-se mencionar, além dos dados acima, que o Recurso
Extraordinário foi interposto por defensor público.
123

5.1.7.4 O Resultado dos Recursos: Efetivos ou não?

A partir do momento em que a parte concorda em recorrer, está,


automaticamente, anuindo para o aumento do tempo de duração do processo, na
esperança de que sua insatisfação seja considerada e a sentença revertida.
Entretanto, será que a interposição desses recursos gera o resultado esperado? Ou
seja, será que o recorrente costuma obter êxito total ou parcial em sua jornada; ou
não?

Diante desta indagação, promovi o levantamento do resultado dos recursos,


em cada um dos Juizados, chegando ao seguinte resultado:

RESULTADO DOS RECURSOS INTERPOSTOS NO


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL X
2
5
4

Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Provimento Negado
Não apreciado

15
Total: 26
124

RESULTADO DOS RECURSOS INTERPOSTOS NO


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Y
0
2 2

Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Provimento Negado
Não apreciado

5
Total: 09

Conclui-se, portanto, que dos 35 (trinta e cinco) recursos apresentados, 2


(dois) foram julgados totalmente procedentes, 6 (seis) considerados procedentes em
parte, 20 (vinte) tiveram provimento negado e 7 (sete) nem sequer foram apreciados,
o que, proporcionalmente, assim se divide:
125

PERCENTUAL DO RESULTADO DOS RECURSOS


5,80%
20%

17,10%

Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Negado Provimento
Não apreciado

57,10%

Enquanto 1/5 (um quinto) dos processos nem ao menos preencheu os


requisitos para apreciação, mais da metade dos recursos tiveram o provimento
negado, ou seja, não beneficiaram a parte recorrente, levando-nos a conclusão de
que a procedência do recurso é um resultado de difícil obtenção.
126

6 O TEMPO DO PROCESSO: DA DISTRIBUIÇÃO AO ARQUIVAMENTO


DEFINITIVO

Talvez uma das perguntas propulsoras da presente dissertação tenha sido:


“quanto tempo leva para um processo se encerrar, em sede dos Juizados Especiais
Cíveis?”.

Ouvimos falar bastante na razoável duração do processo, das formas de se


tentar garantir maior acesso à justiça, enfim, uma gama de assuntos relacionados ao
tempo do processo. Porém, a questão levantada anteriormente permanece: e quanto
tempo tem durado as ações judiciais?

Essa pergunta jamais encontrará resposta única. Como pudemos perceber na


presente pesquisa, se existem diferenças consideráveis entre Juizados de uma
mesma Comarca, sediados lado a lado, o que dirá daqueles com real
distanciamento geográfico?

Todavia, embora não seja comum encontrar pesquisas de campo e dados


estatísticos sobre a referida situação, muita informação acerca do tema é levantada,
seja pela mídia especializada ou não.

Na presente pesquisa, procurei utilizar o trabalho de campo para me informar


sobre o tempo de duração dos processos, tendo por parâmetro os Juizados
Especiais Cíveis de Volta Redonda, e pude perceber que inúmeros fatores
contribuem para a maior celeridade ou demora no trâmite das ações.

Existem processos que de plano obtém uma citação válida e já na audiência


de conciliação formaliza-se acordo, conseguindo chegar até a decisão de mérito
sem a interposição de qualquer petição, o que dispensa juntada e conclusão para
apreciação do teor dos novos documentos ou informações. Nesses casos, o
processo flui sem maiores intercorrências, embora o tempo possa ser variado. Por
seu turno, existem ações em que se mostra necessária a juntada de inúmeras
petições, repetição do ato de citação, dentre tantas outras medidas. Tudo isso
influindo no tempo final do processo.
127

A título exemplificativo, vale registrar que vários processos tiveram duração


inferior a 6 (seis) meses. Contudo, na maior parte desses casos, ocorreu a
desistência da ação, celebração de acordo extrajudicial, dentre outros, sendo bem
incomum que, nesse lapso temporal, o processo se encerre em razão de decisão de
mérito. Tais questões serão melhor abordadas após a apresentação gráfica do
tempo dos processos nos Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda.

Todavia, vale registrar que para início da contagem do tempo de duração dos
processos considerei a distribuição do feito e, como término, o arquivamento
definitivo.

Conforme já mencionado, após o arquivamento definitivo, o processo é


encaminhado à Capital do Rio de Janeiro, lá aguardando o prazo para destruição.
Entretanto, reforço, a data final aqui considerada é o arquivamento definitivo pois,
este sim, tende a representar o momento em que todas as diligências já foram
cumpridas.

Urge salientar, contudo, que, antes da eliminação dos processos, é possível


que as partes ou os advogados devidamente constituídos requeiram o
desarquivamento do feito, caso entendam cabível a adoção de alguma medida.
Nessas situações, o processo será desarquivado e terá o andamento apto a atender
as necessidades da parte solicitante.

A seguir encontram-se os gráficos acerca do tempo total despendido para


encerramento das ações nos Juizados X e Y, com posteriores comentários sobre o
tema.
128

TEMPO TOTAL DOS PROCESSOS NO JUIZADO


35
ESPECIAL CÍVEL X
31
30

25
22
Processos

20 19

15 Processos
11
10

5
5 4 4
2
1 1
0
0-6 6-12 12-18 18-24 24-30 30-36 36-42 42-48 84-90 102-108
meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 100 processos

TEMPO TOTAL DOS PROCESSOS NO JUIZADO


30 28 ESPECIAL CÍVEL Y
26
25 23

20
16
Processos

15
Processos
10

5
5
1 1
0 0 0
0
0-6 6-12 12-18 18-24 24-30 30-36 36-42 42-48 84-90 102-108
meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 100 processos
129

6.1 Considerações sobre o Tempo do Processo no Juizado Especial Cível X

Percebe-se que 50% (cinquenta por cento) dos processos do Juizado X


tiveram seu término até completar 1 (um) ano, sendo que 19% (dezenove por cento)
duraram até 6 (seis) meses, e os outros 31% (trinta e um por cento) tramitaram no
período de 6 (seis) meses e 1 (um) dia até 1 (um) ano completo.

Os demais processos, que totalizam 50% (cinquenta por cento), duraram mais
de 1 (um) ano, com ações que, fugindo dos padrões, duraram bem mais que 3 (três)
anos.

No referido Juizado apareceram casos que chegaram a durar de 7 (sete) a


aproximadamente 9 (nove) anos. Nessa situação, inserem-se 3 (três) processos,
todos com um ponto em comum: a procedência da demanda e a busca incessante
para encontrar bens passíveis de penhora. Todavia, embora a parte autora tenha
saído vencedora em todos eles, não se logrou êxito em receber qualquer quantia.

Em todos esses casos os autores, por longos anos, tentaram ver cumprida a
decisão judicial que lhes foi favorável e, somente depois de exauridos todos os atos
que poderiam auxiliar na satisfação da obrigação é que desistiram de dar
prosseguimento à execução.

No que diz respeito aos 19 (dezenove) processos que findaram antes de 6


(seis) meses, vale registrar a causa de encerramento: (a) 1 (um) deles terminou
rapidamente por se tratar apenas de restauração de processo já encerrado, no qual
não havia sido recebido o mandado de pagamento. Assim, o autor instruíra o feito
juntando todas as petições que tinha em seu poder e comprovando a realização de
depósito não levantado; (b) 1 (um) contou com a ausência da parte autora; (c) em 4
(quatro) deles o autor pediu desistência da ação; (d) 1 (um) teve sentença sem
exame do mérito, pelo reconhecimento de foro incompetente; (e) 2 (dois) tiveram
acordo extrajudicial homologado, cuja informação foi apresentada nos autos antes
da realização da audiência; (f) 8 (oito) obtiveram êxito na conciliação, e o
adimplemento das obrigações aconteceu no prazo acordado; e, (g) 2 (dois) tiveram
sentença de mérito, julgando a causa procedente.
130

O caso referido na letra “a” já foi objeto de breve discussão neste trabalho,
quando referido no Capítulo 3, como quarta hipótese em que o autor, embora
vitorioso, não tenha buscado o recebimento dos valores depositados. Entretanto,
diferente dos outros 3 (três) casos, neste existiu diligência posterior (impetração de
nova demanda), a fim de receber o que estava à disposição.

No mais, pude verificar que a maior parte das demandas que encerram antes
de completar 6 (seis) meses não recebem uma sentença de mérito, findando por
motivos diversos.

6.2 Considerações sobre o Tempo do Processo no Juizado Especial Cível Y

No Juizado Especial Y, 49% (quarenta e nove por cento) dos processos


tiveram seu término até completar 1 (um) ano, e os outros 51% (cinquenta e um por
cento) duraram mais de 1 (um) ano, sendo que apenas 7% (sete por cento)
tramitaram para além de 2 (dois) anos.

Minha curiosidade foi atiçada para saber a resolução dos processos com
duração inferior a 6 (seis) meses.

Assim, analisei cada um deles, concluindo que: (a) 6 (seis) deles haviam sido
extintos pela ausência da parte autora na audiência inaugural; (b) em 4 (quatro)
deles o autor pediu desistência da ação; (c) 3 (três) tiveram sentença sem exame do
mérito, sendo que em 2 (dois) deles houve o reconhecimento de foro incompetente
e, no outro, coisa julgada material (ou seja, o assunto versado nos autos já havia
sido objeto de demanda judicial finda); (d) 1 (um) teve acordo extrajudicial
homologado, cuja informação foi apresentada nos autos antes da realização da
audiência; (e) 8 (oito) obtiveram êxito na conciliação, e o adimplemento das
obrigações foi feito no prazo acordado; e, (f) apenas 1 (um) teve sentença
extinguindo o feito com resolução de mérito, julgando a causa improcedente.

Vale ressaltar que foi nesse Juizado que tramitou o único processo no qual
houve a interposição de Recurso Extraordinário e, apesar de a referida ação ter
chegado no Supremo Tribunal Federal, diferente do que se pode esperar, não se
131

mostra a de maior duração temporal, visto inserir-se na categoria de processos com


duração de dezoito a vinte e quatro meses. Especificamente, seu trâmite integral
levou 1 (um) ano, 11 (onze) meses e 15 (quinze) dias.

6.3 Considerações sobre a Conciliação e o Tempo do Processo

Dos processos que duraram até 6 (seis) meses, verifiquei que a maioria foi
encerrado sem a necessidade de um provimento jurisdicional que analisasse o
mérito, ou seja, que de fato apreciasse as razões que levaram o autor a entrar em
juízo e, consequentemente, os pedidos formulados.

Muitos processos, com a referida duração, encerram-se porque a parte autora


desistiu de suas pretensões, ou porque não compareceu à audiência, ainda, têm seu
fim em virtude da incompetência do juizado para processar a demanda, sendo certo
que na minoria dos casos é que se mostrou necessário um provimento jurisdicional
meritório.

Assim sendo, dentre as 42 (quarenta e duas) ações encerradas em até 6


(seis) meses – 19 (dezenove) do Juizado X e 23 (vinte e três) do Juizado Y –, em
apenas 4 (quatro) delas discutiu-se, efetivamente, os pedidos formulados pelo autor,
sendo um caso de restauração de autos e três com sentença resolutiva de mérito.
Maior número pode ser encontrado para conciliações, que totalizaram 16
(dezesseis) judiciais e 3 (três) extrajudiciais. As demais, conforme salientado,
encerraram pela desistência, ausência, impossibilidade de análise pelo juizado.

Portanto, chama a atenção o fato de que, dentre os processos encerrados de


forma mais célere (até seis meses), um bom número aconteceu em razão de
conciliação, fosse ela judicial ou extrajudicial. No todo, 45,23% (quarenta e cinco
vírgula vinte e três processos) foram encerrados por acordo, mostrando sim que as
partes podem e, muitas vezes, desejam transacionar. Entretanto, nem sempre a
conciliação recebe o devido valor, muitas vezes sendo tratada como mera etapa
processual, de cunho obrigatório.
132

Por ser uma etapa obrigatória, pode ocorrer de as partes se sentirem


coagidas a promover a conciliação, existindo casos “em que os jurisdicionados
reclamam de „ameaças‟ expressas ou veladas, feitas pelos conciliadores, com a
20
finalidade de obter o acordo entre as partes e acelerar o fim do processo” .

Na mesma linha do acima exposto, ao indagar sobre o tempo de um processo


para um conhecido, acabei ouvindo a informação de que a duração do processo não
havia incomodado, porém, o acordo não lhe agradou muito:

Eu: Nos casos do Juizado Especial, você lembra quanto tempo levou mais
ou menos, e qual foi resultado?
Entrevistado 1: No da instituição financeira acho que levou um ano e na
audiência fiz acordo. A da empresa de telefonia quando marcou audiência
eu estava hospitalizado e preferi desistir.
Eu: Nessa que foi feito o acordo, o que achou do tempo do processo?
Entrevistado: Considerando a nossa Justiça, e sendo o meu primeiro
processo na época, achei até rápido, só não gostei do acordo.
Eu: E por que você fez o acordo?
Entrevistado: Pressão do advogado. A proposta foi zerar a dívida que não
existia e me pagar 700 reais.

No caso em vetor, a pressão veio do próprio advogado, provavelmente já


inserido na pressão exercida pelos conciliadores, em que a aceleração do processo
pode acabar indo em sentido contrário à satisfação do jurisdicionado.

É preciso ter cautela sobre o assunto, visto que a ideia de a conciliação tornar
o processo mais célere – o que observei nos processos que levaram até seis meses
– só pode ser considerada como válida se realmente for efetiva, atendendo as
expectativas dos jurisdicionados, que não podem sair totalmente insatisfeitos.

Talvez fosse oportuno repensar nosso cenário de conciliação, afinal:

Mediação, conciliação e arbitragem são meios eficazes em sociedades que


detém direito e justiça considerados avançados, que primam por conceder
cada vez mais liberdade de opções a seus cidadãos, na certeza de que
meios alternativos contribuirão para a diminuição de demandas judiciais,
trarão economia para o estado, com menor gasto na movimentação da
máquina judiciária, propiciando maior agilidade e eficácia à função dos

20
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti; AMORIM, Maria Stella. Quando direitos alternativos viram
obrigatórios. Burocracia e tutela na administração de conflitos. Antropolítica: Revista Contemporânea
de Antropologia, nº. 37, 2014. Disponível na Internet:
http://www.revistas.uff.br/index.php/antropolitica/article/view/263/185. Acesso em: 1 mar. 2016.
133

tribunais nas sociedades complexas da atualidade, para administrar os


21
conflitos que nela se geram inevitavelmente.

A ministra Nancy Andhrini, em palestra proferida no II Congresso Piauiense


de Direito Processual, relata queixas de juízes e advogados sobre a não realização
de conciliações, apresentando, inclusive, posturas negativas referentes ao tema.
Nessa linha, destaca a necessidade de mudanças cultural e procedimental para que
se possa obter verdadeiro êxito na conciliação. Aponta, ainda, a existência de
projeto piloto colocado em prática na Escola da Magistratura do Distrito Federal,
desde 1998, com atuação em sete Varas Cíveis da Circunscrição Judiciária de
Brasília, no qual, ao lado do juiz, insere-se um auxiliar que passa por todo um
preparo espiritual para exercer a função de conciliador judicial.

Tal possibilidade, embora tenha previsão legal e se mostre efetiva, não é


comumente utilizada, conforme os dizeres da própria ministra:

Não tenho conhecimento de que, em outro Estado brasileiro, esteja sendo


usada a faculdade legal concedida ao juiz de conduzir os procedimentos
sumários com o auxílio dos conciliadores judiciais. Mas, pelos excelentes
resultados que constatei, pelo ânimo que vi renascer nos juízes de direito e
pela expectativa de que, no futuro, teremos um quadro de juízes mais
preparados para o desempenho da função judicante, pretendo, a partir da
bem sucedida experiência vivenciada em Brasília, fazer uma cruzada pelo
País, dando meu testemunho pessoal do valor inestimável que essa figura
representa para o Poder Judiciário.
A ineficiência dos serviços judiciários impõe-nos a conclusão de que é
preciso mudar o quadro hoje existente. Ouso dizer que – e este é um
entendimento pessoal – é preferível não deter o monopólio do ato de julgar
a tê-lo e prestar um serviço deficiente e extemporâneo. 22

É preciso que se dê mais importância à conciliação, possibilitando a interação


entre as partes para, quem sabe, além de se resolver a lide, mitigar também o
conflito, afinal, tantas vezes, mesmo após o encerramento do processo, ele ainda
permeia a convivência.

21
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti; AMORIM, Maria Stella. op. cit. Disponível na Internet:
http://www.revistas.uff.br/index.php/antropolitica/article/view/263/185. Acesso em: 1 mar. 2016.
22
Palestra da ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima Nancy Andrighi, sobre “Conciliação no
Processo Civil”, realizada no II Congresso Piauiense de Direito Processual, em 19 de setembro de
2003. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001118/texto%20ministra%20selecionado%2
0-%20%20Concilia%C3%A7%C3%A3o%20no%20Processo%20Civil%20-%20Piau%C3%AD.doc.
Acesso em: 3 mar. 2016.
134

A verdade é que a conciliação não é vista como um objetivo, para o qual deve
ser desprendido grande esforço, mas sim como uma mera fase do processo. Faz-se
porque a lei considerou obrigatório, então não tem como fugir.

Todavia, embora não seja tão valorizada como deveria, ainda representa uma
maneira mais célere de resolução dos processos, conforme observado nas
demandas encerradas em até 6 (seis) meses. Nos demais casos, normalmente nem
se discutiu o mérito da questão, sendo que em pouquíssimos se mostrou necessário
provimento jurisdicional para, de fato, finalizar a ação.

Em síntese, tem-se a importância da conciliação, até mesmo como elemento


acelerador do processo, mas que, indiscutivelmente, não obtém a atenção merecida,
impossibilitando melhores resultados.

Se bem trabalhada, possivelmente a conciliação obteria resultados mais


efetivos, inclusive, dando voz às partes – afinal, a obra de Bárbara Lupetti desenha
que os litigantes, em alguns casos, querem ser ouvidos –, o que poderia trazer
benefícios ao processo, aumentando o número de acordos e, consequentemente,
reduzindo o número de atos processuais necessários para findar a demanda.

Um grupo de alunos com o qual conversei, falando sobre as vantagens e


desvantagens de acordo judicial, concluiu o que não é segredo, afinal, muitas vezes
é melhor abrir mão de algo maior, porém incerto, e ficar com aquilo que é mais
palpável. Ou seja, melhor formalizar um acordo do que contar com uma sentença
judicial que, além de demorar, pode nem sequer ser favorável.

Todavia, por envolver a abertura de mão de possíveis direitos, para que as


partes realmente saiam acreditando que a transação foi justa, é preciso diálogo,
atenção e respeito, o que não é demonstrado pelas audiências de conciliação, onde
se abre perguntando se existe proposta de acordo e, com a resposta negativa, paira
um silêncio enquanto o conciliador, a secretária – ou o próprio juiz, em raríssimas
ocasiões – digita a ata da audiência, sem nada mais dizer.
135

6.4 A Sociedade e o Tempo do Processo

Além da entrevista relatada no item anterior, também conversei com outras


pessoas, entre advogados e jurisdicionados, indagando sobre as percepções sobre
o tempo do processo.

Um jurisdicionado trouxe a seguinte consideração:

Entrevistado 2: Meu processo demorou entre seis e oito meses. Nada


contra o tempo, mas apesar da decisão favorável, não recebi nada, e isso é
meio chato.
Eu: O que aconteceu?
Entrevistado 2: A empresa faliu. Não recebi. Não teria me importado de
esperar um ano ou até mais, se fosse conseguir algo. Mas não tinha como.

Outro entrevistado se manifestou de forma semelhante:

Eu: Sobre o processo no Juizado Especial, você lembra quanto tempo levou
mais ou menos?
Entrevistado 3: Acho que um ano, ou pouco mais que isso.
Eu: E o que achou desse tempo?
Entrevistado 3: No começo eu tava muito ansioso. Depois da audiência fui
deixando pra lá. Quase não pensava no assunto quando o advogado ligou
pra avisar que ia receber um dinheirinho. Então, meio que desencanei do
tempo. Eu já nem me importava mais.

As três entrevistas – incluindo a da seção anterior – têm em comum que os


jurisdicionados não apresentaram insatisfação por ações que levaram
aproximadamente um ano para serem encerradas. Aliás, como narrado pelo primeiro
entrevistado, ele acreditava que o processo seria ainda mais lento. Na verdade, a
impressão que tive é que, muitas vezes, o resultado favorável ou não pesa muito
mais do que o tempo, na visão das partes.

Todavia, um jurisdicionado se mostrou inconformado com a duração do


processo dele que, mesmo totalmente favorável, rendendo-lhe uma indenização de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), havia demorado aproximadamente oito meses:

Eu: Você lembra quanto tempo levou seu processo?


Entrevistado 4: Eu sei que foi ano passado que entrei. Não lembro
exatamente quando.
Eu: Pode falar aproximadamente.
Entrevistado 4: Julho, eu acho.
136

Eu: Então tem uns oito meses.


Entrevistado 4: Isso, mas acho que demorou demais. Será que não dava
pra resolver em três ou quatro meses? Mais de seis meses para um caso
simples, acho muito. Deve existir uma forma de melhorar essa
produtividade.
[Entrevista realizada em março de 2016. O entrevistado havia movido ação
contra prestadora de serviço de telefonia, porque, mesmo depois de ter
cancelado a linha, enviaram cobranças para ele que, por não terem sido
pagas, culminaram na negativação indevida do nome].

Mesmo obtendo êxito na demanda, oito meses pareceram muito tempo para o
referido entrevistado, sendo que o tempo razoável por ele apresentado se
assemelha, um pouco mais, ao esperado pelos advogados, conforme veremos
adiante.

É possível que, em regra, advogados apresentem uma visão diferente dos


jurisdicionados, primando por maior celeridade, até mesmo pelo fato de
sobreviverem das ações, mormente se for considerado que, na maioria das vezes,
casos dos juizados especiais são acordados com honorários pautados no êxito da
demanda. Ou seja, o advogado só recebe se o seu cliente receber.

Nessa linha, segue a visão de uma advogada:

Eu: Gostaria de falar um pouco sobre o tempo dos processos nos Juizados
Especiais Cíveis...
Advogada 1: Iiii, horrível. Tenho processo que está desde setembro só para
dar sentença.
Eu: Desde setembro para dar sentença, então não termina antes de
completar um ano, né? Porque já deve ter levado uns quatro meses para
chegar nessa etapa.
Advogada 1: Com certeza. Até pagar, demora mais. A expedição do
mandado de pagamento às vezes demora também.
Eu: E o que você considera como tempo razoável prum processo do
Juizado?
Advogada 1: Seis meses, tudo. Acho que essa é uma duração razoável
para juizado, que não precisa de tanta burocracia. Era pra ser mais rápido.
Imagina seis meses só para dar uma sentença. É o que estou passando
com esse processo que te falei.
[Entrevista realizada em março de 2016]

Outra advogada se manifestou em linha semelhante:

Eu: Gostaria de falar um pouco mais sobre o tempo dos processos nos
Juizados Especiais Cíveis. Qual seria um prazo razoável, por exemplo.
Advogada 2: Juizado Especial tem que ser rápido. Essa história de ficar
esperando um ou dois anos pro processo terminar é muito ruim. A gente
depende disso, e os processos ficam travados.
137

Eu: E qual seria o tempo razoável no processo do Juizado? Um ano?


Advogada 2: Acho que um ano já é muito. Menos, tem que ser menos. De 4
a 6 meses. São casos mais simples, não precisa de perícia. É só audiência
e documento. Seis meses tinha que ser o prazo limite.
Eu: E em caso de interposição de recurso?
Advogada 2: Em dois meses dá pra julgar e retornar o processo. Pode
acrescentar mais dois meses no limite de 6 aí, caso precise de recurso.

Há ainda os que defendem que o tempo máximo, limitado a seis meses, já


deveria incluir a fase recursal::

Eu: Agora eu gostaria de falar um pouco mais sobre o tempo dos processos
nos Juizados Especiais Cíveis...
Advogado 3: Tipo, se for acordo... Logo na audiência de conciliação
termina, demora em torno de seis meses. Mas quando não tem acho um
absurdo, porque acontece de demorar até dois anos... Mas todo esse tempo
de espera é devido a demora dos servidores. Às vezes a publicação que
fica pendente por vários dias. Não que eles sejam devagar, até porque sou
esposa de servidor e sei que eles ralam... Trabalham mesmo. Mas é nítida a
falta de servidores nos nossos juizados para a quantidade de processos.
Eu: Passei um tempo dentro dos cartórios fazendo a pesquisa, dá pra
perceber que eles têm bastante serviço. Também percebi como varia a
realização dos atos processuais. E, na sua opinião, qual seria o prazo
razoável para o processo no Juizado terminar?
Advogada 3: Acho que tinha que ser três meses. Seis com recurso. Claro,
tenho processo que já demorou um ano com recurso, mas já ficou 2 anos
também. É muito variável. Ás vezes trava por causa de uma demora dentro
do cartório.
Eu: Durante a minha pesquisa, vi um processo que levou aproximadamente
nove anos para terminar. São casos isolados, mas existem.
Advogada 3: Falei com um amigo, disse ele que tem um processo no
juizado de Volta Redonda que está há 5 anos. Já achei um absurdo!
Eu: É bem complicado mesmo.
Advogada 3: A minha sócia está aguardando uma publicação há quase um
ano. Isso não existe!
Eu: Publicação demorando quase um ano eu não tinha visto. Essa
informação é bem interessante.

Esta entrevista também corroborou a noção de que os atos processuais


sofrem grande variação para serem realizados, afinal, houve o relato de publicação
que já está esperando quase um ano para acontecer.

No restante do relato, apenas pude perceber a ideia de que o advogado


possui maior urgência para ver encerrada a demanda, posto se tratar de seu
instrumento de trabalho.

Entretanto, um advogado apresentou posição um pouco diferente, no que


tange ao prazo máximo para encerramento da demanda:
138

Eu: A pesquisa que estou fazendo é sobre o tempo dos processos nos
Juizados Especiais Cíveis... Você costuma atuar nessa área?
Advogado 3: Costumo sim. Se eu souber responder, te ajudo sim.
Eu: Em média, quanto tempo leva para que as ações cheguem ao fim, no
Juizado Especial?
Advogado 3: Acredito que a média seja dois anos... Mas já tive processos
que duraram mais. Tem processos que demoram muito no serviço interno
do cartório, a fase de execução é a pior.
Eu: Qual costuma ser o problema com a fase de execução?
Advogado 3: Demora muito tempo para que eles analisem os pedidos e
processem. Fora que as empresas, quando são rés, fazem de tudo pra
adiar.
Eu: O que por exemplo?
Advogado 3: Já teve caso da empresa me ligar, eram duas no polo passivo,
e oferecer pagar a parte dela extrajudicial. Eu disse que preferia o depósito
judicial. Ela simplesmente não pagou, teve penhora online e ela agora
embargou. Eu acho que é má fé da empresa. Ou então se você não aceita
acordo, elas postergam o máximo que podem.
Eu: Qual o tempo que você acha razoável para duração de um processo no
Juizado?
Advogado 3: Seria um ano, um ano e meio...

O curioso foi a percepção de que as partes podem sim criar atos para
embaraçar o andamento do processo, tornando-os mais demorados, visão esta já
apresentada por servidores dos Juizados Especiais.

Entretanto, também chama a atenção o fato deste advogado ter se mostrado


mais tolerante quanto ao prazo para encerramento das demandas. Enquanto os
outros profissionais entrevistados falavam em seis meses, este já alongou o prazo
para um ano ou um ano e seis meses.

É válido ressaltar, ainda, que pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça


concluiu que o processo pode passar de 80% (oitenta por cento) a 95% (noventa e
cinco por cento) do seu tempo em serviços cartorários internos, o que justifica a
ideia, exposta em duas entrevistas, de que é lá que o serviço fica mais agarrado.
Entretanto, nem sempre esse é um tempo morto, haja vista que, muitas vezes, ele
está lá para que seja realizado algum ato extremamente relevante23.

Em síntese, não há uma visão geral do que seria razoável, porém, nota-se
algumas semelhanças na visão dos entrevistados. Entretanto, o tempo adequado do

23
Ministério da Justiça. Análise de Gestão e Funcionamento dos Cartórios Judiciais. Secretaria de
Reforma do Judiciário. Brasília: Ideal Gráfica e Editora Ltda, 2007.
.
139

processo sempre será assunto de grande debate e divergência. Assim, por mais que
se busque a celeridade, pensamento uníssono do que seria a duração razoável do
processo é extremamente difícil, valendo a realização de pesquisas para saber o
quanto podemos agilizar nossa justiça, sem interferir na segurança das decisões.
140

7 CONCLUSÃO

Durante todo o desenrolar da pesquisa, que objetivou descobrir o tempo de


duração dos processos nos Juizados Especiais Cíveis da Comarca de Volta
Redonda, foi possível perceber imensas variações para celebração de um mesmo
ato. Não existe padrão para realizar as atividades e, tantas vezes, os prazos
preceituados na lei são totalmente desconsiderados.

Muito se fala em mudança de ordem teórica, alteração da legislação, mas o


problema central permanece: não estamos acostumados a pesquisar, não sabemos,
exatamente, a origem dos problemas e, sem o conhecimento real sobre a prática
jurídica, dificilmente poderemos resolver alguma questão. Em outras palavras, é
muito comum a discussão de ordem teórica, sem considerar o cenário prático. Fala-
se sobre a demora dos processos, mas não se discute quanto tempo eles realmente
levam para serem encerrados.

O que pude perceber é que não existe qualquer tipo de controle real sobre o
tempo do processo, afinal, os prazos estabelecidos pela legislação pátria, que
poderiam ser considerados como razoáveis ou, ao menos, deveriam servir de
parâmetro, são facilmente flexibilizados pelos funcionários responsáveis, inexistindo
sanções pelo descumprimento. Aliás, a própria legislação permite que os prazos
inicialmente previstos sejam prorrogados, desde que haja justo motivo. Na prática, é
raríssimo alguém inferir contra um juiz ou serventuário que extrapolou o prazo
previsto para prática do ato – eu, particularmente, nunca presenciei queixas formais
nesse sentido, fosse durante a pesquisa ou durante o desempenho da função de
advogado.

Claro que não é só o descumprimento dos prazos impróprios que geram certo
retardo ou falta de padronização no tempo do processo, desorganização (perda de
processo) e condutas de má-fé também contribuem para este cenário, afinal,
perceptível atos praticados por advogados apenas para retardar o processo, seja
porque foram vencidos na demanda e valia a pena ganhar tempo, ou porque teriam
alguma vantagem pela demora no encerramento do feito (escritórios que recebem
por peça ou por tempo do processo).
141

Por seu turno, nos processos analisados, também não verifiquei despachos
condenando os advogados ou as partes pela litigância de má-fé, por embaraçar o
processo. Todavia, em minha experiência profissional, sei que tal condenação é bem
mais comum do que queixas formais contra os servidores.

Ainda sobre o retardo dos processos por atos desnecessários, observei várias
situações em que o magistrado solicitava às partes documentos que já haviam sido
anexados ao processo, sendo o mais comum comprovantes de rendimento para
apreciação do pedido de gratuidade de justiça. A inobservância do que já havia sido
juntado ao feito também acarreta maior demora, posto que, o caminho para
realização do ato pode demandar meses. Afinal, publica-se a decisão do juiz, a parte
cumpre a exigência ou informa que já cumpriu, a petição é juntada e depois
conclusa para, aí sim, ser apreciada pelo magistrado, que finalmente irá proferir sua
decisão. Nos casos em que o documento já estava disponibilizado no processo,
bastaria uma análise mais aguçada e teria sido evitado todo esse desdobramento,
acelerando o término processual.

Por tudo isso, a padronização do tempo processual se mostra inviável,


variando, até mesmo, dentro da própria serventia. Afinal, a título de exemplo, dentro
de um mesmo Juizado existiram petições que levaram menos de cinco dias, e outras
mais de cem para serem juntadas.

Ao realizar pesquisa empírica nos cartórios judiciais da cidade do Rio de


Janeiro, Wagner Brito constatou a inexistência de padrão nos métodos de
organização, nos equipamentos e instrumentos disponíveis em cada cartório, bem
como nas pessoas integrantes dos quadros, no que diz respeito as suas origens,
formação acadêmica e práticas desempenhadas. Nesse passo, registrou que o
“padrão é não ter padrão” 24.

24
BRITO, Wagner de Mello. Instrumentos e Interferências no Desempenho do Judiciário no Rio de
Janeiro (Cartórios Judiciais: suas práticas, ritos e impactos na marcha processual). Tese de
Doutorado Defendida na Universidade Gama Filho. Novembro de 2013.
142

De fato, quando percebemos diferenças tão significativas dentro de cartórios


tão próximos e, até mesmo, dentro de um mesmo cartório, revela-se, nitidamente, a
ideia de que inexiste qualquer tipo de padronização.

De volta ao tempo despendido para realização das atividades, a verdade é


que, em muitas ocasiões, os atos processuais não são realizados dentro do limite
legal, culminando em processos que tramitaram por mais de 5 (cinco) anos. Por
certo, trata-se de uma minoria, embora represente número considerável. Com isso, a
ideia de uma justiça mais célere e menos burocrática pode, até mesmo, ser
colocada em xeque.

À exceção da realização da citação, cujo prazo usado como referência foi


respeitado pela maior parte dos casos, e da interposição de recursos, que não se
estabeleceu nenhum parâmetro legislativo para analisar o tempo que seria razoável,
todos os demais casos ficam próximos da seguinte relação: em metade se cumpria o
prazo estipulado, na outra metade não.

Sobre a citação, vale registrar que, mesmo considerando que ela foi realizada
dentro do prazo legal, como um limite razoável, é curioso perceber que 13 (treze)
processos não tiveram a citação tempestiva. Ou seja, apenas na hora da audiência é
que se descobriu que a parte contrária não havia sido citada. Assim, encerrava-se a
audiência marcando nova data e requerendo ao Cartório que tomasse as medidas
cabíveis para promover a citação. Se o problema fosse com o endereço, o autor
deveria fornecer um novo. Considerando apenas os processos que dependeram de
citação, 7,1% (sete vírgula um por cento) deles tiveram inconvenientes com o ato
citatório.

No que diz respeito à juntada de petições, analisando o prazo estipulado pelo


Código de Processo Civil de 1973, apenas 24% (vinte e quatro por cento) dos atos
teriam sido feitos no prazo legal. A ampliação do tempo pelo novo Código de
Processo Civil faria esse número subir para 45% (quarenta e cinco por cento), mas
apenas pelo fato de ter apresentado um lapso temporal mais extenso para a
realização do ato. Todavia, deve-se ter em mente que as regras processuais que
regiam os processos quando da realização da pesquisa eram as de 1973.
143

Sobre a Leitura de Sentença, embora a Lei dos Juizados Especiais priorize


que a decisão final seja proferida em audiência, em apenas 12 situações isso
ocorreu, ou seja, em 6% (seis por cento) dos casos. Noventa processos não
precisaram de Leitura de Sentença e, em (noventa e oito) houve o agendamento
para proferir a sentença.

Dentre as leituras, apenas 4 (quatro) sentenças foram proferidas no prazo


legal de 10 (dez) dias, representando 2% (dois por cento).

Ainda que não houvesse um prazo legal para usar de referência, vale registrar
que até mesmo as previsões dos juízes são desrespeitas, e isso por eles mesmos.
Afinal, quando se marca a data para leitura de sentença, o juiz faz uma “promessa”
para as partes, porém, muitas vezes, o que foi “combinado” não é cumprido. A
Sentença nem sempre sai na data prevista.

Em 41 (quarenta e um) dos 98 (noventa e oito) agendamentos, o prazo


estipulado em audiência para Leitura de Sentença não foi respeitado, o sendo nos
demais 57 (cinquenta e sete). Ou seja, há um descumprimento das “promessas” em
41,83% (quarenta e um vírgula oitenta e três por cento) dos casos.

Nessas situações, o juiz simplesmente não entrega a sentença na data


correta e, normalmente, não sofre qualquer sanção decorrente da demora. De
qualquer forma, o atraso gera agonia e incerteza às partes.

Certa vez, um jurisdicionado me fez a seguinte indagação: “se um resultado


de prova é marcado para determinada data, em regra ele sai na data prevista, por
que o mesmo não pode ser seguido pelas sentenças?”.

Infelizmente, não tenho as respostas, apenas a informação de que,


realmente, os prazos estipulados costumam ser descumpridos.

Questão que também se apresenta nebulosa é sobre o tempo razoável para a


duração do processo. Alguns entrevistados disseram que se a ação durasse até 1
(um) ano, eles não se incomodariam. A maioria das pessoas que me deram essa
144

resposta não eram advogados. Estes, por sua vez, em maior número, defendiam
que 1 (um) ano já era muito tempo, dando a entender que 6 (seis) meses deveria ser
o limite. Uma advogada, porém, chegou a comentar que um ano e meio ainda seria
um tempo razoável.

Assim, pude notar que a opinião da sociedade sobre a duração razoável do


processo também não é uníssona, fazendo com que a dúvida permaneça: qual seria
esse tempo razoável?

Considerando as respostas dos entrevistados, posso afirmar que 6 (seis)


meses seria um tempo de grande aceitação, indicando que 42 (quarenta e dois) dos
processos tiveram seu término no período de até 6 (seis) meses, ou seja, 21% (vinte
e um por cento) dos processos pesquisados.

Se estendêssemos esse tempo para até 1 (um) ano, o que já desagradaria


muita gente, teríamos 49,5% (quarenta e nove vírgula cinco por cento). Em outras
palavras, nem assim metade dos processos atenderiam os anseios da sociedade.

Concluo, portanto, que a pesquisa me direcionou para grandes descobertas:


Pude conhecer a visão dos funcionários dos Juizados Especiais, das pessoas que
se socorrem do Poder Judiciário, de outros profissionais, permitindo que eu fosse
além da minha própria opinião e de meu restrito conhecimento. Entretanto, outras
tantas dúvidas foram surgindo ao longo da jornada, passando a integrar, pouco a
pouco, o corpo da presente dissertação.

As respostas que obtive não são suficientes para sanar todas as dúvidas, mas
já me direcionam a um maior conhecimento sobre o tempo do processo e dos atos
processuais. E, por mais que eu não possa atestar com toda a certeza e propriedade
qual o prazo razoável do processo, tive a oportunidade de dialogar com vários
membros da sociedade, a fim de conhecer a opinião deles e aperfeiçoar a minha
própria. Descobri, ainda, que até mesmo a “sorte” pode influenciar no deslinde da
ação (o processo não desaparecer, ser encaixado em audiência desmarcada).
Enfim, uma gama de conhecimentos que aperfeiçoam não só meu trabalho
acadêmico, como minha vida profissional.
145

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