Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RIO DE JANEIRO
2016
1
RIO DE JANEIRO
2016
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
DIRETORIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU E DE PESQUISA
Rua Ibituruna, 108 – Maracanã
20271-020 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2574-8834 Fax.: (21) 2574-8871
FICHA CATALOGRÁFICA
G963t
FICHA CATALOGRÁFICA
Guimarães, Roberta Aline Oliveira.
O Tempo dos processos nos juizados especiais cíveis: o caso de Volta
Redonda. / por Roberta Aline Oliveira Guimarães. – 2016.
146 f.: il. color.; 30 cm.
Digitado (Original).
Dissertação (Mestrado) – Universidade Veiga de Almeida, Mestrado
Acadêmico em Direito, Rio de Janeiro, 2016.
CDD – 340
BN
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Professor Dr. Roberto Kant de Lima
Universidade Veiga de Almeida
__________________________________________
Professora Dra. Maria Stella Amorim
Universidade Veiga de Almeida
__________________________________________
Professor Dr. Wagner de Mello Brito
Universidade Estácio de Sá – Banca Externa
4
RESUMO
A presente dissertação tem por objetivo principal analisar o tempo dos processos
nos Juizados Especiais Cíveis de Volta Redonda, a fim de traçar a duração total dos
mesmos, bem como o tempo para realização de determinados atos processuais.
Através da pesquisa de campo, pautada, principalmente, na observação de
duzentos processos, amplia-se o conhecimento acerca de inúmeras práticas
jurídicas, possibilitando reflexões sobre a discrepância no tempo para realização de
um mesmo ato, pontos de semelhanças e distinções entre Juizados localizados em
um mesmo espaço geográfico, bem como sobre previsões legais que, na prática, se
mostram inócuas. Nesse sentido, insere-se a dispensa do advogado, haja vista que,
embora, exista tal possibilidade o desenrolar das ações depende de conhecimento
técnico específico, assim, se a parte não constitui advogado, normalmente se utiliza
de apoio fornecido pelo próprio Judiciário para preparar e acompanhar o processo. A
pesquisa também permite concluir que os prazos previstos na legislação, para
realização dos atos processuais, são comumente desrespeitados, inexistindo, dentre
os processos analisados, qualquer sanção decorrente desses atrasos. Assim,
percebe-se a fragilidade das disposições legais, cujo teor é comumente
desrespeitado. Por fim, amparada em entrevistas, a dissertação abordará a visão de
profissionais e usuários dos serviços jurisdicionais sobre a duração dos processos,
corroborando a ideia de não existir consenso sobre o tema, apesar da recorrente
insatisfação com o tempo despendido para encerramento dos processos judiciais.
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the main processes in small claims courts of Volta
Redonda, in order to trace the total duration of same, as well as the time required for
completion of certain procedural acts. Through field research, based mainly on the
observation of 200 cases, expanded the knowledge of numerous legal practices,
enabling observation of the discrepancies in time to perform the same Act, points of
similarities and distinctions between Courts located in one geographic area, as well
as on legal forecasts that, in practice, are harmless. Accordingly, the exemption of
the lawyer, since, although the possibility exists the conduct of actions depends on
specific technical knowledge as well, if the part is not a lawyer, usually uses to
support provided by the Judiciary itself to prepare and monitor the process. The
research also concludes that the time-limits laid down in legislation, to carry out
procedural acts, are commonly regarded, not existing, among the processes
analyzed, any sanction as a result of these delays. Thus, the fragility of the legal
provisions, which is commonly flouted. Finally, based on interviews, the dissertation
will deal with professional vision and judicial services users about the duration of the
procedures, corroborating the idea there is no consensus on the issue, despite the
applicant's dissatisfaction with the time taken for termination of court proceedings.
Keywords: Time of the process. Time of the procedural acts. Reasonable duration of
the process.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 08
3 O TEMPO DO PROCESSO 19
5.1.2 Da Citação 73
7 CONCLUSÃO 140
1 INTRODUÇÃO
Por esta razão, nosso aparato legislativo tende a correr em paralelo e abstrato
às condutas ou necessidades sociais, sendo comum importarmos material normativo
e cultural de outros países, sem estudar se tais elementos serão verdadeiramente
efetivos ou não quando aqui aplicados. Afinal, a pertinência prática nem sempre é
levada em conta.
Por meio deste estudo, busca-se, através da análise de 200 (duzentas) ações
já encerradas nos Juizados Especiais Cíveis da Comarca de Volta Redonda,
levantar dados acerca do tempo dos atos processuais, a fim de inferir o tempo total
para conclusão dos processos observados.
Cumpre registrar que nem todos os atos processuais serão objeto dessa
dissertação, mas apenas aqueles visualizados com maior frequência nos processos
em trâmite nos Juizados Especiais Cíveis: assim, abordar-se-á o tempo para
marcação de audiências, juntada de petições, conclusão e devolução dos processos
10
pelo juiz, publicação das decisões, julgamento de recursos e leitura de sentença. Por
fim, será apontado, de forma gráfica, o tempo total gasto para encerrar cada um dos
200 (duzentos) processos pesquisados.
Vale, desde já, registrar duas situações, que mais à frente serão tratadas de
forma mais clara, para ilustrar questões práticas cujos manuais jurídicos
normalmente não tratam e que, no cenário prático, são facilmente visualizadas.
E aí a resposta já passa a ser positiva. Embora casos desse tipo não tenham
sido vistos por mim, nos processos analisados, funcionários dos cartórios nos quais
realizei a pesquisa me relataram que, em certas ocasiões, a parte cuja decisão lhe é
totalmente favorável recorre. E por que isso acontece?
Antes, porém, de ser enviado ao Rio de Janeiro, o processo vai para uma
pilha de processos encerrados, até que um funcionário promova os registros finais e
o coloque dentro de uma caixa, para aí sim serem encaminhados ao arquivo geral.
O apontamento das diferenças serve para que não se caia na falsa premissa
de que a atuação dos Juizados Especiais Cíveis é exatamente a mesma. Afinal, a
empiria logo nos mostra que significativas distinções podem surgir no desempenho
da atividade jurisdicional, fazendo com que Juizados diferentes tenham condutas
distintas, aptas a afetar, inclusive, o exercício profissional.
13
Antes, porém, de adentrar no mérito da pesquisa, vale abrir breve tópico para
tratar das primeiras impressões acerca da pesquisa de campo, e mostrar, ainda que
sucintamente, como foi desenvolver um trabalho tão diferente, tendo em vista que
toda a minha formação jurídica pautou-se no estudo dogmático e legal.
14
A regra, de fato, ao menos nos cursos jurídicos, parece ser a extrema ligação
à pesquisa bibliográfica, sendo incomuns estudantes que se debruçam sobre
pesquisas de campo, a fim de compreender a realidade jurídica sob outro ponto de
vista, distinto daquele ensinado pelas doutrinas e manuais de Direito.
Nessa linha, vale registrar que o município de Volta Redonda conta com 4
(quatro) instituições de ensino que oferecem o curso de Direito, sendo: 1) Centro
Universitário de Barra Mansa – UBM (reconhecimento do curso renovado pela
Portaria do MEC nº 3.055, publicada no Diário Oficial em 02 de setembro de 2005);
2) Fundação Oswaldo Aranha – FOA (curso reconhecido pela Portaria do MEC nº.
1.128, de 19 de dezembro de 2008); 3) Centro Universitário Geraldo di Biasi – UGB
(curso reconhecido pela Portaria do MEC nº. 899/2008); e 4) Universidade Federal
Fluminense (curso iniciado em 2011, ainda pendente de reconhecimento pelo MEC).
1
DIREITO. Disponível em: <http://web.ubm.br/graduacao/direito>. Acesso em: 21 set. 2015.
17
(Juiz I)
Aliás, nas primeiras idas a um dos Juizados Especiais Cíveis, era preciso
agendar dia e horário para pesquisar. Porém, depois das semanas iniciais, a chefe
do cartório deixou de fazer essa exigência, permitindo que eu adentrasse nas
dependências cartorárias de acordo com a minha disponibilidade, desde que
respeitado o horário normal de funcionamento da serventia.
3 O TEMPO DO PROCESSO
Muitos dirão que a sentença põe fim ao conflito, pois é esta a decisão apta a
dizer o direito, ou seja, estabelecer quem está com a razão – se o autor ou o réu –,
apontando, ainda, se e o que será devido de uma parte à outra.
Pode, porém, a parte que perdeu a ação ou a que teve seus direitos
reconhecidos de forma parcial, em 1ª Instância, optar por interpor o recurso cabível
que, no caso dos Juizados Especiais Cíveis, será o Recurso Inominado, direcionado
às Turmas Recursais. Nestas hipóteses, a decisão final será das referidas Turmas.
Assim, mais apropriado seria dizer que a decisão transitada em julgado é que
põe fim a demanda (tenha ela sido proferida pelo Juiz de 1ª Instância, pela Turma
Recursal ou pelo Supremo Tribunal Federal). Deve-se entender, por decisão
transitada em julgado, aquela contra a qual não cabe mais nenhuma espécie de
recurso: ou cumpre-se o decidido, ou se sujeita às sanções cabíveis.
E assim foi que um processo com sentença favorável para o autor transitou
nas dependências do Juizado Especial Cível até a data de 17 de setembro de 2015,
quando finalmente foi arquivado definitivamente. A razão?
Fica, então, a questão: por que essas pessoas, mesmo após o êxito e o
adimplemento da obrigação, não compareceram para retirar o que lhes caberia?
25
Tendo em vista que os indivíduos em questão não foram por mim localizados,
a fim de responder tal indagação, restam apenas reflexões e conjecturas, afinal,
trata-se de situação totalmente inusitada.
Vale registrar que não são todos os tipos de demanda que podem ser
submetidos ao crivo dos Juizados Especiais Cíveis, mas apenas aquelas que estão
arroladas no artigo 3º da Lei nº. 9.099/1995, Vejamos:
2
TEMER, Michel. Exposição de Motivos da Lei 9.099, de 26-09-95 do Projeto de Lei nº. 1.480-A, de
1989. Disponível em: <https://www.tjms.jus.br/fonaje/pdf/Exposicao_de_motivos_da_lei_9099.pdf>.
Acesso em: 2 out. 2015.
30
Em 1 (um) dos casos em que ocorreu a dispensa das custas, não foi
necessária a apresentação de qualquer justificativa, por parte do autor, tendo em
vista que o juiz, da análise do caso concreto, entendeu que muito provavelmente o
demandante faltara a audiência em razão de celebração de acordo extrajudicial, cujo
teor foi juntado aos autos pelo réu, em data posterior à assentada. O autor em
momento algum retornou ao feito para informar a celebração do acordo ou
32
Em Volta Redonda, as pessoas que pretendem ingressar com uma ação, sem
constituir advogado, procuram o Núcleo de Distribuição, Autuação e Citação do
Juizado Especial Cível de Volta Redonda – NADAC, localizado no Fórum, próximo
aos Cartórios dos Juizados Especiais Cíveis.
Lá são atendidos por servidores públicos, para quem narram a história que
os levaram a procurar o Judiciário. Estes servidores indicam o caso para um dos
estagiários, sendo estes estudantes de Direito, que reduzem a termo a narrativa, a
fim de dar entrada com a ação.
33
Em outras palavras, para quem está no meio jurídico, essa regra se mostra
basilar, mas, de fato, a ideia emanada pelas pessoas retro mencionadas revela uma
forma bem mais simples de se resolver a questão, devendo soar estranho a
necessidade de exigir uma petição própria, que será protocolizada em determinado
setor e, só depois, juntada ao processo.
Registro, apenas, que tais observações são mais pertinentes à parte autora,
afinal, na maioria esmagadora dos casos a parte ré é pessoa jurídica, fornecedora
3
OFFE, Claus. Capitalismo Desorganizado. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. p. 145.
36
Nos poucos casos de ações movidas contra pessoas físicas, acabei por não
me atentar muito na forma de elaboração da defesa e, em especial, se ela era
redigida pela própria parte, por advogado particular ou pelo NADAC.
4
AMORIM. Maria Stella de. Conflitos no mercado de bens e serviços. Consumidores e consumidos.
Disponível em:
<http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%20
16/maria%20stella%20de%20amorim.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2015.
5
AMORIM. Maria Stella de. op cit. Acesso em: 2 dez. 2015.
37
questão é: como esperar que alguém dissociado do universo jurídico saiba disso,
sendo que até advogados, às vezes, se confundem com tal regra?
Recordo que nas primeiras audiências que participei, uma das dúvidas que
me assombrava dizia respeito exatamente ao lado em que me sentaria, chegando,
inclusive, a adentrar na sala da audiência depois da outra parte e de seu respectivo
procurador, a fim de deixar que eles tomassem o assento em primeiro lugar, pois aí
não haveria erro: bastaria me colocar no local não ocupado por eles.
Pessoa nº. 2: Eu também, quando me formei, nada sabia deste ritual, não
consta em qualquer "lugar" (procedimentos, leis, decretos, artigos,
instruções etc...). Aprendi na prática, sendo alvo de uma "brincadeira" do
outro colega mais experiente.
O autor e seu constituinte sempre ficam à direita do Juiz e o réu à esquerda.
Juízes de algumas varas colocam cartazes neste sentido...
(Postado em 07 de fevereiro 2003)
Pessoa nº. 1: Não entendi muito bem, seria do lado direito de quem entra na
sala, olhando a mesa e o juiz de frente, ou do lado direito do próprio juiz?
Porque dependendo da posição que se leva em conta os lugares se
invertem.
Outra dúvida, quem fica mais perto do juiz, ou seja, quem senta na cadeira
mais próxima da mesa do juiz, a parte ou o defensor?
Essa regra é usada em todas as áreas do direito?
(Postado em 07 de fevereiro de 2003)
38
6
EXISTEM lugares (assentos) pré-determinados para advogados e partes se sentarem à mesa de
audiência? Quais são as regras?. Disponível em:
<http://uj.novaprolink.com.br/forum/18/discussao/1453/existem_lugaresassentos_predeterminados_pa
ra_advogados_e_partes_se_sentarem_a_mesa_de_audienciaquais_sao_as_regras/p=3>. Acesso
em: 14 out. 2015.
7
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti. Os rituais judiciários e o princípio da oralidade: construção da
verdade no processo civil brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris. Ed. 2008. p. 284.
39
Por sua vez, quem ingressa com a ação através de advogado particular
presta e recebe as informações necessárias através dele. Nesta hipótese, o
procurador é intimado, via Diário Oficial, de todas as decisões proferidas ao longo do
processo, cabendo a ele diligenciar adequadamente para o bom andamento da
demanda, em atenção aos interesses do cliente.
localizados no mesmo imóvel e regulamentados por uma lei comum, a Lei nº.
9.099/1995, inúmeras são as diferenças procedimentais encontradas.
Em regra, pelo que observei na prática, são juízes leigos que presidem a
Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento (ACIJ), ficando a cargo do juiz
titular homologar ou não o projeto de sentença elaborado por aquele, ou promover
regularizações no curso do processo.
Na maior parte dos casos, não é aparente a razão de se optar pela Audiência
de Conciliação, Instrução e Julgamento em detrimento da de Conciliação, entretanto,
em um dos processos pesquisados, o juiz despachou solicitando a realização, de
plano, da ACIJ, tendo em vista que o autor trabalhava embarcado e, por esta razão,
seria difícil encontrar duas datas de disponibilidade, o que poderia resultar em
marcações desnecessárias de audiência, na qual o demandante não poderia
comparecer, atrasando o andamento do feito.
Na minha visão, mas aí é o Juiz quem poderia melhor explicar, a opção por
realizar a ACIJ consiste no baixo número de acordos celebrados nas
audiências de conciliação e na dificuldade de se conseguir conciliadores
verdadeiramente empenhados em realizar a função. Há muito histórico de
falta, e outras quebras de compromisso. Então, o Juizado X trabalha com a
ACIJ, através de um maior número de juízes leigos.
Eu ainda acredito que as empresas deixam de fazer acordo pra
desestimular os consumidores mesmo, porque o tempo desanima o
ingresso de ações.
(Servidor do NADAC)
Em um dos Juizados Especiais Cíveis tive mais autonomia para mexer nos
processos, pois não havia restrições sobre pegar processos nas estantes ou nas
caixas de arquivo. Em outras palavras, não forneceram nenhum limite à pesquisa de
processos. Já no outro Juizado, não obtive autorização para analisar as caixas
contendo os processos já preparados para serem encaminhados ao arquivo
definitivo.
O acesso que me foi fornecido neste Juizado dizia respeito aos processos
que se encontravam empilhados em uma estante (denominada “baixa”), mas que
ainda não haviam sido encaixotados, ou seja, encontravam-se em um momento que
antecedia esta fase. Assim sendo, o adesivo com a data da baixa nunca estava
preenchido, posto que essa informação só é lançada quando, efetivamente, o
processo vai ser colocado dentro da caixa de arquivo.
Já no outro Juizado Especial Cível tive acesso direto a essas caixas, sendo
que, nesta serventia, todos os funcionários eram responsáveis pelo serviço e tinham
suas próprias caixas de processos a serem enviados para o arquivo. A cada dia que
eu ia realizar a pesquisa, um funcionário diferente fornecia uma caixa, cuja
quantidade de processos variava entre 6 (seis) e 15 (quinze).
47
Por não estarem encerrados, tais processos não puderam ser aproveitados
no cálculo do tempo dos processos, o que me fez retornar ao cartório e analisar
8
BRITO, Wagner de Mello. Instrumentos e Interferências no Desempenho do Judiciário no Rio de
Janeiro (Cartórios Judiciais: suas práticas, ritos e impactos na marcha processual). Tese de
Doutorado Defendida na Universidade Gama Filho. Novembro de 2013.
48
Não faço diferente. Eu preciso falar dos fatos, do direito, fundamentar bem.
Por que eu faria diferente?
[advogada atuante há 11 (onze) anos em causas cíveis]
Não acho que mude muita coisa [entre as petições direcionadas ou não ao
Juizado Especial], o que poderia ser dito em uma ou duas páginas continua
sendo escrito em dez ou mais. É só uma opção, as pessoas optam pelo
Juizado e aí seguem todas as regras daqui, mas as petições dos advogados
não são tão diferentes.
O que pude perceber foi que as petições redigidas pelo Núcleo de Primeiro
Atendimento costumam ser bem mais sucintas do que aquelas elaboradas por
advogados particulares; jurisprudências, por exemplo, não foram encontradas em
nenhuma peça redigida pelo Núcleo, embora sejam comuns em petições escritas
por advogados particulares.
Por exemplo, no dia 26 de agosto de 2015, por volta das 16h (dezesseis
horas), enquanto realizava minha pesquisa, um dos servidores do Juizado Especial
Cível mostrava-se indignado, posto ter acabado de receber 2 (duas) petições de
interposição de Recurso Inominado, originárias do mesmo escritório, e que
constavam, cada uma, com aproximadamente 100 (cem) folhas.
seja mais simples, e de isso acabar não sendo aceito pelo magistrado responsável
pelo Juizado.
Sobre o tema, vale registrar que, certa vez, uma pessoa me procurou dizendo
possuir um caso que “queria colocar na justiça”. Quando realizei o atendimento, ela
fez a seguinte confissão: “uma vez entrei com uma ação sem advogado. Não
entendi nada do que aconteceu, só sei que perdi. Por isso estou procurando
advogado agora”.
Apesar das explicações para o autor sobre o que era a ilegitimidade ativa,
este não compreendeu e permaneceu na sala afirmando que a justiça seria feita, e
que ele acreditava que sairia vencedor.
Além de tais hipóteses, também é possível que a parte, após ingressar com a
ação, procure a Defensoria Pública para que o defensor a acompanhe durante a
audiência. Tal situação foi levantada por uma juíza leiga quando, após explicar
várias vezes para a parte que ela não teria êxito na ação, em razão da ilegitimidade
ativa, esta continuou acreditando que sairia vencedora.
Quando iniciei a pesquisa, não passou pela minha cabeça desenvolver uma
discussão sobre o teor das decisões proferidas ao longo do processo; entretanto,
algumas acabaram sendo citadas – ou ainda serão – por representarem tópicos
curiosos ou pertinentes aos assuntos ventilados.
A escolha pela Justiça Cível Comum foi voluntária, posto existir possibilidade
de impetrar a demanda no Juizado Especial Cível.
Cabe, então, registrar situação vivenciada por mim, referente a 3 (três) casos
de igual teor.
Na referida decisão ficou afastada a condenação por danos morais, porém, foi
deferido o pedido de restituição da diferença paga, tendo em vista que “restou
comprovado a cobrança a maior das parcelas do contrato de empréstimo em voga,
devendo tal quantia ser restituída, sob pena de enriquecimento sem causa”.
Entretanto, determinara-se a devolução simples do valor, e não em dobro.
Com isso, ouso afirmar que a ideia de um livre convencimento também é apta
a influenciar no tempo dos processos.
62
A grande questão levantada pela matéria acima foi: como saber o tempo dos
processos? Como dizer, efetivamente, que um dos Juizados Especiais Cíveis da
Comarca de Volta Redonda leva mais tempo do que o outro para realizar
determinados atos, tais como juntada de petição, expedição de mandado de
pagamento, dentre outros?
Para eu saber sobre o tempo do processo, sobre dias, meses e anos que
determinadas práticas judiciárias podem demorar, só mesmo através do acesso
direto ao material, tendo em vista que não são numerosas as fontes sobre o
assunto.
9
FONSECA, Rosa Maria de Souza. A OAB de Volta Redonda na luta contra os problemas do Juizado Especial
Cível. Jornal da Ordem – Órgão de Divulgação da OAB Volta Redonda. Rio de Janeiro, set. 2011.
64
Por seu turno, deve-se ter em mente que a questão do tempo do processo
precisa ser analisada de forma específica, levando em conta as características de
cada região, de cada tribunal, de cada comarca. Nessa linha, não necessariamente
os dados levantados na Comarca de Volta Redonda valerão para a de Barra Mansa,
Rio de Janeiro, Quatis etc, posto existirem várias peculiaridades envolvidas.
10
GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Técnicas de Aceleração do Processo. 1. ed. São Paulo: Lemos & Cruz,
2003. p. 18.
11
GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Op. Cit. p. 206.
65
12
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito
processual civil,1. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 467.
66
auxiliares” 13, considerando, ainda, que existem acontecimentos naturais que também
podem afetar o curso processual como, por exemplo, a morte de uma das partes.
13
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil e processo de conhecimento. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 229.
67
Por ouro lado, é preciso ter em mente que, mesmo se tratando de um único
Cartório, não existe tempo fixo e certo para realização dos atos, assim sendo, pode
ser que uma audiência, por exemplo, leve de 1 (um) mês a 13 (treze) meses para
ser agendada, o que, indiscutivelmente, afeta significativamente o tempo da ação.
Logo, o tempo para realização de certos atos também será elemento influenciador
do tempo total da ação.
No que tange à marcação de audiência, às vezes elas são feitas bem antes
do tempo normal, posto entrarem em espaços vagos deixados por outras, que por
algum motivo foram canceladas.
Ou seja, em algumas situações, até o fator “sorte” pode contribuir para uma
demanda mais ou menos célere.
Nesse sentido, pude observar dois casos distintos. Em um deles, o réu pagou
mais para recorrer do que a condenação propriamente dita; ao final, sem êxito no
recurso, desprendeu tanto o valor das custas, quanto da execução. Já em outra
69
situação, a parte que impetrou o recurso obteve êxito, assim, embora o valor pago
tenha sido mais alto que o da condenação, ao menos o sucesso profissional pode
ser sopesado.
Sem adentrar nas questões que motivam o autor a não receber os valores, é
importante considerar que as reiteradas tentativas de contatar a parte vencedora
para receber o que lhe é devido também contam no tempo do processo, haja vista
demandar inúmeras intimações, despachos dos magistrados, expedição de
documentos, dentre outros. Ou seja, mesmo com o valor depositado e o mandado
de pagamento expedido, o processo não pode ser baixado e arquivado, por se
mostrar necessário intimar a parte para receber o valor. Só após várias tentativas,
sem sucesso, é que se determinou o arquivamento das ações.
A partir daí são realizados os atos para a citação do(s) réu(s) e apreciação de
eventuais pedidos de tutela antecipada ou cautelar. Existindo pedidos dessa
natureza, os autos serão remetidos ao juiz, que irá proferir decisão concedendo ou
não a tutela pretendida.
Um dos servidores me relatou que, há alguns anos, quem era intimado para
promover a retirada do nome do autor dos cadastros restritivos era o próprio réu.
Entretanto, o índice de descumprimento era muito alto, e perdia-se muito tempo para
investigar se o réu havia acatado ou não a determinação judicial. Assim, para
agilizar e facilitar o processo é que se passou a intimar diretamente os órgãos
responsáveis pelo registro.
5.1.2 Da Citação
Se, porventura, o feito tramitar sem a citação adequada, todos os atos estarão
viciados, sendo passíveis de serem declarados nulos.
74
Cada um desses atos demanda tempo, sendo certo que algumas dessas
fases são de responsabilidade do Cartório e, outras, vinculadas diretamente à
atividade de terceiros, afinal, quem entrega e devolve as correspondências são os
Correios.
Logo, para que não se atrase a realização da audiência, é importante que
todo processo de citação se desenrole antes da data da audiência, sob pena de se
75
Para cálculo do tempo levado para realizar a citação, considerei dois períodos
distintos, o primeiro diz respeito ao momento compreendido entre a digitação do
documento e a efetiva citação; e, o segundo, considera o lapso temporal da citação
(ciência do réu ou resultado negativo) até a juntada aos autos.
encaminhado pela via postal, e a comprovação da intimação válida será feita através
do Aviso de Recebimento, que deverá ser juntado aos autos.
Por fim, destaca-se que a Lei nº. 9.099/1995 não traz prazo para realizar a
citação, porém, o Código de Processo Civil (tanto o de 1973 quanto o de 2015)
prevê que a parte deverá promover “a citação do réu nos dez dias subsequentes ao
despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável
exclusivamente ao serviço judiciário” (art. 219, § 2º), podendo o prazo ser
prorrogado até o máximo de 90 (noventa) dias (art. 219, § 3º).
Alexandre Câmara explica que tal prazo é conferido para que a parte forneça
o endereço do réu, pague as despesas processuais, quando isso se mostrar
necessário, a fim de se afastar a prescrição pela citação válida16. Todavia, como o
artigo menciona a inexistência de prejuízo se a demora for imputável exclusivamente
ao serviço judiciário, é válido considerar o referido prazo como referência legislativa
para o tempo necessário para realização do ato citatório.
16
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil: volume I. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009. p. 254.
77
30 24
25
20
15 10 9
10 6 6
5 2 1 0 0 1 0 0 2
0 Processos
Dias
18 19 19
20
15
10 5
5 2 2 0 1 1 0 0 0 1 2
0
Processos
Dias
35
30 22
25
20 15
15 7
10 5
5 1 2 0 0 0 0 0 0 2
0 Processos
Dias
20
15 13
10
10 6 6 7
4 4 3
5 2 1 2 1 2
0
Processos
Dias
80
Analisando este último gráfico podemos perceber uma situação em que o ato
levou mais de 100 (cem) dias para ser realizado. Precisamente, o tempo entre a
citação e a juntada do Aviso de Recebimento foi de 195 (cento e noventa e cinco)
dias. Ou seja, mais de 6 (seis) meses foram necessários para realização do ato,
enquanto em outros processos a mesma atividade foi realizada num prazo de até 5
(cinco) dias. A partir daí, já podemos ver como existe discrepância para
desempenho dos atos processuais.
No que diz respeito ao tempo para realização da primeira audiência, a lei não
prevê nenhum prazo, entretanto, se fossemos considerar os mesmos 15 (dias)
mencionados para a realização da fase de instrução e julgamento, nenhum processo
teria atingido a referida marca, tendo em vista que a conciliação mais rápida foi
marcada 29 (vinte e nove) dias após a distribuição.
Outro parâmetro que pode ser mencionado, e embora seja aplicado ao rito
ordinário, e não ao Juizado Especial, é o prazo de 30 (trinta) dias para marcação de
audiência preliminar, com previsão no artigo 331 do Código de Processo Civil. Trata-
82
2 2
2
Processos
1 1
1 Processos
0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses
Tempo
3
Processos
Processos
1
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8
mês meses meses meses meses meses meses meses
Tempo
20 17
15
10
5 3 Processos
0 1 1 0 0 0 0 0
0
Tempo
25
20
15
10 Processos
5 1 1 2 1
0 0 0 0 0 0 0
0
Tempo
tempo para sua marcação, como audiência inaugural, pode ser representado da
seguinte forma:
2
Processos
1 1
1
0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses
Tempo
15
12
10
6 6 Processos
5 4
3
2
0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8
mês meses meses meses meses meses meses meses
Tempo
Dentre os processos que levaram até 1 (um) mês, chama atenção o fato de
que, em 2 (dois) deles, a Audiência de Instrução e Julgamento realizou-se no dia
seguinte à Audiência de Conciliação. Ou seja, em um lapso temporal de
aproximadamente 24h (vinte e quatro horas) foram realizadas duas audiências.
Considerado o prazo legal estampado no artigo 27, parágrafo único, da Lei nº.
9.099/1995, tais audiências deveriam ter sido marcadas nos 15 (quinze) dias
subsequentes à realização da Audiência de Conciliação, o que aconteceu apenas
em 10 (dez) dos 54 (cinquenta e quatro) processos pesquisados, totalizando 18,5%
(dezoito vírgula cinco por cento).
momento. Todavia, mostra-se que a AIJ, ao menos nos processos pesquisados, tem
baixíssimo percentual de acordo.
Cabe registrar que foi analisando as datas de juntada das petições que
percebi uma das diferenças existentes entre os Juizados Especiais Cíveis de Volta
Redonda. Trata-se da mencionada Certidão de Recebimento de Petições, que
embora existente em um dos Juizados, não encontra qualquer correspondente no
outro.
A Lei que regula os Juizados Especiais Cíveis não estipula um tempo mínimo
ou máximo para que ocorra a juntada, entretanto, por se tratar de tarefa da
competência dos funcionários, podemos invocar, em razão do princípio da
subsidiariedade do Código de Processo Civil, e para fins de referência, o artigo que
trata do prazo para que os servidores pratiquem os atos que lhes competem.
O Novo Código de Processo Civil (2015) ampliou o prazo para 5 (cinco) dias,
mantendo os demais termos.
25
20
Petições
15
10 9 9
8 Petições
6
5
5
2 2 2
1 1
0
Dias
Feito isso, pelas novas regras processuais, teremos que 55% (cinquenta e
cinco por cento) das petições foram juntadas dentro do tempo de referência,
representado aquelas cujo ato ocorreu até 10 (dez) dias.
No que diz respeito às petições que levaram mais de 100 (cem) dias para
serem juntadas, tem-se que o tempo total necessário foi de 110 (cento e dez) dias
para uma, e 119 (cento e dezenove) para a outra. Aproximadamente 10 (dez) vezes
mais do que o tempo de referência.
Neste Juizado, um dos servidores comentou que, por dia, chegam mais de
400 (quatrocentas) novas petições, e que eles estavam conseguindo trabalhar sem
acumular muitas, tanto que, por um período em 2015, os documentos eram juntados
rapidamente. Entretanto, às vezes acontece de o serviço acumular bastante, ficando
mais demorado. Inclusive, já surgiu a necessidade de montar uma equipe de apoio
para agilizar o procedimento de juntada, pois apenas os servidores não estavam
conseguindo dar conta.
15
15 14
12
10 Petições
5 4 4
2
1 1 1
0
0
Dias
95
terá validade como sentença; se não, o juiz titular poderá proferir nova sentença ou
convertê-la em diligência.
Mas qual o momento em que se profere a Sentença ou marca data para sua
Leitura?
Existem, ainda, alguns casos que foram por mim taxados como “sem Leitura
de Sentença”. Esta situação diz respeito aqueles em que a sentença extintiva se deu
antes mesmo da realização da audiência, fosse pela desistência proclamada pelo
autor, pela celebração de acordo extrajudicial ou pelo adimplemento voluntário da
obrigação por parte do réu; refere-se, também, às situações em que o processo foi
extinto pela incompetência do Juizado Especial Cível; e, ainda, casos em que se
97
obteve êxito na conciliação judicial das partes. Ressalte-se, contudo, que tendem a
ser processos cujo término não se dá pela análise meritória
Os juizados trabalham com mais de um juiz leigo. Assim, não é incomum que,
alguns deles, atrasem a entrega do processo, com o respectivo Projeto de Sentença.
Embora a maioria das sentenças tenha sido proferida fora do prazo, não
observei nenhum caso em que essa demora tenha ocasionado sanções para quem
descumpriu os prazos legais. Conclui-se, portanto, que a falta de fiscalização quanto
ao cumprimento dos prazos, com a aplicação de sanções, possibilita que as
previsões legais sejam amplamente ignoradas, incluindo aí a necessidade de
formular a Sentença no prazo legal.
Esta petição, embora seja comum na prática da advocacia, foi definida por um
dos funcionários do Juizado Especial Cível como:
Uma perda de tempo. Serve só para dar mais trabalho e atrasar o serviço.
O advogado vem no balcão, pega a Certidão de que não saiu [a sentença],
aí a gente já tem que fazer o atendimento no balcão, parando os outros
serviços, depois junta no processo pedindo a publicação. E ele sabe que
não precisa fazer isso; se não publicar, não vai ter validade. Não precisa
pedir. Isso [a publicação] vai acontecer de qualquer jeito. Mas dá todo o
trabalho de ter que juntar a petição, apreciar o pedido e fazer o que já seria
feito.
(Servidor I)
11
10
10
6
5 5
4
4
2
2
0 0 0 0 0
0
0-5 5-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 81-90 91-100 100+ Dias
Total: 48
Embora a Lei dos Juizados Especiais não traga qualquer prazo sobre o tempo
para proferir a sentença, quando esta não é apresentada na Audiência de Instrução
e Julgamento, pode-se buscar referências, mais uma vez, no Código de Processo
Civil.
A lei processual de 1973 prevê um prazo de 10 (dez) dias para que o juiz
profira a Sentença (artigo 456). Já o Código de Processo Civil de 2015 amplia este
tempo para 30 (trinta) dias.
6 5
4
4 3 3 3
Sentença
2
2 1
0 0
0
Dias
Total: 48
A Sentença mais rápida levou 6 (seis) dias para ser produzida e, a mais
demorada, 150 (cento e cinquenta) dias.
Porém, ainda existe uma situação a ser analisada. Deixando de lado o prazo
legal usado de referência, é importante considerar se as Leituras de Sentença foram
ou não realizadas no dia e hora previstos.
103
Lembrando que, sempre que há atraso, a decisão deve ser publicada para
que tenha validade.
21
20
15
12
10
Agendamento da Leitura de
4 Sentença
5 3 3
2 2 2
1
0 0 0
0
Dias
Total: 50
6 5
5
4 3
3 2 2 Sentença
2 1
1 0 0
0
Dias
Total: 50
Por fim, acresce anotar que das 50 (cinquenta) demandas com Leitura de
Sentença marcada, 23 (vinte e três) delas não tiveram a decisão lançada na data
inicialmente prevista, sendo que o menor atraso foi em um caso que a devolução
ocorreu no dia certo, mas fora do horário previsto. Já o maior atraso foi de 131
(cento e trinta e um dias), ou seja, depois da data assinalada em audiência, ainda
levou praticamente 5 (cinco) meses até que a decisão fosse proferida.
106
Apesar da diferença mínima, pode-se afirmar, pelo menos, que a maioria das
Sentenças foram elaboradas dentro do prazo estipulado pelo juiz, embora não sigam
os prazos legais.
17
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit. p. 244.
107
Temos, então, dois momentos distintos, cujo lapso temporal foi avaliado em
separado: o primeiro diz respeito ao tempo em que o magistrado leva para, a partir
da data que tem o processo a seu dispor, proferir o despacho; e, o segundo, relativo
ao tempo em que, recebido os autos no Cartório, desprende-se até a efetiva
publicação da decisão, momento este em que inicia a contagem de prazo para
cumprir a determinação.
Assim, para que se tenha noção de quanto tempo leva para que um despacho
seja proferido e passe a ser exigível, deve-se somar o tempo para proferir a decisão,
mais aquele para que ocorra a intimação pessoal ou publicação no órgão
competente.
50
40
30
Elaboração do Despacho
20 17
11
10 6
1 0 0 1 0 0 0 0
0
Dias
Pela antiga regra, apenas 43% (quarenta e três) despachos teriam sido
proferidos dentro do prazo legal de 2 (dois) dias, fazendo com que nem metade dos
casos respeitasse a previsão estampada em nosso ordenamento jurídico. Todavia, a
nova regra processual, que amplia o prazo para 5 (cinco) dias, levanta este número
para 64% (sessenta e quatro por cento).
45
40
35
30 27
25
20 17
Publicação do Despacho
15
10
5 4
5 2 1 1
0 0 0 0
0
Dias
70
60
50
40
30 Elaboração do Despacho
20 16
8
10 3
0 0 0 0 0 0 0 0
0
Dias
Dentre os despachos que levaram até 5 (cinco) dias para serem proferidos,
59 (cinquenta e nove) respeitam o prazo razoável de 2 (dois) dias, estampado no
Código de Processo Civil de 1973. Entretanto, se a referência utilizada for o Código
de Processo Civil de 2015, mais 14 (quatorze) processos teriam respeitado o prazo
previsto em lei.
35
30
25 22
20
15 12 Publicação do Despacho
11 11
10
5 2 2 3
0 0 0 0
0
Dias
Aqui, 37% (trinta e sete por cento) dos despachos necessitaram de onze a 20
dias para serem publicados, representando a maior barra do gráfico.
Apesar 13% (treze por cento) dos despachos tiveram sua publicação no prazo
de até 10 (dez) dias, e 50% (cinquenta por cento) levaram mais de vinte dias para
serem publicados.
A fase recursal, para fins desta pesquisa, será o tempo compreendido entre o
protocolo da petição de interposição do recurso, até a data em que ocorre a
devolução do processo à Comarca de origem.
18
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998. p. 207.
19
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil: volume II. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009. p. 49.
113
Se nada mais for feito, com o trânsito em julgado da decisão lavrada pela
Turma Recursal o processo tem sua baixa definitiva ao Cartório de origem, onde
voltará a seguir seu curso.
Todavia, mais uma vez observei uma variação imensa de tempo para
realização do ato, sendo que alguns processos tiveram a fase recursal resolvida em
aproximadamente 3 (três) meses, e outros levaram praticamente 2 (dois) anos para
chegar a um desfecho.
5
5
Processos
3 3
3 Processos
2 2
2
0 0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-18 18-24
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 21
Nos casos mais demorados, várias situações puderam ser percebidas, sendo
que em um deles, no qual levou-se 1 (um) ano, 9 (nove) meses e 11 (onze) dias
para encerramento da fase recursal, o tempo foi maior porque, além de existirem
dois recursos para apreciação: um do autor, e o outro do réu; ocorreu erro de
julgamento. Ou seja, o processo foi decidido e, posteriormente, foi verificada a
existência de erro material na decisão, o que fez surgir a necessidade de agendar e
promover novo julgamento, após a declaração de nulidade do primeiro, ensejando o
seguinte acórdão:
116
Nos outros dois processos que levaram de “dezoito a vinte e quatro meses”
para serem apreciados, o processo ficou bastante tempo em 1ª Instância, até que
ocorresse o deferimento da gratuidade de justiça. Aliás, em ambos os casos,
aproximadamente 9 (nove) meses foram gastos para que o pedido de gratuidade
fosse apreciado, e, a partir daí, abrisse prazo para contrarrazões, sendo que só
depois o processo seria encaminhado para 2ª Instância.
Todavia, vale registrar que a Lei dos Juizados Especiais Cíveis não
estabelece prazos para julgamento dos Recursos Inominados e, por se tratar de
espécie recursal própria dos Juizados, nenhum paralelo com as demais normas
brasileiras foi traçado.
É possível que a fase recursal leve mais tempo do que o trâmite inicial do
processo. A título exemplificativo, vale mencionar um dos processos pesquisados,
no qual a sentença de primeiro grau levou 10 (dez) meses para ser proferida, tempo
este inferior ao da fase recursal, que durou 12 (doze) meses.
Tendo em vista a certidão retro, julgo deserto o recurso, o que faço com
base no art.42, § 1º da L. 9.099/95 c/c o Enunciado Jurídico Cível nº 11.6.1
da chamada Consolidação, constante do Aviso nº 23/2008, publicado no
D.O.E.R.J. de 03.07.2008. Condeno a recorrente ao pagamento das custas
processuais, consoante disposto no Enunciado nº24 do FETJ, a saber: 24.
Não dispensa o pagamento das custas, nem autoriza a restituição daquelas
já pagas: a) ... b) ... c) o recurso declarado deserto, seja por
intempestividade ou por irregularidade no preparo, falta de preparo ou
preparo insuficiente; Uma vez preclusa a presente, apure-se o valor das
custas processuais devidas, notificando-se a devedora para pagamento, por
via postal, ou publicação no Diário Oficial, no prazo de 05 dias, sob pena de
inscrição na dívida ativa estadual.
3,5
3
Processos
2,5
2
Processos
1,5
1 1 1
1
0,5
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0
Até 1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-7 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-18 18-24
mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 07
No que tange à fase recursal que teve duração superior a 1 (um) ano, trata-se
dos autos com Recurso Extraordinário, no qual a fase recursal durou 1 (um) ano, 7
(sete) meses e 22 (vinte e dois) dias. O Recurso Inominado foi interposto em 4 de
novembro de 2013. Com a vinda da decisão que lhe negava provimento, ocorreu a
interposição do Recurso Extraordinário, em 29 de outubro de 2014, também com
resultado desfavorável ao recorrente. Na data de 26 de junho de 2015 o processo
retornou ao Juizado, na Comarca de Volta Redonda.
Curioso que, embora este processo tenha sido encaminhado até o Supremo
Tribunal Federal, ganhando uma fase adicional antes de retornar, não se trata da
fase recursal mais demorada. Na verdade, se analisado apenas os processos do
Juizado Y, ele terá sim a maior duração nessa etapa. Entretanto, se ampliarmos a
comparação para incluir os processos verificados no Juizado X, teremos duas ações
cuja fase recursal foi mais demorada.
121
Advogado Particular
Defensor Público
21
Advogado Particular
Defensor Público
Por fim, pode-se mencionar, além dos dados acima, que o Recurso
Extraordinário foi interposto por defensor público.
123
Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Provimento Negado
Não apreciado
15
Total: 26
124
Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Provimento Negado
Não apreciado
5
Total: 09
17,10%
Totalmente Procedente
Parcialmente Procedente
Negado Provimento
Não apreciado
57,10%
Todavia, vale registrar que para início da contagem do tempo de duração dos
processos considerei a distribuição do feito e, como término, o arquivamento
definitivo.
25
22
Processos
20 19
15 Processos
11
10
5
5 4 4
2
1 1
0
0-6 6-12 12-18 18-24 24-30 30-36 36-42 42-48 84-90 102-108
meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 100 processos
20
16
Processos
15
Processos
10
5
5
1 1
0 0 0
0
0-6 6-12 12-18 18-24 24-30 30-36 36-42 42-48 84-90 102-108
meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses Tempo
Total: 100 processos
129
Os demais processos, que totalizam 50% (cinquenta por cento), duraram mais
de 1 (um) ano, com ações que, fugindo dos padrões, duraram bem mais que 3 (três)
anos.
Em todos esses casos os autores, por longos anos, tentaram ver cumprida a
decisão judicial que lhes foi favorável e, somente depois de exauridos todos os atos
que poderiam auxiliar na satisfação da obrigação é que desistiram de dar
prosseguimento à execução.
O caso referido na letra “a” já foi objeto de breve discussão neste trabalho,
quando referido no Capítulo 3, como quarta hipótese em que o autor, embora
vitorioso, não tenha buscado o recebimento dos valores depositados. Entretanto,
diferente dos outros 3 (três) casos, neste existiu diligência posterior (impetração de
nova demanda), a fim de receber o que estava à disposição.
No mais, pude verificar que a maior parte das demandas que encerram antes
de completar 6 (seis) meses não recebem uma sentença de mérito, findando por
motivos diversos.
Minha curiosidade foi atiçada para saber a resolução dos processos com
duração inferior a 6 (seis) meses.
Assim, analisei cada um deles, concluindo que: (a) 6 (seis) deles haviam sido
extintos pela ausência da parte autora na audiência inaugural; (b) em 4 (quatro)
deles o autor pediu desistência da ação; (c) 3 (três) tiveram sentença sem exame do
mérito, sendo que em 2 (dois) deles houve o reconhecimento de foro incompetente
e, no outro, coisa julgada material (ou seja, o assunto versado nos autos já havia
sido objeto de demanda judicial finda); (d) 1 (um) teve acordo extrajudicial
homologado, cuja informação foi apresentada nos autos antes da realização da
audiência; (e) 8 (oito) obtiveram êxito na conciliação, e o adimplemento das
obrigações foi feito no prazo acordado; e, (f) apenas 1 (um) teve sentença
extinguindo o feito com resolução de mérito, julgando a causa improcedente.
Vale ressaltar que foi nesse Juizado que tramitou o único processo no qual
houve a interposição de Recurso Extraordinário e, apesar de a referida ação ter
chegado no Supremo Tribunal Federal, diferente do que se pode esperar, não se
131
Dos processos que duraram até 6 (seis) meses, verifiquei que a maioria foi
encerrado sem a necessidade de um provimento jurisdicional que analisasse o
mérito, ou seja, que de fato apreciasse as razões que levaram o autor a entrar em
juízo e, consequentemente, os pedidos formulados.
Eu: Nos casos do Juizado Especial, você lembra quanto tempo levou mais
ou menos, e qual foi resultado?
Entrevistado 1: No da instituição financeira acho que levou um ano e na
audiência fiz acordo. A da empresa de telefonia quando marcou audiência
eu estava hospitalizado e preferi desistir.
Eu: Nessa que foi feito o acordo, o que achou do tempo do processo?
Entrevistado: Considerando a nossa Justiça, e sendo o meu primeiro
processo na época, achei até rápido, só não gostei do acordo.
Eu: E por que você fez o acordo?
Entrevistado: Pressão do advogado. A proposta foi zerar a dívida que não
existia e me pagar 700 reais.
É preciso ter cautela sobre o assunto, visto que a ideia de a conciliação tornar
o processo mais célere – o que observei nos processos que levaram até seis meses
– só pode ser considerada como válida se realmente for efetiva, atendendo as
expectativas dos jurisdicionados, que não podem sair totalmente insatisfeitos.
20
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti; AMORIM, Maria Stella. Quando direitos alternativos viram
obrigatórios. Burocracia e tutela na administração de conflitos. Antropolítica: Revista Contemporânea
de Antropologia, nº. 37, 2014. Disponível na Internet:
http://www.revistas.uff.br/index.php/antropolitica/article/view/263/185. Acesso em: 1 mar. 2016.
133
21
BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti; AMORIM, Maria Stella. op. cit. Disponível na Internet:
http://www.revistas.uff.br/index.php/antropolitica/article/view/263/185. Acesso em: 1 mar. 2016.
22
Palestra da ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima Nancy Andrighi, sobre “Conciliação no
Processo Civil”, realizada no II Congresso Piauiense de Direito Processual, em 19 de setembro de
2003. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001118/texto%20ministra%20selecionado%2
0-%20%20Concilia%C3%A7%C3%A3o%20no%20Processo%20Civil%20-%20Piau%C3%AD.doc.
Acesso em: 3 mar. 2016.
134
A verdade é que a conciliação não é vista como um objetivo, para o qual deve
ser desprendido grande esforço, mas sim como uma mera fase do processo. Faz-se
porque a lei considerou obrigatório, então não tem como fugir.
Todavia, embora não seja tão valorizada como deveria, ainda representa uma
maneira mais célere de resolução dos processos, conforme observado nas
demandas encerradas em até 6 (seis) meses. Nos demais casos, normalmente nem
se discutiu o mérito da questão, sendo que em pouquíssimos se mostrou necessário
provimento jurisdicional para, de fato, finalizar a ação.
Eu: Sobre o processo no Juizado Especial, você lembra quanto tempo levou
mais ou menos?
Entrevistado 3: Acho que um ano, ou pouco mais que isso.
Eu: E o que achou desse tempo?
Entrevistado 3: No começo eu tava muito ansioso. Depois da audiência fui
deixando pra lá. Quase não pensava no assunto quando o advogado ligou
pra avisar que ia receber um dinheirinho. Então, meio que desencanei do
tempo. Eu já nem me importava mais.
Mesmo obtendo êxito na demanda, oito meses pareceram muito tempo para o
referido entrevistado, sendo que o tempo razoável por ele apresentado se
assemelha, um pouco mais, ao esperado pelos advogados, conforme veremos
adiante.
Eu: Gostaria de falar um pouco sobre o tempo dos processos nos Juizados
Especiais Cíveis...
Advogada 1: Iiii, horrível. Tenho processo que está desde setembro só para
dar sentença.
Eu: Desde setembro para dar sentença, então não termina antes de
completar um ano, né? Porque já deve ter levado uns quatro meses para
chegar nessa etapa.
Advogada 1: Com certeza. Até pagar, demora mais. A expedição do
mandado de pagamento às vezes demora também.
Eu: E o que você considera como tempo razoável prum processo do
Juizado?
Advogada 1: Seis meses, tudo. Acho que essa é uma duração razoável
para juizado, que não precisa de tanta burocracia. Era pra ser mais rápido.
Imagina seis meses só para dar uma sentença. É o que estou passando
com esse processo que te falei.
[Entrevista realizada em março de 2016]
Eu: Gostaria de falar um pouco mais sobre o tempo dos processos nos
Juizados Especiais Cíveis. Qual seria um prazo razoável, por exemplo.
Advogada 2: Juizado Especial tem que ser rápido. Essa história de ficar
esperando um ou dois anos pro processo terminar é muito ruim. A gente
depende disso, e os processos ficam travados.
137
Eu: Agora eu gostaria de falar um pouco mais sobre o tempo dos processos
nos Juizados Especiais Cíveis...
Advogado 3: Tipo, se for acordo... Logo na audiência de conciliação
termina, demora em torno de seis meses. Mas quando não tem acho um
absurdo, porque acontece de demorar até dois anos... Mas todo esse tempo
de espera é devido a demora dos servidores. Às vezes a publicação que
fica pendente por vários dias. Não que eles sejam devagar, até porque sou
esposa de servidor e sei que eles ralam... Trabalham mesmo. Mas é nítida a
falta de servidores nos nossos juizados para a quantidade de processos.
Eu: Passei um tempo dentro dos cartórios fazendo a pesquisa, dá pra
perceber que eles têm bastante serviço. Também percebi como varia a
realização dos atos processuais. E, na sua opinião, qual seria o prazo
razoável para o processo no Juizado terminar?
Advogada 3: Acho que tinha que ser três meses. Seis com recurso. Claro,
tenho processo que já demorou um ano com recurso, mas já ficou 2 anos
também. É muito variável. Ás vezes trava por causa de uma demora dentro
do cartório.
Eu: Durante a minha pesquisa, vi um processo que levou aproximadamente
nove anos para terminar. São casos isolados, mas existem.
Advogada 3: Falei com um amigo, disse ele que tem um processo no
juizado de Volta Redonda que está há 5 anos. Já achei um absurdo!
Eu: É bem complicado mesmo.
Advogada 3: A minha sócia está aguardando uma publicação há quase um
ano. Isso não existe!
Eu: Publicação demorando quase um ano eu não tinha visto. Essa
informação é bem interessante.
Eu: A pesquisa que estou fazendo é sobre o tempo dos processos nos
Juizados Especiais Cíveis... Você costuma atuar nessa área?
Advogado 3: Costumo sim. Se eu souber responder, te ajudo sim.
Eu: Em média, quanto tempo leva para que as ações cheguem ao fim, no
Juizado Especial?
Advogado 3: Acredito que a média seja dois anos... Mas já tive processos
que duraram mais. Tem processos que demoram muito no serviço interno
do cartório, a fase de execução é a pior.
Eu: Qual costuma ser o problema com a fase de execução?
Advogado 3: Demora muito tempo para que eles analisem os pedidos e
processem. Fora que as empresas, quando são rés, fazem de tudo pra
adiar.
Eu: O que por exemplo?
Advogado 3: Já teve caso da empresa me ligar, eram duas no polo passivo,
e oferecer pagar a parte dela extrajudicial. Eu disse que preferia o depósito
judicial. Ela simplesmente não pagou, teve penhora online e ela agora
embargou. Eu acho que é má fé da empresa. Ou então se você não aceita
acordo, elas postergam o máximo que podem.
Eu: Qual o tempo que você acha razoável para duração de um processo no
Juizado?
Advogado 3: Seria um ano, um ano e meio...
O curioso foi a percepção de que as partes podem sim criar atos para
embaraçar o andamento do processo, tornando-os mais demorados, visão esta já
apresentada por servidores dos Juizados Especiais.
Em síntese, não há uma visão geral do que seria razoável, porém, nota-se
algumas semelhanças na visão dos entrevistados. Entretanto, o tempo adequado do
23
Ministério da Justiça. Análise de Gestão e Funcionamento dos Cartórios Judiciais. Secretaria de
Reforma do Judiciário. Brasília: Ideal Gráfica e Editora Ltda, 2007.
.
139
processo sempre será assunto de grande debate e divergência. Assim, por mais que
se busque a celeridade, pensamento uníssono do que seria a duração razoável do
processo é extremamente difícil, valendo a realização de pesquisas para saber o
quanto podemos agilizar nossa justiça, sem interferir na segurança das decisões.
140
7 CONCLUSÃO
O que pude perceber é que não existe qualquer tipo de controle real sobre o
tempo do processo, afinal, os prazos estabelecidos pela legislação pátria, que
poderiam ser considerados como razoáveis ou, ao menos, deveriam servir de
parâmetro, são facilmente flexibilizados pelos funcionários responsáveis, inexistindo
sanções pelo descumprimento. Aliás, a própria legislação permite que os prazos
inicialmente previstos sejam prorrogados, desde que haja justo motivo. Na prática, é
raríssimo alguém inferir contra um juiz ou serventuário que extrapolou o prazo
previsto para prática do ato – eu, particularmente, nunca presenciei queixas formais
nesse sentido, fosse durante a pesquisa ou durante o desempenho da função de
advogado.
Claro que não é só o descumprimento dos prazos impróprios que geram certo
retardo ou falta de padronização no tempo do processo, desorganização (perda de
processo) e condutas de má-fé também contribuem para este cenário, afinal,
perceptível atos praticados por advogados apenas para retardar o processo, seja
porque foram vencidos na demanda e valia a pena ganhar tempo, ou porque teriam
alguma vantagem pela demora no encerramento do feito (escritórios que recebem
por peça ou por tempo do processo).
141
Por seu turno, nos processos analisados, também não verifiquei despachos
condenando os advogados ou as partes pela litigância de má-fé, por embaraçar o
processo. Todavia, em minha experiência profissional, sei que tal condenação é bem
mais comum do que queixas formais contra os servidores.
Ainda sobre o retardo dos processos por atos desnecessários, observei várias
situações em que o magistrado solicitava às partes documentos que já haviam sido
anexados ao processo, sendo o mais comum comprovantes de rendimento para
apreciação do pedido de gratuidade de justiça. A inobservância do que já havia sido
juntado ao feito também acarreta maior demora, posto que, o caminho para
realização do ato pode demandar meses. Afinal, publica-se a decisão do juiz, a parte
cumpre a exigência ou informa que já cumpriu, a petição é juntada e depois
conclusa para, aí sim, ser apreciada pelo magistrado, que finalmente irá proferir sua
decisão. Nos casos em que o documento já estava disponibilizado no processo,
bastaria uma análise mais aguçada e teria sido evitado todo esse desdobramento,
acelerando o término processual.
24
BRITO, Wagner de Mello. Instrumentos e Interferências no Desempenho do Judiciário no Rio de
Janeiro (Cartórios Judiciais: suas práticas, ritos e impactos na marcha processual). Tese de
Doutorado Defendida na Universidade Gama Filho. Novembro de 2013.
142
Sobre a citação, vale registrar que, mesmo considerando que ela foi realizada
dentro do prazo legal, como um limite razoável, é curioso perceber que 13 (treze)
processos não tiveram a citação tempestiva. Ou seja, apenas na hora da audiência é
que se descobriu que a parte contrária não havia sido citada. Assim, encerrava-se a
audiência marcando nova data e requerendo ao Cartório que tomasse as medidas
cabíveis para promover a citação. Se o problema fosse com o endereço, o autor
deveria fornecer um novo. Considerando apenas os processos que dependeram de
citação, 7,1% (sete vírgula um por cento) deles tiveram inconvenientes com o ato
citatório.
Ainda que não houvesse um prazo legal para usar de referência, vale registrar
que até mesmo as previsões dos juízes são desrespeitas, e isso por eles mesmos.
Afinal, quando se marca a data para leitura de sentença, o juiz faz uma “promessa”
para as partes, porém, muitas vezes, o que foi “combinado” não é cumprido. A
Sentença nem sempre sai na data prevista.
resposta não eram advogados. Estes, por sua vez, em maior número, defendiam
que 1 (um) ano já era muito tempo, dando a entender que 6 (seis) meses deveria ser
o limite. Uma advogada, porém, chegou a comentar que um ano e meio ainda seria
um tempo razoável.
As respostas que obtive não são suficientes para sanar todas as dúvidas, mas
já me direcionam a um maior conhecimento sobre o tempo do processo e dos atos
processuais. E, por mais que eu não possa atestar com toda a certeza e propriedade
qual o prazo razoável do processo, tive a oportunidade de dialogar com vários
membros da sociedade, a fim de conhecer a opinião deles e aperfeiçoar a minha
própria. Descobri, ainda, que até mesmo a “sorte” pode influenciar no deslinde da
ação (o processo não desaparecer, ser encaixado em audiência desmarcada).
Enfim, uma gama de conhecimentos que aperfeiçoam não só meu trabalho
acadêmico, como minha vida profissional.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Lições de Direito Processual Civil: volume II. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009.
PASSOS, José Joaquim Calmon de. Há um novo Moderno Processo Civil Brasileiro?
Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasileiro
de Direito Público, nº. 18, junho, julho, agosto, 2009. Disponível na Internet:
<http://www.direitodoestado.com/revista/RERE-18-JUNHO-2009-CALMON-DE-
PASSOS.pdf>. Acesso em: 22 fev 2016.