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Anais do IX Seminário Nacional de História da Matemática 8

Os antigos gregos herdaram por parte dos egípcios e babilônicos uma matemática
“contaminada” pela promiscuidade entre o raciocínio lógico-dedutivo e a descrição da
realidade sensível. Coube ao gênio heleno promover o seu divórcio. Contudo, mantém-se a
questão sobre como é possível que as ciências matemáticas se apliquem tão perfeitamente ao
nosso mundo sensível, mutável e perene. Como podem as ciências que prescindem das
substâncias sensíveis, não somente serem capazes de explicar, mas também prever
determinados comportamentos de coisas sensíveis?
Como resposta a essa pergunta Platão relegou as “máculas” da matemática de sua
época às contradições do mundo sensível, criando distinções que lhe permitissem salvar tudo
o que era por ele considerado mais puro. E ao promover essa operação na matemática de sua
época, Platão demonstrou ter conhecimento de causa, afinal, para separar o trigo do joio é
necessário antes saber capinar.
No caso de Aristóteles, era justamente por causa desse caráter contraditório dos
objetos das ciências matemáticas com relação às coisas sensíveis, que estas ciências
precisariam de uma melhor fundamentação aos seus pressupostos.
E se grandes pensadores, em cada época, contribuíram cada qual à sua maneira na
edificação do conhecimento humano, em especial do conhecimento matemático, quando
olhamos para os seus feitos vemos, em muitos casos, que Platão e Aristóteles estão ali, à
espreita, como gigantes a emprestar os seus ombros para que outros possam se apoiar. De
fato, pode-se fazer um belo passeio pela história das idéias matemáticas quando buscamos por
vestígios do pensamento deles nas obras de pensadores posteriores.
Um belo exemplo disso pode ser visto na disputa entre Isaac Newton (1643-1727) e
Gottfried Leibniz (1646-1716) pela primazia da criação do cálculo infinitesimal.
No âmbito da filosofia, Newton representa o empirismo inglês, juntamente com outros
grandes nomes, como John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume
(1711-1776). A principal característica dessa corrente de pensamento baseia-se na
fundamentação do conhecimento exclusivamente nos sentidos, ou, na experiência. Para
Locke, por exemplo, todas nossas idéias são derivadas ou da sensação (experiência exterior)
ou da reflexão (experiência interior). São essas duas fontes que fornecem ao entendimento as
idéias simples. A partir de então, o entendimento tem o poder de repetir, comparar e unir tais
idéias formando outras, denominadas idéias complexas. (MENEGHETTI, 2001, p. 132)
Influenciado pelos ideais empiristas, Newton considerou que as ciências deveriam ser
desenvolvidas para atender às necessidades práticas. Por essa razão, a sua matemática será
estreitamente vinculada à experiência, proporcionando uma explicação para os fenômenos
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observados. Tais fenômenos, por sua vez, lhe possibilitavam deduzir proposições particulares,
que testadas pela repetição permitir-lhe-iam extrais princípios matemáticos mais gerais. Deu
grande atenção ao método científico – como já o fizera Descartes, Bacon e outros antes dele –
, procurando por um instrumento de pesquisa que lhe permitisse codificar os segredos da
natureza utilizando-se da experimentação e intuição, extraindo resultados quantitativos. Um
trecho retirado da Questão 31 de sua Óptica nos revela alguns dos princípios de seu método.
Tal como na matemática, também na filosofia natural a investigação das coisas difíceis
pelo método da análise deve sempre preceder o método da composição. Essa análise consiste
em fazer experimentos e observações e deles extrair conclusões gerais, através da indução, e
em não aceitar contra as conclusões nenhuma objeção senão as que forem extraídas de
experimentos ou de outras verdades seguras. (COHEN; WESTFALL, 2002, p. 165-166)
Sob tal perspectiva, é a matemática que deve se ajustar aos eventos da natureza que
procura descrever, e não o contrário. O seu cálculo infinitesimal é, por conseguinte, uma
adequação da geometria euclidiana à mecânica celeste. Newton não aceitava qualquer tipo de
hipótese “metafísica” ou “ideal”, criticando filósofos e cientistas que introduziam ficções em
suas teorias a fim de justificar a utilização do método. Atitude esta herdada dos antigos
gregos, que em muitos casos admitiam entidades abstratas entre os seus princípios
fundamentais com o propósito de salvar os fenômenos. No entendimento de Newton, na
filosofia natural as hipóteses ou conjecturas deveriam passar pelo crivo da experimentação.
Sua mais célebre declaração sobre o método científico foi negativa; hypotheses non fingo,
encontrada na segunda edição do Principia (1713) e que tradicionalmente tem sido traduzida
como “não invento hipóteses” (COHEN; WESTFALL, 2002, p. 145).
Não dispomos aqui de quaisquer citações diretas de Newton quanto à influência dos
antigos gregos em sua obra, mas, parece-nos, sem dúvida, considerando a sua postura no que
tange à concepção científica, que não podemos ignorar certas “afinidades eletivas” com a
proposta aristotélica.
Nascido em Leipzig, na Alemanha, Leibniz envolveu-se em vários projetos durante
toda a sua vida, entre os quais, o de organizar todo o conhecimento humano através de uma
linguagem universal, servindo-se de características matemáticas como a precisão e a clareza.
Seu interesse repousava na idéia de que “uma língua cientificamente concebida ajudaria os
homens a pensar claramente” (KNEALE e KNEALE, 1980, p.332). Seus trabalhos são de
grande valia particularmente no que diz respeito à lógica matemática, entretanto, o que o torna
amplamente conhecido são as suas contribuições na área do cálculo infinitesimal. Leibniz
criticou fortemente o empirismo, apresentando uma posição completamente oposta; a de que
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toda a certeza do conhecimento reside unicamente na razão. Sua tese é exposta na obra Novos
Ensaios Sobre o Entendimento Humano, onde ele rejeita a proposta empirista de Locke. Para
Leibniz, se nossos conhecimentos forem provenientes somente de nossas experiências, então
nosso espírito trata-se apenas de uma “tabula rasa”, uma folha em branco na qual meramente
imprimimos as nossas sensações para depois fazermos combinações entre elas. Sobre o
trabalho de Locke, Leibniz diz:
Li o livro deste famoso inglês [...]. Estimo-o muito e encontrei nele muitas coisas belas.
Parece-me, porém, que se deve ir além, sendo até necessário afastar-se das suas opiniões,
quando algumas delas nos limitam mais do que é necessário e rebaixam um pouco não
somente a condição do homem, mas também a do universo. (LEIBNIZ, 1999, p. 47)
Leibniz não ignorava a importância dos sentidos em nossos processos cognitivos, mas
defendia que temos também que considerar as idéias puras, as verdades da razão e ainda
outras idéias inatas que não poderiam vir dos sentidos. É nesse aspecto, na consideração da
reminiscência como parte integrante de nossa geração de conhecimentos, que Leibniz pode
ser associado ao platonismo. E ao contrário do que ocorreu com Newton há pouco, no caso de
Leibniz a referência é explícita:
Neste sentido deve-se dizer que toda a aritmética e toda a geometria são inatas,
estando em nós de maneira virtual, de maneira que podemos encontrá-las em nós
considerando atentamente ordenando o que já temos no espírito, sem utilizar qualquer
verdade aprendida por experiência ou pela tradição de outros, como demonstrou Platão em
um diálogo [i.e., o Mênon], no qual introduz Sócrates conduzindo uma criança a verdades
estranhas simplesmente através das perguntas, sem ensinar-lhe nada. (LEIBNIZ, 1999, p. 51)
Logo, além da contenda envolvendo a invenção (ou descoberta) do cálculo
infinitesimal, Newton e Leibniz protagonizaram também uma batalha por ideais filosóficos. O
ambiente em que se desenvolveu o cálculo no século XVII abrangeu, em suas raízes, uma
questão de natureza fundamentalmente filosófica. Um embate entre os filósofos da Europa
continental, representados por Leibniz, e os empiristas insulares, por Newton.
Referências
ARISTÓTELES. A Metafísica. v. II. São Paulo: Loyola, 2002.
BARBOSA, Gustavo. Platão e Aristóteles na Filosofia da Matemática. 2009. 134f.
Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências
Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2009.
BOYER, Carl. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1996.
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COHEN, Bernard; WESTFALL, Richard. (org) Newton: textos, antecedentes e comentários.


Rio de Janeiro: Contraponto: EDUERJ, 2002.
FOWLER, David. The Mathematics of Plato’s Academy: a new reconstruction. Oxford:
Clarendon, 1987.
HARDY, Godfrey. Em defesa de um matemático. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KNEALE, William; KNEALE, Marta. O Desenvolvimento da lógica. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1980.
LEIBNIZ, Gottfried. Vida e obra. Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano. São Paulo:
Nova Cultural, 1999.
MENEGHETTI, Renata. O Intuitivo e o Lógico no Conhecimento Matemático: uma análise à
luz da história e da filosofia da matemática. 2001. 141f. Tese (Doutorado em Educação
Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista,
Rio Claro, 2001.
PLATÃO. A República. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental: livro primeiro. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1969.

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