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Rio de Janeiro
Março de 2019
AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO
EM MODELO DE COSTADO DANIFICADO DE
PLATAFORMA FPSO
Cristian Soeiro Lombardi
Orientadora:
_________________________________________________
Examinador:
_________________________________________________
Examinador:
_________________________________________________
Março de 2019
i
Lombardi, Cristian Soeiro
Avaliação da concentração de tensão em modelo de costado
danificado de plataforma FPSO / Cristian Soeiro Lombardi - Rio de
Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2019.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
iii
Dedico esse trabalho aos meus avós
Jandira dos Santos, João Lombardi, Ilda
Matos e Alvin Soeiro (in memorian),
que estiveram presentes no início dessa
jornada e hoje, certamente, assistem
essa e as muitas outras vitórias que
estão por vir.
iv
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço ao meu pai Claudiomar Lombardi e a minha mãe Ana
Lúcia Soeiro, pelo esforço, dedicação e suporte incondicional ao longo de toda a minha
trajetória. Agradeço pela confiança e o apoio determinante na minha decisão de ingressar
nessa aventura em busca de novos caminhos e oportunidades. Obrigado pelo privilégio de
poder perseguir meus sonhos, sim, um privilégio. Não posso deixar de agradecer a minha
irmã Karina Lombardi, pois nos momentos em que achei que estava difícil e desanimei,
vi nela um exemplo de dedicação e persistência. Parabéns, nós conseguimos.
Agradeço aos amigos que estiveram presentes em minha vida durante todos esses
anos no Rio de Janeiro. Em especial, agradeço aos amigos e irmãos Gabriel Roppa e Renan
Pais que estiveram presente desde o primeiro dia dessa jornada, acompanhando e
estendendo a mão durante todos os altos e baixos dessa aventura, obrigado.
Não posso deixar de citar os amigos que fizeram parte da reta final dessa jornada,
que se dispuseram e contribuíram com minha chegada até aqui, com o amadurecimento e
execução desse trabalho: Rodrigo Simões e Walace Vieira.
v
RESUMO
A maioria dos poços de petróleo descobertos recentemente está localizada em águas cada
vez mais profundas, a mais de 1.500 metros, além de estar localizada a grandes distâncias
da costa, o que pode elevar consideravelmente os custos de exploração envolvidos.
Assim, navios plataforma do tipo FPSO (Floating Production, Storage and Offloading)
apresentam-se como uma alternativa interessante. Tais plataformas operam com o auxílio
de embarcações de apoio, que, devido a condições de mar adversas, ou a eventuais erros
técnicos de operação, podem colidir acidentalmente com o painel de costado da
plataforma. Ainda que a avaria não resulte em falha imediata do painel, a concentração
de tensão na região danificada pode comprometer a vida em fadiga da plataforma.
O trabalho tem como objetivo a análise dos fatores de concentração de tensão provocados
pela geometria danificada do painel de costado, resultante de uma colisão acidental com
uma embarcação de apoio, combinada com as suas imperfeições geométricas iniciais
causadas, por exemplo, pelo processo construtivo. Um painel reforçado, em escala
reduzida, é considerado em um trabalho numérico-experimental visando simular danos
mecânicos (mossas) resultantes de colisões em painéis e avaliar as concentrações de
tensão resultantes, considerando ainda as suas imperfeições geométricas iniciais.
vi
ABSTRACT
Most of the newly discovered oil wells are located in deeper water, at more than 1,500
meters, and are located at great distances from the coast, which can considerably increase
the operating costs involved. Thus, FPSO (Floating Production, Storage and Offloading)
are an interesting alternative. Such platforms operate with the aid of support vessels,
which, due to adverse sea conditions or possible operational technical errors, may
accidentally collide with the side panel of the platform. Although the collision does not
result in immediate failure of the panel, the stress concentration in the damaged region
may compromise the fatigue life of the platform.
The objective of this project is analyzing the stress concentration factors caused by the
damaged side panel geometry, resulting from an accidental collision with a support
vessel, combined with its initial geometric imperfections caused, for example, by the
constructive process. Is considered a small-scale reinforced panel in a numerical-
experimental work to simulate mechanical damages (dents) resulting from collisions in
panels and to evaluate the resulting stress concentrations, also considering their initial
geometric imperfections.
vii
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2.2. Fadiga................................................................................................................. 7
3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 25
viii
4.2. Material ............................................................................................................ 37
8. CONCLUSÕES................................................................................................................... 56
9. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 58
ix
LISTA DE FIGURAS
x
Figura 32 - Malha de elementos do tipo SR4 com dimensões 3mm x 3 mm ................. 34
Figura 33 – Gráfico – Custo computacional x refinamento de malha ............................ 35
Figura 34 – Gráfico – Análise de sensibilidade de malha .............................................. 36
Figura 35 - Representação geométrica do modelo: painel/indentador ........................... 37
Figura 36 - Distribuição de tensão de von Mises ao fim da indentação (MPa). ............. 39
Figura 37 - Distribuição de tensão de von Mises ao fim do afastamento (MPa). .......... 40
Figura 38 - Painel danificado, com base inferior engastada e aplicação de carga
compressiva na base superior. ........................................................................................ 41
Figura 39 - Painel intacto – Região bxb em torno da posição do dano .......................... 42
Figura 40 - Aparato montado para o teste de indentação. .............................................. 43
Figura 41 - Detalhe do indentador de 17,5 mm de diâmetro. ........................................ 44
Figura 42 - Painel danificado após indentação. ............................................................. 44
Figura 43 - Instrumentação do painel. ........................................................................... 45
Figura 44 - Orientações do extensômetro tipo roseta [26] ............................................ 46
Figura 45 - Aparato para compressão do painel. ........................................................... 47
Figura 46 - Gráfico - Carga x Extensão compressiva (0 - 1,5 kN) ................................ 48
Figura 47 - Gráfico - Carga x Extensão compressiva (0 - 2,5 kN) ................................ 49
Figura 48 - Gráfico –Força de indentação x d ............................................................... 50
Figura 49 - Gráfico – Componente longitudinal do gage .............................................. 51
Figura 50 - Gráfico – Componente transversal do gage ................................................ 51
Figura 51- Gráfico – Tensão longitudinal (MPa) .......................................................... 52
Figura 52 - Distribuição da tensão de von Mises no painel danificado (MPa) ............. 54
xi
LISTA DE TABELAS
xii
1. INTRODUÇÃO
1
O consumo mundial por região geográfica, em milhões de barris de petróleo,
pode ser visto na Figura 2.
1.1. Motivação
2
Figura 3 –Produção brasileira de petróleo em mil barris/dia [3]
3
A eficácea e a maior demanda na utilização dos FPSO’s para a exploração de
petróleo é comprovada observando-se o histórico da frota mundial deste tipo de
plataforma, apresentado na Figura 5.
Ainda que a avaria não resulte em falha imediata do painel, a concentração de tensão
na região danificada pode comprometer a vida em fadiga da plataforma, que trata-se de
uma unidade flutuante exposta a ação de cargas cíclicas durante um período de tempo que
pode ultrapassar 20 anos [7]. Sendo assim, o estudo da vida em fadiga de tais estruturas
tem grande importância, uma vez que a falha estrutural tem potencial de causar danos
econômicos significativos e até mesmo danos socio-ambientais irreparáveis.
4
1.2. Objetivo
Este projeto aborda o evento acidental onde há a colisão entre uma plataforma de
petróleo do tipo Floating, Production, Storage and Offloading (FPSO) com uma
embarcação de apoio Plataform Supply Vessel (PSV), com o objetivo de analisar os
fatores de concentração de tensão provocados pela geometria danificada do painel de
costado, combinada com as suas imperfeições geométricas iniciais.
5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Ao longo dos itens 2.3, 2.4 e 2.5 alguns conceitos relacionados ao carregamento de
fadiga são definidos, os principais mecanismos de dano em fadiga são descritos e os
diferentes estágios da vida em fadiga são apresentados. Nas seções 2.6, 2.7, e 2.8 são
abordados os conceitos da curva S-N, fadiga de alto e baixo ciclo, assim como o efeito da
tensão média na vida em fadiga, respectivamente.
6
tempo, o modo mais preocupante, devido à sua complexidade e alta frequência de
ocorrência, é a fadiga, modo de falha responsável por aproximadamente 90% das falhas
de estruturas e componentes metálicos decorrentes de causas mecânicas [7] [9].
2.2. Fadiga
Fadiga é um tipo de falha mecânica, causada essencialmente pela aplicação repetida
de carregamentos variáveis, sendo caracterizada pela geração e propagação lenta e
gradual de trincas que levam à ruptura súbita do componente. É um fenômeno de grande
complexidade e dependente de vários fatores como: carregamento, geometria e
microestrutura do material, fatores ambientais, como temperatura e umidade, além dos
processos de fabricação responsáveis pelo acabamento superficial, pela presença de
defeitos, por imperfeições geométricas iniciais e por tensões residuais [10].
O estudo da fadiga no projeto de estruturas oceânicas tem se tornado cada vez mais
relevante, uma vez que a exploração de óleo e gás é realizada em águas cada vez mais
profundas e hostis. Além disso, com o objetivo de projetar estruturas mais leves, o uso de
aços de alta resistência tem se tornado cada vez mais comum, tornando as estruturas mais
suscetíveis à falha por fadiga.
Outro fator que retifica a importância do estudo da fadiga é que as otimizações dos
procedimentos de projeto levaram a níveis de tensão mais elevados e a menores margens
de segurança quanto à fadiga, enquanto o grande desenvolvimento da indústria offshore
levou à utilização de estruturas ancoradas, como plataformas FPSO e semissubmersíveis,
que, como dito anteriormente, são estruturas submetidas a carregamentos cíclicos durante
uma vida operacional superior a 20 anos [7].
Senoidais flutuantes;
Senoidais completamente reversas;
7
Não senoidais aleatórias.
𝜎𝑚á𝑥 + 𝜎𝑚í𝑛
Tensão média = 𝜎𝑚 = ( )
2
σmáx − σmín
Amplitude de tensão = σa = ( )
2
σ
Razão de tensão = 𝑅 = ( σ mín )
máx
σ
Razão de amplitudes = 𝐴 = (σ 𝑎 )
m
8
O carregamento senoidal flutuante pode ocorrer sob regime de tração,
compressão, ou ambos, assumindo valores típicos para a razão de tensão e amplitudes.
Exemplos de carregamentos senoidais flutuantes em tração e em compressão são
ilustrados nas Figura 7 e Figura 8, respectivamente.
Por outro lado, a solicitação senoidal completamente reversa apresenta uma variação
senoidal em torno de uma tensão média (𝜎𝑚𝑒𝑑 ) igual a zero, ou seja, os pontos de tensões
máxima (𝜎𝑚á𝑥 ) e mínima (𝜎𝑚í𝑛 ) apresentam mesmo módulo e sinais opostos, conforme
ilustrado na Figura 9.
9
Figura 9 – Carregamento senoidal completamente reverso [11]
𝜎𝑚 = 0
σ
𝑅 = ( σ mín ) = −1
máx
σ
𝐴 = (σ 𝑎 ) = ∞
m
10
2.4. Dano e falha por fadiga
A falha por fadiga ocorre quando uma estrutura é submetida a cargas cíclicas, ou
flutuantes, que levam à fratura, mesmo sob tensões muito inferiores à resistência estática
do material, ou seja, inferiores a tensão necessária para provocar a fratura em apenas uma
aplicação de carga.
Existem três fatores básicos necessários para ocorrência da falha por fadiga. São eles:
O número de ciclos que uma estrutura exposta à fadiga é capaz de resistir depende
primordialmente do nível da solicitação, pois quanto maior a amplitude de tensão, menor
a vida à fadiga [13].
11
2.5. Estágios da fadiga
Para se entender melhor os mecanismos e estágios da falha por fadiga, pode-se dividi-
la em três estágios principais, ilustrados na Figura 11 [7].
O estágio inicial, onde ocorre a nucleação de trincas, ocorre muitas vezes em zonas
de elevada concentração de tensão, na superfície ou na subsuperfície do material, como
nas interfaces precipitado-matriz ou matriz-inclusão e nos contornos de grão. Tais regiões
também podem ser caracterizadas pela presença de deformações residuais causadas por
danos mecânicos acidentais ou imperfeições geométricas inerentes ao material,
rugosidade na superfície ou pites de corrosão.
12
extrusões e intrusões na superfície, locais de iniciação das microtrincas. Neste estágio, a
deformação localizada é observada em grãos orientados favoravelmente ao cisalhamento,
ou seja, com planos cristalinos paralelos à tensão máxima cisalhante. As Figura 12 e
Figura 13 ilustram, respectivamente, a formação de BDP e iniciação de uma microtrinca.
Esse estágio inicial ocorre de forma bem lenta, permanecendo indetectável a olho nu
durante um considerável tempo, fazendo com que esse período abranja a maior parte da
vida em fadiga da estrutura.
13
𝜇𝑚/𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜[7]. Tal taxa de propagação depende da resistência do material e não mais das
condições da superfície.
Por fim, a trinca se propaga até que a seção perca a capacidade de resistir à
solicitação, e, ao atingir-se a espessura do material, caracteriza-se o último estágio,
levando a ruptura catastrófica da estrutura [14].
De uma forma mais geral, a vida em fadiga pode ser dividida em dois períodos
principais, correspondentes a: iniciação e propagação da trinca macroscópica. Para cada
um desses períodos existem diferentes tipos de predição do dano. O esquema apresentado
na Figura 14 ilustra os dois períodos e os principais parâmetros associados a eles.
14
As curvas S-N são representadas em um diagrama onde o eixo vertical representa a
resistência à fadiga (em termos de amplitude ou variação de tensão) e o eixo horizontal
representa o número de ciclos necessários até a falha do material (N).
A vida em fadiga representada nas curvas S-N pode ser subdividida em duas
regiões associadas à vida finita e à vida infinita em fadiga. A região da vida em fadiga
finita ocorre para um número de ciclos até um limite entre 106 e 107 ciclos. Já a vida em
fadiga infinita ocorre para um número de ciclos superior a 106.
A vida em fadiga infinita é caracterizada pela região onde a curva S-N se torna
horizontal, ou seja, independentemente do aumento do número de ciclos ao qual o
material é submetido a resistência a fadiga não diminui. As Figura 15 e Figura 16 ilustram
exemplos de curvas S-N.
15
Figura 15 - Curva S-N aço UNS G41300 [15]
Isso posto, pode-se definir o conceito de limite de fadiga. O limite de fadiga é "o
nível de tensão abaixo do qual a falha por fadiga não irá ocorrer, ou seja, menor amplitude
de tensão para o qual a falha por fadiga poderá ocorrer" [7].
O limite de fadiga pode ainda ser definido como a menor amplitude de tensão na
qual a nucleação de trincas resultam na sua propagação até a falha, uma vez que trincas
não propagantes (microtrincas) podem ser iniciadas sob a ação de amplitudes inferiores
ao limite de fadiga. É importante ressaltar que o limite de fadiga é uma característica
típica de metais ferrosos, pois metais não ferrosos não apresentam um limite de fadiga
bem definido [7], como pode ser observado na Figura 16.
16
Figura 16 - Comparação da vida em fadiga do aço AISI 1045 e alumínio 2024-T6 [16]
A vida em fadiga de uma estrutura pode ser classificada de acordo com o número de
ciclos necessários para a ocorrência da falha. As falhas que ocorrem até um número de
ciclos de 10³, são classificadas como fadiga de baixo ciclo. Este tipo de fadiga é
caracterizado pela presença de deformações plásticas macroscópicas no material.
As falhas que ocorrem entre um número de ciclos de 10³ e 106, são classificadas como
de alto ciclo. Tais falhas são submetidas globalmente (macroscopicamente) a
deformações no regime elástico e apresentam deformações plásticas em regiões muito
localizadas [17], ver Figura 17.
17
Figura 17 - Curva S-N aço de baixa liga SAE 4130 [18]
18
Figura 18 – Efeito da tensão média sob a Curva S-N [19]
Tendo como base o conceito da tensão limite, diversos critérios foram propostos para
avaliar o efeito da tensão média na vida em fadiga de materiais. Utiliza-se como tensões
limites a tensão última (𝑆𝑢 ) ou o limite de escoamento (𝑆𝑦 ), adotando-se como critério
geral que a soma da tensão média e alternada não devem ultrapassar a tensão limite [7].
19
Tem-se como exemplos de critérios de falha para tensões flutuantes:
- Goodman:
σ𝑎 σ𝑚
+ =1
𝑆𝑓 𝑆𝑢
-Gerber:
σ𝑎 σ𝑚 2
+( ) =1
𝑆𝑓 𝑆𝑢
-Sonderberg:
σ𝑎 σ𝑚
+ =1
𝑆𝑓 𝑆𝑦
-Escoamento:
σ𝑎 σ𝑚
+ = 1 𝑜𝑢 σ𝑎 + σ𝑚 = 𝑆𝑦
𝑆𝑦 𝑆𝑦
20
2.9. Concentração de tensão
𝜎𝑚á𝑥
𝐾𝑡 = ( )
𝜎𝑛𝑜𝑚
Os valores de Kt também podem ser determinados com grande precisão por meio de
modelos numéricos com base no método dos elementos finitos, o que permite estimar a
concentração de tensão teórica em geometrias mais complexas.
22
2.10. Teoria de acúmulo linear do dano por fadiga
A teoria proposta expressa o dano em fadiga através da razão entre o número de ciclos
ao qual o material foi submetido (n) e o número de ciclos necessários para levar à falha
(N) a um dado nível de tensão. Admitindo que o dano acumulado após a sequência de
vários carregamentos é obtido através do somatório dos danos resultantes em cada
aplicação de carga, a expressão da regra linear do acúmulo de danos é dada por:
𝑁𝑐
𝑛𝑖
𝐷= ∑
𝑁𝑖
𝑖=1
É importante destacar que a regra apresenta certas limitações. Uma das limitações
decorre do fato de que a regra de Miner não considera o histórico de carregamentos
anteriores do material e, assim, uma certa amplitude de tensão causará o mesmo dano
independentemente de ter sido aplicada no início ou no fim da vida em fadiga. Esta
premissa desconsidera a sequência dos carregamentos e possível interação entre os danos.
[17]. Uma outra limitação importante encontra-se no fato da regra de Miner não levar em
consideração o nível de tensão a que a estrutura foi submetida [12].
23
2.11. Defeitos do tipo mossa
O defeito tipo mossa pode ser caracterizado como sendo uma região de alta
concentração de tensão e presença de deformação plástica permanente. O principal
parâmetro da mossa a ser avaliado é a sua profundidade, pois a resistência, tanto estática
como em fadiga, de um componente ou estrutura contendo uma mossa é
preponderantemente influenciada por esse parâmetro.
Os defeitos do tipo mossa nos painéis de costado de plataformas FPSO podem ser
ocasionados por dois tipos de embarcação: embarcações passantes e em serviço. As
embarcações passantes são navios que trafegam próximo à plataforma, porém não estão
relacionados à unidade offshore. As embarcações em serviço são as que trafegam no
entorno realizando atividades relacionadas à plataforma (navios aliviadores e de suporte,
por exemplo). Defeitos do tipo mossa resultam de colisões acidentais que ocorrem entre
a plataforma e as embarcações aliviadoras e de apoio que navegam em seu entorno [23].
Como pode ser visto na Tabela 1, a maior parte dos acidentes que ocorrem com
plataformas apresentam baixo nível de severidade.
No entanto, as colisões acidentais, mesmo que não tenham energia suficiente para
levar à falha estática do material, podem levar à falha por fadiga, uma vez que resultam
em locais de concentração de tensão e potenciais regiões de iniciação e propagação de
trincas.
24
3. METODOLOGIA
A geometria obtida pelo braço mecânico será então submetida a um tratamento que
consiste em:
25
numérico proposto. Todas as etapas citadas anteriormente serão detalhadas nas seções
seguintes.
26
Tabela 2- Dimensões nominais do painel (mm).
Figura 24- Curva de tensão real versus deformação plástica logarítmica [25].
O equipamento FARO é constituído por um braço mecânico e uma pistola que dispara
um feixe de laser, que mapeia a geometria da peça gerando uma nuvem de pontos com
coordenadas tridimensionais. A nuvem de pontos é aquisitada e processada em um
computador que permite que as nuvens de pontos geradas sejam exportadas para um
arquivo no formato “.txt”.
28
3.3. Tratamento da nuvem de pontos
O tratamento da nuvem de pontos gerados pelo software do FARO é constituído de
quatro etapas: Conversão do arquivo “.txt “para o formato adequado (Figura 27); limpeza
da nuvem de pontos com a remoção de pontos espúrios; preenchimento das falhas no
mapeamento e pôr fim a criação do arquivo “.inp” para a geração da malha de elementos
finitos no programa ABAQUS [24].
29
3.3.2. Limpeza da nuvem de pontos
Como o mapeamento da geometria do painel é realizado por um feixe de lazer,
alguns ruídos são captados durante o processo de leitura. Os ruídos podem ser provocados
por erro do operador, que inclui na leitura regiões não pertencentes à nuvem de pontos de
interesse ou pela própria sensibilidade do aparelho que ao ler, por exemplo, a alma de um
reforçador, inevitavelmente capta informações da chapa de fundo e flange.
30
Figura 29 - Alma pós tratamento de ruídos.
31
determinação da densidade a ser utilizada; através das informações da localização das
falhas, determina a área média a ser preenchida, assim como o vetor normal à superfície
a ser inserida. O resultado do processo de preenchimento pode ser visualizado na Figura
30.
32
permite a escolha do grau de refinamento desejado, utilizando como dado de entrada o
tamanho aproximado de elementos. Os arquivos de saída são um arquivo de texto com as
coordenadas dos nós da malha e o arquivo “.inp” formatado.
Os nós gerados para uma malha de elementos com dimensões 3 mmx3 mm podem
ser observados na Figura 31, enquanto a Figura 32 mostra a malha resultante após a
importação do arquivo “.inp” utilizando o ABAQUS.
33
Figura 32 - Malha de elementos do tipo SR4 com dimensões 3mm x 3 mm
No presente trabalho, a direção “z” será tratada como direção longitudinal, por
estar alinhada com a direção de compressão do painel. Por consequência, a direção “y”
será tratada como direção transversal.
34
4. MODELO NUMÉRICO
Utilizando a geometria (i.e. sem dano, mas com imperfeições geométricas iniciais
devido à sua fabricação) foram desenvolvidos dois modelos numéricos tridimensionais
conforme o método dos elementos finitos, utilizando o programa ABAQUS (2014) [24].
O primeiro modelo numérico visa a simulação do dano provocado por um indentador, e
o segundo a aplicação de carga cíclica compressiva na direção longitudinal do painel, a
fim de avaliar a concentração de tensão na região do dano.
Para a definição do grau de refinamento a ser utilizado, foi realizada uma análise de
sensibilidade de malha para cinco tamanhos de elementos, entre um e quatro milímetros.
O resultado do estudo de custo computacional versus refinamento de malha pode ser visto
na Figura 33.
500
80000
nº de Elementos
70000
400
60000
300 50000
40000
200
30000
20000
100
10000
0 0
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Tamanho da malha (mm)
35
A Tabela 4 resume a quantidade de nós, elementos e tempo de CPU gasto.
14
2 100
0 0
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Tamanho da malha (mm)
36
Tendo em vista os resultados apresentados para a convergência da simulação e o
custo computacional envolvido, optou-se pela utilização da malha de 2,5 mm, que é capaz
de apresentar resultados em termos de tensão com precisão suficiente (faixa de
estabilização) para um tempo computacional não muito elevado.
4.2. Material
As propriedades mecânicas do material foram definidas de acordo com a
caracterização do aço utilizado na construção do modelo real, onde o comportamento do
material foi modelado como linear no regime elástico, sendo fornecidas as constantes
elásticas: módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson.
37
no regime elasto-plástico é apresentada na Figura 24 e inserida no modelo numérico em
termos de uma série de pontos.
1. Indentação;
2. Retração (retorno elástico);
3. Compressão longitudinal;
4. Alívio de tensões.
Devido à presença das bases metálicas as quais o painel está fixado para realização
dos testes (Figura 23), nos passos de carga de indentação e retração (afastamento do
indentador) ambas as extremidades são consideradas como engastadas (os 6 graus de
liberdade restritos).
4.4. Carregamentos
Com as condições de contorno estabelecidas, foram definidas as cargas a serem
aplicadas sobre o painel nos diferentes passos de carga.
4.4.1. Indentação
Como o objetivo da simulação numérica é permitir uma análise de fadiga com base
na determinação de fatores de concentração de tensão, é importante garantir que durante
a compressão do painel não haja a plastificação da estrutura. Dessa forma, foi realizado
um estudo para a definição da profundidade de penetração (d), e profundidade de mossa
remanescente (d’) que não resultem em uma magnitude de tensão muito elevada. A
profundidade de mossa d’ foi normalizada em função do espaçamento de reforçadores
(d’/b).
38
Tabela 5- Tensão Máxima de von Mises após retorno elástico (MPa)
39
Figura 37- Distribuição de tensão de von Mises ao fim do afastamento (MPa).
40
Figura 38- Painel danificado, com base inferior engastada e aplicação de carga
compressiva na base superior.
41
A tensão equivalente de von Mises média atingida na região central do painel intacto
(sem dano) foi igual a 7,4 MPa.
42
5. TESTES EXPERIMENTAIS
Para a calibração e validação dos resultados da simulação numérica foram realizados
teste experimentais, conduzidos com o auxílio do corpo técnico e equipamento do
Laboratório de Tecnologia Submarina, da COPPE/UFRJ.
5.1.1. Indentação
Para realização da indentação foi utilizada uma máquina servo-hidráulica (Instron –
série 8802) acoplada a um indentador de ponta semiesférica com 17,5 mm de diâmetro,
posicionado no centro geométrico do painel. A montagem do aparato para a teste pode
ser visualizada nas Figura 40 e Figura 41.
43
Figura 41- Detalhe do indentador de 17,5 mm de diâmetro.
44
Como pode ser visualizado nas figuras anteriores, existem barras longitudinais
ligando as bases inferior e superior do painel. Essas quatro barras circulares têm como
objetivo evitar que o painel sofra solicitação de torção durante a realização do teste.
5.2. Instrumentação
Antes da realização do teste de compressão, o modelo foi instrumentado de forma a
possibilitar a aquisição das deformações experimentadas pelo painel durante a solicitação
compressiva. Para isso, foram utilizados cinco extensômetros (strain gages) fixados na
superfície externa do modelo, mesma superfície onde os valores numéricos serão
avaliados (SNEG).
Os extensômetros utilizados foram os do tipo triaxial roseta, onde os três eixos estão
orientados a 0º, 45º e 90º, e suas posições foram definidas de modo a captar as
deformações próximas à região do dano. Quatro deles foram posicionados ao redor da
mossa, todos distando 12 mm da região central do dano. O quinto extensômetro foi
instalado em região afastada do dano, porém, na mesma altura longitudinal da mossa.
(Figura 43).
45
5.2.1. Extensômetros tipo roseta
As deformações experimentadas pelos extensômetros do tipo roseta (Figura 44),
podem ser calculadas de acordo com as seguintes expressões [26]:
εx = ε𝑎
εy = ε𝑐
E
σx = [ε + ѵε𝑦 ]
1 − ѵ2 𝑥
E
σy = [ε + ѵε𝑥 ]
1 − ѵ2 𝑦
E
σxy = ε
2(1 + ѵ) 𝑥𝑦
46
de sua base superior (móvel). O aparato utilizado para a compressão longitudinal do
painel pode ser visto na Figura 45.
47
a base superior apresentava uma extensão compressiva considerável para se atingir a
carga de compressão prescrita. Tal fato pode ter sido provocado pela acomodação da
resina utilizada para fixação do painel nas bases metálicas (material de coloração
alaranjada), ver Figura 45.
Ciclagem 0 -1,5 kN
1.6
Carga compressiva (kN)
1.4
1.2
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1
Extensão compressiva (mm)
2.5
Carga compressiva (kN)
1.5
1º set
2º Set
1 3º Set
0.5
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Extensão compressiva (mm)
49
6. RESULTADOS E CORRELAÇÃO NUMÉRICO-EXPERIMENTAL
Após a realização da simulação numérica e testes experimentais, é possível a
realização da correlação para a aferição do modelo numérico.
6.1. Indentação
O resultado do teste de indentação pode ser visto na Figura 48, onde pode-se observar
uma boa correlação numérico experimental da força de reação imposta pelo painel
durante a penetração do indentador, assim como a penetração máxima atingida durante o
teste.
Força de indentação x d
2.5
2
Força de indentação [kN]
1.5
Experiemental
Numérico
0.5
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Penetração do indentador (mm)
50
6.2. Compressão cíclica
Os resultados da compressão foram aquisitados pelos cinco extensômetros instalados
no painel e as componentes das três direções dos gages são apresentadas nas Figura 49 e
Figura 50.
Longitudinal (εzz)
2.E-4
G1
1.E-4
G2
G3
εzz
0.E+0
3032 3232 3432 3632 3832 G4
-1.E-4 G5
-2.E-4
tempo (s)
Transversal (εyy)
2.E-04
1.E-04 G1
G2
5.E-05
G3
εyy
0.E+00
G4
3032 3232 3432 3632 3832
-5.E-05 G5
-1.E-04
51
Tabela 9- Correlação – Amplitude de deformação
Amplitude de deformação
(Δεzz)/2 (Δεyy)/2
Elemento Gage Num. Exp. Dif. (%) Num. Exp. Dif. (%)
20 G1
10 G2
0
G3
3600 3650 3700 3750 3800 3850 3900
-10
G4
-20
G5
-30
-40
Tempo (s)
52
de amplitude de tensão longitudinal serão comparados com as amplitudes obtidas na
simulação numérica
53
7. FATOR DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO
Uma vez aferido e validado o modelo numérico, pode-se determinar o fator de
concentração de tensão teórico devido à inserção da mossa, com base nos resultados da
simulação numérica.
𝜎𝑣𝑚 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎
𝐾𝑡 = ( )
𝜎𝑣𝑚 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙
A tensão de von Mises máxima atingida na região do dano foi igual a 12,6 MPa e,
conforme demonstrado na seção 4.4.2.1, a tensão de von Mises nominal definida é de 7,4
MPa. Com isso, o fator de concentração de tensão para uma mossa de razão d’/b = 4% é
igual a:
𝟏𝟐, 𝟔
𝑲𝒕 = ( ) ~𝟏, 𝟕
𝟕, 𝟒
54
O fator de concentração de tensão também pode ser obtido em termos da tensão
longitudinal do painel, utilizando como tensão nominal a tensão obtida pela razão entre a
carga compressiva aplicada e a área da seção transversal do painel. Desse modo, a tensão
nominal em termos da tensão longitudinal é dada por:
− 2500 𝑁
𝜎𝑧 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = ( ) = − 𝟕, 𝟏 𝑴𝑷𝒂
350,2 mm²
A tensão longitudinal máxima atingida na região do dano foi igual a 13,7 MPa, o que
leva a obtenção de um fator de concentração de tensão igual a:
−𝟏𝟑, 𝟕
𝑲𝒕 = ( ) ~ 𝟏, 𝟗
−𝟕, 𝟏
55
8. CONCLUSÕES
Como visto anteriormente, devido ao crescimento do consumo de petróleo e à
expansão da utilização de unidades flutuantes que, operando em conjunto com um grande
fluxo de embarcações de apoio, elevou o risco de acidentes de baixo nível de severidade.
Tais colisões, porém, são potenciais causadoras de concentração de tensão, justificando
assim um estudo de fadiga no costado dessas plataformas.
- Foi verificado que as tensões atingidas no painel ainda se mantêm distantes da tensão
de escoamento do material, logo, a carga compressiva pode ser elevada para garantir um
acomodamento mais rápido do painel, evitando a necessidade de um número elevado de
ciclos.
56
Como perspectivas para trabalhos futuros deseja-se fabricar e ensaiar mais quatro
modelos em escala reduzida para contribuir na correlação numérico-experimental e
validação do modelo numérico. Pode-se ainda, desenvolver uma variação dos parâmetros
de profundidade de mossa, ângulo e posição de colisão, para definir as condições críticas
em termos de concentração de tensão e até mesmo obter expressões analíticas para esses
fatores.
Pode-se ainda realizar uma análise das condições de mar típicas da região de operação
de um FPSO, para em conjunto com um modelo de flexão da viga-navio estimar as
tensões médias atuantes, assim como o número de ciclos associados ao tempo de operação
da plataforma. Com esse estudo é possível se obter uma magnitude de tensão mais
representativa da realidade, que em conjunto com curvas S-N do material, pode
determinar qual fator de concentração de tensão, e consequentemente, qual profundidade
de mossa seria suficiente para levar a plataforma à falha por fadiga.
57
9. REFERÊNCIAS
[3] Números consolidados de E&P 2017. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, Abril, 2018.
[5] “Nove plataformas que vão ampliar a produção de petróleo no Brasil”, Abril, 2014.
Disponível em: http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/nove-plataformas-que-vao-
ampliar-a-producao-de-petroleo-no-brasil.htm. Acessado em 27/01/2019.
[7] PINHEIRO, B. d. C., Notas de Aula: EEN424 Resistência estrutural II, Departamento
de Engenharia Naval e Oceânica, UFRJ, Rio de Janeiro, 2016
[11] Ruchert, Cassius, Notas de aula: “Mecânica da fratura e fadiga dos materiais”. São
Paulo: EESC/USP, Departamento de Engenharia dos Materiais, São Carlos, SP, 2014.
[14] WILLEMS, EASLEY, ROLFE, Resistência dos Materiais, Editora Mc. Graw-Hill,
capítulo14, 1983.
58
[15] Shingley, J.E, Mischke, C.R., Mechanical Engineering Design, 6ª Edição. New
York, McGraw-Hill, 2001
[16] Elements of Metallurgy and Engineering Alloys, Chapter 14, pp. 244-264, ASM
International, 2008.
[17] BOUÇAS, I. d A., Estudo de tensões em costado de FPSO para a avaliação da vida
à fadiga, Rio de Janeiro: Escola Politécnica UFRJ,2016.
[18] SCHIJVE, J., Fatigue of Structures and Materials, 2ª Edição. Springer, 2009.
[24] Dassault Systèmes Simulia Corp., Abaqus/CAE User's Guide, Providence, 2014.
[26] HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2004.
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