Março / 2010
Africa Fernandez (Médica Veterinária da Aviagen UK), com corre-
ção técnica de Eduardo de Albuquerque Lima (Gerente de Serviços
Veterinários - Aviagen do Brasil).
Introdução
A vacinação em massa do lote via água de bebida é um método
simples e rápido de administração de vacina. É menos estressante
para as aves e não requer a captura individual, a manipulação e
administração da vacina. Entretanto, os métodos de vacinação em
massa exigem um manejo cuidadoso para que sejam tão efetivos
quanto os métodos de vacinação individual.
Este artigo apresenta regras simples que devem ser seguidas para
assegurar que a vacinação em massa via água de bebida seja tão
eficiente e eficaz quanto possível.
O Objetivo
O objetivo da vacinação em massa / via água de bebida é que
cada ave do lote receba a dose correta da vacina. A vacinação
efetiva proporciona a melhor proteção possível do lote contra os
desafios do campo e/ou oferece proteção passiva via os anticorpos
maternais à prole.
O Procedimento de Vacinação
O cronograma de vacinação a ser seguido e as vacinas serão
providenciados pelo seu veterinário.
Cálculo da ingestão de água
O objetivo da vacinação via a água de bebida é para que a água
contendo a vacina seja consumida pelo lote durante um período
de 1½ - 2 horas. Caso o tempo seja menor do que 1½ hora, então
nem todas as aves receberão uma dose da vacina. Caso for maior
do que duas horas, a vacina pode perder o efeito antes de ser
consumida pelas aves. Para alcançar o objetivo, a quantidade de
água que é normalmente consumida durante o período de 1½
- 2 horas pelo lote deve ser calculada. Isto pode ser feito com
precisão no dia anterior ao da vacinação, medindo a quantidade
de água consumida em cada galpão durante um período de duas
horas, começando aos 45 minutos após a alimentação. No dia da
vacinação deve ser aplicado um jejum hídrico 60 minutos antes
da vacinação para que o lote consuma mais água do que o normal.
Para este efeito, uma quantidade extra de 5% deve ser adicionada
ao consumo calculado de água.
Consumo Diário de Água por Dia **
Idade
(litros por 1.000 aves)
2 a 3 semanas 25
4 a 6 semanas 30
7 a 10 semanas 50
11 a 15 semanas 60
Proteção das vacinas vivas
A vacina não será eficaz ou poderá perder seu efeito se houver um
alto teor de metal pesado ou de cloro na água. A água que será usada
na vacinação pode ser tratada com uma solução de leite desnatada
(dois gramas de leite em pó desnatado por litro de água) ou com um
dos produtos de proteção de vacina disponíveis comercialmente e/
ou fornecida pela companhia da vacina para neutralizar o cloro e
prover proteção contra o teor de metal pesado/resíduo de cloro. A
neutralização do cloro deve ocorrer pelo menos 20 minutos antes
Testículos
de adicionar a vacina.
O biofilme excessivo nas tubulações do bebedouro também reduz
a eficácia da vacina. O biofilme e a sujeira devem ser removidos das
tubulações do bebedouro usando produtos adequados e os bebedouros
(copos, bebedouros pendulares, etc.) devem ser limpos como parte de
um procedimento rotineiro de limpeza. Mais informações sobre os pro-
gramas de higienização das tubulações de água podem ser encontradas
na Circular Técnica Ross: Higienização da Tubulação de Água, Agosto
2007.
Armazenamento e transporte da vacina:
• A vacina deve ser armazenada em um refrigerador exclusivo a
uma temperatura de 2 – 8°C. Um termômetro min/max deve ser
usado para verificar a temperatura regularmente.
• A quantidade de doses requeridas deve ser calculada para o mais
perto de 1.000.
• O transporte desde o lugar de armazenamento para o lugar da ad-
ministração deve ser feito em uma bolsa térmica/caixa de isopor,
assegurando-se que a temperatura seja mantida entre 2 – 8°C.
Equipamento necessário para o processo de vacinação:
• Recipiente de plástico (de aprox. 80 litros).
• Regadores, um sistema de distribuição de água ou um tanque de
vacinação exclusivo (ideal) (de aprox. 5 – 10 litros).
• Copo de medição.
• Balde ou recipiente limpo para misturar a vacina e de onde tirá-la.
• Leite desnatado.
• Agitador (plástico).
• Colher (plástica): tipo pá, por exemplo.
Preparo e administração da vacina – alguns pontos chave:
1. O preparo da vacina deve ser feito sobre uma superfície limpa
(papel toalha ou um jornal limpo sobre a superfície de uma
mesa limpa é adequado).
2. Luvas descartáveis devem ser usadas durante todo o processo.
3. As soluções para a neutralização do cloro devem ser feitas em for-
ma de solução concentrada de baixo volume (5-10 litros) e depois
misturadas com um volume maior de água para a vacinação. Deixe
por 20 minutos para neutralizar qualquer resíduo de cloro que
esteja na água.
4. Remova as tampas metálicas dos frascos de vacina.
5. Coloque aproximadamente um a dois litros de água com cloro
neutralizado em um pequeno recipiente. Coloque o frasco de
vacina dentro da solução e remova o tampão.
6. Assegure-se que a pastilha liofilizada tenha se dissolvido.
7. Agite a solução gentilmente, mas por inteiro, para misturá-la,
depois adicione o restante de água (calculado com base no con-
sumo do dia anterior durante um período de 1½ - 2 horas após a
alimentação, mais 5%) para a vacinação.
8. Misture toda a solução com o restante de água dentro de um tan-
que de água e misture-o com uma colher de plástico ou coloque a
solução embaixo do distribuidor, submergindo o tubo de sucção.
9. Permite que todos os bebedouros se abasteçam com a água da
vacina antes de abaixá-los ao nível das aves. No caso dos be-
bedouros nipple, leve um balde até a extremidade da tubulação
do bebedouro nipple e drene a água não tratada. Como regra
básica, um litro de água deve ser removido de cada três metros
de comprimento da tubulação do bebedouro nipple. Repita isto
em cada tubulação no galpão até que apareça a água colorida
da vacina. Assim que drenado, os bebedouros nipple devem ser
abaixados até a altura normal para as aves.
10. Ande pelo plantel pelo menos duas vezes durante o processo de
vacinação para estimular o consumo uniforme e assegurar-se
que a vacina esteja fluindo para todos os bebedouros.
11. Observe o comportamento de bebida e assegure-se, para satis-
fação própria, que todas as aves estejam bebendo e recebendo
uma dose da vacina.
12. Controle a taxa de consumo da vacina para assegurar-se que
seus cálculos estejam corretos e que a solução da vacina será
consumida durante um período de duas horas. Observação – a
solução da vacina será consumida com bastante rapidez no início
do processo.
13. A água da fonte de distribuição apenas deve ser religada quando
a água da vacina nos bebedouros tenha se acabado. A vacina não
deve ser diluída com a adição de água da distribuição principal.
14. Todo o equipamento deve ser limpo, mas a vacina não deve
entrar em contato com o desinfetante.
Limpeza e armazenagem do equipamento de vacinação
• Lave o equipamento de vacinação com água limpa. Não devem
ser usados detergentes/desinfetantes.
• Armazene todo o equipamento em uma bolsa de plástico selada e
guarde-o em local limpo do aviário.
• O sistema de água deve ser higienizado.
Cronograma de vacinação
Antes do dia da vacinação, um Cronograma de Vacinação deve ser
elaborado. Quando vários plantéis serão vacinados no mesmo dia, um
cronograma deve ser preparado para cada plantel e a vacinação apenas
deve ser realizada quando houver condições de manter a programação
correta para assegurar a vacinação adequada de cada plantel.
A seguir temos um exemplo de cronograma de vacinação para
cada galpão:
• 8:00h a 8:45h – Ração e água.
• 8:45h – Desligar a água e deixar que as aves bebam o restante da
água nos bebedouros (20 minutos aproximadamente).
• 9:05h – Levantar os bebedouros ou sistemas de água fora do
alcance das aves.
• 9:05h a 10:05h – Hora da retirada de água. Faça a vacina para
dosar o volume de água que será bebido em aproximadamente
1½ - 2 horas.
• 10:10h – Drene o resíduo de água de cada tubulação/bebedouro
pendular (1 litro/3 metros de tubulação) até que surja uma cor
de água de aparência leitosa / esbranquiçada e depois abaixe as
tubulações/bebedouros pendulares até as aves.
• 10:10h a 12:10h – Período de vacinação. Ande pelo lote duas
vezes durante a vacinação, verifique o fluxo da vacina nas tubula-
ções de água e em todos os bebedouros.
• 12:10h – Ligue a distribuição principal de água após a vacinação.
Limpe o distribuidor de água.
Avaliação da vacinação via água de bebida
É importante avaliar a eficiência da vacinação após ser completada. Isto
pode ser feito usando um corante comercialmente disponível que tinge a
língua. É recomendável utilizar as pastilhas de corante pelo menos uma
vez por lote para avaliar a técnica de vacinação. Existem vários produtos
disponíveis. A intensidade de azul na língua das aves após a vacinação
varia entre produtos e diminui com o tempo após a exposição
Figura 1: Corante azul na língua da ave para avaliar a técnica
de vacinação.
As instruções do fabricante devem ser cuidadosamente seguidas ao
avaliar a eficiência da vacinação, utilizando esta técnica. A cor da
língua de cem aves de pelo menos três locais diferentes do galpão
deve ser examinada para verificar se a cor azul da língua correspon-
de aproximadamente à dose da vacina. Se a técnica de vacinação for
bem sucedida, pelo menos 90% das aves examinadas apresentarão
línguas bem tingidas de acordo com as orientações do fabricante.
Caso haja alguma dúvida sobre a eficácia da vacinação do lote, o
encarregado da produção ou o médico veterinário responsável pelo
lote deve ser informado.
Interpretação Sorológica
É importante lembrar que apenas porque as aves pareçam ter sido
vacinadas adequadamente não significa que estejam protegidas
da doença contra a qual foram vacinadas. A proteção pode ser
avaliada buscando a presença de anticorpos contra a aquela
doença. Isto pode ser feito usando a técnica bioquímica simples
de ELISA (teste imunoenzimático) que detecta a presença de um
anticorpo em uma amostra. A vacinação terá sido bem sucedida
se os níveis de anticorpos (ou titulação) na amostra forem altos e
se a variação nas respostas da titulação entre indivíduos for baixa.
Em geral, leva aproximadamente três semanas após a vacinação
(ou desafio) para que as aves desenvolvam anticorpos. A titulação
de anticorpos deve ser determinada, retirando amostras de sangue
de uma amostra representativa da população (20 aves). Estas
aves devem ser selecionadas aleatoriamente. A quantidade de
anticorpos produzida por um indivíduo dependerá de um número
de fatores, incluindo:
• Método de administração. Por exemplo, a vacinação via a água
de bebida provoca uma produção mais forte de anticorpos do que
a vacinação spray.
• Dose.
• Cronograma de vacinação. Tipo e temperatura da vacina? Por
exemplo, em termos gerais, quanto mais quente estiver a vacina,
mais imunogênica (maior produção de anticorpos) será (no caso
de vacinas inativadas).
• Idade.
• Tipo de ave.
• Nutrição.
• Imunodepressão.
Ao avaliar a resposta da vacina, dois parâmetros a serem consi-
derados são:
• Titulações que se relacionam ao nível de anticorpos que os in-
divíduos têm produzidos e, portanto, dão indícios de como seu
sistema imunológico está respondendo.
• Coeficiente de variação (CV) que se refere à “semelhança“ entre
uns indivíduos com os outros dentro da população em termos de
titulação de anticorpo. Em geral, para qualquer doença, o CV
deve ser menor do que 50%.
Além do mais, é também importante estabelecer uma resposta base
de anticorpo especificamente para seu aviário. Isto proporciona
a titulação esperada ou resposta de anticorpo e CV para todas as
doenças contra as quais as aves forem vacinadas. Estas bases são
geralmente produzidas, considerando a titulação media dos últi-
mos 12 meses em toda a base de produção avícola com os mesmos
programas de vacinação. Caso a titulação base for diferente à
titulação esperada indicada pela fabricante da vacina, então, uma
investigação deve ser realizada e medidas corretivas devem ser
tomadas onde for necessário. Mais informações sobre a avaliação
das respostas às vacinas podem ser obtidas do seu veterinário local.
Conclusões
A vacinação em massa via a água de bebida é um método simples
e rápido de vacinação de um lote e pode proporcionar uma boa
e uniforme imunização contra doenças. Devido ao nível menor
de manipulação das aves, pode trazer benefícios mensuráveis ao
desempenho das aves em comparação com a vacinação individu-
al; tais como melhor ganho de peso, uniformidade, produção de
ovos e eclodibilidade. Entretanto, tais benefícios apenas ocorrem
com um manejo eficiente do procedimento de vacinação e o mo-
nitoramento adequado da resposta das aves à vacinação.