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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO
25ª Câmara

Registro: 2016.0000713633

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0071046-81.2012.8.26.0114, da Comarca de Campinas, em que é apelante
JESSE RICARDO OLIVEIRA DE MENDONÇA (JUSTIÇA GRATUITA), é
apelado CARVAJAL INFORMAÇÃO LTDA (EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL).

ACORDAM, em 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


HUGO CREPALDI (Presidente), CLAUDIO HAMILTON E EDGARD ROSA.

São Paulo, 29 de setembro de 2016.

Hugo Crepaldi
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO
25ª Câmara

Apelação Cível nº 0071046-81.2012.8.26.0114


Comarca: Campinas
Apelante: Jesse Ricardo Oliveira de Mendonça
Apelado: Carvajal Informação Ltda.
Voto nº 16.305

APELAÇÃO AÇÃO INDENIZATÓRIA


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Cobranças
abusivas perpetradas pela ré, com ligações
incessantes e diárias à casa, escritório e celular
do autor Abuso do direito configurado, bem
como prática abusiva à luz do CDC Danos
morais configurados Recurso provido.

Vistos.

Trata-se de Apelação interposta por JESSE


RICARDO OLIVEIRA DE MENDONÇA, nos autos da ação indenizatória que
move contra CARVAJAL INFORMAÇÃO LTDA., objetivando a reforma da
sentença (fls. 229/232) proferida pela MM. Juíza de Direito, Dra. Renata
Oliva Bernardes de Souza, que julgou improcedente a ação, condenando o
autor ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários
advocatícios fixados em R$ 1.000,00.

Apela o autor (fls. 235/249), sustentando que o


modo como a ré exerceu seu direito de cobrança foi abusivo e ensejador de
danos morais.

Recebido o apelo em seu duplo efeito (fls. 251),


houve contrarrazões (fls. 253/265).
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É o relatório.

Pelo que consta dos autos, o autor contratou


os serviços de publicidade da empresa ré, a fim de promover seu nome de
advogado em listas telefônicas impressas e pela internet. Na exordial, alega
que se tornou inadimplente, porém a ré iniciou um procedimento abusivo de
cobrança, com ligações incessantes para seu escritório, residência e celular.
Daí o ajuizamento da presente demanda, para ser ressarcido dos danos
morais ocasionados pela cobrança abusiva.

O Juízo a quo, por sua vez, julgou


improcedente a demanda, entendendo inexistir qualquer conduta ilícita em
razão de ser incontroversa a existência da dívida do autor.

Insurge-se o autor, e com razão.

Tratam-se os autos de relação de consumo,


enquadrando-se apelante e apelado na condição de fornecedor e
consumidor nos termos dos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor, e presente a condição de hipossuficiência de uma das partes,
reputo preenchidos os requisitos necessários para aplicação do regime
protetivo estabelecido pela Lei 8.078/90.

O artigo 14 do referido diploma legal


expressamente prevê a responsabilização objetiva do prestador pela
reparação dos danos gerados ao consumidor em virtude de defeitos na
prestação de serviços.

São defeituosos, nos termos parágrafo 1º deste

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artigo, os serviços que não forneçam padrões adequados de segurança no


modo como são prestados, levando-se em consideração os riscos que
razoavelmente deles pode-se esperar.

No caso em tela, restou demonstrado que a


empresa ré ligou incessantemente para o autor para busca a cobrança de
sua dívida. Foram mais de 150 ligações no intervalo entre 20 de agosto e 10
de outubro de 2012 (fls. 30/36). E, a cada dia, eram ligações seguidas,
muitas sem sequer haver qualquer fala por parte do preposto da ré.

Tal comportamento demonstra evidente falha


no serviço prestado, conquanto seja dever do fornecedor zelar pelo bom
funcionamento dos serviços que disponibilizam ao mercado, adotando todas
as medidas cabíveis para impedir falhas ou condutas lesivas que possam
acarretar danos ao consumidor, primando pelos princípios da segurança e
boa-fé que regem as relações de consumo.

Note-se que, para afastar sua responsabilidade


- aferida aqui de maneira objetiva - caberia à ré o ônus de demonstrar a
regularidade de seus serviços ou a ocorrência de causas excludentes,
notadamente a culpa exclusiva de terceiro, culpa exclusiva da vítima, caso
fortuito ou força maior, porém não produziu qualquer prova nesse sentido.

Pelo contrário, a ré não controverteu


eficazmente a realidade fática de que o autor foi insistentemente cobrado via
telefone. Apesar de dizer genericamente que o autor não demonstrou essa
realidade, deixa de afirmar que a linha (11) 2596-3900 não era sua, e ainda,
sustenta a tese de que “a ré exerceu um direito legítimo para cobrar o débito
que foi quitado parcialmente com atraso” e “o autor poderia ter evitado os
supostos aborrecimentos decorrentes da inadimplência se houvesse

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efetuado os pagamentos em dia conforme o contrato firmado!!!”

Trata-se, pois, de ato ilícito porquanto abusivo,


e que configura danos morais diante da realidade apresentada pelo autor,
não impugnada pela ré: foram inúmeras ligações, dia e noite, em casa e no
celular do autor, ignorando-se os pedidos extrajudiciais para que elas
cessassem.

Tal conduta certamente se enquadra no


conceito de abuso do direito (art. 187 do Código Civil), bem como nas
práticas abusivas vedadas pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 42
do CDC). Não é porque a dívida existe que se autoriza a credora a abusar
do direito de cobrança, excedendo os parâmetros esperados à luz da boa-fé
objetiva.

Nesse sentido, destaca-se entendimento deste


Tribunal:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. RELAÇÃO DE CONSUMO.


COBRANÇAS REALIZADAS DE FORMA ABUSIVA. Cobranças do débito
através de ligação telefônica. A cobrança através da ligação foi vexatória,
tendo a Autora relatado inúmeros insultos que configuram um abalo
emocional apto a ser indenizado pela via do dano moral manutenção da
r. sentença apelada. RECURSO DA RÉ NÃO PROVIDO. (TJSP
Apelação n. 0116209-97.2010.8.26.0100 28ª Câmara de Direito Privado
Des. Rel. Berenice Marcondes Cesar Julgamento: 28.06.2016).

Ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais Envio


reiterado de cartas e ligações na residência do autor para cobrança de
dívida de terceiro Sentença de procedência Cobrança e ligações de
terceiro, desconhecido, direcionada à residência do autor se caracteriza
como conduta abusiva Autor notificou o Banco para cessação Falha
na prestação do serviço do Banco Aplicação da teoria do risco

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Responsabilidade objetiva da instituição financeira (art. 14, CDC)


Súmula 479 do STJ Perturbação do sossego e tranquilidade do autor
evidenciado Danos morais configurados Damnum in re ipsa
Indenização arbitrada em consonância com os princípios da
razoabilidade e ponderação Recurso negado. Adoção dos fundamentos
da sentença pelo Tribunal Incidência do art. 252 do Regimento Interno
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Recurso negado (TJSP
Apelação n. 0022057-38.2012.8.26.0019 13ª Câmara de Direito
Privado Des. Rel. Francisco Giaquinto Julgamento:
0022057-38.2012.8.26.0019).

Desta feita, configurados os danos morais.


Sobre o tema, esclarecedoras as lições do ilustre Orlando Gomes:

“Dano moral é, portanto, o constrangimento que alguém experimenta em


conseqüência de lesão em direito personalíssimo, ilicitamente produzida
por outrem. (...) Observe-se, porém, que esse dano não é propriamente
indenizável, visto como indenização significa eliminação do prejuízo e
das consequências, o que não é possível quando se trata de dano
extrapatrimonial. Prefere-se dizer que é compensável. Trata-se de
compensação, e não de ressarcimento. Entendida nestes termos a
obrigação de quem o produziu, afasta-se a objeção de que o dinheiro não
pode ser o equivalente da dor, porque se reconhece que, no caso, exerce
outra função dupla, a de expiação, em relação ao culpado, e a de
satisfação, em relação à culpa”. (in “Obrigações”, 11ª ed. Forense, pp.
271/272).

Quanto à necessidade de comprovação,


importante notar que a caracterização do dano moral decorre da própria
conduta lesiva, sendo aferido segundo o senso comum do homem médio,
conforme leciona Carlos Alberto Bittar:

“(...) na concepção moderna da teoria da reparação dos danos morais


prevalece, de início, a orientação de que a responsabilização do agente

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se opera por força do simples fato da violação (...) o dano existe no


próprio fato violador, impondo a necessidade de resposta, que na
reparação se efetiva. Surge “ex facto” ao atingir a esfera do lesado,
provocando-lhe as reações negativas já apontadas. Nesse sentido é que
se fala em “damnum in re ipsa”. Ora, trata-se de presunção absoluta ou
“iure et de iure”, como a qualifica a doutrina. Dispensa, portanto, prova
em contrário. Com efeito corolário da orientação traçada é o
entendimento de que não há que se cogitar de prova de dano moral.” ( in
“Reparação Civil por Danos Morais”, Editora Revista dos Tribunais, 2ª
Ed., pp. 202/204)

Sendo possível depreender da realidade fática


apresentada o abalo ao sossego e à intimidade do autor, configurados estão
os danos morais indenizáveis.

Resta analisar o quantum indenizatório deve


ser fixado. A dificuldade inerente a tal questão reside no fato da lesão a
bens meramente extrapatrimoniais não ser passível de exata quantificação
monetária, vez que seria impossível determinar o exato valor da honra, do
bem estar, do bom nome ou da dor suportada pelo ser humano.

Não trazendo a legislação pátria critérios


objetivos a serem adotados, a doutrina e a jurisprudência apontam para a
necessidade de cuidado, devendo o valor estipulado atender de forma justa
e eficiente a todas as funções atribuídas à indenização: ressarcir a vítima
pelo abalo sofrido (função satisfativa) e punir o agressor de forma a não
encorajar novas práticas lesivas (função pedagógica).

Tomando-se por base aspectos do caso


concreto extensão do dano, condições socioeconômicas e culturais das
partes, condições psicológicas e grau de culpa dos envolvidos o valor
deve ser arbitrado de maneira que atinja de forma relevante o patrimônio do

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ofensor, porém sem ensejar enriquecimento ilícito da vítima.

Com base no acima exposto e na


documentação acostadas aos autos, julgo adequado para sanar a presente
lide o valor de R$ 7.000,00, vez que proporcional ao abalo sofrido e
condizente com as diretivas acima expostas. O valor pleiteado pelo autor,
como se vê, é absolutamente desproporcional.

Os valores devem ser corrigidos deste este


arbitramento, nos termos da Súmula 362 do STJ, e segundo a Tabela
Prática deste Tribunal. Os juros de mora devem incidir desde a citação, à
taxa de 1% ao mês.

Diante do resultado do julgamento, as custas,


despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% do valor
atualizado da condenação ficam a cargo da ré. Fica prejudicado o pedido de
majoração de honorários feito pela ré, que, de todo modo, não seria
conhecido, já que as contrarrazões não são mecanismo processual
adequado a devolver pedidos ao Tribunal.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para


condenar a ré ao pagamento de indenização por dano moral no valor de
R$ 7.000,00, com correção monetária e juros de mora da forma supra
estabelecida, invertendo-se os ônus de sucumbência.

HUGO CREPALDI
Relator

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