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Número do Acórdão:
ACÓRDÃO 2292 / 2020 - PLENÁRIO

Relator:
AUGUSTO SHERMAN

Processo:
027.851/2014-1

Tipo de processo:
DENÚNCIA (DEN)

Data da sessão:
26/08/2020

Número da ata:
32/2020 - Plenário

Interessado / Responsável / Recorrente:


3. Responsáveis: José Martonio Alves Coelho, ex-Presidente (CPF ***.379.393-**); Luiz Henrique
de Souza, ex-Vice-Presidente-Administrativo (CPF ***.097.121-**).

Entidade:
Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

Representante do Ministério Público:


Não atuou.

Unidade Técnica:
Secretaria de Controle Externo do Trabalho e Entidades Paraestatais (SecexTrabalho).

Representante Legal:
Lucas Edgar Luft Delavy (OAB/SC-33.646) e Vagner de Oliveira Urach (OAB/SC-32.107B),
representando Fundação Brasileira de Contabilidade.

Assunto:
Denúncia sobre possíveis irregularidades em participação de delegações em eventos no exterior,
pagamento de diárias, custeio de passagens em classe executiva, custeio de despesas de viagens
de ex-Presidentes, pagamento de meia-diária a residentes no mesmo local de realização de
reuniões de trabalho, ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas pelo menor
preço, entre outros.

Sumário:
DENÚNCIA. CFC. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES NA CONCESSÃO DE DIÁRIAS E PASSAGENS,
BEM COMO NA CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS E CONVÊNIOS PARA REALIZAÇÃO DE EXAMES
DE SUFICIÊNCIA E EVENTOS. INSPEÇÃO. AUDIÊNCIA DOS GESTORES E OITIVA DA AUTARQUIA.
APRESENTAÇÃO DE JUSTIFICATIVAS. ACOLHIMENTO PARCIAL. CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. DETERMINAÇÕES. ARQUIVAMENTO. CIÊNCIA.

Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de denúncia noticiando possíveis irregularidades
ocorridas no Conselho Federal de Contabilidade (CFC) , referentes à realização de despesas com
a concessão de diárias e aquisição de passagens, bem como à ausência de transparência na
contratação da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) , entidade privada sem fins lucrativos,
com vistas à realização de eventos e à aplicação do Exame de Suficiência,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, em:

9.1. conhecer da presente denúncia, posto que preenche os requisitos de admissibilidade


previstos nos arts. 234 e 235 do RI/TCU, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;

9.2. determinar ao Conselho Federal de Contabilidade (CFC) , com fundamento no art. 45 da Lei
8.443/1992 que, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, adote providências para promover
ajustes em seus atos normativos de forma a:

9.2.1. estabelecer limites no quantitativo de ex-Presidentes aptos a terem sua participação em


eventos nacionais e internacionais de interesse da profissão contábil custeada por recursos do
conselho, a fim de dar cumprimento aos princípios da impessoalidade, da moralidade, da
eficiência e da economicidade insculpidos nos arts. 37 e 70 da Constituição Federal;

9.2.2. tornar obrigatória a aquisição de passagens aéreas nacionais e internacionais


exclusivamente em classe econômica para os representantes oficialmente designados em
organismos internacionais e empregados ocupantes de cargos em comissão de Coordenadores
e equivalentes, bem como para os demais empregados e convidados, em consonância com os
parâmetros estabelecidos no art. 27-A do Decreto 71.733/1973 e no Acórdão 1.925/2019-
Plenário, Relator Ministro-Substituto Weder de Oliveira, com a finalidade de dar cumprimento
aos princípios da eficiência e da economicidade constantes dos arts. 37 e 70 da Constituição
Federal;

9.2.3. estabelecer disciplinamento específico para as transferências voluntárias de recursos do


CFC por meio de convênios e ajustes congêneres, incluindo, entre outras, disposições que vedem
o pagamento de taxa de administração; que indiquem a obrigatoriedade de adoção de
procedimentos de aquisição de produtos e de contratação de serviços que observem os
princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade; e que normatizem a apresentação
de prestação de contas, com o fito de dar atendimento aos princípios estabelecidos nos arts. 37
e 70 da Constituição Federal;

9.2.4. excluir de seus atos normativos, em especial do Regimento Interno e do Regulamento


Geral dos Conselhos de Contabilidade, disposições que mencionem ou favoreçam, nas relações
contratuais, conveniais e congêneres, a Fundação Brasileira de Contabilidade, ou qualquer outra
pessoa jurídica de direito privado específica ou pessoa física, a fim de dar cumprimento aos
princípios da impessoalidade e da moralidade insculpidos no art. 37 da Constituição Federal;

9.3. determinar ao CFC que informe ao Tribunal o cumprimento das determinações constantes
do item 9.2 retro no mesmo prazo especificado no referido item;

9.4. dar ciência deste acórdão ao CFC, aos responsáveis e ao denunciante;

9.5. levantar a chancela de sigilo destes autos, exceto quanto às peças que contenham a
identidade do denunciante;

9.6. arquivar este processo.

Quórum:

13.1. Ministros presentes: José Mucio Monteiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin
Zymler, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, Ana Arraes e Bruno Dantas.
13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator).
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e Weder
de Oliveira.

Relatório:

Adoto, como relatório, a instrução elaborada pela SecexTrabalho (peças 105/107) .

"Trata-se de denúncia, autuada em 10/10/2014, referente a possíveis irregularidades ocorridas


no Conselho Federal de Contabilidade (CFC) , relativas a participação de delegações em eventos
no exterior, pagamento de diárias, custeio de passagens em classe executiva, custeio de
despesas de viagens de ex-Presidentes, pagamento de meia-diária a residentes no mesmo local
de realização de reuniões de trabalho, ausência de comprovação de aquisição de passagens
aéreas pelo menor preço, contratação direta da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) e
celebração de convênio com a FBC.
HISTÓRICO

2. Em 07/01/1998, foi registrada a Fundação Brasileira de Contabilidade, entidade privada,


instituída por um grupo de pessoas físicas, incluindo o Presidente em exercício do CFC e dois ex-
Presidentes do mesmo Conselho (pç. 28, p. 3-9) .

3. Em 18/12/2013, o CFC e a FBC celebraram contrato de 'prestação de serviços de elaboração,


organização, planejamento, impressão, logística de distribuição e aplicação das provas para o
Exame de Suficiência de bacharéis em ciências contábeis e técnicos em contabilidade' para os
exercícios de 2014 e 2015, exame esse que é requisito para obtenção de registro profissional em
Conselho Regional de Contabilidade (CRC) (pç. 11, p. 1-5) .

4. Em 01/08/2014, o CFC e a FBC celebraram convênio para a realização do V Encontro Luso-


Brasileiro de Contabilidade, a realizar-se nos dias 20-21/10/2014, em Campina Grande-PB (pç.
42, p. 105-109) .

5. Em 10/10/2014, foi atuada esta Denúncia referente à possível transgressão da Lei 12.527/2011
(Lei da Transparência) pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e noticiando que esse teria
incorrido em despesas exorbitantes com diárias e passagens. Adicionalmente, o Denunciante
solicitou que o Tribunal auditasse a Unidade Jurisdicionada e a Fundação Brasileira de
Contabilidade (FBC) , e que determinasse a essa última que prestasse contas, vez que não estaria
divulgando suas demonstrações contábeis desde o ano 2000.

6. Nas datas de 20-21/10/2014, realizou-se o V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade, em


Campina Grande-PB (pç. 100) .

7. Nas datas de 11-13/11/2014, ocorreu em Roma o Congresso Mundial de Contadores (World


Congress of Accountants (WCOA) ) , onde o CFC compareceu com uma delegação de 19
participantes (pç. 44, p.1-4) .

8. Nas datas de 17-20/09/2015, ocorreu em Punta Cana, República Dominicana, a XXXI


Conferência Interamericana de Contabilidade, onde o CFC compareceu com uma delegação de
14 participantes (pç. 72, p. 1-8) .

9. Em 04/12/2015, o CFC e a FBC celebraram o Contrato 37/2015 de prestação de serviços de


elaboração de prova, organização, planejamento, impressão, logística de distribuição,
leitura/digitalização e aplicação das provas para o Exame de Suficiência, para os exercícios de
2016 e 2017 (pç. 42, p. 85-99) .

10. Em 25/02/2015, a primeira instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica)
propôs não conhecer da denúncia e encerrar o processo (pç. 2-4) .

11. Em 24/03/2015, o Ministro-Relator, divergindo da instrução técnica, determinou o


prosseguimento do feito e diligência ao CFC (pç. 5) .
12. Em 04/02/2016, o Ministro-Relator acolheu em parte a proposta da segunda instrução
técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç. 20-22) , autorizando a inspeção na
Unidade Jurisdicionada e determinando diligências adicionais (pç. 23) .

13. Em 20/06/2016, a terceira instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
50-52) , apresentando o resultado da inspeção e examinando a documentação obtida da
Unidade Jurisdicionada, propôs oitiva do CFC e da FBC, além do encaminhamento imediato ao
Ministério Público Federal.

14. Em 05/05/2017, o Ministro-Relator, em seu terceiro despacho (pç. 55) , acolheu parcialmente
a proposta da unidade técnica, ajustando-lhe os termos: postergou o encaminhamento ao MPF
para quando do exame de mérito; determinou a oitiva do CFC referente a nove apontamentos;
determinou a identificação de responsáveis e sua audiência, no que se referia a cinco dos nove
apontamentos mencionados; e instruiu a realização de outras diligências e exames técnicos.

15. Em 20/09/2017, a quarta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
58-60) propôs a realização de diligência ao CFC com a finalidade de esclarecer a natureza da
relação com a FBC, se convenial ou contratual. O expediente foi oportunamente respondido pelo
diligenciado (pç. 61-63) .

16. Em 02/04/2018, a quinta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
65-67) , considerando a conexão da matéria tratada nestes autos com outros processos
tramitando no Tribunal e em outras instâncias, propôs diligenciar o 1º Ofício de Combate à
Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal para a obtenção de informações
acerca do andamento do Procedimento Investigatório Criminal 1.16.000.002386/2016-44 e de
outros procedimentos eventualmente instaurados para apuração de irregularidades no Conselho
Federal de Contabilidade.

17. Em 17/04/2018, o Ministro-Relator, em seu quarto despacho (pç. 68) , autorizou a diligência,
determinando à Unidade Técnica que, 'tão logo recebida a respectiva resposta, ultime as
medidas determinadas no despacho da peça 55 e finalize a instrução destes autos, tendo em
vista o longo tempo despendido na tramitação'.

18. Em 04/05/2018, foi realizada a referida diligência, oportunamente respondida (pç. 69-71) .
Subsequentemente, outros documentos foram juntados aos autos (pç. 72-77) .

19. Em 06/11/2018, a sexta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
78-80) , propôs a oitiva e as audiências previamente estabelecidas pelo Relator, bem como
diligência ao CFC para que encaminhasse a prestação de contas do V Encontro Luso-Brasileiro de
Contabilidade. As medidas foram comunicadas aos destinatários (pç. 81-86; pç. 89; pç. 96-98) e
oportunamente respondidas (pç. 87-88; pç. 90-95; pç. 99-100) .

EXAME DE ADMISSIBILIDADE
20. A presente Denúncia preenche os requisitos de admissibilidade, haja vista ser a matéria de
competência do Tribunal, estar presente o interesse público, referir-se a responsável sujeito a sua
jurisdição (dirigentes do CFC) , estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter o nome
legível do denunciante, sua qualificação e endereço, bem como encontrar-se acompanhada dos
indícios concernentes a irregularidades ou ilegalidades.

EXAME TÉCNICO

Exame Sumário

21. Em sede de Exame Sumário, o Relator manifestou-se favoravelmente ao prosseguimento do


feito, ao divergir da proposta (de não conhecimento) da Unidade Técnica e restituir-lhe os autos
para apuração (pç. 5) . Posteriormente, o Relator reiterou a decisão de continuidade do processo
(pç. 23; pç. 55) .

Oitivas e Audiências

22. O Relator, por meio de despacho (pç. 55) , determinou à Unidade Técnica as seguintes
providências: promoção de oitiva do CFC referente a nove (9) ocorrências, e 'com a redação
constante deste despacho'; identificação de responsáveis por cinco (5) das mencionadas
ocorrências; audiência desses responsáveis; e duas outras medidas que serão examinadas na
sequência desta instrução técnica. Posteriormente, também por meio de despacho (pç. 68) , o
Relator reiterou referidas medidas, que deveriam ser logo ultimadas, 'tendo em vista o longo
tempo despendido na tramitação'.

23. A oitiva do CFC e as audiências dos Responsáveis foram realizadas. Entretanto as redações
respectivas não foram as constantes do despacho do Relator (pç. 55) . O quadro a seguir
relaciona as oitivas e/ou audiências, como redigidas pelo Relator, e as que foram efetivamente
comunicadas à Unidade Jurisdicionada e aos Responsáveis. Em negrito estão marcados os onze
(11) trechos presentes no referido despacho, mas suprimidos nas comunicações. Embora as
supressões sejam relevantes, não se proporá oitiva ou audiências adicionais (de forma a
restabelecer os termos fixados pelo Relator) , haja vista que os gestores destinatários tomaram a
iniciativa de considerar, em seus argumentos, direta ou indiretamente, aqueles aspectos
suprimidos.
Oitivas e
Audiências

§ Documento Texto

Despacho- pagamento de meia diária pela participação em reunião e


Relator outros eventos realizados no mesmo local de domicílio do
23.1.
participante, com fundamento no art. 4º da Resolução CFC
(§ 3.a) 1.392/2012;

23.2. Oitiva-CFC pagamento de meia-diária pela participação em reuniões


realizadas no mesmo local de domicílio do participante;
realizadas no mesmo local de domicílio do participante;
Of-0025 (§ 1.a)

ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de


Despacho- diárias, fixados à época pela Resolução CFC 1.392/2012,
23.3. Relator superiores em mais de 100% ao valor pago para cargos
(§ 3.b) equivalentes no âmbito no Poder Executivo Federal, ante o
disposto no Acórdão 570/2007-Plenário;

Oitiva-CFC ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de diária,


23.4. superando em mais de 100% o valor pago a cargos
Of-0025 (§ 1.b) equivalentes no âmbito do Poder Executivo Federal;

Despacho- concessão de diárias e passagens para eventos internacionais


Relator a quantitativo de participantes em desacordo com os limites
23.5.
estabelecidos pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela
(§ 3.c) Resolução 1.477/2015;

autorizar a participação em evento realizado em Roma (2014)


Oitiva-CFC de quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo
23.6.
Of-0238 (§ 1.a) art. 4º, § 1º, da Resolução CFC 1.089/2007, conduta essa
vedada pelo art. 10 da mesma Resolução;

Oitiva-CFC autorizar a participação em evento realizado em Punta Cana


23.7. (2015) de quantitativo de pessoas em desacordo com o
Of-0025 (§ 1.c) definido pela Resolução 1.477/2015;

Audiência autorizar a participação em evento realizado em Roma (2014)


de quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo
23.8. Presidente
art. 4º, § 1º, da Resolução CFC 1.089/2007, conduta essa
Of-0239 (§ 1.a) vedada pelo art. 10 da mesma Resolução;

Audiência autorizar a participação em evento realizado em Punta Cana


(2015) de quantitativo de pessoas em desacordo com o
23.9. Vice-Presidente
definido pelo art. 6º, caput, da Resolução CFC 1.477/2015,
Of-0240 (§ 1.a) conduta essa vedada pelo art. 10 da mesma Resolução;

Despacho-
Relator pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do
23.10.
Conselho, com fundamento na Resolução CFC 1.107/2007;
(§ 3.d)

23.11. Oitiva-CFC pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do


Conselho, em afronta a normativos semelhantes no âmbito do
Of 0025 (§ 1 d)
Of-0025 (§ 1.d)
Governo Federal;

aquisição de passagens em classe executiva para


Despacho- representantes do CFC em organismos internacionais,
23.12. Relator empregados e convidados em desconformidade com a
Resolução CFC 1.290/2010, ante a ausência de aprovação da
(§ 3.e)
Presidência quanto à aquisição das passagens nessa classe;

Oitiva-CFC aquisição de passagens em classe executiva para


23.13. representantes do CFC, em desacordo com a Resolução
Of-0025 (§ 1.e) pertinente;

Audiência autorizar a aquisição de passagens em classe executiva, sem


aprovação da presidência, para participação de representantes
23.14. Vice-Presidente oficialmente designados em eventos internacionais (2014 e
2015) , em afronta ao art. 1°, § 1°, da Resolução CFC
Of-0240 (§ 1.b)
1.290/2010;

ausência de razoabilidade do art. 1º, § 1º, da Resolução CFC


1.290/2010, que prevê a aquisição de passagem aérea
internacional em classe executiva em trechos em que o
Despacho- tempo de voo entre o último embarque no Território
23.15. Relator Nacional e o destino for superior a oito horas, considerando
que as dimensões continentais do Brasil fazem com que a
(§ 3.f)
maioria dos voos entre as capitais brasileiras e os destinos
internacionais na América do Norte/Europa/Outros
Continentes tenham duração superior a 8 horas;

Oitiva-CFC ausência de razoabilidade do normativo que permite a


23.16.
aquisição excepcional de passagens em classe executiva;
Of-0025 (§ 1.f)

Despacho-
Relator ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas
23.17.
pelo menor preço, em desacordo com a Portaria CFC 73/14;
(§ 3.g)

Oitiva-CFC falta de comprovação da aquisição das passagens pelo menor


23.18.
preço.
Of-0025 (§ 1.g)

23.19. Audiência autorizar a emissão de passagens aéreas sem a comprovação


da aquisição pelo menor preço (2014 e 2015) , o que contraria
Vice-Presidente o art. 2° da Portaria CFC 73/2014.
Of-0240 (§ 1.c)

ausência de justificativa prévia e circunstanciada para a


contratação da FBC por dispensa de licitação para aplicação
Despacho- dos Exames de Suficiência nos biênios 2014/2015 e
Relator 2016/2017, agravada pela decisão de contratação da entidade
23.20.
anteriormente à elaboração do termo de referência e à
(§ 3.h) realização de pesquisa de preços, conforme determinado pelo
art. 26, caput e parágrafo único, incisos II e III, e 43, inciso IV,
da Lei 8.666/1993;

celebrar contrato em que a pesquisa de preços é apresentada


Oitiva-CFC após a escolha da FBC para realizar Exames de Suficiência
23.21. (2016-2017) e sem a devida razão da escolha do executante, o
Of-0238 (§ 1.b) que contraria os art. 26, § único, incisos II e III, bem como art.
43, inciso IV, ambos da Lei 8.666/1993;

Audiência celebrar contrato em que a pesquisa de preços é apresentada


após a escolha da FBC para realizar Exames de Suficiência
23.22. Presidente (2016-2017) e sem a devida razão da escolha do executante, o
que contraria os art. 26, § único, incisos II e III, bem como art.
Of-0239 (§ 1.b) 43, inciso IV, ambos da Lei 8.666/1993;

celebração de convênio entre o CFC e a FBC para realização


do evento intitulado 'III Encontro Luso-Brasileiro de
Despacho- Contabilidade', sem que estivesse caracterizado o interesse
Relator recíproco ante a natureza contratual da avença, conforme
23.23.
evidenciado na cláusula 6.3, e sem a realização de prévia
(§ 3.j) licitação ou sem a caracterização de dispensa, acompanhada
de prévia justificativa e cotação de preços, em desacordo
com os arts. 2º e 26 da Lei 8.666/1993.

celebrar 'convênio' com a Fundação Brasileira de


Contabilidade para a realização do 'V Encontro Luso-Brasileiro
Oitiva-CFC de Contabilidade' (2014) , apesar da existência de interesses
23.24.
opostos entre o Conselho e a Fundação, o que caracteriza a
Of-0238 (§ 1.c)
exigência da realização de um contrato, conforme art. 2°, §
único, da Lei 8.666/1993.

23.25. Audiência celebrar 'convênio' com a Fundação Brasileira de


Contabilidade para a realização do 'V Encontro Luso-Brasileiro
Presidente de Contabilidade' (2014) , apesar da existência de interesses
Of-0239 (§ 1.c)
opostos entre o Conselho e a Fundação, o que caracteriza a
exigência da realização de um contrato, conforme art. 2°, §
único, da Lei 8.666/1993.

23.26. Fonte/Evidência:

Despacho-
Relator (pç. 55)

Ofício
0238/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Oitiva do CFC)
(pç. 81) ;

Ofício
0025/2019-
TCU-
SecexFazenda
(Oitiva
complementar
do CFC) (pç. 97)
;

Ofício
0239/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Audiência de
José Martonio
Alves Coelho,
Presidente
2014-2015) (pç.
82) ;

Ofício
0240/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Audiência de
Luiz Henrique
de Souza, Vice-
Presidente
2014-2015) (pç.
83) .

Considerações gerais

24. As ocorrências, a que se referem a oitiva e as audiências, apresentaram desdobramentos que


serão relatados nesta instrução técnica. Esses desdobramentos, eventualmente, poderiam
também ser objeto de saneamento; entretanto não se fará tal proposta neste momento
processual, em atendimento ao despacho do Relator (pç. 68) , no sentido de ultimar as medidas
por ele estabelecidas.

25. A análise das respostas às oitivas e das razões de justificativa será conjunta (para oitivas e
audiências) , de forma a aproveitar a todos, no que concerne às circunstâncias objetivas;
fundamento: RI-TCU/2002, art. 161; art. 250, § 7º.

26. A análise que se fará nesta instrução técnica fundamenta-se em alguns dos entendimentos
vigentes sobre os Conselhos de Fiscalização Profissional:

os Conselhos têm natureza autárquica; fundamento: Adin-STF 1.717;

mesmo que não diretamente vinculados a Ministério específico, os Conselhos estão sujeitos à
supervisão ministerial de caráter geral; fundamento: DL-200, art. 19;

cumpre à Controladoria-Geral da União (CGU) as funções de 'órgão de controle interno' no que


se refere às contas dos Conselhos: elaboração relatório, certificado de auditoria e parecer do
dirigente do órgão de controle interno; fundamento: Lei 8.443/1992, art. 9º, inc. III (Acórdão
161/2015-TCU-Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler; Acórdão 192/2019-TCU-Plenário,
Relator Ministro Raimundo Carreiro) ; e

compete ao colegiado de cada Conselho elaborar o parecer equiparado ao 'pronunciamento do


Ministro de Estado supervisor da área ou da autoridade de nível hierárquico equivalente';
fundamento: Lei 8.443/1992, art. 9º, inc. IV; art. 52 (Acórdão 161/2015-TCU-Plenário, Relator
Ministro Benjamin Zymler; Acórdão 192/2019-TCU-Plenário, Relator Ministro Raimundo Carreiro)
.

27. De março/2017 a fevereiro/2019 o Tribunal realizou abrangente trabalho de auditoria, na


forma de fiscalização de orientação centralizada (FOC) , sob coordenação da então Secretaria de
Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul (Secex-RS) , formalizado no Processo TC
036.608/2016-5, Relator Ministro-Substituto Weder de Oliveira, cujo relatório foi apreciado por
meio do Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário, proferido em 21/08/2019.

28. Os temas analisados naquela auditoria são recorrentes nos processos relativos a Conselhos
Profissionais e também comuns aos do presente processo: controle de gestão nos Conselhos;
legalidade das receitas auferidas; despesas com passagens, diárias, jetons, verbas de
representação e demais indenizações; transferência de recursos dos Conselhos a terceiros,
p ç ç

mediante contratos, convênios e outros instrumentos; e efetividade das atividades precípuas


dessas entidades: normatização, fiscalização e disciplina. Assim sendo, parte do exame desta
instrução técnica fará referência aos assuntos tratados naquele processo.

29. Entre as informações constantes no Relatório de Auditoria mencionado, reuniu-se as


seguintes sobre o Sistema CFC-CRCs (Conselho Federal de Contabilidade - Conselhos Regionais
de Contabilidade) :

§ Descrição Cifra

R$
29.1. Total de receitas orçamentárias (2016)
287.565.128

Posição em relação aos demais Conselhos quanto às receitas


29.2. 4º colocado
orçamentárias

R$
29.3. Total de despesas orçamentárias (2016)
253.762.525

R$
29.4. Superávit (2016) 33.802.603
(11,8%)

R$
29.5. Total gasto com fiscalização (2016)
21.581.459

Percentual de aplicação da receita orçamentária na atividade de


fiscalização (considerando o CFC e os Conselhos Regionais) : 00,78%

29.6. Mínimo 11,65%

Médio 07,21%
Máximo

Posição em relação aos demais Conselhos quanto ao gasto com 17º


29.7.
fiscalização colocado

29.8. Máximo valor de anuidade cobrado de profissional R$ 599,00

29.9. Posição em relação aos demais Conselhos quanto ao valor da anuidade 4º colocado

29.10. Profissionais inscritos (31/12/2016) 545.285

Posição em relação aos demais Conselhos quanto ao número de


29.11. 3º colocado
inscritos

29.12. Total de funcionários (2016) 1.687


29.13. Total de fiscais (2016) 188

29.14. Total de Conselheiros (Federais e Regionais) (2016) 477

29.15. Fonte: TC 036.608/2016-5 (pç. 330)

30. Observa-se que, embora a atividade de fiscalização direta, exercida pelo Sistema CFC-CRCs,
responda por 11,65%, em média, da receita orçamentária, e que dos 1.687 funcionários do
Sistema apenas 188 sejam fiscais, a legislação sobre o assunto é restritiva ao determinar a
aplicação dos recursos 'na organização e funcionamento de serviços úteis à fiscalização':

Decreto-Lei 1.040/1969 - Dispõe sobre o CFC e os CRCs

Art. 7º O exercício do mandato de membro do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de


Contabilidade [...]

Parágrafo único. A receita dos Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade só poderá ser
aplicada na organização e funcionamento de serviços úteis à fiscalização do exercício
profissional, bem como em serviços de caráter assistência, quando solicitados pelas Entidades
Sindicais [...]

31. Nota-se, também com base no quadro anterior, que o Sistema CFC-CRCs está entre os
quatro maiores do país e que é superavitário. Essa substancial disponibilidade de caixa é um
fator que deve ser associado às razões técnicas e institucionais que os gestores apresentaram
para justificar despesas altas com diárias e passagens.

32. Quanto às despesas em causa neste processo, a regulamentação interna do Conselho


(resoluções do CFC) não está limitada por critérios legais objetivos, não havendo impedimento,
por exemplo, a permissivos regulamentares que autorizassem: participações em eventos
internacionais ainda mais numerosas do que as duas verificadas nestes autos; diárias com valores
mais elevados do que as questionadas neste processo; maior liberalidade na aquisição de
passagens em classe executiva; ou jetons mais elevados. Assim sendo, na falta de legislação
específica, os limites a aplicar não são os de regulamentos internos, que podem ser alargados
conforme a disponibilidade de caixa e a deliberação dos dirigentes, mas de princípios gerais
(moralidade, razoabilidade e proporcionalidade) e de entendimentos jurisprudenciais. Esse
balizamento pretendeu-se alcançar por meio do mencionado TC 036.608/2016-5.

Oitiva: Pagamento de meia-diária pela participação em reuniões locais

§ Documento Texto da Oitiva

Despacho- pagamento de meia diária pela participação em reunião e outros eventos


33.1. Relator realizados no mesmo local de domicílio do participante, com

(§ 3.a) fundamento no art. 4º da Resolução CFC 1.392/2012;

33.2. Oitiva-CFC pagamento de meia-diária pela participação em reuniões realizadas no


Of-0025 (§ mesmo local de domicílio do participante;
1.a)

34. Resposta do CFC à oitiva: o Conselho Federal de Contabilidade adotou a nomenclatura


'meia diária' unicamente como forma de parâmetro na fixação de valores correspondentes a uma
'ajuda de custo', com o objetivo unicamente de ressarcir os conselheiros de determinados gastos
com gasolina, estacionamento e alimentação, quando da participação nas reuniões regimentais
de Câmaras e Plenário. Posteriormente, por meio da Resolução CFC 1.533/2017, o Plenário do
Conselho Federal aprovou as alterações do normativo que disciplina a aquisição de passagens e
a concessões de diárias no âmbito do CFC, alinhando ao entendimento do TCU quanto ao não
pagamento de diária ou ajuda de custo a conselheiros residentes no domicílio da reunião. Nesse
sentido, entendemos por saneada a questão em relação a essa modalidade de ressarcimento de
custos (pç. 99, p. 1) .

35. Análise: a Resolução-CFC 1.392/2012, art. 4º, previa o pagamento de meia diária a
Conselheiros pela participação em reuniões no mesmo local de domicílio. Posteriormente (em
exemplo de má técnica legislativa) , a Resolução-CFC 1.506/2016 alterou e renumerou aquele
dispositivo de 'art. 4º' para 'art. 3º', prevendo a 'percepção de 50% (cinquenta por cento) do
valor da diária somente aos conselheiros do CFC participantes de reuniões regimentais (...) que
ocorram no mesmo local de seu domicílio'. Finalmente, a Resolução 1.392/2012 foi revogada, e a
revogadora, Resolução-CFC 1.533/2017, art. 9º, estabeleceu que diária ou meia-diária não serão
pagas nos 'casos em que o afastamento ocorra dentro da mesma região metropolitana'.

36. Conclusão: considerando que a Unidade Jurisdicionada tomou a iniciativa de revogar o


dispositivo que previa a concessão de meia-diária a domiciliados na mesma localidade onde
ocorriam as reuniões, a irregularidade foi elidida.

Oitiva: Ausência de razoabilidade nos valores de diária


§ Documento Texto da Oitiva

Despacho- ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de diárias, fixados à


Relator época pela Resolução CFC 1392/2012, superiores em mais de 100% ao
37.1.
valor pago para cargos equivalentes no âmbito no Poder Executivo
(§ 3.b) Federal, ante o disposto no Acórdão 570/2007-Plenário;

Oitiva-CFC ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de diária, superando


37.2. Of-0025 (§ em mais de 100% o valor pago a cargos equivalentes no âmbito do

1.b) Poder Executivo Federal;

38. Resposta do CFC à oitiva: a Lei 11.000/2004, art. 2º, § 3º, autorizou os Conselhos a
'normatizar a concessão de diárias, jetons e auxílios de representação, fixando o valor máximo
para todos os Conselhos Regionais'. Os Conselhos, portanto, não estariam submetidos ao
Decreto 5.992/2006, que dispõe sobre a concessão de diárias no âmbito da administração
federal direta a tárq ica e f ndacional Por o tro lado a j rispr dência do TCU é enfática em
federal direta, autárquica e fundacional. Por outro lado, a jurisprudência do TCU é enfática em
afastar a aplicação da Lei 8.112/1990 aos funcionários dos Conselhos, tampouco os seus
membros (conselheiros) podem ser considerados agentes públicos em sentido estrito.
Razoabilidade, sendo relativa e subjetiva, nos remete a bom senso e a algo sensato e racional, o
que não nos parece estar em dissonância com os valores de diária fixados pelo CFC. A diária
regulamentada na Resolução-CFC 1.533/2017 (R$ 700,00) é aproximadamente 20% maior do que
a prevista no Decreto 5.992/2006 (R$ 580,00) , ou seja, ou seja, nada de exorbitante ou irracional.
Se a vontade do legislador fosse estabelecer parâmetros de racionalidade, além de fixá-los de
forma expressa, o que não aconteceu, não teria delegado aos Conselhos por meio de lei (pç. 99,
p. 2) .

39. Análise: o Acórdão 570/2007-TCU-Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler, além de


tornar insubsistentes três deliberações do Acórdão 745/2005-TCU-Plenário (sigiloso) , Relator
Ministro Walton Alencar Rodrigues, reconheceu a autonomia dos Conselhos para regulamentar
diárias, com fundamento na Lei 11.000/2004, art. 2º, § 3º; acrescentando que regulamentação,
'mormente a fixação de seus valores, deve pautar-se pelo crivo da razoabilidade, do interesse
público e da economicidade dos atos de gestão, bem como pelos demais princípios que regem a
Administração Pública'; e alertando que 'a adoção de valores desarrazoados, assim entendidos
os que injustificadamente excedem aqueles praticados por outros órgãos e entidades da
administração pública federal, poderá ensejar a aplicação de medidas sancionadoras por este
Tribunal'.

40. Posteriormente, o Acórdão 908/2016-TCU-Plenário, Relator Ministro Weder de Oliveira,


restabeleceu como parâmetros os do Decreto 5.992/2006 e do Decreto 71.733/1973, admitindo
valores superiores, desde que justificados. Já o recente Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário,
Relator Ministro Weder de Oliveira, estabeleceu que a diária 'deve ter seu valor consentâneo
com os parâmetros estabelecidos nos anexos I, classificação 'C' e II, do Decreto 5.992/2006, e no
anexo III, grupo 'D', classe I, do Decreto 71.733/1973, ou pelos atos normativos que o
sucederem'. O quadro seguinte resume os valores vigentes para o CFC e os estabelecidos nos
Decretos mencionados, conforme entendimento firmado no Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário.

Valores
de
Diária

Diária Diária

§ Descrição Nacional Diferença Internacional Diferença

(R$) (US$)

Deslocamento Nacional
41.1 321,10
Decreto 5.992/2006, Anexo I, 'C'

41.2 Adicional 95,00


Embarque/Desembarque
Embarque/Desembarque
Decreto 5.992/2006, Anexo II

Total máximo deslocamento

41.3 nacional 416,10

Decreto 5.992/2006

Valor pago pelo CFC (a

41.4 Conselheiro) 700,00 68%

Resolução CFC 1.533/2017

Valor pago pelo CFC (a


41.5 empregado de maior hierarquia) 500,00 20%

Resolução CFC 1.533/2017

Valor pago pelo CFC (a


empregado de menor hierarquia)
41.6 440,00 6%
Resolução CFC 1.533/2017

Deslocamento Internacional

41.7 Decreto 71.733/1973, Anexo III, 460,00


Grupo 'D', Classe I

Valor pago pelo CFC (a

41.8 Conselheiro) 580,00 26%

Resolução CFC 1.533/2017

Valor pago pelo CFC (a


41.9 empregado de maior hierarquia) 460,00 0%

Resolução CFC 1.533/2017

Valor pago pelo CFC (a


41.10 empregado de menor hierarquia) 400,00 -31%

Resolução CFC 1.533/2017

As colunas 'Diferença'
apresentam, em percentual (%) ,
41.11 o valor a maior (ou a menor)
pago pelo CFC aos Conselheiros
ou empregados.
42. Conclusão: exceto no que se refere aos valores de diárias internacionais pagos a
empregados do CFC, os demais valores estão acima dos parâmetros estabelecidos pelo Decreto
5.992/2006 e pelo Decreto 71.733/1973, acolhidos pela jurisprudência do Tribunal, concluindo-se
que a irregularidade não foi elidida. Depreende-se que a liberalidade do CFC nos gastos com
diárias, além de motivar-se em justificativas técnicas, resulta também da substancial
disponibilidade de caixa. Caberia determinação ao Conselho Federal para que adaptasse seus
regulamentos aos referidos Decretos. Entretanto, não será proposta tal deliberação porque o
Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário, item 9.4.1.1, já o fez.

Audiência e Oitiva: Pagamento de diárias e passagens referentes a eventos internacionais


em quantitativo a maior
§ Documento Texto da Oitiva e/ou Audiência

Despacho- concessão de diárias e passagens para eventos internacionais a


43.1. Relator quantitativo de participantes em desacordo com os limites estabelecidos
(§ 3.c) pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela Resolução 1.477/2015;

Oitiva-CFC autorizar a participação em evento realizado em Roma (2014) de


quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo art. 4º, § 1º,
43.2. Of-0238 (§ da Resolução CFC 1089/2007, conduta essa vedada pelo art. 10 da
1.a) mesma Resolução;

Oitiva-CFC autorizar a participação em evento realizado em Punta Cana (2015) de


43.3. quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pela Resolução
Of-0025 (§
1.c) 1477/2015;

Audiência
autorizar a participação em evento realizado em Roma (2014) de
Presidente quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo art. 4º, § 1º,
43.4.
da Resolução CFC 1089/2007, conduta essa vedada pelo art. 10 da
Of-0239 (§ mesma Resolução;
1.a)

Audiência
autorizar a participação em evento realizado em Punta Cana (2015) de
Vice-
quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo art. 6º, caput,
43.5. Presidente
da Resolução CFC 1477/2015, conduta essa vedada pelo art. 10 da
Of-0240 (§ mesma Resolução;
1.a)

44. Resposta do CFC à oitiva: Roma/2014: o fato se circunscreve a dois aspectos: o primeiro,
qualitativo, em relação a que agentes estariam albergados pelos normativos, seja o Decreto
5.992/2006 ou a Resolução-CFC 1.089/2007; e o segundo, quantitativo.
45. Quanto ao primeiro aspecto, o fato de alguns participantes não comporem ou não deterem
algum vínculo jurídico efetivo com o CFC não nos parece uma prática irregular sob o enfoque do
ato de concessão de diárias e passagens. Como já afirmado no âmbito desta Corte de Contas, os
Conselhos de Fiscalização Profissional possuem autonomia quanto à normatização e fixação de
diárias (Lei 11.000/2014) , o que de certa forma torna o Decreto 5.992/2006 fonte subsidiária em
relação aos funcionários e agentes em colaboração com o CFC. Notadamente, a jurisprudência
várias vezes reafirmada pelo TCU é enfática de que aos funcionários dos Conselhos de
Fiscalização Profissionais não se aplicam as disposições estatutárias da Lei 8.112/1990,
tampouco, os seus membros (Conselheiros) podem ser considerados agentes públicos em
sentido estrito.

46. A missão ao exterior foi realizada no período de 10 a 13 de novembro de 2014, portanto,


estava sob a égide da Resolução-CFC 1.107/2007, que autorizava o custeio de despesas de ex-
presidentes em eventos de interesse da Classe Contábil. Adicionalmente, antes da missão
Roma/2014, sobreveio Lei 12.932/2013, que alterou a redação do Decreto-lei 1.040/1969,
atribuindo aos ex-presidentes 'assento no Plenário, na qualidade de membros honorários, com
direito a somente voz nas sessões'. Esse dispositivo regularizou a participação de ex-presidentes
em missões, de forma que a inclusão de ex-presidentes na delegação do evento em Roma foi
regular.

47. No que se refere à quantidade de participantes, convém anotar que os membros Sr.
Leonardo S. do Nascimento e a Sra. Ana Maria Elorrieta foram custeados por exercerem a
representação do Brasil junto ao IFAC. Por meio da Portaria-CFC 078/2014 e da Portaria-CFC
239/2014, o CFC aprovou as referidas indicações. De fato, é incontroverso que houve um
excedente em relação a um participante na cota selecionada aos vice-presidentes, contudo, essa
constatação passa ao largo de caracterizar que a despesa realizada para transporte e custeio de
participantes em evento de relevância para a profissão seja presumivelmente irregular (pç. 87, p.
1-3) .

48. Resposta do CFC à oitiva: Punta Cana/2015: todas as autorizações foram efetivadas de
forma regular e em conformidade com a Resolução-CFC 1.477/2015. As participações no evento
atenderam aos limites fixados na Resolução-CFC 1.477/2015, art. 6º, excluindo-se,
evidentemente, como base de cálculo, o presidente do CFC, como representante oficial,
integrantes de grupo de trabalho e funcionários. A autorização de participação restou distribuída
da seguinte forma:

a) Presidente (Res-CFC 1.477/2015, art. 5º) : 1;

b) Vice-Presidentes integrantes do Conselho Diretor (Res-CFC 1.477/2015, art. 6º, inc. I) : 3;

c) Conselheiros Federais (Res-CFC 1.477/2015, art. 6º, inc. II) : 6;

d) Contadores representantes em organismos: 2; e

e) Contadores designados, representantes em comissões técnicas: 2.


49. O CFC atendeu ao quantitativo máximo de 1/3 de Conselheiros do Plenário. Outros
contadores, conselheiros do Plenário, ou não, também participaram do evento por outros meios
lícitos e regulares, seja por meio de representações (pç. 99, p. 11-12) , ou em razão de
convocações (pç. 99, p. 13-16) , para participar de comissões da instituição organizadora, cujas
normas técnicas e profissionais subsidiarão o processo de tomada de decisão no CFC e que
certamente poderão projetar reflexos em outras entidades públicas regulatórias no Brasil. O
próprio TCU reconhece a relevância dessas participações: 'É possível o pagamento de diárias a
autoridades para eventos de associação, desde que não se revistam de caráter exclusivamente
corporativo e, inequivocamente, atendam ao interesse público e não apenas ao de uma
categoria' (Acórdão 2.956/2011-TCU-Primeira Câmara-Relator: Ministro Weder de Oliveira) (pç.
99, p. 3-4) .

50. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) :
Roma/2014: as autorizações para participação de conselheiros e vice-presidentes foram
realizadas em estrita observância às normas:

Representante oficial do CFC: Presidente José Martonio Alves Coelho (Resolução-CFC 1.089, art.
3º) : 1;

Conselheiros Federais (Plenário) (Resolução-CFC 1.089/2007, art. 4º) : 9;

Conselheiro Federal (Plenário) Osvaldo Rodrigues da Cruz, integrante da Câmara Técnica do CFC,
foi designado para participar da Assembleia Geral do Cilea, mediante 'autorização excepcional'
do Plenário-CFC (Resolução-CFC 1.089/2007, art. 3º) : 1;

Ex-Presidentes (Resolução-CFC 1.048/2005, art. 1º, inc. II; e Resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, §
4º) : 5;

Representantes do Brasil perante a Ifac (Portaria-CFC 78/2014) : Ana Maria Elorrieta, participou
da reunião lfac Board e Leonardo S. do Nascimento, participou da reunião do International Public
Sector Accounting Standards Board (IPSASB) : 2; e

Funcionário do CFC: Elys Tevania Alves de Souza Carvalho (Resolução-CFC 1.290, art. 1º) : 1.

51. No que se refere à participação de representantes do CFC em grupos de trabalho, é


importante destacar que o CFC é líder na América Latina na implantação das normas
internacionais, o que o implica a sua participação em importantes fóruns promovidos pela IFAC
para tratar sobre o tema, em especial na realização dos Congressos Mundiais, quando a entidade
reúne delegações de mais de 130 países, momento de relevância para discussão e troca de
experiências.

52. Quanto a participação de ex-presidentes em eventos, importante ressaltar que, de acordo


com o Decreto-Lei 1.040/1969, art. 1º, § 2º (com redação dada pela Lei 12.932/2013) , aqueles
são membros do Plenário do CFC, com competência normativa (Resolução-CFC 1.458/2013, art.
24, § 4º) de assessorar o Presidente e o Plenário, em matéria de alta relevância para o Sistema
CFC/CRCs. Sendo assim e com base na previsão legal, entendemos que os ex-presidentes têm o
dever de participar ativamente das importantes e principais discussões da classe, seja em
reuniões, palestras ou eventos, além de integrarem o Conselho Consultivo, ao lado do Presidente
e dos agraciados com a Medalha Mérito Contábil João Lyra.

53. No que concerne ao quantitativo de pessoas participantes do evento em questão, temos a


esclarecer que o presidente do CFC, integrantes de grupo de trabalho, diretora e ex-presidentes
não compõem, para fins de cálculo, o limite estabelecido na Resolução-CFC 1.089/2007, art. 4º, §
1º.

54. Há ainda de considerar que, sendo o Brasil modelo na convergência das Normas
Internacionais de Contabilidade, em especial para a América Latina, e ainda uma referência no
processo de adoção das Normas de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (IPSAS) , tendo em
vista todo o esforço que o país vinha desenvolvendo nesse sentido, fez-se necessária a
participação de uma delegação representativa, a fim de proporcionar aquisição e transferência
de conhecimento para outros países no mesmo estágio de implantação das IPSAS (pç. 91, p. 1-4)
.

55. Razões de Justificativa de Luiz Henrique de Souza, Vice-Presidente CFC (2014-2017) :


Punta Cana/2015: as autorizações para participação de conselheiros e vice-presidentes foram
realizadas com fulcro na Resolução-CFC 1.477/2015, art. 6º. Além do grupo de conselheiros
alcançados pela norma, houve a participação de dois vice-presidentes como representantes do
Brasil em reuniões das Comissões Técnicas Interamericanas da Associação Interamericana de
Contabilidade (AIC) , organização latino-americana para desenvolvimento da profissão contábil.

56. A participação de ex-presidentes é amparada na Lei 12.932/2013, art. 1º, § 2º; na Resolução-
CFC 1.107/2007; e na resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, § 4º. No entanto, ressalta-se que a ex-
presidente citada na relação de participação do evento, não estava amparada pela condição de
ex-presidente do CFC, mas sim, como a representante do CFC na diretoria da Associação
Interamericana de Contabilidade, na qualidade de Vice-presidente de Promoção Institucional da
AIC. Por outro lado, o Presidente do CFC, os integrantes de grupo de trabalho e funcionários não
compõem, para fins de cálculo, o limite estabelecido na Resolução-CFC 1.477/2015. A delegação
foi assim distribuída:

a) Presidente (RES-CFC 1.477/2015, art. 5º) : 1;

b) Vice-Presidentes integrantes do Conselho Diretor (RES-CFC 1.477/2015, art. 6º, inc. I) : 3;

c) Conselheiros Federais (RES-CFC 1.477/2015, art. 6º, inc. II) : 6;

d) Representante do CFC junto à AIC (Portaria-CFC 128/2014) : 1: Maria Clara Cavalcante Bugarin
(também ex-Presidente) ;

e) Representante do CFC no Diretório do Grupo Latino-americano de Emissores de Normas de


Informação Financeira (Glenif) (Portaria-CFC 98/2014) : 1: Jádson Gonçalves Ricarte; e
f) Contadores designados, representantes em comissões técnicas: 2: Aécio Prado Dantas Júnior, e
Verônica Cunha de Souto Maior.

57. Ressalta-se que o atendimento à convocação dos Vice-Presidentes foi acolhida, considerando
que a exposição de organismos da profissão contábil em nível global (IFAC, CILEA, AIC, IASB) e
autoridades técnicas reconhecidas internacionalmente em muito contribuiriam para o
desenvolvimento das atividades relacionadas às áreas Técnica e de Desenvolvimento
Operacional do CFC, no que tange à emissão de pareceres técnico-contábeis relativos às Normas
Brasileiras de Contabilidade e aos Princípios de Contabilidade; ao exame e aprovação dos
documentos elaborados e aprovados pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
decorrentes do processo de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS)
emitidas pelo IASB - International Accounting Standards Board (IASB) ; e ao desenvolvimento de
projetos de aperfeiçoamento da gestão administrativa do Sistema CFC/CRCs (pç. 90, p. 1-3) .

58. Análise: em resumo, as composições das delegações foram as seguintes, significativamente


numerosas e dispendiosas, considerando diárias e passagens em classe executiva:

a) Roma/2014: dezenove (19) integrantes; e

b) Punta Cana/2015: quatorze (14) integrantes.

59. Materialidade: os valores totais despendidos pelo CFC com as duas delegações foram
aproximadamente os seguintes, considerando que a despesa correspondente a onze (11)
passagens não estão disponíveis (pç. 50, p. 12, 14) :

a) Roma/2014: diárias: R$ 261.211,06; passagens: R$ 148.017,15; total: R$ 409.228,21; estimativa


para as quatro (4) passagens faltantes: R$: 31.161,50; e

c) Punta Cana/2015: diárias: R$ 206.971,44; passagens: R$ 45.764,55; total: R$ 252.735,99;


estimativa para as sete (7) passagens faltantes: R$ 26.695,98.

60. Os Responsáveis justificaram participações de conselheiros ou funcionários com atribuições


específicas, amparadas diversos dispositivos regulamentares:

a) Presidente (Resolução-CFC 1.089, art. 3º; Resolução-CFC 1.477, art. 5º) ;

b) outros integrantes das delegações (Resolução-CFC 1.089/2007, art. 3º; Portaria-CFC 78/2014;
Portaria-CFC 98/2014; Portaria-CFC 128/2014) ;

c) contadores designados (convocados pelos organismos organizadores dos eventos) ; e

d) funcionário (convocado pela administração do CFC) .

61. Quanto à participação de ex-Presidentes, estaria embasada no Decreto-Lei 1.040/1969, art.


1º, § 2º, que lhes atribui assento no Plenário na condição de membros honorários com direito a
voz. Se são membros do Plenário, estão sujeitos à cota de 1/3 desse Colegiado, composto de 27
conselheiros, acrescido dos conselheiros ex-Presidentes (que são cinco (5) segundo a evidência
dos autos) , correspondendo o total a 32, e a cota de 1/3 a dez (10) conselheiros, que é
reservada ao Plenário, incluindo membros do Conselho Diretor (Vice-Presidentes) . Assim sendo,
a participação de quatro (4) ex-Presidentes (além da cota) descumpriu a Resolução-CFC
1.089/2007, art. 4º, então em vigor.

62. Conforme já mencionado anteriormente nesta instrução: da análise do TC 036.608/2016-5,


depreende-se que a liberalidade dos Conselhos nos gastos com diárias, passagens e
representação, além de dependerem de justificativas técnicas institucionais, resultam também da
substancial disponibilidade de caixa.

63. Conclusão: as justificativas não devem ser aceitas, verificou-se descumprimento da


Resolução-CFC 1.089/2007, art. 4º, então em vigor, cuja compreensão é acessível ao gestor
mediano, caracterizando-se erro grosseiro, agravado por tratar-se de gestores profissionais de
contabilidade. É oportuno mencionar que o normativo sucedâneo também contém o mesmo
dispositivo, que limita a participação em eventos em 1/3 Plenário (Resolução-CFC 1.477/2015,
art. 6º) . Irregularidade não elidida, o que embasará proposta de multa conforme Matriz de
Responsabilização e Proposta de Encaminhamento, como também determinação para que o
Conselho Federal ajuste seus normativos internos.

Oitiva: Pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho


§ Documento Texto da Oitiva

Despacho-
Relator pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, com
64.1.
fundamento na Resolução CFC 1.107/2007;
(§ 3.d)

Oitiva-CFC
pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, em
64.2. Of-0025 (§ afronta a normativos semelhantes no âmbito do Governo Federal;
1.d)

65. Resposta do CFC à oitiva: os Conselhos possuem autonomia quanto à normatização e


fixação de diárias conforme a Lei 11.000/2014.

66. Por outro lado, o Decreto-Lei 1.040/1969, art. 1º, § 2º, alterado pela Lei 12.932/2013,
estabelece: 'Os ex-presidentes do Conselho Federal de Contabilidade terão assento no Plenário,
na qualidade de membros honorários, com direito somente a voz nas sessões'. Por sua vez, a
Resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, regula que o 'Conselho Consultivo é integrado pelo
Presidente do CFC, por seus ex-presidentes e pelos agraciados com a medalha Mérito Contábil
(...) ', e que 'os ex-presidentes terão direito a participar de eventos nacionais e internacionais da
classe contábil'. Veja-se que o ato autorizativo da participação em eventos, inclusive
internacionais, já estava amparado por força de lei, de modo que não se pode inferir que a
participação de ex-presidentes do CFC seja irregular.
67. Os ex-presidentes são membros do Plenário do CFC e atuam com o objetivo de assessorar o
presidente e o Plenário em matéria de alta relevância para o Sistema CFC/CRCs. Seguindo o
mesmo princípio do legislador, os ex-presidentes não teriam somente o direito, mas o dever de
participar ativamente das importantes e principais discussões da classe, seja em reuniões,
palestras ou eventos. Caso contrário, não faria sentido a lei atribuir aos ex-presidentes assento
no Plenário. Diferentemente do cenário vivenciado nos governos que representam a União, nos
Conselhos de Contabilidade os ex-presidentes são reconhecidos e exercem papéis importantes.

68. No tocante à alegação de afronta ao princípio da impessoalidade, em razão de o presidente


assinar as Resoluções que, ao fim do seu mandato, estaria recebendo benefício por ele
autorizado, não se sustenta. Todas as Resoluções editadas pelo CFC são provenientes de decisão
do Plenário formado por 27 conselheiros, representantes dos 26 estados e mais o Distrito
Federal. Ou seja, a legislação veda que o presidente possa editar uma Resolução, por exemplo,
sem a regular e obrigatória aprovação do Plenário. O custeio de diárias e passagens aos
participantes fundou-se em ato autorizativo do Plenário no interesse institucional e não
particular (pç. 99, p. 4-6) .

69. Análise: o Decreto-Lei 1.040/1969, que dispõe sobre os Conselhos Federal e Regionais de
Contabilidade, alterado pela Lei 12.932/2013, estabelece que os 'ex-presidentes do Conselho
Federal de Contabilidade terão assento no Plenário, na qualidade de membros honorários, com
direito somente a voz nas sessões'. Como examinado na seção precedente desta instrução
técnica, o custeio de despesa de ex-Presidente (quando participando de evento de interesse do
Conselho Federal) é cabível na medida que ele integre a delegação dentro da cota de 1/3 do
Plenário, na condição de Conselheiro. Não há amparo legal para regulamentos que autorizem o
custeio de despesas de ex-Presidentes, a exemplo da Resolução-CFC 1.048/2005, que prevê que
a participação de ex-presidentes nos 'eventos relacionados aos interesses da Classe Contábil,
nacionais e internacionais, correrão por conta do Conselho Federal de Contabilidade nos termos
da norma que regulamenta a concessão de diárias'. Tais regulamentos, por outro lado, ferem os
princípios da Moralidade e da Impessoalidade (CF/1988, art. 37, caput) .

70. Conforme já mencionado anteriormente nesta instrução: da análise do TC 036.608/2016-5,


depreende-se que a liberalidade dos Conselhos nos gastos com diárias, passagens e
representação, além de se embasarem em justificativas técnicas, resultam também da
disponibilidade de caixa.

71. Conclusão: as justificativas não devem ser aceitas. Irregularidade não elidida, o que
embasará proposta de determinação para que o Conselho Federal ajuste seus normativos
internos, conforme Proposta de Encaminhamento.

Audiência e Oitiva: Aquisição de passagens em classe executiva


§ Documento Texto da Oitiva e/ou Audiência

72.1. Despacho- aquisição de passagens em classe executiva para representantes do CFC


Relator em organismos internacionais, empregados e convidados em
desconformidade com a Resolução CFC 1290/2010 ante a ausência de
desconformidade com a Resolução CFC 1290/2010, ante a ausência de
(§ 3.e) aprovação da Presidência quanto à aquisição das passagens nessa
classe;

Oitiva-CFC
aquisição de passagens em classe executiva para representantes do CFC,
72.2.
Of-0025 (§ em desacordo com a Resolução pertinente;
1.e)

Audiência
autorizar a aquisição de passagens em classe executiva, sem aprovação
Vice-
da presidência, para participação de representantes oficialmente
72.3. Presidente
designados em eventos internacionais (2014 e 2015) , em afronta ao art.
Of-0240 (§ 1°, § 1°, da Resolução CFC 1290/2010;
1.b)

73. Resposta do CFC à oitiva: é importante afirmar, de forma categórica, que todas as
aquisições de passagens aéreas em classe executiva foram realizadas mediante autorização do
Presidente do CFC, conforme a Resolução-CFC 1.290/2010 então vigente, embora não houvesse,
à época, formulários próprios a esse fim. Seria ilógico se ocorresse de outra forma, dado o
modelo de gestão 'presidencialista' do Conselho.

74. Quanto à razoabilidade, a citada Resolução-CFC 1.290/2010 era coerente com o praticado
pela Administração. Como ilustração, cita-se o normativo publicado pela Procuradoria-Geral da
República:

Portaria MPU-PGR 41/2014

Art. 20. A passagem aérea para os voos internacionais destinada aos propostos será adquirida
pelo órgão competente, na classe executiva para os membros, quando houver disponibilidade
no momento da emissão da passagem, e na classe econômica para os servidores.

§ 1º Poderá ser concedida aos servidores passagem de classe executiva nos trechos em que o
tempo previsto de voo entre o último embarque no território nacional e o destino for superior a
oito horas, e aos servidores ocupantes de cargo em comissão CC-5 ou superior, quando houver
disponibilidade no momento da emissão.

§ 2º Aos propostos, na qualidade de acompanhante, poderá ser concedida passagem na classe


atribuída à autoridade acompanhada, quando houver disponibilidade no momento da emissão
da passagem.

75. Nota-se que, desde 2014, a PGR adotou permissivo para que, em voos internacionais, as
passagens na classe executiva sejam concedidas a todos os seus membros e, no caso de
servidores, a classe executiva se limitava aos voos superiores a 8 (oito) horas de duração. Já a
Resolução-CFC 1.290/2010 previa condições mais restritivas à autorização de classe executiva,
exigindo-se duas condições: a) tempo de voo superior a 8 horas de duração; e b) aprovação da
Presidência
Presidência.
76. Igualmente, não se divisa que as passagens aéreas internacionais em classe executiva foram
adquiridas com propósitos que não estivessem relacionados com as atividades desenvolvidas
pela autarquia e com as atribuições dos beneficiários, assim designados, formalmente, para essa
missão representativa, não havendo que se cogitar, por exemplo, que houve burla ao princípio
da finalidade. Portanto, tratar o tema como falta de razoabilidade do CFC é, no mínimo, absurdo
e desproporcional (pç. 99, p. 6-8) .

77. Razões de Justificativa de Luiz Henrique de Souza, Vice-Presidente CFC (2014-2017) : as


aquisições de passagens em classe executiva se davam por autorização verbal do presidente do
CFC, sem formalização por meio de documento específico, respeitado o limite previsto na
Resolução-CFC 1.290/2010, art. 1º, § 1º, vigente à época. Ou seja, nos trechos em que o tempo
de voo entre o último embarque no Território Nacional e o destino fosse superior a oito horas
(pç. 90, p. 4) .

78. Análise: será realizada em conjunto com a da oitiva seguinte.

Oitiva: Ausência de razoabilidade de normativo que regula passagens em classe executiva


§ Documento Texto da Oitiva

ausência de razoabilidade do art. 1º, § 1º, da Resolução CFC 1290/2010,


que prevê a aquisição de passagem aérea internacional em classe
Despacho- executiva em trechos em que o tempo de voo entre o último embarque
Relator no Território Nacional e o destino for superior a oito horas,
79.1.
considerando que as dimensões continentais do Brasil fazem com que
(§ 3.f) a maioria dos voos entre as capitais brasileiras e os destinos
internacionais na América do Norte/Europa/Outros Continentes
tenham duração superior a 8 horas;

Oitiva-CFC
ausência de razoabilidade do normativo que permite a aquisição
79.2. Of-0025 (§ excepcional de passagens em classe executiva;
1.f)

80. Resposta do CFC à oitiva: os argumentos são os mesmos das respostas do Responsável e
do CFC à audiência e à oitiva reproduzidas nos parágrafos anteriores (pç. 99, p. 6-8) .

81. Análise: considerando que o Decreto 71.733/1973, que dispõe sobre retribuição e direitos do
pessoal em serviço no exterior, previa, à época dos fatos, a aquisição de passagens em classe
executiva, sob certas circunstâncias; os Conselhos Profissionais poderiam, servindo-se dele,
estabelecer regulamentos próprios. Entretanto, a partir de 06/02/2018 vige o Decreto
9.280/2018, que alterou aquele diploma, estabelecendo que: 'A passagem aérea destinada ao
servidor e aos respectivos dependentes será adquirida pelo órgão competente sempre na classe
econômica'. Assim sendo, desde 07/02/2018, inexiste a possibilidade de os Conselhos adquirirem
passagens em classe executiva.
82. O CFC cita o exemplo do MPU-PGR, que adota a mesma regulamentação autorizadora da
aquisição de passagens internacionais na classe executiva para membros (Procuradores) . Deve-
se reconhecer que o conjunto dos poderes públicos nacionais rotineiramente estratifica as
categorias de servidores, atribuindo a algumas os privilégios vedados a outras. Entretanto, o
regulamento do MPU-PGR não se aplica ao CFC.

83. Quanto à autorização do Presidente do Conselho, a então vigente Resolução-CFC


1.290/2010, art. 1º, § 3º, estabelecia que 'as solicitações de viagens internacionais deverão ser
efetuadas com antecedência mínima de 30 dias, devendo os casos que não observarem esse
prazo ser submetidos à Presidência para a necessária autorização'. Esse dispositivo foi suprimido
pela Resolução-CFC 1.506/2016 e, posteriormente, reincluído na atualmente em vigor
Resolução-CFC 1.533/2017, art. 7º, estabelecendo a competência do 'Plenário do CFC autorizar,
por meio de deliberação, a viagem internacional a serviço, em missão oficial ou com fins de
treinamento' e, em caso de urgência, 'o presidente poderá autorizar a viagem para fora do país,
ad referendum do Plenário'.

84. O quadro seguinte resume quatro (4) ocorrências, presentes nos autos, de aquisição de
passagem aérea internacional em classe executiva, autorizadas pelo Vice-Presidente do CFC:
Aquisição de
§ Passagens Aéreas em
Classe Executiva

Data Ante-
Data Data Preço
Identificação do
Solicitação cedência
Viajante
Ciência Voo (R$)
Autorização (dias)

Leonardo do
Nascimento
84.1. 12/12/2013 24/02/2014 08/03/2014 12 21.258,13
IPSASB - Toronto-
CAN

Leonardo do
Nascimento
84.2. 12/12/2013 22/04/2014 22/06/2014 61 9.779,12
IPSASB - Toronto-
CAN

Ana Maria Elorrieta


09/04/2014
84.3 01/04/2014 31/05/2014 51 12.773,13
IFAC - Nova Iorque-
10/04/2014
EUA

84.4. Ana Maria Elorrieta 05/01/2015 04/02/2015 03/03/2015 26 16.171,78


IFAC - Nova Iorque- 05/02/2015
EUA

84.5. Materialidade total 59.982,16

Legenda:

Data Ciência: data em


que o Conselho, ou
um de seus
integrantes, tomou
conhecimento do
evento internacional e
das correspondentes
84.6. datas de realização;

Antecedência:
número de dias entre
a solicitação da
passagem e a data do
voo.

Fonte/Evidência: pç.
43, p. 1-121

85. As datas nas quais o Conselho teve ciência dos eventos internacionais são aquelas constantes
na prova dos autos. É bem razoável supor que essas datas fossem ainda anteriores, pois os
eventos internacionais que ocorrem na América do Norte são normalmente planejados com
grande antecedência.

86. Observa-se: que em todas as quatro ocorrências poderia ter havido até mais de 60 dias entre
a data de solicitação do bilhete e a data do voo, pois os períodos em que se realizariam os
eventos eram previamente conhecidos; que em apenas dois casos esse intervalo foi menor do
que 30 dias, o que exigiria a autorização do Presidente; e que nas duas ocasiões em que o prazo
de aquisição foi mais curto as passagens custaram mais caro:

a) Canadá: com antecedência de 12 dias, a passagem custou 117% mais cara, em relação à
adquirida com 61 dias de prazo; e

b) EUA: com antecedência de 26 dias, a passagem custou 26% mais cara, em relação à adquirida
com 51 dias de prazo.

87. Conforme já mencionado anteriormente nesta instrução: da análise do TC 036.608/2016-5,


depreende-se que a liberalidade dos Conselhos nos gastos com diárias, passagens e
representação, além de se embasarem em justificativas técnicas, resultam também da
disponibilidade de caixa.
p

88. Conclusão: considerando o estabelecido no Decreto 71.733/1973, art. 27-A, alterado pelo
Decreto 9.280/2018, 'A passagem aérea destinada ao servidor e aos respectivos dependentes
será adquirida pelo órgão competente sempre na classe econômica'; propõe-se determinação
para que o Conselho Federal ajuste seus normativos internos, vedando a aquisição de passagens
em classe executiva ou superior, conforme Proposta de Encaminhamento.

89. Por outro lado, não devem ser aceitas as justificativas para o descumprimento da Resolução-
CFC 1.290/2010, art. 1º, § 3º, então vigente, que estabelecia a obrigatoriedade da autorização do
Presidente quando as solicitações se dessem com antecedência inferior a trinta (30) dias em
relação à data do voo; cujo descumprimento, segundo os indícios reunidos no quadro anterior,
pode causar prejuízo para o CFC, o que não é desconhecido do Conselho Federal, haja vista o
'considerando' da Portaria-CFC 74/2014: 'Considerando que o tempo de marcação de passagens
é inversamente proporcional ao valor dessas passagens'; e cujo fundamento não era meramente
formal ou acessório, visto que a novel Resolução-CFC 1.533/2017, art. 7º, estabelece a
competência do Plenário (ou do Presidente ad referendum, em caso de urgência) para
autorização de viagens internacionais. A obrigação é compreensível ao gestor mediano, e
descumpri-la é erro grosseiro, agravado por tratar-se de gestores profissionais de contabilidade.
Irregularidade não elidida, o que embasará proposta de multa conforme Matriz de
Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.

Audiência e Oitiva: Ausência de comprovação de aquisição de passagens pelo menor preço


§ Documento Texto da Oitiva e/ou Audiência

Despacho-
Relator ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas pelo menor
90.1.
preço, em desacordo com a Portaria CFC 73/14;
(§ 3.g)

Oitiva-CFC
90.2. falta de comprovação da aquisição das passagens pelo menor preço.
Of-0025 (§
1.g)

Audiência

Vice- autorizar a emissão de passagens aéreas sem a comprovação da


90.3. Presidente aquisição pelo menor preço (2014 e 2015) , o que contraria o art. 2° da
Portaria CFC 73/2014.
Of-0240 (§
1.c)

91. Resposta do CFC à oitiva: à época dos fatos, o CFC não dispunha de documentos para
comprovação, mas praticava pesquisa de preço para aquisição de passagens aéreas em
condições econômicas. Essa foi a motivação para a publicação de normativo sobre o tema, que
estabeleceu prazo mínimo de 10 (dez) dias para solicitação de reserva, como ilustram seus
'considerandos':
'considerandos':
Portaria-CFC 73/2014 (pç. 102, p. 59-60)

Considerando que a administração do CFC visa imprimir uma nova dinâmica com relação aos
gastos do Conselho na emissão de passagens aéreas, bem como estabelecer novos parâmetros
para a sua concessão;

Considerando que a emissão de passagens está vinculada à emissão de diárias;

Considerando que o CFC elabora, previamente, um calendário de reuniões e eventos de


interesse do Sistema CFC/CRCs;

Considerando que o tempo de marcação de passagens é inversamente proporcional ao valor


dessas passagens;

Considerando que as constantes remarcações de passagens aéreas geram despesas para o CFC;

Considerando que o pagamento das multas pelas remarcações de passagens aéreas não está
previsto no orçamento do CFC e que os Órgãos de controle externo reprovam este tipo de
situação.

92. Essa motivação evidencia o alinhamento do CFC aos princípios da Administração Pública.
Imaginar o contrário é fantasiar um cenário de que o CFC poderia instituir regras somente para
burlar e falsear os seus atos administrativos.

93. Não se mostra admissível que a busca pela economicidade na aquisição de passagens aéreas
possa ser questionada em razão da falta de armazenamento dos comprovantes que poderiam
atestar a realização de, no mínimo, três orçamentos para aquisição pelo menor preço.

94. No período em causa, o CFC contratara por licitação (Pregão 22/2012) a empresa 'Reserve', o
qual apresentava todas as tarifas praticadas e disponíveis das companhias aéreas nacionais
(TAM, GOL, Avianca, WebJet, Azul, Trip, Passaredo, Sete, NHT, Puma Air e NoAr) , além das
internacionais através do Sabre, incluindo Web Fares, Tarifas Acordo, Tarifas Promocionais e
Tarifas de Oportunidade.

95. O prestador de serviços Contratado cumpria a obrigação de capturar e enviar ao Contratante,


por mensagem eletrônica (email) , a 'tela com os dados visualizados' das diferentes tarifas
oferecidas pelas empresas transportadoras. Esse procedimento visa comprovar a tarifa mais
vantajosa no momento da emissão do bilhete. A 'Reserve' servia-se de 'sistema integrado de
atendimento, reservas e gestão de viagens corporativas' e os principais itens de controle eram
aferidos pelo sistema, que emitia alertas quando a opção selecionada descumpria regras
previamente estabelecida. Os relatórios de desvio da política apontavam as irregularidades e as
tendências de descumprimento das diretrizes da área responsável, permitindo a gestão
integrada. Nota-se, portanto, que as passagens aéreas eram adquiridas considerando o menor
preço e percurso de menor duração, em atendimento aos princípios da legalidade, moralidade e
economicidade.
96. Importante ressaltar que, nesse particular, a partir da visita da auditoria do TCU no CFC, o
Conselho passou a aperfeiçoar sua forma de trabalho e melhorar os procedimentos e controles
nos processos individuais de viagens, realizando a guarda dos documentos, especialmente,
quanto à pesquisa de preços das passagens aéreas; formulário de valores pagos de diária;
convocação e justificativa da viagem, como também o relatório de viagem, que deverá ser
elaborado pelo beneficiário.

97. Pelo exposto e não obstante a falta de armazenamento dos documentos que comprovassem
a pesquisa de preços, restou demonstrado que os normativos internos (portaria) , o Termo de
Referência e a utilização do Sistema 'Reserve' por empresa especialmente contratada ratificam o
zelo, o cuidado e a responsabilidade do Conselho na aquisição das passagens aéreas em
condição mais vantajosa e no respeito aos princípios da legalidade e economicidade (pç. 99, p.
8-10) .

98. Razões de Justificativa de Luiz Henrique de Souza, Vice-Presidente CFC (2014-2017) : as


razões de justificativa repetem a resposta do CFC à oitiva, afirmando que 'as passagens aéreas
eram adquiridas considerando o menor preço e percurso de menor duração. As pesquisas eram
realizadas pelo sistema 'Reserve', disponibilizado pela agência licitada e que atendia o CFC à
época, porém sem a evidenciação de tal comprovação' (pç. 90, p. 4-5) .

99. Análise: a prestação de contas é instituto bastante antigo na legislação nacional. Incipiente
na Constituição/1891, amadureceu nas subsequentes e firmou-se na CF/1988, art. 70, parágrafo
único, com a redação da EC-19/1998: 'Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de
natureza pecuniária'. A legislação infraconstitucional acompanhou essa evolução.

100. Para que as contas sejam prestadas, é necessário que elas existam e possam ser
demonstradas. E isso só é possível se as evidências subsistirem no tempo. Assim sendo, a
inexistência de elementos probatórios suficientes caracteriza, também, a impossibilidade de
prestação de contas. No caso concreto, a inexistência da demonstração da compra de passagens
em condições vantajosas impede a prestação de contas e constitui-se em erro grosseiro, vez que
a compreensão do fato é possível ao gestor mediano, com o agravante de que os gestores são
profissionais de contabilidade.

101. Conclusão: as justificativas não devem ser aceitas, pois o dever de prestar contas é
obrigação compreensível ao gestor mediano, e descumpri-la é erro grosseiro, agravado por
tratar-se de gestores profissionais de contabilidade. Fundamento: CF/1988, art. 70, parágrafo
único. Irregularidade não elidida, o que embasará proposta de multa conforme Matriz de
Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.

Audiência e Oitiva: Ausência de justificativa para contratação da FBC por dispensa de


licitação
§ Documento Texto da Oitiva e/ou Audiência
102.1. Despacho- ausência de justificativa prévia e circunstanciada para a contratação
Relator da FBC por dispensa de licitação para aplicação dos Exames de
Suficiência nos biênios 2014/2015 e 2016/2017, agravada pela decisão
(§ 3.h)
de contratação da entidade anteriormente à elaboração do termo de
referência e à realização de pesquisa de preços, conforme determinado
pelo art. 26, caput e parágrafo único, incisos II e III, e 43, inciso IV, da Lei
8.666/1993;

celebrar contrato em que a pesquisa de preços é apresentada após a


Oitiva-CFC escolha da FBC para realizar Exames de Suficiência (2016-2017) e sem a
102.2. devida razão da escolha do executante, o que contraria os art. 26, §
Of-0238 (§
único, incisos II e III, bem como art. 43, inciso IV, ambos da Lei
1.b)
8.666/1993;

Audiência celebrar contrato em que a pesquisa de preços é apresentada após a


escolha da FBC para realizar Exames de Suficiência (2016-2017) e sem a
Presidente
102.3. devida razão da escolha do executante, o que contraria os art. 26, §
Of-0239 (§ único, incisos II e III, bem como art. 43, inciso IV, ambos da Lei
1.b) 8.666/1993;

103. Resposta do CFC à oitiva: inicialmente é importante destacar que deliberação da Câmara
de Registro 122/2015, referendada pelo Plenário, que pré-qualificaria a FBC, sem a prévia
pesquisa de preços, é ato meramente protocolar, pois as contratações são de exclusiva alçada do
Presidente do CFC, portanto são inócuos os efeitos daquela deliberação sobre o Processo-CFC
2015/001321 (Dispensa de Licitação 98/2015) , que instruiu a contratação da Fundação. O
Regimento Interno-CFC (Resolução-CFC 1.458/2013) não atribui ao Plenário qualquer
prerrogativa de autorização prévia para a contratação de bens e serviços.

104. Portanto, a aferição de legalidade da contratação deve ser pautada a partir do termo de
referência, tal qual ordinariamente se faria sob o rito da Lei 8.666/1993. Por outro lado, entende-
se por saneada a questão relacionada à pesquisa de preços (Lei 8.666/1993, art. 26, inc. III) ,
considerando que antes da assinatura do contrato, a realização da pesquisa de preços foi
suficientemente atendida para o propósito da contratação, e que ao fim revelou que o preço
contratado era compatível com o mercado.

105. A própria instrução do processo acena para viabilidade da contratação, ainda que o termo
de referência tenha se revelado omisso ou carecido de estudos mais robustos a respeito desse
tipo de contratação. Outros aspectos corroboram com o fato de que ao final a contratação se
revelou acertada com relação à economicidade de recursos, complexidade do objeto e a
compatibilidade das atividades desenvolvidas pela Fundação Brasileira de Contabilidade em
relação a execução do objeto, não havendo qualquer juízo de reprovabilidade por parte do
competente órgão de controle externo, no caso a Promotoria de Justiça de Tutela das Fundações
e Entidades de Interesse Social do MPDFT.
106. Ainda a título de esclarecimento, a destinação de recursos havidos em decorrência de
eventual superávit financeiro proveniente da realização do exame, o Conselho Federal de
Contabilidade editou a Resolução CFC 1.434/2013, que autoriza a divisão e repartição desses
recursos superavitários entre o Sistema CFC/CRCs, única e exclusivamente destinados à
fomentação da educação profissional continuada, finalidade prevista nos termos do Decreto-Lei
9.295/1946 (pç. 87, p. 3-4) .

107. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) : a
contratação da FBC pelo CFC para realização dos Exames de Proficiência 2016/2017 se deu com
fundamento na Lei 8.666/1993, art. 24, inc. XIII (Dispensa de Licitação 98/2015) ; e foi precedida
de avaliação de resultado do Exame de Suficiência de 2015, também aplicado pela FBC
(Processo-CFC 2015/001251) , pela Câmara de Registro do CFC, que foi favorável à contratação
da FBC (Deliberação 122/2015) , condicionada ao cumprimento dos dispositivos legais,
especialmente quanto à economicidade, notoriedade, expertise e eficiência na organização,
planejamento, impressão, logística de distribuição, leitura/digitalização e aplicação das provas.

108. Portanto o processo de contratação da empresa para aplicação do Exame de Suficiência


2016/2017 atendeu às exigências definidas na Lei 8.666/1993, e a contratada possuía expertise,
visto que não houve incidente em edições anteriores do exame que desabonasse sua conduta
ou inviabilizasse a sua participação no certame seguinte.

109. Nesse sentido, corrobora a Súmula-TCU 250: 'A contratação de instituição sem fins
lucrativos, com dispensa de licitação, com fulcro no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993,
somente é admitida nas hipóteses em que houver nexo efetivo entre o mencionado dispositivo,
a natureza da instituição e o objeto contratado, além de comprovada a compatibilidade com os
preços de mercado'.

110. Evidencia-se que a FBC atende aos pré-requisitos para as contratações diretas com
fundamentos no inciso XIII, art. 24 da Lei 8666/1993, quais sejam: ser uma instituição brasileira;
ser incumbida da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, conforme previsto
em seu estatuto social; não possuir finalidade lucrativa; e possuir inquestionável reputação ético-
profissional. Importante destacar que a reputação ético-profissional inquestionável pode ser
comprovada por meio de trabalhos realizados pela FBC que comprovam sua capacidade,
seriedade e idoneidade na realização dos serviços contratados. Cumpre esclarecer que os
exames foram prestados pela FBC sem nenhuma ocorrência e que atenderam fielmente à
necessidade do CFC, na aplicação das provas, com segurança e confiabilidade no processo,
alcançando todos os estados brasileiros e um total de mais de 400 mil candidatos inscritos nas
10 edições do Exame de Suficiência realizadas entre 2011 e 2015.

111. Conforme demonstrado pelo número de candidatos envolvidos, o serviço de organização e


aplicação de provas do Exame de Suficiência corresponde a atividade complexa, inclusive, pela
extensão territorial de abrangência do número de cidades para a realização das edições (mais de
120 cidades) , quanto à infraestrutura que envolve toda a logística de contratação de locais de
provas, fiscais aplicadores de prova, fiscais de corredor, fiscais de banheiro, ledores e
atendimento a portadores de necessidades especiais Some-se a isso a necessidade de
atendimento a portadores de necessidades especiais. Some-se a isso a necessidade de
segurança das provas, considerando que qualquer falha poderia desacreditar todo o processo.
Essa segurança foi demonstrada em todas as edições do exame, cujo sigilo ficou demonstrado
pela inexistência de registro de vazamento das questões, provas e gabaritos. Esses fatores
somados foram avaliados pelo CFC quando da contratação da FBC (pç. 91, p. 5-7) .

112. Análise: no que se refere ao Contrato Exames de Proficiência/2016-2017, os eventos,


conforme a prova dos autos, deram-se na seguinte sequência:

em 23/10/2015, ocorreu a aprovação da contratação da FBC para a aplicação dos Exames de


Suficiência/2016-2017, quando o Presidente do CFC, José Martonio Alves Coelho, subscreveu a
homologação do Plenário-CFC à Deliberação-Câmara de Registro-CFC 122/2015, favorável à
avença (pç. 42, p. 3) ;

em 26/10/2015, foi lavrado o Termo de Referência (pç. 42, p. 4-15) ;

a proposta da FBC é datada de 27/10/2015 e foi assinada por Juarez Domingues Carneiro,
Presidente da FBC e ex-Presidente do CFC (pç. 42, p. 16-18) ;

em 10/11/2015, teve início a pesquisa de preços, quando o CFC, em resposta a pedido de


proposta comercial, recebeu mensagem eletrônica negativa, encaminhada pelo Departamento
de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade Nacional de Brasília (DCCA/UNB) :
'Agradecemos, porém não temos interesse em participar', assinada por José Antonio França, ex-
Presidente da FBC (2006-2009) ;

em novembro/2015, o CFC recebeu proposta da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em


Contabilidade, Economia e Finanças (Fucape) , manifestando interesse (pç. 42, p. 19-22) ; e

em 07/12/2015, foi publicado o Extrato de Dispensa de Licitação (pç. 42, p. 84) .

113. Contratação da FBC anterior à pesquisa de preços: os Responsáveis argumentam que a


Deliberação 122/2015, 'prolatada pela Câmara de Registro e referendada pelo Plenário do CFC'
teria sido 'meramente protocolar', pois a competência seria da 'exclusiva alçada da autoridade
superior da instituição (LLC, art. 61, caput) , que no caso é o Presidente e não o colegiado da
Instituição'. A argumentação pode ser aceita no sentido de que a responsabilidade final era da
'autoridade superior' (Presidente do CFC) , quem foi, de fato e direito, responsável pela
contratação, assunto que será retomado nesta instrução. Por outro, a citada Lei 8.666/1993, art.
61, caput não regula a matéria em causa; e adicionalmente: foi o Presidente do CFC quem
homologou a decisão do Plenário do CFC de contratar a FBC, e antes da pesquisa de preços
conforme a prova dos autos (pç. 42, p. 3) ; Plenário este que tinha a competência para se
manifestar sobre a matéria, conforme regulamentação do próprio CFC:

Resolução-CFC 1.458/2013 - Regimento do CFC

Art. 12. Compete ao CFC, por meio do Plenário:


XXX - firmar parcerias e convênios com a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) para a
realização de atividades voltadas ao Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC,
repassando, quando couber, recursos para a execução das atividades mediante prestação de
contas;

114. Assim sendo, o Presidente do CFC homologou a decisão de contratar a FBC, antes de iniciar
a pesquisa de preços.

115 Pesquisa de preços insuficiente: a suposta pesquisa de preços, além de ter sido realizada
após a decisão do Presidente de contratar a FBC, constou apenas de uma única proposta
(Fucape) , além da proposta da própria FBC, o que é insuficiente para caracterizar a formalidade
como 'pesquisa', concluindo-se que, de fato, ela não foi realizada, tema que será retomado nesta
instrução.

116. Competência da FBC para bem atender à contratação: a justificativa de que, no entender
do CFC, a FBC detinha competência para desincumbir-se é aspecto relevante, porém não
suficiente, pois não há dispositivo legal que ampare a contratação direta, por dispensa de
licitação (Lei 8.666/1993, art. 24) , exclusivamente na competência da instituição fornecedora. Por
outro lado, as situações de contratação por inexigibilidade (Lei 8.666/1993, art. 25) não se
aplicam ao caso concreto.

117. Conclusão: a decisão de contratar a FBC para realizar Exames de Suficiência (2016-2017) se
deu previamente à justificativa e à pesquisa de preços. Resposta à oitiva não aceita e razões de
justificativa rejeitadas. Irregularidade não elidida, o que fundamentará proposta de multa ao
Responsável, conforme Matriz de Responsabilização e Proposta de Encaminhamento. Em seção
posterior desta instrução técnica serão analisados aspectos mais graves da relação entre o CFC e
a FBC.

Audiência e Oitiva: Convênio com a FBC, para realização do V Encontro Luso-Brasileiro de


Contabilidade, sem caracterização de interesse recíproco e sem licitação
§ Documento Texto da Oitiva e/ou Audiência

celebração de convênio entre o CFC e a FBC para realização do evento


intitulado 'III sic [V] Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade', sem que
Despacho- estivesse caracterizado o interesse recíproco ante a natureza contratual
Relator
118.1. da avença, conforme evidenciado na cláusula 6.3, e sem a realização de
(§ 3.j) prévia licitação ou sem a caracterização de dispensa, acompanhada
de prévia justificativa e cotação de preços, em desacordo com os arts.
2º e 26 da Lei 8.666/1993.

celebrar 'convênio' com a Fundação Brasileira de Contabilidade para a


Oitiva-CFC realização do 'V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade' (2014) ,
118.2. apesar da existência de interesses opostos entre o Conselho e a
Of-0238 (§
1.c) Fundação, o que caracteriza a exigência da realização de um contrato,
conforme art. 2°, § único, da Lei 8.666/1993.
, ,

118.3. Audiência celebrar 'convênio' com a Fundação Brasileira de Contabilidade para a


realização do 'V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade' (2014) ,
Presidente
apesar da existência de interesses opostos entre o Conselho e a
Fundação, o que caracteriza a exigência da realização de um contrato,
Of-0239 (§
conforme art. 2°, § único, da Lei 8.666/1993.
1.c)

119. Resposta do CFC à oitiva: sob a ótica estritamente documental do instrumento trazido ao
processo, de fato, não se permite chegar a outra conclusão, senão de que teríamos um contrato
em essência.

120. Em 2008, o CFC acordou com a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal (CTOC)
a elaboração do projeto de cooperação, do qual resultou a realização de seminários e eventos
voltados ao aperfeiçoamento da profissão sob aspectos educacionais e de fiscalização
profissional. Ao atrair parte desses seminários para o Brasil, o CFC entendeu que a solução mais
apropriada seria a execução descentralizada da atividade, embora o Decreto-Lei 9.295/1946,
recentemente reformado pela Lei 12.249/2010, lhe concedesse autorização para execução direta,
concluindo que a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) deteria melhores condições
logísticas para atendimento dessa demanda.

121. A FBC foi adicionada como colaboradora à avença entre o CFC e a CTOC, por intermédio de
projeto da feira de negócios, por meio do qual era realizada a captação de recursos de
patrocínio. Diversamente da interpretação emprestada na análise técnica, as cláusulas tratadas
não divisam interesses antagônicos, e sim recíprocos a considerar:

não houve transferências de recursos orçamentários do CFC com efeito remuneratório, para que
a Fundação Brasileira de Contabilidade procedesse a entrega do evento de forma pronta e
acabada para usufruto do CFC e da CTOC;

a FBC é uma entidade privada sem fins lucrativos com previsão estatutária e habilitada ao apoio
de atividades relacionadas à avença tratada entre o CFC e a CTOC, especialmente quanto a
atividades voltadas ao desenvolvimento profissional da classe contábil; e

a própria jurisprudência do Tribunal de Contas da União admite o pagamento de despesas


administrativas no caso de convênio.

122. As partes não entabularam qualquer cláusula resolutiva visando lucro ou contraprestação
em bens e serviços, mas sim o rateio de despesas e benefícios eventualmente ocorridos com a
execução do objeto. Aliás, nesse particular, o déficit apurado no referido evento (conforme
consta da prestação de contas) denota de forma clara e transparente o interesse mútuo nas
relações entre CFC e FBC. Ora, os eventos voltados à Educação Continuada prevista na Lei
12.249/2010 têm como finalidade precípua a multiplicação de conhecimentos para todos os
profissionais registrados nos 27 Conselhos Regionais de Contabilidade de todo o país. É fato que
nem todas as regiões possuem profissionais com poder aquisitivo suficiente para participar de
determinados eventos. Mesmo assim, não pode e não deve o CFC deixar de levar o
conhecimento e cumprir uma das suas funções institucionais como é o caso da Educação
Continuada.

123. A questão é que esse tipo de evento não visa lucro, o que certifica mais uma vez o princípio
da absoluta convergência mútua e institucional entre o CFC e a FBC como entidades sem fins
lucrativos.

124. De fato, o CFC, tendo em vista a sua característica atípica e não vinculação a nenhum dos
Ministérios, não dispõe de regramento próprio e específico acerca de convênios. Todavia,
considerando a sua natureza pública, segue os princípios básicos da Administração Pública,
como também alguns regramentos direcionados às entidades públicas vinculadas à União,
evidentemente que, naquilo que couber, pois os Conselhos não integram o orçamento da União
e não fazem parte da Lei de Diretrizes Orçamentárias.

125. Veja-se que o convênio firmado pelo CFC com a FBC, que é uma entidade privada sem fins
lucrativos, estabelece a contrapartida de 10% (dez por cento) calculada sobre a receita de
patrocínio, e não sobre o valor total do objeto que, nesse caso, seria o V Encontro Luso-Brasileiro
de Contabilidade. Ou seja, mais uma vez o CFC demonstra a obediência aos princípios e normas,
como também, o aspecto econômico e razoável da parceria. Nota-se que caso o CFC decidisse
adotar a contratação, por licitação, de empresa especializada, além da dificuldade em definir as
atividades e o objeto, como também o risco de a prestação dos serviços ser realizada de forma
adequada e satisfatória, o custo seria absurdamente superior à contrapartida acordada com a
conveniada.

126. O CFC teve o cuidado de não favorecer ou admitir o recebimento pela conveniada de
contrapartida financeira diversa do acordado, delimitando de forma acertada que nenhum
recurso orçamentário do CFC seria repassado à FBC. Como dito, a média de valor cobrado por
uma empresa especializada em eventos dessa natureza gira em torno de 15 a 20% (vinte por
cento) da receita total do evento. No caso presente e conforme restará demonstrado pela
prestação de contas, a contrapartida deverá ficar bem abaixo do valor que poderia ter sido
cobrado no caso de contratação de empresas comerciais, o que configura a economicidade do
convênio e a obediência às regras basilares dos princípios da Administração Pública (pç. 87, p. 5-
7) .

127. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) : o
Decreto-Lei 9.295/1946, art. 6º, al. 'f' - alterado pela Lei 12.249/2010 - atribui ao CFC a
competência para regular a educação continuada dos profissionais da contabilidade. Nesse
sentido, o CFC realiza parcerias com entidades que tenham por objetivo o fomento da educação
continuada, sem objetivo de lucro, mas, sim, de fortalecimento da Ciências Contábeis no país.

128. No caso em tela, a FBC é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como finalidade
estatutária desenvolver, fomentar, realizar ou participar de projetos, eventos nacionais e
internacionais ou quaisquer outras iniciativas que tenham por escopo desenvolver ou divulgar os
procedimentos técnicos, atualizações da área contábil, cultura, costumes e herança histórica
inerente ao oficio da profissão e do profissional da contabilidade.

129. No âmbito da educação continuada, anualmente, são realizados, em média, 4 mil eventos,
capacitando cerca de 293 mil profissionais da contabilidade em todo o país. O Programa de
Educação Continuada tem como principal objetivo manter, atualizar e expandir os
conhecimentos e competências técnicas dos profissionais da contabilidade.

130. Atualmente, estão obrigados a cumprir o Programa de Educação Profissional Continuada os


profissionais registrados no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI) , os
registrados no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) e os profissionais que exercem a
atividade de auditoria independente, como sócios, responsáveis técnicos ou em cargo de direção
ou gerência técnica de firmas de auditoria e de organizações contábeis que tenham
explicitamente em seu objeto social a previsão de atividade de auditoria independente. É
importante destacar que, além dos profissionais que são obrigados a prestar contas ao
Programa de Educação Profissional Continuada (EPC) , o CFC incentiva a participação voluntária.
Essa iniciativa tem obtido sucesso, já que, em 2018, o Conselho recebeu mais de 32 mil
prestações de contas ao EPC.

131. Visando atender à obrigatoriedade estabelecida pela NBC PC 12, o CFC credenciou em 2018
mais de 7 mil cursos e eventos e credenciou 124 instituições capacitadoras. Portanto, para
atender ao universo de mais de 530 mil profissionais da contabilidade, alocados nas capitais e,
principalmente, nos interiores, faz-se necessária a ampliação das parcerias institucionais,
preferencialmente, aquelas firmadas com entidades sem fins lucrativos.

132. Convém destacar que há evidenciada carência de oferta de cursos de capacitação aos
profissionais de contabilidade fora dos grandes centros metropolitanos, o que torna um desafio
para o CFC levar o conhecimento a essas regiões e cumprir a sua missão precípua de
disseminação do conhecimento contábil no país. Nesse sentido, observa-se que o objeto da
questão ora em análise encontra-se alinhado com os objetivos do Programa de Educação
Continuada, visto que o encontro foi realizado no interior do país, possibilitando a expansão de
conhecimentos técnicos e de habilidades multidisciplinares aos profissionais carentes de
capacitação, independente do resultado financeiro que, no caso em tela, foi deficitário.

133. Além disso, em 9 de maio de 2008, o Conselho Federal de Contabilidade firmou protocolo
com a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal para idealização e promoção da
implementação do projeto de Transferência de Conhecimento da Profissão Contábil nos países
de língua portuguesa, visando ao intercâmbio de conhecimentos e experiências da contabilidade
e fiscalização da profissão contábil entre os países. Desse termo, resultou a realização de
seminários para o aperfeiçoamento da profissão contábil e o Encontro Luso-Brasileiro de
Contabilidade, com a primeira edição realizada no Brasil e, no ano seguinte, em Portugal, sendo
esse formato mantido até o corrente exercício.
134. Em cumprimento ao objetivo do projeto, consta da Cláusula 3a do referido protocolo a
constituição de um comitê gestor ao nível estratégico com poder de decisão, composto de 5
(cinco) membros de cada país. Como representantes do Brasil, o Comitê Gestor foi composto de
participantes do CFC e da FBC, demonstrando a corresponsabilidade e a mútua colaboração
entre os signatários para a execução do projeto, com vistas à disseminação de conhecimento.
Não há, portanto, que se falar em interesses opostos entre o CFC e a FBC, em vista da
convergência das entidades para a realização do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade,
demonstrando o interesse recíproco entre as partes e ratificando as características necessárias de
um convênio.

135. Cabe destacar ainda a inexistência de transferência de recursos voluntários entre o CFC e a
FBC e o fato de que o evento em questão apresentou resultado deficitário na ordem de mais de
R$ 60 mil, o que só corrobora os objetivos de mútua colaboração institucional entre as entidades
sem fins lucrativos. Importante mencionar que a FBC arcou com o prejuízo do evento, tendo em
vista que os valores arrecadados não cobriram os custos de sua realização. Portanto a FBC
colaborou com recursos próprios para a sustentabilidade do evento, fato esse que comprova o
compromisso da entidade com o êxito do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade, fruto do
projeto de transferência do conhecimento entre países de língua portuguesa (pç. 91, p. 7-10) .

136. Análise: o valor total arrecadado pela Conveniada (FBC) referente ao V Encontro Luso-
Brasileiro de Contabilidade foi de R$ 51.195,30, contabilizadas as inscrições e patrocínios (pç.
100, p. 2) .

137. Natureza do instrumento: a argumentação dos Responsáveis, quanto à natureza da


avença (pç. 12) , é apenas parcialmente procedente, existindo elementos minoritários de uma
relação convenial:

a) embora os objetivos das duas instituições sejam distintos, pode ser identificado algum grau
de convergência no que se refere à realização de eventos: o Estatuto-FBC, art. 2º (pç. 73, p.1) ,
inclui entre as finalidades da instituição a realização de eventos nacionais e internacionais, já a
Resolução-CFC 1.458/2013 - Regimento Interno, art. 1º, § 1º (pç. 91, p. 32) , estabelece as
competências do CFC: registrar, fiscalizar, orientar, disciplinar o exercício da profissão, regular
sobre o Exame de Suficiência e editar Normas Brasileiras de Contabilidade;

b) o fato de a FBC não ter fins lucrativos; e

c) também consta no Termo do Convênio cláusula que permite a qualquer das partes a denúncia
imotivada do instrumento e sem qualquer ônus, desde que o faça com antecedência de trinta
dias (pç. 12, p. 2) .

138. Por outro lado, os elementos característicos de relação contratual são majoritários:

a) a realização de eventos é atividade empresarial típica, existindo muitas empresas dedicadas a


essa finalidade, em troca de remuneração, participação em inscrições ou patrocínios;

b) a distinção entre os objetivos das duas instituições, conforme descrita no parágrafo anterior;
c) a delegação à Conveniada (FBC) da competência de arrecadar valores de inscrição e de
patrocínio (pç. 12, p. 3) ;

d) a previsão de remuneração da Conveniada (FBC) correspondente a 10% do total arrecadado


(pç. 12, p. 3) ;

e) a atribuição de obrigações distintas às partes (pç. 12, p. 3-4) , prevendo, inclusive que caberia
à Conveniada a contratações de terceiros 'que se fizerem necessárias para a realização do
objeto';

f) a Conveniada (FBC) teria que realizar contratações para cumprir o Convênio, como de fato o
fez: locação de espaços, fornecimento de alimentação, pessoal temporário, locação de
equipamentos, sonorização, cobertura fotográfica, fornecimento de materiais (pç. 100, p. 17-24,
37, 41, 42, 49, 60, 65, 73) ; a eventual prerrogativa de denúncia imotivada unilateral do
instrumento 'livre de qualquer ônus' não poderia ser exercida sem que incidisse ônus a uma ou
ambas as partes, o que caracteriza relação contratual;

g) estabelecimento do Foro da Seção Judiciária de Brasília para dirimir desavenças resultantes de


eventuais pretensões opostas (pç. 12, p. 5) ; e

h) o próprio reconhecimento, manifestado em resposta à oitiva, pelo CFC, de que 'sob a ótica
estritamente documental do instrumento trazido ao processo, de fato, não se permite chegar a
outra conclusão, senão de que teríamos um contrato em essência' (pç. 87, p. 5) .

139. Conclusão: considerando o conjunto de atributos relacionados nos parágrafos anteriores,


tratou-se de relação contratual. Irregularidade não elidida, o que fundamentará proposta de
multa ao Responsável, conforme Matriz de Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.
Na seção subsequente desta instrução técnica serão analisados aspectos mais graves da relação
entre o CFC e a FBC.

Indícios de fraude e gravidade das infrações

140. Os exames constantes nas duas seções anteriores, que trataram dos contratos e do
convênio firmados entre o CFC e a FBC, com base nos elementos presentes nos autos, inclusive
os juntados pelas partes, revelaram indícios de fraude à licitação, conflito de interesses, com
violação dos princípios da impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade administrativa.

141. Materialidade dos Exames de Suficiência: considerando que nas dez edições do Exame de
Suficiência pactuadas entre o CFC e a FBC (2011-2015) inscreveram-se 400.000 candidatos (pç.
91, p. 6) ; considerando a média prevista de 55.000 candidatos/edição no período de 2016-2017
(pç. 42, p. 5) ; considerando quatro edições no período 2016-2017; considerando a inscrição no
valor atual de R$ 110,00; e considerando que R$ 35,00/inscrição é repasse ao Contratante (CFC)
pela Contratada (FBC) ; a 'ordem de grandeza' do valor total das inscrições atualizado é de R$
68.200.000,00 (2011-2017) , correspondendo R$ 46.500.000,00 ao valor das contratações, e o
restante ao repasse da FBC ao CFC.
142. Materialidade do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014: o valor total
arrecadado pela Convenente (FBC) referente ao V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade foi
de R$ 51.195,30, contabilizadas as inscrições e patrocínios (pç. 100, p. 2) . Ocorreram outros
eventos mediante ajustes entre o CFC e a FBC, que não são objeto deste processo.

143. Arrecadação de receita própria: elucida-se, preliminarmente, que os contratos e o


convênio em causa, celebrados pelo CFC com a FBC envolvem não apenas a prestação de
serviço, mas também a delegação para arrecadar receitas próprias do Conselho.

144. Os contratos dos Exames de Suficiência previram que a Contratada (FBC) deveria cobrar dos
candidatos a taxa de inscrição, repassando ao Contratante (CFC) um valor fixo (no caso referente
ao biênio 2016-2017) ou o excedente ao final (no caso do biênio 2014-2015) . Ocorre que esses
valores são receitas próprias do CFC, definidas em lei:

Decreto-Lei 9.295/1946

Art. 6º São atribuições do Conselho Federal de Contabilidade:

[...]

f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação


técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade
de natureza técnica e profissional.

[...]

Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão
após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo
Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de
Contabilidade a que estiverem sujeitos.

Lei 11.000/2004

Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar, cobrar


e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas
e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas
próprias de cada Conselho.

145. Assim sendo, os contratos referentes aos Exames de Suficiência não são apenas de
prestação de serviços, mas preveem a delegação à instituição privada (FBC) da cobrança de um
'preço de serviço', cuja competência de arrecadação é atribuída em lei ao CFC. Também no caso
de eventos, como o V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014, o próprio CFC reconhece
e advoga que são parte da 'Educação Continuada' (pç. 87, p. 5-6) , portanto competências legais
do Conselho, constituindo-se as inscrições em 'preços de serviço' previstos em lei.
146. Direcionamento institucional à FBC sem amparo legal: há dispositivos regulamentares
do CFC que direcionam o Conselho Federal e os Conselhos Regionais a favorecer a FBC, para os
quais (dispositivos) não há amparo legal, além de caracterizarem descumprimento dos princípios
da impessoalidade, moralidade e isonomia:

Resolução-CFC 1.458/2013 - Regimento do CFC (pç. 102, p. 38-39)

Art. 12. Compete ao CFC, por meio do Plenário:

XXX - firmar parcerias e convênios com a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) para a
realização de atividades voltadas ao Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC,
repassando, quando couber, recursos para a execução das atividades mediante prestação de
contas;

Resolução-CFC 1.370/2011 - Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade (pç. 102, p. 11,
14)

Art. 17. Ao CFC compete:

XV - colaborar nas atividades-fins da Fundação Brasileira de Contabilidade;

Art. 18. Ao CRC compete:

XIX - colaborar nas atividades-fins da Fundação Brasileira de Contabilidade;

147. Tanto a Ata de Constituição da FBC (pç. 28, p. 4-8) , quanto seu Estatuto (pç. 73, p. 1-16) ,
caracterizam a Fundação como instituição privada, inexistindo fundamento legal para que ela
seja favorecida pelo CFC ou pelos CRCs.

148. A relação do CFC (equiparado a autarquia) com a FBC (instituição privada) evidencia-se
contraditória, na medida em que o Conselho favorece a Fundação por meio dos atos normativos
mencionados, ao mesmo tempo que se exime de conhecê-la, a exemplo de resposta à diligência
do Tribunal solicitando 'documentação atinentes à criação da Fundação Brasileira de
Contabilidade' (pç. 6) :

Ofício 893/2015/Direx-CFC (pç. 10) :

No que se refere à documentação atinente à criação da Fundação Brasileira de Contabilidade


(FBC) - letra 'b' do ofício-, esclarecemos que este Conselho Federal não detém essas
informações, devendo a solicitação ser remetida à própria FBC que funciona no endereço SIG,
Qd.01, Lotes 495,505,515, Salão 001, 4º andar, Ed. Barão do Rio Branco, Brasília/DF, CEP: 70.610-
410.

149. Se a relação entre o CFC e a FBC é suficientemente estreita para que atos normativos do
CFC a favoreçam, mostra-se incongruente o Conselho desconhecer o documento básico da FBC,
que é sua Ata de Fundação,
150. Evidências de conflito de interesses e violação aos princípios da impessoalidade e da
moralidade: dirigentes do CFC e da FBC alternam-se ao longo do tempo:

a) dentre os instituidores (fundadores) da FBC, um havia ocupado a Presidência do CFC e dois


viriam a ocupá-la nos anos subsequentes (pç. 28, p. 3-8; pç. 103) ;

b) quatro Presidentes da FBC foram também Presidentes do CFC (pç. 103) , como se observa no
quadro seguinte:
§ Presidentes do CFC e da FBC

Fundador ou
Nome CPF Presidente do CFC
Presidente da FBC

Fundador

***.453.493- 07/01/1994- Presidente


b.1. Jose Maria Martins Mendes
** 31/12/1997
24/03/1998-
31/12/2001

01/01/2006-
31/12/2007 Presidente
Maria Clara Cavalcante ***.246.974-
b.2.
Bugarim ** 01/01/2008- 2002-2005
31/12/2009

***.808.773- Presidente
b.3. Jose Antonio de França
**
07/03/2006-2009

01/01/2004-
31/12/2005
Presidente
***.379.393- 07/01/2014-
b.4. Jose Martonio Alves Coelho
** 31/12/2015 04/02/2010-
13/01/2014
06/01/2016-
31/12/2017

01/01/2010-
Presidente
***.700.439- 31/12/2011
b.5. Juarez Domingues Carneiro 13/01/2014-
**
01/01/2012-
09/02/2018
31/12/2013

b.6. Adeildo Osorio de Oliveira ***.334.965- Presidente


**
09/02/2018
09/02/2018-

***.895.430- 03/01/1990-
b.7. Ivan Carlos Gatti Fundador
** 31/12/1993

***.953.198- 01/01/1998-
b.8. José Serafim Abrantes Fundador
** 31/12/2001

Fonte/evidência: pç. 28, p. 3-


b.9.
8; 103

c) o CFC esteve sob a Presidência de fundadores ou de Presidentes (passados ou futuros) da FBC


durante 26 anos ao longo do período de 29 anos, que transcorreu entre 1990 e 2018, ou seja,
treze mandatos bianuais, como se verifica no quadro seguinte:
Presidentes do CFC e da
§
FBC

Ano Presidentes do CFC Presidentes da FBC

Ivan Carlos Gatti (Fundador da


c.1. 1990
FBC)

Ivan Carlos Gatti (Fundador da


c.2. 1991
FBC)

Ivan Carlos Gatti (Fundador da


c.3. 1992
FBC)

Ivan Carlos Gatti (Fundador da


c.4. 1993
FBC)

Jose Maria Martins Mendes


c.5. 1994
(Fundador da FBC)

Jose Maria Martins Mendes


c.6. 1995
(Fundador da FBC)

Jose Maria Martins Mendes


c.7. 1996
(Fundador da FBC)

Jose Maria Martins Mendes


c.8. 1997
(Fundador da FBC)

José Serafim Abrantes (Fundador Jose Maria Martins


c.9. 1998
da FBC) Mendes

c.10. 1999 José Serafim Abrantes (Fundador Jose Maria Martins


da FBC) Mendes
da FBC) Mendes

José Serafim Abrantes (Fundador Jose Maria Martins


c.11. 2000
da FBC) Mendes

José Serafim Abrantes (Fundador Jose Maria Martins


c.12. 2001
da FBC) Mendes

Maria Clara Cavalcante


c.13. 2002
Bugarim

Maria Clara Cavalcante


c.14. 2003
Bugarim

Maria Clara Cavalcante


c.15. 2004 Jose Martonio Alves Coelho
Bugarim

Maria Clara Cavalcante


c.16. 2005 Jose Martonio Alves Coelho
Bugarim

c.17. 2006 Maria Clara Cavalcante Bugarim Jose Antonio de França

c.18. 2007 Maria Clara Cavalcante Bugarim Jose Antonio de França

c.19. 2008 Maria Clara Cavalcante Bugarim Jose Antonio de França

c.20. 2009 Maria Clara Cavalcante Bugarim Jose Antonio de França

Jose Martonio Alves


c.21. 2010 Juarez Domingues Carneiro
Coelho

Jose Martonio Alves


c.22. 2011 Juarez Domingues Carneiro
Coelho

Jose Martonio Alves


c.23. 2012 Juarez Domingues Carneiro
Coelho

Jose Martonio Alves


c.24. 2013 Juarez Domingues Carneiro
Coelho

Juarez Domingues
c.25 2014 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro

Juarez Domingues
c.26. 2015 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro

Juarez Domingues
c.27. 2016 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro

c 28 2017 Jose Martonio Alves Coelho Juarez Domingues


c.28. 2017 Jose Martonio Alves Coelho Juarez Domingues
Carneiro

c.29. 2018 Adeildo Osorio de Oliveira

Fonte/Evidência: pç. 28,


c.30.
p. 3-8; 103

151. Os quadros anteriores demonstram a coincidência e/ou estreita proximidade entre os


administradores do CFC e da FBC ao longo das três últimas décadas, comprometendo a
impessoalidade e gerando conflito de interesses nas relações contratuais ou conveniais entre as
duas instituições, das quais (relações) os contratos e o convênio analisados nesta instrução são
exemplos concretos.

152. Indícios de fraude no caso concreto - Contrato Exames de Suficiência/2016-2017


(Processo: 2015/001251) : no presente caso concreto, há indícios de conluio, conflito de
interesses e descumprimento dos princípios da impessoalidade e moralidade:

a) a aprovação do Plenário-CFC (em 23/10/2015) à contratação da FBC deu-se antes da pesquisa


de preços (iniciada em novembro/2015) , conforme demonstrado nos parágrafos anteriores (pç.
42, p. 3, 19-24) ;

b) a homologação do Presidente do CFC (em 23/10/2015) à contratação da FBC também se deu


antes da pesquisa de preços (iniciada em novembro/2015) , conforme demonstrado nos
parágrafos anteriores (pç. 42, p. 3, 19-24) ;

c) a homologação do Presidente do CFC (em 23/10/2015) à contratação da FBC também se deu


antes da elaboração do Termo de Referência (de 26/10/2015) (pç. 42, p. 3-15) ;

d) a proposta da FBC (de 27/10/2015) foi apresentada no dia seguinte à elaboração do Termo de
Referência (de 26/10/2015) , o que é indício de que a FBC detinha informação privilegiada (pç.
42, p. 4-18) ;

e) a suposta pesquisa de preços foi intempestiva (iniciada após a decisão de contratar a FBC) (pç.
42, p. 16-24) , descumprindo a Lei 8.666/1993, art. 26;

f) a suposta pesquisa de preços foi insuficiente para avaliar o preço de mercado da contratação,
evidenciando desinteresse do CFC em fazê-lo (pç. 42, p. 16-24) , descumprindo a Lei 8.666/1993,
art. 26;

g) os signatários do Contrato referente aos Exames de Suficiência/2016-2017 foram (pç. 42, p.


85-99) :

g1) Presidente do CFC (07/01/2014-31/12/2017) : José Martonio Alves Coelho (ex-Presidente da


FBC (04/02/2010-13/01/2014) ; e

g2) Presidente da FBC (13/01/2014-09/02/2018) : Juarez Domingues Carneiro (ex-Presidente do


CFC (2010-2013) ; e
( );

h) os signatários do Contrato referente aos Exames de Suficiência/2014-2015, assinado em


18/12/2013 (pç. 11, p. 1-4) , haviam sido os mesmos, porém em polos opostos:

h1) Presidente do CFC: Juarez Domingues Carneiro (na ocasião, futuro Presidente da FBC
(13/01/2014-09/02/2018) ) ; e

h2) Presidente da FBC: José Martonio Alves Coelho (na ocasião, futuro Presidente do CFC
(07/01/2014-31/12/2017) .

153. Manifesto conflito de interesses na resposta à pesquisa de preços referente aos


Exames de Suficiência/2016-2017: um dos documentos que deu suporte à suposta pesquisa
de preços (resposta ao pedido de cotação do CFC, a fim de instruir a 'pesquisa de preços',
endereçado ao Departamento de Ciências Contábeis Atuariais da Universidade Nacional de
Brasília (DCCA/UNB) ) foi assinado por ex-Presidente da FBC, que, na ocasião, era membro do
Conselho Consultivo da mesma FBC (como ainda o é atualmente) (pç. 42, p. 23, 45; pç. 103) ,
caracterizando conflito de interesse e violação dos princípios da impessoalidade e da
moralidade; na mencionada resposta, o signatário declinou de apresentar proposta:
'Agradecemos, porém não temos interesse em participar. Att. José Antonio de França'; essa
negativa foi um dos três (3) 'orçamentos' que constituíram a pesquisa de preços.

154. Termo de Referência intempestivo e insuficiente para a contratação dos Exames de


Suficiência/2016-2017: o Projeto Básico (ou Termo de Referência) deve preceder a decisão de
contratar e estar fundamentado em estudos técnicos preliminares atualizados. No caso concreto,
a decisão de contratar (em 23/10/2015) se deu antes da elaboração do Termo de Referência (de
26/10/215) (pç. 42, p. 3-15) , e o referido Termo não se baseou em estudos preliminares
detalhados nem apresentou orçamento detalhado, que permitiria avaliação por possíveis
interessados. Essas deficiências são reconhecidas pelo próprio CFC, em resposta à oitiva: ' (...)
parece-nos que a própria instrução do processo acena para viabilidade da contratação, ainda
que o termo de referência tenha se revelado omisso ou carecido de estudos mais robustos a
respeito desse tipo de contratação' (pç. 87, p. 4) .

155. Parecer Jurídico (Exames de Suficiência/2016-2017) : o Parecerista Jurídico (signatário:


Rodrigo Magalhães de Oliveira, Coordenador Jurídico) mencionou os documentos presentes no
processo, citou a jurisprudência, argumentou e concluiu: 'tão somente no que traz pertinência
aos seus aspectos jurídico-formal, e abstraída qualquer consideração acerca da conveniência e
oportunidade que se tem em vista, concluímos pela sua juridicidade' (pç. 42, p. 71-73) . Não se
manifestou sobre outros aspectos jurídico-formais que permitiriam caracterizar o
direcionamento da contratação, como: a sequência de eventos, a decisão de contratar
previamente à pesquisa de preços, a insuficiência dessa pesquisa, a intempestividade e
deficiência do Termo de Referência, o conflito de interesses presente em uma das propostas, o
conflito de interesses entre as partes contratantes, mencionados em parágrafos anteriores:
aspectos jurídico-formais cujas irregularidades estiveram ao alcance de um parecerista jurídico
mediano.
156. Indícios de fraude no caso concreto - Contrato Exames de Suficiência/2014-2015
(Processo: 2013/001345) : esse Contrato padece de vícios similares, que caracterizam conflito
de interesse e violação dos princípios da impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade
administrativa. O referido Contrato não foi objeto de audiência (embora o Relator tivesse
determinado sua inclusão (pç. 55) ) , mas será analisado porque está presente nos autos (pç. 42)
e porque o CFC e o Responsável citam o desempenho prévio da FBC, demonstrado na execução
deste Contrato, como justificativa para as contratações subsequentes:

a) o primeiro documento juntado ao processo é o Termo de Referência (TR) (pç. 42, p. 128-145) ,
datado de 08/11/2013, mas o Pedido de Contratação 502/2013 (pç. 42, p. 181-182) é de
22/10/2013, portanto anterior ao TR, e já especificava a contratação da FBC por Dispensa de
Licitação, sem apresentar justificativa;

b) o segundo documento do processo é o Estatuto da FBC (pç. 42, p. 146-178) , ausente a


justificativa para inclusão e precedendo as manifestações da Comissão de Licitações, de
pareceristas técnico e jurídico e da autoridade superior;

c) o terceiro documento do processo é a proposta da FBC (pç. 42, p. 179-180) , de 11/11/2013,


assinada por seu Presidente, José Martonio Alves Coelho (que viria a assumir a Presidência do
próprio CFC em 01/01/2014) ;

d) o quarto documento é o citado Pedido de Contratação 502/2013;

e) o quinto documento, de 14/11/2013, é o Parecer da Comissão Permanente de Licitação,


favorável à contratação da FBC por dispensa de licitação, no que foi acompanhado pela
Coordenadoria de Execução Administrativa (pç. 42, p. 183-185) ;

f) os documentos seguintes são certidões de regularidade da FBC (pç. 42, p. 186-188) ;

g) o documento subsequente é a minuta de contrato entre o CFC e a FBC (pç. 42, p. 189-192) ;

h) em seguida foi juntado o Parecer Jurídico (pç. 42, p. 194-195) , de 26/11/2013, em resposta a
encaminhamento da Coordenação Administrativa (pç. 42, p. 193) ; o referido Parecer reconheceu
a regularidade jurídico-formal do processo, exceto no que se referia à 'comprovação de
economicidade';

i) as peças subsequentes são solicitações de proposta de orçamento, datadas de 10/12/2013,


pedindo 'se possível um retorno ainda no dia de hoje', endereçadas a dois fornecedores, e as
respectivas respostas (pç. 42, p. 196-202) : Fucape e Fipecafi;

j) na sequência, o Despacho do Presidente do CFC (de 16/12/2013) , determinando a contratação


(pç. 42, p. 203) , seguido do Contrato (pç. 42, p. 204-208) , datado de 18/12/2013, assinado pelo
Presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro e pelo Presidente da FBC, José Martonio Alves
Coelho, que trocariam entre si as presidências das respectivas instituições no mês seguinte;

k) as folhas 54 a 149 do processo original estão ausentes destes autos; e


l) as peças subsequentes são relatos de execução contratual encaminhados pelo novo Presidente
da FBC, Juarez Domingues Carneiro, endereçadas ao novo Presidente do CFC, José Martonio
Alves Coelho, ou seja: Contratante e Contratado agora em polos opostos da relação (pç. 42, p.
208-212) .

157. Termo de Referência intempestivo e insuficiente para a contratação dos Exames de


Suficiência/2014-2015: o Projeto Básico (ou Termo de Referência) deve preceder a decisão de
contratar e estar fundamentado em estudos técnicos preliminares atualizados. No caso concreto,
o pedido de contratação da FBC (de 22/10/2013) (pç. 42, p. 181-182) é anterior à elaboração do
Termo de Referência (de 08/11/213) (pç. 42, p. 128-145) , e o referido Termo não se baseou em
estudos preliminares detalhados nem apresentou orçamento detalhado, que permitiria avaliação
por possíveis interessados.

158. Indícios de conluio nas respostas à pesquisa de preços referente aos Exames de
Suficiência/2014-2015: as solicitações de proposta de orçamento, datadas de 10/12/2013,
pedindo 'se possível um retorno ainda no dia de hoje', foram endereçadas a dois fornecedores,
cujos signatários haviam sido sócios em uma das entidades (pç. 42, p. 196-202) (a Fucape
também apresentou proposta com valor superior à da FBC) para os Exames de Suficiência/2016-
2017, conforme analisado em parágrafos anteriores) :

a) Fucape (CNPJ: 06.105.333/0001-61) : declinou da solicitação; signatário: Valcemiro Nossa (CPF:


***.899.417-**) (Sócio-Administrador) , que havia tido Iran Siqueira Lima como sócio na Fucape,
de 25/06/2003 a 27/11/2008 (pç. 104) ; e

b) Fipecafi (CNPJ: 46.359.865/0001-40) : apresentou proposta com valor superior ao cotado pela
FBC (R$ 123, 30 por candidato inscrito) ; signatário: Iran Siqueira Lima (CPF: ***.001.957-**)
(Presidente da Fipecafi) , ex-Sócio de Valcemiro Nossa na Fucape (pç. 104) .

159. Manifesto conflito de interesses no Contrato Exames de Suficiência/2014-2015: o


conflito de interesses e a violação aos princípios da impessoalidade e da moralidade estão
evidenciados nos autos, considerando que:

a) o então Contratante-signatário (Presidente do CFC Juarez Domingues Carneiro) , quando da


assinatura do Contrato em 18/12/2013 (pç. 42, p. 204-207) , já havia sido eleito Presidente da
Contratada, FBC, em 11/12/2013 (pç. 42, p. 42-47) e viria a ser responsável pela execução do
Contrato; e

b) similarmente, o então Contratado-signatário (Presidente da FBC José Martonio Alves Coelho) ,


quando da assinatura do Contrato em 18/12/2013 (pç. 42, p. 204-207) , já havia sido eleito
Presidente do Contratante, CFC (comprovado por sua inclusão no Conselho Consultivo da FBC)
(pç. 42, p. 45) , vindo a ser responsável pela fiscalização do Contrato.

160. Parecer Jurídico (Exames de Suficiência/2014-2015) : o Parecerista Jurídico (signatário:


Rodrigo Melo Moreira Lima, OAB-DF: 24.253) mencionou os documentos presentes no processo,
apontou a ausência de 'pesquisa, cotação de preços ou mesmo cotejo do valor que seja
praticado no mercado' citando a Súmula-TCU 250 e concluiu (pç 42 p 194-195) :
praticado no mercado , citando a Súmula-TCU 250, e concluiu (pç. 42, p. 194-195) :
(...) tão somente no que traz pertinência aos seus aspectos jurídico-formais e, abstraídas
quaisquer considerações acerca da conveniência e oportunidade que se tem em vista, não se
vislumbra óbice à continuidade do procedimento, condicionando-se, no entanto, a regularidade
e o prosseguimento licitatório às exigências apontadas e desde que mantidas as demais
conformidades legais.

161. Não houve manifestação do Parecerista Jurídico sobre outros aspectos jurídico-formais que
permitiriam caracterizar o direcionamento da contratação, como: a sequência de eventos, o
pedido de contratação da FBC anterior ao Termo de Referência, a decisão de contratar
previamente à pesquisa de preços, a insuficiência dessa pesquisa, a intempestividade e
deficiência do Termo de Referência, o conflito de interesses presente nas propostas, o conflito de
interesses entre as partes contratantes, mencionados em parágrafos anteriores: aspectos
jurídico-formais cujas impropriedades estiveram ao alcance de um parecerista jurídico mediano.

162. Conclusão: evidenciou-se a violação de Princípios Constitucionais, Princípios da Lei de


Licitações e preceitos do Código de Conduta do CFC (Resolução-CFC 1.523/2017) (pç. 102, p. 82-
95) que, inclusive, foi aprovado na gestão do Responsável então Presidente do CFC.

163. Considerando o exame formalizado nos parágrafos anteriores, conclui-se que houve
favorecimento ilegal na contratação da FBC, conflito de interesses, indícios de fraude, erros
grosseiros e violação dos princípios da impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade
administrativa, caracterizando infrações graves o que justifica a proposta de inabilitação do
Responsável para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da
Administração Pública, conforme Matriz de Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.

Jurisdição do TCU sobre os recursos obtidos pela FBC nos contratos firmados com o CFC e
destinação dos excedentes

164. O Relator instruiu que se apurasse a jurisdição do Tribunal sobre os recursos auferidos pela
FBC:
§ Documento Texto

Despacho- examine se esta Corte detém jurisdição sobre os recursos obtidos pela
Relator FBC na execução dos contratos firmados com o CFC; para que se possa
164.1.
analisar a destinação dada aos excedentes obtidos pela FBC na
(§ 9.d) execução dos referidos contratos.

165. Análise: primeiramente, faz-se necessário identificar as receitas próprias do CFC, que são
definidas em Lei:

Decreto-Lei 9.295/1946

Art. 6º São atribuições do Conselho Federal de Contabilidade:

[...]
f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação
técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade
de natureza técnica e profissional.

[...]

Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão
após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo
Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de
Contabilidade a que estiverem sujeitos.

Lei 11.000/2004

Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar, cobrar


e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas
e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas
próprias de cada Conselho.

166. Tanto as receitas com Exames de Suficiência como as oriundas de 'programas de educação
continuada' são autorizadas em lei, por relacionarem-se com as 'atribuições legais' do Conselho,
constituindo-se em suas 'receitas próprias'.

167. Já a FBC, que arrecadou receitas próprias do CFC, com base em contratos e convênio, é
instituição privada, portanto excluída da jurisdição do Tribunal.

168. No que se refere aos Exames de Suficiência, os contratos previram que a Contratada (FBC)
deveria cobrar dos candidatos a importância correspondente à taxa de inscrição ('preço de
serviço') , repassando ao Contratante (CFC) uma parcela fixa (no caso dos Exames de
Suficiência/2016-2017) (pç. 42, p. 5) , ou o excedente (no caso dos Exames de Suficiência/2014-
2015) .

169. No caso de contratos ou convênios para realização de eventos, o próprio CFC reconhece, e
mesmo advoga, que os mencionados eventos são formas de 'educação continuada':

Resposta à oitiva do CFC (pç. 87, p. 6) :

Ora, os eventos voltados à Educação Continuada prevista na Lei 12.249/2010 tem como
finalidade precípua a multiplicação de conhecimentos para todos os profissionais registrados
nos 27 Conselhos Regionais de Contabilidade de todo o país. É fato que nem todas as regiões
possuem profissionais com poder aquisitivo suficiente para participar de determinados eventos.
Mesmo assim, não pode e não deve o CFC deixar de levar o conhecimento e cumprir uma das
suas funções institucionais como é o caso da Educação Continuada.

170. Conclusão: tanto no caso dos Exames de Suficiência, como no de eventos para a 'educação
continuada', a FBC (mediante contratos ou convênio com o CFC) arrecadou 'preço de serviço'
relacionado com as 'atribuições legais' do CFC (que detém a competência legal para aquela
arrecadação)
arrecadação) .
171. Por conseguinte, propõe-se que o CFC publique prestações de contas detalhadas dos
Exames de Suficiência/2014-2015 e 2016-2017, incluindo todos os valores arrecadados pela FBC
e todas as despesas custeadas pela FBC com esses valores.

Prestação de contas do convênio para realização do V Encontro Luso-Brasileiro de


Contabilidade

172. O Relator também instruiu que se apurasse a existência da prestação de contas referente ao
V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade:
§ Documento Texto

Despacho- verifique se houve a prestação de contas do convênio firmado entre o


172.1. Relator CFC e a FBC no tocante à realização do III [V] Encontro Luso-Brasileiro
(§ 9.e) de Contabilidade.

173. Estão juntadas a este processo: cópia do Convênio de Cooperação Técnica e Cultural (pç.
12) , bem como prestação de contas referente ao V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade,
realizado em Campina Grande-PB, no período de 20-21/10/2014 (pç. 100) , que apontou o
resultado a seguir, não se apurando elementos para infirmá-lo:

a) receitas: R$ 51.195,30;

b) despesas: R$ 114.961,44; e

c) déficit: R$ 63.766,14.

CFC: Transparência

174. O CFC mantém em seu sítio na Internet (website) um Portal de Transparência onde publica
volume grande e variado de informações (https://cfc.org.br/governanca/ >> Governança >>
Portal da Transparência) . As publicações incluem: estrutura organizacional; atos normativos;
calendário de reuniões e atas das plenárias; programas, projetos, metas e resultados; execução
orçamentária; licitações; contratos, convênios e atas de registro de preços; diárias e passagens;
concurso público; quadro de pessoal; demonstrações contábeis e prestação de contas; dados
estatísticos; perguntas e respostas e outros dados relativos ao cumprimento da Lei 12.527/2011.

175. O conjunto de informações é abrangente, apresentando, inclusive, série histórica desde


2009, no que se refere às demonstrações contábeis, por exemplo. Entretanto, estão ausentes
dados importantes:

a) a estrutura organizacional e a composição de Conselhos e Câmaras resumem-se às vigentes,


sem especificação dos mandatos;

b) no que se refere às atas de reuniões, que permitiriam reconstruir, ainda que com dificuldade e
limitações, o corpo diretivo de Conselheiros, localizou-se apenas as atas de reuniões plenárias, e
somente a partir de 2016 (número 1 018) o que não permite a identificação dos dirigentes e
somente a partir de 2016 (número 1.018) , o que não permite a identificação dos dirigentes e
Conselheiros no período (relativamente recente, de 2016-2017) a que se referem os fatos
analisados neste processo;

c) convênios e contratos: publicados apenas os mais recentes e com pouca informação; e

d) atos normativos: há atos que se sabem existentes, mas que não foram encontrados no portal
de transparência, a exemplo da Portaria-CFC 73/2014.

176. Propõe-se determinação ao CFC para que publique essas informações, conforme proposta
de encaminhamento.

177. Quanto às receitas próprias do CFC, arrecadadas pela FBC por meio de avenças firmadas
com o Conselho Federal, será proposta determinação para publicação detalhada, conforme
descrito na seção anterior desta instrução técnica.

MATRIZ DE RESPONSABILIZAÇÃO

178. O exame técnico está resumido na matriz apresentada a seguir, que consolida a
responsabilização apurada. As informações referentes ao 'nexo de causalidade' estabelecem a
vinculação responsável-resultado.
Responsável: José Martonio Alves Coelho (CPF:
§
013.379.393.15) ; Presidente

Qualificação: Dirigente Máximo; Exercício: 07-01-


179.
2014 a 31-12-2017

Nexo de
Ocorrência Culpabilidade
Causalidade

Autorização para participação em evento A conduta Consciência: não


realizado em Roma (2014) de quantitativo de comissiva do há elementos nos
pessoas em desacordo com o regulamento. Responsável autos que
Fundamento: Resolução-CFC 1.089, art. 4º, § 1º. caracterizou fundamentem
erro grosseiro eventual
e infração inconsciência do
grave à Responsável em
norma legal. relação à ilicitude
da conduta, que é
de fácil
compreensão ao
gestor mediano.
Exigibilidade: é
razoável exigir
conduta diversa e
lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.

Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.

Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
inconsciência do
Responsável em
relação à ilicitude
A conduta da conduta, que é
Celebração de contratação direta em que a comissiva do de fácil
pesquisa de preços é apresentada após a escolha Responsável compreensão ao
do contratado e sem a devida justificativa: caracterizou gestor mediano.
Contrato CFC-FBC para realização dos Exames de erro grosseiro Exigibilidade: é
Suficiência/2016-2017. Fundamento: Lei e infração razoável exigir
8.666/1993, art. 26, parágrafo único, inc. II, III. grave à conduta diversa e
norma legal. lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.

Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.

Celebração de convênio na presença de A conduta Consciência: não


interesses opostos entre os conveniados: comissiva do há elementos nos
Convênio CFC-FBC para V Encontro Luso- Responsável autos que
Brasileiro de Contabilidade/2014. Fundamento: caracterizou fundamentem
Lei 8.666/1993, art. 2º, parágrafo único. erro grosseiro eventual
e infração inconsciência do
grave à Responsável em
norma legal. relação à ilicitude
da conduta, que é
de fácil
compreensão ao
gestor mediano.
Exigibilidade: é
razoável exigir
conduta diversa e
lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.

Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
Celebração de contratação direta em que a inconsciência do
pesquisa de preços é apresentada após a escolha Responsável em
do contratado e sem a devida justificativa; e relação à ilicitude
celebração de convênio na presença de interesses A conduta da conduta, que é
opostos entre os conveniados; caracterizando comissiva do de fácil
direcionamento, favorecimento, conflito de Responsável compreensão ao
interesses e violação dos princípios da caracterizou gestor mediano.
impessoalidade, moralidade, isonomia e erro grosseiro Exigibilidade: é
probidade administrativa: Contrato CFC-FBC para e infração razoável exigir
realização dos Exames de Suficiência/2016-2017; grave à conduta diversa e
Convênio CFC-FBC para V Encontro Luso- norma legal. lícita do
Brasileiro de Contabilidade/2014. Fundamento: Responsável, pois
CF/1988, art. 37, caput, Lei 8.666/1993, art. 3º, essa seria acessível
caput; art. 82, art. 116; Lei 8443/1992, art. 60. ao gestor mediano.

Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.

Evidência:

Responsável: Luiz Henrique de Souza (CPF:


§
338.097.121.91) ; Vice-Presidente

Qualificação: Dirigente; Exercício: 07-01-2014 a


180.
31-12-2017

Ocorrência Nexo de Culpabilidade


Causalidade

Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
inconsciência do
Responsável em
relação à ilicitude
A conduta da conduta, que é
comissiva do de fácil
Autorização da aquisição de passagens em classe Responsável compreensão ao
executiva sem a aprovação da presidência. caracterizou gestor mediano.
Fundamento: Resolução-CFC 1.290/2010, art. 1º, § infração à Exigibilidade: é
3º. norma legal e razoável exigir
erro conduta diversa e
grosseiro. lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.

Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.

Autorização da emissão de passagens aéreas sem A conduta Consciência: não


a comprovação da aquisição pelo menor preço omissiva do há elementos nos
(ausência de comprovação da boa e regular Responsável autos que
aplicação dos recursos públicos.) . Fundamento: caracterizou fundamentem
CF/1988, art. 70, parágrafo único; Portaria-CFC erro grosseiro eventual
73/2014, art. 2º. e inconsciência do
impossibilitou Responsável em
a relação à ilicitude
comprovação da omissão, que é
da adequada de fácil
aplicação do compreensão ao
recurso gestor mediano.
federal em Exigibilidade: é
causa. razoável exigir que
o Responsável
adotasse conduta
diversa e lícita, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.

Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.

Evidência:

181. As condutas tipificadas no quadro anterior ensejam a aplicação de multa aos responsáveis.
Adicionalmente, considerando a gravidade das infrações, propõe-se a inabilitação do
Responsável e então Presidente do CFC para o exercício de cargo em comissão ou função de
confiança no âmbito da Administração Pública.

CONCLUSÃO

182. A presente Denúncia deve ser conhecida por preencher os requisitos de admissibilidade (§
20) .

183. Os despachos do Relator referentes a audiências, oitivas e exames (pç. 55; pç. 68) , até então
pendentes, foram cumpridos (§§ 22-23; 164-173) .

184. As oitivas e audiências foram regularmente comunicadas, recebidas pelos destinatários e


oportunamente respondidas (§§ 22-139) .

185. Considerando a análise da matéria, realizada nas seções Histórico e Exame Técnico desta
instrução (§§ 2-171) ; e considerando que as razões de justificativa dos responsáveis foram
parcialmente acatadas (§§ 33-139) ; conclui-se pela procedência parcial desta Denúncia,
conforme Matriz de Responsabilização (§§ 178-181) .

186. As condutas tipificadas ensejam a proposta de aplicação de multa aos Responsáveis (§§ 43-
139; 178-181) .

187. A gravidade das infrações embasam a proposta de inabilitação do Responsável, então


Presidente do CFC, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da
Administração Pública; e também encaminhamento ao Ministério Público da União (§§ 140-163;
178-179; 181) .

188. Propõe-se determinações ao CFC para que ajuste normativos internos (§§ 43-89) .

189. Não se propõe determinação ao CFC para ajustar seus regulamentos, no que se refere ao
pagamento de diárias, aos parâmetros do Decreto 5.992/2006 e do Decreto 71.733/1973, em
razão de a mesma deliberação já ter sido formalizada no Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário, item
9.4.1.1 (§§ 37-42) .
190. Conclui-se que a FBC arrecadou receitas próprias do CFC, que estão sob a jurisdição do
Tribunal, em relação às quais propõe-se determinação ao Conselho Federal para que publique
prestações de contas detalhadas, assim como outras informações ausentes em seu sítio
eletrônico (website) (§§ 164-171; 174-177) .

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Processos Conexos
Quadro de
§ Processos
Conexos

Processo Descrição

REPRESENTAÇÃO (encerrado) : indícios de irregularidades no exame


TC
de suficiência para o exercício da profissão contábil promovido pelo
191.1. 029.729/2012-
Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo - CRC-
2
SP.

TC DENÚNCIA (encerrado) : apuração de responsabilidades e


191.2. 025.246/2016- recuperação de valores gastos na realização do 20º Congresso
0 Brasileiro de Contabilidade

REPRESENTAÇÃO (encerrado) : L&C | Aquisições logísticas | Serviços


diversos | serviços gráficos | Pregão eletrônico | Nº 30/2015 | R$
TC
13.600.000,00 |Acórdão 2.063/2017-TCU-Primeira Câmara, sessão de
191.3. 016.274/2016-
4/4/2017, por meio do qual foi determinado a audiência dos
4
responsáveis e a abertura da Tomada de Contas Especial TC
008.135/2017-7.

REPRESENTAÇÃO (encerrado) : Cooperação Técnica celebrado entre


TC
o Conselho Federal de Contabilidade - CFC e a Federação
191.4. 018.564/2016-
Internacional de Contadores - IFAC com pagamentos mensais no
0
valor de R$ 150.000,00.

TC DENÚNCIA (encerrado) : referente ao Conselho Federal de


191.5. 034.260/2016- Contabilidade para apurar responsabilidades e recuperar valores
1 gastos indevidamente.

TC RELATÓRIO DE AUDITORIA: FOC Conselhos de Fiscalização


191.6. 036.608/2016- Profissional: fiscalização da legalidade e legitimidade dos atos de
5 gestão.

191.7. TC TCE (encerrado) : conversão do processo de Representação (TC


008.135/2017- 016.274/2016-4) em Tomada de Contas Especial conforme disposto
7 no item 9 2 do Acórdão 2063/2017-TCU-1ª Câmara
7 no item 9.2 do Acórdão 2063/2017-TCU-1 Câmara.

TC DENÚNCIA: irregularidade na relação entre o Conselho Federal de


191.8. 029.512/2017- Contabilidade - CFC e a Academia Brasileira de Ciências Contábeis -
4 ABRACICON.

TC
REPRESENTAÇÃO (encerrado) : supostas irregularidades ocorridas
191.9. 028.642/2017-
na execução do 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade.
1

TC DENÚNCIA (encerrado) : supostas irregularidades nas eleições da


191.10. 032.659/2017- diretoria, na aplicação de recursos e na celebração de convênios do
2 Conselho Federal de Contabilidade.

192. Embora exista conexão da matéria tratada nestes autos com a dos processos não
encerrados, constantes do quadro anterior, principalmente o TC 029.512/2017-4, não se propõe
qualquer medida em relação a eles.

193. A última prestação de contas do CFC refere-se ao Exercício/2001 (TC 014.057/2002-1) e não
é afetada por deliberações propostas nesta Denúncia.

194. Esta instrução técnica foi parcialmente gerada com o uso de sistema informatizado
desenvolvido pelo instrutor deste processo. A formatação conforma-se aos normativos em vigor,
embora não corresponda à aparência usual.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

195. Conhecer da presente Denúncia, satisfeitos os requisitos de admissibilidade. Fundamento:


Lei 8.443/1992, art. 53, caput; RI-TCU/2002, art. 234, caput, art. 235, caput.

196. Considerar a presente Denúncia, no mérito, parcialmente procedente. Fundamento: Lei


8.443/1992, art. 1º, inc. XVI; RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XXIV.

197. Acatar parcialmente as razões de justificativa do (s) Responsável (eis) a seguir qualificado (s)
. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. XVI; RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XXIV.

§ CPF/CNPJ

197.1. José Martonio Alves Coelho CPF: 013.379.393.15

197.2. Luiz Henrique de Souza CPF: 338.097.121.91

198. Aplicar, individualmente, multa ao (s) Responsável (eis) a seguir identificado (s) , em razão
da (s) respectiva (s) conduta (s) , com a fixação de prazo de quinze (15) dias, a contar da
notificação, para que comprove (m) , perante o Tribunal, o recolhimento da dívida em favor do
Tesouro Nacional; e, caso paga após o vencimento, atualizada monetariamente desde a data do
Acórdão que vier a ser proferido até o dia do efetivo recolhimento, na forma da legislação em
vigor. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 58, inc. II; RI-TCU/2002, art. 250, § 2º, art. 268, inc. II.
§

198.1. José Martonio Alves Coelho (CPF: 013.379.393.15) - Responsável

Autorização para participação em evento realizado em Roma (2014) de quantitativo


198.1.1. de pessoas em desacordo com o regulamento. Fundamento: Resolução-CFC
1.089/2007, art. 4º, § 1º.

Celebração de contratação direta em que a pesquisa de preços é apresentada após a


escolha do contratado e sem a devida justificativa: Contrato CFC-FBC para realização
198.1.2.
dos Exames de Suficiência/2016-2017. Fundamento: Lei 8.666/1993, art. 26,
parágrafo único, inc. II, III.

Celebração de convênio na presença de interesses opostos entre os conveniados:


198.1.3. Convênio CFC-FBC para V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014.
Fundamento: Lei 8.666/1993, art. 2º, parágrafo único.

198.2. Luiz Henrique de Souza (CPF: 338.097.121.91) - Responsável

Autorização da aquisição de passagens em classe executiva sem a aprovação da


198.2.1.
presidência. Fundamento: Resolução-CFC 1.290/2010, art. 1º, § 3º.

Autorização da emissão de passagens aéreas sem a comprovação da aquisição pelo


menor preço; ausência de comprovação da boa e regular aplicação dos recursos
198.2.2.
públicos. Fundamento: CF/1988, art. 70, parágrafo único; Portaria-CFC 73/2014, art.
2º.

199. Fixar o prazo de quinze (15) dias, a contar da notificação, para que o (s) responsável (eis)
comprove (m) , o recolhimento da (s) respectiva (s) dívida (s) aos cofres do Tesouro Nacional; e
caso paga (s) após o vencimento, atualizada (s) monetariamente desde a data do Acórdão que
vier a ser proferido até o dia do efetivo recolhimento. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. IX;
RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XIV, art. 269.

200. Autorizar a cobrança judicial da (s) dívida (s) , caso o (s) responsável (eis) não comprove (m)
o recolhimento até a expiração do prazo estabelecido. Fundamento: CF/1988, art. 71, § 3º.

201. Autorizar, caso solicitado e o processo não tenha sido remetido para cobrança judicial, o
pagamento da (s) dívida (s) em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, fixando-se
o vencimento da primeira parcela em quinze (15) dias, a contar do recebimento da notificação, e
o das demais a cada mês, devendo incidir sobre cada valor mensal os correspondentes
acréscimos legais, na forma prevista na legislação em vigor; alertando o (s) responsáveis de que
a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela implicará o vencimento antecipado
do saldo devedor. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XIV.
202. Inabilitar o responsável (eis) a seguir identificado (s) para o exercício de cargo em comissão
ou função gratificada no âmbito da Administração Pública, em razão da gravidade da (s) infração
(ões) cometida (s) , discriminada (s) logo abaixo. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 60; RI-
TCU/2002, art. 270.
§

202.1. José Martonio Alves Coelho (CPF: 013.379.393.15) - Responsável

Celebração de contratação direta em que a pesquisa de preços é apresentada após a


escolha do contratado e sem a devida justificativa; e celebração de convênio na
presença de interesses opostos entre os conveniados; caracterizando
direcionamento, favorecimento, conflito de interesses e violação dos princípios da
202.1.1.
impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade administrativa: Contrato CFC-FBC
para realização dos Exames de Suficiência/2016-2017; Convênio CFC-FBC para V
Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014. Fundamento: CF/1988, art. 37,
caput, Lei 8.666/1993, art. 3º, caput; art. 82, art. 116.

203. Determinar ao (s) jurisdicionado (s) a seguir identificado (s) , a (s) medida (s) correspondente
(s) discriminada (s) logo abaixo. Fundamento: CF/1988, art. 71, inc. IX; Lei 8.443/1992, art. 45,
caput; RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XXI, art. 251, caput.
§

203.1. Conselho Federal de Contabilidade (CNPJ: 033.618.570.0001.07)

Publicar em seu sítio eletrônico na Internet (website) as


informações a seguir discriminadas, referente ao ano de 2011 e
seguintes. A publicação deve permitir a gravação (download) de Prazo de
203.1.1. relatórios anuais em formato eletrônico aberto e não proprietário, cumprimento:
na forma de planilha ou texto, racionalmente organizados em 120 dias
registros coerentes. Fundamento: Lei 12.527/2011, art. 3, art. 7,
art. 8.

Nominata dos membros dos corpos diretivos do CFC, incluindo:


203.1.1.1. Presidente, Vice-Presidentes e Conselheiros, especificando os
períodos (datas de início e fim) dos mandatos.

Relação de pagamentos ou desembolsos realizados pelo CFC a


membros dos corpos diretivos da entidade (incluindo Presidente,
203.1.1.2. Vice-Presidentes e Conselheiros) , a qualquer título, incluindo:
jetons, remuneração por serviços prestados e indenizações de
qualquer natureza.

Relação de pagamentos realizados pelo CFC a título de diárias e


203.1.1.3.
passagens.
203.1.1.4. Processos referentes a contratos e convênios.

A totalidade dos atos normativos, vigentes ou revogados,


203.1.1.5.
inclusive portarias.

Prestações de contas completas e detalhadas referentes aos


Exames de Suficiência/2014-2015 e Exames de Suficiência
2016/2017, incluindo: a totalidade dos recursos arrecadados pela
203.1.1.6.
contratada; e a discriminação detalhada de todos os pagamentos
realizados, com a identificação do beneficiário (nome, CPF/CNPJ) ,
valor, data do pagamento e finalidade.

Prazo de
203.1.2. Revisar e ajustar seus atos normativos, observando o que segue. cumprimento:
120 dias

Exclusão de dispositivos que favoreçam a Fundação Brasileira de


Contabilidade (FBC) , ou qualquer pessoa jurídica ou física, nas
relações contratuais ou conveniais pactuadas com CFC,
203.1.2.1. abrangidos, entre outros, os dispositivos constantes no
Regimento Interno (Resolução-CFC 1.458/2013) e no
Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade (Resolução-
CFC 1.370/2011) . Fundamento: CF/1988, art. 37, caput.

Vedação ao custeio, com recursos do CFC, da participação em


eventos de ex-Presidente que não esteja incluído na cota
203.1.2.2.
atribuída ao Plenário do Conselho Federal. Fundamento: CF/1988,
art. 37, caput.

Obrigatoriedade de aquisição de passagens aéreas, nacionais ou


203.1.2.3. internacionais, exclusivamente na classe econômica. Fundamento:
Decreto 71.733/1973, art. 27-A.

Prazo de
entrega do
Informar o Tribunal sobre o cumprimento das determinações no
203.1.3. Relatório de
Relatório de Gestão Exercício/2019.
Gestão
Exercício/2019

204. Notificar o (s) destinatários a seguir identificado (s) de que o não cumprimento de diligência
do Relator ou de decisão do Tribunal, no prazo fixado, sem causa justificada, poderá ensejar a
aplicação de multa, a qual prescinde de prévia audiência. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 58,
inc. IV, VII, § 1º; RI-TCU/2002, art. 268, inc. IV, VII, VIII, § 3º.
§ Jurisdicionado CPF/CNPJ
204.1. Conselho Federal de Contabilidade CNPJ: 33.618.570.0001.07

205. Encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao (s) destinatário (s) a seguir
identificado (s) , informando-o (s) de que o voto e o relatório podem ser consultados no
endereço eletrônico: www.tcu.gov.br/acordaos. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. VIII; RI-
TCU/2002, art. 1º, inc. XVI.
§ Destinatário

205.1. Procurador-Chefe do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

206. Encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao (s) destinatário (s) a seguir
identificado (s) , informando-o (s) de que o voto e o relatório podem ser consultados no
endereço eletrônico: www.tcu.gov.br/acordaos. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 169, § 1º.
§ Destinatário CPF/CNPJ

206.1. Conselho Federal de Contabilidade CNPJ: 33.618.570.0001.07

206.2. Fundação Brasileira de Contabilidade CNPJ: 002.428.413.0001.05

206.3. José Martonio Alves Coelho CPF: 013.379.393.15

206.4. Luiz Henrique de Souza CPF: 338.097.121.91

206.5. Controladoria-Geral da União CNPJ: 05.049.940/0001-99

207. Levantar o sigilo destes autos, exceto quanto às peças que contenham a identidade do
Denunciante. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 55; RI-TCU/2002, art. 236, § 1º.

208. Encerrar este processo. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 169, caput, inc. V."

É o relatório.

Voto:

Trata-se de denúncia noticiando possíveis irregularidades ocorridas no Conselho Federal de


Contabilidade (CFC) , referentes à realização de despesas desarrazoadas com a concessão de
diárias e aquisição de passagens, bem como à ausência de transparência na contratação da
Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) , entidade privada sem fins lucrativos fundada por
membros do CFC, com vistas à realização de eventos e à aplicação do Exame de Suficiência.

2. A denúncia pode ser conhecida, vez que preenche os requisitos de admissibilidade aplicáveis.

3. Por meio de despacho, este Relator determinou a realização de diligência e inspeção no CFC
para obter a documentação e as informações relativas às questões suscitadas.
4. Como resultado, a SecexFazenda, então responsável pela instrução dos autos, levantou
indícios de irregularidades na concessão de diárias e passagens, assim como ocorrências que
indicavam a celebração irregular de convênio com a FBC.

5. Na etapa processual subsequente, foram adotadas as seguintes providências:

a) realização de oitiva do CFC quanto às ocorrências relativas a diárias, passagens e celebração


de convênio e contrato com a FBC;

b) promoção de audiência dos Srs. José Martonio Alves Coelho e Luiz Henrique de Souza,
respectivamente, Presidente e Vice-Presidente-Administrativo do CFC, por serem os gestores
responsáveis pelas ocorrências;

c) coleta de elementos para verificação acerca da jurisdição desta Corte sobre os recursos
obtidos pela FBC na execução dos contratos firmados com o CFC para realização dos Exames de
Suficiência; e

d) condução de apurações para verificar se houve a prestação de contas do convênio firmado


entre o CFC e a FBC no tocante à realização do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade.

6. Reunidas as manifestações cabíveis da entidade, dos responsáveis e da SecexTrabalho, passa-


se ao exame dos achados.

II - Indícios de irregularidades relativas ao pagamento de diárias e passagens

7. Os indícios em tela são os seguintes:

a) pagamento de meia diária pela participação em reunião e outros eventos realizados no


mesmo local de domicílio do participante, com fundamento no art. 4º da Resolução CFC
1.392/2012;

b) ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de diárias, fixados à época pela
Resolução CFC 1.392/2012, superiores em mais de 100% ao valor pago para cargos equivalentes
no âmbito no Poder Executivo Federal, ante o disposto no Acórdão 570/2007-Plenário;

c) autorização de participação, com ônus para o CFC, nos eventos da Federação Internacional de
Contadores (IFAC) , realizado em Roma (2014) , e da Associação Interamericana de Contabilidade
(AIC) , realizado em Punta Cana (2017) , a quantitativo de participantes em desacordo com os
limites estabelecidos pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela Resolução 1.477/2015;

d) pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, com fundamento na


Resolução CFC 1.107/2007;

e) aquisição de passagens em classe executiva para representantes do CFC em organismos


internacionais em desconformidade com a Resolução CFC 1.290/2010, ante a ausência de
aprovação da Presidência quanto à aquisição das passagens nessa classe;
f) ausência de razoabilidade do art. 1º, § 1º, da Resolução CFC 1.290/2010, que prevê a aquisição
de passagem aérea internacional em classe executiva em trechos em que o tempo de voo entre
o último embarque no Território Nacional e o destino for superior a oito horas, considerando
que as dimensões continentais do Brasil fazem com que a maioria dos voos entre as capitais
brasileiras e os destinos internacionais na América do Norte/Europa/Outros Continentes tenham
duração superior a 8 horas;

g) ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas pelo menor preço, em desacordo


com a Portaria CFC 73/14.

8. O pagamento de meia diária para participação em reunião no local de domicílio do


beneficiário foi objeto de oitiva do CFC, uma vez que a parcela foi instituída pela Resolução CFC
1.392/2012. Conforme justificado, embora entendesse que a concessão tinha natureza de ajuda
de custo, a autarquia extinguiu o benefício por meio da Resolução CFC 1.533/2017 em atenção
ao posicionamento desta Corte expresso em julgados precedentes.

9. A unidade considerou elidida a questão, conclusão que acolho.

10. Sobre os valores das diárias, também tratados em oitiva, o CFC afirmou que estes valores
foram aprovados com fundamento na autorização contida na Lei 11.000/2004 e na
regulamentação efetuada pela Resolução-CFC 1.533/2017. Defendeu que esses valores não se
configuravam exorbitantes, vez que a diária seria apenas 20% maior do que a prevista no
Decreto 5.992/2006.

11. A SecexTrabalho elaborou o comparativo entre os valores de diárias vigentes no CFC e


aqueles fixados pelo Decreto 5.992/2006 para o Poder Executivo. A unidade técnica constatou
que as diárias internacionais se encontravam dentro dos parâmetros do decreto, mas que o valor
das diárias nacionais pagas a conselheiros extrapolavam o paradigma em 68%. Apesar dessa
discrepância, a instrução considerou desnecessário formular providências, visto que o Acórdão
1.925/2019-TCU-Plenário (Relator: Weder de Oliveira) já expediu determinação nesse sentido.

12. Concordo com a SecexTrabalho. Acrescente-se que o referido acórdão foi proferido em sede
de auditoria executada na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) , que
teve, como objetivo avaliar a gestão dos conselhos de fiscalização profissional (CFP) . No tocante
ao tema "diárias", foi estabelecido o seguinte entendimento:

"9.1. Fixar os seguintes entendimentos em relação à execução da despesa pelos conselhos de


fiscalização profissional:

(...)

9.1.2. a diária:

(...)
9.1.2.4. deve ter seu valor consentâneo com os parâmetros estabelecidos nos anexos I,
classificação 'C' e II, do Decreto 5.992/2006, e no anexo III, grupo 'D', classe I, do Decreto
71.733/1973, ou pelos atos normativos que o sucederem."

13. Outro ponto tratado nesta denúncia refere-se ao custeio de participação em eventos
internacionais realizados em Roma (2014) e em Punta Cana (2015) a quantitativo de conselheiros
em desacordo com os limites estabelecidos pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela Resolução
CFC 1.477/2015. Segundo as normas, a participação de conselheiros em eventos estava limitada
a 1/3 do plenário. O assunto foi tratado em oitiva do CFC e em audiência do ex-Presidente José
Martonio Alves Coelho e do ex-Vice-Presidente-Administrativo Luiz Henrique de Souza,
responsáveis pelas autorizações de participação nos eventos realizados em Roma e Punta Cana,
respectivamente.

14. Nas respostas, foi argumentado que, em cada um dos eventos, participaram nove
conselheiros na cota do plenário, em observância ao art. 4º da Resolução CFC 1.089/2007
(vigente em 2014) e ao art. 6º da Resolução CFC 1.477/2015 (vigente em 2017) . Foi também
alegado que não entraram nessa cota outros conselheiros que atuaram como representantes do
Brasil em organismos internacionais ou como membros convocados para atuar em câmaras e
comissões técnicas que funcionaram durante os eventos.

15. A SecexTrabalho acolheu parcialmente as justificativas. Segundo o entendimento da


instrução, foi extrapolado em quatro conselheiros o limite de integrantes da cota do plenário do
CFC autorizados a participar do evento sediado em Roma.

17. Conforme sustentado, essa extrapolação teria derivado da inclusão de ex-Presidentes do


Conselho na delegação. No entender da instrução, o art. 1º, § 2º, do Decreto-Lei 1.040/1969
atribui aos ex-Presidentes assento no plenário do CFC na condição de membros honorários, com
direito a voz. Como são membros do plenário, estariam incluídos na cota de 1/3 desse colegiado
estabelecida pelo então vigente art. 4º da Resolução-CFC 1.089/2007. Considerando que o
plenário do CFC é composto por 27 conselheiros e somando-se os cinco conselheiros ex-
Presidentes, obtém-se o total de 32 membros e a cota de 10 conselheiros aptos a integrar a
delegação. Como participaram do evento em Roma nove conselheiros e cinco ex-Presidentes, o
limite foi ultrapassado com a inclusão de quatro ex-Presidentes.

18. Em consequência, a unidade propôs aplicar-se multa ao Sr. José Martonio Alves Coelho por
ter descumprido a Resolução CFC 1.089/2007, ocasionando o pagamento de diárias e passagens
sem amparo legal.

19. Lamento por divergir da unidade técnica nessa proposição.

20. No disciplinamento dos limites de participação de conselheiros em eventos, a Resolução CFC


1.089/2007 estabelecia que:

"Art. 4º. (...)


§ 1° A participação fica limitada a até 1/3 (um terço) do Plenário, obedecida a seguinte
proporção:

I - 1/3 (um terço) das vagas será destinado aos integrantes do Conselho Diretor;

II - 2/3 (dois terços) das vagas serão destinados aos demais conselheiros (efetivos e suplentes) ,
excluindo-se os membros do Conselho Diretor."

21. Como se vê, os limites eram aplicáveis aos conselheiros efetivos, suplentes e membros do
Conselho Diretor. Todavia, os ex-Presidentes do CFC não se enquadram nessas categorias, uma
vez que são considerados como membros honorários, conforme se verifica a partir do art. 1º do
Decreto-Lei 1.040/1969, que os distingue dos membros efetivos e suplentes, in verbis:

"Art. 1º O Conselho Federal de Contabilidade - CFC será constituído por 1 (um) representante
efetivo de cada Conselho Regional de Contabilidade - CRC, e respectivo suplente, eleitos para
mandatos de 4 (quatro) anos, com renovação a cada biênio, alternadamente, por 1/3 (um terço)
e 2/3 (dois terços) . ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 11.160, de 2/8/2005)

(...)

§ 2º Os ex-presidentes do Conselho Federal de Contabilidade terão assento no Plenário, na


qualidade de membros honorários, com direito somente a voz nas sessões. (Parágrafo acrescido
pela Lei nº 12.932, de 26/12/2013) "

22. Os ex-Presidentes também não integram o Conselho Diretor, que é composto pelo
Presidente, pelos Vice-Presidentes e por um conselheiro técnico em contabilidade, conforme o
art. 23 da Resolução CFC 1.458/2013 (Regimento Interno) .

23. Por conseguinte, os ex-Presidentes do CFC não poderiam ser considerados no cálculo dos
limites fixados pelo art. 4º da Resolução CFC 1.089/2007.

24. Em vista disso, caberia indagar se haveria respaldo normativo para que fosse autorizada a
participação dos ex-Presidentes em eventos e se haveria limitação no quantitativo desses
participantes.

25. Conforme justificado pelos responsáveis ouvidos em audiência, a inclusão dos ex-Presidentes
do CFC nas delegações da entidade fundamentou-se no art. 24 do Regimento Interno e na
Resolução CFC 1.048/2005, nos seguintes termos:

- Regimento Interno do CFC:

"Art. 24. O Conselho Consultivo é integrado pelo Presidente do CFC, por seus ex-presidentes
e pelos agraciados com a medalha Mérito Contábil João Lyra, sendo presidido pelo primeiro.

§ 1° Compete ao Conselho Consultivo:

a) assessorar o Presidente e o Plenário do CFC, em matéria de alta relevância para o Sistema


CFC/CRCs;
CFC/CRCs;
b) propor ao Plenário, por meio do Presidente do CFC, a adoção de medidas julgadas de
interesse para o Sistema CFC/CRCs e para a classe contábil.

(...)

§ 4º Os ex-presidentes terão direito a participar de eventos nacionais e internacionais da classe


contábil."

- Resolução CFC 1.048/2005:

"Art. 1° Aprovar a participação dos ex-presidentes do Conselho Federal de Contabilidade nas


Reuniões Plenárias e nos eventos de interesse da profissão contábil, obedecidas as seguintes
condições:

(...)

II - as despesas com a participação nos eventos relacionados aos interesses da Classe Contábil,
nacionais e internacionais, correrão por conta do Conselho Federal de Contabilidade nos termos
da norma que regulamenta a concessão de diárias." [Grifo acrescido.]

26. Portanto, tem-se que havia autorização em norma para que o CFC custeasse a participação
dos ex-Presidentes em eventos e que essa participação se justificaria por serem eles membros
do conselho consultivo da entidade.

27. Contudo, é importante observar que não há, nas normas editadas pelo CFC, dispositivo que
estabeleça os limites de participação dos ex-Presidentes nos eventos, tal como ocorre no caso
dos conselheiros efetivos e do Conselho Diretor. Trata-se de lacuna normativa que produz
situação desarrazoada e maculada por liberalidade na utilização de recursos da entidade. Isso,
porque o CFC acaba por custear a participação de número ilimitado ex-dirigentes máximos em
eventos, os quais não têm função executiva ou deliberativa na autarquia. Como demonstração
da distorção produzida, veja-se que, no congresso realizado em Roma, participaram 6
conselheiros na cota do plenário e 5 ex-Presidentes, ou seja, os dois grupos continham quase
que o mesmo quantitativo de componentes. A possibilidade de ocorrerem distorções dessa
natureza torna necessário determinar ao CFC que discipline os limites aplicáveis à participação
de ex-Presidentes em eventos. Ressalte-se que essa providência não adentra na esfera de
discricionariedade da autarquia, pois se destina a assegurar meio necessário para que seja
cumprido o dever de utilizar os recursos do CFC com razoabilidade, economicidade e
efetividade.

28. No tocante ao pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, foi


realizada a oitiva do CFC, que respondeu explicitando, como fundamentos, as normas transcritas
acima, especialmente o Regimento Interno e a Resolução CFC 1.048/2005. A SecexTrabalho não
acolheu essa argumentação, seguindo suas conclusões desenvolvidas na análise do tópico
precedente. Ao final, a unidade técnica sugeriu determinar à autarquia que ajuste os normativos
internos para vedar o custeio da participação, em eventos, de ex-Presidente que não esteja
incluído na cota atribuída ao plenário do Conselho Federal.
29. Como base nas conclusões expressas por este Relator em itens anteriores, não acolho essa
proposição, substituindo-a pela proposta de determinação explicitada anteriormente.

29. Na inspeção, levantou-se que, nos exercícios de 2014 e 2015, foram adquiridas passagens
aéreas em classe executiva, sem aprovação da presidência, para participação de representantes
oficialmente designados em eventos internacionais, em afronta ao art. 1°, § 1°, da Resolução CFC
1.290/2010. A matéria foi objeto de oitiva da entidade e de audiência do ex-Vice-Presidente-
Administrativo, Luiz Henrique de Souza, responsável por autorizar as aquisições.

28. O CFC e o responsável argumentaram que as aquisições de passagens aéreas destinaram-se


a missões oficiais de representantes do Brasil em organismos internacionais e observaram
integralmente a Resolução CFC 1.290/2010, que previa, como condições para a utilização da
classe executiva, o tempo de voo superior a 8 horas de duração e a aprovação da Presidência.
Segundo alegado, essa autorização foi concedida verbalmente, pois a autarquia não havia
implantado formulário específico para esse fim.

29. A unidade técnica não acatou as justificativas por entender que houve omissão em cumprir a
norma. Consequentemente, propôs a aplicação de multa ao responsável.

30. A Resolução CFC 1290/2010 estabelecia no § 1º do art. 1º que, em regra, seria concedida
passagem aérea em classe econômica aos representantes do CFC em organismos internacionais,
mas que poderia ser adquirida a passagem na classe executiva nos trechos em que o tempo de
voo entre o último embarque e o destino fosse superior a oito horas. Ainda, na versão vigente à
época dos fatos ora tratados, o § 3° determinava que as solicitações de viagens internacionais
deveriam ser feitas com antecedência mínima de 30 dias e que os casos que não observassem
esse prazo deveriam ser autorizados pelo Presidente.

31. Deixando momentaneamente de lado o questionamento acerca da razoabilidade da norma,


verifica-se que as quatro concessões de passagem em classe executiva a representantes em
organismos internacionais efetuadas no período de 2013 a 2015 observaram a condição de
tempo de voo estabelecida no normativo (peça 43) . Desse grupo, apenas duas viagens foram
autorizadas em prazo inferior a 30 dias. É fato que, nesses dois casos, não ficou evidenciada a
concessão de autorização do Presidente do Conselho em conformidade com o disposto na
Resolução CFC 1.290/2010. Todavia, verifica-se que foram seguidos todos os demais
procedimentos aplicáveis à realização das despesas.

32. Em vista desses aspectos, penso que se possa considerar a ocorrência como falha formal,
afastando-se a proposta de aplicação de multa ao ex-Vice-Presidente-Administrativo Luiz
Henrique de Souza.

33. Quanto à razoabilidade, foi questionado ao CFC o dispositivo constante do § 1º do art. 1º,
que assim dispõe:

"Art. 1° A passagem aérea, destinada aos Conselheiros, ex-presidentes, empregados e


representantes do Conselho Federal de Contabilidade em órgãos internacionais, será adquirida
pelo setor competente observadas as seguintes categorias:
pelo setor competente, observadas as seguintes categorias:
I - classe executiva: Conselheiros, ex-presidentes e Diretor Executivo;

II - classe econômica: representantes do CFC em organismos internacionais, empregados e


convidados;

§ 1° - Aos representantes oficialmente designados em organismos internacionais,


empregados ocupantes de cargos em comissão de Coordenadores e equivalentes, poderá
ser concedida passagem de classe executiva nos trechos em que o tempo de voo entre o
último embarque em território nacional e o destino for superior a oito horas." [Grifo
acrescido.]

34. Consoante entendimento da unidade técnica, a concessão excepcional de passagens em


classe executiva aos representantes em organismos internacionais e aos ocupantes de cargos em
comissão de coordenadores carecia de razoabilidade devido ao fato de que os voos diretos
entre a maior parte das capitais brasileiras com destino à América do Norte, à Europa e a outros
continentes tem duração superior a 8 horas. Na avaliação da instrução, o correto seria aplicar-se
ao caso o art. 27-A do Decreto 71.733/1973, alterado pelo Decreto 9.280/2018, que dispõe: "A
passagem aérea destinada ao servidor e aos respectivos dependentes será adquirida pelo órgão
competente sempre na classe econômica".

35. Na oitiva, o CFC alegou que o dispositivo da Resolução CFC 1290/2010 apresenta-se
coerente com a prática da Administração, a exemplo da Portaria MPU-PGR 41/2014, normativo
publicado pela Procuradoria-Geral da República.

36. Embora a disposição em foco tenha aplicação limitada aos representantes em organismos
internacionais e aos ocupantes de cargos em comissão de coordenadores ou equivalentes, há
que se reconhecer que a distância entre o Brasil e os demais continentes acaba por tornar a
exceção em regra para essas categorias de beneficiários. Com isso, subverte-se a orientação
contida no inciso II do caput do referido art. 1º e, consequentemente, anula-se a economicidade
pretendida pelo dispositivo. Não há, pois, razoabilidade nas disposições do § 1º do art. 1º da
referida resolução.

37. Ademais, o Tribunal já decidiu no Acórdão 1925/2019-Plenário a aplicabilidade aos


Conselhos de Fiscalização Profissionais dos parâmetros estabelecidos no Decreto 71.733/1973, e
suas alterações posteriores. Em decorrência desse entendimento, há substrato jurídico para que
também se aplique ao caso o disposto no art. 27-A do referido regulamento, que preceitua que
a aquisição de passagem aérea destinada ao servidor sempre se fará na classe econômica. Aliás,
a Portaria-TCU 443/2018, com a redação da Portaria-TCU 74/2019, também adota esse
referencial e estabelece em seu art. 33 que "as passagens aéreas, relativas aos deslocamentos de
servidores a serviço no exterior, serão adquiridas em classe econômica".

38. Por conseguinte, acolho a proposta de determinar à unidade jurisdicionada que promova
ajuste na Resolução CFC 1.290/2010 para refletir esse posicionamento.
39. O último ponto a ser tratado nesta seção refere-se ao achado no sentido de que as cotações
de preços de passagens não eram juntadas ao processo administrativo de aquisição, o que
inviabilizava a comprovação de que se obteve o menor preço. Conforme ressaltado no relatório,
o art. 2º da Portaria CFC 73/14 preceituava o dever de adquirir passagens pelo menor preço.

40. A matéria foi objeto de oitiva do CFC e de audiência do ex-Vice-Presidente Administrativo


Luiz Henrique de Souza. Nas justificativas, as partes afirmaram que a pesquisa era elaborada,
pois essa exigência constou do contrato firmado com a empresa emissora de passagens. No
entanto, reconheceram que o respectivo documento não vinha sendo anexado ao processo.
Informaram que, após a fiscalização desta Corte, os devidos controles foram implantados.

41. A SecexTrabalho não aceitou o arrazoado por entender que a falha se configurou em erro
grosseiro. Assim, foi proposto aplicar-se multa ao Sr. Luiz Henrique de Souza.

42. Divirjo dessa proposição. Em primeiro lugar, porque não foi apontado, no relatório de
inspeção (peça 50) , caso concreto que tenha resultado em aquisição desconforme com a
portaria. Em segundo lugar, porque os gestores reconheceram a falha e adotaram providências
para corrigi-la. Logo, pode-se considerar a situação resolvida.

III - Indícios de irregularidades relativas a contratos e convênios firmados com Fundação


Brasileira de Contabilidade (FBC)

43. Neste tópico, foram levantados os seguintes achados pela inspeção:

a) celebração de convênio entre o CFC e a FBC para realização do evento intitulado "V Encontro
Luso-Brasileiro de Contabilidade", sem que estivesse caracterizado o interesse recíproco ante a
natureza contratual da avença, conforme evidenciado na cláusula 6.3, e sem a realização de
prévia licitação ou sem a caracterização de dispensa, acompanhada de prévia justificativa e
cotação de preços, em desacordo com os arts. 2º e 26 da Lei 8.666/1993;

b) celebração de contrato com a FBC, por dispensa de licitação, para realizar os Exames de
Suficiência no biênio 2016/2017, com apresentação de pesquisa de preços após a escolha da
FBC e sem a indicação da razão da escolha do executante, o que contrariou o art. 26, parágrafo
único, incisos II e III, da Lei 8.666/1993.

44. Com referência à celebração indevida de convênio com a Fundação Brasileira de


Contabilidade para a realização do "V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade" (2014) , o CFC
e o ex-Presidente José Martonio Alves Coelho assim se manifestaram:

a) havia interesse recíproco, pois o evento promovido pelo CFC visou ao aperfeiçoamento da
profissão e da fiscalização profissional, ao mesmo tempo em que a FBC detinha previsão
estatutária no sentido de atuar no apoio a atividades voltadas ao desenvolvimento profissional
da classe contábil;

b) não houve transferências de recursos orçamentários do CFC, com efeito remuneratório, para
que a FBC procedesse à entrega do evento de forma pronta e acabada;
c) não havia cláusula resolutiva visando lucro ou contraprestação em bens e serviços, mas
somente o rateio de despesas e benefícios eventualmente ocorridos com a execução do objeto;

d) foi estabelecido que a FBC receberia 10% (dez por cento) sobre a receita de inscrições e
patrocínio, e não sobre o valor total do objeto;

e) em seu entender, o TCU admite o pagamento de despesas administrativas no caso de


convênio;

f) o evento arrecadou R$ 51 mil e foi deficitário em mais de R$ 60 mil;

g) a FBC colaborou com recursos próprios para a sustentabilidade do evento.

45. A SecexTrabalho não acatou essas justificativas por entender que, embora o ajuste tivesse
algumas características de convênio (convergência de interesses, entidade sem fins lucrativos e
cláusula de rescisão sem ônus) , preponderavam as feições contratuais, como a remuneração da
FBC com 10% da arrecadação e a atribuição da FBC na organização do evento, com a
contratação de terceiros. Em consequência, a unidade técnica propôs aplicar multa e inabilitar o
ex-Presidente do CFC.

46. Diferentemente da unidade técnica, penso que as características conveniais prevaleceram no


ajuste firmado, a saber:

a) a FBC se constituía em pessoa jurídica sem fins lucrativos;

b) havia interesse recíproco entre as entidades na realização do evento, pois o V Encontro Luso-
Brasileiro de Contabilidade teve, como objetivos, o intercâmbio de conhecimentos da profissão
contábil e o apoio técnico ao aperfeiçoamento da atuação profissional dos contabilistas
(cláusulas segunda e terceira do termo - fls. 02-peça 12) , objetivos esses que encontram
correspondência no estatuto da FBC e no Regimento Interno do CFC (fls. 01-peça 73 e fls. 32-
peça 91) ;

c) havia regime de mútua cooperação, vez que as partes tinham a obrigação conjunta de definir
a programação técnica e cultural, ao mesmo tempo em que houve a distribuição de
responsabilidades específicas: de parte do CFC, realizar o evento, efetuar a divulgação e prestar
apoio operacional; a cargo da FBC, organizar o evento, executar os serviços de inscrição de
participantes e realizar contratações (cláusula sétima - fls. 03 e 04-peça 12) ;

d) havia a obrigatoriedade de movimentação dos recursos do convênio em conta específica


aberta com essa finalidade (cláusula sexta, item 6.1 - fls. 03-peça 12) .

47. A obrigação constitucional de prestar contas foi adimplida pela FBC, consoante se verifica na
peça 100 destes autos, que apresenta demonstrativos contábeis e comprovantes de despesa
espelhando a seguinte situação:

a) receitas (inscrições e patrocínios) : R$ 51.195,30;


b) despesas: R$ 114.961,44; e

c) déficit: R$ 63.766,14.

48. De acordo com o demonstrativo das receitas arrecadadas e as justificativas do ex-Presidente


do CFC, o déficit teria sido coberto pela FBC.

49. Ademais, a cláusula sexta do convênio obstava a transferência direta de recursos do CFC à
FBC, conforme se observa na transcrição a seguir:

"6.1 Não existirá qualquer repasse de recursos do Conselho Federal de Contabilidade, sendo os
recursos financeiros para implementação e execução do presente convênio provenientes de
verbas de eventuais patrocínios financeiros, valores arrecadados com inscrição para participação
no evento e outras que vierem a ser alocadas, sendo depositadas em conta aberta perante a
Caixa Econômica Federal, em nome da FBC".

50. Como as receitas arrecadadas com as inscrições no evento se constituíam em recursos


próprios do Conselho, como será adiante tratado, tem-se que houve o co-financiamento por
parte das entidades, o que contribui para a caracterização do regime de mútua cooperação.

51. Esses elementos permitem considerar elidida a irregularidade e afastar as propostas de


aplicação de sanções ao gestor.

52. Por outro lado, verifica-se que o convênio padeceu de irregularidades, como:

a) a incidência de taxa de administração em favor da FBC, que não se confunde com autorização
para realização de despesas administrativas, contrariando pacífica jurisprudência desta Corte
(p.e. Acórdão 3372/2012-Plenário) :

"6.3 Reverterá em favor da FBC, a título de remuneração por gerenciamento do evento, a quantia
correspondente a 10% (dez por cento) do valor dos recursos arrecadados, previstos na cláusula
6.1, e o restante, caso haja, depositados na conta do CFC".

b) a ausência de cláusula no sentido de que a convenente se obrigava a adotar procedimentos


de aquisição de produtos e de contratação de serviços que observassem os princípios da
impessoalidade, moralidade e economicidade previstos na Constituição Federal.

53. Segundo avalio, essas falhas decorrem da inexistência de regramento específico acerca de
convênios celebrados pelo CFC, situação que foi admitida pela entidade na resposta à oitiva
realizada neste processo. A falta de disciplinamento das transferências voluntárias do CFC
acarreta riscos à regular aplicação dos recursos e ao atingimento dos objetivos dos ajustes
celebrados pela entidade. Na verdade, essa anomia chega a surpreender, considerando-se a área
de atuação do CFC e o fato de que outros conselhos dispõem de normas próprias a respeito da
matéria, como, por exemplo, o Conselho Federal de Farmácia (Resoluções CFF 603/2014 e
655/2018) .
54. Logo, cabe determinar ao CFC que promova o disciplinamento da matéria, com observância
aos princípios basilares da Administração Pública, a fim de mitigar os riscos apontados.

55. No que tange à celebração de contrato com a FBC para aplicação dos Exames de Suficiência
de 2016/2017, foram ouvidos o CFC e o ex-Presidente José Martonio Alves Coelho pela falta de
justificativa de preços e de exposição da justificativa técnica para a contratação. Nas respostas,
foi alegado que:

a) houve a pré-qualificação da FBC pela Câmara de Registro 122/2015, com referendo do


Plenário, sem que o ato configurasse autorização para contratação, vez que tal autorização é
competência do Presidente do Conselho;

b) antes da assinatura do contrato, foi realizada a pesquisa de preços;

c) de fato, o termo de referência foi deficiente em caracterizar a contratação;

d) a dispensa de licitação fundamentou-se no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, já que a FBC
atendia aos pré-requisitos aplicáveis, quais sejam: ser instituição brasileira; ser incumbida da
pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, conforme previsto em seu estatuto
social; não possuir finalidade lucrativa; e possuir inquestionável reputação ético-profissional;

e) a expertise da FBC foi comprovada na aplicação de exames anteriores (2011/2015) e restou


demonstrada pelo sucesso alcançado na realização das provas.

56. A SecexTrabalho não acolheu as justificativas por considerar que ficou caracterizado que a
pesquisa de preços somente foi efetuada após a homologação da decisão do Plenário do CFC de
contratar a FBC e incluiu apenas uma proposta, além daquela formulada pela FBC.

57. Adicionalmente, a SecexTrabalho considerou irregular o relacionamento mantido entre o CFC


e a FBC, em especial:

a) as previsões contidas no Regimento Interno do CFC e no Regulamento Geral do CFC e dos


CRCs, que autorizam a celebração de parcerias e convênios com a FBC, configurando
direcionamento institucional;

b) a alternância de dirigentes entre o CFC e a FBC nos últimos vinte anos, podendo comprometer
a impessoalidade e gerar conflito de interesses nas relações contratuais ou conveniais entre as
duas instituições;

c) a elaboração de termo de referência, a realização de pesquisa de preço e a emissão de parecer


jurídico apenas para viabilizar a contratação do Exame de Suficiência de 2016/2017 junto à FBC,
situação que teria ocorrido também nos exames de 2014/2015;

d) a materialidade dos recursos arrecadados com os exames de suficiência realizados de 2011 a


2017 que poderiam atingir, segundo estimativa da unidade técnica, a cifra de R$ 68 milhões
nesse período; destaque-se que não se logrou confirmar esse valor após exame deste processo e
de processos conexos.
58. Em vista desses aspectos, a unidade técnica concluiu que o relacionamento irregular entre as
instituições propiciou o favorecimento ilegal na contratação da FBC, conflitos de interesses,
indícios de fraude na formalização da contratação, erros grosseiros e violação dos princípios da
impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade administrativa. Consequentemente, foi
proposto aplicar multa e inabilitar o Sr. José Martonio Alves Coelho em decorrência da
contratação direta da FBC, sem realização de prévia pesquisa de preços e sem apresentação de
justificativa circunstanciada.

59. Peço licença para inverter a ordem de apreciação dos fatos, iniciando pelo relacionamento
entre as instituições e passando posteriormente ao exame da conduta do Sr. José Martonio
atinente à contratação direta da instituição para realização do Exame de Suficiência de
2016/2017.

60. Quanto ao relacionamento institucional, os elementos reunidos pela SecexTrabalho


demonstram que há mais de vinte anos a FBC vem atuando como uma "fundação de apoio" ao
CFC e às demais entidades do Sistema CFC/CRC. Confirma essa conclusão o fato de que o
Regimento do CFC contém dispositivo específico para autorizar a celebração de avenças com a
FBC visando ao desenvolvimento institucional. Igualmente, o Regulamento Geral dos Conselhos
de Contabilidade apresenta disposições que formalizam o relacionamento e, pela redação
genérica, acabam por abarcar diversas possibilidades de celebração de ajustes. Veja-se a
transcrição a seguir.

- Resolução-CFC 1.458/2013 - Regimento do CFC (fls. 38/39 - peça 102)

"Art. 12. Compete ao CFC, por meio do Plenário:

XXX - firmar parcerias e convênios com a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) para a
realização de atividades voltadas ao Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC,
repassando, quando couber, recursos para a execução das atividades mediante prestação de
contas;"

- Resolução-CFC 1.370/2011 - Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade (fls. 11/14-


peça 102)

"Art. 17. Ao CFC compete:

XV - colaborar nas atividades-fins da Fundação Brasileira de Contabilidade;

(...)

Art. 18. Ao CRC compete:

XIX - colaborar nas atividades-fins da Fundação Brasileira de Contabilidade."

[Grifo acrescido.]
61. De parte da referida Fundação, o estatuto apresenta disposições aptas a compatibilizar o
enquadramento na categoria, pois a norma a define como pessoa jurídica de direito privado,
sem fins lucrativos e voltada para desenvolver, fomentar, realizar ou participar de projetos que
tenham por escopo desenvolver procedimentos técnicos e atualizações na área contábil, exercer
atividades para o desenvolvimento técnico e científico da Contabilidade, estimular a pesquisa e a
produção científica, entre outras atribuições (peça 73) . O estatuto também estabelece que o
Presidente do CFC compõe o conselho consultivo da fundação, na qualidade de membro nato.

62. Assim, não surpreende que, em diversas oportunidades ao longo dos anos, a FBC tenha sido
contratada pelo Conselho Federal de Contabilidade para realizar o Exame de Suficiência e outras
atividades por meio de dispensa de licitação calcada no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993. Por
outro lado, veja-se que, para execução do Exame de Suficiência de 2011, houve a firmatura de
convênio, situação que foi apreciada pelo Acórdão 3059/2012-Plenário (TC-029.279/2012-2) ,
que considerou improcedente a denúncia relativa ao tema.

63. Todavia, não há amparo legal para que a FBC seja considerada e atue como "fundação de
apoio" ao CFC e aos conselhos regionais. E, obviamente, também não há amparo legal para que
o Regimento Interno do CFC e o Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade contenham
disposições que privilegiem o relacionamento com a FBC, entidade privada, em detrimento de
outras entidades de mesmas características e objetivos.

64. Ademais, esse relacionamento indevidamente institucionalizado pode vir a gerar


irregularidades graves, como a burla ao dever de licitar, conflitos de interesse e ingerência de
dirigentes em ambas as entidades.

65. Por conseguinte, assiste razão à SecexTrabalho em considerar ilegais os dispositivos


regulamentares que autorizam o CFC a estabelecer relações contratuais ou conveniais com a
Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) . Além de não ter amparo legal, tais dispositivos
atentam contra os princípios da impessoalidade, da moralidade e da isonomia. Em consequência,
apresenta-se cabível determinar ao CFC que promova as correções normativas necessárias.

66. Como já relatado anteriormente, o Sr. José Martonio Alves Coelho, o ex-Presidente do CFC,
foi ouvido em audiência por ter contratado a FBC para organizar o Exame de Suficiência de
2016/2017 com a realização de pesquisa de preços após a escolha da FBC e sem a indicação da
razão da escolha da executante.

67. A SecexTrabalho não acolheu as justificativas por entender que houve inobservância ao art.
26, parágrafo único, incisos II e III, da Lei 8.666/1993. A unidade técnica considerou também que
estavam presentes indícios de fraude, concretizada com o objetivo de favorecer a contratação da
FBC, uma vez que:

a) o Plenário do CFC aprovou a contratação antes de ser feita a pesquisa de preços;

b) o Presidente do CFC homologou a decisão do Plenário antes da conclusão do termo de


referência e da pesquisa de preços;
c) a pesquisa de preços continha apenas uma proposta;

d) a elaboração do termo de referência não foi precedida de estudos preliminares, contendo o


detalhamento e o orçamento dos serviços, situação reconhecida pelo responsável e pelo CFC;

e) o parecer jurídico se manifestou pela pertinência da contratação, sem apontar as falhas


anotadas nas alíneas precedentes;

f) situação similar ocorreu na contratação da FBC para realização dos Exames de Suficiência de
2014/2015, mas o Presidente do CFC era o Sr. Juarez Domingues Carneiro, enquanto o Sr. José
Martonio ocupava a função de Presidente da FBC;

g) em 2016/2017, o Sr. Juarez Domingues Carneiro era o Presidente da FBC.

68. Concordo com a instrução no sentido de que a preparação para contratar a aplicação dos
Exames de Suficiência de 2016/2017 foi deficiente. O termo de referência praticamente
reproduziu as especificações constantes do instrumento relativo aos exames realizados no biênio
2014/2015. De seu turno, a verificação do preço ofertado foi feita com fundamento na proposta
de apenas uma instituição congênere.

69. Todavia, há elementos que, conquanto não justifiquem completamente as falhas ocorridas,
permitem atenuar a situação do responsável e afastar a aplicação de sanções.

70. Inicialmente, veja-se que a contratação foi aprovada por órgão colegiado do CFC, a Câmara
de Registro, com fundamento em parecer do Conselheiro-Relator Nelson Zafra (fls. 03-peça 42) .
Constou ainda da decisão colegiada a definição de que o valor da inscrição no exame sofreria o
reajuste de 10%, passando de R$ 100,00 para R$ 110,00. Em seguida, a decisão foi aprovada pelo
Plenário do conselho.

71. Dois aspectos emergem dessa constatação.

72. Primeiro, a decisão pela contratação da FBC foi tomada por dois colegiados, ou seja, a
Câmara de Registro e o Plenário do CFC. Assim, a responsabilidade por autorizar a contratação
não pode ser atribuída isoladamente ao Sr. José Martonio. Em consequência, os demais agentes
envolvidos no processo decisório também deveriam ser chamados a responder pela ocorrência.

73. Em segundo lugar, observa-se no excerto da ata lavrada na Câmara de Registro que a
decisão foi fundamentada em parecer de Conselheiro-Relator, que se manifestou favorável à
contratação e também definiu as bases financeiras da avença, as quais foram observadas em
seus exatos termos no contrato subsequente. Não consta do processo a cópia do parecer, nem
da documentação que o embasou. Porém, há que se reconhecer que houve a formulação de
justificativa pela escolha da FBC e de justificativa do preço no referido parecer, ainda que, no
momento, não se consiga aferir a qualidade dessa manifestação.

74. Assim, restaria obter os documentos faltantes e, a partir da respectiva análise, decidir se
caberia ouvir os demais responsáveis. Contudo, penso que essas providências demandariam
esforço e resultado incompatíveis com o avançado estágio de tramitação deste processo
esforço e resultado incompatíveis com o avançado estágio de tramitação deste processo.
75. Também não compartilho da visão da unidade técnica no sentido de que teria ocorrido
fraude na escolha da FBC. Não se esqueça que o Regimento Interno do CFC já contém
disposição expressa que autoriza o Plenário a firmar parcerias com a FBC. Portanto, o
direcionamento à contratação da FBC se encontra oficializado na norma interna e,
consequentemente, não pode ser atribuído pessoalmente ao responsável ou aos demais
agentes. Provavelmente, a institucionalização do relacionamento entre o CFC e a FBC induziu às
falhas na preparação da contratação, vez que etapas como a elaboração do termo de referência
e a emissão de parecer jurídico foram executadas como mera formalidade.

76. De todo modo, espera-se que o cumprimento da determinação acima referida para que o
Conselho promova alterações no regimento seja medida suficiente para prevenir ocorrências
semelhantes no futuro.

77. Por fim, acrescente-se que, no TC-043.306/2018-7, consta a informação de que, em 2018 e
2019, o CFC promoveu os Pregões Eletrônicos 00001/2018 e 00002/2019 para contratação dos
serviços de aplicação dos exames de suficiência, os quais resultaram nos Contratos 07/2018 e
08/2019, ambos celebrados com a empresa Consulplan Consultoria e Planejamento em
Administração Eireli.

IV - Natureza dos recursos arrecadados com inscrições nos Exames de Suficiência e em eventos
relativos a programas de educação continuada

78. A definição da natureza dos recursos relativos das taxas de inscrição arrecadadas pela
Fundação Brasileira de Contabilidade nos exames e eventos realizados em nome do Conselho
Federal de Contabilidade decorreu da discussão acerca do relacionamento entre as duas
entidades.

78. A SecexTrabalho concluiu que esses recursos são receitas próprias do conselho, pois se trata
de preços de serviços, cuja execução foi delegada pelo CFC à FBC por meio de contratos ou
convênios. Ainda segundo a unidade técnica, os serviços relacionam-se a exercício de atribuições
legais do CFC, como a realização dos Exames de Suficiência e dos programas de educação
continuada, nos quais se inserem a promoção de congressos, seminários e outros eventos
similares.

79. As bases legais que fundamentaram as conclusões da unidade são a Lei 11.000/2004 e o
Decreto-Lei 9.295/1946, que assim estabelecem:

- Lei 11.000/2004

"Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar,


cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as
multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão
receitas próprias de cada Conselho."

-Decreto-Lei 9.295/1946
"Art. 6º São atribuições do Conselho Federal de Contabilidade:

(...)

f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação


técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade
de natureza técnica e profissional."

80. Em consequência, a Secex propôs determinar ao CFC que publique as prestações de contas
detalhadas dos exames de suficiência, incluindo todos os valores arrecadados pela FBC e todas
as despesas custeadas com esses valores.

81. Acolho integralmente a análise. Quanto ao encaminhamento proposto, deixo de acolhê-lo,


consoante exporei na seção a seguir.

V - Transparência

82. A SecexTrabalho examinou as informações disponibilizadas pelo CFC na internet para


concluir que o sítio apresenta conteúdo abrangente, mas pode ser aperfeiçoado com a inclusão
de dados adicionais sobre a gestão. Assim, a unidade propôs determinar ao CFC que acrescente
ao website as informações indicadas na parte final do relatório que acompanha esta proposta de
deliberação.

83. Deixo de acolher a sugestão por considerar que se afigura dispensável ante a recente edição
da Instrução Normativa 84/2020, que definiu em seus arts. 8º a 11 as informações e os
documentos que devem ser divulgados pelas unidades jurisdicionadas na rede mundial de
computadores para fins de prestação de contas e de avaliação da gestão.

VI - Mérito

84. Feito o confronto entre os indícios apresentados pelo denunciante e os elementos colhidos
na instrução do processo, cabe considerar esta denúncia parcialmente procedente.

Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 26 de agosto de 2020.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI

Relator

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