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2785120141.PROC
1 de 1
Número do Acórdão:
ACÓRDÃO 2292 / 2020 - PLENÁRIO
Relator:
AUGUSTO SHERMAN
Processo:
027.851/2014-1
Tipo de processo:
DENÚNCIA (DEN)
Data da sessão:
26/08/2020
Número da ata:
32/2020 - Plenário
Entidade:
Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Unidade Técnica:
Secretaria de Controle Externo do Trabalho e Entidades Paraestatais (SecexTrabalho).
Representante Legal:
Lucas Edgar Luft Delavy (OAB/SC-33.646) e Vagner de Oliveira Urach (OAB/SC-32.107B),
representando Fundação Brasileira de Contabilidade.
Assunto:
Denúncia sobre possíveis irregularidades em participação de delegações em eventos no exterior,
pagamento de diárias, custeio de passagens em classe executiva, custeio de despesas de viagens
de ex-Presidentes, pagamento de meia-diária a residentes no mesmo local de realização de
reuniões de trabalho, ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas pelo menor
preço, entre outros.
Sumário:
DENÚNCIA. CFC. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES NA CONCESSÃO DE DIÁRIAS E PASSAGENS,
BEM COMO NA CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS E CONVÊNIOS PARA REALIZAÇÃO DE EXAMES
DE SUFICIÊNCIA E EVENTOS. INSPEÇÃO. AUDIÊNCIA DOS GESTORES E OITIVA DA AUTARQUIA.
APRESENTAÇÃO DE JUSTIFICATIVAS. ACOLHIMENTO PARCIAL. CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. DETERMINAÇÕES. ARQUIVAMENTO. CIÊNCIA.
Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de denúncia noticiando possíveis irregularidades
ocorridas no Conselho Federal de Contabilidade (CFC) , referentes à realização de despesas com
a concessão de diárias e aquisição de passagens, bem como à ausência de transparência na
contratação da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) , entidade privada sem fins lucrativos,
com vistas à realização de eventos e à aplicação do Exame de Suficiência,
9.2. determinar ao Conselho Federal de Contabilidade (CFC) , com fundamento no art. 45 da Lei
8.443/1992 que, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, adote providências para promover
ajustes em seus atos normativos de forma a:
9.3. determinar ao CFC que informe ao Tribunal o cumprimento das determinações constantes
do item 9.2 retro no mesmo prazo especificado no referido item;
9.5. levantar a chancela de sigilo destes autos, exceto quanto às peças que contenham a
identidade do denunciante;
Quórum:
13.1. Ministros presentes: José Mucio Monteiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin
Zymler, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, Ana Arraes e Bruno Dantas.
13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator).
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e Weder
de Oliveira.
Relatório:
5. Em 10/10/2014, foi atuada esta Denúncia referente à possível transgressão da Lei 12.527/2011
(Lei da Transparência) pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e noticiando que esse teria
incorrido em despesas exorbitantes com diárias e passagens. Adicionalmente, o Denunciante
solicitou que o Tribunal auditasse a Unidade Jurisdicionada e a Fundação Brasileira de
Contabilidade (FBC) , e que determinasse a essa última que prestasse contas, vez que não estaria
divulgando suas demonstrações contábeis desde o ano 2000.
10. Em 25/02/2015, a primeira instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica)
propôs não conhecer da denúncia e encerrar o processo (pç. 2-4) .
13. Em 20/06/2016, a terceira instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
50-52) , apresentando o resultado da inspeção e examinando a documentação obtida da
Unidade Jurisdicionada, propôs oitiva do CFC e da FBC, além do encaminhamento imediato ao
Ministério Público Federal.
14. Em 05/05/2017, o Ministro-Relator, em seu terceiro despacho (pç. 55) , acolheu parcialmente
a proposta da unidade técnica, ajustando-lhe os termos: postergou o encaminhamento ao MPF
para quando do exame de mérito; determinou a oitiva do CFC referente a nove apontamentos;
determinou a identificação de responsáveis e sua audiência, no que se referia a cinco dos nove
apontamentos mencionados; e instruiu a realização de outras diligências e exames técnicos.
15. Em 20/09/2017, a quarta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
58-60) propôs a realização de diligência ao CFC com a finalidade de esclarecer a natureza da
relação com a FBC, se convenial ou contratual. O expediente foi oportunamente respondido pelo
diligenciado (pç. 61-63) .
16. Em 02/04/2018, a quinta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
65-67) , considerando a conexão da matéria tratada nestes autos com outros processos
tramitando no Tribunal e em outras instâncias, propôs diligenciar o 1º Ofício de Combate à
Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal para a obtenção de informações
acerca do andamento do Procedimento Investigatório Criminal 1.16.000.002386/2016-44 e de
outros procedimentos eventualmente instaurados para apuração de irregularidades no Conselho
Federal de Contabilidade.
17. Em 17/04/2018, o Ministro-Relator, em seu quarto despacho (pç. 68) , autorizou a diligência,
determinando à Unidade Técnica que, 'tão logo recebida a respectiva resposta, ultime as
medidas determinadas no despacho da peça 55 e finalize a instrução destes autos, tendo em
vista o longo tempo despendido na tramitação'.
18. Em 04/05/2018, foi realizada a referida diligência, oportunamente respondida (pç. 69-71) .
Subsequentemente, outros documentos foram juntados aos autos (pç. 72-77) .
19. Em 06/11/2018, a sexta instrução técnica (acatada pela subunidade e unidade técnica) (pç.
78-80) , propôs a oitiva e as audiências previamente estabelecidas pelo Relator, bem como
diligência ao CFC para que encaminhasse a prestação de contas do V Encontro Luso-Brasileiro de
Contabilidade. As medidas foram comunicadas aos destinatários (pç. 81-86; pç. 89; pç. 96-98) e
oportunamente respondidas (pç. 87-88; pç. 90-95; pç. 99-100) .
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
20. A presente Denúncia preenche os requisitos de admissibilidade, haja vista ser a matéria de
competência do Tribunal, estar presente o interesse público, referir-se a responsável sujeito a sua
jurisdição (dirigentes do CFC) , estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter o nome
legível do denunciante, sua qualificação e endereço, bem como encontrar-se acompanhada dos
indícios concernentes a irregularidades ou ilegalidades.
EXAME TÉCNICO
Exame Sumário
Oitivas e Audiências
22. O Relator, por meio de despacho (pç. 55) , determinou à Unidade Técnica as seguintes
providências: promoção de oitiva do CFC referente a nove (9) ocorrências, e 'com a redação
constante deste despacho'; identificação de responsáveis por cinco (5) das mencionadas
ocorrências; audiência desses responsáveis; e duas outras medidas que serão examinadas na
sequência desta instrução técnica. Posteriormente, também por meio de despacho (pç. 68) , o
Relator reiterou referidas medidas, que deveriam ser logo ultimadas, 'tendo em vista o longo
tempo despendido na tramitação'.
23. A oitiva do CFC e as audiências dos Responsáveis foram realizadas. Entretanto as redações
respectivas não foram as constantes do despacho do Relator (pç. 55) . O quadro a seguir
relaciona as oitivas e/ou audiências, como redigidas pelo Relator, e as que foram efetivamente
comunicadas à Unidade Jurisdicionada e aos Responsáveis. Em negrito estão marcados os onze
(11) trechos presentes no referido despacho, mas suprimidos nas comunicações. Embora as
supressões sejam relevantes, não se proporá oitiva ou audiências adicionais (de forma a
restabelecer os termos fixados pelo Relator) , haja vista que os gestores destinatários tomaram a
iniciativa de considerar, em seus argumentos, direta ou indiretamente, aqueles aspectos
suprimidos.
Oitivas e
Audiências
§ Documento Texto
Despacho-
Relator pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do
23.10.
Conselho, com fundamento na Resolução CFC 1.107/2007;
(§ 3.d)
Despacho-
Relator ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas
23.17.
pelo menor preço, em desacordo com a Portaria CFC 73/14;
(§ 3.g)
23.26. Fonte/Evidência:
Despacho-
Relator (pç. 55)
Ofício
0238/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Oitiva do CFC)
(pç. 81) ;
Ofício
0025/2019-
TCU-
SecexFazenda
(Oitiva
complementar
do CFC) (pç. 97)
;
Ofício
0239/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Audiência de
José Martonio
Alves Coelho,
Presidente
2014-2015) (pç.
82) ;
Ofício
0240/2018-
TCU-
SecexFazenda
(Audiência de
Luiz Henrique
de Souza, Vice-
Presidente
2014-2015) (pç.
83) .
Considerações gerais
25. A análise das respostas às oitivas e das razões de justificativa será conjunta (para oitivas e
audiências) , de forma a aproveitar a todos, no que concerne às circunstâncias objetivas;
fundamento: RI-TCU/2002, art. 161; art. 250, § 7º.
26. A análise que se fará nesta instrução técnica fundamenta-se em alguns dos entendimentos
vigentes sobre os Conselhos de Fiscalização Profissional:
mesmo que não diretamente vinculados a Ministério específico, os Conselhos estão sujeitos à
supervisão ministerial de caráter geral; fundamento: DL-200, art. 19;
28. Os temas analisados naquela auditoria são recorrentes nos processos relativos a Conselhos
Profissionais e também comuns aos do presente processo: controle de gestão nos Conselhos;
legalidade das receitas auferidas; despesas com passagens, diárias, jetons, verbas de
representação e demais indenizações; transferência de recursos dos Conselhos a terceiros,
p ç ç
§ Descrição Cifra
R$
29.1. Total de receitas orçamentárias (2016)
287.565.128
R$
29.3. Total de despesas orçamentárias (2016)
253.762.525
R$
29.4. Superávit (2016) 33.802.603
(11,8%)
R$
29.5. Total gasto com fiscalização (2016)
21.581.459
Médio 07,21%
Máximo
29.9. Posição em relação aos demais Conselhos quanto ao valor da anuidade 4º colocado
30. Observa-se que, embora a atividade de fiscalização direta, exercida pelo Sistema CFC-CRCs,
responda por 11,65%, em média, da receita orçamentária, e que dos 1.687 funcionários do
Sistema apenas 188 sejam fiscais, a legislação sobre o assunto é restritiva ao determinar a
aplicação dos recursos 'na organização e funcionamento de serviços úteis à fiscalização':
Parágrafo único. A receita dos Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade só poderá ser
aplicada na organização e funcionamento de serviços úteis à fiscalização do exercício
profissional, bem como em serviços de caráter assistência, quando solicitados pelas Entidades
Sindicais [...]
31. Nota-se, também com base no quadro anterior, que o Sistema CFC-CRCs está entre os
quatro maiores do país e que é superavitário. Essa substancial disponibilidade de caixa é um
fator que deve ser associado às razões técnicas e institucionais que os gestores apresentaram
para justificar despesas altas com diárias e passagens.
35. Análise: a Resolução-CFC 1.392/2012, art. 4º, previa o pagamento de meia diária a
Conselheiros pela participação em reuniões no mesmo local de domicílio. Posteriormente (em
exemplo de má técnica legislativa) , a Resolução-CFC 1.506/2016 alterou e renumerou aquele
dispositivo de 'art. 4º' para 'art. 3º', prevendo a 'percepção de 50% (cinquenta por cento) do
valor da diária somente aos conselheiros do CFC participantes de reuniões regimentais (...) que
ocorram no mesmo local de seu domicílio'. Finalmente, a Resolução 1.392/2012 foi revogada, e a
revogadora, Resolução-CFC 1.533/2017, art. 9º, estabeleceu que diária ou meia-diária não serão
pagas nos 'casos em que o afastamento ocorra dentro da mesma região metropolitana'.
38. Resposta do CFC à oitiva: a Lei 11.000/2004, art. 2º, § 3º, autorizou os Conselhos a
'normatizar a concessão de diárias, jetons e auxílios de representação, fixando o valor máximo
para todos os Conselhos Regionais'. Os Conselhos, portanto, não estariam submetidos ao
Decreto 5.992/2006, que dispõe sobre a concessão de diárias no âmbito da administração
federal direta a tárq ica e f ndacional Por o tro lado a j rispr dência do TCU é enfática em
federal direta, autárquica e fundacional. Por outro lado, a jurisprudência do TCU é enfática em
afastar a aplicação da Lei 8.112/1990 aos funcionários dos Conselhos, tampouco os seus
membros (conselheiros) podem ser considerados agentes públicos em sentido estrito.
Razoabilidade, sendo relativa e subjetiva, nos remete a bom senso e a algo sensato e racional, o
que não nos parece estar em dissonância com os valores de diária fixados pelo CFC. A diária
regulamentada na Resolução-CFC 1.533/2017 (R$ 700,00) é aproximadamente 20% maior do que
a prevista no Decreto 5.992/2006 (R$ 580,00) , ou seja, ou seja, nada de exorbitante ou irracional.
Se a vontade do legislador fosse estabelecer parâmetros de racionalidade, além de fixá-los de
forma expressa, o que não aconteceu, não teria delegado aos Conselhos por meio de lei (pç. 99,
p. 2) .
Valores
de
Diária
Diária Diária
(R$) (US$)
Deslocamento Nacional
41.1 321,10
Decreto 5.992/2006, Anexo I, 'C'
Decreto 5.992/2006
Deslocamento Internacional
As colunas 'Diferença'
apresentam, em percentual (%) ,
41.11 o valor a maior (ou a menor)
pago pelo CFC aos Conselheiros
ou empregados.
42. Conclusão: exceto no que se refere aos valores de diárias internacionais pagos a
empregados do CFC, os demais valores estão acima dos parâmetros estabelecidos pelo Decreto
5.992/2006 e pelo Decreto 71.733/1973, acolhidos pela jurisprudência do Tribunal, concluindo-se
que a irregularidade não foi elidida. Depreende-se que a liberalidade do CFC nos gastos com
diárias, além de motivar-se em justificativas técnicas, resulta também da substancial
disponibilidade de caixa. Caberia determinação ao Conselho Federal para que adaptasse seus
regulamentos aos referidos Decretos. Entretanto, não será proposta tal deliberação porque o
Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário, item 9.4.1.1, já o fez.
Audiência
autorizar a participação em evento realizado em Roma (2014) de
Presidente quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo art. 4º, § 1º,
43.4.
da Resolução CFC 1089/2007, conduta essa vedada pelo art. 10 da
Of-0239 (§ mesma Resolução;
1.a)
Audiência
autorizar a participação em evento realizado em Punta Cana (2015) de
Vice-
quantitativo de pessoas em desacordo com o definido pelo art. 6º, caput,
43.5. Presidente
da Resolução CFC 1477/2015, conduta essa vedada pelo art. 10 da
Of-0240 (§ mesma Resolução;
1.a)
44. Resposta do CFC à oitiva: Roma/2014: o fato se circunscreve a dois aspectos: o primeiro,
qualitativo, em relação a que agentes estariam albergados pelos normativos, seja o Decreto
5.992/2006 ou a Resolução-CFC 1.089/2007; e o segundo, quantitativo.
45. Quanto ao primeiro aspecto, o fato de alguns participantes não comporem ou não deterem
algum vínculo jurídico efetivo com o CFC não nos parece uma prática irregular sob o enfoque do
ato de concessão de diárias e passagens. Como já afirmado no âmbito desta Corte de Contas, os
Conselhos de Fiscalização Profissional possuem autonomia quanto à normatização e fixação de
diárias (Lei 11.000/2014) , o que de certa forma torna o Decreto 5.992/2006 fonte subsidiária em
relação aos funcionários e agentes em colaboração com o CFC. Notadamente, a jurisprudência
várias vezes reafirmada pelo TCU é enfática de que aos funcionários dos Conselhos de
Fiscalização Profissionais não se aplicam as disposições estatutárias da Lei 8.112/1990,
tampouco, os seus membros (Conselheiros) podem ser considerados agentes públicos em
sentido estrito.
47. No que se refere à quantidade de participantes, convém anotar que os membros Sr.
Leonardo S. do Nascimento e a Sra. Ana Maria Elorrieta foram custeados por exercerem a
representação do Brasil junto ao IFAC. Por meio da Portaria-CFC 078/2014 e da Portaria-CFC
239/2014, o CFC aprovou as referidas indicações. De fato, é incontroverso que houve um
excedente em relação a um participante na cota selecionada aos vice-presidentes, contudo, essa
constatação passa ao largo de caracterizar que a despesa realizada para transporte e custeio de
participantes em evento de relevância para a profissão seja presumivelmente irregular (pç. 87, p.
1-3) .
48. Resposta do CFC à oitiva: Punta Cana/2015: todas as autorizações foram efetivadas de
forma regular e em conformidade com a Resolução-CFC 1.477/2015. As participações no evento
atenderam aos limites fixados na Resolução-CFC 1.477/2015, art. 6º, excluindo-se,
evidentemente, como base de cálculo, o presidente do CFC, como representante oficial,
integrantes de grupo de trabalho e funcionários. A autorização de participação restou distribuída
da seguinte forma:
50. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) :
Roma/2014: as autorizações para participação de conselheiros e vice-presidentes foram
realizadas em estrita observância às normas:
Representante oficial do CFC: Presidente José Martonio Alves Coelho (Resolução-CFC 1.089, art.
3º) : 1;
Conselheiro Federal (Plenário) Osvaldo Rodrigues da Cruz, integrante da Câmara Técnica do CFC,
foi designado para participar da Assembleia Geral do Cilea, mediante 'autorização excepcional'
do Plenário-CFC (Resolução-CFC 1.089/2007, art. 3º) : 1;
Ex-Presidentes (Resolução-CFC 1.048/2005, art. 1º, inc. II; e Resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, §
4º) : 5;
Representantes do Brasil perante a Ifac (Portaria-CFC 78/2014) : Ana Maria Elorrieta, participou
da reunião lfac Board e Leonardo S. do Nascimento, participou da reunião do International Public
Sector Accounting Standards Board (IPSASB) : 2; e
Funcionário do CFC: Elys Tevania Alves de Souza Carvalho (Resolução-CFC 1.290, art. 1º) : 1.
54. Há ainda de considerar que, sendo o Brasil modelo na convergência das Normas
Internacionais de Contabilidade, em especial para a América Latina, e ainda uma referência no
processo de adoção das Normas de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (IPSAS) , tendo em
vista todo o esforço que o país vinha desenvolvendo nesse sentido, fez-se necessária a
participação de uma delegação representativa, a fim de proporcionar aquisição e transferência
de conhecimento para outros países no mesmo estágio de implantação das IPSAS (pç. 91, p. 1-4)
.
56. A participação de ex-presidentes é amparada na Lei 12.932/2013, art. 1º, § 2º; na Resolução-
CFC 1.107/2007; e na resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, § 4º. No entanto, ressalta-se que a ex-
presidente citada na relação de participação do evento, não estava amparada pela condição de
ex-presidente do CFC, mas sim, como a representante do CFC na diretoria da Associação
Interamericana de Contabilidade, na qualidade de Vice-presidente de Promoção Institucional da
AIC. Por outro lado, o Presidente do CFC, os integrantes de grupo de trabalho e funcionários não
compõem, para fins de cálculo, o limite estabelecido na Resolução-CFC 1.477/2015. A delegação
foi assim distribuída:
d) Representante do CFC junto à AIC (Portaria-CFC 128/2014) : 1: Maria Clara Cavalcante Bugarin
(também ex-Presidente) ;
57. Ressalta-se que o atendimento à convocação dos Vice-Presidentes foi acolhida, considerando
que a exposição de organismos da profissão contábil em nível global (IFAC, CILEA, AIC, IASB) e
autoridades técnicas reconhecidas internacionalmente em muito contribuiriam para o
desenvolvimento das atividades relacionadas às áreas Técnica e de Desenvolvimento
Operacional do CFC, no que tange à emissão de pareceres técnico-contábeis relativos às Normas
Brasileiras de Contabilidade e aos Princípios de Contabilidade; ao exame e aprovação dos
documentos elaborados e aprovados pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
decorrentes do processo de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS)
emitidas pelo IASB - International Accounting Standards Board (IASB) ; e ao desenvolvimento de
projetos de aperfeiçoamento da gestão administrativa do Sistema CFC/CRCs (pç. 90, p. 1-3) .
59. Materialidade: os valores totais despendidos pelo CFC com as duas delegações foram
aproximadamente os seguintes, considerando que a despesa correspondente a onze (11)
passagens não estão disponíveis (pç. 50, p. 12, 14) :
b) outros integrantes das delegações (Resolução-CFC 1.089/2007, art. 3º; Portaria-CFC 78/2014;
Portaria-CFC 98/2014; Portaria-CFC 128/2014) ;
Despacho-
Relator pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, com
64.1.
fundamento na Resolução CFC 1.107/2007;
(§ 3.d)
Oitiva-CFC
pagamento de diárias internacionais a ex-Presidentes do Conselho, em
64.2. Of-0025 (§ afronta a normativos semelhantes no âmbito do Governo Federal;
1.d)
66. Por outro lado, o Decreto-Lei 1.040/1969, art. 1º, § 2º, alterado pela Lei 12.932/2013,
estabelece: 'Os ex-presidentes do Conselho Federal de Contabilidade terão assento no Plenário,
na qualidade de membros honorários, com direito somente a voz nas sessões'. Por sua vez, a
Resolução-CFC 1.458/2013, art. 24, regula que o 'Conselho Consultivo é integrado pelo
Presidente do CFC, por seus ex-presidentes e pelos agraciados com a medalha Mérito Contábil
(...) ', e que 'os ex-presidentes terão direito a participar de eventos nacionais e internacionais da
classe contábil'. Veja-se que o ato autorizativo da participação em eventos, inclusive
internacionais, já estava amparado por força de lei, de modo que não se pode inferir que a
participação de ex-presidentes do CFC seja irregular.
67. Os ex-presidentes são membros do Plenário do CFC e atuam com o objetivo de assessorar o
presidente e o Plenário em matéria de alta relevância para o Sistema CFC/CRCs. Seguindo o
mesmo princípio do legislador, os ex-presidentes não teriam somente o direito, mas o dever de
participar ativamente das importantes e principais discussões da classe, seja em reuniões,
palestras ou eventos. Caso contrário, não faria sentido a lei atribuir aos ex-presidentes assento
no Plenário. Diferentemente do cenário vivenciado nos governos que representam a União, nos
Conselhos de Contabilidade os ex-presidentes são reconhecidos e exercem papéis importantes.
69. Análise: o Decreto-Lei 1.040/1969, que dispõe sobre os Conselhos Federal e Regionais de
Contabilidade, alterado pela Lei 12.932/2013, estabelece que os 'ex-presidentes do Conselho
Federal de Contabilidade terão assento no Plenário, na qualidade de membros honorários, com
direito somente a voz nas sessões'. Como examinado na seção precedente desta instrução
técnica, o custeio de despesa de ex-Presidente (quando participando de evento de interesse do
Conselho Federal) é cabível na medida que ele integre a delegação dentro da cota de 1/3 do
Plenário, na condição de Conselheiro. Não há amparo legal para regulamentos que autorizem o
custeio de despesas de ex-Presidentes, a exemplo da Resolução-CFC 1.048/2005, que prevê que
a participação de ex-presidentes nos 'eventos relacionados aos interesses da Classe Contábil,
nacionais e internacionais, correrão por conta do Conselho Federal de Contabilidade nos termos
da norma que regulamenta a concessão de diárias'. Tais regulamentos, por outro lado, ferem os
princípios da Moralidade e da Impessoalidade (CF/1988, art. 37, caput) .
71. Conclusão: as justificativas não devem ser aceitas. Irregularidade não elidida, o que
embasará proposta de determinação para que o Conselho Federal ajuste seus normativos
internos, conforme Proposta de Encaminhamento.
Oitiva-CFC
aquisição de passagens em classe executiva para representantes do CFC,
72.2.
Of-0025 (§ em desacordo com a Resolução pertinente;
1.e)
Audiência
autorizar a aquisição de passagens em classe executiva, sem aprovação
Vice-
da presidência, para participação de representantes oficialmente
72.3. Presidente
designados em eventos internacionais (2014 e 2015) , em afronta ao art.
Of-0240 (§ 1°, § 1°, da Resolução CFC 1290/2010;
1.b)
73. Resposta do CFC à oitiva: é importante afirmar, de forma categórica, que todas as
aquisições de passagens aéreas em classe executiva foram realizadas mediante autorização do
Presidente do CFC, conforme a Resolução-CFC 1.290/2010 então vigente, embora não houvesse,
à época, formulários próprios a esse fim. Seria ilógico se ocorresse de outra forma, dado o
modelo de gestão 'presidencialista' do Conselho.
74. Quanto à razoabilidade, a citada Resolução-CFC 1.290/2010 era coerente com o praticado
pela Administração. Como ilustração, cita-se o normativo publicado pela Procuradoria-Geral da
República:
Art. 20. A passagem aérea para os voos internacionais destinada aos propostos será adquirida
pelo órgão competente, na classe executiva para os membros, quando houver disponibilidade
no momento da emissão da passagem, e na classe econômica para os servidores.
§ 1º Poderá ser concedida aos servidores passagem de classe executiva nos trechos em que o
tempo previsto de voo entre o último embarque no território nacional e o destino for superior a
oito horas, e aos servidores ocupantes de cargo em comissão CC-5 ou superior, quando houver
disponibilidade no momento da emissão.
75. Nota-se que, desde 2014, a PGR adotou permissivo para que, em voos internacionais, as
passagens na classe executiva sejam concedidas a todos os seus membros e, no caso de
servidores, a classe executiva se limitava aos voos superiores a 8 (oito) horas de duração. Já a
Resolução-CFC 1.290/2010 previa condições mais restritivas à autorização de classe executiva,
exigindo-se duas condições: a) tempo de voo superior a 8 horas de duração; e b) aprovação da
Presidência
Presidência.
76. Igualmente, não se divisa que as passagens aéreas internacionais em classe executiva foram
adquiridas com propósitos que não estivessem relacionados com as atividades desenvolvidas
pela autarquia e com as atribuições dos beneficiários, assim designados, formalmente, para essa
missão representativa, não havendo que se cogitar, por exemplo, que houve burla ao princípio
da finalidade. Portanto, tratar o tema como falta de razoabilidade do CFC é, no mínimo, absurdo
e desproporcional (pç. 99, p. 6-8) .
Oitiva-CFC
ausência de razoabilidade do normativo que permite a aquisição
79.2. Of-0025 (§ excepcional de passagens em classe executiva;
1.f)
80. Resposta do CFC à oitiva: os argumentos são os mesmos das respostas do Responsável e
do CFC à audiência e à oitiva reproduzidas nos parágrafos anteriores (pç. 99, p. 6-8) .
81. Análise: considerando que o Decreto 71.733/1973, que dispõe sobre retribuição e direitos do
pessoal em serviço no exterior, previa, à época dos fatos, a aquisição de passagens em classe
executiva, sob certas circunstâncias; os Conselhos Profissionais poderiam, servindo-se dele,
estabelecer regulamentos próprios. Entretanto, a partir de 06/02/2018 vige o Decreto
9.280/2018, que alterou aquele diploma, estabelecendo que: 'A passagem aérea destinada ao
servidor e aos respectivos dependentes será adquirida pelo órgão competente sempre na classe
econômica'. Assim sendo, desde 07/02/2018, inexiste a possibilidade de os Conselhos adquirirem
passagens em classe executiva.
82. O CFC cita o exemplo do MPU-PGR, que adota a mesma regulamentação autorizadora da
aquisição de passagens internacionais na classe executiva para membros (Procuradores) . Deve-
se reconhecer que o conjunto dos poderes públicos nacionais rotineiramente estratifica as
categorias de servidores, atribuindo a algumas os privilégios vedados a outras. Entretanto, o
regulamento do MPU-PGR não se aplica ao CFC.
84. O quadro seguinte resume quatro (4) ocorrências, presentes nos autos, de aquisição de
passagem aérea internacional em classe executiva, autorizadas pelo Vice-Presidente do CFC:
Aquisição de
§ Passagens Aéreas em
Classe Executiva
Data Ante-
Data Data Preço
Identificação do
Solicitação cedência
Viajante
Ciência Voo (R$)
Autorização (dias)
Leonardo do
Nascimento
84.1. 12/12/2013 24/02/2014 08/03/2014 12 21.258,13
IPSASB - Toronto-
CAN
Leonardo do
Nascimento
84.2. 12/12/2013 22/04/2014 22/06/2014 61 9.779,12
IPSASB - Toronto-
CAN
Legenda:
Antecedência:
número de dias entre
a solicitação da
passagem e a data do
voo.
Fonte/Evidência: pç.
43, p. 1-121
85. As datas nas quais o Conselho teve ciência dos eventos internacionais são aquelas constantes
na prova dos autos. É bem razoável supor que essas datas fossem ainda anteriores, pois os
eventos internacionais que ocorrem na América do Norte são normalmente planejados com
grande antecedência.
86. Observa-se: que em todas as quatro ocorrências poderia ter havido até mais de 60 dias entre
a data de solicitação do bilhete e a data do voo, pois os períodos em que se realizariam os
eventos eram previamente conhecidos; que em apenas dois casos esse intervalo foi menor do
que 30 dias, o que exigiria a autorização do Presidente; e que nas duas ocasiões em que o prazo
de aquisição foi mais curto as passagens custaram mais caro:
a) Canadá: com antecedência de 12 dias, a passagem custou 117% mais cara, em relação à
adquirida com 61 dias de prazo; e
b) EUA: com antecedência de 26 dias, a passagem custou 26% mais cara, em relação à adquirida
com 51 dias de prazo.
88. Conclusão: considerando o estabelecido no Decreto 71.733/1973, art. 27-A, alterado pelo
Decreto 9.280/2018, 'A passagem aérea destinada ao servidor e aos respectivos dependentes
será adquirida pelo órgão competente sempre na classe econômica'; propõe-se determinação
para que o Conselho Federal ajuste seus normativos internos, vedando a aquisição de passagens
em classe executiva ou superior, conforme Proposta de Encaminhamento.
89. Por outro lado, não devem ser aceitas as justificativas para o descumprimento da Resolução-
CFC 1.290/2010, art. 1º, § 3º, então vigente, que estabelecia a obrigatoriedade da autorização do
Presidente quando as solicitações se dessem com antecedência inferior a trinta (30) dias em
relação à data do voo; cujo descumprimento, segundo os indícios reunidos no quadro anterior,
pode causar prejuízo para o CFC, o que não é desconhecido do Conselho Federal, haja vista o
'considerando' da Portaria-CFC 74/2014: 'Considerando que o tempo de marcação de passagens
é inversamente proporcional ao valor dessas passagens'; e cujo fundamento não era meramente
formal ou acessório, visto que a novel Resolução-CFC 1.533/2017, art. 7º, estabelece a
competência do Plenário (ou do Presidente ad referendum, em caso de urgência) para
autorização de viagens internacionais. A obrigação é compreensível ao gestor mediano, e
descumpri-la é erro grosseiro, agravado por tratar-se de gestores profissionais de contabilidade.
Irregularidade não elidida, o que embasará proposta de multa conforme Matriz de
Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.
Despacho-
Relator ausência de comprovação de aquisição de passagens aéreas pelo menor
90.1.
preço, em desacordo com a Portaria CFC 73/14;
(§ 3.g)
Oitiva-CFC
90.2. falta de comprovação da aquisição das passagens pelo menor preço.
Of-0025 (§
1.g)
Audiência
91. Resposta do CFC à oitiva: à época dos fatos, o CFC não dispunha de documentos para
comprovação, mas praticava pesquisa de preço para aquisição de passagens aéreas em
condições econômicas. Essa foi a motivação para a publicação de normativo sobre o tema, que
estabeleceu prazo mínimo de 10 (dez) dias para solicitação de reserva, como ilustram seus
'considerandos':
'considerandos':
Portaria-CFC 73/2014 (pç. 102, p. 59-60)
Considerando que a administração do CFC visa imprimir uma nova dinâmica com relação aos
gastos do Conselho na emissão de passagens aéreas, bem como estabelecer novos parâmetros
para a sua concessão;
Considerando que as constantes remarcações de passagens aéreas geram despesas para o CFC;
Considerando que o pagamento das multas pelas remarcações de passagens aéreas não está
previsto no orçamento do CFC e que os Órgãos de controle externo reprovam este tipo de
situação.
92. Essa motivação evidencia o alinhamento do CFC aos princípios da Administração Pública.
Imaginar o contrário é fantasiar um cenário de que o CFC poderia instituir regras somente para
burlar e falsear os seus atos administrativos.
93. Não se mostra admissível que a busca pela economicidade na aquisição de passagens aéreas
possa ser questionada em razão da falta de armazenamento dos comprovantes que poderiam
atestar a realização de, no mínimo, três orçamentos para aquisição pelo menor preço.
94. No período em causa, o CFC contratara por licitação (Pregão 22/2012) a empresa 'Reserve', o
qual apresentava todas as tarifas praticadas e disponíveis das companhias aéreas nacionais
(TAM, GOL, Avianca, WebJet, Azul, Trip, Passaredo, Sete, NHT, Puma Air e NoAr) , além das
internacionais através do Sabre, incluindo Web Fares, Tarifas Acordo, Tarifas Promocionais e
Tarifas de Oportunidade.
97. Pelo exposto e não obstante a falta de armazenamento dos documentos que comprovassem
a pesquisa de preços, restou demonstrado que os normativos internos (portaria) , o Termo de
Referência e a utilização do Sistema 'Reserve' por empresa especialmente contratada ratificam o
zelo, o cuidado e a responsabilidade do Conselho na aquisição das passagens aéreas em
condição mais vantajosa e no respeito aos princípios da legalidade e economicidade (pç. 99, p.
8-10) .
99. Análise: a prestação de contas é instituto bastante antigo na legislação nacional. Incipiente
na Constituição/1891, amadureceu nas subsequentes e firmou-se na CF/1988, art. 70, parágrafo
único, com a redação da EC-19/1998: 'Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de
natureza pecuniária'. A legislação infraconstitucional acompanhou essa evolução.
100. Para que as contas sejam prestadas, é necessário que elas existam e possam ser
demonstradas. E isso só é possível se as evidências subsistirem no tempo. Assim sendo, a
inexistência de elementos probatórios suficientes caracteriza, também, a impossibilidade de
prestação de contas. No caso concreto, a inexistência da demonstração da compra de passagens
em condições vantajosas impede a prestação de contas e constitui-se em erro grosseiro, vez que
a compreensão do fato é possível ao gestor mediano, com o agravante de que os gestores são
profissionais de contabilidade.
101. Conclusão: as justificativas não devem ser aceitas, pois o dever de prestar contas é
obrigação compreensível ao gestor mediano, e descumpri-la é erro grosseiro, agravado por
tratar-se de gestores profissionais de contabilidade. Fundamento: CF/1988, art. 70, parágrafo
único. Irregularidade não elidida, o que embasará proposta de multa conforme Matriz de
Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.
103. Resposta do CFC à oitiva: inicialmente é importante destacar que deliberação da Câmara
de Registro 122/2015, referendada pelo Plenário, que pré-qualificaria a FBC, sem a prévia
pesquisa de preços, é ato meramente protocolar, pois as contratações são de exclusiva alçada do
Presidente do CFC, portanto são inócuos os efeitos daquela deliberação sobre o Processo-CFC
2015/001321 (Dispensa de Licitação 98/2015) , que instruiu a contratação da Fundação. O
Regimento Interno-CFC (Resolução-CFC 1.458/2013) não atribui ao Plenário qualquer
prerrogativa de autorização prévia para a contratação de bens e serviços.
104. Portanto, a aferição de legalidade da contratação deve ser pautada a partir do termo de
referência, tal qual ordinariamente se faria sob o rito da Lei 8.666/1993. Por outro lado, entende-
se por saneada a questão relacionada à pesquisa de preços (Lei 8.666/1993, art. 26, inc. III) ,
considerando que antes da assinatura do contrato, a realização da pesquisa de preços foi
suficientemente atendida para o propósito da contratação, e que ao fim revelou que o preço
contratado era compatível com o mercado.
105. A própria instrução do processo acena para viabilidade da contratação, ainda que o termo
de referência tenha se revelado omisso ou carecido de estudos mais robustos a respeito desse
tipo de contratação. Outros aspectos corroboram com o fato de que ao final a contratação se
revelou acertada com relação à economicidade de recursos, complexidade do objeto e a
compatibilidade das atividades desenvolvidas pela Fundação Brasileira de Contabilidade em
relação a execução do objeto, não havendo qualquer juízo de reprovabilidade por parte do
competente órgão de controle externo, no caso a Promotoria de Justiça de Tutela das Fundações
e Entidades de Interesse Social do MPDFT.
106. Ainda a título de esclarecimento, a destinação de recursos havidos em decorrência de
eventual superávit financeiro proveniente da realização do exame, o Conselho Federal de
Contabilidade editou a Resolução CFC 1.434/2013, que autoriza a divisão e repartição desses
recursos superavitários entre o Sistema CFC/CRCs, única e exclusivamente destinados à
fomentação da educação profissional continuada, finalidade prevista nos termos do Decreto-Lei
9.295/1946 (pç. 87, p. 3-4) .
107. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) : a
contratação da FBC pelo CFC para realização dos Exames de Proficiência 2016/2017 se deu com
fundamento na Lei 8.666/1993, art. 24, inc. XIII (Dispensa de Licitação 98/2015) ; e foi precedida
de avaliação de resultado do Exame de Suficiência de 2015, também aplicado pela FBC
(Processo-CFC 2015/001251) , pela Câmara de Registro do CFC, que foi favorável à contratação
da FBC (Deliberação 122/2015) , condicionada ao cumprimento dos dispositivos legais,
especialmente quanto à economicidade, notoriedade, expertise e eficiência na organização,
planejamento, impressão, logística de distribuição, leitura/digitalização e aplicação das provas.
109. Nesse sentido, corrobora a Súmula-TCU 250: 'A contratação de instituição sem fins
lucrativos, com dispensa de licitação, com fulcro no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993,
somente é admitida nas hipóteses em que houver nexo efetivo entre o mencionado dispositivo,
a natureza da instituição e o objeto contratado, além de comprovada a compatibilidade com os
preços de mercado'.
110. Evidencia-se que a FBC atende aos pré-requisitos para as contratações diretas com
fundamentos no inciso XIII, art. 24 da Lei 8666/1993, quais sejam: ser uma instituição brasileira;
ser incumbida da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, conforme previsto
em seu estatuto social; não possuir finalidade lucrativa; e possuir inquestionável reputação ético-
profissional. Importante destacar que a reputação ético-profissional inquestionável pode ser
comprovada por meio de trabalhos realizados pela FBC que comprovam sua capacidade,
seriedade e idoneidade na realização dos serviços contratados. Cumpre esclarecer que os
exames foram prestados pela FBC sem nenhuma ocorrência e que atenderam fielmente à
necessidade do CFC, na aplicação das provas, com segurança e confiabilidade no processo,
alcançando todos os estados brasileiros e um total de mais de 400 mil candidatos inscritos nas
10 edições do Exame de Suficiência realizadas entre 2011 e 2015.
a proposta da FBC é datada de 27/10/2015 e foi assinada por Juarez Domingues Carneiro,
Presidente da FBC e ex-Presidente do CFC (pç. 42, p. 16-18) ;
114. Assim sendo, o Presidente do CFC homologou a decisão de contratar a FBC, antes de iniciar
a pesquisa de preços.
115 Pesquisa de preços insuficiente: a suposta pesquisa de preços, além de ter sido realizada
após a decisão do Presidente de contratar a FBC, constou apenas de uma única proposta
(Fucape) , além da proposta da própria FBC, o que é insuficiente para caracterizar a formalidade
como 'pesquisa', concluindo-se que, de fato, ela não foi realizada, tema que será retomado nesta
instrução.
116. Competência da FBC para bem atender à contratação: a justificativa de que, no entender
do CFC, a FBC detinha competência para desincumbir-se é aspecto relevante, porém não
suficiente, pois não há dispositivo legal que ampare a contratação direta, por dispensa de
licitação (Lei 8.666/1993, art. 24) , exclusivamente na competência da instituição fornecedora. Por
outro lado, as situações de contratação por inexigibilidade (Lei 8.666/1993, art. 25) não se
aplicam ao caso concreto.
117. Conclusão: a decisão de contratar a FBC para realizar Exames de Suficiência (2016-2017) se
deu previamente à justificativa e à pesquisa de preços. Resposta à oitiva não aceita e razões de
justificativa rejeitadas. Irregularidade não elidida, o que fundamentará proposta de multa ao
Responsável, conforme Matriz de Responsabilização e Proposta de Encaminhamento. Em seção
posterior desta instrução técnica serão analisados aspectos mais graves da relação entre o CFC e
a FBC.
119. Resposta do CFC à oitiva: sob a ótica estritamente documental do instrumento trazido ao
processo, de fato, não se permite chegar a outra conclusão, senão de que teríamos um contrato
em essência.
120. Em 2008, o CFC acordou com a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal (CTOC)
a elaboração do projeto de cooperação, do qual resultou a realização de seminários e eventos
voltados ao aperfeiçoamento da profissão sob aspectos educacionais e de fiscalização
profissional. Ao atrair parte desses seminários para o Brasil, o CFC entendeu que a solução mais
apropriada seria a execução descentralizada da atividade, embora o Decreto-Lei 9.295/1946,
recentemente reformado pela Lei 12.249/2010, lhe concedesse autorização para execução direta,
concluindo que a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) deteria melhores condições
logísticas para atendimento dessa demanda.
121. A FBC foi adicionada como colaboradora à avença entre o CFC e a CTOC, por intermédio de
projeto da feira de negócios, por meio do qual era realizada a captação de recursos de
patrocínio. Diversamente da interpretação emprestada na análise técnica, as cláusulas tratadas
não divisam interesses antagônicos, e sim recíprocos a considerar:
não houve transferências de recursos orçamentários do CFC com efeito remuneratório, para que
a Fundação Brasileira de Contabilidade procedesse a entrega do evento de forma pronta e
acabada para usufruto do CFC e da CTOC;
a FBC é uma entidade privada sem fins lucrativos com previsão estatutária e habilitada ao apoio
de atividades relacionadas à avença tratada entre o CFC e a CTOC, especialmente quanto a
atividades voltadas ao desenvolvimento profissional da classe contábil; e
122. As partes não entabularam qualquer cláusula resolutiva visando lucro ou contraprestação
em bens e serviços, mas sim o rateio de despesas e benefícios eventualmente ocorridos com a
execução do objeto. Aliás, nesse particular, o déficit apurado no referido evento (conforme
consta da prestação de contas) denota de forma clara e transparente o interesse mútuo nas
relações entre CFC e FBC. Ora, os eventos voltados à Educação Continuada prevista na Lei
12.249/2010 têm como finalidade precípua a multiplicação de conhecimentos para todos os
profissionais registrados nos 27 Conselhos Regionais de Contabilidade de todo o país. É fato que
nem todas as regiões possuem profissionais com poder aquisitivo suficiente para participar de
determinados eventos. Mesmo assim, não pode e não deve o CFC deixar de levar o
conhecimento e cumprir uma das suas funções institucionais como é o caso da Educação
Continuada.
123. A questão é que esse tipo de evento não visa lucro, o que certifica mais uma vez o princípio
da absoluta convergência mútua e institucional entre o CFC e a FBC como entidades sem fins
lucrativos.
124. De fato, o CFC, tendo em vista a sua característica atípica e não vinculação a nenhum dos
Ministérios, não dispõe de regramento próprio e específico acerca de convênios. Todavia,
considerando a sua natureza pública, segue os princípios básicos da Administração Pública,
como também alguns regramentos direcionados às entidades públicas vinculadas à União,
evidentemente que, naquilo que couber, pois os Conselhos não integram o orçamento da União
e não fazem parte da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
125. Veja-se que o convênio firmado pelo CFC com a FBC, que é uma entidade privada sem fins
lucrativos, estabelece a contrapartida de 10% (dez por cento) calculada sobre a receita de
patrocínio, e não sobre o valor total do objeto que, nesse caso, seria o V Encontro Luso-Brasileiro
de Contabilidade. Ou seja, mais uma vez o CFC demonstra a obediência aos princípios e normas,
como também, o aspecto econômico e razoável da parceria. Nota-se que caso o CFC decidisse
adotar a contratação, por licitação, de empresa especializada, além da dificuldade em definir as
atividades e o objeto, como também o risco de a prestação dos serviços ser realizada de forma
adequada e satisfatória, o custo seria absurdamente superior à contrapartida acordada com a
conveniada.
126. O CFC teve o cuidado de não favorecer ou admitir o recebimento pela conveniada de
contrapartida financeira diversa do acordado, delimitando de forma acertada que nenhum
recurso orçamentário do CFC seria repassado à FBC. Como dito, a média de valor cobrado por
uma empresa especializada em eventos dessa natureza gira em torno de 15 a 20% (vinte por
cento) da receita total do evento. No caso presente e conforme restará demonstrado pela
prestação de contas, a contrapartida deverá ficar bem abaixo do valor que poderia ter sido
cobrado no caso de contratação de empresas comerciais, o que configura a economicidade do
convênio e a obediência às regras basilares dos princípios da Administração Pública (pç. 87, p. 5-
7) .
127. Razões de Justificativa de José Martonio Alves Coelho, Presidente CFC (2014-2017) : o
Decreto-Lei 9.295/1946, art. 6º, al. 'f' - alterado pela Lei 12.249/2010 - atribui ao CFC a
competência para regular a educação continuada dos profissionais da contabilidade. Nesse
sentido, o CFC realiza parcerias com entidades que tenham por objetivo o fomento da educação
continuada, sem objetivo de lucro, mas, sim, de fortalecimento da Ciências Contábeis no país.
128. No caso em tela, a FBC é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como finalidade
estatutária desenvolver, fomentar, realizar ou participar de projetos, eventos nacionais e
internacionais ou quaisquer outras iniciativas que tenham por escopo desenvolver ou divulgar os
procedimentos técnicos, atualizações da área contábil, cultura, costumes e herança histórica
inerente ao oficio da profissão e do profissional da contabilidade.
129. No âmbito da educação continuada, anualmente, são realizados, em média, 4 mil eventos,
capacitando cerca de 293 mil profissionais da contabilidade em todo o país. O Programa de
Educação Continuada tem como principal objetivo manter, atualizar e expandir os
conhecimentos e competências técnicas dos profissionais da contabilidade.
131. Visando atender à obrigatoriedade estabelecida pela NBC PC 12, o CFC credenciou em 2018
mais de 7 mil cursos e eventos e credenciou 124 instituições capacitadoras. Portanto, para
atender ao universo de mais de 530 mil profissionais da contabilidade, alocados nas capitais e,
principalmente, nos interiores, faz-se necessária a ampliação das parcerias institucionais,
preferencialmente, aquelas firmadas com entidades sem fins lucrativos.
132. Convém destacar que há evidenciada carência de oferta de cursos de capacitação aos
profissionais de contabilidade fora dos grandes centros metropolitanos, o que torna um desafio
para o CFC levar o conhecimento a essas regiões e cumprir a sua missão precípua de
disseminação do conhecimento contábil no país. Nesse sentido, observa-se que o objeto da
questão ora em análise encontra-se alinhado com os objetivos do Programa de Educação
Continuada, visto que o encontro foi realizado no interior do país, possibilitando a expansão de
conhecimentos técnicos e de habilidades multidisciplinares aos profissionais carentes de
capacitação, independente do resultado financeiro que, no caso em tela, foi deficitário.
133. Além disso, em 9 de maio de 2008, o Conselho Federal de Contabilidade firmou protocolo
com a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal para idealização e promoção da
implementação do projeto de Transferência de Conhecimento da Profissão Contábil nos países
de língua portuguesa, visando ao intercâmbio de conhecimentos e experiências da contabilidade
e fiscalização da profissão contábil entre os países. Desse termo, resultou a realização de
seminários para o aperfeiçoamento da profissão contábil e o Encontro Luso-Brasileiro de
Contabilidade, com a primeira edição realizada no Brasil e, no ano seguinte, em Portugal, sendo
esse formato mantido até o corrente exercício.
134. Em cumprimento ao objetivo do projeto, consta da Cláusula 3a do referido protocolo a
constituição de um comitê gestor ao nível estratégico com poder de decisão, composto de 5
(cinco) membros de cada país. Como representantes do Brasil, o Comitê Gestor foi composto de
participantes do CFC e da FBC, demonstrando a corresponsabilidade e a mútua colaboração
entre os signatários para a execução do projeto, com vistas à disseminação de conhecimento.
Não há, portanto, que se falar em interesses opostos entre o CFC e a FBC, em vista da
convergência das entidades para a realização do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade,
demonstrando o interesse recíproco entre as partes e ratificando as características necessárias de
um convênio.
135. Cabe destacar ainda a inexistência de transferência de recursos voluntários entre o CFC e a
FBC e o fato de que o evento em questão apresentou resultado deficitário na ordem de mais de
R$ 60 mil, o que só corrobora os objetivos de mútua colaboração institucional entre as entidades
sem fins lucrativos. Importante mencionar que a FBC arcou com o prejuízo do evento, tendo em
vista que os valores arrecadados não cobriram os custos de sua realização. Portanto a FBC
colaborou com recursos próprios para a sustentabilidade do evento, fato esse que comprova o
compromisso da entidade com o êxito do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade, fruto do
projeto de transferência do conhecimento entre países de língua portuguesa (pç. 91, p. 7-10) .
136. Análise: o valor total arrecadado pela Conveniada (FBC) referente ao V Encontro Luso-
Brasileiro de Contabilidade foi de R$ 51.195,30, contabilizadas as inscrições e patrocínios (pç.
100, p. 2) .
a) embora os objetivos das duas instituições sejam distintos, pode ser identificado algum grau
de convergência no que se refere à realização de eventos: o Estatuto-FBC, art. 2º (pç. 73, p.1) ,
inclui entre as finalidades da instituição a realização de eventos nacionais e internacionais, já a
Resolução-CFC 1.458/2013 - Regimento Interno, art. 1º, § 1º (pç. 91, p. 32) , estabelece as
competências do CFC: registrar, fiscalizar, orientar, disciplinar o exercício da profissão, regular
sobre o Exame de Suficiência e editar Normas Brasileiras de Contabilidade;
c) também consta no Termo do Convênio cláusula que permite a qualquer das partes a denúncia
imotivada do instrumento e sem qualquer ônus, desde que o faça com antecedência de trinta
dias (pç. 12, p. 2) .
138. Por outro lado, os elementos característicos de relação contratual são majoritários:
b) a distinção entre os objetivos das duas instituições, conforme descrita no parágrafo anterior;
c) a delegação à Conveniada (FBC) da competência de arrecadar valores de inscrição e de
patrocínio (pç. 12, p. 3) ;
e) a atribuição de obrigações distintas às partes (pç. 12, p. 3-4) , prevendo, inclusive que caberia
à Conveniada a contratações de terceiros 'que se fizerem necessárias para a realização do
objeto';
f) a Conveniada (FBC) teria que realizar contratações para cumprir o Convênio, como de fato o
fez: locação de espaços, fornecimento de alimentação, pessoal temporário, locação de
equipamentos, sonorização, cobertura fotográfica, fornecimento de materiais (pç. 100, p. 17-24,
37, 41, 42, 49, 60, 65, 73) ; a eventual prerrogativa de denúncia imotivada unilateral do
instrumento 'livre de qualquer ônus' não poderia ser exercida sem que incidisse ônus a uma ou
ambas as partes, o que caracteriza relação contratual;
h) o próprio reconhecimento, manifestado em resposta à oitiva, pelo CFC, de que 'sob a ótica
estritamente documental do instrumento trazido ao processo, de fato, não se permite chegar a
outra conclusão, senão de que teríamos um contrato em essência' (pç. 87, p. 5) .
140. Os exames constantes nas duas seções anteriores, que trataram dos contratos e do
convênio firmados entre o CFC e a FBC, com base nos elementos presentes nos autos, inclusive
os juntados pelas partes, revelaram indícios de fraude à licitação, conflito de interesses, com
violação dos princípios da impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade administrativa.
141. Materialidade dos Exames de Suficiência: considerando que nas dez edições do Exame de
Suficiência pactuadas entre o CFC e a FBC (2011-2015) inscreveram-se 400.000 candidatos (pç.
91, p. 6) ; considerando a média prevista de 55.000 candidatos/edição no período de 2016-2017
(pç. 42, p. 5) ; considerando quatro edições no período 2016-2017; considerando a inscrição no
valor atual de R$ 110,00; e considerando que R$ 35,00/inscrição é repasse ao Contratante (CFC)
pela Contratada (FBC) ; a 'ordem de grandeza' do valor total das inscrições atualizado é de R$
68.200.000,00 (2011-2017) , correspondendo R$ 46.500.000,00 ao valor das contratações, e o
restante ao repasse da FBC ao CFC.
142. Materialidade do V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014: o valor total
arrecadado pela Convenente (FBC) referente ao V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade foi
de R$ 51.195,30, contabilizadas as inscrições e patrocínios (pç. 100, p. 2) . Ocorreram outros
eventos mediante ajustes entre o CFC e a FBC, que não são objeto deste processo.
144. Os contratos dos Exames de Suficiência previram que a Contratada (FBC) deveria cobrar dos
candidatos a taxa de inscrição, repassando ao Contratante (CFC) um valor fixo (no caso referente
ao biênio 2016-2017) ou o excedente ao final (no caso do biênio 2014-2015) . Ocorre que esses
valores são receitas próprias do CFC, definidas em lei:
Decreto-Lei 9.295/1946
[...]
[...]
Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão
após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo
Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de
Contabilidade a que estiverem sujeitos.
Lei 11.000/2004
145. Assim sendo, os contratos referentes aos Exames de Suficiência não são apenas de
prestação de serviços, mas preveem a delegação à instituição privada (FBC) da cobrança de um
'preço de serviço', cuja competência de arrecadação é atribuída em lei ao CFC. Também no caso
de eventos, como o V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade/2014, o próprio CFC reconhece
e advoga que são parte da 'Educação Continuada' (pç. 87, p. 5-6) , portanto competências legais
do Conselho, constituindo-se as inscrições em 'preços de serviço' previstos em lei.
146. Direcionamento institucional à FBC sem amparo legal: há dispositivos regulamentares
do CFC que direcionam o Conselho Federal e os Conselhos Regionais a favorecer a FBC, para os
quais (dispositivos) não há amparo legal, além de caracterizarem descumprimento dos princípios
da impessoalidade, moralidade e isonomia:
XXX - firmar parcerias e convênios com a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) para a
realização de atividades voltadas ao Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC,
repassando, quando couber, recursos para a execução das atividades mediante prestação de
contas;
Resolução-CFC 1.370/2011 - Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade (pç. 102, p. 11,
14)
147. Tanto a Ata de Constituição da FBC (pç. 28, p. 4-8) , quanto seu Estatuto (pç. 73, p. 1-16) ,
caracterizam a Fundação como instituição privada, inexistindo fundamento legal para que ela
seja favorecida pelo CFC ou pelos CRCs.
148. A relação do CFC (equiparado a autarquia) com a FBC (instituição privada) evidencia-se
contraditória, na medida em que o Conselho favorece a Fundação por meio dos atos normativos
mencionados, ao mesmo tempo que se exime de conhecê-la, a exemplo de resposta à diligência
do Tribunal solicitando 'documentação atinentes à criação da Fundação Brasileira de
Contabilidade' (pç. 6) :
149. Se a relação entre o CFC e a FBC é suficientemente estreita para que atos normativos do
CFC a favoreçam, mostra-se incongruente o Conselho desconhecer o documento básico da FBC,
que é sua Ata de Fundação,
150. Evidências de conflito de interesses e violação aos princípios da impessoalidade e da
moralidade: dirigentes do CFC e da FBC alternam-se ao longo do tempo:
b) quatro Presidentes da FBC foram também Presidentes do CFC (pç. 103) , como se observa no
quadro seguinte:
§ Presidentes do CFC e da FBC
Fundador ou
Nome CPF Presidente do CFC
Presidente da FBC
Fundador
01/01/2006-
31/12/2007 Presidente
Maria Clara Cavalcante ***.246.974-
b.2.
Bugarim ** 01/01/2008- 2002-2005
31/12/2009
***.808.773- Presidente
b.3. Jose Antonio de França
**
07/03/2006-2009
01/01/2004-
31/12/2005
Presidente
***.379.393- 07/01/2014-
b.4. Jose Martonio Alves Coelho
** 31/12/2015 04/02/2010-
13/01/2014
06/01/2016-
31/12/2017
01/01/2010-
Presidente
***.700.439- 31/12/2011
b.5. Juarez Domingues Carneiro 13/01/2014-
**
01/01/2012-
09/02/2018
31/12/2013
***.895.430- 03/01/1990-
b.7. Ivan Carlos Gatti Fundador
** 31/12/1993
***.953.198- 01/01/1998-
b.8. José Serafim Abrantes Fundador
** 31/12/2001
Juarez Domingues
c.25 2014 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro
Juarez Domingues
c.26. 2015 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro
Juarez Domingues
c.27. 2016 Jose Martonio Alves Coelho
Carneiro
d) a proposta da FBC (de 27/10/2015) foi apresentada no dia seguinte à elaboração do Termo de
Referência (de 26/10/2015) , o que é indício de que a FBC detinha informação privilegiada (pç.
42, p. 4-18) ;
e) a suposta pesquisa de preços foi intempestiva (iniciada após a decisão de contratar a FBC) (pç.
42, p. 16-24) , descumprindo a Lei 8.666/1993, art. 26;
f) a suposta pesquisa de preços foi insuficiente para avaliar o preço de mercado da contratação,
evidenciando desinteresse do CFC em fazê-lo (pç. 42, p. 16-24) , descumprindo a Lei 8.666/1993,
art. 26;
h1) Presidente do CFC: Juarez Domingues Carneiro (na ocasião, futuro Presidente da FBC
(13/01/2014-09/02/2018) ) ; e
h2) Presidente da FBC: José Martonio Alves Coelho (na ocasião, futuro Presidente do CFC
(07/01/2014-31/12/2017) .
a) o primeiro documento juntado ao processo é o Termo de Referência (TR) (pç. 42, p. 128-145) ,
datado de 08/11/2013, mas o Pedido de Contratação 502/2013 (pç. 42, p. 181-182) é de
22/10/2013, portanto anterior ao TR, e já especificava a contratação da FBC por Dispensa de
Licitação, sem apresentar justificativa;
g) o documento subsequente é a minuta de contrato entre o CFC e a FBC (pç. 42, p. 189-192) ;
h) em seguida foi juntado o Parecer Jurídico (pç. 42, p. 194-195) , de 26/11/2013, em resposta a
encaminhamento da Coordenação Administrativa (pç. 42, p. 193) ; o referido Parecer reconheceu
a regularidade jurídico-formal do processo, exceto no que se referia à 'comprovação de
economicidade';
158. Indícios de conluio nas respostas à pesquisa de preços referente aos Exames de
Suficiência/2014-2015: as solicitações de proposta de orçamento, datadas de 10/12/2013,
pedindo 'se possível um retorno ainda no dia de hoje', foram endereçadas a dois fornecedores,
cujos signatários haviam sido sócios em uma das entidades (pç. 42, p. 196-202) (a Fucape
também apresentou proposta com valor superior à da FBC) para os Exames de Suficiência/2016-
2017, conforme analisado em parágrafos anteriores) :
b) Fipecafi (CNPJ: 46.359.865/0001-40) : apresentou proposta com valor superior ao cotado pela
FBC (R$ 123, 30 por candidato inscrito) ; signatário: Iran Siqueira Lima (CPF: ***.001.957-**)
(Presidente da Fipecafi) , ex-Sócio de Valcemiro Nossa na Fucape (pç. 104) .
161. Não houve manifestação do Parecerista Jurídico sobre outros aspectos jurídico-formais que
permitiriam caracterizar o direcionamento da contratação, como: a sequência de eventos, o
pedido de contratação da FBC anterior ao Termo de Referência, a decisão de contratar
previamente à pesquisa de preços, a insuficiência dessa pesquisa, a intempestividade e
deficiência do Termo de Referência, o conflito de interesses presente nas propostas, o conflito de
interesses entre as partes contratantes, mencionados em parágrafos anteriores: aspectos
jurídico-formais cujas impropriedades estiveram ao alcance de um parecerista jurídico mediano.
163. Considerando o exame formalizado nos parágrafos anteriores, conclui-se que houve
favorecimento ilegal na contratação da FBC, conflito de interesses, indícios de fraude, erros
grosseiros e violação dos princípios da impessoalidade, moralidade, isonomia e probidade
administrativa, caracterizando infrações graves o que justifica a proposta de inabilitação do
Responsável para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da
Administração Pública, conforme Matriz de Responsabilização e Proposta de Encaminhamento.
Jurisdição do TCU sobre os recursos obtidos pela FBC nos contratos firmados com o CFC e
destinação dos excedentes
164. O Relator instruiu que se apurasse a jurisdição do Tribunal sobre os recursos auferidos pela
FBC:
§ Documento Texto
Despacho- examine se esta Corte detém jurisdição sobre os recursos obtidos pela
Relator FBC na execução dos contratos firmados com o CFC; para que se possa
164.1.
analisar a destinação dada aos excedentes obtidos pela FBC na
(§ 9.d) execução dos referidos contratos.
165. Análise: primeiramente, faz-se necessário identificar as receitas próprias do CFC, que são
definidas em Lei:
Decreto-Lei 9.295/1946
[...]
f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação
técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade
de natureza técnica e profissional.
[...]
Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão
após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo
Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de
Contabilidade a que estiverem sujeitos.
Lei 11.000/2004
166. Tanto as receitas com Exames de Suficiência como as oriundas de 'programas de educação
continuada' são autorizadas em lei, por relacionarem-se com as 'atribuições legais' do Conselho,
constituindo-se em suas 'receitas próprias'.
167. Já a FBC, que arrecadou receitas próprias do CFC, com base em contratos e convênio, é
instituição privada, portanto excluída da jurisdição do Tribunal.
168. No que se refere aos Exames de Suficiência, os contratos previram que a Contratada (FBC)
deveria cobrar dos candidatos a importância correspondente à taxa de inscrição ('preço de
serviço') , repassando ao Contratante (CFC) uma parcela fixa (no caso dos Exames de
Suficiência/2016-2017) (pç. 42, p. 5) , ou o excedente (no caso dos Exames de Suficiência/2014-
2015) .
169. No caso de contratos ou convênios para realização de eventos, o próprio CFC reconhece, e
mesmo advoga, que os mencionados eventos são formas de 'educação continuada':
Ora, os eventos voltados à Educação Continuada prevista na Lei 12.249/2010 tem como
finalidade precípua a multiplicação de conhecimentos para todos os profissionais registrados
nos 27 Conselhos Regionais de Contabilidade de todo o país. É fato que nem todas as regiões
possuem profissionais com poder aquisitivo suficiente para participar de determinados eventos.
Mesmo assim, não pode e não deve o CFC deixar de levar o conhecimento e cumprir uma das
suas funções institucionais como é o caso da Educação Continuada.
170. Conclusão: tanto no caso dos Exames de Suficiência, como no de eventos para a 'educação
continuada', a FBC (mediante contratos ou convênio com o CFC) arrecadou 'preço de serviço'
relacionado com as 'atribuições legais' do CFC (que detém a competência legal para aquela
arrecadação)
arrecadação) .
171. Por conseguinte, propõe-se que o CFC publique prestações de contas detalhadas dos
Exames de Suficiência/2014-2015 e 2016-2017, incluindo todos os valores arrecadados pela FBC
e todas as despesas custeadas pela FBC com esses valores.
172. O Relator também instruiu que se apurasse a existência da prestação de contas referente ao
V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade:
§ Documento Texto
173. Estão juntadas a este processo: cópia do Convênio de Cooperação Técnica e Cultural (pç.
12) , bem como prestação de contas referente ao V Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade,
realizado em Campina Grande-PB, no período de 20-21/10/2014 (pç. 100) , que apontou o
resultado a seguir, não se apurando elementos para infirmá-lo:
a) receitas: R$ 51.195,30;
b) despesas: R$ 114.961,44; e
c) déficit: R$ 63.766,14.
CFC: Transparência
174. O CFC mantém em seu sítio na Internet (website) um Portal de Transparência onde publica
volume grande e variado de informações (https://cfc.org.br/governanca/ >> Governança >>
Portal da Transparência) . As publicações incluem: estrutura organizacional; atos normativos;
calendário de reuniões e atas das plenárias; programas, projetos, metas e resultados; execução
orçamentária; licitações; contratos, convênios e atas de registro de preços; diárias e passagens;
concurso público; quadro de pessoal; demonstrações contábeis e prestação de contas; dados
estatísticos; perguntas e respostas e outros dados relativos ao cumprimento da Lei 12.527/2011.
b) no que se refere às atas de reuniões, que permitiriam reconstruir, ainda que com dificuldade e
limitações, o corpo diretivo de Conselheiros, localizou-se apenas as atas de reuniões plenárias, e
somente a partir de 2016 (número 1 018) o que não permite a identificação dos dirigentes e
somente a partir de 2016 (número 1.018) , o que não permite a identificação dos dirigentes e
Conselheiros no período (relativamente recente, de 2016-2017) a que se referem os fatos
analisados neste processo;
d) atos normativos: há atos que se sabem existentes, mas que não foram encontrados no portal
de transparência, a exemplo da Portaria-CFC 73/2014.
176. Propõe-se determinação ao CFC para que publique essas informações, conforme proposta
de encaminhamento.
177. Quanto às receitas próprias do CFC, arrecadadas pela FBC por meio de avenças firmadas
com o Conselho Federal, será proposta determinação para publicação detalhada, conforme
descrito na seção anterior desta instrução técnica.
MATRIZ DE RESPONSABILIZAÇÃO
178. O exame técnico está resumido na matriz apresentada a seguir, que consolida a
responsabilização apurada. As informações referentes ao 'nexo de causalidade' estabelecem a
vinculação responsável-resultado.
Responsável: José Martonio Alves Coelho (CPF:
§
013.379.393.15) ; Presidente
Nexo de
Ocorrência Culpabilidade
Causalidade
Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.
Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
inconsciência do
Responsável em
relação à ilicitude
A conduta da conduta, que é
Celebração de contratação direta em que a comissiva do de fácil
pesquisa de preços é apresentada após a escolha Responsável compreensão ao
do contratado e sem a devida justificativa: caracterizou gestor mediano.
Contrato CFC-FBC para realização dos Exames de erro grosseiro Exigibilidade: é
Suficiência/2016-2017. Fundamento: Lei e infração razoável exigir
8.666/1993, art. 26, parágrafo único, inc. II, III. grave à conduta diversa e
norma legal. lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.
Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.
Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
Celebração de contratação direta em que a inconsciência do
pesquisa de preços é apresentada após a escolha Responsável em
do contratado e sem a devida justificativa; e relação à ilicitude
celebração de convênio na presença de interesses A conduta da conduta, que é
opostos entre os conveniados; caracterizando comissiva do de fácil
direcionamento, favorecimento, conflito de Responsável compreensão ao
interesses e violação dos princípios da caracterizou gestor mediano.
impessoalidade, moralidade, isonomia e erro grosseiro Exigibilidade: é
probidade administrativa: Contrato CFC-FBC para e infração razoável exigir
realização dos Exames de Suficiência/2016-2017; grave à conduta diversa e
Convênio CFC-FBC para V Encontro Luso- norma legal. lícita do
Brasileiro de Contabilidade/2014. Fundamento: Responsável, pois
CF/1988, art. 37, caput, Lei 8.666/1993, art. 3º, essa seria acessível
caput; art. 82, art. 116; Lei 8443/1992, art. 60. ao gestor mediano.
Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.
Evidência:
Consciência: não
há elementos nos
autos que
fundamentem
eventual
inconsciência do
Responsável em
relação à ilicitude
A conduta da conduta, que é
comissiva do de fácil
Autorização da aquisição de passagens em classe Responsável compreensão ao
executiva sem a aprovação da presidência. caracterizou gestor mediano.
Fundamento: Resolução-CFC 1.290/2010, art. 1º, § infração à Exigibilidade: é
3º. norma legal e razoável exigir
erro conduta diversa e
grosseiro. lícita do
Responsável, pois
essa seria acessível
ao gestor mediano.
Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.
Agravante: o
Responsável é
profissional da área
contábil.
Evidência:
181. As condutas tipificadas no quadro anterior ensejam a aplicação de multa aos responsáveis.
Adicionalmente, considerando a gravidade das infrações, propõe-se a inabilitação do
Responsável e então Presidente do CFC para o exercício de cargo em comissão ou função de
confiança no âmbito da Administração Pública.
CONCLUSÃO
182. A presente Denúncia deve ser conhecida por preencher os requisitos de admissibilidade (§
20) .
183. Os despachos do Relator referentes a audiências, oitivas e exames (pç. 55; pç. 68) , até então
pendentes, foram cumpridos (§§ 22-23; 164-173) .
185. Considerando a análise da matéria, realizada nas seções Histórico e Exame Técnico desta
instrução (§§ 2-171) ; e considerando que as razões de justificativa dos responsáveis foram
parcialmente acatadas (§§ 33-139) ; conclui-se pela procedência parcial desta Denúncia,
conforme Matriz de Responsabilização (§§ 178-181) .
186. As condutas tipificadas ensejam a proposta de aplicação de multa aos Responsáveis (§§ 43-
139; 178-181) .
188. Propõe-se determinações ao CFC para que ajuste normativos internos (§§ 43-89) .
189. Não se propõe determinação ao CFC para ajustar seus regulamentos, no que se refere ao
pagamento de diárias, aos parâmetros do Decreto 5.992/2006 e do Decreto 71.733/1973, em
razão de a mesma deliberação já ter sido formalizada no Acórdão 1.925/2019-TCU-Plenário, item
9.4.1.1 (§§ 37-42) .
190. Conclui-se que a FBC arrecadou receitas próprias do CFC, que estão sob a jurisdição do
Tribunal, em relação às quais propõe-se determinação ao Conselho Federal para que publique
prestações de contas detalhadas, assim como outras informações ausentes em seu sítio
eletrônico (website) (§§ 164-171; 174-177) .
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Processos Conexos
Quadro de
§ Processos
Conexos
Processo Descrição
TC
REPRESENTAÇÃO (encerrado) : supostas irregularidades ocorridas
191.9. 028.642/2017-
na execução do 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade.
1
192. Embora exista conexão da matéria tratada nestes autos com a dos processos não
encerrados, constantes do quadro anterior, principalmente o TC 029.512/2017-4, não se propõe
qualquer medida em relação a eles.
193. A última prestação de contas do CFC refere-se ao Exercício/2001 (TC 014.057/2002-1) e não
é afetada por deliberações propostas nesta Denúncia.
194. Esta instrução técnica foi parcialmente gerada com o uso de sistema informatizado
desenvolvido pelo instrutor deste processo. A formatação conforma-se aos normativos em vigor,
embora não corresponda à aparência usual.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
197. Acatar parcialmente as razões de justificativa do (s) Responsável (eis) a seguir qualificado (s)
. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. XVI; RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XXIV.
§ CPF/CNPJ
198. Aplicar, individualmente, multa ao (s) Responsável (eis) a seguir identificado (s) , em razão
da (s) respectiva (s) conduta (s) , com a fixação de prazo de quinze (15) dias, a contar da
notificação, para que comprove (m) , perante o Tribunal, o recolhimento da dívida em favor do
Tesouro Nacional; e, caso paga após o vencimento, atualizada monetariamente desde a data do
Acórdão que vier a ser proferido até o dia do efetivo recolhimento, na forma da legislação em
vigor. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 58, inc. II; RI-TCU/2002, art. 250, § 2º, art. 268, inc. II.
§
199. Fixar o prazo de quinze (15) dias, a contar da notificação, para que o (s) responsável (eis)
comprove (m) , o recolhimento da (s) respectiva (s) dívida (s) aos cofres do Tesouro Nacional; e
caso paga (s) após o vencimento, atualizada (s) monetariamente desde a data do Acórdão que
vier a ser proferido até o dia do efetivo recolhimento. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. IX;
RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XIV, art. 269.
200. Autorizar a cobrança judicial da (s) dívida (s) , caso o (s) responsável (eis) não comprove (m)
o recolhimento até a expiração do prazo estabelecido. Fundamento: CF/1988, art. 71, § 3º.
201. Autorizar, caso solicitado e o processo não tenha sido remetido para cobrança judicial, o
pagamento da (s) dívida (s) em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, fixando-se
o vencimento da primeira parcela em quinze (15) dias, a contar do recebimento da notificação, e
o das demais a cada mês, devendo incidir sobre cada valor mensal os correspondentes
acréscimos legais, na forma prevista na legislação em vigor; alertando o (s) responsáveis de que
a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela implicará o vencimento antecipado
do saldo devedor. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XIV.
202. Inabilitar o responsável (eis) a seguir identificado (s) para o exercício de cargo em comissão
ou função gratificada no âmbito da Administração Pública, em razão da gravidade da (s) infração
(ões) cometida (s) , discriminada (s) logo abaixo. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 60; RI-
TCU/2002, art. 270.
§
203. Determinar ao (s) jurisdicionado (s) a seguir identificado (s) , a (s) medida (s) correspondente
(s) discriminada (s) logo abaixo. Fundamento: CF/1988, art. 71, inc. IX; Lei 8.443/1992, art. 45,
caput; RI-TCU/2002, art. 1º, inc. XXI, art. 251, caput.
§
Prazo de
203.1.2. Revisar e ajustar seus atos normativos, observando o que segue. cumprimento:
120 dias
Prazo de
entrega do
Informar o Tribunal sobre o cumprimento das determinações no
203.1.3. Relatório de
Relatório de Gestão Exercício/2019.
Gestão
Exercício/2019
204. Notificar o (s) destinatários a seguir identificado (s) de que o não cumprimento de diligência
do Relator ou de decisão do Tribunal, no prazo fixado, sem causa justificada, poderá ensejar a
aplicação de multa, a qual prescinde de prévia audiência. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 58,
inc. IV, VII, § 1º; RI-TCU/2002, art. 268, inc. IV, VII, VIII, § 3º.
§ Jurisdicionado CPF/CNPJ
204.1. Conselho Federal de Contabilidade CNPJ: 33.618.570.0001.07
205. Encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao (s) destinatário (s) a seguir
identificado (s) , informando-o (s) de que o voto e o relatório podem ser consultados no
endereço eletrônico: www.tcu.gov.br/acordaos. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 1º, inc. VIII; RI-
TCU/2002, art. 1º, inc. XVI.
§ Destinatário
206. Encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao (s) destinatário (s) a seguir
identificado (s) , informando-o (s) de que o voto e o relatório podem ser consultados no
endereço eletrônico: www.tcu.gov.br/acordaos. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 169, § 1º.
§ Destinatário CPF/CNPJ
207. Levantar o sigilo destes autos, exceto quanto às peças que contenham a identidade do
Denunciante. Fundamento: Lei 8.443/1992, art. 55; RI-TCU/2002, art. 236, § 1º.
208. Encerrar este processo. Fundamento: RI-TCU/2002, art. 169, caput, inc. V."
É o relatório.
Voto:
2. A denúncia pode ser conhecida, vez que preenche os requisitos de admissibilidade aplicáveis.
3. Por meio de despacho, este Relator determinou a realização de diligência e inspeção no CFC
para obter a documentação e as informações relativas às questões suscitadas.
4. Como resultado, a SecexFazenda, então responsável pela instrução dos autos, levantou
indícios de irregularidades na concessão de diárias e passagens, assim como ocorrências que
indicavam a celebração irregular de convênio com a FBC.
b) promoção de audiência dos Srs. José Martonio Alves Coelho e Luiz Henrique de Souza,
respectivamente, Presidente e Vice-Presidente-Administrativo do CFC, por serem os gestores
responsáveis pelas ocorrências;
c) coleta de elementos para verificação acerca da jurisdição desta Corte sobre os recursos
obtidos pela FBC na execução dos contratos firmados com o CFC para realização dos Exames de
Suficiência; e
b) ausência de razoabilidade dos valores pagos a título de diárias, fixados à época pela
Resolução CFC 1.392/2012, superiores em mais de 100% ao valor pago para cargos equivalentes
no âmbito no Poder Executivo Federal, ante o disposto no Acórdão 570/2007-Plenário;
c) autorização de participação, com ônus para o CFC, nos eventos da Federação Internacional de
Contadores (IFAC) , realizado em Roma (2014) , e da Associação Interamericana de Contabilidade
(AIC) , realizado em Punta Cana (2017) , a quantitativo de participantes em desacordo com os
limites estabelecidos pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela Resolução 1.477/2015;
10. Sobre os valores das diárias, também tratados em oitiva, o CFC afirmou que estes valores
foram aprovados com fundamento na autorização contida na Lei 11.000/2004 e na
regulamentação efetuada pela Resolução-CFC 1.533/2017. Defendeu que esses valores não se
configuravam exorbitantes, vez que a diária seria apenas 20% maior do que a prevista no
Decreto 5.992/2006.
12. Concordo com a SecexTrabalho. Acrescente-se que o referido acórdão foi proferido em sede
de auditoria executada na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) , que
teve, como objetivo avaliar a gestão dos conselhos de fiscalização profissional (CFP) . No tocante
ao tema "diárias", foi estabelecido o seguinte entendimento:
(...)
9.1.2. a diária:
(...)
9.1.2.4. deve ter seu valor consentâneo com os parâmetros estabelecidos nos anexos I,
classificação 'C' e II, do Decreto 5.992/2006, e no anexo III, grupo 'D', classe I, do Decreto
71.733/1973, ou pelos atos normativos que o sucederem."
13. Outro ponto tratado nesta denúncia refere-se ao custeio de participação em eventos
internacionais realizados em Roma (2014) e em Punta Cana (2015) a quantitativo de conselheiros
em desacordo com os limites estabelecidos pela Resolução CFC 1.089/2007 e pela Resolução
CFC 1.477/2015. Segundo as normas, a participação de conselheiros em eventos estava limitada
a 1/3 do plenário. O assunto foi tratado em oitiva do CFC e em audiência do ex-Presidente José
Martonio Alves Coelho e do ex-Vice-Presidente-Administrativo Luiz Henrique de Souza,
responsáveis pelas autorizações de participação nos eventos realizados em Roma e Punta Cana,
respectivamente.
14. Nas respostas, foi argumentado que, em cada um dos eventos, participaram nove
conselheiros na cota do plenário, em observância ao art. 4º da Resolução CFC 1.089/2007
(vigente em 2014) e ao art. 6º da Resolução CFC 1.477/2015 (vigente em 2017) . Foi também
alegado que não entraram nessa cota outros conselheiros que atuaram como representantes do
Brasil em organismos internacionais ou como membros convocados para atuar em câmaras e
comissões técnicas que funcionaram durante os eventos.
18. Em consequência, a unidade propôs aplicar-se multa ao Sr. José Martonio Alves Coelho por
ter descumprido a Resolução CFC 1.089/2007, ocasionando o pagamento de diárias e passagens
sem amparo legal.
I - 1/3 (um terço) das vagas será destinado aos integrantes do Conselho Diretor;
II - 2/3 (dois terços) das vagas serão destinados aos demais conselheiros (efetivos e suplentes) ,
excluindo-se os membros do Conselho Diretor."
21. Como se vê, os limites eram aplicáveis aos conselheiros efetivos, suplentes e membros do
Conselho Diretor. Todavia, os ex-Presidentes do CFC não se enquadram nessas categorias, uma
vez que são considerados como membros honorários, conforme se verifica a partir do art. 1º do
Decreto-Lei 1.040/1969, que os distingue dos membros efetivos e suplentes, in verbis:
"Art. 1º O Conselho Federal de Contabilidade - CFC será constituído por 1 (um) representante
efetivo de cada Conselho Regional de Contabilidade - CRC, e respectivo suplente, eleitos para
mandatos de 4 (quatro) anos, com renovação a cada biênio, alternadamente, por 1/3 (um terço)
e 2/3 (dois terços) . ("Caput" do artigo com redação dada pela Lei nº 11.160, de 2/8/2005)
(...)
22. Os ex-Presidentes também não integram o Conselho Diretor, que é composto pelo
Presidente, pelos Vice-Presidentes e por um conselheiro técnico em contabilidade, conforme o
art. 23 da Resolução CFC 1.458/2013 (Regimento Interno) .
23. Por conseguinte, os ex-Presidentes do CFC não poderiam ser considerados no cálculo dos
limites fixados pelo art. 4º da Resolução CFC 1.089/2007.
24. Em vista disso, caberia indagar se haveria respaldo normativo para que fosse autorizada a
participação dos ex-Presidentes em eventos e se haveria limitação no quantitativo desses
participantes.
25. Conforme justificado pelos responsáveis ouvidos em audiência, a inclusão dos ex-Presidentes
do CFC nas delegações da entidade fundamentou-se no art. 24 do Regimento Interno e na
Resolução CFC 1.048/2005, nos seguintes termos:
"Art. 24. O Conselho Consultivo é integrado pelo Presidente do CFC, por seus ex-presidentes
e pelos agraciados com a medalha Mérito Contábil João Lyra, sendo presidido pelo primeiro.
(...)
(...)
II - as despesas com a participação nos eventos relacionados aos interesses da Classe Contábil,
nacionais e internacionais, correrão por conta do Conselho Federal de Contabilidade nos termos
da norma que regulamenta a concessão de diárias." [Grifo acrescido.]
26. Portanto, tem-se que havia autorização em norma para que o CFC custeasse a participação
dos ex-Presidentes em eventos e que essa participação se justificaria por serem eles membros
do conselho consultivo da entidade.
27. Contudo, é importante observar que não há, nas normas editadas pelo CFC, dispositivo que
estabeleça os limites de participação dos ex-Presidentes nos eventos, tal como ocorre no caso
dos conselheiros efetivos e do Conselho Diretor. Trata-se de lacuna normativa que produz
situação desarrazoada e maculada por liberalidade na utilização de recursos da entidade. Isso,
porque o CFC acaba por custear a participação de número ilimitado ex-dirigentes máximos em
eventos, os quais não têm função executiva ou deliberativa na autarquia. Como demonstração
da distorção produzida, veja-se que, no congresso realizado em Roma, participaram 6
conselheiros na cota do plenário e 5 ex-Presidentes, ou seja, os dois grupos continham quase
que o mesmo quantitativo de componentes. A possibilidade de ocorrerem distorções dessa
natureza torna necessário determinar ao CFC que discipline os limites aplicáveis à participação
de ex-Presidentes em eventos. Ressalte-se que essa providência não adentra na esfera de
discricionariedade da autarquia, pois se destina a assegurar meio necessário para que seja
cumprido o dever de utilizar os recursos do CFC com razoabilidade, economicidade e
efetividade.
29. Na inspeção, levantou-se que, nos exercícios de 2014 e 2015, foram adquiridas passagens
aéreas em classe executiva, sem aprovação da presidência, para participação de representantes
oficialmente designados em eventos internacionais, em afronta ao art. 1°, § 1°, da Resolução CFC
1.290/2010. A matéria foi objeto de oitiva da entidade e de audiência do ex-Vice-Presidente-
Administrativo, Luiz Henrique de Souza, responsável por autorizar as aquisições.
29. A unidade técnica não acatou as justificativas por entender que houve omissão em cumprir a
norma. Consequentemente, propôs a aplicação de multa ao responsável.
30. A Resolução CFC 1290/2010 estabelecia no § 1º do art. 1º que, em regra, seria concedida
passagem aérea em classe econômica aos representantes do CFC em organismos internacionais,
mas que poderia ser adquirida a passagem na classe executiva nos trechos em que o tempo de
voo entre o último embarque e o destino fosse superior a oito horas. Ainda, na versão vigente à
época dos fatos ora tratados, o § 3° determinava que as solicitações de viagens internacionais
deveriam ser feitas com antecedência mínima de 30 dias e que os casos que não observassem
esse prazo deveriam ser autorizados pelo Presidente.
32. Em vista desses aspectos, penso que se possa considerar a ocorrência como falha formal,
afastando-se a proposta de aplicação de multa ao ex-Vice-Presidente-Administrativo Luiz
Henrique de Souza.
33. Quanto à razoabilidade, foi questionado ao CFC o dispositivo constante do § 1º do art. 1º,
que assim dispõe:
35. Na oitiva, o CFC alegou que o dispositivo da Resolução CFC 1290/2010 apresenta-se
coerente com a prática da Administração, a exemplo da Portaria MPU-PGR 41/2014, normativo
publicado pela Procuradoria-Geral da República.
36. Embora a disposição em foco tenha aplicação limitada aos representantes em organismos
internacionais e aos ocupantes de cargos em comissão de coordenadores ou equivalentes, há
que se reconhecer que a distância entre o Brasil e os demais continentes acaba por tornar a
exceção em regra para essas categorias de beneficiários. Com isso, subverte-se a orientação
contida no inciso II do caput do referido art. 1º e, consequentemente, anula-se a economicidade
pretendida pelo dispositivo. Não há, pois, razoabilidade nas disposições do § 1º do art. 1º da
referida resolução.
38. Por conseguinte, acolho a proposta de determinar à unidade jurisdicionada que promova
ajuste na Resolução CFC 1.290/2010 para refletir esse posicionamento.
39. O último ponto a ser tratado nesta seção refere-se ao achado no sentido de que as cotações
de preços de passagens não eram juntadas ao processo administrativo de aquisição, o que
inviabilizava a comprovação de que se obteve o menor preço. Conforme ressaltado no relatório,
o art. 2º da Portaria CFC 73/14 preceituava o dever de adquirir passagens pelo menor preço.
41. A SecexTrabalho não aceitou o arrazoado por entender que a falha se configurou em erro
grosseiro. Assim, foi proposto aplicar-se multa ao Sr. Luiz Henrique de Souza.
42. Divirjo dessa proposição. Em primeiro lugar, porque não foi apontado, no relatório de
inspeção (peça 50) , caso concreto que tenha resultado em aquisição desconforme com a
portaria. Em segundo lugar, porque os gestores reconheceram a falha e adotaram providências
para corrigi-la. Logo, pode-se considerar a situação resolvida.
a) celebração de convênio entre o CFC e a FBC para realização do evento intitulado "V Encontro
Luso-Brasileiro de Contabilidade", sem que estivesse caracterizado o interesse recíproco ante a
natureza contratual da avença, conforme evidenciado na cláusula 6.3, e sem a realização de
prévia licitação ou sem a caracterização de dispensa, acompanhada de prévia justificativa e
cotação de preços, em desacordo com os arts. 2º e 26 da Lei 8.666/1993;
b) celebração de contrato com a FBC, por dispensa de licitação, para realizar os Exames de
Suficiência no biênio 2016/2017, com apresentação de pesquisa de preços após a escolha da
FBC e sem a indicação da razão da escolha do executante, o que contrariou o art. 26, parágrafo
único, incisos II e III, da Lei 8.666/1993.
a) havia interesse recíproco, pois o evento promovido pelo CFC visou ao aperfeiçoamento da
profissão e da fiscalização profissional, ao mesmo tempo em que a FBC detinha previsão
estatutária no sentido de atuar no apoio a atividades voltadas ao desenvolvimento profissional
da classe contábil;
b) não houve transferências de recursos orçamentários do CFC, com efeito remuneratório, para
que a FBC procedesse à entrega do evento de forma pronta e acabada;
c) não havia cláusula resolutiva visando lucro ou contraprestação em bens e serviços, mas
somente o rateio de despesas e benefícios eventualmente ocorridos com a execução do objeto;
d) foi estabelecido que a FBC receberia 10% (dez por cento) sobre a receita de inscrições e
patrocínio, e não sobre o valor total do objeto;
45. A SecexTrabalho não acatou essas justificativas por entender que, embora o ajuste tivesse
algumas características de convênio (convergência de interesses, entidade sem fins lucrativos e
cláusula de rescisão sem ônus) , preponderavam as feições contratuais, como a remuneração da
FBC com 10% da arrecadação e a atribuição da FBC na organização do evento, com a
contratação de terceiros. Em consequência, a unidade técnica propôs aplicar multa e inabilitar o
ex-Presidente do CFC.
b) havia interesse recíproco entre as entidades na realização do evento, pois o V Encontro Luso-
Brasileiro de Contabilidade teve, como objetivos, o intercâmbio de conhecimentos da profissão
contábil e o apoio técnico ao aperfeiçoamento da atuação profissional dos contabilistas
(cláusulas segunda e terceira do termo - fls. 02-peça 12) , objetivos esses que encontram
correspondência no estatuto da FBC e no Regimento Interno do CFC (fls. 01-peça 73 e fls. 32-
peça 91) ;
c) havia regime de mútua cooperação, vez que as partes tinham a obrigação conjunta de definir
a programação técnica e cultural, ao mesmo tempo em que houve a distribuição de
responsabilidades específicas: de parte do CFC, realizar o evento, efetuar a divulgação e prestar
apoio operacional; a cargo da FBC, organizar o evento, executar os serviços de inscrição de
participantes e realizar contratações (cláusula sétima - fls. 03 e 04-peça 12) ;
47. A obrigação constitucional de prestar contas foi adimplida pela FBC, consoante se verifica na
peça 100 destes autos, que apresenta demonstrativos contábeis e comprovantes de despesa
espelhando a seguinte situação:
c) déficit: R$ 63.766,14.
49. Ademais, a cláusula sexta do convênio obstava a transferência direta de recursos do CFC à
FBC, conforme se observa na transcrição a seguir:
"6.1 Não existirá qualquer repasse de recursos do Conselho Federal de Contabilidade, sendo os
recursos financeiros para implementação e execução do presente convênio provenientes de
verbas de eventuais patrocínios financeiros, valores arrecadados com inscrição para participação
no evento e outras que vierem a ser alocadas, sendo depositadas em conta aberta perante a
Caixa Econômica Federal, em nome da FBC".
52. Por outro lado, verifica-se que o convênio padeceu de irregularidades, como:
a) a incidência de taxa de administração em favor da FBC, que não se confunde com autorização
para realização de despesas administrativas, contrariando pacífica jurisprudência desta Corte
(p.e. Acórdão 3372/2012-Plenário) :
"6.3 Reverterá em favor da FBC, a título de remuneração por gerenciamento do evento, a quantia
correspondente a 10% (dez por cento) do valor dos recursos arrecadados, previstos na cláusula
6.1, e o restante, caso haja, depositados na conta do CFC".
53. Segundo avalio, essas falhas decorrem da inexistência de regramento específico acerca de
convênios celebrados pelo CFC, situação que foi admitida pela entidade na resposta à oitiva
realizada neste processo. A falta de disciplinamento das transferências voluntárias do CFC
acarreta riscos à regular aplicação dos recursos e ao atingimento dos objetivos dos ajustes
celebrados pela entidade. Na verdade, essa anomia chega a surpreender, considerando-se a área
de atuação do CFC e o fato de que outros conselhos dispõem de normas próprias a respeito da
matéria, como, por exemplo, o Conselho Federal de Farmácia (Resoluções CFF 603/2014 e
655/2018) .
54. Logo, cabe determinar ao CFC que promova o disciplinamento da matéria, com observância
aos princípios basilares da Administração Pública, a fim de mitigar os riscos apontados.
55. No que tange à celebração de contrato com a FBC para aplicação dos Exames de Suficiência
de 2016/2017, foram ouvidos o CFC e o ex-Presidente José Martonio Alves Coelho pela falta de
justificativa de preços e de exposição da justificativa técnica para a contratação. Nas respostas,
foi alegado que:
d) a dispensa de licitação fundamentou-se no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, já que a FBC
atendia aos pré-requisitos aplicáveis, quais sejam: ser instituição brasileira; ser incumbida da
pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, conforme previsto em seu estatuto
social; não possuir finalidade lucrativa; e possuir inquestionável reputação ético-profissional;
56. A SecexTrabalho não acolheu as justificativas por considerar que ficou caracterizado que a
pesquisa de preços somente foi efetuada após a homologação da decisão do Plenário do CFC de
contratar a FBC e incluiu apenas uma proposta, além daquela formulada pela FBC.
b) a alternância de dirigentes entre o CFC e a FBC nos últimos vinte anos, podendo comprometer
a impessoalidade e gerar conflito de interesses nas relações contratuais ou conveniais entre as
duas instituições;
59. Peço licença para inverter a ordem de apreciação dos fatos, iniciando pelo relacionamento
entre as instituições e passando posteriormente ao exame da conduta do Sr. José Martonio
atinente à contratação direta da instituição para realização do Exame de Suficiência de
2016/2017.
XXX - firmar parcerias e convênios com a Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC) para a
realização de atividades voltadas ao Desenvolvimento Profissional e Institucional do CFC,
repassando, quando couber, recursos para a execução das atividades mediante prestação de
contas;"
(...)
[Grifo acrescido.]
61. De parte da referida Fundação, o estatuto apresenta disposições aptas a compatibilizar o
enquadramento na categoria, pois a norma a define como pessoa jurídica de direito privado,
sem fins lucrativos e voltada para desenvolver, fomentar, realizar ou participar de projetos que
tenham por escopo desenvolver procedimentos técnicos e atualizações na área contábil, exercer
atividades para o desenvolvimento técnico e científico da Contabilidade, estimular a pesquisa e a
produção científica, entre outras atribuições (peça 73) . O estatuto também estabelece que o
Presidente do CFC compõe o conselho consultivo da fundação, na qualidade de membro nato.
62. Assim, não surpreende que, em diversas oportunidades ao longo dos anos, a FBC tenha sido
contratada pelo Conselho Federal de Contabilidade para realizar o Exame de Suficiência e outras
atividades por meio de dispensa de licitação calcada no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993. Por
outro lado, veja-se que, para execução do Exame de Suficiência de 2011, houve a firmatura de
convênio, situação que foi apreciada pelo Acórdão 3059/2012-Plenário (TC-029.279/2012-2) ,
que considerou improcedente a denúncia relativa ao tema.
63. Todavia, não há amparo legal para que a FBC seja considerada e atue como "fundação de
apoio" ao CFC e aos conselhos regionais. E, obviamente, também não há amparo legal para que
o Regimento Interno do CFC e o Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade contenham
disposições que privilegiem o relacionamento com a FBC, entidade privada, em detrimento de
outras entidades de mesmas características e objetivos.
66. Como já relatado anteriormente, o Sr. José Martonio Alves Coelho, o ex-Presidente do CFC,
foi ouvido em audiência por ter contratado a FBC para organizar o Exame de Suficiência de
2016/2017 com a realização de pesquisa de preços após a escolha da FBC e sem a indicação da
razão da escolha da executante.
67. A SecexTrabalho não acolheu as justificativas por entender que houve inobservância ao art.
26, parágrafo único, incisos II e III, da Lei 8.666/1993. A unidade técnica considerou também que
estavam presentes indícios de fraude, concretizada com o objetivo de favorecer a contratação da
FBC, uma vez que:
f) situação similar ocorreu na contratação da FBC para realização dos Exames de Suficiência de
2014/2015, mas o Presidente do CFC era o Sr. Juarez Domingues Carneiro, enquanto o Sr. José
Martonio ocupava a função de Presidente da FBC;
68. Concordo com a instrução no sentido de que a preparação para contratar a aplicação dos
Exames de Suficiência de 2016/2017 foi deficiente. O termo de referência praticamente
reproduziu as especificações constantes do instrumento relativo aos exames realizados no biênio
2014/2015. De seu turno, a verificação do preço ofertado foi feita com fundamento na proposta
de apenas uma instituição congênere.
69. Todavia, há elementos que, conquanto não justifiquem completamente as falhas ocorridas,
permitem atenuar a situação do responsável e afastar a aplicação de sanções.
70. Inicialmente, veja-se que a contratação foi aprovada por órgão colegiado do CFC, a Câmara
de Registro, com fundamento em parecer do Conselheiro-Relator Nelson Zafra (fls. 03-peça 42) .
Constou ainda da decisão colegiada a definição de que o valor da inscrição no exame sofreria o
reajuste de 10%, passando de R$ 100,00 para R$ 110,00. Em seguida, a decisão foi aprovada pelo
Plenário do conselho.
72. Primeiro, a decisão pela contratação da FBC foi tomada por dois colegiados, ou seja, a
Câmara de Registro e o Plenário do CFC. Assim, a responsabilidade por autorizar a contratação
não pode ser atribuída isoladamente ao Sr. José Martonio. Em consequência, os demais agentes
envolvidos no processo decisório também deveriam ser chamados a responder pela ocorrência.
73. Em segundo lugar, observa-se no excerto da ata lavrada na Câmara de Registro que a
decisão foi fundamentada em parecer de Conselheiro-Relator, que se manifestou favorável à
contratação e também definiu as bases financeiras da avença, as quais foram observadas em
seus exatos termos no contrato subsequente. Não consta do processo a cópia do parecer, nem
da documentação que o embasou. Porém, há que se reconhecer que houve a formulação de
justificativa pela escolha da FBC e de justificativa do preço no referido parecer, ainda que, no
momento, não se consiga aferir a qualidade dessa manifestação.
74. Assim, restaria obter os documentos faltantes e, a partir da respectiva análise, decidir se
caberia ouvir os demais responsáveis. Contudo, penso que essas providências demandariam
esforço e resultado incompatíveis com o avançado estágio de tramitação deste processo
esforço e resultado incompatíveis com o avançado estágio de tramitação deste processo.
75. Também não compartilho da visão da unidade técnica no sentido de que teria ocorrido
fraude na escolha da FBC. Não se esqueça que o Regimento Interno do CFC já contém
disposição expressa que autoriza o Plenário a firmar parcerias com a FBC. Portanto, o
direcionamento à contratação da FBC se encontra oficializado na norma interna e,
consequentemente, não pode ser atribuído pessoalmente ao responsável ou aos demais
agentes. Provavelmente, a institucionalização do relacionamento entre o CFC e a FBC induziu às
falhas na preparação da contratação, vez que etapas como a elaboração do termo de referência
e a emissão de parecer jurídico foram executadas como mera formalidade.
76. De todo modo, espera-se que o cumprimento da determinação acima referida para que o
Conselho promova alterações no regimento seja medida suficiente para prevenir ocorrências
semelhantes no futuro.
77. Por fim, acrescente-se que, no TC-043.306/2018-7, consta a informação de que, em 2018 e
2019, o CFC promoveu os Pregões Eletrônicos 00001/2018 e 00002/2019 para contratação dos
serviços de aplicação dos exames de suficiência, os quais resultaram nos Contratos 07/2018 e
08/2019, ambos celebrados com a empresa Consulplan Consultoria e Planejamento em
Administração Eireli.
IV - Natureza dos recursos arrecadados com inscrições nos Exames de Suficiência e em eventos
relativos a programas de educação continuada
78. A definição da natureza dos recursos relativos das taxas de inscrição arrecadadas pela
Fundação Brasileira de Contabilidade nos exames e eventos realizados em nome do Conselho
Federal de Contabilidade decorreu da discussão acerca do relacionamento entre as duas
entidades.
78. A SecexTrabalho concluiu que esses recursos são receitas próprias do conselho, pois se trata
de preços de serviços, cuja execução foi delegada pelo CFC à FBC por meio de contratos ou
convênios. Ainda segundo a unidade técnica, os serviços relacionam-se a exercício de atribuições
legais do CFC, como a realização dos Exames de Suficiência e dos programas de educação
continuada, nos quais se inserem a promoção de congressos, seminários e outros eventos
similares.
79. As bases legais que fundamentaram as conclusões da unidade são a Lei 11.000/2004 e o
Decreto-Lei 9.295/1946, que assim estabelecem:
- Lei 11.000/2004
-Decreto-Lei 9.295/1946
"Art. 6º São atribuições do Conselho Federal de Contabilidade:
(...)
80. Em consequência, a Secex propôs determinar ao CFC que publique as prestações de contas
detalhadas dos exames de suficiência, incluindo todos os valores arrecadados pela FBC e todas
as despesas custeadas com esses valores.
V - Transparência
83. Deixo de acolher a sugestão por considerar que se afigura dispensável ante a recente edição
da Instrução Normativa 84/2020, que definiu em seus arts. 8º a 11 as informações e os
documentos que devem ser divulgados pelas unidades jurisdicionadas na rede mundial de
computadores para fins de prestação de contas e de avaliação da gestão.
VI - Mérito
84. Feito o confronto entre os indícios apresentados pelo denunciante e os elementos colhidos
na instrução do processo, cabe considerar esta denúncia parcialmente procedente.
Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
deliberação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 26 de agosto de 2020.
Relator