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Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ANTONIO AUGUSTO BRANDAO DE ARAS, em 11/09/2020 22:56.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

PETIÇÃO 9.105/DF
RELATORA: MINISTRA ROSA WEBER
REQUERENTE: RICARDO BRETANHA SCHMIDT
REQUERIDO: JAIR MESSIAS BOLSONARO
PETIÇÃO ASSEP-CRIM/PGR 270449/2020

Excelentíssima Senhora Ministra Rosa Weber,

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Trata-se de Petição autuada a partir de notícia-crime apresentada
pelo advogado RICARDO BRETANHA SCHMIDT, por meio da qual atribui

ao Presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, a prática, em tese,


dos crimes previstos nos arts. 146 e 147, ambos do Código Penal:

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,


ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade
de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer


outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

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Relata o peticionário que no dia 23/8/2020, próximo à Catedral de


Brasília, a autoridade requerida, após ter sido questionada sobre cheques de

FABRÍCIO QUEIROZ depositados na conta da primeira-dama, MICHELLE


BOLSONARO, dirigiu as seguintes palavras ao jornalista DANIEL GULLINO:

“Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá. Seu safado”, conduta que
estaria a caracterizar as citadas infrações penais.

Ao fnal, requer a distribuição da notitia e o encaminhamento dos

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autos ao MPF para que seja oferecida denúncia em face do noticiado, com
derradeira condenação.

À petição inicial foi anexada matéria veiculada pelo portal de notícias

G1 intitulada “Questionado sobre cheques de Queiroz a Michelle, Bolsonaro diz a


jornalista: Minha vontade é encher tua boca na porrada” (sic).

É o relatório.

A ausência de imposição, por parte da autoridade requerida, de um

comportamento específco e ilegítimo ao jornalista interlocutor afasta a


subsunção da conduta narrada ao tipo penal previsto no art. 146 do Código

Penal (constrangimento ilegal).

Segundo a doutrina, para a caracterização da fgura típica, exige-se


que o agente atue com a fnalidade de impor à vítima uma conduta certa e

determinada, retirando-lhe a liberdade de autodeterminação assegurada pelo

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art. 5º, II, do texto constitucional (JESUS, Damásio de. Código penal anotado. 23.
ed. São Paulo: Saraiva, 2015).

Mais ainda, além de visar à realização de uma conduta defnida, “o

constrangimento praticado pelo agente deve ser dirigido no sentido de obrigar a vítima
a não fazer aquilo que a lei permite ou mesmo a fazer o que ela não manda” (GRECO,

Rogério. Código Penal comentado. 11. ed. Niterói/RJ: Impetus, 2017, p. 667).

Sintetizando as duas exigências, pode-se afrmar, a partir da simples

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análise objetiva do tipo, que “o agente precisa impor à vítima um comportamento
certo e determinado e o constrangimento há de ser ilegal (deve estar em

desconformidade com a legislação em vigor)” (MASSON, Cleber. Código penal


comentado. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:

MÉTODO, 2014. Grifos originais).

Na espécie, não é possível extrair dos fatos narrados ou da matéria

acostada à petição inicial que o jornalista tenha sido obrigado, coagido, forçado
a fazer algo específco que a lei não manda ou a não fazer algo em particular

que ela permite.

Em verdade, não se divisa qualquer pretensão especial buscada pelo

agente/emissor. Essa ausência afasta, de plano, a incidência da norma penal


incriminadora, pois a linguagem hostil não foi empregada como expediente

para a obtenção de determinado comportamento ambicionado pelo sujeito


ativo. O tom intimidante, embora possa vir a caracterizar a grave ameaça,
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enquanto elementar do tipo penal, não é sufciente, por si mesmo, à formal


adequação dos fatos à norma.

Em suma, não resta caracterizada a infração penal, mormente porque


“se a conduta do agente não tiver o objetivo determinado de constranger a fazer ou não

fazer, não pode ser capitulada neste art. 146” (DELMANTO, Celso. Código penal
comentado. 9 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016).

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No que tange à ameaça como infração autônoma, trata-se de crime
que “somente se procede mediante representação” (art. 147, parágrafo único, do

CP). Assim, uma eventual apuração – tanto em ação penal quanto na fase pré-
processual – não pode ser iniciada sem a inequívoca manifestação de vontade

do ofendido neste sentido, consoante prescrevem os arts. 5º, § 4º, e 24, ambos
do CPP:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será


iniciado: (…)
§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

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Ausente declaração da vítima no sentido de ver instaurada a


persecução penal em face de seu ofensor, não há como investigar os fatos.

Mesmo porque, em casos tais

(…) o crime afeta tão profundamente a esfera íntima do


indivíduo, que a lei, a despeito da sua gravidade, respeita a vontade
daquele, evitando, assim, que o ‘strepitus judicii’ (escândalo do
processo) se torne um mal maior para o ofendido do que a impunidade
dos responsáveis. Mais ainda: sem a permissão da vítima, nem sequer
poderá ser instaurado inquérito policial. (CAPEZ, Fernando. Curso

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de processo penal. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2016)

Na mesma perspectiva, esse Supremo Tribunal Federal tem assente

em sua jurisprudência a orientação de que, tratando-se de crime de ameaça, “a


representação do ofendido, que se qualifca como verdadeira ‘delatio criminis’

postulatória, constitui requisito de perseguibilidade do autor da infração penal (…)”


(HC 80.618/MG, 2ª Turma, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe 26/09/2011).

Além disso, observa-se de antemão que a narrativa desenvolvida


pelo noticiante abrange fatos que não guardam relação com o exercício do

mandato presidencial.

Por essa razão, no presente momento estaria proibida a instauração

de processo-crime em face do Presidente da República, haja vista a


prerrogativa a que se refere o art. 86, § 4º, da Constituição Federal, que

estabelece imunidade temporária à persecução penal (ou irresponsabilidade

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penal relativa): “O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode


ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”.

Em face do exposto, o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA


manifesta-se pela negativa de seguimento à Petição.

Brasília, data da assinatura digital.

Augusto Aras

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Procurador-Geral da República
Assinado digitalmente

VOL/AALT

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