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CAPÍTl'LO XVIII

A INTERVENÇÃO

A intervenção pode ser definida como uma interferência pela for­


ça, que não seja uma declaração de guerra, feita por uma ou mais potên­
cias, nos assuntos de outra potência. Em princípio, todo estado é inde­
pendente no que se refere à administração de seus próprios assuntos
(exceto quando isto porventura esteja limitado por um tratado específi­
co), e a interferência externa é uma violação de seus direitos. Esse prin­
cípio está contido nos artigos da Convenção da Liga e na Carta das
Nações Unidas, e impede às organizações internacionais de interferi­
rem num assunto que se encontra dentro da jurisdição doméstica de um
estado.' Na prática, a intervenção ocorre mais comumente do que a
guerra, e levanta questões da maior complexidade moral: partidários de
todas as crenças políticas considerarão a intervenção justificável sob
determinadas circunstâncias.
Um ato de intervenção pode ser examinado a partir de vários
pontos de vista. É uma intervenção nos assuntos internos ou exter­
nos do país em questão? Uma delas constitui interferência menos fla­
grante do que a outra. O objeto da intervenção é uma grande ou uma
pequena potência? No primeiro caso, o perigo de guerra decorrente
da intervenção será maior do que no segundo. O objetivo da interven­
ção é manter ou alterar o status quo? A primeira pode ser chamada de
intervenção defensiva, a segunda de intervenção ofensiva. A interven­
ção é imposta pela potência interventora, ou invocada pela potência
que a sofre? Caso tenha sido solicitada por esta última, o convite foi
feito pelo governo do país ou por uma facção anti-governamental. ou
grupo de rebeldes ? Cada um desses casos constitui uma diferente
situação moral e legal.

I Artigo 15 (8) da Convenção: I\rtlgo 2 (7) da Carta.


194 M;\RTIN WI(;IIT

Em seu sentido estrito, intervenção significa coerção que não seja


guerra. A potência interventora não tem a intenção de provocar ime­
diatamente uma guerra - ela pode até estar almejando evitar a guerra­
mas em geral está pronta para a guerra e, de fato, a guerra pode vir a ser
o resultado, caso o estado contra quem for feita a intervenção resolver
resistir, ou ainda caso outros estados contra-intervierem. Assim, vemos
que a intervenção é sempre ditatorial, envolvendo a ameaça, senão o
exercício, da força. Uma oferta de assistência amigável pode, contudo,
gerar suspeitas de motivos sinistros e ser denunciada como uma inter­
venção, como o governo soviético denunciou a oferta de ajuda do Pla­
no Marshall aos países da Europa em 1947.
Existe um emprego menos rígido da palavra, quando dizemos que
os franceses intervieram na Itália em 1494, ou que os Estados Unidos
intervieram na Primeira Guerra Mundial em 1917. Neste caso, intervir
é sinônimo de fazer a guerra, mas implica em maior liberdade de deci­
são a respeito do assunto do que possuem outras potências.
(Referimo-nos à intervenção dos Estados Unidos na Primeira Guerra
Mundial, e não na Segunda.)
A intervenção pode se dar tanto na política externa de um país
quanto em seus assuntos domésticos. Em 1742, um capitão da marinha
britânica pediu audiência ao Rei de Nápoles para entregar-lhe uma men­
sagem: se o Rei não concordasse em chamar de volta as tropas napolitanas
que haviam se juntado ao Exército Espanhol na Itália central dentro de
meia hora, a esquadra britânica ao largo da cidade reduziria Nápoles a
cinzas com bombardeios marítimos. Em fevereiro de 1945 Vyshinsky
pediu para ver o Rei da Romênia e disse-lhe que dispunha de duas horas
e cinco minutos para demitir seu primeiro-ministro e nomear outro;
dando a entender que, de outra forma, Vyshinsky não seria mais res­
ponsável pela continuação da Romênia como estado independente. Es­
ses dois incidentes, que têm certa semelhança dramática, ilustram a in­
tervenção nos assuntos externos e internos, respectivamente, de outro
estado.
A intervenção contra uma grande potência necessariamente impli­
ca uma ameaça direta de guerra, pois é mais provável que uma grande
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potência resista à intervenção do que uma potência menor. Em 1850,


pelo tratado de Olmütz, a Áustria forçou a Prússia a abandonar a nova
união dos estados germânicos que esta última havia criado após a revo­
lução de 1848, e a retornar à Confederação Germânica de 1815; tal
humilhação deixou a Prússia, como observou Bismarck muitos anos
mais tarde, uma grande potência somente cum grano salis,' Em 1895, a
Rússia, a França e a Alemanha exigiram conjuntamente que o Japão
devolvesse à China a península Liaotung, bem como Porto Arthur, que
a China havia acabado de ser obrigada a ceder ao Japão pelo Tratado de
Shimonoseki; talvez um sinal de que o Japão ainda não havia sido reco­
nhecido como grande potência, foi o fato de não lhe ter sido fornecido
qualquer meio de salvar as aparências. Quando a Grã-Bretanha inter­
veio entre a Rússia e a Turquia em 1878 ao protestar contra o Tratado
de Santo Stefano, o prestígio russo pôde ser salvo por um congresso
europeu, da mesma forma que, quando os Estados Unidos intervieram
na disputa de fronteira entre a Grã-Bretanha e a Venezuela em 1895, o
prestígio britânico foi salvo por uma decisão arbitral.
Como é sempre provável que uma intervenção nos assuntos inter­
nos de uma grande potência produza uma guerra é, em conseqüência,
improvável que seja tentada uma intervenção nos seus assuntos inter­
nos. Uma grande potência é aquela que não aceitará que lhe sejam dita­
das ordens no que se refere a seus assuntos domésticos. Essa generali­
zação é confirmada pelos poucos momentos registrados pela história
de tentativas de intervenção nos assuntos internos de uma grande po­
tência. Quando Luís XIV reconheceu o Velho Pretendente como Rei da
Inglaterra por direito, após a morte, em 1701, de James II no exílio, a
explosão de fúria patriótica que ele produziu na Inglaterra, por aparen­
temente querer ditar a sucessão do trono inglês, marcou o início da
guerra total na qual ele próprio acabou humilhado. Papel semelhante no
início da Guerra Revolucionária Francesa foi desempenhado pelas pro­
postas não muito entusiásticas por parte da Áustria e da Prússia para
intervirem e salvarem Luís XVI dos revolucionários e, ainda, pela sus­
peita de que Luís XVI e Maria Antonieta estariam conspirando para que

, !{cj!cclirJl/J ,1IIr! /{C///III/J(('I/(t.'. Vol. I. p..')(12.


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isto de fato se realizasse. Os Aliados só foram capazes de intervir na


Rússia em 1918-1919 porque ela havia temporariamente deixado de ser
uma potência, em virtude das convulsões revolucionárias e de guerra
civil pelas quais estava passando. O exemplo da China comunista de­
monstra que, quando uma guerra civil leva um governo forte ao poder,
esse governo considerará a manutenção de relações contínuas entre as
facções derrotadas e potências estrangeiras como uma virtual interven­
ção; assim como o governo da União considerou, durante a Guerra
Civil norte-americana, as relações britânicas com os confederados. Existe,
contudo, uma exceção para esta regra: quando a intervenção é solicitada
pelo próprio governo da grande potência. Em 1849 o governo austría­
co aceitou a oferta de ajuda feita pelo czar Nicolau I para reprimir a
revolução húngara; os russos reconquistaram a Hungria sem pedir qual­
quer recompensa e devolveram à Áustria seu status de grande potência.
Este ato foi, segundo Bismarck, "o maior obséquio que um soberano
de uma grande potência jamais fez a um vizinho". \ Cumpre salientar
que em todos esses exemplos - exceto naquele da Guerra Civil america­
na - o objetivo da intervenção era o de forçar o retrocesso da revolução.
A única intervenção passível de ser praticada contra uma grande potên­
cia é algo que talvez não possa ser qualificado como uma intervenção
propriamente dita, mas sim como intrigas secretas com rebeldes em
potencial, que poderiam ser negadas caso as circunstâncias tomassem
outro rumo.
A intervenção ocorre com mais freqüência nas relações entre gran­
des potências e potências mais fracas. Podemos, nesse contexto, fazer a
distinção entre dois tipos de intervenção defensiva: a intervenção para
preservar o equilíbrio do poder e a intervenção por parte de uma grande
potência nos assuntos de seus estados-cliente, o que na verdade é uma
intervenção para preservar um desequilibrio do poder. Uma esfera de
interesse é aquela onde a maior potência assume o papel de autoridade
de polícia internacional e o exerce por meio de intervenções. A política e
o caráter de uma grande potência não podem ser julgados pelo fato de
esta última se recusar a intervir de um modo geral, pois a intervenção às

, RCjlCct101JJ and RCllliniJeetlccs, Vol. I, p. 236.


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vezes se fará necessária no interesse da paz e do bom governo, mas de­


vem sê-lo pelo tato e a relutância com a qual a intervenção é conduzida.
A característica brutal e humilhante da intervenção russa foi demonstra­
da quando o Príncipe da Bulgária foi seqüestrado por mercenários rus­
sos em 1886 e forçado a abdicar, e mais uma vez quando em 1947 Stalin
insistiu em que a Tchecoslováquia voltasse atrás em sua decisão de acei­
tar o convite franco-britânico para uma conferência em Paris a respeito
do Plano Marshall, e, além disso, exigiu que o Gabinete tchecoslovaco
revertesse unanimemente sua decisão, uma vez que a decisão de aceitar o
convite havia sido tomada de maneira unânime. É possível que as inter­
venções britânicas no Oriente Próximo tenham mostrado maior conten­
ção, e grande parte da opinião pública britânica as tenha condenado rapi­
damente, mesmo em tempos de guerra. A intervenção britânica no Iraque
para frustrar o golpe de estado de Rashid Ali em 1941 foi aceita pela
opinião pública britânica como necessária para impedir que o Iraque
passasse a ser controlado pela Alemanha; mas a intervenção no Egito em
fevereiro de 1942, quando tanques britânicos romperam os portões do
palácio e forçaram o rei a nomear N ahas Pasha para o cargo de primeiro­
ministro foi condenada durante toda a guerra e nunca foi oficialmente
explicada ou defendida; além disso, à intervenção de Churchill na Grécia
em 1944 para impedir que os comunistas tomassem Atenas e se estabe­
lecessem no poder foi, na época, duramente atacada no Parlamento e na
imprensa, ainda que sua sabedoria tenha, desde então, transparecido.
Esse gênero de intervenção foi elevado à categoria de sistema nas
relações entre os Estados Unidos e a América Latina. Os Estados Uni­
dos lançaram a Doutrina Monroe em 1823 com o propósito de impedir
que as potências européias interviessem na América Latina mas, no iní­
cio do século XX, a Doutrina foi virada do avesso de modo a justificar
as intervenções dos Estados Unidos na América Latina.
Tais intervenções tinham em geral o objetivo de proteger investi­
mentos e interesses econômicos norte-americanos no que ficou conhe­
cido como "a diplomacia do dólar"; mas também eram apresentadas
em termos morais, como sendo dirigidas contra os maus governos, a
discórdia civil e a ditadura. Receberam sua afirmação extrema no
"corolário" de Theodore Roosevelt associado à Doutrina Monroe:
19~

"Males crórucos, ou uma Impotência llue resulta no afrouxa­


mento geral dos princípios da sociedade civilizada podem, na Amé­
rica como em qualquer outro lugar, em última instância, relluerer
inrcrvcncâo por parte de alguma naçào civilizada. No Hemisfério
Ocidental, a adesão dos 1':stados Unidos :\ Doutrina Monroc poderá
forçar os Fstados Unidos, ainda lJue relutantemente, a exercer o poder
de polícia internacional em casos flagrantes de tais males ou Impo­
tência"."

Roosevelt já havia levado adiante a intervenção mais ousada, im­


portante e bem-sucedida da história da América quando, em 1903, os
Estados Unidos encorajaram a revolta do Panamá contra a Colômbia e
impediram esta última de sufocá-la, de forma a adquirirem a futura
Zona do Canal da recém-formada República do Panamá. Em 1916, os
Estados Unidos já haviam efetuado uma ocupação militar em São Do­
mingos, Haiti e Nicarágua, e haviam também realizado uma interven­
ção no México com um poderoso exército. Tal tradição imperialista
causou grande ressentimento na América Latina e foi, gradativamente,
abandonada durante o final da década de vinte, em favor daquilo que
Franklin Roosevelt chamou de "política de boa-vizinhança", o que,
acima de qualquer coisa, significava uma política de não-interferência.
Mas a guerra fria após 1945 gerou condições que levaram os Estados
Unidos a acreditar que seus interesses na América Latina estariam em
maior perigo do que haviam estado em qualquer momento do imperi­
alismo econômico, e conseqüentemente se sentiram mais uma vez im­
pelidos a intervir.
Juristas internacionais têm sustentado que a intervenção é perdoá­
vel, senão estritamente legal, quando é feita com a intenção de preser­
var o equilíbrio do poder. As intervenções coletivas por parte das gran­
des potências no século XIX em geral tinham esse objetivo. Ás vezes,
tais intervenções resultavam na criação de um novo estado, geralmente
idealizado como um estado-tampão: em 1827 a Grã-Bretanha, a França

4 Discurso anual ao Congresso, 6 de dezembro de 1904, em R. J. Barrlctt (cd.) The Remra oj


AII/ericull j)ifi/Olll{/C)', Knopf, Nova York, 1964, p. 539.
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e a Rússia intervieram na Guerra de Independência grega contra a Tur­


quia e, posteriormente, reconheceram a independência grega; em 1830,
a Grã-Bretanha e a França intervieram na revolta belga contra a Holanda,
e estabeleceram uma Bélgica independente; em 1913 elas intervieram
na Segunda Guerra Balcânica, e estabeleceram a independência da
Albânia. Às vezes, intervenções como essas tiveram como objetivo a
manutenção de um estado-tampão já existente, como por exemplo a
Turquia. A Questão do Oriente no século XIX foi, em grande parte,
uma tentativa das grandes potências assegurarem que, caso houvesse
intervenção na Turquia, esta deveria ser coletiva, e não simplesmente
uma intervenção por parte da Rússia. Às vezes, a intervenção coletiva
era, na verdade, uma intervenção competitiva e levava à compensação
múltipla, como vimos no capítulo anterior. Em seus piores momentos,
a intervenção coletiva degenerou-se a ponto de ser, na verdade, uma
pilhagem dos fracos pelos fortes confederados. Um jurista internacio­
nal afirmava que a intervenção das grandes potências para punir a Chi­
na pela Revolta dos Boxers em 1900 não possuía características essen­
ciais que a distinguissem das invasões nórdicas.
A intervenção por parte de uma grande potência nos assuntos de
uma potência fraca geralmente leva ao ressentimento e à xenofobia: o
sentimento anti-russo na Polônia e nos Balcãs, o sentimento anti-ianque
na América Latina, o sentimento anti-britânico no Egito e o sentimento
anti-ocidental na China constituem exemplos suficientes desse fenôme­
no. Mesmo assim, invocar a intervenção externa sempre foi o último
recurso de facções em luta nos estados mais fracos e dos próprios go­
vernos, ainda que a história tenha freqüentemente demonstrado que
este recurso muitas vezes acaba por ser em vão. Foram as intrigas das
potências italianas que fizeram com que franceses entrassem na Itália
em 1494, e que também levaram aos desastres que se seguiram. Nas
lutas internas dos estados balcânicos, cada partido tem tradicionalmen­
te buscado o apoio de uma grande potência externa. Na Pérsia, um
político bem-sucedido é automaticamente considerado cliente de algu­
ma potência externa, pois de outra forma, como poderia ter chegado
onde chegou? A confusão entre a política doméstica e internacional
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talvez tenha atingido os limites mais extremos na América Latina, onde


as nacionalidades não têm distinções marcantes e os líderes da oposição
de um país habitualmente se refugiam num país vizinho, de onde cons­
piram contra o governo que se encontra no poder em seu país. A inter­
venção por parte de uma república irmã de língua espanhola não traz à
tona escrúpulos patrióticos e indignação da mesma maneira que uma
intervenção executada pelos Estados Unidos.
A maior parte das intervenções é defensiva, com o objetivo de
preservar o status quo mas também existe a intervenção ofensiva, que
tem o intuito de mudá-lo. Em períodos de conflitos doutrinários, a in­
tervenção ofensiva constitui um método regular de precipitar revolu­
ções internacionais. O mais famoso exemplo disso foi fornecido pela
Revolução Francesa: proclamando princípios de escopo universal, ela
foi levada por uma lógica inerente até o decreto de 19 de novembro de
1792, que oferecia "fraternidade e assistência para todos os povos que
queiram recuperar sua liberdade". Isto era uma proclamação de inter­
venção universal, levando, como ressaltou Pitt, "encorajamento à insur­
reição e à rebelião em todos os países do mundo". A Santa Aliança
adotou esse mesmo princípio, ainda que no sentido oposto, quando
declarou na Conferência de Troppau, em 1820, que interviria em qual­
quer lugar para reprimir a revolução. Foi nesse momento que a
Grã-Bretanha separou-se de seus antigos aliados contrários à Revolu­
ção Francesa. Castlereagh argumentava que a intervenção sustentada
sobre princípios abstratos não mais podia ser considerada verdadeira­
mente defensiva, e poderia, de fato, por em perigo as liberdades do
mundo, e que a intervenção só poderia ser tida como verdadeiramente
defensiva caso o equilíbrio territorial da Europa fosse perturbado.
Coloca-se a questão de saber se a política externa soviética - ainda que
seu desenvolvimento tenha sido historicamente diferente e mais caute­
loso do que o da política revolucionária francesa - está ou não funda­
mentalmente baseada num princípio análogo de intervenção ofensiva.
É certo que todos os movimentos de unificação nacional (ou "reunião"
como muitas vezes são chamados, sacrificando a precisão histórica em
favor do fervor moral) tendem a considerar a intervenção ofensiva não
A Intervenção 201

somente um instrumento de política, mas também um dever. Ao mes­


mo tempo, a intervenção ofensiva geralmente difere da intervenção de­
fensiva por ser clandestina e não-oficial: ela atinge seu objetivo ao fo­
mentar a revolução em outros países. Um governo tacitamente encorajará
o movimento nacionalista, tanto dentro de suas fronteiras quanto além
delas; caso a insurreição em outros países seja um fracasso, ela pode ser
desmentida; caso seja bem-sucedida, seus frutos podem ser colhidos, e,
em geral, as fronteiras da potência interventora serão ampliadas. A inva­
são da Sicília por Garibaldi em 1860 com um exército de voluntários; a
fabricação de um incidente "espontâneo nos estados papais por Cavour,
e a subseqüente invasão e anexação dos domínios papais e napolitanos
pelo Piernonte; talvez esses tenham sido os exemplos supremos de in­
tervenções ofensivas em tempos de paz, e eram indistinguíveis da guer­
ra em todas as suas formas menos a diplomática". Os métodos de Cavour
eram perdoados pela opinião liberal pois ela apoiava a unificação da
Itália; mas a política de Hitler em relação à Áustria e à Tchecoslováquia
até 1938, e a intervenção italiana e alemã na Guerra Civil espanhola
(1936-1939) mostrou que os governos totalitários utilizavam esses mes­
mos métodos.
Definimos a intervenção como uma interferência à força, que não
chega a ser uma guerra, nos assuntos de outra potência. Pode ser dito
que esta definição não se estende a um movimento revolucionário in­
ternacional a serviço de uma determinada potência, como a quinta co­
luna de alemães no estrangeiro, que apoiavam a Alemanha nazista, os
simpatizantes fascistas, e a Internacional Comunista; esses três exem­
plos, representam a técnica mais pérfida da intervenção ofensiva. Mas,
neste ponto, a precisão da análise política torna-se tão difícil quanto o
conhecimento exato de se a potência controla ou não o movimento
internacional. Vemo-nos aqui obrigados a definir a intervenção em ter­
mos de motivos ao invés de ação: não pode haver argumentação séria a
respeito do objetivo dos partidos comunistas operando em países que
ainda não se tornaram comunistas, ainda que suas atividades possam
estar fora do campo da ação da diplomacia. Esta é a região nebulosa
onde as políticas domésticas e internacional tornam-se indistinguíveis.
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Em teoria, o oposto da intervenção é a não-intervenção. Esta última


foi proclamada pelos radicais britânicos no século XIX como sendo o
objetivo da política sensata. Eles queriam dizer que a Grã-Bretanha não
deveria se envolver nas brigas de outros povos. Isto presumia que as bri­
gas de outros países não afetavam os interesses britânicos, e era o equiva­
lente ao isolacionismo dos Estados Unidos antes de 1941, uma expressão
de segurança e confiança inabaláveis. Em determinados casos, a
não-intervenção pode ser uma política tão positiva quanto a intervenção.
A política britânica em relação à invasão da Sicília por Garibáldi, em 1860,
foi positivamente a de não-intervenção; de fato, a Grã-Bretanha favorecia
um dos combatentes e impedia que outras potências interviessem. Em
decorrência disso, percebemos a verdade contida na observação sarcásti­
ca de Talleyrand: "a não-intervenção é um termo de metafísica política
que significa quase a mesma coisa que intervenção". () Acordo de
Não-Intervenção de 1936 era uma ficção diplomática por meio da qual as
potências ocidentais abstinham-se de prestar auxilio ao governo legítimo
da Espanha, ao passo que as potências do Eixo forneciam ajuda aos re­
beldes nacionalistas, sem a qual eles provavelmente não teriam vencido.
Em períodos de conflito doutrinário, pode-se pensar que a não-interven­
ção é uma política errada, pois se torna de fato uma intervenção contra
aquilo que está certo. () conflito ou tensão entre o princípio geral da
não-intervenção e o desejo de empreender uma ação coletiva contra a
tirania e a perseguição torna-se aguçada quando existe o perigo de doutri­
nas políticas ganharem terreno. Na Conferência de Caracas da Organiza­
ção dos Estados Americanos, em março de 1954, John Foster Dulles
empenhou-se em dar ênfase ao perigo representado pelo comunismo na
América Latina. "O slogan da não-intervenção", disse ele, "pode ser plau­
sivelmente invocado e deturpado de forma a dar imunidade ao que na
realidade não passa de intervenções flagrantes".~ Cinco meses mais tarde,
os Estados Unidos não intervieram decisivamente contra o governo es­
querdista da Guatemala, e a observação de Dulles foi amargamente lem­
brada pelos latino-americanos.(,

'; Discurso em H de março de 1954, em ']'Jx ,\('IJ' Jork Tim(,J, 9 de março de 1954, p. 1.
(, J ':ste
capítulo provavelmente foi escrito na metade da década de 50.

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