Sei sulla pagina 1di 59

IBAMA

M M A

Planejamento
sistemático
da conservação
PLANEJAMENTO SISTEMÁTICO DA CONSERVAÇÃO
Ministério do Meio Ambiente
Izabella Teixeira

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama


Abelardo Bayma

Diretoria de Proteção Ambiental


Luciano de Meneses Evaristo

Coordenação Geral Zoneamento e Monitoramento Ambiental


George Porto Ferreira

Coordenação de Zoneamento Ambiental


Giovana Bottura
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Diretoria de Proteção Ambiental
Coordenação Geral Zoneamento e Monitoramento Ambiental
Coordenação de Zoneamento Ambiental

PLANEJAMENTO SISTEMÁTICO DA CONSERVAÇÃO

BRASÍLIA
2010
EQUIPE RESPONSÁVEL

Analistas Ambientais:

Ana Elisa de Faria Bacellar Schittini


Bióloga, Especialista em Geoprocessamento e Mestre em Ecologia
Giovana Bottura
Bióloga, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental
Guilherme Fernando Gomes Déstro
Biólogo, Mestre em Agronomia
Jailton Dias
Geógrafo, Mestre e Doutor em Geografia
Mayra Pereira de Melo Amboni
Bióloga, Mestre em Ecologia

Edição

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama


Centro Nacional de Informação Ambiental – Cnia
SCEN, Trecho 2, Edifício-Sede do Ibama
CEP: 70818-900 – Brasília, DF
Telefone: (61) 3316-1294
Fax: (61) 3307-1987
http://www.ibama.gov.br

Diretoria de Qualidade Ambiental - Diqua


Sandra Regina Klosovski
Chefe do Cnia
Jorditânia Souto Santos
Revisão
Maria José Teixeira
Ana Célia Luli
Normalização Bibliográfica
Helionidia Carvalho de Oliveira
Capa
Carlos José e Paulo Luna
Diagramação
Carlos José

Catalogação na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
I59p Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Planejamento sistemático da conservação: material didático / Coordenação de Zoneamento Ambiental. –
Brasília: Ibama, 2010.
64 p. ; 29cm
ISBN 978-85-7300-306-2

1. Área protegida. 2. Planejamento ambiental. 3. Material didático. I. Schittini, Ana Elisa de F. Bacellar. II. Bottura,
Giovana. III. Déstro, Guilherme Fernando Gomes. IV. Dias, Jailton. V. Amboni, Mayra Pereira de Melo. VI. Instituto Bra-
sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. VII. Diretoria de Proteção Ambiental – Coordenação de
Zoneamento Ambiental – Dipro/CGZAM. VIII. Título.

CDU(2.ed.)502.3
Sumário

1. Introdução................................................................................................................................... 7
2. Divisão da área de interesse em Unidades de Planejamento..................................................... 9
2.1 Como escolher o tamanho das UPs?........................................................................................ 9
2.2.Como construir UPs artificiais e regulares?...............................................................................12

3. Alvos e Metas para a Conservação da Biodiversidade................................................................15


3.1.Definição dos alvos ou objetos de conservação: O QUÊ conservar?........................................15
3.2 Definição de metas de conservação: QUANTO conservar?......................................................16
3.3 Compilação de dados sobre a distribuição dos objetos.............................................................18
3.4 Montagem das tabelas de abundância e de metas..................................................................20

4. Cálculo de Insubstituibilidade – Conservation Planning (C-PLAN)...............................................29


4.1 Conceitos fundamentais e aplicações.......................................................................................29
4.2 Construindo as bases de dados no C-PLAN..............................................................................29
4.3 Exercícios de manipulação de dados no C-PLAN......................................................................32

5. Análise de ameaças e de oportunidades para a conservação.....................................................39


5.1 Preparação dos temas...............................................................................................................39
5.2 Recorte da área a ser trabalhada...............................................................................................40
5.3 Elaboração do mapa de distâncias de cada tema......................................................................41
5.4 Utilização do software Idrisi para a construção do mapa de custos (opcional)..........................42
5.5 Formulação de matriz para atribuição de pesos a temas diversos utilizando o
software Idrisi (opcional)...........................................................................................................45
5.6 Integração do mapa de custos às unidades de planejamento...................................................45

6. Desenho das Áreas - Marxan Marine Reserve Design using Spatially Explicit Annealing...........47
6.1 Conceitos fundamentais e aplicações.......................................................................................47
6.2 Marxan – Uso do Software.......................................................................................................48

7. Pós-seleção.................................................................................................................................53
7.1 Entre as áreas eleitas como importantes, o que priorizar?........................................................54
7.2 Resultados da pós-seleção e etapas futuras.............................................................................55

8. Referências ................................................................................................................................57
1. Introdução

As áreas protegidas caracterizam-se procura refletir sua contribuição para


como um dos principais instrumentos de con- a conservação da região analisada
servação da biodiversidade, cobrindo hoje cerca ou a probabilidade de uma área qual-
de 18 milhões de hectares de porções terres- quer de fazer parte de uma solução
tres e aquáticas em todo o globo. No Brasil, a (sistema de áreas representativas)
figura da unidade de conservação (UC) surgiu que atenda às metas de conservação
em 1913, com a criação do Parque Nacional do estabelecidas. Essa medida busca
Itatiaia, primeira área oficialmente protegida. Em refletir a importância relativa dessas
2000, através da Lei Federal nº 9.985, foi institu- áreas no sistema;
ído o Sistema Nacional de Unidades de Conser- )) Complementaridade (USHER, 1981;
vação da Natureza (Snuc), que define as diretri- PRESSEY et al., 1993) – característi-
zes gerais para criação, categorização e manejo ca desejável das áreas ou localidades
das UCs brasileiras. que são propostas a fazer parte de
Historicamente, a criação de unidades um sistema de áreas protegidas pré-
de conservação no Brasil em sua maioria se- existente, de forma que contemplem
gue uma lógica não fundamentada em aspectos alvos de conservação ainda não re-
técnico-científicos, em função de questões de presentados nesse sistema ou parte
conflitos pelo território que acabam sobrepujan- das metas ainda não atingidas;
do quase toda e qualquer justificativa técnica. )) Flexibilidade (USHER, 1981; PRES-
Embora tais questões sociopolíticas sejam con- SEY et al., 1993) – possibilidade da
sideradas indissociáveis do processo de criação, proteção dos alvos de conservação
para que um sistema de UCs cumpra efetiva- ser atingida por diversas combina-
mente o objetivo de conservar a biodiversidade, ções de áreas equivalentes;
no sentido amplo, conceitos e princípios da bio- )) Vulnerabilidade – probabilidade,
logia da conservação devem orientar o estabele- iminência de destruição ou de alte-
cimento de uma rede ideal de áreas protegidas. ração prejudicial a um determinado
O Planejamento Sistemático da Conser- ambiente;
vação (PSC) surge como alternativa interessante )) Representatividade – incorporação
para esse fim, uma vez que é usado para es- ao exercício de diferentes tipos de
tabelecer prioridades de conservação da biodi- ambientes e objetos de conservação,
versidade e mensurar níveis de proteção já exis- de forma a representar a biodiversi-
tentes, por meio de métodos explícitos, quan- dade em diferentes níveis;
titativos e defensáveis (MARGULES; PRESSEy, )) Persistência ou funcionalidade
2000), sendo um modelo de abordagem para or- – manutenção, em longo prazo, da
ganizações e agências de conservação no mun- viabilidade e integridade biológica e
do (NOSS, 1983; PRESSEY, 1994; DINERSTEIN ecológica dos alvos de conservação.
et al., 1995; NOSS et al., 1997; GROVES et al.,
2000; PRESSEY; TAFFS, 2001).
As principais características do PSC es- Conciliar a inclusão dos princípios do
tão relacionadas ao estabelecimento de alvos e PSC com interesses e pressões dos mais diver-
metas explícitos (MARGULES; PRESSEY, 2000), sos setores da sociedade transforma a ativida-
cujas análises utilizam os seguintes princípios de de planejamento em um exercício de grande
complexidade. Por esse motivo, são utilizados,
orientadores:
nesta metodologia, dois softwares de suporte à
decisão: um com o papel de mapear as opções
)) Insubstituibilidade (PRESSEY et al., para atingir uma meta explícita para determina-
1994; FERRIEr et al., 2000; PRES- do objeto de conservação em uma região, calcu-
SEY; TAFFS, 2001) – medida atribu- lando seu índice de insubstituibilidade; e outro
ída a uma porção do território, que que, com base nesse índice, defina o melhor
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

desenho do conjunto de áreas em função da a biodiversidade, como resultado da implemen-


melhor relação custo/benefício, considerando as tação de ações de conservação, desdobramento
oportunidades e as dificuldades localmente en- de conflitos sobre o uso da terra e/ou alterações
contradas para a implementação das ações de nos cenários de uso e ocupação do solo. O pro-
conservação. O desenho proposto deve, tam- duto final não é representado em um simples
bém, cumprir as metas de conservação de to- mapa, mas sim, em vários mapas contendo am-
dos os alvos do sistema. O resultado final pode pla gama de opções espaciais para atingir os ob-
ser traduzido, portanto, como a identificação das jetivos explícitos de conservação.
áreas que precisam de ações de conservação Nesta apostila trabalharemos com o C-
mais urgentes. PLAN1 versão 3.4, softwares de suporte à de-
A metodologia apresenta, portanto, a cisão responsável por calcular o índice de im-
possibilidade de dotar os setores que atuam portância biológica ou a insubstituibilidade, e o
na temática ambiental de uma ferramenta de Marxan2 versão 1.8.2, utilizado para definir o me-
suporte à decisão, alimentada por um sistema lhor desenho do conjunto das áreas prioritárias.
de informações ambientais. Além de auxiliar na Em relação ao uso de softwares para
construção de um mapa de áreas importantes o planejamento da conservação, Redford et al.
para a conservação da biodiversidade, o sistema (1997) citado por Justus e Sarkar (2002) afir-
pode ser consultado e manipulado, gerando inú- mam que, idealmente, a abordagem algorítmica
meros cenários de conservação. Tudo isso é fei- requer consistência na informação da distribui-
to por meio da elaboração de três planilhas bási- ção da biodiversidade dentro da região estuda-
cas, resultado da espacialização dos elementos da. Segundo os autores, a abordagem é explíci-
de biodiversidade na área de interesse e do es- ta, eficiente, reproduzível e flexível e, em geral,
tabelecimento de metas para tais elementos: necessita de grande volume de dados e requer
considerável capacidade computacional.
1. Tabela de metas: contém a lista- Muitos estudos já foram realizados no
gem de alvos de conservação (ele- Brasil e no exterior utilizando essas ferramentas.
mentos que se deseja conservar), No exterior, o trabalho a conservation plan for
metas quantitativas para cada alvo e a global biodiversity hotspot - the Cape Floristic
dados sobre a vulnerabilidade; Region, South Africa” (COWLING et al., 2003)
2. Tabela de unidades de planeja- é um exemplo da aplicação dessa ferramenta,
mento (UPs): contém informações que verificou a necessidade de incrementar as
sobre as Unidades de Planejamento ações de conservação existentes, diante das
(hexágonos e Unidades de Conser- grandes lacunas nas estratégias já implemen-
vação já existentes) e a quantida- tadas, assim como o “Scheduling conservation
de de remanescentes contidos em action in production landscapes: priority areas
cada uma delas; e, in western New South Wales defined by irre-
3. Tabela de abundância: matriz com placeability and vulnerability to vegetation loss”
a quantificação dos alvos em cada (PRESSEY;TAFFS, 2001). No Brasil, destacam-
unidade de planejamento. se os estudos Áreas Prioritárias do Estado de
Goiás (CI, WWF), Identificação de Áreas Priori-
tárias para Conservação nos Ecossistemas Flo-
Esse não é um processo que traz resul- restais do Mato Grosso (IBAMA, MMA, WWF,
tado definitivo e estático, pois as áreas selecio- CI, TNC, ICV), Atualização das Áreas Prioritárias
nadas podem ser revistas periodicamente, de para a Conservação da Biodiversidade, Uso Sus-
forma a contemplar novos conhecimentos sobre tentável e Repartição dos Benefícios para os

1- O C-PLAN foi desenvolvido por Bob Pressey e Matthew Watts do New South Wales National Parks and Wildlife Service da Austrália.
Trata-se de um sistema interativo de suporte à decisão para o planejamento da conservação, usado como ferramenta de negociação
durante o planejamento do uso da terra, na identificação de sistemas alternativos de áreas de reservas, na educação, demonstrando os
princípios do planejamento da conservação a estudantes e, ainda, na pesquisa para análises de lacunas de proteção, planejamento da
conservação e simulação de alternativas futuras para determinada área. Ele tem sido usado em diversos processos de negociação sobre
o uso da terra em New South Wales, resultando em centenas de milhares de hectares de novas áreas de reservas. Além disso, tem sido
utilizado em outras experiências em diversos países do mundo, como Africa do Sul e China, sendo descrito na Science como um software
Gold Standard em sua área de uso.
(Fonte: http://www.uq.edu.au/ecology/index.html?page=101951)

2 - O Marxan é um software que fornece suporte à decisão para a concepção de um sistema de áreas prioritárias, buscando soluções
eficazes para o problema da seleção de um sistema de áreas espacialmente coeso, com vistas a cumprir uma série de metas de conser-
vação da biodiversidade, tendo por base uma minimização dos custos e dos efeitos de borda. Ele integra dados produzidos pelo C-PLAN
a um SIG, apresentando resultados na forma de um mapa. (Fonte: http://www.uq.edu.au/marxan/)

10
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Biomas Brasileiros (MMA, 2006) e Áreas Impor- 5 - Definição de metas quantitativas


tantes para a Conservação da Biodiversidade na de conservação para cada objeto
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (MMA; selecionado;
IBAMA), realizados por diferentes agências, 6 - Preparação das planilhas de dados
com propósitos diversos. A convergência entre de entrada;
eles se dá no tocante à metodologia, o PSC, e
7 - Elaboração do mapa de insubstitui-
o uso dos softwares abordados nesta apostila.
bilidade ou importância biológica;
Por fim, ressalta-se que, com o objetivo
8 - Análise de ameaças e oportunida-
de buscar clareza e coerência no planejamento e
des para a conservação;
resguardar a legitimidade e a viabilidade da imple-
mentação dos resultados, alguns parâmetros que 9 - Desenho de um conjunto de áre-
são usados pelos sistemas de suporte à decisão as que represente a melhor rela-
devem ser estabelecidos por meio de um proces- ção custo-benefício em relação às
so participativo, etapa que envolve diferentes se- ameaças e às oportunidades iden-
tores da sociedade durante as fases de seleção e/ tificadas;
ou pós-seleção das prioridades para a conservação 10 - Validação dos cenários propostos pe-
da biodiversidade. Tais parâmetros (destacados no los softwares de suporte à decisão;
texto) são definidos seguindo as seguintes etapas: 11 - Definição de ações de conserva-
ção para as áreas identificadas; e,
1 - Divisão da área de interesse em 12 - Implementação das ações de con-
unidades de planejamento; servação
2 - Seleção de objetos ou alvos de
conservação; Infelizmente, é muito comum que as
3 - Compilação de dados sobre a dis- instituições que participam do planejamento
tribuição dos objetos; propriamente dito não se envolvam na imple-
4 - Atribuição de pesos de importância mentação das ações de conservação.
para os objetos de conservação, com Nesta apostila, serão abordados os pas-
base na vulnerabilidade de cada um; sos referentes ao planejamento (etapas 1 a 10).

11
2. Divisão da área de interesse em unidades
de planejamento

O uso da metodologia do Planejamento


Sistemático da Conservação (PSC) requer a divi-
são da área a ser estudada em unidades espa-
ciais, denominadas Unidades de Planejamento
(UP). Tais unidades são avaliadas pelos softwa-
res quanto a sua importância biológica, sendo,
dessa forma, candidatas à seleção de priorida-
des.

Figura 2. Regiões político-administrativas da BHSF. Exemplo de


UP artificiais e irregulares.

2.1 Como escolher o tamanho das UPs?

Não existe regra para a definição do ta-


manho das unidades de planejamento, esse deve
ser compatível com a área de interesse e com
Figura 1. Unidades de planejamento (UP) hexagonais estabeleci- os dados biológicos e ambientais disponíveis, de
das para a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (BHSF). Exem-
plo de UP artificiais e irregulares. forma que haja uma variação entre a caracteriza-
ção de cada UP. Um número muito grande de
UPs exigirá longo tempo de processamento dos
As UPs podem ser baseadas em atribu-
dados, o que também deve ser considerado ao
tos naturais ou artificias e apresentar tamanho
se definir o tamanho. Além disso, quando não
e forma regulares ou irregulares. Quando base-
se dispõe de muitos dados biológicos, estabe-
ada em atributos naturais como, por exemplo,
lecer UPs muito pequenas e numerosas implica
bacias hidrográficas, o tamanho e a forma serão
deixar grande parte delas sem informação. No
inevitavelmente irregulares. Já as UPs artificiais
entanto, o mais importante a se considerar na
podem apresentar tamanho e forma regulares,
escolha do tamanho da UP é a escala de imple-
como grades ou hexágonos (Figura 1), ou irregu-
mentação das ações propostas após o exercício.
lares, como, por exemplo, a divisão de proprie-
A importância biológica será avaliada na escala
dades privadas ou de regiões administrativas
da UP, sendo assim, as ações deverão ser pen-
(Figura 2).
sadas para a UP, que é a unidade espacial de
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

trabalho, ou seja, unidade territorial de análise e ção integral, unidades de conservação de uso
de ação. sustentável, terras indígenas etc.
Independente do tipo, tamanho e forma
2.2 Como criar UPs artificiais e regulares? das UPs escolhidas, as áreas protegidas devem
compor, cada uma delas, uma única UP. Des-
sa forma, todas as UPs eventualmente cria-
Unidades de Planejamento hexagonais das dentro de uma UC devem ser dissolvidas,
têm sido muito usadas em exercícios de prio- de forma que cada área protegida represente
rização. O hexágono é uma forma interessante apenas uma UP (Figura 3). Quando se trabalha
para uma UP, pois (1) aproxima-se do formato com hexágonos, como resultado dessa opera-
circular, ideal para a criação de reservas por ção, algumas UPs adjacentes às UCs dissolvi-
apresentar a menor razão perímetro/área possí- das ficam com tamanho muito reduzido. Para
vel; e (2) porque mantém a mesma extensão de eliminar essa imperfeição, sugere-se que as
contato (borda) com seis unidades vizinhas. Um vizinhas dessas UPs sejam dissolvidas. A defi-
quadrado apresenta quatro vizinhos, cujo conta- nição do tamanho mínimo permitido para cada
to é o seu lado, e mais quatro vizinhos, cujos UP fica a critério do usuário. Para realizar essa
contatos são apenas seus vértices. função de forma rápida e automática, pode ser
Na elaboração do conjunto de UPs, he- usada a extensão Dissolve Adjacent Polygons,
xagonais ou não, é importante considerar as áre- no softwares ArcView 3.x. No entanto, a disso-
as já protegidas, especialmente as unidades de lução manual, apesar de ser uma tarefa moro-
conservação. Assim, cabe ao usuário identificar, sa, é a forma mais segura de se evitar qualquer
de acordo com o objetivo do trabalho, quais áre- dissolução não desejada. As setas vermelhas
as deverão ser consideradas como realmente na Figura 3 mostram exemplos de UPs que fo-
protegidas: unidades de conservação de prote- ram dissolvidas às adjacentes.

Figura 3. Exemplos de UP dissolvidas dentro dos limites de uma unidade de conservação (polígono de nome
“UC”) e as UPs adjacentes (setas vermelhas).

Para criar UPs hexagonais, é preciso do para qualquer projeção métrica (Albers, Lam-
que o shapefile da área de interesse esteja bert, UTM). Depois disso, os hexágonos podem
em projeção cartográfica expressa em metros. ser criados no ArcView 3.x, conforme os passos
Caso esteja em coordenadas geográficas (lati- descritos a seguir:
tude e longitude), o arquivo deverá ser projeta-

14
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 1. Habilite a extensão Patch Analyst em File > Extensions > Patch Analyst 3.x.

Passo 2. Clique na função Patch, na barra de menu, e em “Make Hexagon Regions”.

Passo 3. Digite o tamanho desejado do Passo 4. E em offset, digite o valor zero.


hexágono, em hectares.

Uma grade de hexágonos será criada de selecione aqueles que intersectam a área de
forma a preencher todo o retângulo envolvente interesse e crie um shapefile apenas com es-
à área de interesse. Dessa forma, muitos he- ses hexágonos (Figura 4). Como próximo passo,
xágonos excedentes são criados. Para manter deve-se dissolver as UPs dentro de UCs.
apenas os hexágonos que interessam de fato,

Figura 4. Grade de hexágonos e seleção dos hexágonos de interesse (em amarelo).

15
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

A tabela de atributos do shapefile de palavra Conserved e as demais UPs com a pa-


UPs, já com as UCs dissolvidas, é uma das ta- lavra “Available”. O campo AREA deverá ser
belas básicas, citada anteriormente e necessá- numérico e conter a área disponível em cada
ria para o exercício de priorização. Essa tabela UP. Esta pode ser a área total da UP ou, sim-
deverá conter um campo com um identificador plesmente, a área de remanescentes de ve-
para cada UP (que deverá ser idêntico ao usado getação nativa. Se o objetivo do exercício for
nas demais tabelas), um campo do tipo texto, conservar espécies, por exemplo, faz sentido
denominado STATUS, para indicar se a UP está considerar apenas a área ocupada por vegeta-
disponível para a seleção de prioridades ou já ção natural (habitat atual) como área disponí-
conservada, e um campo AREA, no qual deverá vel para conservação. Se um dos objetivos for
ser calculada a área em hectares. selecionar áreas para recuperação, faz sentido
O novo campo, de nome STATUS, considerar toda a área da UP como disponível,
será preenchido da seguinte forma: as células com exceção apenas de áreas de uso antrópi-
referentes às UCs serão preenchidas com a co consolidado.

16
3. Alvos e metas para conservação da biodiversidade

3.1 Definição dos alvos ou objetos de conser-


vação: O QUÊ conservar?

Um alvo ou objeto de conservação é


todo e qualquer elemento que se deseja con-
servar em determinada região, incluindo espé-
cies (ou qualquer outro taxon), populações, co-
munidades, ecossistemas, fitofisionomias, ser-
viços ecossistêmicos, processos ecológicos,
etc., desde que seja possível representá-lo no
espaço, ou seja, mapeá-lo. Para espécies, por
exemplo, podem ser usados pontos de ocor-
rência ou polígonos que representem sua dis-
tribuição na área de interesse.
A escolha dos objetos depende do ob-
jetivo do trabalho (conservação e/ou recupera-
ção e/ou indicação de áreas sensíveis), da área
escolhida (extensão, localização) e da disponi-
bilidade de dados (bases cartográficas de quali-
dade e de escala compatível, dados biológicos
existentes e disponíveis).
Idealmente, o objeto deve ter a distri-
buição espacial bem conhecida, além de ser
representativo da biodiversidade local e/ou ser
vulnerável pela raridade, endemicidade, perda
de habitat etc. No entanto, para grande parte
das espécies brasileiras, não se tem informa-
ção suficiente para esse tipo de análise. A Figu- Figura 5. Alvos de conservação na BHSF.
ra 5 mostra os pontos de localização das espé-
cies-alvo utilizadas no exercício de diagnóstico Comumente, são escolhidos como obje-
da biodiversidade para a Bacia Hidrográfica do tos de conservação espécies guarda-chuva, indi-
Rio São Francisco (BHSF), cujo objetivo foi in- cadoras de qualidade ambiental, raras e/ou com
dicar áreas importantes para a conservação no algum grau de ameaça de extinção, acreditando
contexto do macrozoneamento da bacia e es- que tais elementos são bons substitutos (surro-
colhido para ser o tema desta apostila. Nota se gates) da biodiversidade, ou seja, seus locais de
que as informações não estão distribuídas de ocorrência normalmente apresentam alta rique-
forma homogênea, ao longo da área da bacia, za e endemismo e, por esse motivo, devem ser
provavelmente resultado de um esforço de co- priorizados em ações de conservação.
leta heterogêneo e tendencioso (ao longo de O problema da escolha de espécies
rios, estradas e áreas protegidas). como objeto de conservação é a disponibilidade
No PSC, recomenda-se que os objetos de informações sobre sua distribuição e ecolo-
de conservação sejam selecionados por um gia, por estarem dispersas em museus, institui-
corpo técnico multidisciplinar, uma vez que sua ções de pesquisa, órgãos ambientais, organiza-
escolha envolve várias áreas do saber e a sele- ções não-governamentais, entre outros. A busca
ção requer, no caso de espécies, um conheci- e a compilação desses dados é uma tarefa mo-
mento profundo sobre a ecologia e distribuição rosa, cara e dificilmente serão esgotadas. O uso
dessas. de um conjunto de unidades de paisagem como
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

alvo de conservação é indicado como alternativa prioriza determinado grupo de obje-


na ausência de tempo e de recursos para a for- tos, quando apresenta lacunas etc.); e
mação de uma base robusta de pontos de locali- )) Subsidiar a avaliação constante das
zação de espécies-alvo, ou como complemento ações de conservação implementa-
a uma base reconhecidamente deficiente. Esse das (as metas estão próximas de se-
tipo de dado, além de ser mais acessível, está rem alcançadas?).
homogeneamente distribuído ao longo da área
de interesse, ou seja, não apresenta lacunas de
informação (locais pouco ou nada amostrados). Para estabelecer metas de conservação
Ao usar espécies como objeto de conservação, é preciso pensar, para cada objeto selecionado,
mesmo que se faça uma busca exaustiva por com base em sua viabilidade ecológica, o quan-
dados de distribuição, sempre haverá lacunas, to é suficiente conservar. A porção necessária
reveladas pelos locais remotos, desconhecidos, pode ser expressa em área de habitat ou núme-
com pouca ou nenhuma informação. ro de pontos de ocorrência, dependendo do tipo
de dado espacial disponível. Como exemplo,
As unidades de paisagem podem ser re-
para uma espécie cujo objetivo seja manter di-
presentadas por mapas de unidades geoambien-
ferentes populações viáveis em longo prazo, é
tais, unidades fitogeomorfológicas (resultante
necessário: (1) mapear o habitat dessas popula-
do cruzamento da vegetação com a geomorfo-
ções; e (2) quantificar que porção desse hábitat
logia), unidades fitogeológicas (cruzamento da
é necessária para conservar um tamanho míni-
vegetação com a geologia), sistema de terras ou
mo que as mantenham viáveis em longo prazo.
outros temas que sintetizem as características
Para calcular essa área, deve-se partir de uma
da paisagem. Acredita-se, assim, que cada uni-
estimativa de densidade local (número de indiví-
dade representa um ambiente ecologicamente
duos/área) e do tamanho populacional desejado.
único e, portanto, a conservação de uma porção
A Tabela 1 traz alguns exemplos de cálculo de
de cada unidade representará grande diversida-
metas para vertebrados do Cerrado.
de de espécies, ambientes e processos ecológi-
cos e evolutivos.
Tabela 1. Metas de conservação hipo-
téticas para vertebrados do Cerrado, sendo o
3.2 Definição de metas de conservação:
objetivo de conservação a manutenção de uma
QUANTO conservar?
população de 500 indivíduos1 .

Depois de selecionar os alvos ou obje- Densidade Meta Espécie


tos de conservação, ou seja, O QUÊ se deseja 0.01 ind/ha 50.000 ha macuquinho-do-cerrado
conservar, deve-se avaliar o QUANTO se deseja 0.005 ind/ha 100.000 ha papagaio-galego
conservar de cada elemento. Algumas vanta- 0.003 ind/ha 150.000 ha arara-azul
gens de se quantificar as metas de conservação
0.0025 ind/ha 200.000 ha pato-mergulhão
são:
0.002 ind/ha 250.000 ha tatu-canastra
)) Permitir calcular índices de importân-
cia biológica ou insubstituibilidade,
comparando áreas com base na loca- Tais exemplos se aplicam para espécies
lização dos objetos e na consecução cuja distribuição esteja representada sob a for-
das metas; ma de polígono. No entanto, muitas vezes os
dados estão sob a forma de pontos de ocorrên-
)) Permitir a negociação entre ativida- cia. Uma opção para esse caso é transformar os
des econômicas e ações de conser- dados em polígonos (áreas), gerando um buffer
vação, uma vez que explicitam as de- ao redor dos pontos. Outra opção é atribuir me-
mandas de conservação; tas com base nos pontos de ocorrência da espé-
)) Possibilitar analisar a efetividade do cie (50% dos pontos de ocorrência conhecidos).
sistema de áreas protegidas (quando Deve-se atentar para a quantidade de pontos

1 - Adaptado de apresentação proferida por Ricardo Bonfim Machado, em abril de 2006, na Reunião Técnica para a Definição de Alvos
e Metas para a Conservação da Biodiversidade na BHSF, intitulada “Parâmetros associados com o Planejamento Sistemático para Con-
servação”.

18
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

disponíveis, pois a meta dependerá diretamente durante a elaboração do mapa de importância


disso. Para uma espécie com apenas um ponto biológica. O software busca soluções que aten-
de ocorrência conhecido, não faz sentido esta- dam, primeiramente, às metas das espécies
belecer uma meta diferente de 100%. Já para com peso maior (maior prioridade), partindo, em
uma espécie muito amostrada e amplamente seguida, para os pesos menores, seguindo a or-
distribuída, é possível estabelecer uma meta dem de prioridade estabelecida.
reduzida obedecendo, obviamente, os requeri- Assim, para o mesmo grupo de mamí-
mentos ecológicos da espécie. No estabeleci- feros da BHSF, foi estabelecido um sistema de
mento de metas percentuais deve-se, portanto, pesos linear (1 a 4) para as espécies. No caso
priorizar os objetos com menor disponibilidade da inclusão de uma espécie em mais de um dos
de dados e aqueles que sejam naturalmente ra- casos descritos, considerou-se o de maior peso,
ros e/ou vulneráveis, ou seja, aplicar-lhes metas seguindo os critérios abaixo:
relativamente mais rigorosas.
Para unidades de paisagem, não é reco-
)) Peso 4 (maior prioridade) para espé-
mendável estabelecer metas percentuais, pois
cies criticamente ameaçadas, segun-
essas beneficiam as unidades mais extensas
do a lista nacional;
ou mais íntegras em detrimento das menos ex-
tensas ou que tenham sofrido maior perda da )) Peso 3 para espécies endêmicas
cobertura original. Uma alternativa é usar metas (distribuição restrita) ou em perigo,
diferenciadas, de acordo com a cobertura rema- segundo a lista nacional;
nescente, como exposto na Tabela 2. )) Peso 2 para espécies vulneráveis,
segundo a lista nacional, ou espécies
criticamente ameaçadas, segundo a
Tabela 2. Exemplo do estabelecimento
lista do estado de Minas Gerais; e
de metas com base na área remanescente da
unidade de paisagem. )) Peso 1 para espécies em perigo ou
vulneráveis (com população reduzi-
Cobertura remanescente (ha) Meta adotada da), segundo a lista do estado de Mi-
> 50.000 20 % da área nas Gerais.
10.000-50.000 10.000 ha
1.000 < 10.000 Toda área disponível O grupo de flora baseou-se no grau de
ameaça e na quantidade de informação georre-
Para a definição de áreas importantes ferenciada disponível. As espécies com menor
para a conservação da biodiversidade da BHSF, quantidade de informação e/ou mais ameaça-
cada grupo taxonômico usou critérios próprios. O das tiveram metas maiores do que aquelas com
grupo de mastofauna, por exemplo, atribuiu me- maior número de pontos de ocorrência e menor
tas de conservação com base no grau de ameaça risco de extinção. Os critérios definidos foram:
de cada taxon, como apresentado abaixo:
1. Para espécies com distribuição
)) 100% da área de distribuição para es- restrita (microendêmicas), ou seja,
pécies criticamente em perigo (CP), ou aquelas que apresentaram pontos
em perigo (EP), contida na lista nacional; de coleta muito agregados, abran-
gendo uma ou duas unidades de
)) 100% da área de ocorrência para es-
planejamento: meta uniforme de
pécies endêmicas com distribuição
100% da área de ocorrência.
muito restrita; e,
2. Espécies com distribuição não res-
)) 70% da distribuição das espécies
trita, ou seja, aquelas que ocorreram
vulneráveis, segundo a lista nacional
exclusivamente ou preferencial-
e as criticamente em perigo (CP) ou
mente na BHSF, abrangendo mais
em perigo (EP) para o estado de Mi-
de duas Unidades de Planejamento:
nas Gerais.
meta dependente do status de con-
servação da espécie e quantidade
Além das metas, o estabelecimento de pontos de ocorrência levantados:
de pesos para cada espécie-alvo é importante
como orientação para os programas de apoio.
)) De um a três pontos disponíveis:
Os pesos fornecem aos softwares uma ordem
100% da área de distribuição;
de prioridade para a conservação das espécies

19
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

)) Mais de três pontos disponíveis: (i) dos dados foi considerar cada grupo de pontos
para as espécies criticamente amea- (população) como um alvo diferenciado, lem-
çadas a meta foi de seis pontos ou brando de adequar as metas que foram atribuí-
todos os pontos (no caso de haver das para todo o conjunto de pontos e de popu-
menos de seis pontos disponíveis); lações disjuntas.
(ii) para as espécies em perigo, meta
de cinco pontos ou todos (no caso de
3.3. Compilação de dados sobre a distribui-
só haver quatro pontos disponíveis);
ção dos objetos
e (iii) para as espécies vulneráveis,
meta de quatro pontos de ocorrência.
Durante ou depois da seleção de objetos
e metas de conservação, deve-se fazer o levan-
Exemplos hipotéticos:
tamento de dados sobre a distribuição espacial
dos objetos (Etapa 3). É ideal que o levantamen-
)) Sp1: criticamente ameaçada;dez to seja feito após a seleção dos objetos e antes
pontos disponíveis / meta = rema- da atribuição de metas, porque, como citado
nescentes no raio de 5 km de seis anteriormente, as metas devem se basear na
pontos de ocorrência. vulnerabilidade intrínseca do objeto e na quanti-
)) Sp2: criticamente ameaçada; três dade de informação espacial disponível.
pontos disponíveis / meta = rema- A forma mais comum de apresentação
nescentes no raio de 5 km de três dos dados de biodiversidade é através de pla-
pontos de ocorrência. nilhas ou tabelas eletrônicas organizadas em
)) Sp3: em perigo; cinco pontos dispo- softwares, como o Microsoft Excel ou Micro-
níveis / meta = remanescentes no soft Access. Vale ressaltar que bancos de dados
raio de 5 km de cinco pontos de ocor- robustos podem ser formados a partir da sim-
rência. ples compilação de listas de espécies publica-
das nas mais diferentes formas, como artigos
)) Sp4: em perigo; 20 pontos disponí-
científicos, relatórios ambientais, zoneamentos
veis / meta = remanescentes no raio
e sistemas de autorizações ambientais. Todavia,
de 5 km de cinco cincopontos de
para que essa informação possa ser utilizada em
ocorrência.
políticas públicas e em ações voltadas à conser-
)) Sp5: vulnerável; 12 pontos disponí- vação, a base de dados deve ser representativa
veis / meta = remanescentes no raio e oriunda de fontes confiáveis.
de 5 km de quatro pontos de ocor-
A Figura 6 mostra uma proposta de apre-
rência.
sentação básica dos dados de biodiversidade
)) Sp6: vulnerável; quatropontos dis- numa planilha-base Excel, já formatada confor-
poníveis / meta = remanescentes me exigência dos Sistemas de Informações Ge-
no raio de 5 km de quatro pontos de ográficas (SIG) e do próprio PSC, ou seja, com
ocorrência. coordenadas geográficas em graus decimais.
Repare que cada linha da planilha representa um
Sempre que possível, foi garantido, registro único da ocorrência de uma determina-
ainda, que os pontos escolhidos mantivessem da espécie, uma vez que é única sua informação
uma distância mínima de 50 km entre si, com geográfica (latitude e longitude). Quando trans-
o objetivo de assegurar a manutenção da va- formada em arquivo no formato shapefile, cada
riabilidade genética entre as populações. Um linha representará 1 (um) ponto de localização
procedimento que possibilitou esse tratamento no mapa.

20
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Figura 6. Modelo de planilha Excel utilizada para a compilação de dados de biodiversidade.

A coluna ID (número sequencial e úni- Outros campos podem ser utilizados


co para cada registro) é importante na planilha, para auxiliar na análise dos dados e facilitar a
pois permite individualizar os registros e orde- detecção de possíveis erros de localização das
nar os dados de interesse, facilitando consultas espécies, como os campos LOCALIDADE, MU-
específicas e contagem dos registros. Para pre- NICÍPIO e ESTADO, sendo que os dois últimos,
encher a coluna ESPÉCIE, recomenda-se seguir quando não explicitados pela fonte dos dados,
a grafia oficial de nomenclatura científica dos podem ser obtidos por meio dos programas de
seres vivos. É importante que esse campo não geoprocessamento através das coordenadas
contenha erros ortográficos, espaçamentos ex- geográficas fornecidas.
cessivos ou acentuação, principalmente se for Por fim, é de fundamental importância
usado como campo-chave no banco de dados a a presença da coluna FONTE, que permite a
ser construído. A coluna GRUPO, por sua vez, confirmação dos registros em caso de dúvidas
funciona como campo acessório ao ESPÉCIE, futuras, garantindo a confiabilidade dos dados e
subdividindo os registros em grandes táxons e isentando o operador de possíveis erros na ma-
facilitando a filtragem e a análise dos dados atra- nipulação da informação. Vale lembrar que os da-
vés dos diferentes níveis taxonômicos. dos de biodiversidade podem ser oriundos das
Os campos LATITUDE e LONGITUDE, mais diversas fontes, como publicações científi-
por serem numéricos, diferem dos outros cam- cas, base de dados de instituições de pesquisa,
pos na planilha, que são do tipo textual. Para coleções biológicas, relatórios técnicos, além de
serem reconhecidas pelos programas de geo- dados públicos disponíveis na internet. Neste
processamento, as coordenadas geográficas de- sentido, merecem destaque alguns bancos de
vem estar organizadas em 2 colunas (uma para dados virtuais, como:
latitude e outra para longitude ) e expressas em
graus decimais, como dito anteriormente. Como
)) Species Link (http://splink.cria.org.
as informações geográficas das espécies estão
br/);
disponíveis em diferentes sistemas de coordena-
das e projeções, utilizamos programas específi- )) GBIF - Global Biodiversity Informa-
cos para conversão e padronização das coorde- tion Facility (www.gbif.org/);
nadas, como o GEOPosCalc2, programa gratuito )) MOBOT – Missouri Botanical Garden
e facilmente obtido pela internet, que transforma (http://mobot.mobot.org/W3T/Sear-
coordenadas planas em geográficas e vice-versa. ch/vast.html);

2 - http://www.baixaja.com.br/downloads/Windows/Education/Geography/GEOPosCalc_2867.html

21
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

)) NYBG – New York Botanical Garden melhor método deve considerar o objetivo do
(http://sciweb.nybg.org/science2/ estudo e ficará a critério do grupo técnico envol-
vii2.asp); vido e de consultas aos especialistas dos grupos
)) CONABIO (www.conabio.gov.mx/); taxonômicos eleitos.
)) Nature Server (http://www.nature-
serve.org/); 3.4 Montagem das tabelas de abundância e
)) Species 2000 (www.sp2000.org/); de metas
)) IABIN – Rede Interamericana de In-
formação sobre Biodiversidade (old. Uma vez definidos os alvos de conser-
iabin.net/portuguese/index.shtml); vação e suas metas, iniciaremos a elaboração
)) Fish Base (http://www.fishbase.org/); do mapa de importância biológica. Como dito
anteriormente, a geração deste mapa começa a
)) Avian Knowledge Network (http://
partir do uso de softwares específicos, como o
www.avianknowledge.net/); e,
C-PLAN que exigem a entrada de dados em pla-
)) OBIS – Ocean Biogeographic Informa- nilhas-padrão. Aqui, a montagem das tabelas de
tion System (http://www.iobis.org/). alvos e de metas, e a de abundância, serão fei-
tas com o auxílio de uma extensão do ArcView
No entanto, vale lembrar que a informa-
3.x, chamada CLUZ4.
ção sobre biodiversidade pode conter inúmeras
falhas como erros na identificação/nomenclatu- A tabela de metas (target) traz informa-
ra das espécies, imprecisões no georreferencia- ções sobre as metas de conservação e a vul-
mento dos dados ou falta de correspondência nerabilidade de cada objeto. Essa tabela deve
temporal entre as coletas, problemas estes que conter os seguintes campos com as respectivas
devem considerados durante as análises. propriedades:
Por fim, outros campos podem ser adi-
cionados em sua tabela de modo a complemen- )) Featcode (textual): Código de oito
tar as informações sobre os registros, como caracteres que pode ser gerado, por
demais dados taxonômicos (família, ordem, exemplo, a partir dos quatro caracte-
classe), nome popular, dados sobre o estado de res iniciais do gênero e quatro do epí-
conservação da espécie e informações mais de- toto específico (Bokealva, Bokenanu,
talhadas sobre a coleta (nome do coletor, data Bokesaxi,...);
de coleta), ou ainda, se possível, características )) Featdesc (textual): nome científico váli-
sobre a distribuição da espécie, número de in- do para a espécie-alvo (e.g. Bokerman-
divíduos registrados e método de amostragem. nohyla alvarengai, Bokermannohyla
De posse dos pontos de localização nanuzae, Bokermannohyla saxicola,...);
das espécies-alvo, deve-se, agora, transformar )) Target_PC (numérico): meta de con-
a planilha de dados em um arquivo de pontos servação expressa em valores per-
no formato shapefile. Todavia, para se calcular a centuais (70, 100, 70,...);
área de distribuição das espécies, é preciso que )) Taxon (textual): Grande grupo taxo-
esSes pontos sejam transformados em polígo- nômico no qual a espécie está conti-
nos. No projeto Estabelecimento de prioridades da (amphibia, aves, plantae,...);
para a conservação da biodiversidade na BHSF”,
decidiu-se gerar buffers de 5 km, ao redor de )) Vulnera (numérico): Valor atribuído à
cada ponto de distribuição, com o objetivo de vulnerabilidade da espécie, incluindo
minimizar possíveis erros de amostragem e in- riscos de extinção. Esse valor pode
cluir pontos adjacentes à área amostrada, que receber diferentes escalonamentos
não seriam utilizados por extrapolarem o limite dependendo do objetivo do traba-
da bacia. Outra forma de inferir a distribuição lho. No caso do trabalho na BHSF,
potencial das espécies é a partir de técnicas de os valores de Vulnera variaram entre
modelagem utilizando algoritmos específicos 1 (maior vulnerabilidade) e 5 (menor
como o Maxent3 e Garp4. Todavia, a escolha do vulnerabilidade);

3 - http://www.cs.princeton.edu/~schapire/maxent/
4 - http://openmodeller.cria.org.br/
5 - http://www.kent.ac.uk/dice/cluz/

22
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

)) SPF (numérico): Valor contrário ao (Vulnera 5) terão penalidade 1.


atribuído à Vulnera, em ordem de-
crescente, de acordo com a escala A Figura 7 exemplifica uma planilha-base
estabelecida. No Marxan, atribui-se para a construção da tabela de alvos e metas,
uma “penalidade” à UP por não con- utilizada pelo C-PLAN para o cálculo de insubsti-
ter determinado alvo de conserva- tuibilidade. Note que o valor de Vulnera tem va-
ção. Assim, alvos muito vulneráveis lores inversos (decrescente) em relação ao SPF..
(Vulnera 1) terão 5 de penalidade ao
passo que alvos pouco vulneráveis

Figura 7. Planilha-base para a construção da tabela de metas.

A seguir, mostraremos o passo a pas- A - Montagem do setup


so para a montagem da tabela de metas (tar- Antes de inciar a montagem das plani-
get) e da matriz de abundância (abundance) por lhas de metas e abundância, é preciso criar um
meio do software ArcView 3.2, com a extensão arquivo estrutural chamado setup file, conforme
CLUZ 6 ativada. descrito a seguir.

O CLUZ é uma extensão do ArcView 3.x. Ative-o em “Extensions...” no menu “File”.

23
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Passo 1. Com o shapefile de unidades de planejamento (UP) disponível na área


de trabalho do ArcView, criaremos um arquivo setup para o CLUZ. Para isso,
clique em “View and edit CLUZ setup file” no menu CLUZ.

Passo 2. Em seguida, ative a função “Create Passo 3. Será aberta automaticamente a janela
new setup file” e clique em “OK”. Abrirá uma “File settings”, em que serão selecionados os ar-
janela para selecionar o diretório em que será quivos para a análise. O primeiro deles é o arquivo
salvo o arquivo. Manteremos o nome oferecido executável do software Marxan (“Marxan.exe”),
pelo default. seguido do diretório de entrada (“Input directory”)
e saída de dados (“Output directory”), podendo
ser a mesma pasta. Em seguida, você deve se-
lecionar a área de interesse do projeto, ou seja, o
shapefile de Unidades de Planejamento (“Planning
unit theme”), criado anteriormente (Capítulo 2.2).
Como as tabelas de abundância e de metas ainda
precisam ser elaboradas, deixaremos os campos
“Abundance table” e “Target table” em branco.
Recomenda-se colocar todos os arquivos em um
único diretório, para facilitar a busca.

24
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 6. Não precisa renomear o arquivo, pois


utilizaremos o próprio default. Clique em “OK”.

Passo 7. A tabela de abundância foi criada!

Passo 4. Para construir uma tabela de abundân-


cia, em branco, clique em “Create blank abun-
dance table from unit theme”.

Passo 5. Selecione o shape de UP, que servirá


de base para o preenchimento das colunas da Passo 8. Uma nova etapa é a criação da tabela
tabela de abundância, e clique em “OK”. de metas (target) em branco. Para isso, clique

25
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

em “Create blank target table” presente na guia poníveis, uma letra inicial com a numeração das
do CLUZ. Para o nome manteremos a opção UPs. Ex: F_1; F_2,...), além de outros campos
dada pelo default, da mesma forma como fei- numéricos, como o “Unit_id”, que enumera to-
to anteriormente. Em seguida, defina o número das as UPs.
de casas decimais (recomenda-se utilizar zero) e
clique em “OK”. A tabela de metas em branco
B - Inserindo os alvos de conservação
também foi construída!
na tabela de abundância

Exemplo de tabela gerada pelo CLUZ:


O próximo passo é a inserção dos al-
ID NAME TYPE TARGET SPF CONSERVED TOTAL vos na tabela de abundância. Para isso, o(s)
-999 blank 0 0.00 0.00 0.00 0.00 shapefile(s) de alvos deve(m) estar ativo(s) no
ArcView, com as colunas ID (numérico), Unit_ID
(numérico), Especie (textual), Feat_code (texto –
ver capítulo 3.4), Cost (numérico, sem preenchi-
mento). Sugere-se que as numerações dada aos
campos Unit_ID e ID sejam idênticas entre si,
uma vez que estão relacionadas com um mes-
mo alvo de conservação.

Passo 9. Com os arquivos restantes gerados,


agora é possível completar a janela “File settin-
gs”. Selecione por meio do botão Browse as ta-
belas de abundância e a tabela de metas. Feito
isso, clique em “Save” para salvar o setup.

Passo 10. Note que o shapefile de unidades de


planejamento foi alterado no visualizador.

Neste momento, deve-se calcular a área


(campo numérico “Área”) de cada unidade de
planejamento proposta, bem como inserir cam-
pos textuais como “Status” (conserved ou avai- Passo 11. Primeiro, crie temas a partir dos sha-
lable) e “Name_up” (com o nome das unidades pes de distribuição das espécies clicando em
de conservação ou, para as que estiverem dis- Create unit theme from shapefile.

26
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 13. A próxima janela a ser aberta pede um


Passo 12. Em seguida, para iniciar a inserção, prefixo, na forma de texto, para o “ID” numéri-
clique em “Convert themes to abundance data”, co de cada alvo. Neste exercício, em que usa-
na guia CLUZ e, em seguida, escolha o shapefile mos alvo de biodiversidade, será usada a inicial
a ser convertido. “BD_”. Em seguida, O CLUZ perguntará se de-
sejamos dividir a área para alterar a unidade de
Obs.: Criação de IDs para os alvos: cada medidas, originalmente em metros. Como tra-
alvo deve ter um identificador único (ID). Este balharemos com hectare (ha), clique em “YES”.
pode ser atribuídos manualmente, inserindo
uma coluna ID e digitando números para cada
linha. Todavia, por ser uma tarefa morosa quan-
do se dispõe de inúmeros alvos, usa-se um
preenchimento automático a partir da extensão
WWF Tools 1.4, desenvolvido pela ONG WWF
para uso no GIS ArcView. Passo 14. Na próxima janela coloque o fator de
conversão 10.000 (dez mil), para que o CLUZ
possa transformar a área original de metros qua-
drados (m2) para hectare (ha).

Passo 15. Em seguida, será solicitado o número


de casas decimais a ser trabalhado. Vamos utili-
zar 0 (zero) neste exercício.
Para adicionar o próximo tema, clique
novamente em “Convert themes to abundance
data”. Clique em “Yes” se aparecer o seguinte
aviso:

27
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Passo 18. Abra as duas tabelas simultanea-


Passo 16. Depois que esses mesmos passos mente no ArcView e as una por meio da função
estiverem concluídos para todos os alvos a se- “join”, utilizando a coluna “ID” como referência.
rem trabalhados, a tabela de abundância está O objetivo deste procedimento é levar as infor-
pronta. Para visualizá-la, basta clicar no ícone mações contidas na planilha-base de metas (Fi-
“Ab”, acima indicado. gura 7) para a tabela target.dbf.

Repare que a planilha com as metas traz


os objetos de conservação codificados por nú-
meros e, para usar a mesma base de dados no
C-PLAN, devemos inserir uma nova coluna na
forma textual, precedendo os IDs, de modo a
padronizar as tabelas de metas. Para isso, siga
os passos a seguir.

Passo 17. Verificar que, no eixo Y, estão as uni-


dades de planejamento trabalhadas e, no eixo X,
cada alvo analisado. Nas células encontramos o
cálculo da área ocupada por cada alvo (coluna)
em cada UP (linha).

C. Preenchendo a tabela de alvos e


metas

Para construir a tabela de metas usare- Passo 19. Abra para edição a tabela de metas,
mos a tabela target.dbf, construída pelo CLUZ, e adicionando uma coluna textual (String) com o
a tabela de metas, elaborada no item 3.4. Nes- nome FEATKEY.
ta etapa, trabalharemos com algumas funções
específicas do ArcView, deixando o CLUZ um
pouco de lado.

28
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

)) Unit_id (formato número) – preenchi-


da em ordem numérica;
)) Cost (campo automático);
)) Área (formato numérico) – com a área
já calculada;
)) Display (campo automático).

Tabela de abundância (automática):

)) Eixo Y: Unit_id (conferir se todas as


UPs estão na planilha);
Passo 20. Preencha a coluna usando a função )) Eixo X: Bd_1, Bd_2, Bd_3,... (conferir
“BD_”+[Id].AsString no campo Field Calculator. se todos os alvos estão na planilha).
Note que a coluna será preenchida de forma
semelhante à coluna relacionada na tabela de Tabela de metas (target):
abundância.
)) Id (formato numérico) – adicionar um
número para cada alvo;
)) Name (formato textual) – idêntico ao
anterior, só mudando o tipo de formato;
)) Type (formato numérico) – agrupa os
alvos em subgrupos (1, 2, 3,...);
)) Feat_desc (formtato textual) – nome
complete do alvo (e.g. Puma conco-
lor, Ananas brasiliensis);
)) Feat_code (formtato textual) – abrevia-
ção do “feat_desc”, formado por oito
letras (PUMACONC, ANANBRAS);
)) (formato textual) – código do alvo,
idêntico ao eixo X da tabela de abun-
dância (Bd_1, Bd_2,...);
Passo 21. Uma vez concluídos todos os passos )) SPF (formato numérico) – valor rela-
para a criação das tabelas básicas, os arquivos cionado à priorização de conservação
do C-PLAN já podem ser criados usando as op- (1, 2, 3,...);
ções “Create abundance.dat” e “Create target. )) Vulnera (formato numérico) – valor
dat”. Agora você já tem a base necessária para relacionado à priorização de conser-
o cálculo da insubstituibilidade! vação; corresponde ao inverso do va-
lor dado ao SPF (3, 2, 1,...);
)) Total (formato numérico) – Área total
Por fim, antes de processar as planilhas
disponível para a conservação (em
no C-PLAN e Marxan, vamos conferir os campos hectares);
necessários:
)) Conserved (campo automático) –
Área já protegida (em hectares);
Tabela de UPs: )) Target_PC (formato numérico) –
)) Shape (campo automático); Meta de conservação a ser atingida
)) Status (formato textual) – preencher (em porcentagem);
com as opções “conserved” ou )) PC_target (campo automático) – Por-
“available”; centagem da meta já cumprida com
as áreas já protegidas existentes;
)) Name_up (formato textual) – preen-
)) Target (formato numérico) – Meta
cher com os nomes das unidades de
a ser protegida (em hectare). Deve-
conservação ou código das unidades rá ser calculada pelo usuário a partir
de planejamento formado por uma le- da área total disponível e da meta de
tra seguida de número ( F_1, F_2,...); conservação dada para cada alvo.

29
4. Cálculo de insubstituibilidade – Conservation
Planning (C-PLAN)

4.1 Conceitos fundamentais e aplicações 4.2. Construindo as bases de dados no C-


PLAN
O C-PLAN, criado por Matthew Watts e
Bob Pressey, é um software de suporte à de- Antes de calcular o índice de insubstitui-
cisão que utiliza alvos e metas explícitas para bilidade, é preciso preparar as bases de dados
analisar a representatividade das unidades de de entrada no software, de acordo com os pas-
conservação já existentes, através do cálculo do sos a seguir:
índice de importância biológica, ou índice de in-
substituibilidade, das unidades de planejamento
dentro da área em estudo, criando, deste modo,
diferentes cenários de conservação. Os direitos
autorais são de New South Wales Department of
Environment and Climate Change (NSW DEC).
Também é possível trabalhar com o C-
PLAN por meio do ArcView 3.x, habilitando-o como
uma extensão, ou de forma independente. Apesar
de funcionar fora do ArcView 3.x, o C-PLAN não
possui uma interface própria de visualização grá-
fica e a leitura dos resultados e a manipulação de Passo 1. Abra o Editor de Tabelas (Table Editor)
dados são feitas por meio de tabelas. Para visuali- fora do ArcView 3.x.
zar os resultados sob a forma de mapas, é neces-
sário operá-lo por meio do ArcView 3.x.

Instalação:

Para instalar o C-PLAN em seu com-


putador, baixe o software disponível na pá-
ginahttp://www.uq.edu.au/ecology/index.
html?page=101951 e envie um e-mail para o Passo 2. Clique em “Wizards” para abrir os ar-
endereço mal.ridges@environment.nsw.gov.au, quivos.
solicitando a permissão de uso. Siga, posterior-
mente, os seguintes passos:

1. Instalar Borland;
2. Instalar C-PLAN_BDE_Install_DISK1.zip;
3. Instalar C-PLAN_BDE_Install_DISK2.zip;
4. Instalar o C-PLAN;
5. Instalar C-PLAN – Patch: arrastar os
arquivos geralmente enviados pelos
autores após a permissão de uso
para o diretório do C-PLAN. Esses
arquivos são a chave e substituirão
os já existentes; e,
6. Arrastar C-PLAN.AVX para “C:\
ESRI\AV_GIS30\ARCVIEW\
EXT32\”. Passo 3. Abra os três arquivos construí-
dos nos passos anteriores: tabelas das unidades
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

de planejamento (UPs), de metas (Target) e de e o campo-chave aparecerão nas linhas abaixo.


abundância (Abundance). Pressione Next.

Passo 7. Selecione primeiro a tabela de UP e


depois o campo-chave “Unit id”.

Passo 4. Crie a base de dados, clicando em Build


C-PLAN Database.

Passo 8. Selecione o campo que contém o


nome das UPs. Pressione Next. Pressione Next
novamente.

Passo 5. Agora indique, na matriz de abundân-


cia, o campo-chave “Unit_ID”.

Passo 9. Selecione primeiro a tabela de UP, de-


pois o campo-chave e em seguida o campo que
contém a área das UPs. Pressione Next.

Passo 6. Em seguida, adicione a tabela Abun- Passo 10. Selecione primeiro a tabela de UPs,
dance em “Add Table”. A matriz de abundância depois o campo-chave e em seguida o campo

32
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

que contém a disponibilidade (status) das UPs. acentos ou nomes longos). Pressione Next.
Pressione Next. Pressione OK e aguarde.

Passo 11. Utilizando as setas, mova o status


de disponibilidade para os campos: Disponível
(Available) ou Conservada (Conserved). Pressio-
ne Next.
Passo 15. Abra o ArcView e no menu File – Ex-
tensions, ative a extensão do C-PLAN.

Passo 12. Selecione primeiro a tabela de Metas


(Target), depois o campo-chave “Name” e em
seguida o campo que contém o código dos alvos
(Featcode). Pressione Next.

Passo 13. Selecione a tabela de Metas (Target),


depois o campo-chave “Name” e em seguida o
campo que contém as metas (Target). Pressione Passo 16. Adicione o shapefile das UPs salvo
Next. em Program Files.

Passo 14. Selecione o nome e o local onde a


base de dados será criada (não use espaços, Passo 17. Clique em Start C-PLAN.

33
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

aos objetos. Uma UP com índice igual a 1 (um)


merece especial atenção pois sua conservação
é imprescindível para que sejam cumpridas as
metas estabelecidas, ou seja, é insubstituível.
Índices menores que 1 (um) indicam uma certa
flexibilidade na escolha da UP, mas não um des-
valor. As metas de conservação são cumpridas
por um conjunto de UPs, cujos índices variam
de números muito baixos a 1 (um), ou seja, as
UPs com índices menores que 1 (um), apesar de
apresentarem certa redundância em relação aos
elementos de biodiversidade que contêm, preci-
sam fazer parte de um cenário de conservação
proposto para cumprir as metas estabelecidas.

Passo 18. Clique OK nas três janelas seguintes. 4.3 Exercícios de manipulação de dados no
C-PLAN

Exercício 1. Restringindo o uso de alvos


de conservação. Através deste exercício você
poderá visualizar a contribuição de cada alvo na
área de estudo, podendo ser selecionados al-
guns grupos de alvos ou alvos individuais, como
é o caso do exercício proposto.

Passo 19. Como resultado, deve aparecer um


mapa com as UPs classificadas, de acordo com
o índice de insubstituibilidade. O mapa de impor-
tância biológica está pronto!

Caso isso não ocorra, verifique:


)) Se houve erro na elaboração das ta-
belas (nomes de campos e/ou valo- Passo 1. Abra o C-PLAN, no menu Options e
res das células), ou; selecione Restrict Features in Use.
)) Se houve erro na criação da base de
dados, ou;
)) Clique no C-PLAN > Options > GIS > Re-
Link to ArcView > OK > OK > OK, ou;
)) Feche o ArcView e clique no ícone do
C-PLAN. Selecione C-PLAN e Start C-
PLAN. Aparecerá a mensagem: Unable
to link to ArcView System. Clique em
OK e abra o ArcView. Em seguida, car-
regue o shapefile e ative a extensão.
Clique no C-PLAN > Options > GIS >
Re-Link to ArcView > OK > OK > OK.

O mapa de importância biológica ou in-


substituibilidade mostra a importância relativa de Passo 2. Selecione o(s) alvo(s) que será(ao)
cada UP com base na presença dos objetos de utilizado(s) no exercício, utilizando o comando Use
conservação selecionados e nas metas atribuídas Highligthed.

34
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

de verificar se o menu Lookup, em Click action,


está ativado.

Exercício 3. Exibindo os alvos e sua contribui-


ção para o valor de insubstituibilidade.

Passo 1. Selecione Features em Click Action.


Selecione as UPs cujos alvos deseja-se visuali-
zar. Clique no botão Accept.

Passo 3. Visualize no ArcView. Clique no botão


de pós-seleção.

Exercício 2. Exibindo o valor da insubstituibili-


dade das UPs

Passo 2. Os alvos das UPs selecionadas podem


ser visualizados conjuntamente. Para tanto, se-
lecione Summarise Sites:

Passo único. Abra a janela do C-PLAN, selecio- As UP podem ser selecionadas tam-
ne algumas UPs dentre as listadas em Available bém pelo ArcView. Para isso, é preciso acessar
Sites e clique no botão Accept. Não esqueça o C-PLAN por meio da extensão do ArcView.

35
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Na janela exibida há a contribuição per-


centual de cada UP na conservação dos alvos
selecionados.

Passo 3. Selecione as UPs e clique no menu C-


PLAN Pós-seleção do ArcView.

Exercício 4. Localizando UP para a conservação


de determinados alvos.

Passo 3. Selecione as UPs e clique em manda-


tory e, em seguida, accept. Escreva que tipo de
alvo está sendo conservado e clique em OK .
Passo 1. No C-PLAN, menu Show, clique no bo-
tão Features to target. Observe que essas UPs se tornam man-
datárias. Você pode observá-las também no
mapa.

Passo 2. Selecione os alvos de conservação que


se deseja proteger e clique em Find Avalaible
Sites.

36
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Exercício 5. Alteração das metas dos alvos de


conservação através do C-PLAN.

Passo 1. Para alterar a meta de um alvo por vez


clique em Menu > Options > Edit Targets.

Passo 4. Clique no menu show contribution.

É possível observar a contribuição das


UPs mandatárias para o alcance das metas das
espécies selecionadas. A coluna inicial (verde)
mostra o desempenho das UCs para a execu-
ção das metas. Passando o mouse sobre cada
coluna, aparece o valor da contribuição das UCs
(coluna verde) e de cada UP (colunas cinza) para
atingir as metas de conservação. Passo 2. Altere as metas do(s) alvo(s) desejados
e clique OK. As alterações poderão ser visualiza-
das no mapa.

Passo 3. Altere as metas de todos os alvos de


uma só vez desmarcando User-defined. Note
que aparecerá uma janela para especificar a
nova meta de conservação.

37
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Passo 4. Nesta janela “Recalculate with target


of”, coloque a porcentagem de metas desejada,
por exemplo 25, ou seja, será adicionada uma
meta de 25% ao original estipulado na planilha
de entrada para todos os alvos analisados. As
alterações também poderão ser visualizadas no Passo 2. Indique os alvos que não estão prote-
mapa. gidos, ou seja, aqueles que têm meta inicial me-
nor que 100%. Clique no menu Show > features
to target > Find available sites.
Exercício 6. Proteção dos objetos de conser-
vação.

Passo 1. Selecione todas as UPs importantes Passo 3. Selecione as UPs (clique na primeira
para a proteção dos objetos-lacuna (ou seja, com e aperte a seta para baixo). Verifique se estão
proteção inicial menor que 100%) e as áreas in- marcadas como mandatárias.
substituíveis. Posteriormente, no ArcView, sele-
cione todas as UPs com Ir1 (insubstituibilidade
máxima) e as indique como mandatárias.

Passo 4. Clique em finish e yes.

38
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 5. Vamos agora eliminar as UPs redundantes por desempenho. Clique no menu
show > map redundant sites > OK. Visualize o resultado no ArcView.

39
5. Análise de ameaças e oportunidades para a conservação

Após a elaboração do mapa de impor- )) Declividade;


tância biológica, chega o momento de propor )) Uso e ocupação do solo;
cenários de conservação que contemplem os
)) Unidades de conservação de prote-
objetos e as metas estabelecidos. Para tanto, é
ção integral;
preciso fazer um arranjo espacial com as UPs,
desenhando um conjunto de polígonos que seja )) Unidades de conservação de uso
capaz de atender aos objetivos do exercício. sustentável;
Para orientar esse desenho, deve-se fazer uma )) Remanescentes de vegetação natu-
análise de ameaças e oportunidades de conser- rais;
vação, na qual considera-se a proximidade das )) Terras indígenas e/ou quilombolas;
áreas candidatas a outros elementos mape- )) Recursos minerais;
áveis, os quais dificultam ou facilitam a imple-
mentação de ações de conservação (unidades )) Polos de governança.
de conservação, áreas urbanas, ocorrências mi-
nerais, etc.). Essa análise gera o que chamamos É importante analisar a necessidade da
de mapa de custos ou superfície de custos. utilização de temas que possuem informações
As variáveis analisadas podem ser positi- redundantes, uma vez que demandam tempo
vas ou negativas. As variáveis são positivas quando de trabalho e não enriquecem o resultado final,
representam facilidades para a conservação, isto podendo inclusive enviesá-lo. Ademais, todas as
é, diminuem os custos para as ações, e negativas, decisões a serem tomadas devem ser feitas em
quando potencialmente dificultam ou aumentam equipe, seguindo critérios claros e consensua-
os custos para a conservação da biodiversidade. dos.
Trata-se da elaboração de um mapa no formato Para ilustrar esta etapa do exercício de
matricial (raster) cujos pixels terão valores que au- priorização, serão utilizados dados do estado de
mentam ou diminuem, linearmente, à medida que Minas Gerais.
se distanciam do objeto considerado.
Os resultados obtidos correspondem 5.1 Preparação dos temas
aos valores relativos que devem ser observados
com cautela, tendo em vista que representam,
num único mapa, a integração de valores de te- A preparação dos temas constitui um
mas diferenciados, a partir de operações mate- momento bastante importante e às vezes de-
máticas. O valor de cada pixel deve ser consi- morado, sobretudo quando as bases cartográ-
derado para análises comparativas no conjunto ficas têm origens diversas. Além de decidir
do mapa, não tendo uma referência a qualquer pelos temas que serão usados, esse é o mo-
valor real. mento de compatibilizar todos esses em ter-
mos de recorte da área, parâmetros de proje-
Segue, abaixo, uma série de temas que
ção cartográfica, integridade dos dados, entre
poderão ser usados nessa análise, lembrando
outros aspectos.
que qualquer tema mapeável pode ser usado
nos exercícios de PSC: É muito importante que todos os temas
estejam na mesma projeção cartográfica, com
Infraestrutura de transporte rodoviário e
os mesmos parâmetros de datum, meridiano
ferroviário;
central, latitude de origem etc. Além disso, a
projeção deverá ser tal que a unidade de dis-
)) Aptidão agrícola; tância esteja representada em metros. (UTM,
)) Áreas urbanas; Albers, Lambert).
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

5.2 Recorte da área a ser trabalhada.

Figura 8. Seleção de unidades de conservação de proteção integral para o estado de Minas Gerais.

Para que os valores da superfície de foram incluídos os objetos do entorno. Isso é


distâncias sejam coerentes, é necessário que importante, pois, tendo em vista que se refere
o recorte da área extrapole a área efetivamente à distância radial a partir de cada objeto, mesmo
trabalhada. As Figuras 8 e 9 mostram, respecti- aqueles localizados fora do estado de Minas Ge-
vamente, o tema “Unidades de Conservação de rais poderão ter sua área de influência no interior
proteção integral” e “rodovias e ferrovias” sele- deste.
cionados para o estado de Minas Gerais, onde

Figura 9. Seleção de rodovias e ferrovias para o estado de Minas Gerais.

42
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

5.3 Elaboração do mapa de distâncias de Após a elaboração do mapa de distân-


cada tema cias de cada um dos temas, estes deverão ser
recortados para a área efetivamente trabalhada,
Para cada um dos temas trabalhados, de- utilizando uma máscara. Esse passo é necessá-
verá ser feito o mapa de distâncias. Para isso, rio para que o arquivo raster de todos os temas
usa-se a seguinte ferramenta do ArcGIS 9.x: tenha o mesmo número de linhas e colunas,
Spatial Analyst Tool  Distance  Euclidean ou seja, a mesma quantidade de células ou pi-
Distance, conforme demonstrado na Figura 10. xels, caso contrário, as operações matemáticas
No preenchimento dos campos, deve-se inserir o de integração dos temas não serão efetuadas.
nome do arquivo de base para o mapa de distân- Para isso, utiliza-se, como máscara de recorte,
cias e o nome do arquivo raster de saída. um arquivo vetorial ou raster que corresponda à
É possível limitar a distância até onde área efetivamente trabalhada. No exemplo tra-
serão feitos os cálculos, em relação a cada obje- tado, foi utilizado o limite do estado de Minas
to, preenchendo a opção “Maximum distance” Gerais como máscara para o recorte, todavia,
(preenchimento opcional). Por exemplo: caso sugere-se a utilização do mapa de Unidades de
se considere que um núcleo urbano gera influ- Planejamento (UPs) na execução desse proces-
ência no entorno até uma distância de10 km de so. Para tanto, utiliza-se a seguinte operação do
raio, insere-se como distância máxima para o ArcGIS 9.x: Spatial Analyst Tool  Extration
cálculo do mapa de distâncias o valor 1000 m.  Extract by mask, onde deverá ser indicado,
Outro campo de preenchimento opcional, mas sequencialmente, o arquivo a ser recortado, o
bastante importante é o “Output cell raster”, ou arquivo-máscara utilizado como base para o re-
seja, o tamanho das células ou pixels do arqui- corte e o nome do arquivo de saída (Figura 12).
vo de saída. Para o exemplo tratado, utilizou-se
uma célula de 125 m. O valor a ser determinado
deverá estar em acordo com a escala de traba-
lho, uma vez que se trata de resolução espacial.

Figura 12. Operação utilizada para recortar o mapa de distâncias


para a área efetivamente trabalhada.

A Figura 13 demonstra o resultado do


Figura 10. Operação utilizada para elaborar o mapa de distâncias.
mapa de distâncias após o recorte.
O resultado obtido com os parâmetros
informados está apresentado na Figura 11.

Figura 11. Mapa de distâncias do tema unidades de conservação Figura 13. Mapa de distâncias recortado para a área de estudo
de proteção integral e o estado de Minas Gerais. efetivamente trabalhada.

43
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Na janela que se abrirá, denominada


“Classification”, deve-se inserir no campo “Me-
thod” o tipo de classificação desejado, entre as vá-
rias opções dadas. No campo “Classes”, deve ser
colocado o número de classes para a reclassifica-
ção dos valores. Para o exemplo utilizado foi esco-
lhido, respectivamente, “Equal Interval” e “255”
classes, conforme demonstrado na Figura 14.

Figura 16. Operação utilizada para a sobreposição dos temas atra-


vés da operação de soma.

O campo “Input rasters” é utilizado para


inserir todos os temas utilizados para a elabo-
ração da superfície de custos. Ao inserir os te-
mas, deve-se, no campo “Weight”, atribuir os
respectivos pesos para cada um deles, confor-
me destacado na Figura 16. Os pesos são bas-
tante importantes para o conjunto da operação
Figura 14. Operação utilizada para reclassificar os valores dos pi- e recomenda-se que sejam decididos por uma
xels em determinado número de classes. equipe multidisciplinar. Para o exemplo utilizado,
o resultado obtido é apresentado na Figura 17.

Figura 15. Operação utilizada para reclassificar e inverter os valo-


res dos pixels. Figura 17. Superfície de custos final.

Para inverter os valores dos pixels do Com os resultados finais, deve-se fazer
mapa de distâncias, como ocorre com temas novamente uma reclassificação dos valores dos
em que os valores mais próximos dos objetos pixels para o intervalo desejado. Para isso, uti-
deverão ser maiores que aqueles distantes, de- liza-se os passos descritos nas figuras 14 e 15.
ve-se utilizar a função “Reverse New Values” na
janela “Reclassify”, demonstrada na Figura 15. 5.4 Utilização do software Idrisi para a cons-
trução do mapa de custos (opcional)
Feita a reclassificação e normalização
dos valores de todos os temas, passa-se para a
Um passo opcional, mas de grande im-
operação final, em que todos os temas serão so-
portância e que depende do interesse do trabalho
brepostos, através da operação matemática de
realizado, é a utilização da opção de se manipular
soma. Para tanto, utiliza-se a seguinte operação
matematicamente os valores das superfícies de
do ArcGIS 9.x: Spatial Analyst Tool  Overlay
distância de cada um dos temas, considerando a
 Weighted Sum, conforme demonstrado na diferença das influências reais nas proximidades
Figura 16.

44
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

das feições, em detrimento das áreas situadas a Após importar para o ambiente Idrisi (for-
uma distância maior. Para o caso de um centro mato RST), deve-se efetuar a operação de ma-
urbano, por exemplo, considera-se que a sua área nipulação dos valores com a função GIS Analy-
de influência direta e com intensidade maior cor- sis  Decision Support  FUZZY, conforme
responde àquelas de suas imediações, ao passo demonstrado na Figura 20. Para o objetivo do
que, a partir de determinada distância, estas in- trabalho usado como exemplo, a opção de agru-
fluências tendem a diminuir progressivamente pamento dos valores utilizada foi a “Sigmoidal”,
até desaparecer. Para tanto, uma técnica relati- que produz valores conforme demonstrado na
vamente simples é executada através do softwa- Figura 21.
re Idrisi, com a utilização da função “Fuzzy”, que
permite executar uma operação que concentra
os maiores valores nas proximidades da feição
considerada e um declínio exponencial, à medida
que se distancia.
Primeiramente, cada uma das superfí-
cies de distância deverá ser exportada do forma-
to ArcGIS 9.x (GRID) para o formato TIFF (Menu:
DATA  Export Data  escolher o formato
TIF), para ser importado pelo Idrisi (Menu: File
 Import  Desktop Publishing Formats 
GEOTIFF/TIFF), conforme mostrado nas Figu-
ras 16 e 17, respectivamente.

Figura 20. Operação utilizada para manipular os valores dos pixels


(FUZZY).

Para os temas cujos valores são cres-


centes a partir dos objetos considerados, foi
utilizada a opção “Monotonically Increasing”, re-
presentada basicamente no gráfico A da Figura
21, tendo os valores 0 e 255 como pontos de
controle para “a” e “b”, respectivamente. Para
os temas de valores decrescentes a partir dos
Figura 18. Operação utilizada para exportar arquivo do formato
objetos considerados, a opção “Monotonically
GRID para o fomato TIFF no software ArcGIS 9.x. Decreasing” foi acionada, necessária, inclusive,
para a inversão dos valores originais da superfí-
cie de distâncias, a qual é representada basica-
mente no Gráfico B, tendo os valores 0 e 255
como pontos de controle para “c” e “d”, res-
pectivamente.
Os novos resultados obtidos para os pi-
xels variam de 0 a 1 e, novamente, deve-se nor-
malizar os valores para o intervalo 0 a 255. Para
isso, utiliza-se a função Stretch do Idrisi (Menu:
Image Processing  Enhancement  Stretch),
com a opção de normalização “Linear”, inserin-
do, no campo “number of levels” (número de
níveis) o valor 256, que corresponde ao intervalo
de valores de 0 a 255, conforme demonstrado
na Figura 22.
Figura 19. Operação utilizada para importar arquivo do formato
GRID para o fomato TIFF no software Idrisi.

45
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

Figura 21. Tipos de agrupamento de valores da função Fuzzy, na


opção Sigmoidal.

Figura 23. Operação utilizada para integrar as superfícies de dis-


tâncias e gerar o mapa de custos final.

O mapa-síntese resultante poderá ser


normalizado para um intervalo de valores esco-
lhido que pode ser de 0 a 255, utilizando a opera-
ção descrita na Figura 22. Finalmente, ele deve-
rá ser exportado para o formato Geotiff (Menu:
File  Export  Desktop Publishing Formats 
Geotiff/Tiff), conforme mostrado na Figura 24.

Figura 22. Operação utilizada para normalizar os valores dos pixels


para o intervalo de 0 a 255.

Terminados os passos de manipula-


ção dos valores dos pixels, tem-se a opção de
efetuar, no próprio Idrisi, a integração de cada
uma das superfícies de distância para produ-
zir o mapa de custos final, através da opera-
ção de soma, aplicando pesos diferenciados
para cada tema. Para isso, utiliza-se a função
“Image Calculator” (Menu: Modeling  Ima- Figura 24. Operação utilizada para exportar arquivo do formato
ge Calculator), que corresponde a uma calcu- Idrisi para o fomato TIFF (Geotiff).
ladora, onde se insere cada uma das imagens
(superfícies de distâncias), construindo uma No ambiente ArcGIS 9.x, procede-se a
operação matemática, conforme demonstrado importação do mapa de custos final, a ser inte-
na Figura 23. No caso de atribuir pesos di- grado com a malha de unidades de planejamen-
ferenciados para cada tema, deve-se observar to (UP), descrita no item 5.6.
a correta formulação da operação, conforme
o exemplo: ([imagem1]*3)+([imagem2]*2)-
([imagem3]*2). 5.5. Formulação de matriz para atribuição de
pesos a temas diversos utilizando o software

46
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Idrisi (opcional)

A atribuição de pesos constitui um pas-


so bastante importante e, ao mesmo tempo, de
difícil execução, especialmente quando se tem
um conjunto de temas que se inte-rrelacionam
em níveis diferenciados. O software Idrisi pos-
sui uma ferramenta chamada Weight (Peso) que
ajuda muito na atribuição de pesos. O Weight
(Menu: GIS Analysis  Decision Support 
Weight) é utilizado para atribuir um conjunto de
pesos relativos a um grupo de fatores em uma
avaliação multicritérios montada na forma de
uma matriz. Os pesos são atribuidos através do
Figura 26. Operação utilizada para atribuir pesos aos temas trabalhados.
fornecimento de uma série de pares compara-
tivos da importância relativa dos fatores, cujas
comparações são depois analisadas para produ- O processo de atribuição de pesos con-
zir um conjunto de pesos de soma 1. O proces- siste, basicamente, em avaliar a importância re-
so pelo qual os pesos são produzidos segue a lativa entre temas, cujos valores a serem usados
são apresentados na própria janela, variando de
lógica desenvolvida por T. Saaty no âmbito do
1/9 (extremamente menos importante) a 9 (ex-
processo de hierarquia analítica. A Figura 25 tremamente mais importante), a ser preechido
demonstra o primeiro passo para a formulação em cada célula da matriz. Após completar a ma-
da matriz de atribuição de pesos, quando são triz, deve-se clicar no botão “Calculate weights”,
informados os temas comparativos. Deve-se quando abrir-se-á outra janela informando o resul-
infomar que ser pretende criar um novo arquivo tado dos pesos e o grau de consistência (Con-
de pares de comparação clicando em “Create sistency ratio). No caso de se obter uma baixa
new parwise comparison file”, bem como no- consistência (low), sugere-se reavaliar os pesos e
meá-lo. Em seguida, basta adicionar os temas tentar eliminar possíveis incoerências e inconsis-
de comparação, conforme destacado na Figura tências, até obter uma consistência aceitável. Ao
23, e clicar em “Next”, quando abrirá a janela final, basta inserir os pesos obtidos na integração
com a matriz de pares comparativos mostrada dos temas para a execução do mapa de custos
final, conforme descrito na Figura 23.
na Figura 26.
No momento da atribuição dos pesos a
cada um dos pares comparativos, deve-se estar
atento para utilizar sempre o mesmo parâmetro
ou ponto de vista para todo o conjunto, como
forma de estabelecer uma coerência entre to-
dos os temas, ou seja, se tiver como parâmetro
a conservação da biodiversidade, por exemplo,
ao se atribuir peso a cada um dos temas, este
deve ser pensado tanto positiva, quanto nega-
tivamente para a conservação, contribuindo ou
dificultando para essa finalidade.

5.6 Integração do mapa de custos às unida-


des de planejamento

Feito o mapa de custos, é preciso inte-


grá-lo às UPs, uma vez que essa é a unidade de
análise para o exercício de priorização no PSC.
Figura 25. Operação utilizada para informar os temas a serem atri- O objetivo da integração é atribuir a cada UP um
buídos pesos. valor de custo médio.
Ao abrir o mapa de custos no ArcGIS
9.x, deve-se verificar se há uma tabela associa-
da com o valor de cada pixel (Value). Caso não
tenha, esse deve ser reclassificado usando os

47
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

passos descritos nas Figuras 14 e 15, onde será


criada a referida tabela.

Figura 28. Tabela resultante da integração do mapa de custos com


a malha de unidades de planejamento.
Figura 27. Operação utilizada para gerar a tabela com os custos de
cada unidade de planejamento. Ao agregar a tabela de custos à tabela
do mapa de UP, deve-se criar um novo cam-
O processo de integração do mapa de po denominado “COST” (caso este não tenha
custos com a malha de unidades de planejamen- sido ainda criado) e copiar os valores do campo
to (UP) é feito a partir do cruzamento de ambos, “MEAN” para este campo. Ao remover a jun-
onde, para cada UP será coletado um valor de ção das tabelas (processo similar ao descrito na
Figura 29), o novo campo criado conservará os
custo. O resultado do cruzamento é uma tabe-
valores do custo médio de cada UP.
la com uma série de campos com diversos da-
dos estatísticos relativos ao custo de cada UP.
A Figura 27 mostra a operação utilizada para a
integração do mapa de custos com a malha de
UP, com a seguinte função do ArcGIS 9.x: Spa-
tial Analyst Tools  Zonal  Zonal Statistics as
Table.
Da tabela de custos gerada, mostrada na
Figura 26, extrai-se o campo “Mean” que cor-
responde ao custo médio de cada unidade de
planejamento, o qual será utilizado no momen-
to do processamento do software Marxan. A
extração do campo pode ser feita através da
junção (Join) dessa tabela à tabela do shape de
UPs, conforme demonstrado na Figura 27.
Figura 29. Operação utilizada para agregar os valores da tabela de
custos com a tabela do mapa de UPs.

48
6. Desenho das Áreas - Marxan Marine Reserve Design
using Spatially Explicit Annealing

6.1 Conceitos fundamentais e aplicações )) Avaliar o desempenho do sistema de


unidades de conservação já existentes;
Marxan é um software flexível que tem )) Desenvolver planos de zoneamento
como uma das aplicações o desenho de uni- de uso múltiplo para o manejo dos re-
dades de conservação e manejo de recursos cursos naturais, entre outras.
naturais em ambientes terrestres e aquáticos.
Destaca-se por buscar soluções eficazes para o Neste exercício usamos a versão
problema da seleção de um sistema de áreas 1.8.10. Para fazer download do software, aces-
espacialmente coeso, com vistas a cumprir uma se o site http://www.uq.edu.au/marxan/index.
série de metas de conservação da biodiversida- html?page=77654&p=1.1.4.1.
de, baseando-se numa minimização dos custos
Pelo link http://www.uq.edu.au/
e dos efeitos de borda. Além disso, ele integra
Marxan/resgame/resgame.html pode ser
dados produzidos pelo C-PLAN a um SIG, apre-
acessado o “The reserve design game” cria-
sentando os resultados na forma de um mapa.
do por Wayne Rochester e Hugh Possingham,
Em síntese, o Marxan pode ser utilizado que contém os conceitos e os métodos para o
para: desenho sistemático de unidades de conser-
)) Desenhar um sistema de unidades vação.
de conservação;

Figura 30. Seleção de áreas importantes para a conservação da biodiversi-


dade na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – cenários I, II e III.
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

6.2 Marxan – Uso do Software )) pu.dat – dados relativos às UPs


)) puvrspr2.dat – matriz que contém
Passo 1. Ajuste o idioma da sua máqui- dados de objetos de conservação e
na para o inglês (Configurações regionais) e rei- unidades de planejamento.
nicie o ArcView.
Utilizando novamente o CLUZ (no Ar-
Passo 2: Crie um diretório Marxan em cView 3.2), vamos criar o arquivo bound.dat.
que está a Base de Dados C-PLAN. Esse arquivo contém a informação sobre o cál-
culo das bordas das UPs, necessário para o cál-
culo da relação área/perímetro.

Passo 3: Copie os arquivos para o dire-


tório criado.

A - Construindo a bases de dados no


Marxan

Passo 5. Clique em create bound.dat.


Aparecerá uma janela, clique No. Em seguida
ele perguntará se você quer incluir as bordas ex-
ternas, clique Yes.

Observe se o arquivo foi criado no sub-


diretório Input.

Passo 4. Dentro do C-PLAN, clique no


menu Marxan > Build database > OK.

Observe que no diretório Marxan exis-


tem dois subdiretórios: INPUT e OUTPUT. No
subdiretório INPUT foram criados três arquivos:
)) Spec.dat – dados de objetos de con-
servação Passo 6. Clique em Marxan Prototype.

50
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 7. E, depois, em Marxan Options

Passo 10. No Menu Run Options utilize


Simulated Annealing (riqueza, raridade, insubsti-
tuibilidade ou suas variações).

Passo 8. No menu Problem: Repeat


Runs (número de repetições com o qual o pro-
grama será executado).

Teste com um número baixo de repeti-


ções e aumente até que os resultados estejam Passo 11. Em funções Annealing:
perto da homogeneidade. No projeto da BHSF
foram utilizadas 2000 repetições. )) Number of interations – determina o
número de tentativas durante o pro-
Passo 9. No menu Boundary Modifier cesso de annealing1.
(peso da borda). Quanto maior o número, maior )) Temperature Decreases – deve ser
o agrupamento das UPs. No projeto da BHSF foi menor ou igual do que o número de
utilizada Borda de 0,01. interações

1 - Arrefecimento simulado ou simulated annealing é uma meta-heurística para otimização que consiste numa técnica de busca local
probabilística, e se fundamenta numa analogia com a termodinâmica O Algoritmo de arrefecimento simulado substitui a solução actual
por uma solução próxima (i.e., na sua vizinhança no espaço de soluções), escolhida de acordo com uma função objectivo e com uma
variável T (dita Temperatura, por analogia). Quanto maior for T, maior a componente aleatória que será incluída na próxima solução es-
colhida. À medida que o algoritmo progride, o valor de T é decrementado, começando o algoritmo a converter para uma solução óptima,
necessariamente local. Uma das principais vantagens deste algoritmo é permitir testar soluções mais distantes da solução actual e dar
mais independência do ponto inicial da pesquisa.

51
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

)) Adaptative annealing )) Cooling factor – um número entre 0 e


)) Initial temperature - A temperatura 1, mas usualmente é maior que 0,8,
inicial pode ser 10.000 quando o nú- clicar no final temperature adaptative
mero de iterações for acima desse annealing
nível. Mas o software pode ajustar
automaticamente.

Passo 12. Na opção Input estarão locali- tory (subdiretório Input, diretório Marxan). Sele-
zados os arquivos de entrada (Alvos (SPEC); uni- cione os arquivos como na figura acima, todos os
dade de planejamento (PU); matriz (PUVSPR2) e arquivos .DAT estão no subdiretório Input.
borda (Bound)). Primeiro, selecione o Input Direc-

52
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Passo 13. Arquivos de saída: selecione o nome do arquivo de saída e o diretório (subdi-
as opções de processamento que serão salvas. retório Output, diretório Marxan).
Não se esqueça de selecionar ArcView Format,

Passo 14. Advanced options: valor de


0,2 (valor utilizado no SF) para UPs inicialmente
selecionadas. Para o restante das opções seguir
os parâmetros sugeridos pelo software.

Passo 15. Save e Exit.

Passo 17. No subdiretório Output , abra


o arquivo “.DAT” (há várias opções salvas pelo
programa. Costuma-se utilizar a solução somada
(ssoln) e a melhor solução (best). No Excel, sal-
ve como TXT e abra no ArcView, faça um join,
utilizando o campo referente às unidades de pla-
Passo 16. Run Marxan.
nejamento. Para visualizar no mapa, selecione o
Aparecerá uma tela de processamento campo da tabela que contém o número de vezes
DOS. que as UPs foram selecionadas. Você pode clas-
sificar em classes.

53
7. Pós-seleção

Após passar por todas as etapas descri- possuam conhecimentos relevantes para deci-
tas anteriormente e selecionar os cenários que sões de planejamento e que compreendam o
representam as melhores combinações espa- contexto social, econômico e político para o pla-
ciais das áreas de grande relevância biológica, nejamento da conservação, bem como os res-
onde foram considerados os efeitos de borda, ponsáveis pela implementação das estratégias a
oportunidades e ameaças para a conservação, serem propostas.
chega o momento de validar as áreas selecio- Para subsidiar a validação, é importan-
nadas. É importante reunir, nesta etapa, atores te que outras informações geográficas sejam
que tenham profundo conhecimento da região compiladas, como meio de facilitar o processo
estudada. de decisão do grupo. Imagens de satélite, infor-
Nesta última etapa, chamada de pós- mações sobre remanescentes de vegetação,
seleção, é possível redefinir limites, criar novas localização de cavernas, unidades de conserva-
áreas ou mesmo excluir áreas que não são re- ção, populações tradicionais e aptidão agrícola
presentativas (Figura 31). Além da provável al- são alguns exemplos de informações relevantes
teração de limites, esta última etapa tem como que auxiliam no processo de validação e de ca-
objetivo reunir informações sobre característi- racterização das áreas.
cas relevantes das áreas, estratégias de conser- A etapa de pós-seleção é de suma impor-
vação, principais ameaças, entre outras informa- tância, pois possibilita alcançar equilíbrio entre a
ções. Assim, é interessante que se reúna não só imparcialidade dos softwares e a tendenciosida-
especialistas em biodiversidade, como também de dos especialistas na análise dos dados.
pessoas que conheçam as ameaças locais, que

Figura 31. Modificações das áreas feitas por especialistas


durante reunião de pós-seleção para o Projeto de Áreas Im-
portantes para a Conservação da Biodiversidade na Bacia Hi-
drográfica do Rio São Francisco.
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

7.1 Entre as áreas eleitas como importantes, partir da média dos valores de insubstituibilida-
o que priorizar? de presentes nas unidades de planejamento de
cada uma das áreas. Como resultado, obteve-
se diferentes classes de importância biológica
Tendo em vista a escassez dos recur-
(extremamente alta, muito alta e alta) e, conse-
sos financeiros voltados para a conservação da
quentemente, com classes de prioridades dife-
biodiversidade, mesmo após termos obtido um
rentes (Figura 32).
cenário das áreas importantes, muitas vezes é
necessário priorizar áreas e ações. Nesse caso, Além disso, puderam ser feitos outros
leva-se em consideração não apenas sua impor- tipos de análises para a classificação das áre-
tância biológica relativa, mas o nível de ameaça as, levando em consideração outros elementos
sofrida e o custo de implementação para a con- da paisagem, como o índice de fragmentação,
servação da biodiversidade. o custo econômico, o grau de erosão etc. Por
exemplo, a partir do cruzamento de informações
Para o projeto de Áreas Importantes
sobre o grau de insubstituibilidade e o índice de
para a Conservação da Biodiversidade na Bacia
fragmentação (Figura 33) pôde-se obter diferen-
Hidrográfica do Rio São Francisco, foi feita uma
tes classes de priorização.
classificação de graus de importância biológica a

Figura 32. Classificação das áreas quanto ao grau de importância biológica, levando em conside-
ração a insubstituibilidade média de cada área.

56
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Figura 33. Cruzamento de informações para a obtenção de classes de priori-


dades. O quadrante A representa áreas com baixo grau de insubstituibilidade e
de fragmentação, sendo, portanto, aquelas com menor prioridade para ações.
O quadrante D, por sua vez, possui alto grau de insubstituibilidade e alto grau
de fragmentação, sugerindo que essas áreas apresentam maior vulnerabili-
dade e que, portanto, precisam de ações emergenciais, tornando-se, assim,
prioritárias.

7.2. Resultados da pós-seleção e das etapas futuras

Ao final da etapa de pós-seleção é esperado que cada uma das áreas possua uma ficha
técnica com informações adquiridas por meio dos softwares e também por consulta a especialistas
(Tabela 3).

Tabela 3. Exemplo de ficha técnica de áreas importantes para a conservação. As informações ad-
quiridas pelos softwares estão representadas em cinza e as adquiridas por consulta a especialistas
estão em branco.

Áreas Importantes para a Conservação da Biodiversidade na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
ID – Código da área 01
Área (ha) 122.419,2
Nome da área Catimbau
Justificativa 117,44% Caatinga 16b; 33,55% Caatinga 15e
Principais rios Rio Pau-a-pique; Riachos Pioté e Brejo
Principais municípios Ibimirim; Tupanatinga; Buíque; Sertânia
Principais vias de acesso BR 232; PE 270; PE 345; PE 290
Biomas 100,00% Caatinga
Área com remanescente de Caatinga; presença de ave Carduelis yarrellii; entorno
Características relevantes
do Parque Nacional do Catimbau.
Ameaças Tráfico de Animais Silvestres (Carduelis yarrellii).
Plano de ação para a conservação de Carduelis yarrellii; fortalecimento do Parque
Estratégias de conservação
Nacional do Catimbau.

Dada a dinâmica dos sistemas naturais, alização periódica e sistemática das áreas priori-
assim como o conhecimento acerca dos ele- tárias. Para isso, é importante, por exemplo, re-
mentos da biodiversidade, padrões e processos ver o estado de conservação das espécies-alvo,
ecológicos, é interessante que se faça uma atu- avaliar se estas continuam sendo bons repre-

57
Planejamento Sistemático da Conservação - Material Didático

sentantes da biodiversidade e levantar os avan- foi a publicação da Resolução SMA-15 de 13


ços no conhecimento da ecologia e da distribui- de março de 2008, onde exige-se a considera-
ção espacial das espécies. Além disso, outras ção das categorias de importância biológicas,
informações geográficas que antes estiveram definidas no mapa de áreas prioritárias resul-
indisponíveis podem ser agora incorporadas na tantes do projeto, nas ações de supressão de
análise, de modo que contribuam com o aumen- vegetação nativa em imóveis rurais no Estado
to da qualidade no resultado final (atualização do de São Paulo. Se a vegetação nativa a ser su-
sistema de unidades de conservação). primida estiver dentro de alguma área demar-
Como etapa futura é importante trans- cada como prioritária, deverá ser apresentado
formar essas propostas técnicas em políticas pelo solicitante estudo de fauna e flora, inde-
públicas. Um exemplo de projeto que conse- pendente do estágio de regeneração em que
guiu incorporar com sucesso foi o de “Áreas se encontra a vegetação a ser suprimida. Além
Prioritárias para Conservação e Restauração da disso, o documento resolve, ainda, que, se não
Biodiversidade do Estado de São Paulo”, orga- houver nenhum impedimento legal, a supres-
nizado pelo Programa BIOTA de Pesquisas em são da vegetação só será autorizada se não ti-
Conservação e Uso Sustentável da Biodiversi- ver presente na área nenhuma espécie amea-
dade do Estado de São Paulo, com recursos da çada de extinção. A resolução determina ainda
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de algumas formas de compensação, dependendo
São Paulo (BIOTA/Fapesp), realizados em par- das classes de importância biológica, nas su-
ceria com outros institutos e organizações (Ins- pressões de vegetação nativa dentro das áreas
tituto de Botânica, Instituto Florestal e Funda- prioritárias.
ção Florestal, vinculados a secretaria de Meio O grande objetivo do planejamento sis-
Ambiente (SMA); as universidades estaduais temático da conservação é transformar conheci-
USP, UNICAMP e UNESP; e as organizações mento técnico e científico em ações de planeja-
não-governamentais Conservação Internacio- mento e, estas, em medidas concretas de ma-
nal (CI-Brasil) e Centro de Referência em Infor- nejo, proteção, conservação e uso sustentável
mação Ambiental (CRIA)). Fruto deste trabalho do patrimônio natural.

58
8. Referências

COWLING, R.M., PRESSEY, R.L., Rouget M., MARGULES, C.R.; PRESSEY, R.L. Systematic
LOMBARDA A.T. A conservation plan for a glo- Conservation Planning. Macmillan Magazines:
bal biodiversity hotspot - the Cape Floristic Re- Nature, v.405, 243-253p. 2000.
gion, South Africa. Biological Conservation.
v.112, 191-216p. 2003. PRESSEY, R.L. Ad hoc reservations: forward or
backward steps in developing representative re-
DINERSTEIN, E., OLSON, D.M., GRAHAM, D.J., serve systems? Conservation Biological. v.8,
WEBSTER, A. L.PRIMM, S. A., BOOKBINDER, 662-668p. 1994.
M. P. & LEDEC, G. A conservation assessment
of the terrestrial ecoregions of Latin America, PRESSEY, R.L.; TAFFS, K.H. Scheduling con-
and the Caribbean. The World Bank, Washing- servation action in production landscapes: prior-
ton, DC, USA. 1995. ity areas in western New South Wales defined
by irreplaceability and vulnerability to vegetation
FERRIER, S. PRESSEY, R.L., BARRETT, T.W. loss. Essex: Biological Conservation, v. 100,
A new predictor of the irreplaceability of areas 355-376p.. 2001.
for achieving a conservation goal, its application
to real-world planning and research agenda for PRESSEY, R.L.; HUMPHRIES, C.J.; MAR-
further refinement. Biological Conservation. GULES, C.R.; VANE-WRIGHT, R.I.; WILLIAMS,
v.93, 303-326p. 2000. P.H. Beyond opportunism: key principles for
systematic reserve selection. Trends in Ecol-
GROVES C, VALUTIS L, VOSICK D, NEELY B, ogy and Evolution. v. 8, p. 124-128, 1993.
WHEATON K,TOUVAL J, RUNNELS B. Desig-
ning a Geography of Hope: A. Practitioner’s Han- PRESSEY, R.L., JOHNSON, I.R., WILSON, P.D.
dbook for Ecoregional Conservation Planning. Shades of irreplaceability: towards a.easure of
Arlington (VA): The Nature Conservancy. 2000. contribuition of sites to a reservation goal. Bio-
(20 January 2002; www.conservonline.org) diversity and Conservation. v.  3, 242-262p.
1994.
Noss R.F., O’Connell M. A. , Murphy D.D. The
Science of Conservation Planning: habitat Con- REDFORD, 1997 apud JUSTUS, J. and SARKAR,
servation under the Endangered Species Act. S. 2002. “The Principle of Complementarity in
Washington (DC). Island Press. 1997. the Design of Reserve Networks to Conserve
Biodiversity: A Preliminary History. Journal of
Noss, R. F. A regional landscape approach to Biosciences 27(52): 421 -435p. 2002.
maintain diversity. BioScience. V.33, 700±706p.
1983.

Potrebbero piacerti anche