Sei sulla pagina 1di 12

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/228333123

A Escola de Frankfurt: teoria crítica social

Conference Paper · February 2009

CITATION READS

1 4,492

1 author:

Júlia Tomás
University of Minho
12 PUBLICATIONS   7 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Social Invisibility in the Contemporary Society View project

All content following this page was uploaded by Júlia Tomás on 26 May 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Volume II
Ciências sociais, tecnologia e comunicação:
Trabalho e organizações

Manuel Carlos Silva et al. (orgs)


Centro de Investigação em Ciências Sociais (ed)
Instituto de Ciências Sociais
Universidade do Minho
Ciências Sociais, tecnologia e comunicação:

Trabalho e organizações
Índice
Ciências Sociais, teorias e metodologias ................................................................................................................................. 1 
Qualidade de vida e risco na teoria social latino-americana: algumas considerações sobre o caso brasileiro ....................... 1 
A pesquisa participativa enquanto método de estudo e intervenção não-invasiva na agricultura familiar ............................ 7 
Comunicação e cooperação lusófonas: um caso.................................................................................................................. 17 
Metodologias emancipatórias e empoderamento: a experiência do Projeto Quilombolas de Minas Gerais – Brasil .......... 20 
Patrimônio Cultural da Saúde na Bahia: 150 Anos de História ........................................................................................... 27 
Música à vontade: o You tube, o desejo e a experiência social na escuta on line ............................................................... 35 
O velho no novo: os novos instrumentos tecnológicos e a violência simbólica entre estabelecidos e outsiders ................. 39 
A epistemologia feminista nas ciências econômicas: limites e possibilidades .................................................................... 45 
Os percalços para a consecução de uma teoria social do meio ambiente ............................................................................ 52 
O uso (e abuso) de conceitos das ciências naturais pelas ciências sociais. .......................................................................... 57 
Etnografia: a educação do olhar e seus usos na pesquisa educacional ................................................................................ 61 
Universidade, Pesquisa e Racionalidades das Ciências Sociais: Elementos para uma Reflexão Sociológica do
Caso Angolano .................................................................................................................................................................... 69 
Pesquisa, colaboração e docência online: uma tessitura por meios pedagógicos/ comunicacionais .................................... 76 
Memórias de Infância e Violência Escolar. Estudo Biográfico em Contexto Prisional....................................................... 86 
Sobre a sociogênese da sociedade e do indivíduo como questões: Um ensaio sobre a crítica à dicotomia
sociedade/indivíduo ............................................................................................................................................................ 90 
A Escola de Francforte: teoria crítica social...................................................................................................................... 103 
Experiência estética como experiência formadora ............................................................................................................ 108 
A cultura das disciplinas: a organização do conhecimento nas universidades brasileiras ................................................. 116 
Repensar o tema da barbarie a partir da pessoa e do diálogo ............................................................................................ 133 
Pobreza e a preservação dos direitos da juventude brasileira: aparatos legais e sócio-políticos........................................ 142 
Modelo Integrativo de Explicação do Sentimento de Insegurança .................................................................................... 148 
Antropologia e História: modos de relação ....................................................................................................................... 155 
As Regras do Método Sociológico:A Contribuição Crucial de Durkheim Para a Fundação de uma “Ciência da
Moral” .............................................................................................................................................................................. 161 
Ciência, tecnologia e comunicação ...................................................................................................................................... 172 
Realidade, ficção e participação: o caso das nanotecnologias ........................................................................................... 172 
A Nanotecnologia na representação do futuro: breve análise sobre a representação da nanotecnologia na imprensa ....... 180 
Ciência e tecnologia e inovação – uma análise da política de financiamento da pesquisa no Brasil ................................. 191 
Ciência, Tecnologia e Risco no Parlamento Português ..................................................................................................... 199 
Empreendedorismo científico – Paradigmas e realidades ................................................................................................. 208 
A presença feminina na imprensa regional: o caso do Correio do Minho e do Diário do Minho ...................................... 210 
As representações sociais de género nas notícias televisivas. ........................................................................................... 222 
Afinidades e Diferenças: a Comunicação e a Convivência com as Desigualdades ........................................................... 227 
Género e Tecnologias da informação e comunicação - O estado da arte política na união europeia em Portugal............. 232 
Ambientes sociais em rede ................................................................................................................................................ 242 
Um olhar para Aveiro a partir da mídia digital ................................................................................................................. 254 
Janelas Videográficas - as imagens e as megametrópoles contemporâneas ...................................................................... 260 
Conflitos de significação e alternativas de comunicação: notas sobre a experiência da radiofonia comunitária no
Brasil ................................................................................................................................................................................. 263 
TV Educativa e regulação: peculiaridades das emissoras catarinenses ............................................................................. 272 
Dilemas e impasses da inclusão digital ............................................................................................................................. 278 
Os recursos audiovisuais no método Paulo Freire: o computador como ferramenta cognitiva para alfabetizar ................ 284 
TV digital e educação: promovendo uma aprendizagem alfabetizadora, o caso TV mímica. ........................................... 290 
A utilização do computador como recurso audiovisual e interativo no método Paulo Freire de alfabetização ................. 296 
Trabalho, profissões e organizações.................................................................................................................................... 300 
Saberes profissionais e escola ........................................................................................................................................... 300 
O Modelo de Competências: entre o pragmatismo e o tecnismo....................................................................................... 306 
Cultura Profissional: a construção de um objecto interdisciplinar a partir de um estudo sobre a clínica veterinária ....... 318 
Reconstrução de identidades profissionais em contexto de mudança institucional: uma contribuição
psicossociológica .............................................................................................................................................................. 325 
A incubadora tecnológica de cooperativas populares (ITCP/FURB) - consolidando a economia solidária em
Blumenau e região ............................................................................................................................................................ 332 
Feira livre: organização, trabalho e sociabilidade. ............................................................................................................ 340 
Propostas e significados do ensino do empreendedorismo: Explorando tendências recentes do mercado de
trabalho e da formação profissional .................................................................................................................................. 347 
Trabalho imaterial, controle afectivo e desigualdade ........................................................................................................ 359 
Um modelo de análise de relações luso-africanas em contextos organizacionais moçambicanos – contributos para
uma reflexão ..................................................................................................................................................................... 369 
Maior dominação e uma nova configuração de poder na escola ....................................................................................... 381 
Formas e Importância Económica e Social da Aprendizagem Organizacional ................................................................. 394 
Os Direitos Humanos e o Trabalho na Perspectiva da Economia Solidária no Brasil ....................................................... 407 
Das fontes de satisfação no trabalho à satisfação organizacional ...................................................................................... 416 
Precarização do trabalho docente nas universidades públicas federais brasileiras ............................................................ 431 
Diversidade étnica e os negros nas organizações: um estudo em Betim ........................................................................... 439 
Reestruturação das telecomunicações no Brasil, trabalho e a constituição de competências industriosa .......................... 451 
A relação trabalho e educação no contexto empresarial .................................................................................................... 462 
O desemprego e as políticas de enprego e renda do governo federal no período recente: uma análise da gestão
Fernando Henique Cardodo .............................................................................................................................................. 469 
Trabalho, contrabando e clandestinidade: as transformações das práticas sociais na fronteira do Brasil com o
Paraguai ............................................................................................................................................................................ 478 
Indiscernibilidade do trabalho e acumulação capitalista: o estudo de caso de 700 mil revendedoras de cosméticos ........ 485 
Trabalho e nova precariedade salarial no Brasil da década de 2000 ................................................................................. 497 
Os mecanismos e processos de adaptação às mudanças ambientais como meio de sobrevivência e crescimento das
organizações: Um estudo de caso em Angola ................................................................................................................... 510 
Percepção sobre a Gestão de RH dos trabalhadores de supermercados de Belém, Pará, Brasil ........................................ 518 
Artes, trabalho e precarização: músicos da OSTP e atores do Grupo de Teatro Cuíra ...................................................... 528 
Organizações e Trabalho: Uma nova visão do Empreendedorismo Social ....................................................................... 532 
Frutos em rede: estrutura e dinâmica da Pêra Rocha do Oeste .......................................................................................... 543 
A divisão sexual do trabalho: um estudo das teleoperadoras no Brasil ............................................................................. 553 
Formação e desenvolvimento de recursos humanos numa rede de empresas .................................................................... 559 
Competências, Formação, Mudança, Competição: Conflito ou Complemento? ............................................................... 574 
Considerações sobre a responsabilidade social das empresas em contextos de desigualdade e exclusão ......................... 580 
Apreciações sobre o conservadorismo no Serviço Social ................................................................................................. 586 
O Orientador Educacional na Política Nacional de Educação – Um Estudo de Caso na Rede Municipal de Ensino
de Pelotas – RS/ Brasil ...................................................................................................................................................... 589 
Trabalho e profissão: Notas sobre o perfil do Serviço Social no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ........... 599 
A advocacia como profissão no Brasil imperial ................................................................................................................ 612 
Cotejos e análises sobre o protagonismo profissional e a qualidade em saúde no setor público ....................................... 625 
Níveis de emprego na Zona Franca de Manaus: tendências e desafios contemporâneos .................................................. 633 
Os assistentes sociais o saber que mobilizam e a construção da autonomia nos processos de interacção social. .............. 640 
A Reforma da Carreira Docente: Uma Análise da Conflitualidade Sindical e Profissional .............................................. 652 
Juventude, Educação e Trabalho: debates contemporâneos no Brasil ............................................................................... 669 
Inserção do Jovem no mercado de trabalho pernambucano: Programa "Emprego Jovem" ............................................... 673 
População em Idade Activa, Trabalho e Qualificações ..................................................................................................... 684 
Ações e Saberes mobilizados por professores da educação profissional técnica ............................................................... 701 
A Área de Recursos HUMANOS E Sua Ligação com Sistemas de Suporte de Apoio à Decisão: Caminhos para o
Futuro ................................................................................................................................................................................ 707 
O movimento de inclusão nas organizações: relações entre educação e inclusão no trabalho .......................................... 717 
Conexão entre Desenvolvimento Regional e Empreendimentos Populares ...................................................................... 731 
A Democracia dialógica: uma análise das iniciativas de economia solidária no Brasil..................................................... 739 
Trabalho e Mulheres: Organização e estratégias de geração de renda .............................................................................. 750 
Cooperativismo: Uma alternativa organizacional do trabalho........................................................................................... 760 
Relações de Trabalho no Mundo Globalizado .................................................................................................................. 764 
As Novas Configurações da Informalidade e da Precarização: o caso dos trabalhadores de moto-táxi em Campina
Grande – PB ...................................................................................................................................................................... 768 
Modalidades de Inserção Profissional, Espaços de Atuação e Percepções do Jornalismo no Brasil ................................. 778 
Apreciações sobre o conservadorismo no serviço social ................................................................................................... 790 
As tradicionais técnicas de construção naval artesanal maranhense e o conceito de bem cultural imaterial ..................... 793 
Intersecções entre capital e trabalho: a industria do calçado de Franca (Brasil)................................................................ 805 
Rolo compressor e água da fonte: jovens, reprodução e técnicas de subjetivação capitalísticas contemporâneas ............ 813 
Incubadora de economia solidária e potencialização do desenvolvimento sustentável e da autonomia das
experiências de geração de trabalho e renda em São Borja e na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul........................... 817 
As funcionárias terceirizadas da Universidade de Brasília e seus filhos no trabalho: conseqüências da falta de
escolas públicas de tempo integral. ................................................................................................................................... 827 
O bom-senso como competência política dos profissionais de recursos humanos ............................................................ 830 
Educação, formação para o trabalho e hegemonia ............................................................................................................ 835 
Gestão da Formação e Estratégicas Empresariais no Sector de Componentes para Automóvel ....................................... 844 
Trabalho e Sociabilidade na Construção Civil .................................................................................................................. 857 
Condições de trabalho e Acidentes Laborais em Portugal. Entre regulação e competitividade económica ...................... 860 
Plano Simplificado da Previdência Social: é a solução para inclusão previdenciária brasileira? ...................................... 871 
Trabalho e trabalhadores no complexo agroindustrial canavieiro. .................................................................................... 876 
A violência visível e invisível dos acidentes de trabalho na polícia militar do Rio Grande do Sul/Brasil ........................ 885 
O trabalho do agente comunitário de saúde e a política de atenção básica em São Paulo/Brasil ...................................... 898 
Mudanças no trabalho e perspectivas para jovens portadores de necessidades especiais .................................................. 907 
Abandono aprendido: da investigação às propostas de acção ........................................................................................... 915 
Interfarce entre modernização e precariedade: trabalhadores rurais no semi-árido brasileiro ........................................... 928 
Estudo sobre o assédio moral nas relações de trabalho em agências bancárias na cidade de Astorga, no estado do
Paraná. .............................................................................................................................................................................. 939 
Da vida das ruas para a associação coletiva: confiança interpessoal e a necessidade da re-significação conceitual
na Economia Solidária ...................................................................................................................................................... 949 
Um estudo luso brasileiro acerca das estratégias de disciplinarização nos espaços sociais das Feiras do Norte de
Portugal e do Nordeste do Brasil....................................................................................................................................... 961 
Identidade e trabalho na economia solidária ..................................................................................................................... 967 
A contribuição da politica/programa de economia solidária para a viabilidade das experiências de geração de
renda ................................................................................................................................................................................. 971 
A Escola de Francforte: teoria crítica social

Júlia Tomás
Université Paul Valéry, Montpellier 3
sa.pinto.tomas@gmail.com

Resumo: Discute-se hoje a obsolescência do conceito de sociedade, ora defendendo-se argumentos para sua manutenção, ora para sua
supressão. O que nos sugere este debate? De um lado, ele indica, como propõe Strathern, que o conceito de sociedade está em vias de
exaustão e que não é mais capaz de organizar o mundo. De outro, pode sugerir que o potencial heurístico do conceito continua vivo e o
esforço em provar sua pertinência ou inoperância atesta que a questão que ele implica se mantém atual. Sem tomar partido, propõe-se
analisar o próprio debate, retomando o contexto histórico em que o sentido sociológico do conceito de sociedade é forjado, e empreender
uma tentativa de construção da gênese social da sociedade como questão, isto é, da sociedade como um problema a ser investigado. Feito
isso, pretende-se indagar se as perguntas que foram levantadas naquele momento foram respondidas ou nos encontramos apanhados pelos
mesmos dilemas, ainda prementes de soluções. Inspirando nas análises de Elias sobre a sociogênese dos conceitos, pretende-se também,
considerando os deslocamentos de sentido que o conceito de sociedade sofre ao longo da sua consolidação, impactado pelas mudanças das
figurações sociais que ele descreve, fazer um esforço de contextualizar o debate sobre sua obsolescência na configuração contemporânea. Por
último, indaga-se como a problematização do conceito de sociedade sugere uma problematização do conceito de indivíduo, mostrando que
seu surgimento está ligado ao nascimento da episteme moderna e sua divisão sujeito/objeto. Nesse tópico, discute-se as críticas a esse
modelo espistemológico feitas por Castro e Latour.

Este artigo apresenta a génese do movimento intelectual conhecido em geral por “Escola de Frankfurt”. Se bem que
o Institut für Sozialforschung ainda exista e tenha como director o admirável sociólogo Axel Honneth, o verdadeiro
movimento em si perdeu alguma influência. O presente estudo tem por objectivo relembrar que as grandes teorias do passado
fazem parte do nosso património intelectual. A escolha da delimitação temporal é voluntária. Primeiro, porque uma
reconstrução completa do movimento daria origem a um livro. Segundo, porque foi esta primeira geração que elaborou todas
as bases da teoria crítica. A ameaça existencial directamente ligada ao anti-semitismo da Alemanha fascista dos anos trinta
foi a condição de possibilidade de uma inteligência crítica.
“Quando veio o tempo da morte administrada na Europa para milhares de infelizes que não compreendiam nada
(Max Weber receava apenas o mundo administrado, como Adorno o dirá mais tarde), sobreviveram por acaso, por privilégio
ou por eleição, alguns homens aos quais foi delegado, no lugar de todos os outros reduzidos ao silêncio das cinzas, a tarefa –
e a coragem – de pensar o porquê desse impensável.”1
A nova crise económica é um factor importante para o desenvolvimento da teoria crítica contemporânea. São os
momentos de crise que conduzem o homem a evoluir para poder ultrapassar os momentos históricos particularmente difíceis.

Uma breve introdução histórica


As circunstâncias históricas são uma condição sine qua non da fecundidade intelectual da Escola de Frankfurt e do
seu espírito crítico. Os trabalhos dos membros da Escola só seriam amplamente reconhecidos mais tarde, nos anos cinquenta,
e só ficariam famosos nas duas décadas seguintes. No entanto, para compreender a profundidade da teoria crítica (como ela
própria o defende) é necessário mergulhar nos anos obscuros da subida ao poder do nazismo, para reconhecer a importância
histórica de uma geração extraordinária.
A Escola de Frankfurt nasceu em Fevereiro de 1923 sob o seu nome oficial Institut für Sozialforschung (Instituto de
Pesquisa Social). Esta fundação foi criada depois de terem sido organizadas algumas reuniões e conferências sobre o
marxismo pelos jovens intelectuais de Frankfurt. É necessário ter em conta que, nas décadas entre as duas guerras mundiais,
os intelectuais alemães sofriam uma desorientação política total, e precisavam sobretudo de uma reorientação teórica2. A
história alemã durante estes anos divide-se em três momentos importantes. Primeiro, o revés da revolução socialista de 1919-
1920 que deu origem à República de Weimar sob o controle do partido social-democrata. Esta revolução mostrou que o
futuro não estava nas mãos do proletariado, para além de se ter passado a uma violência sangrenta na qual todos os
revolucionários e muitos membros da oposição de esquerda foram assassinados. O segundo momento histórico, que não se
passou na Alemanha mas teve repercussões importantes neste país, foi a vitória da revolução russa e a consequente
instauração de uma burocracia assustadora. E, finalmente, o terceiro momento, a ascensão do fascismo. É fácil imaginar a
instabilidade social dessa época em crise.

A emergência da Escola está implicada num movimento histórico no qual o marxismo é o motor e a inspiração. Os
membros observam um drama do qual eles fazem parte integrante. As primeiras preocupações do Instituto são a união da

1
Giard, L. (1978) Le moment politique de la pensée. Esprit, 5, p. 45.
2
Spurk, J. (2001) Critique de la raison sociale. L’école de Frankfort et sa théorie de la société. Paris: Éditions Syllepse, p. 13.

103
filosofia e da análise social, um método dialéctico e as possibilidades de transformação da ordem social pela praxis3. Na
realidade social alemã depois da Primeira Guerra Mundial, o capitalismo estava a dar origem aos monopólios industriais, o
Estado intervinha cada vez mais na vida económica e, pior ainda, o proletariado estava a ser integrado. Consequentemente, o
Instituto, e a teoria crítica que propõe, demonstra já nessa altura alguns dos seus traços notáveis como a importância do
individualismo, o pessimismo, a vontade de ultrapassar as contradições sociais pela praxis, o marxismo filosófico (e não
dogmático) e o interesse da psicologia individual para a compreensão da História.
Max Horkheimer (1885-1973), Theodor Adorno (1903-1969), Herbert Marcuse (1898-1978), Walter Benjamin
(1892-1940), Erich Fromm (1900-1980) e Friedrich Pollock (1894-1970) fazem parte do círculo mais íntimo de intelectuais
importantes ligados ao Instituto. Todos são judeus, filhos de famílias burguesas (comerciantes e médicos), o que explica o
interesse deste grupo pela decadência da burguesia liberal, pelo anti-semitismo e pela revolução. Os membros do Instituto
seguiam os acontecimentos históricos e sociais de perto e a discriminação crescente contra os judeus fez com que
Horkheimer (director do Instituto desde 1931) mudasse as finanças do Instituto para a Holanda. Com a ideia permanente de
um possível exílio foi criado um anexo em Genebra. Efectivamente, menos de um mês depois da subida ao poder de Hitler,
em Janeiro de 1933, o Instituto foi fechado por “tendências hostis ao Estado”. Todas as obras da biblioteca foram confiscadas
e Horkheimer é oficialmente banido da Universidade de Frankfurt. Nesta altura, já todos os membros estão em Genebra e o
Instituto muda o nome alemão para o título francês de Société Internationale de Recherches Sociales, com departamentos em
Paris e em Londres.
A situação de opressão étnica foi vivida intensamente e o Instituto tentou sempre ajudar os intelectuais a sair da
Alemanha obtendo vistos, mantendo contactos com a associação de exílio e oferecendo bolsas. Em 1934 o medo do fascismo
chega à Suíça e o centro administrativo do Instituto exila-se em Nova York. Todos conseguiram escapar para os Estados
Unidos graças aos fundos do Instituto. Todos menos Walter Benjamin. Partindo demasiado tarde de Paris, acabou por ser
apanhado na fronteira franco-espanhola onde se suicidou sob a ameaça de ser entregue à Gestapo. As cartas de Benjamin
revelam miséria, medo e profundo reconhecimento por aqueles que tudo fizeram para o tirar da Europa. Karl August
Wittfogel (1896-1988), um membro do Instituto, especialista da China para o Komintern e militante activo contra o nazismo,
foi internado num campo de concentração em 1933. Liberto graças a uma campanha de apoio internacional, o historiador
chegou aos Estados Unidos em 1934.
A imagem e o sentimento de pertencer a um grupo “unido pelos objectivos e pelos destinos”4 engloba a história da
Escola de Frankfurt. A solidariedade evidente e a identidade colectiva são sentidas profundamente. Uma revista, Zeitschrift
für Sozialforschung, que era publicada em Frankfurt até ser proibida pelo regime nazi, continuou a sua existência em Paris
até à Segunda Guerra Mundial. Esta revista foi a única possibilidade para os membros do Instituto de serem lidos durante o
exílio.
O nazismo é para Horkheimer e Adorno – a teoria crítica foi estabelecida quase exclusivamente por estes dois
filósofos – a negação radical de uma sociedade melhor: desumanização, estigmatização das diferenças, reificação da vida
pela exterminação. A ironia do destino é que apesar do passado revolucionário e marxista, o Instituto consegue instalar-se na
capital do capitalismo liberal. Se o fascismo marcou a primeira fase da teoria crítica, o capitalismo americano marcou a
segunda. Aliás, para Horkheimer e Adorno são duas experiências negativas da razão. Em ambos os países, os intelectuais
observam uma sociedade de massa onde a dominação se transmite na socialização, o que os leva a desenvolver o conceito de
“indústria cultural”5, na qual a cultura se transforma em ideologia e se reduz à distracção das massas.
“...Os cartazes e néons publicitários transformaram-se em monumentos. O que eles dizem é irrisório. Dirigem-se aos
transeuntes como se estes fossem adultos idiotas, crianças ou animais, num vocabulário infantil e enganador.”6

O Institut für Sozialforschung só voltará a Frankfurt em 1950. Os anos cinquenta marcam a restauração da
Alemanha num ambiente apático. Desde a submissão ao totalitarismo fascista, os alemães viram a atomização do movimento
trabalhador, a exterminação dos judeus e dos oponentes, a shoah7, o fim da guerra pelos Aliados e não pelo próprio povo
alemão, a “culpabilidade do povo alemão” declarada pelo tribunal de Nuremberga e, finalmente, uma reconstrução
económica relativamente rápida e eficaz. Neste ambiente foi possível pensar a possibilidade de superação. Esta época marcou
a institucionalização da sociologia como um curso superior em si, com um diploma oficial. Adorno e os seus colegas
contribuíram intensamente para o desenvolvimento da sociologia crítica alemã como crítica da sociedade. A teoria crítica
chega à sua maturidade com A dialéctica do esclarecimento (1944) de Adorno e Horkheimer, Minima moralia (1951) de
Theodor Adorno e Teoria tradicional e teoria crítica (1970) de Max Horkheimer.

Teoria crítica : a dialéctica materialista

3
Praxis: a relação dialéctica que a teoria social tem de ter com a prática.
4
Jay, M. (1977) L’imagination dialectique. Histoire de l’école de Francfort (1923-1950). Paris: Payot, p. 48.
5
Horkheimer, M. & Adorno, T. (1983) La production industrielle de biens culturels. La Dialectique de la raison. Traduzido do alemão para o francês por Éliane
Kaufholz. Paris: Gallimard, (pp. 129-176).
6
Horkheimer, M. (1978) Pourquoi le fascisme? Esprit, 5, p. 64. Texto original publicado em 1939 na Zeitschrift für Sozialforschung.
7
Shoah : a “solução final ao problema judeu” de Adolf Hitler, o holocausto.

104
O Instituto assumiu desde os seus primeiros passos uma posição crítica baseada no marxismo e na psicanálise. Esta
união pode parecer à primeira vista incompatível. É porém necessário ter em conta que o marxismo da Escola de Frankfurt é
um método e uma filosofia social e não um dogma. Aliás, esta união é uma prova suplementar da vontade de ultrapassar a
ortodoxia marxista. O marxismo oferece em primeiro lugar uma análise económico-social do mundo ocidental, ou seja, pode
servir de grelha de inteligibilidade do social. Em segundo lugar, o valor científico incontestável do materialismo histórico
permite o desenvolvimento da ideia de consciência colectiva. A psicanálise vai precisamente ajudar a compreender o presente
com as experiências do passado.
Horkheimer propõe uma teoria materialista da sociedade baseada no tema da dominação da natureza pelo homem.
O verdadeiro materialismo é dialéctico porque implica um processo interactivo entre o sujeito e o objecto. O homem, como
uma parte da natureza, tem tendência a querer ver além do visível, a explorar infinitamente. Este é o ponto de partida da
razão. Todavia é também fonte de “des-razão”, ou seja, onde há um desvio da razão. O terceiro elemento da dialéctica entre a
natureza e o homem é o sujeito cujo objectivo único é a sua própria conservação. Todavia, “a história dos esforços do homem
para dominar a natureza é igualmente a história da servidão do homem pelo homem”8. O combate entre a razão e a natureza
marca toda a história da humanidade. Porém, a razão desenvolveu-se para ser implacavelmente racional. O desvio total da
razão é evidente nos actos de dominação organizada e na servidão voluntária generalizada9.
O conceito de Aufklärung10 é central para a teoria crítica. Na tradição filósofa alemã, o pensamento humano
iluminou-se no Século das Luzes, e o homem, ao libertar-se do mundo da magia, penetrou enfim na Época moderna. A
Aufklärung, ou iluminação-esclarecimento, propôs destruir os mitos e trazer à imaginação o apoio do saber. A compreensão
triunfa sobre a superstição. A razão é, nestes termos, a radicalização do terror mítico da morte e do tempo. Ora saber é poder.
Poder sobre a natureza, poder sobre o homem. Todavia, segundo Adorno e Horkheimer, os mitos, vítimas da Aufklärung,
foram eles próprios produzidos pela razão e pela vontade de dominar a natureza. A vontade de medir o incomensurável acaba
por objectivar a natureza numa simples classificação antropomórfica. O mundo homérico, no fundo, é um dos primeiros
esforços ocidentais para organizar a natureza a fim de a poder subjugar.
Nota-se assim, na dialéctica da razão, uma repetição mimética, na qual as leis que supostamente libertam o
indivíduo o aprisionam progressivamente. A “matematização” do mundo conduziu à sua reificação, “onde a alma se
transformou numa coisa”11. O progresso leva à auto-destruição da razão. Para Horkheimer e Adorno a seguinte asserção é
um facto de evidência: o mito é já razão e a razão transforma-se em mito12. A razão transforma-se assim num instrumento de
dominação. Esta é a “razão instrumental”13, a qual formula a teoria tradicional.
O paralismo com o pensamento de Max Weber é imediato. Com efeito, o fundador da sociologia alemã influenciou
esta teoria de uma forma directa. Para ele também, a racionalização levou ao desencantamento do mundo. Um mundo
desmistificado. A racionalização da autoridade é uma tese desenvolvida no seu livro Economia e Sociedade (publicado em
alemão desde 1921). Para ele, a autoridade legítima divide-se em três tipos: carismática, tradicional e racional-legal. A
sociedade ocidental experimenta o último tipo de dominação, o qual é aplicado através de um sistema administrativo
burocrático calculado, impessoal e eficaz14. Esta racionalidade burocrática é um problema para a Escola de Frankfurt porque
está reduzida ao seu aspecto puramente instrumental. A Escola vai defender um “racionalismo concreto” que revela um laço
entre a racionalidade em relação ao objectivo e a racionalidade em relação aos valores, e este laço é somente possível na
lógica socialista15. Portanto, a lógica weberiana que defende que o capitalismo é a forma mais desenvolvida da racionalidade
socioeconómica é rejeitada. Horkheimer e os seus colegas vêm o capitalismo como uma economia não planificada e, por isso,
irracional.
A diferença entre a teoria tradicional e a teoria crítica é explícita num dos textos fundadores de Max Horkheimer
em 193716. A primeira é o reflexo directo do positivismo. O positivismo é considerado pela maior parte dos membros do
Instituto num sentido largo e nunca claramente definido. Para eles, a tradição empirista está presente no pensamento desde a
época da filosofia moderna. Esta tendência pode resumir-se, sob a luz crítica, como a formalização cartesiana dos processos
de lógica, ou seja, como um trabalho de construção matemática. A pesquisa sociológica tradicional desenrola-se segundo esta
lógica: a primeira etapa é a observação dos fenómenos; a segunda etapa é a comparação aprofundada; e finalmente a
constituição de conceitos gerais. A teoria tradicional tem uma função social positiva, querendo isto dizer que permite julgar a
realidade dada através de um sistema conceptual e lógico transmitido pela tradição.
A teoria crítica recusa precisamente todo este tipo de fetichismo do saber. Como Horkheimer explica, os homens
são uma resultante da história, a maneira de agir do indivíduo tem de ser inserida na época que lhe é contemporânea. A forma
de pensar é definitivamente marcada pelo carácter histórico-social. Os laços sociais são constituídos e não “naturais” como os
indivíduos o podem pensar. Para mudar a tradição é necessário não só a praxis, como também rupturas irreparáveis. A teoria
8
Horkheimer, M. (2004) The revolt of nature. Eclypse of reason. Londres: Continuum International Publishing Group, (pp. 63-86). Texto original publicado em
1947.
9
A ideia de “servidão voluntária” vem de La Boétie (1576) Discours de la servitude volontaire.
10
Horkheimer, M. & Adorno, T. (1983) Le concept d’ “Aufklärung”. La dialectique de la raison. Op. cit. (pp. 21-128). Este termo foi traduzido em português por
“esclarecimento”, ou seja o “progresso do pensamento” (p.21).
11
Ibid., p.44.
12
Ibib., p.18.
13
Ibib., p.52.
14
Weber, M. (1995) Économie et société. Volume 1. Paris: Plon, pp. 285-390.
15
Jay, L’imagination dialectique. Histoire de l’école de Francfort (1923-1950). Op. cit. p. 47.
16
Horkheimer, M. (1974) Théorie traditionnelle et théorie critique. Paris: Gallimard. Artigo original de 1937.

105
crítica quer ultrapassar o pensar tradicional propondo desta forma uma nova Aufklärung. “Ultrapassar” é a palavra-chave da
atitude crítica. Compreender e ultrapassar as contradições sociais (como por exemplo, liberdade individual/mundo colectivo;
autonomia/heteronomia) numa orientação negativa (contra todos os dogmas positivistas). A teoria crítica não trabalha com
definições mas com noções, porque uma definição não tem contradição. Ora a realidade é contraditória.
Seguindo esta lógica, a sociologia crítica propõe o método seguinte17:
Perceber o fenómeno observado na sua época;
Reconstruir o discurso científico e o discurso do bom senso ligados ao fenómeno analisado;
Esclarecer a ideologia escondida no fenómeno porque é a ideologia que ilustra a união entre a sociedade e os
actores.

Os trabalhos sobre a autoridade


Nos seus primeiros tempos, a Sozialforschung era compreendida como sociologia económica, o que entra
perfeitamente na sua situação histórica. Relembremos que na Alemanha, com Marx e Weber, bem com em França, com
Durkheim, a sociologia científica era um projecto conseguido mas ainda jovem. No momento da constituição da Alemanha
social-democrata, o marxismo era visto como o modelo privilegiado das ciências sociais. O Instituto oferecia por isso uma
metodologia empírica que se dedicava sobretudo a reunir toda a documentação nacional e internacional sobre o movimento
dos trabalhadores. Sob a direcção de Horkheimer (1931-1958) aparece uma nova concepção epistemológica: a filosofia
social. No seu discurso inaugural, o novo director propõe um tema de trabalho sobre a mentalidade social dos trabalhadores
qualificados e dos empregados na Alemanha, sob a República de Weimar. Este é o primeiro esforço para aplicar a teoria
crítica a um problema concreto permitindo assim uma verificação empírica.
Para apreender esta questão, o Instituto propõe num primeiro momento, a exploração de estatísticas e de relatórios
das organizações atinentes. Em seguida, a literatura sócio-psicológica sobre a questão é examinada. Num terceiro tempo é
elaborado um questionário. Mais de três mil questionários são distribuídos. Baseado numa tipologia freudiana modificada, as
questões resumiam-se em quatro temas principais: a educação das crianças, a racionalização da indústria, as possibilidades de
se evitar uma nova guerra e o lugar do verdadeiro poder no Estado.
Os resultados deste inquérito são claros mas revelam-se uma desilusão para a esquerda intelectual e política.
Segundo as análises dos questionários, existem cada vez mais dominados e cada vez menos dominantes. A miséria material e
a pauperização cultural dos dominados é evidente. No entanto, estes querem parecer-se como os dominantes, que admiram e
veneram. Na realidade, é a classe burguesa que lhes serve de ideal. A classe operária adapta-se rapidamente ao capitalismo, o
que faz do movimento revolucionário de trabalhadores uma utopia total. Pior ainda, a notável ambivalência da maioria
poderia abrir a porta à extrema direita. Note-se também que os métodos de análise de inquéritos ainda não estavam
suficientemente desenvolvidos. Todos os questionários foram preenchidos e em seguida quantificados à mão. Os membros do
Instituto renderam-se à evidência que a pesquisa empírica não é suficientemente eficaz para satisfazer a ambição da teoria
crítica.
O segundo trabalho da Escola de Frankfurt foi feito no exílio, sobretudo em Paris, e tem como objecto sócio-crítico
a Autoridade. Para Max Horkheimer, este fenómeno designa “a atitude, consciente ou inconsciente, de se integrar ou de se
submeter, a faculdade de aprovar a situação presente, em pensamento ou em acção, de viver dependente de ordens impostas e
de vontades estrangeiras”18.
No momento desta pesquisa, a Escola de Frankfurt sofria profundamente os efeitos da crise social que queria
precisamente analisar. Podemos assim dizer que a história se encarregou de actualizar o problema crítico da legitimação da
dominação. No exílio, o ponto de partida deste trabalho não foi a análise de um acontecimento, mas a observação de um
processo de totalização social. Este trabalho foi divido em três partes, como o primeiro, mas numa ordem diferente. Primeiro,
foi construída uma base teórica por Horkheimer (filosofia), Fromm (psicologia social) e Marcuse (política da história
intelectual). Em seguida foi constituída uma tipologia psicológica ternária (autoritário – revolucionário – ambivalente) e um
questionário. A terceira parte inclui várias monografias.
As conclusões vêm reforçar os resultados do primeiro trabalho. A maioria sempre foi explorada por uma minoria e
não é a violência imediata que permite a instauração da ordem, mas sim a sua passiva aceitação pelos próprios homens. Para
Horkheimer, é evidente que o sujeito é determinado pelas relações de dominação que caracterizam a sociedade de uma certa
época. A obediência e a submissão sempre tiveram um lugar central na educação da criança. A educação autoritária faz parte
da socialização. Segundo o sociólogo: “Os indivíduos não emitem um juízo pessoal a cada instante. Pelo contrário,
submetem-se em geral a um pensamento superior, para cujo nascimento puderam aliás contribuir.”19
Na dimensão sócio-psicológica, Fromm quer compreender o comportamento motivado pelo inconsciente baseado
na relação entre o efeito da infra-estrutura sócioeconómica com as pulsões psíquicas fundamentais. A importância do Pai
como figura de autoridade põe em evidência uma ética repressiva. O psicanalista explica como o indivíduo absorve esta

17
Spurk, J. (2001) Critique de la raison sociale. L’école de Frankfort et sa théorie de la société. Op. cit. p. 21.
18
Assoun, P.-L. (1987) L’École de Francfort. Paris: PUF, p. 52.
19
Horkheimer, M. (1974) Autorité et famille. Théorie traditionnelle et théorie critique. Op. cit. p. 256. Artigo original de 1936.

106
posição de dominação conduzindo à vontade de evasão em direcção às autoridades colectivas. A autoridade individual (na
educação parental), ao tornar-se colectiva, transforma-se numa negação da autonomia.20
Marcuse conclui, no que respeita a autoridade política, que para que exista uma democracia (que ele e Horkheimer
vêem como a polis grega sem a escravatura), a sociedade tem de ser racionalmente organizada. Existe por isso um tipo de
autoridade legítima: a autoridade da razão. No entanto, a autoridade política que domina o homem moderno parece cada vez
mais irracional.21
Estes primeiros trabalhos são relativamente primitivos do ponto de vista metodológico. No entanto, do ponto de
vista das interrogações os inquéritos são inventivos. Mais importante, estes trabalhos servirão de inspiração para os trabalhos
críticos posteriores. Depois da eliminação da esperança revolucionária, Horkheimer e Adorno assumem uma posição
verdadeiramente pessimista, a qual toma a forma de uma concepção desiludida da história insistindo sobre o preço que a
humanidade tem de pagar em nome do progresso. A teoria crítica é inseparável da crise de identidade do indivíduo e dos
valores culturais que provêm do liberalismo.

Conclusão
Dois comentários devem ser feitos. O primeiro é que a metodologia utilizada foi suficientemente codificada para
poder servir de modelo para outras pesquisas. É, aliás, por esta razão que se começou a fazer referência à “Escola de
Frankfurt”. O segundo comentário diz respeito ao facto de que a Escola foi muito bem acolhida pela Escola Sociológica
Francesa, o que deu origem à formação de uma sociologia crítica europeia. Isto põe em evidência um aspecto particularmente
interessante na história da humanidade: a cooperação intelectual entre duas nações em guerra.
A pertinência contemporânea da teoria crítica reside na sua atitude crítica com o propósito de transformar, ou de
tornar possível uma metamorfose social. O paradigma marxista continua a ser um “esquema de inteligibilidade”22 do mundo
social porque efectivamente continuamos a viver numa cultura industrial que promove um pensar colectivo unidimensional
orientado para o mercado e para o valor de compra. A teoria crítica, baseada na contradição dialéctica, estabelece uma
relação entre a negatividade e a não-identidade, abrindo assim uma nova porta de estudos possíveis sobre o Outro, o não-eu.
A força histórica das palavras obrigam a uma crítica imanente à linguagem. Sem dúvida, seguindo a lógica crítica, o
sociólogo pode esclarecer as ideias sobre um fenómeno social sem cair na armadilha da reificação.

NB. Os termos e citações são traduzidos pela autora.

Bibliografia
Assoun, P.-L. (1987) L’École de Francfort. Paris: PUF.
Berthelot, J.-M. (1990) L’Intelligence du social. Le pluralisme explicatif en sociologie. Paris: Presses Universitaires de
France.
Fromm, E. (1963) La Peur de la liberté. Paris: Buchet-Chastel.
Giard, L. (1978) Le moment politique de la pensée. Esprit, 5, pp. 44-57.
Horkheimer, M. (1974) Théorie traditionnelle et théorie critique. Paris: Gallimard.
Horkheimer, M. (1978) Pourquoi le fascisme? Esprit, 5, pp. 62-78.
Horkheimer, M. & Adorno, T. (1983) La Dialectique de la raison. Paris: Gallimard.
Horkheimer, M. (2004) Eclypse of reason. Londres: Continuum International Publishing Group.
Jay, M. (1977) L’imagination dialectique. Histoire de l’école de Francfort (1923-1950). Paris: Payot.
La Boétie E. (1995) Discours de la servitude volontaire. Paris: Éditions Mille et Une Nuits.
Marcuse, H. (1970) Culture et société. Paris: Éditions de Minuit.
Spurk, J. (2001) Critique de la raison sociale. L’école de Frankfort et sa théorie de la société. Paris: Éditions Syllepse.
Weber, M. (1995) Économie et société. Volume 1. Paris: Plon.

20
Fromm, E. (1963) Peur de la liberté. Paris: Buchet-Chastel, p. 174.
21
Marcuse, H. (1970) Culture et société. Paris: Éditions de Minuit, p. 39.
22
Berthelot, J.-M. (1990) L’Intelligence du social. Le pluralisme explicatif en sociologie. Paris: Presses Universitaires de France.

107
4 a 7 de Fevereiro de 2009
Universidade do Minho | Campus de Gualtar | Braga
www.xconglab.ics.uminho.pt

ISBN: 978-989-96335-0-6
View publication stats

Potrebbero piacerti anche