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A RECIPROCIDADE DO DESINTERESSE:

resenha
uma antropologia da edição no BrasiL

Franklin Lopes Silva

SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São
Paulo: Edusp / ComArte, 2010. 486 p.

Utilizando-se de um conjunto de fon- nacional. Tais dimensões são investigadas a


tes primárias (cartas, documentos editoriais, partir da recomposição histórica das dispu-
anuários etc., e outros mais recentes, como tas travadas em torno das competências le-
entrevistas) produzidas por uma série de ins- gítimas e consagradoras do papel de porta-
tituições e esferas sociais e descrevendo o -vozes desta “cultura”. Em lugar das epígra-
emaranhado de relações personalizadas em fes consagradas e auto-evidentes sobre a no-
que se insere a destacada figura do editor Jo- ção de cultura nacional, Sorá focaliza as re-
sé Olympio, Gustavo Sorá realiza um traba- des de relações sociais para deslindar as mo-
lho etnográfico minucioso e analisa os con- dalidades de produção e ressignificação das
dicionantes sociais que serviram de esteio à lógicas de reciprocidade internas às dinâmi-
constituição e profissionalização do merca- cas operadas entre escritores, livreiros e edi-
do editorial no Brasil, localizando sua gêne- tores, submetidas aos condicionamentos es-
se entre os anos de 1920 e culminando seus truturais mais amplos produzidos no campo
primeiros indícios de autonomização entre do poder. Ao passo que observa os agentes
as décadas de 1940 e 1950, demonstrando em carne e osso, escapando-se assim à ma-
as razões de seu desenvolvimento e a impor- gia dos dons, opera, em contrapartida, um
tância que passaria a exercer como espaço efeito desencantador sobre a percepção dos
de produção e consagração de uma cultura êxitos daqueles representantes.

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A partir da operacionalização da no- e seus respectivos espaços de comercializa-
ção de campo, que demarca a predominân- ção, surgimento dos distribuidores, da fun-
cia da influência teórica de Pierre Bourdieu, dação de sociedades representativas, dentre
Sorá devolve às práticas dos agentes as ra- outras modalidades de organização que, ar-
zões das posições que ocuparam e nos per- ticuladas, originaram o campo editorial no
mite visualizar as configurações que dão Brasil, sempre demonstradas de forma sin-
contornos e efeito simbólico às incipientes crônica e diacrônica em referência à traje-
realizações editoriais no Brasil, destacando tória de José Olympio e a importância de
a trajetória de José Olympio como um caso sua “Casa”, enfatizando, neste processo, a
exemplar para demonstração da relevância “diferenciação congênita das figuras do in-
das interações interindividuais em torno das telectual e do editor” (p. 114).
redes de relações e contatos que os agen- No primeiro capítulo, “Formação de um
tes estabelecem entre si e os vínculos afe- Livreiro na Época do Salão”, Sorá recom-
tivos e mediações que se consolidam atra- põe as origens familiares de José Olympio,
vés deste encadeamento. Desta feita, insere- objetivando desde apadrinhamentos a pre-
-se este trabalho em um âmbito mais amplo bendas, como estratégias típicas à época en-
de contribuições vigentes acerca da consti- tre famílias sem recursos ou em declínio so-
tuição de espaços sociais sob dinâmicas hí- cial e processo de reconversão de heranças
bridas de funcionamento, o que implica em – a exemplo de Monteiro Lobato (p. 52) –, o
graus elevados de heteronomia em suas for- que possibilitou sua transição da interiorana
mas de produção, circulação e apropriação Batatais para a Casa Garraux, “polo francês,
de bens simbólicos, submetidos à maior in- ou de máxima distinção social e cultural” (p.
tervenção dos critérios externos na estru- 40), microcosmo social e “local mais cobi-
turação de seus mercados, principalmente çado para adquirir as ferramentas indispen-
com respeito às imbricações com o domí- sáveis ao trânsito pelas esferas da alta so-
nio político e, em geral, pendentes à criação ciedade e convívios culturais”, enraizada na
de vínculos pessoalizados em seus proces- capital paulista. Recompõe desta forma um
sos de institucionalização. duplo processo, de inserção deste agente na
Composto de sete capítulos, inicialmen- estrutura de relações constituintes do mi-
te o livro resgata os processos de defini- crocosmo restrito de sociabilidades das eli-
ção das condições de atuação dos editores tes paulistanas e de aquisição das condições
e escritores brasileiros em um campo edi- de internalização de um conjunto de dispo-
torial embrionário, mescladas até 1930 aos sições que modelariam sua singular atuação
ofícios de livreiros e impressores, buscan- como editor. Demonstra-nos ainda como os
do compreender como tais atributos foram capitais acumulados por José Olympio nas
processados socialmente, resultantes, por- relações políticas e literárias, matrimoniais e
tanto, das disputas em torno da legitimida- em sua iniciação comercial “orientaram su-
de desta modalidade de atuação. À medida as relações em sentidos múltiplos, gerando
em que avançam os capítulos, segue-se a sempre um sistema de práticas específicas
análise dos processos de especialização das que beneficiariam suas pretensões empresa-
tarefas editoriais, através da progressiva di- riais e as pretensões culturais de seus auto-
ferenciação das condições específicas de res” (p. 229). Esta forma de agregação de co-
profissionalizações dos livreiros e editores nhecimentos, habitual entre as trajetórias de

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editores vindos de “baixo”, trouxe também a cas [...] e políticas” (p. 152). Em decorrên-
José Olympio relacionamentos com indiví- cia, afirmam-se os critérios de seleção lite-
duos destacados politicamente, acesso às co- rária em nome do genuinamente nacional e
munidades e rodas de intelectuais que fun- realista, ajustando-se às transformações es-
cionavam como “unidades de um sistema de truturais mais amplas relativamente prisma-
produção e circulação cultural” (p. 98). Va- das pelo campo editorial brasileiro em gesta-
lendo-se do capital de relações acumulado ção, cujas lógicas de concorrências internas
nestes espaços de investimentos materiais e se modificavam. As coleções “brasilianas”
simbólicos, constantemente atualizado sob surgem neste contexto como coleções que
práticas de reciprocidade “desinteressadas”, expressavam as disputas em torno da repre-
torna-se a própria Casa José Olympio um sentatividade da cultura nacional impressa.
dos mais importantes entre aqueles espaços Cada um, ao seu modo, tentava adaptar-se
de sociabilidade, salões onde se “fazia o no- às impressões que tinha das tendências edi-
me” e se podia contemplar a aura das diver- toriais em jogo, plasmadas pelas transfor-
sificadas “brasilianas”, lugares constituintes mações políticas vigentes. Assim o fizeram
do que Sorá, emprestando-se à terminologia José Olympio (p. 368); a Companhia Edito-
de Habermas, denominaria por “esfera pú- ra Nacional – que a exemplo do que já reali-
blica literária” (p.63). zava Francisco Alves, se volta em 1930 para
Os processos de definição de mercados as coleções pedagógicas e didáticas (p. 161)
entre editoras concorrentes e a ampliação –; a Livraria do Globo, dentre outros. Mes-
de um público leitor são as dimensões ana- mo os grupos de editores norte-americanos
lisadas no segundo capítulo, “Fazer o No- e europeus, como a Jackson Company e Ha-
me. Um Editor para Romances bem Brasi- chette (p.388), partilharam desse filão edito-
leiros”. Aqui se demonstra a importância da rial publicando suas “brasilianas”, acompa-
crítica literária como parâmetro seletivo de nhando a expansão do sistema escolar uni-
uma realidade nacional através da produ- versitário e dirigindo-se às novas camadas
ção literária, impondo um novo vocabulário de leitores emergentes. Fundam-se editoras
e referenciais no “sistema de produção, edi- “genuinamente nacionais”, complexifica-se
ção, propaganda, circulação e apreensão de a divisão e especialização das etapas de pro-
ideias escritas” (p. 110). Afirmavam-se como dução e comercialização do livro, acentuan-
“juízes do gosto” através da fundação ou di- do-se um processo de hierarquização entre
reção de revistas especializadas, monopoli- gêneros e unificação estilística (capas, cole-
zando, a partir destas instâncias, sistemas de ções etc.), o que se demonstra pela observa-
auto-referência e legitimação simbólica das ção dos “catálogos como campos de tensões
apreciações literárias representantes de uma e disputas” (p. 180) e de “aquisição de crédi-
cultura nacional, interpondo-se estilistica- tos simbólicos” (p. 310). Estes catálogos são
mente e sancionando critérios de conver- tomados metodologicamente por Sorá co-
gência conceitual. mo “sistema de indícios” (p. 270) que apon-
No terceiro capítulo, “Coleções e consa- tam para as apostas e estratégias classifica-
gração de autores”, são investigados os efei- doras das obras realizadas entre editores. Es-
tos das alterações no mercado editorial ope- critores, livreiros e editores, envolvidos nes-
radas nas relações de força no campo do po- te processo, entre eles José Olympio, posi-
der, “resultantes de crises macroeconômi- cionam-se segundo as regras desta nova or-

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dem no mundo do livro no Brasil. Amplian- te, a meio caminho entre os espaços político
do sua rede de editados, baseando-se, prin- e literário. No entanto, na Casa José Olym-
cipalmente, na mútua retribuição de dons, pio impunha-se uma dinâmica que colocava
num jogo em que “a consagração das obras em suspenso qualquer das regras destes do-
desses autores fundia-se cada vez mais com mínios, inclusive quanto ao mercado. Típica
a consagração da editora, e vice-versa” (p. “dominação patriarcal” (p. 263), naquela Ca-
421), o que lhe possibilitou destacado acú- sa prevaleciam as lógicas da personalização,
mulo de capital de reconhecimento. “os negócios editoriais eram tratados indi-
A relação de complementaridade e afini- vidualmente, no escritório de José Olympio”
dades eletivas entre editor e editados é o cer- (p. 248), em seu entorno “girava uma cons-
ne das discussões apresentadas em “A Arte telação de formas de classificação, formas
da Amizade”, quarto capítulo. Outra dimen- de descrição e prescrição [...] e um conjun-
são discutida diz respeito aos impactos pro- to de práticas de interação” (p. 265). Assim,
vocados pelo acirramento da repressão var- o grau de proximidade a José Olympio fun-
guista às atividades editoriais durante a dé- cionava como um termômetro da relevân-
cada de 1930, censura esta que também ope- cia dos autores nas negociações simbólicas
rou um efeito paradoxal de consagração en- em torno da multiplicidade de funções espe-
tre os intelectuais da época, selecionando os cializadas que passariam a exercer: produ-
mecenatos protegidos pelo Estado: oportuni- ção, seleção dos títulos, traduções etc. Todos
dade a mais para o cultivo desinteressado de agindo para o reforço contínuo destes laços
reciprocidades por José Olympio via prote- pessoalizados.
ção política de seus editados, principalmente O quinto capítulo, “Literatura Nacional
entre os romancistas do Nordeste, que passa- / Literatura Estrangeira”, dá continuidade
vam “à condição de expoentes máximos da à relevância do cultivo ritualístico daque-
cultura genuinamente brasileira de sua épo- les laços e demonstra a correlação estrutu-
ca” (p. 432). Por estas vias, pretende o autor ral entre “a consagração do editor como um
investigar “as condições materiais e afetivas dos representantes máximos do renascimen-
que geraram e reforçaram a reunião e a di- to público da brasilidade” e a “consagra-
ferenciação dos autores no seio da Livraria e ção dos escritores do seu catálogo” (p. 269),
da Editora José Olympio” (p. 213), seus efei- a partir da análise das representações conti-
tos imediatos e simbólicos sobre a produção, das nas publicações da Editora José Olym-
circulação e apropriação das ideias via lite- pio entre 1936 e 1940, sob a forma de ca-
ratura, objetivando tais efeitos como consti- tálogos, anuários, revistas, coleções etc. co-
tuintes de um “sistema de mitos” (p. 219) e mo um sistema de indícios estruturais e re-
constituição de uma “unidade estilística” (p. gistros de tomadas de posição em relação às
291) da literatura brasileira, de teor realista e demais editoras e agentes à época em dis-
a encargo do editor. A pertinência do cruza- puta. Construindo este espaço dos possíveis,
mento entre tais dimensões (produção, cir- Sorá nos permite compreender, de um pon-
culação e apropriação das ideias), com base to de vista relacional, dois elementos funda-
nos princípios metodológicos aplicados por mentais na elaboração de sua pesquisa, um
Roger Chartier em suas pesquisas acerca da quanto às possibilidades de “objetivação da
história da edição francesa se demonstra pe- variedade de editoras daquele tempo”, outro
la função mediadora exercida por este agen- sobre as condições de integração das “for-

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mas de classificação (suas distribuições, hie- priações e circulação dos livros, que ensaia-
rarquias e conexões) com a ação dos agentes va sua extensão a todo o território nacional
que a realizavam” (p. 270). através da expansão dos círculos universitá-
Amparando-se nas constatações de Ser- rios e da multiplicação de intercâmbios edi-
gio Miceli sobre o influxo da experiência toriais regionais cujas instâncias de coorde-
imigrante na constituição do modernismo nação de interesses comuns já se encontra-
no Brasil, demonstra também as interdepen- vam em processos de institucionalização
dências estruturais de diferenciação e con- iniciados.
sagração – paradoxal – das epígrafes nacio- A complexificação e institucionalização
nal / estrangeiro entre as editoras. Expõe os das funções e escalas de intercâmbios en-
mecanismos como tais reconhecimentos se tre diferentes regiões do território nacional,
operavam fundamentalmente a partir dos bem como a expansão das fronteiras geográ-
diferentes graus de aproximação e distan- ficas e simbólicas constituintes de uma “ten-
ciamento com grupos que transitavam pe- são estrutural” (p. 336) nesta nova fase da
lo poder, posteriormente cristalizados em as- produção editorial no Brasil são as dimen-
sociações com suas regiões de origem: “Rio- sões investigadas no sexto capítulo, “Estado,
-Estado, São Paulo-mercado, Porto Ale- Empresários Culturais e o Livro como Insti-
gre-estrangeiro” (p. 361). No caso de José tuição”. Sorá empresta a conclusão de Char-
Olympio, predominou a força do seu capital tier de que “toda a evolução do mundo do li-
de relações e reconhecimento cultural en- vro está associada à expansão e à diversifi-
tre destacados representantes políticos, “fa- cação das comunidades de leitores” (p. 329),
zendo valer as apreciações sobre sua pessoa e a partir de suas investigações, sem incor-
como um dos iluminados responsáveis pelo rer em homologias, constata que no Brasil e
descobrimento da cultura do país” (p. 288). na América Latina os súbitos crescimentos
Em contrapartida, “a catalogação [nos ABL] dos mercados editoriais associam-se às su-
como editora ‘estrangeira’ acrescentava uma as fragilidades institucionais, manifestando-
barreira política a seu reconhecimento na- -se sob dois fatores imbricados e em propor-
cional” (p. 311), tal como ocorre à Casa do ções inversas: diversificação das comunida-
Globo, a despeito de seus investimentos des de leitores e decréscimo na importação
massivos na publicação de autores nacionais de livros. Outrossim, não é fortuito que en-
levados a cabo por Erico Veríssimo. Aponta tre os efeitos do “milagroso” crescimento na
ainda a importância do reverso complemen- produção e comercialização editorial desta-
tar deste processo, demonstrando a presença que-se a criação de órgãos como o Instituto
de agentes literários brasileiros intérpretes e Nacional do Livro (INL), anunciando o pro-
articuladores de um mercado internacionali- tagonismo do Estado como “agente de in-
zado sobre a produção editorial no país, im- tervenção e expansão dos interesses públi-
pondo-se, no entanto, o genuinamente na- cos sobre a produção, a circulação e a lei-
cional como referência de prestígio e “nor- tura de livros” (p. 327). Outra inovação fo-
ma cultural nativa” (p. 317) no reconheci- ra a criação do Anuário Brasileiro de Litera-
mento de um selo editorial. Todo este pro- tura (ABL) no final da década de 1930, mar-
cesso indica também uma nova caracterís- co do processo de profissionalização e força
tica em ascensão nas dinâmicas editoriais: a dos editores e “primeira forma de expressão
diversificação dos tipos de leitores, de apro- sistemática e durável dos editores como ca-

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tegoria coletiva” (p. 343). Estes passavam a toriais e suas respectivas regiões, além de
atuar como um conjunto de agentes em dis- deslindar as novas estratégias e desloca-
puta por um tipo particular de reconheci- mentos em voga nas lutas de concorrências
mento simbólico, dados os acirramentos das editoriais. Neste contexto destaca-se a Edi-
concorrências inter-regionais, e incumbidos tora José Olympio por lograr êxito na cris-
da função de porta-vozes de seus nichos de talização de representações nacionais, atra-
produção intelectual. Foram criados também vés dos usos estratégicos dos “mecanis-
outros instrumentos de orientação mercado- mos de mecenato” (p. 359) e suas retribui-
lógica como as produções estatísticas, a fun- ções, praticados durante o Estado Novo. A
dação de entidades de classe e órgãos gover- constante complexificação das variáveis de
namentais como o Serviço de Cooperação concorrência entre os agentes pode ser per-
Internacional (apêndice do Ministério das cebida no desenvolvimento da organização
Relações Exteriores), exposições internacio- de representações setoriais e na diversifica-
nais, bienais etc. Em seu conjunto, tais insti- ção das formas de aquisição dos livros.
tuições, ao passo que “legitimam as manei- Os investimentos editoriais diferencia-
ras de dirimir e objetivar a hierarquia de for- dos entre gêneros, formatos e disciplinas
ças dos agentes” (p. 409), compondo os seus especializadas manifestam-se como efei-
quadros dirigentes, demonstram também os to dos padrões de reconhecimento distintos
rearranjos estruturais e novas injunções cor- produzidos sobre editores e leitores. Redefi-
relatas entre o Estado nacional e os interes- ne-se, portanto, o papel das livrarias como
ses privados da crescente comunidade ima- espaços de sociabilidade e cada uma passa
ginada de editores, funcionando com instru- a “expor indícios sobre o aparecimento de
mentos de “institucionalização de uma or- um novo ethos social e cultural” (p. 370),
dem de textos” (p. 355). Toda a expansão do fosse tipificando o valor conferido à rari-
mercado editorial deste período se passa co- dade do dom literário e o acesso restrito aos
mo resultado das clivagens entre as ingerên- códigos necessários à sua apropriação eliti-
cias do Estado e os interesses privados dedi- zada – “a Garraux já não se sustentava co-
cados a “medir, controlar, definir o universo mo um teatro onde as elites ensaiavam seus
de ‘todos os livros do Brasil’” (p. 341). Con- papéis e magnificavam suas hierarquias”
figuram-se os Anuários como um espaço de (p. 430) –; ou, por seu oposto, propalando
atuação privilegiado para se observar “o es- a dessacralização da literatura, correlacio-
tado de uma disputa pela legitimidade das nando posições de classe e estilos de consu-
mensagens de autoridade” (p. 348) em tor- mo dos livros.
no da cultura nacional, reforçando também Todo o esforço demonstrativo do autor
as oposições público / privado como relação retorna à trajetória de José Olympio como
central dos princípios de visão e divisão do caso exemplar para a demonstração dos re-
mundo do livro. cursos valorizados em relação às transfor-
Em seu derradeiro capítulo, “Diversifi- mações no conjunto de condicionantes so-
cação e Profissionalização do Campo Edi- ciais e estratégias em jogo no decorrer das
torial nos Anos de 1940”, Sorá demons- etapas constituintes do mercado editorial
tra os condicionantes sociais que levaram brasileiro, pondo em evidência a transição
ao processo de desvencilhamento, anterior- dos agentes pelos círculos de sociabilidade
mente referendado, entre as marcas edi- e seus correspondentes espaços de atuação.

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Organizando analiticamente o espaço de
concorrência editorial entre os polos cultural
e econômico – prevalecendo o último nesta
nova configuração –, Sorá investiga as di-
ferentes estratégias de seus representantes,
considerando também os condicionantes es-
truturais que incidem sobre a modificação
de seus esquemas de percepção, manifestos
nas variações de suas tomadas de posição.
Como efeito destas tensões e transfor-
mações estruturais, passavam as “brasilia-
nas” de artefatos distintivos a “pesado las-
tro que não rendia em prestígio cultural da
mesma forma que na década de 1930” (p.
420). Contudo, findou por consolidar José
Olympio como “a marca que formou o câ-
none de uma cultura escrita autenticamen-
te brasileira” (p. 11).

Nota sobre o autor

Franklin Lopes Silva é mestrando em História


Social pela Universidade Federal do Maranhão
- UFMA

Recebido em: 22.04.12


Aprovado em: 04.05.12

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