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"Deixe a Natureza lidar com a matéria, que é dela, como ela quiser;
vamos ser alegres e corajosos diante de tudo, refletindo que não é
nada nosso que perece." Sêneca.
I. Introdução
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Agostinho, “Graça e Livre Escolha”; Resposta aos Pelagianos
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Note-se essas questões ainda que sejam profundas em si mesmas, afetam
várias outras problemáticas do ser; por exemplo as querelas acerca da moral –
se não temos autonomia sobre nossas decisões, em outras palavras, se estas
decisões já tivessem sido previstas, como se conceberia o erro? Ou o pecado? O
bem e o mau?
É com a tentativa de compatibilizá-las com a doutrina cristã e sobretudo
com os ensinamentos filosóficos e teológicos que Santo Agostinho cria um
marco na história humana, na qual sua empreitada visa esclarecer as subtilezas
da alma humana escalando desde a ideia da verdade, da sapiência da verdade,
da vontade da alma, do bem e do mau, do livre-arbítrio, de Deus e suas
características; realizando-os através de diálogos com diferentes personalidades
e justificando-as pela sua concepção católica.
2
Contra Acadêmicos, III, 20, 43: “Impacientemente estou buscando não só crer, mas também
compreender com a inteligência o que seja verdade”.
3
Contra academicos.,II,9,23 :“Não sei como introduziram na minha alma a probabilidade de que o
homem não pode achar a verdade, que me fiz preguiçoso e completamente indolente, não me atrevendo
a buscar o que varões argutíssimos e doutíssimos não lograram descobrir”.
2
Segundo Agostinho, as verdades inatas acessíveis aos sentidos (tanto em
partes menores como em partes maiores) exigiriam uma busca incessante pelos
homens, e esta busca seria realizada pelas ferramentas oferecidas por Deus: o
intelecto e a vontade. Segue-se, portanto, que um ser divino perfeito e eterno
não poderia ser concebido sem que nele houvesse qualquer manifestação que
não tivesse esses princípios norteadores, outrossim, perceber Deus como autor
de todas as coisas (tanto menores como maiores), não poderia dotar suas
criações de elementos contraditórios à sua natureza, isto é, uma vontade ou
intelecto dissonantes da aspiração divina.
A abordagem de Agostinho à "livre escolha da vontade" pressupõe que
"não há como negar que temos uma vontade". Em vez disso, Agostinho define
"boa vontade" como "uma vontade pela qual procuramos viver uma vida boa e
reta e alcançar a perfeita sabedoria" que, é claro, assume que é livre.
É assim que surge a problemática do “livre-arbítrio”, dada sua
possibilidade de existência perante uma vontade individual que pode (ou não)
se manifestar contra as faculdades divinas. Às vezes chamado de livre escolha ou
livre decisão (liberum arbitrium), o livre arbítrio é uma habilidade que
caracteriza o homem na atividade voluntária de escolher ou não escolher um
bem limitado quando isso lhe é apresentado.
Para Agostinho não havia uma separação completa entre o intelecto, a
vontade e as emoções do homem. Essas faculdades estariam intimamente
relacionadas entre si, tanto que tornam as ações sempre determinadas de dentro
por essas faculdades. Em outras palavras, quando o homem age, sua vontade é
determinada pelo eu, ou seja, por todas as faculdades do homem. A vontade não
é autodeterminada, não é autônoma, mas está sempre relacionada e motivada
pelo coração do homem.
Acerca deste assunto, surge o dilema no mal; seu ponto central da ideia
do mal era a noção do ser como indivíduo dotado de vontade. Para Agostinho,
qualquer coisa que existisse era boa, Deus como base de todas as coisas era
perfeitamente bom, junto com tudo o que ele criou - uma propriedade que vinha
em graus variados. Agostinho estava agora preparado para responder à questão
principal: “Onde está o mal, então, de onde e como o arrastou para cá? Qual é a
sua raiz e qual é a sua semente? Ou não existe?”4 A qual Agostinho respondeu:
4
Agostinho, Confissões , VII: [V] 7
3
“O mal não tem natureza positiva; mas a perda do bem recebeu o nome de
mal”5.
Por esta razão, o impasse sobre a natureza do “livre-arbítrio” perpassa
sobretudo pela ontologia do mal e a possibilidade humana de escolher realizá-
lo, Robert M. Cooper ressalta que "o problema do mal para Santo Agostinho se
resolve no problema da vontade" 6. Por um lado, o homem nasce bom, com boa
vontade, porém, com o decorrer dos eventos humanos o indivíduo acaba
escolhendo não praticá-lo, ou pratica-o de forma débil; dentre as coisas
pequenas e grandes criadas por Deus todas seriam igualmente boas, ou
tencionadas ao bem, todavia, manifestando-se ora em grande escala ora em
pequena, ao que conhecemos como “mal” não seria um ente per se, mas como
um bem menor.
Agostinho enfatiza que existem dois sentidos de "livre" para "livre
arbítrio". Um, para Adão, antes da queda, é livre para escolher Deus ou bens
menores. O outro, para o homem caído, é livre porque um deseja (voluntas) de
bom grado. O homem mantém a faculdade autodeterminada do livre-arbítrio,
mas perde a liberdade de escolha do bem.
4
A solução de Agostinho para o dilema foi fazer uma distinção entre algo
que ocorre necessariamente com algo que ocorreria voluntariamente; enquanto
a necessidade segue da presciência de Deus, a liberdade segue do poder do
homem. Em outras palavras, Agostinho tenta manter o livre arbítrio
equiparando liberdade e vontade, pois Agostinho acreditava que os humanos
têm poder sobre sua vontade e, como o poder implica liberdade, nossa vontade
deve ser livre.
Ainda permanece a questão de saber se temos poder sobre nossa
vontade. Ao postular um experimento mental, Agostinho argumentou que a
vontade (por exemplo, vontade de pecar) deve cair sob o poder do homem,
justamente pela sua definição de poder, onde um homem não tem o poder de
executar algo se esse algo necessariamente ocorre apesar da falta de vontade do
homem em fazê-lo. Assim, Agostinho argumentou, se imaginarmos que a
vontade de pecar do homem não está em seu poder, os seres humanos cometem
pecados livremente, cedendo ao desejo de coisas temporais que o intelecto e a
vontade podem desconsiderar em favor das coisas eternas que os seres humanos
devem perseguir necessariamente.
Esta lógica agostiniana, segue o preceito que Deus sabe todas as
alternativas das escolhas humanas, mas dotou o indivíduo de poder de escolha,
isto é, todas as características naturais do homem: desejo, intelecto, vontade,
etc. para tomar suas decisões livres. A harmonia entre a presciência e o livre-
arbítrio estaria justamente no poder próprio em optar pelas condições do
mundo criado por Deus, como diz Agostinho:
“A esta conclusão: de facto, a não ser que eu esteja enganado, tu não obrigarás
de imediato a pecar aquele que conheces de antemão que haverá de pecar, e a
tua própria presciência não o obriga a pecar, embora indubitavelmente ele
venha a pecar. Com efeito, de outro modo não conhecerias de antemão isso
que virá a acontecer. Assim, tal como estas duas realidades não se opõem
entre si – o facto de, pela tua presciência, conheceres o que outro virá a fazer
com a sua vontade –, também Deus, não obrigando ninguém a pecar, conhece
de antemão os que hão de pecar por própria vontade”.
IV. Conclusão
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O presente trabalho trouxe um dos argumentos metafísicos mais antigos:
a questão de saber se o homem tem ou não o livre arbítrio ou se seu destino foi
pré-escrito em um livro celestial em algum lugar por um ser divino muito antes
de os seres humanos existirem. A humanidade tem livre arbítrio? Se tem, pode
ser penalizada por suas escolhas?
A síntese de Agostinho é uma espécie de corolário da doutrina da
graça. Como ele diz: "Entre a graça e a predestinação, existe apenas essa
diferença: a predestinação é a preparação para a graça, enquanto a graça é a
própria doação"7. Isto porque Agostinho introduz a idéia da predestinação
como sendo um pré-conhecimento, e não uma causa direta. Essa distinção é
crucial para muitos de seus outros argumentos e elimina a necessidade de
crença em noções fatalistas predominantes no tempo de Agostinho.
A predestinação em seus termos mais pessoais seria a doutrina na qual
significa que Deus tem um plano para cada um dos indivíduos, porém de
maneira aberta, com a possibilidade de aceitá-la. Isso significa que cada ser
humano que pretende seguir a vontade de Deus tem um destino pré-
estabelecido - aqui é onde a predestinação e o livre arbítrio se encontrarão: Deus
tem um plano, mas para o plano ser executado há de se cooperar com ele. O fato
de mantermos a liberdade diante de tal destino é uma diferença marcante entre
a cosmovisão cristã e a dos antigos romanos e gregos, que se resignaram
tristemente com o que viam como a inevitabilidade esmagadora de um destino
impessoal.
7
Sobre a predestinação dos santos, p. 507
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Bibliografia