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Traduç.>o
J E RUSA P I R ES FI:: RRE!RA
Perforinance,
e SUELY f E N E R IC H u
f

recepçao.,
leitura PAUL ZUMT H O R

COSACNAIFY
SUMÁRIO

PfVW.(CIO

03 palavra e do escrito

I. Y llR ~O R~tANCE1 REC EJ'ÇÃO, LlllTOR.A

Em tom o da idéia de performance ·27

Performancx: c recepção 4S
Performance e leitura 61
O empenho do oorpo 7S

11. A IMAGINAÇÃO CRÍ'I1 CA , ,

Notas "l
Bibliografia "7
fndice: OI\Ornástico
Sobre o autor
'"
"~
Nota da trad\ação "i
Ot\ PALAVRA E 00 ESCU. J'I'O •

PRIM EIR A QUI::STÃO:


o~pecto interdiscip}jl)cJr de sem trabalhos robrt (I ~·oz

A pesquisa que venho desen volvendo há uma dezena de anos e


de que a Introdução à potsla oral significou o primeiro resultado,
situa ·se de fato num cruzamento intçrdisdplinar. Eu o com-
p reendi desde o início e aceitei o ris<:o q ue isso comporta: o
de trabalhar em setores em <lue minha competê ncia é limitada
(com o a e m ologia), de segunda mão. Dediquei lxlstante tem po
para roe in.ici:ar em disciplinas c1ue muitas vezes m e enun estra-
i nhas, como, po1· exemplo, a acústica. É fato que a \'O:t é boje
t objeto de estudo para numerosas ciências, ainda dispersas: a
! medicina (pensem os nos trabalhos do Or. Tomatis), a psicaná -
lise (já há uma extensa bi~liografia sobre o terna), a mitologia
comparada (de m aneira amda muito parcial), a foN\r:ica (um
belo livro de Fonagy surgiu h~ alguns anos) e, indiretame nte,
mas com grande pe rtinência, a )ingüJstica, em muitos de seus um desvio da própria Hngua p3ra seu suporte vocal, tomando
desenvolvimentos pós estr utura1istas, a pragmática , a análise
4
este últ imo como realizador da linguagen'l e como fa to (hico 4

elo discurso, a teod a da enunciação. Foi, aliás, pela lingüística p sfquico p róprio, ultr apassando a fun~'ào lingüística.
que oomecei minha pesquisa . Acrescentc se, quanto ao semjo(ó-
4 Segundo desvio : depois de ter inventariado os dados ge-
gico, tudo que concerne às form~s de COJnuoicação inter-pessoal; rais do problema da vo:t e da palavra, concen trei minltas preo-
e nfim, a sociologia da.-s cultura.':l populares (em autores como cupações uas fo,·mas não estritamente informativas da palavra
Glnzburg ou Bu.rke) bem como a história das tradições orais. e da ação voçal, e interroguci-tne sobre a palav-ra e a voz "poê 4

Pode se notar que essas diversa.c; ciências não tiveram


4
tl<."3,.: sobre seus usos possuindo urna finalidade interna e uma
por o bjeto a própr ia voz, mac; a pab ...ra oral. Muitas vezes foi formalização adequada a essa finalidade.
preciso modificar ou ampliar a perspccth:a . O que muito me Essa estratégia coloca ern termos particulares a CJ'-'estão
ajudou nisto foj o fa to de que o interesse pela voz ultrapassa o mer.o dológica da análise e da sin tese. Gostar·ia. neste ponto,
domínjo científico: basta ver a grande quantidade de números de remeter a meu livro, Parler c/u Mopm Ãoe. Ele se dedica,
especiais em .-e,•istas (em particular na França e nos Estados deçerw, principal mente às pesquisas históricas: mas creio
Unidos) consagrados à voz, a par tir de 1980. Além disso, não poder daí extrapolar o pensament o principal. Mais do que
se ignora o mo,'imento que, desde o início do século xx, com · opor análise e síntese, c r udiç.ão e interpretação. tendo a pro-
pele os poetas ~ realizarem vocalmente sua poesia. Foram as po•· uma alte r nância do particular e do universal (ou peJo
dive.rsas Júrma.s de poesia sonora que, injcjalmente, levaram- menos do geral), roas com esta im po r tante reserva: a de q ue
me ao estudo "científico" ela voz. o ponto de v-ista inicial que faz deslanchar o processo de con·
Esta palavra (talvez abusiva), "dentílica". nos remete à firmação, e, se af couber, o de prova, é da Or<Jem da percepção
questão dá conslilulçilo de uma ciência g lobal da voz. Global : J poética e não da dedução. Esse é um p ont o capit al de impor·
f
de fato, a voz humana constitui e rn toda cultura um fenômeoo tância epistemológica.
central. Colocar-se, por assiln di?..er. no intedor desse fenôme-
no é ocupar neces.wiamente um ponto privilegiado , a partir SEGUNDA QUe:rrÃO :
do qual as perspecti ''as con templam a totalidade do que está como ciEjJJiria $tl(l5 pesqubas em relação aos eswdos litaários?
na base dessas culturas. na fon te da energia que as an.ima, irra 4

di ando todos os aspectos de sua realidade. Acabo de falar da necessidade de uma ultrapassagem (com
Poderíamos, é verdade, nos exprimir nos mesmos ter· toda pr udê r\cia) das disciplinas particulares, t e ndo e m vist.1
mos a propósito da línauo como tal. Intencionalmente, operei uma apreensão mais global do objeto. Da mesma perspec-
tiva, parece-rnc n ecessário q uebrar também o círculo vi- T_ERÇEJU.A QUES'fÀO:

cioso dos pontos de vista etnocêntricos, c, no caso da poesia, o oposição emu palavra oro/ e escrita comtJtui uma shnplts andtes.e
grafo~ntricos. retórica ou se rifere a d!fortmças irredudveis?
fo i a propósito da Idade Média q ue <e colocou para mim
a questão da ' 'ocalid3de. Os medievaUstas dos anos 196o c Parece-me, hoje, evidente c1ue a d icotomia o ral/ escrito, prOJX-S·
' 97o gostavam de polemizar sobre isto para sabe r se, e em ta por McLühan há quarenta anos, e, depois, de forma mais sutil
que medida, a poesia medieval tinha sido objeto das tradições por \V~Jtcr Ong>nos anos 1970 , não pode ser mantida rigorosa 4

orais. Era um ponto v31ido de informação, mas que e m nada mente como ta). No que conoerneà minha posição pessoa), vou
akançava o essencial, ist o é, o efeito e x.e.rd do pela oralidade làzer comentários de wna outra ordem , mas ambas se oonjugam,
sobre o próprio sentido e o alcance social dos textos que nos porque a primeira designa a base subjetiva da segunda.
são transmitidos pelos marluSCritos. Era preciso então se ooo· Eml>ora eu seja um homem da escrita )JQr profjssão (e em
centrar na natureza, no sentido P''Óprlo e nos e fê;ito.., da voz certa medld~1 sinto-me e quero-me um c.sçritor), sempre e.x ~
humana. indepen dentemente dos oon.d iciona_m cn tos culturais perimentei um interesse afetuoso, e, às vezes, uroa paixão pela
particulares .. . para voltar em seguida a eles e re-historiciza.r, vo~ humana, ou mais, pelos vozes, porque elas são por nature-la
re-espaciabz.ar, se assim posso d izer, as modaJidades diversas particulares e concretas. Na ooodusão do fneu Introdução à poesjo
de sua tnanifestação. oral deixei-me levar por wna espécie de confideocia sobre esse
Nessa tarefa de desalienação critica, o que tenho de e li- ponto, mas o livro inteiro, quase-sem que e u o tenha preten~
min ar logo é o prea.mceiw /lrerório. A noção d e "litera tura" é d ido, deixa~se explkar por sua$ últimas páginas, presentes nas
hist or icamente d emarcada, d e per tinência limitada no espaço entrelinhas desde o começo. Sem d úvida, o leitor aí percebe,
e rl O tempo: e la se refere à civilização européia, e n.tn: os sécu· subjacente, como a nostalgia de um caJor e de uma liberdade
los xvn o u xvm e hoje. Eu a distingo claramente da idéia de que são as de uma itlfància (quase) perdida , de wn a história
poe..sla, que é para mim a de uma arte da linguagem humana, in- (quase) passada.
d ependente de seus modos de concretização e fi.mdarnenlad:J Não sou absolutamente ingênuo quanto a esse seotimc.n-
nas estruturas antropológicas mais profundas. to, mas estou persuadido de q ue tais disposições interiores não
Foi d essa perspectiva que me coloque i o prol>lema da p~~<­ podem ser rechaçadas sem pr ejudicar ( contrariaroenre ao pre-
sio w>col (insisto no adjetivo) e afastei os pt·C~Sttpostos ligados à conceito positivista) o fu r'lcionamento da inteligência c rítica.
expressão, infeliuoente freqüe nte, "literatura oral". Professei sempre a o pinião de que, nas ciêndas hwnanas
(qualquer que seja o objeto de estudo) , a maior par te dos fatos

O)
~ .ttitua ao longo de uma bCala qui.! leva de um termo extremo to de signos todific.>dos da linguagem. t t ntlo possí•·e l (e ess;,
;, um out1·o. Por ''e7.CS, esses termos extremos têm apena:, uma opinião f amai~ comum) ver nos meios audit h os uma cspécií'
existência tcór ic.t, no entanto, Íln(>Orto defini· los bem c bra ele rev::mcl1c, de retorno fOrçado da vo?,, c ainda m ais do que a
mente. um ap6s o outro, porque é a única maneira de alertai' voz, pol'quc: t·om o filme ou t evê vê·sc uma imagem fotográfica
a~ pc.~~a!i sobre os fatos qur medeiam, tendo em <l.>nla ::,u;-. e, tahte?, ainda ern b reve. teoha ·se a pcrc('p~ão do volume.
espedfiddode. De todo modo, é daro que • m<'Ciioçõo eletrônica fixa a
Oito isto, nada mlis é estranho ~ meu temperamento •oz (e a inugem). Fazendo-os rcitcri•~h. ela os torna abstn·
e o minha prática do que o U'>O de opo<ições nitidamentr tO>, ou ""J'·
oboÜ11do seu caráter efi\mcro abole o que chamo
dcmarco.1das. su:a raaWJade. No entanto, se me ocorre fal.lr do retorno for·
i çaclo dJ vot., ente ndo por isso uma outr:t roi~a, que ultrapassa
QUARTA QLIPSTÃO: a trtnologia t:..los mOOia: (àço alusão a uma e!!opécic de resrur·
impacto dos meios sobre a voco/ldodt gência das cne•·gias \'ocais da humanidade, energia~ c1ue fora m
reprimidas durante séculos no d.iscunto socia.l da)) sociedades
0~ nl('ÍOIII eletrôniCOS, audiC i' ()fC r audiO\'i~uais são compar á\•CiS OOdcntais pelo curso hegemônico da e_,crita. Os signos dessa
o(>(.Ti ta J>O'" tTes de seus a.p..-.:tus: ressurgênci• (mdhor dizer in>urreiçõo?) e;.tlo em toda parte,
r . o~.bolem a presen~ de qutm tr.u. a '"Ol.; do de..;l~m dos jo•-ens pela leitura ate\ • proliferação do cançõo
1. mas também saem d o puro presente cronológico, por a part.i r d~ MlOS 19s:o, e m toda i Curo~ e América do Norte.
que a ''Ot que lT3Jl.Smitem ê reitcrlvel, indefinjdamente. de Tab fato~ m<: intet·essam mais pe las rcali<bdc.s pliCOssociol6gi·
modo idêntico; ca:i latCniC! que tie5 marufestam do que pu r >CU alcance atual.
3. pela scqliência de manipulaçõcR que os sistemas dr. rc A cUf'crcnça entre os dois aspectos da mcdiaç.1o (• voz se faz
gislro pe rmitem hoje, os medlo H·ndcm a apagar as refe1·ências ouvir ma~ /)(" tornou abstrata) é, sem dú,•ida, insuperável. Não
espaddb da voz viva: o espaço c;m que se desenrola a voz me· du••i<lo que o progresso tecnológico possa camulU -Ia, laozê-la ao
dlati7.Jda torna·se ou pode se tornM um espaço artificialmente mcno"i n3o tlo sensí"el. Mas em suil ba;;e ela c' ·id('ncia a dífercn·
coonpc»to. ça biológk• <ntre o homem e a máquin.1. l'odemos citar, • pro-
Por sui ,-cr:, esses ~~mos m«Jw di(crcm da eM:TÍl<l por pc\oito, a histórn exemplar do comput.dur, '"bstituto eletrônico
um traço capital: o que eles tnnsmltem é percebido pelo da c.scrirurn. mas que, em um dia bem pr(u..imo, v.U f.tlar (as pri·
ou,íclo (e C\'e ntualmente pela vi.sla), môlS não pode ser lJdo rneira, cxperiêndJS iâ começaram): a abstraçlo ...·ocal será tanto
propri3mcnle, isto é, decifrado ,.ü,ualrneute como um oonjun· rnainr que jj nlo se tratará de grava~io. ma~ de voz fabri<:ada.

.. 'i
O que pcrum de tudo is'IO em larga e>cala? Por princípio, A únic.a questão fundamental ~ por que: e como, isto é,
ctdOt\"0-rnC para cvit.tr o pessimismo; ma'!.,. trata sc de prospcc·
4
em rnz.:io d~ quili energias e gra\:as o quai.s meío~ a ..poesia"
Uva, ou seja, da leitura de uma his tória <JUe alnda não se passou: (no sentido amplo c radical pe lo qual wmo c~M: termo. que
mera cspocul.-ção! Parece-me ao meou~ poder dizer isto: de todo compn:~<'nde a nossa ..liter atura"') oon1ribui ptara cria1·, confir-
modo, aquilo que se perde com os fMd,a, c assim ncce~m·iinncn mar (ou rejcit~r?) o es1aruto do homem C"'mo tal .
e
te pcrtnmcoerá. a rorport.idaJt. o peso, o ator, o volume real Somente a partir de t.al posição de principio é que se pode
oo oorpo, oo quola voz é apenas expooW. Daí, a.quele ao quol tentar portlcularizar a aproximação. E..• p..·tJcularização se
o me.o oc dirige (c tah-cz naquele mesmo cuja ,..,. é as;rim traru· opera >Cgundo <luis eixos:
milldo), uma alienação porticubr. uma <kscncomação, do qual , . '"" rdath·o à modelização doo f•tos *'poéticos": por
de prQ\·~,·dmcntc SÓ se dá conl<.l de mand..ra muito confusa, mal) exemplo, à~ modalidades que constih1cm. •u cultura oci<lenuJ
C(U<" não pode deixar de inscrcVCY·SC no moonscicnt('. Podemos do século xx, o fato "literário";
nos perguntar a que cxplosõf'~ i'l10 oondul., desde sempre c j<l . 2. o o utro relativo às condições temporais e espaciais.
NcCC.:oSMTjamentc, po:u-ccc-mc, a voz viv<L tem necessidade- uma ü~~n dupla pa.rti<1.1larização constitui o c..O
' ndição de validade
O('CCS.'!idadc vitaJ - de n:vanc:hc, de "tomar i palavn". como se de t ôdt) discurso crítico. É graças a da c1ue toma fo rça uma
di?. Mas es..~ \OI.J'Iada, i.pe'\31' dt" ,·iolenta (c oomo seria ela, senão oons121açlo incontornãvel, a meu "CI': nio h.i literatura em si;
>Oba forrna do grito?), poderia n:allur·><: .00 o aspecto de wn n~m a "'litcr.atur~" n~ a <~~poesia• s3o e.ssênd~.
discurso 'QOCi~ (3(Ü ,-ez m~i~ J"K:úlaw, wn~ ~rolMh/e (no É somente por meio dessa apro~imoção, e para a.lém das
!IC!Tltido em que um etnólogo falou de "esqtliro-adturaj. cor-..~rUêoc:Us que: c:la comporta, c dos ~ult.xl05 aos quais ela
condut, que se pode praticar uma oon~ntr~ no próprio
QUINTA QUESTÃO: t<xto. Mo• talvc1, ao <lizer isto, eu cometa >em querer um erro
.wn on.:ntAiçiio (Hlrece :wbrewJo onuopolóoko ctnoc~ntTicol TaJve:t esse percurso só 'i"Cja possível no est\ldo
das t.·adiç"Ões poétk"s e literárias curopêióls. E não seria J e-rri-
Pal'«'ê-me um efeito nccc::g:sário svbretudo hoje, contando sório no imenso domin.io das poesias tradicionais tla África?
001n vinte anos de dissertaçõe~ ~brt uma Escrita hipostasiada Com efeito, na~ fo rmas poéticas l r.tJlSirutidas pela voz
a<lo1..r um ponto de 'isto antropológico, no Sélltido amplo e (ainda que ebs tenham sido previamcnt• romposus por es·
quase filosólioo que se d~ • <= pal.-rn em alemão. A bem di· aito),' .1utonomia rcl.1.thoa do tato, em rel.-.çlo 1 cbtr1. diminui
7-t-r, ne:m sequer remos a escoiN: tu;vt',..._ utna antropologia da muito; po<k:mos supor que, no extremo, o efeito textual desa-
~Ja, ra humana on nada, i.sto é, um jogo \'ão de inteJectuai.s. pareceria c <JUe tcxlo o lugar da obra se: inw!.stiria dos elemcn-

,, ,,
tos perforrnanciais, não textuais, como a pessoa e o jogo do I .
intérprete, o auditório. as circunstâ:ncias, o ambiente cultural PERfORMANCE, RECEPÇÃO, L-E ITURA
c, em profundidade, as re lações intersubjetivas, as relações
entre a repr".sentaçâo e o vi\•itlo. De todos os componentes
da obra, uma poética da esc:rita pode, em alguns casos, ser
mais ou menos econônücai uma poética da voz não o pode
jamais. É então intencionalmente que, a partir de aJguns an o.o;,
eu falo de poesia vocal em termos tais que 1>0de.d amos aplicá~
los 3 cscdta literária ou inversamente. Esto\1 particularmente
convencido de que a idéia de performance deveria ser ampla.
mente e..o:;tendida; ela dever h~ englobar o conjunto de fatos que
compreende, hoje e m dia, a palavra recepção, mas re laciono ~a
ao momento decísi\'O em q ue todos os eleme ntos CtistaÜZ.:"'m
em wna c para uma per<..-epçlo sensorial - um engajamento
do corpo. Ademais, parece-me que em uma ta_l direção com·
p romete-se a crítica 1 há betn pouco e muito confusamente. O
termo e a idCia de peiformance tendem (em todo caso, no uso
anglo -saxão) a cobr ir toda uma espécie de teatralidade: aí está
um sinlll. Toda "literatura" não é fundamentalmente teatro?

..
-

Na data em q ue estamos, tornou-se lugar-comum dos estu-


dos literários computar o leitor de wn texto entre os fatores
constitutivos deste. O pequeno livro de s.ln tese, recentemente
pubücado por S. Sante rrcs-Sarbny, ressalta bastante esse fato.'
As visadas teóricas, em sua diversidade, fazem sempre muito
desigualmente justiça à sua ex.isLêncit~ ooncre.ta. à espessura das
<.feterm.ioações particulares q ue lhe fundam a pe.rsonaüdadc.
O autor, sujeito produtor do texto, cai sob o fogo cruzado dos
Jli'Oje tores; o leitor, a qu em não se neh'3 a qualidade de sujeito
da recepção, 6ca na penumbra. A diferença não é a simples
conseqüência de uma disshnetria quantitativa: um autor o u ex-
cepcionalme nte muitos, mas sempre em número fechado; p lu-
ralidade im.previsível e virtualmente inhnita de leitores. Esse
fato pesa muitO na prática. Mas a disparidade dos tratamentos
que recebetn, por um lado o autor> e, por outro, o leitor, pro·
vêm ta1nbém dos pressupostos inscritos na própriíl história de
nossos estudos. Em gera] (e cu me poupo de r emontar ao di-
-
Mvio). o intcre~~e crf1 ico cxpcrimt ntado e m relação ao le-itor ideal , a partir dcb.SC pOSlul:.d o, Seria cont_lutir a rcnexlo e m
apa.rcoe inicialment e susdbdo J>C)a an~lisc ~miótica do ato uma dupla t rajetÓrio: a que nos k>Or'l> ao lugar nod>l, em que
de t'Omunicação, ou pda lroria dit• d. n:cepção. Na primei- o '1-iter.lrio• SI! articula na pcl'ocpçâo c: AqUtl.t e.m que se en-
ra des."as pers:pcctiv.u, Umberto &.:o publicou, em ' 979, seu contraria um homem particular, ftllO de carne e de ..angue.
~r infabula: f>7.ãldo a P~íi'C'C, em quem -e b.,....,u, uma
1
De qualquer modo, esso operação compor·t.>rla o perigo de
pequena violência, ele re\l")a,-a, n;) oposiçlo SJgo!ficoJo-1oca- nos conduzir ao indh•ktuo, por "ia dedutha, c dt· .l~gar aqu1lo
pr<U1nu, o espaço em que se cS1.0belccem c desdot>r...., as re- que justamente o tOrna indh;duo: uma tfitatun, um JK.~, uma
lações cornplex~ entre o leitor c o texto hdo, bem corno as constelação origin<~l de traços rc•icos e pslquieoo!. Melhor ""ri•
estratégias de leitura. Estu última> t<:n<km a modili=. ern in\'erter o movimento: partir em1>iriamenu.• do que t)()(leria
alguma medida, o objeto proposto p<.'IO autor, porque n:io b.i ser ponto de chegada (a p<.'rt'CPÇÕO >en..orial do "lrterirlo• por
homologia nem entre as compct l:ncias em jogo (es<:rt."\'Cr; ler), um ser humano real) paro poder lnd~mr alguma proposição
nem no in,est imento, aqu1 r ld, das ~~rgiou vh01s. Em suma, sobre a nature23 do poético.
batiza se o leitor como o abstr;uo "destin;adrio.. da t~.Adjç-io Gostaria aqui de esboçar simplesm ente um tíl.l percurso,
sentioJógica; ess.1. passagem. de modo concreto, r~presenta um interrogando-me sobre o papel do corpo na leitura e na per-
progresso em si. Mas o qur será <UJui cs' c concreto? Em outra cepção do literário.
perspccri ...·a, solidamente asscnwdn na sociocrítica, Antonio O que cnlcnder ac1ui pela palavra "corpo"? De•pojaclo
Góm~·Moriana propunha, e m ' 9Bs, dcar um passo a lém da como ele esl..á em minha fraw, p.-u ece csc-dpar. por demasiado
Estética da recepção alrmã, intt•gr.uldo, S<"rn fctichjzar, qua. puro e ab.str.lto, ideal, como o ego transcendental d~ J..lu~rl l
tro "instân cias do fa to literirio": contexto, ou to r, tex to, leitor, 1 No entanto, é ele que c u sinto reagir, ao contato saboroso d<>S
Programa e minent emen te louvável UM~ <JUC, para all:m de um t extos que ~uno; ele que vibra e m mim , UIHa pre~ençn q ue
desafio, comporta as in!ilâncio.s em CJUC!stão, não :.e prestando chega à oprcs.~ão. O corpo é o peso sentido na cxpcrif:ncia
com eviclência à própria tornada epislcnaol6gic1. que faço dos textos. Meu c:or po é a mMcrialí?.oç3o daquilo que
Convém alcançar, ao me~mo tempo, nlo.~h c meno~ longe. roe é pr6prio, realidade vi"ida e c1ue dclcrmintt minha rcla~
Admitamos, com a maio•· par te dos autores, q ue um texto s6 ção com o mundo. Dotado de urna slgniGca~o inc'Omparhel,
existe, "erdade iramcnte, nn m edida em q ue há leitores (pelo e le existe à imagem de m<"u ser : é ele que c u vivo. po~uo e
me nos potenciais) aos quais C.("ndc 11 d eixar algwn<t. tnidativa sou, para o me lhor e para o pio r. Conjunto de lccidolli c de
inte rpretativa; te ndência C...t"t'.SCCn te, na medida em que dinll · órgãos, suporte do vida p>íquica, sofrendo t.>mbém as pressões
nui a função inform:uiv.i o u hn peratha do texto e n'l çauu . O do social, do institucional, do jurlrlim, os quili, sem duvida,

lj
perverte nl nele seu impulso primeiro. Eu me esfor ço, menos Mais do que falar, em termos universtüs, da "recepção do texto
para apreendê-lo <lo q ue para escutá-lo, no nível do texto, da poético", remeter!, concretamente, a "um texto percebido (e
percepção cotjdiam1, ao som dos seus apetites, de suas penas e recebido) como poético (literário r.
alegrjas: contração e descontração dos rni'tscuJos; tensões e re · lerceira: e evidente que não nego a existência de outros
laxame.ntos internos, sensaçõe.-t <le \•azio, de p leno. de turges- critérios de poetk idacle, que têm a ver com a prodoçlo do
cência, mas també m urn a rdor ou sua queda, o sentimento de discurso, desse discurso como tal, o texto o u o grupo social
uma ameaça ou , ao cont rá rio, d e segurança lntima, aber tura no qual ele fw1ciona. Ne•ses planos intervêm fatores que de-
ou dobra afetiva, opacidade ou transparência, alegria o u pena signam os ter mos tradição, código ou (para tomar uma palavra
provindas de uma difusa representação de si própr io. já muito an tiga, mas ainda utilizável com prudência) ideologia.
Ora. esses fat os pe r manecetn , em princípio , ext e.t·iores ao que
T H.ts OBSEiWA.ÇÔES J>R~LtMl NA RES visa a perspec.t iva que eu escolhi. Dessa perspt.'(:l;iva. parece-
me iodub it.ável - e et.J tomo t.~rn e xemplo extremo - que um
Primeira : coloco me no ponto de vista do leitor, ma.is do que
4

ro rnaoce da sé.Tie Arleq uim, para um adoJesoente apaixonado,


da leitura, no sentido em que esta palavra designa ahstrat:amen· possua uma certa poeticidade verdadeira, e mbora para nume-
te um:. operaç.ã~. O que e u questiono i: o le itor Jen do, o pe ra· r'Osos indivíduos de nossa sociedade essa poeticidade seja im~
d or da a1:ão de ler. postura, ou pura e simplesmente inexiste nte.
Segunda: o at o de leitura, em si, de modo geral, pode ser
descrito como neutro: decodificação de um grafism o, tendo
e m vista a cole1a de mn a inform ação. Ora, ~m cer tos casos
(que é preciso defini r), a leitura deixa de ser unicamente d e·
codifi<"..ação e infor~tação. Somam-se a ist o e, e m casos extre·
mos, ê m substituição, e lementos não info rmativos, que têm a
p ro priedade de propiciar mn prazer, o quaJ emana de um laço
~ssoal estabelecido entre o leitor que lê e o texto como tal.
Para o leitor, esse pra~.er const itui o critério principal, muita~
VC7.es Único, de poeticidadc (literar ied ade). Com efeito, pode-
se dizer que um discurso se ton la de fato realidade poética
(literária) na c pela leitura que é praticada por tal indivíduo .

••
EM TOa~NO OA IDÉ lA D E PERFORMANCE

Introduzir oos estudos literários a consideração da~ percep-


ções s.cnsod ais, portanto, de um corpo vi\'O, ooloc~ tanto u m
pro blema de método como de eJocução crítica. De safd:.., é
uc.ce.ssário, com efeito, entreabrir conceitos exagerad<ttnente
voltados sobre eles roebmos em nossa tradição, permitindo as-
sim a ampliação de seu campo de refe ..ê ncia. Na prática, no
exame de uma ou o utra sêrie de f.'ltos, va1nos nos concent r-ar
em (".asos extremos, para infe•·ir uma int erpretação apHcávcl ,
em diversos graus. a todos aqueles que ()('Upam posições me·
diana$. Por io;so, tratando-.se da presença corporal do leitor de
'"Utt~r;.tl"U.ra", interrogo-me sobre o funcion a•:nento, as modali·
dades e o efeito (em nível individual) das t-ransmissões orais da
po('sia. Considero oorn efeito a voz. não somente nela mesma,
mas (o.inda mais) em sua qualidade de emanação do corpo e
que, sonorarneote, o representa de forma p lena. Neste pon-
to re meto ao belo livro de L Fonagy. La •·h·e l"ojx. ' Um certo
número de realidade~ e de valores, assim revelados. aparecem

'1
idcnticomcnte cn•ol•idos na pr.lti<:a da lenuralitcr.ina. Oal o violeta. Mai> ou menos tudo isto faria parte da <:anção. &o •
lug.tr centro! q~ dou à idéia de "petforman<.-e". anção. Ooorreu -me co01pra.r o te:xto. Lê-lo não rcssUXÍU\<l
~ntro nessa matéria pela. e,·~o de uma. lt-rnbr~on~-a que nada. Acxmtcccu m e cantar de memória a melodia. A du.s.lo era
não 3JX'na...'i mt é ca.n mas que est' profundamente inscrita em utn pouco mais forte mas não basu\'a, verdadeiramente. O que
mim. c permaneceu subjacente a tudo o que eu cnl'roinei nos eu tinha entõo pe~"C<"bido, sem ter a possibilidade intelectual de
úJtimos c.'uinzc anos. !sto tem a ver com minha i.nflnda par·i· analjsar ora, no scntJdo pleno da palavra, uma "forma": n3o fixa
sicnsc, ns 1das c vindas entre o subúrbio onde habitavam meus nem e~t.ávcl, un1a ror ma·(orça, um dinami~mo fo,·malizctJo;
poais c o colégio do nono disttito no qual, no oomeço dos :mos uma fo rma finaHzado1-a, se assirn eu puder b·aduziJ· a expres.ü:o
• 930, cu fJzia meus estudos secundá-rios. Nessa <:poc,, , as rua~ alemã de Max Luthi , quando ele fala, a propósito de contos, de
de (>a_ris eram animadas por numerosos cantores de rua. bu Zie!form: não um CK(Ucma c1ue se dobrasse a um assunto, por<(t.IC
adora v., ou,ri- los: tinha me·u s cantos preferidos, como a ru.a do a fom>a n.lo f ,.,gída pela regra, ela é a regra. Uma regra • todo
Faubourg Montmartre, a rua Saint-Oenis, meu b.l.irro de estu· instante te<.Tiada, ex blindo .-penas na paixão do homem <1uc, .1.
dante pobre. Ora, o que percebL.mos dessas c;mçõe5? ~ramoo todo instmte , adere a ela. num encontro luminoso.
quin.tt ou 'ante troca pernas em trupe ~ redor de um cantor. P~ ~nt• anos, pude compreender que, desde en
Ouvia se uma ária, melodia muito simples, pan que na úluma tio, inoonJC.:k:ntcmentc, nlo cessei de bu.~ o que ficou. em
ropJ. pudéssemos retonú.J. em coro. Ha.ü um texto, em ge· minha vidi~, daquelt" pra:tcr que então senti: o que me ~tou
ral muito fácil, que se podia comprar por algun.• trocado<, im- no consumo (em certos momentos bulímicos) que fiz, ao lon-
pres>o gros.ciramonte em folhas volantes. Além di...so, havia o go dos anos, daqu.i lo q ue ch~mamos "literatura". A forma da
jogo. O que nos havia otraído era o cspetaculo. Um C>p<~táculo canção de meu camelô de outrora pode se decompor, analbar,
que me.~ prt-ncHa, apesar ela hora de meu trem que avançaY.l f' seguodo as n·.l~CS OU 3 versificação, a melodia OU a mímica do
me fa7.Ja correr em !fcguida até a Estação do Norte. intérprete. E~a redução constitui wu trabaUu) pcdagógi<:o t'1 1il
H:.wir1 o homem, o camelô, sua parlapaticc, rwrcp1c ele e talvez neccssá.rio, mas, de fato (no nível em que o discuno
"cndia 11.'1 cançi;es, apr~goava e passava o chapéu: as foll»< · é vivido) , f·lc ncg~ a c;dstênci:a da forma. Essa, com efeito, -JJ
•oiames em bagunça num guarda.cht~va emborcado na beira da existe na ..perforn1;mcx:".
c.Alçad.li. Havia o grupo, o riso das meninas, sobretudo no flm A pabvn nlo é inocente, e há cinqüenta anos se arr.uta no
da tarde, na hora em que a• vendedoras ~= de su>s lojas, a uso comum: con"é m at~cl-la ele frente antes de arriscar o s.cu
n1a em \olta, os barulhos do mun<lo e, por cim•, o céu de Parü rccmprcgo. Embora historicamcot~ de formação frantt.., d•
que, DO começo <lo in~erno, sob as ou,·ens de neve. se toma,·a nos vem do mglb e, nos anos 1930 e 1940. empresu<b 010 '\O·
cabuládo da dr...maturgia, se espalhou nos Estndos llniclos, na fonte de eficácia textuaL Em outros termos, perfor mance in'l-
expressão de pesquisadores como Abrams, Ben Amos, Dondee, plica com petência. Mas o que é aqui a competência? A primei -
loma.x e outros. Está fo rtemente marcada por sua p rática. P;.lra ra vista, apare.c e como sawJirfaire. Na pe rformance, e u diria
eles, cujo objeto de estudo é uma mani1Cstação cultural llldi- que ela é o saber ser. É um. saber que implica e eomaDda uma
ca não importa de que ordem (conto. c.mção, rito, dança), a presença e uma conduta, um Dasón c01nportando coordena-
performance é se1npre constitutiva da forma. Se um fato ob. das cspaço temporais e fisiopslquicas concretas. wna ordem
4

ser vado em performance é, por motivos prático.~, transmitido, de valores e nca-rnada em um corpo vivo. Fundamento. por
como obje to ciendilco, por impressão ou confe rência, então de essenciais, essas observações sobre a de6.nição mais explícita
mane ira indireta c l:icgunda, a forrna se quebra. Nest e sentido, da performance que chegou a meu conhecimento: aquela que
a performance é p3ra esses e tnólogos uma noção central no nos ofereceu DeU Hymes, por volta de l 973. sob o IÍfttlo de
esrudo da comunicação oral. Tsro explica, a.flnal , que desde o "Hreakthrough into perfor mance", nos Cadernos de Trobalho do
início dos anos 19so a palavra fosse em pregada pela lingülstica, Centro de &mi6tira de Urbino.2 Da análise feita por ele retenho
especialmente uos Estados Unidos. A noção pareceu jndispen~ quat~o r.raços.
$,),·el a toda ope ração pragmátic;.l ou gcnerativa . As regras da 1. "A pe1-formance·~t, diz d e, "re fe t·e a realização de um
performance - com efeito, regendo simuhaneamente o ternpo, matcri.a.l tradicional conhecido como t.a.l"'. Eu traduzo: perfor -
o lugar, a finalidade da transmissão . a ação do locutor e, em am- ma.oc::e. é reconhecimento. A pe1·forma.nce realiza, c..ona·ct iza,
pla medida, a resposta do público importam para cornunica· faz passar algo que eu reconheço, c:la virtualidade à atualidade .
ção tanto ou ainda mais do que as regras tc;xtuais postas na obra 2. A performance se situa num contexto ao mesmo tem-
na seqi.iência das frases: destas, e las er~gendram o contexto real po cultural e situacional: nesse con texto ela apar ece como uma
e delerminam finalmenle o ~le\nce. llabiruaclos como somos, "emergênda", um fenôm~JlO que sai desse oootexto ao mesmo
nos estudos litea·ários, a só tratar do escrito, somos levados a tempo em <Jue nele encontra lugar. Algo se crio u J atingiu a pie~
retil-ar-, da .forma global da obra performatizada, o texto e nos nirude e , assim, ultrapassa o curso comum dos acontecimentos.
concen trar sobre ele. A noção de perfor mance e o exemplo l· Para Hymes, pode-se classificar em !r ês tipos a ati-
dos folcloristas no:; obrigam a reintegrar o texto no conjun- vidade de um home m, no bojo de seu grupo culrural: be.ha 4

to dos elemento~ formais, para C1.1 ja finalidade eJa contribui, ~jór, compor tamento, tudo o que é prod uzido por um.a ação
sem .sc1· enquan [o tal e e m princípio privilegiada. qualque ri de pois conduta, qu e é o compor tamento relaEivo às
Muitas c ult uras no mundo codificaram os aspectos não nor mas sodocuhurais, sejam elas aceitas ou rejeitadas; en 4

verbais da perfor mance e a promoveram abertamen te como fim, peifotrnonce, que é UJna conduta n;.l qual o suje-ito assume

JO l'
aberto e funcionalmente a respons.bilidade. ESS3s distin~ pc.1quísa de uma capocidode máxima de Jl<'rccpção. Você pode
recorum, em parte, oonsur.. Hpnes, aquela que OJ>cr> Labov ler não importa o quê, em que po.íçõo, e os riOll08 s.mgüíneos
• propósito do comportamento \erbal dos indivíduos no in- são afetadot. É 'erdade que mal conceberíamos que, lendo em
terior do grupo: certos comportamentos YCI'bl.i~ podem ser seu quarto, wx:ê bC ponha a dóUlçar, e, 00 entanto, a da.nç~ e
"interprctodos" (tidos por ~-ulturalmente intcligivoiS), outo-os o resultado nol'lnal da audiç.3o poética! A diferença, porém,
podr.m ser cont3dos. A interpretação geralmente fa~ par com aqui é apenas de grau. Ta.l é, sem dú,>ida, a razão pelo qual os
o t·clato, mas se pode encontrar um sem o outro. Outros editores literário~ to1nam geralmente a prccãução de impdrn i r
comportamentos ainda, bastante mais raros, possuem uma no capa de seus produtos o gênero ao qual eles pertencem: de
q ualidade adicional , a "reiterabilidade": esse, compon amrt'l· modo a pen nWr no cliente preparar-se para o modo pMticuldr
tos são rcpct(vei.s indefinidamente, sem serem sentidos como de leitura que ele requer!
redundantes. Esta repetitividadc não é redundante. é a ela Entre o ,,,fixo de.5jgnando urna ação em c urso, 1na.' ()Ue
pcrformanc~. jamais ser.\ dada por acabada, c o preli.'to globaliunte, que rc·
4· A performance c o conhecimento daquílo 'I"" se t.ran.<- m<:le a urna tot~licbde inacessh·eJ, se não inexistente, ptifór·
mite .,.,5o
ligado. naquilo que a natureza da Jl<'rformonce afeta por sua
maMe coloca a "'(orma•, improva\'cl. P.UaYra adm.ir;Ívcl
o que t conhecido. A performance, de qualquer ícito, modifica riqueu e implicaçJo, porque ela refere menos a wno complc ·
o conh.ecimcmo, Ela não é simplesmente um meio de: comuni· tude do que a um desejo de rulização. Mas este não perna·
cação: comunicando, ela o marca. nere único. A globalídadc, provisória. C.da performanc.: OO\'>.
A partir des;:as aracterfsticas, eu im·erto a pe.r5pectiva. A coloca tudo em cau'IO. A forma se percebe em performanC'<'.
etnologia os refere aos conteúdos ou .\.~ formas de tran,.nlss.'ío mas n cada pc1íormance ela se transmuda.
<lc.lcs. Eu os tomo em relação aos h.íbitos receptivos. A"ioro, A queslât> 'l''r. <e roloca ~ C!lta: em que me<licla pode se
<1uando cu digo: ler possui uma reiterabilic.ladc própria, reme- aplicar a noção de performance à percepção plena de uno tcx·
tendo a Llln Juíbito de leitura, entendo não apenas a t'C' jX:I iç1io to li1erário, mrsmo se c.~sa percepção permanece puramente
de uma certa ação visual, mas o conjunto do disposições fi•io- visual c muda, tomo é geralmente a leitu-ra em nossa prática,
16gicas, ·p>íquicas e exigé::ucias de ambiente (como uma boa há dois ou três século"'?
cadeira, o silêncio... ) ligad..., de maneira original para c•da um i\ razlo pela qual cu fui levaclo por uns quinze anos • me
dent~ nós, nlo a um '"ler" geral e abstrato, mas à leitura do colocu e.s'Q cruc.stão import<t de alguma maneira ao :sentido
íornol, de um romance ou de um poema. A posição de ocu cor· de.u. r...,; como medie,-.lisu que exJ><'rimentci, por ,·olta de
po no ato do leitun é determinada, eon grande m<dida, pelo '97S, • o«"C''\.~id~~ de submeter a um exame crítico a ic.lé-l.l

IJ
(bem difundida entre meus colegas) de oralidade. l'oi preciso, contram-se na leitura poética. No que conocrne à Id ade !vlédia ,
antes de arr iscar a menor d efinição, fazer um longo de.sv-io penso tê-lo provado. Minha lúpótcsc de partida poderia se
pela ctnologi::t. Assim c u t ive numerosos contatos no próprio e xprimir assim : o que na performance oral pura é reaUd\\de
campo, em diferentes regiões do mundo, onde (po r quanto cxp cr iJncntada, é, na leitura , da ordem d o desejo. Nos dois
t.Cn'lpú <.li nda?) se obser va. de modo dire to, :.to abrigo das me~ casos, oon.~tata-se ul1'1 á implicação ror tc do corpo, mas essa im-
diações mais pesadas da escrita, o funcionamento da voz po éti- plicação se manifcst(l segundo modalidadt>--~ superficialmente (e
ca. Daí, \'Oitei à Idade Média. 0J1l~ essas pesquisas - sobretudo e m aparência) muito cüfc re ntes, defini ndo-se com á ajuda de
aquelas que por acaso conduziram para mim relações pes.roais um !>Cqueno número de traços idênticos.
oorn os pratic~mtes da voz (orlocs do Burkina-f a.'5o; mkveokCI do Pode -se inverter a proposição: ela ~H.lquiré valor ax.io-
Japão ; repe nt istas brasileir os; mas també m djyc rsos cançonc - mátic..:o. Se admitimos que há , grosso modo. duas el)pécics c.lc
tistas o u recitantes. na Europ a e n a Amé rica) - tinham-me im ~ prát icas discursivas, um" que c hamaremos, para sim plificar,
posto uma d upla conclusão. A primeira se fundamentava em de ..:poétic:t, c uma Olltra, a d iferença entre elas consiste em
uma constatação empírica, indefinidamente fei ta e refeita : é que o poético tem de profundo, fundamenta] nc<::essidadc,
e
que a pe rforman(.' ê o únko modo vivo de comunicação poé- para seT per cebido em sua qualidade c pa ra gerar seus efe itos,
tica. O sentido que cu dou à pa lavra "vivo" vai se explicar e m d<.t prc..-scnc,--a ati va de um cor po: de um sujeito em su a plenit ude
seguida. Pod eríamos, de forma mais mecan.id sta, dizer que é psicofisiológica particular, sua maneira próp ria de existir no
o único ntod o eficaz. A segunda conclusão era que a pe•·for- espaço e no tempo e q ue ou ve, vê, respira, abre ..se aos per·
mance é um fenômeno heterogêneo, do qual é impossível dar fumes, ao tato d-as <:oisas. Que um r.cxto seja reconhecido por
unta definição geral simples. Aqui se está, repito, na ordem do poético (literário) ou não de pe nde do sent imento que nosso
pa•·ticular. Por isso poderíamos legitimamente nos perguntar corpo tem. Neces.~idade para produzir seus c fCitos; isto i:., para
se, entre a perfo rmance - tal q ual obser vamos na:.. <.1lltu.r<.tS de nos dar prazer. É este~ a meu ver, um nitério absoluto. Q uando
predominância oral - e nos.~ leitura soli~ária e silenciosa, não não há pnl7..Cr - ou ele cessa - o texto muda de natureza .
há, e m vez ele corte, uma adaptação progressiva, ao longo de Desejo evitar nisto a dup la armad ilha queJ parece-me,
uma cadeia contín ua de situações c1..Uturais a oferecerem um nos ofere<.-eria a pragmática tal como a oon ceben1os em gera) .
nlunero ele vado de re-combinações d os mesmos c)ementos de Interessada nas relações e nu·e os .sign os e seus usuários, ela
base. Parecia, desde então, extremamente provável que os ele- deixa de )ado o instante de sua percrpção; da cono::ntr<.t . de
mentos constituintes do nl1cleo estável de toda perform ance chofre, sua atenção nos fatos sociais, enquanto nos é preciso
o bser vável através do mundo e prova,·e]mente dos te mpos en· partir da expe riên cia individual e do pr-azer experimentado

H H
j M~'·' .1ting i r. l..llvc~. em fim de percurso, o ritual c.:ole th•o. A essa perspecdva. Assim, muitas llnguas africanas conser'laram
~~~~~~·ao d,~ per fOrmance serve fl<.]U i
de parapeito. E ainda, a seu uma fraseologia mostrando que as culturas corrcspondcnte..s não
1wopó.sito, precisamos colornr uma dupla série de que~tões. e laboraram o con~ito geral de palavra: wn a multiplicidade de
Qual é seu conteúdo usual o u potenciaJ? atos vocais asswne funções sociais distintas umas das outras. Os
Que relações a pe rformance mantém com a voz e corn a Ewé, população do sul da Nigéria, que possui antigas e ricas
escrita~ como o conceito de performance se ~i tua relativamen- rradições, dis1tnguem, segundo as regiões, cinco, seis, ou nove
te a urna ou a outra, e int erfe re e m sua oposição? funç.õcs diferen tes, em limites bern traçados, daquilo que nós
Distingo quatro aspectos do problema. reunimos sob o nome de palavra .3 Os Dogon ~studados pol'
Primeiro: a partir de Mctuhan S<lbernos que a história das C enevieve Calarne· Griaule distinguem 48! Se aplicássemos a
mentalidades e dos modos de pensar (de fato, quase tudo o que e..ssas línguas e populações, de maneira simplista, o crirério pro~
designa nossa palavra wlwro) é d~terminada pela evolução dos posto por Mcluhan no que ooncerne à nossa cultura (uma da.~
meios e modos de comunicação. Não se ignora que a semiÓ· menos sutis que a histÓria t.em registrado), um e wé, um dogon
tica , por sua vez, tende a identificar cultura e oom unitação. A morre ria de rir; a idéia não fa ria sentido algum para d e, que c.:o-
problemática de Mcluhan nos situa. pois, na encr uzilhada cen- nhece e pratica cinco, seis, nove, 4S meios diferentes. Para nó.s
tral das ciências do homem. Da.Í, no bojo de uma esp~cie de eles são todos produz.ido.s fisicamente pel;.1 voz; mas, no espkito
c<:ologia cult ural assim esboçada, (I possibilidade de distinguir, das populações em questão, constituem meios de comunicação
em sincronia, mas rambem em cliacronja) tipos, subtipos, toda autônomos. clarameJlte identificáveis. providos d e d e.signações
uma genealogia das formas segundo as quais se adqujre e trans- própria.~. • Um sistema tão elaborado oonstjtui uma rede lançada·
mite infor maç-ão. Por isso mesmo a tese de Mc.Luhan deve ser às c.ircunstâncias, oomo na esperança de da' elimi.n ar o acaso.
ampliada; verdadeira em seu princípio, ela ê}(jge S<.:r estendida Uma per<x:psi<> análoga (embora frustrada) dos fatos da pala-Ta
em suas aplicações. Ela não ooncenle apenas aos meios, neles justjfica mais ou menos como lastro certas ta.xlnomias propost as
mesmos; não aposta sotne nte na comparação e ntre or-alidade, pelos folcloristas. Tomo p<Jr exemplo o Hondbuch desJ0/krlícáer'
escrita e informática, como dá a pensar a divisão dos capitu 4
Seus autores distinguem o que chamam de "gêneros", ma.~ a de 4

los do Gofáx;a Je Guttnbera. m <'ls ela deve nos pennitir (e,·ar e m finição que eles dão e a de tipos de discurso: o que de fato eles
conta as modalidades in ternas do meio: eutendo o modo pelo nos sugerem é que a tl'adição das canções folclóricas, a despei-
quaJ, em um dado g rupo social, a função do meio é considera- to de sua aparente homogeneidade, apresenta-nos um número
da, assumida pela consciência dos indi,1dllOS. Nuxnerosos fatos elevado de oralidades - no plural. Trabalhando com uma massa
etnológicos ou linglií.sticos se f".xplia un de modo pertinente sob de milhares de textos, ele.s os classificam segundo 27 tipos de

j6 37
di.C<.'\It~ que dcfmcm, é ,·erda.de, mwto bizarrnmente; pck>

n><:oo' .-.lorinm fortemen te a multiplicidade funaomllig..da •


' abarcar outra l.'OÍA que rWo o comprometimento ('fllp,rico,
agora e note momc:"IHO, d~ integrid.lde de wn ser I)Uiicub..r

I'
uma muh iplicM.wlc rle meios de romurucaçlo. Kcm ~ n.nua~u numa "it\J.lÇ'âO (bdi. A cançlo do ambulante::: ck: minlu. ..do1c.s
<~ mti<" n<·m a.<lõ rnochli<l:ades daquilo que os liga .lO Sl.nodo sio cênda impliCA\.1, por ~U3t rimlos (os da rnelodi~, d.t lingu.l.&<'m
rt.-.du rh ci~ a opcls.iç.:)es simples. e do gc.sto), a" J>UI~çõct. de S<'u oorpo, ma~ tan'\bêm d o meu c
Wgunclo: no uso mais gcr.al , peiforrnonce se refere d ~ modo de Lod0.1 nó~t c.~m ,olta. Implica''" o batimeo.to dessas vias con·
imcdla10 a Ul\"1 aoontedrn e:nt.O or:.J C gt:.SludJ. 1),,( (."Crta~ OOnM: cr('tlts, t.·m um lllomcn1o dado; e durante algun.s mimtto~ ('''e
qliê11ciil~ mctodolbgicas para nós, quando canpl'\; gamo:. o 1cr· barimf'nto era comum, porque a canção o dirlgja, sulm~ctin ·o
1110 n.;.ot.'l(',,. Cil~os em que a própria noção de oralidade h.' nd\· a sç 11 à sua ordem , o seu prbprio r itmo. A canç.io tirava (lc.;~a LCil•
diluir,. tl gc•>Lu"lid<ldc (X'rece desaparecer. ConsC(Jüi:nci.•>. ê nl são, portanto, urna for mid:h •el energia que, ~(n dúvida ne m
parl<', dJ 11\ll\lrc:"'la terminológica: procuramos nos cutcnd<;1·
,obre uma ddlniçlo bem ampJa do con~ito, sem , no c ntal\to,
j o po bre diJbo elo t'iln\or ne m cu , seguramente. aos dole 01nos,
tínhamos con~·i~nda: a energia propriamente poétic.1. Sem

I
de,nawr~ In. Con~eqüén<..-ia.s de natureu compM3 \IVJ, por sua o sJlx:r, reproc:huíamos, todos juntos, cut perfe1U WU.10 l.ti·
,n., 1x>rqu~ é (orçoso partir do conheddo rumo .w <l~onhc. ca, um mistfrlo prim1rivo e ACral. E esse mistério coounu.t .a
odo. O ronheado é a perfonrunce e.tu<I.Kl• c dc'><rtl<l pela se rt-produ7jr inans.n-clmcntc hoje, a despeito d~ .~Cumulac.·lo.
<1nologia, f•lt• <er o que, dessas descrições e e;,uxlo>. J>e><k <cr em torno de nó,, de "'eng("nhocas• represent.mdo ~Juilo <l U(\

I
rt"~tmprc~do. sem prejudic.ar a c:oe-rêncU. ~o ~ndtk~. nA in~· por anrlfr.lSC', ch;amamo' d.e- progresso: a se rcprodutir. uda
li~ (f(' 0UlT3~ rormas de comunicação. Pelo me:no~. ~u ..J~ut.• r n2 que d e um ro;;to humano, de carne e osso, tc:JlSO dli!ltc
que iC'ja a manrira pdJ qua1 somos levados ~ rctnanejar (nu de mim com '-Ua <.uga ()u suas rugas, seu suvr que pcrolcja
.l ~,..preml'r para extrai•· a substânda) a ooç.Jo de pcrformao. nas têmpora"~, st·u f'hciro , sai uma \'OZ que me fala. Renov.JiwSC
cc, cncon11a1't:fnúS sempre um elc:mento ineduthcl , a idéia entõo u1t10 ront,inuidadc que se inscreve nos nosso~ podc11:"
da prcscnç:~ de um corpo. Rcoo1·rer d noção ele pç.rfor·mnnet' corporois, na red<' de sensualidades complexas que fQI..cm tlt·
Jmplk.t então a nccc.ssidade de rcintrodutir c~ ((.m~idt rou;:5o elo n6s, no universo, scrcll> difcn:nlt;s dol» outros. E nessa difcrcn~'i'
corpo no c,tudo da obr.-.. Ora, o corpv (c:1uc cxbtc.· enquanto Teside alguma rot~a dJ <Jual t·mana a poesia.
rel~·do, íl cad" momento recriado, do eu .1o ~cu ~<'r ihko) é l CrcciTo: a pf'rform:lllCC não apenas se liga ao ç()rpo ruM,
d.a orc:ltm do indizh·d meute pessoal. A noção dt': f>CrforruanCC' por ele, ao t.S~). .. "M. laço se nloriza por uma noç;ão, a de
(ctu.ando C\"1 clemtntos se cristillium em torno d~ le.mbr.an~ te>tnUd.Jdc (wm txplor.>r todas as ,·ir tuaUdades), que me
de um• pre>Cnço) perde· toda pcrtinênci• d.,.de ' I'"' • faç•nto. chegou mwto tempo antes de pen:sar'"perfomunc.e,..' Remeto

••
r
ao e xcelent e artigo de Josettc Ft~r·:.l , publicado em • 98 8, na fuma; u.m outro o agride, arranca seu cigarro ou comete uma
revista Póé!ique, texto de uma clareza e pe r tlnência per-feitas. oub-a a~-ão violenta. Para a m ultidão que enche o vagão trata ·
Extraio dai algumas pro posic.,?Ões. A idéia base desse artigo é a se de um acontecimento. Mas alguém nessa multidão s:.1be que
d e q ue o corp<> do ator não é o eleme nto Único1 nem m esmo isso é s im plesm ente um jogo, montado por uma associaçio an-
o criterio absoJuto da tlteatralidade..; o que mais conta é o n:;· litab:ag)stica. Há então teatralidade? Para a Jnultidão não. Mas
conhecimento de um espaço de ficção. Féral propõe a esse res- para o espectador a par do plano, sim.
peito uma distin ção entre ''teatralidade" (quando esse espas:o
ficciona) se en<ltJ3dra de m aneira p ....ogram ada) e "espet:a.culari~ A teatralida<le neste caso p<wece ter surgido do saber do espec-
dade" (quando não o faz). Permito-me citar algumas frases. No t.a<.lor. desde que ele foi .info r rnado da ;m-enção d~ ''ow>em l>ua
começo desse ar tigo o autor expõe djvcrsas situações típicas. direção. Este S3ber roodifiçou .sc:u olliar. fon;ando·o a Ycr o e,.;.
As duas primeiras me importam parti(..1dar mente. petac:ular lá onde sb ha\'ia até ent.i'o o aroo.tecimeoto. Ele tran.~·
rorrnou em 6oção 3quilo <JUC parecia ressaltar do cotidiano, ele
VocÇ entra omna salá (le teatro (~scre\'e J. Féralj onde uma dis· serniotizou o espaço, dt slooou os signos que ele então poc:lc h:r
posição çenogrãfica espera visivdmente o OOtl'ltÇO de uma re· direrenteroente ... A teatralidade aparece aqui oomo estando
presentaçào. O ator está ausente. A peça não começ:ou. Pode:· do lado do pcrformcr e de sua iotenção firmada d~ teatro mas
se di7.er que ai há teatl'álidadc? uma intenção cujo ~egredo o espectador deve partiJhar."

Resposta: Tais comentárjos se aplicam à performance (e para alem de la, à


leitura). O espaço e1n que se inserem uma e outra é ao mesmo
Uma S<mioti~ção do espa~-o teve lugar, o que fa1. corn que o tempo lugar cênico e milnifestilção de wna intenção de autor. A
espectador J>el·c::eba a teat ralização da cena e teatralidade do condição neces.'J;ària à emergência de uma teatralidade perfor-
lugar. Um:.l primeira condu.são se impõe. A presença do ator mancial é a identlficaç3o, peJo espc.ctado.r-ouvintc, de um outro
não fo i ne<X:ssária para reginrar a tc:-.atmlid3de. Quanto ao cs· e:,-paço; a percepção de uma altcridade espada1 marcando o
paço, de n()$ aparece como portador de teatralidade porque:: o texto. Isto i mplica alguma r uptllra com o ..:real" ambiente.• uma
sujeito aí percebeu relaçõe-s, uma ene<;oaçSo. fissura peJa qual, justam ente, se introdu.?. e.~tSa altel'idade.

Outra situação, mais complexa, e majs interessante porque A situação performancial ap;lre<:c então oomo uma operação
ambígua. Num lugar públioo (o artigo diz: no metrl>) alguém oognith'a, e eu diria mais prcdsamence fantaS1tJática. Ela é

..
um ato pé'-rformath·o daquele que contempla e daquele <(UC real , subjacente a toda diferellciação sensorial, a toda tomada
desetllpenhá. de posse cognit iva de nossa parte.' A idé ia , sob uma form a
sel \<agem e uUJ revestimento léxico inadequado , não é ab.so~
FalaJÍamos nesse sentido de uma audjção perror ooativa. E.ssa lutamcntc nova: e la aparece, em urna obra publicada em 194 9.
situação performancia) mas acabada de-.r. anos antes) tendo sido concebida nos anos
PuJZ.ét poét.icu e prazer muscular, de André Sph·e (reeditada
19·2 o:

( .. . J cria o esp.1ço virtual do outro; o elp<'ÇO Jrom;cionol de que em , ,sG}.TrabaJho de prático, teoricamenle inadequado, pelQ
Jâ.lava \Vinnicott. Isto é d i:~er q\U!" te-3.trolidade não cem manj. menos ele dá ~' "muscular'' uma sign ificação radica~, ligando -o
festaçõe.~ fiska.s
obrigatórias . .Ela não tem pi'OI>ricdádes <-l ua)i. (antes dos efeitos de superficie) à fisioJogia do ventre, das cu-e-
tativas <(Ue permitiriam demarci·la de \'t::Z. Ela não é um dado lhas, das mãos, realidades elementares em cujo fu ncionamento
empírico, d a é uma coiOCr.t;õo e.m cena do wjeito. em relação aô desper ta e depois s< espande o poético. Em uma obra de título
mundo e a seu ilnagiJ'I~ri o. ~ ambicioso, A. E. J·lousman, professor e m Cambridge, pro pu-
nha em 1933 a mesma tese: o prazer poético é orgânico; a
Assirn p ercehi<)a a performance não é uma .soma d e p1·opr ieda. poesia "mais lisica do <tue inte lectual". 10 Impor tam aqui menos
des de que se poderia f;v.er o inventário e dar a fórmula geral. as estr uturas que os processos e as pulsões que as colocam .
Ela só pode ser apreendida por in termédio de suas manifesta · Acrescento, a este propósito, uma última consideração:
ções espedfac::as. Ela partilha nisso com a poesia (e sem dúvida a da marca de nossa tradição cultuJ·í\l ocidental que, profun -
a poética) um traço definidor ltmdamental. damente interiori.7.ada, determinou até época bem recente
Q uarto: utillzando o conceito de performance, o que bus~ muitos de oossos sentimentos e opjniões correntes. Mesmo
çªmos 'l"eslionar não é uma origem; é nesse engano que p<:~qui · quando acrita, a linguagem era (é ainda, sem dúvida, para
sador-es inten:~~sados nas culturas do terceiro tntmdo tratam-na m uitos) sentida como ,·ocal , menos a partir de alguma l6gica
<:Orn? qualquer ooisa de historicamente primitiva. A inteno- do comportamento do q ue em conse<Jüência de um fato de na-
gação à qual induz a idéia de pe rformance não se form ula e(l). t ureu , o laço que prende a língua à 00.:~, à garganta, ao pe ito.
Não é por a~so qu e a prOpria ciência lingiHstica, a partir de

I
te r mos relativos a uma gênese histórica. Ela concerne, ero
compenMção, ao que c hamo , como Mikel Dufrenne, o origi- Saussure e por volta de 196o, fez da linguagem oral seu objet o
nÓrjo, Esse termo. na tenninologia de Oufrenne (que a torna de pri\'ilegiado de estudo e. considerou ge ralment e (e sem razão)
Merleau· Ponty), refere·se à ontologia do perceptivo e designa o escrito como sim ple.s notação auxiliar. J~ an tes, a filologia
o obieto de nossa apreensão senslvel irUdaJ e to talizante do

.. I rom~ica do século XIX devia a maio r pa rte de seus progressos

4l
d ecisivos ao estudo dos patuás, linguas por definição não-escri· l' t: fti~OIU. t ANC E E R EÇEPÇÃO

tas e constitlli ·se em d iscipJina histórica coJoçando a exbt€:n·


da de um idioma ficticio, o .."laü m vulgar", CtJja propdedade
maior era .sua pura oralidade ... Tudo se pa.~sou as.'.lim entre n6i:>,
por muito tempo (mais o u menos confusamentcy é verdade),
como se a vocalidade da pa1avr<t constituísse, de fato, o e le-
mento mais evidence de sua definição. ~. sem dí1vida como
reação a essa maneira de sentir e de pensar que se constituiu,
entre ou1r as, a tese de M.cluhan.

A maior parte das definições de perfor mance põe ênfase na


nature7..a do meio, oral e gestual. Seguindo Hymes, destaco
a emergêucia, a reiterabilidade, o re~c:oL'l.hecimento, que en-
globo sob o termo ritual. t\ "poesia" (se en1.e ndemos por isto
o C(IJC bá de permanent e no fenômeoo <JUC para nós t omou a
forma de "literatura") re pousa, em última análise, em um fato
de r itualb:açâo da linguagem. Da' uma convergência profunda
ttttre performance c poesja, na medida em que ambas aspiram
l qualidade de d to. Utilizo aqui esta ultima palavra despojarulô-
a de toda conotação sacra . Entre um "ritual" no sentido religio-
so estrito c um poema oral podedamos avançar, dizendo que
a d iferença é apenM de presença ou ausência do sagrado. No
entanto, a experiência que tenho das a.tltwas nas ((Ua.is subsis-
tem t~dições orais vivas, leva-me a pensar que essa difel'ença
não é percebida por aqueles partícipes dessas culturas. No caso
do riwal propriamente dito, inoontest:l\'elmente~ um discur -
so poético é pronund ado, mas ei:>se discurso se dirige, talve:.r.,
por mtt!rmé<lio dOJ participanres do rito, õlOS pc:x:krcs ~grac:lo, tuJam d t.xi.stê.nda de um sistem~ organizado, de C"C"Prt"'-Qo d;1
que rcg<:m ~ ..·id.. ; no caso da poesia, o c.li.sru.-..u ~ dirige à oo comun.id..lldei postubm uma. ordem sodal que lhes gu;mtc a.
munid~de hum.-n;a: difcrcn~ de finalidade", c.lc dt'tlinatário; existência. t a dur~3o: não quer di7.er que literatur-:a e poe~3
mu não da própri;a naturc:t• discursh.t. É ,·c.rdacll" qu''. hi:-"to "e.nham sc:mpn:: .-honar e~iea ordem (é tal,·ez o contrino!) m.1~
.-iomcm e , o discun.o 1·ituaJ tem a tcndênda de lltrdurar em e lu implic\\m totalmeruc a sua existência. hLO mesmo 5upõc a
~uJ form::., de ser menos acessível que o discurso n3o M("r() ::.o" necessidade (' a ro•wergência de t rCs e lementos, constitutivott
fcn(hnenos de movência e de vár iação. Mas não é c,ss(' pm l lO de todn litert~turi' c também da pOt"sia, em sua univcrl:lollidadc.
(cu1 uu:mce.s aproximadas) mais wna semelhança c;onl tOda a Po•· mn Indo, um grupo de produtores de textos, tt.UriC.ln<lo
poeMa com nossa própria "literatum'? objd~ que se podc•·iil <(t~aliflcar poéticos ou literários. Esscl!l
Tudo se pa~s~ corno se a poesia tive'i~e. cntn· O!C pnd<•rcs produtores !!lo assinl identifiC.ldos pelo gn•po. Segundo, um
d.- linguagern, a fun\>io de 3cusar o papel pt.:rformnth'o dc"ta: conjun to de texto~ <(li'' .~jam .socialmnue considerados como
~iform~ttr-11 n3o ec:rui,'alc f\•tihnentc a ~iforrmmcinl! No cnrrcr tendo um valor e m i! i 1n6prios. Esse ,·;_Uor, <(UC qualificamos de
do l ('mpo, e segundo os contextos cultu.r.&JS, e:t..I!.J; t <Mwcrgên· liter.irio ou poético, poderia, em outros conLextos culturai'l,
ci.l pode .., achar parcialmente dissimul.xl., m>.S nlo f t">IC o receber uma ourra e<pécie de designação, ossiml.OOO uma
problcrn•. utilidade toda pantrular. Fnfim, rerceiro elemento ncoei>.irio.
!:>te ...: cxpha i luz de dua.• oposições de n.rure<O multo a partio1>olÇOo de um publico, recebendo esses textos como
gcr:a), c tentlf, • n~r oom a função das formas de hngu~gem. tal. Em a.da um dr(~~ pontos articula·se um elemento ritual:
Ambos apre.sent.am um caráter comwn : um t.Jos dois termos textos rdmt!fkados romo 10/, produtores osrim idcntifícodru, pú
oposlos se distingue do outro, sendo englobado por ele. blico mrcrndo.
J>rin>clr> oposiçiQ: cultura o'enw "lilcratura•. l:ut~n<lamos Segunda oposlç~o: as diferentes práticas di><"Univos pv·
(aqui scgmtdo a opinião comum) por cultura a p1·áticn prbprh' dcm S<' cla~<>.'li(irnr ~rgundo dHCrent.es princípios; peJo menvs o
a unl g1·upo hUinano em todos os domíulos que implit-,un (-'0 conjunto de rrabalholil cdticos, há meio século, leva a dist inguil-,
nh~C:imento. Compreendida a..~hn, a culttu\t comUtui o funda~ em u•n nh·d bótili'lntc g(·r<~l, e ntl'e a maioria dessa.') pràticas c
mcnro da villa C'm sociedade e . inversame nte, '·idJ social lm~ u ma delas , que se orx>~· a todas as outras, a d~peito de n.umc·
pUca nc:ccssariamentc cultura. O que I~ séculos denominamo~ rosos tnços e m comurn e apesar da diversidade de aspecto< de
..liter-atura" é uma d1.-s manifesta.ções culturais da cxbt.éncia do que se pod<' rt:"(·~tir essa oposição, no tem po e ~ço. A pri·
homem. (s.<.l n>anife.I>Çâo sobress.ti d• ordem d>S alivid.des tiro em qore>úo >prCllenu a parOCularidade de tomar •unull•·
b qu•i• pock se dor o nome de orrutlau, ~uilo que d;u pos ncamt'ote romo material, como assunto e campo de ~t~,·idatk

••
A língw I! o imaginário. 1 Pode-se, por-tanto. cons.idenr o wo conta. é que. nt~· ôforço despert~ uma consciência c:~ ror·
lingüínlco de unu comunidade humana como uma redt de ma.liz.. o rihwl, que ele fun<b c: irriga com sua energiõl.
pritia. tendo por fi~d•de a comunicaç>o e a rcpre>entil(;io, Sobr<- i~, w11 comcnt..kio.
porém, ~trutur;xUs de ta1 modo que neocssarlimC'ntc 001.1 Tentan\'il de arranelr os di.Kursos à fragilidade de sua
entre ela:,., rnc;lõ.tmimética, '\ise à lingu;tgem como O'i outros condição tempor-al: o que é ..·erdade da poesia como tal não
\'Í~1m no mundo. Úa esta prática, como tál, <!UC' eu chamo (na o ê me nos ''e:rd;;~dciro quanto à t.:S<'rita. Todos os autores, de
seqüêuci,l de out:ra.4! .. .) poétJca. Em minhas ob•·as do, an~ •96o McLuiKUl ~ Wnhc r O ng, <j\IC hi trinta anos esw d;.ranl a hístó
c ' 970 l'u ftiJava de doi.5 graus da li1)gu::~gcm , ou ..cja, funçJo ria e seus efeitos, t'Oncordam neste ponto: na avenrura humana
primária c sc<:umlária , tt"rrninologia que prcfi1·o, no cut,mto~ a escrita s w·giu como uma revolta ooot ra o tempo; e. pot~<~dus
cvit.-.r, po i.s do sugere uma homogeneidade qm• n "'poc~ia'tit, n" milênios. da COI\~crv.1 aindJ esse pri.m eiro eJà. Neste sentido.
J'Calldadt, W ran..mente possui. De fato, a maior parte do~ mo- poesia e NCTito tcnJcm. JXII' meios não compará\'els, ao mcs
numcntru ..poÇticos" pi"'()C'C(iem, em parte, de ourr;u príticas mQ hm. É isto mc...mo que funda aquüo que chamamos .a lite
(reprcscnu.ti'"<b etc::.) que interferem nesu. J loje eu tendC"Tia a ratura. Um encontro u.bol"oso se produziu entre a linguage-m
explic..tr o conjunto de carac<eres poéticos J>ela rdo~o com poê.1:ia. e: t"-~ t&nka extraordin~ria da escritura que d.a e...n·
• pcrcepçio c •p•-ee"<io do tempo. A linguagem nn 'u• fun controu em seu a.mmho. As origens dJ escrita es1io proo-a'el
çio romunk-athil e representativa i.nsere-se no tempo b;ol6gi mente ligadu ao Orit·nte: Médto, a nec.cssidad~ econômicas.
co. <tut cl~ m.ólnifãta e assume, sendo assumida por tle, e .sc;rn ao passo que no Orl!,''"" o poesi• n>o se liga a nada di•so. MM
ter ~obre ele algum poder, incapa-z de o abolir, t em contra· isso se: ~a d.ifercntemt.•He n.a China, onde a escrita, ;aparen·
parte, d~tinada a dissipar·se nele. A prática poc."'tiC'õl 5e s1tua tcmt:nft, provém dos rituais. A convergência é cntio gritante.
no prolongJrnciHo de um esforço primordial para rm·andpJr Ademais, não rcsult.-. llt""''::sas semelhanças que se p udt"'-~4ie dar à
a lin!,rttngem (e.nlâQ, virtualmente, o sujeito c suas emo\.'Õcs, escrita o crédilo de ser~ e la mesma e de maneira suficien te, ~
suas hnnginaçõe..'l , compo namc.nto.s) desse tempo biol6giec). por t::1dnra elo cle~tj~' do inLemporal que anima a humanida(t(·~
Esse c.,.for~·o se realiza de modo difen;ntc, segundo os contex· provavelmente, d ~c o~ primeiros dias.
tos culturaJj; pelo menos aJ percebemo.>~ :,.empl"c csso \'Ontode Esse., dh·crso~ carat.--t.eres discursh·os não existem em s:l
.t~ w.'Y('S ttga~ mas radical, essa energia vi1:1l presente no, LV· próprios, mas ern um~ certa disposição de textos, na imenç.ão
meços de nQMól cs1>êcie c que luta em nós para roubar .no~~ dos autores, na pc.rcepç~ dos ouvintes. espectadort"s, leito-
pai»Tas à fuga<idade do tro1po que as de•·ora. Pouco importa res. O que me lnterc>sa é ...a pc~o. km como as rea·
sab<,r aqui "' e."" aforço pode ou não chegor a um fim: o que çôei que ela g.ra em perform.mce: pcrspettivo ger•li>ró•im•

•• ••
(•j""'"ntcmc:ntc) doqud• d. "nx:epção", no •Cntkko <'m quç d~ mJrcas do cf•K'Ur-.o J)()élkn (do"'litcr.írio'') é, .;;egur.uncn
csw 1),11~\<ra fi>~ <.-olocada em moda há um.t nmen~ de .UtQS te. por opost~·.w,) J loch"' o~ outros, o fort~ c»nfronto que el~
por c.Tiucos ale.rnães. o entanto, wna di~tinção cla.ra -.e impi'>c. instaun entre rt"t-cpç.io e pcrfonnan<:e. Opo:s-içio tanto tn.J.i..\
Rcc.'Cpço.o é um termo dt" compreensão hinórica, que clc')ign.a ,fgnifi,·:ltl~l que J n:\.C)>ÇOtO '-vntempla uma. cluração mai\ lon~
um procl')..W, implicando, pois, a consideraç5o c.lc um:a clorJ ga. Pode - ~ hoje falar da recepção de VirgiHo c d€" Homero;
çlo. E~~J d\1raç~o, de extensão imprevi~h·cl, txwic ser OOstante nus no ~ .;itu.lnms .. um.t tóll d istânci~ temporal desse.\ nulorcs
longa . (m todo cnso, ela .o;e identifica oom a existência I'CJ.I de que o te rmo performance não tt·m mais semjdo em rclaç3o
um lêxW uo t,.""Ur po da oonmnidadc de lcitorr~ c ouv1ntrt~:. Gl.l n d e·!>. É \'CI'\Iadt: c1uc ,) tecnologia de nosso século de algum
n1cdr .a cxt<:m:ãv co•·po t-aJ, espacial e s.odnl onclc o te.'< LO é t..'o· modo pcrtud>ou n t''éJUemn que e u esboço as.o;irn: a intl'o du
nhcc.ido c em '-lue produ.riu efeitos:..a recepção de ShJkcs~..c~rc çâo doo; meios .audithos c audiovisuais, do d isco à tclcvi'lão,
na Pran~~. no século xvm" ... modificou ron~iclcl'avdmcnte as condições da performa.ncc.
A J>ciÍo•·mancc é outra coisa. Termo antropológico t • nio Ma~ eu 11:!0 creio que cs~a.s modificações tenham wculo na
lüst6dco, rcbtho, por um lado, às condições de C'>presslo, t naturc7.a própria dt~t.l.'
d.. p<r<:cpçlo. por outrv. po.forlD4n« design> um •to do ro ê d,•.)tc pomo de 'ista qut cométn OOilSidcrar o fato d.1
muniu~ 5o t"'mO tal; refere.se a um momento rom.xJo aMno leirura.
pr<«nto. A paiO\ra signifia a P"""'nÇ><OilCn't• de partídpan - De~·e-mo" • um dos ..utorcs alemães ma.h rtpi'(."SetltJtU~os
tcs tmphc..dQi ne~ ato de fi'Wleira rmnllara. :'/~~ scnudo, da liiestétk-a d.t n.:t.-cpçlo", \Volfgang I.Kr, muitas obr.u ou ard·
rUo t raho dbcr que a performance exíste Cora d."' duraçlo. gos ~obre C$$C tema, do ..Rcading Process(OO, de 1971, ao 11"' do
Ela :nuali~ virtu,•hdades mab ou rnenos numerosa"~, scnt~dou Lesé!ns, dt• ' 976. l>~çr l" 'rtc ~.la idéia de que a m(loeirn pc l:a qua l
com maior ou menor darcza. Elas as faz "p:Jssar ao Jto", rora é lido o texto litcr3rio ~que lhe conJCre seu estaruto est éticO i
d<: toda c:on~ideraç5o prlo l.t mpo. Por isso n"'c~mo, a p<'rfo•·~ a lcit\ITJ ,'lí: 4..1tfinc, ilo mm;mo lemJ)Q, como absorção c: criação,
man<~(· l· a Úni('J que realiza aquilo que os autores aletnlc~, a p róCCSSO d.:- t roct'l~ d i n â mi cia..~ qut: constituem a obr:• na C()llS·
prOJlÔSilo da recepção, chamam de ..concn·li1aç5o". ciência do leitor. (~M! "'leitorfl é, em Yerdade, ~imp l cs cntidaflc
A performance é cnt.ão um momento ela ref..'<"J>çào: mo de rcnomenologla p:-.irológka. res~rHe se singularmente dr
rnento privilc:gj~do. em que um enundado é rcalmcnu· rcC<"~ suhs tât\cla! IM:r I'Cft>rça as po:-,.ições do ..grupo de: Con'\lança •t,
bido. Quan d41 do enunciado de um discurso utilitário cor rcn- que se mantc,-~ em torno de H. R. Jauss, dt.trante os anos •~no
tr. ~ recepçlo se redu:t l performance: ,.QCê J>ergunta o seu e oorneço do\ , 980: wno1 coo«ntnçio no sujeito, assim de
caminho, r- lhe respondem que~ a primeira. ruJ à dir~llJ. Uma ..:nc"'rn.,do, da """')>Ç.l<> (reduzido de fato à co•><hçào d~ indi·

I•
Cítdor sociológico). parece con)cguir fazer- do texto uma pura a demanda, texto e leitura, acordo que proHx::a o surgimento
potencialidade , se não um Jugar vazio. de um scntiUo apropriável pelo leitor. O da concreuzaç~ já re·
Não é menos vercltldc, no entanto, que toda leitura srjJ feri(lo, tc•·mo um pouco estranho, ma11 r1uc nos introduz na or·
prod utividade e que ela gc•"C um prazer. Mas é preciso relntc d cm da pe •-ct·pção sensoriaL O que prcxlu:t a concretização de
grar, nesta idéia d e produlividade, a percepção, o conjunto d e um texto dot.c~do de uma carga poédea ~o, indi.ssoluYelmentc
percepções scnsoriJis. A •·eccpção, eu o repito, se produ.t em ligadas ao• efeitos sem.intioos, a> tron,formações do próprio
dJ'CWlSt.lnda psíqui~ prhil<-gi.da: performo.nce ou leitura. É leitor, triU~,form~ peroebidaJ em geral como emoção pura,
cnldo e tio-somente que o sujdto. ou,·ínte o u leitOr~ encontra ma.• que manifestiUll uma vibr.>çlo nsiol6gic.1. Realizando o
1 obr01; c õt encontra de mancir.l ind1zh·dmente pessoal. F.ss.1. não-<lito do texto lido, o leitor empenha sua pr6pria pal.-n às
C:On.1ider01.ção deixa formalmente íntegra a teoria alemã d11 rc· energias \ itai.s que a mantêm .
ccpçl.o, mas U1e acrescenta uma dime nsão <J.u e lhe modifica o O texto poético aparece, com e li:ito, a esses críticos,
alcance e o sentJdo. Ela a aproxima, de algum modo, da idi:la como um tecido pe1furado de cspa\~ br.1uW.!:I . intcrsdcios a
de catars..:, propos1a (em um ~'Oillexto to talmente d ifercnLC) preencher, Lehrstellcm, disse um, Unbts,tnumheisullen, segundo
po r Arist6teles! Comunicar (niio importa o q uê: com mais o outro, "'passagens ele indcd~o" t)C igindo a intervenção de
fo1·tc ra7.3o um texto lit(:r;Írio) nio consiste somente e m fn...('r u•na \Ontade externa, de uma sensibilidade particular~ in"escj-
~ wn• informação; <tcntor mudAr aquele a quem se di· fll('nto dr um dinamismo pessool para scn:m, p•'O'isor-iarnente,
rige; receber uma romwucaçlo é nccessuiamente sofrer uma lixad., ou P='"'hidas. O texto •ibra; o leitor o estabiliza, in·
triUuformação. Orn, quando se tOGI no essencial (oomo pan tcgrando o õquilo que é de próprio. Ent.io é ele que vibra, de
H
I' ai U!11de o discurso poético... j>Or<(UC o essencial é estanc:tr a rorpo c alma. Não há algo que a linguagem tenha criado nem
~I he morrag;a de energ ia vital que é o te mpo para nós). ncnhu . estl'uturi.l nem sistema completamente fech~dos; e as lacunas
!· ma •nudanç.a pode dcix<lr de ~cr concernente ao conjunlO da c ns lwanCO.'i que aí necessaTiamcnle 5ub5istem constiWCIJ)
scusorialidade do homem . Fa lta ..·c•· a q tte OÍ\•d corpo ral ;._ .. um espaç<> de liberdade: ilusório pelo fa to de que só pode ser
h.:ném t."S.Sa.S modificações c, sem dúvida, oest e ponto não há ocupado por um instante, por n1im, por ...Q&. leitores nôma-
respost,. universal. Acontece que: cs.g correção de perspect i"-a des por ''Oc.\Ç.ão. Tàmbém assim, a iluolo ~ própria da arte. A
J>ermite retomar, oom bons fTutos, muitos conceit os forjados fixação, o preencbimento, o gozo d• lilx:r<lode se produzem
~la hermenêutie> ~ ~la &~to~ d• recepção alemã, desde na nud~.: de um face a face. Di•ntc d~ texto, no qual o su
(ng..trden e Gada.rner,' AWm, o conceito caro a Jauss, o de IJo.. jeito est-i presente, mesmo quando indiscernh-d: nele resso.:a
rl1onte de exp«rar.iros. que implica um aoordo e ntre a oferta e uma palav-r~ pronunciada, imprecis:t., obscurecida tah'e z pela

p
dúvida que carrega em si, nós, perturl'mdos, proctmtnlOS Jhe diu-se uma prátk.a puramt'..nte visual e muda. Na.s épocas m ais
encontrar um sentido. Ma.s esse se.ntido só terá uma existê Jlcia antigas, em que os livros eram lidos em voz alta, geralme nte
transitó ria, ficcio nal. Amanhã, re tornando o mesmo texto, eu diante de uma pluralidade de receptore~ que percebiam o tex-
o acharei um outro. Falando de "compreensão", Gadamer a en- to de ouvido, uma certa descida em pro ftu-t.d idade na espessura
tende çomo uma interior idade: compreender-se oaquilo que do discurso e rá. sem dúvida . mais difíci l do que e la o é hoje; o
se compreende. Ora, compreender-se. não se.rá surp1-eendcr~se, controle social , ainda a censura, lüujtava ainda mais e.fica:7J.nen-
na ação das próprias vísceras, dos ritmos sangüíneos, com o te os efeitos. Por isso, sem dúvida, flO sécu1o xvm começou-se
que e m nós o contato poético coloca e m ba13l1ÇQ? Todo tê.Xto a denunciar no romance um perigo (e ainda mais para as mu-
poético é, nesse sentido, perfor mati"o, na medida em que aj lhc re.<) pelo simples fato de <[Ue a leitura deixou de per tencer
ouvimos, e não de maneira metafórica, aquilo que ele nos diz. il ordem do público.
Percebemos a mat.eriaUdade, o peso das palavras, sua estrutu- O que nos 6ca é que essas variações históricas não oon-
r.a acúsdca e as reações qt•c das pl'O''ocarn em nossos centros cer nem ao essenciaL Transmitida a obra peJa vo2 ou pela es-
nervosos. Essa percepção, ela está lá. Não se at.Tescenta. ela crita, produzem-se, e ntre ela e seu público, tantos encontros
está. É a partir daí, gra1~•s o e la que, esclarecido ou instilado dife 1·entes qtJ\U~tos d iferen tes ouvintes e leitores. A única dis·
por qualquer reflexo semSntico do texto, aproprio-m e dele, simetria entre esses dois modos de comunicação se. de\'e ao
interpTe1:a.ndo-o, ao meu modo; é a partir dela que, este texto. fato de que a oralidade permite a recepção coletiva. Pensem os
eu o reconstruo, como o meu lugar de tim dia . E se nenhu- nos cantos revolucionários. Os q ue cantam em público têm a
·''
l.r!~ ma percepção me impeJe. se não se fOr ma em mim o desejo intenção de provocar um movim ento de multidão. Diversos
dessa (re)cons trução, é porque o texlo não é poético; hã um meios retóricos, rítmjcos, musicais contribuem para esse efei-
~··
li! obstáculo quê iropede o contato das presenças. Esse obsdculo to unânime . .Mas serÁ que a una.ntmldJde é verdadêirarnente
pode residir em mim ou provir de hábitos culturais (ta1 como atingida.? Se assim for, vai ser pelo viés de scnsibiljdade~ in-
chamamos o gosto) ou de uma censura . . dividuais necessariamente e felizmente - bem d iversas. A
É figura tivamente <tue emprego aqui a primeira pessoa. propaganda poHtica o sabe tão bem que ela .$<:: empenha em
O eu SÓ importa pelo que ele denota: a saber, q ue o encontro reduzir essa di\1e rsidade (muitas vezes por meio de d isciplinas
da obra e de seu leitor é po r natu(eza estritamemc individual, corporais, tais como o desfile, o braço a braço, a mão levanta·
mesmo se houver uma pluralidade de leitores no espaço e no da, o punho cerrado). Uma tal opressão altera, no melhor dos
tempo. E.<õsa persona1izaçào da leirura fOi fortemente acentuada, casos, os efeitos da dispe rsão perceptiva ; não os modifica em
é verdade, desde q ue , a partir dos séculos xv. xva, xvn d jfuu- sua natureza.
O poeta Jacques Roubaud , fa.rando de sua arte,• emp.r c- rcnças afcram a mensagem de modo menos dc:marçado do <1ue
gava OOtn insistêoda cluas JOrmula.~: "a poesia djz o que e la fez a<.:a:editar McLuh-an . O que opõe uma mensagem escrita a
diz dizendo-o"; depois, passando a um patamar l;Uperior de uma ora_l é mais exterior a essas próprias mensagens, e reside
análise: ''a poesia dl"t o que da diz d izendo". Não $C saberia no estiJo de existência ligado a tw1 c ouLro dos media mai.~ do que
melhor dizer. Mas e u gostaria de (inspira.odo-me en:~ Austin!) ao estat.ut.o do poético. Remeto il esi5ê a.')Sunto nas obras de J.
acrescentar que , em poesia, "dizer é agir". E e u e ntendo poesia, Goody (em particular 71te Domeslical.ion <f the. Sm·aac Mit1d), s
aquj, como em ocasiões precedentes, no sentido mais geraJ, abordando a coexistência do registro oral e do registro escrito
i.ndui.ndo nossa "literatura" .. . aind;;~ que na estética q ue preva- no contexto africano. t\ CXJ.)(·.r iência das sociedades medievais
lece entre nós há séculos o discur1;0 prop1·iamente poético seja não é menos in teressante quaruo a isso. Em um mundo fr ágH,
IÕJ·tc:anente parasitado 1>elo representativo. ameaçado por todos os lados, e em que eles tentavam heroic(l·
O que implicam, tais proposições, no q ue concen~e ao mente recdar para si ,una tradição escrita, os doutos d(.l Id3de
leitor de "poesia"? Q ue a leituTa é a apreensão de wna perfor- Média tinham o hãbito de classificar seus cont.cmporâ.neos
mance ausente-presente~ urna t.o mada da linguagem falando-se em dois gr upos, lirurati e illicterllli. Ora, esses termos não ti -
(e não apenas se ~berando ;;ob a forma de traç.>., negros no nham, no seu espí1·ito, grande coisa a "cr com a alfabcti?.ac:-.ão.
papel). A leitura é a perceps:ão, em uma situação transitória Letrados e iJelrádos significavam dois tipos de homen1. cujo
e única, da expres.5ão e da elocução juntas. O texto poético, comportamento diferia, pelo menos em cert.as circunstâncias.
no patarna.r de nossa cultura, (.-omporta sempre um demen 4 scgwldO eles colocassem a fonte de autoridade nos podel'es
to i1úormath 'o (salvo raras exceções). Ora) a infor mação as- racionais ou nos da sensibilidade ; seg\lndo a maneira pe la qua1,
sim transmitida pelo texto produz~se em um campo dêitico espont.aneamentc, o homem reg\1la seu penscun ento e sua oon-
p~rtictdar. Um aqui·<u·oooru jamais exatamente repl'óduzÍvel. duto pda ordem do cor poral ó ti pda da escrita. O j1dgamento
Qoando se fa_la, como já o fiz, da reiterabilidade própria d<l não se apoiava f"..m um modo d e COEnunicaçâo como tal. A voz não
poesia., essa rtiterabiliclade não incide sobre a estrutura do pró- estava alnda subordinada -à hegemonia d a escrita.
prio campo dêjtico mas no fato de q ue h:wer~ sempre um Em outro livro seu, Lit.eracy in liaditi<wal Sociélies, Goody
cam po d êitico particular. afirma que em toda .sodedade humana se produz w:n "equi-
Eis-nos aqui bem longe do preconceito habitHa1 que apro-- líbrio homeosbtj<..-o" entre a sociedade c as tradições vocais
xima per formance un.ica:mente de oraljdade. Assim também, que e la comporta: a cada momento da história dessa socic~
salvo em a.lguma.~ sociedades hoje desaparecidas, oralidade e dade, certas tradições orais ou certas funções a..."Sumidas pela
escrita ooexistir.nn sempre, em épocas hjstóricas e s uas dife- voz humana se encontram, por quaisquer r;,zões, corno objeto
de uma ..amnésia ~trutural"' em beneJic..io de outros mcioot de \-olta se nw:n~ p~ro~ o ~ elo que se prende acl ._... ro,.ço
comuNC31çãO ou de transmissão de autorid~c. M.u ess3 amrlé· desordcnatlo do,. J»lSC'S ~fri~ tentando Khar pua M um.il
~ia ~ ~mpre prmisóri~ e alterna, ao longo do ll·mpo, com lingwgc:nt 't"~ lllCS permita dialogar oom o mwldo mode• no.
fe:nAmC'nOS de ressurg~.nda. Sem dú,·id.t, e-is a cxplic.;~çlo di' Assim, cnl U.gôoc, quando ele minha estada em 198o 8.1, t"cl.l
urn fato rlot.lvel, que rnarca em profundi<l;ul{' ~ mcnulida- ArUkupalo Kuti, 1nC'~l't' do '!fro·bcat c q ue (<:mbora <..'OU.!ltanl~·
dc d(' no~'fO fi rn de século XX e S<.: alkcrça no la.str·o d.a maior m('ntc c·ontrnla(IO JWir~ p·ulicia, \'jg iado pelo regirne que n5o
p.lr.h~ ~~e no.~s.u a~ivi~des culturais - a começar pela lchura '"li· o c~limrwa) tnrnou -,.,: llgura d e proa oa Nigér ia rnodc m a...
tcr,wr,) : t:.Ssil no.;;talg ra da vo~ que eu muitas w~('-!1 Cl<O<JUI.'i em Entr·e nA~, h3 un~ ~WI'>:.t":rHa anos se assiste aos grandes poderei!
IHt'u lmrodu(1;o à plH:$Ja oro/. Nostalgi,r pcrccpth rl (para além ''ocais (cspcdJhntclllC {lO de~envolvimento do canto) <(\•ando
de no...so intt•rcs..~, em si mesmo equhoço, pelo IOidorc c pc elos movimcntu:-. ele inte nsa emoção coletiva. Cantos dl· par
las trJdiv·~·~~o arcaicas) 0 .1 totnada de cou_s(.:i ência de~~ode G.trda ttStmi, de rc'hh'nte~. Romanocro da guerra de 8 p.mha ... Por

l.orca, p3~n•lo por Artaud, até 01 rmior p.artc d&~ ('Ontempo- volta de 1930 , um d~dirigcntc.s do Partido Comunista fr;rncê~,
riltt.U, da importância ccntra1 <(UC: combn .nribuir à \ 01 em Paul Vo~ill.ant Couwri..:r, dcdi<:ou uma parte de 'U.a athid.ldc •
tod.i reftc>.lo sobre a poesia. O fenômeno uh~ •mplamcn- criM <.Vr.ili' no parudo. P;an e le, tTaU\"a-sc mcno~ de propot
•• o <jU.ldro ê<treito do Ocidente. Estende-oc 4 Áfrln, o que gand;a du ~uc de um m('io (le manter o ront.ltO com ~ energu
quer di7cr m ui1o pouco. Muitos li\Tos foram con~grado< às fasie~; c mor;l) que dC'Tti~ 1nimar essas ath;cta<Jo. N~ úudm
!Obr~vi"ê-ncib ameaçadas das tradições afTic.tu;~~ antiga:.· m M Unidos, forolm ~•npl~mt"nte e.;;.-udados, já tú trinu <UlO~, w.nto
:~ o que S(" cfcixa, em geral, de considerar, é que nos p; in;ipais os Jolkwngs ck prot<"!otO"' quanto a ar te dos pregadores po pu·
'·, paísc< cl• Arrie• oentral e ocídcntal (só para cil>r oqudcs <iuc la1-es do sul." ~imuh al\camcntc, aparOO"-m e~tudo~. cada \ ('(,

~I eu conh<l"') a "modernização" (isto é, a çoncentr.t~ão i>Opull -


cional na~ g randes cidades, os dmidos ensaios locai~ t.lc a·iação
nuis mnnct'OSCJI, dc;rrinados, em part icular, aos ho mcn• ,lc ,,._
gócio, :,Obl'(' o u <;4) ela VO'l na gerê•lcia e nas troc;~s romcr·ciais.
tlc umJ indústria, c, mcüs tímidaa.inda, a formac;.ão de muvjmcntos No cnt~1nto, JWO<:urn, ~c em drculos cada ''ez menos •'t~ll"itos
sodJis) csú de fato ligada a uma florescência vivid,. dC' fornus cncc-mlrtHk~ r rn w rno de homens como Hcnri Chvpin ou
nc)\'JS de orrc vocal, enranhas (senãO no nível d(' h'hito! org.l Giovanni Font.ma \llna pouio Jo11ora exaltando vs puro~ valo
nj.;:os e de alguns t ruque-s técnicos) às veU1a.-~ pr&tkaj em pleno rc~ da \Crl, liberado~ das limitações da 1íngua. ..7
d(':Silpoarccimento. Os anistas que os prommt:"rn .são ;o'·C'm u- 'l:tl é. em no.»a ci,·ilit.tÇio, o meio natural de tod.t "htc~r.l·
cntOC't11, mlbi~, tõlntores, cujos pais est.tvam ainda imC'nos tur-.l'\ pol')l.l ~e o in...u.n.te em q ue: ela se fornu até M~,Uth•
no mwtdo oral c:b África tradicionaL M..., o <rue ole• ruem em que c "m:ebid•"· A kirura se cks<;nrol• sobre o p>no de

••
fundo do barulho de voz que a impregna. Para 0 homem do P'ER JlO RMANCE E LEnUR.A
fim do séçu)o xx, a le itura responde a uma necessidade, tanto
de ouvir quanto de conhecer. O corpo aí se recolhe. É uma voz
que e~e escuta e ele reencontra uma sensibilidade que dois ou
três secu1os de escrita tinham (lnest esiado, sem destruir.

Em uma çonferência sobre a poesia andaJu2a antiga, Federico


G~wcia Lorca celebrou outror;.'l a união primitiva da poesia J da
mUsica c; da dança. conjunt o ljgado à magia: lmica entre nos.";as
artes a exigir a presença de um corpo, no recomeço incessan ..
te Ue um en contro.' O poema assim se "joga": e m cena (é a
performance) ou no intcd or de um corpo e de um espírito (a
leitura). Numa ca1·t:a que enviou em 1923 a Paulhan. Artaud
lhe confi:ava que estava (tem vias de t rabalhar para escre \'er um
poema que seja \'erbahnen.te e não gramaticalmente realizado".
Poderíamos dural)te muito tempo glosar essa oposição entre
aramaticolmente e ~wbalmenu. Na escrita de Art:.md ela nos re-
mete ao teatro, "palavra ilcgh·el'•, "anterior à escrlturá'\ em
que ''o signo não se sepa.r ou ainda da força,.. 2
A analogia é esdarecedoraj e o modelo teatral, em nos-
sa cultura, represema IO<:Iá poesia, na própria complexidade
de sua prática. I-lá séculos, com efeito (a parlir, sem dll\~da, da
Antigüidadehdênica), o texto teatral procede de urna escritltra,

6o 6o
enquanto sua transmissão rCCJucr a voz.• o gesto e o cef•á.rio; c muito difercntt~ do que foi a o•·aJidade tl"adidonal; no seio de
sua pe::r<:cpçâo, escuta, \'isão e ideotific-aç"lo clás d r cunstâncial>. uma cult\•ra J\a qual a vo:c, em .sua qualidade de c.:n\aJ)<tção do
Escrito. o 1c.:xto é fixado, mas a intcrpret~çào permanece cmrc- oor po> é um motor esl)cnôal da ~ncrgia coletiva. Tal\'cí'., dc.ss;:~
guc à iniciativ:. do diretor c, mzais ainda , à Hbcrdadc controlada rcdescobert;., des..:;a rcintrodução d::. \' OZ nos funcionamc..ntos
dos ah>rcsl de sorte que sua v:a.ria~:ão se- manifestJ, em Ultima fundament.:üs t1o corpo social vir~ ü que se poder ia chám ar de
análise, peJa maneira como é levado em conta por um corpo salva~~Jo: a dc.~peito das recuperaçOO e das c.:omercialii"..açõcs
individual. t\l)sÜttir a uma n).prcsentação tc.atra) emblcntatii".a, jnc\ril á.v-cis. o retorno do homem concreto. E n essa pcrspectiw•
a..;;sim. aquilo ao <luc.: tcode ·O <luc é potencia1mentc - todo ato que tento pcrçcbcr <)UC na minha leitura dos textos do.-; quais
de leitura. Eno ruído da arquiralavra teatral que se desenrola extraio núnha alegria está parte do meu corpo.
esse ato. qu~isquer que St'j;;~m os condicionamento.-; C\tlturais. Um mal-entendido co•ninua possível. Você 1·ejcita, clir·
A leitura não é um ato ~cparado nem uma operas-:iio abs me-ão> a literatura! Pi.o•·. ace-r ta contas com da .. ~làl não é
trata : só há pouco tomamos con.sdência dis~: a épOC<l nà qu.Jl 1ninha intenção; •nas a de estabelcc::er uln vínculo entre dois
entramos não está mais em condj~)es de nos ocultar esse faco. sentim entos, dua...:; opiniões, e nn·e a..<ll quais cu me d.i vido. De
Em todos o:s hüdzontcs se c.'5 boçam os movimenloS de uma um;. parte, amo os textos; de o-utra, a "literatur:t", termo al>s·
dc:siilienaç1io, a longo pra?.o, da palavra humanJ ; mo";mcntos t•·ato. tan.t o faz. Ora> o c1ue é m esmo am3r os textos? Isto não
que. de crise em cr-ise, não cessam de superar os contrários. faz mais sentit.lo que "amar os homens", as mulheres o u a hu ..
Poderíamos citar exemplos recolhidos em todos os países clo manid3dc! Não se pode amar senão um texto. da mesma forma
muodo.A dvili:!.ayão dita tecnológica ou pós-induso·ial est á em <lu e não se pode amar senão um ser ou dois ou três indivíduos.
\'ias (e já o dissemos bastante!) de:: sufocar en:• todo o m undo 0 Não há .,verdade"> é preciso repcti·IO ~•inda, vitalmente leg'ti-
que subsiste das our:ras culturas e de nos impor 0 modelo de ma, que não seja o particular. Porq ue só com de o Cúl)taf.o é
UJlHl brutal sociedade de consumo. Mas> na p rópria 01cd ida e
pOl)SÍvel. Por isso, ponlue e la encontro c confronto pessoal, 3
des.$a expansão c diante da ameaça que da craz, o que cada vez leitura é diálogo. A 14comp1"eeosão" <Jl•e ela opera é fundamen-
mais resiste no mundo de hoje? Resistem, sem intenção neccs- talmente dialógica: meu oorpo reage à materialidade do objeto,
~ariamcnte (lc conte.stação ou de recusa, nos media. oas artes, minha voz se mistura , "irruahnentc, à !)\la . Dai o "prazer do
na poesia, nas próprias formas da vida SO<:ial (a publicidade, texto"; desse tcxr.o ao qual eu confiro, por um instante, o dom
:l política . ..), as formas de exprcss3o corporal d.inamiza<las de todos ólS poderes que chamo t u. O dom, o prazer rransce•l·
pela \'OZ. Nesse sentido não se pode du"idar de que esteja- dcm J)ecessariamcute a ordem informati\'-a do discurso, q ue
mos hoje no limiar de urn:t nov;J era da oraHdade. sem dú\rida eles eliminam depois .

., ,,,
É a~sim que entendo (deixando de lado, talvez, a intenção certa medida, informativos, mas sua ftmção informativa passa
do autor) a frase de J. F. Lyotard nos dizendo que "o livro tern
4
para segundo plano.
a descoberta de suas regr·:.s corno jogo e não seu conhechnet) 4 Pode se, na história de um texto poético, distinguir v;Í ..
4

to por prindpio•.l Longe de :;c dedtlzir e nquanto se oonstr6i, r ios momentos: o momento de: sua },J·mação, d epois, nece.s 4

ele joga. O leitor não pode senão entrar no jogo, confronto sarhn1lente (uma vez que esse texto, pelo menos d e maneira
gratuito e vital, ~m que o ser pesa com todo sev. pc::so. Lud\\1g virtual , dcsttna·se a se torn ar pl•blico), há a trans«ussào. Esta
Pfeiffer, em uma conferência pronunciada há alguns anos no p•·opicia a r«tpção. Depois ele se conserm, e n"' conseqüência
Centro lfnjversitário de DubrO\'n.ik, não hesitava em falar da da ourr.t característica própria do texto poé tico, desalienar·se
poe.sia como de wna secreção do oorpo do homem. Paradoxo no que se refere às limitações do tempo. Em seguida, tere -
provocador; mas PfeitTet· não valorizava menos a contribuição mos outras recepções, em nú•nero indefinido: eu as reúno sob
ao conJunto do fenômeno literár io: esse fenômeno que nos o ter mo reiteração. Em cada um desses momentos, o suporte
opõe, cito Pfei.O"cr, an unm·oiclable coucr~.telltSS. Ora, esse inevj. pode ser tanto a palavra vi,•a quanlo a escrita. Disso resulta
tável conet·eto está ligado necessar i;;amente (porque concreto) teoricame.nte (salvo e r ro) urna centena de situações poSSÍYCis!
às formas sociaJiudas~ fOrmas que lanto podem ser regras de Considero unicamente os dois extremos.
c:;omportamento <1uanto estruturas de linguagem. e que cons· Na situação de o.alidade pura, tal como pode obser vá-la
t ituem em oonjunto o qt•e o c mólogo Jacques Oournes chama wu etn6logo entre populações ditas primitivas, a "fonnaç.io"
o Jormulismo. Dou.rnes entende por esse termo alguma coisa se opera pela voz, que carrega a palavra i a primeira "transmis·
alêrn de. um tópico (aind;;a que o fonnulismo pudesse ai i•ldulr são" é obra de u.m personagem utilizando em palavra sua VO'I.
um): wna série de condutas ritualiz.1das. Voltamos assim à dc- ....·iv.a, que é, necessariamente, ligada a um gesto. A "'recepção"
hni~ão iuicial <lo pohi~1J. vai se futer pela audição aoompanhada da vista, uma e outra
É preciso ainda que oos entendamos sobre as modalida- teodo por objeto o discurso assim perfonnati2ádo : é, com
des do rituaL Volto um instante, de maneira comparativa, ao efeito, próprio da situação oral , q tle Lran..'i•nissão e recepção
inventárjo definit6rio dos traços, da comun icação 41'poé tica". a.í. constiwam um ato único de particip;;ação, co prt".scnça , esta
4

O fato de base, que constitui em poética essa comunicação, é, gerando o pr-.:.zer. Esse ato úruco 6 a performance. Quanto à
lembro-o, sua tendência ou sua aptidão pára gerar mais pra 4 "oonserva.ção", em situação de oralidade pura, ela é entregue oi me 4

zcr do que informaçâo: alcance ger al que acentua o demento ntória , mas a memória implica, na ureiteração", incessantes \'a 4

hedônico sem qt•e a infor mação sej.a necessariamente negada, riaçõe-s re-criadoras: é o que. no..~ trabalhos anteriores, chamei
tanto fa-~; a maior parte dos textos literários são t:ut~bém, em de móvê,)cia.
Na sit11açâo de leitur.-. como a conhecemos na cultura oci- audit ivo, no :>ciO liC um <:e.Hnplc..·u) sociológico e circunstancial
dental de hoje, a ''formação" passa pela cscriuua, que é mn Único. A situação de pura cscritura~ ldtura (situaç.io cxtrcmJ,
traç:3<1o, ~:J~enhad o po r um \lt.Cn:-;Uio manual (cane ra e rc.) ou c que parcc..-c hoje <.:ada vez menos c.:ompn::Cnl;.h·d p.u·a os m:ti'l;
màquina, c ademais codifi<:aclo, de m aneira d iferente segundo jovens) dimin<l, em p •·ind pio tot.:.ln1t':tltc, cssc:<O fatores. Daí a..;
os tipos de escrit ura, ou os tipos de língua. A primeira 4ftra.ns- tX;si~t\:ncias, talve'l, soba·etudo por parte d o reQ!ptor. A leitu-
missão" vai se faz\! r seja po r m anus<.:rito ou por i.a:nprc~so, de ra se aprende. nos entretemos t."Om e la; d a exige esfOr\Y) e
toda anaa)tira por m eio da mesma 1narf..<a ooclifici\<la, que além constância ; na )jngt., ~gt:m corrente, :~ palav-ra t:uhura desiga)a o
disso subsiste, daCJlti por diante, por ele mesmo, pronto para hábito, seu.~ efeitos. Nada espantoso que nossos mc11orcs de
ser rC(:ch ido pda leitura . Quanto (I <::,ta, e la é t~rna visão <k· se- vinte anos rej eitem nisco o modelo, eles mc::;mO:-> por e par:.\
gundo grau: o sentido ,~i.sual do leiwr serve-lhe para decodifi- quem cst.i ::;c inst'J.\Irando um universo de neo"ocalidade; mui-
car o que fOi codificado na esa·ita, operação diferente da visão to.-; leitores de l)oe..,ia se aplicam em articular, na soU dão de s ua
comum (inforrn;:u.lorn) . Há <IC<.:Crto vjst,alid(ldê nos dois casos; leitura. inter iormente pelo menos, os sons, A k~i tura "lit('rária""
em ambos o nen•o óptico fua)ciona; mas a operação mental é njo ocssa de trapacear '" ldtura. Ao ato de ler intt:gra-se um
muito diferente. A "oonservação" se deve ao livro, à bibljoteca, desejo de rcsu bclecer a unidade da perform ance., essa unidade
o.'O que i'vtichd Foucault chamavn de arcJujvo. Graças ao ljvro, à pc rd icl.-. para nós, de restituir a p lenitude por um \'xe,·c'cjo
biblioteca, uma identidade fixou-se na permaalência. pessoal, a potitw-a. o rilmO respinl tório, pela im aginação. Es....e
Se compararmos as duas situações assim definidas, cons~ esforço espontâneo, em vista da reconstituição da unidade, é
cat-amos que da:; se opõem (muj to esquern3tk;u.nente) como inst~ pará vel da procura do p razer. lnscrita nJ atividade da leitu-
um con jünto de processos naturais a uma série de procedi- ra não menos que na audição poêtica, essa proc'Ura se idem i fica
mentos artificiais; em outros termos, sua relação não deixa a<lt.li com o pesar de uma separação que não está na naturez.<l
de ter analogia oom a de natura.a e cultura n~) form aljsmo de clas coisas, mas pro,•ém de um ar tifício.
Lévi-Strau.~. A diferença csse1\cial entre os dois mode los de co- A performance /; ato de presenç.-. no mur1do e e m s i mes-
municação que e las reaHzam reside e m que, em situ<lçâo de ma. Nela o mundo está pre....ente. Assim. não se pode falar de
oralidade pura, .se mantém , de momtntO a r.norncnto, uma perfor mance de maneira perfe itamente Lmh·cx:a e há lugar aí
unidade muito IÕ r te, da ordem da perccpção.lOdas as funções para definir em 'liíCn::ntCS g-raus, ou modalidades: a perfor-
desta (ouvido, vista, tato. .. ), a intelecção, a em oção se achanl mance propri~wlcl\t_c. dita. gravada pelo etnólogo num contex-
misturadas .simultaneamente em jogo, de maneira d ramática, to de pura oraLidade; depois, \una série de realitações mais
que vem da pre-..sença oorm un do etnis.~or da \'OZ e do recepto r ot.r m enos claras, q\aC se afastam gradualmente desse pr itn ciro
modelo. Mas jamais, salvo exceção mal con.oebJvel , o rn odelo
I
1 le)tura, essa presença e. por assim dizer, colocada entre parên·
é <.."'mpletamente recuperado. É verdade que houve historica- teses; mas subsiste uma presença invisíve l. que é matUfestaçlo
mente mna tentati\'a par;,l aboli-lo: da se prendia, pelos fins
da ld:.de Méd ia, ao conjunto de prátk;;ts rnísticas que recebeu
f' de wn outro, muito forte para que minha addão a essa voz, a
mim assim dirjgida por intermédjo do escrito. (:Ompromera o
o n.otn e de dei'Orio moderna. Os cri$1ãO.'; dessa seita te ntavam
instaurar mn diálogo d ireto. sem mediação corporal, entre o l conjunto de minhas energias corporais. Entre o consumo, se
posso empregar essa palavra, de um texto poético escrit o e
leito l' (o crente) e o texto (a pala,••• de Deus). Eles recomen-
davam para esse fim a leitura puramente visual. Esta tornou-se
a nossa devido :J uma série de mutações históricas: em parti-
cular a multiplicação do número d.c escritos, alterando a rela -
I de urn texto transmitido oralmente. a diferença só re..side na
intensidade da presença .
Poderíamos assim distinguir vários tjpos de perfortuan cc,
resultantes um do outro em gradação.
ção do home m OOnJ os textos ... Somente iJ "poesia" resistiu; a Um deles é a perforroaoce com a ~1dição aoornpanJMda de
pressão das n 0 \'3S tecnologias acabou fX>l' f-aU-la entrar, por uma vi~ão global da situação de enunciação. É a pe rformance
sua ve.t, no modelo. Ela oão se esqueceu de qHe foi coagida a oomplcra, que se opõe da maneira mais force. irredutível, à
isto. Mas deixou de reivindicar o antigo modo de comunio· leitura de ti po solitário e si)encioso.
ção performancial, con~;dcrado desde então como própl'io da Um o utro se define quando falta um elemen(o de me..

'· "cultura popular" e desvalorizado. Arealidade de participantes cliaçâo. assim quando falta o elemento visual, como o caso da
in(Jjviduais, carregados de seu peso vivo, se fJz.ia substituir um mediação auditiva (disco, rádio), da audição sem vis\taH ~a ção
objeto, o livro, sobre o qtl3l se transferia a necessidade de pre- (pe tfo rmancê vo<.al direta na qual a visão se encontra supri-
sença. O livro não pode ser neutro, urna vez <JUCé "literatura", mida fortuitamente, por mo1 ivos topogr áficos). Em situaçôe.~
e se dirige a ele, ao leitor, pela k-itu~, vm apelQ, ~J.n'l~ dern~.n ­ ~es>e gêl:lerQ, ~ O[>Q$içãQ entre perrom1ancc c leitura tende a
da insistente . Pouco im porta 3(jUi saber se essa dema.nda é jus- se reduzir.
tifkada. Para além da materialidade do livro. dois elementos Enfim. a leitura solit<lria e. puramente visual marca o grau
permanecem em jogo: a presença do leitor, reduzido à solidão, performancial mais fraco, aparentemente próximo do 1.ero.
e uma ausência que, na intensidade da demanda poétka. atinge Ain da é preciso t er em cont0;1 , no sentimento q ue experimen -
o limite do 1olerà\·e l. tamos a respeito disso, a espécie de surdez particular que nos
E~ no entanto.. . Na situação pcrformanci~l. a prcscnp inlügc nol)5a eduCáÇâO literÁr ia. A eS\..--rita, no curso da luta em
corporal do ouvinte e do intérprete é presença plena, carre- <Jue e la se empenhou, por alguns séculos, para garantir sua
gada de pode res sensoriais, simu1taneamente~ em vigília. Na hegemonia 1la transmissão do saber e e xpressão do poder, deu-

68
se como :.tlvo confesso a suspensão ou a ~~egaçâo de todo e le - mas, na m edida <lo M!U pra1.e r, o leito r se em penha e m resti ~
mento pc•f ormancial na comunicação. Antigam.ente , a le i era a rui-la. A "compreensão" passa por esse esforço. Conhece-se a
palavra do rci 1 pronunciada na praça pública, palavra que podia abwldante bibliografia que, a pa1·tir de Benveniste, tentou es-
ser oontestada. que como tJ I conv idava ao diálogo; o Estado clarecer (c às vezes obscureceu) a id~ia de enunciação. Tomo*
mode r no , abstrato, não pode se exprimir senão por meio de a aqui pelo ato o u a .sér ie de atos que ope ram a mediação
textos escritos, que ele emite sem qualquer presença e, quando eolre ítS virtualidade.s da üngua e a manifest::t~:ão do d iscurso;
da leitur.;~ dos mesmos, ele Sé ma.nté rn aust~n re, indiS(:utível. entre a compe tênda e a perfor mance par a usar os termos
No funcivnamenw dos textos litenirios, o e fe ito da oposição gen erativistas.• A noção de enunciação leva a pe nsar o disrur·
é mais for te aiJ1da . Durame duzen tos, trezentos ou quatrocen 4

I
so corno acontecimento . Um processo global de enunciação
tos anos, a parte da sociedade c1ue dominava os Estados, socic .. i gera todos os nÍveis d a man ifestaç:ão: abre sua semiose, como
j
dade d ita culta, part icipando da [nstjtuiçào literária, funcionou ! escreveu Ec;:o.$ Por aí cai e perde toda a pertinên cia a oposi 4

oonforme o seglmdo mode lo de comunicaç5o: isso nos parece j ção fd la por certos üngüisra..~ americanos e ntre o verbal e o
urna eternidade; mas clo ponto de vista das longas dur::u;ões não-verbal no discurso. Nenhum dos elementos da enuncia-
histór icas. isso terá sido sem d{l\•ida um cpi~ódio, i.Jnporfante, ção é dissociável <lo e1~unC'iado. Por isso a ironia é possível,
cer tamente, mas nada garante que .se perpe tue. Eu me recuso na maioria das veze~. pl'ovenientc de um pretendido afas ta-

..
!: a prognosticar, como alguns o fizeram , a morte da literatura.
Desejo que ela pe rdu1·e; mas o que não pode deixar de mudar
mento entre a e nunciação e o enunciado. As condições, cer -
tamente, nas quais se produz a c.nu.ociação var iam .segundo a
é o tipo de mediação do poético. Citaria como sign.ificativa qualid;.~de e a quantidade dos fatores em. jogo, mas de todo
a esse respeito a invasão de nosso universo cultural, há uns modo e las ulrrapassaxn amplamente o e nunci:Jdo e o e nuncia·
trinta anos, p<Jr forma~ de arte das quais o riXI< me parcoc o dor: t.cndcm a se colocar em e"idência. Isto /lOS remete uma
emblema. Apesar da mediocr id:tde textual (m a.~ não é est..-.. a vez mais à existência fis ica dos s ujeitos.
questão) do canto na música rock, o qu.e testemunhamos aqui,
é uma irresisth1e l "cor po rização" do prazer poético, exigindo f Subsiste a di.ssirnetria das situações de percepçâo: em uma
conumkação c:-.scrita . a leitura do texto nã.o corresponde mais

I
(depois de séculos de escrita) o uso de um meio menos duro , do que a um dos dois momentos da performance. Esta úJt ima,
mais man ifestamente biológico. Desse context o 1 fo r mas novas na co-presença dos pa.rtk ipa.nr.es, (re)atualiu a enunciação; a
de leitura vão neces.saria.mcntc se desprender. escr il;) só pode s ugeri-la, a partir de marcas ddticas, f-rágeis
A pe rformance d~ ao conhecimento do ouvínte-espt."Cta 4
e fre<1üeme mentc ttm biguas, senão ar tificialmcllte apagadas.

I
do•· urna silUação de e rJunciáção. A ê$<:.rita tellde a d issimuli la,
4
Essa oposição se manifesta, do lado do o uvinteMespe.c tador e

70 ] I

I
do leitor, no tÚvel da ação ocular: dlret.t, pe rcepção imediata, isto, passa diretamente à nOÇ":iO oorrespondente. A relaçlo inte ·
por wn lado; visão exigindo decodificaç.ão, portan to sccun· grada se torna imed iata entre o perceptível e o mental.
dár-i:t, do outro: olhar versus lt:r. O olhat nio pára de escapar Essa imedjatez foi sentida e explorada por todas a.s Ci\·i-
ao CQntrole, regislra, sero distinguir sempre, os e lementos de lií<'tções da escrita que. cada wna i sua maneira (segundo a
uma s ituação global. á cuja percepção se associam estreitamen 4
plasticidade de seu sist..::ma g ráfico), prQcurou compensar. Da.í
te os outros scm idóS. Esses e leme111.0S ~séS t raços visí,·e i.'\, es .. a fonnafc)o de caligrafia.~. fenôm eno universal , como um es-
sas oois.as - , d e os inter preta: re.g is tra os sinais q ue nos dirige fo rç:o Uh üno para reintegrar a leitura no esquema da perfor 4

a "reálidade" ex1.erior (o q ue quer que se entenda por esta pala 4


m ance, fazer dela wna asio perform ancial. O que é , com efei~
vra) e fornece e."ponra.n eamente uma compreensão emblemá- to, caligrafar? É recriar um objeto de forma que o o lho não
tica, na maioria das vezes fugidia e logo reoolocada em questão. somente leia, mas olhe; é encontTar, na visão de le itura) o o lhar
A vista direta gera assim uma semiótica selvagem , cuja eficácia e a.'; sen~áÇôes múltiplas q ue se ligam a se\r exe1·dcio.
(sobre áS opin iõ<::s e condutas) provém mais da acum ulação das Na m.edida em que a poesia tende a colocar em desta 4

interpretações do que de sua just.eu intrlnseca . O latim me 4


que o sjgnificante, a manter sobre e le uma atenção contínua,
dieval designava pelo term o sianatura o resultado dessa ativi 4
a caljg rafia lhe restituiu , no .seio das tradiç.'Õe5 escritas, aqui 4

d.a de do o lbo humano. Slgnoturo impHc.t que o olhar transforma lo com que restaurar wn a p resença perdida. Sahe-se das for·
o
ern signum o que ele rx,rcebe u. objeto dessa percepção é spe- m as extremas que cJa tOlnOu, às ,rezes, dos carmineJflSurara da
tulum~ palavra-cha,•e das c ulturas medievais: um reflexo ernana Antigüidade e da Idade Média ate os caligramas de Apolllnaire.
disto e, como reflexo, exige a interpretação. .. Nós quebramos O olho pe-rcebe uma frase grafi(:runente corrtorcida en1 fo rma
a circularidade de um tal sistema de pensamemo; isto não e de rosa: sirnultanearoent c ele olhq a Aor e lê a frase. A pe r-
historicar'"ente menos revelador de uma tom ada de consciên - cepção do texto se desdobra . Da maneira mais banal, a maior
cia que remonta à aurora do mundo moden Jo. parte dos poetas, hoje, im prim e seus poem as diStTjbuindo na
Na leitura, em compensação, a ação vi:,-uaJ se orienta de ,·ez págin a espaços \'azios e palavras em uma or<Jem <1ue é significa 4

por• a decifração de um código grifico, não para a ohservação tiva, pois cria um d tToo Yisual, transfonrumdo o poema em um
de objetos circundantes. Para todo indivíduo allÍlbetizado tendo objeto. A leitura se er•riquece com toda a profw-1deza do olbar.
adquirido o hábito de ler, a relação entn: o significante (a letra)
c o significado (o que essas três, quatto ou de• letra.• juntas que·
rt~rYr dizer) é ioteriori.7..ada, não transita m ais pelo objeto. Você lê
o que os caracteres tnr.ça.dos escre,·eram sobre a página . e feito

Jl
0 €M PENHO DO COI\1'0

Da performance à leitura, muda a estrutura do sentido. A pri


meira não lxxie ser reduzida ao esl3tuto de objeto semiótico;
sempre alguma coisa dcle1 transborda, recusa-se a funcionar
c.omo signo ... e tod::wia exige interpretação: e lementos mar·
ginais, que se relacionam à linguagem e raramente codifica-
dos (o gesto. a entonação) , ou situadonais, que se referem à
e nunciação (tempo1 lugar, cenário). Salvo em caso de rituali ..
zação forte , nada disso pode ser considerado como signo pro-
p•·iamente dito - no entanto, 1udo ai faz sentido. A análise da

I performance revelaria a.ssim os graus de semanticid;.\de; mas


trata-se, antes, de um processo global de significação. O texto
escrito, em oompensação, reivindk.a sua scmioticidade. Só o

I
"estilo~:~ como tal escapole daí em parte. Por isso, já há alguns
anos, sugeri a distinção entl-ç " obra e o te.tto, em se tratando
de •·poesia":' o segtmdo c.e rrno designa uma seqüênda mais
ou menos longa de enunciados; o primeiro, t udo que é p oe-

I ticamente comunicado, hic ct nurlC. E no nível da obra que se

1S

I
manifesta o sentido g lobJJ, abrangendo. com o dq texto. múl- scutjdo o.~a intenção SUf>Onho naquele que me fa1a, e ra pre-
t~plos elementos signiflcantt:S, audh ivos, visuais, citeis, siste- d .so átra.vessar as pa1avras; mas que as pab vros resistem, da.~
matizado.-; ou não no conte xto cultura l; o <JUC eu denominaria têm uma espessura, sua ex.i))tênda densa exige, para que das
o barulho d e fundo c xi,stcnd al (as conotações, condidon;.1das scj3m coul.prtcndidas, uma intervenção co.-poral, sob a formo
pelas circunstâncias e o estado do corpo receptor, do textO c; de uma operação vocal: seja aquela da vo~ pcrcebid<', ()n)fi UO ·
dos e lemenlos oão textuais); um acomp;.1nhamento de formas ciada e ouvida ou de uma voz inaudíve l, de uma articulação
llldicas de comportamento, desprovidas de oonte{•do prede· interiori:tada. E nesse sentido que.se diz. de tnancira paradoxal>
ter r-n inado ... Con<.'ebida a propósito da pe rforman ce. a idéia que se pcns.<t sempre com o corpo: o diSCUI".SO que alguém me
de obra S<.: aplica, e m um grau me nor (mas d e maneira não faz sobre o mundo (qualquer que seja o aspecto do mw1do de
nl('tafór ica!) , a Jeitura <lo lexto poético. Essa le iturn (:úmpor - que d e me fala) cc:mstitui para mim um C.(ltpo·<~·corpo com o
ta, e m suma, um esfo rço para se e ximir li01itações semânticas mundo. O m undo me toc.1 , e u ::;ou tocado por e1e; ação du-
próprias à açã() de ler. pla, reversívd , igualme nte válida nos dois sentidos. Essa idéia,
Q ue o corpo seja assim oomprometido na percepção ple- edipsada dur:une um certo tempo, renasce: hoje, e m uma CS·
na do poético, os antigos parecem ter tido oonsciência disto , pécie de volta do rechaçado, e, $éln dúvida, ligado ao conjun ~
distinguindo entre as ''partes" da retórica, a pronund<1lit> e a to de fenômenos contem porâneos que se em brulham sob o
.
~
(ldio; essas "partes" tinham po r firn produ1..ir um efeito senso- termo duv·idoso d e p&-módc-rrUJade. A generalização, hoje, da
r ial sobre o ouvinte. Quando a retórica "restrita", .segundo a idéia de perfor mance é uma d as conseqüência.<~ .
expressão de Gérard Genctte, deixou de ser uma ar te da pa ~ No entanto, há aí menos uma conquista do que a redes·
lavra para se tornar arte literária> a lembrança des.~õe aspecto cobertt de um fenôme no pri!Uário. Nesse sentido, pode -se di-
da doutrina se pe rdeu. Traços delá s-ubs:istem na "retórica das ?.er que o discurso poé tico valori;l'..a e explora um fato ccntrall
paixões" concebida por alguns teór icos do começo do século no qual se fl~ndamema, sem o qual é inconcebível: em tun a
xvn ; a Çpoca das Luu.s os apagou .2 A idéia de "literatura" que sernântica que abarca o mundo (é eminentemen te o c:aso da
tomava forma e otão, por duzentos anos, não os tolera"<\. semântica pOCtica), o cor po é ao mesmo tempo o ponto de par-
A retórica da Ant igüidade - sem dúvida, neste ponto her - tida, o ponto de origem e o rcfe.rent e do discurso. O <:o rpo
deira dos soüstas - colocava assim, im plicitamente, uma aJir · da a medida e as dimensões do m undo ; o que I! \'e rdade na
mação que, depois de wn longo te mpo de surde:t, voltamos, ordem lingüística, na quaJ, segw\C)o o uso universal das línguas,
hoje. a ouvir atentamente e com tun espírito que consenLe . Ela os eixos espaciais direita/esquerda, alto/bo.ü.xo e out·ros são
el'lsinava, à sua maneira, que para i•· ao sentido de um discur so, apenas projeção do corpo sob.re o cosmo. 3 É por isto que o

77
texto poé tico s;on!fico o mundo. É pelo corpo que o sentido é Ess(: conhecimento "antepredicativo" está na base da ex ..
aí perceb ido. O mundo tal como existe fora de mim não é em pel'iência poética. É por isso que o sentido que percebe o leitor
si mesmo iutocável. e le é sempre, de anancka primordial , da no texto poétk 'í> não pode se l"eduzir à decodificação de signos
ordem do sen.s~"el : do \risível, do audh·cl, do tangh·el. O mun .. analisáveis; provém de um processo indecomponíve.l em mo·
do que me significa o text o poético i! llC(:(:.sl:'ariamente dessa vi.m entos particulares. Esse traço nos leva a constatar uma \'ez
ord.em; ele t muito mais do qu<.: o objeto de um discurso in for· ma is o parentesco estreito (a ana.Jogia) q ue liga~ e m suas estru-
mativo. O texto desperta em mirn essa cons<.:iência confusa de. lUras, seu fu nciomun e nt o, seus efeitos> a '"poesia" como tal à
estar no m undo, consciência confusa, anter ior a meus afetos, comunicação ornl. Da m.esma forma que a poesia é manifesta-
a meus julgamentos, e que é como uma impureZJ sobrecarre· ç.ão (em segundo grau) de en ergias e de valores da linguage m
ga1~do o pcosamcnto puro .. que, em nossa condição humana, atenuados o u apagados no uso comunicativo corrente, a língua
se impõe a un1 (XJrpo (se assim ~e pode dizer!). L)aj o prazer a i reveJa alguma coisa de sua natureza profunda, fundada sobre
p<'lético, <JUC provém, em suma, da constatação dessa falta de urna nwnsuatio, uma deixis: mostrando, tornando vi.sh•el, refe·
6rm.eza do pensamento puro. Está ai o fundan:sento pl"imeiro rindo-se por aí mesmo a uma oorporeidade.
de tOdo conhecimento~ mas especialmente e de maneira ex- HaraJd \1\'einrich, retomando uma palavra de Valéry. es·
dtJ.5'i .,·~, daquilo que se denomjnava conhecimento poético, na creveu recentemente que a gramática é 1.1ma me móda do cor-
é poca longín qua deDu i3Qs e do abade Br&mond, por volta de po.' Máxima brilhante , que pede para ser exp~c.itada, mas da
., 1930. Ora, n ão somente o oonhechnent.o se faz pelo corpo mas <(ll:tl pode-se pensar ()Ue revela. e não dissimula. u ma verdade
<.
~· -I ele é, em seu princípio. conhecitnento do oorpo. Neste ponto profunda: a e xis tência de uma lembrança orgânica das sen.sa·
1
~~ ;; remeto a \una obra já antiga mas que marcou os hornens de ções, dos movimentos internos do corpo~ r itmo do sangue. das
minha geração, .1.ftnomrnologia do percqJfiio, de Merleau-Ponty. vísceras, toda essa vida irnpressa de uma maneira indelével e m
Ele af estabeleceu a exist~.ncia de um conhecimento anU!prcdi- minha consciência penumbral daquilo q ue cu sou. marca de
caH-.·o. expressão certamente pouco feliz, mas na <1ual me •·e- um ser a cada in.~tante d esaparecido, e, no entanto. sempre
cuso a ouvir os coos de idealismo neoplarônico denwlciados eu mesmo. Ot-a, o corpo tem alguma coisa de indomável; de
po r aJg\l.os. O contexto indica muito d ar:uneote que se trata inapreensível. Não há ciência do corpo ; há a biologia. a ana-
de uma acumulação de conhecimentos q ue são da o rdem da tomia e o resto. conjunto virtualme nte infinito, mas não uma
sell.Sáção e <(\IC, por motivos quaiS<joe.r, não afloram no IÚ\'el ciên da do corpo como tal; ainda menos mctafisica. do corpo.
da racjon aüdadc, mas constituem um fundo de saber sobre o O corpo não pode jamais ser totalmente recuperado. N ossa .so-
<Jua] o resto se coru.·tr6i. ciedade de consumo, é verdade, se esforça para isso: nos clubes
de ftness, pela oomerciali?.ação da aparência, da saúde (toda Na pluralidade de nossas sensações, eles demarcam uma uni-
a ind ú_s tria m.édica) .. . É daro que assim ~ se toca a <1parên- dade encoberta, real, percebida à..:; ve--tc::s, rnas fug-idia, manifes.--
cia, não ::t e,Ustência do corpo. Da mesma forJna, a sociologia taudo a presença do corpo imeiro cornpro l'n etido no fu nciona-
estuda os comportamentos corpo rais impostos pelo <x.mtcxto mento de cada sentido. O psicólogo italiano O. Fom>aggio fala
cultun l; não impede q ue haja um resto não sociali~do. A so- de inr.en:or:poreid<u)e, traduzido, e m linguagem técnica, como "o
cializaç-.ão do (:Orpo tem limites, para além dos qu:ris se estende corpo sinCrgico".s
uma zona de indh•iduação propriamente impenetrável. E nessa A percepção é profundamente presença. Perceber lendo
'l...ona mesma que se situa o conhecimerno "ancepredicath•o" de poesia ê _., uscitar uma presença em mim, leitor. Mas nenhuma
Merleau-Ponty, base do fato poético. Dal o lado selvagem da presença é p lena, não há nunca coincidência entre e la e e u.
leitura, o lado de descoberta. <Ie aventura, o aspect o necessa- Toda pre.~ença é precária, ameaçada . f..·linha própr ia presença
riamente inacahado. incorn plet o dessa leitura, como de todo para mim é tão ameaçada como a presença do mundo e m mim.
prazer. O corpo não está jamais pc rfeitaln ente integrado nem e minha presença no mundo. A presença se move em um espa ~
no grupo nem no eu . A Op€ração de leitura é dominada po r ço ordenado para o corpo, e. no corpo, nuno a esses elemen -
essa característica. tos misteriosos aos quais nos dirigem as Aexas que tento aqui
O t.-orpo permanece estranho à minha consciência de vi· esboçar. sem que .seja pos:,-ível de.termlnar. de maneira prcdsa,

::., vtr. É o ambiente em que me desenvolvo. Os f.'l.tos corporais


não são jamais dados plenamente nem como um sentimento,
o lugar para onde das com·ergem.lOcla poesia alnve$Síl, c in-
tegra mais ou menos imperfeitamente) a cadeia epistemológica
i·-~ nem (:Orno uma lem braoçai no entanto) não temos senão o sensação .. percepção-oonhecimento-domlnio do mtrndo: a scn ~
•··
i ..i nosso corpo para nos mauiltstar. Série de paradoxos que ser· sorialidade se oonquista no sensível para permitir, em últirua
~ ... vem para definir, por aproximação hesitante, e rrâtica, o lugar instância, a busca do objeto.
·,~ em <JUe se artjcuJa a poeucidadc. A poeticidade, assim ligada Nossos "sentidos", oa sjgn.i6cação mais oor poral da pa-
à sensor iaüdadc, a isto q ue alguns chamam. o sensível, c que lavra. a visão, a audição. não são somente as ferramentas d e
Merleau-Pooty denorn in ava com uma palavra rnagnífic3, em- registro, são órgãos de conhecimento. Oro, todo conhecimen-
p restada à tradição do cristia ni::~mo primitivo, a corue. A car· to está a ser viço do vivo~ a quem ele permite perseve-rar no
ne, CQmo noção ao m eStl10 teropo primeira e úki.ma. ?vlikel seu ser. Por isso a cadeia e pistemológica c.:ontinua a fazer do
Dufrenne, eoutros com eJe, col()(;aro a unidade o riginária do vivente um s uje itOi ela coloca o sujeito no lllUJldO. Minha ld-
sensh•e l. Eles evocan1 uma St:J)Sibilidade geral ar1terior à dife- tura poética me ''\:oloca no mlmdo" no sentido mais lü.ern_l da
renciação da visão, da a udição, do tato, do olfato, do paladar. expressão. Descubro q\IC existe wn objeto for a de mim i c oão

3• l o
faço d.ísso urna deoc-obe r ta de o rdem me c311';k.a, simp lesmente de algo cona·cto. Essas c!\: pressõc,~ manifestam um SCiltimcnto
choco-me com uma coisa. Graças ao conhecimemo "amcprc- confuso dos vínculos naturais que existem entre a linguagem
dicativo" se produz no curso da existê ncia de um ser humano c a vo7.; a vasta :t..on.-. de qualidades comuns (.'m que as duas se
uma acumulação me morial, de origem corporal, engendJ'an· encontram c q t•c permite, <JI.~<mdo as dc.signamos, inccs.s,mtcs
do o que Mikcl Dufrcnnc denomina o 1•lnuol. Fundado sobre resvalvs $Cmântic.:o s, ...o~ .se emprega.n clo por palovro ou o inve r-
essa acumulação de lembran ças do corpo, o virtual, <:orno um so. Ora, se te ntamos <lefinir os caract.::res. corp<:wais p•·óprios
"Unagioá1·jo irnanentcn, "a nipida pcr<."épção».6 O q\1e e\1 perce- da \'O?., C(.)JlStatamos o seguinte: a pa'rtir de ter -st~ desenvolvido

bo recebe disso um JX$<) complem~nlar. O vir tu:.•I é da ort](•m uma l"CAcxâo sobre a essência da poesia, por volta elo fim
do pre:'>:>emü·, q ue v(:m associar-se av sent ido, e à..;; vezes iden - do século xvm, c sobretudo a partir do fi m do ~éculo XIX, a
tifica-S<; com e le . Só é concebível cn1 relação a um sujeit o para maior parte dos caracteres físicos da vo7. são percebidos c::omo
o qual há "o impercebido pendurado no percebido". Percebo positivamente presentes na poesia. Sobre essas caractciÍ.sticas,
esse objeto ; mas minha percepção se encontra carregada de a Uter aturJ é abund::"~ote a par ti•· elos ano.s J 930: õ:l <.Ustica, mC-
alguma coisa que não percebo nesse inst-ante,alguma ooisa que dic.::a, psk an(llitica. T irci da{ (em particular <los trabalhos dc I.
está inscrita na minha memória <..-orporal. O pressentido não é Fon:.gy. D. Va.s..~e c A. Tomaris) um pt..'"qucno número de te~es:
ncccssariamente u.m a im;;~gem: e le é imaiJiná,·el, d e tem á pos- Primeira tese: a voz é o lugar simb6lico por excelência;
sjbilüJade de p roduz.ir um:' iJnag(:m. De (Jualquer maneira o mas um lugar quo não pode ser delinido de outra forma que por
virtual fre(JÜenta o real. Noss.-. percepção do rea1 e freqüenta- uma relação, uma d is tância, uma articulação entre o sujeito e o
da pelo conhecimento vir tual. resultante da acumulação me.. e.
objeto, entre o objeto e o outro. A YOZ pois, inobjctivJvcl.
morial do corpo, eu o re pito. Desse modo, o virtual aflora Sehttmda tese: a voz, quando a percebemos, estabelece 0 \ 1
e m todo discurso. No discurso recebido como poético. im·ade restabelece tnna rel-ação dc altc-r idade, qt•C f\mda a pal(lvr a do
tudo. Esti aí, no nível do le itor, uma das marcas do "'poé tico". sujcito.
A ling1.1agcm correo te, fOra de tOda idéia preconceb ida do Terceira tese: todo objeto ad<.lllire uma d i1n en.-.ão simbó-
que é a ~ poesi a", ernprega, às vezes, a p ropósit o de u m te xto l ica <.l uando C vocaliz.ado. Concebem -se as implicações d c~ a
literário, e:xpres~s 1ais como: esse poema ou esse romance. tese para a poesia; tan to mais ela permanece p lenamente ver~
ou e::sa página mefala, me Ói2. Ou então invocamos o tom de tal dadeira quanto mais a vm é intcriorb:ada. e não se produz per..
autor. Essas são, sem dúvida, metáforas, c que pa recem referir ccpção auditiva rcgisrrável por apare l ho<~.
mui to banahnente à o ralidade. Penso que elas apela m mais a Quarta te.w (também se referindo diretamente ;:~o poé-
uma vocaüdade sentida como presença, c.:omo estar par;;~ :.'llém t~ma subversão ou uma ruptura da d ausura do
t ico): a voz é
corpo. Ma.' el$1 atrowessa o limite do corpo s.cm rompê·lo; c:b 8-t•moo no ronção do problema. Sobre e>SeS rr.>ÇOS A<i-
sigrufica o lug.tr de um sujeito que não se redur à locali)'.lÇ'lo 00$ se fundom um C>boço de saber, a probabilid.ldc •k ~f< olos
pcsSOol]. N~<Ç(' sentido, a '-"07 des.t.loja o home-m do M:U corpo. de: 'Cltldo, a hw,ca de ,·~lon."'S imraliogüistkvl) cujo oonjunto
Enquanto falo, minha \02 n1c faz habitar a minha lingtug<-m. fornu o ~r~v de toda ~~.poesia'", e emt"rge obsourarncntc, tu
Ao mQmo tempo me revela um limite e me libera dele. multuadamr ntc, Cl''n toda percepção- em toda lc:itw·• - poétl
Q uintn tc.~c: a \'OZ não é especu)ar; .. ,·o~ nlo tcrn c,pclho. ca. Tento, em OOJ&du.sao, cercar todos o~ a:,.p octos principais.
Narciso o,.c vl! na fonte. Se ele ouve sua ''Oz, isto n3o (. ilb~olu· 1. A \'OZ é unla oois;,, Ela possui plena materialldndc. Seus
tauwnlc um rcflrxo, mas a própria realidade. traço!> s3o d ('S(,'i11vei.:; c, como todo tta~-x> do real, inlc,.prc ..
Sexta tese: e.~cut.ar um outro é ouvir, no .silêncio {lc si ul..,eis. Daí os ml1ltiplw simbolismos, pessoais e mitol6gioo~,
mc:<~mo, suJ \ 01. que vem de outra parte. Essa \ OI., dirigindo fu.nd.1dos nrl.1 c em \CU órgão, a boca, "cavidade primai" como
.St.: a mim, cxigr cl~ mim uma ar:enção que se torn.t rncu Jugar. escre,·ru R. A. p1t1: temática da oralidade-incorp()raçlo,
pdo tempo do,sa escuta. Essas palavras não definiri.lm igu.d l>eber-<..vmcr a.mar· po!Su.ir, todas as manifestações "orab" d..t
mtntc bem o r.to poético? rela~io da cr..._~ com Jul mãe. A VO"L, índice erótico.'
Ene~ 'tllorcs da ,·oz tornam·se os d.a próprii lingu:t· 2. A \ O~ repou~ no silêncio do corpo. Ela emana d<:lc,
gcm, de"lc que ela seja percebida como ~lica. ~ ~•se re- depois •-oha. Mas o silêncio pode ser duplo; ele ~ ~mbiguo:
conhcdmcnto é independente do fato de (lll<" u tc>.to ' cja ó1bsoluto~ é um nada; integrado ao jogo da \VZ., tonta se ~igni
(6sicamente ou por urn efei to da imaginação) apreendido ficante: não n~~~oJ rlame nte t.ant.o como signo, mas entra no
'
!' i. pelo o uvido o u pronunciado interiormente. Em o u t 1·n '!: proces-.o de signiflcSncla, ~esse lugar em que a \'O'l se dobr·:a
., termos, cs,cs \'alor es são os do própr-io rcnômcno poéti ne1a me~ma, idcntiftca ~.;e com o sopro. de onde tantos ouu·o~
.r;
I~·
co, quolqucr que seja o modo pelo <JUOI o linguogrm é per·
ccbida . And1·é Spire f., la de ~dança bucal", q ue po clerin ~cr
simbolismos, recolhidos pelas n~ligiões: o so pro cr iador, cmu tii.IJ,
rouah,o a voz como poder de ''crdadc.' Historicamente, todn.s as
e·cprodu1Jda po 1· movimen t os expres.si\'OS. A!J po.l:.wras, diz grand<s rcligiVt:•,;,: difundirom pel> predicação, portnnto, por
ele, nffo s5o Jarnai.s ''t>rdadeiramentc cxpres~h~.l~ t'enfio em romunicoçiio ornl.
força, é preciso atuali d~ las por umJ aç~o \OC.ti. 7 Todos o~ .I· A linguagem humana se liga, com efeito, à vot. O in -
am:;mt('.s de literatura fizeram a experiência de»c inst.1ntc, ,·erso não é \'Crd.ldciro. A vo-1:, que temos em romum com ~
em que, qu<l.ndo a densidade poética se torna grJtnde. uma
artlcul.lçlo de sons começa a acompanhar espont~nc;amcnte
• d«o<<íficoçjo dos grafismos.
I animais mamif~ro, to os pissaros, se dá corno a_ n ttrior i.s d1
fcreocioçõc> filog,nétia.<. Eb se situa entre o corpo c a p>i•
•n, significando ao me.mo tempo • impossibilidade de um•

•• 1
I
origem e o que O'iunfa sobre essa impo..~~ihilidadc. O som af feto; c Tomatis mostrou a que ponto ele esta marc.u lo por essa
é ambíguo, visando ao mesm o tempo a sensação, compt·ome- experiêocil sensorial intra•uteri.na. Uma vez lançado ao mundo,
te ndo o sçruÍvel muscular, g landular, visceral c a representação no turbilh3·o de sensações que a aglidem. a criança exibe o pra·
pela lingu,.gcm. zer que e xperimenta com a m aravilliosa abertura de seu ouvido.
4 · Dizendo q ualquer coisa , a voz se diz. Por c na v<Y~ a O ouvido, rom deito, capta diretamente o espaço ao redor, o
palavra se enuncia como a memória de alguma coisa que se que vem de tTás quanto o q ue t:stá na _&ente. A visão tambélD
apagou crn nós: S(.lbretudo pelo fato de que no~'\ in.ffind a fo i capta, <:erlamerne~ wn e~paço; mas um espaço 01·ientado e w ja
puramente o ral atC o dia da graü de separação, q uando nos en · orientação ex'ige movimentos par ticulares do corpo. É po.r isso
via.ram à e!'>cola, segundo nascimento. Não se sonha a escd ta; a que o corpo, pela audição, está presente em si mt$ mO, uma pre-
linguagem sonhada t:. vocal. Tudo isso se diz na voz. sença não som ente espacial, mas Íntima . Ouvindo-me. eu m e
s. A ,·oz é umá forma arquetipal, ligada para nós ao senti- auux omuniro. Minha voz ouvida revela-m e a mim me..~mo, não
•nento de sociabilidade. O uvindo uma ' 'O:l. ou emitindo a r)ossa, men06 - emborõl de um a maneira dife rente - que ao outro.
sentimos, declaramos que não estam os mais sozinhos no num - O ra, a leitura do texto poétioo é escuta de uma voz. O lei -
do. A YO:t poética nos declara isto de maneira e xplícita, nos diz tor, nessa e por essa escuta, refaz em corpo e em espírito o per·
que, acom.eça o qw: acontecer, n ão estamos s.oz.inhos. Plano ele çurso tt-as-ado pela "O'-' do poeta: do silêncio anterior até o objeto
fundo preenchido de sentido.., potenciais. que Lhe é dado, aqui, sobrt: a página . J. T rabaut lcmbr~wa re-
::;:1 6. E.~tá a,, sem d úvida, o fundam ento de um ce1·to núme· Cti'ILetnente a <p.te po nto a escura, como fenôtntoo, reteve no

~:: ro de valores m ltiOOs de d ifusão universal: mitos sobre a VO".t século XIX a. atenção dos pensadores alemães. Os hi~toriadores
sem corpo . pe-rturbadora, exigindo que nos interroguemos so·
~;;
da filosofia debcatn e m gera) de se inter-rogar sobrl'! esse ponto,
:. bre ela e sobre nós, a ninl3 Eco, M<1·lin Sepulto nos texto• da I)() ê1\tà1UO t'éVCb dor. . . lô
li!·· Idade ;\1.édia~ mito da liquidez, da identidade da voz com tudo Tais são os valores exem plares produzidos pelo uso da voz
o que esoorre, a água, o sangue, o espe rma. Nesse ponto, o humana e s ua escuta. Elas só se manifestam, de maneira fortuita
,ffor!f Jnd<'Jl de Stith TilOillp-">on J"e\'eJa a cx1 raordiná.J'ia r ique1.a e marginal , na cotidianidade dos discursos ou na expr-essão infor-
de tais (IS:o;o ciações. mativa; a poesia opera aí a extens..io da próp1·.ia Linguagem, assim
1· Voz implica ouvido. Mas há dois ouvidos, simultâneos, exaltada. promovida ao universal. Pouco importa que e la seja ou
uma vez que dois pares de ou,·idos estão em presenc;a um do não entrcg\1<:: à escrita. A leitura torna-se CSC\Ita, apreensão aga
outro, o daquele que làla e do ouvinte. Ora,a audição (mais que dessa tr:m s6guração, enquanto se fo rma o prazer, .">em igual.
a visão) é um sentido privilegiado, o prin1eiro a de>'J'<rt.lr no

••
li.
A IMAG IN AÇÃO CRÍTICA
Se é verdade, como parece, que a própria existência da crítica
çria hoje um problema, disa.atir métodos se tor nou u.m passa-
tempo muito inútil. As questões colocadas exigem respostas
de ordem mais geraL AiJ1da , na medida em q ue m e arriscasse a
esboçar alguma.~, só o faria oom as reservas que têm a ver com
a particularidade de minha experiência: meio século de refle-
xão e de pesquisas sobre a Idade Média européia, especialmen-
te suas ''literaturas". Por isso o nome "historiador' designa aqui
e ali em minha escr ita, de modo resu-ito, aquilo cujo objeto ê
um conjunt o de textos poéticos pertencentes ao passado.

Essa dupla advertêucia. c u a tmnava 1 em termos prude11tes,


num pequeno lino publicado há uma de?..e.na de anos. 1 A situa·
ção de nossa disciplina, por cer pouco mudado, clarificou-se
desde então: a "biologia" aJ est~, de resto, por alguma razão,

,,
q ue impulsionou na idade adulta uma oo\~a geraç..ão de pesqui 4
De fato, t udo q ue-, no final de 1990, podemos pen.~ar e di·
sadores e criotl m uitos vácuos e nrre os mais antigos, c sempre u r inscreve-se em um tempo pos terior as duas gr andes fraturas
os mais <:onscr vadorcs! cpistêmicas que golpearam o nosso século, de uma par te e de
Não é questão de re petir meu Porlcr du M<?Ycn Áge, nern de outra os anos •9so~8o. Conhecemo:; e ntão, na idade madura
lhe dar uma seqüência que) com o d<"..cor•·er do tem po, mos- de minha geração, um pe ríodo de homogeneidade ft liz. f.:llava-
trar-se-á derrisória. Na época (prima\'era de 1979) em que eu o se de dêndas humanas sem má consciência nem !:lisos p udo--
escrevi, duas: questões me prco<.1.1pavatn sobretu do : 3 que coro 4
res. Un:mirnemente (ou qua..'ie) revitalizou~sc dos dois lados
cava, como inoontorn~vd) aos histod adores a id éia de altcrida 4
do AtJântioo Norte o penf.>amento dos g ra.,des antepassados:
de, em prestada por Jau~s da herrnenêutica alernã c largamente Marx c O urkhcim, Saussure e Troubet·t~co·i, Freucl c (salvo na
difundid...- nos anos 1970 : 1 e aquela, por sua vez, que didgia a França) )ung. Sobre a obra desses gigantes se edi6cava (como
mim mesmo, a propósito do valor heurí.u ico da narrati,•a, con 4
um desafio à barbárie que tinha sido a guerra) uma esco1ás 4

sider ada como tipo de diSCllrso particul(lr. Naturalmente des- tica escor<tda) intelectualme nte, por uma fome in efreável de
oorúiando das teorias. cu tentava cscfarec.cr, em mü.Lha própria cicntiflcidadc, es1ilisticamcntc, por uma alegre autonomia dos
prática (e a de alguns corJfra des, muito próximos), a natureza c signific..,ntes, socialmente ) por estrutura.•;; profissiollais. profes-
as impricaçõcs desse :.frontamento de his toricidades diferentes sorais de tipo ft'udal, ga•·ant.illdo uma autoridade muitas vezes
em que consiste nossa observação do passado. Se a ob~en·.;~ç-ào, o pressi\<l a uma e lite em \'ias de se tor nar gerontocracia. A~sim
como é d esejável, abre um diálogo, de que forma ek se re- se soJidificava a matéria ardente q ue tinham misturado, nos
vestirá, quando o inter locutor não somente é um Outro, mas, anos J 92o e 193o, um punhado de alq uimistas vienenses, para
por definição, está mono e cntenado e de le só s ubsi.\lem os os q uais o acontecimento, cer tamente , tinha sido futal, mas
tra~'Os resfriados, ooltt::ionados e confrontados pela erudição? que legavam ao mundo uma cer ta idéia da forma: a mesma que
Qualquer que seja a téc::nica em pregada (e Dt,us sabe quantas ilustravam em urna desordt;!nt bem apare nt.e, atr;nre_$ da Europa
técnicas capenga~ há nesse campo!), isto só poderá ser, neces- pré-nazista, os sun"e.alistas franceses e o.s expressionistas ale-
sar iamente, um diáJogo relatádó: um a ~lar-ração. mães, os artistas da Bauhaus, mas também Focillon e WOUlin,
ES$J conclusão nos leva, ao que parece, a Her-ódoto. ls to Bakbtin, o Circulo d e Praga e logo o de Copenhague.
não seria um mal e m si; mas muito de hi\tÓr-ia e histórias s<~ f--oram suficientes alguns faleciment os, por volta de 198o,
interpõem hoje e ntre o Pai c nós, t ntre a irux:ên.cia do ":mjto" para romper cssali har monias. Subsis1em delas hábitos, inércias
e os 'oonfliws que precisamos assumir, ou ainda as clesiJusões de pe nsamento: a convicção) rou.ito difun<lida, de que todo o b-
experime ntadas. jeto de estudo comporta uma dimensão co1ctiva ; a distin ção,

9' 93
unive rsalmente aplicada, d e d ois níve is de realidade, o manlfe.s· ter atu:ra", que alguns, no começo dos anos •9so, c hamavam
to c o latente ... Não que se te nhan'l perdido os conhecimentos de suas promessas, prefiro me ca)ad Daí o sucesso. nos con.
de tun período que f()i c xccpcionalm.ente br ilhante c fecundo; fins da lingü ística e dos t"-nudos literár ios, da pragmática e da
1nas o pedestal St'lh nossos p(-.s se dc;o;artkula, uma at mo!>ICra análise dos discursos, CJUC dão a impressão d e abrir para uma
imd cctual se raretà~ c se carrega de mias mas não id ent ificad os. Uberdade.1àlvcz, no nível das nl.otivações pro fu ndas, trate-se
Algtuuas evidências se dissipam. A coerê nda do o bjeto. pre:,s-u· menos de libe rdí'lde que de "nomadismo", p ara empregar uma
posto filosbfico do estr uturalis mo, é q uest ionada; a realidade paJavra que há quatro ou cinco anos fl um a e m nossa a1mosfe·
deixou de ser um dado. rcdu7..ida que é. segundo os ter mos ra . Pode·se, no mais, tem er a prováve l c próxima banalizaçâo,
d<.: lyot.lrd, ~ a um estado do re fereme r cs-uhando de tal ou t3l pois o que da sign.i ll~, CJ'rl s ua pure:~..a nat i,1a, é :. recusa. d a.i
p roçedimcnto; e nó.~ ;;1prc ndemos que não se faz a teoria de metafísicas e das dialêticas, o apelo a uma hlosofia sem an.oora·
um objeto sem fazer também sua his tór ia. Daí, sem dúvida, a gcm n" ldéia. Para além da morte de Deus e. seguudo Foucau.lt,
ptu.lsil que assistimos há dez anos, na reflexão abstrata sobre a do homem, o nômade peregrina no insóUto. Em lOrno dele,
a ljtc•·atura. Essa e.~tal5e, de resto, afeta um setor bern maior e sôb o impacto de sua p•·escnça tlpcoas, define-se um can'tpO
do conhecim ento. O re<;uo do d1omskysn1o (e as pmez~s de M forças que o torna lugar de"verdade".'
sutileza às quais de"e se entr egar um Chomsky envelheci<lo) Emhora a manutenção de fragmentos dis.wçjad0:5 das ter-
é o resgate d e uma 1.0rn;;~da d e posição inicial, q ue se tOrr'I Ou minologjas antigas pertur be, e rn demas-ia, a perspeCtiva, uma
insus tentável hoje: a saber, não há ambigüidades inedudveis. <.:onsciência se despre.ude e denuncia a irreduLibilidade dessas
Do lado rJa semio logia "'pós-estr uturalistot". o esforço de teori· m utações. Há uns quint.e anos fala-se de "pôs-modernismo".
1.ação tende a se COI'ICCOlrar na "falibilidade" dos métodos. no Gostarlamos de r.orna:r o rermo COlYI irOI'Iia , pois ele •·e mete,
'"I
Jj. d~sej<> (parçce) de a&~tnnir (ou de conjurar) o risro de uma ilwoluntariamente, às ambições dos ino<adores do século x11 ,
~I dispe•·são, de uma deriva, dcslocaç.lo fi11al do aparelho concei- reivindic..ando moderniw-s nostra! Mas a palavra importa menos
tual : p1-eço de uma nova racionalidade. aberta em paradigmas do que aquilo de que seu emprego é sintoma: a neces.$idade de
ainda a descobr ir.' categorias que sejam ao mesmo te mpo válidas ideal e histor i-
Es1amos em p lena crise de veridicidade. Nem a filoso· camente; o desejo de encontrar uma alternativa para um siste-
fia nem ~ história se refe rem mais ao verdadeiro . Isto mf>.de a ma de raciocínio herdado (é o que se pretende ...) dos gregos;
imensidão de uma distância, sobretudo a p:tr tiJ· de Saussure c a essa b usca acumulativa de pequenas coerências encaixadas
Hjemsle ..·. Perdemos o d ireiw de:- fâlar de "ciências" do ho mem : como as bonecas russas. em uma ilusão de totalidade; um ce·
não somente o direito, mas o gosto. Quanto à "ciência da li- t icismo quanto a causalidades e te leologias (mais a ...ator i7...açào
do rízoma do que do cepo);6 o apelo ao pluralismo mctodo-
lôgico, .inclinan do-o à ambígüidade dos discursos con~truídos
.sobre o mwtdo. O saber se rcintcrioriza, graças à anulação dos
"valores ..le uso", ao retorn o do sujeito, ao triunfO da individua-
l desafio, que o m edievalism o conder,ou-se a orna margimlliza-
çào que (a despeito de t udo o <(ue se pode di~er e sah'o rarbsi-
Jnas cxceçôe.<~ individuais) o condena hoje ao cncliiusuramcnto
no gueto unh•e rsirário.
ção sobre a ideação, do deslize sobre a ruptura. 7 No t:cmpo longjnquo da minha juventude, esperávamos do
Dal, para o medievalista (ou qualquer u•n q ue se dedique histor iador que ele nos dissesse o que o passado dC";a ter sido:
ao estudo de culturas do pa..,ado), um paradoxo que afeta pro- entendo, o que cro preciso (para salvaguardar o il~óri o equilíbrio
fundamente a idéia que de faz de sua tarefa, e q ue-influencia do mundo cultural ao qual pertencíamos) absolUtamente aquilo
sua pr~tka. l Oda.s as restri\-'Ões abolidas (e o mito da o bjeti- que tin~sse )oJido. É verdade q~1c, entre as pessoas d e vinte anos,
\'idade de uma ,..ez por todas esvaziado de substância), de não por volt;;~ de •93S, algt•mas dúvidas começ...wam a inquietar; mas
vai projetar sobre documentos de estatuto ootoJ6gico inoorto nossos professores pcnnaneciam .imperturbáveis e suõl tendência
seu.'> próprios esquemas imaginários? E. supondo que seja este se manife5t.'tva mais fortemente ainda quando seu objeto era wu
o caso, isto é u.ma derrota ou uma vitória, ou é a seguoda por OOnjWltO de formas: arte ou "literatur;:~,., Eles se prevaleciam de
desvio da primeira?' O velh o problema da adequação do mé- S1.1<'t (boa!) consciência histórica, mas não imaginavam que essa
todo a seu objeto se coJO<.oa em termos muito dife rentes de <:on.sdênda tivesse uma história . Tratar de textos levava m uitas
outrord, mes1no quando ;,tind-a se ooJoca. Não há o bjeto em. si: Vl."Zéii a descrever os contextos, sem que aquele que descre"ia se
1.: essa proposição adquiriu, em nossos dias. valor axiom ático. Só {"Ontasse ele próprio entre os seus elementos.
%'
.,, há urna relação entre o sujeito pesquisador e aquilo a propósi- O sentimento que, necessár ia e felizmente, temos do pas-
to d e que ele se inte•-rog:;1 . O "objeto" do m ed ievalista aparece :o;ado, esse sentimento que em geral c.ada um de nós lenta c 1a-
'1.:·: ' assim, daqui em diante, como duplo: é, ao mesmo tempo e horiosamenle adquiriu e afinou, esse sentim.en to nos pega pelo
,,,
'~I de maneira indtssociáve1, um acontecim<'..nto do passado e a pé. É preciso sabê~lo> e dizê..Jo. O passado se oferec-e a nós
linguagem pela qual se o conhece. Aoontecimento c linguagem c.:omo urna mina de metáforas com a ajuda das quais, indefini-
se de6nem recipr<X'.•u n ente. j untos, indissoc.iaveJmente, e les damente, nós nos dizemos . Por que não confessá-lo e fazer des-
constjtuem uma prática e um saber. O que itnporta primeiro é ~a confissão um ponto de partida? Uma d istância insuperá"el
a relação do desejo ~ue os une, ao mesmo tempo que::. a Uber- nos separa daquilo que denominamos Idade Média; ela mede
dade c.."Om a qual um apreende o o'•tro, a.fasla-se dele, retoma+o. uma diferença que nada jamais reduzirá . A sua única qualidade
Estou particularmente persuadido disto: é por não ter com- é a histórica> o fato de que nós possulmos (e que a Idade Média
preendido de vez esse novo dado, jogado o jogo e afrontado o possuiu por sua vez) uma histo ricidade própria, pela qual e na

.,
qual existir i; no seio dessa condição cornum que o pr"C"Sen Em história, como em psicanili>e, o objeto é 110,. jli'\"5Cf>Ç.l
te se toona o lugar de um saber: sem curio:<idade •enbdeir> perdida. A ld>de Média é o não-lugar do medievalisu: fo,..·do-
"""' pAixão pelo atual nenhum• memoria do p.><<ado pode esp•ço. n• dimcn<lo de um puro nomadismo temporal. No
ser \'h·a; Íll\-'Cf''\ôlmente. 3: percepçlo do prcscnlt" o,c ~lcnua ~ ('n 1Jnl0,:. aprN"r\...Jn qllC, à.~~; Ye:t..es, apaixonad;unente t entôlmos.
sr c:mpob•·ece quando se apag<l em nós essa prt"scnça. 1nuda implica o corpo: oompronwti<lo ~los poderes psíquicos que
mas hwi,;l.(•rHc, do pa.11sado.9 Se importa (e ninguém, pcn~, ,•ai ele ~ui c rondieion~, 01as também peJa opert'ção conC"rC"Ia
ncgó..fo) que um lugar seja e ncontrado em com um para o su (me~mo simpl ificada por no~sl.l" técnicas) d a .ll 'JãO c ,lv ol.ho:
jeito da p~.squi<a e S<u objeto, esse lugar só pode cxiwt ir hoje. pelo bem CS[ 3 1' ou pela fadiga, por tudo que, no que .somo$,
i\ inforrnaçfio mais ampla po.ssínd garanti.!) de pa1·cc a p.11·tc,:. f.·wvr..:cc a c'ipOnl.ancidadc do in telecto, a intujção, a percepç-ão
rC'('Undicf;ufc dé"~Sa d upla existência: do pa!!sacfo Cln nmso prt- u.,~ an"'logias (Qr mais o u, ao contrário, as obstaculi.ta. Estlo ôl'
scntc, desee naquele; ela U1e cond.iciona a ri<ruc,a, mad~<utdo d.irncnsÕt-3 ck um cl)pJÇO s ubjeti, o, interiori?.ável, no ~io do
m ~fcitns; ma.'i e la nio está absolutamente em cama . ..nllo da qual se cooutitui a imagem do objeto. AdmitamO$, para >impli-
' onude (• •onude do colecionador, no rigor do labor cotidt•~ ficar, que este prcn-enha da ~natureza": nós o pcrt-cbem()l!t 3tra~
no), ela enche . refo'\-a. às \ "CZet dinMniza, m.n nlo <.:ri.a nad.a. ,.és da.• lente:. que nos oferece a nossa cultun; mas ~ per·
Saímos do mundo rr.anqüiliudor 00. gnn<k'> eruditos hu~ Cf'IJÇ.io P'f'rm.anett tio ,; rrual que graças a uma intencnç.io
manistas: 05 últimos denrre dcs. wn Curtiw.t, wn Auc.:rOOch, nos )X'"'so.JI qur r\0\ n·d.arna por inteiro, não oos deixou i.ind;a f.u~r
deix>.ratn lti mais de trinta anos! r.... ek-., • colei> dos fatos .anossó.' obra ." Lu n5o ~si!Ãtria e •n generali?..ar, estendendo a
constituí~ uma Origem: além disto, seu gênio foi organ1?A11r o in- toda oper;~ção h.i'"t úrica os pr indpios que s ugere o rnu.sJtÓiogo
venr.'irio, 11preende•· uma perspectiva, fazer jon·ar 3 1déia que 11e G. Le Vot em vhta da e xecução, hoje, d e mdodüt.s m«<icvlli-4:
supunho la1cmc. Na melhor das hipót~. t'Ssa manrir~ de opc- trata-~e de <.1 i ..çlo, não ele museologia. 11
r;w hoje d<1,11-adr•u-seem medJocre pmped Cutlca. Eln exigia urna A <JUC:1tâv e 3 da n:llurez.'\ de lUll conhecim ento. o C(liC
inocênda que a hist6ria (logo ela!) nos roubou. R;odonalicla<lc queremO$ <abtr, e qual será o estatuto do que teremos aprendido?
nJo signific:.. mais para nós capacidade argumcntat iva nem lógica lmport.> clarificar de vct a perspectiva, desde que rccor
aJ1dHtk'3, mas derrap:agem controlada entre as i~p~r«!m::i.ls; e~ a ramo• ao poro<loxo. A opcra~~o de todo historiMlor ó da ord<m
toori.a n5o intcreS1a mais a muita gente (e ~terToriL.l algu.n~). é da ute. Sem chh rrla ela se manifesta mais quando se cooccntra
pon1uc ela tendia a nos f.ner andar nos trilhos. e m textos poétkos, obJeto.! produzidos por uma formaliu·
çâo segun<b ~ intrndonal, uma sobredeterminaçio cU hngua
gcm: )XJr •lj mt-'-11\0 tnr~O.ados no que o ser hwnUH> poosui de:!

..
menos unh·ersalizável e de ma.is verdadeiro, e ntre os impulsos Recupera~se e re,'igora-se a~sim a distinção q ue Lessing
primordjai,s que nos fazem set, cada urn por si. 12 Num sentido colocava outrora e otre o conjunto de infor mações e a percep -
um pouco dife re nte , Vico (ao qual tiraremos sempre provcito ção de wna org-anicidade \'iva .. . d ist.i !lção, de resto, não sem
em recorrer) dizia que a ciência consiste e m colocar as coisas pe.r igo; mas o s<~bcr não ê j~mais gratuito, nem seguro. Há
numa ordem bela. De faw, em histór ia tenl -Sc menos neces- sem pre um preço a pagar, c esse preç:o é: U.IYl risco, aparente-
sidade de uma "ciência" (e especialmente naquela que se diz mente inscrito nas estruturas de nosso universo. Hoje j.l não há.
literária) que de um saber. Um, infeHzmente, cxclu.i muitas com efeito, campo de pesquisa, nos domínios mais diversos,
vezes o o utro: a ciência tomou, e ntre nós, durante dQjs ou [rês em que se ouse ainda fundamentar-se no postu lado clássico
séculos, hábitos de tirania; e o saber, como reação, se cobre de uma coerência do mWldo. 16 O risco que se corre é de ter
das roupas velhas de tuna sabedoria. Não é mais disso q ue se que enca.rar de repente e.ssa vertigem, em condições nas quais
trata, mas de visar, por meio da ciência, wn saber; a prime ira, a "dêocia" não nosiÕrnece nel)hum parape ito. A dência, nossa
usando a ahstraç.ão da idéia; o segundo, se const ituindo em dis~ <:iênda, pretende, é ve rdade, U'abalhar na ordem do necessá-
11
cur.so e desembocando e m uma ação. A ciência parte de ttma rio; c::tn verdade, na falta de um projeto glohal ela se abandona
obser vação; o saber, d e uma experiênda .. . que falta artkuJar ao acaso e , complernentar meute, gera-Oi d esconfia, todavia,
(como se exprime rtosso jargão) em discurso: isto é, em teste- como de produtos aleatórios, da arte e da poesia, dos quais
:o-·:· m unho, pois (enquanto a ciên cia só .se interessa pelo reitcrável provém a ún ica globaHdade concebível, mas que não oon<..'erne
e só se apossou dele) o saber procede de uma confrontação a ela; a única necessidade verdadeira, mas que ela não saberia
comovente com o objeto, de um esboço de diálogo com o que pe nsar. Entre as duas vertentes dessa contradi~o: n.O.s, nossos
ele tem d e único. Essa •tnteriorizaç?ío do procedhneoto cognj-

~:.
•;:; text.os e, desejemos, o amor que lhes dedicamos.
ti,,o" (para retOmar o,< termos de A, Corboz)" é menos centra- Alguns, para escapar da vertigem , se agarraram à idéia de
' da no p róprio conhecimento que no d=jo de conhecer, Ela wna história 101al, até;\ da !oralidade da obra de arte, Pensar
e xclui o e mprego de um di.~\Jrso neutto e que, pretendendo assim o objeto, escreveu Lyotard, é subtraí-lo de todo conhe-
a transparência, se esvazia de toda paixão, esrnaga os &êrn.itos cimento. 17 O que se cbam:. realjdade é sem dú"ida onto lo-
da vida. Atenua, às vezes até dissipá~la comp1et ameJ1te. a Í:'lSd · gicamente unívoco, e talvez homogêneo. No plano do saber,
oa)"io que e.xercer:n em cerr.os espíritos as téa,~jca,s de e nume· e la pe rmanece conllitual c heterogênea. Pode-se rei,,indicar
ração e dê análise; destas últimas, ela não nega a ncce~sidade uma visão global, não totaL Oponho assim "'totalidade", de-
prévia , mas a situ_a em seu níve l justo: propedêutico. u Torna signando um conjunto orgânico dado por fechado, a "globaJi~
impossh•el a confusão e ntre hisr.&rio e res gt:Stoe. dade", que oonota abertura, progressividade , energia moveote.
Global idade implica coesões mais ~rouxas, men os convenção,
dade daqueles que lhe p ropõem mais a tranq ililidade do que a
menos rdações causais, e wn e ixo duplo de polarização: em
angústia , po is no fundo de sua história e de seu inconsciente
direção ao passado com o qual nos comprome ternos, pesquisa-
lhe •·epugnam as totalizações tanto quan to os totalit.arismo$.
dol'es historiadores; c em r umo ao próprio ato pelo qual, ncs·
Espontaneamente, ela teme as sh)tt".ses, as verdadeiras, aquelas
te mome nto, "'passarnol>". Cada um de nó.s conser va o dc~ejo
que por séculos a d eixaram trancada na solitária: como o fe-~:,
rec:.kado d e en conn·ar algmna doutrina totaJizantc, que cor·
ou por bem po uco não o fez, o aristotelismo medievaL Ela se
resp onde-r ia à idéia medie,•ar de dência. Esse desejo volta hoje
diver te bastante folhe.ando o lkode•· digen o u as enciclopédias
c tom a a lOn na fantasmát ica da interdiscipliharidadc. Mas a
que nos of'Crecem à porta. Essa dcsembalagem de conhecimen-
necessária <Jjvcrsidade de infor mação q ue d esigna (ou d.is.simu-
tos gar ante-a conn-a a Sínt ese! O que ela al procm·a é a ocasião
Ja) essa palavra toma entt·e rnuitos daqueles <(UC a professam a
de um jogo. Ignoro se a e ncontra. Mas do <tue precisa se con-
forma de um sincretismo fro LLxo <(uc t\ li<'.hel de Ccrtc.au. há
vencer é de qt1e, nesse desacerto, a maior necessidade que sub-
pouco tempo. ch:m.1ou de ''doenç.1 do Sitber".
siste é jogar: coa 'o joga a criança. para que seu jogo instaure a
A histór ia tampo uco ê uma categoria homogt:nea. Em
única imagem supor t&vel e fecunda da exist-êocia. O que esta
vez de constituir sob seu nome urn pot-pourri de comcntátiOl)
sociedade espea~a de nós, pesquisadores, é a produção de um.
emprestados. concentremos nisto os dispositivos~ escavemos,
$abet Júc/Jto. E est a última pala"·ra. em tal contt..xto, denota me·
na medida do possível, o solo no qual se instala o canteiro. 18
nos a pue1·ilidade q ue a infância, os Yalores ontoJÓgj(..'()S ligados
Afastar-se, explorar as zonas vagas, for;;1-de-d efmição; des-
aos pdmciros o lhares lan\:ados ao mundo, ao maravilhament~
centrar, dist ender a imagem. Recusar toda interp-re tação posta,
c ao sentimento de soberana liberdade que procedem do ~r•­
ex-posta, de u.m ponto imóveJ, porcjue o sentido p rocede do
meiro desdobrar-se de um oonhecin:1ento.
movimento. A pluralidade da Idade Média, a interdependência N=a área do jogo e da experiência (esse "espaço poten-
a nossos o lhos (através desse nevoeiro de alguns século~) das
cial" oomo eS(..Tevia 'A.'inn icott) , na experiê-n cia desse jogo
panes que a oompõeru, o poJicentTisrno de sua cultura: esses
opera-se a tr;ms:ição entre o ett c o ioacess-f,•e l real:' ' uma c..."ap-
traços) constatados com uma confortável indiferença ideoló- tação me ê dada sobre e.ste; sua possessão fantasmática me é
gica (não estamos m:üs interessados... pelo menos parece), fa-
oferecida, ao mt".Sm o tempo que tun pra~er. Não são as pró-
zem dos estudos medievais Uin campo privilegiado de rc.Aexâo
prias coisas assim cor1hecidas que jogam, aos nossos olho~~ ela~
sobre uma prática.
"jogam" em nOs, na consciência que nós ddas tornamos; 1sto e,
O que procura (em algumas ho ras, cbesperadamentc)
o jogo está em mim , de m im (que a tradição ac.1dêmica ves·
nossa sociedade é um sabc::r sobre si mesma. A heterogenei-
te de modo ridículo sob o útulo de pesquisador, de sábio, de

., <OJ
historii!dor, sei Já o quê?) e tíuu bé m. 1 do m esmo jeito, e m e de Se fosse necessário categorit.ar uma tal prática, e u <Ürja
você, meu lcitQr, meu ouvinte , meu flluno, meu Outro . que nós pendemos desde então para o lado da poesia. No sco 4

O saber é um longo, lc:nto sabo r. Espontaneamente, nos· tido forte e t.r ans-histórico da pa lavra : relativo, não às figuras
sos contempo rJ:neos o evitam, ávidos que são1 ou qtte S4:: tor da linguagem oomo tais, mas a · um;~; maneira de conhecei' o
uaram, de hjstór ia imediata . /\{as não é essa a q ue.o.'t:âo. A Unica mundo, uma rnodaljdade e minente do saber. JnfQrmação, co·
questão é a de un"'la oor poreidad<· (interioriz.ada) do conhe- le ta dos fatos, dcsç1·ição de p rOC<'.ssos exte rnos, contribuições
cimento: uma implicaç,i o, na própr ia idéia c linguagem q ue de disciplinas anexas ou vizinhas (lingüística ou aJ)tropoJogia):
ele traz (e talvez a suscite) 1 da visão, da audição c do incfãvcl tudo isto, mant ido de pleno di1·eito (e, se possível, aprofun-
contato d o qual na~ce o amor; ritm.os do sangue e do bati- dado), a "poesia" domina, controla, f.1.z. disso sua matérja. Mas
menro das \'Ísctras, insepad\'cis de todo surgimento de urna ela recusa lhe emprestar sua forma: ela não pode. Stla forma
imagem. é imagem: fruto de uma opera~.ão pessoal, cujas regras beu-
K. Whhe, em outros termos (emprestados. infelizmente, dsticas se fundamentam num sedime l)to de experiências mal
de Spengle r), Jà.lo de urna abertura de "ap reensões", inntiçõcs oomuniah·eis como tal, inexplicitáveis, injustificáveis, aprisio 4

<Jjretas estranhas a toda operação dedutiva: exaurirla illtdec.. nadas nos limites {largos ou estreitos, Ot1tra questão .. .) de um
fuahnente, ::1 humanidade aspira a ser assim "arrebatada", de tal indivíduo vivQ. Falemos a esse propósitO de "imaginação", sem
sorte que o caitério último d e validade dos conhecimentos seja acossar mais a paJa,'l"a.
que <~isto se pense em m im". XI Essas expres~..s pe•·manecem
m uito tímidas. Ur:na presença se intl'odu:t:, cJandestinam.ente,
na mütha lingt,agem, hab ita-a, ameaça a todo instante fàzé-la
.'
~.
exp lodir, sem q ue no entan to sua compreensibilidade se rc- A "imaginação", faculdade "poética", age seg•mdo duas modali-
\'Ogue. Ela negocia não se sabe quais <::entrais radonais, curto- dades. Ela parte de uma apreensão, intensamente conçreta, do
circuita a lgum postulado, modifica a voltagem <los fant.asmas .. . real partjçular, 1nas esta aprcen.$ãO se faz acompanhar (sem que
e, no e ntanto, se mo\'e, <xmcluir-ja um mo<kn Jo Galileu. E e m os tempos nb,to se distinguam sempre) de uma colocação das
rrtirn que o sistema (se podemos conservar esse te rmo!) toma coisas e de urna recomposição dos e lementos percebidos, em
seu valor, a partir de mim. em \'ir tude do que realmente sou, virtude de anaJ()gias: diversas: da sorte dc.'ltaca-se, de maneira
e nâo mais a partir do o bjeto que eu precisasse produzir. E e m inesperada. relativamente à exigência do Ülstante presente, a
mim que se vai me<Jjr sua eficácia, não em qualquer descrição necessidade verdadeira . Quando essa "imagern" revest e a lingua·
uobjetiva". gem e a anima, esta, pronunciando-se a si própda, diz, descobre,

••+ oos
cria for mas, cle outro modo inacess,veis. latentes no q·u e foi um ne m categórica, a pala,•ra que inspira c sustcr'lta a hnaginação
(<objeto". Sem dúvida é as.slm que a.s crianças sentem. J-X:nsam e crítica ent ende perman.e-eer em aproximação din::t:., não sobre
se exprimem pelo [empo em qt.le permanê<:cm puras.
1
"o" mundo, mas sobre "e~ te" onde estamos, mw1do que sornos,
A imaginação, oontrarüuucntc ao ditado. não é louca; sim- e que não e um mun do de ve··dade. Jnas de desejo.
plesmente~ e la des-ra?..oa . Ern vez de dedu:.dr. do objeto com Esse gênero de percepção e de re-criaçlo imagética impõe-
o qual se confronta, possíveis conse<1üênda.s, ela o faz traba - se particularmente , parecc-me1 ao medie,'3.)ista. A 'poc~ia» da
1

lhar. Certamente há per igo: o objelO, ela pode quebrá-lo. Mas Idade Média (recuso-me a làlar de "literatur a") fo i, no seu con-
onde não há perigo? E é isto, e m definitivo, o que conta?Todas junto, como inten\'io, sempre de transmissão oral. 21 Ela fun ..
~ pn 1dências vão jogar n o previo, na coleta de in lô rmações. cionou, até uma é p·OCa brdia, de rnaneira melhor com parável
Depois de uso dos preceitos e conceitos q ue:: entlo se impõem, (ainda que não idêntjca !) ãs "literaturas" das civiUl.ações africa -
a gente os tira oomo o alinhavo de uma roupa anemat:ada. nas rradidonais do que à nossa moderna literatura: sobretudo
Nada garante que para o obje to seguinte preceitos e conceitos nac1uiJo que o texto não somente di~ a1guma coisa, mas o faz,
permaneçam os mesmos; sua combinação em lodo caso varia não metaforicamente nem em fo rça 1 mas realmente, no vivido
infinitamen te. A hermenêutica se apodera da "gramática", que (como se diz ... ) de cada um dos par ticipantes." Ora, muito
é competência, enciclopédia, a te nção filológica. E la a submete mais do que uma d istância cr onológica considerá,rd , O alvo
.~I
a 6m de tira.r proveito par-a nós, existentes, tal como somos. A do medievalista não é (ntn"' de,•eria ser) tornar-se ele mesmo
imaginação fuz funcionar no nosso espaço lúdico o objeto que participante da ob,~a em causa) e de ai fazer par ticipar os que o
capturou, T)or aí, ela o transforma em C.$tatuto ; o que foi do-
escutam ou o lêem?
cumenc..o se torna ..realidade partilhada I'), segundo uma outra Rclath'~nnente ao sentido <lue, no fi m de nosso discurso,
e.xpres.são de Winnicott.
vai-.se invcstk na obra, esta age sobre nós corno urn emissor
Q uando o obje to 1:: um texto, fundamentalmente o dis- de mensagens embaralhadas pelos s&:ulos c cuja decodificação
curso crít ico constitui a glosa : uma g losa ativa, q ue c ria simul- (sempre aproximativa) implica minha própria historiciclade :
taneamente c por af aquilo cp1e ela explica, dcsd ohr::t, manifes- operação não arbhrári::l, j>Qis e la implica também consh.leração
ta, vivifica 1 carrega-se para nós de perfumes e de sabores d e da bi~toricidade daquela o bra. Ma~ apropriando.. mc dela, eu
que temos necessidade para existir, restitui ao texto passado a vivo, e ao vivê-la lhe dou, m uito além de todas as .sigrúfiç.a-
o poteuciaJ erótico que necessariamente, como texto, a seu ções recuperadas, um sentido. Posso dizer seu sentido? Ou é o
tempo, e le retém. Na sua qualidade profunda, esse discur so meu? Suscitado pelo próprio ato dessa tra<.l\1çã0, dessa translado
é o inverso do discurso tcórioo, que ele nega. Nem assertiva, rtudn que é inevitavelmente o tempo da humanidade. Procuro

••6 ••7
minha pn)pJia histór ia na singularidade do meu objeto; e ele o lugar singular de sua dupla origern. Só as:sim há. uma chance
encontra trn mim, como em prospectiva. a sua. Entont::ra uma de dar a sentir wna presen('.a e, ca)vez, uma beleza (para além de
paixão: a minha ; aquela em que meu discurso conseguirá tal- todas as decoc.liRcações <]ue propõe).
vez comunic.'lr à n:ünha voJta. A belw.a vem a mais. <..'o mo uma graça. /\·1as da prcsCn\:a
Gm todos o.s objetos qtre sobressaem da história (e por- gera-se um pra·1..er. E o prazer Co mais alto valor do espírito,
tanto da historiografia) é preciso procurar "o lugar do nosso pois é ao mesmo tempo alegria c signo : o signo de urna vit6ria
encornro". O que isto quer dizer se não reorganizar os dados de e sobre a \•ida, esta vitÓrja que 1)0$ faz humanos.
que se itwc11tariou e deles imaginar o sentido? Faz.er nascer de
sc::u fr uto, de um fruto provável, essa matri-z signific...nte? Urn.
adág io paradoxal a.sseguTa que toda lti~tória é contemporânea.
Mdhor ainda, & .hlegel falou wn d ia de "prever o p:.ss..-do": taü-
to é verdade que a historiografia, interpretação de documen-
tos corltro1áveis. trabalha a sangue quente, e, sempre discutí.,·el,
muitas ve-a:s contest.ada, nos compromete vitahne nte (nós: os
hi,storiadores e seus lcito•-es) a cada passo. O que afirmo é a
J'J:atureza poética desse e nvolvimento.
Poética: fl<::cional. se o preferimos, po is a translotio, em
boa retórica, nos íntroduz no reino das ar1alogias, que mani·
., festam urna continuidade real, aio da que velada. .. de forma

r: que chegamos, como o escreveu A. Corbõ1., "• clois dedos da ,.


defi.olção surrealista da poesia~e• Em virtude de seu carárer
analógico e, pois, ficcional, o discurso "poético" do historiador,
por natureza, é narrativo. O saber que e le çonstiLui e t.ransmi·
i
te (Lâo en.gasgado que d e possa estar de e lementos "ctentífi.
(lOs") pe rtence ao que Lyotard chama de sabe r narrativo. 14 Ou
seja, esse discurso não d iz nada, e ressoa (orgulho.,ametlte às
vezes) no vão do absurdo. E em sua (juatidade de narração que
o discurso mantido pelo historiador dcdara sua rela~:ão com

••8
NOTAS

· - - - -·--·- - - - · · --·- - .
I. PElU'OIU I ANéE, J\~CEPÇÀO, LFlTUI\A

StépholllC Santerrc:s-Sarkany, Thêorie ác lo linüoture, 1 ?.90•


Umberto Eco,l.ecuJr tnfobula, «919· Ver os capitul0$u e 111.
Antonio Gómez·Moriana, Lo Subr.-Nio:m du o/Uwurs tiutd, • •)8~. V~.r o
conjunto da Intr odução e as referências <Jue ela fon1oot.

Em torno da idCia d e performanc~

Ivan f'Otlagy, La rh-e ,..,Lr. 1 98 J.


Números t6·lJ. Rctom<1dos: eu1 D:m IJenAmose Ktnncth S. Golds-
tcin, Fclklore: l'eiformOIJ« and CorotJJurocat.ion, t 91 S.
Palavra ai signillca p<~l:.axr.- Or:).l. Em espanhol, a pala\-ra ''OZ. dá conta
dcsle sig•tiGcado, que oompreende pahwra pronund ada c \'OZ . LN.T. )
Cf. Ruth finncgAA, Oml L~in1frictt, •no, pp. 69-?« ;Gcnc:..'ii:vc Ca-
laruc-Grioule. EthnolcgN a f<ms•"!Fia i"'mkdte> I<SI>.>gc<•. •96;. pp. '' ·74·
RolfWiJhelm Bredn;ch, Lutt Rõhriche, Vlolfgmg Suppan. Hondbuch
a~l·hlhlifd«t.. '9JJ·
J"lau) Zumtl10r, fsroi de p(lá;qut ,.,,u;r.~>alc:, r 971, pp. 11·14·
Josettc Féral>"'b Théà.traliré... Pchifut', 1988, pp. 148-so.
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s 1'r:)(lução francesa: La ltú.i.WI'lgraphlque, •979 ·
Cf. Jolm Greenway, Amt>1ican fTJ!Ia<Jna oJ i>rocesc, '96o; Bruce .-\. Ro·
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Cf. ).·f.l)~• t. '-l•ion f""~• •981. Tmuu-. de c>< lU<
dmc:.-nW n-~ w. âhab literirios: os dou '-oh.wtc'l roltthos
P Zumthor,l•ftiJ.a.IOflôJopohkemk, I,.S).pp. l• U . ~J<.WJo.p<W"8tnpm•n, \nutt:rcbmePbibddpbic:.~ ' ' ' ' · trl"
S.indor KiMdi~V..rga, "'La RhétoriqlH! cl~ 1~»", in pll~ Jr, «1>"'111\"...Jtw•.• ,.,,,&pl....,r.......Jaou..
Mtror1l, 19S7,pp. 7f ·82;d. urnbêmA. Gomo-Morum,lo (ult.'C'I" 1 Cf. Lee Pattcrl()f'l, 'NtJC•tJatingtht1tlJl:Jbrhhwtic4lundcrsr.tJnJ,~stf­
di'NIJudJJrounrJiad, •98s,p.tl . Jkn1J Jm·m~vtt, ' '8? l' Marga.rt.""C Mead,U.s tfitbodo du diJroun ttrtlqut
Plí'r'l"(" Cuiraud, tr l.ang..-rgcóv C<Hp$, l98o, I>P· +9· 70• .htrn lrl hu,lr-t•rJ"i"'lltd, J)p. Jj·6l C' 8')"·128.
Harald Wcinnch, "'Utf>t.,.. Sprache, lcib und Ged:X:I•tnb", in I l/In~ liJrJcb Vrr Gcraríll.t•\'ot, "HlsloireOV\'trtrrl ($-pict$ U!Yt.<iUonnçb: a pro•
Cumlm..'tht ~ l udwig P(('iJTer (éds.), ,l fataiaf•ta't J,., KomniuniA-orlon, pÔ~!! dela fl1'illltl Ut'4'tlle l'étudc du<:hant mbJJ(.\ al•, l.n Jc.tn Loui~ Jnm,
•988, pf>. 89·90. (M~.). Dt Ja rnhcrd•t O/oa;mlon. pp. • ) •J j;t A1'tmt p1~frlo n. 1l dn
M Uufr('lllu:, L'lhJ/ i'J l'ordlle, 1987, pp. ]6·11·
ld., ihid., f>. 189; ver também pp. 190~200 .
AndtiSpir<>, PhmupohftJueeplarnr mwulaJ", 1986.pp. s: l·S$ c li).
1 Jk,·ut du totb i«JI"ffJt ( •91lJ).
Cf. J. IJui"KM", •l'.ictur un nu-ddol f\e l'ohjf'J", in fnsOtutron dt '" /wéroturc,
• '78, PP· I ?"f'·
Ct Rt>nf Arp.ard Spitz, De ltJ l'lo"Jimnc~ 6 la pctJ'ólt, •768, pp. ..,6 49 ~ t• G. LcVot,op.dt.,pp. 2l·J:s.
Jj8; \crumN:m,do rMsmo .autor, "Tbe Prim..tl Cl' •tf . Eu n•tornui~ IObn: at~ ponto a Jean Hamburgu, lu lt.dUM tt lo P'l,
Todo o IICgundo vol~ de M.uoel jouu~ . AIM}wpMtf~ Jw é aau. ~: rtjl~"" lnluannfkhrnm.rnr;.wntr., 1988.
conugrxlo 1 f"Jt qum,M,. No que ('J(lo«rne 1!- cultur .u ;Úrtunu, ""' rJ P. lumthor. ·1..c <;.m•r tt 1.. ~: )e probkm~ du runwnlstc·. In
o belo linode J-d><ion Jalm,M=au, '"'· ~tiYJ.d.ft<thcJw SfuJ,na. pf>. )OI ll.

... "f
--
14 A!Kft Corbcr.t, '"t.útbod Ma$tt""', in O. •dmmMútlw Urtttl, .,s,, BIRUOGRAFIA
pp. ltJ ~ l(

·~ ld .• ibid,p.118,
•' ~ür-I'K.ia$ tObrt- o euudo do$ tatos, ''t'r Bruno'rrtumaM, "Nernl
d l'tndéecnnination texrudte•, Wlbt.u9w,.n. 6o, '''••PP· •UJ · J6.
o 7 J.· F. ~yowd. ú D!JTu<nJ, p. , 8. IIEN AMOS, 0. & úOU~'ffiN, K. S. (tds.)
18 1\~rt 1· . Sullh'.ll\ , '"T be c:arolingian ~e~, in Sp«Uium, , ,s,, p. 198. 197 ç. 1\')./k/ou: ~!fo• moflte anJ commun.teotlon. La Haye: Móui.On..
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l'ia, ficção. Sua atitude teÓdC), ino,--adora, ê a de oonternpbr desde os texr.os
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c mcdia~:ões, incluindo os da cultur<t de Lnassas <' 011 di!$ vangu:~rda.,,
P.únel tns.dg.)Jlte q ue contém importantes conquiStl3 de oo.w.l tempo
(ciência e arte), tull obr11 vasta c diversifkada. embol"'3 Cot$1, cons.titui uma
contribuiç..io c u,m des;t6o.
No Bra.s:IJ, h';rl'it(.rio de intensa ~nda da:~ culturas onis, como em
ouln S partes de nosso oontin<'nle, ttm lido gr~d e acolhida e o dom de
despen~l' novas abordagens e perspecth~ . trne.ndo contribuições <JUe \'ào
permitir, cer1amente, a aber tura de n(t\'().' <:;'uninho.<~ CI'Íticos c cl'iad~s.
Eslli em andamento o projeto de tradução da obra de Paul Zumtbol',
<lue tem lugar no Cent•-o de Es:rudos da Or-~li\ladc f'UC·Sf' .

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