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expressivos.
Doutoranda Kate Mamhy Oliveira Kumada1
ProfªDrªIvani Rodrigues Silva2
Prof. Dr. José Mario De Martino3
Prof. Esp. Valdo Ribeiro Resende da Nóbrega4
Eixo temático: Tradução de materiais didáticos para surdos.
Categoria de apresentação do trabalho: Comunicação Oral.
Palavras-chave: educação de surdos; tradução para surdos; libras; materiais didáticos;
avatares.
Introdução
Ao destacar a importância da educação do entorno no planejamento de programas
educacionais voltados para grupos minoritários, Maher (2007) faz críticas ao que ela
denomina de retórica do multiculturalismo, mostrando que dado o caráter polissêmico
do termo, há os que atribuem a ele um sentido negativo e há aqueles que o enxergam
mais como uma ‘benesse’. Analisando criticamente esses dois polos, Maher (op. cit)
conclui que os adeptos do multiculturalismo em sua versão mais liberal argumentam
que “desde que se garanta igualdade de condições” todos deveriam ser bem sucedidos
na escola. É claro que por “igualdade de condições” entende-se mais a conquista
relativamente recente de as minorias estarem em escolas com os alunos ditos “normais”,
do que projetos diferenciados desenhados nesse espaço para atingir o aluno surdo, por
exemplo, com materiais de ensino específicos para essa população, estratégias de ensino
diferenciadas ou mesmo o uso da Libras no contexto de ensino/aprendizagem. Além do
engessamento da escola e de sua dificuldade de se abrir para a diferença é visível a
lacuna de políticas públicas mais claras que possam balizar a ação do professor em
relação a como ensinar ou avaliar o aluno surdo. Por outro lado, os adeptos do
multiculturalismo de maneira mais crítica, como aponta Maher (op. cit) entendem que
não há como ignorar as diferenças e as especificidades culturais, mas tendem a
essencializar essas diferenças, elegendo alguns traços da cultura do grupo em questão
como os únicos autênticos, o que os levam, de certa forma, a homogeneizar os grupos
minoritários, chegando, em alguns casos, ao que a autora denomina de “fetichização”
das minorias, vistas assim como grupos homogêneos isentos de contradições ou
conflitos.
Entendemos a importância das afirmações de Maher (2007) no sentido de colocar
luzes em relação ao próprio conceito de cultura relacionado aos grupos em questão, com
a finalidade de que as minorias não sejam vistas como entidades únicas e homogêneas,
mas como resultado de um conjunto de representações e não como um dado da
realidade. Isso é importante para repensarmos também, todos os binarismos presentes
na área de Educação de Surdos, na fala de muitos professores da escola regular, nas
vozes de muitos pais de surdos e, também, no relato de profissionais da área. Essa
necessidade de separar o Português da Libras, por exemplo, e de desconsiderar a língua
de sinais caseira como uma língua possível (cf. GESSER, 2006, SILVA, 2008,
1
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação da USP, SP.
2
Docente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, SP.
3
Docente da Faculdade de Engenharia Elétrica e da Computação da Unicamp, SP.
4
Docente da Universidade Federal da Paraíba, PB.
KUMADA, 2012) e presente nesse meio apontam para a dificuldade de aceitar as
misturas de línguas próprias do mundo plurilíngue. Ao dizerem que “o aluno surdo
chega à escola com 7 anos sem língua nenhuma” ou que “meu filho não fala nem
português nem Libras” essas pessoas demonstram não aceitar ou não valorizar as outras
línguas presentes tanto em Libras como em português como legítimas representantes
desses contextos em que há falantes de (diferentes) modalidades de língua e mesmo de
línguas diferentes, continuando a busca pelo puro, pelo uno e pelo padrão.
Ao lado disso, presenciamos um fenômeno novo na área de Educação de Surdos em
relação especificamente às línguas de sinais, que pode ajudar a problematizar ou
desnaturalizar conceitos ainda mal digeridos na área de Educação de Surdos, mais
especificamente o conceito de língua assimilada de forma essencializada como aquelas
representadas nos relatos acima. Estamos nos referindo à legitimação da Libras ocorrida
pós Decreto nº 5.626/05 que coloca em perspectiva o contexto escolar também como
um possível espaço para o uso da Libras. Neste momento, a necessidade de Libras
funcionar dentro das salas de aula cria outras demandas, por exemplo, a busca de
termos próprios para as diferentes disciplinas. Essa língua não está mais restrita ao
espaço familiar e social do surdo, portanto, não se limita mais a significar episódios da
vida diária. Pelo contrário, no momento em que é facultado o seu uso na escola há uma
necessidade crescente por descrevê-la de modo a fazê-la comportar o conteúdo escolar.
Esse novo olhar sobre a Libras cria uma demanda por novos estudos em relação a essa
língua e, de forma cíclica, novos estudos criam outras demandas, a saber, novos
dicionários ou glossários e mesmo novos materiais de ensino para alunos surdos, que
levem em conta sua cultura. A produção de materiais, ademais, apoia-se na a concepção
de surdo vigente em cada época, portanto, se o surdo é visto como deficiente as
publicações refletem esse espírito e, ao contrário, se o sujeito surdo é representado
como um sujeito bilíngue como consequência tem-se a busca por materiais que deem
conta dessa concepção.
Dentro desse intuito de colaborar com a construção de materiais de ensino para
surdos, a partir de uma concepção sócio-antropológica da surdez, nosso artigo traz
resultados parciais de um projeto que visa a constituição de um glossário da área de
Ciências. Essa proposta emergiu a partir da tradução de português para Libras de um
livro didático de Ciências, tradução esta que foi realizada com intuito de alimentar o
corpus de avatares expressivos.
Percurso metodológico
Com base em uma pesquisa qualitativa, nosso objetivo foi entender os desafios
evidenciados na tradução da Língua Portuguesa para a Libras envolvendo como
conteúdo um livro de Ciências (do 3º ano do Ensino Fundamental) utilizado para dar
suporte aos avatares expressivos (uma adaptação e extensão do sistema SinaLibras 3D).
Nesse sentido foram geradas gravações em vídeo das sessões de tradução. As
gravações tiveram sujeitos surdos como modelos de usuário da Libras e foram,
posteriormente, analisadas por participantes surdos, intérpretes de Libras e profissionais
da área do ensino de ciências e biologia com domínio em Libras. Os participantes
realizaram a descrição dos vídeos utilizando como sistema de transcrição o software
Elan, considerado por McCleary et al. (2010) um dos softwares mais utilizados no
mundo para pesquisas envolvendo corpus em línguas de sinais. Além disso, os
participantes avaliaram os vídeos refletindo sobre aspectos linguísticos da tradução, tais
como, o vocabulário utilizado, a estrutura sintática, a clareza na escolha e no uso de
classificadores e recursos narrativos da Libras, entre outros.
Esses procedimentos de análise foram essenciais para a criação dos avatares
expressivos, e possibilitaram, mediante a reflexão sobre o processo de tradução,
identificar inúmeros desafios que decorrem, em grande parte, da ainda recente descrição
linguística da Libras.
Os desafios na tradução de textos para a Libras
Uma das necessidades para a construção do nosso modelo de avatar foi a de
identificar as configurações de mão que integram cada sinal da Libras utilizado. Em
estudo mais antigo, Ferreira-Brito (1995 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 53)
afirma que a Libras apresentaria 46 configurações de mãos, enquanto Quadros e
Pimenta (2008, p. 63) descrevem 61 configurações. Em contato com o Instituto
Nacional de Educação de Surdos (Ines) tivemos acesso a uma tabela ainda mais
completa, com 79 imagens catalogadas (conforme ilustra o Quadro 1). Entretanto, a
descrição das configurações de mãos realizadas em nosso projeto permitiu
identificarmos novas configurações de mão ainda não registradas. Surgiu então nosso
primeiro desafio, pois a tabela mais completa encontrada ainda não atendia de forma
suficiente às nossas necessidades. Assim, até o presente momento foram identificadas
12 diferentes configurações de mãos que não estavam registradas na tabela do Ines.
Diante dessa restrição, elaboramos uma primeira adaptação da tabela do Ines que
resultou em 91 configurações de mãos, conforme pode ser observado no Quadro 1.
Sinal de IMAGINAR feito com 4 dedos. Sinal de IMAGINAR feito com 5 dedos.
Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p. Fonte: Acessibilidade Brasil.
746. Extraído de:
http://www.acessibilidadebrasil.org.br/libras/
Quadro 2: Catalogação do sinal IMAGINAR em dois dicionários diferentes.
Referências
KUMADA, K.M.O. “No começo ele não tem língua nenhuma, ele não fala, ele não
tem LIBRAS, né?”: representações sobre línguas de sinais caseiras. Dissertação de
Mestrado. Departamento de Linguística Aplicada. Instituto de Estudos da Linguagem,
Unicamp, 2012.
McCLEARY, L.; VIOTTI, E.; LEITE, T.A. Descrição das línguas sinalizadas: a
questão da transcrição dos dados. Alfa, 54 (1), 2010, p.265-289.
OLIVEIRA, J.S.; SILVA, R.C. Equipe de tradução do curso de Letras Libras. In.:
QUADROS, R.M.(Org.). Letras Libras: ontem, hoje e amanhã. Florianópolis: Edufsc,
2014.
SILVA, I.R. Quando ele fica bravo, o português sai direitinho; fora disso a gente não
entende nada: o contexto multilíngue da surdez e o (re)conhecimento das línguas no seu
entorno. In. MAHER, T.M. Trabalho de Lingüística Aplicada, Campinas, 47(2): 393-
407, jul./dez.2008.