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1. Introdução
O presente artigo versa sobre a teoria econômica inglesa pensada inicialmente pelo
historiador francês Hilaire Belloc, o distributismo. Tal teoria tem como principal característica
se opor ao capitalismo e o socialismo em nome da propriedade privada e de uma autêntica
concepção de liberdade.
Considerando então a pouca atenção dada às obras de Hilaire Belloc nos recentes
estudos acerca do distributismo, e, tendo em conta a importância de tal autor para o completo
entendimento da teoria econômica, busca-se, a partir do presente artigo, expor e comentar as
primeiras críticas feitas por Belloc ao capitalismo e, consequentemente, seus primeiros
argumentos em favor do distributismo.
Graduando em História pela Universidade Católica de Petrópolis.
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Daniel Sada desenvolve sua tese a partir dos artigos publicados no G.K’s Weekly, dentre os quais a maioria é
de autoria de Chesterton; Alessandro Garcia, por sua vez, explica que a influência econômica de Alceu Amoroso
Lima foi Chesterton e não Belloc.
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ideias distributistas foram pensadas e divulgadas. Levando em consideração, porém, que cada
intelectual absorve os problemas presentes no seu contexto social a partir de um horizonte
individual e subjetivo, considera-se importante, para o entendimento das soluções propostas
por Belloc um estudo metodológico que vise o correto entendimento do quanto o intelectual,
enquanto desenvolvia as ideias distributistas, foi afetado pelo contexto histórico e social no
qual estavam inseridos.
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Em dezembro de 1907, Chesterton e Belloc participaram através da New Age –
revista que era órgão do grupo de artes e ofício da Sociedade Fabiana2 – de um debate onde se
opuseram à dupla G.B. Shaw e W.G. Wells. Tal debate é descrito por Daniel Sada como o
“debate fundacional do distributismo”. (2005, p. 27)
A ideia do debate era discutir o contexto social inglês da época, e propor soluções
para os problemas presentes nesse contexto. Logo no primeiro artigo, Belloc rompe com as
propostas socialistas de forma a defender princípios próprios. O historiador afirma que a
Inglaterra capitalista precisa mudar, porém, a mudança proposta por ele é bem distinta da
defendida pelos socialistas. Escreve ele: “O homem, para ser normalmente feliz,
toleravelmente feliz, deve ser proprietário. Afirmo que nenhuma família ou outra subunidade
do Estado pode viver uma vida tolerável sem possuir de modo privado um mínimo dos meios
de produção” (1907, p. 108. Tradução nossa).
É, pois, nesse sentindo que o novo ideal econômico se difere tanto do socialismo
quanto do capitalismo. Segundo Belloc, ambos os sistemas produziam uma espécie de
divórcio entre a pessoa e a produção. Esse divórcio é sempre anti-humano, ainda que a forma
de consumação seja distinta (1907, p. 108).
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A Sociedade Fabiana recebe esse nome em homenagem a Quintus Fabius Maximus (275 – 203 a.C.), um
general da República Romana que venceu a Segunda Guerra Púnica adotando uma estratégia de não lutar
confrontos diretos, mas sim incorrer apenas em pequenas e graduais campanhas. Na prática, a Sociedade
Fabiana, fundada no ano da morte de Marx, tinha como intuito a promoção das ideias do pensador alemão por
meio de medidas socialistas graduais e disfarçadas.
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seguros. A partir dessa constatação o historiador francês sistematizou e divulgou os
fundamentos de um modelo econômico que tinha como característica a distribuição da
propriedade dos meios de produção.
O jornal citado por Chesterton é o Eye-Witness, fundado em 1911 e que viria, depois
de ter seu nome alterado para G.K.’s Weekly, em 1925, a se tornar o maior meio de
propagação das ideias distributistas.
Em 1913 Belloc publicou o livro O Estado Servil, obra que o consagrou como o
fundador do distributismo. Segundo Salvador Antuñano, embora Belloc já fosse um militante
dos movimentos sociais cristãos desde sua juventude em Oxford, foi em 1913, com o Servil
State, que ele organizou seus ideais de forma a propor um sistema econômico prático: o
distributismo (2004, p. 282).
Em 1926 com o objetivo de obter fundos para manter a G.K’s Weekly é fundada uma
Liga Distributista. Chesterton foi eleito seu primeiro presidente, cargo que ocupou até o seu
falecimento.
A Liga, que se reunia em uma taberna em Devereux, atingiu seu ápice em 1928, com
um número aproximado de dois mil membros. A principal atividade da Liga foi a promoção
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de debates. O mais famoso deles foi o “Do We Agree?” protagonizado por G.B. Shaw e G.K.
Chesterton, tendo H. Belloc como moderador. Tal debate ocorreu em 1927 e foi transmitido
pela BBC.
Chesterton foi muito ativo, tanto na Liga Distributista quanto no semanário. Escreveu
artigos para quase todos os 600 números da G.K.’s Weekly. A presença de Belloc no
semanário foi mais escassa e esteve, sobretudo, vinculada aos temas da história e da política
internacional. Belloc era mais acadêmico e sua defesa dos ideais distributistas deu-se através
de ensaios.
O fato de Belloc ser menos ativo nas atividades diretas da Liga não o impediu de
assumir sua presidência após o falecimento de Chesterton em 1936, bem como a direção do
G.K’s. Weekly. A Revista distributista mudou de nome em 1937, passando a se chamar The
Weekly Review. Lá as ideias distributistas foram defendidas até a década de 1940, quando
encerrou seus trabalhos.
O distributismo é apontado por Daniel Sada (2005, p. 31) como uma resposta
aplicada aos princípios da Doutrina Social da Igreja, mais especificamente como resposta aos
apelos feitos pelo papa Leão XIII na sua carta sobre o trabalho, a Encíclica Rerum Novarum
de 1891. Naquele documento, o então papa convidava os católicos a pensarem alternativas às
“coisas novas” que dão nome a carta: o capitalismo e o socialismo.
A influência do texto papal na teoria formulada por Belloc é inegável, à medida que
é citada por vários autores distributistas3. Entretanto, pensadores como Alessandro Garcia
(2008, p. 87) e Salvador Alea (2004, p. 283) chamam atenção parar os matizes próprios do
distributismo enquanto sistema econômico com pretensões práticas. Alessandro, por exemplo,
destaca a ênfase que os autores distributistas dão à liberdade.
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A Hilaire Belloc devemos o distributismo. Não que ele tenha inventado a ideia, que já está implícita no
catolicismo e implícita na Rerum Novarum, a maior encíclica de Leão XIII. Porém, sim, ele inventou a coisa
como sistema de economia prática, e como alternativa ao capitalismo e ao comunismo (TITTERTON, 2011, p.
45. Tradução nossa).
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De fato, o tema da liberdade é fulcral para o distributismo, à medida que constitui o
objetivo último a ser alcançado. O slogan da Liga Distributista que estava presente em todos
os números da G.K.’s Weekly reforça essa ideia, nele se lê: “A Liga para a restauração da
liberdade por meio da distribuição da propriedade”. (apud SADA. 2005, p. 37).
A liberdade de acordo com a ótica distributista constitui um valor tão alto que não
deve ser trocada nem por melhorias sociais. Sobre isso, cabe ressaltar a crítica que Belloc faz
no Servil State: o capitalismo instaura uma nova espécie de escravidão, ainda que os escravos
pareçam felizes (1945, p. 149).
4. Distributismo e Capitalismo
Do mesmo modo, não considera servil uma sociedade na qual os homens trabalham
por entusiasmo, credo religioso, medo da miséria ou por pretensão de lucro. Tampouco vê
servidão numa sociedade onde os homens possam se valer do seu direito de trabalhar, ou não,
como instrumento para negociar melhorias nas suas condições, tendo ao seu lado garantias
por meio de leis sociais.
Visto que a servidão das massas se dá pela concentração dos meios de produção, a
solução lógica proposta por Belloc é a descentralização dos meios de produção como caminho
para a liberdade do homem.
Essa primeira crítica de Belloc, embora seja introdutória, acaba por se tornar muito
influente na ideia distributista, que vê na propriedade privada o único caminho para a
liberdade. A partir dela, muitos distributistas construíram suas próprias críticas ao
capitalismo. O próprio Belloc, posteriormente, retoma tal crítica como ponto de partida para
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maiores reflexões em livros como “The Restoration of Property” (1936) e “The Crisis of our
Civilization” (1939).
Cabe lembrar que a crítica citada está presente em um livro que foi publicado em
1913, portanto, antes da Revolução Russa. Nesse momento, Belloc não acredita que a
estatização dos meios de produção irá se realizar em qualquer parte do mundo. No Estado
Servil o autor afirma que, quando muito, os socialistas conseguirão por meio legislativo,
algumas mudanças com o intuito de trazer mais segurança ao proletariado. Algo como um
sistema previdenciário. Porém, ao fazerem isso, eles estarão servindo à perpetuação do Estado
Servil, visto que isso reduzirá a tensão entre as classes que é vista pelo escritor francês como
um dos possíveis fatores de queda do sistema capitalista. (BELLOC, 1945, p.127-140).
Referencias Bibliográficas
ALEA, Salvador Antuñano, El Distributismo Inglés: una alternativa de raíz tomista a los
totalitarismos del siglo XX. Madrid, ESP: Fundación Universitária Española, 2004.
BELLOC, Hilaire. El Estado Servil. 3º ed. Buenos Aires, ARG: LA Espiga de Oro, 1945.
BELLOC, H. Thoughts about Modern Thought, London, ENG: New Age, 1907, p. 108
CHESTERTON, G. K. Why I am not a Socialist. London, ENG: The New Age. 1908, p. 189.
TITTERTON, W.R. G.K. Chesterton, mi amigo. Madrid, ESP: Ediciones RIALP, S. A, 2011.
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