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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOSECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICAINSTITUTO
FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINACAMPUS
JOINVILLEDEPARTAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO ENSINOESCRITORES:Ana Cristina
CésarCacaso (Antonio Carlos de Brito)Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)Francisco
AlvimPaulo LeminskiPERÍODO:Poesia marginal – anos 70Ana Cristina Cesar(1952-
1983)Bela como poucas, Ana Cristina foi a musa absoluta da poesia marginal. Nascida
noRio de Janeiro, em 1952, formou-se em Letras e fez curso de tradução literária
naInglaterra. Influiu ativamente na vida cultural carioca dos anos 70, escrevendo
artigosem jornais e participando de debates. Em 1982, ela reuniu seus livros
publicadosindependentemente no volume A teus pés. Em 1983, durante uma crise
emocional,Ana C., como assinava, se matou, saltando pela janela, aos 31 anos. Em
1985, o poetaFreitas Filho reuniu seus inéditos no livro Inéditos e dispersos.1
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CésarCacaso (Antonio Carlos de Brito)Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)Francisco
AlvimPaulo LeminskiPERÍODO:Poesia marginal – anos 70Cacaso(1944-1987)Criador da
coleção Frenesi, escrevia artigos em jornais comentando a obra de Chacal,Ana
Cristina e outros. Estreou em 1968, com o livro Palavra cerzida, em querevelava
certa influência simbolista, bebida na obra de poetas como Cecília Meireles.Em
1970, sua poesia passa a ser mais descarnada, coloquial e humorada. Um de
seuslivros mais famosos é Beijo na boca (1975), em que faz referências ao
romantismobrasileiro. Também fez letras para canções de Tom Jobim e Suely Costa,
entre outros.Cacaso nasceu em Uberaba e morreu no Rio de Janeiro.2
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CésarCacaso (Antonio Carlos de Brito)Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)Francisco
AlvimPaulo LeminskiPERÍODO:Poesia marginal – anos 70Chacal(1951- )Foi o primeiro a
entrar na onda do livro impresso em mimeógrafo e distribuído demão em mão. O livro
se chamava Muito prazer, Ricardo (1972). Nele, os versos vãoquase rentes à fala
cotidiana, incorporando recursos como a linguagem dos jornais eas gírias, sempre
com muita graça e suíngue. Sua obra foi reunida em 1983 nacoletânea Drops de abril.
Nascido no Rio de Janeiro em 1951, Chacal continua emplena atividade, fazendo
leituras públicas e publicando poemas. Foi editor da revistade poesia O Carioca e
também publicou os livros Comício de tudo (1986), Letraelétrika (1994) e A vida é
curta pra ser pequena (2002).3
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CésarCacaso (Antonio Carlos de Brito)Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)Francisco
AlvimPaulo LeminskiPERÍODO:Poesia marginal – anos 70Francisco Alvim(1938- )Nasceu
em Araxá, Minas Gerais, em 1938. É diplomata e atualmente mora na CostaRica. Em sua
poesia encontramos uma vertente lírica e outra mais marcada pelareflexão social –
presente sobretudo nos textos em que há recerte e montagem de falase estilos
provenientes dos mais diversos extratos da sociedade. Publicou vários livros,como
Passatempo (1974); Lago, Montanha (1981); O corpo fora (1988) e Elefante(2000),
entre outros.4
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JOINVILLEDEPARTAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO ENSINOESCRITORES:Ana Cristina
CésarCacaso (Antonio Carlos de Brito)Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)Francisco
AlvimPaulo LeminskiPERÍODO:Poesia marginal – anos 70Paulo Leminski(1944-1989)Como
dizia Haroldo de Campos, Leminski era um “Rimbaud curitibano com físico dejudoca”.
Este poeta nascido em Curitiba, no Paraná, em 1944, foi tradutor, professorde
história e d judô, publicitário, romancista e músico. Sua poesia,
altamenteelaborada e construída, era sintética, concisa e debochada. Caetano Veloso
dizia queele misturava a poesia concreta com a literatura beatnik dos americanos
dos anos 50.Foi letrista de MPB e publicou vários livros independentes – reunidos
pela primeiravez em 1983, na coletânea Caprichos & relaxos. Em 1987, lançou
Distraídosvenceremos. Leminski morreu em 1989. Entre suas obras póstumas estão L
avie emclose (1991) e Winterverno (1994).5
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JOINVILLEDEPARTAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO ENSINOSobre o livro POESIA
MARGINAL:Poesia no Brasil da torturaPoesia à margem, fora do
padrãoContexto:Ditadura MilitarDécada de 70 “Anos de Chumbo”Autoritarismo e
repressãoPor que poesia marginal?1- marginal quanto à forma:- linguagem coloquial-
humor- uso de gírias- influência dos modernistas da Semana de Arte ModernaExemplo
de Poema-Piada:É proibida pisar na gramaO jeito é deitar e rolar(Chacal)JejumCuspiu
no prato em que comiaTiraram o prato(Francisco Alvim)2- maginal quanto aos temas:-
amor- política- sexo- família- drogas- profanos- influência do Tropicalismo3-
marginal quanto às publicações:- impressões em mimeógrafos- edições grampeadas-
artesanais4- marginal quanto à distribuição:- vendidos
em:baresbotecosteatroscinemas de ruauniversidadesetc.6
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Sobre a divisão da obra em 4 partes:A obra é dividida em quatro áreas temáticas,
onde em cada uma os cinco poetas possuem textosdistribuídos.1ª parte: Sentir é
muito lentoNesta primeira parte, destacam-se:o sentimento amoroso,a sensibilidade,o
amor.2ª parte: Os olhinhos do poetaNesta segunda parte, destacam-se:o trabalho do
poeta,as inquietações e vacilos diante da folha em branco,os poemas
metalinguísticos, ou seja, o poema falando do próprio poema.3ª parte: Se o mundo
não vai bemNesta terceira parte, destacam-se:o mundo que envolve os poetas,o
autoritarismo,o mundo concreto, real, cotidiano,a poesia luta contra a repressão.4ª
parte: A vida que paraNesta quarta parte, destacam-se:a efemeridade ou o registro
do instante,a fugacidade, o acaso,a percepção do poeta e sua sensibilidade7
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1ª parte – Sentir é muito lentoFogo-fátuoela é uma mina versátilo seu mal é ser
muito volúvelapesar do seu jeito volátilnosso caso anda meio insolúvelse ela veste
seu manto diáfanosai de noite e só volta de diaeu escuto os cantores de ébanoe
espero ela chegar da orgiaela pensa que eu sou fogo-fátuoque me esquenta em banho-
mariase estouro sou pior que o átomoainda afogo essa nega na piaChacalModa de
violaOs olhos daquela ingrata às vezesme castigam às vezes me consolam.Mas sua boca
nunca me beija.CacasoSaraSe sara sarar d• saramp•sara será sereiap•is sara nã• é
feiaemb•ra nã• seja um anj•merece um s•l• de banj•ChacalHappy endO meu amor e
euNascemos um para o outroAgora só falta quem nos apresenteCacasoParada
cardíacaEssa minha securaessa falta de sentimentonão tem ninguém que segurevem de
dentroVem da zona escuradonde vem o que sintosinto muitosentir é muito lentoPaulo
LeminskiNada, esta espumaPor afrontamento do desejoinsisto na maldade de
escrevermas não sei se a deusa sobe à superfícieou apenas me castiga com seus
uivos.Da amurada deste barcoquero tanto os seios da sereia.Ana Cristina CesarAna
CristinaAna Cristina cadê seus seios?Tomei-os e lancei-osAna Cristina cadê seu
senso?Meu senso ficou suspensoAna Cristina cadê seu estro?Meu estro eu não
emprestoAna Cristina cadê sua alma?Nos brancos da minha palmaAna Cristina cadê
você?Estou aqui, você não vê?CacasoAna Cgosto muito de olhar um poemaaté não mais
divisar o que érespiração noite vírgulaeu ou vocêgosto muito de olhar um poemaaté
restar apenasvoceuChacal8
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Quando entre nós só haviauma carta certaa correspondênciacompletao trem os trilhosa
janela abertauma certa paisagemsem pedras ousobressaltosmeu salto altoem
equilíbrioo copo d’águaa espera do caféAna Cristina CesarTemporadaSe o porco é
espinhocaço e asso.Se o corpo é sozinhotraço e passo.CacasoDelírio puroQuanto mais
loucolúcido estouno fundo do poçoque me banhotem uma claridadeque me namoratoda vez
queeu vou ao fundome confundo quando bóiome conformo quando nadome convenço quando
afundono fim do fundoeu te amoChacalFaíscaIncêndio no horizonteportas do ventoa mão
verdeafaga o rostoTeu cheiro de areiaTua boca de águaO sono da nuvemFrancisco
AlvimHora do recreioO coração em frangalhos o poeta élevado a optar entre dois
amores.As duas não pode ser pois ambas não deixariamuma só é impossível pois há os
olhos da outrae nenhuma é um verso que não é deste poemaPor hoje basta. Amanhã
volto a pensar neste problema.CacasoÁlgebra elementarperder um amor é muito duro.
perder dois ébem menosCacasoFotonovelaQuando você quis eu não quisQdo eu quis você
ñ quisPensando mal quase q fuiFelizCacasoSentadoDois embrulhos cautelososDuas
suaves eructaçõesà sombra do abajur de duas lâmpadasOs dois amores voaram pela
janelaEu fico aqui, nesta poltronaduas vezes sentadoFrancisco Alvim9
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Na folha de cadernoQueria te dizer coisas singelas e verdadeirasmas as palavras me
embaraçam.Estou triste, meu amor, mas lembre-se de mim comalegria.CacasoÁguaFalar
de tié falar de tudo o que passano alto dos ventosna luz das acáciasé esquecer os
caminhosapagar o enredoé pensar as formas do brancocomo teu corpo numa praiabranda
e azultua pele não retém as horasescorres, líquidasonoraFrancisco
Alvim------------------------------------2ª parte – Os olhinhos do poetaTenho uma
folha brancae limpa à minha espera:mudo convitetenho uma cama brancae limpa à minha
espera:mudo convitetenho uma vida brancae limpa à minha esperaAna Cristina
CesarPapagaioestranho o poder do poetaescolhe entre quase e caisquais palavras lhe
convêmdepois as empilha papagaioe as solta no céu do
papelChacalDesencontráriosMandei a palavra rimar,ela não me obedeceu.Falou em mar,
em céu, em rosa,em grego, em silêncio, em prosa.Parecia fora de si,a sílaba
silenciosa.Mandei a frase sonhar,e ela se foi num labirinto.Fazer poesia, eu sinto,
apenas isso.Dar ordens a um exército,para conquistar um império extinto.Paulo
Leminskina superfícieforam descobertoshojeàs cinco e meia da tardepeixescapazes de
cantarcapaz o poetadizo que quero que não quere chama os nomes pelas
coisascapazesde cantardanos causados por olhinhos suados e marésos olhinhos do
poetapiscam como anzóisexaustosna piscinaAna Cristina CesarSem budismoPoema que é
bomAcaba zero a zero.Acaba com.Não como eu quero.Começa sem.Com, digamos, certo
verso,Veneno de letrabolero, ou menos.Tira daqui, bota dali,um lugar, no
caminho.Prossegue de si.Seguro morreu de velho,e sozinho.Paulo Leminski10
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“Um poeta não se faz com versos”o poeta se faz do saborde se saber poetade não ter
direito a outro ofíciode se achar de real utilidade públicano cumprimento de sua
missão sobre a terraescrevendo tocando criandoo que pesa é não se achar
loucopatético quixote inútilcomo quem fala sozinhocomo quem luta sozinhoo que pesa
é ter que criarnão a palavramas a estrutura onde ela ressoenão o versinho lindomas
o jeitinho dele ser lido por vocênão o panfletomas o jeito de distribuirquanto a
você meu camaradaque à noite verseja pra de diacumprir seu dever como água
paradafica aqui uma sugestão:- se engaveta junto com os seus sonetosporque muito
sangue vai rolar e nãofica bem você manchar tão imaculadas páginas.ChacalVacilo da
vocaçãoPrecisaria trabalhar - afundar -- como você - saudades loucas -nessa arte -
ininterrupta -de pintar -A poesia não - telegráfica - ocasional -me deixa sola -
solta -à mercê do impossível -- do real.Ana Cristina CesarHelpless (indefeso,
desamparado)o sus do susto o pó da pólvora eu queroengolir sílabas e vomitar o
pânicosó assim minhas unhasencarnadas vão à máquinapara numa rajada de letrastirar
cada segundo ao marasmoé assim que vejo cultura: bala no bandidotiro no que
encarquilha a linguagema língua é boa soltafazendo escarcéu da sua bocase
embrenhando nos labirintosdos seus ouvidosperdida perdidaChacalFlores do
maisdevagar escrevauma primeira letraescrevanas imediações construídaspelos
furacões;devagar meçaa primeira pássarabisonha queriscaro pano de bocaabertosobre
os vendavais;devagar imponhao pulsoque melhorsouber sangrarsobre a facadas
marés;devagar imprimao primeiro olharsobre o galope molhadodos animais; devagarpeça
maise mais emaisAna Cristina CesarOlho muito tempo o corpo de um poemaaté perder de
vista o que não seja corpoe sentir separado entre os dentesum filete de sanguenas
gengivasAna Cristina Cesar11
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Ventografar uma músicaé como quererfotografar o ventoa música existe no tempoa
grafia existe no espaçoo vento no ventoChacalO bicho alfabetotem vinte e quatro
patas ou quasepor onde ele passanascem palavras e frasescom frasesse fazem
asaspalavraso vento leveo bicho alfabetopassafica o que não se escreve.Paulo
LeminskiDistâncias mínimasUm texto morcegose guia por ecosum texto texto cegoum eco
anti anti antigoum grito na parede rede redevolta verde verde verdecom mim com com
consigoouvir é ver se se se se seou se se me lhe te sigo?Paulo
Leminski------------------------------------3ª parte – Se o mundo não vai
bemDiscordânciaDizem que quem cala consenteeu por mimquando calo dissintoquando
falomintoFrancisco AlvimJejumCuspiu no prato que comiaTiraram o pratoFrancisco
AlvimMeu filhoVamos viver a era do centaurometade cavalometade tambémFrancisco
AlvimÀ geralOnde andará a estrela vermelha?no céuno céu da bocano céu da tua boca
abertana fé do teu coração sangrandona fé do teu coraçãona fé da tua açãona féno
ferroonde andará a estrela vermelha?Chacal12
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OrtodoxiaChego a entendero StálinPara fazer a reforma agráriateve que matar10
milhões de camponesesTratamento, que tratamento?Desculpe o racismo masterapia de
crioulo é trabalhoFrancisco AlvimEleInteligente?Não sei. Dependedo ponto de
vista.Há, como se sabe,três tipos de inteligência:a humana, a animal e a
militar(nessa ordem).A dele é do último tipo.Quando rubrica um papelpõe dia e hora
eos papéiscaminham em ordem unida.Francisco AlvimFaz três semanasesperodepois da
novelasem faltaum telefonemade algum pontoperdidodo paísAna Cristina CesarGrupo
escolarSonhei com um general de ombros largosque rangiae que no sonho me apontava a
poesiaenquanto um pássaro pensava suas penase já sem resistência resistia.O general
acordou e eu que sonhavaface a face deslizei à dura viavi seus olhos que tremiam,
ombros largos,vi seu queixo modelado a esquadriavi que o tempo galopando
evaporava(deu pra ver qual a sua dinastia)mas em tempo fixei no firmamentoesta
imagem que rebenta em ponta fria:poesia, esta química perversa,este arco que
desvela e me repõenestes tempos de alquimia.CacasoHorasO olho do relógio vigia meu
coração(acima do bem e do mal e dentro do medo)Até às onze horas de hojenão amei
ninguém.Espero que até às cinco da tarde amanhãeu ame alguém.O olho do relógio
vigia, vigia.Mas nem o medo afasta o desamor.Francisco AlvimAutoridadeOnde a lei
não cria obstáculoscoloco labirintosFrancisco AlvimÉ proibido pisar na gramaO jeito
é deitar e rolarChacalErra de uma veznunca cometo o mesmo erroduas vezesjá cometo
duas trêsquatro cinco seisaté esse erro aprenderque só erro temPaulo Leminski13
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As aparências revelamAfirma uma Firma que o Brasilconfirma: “Vamos substituir oCafé
pelo Aço”.Vai ser duríssimo descondicionaro paladar.Não há na violênciaque a
linguagem imitaalgo da violênciapropriamente dita?CacasoReclamecom deus mi deito
com deus mi levantocomigo eu calo comigo eu cantoeu bato um papo eu bato um pontoeu
tomo um drink eu fico tonto.ChacalCartilha da curaAs mulheres e as crianças são as
primeiras quedesistem de afundar navios.Ana Cristina
Cesar------------------------------------4ª parte – A vida que paraa noiteme pinga
uma estrela no olhoe passaPaulo LeminskiBuracos no céuquando tempo e espaço se
cortamquando nosso corpo se encontradiga que eu perdi a cabeçadiga que eu sou uma
bolha de alka seltzerquando chove meteoroquando os buracos se cruzamcaem fagulhas
na terracorrem agulhas no sanguedesorganizado saio de casacom um guarda-chuva de
cheeseburgercom uma capa de amiantoe não me espantoentretanto descobri:a loucura é
um sopro no ouvido.ChacalComo abater uma nuvem a tirosSirenes, bares em
chamas,carros se chocando,a noite me chama,a coisa escrita em sanguenas paredes das
danceteriase dos hospitais,os poemas incompletose o vermelho sempre verde dos
sinaisPaulo LeminskiUlissesO búzio junto ao ouvidoouço o marO mar: apenasquarteirão
e meio de onde moroPrefiro ouvi-lo no búzio(calmo, calmo)No quarto(a vida que
para)ouço o marFrancisco AlvimArte do cháainda ontemconvidei um amigopara ficar em
silênciocomigoele veiomeio a esmopraticamente não disse nadae ficou por isso
mesmoPaulo Leminski14
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Ossos do ofíciosempre deixei as barbas de molhoporque barbeiro nenhum me
ensinoucomo manejar o fio da navalhasempre tive a pulga atrás da orelhaporque
nenhum otorrino dissecomo se fala aos ouvidos das pessoassou um cara griladoum
péssimo maridonove anos de poesiame renderam apenasum circo de pulgase as barbas
mais límpidas da turquia.Chacalacordei bemoltudo estava sustemidosol faziasó não
fazia sentidoPaulo LeminskiVento vadioàs vezes vem um ventoe levanta a aba do
pensamentojogando o meu chapéupra lá da possibilidadeChacalaquinesta pedraalguém
sentouolhando o maro marnão paroupra ser olhadofoi marpra tudo quanto é ladoPaulo
LeminskiQuase deslizaOnde seus olhos estãoas lupas desistem.O túnel corre,
interminávelpouso negro sem quebrade estações.Os passageiros nada adivinham.Deixam
correrNão ficam negrosDeslizam na borrachacarinho discretopelo cansaçoque apenas se
recostacontra a transparenteescuridão.Ana Cristina
CesarSombrasderrubamsombrasquando a trevaestá madurasombraso vento
levasombranenhumaduraPaulo Leminski15
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Meu corpo deixa sulcos na areia.São marcas suaves, um pouco de mim se modelanas
coisas, meu alucinado desejo de permanecer...CacasoAbaixo o alémde diacéu com
nuvensou céu semde noitenão tendo nuvensestrelasempre temquem me deraum céu
vazioazul isentode sentimentoe de cioPaulo LeminskiMeio fioTem um fio de
queijoentre eu e o misto quenterecém-mordidotem um fio de gomaentre o chiclete e
eurecém-mascadotem um fio de vidaentre eu e teu corporecém-amadotem um fio de
carneentre teu corpo e teu filhorecém-nascidotem um fio de luzentre eu e mimrecém-
passadotem um fio de sangueentre a razão e eurecém-partidotem um fio de luzentre eu
e mimrecém-chegadoChacalEu, hoje, acordei mais cedoe, azul, tive uma ideia clara.Só
existe um segredo.Tudo está na cara.Paulo LeminskiReferência bibliográfica: Poesia
marginal / Ana CristinaCésar... [et al.]; seleção e organização de poemas
FabioWeintraub ; ilustrações Guto Lacaz. – São Paulo : Ática,2006.16

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