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REDAÇÃO DE DOCUMENTOS

TÉCNICOS

autor
FÁBIO MACEDO SIMAS

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida

Autor do original  fábio macedo simas

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  roberta da costa vieira

Imagem de capa  ermolaev alexander | shutterstock.com

todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

S588r Simas, Fábio Macedo


Redação de documentos técnicos / Fábio Macedo Simas.
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
88 p: il.

isbn: 978-85-5548-336-3

1. Redação técnica. 2. Artigos científicos. 3. Relatórios técnicos.


4. Metodologia. I. SESES. II. Estácio.
cdd 808.066

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 5

1. Os Elementos da Comunicação e as Funções a


Linguagem 7

1.1  O Conceito de Comunicação 8


1.2  Os Elementos da Comunicação 14
1.3  As Funções da Linguagem 16
1.3.1  Função Emotiva 16
1.3.2  Função Poética 17
1.3.3  Função Conativa ou Apelativa 18
1.3.4  Função Referencial 19
1.3.5  Função Metalinguística 20
1.3.6  Função Fática 21

2. Tipos e Gêneros Textuais 23

2.1  As Noções de Texto e Gêneros Textuais 25


2.2  Tipologia Textual 32
2.2.1 Narração 37
2.3 Descrição 38
2.4 Injunção 39
2.5 Exposição/Dissertação 41
2.6 Argumentação 44

3. Elementos para um Bom Texto 49

3.1  Clareza, Correção e Concisão – Os Três “C” 50


3.1.1 Clareza 51
3.1.2 Correção 52
3.1.3 Concisão 54
3.2  Coesão e Coerência 56
3.2.1 Coesão 56
3.2.2  Coesão Referencial 57
3.2.3  Coesão sequencial 58
3.2.4 Coerência 60
3.3  Alguns Itens Gramaticais Importantes 62
3.3.1 Concordância 62
3.3.2 Pontuação 63

4. Redação Técnico-Administrativa e Redação


Oficial 71

4.1  A Redação Oficial 72


4.2  A Redação Técnico-Admnistrativa 81
4.2.1 Relatório 81
4.2.2 ATA 83
4.2.3  Carta x E-mail 83
4.2.4 Atestado 85
4.2.5 Requerimento 85
4.2.6 Procuração 86
4.2.7 Recibo 87
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Sabemos que o mercado de trabalho volta-se cada vez mais para profissio-
nais capacitados e aptos a expressar-se bem, principalmente no que diz respei-
to ao texto escrito. Entretanto, nem todos conseguem satisfazer tal exigência,
uma vez que não estão devidamente preparados. Isso faz com que a comunica-
ção organizacional seja ineficiente, truncada, cheia de falhas e ruídos.
Por conta desse cenário é que a disciplina de Redação de Documentos
Técnicos avulta-se como relevante no cenário acadêmico, a fim de preparar
você para escrever com concisão, correção e clareza. Isso quer dizer que nós
nos preocupamos com a boa comunicação dos nossos alunos no mercado de
trabalho. É exatamente por isso que vamos nos dedicar aos textos voltados para
a área médico-hospitalar, bem como aos elementos e às práticas importantes
na redação técnica e oficial.
Há 4 (quatro) capítulos neste livro. No primeiro capítulo, vamos estudar os
elementos da comunicação e as funções da linguagem, ou seja, o que é neces-
sário para que haja comunicação, a maneira como ela se estabelece e que ele-
mentos precisam-se atingir ou enfatizar. No segundo, é hora de conhecermos
os tipos e gêneros textuais, em outras palavras, como os textos se estruturam e
se categorizam. No terceiro capítulo, temos a oportunidade de verificar quais
elementos podem construir um bom texto e outros que podem acabar com ele!
No quarto e último capítulo, chegou a hora de passarmos nossos olhos por tex-
tos da esfera técnico-administrativa, principalmente os da área médico-hospi-
talar, suas características e peculiaridades, com exemplos.
Ao final deste livro, você, certamente, estará apto a escrever melhor, pois
terá construído um olhar mais reflexivo a respeito da sua escrita no mercado de
trabalho. Mãos à obra?

Bons estudos!

5
1
Os Elementos
da Comunicação
e as Funções a
Linguagem
1.  Os Elementos da Comunicação e as
Funções a Linguagem

Numa sociedade cada vez mais conectada, onde a internet e os smartphones


influenciam as mais diversas relações humanas, a comunicação toma cada
vez mais lugar de destaque. Entretanto, não podemos nos esquecer de que
ela se dá em vários níveis ou situações de nossas vidas: seja ao redor da mesa
do almoço de domingo, numa sala de aula, ou até mesmo em um diálogo en-
tre médico e paciente, advogado e cliente etc. No mundo real, ou no virtual,
nos comunicamos.
Mas o que é comunicar-se? Será que sempre o fazemos com clareza e efi-
ciência? Neste capítulo, você terá um primeiro contato com alguns dos elemen-
tos que regem o processo comunicativo, bem como as funções que a lingua-
gem humana pode oferecer em nossas relações dialógicas, das mais comuns às
mais complexas.

OBJETIVOS
•  Refletir a respeito do conceito de comunicação;
•  Reconhecer os elementos da comunicação;
•  Identificar as funções da linguagem.

1.1  O Conceito de Comunicação

Escrever não é uma tarefa simples. Convencer com clareza por meio das pa-
lavras parece ainda mais difícil. Entretanto, ainda que consideremos os con-
textos mais simples de comunicação, lançamos mão de alguns conhecimentos
importantes, sem os quais não podemos alcançar os objetivos e as intenções
que permeiam os diversos textos de nossa prática discursiva
Vamos a um exemplo? Se tivermos de ensinar algo a uma criança de 5 anos de
idade, certamente, vamos ter de simplificar a linguagem, certo? Mas, por quê?
Simples: adaptamos a linguagem e o texto ao nosso público alvo. Contudo, nem
sempre nos damos conta disso, provocando ruídos em nossa comunicação. A

8• capítulo 1
abordagem que um pediatra terá diante de uma criança não deve ser a mesma
abordagem de um clínico geral ou a de um geriatra.

©© FREE RANGE STOCK | WWW.FREERANGESTOCK.COM


©© FREE RANGE STOCK | WWW.FREERANGESTOCK.COM

Mas, vamos começar com alguns conceitos importantes para nos situarmos
em relação a esta disciplina. Antes de mais nada, vamos pensar um pouco no
conceito de comunicação?
Na origem do termo, trata-se da ação de tornar algo comum (COMUM +
AÇÃO = COMUNICAÇÃO). Câmara Jr. (1985, p.77) afirma que comunicação é
um “intercâmbio mental entre os homens feito por meio da linguagem”. Nessa
perspectiva, trata-se de trazer à tona aquilo que pensamos, ou seja, mostrar ao
outro o nosso pensamento, e isso só é possível por meio da linguagem.

capítulo 1 •9
ATENÇÃO
Você deve se lembrar de que a linguagem pode ser verbal ou não-verbal. Quando usamos
palavras na comunicação, dizemos que a linguagem é verbal. Quando usamos outros códigos,
como cores, gestos, sons etc., dizemos que a linguagem é não-verbal. Ou seja, quando não
usamos a palavra.
As duas formas comunicam, mas com códigos e estruturas diferentes. Assim, quando
conversarmos a respeito de linguagem neste livro, tenha isso em mente, ok?

Charaudeau e Maingueneau (2006, p. 103), por seu turno, advogam que:

A comunicação permitiria aos homens estabelecer relações que lhes dão a medida
do que os diferencia e os assemelha, criando assim elos psicológicos e sociais. Suas
relações não seriam apenas de conflito, luta e destruição, mas também de intercom-
preensão, de enriquecimento mútuo, de co-construção de saber e de valor.

Esses autores franceses mostram-nos que a comunicação vai além de sim-


plesmente mostrar ao outro nosso pensamento, colocando no centro do ato
comunicativo a medida da nossa relação com o interlocutor. Novamente, se
pensarmos em nossas relações cotidianas, veremos que é a comunicação que
estabelece os papéis sociais. Quando, por exemplo, um advogado lida com seu
cliente mais humilde utilizando-se de termos altamente técnicos, há um dis-
tanciamento ainda maior entre ambos.
Isso quer dizer, em linhas gerais, que a aproximação – ou afastamento - entre
os interlocutores passa diretamente pela comunicação. O ajuste do vocabulário
e o nível de linguagem estabelecem se a comunicação será ou não eficiente,
aproximando ou afastando as partes envolvidas no texto (oral ou escrito). Um
profissional de saúde, por exemplo, poderá ou não comunicar-se com eficiên-
cia com seus pacientes. Em resumo, tudo vai depender da linguagem utilizada,
que pode ser de aproximação ou de afastamento. Vamos conversar um pouco a
respeito dos níveis de linguagem?

10 • capítulo 1
Níveis de Linguagem
Você deve estar se perguntando: o que será “nível de linguagem”? Creio que
seja o momento de pararmos um pouco neste tópico.
A nossa Língua Portuguesa, assim como o Inglês, o Francês, o Espanhol etc.,
possui uma forma padrão, ou seja, um conjunto de elementos e regras que dá
uniformidade a essa língua. Entretanto, o uso que cada pessoa faz da língua
promove a sua diversidade.
Mas...como assim? Uniformidade e diversidade?
Simples: a língua possui uma norma padrão, culta, aprendida na escola (por
isso, uniforme, pois é a mesma ensinada em qualquer lugar do país) e que deve
ser utilizada em determinadas situações comunicativas, como por exemplo,
neste livro que se presta a trazer conteúdos de uma disciplina voltada para o
ensino superior. Eis um exemplo de lugar/situação para o uso da norma culta,
padrão.
Entretanto, sabemos que nem sempre essa norma é utilizada. Ora por não
ser adequada à situação comunicativa, ora por desconhecimento do falante. Por
isso, podemos estabelecer alguns níveis de linguagem. Nadólskis (2011, p. 127)
apresenta-nos quatro normas ou níveis de linguagem, vejamos:
•  Norma culta – língua padrão;
•  Norma comum – a mais geral, com base na cultura média;
•  Norma coloquial – fala mais familiar de pessoas cultas;
•  Norma vulgar – fala de quem tem instrução rudimentar.

Obs.: Consideram-se pessoas cultas aquelas que têm ou tiveram acesso ao ensino
superior. Não se trata de intelectuais ou pessoas de vasta cultura, mas de pessoas
que tiveram acesso suficiente à norma culta ao longo de sua vida escolar.

Em nosso dia a dia, passeamos entre essas normas. Ninguém utiliza somen-
te uma delas o tempo todo. Pense na pessoa mais letrada ou intelectual que
você conhece. Até mesmo ela se utiliza de uma norma comum ou coloquial em
algum momento, pois existem normas sociais e culturais que exigem do usuá-
rio da língua determinados comportamentos linguísticos. Entretanto, é preci-
so ressaltar que:

capítulo 1 • 11
O nível das comunicações empresariais/profissionais deve ser o da norma culta. É
o nível mais adequado para trazer clareza e eficiência aos atos comunicativos numa
reunião de trabalho, entre médico e paciente, advogado e cliente, professor e aluno,
chefe e subordinado, vendedor e cliente, orador e plateia etc.

Isso não significa dizer que só utilizamos a norma culta quando o texto for
rebuscado. Não! Usar a norma culta, bem como falar e escrever corretamente,
nada tem a ver com linguagem rebuscada. O rebuscamento é contrário à clare-
za de ideias. O poeta pode usar uma linguagem rebuscada em sua poesia, pois
se trata de uma obra de arte, onde o rebuscamento é, via de regra, um artifício
para atingir o belo, o artístico. Mas essa não é a função de nossos textos mais
cotidianos. Até mesmo quando escrevemos um texto de caráter científico ou
acadêmico, temos de ser claros e corretos. O rebuscamento de nada vai adian-
tar nesses casos... Ainda neste livro, mais adiante, vamos tratar dos três “c”: cla-
reza, correção e concisão e isso ficará ainda mais claro.
Outra questão importante para medirmos o nível de linguagem a ser empre-
gado em determinada situação comunicativa é a questão da modalidade: oral
ou escrita. É evidente que a fala (oralidade) será, de modo geral, mais relaxada
que a escrita. Por isso, há uma tendência de abreviarmos sons, palavras, pen-
samentos, dada a contextualização que a fala nos proporciona. Mas isso não
quer dizer que a fala seja SEMPRE informal, e que a escrita seja SEMPRE for-
mal. NÃO!
Isso precisa estar bem claro em nossas mentes. Vamos lá!

A Fala...
É mais relaxada, e por isso possui TENDÊNCIA à informalidade, mas deve
ser formal quando a situação assim exigir. Uma reunião de negócios, uma aula
universitária etc.

A Escrita...
É menos relaxada, mais planejada, e por isso possui TENDÊNCIA à formali-
dade, mas pode ser informal quando a situação assim exigir. Um bilhete a um
amigo, um e-mail ao namorado ou à namorada etc.
MAS, ambas podem ser formais ou informais, ok?

12 • capítulo 1
SAIBA MAIS
Excelente entrevista com o Prof. Luiz Antônio Marcuschi, da UFPE, a respeito das diferenças
entre fala e escrita:
https://www.youtube.com/watch?v=XOzoVHyiDew
https://www.youtube.com/watch?v=6y9xK-9bbcw
https://www.youtube.com/watch?v=UqSfGyR1ERA
Um pouco mais a respeito dessa diferença:
http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40355/1/01d17t04.pdf

Antes de conversarmos a respeito dos elementos da comunicação, há que se


tratar da variação linguística. Talvez você se pergunte se deve ou não usar, por
exemplo, regionalismos na hora de falar ou escrever. Saiba que todas as línguas
do mundo variam, ou seja, é algo inerente a todas as línguas, não é exclusivida-
de da nossa.
De modo geral, temos variações de caráter regional, social e de registro.
Talvez você encontre outros nomes para essas variantes, mas, em resumo, são
essas três, a saber:
a) Variação Regional – também chamada de regionalismo, trata-se das
diferenças linguísticas de região para região, de lugar para lugar. Neste caso,
ficam evidentes diferenças no vocabulário e na pronúncia.

ATENÇÃO
Sotaque NÃO é erro... trata-se somente de uma dentre diversas formas de se pronunciar
determinada palavra, fonema ou sílaba. Portanto, o sotaque é exclusivo da modalidade oral,
e serve para identificar a origem do falante. Se alguém afirmar que um sotaque é melhor ou
pior que o outro, temos um gravíssimo caso de preconceito linguístico. Isso quer dizer que o
sotaque é algo natural e saudável. Não tenha vergonha do seu.

b) Variação social – neste tipo de variação, podemos citar diferenças en-


tre grupos sociais, grau de escolaridade etc. Um surfista possui um vocabulário
específico de seu grupo social, bem como um professor universitário, um médi-
co, um enfermeiro, entre outros. Gírias, jargões, tudo isso é objeto da variação

capítulo 1 • 13
social da língua. É esta variante que identifica membros de determinado grupo
social ou profissional.
c) Variação de registro – agora referimo-nos aos graus de formalidade.
Nossos textos serão mais ou menos formal a depender do contexto e dos inter-
locutores. Isso quer dizer que temos o registro formal e o registro informal.
Mas ficamos ainda com uma pergunta:

O que fazer com essas variações quando precisamos usar a língua ou nor-
ma culta?
Simples: a língua culta também é conhecida como variante padrão. Em ou-
tras palavras, devemos evitar variações na hora de usar a língua/norma culta.
Entretanto, na fala, não podemos esconder nosso sotaque, certo? Nem mesmo
deixar de utilizar um ou outro vocábulo oriundo de nossa região. Um profis-
sional da saúde terá, ao longo de sua carreira, pacientes de diferentes clas-
ses sociais e níveis de escolaridade, o que fará com que utilize determinados
vocábulos.
Na verdade, temos um remédio: o bom senso!
O que não devemos fazer é pensar que podemos nos comunicar de qualquer
jeito a qualquer hora. Um bom profissional, seja de que área for, deve preocu-
par-se constantemente com a forma com que se veste, porta-se e, claro, isso
passa também pela maneira de falar e escrever. Em resumo, temos de domi-
nar a norma culta da língua, pois é (ou pelo menos deveria ser) nosso cartão
de visitas.

1.2  Os Elementos da Comunicação

Podemos recorrer a várias formas de linguagem na hora de comunicar. Mas,


todas as vezes que nos comunicamos, é porque há alguns elementos essenciais
envolvidos neste ato comunicativo. Isso levou o linguista russo Roman Jakob-
son a criar um modelo explicativo para a comunicação verbal chamado de Teo-
ria da Comunicação.
De modo muito simples, você consegue perceber que comunicamos algo a
alguém. Em outras palavras, temos EMISSOR, RECEPTOR e MENSAGEM.
•  Emissor – aquele que emite, profere a mensagem. É aquele que fala
ou escreve.
•  Receptor – aquele PARA quem se fala ou escreve. É o alvo da mensagem, a
pessoa para quem ela se dirige.

14 • capítulo 1
•  Mensagem – é o próprio conteúdo a ser transmitido, comunicado. É o
conjunto de enunciados produzidos por determinado indivíduo.
Contudo, se observarmos com atenção, podemos perceber que há outros
elementos além desses três que são igualmente relevantes no ato comunicati-
vo. Quando você fala com alguém, por exemplo, numa simples consulta médi-
ca, há um diálogo entre dois interlocutores – médico e paciente -, situados num
dado CONTEXTO, utilizando-se de um CÓDIGO comum, sem o qual não ha-
veria entendimento, através de um CANAL, neste caso, a própria voz humana.
Percebeu como a comunicação é algo tão mais complexo do que você ima-
ginava? Por isso é algo que deve ser muito caro a todos nós, no sentido de nos
preocuparmos sempre com a forma e com o conteúdo de nossos atos comuni-
cativos, orais ou escritos. Em detalhes, temos:
•  Contexto – trata-se da situação comunicativa em si, o entorno do texto.
Em alguns casos, também é chamado de referente.
•  Código – o sistema utilizado pelos falantes no momento de produção do
texto, seja oral, seja escrito. Na linguagem verbal o código é a língua, no nosso
caso, a Língua Portuguesa.
•  Canal – o meio físico pelo qual se transmite a mensagem. Pode ser a voz
humana, o telefone, o smartphone etc.
Agora, você deve estar se perguntando: qual a importância desses elemen-
tos? Simples: refletir a respeito da nossa própria comunicação. É preciso mo-
nitorar1 tanto a nossa fala como a escrita a todo momento. Mesmo que instin-
tivamente, verificamos sempre – ou pelo menos temos de verificar – quem é o
nosso receptor, qual o melhor código. Ou ainda: será que o contexto exige um
grau de formalidade maior ou menor? O canal está em pleno funcionamento,
sem ruídos?
Veja que são perguntas que devem ser sempre levadas em consideração.
Como falantes cultos que somos, não podemos deixar de lado toda essa refle-
xão a respeito do ato comunicativo. Temos de carregar essa responsabilidade,
não é mesmo? Profissionais da área de saúde lidam, de modo geral, com o pú-
blico a todo instante, e de diferentes classes sociais. Por isso, devem estar lin-
guisticamente preparados para toda e qualquer situação comunicativa.

1  A noção de Monitoramento advém do fato de que, como falantes, temos de saber aplicar estruturas adequadas
à situação comunicativa, aos interlocutores e aos objetivos do texto. Quando sabemos que estamos diante de uma
pessoa culta, geralmente, prestamos mais atenção às palavras que empregamos e à correção de nossas frases, não
é mesmo?

capítulo 1 • 15
Além disso, se esses elementos não se encaixarem, ou seja, não caminharem
em harmonia, haverá ruídos na comunicação. Uma determinada mensagem
fora de contexto, por exemplo, pode ser entendida de maneira inadequada. Ou
ainda uma mensagem proferida em um código ininteligível pelo interlocutor,
por exemplo, seria um caos!

1.3  As Funções da Linguagem

Agora que já conhecemos os Elementos da Comunicação, podemos verificar


sua relevância. Todo texto, seja oral ou escrito, possui um determinado objetivo
ou função. Se pensarmos, por exemplo, numa simples propaganda de um me-
dicamento, qual o seu objetivo? Convencer as pessoas a comprar/usar aquele
produto. E uma reportagem de jornal? Informar a respeito de dada situação ou
evento. Em outras palavras, os textos não são escritos/falados em vão. Isso pos-
to, podemos a partir de agora ampliar um pouco mais a Teoria da comunicação
do Jakobson, e tratar das Funções da Linguagem.

As Funções da Linguagem referem-se ao conjunto de finalidades comuni-


cativas realizadas através de enunciados/textos da língua.
Ao todo, Jakobson chama nossa atenção para seis funções da linguagem:
a) Função Emotiva – ênfase no emissor;
b) Função Poética – ênfase na mensagem;
c) Função Conativa ou Apelativa – ênfase no receptor;
d) Função Referencial – ênfase no contexto/referente;
e) Função Metalinguística – ênfase no código;
f) Função Fática – ênfase no canal.

Cada uma dessas funções existe por colocar em evidência um determinado


elemento da comunicação. Vejamos alguns exemplos para que possamos com-
preender melhor cada uma dessas funções da linguagem.

1.3.1  Função Emotiva

Quando o emissor invoca seus sentimentos, impressões ou opiniões a respeito


de algo, temos a chamada função emotiva, ou seja, o emissor está em evidência.
Veja o relato seguir:

16 • capítulo 1
Pedro Francisco (nome fictício)

Recordo-me de um caso de bullying que ocorreu comigo na infância. Estudava numa


escola pública na cidade do interior pernambucano chamada Tabira. Tinha em torno
de 11 anos e sempre apanhava de alguns colegas de turma que se mostravam valen-
tões, bravos. E eu tinha muito medo deles, acredito que deixava transparecer isso sem
mesmo perceber. Acontece que sempre fui muito aplicado, dedicado aos estudos e
tinha como melhor amigo um garoto grandão, valentão também, porém não se metia
em confusão. Ele, apesar de valentão, era meio desligado dos estudos e sempre tirava
notas baixas nas provas, então aproveitei esta deficiência dele e propus um acordo:
ele me livrava dos valentões nas brigas corriqueiras e eu o ajudava nas provas, assim
conseguia sempre me livrar das surras e os ditos bulls me deixavam em paz. Até hoje
me lembro desses episódios na infância, o grupo de valentões vinha em minha direção
e meu amigo, de imediato, tomava a frente e botava todos pra correr...
http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/veja-aqui-outros-relatos-de-
pessoas-que-sofreram-bullying-na-escola-3122758#ixzz42QO334Nx

Trata-se de um relato de alguém que sofria bullying. Perceba que o que está
em evidência neste caso não é somente a situação em si, mas a visão da pessoa
que está relatando o fato.
Outro exemplo: você já deve ter comprado algum produto pela internet. É
bastante comum olharmos as opiniões dos clientes que já o compraram antes
de efetuarmos a compra, não é mesmo? O que está em evidência nesses pe-
quenos textos? As impressões de quem já possui aquela TV, ou smartphone.
Temos, então, função emotiva.

1.3.2  Função Poética

Ocorre quando a ênfase está na mensagem, ou seja, o objetivo do texto é cha-


mar a atenção para a própria mensagem. É comum verificarmos a função poé-
tica em textos literários, uma vez que a literatura utiliza-se da palavra como
instrumento artístico. As rimas, os vocábulos que evocam imagens, sensações,
fazem com que a mensagem fique em evidência. Veja o poema simbolista Is-
mália, de Alphonsus de Guimarães, e perceba que a mensagem em si é o que
importa para a construção do texto:

capítulo 1 • 17
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


wAs asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000013.pdf

1.3.3  Função Conativa ou Apelativa

Há textos cujo objetivo é persuadir o leitor ou destinatário, influenciando seu


comportamento a fim de que tome determinada atitude, seja comprar um pro-
duto, contratar um serviço ou ir a algum evento. Nesse caso, temos a ênfase
recaindo sobre o receptor, e a função da linguagem é conativa ou também co-
nhecida como apelativa.
Nesses textos, a mensagem, as cores, imagens ou quaisquer outros artifícios
formais servem a um único objetivo: atingir o receptor. Veja um exemplo:

18 • capítulo 1
Na propaganda acima, procura-se vender um refrigerante dietético. Para
tal, os autores usam a figura do ex-jogador de futebol Ronaldo, o fato de ele,
na época, estar acima do peso e de ser patrocinado pela marca exposta na pro-
paganda, chamando a atenção do público para o fato de que se pode tomar o
Guaraná sem engordar.

1.3.4  Função Referencial

Em alguns casos, o objetivo do texto é simplesmente transmitir informa-


ções sobre a realidade ou sobre um determinado elemento a ser designado,
tal como ocorre em reportagens, notícias etc. São textos basicamente infor-
mativos, e por isso possuem uma linguagem direta, objetiva e não-figurada.
Vejamos um exemplo:

Naná Vasconcelos morre aos 71 anos vítima de câncer, no Recife


O músico estava internado no Hospital da Unimed, no Recife.
Percussionista teve parada respiratória e faleceu na manhã desta quarta(9).

O percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, morreu na manhã desta quarta-fei-


ra (9), no Recife. Ele tinha câncer de pulmão e estava internado há dez dias. De

capítulo 1 • 19
acordo com a assessoria do Hospital Unimed III, o músico teve uma parada respirató-
ria e passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
O velório começa às 14h desta quarta, na Assembleia Legislativa de Pernambuco
(Alepe). O enterro está marcado para as 10h desta quinta (10).
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/03/nana-vasconcelos-morre
-aos-71-anos-apos-perder-luta-contra-o-cancer.html

A notícia acima chama nossa atenção para um fato específico: a morte do


cantor e percussionista Naná Vasconcelos. Por isso, podemos afirmar que o
referente/contexto está em evidência, e a função da linguagem, portanto, é a
referencial ou denotativa.
Se pensarmos na área da saúde, vários são os textos que possuem a função
referencial, dentre eles, o atestado, o laudo médico, o prontuário etc. Em todos
esses casos, o que está em evidência é o estado de saúde do paciente, ou seja, o
referente/contexto.

1.3.5 Função Metalinguística

Se pensarmos em gramáticas ou dicionários, logo vem a nossa mente assuntos


concernentes ao comportamento da própria língua. Isso quer dizer que o códi-
go está em evidência e, por isso, temos o que se chama de Função Metalinguís-
tica. Por exemplo:

20 • capítulo 1
No exemplo anterior, temos definições de um verbete, ou seja, é a língua
falando sobre a própria língua.

1.3.6  Função Fática

Por último, temos a Função Fática, que ocorre quando o canal está em evidên-
cia. O objetivo dos textos/trechos que apresentam Função Fática é o de sim-
plesmente garantir o estabelecimento da comunicação, testando se o canal
está “funcionando”.
É muito comum usarmos algumas expressões para começar uma conversa,
ou manter a outra pessoa atenta ao que se fala/escreve, ou ainda estabelecer
uma conversa para que não fique aquele silêncio meio sem graça. Outro exem-
plo clássico de função fática é quando, ao telefone, usamos a expressão “Alô”
para saber se a pessoa do outro lado da linha está ouvindo.

ATIVIDADES
01. Qual o nível de linguagem mais adequado para cada situação a seguir?
a) Uma conversa com amigos no bar.
b) Uma aula expositiva na universidade.
c) Uma reunião de negócios.
d) Uma consulta médica.

02. Ademir é um técnico de radiologia e precisa atender a Dona Maria, uma paciente que
aparenta ter uma fratura na perna direita. Entretanto, a Dona Maria é uma pessoa de bai-
xa escolaridade e de classe social bastante humilde. Qual seria o nível de linguagem mais
adequado para Ademir utilizar sem perder o grau de formalidade exigido pela situação e, ao
mesmo tempo, fazer-se claro? Justifique.

03. Imagine a seguinte situação: um médico vai visitar um paciente em sua casa. Durante o
atendimento, quais são os seis elementos da comunicação?

04. Quais são as funções da linguagem e quais são os elementos de comunicação


em evidência?

capítulo 1 • 21
REFLEXÃO
Neste capítulo, você pôde perceber que o ato comunicativo não é algo tão simples assim.
Verificamos, primeiramente, o que significa comunicar. Vimos que é algo que pode ir além da
simples manifestação do pensamento e provocar reações ou invocar papéis sociais impor-
tantes. Exatamente por isso, temos de ter bastante cuidado com o nível de linguagem a ser
empregado em cada uma das situações de nossa vida, se vamos usar a norma culta, a norma
comum, a norma coloquial ou a norma vulgar. Todavia, a norma mais utilizada e adequada
para o meio empresarial/profissional é a norma culta.
Além disso, vimos que em todo e qualquer ato comunicativo existem seis elementos da
comunicação, a saber: emissor, receptor, mensagem, referente, código e canal. Todavia, a
depender dos textos, cada um desses elementos pode estar mais em evidência do que os
outros, o que nos faz pensar nas Funções da Linguagem.
Pudemos estudar que quando o emissor está em evidência, temos a função emotiva;
o receptor, função apelativa ou conativa; a mensagem, função poética; o referente, função
referencial; o código, função metalinguística e o canal, função fática.
Agora, você está mais preparado ainda para olhar com mais cuidado para os seus atos
comunicativos cotidianos, sem ruídos e com clareza!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de Linguística e Gramática. Petrópolis: Editora Vozes,
1985.
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. São
Paulo: Contexto, 2006.
NADÓLSKIS, Hêndricas. Comunicação Redacional Atualizada. São Paulo: Saraiva, 2011.

22 • capítulo 1
2
Tipos e Gêneros
Textuais
2.  Tipos e Gêneros Textuais
No capítulo anterior estudamos um pouco a respeito dos Elementos da Comu-
nicação e das Funções da Linguagem. Assim, vimos que o ato comunicativo não
é algo tão simples como imaginamos, mas depende de diversos fatores para
que se estabeleça com eficácia e correção.
Agora, nós vamos perceber que os atos comunicativos manifestam-se, ou
seja, materializam-se em tipologias e gêneros textuais. Em outras palavras, te-
mos textos com estruturas e características bastante peculiares. Todos os tex-
tos, sejam orais ou escritos, encaixam-se em categorias que precisam ser estu-
dadas com maior afinco neste estágio de nosso curso.
Uma vez que você já cursou disciplinas voltadas para a Língua Portuguesa
ou a análise de textos, certamente verificou aspectos importantes para a cons-
trução de um texto escrito, tais como a importância da escrita, fatores de textua-
lidade, bem como as diferenças entre gêneros e tipos textuais. Então você deve
estar se perguntando: “Por que devo estudar esse tópico novamente?”.
Há duas razões muito claras, veja:
1. São assuntos muito preciosos a qualquer profissional, uma vez que os
documentos oficiais voltados à educação (PCN / PCNEM) parecem focalizá-los,
encaminhando, assim, nossa prática interacional cotidiana;
2. Os textos de natureza técnica/oficial encaixam-se em categorias de gê-
neros e de tipos textuais, o que nos leva a estudar cada um deles com bastante
atenção e afinco.

Além do mais, você verá, ao longo deste livro, que nossa disciplina será to-
talmente baseada em gêneros e tipos textuais voltados para a área técnica, prin-
cipalmente da saúde, e com foco bastante voltado para a produção escrita. Por
isso, optamos por revisar algumas noções acerca de gêneros e tipos textuais,
bem como aprofundar outras.

OBJETIVOS
•  Verificar o conceito de texto;
•  Conhecer um pouco da teoria dos gêneros textuais;
•  Aprender as tipologias textuais.

24 • capítulo 2
2.1  As Noções de Texto e Gêneros Textuais

Como o próprio título deste capítulo sugere, a comunicação humana ocorre


por meio de textos que, como você já deve ter visto em outras aulas, podem ser
verbais ou não verbais, falados ou escritos.
A partir de diversos estudos linguísticos, a noção de que o texto seria um
emaranhado de palavras ou frases foi se deteriorando com o tempo. Para nós,
texto é o lugar da própria interação. Em outras palavras, o texto é o produto ma-
terial do pensamento, recheado de intenções e pressupostos que precisam ser
verificados pelo interlocutor, caso contrário, não haverá compreensão.
Veja que até mesmo para definir TEXTO precisamos incluir o outro: o inter-
locutor. Além disso, acreditamos que o texto seja um instrumento de interação,
o que sugere também uma contraparte.

Mas, por que isso é importante para a teoria dos gêneros textuais?
Para Marcuschi, em seu famoso texto Gêneros textuais: definição e funcio-
nalidade (2002, p.19), os gêneros textuais são “fruto de trabalho coletivo” e ser-
vem para “ordenar e estabilizar as atividades comunicativas”.
Em outras palavras, os falantes/interlocutores precisam identificar o gêne-
ro a ser utilizado em determinada situação comunicativa, a fim de estabelecer a
comunicação sem ruídos ou prejuízos. Fazemos esse “movimento” de maneira
instintiva na maioria das vezes, mas quando tratamos de textos que estão além
do cotidiano, a coisa pode complicar...

Vamos a um exemplo?
Um advogado, por conta de sua experiência como usuário da língua, sabe
que não deve dirigir-se a um juiz, em uma audiência, cantando uma música ou
por meio de uma receita culinária. Esses não são os gêneros textuais convenien-
tes a tal contexto. Certamente, haverá prejuízos nesse ato comunicativo e as in-
tenções do advogado não serão plenamente alcançadas. Os gêneros textuais,
então são formas de legitimação do discurso.
Outro exemplo que podemos usar é o da redação para concurso. A sabedo-
ria popular costuma relatar um possível caso de uma redação de concurso cujo
tema seria o tempo e, um determinado candidato, teria escrito todo o seu texto
repetindo as palavras tic-tac e teria tirado nota máxima. É evidente que se tra-
ta de um boato, pois não se trata de um texto que preenche as necessidades

capítulo 2 • 25
comunicativas daquela situação especificamente, ou seja, não é isso que esse
gênero exige. O adequado seria escrever uma dissertação argumentativa a res-
peito do tema.
Esses exemplos já nos parecem suficientes para verificarmos que os gêne-
ros são construídos socialmente, ou seja, a partir das necessidades comunicati-
vas dos usuários da língua. Vejamos o que nos afirma Marcuschi, ainda no texto
Gêneros Textuais: definição e funcionalidade (2002, p.19):

Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, pro-
fundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São
entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer
situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e
interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não
são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como
eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a
necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tec-
nológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros
textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita.

A partir dessas considerações, percebemos que os sentidos são construídos


e reconstruídos na interação, através dos diversos gêneros textuais. Em outras
palavras, os textos não são mais analisados a partir de seu conteúdo gramatical
ou do número de parágrafos, frases etc., mas com base na função que esse ins-
trumento discursivo possui enquanto texto. As ações humanas, por sua vez, são
manifestadas nos diversos gêneros textuais, assim, chegou a hora de definir gê-
neros textuais da seguinte maneira:

São realizações linguísticas, ou seja, por meio da combinação de elementos linguís-


ticos, definidas por propriedades sociocomunicativas. São práticas sociais mediadas
pela linguagem.

26 • capítulo 2
Em outras palavras, são os próprios textos materializados, encontrados em
nossa vida cotidiana e que, segundo Marcuschi (2002, p.23), “apresentam ca-
racterísticas sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades fun-
cionais, estilo e composição característica.” E tudo isso se aprende com a prá-
tica discursiva, ou seja, ao longo de nossa vida, alimentando nossos saberes.
Como você aprende a escrever um artigo científico? Somente se tiver contato
com outros artigos científicos.
Por isso, acreditamos que haja infinitos gêneros textuais em nossa prática
discursiva, uma vez que eles surgem e deixam de ser usados conforme as ne-
cessidades comunicativas de seus usuários. Há quanto tempo não escrevemos
uma carta? Mas escrevemos e-mails quase que diariamente, por conta de uma
necessidade de nos adaptarmos ao contexto digital – característica de nos-
so tempo.
São exemplos de gêneros textuais: carta de amor, carta comercial, sermão,
bula de remédio, aula expositiva, fórum de discussão, conferência, lista de
compras, menu de restaurante, receita médica, bula de remédio, consulta mé-
dica etc. Veja que poderíamos elencar todos os textos existentes. Outro detalhe
importante é que os gêneros são identificados tanto por sua estrutura compo-
sicional, como por sua função comunicativa. Se quisermos, por exemplo, ir ao
mercado comprar algumas guloseimas que estão faltando em nossas dispen-
sas, sabemos que vamos usar uma lista de compras e que os elementos estarão
encadeados um após o outro, pois essa é a estrutura e a função desse gênero
textual lista de compras. Não se pode fugir a essas regras, por conta de uma sé-
rie de regras estabelecidas socialmente para a composição desse gênero.
Outra questão importante acerca dos gêneros textuais é que eles costumam
ser atrelados a determinado domínio discursivo.

SAIBA MAIS!
A noção de domínio discursivo tem a ver com os discursos de diversas áreas do conhecimen-
to. Por exemplo, temos o domínio discursivo jurídico, da escola (educação), e assim sucessi-
vamente, o que sugere determinados gêneros e linguagem adequada.

capítulo 2 • 27
Segundo Marcuschi (2002, p.23-24), usamos essa expressão para designar
uma esfera ou instância da produção discursiva ou de atividade humana. Ainda
consoante esse autor, os domínios discursivos não são os textos em si, mas pro-
piciam o surgimento de discursos e gêneros bastante específicos. São, na ver-
dade, práticas discursivas a partir das quais podemos identificar um determi-
nado conjunto de gêneros textuais próprios. Podemos citar, como exemplo, os
diversos gêneros provenientes do discurso acadêmico, como as monografias,
teses, projetos de pesquisa ou resenhas. Não se espera que um estudante uni-
versitário produza uma receita ou um horóscopo, por exemplo, mas sim outros
gêneros voltados para tal domínio discursivo.
Se pensarmos um pouco na área da saúde, da gestão hospitalar, veremos
que essa noção é bastante pertinente. A linguagem médica é bastante específi-
ca e atende às diversas áreas de sua atuação: receitas médicas, prontuários, bu-
las de remédio, fichas de paciente, laudos, atestados etc., possuem linguagem
e estrutura bem peculiares, não é mesmo? Esses textos pertencem a um mesmo
domínio discursivo.
Por conseguinte, trabalhar com noção de gêneros textuais é verificar os
usos autênticos da língua. Por isso, entendemos que um falante/escritor com-
petente é aquele que consegue utilizar-se do maior número possível de gêneros
textuais. Se alguém não conhece o gênero artigo científico, ainda que possua
conhecimentos específicos acerca do tema e domínio da norma culta da lín-
gua, não poderá escrever um artigo científico, se não conhecer as especificida-
des desse gênero – sua função comunicativa e sua estrutura interna. Em outras
palavras, é preciso adequação no que diz respeito à produção de cada gênero
textual. Conforme Marcuschi (2002, p.34), essa adequação refere-se à relação
que deve haver entre:
•  Natureza da informação ou do conteúdo veiculado;
•  Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.);
•  Tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira,
solene etc.);
•  Relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação etc.);
•  Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.
Vamos verificar esses fatores na prática?

28 • capítulo 2
Veja esse texto:

•  Natureza da informação ou do conteúdo veiculado – RESPOSTA:


OUTDOOR, o que sugere uma propaganda ou a divulgação de algo.
•  Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.); - RESPOSTA:
INFORMAL, uma vez que se pretende alcançar um público consumi-
dor específico.
•  Tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira,
solene etc.); - RESPOSTA: PÚBLICA, pela própria função comunicativa desse
texto: convencer alguém a obter determinado serviço/produto.
•  Relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação etc.); - RESPOSTA: DESCONHECIDOS, mas que sugere aproximação,
pois pretende atingir um público-alvo específico.
•  Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas. RESPOSTA: VENDER
um produto ou serviço de determinada empresa.

Juntando todos esses elementos, verificamos um gênero textual, com es-


trutura e propósito comunicativo bem específico: propaganda. Caso os anun-
ciantes “infringissem” algum ou alguns desses fatores, não haveria esse gênero
estabelecido ou a comunicação poderia obter ruídos/prejuízos.

Agora é a sua vez…


Você deverá verificar todos os elementos acima, nos seguintes textos:

Texto 1
•  Natureza da informação ou do conteúdo veiculado;
•  Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.);

capítulo 2 • 29
•  Tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira,
solene etc.);
•  Relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação etc.);
•  Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.

30 • capítulo 2
Texto 2
Constituição da República Federativa do Brasil
(Publicada no Diário Oficial da União n. 191-A, de 5-10-1988)
Título I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso¬lú-
vel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2° São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (...)

•  Natureza da informação ou do conteúdo veiculado –


•  Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.); -
•  Tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira,
solene etc.); -
•  Relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação etc.); -
•  Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.

capítulo 2 • 31
2.2  Tipologia Textual

Agora que já entendemos bem a noção de Gêneros Textuais, precisamos ca-


minhar em direção aos tipos textuais. Enquanto os gêneros parecem ser infi-
nitos, os tipos textuais são cinco: narração, descrição, injunção, exposição e
argumentação.
Todavia, a distinção entre essas duas noções nem sempre se dá de forma
clara na bibliografia pertinente. O próprio MEC em seus PCNs (Parâmetro cur-
riculares nacionais) parece confundir os termos, o que provoca uma enxurrada
teórica equivocada.
Mas, levando em conta o nosso foco aqui nesta disciplina, vamos deixar es-
sas questões um pouco de lado, vamos refletir acerca dos tipos textuais. Você
vai perceber ao longo de nossa caminhada, que essas noções são relevantes
para que os textos do seu cotidiano profissional sejam estruturados da for-
ma adequada.
Diferentemente dos gêneros, os tipos textuais não são definidos de acordo
com sua funcionalidade comunicativa, mas sim por uma série de proprieda-
des linguísticas intrínsecas. De acordo com Marcuschi (2002, p.23), os tipos
textuais “constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no
interior dos gêneros (…) sua nomeação abrange um conjunto limitado de cate-
gorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas,
tempo verbal.”.
Vamos por partes? Aspectos lexicais são questões voltadas ao vocabulário e
à formação das palavras; já aspectos sintáticos têm a ver com a ordenação das
palavras na frase, a concordância verbal e nominal etc. Relações lógicas envol-
vem o próprio encadeamento das ideias, os assuntos que de fato devem estar
presentes naquele texto.
Em outras palavras, o que importa para a classificação dos gêneros é sua
função sociocomunicativa, já para os tipos textuais, é a sua estrutura linguís-
tica, ou seja, como esse texto é formado do ponto de vista da organização dos
elementos da língua.
Se considerarmos uma bula de remédio e um manual de instruções, por
exemplo, sabemos – por meio de nossa prática discursiva - que ambos possuem
propósitos comunicativos bem diferentes, por isso conseguimos identificá-los.
Entretanto, de modo geral, possuem verbos no imperativo e muitas informa-
ções em tópicos ou seções bem definidas. Ou seja, são dois gêneros textuais

32 • capítulo 2
distintos, mas do tipo injuntivo. Por isso, podemos afirmar que um determina-
do tipo textual não está restrito a um único gênero, e vice versa. Como assim?
Um gênero textual também pode conter diversos tipos em sua composição.
Se considerarmos um romance, ou um conto, veremos que em sua composição
há a predominância da narração, até mesmo em razão dos elementos da nar-
rativa nele contidos, tal como narrador, diálogo, personagens etc. Todavia, é
notória a existência de trechos com alto teor descritivo, uma vez que o narrador
pode descrever um cenário, um personagem ou até mesmo uma ação. Veja o
trecho de Tragédia Brasileira, de Manuel Bandeira:

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa
– prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em
petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico,
dentista, manicura... Dava tudo o que ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada
disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência,
matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de
organdi azul.
Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/manuel-bandeira/tragedia
-brasileira.php#ixzz1wpJeNcLa>.

Não é difícil verificar que se trata de uma narração, por conta dos persona-
gens, do enredo, dos lugares etc. Entretanto, também não parece difícil per-
ceber que há momentos em que o narrador descreve as personagens Misael e
Maria Elvira:
“Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria
Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empe-
nhada e os dentes em petição de miséria.”

capítulo 2 • 33
Vamos a outros exemplos de tipos textuais? Agora veja dois textos com pre-
dominância do tipo injuntivo:

Exemplo de bula de remédio:


AÇÃO TERAPÊUTICA - DIPIRONA
Analgésico e Antipirético.

SUBSTÂNCIA - DIPIRONA
Dipirona Sódica

CONTRA-INDICAÇÕES - DIPIRONA
A Dipirona está contra-indicada em pacientes com intolerância conhecida
aos derivados pirazolônicos (antipirina, aminopirina e dipirona) ou pacientes
com discrasias sangüíneas. É contra-indicado no primeiro trimestre da gesta-
ção. Na porfiria hepática e deficiência congênita de glicose 6-fosfato desidro-
genase. Dipirona não deve ser administrada em altas doses ou por períodos
prolongados, sem controle médico.

INDICAÇÕES - DIPIRONA
Analgésico e antipirético

APRESENTAÇÃO - DIPIRONA
Dipirona 1g, 500mg/ml, caixa com 100 ampolas de 2ml.Dipirona 2,5g,
500mg/ml, caixa com 100 ampolas de 5ml.

COMPOSIÇÃO - DIPIRONA
Dipirona sódica .................... 1g
Veículo q.s.p. .................... 1 ampola de 2ml
Dipirona sódica .................... 2,5g
Veículo q.s.p. .................... 1 ampola de 5ml

POSOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO - DIPIRONA


Criança de 5,5 a 7,5 Kg : 0,1 à 0,2 ml - somente intramuscular. Criança de 8 a
10 Kg : 0,1 à 0,3 ml - somente intramuscular.
Criança de 11 a 15 Kg : 0,2 à 0,5 ml - IM ou IV.
Criança de 16 a 23 Kg : 0,3 à 0,8 ml - IM ou IV.

34 • capítulo 2
Criança de 24 a 30 Kg : 0,4 à 1 ml - IM ou IV.
Criança de 31 a 45 Kg : 0,5 à 1,5 ml - IM ou IV.
Criança de 46 a 53 Kg : 0,8 à 1,8 ml - IM ou IV.
Adultos e adolescentes acima de 15 anos : 2 à 5 ml - IM ou IV.
Se necessário a Dipirona pode ser dada até 4 vezes ao dia, não excedendo a
dose diária de 6 ml para adultos e acima de 15 anos.
Doses maiores, somente à critério médico.
Aplicar a injeção endovenosa lentamente, 1 ml/minuto. Não misturar me-
dicamentos na mesma seringa.

PRECAUÇÕES - DIPIRONA
O uso de Dipirona deve ser evitado nos três primeiros meses e nas últimas 6
semanas da gestação e, mesmo fora destes períodos, somente administrar em
gestantes em casos de extrema necessidade.
Em pacientes com asma e infecções respiratórias crônicas, bem como em
pacientes com hipersensibilidade de qualquer tipo de substâncias não-medi-
camentosas, deve-se fazer um teste no início da aplicação, para prevenir a ocor-
rência de choque. Interromper a injeção após aplicar 0,1 à 0,2 ml e observar a
reação do paciente por 1 a 2 minutos.
Crianças menores de 3 meses de idade ou pesando menos de 5 Kg não de-
vem ser tratadas com Dipirona, a menos que seja absolutamente necessário,
pela possibilidade de interferência com a função renal.
Dipirona deve ser administrada com cautela em pacientes com condições
circulatórias instáveis (PA sistólica menor que 100 mmHg) e em pacientes com
distúrbios hematopoiéticos.
O uso de Dipirona em casos de amigdalite ou qualquer outra afecção da
buco-faringe deve merecer cuidado redobrado, pois esta afecção pré-existente
pode mascarar os primeiros sintomas de agranulocitose (angina agranulocíti-
ca), ocorrência rara, mas possível quando se faz uso da Dipirona.
Nos tratamentos prolongados, aconselha-se o controle dos pacientes atra-
vés de hemograma completo, porque a Dipirona pode produzir, neutropenia
e agranulocitose.
Dipirona deve ser usada sob controle médico.

capítulo 2 • 35
REAÇÕES ADVERSAS - DIPIRONA
Dipirona pode provocar, em pacientes sensíveis, reações de hipersensibilida-
de, com manifestações cutâneas do tipo alérgica. A reação de hipersensibilidade
de maior importância, embora rara, é a ocorrência da forma alérgica da granuloci-
topenia ou agranulocitose. Se durante o uso de Dipirona surgirem manifestações
cutâneas ou nas mucosas, principalmente na boca ou garganta, o tratamento deve
ser imediatamente suspenso e consultar o médico. Pacientes com hipersensibili-
dade a outras drogas ou substâncias podem constituir um grupo de maior risco e
apresentar efeitos colaterais mais intensos, até mesmo choque. Quando isto ocor-
rer deve-se suspender imediatamente o tratamento e tomar as providências médi-
cas adequadas : colocar o paciente deitado com as pernas elevadas e as vias aéreas
livres. Diluir 1 ml de Adrenalina 1:1000 em 10 ml de água para injeção e aplicar
1 ml desta diluição por via endovenosa e, a seguir, uma dose alta de glicocorticóide.
Pode ocorrer hipotensão em caso de aplicação intravenosa muito rápida. É
possível ocorrer dor e ou reações no local da injeção.

No exemplo acima, podemos verificar o predomínio de sequên-


cias injuntivas.
Agora, eis um exemplo de um trecho de um possível manual de instruções
de refrigerador:

INTRUÇÕES IMPORTANTES DE SEGURANÇA


ADVERTÊNCIA: Para reduzir o risco de incêndio, choque elétrico ou ferimentos,
quando usar o seu refrigerador, siga estars precauções básicas:
•  Não remova o fio do aterramento. •  Mantena produtos inflamáveis, tais como
gasolina, longe do seu refrigerador.
•  Ligue o fio de aterramento a um terra •  Use duas ou mais pessoas para mover e
efetivo. instalar o refrigerador.
•  Não use adaptadores. •  Não danifique o circuito do refrigerador.
•  Não use extensões. •  Não utilize quaisquer meios elétricos, me-
•  Retire o plugue da tomada antes de cânicos ou químicos para acelerar o degel.
limpar ou consertar o produto.

Nesse caso, você consegue perceber bem que há verbos no imperativo, refle-
xo da tipologia injuntiva (remova – ligue – retire, etc.)
Agora, vamos verificar um pouco de cada uma das tipologias, com exem-
plos. Vamos lá?

36 • capítulo 2
2.2.1  Narração

Quem nunca se deparou com uma roda de amigos na qual alguém realiza um
relato acerca de uma viagem ou de uma aventura amorosa? Ou então, quem
nunca precisou explicar alguns detalhes de determinada ação para um chefe,
uma mãe ou até mesmo um cônjuge?
Pois é, se você se identificou com alguma dessas situações, sabe que já nar-
rou algumas histórias. E aquele tio bem velhinho que gosta de contar suas aven-
turas de quando jovem? Quanta história, não é mesmo?
Pois bem, a narração envolve, necessariamente, alguns elementos impor-
tantes em sua constituição. Em primeiro lugar, podemos perceber que o con-
teúdo de um texto narrativo está ligado a uma sucessão cronológica de ações.
Existe uma ação inicial, outras que a sucedem, e uma ação final.
A questão temporal parece-nos essencial a qualquer texto narrativo, ainda
que o autor não siga a ordem real dos acontecimentos, como em um flashback,
por exemplo.
Vamos tomar como exemplo uma famosa fábula de Esopo, de domínio pú-
blico, “A lebre e a tartaruga”:

A Lebre e a Tartaruga
Certo dia, a lebre que era muito convencida, desafiou a tartaruga chamando-a para
uma corrida, argumentando que ela era mais rápida e que esta nunca a venceria. A
tartaruga começou a treinar enquanto a lebre não fazia nada.
Chegou o dia da corrida. A lebre e a tartaruga colocaram-se nos seus lugares e, após
o sinal, partiram. A tartaruga estava a correr o mais rápido que conseguia, mas rapida-
mente foi ultrapassada pela lebre, que percebendo já estar a uma longa distância da
sua concorrente, deitou-se e dormiu.
Enquanto a lebre dormia, não se dava conta que a tartaruga ía se aproximando mais
rapidamente da linha de chegada. Quando acordou, a lebre, horrorizada, viu que a
tartaruga estava muito perto da linha de chegada. Assim, a lebre começou a correr o
mais depressa que pôde, tentando, a todo o custo ultrapassa-la. Mas não conseguiu.
Após a vitória, todos foram festejar com esta.
Moral: "Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente."

capítulo 2 • 37
Considerando que em toda narrativa ocorre uma sucessão de ações, aconte-
cimentos, verificamos que, na fábula em análise, ocorrem as seguintes ações:

1ª ação – A lebre desafiou a tartaruga.


2ª ação – A tartaruga começou a treinar.
3ª ação – A lebre e a tartaruga começam a corrida.
4ª ação – A tartaruga corria o mais rápido que podia.
5ª ação – A lebre ultrapassa a tartaruga.
6ª ação – A lebre percebe a distância da tartaruga e começa a dormir.
7ª ação – A tartaruga aproximava-se da linha de chegada.
8ª ação – A lebre acordou e viu a aproximação da tartaruga.
9ª ação – A lebre começou a correr o mais rápido que pôde.
10ª ação – A tartaruga vence a corrida.
11ª ação – Todas vão comemorar.

2.3  Descrição

Vimos que, de modo geral, a narração se estabelece quando há o desenrolar de


ações cronologicamente sequenciadas, desenvolvidas por algum personagem.
Já a descrição focaliza um objeto, um ser, um processo, um sentimento etc.,
sem relação alguma com tempos ou datas. Segundo o Prof. Agostinho Dias
Carneiro, em Redação em Construção (2003, p.50), “Se a narração destaca as
relações lógicas entre as ações, a descrição sublinha as características, qua-
lidades ou especificações dos objetos, seres ou processos.” (grifo do autor).
Para Othon M. Garcia (1973), "Descrição é a representação verbal de um ob-
jeto sensível (ser, coisa, paisagem), através da indicação dos seus aspectos mais
característicos, dos pormenores que o individualizam, que o distinguem."
Assim, descrever é prover elementos para que o leitor/ouvinte adquira infor-
mações acerca do objeto descrito. Em outras palavras, é localizar, identificar ou
qualificar o objeto da descrição de acordo com os objetivos do autor. Vamos a
um exemplo? Voltemos a nossa infância com “A Casa”, de Vinícius de Moraes:

38 • capítulo 2
A Casa
Vinicius de Moraes
http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49255/

Era uma casa muito engraçada


Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero

Veja um clipe dessa música em:


http://www.youtube.com/watch?v=mpnRWnAz60I&feature=player_embedded#!

Nessa canção, o foco de interesse é a descrição de uma determinada casa.


Não há o relato de alguém que morava nela ou de qualquer outra ação que a pu-
desse envolver. Mas, ao contrário disso, o autor provoca a imaginação do leitor/
ouvinte elencando as características dessa casa: “muito engraçada / não tinha
teto, não tinha nada” etc.

2.4  Injunção

O texto do tipo injuntivo utiliza-se de uma sequência de termos que incitam


uma ação, ou seja, há elementos linguísticos que fazem com que o interlocutor,
imediatamente, pratique determinada ação. Mas, vamos por partes…
Como já estudamos, os textos costumam ser heterogêneos no que diz res-
peito à tipologia. Em outras palavras, é raro encontrar textos que sejam tipo-
logicamente puros ou únicos. Pode haver a predominância de um tipo textual
em relação ao outro, mas, via de regra, haverá mais de um tipo textual em
sua formação.
Mesmo assim, nossa prática discursiva aponta para textos que possuem
uma linguagem imperativa, e que exprimem ordem ou obrigação. Nesse

capítulo 2 • 39
sentido, ordem não parece, necessariamente, envolver um jogo de forças entre
alguém que possua autoridade sobre a outra, mas no sentido de orientar, suge-
rir uma ação, ainda que por força de posição superior.
Por isso, não há como não pensarmos em gêneros textuais de natureza in-
juntiva, tais como a bula de remédio, o manual de instruções daquele home
theater ultra moderno, ou até mesmo uma pequena lista com tarefas ordena-
das pelo chefe em seu ambiente de trabalho.
Os textos injuntivos podem também ser chamados de textos instrucionais,
o que facilita ainda mais nossa concepção deles. E...
São os textos que apresentam uma série de procedimentos a serem segui-
dos pelo interlocutor em determinado contexto.

Segundo Abaurre; Abaurre (2008, p. 206),

“A injunção é o ato de ordenar expressamente, de mandar executar alguma coisa.


Textos injuntivos, portanto, são aqueles cujo objetivo é levar as pessoas a agirem de
determinada maneira, como forma de alcançarem um resultado específico: instalar
ou configurar um aparelho, preparar uma refeição, curar uma doença etc.”

A partir de alguns exemplos, podemos entender a finalidade desses textos.


Como instalar um aparelho eletrônico? Que passos seguir para criar uma apre-
sentação? O que fazer em caso de emergência? São perguntas que devem ser
respondidas por meio de textos injuntivos/instrucionais. Além disso, segundo
Abaurre; Abaurre (2008, p.206), “os textos instrucionais circulam em contextos
diferentes, a depender do gênero discursivo que for considerado.”.
Assim, podemos considerar que os textos injuntivos/instrucionais funcio-
nam como verdadeiros guias, manuais ou passo-a-passo para diversas ações
do cotidiano, uma vez que os leitores desses textos necessitam de informações
específicas a respeito de como proceder para alcançar um objetivo também es-
pecífico. (op.cit., p.207)
Ainda de acordo com Abaurre; Abaurre (2008, p.207), a variedade de gêneros
textuais que exemplificam os textos injuntivos dificulta a definição de uma es-
trutura precisa, mas há alguns elementos estruturais comuns à maioria deles,
a saber:

40 • capítulo 2
i. Uma série de procedimentos;
ii. Procedimentos em sequência, numa ordem peculiar àque-
les procedimentos;
iii. Verbos flexionados no modo imperativo.

2.5  Exposição/Dissertação

Na nossa infância/adolescência, quando ainda não havia internet, as pesqui-


sas escolares eram todas feitas por meio das chamadas Enciclopédias. Esses li-
vros continham várias informações acerca de diversas áreas do conhecimento.
Hoje, já temos enciclopédias online, bem como diversos sites de busca que nos
direcionam para o assunto que quisermos. Ainda segundo Abaurre; Abaurre
(2008, p.146), em seu livro Produção de Textos: interlocução e gêneros:

O desejo de reunir, em uma mesma obra, os conhecimentos acumulados pelos


seres humanos sobre diversos aspectos da realidade se manifestou pela primeira
vez na Antiguidade. O Susa, uma obra coletiva produzida na Grécia do século X a.C.,
procurava registrar os saberes de todos os campos do conhecimento estudados até
aquele momento. Este é o primeiro texto enciclopédico de que se tem notícia. (grifo
das autoras)

Dessa forma, o que as autoras chamam de texto enciclopédico é um gênero


discursivo que apresenta informações de maneira sistemática, como o objetivo
de expor, informar acerca de determinado(s) assunto(s). Trata-se, portanto, de
um texto expositivo/dissertativo.

SAIBA MAIS!
Hoje, uma das mais famosas enciclopédias digitais é a Wikipedia. Trata-se de uma “enciclo-
pédia aberta”, ou seja, construída pelos próprios leitores. Todavia, esse fato não a atesta como
uma fonte de pesquisa confiável, principalmente no meio acadêmico. É preciso procurar in-
formações sempre em fontes respeitadas em cada área do conhecimento.

capítulo 2 • 41
Geralmente, os textos enciclopédicos possuem uma linguagem formal.
Entretanto, ressaltamos que isso não significa linguagem rebuscada – não po-
demos nos esquecer dos objetivos desse texto, para os quais a clareza é funda-
mental -, pois é comum nesses textos a ordem direta (sujeito + verbo + comple-
mento), com poucas inversões ou informações intercaladas.
Outro gênero textual expositivo é o Texto didático. Se pensarmos em sua
finalidade, veremos que se trata de uma exposição nata, por conta dos conteú-
dos a que se propõe esse texto. No que tange à sua estrutura, os textos didáticos,
de modo geral, são organizados em capítulos e/ou unidades, que contemplam
conteúdos estabelecidos para dada série. Além disso, os capítulos ou unidades
possuem títulos, subtítulos, seções, subseções, etc. Além disso, atualmente,
por conta das exigências de um novo público alvo, influenciado pelos aparatos
tecnológicos, os textos didáticos costumam ser bem coloridos e com muitas
imagens, como se pode ver a seguir:
A respeito desse assunto, Abaurre; Abaurre (2008, p. 175-176) advogam que:

A preocupação em traduzir conceitos científicos complexos para o leitor leigo fará


com que a linguagem do texto de divulgação científica assuma algumas característi-
cas bem marcadas. A primeira delas diz respeito ao grau de coloquialidade admitido
em textos como esses. Ao contrário do que acontece em muitos gêneros expositivos,
nos quais se observa um uso mais formal da linguagem, os textos de divulgação

42 • capítulo 2
científica recorrem à linguagem coloquial como uma estratégia para aproximar o leitor
dos tópicos abordados.

Outro gênero discursivo de natureza expositiva é o Relatório. É muito co-


mum, em qualquer instituição, o uso desse gênero. É um texto analítico-expo-
sitivo, ou seja, são apresentados resultados de uma análise ou experimento.
Segundo Abaurre; Abaurre (2008, p.184), os relatórios mais frequentes são:
•  Relatório científico – apresenta o desenvolvimento e as conclusões de
uma pesquisa ou de experimentos científicos;
•  Relatório de gestão – apresenta os resultados alcançados em um período
específico de uma administração. Costuma ser feito por executivos ou adminis-
tradores em cargos de Chefia;
•  Relatório de atividades – apresenta as realizações de um indivíduo no
exercício de uma função específica. Costumam ser feitos por professores uni-
versitários, alunos de graduação e pós-graduação etc.;
•  Relatório de inquérito – apresenta os resultados de uma investigação ad-
ministrativa ou policial.

No que tange à circulação desses textos, é preciso observar sua natureza e


seus objetivos, a fim de delimitar sua circulação. Relatórios de inquérito, por
exemplo, costumam ser secretos e, por isso, bastante restritos. Do mesmo
modo como o contexto de circulação desses textos pode ou não ser restrito, as-
sim também ocorre, proporcionalmente, como o seu público leitor.
Outra questão relevante acerca dos relatórios diz respeito às estratégias dis-
cursivas utilizadas. Como se trata de uma “fotografia”, o maior número de deta-
lhes e de dados é fundamental para alcançar os objetivos desse gênero textual.
Por isso, podem-se utilizar gráficos, tabelas, imagens, bem como diversas outras
estratégias em sua composição, a fim de tornar o relatório mais eficaz e completo.

SAIBA MAIS
Modelos de relatórios:
http://bsjoi.ufsc.br/files/2010/09/Modelo_de_relatorio_tecnico-cientifico.pdf
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAieMAB/modelo-relatorio-
tecnico-cientifico-rtc

capítulo 2 • 43
Enfim, os textos expositivos possuem funções diversas na sociedade, mas,
de modo geral, prestam-se à divulgação do conhecimento, algo tão caro ao ho-
mem contemporâneo. Há outros exemplos, como a reportagem, a notícia, e ou-
tros da área médica que veremos ao longo deste livro.

2.6  Argumentação

Se pensarmos nas mais rotineiras situações, veremos que precisamos conven-


cer pessoas a todo instante. Seja numa simples conversa com o cônjuge, ou
numa reunião de negócios: a argumentação faz parte da nossa vida cotidiana.
Os estudos a respeito da linguagem humana são antigos. Desde os filósofos
gregos havia preocupação com a maneira de se comunicar, tendo em vista, prin-
cipalmente, o convencimento do outro. Segundo o Prof. José Luis Fiorin, da USP:

A argumentação engloba a demonstração, mas não se restringe a ela, pois trabalha


não só com o que é necessariamente verdadeiro, o que é logicamente demonstrável,
mas também com aquilo que é plausível, possível, provável. Argumentar, em sentido
lato, é fornecer razões em favor de determinada tese. Enquanto a demonstração
lógica implica que, se duas idéias forem contraditórias, uma tração lógica implica que,
se duas idéias forem contraditórias, uma será verdadeira e a outra falsa, a argumen-
tação em sentido lato mostra que uma idéia pode ser mais válida que outra. Isso
significa que a adesão não se faz somente a teses verdadeiras, mas também a teses
que parecem oportunas, socialmente justas, úteis, equilibradas, etc. Assim, a argu-
mentação opera não só com o necessário, mas também com o preferível, isto é, com
juízos de valor, em que alguma coisa é considerada superior a outra, melhor do que
outra, etc. [...] Estamos, pois, tomando argumentação num sentido bastante amplo. São
argumentos tanto as provas demonstrativas, ou seja, aquelas que mostram a verdade
de uma conclusão ou, pelo menos, sua relação necessária com as premissas, aquelas
cuja validade independe de opinião pessoal, quanto as persuasivas, isto é, aquelas
que buscam a adesão de indivíduos para uma determinada tese, apelando para o
preferível. A adesão pode ter intensidade variável e depender de diferentes razões:
a tese pode ser considerada verdadeira, oportuna, socialmente justa, útil, equilibrada,
etc. Enquanto nas provas demonstrativas a verdade de uma tese implica a falsidade
da outra, as provas persuasivas mostram que uma tese é melhor que a outra. Essa
concepção de argumentação está de acordo com a etimologia da palavra argumento,
que vem do latim argumentum, vocábulo formado com o tema argu-, que está também
presente nos termos arguto, argúcia, argênteo, argentum e significa “fazer brilhar”,

44 • capítulo 2
“fazer cintilar”. Argumento é, pois, tudo aquilo que ressalta, faz brilhar, faz cintilar uma
idéia. Argumento é todo procedimento lingüístico utilizado pelo enunciador com vistas
a fazer seu interlocutor aceitar o que está sendo dito, a persuadi-lo, a levá-lo a crer, a
conduzi-lo a fazer o que foi proposto. (FIORIN, 1998, p.127-130.).

Nesse sentido, argumentar significa fazer brilhar uma ideia, ou seja, tornar
visível ao outro aquilo que lhe é relevante em determinado contexto, a ideia que
se quer transmitir.
Do ponto de vista da organização clássica das disciplinas, a argumentação
(em seu sentido lato) vincula-se à lógica, à retórica e à dialética, a partir de como
foi pensada desde Aristóteles até o fim do século XIX (cf. PLANTIN, 2008).
Dessa forma, argumentar tem a ver com a utilização estratégica de um sis-
tema significante, além de configurar-se como essência persuasiva da lingua-
gem, a arte do convencimento, seja oralmente ou por escrito.
Sob o paradigma histórico, a argumentação alcançou uma virada significa-
tiva no final do século XIX. O estudo das práticas discursivas foi repensado no
quadro da análise do discurso, da comunicação institucional e das interações
verbais. Além disso, a argumentação mostra-se diretamente ligada a campos do
conhecimento bem específicos, tais como a política, o direito e a teologia, pois
essas áreas investem sobremaneira na argumentação a partir do momento que
objetivam convencer terceiros.
A partir de agora, trilhando os caminhos propostos por Platão e Fiorin
(2010) em seu livro Lições de Texto: leitura e redação, vamos verificar algumas
estratégias e percursos do texto de natureza argumentativa.
Os autores inauguram o capítulo acerca da argumentação com a seguin-
te frase:

Um argumento não é necessariamente uma prova de verdade. Trata-se, acima de


tudo, de um recurso de natureza linguística destinado a levar o interlocutor a aceitar
os pontos de vista daquele que fala.

Comunicar não é somente transmitir informações, mas, é como o outro re-


cebe aquilo que você comunicou. Por isso, é essencial saber escolher estraté-
gias argumentativas eficazes para que o ato comunicativo se efetive atingindo
os objetivos do sujeito comunicante, tal como vimos no capítulo anterior.

capítulo 2 • 45
Dessa forma, comunicar não é somente um fazer saber, mas um fazer crer e
um fazer fazer (cf. Platão; Fiorin, 2010, p.284). Em outras palavras, é fazer com
que o interlocutor “compre sua ideia” e, posteriormente, possa agir de maneira
afetada por aquilo que ouviu/leu.
Assim, vamos verificar alguns tipos de argumentos elencados por Platão e
Fiorin (2010):

1. Argumento de autoridade
Quando citamos autores renomados em determinada área do conhecimen-
to, a fim de corroborar com uma determinada tese, sustentamo-la com base
nas palavras desse autor. Citar argumentos de autoridade mostra não só vali-
dação da tese, mas também conhecimento acerca da literatura destinada para
aquele assunto. Quando um repórter, por exemplo, entrevista o presidente da
OAB, a fim de saber sua opinião acerca do número de faculdades de direito no
Brasil, ele está consultando um argumento de autoridade, não é mesmo?

2. Argumento baseado no consenso


São máximas ou proposições aceitas como verdadeiras em determinada
época e que, portanto, não precisam de demonstração. Os nossos autores for-
necem-nos o seguinte exemplo: “ A educação é a base do desenvolvimento”
Alguém discorda?

3. Argumentos baseados em provas concretas


Opiniões de pessoas não costumam ter validação científica, ao menos que
seja dada por um argumento de autoridade. Dessa forma, a opinião terá mais
“peso” se for comprovada por meio de fatos. Algo que, por exemplo, fazem os
autores de reportagens. Segundo Platão e Fiorin (2010, p.286), os dados apre-
sentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos. Assim,
podemos ter imagens, relatos, rastros, gravações etc., como exemplos de argu-
mentos baseados em provas concretas.

4. Argumentos com base no raciocínio lógico.


Esse tipo de raciocínio demonstra as causas e consequências de determina-
dos problemas, que são os próprios argumentos a respeito de uma tese. Um dos
riscos desse tipo de argumentação é fugir do tema, uma vez que os argumentos
podem, via de regra, constituir um novo tema.

46 • capítulo 2
5. Argumento da competência linguística
O modo de dizer pode garantir-lhe eficácia maior ou menor em seu ato co-
municativo. Em muitas situações, o uso da norma culta da língua, a escolha do
vocabulário adequado – ou até mesmo mais rebuscado – podem ser ferramen-
tas argumentativas bem interessantes. Um exemplo disso é quando uma pes-
soa de menos escolaridade atribui prestígio ao falar de pessoas mais escolariza-
das, como advogados ou médicos, simplesmente pela competência linguística
que eles possuem.

ATIVIDADES
01. Classifique as sequências a seguir levando em conta os tipos textuais:
a) O soldado John, muito magoado, pediu a todos os seus colegas que lhe emprestas-
sem fotos das suas namoradas, irmãs, amigas, primas etc… Juntamente com a foto
de Mary colocou todas as outras fotos que conseguiu recolher com seus colegas, em
um envelope. Na carta que enviou à Mary estavam 87 fotos juntamente com uma nota
que dizia:
b) Enquanto a casa pegava fogo, um bebê chorava no quarto dos fundos e dois garotos
brincavam de bola na rua em frente.
c) ”Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma
pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é, na ver-
dade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa,
fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente está precisando
das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada.” (adap.: Luis Fernando
Veríssimo)
d)
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
cloaca

Poesia concreta. São Paulo: Abril Educa-


ção,1982. p. 43. Literatura Comentada

capítulo 2 • 47
REFLEXÃO
Neste segundo capítulo de nosso livro, você pôde compreender que há duas noções im-
portantes para a identificação dos textos: gêneros e tipos textuais. Isso reforça a ideia de
que a comunicação depende dos interlocutores e do contexto de produção, uma vez que
os falantes optam por determinadas estruturas em detrimento de outras, por força do ato
comunicativo em questão.
Hoje, talvez você opte por escrever um e-mail em vez de enviar uma carta ou dar um
telefonema: é algo deste século. Isso quer dizer que novos gêneros são utilizados e outros se
desgastam por conta de exigência dos novos tempos.
Agora, você está apto a identificar tipos e gêneros e, inclusive, verificar se a estrutura dos
seus textos mais cotidianos está adequada àquela situação comunicativa.
Até breve!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABAURRE, Maria Luiza; ABAURRE, Maria Bernadete. Produção de Textos: interlocução e gêneros.
São Paulo: Editora Moderna, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In.: DIONíSIO, Ângela Paiva,
MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria Auxiliadora. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de
Janeiro: Editora Lucerna, 2002.
CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em Construção. São Paulo: Editora Moderna, 2003.
GARCIA. Otton Moacir. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1973.
FIORIN, José Luiz. Notas para uma didática do português. In: BASTOS, N. B. (Org.). Língua
portuguesa história, perspectiva, ensino. São Paulo: Educ, 1998. p.123-134.
PLANTIN, Christian. A argumentação: história, teorias, perspectivas. São Paulo: Parábola, 2008.
PLATÃO, Francisco; FIORIN, José Luiz. Para entender o Texto: leitura e redação. São Paulo: Editora
Ática, 2010.

48 • capítulo 2
3
Elementos para um
Bom Texto
3.  Elementos para um Bom Texto
Até agora, estudamos como se dá o ato comunicativo no sentido dos elementos
que o compõe. Além disso, vimos que os textos são categorizados de acordo
com algumas de suas características formais e sociocomunicativas, o que nos
permitiu chegar às noções de tipos e gêneros textuais.
Entretanto, além de todas essas questões que envolvem os atos comunica-
tivos em geral, há alguns elementos internos do texto muito importantes para
que possamos alcançar nosso principal objetivo: comunicar com clareza, corre-
ção e concisão. Esses três “c” são essenciais para quem quer se comunicar com
eficiência no mundo corporativo.

OBJETIVOS
•  Aprender os conceitos de clareza, correção e concisão;
•  Aprender a escrever com coesão e coerência;
•  Aprender alguns elementos gramaticais importantes.

3.1  Clareza, Correção e Concisão – Os Três “C”

Todas as pessoas alfabetizadas são capazes de escrever textos. Isso quer dizer
que, como já vimos, qualquer enunciado com sentido completo pode ser con-
siderado um texto, uma vez que comunica algo a um determinado interlocutor.
Entretanto, usuários da língua podem escolher escrever bem ou de qual-
quer maneira seu texto. Para aqueles que pretendem escrever um bom texto,
é preciso voltar-se para alguns elementos que garantem qualidade aos textos,
a saber: clareza, correção e concisão. Um texto pode não ser claro, correto nem
mesmo conciso, e mesmo assim ser considerado texto, mas não cumprirá al-
guns objetivos, como por exemplo, fazer com que o leitor entenda a mensagem
de forma mais rápida e direta, tal como exigem as mais diversas situações do
nosso querido século XXI.
Por isso, vamos, nesta seção, estudar os três “c” que garantem qualidade aos
nossos textos: clareza, correção e concisão.

50 • capítulo 3
3.1.1  Clareza

Clareza é o oposto de obscuridade. Um texto claro é aquele que consegue pas-


sar todas as suas informações numa primeira leitura, sem a necessidade de se
retornar ao texto para tentar realizar interpretações mais complexas, ou ainda
recorrer ao dicionário ou a outros textos anteriores. Veja este trecho retirado
da internet:

Urge a necessidade que grassa pelo globo de uma posição ideológica neutra. Todavia,
mediante as circunstâncias crônicas em que vive o mundo, torna-se inconcebível tal
candura cotidiana. É deveras auferível a assaz impregnação do odor fétido-feérico que
colide com tais coisas. É o odor metafórico que exalam os pecadores militantes e jura-
mentados. Estes mambembes recalcitrantes aludem a tal situação...

http://dicasdoalexandrelobao.blogspot.com/2010/02/
clareza-e-concisao-dois-dos-melhores.html

O que achou? Pouco claro, não é mesmo? Diria que está bastante obscuro.
Trata-se de um bom exemplo de texto que, apesar de reconhecido como tal, não
consegue comunicar numa primeira leitura, por isso, não é claro.

Escrever com clareza envolve:


a) Obedecer às normas da Língua Portuguesa: o que não significa rebus-
camento, tal como já estudamos neste livro. Um texto com muitos erros pode
comprometer o entendimento e até mesmo quem escreve. Imagine se seu che-
fe lê um texto seu cheio de erros?
b) Usar períodos curtos: isso quer dizer que frases muito longas podem
atrapalhar (e de fato atrapalham!) o entendimento do texto. O nosso cérebro
organiza as ideias em blocos. Os sinais de pontuação auxiliam nesse processo
de organização de ideias, delimitando-as. Por isso, acredita-se que um período
ideal é aquele que possui, no máximo, três verbos. Se você já usou três verbos
numa mesma frase, já é hora de usar um ponto final e começar outra.
c) Usar vocabulário simples, mas preciso: Muitas pessoas pensam que
escrever bem é usar um vocabulário difícil, culto. Isso não é verdade. Se o ob-
jetivo é ser claro, temos de usar um vocabulário correto e adequado. Isso quer
dizer que em textos técnicos temos sim de usar termos da área em questão, mas

capítulo 3 • 51
somente quando necessário. Se pensarmos num laudo médico, por exemplo, se
o alvo é outro médico, os termos têm de ser específicos daquela área. Todavia,
se o laudo é para a leitura do paciente, os termos devem ser, no mínimo, expli-
cados. O uso do vocabulário adequado à situação garante a leitura fluida, sim-
ples e direta por parte do leitor.

É claro que há outros aspectos importantes para a clareza de um texto, como


por exemplo, a sua organização visual, a limpeza do documento e outros, como
imagens, gráficos, tabelas, a depender das necessidades do próprio texto.

3.1.2  Correção

Outra qualidade de um bom texto no que diz respeito às organizações é a cor-


reção. Isso quer dizer que a linguagem utilizada em nossos textos deve ser a
norma culta da língua, ou seja, a partir das normas e regras da Gramática Nor-
mativa Oficial. Dessa forma, conhecer as normas que regem o uso da língua
é fundamental para a produção de um texto correto. Os desvios mais comuns
dizem respeito à grafia, à concordância, à regência e à colocação pronominal.
O governo federal, em 2002, com o objetivo de padronizar as comunica-
ções oficiais, criou o que se chama de Manual de Redação da Presidência da
República. É um documento público, disponível no portal da Casa Civil (http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm), e pode ser baixado por
qualquer pessoa. Esse Manual apresenta-nos alguns importantes apontamen-
tos a respeito da correção, em sua página 29:

A correção ortográfica é requisito elementar de qualquer texto, e ainda mais importan-


te quando se trata de textos oficiais. Muitas vezes, uma simples troca de letras pode
alterar não só o sentido da palavra, mas de toda uma frase. O que na correspondência
particular seria apenas um lapso datilográfico pode ter repercussões indesejáveis
quando ocorre no texto de uma comunicação oficial ou de um ato normativo. Assim,
toda revisão que se faça em determinado documento ou expediente deve sempre
levar em conta a correção ortográfica.

O trecho acima deixa clara a necessidade de sempre caminhar com uma boa
gramática para pesquisa. Mas, será que, com a internet, é mesmo necessário ter
uma gramática? Resposta: SIM.

52 • capítulo 3
Gramáticas e Dicionários devem fazer parte da vida de todos aqueles que
pretendem escrever com correção, o que é o nosso caso a partir de agora, não
é mesmo? Não podemos confiar em análises feitas a partir de sites de busca,
pois é bem provável que encontremos coisas erradas. Veja o saiba mais a seguir:

SAIBA MAIS
Indicações de Gramáticas e Dicionários:

Gramáticas:
– Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Autor: Evanildo Bechara.
– Novíssima Gramática do Português Contemporâneo. Autores: Celso Cunha; Lindley Cintra.
– Gramática Normativa. Autor: Rocha Lima
– Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Autor: José Carlos de Azeredo
– Nova Gramática Aplicada da Língua Portuguesa. Autor: Manoel P. Ribeiro
Essas gramáticas listadas são referências solares no que diz respeito à Língua Portuguesa.
Caso queira adquirir uma delas, é preciso procurar por uma edição que esteja de acordo com a úl-
tima reforma ortográfica. Nenhuma delas, até então, está disponível gratuitamente para download.

Dicionários:
– Dicionário online da Porto Editora, em: www.portoeditora.pt (infopédia)
– Dicionário Michaelis online, em: http://michaelis.uol.com.br/
– E os famosos Aurélio e Houaiss.
O primeiro dicionário, o da Porto Editora, possui um aplicativo para smartphones e tablets,
caso seja de seu desejo realizar o download.
Quando queremos saber se uma palavra está corretamente escrita, podemos consultar
um bom dicionário, ou ainda o VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. É um
documento de autoria da Academia Brasileira de Letras, onde podemos encontrar a correta
grafia das palavras da língua. Você pode acessá-lo gratuitamente em: http://www.academia.
org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario ou também baixar o aplicativo correspondente
para seu smartphone ou tablet.

Com isso, não estamos obrigando você a comprar um livro, mas sim a ter a
consciência de que, quando escrevemos, precisamos saber se nosso texto está
correto, de acordo com a gramática oficial.

capítulo 3 • 53
Antes de passarmos adiante, é preciso conversar um pouco a respeito dos des-
vios mais comuns. É claro que, como já vimos, a fala tende a ser mais informal e, por
isso, tende a aceitar alguns desvios, o que não ocorre com a escrita, principalmente
em ambientes corporativos e acadêmicos. Moysés (2011, p.2-3) afirma o seguinte:

Acontece que, normalmente, a escola nos diz que “certo” é tudo aquilo que está de
acordo com a gramática normativa. O problema é que, a partir dessa afirmação, somos
levados a utilizar a norma gramatical em todas as situações. E, em muitos casos, a
linguagem pode soar um tanto quanto “afetada”, sem naturalidade. Uma frase como
“Havia muitas pessoas na festa promovida pelos alunos do curso de Odontologia”
está, seguramente, de acordo com a gramática normativa ensinada nas escolas; em
uma situação de comunicação informal, porém soará muito mais natural dizer “Tinha
muita gente na festa da Odonto”, embora a gramática tradicional não aprove o uso do
verbo ter como sinônimo de haver quando este significa existir.

O que o autor quer dizer é que há uma forma mais conveniente à fala e outra
mais natural e conveniente à escrita. Veja os exemplos a seguir:

REGISTRO COLOQUIAL REGISTRO CULTO


Eu vi ela ontem. Eu a vi ontem.
Isso é muito bom pra gente. Isso é muito bom para nós.
O trabalho era uma parada sinistra. O trabalho era dificílimo.
Cê tira o negocinho da torneira e conserta ela. Tire a carrapeta da torneira e conserte-a.
Todo mundo sabe esse negócio. Todos têm conhecimento dessa questão.
Se retire daqui. Retire-se daqui.
O cara veio pra cima de mim berrando. O homem interpelou-me aos gritos.
Falta cinco minutos pra acabar a aula. Faltam cinco minutos para acabar a aula.
O diretor pediu pra mim vim aqui. O diretor pediu para eu vir aqui.

As frases da coluna da esquerda são bastante comuns na fala, mas não de-
vem ocorrer na escrita culta, aquela que desenvolvemos em nosso trabalho ou
na universidade. A coluna da direita nos mostra a forma correta, em conformi-
dade com a gramática normativa, e mais próxima da escrita culta.

3.1.3  Concisão

No mundo moderno, as pessoas buscam resolver problemas com eficiência e


rapidez, dadas as novas necessidades de nosso tempo. O texto escrito não foge

54 • capítulo 3
a essa tendência. Por isso, temos de escrever com concisão, que consiste em
não abusar das palavras para exprimir uma ideia. Deve-se ir direto ao assunto,
eliminando tudo aquilo que é desnecessário. Os textos da esfera corporativa
não podem ser prolixos, ou seja, devem ser diretos e eficazes no que tange aos
seus propósitos comunicativos.
Em outras palavras, concisão é o oposto de prolixidade. Muitas vezes, pen-
samos que escrever um bom texto é abusar das palavras, escrevendo páginas e
páginas a respeito de um determinado assunto, mas...não é. Uma das caracte-
rísticas de um texto claro, direto e objetivo é a concisão. Escrever menos, com
mais clareza. Menos, nesse caso, é mais...
Mas como posso escrever textos concisos? Antes de tratarmos disso, veja
um exemplo de um trecho não conciso. Quando ministro da Cultura, Gilberto
Gil fez discurso num evento, reproduzido por O Estado de S. Paulo (31/3/2003,
D8) com intuito de expô-lo:

"A explosão demográfica é considerada um dos grandes problemas globais do último


século, causando enormes embaraços ao processo de desenvolvimento da sociedade
moderna e pós-moderna, e, já fazendo antever um planeta inviabilizado em seu futuro
médio e longo, caso a tendência de aceleração do crescimento populacional não seja
revertida, especialmente em áreas dos terceiro e quarto mundos, onde o amontoamento
de populações, cada vez maiores e cada vez mais pobres, já permite antever um tempo
de verdadeiros lixões humanos da dimensão assustadora de grandes metrópoles, polis
onde o metro, a medida, a dimensão definidora seria a degradação final".

Observe que, nesse texto, temos uma frase única, de mais de sete linhas, o
que, só de olhar, já nos deixa confusos, não é mesmo? Então, vamos às regras
para um texto conciso:
•  Frases curtas;
•  Palavras simples, diretas, ainda que formais;
•  Ordem direta (Sujeito + Verbo + Complemento)
•  Adequação da linguagem e do texto ao contexto e aos interlocutores, etc.
Vejamos o que nos ensina o Manual de Redação da Presidência da República
a respeito da Concisão (p.6):

capítulo 3 • 55
A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do texto oficial. Conciso
é o texto que consegue transmitir um máximo de informações com um mínimo de
palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de
conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar
o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais
redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao princípio de economia lin-
guística, à mencionada fórmula de empregar o mínimo de palavras para informar o
máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como economia de pensamento,
isto é, não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em
tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, passagens
que nada acrescentem ao que já foi dito.
Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma com-
plexidade: ideias fundamentais e ideias secundárias. Estas últimas podem esclarecer
o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundá-
rias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior relação com as
fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.

3.2  Coesão e Coerência

3.2.1  Coesão

Quando pensamos em um texto, às vezes não nos damos conta de que há diver-
sos processos por trás de sua formação.
A comunicação humana, principalmente no que se refere ao texto escrito,
consegue abarcar uma infinidade de sentidos, dos mais simples, como numa
receita de bolo, aos mais complexos, como numa tese de doutorado, por exem-
plo. Entretanto, sabemos que o material linguístico a ser utilizado em cada um
dos diversos gêneros textuais, deve ser selecionado de acordo com sua funcio-
nalidade e, obviamente, sua complexidade.
Vamos exemplificar?

56 • capítulo 3
Eu posso escrever assim:
1. “Mãe, fui à praia.”
Mas também posso escrever assim:
2. “Mãe, apesar da chuva, fui à praia”

Veja que em (2), a informação é um pouco mais complexa e, por isso, preci-
samos usar o conectivo APESAR DE, por conta da ideia de oposição transmitida
na frase. Em outras palavras, utilizamos um elemento de coesão sequencial.
Achou os exemplos simples? Faça um teste: veja quantos conectivos você
encontra em uma reportagem de jornal, por exemplo. Tenho certeza de que se-
rão muitos!

CONCEITO
O processo de coesão envolve mecanismos de relação entre os elementos que constituem
o texto e revela-se através de marcas linguísticas, organizando a sequência textual.

Às vezes, não conseguimos imaginar o quão complexas são as operações


que realizamos para formar um texto…
A coesão trata exatamente dessas relações entre palavras e ideias ao longo do
processo de progressão textual. Ela pode ser REFERENCIAL ou SEQUENCIAL,
vejamos:

3.2.2  Coesão Referencial

Esse tipo de coesão diz respeito ao uso de termos que retomam vocábulos ou
expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos se-
melhantes, até mesmo opostos.
Qualquer falante do Português, reconheceria que o pronome “-la” na frase
seguinte refere-se à “fruta”, assim como o pronome “aquela”.
“Comprei aquela fruta, vou comê-la”
Quando há termos que retomam outros no texto, temos coesão referencial.
A coesão referencial pode ocorrer:

capítulo 3 • 57
a) Com o uso de pronomes (pronominalização):
Muitas pessoas votaram nas últimas eleições. O que elas não previam
era a anulação do pleito.

b) Com o uso de sinônimos:


Muitas pessoas votaram nas últimas eleições. O que elas não previam
era a anulação do pleito.

c) Com expressões nominais definidas:


Dilma visitou diversas comunidades. A presidente do PT ficou feliz
com o que viu.

d) Com expressões atributivas (que usam atributos)


Dilma visitou diversas comunidades. A líder ficou feliz com o que viu.

e) Expressões equivalentes (perífrases):


Pelé tornou-se um ídolo. O rei do futebol é mundialmente conhecido.

f) Elipse:
O ladrão não foi preso, pois Ø conseguiu fugir de helicóptero.

A autora Inez Sautchuk (2012, p. 171) afirma o seguinte:

Quando você vai escrever sobre qualquer coisa, é preciso que utilize alguns recursos,
como se estivesse “espalhando” sobre a superfície do papel elementos para manter a
referência a esse tema. É esse expediente que evita que você fuja a ele e, ao mesmo
tempo, permite que o leitor o acompanhe. Geralmente essa função coesiva se realiza
por meio de dois processos: marcar e substituir ou marcar e repetir.

3.2.3  Coesão sequencial

A coesão também possui a função de articular as sequências de um texto, a fim


de estabelecer relações lógicas ou de sentido entre as partes, promovendo, as-
sim, a progressão textual.

58 • capítulo 3
Como vimos no item anterior, a coesão referencial também promove a pro-
gressão textual, mas por meio dos referentes, ou seja, retoma termos introduzi-
dos na superfície textual de diferentes maneiras.
Agora, vamos perceber como algumas expressões são importantes para “fa-
zer o texto andar”, ou seja, promover a “sequência” do texto.
Vejamos o que nos diz Sautchuk (2012, p. 181):

Esse papel (das relações lógicas) é desempenhado pelas conjunções (embora, se,
porque, porém, portanto, e muitas outras) que ligam basicamente orações entre si e
por um grupo específico de termos, como então, assim, a seguir, pelo contrário, antes,
depois, e outros, que servem para estabelecer conexões entre partes ainda maiores
do texto, como parágrafos ou até capítulos.(…) Conexões malfeitas entre unida-
des do texto costumam desnortear o leitor. (grifo nosso)

Vejamos um exemplo fornecido pela autora:


A internet é uma tecnologia desgastante, pois, além de oferecer aos jovens
momentos de distração, reduz o tempo que poderiam dedicar ao cinema ou ao
esporte.

Nesse exemplo, a expressão “além de” opera como termo que promove a
relação lógica entre o que foi dito antes e o que foi dito depois. Isso quer dizer
que há a adição de duas informações. Entretanto, não parece ser essa a relação,
uma vez que algo desgastante não parece oferecer distração a alguém…
O sentido, na verdade, parece ser de oposição.
Por isso, o mais adequado seria trocar esse termo por “apesar de”, vejamos:
A internet é uma tecnologia desgastante, pois, apesar de oferecer aos jovens
momentos de distração, reduz o tempo que poderiam dedicar ao cinema ou ao
esporte.

Alguns mecanismos de coesão sequencial:


São os mecanismos que ligam, sintaticamente, as sentenças umas às ou-
tras, através dos articuladores. Os articuladores podem ser de:

CAUSA: porque, que, uma vez que, já que, por isso que, porquanto, visto
que, por, por causa de, em vista de, em virtude de etc.

capítulo 3 • 59
•  Porque fez a pesquisa com dedicação foi chamado de competente.
•  Ele foi hospitalizado, uma vez que tomou uma medicação inadequada.
•  Por ter tomado uma medicação inadequada, foi hospitalizado.

Oposição:
a) SUBORDINAÇÃO CONCESSIVA (ocorre mudança no verbo): embora,
muito embora, por mais que, por menos que, apesar de, a despeito de, não obs-
tante etc.
•  Embora seja bom, não podemos comprar aquele carro.
b) COORDENAÇÃO ADVERSATIVA: mas, porém, todavia, contudo, entre-
tanto etc.
•  Valdeir é excelente profissional, mas/porém/contudo/todavia/entretanto
será afastado de suas funções por tempo indeterminado.

CONDIÇÃO: caso, desde que, contanto, uma vez que, sem que etc.
•  Se não chover amanhã, podemos ir à praia.
•  Desde que não chova amanhã, podemos ir à praia.

CONCLUSÃO: logo, portanto, por conseguinte, assim, então, de modo que,


em vista disso, pois (antes do verbo)
•  Maria tem faltado muito sem justificativa, logo será demitida.
•  Ele infartou; não pode, pois, continuar o trabalho.

3.2.4  Coerência

Assim como a coesão textual, a coerência é um dos fatores que promove a tex-
tualidade, ou seja, que faz com que determinado excerto seja considerado tex-
to. Você já imaginou lendo algo que não fizesse sentido? Em outras palavras,
ninguém gostaria de ler textos incoerentes.
Se pensarmos em uma pessoa coerente, seria aquela que não entra em
contradição, ou seja, que não fala uma coisa e faz outra. Todos se lembram
do Dunga, ex-treinador da seleção brasileira de futebol. Enquanto muitos in-
sistiam para que ele convocasse determinados jogadores, ele, em nome da
coerência, permaneceu com os mesmos jogadores que sempre estiveram em
seu grupo.

60 • capítulo 3
O mesmo pensamento podemos levar para os textos: texto coerente é aquele
que não se contradiz, mas que promove os sentidos de forma eficaz a fim de
tornar a comunicação mais clara.
O que chamamos comumente de ser coerente ao se produzir um texto, é
apresentar um raciocínio lógico e manter em seu texto a unidade de sentido.
Deve-se ter sempre em mente que ao escrevermos ou falarmos um texto, temos
uma intenção comunicativa. O indivíduo que recebe nosso texto precisa ativar
seu conhecimento de mundo e projetar esse conhecimento de modo que o tex-
to faça sentido para ele.
A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:
•  conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou
é compartilhado pelos interlocutores;
•  domínio das regras que norteiam a língua: isto vai possibilitar as várias
combinações dos elementos linguísticos;
•  os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encon-
tram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa
do texto.

Vejamos um exemplo:

Só conseguimos compreender a propaganda acima, se consideramos al-


guns aspectos importantes para sua coerência, a saber:
•  Jambo IV é uma referência ao lançamento do filme Rambo IV;
•  O ator principal do filme volta às telas muitos anos depois do Rambo III,
ou seja, mais velho, sem condições físicas de lutar;

capítulo 3 • 61
•  Mais maduro e ainda melhor: uma comparação metafórica do Rambo
com a fruta jambo, já que é uma propaganda de um Hortifruti.
Esses aspectos comprovam-nos que a coerência é estabelecida no ato comu-
nicativo e depende de vários fatores.

3.3  Alguns Itens Gramaticais Importantes

Nesta seção, procuramos tratar de alguns tópicos gramaticais importantes para


um texto correto, mesmo que em linhas bastante genéricas. Caso você tenha
interesse em se aprofundar um pouco mais, já indicamos aqui algumas gramá-
ticas importantes escritas por autores respeitados na área. Vamos tratar, então,
de concordância e pontuação.

3.3.1  Concordância

Tanto na fala como na escrita, uma frase do tipo “Os pessoal conseguiram fazer
o teste” não soa bem...a ausência de concordância, inclusive, marca-nos social-
mente. Principalmente a fala é o nosso cartão de visitas.
A concordância pode ser verbal ou nominal.

A concordância é VERBAL quando o verbo concorda com o sujeito em nú-


mero (singular ou plural) e em pessoa (1ª, 2ª, 3ª):
i. O paciente está entregue ao departamento de oncologia.
ii. Os pacientes estão entregues ao departamento de oncologia.

Observe que em (i), o verbo está no singular porque o sujeito O PACIENTE


está no singular também. O mesmo ocorre em (ii), mas agora no plural.
Ainda usando esses exemplos, observe o uso da palavra ENTREGUE. Ela
concorda com O PACIENTE em (i) e com OS PACIENTES em (ii), por isso
ENTREGUE em (i) e ENTREGUES em (ii). Isso é concordância nominal.
A concordância é NOMINAL quando o adjetivo, o artigo, o pronome e o nu-
meral concordam com o substantivo a que se referem, vejamos:
iii. As duas belas meninas foram internadas naquele hospital.
Nesse exemplo (iii), AS, DUAS e BELAS concordam com o substantivo
MENINAS, que está no feminino plural. Se trocássemos por MENINOS, tería-
mos OS, DOIS e BELOS, não é mesmo? NAQUELE (EM + A + AQUELE) concorda
com HOSPITAL, por isso o masculino singular. Isso é concordância nominal.

62 • capítulo 3
É claro que existem outras regras específicas para a concordância, mas
para que você tenha acesso a elas, sugerimos a leitura de uma boa gramática.
Aqui, nosso foco é chamar a sua atenção para o fato de que a concordância é
sempre importante e que você saiba a regra geral, pois dela advém quase que
todos os casos do Português.

3.3.2  Pontuação

Neste livro, vamos chamar sua atenção para o uso da vírgula, pois julgamos ser
o sinal de pontuação que mais causa problemas na hora de escrever.
A vírgula NÃO serve para marcar uma pausa breve, isso é mito! Não vamos
marcar respiração ou pausa, caso contrário, quem sofre de asma ou alergia
como eu não iria pontuar corretamente, certo?
Brincadeiras à parte, a vírgula serve-nos para:

a) Separar elementos de uma enumeração:


Bahia, Ceará, Alagoas e Sergipe são estados da região Nordeste.
A cerimônia de posse ocorreu esta tarde, em Brasília, no Ministério da
Educação, no gabinete do ministro.
b) Marcar o deslocamento de um termo.
Na semana passada, todos os ministros foram nomeados.
Qual seria a ordem direta? TODOS OS MINISTROS FORAM NOMEADOS NA
SEMANA PASSADA.
Mas, como optamos por trazer o adjunto adverbial “na semana passada”
para uma posição não convencional, precisamos marcar essa inversão com
a vírgula.
c) Termos intercalados, aposto e vocativo
O pobre lavrador, meus amigos, levou a princesa embora. (vocativo- termo
de chamamento, invocação)

O pobre lavrador, você sabe, levou a princesa embora. (oração/expressão in-


tercalada, quebra a ordem natural da frase e é desnecessária)
A vizinha, acreditem, foi a culpada de tudo.
Você gostaria, acho eu, de um copo de leite.
A notícia, é verdade, deixou-nos surpresos.
Eu aceitei, ou melhor, tolerei sua presença.

capítulo 3 • 63
O pobre lavrador, filho de Jacó, levou a princesa embora. (aposto – expres-
são de caráter explicativo, acessório à frase)
A vizinha, acreditem, foi a culpada de tudo.
Você gostaria, acho eu, de um copo de leite.
A notícia, é verdade, deixou-nos surpresos.
Eu aceitei, ou melhor, tolerei sua presença.

Assim como fizemos na parte em que tratamos de concordância, caso você


queira se aprofundar no assunto, pode consultar as gramáticas que menciona-
mos aqui, ok?
Para encerrar, gostaria de compartilhar com vocês um trecho do Manual
de redação da Presidência da República que trata de alguns outros problemas
gramaticais relevantes a que chamam de Problemas de Construção de Frases,
numerada 9.2.1:

A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas principalmente pela


construção adequada da frase, “a menor unidade autônoma da comunicação”,
na definição de Celso Pedro Luft2.
A função essencial da frase é desempenhada pelo predicado, que para
Adriano da Gama Kury pode ser entendido como “a enunciação pura de um fato
qualquer3”. Sempre que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome
de período, que terá tantas orações quantos forem os verbos não auxiliares que
o constituem.
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indispensável, pois há ora-
ções sem sujeito, ditas impessoais –, de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre
um substantivo. Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substantivos
(nomes ou pronomes) que desempenham a função de complementos (objetos
direto e indireto, predicativo e complemento adverbial). Função acessória de-
sempenham os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da oração,
mas que podem ser ou intercalados aos elementos que desempenham as ou-
tras funções, ou deslocados para o início da oração.
Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos elementos que compõem
uma oração (os parênteses indicam os elementos que podem não ocorrer):
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).

2  LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 9. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1989. p. 11.
3  KURY, Adriano da Gama. Pequena gramática. 4. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1959. p. 153.

64 • capítulo 3
Podem ser identificados seis padrões4 básicos para as orações pessoais (i.
é, com sujeito) na língua portuguesa (a função que vem entre parênteses é fa-
cultativa e pode ocorrer em ordem diversa):
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)
O Presidente - regressou - (ontem).
2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (adjunto adverbial)
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na manhã de terça-feira).
3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto - (adjunto adverbial).
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os setores).
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. direto - obj. indireto -
(adj. Adv.)
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações - ao Deputado -
(no Congresso).
5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento adverbial - (adjun-
to adverbial)
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos Aires - (na próxi-
ma semana).
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira)
6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto adverbial)
O problema - será - resolvido - prontamente.
Esses seriam os padrões básicos para as orações, ou seja, as frases que pos-
suem apenas um verbo conjugado. Na construção de períodos, as várias fun-
ções podem ocorrer em ordem inversa à mencionada, misturando-se e confun-
dindo-se. Não interessa aqui análise exaustiva de todos os padrões existentes
na língua portuguesa. O que importa é fixar a ordem normal dos elementos
nesses seis padrões básicos. Acrescente-se que períodos mais complexos, com-
postos por duas ou mais orações, em geral podem ser reduzidos aos padrões
básicos (de que derivam).
Os problemas mais frequentemente encontrados na construção de frases
dizem respeito à má pontuação, à ambiguidade da ideia expressa, à elabora-
ção de falsos paralelismos, erros de comparação etc. Decorrem, em geral, do
desconhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a seguir, alguns
desses defeitos mais comuns e recorrentes na construção de frases, registrados
em documentos oficiais.

4  A respeito de padrões oracionais, v. LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. São Paulo: Ática,
1987. p. 6 ss.

capítulo 3 • 65
Sujeito
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada
na oração. Ele pode ter complemento, mas não ser complemento. Devem ser
evitadas, portanto, construções como:
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cortadas, (...).
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cortadas, (...).
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim.
Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.
Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).

Frases Fragmentadas
A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma oração subordinada ou
uma simples locução como se fosse uma frase completa5”. Decorre da pontua-
ção errada de uma frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico na
literatura, a fragmentação de frases devem ser evitada nos textos oficiais, pois
muitas vezes dificulta a compreensão. Ex.:
Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso Nacional. Depois de
ser longamente debatido.
Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso Nacional, depois de
ser longamente debatido.
Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa recebeu a aprovação
do Congresso Nacional.
Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente submetido ao
Presidente da República, que o aprovou. Consultadas as áreas envolvidas na
elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente submetido ao Presidente
da República, que o aprovou, consultadas as áreas envolvidas na elaboração do
texto legal.

5  MORENO, Claudio; GUEDES, Paulo Coimbra. Curso básico de redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 1988. p.. 68.

66 • capítulo 3
Erros de Paralelismo
Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita “consiste em apre-
sentar ideias similares numa forma gramatical idêntica6” , o que se chama de
paralelismo. Assim, incorre-se em erro ao conferir forma não paralela a ele-
mentos paralelos. Vejamos alguns exemplos:
Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios economizar
energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
Nesta frase temos, nas duas orações subordinadas que completam o senti-
do da principal, duas estruturas diferentes para ideias equivalentes: a primei-
ra oração (economizar energia) é reduzida de infinitivo, enquanto a segunda
(que elaborassem planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma possibilidade de
escrevê-la com clareza e correção; uma seria a de apresentar as duas orações su-
bordinadas como desenvolvidas, introduzidas pela conjunção integrante que:
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios que economizas-
sem energia e (que) elaborassem planos para redução de despesas.
Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas como reduzidas
de infinitivo:
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios economizar ener-
gia e elaborar planos para redução de despesas.
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na coordenação de ora-
ções subordinadas.
Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta:
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não ser inseguro, in-
teligência e ter ambição.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (substantivos) com orações
(reduzidas de infinitivo).
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por transformá-la em
frase simples, substituindo as orações reduzidas por substantivos:
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segurança, inteligên-
cia e ambição.
Ou empregar a forma oracional reduzida uniformemente:
Certo: No discurso de posse, mostrou ser determinado e seguro, ter inteli-
gência e ambição.

6  Id., ibid. p. 74 e s.

capítulo 3 • 67
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso paralelismo, que ocorre
ao se dar forma paralela (equivalente) a ideias de hierarquia diferente ou, ain-
da, ao se apresentar, de forma paralela, estruturas sintáticas distintas:
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa.
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Paris, Bonn, Roma) e
uma pessoa (o Papa). Uma possibilidade de correção é transformá-la em duas
frases simples, com o cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar):
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta última capital, en-
controu-se com o Papa.
Errado: O projeto tem mais de cem páginas e muita complexidade.
Aqui repete-se a equivalência gramatical indevida: estão em coordenação,
no mesmo nível sintático, o número de páginas do projeto (um dado objetivo,
quantificável) e uma avaliação sobre ele (subjetiva). Pode-se reescrever a frase
de duas formas: ou faz-se nova oração com o acréscimo do verbo ser, rompen-
do, assim, o desajeitado paralelo:
Certo: O projeto tem mais de cem páginas e é muito complexo.
Ou se dá forma paralela harmoniosa transformando a primeira oração tam-
bém em uma avaliação subjetiva:
Certo: O projeto é muito extenso e complexo.
O emprego de expressões correlativas como não só ... mas (como) também;
tanto ... quanto (ou como); nem ... nem; ou ... ou; etc. costuma apresentar pro-
blemas quando não se mantém o obrigatório paralelismo entre as estrutu-
ras apresentadas.
Nos dois exemplos abaixo, rompe-se o paralelismo pela colocação do pri-
meiro termo da correlação fora de posição.
Errado: Ou Vossa Senhoria apresenta o projeto, ou uma alternativa.
Certo: Vossa Senhoria ou apresenta o projeto, ou propõe uma alternativa.
Errado: O interventor não só tem obrigação de apurar a fraude como tam-
bém a de punir os culpados.
Certo: O interventor tem obrigação não só de apurar a fraude, como tam-
bém de punir os culpados.
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado pelo uso inadequado
da expressão e que num período que não contém nenhum que anterior.
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que tem sólida forma-
ção acadêmica.
Para corrigir a frase, ou suprimimos o pronome relativo:

68 • capítulo 3
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sólida forma-
ção acadêmica.
Ou suprimimos a conjunção, que está a coordenar elementos díspares:
Certo: O novo procurador é jurista renomado, que tem sólida forma-
ção acadêmica.
Outro exemplo de falso paralelismo com e que:
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas precipitadas, e que
comprometam o andamento de todo o programa.
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo anterior aqui podemos ou
suprimir a conjunção:
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas precipitadas, que
comprometam o andamento de todo o programa.
Ou estabelecer forma paralela coordenando orações adjetivas, recorrendo
ao pronome relativo que e ao verbo ser:
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas que sejam precipita-
das e que comprometam o andamento de todo o programa.

Erros de Comparação
A omissão de certos termos ao fazermos uma comparação, omissão própria
da língua falada, deve ser evitada na língua escrita, pois compromete a clareza
do texto: nem sempre é possível identificar, pelo contexto, qual o termo omiti-
do. A ausência indevida de um termo pode impossibilitar o entendimento do
sentido que se quer dar a uma frase:
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um médico.
A omissão de termos provocou uma comparação indevida: “o salário de um
professor” com “um médico”.
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o salário de um médico.
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de um médico.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
Novamente, a não repetição dos termos comparados confunde. Alternativas
para correção:
Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Portaria.
Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do que os
Ministérios do Governo.

capítulo 3 • 69
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou “demais”) acarre-
tou imprecisão:
Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do que os outros
Ministérios do Governo.
Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do que os demais
Ministérios do Governo.

REFLEXÃO
Neste terceiro capítulo de nosso livro, você pôde compreender que há uma organização
interna do texto bastante complexa e necessária. Vimos que clareza, correção e concisão
são qualidades de um texto e não características. Em outras palavras, você pode escolher
usá-las ou não.
Além disso, um texto bem articulado é aquele que obedece a princípios de retomada e
de progressão de elementos, ou seja, texto coeso, que vai permitir ao leitor caminhar sobre o
texto com mais fluidez e clareza, dando ao texto coerência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Manual de Redação da Presidência da República. Disponível em: <<http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/manual/manual.htm >> Acesso em 28/03/2016.
MOYSES, Carlos Alberto. Língua Portuguesa: atividades de leitura e produção de textos. São Paulo:
Saraiva, 2011.
SAUTCHUK, Inez. Perca o medo de escrever. São Paulo: Saraiva, 2012.

70 • capítulo 3
4
Redação Técnico-
Administrativa e
Redação Oficial
4.  Redação Técnico-Administrativa e
Redação Oficial

Chegamos ao último capítulo deste livro, mas certos de que nossa missão está
sendo cumprida. Agora que já estudamos os elementos da comunicação, as
funções da linguagem, tipologia e gêneros textuais, clareza, correção, concisão,
coesão, coerência e alguns aspectos gramaticais relevantes para uma boa reda-
ção (ufa!), podemos conversar a respeito de alguns textos tanto da esfera técni-
co-administrativa como da esfera oficial.
Neste capítulo, vamos tratar dos relatórios, da redação oficial e seus textos
mais comuns, como o ofício, o memorando entre outros. Além disso, vamos
estudar um pouco a respeito de textos como a ata, a carta x o e-mail etc. Mas de
modo a fazer você refletir um pouco a respeito de sua prática cotidiana no que
diz respeito à produção desses textos.

OBJETIVOS
•  Verificar as partes de um relatório;
•  Verificar o conceito de redação oficial e alguns exemplos;
•  Aprender a respeito de outros textos da esfera técnico-administrativa.

4.1  A Redação Oficial

Você já deve ter se dado conta de que a esfera pública, de modo geral, fun-
ciona a partir de alguns princípios mais burocráticos, o que envolve, necessa-
riamente, o uso constante de uma série de documentos. É a forma de comuni-
cação dos órgãos públicos entre si e com a sociedade. Esses textos possuem um
caráter público – no sentido puro do termo – e precisam seguir alguns padrões
formais e, às vezes, técnicos. Esses documentos incluem-se no que se chama de
Redação Oficial.
Segundo o já citado Manual de Redação da Presidência da República, que é
a carta magna da redação oficial, temos:

72 • capítulo 4
O que é Redação Oficial?

Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder Públi-
co redige atos normativos e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do
Poder Executivo.
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão culto de
linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses
atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A administração pública
direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoa-
lidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publicidade e a impessoa-
lidade princípios fundamentais de toda administração pública, claro está que devem
igualmente nortear a elaboração dos atos e comunicações oficiais.

Se observarmos com atenção o trecho acima, veremos que os princípios


básicos desse tipo de redação já foram praticamente todos trabalhados neste
livro, tais como clareza, concisão, padrão culto da linguagem etc. Todavia, o
que mais chama a nossa atenção é o que nos afirma a Constituição Federal, ao
citar a publicidade e a eficiência desses textos. Isso nos faz refletir a respeito da
linguagem desses textos, algo que já foi bastante discutido no capítulo anterior
e que você tem de ter muito claro em sua mente, ok? Em resumo, os textos ofi-
ciais devem ser claros, diretos, objetivos e corretos para que possam ser públi-
cos e eficientes tal como advoga a carta magna de nossa nação.
Por isso, o que vamos fazer a partir de agora, é olhar para a estrutura desses
textos, pois a respeito da linguagem que deve ser utilizada em sua redação, já
estudamos no capítulo anterior. Para tal, vamos trabalhar com um texto que
parece reger vários outros da esfera pública: o modelo ofício. A partir do ofício
temos os memorandos, os comunicados etc.

O Padrão Ofício
Ainda de acordo com o Manual de Redação da Presidência da República,
existem três tipos de expedientes que se diferenciam mais pela finalidade ou
função do que pela estrutura: o ofício, o aviso e o memorando. No sentido de
uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única, que siga o que chama-
mos de padrão ofício. Os documentos do Padrão Ofício obedecem, de modo
geral, à seguinte forma de apresentação:

capítulo 4 • 73
•  fonte do tipo Times New Roman de tamanho 12 no texto em geral, 11 nas
citações, e 10 nas notas de rodapé;
•  para “símbolos” não existentes na fonte Times New Roman podem-se uti-
lizar as fontes Symbol e Wingdings;
•  é obrigatório constar, a partir da segunda, o número da página. Há pessoas
que costumam numerar a primeira página, mas não é uma exigência formal;
•  os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impressos em ambas
as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda e direita terão as distâncias
invertidas nas páginas pares, é o que se chama de margem espelho nos editores
de texto;
•  o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distância da mar-
gem esquerda;
•  o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no mínimo, 3,0 cm
de largura;
•  o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm;
•  pode ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de 6 pontos após
cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não comportar tal recurso, de
uma linha em branco;
•  não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado, LETRAS
MAIÚSCULAS, sombra, RELEVO, /bordas/ ou qualquer outra forma de forma-
tação que afete a elegância e a sobriedade do documento. Na verdade, conta-se
com o bom senso de quem escrever para que o texto não fique “sujo”, fora dos
padrões mínimos de etiqueta e formalidade;
•  a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel branco.
Entretanto, atualmente, já há órgãos que utilizam papel reciclado, por razões
de sustentabilidade. É preciso, nesses casos, observar a relevância do texto que
será impresso numa ou noutra forma;
•  A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos e ilustrações;
•  todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser impressos em
papel de tamanho A-4;
•  dentro do possível, todos os documentos elaborados devem ser arquiva-
dos em computadores ou em rede, mas é algo que deve ser verificado com do
setor de TI de cada órgão.
•  para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem ser formados da
seguinte maneira: tipo do documento + número do documento + data + sigla do
Órgão: Ex.: “Of. 135/2016 - MPU”
Na página seguinte temos um modelo fictício de um ofício:

74 • capítulo 4
[Ministério]
[Secretaria/Departamento/Setor/Entidade]
5 cm [Endereço para correspondência].
[Endereço - continuação]
[Telefone e Endereço de Correio Eletrônico]

Ofício no 152/2016/MPU
Brasília, 15 de março de 2015.

A Sua Excelência o Senhor


Deputado [Nome]
Câmara dos Deputados
70.160-900 – Brasília – DF

Assunto: XXXXXXX XXXXX XXXXXXXX

Senhor Deputado,
2,5 cm
1. Em complemento às observações transmitidas pelo telegrama no 154, de 04
de janeiro último, informo Vossa Excelência de que as medidas mencionadas em sua carta no 9015,
dirigida ao Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo procedimento administrativo
de demarcação de terras indígenas instituído pelo Decreto no 22, de 4 de fevereiro de 1991 (có-
pia anexa).
2. Em sua comunicação, Vossa Excelência ressalva a necessidade de que – na
definição e demarcação das terras indígenas – fossem levadas em consideração as características
socioeconômicas regionais.
3. Nos termos do Decreto no 22, a demarcação de terras indígenas deverá ser
precedida de estudos e levantamentos técnicos que atendam ao disposto no art. 231, § 1o, da
Constituição Federal. Os estudos deverão incluir os aspectos etno-históricos, sociológicos, carto-
gráficos e fundiários. O exame deste último aspecto deverá ser feito conjuntamente com o órgão
federal ou estadual competente.
4. Os órgãos públicos federais, estaduais e municipais deverão encaminhar as
informações que julgarem pertinentes sobre a área em estudo. É igualmente assegurada a manifes-
tação de entidades representativas da sociedade civil.
5. Os estudos técnicos elaborados pelo órgão federal de proteção ao índio serão
publicados juntamente com as informações recebidas dos órgãos públicos e das entidades civis
acima mencionadas.

Atenciosamente

_____________________________________
Sr. Aloizio dos Santos Silva
Chefe de Gabinete

capítulo 4 • 75
Você pode notar algumas características no exemplo anterior, a saber:

i. Os parágrafos são numerados, a fim de facilitar a pesquisa futura nes-


ses documentos;
ii. Os ofícios não devem ser impressos em papel timbrado, mas deve con-
ter, no máximo, o brasão do órgão executivo, centralizado, acima do cabeçalho;
iii. A fonte utilizada é a Times New Roman 12;
iv. O documento é numerado.
v. Há endereçamento no próprio corpo do ofício.

Em alguns órgãos públicos, o ofício é também chamado de comunicação


externa (CE) e o memorando, comunicação interna (CI). No caso do memoran-
do, há órgãos que já o fazem por e-mail ou intranet, a fim de não só facilitar
e agilizar a comunicação, mas também de economizar papel, uma tendência
mundial por razões de sustentabilidade.
A linguagem desses documentos envolve também o uso de algumas no-
ções gramaticais importantes, como pronomes de tratamento, entre outras.
Vejamos:

a) Destaques – em geral, não há regras para os destaques em itálico, ne-


grito, relevo, caixa alta etc., mas devemos manter a boa aparência do documen-
to sem exageros. Comumente, usa-se itálico para nomes estrangeiros, nomes
científicos, títulos de livros, de periódicos, de peças, de óperas, de música, de
pintura e de escultura; assim como nomes de eventos citados no corpo do texto.
Já o negrito é mais comumente usado na transcrição de entrevistas, para sepa-
rar perguntas de respostas; assim como na indicação de títulos e de subtítulos.
b) Grafia dos numerais - os numerais são geralmente grafados com alga-
rismos arábicos. Entretanto, em alguns casos é regra grafá-los, no texto, por ex-
tenso. O site: www.portaleducacao.com.br apresenta-nos um texto bem interes-
sante a respeito dos numerais (http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/
artigos/46197/pontos-fundamentais-da-gramatica-grafia-de-numerais):
•  De zero a nove: três cadernos, quatro milhões;
•  Dezenas redondas: trinta cadernos, setenta bilhões;
•  Centenas redondas: trezentos mil, novecentos trilhões, seiscentas pessoas.
Obs1: em todos os casos, só se usam palavras (extenso) quando não há nada
nas ordens ou nas classes inferiores (ex.: 14 mil, mas 14.200, e não 14 mil e du-
zentos; 247.320, e não 247 mil e trezentos e vinte).

76 • capítulo 4
Obs2: Acima do milhar, no entanto, dois recursos são possíveis:
•  Aproximação de número fracionário, como em 23,7 milhões;
•  Desdobramento dos dois primeiros termos, como em 47 milhões e
642 mil.

Outras Regras
•  As classes são separadas por pontos (ex.: 1.750 páginas), exceto no caso de
ano (ex.: em 1750), de código postal (ex.: CEP 70342-070) e de especificação de
caixa postal (ex.: 1011).
•  As frações são sempre indicadas por algarismos, exceto no caso de os dois
elementos dela se situarem entre um e dez (ex.: dois terços, um quarto, mas
2/12, 5/11 etc.).
•  Já as porcentagens, essas são indicadas (exceto no início de frase) por al-
garismos, os quais são, por sua vez, sucedidos do símbolo próprio sem espaço:
86%, 135%, etc.).
•  Os ordinais são grafados por extenso de primeiro a décimo, os demais de-
vem ser representados de forma numérica: terceiro, quinto, mas 13º, 47º, etc.
•  As quantias são grafadas por extenso de um a dez (seis centavos, nove mi-
lhões de francos) e com algarismos daí em diante (11 centavos, 51 milhões de
reais). Porém, quando ocorrem frações, registra-se a quantia exclusivamente de
forma numérica (R$325,60).
•  Em se tratando de horas (hora legal), recomenda-se o uso de algarismo
arábico, seguido de abreviatura, sem espaço (ex.: 12h; das 13 às 18h30).
•  As datas devem ser grafadas por extenso, sem o numeral zero à esquerda.
Exemplo: “4 de março de 1998, 1º de maio de 1998.”
•  Na ementa, no preâmbulo, na primeira remissão e na cláusula de revo-
gação a data do ato normativo deve ser grafada por extenso. Exemplo: Lei nº
8.112, de 11 de dezembro de 1990. Nas demais remissões, a citação deve ser
feita de forma reduzida. Exemplo: Lei nº 8112, de 1990.
•  A identificação do ano não deve conter ponto entre a classe do milhar e a
da centena.
•  Convém que as décadas sejam grafadas em algarismos arábicos, e com
a especificação do século, para que não haja ambiguidades: década de 1920;
década de 1870.

c) Pronomes de Tratamento - O próprio Manual de Redação da Presidência


da República nos traz o seguinte a respeito desses pronomes:

capítulo 4 • 77
Formas de Tratamento
1. O tratamento Vossa Excelência deve ser empregado para as seguin-
tes autoridades:
I. do Poder Executivo;
Presidente da República;
Vice-Presidente da República;
Ministros de Estado;
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Federal;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
Embaixadores;
Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de cargos de na-
tureza especial;
Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
Prefeitos Municipais.

II. do Poder Legislativo:


Deputados Federais e Senadores;
Ministro do Tribunal de Contas da União;
Deputados Estaduais e Distritais;
Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.

III. do Poder Judiciário:


Ministros dos Tribunais Superiores;
Membros de Tribunais;
Juízes;
Auditores da Justiça Militar.

2. O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos Chefes de


Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respectivo:
I. Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
II. Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
III. Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal.

78 • capítulo 4
3. As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido
do cargo respectivo:
I. Senhor Senador,
II. Senhor Juiz,
III. Senhor Ministro,
IV. Senhor Governador

4) No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às autori-


dades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma:

A Sua Excelência o Senhor A Sua Excelência o Senhor A Sua Excelência o Senhor


Fulano de Tal Senador Fulano de Tal Fulano de Tal
Ministro de Estado Senador Federal Juiz de Direito da 10a
da Justiça 70.165-900 – Brasília. DF Vara Cível
70.064-900 – Brasília. DF Rua ABC, no 123
01.010-000 – São Paulo. SP

5. Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento digníssi-


mo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dignidade é pressupos-
to para que se ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repeti-
da evocação.

6. Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e para particu-


lares. O vocativo adequado é: Senhor Fulano de Tal. No envelope, deve constar
do endereçamento:

Ao Senhor
Fulano de Tal
Rua ABC, no 123.
70.123 – Curitiba. PR

Como se depreende do exemplo acima, fica dispensado o emprego do su-


perlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa
Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamen-
to Senhor.

capítulo 4 • 79
7. Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo
indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em comunica-
ções dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso uni-
versitário de doutorado. É costume designar por doutor os bacharéis, especial-
mente os bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos, o tratamento
Senhor confere a desejada formalidade às comunicações.

8. A forma Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em co-


municações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o vocativo:
Magnífico Reitor,

9. Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a hierar-


quia eclesiástica, são:
I. Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O vocativo cor-
respondente é: Santíssimo Padre,
II. Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em comu-
nicações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo: Eminentíssimo Senhor
Cardeal, ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal,
III. Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações di-
rigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria
Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores religiosos. Vossa
Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos e demais religiosos.

No que diz respeito à comunicação oficial, como já afirmamos, é preciso


seguir o que diz o Manual de Redação da Presidência da República.
Para encerrarmos, é muito comum verificarmos textos oficiais com des-
pedidas longas, numa espécie de “bajulação” a quem se dirige o documento.
Entretanto, isso não está de acordo com os manuais de redação. Há dois tipos
de fechos para os textos oficiais:

Atenciosamente – para mesma hierarquia ou inferior;


Respeitosamente – para hierarquias superiores.

Isso significa que NÃO podemos usar expressões como ATT, ou


CORDIALMENTE. ATT não existe em Língua Portuguesa e CORDIALMENTE é
muito informal para esses tipos de comunicação.

80 • capítulo 4
4.2  A Redação Técnico-Admnistrativa

O funcionamento das organizações só é possível por conta dos processos co-


municativos existentes. Podemos chamar de comunicação empresarial, orga-
nizacional etc.
Desse modo, o que chamamos de redação técnico-administrativa tem a ver
com os diversos textos produzidos nas mais diferentes organizações, garan-
tindo, assim, não somente o seu funcionamento, mas também a relação entre
funcionários, seus pares; empresa e fornecedores; empresa e clientes. De modo
geral, chamamos isso de comunicação interna e comunicação externa.
Por isso, a partir de agora, vamos verificar alguns dos principais gêneros tex-
tuais da esfera técnico-administrativa.

4.2.1  Relatório

De início, já podemos constatar que há diversos tipos de relatório. Podemos


relatar uma viagem, um evento, ou até mesmo algo maior, como questões rela-
tivas à construção de uma grande indústria etc. Isso quer dizer que o relatório
pode, de modo geral, possuir uma estrutura diversificada. O Manual de Reda-
ção da Presidência da República não versa a respeito desse gênero, o que nos
permite maior liberdade formal.
Como os relatórios são textos de natureza técnica, é comum que esses textos
sejam cheios de jargões, ou seja, de vocabulário técnico, o que também indi-
ca um público específico. Ainda assim, deve-se evitar o exagero no uso desses
termos técnicos, pois um mesmo relatório pode servir a diferentes públicos.
Nesses casos, é comum colocarem-se notas de rodapé explicativas ou ainda um
glossário ao final do relatório.
Atualmente, as empresas costumam possuir manuais próprios de redação
contendo algumas regras básicas de formatação de seus textos mais correntes.
Caso a sua empresa não possua esse documento, procure utilizar modelos pau-
tados na ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

capítulo 4 • 81
SAIBA MAIS!
A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira
desde a sua fundação, em 28 de setembro de 1940, e confirmado pelo governo federal por
meio de diversos instrumentos legais.
Entidade privada e sem fins lucrativos, a ABNT é membro fundador da International Or-
ganization for Standardization (Organização Internacional de Normalização - ISO), da Comi-
sión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas
- Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normali-
zação - AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical
Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional - IEC).
A ABNT é responsável pela publicação das Normas Brasileiras (ABNT NBR), elaboradas
por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/
ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE).
Desde 1950, a ABNT atua também na avaliação da conformidade e dispõe de pro-
gramas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está
fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em
uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e re-
conhecimento dos serviços prestados.
Trabalhando em sintonia com governos e com a sociedade, a ABNT contribui para a
implementação de políticas públicas, promove o desenvolvimento de mercados, a defesa dos
consumidores e a segurança de todos os cidadãos.
Fonte: http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt

Segundo Lima (2010, p. 106), os relatórios seguem à seguinte estrutura:


Título – RELATÓRIO, em maiúsculas e centralizado;
Introdução – Ligeiro histórico do motivo do relatório, com a disposição legal;
Texto – Pode ser dividido em partes, capítulos, títulos e subtítulos, itens e
subitens, onde se faz a exposição dos fatos, atos e ocorrências que são causa do
relatório escrito, numa linguagem ordenada, simples, concisa e objetiva;
Fecho – Conterá apreciações subjetivas, sugestões, planos (se couberem)
e conclusões;
Local e data – centralizados a um centímetro abaixo do último parágrafo;
Assinatura – A 2 cm da data e, logo abaixo, os nomes em Maiúsculas.

82 • capítulo 4
4.2.2  ATA

A Ata é um texto formal e que, dependendo do contexto, serve, inclusive, de do-


cumento legal. Trata-se de um registro escrito relatando fielmente tudo o que
ocorreu em uma determinada reunião ou encontro de pessoas.
Podemos ter uma Ata de reunião de membros em assembleia, tal como
ocorre nas mais diversas organizações, tais como igrejas, empresas, conselhos,
órgãos públicos, sindicatos etc.
Por se tratar de um texto legal, a ata segue algumas orientações quanto à
sua estrutura:
•  Não pode haver paragrafação. As frases são escritas uma após a outra, sem
espaços, a fim de evitar indevidos acréscimos ao texto;
•  Não pode haver rasuras. Caso a ata seja manuscrita e houver necessidade
de ajuste, utiliza-se a palavra “digo” após o equívoco;
•  Valores, medidas e números em geral devem ser grafados por extenso,
mesmo que os numerais também sejam utilizados;
•  As atas devem ser sempre datadas e assinadas por todos os presentes.
Quando for uma ata de uma reunião com muitos presentes, deve-se observar as
normas do estatuto da organização;
•  As atas devem ser numeradas, a fim de facilitar o seu arquivamento.

De modo geral, as atas são digitadas, mas ainda há ocasiões em que elas são
manuscritas. Não há impedimento legal para atas digitadas em computador,
desde que sejam impressas e arquivadas com as devidas assinaturas. Por força
da lei, algumas atas devem ser registradas em cartório, observando o estatuto
da organização e a legislação vigente.

4.2.3  Carta x E-mail

Segundo Luiz Antônio Marcuschi, em seu texto Gêneros textuais emergentes


no contexto da tecnologia digital (2010, p.37), os gêneros digitais possuem uma
contraparte “real”. Nesse sentido, o autor advoga que o e-mail seria a contra-
parte virtual das cartas. Enquanto gênero discursivo, não parece ser possível
determinar uma só função social ou objetivo tanto para a carta como para o
e-mail, uma vez que podemos utilizar ambos para fazer um relato, comunicar
uma demissão, solicitar algo, divulgar um produto ou uma ideia etc.

capítulo 4 • 83
Sendo assim, a tendência é considerar carta e e-mail como suportes a outros
gêneros discursivos. Mas o que é um suporte?
O que podemos, por hora, afirmar é que todo texto ancora-se em algum su-
porte. Para Marcuschi (2003, p.10), o suporte é “um lócus físico ou virtual com
formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero mate-
rializado como texto.”
Refinando essa definição, o suporte é um lugar físico ou virtual; tem forma-
to específico e serve para mostrar o texto. Em outras palavras, o suporte é algo
tangível – ainda que virtual - , é específico por ter sido produzido para portar
textos de determinada comunidade discursiva, o que não faz do suporte um
portador eventual, mas definido sociodiscursivamente; e, além disso, o suporte
é responsável por tornar o texto acessível.
Por isso, podemos afirmar que a carta é um suporte físico, e o e-mail é um
suporte virtual. Todavia, ambos podem sustentar gêneros diversos, tais como a
propaganda, o relato pessoal, o pedido, o convite e muitos outros, cada um com
a sua função sociocomunicativa específica. No caso das cartas, já há alguns ad-
jetivos cristalizados, definindo funções diferentes para esse texto: comercial,
de apresentação etc., o que comprova o caráter mais de suporte do que de gêne-
ro. Já no que concerne ao e-mail, temos outra particularidade: podemos anexar
documentos dos mais diversificados gêneros discursivos: contratos, petições,
fotos, entre outros.
Outra questão relevante acerca desses textos reside na dicotomia formalida-
de x informalidade. Muitas pessoas costumam escrever utilizando o chamado
internetês – a linguagem abreviada utilizada em chats, redes sociais e outros
ambientes do contexto eletrônico. Entretanto, sabemos que esse tipo de lin-
guagem tende à informalidade, o que não é adequado a todos os contextos de
circulação tanto da carta como do e-mail.
Assim, é preciso que tenhamos atenção ao grau de formalismo que vamos
utilizar quando escrevemos qualquer texto, principalmente cartas e e-mails,
pois podem ser direcionados tanto a pessoas mais próximas, como amigos, ir-
mãos, namorados, como a pessoas que exercem um papel social de autoridade
ou de superioridade, como professores, chefes etc. Dentro das organizações
é preciso obedecer às hierarquias e, por isso, utilizar a norma culta da língua
nos e-mails. Não se deve utilizar o e-mail corporativo para troca de mensa-
gens pessoais, correntes, brincadeiras etc., para esses fins, é preciso utilizar o
e-mail particular.

84 • capítulo 4
4.2.4  Atestado

Lima (2010, p. 55) advoga que Atestado “é um documento firmado por uma ou
mais pessoas, a favor de outra, declarando a verdade de qualquer fato de que te-
nha conhecimento.” Segundo o autor, é comum no serviço público, por exem-
plo, um servidor fornecer atestado a outrem para que sirva de comprovação,
mas deve-se observar o ofício ou função de quem atesta.
Na área da saúde, é muito comum a redação do famoso “Atestado Médico”,
que, obviamente, só pode ser fornecido pela autoridade médica competente, no
uso de suas atribuições, conforme procedimentos legais da profissão. Somente
um médico pode atestar, por exemplo, a quantidade de dias que uma pessoa
doente pode ficar afastada de suas tarefas laborais. Lima (op.cit.) oferece-nos a
seguinte estrutura para um atestado:

Título – ATESTADO, em maiúsculas e centralizado sobre o texto;


Texto – Exposição do fato;
Local e data – Por extenso;
Assinatura – Nome e cargo/função da autoridade que atesta. No caso de
médicos, com o devido carimbo contento número de registro no respecti-
vo conselho.

4.2.5  Requerimento

O requerimento é um instrumento por meio do qual o requerente se dirige a


determinada autoridade para solicitar algum direito, mas sempre sob amparo
da lei.
De acordo com Lima (2010, p.109), o requerimento só pode ter dois parágra-
fos: o primeiro com somente um período, contendo a identidade completa do
peticionário, inclusive profissão, residência e domicílio, bem como a explicita-
ção do direito ou da concessão. Já o segundo parágrafo, ocorre a forma termi-
nal, em uma ou duas linhas, sempre redigido em terceira pessoa. A estrutura:

Vocativo – Fica a 2,5 cm da margem superior do papel. O vocativo é:


Excelentíssimo Senhor ou Senhor, seguido da indicação do cargo da pessoa a
quem é dirigido o requerimento, iniciando na margem esquerda do papel.

capítulo 4 • 85
Texto – A 4 cm do vocativo. O texto constará do nome do requerente, sua
qualificação (nacionalidade, naturalidade, RG, CPF, estado civil, idade, resi-
dência, domicílio e profissão) e do objeto do requerimento com a indicação dos
respectivos fundamentos legais, tudo em um único período;
Fecho – A fórmula terminal mais usada é: “Nesses termos, pede deferimento”.

4.2.6  Procuração

Trata-se de um documento onde alguém autoriza outra pessoa a tratar ou agir


em seu nome. Dependendo das exigências legais ou do contexto da procuração,
ela deve ser devidamente registrada em cartório.
Exemplos de procuração:

Procuração

Josefa da Silva, brasileira, viúva, aposentada, carteira de identidade nº


xxxxxx IFP, CPF xxxxxxxx, residente a Rua Souza Marques Filho, bairro Alto da
Serra, RJ, outorga poderes da Cláusula ad judicia et extra a Fabiano Rocha, bra-
sileiro, solteiro, advogado-OAB/RJ 88888, e com escritório a rua Coronel Souza
da Silva, RJ, para propor e variar de ação, perante quaisquer foro, tribunal e
juízo, podendo para tanto assinar termos e compromissos, primeira e últimas
declarações, bem como atuar junto às repartições públicas federais, estaduais
e municipais.

Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2015.

___________________________________________
Josefa da Silva

86 • capítulo 4
PROCURAÇÃO

ATRAVÉS DO PRESENTE INSTRUMENTO PARTICULAR DE MANDATO

ORTORGANTE: ___________________________________________, Brasileiro(a),


_________________________________, (Estado Civil), ___________________, (Profissão),
RG nº: __________________________________, C.P.F. nº: __________________________,
residente(s) e domiciliado(s) na Rua: _____________________________________________
_____________________________________________________, nº: ____________, bairro:
_________________________________, CEP: _____________________________, Cidade:
________________________________, Estado: __________________.

nomeia e constitui como seu(s) procurador(es) o(s) Sr.(s)/Sra(s),

ORTORGADO: ____________________________________________, Brasileiro(a),


_________________________________, (Estado Civil), ___________________, (Profissão),

4.2.7  Recibo

O recibo é um texto que possui a confirmação de recebimento de, geralmente,


alguma quantia ou qualquer outra coisa de valor, em face de um determinado
serviço. Em outras palavras, é o texto onde se declara que alguém pagou algum
valor a alguém.
Por razões legais, o recibo precisa conter dados como CPF, nome completo
e valores em algarismos e por extenso para que haja valor legal, bem como o
serviço executado. Quando o serviço for executado por Pessoa Jurídica, teremos
a emissão de uma Nota Fiscal.
Em papelarias há blocos com os mais diversos modelos de recibo, que tam-
bém podem ser feitos em computador ou até mesmo manuscritos, desde que
contenham todas as informações necessárias com clareza e legalidade.

REFLEXÃO
Neste capítulo, você pôde ter contato com alguns textos tanto da esfera oficial, como da
esfera técnico-administrativa. Primeiro, vimos que tanto os órgãos públicos como as empre-
sas privadas precisam de determinados textos em sua burocracia para funcionar. Depois,
estudamos algumas de suas peculiaridades.

capítulo 4 • 87
Na esfera pública, os textos, de modo geral, se constroem a partir do que se chama de
padrão ofício, seguindo os pressupostos do Manual de Redação da Presidência da Repúbli-
ca, que é um documento oficial, redigido e publicado por esferas governamentais, regendo
toda a redação pública.
Mesmo assim, de modo geral, vimos que os textos, sejam de que esfera for, precisam
seguir os já estudados padrões de clareza, correção e concisão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIMA, Antônio Oliveira. Manual de redação oficial: teoria, modelos e exercícios. 3. Ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
Manual de Redação da Presidência da República. Disponível em: <<http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/manual/manual.htm >> Acesso em 28/03/2016.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In.:
MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas
formas de construção de sentido. 3 ed. São Paulo: Cortez Editora, 2010.

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