e a alcançada e é essa hiância que marcará o sujeito
em sua eterna busca por um suposto objeto que poderá
completá-lo. A partir dessas considerações teóricas, perguntamos: quem é essa criança da psicanálise? Como se constitui? É possível uma psicanálise com crianças? Vejamos o que pensavam os primeiros teóricos da prática clínica com crianças. Assim como a psicanálise nasceu da medicina e depois da psiquiatria, a prática da psicanálise com crianças é herdeira da filosofia do Iluminismo. Na história da psicanálise, foi inicialmente às mulheres que coube o papel de analisar crianças. Isso porque, na época, não era permitido que elas ingressassem na universidade e seguissem uma carreira médica; essa era uma atribuição essencialmente masculina. Quando as mulheres adquiriam a maturidade, casavam ou iniciavam uma carreira nas escolas como professoras primárias. Logo, as primeiras mulheres que começaram a praticar a psicanálise encontraram no seu ambiente de trabalho, ou seja, nas escolas, um campo propício para a aplicação da teoria psicanalítica. Por outro lado, a formação pedagó- 16 Teresinha Costa gica dessas analistas se fazia sentir na prática clínica com crianças. Podemos considerar que a análise com crianças começa com o caso do pequeno Hans, publicado por Freud em 1909. A peculiaridade dessa análise é que ela foi realizada por Max Graf, pai do menino, sob a supervisão de Freud, que se encontrou com a criança apenas uma única vez. Quando Freud propôs a análise dessa criança, o que ele pretendia era comprovar seus descobrimentos sobre a sexualidade infantil, conforme havia escrito em 1905, em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Freud não acreditava que fosse possível analisar uma criança, mas a experiência com Hans fez com que ele mudasse de idéia. Esse caso singular foi um marco no desenvolvimento da psicanálise. Articulando as teorias sexuais infantis ao complexo de Édipo, Freud demonstrou que a realidade psíquica da criança se assemelha à do adulto em suas angústias, fantasias e desejos. O estudo da fobia de cavalo, no menino, comprovou os pontos de vista de Freud no tocante às fases regulares do desenvolvimento da criança. Esses pontos de vista tinham sido baseados, anteriormente, em reconstruções de eventos traumáticos na análise de adultos. O pequeno Hans proporcionou a primeira confirmação direta dessas reconstruções. Ao mesmo tempo, as reações favoráveis da criança às interpretações dadas pelo pai ilustraram as potencialidades do tratamento psicanalítico com crianças. No caso do pequeno Hans, estabeleceram-se os três parâmetros indispensáveis para que uma análise seja possí- Psicanálise com crianças 17 oy up çl