Sei sulla pagina 1di 23

Matemática, estatística e alcoolismo: possíveis perspectivas

Rosemari Viecili1
Ana Márcia F.T. de Carvalho2

Resumo
Dada a importância de relacionar os conteúdos escolares com situações do
cotidiano dos alunos, buscou-se nessa pesquisa tratar da interface matemática e
estatística, analisando o desenvolvimento de tais conteúdos voltados para a
questão do uso abusivo de álcool pelos adolescentes. Para isto, realizamos
atividades com 26 alunos de uma primeira série do ensino médio de um colégio em
um município situado no interior do estado do Paraná. Os alunos estudaram
conteúdos relacionados à estatística partindo de levantamento de dados realizados
por eles próprios sobre o uso de álcool. Através desta motivação simples,
aumentou-se significativamente o envolvimento dos alunos com o assunto e
alterou-se os resultados das avaliações. Concluímos que é importante relacionar os
conteúdos de sala de aula com questões pertinentes ao cotidiano dos alunos ou a
assuntos nos quais apresentem conhecimento prévio.

Abstract

The aim of the present work was to study the interface of mathematics and
statistics, by considering the importance of relating the school contents to the
everyday student’s situations, analyzing the development of such contents in
relation with the abusive use of alcohol by teenagers. In order to do that, activities
were done with twenty-six high school students from a county school situated in the
countryside of Paraná state. The students studied statistical contents by using the
survey they had done on the alcohol usage. Through that simple motivation, the
student’s involvement with the subject was enhanced significantly and it altered the
results of the evaluations. We concluded that it is important to relate classroom
subjects with student’s daily situations or to contents which present previous
knowledge.

Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Educação Matemática.


Estatística. Alcoolismo.

1
Autora: professora da rede pública do estado do Paraná, integrante do PDE - Programa de
Desenvolvimento Educacional. Mestre em Educação Matemática pela UNICS – PR. E-mail:
roseviecili@msn.com

2
Co-autora: professora da UNIOESTE. Doutora em Educação Matemática pela UNESP - SP.
2

Introdução

Em quase todas as áreas do conhecimento a matemática está


presente explícita e implicitamente. Pela sua relevância tanto para o
desenvolvimento do pensamento lógico quanto suporte instrumental das
diversas ciências, consta nos currículos escolares das Séries Iniciais à
Educação Superior. A questão que se nos depara é que essa relevância não
se tem evidenciado na aprendizagem da matéria por muitos alunos, que
mostram através, por exemplo, dos baixos rendimentos escolares ou
resultados de exames nacionais como ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio) ou SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) não saber os
conteúdos matemáticos. Também são freqüentes por parte dos alunos
afirmações como “não entendo” ou “não sou bom em matemática”. Por outro
lado, depoimentos como estes podem ser assumidos como verdadeiros por
alguns professores, cuja forma de ensino encobre possivelmente suas
dificuldades em lidar com a matemática.
Um grande desafio para nós professores é como chamar a atenção
do aluno quando este se mostra desinteressado durante as aulas.
Pesquisas apontam que é importante o ensino acontecer de forma
contextualizada, vinculado ao conhecimento que o aluno tem em seu
cotidiano. Por outro lado, “alguns dirão que a contextualização não é importante, que o
importante é reconhecer a matemática como a manifestação mais nobre do pensamento e da
inteligência humana” (D'AMBRÓSIO, 2005, p.77).
Além disso, embora tenhamos consciência que muitos conteúdos do
ensino médio permitem facilmente a contextualização, muitas vezes o
professor encontra-se alienado ao livro texto ou apostila nem percebendo
esta possibilidade.
Na presente pesquisa, escolheu-se desenvolver conteúdos
relacionados à Estatística partindo de situações relacionadas ao uso de
álcool pelos adolescentes, pois há indícios de que muitos alunos costumam
beber excessivamente e acreditamos que também é função da escola
apontar as responsabilidades individuais sobre ações sociais mais amplas.
3

Estas questões levaram-nos a estabelecer como objetivo geral deste


trabalho:
• Tratar da interface matemática e estatística, analisando o
desenvolvimento de tais conteúdos voltados para a questão do uso
abusivo de álcool pelos adolescentes.
Tratando de tema de amplitude significativa, focamos, como objetivos
específicos:
• Despertar nos alunos maior interesse pelas aulas.
• Oportunizar situações significativas de aprendizagem.
• Relacionar o conhecimento escolar com situações do cotidiano dos
alunos.
• Conscientizar sobre a questão do uso abusivo de álcool na
adolescência.

Sobre a Matemática

Como a própria palavra diz, matemática que tem origem do grego


significa “o que se pode aprender – mathema significa aprendizagem” (MACHADO, 1991,
p.7). No dicionário, como suporte ao senso comum, temos que “a matemática é
a ciência que investiga relações entre entidades definidas abstrata e logicamente”
(FERREIRA,1988, p.1102). Outros autores ainda afirmam que matemática "é a
ciência da quantidade e do espaço...na sua forma mais simples, conhecidas por aritmética e
geometria" (DAVIS; HERSH, 1995, p.25). Para estes autores a aritmética trata dos
números, sua classificação, as formas de operações a estes possíveis e as
aplicações de tais operações. A geometria se detém às situações de
medidas do espaço. Peirce anunciou, em meados do século XIX, que "a
matemática é a ciência de inferir conclusões necessárias" (Apud DAVIS; HERSH, 1995, p.
26). No entanto, este ponto de vista recebeu muitas críticas, pois esta
definição não explicita o conteúdo matemático em si, ficando possível
enquadrar situações estranhas à matemática, como por exemplo, o trabalho
de investigação de um detetive. D'Ambrósio (1996), considera a matemática
como sendo estratégia que a espécie humana naturalmente inserida num
4

contexto natural e cultural desenvolveu no decorrer da história para explicar,


entender, manejar e conviver com a realidade.
Como vemos, há diversas definições para a matemática. Cada
geração e cada autor toma-a conforme suas concepções e seu
entendimento. Há um contexto histórico-cultural para as concepções
matemáticas e suas aplicações.
Davis e Hersh (1995) referem-se a muitos teoremas desenvolvidos
na matemática “pura” como verdadeiros becos sem saída, sendo a maioria
deles inúteis. Reconhecem porém, que o tempo provoca alterações no que
diz respeito à utilidade dos teoremas, alguns se tornam úteis, ganham
reputação ficando importantes e conhecidos, outros, tendem a cair no
esquecimento.
Ponte (1992) argumenta que atualmente a tendência é ver a
matemática como um todo, sendo artificiosa e limitativa a distinção de
matemática pura e aplicada, pois as mesmas teorias podem ser vistas como
puras ou aplicadas dependendo apenas do ângulo que são olhadas, sugere
que o mais importante no que se refere à aprendizagem matemática é saber
lidar com as estruturas e regularidades matemáticas desenvolvendo a
capacidade de aplicá-las a situações exteriores.
Enquanto que nas outras ciências somente a experiência dá
validade decisiva para um fato, na matemática esta prova pode ser obtida
pelo rigor do raciocínio. O poder de relacionar fatos aparentemente
discrepantes e desconexos, bem como a descoberta de fatos inusitados é
característico do conhecimento matemático.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio (BRASIL-
MEC, 1999) a matemática é apresentada como tendo valor formativo e
instrumental. Formativo porque colabora na estruturação do pensamento e
do raciocínio dedutivo do aluno, favorecendo o desenvolvimento de atitudes
pessoais como perseverança, concentração, decisão etc. Instrumental
porque permite ao aluno adquirir um conjunto de técnicas e estratégias que
são ligadas a outras áreas do conhecimento.
É importante que no Ensino Médio, o aluno “perceba que as definições,
demonstrações e encadeamentos conceituais e lógicos têm a função de construir novos
5

conceitos e estruturas a partir de outros e que servem para validar intuições e dar sentido às
técnicas aplicadas" (BRASIL-MEC, 1999, p. 252).
Ponte (1992) considera também que os formalismos da
matemática disciplinam o raciocínio dando-lhe um caráter preciso e objetivo,
pois possibilitam a elaboração de uma imensa variedade de estruturas
intelectuais. Sendo que a natureza formalizada da matemática é também um
dos mais sérios obstáculos de aprendizagem. Algumas pesquisas apontam
que tratar inicialmente a matemática de maneira não formal pode ser uma
saída, outra é reconhecer a formalização como inevitável, mas procurar
formas de torná-la acessível aos alunos por meio de metodologias
alternativas de ensino.
Schwartz (Apud PONTE, 1992, p.201) lembra que:

a formalidade inerente à matemática permite explorar novas


conexões e novos domínios. O senso comum está prisioneiro num
leque de intuições relativamente curto. A matemática garante a
validade de raciocínios muito mais longos e elaborados que o senso
comum, é capaz de sair fora destes limites, transcendendo e
corrigindo a intuição.

O conhecimento matemático apresenta três características


básicas, que são: a verificabilidade, que permite estabelecer consensos
acerca da validade de cada resultado, a universalidade, isto é, o seu caráter
trans-cultural e a possibilidade de o aplicar aos mais diversos fenômenos e
situações, e a generatividade, ou seja, a possibilidade de levar à descoberta
de coisas novas (PONTE, 1992).
Sobre o conhecimento matemático que uma pessoa possa ter, o
autor explica que o mesmo pode ser enquadrado em quatro níveis, que
denomina de Competências do Saber Matemático, sendo eles:
competências elementares, intermédias, avançadas e os saberes de ordem
geral.
As competências elementares abrangem simples processos de
memorização e execução, é o conhecimento elementar, simples se
comparado com os saberes dos níveis superiores. O domínio de processos
de cálculos bem como o conhecimento da linguagem matemática estão
presentes neste nível.
6

As competências intermédias implicam complexidade nos


processos apesar de requererem pouca criatividade. A capacidade de
resolver problemas não muito complexos e argumentação matemática estão
presentes neste nível.
As competências avançadas exigem capacidade de lidar com
situações diferentes. Os saberes de ordem geral recebem influência dos
próprios saberes e concepções.
Na tabela abaixo, apresentamos as competências acima
descritas.

Competências Conhecimentos de fatos específicos e terminologia.


Elementares Identificação e compreensão de conceitos.
Capacidade de execução e procedimentos.
Domínio de processos de cálculo.
Capacidade de “leitura” de textos matemáticos
simples.
Comunicação de idéias matemáticas simples.
Competências Compreensão de relações matemáticas.
Intermédias Compreeensão de argumentação matemática.
A resolução de problemas (nem triviais, nem muito
complexos).
A aplicação a situações simples.
Competências Avançadas A exploração/investigação de situações: a formulação
(ou de Ordem Superior) e testagem de conjecturas.
A formulação de problemas.
A resolução de problemas (complexos).
Realização e crítica de demonstrações.
Análise crítica de teorias matemáticas.
A aplicação a situações complexas/modelação.
Saberes de Ordem Geral Conhecimentos dos grandes domínios da matemática
e das suas inter-relações.
Conhecimento de aspectos da história da matemática
e das suas relações com as ciências, a cultura em
7

geral.
Conhecimentos de momentos determinantes do
desenvolvimento da matemática (grandes problemas,
crises,).
Tabela 1: Elementos constitutivos do saber matemático conforme Ponte
(1992, p.204).

O referido autor considera ainda que as atividades básicas que


fundamentam o saber matemático são a ação e a reflexão e que além do
envolvimento do indivíduo, há outros fatores que condicionam o
desenvolvimento do conhecimento matemático, sendo eles de ordem
cultural, social, institucional (classe-social, família, micro-grupo em que está
o indivíduo, escola) e as capacidades de ordem individual.
Sabe-se que o incentivo da família é fundamental para que o aluno
atribua importância ao ato de aprender. Filhos de pais que acompanham o
dia-a-dia escolar geralmente apresentam maior desempenho nas aulas.
Também o grupo de convívio social é fator altamente influenciável para o
jovem, que pela própria fase etária tende a imitar o comportamento de
colegas.

Sobre a Estatística

Pode-se constatar o surgimento da estatística ainda por volta de


5.000 a.C. onde povos egípcios registravam através de contagem seus
presos de guerra. Em 2.000 a.C., a China já realizava censo populacional. A
história descreve inúmeros momentos nos quais os povos utilizavam essa
ciência ainda que de forma rudimentar.
A palavra estatística está associada com a “palavra latina Status (Estado)”,
pois seu uso inicial era restrito às questões sociais de interesse do Estado
(CORDEIRO, 2005, p.1). Define-se estatística, no senso comum, como sendo “a
parte da matemática em que se investigam os processos de obtenção, organização e análise
de dados sobre uma população ou sobre uma coleção de seres quaisquer, e os métodos de
tirar conclusões com base nesses dados” (FERREIRA, 1988, p.717).
8

No início do século passado passou a ser amplamente desenvolvida


e utilizada (SMOLE; DINIZ, 2005). Na atualidade, suas aplicações são vastas: na
agricultura, economia, medicina, política, indústria etc.
O ensino e aprendizagem da estatística, nos ensino fundamental e
médio dão-se associados à disciplina de matemática, deparando-se com
desafios comuns à própria matemática, ainda mais se considerando que não
há como aprender estatística sem ter fundamentação em conhecimentos
matemáticos.
Gal (1995) atribui o insucesso do ensino de estatística ao fato dos
professores trabalharem o conteúdo de maneira fragmentada, fora de
problemas contextuais e isso contribui para que os alunos não consigam
relacionar a matemática com informações estatísticas que se deparam no
dia-a-dia .
Uma possibilidade apontada para contornar esta situação é o
professor rever sua prática metodológica e tentar incluir nas aulas de
estatística, atividades desenvolvidas em grupos, partindo do conhecimento
prévio que os alunos têm, como salientam pesquisadores (COBB,1993;
GARFIELD ,1993).
Para Sowey (1995), é possível realizar o ensino de estatística de forma
marcante para o aluno, desde que não esqueçamos de tratar tal conteúdo
enfatizando simultaneamente sua importância, estrutura, estímulo
intelectual, o desafio e a utilidade prática do mesmo.
Acredita-se obviamente que o professor nem sempre é o responsável
por uma aprendizagem que não acontece. Porém, é sua função propiciar
condições para que os alunos se apropriem do conhecimento científico
tendo que, “se um dos objetivos da educação é preparar os estudantes para a vida fora do
perímetro escolar, então os professores devem ser informados sobre como ensinar a resolver
problemas do dia-a-dia que envolvem informação estatística” (KOSONEN; WINNE, 1995,
p.33).
As DCEs - Diretrizes Curriculares Estaduais (PARANÁ, 2006, p.40)
sugerem que no Ensino Médio “o trabalho com Estatística se faça por meio de um
processo investigativo, pelo qual o estudante manuseie dados desde a sua coleta até os
cálculos finais.”
9

Deming (apud MIECHUANSKI, 2000) trata sobre a importância de se


ensinar estatística em todos os níveis de ensino, a exemplo do Japão, onde
tal ensino inicia-se no nível fundamental, sendo uma disciplina tratada com
muita atenção devido ao fato de estar intimamente ligada aos métodos
estatísticos de controle amplamente utilizados pela indústria.
No Ensino Médio, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais,
espera-se que sejam trabalhados os seguintes conteúdos de estatística:
Introdução e definição de termos estatísticos, freqüências, representação
gráfica, medidas de tendência central e medidas de dispersão.

A questão do uso abusivo de álcool pelos adolescentes

O consumo de drogas cresce mundialmente. Há cerca de 160 milhões


de pessoas que usam maconha, mais os que omitem contar. Os anúncios
que mais ouvimos são sobre bebidas e cigarros; sem falar na quantidade de
remédios prescritos para as mais diferentes doenças ou nas drogas mais
potentes como cocaína, LSD, entre outras. E “boa parte da comunidade escolar
ainda reluta em admitir que isso é parte da realidade” (DIDONÉ; MUTTINI, 2007, p.34).
O álcool é uma droga lícita, comercializada legalmente para pessoas
maiores de 18 anos, sendo responsável por aproximadamente 10% de toda
a mortalidade e morbidade que acontece no país.
É obtido através da fermentação de carboidratos oriundos de alguns
vegetais. Essa fermentação resulta em bebidas com até 10% de álcool puro
concentrado. Por meio do processo de destilação pode-se chegar a
concentrações maiores.
Dentre as inúmeras doenças ou complicações causadas pelo uso
indevido do álcool podemos citar: baixo peso ao nascimento, diversos tipos
de câncer, desencadeamento de depressão unipolar e outras desordens
psiquiátricas existentes, epilepsia, hipertensão arterial, isquemia miocárdia,
doença cérebro-vascular, diabetes, cirrose hepática, envolvimento em
acidentes com veículos, quedas, intoxicações e homicídios (MELONI;
LARANJEIRA, 2004).
10

O uso de álcool causa efeito psicotrópico agindo como depressor do


Sistema Nervoso Central. Suas propriedades euforizantes e intoxicantes
datam remotamente do início da civilização.
Os efeitos que o álcool causa no organismo encontram-se fortemente
relacionados com o nível dessa substância encontrada no sangue, bem
como o tipo ingerido e a velocidade do consumo.
Apresentamos na tabela abaixo alguns desses efeitos salientando
que cada organismo responde de forma diferenciada em relação ao
consumo de bebidas alcoólicas.
Baixo Médio Alto
- desinibição do - Maior falta de - Podem surgir
comportamento: coordenação náuseas e
diminuição da motora; vômitos;
crítica, a pessoa ri - A fala torna-se - Visão dupla;
ou chora por pastosa; - Pode chegar a
motivos poucos - Aumento da estado de
significativos; sonolência; coma;
- certo grau de - Prejuízo das - Pode ocorrer
não-coordenação capacidades de hipotermia e
motora; raciocínio e morte por
- Prejuízo das concentração. parada
funções sensoriais. respiratória.
Tabela 2 – Nível de álcool no sangue (BRASIL – MEC, 2006, p.72).

O uso de bebidas alcoólicas leva à tolerância, isto é, o organismo


necessita cada vez mais maiores quantidades para produzir os mesmos
efeitos. Há também a Síndrome de Abstinência, relacionada aos sintomas
desagradáveis que ocorrem ao cessar a ingestão dessa substância.
Os efeitos do álcool no cérebro de adolescentes são muito mais
devastadores se comparados ao cérebro de adultos, pois atinge regiões
ligadas a memória, aprendizado, autocontrole e motivação.
11

Um estudo feito na universidade da Carolina do Norte concluiu que


ratos novos submetidos a quatro dias de bebedeira intensa apresentaram
danos cerebrais duas vezes maiores que nas cobaias adultas (SOARES, 2006).
Tiba (2006) levanta a questão da atratividade dos comercias de
cerveja, que vendem uma imagem feliz, descontraída e solta de quem bebe
e sugere que debates sejam realizados em sala de aula com algumas
pautas provocativas como: nos comerciais aparece alguém embriagado?
brigando? vomitando? tropeçando nas palavras? sendo atendido no pronto-
socorro?
Sugere ainda que “se não há como evitar o contato dos alunos com bebidas
alcoólicas, é melhor ensiná-los a administrá-las” (TIBA, 2006, p.170).
Como a maior parte dos alcoólatras começam a ingerir bebidas
alcoólicas ainda na fase de adolescência, ou até mesmo na infância,
momentos esses nos quais estão freqüentando sala de aula, tornam-se
possíveis ações educativas para informar e conscientizar os alunos sobre a
questão, este trabalho aponta neste sentido.

Descrição das atividades e discussão

A implementação desta pesquisa aconteceu nos meses de agosto e


setembro de 2008. Foram sujeitos 26 alunos de uma primeira série, período
matutino, de um colégio da rede pública de ensino de um município do
interior do estado do Paraná. Em relação ao gênero os sujeitos eram 15
rapazes e 11 moças com idades entre 14 e 21 anos.
Na matriz curricular do Ensino Médio, etapa final da Educação Básica,
na escola em que a pesquisa foi realizada, bem como na maioria das outras,
a matemática ocupa lugar privilegiado em relação à carga horária, sendo 4
horas-aula semanais de 50 minutos.
12

Após termos tratado sobre as definições de estatística básica


pedimos aos alunos que elencassem perguntas relacionadas ao uso de
álcool. Posteriormente, organizamos essas perguntas em forma de
questionário e distribuímos aos sujeitos solicitando-se que fossem
respondidas individualmente e sem identificação nominal. Os resultados
foram tabulados e utilizados nas aulas para desenvolver os conteúdos
mencionados anteriormente como obrigatórios nesta fase de escolarização.
Observou-se que tanto a atividade de elaboração das perguntas,
como as entrevistas e organização dos dados despertaram a atenção dos
alunos. O fato de estarem opinando e serem ouvidos foi extremamente
motivador para a maioria, de modo que podemos ter certeza que o
envolvimento real do aluno com o conteúdo tratado é fator condicionante
para a aprendizagem acontecer.
A turma foi muito receptiva durante as aulas apesar de ser
considerada pelos professores da escola em questão como indisciplinada.
Em poucos momentos houve a necessidade de chamar a atenção de alunos
devido a conversas paralelas ou distrações.
Ao término de cada aula os alunos eram solicitados a fazer alguma
atividade em casa, mas aproximadamente menos de 30% faziam. Após
conversarmos com a professora tomamos conhecimento que também
durante as aulas regulares a maioria não cumpria as atividades extra-classe.
Também não costumavam trazer calculadora para as aulas.
Inicialmente havíamos planejado a construção dos gráficos
estatísticos no computador com o programa software excel, porém nos
deparamos com alguns obstáculos, primeiro, o laboratório de informática da
escola não era disponibilizado para os alunos usarem, segundo, somente
três alunos tinham conhecimento do programa mencionado e a grande
maioria não tinha computador em casa. Então, para contornar o problema,
os gráficos foram feitos no caderno com lápis, régua, compasso e
transferidor. Ainda sobre o uso desses materiais, muitos alunos
apresentaram dificuldades de manuseio. Verificou-se que alguns não sabem
medir ângulos e mesmo com o auxílio de régua não conseguiam construir
um gráfico de boa aparência.
13

Outro fato que nos chamou a atenção foi a dificuldade apresentada


para aplicar a regra de três direta, sendo que este conteúdo é tratado ainda
no Ensino Fundamental, como apontam as Diretrizes, o que reforça a idéia
de que os conteúdos precisam ser constantemente retomados para que haja
fixação. Observamos também que alguns alunos possuíam dificuldades para
escrever corretamente. Tal fato evidencia que as deficiências de
aprendizagem não se limitam às disciplinas de matemática e estatística,
abrangem também outras áreas do ensino.
Devido ao fato de alguns alunos fazerem uso freqüente de bebidas
alcoólicas (50% dos entrevistados), num primeiro momento, propriamente
nas primeiras aulas, os colegas diziam piadas e riam. Com o
desenvolvimento do conteúdo e considerando a seriedade dispensada ao
tema, que pode ser considerado um problema, foi solucionado.
Também já nas primeiras aulas os alunos mostraram-se interessados
nas questões de avaliação relacionadas às atividades. Questionaram se
haveria ou não avaliação do conteúdo. Houve, nesta, 21 alunos tiraram nota
superior a 6,0, que é a média exigida para aprovação, 4 nota inferior a 6,0 e
houve 1 faltante. Porém, após revisão da prova, 18 se propuseram a fazer
nova avaliação com a intenção de aumentar a nota obtida, sendo que destes
apenas 4 obtiveram nota maior na segunda avaliação. Questão essa que
nos leva a acreditar que o quesito “nota da prova” é muito importante ou o
principal objetivo da maioria dos alunos. As questões relacionadas à
avaliação, embora consideradas por nós da maior relevância, não
constituíram objeto de investigação nesta pesquisa.
Pela importância, e por ser parte constituinte do tema, não podemos
deixar de elencar os resultados da pesquisa estatística realizada entre a
turma: 50% dos alunos têm alguém alcoólatra na família; também 50% dos
entrevistados fazem uso freqüente de bebidas alcoólicas; 20% já esteve em
estado de embriaguez; 70% acreditam que o principal motivo que leva um
jovem a beber é a influência de amigos e a necessidade de ser aceito no
grupo onde existe o consumo de álcool; a maior parte dos alunos
aconselharia um amigo se acaso ele bebesse em excesso; a cerveja é a
bebida mais utilizada; dos que bebem, 31% costumam tomar em casa com
14

os familiares e 69% em bailes e outros eventos sociais; 31% já presenciaram


acidentes de trânsito onde um ou os condutores apresentavam-se
embriagados; 84% dos entrevistados declararam comprar facilmente
bebidas alcoólicas, pois os estabelecimentos comerciais não respeitam a lei
que proíbe a venda de bebidas a menores de 18 anos e 92% dos pais
sabem que os filhos usam bebidas alcoólicas, sendo que 38% não
concordam.
Apresentamos nos gráficos a seguir esses resultados. A leitura e
interpretação destes dados, conhecido como tratamento da informação, foi
realizada nas aulas.

Gráfico 1:

Tem alguém alcoólatra em sua


família?

13 13
entrevistados

15
10
5
0
Sim Não

Gráfico2:

Você consome bebidas alcoólicas?

Sim
50% 50% Não
15

Gráfico 3:

Você já esteve em estado de


embriaguez?

40
21
entrevista
20 5
dos
0
Sim Não

Gráfico 4:

Na sua opinião, qual o principal motivo


que leva um jovem a beber?

10

5 10
7 8
3
1
0 Inf luência de Vontade própria Problemas não Inf luência de Para estar
amigos resolvidos f amiliares incluso no grupo

Gráfico 5:

Se tivesse um amigo que bebesse


exageradamente o que você faria?

20 17

entrevis 10 8
tados
0
Tentaria conversar Ficaria na sua
com ele sobre o
problema
16

Os gráficos a seguir expressam apenas a opinião dos alunos que


fazem uso de bebidas alcoólicas:

Gráfico 6:

Bebidas utilizadas com maior


frequência

10
entrevis
5
tados
0 Cerveja Vinho Caipirinha

Gráfico 7:

Dos entrevistados que bebem, frequentemente


usam bebidas alcoólicas em:

9
10
4
5

0 Bailes e outros eventos sociais Coma f amília, emcasa

Gráfico 8:
17

Já presenciou algum acidente de


trânsito onde um ou os condutores
apresentavam-se embriagados?

31%
Sim
Não
69%

Gráfico 9:

Os estabelecimentos comerciais respeitam a lei


que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para
menores de 18 anos?

Não sei, sou maior de 18 anos

Não

Sim

0 2 4 6 8 10

Gráfico 10:

Os pais dos alunos que usam bebidas alcoólicas


sabem que estes o fazem ? Sim e não
concordam
8%
Sim, mas pensam
que bebo puuco
23% 38%
Sim e concordam

Não sabem

31%
18

Conclusão

Sabemos que tanto a importância de saber matemática, bem como a


dificuldade de aprendê-la, datam de um período remoto. Platão (427 – 347
a.C.), em certa ocasião na qual foi interrogado sobre a importância da
formação matemática respondeu que:

Não se pode de modo algum passar sem essa ciência, pois esta
obriga a mente a conhecer a verdade. Você já reparou que os que
já nascem bons calculadores, mostram em geral, grande aptidão
para o estudo de todas as ciências? E que até os espíritos que se
mostram tardos, pesadões, após se terem instruído e exercitado no
cálculo, adquirem, pelo que se pode observar, maior capacidade de
penetração em tudo mais? Por fim, devo dizer que é difícil encontrar
outras ciências cuja prática mais custe adquirir (Apud CYRINO,
1986, p.24).

A proposta inicial desta pesquisa foi tratar da interface da matemática e


da estatística, analisando o desenvolvimento de tais conteúdos voltados
para a questão do uso abusivo de álcool pelos adolescentes. Traçamos os
objetivos dentro dos seguintes parâmetros: verificar se por meio de
situações reais os alunos apresentam maior interesse pela aprendizagem
matemática e estatística e investigar como está a questão do uso de bebidas
alcoólicas.
Para relacionar o conteúdo de estatística com a questão do uso de
álcool tivemos que dispor de criatividade e disponibilidade. Isso acontece
porque recebemos os assuntos acabados para repassar aos alunos, de
maneira que nos limitamos a ensinar sempre por meio da mesma
metodologia.
Confirmamos que o ensino e aprendizagem da matemática e da
estatística tornam-se mais interessantes quando acontecem por meio de
metodologias que partem de situações concretas. Os alunos participaram
intensamente das atividades expressando curiosidade e interesse.
É conveniente acrescentar, como bem se apresenta nas DCEs -
Diretrizes Curriculares Estaduais (PARANÁ, 2006), que não se trata de limitar o
ensino às questões do cotidiano, porque assim estaremos correndo o risco
19

de ter alunos que não vão além do senso comum. Mas sim, fazer uso de
temas cotidianos para ensinar os conteúdos curriculares.
Desta maneira, também estamos cumprindo uma das funções da
escola: fazer com que os alunos tomem conhecimento das ciências
desenvolvidas pelas diferentes civilizações no decorrer da história,
procurando suas aplicações práticas e/ou procurando solucionar problemas
inerentes a elas.
Consideramos complexa e grave a questão do uso de álcool pelos
adolescentes. Enquanto educadores, cabe-nos conscientizar os envolvidos,
e procurar apresentar a questão de modo a que possa ser tratada
cientificamente em sala de aula. A tarefa que consideramos mais árdua,
supervisionar e exigir do jovem posicionamento a respeito do assunto, é sem
dúvida responsabilidade da família. Se “as drogas, lícitas ou ilícitas, nos ajudam a
negar as constantes evidências do nosso empobrecimento afetivo” (KALINA, 1986, p.16), é
importante que os pais destinem tempo para dar atenção aos filhos,
ouvindo-o e aconselhando-o na solução de seus problemas, conhecendo
seus amigos e interesses, demonstrando amor, tocando-o e abraçando-o
(CABRAL, 2002).
Como educadores, sabemos que muitos alunos mesmo que
aprovados não se apropriam devidamente dos conhecimentos propostos
pela escola. Pois assumimos a premissa de que a complexidade que
envolve o processo de ensino e aprendizagem da matemática e da
estatística abrange fatores externos e internos ao ambiente escolar, de
modo que a responsabilidade, tanto do sucesso como do fracasso, não pode
ser atribuída unicamente à atitude dos alunos ou dos professores, uma vez
que não existem, e não existirão, fórmulas prontas infalíveis que garantam a
aprendizagem dos alunos e o desejo de aprender.
20

Referências

BRASIL. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Média e


tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília:
Ministério da Educação,1999.

BRASIL. Ministério da Educação – Secretaria Nacional Antidrogas. Curso de


prevenção do uso de drogas para educadores de escolas públicas.
Brasília: Editora universidade de Brasília, 2006.

CABRAL, Cecília Barros. Pontos de psicologia escolar. São Paulo: Ática,


2002.

CYRINO, Hélio. Matemática e gregos. Campinas: Átomo, 1986.

COBB, G. Reconsidering Statistics education: a National Science Foundation


Conference. Journal of Statistics Education, 1 (1), 1993.

CORDEIRO, Gauss. Cronologia da estatística, 2005. Disponível em:


<http:www.est.ufba.br. Acesso em 25/11/2008.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática da teoria à prática. São


Paulo: Papirus, 1996.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a


modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

DAVIS, Philip J.; HERSH, Reubem. A experiência matemática. Tradução:


Fernando Miguel Louro e Ruy Miguel Ribeiro. Lisboa: Gradiva, 1995.

DIDONÉ, Débora; MUTTINI, Rúbia. Drogas – só a escola não quer ver.


Revista Nova Escola. Abril, setembro de 2007.
21

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; J.E.M.M. Editores Ltda. Dicionário


Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

GAL, Ildo. Will our students de statistically literate? Connections. National


center on Adult Literacy. May, 14-15, 1995.

GARFIELD, J. Teaching Statistics using small-group cooperative learning.


Journal of Statistics Education, 1 (1), 1993.

KALINA, Eduardo. Viver sem drogas. Rio de Janeiro: Francisco Alves,


1986.

KOSONEN, Peter; WINNE, Philip H. Effects of teaching statical laws on


reasoning about everyday problems. Journal of Educational Psychology.
v.87, n.1, 33-46, 1995.

MACHADO, Nilson José. Matematica e realidade. 2.edição. São Paulo:


Cortez, 1991.

MELONI, José N.; LARANJEIRA, Ronaldo. Revista Brasileira de


Psiquiatria – ISSN 1516 – 4446, volume 26, Suplemento 1, Maio – 2004.

MIECHUANSKI, Denize Cureau. O Ensino da Matemática através de


recurso tecnológico. Dissertação de Mestrado. Palmas: UNICS, 2000.

PARANÁ.Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de


Matemática para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2006.

PONTE, João Pedro. Educação Matemática: Temas de Investigação.


Lisboa: Instituto de Investigação Educacional, 1992.

SMOLE, Kátia C. Stocco; DINIZ, Maria Ignez. Matemática – Ensino Médio,


vol I – 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

SOARES, Ronaldo. Inimigo Íntimo. Revista Veja. Abril: 6 de dezembro de


2006.
22

SOWEY, Eric R. Teaching Statistics: making it memorable. Journal of


Statistics Education, v.3, n.2, 1995.

TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. Novos paradigmas. São


Paulo: Integrare, 2006.

ANEXO I – Modelo de questionário aplicado

Prezado(a) aluno(a),
O presente questionário apresenta as perguntas sobre uso de álcool
realizadas pela sua turma. É uma atividade integrante do Projeto de
Pesquisa sobre Metodologia do Ensino de Estatística, que estou
desenvolvendo no programa PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional) junto a Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
Colabore e responda as questões expressando sua verdadeira
opinião sobre o tema.
Obrigada,
Professora Rosemari Viecili

Idade:____________

Gênero: ( ) Masculino
( ) Feminino

1) Tem alguém alcoólatra em sua família?


( ) Sim
( ) Não

2) Você já esteve em estado de embriaguez?


( ) Sim
( ) Não

3) Já presenciou algum acidente de trânsito onde um ou os condutores


apresentavam-se embriagados?
( ) Sim
23

( ) Não

4) Se tivesse um amigo que bebesse exageradamente o que você faria?


( ) Tentaria conscientizá-lo sobre as conseqüências do uso indevido do
álcool.
( ) Se afastaria.
( ) Ficaria na sua, afinal o problema não é seu.

5) Na sua opinião, qual o principal motivo que leva um jovem a beber?


( ) Influência de amigos.
( ) Vontade própria.
( ) Problemas não resolvidos.
( ) Influência de familiares.
( ) Porque sem bebidas não há diversão.
( ) Para não sentir-se excluído do grupo de amigos.

6) Você consome bebidas alcoólicas?


( ) Sim
( ) Não

Responda as questões a seguir somente se sua resposta para a questão


6 foi AFIRMATIVA.

7) Aonde você costuma beber?


( ) Em bares e lanchonetes.
( ) Bailes e outros eventos sociais.
( ) Com a família, em casa.
( ) Outro local. Qual?______________

8) Qual bebida que você ingere com maior freqüência?


( ) Cerveja
( ) Wisky
( ) Vinho
( ) Outra. Qual?______________

9) Seus pais sabem que você ingere bebidas alcoólicas?


( ) Sim e não concordam.
( ) Sim, mas pensam que bebo pouco.
( ) Sim e concordam.
( ) Não sabem.

10)Os estabelecimentos comercias respeitam a lei que proíbe a venda de


bebidas alcoólicas para menores de 18 anos?
( ) Sim.
( ) Não, pois tenho menos de 18 anos e compro bebidas freqüentemente
em vários locais, como por exemplo ________________________
( ) Não sei, sou maior de 18 anos.

Potrebbero piacerti anche