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A História da Arte em Portugal e a consciência do estudo e salvaguarda

do Património histórico-cultural.

É lugar-comum e verdade indesmentida dizer-se que o estado do Património no nosso país suscita
cuidados e impõe medidas cautelares. São muitos os exemplos de Património histórico-artístico – seja
construído (a arquitetura: religiosa, militar, aristocrática, industrial, civil), móvel (o equipamento:
talha dourada, azulejo, pintura, paramentaria, escultura, ourivesaria, mobiliário), arqueológico ou,
ainda, incorpóreo (imaterial) -- que vivem tempos de ameaça, roubo, descuido, desmemória,
delapidação pura e simples. E, todavia, é ele que melhor define, juntamente com a língua portuguesa,
as especificidades culturais de um território como o nosso, e justifica, por isso, um programa de
salvaguarda em globalidade a partir dos princípios da Gestão Integrada do Património.
A destruição consentida do Património nacional, fruto de políticas descoordenadas, insensibilidade
crescente, valores de auto-menorização e falta de prioridades no esforço de salvaguarda, avisa-nos
para o imperativo de desenvolver uma carta de direitos e deveres de cidadania no campo da fruição
de bens pertença das comunidades. Esse é um dos imperativos de uma Democracia avançada. Na
nova definição de Património sem fronteiras cabe o entendimento artístico das unidades criadas pelas
comunidades ao longo de séculos, atento à especificidade de peças (monumentos, objetos, conjuntos
e espaços) e que só numa perspetiva de globalidade, que a História da Arte assegura, pode ser
integralmente preservada. Nunca é de esquecer que o Património é testemunho de identidade, valor
de inesgotável poder encantatório, mas também é frágil e perecível e exige esforços congregados
das tutelas e pessoas no sentido da sua cabal preservação. A consciência da salvaguarda do
Património artístico, cultural e ambiental impõe um esforço pluridisciplinar que visa congregar a
comunidade científica no seu conjunto e ganha ênfase no trabalho da História da Arte, disciplina cuja
metodologia no estudo de monumentos, espaços e obras a torna ponto de encontro fundamental para
se reforçar a imperiosidade da defesa desses valores-memória e o imperativo político de estratégias
de análise, formação profissional, salvaguarda e fruição adequados às necessidades do nosso
tempo. Esta disciplina, cuja emancipação no quadro científico é uma realidade, está apta a intervir
neste processo de reabilitação, com a metodologia em que se alicerça e com os seus instrumentos
de análise dos conjuntos e obras de arte. É certo que não se defende aquilo que se desconhece; por
isso, a História da Arte vocaciona-se para ativar projetos integrados de estudo, inventário,
salvaguarda e redignificação do Património com outros técnicos da História, Conservação e
Restauro, Museologia, Arqueologia, Turismo Cultural, Arquivística, Antropologia, Arquitetura e
Urbanismo, etc. Cada vez mais o investimento nesta área assume-se mais-valia social.
A História da Arte portuguesa, depois de viver longa etapa de letargia, aprendeu a agir com visão e
prática interdisciplinares, ancorada em três princípios fundamentais, ao assumir: -- a) uma doutrina e
uma base teórica o mais possível alargada; -- b) uma metodologia e uma prática de contornos
pluridisciplinares; -- c) uma ética e uma base de princípios morais em nome da salvaguarda do
património. A História da Arte tem vindo a aprofundar, assim, algumas prioridades, como sejam:
1 -- identificar sem preconceito o seu objeto de estudo;
2 -- contextualizar, datar e revalorizar as obras em estudo;
3 -- definir o seu diagnóstico de conservação, prevenindo eventuais desgastes e perdas;
4 -- intervir no processo de restauro das obras de arte, quando tal é imperativo, formando técnicos
habilitados (IHAs e escolas do Estado, UCP, FRESS-ESAD);
5 -- inventariar as existências com registos em globalidade;
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6 -- investigar de modo sistemático as fontes documentais e arquivísticas;
7 -- analisar as dinâmicas trans-contextuais e trans-memoriais das obras de arte;
8 – estudar as realidades artísticas num alargado contexto que inclui os territórios da
lusofonia e (sem preconceitos redutores) do antigo Império;
9 -- divulgar e revalorizar as obras perante os agentes da sociedade e o público em geral;
10 -- promover um turismo cultural qualificado, alargando alternativas de empregabilidade;
11 -- recuperar obras extraviadas e devolvê-las às comunidades de origem;
12 -- combater os especuladores de espaços históricos e os traficantes de obras de arte;
13 -- promover verdadeiras políticas de Estado neste sector, reforçando meios técnico-
financeiros e poder dialogal entre serviços a nível do Ministério da Cultura e áreas afins.
Em suma: a História da Arte tem vindo a entender o Património como corpo vivo, com
características vivenciais plurais, dialéticas e transformadoras, vendo-o como testemunho artístico
contemporâneo na medida em que afeta o olhar do presente e constitui um garante de legitimação de
identidades. Tornou-se atuante, útil, operativa, socialmente comprometida, apta a dinamizar uma
pesquisa de sensibilidades que visa o entendimento globalizante das obras de arte particulares à luz
da compreensão dos seus «pontos de vista intrínsecos», ou seja, as condições culturais, políticas,
socioeconómicas, laborais, perdurações, continuidades, ideologias, que permitem o entendimento
iconológico das obras.
Recordamos as circunstâncias físicas em que as obras de arte se apresentam com um renovado poder
imagético, que as habilita a serem revalorizadas, definidas em âmbito trans-contextual, capazes de
renovar o olhar de outros públicos que no tempo se sucedem, e com valor distintivo em termos de
documento histórico, de fruição presente e à luz do mercado das artes. Por isso mesmo, importa saber
distinguir as categorias operativas que podem servir de base ao historiador de arte – a Iconografia, a
Icononímia, a Iconologia – e saber intuir os tipos de comportamento das imagens, sendo certo que
elas são sempre geradoras de atos de Iconoclastia e de Iconofilia, numa eterna relação de
dinâmicas sociais e de fascínios permanentemente renovados.
Damos destaque a quatro conceitos operativos que se consideram fundamentais para bom exercício
científico da nossa disciplina:
1. o conceito de Trans-Contextualidade, ou seja (segundo Arthur C. Danto), o estudo do diálogo
fecundo com as obras em atenção ao seu percurso perene de vivências, gerador de novos olhares, e
ao seu percurso de inesgotabilidade de afetos; ajuda a lembrar como o património artístico já foi em
algum momento contemporâneo, isto é, possui capacidades dialéticas que o renovam como objeto de
debates, fascínio, razão de crítica e discussão pedagógica, mesmo que a sua função primitiva
(religiosa, política, festiva, militar ou outra) possa ter sido radicalmente alterada com os tempos. As
obras que formam o Património abrem-se sempre, quando interrogadas em plenitude, a renovadas
contemplações.
2. o conceito de Micro-História da Arte, ou seja, a perscrutação integrada das existências na sua
dimensão periférica ou regional; o conceito interessa à revalorização do Património ao atentar na
valência específica da arte de âmbito regional à luz da noção relativizada de periferismo, alargando a
esfera dos patrimónios a preservar à dimensão muitas vezes desvalorizada das micro-produções
artísticas.
3. o conceito de Cripto-História da Arte, ou seja, o reforço do testemunho memorial com recurso à
'obra de arte morta', e com novo ênfase ao papel do 'fragmento' e do 'indício' como parcela de

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unidades perdidas; o conceito ajuda a alargar a visão do Património remanescente aduzindo-lhe a
memória e o testemunho daquele que, devido a cataclismos ou à incúria, já desapareceu – sem que
tenha deixado de fazer parte integrante de um tecido que urge reconstituir como testemunho
integral de identidades. É por isso que o fragmento é uma fonte essencial de reconstituição das
correntes evolutivas do património e das artes, assume hoje uma grande importância para uma
política de gestão integrada e integral do nosso Património.
4. e o conceito de programa artístico, objeto último da História da Arte, ou seja, o enfoque
iconológico das obras à luz dos seus constrangimentos profundos (sociais, estéticos, políticos,
afetivos, simbólicos) que geram o ato criativo e se expressam na sua imagem final, espécie de jogo
de espelhos marcada por múltiplos comprometimentos ideológicos e fios de comunicabilidade.
Se o Património artístico só ganha pleno sentido se integrado em visão global, a História da
Arte pode ajudar a revalorizar os espaços e obras ditos «menores» e justificar a sua preservação, pois
só assim se entende a caracterização dos mercados, as flutuações de gosto dos artistas e clientelas, o
investimento ideológico dos mercados, os 'ciclos estilísticos' – em suma, tudo o que faz Património e
caracteriza o sentido patrimonial de uma região nas suas especificidades sui generis. Uma política
de gestão integrada do Património Cultural nacional -- ou de uma mais vasta dimensão espacial,
como sucede com a arte do antigo Império português se for vista como uma prioridade de estudos --
deverá assentar no reforço da História da Arte, esteio fundamental de alargamento de uma consciência
democrática de cidadania. Os inimigos são os de sempre: o estado da ignorância, a desonestidade, o
preconceito redutor no olhar para a realidade identitária do Património, a desmemória, a especulação
Quanto trabalho existe neste campo em Portugal - envolve os historiadores de arte, dos mais
velhos às novas gerações de estudiosos, os conservadores-restauradores, os arqueólogos, os
museólogos, os arquitetos -- na perceção dos mecanismos de gosto e primado estético que se fixam,
época a época, e geram património! É imperioso não esquecermos que é ao nível do saber ver em
globalidade e sem preconceito que tudo se inicia e que a consciência da salvaguarda do Património
se reforça - não mais como a 'parcela morta' no campo da Cultura, mas como um corpo único,
coerente e vivo, que impõe estudo e cuidados inadiáveis.

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