Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Sobrevivendo a Fobópole:
A vida de famílias no entorno da Universidade de
Brasília
Elitização da História
1
Segundo Lúcia Leitão, in Não Lugares - Marc Augé (1994), o ritual de entrada, vai muito além do ato de
entrar, é tão importante que valida a relação com aquele ato. Que legitima sensações e sentimentos,
que os torna parte.
classes passa a significar, como nunca antes na história significou, a segregação
social da diversão. A partir desse momento, o lazer passa a ser exclusivamente
associado ao dinheiro.
Isto posto, dialoga-se agora acerca dos moradores de rua e suas
correlações com os atores sociais a sua volta. A partir das entrevistas feitas e da
leitura de Jorge Garcia de Holanda em “Se virando no sistema da rua” (2019) foi
constatado a importância vital que esses outros personagens têm da construção na
memória oral dos entrevistados.
A realidade é que viver na rua é também viver da rua, no sentido de que
ela enquanto lugar espacial, material e simbólico apresenta conjuntos de
possiblidades e de sociabilidades para obtenção de recursos e manipulação de
materiais. Sendo assim, a interação de variados atores e processos sob o morador
de rua, onde este também se torna agente e produtor de um modo de vida
específico e que a ele se torna cotidiano. Na realidade de morador, o processo de
territorialização que pratica constitui-se enquanto modo próprio de ocupar o
espaço público e construir nele tecnologias materiais de produção da vida
cotidiana e de ocupação desses “territórios temporários”.
Durante o processo de entrevistas, foi constatado que os moradores ao
qual nos referimos se uniram através de um período variável de tempo, seja
através de laços familiares, formados anterior e posteriormente à ocupação desses
territórios compartilhados ou por laços de socialização de produtos adquiridos ou
ganhados nas ruas. E, ainda nesses grupos, Gregori (2000) demonstra como é
dinâmico também o fluxo de sociabilidades entre essas pessoas que constroem
além de pontes de solidariedade e compartilhamento de objetos, dividem também
redes de transmissão de memórias orais e saberes relativos a modos de habitar a
rua.
Resgatando identidades
Na primeira seção, área que está mais próxima a quadra 415 Norte, logo
em frente à Colina, se organizam cerca de 12 famílias, entre adultos e crianças,
incluindo Maria, nossa personagem inicial. Ninguém dos moradores, nos deu sua
autorização para que fotos fossem feitas. Por medo da já violenta perseguição
que sofrem naquele espaço a organização espacial das moradias temporárias foi
também alterada: as moradias antes espalhadas a esmo, agora estão apoiadas aos
muros com suas “portas” voltadas para a frente afim da chegada estar sempre em
plano aberto.
No centro do espaço está uma tenda de lona azul com paredes mais frágeis
do que qualquer outra, segundo Maria: “onde as crianças brincam precisa
passar vento e a gente precisa conseguir ver”. Num sentimento comunitário
quase fraterno, ela olha as crianças que ali estão no momento, algumas nem o
nome sabe, mas diz que: “nossos vizinhos ajudam a gente, quando eles
precisam, ajudo também”.
A distribuição retilínea das moradias não demonstra a organização política
estrutural daquele espaço, o que pode ser inferido pela fala de Carlos, nome
também fictício, catador de papel e residente mais antigo dali, que assume o
papel de interlocutor e como um líder diante de todos, passa a explicar a
dinâmica de tudo. O homem de 38 anos explica que desde que foram atingidos
por pedras durante a madrugada e por lixo durante o dia, fica sempre presente um
homem responsável pela segurança do espaço e de proteger os bens do grupo,
enquanto os outros buscam cumprir suas responsabilidades.
Os materiais de reforço das moradias (lonas, madeira, papelão, borracha e
etc) são compartilhados, assim como as doações de comidas vindas dos carros
que param ali. Entretanto somente essa comida é compartilhada, a que é
conquistada a partir de esforço individual fica com cada família: as roupas são
doadas de um a outro e um discurso de preocupação com a saúde, em especial
com o grande acometimento de dengue é balbuciado, principalmente pelo fato de
que as mulheres lavam as roupas de suas famílias conjuntamente no Lago
Paranoá, e entre elas, é alto o índice da febre do mosquito e muito baixo o
número daquelas que são atendidas na rede pública – já que uma das condições
para atendimento é um endereço de referência, e eles não dispõem de um.
Com o cair da noite, a dinâmica da comunidade se intensifica, os
indivíduos que estavam em suas longas caminhadas retornam às suas moradias e
o território comum se torna, através da gigante e fraterna relação de
territorialidade, um local de comunhão e conforto entre essa comunidade.
Fogueiras coletivas para espantar o frio e a neblinada noite da Asa Norte,
embalado entre conversas, gargalhadas e acordes de violão, o momento de
interação dos moradores animada “vila”. Apesar de não carregar presença
arquitetônica ou grandes construções, o espaço social desta comunidade ganha
vida através da simples sobreposição de toras de madeira em chamas, estrutura
simples de materiais comuns, mas que naquele momento, se torna ponto
ritualístico de comemoração coletiva.
Conclusão