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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ILB
Nº 70081645962 (Nº CNJ: 0136505-27.2019.8.21.7000)
2019/CRIME

APELAÇÃO. CÓDIGO PENAL. CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. ART. 168, § 1º, INC.III. APROPRIAÇÃO
INDÉBITA. ADVOGADO.
EXISTÊNCIA DO FATO E AUTORIA.
Depreende-se do contexto probatório que o réu, contratado pela
vítima na condição de Advogado para atuar em ação de
interdição, sacou a importância de R$ 1.779.26, valor que não
repassou à vítima, tampouco prestou as indispensáveis contas. A
vítima somente descobriu a apropriação tempos mais tarde. Todas
essas circunstâncias demonstram dolo de assenhoramento
definitivo.
MAJORANTE EM RAZÃO DO OFÍCIO EMPREGO OU
PROFISSÃO.
Devidamente comprovado que o agente recebeu a coisa em razão
de sua profissão, na medida em que foi contratado para atuar na
condição de advogado, aproveitando-se, inclusive, da relação de
confiança profissional para efetuar o delito.
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
Basilar mantida afastada do mínimo, carga negativa nos
antecedentes. Na segunda fase, mantida a agravante da
reincidência e o quantum de aumento. Pela majorante em razão
do ofício ou profissão, correta elevação em mais 1/3. Pena
mantida.
PENA DE MULTA.
Cumulada à espécie delitiva e não pode ser afastada. No caso,
fixada pouco acima do mínimo legal, proporcional com a pena
corporal, sem motivo para reparo.
REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA.
Corretamente estabelecido no inicial semiaberto, diante da
reincidência.
PENAS SUBSTITUTIVAS.
Inviável a substituição, dada reincidência pela prática de crime
da mesma natureza.
CUSTAS PROCESSUAIS.
Suspensa a exigibilidade.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
Imposto regime semiaberto, e reconhecida a falta de vagas no
regime imposto, conveniente aguardar o trânsito em julgado.
APELO DEFENSIVO PROVIDO, EM PARTE. UNÂNIME.

APELAÇÃO CRIME QUINTA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70081645962 (Nº CNJ: 0136505- COMARCA DE SANTA MARIA


27.2019.8.21.7000)

CARLOS AUGUSTO CARMO CORONEL APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ILB
Nº 70081645962 (Nº CNJ: 0136505-27.2019.8.21.7000)
2019/CRIME

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Criminal do

Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao

apelo defensivo, apenas para afastar a exigibilidade de custas.


Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), as eminentes
Senhoras DES.ª CRISTINA PEREIRA GONZALES E DES.ª MARIA DE LOURDES
GALVÃO BRACCINI DE GONZALEZ.

Porto Alegre, 03 de dezembro de 2019.

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL,


Relator.

RELATÓRIO
DES. IVAN LEOMAR BRUXEL (RELATOR)

CARLOS AUGUSTO CARMO CORONEL, com 64 anos de idade na data


do fato (DN 28/08/1949), foi denunciado e condenado, sentença publicada em 24/09/2018,
por incurso no artigo 168, § 1º, inciso III, do Código Penal.
O fato foi assim descrito na denúncia, recebida em 05/10/2017:

“Em 03 de julho de 2014, em horário não esclarecido, no Banco Banrisul,


em Santa Maria-RS, o denunciado CARLOS AUGUSTO apropriou-se de coisa alheia móvel,
de que tinha posse em razão de profissão, consistente no valor de R$ 1.779,26 (um mil
setecentos e setenta e nove reais e vinte e seis centavos), de propriedade da vítima Maria de
Loreta da Silveira Machado.

Nessa oportunidade, o denunciado ajuizou ação de interdição de Neri Luiz


Machado, como procurador da vítima, bem como fez o levantamento do referido valor
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mediante alvará e não repassou o valor para a vítima, apropriando-se do valor.

Não foi ressarcido o prejuízo da vítima.”

A DEFESA apelou, sustentando atipicidade da conduta e ausência de provas.


Subsidiariamente, requer o afastamento da majorante, redução do quantum de aumento pela
reincidência, revisão do regime carcerário e possibilidade de substituição por restritiva de
direitos. Ainda, requer seja afastado o ressarcimento dos danos causados à vítima.
Oferecida contrariedade.

Parecer pelo improvimento e pela expedição de PEC provisório.


Esse o relatório, disponibilizado no sistema informatizado.

VOTOS
DES. IVAN LEOMAR BRUXEL (RELATOR)

Esta a fundamentação da sentença:

“No caso debatido, a denúncia merece acolhida.


Com relação à materialidade, vem comprovada pelos documentos de
fls. 07, 13, 16/17, 23, 53, 57, 59 e 62, ademais da prova oral coligida.
A autoria é certa.
O réu CARLOS AUGUSTO, interrogado ao final da instrução,
audiovisual da fl. 87, referiu que quando o esposo da vítima ainda era vivo, foi feita uma
interdição, sendo que algum tempo depois, o filho Oberdan se acidentou e o esposo da
vítima lhe deu procuração para também interditar Oberdan. Posteriormente, foi feita uma
nova ação de interdição, mas em nome de Valéria contra Oberdan, tendo sido levantada a
interdição de Neri (esposo falecido da vítima), bem como ajuizou outra ação de aumento de
proventos. Disse que o valor que ficou como resquício teria sido acordado que ficaria com o
réu a título de honorários pelos três processos. Referiu que a vítima tinha conhecimento de
que o depoente ficaria com os valores, pois ela assinou procuração, mas que sobre ficar
com os valores não foi feita declaração escrita. Que não se recorda de ter sido intimado
para prestar contas na 1º Vara de Família. Na época do pedido de alvará estava em
liberdade, mas logo em seguida foi preso (em razão de outro fato). Ainda, que o dinheiro
que Neri lhe entregava todos os meses o depoente depositava em uma conta de ação de
consignação em pagamento referente às prestações da casa de Neri, mas depois que o
mesmo faleceu a vítima não mais entregou os valores.
A vítima MARIA, audiovisual da fl. 87, disse que não sabia que tinha
valores para receber, sendo que em determinado dia recebeu um documento para
comparecer no Fórum, então mostrou a um advogado conhecido para que ele falasse do que
se tratava, tendo ele questionado se a depoente retirou o dinheiro, através de alvará, o que
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foi dito que não tinha feito. Afirmou que, na época, contratou o acusado para proceder à
interdição de seu marido, sendo que o réu em nenhum momento lhe informou que havia
sacado os valores, sequer os repassou. Referiu que firmou contrato de honorários com o
acusado, pois ele há muitos anos era conhecido do falecido marido da depoente. Não se
recorda quanto era cobrado para o réu atuar nos processos, mas se recorda que efetuava o
pagamento mensalmente. Que em certa oportunidade parou de pagar o acusado, pois não
via resultado em um processo. Nunca houve prestação de contas por parte do réu. Depois
que seu esposo faleceu, no ano de 2012, assinou diversos papéis para que o réu desse
andamento aos processos, mas referiu que não lia os documentos. Que sempre foi seu
marido quem tratou com o acusado.
Destarte, embora a alegação do réu, tentando afastar o dolo, tenho que
a prova produzida demonstra, de forma suficiente, a prática do crime imputado ao
denunciado e descrito na inicial acusatória.
Veja-se que o próprio réu confirma que sacou os valores, todavia, tenta
dar ares diversos ao fato, afirmando que teria ficado com o montante em razão de um
acerto verbal que teria feito com o falecido marido da vítima, para quem também prestava
serviço.
Ocorre que a vítima, em Juízo, afirmou que o réu sacou os valores e
não repassou qualquer montante, bem como afirmou que teria firmado contrato de
honorários com o denunciado, sendo que somente tomou conhecimento de os valores teriam
sido sacados quando recebeu uma comunicação do Fórum, ou seja, o agir do réu, sacando
os valores através de alvará e não os repassando à vítima, bem como a forma de agir, sem
qualquer comunicação ou contato com a ofendida, bem denotam o dolo, a intenção do
acusado em apropriar-se de valor dos quais tinha a posse em razão da profissão, tanto que
não efetuou qualquer repasse à ofendida.
Logo, o réu manteve os valores em sua posse bem revelando a intenção
de assenhoramento definitivo, não sendo crível sua versão de teria combinado com o
falecido esposo da vítima que os valores seriam sacados a título de honorários, pois sequer
a ofendida tinha conhecimento de tal fato.
De mais a mais, se havia algum acordo este não envolvia a vítima e
tampouco dizia respeito ao processo de interdição para o qual o réu foi contratado para
atuar em nome da ofendida, valendo destacar que sendo o réu advogado e tendo ele
conhecimento jurídico suficiente não se mostra crível a alegação de ausência de dolo, pois
certo que sabia que não poderia sacar valores em processo diverso, em relação ao qual foi
contratado pela vítima, retirando valores a ela destinado e apropriando-se dos mesmos, ou
seja, o fato de ter advogado para o marido da vítima, em outras ações, não lhe autorizava a
apropriar-se indevidamente de valores em processo judicial diverso e para o qual foi
outorgada procuração onde restaram definidos os honorários em 20% sobre a vantagem
que resultar a ação (fls. 16/17), inexistindo qualquer documento a justificar a apropriação
do total dos valores sacados pelo réu.
Outrossim, vale destacar que a alegação de que teria uma diferença de
honorários a receber do marido da vítima, por ter atuado para aquele em outros feitos, não
restou minimamente demonstrada, tanto que o próprio denunciado afirma que o acerto não
teria sido feito por escrito.
Ressalto, ainda, que ao receber o alvará cabe ao procurador, após
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descontar o que lhe é devido e pactuado com seu cliente, repassar o restante à parte titular
da ação, sendo incabível retirar e reter a totalidade de valores sem que haja concordância
expressa da parte, isto é, documento por escrito, portanto, não restam dúvidas quanto ao
elemento subjetivo do acusado que reteve intencionalmente os valores em razão da sua
profissão.
Aliás, se o réu efetivamente não tivesse tido a intenção de apropriar-se
dos valores certamente já teria efetuado o pagamento à vítima, indenizando-a,
independentemente de qualquer ação judicial, entretanto, o réu nada repassou à ofendida o
que reforça o convencimento da prática do crime.
Portanto, comprovado seu animus rem sibi habendi, não há de se falar
em insuficiência de provas ou de atipicidade da conduta como pretende a defesa, pois a
prova, conforme acima analisada, mostra-se suficiente ao convencimento da prática do
crime de apropriação indébita por parte do denunciado.
Já o argumento da defesa de que o bem jurídico tutelado poderia ser
protegido por outros ramos do Direito, o que retiraria da esfera penal a solução da questão
em exame, não deve ser aplicada no caso em debate, pois se trata de conduta prevista na Lei
Penal Substantiva, não existindo vício de natureza formal ou material a justificar o
afastamento da aplicação da norma penal, haja vista que elaborada pelo Poder Legislativo
competente e sem qualquer resquício de excesso punitivo; ao contrário, a atuação de
profissional que se vale da confiança nele depositada por seu cliente para apropriar-se de
valores de forma ilegal deve ser permanentemente combatida, pois revela agir permeado de
desvalor ético, contrário à conduta esperada e exigida pela sociedade em relação à
atuação profissional do réu, tudo a justificar a intervenção do Direito Penal, não se
mostrando admissível que o acusado, enquanto procurador jurídico da ofendida,
plenamente ciente da responsabilidade de sua função e das consequências de seus atos,
utilize dos poderes conferidos com a outorga da procuração e de suas prerrogativas para
agir em nome da outorgante a fim de sacar valores depositados judicialmente, apropriando-
se integralmente do montante, sem repassá-los (ou o valor a que teria direito) à vítima.
Cabe destacar, ainda, que a descriminalização pretendida pela defesa,
sustentando que questões como a dos autos devem ser resolvidas em esferas diversas, que
não a penal, não convence, pois de condutas como a do réu colocaria em xeque a própria
credibilidade da Justiça – enquanto Poder de Estado – pois banalizaria ações ilícitas
perpetradas em processos judiciais sem que o autor do fato pudesse sofrer qualquer
reprimenda estatal.
Por fim, igualmente não convence o argumento defensivo visando o
afastamento da majorante do § 1º, inciso III, do art. 168 do Código Penal, pois certo que o
réu apropriou-se dos valores na qualidade de advogado da vítima, portanto, em razão da
profissão, teve acesso ao montante e o levantou através de alvará judicial (alvará judicial
de fls. 23/v e ofício do Banrisul juntado à fl. 57).
Portanto, a condenação é a medida que se impõe.
Isso posto, JULGO PROCEDENTE a denúncia oferecida contra
CARLOS AUGUSTO CARMO CORONEL, já qualificado nos autos, para condenar o réu
como incurso nas sanções do art. 168, §1º, inciso III, do Código Penal.
(...)

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O réu, por este processo, poderá apelar em liberdade, pois não se


encontra preso preventivamente, não se fazendo presentes os requisitos a autorizarem uma
segregação acautelatória.
Com o trânsito em julgado: a) lançar o nome do réu no rol dos
culpados; b) oficie-se ao TRE/RS; c) forme-se o PEC e remeta-se à VEC; d) demais
diligências legais.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Santa Maria, 24 de setembro de 2018.
Fabio Marques Welter
Juiz de Direito”

E a justificativa do Parecer:

“Não merece prosperar a irresignação.

Verifica-se que a materialidade do delito está consubstanciada


pelos documentos de fls. 07, 13, 16-17, 23, 53, 57, 59 e 62, bem como pela prova oral
colhida.

A autoria decorre, inequívoca, do contexto probatório.


O apelante, CARLOS AUGUSTO CARMO CORONEL, em juízo,
negou a autoria do delito. Disse que, quando, NERI, esposo da vítima, era vivo, foi feita
uma interdição contra ele. Mencionou que, posteriormente, o filho dele, OBERDAN,
acidentou-se no quartel, pelo que NERI entregou procuração ao apelante para que movesse
interdição contra OBERDAN. Referiu que, ao final, a ação não foi julgada improcedente
devido a NERI ser interditado, pelo que moveu outra ação de interdição, desta vez, de
VALÉRIA, também filha de NERI, contra OBERDAN. Disse que, ao mesmo tempo, entrou
com ação de levantamento da interdição de NERI. Disse que, em virtude disso, o valor que
se apropriou do alvará restou combinado com NERI que seria seu a título de honorários
pelos três processos que ajuizara anteriormente. Relatou que a vítima sabia que iria ficar
com o dinheiro, porém, não fizeram nada por escrito, apenas trataram verbalmente. Não se
recordou se foi intimado para prestar contas sobre o alvará. Narrou que o dinheiro que
NERI lhe pagava mensalmente foi consignado em pagamento para pagar as mensalidades

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da casa deste, e que depois que o mesmo faleceu, não recebeu mais nenhum pagamento (Cd
de fl. 87).
Todavia, sua versão não se sustenta.
A vítima, MARIA LORETA DA SILVEIRA MACHADO, em juízo,
contou que não sabia que tinha valor para receber e, certo dia, recebeu um documento do
fórum, porém, como não entendeu, pediu auxílio para um advogado para que lhe dissesse
do que se tratava. Mencionou que ele perguntou se havia retirado o dinheiro, pelo que lhe
respondeu que não sabia. Aduziu que o advogado, então, explicou que, para que tivesse
retirado o dinheiro, teria que ter ido ao Banrisul, ao que lhe respondeu que não havia ido e,
portanto, o dinheiro ainda não havia sido retirado. Informou que contratou o apelante para
entrar com ação de interdição de seu marido e que em nenhum momento ele a informou que
havia retirado o dinheiro, tampouco lhe passou algum valor. Confirmou que havia feito
contrato escrito de honorários com o apelante, pois o mesmo era advogado de seu falecido
marido. Aduziu que não se recorda o valor cobrado pelo recorrente, porém, referiu que o
pagava por mês. Relatou, contudo, que havia um processo de anos que não era resolvido, e
pagava todo mês, ficou insegura e parou de pagar. Afirmou que o apelante nunca lhe
prestou contas dos valores que tirou do processo de interdição. Narrou que, quando tomou
ciência acerca do dinheiro, seu marido já havia falecido (CD de fl. 87).
Evidente, portanto, a autoria do delito de apropriação indébita.
Assim, diante do relato firme e seguro prestado pela vítima, em
juízo, detalhando os fatos e confirmando a autoria do crime por parte do apelante,
associado aos documentos acostados, principalmente o ofício da fl. 57, onde consta que o
apelante sacou o valor do alvará judicial nº 2746/118-2014, bem como não repassou à
ofendida, verifica-se que existem provas suficientes para a manutenção da condenação.
Aliás, não há de se duvidar do depoimento prestado pela ofendida,
que dá certeza sobre a materialidade do crime e a autoria imputada ao apelante, pois, nesta
espécie de delito, prepondera a palavra da vítima sobre a do réu, inexistindo qualquer
evidência de que esta tenha imputado falsamente o crime.
Nesse diapasão, a jurisprudência desse Tribunal:
APROPRIAÇÃO INDÉBITA. PALAVRA DA VÍTIMA. VALOR. CONDENAÇÃO
MANTIDA. Como se tem afirmado, a palavra da vítima, dada em juízo,
incriminando de forma segura e firme o acusado, é suficiente como prova
condenatória. Especialmente quando não se apontam elementos concretos que
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permitam suspeitar de equívoco, sugestão, ou má-fé. Esta preponderância resulta


do fato de que uma pessoa séria não irá acusar outra da prática de um crime,
quando este não ocorreu. Foi o que ocorreu na hipótese em julgamento. A
declaração da vítima é convincente a respeito da apropriação feita pelo recorrente.
DECISÃO: Apelo defensivo desprovido. Unânime. (Apelação Crime Nº
70036006278, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio
Baptista Neto, Julgado em 10/06/2010). (grifou-se)
Além disso, cumpre ressaltar que a ofendida tampouco tinha
ciência do referido alvará, sendo que apenas tomou conhecimento quando recebeu um
documento do Fórum e pediu orientação a um advogado conhecido.
O apelante, por sua vez, confessou ter recebido o alvará. No
entanto, sua alegação de que o valor teria sido acordado como forma de pagamento de
honorários não restou comprovada por nenhum documento, o que foi confirmado pelo
próprio recorrente.
Assim, o cotejo probatório não deixa dúvidas de que o apelante
agiu com o dolo de se apropriar indevidamente do alvará judicial pertencente à vítima que,
até o presente momento, não foi ressarcida.
Desta forma, deve ser confirmada a sentença condenatória de 1º
grau.
2. Outrossim, comprovado que o apelante apropriou-se do valor
pertencente à vítima no exercício de sua profissão de advogado, uma vez que atuou como
procurador da mesma na ação de interdição de NERI LUIZ MACHADO, marido da
ofendida, conforme procuração de fls. 16-17.
Portanto, deve ser mantida a majorante do inciso III do § 1º do
art. 168 do Código Penal.
3. De igual forma, o quantum de incidência da agravante da
reincidência deverá ser confirmado em 03 meses. Isso porque o aumento se revela
proporcional ao patamar de pena sobre o qual está incidindo, bem como às circunstâncias
do fato.
4. O regime prisional merece ser mantido no semiaberto, tendo em
vista que, muito embora o patamar de pena autorize, em tese, o início do seu cumprimento
em regime aberto, observa-se que a reincidência do apelante impõe que seja fixado o
regime fechado, nos termos do art. 33, § 2º, alínea “c”, do CP.
5. Também não é possível a substituição da pena privativa de

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liberdade por restritiva de direitos ou por multa, uma vez que, além de reincidente, o
apelante possui maus antecedentes, demonstrando personalidade voltada à prática de
ilícitos, não preenchendo, dessa forma, o requisito estabelecido no art. 44, inciso III, do
Código Penal.
6. A pena de multa, por sua vez, veio aplicada em patamar
adequado e razoável, em observância à valoração negativa dos vetores do art. 59 do
Código Penal (art. 59, inciso I, do Código Penal).
7. Por fim, o valor fixado, pelo Juízo a quo, a título de reparação
de danos à vítima não merece ser afastado, pois se mostra desnecessário o expresso
requerimento de tal medida pelo ofendido ou pelo órgão acusador.
Em verdade, a fixação de valor mínimo para a reparação dos
danos causados pela infração constitui elemento obrigatório da sentença, consoante se
depreende do comando inserto no art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, de
seguinte teor:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Desse modo, o requerimento, pela vítima ou pelo Ministério
Público, sobre a necessidade de estipulação do referido valor se torna prescindível, o que é
confirmado pelo seguinte julgado desta Corte Estadual:
APELAÇÃO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO DUPLAMENTE
MAJORADO. MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO. PROVA
SUFICIENTE. 1. MANUTENÇÃO DO DECRETO CONDENATÓRIO. (...). 5.
VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS PELA
INFRAÇÃO. MANUTENÇÃO. Considerando que o fato delituoso objeto desta ação
penal ocorreu em data posterior à entrada em vigor da Lei n.º 11.719/08, a fixação
de valor mínimo de indenização ao ofendido prevista no artigo 387, inciso IV, do
Código de Processo Penal, é medida imperativa. Isso porque, sobrevindo prejuízo
decorrente da infração à vítima e estando este evidenciado nos autos, a aplicação
do aludido preceito legal é cogente, não sendo possível o seu afastamento, sob pena
de violação do Princípio da Legalidade. E, em se tratando de parte integrante do
decreto condenatório, é dever do juiz, ao proferir a sentença, incluir o arbitramento
de montante mínimo a título de reparação. Mantido o valor arbitrado. 6. CUSTAS
PROCESSUAIS. Considerando que o acusado foi assistido pela Defensoria Pública
ao longo do feito, imperiosa a suspensão da exigibilidade das custas processuais.
Apelo parcialmente provido. Por maioria. (Apelação Crime Nº 70052597655,
Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias
Teixeira, Julgado em 28/05/2014)
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No caso concreto, o apelante estava autorizado por meio de


procuração a realizar o levantamento do alvará, contudo, apropriou-se indevidamente da
integralidade do valor, sem que a vítima tivesse conhecimento. Ainda, apenas a título de
argumentação, houve pedido expresso pelo Ministério Público, na denúncia, de fixação de
valor mínimo a ser pago à vítima a título de reparação de danos.
Deste modo, inviável o afastamento da reparação de danos à
vítima.
Por fim, em vista do posicionamento firmado pelo Supremo
Tribunal Federal, no julgamento do HC 126.292/SP, de Relatoria do Ministro Teori
Zavascki, em 17.12.2016, quando a Suprema Corte entendeu que “a execução provisória de
acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso
especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência”, requer-se, in casu, a expedição de mandado de prisão, a fim de que seja
iniciado o cumprimento imediato da pena, em caso de condenação.
Cumpre mencionar, ainda, que a medida não importa em prejuízo
à presunção de inocência, tendo em vista que a decisão de Segunda Instância, como se sabe,
esgota a matéria de prova e que o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário não gozam
de efeito suspensivo (art. 637, CPP, e art. 27, § 2º, da Lei nº 8.038/90), de forma que, neste
dado momento processual, já restou superado o pressuposto de não culpabilidade do réu.
Ademais, ao julgar, recentemente, as ADCs nº 43 MC/DF e nº 44 MC/DF, o STF voltou a se
manifestar a respeito da matéria, consolidando posição, por maioria, de que esse
entendimento não contrasta com a redação do art. 283 do Código de Processo Penal.
Tais fundamentos são suficientes para que se negue provimento à
inconformidade defensiva, determinando-se, inclusive, a expedição do respectivo mandado
de prisão em desfavor do apelante.
Pelo exposto, o Ministério Público, em segunda instância, opina
pelo IMPROVIMENTO do recurso defensivo e pela expedição do respectivo mandado de
prisão, para o imediato cumprimento da pena.
Porto Alegre, 12 de junho de 2019.
GILBERTO A. MONTANARI,
Procurador de Justiça.”

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A existência do fato está demonstrada pelo extrato de depósito judicial


remunerado (fl. 07), comprovante de aplicação em depósito judicial (fl. 13), pela procuração
(fls. 16/17), pelo alvará de autorização (fl. 23), informativo do banco aceca do levantamento
do alvará pelo Procurador (fl. 57), bem como pela prova oral produzida em juízo.
E a prova oral, fundada na palavra da vítima e na negativa do acusado, foi
suficientemente analisada na sentença e também no Parecer, não se mostrando necessário
nova transcrição integral.

Em síntese, a vítima afirmou que havia constituído o réu, na condição de


advogado, para proceder a interdição de seu marido, que veio a falecer. Confirmou que
apenas tomou ciência de que o réu sacou valores quando foi chamada ao fórum. Disse que o
réu jamais repassou nenhum valor. Asseverou que o pagamento a título de honorários era
feito mensalmente, mas dado momento decidiu não pagar mais, pois não via resultado.
Aduziu que o réu jamais prestou contas e que depois do falecimento do seu esposo, assinou
diversos papeis, mas não leu seu conteúdo.
Por sua vez, o réu não negou o saque do valor, pelo contrário, admitiu.
Contudo, asseverou que combinou com o falecido esposo da vítima de que esse valor ficaria
a título de honorários.

Ocorre que, na relação entre advogado e parte é do profissional a obrigação


de prestar as devidas contas, nos devidos prazos, e acautelar-se documentalmente dos
repasse feitos.
E, também aqui, é do profissional a obrigação de resguardar-se, ajustando
contratualmente – por escrito – os honorários, para que tudo seja feito de forma clara e
transparente.

No presente, a vítima afirmou categoricamente que o pagamento a título de


honorários era efetuado mensalmente.

Ademais, no mínimo estranhável a justificativa do apelado de que acordou o


saque com o falecido marido da vítima, afinal de contas, a contratante dos seus serviços era a
ofendida e a ela deveria prestar as devidas contas.
O decurso temporal também evidencia o dolo, afinal, segundo informe do
Banco Banrisul à fl. 57, o saque pelo acusado foi efetuado em 03/07/2014, tendo a vítima

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tomado conhecimento anos mais tarde, por acaso, quando foi chamada ao fórum. Ou seja, o
acusado, durante todo esse tempo, jamais preocupou-se em prestar contas à vítima,
demonstrando nítido dolo de assenhoramento definitivo de coisa que não era sua, mas tinha a
posse.
Com efeito, a condenação nada mais reflete do que aquilo que foi
demonstrado nos autos, ou seja, que o advogado tomou, para si, quantia expressiva de
dinheiro, deixando de fazer o indispensável repasse para a vítima.

Então, depreende-se do contexto probatório que o réu, contratado pela vítima


na condição de Advogado constituído para atuar em ação de interdição, sacou considerável
quantia em dinheiro, exatamente R$ 1.779.26, valor que não repassou à vítima, tampouco
prestou as indispensáveis contas. A vítima somente descobriu a apropriação tempos mais
tarde. Todas essas circunstâncias demonstram dolo de assenhoramento definitivo.
Autoria evidente, não sendo caso de absolvição por falta de provas,
tampouco por atipicidade da conduta.

- MAJORANTE EM RAZÃO DO OFÍCIO, EMPREGO OU PROFISSÃO.


Perfeitamente demonstrada a majorante prevista no artigo 168, § 1º, inciso
III, do Código Penal.
A procuração das fls. 16/17 demonstra que o réu foi contratado na condição
de advogado, estando referido documento devidamente assinado pela vítima.
No caso, devidamente comprovado que o agente recebeu a coisa em razão de
sua profissão, na medida em que foi contratado para atuar na condição de advogado,
aproveitando-se, inclusive, da relação de confiança profissional para efetuar o delito.

Trata-se de majorante objetiva, de aplicação obrigatória, bastando para sua


configuração que o agente tenha se apropriado de coisa alheia móvel em razão de seu ofício
ou profissão.
Nesse sentido, são os precedentes:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. APROPRIAÇÃO


INDÉBITA MAJORADA. MÉRITO. MATERRIALIDADE E AUTORIA. A prova
colhida no feito não deixa dúvidas quanto à materialidade e à autoria do delito de
apropriação indébita. No caso concreto, o réu, na condição de advogado da vítima,

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se apropriou da quantia de R$ 32.253,30, liberada por meio de alvará judicial,


referente a parcelas vencidas da aposentadoria. APENAMENTO. Pena carcerária
mantida, assim como a substituição desta por restritivas de direitos, objetos da
insurgência Ministerial. PRELIMINARES DE OFÍCIO REJEITADAS, POR
MAIORIA. APELO DESPROVIDO. (Apelação Crime, Nº 70079112199, Sétima
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Alberto Etcheverry,
Julgado em: 13-12-2018)

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. APROPRIAÇÃO


INDÉBITA MAJORADA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DEFENSIVO.
PRELIMINARES REJEITADAS. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. CONDENAÇÃO
MANTIDA. PRELIMINARES: (I) prescrição. Não ocorre a prescrição se não
transcorreru o prazo do art. 109, V, do CP, entre os marcos interruptivos. fato
ocorrido no vigor da Lei 12.234/10, que extingiu a prescrição retroativa quanto aos
termos anteriores à oferta da denúncia. (ii) tratando-se de infração cuja pena
mínima, pela majorante denunciada, é superior a um ano, descabe cogitar a
aplicação do disposto no art. 89, da Lei 9.099/95. Prefaciais afastadas.
SUFICIÊNCIA DA PROVA. A prova oral e material é convergente pela palavra da
representante da vítima e pelos documentos colacionados aos autos, restando
comprovado que A apelante se apropriou indevidamente de bem alheio.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA MAJORADA. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.
Pratica o crime de apropriação indébita majorada pelo exercício profissional o
advogado que levanta valores pertencentes A cliente e que deixa de repassar para o
titular do direito a integralidade da quantia sacada. Repasse de cerca de 18% do
valor devido que não afasta o dolo da conduta. Fato exculpante indemonstrado.
PENA. Basilar fixada no mínimo legal. Elevação de 03 meses pelo reconhecimento
da agravante etária, considerando a elevada idade da ofendida. Majorante
reconhecida cuja incidência foi adequadamente aplicada na pena provisória.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA. O sursis é de aplicação subsidiária, só sendo
adequado quando não for cabível a substituição. Inteligência do art. 77, do CP.
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. Valor adequado aos ditames do art. 45, par. 1º, do
CP. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA. Conforme entendimento do Supremo
Tribunal Federal, não há óbice para que se executem provisoriamente penas
restritivas de direito. Cumprimento das medidas impostas determinado. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Crime, Nº 70079415394, Sétima Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandro Luz Portal, Julgado em: 08-
11-2018)

Inafastável, portanto, a majorante.

A condenação, nos termos em que proferida, deve ser confirmada.

- PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.


Conforme sentença:

Em atenção aos vetores do art. 59 do Código Penal, passo à fixação


da pena.

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Quanto à culpabilidade, mostra-se normal à espécie delitiva praticada.


O réu na época dos fatos registrava antecedentes, pois condenado nos feitos
027/2.05.0095784-3 e 027/2.07.0007933-5, com sentenças transitadas em julgado,
respectivamente, em 18/11/2004 e 17/06/2009 (certidão de fls. 89/v e 90v). Inexistem
elementos suficientes para a definição da conduta social e personalidade do denunciado.
Motivos, circunstâncias e consequências normais à espécie. A vítima não colaborou para o
fato.
Sendo assim, considerando a necessidade e suficiência para a
prevenção e reprovação do fato, fixo a pena-base em 1 (um) ano e 03 (três) meses de
reclusão.

Basilar afastada do mínimo legal, carga negativa nos antecedentes.

Estes os feitos considerados:

027/2.05.0095784-3 (número antigo: 2700575936)


3ª Vara Criminal da Comarca de Santa Maria. Proposto em 01/03/2000.
Natureza da Ação: Ordinário.
--- DELITO(S) ---
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 171, cometido em 19/10/1999,
combinado com
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 61, inc. I, cometido em 19/10/1999
» Denúncia recebida em 02/09/2000.
--- SENTENÇA(S) ---
» Sentença Condenatória em 04/12/2002, transitada em julgado em
18/11/2004.
--- PENA(S) APLICADA(S) ---
» 1 ano(s) e 8 mes(es) de reclusão, regime aberto, PENA PECUNIARIA
20 DIAS-MULTA E CUSTAS PROCESSUAIS. substituída por 1 ano(s) de
prestação de serviço à comunidade e 1 ano(s) de limitação de fim de
semana

027/2.07.0007933-5
3ª Vara Criminal da Comarca de Santa Maria. Proposto em 22/05/2007.
Natureza da Ação: Crimes de Apropriação Indébita.
--- INQUÉRITO(S) VINCULADO(S) ---
» Inquérito (Policial) número 2603/2006, aberto em 10/08/2006,
origem: Santa Maria, Santa Maria - 1ª DP
--- DELITO(S) ---
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 168, § 1, inc. III, cometido em
08/11/2002, combinado com
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 61, inc. I, cometido em 08/11/2002
» Denúncia recebida em 01/06/2007.
--- SENTENÇA(S) ---
» Sentença Condenatória em 15/04/2009, transitada em julgado em
17/06/2009.
» Remessa do PEC à VEC em 10/07/2009.
» Extinção ou cumprimento da pena em 22/04/2015.
--- PENA(S) APLICADA(S) ---

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» 2 ano(s) e 4 mes(es) de reclusão, regime aberto substituída por 2


ano(s) e 4 mes(es) de prestação de serviço à comunidade e 06
salário mínimos de prestação pecuniária
» 15 dia(s) de multa a razão de 1/5 S M

Bem demonstrandos os ‘maus antencedentes’ do réu, afinal de contas, fora o


feito considerado para fins de reincidência, otentava outros dois processos criminais com
trânsito em julgado na data do fato, não transcorridos cinco anos desde a extinção ou
cumprimento da pena.
Ainda, estando o aumento proporcional, considerando uma vetorial
desfavorável, a pena-base vai mantida em um ano e três meses de reclusão.

- AGRAVANTES E ATENUANTES.

Como o réu é reincidente, aqui considerado a condenação sofrida no


feito 027/2.08.0015556-4, transitado em julgado em 01/10/2012, com extinção ou
cumprimento da pena em 03/07/2018 (certidão de fl. 91), aumento a pena em 03 (três)
meses, totalizando a pena provisória em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.

Não há agravantes. Ainda que se trate de réu idoso, não incide a atenuante
septuagenária, pois, na data da sentença condenatória, o apelante tinha 68 anos de idade.
Na sequência, a reincidência foi reconhecida pelo seguinte feito:

027/2.08.0015556-4
3ª Vara Criminal da Comarca de Santa Maria. Proposto em 14/10/2008.
Natureza da Ação: Ordinário.
--- INQUÉRITO(S) VINCULADO(S) ---
» Inquérito (Policial) número 1983/2007, aberto em 19/06/2007,
origem: Santa Maria, Santa Maria - 1ª DP
--- DELITO(S) ---
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 356, cometido em 19/01/2007,
combinado com
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 61, inc. I, cometido em 19/07/2007
» Denúncia recebida em 07/11/2008.
--- SENTENÇA(S) ---
» Sentença Condenatória em 19/01/2012, transitada em julgado em
01/10/2012.
» Remessa do PEC à VEC em 11/03/2014.
» Extinção ou cumprimento da pena em 03/07/2018.
--- PENA(S) APLICADA(S) ---
» 1 ano(s) e 4 mes(es) de detenção, regime semi-aberto
» 20 dia(s) de multa a razão de 1/20 salário mínimo vigent4e na
época do fato

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Não há dúvidas acerca da reincidência.

Em que pese os argumentos da defesa técnica, a pena foi agravada em


apenas três meses, estando o quantum proporcional com a pena atual e também com a pena
decorrente do delito gerador da reincidência.
Assim, a pena provisória vai mantida em um ano e seis meses de reclusão.

- CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO.

Considerando a majorante do § 1º, inciso III, do art. 168 do CP, pois o


fato foi praticado pelo réu no exercício de profissão (conforme majorante reconhecida na
fundamentação desta sentença), aumento a pena em 1/3 (um terço), totalizando a pena
provisória em 02 (dois) anos de reclusão, que torno a pena definitiva.

Considerando o aumento obrigatório de 1/3 pela incidência da majorante, a


pena definitiva do réu vai confirmada em dois anos de reclusão.

- PENA DE MULTA.

A pena de multa, considerando as circunstâncias judiciais, vai fixada


em 12 (doze) dias-multa, à razão de 1/30 do maior salário-mínimo vigente na data do fato,
ante a ausência de maiores elementos sobre as condições econômicas do réu.

A pena de multa é cumulativa à espécie delitiva e não pode ser afastada,


independentemente de eventual condição de hipossuficiência do réu.

No caso, a pena em questão restou fixada pouquíssimo acima do mínimo


legal, proporcional com a pena corporal, não havendo motivos para reparo.

- REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA.

O regime de cumprimento da pena privativa de liberdade será o


inicial semiaberto, ou seja, aquele imediatamente mais gravoso, caso o réu não fosse
reincidente.

Não merece prosperar o pedido da defesa para abrandamento do regime.


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Trata-se de réu multirreincidente, não se mostrando adequado fixação de


regime menos gravoso.
Mantido, assim, o regime inicial semiaberto.

- PENAS SUBSTITUTIVAS.

Data vênia, é inviável a substituição da pena privativa de liberdade por


restritiva de direitos.

Ainda que a natureza do delito e a quantidade de pena, nos termos do artigo


44 do Código Penal, em tese, autorizem a substituição, foi reconhecida a reincidência do réu.

Verdade que a reincidência, por si só, não afasta a possibilidade de


substituição.

Segundo artigo 44 e § 3º, do Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de
1998)

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 1o (VETADO)  (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por
duas restritivas de direitos.  (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde


que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo
crime. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)

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Ora, no caso, o acusado ostenta diversas condenações aptas para configurar a


reincidência, entre elas, apropriações indébitas, inclusive majoradas em razão do ofício ou
profissão, impedindo, assim, a substituição da pena.

A reincidência também impede o sursis.

- REPARAÇÃO DO DANO.

O réu deverá ressarcir à vítima em relação ao prejuízo sofrido, ou seja,


no valor de R$ 1.779,26 (um mil, setecentos e setenta e nove reais e vinte e seis centavos),
acrescido de correção monetária pelo IGP-M a contar da data do fato, tudo com força no
art. 387, IV, do CPP.

Estando amplamente comprovado o dano e o valor, o qual foi submetido ao


contraditório judicial e estando expresso na denúncia o pedido, possível a condenação ao
ressarcimento da vítima.
E no caso, o valor de condenação ao ressarcimento foi equivalente ao
prejuízo.
Nada para ser alterado.

- CUSTAS PROCESSUAIS.

Custas pelo réu.

Considerando que o réu foi assistido pela Defensoria Pública, presumível a


hipossuficiência.

Assim, fica, desde já, suspensa a exigibilidade de custas nos termos da lei.

- EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
O Procurador de Justiça, em parecer, opinou pela expedição do respectivo
mandado de prisão e o início imediato do cumprimento da pena.

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Embora conhecida a posição do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, e


também do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, a respeito do tema, a questão ainda é
controvertida.

E sabida a dificuldade de vagas no regime semiaberto, de maneira que


conveniente aguardar o trânsito em julgado.

- CONCLUSÃO.

Voto por dar parcial provimento ao apelo defensivo, apenas

para afastar a exigibilidade de custas.

IILB

13NOV2019
QUA-10H32

DES.ª CRISTINA PEREIRA GONZALES (REVISORA) - De acordo com o(a)


Relator(a).
DES.ª MARIA DE LOURDES GALVÃO BRACCINI DE GONZALEZ - De acordo
com o(a) Relator(a).

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL - Presidente - Apelação Crime nº 70081645962,


Comarca de Santa Maria: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DEFENSIVO,
APENAS PARA AFASTAR A EXIGIBILIDADE DE CUSTAS. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: FABIO MARQUES WELTER

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