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Cédula rural pignoratícia - aditamento. Aval prestado por terceiro. Novação objetiva. Cônjuge -
anuência. Qualificação registral.
CGJSP - Recurso Administrativo: 0000243-90.2016.8.26.0257
Localidade: Ipuã Data de Julgamento: 11/07/2017 Data DJ: 02/10/2017
Relator: MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS,
Lei: CC2002 - Código Civil de 2002 - 10.406/2002 ART: 360 INC: I
1) Para validade da hipoteca prestada por quem figure no fólio como casado em regime de comunhão
universal de bens, de rigor a expressa anuência do cônjuge. Se já divorciados, a exigência somente se esvai
depois do efetivo registro da carta de sentença em que efetuada a partilha do patrimônio do casal, atribuindo-
se o imóvel dado em garantia integralmente ao cônjuge signatário da hipoteca.
2) Na esteira do quanto sedimentado pelo E. STJ, em nova orientação, bem como pelas Câmaras de Direito
Privado deste C. TJSP, o art. 60, §3º, do Decreto 167/67 faz referência ao art. 60, §2º, do mesmo Decreto, de
modo que válido o aval prestado por terceiros em cédula de crédito rural. Revisão da posição anterior deste E.
CSM, tornando-a consonante com os entendimentos do E. STJ e das Ínclitas Câmaras de Direito Privado
desta Corte.
3) Alteração do valor principal da dívida, seus encargos, e forma de pagamento caracterizam evidente
novação, na forma do art. 360, I, do CC. Não se trata de mero aditamento do contrato anterior, ou de singela
prorrogação do prazo de vencimento, de tal modo que inaplicáveis os arts. 12 e 13 do Decreto-Lei 167/67.
Não se há falar, pois, em averbação. Necessidade de prévio cancelamento do registro do contrato originário,
para que o novo pacto seja, por sua vez, registrado.
íntegra
1) Para validade da hipoteca prestada por quem figure no fólio como casado em regime de comunhão
universal de bens, de rigor a expressa anuência do cônjuge. Se já divorciados, a exigência somente se esvai
depois do efetivo registro da carta de sentença em que efetuada a partilha do patrimônio do casal, atribuindo-
se o imóvel dado em garantia integralmente ao cônjuge signatário da hipoteca.
2) Na esteira do quanto sedimentado pelo E. STJ, em nova orientação, bem como pelas Câmaras de Direito
Privado deste C. TJSP, o art. 60, §3º, do Decreto 167/67 faz referência ao art. 60, §2º, do mesmo Decreto,
de modo que válido o aval prestado por terceiros em cédula de crédito rural. Revisão da posição anterior
deste E. CSM, tornando-a consonante com os entendimentos do E. STJ e das Ínclitas Câmaras de Direito
Privado desta Corte.
3) Alteração do valor principal da dívida, seus encargos, e forma de pagamento caracterizam evidente
novação, na forma do art. 360, I, do CC. Não se trata de mero aditamento do contrato anterior, ou de singela
prorrogação do prazo de vencimento, de tal modo que inaplicáveis os arts. 12 e 13 do Decreto-Lei 167/67.
Não se há falar, pois, em averbação. Necessidade de prévio cancelamento do registro do contrato originário,
para que o novo pacto seja, por sua vez, registrado.
Cuida-se de recurso administrativo tirado de r. sentença do MM. Juiz Corregedor Permanente do Oficial de
Registro de Imóveis e Anexos da Comarca de Ipuã, que julgou procedente pedido de dúvida, para o fim de
manter a recusa a averbação de aditamento de cédula rural pignoratícia.
O recorrente afirma, em síntese, já estar o concedente da garantia imobiliária devidamente divorciado, razão
por que desnecessária a anuência do ex-cônjuge para a validade da hipoteca. Sustentou, ainda, a validade da
garantia prestada por terceiro em cédula de crédito rural. Versou sobre a ocorrência de mero aditamento do
contrato originário, refutando tenha havido novação, a tornar prescindível o cancelamento do registro do
contrato inicial.
É o relatório.
Preambularmente, cumpre observar não haver notícia de registro da partilha resultante do divórcio de Mauro
César Clemente e Alessandra Mosconi, casados sob regime da comunhão universal de bens, proprietários do
imóvel dado em hipoteca. Irrelevante o só fato de a partilha já ter ocorrido. Apenas depois de registrada é que
terá, para a hipótese dos autos, relevo jurídico. Enquanto não levada a registro, será de rigor que Alessandra
Mosconi participe do contrato, anuindo com a alteração da garantia.
De outro bordo, a segunda exigência afigura-se descabida, como bem decidiu a r. sentença recorrida. Dispõe
o art. 60, §3º, do Decreto-Lei 167/67:
“Art 60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, no que
forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensado porém o
protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas.
§ 1º O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural não tem direito
de regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas.
§ 2º É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras pessoas jurídicas.
§ 3º Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas
pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas
jurídicas.”
Prevalece, no âmbito deste E. CSM, o entendimento de que a nulidade versada no §3º é alusiva
a garantias prestadas em cédula de crédito rural, nota promissória e duplicata rural,
modalidades elencadas no caput. E era este, também, o posicionamento do E. STJ, que,
todavia, reviu-o a partir de 2014, passando a decidir que o §3º trata de nulidades de garantias
prestadas apenas nas hipóteses do §2º (nota promissória rural e duplicata rural).
É que a redação da norma em análise inicia com o advérbio “também” (“Também são nulas...”), parecendo
remeter às nulidades tratadas no §2º. Esta Altiva Corte Bandeirante seguiu a esteira do E. STJ e igualmente
mudou o entendimento originário. Prevalece, agora, neste Ínclito TJSP, a orientação de que garantias reais ou
pessoais somente serão nulas quando dadas em nota promissória rural, ou duplicata rural, escapando da
nulidade, portanto, o aval prestado em cédula de crédito rural, modalidade elencada no caput, mas não no
§2º do art. 60 referido.
“Cabe observar, inicialmente, quanto à alegação de nulidade do aval prestado pelos apelantes
na cédula rural hipotecária que embasa a ação em tela, que este relator, em casos anteriores
ao presente, acompanhava entendimento do E. Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é
ilegal a garantia prestada por terceiros em cédula rural hipotecária emitida por pessoa física,
em mencionado título, tendo em vista disposto no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67,
entendimento este proferido no julgamento do REsp n. 1.353.244-MS, da Relatoria do Min.
Sidnei Sanches, proferido aos 28/05/2013.
Ocorre, porém, que posteriormente a este precedente, a jurisprudência de referida Corte Superior orientou-se,
quase que em uníssono, no sentido de que a nulidade das garantias reais ou pessoais prevista no parágrafo
3º de citado dispositivo legal diz respeito unicamente à Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, às quais
se reporta o § 2º deste mesmo artigo, ao qual, por sua vez, aquele refere-se diretamente. Este entendimento
não se aplica, portanto, à garantia aqui versada, por referir-se à cédula rural hipotecária.
Em face disso, não há mais razão para manter-se o entendimento anteriormente adotado, porquanto não
mais prevalece perante o E. Superior Tribunal de Justiça e que se vier a ser mantido, obrigará a parte vencida
a socorrer-se perante esse Tribunal, onde, com certeza, obterá sucesso.” (Apelação nº 0000075-
À vista da uníssona interpretação apresentada pelo E. STJ e, principalmente por este C. TJSP, parece
razoável que também a orientação deste E. CSM siga o mesmo prumo, como forma de evitar descompasso
com entendimento uniforme das Ínclitas Câmaras de Direito Privados.
Finalmente, acertada a ultima exigência. Deveras, o que se nota dos termos pactuados é que o documento
apresentado não contém singelo aditamento do contrato originário, senão verdadeira novação objetiva. É que
os elementos principais da avença inicial foram substancialmente alterados.
Com efeito, as mudanças passam não só pelo termo de vencimento, como quer fazer crer o banco
recorrente, mas, igualmente, pela forma de pagamento, pelo valor da dívida principal e pelos encargos
financeiros. Não se trata de mera complementação ao contrato inicial, mas de nítida novação, amoldando-se,
de todo, ao teor do art. 360, I, da Lei Civil.
Como Vossa Excelência já teve oportunidade de decidir, acolhendo parecer da lavra do MM Juiz Assessor
Swarai Cervone de Oliveira:
“As partes pactuaram, por meio do instrumento, a alteração das condições originárias da
cédula de crédito bancário. Poderiam fazê-lo, a teor do art. 29, §4º, da Lei 10.931/04. Até aí,
não se controverte.
Houve mudança do objeto da obrigação, não mera alteração do teor do vínculo obrigacional, não
simples elevação da importância devida; surgiu uma nova dívida em substituição à anterior,
transformada em sua essência, não mera modificação do modo de execução da obrigação,
retirando-se o animus novandi da conduta dos interessados, do conteúdo do acordo entre os
contratantes.
Dentro desse contexto, não há como admitir o acesso do primeiro aditamento ao instrumento
particular de pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia e outras avenças ao fólio real,
pelo menos enquanto não for cancelado o r. 7 da matrícula n.º 158.442, cujos efeitos subsistem
ainda que se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido (artigo 252 da Lei
n.º 6.015/1973).” (Processo 146.225/2013, Des. Renato Nalini, DJ 13/12/13)
A situação, portanto, não se insere dentre as regidas pelos arts. 12 e 13 do Decreto-Lei 167/67, fazendo-se
de rigor prévio cancelamento do registro do contrato anterior, para que este, veiculador da novação, seja, por
sua vez, registrado.
Ante o exposto, o parecer que submeto a Vossa Excelência propõe, respeitosamente, que se negue
provimento ao recurso.
Sub censura.
DECISÃO
Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego
provimento ao recurso administrativo.
Publique-se.
PEREIRA CALÇAS
Corregedor Geral da Justiça