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O Livro de Jó põe metafísica à prova

M ariângela Alves de Lima

E
m um livro que se tornou famoso (O Teatro logo que cada um de nós já trava com o criador
e Seu Espaço), escrito em 1968, o encenador em momentos de angústia.
Peter Brook narra seu esforço para obter, O texto recriado por Luiz Alberto de A-
por meio de vários experimentos, uma “ex- breu e a encenação, dirigida por Antônio Araú-
pressão verdadeira”. Desde então, a idéia de jo, se inspiram nos procedimentos alegóricos do
representação cujo valor reside na autenticida- teatro medieval. O que vemos não é o indiví-
de tornou-se um tanto fora de moda. Tanto duo, mas uma abstração ou uma alma. Nada
quanto outras artes, o teatro de hoje se compraz encobre este núcleo metafísico, investigado pela
no artifício, na exibição insistente de seus pró- consciência. Elementos narrativos como a que-
prios processos de composição. Ao apresentar O da e a revolta são mais tênues do que o teor do
Livro de Jó, o grupo Teatro da Vertigem retoma diálogo.
a intrincada questão do debate entre arte e ver- Não há dúvida de que o espetáculo tem
dade que dominou os anos 60. pesado revestimento material. Atravessamos o
Quem espera do teatro uma noite agra- equipamento hospitalar, sentimos o odor de um
dável, um motivo para discorrer sobre a exce- resquício de desinfetante e seguimos as pegadas
lência dos intérpretes ou do texto, não encon- sangrentas de Jó. Com isso, lembramos de um
trará muita satisfação neste espetáculo. Em vez lugar onde se põe à prova a frágil carcaça hu-
de objeto a ser contemplado, há uma experiên- mana. Mas este espetáculo faz mais do que isso:
cia de tal ordem que só nos resta aceitá-la ou transcende a dualidade entre corpo e espírito e
rejeitá-la como um todo. Jó, sua mulher e seus propõe, com uma verdade que não consegui-
amigos não são personagens críveis, ancorados mos ignorar, um admirável combate.
no substrato histórico do Antigo Testamento.
Não podemos contemplá-las à distância porque
são apresentadas como porta-vozes de um diá- (O Estado de S. Paulo, 17/02/1995)

Mariângela Alves de Lima é crítica do jornal O Estado de S. Paulo e pesquisadora.

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