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Apêndices

Buffon - Discurso sobre o Estilo

APRESENTAÇÃO
George-Louis Leclerc, Conde de Buffon (1707-1788), filósofo naturalista do século
XVIII, autor da monumental Histoire Naturelle, é sobretudo mencionado (e suposta ou
parcialmente conhecido!) por uma só frase: “Le style, c’est l’homme même”, que aparece neste
famoso Discurso de recepção na Academia Francesa, pronunciado a 25 de Agosto 1753.

E, como tantas vezes aconteceu na história do pensamento com outras frases, também esta
foi desvirtuada ou desviada na sua interpretação e utilizada fora de contexto, suscitando ou
desencadeando embora, de modo paradoxal, diferentes matizes e linhas de reflexão, não
presentes na mente do seu autor e que vão além do seu intento.

Buffon, que escreveu sobre o estilo, foi já criticado, no seu tempo, pelos enciclopedistas e
por Condorcet, justamente quanto ao seu estilo. Mas o seu discurso foi muito apreciado pelos
românticos (por exemplo Baudelaire, Flaubert e Barbey d’Aurevilly) que, com muitos outros
depois deles, interpretaram e subverteram a sua famosa frase. Ou seja, consideraram o estilo
sobretudo como expressão do indivíduo criador, como marca e sintoma pessoal, como tradução
e concreção de uma idiossincrasia específica, única e intransmissível – o que já nem sequer
constituía uma novidade absoluta, pois também Petrarca, numa perspectiva individualista, havia
vislumbrado no “stilus” a expressão adequada do “ingenium”. Esta fora igualmente a posição do
contemporâneo setecentista alemão, Hamann, mas não a do escritor francês, que porventura se
avizinha mais dos clássicos latinos (Cícero, Quintiliano), para os quais o estilo surgia sobretudo
como “modus dicendi” e se referia, de modo particular, à arte oratória e ao valor veritativo dos
argumentos em prol da persuasão.

De facto, o acento de Buffon é predominantemente normativo, recai sobre o carácter da


exposição científica, sugere o elogio da escrita que difere da oralidade ou linguagem falada;
insiste na relação harmónica e justa que deve existir entre conteúdo e forma, na coesão, na ordem
e na urdidura dos pensamentos que se devem entrelaçar de acordo com a sua relevância e a sua
afinidade intrínseca, deixando de lado as noções menos pertinentes. A beleza do estilo concerne,
pois, ao travamento interno das ideias e à sua potência de verdade em torno de um tema nuclear;
diz respeito ao movimento e à coerência das razões, à pertinência e ensambladura lógicas da
argumentação e da descrição do objeto, à arquitetura de um plano que se vai transformando em
obra, e não tanto ao carácter literário. Daí a comparação do estilo com as obras da natureza, que
se desdobram, evoluem e se desenrolam segundo uma legalidade interna, nelas impressa pelo
Criador; daí também, como corolário, a distinção entre “talento” e “génio”. Este último, dom
natural, ao proceder necessariamente segundo “regras”, ao criar consistência, clareza, rigor,
graças ao trabalho do discernimento intelectual, suscitará no espírito aprazimento, calor,
vitalidade e consonância consigo mesmo – ou seja, a ressonância subjetiva despertada pela
ordem objetiva do estilo, que está ao serviço da descoberta da verdade e não da
pura expressão da subjetividade.

Não obstante a elegância do dizer de Buffon, a falta de alguma clareza no seu conceito de
“estilo” proporcionou a este uma certa abertura e indefinição, que inspira muitas variantes
hermenêuticas e constitui, em parte, a sua relevância e o seu poder de sugestão, que se conserva
até hoje.
O leitor interessado e mais diligente encontrará o original francês no seguinte electro-sítio:
Buffon, Discours sur le Style. Também poderá consultá-lo na página electrónica da Academia
Francesa: Immortels. E se pretender fazer uma ideia mais completa de Buffon, é bom que
mergulhe na sua obra capital, a Histoire Naturelle, presente neste sítio: CNRS.

Artur Morão Loures, maio de 2011.

Discurso sobre o Estilo

George-Louis L. de Buffon, 25 de Agosto de 1753

Senhores,

Cumulastes-me de honra ao chamardes-me para o meio de vós; mas a glória só é um bem


enquanto dela se é digno, e não me convenço de que alguns ensaios escritos sem arte e sem outro
ornamento a não ser o da natureza sejam títulos suficientes para me atrever a tomar lugar entre
os mestres da arte, entre os homens eminentes que representam aqui o esplendor literário da
França, e cujos nomes, celebrados hoje pela voz das nações, retumbarão ainda com brilho na
boca dos nossos últimos vindouros. Outros motivos tivestes, Senhores, ao lançar os olhos sobre
mim; quisestes dar à ilustre companhia a que desde há muito tenho a honra de pertencer um novo
sinal de consideração: o meu reconhecimento, embora dividido, não será menos vivo. Mas como
satisfazer o dever que ele impõe, neste dia? Tão só tenho para vos oferecer, Senhores, o vosso
bem próprio: algumas ideias sobre o estilo, que respiguei nas vossas obras; foi ao ler-vos, foi ao
admirar-vos, que elas foram concebidas; submetendo-as às vossas luzes, elas hão de surgir com
algum sucesso.

Em todas as épocas houve homens que souberam ordenar aos outros pelo poder da palavra.
Todavia, foi só nos séculos ilustrados que bem se escreveu e bem se falou. A verdadeira
eloquência pressupõe o exercício do génio e a cultura do espírito. Ela é muito diferente da natural
facilidade de falar, que não passa de um talento, de uma qualidade concedida a todos aqueles
cujas paixões são fortes, cujos órgãos são lestos e a imaginação pronta. Tais homens sentem
vivamente, comovem-se até, e assim o assinalam no exterior; e por uma impressão puramente
mecânica transmitem aos outros o seu entusiasmo e os seus afetos. É o corpo que fala ao corpo;
todos os movimentos, todos os sinais concorrem e igualmente coadjuvam.

Que é necessário para excitar e arrastar a multidão? Que é necessário para abalar até a
maior parte dos outros homens e os persuadir?

Um tom veemente e patético, gestos expressivos e frequentes, palavras impetuosas e


sonantes. Mas para o pequeno número daqueles cuja cabeça é consistente, delicado o gosto e
apurado o sentido, e que, como vós, Senhores, não dão grande valor ao tom, aos gestos e ao som
fútil das palavras, requerem-se coisas, pensamentos, razões; é necessário saber apresentá-los,
matizá-los, ordená-los; não basta impressionar o ouvido e ocupar os olhos; importa, quando se
fala ao espírito, agir sobre a alma e tocar o coração.

O estilo é apenas a ordem e o movimento que se instaura nos seus pensamentos. Se eles
forem encadeados de modo apropriado, se forem ajustados, o estilo torna-se robusto, nervoso e
conciso; se eles se sucederem de forma lenta e se juntarem apenas por meio das palavras 1, por
elegantes que sejam, o estilo será difuso, desligado e moroso.

Mas, antes de buscar a ordem em que se hão de apresentar os seus pensamentos, é


necessário erigir uma outra mais geral e mais sólida, onde devem ingressar unicamente as
primeiras noções e as principais ideias: ao assinalar o seu lugar neste primeiro plano é que um
tema será circunscrito e se conhecerá o seu alcance; ao rememorar incessantemente estes
primeiros esboços é que se determinarão os justos intervalos que separam as ideias principais, é
que germinarão ideias acessórias e intermédias que hão de servir para os colmatar. Pela força do
génio, representar-se-ão todas as ideias gerais e particulares sob o seu verdadeiro ponto de vista;
graças a uma grande acuidade de discernimento, distinguir-se-ão os pensamentos estéreis dos
pensamentos fecundos; devido à sagacidade facultada pelo grande hábito de escrever,
reconhecer-se-á de antemão qual será o produto de todas estas operações do espírito. Mesmo
que o tema não seja vasto ou complicado, é muito raro que ele se possa abarcar com um simples
relance de olhos ou nele entrar em cheio com um só e primeiro esforço de génio; e mais raro é
ainda que, após muitas reflexões, se captem todas as suas relações. Não é, pois, possível ocupar-
se dele em demasia; é até o único meio de corroborar, de estender e elevar os seus pensamentos:
quanto mais substância e força se lhes der pela meditação, tanto mais fácil será, depois, realizá-
los pela expressão.

Este plano não é ainda o estilo, mas é a sua base; sustenta-o, dirige-o, ordena o seu
movimento e submete-o a leis; sem isso, transvia-se o melhor escritor, move-se sem guia a sua
pena e lança ao acaso traços irregulares e figuras discordantes. Por brilhantes que sejam as cores
que ele emprega, sejam quais forem as belezas que semeia nos pormenores, como o conjunto
desagradará ou não se fará sentir, a obra não será construída e, ao admirar-se o espírito do autor,
poderá suspeitar-se de que ele carece de génio. É por esta razão que os que escrevem como falam,
embora falem muito bem, escrevem mal; que os que se abandonam ao primeiro fogo da sua
imaginação tomam um tom que não conseguem suster; que os que receiam perder pensamentos
isolados, fugidios, e que escrevem em ocasiões diferentes fragmentos soltos, nunca os reúnem
sem transições forçadas; que, numa palavra, há tantas obras feitas de pedaços de ligação, e tão
poucas que sejam fundidas de um só jacto.

No entanto, todo o tema é uno; e, por vasto que seja, pode encerrar-se num só discurso.
As interrupções, as pausas, os segmentos não deveriam utilizar- se a não ser quando se abordam
temas diferentes, ou quando, sendo necessário falar de coisas grandes, espinhosas e díspares, a
marcha do génio se vê interrompida pela multiplicidade dos obstáculos e constrangida pela
necessidade das circunstâncias: de outra maneira, o grande número de divisões, longe de tornar
uma obra mais sólida, destrói a sua juntura; o livro aparece mais claro aos olhos, mas o desígnio
do autor permanece obscuro; não pode causar impressão no espírito do leitor, nem sequer
consegue fazer- se sentir a não ser pela continuidade do fio, pela dependência harmónica das
ideias, por um desenvolvimento sucessivo, uma gradação sustentada, um movimento uniforme
que toda a interrupção destrói ou faz esmorecer.

Porque são tão perfeitas as obras da natureza?

É que cada obra é um todo, atua segundo um plano eterno do qual ela nunca se desvia;
prepara em silêncio os germes das suas produções; esboça por um ato único a forma primitiva
de todo o ser vivo; desenvolve-a, aperfeiçoa-a por um movimento contínuo e num tempo
prescrito. A obra causa assombro; mas a marca divina, cujos traços ela traz consigo, é que nos
deve impressionar. O espírito humano nada pode criar; só produzirá após ter sido fecundado pela
experiência e pela meditação; os seus conhecimentos são os germes das suas produções: mas se
imitar a natureza na sua marcha e no seu labor, se pela contemplação se elevar às verdades mais
sublimes, se as reunir, se as encadear, se delas formar um todo, um sistema pela reflexão,
estabelecerá em alicerces inabaláveis monumentos imortais.

É por ausência de plano, por não ter refletido bastante sobre o seu objeto que um homem
de espírito se encontra embaraçado e não sabe por onde começar a escrever. Apercebe-se, ao
mesmo tempo, de um grande número de ideias; e como não as comparou nem subordinou, nada
o determina a preferir umas às outras; permanece, portanto, na perplexidade. Mas quando tiver
feito um plano, quando tiver reunido e ordenado todos os pensamentos essenciais ao seu tema,
facilmente se dará conta do instante em que deve pegar na pena, reconhecerá o ponto de
maturidade da produção do espírito, será forçado a fazê-la desabrochar, sentirá apenas prazer em
escrever: as ideias suceder-se-ão com agilidade e o estilo será natural e fácil; o calor brotará deste
prazer, espalhar-se-á por toda a parte de e dará vida a cada expressão; tudo se animará cada vez
mais; o tom elevar-se-á, os objetos ganharão cor; e o sentimento, aderindo à luz, aumentá-la-á,
levá-la-á mais longe, fará que ela passe do que se diz ao que se vai dizer, e o estilo tornar- se-á
interessante e luminoso.

Nada se opõe mais ao calor do que o desejo de pôr em toda a parte traços salientes; nada
é mais contrário à luz, que deve originar um corpo e expandir-se uniformemente num escrito, do
que estas centelhas que se extraem só á força, fazendo embater as palavras umas nas outras, e
que nos deslumbram por alguns instantes apenas para, em seguida, nos deixarem nas trevas. São
pensamentos que cintilam apenas pelo contraste: apresenta- se tão-só um lado do objeto, deixam-
se na sombra todas as outras faces; e habitualmente este lado que se escolhe é uma ponta, um
ângulo no qual se faz atuar o espírito com tanto maior facilidade quanto mais nos afastamos das
grandes vertentes sob as quais o bom-senso costuma encarar as coisas.

Nada é ainda mais contrário à verdadeira eloquência do que o emprego destes pensamentos
refinados e a busca destas ideias ligeiras, desligadas, sem consistência, e que, como a folha do
metal batido, só ganham fulgor ao perder a sua solidez. Por isso, quanto mais num escrito se
instilar algo deste espírito delicado e brilhante, tanto menos ele terá nervo, luz, calor e estilo; a
não ser que este espírito seja ele próprio o fundo do tema, e que o escritor tenha apenas como
objeto o gracejo: então a arte de dizer pequenas coisas torna-se talvez mais difícil do que a arte
de dizer as grandes.

Nada há de mais antagónico ao belo natural do que o esforço que se emprega para exprimir
coisas ordinárias ou comuns de um modo singular ou pomposo; nada degrada mais o escritor.
Longe de o admirar, lamenta-se que ele tenha passado tanto tempo a fazer novas combinações
de sílabas, para dizer tão-só o que toda a gente diz. Este é o defeito dos espíritos cultivados, mas
estéreis; têm palavras em abundância, mas não ideias; trabalham, pois, com as palavras e
imaginam ter combinado ideias, porque arranjaram frases, e julgam ter depurado a linguagem
quando, na verdade, a corromperam, desviando as acepções. Estes escritores não têm um estilo
ou, se quisermos, têm apenas a sua sombra. O estilo deve gravar pensamentos: eles sabem
unicamente rabiscar palavras.

Para bem escrever, importa, pois, dominar plenamente o seu tema, é necessário refletir
bastante sobre ele para divisar com clareza a ordem dos seus pensamentos e deles elaborar uma
sequência, uma cadeia contínua, em que cada ponto representa uma ideia; e quando se pegar na
pena, será necessário guiá-la ordenadamente acerca deste primeiro traço, sem lhe permitir
desviar-se, sem a apoiar de forma demasiado incerta, sem lhe incutir outro movimento exceto o
que há de ser determinado pelo espaço que ela deve percorrer. É nisso que consiste a severidade
do estilo; é também isso o que fará a sua unidade e regulará a sua presteza, e só isso bastará
também para o tornar preciso e simples, igual e claro, vivo e contínuo. Se a esta primeira regra,
ditada pelo génio, juntarmos a delicadeza e o gosto, o escrúpulo sobre a escolha das expressões,
a atenção para nomear as coisas tão só pelos termos mais gerais, o estilo terá nobreza. Se lhe
juntarmos ainda a desconfiança perante o seu primeiro movimento, o desprezo por tudo o
que é apenas brilhante e uma repugnância constante pelo equívoco e pelo chiste, o estilo terá
gravidade, terá até majestade.

Se, por fim, se escrever como se pensa, se se estiver convencido do que se pretende
insinuar, esta boa fé consigo mesmo, que suscita o respeito pelos outros e a verdade do estilo,
levá-lo-á a produzir todo o seu efeito, contanto que esta persuasão interior se não assinale por
um entusiasmo demasiado forte, e que tenha em toda a parte mais candura do que confiança,
mais razão do que ardor.

Era assim, Senhores, que me parecia, ao ler-vos, que vós me faláveis, que me instruíeis.
A minha alma, que recolhia com avidez estes oráculos da sabedoria, queria levantar voo e elevar-
se até vós; inúteis esforços! As regras, dizíeis-me ainda, não podem suprir o génio; se este faltar,
elas serão inúteis. Escrever bem é, ao mesmo tempo, bem pensar, bem sentir e bem reproduzir;
é ter, ao mesmo tempo, o espírito, alma e gosto. O estilo supõe a reunião e o exercício de todas
as faculdades intelectuais. As ideias, só por si, formam o fundo do estilo, a harmonia das palavras
é tão só o acessório e depende apenas da sensibilidade dos órgãos; basta ter um pouco de ouvido
para evitar as dissonâncias e tê-lo exercitado, aperfeiçoado pela leitura dos poetas e dos oradores,
para que mecanicamente se seja levado à imitação da cadência poética e dos giros oratórios.

Ora a imitação nunca criou nada: por isso, a harmonia das palavras não constitui nem o
fundo nem o tom do estilo e encontra-se, muitas vezes, em escritos desprovidos de ideias. O tom
é apenas o ajustamento do estilo à natureza do assunto, jamais deve ser forçado; emanará
espontaneamente do próprio fundo da coisa e dependerá muito do ponto de generalidade a que
se tiver conduzido os seus pensamentos. Se alguém se tiver elevado às ideias mais gerais, se o
objeto for grande em si mesmo, o tom parecerá elevar-se à mesma altura; e se, ao sustê-lo nesta
elevação, o génio proporcionar o suficiente para dar a cada objeto uma luz intensa, se for possível
acrescentar a beleza do colorido à energia de desenho, em suma, se alguém conseguir representar
cada ideia por uma imagem viva e bem acabada e elaborar de cada sequência de ideias um quadro
harmonioso e animado, o tom não só será elevado, mas sublime.

Aqui, Senhores, a aplicação faria mais do que a regra; os exemplos instruiriam melhor do
que os preceitos; mas, como não me é permitido citar os fragmentos sublimes que, tantas vezes,
me transportaram, ao ler as vossas obras, sou obrigado a restringir-me a reflexões. As obras bem
escritas serão as únicas que passarão à posteridade: A quantidade dos conhecimentos, a
singularidade dos fatos, a própria novidade das descobertas não são garantias seguras da
imortalidade: se as obras que os contêm versarem sobre objetos minúsculos, se estiverem escritas
sem gosto, sem nobreza e sem génio, perecerão, porque os conhecimentos, os factos e as
descobertas facilmente se arrebatam, se transportam e lucram até com ser realizados por mãos
mais hábeis.

Tais coisas são exteriores ao homem, o estilo é o próprio homem. O estilo não pode, pois,
nem arrebatar-se, nem transportar-se, nem alterar-se: se for elevado, nobre, sublime, o autor será
igualmente admirado em todos os tempos; porque só a verdade é duradoura e, inclusive, eterna.
Ora um belo estilo só é tal, de fato, pelo número infinito das verdades que expõe. Todas as
belezas intelectuais que nele se encontram, todas as relações de que ele é composto, são outras
tantas verdades igualmente úteis, e talvez mais preciosas para o espírito humano do que aquelas
que podem constituir o fundo do tema.
O sublime só pode encontrar-se nos grandes temas. A poesia, a história e a filosofia têm,
todas, o mesmo objeto e um objeto muito grande, o homem e a natureza. A filosofia descreve e
pinta a natureza; a poesia pinta-a e embeleza-a: pinta igualmente os homens, engrandece-os,
exagera-os, cria os heróis e os deuses. A história pinta apenas o homem, e pinta-o tal como é:
por isso, o tom do historiador só se tornará sublime quando fizer o retrato dos grandes homens,
quando expuser as ações maiores, os movimentos mais importantes, as revoluções mais
significativas; e, aliás em toda a parte, bastará que ele seja majestoso e grave. O tom do filósofo
poderá tornar-se sublime, sempre que falar das leis de natureza, dos seres em geral, do espaço,
da matéria, do movimento e do tempo da alma, do espírito humano, dos sentimentos, das
paixões; quanto ao mais, bastará que ele seja nobre e elevado. Mas o tom do orador e do poeta,
contanto que o assunto seja grande, deve sempre ser sublime, porque eles são os mestres que
juntam à grandeza do seu tema tanta cor, tanto movimento, tanta ilusão quanto lhes aprouver
e que, ao terem sempre de pintar e engrandecer os objetos, devem igualmente, em toda a parte,
aplicar toda a força e desdobrar toda a amplitude do seu génio.

APELO AOS SENHORES DA ACADEMIA FRANCESA

Que grandes objetos, Senhores, impressionam aqui os meus olhos! E que estilo e que tom
se deveria empregar para dignamente os pintar e representar! A elite dos homens é a assembleia;
a Sabedoria que está à sua cabeça, a Glória, sentada no meio deles, difunde os seus raios sobre
cada um e cobre-os a todos com um brilho sempre idêntico e sempre renascente.

Traços de uma luz mais viva emanam ainda da sua coroa imortal e vão concentrar-se na
fronte augusta do mais poderoso e do melhor dos reis. Vejo este herói, este príncipe adorável,
este soberano tão caro. Que nobreza em todos os seus traços! Que majestade em toda a sua
pessoa! Quanta alma e doçura natural nos seus olhares! Ele volta-os para vós, Senhores, e
brilhais com um novo fulgor, um ardor mais vivo vos incandesce; ouço já os vossos divinos
acentos e os acordes das vossas vozes; juntai-los para celebrar as suas virtudes, para cantar as
suas vitórias, para aplaudir em vista da nossa ventura; juntai-los para fazer brilhar o vosso zelo,
expressar o vosso afeto e transmitir à posteridade sentimentos dignos deste grande príncipe e dos
seus descendentes. Que concertos! Entram bem fundo no meu coração; serão imortais como o
nome de Luís.

Ao longe, que outro proscénio de grandes objetos! O Génio da França, que fala a Richelieu
e lhe dita, ao mesmo tempo, a arte de ilustrar os homens e de fazer reinar os reis; a Justiça e a
Ciência, que guiam Séguier e o elevam conjuntamente ao primeiro lugar dos seus tribunais; a
Vitória, que avança a passos largos e precede o carro triunfal dos nossos reis, onde LUÍS O
GRANDE, sentado em troféus, com uma mão concede a paz às nações vencidas e, com a outra,
reúne neste palácio as Musas dispersas. E junto de mim, Senhores, que outro objeto interessante!
A Religião em pranto, que vem buscar o órgão da Eloquência para exprimir a sua dor, e que
parece acusar-me de suspender, durante demasiado tempo, os vossos lamentos sobre uma perda
que todos, com ela, devemos sentir.

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1 - Neste sentido no ensina Albalat - As frases devem ligar-se, não com atilhos fictícios,
mas com a lógica da ideia, com a força do pensamento. Devem prosseguir a par,
indissolúveis, mas parecendo que não estão ligadas. Há casos, já se vê, em que tais
ligações são indispensáveis e produzem o melhor efeito; é somente contra o abuso que
protestamos. Supõe-se que essas partículas encadeiam as frases, as tornam mais
correntias ou mais sólidas. Pelo contrário, vê-se-lhes a fraqueza, porque é evidente a
soldadura, e porque a verdadeira transição depende do espírito de uma frase e não de
uma junção mecânica.

Assimilação de Autores - Técnica da Compactação

Quais são os exercícios práticos mais eficientes para o aperfeiçoamento da


linguagem através da imitação dos escritores?

A própria imitação! Pegue um escritor, um que você gosta, à sua escolha. Leia
aquele sujeito dia e noite, e tudo que você for escrever, escreva como se fosse ele. Cada
um tem uma técnica diferente. Eu acho que um autor que pode ser muito útil para
escrever é o Graciliano Ramos, [porque] a técnica dele é muito simples e qualquer
um pode aprender: como você faz para decompor as coisas em frases curtas, cortando
as palavras desnecessárias e compactando, compactando, compactando. É uma técnica:
você vai aprender a compactar.

Só que isso não é tudo. E depois de aprender isso, você vai aprender outra coisa,
e outra coisa. Escolha um e escreva como ele até você se cansar. Quando cansar, você
passa para outro. Só não pode viciar — você pegar um primeiro e grudar naquilo. Eu
acho que o Graciliano Ramos fez um mal desgraçado para o ensino da escrita no Brasil,
porque todo mundo queria escrever como ele, então parece que cortar tudo e dizer tudo
com um mínimo de palavras é o supra-sumo e a única técnica que tem. Não, isso é uma
técnica entre milhares. Se você sugerisse isso, por exemplo, a Marco Túlio Cícero, ele
jamais aceitaria uma coisa dessas. Para que você vai dizer com uma palavra se com
duas fica mais claro? Tudo depende do que você quer. Você vai ter de ir selecionando
os instrumentos de acordo com aquilo que você quer. A imitação se destina a acumular
recursos.

Eu prefiro a técnica da imitação a estudar as análises estilísticas sobre o escritor,


porque você só vai compreender as análises estilísticas se já tiver uma espécie de
antevisão do que elas vão dizer. Por exemplo, a seleção do vocabulário: você leu
bastante o escritor, sem ter lido nenhum estudo a respeito dele, já sabe um monte de
coisas a respeito da seleção do vocabulário dele, sem que você saiba expressar aquilo
tecnicamente. Daí, quando lê o estudo que expressa aquilo tecnicamente, você diz: “Ah,
é disso que o sujeito estava falando!” Essa coisa da antecipação — você procurar saber
o máximo de coisas pela experiência direta, para que depois, quando venha a reflexão,
ela tenha um objeto presente — é básico. [O contrário] é assim: você pega um sujeito
semi-analfabeto, ele entra em uma faculdade de Letras e vai aprender lá análise
estilística, análise estrutural. Isso aí só vai secar, é como ter um monte de suco gástrico
sem ter comida, vai virar uma úlcera dentro de você.
A experiência da literatura tem de ser muito ampla. Por exemplo, experimente e
se acostume com Graciliano Ramos e depois vá ler Charles Dickens, ou como o
exemplo que eu dei do Aquilino Ribeiro, ou Camilo Castelo Branco, que usam todas
as palavras da língua. Aquela técnica do Graciliano Ramos jamais serviria para eles,
porque não é isso que eles querem fazer. Eles querem dizer a coisa da maneira mais
rica e mais sugestiva que possa. Você não pode fazer uma árvore de natal com um
enfeite só. “Ah, nós temos que ter um estilo sóbrio e tal.” — diz-se. Bom, a sobriedade
não significa, em si mesma, qualidade. Ela é uma qualidade, mas existem outras que,
às vezes, são incompatíveis e você vai ter que escolher.

O Graciliano adorava um escritor chamado José Geraldo Vieira — um grande


escritor, meio esquecido hoje, não é muito lido —, que escrevia ao contrário dele:
aumentava tudo o que podia aumentar. Eu me lembro que tem uma seqüência dele no
A Ladeira da Memória, que é um livro belíssimo, em que um sujeito rico passa por um
pardieiro em São Paulo, na ladeira da Memória, onde tem uma pensão infecta, caindo
aos pedaços, e ele fica horrorizado com aquilo. Depois, ele descobre que aquela pensão
pertence a ele mesmo, que não sabia [disso]. Então ele decide que precisa melhorar
a vida dessa gente. Para começar, ele resolve fazer uma festa de natal, e como era um
sujeito que viajava muito pelo mundo e comprava um monte de bagulho, ele decide dá-
los todos para aquelas pessoas: coleções de uísque, charuto, licor etc. Ele faz um monte
de pacotes e vai chamando as pessoas: “Fulano de Tal, uma garrafa disso, uma caixa
de charuto não-sei- que...” — só coisa chiquérrima. E [Geraldo Vieira] faz um poema
em prosa com marcas desses produtos por cinco páginas — o Graciliano jamais faria
isso. Fica muito bonito só com as marcas de coisas: “Seu Fulano de tal, Seu Zé das
Quantas, um charuto não-sei-que, um uísque não-sei-que, um licor não-sei-que, um
vinho 1913...” Se fosse compactar, iria perder a graça, [já que] o segredo ali era
justamente esticar. Se você fizesse isso em duas linhas, seria apenas uma amostra do
que está acontecendo. Como ele estica, ele vai colocando mais coisas, e isso adquire
força poética. É claro que é mais fácil você imitar o Graciliano Ramos [do] que o José
Geraldo Vieira, que sempre foi mais um escritor para escritores, um escritor técnico.
Mas você, aos poucos, irá aumentando o seu cabedal de instrumentos.

Uma coisa que vocês devem ler são os diários de Herberto Sales. Ele publicou
um diário em três volumes com o nome de Subsidiário, em que toda hora anota as
coisas que vai aprendendo a respeito da arte de escrever. Por exemplo, já aos setenta
anos: “Ah, agora eu estou aprendendo a usar menos vírgulas...” — é bonito ver aquilo.
Primeiro, você precisa pegar este amor à arte expressiva, aprender a gostar disso,
aprender que você também pode fazer isso. Se você não é capaz de escrever e se
explicar bem, você nunca será um filósofo.

O uso que a filosofia faz da linguagem é muito mais elevado, muito mais sutil
que o da arte literária. Já vai partir destes instrumentos da arte literária e aprofundar
isso até um nível de exatidão quase científica. [Por isso], o domínio da linguagem é
essencial. Não é coincidência que o primeiro grande filósofo da história, Sócrates, se
expressasse só oralmente e que o segundo, Platão, fosse um poeta. Até que se chegasse
à perfeição científica de Aristóteles foi necessário percorrer um certo trajeto. E Esse
trajeto é o nosso também, nós vamos repeti-lo aqui: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Passar por essas três etapas é o aprendizado da filosofia.
A crítica literária, por Olavo de Carvalho

Para escolhermos o conjunto de obras de literatura que iremos ler, convém ter
algum convívio com a crítica literária, um género literário que chegou a ser exercido por
grandes escritores, mas hoje foi substituída pelos estudos académicos cheios de nada
(desconstrucionismo, estruturalismo). A crítica literária acaba por ser a primeira
disciplina filosófica, feita a partir de leitores privilegiados que criam um consenso sobre
aquilo que é importante ser lido. Alguns críticos sugeridos: Sainte-Beuve, Mathew
Arnold, Adolfo Casais Monteiro, Fidelino de Figueiredo, Otto Maria Carpeaux,
Álvaro Lins, Augusto Meyer.

Concisão:

Flaubert, Três Contos, e Graciliano Ramos.

Alguns Autores e obras citadas:

Memórias de François-René de Chateaubriand. Contos de Daudet. Ésquilo. Gautier,


Saint-Victor e Goncourt, Loti.

Segundo o autor, autores inimitáveis – La Fontaine, Exemplos a serem


seguidos: Homero, Montaigne, Bossuet.

Há um século que a prosa francesa é manejada por artistas que a solidificaram


de uma forma admirável e lhe fizeram emitir novas sonoridades. (Chateaubriand,
Gautier, Hugo, Flaubert, Leconte de Lisle, Herédia, etc.).

Sugerido por Olavo de Carvalho – Camilo Castelo Branco.

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