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Ministério do Meio Ambiente
PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

CURSO EaD: ESTRUTURAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL


MÓDULO 1: POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE

Brasília, 2015
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta Dilma Dilma Vana Rousseff
Vice Presidente: Michel Temer
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Ministra Izabella Mônica Vieira Teixeira
Secretário Executivo: Francisco Gaetani
Secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - SAIC
Regina Gualda
Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA
Soraia Silva de Mello
Equipe técnica do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais- PNC

Luciana Resende

Neuza Gomes S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Concepção do material original

Tereza Moreira

Organização do Curso EAD

Elmar Andrade de Castro

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Texto e revisão de conteúdo original

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Revisão e colaboração

Angelita Coelho

José Luís Xavier

Miriam Miller
II
Neusa Helena Rocha Barbosa

Nilo Sérgio de Melo Diniz

Coordenação:

Agência Nacional de Águas - ANA

Elmar Andrade de Castro

Mariana Braga

Taciana Neto Leme

Equipe do Departamento de Educação Ambiental- MMA

Soraia Silva de Mello (Diretora)

Renata Rozendo Maranhão (Gerente de Projetos)

Analistas Ambientais
Alex Bernal, Ana Luísa Campos, Jader Oliveira, José Luís Xavier, Luciana Resende, Nadja
Janke, Neusa Helena R. Barbosa, Neuza Gomes Vasconcelos, Patricia F. Barbosa, Taiana
Brito

Agentes Administrativos
Maria Aparecida Leite, João Alberto Xavier

Recepcionista
Leylane Aparecida L. do Santos

Estagiários
Amanda Feitosa, Carla Silva Sousa, Paula Geissica Ferreira da Silva, Rômulo de Sousa

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS


Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
Gisela Forattini
João Gilberto Lotufo Conejo

III
SUPERINTENDÊNCIA DE APOIO AO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE
RECURSOS HÍDRICOS
Humberto Cardoso Gonçalves (Superintendente)
Victor Alexandre Bittencourt Sucupira (Superintendente Adjunto)
COODENAÇÃO DE CAPACITAÇÃO DO SINGREH
Taciana Neto Leme (Gerente)
Celina Maria Lopes Ferreira
Daniela Chainho Gonçalves
Elmar Andrade de Castro
Jair Gonçalves da Silva
Lucas Braga Ribeiro
Luis Gustavo Miranda Mello
Mariana Braga Coutinho
Sandra Cristina de Oliveira (Secretária)
Vivyanne Graça Mello de Oliveira

Este material didático foi produzido no âmbito do Programa Nacional de Capacitação de


Gestores Ambientais, com apoio da Agência Nacional de Águas- ANA, com base nos
Cadernos de Formação- PNC.

IV
SOBRE O PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS E
A PARCERIA MMA E ANA

Para o alcance do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as


presentes e futuras gerações é imprescindível a participação da coletividade e também do
poder público. Quanto a esse último, torna-se necessária a melhoria de resultados, com
vistas a aumentar a eficiência, eficácia e efetividade da gestão ambiental. Uma importante
estratégia é a qualificação do corpo técnico dos órgãos municipais de meio ambiente. Nesse
âmbito, destaca-se a atuação do Programa Nacional de Capacitação de Gestores
Ambientais - PNC.

O PNC foi instituído em 2005, a partir de uma demanda da I Conferência Nacional de


Meio Ambiente. A ideia de se criar o Programa emergiu com a necessidade de haver uma
estratégia nacional de capacitação de gestores locais, visando gerenciar melhor as ações
realizadas no âmbito do Ministério do Meio Ambiente e vinculadas.

Dessa forma, o PNC foi criado para atender aos anseios dos estados e municípios, em
uma estratégia duradoura. Seu objetivo principal é o de capacitar gestores, servidores e
técnicos ambientais, com vistas a ampliar a compreensão do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA) e seu fortalecimento. Busca também a consolidação da gestão
ambiental compartilhada, que envolve a responsabilização das três esferas de governo:
federal, estadual e municipal.

O Programa capacitou aproximadamente 12 mil gestores e técnicos, beneficiando


mais de 2 mil municípios. Desde sua criação, passou por importantes momentos: o primeiro
referiu-se a uma fase em que foram realizados cursos presenciais que versavam sobre
temas ligados à estruturação dos sistemas municipais de meio ambiente. Nesse período,
ocorreram cursos em 14 estados, por meio de convênios.

Paralelamente à realização de cursos presenciais, a partir de 2007, iniciaram-se os


cursos semipresenciais, executados via internet e realizados em parceria com outras
secretarias do MMA, outros ministérios e entidades vinculadas. Os temas versavam acerca
de temas como: gestão integrada de resíduos sólidos, licenciamento ambiental básico e com

V
foco em estações de tratamento de esgotos e aterros sanitários, regularização ambiental em
propriedades rurais, além de gestão de recursos hídricos e comitês de bacias hidrográficas.
Esses últimos cursos realizados em parceria com a Agência Nacional de Águas, no ano de
2013.

A Agência Nacional de Águas é a entidade federal de implementação da Política


Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e de coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGERH), de acordo com o disposto na Lei
9.984/2000, a Lei das Águas. Uma de suas atribuições é estimular a pesquisa e a
capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos hídricos.

Assim, a ANA deu início aos processos de capacitação de recursos humanos para
a gestão de recursos hídricos em 2001. Inicialmente, entre 2001 e 2010, a ANA
conseguiu atingir cerca de 10 mil pessoas, por meio de cursos presenciais.
Posteriormente a ANA deu início a implementação sistemática de cursos na modalidade
à distância e a partir dessa estratégia, no período de 2011-2013 mais de 20.000 pessoas
foram capacitadas e no ano de 2014 mais de 22.000 pessoas foram aprovadas.

O alcance da modalidade a distância elevou a abrangência tanto em número de


pessoas capacitadas quanto na distribuição espacial dos participantes, com
representantes de todos os estados brasileiros e distrito federal, e também de outros
países em que a ANA estabelece ações de cooperação. O público alvo é a sociedade
brasileira interessada, os membros de comitês de bacia, como usuários de água,
representantes dos governos municipais, estaduais e federal e representante das
organizações da sociedade civil relacionadas aos recursos hídricos, além de agentes
dos órgãos gestores de recursos hídricos e a sociedade em geral.

Os cursos a distância oferecidos pela ANA, no projeto EAD-ANA variam em carga


horária (entre 4 e 40 horas), sempre na modalidade autoinstrucional, isto é totalmente a
distância e sem tutoria e em temas como planejamento e gestão, hidrometria/hidrologia,
uso racional da água e educação e participação social na gestão de recursos hídricos.

VI
Desse modo, em uma coadunação de esforços entre o MMA e a ANA, e em
continuidade de uma parceria bem sucedida, foi elaborado esse curso, que busca atingir o
maior número de gestores ambientais, membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas,
estudantes e público em geral.

Objetiva-se, com isso, instigar a estruturação institucional e o fortalecimento da gestão


ambiental municipal, com a ótica da sustentabilidade sócio-ambiental-territorial, a
disseminação de conhecimentos e a reflexão crítica acerca de assuntos que visam à
melhoria da gestão ambiental pública e a superação de gargalos. Ademais, busca-se
contribuir para a inserção do desenvolvimento sustentável na formulação e na
implementação de políticas públicas, de forma transversal e compartilhada, participativa e
democrática, em todos os níveis e instâncias de governo e da sociedade.

Soraia Silva de Mello


Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA

Taciana Neto Leme


Coordenadora de Capacitação para o SINGREH

VII
APRESENTAÇÃO DO CURSO

Os três módulos que compõem esse curso fornecem linhas gerais para o
fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente em sua inter-relação com os demais
instrumentos e atores da gestão municipal. O material didático foi concebido para trabalhar
conceitos não apenas de forma discursiva. Por meio de exemplos e exercícios, pretende-se
promover sucessivas aproximações das pessoas com a realidade local, no sentido de
qualificar a sua atuação.

Diante de uma perspectiva de capacitação descentralizada e voltada a atender cada


realidade específica, vale lembrar que há liberdade para se buscar informações e para criar
metodologias que melhor atendam às suas necessidades. Os materiais produzidos
pretendem apontar caminhos, fornecer sugestões e indicar possíveis fontes de consulta
para que as pessoas e os grupos busquem respostas às questões suscitadas pela prática.

O Módulo I reflete a importância da gestão ambiental municipal e mostra qual é a


estrutura do SISNAMA em âmbito federal, estadual e municipal.

O Módulo II mostra os principais passos para a estruturação dos órgãos que compõem
o Sistema Municipal de Meio Ambiente. Discorre também sobre as formas de se reunir
recursos destinados às ações na área ambiental.

O Módulo III trata das diferentes escalas de planejamento municipal, com ênfase no
planejamento microrregional e setorial, considerando os níveis de integração a serem
concretizados em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para a comunidade e
a região.

Todos os módulos contêm a legislação referente aos temas desenvolvidos, trazem


explicações sobre termos técnicos e fornecem dicas de onde obter mais informações.

Bons estudos a todos!

VIII
SUMÁRIO

UNIDADE 1: Gestão Pública Sustentável ...................................................................................... 10


A emergência da questão ambiental ................................................................................................ 10
Municípios sustentáveis .................................................................................................................... 14
Em resumo ........................................................................................................................................ 21
UNIDADE 2: Gestão Ambiental Descentralizada e Integrada..................................................... 23
SISNAMA: concepção e origens ........................................................................................................ 23
Composição do SISNAMA.................................................................................................................. 26
O meio ambiente na Constituição Federal........................................................................................ 35
Gestão ambiental compartilhada...................................................................................................... 39
Em resumo ........................................................................................................................................ 41
UNIDADE 3: Gestão Ambiental Municipal...................................................................................... 42
Um cenário da gestão ambiental municipal no Brasil....................................................................... 42
Elementos para a estruturação da gestão ambiental local ............................................................... 45
Uma estrutura compatível com as necessidades municipais ........................................................... 50
Recursos humanos: sujeito e objetivo da gestão .............................................................................. 54
A participação social na gestão do ambiente.................................................................................... 58
Em resumo ........................................................................................................................................ 60
Referências ............................................................................................................................................ 62

IX
UNIDADE 1: GESTÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL

Nesta unidade, vamos estudar a questão ambiental a partir de uma breve


perspectiva histórica que fundamenta a noção atual de sustentabilidade em âmbito global e
em suas implicações na escala local de atuação. Vamos começar?

A emergência da questão ambiental

No Brasil, o tema ambiental tornou-se mais evidente em um cenário de rápido


crescimento da economia, o chamado “Milagre Econômico”, dos anos de 1970. Nesse
período, o País vivenciou o aumento do Produto Interno Bruto- PIB, melhorias na
infraestrutura e elevação do nível de industrialização. Apesar do incremento na área
econômica, a desigualdade social intensificou-se. Nesse contexto, o discurso oficial da
ditadura militar brasileira propunha primeiro “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”.
Além disso, não era preconizada a precaução contra os impactos gerados pelas atividades
produtivas nem as limitações dos recursos naturais.

Além da reação de alguns segmentos da sociedade ao modelo de produção e


consumo vigente, tal como o movimento ambientalista, os países industrializados
começavam a perceber que o crescimento econômico ilimitado tinha um preço duplo. De um
lado, o esgotamento dos recursos naturais, de outro, a poluição. Representantes desses
países queriam discutir formas de desenvolvimento.

Poluição

Degradação da qualidade ambiental resultante das atividades que direta ou


indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população,
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem
desfavoravelmente a biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente, e lancem materiais ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos (BRASIL, 2004, p. 251).

Em 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, pela primeira vez, uma conferência das
Nações Unidas dedicava-se a debater os problemas ambientais em âmbito mundial. Trata-
se da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. De acordo com
10
Milaré (2007), a posição defendida pelo Brasil era a do “crescimento a qualquer custo”. A
fundamentação era a de que as nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento não
deveriam destinar recursos financeiros para a proteção ambiental, ou mesmo conter as suas
taxas de crescimento, devido aos graves problemas socioeconômicos que vivenciavam e
que, por isso, a degradação ambiental seria um mal menor.

Ainda assim, setores minoritários do governo brasileiro, à época, aproveitaram a


repercussão negativa da posição brasileira, para propor a criação da Secretaria Especial do
Meio Ambiente – SEMA (1973), ligada diretamente à Presidência da República, tendo como
primeiro titular o professor Paulo Nogueira Neto, da Universidade de São Paulo.

Degradação Ambiental

Termo usado para qualificar os processos resultantes dos danos ao meio


ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades,
tais como a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursos ambientais
(MILARÉ, 2007, p. 1239).

Na década de 1980, alguns impactos dessa forma autoritária de se governar e


pensar o ambiente e o desenvolvimento tornaram-se mais visíveis. Exemplos típicos são o
município de Cubatão, em São Paulo, e a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Dois
locais de grande beleza cênica e que à época foram totalmente desfigurados pela
sobreposição do econômico sobre a qualidade de vida. Apesar de avanços, até hoje, essas
localidades são estigmatizadas pelos problemas ambientais e sociais gerados desde então.

Outro exemplo desastroso desse período foi a política de expansão da fronteira


agropecuária sobre o território e os povos da Amazônia. Sob o lema “integrar para não
entregar”, a ditadura promoveu uma ocupação que incrementou o desflorestamento e a
violência contra populações locais, tradicionais e indígenas. Incentivou-se um grande
movimento migratório de agricultores do Sul e Sudeste do país, que não tinham
familiaridade com o ambiente florestal. O intuito era, na verdade, minimizar os conflitos
agrários naquelas regiões. Grileiros e especuladores de terras aproveitaram para avançar
sobre o território daquelas comunidades tradicionais. Mesmo com a resistência de
seringueiros que realizavam “empates” (atrasos e obstruções) às derrubadas na floresta,
desde 1976, os grandes desmatamentos assustaram o mundo a partir de 1988, com as
primeiras imagens de satélites (ALLEGRETTI, 1994).
11
Casos como esses se repetem em outras situações urbanas e rurais. Desde a
Conferência de Estocolmo, colhemos efeitos dessa ideologia do crescimento a qualquer
preço. De certo modo, o bolo cresceu, à custa de opressão e destruição e por isso mesmo,
não foi dividido: o aumento da pobreza e do desnível socioeconômico somaram-se ao
aumento da poluição e à crescente escassez de recursos naturais. Hoje, já não se pode
dizer que os problemas sociais e ambientais afetam apenas os municípios e regiões mais
populosas do país. Eles estão presentes no dia a dia de quase todas as localidades.

E quanto ao seu município. Quais questões socioambientais são mais evidentes na


sua comunidade?

Para Refletir
Faça um diagnóstico socioambiental da localidade em que você vive.
Primeiramente, marque um ponto no mapa onde está seu município e, após isso,
responda as seguintes perguntas:
Seu município ou região sofreu algum impacto socioambiental a partir das políticas
daquele período do governo militar, ou mesmo, atualmente, em consequência do
"desenvolvimentismo"? Se sim, descreva brevemente.
Em que bioma e bacia ou região hidrográfica ele se situa? A água é farta e de boa
qualidade? Existem disputas pelo seu uso? Há assoreamento de lagoas, córregos e
outros cursos d’água?
Quantos habitantes vivem na área urbana e na área rural?
Há serviços de saúde e educação pública de qualidade?
Há opções de lazer em áreas verdes? Existem áreas protegidas de forma especial, por
exemplo, Reserva Extrativista ou Área de Proteção Ambiental?
O que se faz com os resíduos gerados pelas atividades industriais, agrícolas ou
urbanas? Existem aterros sanitários?
Para onde vai o esgoto das residências?
Para onde vai o esgoto da empresas?
No seu município existe alguma Estação de Tratamento de Esgoto - ETE?
O solo é fértil ou está empobrecido? Há poluição por agrotóxicos?
Existem disputas em torno do uso do solo, com a ocorrência de grupos de
trabalhadores sem-terra ou grupos sem-teto? Há crianças de rua, favelas, ocupações
irregulares?
Há populações que foram desalojadas pela construção de grandes obras ou que
perderam seu meio de vida por causa de desmatamento, pesca excessiva, poluição das
águas?
A polícia registra muitos casos de violência?
Quais são as principais forças sociais vinculadas a esses temas atuantes no município?
Há associações, sindicatos, outros tipos de organizações?
Agora compartilhe suas impressões com pessoas de seu município e de outras
localidades. As respostas a essas perguntas podem indicar os principais problemas e
onde o município pode melhorar.

12
Bioma

Conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação


contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e
história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica
própria (BRASIL, 2004, p. 49).

Bacia Hidrográfica

Conjunto de terras drenadas por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. A


ideia de bacia hidrográfica está associada à noção da existência de nascentes,
divisores de águas e características dos cursos de água, principais e secundários,
denominados afluentes e subafluentes. A área física, assim delimitada, constitui-se
em importante unidade de planejamento e de execução de atividades
socioeconômicas, ambientais, culturais e educativas (BRASIL, 2006, p. 62).

Assoreamento

Obstrução de um rio, canal, estuário ou qualquer corpo d’água, pelo acúmulo de


substâncias minerais (areia, argila etc) ou orgânicas, como o lodo, provocando a
redução de sua profundidade e da velocidade de sua correnteza (BRASIL, 2004, p. 38).

Resíduo

Etimologicamente, resíduos referem-se a tudo aquilo que resta, que remanesce.


Numa abordagem ambiental, os resíduos constituem o remanescente das atividades
humanas – domésticas, industriais, agrícolas etc– e que, de uma maneira ou de outra,
são lançados no solo, nos rios ou na atmosfera. Entre eles encontram-se os efluentes
(líquidos), as emissões atmosféricas (gases e material particulado) e os resíduos
sólidos (entre os quais o lixo domiciliar) (MILARÉ, 2007, p. 1272).

13
Resíduo (II)

A nova Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (12.305/2010) não menciona a


expressão LIXO e define Resíduos Sólidos como: "material, substância, objeto ou bem
descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em
corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível".
Já os Rejeitos estão definidos como "resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas
as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis
e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição
final ambientalmente adequada" (BRASIL, Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010).

Agrotóxico

Substância química, geralmente artificial, destinada a combater as pragas da lavoura,


tais como insetos, fungos etc. Muitas são danosas aos animais e também ao homem
(BRASIL, 2004, p. 17).

Municípios sustentáveis

Nesta capacitação, o conceito de meio ambiente com o qual trabalhamos é um


pouco diferente do usual. Na nossa concepção, o termo não corresponde apenas à rede
formada pela interação dos animais, das plantas, dos micro-organismos e das substâncias
inorgânicas. Nossa visão inclui também o espaço construído e a vida social da espécie que
maiores alterações têm causado nesse cenário: a espécie humana.

Partimos de uma dimensão socioambiental, pois tanto a poluição como as


desigualdades sociais afetam negativamente a qualidade de vida das pessoas e têm

14
impactos profundos sobre o ambiente. Segundo essa visão, o crescimento econômico é
uma das variáveis a garantir qualidade de vida, mas não a única. Historicamente, vem se
afirmando o conceito de sustentabilidade, em amplo escopo, ou seja, de um tipo de
desenvolvimento das sociedades que agreguem durabilidade e justiça social. Ou seja,
economicamente viável, ecologicamente o mais equilibrado possível, capaz de propiciar às
pessoas condições básicas para o bem viver, o respeito à diversidade cultural, bem como o
pleno exercício da cidadania.

A evolução, entretanto, do conceito de sustentabilidade ou sociedades sustentáveis


- conforme descrito no Tratado Internacional de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global, firmado por instituições e redes da sociedade civil
de diferentes países, durante a Rio 92 – passa pela noção de Desenvolvimento
Sustentável, mais largamente reconhecida, embora alvo de controvérsias devido à
diversidade de significados atribuídos.

Desenvolvimento Sustentável

Existem diversos conceitos para esse termo, que derivou da expressão


ecodesenvolvimento, sistematizada nos trabalhos do economista Ignacy Sachs. Um
dos enunciados mais difundidos é o da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, por meio do relatório Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland),
de 1987. De acordo com esse documento, o desenvolvimento sustentável é "aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades" (1991 apud MILARÉ,
2011, p. 17).
Do ponto de vista da legislação nacional, o conceito do desenvolvimento sustentável
apareceu primeiramente no estabelecimento das diretrizes básicas para o
zoneamento industrial em áreas críticas de poluição, Lei 6.803, de 1980, e em
seguida, na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6.938/1981 (MILARÉ, 2011).

15
Sustentabilidade

"O termo sustentabilidade foi cunhado com o propósito de nos remeter ao vocábulo
sustentar. Sustentar algo ao longo do tempo - a dimensão de longo prazo já se
encontra incorporada nessa interpretação -, para que aquilo que se sustenta tenha
condições de permanecer perene, reconhecível e cumprindo as mesmas funções
indefinidamente, sem que produza qualquer tipo de reação desconhecida,
mantendo-se estável ao longo do tempo. (...) Todavia, podemos adiantar que a
sustentabilidade comporta várias dimensões. A sustentabilidade torna-se um
conceito transversal que abrange todas as dimensões da vida humana, não apenas
as relações diretas com a natureza." (FERREIRA, 2005, p.315).

Nesse sentido, também podemos refletir a respeito de uma localidade a partir do ponto
de vista da sustentabilidade. Atualmente, há diversos parâmetros para isso. Podemos citar,
por exemplo, a lista que foi preparada pela organização inglesa Local Government Municipal
Board, disponibilizada na obra de Marcatto; Ribeiro (2002 apud BRASIL, 2006, p. 19). De
acordo com esse documento, com base em critérios socioambientais, um município em
busca do desenvolvimento sustentável:

 Não desperdiça energia e recursos;


 Produz pouco lixo;
 Limita a poluição de forma que possa ser absorvida pelos sistemas naturais;
 Valoriza e protege os recursos naturais;
 Atende às necessidades do lugar localmente, sempre que possível;
 Provê casa, comida e água limpa para todos;
 Dá oportunidades para que todos tenham um trabalho do qual gostem;
 Valoriza o trabalho doméstico;
 Protege a saúde de seus habitantes, enfatizando a higiene e a prevenção de doenças;
 Provê meios de transporte acessíveis;
 Investe em segurança, para que as pessoas vivam sem medo de crimes ou
perseguições;
 Permite acesso igualitário às oportunidades;
 Garante acesso aos processos de decisão;
 Dá oportunidades de cultura, lazer e recreação.

No Brasil, a experiência mais consolidada quanto à criação de um painel de indicadores


que refletem o desenvolvimento sustentável é a do Instituto Brasileiro de Geografia e
16
Estatística- IBGE, que publica, desde 2002, os Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável- IDS. Em sua mais recente versão, há 62 indicadores que versam sobre as
dimensões ambiental, social, econômica e institucional de uma localidade (BRASIL, 2014a).

Para maiores informações sobre o IDS, acesse o site do IBGE:


http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/default_2012.shtm

Mais recentemente, uma importante iniciativa do Ministério do Meio Ambiente resultou


na elaboração de um conjunto de indicadores ambientais de referência. Trata-se do
Painel Nacional de Indicadores Ambientais- PNIA. Os indicadores propostos no PNIA
objetivam subsidiar a mensuração e o relato: a) das pressões existentes sobre o meio
ambiente; b) do estado histórico e atual do meio ambiente; c) da efetividade/ impacto das
respostas da sociedade para preservar ou recuperar o meio ambiente (BRASIL, 2014a).

Indicador Ambiental

Variável qualitativa ou quantitativa, em tempo e espaço definido, que pode ser


mensurada ou descrita e que permite o acompanhamento dinâmico da realidade
(BRASIL, 2014a).

Lista de Indicadores que compõem o PNIA 2012


1. Emissões Brasileiras de Gases de Efeito Estufa (GEE) por Fontes Antrópicas
2. Emissões Brasileiras Setoriais de Gases de Efeito Estufa (GEE)
3. Razão da Oferta Interna de Energia / PIB
4. Participação da Energia Produzida a Partir de Fontes Renováveis na Matriz
Energética
5. Consumo de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio
6. Emissão de Poluentes Atmosféricos por Fontes Móveis
7. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção Representadas nas UC Federais

17
8. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção com Planos de Ação para Recuperação
e a Conservação
9. Cobertura Vegetal Nativa Remanescente
10. Desmatamento Anual por Bioma
11. Focos de Calor
12. Cobertura Territorial das Unidades de Conservação da Natureza
13. Cobertura Territorial e População Atendida pelo Programa Bolsa Verde
14. Área de Florestas Públicas Destinadas para Uso e Gestão Comunitários
15. Implantação da Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P
16. Consumo de Agrotóxicos e Afins
17. Situação da Oferta de Água para Abastecimento Humano Urbano
18. População Urbana com Acesso a Sistemas Adequados de Abastecimento de Água
19. População Urbana com Acesso a Serviços de Coleta de Esgotos Sanitários
20. População Urbana com Acesso a Serviços de Tratamento de Esgotos Sanitários
21. Coleta per capita de Resíduos Sólidos Domiciliares (RDO)
22. Taxa de Cobertura da Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares em Relação à
População Urbana
23. Taxa de Recuperação de Materiais Recicláveis em Relação à Totalidade de RSU (**)
Coletados
24. Municípios com Órgãos Municipais de Meio Ambiente (OMMA)
25. Municípios com Conselhos de Meio Ambiente (CMMA)
26. Implantação da Agenda 21 Local
27. Relação entre Demanda Total e Oferta de Água Superficial
28. Índice de Qualidade da Água (IQA) dos Rios e BH em Função do Lançamento de
Esgotos Domésticos
29. Balanço Hídrico Qualitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
30. Balanço Hídrico Quali-quantitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
31. Cobertura do Território com Comitês de BH ou Outros Tipos de Colegiados
Instituídos nas Bacias
32. Cobertura Territorial dos Planos de Bacia Hidrográfica
33. Estado da Cobertura Terrestre das Áreas Susceptíveis à Desertificação
34. Cobertura Territorial dos Projetos de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)
Fonte: (BRASIL, 2014a, p. 30-31)

18
Para maiores informações sobre o PNIA, acesse o site do Ministério do Meio
Ambiente:
http://www.mma.gov.br/publicacoes/pnia

Para Refletir
Com base nos indicadores apresentados, você classificaria seu
município como sustentável? Justifique sua resposta.

Afinal, por que é tão importante a atuação dos governos municipais na área ambiental?
Vejamos algumas razões:

 O município é o espaço real do território em que as coisas acontecem. Nele se


podem sentir os impactos tanto dos problemas quanto das soluções para a qualidade
de vida. Por exemplo, uma grande obra pode ser executada para beneficiar todo o
País, mas inevitavelmente causará algum tipo de efeito no espaço geográfico de um
ou mais municípios. E quem sentirá as consequências no dia a dia serão os seus
habitantes. Portanto, os governos locais devem ter o controle das atividades que se
instalam em seu território, podendo, inclusive, ser mais restritivos que o estado e a
União.

 Alguns surtos de crescimento são como “fogo de palha”. Produzem muitas riquezas
em curto espaço de tempo, às vezes de “um ou dois mandatos”. Mas sem a base de
recursos naturais que lhes deram origem, e que foram degradadas, essas atividades
se vão para outras localidades, em busca de novos recursos para consumir. Todos
conhecem exemplos de cidades que nasceram e morreram economicamente em
algumas décadas pela febre dos minérios, da pesca, da borracha, da cana-de-
açúcar, do café... Portanto, vale a pena investir em formas de manter e usar com

19
inteligência os recursos ambientais disponíveis, exercendo o controle e a
participação social sobre a gestão do município.

 É mais fácil e barato prevenir do que remediar. Os custos para se resolver problemas
decorrentes dos impactos ambientais: poluição industrial, perda dos solos,
assoreamento de rios, contaminação de lençóis freáticos, perda de biodiversidade
são mais altos do que os esforços para evitá-los. Existem exemplos em todo o
mundo de quanto é custoso e demorado despoluir um rio.

Lençol Freático

Lençol de água subterrâneo que se encontra em profundidade


relativamente pequena. Pode ser considerado como parte ou camada
superior das águas subterrâneas (MILARÉ, 2007, p. 1257).

Biodiversidade

Representa a diversidade de comunidades vegetais e animais que se inter-


relacionam e convivem num espaço comum que pode ser um ecossistema
ou um bioma (IBAMA, 2003 apud BRASIL, 2006, p. 62).

 Muitos municípios estão descobrindo novas vocações econômicas que se


harmonizam melhor com os princípios da sustentabilidade socioambiental.
Atividades como o ecoturismo, a criação de polos de alta tecnologia (limpa) e o
incentivo à instalação de empreendimentos socialmente responsáveis podem gerar
riquezas e contribuir para a qualidade de vida da população. Em um mundo cada vez
mais globalizado isso é uma importante vantagem comparativa.

 No espaço do município se torna mais fácil garantir a participação de cidadãos e


cidadãs nas decisões, colocando em prática o princípio de que as pessoas devem

20
compartilhar com o Estado a responsabilidade pela conservação do meio ambiente,
garantindo transparência nas ações pelo controle social.

Controle Social

Ação de fiscalização, exercida pela sociedade, sobre os governos, visando


garantir transparência na definição das prioridades das políticas e nos
gastos públicos (BRASIL, 2006, p. 63).

Em resumo

Há muitas décadas, o Brasil adotou um modelo de desenvolvimento que tem gerado


subprodutos indesejáveis, tais como: poluição, esgotamento de recursos naturais e um dos
maiores índices de desigualdade social do mundo. Os resultados dessa mentalidade são
gritantes, e seus efeitos já se fazem sentir na maior parte dos municípios, ainda que
programas de combate ao desmatamento dos biomas, de gestão da qualidade e quantidade
dos recursos hídricos, de participação social, como as Conferências de Meio Ambiente, e de
transferência de renda tem sido bem sucedidos, com efeitos socioambientais positivos.

Muitos ainda restringem meio ambiente a apenas árvores, rios e animais. Em geral,
se esquecem de que nós, os seres humanos, que também fazemos parte desse cenário e
somos os principais responsáveis por suas alterações, deletérias ou não. Também persiste
o engano do ideário liberal e capitalista de que desenvolvimento e crescimento econômico
são sinônimos. Porém, não há desenvolvimento real sem o bem estar social, num ambiente
sadio. Assim, o conceito de sustentabilidade procura deixar mais claro que as pessoas,
especialmente os menos favorecidos, e o meio em que vivem, devem estar em primeiro
plano.

Esta inversão de valores deve ser implementada global, mas, sobretudo localmente. É
no espaço local que os maiores impactos são sentidos. Por isso, a importância da atuação
nessa escala. O município é onde moramos, trabalhamos e nos divertimos. Ali percebemos
os problemas e podemos contribuir para buscar soluções.

Ao se pensar e construir um modelo de desenvolvimento sustentável pode-se


descobrir e desenvolver novas vocações nos municípios, além de incentivar a participação
21
de seus cidadãos e cidadãs, promovendo a responsabilidade de todos sobre o presente e o
futuro da localidade, dos territórios, tendo a gestão ambiental como vetor de planejamento
democrático.

Agora que estudamos noções básicas acerca da sustentabilidade na gestão pública,


vejamos, na próxima unidade, os principais aspectos do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA.

22
UNIDADE 2: GESTÃO AMBIENTAL DESCENTRALIZADA E INTEGRADA

Em uma perspectiva de uma gestão ambiental compartilhada, estudaremos, nesta


unidade, o Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, com foco em sua origem,
composição e competências dos entes integrantes. Além disso, analisaremos como o tema
meio ambiente é abordado na atual Constituição Federal.

SISNAMA: concepção e origens

O SISNAMA é o modelo de gestão ambiental adotado no Brasil. Foi instituído pela Lei
nº 6.938/1981, portanto, antes mesmo da atual Constituição Federal. O referido
ordenamento cria a Política Nacional do Meio Ambiente, e tem como desafio formar uma
rede de organizações em âmbito federal, estadual, distrital e municipal que, juntas, possam
alcançar as grandes metas nacionais na área ambiental. Desse modo, conforme nos lembra
Milaré (2011), é um sistema formado pelo conjunto de órgãos e instituições nos diversos
níveis de poder responsáveis pela proteção ambiental, além de ser o grande arcabouço
institucional da gestão ambiental brasileira.

Para maiores informações sobre a Lei 6938/1981, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm

Assim, podemos dizer que a proteção do meio ambiente, por meio do SISNAMA, se
consolida mediante a formulação e execução de políticas públicas de meio ambiente; a
articulação entre as instituições componentes do Sistema em âmbito federal, estadual,
distrital e municipal; e pelo estabelecimento da descentralização da gestão ambiental.

A ideia que deu origem ao SISNAMA baseia-se em um princípio da Ecologia, a teoria


dos sistemas vivos. Segundo essa teoria, sistema é um todo composto de partes que
dependem umas das outras e que, atuando juntas, servem para cumprir determinada
função.

23
A natureza possui milhares de exemplos de sistemas: cada indivíduo, animal, planta,
micro-organismo é um todo integrado, ou seja, um sistema vivo. Da mesma forma, as
sociedades humanas e o meio ambiente construído reproduzem esse modelo: a família, a
comunidade, as cidades, a malha viária, as redes de telefonia e de distribuição de alimentos
constituem exemplos de sistemas.

De acordo com essa visão, a Terra é um grande sistema, composto de outros


“encaixados” uns nos outros. Nesse sentido, o SISNAMA estrutura-se como uma rede capaz
de abarcar toda a complexidade da questão ambiental, por meio de ações compartilhadas
entre as esferas federal, estadual, distrital e municipal. Esse conceito representa uma nova
forma de ver o mundo, na qual são enfatizadas as relações e a integração que existe entre
os componentes do sistema. Como afirma Machado (2013), “nas questões ambientais não
se podem criar oportunidades para uma administração monolítica – fechada em si mesma.”

Do ponto de vista histórico, a origem do SISNAMA remete à criação da Secretaria


Especial de Meio Ambiente- SEMA, em 1973, que objetivava orientar uma política de
conservação do meio ambiente e uso racional dos recursos naturais; ao I Plano Nacional de
Desenvolvimento – PND – 1975-79, que incorporou a preocupação com o estabelecimento
de uma política ambiental e mudou a estratégia do “desenvolvimento a qualquer preço”; e o
II PND – 1980-85, durante o qual foi instituído a Política Nacional de Meio Ambiente, por
meio da Lei 6.938/1981 (MILARÉ, 2011).

Saiba Mais
A criação da SEMA foi uma resposta às críticas da
comunidade internacional acerca do posicionamento
dos países denominados de Terceiro Mundo, liderados
pelo Brasil, contrários ao retardamento e
encarecimento do processo de industrialização nos
países em desenvolvimento, como forma de controle
da degradação ambiental (MILARÉ, 2011).

Como visto, o SISNAMA começou a se estruturar ainda durante os governos militares


em um ambiente institucional fortemente marcado pela centralização. Havia naquele
momento, grandes dificuldades para se delegar poderes aos estados e municípios.

24
Assim, a primeira fase de implementação do sistema (décadas de 1980 e 1990)
caracterizou-se pela criação dos órgãos ambientais, principalmente nos âmbitos federal e
estadual. Até recentemente, porém, em muitos casos, o que se observa na prática é a
ocorrência de órgãos ambientais sem vínculos entre si, desarticulados e fortemente
marcados pela competição, especialmente no estabelecimento de competências para o
licenciamento e fiscalização ambiental.

Licenciamento

Procedimento administrativo pelo qual o órgão de meio ambiente avalia e


concede licença de localização, instalação, ampliação e operação de
empreendimentos e atividades que utilizem recursos naturais e possam causar
danos ou impactos ambientais. A licença prevê as ações que serão necessárias
para minimizar impactos, considerando-se as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 2006, p. 36).

Fiscalização

Procedimentos utilizados por órgão competente para verificar se as normas e


leis estão sendo cumpridas (BRASIL, 2006, p. 36).

Essa é, contudo, uma visão oposta ao que propõe a Política Nacional de Meio
Ambiente, que está fortemente assentada nos preceitos da Forma Federativa de Estado.
Por esse modelo, deve haver uma repartição de responsabilidades e recursos, além da
cooperação entre os entes federados. Segundo Granziera (2014), a principal característica
do SISNAMA é a coordenação das ações, baseada na articulação institucional, para que
não haja superposição ou lacunas na atuação do poder público.

25
Saiba Mais
No Brasil, a Forma de Estado é a Federação formada por quatro espécies de
entes (União, estados, Distrito Federal e municípios). Conforme nos lembra
Paulo; Alexandrino (2011), o Brasil segue um modelo de federalismo
cooperativo. Isso quer dizer que não há uma divisão rígida de competências
entre os entes, e que, além disso, esses deverão atuar de modo conjunto.
Em uma Federação, os governos organizam-se tendo a Constituição como
soberana. Submetidos aos seus princípios, os entes federativos compartilham
diferentes competências. Cada uma dessas esferas de governo desfruta de
autonomia política, administrativa, organizativa e legislativa.
Essa forma de organização cria um Estado composto, no qual existe a união das
comunidades públicas em torno da realização dos objetivos da Constituição.
Dessa forma, o poder não concentra-se nas mãos de uma única autoridade
central, fazendo com que seja repartido: a União, como ordem nacional; os
estados, como ordens regionais; e os municípios, como ordens locais. Nesse
caso, o Distrito Federal, em geral, acumula as competências dos estados e dos
municípios.

Agora que já temos uma noção do processo histórico que levou ao nascimento desse
sistema e entendemos suas principais bases conceituais, vejamos, então, quais são seus
componentes.

Composição do SISNAMA

A Lei 6.938/1981, em seu artigo 6º, traz a estrutura na qual está baseada a gestão
ambiental do País. E, tendo em vista os seus componentes, podemos dizer que, mesmo que
aberto à participação de instituições não governamentais e da sociedade civil, o SISNAMA é
uma estrutura político-administrativa eminentemente governamental (MILARÉ, 2011).

Assim, compõem o SISNAMA os órgãos e entidades da União, dos estados, do


Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, bem como as fundações instituídas pelo
poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, assim
estruturado:

I – Órgão Superior

26
Conselho de Governo-reúne todos os
ministérios e a Casa Civil da Presidência da
República na função de formular a política
nacional de desenvolvimento do País,
levando em conta as diretrizes para o meio
ambiente.

II – Órgão consultivo e deliberativo

O Conselho Nacional do Meio Ambiente


(CONAMA) – formado por representantes dos
diferentes setores do governo (em âmbitos
federal, estadual e municipal), do setor
empresarial e da sociedade civil. Assessora o
Conselho de Governo e tem a função de deliberar
sobre normas e padrões ambientais compatíveis
com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.

III – Órgão central: Ministério do Meio Ambiente (MMA)

Tem a função de planejar, coordenar,


supervisionar e controlar as ações
referentes à Política Nacional e às
diretrizes governamentais fixadas para o
meio ambiente.

IV – Órgãos executores

27
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e
o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) – encarregados de
executar e fazer executar as políticas e as
diretrizes governamentais fixadas para o
meio ambiente, de acordo com as
respectivas competências.

V – Órgãos seccionais

Secretarias estaduais do meio ambiente,


os institutos ambientais- responsáveis
pela execução ambiental nos estados e
pelo controle e fiscalização de atividades
que provoquem a degradação do meio
ambiente, de acordo com as suas
respectivas competências.

VI – Órgãos locais

Secretarias municipais do meio ambiente –


entidades municipais, responsáveis pela
execução ambiental nos municípios e pelo
controle e fiscalização de atividades que
podem provocar a degradação do meio
ambiente, de acordo com as suas
respectivas competências.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA foi precedido, historicamente, por


duas experiências colegiadas. A primeira acompanhou a criação da Secretaria Especial do
Meio Ambiente – SEMA, em 1973, quando o Decreto Federal 73.030 instituiu o Conselho
Consultivo do Meio Ambiente (CCMA), com nove membros a serem nomeados pelo
Presidente da República. Porém, como afirma Machado (2013), “esse Conselho foi extinto
na prática”. A segunda iniciativa foi à criação do Conselho de Políticas Ambientais de Minas
Gerais – COPAM, em 1977.

28
O CONAMA é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é
exercida pelo Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente. Conforme o Decreto
6.792/2009 é composto por: Plenário; Câmara Especial Recursal; Comitê de Integração e
Políticas Ambientais; Câmaras Técnicas; Grupos de Trabalho e Grupos Assessores.

De acordo com a Lei 6.938/1981, alterada pelas Leis 8.028/1990 e 7.804/1989, esse
órgão colegiado tem como algumas de suas competências:

 Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o


licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser
concedido pelos estados e supervisionado pelo IBAMA;

 Determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas


e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados,
requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como das
entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos
estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas
consideradas patrimônio nacional;

 Estabelecer, privativamente normas e padrões nacionais de a) controle da


poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações; b) controle e
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional de
recursos ambientais, principalmente os hídricos.

Para maiores informações sobre o CONAMA, acesse o Site CONAMA:


http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm

29
Para maiores informações sobre o Decreto 6.792/2009:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm

Para maiores informações sobre a Lei 8.028/1990 acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8028.htm

Para maiores informações sobre a Lei 7.804/1989 acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7804.htm

O Ministério do Meio Ambiente substituiu a Secretaria de Meio Ambiente da


Presidência da República (SEMA), como órgão central do SISNAMA. Sua competência
abrange as políticas de meio ambiente e recursos hídricos e todas as questões referentes
ao meio ambiente (GRANZIERA, 2014). De acordo o Decreto nº 6.101/2007, é da
competência desse Ministério:

 A Política Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos;

 A Política de preservação, conservação e utilização sustentável de


ecossistemas, e biodiversidade e florestas;

30
 A Proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômico e sociais
para a melhoria da qualidade ambiental e o uso sustentável dos recursos
naturais;

 As Políticas para a integração do meio ambiente e produção;

 As Políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;

 O Zoneamento ecológico-econômico.

Cabe ressaltar ainda que são entidades vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente,
também fazendo parte de sua estrutura, as seguintes autarquias: a) Agência Nacional de
Águas (ANA); b) IBAMA; c) Instituto Chico Mendes- ICMBio; d) Instituto de Pesquisas do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Ademais, é órgão subordinado ao Ministério,
o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que apesar de não possuir personalidade jurídica,
segundo a Lei 11.284/2006, poderá o Poder Executivo assegurar-lhe autonomia
administrativa e financeira, mediante celebração de contrato de gestão e de desempenho
(GRANZIERA, 2014).

Para maiores informações acesse o site MMA:


http://www.mma.gov.br/

Para maiores informações sobre o Decreto 6.101/2007, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6101.htm

31
Para maiores informações acesse o site da ANA:
http://www2.ana.gov.br/Paginas/default.aspx

Para maiores informações acesse o site do JBRJ:


http://www.jbrj.gov.br/

Para maiores informações acesse o site do SFB:


http://www.florestal.gov.br/

Para maiores informações sobre a Lei 11.284/2006, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11284.htm

O IBAMA foi criado pela Lei 7.735/1989, alterada pela Lei 11.516/2007. Suas
competências estão voltadas para o poder de polícia ambiental, respeitadas as diretrizes do
Ministério do Meio Ambiente. Entre suas atribuições estão o licenciamento ambiental;

32
controle e qualidade ambiental; autorização de uso dos recursos naturais; fiscalização,
monitoramento e controle ambiental.

Para maiores informações acesse o site do IBAMA:


http://www.ibama.gov.br/

Para maiores informações sobre a Lei 7.735/89, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7735.htm

Para maiores informações sobre a Lei 11.516/2007, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm

Originalmente, na composição da Lei 6.938/1981, com posterior alteração pela Lei


7.735/1989, que criou o IBAMA, não havia o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. Esse foi criado como autarquia federal dotada de personalidade jurídica de
direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente, pela Lei 11.516/2007. Já a partir do Decreto 6.792/2009, que modificou o artigo
3º, IV, do Decreto 99.274/1990, passou a figurar ao lado do IBAMA como órgão executor do
SISNAMA (MILARÉ, 2011).

33
Para maiores informações acesse o site do ICMBio:
http://www.icmbio.gov.br/portal/

Para maiores informações sobre o Decreto 6.792/2009, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm

Cabe ressaltar também que, da mesma maneira em que se estabelece como sistema
(SISNAMA, mais tarde o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SINGREH, e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC), a política
ambiental tende a ser também mais eficiente e efetiva quanto mais envolver processos
participativos em contexto verdadeiramente democrático. Isso não se deve apenas à sua
emergência no processo de democratização no Brasil, mas também porque afeta
diretamente a saúde e a qualidade de vida da população, surgindo como problema muitas
vezes nos territórios e nas comunidades, muito antes de ser percebida pelos governantes.

Assim, apesar de o SISNAMA ser uma estrutura político-administrativa


eminentemente governamental, como já vimos, Machado (2013) destaca que a maioria dos
estados brasileiros fez a escolha por um sistema de administração ambiental com a
participação de instituições não governamentais. Ou seja, trata-se de “uma concepção em
que o governo não tem necessariamente a chave da solução dos problemas do meio
ambiente.”.

Dessa forma, a educação ambiental, por exemplo, compreendeu, no curso de toda


essa história recente, que a problemática ambiental deve ser vista em toda a complexidade
do ambiente, envolvendo todos os atores e fatores, sendo, portanto, compreendido como
espaço relacional em que o ser humano “é um agente que pertence à teia das relações
34
sociais, naturais e culturais, e interage com ela” (BRACAGIOLI, 2007, p.230). Também por
isso, a gestão ambiental precisa ser compartilhada e participativa.

Como pudemos observar, em se tratando de um sistema com papéis compartilhados e


que visam a um objetivo comum, os esforços dos governos e gestores públicos devem
ocorrer no sentido colaborativo. Esse trabalho deve ser pautado, prioritariamente, em frentes
que almejem: a realização de uma política ambiental integrada e que busque incluir a
dimensão ambiental nas demais políticas de governo; a integração das políticas nacional,
regional e local de meio ambiente e de recursos hídricos; a atuação e articulação entre os
entes do SISNAMA; o diálogo e intercâmbio com o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos – SINGREH, e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –
SNUC; a implementação de iniciativas para capacitação de gestores e servidores públicos,
visando à estruturação da gestão ambiental; e o estímulo à criação de redes de conselhos,
órgãos e fundos de meio ambiente nas diversas esferas de governo.

Agora que compreendemos a composição do SISNAMA, podemos avançar um pouco


mais, vejamos a seguir o tratamento que a nossa Constituição Federal dá ao tema meio
ambiente. Vamos lá?

Para Refletir
Com base no que vimos até agora, em especial, a
respeito da estrutura do SISNAMA, identifique as
instituições públicas integrantes desse Sistema, por
exemplo, as secretarias, institutos ou órgãos
responsáveis por realizar a política de meio ambiente.
Faça isso considerando a esfera local (municipal),
regional (estadual) e nacional (União). Busque refletir
se há uma integração entre essas esferas de governo.

O meio ambiente na Constituição Federal

A Carta Magna fortaleceu amplamente o meio ambiente, e a qualidade ambiental,


como direito e obrigação de todos junto com outros dispositivos, que passaram a exigir a
recuperação do ambiente degradado e a impor sanções penais e administrativas às pessoas

35
físicas ou jurídicas que praticarem atividades lesivas, independentemente da obrigação de
reparar os danos.

O artigo 3º traz como um dos objetivos da República Federativa do Brasil o


desenvolvimento e o bem estar social, sendo que, este último que está diretamente
relacionado à qualidade de vida e, consequentemente, à qualidade ambiental. Além da
Ordem Social, outros dispositivos também abordam o tema, tal como os da Ordem
Econômica, que deixando claro que as práticas econômicas não poderão afetar a qualidade
ambiental ou impedir o alcance dos escopos sociais (MILARÉ, 2011).

Ademais, a atual Constituição foi a primeira no Brasil a mencionar a expressão meio


ambiente. A Lei Maior também dedica um espaço específico ao tema: Título VIII, Da Ordem
Social, Capítulo VI, artigo 225, que diz:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações” (BRASIL, Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, grifo nosso).

Para Machado (2014), por tratar-se de bem de uso comum do povo, o meio ambiente
é um bem coletivo de desfrute individual e também geral, por isso, é direito de cada pessoa,
mas não apenas dela, podendo ser considerado, portanto, transindividual. Assim, o direito
ao meio ambiente enquadra-se na categoria de interesse difuso, ou seja, que se espraia
para uma coletividade indeterminada.

A ideia de transindividualidade reforça a noção de que o meio ambiente deve ser


objeto de proteção tanto do Estado quanto da sociedade, para usufruto geral. Isso quer dizer
que não só o Poder Público tem o dever constitucional de zelar pela defesa e preservação
ambiental, mas também o cidadão e a cidadã. Este deixa de ser um mero titular passivo de
um direito e também passa a ter o dever de defendê-lo e preservá-lo (MILARÉ, 2011).

36
Para maiores informações acerca do artigo 225 e outros dispositivos da
Constituição Federal sobre o meio ambiente, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

A exemplo da lei que criou o SISNAMA, a Constituição Federal é fortemente marcada


pelo princípio da descentralização. Dessa forma, traz para os municípios mais autonomia na
definição de suas prioridades ambientais (sempre com respeito às normas gerais editadas
pela União e pelos estados). Alguns fundamentos estabelecidos no texto constitucional são:

 Subsidiariedade: tudo o que puder ser realizado pelo nível local, com competência e
economia, não deve ser atribuído ao nível estadual e federal. Isso permite encontrar
soluções para os problemas o mais próximo possível de onde são gerados;

 Autonomia: a liberdade e o discernimento individual ou local são valorizados,


garantindo-se, dessa maneira, o mínimo de dependência para a realização de ações de
interesse local;

 Responsabilidade compartilhada: a missão de zelar pelos bens comuns cabe a todos e


a cada um, de acordo com as suas competências e atribuições;

 Cooperação ou solidariedade: independentemente da política partidária, a cooperação


entre os distintos níveis de governo é estimulada, pois isso otimiza custos e agiliza
processos.

Além do artigo 225, devemos destacar ainda, no âmbito legislativo, o artigo 24, que
afirma que a União, os estados e o Distrito Federal legislam concorrentemente sobre
matéria ambiental: “(...) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; proteção ao
patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; direito urbanístico (...)”
(BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Embora esse artigo não tenha explicitado a competência legislativa dos municípios,
ela ocorre, conforme afirma Milaré (2011), uma vez que está assegurada a competência
37
administrativa no nível local para proteção do meio ambiente e combate à poluição em
qualquer de suas formas, também está assegurada pela Constituição. O artigo 30, por
exemplo, confere a esses entes da federação a atribuição de legislar supletivamente à
União e aos estados sobre o meio ambiente e outros assuntos de interesse local (BRASIL,
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Competência Legislativa Concorrente e Supletiva

Na competência legislativa concorrente, a União limita-se a estabelecer


normas gerais, enquanto que aos estados e ao Distrito Federal cabem
legislar de modo complementar (competência legislativa suplementar),
tendo em vista as peculiaridades regionais. Nesse caso, as normas
específicas não devem contrariar as normas gerais editadas pela União. Os
municípios também têm competência para suplementar a legislação federal
ou estadual, no que couber (PAULO; ALEXANDRINO, 2011).

Do ponto de vista administrativo, outro importante ponto de discussão é o artigo 23 da


Constituição Federal, que determina a competência administrativa comum da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios em matéria ambiental. Conforme o dispositivo,
as três esferas de governo devem compartilhar a função de “(...) proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas; preservar as florestas, a fauna e a flora; e
proteger bens de valor histórico, artístico e cultural, paisagens naturais notáveis e sítios
arqueológicos (...)” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Competência Comum

A competência administrativa comum é identificada na


outorga à União, estados, Distrito Federal e municípios para
atuarem, em condições de igualdade, sem subordinação, sobre
determinadas matérias. Em geral, tratam-se de interesses da
coletividade, ou difusos (ALEXANDRINO; PAULO, 2011).

Diante da necessidade de se evitar a sobreposição na atuação dos entes federados


nas competências administrativas comuns em matéria ambiental, ocorreu, no ano de 2011,

38
a regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal. Vejamos a seguir algumas
considerações a respeito da Lei Complementar 140, e alguns de seus desdobramentos no
que diz respeito à gestão ambiental compartilhada.

Gestão ambiental compartilhada

A regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal visa proporcionar o


desenvolvimento da política ambiental de modo compartilhado e mais eficiente entre os
entes federados. É nesse sentido que a Lei Complementar 140/2011 elenca em seu artigo
3º as finalidades básicas do exercício da competência comum em relação ao meio
ambiente, a saber:

“(...) proteger, defender e conservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado, promovendo a gestão ambiental
descentralizada, garantir o equilíbrio do desenvolvimento
socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a
dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução
das desigualdades sociais e regionais, harmonizar as políticas e ações
administrativas para evitar as sobreposições de atuação entre os entes
federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma
atuação administrativa eficiente e garantir a uniformidade da política
ambiental para todo o país, respeitando todas as peculiaridades
regionais e locais (...)”(BRASIL, Lei Complementar 140, de 8 de
dezembro de 2011).

Na prática, o que significa essa repartição de competências? Como já vimos, no


SISNAMA, os órgãos federais têm a função de coordenar e emitir normas gerais para a
aplicação da legislação ambiental em todo o País. Também são responsáveis, dentre outras
atividades, pela troca de informações, a formação da consciência ambiental, a fiscalização e
o licenciamento ambiental.

Aos órgãos estaduais cabem as mesmas atribuições, só que no âmbito regional:


criação de leis e normas complementares (podendo ser mais restritivas) que as existentes
em nível federal, estímulo ao crescimento da consciência ambiental, fiscalização e
licenciamento.

39
O modelo se repete para os órgãos municipais: licenciamento e fiscalização em âmbito
local, formação de consciência ambiental local, elaboração de leis que se apliquem ao meio
ambiente do município e monitoramento da aplicação destas.

Monitoramento

Ato de acompanhar o comportamento de


determinado fenômeno ou situação com o objetivo de
detectar riscos e oportunidades (BRASIL, 2006, p. 36).

O que fez a Lei Complementar 140 foi estabelecer uma divisão de atribuições mais
específica entre a União, estados, Distrito Federal e municípios. Para se atingir as metas
estabelecidas no regulamento, em seu artigo 4º, são elencados alguns instrumentos de
cooperação institucional, tais como consórcios, convênios, comissões tripartites e
bipartites, fundos e outros instrumentos econômicos, faz ainda uma distribuição de
competências administrativas por matéria, com temas como: acesso ao conhecimento
tradicional, educação ambiental, espaços territoriais, fauna, florestas, patrimônio genético,
pesca, produtos perigosos, risco, zona costeira e licenciamento ambiental.

Saiba Mais
A Comissão Tripartite Nacional e comissões tripartites estaduais
serão formadas, paritariamente, por representantes dos
Poderes Executivos da União, dos estados, do Distrito Federal e
dos municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental
compartilhada e descentralizada entre os entes federativos.
A Comissão Bipartite do Distrito Federal será formada,
paritariamente, por representantes, dos Poderes Executivos da
União e do Distrito Federal, com o objetivo de fomentar a
gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre esses
entes federativos (BRASIL, 2013).

40
Para maiores informações sobre a Lei Complementar 140/2011, acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm

Em resumo

O modelo de gestão definido pela Política Nacional de Meio Ambiente baseia-se no


princípio do compartilhamento das responsabilidades, participação e controle social para a
proteção ambiental entre os entes federados e com os diversos setores da sociedade. Para
distribuir as responsabilidades administrativas entre a União, estados, o Distrito Federal, e
os municípios, foi instituído o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), um modelo
descentralizado de gestão ambiental.

Seguindo a noção de responsabilização comum a toda a sociedade, a Constituição


Federal, em seu artigo 225, trata especificamente do tema ambiental, assegurando que o
meio ambiente é um bem de uso comum do povo, necessário para a qualidade de vida, e
que sua preservação para as presentes e futuras gerações é um dever de todos: Poder
Público e coletividade.

Outros dispositivos constitucionais, tais como os que tratam das responsabilidades


legislativas e administrativas, também abordam o meio ambiente, reforçando a priorização
dos interesses coletivos sobre os individuais, dos interesses sociais sobre os econômicos,
para manutenção da qualidade ambiental e saúde da população.

Nesta unidade, vimos, em linhas gerais, os aspectos relacionados à gestão pública


ambiental nas três esferas de governo da Federação, com ênfase no ponto de vista
colaborativo entre os entes. Vejamos no próximo, como isso se aplica mais especificamente
aos municípios.

41
UNIDADE 3: GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL

Nesta unidade, estudaremos a gestão ambiental municipal, dando ênfase aos


principais atores sociais desse processo: a sociedade civil e os gestores públicos ambientais
e à necessidade de capacitação técnica dos recursos humanos. Além disso, abordaremos
princípios básicos para a estruturação da gestão ambiental local.

Um cenário da gestão ambiental municipal no Brasil

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o marco para a ação municipal sobre o


meio ambiente ao definir a proteção ambiental como competência comum entre os entes
federados, e a inclusão dos municípios como entes partícipes da Federação, em igualdade
de condições, dotados de autonomia política, administrativa e financeira. Como vimos na
unidade anterior, ao estabelecer as competências dos entes federados, a Constituição,
deixou explícita a responsabilidade dos municípios na prestação de alguns serviços, bem
como o dever de atuar em áreas específicas.

Segundo nos lembra Fiorillo (2013), a Carta Magna trouxe importante relevo para o
município, na medida em que é a partir dele que a pessoa humana poderá usar os
denominados bens ambientais, visando à plena integração social, com base na moderna
concepção de cidadania.

Desse modo, a autonomia municipal, propiciada pela Constituição, e ampliada pela Lei
Complementar 140/2011, tem estimulado os municípios a terem um maior protagonismo na
gestão ambiental local.

Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2013 – MUNIC, 90,0%


dos municípios brasileiros informaram dispor de algum órgão de meio ambiente. De acordo
com essa pesquisa, houve aumento significativo na criação de órgãos executivos municipais
com atribuições ambientais específicas: em 2002 esse percentual era de 67,8%, já em 2009,
84,5% (BRASIL, 2014b).

O aumento da participação dos órgãos ambientais na administração pública municipal


vem ocorrendo em todas as Unidades da Federação e em todas as classes de tamanho da
42
população dos municípios. Considerando-se as Grandes Regiões, os percentuais mais
elevados de municípios com alguma estrutura na área ambiental estão nas Regiões Norte
(98,0%), Sul (95,0%), Centro-Oeste (92,3%), Sudeste (89,0%) e Nordeste (85,2%). A
pesquisa revelou ainda que apenas três estados brasileiros apresentam a totalidade de seus
municípios com estrutura na área ambiental: Acre, Amapá e Espírito Santo (BRASIL,
2014b).

Acerca dos municípios com alguma estrutura ambiental, predominam aqueles em que
o órgão responsável pela área de meio ambiente tem status de secretaria exclusiva ou em
conjunto com outras políticas setoriais (81,3%). Há ainda a ocorrência de órgão do tipo setor
subordinado a outra secretaria (13,0%), setor subordinado diretamente à chefia do executivo
municipal (4,4%) e órgão da administração indireta (1,3%) (BRASIL, 2014b).

A pesquisa revela ainda que a ocorrência de estrutura administrativa no setor


ambiental é maior nos municípios mais populosos: 82,3% dos municípios com até 5.000
habitantes, 97,4% entre aqueles com mais de 500.000. Nesse sentido, entre os 638
municípios do País com mais de 50.000 habitantes, 99,1% contam com alguma estrutura
administrativa em meio ambiente (BRASIL, 2014b).

Tabela: Órgão Gestor de Meio Ambiente


Distribuição percentual de Municípios com estrutura na área de Meio Ambiente, por
caracterização do órgão gestor, segundo as Grandes Regiões e as classes de tamanho da
população dos Municípios - 2013.
Distribuição percentual de municípios com estrutura na área de meio ambiente
Grandes (%)
Regiões e Total Secretaria Secretaria Setor Setor Órgão da
classes de municipal Municipal Subordina subordinado Administraç
tamanho da exclusiva em conjunto do a outra Diretamente a ão
população com outra Secretaria chefia do Indireta
dos Executivo
municípios
Brasil 100,0 30,1 51,2 13,0 4,4 1,3
Norte 100,0 54,0 37,4 7,3 1,1 0,2
Nordeste 100,0 26,4 56,6 15,1 1,4 0,5
Sudeste 100,0 32,9 45,3 11,8 9,0 1,0
Sul 100,0 17,1 61,2 15,3 3,4 3,0

43
Centro- 100,0 43,3 39,7 10,0 5,6 1,4
Oeste
Até 5000 100,0 20,9 58,2 13,7 7,1 01
hab.
De 5001 a 100,0 24,6 53,3 15,6 6,4 01
10.000hab
10.001 a 100,0 29,7 51,2 14,3 3,9 0,9
20.000hab
20.001 a 100,0 32,9 51,0 12,2 2,8 1,1
50.000hab
50.001 a 100,0 46,2 40,9 6,9 1,5 4,5
100.000hab
100.001 a 100,0 54,5 30,5 6,9 0,0 8,1
500.000hab
Mais de 100,0 65,8 23,3 0,0 0,0 7,9
500.000hab
Fonte: BRASIL (2014b)

A partir desses números podemos inferir, entre outros aspectos, que pode estar
havendo um aumento de situações de conflitos socioambiental, com maior sensibilização e
pressão da sociedade em favor de ações de defesa ambiental por parte do poder público
local. As administrações locais, por sua vez, parecem estar mais atentas às atribuições e
competências dos municípios e de seus órgãos no contexto do SISNAMA.

Isso está acontecendo em seu município? De que forma?

Para Refletir
Em seu município há uma secretaria exclusiva para
tratar das questões ambientais ou essa área está
associada a outros temas? Observe se sua resposta
reflete a pesquisa do IBGE, no que se refere à região
geográfica e ao número de habitantes de sua
localidade.

44
Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,
acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/default.shtm

Elementos para a estruturação da gestão ambiental local

A semântica da palavra gerir quer dizer administrar, dirigir, manter determinada


situação ou processo sob controle para obter o melhor resultado. Nesse sentido, a gestão
ambiental pode ser considerada um conjunto de políticas, programas e práticas que levam
em conta a saúde, a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente. Além disso, a
gestão também é realizada por meio da eliminação ou da minimização de impactos e danos
decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação
de empreendimentos e atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de um
produto.

Assim, realizar a gestão do meio ambiente significa executar uma série de ações, de
forma encadeada e articulada, que resulte em uma maior consciência sobre as
consequências da atuação humana sobre o ambiente; e, por conseguinte, na adoção de
práticas e comportamentos que melhorem essa conduta.

Mesmo em um pequeno município, gerir é tarefa complexa. Em geral, as ações


humanas interferem no ambiente, com impactos de maior ou menor grau, por exemplo, as
atividades agrícolas, a construção de grandes e pequenas obras, a destinação dos resíduos
domésticos, industriais e hospitalares, bem como a mobilidade urbana. Até em locais onde
há pouca atuação humana, como em algumas áreas protegidas e com restrições de uso, é
preciso gestão para exercer vigilância, controlar o fluxo de pesquisadores, visitantes, entre
outras ações.

Assim, podemos dizer que a gestão ambiental envolve aspectos como:

 A escolha inteligente dos serviços públicos oferecidos à comunidade;

45
 O equilíbrio entre receitas e despesas, com o uso ético e transparente dos recursos
públicos;

 A edição de leis e normas claras, simples e abrangentes de defesa ambiental local;


 A aplicação das leis, com penalização para quem cause algum tipo de dano
ambiental;
 A formação de consciência e cidadania ambiental;
 A geração de informações que deem suporte às decisões políticas e técnicas;
 A democratização das instituições, para que permitam e estimulem a participação
dos cidadãos;
 O planejamento do desenvolvimento sustentável local, e a implementação das
políticas necessárias para realizá-lo.

46
Para Refletir
Faça um diagnóstico da localidade em que você vive. Observe principalmente as
atividades produtivas, o impactos no meio ambiente decorrentes dessas ações e a forma
de participação dos principais atores sociais envolvidos. A partir desse breve desenho,
vamos criar um mapa de relações ligadas à gestão ambiental, seguindo as orientações a
seguir:

1. Sobre um mapa existente, indique os locais onde se desenvolvem as atividades ou


empreendimentos que produzem impactos ambientais significativos no seu município.
Por exemplo: estradas, ferrovias, portos, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão de
energia elétrica, barragens/usinas de geração de eletricidade, extração de minério,
indústrias, aterros sanitários, entre outros.
2. Esses impactos geram problemas de qual ordem: há poluição do ar, sonora, do solo e
de cursos d´água? Que consequências isso traz para o cotidiano e para a saúde da
população local?
3. Em um papel à parte, relacione – para cada situação – os diferentes grupos (formais e
informais), organizações empresariais, governamentais e não-governamentais, que
atuam naqueles locais, gerando o problema ou buscando soluções. Represente-os em
forma de círculos.
4. Ligue os círculos por meio de setas, mostrando as relações que tais organizações
estabelecem entre si. Coloque setas de cores diferentes para significar relações de
cooperação ou de competição.
5. Você acaba de mapear os problemas e os atores sociais envolvidos com as questões
ambientais em seu município.
6- Por fim, percorra os locais buscando contatar e ouvir todas as pessoas relacionadas
com cada problema. Pergunte: Por que isso está acontecendo? Quem está envolvido?
Quais são as dificuldades que se apresentam para resolvê-lo? Quais áreas da prefeitura
poderão contribuir para resolver a situação?
Esse é o primeiro passo para identificação dos gestores ambientais que já atuam no
local.
Lembre-se: esse diagrama é um retrato simplificado de um sistema complexo e dinâmico
de interações. Trata-se da sua visão (ou da visão de um pequeno grupo de pessoas) e
precisa passar pelo teste da realidade. Porém, oferece bons indícios para iniciar uma
abordagem, com um trabalho de mobilização.

Além dos elementos tratados anteriormente, ao planejar o desenvolvimento do seu


território, sob o ponto de vista da sustentabilidade, os municípios devem considerar outros
princípios:

 Concepção de crescimento econômico que proporcione melhor distribuição de


renda;

 A alocação e a gestão mais eficientes dos recursos públicos;

47
 A adequada utilização dos recursos naturais, com a redução do volume de
resíduos e dos níveis de poluição, a pesquisa e a implantação de tecnologias de
produção limpas e a definição de regras para proteção ambiental;

 Maior equilíbrio entre os espaços rural e urbano por meio do ordenamento de usos
do solo;

 O respeito às tradições culturais das populações urbanas e rurais, valorizando


cada espaço e cada cultura.

E para que isso ocorra, a área de meio ambiente não deve ser vista como mais um
departamento da administração municipal, isolada, sem recursos e sem servidores. Ao
contrário, deve se tornar elemento estruturador das políticas municipais, permeando todos
os setores da administração.

Entretanto, muitos municípios brasileiros ainda apresentam fragilidades em relação a


sua capacidade de articulação com os próprios órgãos internos, assim como, com os órgãos
estaduais e federais. Por isso, também é importante estabelecimento de intercâmbios,
parceiras, cooperação e convênios interinstitucionais, além da formação de redes.

Assim, no dia a dia municipal é preciso mais do que a existência de um ou dois órgãos
para realizar a gestão ambiental. Deve-se estabelecer uma política voltada para a gestão
ambiental e para a formulação de instrumentos que tornem essa política efetiva. Nesse
âmbito, é fundamental o estabelecimento e realização de ações de maneira transversal, que
envolvam áreas como: educação ambiental, geração de informações, participação popular,
elaboração de legislação local, execução de projetos, fiscalização, monitoramento da
qualidade ambiental e aporte de recursos financeiros.

Ademais, para se efetivar, a ação ambiental precisa estar fundamentada sobre uma
base institucional composta por um conjunto de normas locais e por uma estrutura
administrativa. A estruturação do sistema municipal de meio ambiente pressupõe, entre
outros aspectos:

 Vontade política da prefeitura e sensibilidade para a importância das questões


ambientais;

48
 Independência em relação às instâncias partidárias;

 Estabelecimento de diretrizes para as políticas públicas municipais nas quais o


tema ambiental oriente a execução de planos e projetos;

 Integração com as demais áreas da administração;

 Infraestrutura condizente com as ações a serem realizadas;

 Equipe com perfil articulador e trânsito nos distintos setores do poder local e com
as demais instâncias (estadual e federal);
 Prioridades de ação claras, a partir de ampla consulta e participação popular;

 Estabelecimento de metas alcançáveis, sujeitas a revisões periódicas;

 Estabelecimento de indicadores de qualidade ambiental que se tornem referência


para todas as ações do governo municipal, de preferência gerados e
administrados por um sistema de informações sobre o meio ambiente local;

 Estabelecimento de boas relações com a Câmara dos Vereadores, pois esta tem
um papel relevante na aprovação de leis referentes ao meio ambiente local, bem
como na exigência do cumprimento da legislação já existente em âmbitos federal
e estadual.

Dessa forma, a área ambiental torna-se uma unidade viva na administração municipal,
atuando com outras áreas da municipalidade, incentivando um sistema mais integrado
horizontalmente, dialógico, simpático e dinâmico, alinhado também com os demais órgãos
do SISNAMA, SINGREH e SNUC.

Esquema: Integração horizontal

49
Educação

Administração
Obras
e Governo

Turismo
Meio Transportes

Ambiente
Indústria e
Agricultura
Comércio

Cultura

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006)

Cabe rememorarmos ainda que tudo o que diga respeito ao interesse local pode ser
deliberado e executado pelos municípios sem necessidade de prévia consulta ou
consentimento do estado ou da União, observadas as normas e os padrões federais e
estaduais. É recomendável, porém, que as políticas e as ações ambientais desenvolvidas
pelos municípios sejam executadas em sintonia com as políticas públicas estaduais e
federais e de acordo com as normas e padrões vigentes. Afinal, os órgãos ambientais
devem atuar de forma sistêmica, integrando planejamento e ações por meio de um esforço
cooperativo. A atuação e construção coletivas no contexto da gestão compartilhada, seja
junto às outras instâncias da municipalidade, aos demais entes e órgãos do SISNAMA, ou
junto à comunidade local e suas organizações representativas, empodera o gestor
ambiental, fortalece a “co-autoria” e, por conseguinte, consolida no tempo e no espaço as
iniciativas.

Com base nisso, vejamos, a seguir, alguns perfis orientadores para a estruturação da
gestão ambiental nos municípios.

Uma estrutura compatível com as necessidades municipais

50
A implantação do sistema municipal de meio ambiente, institucionaliza a política
ambiental no município, com abrangência no Poder Público e nas comunidades locais, por
meio de uma estrutura da qual fazem parte:

Órgão Executivo Municipal de Meio Ambiente: Secretaria, Diretoria, Departamento ou


Secção. O município tem autonomia para definir as competências dos órgãos, que em geral
envolvem-se em atividades de coordenação e execução das políticas de meio ambiente,
assim como fiscalização, licenciamento, e monitoramento da qualidade ambiental.

Conselho Municipal de Meio Ambiente – órgão superior do sistema, de caráter


consultivo, normativo e deliberativo, responsável pela aprovação e acompanhamento da
implementação da política municipal de meio ambiente. Os conselhos devem ser criados por
lei municipal específica. Sua constituição poderá ser paritária, isto é, em igual número de
integrantes de cada setor representado, especialmente governamental e não
governamental; sempre envolvendo o maior número possível de entidades representativas
da sociedade civil. Seus conselheiros deverão ter mandato de, no mínimo, dois anos.

Fundo Municipal de Meio Ambiente – órgão de captação e de gerenciamento de


recursos financeiros alocados para a área de meio ambiente. Em geral, os fundos de meio
ambiente são criados para captar recursos originados de multas e de atividades relativas à
gestão ambiental em âmbito municipal e para garantir a permanência desses recursos no
município e direcioná-los a programas e projetos de meio ambiente do próprio município.

Para determinar uma estrutura ideal, o gestor ambiental deverá levar em conta a área
do município, sua população e os seus principais problemas ambientais. Assim, como
referência, a Confederação Nacional dos Municípios, em sua coletânea de Gestão Pública
Municipal propõe 3 diferentes estruturações dos órgãos ambientais no organograma das
prefeituras. Observem que há uma ampliação da organização das atividades ligadas à área
ambiental à medida que aumenta o número de habitantes. Vejamos:

Para municípios com população de até 5 mil habitantes, pequena área, pouca oferta
de recursos naturais, características agrossilvopastoris, litorâneas de pequeno porte,
turísticas, e de estâncias hidrominerais:

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais-: municípios com até 5 mil habitantes

51
Gabinete do
Prefeito

Conselho de Assessoria de
Meio Ambiente Meio Ambiente

Administração e Serviços
Saúde Obras Educação Turismo
Finanças Municipais

Fundo Municipal
de Meio
Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006).

Para municípios com até 50 mil habitantes, área territorial média e grande, razoável
oferta de recursos naturais, características agroindustriais, industriais médias, portuárias e
de cidades-dormitório:
Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios com até 50 mil habitantes

52
Gabinete do
Prefeito

Conselho de
Meio Ambiente

Administração e Turismo e Meio


Saúde Obras Educação Agricultura
Finanças Ambiente

Fundo
Municipal de
Meio Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006).

Para municípios com população acima de 50 mil habitantes, área territorial média e
grande, razoável oferta de recursos naturais, características agroindustriais, mineradoras,
industriais, portuárias, grandes zonas urbanas ou regiões metropolitanas:

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios acima de 50 mil habitantes

Gabinete do
Prefeito

Conselho de
Meio Ambiente

Meio
Obras Finanças Educação Administração Saúde
Ambiente

Fundo Municipal
de Meio Ambiente

Planejamento Sistemas de Fiscalização e Educação Urbanização e


Jurídica
Ambiental Informação Controle Ambiental Áreas Verdes

53
Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL,
2006).

Outra importante decisão do gestor público é a de ter corpo técnico próprio, em


número compatível com a demanda e capacitado para desempenhar suas competências. É
sobre isso que falaremos a seguir.

Recursos humanos: sujeito e objetivo da gestão

Para alguns segmentos, a atuação nos processos de gestão ambiental ocorre do


modo mais objetivo. É o caso dos agentes públicos que, com vistas a garantir a preservação
da biodiversidade e uso racional dos recursos naturais, atuam em diversas frentes, como na
formulação de políticas públicas, em atividades relacionadas à elaboração de normas, no
planejamento e execução de projetos, no manejo de áreas degradadas e em processos
educativos e formativos.

Sobre isso, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais- MUNIC, do IBGE indicou


a participação dos recursos humanos dos órgãos municipais de meio ambiente, em 4
ocasiões (2002, 2004, 2008 e 2013).

De modo geral, os estudos indicam um crescimento do pessoal ocupado na área


ambiental nos municípios brasileiros, com os números quase dobrando entre 2002 (31.098
pessoas) e 2013 (61.295 pessoas). Outra importante consideração é a de que em 2013
havia um percentual maior de servidores com vínculo estável com a administração pública
(45,5% do total). Os demais somavam 21,1% entre somente comissionados; 21% sem
vínculo permanente; 8% celetistas; e 4,3 % de estagiários. A média de pessoas ocupadas
na área ambiental por município também cresceu: 8,3 em 2002; 9,1 em 2004; 9,5 em 2008;
12,2 em 2013 (BRASIL, 2014b).

Apesar desse incremento, a relação entre a quantidade de pessoas ocupadas na área


ambiental e o total de servidores do município, permaneceu estável ao longo das pesquisas:
1,1% em 2002; 0,9% em 2008; e 1% em 2013. Além disso, o aumento relativo de pessoal
ocupado na área ambiental se deu entre aqueles com menor estabilidade. Assim, o pessoal
somente comissionado, em 2008, representava 20,3% do total; em 2013, 21,1%. Os
estagiários eram 19,2% em 2008; em 2013, 25,3%. Os celetistas 11,6% em 2008; 8% em
2013. Já os estatutários, 48,9% em 2008; e 45,5% em 2013 (BRASIL, 2014b).
54
De acordo com os números da MUNIC, podemos depreender, inicialmente, que houve
um aumento importante no número de profissionais ocupados com a gestão ambiental
municipal. O fato desse aumento ter acompanhado, em média, o aumento geral de pessoal
das prefeituras, relativiza, em parte, esta primeira informação, mas também indica que a
área ambiental não foi preterida nesse crescimento geral, o que é positivo. Por outro lado,
esse incremento quantitativo no pessoal da área ambiental, nos anos recentes, ocorreu por
meio de vínculos mais provisórios com a administração pública. Ou seja, o que se espera é
que este fenômeno represente apenas uma oscilação eventual, num processo transitório de
reconhecimento da necessidade de mais pessoal na área, seguido nos próximos pela
substituição por mais servidores efetivos, uma vez que este é um dos aspectos
fundamentais na estruturação da gestão ambiental nos municípios.

Gráfico: Pessoal ocupado na área de meio ambiente nos municípios do País

PESSOA L O CUPA DO NA Á REA DE ME I O A MBI E NT E NO S


MUNI CÍ PI O S BRA SI LE I RO S
Pessoal ocupado na área de meio ambiente no país

61295
41287
36001
31098

2002 2004 2008 2013

Fonte dos dados: Brasil (2014b)

Gráfico: Percentual de pessoal ocupado na área de meio ambiente, segundo regime de


concentração nos anos de 2004, 2008 e 2013¹

55
PE RCE N T UA L D E PESSOA L O CUPA D O N A Á REA D E ME I O
A MBI E NT E , SEG UNDO REG I ME DE CO NT RATAÇÃO
ESTATUTÁRIOS CLT COMISSIONADOS ESTAGIÁRIOS E SEM VÍNCULO EMPREGATÍCIO
50,60%

48,90%

45,50%

25,30%
21,10%
20,30%

19,20%
18,66%

18,43%
12,31%

11,60%

8%
2004 2008 2013²

Fonte dos dados: Brasil (2014b)


(¹) A soma das parcelas do pessoal ocupado é inferior a 100% porque algumas prefeituras
não souberam declarar o regime de contratação dos funcionários.

Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,


acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/default.shtm

Conhecer a realidade sobre a qual se vai atuar é um passo importante. Reconhecer os


talentos existentes no local e mobilizar a comunidade também. Porém, tão importante
quanto o conhecimento popular sobre os recursos e as necessidades locais é a geração de
capacidade técnica. Claro que, muitas vezes, o acompanhamento e a pressão mesmo da
sociedade local também são fatores importantes ao fortalecimento técnico e orçamentário
da política ambiental local.

De acordo com pesquisa do IBGE, em 2002, de cada 10 servidores municipais,


apenas um trabalhava no setor responsável pelo meio ambiente. Desse pequeno
contingente, apenas 20% tinham nível de instrução superior (IBGE 2005 apud BRASIL,
2006, p. 30).

56
Entretanto, para além da educação formal, como a realização de cursos de graduação
e pós-graduação, é necessária a promoção, por parte da administração pública, de outros
processos formativos permanentes, tais como as capacitações de curto e médio prazo.
Essas iniciativas devem buscar:

 O esclarecimento sobre a estrutura da política ambiental nacional e estadual;

 O esclarecimento do papel desempenhado pelo município nessa política;

 O fortalecimento e/ou da criação de órgãos que compõem o sistema municipal de


meio ambiente;

 A formação de recursos humanos capazes de desempenhar o papel que lhes cabe


dentro do sistema municipal de meio ambiente e compor os cargos técnicos,
administrativos, de fiscalização e de controle ambiental;

 O desenvolvimento de mecanismos para a gestão ambiental compartilhada, integrada


e adequada às competências de cada ente federado; e

 A criação de um método de comunicação e de integração entre os componentes do


sistema municipal de meio ambiente, consolidando a sua implementação,
dinamizando as suas funções e aproximando o trabalho dos três níveis de governo
(federal, estadual/distrital e municipal).

Para Refletir
Você conhece alguma outra iniciativa voltada para a
formação técnica de gestores públicos ambientais no seu
município? Você pode citar como exemplo a realização de
cursos presenciais ou a distância, palestras, seminários,
entre outros.

57
A participação social na gestão do ambiente

Para se realizar a gestão ambiental é fundamental a estruturação das políticas


municipais de modo que a Prefeitura, em conjunto com a comunidade, busque caminhos
saudáveis e viáveis para o desenvolvimento social e econômico dessa localidade. Assim,
podemos dizer que um sistema municipal de meio ambiente organizado e atuante decorre
de um processo fortemente vinculado à participação da sociedade local e às características
de sua realidade socioambiental.

Gestão ambiental parece assunto exclusivamente destinado a especialistas. Porém,


há muita gente que realiza gestão ambiental mesmo sem saber: muitas lideranças
comunitárias atuam na melhoria da coleta de resíduos e do saneamento, outras orientam as
famílias sobre a qualidade da água, outras ainda lutam contra a poluição gerada por
indústrias, a poluição sonora, ou em favor da mobilidade urbana, dos animais ou da
conservação das áreas verdes. Todas essas pessoas são aliadas potenciais das ações de
gestão ambiental no município.

Existem ainda grupos com grandes possibilidades de atuação e que podem trazer
importantes contribuições. Os idosos, por exemplo, são pessoas experientes e que
representam a memória viva da comunidade. Além disso, dispõem de tempo e, em geral,
têm grande necessidade de se sentirem valorizadas e úteis à sociedade. As crianças e
jovens também podem ser importantes aliados. Afinal, elas são a porta de entrada para as
famílias e têm enorme capacidade de influenciar na mudança de hábitos. Há ainda os
grupos religiosos, sensíveis para a defesa da vida em suas diversas manifestações. Desse
modo, vale a pena fazer um inventário de todas as forças sociais atuantes no município para
a mobilização que será necessária a um trabalho de gestão ambiental realmente efetivo.

Assim, primeiramente, o gestor deve partir da realidade local, dos problemas e dos
atores sociais envolvidos ou potencialmente interessados. Também deve entrar em contato
com as organizações existentes no município, como os órgãos da administração municipal,
do governo estadual e federal presentes na região, as organizações da sociedade civil, as
associações comunitárias, os catadores de material reciclável, os sindicatos rurais, as
entidades de classe e empresariais, além de instituições de ensino, pesquisa e extensão. É
fundamental também que se busque reunir conhecimentos e habilidades, identificando as
necessidades de atuação e mobilização das partes envolvidas.

58
E por que é preciso garantir a participação da sociedade na gestão ambiental
municipal? Vejamos algumas razões:

 Sem a participação da sociedade corre-se o risco de encontrar soluções tecnicamente


perfeitas, mas que não se aplicam à vida prática das pessoas;

 A contribuição de cidadãos com idades, profissões, níveis educacionais, interesses e


envolvimentos diferenciados com a vida da cidade e do município tende a ampliar a
visão sobre determinado problema ou necessidade. Além disso, promove a
colaboração para a busca de soluções;

 Trabalhar em parceria com pessoas e entidades diversificadas, sejam governamentais


ou não governamentais, amplia o impacto das ações, a sua sustentabilidade social,
cultural e política, multiplicando os efeitos do que desejamos produzir;

 Quando as pessoas se comprometem com alguma ação, tornam-se responsáveis


pelos resultados e mais capazes de manter esse compromisso ao longo do tempo.
Isso faz com que as ações sejam duráveis, ou seja, sustentáveis.

Assim, a implementação das ações visando a busca da sustentabilidade com justiça


social está diretamente relacionada com a qualidade da participação de cidadãos e cidadãs,
pois é a população, que sente mais diretamente os problemas, sendo a maior interessada
em vê-los resolvidos. E para isso é necessário que sejam criados mecanismos capazes de
garantir uma escuta qualificada dos problemas, a tomada de decisões mais consensuais,
além de assegurar a implementação do controle social sobre as ações empreendidas.

Para Refletir
Você identifica em seu município elementos que indiquem uma
efetiva participação social na gestão ambiental? Justifique sua
resposta.

59
Em resumo

A gestão ambiental deve ser realizada por meio de ações planejadas e articuladas que
objetivem uma maior compreensão acerca dos impactos da ação humana no espaço em
que vive, além de instigar práticas e comportamentos que minimizem os efeitos indesejados
no ambiente e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas.

Ao planejar o seu desenvolvimento segundo os princípios da sustentabilidade, os


municípios devem organizar a sua área ambiental de forma integrada com as demais
secretarias e órgãos existentes.

Além disso, para estruturar um sistema de gestão ambiental municipal é preciso criar
uma base institucional que tenha um conjunto de normas locais e uma estrutura
administrativa que possa colocá-las em prática. As políticas municipais devem estar em
sintonia com as políticas estaduais e federal, ainda que possam ser mais restritivas

Recomenda-se que, juntamente com o órgão municipal de meio ambiente, o município


crie também o seu conselho municipal de meio ambiente e que tenha um fundo de meio
ambiente, para captar os recursos destinados à conservação e à preservação ambiental.

É fundamental ainda conhecer a estrutura da política ambiental brasileira, no âmbito


federal e estadual, e entender qual é o papel do município nela. Para tanto, o sistema
municipal de meio ambiente precisa de recursos humanos capazes de compor os quadros
técnicos e administrativos e de desempenhar o papel que lhes cabe. Nesse sentido, devem
ser estimuladas iniciativas como as ações de capacitação técnica, sempre considerando o
contexto mais amplo da educação ambiental, seis princípios e diretrizes (Lei 9.795/1999,
com foco na sustentabilidade)

Não podemos esquecer que gestão também requer participação qualificada da


população. Essa pode contribuir muito na identificação e na solução dos problemas, desde
que haja vontade política e sejam criados os mecanismos para isso. Desse modo, a
participação promove a responsabilidade coletiva e um efetivo controle social.

60
Nesse Módulo, abordamos aspectos introdutórios acerca da questão ambiental no
Brasil e no mundo, a importância da sustentabilidade na gestão pública, além de noções da
gestão ambiental compartilhada, com foco no papel dos municípios. Com isso, agora,
podemos avançar um pouco mais. No Módulo II, abordaremos mais especificamente como
se estruturar a gestão ambiental local.

61
Referências

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desenvolvimento sustentável na Amazônia. In: ARNT, Ricardo (Edição). O destino
da floresta: reservas extrativistas e desenvolvimento sustentável na Amazônia. Rio
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BRACAGIOLI, Alberto. Metodologias participativas: encontros e desencontros entre


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quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas do
Ministério do Meio Ambiente, e dá outras providências. Presidência da República,
Brasília, 26 de abril de 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6101.htm>
Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Decreto nº 6.792, de 10 de março de 2009. Altera e acresce dispositivos ao


Decreto no 99.274, de 6 de junho de 1990, para dispor sobre a composição e
funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Presidência da
República, Brasília, 10 de março de 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm>
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62
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______. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do


Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Presidência da República, Brasília, 31 de agosto de 1981. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Dispõe sobre a extinção de órgão e


de entidade autárquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis e dá outras providências. Presidência da República, Brasília,
22 de fevereiro de 1989. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7735.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 11.284, de 2 de março de 2006. Dispõe sobre a gestão de florestas


públicas para a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio
Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Florestal - FNDF; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de
2003, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, 4.771,
de 15 de setembro de 1965, 6.938, de 31 de agosto de 1981, e 6.015, de 31 de
dezembro de 1973; e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 02
de março de 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11284.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Presidência da República, Brasília, 2 de agosto de 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso
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______. Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos


termos dos incisos III, VI e VII do caput do parágrafo único do art. 23 da Constituição
Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência
comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio
ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das
florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.
Presidência da República, Brasília, 8 de dezembro de 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm> Acesso em: 02. dez. 2014.

63
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GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. 3° ed. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 2014, 808 p.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21ª ed. São Paulo:
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MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 22ª ed. São Paulo:
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MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5° ed.


São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, 1280p.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 7ª ed.


São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, 1647p.

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado.


7° ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011, 1119p.

64
Ministério do Meio Ambiente
PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS

CURSO EaD: ESTRUTURAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL


MÓDULO 2: COMO ESTRUTURAR O SISTEMA MUNICIPAL DE MEIO
AMBIENTE

Brasília, 2015
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta Dilma Dilma Vana Rousseff
Vice Presidente: Michel Temer
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Ministra Izabella Mônica Vieira Teixeira
Secretário Executivo: Francisco Gaetani
Secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - SAIC
Regina Gualda
Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA
Soraia Silva de Mello
Equipe técnica do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais- PNC

Luciana Resende

Neuza Gomes S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Concepção do material original

Tereza Moreira

Organização do Curso EAD

Elmar Andrade de Castro

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Texto e revisão de conteúdo original

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Revisão e colaboração

Angelita Coelho

José Luís Xavier

Miriam Miller

II
Neusa Helena Rocha Barbosa

Nilo Sérgio de Melo Diniz

Coordenação:

Agência Nacional de Águas - ANA

Elmar Andrade de Castro

Mariana Braga

Taciana Neto Leme

Equipe do Departamento de Educação Ambiental- MMA

Soraia Silva de Mello (Diretora)

Renata Rozendo Maranhão (Gerente de Projetos)

Analistas Ambientais
Alex Bernal, Ana Luísa Campos, Jader Oliveira, José Luís Xavier, Luciana Resende, Nadja Janke,
Neusa Helena R. Barbosa, Neuza Gomes Vasconcelos, Patricia F. Barbosa, Taiana Brito

Agentes Administrativos
Maria Aparecida Leite, João Alberto Xavier

Recepcionista
Leylane Aparecida L. do Santos

Estagiários
Amanda Feitosa, Carla Silva Sousa, Paula Geissica Ferreira da Silva, Rômulo de Sousa

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS


Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
Gisela Forattini
João Gilberto Lotufo Conejo

III
SUPERINTENDÊNCIA DE APOIO AO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE
RECURSOS HÍDRICOS
Humberto Cardoso Gonçalves (Superintendente)
Victor Alexandre Bittencourt Sucupira (Superintendente Adjunto)
COODENAÇÃO DE CAPACITAÇÃO DO SINGREH
Taciana Neto Leme (Gerente)
Celina Maria Lopes Ferreira
Daniela Chainho Gonçalves
Elmar Andrade de Castro
Jair Gonçalves da Silva
Lucas Braga Ribeiro
Luis Gustavo Miranda Mello
Mariana Braga Coutinho
Sandra Cristina de Oliveira (Secretária)
Vivyanne Graça Mello de Oliveira

Este material didático foi produzido no âmbito do Programa Nacional de Capacitação de Gestores
Ambientais, com apoio da Agência Nacional de Águas- ANA, com base nos Cadernos de
Formação- PNC.

IV
SOBRE O PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS E A
PARCERIA MMA E ANA

Para o alcance do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes


e futuras gerações é imprescindível a participação da coletividade e também do poder público.
Quanto a esse último, torna-se necessária a melhoria de resultados, com vistas a aumentar a
eficiência, eficácia e efetividade da gestão ambiental. Uma importante estratégia é a qualificação
do corpo técnico dos órgãos municipais de meio ambiente. Nesse âmbito, destaca-se a atuação
do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais - PNC.

O PNC foi instituído em 2005, a partir de uma demanda da I Conferência Nacional de Meio
Ambiente. A ideia de se criar o Programa emergiu com a necessidade de haver uma estratégia
nacional de capacitação de gestores locais, visando gerenciar melhor as ações realizadas no
âmbito do Ministério do Meio Ambiente e vinculadas.

Dessa forma, o PNC foi criado para atender aos anseios dos estados e municípios, em uma
estratégia duradoura. Seu objetivo principal é o de capacitar gestores, servidores e técnicos
ambientais, com vistas a ampliar a compreensão do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA) e seu fortalecimento. Busca também a consolidação da gestão ambiental
compartilhada, que envolve a responsabilização das três esferas de governo: federal, estadual e
municipal.

O Programa capacitou aproximadamente 12 mil gestores e técnicos, beneficiando mais de 2


mil municípios. Desde sua criação, passou por importantes momentos: o primeiro referiu-se a uma
fase em que foram realizados cursos presenciais que versavam sobre temas ligados à
estruturação dos sistemas municipais de meio ambiente. Nesse período, ocorreram cursos em 14
estados, por meio de convênios.

Paralelamente à realização de cursos presenciais, a partir de 2007, iniciaram-se os cursos


semipresenciais, executados via internet e realizados em parceria com outras secretarias do
MMA, outros ministérios e entidades vinculadas. Os temas versavam acerca de temas como:
gestão integrada de resíduos sólidos, licenciamento ambiental básico e com foco em estações de
tratamento de esgotos e aterros sanitários, regularização ambiental em propriedades rurais, além

V
de gestão de recursos hídricos e comitês de bacias hidrográficas. Esses últimos cursos realizados
em parceria com a Agencia Nacional de Águas, no ano de 2013.

A Agência Nacional de Águas é a entidade federal de implementação da Política Nacional


de Recursos Hídricos (PNRH) e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (SINGERH), de acordo com o disposto na Lei 9.984/2000, a Lei das Águas.
Uma de suas atribuições é estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a
gestão de recursos hídricos.

Assim, a ANA deu início aos processos de capacitação de recursos humanos para a
gestão de recursos hídricos em 2001. Inicialmente, entre 2001 e 2010, a ANA conseguiu
atingir cerca de 10 mil pessoas, por meio de cursos presenciais. Posteriormente a ANA deu
início a implementação sistemática de cursos na modalidade a distância e a partir dessa
estratégia, no período de 2011-2013 mais de 20.000 pessoas foram capacitadas e no ano de
2014 Em 2011 a ANA e. E, somente, no ano de 2014 mais de 22.000 pessoas foram
aprovadas.

O alcance da modalidade a distância elevou a abrangência tanto em número de pessoas


capacitadas quanto na distribuição espacial dos participantes, com representantes de todos os
estados brasileiros e distrito federal, e também de outros países em que a ANA estabelece
ações de cooperação. O público alvo são a sociedade brasileira interessada, os membros de
comitês de bacia, como usuários de água, representantes dos governos municipais, estaduais
e federal e representante das organizações da sociedade civil relacionadas aos recursos
hídricos, além de agentes dos órgãos gestores de recursos hídricos e a sociedade em geral.

Os cursos a distância oferecidos pela ANA, no projeto EAD-ANA variam em carga


horária (entre 4 e 40 horas), sempre na modalidade autoinstrucional, isto é totalmente a
distância e sem tutoria e em temas como planejamento e gestão, hidrometria/hidrologia, uso
racional da água e educação e participação social na gestão de recursos hídricos.

Desse modo, em uma coadunação de esforços entre o MMA e a ANA, e em continuidade de


uma parceria bem sucedida, foi elaborado esse curso, que busca atingir o maior número de
VI
gestores ambientais, membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas, estudantes e público em
geral.

Objetiva-se, com isso, instigar a estruturação institucional e o fortalecimento da gestão


ambiental municipal, com a ótica da sustentabilidade sócio-ambiental-territorial, a disseminação de
conhecimentos e a reflexão crítica acerca de assuntos que visam à melhoria da gestão ambiental
pública e a superação de gargalos. Ademais, busca-se contribuir para a inserção do
desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas, de forma
transversal e compartilhada, participativa e democrática, em todos os níveis e instâncias de
governo e da sociedade.

Soraia Silva de Mello


Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA

Taciana Neto Leme


Coordenadora de Capacitação para o SINGREH

VII
APRESENTAÇÃO DO CURSO

Os três módulos que compõem esse curso fornecem linhas gerais para o fortalecimento do
Sistema Nacional de Meio Ambiente em sua inter-relação com os demais instrumentos e atores da
gestão municipal. O material didático foi concebido para trabalhar conceitos não apenas de forma
discursiva. Por meio de exemplos e exercícios, pretende-se promover sucessivas aproximações
das pessoas com a realidade local, no sentido de qualificar a sua atuação.

Diante de uma perspectiva de capacitação descentralizada e voltada a atender cada


realidade específica, vale lembrar que há liberdade para se buscar informações e para criar
metodologias que melhor atendam às suas necessidades. Os materiais produzidos pretendem
apontar caminhos, fornecer sugestões e indicar possíveis fontes de consulta para que as pessoas
e os grupos busquem respostas às questões suscitadas pela prática.

O Módulo I reflete a importância da gestão ambiental municipal e mostra qual é a estrutura


do SISNAMA em âmbito federal, estadual e municipal.

O Módulo II mostra os principais passos para a estruturação dos órgãos que compõem o
Sistema Municipal de Meio Ambiente. Discorre também sobre as formas de se reunir recursos
destinados às ações na área ambiental.

O Módulo III trata das diferentes escalas de planejamento municipal, com ênfase no
planejamento microrregional e setorial, considerando os níveis de integração a serem
concretizados em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para a comunidade e a
região.

Todos os módulos contêm a legislação referente aos temas desenvolvidos, trazem


explicações sobre termos técnicos e fornecem dicas de onde obter mais informações.

Bons estudos a todos!

VIII
SUMÁRIO
UNIDADE 1: Estruturação do Sistema Municipal de Meio Ambiente: um processo
participativo .................................................................................................................... 11
Vontade política e mobilização da comunidade local .............................................. 11
Em bases sólidas .................................................................................................... 14
O papel do facilitador .............................................................................................. 15
Propostas para o Sistema Municipal de Meio Ambiente ......................................... 17
Em resumo .............................................................................................................. 21
UNIDADE 2: A importância de se ter base legal ............................................................ 23
Panorama das leis ambientais nos municípios brasileiros ...................................... 23
O papel da Lei Orgânica municipal ......................................................................... 27
A legislação específica ............................................................................................ 29
A relação com o Legislativo e Ministério Público .................................................... 35
Em resumo .............................................................................................................. 37
UNIDADE 3: Órgão Municipal de Meio Ambiente: instância executiva .......................... 39
Atribuições do Sistema Municipal de Meio Ambiente .............................................. 39
Atribuições, diretrizes e estrutura dos órgãos municipais de meio ambiente .......... 41
Um modelo de gestão pública sustentável .............................................................. 46
O perfil do corpo técnico ......................................................................................... 48
Em resumo .............................................................................................................. 50
UNIDADE 4: Conselho Municipal de Meio Aambiente: instância de decisão e de
participação .................................................................................................................... 52
A presença dos conselhos de meio ambiente nos municípios ................................ 52
Um espaço representativo ...................................................................................... 54
O papel do Conselho Municipal de Meio Ambiente ................................................. 57
Relação com a Prefeitura ........................................................................................ 59
Passos para a formação do Conselho Municipal de Meio Ambiente....................... 60
Em resumo .............................................................................................................. 62
UNIDADE 5: Recursos Para a gestão ambiental municipal ........................................... 64
Recursos previstos em orçamento .......................................................................... 64
Fundo Municipal de Meio Ambiente: valioso instrumento de gestão municipal ....... 67
Passos para a Criação do Fundo Municipal de Meio Ambiente .............................. 70

IX
Outras Fontes de Financiamento para as Ações Ambientais .................................. 74
Em Resumo ............................................................................................................ 88
Referências .................................................................................................................... 90
Anexos ........................................................................................................................... 96
Minuta de Lei para Criação do Conselho Municipal de Meio Ambiente .................. 96
Minuta de Regimento Interno do CMMA ............................................................... 101

X
UNIDADE 1: ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE:
UM PROCESSO PARTICIPATIVO

Neste capítulo, estudaremos os principais elementos necessários para a


estruturação da gestão ambiental em âmbito local. Teremos como foco principal a
importância da mobilização de atores sociais significativos. Vamos lá!

Vontade política e mobilização da comunidade local

Como aprendemos no Módulo 1 deste curso, é crescente o número de municípios


que despertam para a necessidade de criar e fortalecer a sua área de meio ambiente. É
claro que isso representa um avanço. Porém, ainda há um contingente de municípios que
não possuem sequer um departamento relacionado a essa área. Existem também os que
criam leis e órgãos somente no papel, sem qualquer efetividade.

Para evitarmos situações como essa e alcançarmos uma gestão ambiental bem
sucedida é necessária vontade política, em especial, a do prefeito. É ele quem pode
torná-la uma meta de governo e não uma mera preocupação de ambientalistas que
integram a administração municipal. Por meio do chefe do Poder Executivo local, as
diferentes áreas da prefeitura podem conversar entre si e integrar as ações voltadas para
a qualidade do meio ambiente. Da mesma forma, sua capacidade de trocar ideias e
realizar parcerias com o governo estadual, com os órgãos federais, com empresários e
organizações da sociedade pode fazer toda a diferença.

O mesmo vale para outros poderes e forças sociais atuantes no município. A


câmara dos vereadores, por exemplo, tem importante papel a desempenhar na gestão
ambiental, como veremos mais adiante. A sua adesão às iniciativas pode fazer grande
diferença no grau de efetividade do sistema de gestão a ser implementado.

Porém, além do aspecto político, não podemos nos esquecer da importância da


mobilização da comunidade, de modo que a estruturação da gestão ambiental local seja

11
legitimada e reflita as reais necessidades dessa coletividade. Você sabe o que isso
significa?

Mobilizar-se em torno da criação dos órgãos de meio ambiente consiste no primeiro


momento de um longo processo em direção à gestão do meio ambiente do município.
Isso quer dizer que será necessário prever mecanismos e estratégias de envolvimento e
motivação da comunidade, de modo que permaneçam depois que os órgãos estiverem
em funcionamento.

Nesse sentido, segundo Socher; Ponchirolli (2012), as soluções que visam ao


desenvolvimento sustentável dependem necessariamente do envolvimento de vários
atores e instituições, pois abarcam ações de um sistema complexo, no qual há interação
entre várias dimensões: política, social, cultural, espacial, econômica, entre outras.

De acordo com esses autores, é preciso um encontro entre o cidadão, as


instituições e o Estado para discussão, consenso e escolhas no que se refere a assuntos
públicos. Nesse caso, há uma maior preocupação com os fins e, por isso, um peso mais
elevado a respeito dos pontos de vista dos atores envolvidos em âmbito local, que é onde
acontecem as ações, as vivências e convivências sociais. Aproveitam-se ainda as
potencialidades naturais ou desenvolvidas na comunidade e geram um sentimento de
pertencimento e de autoria (SOCHER; PONCHIROLLI, 2012).

O processo de mobilização consiste em passos como:

 Sensibilização, que compreende contato direto com grupos organizados e


com pessoas influentes na comunidade, para obter informações e promover
reflexão, no sentido de estimulá-los e motivá-los a participar da criação do
Sistema Municipal de Meio Ambiente.

Fazem parte da estratégia de mobilização visitas a formadores de opinião, como


professores, comunicadores, líderes comunitários e religiosos, assim como palestras e
reuniões voltadas a grupos diferenciados em espaços como feiras, igrejas, clubes
esportivos. O mesmo vale para a elaboração de artigos de jornal, realização de
entrevistas no rádio, na TV e o uso de outros veículos de comunicação, como a Internet.

12
Esse será um importante recurso, especialmente em municípios mais populosos ou com
habitantes em áreas dispersas, pois podem atingir um maior número de pessoas.

 Constituição de fóruns para identificar e priorizar os problemas ambientais


do lugar e discutir de forma conjunta como a criação de instâncias formais
pode auxiliar na resolução desses problemas. Os fóruns são espaços onde
será possível projetar o sistema, definindo competências e atribuições,
formas de funcionamento, mecanismos de transparência das ações, etc.

Fórum

É um espaço permanente de discussão e de negociação de conflitos e


interesses representativos da sociedade para decisão sobre ações destinadas
ao desenvolvimento municipal (BRASIL, 2006, p. 16).

 Levantamento das necessidades, em termos técnicos, jurídicos, de


infraestrutura e de custos, para a instituição do Sistema Municipal de Meio
Ambiente.

 Criação de grupos de trabalho com a finalidade de atender a essas


necessidades e formalizar os órgãos ambientais. O conjunto das atribuições
e competências destes poderá ser consolidado em uma única lei que institui
o Sistema Municipal de Meio Ambiente. Pode também ser estabelecido
gradualmente, por meio de leis específicas para cada grupo integrante do
sistema, à medida que forem criados.

 Instituição do sistema, propriamente dito, realizada mediante aprovação de


lei, algo a ser precedido de negociação na câmara dos vereadores. Nesse
momento, convém que haja ampla divulgação, com o objetivo de tornar
pública a luta pela existência de órgãos voltados para o meio ambiente
municipal.

13
Como pudemos perceber, seguindo uma trajetória como essa, será possível
construir um pacto muito mais válido do que se o sistema tivesse sido simplesmente
instituído por lei, ou seja, de cima para baixo.

Em bases sólidas

Você já se perguntou por que existem órgãos que nunca conseguem sair do papel?
Além de falta de mobilização anterior, estes costumam ser criados sem mecanismos que
garantam representatividade e democracia. Portanto, no processo de criação dos órgãos
ambientais municipais, é preciso:

 Estimular a paridade na composição do fórum voltado à criação do Sistema


Municipal de Meio Ambiente, considerando o equilíbrio entre órgãos
governamentais, organizações da sociedade civil e setores empresariais, de
forma que todas as forças sociais significativas estejam ali representadas;

Paridade

Representação em igualdade numérica.

 Envolver atores sociais relevantes, mas que nem sempre participam de


processos como esses, como grupos, organizações e movimentos de
mulheres e de jovens, organizações sindicais e de base, comunicadores,
instituições religiosas, organizações não-governamentais, grupos de terceira
idade, Ministério Público, artistas, organizações representativas do
empresariado, da polícia, do corpo de bombeiros, entre outros.

 Envolver pessoas, grupos ou organizações que desempenham uma função


social relevante, pois apresentam capacidade de defender seus interesses e
de produzir os fatos necessários para alcançar seus objetivos, participando
das decisões para alterar a realidade.
14
 Garantir que essas lideranças sejam genuinamente vinculadas às suas
bases;

 Desenvolver mecanismos de controle social transparentes e participativos,


para que o poder não se concentre nas mãos de um único segmento da
sociedade;

 Formar um grupo de colaboradores realmente comprometido com a gestão


ambiental, que poderá compor os futuros quadros técnicos dos órgãos a
serem criados;

 Tornar esse espaço uma espécie de ouvidoria ambiental para o município.


As denúncias e reclamações que costumam surgir podem ser úteis na
identificação das áreas mais problemáticas da administração, bem como
indicar medidas corretivas à prefeitura;

Ouvidoria

Espaço criado pelas instituições para acolher críticas e sugestões de


clientes e usuários de seus serviços.

 Integrar os grupos de trabalho voltados à criação do Sistema Municipal de


Meio Ambiente na dinâmica dos demais órgãos municipais. Desde o início, é
importante que a esfera de meio ambiente envolva-se com as demais áreas
da prefeitura, sob a liderança do chefe do Executivo municipal.

O papel do facilitador

O sucesso desse trabalho depende, em grande parte, da postura de quem está


coordenando o processo. Essa pessoa ou grupo de pessoas deve reunir qualidades

15
técnicas e habilidades políticas para ter sucesso em seu trabalho. Algumas características
pessoais também são desejáveis, entre as quais:

 Ter humildade e flexibilidade;

 Saber ouvir;

 Utilizar linguagem clara e fácil de entender;

 Evitar vender ilusões e soluções simplistas;

 Respeitar a opinião das pessoas, por mais diferentes que sejam das suas
próprias opiniões;

 Assumir e demonstrar uma postura que esteja acima de qualquer interesse


partidário;

 Promover permanente articulação institucional e garantir o fluxo de


informações;

 Ter um claro compromisso com o resultado do processo,


independentemente de seus interesses pessoais;

 Abrir-se para as diversas formas de organização, assim como valorizar o


conhecimento e a cultura locais, pois muitas vezes, soluções encontradas no
local podem ser altamente inovadoras e positivas, tornando-se modelos para
ações em âmbito regional e estadual;

 Adaptar os programas de trabalho aos hábitos locais;

 Ser pontual no cumprimento de prazos e cronogramas;

 Desenvolver cada vez mais a noção do sistema que está sendo criado,
inspirando as demais pessoas a fazerem o mesmo.
16
Como pudemos observar, a estruturação da gestão ambiental municipal deve ser
um processo participativo e que envolva diversos segmentos sociais, abarcando não só a
esfera política, como prefeitos e vereadores, mas também a comunidade de forma mais
ampla. Nesse sentido, é importante se pensar em uma estrutura de gestão compatível
com a realidade e vocações do município. É o que veremos a seguir.

Propostas para o Sistema Municipal de Meio Ambiente

O Módulo 1 trouxe no capítulo 3, Gestão Ambiental Municipal, diferentes


possibilidades de estruturação do Sistema Municipal de Meio Ambiente. Vimos que para
cada tipo de município, existe uma possibilidade de organização mais compatível,
considerando-se tamanho da população (até 5 mil habitantes, até 50 mil e acima de 50
mil), complexidade no uso dos recursos naturais e outras características locais. De forma
genérica, no entanto, esse sistema tem como base o tripé: conselho representativo da
sociedade, órgão de caráter executivo e fundo ambiental.

Para uma melhor compreensão, reveja a seguir os esquemas:

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais-: municípios de até 5 mil habitantes

17
Gabinete do
Prefeito

Conselho de Assessoria de
Meio Ambiente Meio Ambiente

Administração e Serviços
Saúde Obras Educação Turismo
Finanças Municipais

Fundo Municipal
de Meio
Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL,


2006).

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios de até 50 mil habitantes

18
Gabinete do
Prefeito

Conselho de
Meio Ambiente

Administração e Turismo e Meio


Saúde Obras Educação Agricultura
Finanças Ambiente

Fundo Municipal
de Meio
Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL,


2006).

Gabinete do
Prefeito

Conselho de Meio
Ambiente

Meio
Obras Finanças Educação Administração Saúde
Ambiente

Fundo Municipal de
Meio Ambiente

Planejamento Sistemas de Fiscalização e Educação Urbanização e


Jurídica
Ambiental Informação Controle Ambiental Áreas Verdes

19
Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios acima de 50 mil
habitantes

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL,


2006).

Entretanto, é importante frisar também que cada comunidade deve ser capaz de
estabelecer suas prioridades. Quanto mais as soluções estiverem apoiadas em suas
necessidades, no seu conhecimento direto, em percepções compartilhadas e no seu
interesse em alcançar soluções concretas para os problemas, mais esses órgãos serão
efetivos. Obviamente, nessa definição, será fundamental contar com o apoio de soluções
técnicas e de informações complementares sobre aspectos científicos, tecnológicos e
legais.

Nesse âmbito, podemos dizer que a abrangência da participação conseguida e a


democracia interna aos órgãos do sistema refletem o nível de amadurecimento e de
organização da sociedade, bem como o grau de compromisso das autoridades. Na
verdade, órgãos realmente representativos significam uma conquista social.

20
Para Refletir:
Utilizando os esquemas para a estruturação da gestão ambiental, e com base no
acúmulo de informações e nos exercícios que você fez até agora, pesquise:

1.Qual estruturação do Sistema Municipal de Meio Ambiente reflete melhor a realidade


do seu município, considerando :
- Tamanho;
- Vocação produtiva;
- Forças políticas dominantes;
- Nível de escolaridade dos quadros técnicos da prefeitura;
- Orçamento da prefeitura;
- Infraestrutura física;
- Capacidade de arrecadação.

2.Quais são os grupos sociais mais representativos e que poderiam se engajar


imediatamente no trabalho de estruturação do Sistema Municipal de Meio Ambiente?
3.Além disso, quais são as forças contrárias?
4.Que estratégias poderiam ser usadas para torná-las aliadas?

Em resumo

Embora exista um claro movimento pela constituição de órgãos ambientais nos


municípios, a realidade ainda está muito distante do SISNAMA que pretendemos. Muitas
vezes, os órgãos do Sistema Municipal de Meio Ambiente só existem no papel.

A criação de órgãos realmente atuantes e representativos começa com a


mobilização da sociedade. Os passos necessários para isso envolvem constituição de
fóruns de debates representativos, grupos de trabalho que integrem conhecimentos sobre
a realidade local ao aparato técnico, tecnológico e legal necessário para a instituição do
Sistema Municipal de Meio Ambiente.

Além de tomar alguns cuidados para garantir representatividade dos envolvidos, o


grupo que coordena esse processo deve desenvolver uma postura que facilite a
21
formalização do sistema. Isso inclui um elenco de habilidades pessoais, técnicas e
políticas. Deve também identificar as diferentes expectativas e formas de participação
possíveis para os diversos atores.

Como pudemos perceber, a participação da comunidade de modo mais integral


contribui para a construção do Sistema Municipal de Meio Ambiente que vai ao encontro
dos anseios reais de determinada localidade. Assim, sem esquecer essa noção de
mobilização colaborativa, a seguir, avançaremos mais um pouco nesse assunto,
abordando o papel das leis em âmbito municipal para a estruturação da gestão ambiental
local.

22
UNIDADE 2: A IMPORTÂNCIA DE SE TER BASE LEGAL

Neste capítulo, abordaremos a legislação ambiental em âmbito local, com foco na


Lei Orgânica do município e nos regramentos específicos. Além disso, também vamos
estudar o tema, tendo em vista a necessária articulação com o Poder Legislativo e com o
Ministério Público.

Panorama das leis ambientais nos municípios brasileiros

A legislação ambiental de um município pode ser apresentada sob diferentes


maneiras, por exemplo, na Lei Orgânica, no Código Ambiental ou no Plano Diretor. Sobre
isso, o diagnóstico da Pesquisa de Informações Básicas Municipais, de 2002,
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 42,5%
dos municípios brasileiros possuíam pelo menos um tipo de norma ambiental. Em 81%
dos casos, a legislação ambiental estava inserida em capítulos ou artigos da Lei Orgânica
Municipal, e 13% dos municípios dispunham de capítulo ou artigo no Plano Diretor.
Apenas 17% dos que disseram ter lei ambiental possuíam Código Ambiental (BRASIL,
2002).

Os dados do diagnóstico do IBGE refletem um movimento ocorrido nos municípios


a partir da Constituição federal de 1988. A existência de artigos específicos sobre a
questão ambiental na Constituição impulsionou a inclusão da temática nas leis orgânicas
municipais. Entre os que preferiram criar códigos ambientais, estão, principalmente,
aqueles que possuíam mais de 500 mil habitantes, devido à maior necessidade de
instrumentos adequados para lidar com questões ambientais mais complexas.

A mais recente Pesquisa de Informações Básicas Municipais mostrou que houve


um aumento no percentual de municípios com legislação específica para tratar da questão
ambiental desde 2002. Esse aumento ocorreu tanto nas Grandes Regiões quanto em
todas as classes de tamanho de população, exceto nas que tem mais de 500 mil
habitantes (BRASIL, 2013).

23
Desse modo, em 2009, 46,8% dos municípios tinham legislação ambiental,
aumentando para 55,4% em 2012. Já em 2013, esse número aumentou para 65,5%. A
pesquisa indicou que os maiores crescimentos ocorreram nas Regiões Norte (63,7% em
2012, 77,8% em 2013) e Centro-Oeste (54,1% em 2012 e 66,2% em 2013). Além disso,
quanto ao recorte por classe de tamanho da população, os maiores incrementos
ocorreram em municípios pequenos, com até 5 mil habitantes. Nesses, o percentual saiu
de 44,4% em 2012 para 56,3% em 2013 (BRASIL, 2013).

Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,


acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/meio_ambiente_
2002/meio_ambiente2002.pdf

Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,


acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2013/

24
Gráfico: Municípios brasileiros que apresentam legislação ambiental

MUNICÍPIOS BRASILEIROS QUE APRESENTAM

65,50%
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

55,40%
46,80%
42,50%

2002 2009 2012 2013

Fonte dos dados: (BRASIL, 2014)

Gráfico: Percentual de municípios com legislação ambiental específica nos anos de


2012 e 2013

25
PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS COM LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL ESPECÍFICA NOS ANOS DE 2012 E
2013
2012 2013

77,80%

75,20%
73,30%
66,20%

65,10%
63,70%

63,40%
54,10%
48,60%
39,90%

NORTE NORDESTE CENTRO OESTE SUDESTE SUL

Fonte dos dados: (BRASIL, 2014)

Essa é uma tendência que também se observa em âmbito federal. Inspirando-se


em artigos constitucionais, muitas matérias ligadas ao meio ambiente têm sido abordadas.
Foi o que ocorreu com a Lei no 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação, a Lei no 10.275/2001, que criou o Estatuto da Cidade, a Lei no
9.433/1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, e mais recentemente a
Lei Complementar nº 140/2011, que fixa normas para cooperação entre União, estados,
Distrito Federal e municípios nas ações administrativas de competência comum, por
exemplo.

Essas leis, entre outras, regulamentam artigos constitucionais e trazem novidades


nas atribuições municipais, que precisam ser incorporadas à legislação de âmbito local.
Vejamos a seguir como isso ocorre nos municípios.

Para maiores informações sobre a Lei n° 9.985/2000, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm

26
Para maiores informações sobre a Lei no 10.275/2001, acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm

Para maiores informações sobre a Lei no 9.433/1997, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm

Para maiores informações sobre Lei Complementar nº 140/2011, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm

O papel da Lei Orgânica municipal

Todas as ações de gestão ambiental realizadas no município precisam estar


amparadas em leis. Embora a legislação ambiental ainda apresente lacunas, pode-se
dizer que o meio ambiente é protegido, no Brasil, por leis bastante avançadas. Os
municípios têm o poder de aplicar em seu território a legislação federal e estadual
vigentes e boa parte das matérias já regulamentadas nesses âmbitos aplica-se também à
esfera municipal.

Tal como ocorre com os serviços de saúde, educação, habitação e saneamento, a


gestão ambiental é objeto da competência comum entre União, estados, municípios e
Distrito Federal. Como vimos no Módulo 1, os entes federados possuem ao mesmo tempo
27
corresponsabilidade e autonomia na esfera legislativa. Assim, constitucionalmente, os
municípios podem criar legislação ambiental própria, e isso vale tanto no sentido de
ampliar a abrangência das leis federais e estaduais quanto para tratar de assuntos
pertinentes ao interesse local.

Dessa forma, a Constituição de 1988 abriu caminho à elaboração de capítulos


sobre o meio ambiente, seja na Lei Orgânica municipal, que é similar a uma constituição
municipal; seja no Plano Diretor, que é um instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana, ou por meio de Código Ambiental específico, que
trata da política ambiental municipal. Porém, é preciso cuidado para evitar a sobreposição
e o confronto de competências.

Lembre-se, cabe à União a competência legislativa sobre normas gerais, de caráter


nacional; os estados e o Distrito Federal devem elaborar legislação suplementar ou
complementar de caráter regional; os municípios podem legislar no interesse local, desde
que considere o que já está regulamentado nos níveis estadual e federal.

A Lei Orgânica municipal é considerada a lei máxima do município. Por meio dela,
torna-se possível dispor sobre a estrutura, o funcionamento e as atribuições dos poderes
Executivo e Legislativo. Essa lei contém os princípios norteadores das matérias de
interesse local em termos de saúde, saneamento, transporte, educação, uso e ocupação
do solo urbano, parcelamento do território, entre outros temas de interesse municipal e
que possuem importantes interfaces com o meio ambiente.

Ao elaborar a Lei Orgânica, o município exerce a competência constitucionalmente


garantida de legislar sobre os assuntos que afetam de forma direta seus interesses
específicos, entre os quais se situam a proteção do meio ambiente e a melhoria da
qualidade de vida. Por isso, os municípios que optarem por tratar do meio ambiente nesse
formato deverão incluir os objetivos e os princípios da Política Municipal de Meio
Ambiente.

Além disso, a Lei Orgânica deve disciplinar o essencial, cabendo às chamadas leis
infraconstitucionais, subordinadas a ela, o detalhamento de cada matéria específica.
Devemos nos lembrar também que as leis ambientais poderão compor o Código

28
Ambiental ou, o que é mais provável, dispersar-se por toda a legislação, considerando-se
que o meio ambiente tem reflexos em quase todas as ações humanas e em todos os
setores da administração.

Desse modo, podemos dizer que a existência de legislação ambiental demonstra


amadurecimento do município para assumir a gestão do seu território e reforça a
necessidade da descentralização da gestão ambiental, no sentido de privilegiar a
execução local da política ambiental, favorecendo a criação e a entrada em vigor do
Sistema Municipal de Meio Ambiente; fortalecer e dinamizar a articulação e a
coordenação entre os entes federados; e conquistar legitimidade para as ações de gestão
ambiental.

Considerando o papel estratégico dos municípios para a gestão ambiental


descentralizada, é importante frisarmos ainda a importância da legislação ambiental
específica. Veremos esse tema a seguir.

A legislação específica

A legislação ambiental específica permite que se consolide a Política Municipal de


Meio Ambiente. Tais leis devem abordar aqueles assuntos que necessitem
regulamentação para dar consistência às suas ações. É comum a prática de se “copiar”
leis de outras localidades, por exemplo, municípios situados em regiões serranas que
possuem dispositivos para regulamentar até a pesca oceânica. Vale lembrar que fazer leis
sem qualquer necessidade só contribui para esvaziar a sua importância, tornando-as
“letra morta”.

Dessa forma, é importante observar algumas orientações básicas que podem


subsidiar a formulação das leis municipais, entre as quais destacamos:

 Definir princípios e diretrizes de planejamento e uso do solo, considerando o


contexto ambiental local e regional em que o município se insere. Municípios
costeiros têm necessidades diferenciadas de estâncias hidrominerais e
climáticas, por exemplo. A mesma distinção deve ocorrer entre municípios

29
com baixo número de habitantes que estão em regiões isoladas e aqueles
que integram regiões metropolitanas; embora sejam igualmente pequenos,
suas necessidades não são as mesmas;

 Prever a criação de um conselho consultivo e de assessoramento


responsável pela formulação de diretrizes da política ambiental. Esse deve
ser composto preferencialmente por pessoas com diferentes formações;

 Estabelecer boas relações com a câmara de vereadores, de forma a criar


uma base que está acima de partidos políticos, e que acolha as demandas
de meio ambiente na formulação de leis;

 Criar mecanismos legais que tornem compatíveis as normas ambientais com


os procedimentos para concessões de licenças e alvarás. Isso simplifica os
processos, encorajando a população a agir dentro da lei.

Alvará

Documento passado a favor de alguém por autoridade judiciária ou


administrativa, que contém ordem ou autorização para a prática de
determinado ato (BRASIL, 2006, p. 51).

Além das orientações já expostas, as temáticas que merecem leis específicas


podem incluir aquelas iniciativas que, se colocadas em prática, terão capacidade para
provocar mudanças significativas em relação ao meio ambiente e à própria prática da
gestão ambiental. Eis algumas das ações que merecem regulamentação:

 Sujeitar as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente a sanções


administrativas (multas, reparação dos danos causados, cassação de
licença). Sem isso, o município não pode exercer fiscalização;

30
Sanção

Medida repressiva infligida por uma autoridade (BRASIL, 2006, p. 52).

 Prever mecanismos de compensação financeira para quem sofrer limitações


no uso de sua propriedade, em razão de medidas de proteção ao meio
ambiente;

 Incluir entre os bens ambientais a serem protegidos o patrimônio


arqueológico, histórico, cultural e paisagístico local. Por meio de lei, pode-
se instituir o tombamento, por exemplo, como um instrumento a ser
utilizado pelo município para garantir a integridade desses bens;

Patrimônio arqueológico

Conjunto de testemunhos materiais relativos à pré-história da humanidade


(BRASIL, 2006, p. 52).

Tombamento

Ato ou efeito de colocar bens móveis e imóveis de interesse público sob a guarda
do Estado, com a intenção de conservá-los, devido ao seu valor histórico,
artístico, arqueológico, etnográfico, paisagístico ou bibliográfico (BRASIL, 2006, p.
52).

31
 Possibilitar a formação de consórcios intermunicipais para a realização de
obras, serviços e atividades de interesse comum a vários municípios,
especialmente em assuntos vinculados à proteção, preservação e
recuperação do meio ambiente;

Para maiores informações sobre consórcios, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11107.htm

 Prever a possibilidade de firmar convênios com entidades públicas ou


privadas para realizar a gestão ambiental dos ecossistemas ou das unidades
de conservação.

 Garantir mecanismos de informação ao público sobre obras, planos e


programas que possam alterar as condições do meio ambiente em
consonância com a Lei de Acesso à Informação;

Para maiores informações sobre a Lei de Acesso à Informação, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/lei/l12527.htm

 Prever mecanismos formais de promoção da educação ambiental e da


conscientização pública;

32
Conscientização Pública

Modalidade voltada a formar opinião pública sobre determinados temas relativos


ao meio ambiente. Pode ser realizada mediante ações de sensibilização e
mobilização, utilizando, para isso, diferentes meios de comunicação (BRASIL,
2006, p. 52).

 Incluir mecanismos de aplicação da iniciativa popular de lei, do plebiscito,


do referendo e do orçamento participativo, como formas de garantir a
soberania popular e, assim, efetivar a ampla democracia participativa.

Iniciativa popular de lei

Meio pelo qual o povo pode apresentar diretamente projetos de lei ao


Legislativo subscritos por um número mínimo de cidadãos (BRASIL, 2006, p.
52).

Plebiscito

Consulta de caráter geral, que objetiva decidir de forma prévia questões


políticas ou institucionais (BRASIL, 2006, p. 52).

Referendo

Mecanismo de ratificação ou de regulação de matérias anteriormente


decididas pelo poder público, como a aprovação ou rejeição de projetos de lei
(BRASIL, 2006, p. 52).

33
Orçamento participativo

Processo de definição do orçamento público que possibilita a realização de


debates, audiências e consultas públicas sobre propostas do Plano Plurianual,
da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual, como
condição obrigatória para a sua aprovação pela câmara de vereadores
(BRASIL, 2006, p. 52).

Para Refletir
Faça uma pesquisa e analise as leis e os códigos existentes em seu
município. Após isso, busque responder às seguintes perguntas :

- Em que formato estão situadas as leis referentes ao meio ambiente: em


código próprio, na Lei Orgânica, no Plano Diretor ou de forma esparsa?
- As leis existentes atendem às necessidades da sua comunidade?
- Com as leis atuais, quais são as possibilidades de se ter um Sistema
Municipal de Meio Ambiente realmente atuante?

Algumas iniciativas são importantes no sentido de integrar o Poder


Legislativo nos seus níveis federal, estadual e municipal. O Portal
Interlegis, por exemplo, é um programa desenvolvido pelo Congresso
Nacional, que utiliza as tecnologias de informação (Internet,
videoconferência e transmissão de dados). Tem por objetivo permitir a
comunicação e a troca de experiências entre parlamentares e destes com o
público em geral. O portal conta com um importante banco de dados
sobre legislação, o qual inclui as leis orgânicas das capitais dos estados.

34
Para maiores informações sobre o Portal Interlegis, acesse o site:
http://www.interlegis.leg.br/

Não devemos esquecer que o processo de elaboração de leis, mesmo que seja
uma iniciativa do Poder Executivo, perpassa pelo Poder Legislativo. Desse modo,
abordaremos, a seguir, a relação com este poder e também com o Ministério Público.

A relação com o Legislativo e Ministério Público

A proposta de leis deve ser realizada em estreita sintonia com o importante ator
social que constitui a câmara dos vereadores. Cultivar boas relações com vereadores e
vereadoras, compreender a correlação de forças existentes naquele espaço e reconhecer
potenciais aliados do ideário da sustentabilidade socioambiental são práticas
recomendáveis para quem trabalha com a gestão ambiental. A aproximação com a
câmara municipal consiste em um trabalho de sensibilização constante para a necessária
mudança de mentalidade em direção ao desenvolvimento sustentável do município.

Vereadores e vereadoras são peças-chave na formulação e aprovação de leis


capazes de equilibrar as dimensões econômica, social, cultural e ambiental do município.
Para isso, é indispensável o esclarecimento inicial sobre a natureza e a abrangência do
Sistema Municipal de Meio Ambiente. Ao mesmo tempo, deve-se estimulá-los a participar
das instâncias colegiadas do sistema, de forma a permitir-lhes engajar-se e acompanhar a
gestão ambiental em suas múltiplas ramificações.

Essa forma de atuar deve estender-se também ao Legislativo estadual e ao federal,


o que valoriza a função do legislador, possibilitando o surgimento de relações mais
harmoniosas e colaborativas entre os Poderes Executivo e Legislativo. Trata-se de um
importante meio de administrar os conflitos que normalmente surgem entre esses dois
poderes.

35
Dessa forma, deve-se trabalhar também para introduzir mudanças no
funcionamento da própria câmara de vereadores, contribuindo para tornar a sua atuação
mais transparente e permeada pela participação popular. Isso envolve mudanças na lei
orgânica no sentido de:

 Definir mecanismos que dificultem a alteração dos objetivos e das diretrizes


gerais da Política Municipal de Meio Ambiente e do Plano Diretor, de forma a
impedir ações oportunistas;

 Tornar obrigatória a divulgação prévia de audiências públicas para projetos


de lei como os de Plano Diretor, Lei de Uso e Ocupação do Solo, Lei de
Parcelamento, Lei de Proteção ao Patrimônio Histórico, Cultural,
Paisagístico e Natural do Município, permitindo, dessa forma, amplo debate
público;

 Fixar quórum qualificado para aprovação e alteração de leis importantes


como a lei do Plano Diretor, o Código de Obras, a Lei de Uso e Ocupação
do Solo, entre outras;

Quórum qualificado

Número mínimo de parlamentares para abrir sessão ou proceder a votação. Nas


sessões, há dois ritos: o quórum simples (o total de votos deve ser maior do que
a metade do total de votos dos presentes) e o quórum qualificado. Este último,
em geral, requer o voto de dois terços dos membros do Poder para aprovação da
matéria, por exemplo, nas votações de emenda à Lei Orgânica (PNC, 2006, p. 53).

 Regulamentar a participação popular no processo legislativo nas questões


relativas ao meio ambiente, como o referendo popular e o plebiscito.

36
Além disso, é vital que os gestores ambientais atuem em cooperação com os
procuradores municipais, ou seja, os representantes do Ministério Público no município. O
Ministério Público tem o papel de defender a ordem jurídica, os interesses da sociedade e
observância da Constituição e das leis.

A atuação em conjunto com o Ministério Público permitirá maior consciência dos


limites legais de suas ações. Dessa forma, terão mais eficácia, agindo sempre de acordo
com os procedimentos legais corretos. Ademais, haverá uma maior capacidade de
recorrer ao Judiciário sempre que houver necessidade de dar respostas rápidas a
situações criadas no município e que afetem o meio ambiente e a qualidade de vida da
sua população.

Em resumo

Todas as ações municipais de gestão ambiental precisam estar respaldadas em


leis. A legislação ambiental federal e dos estados é bastante ampla e possibilita aos
municípios agir a partir de seus preceitos. Porém, os municípios também têm
competência em matéria legislativa, em especial, para assuntos de interesse local.

A Lei Orgânica é a “constituição municipal” e dispõe sobre a estrutura, o


funcionamento e as atribuições dos poderes Executivo e Legislativo. Essa lei deve
disciplinar o essencial, cabendo às leis infraconstitucionais, subordinadas a ela, o
detalhamento de matérias específicas.

A existência de legislação ambiental municipal também demonstra


amadurecimento do município para assumir a gestão do seu território. Entretanto, para se
realizar uma legislação “viva”, vale considerar o contexto regional e local do município,
bem como o planejamento existente, além de contar com apoio especializado.

Algumas leis podem servir para alavancar profundas mudanças de mentalidade e


comportamento. Além disso, o cultivo de boas relações com o Poder Legislativo local e o
Ministério Público também se mostra essencial para ter as ações empreendidas sempre

37
em acordo com as normas legais e para dar respostas rápidas a situações que sejam
capazes de afetar negativamente o meio ambiente e a qualidade de vida da população.

Tendo isso em vista, veremos no próximo capítulo, como se dá o processo de


criação de órgãos da instância executiva nessas localidades.

38
UNIDADE 3: ÓRGÃO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE: INSTÂNCIA
EXECUTIVA

Neste capítulo, estudaremos mais especificamente a estruturação do Órgão


Municipal de Meio Ambiente, considerando suas atribuições e principais diretrizes. Além
disso, abordaremos algumas práticas sustentáveis na gestão pública e o perfil mais
adequado do corpo técnico. Porém, antes de tudo isso, é importante termos uma melhor
compreensão do Sistema Municipal de Meio Ambiente. Prontos?

Atribuições do Sistema Municipal de Meio Ambiente

O campo de atuação do município na área de meio ambiente inclui um elenco


bastante diversificado de atribuições, que, de modo geral, podem ser agrupadas em:

 Agendas positivas – envolvem medidas que auxiliam na definição das


diretrizes ambientais municipais, visando mostrar “como fazer” o
desenvolvimento local sustentável. Tais práticas apoiam-se em ações de
planejamento e de educação ambiental, nas normatizações necessárias e
em uma política tributária voltada a incentivar formas sustentáveis de
produção.

Política tributária

Conjunto de medidas referentes à cobrança de impostos (BRASIL, 2006, p. 29).

 Ações de comando e controle – essas atividades englobam o licenciamento,


o monitoramento, a fiscalização e o exercício do poder de polícia ambiental.
Também faz parte dessa área a geração de informações e dos dados
39
necessários à comparação periódica da qualidade ambiental, para o
exercício do chamado monitoramento ambiental.

Monitoramento ambiental

Procedimento destinado a verificar a variação, ao longo do tempo, das


condições ambientais em função das atividades humanas (BRASIL, 2006, p. 29).

 Conservação e recuperação de ecossistemas – refere-se à gestão de


unidades de conservação municipais, conservação de parques, jardins,
arborização urbana, assim como ações de recuperação ambiental em áreas
rurais, como a preservação de nascentes e matas ciliares (BRASIL, 2006, p.
29).

Conservação

O manejo do uso humano da natureza, compreendendo a


preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e
a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior
benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu
potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações
futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral
(BRASIL, Lei 9.985, de 18 de julho de 2000).

Recuperação

Ação destinada a reverter processos de degradação ambiental por


meio de práticas e técnicas que visem restaurar o equilíbrio perdido
(BRASIL, 2006, p. 29).

40
Unidades de Conservação

Porções do território nacional com características de relevante valor


ecológico e paisagístico, de domínio público ou privado, legalmente
instituídas pelo poder público com limites definidos sob regimes
especiais de administração, aos quais se aplicam garantias
adequadas de proteção, tais como: parques nacionais, reservas
biológicas, estações ecológicas (BRASIL, 2006, p. 29).

 Administração interna – lida com o dia-a-dia da administração, como o


orçamento, a formação permanente do corpo de profissionais da área e
assessoria jurídica, entre outras atribuições.

Algumas dessas atividades são novas para a maioria dos municípios e requerem
pessoal qualificado, além de leis e procedimentos específicos. Assim, é preciso estruturar-
se em torno de um Órgão Municipal de Meio Ambiente. A forma como esse se insere na
administração municipal dependerá do tamanho do município e da complexidade da
questão ambiental local, como já vimos no Módulo 1 deste curso.

Esse órgão adquire várias configurações. Pode ser uma assessoria especial,
diretamente vinculada ao gabinete do prefeito. Pode também funcionar como um
departamento ou divisão de uma secretaria municipal já existente, como as de agricultura
ou turismo. Em municípios maiores e mais complexos, torna-se uma secretaria específica.

Quanto mais simples e modesta a estrutura adotada, é mais importante tornar a


gestão ambiental uma política de governo, mobilizando os outros órgãos dentro de um
processo participativo e aberto à população local. O mais importante é que não seja mais
um inexpressivo quadrinho no organograma da prefeitura, sem corpo técnico, sem
recursos e sem atuação.

Atribuições, diretrizes e estrutura dos órgãos municipais de meio ambiente

41
O Órgão Municipal de Meio Ambiente é o executor da política ambiental local e tem
características predominantemente técnicas. Deve ser criado por lei, na qual são
esclarecidas as suas atribuições, bem como as competências dos agentes encarregados
do gerenciamento ambiental e, principalmente, da fiscalização. A lei deve estabelecer
também as regras para a tramitação dos processos administrativos instaurados na
apuração das infrações administrativas ambientais, embasando-se para isso na Lei
dos Crimes e Infrações Administrativas Ambientais, bem como na legislação
ambiental do estado.

Vale lembrar que, para realizar o licenciamento ambiental de obras de impacto


local, o Órgão Municipal de Meio Ambiente deverá contar com um quadro técnico capaz
de analisar os empreendimentos e emitir pareceres.

Tramitação

Sequência de procedimentos para se alcançar um efeito ou objetivo


(BRASIL, 2006, p. 30).

Infrações administrativas ambientais

É “toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo,


promoção, proteção e recuperação do meio ambiente” (BRASIL, Lei
9.605, de 12 de fevereiro de 1998).

Para maiores informações sobre a Lei 9.605/1998, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm

42
O município possui autonomia para definir as competências de seu órgão de meio
ambiente, o que deve ocorrer respeitando-se a vocação de cada local. Dessa forma, se o
município for predominantemente agrícola, por exemplo, deve enfatizar o controle
ambiental sobre os impactos dessa atividade, compondo o seu quadro com técnicos mais
voltados a esse setor. Os exemplos de atribuições a seguir podem servir como guias no
momento de se estabelecer a lei de criação do órgão.

 Coordenar a política municipal de meio ambiente;


 Colocar em prática o planejamento ambiental;
 Fiscalizar o cumprimento da legislação em vigor, com destaque para o que
estabelece a Lei Orgânica Municipal;

Lei Orgânica Municipal

Lembre-se, a Lei Orgânica Municipal é considerada a “constituição”


do município, dispõe sobre a estrutura, o funcionamento e as
atribuições dos poderes Executivo e Legislativo municipais (BRASIL,
2006, p. 30).

 Exercer o controle e a fiscalização ambiental;


 Realizar o diagnóstico ambiental do município;

Diagnóstico ambiental

Descrição das condições ambientais de determinado local (BRASIL,


2006, p. 30).

43
 Realizar o licenciamento ambiental de obras e empreendimentos de impacto
local;
Realizar o zoneamento ambiental do município;

Zoneamento ambiental

Estudo que envolve várias áreas de conhecimento e define as possíveis


ocupações do solo de acordo com a vocação ecológica do local (BRASIL,
2006, p. 30).

 Manter a infraestrutura necessária ao bom funcionamento do Conselho


Municipal de Meio Ambiente;

 Submeter a esse conselho as propostas de normas, procedimentos e


diretrizes para o gerenciamento ambiental municipal, assim como os
pareceres técnicos necessários ao licenciamento ambiental;

 Desenvolver atividades de educação ambiental sobre a necessidade de


proteger, melhorar e conservar o meio ambiente;

 Acompanhar as condições do meio ambiente no âmbito do município, por


meio de um conjunto de indicadores de qualidade ambiental.

Indicador ambiental

Variável qualitativa ou quantitativa, em tempo e espaço definido,


que pode ser mensurada ou descrita e que permite o
acompanhamento dinâmico da realidade (BRASIL, 2014c).

44
Para maiores informações sobre indicadores ambientais, reveja o
capítulo 1, do Módulo 1, deste curso.

É importante salientar também algumas diretrizes para o apoio executivo. Nesse


âmbito, é devemos salientar que a administração precisa de um número de funcionários
condizente com as necessidades essenciais. Além disso, pode contar com o apoio do
saber da comunidade. Alguns municípios da Amazônia, por exemplo, criaram a figura dos
“agentes ambientais voluntários”. Trata-se de pessoas da própria comunidade que
fiscalizam o uso de lagos e rios para evitar a pesca excessiva, orientam práticas agrícolas
sem uso do fogo, entre outras ações, agindo como elos entre o poder público e
sociedade.

Ademais, é necessário estruturar-se para atender prioritariamente as necessidades


críticas locais, ou seja, aquelas que provoquem maiores danos e incômodos à população.
Por exemplo, atendendo a comunidades situadas em áreas de risco nas cidades, atuando
de forma preventiva e evitando que se instalem em topos de morros e beiras de rios.

Também convém buscar cooperação com outras áreas da administração, tanto


municipal quanto estadual e federal instaladas em seu território, pois, conflitos e
superposições significam desperdício de recursos públicos, além de desgaste político e
descrédito por parte da população.

Não se deve esquecer de buscar caminhos ágeis e eficazes para a resolução dos
problemas, evitando, com isso, a burocracia e a sensação de que os órgãos ambientais
representam um freio para o desenvolvimento. Cabe ainda, é claro, prestar contas à
população, periodicamente, das ações desenvolvidas.

45
Não podemos esquecer que muitos dos problemas relacionados à má gestão
ambiental municipal devem-se a enganos na montagem de sua estrutura. Para evitar isso,
o órgão ambiental necessita de dotação orçamentária, pois mesmo que represente uma
pequena divisão de outra secretaria, deve dispor de recursos próprios previstos no
Orçamento Municipal. Trata-se de um investimento que poderá reverter em recursos para
o município, como com a cobrança de multas previstas em lei.

Além disso, deve haver uma infraestrutura física condizente com suas atribuições,
o que pode significar apenas uma sala ou vários prédios, dependendo do tamanho do
município ou da complexidade das questões ambientais com as quais o Órgão Municipal
de Meio Ambiente terá que trabalhar. O mesmo vale para os materiais, equipamentos e
veículos necessários.

Devemos acrescentar ainda a necessidade de quadro de pessoal capacitado para


exercer as diferentes tarefas que o órgão executa. O fato de você estar participando
dessa capacitação representa uma grande contribuição para isso!!

Um modelo de gestão pública sustentável

As equipes da área de meio ambiente muitas vezes são vistas como altamente
criativas e inovadoras em termos de soluções que apresentam para os problemas do
município. Porém, nem sempre aplicam essas mesmas soluções em sua própria prática
cotidiana. Um exemplo? Muito se fala nos três “erres”: reduzir, reutilizar e reciclar. Porém,
grande parte dos escritórios de secretarias de meio ambiente está abarrotada de copos
descartáveis jogados no lixo comum. Esse é apenas um exemplo. Há muitos outros.
Vamos conferir?

Nos prédios, geralmente são usados materiais de construção caros e inadequados


às condições locais; pouco aproveitamento da ventilação e da luminosidade naturais; uso
intensivo de aparelhos de ar condicionado; pouco espaço destinado a áreas verdes;
manutenção inadequada, desperdício de água e de eletricidade.

46
Já na prática administrativa observa-se o uso excessivo de papel e de materiais
descartáveis; desconhecimento de critérios “ambientalmente corretos” nas compras
realizadas pelo órgão; desconhecimento de mecanismos para reciclagem; falta de
conforto no atendimento ao público; excesso de burocracia; e uso de materiais de limpeza
causadores de impactos ambientais.

Na qualidade dos ambientes de trabalho é comum barulho excessivo; tabagismo;


falta de organização e de higiene; excessiva competição; falta de pausas para exercício
físico; desmotivação; desvios de conduta, desrespeito aos portadores de necessidades
especiais.

Assim, logo em seus primeiros momentos, o órgão ambiental deve esforçar-se para
dar o exemplo, introduzindo novas práticas na administração pública municipal, como a
implementação da A3P. Você sabe o que significa a A3P?

A A3P significa Agenda Ambiental na Administração Pública. É uma ação de


caráter voluntário, que pretende induzir a adoção de um modelo de gestão pública que
corrija e diminua impactos negativos gerados durante a jornada de trabalho. Baseia-se em
recomendações sobre o uso eficiente dos recursos naturais, materiais, financeiros e
humanos.

Essa iniciativa propõe a construção de uma nova cultura institucional na


administração pública, envolvendo os três níveis: federal, estadual e municipal. Volta-se
para a qualidade de vida no trabalho, para a adoção de critérios ambientais corretos e de
práticas sustentáveis. Seus eixos temáticos são: gestão de resíduos, licitação sustentável,
qualidade de vida no ambiente de trabalho, sensibilização e capacitação de servidores,
uso racional de recursos e construções sustentáveis.

Nesse sentido, a inserção de critérios ambientais busca minimizar os impactos


sobre o meio ambiente, por meio do combate ao desperdício, do incentivo a programas e
práticas de reciclagem de materiais, além de uma série de outras medidas que visam
tornar o espaço de trabalho o mais saudável possível.

47
Para maiores informações sobre a A3P, tais como, passos para
implementação, publicações e boas práticas, acesse:
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/a3p

O perfil do corpo técnico

Os ventos da renovação também devem soprar sobre a qualidade do corpo técnico


do Órgão Municipal de Meio Ambiente. É preciso criar uma instituição moderna, enxuta e
participativa. Essa deve ser formada, preferencialmente, por profissionais concursados,
com adequada preparação técnica e grande motivação. Equipes com formação
multidisciplinar são mais eficientes. Por exemplo, os fiscais que atuam também como
educadores podem ser mais simpáticos à população.

Por ser uma área que se relaciona com praticamente todas as demais secretarias
do município, é mais interessante que a pessoa a encabeçar o Órgão Municipal de Meio
Ambiente tenha uma visão abrangente da realidade municipal e seja capaz de dialogar
com outros parceiros na prefeitura, além de abrir-se ao convívio com a comunidade. Essa
pessoa deve ter um perfil articulador e que saiba extrair do corpo técnico e de
especialistas tudo aquilo que eles puderem oferecer em termos de soluções, sem,
contudo, tornar-se prisioneira de visões estritamente técnicas.

A composição da equipe técnica do Órgão Municipal de Meio Ambiente é


estabelecida por meio de lei que cria os cargos e determina a realização de concursos
públicos para preenchê-los. Esses profissionais deverão ser escolhidos de acordo com as
características de cada município. Por exemplo, um município predominantemente
florestal deve dar ênfase à contratação de engenheiros florestais, biólogos ou ecólogos,
entre outros profissionais, que poderão conhecer com mais profundidade os problemas
gerados ao meio ambiente por práticas como desmatamentos e queimadas.

48
E Qual deve ser o tamanho e a composição da equipe de meio ambiente de seu
município? Vamos pensar sobre isso?

Para refletir
Considerando a realidade do seu município, utilize os critérios abaixo para
compor, individualmente ou em grupo, a equipe técnica necessária ao
Órgão Municipal de Meio Ambiente:
- Quais serão as atribuições dessa equipe?
- Que trabalhos cabem à equipe permanente e quais podem ser delegados a
terceiros?
- Quais são as características profissionais necessárias a uma equipe
permanente, considerando a realidade administrativa e ambiental do
município?
- Qual o tamanho ideal da equipe, para que esta seja capaz de atender às
demandas, sem que haja capacidade ociosa?

Nesse processo de formação da equipe técnica, devem ser considerados os


procedimentos para efetivação dos servidores públicos. Assim, deve haver aprovação,
pela câmara dos vereadores, de lei de criação de cargos técnicos, administrativos e de
fiscalização (que pode estar incluída na lei que cria o Órgão Municipal de Meio Ambiente
ou o Sistema Municipal de Meio Ambiente).

No caso de cargos efetivos, também deve ser realizado concurso público. Além das
provas, a análise de títulos, por exemplo, com a comprovação dos anos de experiência
profissional e acadêmica, podem complementar os critérios de seleção. Em geral, as
universidades prestam valioso auxílio na formulação e promoção de concursos públicos.

Após a realização de concurso, pode haver também uma fase de treinamento dos
aprovados na seleção, algo bastante recomendável, tendo em vista uma melhor
ambientação do corpo técnico às atividades que executará.

Não podemos nos esquecer também que a qualificação constante é fundamental


para a realização de um trabalho. Trata-se de um investimento que dará sustentação ao
Sistema Municipal de Meio Ambiente. Desse modo, cabe ao município promover a
capacitação de seu corpo técnico e administrativo, qualificando-o para executar com
49
competência as suas funções. Para otimizar o aproveitamento de recursos humanos
qualificados, administrações regionais e associações microrregionais podem disponibilizar
técnicos que assessorem vários municípios ao mesmo tempo.

Em resumo

O Órgão Municipal de Meio Ambiente, na condição de ente executor do Sistema


Municipal de Meio Ambiente, possui um amplo leque de atribuições que pode ser
sintetizado em: agendas positivas, ações de comando e controle, conservação e
recuperação de ecossistemas e administração interna. A forma como se insere na
administração municipal vai depender do tamanho do município e da complexidade das
questões ambientais locais.

Para ser instituído, este órgão de caráter técnico precisa estar previsto em lei. A lei
deve prever o exercício de fiscalização, bem como conferir este poder ao corpo de fiscais.
Além de exercer a fiscalização, o Órgão Municipal de Meio Ambiente tem a atribuição de
realizar o licenciamento ambiental, para o qual deve contar com um quadro técnico
capacitado. Essa atividade só poderá ser exercida se o município tiver o Conselho
Municipal de Meio Ambiente em atividade.

Para o seu bom funcionamento, o Órgão Municipal de Meio Ambiente deve contar
com orçamento próprio, infraestrutura física condizente e pessoal preparado para exercer
as tarefas. Deve também dar o exemplo para a administração municipal, introduzindo
práticas ecológica e socialmente corretas, que vão desde a escolha do espaço físico às
práticas administrativas que poupem os recursos naturais e promovam maior qualidade
nos ambientes de trabalho.

Para criar uma instituição moderna, enxuta e participativa, deve investir em


profissionais concursados e motivados. A pessoa a encabeçar a instituição precisa
conhecer a realidade municipal e dialogar com outros setores da prefeitura, além de abrir-
se ao contato com a comunidade. Suas escolhas devem se basear em critérios técnicos,
porém com a necessária sensibilidade social.

50
Até aqui compreendemos os processos de mobilização, elaboração de leis e
formação do Órgão Municipal de Meio Ambiente. Vamos avançar um pouco mais? A
seguir, estudaremos a formação dos conselhos municipais de meio ambiente.

51
UNIDADE 4: CONSELHO MUNICIPAL DE MEIO AAMBIENTE: INSTÂNCIA DE
DECISÃO E DE PARTICIPAÇÃO

Neste capítulo, estudaremos um pouco mais acerca dos conselhos de meio


ambiente, porém, agora, em âmbito local. Veremos sua composição e representação dos
diversos segmentos da sociedade, o papel que lhes cabe na estrutura do Sistema
Municipal de Meio Ambiente, os trabalhos especializados por meio das câmaras técnicas
e grupos de trabalho, além das principais etapas para a criação de um conselho no seu
município.

A presença dos conselhos de meio ambiente nos municípios

O Conselho de Meio Ambiente é, por excelência, um fórum de diálogos e de


construção de conhecimento sobre o meio ambiente local. É também um espaço
adequado para administrar conflitos, propor acordos e construir uma gestão ambiental
que esteja em consonância com os interesses econômicos e sociais locais.

Em âmbito federal, há o Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, que


como vimos no Módulo I deste curso, faz parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente -
SISNAMA. É importante observar que a implantação da política ambiental no Brasil
acompanha o processo de democratização, o que favoreceu a sua consolidação, ao
mesmo tempo em que a luta de movimentos ambientalistas e a criação de colegiados
como o CONAMA também serviram à ampliação de horizontes no que diz respeito a
novos direitos, consignados depois pela Constituição de 1988. Segundo Carlos Sojo, “o
CONAMA é produto e ingrediente da transição democrática no Brasil” (2002 apud DINIZ,
2010, p. 78).

Em âmbito local, a instalação dos conselhos também foi estimulada a partir da


Constituição federal de 1988, que fortaleceu o debate sobre a autonomia municipal.
Nesse sentido, pode-se afirmar que sua missão é consultiva, deliberativa, normativa,
fiscalizadora ou de assessoramento do poder executivo. Por meio dos conselhos, é
estabelecido um novo formato de relações entre a sociedade e o Estado, além de

52
proporcionar a institucionalização da participação de segmentos da sociedade civil
organizada (BRASIL, 2010).

A respeito disso, o diagnóstico Perfil dos Municípios Brasileiros, Meio Ambiente,


realizado em 2002, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que
a realidade brasileira ainda estava distante da meta de se ter o SISNAMA em pleno
funcionamento. Na maioria dos municípios (65,9%) não havia conselhos de meio
ambiente (BRASIL, 2005a).

Desde então, essa realidade mudou gradativamente. Os dados da pesquisa


realizada em 2009 revelaram que 56,3% dispunham de Conselho Municipal de Meio
Ambiente. Em 2012, o número foi 63,7%; já em 2013, 67,9%. Apesar do avanço, as
pesquisas mostram uma defasagem, se forem considerados outros conselhos, como os
de Assistência Social, Direitos da Criança e do Adolescente, que são obrigatórios,
conforme leis federais, e que estão presentes em quase todos os municípios brasileiros
(BRASIL, 2010; 2013; 2014).

Gráfico: Percentual de municípios brasileiros que dispunham de conselho municipal

PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS
BRASILEIROS QUE DISPUNHAM DE
CONSELHO MUNICIPAL
67,90%
63,70%
56,30%
34,10%

2002 2009 2012 2013

Fonte: (BRASIL, 2005a; 2010; 2013; 2014).

Você sabe quais segmentos da sociedade fazem parte do Conselho Municipal de


Meio Ambiente?

53
Um espaço representativo

Cada vez mais a população, juntamente com o poder público, tem sido chamada a
participar da gestão do meio ambiente. Para isso, é necessário que sejam criados
mecanismos institucionais que promovam o aumento da consciência ambiental e a
mudança de hábitos e de comportamentos. O Conselho Municipal de Meio Ambiente é um
órgão criado para esse fim. Trata-se de um instrumento de exercício da democracia,
educação para a cidadania e convívio entre diferentes setores da sociedade.

Esse espaço destina-se a colocar em torno da mesma mesa os órgãos públicos, os


setores empresariais e políticos e as organizações da sociedade civil no debate e na
busca de soluções para o uso dos recursos naturais, a recuperação dos danos
ambientais, a qualidade ambiental do município e o alcance do desenvolvimento
sustentável.

Devemos considerar que a criação de um conselho ativo e de composição


democrática atende aos princípios que estruturam o SISNAMA. Com acesso às
informações necessárias, cidadãos e cidadãs saberão de seus direitos e deveres e se
sentirão mais responsáveis pela qualidade ambiental do lugar em que vivem. Ao debater
publicamente questões relevantes para a qualidade de vida, o conselho também pode ser
um valioso aliado da democratização da informação.

Isso motiva os políticos, técnicos e cidadãos a conhecerem mais as questões


ambientais e ultrapassarem a fronteira da criação de fóruns apenas para “marcar
posições”. Nesse sentido, é importante que os conselhos sejam dinâmicos, interativos e
tecnicamente preparados.

O Conselho Municipal de Meio Ambiente que seja representativo dos diversos


setores da sociedade cumpre melhor suas atribuições. A sua composição pode ser
paritária, apresentando em igualdade numérica representantes do poder público
(municipal, estadual e federal) e da sociedade civil organizada, por exemplo, o setor
empresarial, setor sindical, universidades, entidades ambientalistas.

54
Cada conselho deve espelhar em sua composição as forças atuantes no local. Por
isso, é necessário conhecer antes quais são essas forças. Devido à interdisciplinaridade
da questão ambiental, de forma genérica, podem fazer parte do Conselho Municipal de
Meio Ambiente, por exemplo, representantes de:

 Secretarias municipais de saúde, educação, meio ambiente, obras,


planejamento e outras cujas ações interfiram no meio ambiente;

 Câmara de vereadores;

 Órgãos estaduais e federais presentes no município;

 Sindicatos;

 Entidades ambientalistas;

 Grupos de produtores rurais;

 Instituições de defesa do consumidor;

 Associações de bairros;

 Grupos de mulheres, de jovens e de pessoas da terceira idade;

 Entidades de classe (arquitetos, engenheiros, advogados, professores, etc);

 Entidades representativas do empresariado;

 Instituições de pesquisa e de extensão;

 Movimentos sociais e de minorias que sejam importantes para o município.

55
É importante ressaltar também que os conselheiros
municipais de meio ambiente são pessoas que agem
de forma voluntária em benefício da comunidade e,
portanto, não recebem pagamento pelos serviços
prestados.

Aconselha-se ainda que o Conselho Municipal de Meio Ambiente seja proporcional


ao número de habitantes do município, tal como consta da tabela a seguir:

Tabela: Proporcionalidade entre número de conselheiros e de habitantes da localidade

Número de conselheiros População do município


10 Menos de 20 mil habitantes
12 Entre 20 mil e 50 mil habitantes
14 Entre 50 mil e 100 mil habitantes
16 Entre 100 mil e 200 mil habitantes
18 Entre 200 mil e 500 mil habitantes
20 Mais de 500 mil habitantes

Fonte: (BRASIL, 2005b)

Ademais, os conselhos podem ser paritários, quando possuem composição


equilibrada em número de membros por categoria; ou majoritários, com representação
diferenciada em número de membros por categoria.

A presidência do Conselho, em geral, é exercida pelo próprio prefeito ou por


pessoa designada a representá-lo, como o secretário de meio ambiente. Há, no entanto,
experiências bem-sucedidas de designação do presidente pelos próprios membros do
conselho.

E afinal, para que serve o Conselho Municipal de Meio Ambiente?

56
O papel do Conselho Municipal de Meio Ambiente

Já sabemos que o Conselho Municipal de Meio Ambiente tem como função


principal opinar e assessorar o poder executivo municipal – a prefeitura, suas secretarias
e o órgão ambiental municipal – nas questões relativas ao meio ambiente. Nos assuntos
de sua competência, é também um fórum para se tomar decisões. Desse modo, entre as
possíveis atribuições do Conselho podemos citar:

 Elaborar o seu regimento interno a partir de princípios e diretrizes


previamente estabelecidos, que orientem inclusive o seu funcionamento
preliminar;

 Propor a política ambiental do município e fiscalizar o seu cumprimento;

 Analisar e, dependendo da legislação municipal, conceder licenças


ambientais para atividades potencialmente poluidoras em âmbito municipal;

 Analisar recursos quanto à aplicação de multas e outras penalidades;

 Promover a educação ambiental;

 Aprovar ou referendar o uso de recursos destinados ao meio ambiente,


fiscalizando sua alocação, bem como as ações do Fundo Municipal de Meio
Ambiente;

 Propor a criação de normas legais, bem como a adequação e a


regulamentação de leis, padrões e normas às condições municipais;

 Acompanhar a implementação das unidades de conservação do município;

 Sistematizar a divulgação de seus trabalhos;

 Opinar sobre aspectos ambientais de políticas estaduais ou federais que


tenham impactos sobre o município;
57
 Receber e apurar denúncias feitas pela população sobre degradação
ambiental, sugerindo à prefeitura as providências cabíveis.

Essas são algumas das atribuições possíveis, mas cada município pode
estabelecer as competências do seu conselho, de acordo com a realidade local. Porém,
lembre-se, o conselho não tem a função de criar leis!

Criar leis compete ao legislativo municipal, ou seja, à câmara de vereadores. O


Conselho pode, no entanto, sugerir sua criação, bem como a adequação e a
regulamentação das já existentes, quando isso significar o estabelecimento de limites
mais rigorosos para a qualidade ambiental ou facilitar a ação do órgão executivo.

Da mesma forma, o conselho não tem poder de polícia. Pode indicar ao órgão
ambiental municipal a fiscalização de atividades poluidoras, mas não exerce diretamente
ações administrativas de fiscalização. Pode ainda expedir resoluções, como o fazem o
CONAMA e alguns conselhos estaduais de meio ambiente (CONSEMAs).

Além disso, nos conselhos pode haver câmaras técnicas e grupos de trabalho.
Essa não é uma prática comum aos conselhos de municípios pequenos. Entretanto, nos
municípios mais populosos, o trabalho do conselho pode estar mais bem distribuído por
meio de câmaras técnicas, grupos de trabalho temáticos ou ad hoc para questões
específicas.

Veja no site do CONAMA os temas e as atividades das câmaras técnicas e


dos grupos de trabalho, bem como sua composição e funcionamento.
http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm

58
Ad hoc

Expressão latina que significa para isto; para tal fim. Portanto, um
consultor “ad hoc” é designado, por se tratar de perito, para executar
determinada tarefa (BRASIL, 2006, p. 23).

Devemos considerar também que não há impedimento legal para que o conselho
se dedique a outra área de atuação, além de meio ambiente. Se o município assim o
desejar, poderá criar um conselho de meio ambiente e turismo, meio ambiente e
agricultura, etc. Esse tipo de arranjo pode atender às necessidades de pequenos
municípios ou daqueles em que a questão ambiental está intimamente ligada a uma
atividade específica, como é o caso das estâncias hidrominerais ou dos municípios
litorâneos, que se dedicam principalmente ao turismo.

Relação com a Prefeitura

A Prefeitura deve fornecer todas as condições para o funcionamento do Conselho


Municipal de Meio Ambiente por meio do Órgão Municipal de Meio Ambiente. Por isso,
convém que, antes da criação daquele, este já esteja instalado. O Órgão Municipal de
Meio Ambiente deverá ter capacidade técnica suficiente para dar apoio, inclusive
administrativo, ao funcionamento do conselho. Cabe ainda ao Executivo municipal,
juntamente com a sociedade, colocar em prática as decisões do conselho para que este
se torne um efetivo instrumento de promoção de qualidade ambiental no município. A lei
de criação do conselho deve garantir todos esses aspectos.

O prefeito pode impedir as atividades do conselho?

O Conselho Municipal de Meio Ambiente é instituído por lei da Câmara Municipal.


O Executivo deve cumprir as leis proclamadas pelo Legislativo. Portanto, caso haja algum
impedimento às atividades do conselho, a questão deverá ser encaminhada à própria

59
câmara de vereadores ou ao Ministério Público para que sejam tomadas as devidas
providências.

E como podemos fortalecer o Conselho Municipal de Meio Ambiente?

Além do processo permanente de debates e mobilizações no próprio município,


vale a pena que o conselho promova constante intercâmbio com instâncias similares de
outros municípios, com os CONSEMAS e com o CONAMA. Este órgão, na condição de
referência permanente para os conselhos municipais, tem grande interesse na
constituição de uma rede de conselhos de meio ambiente, no intuito de fortalecê-los como
instâncias de controle social.

Agora que já temos uma base conceitual sobre os conselhos municipais de meio
ambiente, vejamos a seguir como criá-lo em seu município.

Passos para a formação do Conselho Municipal de Meio Ambiente

Em primeiro lugar devemos ter em mente que a criação do conselho dá-se por
meio de lei, mediante iniciativa do Poder Executivo municipal. Pode ser também iniciativa
do Poder Legislativo, quando o prefeito não se interessar ou se omitir. Porém, como está
vinculado ao Poder Executivo e implica despesas e criação de cargos, convém que a
iniciativa parta do prefeito.

Veja, então, quais são os principais caminhos para a formação do conselho de


meio ambiente em seu município.

 Mobilização. A comunidade deve estar envolvida e debater os termos de


criação da lei que institui o Conselho Municipal de Meio Ambiente. É
importante que tenha espaço para conversar sobre o porquê da existência
do conselho e o papel que este exercerá no município, bem como a sua
composição. Esse momento é importante também para identificar pessoas e
grupos interessados em integrar o futuro órgão.

60
 Redação e aprovação da lei. O conselho deve ser instituído por meio de lei
elaborada e aprovada pela câmara de vereadores do município. O texto da
lei conterá finalidades, competências, composição, estrutura e
funcionamento do conselho, conforme consta nesta minuta de lei.

 Nomeação de conselheiros e conselheiras. Cabe ao Poder Executivo


municipal nomear e dar posse aos integrantes do conselho e a seus
respectivos suplentes, bem como facilitar a escolha de quem deverá exercer
a sua presidência.

 Criação e aprovação do regimento interno. Depois de empossados, os


integrantes discutem e aprovam o regimento interno do conselho. Trata-se
de um documento que, de acordo com a lei, define a estrutura de
funcionamento do órgão, suas competências e forma de organização, como
pode ser visto nesta minuta.

 Reuniões periódicas. O Conselho Municipal de Meio Ambiente deve se


reunir com periodicidade regular, e é importante que esses encontros sejam
abertos à participação dos demais membros da comunidade, na condição de
ouvintes.

61
Para refletir
Caso no seu município não exista Conselho Municipal de Meio Ambiente, é
importante criá-lo. Com base nas informações obtidas até agora e nas minutas
apresentadas anteriormente, elabore um conselho para seu município,
considerando, principalmente, as finalidades, composição, organização dos
trabalhos e o funcionamento.
Agora, avalie suas escolhas, considerando os seguintes princípios :

- Representatividade: a composição do conselho reflete as principais forças e


segmentos sociais atuantes no município?
- Credibilidade: as organizações selecionadas e seus representantes espelham a
estima e o respeito da sociedade? São considerados idôneos?
- Operacionalidade: quais providências foram pensadas para que o conselho
tenha sessões ordinárias regulares?
- Publicidade e transparência: que mecanismos foram pensados para garantir
acesso do público a reuniões, documentos e deliberações do conselho?

Caso seu município já possua conselho de meio ambiente, verifique, com base
nos princípios citados acima, de que forma este atende aos requisitos de bom
funcionamento.

Em resumo

O apelo para que a população participe mais dos cuidados com o meio ambiente
tem sua expressão máxima no Conselho Municipal de Meio Ambiente. Este possui as
funções de opinar, assessorar a prefeitura e decidir questões municipais relativas ao meio
ambiente e à qualidade de vida. Destina-se também a colocar em torno da mesma mesa
todos os setores sociais em busca do desenvolvimento sustentável.

Em termos da representação de seus membros, o conselho pode ser paritário ou


majoritário. Entre suas múltiplas atribuições, destacam-se: debater e propor o
planejamento ambiental do município, criar resoluções para a qualidade ambiental do

62
município; analisar e conceder licenças ambientais; avaliar recursos sobre aplicação de
multas, receber e apurar denúncias, fiscalizar as ações e a destinação de recursos, etc.

O ideal é que o conselho represente as forças sociais mais importantes e tenha um


funcionamento regular e transparente. Nos municípios maiores, as suas tarefas são
distribuídas por meio de uma estruturação que prevê a existência de câmaras técnicas e
grupos de trabalho. A prefeitura é encarregada de prover as condições de funcionamento
do conselho. Em locais onde já exista um ou mais conselhos atuantes em áreas afins,
pode-se introduzir a questão ambiental, como forma de otimizar a atuação destes.

Entre os passos para a formação dos conselhos estão: mobilização, composição


da lei e sua aprovação, nomeação de conselheiros e conselheiras, bem como definição
da presidência, criação e aprovação do regimento interno e a realização de reuniões
periódicas.

Como vocês puderam notar, já compreendemos um pouco mais a respeito dos


conselhos municipais de meio ambiente, vejamos a seguir outro ponto fundamental para a
estruturação da gestão ambiental nos municípios: os fundos municipais de meio
ambiente. Prontos?

63
UNIDADE 5: RECURSOS PARA A GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL

Neste capítulo, veremos outro importante elemento para a estruturação da gestão


ambiental municipal: o Fundo Municipal de Meio Ambiente. Além disso, exemplificaremos
outras formas e fontes de captação de recursos para usos relacionados à gestão meio
ambiente local, em especial as de âmbito federal, estadual e internacional.

Recursos previstos em orçamento

Provavelmente, o elenco de ações definidas no plano ambiental municipal será


ambicioso. Muito maior do que os recursos disponíveis na prefeitura para esta área. É,
portanto, necessário descobrir quais são as possíveis fontes de recursos e como acessá-
las. E mais: identificar, entre as necessidades, quais precisam diretamente de dinheiro
para serem realizadas.

O que será necessário? Novas tecnologias? Assistência técnica? Capacitação de


funcionários? Novas máquinas e equipamentos? Reforço na estrutura institucional da
Prefeitura? Saber exatamente qual é a necessidade constitui o primeiro passo. Muitas
vezes, o município não precisa lançar mão de dinheiro, diretamente, para a resolução de
determinado problema.

O segundo passo consiste em identificar entre possíveis fontes de recursos quais


possuem melhores condições de atender às demandas. Em geral, a prefeitura tende a
contar apenas com os recursos do orçamento municipal. Porém, há outras possibilidades
extraorçamentárias das quais se pode lançar mão.

O orçamento público foi concebido originalmente com a missão de equacionar


despesas. Entretanto, hoje ele é reconhecido como um importante instrumento de
planejamento. A partir da Constituição de 1988, firmou-se a visão de tratá-lo como um
programa no qual constam os investimentos necessários ao desenvolvimento do
município. Dessa forma, as ações e os recursos para executá-las traduzem uma visão de
mais longo prazo e sujeitam-se menos à vontade pessoal do prefeito e a interesses
imediatistas.

64
Orçamento público

Instrumento de planejamento de gestão dos recursos públicos


que obriga o governo a estabelecer a quantia que deverá ser
gasta em cada uma de suas áreas de atuação e em cada nova
obra ou programa a ser executado. (BRASIL, 2006, p.13)

Ao longo dos anos, ganhou cada vez mais força a importância da participação
popular na definição do orçamento. Uma prática hoje adotada por dezenas de municípios
brasileiros é o orçamento participativo, no qual cidadãos e cidadãs dos meios urbano e
rural decidem juntos onde serão gastos os recursos destinados aos investimentos
municipais. Afinal, ninguém melhor que os próprios moradores, que “sentem na pele” os
problemas do cotidiano, para decidir onde serão gastos os recursos. Atualmente, milhares
de cidadãos participam da discussão, definição e fiscalização do orçamento público,
acompanhando de forma mais atenta como está sendo gasto o seu dinheiro.

Orçamento participativo

Processo através do qual a população do municípo


discute, decide e influi na decisão de onde aplicar as
verbas destinadas a investimentos públicos. (BRASIL,
2006, p.13)

E como é feito o orçamento municipal?

Para cada política pública definida, deve-se estabelecer quais ações serão
realizadas e quanto dinheiro será gasto em cada uma. Isso é, em suma, o caráter do
Orçamento público. O plano é elaborado pelo Poder Executivo municipal e aprovado pela

65
Câmara dos Vereadores. Nele constarão quanto, em dinheiro, o poder público (Executivo,
Legislativo e Judiciário, se houver) vai receber e em quais ações esses recursos serão
aplicados durante todo o ano. A base para a realização do orçamento é a busca de
equilíbrio entre receitas, isto é, entre ganhos, rendas e todo tipo de entrada de dinheiro do
município, e as despesas, ou seja, os gastos, investimentos e compras.

As receitas orçamentárias municipais provêm de impostos, taxas e multas pagos


pela população, bem como de repasses dos governos federal e estadual. A elaboração,
aprovação, execução, controle e avaliação do orçamento nas instituições públicas
brasileiras estão previstos em lei. Baseiam-se no Plano Plurianual (PPA), na Lei das
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA).

O Plano Plurianual foi previsto pela Constituição de 1988 e segue os preceitos da


Lei de Responsabilidade Fiscal, que exige maior articulação entre as estratégias definidas
e as diretrizes orçamentárias e fiscais. Estrutura-se de forma que as ações
governamentais sejam gerenciadas em programas e projetos. Ou seja, não apenas define
o recurso que será gasto nas diversas ações, mas também delimita claramente o que
será necessário para realizá-las, os prazos, os custos, bem como o seu
acompanhamento, até que se alcance o resultado esperado.

O PPA é elaborado pelo Poder Executivo, mas pode ser alterado por meio de
emendas. A comunidade mobilizada tem o direito de exigir da prefeitura ou dos
vereadores que o PPA contenha recursos específicos para investimentos na melhoria da
qualidade ambiental, como a criação de mais áreas verdes, a coleta e a reciclagem de
lixo, o tratamento dos esgotos, entre outras medidas.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO tem a finalidade de orientar a elaboração


do orçamento anual por meio das diretrizes, objetivos e metas da administração pública
estabelecidas no PPA. Dessa forma, estabelece os critérios que serão utilizados na
proposta orçamentária de cada ano.

Nesse sentido, a comunidade, as entidades ambientalistas e o conselho municipal


de meio ambiente podem inserir parâmetros nessa lei. Assim, por exemplo, o Executivo
pode indicar que os recursos a serem empregados na merenda escolar sejam gastos com

66
alimentos orgânicos gerados pelos produtores locais; ou ainda estabelecer que todas as
obras executadas pela prefeitura tenham como critério básico o respeito à integridade do
meio ambiente.

A Lei Orçamentária Anual define receitas e despesas para cada um dos programas
e projetos municipais a serem realizados no ano seguinte. Elaborada pelo Poder
Executivo, essa proposta de orçamento deve considerar as metas fixadas no PPA e os
critérios adotados na LDO. Dessa forma, a meta de tratamento de esgotos, prevista no
PPA para durar vários anos, deve ter recursos alocados ou previstos na proposta
orçamentária anual.

Entretanto, a participação popular não deve se restringir à elaboração do


orçamento, consolidado na LOA, mas incluir também o acompanhamento de sua
implementação.

Fundo Municipal de Meio Ambiente: valioso instrumento de gestão municipal

Geralmente, a falta de recursos financeiros constitui um grande empecilho para que


as prefeituras estruturem sua área de meio ambiente. O gestor municipal ao constituir a
área de meio ambiente no município, estará investindo em sua capacidade de
arrecadação. Por exemplo, medidas como a compensação ambiental e as multas
previstas na Lei de Crimes e Infrações Administrativas Ambientais podem ser revertidas
na melhoria da qualidade de vida do município e de sua população.

Porém, captar recursos não significa apenas obter dinheiro ou assistência técnica,
equipamentos e infraestrutura. Significa estabelecer e gerenciar relacionamentos com
instituições que têm interesse na gestão ambiental e no sucesso da administração
municipal. Dependendo de como serão tratadas, essas instituições podem se tornar
importantes parceiras do município.

A criação do Fundo Municipal de Meio Ambiente tem a finalidade de assegurar


recursos financeiros necessários ao desenvolvimento das ações da Política de Meio

67
Ambiente no município, devendo sua criação ser autorizada por lei municipal e suas
receitas, vinculadas ao aperfeiçoamento de mecanismos de gestão ambiental.

Os recursos desse Fundo podem ser utilizados por órgãos das administrações
direta e indireta do próprio município, organizações não-governamentais, organizações da
sociedade civil de interesse público, organizações de base, como sindicatos, associações
de produtores, associações de reposição florestal, entre outras, desde que se configurem
como organizações sem fins lucrativos.

No ano de 2002, os Fundos estavam presentes em somente 1,5% dos municípios,


alcançando 29,6%, em 2009, e 37,2%, em 2012. De acordo com a Pesquisa de
Informações Básicas Municipais, publicada em 2013, (42,8%) municípios do País
dispunham de Fundo de Meio Ambiente. A presença desse fundo é maior na Regiões Sul
(59,5%) e Centro-Oeste (58,9%), seguido pela Região Norte (53,1%); é menor entre os
municípios das Regiões Sudeste (42,6%) e Nordeste (25,2%), conforme gráfico abaixo
(BRASIL, 2014b).

Gráfico: Percentual de municípios com fundo municipal de meio ambiente, segundo


as grandes regiões.

PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS COM


FUNDO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE,
SEGUNDO AS GRANDES REGIÕES
2012 2013
59,50%

58,90%
54,60%
53,10%

51,30%
42,60%
41,90%

36,70%
25,20%
21,40%

NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE

Fonte: (BRASIL, 2014b)

68
Devemos destacar que os estados do Rio de Janeiro (95,6%) e do Rio Grande do
Sul (95,2%) são os que apresentaram os maiores percentuais. Já, os estados do Piauí
(8,5%) e Paraíba (4,5%) apresentam percentuais opostos. Na Região Nordeste, somente
a Bahia (52,0%) mantém resultado superior ao obtido para a média Brasil (42,8%). Além
disso, A ocorrência de um fundo específico para o meio ambiente nos municípios ainda é
baixa entre aqueles com população de até 20 000 habitantes (33,6%), estando mais
presente entre aqueles com mais de 50 000 habitantes (80,2%) (BRASIL, 2014b).

Estruturar o Fundo Municipal de Meio Ambiente pode representar outro patamar de


autonomia e qualidade na captação e na destinação de recursos para a gestão ambiental
municipal. No entanto, antes de criar esse fundo, como já vimos, no Módulo I, é
necessário que os municípios criem o Sistema Municipal de Meio Ambiente.

Desse modo, o Fundo Municipal de Meio Ambiente representa uma fonte de


recursos públicos alocados especificamente para o meio ambiente. É o instrumento
financiador da política ambiental do município, responsável por captar e gerenciar
recursos financeiros destinados a projetos socioambientais, portanto um fundo bem
estruturado e com uma boa gestão pode receber recursos extraorçamentários
(públicos, privados, nacionais e internacionais) e gastá-los sem se sujeitar às regras
orçamentárias convencionais, como a devolução no fim do exercício fiscal.

Recursos extraorçamentários

Valores provenientes de toda e qualquer arrecadação que não figure no orçamento


e, consequentemente, toda arrecadação que não constitui renda do Estado. O seu
caráter é de extemporaneidade ou de transitoriedade nos orçamentos (BRASIL,
2015a).

Agora que já compreendemos o papel do Fundo Municipal de Meio Ambiente,


vejamos a seguir os principais caminhos para sua criação.

69
Passos para a Criação do Fundo Municipal de Meio Ambiente

O Fundo Municipal de Meio Ambiente deverá ser criado e mantido pelo próprio
município para suprir as suas demandas de recursos na área ambiental. Para isso, é
preciso:

Criação da Lei
Regulamentação da Lei
No município, a Câmara de Vereadores é
Definir a natureza e finalidade do fundo;
o órgão responsável pela autorização na
forma como será administrado; recursos
criação do fundo. Este pode ser criado
com os quais poderá operar; modo de
mediante uma lei específica; pode, ainda,
destinação e aplicação dos recursos e
estar previsto na Lei Orgânica do
disposições sobre orçamento e
Município ou em capítulo específico
contabilidade.
sobre meio ambiente de outras leis.

Funcionamento
Agir em conformidade com as Leis no Implementação
8.666/1993 e a Lei Complementar nº Colocar as normas em práticas, o que
101/2000 e outros mecanismos legais, envolve: gestão transparente, com
liberar recursos mediante apresentação participação e controle social; instância
de projetos e adotar critérios para delibrativa colegiada e destinação
financiamento que estejam em exclusiva de recursos para projetos
consonância com a Política Nacional de socioambientais.
Meio Ambiente.

Para maiores informações sobre a Lei 8.666/1993, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm

70
Para maiores informações sobre a Lei Complementar nº 101/2000, acesse
o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm

Além disso, o Fundo Municipal de Meio Ambiente deverá ser estruturado de modo
adequado ao tamanho do município e à sua capacidade de captar e destinar recursos
para o meio ambiente. Da mesma forma, a prioridade para uso dos recursos dependerá
do volume da arrecadação e da capacidade dos gestores em captá-los de outras fontes.
As indicações a seguir podem ser aprimoradas, considerando-se as distintas realidades
locais. Vejamos:

 Órgão gestor – pode ser a Secretaria Municipal de Meio Ambiente ou outro


órgão que tenha entre suas atribuições explícitas para executar a política
ambiental do município. Este órgão deverá prover os recursos humanos e
materiais adequados para o bom funcionamento do Fundo Municipal de
Meio Ambiente.

Caberá ao Órgão Gestor: elaborar a proposta orçamentária do fundo, submetendo-


a a apreciação do colegiado; organizar o plano anual de trabalho e o cronograma de
execução físico-financeira, de acordo com os critérios e prioridades definidas pelo seu
colegiado participativo; celebrar convênios, acordos ou contratos com entidades públicas
ou privadas, visando à execução das atividades custeadas com seus recursos,
observando a legislação vigente; ordenar despesas com seus recursos, de acordo com a
legislação pertinente; prestar contas dos recursos empregados aos órgãos competentes e
monitorar a execução dos projetos conveniados.

 Colegiado participativo – pode ser o Conselho Municipal de Meio Ambiente


ou organização similar que cumpra a mesma finalidade no município. A
pessoa que exerce a presidência desse conselho poderá presidir também o
Fundo Municipal de Meio Ambiente.

71
Colegiado

Fórum consultivo ou deliberativo, estabelecido por instrumento legal, que busca


reunir os segmentos representativos do governo e da sociedade, que atuam em
âmbito estadual (ou municipal), podendo abranger também representantes do
governo federal e dos municípios, para a discussão e o encaminhamento de
políticas, planos, programas e ações (KRIEGER, 2008 p.69).

O colegiado poderá ter como funções: definir os critérios e prioridades para


aplicação dos recursos do fundo; fiscalizar a aplicação dos recursos; apreciar a proposta
orçamentária apresentada pelo órgão gestor, antes que esta seja encaminhada para
inclusão no orçamento municipal; aprovar o plano anual de trabalho e o cronograma
físico-financeiro apresentado pelo órgão gestor; apreciar os relatórios técnicos e as
prestações de contas, antes de seu encaminhamento aos demais órgãos de controle;
outras atribuições que lhe forem consideradas pertinentes, definidas na legislação
ambiental municipal e aprovação, após análise do órgão gestor, dos projetos a serem
financiados.

Cronograma físico-financeiro

Representação gráfica da previsão da execução de um trabalho, na qual se


indicam os prazos em que se deverão executar as suas diversas atividades e os
recursos financeiros a serem desembolsados para isso (BRASIL, 2006 p.57).

 Fontes de recursos – o município pode conseguir recursos para o


funcionamento do Fundo Municipal de Meio Ambiente a partir das seguintes
fontes: dotações orçamentárias específicas, definidas pela prefeitura; taxas
e tarifas ambientais previstas em lei; multas cobradas por infrações às
normas ambientais, na forma da lei; transferências de recursos da União, do
72
Estado ou de outras entidades públicas e privadas; convênios, contratos e
acordos celebrados entre o município e instituições públicas ou privadas,
cuja execução seja de competência do órgão ambiental municipal; doações
em dinheiro, valores, bens móveis e imóveis, recebidos de pessoas física ou
jurídica, públicas ou privadas, nacionais ou internacionais, desde que o
fundo tenha personalidade jurídica própria; transferência de recursos do
ICMS ecológico; rendimentos de qualquer natureza decorrentes de
aplicações de seu patrimônio; reembolso de serviços prestados,
treinamentos ou produtos vendidos (livros, manuais, etc); e condenações
judiciais de empreendimentos sediados no município ou que afetem o
território municipal, decorrentes de crimes praticados contra o meio
ambiente.

ICMS ecológico

Iniciativa destinada a incentivar a conservação ambiental por meio da adoção


de critérios ambientais na distribuição dos recursos do Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) aos municípios. Dessa
forma, recebem mais recursos aqueles que protegem suas áreas naturais
(BRASIL, 2006 p.58).

 Aplicação dos recursos – Os recursos adquiridos pelo fundo podem ser


aplicados nas seguintes ações: desenvolvimento e aperfeiçoamento de
instrumentos de gestão, planejamento e controle ambiental; criação,
manutenção e gerenciamentos de praças, unidades de conservação e
demais áreas verdes ou de proteção ambiental; execução de projetos e
programas de interesse ambiental, incluindo a contratação de serviços de
terceiros; pesquisas e desenvolvimento científico e tecnológico;
desenvolvimento de programas de capacitação e aperfeiçoamento de
recursos humanos em questões relacionadas ao meio ambiente; custeio de
ações de educação e comunicação ambiental; pagamento de despesas

73
relativas a contrapartidas estabelecidas em convênios e contratos com
órgãos públicos e privados de pesquisa e de proteção ao meio ambiente e
aquisição de material permanente e de consumo necessário à execução da
Política Municipal de Meio Ambiente.

 Acesso aos recursos - Os recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente


podem ser utilizados por órgãos da administração direta ou indireta do
próprio município; organizações não-governamentais (ONGs); organizações
da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), organizações de base,
como sindicatos, associações de produtores, associações de reposição
florestal, entre outras, desde que se configurem como organizações sem fins
lucrativos.

Além dessas opções, há outras fontes de recursos para as ações ambientais nos
municípios. Vejamos a seguir essas demais possibilidades.

Para refletir
Pesquise se há no seu município um Fundo Municipal
de Meio Ambiente inserido na estrutura do Sistema
Municipal de Meio Ambiente.

Outras Fontes de Financiamento para as Ações Ambientais

Na esfera federal

a) Fundo Nacional de Meio Ambiente

Historicamente, o financiamento ambiental no Brasil teve início com o Fundo


Nacional de Meio Ambiente, FNMA, criado pela Lei 7.797/1989. A referida lei foi
74
regulamentada pelo Decreto nº 3.524/2000, atualizado pelo Decreto nº 6985/2009, que
estabeleceu a natureza contábil e financeira do fundo e a composição do seu Conselho
Deliberativo. O FNMA é um dos instrumentos do SISNAMA, e tem foco exclusivo nas
questões ambientais. Sua missão é financiar a implementação da Política Nacional de
Meio Ambiente.

Para maiores informações sobre a Lei 7.797/1989, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7797.htm

Para maiores informações sobre o Decreto nº 3.524/2000, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3524.htm

Para maiores informações sobre o Decreto nº 6985/2009, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D6985.htm

O FNMA, como agência financiadora integrante do SISNAMA é um dos principais


fundos públicos de fomento socioambiental do Brasil. Seu apoio aos projetos se dá por
meio de:

75
 Demanda espontânea. As propostas podem ser apresentadas em período
específico do ano, definido pelo Conselho Deliberativo, de acordo com as
linhas temáticas e regras do fundo.

 Demanda induzida. As ações são voltadas a projetos estruturantes, de maior


valor, apresentados em resposta a editais específicos, com prazos definidos
e direcionados a um tema ou a uma determinada região do país.

No caso da demanda espontânea, os projetos são de 100 a 300 mil reais. Projetos
de demanda induzida têm seus limites estabelecidos pelo instrumento de seleção (edital
ou termo de referência).

Cabe destacar também que os itens financiáveis podem ser materiais de consumo,
passagens, diárias e despesas com locomoção, serviços de terceiros – pessoa física,
serviços de terceiros – pessoa jurídica, equipamentos e materiais permanentes.

Saiba mais
Para acessar recursos pelo FNMA, deve ficar
claro para a instituição que o recurso
oferecido é de toda a sociedade brasileira.
Sua utilização se sujeita, portanto, aos
princípios da administração pública:
legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.

Você sabe quais instituições podem receber os recursos do FNMA?

 Instituições públicas da administração direta ou indireta, em seus diversos


níveis (federal, estadual e municipal), categoria na qual se incluem as
prefeituras, com suas secretarias, departamentos ou divisões de meio
ambiente.

 Instituições privadas brasileiras sem fins lucrativos, o que inclui


organizações ambientalistas, fundações, organizações de base e
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que
76
possuam, no mínimo, três anos de experiência comprovada no tema do
projeto.

Desde a criação do FNMA, surgiram muitas outras opções de financiamento na


área ambiental, tanto no setor público como no setor privado. No governo federal, por
exemplo, há diferentes ministérios, órgãos e entidades que apoiam o meio ambiente,
entre os quais fundos específicos, como Fundo Clima, Fundo Nacional Florestal de
Desenvolvimento – FNDF, Fundo Amazônia, o Fundo de Direitos Difusos. Vejamos a
seguir.

Para maiores informações sobre o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA)


acesse o site do MMA, ou envie um email:
http://www.mma.gov.br/fnma
E-mail: fnma@mma.gov.br

b) Fundo Nacional sobre Mudança do Clima - Fundo Clima

O Fundo Clima foi criado pela Lei nº 12.114/2009 e regulamentado pelo Decreto
nº 7.343/2010. É um instrumento da Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC,
instituída pela Lei n° 12.187/2009.

Para maiores informações sobre a Lei nº 12.114/2009, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L12114.htm

77
Para maiores informações sobre o Decreto nº 7.343/2010, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Decreto/D7343.htm

Para maiores informações sobre a Lei n° 12.187/2009, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12187.htm

O Fundo Clima tem por finalidade financiar projetos, estudos e empreendimentos


que visem à mitigação, ou seja, à redução dos impactos da mudança do clima e à
adaptação a seus efeitos. É vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e disponibiliza
recursos em duas modalidades: reembolsável e não-reembolsável. Os recursos
reembolsáveis são administrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social - BNDES. Os recursos não-reembolsáveis são operados pelo Ministério do Meio
Ambiente. Um percentual de 2% da verba anual fica reservado para o pagamento do
agente financeiro e quitação de despesas relativas à administração e gestão (BRASIL,
2015b).

As fontes de recursos do Fundo Clima são as dotações consignadas na Lei


Orçamentária Anual (LOA) da União; doações de entidades nacionais e internacionais,
públicas ou privadas e outras modalidades previstas na lei de criação (BRASIL, 2015b).

O fundo é administrado por um comitê gestor presidido pelo Secretário-Executivo


do Ministério do Meio Ambiente, e deve aprovar a proposta orçamentária e o Plano Anual
de Aplicação de Recursos do Fundo, o PAAR. Ao final de cada ano, é necessário elaborar
relatórios sobre a aplicação das verbas. O órgão colegiado tem também a atribuição de
78
estabelecer diretrizes e prioridades de investimento com frequência bienal (BRASIL,
2015b).

Para maiores informações sobre o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, acesse
o site do MMA:
http://www.mma.gov.br/apoio-a-projetos/fundo-nacional-sobre-mudanca-do-clima

c) Fundo Nacional Florestal de Desenvolvimento - FNDF

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal - FNDF tem a missão de fomentar


o desenvolvimento de atividades florestais sustentáveis no Brasil e promover a inovação
tecnológica no setor. É um fundo público de natureza contábil criado pela Lei nº
11.284/2006, Lei de Gestão de Florestas Públicas, regulamentada pelo Decreto nº
7.167/2010. O Serviço Florestal Brasileiro é o gestor do FNDF (BRASIL, 2015c).

Para maiores informações sobre a Lei 11.284/2006, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11284.htm

79
Para maiores informações sobre o Decreto Nº 7.167/2010, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Decreto/D7167.htm

As áreas prioritárias para aplicação de recursos são:

 Pesquisa e desenvolvimento tecnológico em manejo florestal;

 Assistência técnica e extensão florestal;

 Recuperação de áreas degradadas com espécies nativas;

 Aproveitamento econômico racional e sustentável dos recursos florestais;

 Controle e monitoramento das atividades florestais e desmatamentos;

 Capacitação em manejo florestal e formação de agentes multiplicadores;

 Atividades florestais;

 Educação ambiental; e

 Proteção ao meio ambiente e conservação dos recursos naturais.

Os recursos do FNDF provêm dos valores arrecadados nas concessões florestais.


Adicionalmente o fundo pode receber doações realizadas de entidades nacionais ou
internacionais, públicas ou privadas; e verbas provenientes de emendas parlamentares.
(BRASIL, 2015c).

80
Para maiores informações sobre o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Florestal, acesse o site:
http://www.florestal.gov.br/extensao-e-fomento-florestal/fundo-
nacional-do-desenvolvimento-florestal/fundo-nacional-de-
desenvolvimento-florestal

d) Fundo Amazônia

O Fundo Amazônia tem por finalidade captar doações para investimentos não
reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e
de promoção da conservação e do uso sustentável do Bioma Amazônia, nos termos do
Decreto 6.527/2008. O decreto prevê ainda a utilização de até 20% dos recursos do
fundo no apoio ao desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do
desmatamento em outros biomas brasileiros e em florestas tropicais de outros países.

Para maiores informações sobre o Decreto 6.527/08, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Decreto/D6527.htm

A gestão do fundo é realizada pelo BNDES, que também é responsável pela


captação de recursos, da contratação e do monitoramento dos projetos e ações apoiados.

81
Para maiores informações sobre o Fundo Amazônia, acesse os sites:
http://www.mma.gov.br/apoio-a-projetos/fundo-amazonia ou
http://www.bndes.gov.br/

e) Fundo de Defesa dos Direitos Difusos

O Fundo de Defesa dos Direitos Difusos é um fundo de natureza contábil,


vinculado ao Ministério da Justiça. Foi criado pela Lei nº 7.347/1985 e tem como objetivo
a reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, por infração à ordem econômica e
a outros interesses difusos e coletivos.

Para maiores informações sobre a Lei nº 7.347/1985, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm

Constitui recursos deste fundo: as condenações judiciais de que tratam os Artigos


11 a 13 da Lei n° 7.347/1985, das multas e indenizações decorrentes de aplicação da Lei
nº 7.853/1989, desde que não destinadas à reparação de danos a interesse individuais;
dos valores destinados à União em virtude da aplicação da multa prevista no Artigo 57 e
seu parágrafo único e do produto da indenização prevista no Artigo 100, parágrafo único,
da Lei nº 8.078/1999; das condenações judiciais de que trata o § 2º do Artigo 2º da Lei nº
7.913/1989, das multas referidas no Artigo 84 da Lei nº 8.884/1994; dos rendimentos
auferidos com a aplicação dos recursos do fundo; e outras receitas que vierem a ser
82
destinadas ao fundo e de doações de pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou
estrangeiras.

Para maiores informações sobre a Lei nº 7.853/1989, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm

Para maiores informações sobre a Lei nº 7.913/1989, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7913.htm

Para maiores informações sobre a Lei nº 8.884/1994, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8884.htm

83
Para maiores informações sobre o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, acesse o
site:
http://portal.mj.gov.br/cfdd/main.asp?ViewID=%7B2148E3F3-D6D1-4D6C-B253-
633229A61EC0%7D&params=itemID=%7BDE78DD24-07B2-43ED-8925-
58C2D3EB1DE6%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-
A26F70F4CB26%7D

Além das fontes de recursos provenientes da União, há outras em âmbito estadual,


vejamos:

Na esfera estadual

No âmbito do governo estadual, também pode-se criar um fundo específico para a


área ambiental. Sua formação deve ser autorizada por lei e suas receitas vinculadas ao
aperfeiçoamento de mecanismos de gestão ambiental. O Fundo Estadual de Meio
Ambiente bem estruturado pode receber recursos extra orçamentários e gastá-los sem
precisar se sujeitar às regras contábeis convencionais, tais como a devolução no fim do
exercício fiscal.

A respeito disso, a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais, ESTADIC,


mostrou que 24 Unidades da Federação (88,9%) tinham Fundo Estadual de Meio
Ambiente; apenas os estados do Rio Grande do Norte, Alagoas e Mato Grosso do Sul
informaram não dispor desse tipo de fundo. Dentre as Unidades da Federação que
informaram possuir fundo, 87,5% financiaram ações e/ou projetos voltados para a questão
ambiental nos últimos 12 meses que antecederam a coleta da informação. (BRASIL,
2014a)

Dentre as ações financiadas pelo Fundo Estadual de Meio Ambiente, aquelas


implementadas pelo maior número de Unidades da Federação foram: monitoramento
ambiental, apontada por 76,2%; projetos de educação ambiental, 71,4%; proteção de

84
recursos hídricos 66,7%; preservação da biodiversidade,61,9%; e recuperação de áreas
degradadas, apontada por 61,9% (BRASIL, 2014a).

a) ICMS Ecológico

Outra importante inciativa é o ICMS Ecológico, um mecanismo criado com base no


Artigo 158, inciso IV, da Constituição Federal do Brasil, que possibilita aos governos dos
estados estabelecerem critérios ambientais para a aplicação de até 25% dos repasses
devidos aos municípios.

O ICMS Ecológico surgiu como forma de compensar os municípios pelas restrições


ao uso do solo garantindo, assim, a proteção ambiental, sem impedi-los que busque o seu
desenvolvimento econômico sem causar impactos nos ecossistemas.

Com isso, os estados recompensam financeiramente os municípios que se


enquadram dentro dos parâmetros de preservação ambiental definidos pelo estado no
qual estão inseridos, e os municípios poupam seus recursos em defesa do bem comum,
prestando importantes serviços ambientais a toda a sociedade.

Serviços ambientais

Fluxo de materiais, energia e informação de estoques de capital natural que são


combinados ao capital de serviços humanos para produzir bem-estar aos seres
humanos (CONSTANZA, 2008 apud, GRANZIERA 2014 p.438).

Dezessete Unidades da Federação já aprovaram suas legislações sobre o ICMS


Ecológico.

85
Saiba mais

O ICMS Ecológico está implantado nos seguintes Estados: Paraná (Lei nº


9.491/1990); Minas Gerais (Lei nº 12.040/1995); Rio de Janeiro (Lei nº
5.100/2007); Acre (Lei nº 1.530/2004); Rondônia (Lei nº 147/1996);
Pará (Lei nº 7.638/2012); Amapá (Lei nº 322/1996); Mato Grosso (Lei
nº 73/2000); Mato Grosso do Sul (Lei nº 77/1994); Tocantins (Lei nº
1.323/2002); Goiás (Lei nº 90/2011); Ceará (Lei nº 14.023/20070;
Paraíba (Lei nº 9.600/2011); Pernambuco (Lei nº 1.1899/2000); São
Paulo (Lei nº 8.510/1993); Rio Grande do Sul (Lei nº 11.038/1997); e
Piauí (Lei nº 5.813/2008) (TANNUS et al., 2014)

Na esfera municipal

a) IPTU Verde

O IPTU Verde é um tributo municipal que prevê abatimento fiscal sobre o Imposto
Predial e Territorial Urbano para moradores que adotem práticas consideradas
ambientalmente adequadas pelo município. Tendo como objetivo principal incentivar a
proteção do meio ambiente, o IPTU Verde estimula a população criar e manter medidas
de sustentabilidade ambiental, como o plantio de árvores nas calçadas, captação de água
da chuva, sistema natural de iluminação, telhado verde, entre outras medidas.

Saiba mais

O IPTU Verde foi criado nos seguintes municípios: São


Carlos – SP, Lei nº 13.692/2005, regulamentados pelo
Decreto nº 264/2008, Guarulhos – SP, Lei nº 6.793/2011,
Araraquara –SP, Lei nº 7.152/2009, São Bernardo do Campo
-SP, a Lei nº 6.091/2010, Manaus – AM, a Lei
Complementar nº 886/2005, São Vicente – SP, a Lei
Complementar nº 634/2010, Vilhena –RO, Cruzeiro do
Oeste – PR, Maringá – PR, Curitiba – PR, Sorocaba – SP e
Volta Redonda – RJ (TANNUS et al., 2014)

86
Recursos da cooperação Internacional

Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, muitas agências de cooperação


internacional têm-se dedicado a firmar acordos de cooperação técnica, financeira ou
científica e tecnológica na área de meio ambiente com o governo brasileiro.

As relações de cooperação entre instituições governamentais brasileiras e


internacionais em geral ocorrem por meio de programas amplos e de acordo com
diretrizes estabelecidas pelas políticas de relações exteriores. As instituições do governo
brasileiro que coordenam esse processo são: Agência Brasileira de Cooperação (ABC),
órgão do Ministério das Relações Exteriores (MRE) para assuntos relacionados à
cooperação técnica; Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), também do MRE,
quando se tratar de projetos de cooperação científica e tecnológica; Secretaria de
Assuntos Internacionais (SEAIN), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
para cooperação financeira.

Entre as entidades financiadoras internacionais, podemos citar o Programa das


Nações Unidas para o Meio Ambiente, que presta serviços ao meio ambiente,
particularmente na difusão das preocupações ambientais dentro da comunidade
internacional. Proporciona apoio aos países no desempenho de seus objetivos na área
ambiental, colaborando com os governos no desenvolvimento de projetos e atividades.
Atua, também, com instituições acadêmicas e Organizações não-governamentais que
possuem reconhecida experiência na área.

Para maiores informações sobre o PNUMA, acesse o site:


http://www.unep.org

Também há, a Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional -


USAID, que fornece assistência técnica e financeira nas seguintes áreas: crescimento
econômico e desenvolvimento agrícola, meio ambiente, educação e treinamento,

87
assistência humanitária, saúde e nutrição, democracia e governabilidade. No Brasil, apoia
ações nas áreas de mudanças climáticas, meio ambiente, uso de energia eficiente e
limpa, saúde.

Para maiores informações sobre a USAID, acesse o site:


http://www.usaid.gov/

Ademais, há a Agência de Cooperação Internacional do Japão, JICA. Trata-se do


Órgão do governo japonês responsável pela implementação dos programas e projetos de
cooperação técnica com os demais países. Apoia atividades nas seguintes modalidades:
treinamento, intercâmbio, doação de equipamentos, cooperações técnicas tipo projeto e
pesquisa, miniprojetos, estudos de desenvolvimento. No Brasil, as áreas prioritárias são
saúde, agricultura, indústria, meio ambiente, educação e reformas econômicas.

Para maiores informações sobre o JICA, acesse o site:


http://www.jica.go.jp

Em Resumo

Como pudemos notar é importante que o município tenha na estrutura do Sistema


Municipal de Meio Ambiente um fundo específico para essa área. Além das fontes locais
de recursos, há outras em âmbito federal, estadual e até internacionais.

88
Mesmo sem recursos específicos, muito se pode fazer pela gestão ambiental a
partir das dotações orçamentárias de setores que possuem forte interação com o meio
ambiente. Só no governo federal, há diferentes ministérios e órgãos que apoiam o meio
ambiente, entre os quais os fundos específicos, como Fundo Nacional de Meio Ambiente
(FNMA), e o Fundo de Direitos Difusos entre outros, como os de Ciência e Tecnologia e
Educação.

O Fundo Municipal de Meio Ambiente, por exemplo, representa a oportunidade de


reunir os recursos destinados ao meio ambiente e geri-los de forma profissional, com
eficiência e controle da sociedade.

Nos estados e nos municípios há mecanismos de repasse direto de recursos para


a área de meio ambiente, como o ICMS Ecológico, IPTU Verde e as multas decorrentes
das infrações ambientais, com os quais se pode contar.

Outras fontes importantes de recursos são as organizações nacionais e


internacionais voltadas para a cooperação financeira para a área ambiental que poderão
ser contatadas em busca de recursos.

Neste segundo Módulo do curso compreendemos que a estruturação da gestão


ambiental municipal é fundamental para que se possa atingir a um meio ambiente
equilibrado e a qualidade de vida da população local. De modo geral, tratamos do Sistema
Municipal de Meio Ambiente; da importância de uma base legal local bem consolidada; da
necessidade de existência de um órgão municipal ambiental; da participação social, por
meio da instalação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente; e de algumas fontes de
recursos para uso em projetos e programas que tratem da questão ambiental. Veja como
é importante uma gestão local qualificada! A partir de agora, podemos pensar um pouco
mais a respeito do tema, assim, trataremos a seguir o planejamento municipal.

89
REFERÊNCIAS
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10 de julho de 1989, que cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente e dá outras
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portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de
interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público,
define crimes, e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 24 de outubro
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Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em Autarquia, dispõe sobre a prevenção e a
repressão às infrações contra a ordem econômica e dá outras providências. Presidência
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Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o
inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de
março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Presidência da
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públicas para a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio
Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Florestal - FNDF; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, 5.868, de 12 de
dezembro de 1972, 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, 4.771, de 15 de setembro de 1965,
6.938, de 31 de agosto de 1981, e 6.015, de 31 de dezembro de 1973; e dá outras
providências. Presidência da República, Brasília, 2 de março de 2006. Disponível em:

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______. Lei nº 12.114/2009, de 9 de dezembro de 2009. Cria o Fundo Nacional sobre


Mudança do Clima, altera os arts. 6o e 50 da Lei no 9.478, de 6 de agosto de 1997, e dá
outras providências. Presidência da República, Brasília, 9 de dezembro de 2009.
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Mudança do Clima - PNMC e dá outras providências. Presidência da República, Brasília,
29 de dezembro de 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras
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dos incisos III, VI e VII do caput do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal,
para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas
ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à
poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e
altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Presidência da República, Brasília, 8 de
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95
ANEXOS

Minuta de Lei para Criação do Conselho Municipal de Meio Ambiente


LEI Nº.............. Dispõe sobre a criação do Conselho
Municipal de Meio Ambiente e dá outras
providências.
A Câmara Municipal aprova e eu, Prefeito Municipal de
................................................., sanciono e promulgo a seguinte Lei:
Art. 1°. – Fica criado, no âmbito da Secretaria Municipal de
........................................... ou Departamento Municipal de ........................................ o
Conselho Municipal de Meio Ambiente - CMMA.
Parágrafo Único – O CMMA é um órgão colegiado, consultivo de assessoramento
ao Poder Executivo
Municipal e deliberativo no âmbito de sua competência, sobre as questões
ambientais propostas nesta e demais leis correlatas do Município.
Art. 2°. – Ao Conselho Municipal de Meio Ambiente - CMMA compete:
I – formular as diretrizes para a política municipal do meio ambiente, inclusive para
atividades prioritárias de ação do município em relação à proteção e conservação do meio
ambiente;
Il – propor normas legais, procedimentos e ações, visando a defesa, conservação,
recuperação e melhoria da qualidade ambiental do município, observada a legislação
federal, estadual e municipal pertinente;
III – exercer a ação fiscalizadora de observância às normas contidas na Lei
Orgânica Municipal e na legislação a que se refere o item anterior;
IV – obter e repassar informações e subsídios técnicos relativos ao
desenvolvimento ambiental aos órgãos públicos, entidades públicas e privadas e a
comunidade em geral;
V – atuar no sentido da conscientização pública para o desenvolvimento ambiental
promovendo a educação ambiental formal e informal, com ênfase nos problemas do
município;
Vl – subsidiar o Ministério Público no exercício de suas competências para a
proteção do meio ambiente previstas na Constituição Federal de 1988;

96
Vll – solicitar aos órgãos competentes o suporte técnico complementar às ações
executivas do município na área ambiental;
Vlll – propor a celebração de convênios, contratos e acordos com entidades
públicas e privadas de pesquisas e de atividades ligadas ao desenvolvimento ambiental;
IX – opinar, previamente, sobre os aspectos ambientais de políticas, planos e
programas governamentais que possam interferir na qualidade ambiental do município;
X – apresentar anualmente proposta orçamentária ao Executivo Municipal, inerente
ao seu funcionamento;
XI – identificar e informar à comunidade e aos órgãos públicos competentes,
federal, estadual e municipal, sobre a existência de áreas degradadas ou ameaçadas de
degradação;
Xll – opinar sobre a realização de estudo alternativo sobre as possíveis
consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando das entidades
envolvidas as informações necessárias ao exame da matéria, visando a compatibilização
do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental;
XIII – acompanhar o controle permanente das atividades degradadoras e
poluidoras, de modo a compatibilizá-las com as normas e padrões ambientais vigentes,
denunciando qualquer alteração que promova impacto ambiental ou desequilíbrio
ecológico;
XIV – receber denúncias feitas pela população, diligenciando no sentido de sua
apuração junto aos órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis e sugerindo ao
Prefeito Municipal as providências cabíveis;
XV – acionar os órgãos competentes para localizar, reconhecer, mapear e
cadastrar os recursos naturais existentes no Município, para o controle das ações
capazes de afetar ou destruir o meio ambiente;
XVI – opinar nos estudos sobre o uso, ocupação e parcelamento do solo urbano,
posturas municipais, visando à adequação das exigências do meio ambiente, ao
desenvolvimento do município;
XVII – opinar quando solicitado sobre a emissão de alvarás de localização e
funcionamento no âmbito municipal das atividades potencialmente poluidoras e
degradadoras;
XVIII – decidir sobre a concessão de licenças ambientais de sua competência e a
aplicação de penalidades, respeitadas as disposições da Deliberação Normativa COPAM

97
nº 01 de 22 de Março de 1990 (“Minas Gerais” de 4/4/90) e da Deliberação Normativa
COPAM nº 29 de 9 de Setembro de 1998 (“Minas Gerais” de 16/09/98);
XIX – orientar o Poder Executivo Municipal sobre o exercício do poder de polícia
administrativa no que concerne à fiscalização e aos casos de infração à legislação
ambiental;
XX – deliberar sobre a realização de Audiências Públicas, quando for o caso,
visando à participação da comunidade nos processos de instalação de atividades
potencialmente poluidoras;
XXI – propor ao Executivo Municipal a instituição de unidades de conservação
visando à proteção de sítios de beleza excepcional, mananciais, patrimônio histórico,
artístico, arqueológico, paleontológico, espeleológico e áreas representativas de
ecossistemas destinados à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia;
XXII – responder a consulta sobre matéria de sua competência;
XXIII – decidir, juntamente com o órgão executivo de meio ambiente, sobre a
aplicação dos recursos provenientes do Fundo Municipal de Meio Ambiente;
XXIV – acompanhar as reuniões das Câmaras do COPAM em assuntos de
interesse do Município.
Art. 3°. – O suporte financeiro, técnico e administrativo indispensável à instalação e
ao funcionamento do
Conselho Municipal de Meio Ambiente será prestado diretamente pela Prefeitura,
através do órgão executivo municipal de meio ambiente ou órgão a que o CMMA estiver
vinculado.
Art. 4°. – O CMMA será composto, de forma paritária, por representantes do poder
público e da sociedade civil organizada, a saber:
I – Representantes do Poder Público:
a)um presidente, que é o titular do órgão executivo municipal de meio ambiente;
b)um representante do Poder Legislativo Municipal designado pelos vereadores;
c)um representante do Ministério Público do Estado;
d)os titulares dos órgãos do executivo municipal abaixo mencionados:
d.1)órgão municipal de saúde pública e ação social;
d.2)órgão municipal de obras públicas e serviços urbanos.
e)um representante de órgão da administração pública estadual ou federal que
tenha em suas atribuições a proteção ambiental ou o saneamento básico e que possuam
representação no Município, tais como: Polícia

98
Florestal, IEF, EMATER, IBAMA, IMA ou COPASA.
II – Representantes da Sociedade Civil:
a)dois representantes de setores organizados da sociedade, tais como: Associação
do Comércio, da Indústria,
Clubes de Serviço, Sindicatos e pessoas comprometidas com a questão ambiental;
b)um representante de entidade civil criada com o objetivo de defesa dos
interesses dos moradores, com atuação no município;
c)dois representantes de entidades civis criadas com finalidade de defesa da
qualidade do meio ambiente, com atuação no âmbito do município;
d)um representante de Universidades ou Faculdades comprometido com a questão
ambiental.
Art. 5°. – Cada membro do Conselho terá um suplente que o substituirá em caso de
impedimento, ou qualquer ausência.
Art. 6°. – A função dos membros do CMMA é considerada serviço de relevante
valor social.
Art. 7°. – As sessões do CMMA serão públicas e os atos deverão ser amplamente
divulgados.
Art. 8°. – O mandato dos membros do CMMA é de dois anos, permitida uma
recondução, à exceção dos representantes do Executivo Municipal.
Art. 9°. – Os órgãos ou entidades mencionados no art. 4º poderão substituir o
membro efetivo indicado ou seu suplente, mediante comunicação por escrito dirigida ao
Presidente do CMMA.
Art. 10 – 0 não comparecimento a 03 (três) reuniões consecutivas ou a 05 (cinco)
alternadas durante 12 (doze) meses, implica na exclusão do CMMA.
Art. 11 – O CMMA poderá instituir, se necessário, em seu regimento interno,
câmaras técnicas em diversas áreas de interesse e ainda recorrer a técnicos e entidades
de notória especialização em assuntos de interesse ambiental.
Art. 12 – No prazo máximo de sessenta dias após a sua instalação, o CMMA
elaborará o seu Regimento
Interno, que deverá ser aprovado por decreto do Prefeito Municipal também no
prazo de sessenta dias.
Art. 13 – A instalação do CMMA e a composição dos seus membros ocorrerá no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da data de publicação desta lei.

99
Art. 14 – As despesas com a execução da presente Lei correrão pelas verbas
próprias consignadas no orçamento em vigor.
Art. 15 – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.

Fonte: BRASIL, 2006

100
Minuta de Regimento Interno do CMMA
DECRETO N°...........
Aprova o Regimento do Conselho Municipal
de
Meio Ambiente-CMMA. O Prefeito
Municipal
de ............................, no uso de suas
atribuições,
DECRETA:
Art.1° – Fica aprovado o Regimento Interno do Conselho Municipal de Meio
Ambiente que com este se publica.
Art.2°– Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação e revoga as
disposições em contrário.
REGIMENTO INTERNO DO CONSELHO MUNICIPAL
DE MEIO AMBIENTE - CMMA
CAPÍTULO I
DO OBJETIVO

Art.1° – Este Regimento estabelece as normas de organização e funcionamento do


Conselho Municipal de
Meio Ambiente-CMMA.
Parágrafo Único – A expressão Conselho Municipal de Meio Ambiente e a sigla
CMMA se equivalem para efeito de referência e comunicação.

CAPÍTULO II
DA FINALIDADE E DA COMPETÊNCIA

Art.2° – O CMMA. instituído como órgão colegiado deliberativo pela Lei n° ......... de
........................, terá suporte técnico, administrativo e financeiro prestado pela Prefeitura
Municipal, inclusive no tocante às instalações, equipamentos e recursos humanos
necessários.
Parágrafo Único – O suporte técnico será suplementarmente requerido à Fundação
Estadual do Meio Ambiente - FEAM e aos demais órgãos e entidades afetos aos
programas de proteção, conservação e melhoria do meio ambiente.
101
Art.3° – Compete ao CMMA formular e fazer cumprir as diretrizes da Política
Ambiental do Município, na forma estabelecida no art. 2° da Lei nº ............... e neste
Regimento.
Art.4° – O CMMA se compõe de:
I - ...................................................................................................;
II - ................................................................. .................................;
III - ...................................................................................................;
IV - ...................................................................................................;
V - ...................................................................................................;
VI - ...................................................................................................;
VII - ...................................................................................................;
VIII - ...................................................................................................;
listar conforme Lei Municipal que cria o CMMA)
Art.5° – Cada membro do CMMA terá um suplente que o substituirá em caso de
impedimento.
Art.6° – O mandato dos membros do CMMA corresponderá ao período de 02 (dois)
anos, permitida a recondução.

CAPÍTULO III
DA ORGANIZAÇÃO

Art.7° – O CMMA tem a seguinte estrutura básica:


I – Presidência;
II – Vice-Presidência;
III – Plenário;
IV – Secretaria Executiva.
Art.8° – O CMMA será presidido por um de seus membros, que será eleito na
primeira reunião ordinária do órgão, por maioria de votos de seus integrantes, para o
período de 02 (dois) anos, permitida a recondução.
Parágrafo único – À eleição e ao mandato do Vice-Presidente, que substituirá o
Presidente em seus impedimentos, aplica-se o disposto no "caput" deste artigo.
Art.9° – Ao Presidente compete:
I – dirigir os trabalhos do CMMA, convocar e presidir as sessões do Plenário;
Il – propor a criação de comissões técnicas e designar seus membros;

102
III – dirimir dúvidas relativas a interpretação de normas deste Regimento;
IV – encaminhar a votação de matéria submetida a decisão do Plenário;
V – assinar as atas aprovadas nas reuniões;
VI – assinar as deliberações do Conselho e encaminhá-las ao Prefeito, sugerindo
os atos administrativos necessários;
Vll - designar relatores para temas examinados pelo CMMA;
Vlll – dirigir as sessões ou suspendê-las, conceder, negar ou cassar a palavra do
membro do CMMA;
IX – estabelecer, através de Resolução, normas e procedimentos para o
funcionamento do CMMA;
X - convidar pessoas ou entidades para participar das reuniões do Plenário, sem
direito a voto;
XI – delegar atribuições de sua competência.
Art.10 - Compete ao Vice-Presidente substituir o Presidente em seus
impedimentos, exercendo as suas atribuições.
Parágrafo Único – Em caso de impedimento simultâneo do Presidente e do Vice-
Presidente assumirá a
Presidência o membro mais idoso do CMMA .
Art.11 – O Plenário é o órgão superior de deliberação do CMMA, constituído na
forma do artigo 4° deste
Regimento.
Art.12 – Ao Plenário compete:
I – propor alterações deste Regimento para homologação pelo Prefeito Municipal;
Il – elaborar e propor leis, normas, procedimentos e ações destinadas à
recuperação, melhoria ou manutenção da qualidade ambiental, observadas as legislações
federal, estadual e municipal que regula a espécie;
III – fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos relativos à defesa do meio
ambiente, aos órgãos públicos, à indústria, ao comércio, à agropecuária e à comunidade
e acompanhar a sua execução;
IV – propor a celebração de convênios, contratos e acordos com as entidades
públicas e privadas de pesquisas e de atividades ligadas a defesa ambiental;
V- opinar sobre a realização de estudos das alternativas e das possíveis
consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando das entidades

103
envolvidas as informações necessárias ao exame da matéria, visando à compatibilização
do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental;
Vl – manter o controle permanente das atividades poluidoras ou potencialmente
poluidoras, de modo a compatibilizá-las com as normas e padrões ambientais vigentes,
denunciando qualquer alteração que provoque impacto ou desequilíbrio ecológico;
Vll – identificar e informar à comunidade e aos órgãos públicos competentes,
estaduais e municipais, sobre a existência de áreas degradadas ou ameaçadas de
degradação, propondo medidas para a sua recuperação;
Vlll – promover, orientar e colaborar em programas educacionais e culturais com a
participação da comunidade, que visam à preservação da fauna, flora, águas superficiais
e subterrâneas, ar, solo, subsolo e recursos não renováveis do Município;
IX – atuar no sentido de estimular a formação da consciência ambiental,
promovendo seminários, palestras e debates junto aos meios de comunicação e às
entidades públicas e privadas;
X – subsidiar a atuação do Ministério Público, quando de sua atuação prevista na
Lei n° ..................... ;
XI - exercer o Poder de Polícia, no âmbito da legislação ambiental municipal;
XII – julgar e aplicar as penalidades previstas em Lei, decorrentes das infrações
ambientais municipais;
XIII – opinar sobre uso e ocupação do solo urbano e parcelamento urbano,
adequando a urbanização às exigências do meio ambiente e à preservação dos recursos
naturais;
XIV- sugerir à autoridade competente a instituição de unidades de conservação
visando à proteção de sítios de beleza excepcional, mananciais, patrimônio histórico,
artístico, cultural e arqueológico, espeleológico e áreas representativas de ecossistemas
destinadas à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia;
XV – receber as denúncias feitas pela população, diligenciando no sentido de sua
apuração, encaminhando aos órgãos municipais e estaduais responsáveis e sugerindo ao
Prefeito Municipal as providências cabíveis;
XVI – propor ao Prefeito a concessão de títulos honoríficos a pessoas ou
instituições que houverem se destacado através de atos que tenham contribuído
significativamente para a preservação, melhoria, conservação e defesa do meio ambiente
do Município.
Art.13 – Compete ao membros do CMMA:

104
I – comparecer às reuniões;
Il – debater a matéria em discussão;
lIl – requerer informações, providências e esclarecimentos ao Presidente;
IV – apresentar relatórios e pareceres, dentro do prazo fixado;
V – votar;
Vl – propor temas e assuntos à deliberação e ação do Plenário.
Art.14 – A Secretaria Executiva é órgão auxiliar da Presidência e do Plenário,
desempenhando atividades de gabinete, de apoio técnico, administrativo e de execução
de normas referentes à proteção do meio ambiente.
Art.15 – As funções da Secretaria Executiva serão exercidas por servidor público
municipal, indicado pelo Prefeito.
Art.16 – Compete à Secretaria Executiva:
I – fornecer suporte e assessoramento técnico ao CMMA nas atividades por ele
deliberadas;
Il – elaborar as atas das reuniões;
III - organizar os serviços de protocolo, distribuição e arquivo do CMMA;
IV – executar outras tarefas correlatas determinadas pelo Presidente ou previstas
neste Regimento Interno.

CAPÍTULO IV
DAS REUNIÕES

Art.17 – O CMMA se reunirá ordinária e extraordinariamente.


§ 1° – Haverá uma reunião ordinária quinzenal, em data, local e hora fixados com
antecedência de pelo menos 05 (cinco) dias, pelo Presidente.
§ 2° – O Plenário do CMMA se reunirá extraordinariamente por iniciativa do
Presidente, da maioria de seus membros ou por solicitação de qualquer Câmara
Especializada.
§ 3° – As reuniões extraordinárias serão convocadas pelo Presidente com
antecedência de no mínimo 02 (dois) dias.
Art.18 – O titular da Secretaria Executiva participará das reuniões, sem direito a
voto.
Art.19 – Somente haverá reunião do Plenário com a presença da maioria dos
membros com direito a voto.

105
Art.20 – Poderão participar das reuniões do Plenário, sem direito a voto,
assessores indicados por seus membros, bem como pessoas convidadas pelo
Presidente.
Art.21 – As reuniões do Plenário serão públicas.
Art.22 – As reuniões terão sua pauta preparada pelo Presidente, na qual constarà
necessariamente:
I - abertura da sessão, leitura, discussão e votação da ata da reunião anterior;
II- leitura do expediente e das comunicações da ordem do dia;
III - deliberações;
IV - palavra franca;
V - encerramento.
Art.23 - A apreciação dos assuntos obedecerá às seguintes etapas:
I - será discutida e votada matéria proposta pela presidência ou pelos membros;
Il – o Presidente dará a palavra ao relator, que apresentará seu parecer, escrito ou
oral;
III – terminada a exposição, a matéria será posta em discussão;
IV – encerrada a discussão, e estando o assunto suficientemente esclarecido, far-
se-á a votação.
Art.24 - As deliberações do Plenário serão tomadas por maioria de votos dos
membros presentes, cabendo ao
Presidente, além do voto pessoal, o de qualidade.
Art.25 – As atas serão lavradas em livro próprio e assinadas pelos membros que
participaram da reunião que as originaram.
Art.26 – As decisões do Plenário, depois de assinadas pelo Presidente e pelo
relator, serão anexadas ao expediente respectivo.

CAPITULO V
DISPOSIÇÕES ESPECIAIS

Art.27 – Os casos omissos serão resolvidos pelo Plenário do CMMA.

Fonte: BRASIL, 2006

106
Ministério do Meio Ambiente
PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS

CURSO EaD: ESTRUTURAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL


MÓDULO 3: PLANEJAMENTO E INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL
MUNICIPAL

Brasília, 2015
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta Dilma Dilma Vana Rousseff
Vice Presidente: Michel Temer
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Ministra Izabella Mônica Vieira Teixeira
Secretário Executivo: Francisco Gaetani
Secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - SAIC
Regina Gualda
Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA
Soraia Silva de Mello
Equipe técnica do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais- PNC

Luciana Resende

Neuza Gomes S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Concepção do material original

Tereza Moreira

Organização do Curso EAD

Elmar Andrade de Castro

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Texto e revisão de conteúdo original

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Revisão e colaboração

Angelita Coelho

José Luís Xavier

Miriam Miller

Neusa Helena Rocha Barbosa

II
Nilo Sérgio de Melo Diniz

Coordenação:

Agência Nacional de Águas - ANA

Elmar Andrade de Castro

Mariana Braga

Taciana Neto Leme

Equipe do Departamento de Educação Ambiental- MMA

Soraia Silva de Mello (Diretora)

Renata Rozendo Maranhão (Gerente de Projetos)

Analistas Ambientais
Alex Bernal, Ana Luísa Campos, Jader Oliveira, José Luís Xavier, Luciana Resende, Nadja Janke,
Neusa Helena R. Barbosa, Neuza Gomes Vasconcelos, Patricia F. Barbosa, Taiana Brito

Agentes Administrativos
Maria Aparecida Leite, João Alberto Xavier

Recepcionista
Leylane Aparecida L. do Santos

Estagiários
Amanda Feitosa, Carla Silva Sousa, Paula Geissica Ferreira da Silva, Rômulo de Sousa

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS


Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
Gisela Forattini
João Gilberto Lotufo Conejo
SUPERINTENDÊNCIA DE APOIO AO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE
RECURSOS HÍDRICOS
Humberto Cardoso Gonçalves (Superintendente)
Victor Alexandre Bittencourt Sucupira (Superintendente Adjunto)

III
COODENAÇÃO DE CAPACITAÇÃO DO SINGREH
Taciana Neto Leme (Gerente)
Celina Maria Lopes Ferreira
Daniela Chainho Gonçalves
Elmar Andrade de Castro
Jair Gonçalves da Silva
Lucas Braga Ribeiro
Luis Gustavo Miranda Mello
Mariana Braga Coutinho
Sandra Cristina de Oliveira (Secretária)
Vivyanne Graça Mello de Oliveira

Este material didático foi produzido no âmbito do Programa Nacional de Capacitação de Gestores
Ambientais, com apoio da Agência Nacional de Águas- ANA, com base nos Cadernos de
Formação- PNC.

IV
SOBRE O PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS E A
PARCERIA MMA E ANA

Para o alcance do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes


e futuras gerações é imprescindível a participação da coletividade e também do poder público.
Quanto a esse último, torna-se necessária a melhoria de resultados, com vistas a aumentar a
eficiência, eficácia e efetividade da gestão ambiental. Uma importante estratégia é a qualificação
do corpo técnico dos órgãos municipais de meio ambiente. Nesse âmbito, destaca-se a atuação
do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais - PNC.

O PNC foi instituído em 2005, a partir de uma demanda da I Conferência Nacional de Meio
Ambiente. A ideia de se criar o Programa emergiu com a necessidade de haver uma estratégia
nacional de capacitação de gestores locais, visando gerenciar melhor as ações realizadas no
âmbito do Ministério do Meio Ambiente e vinculadas.

Dessa forma, o PNC foi criado para atender aos anseios dos estados e municípios, em uma
estratégia duradoura. Seu objetivo principal é o de capacitar gestores, servidores e técnicos
ambientais, com vistas a ampliar a compreensão do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA) e seu fortalecimento. Busca também a consolidação da gestão ambiental
compartilhada, que envolve a responsabilização das três esferas de governo: federal, estadual e
municipal.

O Programa capacitou aproximadamente 12 mil gestores e técnicos, beneficiando mais de 2


mil municípios. Desde sua criação, passou por importantes momentos: o primeiro referiu-se a uma
fase em que foram realizados cursos presenciais que versavam sobre temas ligados à
estruturação dos sistemas municipais de meio ambiente. Nesse período, ocorreram cursos em 14
estados, por meio de convênios.

Paralelamente à realização de cursos presenciais, a partir de 2007, iniciaram-se os cursos


semipresenciais, executados via internet e realizados em parceria com outras secretarias do
MMA, outros ministérios e entidades vinculadas. Os temas versavam acerca de temas como:
gestão integrada de resíduos sólidos, licenciamento ambiental básico e com foco em estações de
tratamento de esgotos e aterros sanitários, regularização ambiental em propriedades rurais, além
de gestão de recursos hídricos e comitês de bacias hidrográficas. Esses últimos cursos realizados
em parceria com a Agência Nacional de Águas, no ano de 2013.
V
A Agência Nacional de Águas é a entidade federal de implementação da Política Nacional
de Recursos Hídricos (PNRH) e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (SINGERH), de acordo com o disposto na Lei 9.984/2000, a Lei das Águas.
Uma de suas atribuições é estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a
gestão de recursos hídricos.

Assim, a ANA deu início aos processos de capacitação de recursos humanos para a
gestão de recursos hídricos em 2001. Inicialmente, entre 2001 e 2010, a ANA conseguiu
atingir cerca de 10 mil pessoas, por meio de cursos presenciais. Posteriormente a ANA deu
início a implementação sistemática de cursos na modalidade a distância e a partir dessa
estratégia, no período de 2011-2013 mais de 20.000 pessoas foram capacitadas e no ano de
2014 Em 2011 a ANA e. E, somente, no ano de 2014 mais de 22.000 pessoas foram
aprovadas.

O alcance da modalidade a distância elevou a abrangência tanto em número de pessoas


capacitadas quanto na distribuição espacial dos participantes, com representantes de todos os
estados brasileiros e distrito federal, e também de outros países em que a ANA estabelece
ações de cooperação. O público alvo são a sociedade brasileira interessada, os membros de
comitês de bacia, como usuários de água, representantes dos governos municipais, estaduais
e federal e representante das organizações da sociedade civil relacionadas aos recursos
hídricos, além de agentes dos órgãos gestores de recursos hídricos e a sociedade em geral.

Os cursos a distância oferecidos pela ANA, no projeto EAD-ANA variam em carga


horária (entre 4 e 40 horas), sempre na modalidade autoinstrucional, isto é totalmente a
distância e sem tutoria e em temas como planejamento e gestão, hidrometria/hidrologia, uso
racional da água e educação e participação social na gestão de recursos hídricos.

Desse modo, em uma coadunação de esforços entre o MMA e a ANA, e em continuidade de


uma parceria bem sucedida, foi elaborado esse curso, que busca atingir o maior número de
gestores ambientais, membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas, estudantes e público em
geral.

VI
Objetiva-se, com isso, instigar a estruturação institucional e o fortalecimento da gestão
ambiental municipal, com a ótica da sustentabilidade sócio-ambiental-territorial, a disseminação de
conhecimentos e a reflexão crítica acerca de assuntos que visam à melhoria da gestão ambiental
pública e a superação de gargalos. Ademais, busca-se contribuir para a inserção do
desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas, de forma
transversal e compartilhada, participativa e democrática, em todos os níveis e instâncias de
governo e da sociedade.

Soraia Silva de Mello


Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA

Taciana Neto Leme


Coordenadora de Capacitação para o SINGREH

VII
APRESENTAÇÃO DO CURSO

Os três módulos que compõem esse curso fornecem linhas gerais para o fortalecimento do
Sistema Nacional de Meio Ambiente em sua inter-relação com os demais instrumentos e atores da
gestão municipal. O material didático foi concebido para trabalhar conceitos não apenas de forma
discursiva. Por meio de exemplos e exercícios, pretende-se promover sucessivas aproximações
das pessoas com a realidade local, no sentido de qualificar a sua atuação.

Diante de uma perspectiva de capacitação descentralizada e voltada a atender cada


realidade específica, vale lembrar que há liberdade para se buscar informações e para criar
metodologias que melhor atendam às suas necessidades. Os materiais produzidos pretendem
apontar caminhos, fornecer sugestões e indicar possíveis fontes de consulta para que as pessoas
e os grupos busquem respostas às questões suscitadas pela prática.

O Módulo I reflete a importância da gestão ambiental municipal e mostra qual é a estrutura


do SISNAMA em âmbito federal, estadual e municipal.

O Módulo II mostra os principais passos para a estruturação dos órgãos que compõem o
Sistema Municipal de Meio Ambiente. Discorre também sobre as formas de se reunir recursos
destinados às ações na área ambiental.

O Módulo III trata das diferentes escalas de planejamento municipal, com ênfase no
planejamento microrregional e setorial, considerando os níveis de integração a serem
concretizados em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para a comunidade e a
região.

Todos os módulos contêm a legislação referente aos temas desenvolvidos, trazem


explicações sobre termos técnicos e fornecem dicas de onde obter mais informações.

Bons estudos a todos!

VIII
SUMÁRIO

UNIDADE 1: Planejando a intervenção ambiental no município ............................................... 10

Planejamento: instância de mediação de conflitos ..................................................................... 10

Planejamento participativo ......................................................................................................... 13

Qual é a vocação desse local? ..................................................................................................... 16

Em resumo ................................................................................................................................... 20

UNIDADE 2: Exercitando a transversalidade com as demais instâncias municipais de


planejamento ........................................................................................................................ 22

Planejando a gestão ambiental urbana ....................................................................................... 22

Estatuto da Cidade, instrumento de qualidade de vida .............................................................. 26

Plano Diretor: instrumento de desenvolvimento ........................................................................ 32

Instrumentos integrantes ou complementares ao Plano Diretor ............................................... 40

Em resumo ................................................................................................................................... 47

UNIDADE 3: Problemas locais podem ter soluções regionais ................................................... 49

Política de Recursos Hídricos ...................................................................................................... 49

Arranjos institucionais para o planejamento regional .............................................................. 64

Em resumo................................................................................................................................... 67

UNIDADE 4: Instrumentos de gestão ambiental municipal ...................................................... 69

Licenciamento, uma competência que também é municipal ..................................................... 72

Procedimentos para o licenciamento ambiental......................................................................... 75

Monitoramento e fiscalização ambiental .................................................................................... 82

Educação Ambiental: instrumento indispensável ao funcionamento do sistema ...................... 84

O tamanho do desafio ................................................................................................................. 84

Educação Ambiental como política pública ................................................................................. 86

Em resumo................................................................................................................................. 100

Referências ....................................................................................................................... 103

IX
UNIDADE 1: PLANEJANDO A INTERVENÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO

Nesta unidade, serão abordadas noções gerais acerca do


planejamento em escala municipal. Daremos um foco especial aos conflitos
oriundos desse processo, à participação social e à necessidade de
conhecimento da realidade socioambiental de cada localidade para um
planejamento mais efetivo.

Planejamento: instância de mediação de conflitos

No exercício da gestão ambiental muitas vezes será necessário


administrar conflitos. Isso acontece porque o meio ambiente está totalmente
vinculado às questões sociais, econômicas e políticas. Os conflitos ambientais
são, na verdade, conflitos socioambientais e geralmente ocorrem em diferentes
situações, por exemplo, em disputas pelo controle de um recurso escasso,
como quando empresas pesqueiras “tomam posse” de áreas controladas por
comunidades tradicionais de pescadores; em lutas contra a exposição a riscos
ambientais, exemplificada pelas diferentes ações judiciais movidas por
organizações da sociedade civil e órgãos públicos contra atividades que
provocam contaminação do solo, da água, do ar; e no confronto em torno de
diferentes usos do território, como a luta dos atingidos por barragens contra a
inundação de suas terras.

Entre os atores sociais envolvidos destacam-se agentes de mercado


(empresas, empreendedores), organizações ambientalistas, movimentos
populares, comunidades residentes, órgãos governamentais, instituições
científicas, entre outros. As disputas são comuns entre os diferentes
segmentos da sociedade. Há também conflitos entre esferas de governo, como
os que se dão entre prefeituras, governo estadual e governo federal acerca da
destinação de determinadas áreas para unidades de conservação ou geração
de energia. Conflitos são comuns até mesmo entre distintos órgãos da mesma

10
administração que apresentam linhas de ação e interesses divergentes, muitas
vezes, porque sobre um mesmo território há diferentes propostas de uso e
gestão envolvendo, por exemplo, uma secretaria de agricultura e outra de meio
ambiente.

Realizar a gestão do meio ambiente significa, portanto, muito mais do


que criar e fazer cumprir as leis. Consiste em realizar a constante mediação de
interesses divergentes, de forma que os princípios constitucionais relativos ao
meio ambiente prevaleçam. Trata-se, assim, de uma ação ao mesmo tempo
técnica e política para a qual o poder público tem mandato e deve estar
qualificado para exercê-lo.

Os conflitos socioambientais podem ser minimizados com o exercício


do planejamento, desde que aquilo que foi planejado de forma participativa e
transparente seja, de fato, colocado em prática. Para isso, o município deve
evoluir da condição de mero prestador de serviços públicos, como a coleta de
resíduos sólidos ou a captação e tratamento de esgotos, para o de agente e
coordenador do desenvolvimento local em suas diferentes dimensões (sociais,
ambientais, culturais, econômicas, políticas).

Com a crescente autonomia municipal e o consequente aumento de


atribuições nas áreas de educação, saúde, saneamento, assistência social,
cresce também a complexidade das tarefas e a necessidade de articular as
diferentes ações. Por mais bem aparelhada que seja a prefeitura sozinha não
dá conta desse desafio. Uma tendência crescente tem sido a de estabelecer
parcerias com organizações da sociedade, com as instituições de ensino e
pesquisa e com o meio empresarial. Isso exige que o Executivo municipal
aprimore a sua capacidade de planejamento e coordenação e que os demais
setores tomem parte no planejamento e na implementação das ações.

11
Assim, planejar é tomar decisões de forma lógica e racional, de modo a
assegurar os resultados esperados. Essa definição clássica de planejamento
atende apenas em parte à realidade do município. Evidentemente, o
planejamento municipal pressupõe a elaboração de normas e diretrizes
definidas em leis próprias, bem como de decisões lógicas, racionais e
encadeadas. Porém, planejar consiste, sobretudo, em gerar vontade política;
construir mecanismos para envolver as diferentes esferas de poder presentes
na comunidade; e promover a constante avaliação dos pactos firmados entre
os parceiros em função das prioridades e da destinação de recursos.

Ressalta-se ainda que compatibilizar as dimensões técnicas e políticas


do planejamento é essencial para que o planejado seja realmente executado.
Existem inúmeros planos que jamais saem do papel, pois não foram criados a
partir dos consensos possíveis construídos com as comunidades as quais
pretendem atender. Muitas prefeituras chegam mesmo a contratar empresas
especializadas em planejamento para criar produtos bem elaborados, mas que
não atendem às necessidades e à correlação de forças locais. Essas
prefeituras ainda não perceberam o valor do planejamento participativo como
estratégia para conquistar sustentabilidade em suas ações.

A participação social na agenda do planejamento é um recurso


essencial à elaboração de diagnósticos da realidade local, compatível com uma
ação transformadora que pretenda ser efetiva, eficiente e eficaz. Ao mesmo
tempo, pode ser uma condição à construção de legitimidade e, portanto, de
consolidação política de um determinado propósito coletivo. Tudo isso porque o
envolvimento dos diversos atores interessados permite um melhor
entendimento quanto à situação local, bem como a correlação de forças sócias,
políticas e econômicas.

12
Planejamento participativo

As iniciativas mais bem-sucedidas de planejamento surgem da


interação entre as três esferas de poder da sociedade – Estado, sociedade civil
e setor empresarial. Ao participarem da tomada de decisões, essas forças da
sociedade tornam-se mais motivadas para gerar ações coletivas voltadas ao
bem-estar social.

Diagnosticar o presente, avaliar limites e oportunidades e trabalhar


coletivamente uma visão de futuro; esse é, em síntese, o exercício coletivo
proposto pelo planejamento participativo. Trata-se de uma ferramenta de
trabalho que permite compartilhar decisões sobre estratégias e ações que
possibilitem alcançar um futuro desejável.

Ao contribuírem na elaboração de estratégias, cidadãos e cidadãs


realizam uma importante aprendizagem. Refletem sobre a sua realidade e o
contexto em que se dão os problemas do seu cotidiano. Exercitam formas de
evoluir da reivindicação pura e simples ou das estratégias individuais de
sobrevivência para a construção de estratégias coletivas de desenvolvimento e
bem-estar. Dessa forma, a sociedade, como um todo, aumenta o seu
amadurecimento político.

O planejamento participativo não deve produzir apenas uma carta de


boas intenções coletivas. Além de desenvolver uma visão do futuro desejável,
deve conter todos os passos, traduzidos em ações e atividades, com o
estabelecimento de responsabilidades (envolvendo todos os atores sociais),
bem como a definição de prazos específicos para a sua realização
(decompondo-se em ações de curto, médio e longo prazos).

Nesse processo, alguns conflitos entre os diferentes atores sociais


poderão ser negociados, bem como ocasionar soluções de compromisso

13
elaboradas com a participação ativa dos interessados. Em alguns casos, esse
exercício coletivo pode levar a mudanças na correlação de forças no município.
Isso se torna possível porque o processo de planejamento permite ampliar o
conhecimento que os diversos atores sociais possuem da realidade local,
exercitando o ato desafiador de “enxergar com os óculos dos outros” e
flexibilizar posições em torno de objetivos comuns.

Vale lembrar também que o planejamento participativo deve dar


respostas rápidas àquelas situações potencial ou efetivamente geradoras de
conflitos. Priorizando-se o que for considerado “necessário e urgente”, deve-se
partir imediatamente para a implementação das ações. Isso mostrará à
população que há vontade política de enfrentar as situações problemáticas e
que o planejamento deve ser respeitado como uma ferramenta que realmente
funciona.

Você sabe qual a diferença entre o planejamento participativo e o


convencional?

O planejamento convencional, ao contrário do processo participativo, é


realizado “a portas fechadas” por técnicos que, muitas vezes, desconhecem a
realidade municipal e as consequências de suas ações sobre o meio ambiente
e a população. Baseia-se em diretrizes concebidas por quem detém o comando
no município e sem considerar uma justa distribuição de poder entre os
diferentes segmentos de sua população.

14
Tabela 1: Principais características do planejamento participativo em relação ao
planejamento convencional

PARTICIPATIVO (Com – Para) CONVENCIONAL (De – Para)

Construção compartilhada e descentralizada Construção imperativa e centralizada

Visão ampla e abrangente, decorrente de múltiplas Visão parcial e limitada pela ausência de percepções
abordagens diversas

Centrado no social Tecnocrático e economicista

Responsabilidade compartilhada Responsabilidade isolada

Avaliação processual Avaliação posterior

Fonte: (FUNDAÇÃO LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, 2000 apud, BRASIL, 2006, p. 16).

Algumas características permitem identificar se um processo de


planejamento é realmente participativo, tais como:

 A capacidade instalada na comunidade em propor iniciativas;

 O destaque dado às experiências desenvolvidas no local e sua


influência sobre as políticas instituídas no município e fora dele;

 O grau de representatividade e paridade conquistado pela


sociedade civil na sua relação com os diferentes níveis do
governo e com as forças de mercado;

 Os mecanismos criados para mediar conflitos e propor acordos.

15
Vale a pena frisar ainda que planejamento participativo não pode ser
confundido com um meio de se obter o apoio popular para programas oficiais
concebidos por especialistas; nem de se apropriar dos recursos da população,
como tempo de trabalho e qualificação.

Qual é a vocação desse local?

Além da participação de vários segmentos da comunidade, o processo


de planejamento participativo deve considerar também a realidade ambiental,
cultural e socioeconômica da localidade. Desse modo, é possível:

Debruçar-se sobre as vocações do município. Vale a pena exercitar


coletivamente a investigação sobre o que dá identidade a um determinado
território, pois as possibilidades de desenvolvimento são particulares a cada um
deles e devem ser avaliadas considerando-se a sua sustentabilidade social,
econômica, cultural e ambiental. Para isso, algumas perguntas podem ser
feitas: quais são as suas características naturais e paisagísticas e como isso
pode ser aproveitado? Qual é a capacidade instalada no município de gerar
novas tecnologias?

 Conhecer quais são os recursos materiais e humanos que


possibilitarão o desenvolvimento dessa vocação. Há senso de
coletividade e capacidade empreendedora suficientes para que
a população se mobilize no sentido de transformar a realidade
local em direção ao cenário desejado e sonhado por todos?

 Identificar quais serviços à administração municipal pode prover


à população do município: como serão realizadas as ações
atribuídas aos municípios em relação a saúde, educação,
infância e adolescência, assistência social, saneamento básico,
transportes? Que mecanismos serão utilizados para

16
universalizar esse atendimento? Que parcerias poderão ser
formalizadas com empresas e organizações da sociedade civil
para melhorar a prestação de serviços? Que mecanismos
permitirão realizar o controle social sobre estes? Que relação
essas áreas estabelecerão com a de meio ambiente?

 Buscar equidade na prestação de serviços e na socialização dos


benefícios do desenvolvimento: como estendê-los também à
periferia urbana e às zonas rurais? De que forma os serviços
prestados irão contemplar o uso sustentável dos recursos
naturais e serão compatíveis com a conservação do meio
ambiente natural e construído (patrimônio histórico, artístico e
paisagístico)?

É fundamental que a sociedade tenha domínio sobre o seu


desenvolvimento. Isso expressa autonomia local, bem como a preservação de
sua identidade, que a diferencia de todas as demais em sua região e compõe a
sua riqueza cultural. Por isso, não se deve transpor um modelo de
desenvolvimento de um local para outro. É possível aprender com as
experiências de outras comunidades, mas para aplicar modelos é necessário,
antes, adaptá-los à realidade local.

Além disso, alguns critérios podem servir para checar, segundo Sachs
(1993), se o planejamento municipal está caminhando em direção à
sustentabilidade. Portanto, cabe avaliar cada decisão considerando se atende
a essas diferentes dimensões ou, pelo menos, a alguma delas:

 Sustentabilidade social – caracterizada por maior equidade na


distribuição de recursos, produtos e serviços, no sentido de diminuir a
distância entre os padrões de vida dos mais ricos e dos mais pobres;

17
 Sustentabilidade econômica – possibilita a produção de riquezas,
considerando e reduzindo os custos sociais e ambientais;

 Sustentabilidade ambiental – aumenta a capacidade de uso dos


recursos naturais, com ênfase em recursos renováveis e na limitação do
uso de recursos não-renováveis ou ambientalmente prejudiciais;

 Sustentabilidade espacial – voltada a uma configuração rural-urbana


mais equilibrada e a usos do solo mais condizentes com as diferentes
funções ecológicas e sociais destes;

 Sustentabilidade cultural – respeita, valoriza e ressalta as tradições


culturais locais e a diversidade de suas manifestações.

Outra questão inevitável quando se trata de pensar o município é: em


que escala planejar? Veja algumas possibilidades.

 Planejamento microrregional – alguns problemas locais podem ter


soluções regionais. É o caso dos resíduos, por exemplo. Dois ou mais
municípios unidos para dar destino adequado aos resíduos gerados em
seus territórios conseguem fazê-lo com mais eficiência e menor custo. O
mesmo ocorre com o gerenciamento dos recursos hídricos, que tem a
bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, o que
envolve, necessariamente, um grupo de municipalidades. E o
planejamento microrregional tem sido a palavra de ordem também para
unir municípios com as mesmas vocações produtivas, como as
estâncias hidrominerais, que vivem os mesmos desafios e podem fazer
da união de forças sua vantagem comparativa.

18
 Planejamento local integrado – essa dimensão do planejamento busca
estabelecer as prioridades globais do município. Desse planejamento
saem diretrizes para os programas e projetos de todas as áreas que
compõem o governo municipal, formalizadas por meio do Plano
Plurianual (PPA). Embasado em uma visão de futuro que contemple
estratégias de sustentabilidade e qualidade de vida, o Plano Diretor será
capaz de definir a ocupação do território e os principais instrumentos
para a sua gestão em consonância com as necessidades e as
expectativas das populações que vivem nas áreas urbanas e rurais do
município.

 Planejamento específico do sistema municipal de meio ambiente –


considerando as múltiplas interfaces da questão ambiental com as
demais áreas da administração e com assuntos de âmbito
microrregional, o planejamento do sistema municipal de meio ambiente
deverá conter as diretrizes capazes de atender aos diferentes níveis de
interação.

Ademais, a descentralização administrativa nas diversas áreas de


atuação municipal tem gerado um fenômeno que pode complicar a vida do
gestor municipal: a multiplicidade de instâncias consultivas e de controle social,
como grupos de trabalho, conselhos, comissões e comitês. Todos esses
mecanismos foram idealizados para permitir gestão participativa e promover a
integração das políticas municipais. Na prática, porém, o que se observa é a
necessidade de maior articulação, integração e coordenação, para evitar
políticas públicas municipais fragmentadas.

Desse modo, o ideal é que o município faça o seu planejamento global


e, seguindo suas diretrizes, as diferentes áreas da prefeitura realizem
planejamentos específicos. O enfoque do planejamento para o
desenvolvimento sustentável pressupõe algumas bases gerais – consideração

19
do local e do seu entorno, planejamento participativo e dimensões da
sustentabilidade. Tais pressupostos devem também orientar os planejamentos
setoriais.

Além disso, obviamente, a interface com as questões ambientais deve


ser sempre considerada, já que a área de meio ambiente possui pontos de
contato com setores como saúde, educação, transportes, políticas urbanas,
entre outros. Afinal, problemas como poluição do ar, disposição de resíduos,
falta de áreas verdes são gerados por algumas atividades exercidas no
município e afetam a vida das pessoas de diversas maneiras.

Para refletir

Observando a realidade do seu município, responda:


- Já houve alguma experiência de mobilização e envolvimento da população no
planejamento municipal? Os resultados foram satisfatórios? Por quê?
- Como são as relações atuais entre a prefeitura, a câmara dos vereadores, os
representantes do Poder Judiciário, as organizações da sociedade civil e o meio
empresarial? Caracterizam-se por disputas ou pela colaboração?
- Há movimentos sociais, como os de sem-teto e sem-terra, organizados no
município? Existem mecanismos capazes de incluí-los na tomada de decisões?
- Existem estratégias para induzir maior comprometimento dos diferentes atores
na busca de uma visão compartilhada de futuro? Como se pensa enraizar essa
visão na comunidade?

Em resumo

O ato de planejar o desenvolvimento sustentável consiste numa forma


de enfrentar os conflitos socioambientais decorrentes das desigualdades
sociais e do uso inadequado dos recursos. As crescentes atribuições do
município requerem parcerias com a sociedade civil e o setor privado, e uma
mudança no papel do poder público. Este deve avançar da condição de mero

20
prestador de serviços públicos para o de coordenador do planejamento e da
implementação de ações em direção ao desenvolvimento sustentável.

Além de ser uma forma lógica e racional de tomada de decisões, o


planejamento consiste em um processo voltado a gerar vontade política,
construir mecanismos de inclusão de todas as esferas de poder presentes na
comunidade e promover uma constante avaliação dos pactos firmados entre os
parceiros em função das prioridades e da alocação de recursos. Dessa forma,
no planejamento, há uma constante busca de equilíbrio entre as questões
técnicas e políticas.

Diagnosticar o presente, avaliar limites e oportunidades e trabalhar


coletivamente uma visão de futuro; esse é, em síntese, o exercício coletivo
proposto pelo planejamento participativo. A adoção de mecanismos
participativos de planejamento é um importante pré-requisito para a
sustentabilidade das ações, pois dessa forma a sociedade, como um todo,
aumenta a sua aprendizagem e seu amadurecimento político, propiciando
mudanças na correlação de forças do município.

Como vimos, há diversas escalas em que se pode planejar: em âmbito


municipal, microrregional e especificamente para as ações do Sistema
Municipal de Meio Ambiente. Em cada um desses níveis convém, entretanto,
verificar se o planejado está na direção da sustentabilidade ambiental, social,
econômica, espacial e cultural.

Vejamos, na próxima unidade, a transversalidade entre esse tema e


outras políticas que tem reflexos na escala local de planejamento e, por isso,
não podem ser desprezadas.

21
UNIDADE 2: EXERCITANDO A TRANSVERSALIDADE COM AS DEMAIS
INSTÂNCIAS MUNICIPAIS DE PLANEJAMENTO

Nesta unidade, estudaremos o planejamento municipal, em especial, a


partir da perspectiva dos instrumentos de gestão urbana provenientes do
Estatuto da Cidade.

Planejando a gestão ambiental urbana

Vimos na unidade anterior que os instrumentos globais de


planejamento definem o quadro geral em torno do qual serão desenhados os
caminhos para a sustentabilidade no município. Porém, de modo mais
específico, algumas informações sobre as cidades revelam a sua enorme
importância para o equilíbrio do meio ambiente e para a qualidade de vida das
pessoas, o que indica a necessidade do planejamento também a partir da
perspectiva do desenvolvimento urbano.

No último século, a humanidade mudou a lógica de ocupação dos


espaços territoriais. Se até o fim do século XIX a maioria das pessoas vivia no
campo, no início do século XXI metade da população humana, vivia nas
cidades. Atualmente, a população urbana em todo o mundo é de cerca de 54%,
com estimativas de se chegar a 66%, em 2050, conforme aponta estudos da
Organização das Nações Unidas – ONU (UNITED NATIONS REGIONAL
INFORMATION CENTRE FOR WESTERN EUROPE, 2014).

No Brasil, conforme o censo do IBGE, de 2010, 84% da população vive


em áreas urbanas. As elevadas taxas ocorrem em todas as regiões do País,
atingindo 92,9% no Sudeste; 88,8%, no Centro-Oeste; 84,9%, no Sul; 73,5% no
Norte; e 73,1% no Nordeste (BRASIL, 2011 apud BRASIL, 2013ª p. 1513).

22
Apesar de ocuparem apenas 2% da superfície da Terra, as cidades
consomem 70% dos seus recursos naturais e despejam na atmosfera 75% de
todo o gás carbônico gerado. De acordo com relatório do TEEB – The
Economics of Ecosystems & Biodiversity, as atividades urbanas consomem
cerca de 67% da energia e emitem 70% dos gases de efeito estufa
(OCDE/IAE 2008, apud TEEB, 2010)

Gases de efeito estufa

Constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicos, que absorvem e


reemitem radiação infravermelha, responsáveis pelo aquecimento global. O
Protocolo de Quioto menciona os seguintes gases de efeito estufa: dióxido de
carbono (CO2); metano (CH4); óxido nitroso (N2O); hidrofluorcarbonos (HFCS);
perfluorcarbonos (PFCS); hexafluoreto de enxofre (SF6) (KRIEGER, et al., 2006,
p. 48).

No processo de urbanização, no qual ocorre ocupação e uso


desordenado do solo, há custos sociais e ambientais, como a perda da
biodiversidade, degradação do solo, crescimento dos processos erosivos,
poluição hídrica e atmosférica. Por isso, o crescimento urbano deve ser
planejado, visando uma qualidade de vida para a população.

Nesse sentido, assim como o ambiente natural, a tutela do meio


ambiente artificial também é compartilhada. Cabe à União instituir diretrizes
para o desenvolvimento urbano, como habitação, saneamento, transporte,
além da competência de legislar concorrentemente sobre a proteção e
defesa da saúde. Essas normas e diretrizes servirão de parâmetro para a
política urbana de estados e municípios. Estes últimos têm autonomia para a
organização dos serviços públicos de interesse local, como a limpeza pública e
a coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos (FIORILLO, 2013).

23
Legislação concorrente

Na competência legislativa concorrente, a União limita-se a estabelecer


normas gerais, enquanto que aos estados e ao Distrito Federal cabem
legislar de modo complementar (competência legislativa suplementar),
tendo em vista as peculiaridades regionais. Nesse caso, as normas
específicas não devem contrariar as normas gerais editadas pela União. Os
municípios também têm competência para suplementar a legislação
federal ou estadual, no que couber (PAULO; ALEXANDRINO, 2011).

Considerando essas competências, o poder público local deve


desenvolver instrumentos de ordenamento das ações municipais, pois é a ele
que cabe a execução da Política Nacional Urbana. Entre os instrumentos se
destacam o Zoneamento, o Plano Diretor e os Códigos de Obras e de
Posturas. Nos municípios com população superior a 500 mil habitantes é
obrigatória ainda a elaboração do Plano de Transporte e Trânsito. Esses
instrumentos estão previstos no Estatuto da Cidade que, juntamente com o
Código Tributário e o de Saúde, possui forte interface com as questões
relativas ao meio ambiente. Além disso, todos esses instrumentos dialogam
com o Plano Plurianual (PPA).

24
Plano Plurianual (PPA)

O Plano Plurianual foi previsto pela Constituição de 1988 e segue os


preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal, que exige maior articulação
entre as estratégias definidas e as diretrizes orçamentárias e fiscais.
Estrutura-se de forma que as ações governamentais sejam gerenciadas em
programas e projetos. Ou seja, não apenas define o recurso que será gasto
nas diversas ações, mas também delimita claramente o que será necessário
para realizá-las, os prazos, os custos, bem como o seu acompanhamento,
até que se alcance o resultado esperado.
O PPA é elaborado pelo Poder Executivo, mas pode ser alterado por meio
de emendas. A comunidade mobilizada tem o direito de exigir da prefeitura
ou dos vereadores que o PPA contenha recursos específicos para
investimentos na melhoria da qualidade ambiental, como a criação de mais
áreas verdes, a coleta e a reciclagem de lixo, o tratamento dos esgotos,
entre outras medidas (BRASIL, 2006, p.14).

Dentre os principais instrumentos que possuem interfaces com a área


ambiental, não é por acaso que se destacam aqueles relacionados mais de
perto com a gestão urbana. Ao lidar com o meio ambiente municipal é preciso
demolir um mito: o que identifica o tema exclusivamente com o ambiente
natural (rios, florestas, plantas e animais). Vai além também das áreas verdes e
da arborização. Mudar tal visão permitirá ver os ambientes construídos, ou
seja, as cidades, como ecossistemas específicos, a chamada Ecologia Urbana.
Dessa forma, torna-se mais fácil inserir os órgãos do SISNAMA na gestão dos
seus problemas, de forma que sejam encontradas soluções mais harmônicas,
planejadas e executadas de forma integrada.

Veja a seguir, o elemento fundamental para a gestão do território do


município: o Estatuto da Cidade.

25
Estatuto da Cidade, instrumento de qualidade de vida

A Lei 10.257/2001, denominada Estatuto da Cidade, é fruto de um


contexto de luta dos movimentos sociais que visavam à redução da
segregação social nas cidades brasileiras. O Estatuto resultou de uma emenda
popular apresentada à Assembleia Nacional Constituinte, pelo Movimento
Nacional pela Reforma Urbana (BASSUL, 2002 apud, BRASIL, 2013b
p.1515).

Para maiores informações sobre a Lei 10.257/2001, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm

26
Movimento Nacional pela Reforma Urbana

O Movimento Nacional pela Reforma Urbana no Brasil - MNRU- teve origem


efetivamente durante o começo dos anos 80, com o propósito de elaborar uma
legislação sobre a reforma urbana para ser apresentada à Assembléia Nacional
Constituinte.
Sua composição inicial incluia associações de moradores, organizações não
governamentais e sindicatos (BRASIL, 2004, apud, AVRITZER, 2012). O MNRU foi
capaz de juntar associações às organizações locais da sociedade civil como a FAMERJ
(Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro), o Movimento de
Defesa dos Favelados, o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), como também o
Instituto dos Engenheiros. Entre as organizações não governamentais, destaca-se a
FASE e o Instituto Polis.
A emenda da Reforma Urbana que o MNRU propôs a Assembléia Nacional
Constituinte estava baseada nos seguintes princípios: o direito à cidade; a
subordinação da propriedade privada aos objetivos da política urbana e a
democratização da cidade.
Após a promulgação da Constituição Federal em 1988, o MNRU tornou-se Fórum
Nacional da Reforma Urbana, efetivamente reinventando a sua política de alianças,
e no ano de 2001 conseguiu aprovar o chamado Estatuto da Cidade, pelo chamado
projeto 181 de 1990 proposto pelo senador Pompeu de Sousa (AVRITZER, 2012).

O Estatuto da Cidade regulamenta dois artigos da Constituição


federal de 1988: 182 e 183. O primeiro trata da política de desenvolvimento
urbano, que visa ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
à garantia do bem-estar de seus habitantes, e é de competência sobretudo do
município. O segundo aborda o usucapião em áreas urbanas (BRASIL,
2013b).

27
Para maiores informações sobre a Constituição Federal, de 1988, acesse
o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilad
o.htm

Função social

Segundo Fiorillo, a função social da cidade “é cumprida quando proporciona a


seus habitantes uma vida com qualidade, satisfazendo os direitos
fundamentais”. Conforme o autor, devem ser cumpridos os preceitos dos
artigos 5º e 6º da Constituição Federal, ou seja, o direito à vida, à segurança, à
igualdade, à propriedade e à liberdade. Também quando garante os direitos
sociais à educação, à saúde, ao lazer, ao trabalho, à previdência social, à
maternidade, à infância, à assistência social, entre outros (FIORILLO, 2013, p.
589).

Ação de usucapião

Ação ambiental que visa a beneficiar os possuidores de área urbana de até


duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, de forma ininterrupta
e sem oposição, que utilizam referido território urbano para sua moradia ou e
sua família e desde qu não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou
rural (FIORILLO, 2013, p. 623).

O Estatuto da Cidade, que conforme nos lembra Milaré (2014, p. 621),


“como Política Nacional Urbana, figura como uma das Políticas Nacionais
complementares à Política Nacional do Meio Ambiente”, fixa normas gerais
com o objetivo de estabelecer as bases da administração sustentável e
democrática das cidades. Essas normas de ordem pública e interesse social

28
regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e
do bem-estar dos cidadãos, assim como do equilíbrio ambiental. O objetivo é
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana.

Entre as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade, podemos destacar:

 Gestão democrática, por meio da participação da população e de


associações representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano;

 Cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores


da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse
social;

 Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial


da população e das atividades econômicas do município e do território
sob sua área de influência de modo a evitar e corrigir distorções de
crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente.

 Oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços


públicos adequados;

 Ordenamento e controle do uso do solo, de forma a evitar a utilização


inadequada dos imóveis urbanos, a especulação imobiliária, a
deterioração das áreas urbanizadas, a poluição e a degradação
ambiental;

29
 Integração entre atividades urbanas e rurais;

 Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e


construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e
arqueológico.

Para a democratização do espaço urbano e o cumprimento das


diretrizes anteriormente elencadas, foram definidos pelo próprio Estatuto
alguns instrumentos, como o zoneamento ambiental, o Plano Diretor; o Plano
Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária
Anual (LOA); a gestão participativa do orçamento; os planos de
desenvolvimento econômico e social; os institutos tributários e financeiros,
como o IPTU Progressivo, a contribuição de melhoria e os incentivos e
benefícios fiscais e financeiros; os institutos jurídicos e políticos, como a
desapropriação, as limitações administrativas, o tombamento de imóveis e a
instituição de unidades de conservação; e o estudo prévio de impacto de
vizinhança (EIV). Alguns desses instrumentos serão abordados ainda neste
Módulo.

Para maiores informações sobre o Estatuto da Cidade, acesse o site:


http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNPU/Biblioteca/Pla
nelamentoUrbano/EstatutoComentado_Portugues.pdf

Os eventos climáticos, substanciados pela ocupação desordenada do


território, seja por camadas da população pobres ou abastadas, têm propalado

30
desastres ambientais, especialmente no ambiente urbano, tais como enchentes
e desmoronamentos de terras. Neste cenário, os regramentos originais do
Estatuto da Cidade sofreram alterações, inseridas pela Lei 12.608/2012, que
dispõe sobre a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. Essa diz que o
ordenamento urbano deve evitar a exposição da população a risco de desastre,
visando aumentar a resiliência das cidades aos eventos extremos (BRASIL,
2013b).

Para maiores informações sobre a Lei 12.608/2012, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12608.htm

Resiliência

Medida da capacidade de um ecossistema absorver tensões ambientais sem


mudar seu estado ecológico, perceptivelmente, para um estado diferente
(BRASIL, 2013, p. 270).

Nesse sentido, a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil


acrescentou novo dispositivo nos objetivos da Política Urbana, a saber:

Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
[...]
VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
h) a exposição da população a riscos de desastres.

31
[...] (BRASIL, Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, 2001, grifo
nosso).

Outra política relacionada ao ambiente construído é a Política Nacional


de Mobilidade Urbana, instituída pela Lei 12.587/2012, que está diretamente
ligada ao padrão de crescimento periférico nas cidades. Esse quadro corrobora
com a necessidade de grandes deslocamentos e migrações diárias em direção
às áreas centrais, onde geralmente concentram-se as ofertas de trabalho,
equipamentos e serviços públicos, como saúde, educação e lazer.

Para maiores informaçoes sobre a Lei 12.587/2012, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12587.htm

Nesse sentido, a Política Nacional de Mobilidade Urbana, tem foco na


integração entre as formas de transporte, na acessibilidade e mobilidade das
pessoas e cargas no território municipal. A referida Política veio atender ao
artigo 40 do Estatuto da Cidade e também deverá considerar demanda e
oferta, qualidade do equipamento, racionalidade de linhas e percursos, e
integração na paisagem urbana (MILARÉ, 2014).

Avancemos um pouco mais nos nossos estudos. Vamos agora


compreender melhor uma importante ferramenta para a gestão do território
municipal, disposta no Estuto da Cidade, o Plano Diretor.

Plano Diretor: instrumento de desenvolvimento

32
Como vimos, dentre os instrumentos previstos pelo Estatuto da Cidade,
em seus artigos 39 e 40 o de maior abrangência é o Plano Diretor.
Considerando que, em geral, a dinâmica das cidades segue a lei do mais forte,
o Plano Diretor tem o papel de estabelecer as regras no jogo da cidadania, por
meio da proposta de transformações estruturais, propiciando maior qualidade
de vida nas áreas urbanas e rurais, já que não se destina somente ao
perímetro urbano. Tem por objetivo regular as atividades e empreendimentos,
além de definir diretrizes para a política de desenvolvimento e a expansão
urbana.

Com isso, o Plano Diretor influencia e estimula decisões do setor


privado, que poderá propor seus empreendimentos com mais segurança e
coerência. Estabelece também regras para a convivência pacífica da moradia
com outras atividades, como a indústria e o comércio, determina limites de
altura para os edifícios e para a ocupação de terrenos, o desenho de novas
ruas, parques e avenidas, bem como define os instrumentos que possibilitam
gerenciar essas regras de forma democrática, preparando a cidade para o tipo
de desenvolvimento desejado por seus cidadãos.

Formalmente, o Plano Diretor é uma lei municipal que contém um


conjunto de normas de planejamento, à qual as demais leis, decretos e
portarias precisam se ajustar. De acordo com a Constituição federal, deve
nortear o desenvolvimento de cidades com mais de 20 mil habitantes, sendo
obrigatório também para áreas de especial interesse turístico, para municípios
situados em zonas de empreendimentos com fortes impactos ambientais e
para aqueles que integram regiões metropolitanas.

Nada impede, no entanto, que o Plano Diretor possa ser elaborado por
municípios menos populosos e que não se enquadram nas especificações
acima. Devem ser avaliados e revisados a cada dez anos, pelo menos, por isso
não é ideal que seja detalhado, já que engessaria normas que precisam de
constantes adaptações.

33
Nesse sentido, no âmbito do município, o Plano Diretor é o instrumento
mais forte para garantir qualidade de vida, pois é a segunda lei municipal mais
importante depois da Lei Orgânica. Aliás, conforme nos lembra Milaré (2014, p.
1001), “É de sua natureza que ele constitua um desdobramento da Lei
Orgânica: ele estaria para a Lei Maior do Município assim como o Estatuto da
Cidade está para a Constituição Federal”. Além disso, sua relação com a
gestão ambiental, com as políticas de saúde, transporte, habitação e geração
de renda é direta e permanente.

O fortalecimento do Plano Diretor como lei referencial para todas as


políticas que têm consequências sobre o uso do território é essencial para que
as ideias discutidas democraticamente na sua elaboração possam ser
transformadas em ações coerentes com os seus propósitos, dentro das
diferentes secretarias municipais. Como fazer isso? Divulgando e discutindo
seus diversos instrumentos e em que tema se aplicam. Por exemplo, a
implantação de uma nova linha de ônibus acarreta uma nova demanda de
habitação na área favorecida, fazendo a cidade crescer ao longo do seu trajeto.
Portanto, essa decisão não deve ser tomada isoladamente pela Secretaria de
Transportes, mas ser compatibilizada com as diretrizes do Plano Diretor.

A elaboração de planos diretores “por obrigação” tem sido frequente.


Algumas prefeituras chegam mesmo a contratar serviços de consultorias,
situando a sua elaboração exclusivamente no âmbito da empresa consultora.
Dessa forma, o Plano Diretor se desvincula da equipe municipal responsável
por implementá-lo e da população que sofrerá os impactos das decisões
tomadas. No entanto, se não resultar de um processo amplamente
participativo, sua falta de legitimidade o fragilizará como norma a ser cumprida
e como estratégia de desenvolvimento, pois não terá refletido a visão daqueles
que são os principais interessados no futuro do município: os seus cidadãos.

34
Por isso, a estrutura proposta no Plano deve ser definida a partir de
uma avaliação realista e coletiva das potencialidades e das dificuldades do
município, considerando também a capacidade gerencial para sua
implementação. Há uma tese que insiste na incapacidade dos municípios
formularem seu Plano Diretor por falta de quadros técnicos e administrativos
adequados para desempenharem a contento a função de planejamento.
Deficiências administrativas podem até impor restrições, mas não constituem
empecilhos ao planejamento.

Algumas premissas devem ser esclarecidas para que o Plano Diretor


tenha êxito em se tornar um instrumento efetivamente implementado no
município, conforme Braga (2001). Vejamos algumas delas.

 É preciso equilíbrio entre as dimensões técnicas e políticas. Geralmente


o Plano Diretor é visto e tratado como um produto técnico, difícil de ser
elaborado e pouco entendido por leigos. A sua elaboração é delegada a
especialistas em urbanismo, evitando-se “indevidas” interferências
políticas. O aspecto técnico tem um papel fundamental no planejamento,
mas não é tudo. Se um plano for tecnicamente bom, mas não contar
com a devida defesa política, não será executado. Os estudos técnicos
são essenciais na exata medida em que dão subsídios e soluções, e/ou
verificam a viabilidade técnica das propostas discutidas politicamente.

 A transparência na sua elaboração garante maior controle da sociedade.


O principal mérito do Plano Diretor é dar transparência à política urbana,
na medida em que essa se torna explícita por meio de um documento
público, ou seja, de uma lei. Tornar públicas as diretrizes e prioridades
do crescimento urbano permite que estas sejam avaliadas pelos
diferentes atores sociais. Na verdade, diretrizes e prioridades para o
crescimento e a expansão urbana sempre existem, com ou sem plano. A
diferença é que com um plano essas se tornam claras.

35
 Democratização é fundamental. A democratização no processo de
elaboração do Plano Diretor é garantida pela própria Constituição
Federal, que torna obrigatória a participação das entidades
representativas da sociedade no processo de planejamento municipal.

 Deve-se considerar o planejamento como um processo contínuo e


transversal (de caráter realmente estratégico). O plano de ação não
pode ser simplesmente espacial; deve prever também os passos a
serem cumpridos; deve ser temporal, mostrando com clareza as
relações com outros temas afins. Só assim pode se tornar uma
ferramenta útil e viva, de aplicação e discussão permanentes.

Além disso, outras questões acerca do Plano Diretor precisam ser


tratadas. Veja:

Quem deve elaborar o Plano Diretor?

A maioria das prefeituras é capaz de elaborar um plano diretor na


medida de suas necessidades. Para isso, pode contar com apoio técnico, mas
nunca deixar a cargo de empresas de consultoria o trabalho que deve ser
realizado. O Plano Diretor deve ser elaborado pela própria municipalidade e
estar de acordo com as dimensões do próprio município.

Há real vontade política de elaborar um Plano Diretor que funcione?

Elaborar um Plano Diretor pode até ser fácil. O difícil é romper práticas
enraizadas na cultura política, como o clientelismo e as características
eleitoreiras que desvirtuam o processo de tomada de decisão em todos os
setores da administração pública. O grau de dificuldade a ser enfrentado
dependerá do tamanho da prefeitura, da complexidade de sua organização e
das resistências políticas ao trabalho integrado.

36
É, pois, necessário desenvolver vontade política de realizar e
implementar o Plano Diretor. Para que isso ocorra este precisa ser visto como
um instrumento dentro de um processo de planejamento democrático mais
amplo, que possibilite um aprimoramento da gestão territorial do município e
não somente como uma imposição legal. Vale lembrar que no Plano Diretor
são estabelecidos os objetivos que só podem ser atingidos ao longo do tempo,
por diversas administrações. Assim, além de angariar adeptos dentro da atual
gestão, o Plano deve conquistar a sociedade, pois suas ações necessitam ter
continuidade.

O que significa planejar estrategicamente?

Significa reconhecer que o planejamento é uma atividade permanente,


que traz dividendos em médio e longo prazo, favorecendo a tomada de decisão
em todas as instâncias. Para tanto, não é necessário ter todas as informações,
mas saber identificar as informações relevantes para criar planos de forma
participativa, que possam ser assumidos pela comunidade local, o que
garantirá sua execução e sua sustentabilidade.

E quais são as interfaces entre a questão ambiental e o Plano Diretor?

Aquelas podem ser visualizadas quando se observa os temas sobre os


quais este dispõe. Quando tais temas são discutidos, devem ser pensados sob
uma ótica de otimização e conservação dos recursos naturais, de maneira
integrada e numa perspectiva de continuidade no tempo, dentro de uma escala
de prioridades. Ademais, cabe lembrar que o Plano Diretor confere “poderes e
deveres ao governo local que extrapolam a gestão urbana e alcançam a gestão
do meio ambiente natural” (BRASIL, 2013b, p. 1517).

Nesse âmbito, alguns dos tópicos sobre os quais o Plano Diretor


dialoga com as questões ambientais são:

37
 Objetivos que orientam a política urbana: diretrizes básicas para a
formulação de planos, programas, projetos e obras, nas quais o respeito
ao meio ambiente deve ser considerado questão transversal;

 Ordenamento territorial: propor estratégias para evitar a ocupação


desordenada dos espaços urbano e rural; definir áreas para ocupação
urbana, áreas para expansão urbana e áreas destinadas a
parcelamento compulsório, considerando as condições dos
ecossistemas locais;

Parcelamento compulsório

Medida que visa dar melhor aproveitamento ao solo urbano, de forma a


atender a sua função social (BRASIL, 2006, p. 39 ).

 Sistema viário e de transportes (ferrovias, rodovias, portos, aeroportos):


distribuir os usos do solo, de forma a racionalizar o sistema viário;
incentivar o transporte coletivo em detrimento do transporte individual;
incentivar a eficiência energética e o uso de energias alternativas;
condicionar esses empreendimentos ao licenciamento ambiental;

 Política habitacional: compatibilizar as densidades populacionais,


máxima e mínima, com a infraestrutura urbana já implantada, os
equipamentos públicos e as áreas verdes disponíveis; projetar a
densidade máxima populacional de acordo com o potencial de
saneamento e abastecimento de água; prever sistema de drenagem de
águas pluviais, evitando-se os alagamentos; proteger áreas de encostas
de morros, margens de córregos e ecossistemas da ocupação
residencial formal (loteamentos) e informal (ocupações irregulares);

38
incentivar ocupação dos chamados vazios urbanos (quadras
desocupadas em áreas com infraestrutura);

 Localização preferencial de atividades econômicas: comércio, indústria,


serviços em acordo com as normas ambientais e sujeitas a
licenciamento;

 Preservação e valorização do patrimônio ambiental, histórico e cultural:


previsão de projetos especiais e instrumentos de gestão e de incentivo.

Como se vê, as interfaces entre as atribuições do Sistema Municipal de


Meio Ambiente e o Plano Diretor são bastante grandes, pois envolvem uma
série de pontos convergentes. Há necessidade, portanto, de ampla interlocução
entre as áreas de meio ambiente e aquelas que se dedicam à gestão urbana,
de forma a compatibilizar agendas e potencializar ações.

Como vimos, novas políticas nacionais ampliaram o alcance do


Estatuto da Cidade, e isto também trouxe outras obrigatoriedades ao Plano
Diretor.

A Lei 12.608/2012, que institui a Política Nacional de Proteção e


Defesa Civil, incluiu a prevenção de desastres naturais no Plano Diretor.

Assim, no artigo 41º do Estatuto, há a inclusão da obrigatoriedade de


elaboração do Plano Diretor para as cidades que forem incluídas em cadastro
de municípios passíveis de ocorrerem eventos extremos. Assim:

Art. 41.O plano diretor é obrigatório para cidades:


[...]

39
VI – incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas
suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto,
inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos
correlatos (BRASIL, Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, 2001,
grifo nosso).

Ademais foi acrescido o dispositivo 42-A, do qual destacamos os


incisos II, III e IV, que colocam a obrigatoriedade de inserção no Plano Diretor
de mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos
de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou
hidrológicos correlatos; o planejamento de ações de intervenção preventiva e
realocação de população de áreas de risco de desastre e medidas de
drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação de impactos de
desastres (BRASIL, Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, 2001, incisos II, III e
IV).

A partir do Plano Diretor, temos outros desdobramentos que também


se refletem na gestão do território municipal, tais como a lei de uso e ocupação
do solo, o código de obras, o zoneamento, entre outros. Vejamos alguns deles.

Instrumentos integrantes ou complementares ao Plano Diretor

Zoneamento

O zoneamento baseia-se em um diagnóstico das condições físicas,


ambientais, econômicas e sociais do município, o que possibilita delimitar as
áreas mais adequadas aos diversos usos e ocupações do solo. Assim, para
Milaré (2014, p. 1003), “[...] trata-se do disciplinamento de ocupação e
destinação de áreas geográficas para que elas atendam a sua vocação
geoeconômica e ecológica”.

40
Além de revelar os ecossistemas locais, o zoneamento levanta as
áreas construídas existentes, mostrando suas potencialidades e fragilidades,
bem como as demandas sociais em termos de uso do solo. As características
de cada espaço determinarão os seus possíveis usos. A partir dessa análise
definem-se, por exemplo, as áreas destinadas à proteção de ecossistemas ou
aquelas consideradas de valor arqueológico, histórico e paisagístico, bem
como os locais mais propícios à instalação de aterros sanitários, áreas
industriais ou moradias urbanas, entre outras.

O zoneamento contribui na formulação do Plano Diretor e objetiva:


tornar compatíveis o crescimento urbano, a oferta de serviços públicos e a
capacidade de investimentos do município; harmonizar o uso do solo com a
conservação do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural; separar
usos incompatíveis, evitando conflitos de vizinhança; induzir a ocupação dos
espaços urbanos vazios, otimizando a infraestrutura instalada; orientar a
implantação das atividades para o melhor aproveitamento das vocações
ambientais e a economia de recursos e de infraestrutura (RIO GRANDE DO
SUL, 2002).

Para realizar o diagnóstico ambiental do município são levantados


dados como topografia, microclimas e ventos dominantes, características da
biodiversidade e aspectos geológicos, as fragilidades do ecossistema e as
alterações do ambiente decorrentes do uso humano. Dados sobre as
atividades humanas são importantes para se avaliar a realocação de usos ou o
seu incentivo. Vale lembrar que o zoneamento do município pode se beneficiar
muito com os dados gerados no Zoneamento Ecológico-Econômico do
estado, quando houver.

41
Zoneamento Ecológico-Econômico

Instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido


na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas,
estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a
assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a
conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento
sustentável e a melhoria das condições de vida da população (BRASIL,
Decreto n° 4.297, de 10 de julho de 2002, 2002, artigo 2°).

Além de regulamentar a preservação dos recursos naturais, o


zoneamento é um instrumento adequado para dirimir os conflitos gerados pelo
desenvolvimento simultâneo de várias atividades impactantes numa mesma
região. Trata-se também de um valioso instrumento preventivo de situações
como inundações, deslizamentos de encostas, e outros prejuízos sociais e
econômicos decorrentes de uso inadequado do solo.

Lei de Uso e Ocupação do Solo

Baseando-se no zoneamento, a Lei de Uso e Ocupação do Solo define


os usos dos diversos espaços e as condições para a sua ocupação em áreas
urbanas. Vale lembrar que o uso do solo rural está sujeito a normas específicas
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Enquanto o Plano Diretor estabelece as grandes linhas do


zoneamento, a Lei de Uso e Ocupação do Solo (que também o integra) define
as zonas de acordo com critérios específicos de ocupação. Dessa forma,
qualquer empreendimento ou construção, desde a mais modesta moradia a
uma grande indústria, depende de uma autorização municipal – e a
necessidade desta autorização deverá estar prevista na Lei de Uso e
Ocupação do Solo.

42
É interessante que as autorizações previstas por essa lei tenham
critérios condizentes com os do licenciamento ambiental. Da mesma forma,
seus procedimentos devem ser estabelecidos em comum acordo entre a
Secretaria de Obras e a de Meio Ambiente, de forma a evitar burocracia e
facilitar a vida de quem busca regularizar a sua obra ou empreendimento.

Código de Obras

Esse código tem como objetivo garantir às construções sejam essas


públicas ou privadas, condições de segurança, conforto e higiene. Nesse
sentido, atua como agente legalizador das obras realizadas tanto na zona
urbana quanto na zona rural, por meio de normas técnicas para os diversos
tipos de construção, observando as suas características específicas.

O Código de Obras define também os procedimentos para aprovação


de projetos e licenças para sua execução, bem como as bases legais para a
fiscalização e a aplicação das penalidades para infratores. Por isso, as suas
diretrizes devem ser ajustadas ao Plano Diretor e aos demais instrumentos
legais do município.

Código de Posturas

Define e regula a utilização dos espaços públicos e de uso coletivo no


município, assim como os reflexos das atividades privadas sobre eles. Trata de
questões relativas a poluição sonora, apreensão de animais, cuidado com
calçadas e passeios públicos, disposição de resíduos, instalação de placas e
cartazes, arborização pública, exploração de areia e cascalho, proibição do
lançamento de esgotos nos cursos d’água, entre outros.

43
Esse código deve ser atualizado periodicamente para que lhe sejam
incorporados padrões em vigor na legislação ambiental. Há resoluções do
CONAMA que estabelecem critérios para muitas das atividades a que se
dedica o Código de Posturas.

Para maiores informações sobre o CONAMA, acesse o site:


http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm

Código Tributário

Permite criar incentivos para as práticas de contribuintes (sejam eles


pessoas físicas ou jurídicas) que se proponham a proteger, conservar ou
recuperar o meio ambiente municipal. Algumas atividades passíveis de
incentivo podem ser:

 Preservação de construções ou monumentos de interesse arqueológico,


histórico, cultural e paisagístico;

 Recuperação, manutenção e conservação de parques, praças e jardins


públicos;

 Desenvolvimento de projetos de educação ambiental;

 Emprego de tecnologias para o uso sustentável dos recursos naturais;

44
 Adesão voluntária ao programa de coleta seletiva, com isenção de taxa
de limpeza pública;

 Compensação financeira (indenização e incentivos tributários) para


quem sofrer restrições ou limitações ao uso de sua propriedade, em
razão de medidas de proteção ao meio ambiente.

Tombamento

Outro recurso que pode ser mobilizado no incentivo à qualidade


ambiental do município refere-se ao tombamento. Regulamentado pelo
Decreto-lei no 25/37, o tombamento é um ato administrativo por meio do qual
são impostas algumas restrições à propriedade. Um imóvel urbano histórico ou
uma paisagem local poderão ser tombados pela municipalidade sem nenhum
encargo para o poder público, que estará simplesmente estabelecendo uma
limitação administrativa à propriedade. Isso impede a descaracterização do
bem, permitindo a sua preservação, algo que pode ser aplicado a conjuntos de
construções históricas, acervos arqueológicos, espeleológicos e paisagens de
relevante beleza cênica.

Para maiores informações sobre o Decreto-lei n° 25/37, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm

45
Para realizar o tombamento, o município deverá ter uma lei própria que
indique o órgão responsável pela preservação do patrimônio cultural e que o
autorize a realizar o tombamento. No Plano Diretor, áreas tombadas podem
receber incentivos como permuta ou transferência de índice construtivo (troca
do direito de construir para outro terreno), isenção de IPTU e definição de
zonas especiais que recebem projetos com características específicas para
valorizar o patrimônio e compensar os proprietários.

Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)

Trata-se de um instrumento previsto no Estatuto da Cidade que avalia


os efeitos negativos e positivos de um empreendimento ou atividade,
mostrando até que ponto este interfere na qualidade de vida da população
residente em determinada área ou em suas proximidades. Cabe à lei municipal
definir os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana
que dependerão desse estudo para obter as licenças e autorizações de
construção, ampliação ou funcionamento.

Convém que o EIV seja compatibilizado com o Estudo de Impacto


Ambiental (EIA), previsto nos processos de licenciamento ambiental, para que
não haja duplicidade de procedimentos e se evite a burocratização na emissão
de licenças de funcionamento.

46
Para refletir
Faça uma pesquisa e verifique nos códigos existentes em seu município quais leis
possuem interface com as questões ambientais e exigirão ações integradas entre
os órgãos do Sistema Municipal de Meio Ambiente e outros setores da
administração municipal. Procure responder às seguintes questões:
Seu município possui Plano Diretor?
Em caso afirmativo, há quanto tempo?
No seu entender, quais aspectos mereceriam ser revistos no Plano Diretor para
contemplar a dimensão ambiental?
Em caso de não haver Plano Diretor, que conflitos na ocupação e uso do território
do seu município você poderia apontar?
Que necessidades concretas motivariam seu município a iniciar uma discussão
sobre Plano Diretor?

Em resumo

Definido o quadro geral dos caminhos que levam à sustentabilidade, é


hora de promover o ordenamento e a integração dos diversos instrumentos
municipais a essas diretrizes. Devido aos impactos ambientais gerados pelo
processo de urbanização, o Estatuto da Cidade merece destaque, pois tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana, democratizando o direito à cidade e visando a sua
sustentabilidade. Sua relação com a questão ambiental se dá no ordenamento
e no controle do uso do solo, de forma a evitar a especulação imobiliária, a
deterioração das áreas urbanizadas, a poluição e a degradação ambiental.

O Plano Diretor propõe transformações estruturais, definindo diretrizes


para a política de desenvolvimento e a expansão urbana. É obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, para áreas de especial interesse
turístico, para municípios situados em zonas de empreendimentos com fortes
impactos ambientais e para aqueles que integram regiões metropolitanas,
embora seja recomendável sua elaboração também em municípios menores,
contemplando sempre o meio rural. A proposta do Plano Diretor deve

47
considerar uma avaliação realista da capacidade do município para garantir a
sua gestão.

Para que tenha êxito, o Plano Diretor precisa equilibrar as dimensões


técnica e política em sua elaboração, além de garantir transparência e controle
da sociedade, algo preconizado pela própria Constituição federal. A maioria
das prefeituras é capaz de elaborar o seu Plano Diretor, sem necessidade de
deixar esse trabalho a cargo de empresas de consultoria. O grau de dificuldade
a ser enfrentado dependerá do tamanho da prefeitura, da complexidade de sua
organização e das resistências políticas ao trabalho integrado.

Há outros instrumentos de planejamento com forte interface com as


questões ambientais, como o zoneamento, a Lei de Uso e Ocupação do Solo, o
Código de Obras, e o Código de Posturas. Tais leis devem ser atualizadas
periodicamente para que lhes sejam incorporados padrões em vigor na
legislação ambiental. Outras normas que possuem interface direta com a
questão ambiental são as tributárias, de saúde, o tombamento e o Estudo de
Impacto de Vizinhança.

Ainda no que concerne à gestão do território municipal, na próxima


unidade vamos estudar o planejamento regional. Bons estudos!

48
UNIDADE 3: PROBLEMAS LOCAIS PODEM TER SOLUÇÕES REGIONAIS

A despeito das especificidades locais, a gestão ambiental municipal


também deve ocorrer de modo integral, ou seja, deve também abarcar o
planejamento em âmbito regional. Assim, nesta unidade, estudaremos a
importância das políticas setoriais, em especial a de recursos hídricos.

Política de Recursos Hídricos

Ao instituir as regiões metropolitanas, as aglomerações urbanas, as


microrregiões e as bacias hidrográficas, a Constituição Federal de 1988 abriu
caminho para múltiplos arranjos na gestão dos recursos naturais. A interseção de
diferentes políticas setoriais, numa mesma área geográfica deve,
necessariamente, ocorrer por meio da busca socialmente negociada da
distribuição das atividades econômicas em harmonia com a manutenção dos
ecossistemas. A gestão das águas, por exemplo, tem como referência a bacia
hidrográfica, que em geral abrange vários municípios.

Assim, ao realizar o seu planejamento global e também o planejamento


dos órgãos específicos do Sistema Municipal de Meio Ambiente, deve-se levar em
consideração as diferentes políticas setoriais para o território, tais como o
Zoneamento Ecológico-Econômico e o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, entre outros. Compondo esforços em outras instâncias de poder e
com outros municípios, é possível melhor resolver os desafios que se apresentam.

A política e a gestão dos recursos hídricos são estratégicas para o


desenvolvimento do País. A preservação desses recursos, além de essencial para
a qualidade de vida humana e de imensurável valor ecológico, garante a
manutenção de importantes atividades econômicas. O reconhecimento dessa
importância fez com que se estruturasse um sistema específico para a gestão dos
recursos hídricos.

Nesse sentido, a Lei 9.433/1997, mais conhecida como Lei das Águas,
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos – SINGREH, que tem como princípios
básicos:

49
Para maiores informações sobre a Lei 9.433/1997, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm

 Adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento.

Bacia hidrográfica

Área delimitada pelos pontos mais altos do relevo, denominados divisores


de águas, dentro da qual a água das chuvas é drenada por um curso d’água
principal até sua saída da bacia, no local mais baixo do relevo, que
corresponde à foz desse curso d’água (BRASIL, 2006, p . 48).

 Usos múltiplos das águas, reconhecendo a necessidade de se


compatibilizar o uso doméstico com os usos produtivos (dessedentação de
animais, irrigação, aplicações industriais e comerciais) e com as atividades
de geração de energia, lazer, recreação e manutenção dos ecossistemas;

Dessedentação

Ato de saciar, matar a sede (BRASIL, 2006, p. 48).

 Reconhecimento da água como um bem finito e vulnerável, sujeito,


portanto, a medidas voltadas a garantir a sua durabilidade;

 Reconhecimento do valor econômico da água, como estratégia para regular


a oferta e gerar recursos, no sentido de melhorar a sua qualidade e
disponibilidade;

50
 Gestão descentralizada e participativa, na qual as decisões que puderem
ser tomadas localmente não sejam centralizadas. A participação dos
usuários da água e da sociedade civil organizada, conjuntamente com o
poder público – federal, estadual e municipal – é imprescindível para definir
as diretrizes a serem adotadas na gestão dos recursos hídricos.

Composição do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos –


SINGREH

Para implementar a política dos recursos hídricos em seus diversos


âmbitos, o SINGREH criou os seguintes órgãos:

 Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Colegiado superior do sistema, o qual compete decidir


sobre as grandes questões envolvendo o setor e
dirimir conflitos, nos casos em que esses não possam
ser resolvidos em âmbito regional.

 Conselhos de Recursos Hídricos dos estados e do Distrito Federal

Colegiados no âmbito dos estados, com competência


para decidir grandes questões nessa esfera.

 Comitês de Bacias Hidrográficas

51
Fóruns de decisão política no âmbito de cada
bacia, considerados como os “parlamentos das
águas”. Contam com a participação de todos os
atores sociais relevantes na gestão das águas,
como prefeituras, governos estaduais, diversos
usuários dos recursos hídricos e entidades da
sociedade civil organizada.

 Agências de Águas

Órgãos de caráter técnico cuja função é a de


exercer o papel de secretaria executiva do
respectivo comitê de bacia.

 Agência Nacional de Águas – ANA

Autarquia sob regime especial, vinculada ao


Ministério do Meio Ambiente, que tem autonomia
administrativa e financeira. Passou a integrar o
SINGREH a partir da edição da Lei 9.984/2000 e
tem atribuições de órgão técnico, executivo e
implementador da Política Nacional de Recursos
Hídricos.

Para maiores informações sobre a Lei 9.984/2000, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9984.htm

52
Instrumentos do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos
Hídricos – SINGREH

Com o objetivo de apoiar a gestão dos recursos hídricos, a já mencionada


Lei 9.433/1997 instituiu alguns instrumentos, veja quais são:

 Planos de recursos hídricos. Trata-se de instrumentos de planejamento de


longo prazo, que visam fundamentar e orientar a implementação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos em
determinada bacia hidrográfica, no estado ou mesmo em todo o País. Seu
horizonte temporal deverá ser compatível com o período de implantação
dos programas e projetos previstos para melhor conservar, recuperar e
utilizar os recursos hídricos da bacia.

 Enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo os seus usos


preponderantes. Esse instrumento visa assegurar metas de qualidade das
águas que sejam compatíveis com os usos mais exigentes a que estas
forem destinadas. A partir de ações preventivas permanentes, destina-se a
diminuir os custos de combate à poluição hídrica. Lembre-se que para esse
enquadramento, devem ser observadas as Resoluções CONAMA
357/2005 e 396/2008, que abordam a temática.

Para maiores informações sobre a Resolução CONAMA 357/2005,


acesse o site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459

53
Para maiores informações sobre a Resolução CONAMA 396/2008,
acesse o site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562

 Outorga de direito de uso dos recursos hídricos. Instrumento que permite


ao usuário receber autorização do órgão governamental para fazer uso da
água em determinada localização, por determinado período de tempo e
com finalidade específica. Tem como objetivo assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água superficial e subterrânea, e
garantir o efetivo exercício do direito de acesso à água e seus usos
múltiplos. Portanto, a outorga deve ser requerida por todos os usos das
águas que interfiram, direta ou potencialmente, na qualidade e quantidade
de água disponível em determinado corpo hídrico.

Os critérios para emissão da outorga utilizados pelo Poder Público são


definidos pelos conselhos de recursos hídricos e comitês de bacia hidrográfica.
Segundo a Lei nº. 9.433/97, a outorga somente se torna possível por meio de ato
da autoridade competente do Poder Executivo federal, dos estados ou do Distrito
Federal. O município não tem, portanto, competência para realiza-la.

Alguns usos de recursos hídricos devem obrigatoriamente ser


outorgados, outros estão isentos de outorga.

Usos de recursos hídricos que devem obrigatoriamente ser outorgados:

Derivação ou captação para consumo final, inclusive abastecimento público, ou


insumo de processo produtivo;
Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo em
processo produtivo;
Lançamento em corpo de água de esgotos e resíduos, tratados ou não, com o fim de
sua diluição, transporte ou disposição final;
Aproveitamento dos potenciais hidroelétricos;
Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade das águas. (BRASIL,
Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997, artigo 12, I a V, 1997).

54
Usos de recursos hídricos que estão isentos de outorga:

Satisfazer as necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio


rural;
As derivações, captações, lançamentos e acumulações considerados insignificantes.
(BRASIL, Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997, artigo 12, parágrafo 1 (primeiro) I, II e
III, 1997).

Para algumas atividades que utilizam a água em seu processo produtivo,


a outorga deve vir antes do licenciamento ambiental. Por exemplo, os
lançamentos de resíduos líquidos e obras hidráulicas barragens para fins
hidroelétricos acima de 10 MW, obras de saneamento e de irrigação, abertura de
canais de navegação, drenagem, retificação de cursos d´água, abertura de barras
e embocaduras, transposição de bacias, diques. (BRASIL, Resolução 001, de 23
de janeiro de 1986, 1986).

Desse modo, de acordo com a Resolução CONAMA 237/1997, no


procedimento de licenciamento ambiental deve constar, quando for o caso, a
outorga para o uso da água, emitida pelo órgão competente.

Para maiores informações sobre a Resolução CONAMA 237/1997,


acesse o site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html

No caso de uso para aproveitamento hidrelétrico, deve-se ainda


considerar a sujeição da outorga à concessão ou autorização e estas devem ter
em conta exigências acauteladoras para manutenção de uso múltiplo das águas,
tais como: salubridade, navegação, irrigação, proteção contra inundações,
conservação e livre circulação dos peixes, escoamento e rejeição das águas
(BRASIL, Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934, artigo 143, 1934).

 Cobrança pelo uso da água. Tal medida tem como objetivos o


reconhecimento da água como bem econômico e definir para o usuário o

55
seu custo real, minimizando, assim, possíveis desperdícios Os valores
arrecadados com a cobrança devem ser aplicados prioritariamente na bacia
em que foram gerados.

A cobrança somente é efetuada sobre os volumes efetivamente


outorgados, e está relacionada aos usos que interferem na quantidade e qualidade
da água disponível no corpo hídrico, não devendo ser confundida com a cobrança
pela prestação de serviços como o abastecimento público, irrigação, entre outros.

As agências de águas devem promover estudos para estabelecer tarifas


para a cobrança de água bruta para todos os que a utilizam, seja na produção
industrial, na comercialização e no consumo, como ocorre com empresas de
abastecimento e indústrias que necessitam de água no seu processo produtivo.
Também será cobrado o lançamento de efluentes nos corpos d’água, como ocorre
com setores como os de saneamento e agrícola que, além de captarem água,
devolvem-na para suas bacias em qualidade distinta da original.

Água bruta

Água de uma fonte de abastecimento antes de receber tratamento químico


destinado a torna-la potável (BRASIL, 2006, p. 50).

Cabe aos comitês de bacia estabelecer os mecanismos de cobrança pelo


uso de recursos hídricos, submetendo-os ao Conselho Estadual ou Conselho
Nacional de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio do corpo d’água em
questão. Com a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), essa ficou com a
atribuição de implementar a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da
União.

56
Domínio de corpo d'água

Qualquer coleção de águas interiores. Denominação mais utilizada para águas


doces, abrangendo rios, igarapés, lagos, lagoas, açudes, etc. (BRASIL, 2002, p.
49 apud, BRASIL, 2006 ).

E você sabe qual é o papel dos municípios na gestão dos recursos


hídricos?

O SINGREH e os municípios

A Constituição federal estabelece que os municípios devem atuar no


ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, parcelamento e
ocupação do solo, porém, não possuem domínio sobre os corpos d’água.
Entretanto, a Constituição diz também que os entes federados compartilham
responsabilidades sobre a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em
qualquer de suas formas, o que inclui os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos.

Admite-se, portanto, que os municípios possuem responsabilidade sobre a


qualidade dos recursos hídricos, apesar de não terem o dever de gerenciá-los
diretamente. Isso confirma a importância dos comitês de bacia hidrográfica como
instâncias a serem consultadas no planejamento e na gestão ambiental municipal,
pois neles os municípios têm assento e poder de decisão.

O Plano Diretor, além de estar em consonância com a legislação


ambiental, deve estar em harmonia com os planos das bacias hidrográficas nas
quais o município se insere. Na medida em que os usos do solo e da água são
interdependentes, os instrumentos de gestão que interferem nos municípios
devem levar em conta essas diferentes dimensões do planejamento.

Por isso, os municípios cujos territórios compõem, em todo ou em parte,


uma bacia hidrográfica, têm o direito a participarem do respectivo comitê de bacia.
Tal participação pode se dar diretamente, por meio de representação do poder

57
executivo municipal, ou por meio de consórcios intermunicipais e associações
intermunicipais de bacias hidrográficas.

É fundamental que os municípios se engajem nesses colegiados, contando


com o apoio dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, já que:

 O enquadramento dos corpos d’água deve ser feito segundo a constatação


da realidade de cada município, dependendo, portanto, da estrutura
municipal de meio ambiente e sua aprovação passa pelo comitê;

 Cabe também aos órgãos responsáveis pelo controle ambiental monitorar e


fiscalizar os córregos, rios e demais corpos d’água para avaliar se as metas
de enquadramento estão sendo cumpridas;

 A participação ativa do município na elaboração do plano de sua bacia


hidrográfica garantirá maior qualidade e transparência na aplicação dos
recursos arrecadados pela cobrança pelo uso da água;

 Os processos de licenciamento e outorga deverão ser compatibilizados. Por


exemplo, criando um balcão único para emissão de licenciamento e
outorga, o que facilita o trabalho de quem precisa da outorga para realizar
suas atividades produtivas;

 A proteção de aquíferos e corpos d’água poderá ser realizada por ações


desenvolvidas nos municípios, em conjunto com órgãos federais e
estaduais.

Aquíferos

Estrutura de rochas, cascalhos e areias situada acima de uma capa de rochas


impermeáveis, que por sua porosidade e permeabilidade possui a capacidade
de armazenar água que circula em seu interior (BRASIL, 2006, p. 52 ).

58
 Os municípios são usuários das águas, seja para o abastecimento público,
seja pelo lançamento de efluentes, ou pelo depósito de resíduos sólidos
que pode comprometer os mananciais subterrâneos.

É importante considerar também a interface da gestão dos recursos


hídricos com a de resíduos, e o saneamento básico, tendo em vista o risco de
perda da qualidade da água para abastecimento da população por contaminação
do solo, de lenções freáticos e demais cursos d´água pelo depósito irregular
desses materiais. Vejamos a seguir.

Interface entre o SINGREH, as ações de saneamento e a Política Nacional


de Resíduos Sólidos

As ações de saneamento compreendem o abastecimento de água, a


coleta, o tratamento e a disposição adequada de esgotos e de resíduos sólidos, a
coleta de águas pluviais e o controle de vetores de doenças transmissíveis.
Estudos apontam a carência desses serviços como a principal causa de doenças
transmissíveis, como a hepatite, a esquistossomose e a febre tifoide.

As atribuições municipais englobam as ações referentes ao saneamento.


Nas décadas anteriores, houve a tendência, no entanto, a delegar essas tarefas a
companhias estaduais. E hoje cresce a terceirização desses serviços por
companhias privadas. É preciso, pois, que os municípios estejam alerta para o tipo
de concessão que farão sobre esses serviços, para que, de fato, estes atendam
às necessidades da população e cumpram as exigências ambientais.

Lixo e resíduos sólidos sempre foram tratados como sinônimos. Significam


todo tipo de rejeitos e materiais sólidos que causam algum tipo de poluição
ambiental e que são gerados em residências, escritórios, indústrias,
empreendimentos comerciais e agrícolas. No entanto, cada vez mais a cultura
antiga do lixo, ou seja, do descarte desses materiais na natureza, precisa dar lugar
à cultura atual da reciclagem dos resíduos sólidos, ou seja, do reaproveitamento
de parte desses materiais.

O aumento populacional combinado com o crescimento do consumo de


embalagens descartáveis e com materiais cada vez menos sujeitos à degradação
torna o problema do acúmulo de resíduos sólidos uma bomba de efeito retardado

59
sobre as futuras gerações. Há também um crescente aumento na toxidade desses
resíduos em decorrência do uso de produtos químicos e radiativos.

Resíduos que merecem atenção especial são os provenientes de


hospitais, centros de pesquisa farmacológica, necrotérios e funerárias. Além de
representarem grande risco para as pessoas e o ambiente, estima-se que 76%
desses resíduos sejam jogados em lixões a céu aberto.

Por ser um problema essencialmente local, cabe ao município estabelecer


suas próprias regras para lidar com os resíduos sólidos. As Resoluções
CONAMA 001/86 e 005/93 dispõem sobre questões referentes aos resíduos
sólidos e podem orientar a atuação municipal sobre esse assunto. Para definir sua
política de gerenciamento de resíduos, convém ao município considerar as
seguintes ações:

Para maiores informações sobre a Resolução CONAMA 001/86, acesse o


site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html

Para maiores informações sobre a Resolução CONAMA 005/93, acesse o


site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res93/res0593.html

 Realizar a limpeza urbana com equipamentos e pessoal adequados, além


de manter uma periodicidade regular e trajetos que consigam atender a
toda a população;

 Reformular a coleta do lixo, aderindo à coleta seletiva;

 Sujeitar os projetos para tratamento e disposição dos resíduos sólidos a


licenciamento ambiental;

60
 Eliminar os lixões a céu aberto ou autorizar a sua existência por tempo
determinado;

 Estudar a localização adequada dos aterros sanitários;

 Elaborar novas opções para tratamento dos resíduos;

 Impedir a queima de lixo a céu aberto, por meio de multas e intensa


fiscalização;

 Operar os aterros ou áreas de destinação final de resíduos com tecnologias


adequadas e um sistema eficiente de controle de efluentes e emissões;

Efluentes

Qualquer tipo de água ou líquido que fluir de um sistema de coleta, ou de


transporte, como tubulações, canais, reservatórios, e elevatórias, ou de um
sistema de tratamento ou disposição final, com estações de tratamento e
corpos de água receptores (BRASIL, 2006, p. 52 ).

Emissão

Ação de emitir ou expelir de si (BRASIL, 2006, p. 52).

61
 Dar tratamento especial aos resíduos de natureza tóxica, contendo
substâncias inflamáveis, corrosivas, explosivas, radiativas e contaminantes,
sendo sua destinação sujeita à aprovação pelo órgão ambiental;

 Encorajar as indústrias a tratar, reciclar, reusar e dispor de resíduos na


própria fonte ou o mais próximo possível;

 Exercer supervisão sobre hospitais e entidades que possuem aparelhos


que produzam resíduos radioativos, estabelecendo exigências adicionais de
segurança, sobretudo no que diz respeito ao acondicionamento do material;

 Promover oportunidades de treinamento para trabalhadores que lidam com


resíduos tóxicos;

 Realizar campanhas educativas sobre a importância de as pessoas


adotarem os três “erres” em relação aos resíduos: reduzir a quantidade
produzida; reutilizar os materiais, dando-lhes novas utilidades; reciclar os
produtos descartados em novos produtos;

 Estimular a formação de cooperativas de catadores, bem como toda a


cadeia de produção da reciclagem, incluindo as grandes indústrias que
utilizam esse tipo de material.

É bom lembrar que o planejamento e a destinação dos resíduos podem


ser feitos por meio de consórcios intermunicipais. Além de um fator de agressão
ao meio ambiente, os resíduos sólidos podem transformar-se em ótimas
oportunidades de negócios, geradores de emprego e renda, contribuindo, assim,
para a solução de graves problemas sociais.

Além disso, devemos ressaltar também, a instituição, em 2010, da Política


Nacional de Resíduos Sólidos, pela Lei 12.305/2010. Essa prevê a prevenção e a
redução na geração de resíduos por meio da mudança de hábitos de consumo e
de instrumentos que visam ao reaproveitamento e a destinação adequada de
rejeitos.

62
Para maiores informações sobre a Lei 12.305/2010, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm

Quanto à cadeia produtiva, a Lei instituiu responsabilidades


compartilhadas entre geradores, fabricantes, importadores, distribuidores,
comerciantes, titulares de serviços de manejo de resíduos. Ademais, criou
objetivos que contribuirão para o alcance das metas do Plano Nacional sobre
Mudança do Clima (BRASIL, 2015ª).

Para maiores informações sobre o Plano Nacional sobre Mudança do


Clima, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/clima/politica-nacional-sobre-mudanca-do-
clima/plano-nacional-sobre-mudanca-do-clima

No que tange ao papel dos municípios, a Política Nacional de Resíduos


Sólidos exige o fim dos chamados lixões, sob pena de crime ambiental. Para o
cumprimento dessa meta, é necessário elaborar um plano de gestão integrada de
resíduos, organizar a coleta seletiva, instalar usinas de reciclagem e depositar o
material orgânico em aterros sanitários.

Aterros sanitários

É uma técnica que utiliza princípios de engenharia para confinar no solo os


resíduos sólidos a menor áreas possível, reduzindo-os ao menor volume
permissível e cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada
jornada de trabalho ou intervalos menores, se necessário, minimizando os
impactos ambientais (BRASIL, 2009, p. 37 ).

Considerando o que aprendemos até agora, vejamos, a seguir, alguns


instrumentos para se pôr em prática esses polícias setoriais, em âmbito regional.

63
Arranjos institucionais para o planejamento regional

Até muito recentemente, cada município tratava de suas questões de


forma isolada. No entanto, fatores como o alto nível de endividamento público, a
consequente falta de recursos para realizar investimentos, e a carência de
profissionais habilitados para enfrentar a crescente complexidade administrativa
que a gestão descentralizada acarreta fizeram com que essa mentalidade
começasse a mudar.

Há uma crescente compreensão de que as associações intermunicipais


reúnem melhores condições para prestar serviços públicos em questões que
extrapolam as fronteiras do município. Além disso, organizados, esses podem
influir de forma mais incisiva na defesa dos seus interesses. Dessa forma, os
municípios têm escolhido o tipo de parceria que melhor lhes convêm para
enfrentar as missões, funções e encargos que lhes cabem atualmente, sem o risco
de terem que aumentar desproporcionalmente a sua máquina administrativa.

Em termos legais, a Lei 11.107/2005, mais conhecida como Lei dos


Consórcios, formalizou a articulação entre municípios. Essa lei autoriza a gestão
associada de serviços públicos por meio de consórcios e convênios de
cooperação entre os entes federados.

Para maiores informações sobre a Lei 11.107/2005, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11107.htm

Há diversas formas de cooperação entre municípios, sendo que a mais


comum é a instituição de consórcios intermunicipais. Por meio desse instrumento,
municípios vizinhos solucionam seus problemas comuns dividindo
responsabilidades administrativas e somando recursos humanos, financeiros e de
infraestrutura na implementação de políticas públicas.

No Brasil, os consórcios intermunicipais têm se estruturado por meio de:


64
 Convênios de cooperação, ou seja, mediante um simples contrato
administrativo que formaliza o acordo de vontades, ou

 Formalização institucional, como sociedade civil sem fins lucrativos,


fundação privada ou sociedade de prestação de serviços mútuos.

Há uma grande discussão sobre a pertinência de se criar instâncias


intermediárias com personalidade jurídica própria, o que, segundo alguns
especialistas, caracterizaria terceirização de serviços públicos.

Um arranjo recente

Os resultados da pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros, de 2002,


revelaram que apenas 20% dos municípios informaram participar de consórcio
intermunicipal na área de meio ambiente. Tratava-se de uma prática mais comum
nas regiões Sudeste (27%) e Sul (29%). Os temas que mereceram mais atenção
dos consórcios foram disposição de lixo doméstico (61,5%), uso de recursos
naturais (55%) e recuperação de áreas degradadas (45%).

A mais recente pesquisa, realizada em 2011, indicou que 92,8% dos


municípios que declararam participar de articulações interinstitucionais, o faziam
por meio de consórcios. Quanto à área de atuação, destacaram-se a educação,
saúde e habitação. A área ambiental obteve o valor de 31,3% no percentual de
municípios com consórcios público e/ou administrativos, e o valor de 24,3% para
os que participavam de consórcio público intermunicipal, com o estado e com a
União (BRASIL, 2013ª).

Vantagens para a área de meio ambiente

Os municípios têm encontrado fórmulas próprias para realizar suas


associações. Essa nova prática de cooperação intergovernamental de
características suprapartidárias contribui para:

 O fortalecimento de mecanismos de gestão local;

65
 A promoção de mecanismos de cooperação técnica, jurídica e
administrativa;

 A realização conjunta de serviços, com otimização de resultados, redução


dos custos e compartilhamento de equipamentos e tecnologias;

 A interlocução entre municípios e destes com as demais esferas de


governo.

A integração entre municípios em torno de questões comuns a uma região


pode também contribuir para a implementação de medidas de conservação e
recuperação dos recursos naturais. Na área ambiental, a prática de formação de
consórcios intermunicipais tem sido uma alternativa viável para fazer frente aos
custos, muitas vezes elevados, de ações como o licenciamento ambiental ou a
realização de estudos mais complexos visando ao diagnóstico da realidade local e
regional. Pela sua natureza cooperativa, essas formas de associação representam
bons canais para a implementação dos princípios de sustentabilidade.

Redes

Outra forma de associação entre municípios é a formação de rede. De


caráter mais fluido, a rede demanda apenas a existência de objetivos
compartilhados e regras de funcionamento estabelecidas em comum acordo entre
os integrantes. Pode ou não haver diferenças de responsabilidades entre os
diferentes membros e costuma-se formalizar um núcleo facilitador encarregado de
fazer circular a informação, prover suporte administrativo e prestar apoio técnico e
operacional.

No âmbito municipal são comuns as redes que reúnem setores da


sociedade civil e organismos públicos e privados em torno de objetivos, tais como
a troca da competitividade pela complementaridade econômica, tornando cidades
com vocações econômicas similares parceiras do desenvolvimento regional. É o
caso das cidades históricas que formam redes de cooperação envolvendo as
administrações municipais, setor hoteleiro, organizações de artistas e outros
interessados, para montar circuitos turísticos dos quais participam diferentes
municípios. Dessa forma, conseguem fazer frente aos altos custos de divulgação e

66
atraem o interesse do próprio estado no sentido de melhor divulgar os seus
atrativos.

Há também as redes que se formam para o planejamento estratégico das


cidades e para a sua implementação efetiva, ou os fóruns realizados em diversas
áreas, como saúde, educação, etc. As redes de prefeitos e vereadores
possibilitam a interferência direta na produção de leis e nas políticas
governamentais do estado e da União.

Para refletir

Quais são os temas regionais do seu município?

Levante as questões locais que podem ter soluções a partir da associação com
outros municípios.
Identifique as forças sociais que podem ser mobilizadas para facilitar o diálogo
entre prefeitos, de forma a consolidar parcerias na resolução de problemas
comuns.
Verifique também qual tipo de associação pode ser mais favorável para esse
trabalho: consórcio ou rede.

Em resumo

A Constituição Federal abriu caminho para múltiplos arranjos na gestão


ambiental. Essa deve se pautar pela interseção de diferentes políticas setoriais
existentes numa mesma área geográfica, como a de recursos hídricos e de
resíduos sólidos, em que é possível compor esforços para melhor resolver os
desafios que se apresentam ao município.

A Lei das Águas estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos e,


com ela, o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
(SINGREH), que tem como princípios básicos: adoção da bacia hidrográfica como
unidade de planejamento, usos múltiplos das águas, reconhecimento da água
como um bem finito e vulnerável, reconhecimento do valor econômico da água,
gestão descentralizada e participativa. Embora o município não tenha domínio
sobre as águas, pode contribuir para a qualidade desse recurso, por meio da
participação nos comitês de bacia hidrográfica e do enquadramento dos corpos
d’água em classes segundo seus usos preponderantes, bem como na

67
compatibilização de seus instrumentos de monitoramento e controle na outorga e
na cobrança sobre o uso desse recurso.

Outra área em que é possível compor esforços mais amplos refere-se à


gestão de resíduos sólidos e ao saneamento básico, pois a qualidade das águas,
solos, e, consequentemente, a qualidade de vida da população dependem da
adequada disposição desses materiais. Nesse âmbito, é fundamental a atuação
municipal, em especial, em parceria com outros municípios da região, em prol do
cumprimento de suas atribuições constitucionalmente definidas.

Há uma crescente compreensão de que as associações intermunicipais


reúnem melhores condições para prestar serviços públicos em questões que
extrapolam as fronteiras do município. As formas mais comuns de associações
são os consórcios, que podem assumir múltiplas personalidades jurídicas, e as
redes, de caráter mais fluído e político, que potencializam a capacidade de
negociação das prefeituras em relação aos demais poderes constituídos.

Na área ambiental, a formação de consórcios intermunicipais tem sido


uma alternativa viável para fazer frente aos custos, muitas vezes elevados, de
ações como o licenciamento ambiental ou a realização de estudos mais
complexos visando o diagnóstico da realidade local e regional. Pela sua natureza
cooperativa, essas formas de associação representam bons canais para a
implementação dos princípios de sustentabilidade.

Vamos estudar a seguir dois importantes instrumentos de gestão ambiental


municipal: o licenciamento ambiental e a educação ambiental. Vamos lá?

68
UNIDADE 4: INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL

Nesta unidade, estudaremos importantes instrumentos para a gestão


ambiental, em especial para os municípios: licenciamento e educação ambiental.
Bons estudos!

Licenciamento Ambiental

Assim como a lei federal, as leis estaduais e municipais contêm, ou podem


conter, indicações de instrumentos para a implementação da Política Ambiental,
adaptada a cada esfera política-administrativa. A Lei 6.938/1981 em seu art. 9º
elenca os instrumentos para a execução da Política Nacional do Meio Ambiente,
mas nem todos contam com base legal detalhada, e muitas vezes essas leis são
aplicadas de forma empírica e esparsas nas ações de gestão ambiental.

Para maiores informações sobre a Lei 6.938/81, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm

Segundo Milaré (2014), o legislador federal elenca todos os instrumentos


da Política Nacional de Meio Ambiente sem fazer qualquer distinção estrutural
entre eles, o que dificulta o entendimento e aplicação. Desse modo, misturam-se
instrumentos de essência estatal com outros de base quase privada.

Neste sentido, há dois tipos de instrumentos:

 Instrumentos administrativos de gestão ambiental: mecanismos estatais,


legalmente instituídos, que importam na restrição de direitos por razões de
ordem ambiental e têm como um dos principais elementos o predomínio da
gestão clássica de comando e controle, sendo assim, regidos pela estrutura
de regras correspondentes ao poder de polícia.

69
Poder de polícia

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática
de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e
do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (BRASIL, Lei
n° 5.172, de 25 de outubro de 1966, artigo 78, 1966).

Saiba mais

Sempre que a autoridade administrativa limita o exercício de algum direito


individual em prol do interesse da coletividade está exercendo o poder de polícia.
Na área ambiental, isso compreende os mecanismos criados pelo poder público
para impedir atividades particulares que se revelem contrárias, nocivas ou
inconvenientes à qualidade do meio ambiente. Esse poder está sempre
subordinado às leis existentes e, por isso mesmo, sujeita-se ao controle do Poder
Judiciário. Vale lembrar que:

- o município pode detalhar as leis estaduais de acordo com as necessidades e


características locais;

- as leis municipais podem ser mais restritivas que as estaduais e nunca mais
brandas;

- o Órgão Municipal de Meio Ambiente pode fiscalizar, utilizando todas as leis


ambientais existentes, não só as municipais.

Ao aplicar a lei por meio de medidas preventivas, como o licenciamento ambiental


e a fiscalização, o órgão ambiental está exercendo poder de polícia. De acordo
com a lei e com o bom senso para exercer o poder de polícia, é necessário
considerar:

- a competência da autoridade administrativa: quem praticou o ato administrativo


está autorizado por lei a fazê-lo?

- a finalidade do ato: o ato praticado está de acordo com o interesse público?

- a razoabilidade e a proporcionalidade da medida adotada: o ato administrativo é


adequado e revela bom senso?

- a necessidade e a eficácia do ato administrativo.

 Instrumentos econômicos: ferramentas estatais de administração de


recursos ambientais, de caráter negocial, voltado a promoção do

70
desenvolvimento econômico com sustentabilidade. São, por exemplo,
mecanismos de incentivos à produção e instalação de equipamentos e à
criação ou absorção de tecnologia para a melhoria da qualidade
ambiental.

A normatização brasileira sobre o licenciamento ambiental foi derivado de


um processo histórico amplo, cujas origens remontam à emergência da
consciência ecológica mundial e à realização da primeira Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1972, na Suécia, que significou um divisor de
águas no tratamento das questões ambientais, até então inseridas no contexto
mais pragmático do desenvolvimento econômico indiscriminado.

O conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), foi instituído no âmbito


da Lei nº 6938/81 como órgão responsável pelo estabelecimento de normas e
critérios para o licenciamento ambiental. Em 1986, considerando a necessidade
de se estabelecer definições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes para
o uso e implementação da avaliação ambiental, o Conama publicou a Resolução
nº 001, submetendo o licenciamento ambiental de determinados empreendimentos
e atividades modificadoras do meio ambiente à elaboração de estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – EIA/RIMA.

A evolução das experiências de licenciamento ambiental nos órgãos de


meio ambiente do País em pouco tempo demonstrou a necessidade de revisão
dos procedimentos e critérios utilizados no sistema de licenciamento, dando
ensejo à publicação da Resolução do Conama nº 237/97 que regulamentou, em
normas gerais, as competências para o licenciamento nas esferas federal,
estadual, distrital e municipal, além das etapas do procedimento de licenciamento,
entre outros fatores a serem observados pelos empreendimentos passíveis de
licenciamento ambiental.

Em 2003, foi publicada a Lei Federal N° 10.650, que dispõe sobre o


acesso público aos dados e às informações existentes nos órgãos e nas entidades
integrantes do SISNAMA. Essa lei trouxe as regras para o acesso público aos
documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria
ambiental.

Em 2005, foi criado o Portal Nacional de Licenciamento Ambiental –


PNLA, ferramenta disponibilizada pelo Ministério do Meio Ambiente para divulgar
informações aos procedimentos do licenciamento ambiental, possibilitar a
transparência desses processos de gestão pública e fortalecer o controle social. O
PNLA tem por objetivo atender à Lei nº 10.650/2003, que dispõe sobre o acesso
público aos dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades do
SISNAMA.

71
Ao disponibilizar informações sobre os procedimentos de licenciamento
ambiental, possibilitando o acesso aos dados de licenças emitidas e aos dados
dos empreendimentos, legislações e publicações e eventos de capacitação em
temas de interesse do licenciamento, o PNLA busca atender a um público
diversificado: estudantes, professores, pesquisadores, servidores públicos, ONGs,
empreendedores e profissionais que atuam na área de meio ambiente, dentre
outros atores públicos e da sociedade civil interessados em temas ambientais.
(BRASIL, 2015b).

Para maiores informações sobre o Portal Nacional de Licenciamento


Ambiental – PNLA acesse o site:
http://pnla.mma.gov.br/sobre-o-portal-2/o-que-e/

Para maiores informações sobre a Lei 10.650, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.650.htm

Licenciamento, uma competência que também é municipal

De acordo com o disposto no art. 23, III, VI e VII da Constituição Federal


de 1988, o licenciamento ambiental e uma competência administrativa comum
para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A Constituição ao proclamar
a autonomia dos entes da federação recepcionou a Lei 6.938/1981 e deixou claro
que as entidades federativas, em consonância com a estrutura de federalismo
cooperativo adotado pelo Estado brasileiro, deveriam compartilhar
responsabilidades sobre a condução das questões ambientais.

Nesse âmbito, em novembro de 2011, a Lei Complementar 140/2011


regulamentou o parágrafo único desse artigo, fixando normas para a cooperação
entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, nas ações
administrativas decorrentes do exercício dessa competência comum.

72
Para maiores informações sobre a Lei complementar 140/2011 acesse o
site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm

Portanto, os municípios, como entes da federação, devem assumir suas


competências administrativas, entre outras, a de realizar o licenciamento
ambiental, para melhor enfrentar as questões ambientais locais.

Segundo o inciso XIV do art. 9º da Lei Complementar 140/2011, é


competência do município, observadas as atribuições dos demais entes
federativos, promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme


tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente,
considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade;
ou
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto
em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
XV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta
Lei Complementar, aprovar:
a) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras
em florestas públicas municipais e unidades de conservação instituídas pelo
Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e
b) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras
em empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo
Município. (BRASIL, Lei Complementar n° 140, de 8 de dezembro de 2011,
artigo 9, 2011).

O licenciamento ambiental é um instrumento da gestão do ambiente, na


medida em que, por meio dele, a Administração Pública busca exercer o
necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas condições
ambientais, de forma a compatibilizar o desenvolvimento econômico com a
preservação do equilíbrio ecológico (MILARÉ, 2014, p.789).

É por meio desse procedimento administrativo, que o órgão ambiental


licencia a localização, a instalação, a ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades que utilizam recursos naturais, considerados
efetiva ou potencialmente poluidores ou que possam causar degradação
ambiental.

73
Desse modo,

o município ao assumir seu papel constitucional, pode promover uma série de


benefícios, tais como: mais proximidade com os problemas a enfrentar e melhor
acessibilidade dos usuários aos serviços públicos; maiores possibilidades de
adaptação de políticas e programas às peculiaridades locais; melhor utilização
dos recursos e mais eficiência na implementação de políticas; maior visibilidade
e consequentemente mais transparência das tomadas de decisões e a
democratização dos processos decisórios; e de implementação, favorecendo a
participação da população envolvida e as condições para negociação de
conflitos (BRASIL, 2009, p.7)

O licenciamento ambiental é uma ação típica e indelegável do Poder


Executivo, o que obriga os municípios a criar as condições necessárias para
assumir as suas responsabilidades em relação às questões locais sobre o meio
ambiente.

Para realizar o licenciamento ambiental os municípios necessitam de no


mínimo:

 Possuir órgão ambiental (executivo) capacitado para executar as ações


administrativas concernentes ao licenciamento ambiental;

 Possuir nos quadros do órgão municipal do meio ambiente, ou à disposição


deste, profissionais legalmente habilitados para a realização do
licenciamento ambiental, investidos mediante aprovação em concurso
público, em cargos de provimento efetivo, criados por leis compatíveis com
o desempenho das funções do licenciamento e da fiscalização ambiental.

 Possuir conselho municipal de meio ambiente, de caráter deliberativo, com


funcionamento regular, e composto paritariamente por órgãos do setor
público e entidades da sociedade civil;

 Sistema de fiscalização ambiental que garanta o cumprimento das


exigências e condicionantes das licenças expedidas.

Vale ressaltar que as atividades de licenciamento ambiental e fiscalização


não podem ser terceirizadas pelas prefeituras.

74
Tabela 2 Impacto ambiental da atividade e competência legal para licenciar

Abrangência dos impactos diretos Competência para licenciar

Dois ou mais estados IBAMA

Dois ou mais municípios Órgão Estadual de Meio Ambiente

Local Órgão Municipal de Meio Ambiente

Fonte: (MARCATTO, RIBEIRO 2002, apud, BRASIL, 2009)

São inúmeros os motivos que os municípios têm para executar o


lincenciamento ambiental, entre os quais:

 Regular a implantação dos empreendimentos e a operação das atividades


potencialmente modificadoras do ambiente local, buscando compatibilizar o
desenvolvimento econômico municipal com a preservação dos recursos
naturais do seu território e de sua região.

 Atender aos interesses das localidades em relação a sua vocação de


desenvolvimento econômico, social e ambiental;

 Possuir um controle maior sobre os tipos de empreendimentos e dos seus


respectivos impactos em seus territórios;

 Fortalecer a cidadania dando oportunidades para a sociedade local


participar das questões ambientais.

Procedimentos para o licenciamento ambiental

Primeiramente, é importante sabermos que o sistema de licenciamento é


composto pelas seguintes etapas:

 Licença Prévia (LP): concedida na fase de planejamento da obra ou


atividade, aprovando sua localização, concepção, atestando a viabilidade
ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem
atendidos nas próximas fases de sua implementação;

 Licença de Instalação (LI): autoriza a instalação da obra ou atividade, de


acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e condicionantes;

75
 Licença de operação (LO): autoriza a operação do empreendimento ou
atividade depois que se verifica que as licenças anteriores foram realmente
cumpridas, aí incluídas as medidas de controle ambiental e as condições
adequadas para a operação.

A legislação municipal pode definir outras modalidades de licença, bem


como a simplificação dos procedimentos, dependendo da realidade local. Durante
o processo de licenciamento, é necessário acompanhar o cumprimento das
exigências e condições estabelecidas, por meio de fiscalização efetuada por
funcionários do órgão ambiental municipal devidamente credenciados. Deve-se
garantir livre acesso dos fiscais às instalações, bem como às informações dos
empreendimentos fiscalizados.

Além disso, no processo de licenciamento são necessários procedimentos


básicos, listados na Resolução CONAMA 237/1997, e que são adaptáveis a cada
situação, dependendo do porte e do impacto do empreendimento ou atividade a
ser licenciada, veja:

Para maiores informações sobre a Resolução 237/97, acesse o site:


http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html

 O órgão ambiental competente define os documentos, projetos e estudos


ambientais necessários ao início do processo;

 O empreendedor apresenta requerimento ao órgão ambiental de pedido de


licença, acompanhado dos documentos necessários;

 Dá-se a devida publicidade ao pedido de licença, por meio de jornais locais


ou afixação em local público;

 O órgão ambiental competente analisa os documentos apresentados e faz


as vistorias técnicas, quando necessário;

 Se necessário, o órgão ambiental pede esclarecimentos e


complementações ao empreendedor, em decorrência da análise dos

76
documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, podendo reiterar
a solicitação, caso os esclarecimentos não tenham sido satisfatórios;

 Realiza-se audiência pública, quando couber, para que a comunidade tenha


possibilidade de conhecer mais sobre a atividade ou empreendimento,
questionar e expressar seus pontos de vista;

 Em função dos resultados da audiência pública, o órgão ambiental pode ou


não pedir novos esclarecimentos;

 O órgão ambiental emite parecer técnico conclusivo e, quando couber,


parecer jurídico;

 O pedido de licença é deferido ou indeferido, ou seja, é aceito ou não


aceito, dando-se a ele a devida publicidade.

E quando o impacto é potencialmente significativo, o que mais é


necessário?

Há casos em que o empreendimento ou atividade, mesmo sendo de


impacto local, pode causar significativa degradação ao meio ambiente. Nesses
casos, o licenciamento ambiental deve se dar a partir da elaboração, pelo
empreendedor, de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de impacto
Ambiental (RIMA), envolvendo ainda a realização de audiências públicas. Tais
mecanismos visam dar maior transparência ao processo e possibilita amplo
debate na sociedade sobre o assunto, permitindo adequar as atividades e obras
às necessidades levantadas tanto pelo poder público como pelas comunidades
envolvidas.

Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

Conjunto de atividades científicas e técnicas que incluem diagnóstico


ambiental, identificação, previsão e medição dos impactos ambientais, sua
interpretação e valoração, definição de medidas mitigadoras e respectivos
programas de monitorização (KRIEGER et. al, 2008, p. 134).

77
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)

Documento legal que registra e analisa o conjunto dos dados do Estudo de


Impacto Ambiental, para fins de licenciamento de atividade real ou
potencialmente poluidora (KRIEGER et. al, 2008, p. 280) .

A exigência de EIA destina-se a identificar e avaliar as alterações que


determinada atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao
meio ambiente poderá provocar. Trata-se de um importante elemento para tomada
de decisão. Os municípios, desde que observem as regras gerais de publicidade e
a oitiva da comunidade e, respeitada a legislação federal e estadual, podem criar
suas regras para elaboração de EIA, observadas as características locais.

Oitiva

Audiência realizada para dar voz à comunidade sobre os


problemas que a afetam (BRASIL, 2009, p.89).

Para elaboração do EIA, o órgão ambiental deve expedir termos de


referência, apontando as questões que deverão ser estudadas. Os estudos
normalmente exigidos referem-se a levantamentos de vegetação e de fauna,
impactos na qualidade do ar e da água, no solo e nas rochas, na infraestrutura
urbana, nas paisagens e no patrimônio histórico-cultural, estudos
socioeconômicos, entre outros.

Termos de referência

Diretrizes para a preparação e orientação do Estudo de Impacto


Ambiental. Define seu conteúdo, abrangência, métodos e estabelece
sua estrutura (SÁNCHEZ, 2006, p.141).

78
Tais estudos são compilados no Relatório de Impacto Ambiental, que
deverá conter os dados necessários à tomada de decisão. Mas, lembre-se, os
procedimentos de EIA/RIMA só deverão ser adotados em caso de impactos
significativos.

Nesse sentido, a Resolução Conama nº 001/1986 exemplifica quais são


as atividades que dependem de EIA/RIMA para serem licenciadas. Veja:

[...] Art. 2º: Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental – EIA e


respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à
aprovação do órgão estadual competente, e da Secretaria Especial do Meio
Ambiente – SEMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades
modificadoras do meio ambiente, tais como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II – Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV - Aeroportos;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de
irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação
de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,
diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia
primária, acima de 10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloro químicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de
recursos hídricos);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100
hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais
ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100 ha ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA1 e dos órgãos municipais e
estaduais competentes estaduais ou municipais;
XVI - Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos
similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia.
XVII - Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha. ou
menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas
de proteção ambiental.
XVIII – Empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico
nacional.
(BRASIL, Resolução CONAMA n° 001, de 23 de janeiro de 1986, artigo 2°,
1986).

1
A Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior, foi extinta
pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, que criou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. As atribuições em matéria ambiental são atualmente do Ministério
do Meio Ambiente.

79
Para maiores informações sobre a Resolução n° 001, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html

Audiências públicas

Trata-se de reunião destinada a debater prós e contras da implantação de


determinado empreendimento ou atividade. Deve ser realizada com a presença do
requerente da licença ambiental, das autoridades competentes, das organizações
da sociedade civil, assim como das comunidades e dos cidadãos interessados. As
resoluções do CONAMA não tornam obrigatórias as audiências públicas. Porém,
há empreendimentos em que estas são obrigatórias em face de previsão legal. A
audiência passa a ser obrigatória quando requerida por:

 Entidade civil, com atuação na área do empreendimento;

 Ministério Público estadual ou federal, bem como outra instância funcional


do Poder Judiciário;

 Cinquenta ou mais cidadãos.

Mesmo quando não houver uma solicitação formal, o órgão de meio


ambiente poderá julgar necessária a realização de audiência pública. Caso o
pedido de audiência seja ignorado pelo órgão competente, e a licença seja
emitida, esta não terá validade. Acerca disso, a resolução CONAMA N° 009/1987
dispõe sobre a realização de audiências públicas no processo de licenciamento
ambiental.

Para maiores informações sobre a Resolução n° 009, acesse o site:


http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res87/res0987.html

80
Medidas de reparação de danos

Após a análise dos impactos ambientais, constatada a possibilidade de


execução do empreendimento, deverão ser definidas medidas mitigadoras e/ou
compensatórias para a sua implementação. Tais medidas destinam-se a minimizar
ou compensar os efeitos adversos que o empreendimento pode causar, e devem
constar da licença ambiental, considerando-se:

 A natureza preventiva ou corretiva;

 A fase do empreendimento em que deverão ser adotadas as medidas,


considerando-se as etapas de planejamento, implantação, operação e
desativação, nos casos de acidentes;

 Fatores ambientais: físico, biológico ou socioeconômico;

 Prazo de permanência de suas aplicações: curto, médio ou longo;

 Responsabilidade pela sua implementação: do empreendedor, do Poder


Público ou de outros;

 Custos.

São exemplos de medidas mitigadoras a implantação ou a ampliação de


vias públicas, se o empreendimento causar impacto no trânsito, ou a construção
de obras de drenagem, na hipótese de alagamentos.

Além disso, os impactos adversos que não podem ser evitados ou


mitigados deverão ser compensados. Trata-se de um mecanismo de indenização
financeira à sociedade, como contrapartida a um dano causado ao meio ambiente.
Constituem medidas compensatórias, por exemplo, a criação de unidades de
conservação municipais, o plantio de espécies nativas ou a contribuição para o
fundo de meio ambiente pelo alagamento de grandes áreas na construção de
hidrelétricas.

81
Monitoramento e fiscalização ambiental

O monitoramento do processo de licenciamento ambiental tem por objetivo


manter o controle permanente, a partir do momento em que se inicia a instalação
do empreendimento licenciado. Ele é um instrumento para avaliar se as previsões
de impactos e as medidas de prevenção e controle sugeridas nos estudos
ambientais mostram-se adequadas durante a implantação e operação do
empreendimento. Essa avaliação permanente permite constatar ineficiências no
sistema de controle adotado (previsões incorretas, falhas humanas ou ocorrências
de eventos imprevistos), de forma que se possa promover, com agilidade, as
correções necessárias.

O programa de monitoramento de um determinado projeto constitui-se


num mecanismo de avaliação sistemática dos resultados de sua implantação.
Seus objetivos principais são verificar a validade e a exatidão dos impactos
previstos, particularmente aqueles que no estudo de impacto ambiental
apresentavam algum grau de incerteza, e a suficiência e a eficácia das medidas
realizadas que, conforme as características da atividade podem ser destinadas a
reduzir ou eliminar os impactos negativos, compensar os impactos residuais ou
valorizar o projeto (BRASIL, 2009, p. 67).

As atividades de acompanhamento e monitoramento dos impactos ocorrem


em dois níveis distintos. Veja:

 O empreendedor, que é responsável pela proposição e execução do


Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos impactos decorrentes
da implantação do empreendimento ou atividade. Este é apresentado ao
longo do processo de licenciamento ambiental para subsidiar a obtenção
das licenças ambientais;

 O órgão ambiental licenciador, que acompanha o programa proposto pelo


empreendedor, avaliando e fiscalizando o seu cumprimento.

Ademais, os procedimentos adotados para o acompanhamento e


monitoramento ambientais consistem:

 No recebimento e análise dos relatórios de monitoramento ambiental,


elaborados pelo empreendedor por força das exigências das licenças
ambientais concedidas; e

82
 Na realização de vistorias ao empreendimento ou atividade. Neste caso,
são elaborados relatórios, com emissão de pareceres técnicos sobre a
necessidade de aprimoramento das técnicas de controle propostas e
implantadas, comunicando oficialmente ao empreendedor a necessidade de
se rever seu programa de monitoramento e, se for o caso, aplicando-se as
penalidades previstas em lei.

Os dados levantados, por meio de um programa de monitoramento,


podem conduzir a uma modificação do projeto, contribuir para o estabelecimento
de normas ambientais e para a definição de critérios e métodos de avaliação de
impacto ambiental, bem como para uma melhor previsão dos impactos ambientais
de projetos ou programas semelhantes.

Vale lembrar que o monitoramento é necessário nos processos de


licenciamento ambiental, seja para comparar as condições do meio ambiente, antes e
depois da implementação das obras ou atividades licenciadas, seja para acompanhar o
andamento das ações mitigadoras ou compensatórias que estas irão demandar.

Neste contexto, é fundamental a atuação da fiscalização, na realização de


inspeções nas instalações de empreendimentos, verificando a situação do ponto
de vista documental perante o órgão ambiental (se possui licença ambiental, se
está dentro do prazo de validade, etc.), bem como fazendo uma checagem dos
pontos críticos nas instalações passíveis de provocar alguma degradação
ambiental.

Portanto, a fiscalização destina-se a impedir o estabelecimento ou a


continuidade de atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, ou ainda,
aquelas que estejam sendo realizadas em desconformidade com o que foi
autorizado pelo Órgão Ambiental.

Para refletir
-Verifique se o seu município emite licenças ambientais. Se sim,
que tipos de licenças são concedidas?
- Quais atividades e empreendimentos são predominantes?
-Há algum tipo de entendimento ou divergência entre os órgãos
municipal e estadual de meio ambiente sobre a competência para
licenciar?

83
Muitas vezes, a licença ambiental é acompanhada por procedimentos
condicionantes à liberação do empreendimento, obra ou atividade por parte do
órgão licenciador. Entre estas condicionantes, a educação ambiental tem estado
sempre presente, como iniciativa necessária junto à trabalhadores e/ou à
comunidade envolvida. A Instrução Normativa do IBAMA n° 2, de 2012
estabelece procedimentos, no âmbito deste órgão federal, para que as ações de
educação ambiental, de iniciativa do empreendedor, sejam condizentes com a
Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/1999).

No próximo item estudaremos, Educação Ambiental, outro importante


instrumento para a gestão ambiental local. Vejamos a seguir esse tema.

Para mairoes informações sobre a Instrução Normativa do Ibama n° 2, de


2012, acesse o site:
http://www.ibama.gov.br/servicos/instrucoes-normativas

Educação Ambiental: instrumento indispensável ao funcionamento do


sistema

O tamanho do desafio

A mudança do município em direção à sustentabilidade socioambiental é


um processo relativamente lento, repleto de avanços e inovações, mas também de
recuos, que requer compromisso coletivo, criatividade, acompanhamento,
avaliação, intervenção e reflexão constantes. Essa guinada na forma de gerir o
ambiente e as relações entre os seres humanos exige o exercício cotidiano de
novas competências, habilidades, atitudes, de forma que as pessoas se preparem,
cada vez mais, para uma gestão participativa e integrada. Trata-se de uma grande
mudança cultural, um grande desafio educativo.

Por isso, dentre os instrumentos próprios de intervenção no município,


estabelecidos pelo SISNAMA, especial destaque deve ser dado às relações entre
as áreas de meio ambiente e de educação. As ações de educação ambiental (EA)
são fundamentais na formação de cidadãs e cidadãos dispostos a participar
ativamente de iniciativas direcionadas à construção de sociedades sustentáveis.

84
Para que isso de fato ocorra, torna-se necessário promover uma ampla
mudança na percepção que comumente se tem sobre educação ambiental.
Atualmente, as ações nessa área pautam-se pela explicação dos fenômenos
naturais e pela prescrição do que fazer ou não fazer pelo ambiente. É comum que
essas ações estejam circunscritas a eventos específicos em escolas (como
Semana de Meio Ambiente, Dia da Árvore etc.), com práticas pontuais, como
coleta de resíduos sólidos na beira dos córregos, distribuição de mudas de
árvores, reciclagem, entre outras.

A construção de um novo senso comum relativo à educação ambiental


pretende aproximá-la do cotidiano das pessoas, dos fóruns e demais coletivos, da
necessidade de transformar as relações sociais e os procedimentos degradadores
das condições socioambientais. Por isso, a noção de educação ambiental com
que se pretende orientar as ações dos órgãos do SISNAMA é a de

[...] um processo contínuo, no qual os indivíduos e a comunidade tomam


consciência de seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as
habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir –
individual e coletivamente – e resolver os problemas ambientais presentes e
futuros (BRASIL, 2006, p.40).

Esse conceito de educação ambiental estimula o exercício pleno e


consciente da cidadania e fomenta o resgate e o surgimento de novos valores que
contribuam para tornar a sociedade mais justa e sustentável. Além de considerar o
ambiente em sua totalidade, dirige-se às pessoas de todas as idades, dentro e
fora da escola, de forma contínua, sintonizada com suas realidades sociais,
econômicas, culturais, políticas e ideológicas, bem como com os saberes
científicos e o das comunidades locais. Preconiza também que, em relação ao
meio ambiente, somos todos aprendizes e educadores (BRASIL, 2006).

Essa concepção enfatiza o caráter crítico e emancipatório da educação


ambiental, entendendo-a como um instrumento de transformação social e política.
Além disso, desloca o foco da noção desenvolvimentista para o ideário de
sociedades sustentáveis construídas a partir de princípios democráticos, com
propostas participativas de gestão ambiental e de responsabilidade global.

Nesses termos, as Diretrizes Curriculares Nacionais em Educação


Ambiental reconhecem que:

A educação ambiental envolve o entendimento de uma educação cidadã,


responsável, crítica, participativa, em que cada sujeito aprende com
conhecimentos científicos e com o reconhecimento dos saberes tradicionais,
possibilitando a tomada de decisões transformadoras, a partir do meio ambiente
natural ou construído no qual as pessoas se integram. A educação ambiental
avança na construção de uma cidadania responsável voltada para culturas de

85
sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, Resolução n° 2, de 15 de junho de
2012, 2012).

Para maiores informações sobre o Departamento de Educação Ambiental


do Ministério do Meio Ambiente, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-
ambiental

Educação Ambiental como política pública

Com esta referência conceitual, a educação ambiental ganha maior


relevância social e política, em acordo com suas diretrizes gerais fixadas na Lei no
9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA. Ao
definir as obrigações de vários atores sociais (Poder Público, instituições
educativas, meios de comunicação de massa, empresas, entidades de classe etc.)
com a prática da educação ambiental, a lei incumbe, explicitamente, “os órgãos
integrantes do SISNAMA de promover ações de educação ambiental integradas
aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente”.

Para maiores informações sobre a Lei 9.795/99, acesse o site:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm

Programas de educação ambiental devem ser integrados às atividades de


conservação da biodiversidade, de zoneamento ambiental, de licenciamento e
revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, de gerenciamento e
gestão de resíduos sólidos, de gerenciamento costeiro, de gestão de recursos
hídricos, de clima, de ordenamento dos recursos pesqueiros, de manejo
sustentável de recursos ambientais, de ecoturismo, de agricultura familiar e
agroecologia, de melhoria da qualidade ambiental. Porém, é importante ressaltar
que uma visão transversal da EA não se limita ao ambiente, strictu sensu, mas
inclui questões como a erradicação da miséria, a soberania alimentar, a justiça

86
social, a qualidade de vida e outros aspectos que integram uma visão e uma
atitude crítica e transformadora.

Com base na determinação da Lei, foi elaborado o Programa Nacional de


Educação Ambiental (ProNEA). Esse programa visa estimular uma dinâmica
integrada dos processos nacionais de educação ambiental que envolva a
educação formal e não formal, as ações dos governos em suas distintas esferas e
as iniciativas das organizações da sociedade.

Nesse sentido, conforme Quintas 2005, (apud BRASIL, 2006, p. 41), o


processo educativo deverá ser estruturado no sentido de

 Superar a visão fragmentada da realidade pela construção e reconstrução


do conhecimento sobre ela, num processo de ação e reflexão, em diálogo
permanente com os sujeitos envolvidos;

 Respeitar a pluralidade e a diversidade cultural, fortalecer a ação coletiva e


organizada, articular diferentes saberes e fazeres e proporcionar a compreensão
da problemática ambiental em toda a sua complexidade;

 Possibilitar a ação em conjunto com a sociedade civil organizada e,


sobretudo, com os movimentos sociais, numa visão de EA como processo que
propicia novas relações entre os seres humanos e destes com o ambiente -
natural e construído;

 Proporcionar condições para o diálogo com as áreas disciplinares e com os


diferentes atores sociais envolvidos na gestão ambiental.

A coordenação da PNEA é atribuída ao Órgão Gestor da Política


Municipal de Educação Ambiental, criado a partir da Lei 9.795/1999. O Decreto
4.281/2002 esclarece que este órgão é dirigido pelos ministros de meio ambiente
e de educação.

87
Para maiores informações sobre o Decreto n° 4.281/02, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm

Saiba mais

Cumprindo a determinação da PNEA, o Conselho Nacional de Educação – CNE definiu


entre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental:

1. Estímulo à visão complexa da questão ambiental, a partir das interações dinâmicas


entre ambiente, cultura e sociedade, situando a questão ambiental no tempo e no
espaço, considerando as influências políticas na relação humana com o ambiente,
bem como o estudo da diversidade biológica e seus processos ecológicos vitais;
2. Abordagem crítica dos aspectos constituintes e determinantes da dinâmica da
hidrosfera, atmosfera, biosfera, sociosfera e tecnosfera, contextualizando os
conhecimentos a partir da dinâmica da paisagem, da bacia hidrográfica, do bioma, do
clima, dos processos geológicos, das ações antrópicas e suas interações, analisando os
diferentes recortes territoriais, cujas riquezas e potencialidades, os usos e os
problemas devem ser identificados e valorados;
3. Valorização da diversidade sob a ótica da Educação Ambiental, trazendo os
múltiplos saberes e olhares científicos, de povos originários e tradicionais sobre o
ambiente, captando os vários sentidos que os grupos sociais lhes atribuem, numa
perspectiva transdisciplinar;
4. Incentivo à uma visão de mundo humanista e interpretativa, contextualizada
historicamente e baseada no reconhecimento e respeito das diferenças, e na
cooperação, democracia, justiça social, liberdade e sustentabilidade;
5. Abordagem da educação ambiental que propicie uma postura crítica e
transformadora de valores, de forma a reorientar atitudes para a construção de
sociedades sustentáveis, reconhecer o protagonismo social e colocar o próprio
educando como componente, agente da gestão sustentável e beneficiário da
repartição de recursos do meio ambiente.

Criando e fortalecendo as Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental

A Educação Ambiental deve compreender também outras instâncias além


das governamentais. Por isso, o Órgão Gestor da PNEA dispõe de um Comitê
Assessor, constituído de representantes de diversas instituições, especialmente
não governamentais.

Da mesma forma, com vistas a garantir a formulação e implementação


das políticas públicas nas unidades federativas, foram criadas instâncias
colegiadas denominadas Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educação

88
Ambiental - CIEA. Elas surgiram oficialmente em 2002, no contexto da
regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental, num esforço para
criação de espaços públicos coletivos nos estados e Distrito Federal, buscando
canais de diálogo social para a efetiva implantação desta política.

A CIEA é um espaço público instituído pelo poder público estadual


destinado a constituir-se numa instância de coordenação das atividades de EA no
âmbito do estado. Elas têm como missão mais ampla propor as diretrizes da
Política e do Programa Estadual de Educação Ambiental, coordenando e
interligando as atividades relacionadas à esta área temática.

Essas Comissões já são uma realidade na maioria dos estados brasileiros


e são formadas por representantes do poder público e da sociedade civil. Neste
espaço é possível iniciar o exercício ético, propiciando a participação e o controle
social proposto pela educação ambiental emancipatória.

Por sua característica e missão é recomendável a criação de Comissões


deste tipo nos municípios, ou em grupos de municípios, coordenadas por
representantes das áreas de meio ambiente e de educação das prefeituras
municipais. Alguns municípios já possuem as chamadas CIMEAs.

As comissões municipais de educação ambiental possibilitam o início do


processo educador na administração pública municipal. Tornarão possível a
criação de políticas públicas específicas para a EA, sintonizadas com as
necessidades e possibilidades de cada realidade.

O município é territorialmente a menor unidade político-administrativa do


País e, por isso, a gestão municipal é capaz de aproximar-se mais de cidadãs e
cidadãos, conhecendo de perto a sua realidade, anseios e necessidades. Daí a
importância das políticas públicas para a EA serem bem planejadas e elaboradas
com a participação da sociedade, chegando a todos os cantos, espaços e
territórios.

A articulação e o fortalecimento das CIEA passa pelo estímulo ao trabalho


conjunto das instâncias governamentais: federal, estadual e municipal para a
disseminação e enraizamento da EA em todo o território nacional.

89
Ações do Ministério do Meio Ambiente na área de Educação Ambiental

 Construindo parcerias e acordos de Cooperação

O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Educação


Ambiental – DEA, tem realizado, com alguns estados brasileiros, Acordos de
Cooperação Técnica – ACT, com a finalidade de conjugar capacidades técnicas
e políticas para o desenvolvimento e implementação de programas, projetos e
ações de EA e responsabilidade socioambiental. Os ACT visam o fortalecimento e
a operacionalização da EA, por meio de sua transversalização e territorialização
de acordo com os princípios, objetivos, diretrizes, linhas de ação e instrumentos
estabelecidos pela PNEA e o ProNEA.

Acordos de Cooperação Técnica são instrumentos que formalizam a


execução de atividades em parceria com órgãos públicos. Estes
mecanismos de conjugação de esforços possibilitam a realização de
ações de interesse comum e coincidentes entre os partícipes. Nestes
documentos há um cardápio de possibilidades de atuação conjunta,
para que cada estado e/ou município estabeleça suas ações
prioritárias. Embora os ACT não prevejam repasse de recursos
financeiros, o MMA acompanha tecnicamente as iniciativas locais,
inclusive com a presença de consultor e/ou técnicos de sua equipe.
Além disso, as atividades e as parcerias são nacionalmente difundidas.

 A Comunicação para a Educação – Educomunicação

Educomunicação é o nome dado ao campo de reflexão e ação, que une


duas áreas, a Educação e a Comunicação Social, para fazer a leitura crítica dos
meios e da produção de conteúdo. O intuito é destacar a influência da
comunicação social na formação das pessoas e na consolidação de valores e
ideias da nossa sociedade. Tem como pressuposto o exercício do direito de todos
à expressão e à comunicação, contribuindo com a construção de uma cidadania
ativa.

Essa é uma das linhas do ProNEA que refere-se à possibilidade de usar a


comunicação como ferramenta para educar e veicular informações, estimulando o
uso dos recursos da web, internet, equipamentos de rádio, vídeo ou outras
linguagens, de modo que as pessoas passem de consumidoras a produtoras de
comunicação.

90
Para maiores informações sobre o ProNEA, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/txbase_educom
_20.pdf

Nesse campo, a Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania


Ambiental do MMA, por meio do DEA, e, em parceria com a Secretaria do
Audiovisual – SAV do Ministério da Cultura, tem realizado o Circuito Tela Verde –
CTV, com o objetivo de divulgar e estimular atividades de educação ambiental,
participação e mobilização social por meio da produção independente audiovisual.

Para maiores informações sobre o Circuito Tela Verde (CTV), acesse o site:
http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/educomunicacao/circuito-tela-
verde

 Formação de Educadores e Agentes Populares de EA (Alternância, estudo e


projeto)

A formação de agentes populares de EA visa apoiar a construção coletiva


de estratégias que estimulem a adoção de práticas ambientalmente sustentáveis e
socialmente mais justas. Diante desse desafio, é feito o investimento em
processos de ensino-aprendizagem baseados na pesquisa-ação participante, na
investigação de temas geradores e na educomunicação, de modo a propiciar a
reflexão crítica sobre o modelo de desenvolvimento e de produção e consumo.

Dentre as diversas temáticas, o DEA tem procurado focar na EA junto a


agricultores familiares, extensionistas, gestores e educadores relacionados à
atividade rural, colaborando com a formação de sujeitos sociais voltados à
agroecologia, a recuperação, proteção e manejo sustentável de Áreas de
Preservação Permanente (APPs), Reservas Legais e outras áreas degradadas.
Trata-se do Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar – PEAAF,
que tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento rural sustentável, por meio da

91
agroecologia e da regularização ambiental das propriedades rurais, unindo
esforços com órgãos e entidades governamentais, movimentos e organizações
sociais dos trabalhadores rurais e de populações tradicionais para o enfretamento
dos problemas socioambientais no campo.

Com ênfase na área urbana, o DEA vem consolidando a Estratégia


Nacional de EA e Comunicação Social na Gestão dos Resíduos Sólidos, chamada
EducaRES, com levantamento e ampla difusão de experiências nessa área
desenvolvidas em todo o país (educares.mma.gov.br), bem como na preparação
também de cursos de formação de agentes populares de EA e Comunicação
Social, tanto voltado para gestores quanto para catadores de material reciclável e
educadores em geral.

Para maiores informações sobre a EducaRES, acesse o site:


http://educares.mma.gov.br/index.php/main

 Criando e articulando pelos coletivos educadores

Como toda atividade transversal e intersetorial, a EA demanda articulação


eficiente entre os diversos atores envolvidos, bem como a integração entre os
demais setores e o espírito de cooperação institucional e interpessoal. A equipe de
meio ambiente deve ser competente, articulada e coesa, buscando sempre
parcerias comprometidas com avanços institucionais voltados à melhoria da
qualidade de vida e da qualidade ambiental.

A integração e a articulação interinstitucional no planejamento e execução


de ações de EA tem nos coletivos educadores uma alternativa promissora. Eles
podem ser constituídos pela reunião de esforços de várias instituições que atuam
no campo da educação ambiental, da educação popular ou que estão vinculadas
ao movimento ambientalista e a processos de mobilização social. Esses coletivos
podem desenvolver processos formativos destinados à base territorial onde
atuam, procurando atendê-la de forma permanente e continuada.

Neste contexto vale muito o princípio de que “todos somos aprendizes e


educadores”, e, de acordo com metodologias do tipo PAP, pesquisa-ação-
participante, ou “pessoas que aprendem participando”, a EA pode e deve expandir

92
no município e no território a partir da formação permanente de educadores e
educadoras ambientais, reunidos em fóruns e coletivos.

Exemplos de instituições que podem compor um coletivo educador, além


do órgão ambiental municipal, são instituições de ensino, universidades, redes de
educação ambiental, organizações não-governamentais, pastorais ou grupos de
igrejas, federações, sindicatos, entre outras instituições relevantes para a
localidade.

Para ter acesso a Coleção Encontros e Caminhos: Formação de


Educadoras (es) Ambientais e Coletivos Educadores, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/publicacoes/educacao-
ambiental/category/101-serie-desafios-da-ea

 Municípios Educadores Sustentáveis

Dentre as ações sugeridas pelo Programa Nacional de Educação


Ambiental, há uma iniciativa especialmente direcionada aos municípios, e busca
colocar em prática todos os princípios descritos até agora. Trata-se de ações que
visem transformar as localidades em Municípios Educadores Sustentáveis (MES).
Segundo a definição do Departamento de Educação Ambiental (DEA), do
Ministério do Meio Ambiente, Municípios Educadores Sustentáveis “são
municípios voltados à construção da sustentabilidade socioambiental por meio da
educação, materializando medidas que viabilizem a formação de seus munícipes
para atuarem cotidianamente na construção de meios, espaços e processos que
avancem na direção da sustentabilidade”.

Com essa proposta pode-se:

 Formar educadores ambientais para o processo de transformação do


modelo de gestão do município;

 Fortalecer o governo local, com o exercício do papel de mediador,


catalisador e coordenador do processo de gestão;

93
 Buscar crédito e outras fontes de recursos para as ações de educação
ambiental;

 Fortalecer a identidade, a autoestima, a cidadania e o grau de satisfação


com a vida cotidiana do município;

 Fortalecer o compromisso dos cidadãos e dos funcionários da


administração pública com a gestão municipal;

 Melhorar o conhecimento sobre a realidade local por meio da participação


da sociedade na realização de diagnósticos e planejamento.

Para se fazer a transição para um Município Educador Sustentável é


preciso envolver a formação de coletivos de educadores regionais. Após a opção
do município por esse caminho, pode-se realizar um seminário com
representantes das instituições e movimentos interessados e parceiros, no qual se
define um programa l, contendo:

1. A elaboração de um pré-diagnóstico participativo;

2. Plano de ação com as iniciativas a serem cumpridas pelos


participantes para iniciar a transição ao MES.

O município pode formalizar a sua intenção por meio de decreto


constituindo a sua Política e seu Programa Municipal de Educação Ambiental e
constituindo uma Comissão Interinstitucional Municipal de Educação Ambiental
(CIMEA) que poderá cumprir a função de coordenar desde as discussões sobre a
Lei até a gestão do programa. Essa comissão deve ser democrática e incluir a
participação de diversos atores sociais do governo e da sociedade civil. Outros
documentos legais podem ser assinados pelo prefeito e pelos secretários
municipais para referendar as ações de sustentabilidade. A coordenação das
ações em cada município pode ser feita pela CIMEA ou pelo Conselho Municipal
de Meio Ambiente.

O conjunto de representantes das regiões pode reunir-se periodicamente


em um Foro Deliberativo Regional. Esse espaço servirá para propiciar contatos,
parcerias, formas de avaliação e monitoramento, compartilhamento de problemas
e experiências. Ali são apresentados também os projetos locais para criar sinergia
entre eles, potencializando as ações e identificar os indicadores para cada projeto.
Com avaliações constantes e mediante o reconhecimento do cumprimento das

94
iniciativas definidas, o governo e os cidadãos poderão dar passos decisivos para
se tornar um Município Educador Sustentável.

“Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e
praticar o município educador sustentável”, de Carlos Rodrigues Brandão -,
editado pela então Diretoria de Educação Ambiental, do Ministério do Meio
Ambiente, encontra-se reflexões sobre como promover ações para que o seu
município dê passos na direção de tornar-se um Município Educador Sustentável.

Para ter acesso ao livro Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos
para conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável de
Carlos Rodrigues Brandão, acesse o site:
http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/mes_livro.pdf

Dentre os processos educacionais que colaboram para a construção do


MES, pode-se destacar os seguintes:

 Educação em fóruns, conferências e colegiados

Atualmente existem órgãos colegiados em âmbito do município e da região (conselhos


de educação, de saúde, de meio ambiente, das cidades; Agendas 21; redes de
educação ambiental; comitês de bacia hidrográfica). A EA pode contribuir também para
que a participação nesses fóruns seja crítica e propositiva, evitando-se abusos de
poder de grupos políticos locais. Além de espaços de encontro, tais colegiados devem
ser instâncias de tomada de decisão política e de controle social. As conferências
nacionais são consideradas fóruns mais amplos de participação, nas quais se
apresentam propostas e se deliberam coletivamente para o fortalecimento e a
adequação de políticas públicas específicas demandadas pela sociedade (ROCHA,
2008). Planejar a atuação e as intervenções educacionais nesses fóruns sob a
perspectiva da educação ambiental crítica e libertadora tem um potencial
transformador da realidade socioambiental. O desafio é fazer com que a participação
nesses seja um processo educador, de participação, representação, compartilhamento
de percepções e visões, cooperação, mediação de conflitos e construção de diálogos,
diagnósticos e entendimentos.

95
 Conferências de Meio Ambiente

A Conferência Nacional de Meio Ambiente foi instalada pela primeira vez, em 2003,
juntamente com a Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. Ambas foram
organizadas atendendo à demanda antiga da sociedade por maior participação na
formulação e implementação da Política Nacional de Meio Ambiente. O objetivo é
fortalecer a cidadania ambiental, inclusive nas escolas e nas comunidades, propiciando
também um amplo processo educador, de diálogo governo e sociedade e de
construção de saberes.
Enquanto a Conferência de Meio Ambiente é promovida pelo o MMA e suas entidades
vinculadas (IBAMA, ICMBio, ANA, Serviço Florestal Brasileiro e Jardim Botânico do Rio
de Janeiro), em parceria com os demais entes do Sisnama e do Singreh, a Conferência
Infantojuvenil é uma iniciativa do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação
Ambiental, integrado pelo Ministério da Educação, por meio da Coordenação Geral de
Educação Ambiental, e pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio da Diretoria de
Educação Ambiental. Trata-se da criação e fortalecimento de espaços escolares de
participação, articulação e elaboração de conhecimentos.
Na perspectiva de um processo permanente e continuado de educação ambiental, a
intenção é inspirar o exercício coletivo para que a gestão ambiental e a gestão escolar,
possa fortalecer os processos educativos com foco na justiça social e na
sustentabilidade ambiental.

Para maiores informações sobre as Conferências de Meio Ambiente,


acesse o endereço: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/conferencia-nacional-do-meio-ambiente/iv-
conferencia/deliberacoes

 Circuito Tela Verde

A Mostra Nacional do Circuito Tela Verde é uma seleção de vídeos


com temática socioambiental, produzidos de forma independente
por educadores, estudantes, comunidades e instituições, com a
finalidade de denúncia e/ou de mobilização da sociedade.
Somados a vídeos temáticos de curta metragem que resultam de
edital do Ministério da Cultura, em parceria com o MMA, a
Mostra reúne dezenas de produções, sendo apresentadas,
atualmente, em cerca de 1.500 Espaços Exibidores, que utilizam a
experiência, muitas vezes de jovens realizadores, em discussões e
processos educativos locais.

96
 Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar

O Programa foi elaborado especialmente para o público envolvido com a


agricultura familiar, a partir de demandas apresentadas pelos movimentos
sociais do campo, desde 2009, com a mobilização nacional do Grito da
Terra Brasil. Por meio do desenvolvimento de ações educativas, busca-se a
construção coletiva de estratégias para o enfrentamento da problemática
socioambiental rural. Sua implementação se dá por meio do conjunto de
instituições governamentais e não-governamentais ligadas a essa
temática, com vistas à adoção de práticas sustentáveis na agricultura
familiar e no manejo dos territórios rurais. A sua elaboração e
aperfeiçoamento têm sido realizados de forma contínua e participativa,
por meio do diálogo com sujeitos sociais atuantes no setor. O PEAAF é a
materialização da contribuição da Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA) a essa demanda socioambiental e vem a colaborar com um
conjunto de ações que o Governo Federal tem implementado para
melhorar a qualidade de vida no campo.

Para maiores informações sobre o PEAAF, entre em contato pelo e-mail:


peaaf@mma.gov.br
Ou acesse o site:
http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/formacao-de-
educadores/programa-de-educação-ambiental-e-agricultura-familiar-
peaaf

 EducaRes

A Estratégia Nacional de EA e Comunicação Social na Gestão de Resíduos Sólidos


agrega um conjunto de atividades formativas e informativas com vistas a apoiar a
implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), no contexto
de uma grande mudança cultural representada pela nova hierarquia de ações,
dispostas na lei, em relação ao lixo no Brasil: não geração, redução, reutilização,
reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos (Inciso II, art. 7°). Na verdade, a lei sequer menciona a palavra
“lixo”, uma vez que propõe uma nova postura. Em lugar de afastar, de qualquer
maneira, o lixo do espaço público, transforma-o em resíduo para ser reduzido ou
aproveitado, o que exige seu exame, triagem ou coleta seletiva, para
aproveitamento ou retorno ao processo produtivo. Apenas quando não há o que
fazer, o resíduo passa a ser rejeito, sendo destinado adequadamente a aterros
sanitários. Além de cursos com catadores de material reciclável – que são
reconhecidos pela legislação como prestadores de serviço público a serem
reconhecidos no ambiente urbano, inclusive como potenciais educadores
ambientais - e gestores, a EducaRes dispõe de uma plataforma de experiências,
aberta a novas inscrições e à consulta do público em geral (educares.mma.gov.br).

97
 Salas Verdes

O Projeto SALA VERDE consiste no estímulo e apoio a iniciativas


que promovam a disseminação da informação e o
desenvolvimento de ações educacionais voltadas à temática
ambiental. Tem como objetivo estabelecer parceria para a
formação de centros de referência em informações ambientais.
O projeto é aberto à participação de qualquer tipo de
instituição, seja pública, privada ou do chamado terceiro setor,
desde que esta disponha de espaço físico para atividades
coletivas, infraestrutura mínima (mesa, cadeiras e estante),
equipe com perfil de educador ambiental, bem como
qualidade em seu projeto político-pedagógico.

Para maiores informações sobre as Salas Verdes, entre em contato com


o e-mail: salaverde@mma.gov.br;
Ou acesse o site:
www.mma.gov.br/educacao-ambiental/educomunicacao/salas-verdes

 Questões que podem gerar políticas municipais de educação ambiental

Considerando as recomendações dos encontros nacionais de gestores de


educação ambiental promovidos pelo Órgão Gestor da Política Nacional de
Educação Ambiental como o Compromisso de Goiânia - (2004), a Carta de
Salvador - (2005) o Pacto por uma Gestão Compartilhada - (2007), Pacto pela
Construção do Sistema Nacional de Educação Ambiental (2010) frutos de diálogos
entre instituições e redes voltadas à educação ambiental, vale a pena destacar
algumas questões que podem inspirar ações municipais:

 Criar e fortalecer estruturas de educação ambiental nos órgãos de


educação e de meio ambiente do município; definindo suas competências,
normas e critérios em consonância com a Lei n o 9.795/99 e demais
legislações vigentes;

 Criar mecanismos de gestão ambiental compartilhada entre as secretarias


municipais de educação e de meio ambiente;

 Assegurar condições políticas para garantir a continuidade de programas,


projetos e ações de educação ambiental;

98
 Propor ao CONAMA a regulamentação do componente de educação
ambiental nos processos de licenciamento ambiental;

 Articular as ações municipais na área de educação ambiental com redes,


órgãos públicos e núcleos de educação ambiental do IBAMA;

 Definir critérios e estimular parcerias entre a prefeitura, o setor empresarial


e organizações não-governamentais para implementação de projetos e
ações de educação ambiental nas escolas;

 Criar e aplicar indicadores de monitoramento e avaliação de programas,


projetos e ações de educação ambiental; criar e fortalecer redes locais,
estaduais, regionais e temáticas de educação ambiental;

 Consolidar a gestão compartilhada da educação ambiental nos estados e


municípios a partir da atuação articulada, solidária e colaborativa nas e
entre as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e de Meio
Ambiente, em pleno diálogo com a sociedade civil;

 Institucionalizar e transversalizar a educação ambiental na gestão das


organizações governamentais, com inserção na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), Plano Plurianual e Lei de Orçamento Anual (LOA);

 Mobilizar, sensibilizar e apoiar a população, a partir dos territórios, para a


participação em Fóruns de Educação Ambiental e processos de
Conferências de Meio Ambiente e de Educação, especialmente para a
realização adensada e qualificada na Conferência Nacional Infanto-Juvenil
pelo Meio Ambiente em todas as escolas do país;

 Estimular a abordagem da educação ambiental no projeto político


pedagógico, entendendo a escola pública como espaço de direito,
republicano e de educação permanente, integral, continuada, para todos e
ao longo da vida, com gestão democrática; bem como buscar a articulação
entre as instâncias organizadas como as Com-vidas (Comissão de Meio
Ambiente e Qualidade de Vida), os Conselhos de Escola, os Grêmios
Estudantis;

 Buscar meios para promover uma formação iniciada e continuada em


educação ambiental das equipes gestoras e técnicas, bem como promover

99
a sua transversalização e enraizamento nas estruturas governamentais;

 Estimular e apoiar o controle social da educação ambiental por meio do


fortalecimento dos movimentos da sociedade civil organizada, das Redes
de Educação Ambiental, dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente, dos
conselhos e foros de participação cidadã;

 Promover a educação ambiental em e com as comunidades de áreas


protegidas e seu entorno, especialmente nas Unidades de Conservação;

 Reconhecer a diversidade cultural, étnico-racial, regional, de gênero e


orientação sexual, e a convivência intergeracional, no âmbito das políticas,
programas e projetos de educação ambiental.

Para maiores informações sobre a Rede Brasileira de Educação


Ambiental, acesse o site:
encontrorebea.blogspot.com.br/p/as-redes-da-malha-da-rebea.html.

Em resumo

O município ao assumir o seu papel constitucional, de cuidar do Meio


Ambiente, estimula uma série de benefícios, tais como: mais proximidade com os
problemas a enfrentar e melhor acessibilidade dos usuários aos serviços públicos;
maiores possibilidades de adaptação de políticas e programas às peculiaridades
locais; melhor utilização dos recursos e mais eficiência na implementação de
políticas; maior visibilidade e consequentemente mais transparência das tomadas
de decisões e a democratização dos processos decisórios; e de implementação,
favorecendo a participação da população envolvida e as condições para
negociação de conflitos.

A mudança do município em direção sustentabilidade é um processo lento


que requer compromisso coletivo, além de acompanhamento, avaliação e reflexão
constantes. No exercício cotidiano de novas competências, habilidades e atitudes,
o licenciamento ambiental e os processos de educação ambiental são
fundamentais.

100
O Licenciamento Ambiental é um instrumento da gestão do ambiente, na
medida em que, por meio dele, a administração pública busca exercer o
necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas condições
ambientais, de forma a compatibilizar o desenvolvimento econômico com a
preservação do equilíbrio ecológico. Como processos do licenciamento ambiental,
o monitoramento e a fiscalização objetiva avaliar, controlar e impedir impactos
passíveis de provocar degradação ambiental.

O conceito de educação ambiental que deve ser estimulado é aquele que


fomenta o resgate e o surgimento de novos valores que tornem a sociedade mais
justa e sustentável. Além de considerar o meio ambiente em sua totalidade, dirige-
se às pessoas de todas as idades, dentro e fora da escola, de forma contínua,
sintonizada com suas realidades sociais, econômicas, culturais, políticas e
ideológicas.

A Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA, ao definir as


obrigações de vários atores sociais, incumbe “os órgãos integrantes do SISNAMA
de promover ações de educação ambiental integradas aos programas de
conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente”. Há distintas formas de
se realizar essa abordagem; o modo como determinado tema é tratado define a
concepção pedagógica e também o entendimento sobre a questão ambiental que
estão em jogo na proposta.

O Ministério do Meio Ambiente vem propondo um programa específico


voltado para formação de cidadania ambiental nos municípios. Trata-se do
programa Municípios Educadores Sustentáveis (MES), que objetiva facilitar a
gestão ambiental no município e propiciar a educação em fóruns e colegiados. Já
o projeto Sala Verde, fomenta a criação de centros de informação e educação
ambiental no município.

Para os educadores ambientais articulados em coletivos e em processo de


formação, é importante entrar em contato com redes de educação ambiental,
como a Rede Brasileira de Educação Ambiental, que articula redes estaduais e
temáticas, de forma a criar uma grande malha nacional de educadores ambientais.
Vale a pena também conhecer e considerar as recomendações dos encontros
nacionais de gestores promovidos pelo Órgão Gestor da PNEA (MMA – MEC)
sobre questões que podem inspirar políticas municipais de educação ambiental.

Neste módulo vimos à importância da gestão ambiental municipal de


cunho mais integrador com outras políticas públicas, em especial, as de âmbito
regional, ou seja, que abarcam mais de uma municipalidade. Nesse sentido, é

101
possível agregar, em torno de objetivos comuns, municipalidades que, por muitas
vezes, têm características geográficas e socioeconômicas semelhantes. O
resultado desse somatório de esforços é a minimização de custos, além de uma
adequação às normas ambientais.

Ademais, cabe ao gestor conhecer outros instrumentos, os quais o


município tem papel crucial em sua execução, como: o licenciamento ambiental de
impacto local e os processos formativos de educação ambiental. O primeiro tem
um cunho mais procedimental, enquanto o último visa, entre outros aspectos, à
efetivação de uma cidadania ambiental. Na prática, o que se busca é, em última
instância, promover a sustentabilidade ambiental, o que se reflete em uma melhor
qualidade de vida para a comunidade local.

102
REFERÊNCIAS

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políticas urbanas no Brasil. Revista Crítica De Ciências Sociais, [Internet] Iss
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Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o
art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990,
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Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Presidência da
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______. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183


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contratação de consórcios públicos e dá outras providências. Presidência da
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Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
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Nacional de Mobilidade Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis
nos 3.326, de 3 de junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943, da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452,
de 1o de maio de 1943, e das Leis nos 5.917, de 10 de setembro de 1973, e
6.261, de 14 de novembro de 1975; e dá outras providências. Presidência da
República. Brasília, 3 de janeiro de 2012. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>.
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105
______. Lei 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil – PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil – SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e
Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e
monitoramento de desastres; altera as Leis n os 12.340, de 1o de dezembro de
2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979,
8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de dezembro de 1996; e dá
outras providências. Presidência da República. Brasília, 10 de abril de 2012.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
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______. Lei complementar 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos


termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da
Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da
competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas
formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei
no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Presidência da República, Brasília, 8 de
dezembro de 2011. Disponível em: <
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