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Por que dois “Karls” é melhor do que um, por Nancy


Fraser
Tradução de Why two Karls are better than one: integrating Polanyi and Marx in a Critical Theory of the current crisis. Working Paper der DFG-Kollegforscher-innengruppe
Postwachstumsgesellschaften, Universität Jena, 2017.

Por Wilton Moreira - 06/02/2019

<https://jornalggn.com.br/noticia/por-que-dois-karls-e-melhor-do-que-um-por-nancy-fraser/ 1/13>

Do Economia e Complexidade

Integrando Polanyi e Marx numa teoria crítica da crise atual [1]

Por Nancy Fraser [2]

A situação que se enfrenta hoje é de uma crise Karl Polanyi oferece um dos dois modelos mais
genuína. Mas ela não pode ser adequadamente promissores que temos para desenvolver esse
compreendida por meio dos paradigmas tipo de teoria crítica. O segundo modelo
herdados da teoria crítica. Enquanto esses pertence ao outro Karl: Karl Marx. Na minha
paradigmas tendem a ser unidimensionais, opinião, cada um deles oferece insights
focados sobretudo na economia, a crise indispensáveis para o entendimento da crise
atual é multidimensional, englobando não capitalista. No entanto, cada um deles tem
apenas impasses econômicos, mas também também pontos cegos lamentáveis. Qualquer
sociais, ecológicos e políticos, todos eles um que queira desenvolver uma teoria crítica da
entrelaçados de tal modo que uns exacerbam crise atual precisa integrar os pontos fortes e
os outros. superar os pontos cegos de ambos. Mas nem
isso é suficientemente satisfatório. Se se quiser
Apenas uma teoria multidimensional pode desenvolver uma teoria que possa
capturá-la. No entanto, seria um erro adotar esclarecer a gama todas dos fenômenos de
uma abordagem que torna a “multiplicidade” e a crise, bem como as perspectivas de uma
“contingência” fetiches. Esse tipo de resolução emancipatória, também será
pensamento não é mais capaz de esclarecer a preciso incorporar os insights da teoria
situação atual do que o economicismo monista. feminista, da teoria pós-colonial e da teoria
Longe de formar uma pluralidade dispersa, as ecológica, entre outras. O objetivo neste
várias vertentes da atual crise estão interligadas ensaio, no entanto, é muito mais modesto.
e compartilham uma mesma fonte comum. Deseja-se explicar como Karl Polanyi pode
Todas estão alicerçadas na estrutura contribuir para uma teoria crítica da crise atual,
profunda do capitalismo contemporâneo, esclarecendo os pontos em que o seu
que é globalizante, neoliberal e pensamento precisa ser complementado e
financeirizado. Uma teoria crítica da crise revisado com base nas teses do outro Karl. Daí
contemporânea precisa ser uma teoria do o título do ensaio: “por que dois Karls são
capitalismo financeirizado – mas que evite melhores que um”.
qualquer sombra de economicismo reducionista.
Em vez de conceber o capitalismo de O argumento a ser aqui posto repousa sobre
maneira estrita, como um sistema uma visão específica sobre o que conta
econômico, tal teoria deve conceituá-lo como uma teoria crítica da crise capitalista.
amplamente, como uma ordem social Ao contrário das conversas soltas sobre crises
institucionalizada (Fraser, 2014a). Somente que hoje abundam, tal teoria deve abranger
uma visão expandida do capitalismo pode fazer dois níveis analíticos: primeiro, deve conter
justiça a uma crise que é ao mesmo tempo uma perspectiva estrutural sobre a crise
multidimensional e fundamentada em uma capaz de revelar as contradições profundas
formação social única e identificável. da ordem social subjacente; e segundo, deve
apresentar uma perspectiva de mundo da
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vida e de ação social que esclareça as lutas geral contemplará um argumento segundo a
sociais que surgem em resposta a essas qual a junção dos dois Karls, adequadamente
contradições. Mas isso não é tudo. Uma teoria revisados e conceitualmente integrados, é
crítica da crise capitalista deve também ligar melhor do que cada um deles em separado.
entre si essas duas perspectivas analíticas
de uma maneira que revele as perspectivas
de uma resolução emancipatória (Habermas,
MERCANTILIZAÇÃO FICTÍCIA OU QUEDA NA
1975, p. 1-8).
TAXA DE LUCRO?
Ambos os Karls, tanto Marx quanto Polanyi, Sobre a dimensão estrutural da crise capitalista
estavam engajados nesse tipo de teorização.
Cada um deles combinou perspectivas Sugere-se agora que A grande transformação
estruturais e de ação na avaliação da das oferece uma teoria estrutural da crise capitalista.
crises capitalistas, imbuídos ambos de É verdade que a leitura do livro aqui
objetivos emancipatórios. Mas, como suas apresentada não é inteiramente fiel às intenções
abordagens divergiram de maneira acentuada, de Polanyi e pode ser contestada de duas
as suas teorias costumam ser consideradas maneiras. Primeiro, que essa obra não fala de
antitéticas e mutuamente exclusivas. Propõe-se capitalismo, mas de “economia de mercado com
aqui, em contraste, tratá-las como sociedade de mercado”. E segundo, que o seu
complementares. autoproclamado foco não é nem o sistema nem
a estrutura social, mas a agência e, em
Embora não seja estritamente fiel às intenções especial, os esforços políticos intencionais dos
de qualquer um desses pensadores, a leitura partidários do livre mercado para estabelecer
aqui proposta permite utilizar os pontos fortes uma “economia de mercado” (Polanyi, 2001, p.
de cada um deles para remediar as fraquezas 71–2 e 141-146). Portanto, tal como é
do outro. Além disso, essa opção gera uma geralmente interpretado, esse livro está muito
concepção expandida de sociedade capitalista longe de desenvolver um tipo de teoria de crise
que pode esclarecer as múltiplas, mas em dois níveis, objeto do presente artigo. No
interconectadas, vertentes da atual crise. entanto, sustenta-se aqui que Polanyi oferece
uma perspectiva estrutural sobre a crise
As reflexões aqui postas seguirão três etapas. capitalista, a qual oferece insights importantes e
Primeiro – e talvez de modo contra intuitivo – que vale pôr à mostra. Interpretando a sua
argumentar-se-á que Karl Polanyi pode ser expressão “economia de mercado com
lido como alguém que oferece uma crítica sociedade de mercado” como sinônimo ou
estrutural da crise capitalista; e que essa eufemismo para capitalismo, considera-se aqui
crítica tem certas vantagens sobre a crítica do que a sua noção de mercadoria fictícia como o
outro Karl, assim como algumas desvantagens. núcleo conceitual de uma teoria de crise
Sustentar-se-á, então, em segundo lugar e de sistêmica. E essa conceituação deve ser
forma menos controversa, que Polanyi encarada como o contraponto no pensamento
também fornece uma perspectiva teórica da de Polanyi da noção de queda da taxa de lucro
ação e que esta supera alguns dos pontos de Marx.
cegos encontrados em Marx, ao mesmo
tempo em que introduz outros. Nesses dois A ideia da mercantilização fictícia é análoga a
primeiros passos, indicar-se-á onde e como um conceito central de Marx no seguinte
seria possível combiná-los os pontos de sentido: tal como a tese da taxa decrescente de
vista tendo em mente preservar os insights e lucro, ela apresenta os impasses e os
corrigir os pontos cegos de ambos. E isso sofrimentos sociais, não como problemas
preparará o terreno para o terceiro passo do discretos que surgem aleatoriamente, mas
argumento, no qual se esboçará os como expressões de tendências à crise
contornos de uma perspectiva integrada que baseadas na estrutura profunda de uma
possa esclarecer a crise atual. O resultado formação social que institucionaliza imperativos
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contraditórios. Mas as duas ideias operam de pode servir como reserva de valor ao longo do
maneira muito diferente. Para Marx, a tempo e como meio de troca capaz de superar
contradição estrutural fundamental do distâncias. Para Polanyi, a “economia de
capitalismo é interna ao sistema econômico. mercado” requer esses elementos básicos para
Para colocar o assunto sucintamente (com o funcionar. Mas deixado à própria sorte, o
risco de ser tão infiel a ele quanto se é à “mercado auto regulador” transforma-os
Polanyi): a orientação do capitalismo para a inexoravelmente em meras mercadorias e, ao
acumulação ilimitada por meio da exploração do fazê-lo, os consome e os desestabiliza. Uma
trabalho assalariado tende a aumentar a vez transformados em meros objetos vendáveis,
composição orgânica do capital, exercendo, a terra, o trabalho e o dinheiro perdem a
assim, pressão para baixo sobre a taxa de lucro; capacidade de ancorar e de sustentar as
ora, isto intensifica a competição e incentiva a transações de mercado. Longe de se comportar
especulação financeira – desenvolvimentos de maneira ordenada como mercadorias
estes que levam periodicamente à eclosão de comuns, elas se tornam os nós centrais das
crises econômicas. (Marx, 1991, p. 317- 375) crises capitalistas. (Polanyi, 2001, p. 71-80).
Detalhes à parte, é possível dizer que, para
Marx, a crise capitalista tem suas raízes em um A essência desse argumento está bem patente
sistema econômico que abriga dentro de si no título do livro de 1960 de Piero Sraffa,
mesmo imperativos mutuamente contraditórios. Produção de mercadorias por meio de
mercadorias, que, da perspectiva de Polanyi,
Para Polanyi, de outro modo, a tendência figura como um oximoro. Se a produção de
inerente do capitalismo à crise estrutural não é mercadorias requer elementos de fundo não
interna ao seu sistema econômico. Consiste, mercantilizáveis constituídos pela natureza, pelo
antes, em um conjunto de contradições entre o dinheiro e pela reprodução social, então a
domínio da economia capitalista com seu formação social que os transforma em
entorno natural, assim como com seu entorno mercadorias vai necessariamente enfrentar
social. Em poucas palavras: a sociedade e a problemas. Negociar com pseudo-mercadorias,
natureza fornecem pré-requisitos indispensáveis as quais não são apenas ontologicamente
para o funcionamento do sistema econômico; no fictícias, mas também praticamente
entanto, este último sistematicamente os dissolventes, é se comportar como um tigre que
consome e os degrada, de um modo que acaba come sua própria cauda [3].
por comprometer o seu próprio funcionamento.
Então, o que gera a propensão do capitalismo Com esse argumento, Polanyi aponta o
para a crise em Polanyi é a tendência inerente caminho para uma visão multidimensional de
do “mercado autorregulado” de desestabilizar crise. Ao desenvolver uma concepção de
suas próprias condições de possibilidade – por contradição capitalista “entre domínios”, ele
meio de um processo que ele denomina de amplia a abordagem marxista padrão que visa
mercantilização fictícia. É preciso explicar isto. as tendências internas do sistema econômico à
crise. Não mais restrita à economia
Uma “economia de mercado” – diz Polanyi – propriamente dita, as contradições do
depende de três elementos fundamentais, os capitalismo agora incluem a tendência inerente
quais não são bem transformáveis em do “mercado autorregulado” para desestabilizar
mercadorias: primeiro, da natureza como uma tanto a sociedade quanto a própria natureza.
fonte contínua de “insumos produtivos” e como Com efeito, Polanyi identifica três contradições
“depósito” corrente para os resíduos da do capitalismo: a ecológica, a social e a
produção; segundo, de práticas não financeira, cada uma das quais apresenta uma
remuneradas de reprodução social que criam e dimensão específica de crise. Cada uma dessas
formam os seres humanos como seres vivos e contradições envolve uma condição necessária
culturais, os quais personificam o “fator de da produção mercantil que a economia
produção” conhecido como “trabalho”; e capitalista, simultaneamente, requer e tende a
terceiro, um suprimento estável de dinheiro que corroer. No caso da condição ecológica da
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produção, o que está em jogo são os processos inerente do sistema de superacumular o capital
naturais que sustentam a vida e fornecem os e de subproduzir a “demanda”, seria difícil
insumos materiais para o abastecimento social. entender o quase colapso do sistema financeiro
No caso da condição de reprodução social, global, em 2007-08. É uma fortuna, portanto,
estão em jogo os processos socioculturais que não precisar abandonar o pensamento de Marx
criam as relações de solidariedade, as para abrir espaço para o de Polanyi. É
disposições afetivas e os horizontes de valor perfeitamente possível combinar a visão “interna
que sustentam a cooperação social, ao mesmo ao sistema econômico” da contradição sistêmica
tempo em que fornecem os seres humanos do primeiro Karl com a visão “entre domínios”
apropriadamente socializados e qualificados daquele que veio depois. Longe de serem
que produzem o “trabalho”. No caso da mutuamente exclusivas, as duas concepções
condição monetária de produção, o que está em são em princípio complementares. Assim se vê,
jogo é a capacidade de conduzir a troca à portanto, que os dois Karls juntos são melhores
distância e de armazenar valor para o futuro, daí do que cada um deles em separado. É preciso
a capacidade de interagir amplamente no apenas descobrir a melhor forma de integrá-los,
espaço e no tempo. O resultado é uma teoria da uma questão à qual se retornará no terceiro
crise capitalista que compreende uma tripla passo de meu argumento.
contradição e que está baseada numa
compreensão de contradição “entre domínios” – Antes de tudo é preciso dizer que Marx oferece
e, assim, numa visão do capitalismo como algo algo que Polanyi não contempla: o conceito de
maior do que simplesmente um sistema capital como valor auto expansivo. Sem essa
econômico. noção, não é mesmo possível entender por que
os “mercados autorregulados” abrem feridas
Esta compreensão oferece algumas vantagens cada vez maiores na vida social. Nem se pode
importantes. Evitando o economicismo, coloca a entender o que impulsiona o sistema enquanto
deterioração ecológica e a degradação social sistema, o que o impele para uma expansão
como expressões não acidentais de ilimitada e que, ao fazê-lo, não deixa de
contradições profundas. Estas já não aparecem desestabilizar as suas próprias condições de
mais como expressões epifenomênicas de possibilidade. Ao se seguir Polanyi, ao se evitar
disfunções econômicas “reais”, pois agora são o conceito de capital, perde-se, em outras
simplesmente, em si e por si mesmas, palavras, o que gera a própria dinâmica de
dimensões sistêmicas da crise capitalista. crise. E este conceito é devido à perspicácia de
Nesse sentido, com a tese da mercantilização Marx. Neste ponto fica notório que o Karl do
fictícia, Polanyi estabeleceu as bases século XIX avançou em relação ao Karl do
conceituais para uma teoria multidimensional da século XX.
crise capitalista. Igualmente importante, ele
apontou o caminho para uma compreensão Deve-se também dizer, finalmente, que Polanyi
expandida do capitalismo, que inclui não apenas não consegue desenvolver todo o potencial de
a economia propriamente dita, mas também as sua compreensão de crise capitalista
suas condições de possibilidade (Fraser, 2014b, caracterizada pela tripla contradição “entre
p. 548-9). domínios” distintas. Ela repousa, como se
observou acima, numa visão expandida do
No entanto, seria errado concluir que Polanyi capitalismo, que inclui não apenas a economia
refuta Marx. A presença das contradições “entre propriamente dita, mas também suas condições
domínios” não desmente a ideia de que o de possibilidade. Consequentemente, reclama
subsistema econômico do capitalismo uma melhor compreensão da estrutura social do
propriamente dito abriga (também) contradições capitalismo – e de suas divisões institucionais,
internas. Essa tese captura uma característica as quais a constituem como uma ordem social
importante de uma ordem social sujeita a específica. Mas Polanyi não fornece essa
repetidas depressões econômicas e acidentes compreensão. Ao contrário, ele recorre a uma
financeiros. Sem considerar a tendência fórmula binária simples, que justapõe
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“economia” e “sociedade”. Essa formulação essa apropriação. Pode-se afiançar, finalmente,


dualista é problemática da perspectiva da noção que o imperativo institucionalizado do
de agência, tal como se argumentará na capitalismo à acumulação ilimitada contraria o
sequência do argumento. Mas também, ela é intento de tomar a “natureza” como o “outro da
inadequada do ponto de vista estrutural, como humanidade”. Objetiva, assim, garantir o uso
se argumenta agora. O problema advém do fato instrumental e a canibalização do mundo natural
de que a categoria de “sociedade” de Polanyi é de um modo que eventualmente redunda em
uma caixa preta. Como noção abarcante, perigo para este último. Em geral, então, pode-
mistura tudo o que não é “economia” e, assim, se dizer que a sociedade capitalista abriga pelo
confunde distinções importantes entre, por menos três contradições entre distintos
exemplo, Estado e sociedade civil, família e domínios e que a elas correspondem três
esfera pública; nação e comunidade tendências determinadas de crise: a social-
subnacional. Como resultado, obscurece a reprodutiva, a política e a ecológica.
estrutura institucional da sociedade capitalista.
O que fornece a esse tipo de sociedade a sua Muito mais pode ser dito sobre cada uma
forma característica não é uma divisão binária dessas tendências de crise. Aqui, no entanto,
entre economia e sociedade, mas uma tríade de sugere-se apenas que uma visão do capitalismo
separações institucionalizadas: primeiro, a como uma ordem social institucionalizada
separação da produção econômica da contribui para esclarecer as bases e o caráter
reprodução social (ou seja, a fábrica da família e dessas contradições “entre domínios”. Em
o trabalho do cuidado); segundo, a separação contraste, a fórmula binária de Polanyi,
do sistema econômico da coordenação política “economia contra a sociedade”, embaralha as
(ou seja, os mercados dos Estados, o poder questões envolvidas. Ao final, ela enfraquece a
privado das empresas do poder público dos força crítica de sua compreensão da crise
governos); e, terceiro, a separação entre a capitalista.
cultura e a natureza (ou seja, o espírito da
E essa conclusão é, com certeza, irônica.
matéria, a história da situação). Juntas, essas
Sugeriu-se anteriormente que a principal
divisões estruturam a relação entre o sistema
contribuição da abordagem de Polanyi
econômico do capitalismo e as suas condições
encontrava-se em sua visão das contradições
de fundo. Assim, elas fundamentam as
capitalistas “entre domínios”. E que isto tinha o
contradições “entre domínios” que Polanyi
potencial de enriquecer a visão meramente
identificou, bem como outras que ele não
interna ao econômico do outro Karl. Baseada
distinguiu e que permitem uma conceituação
em um modelo de contradição tripla, a
mais precisa.
compreensão de Polanyi poderia esclarecer
Pode-se dizer, em primeiro lugar, que o melhor uma tríade de tendências à crise
capitalismo separa a produção de mercadorias, inerentes à sociedade capitalista. No entanto,
baseada no trabalho assalariado, da reprodução ele não conseguiu desenvolver de modo
social, baseada principalmente no trabalho não persuasivo uma concepção ampla do
pago, especialmente das mulheres; ao fazer a capitalismo como realidade que tem uma
primeira depender da segunda, cujo valor, aliás, amplitude maior do que meramente um sistema
despreza, o capitalismo periodicamente econômico. Baseando-se na fórmula binária da
desestabiliza a reprodução social e, assim, “economia versus sociedade”, ele obscureceu
coloca potencialmente em risco a própria as divisões institucionais que sustentam as
produção econômica. Pode-se afirmar também, contradições “entre domínios”, as quais
em segundo lugar, que o capitalismo separa “o procurava esclarecer. Perceber todo o potencial
econômico” do “político”, ao mesmo tempo em da visão de Polanyi exige a adoção de uma
que se aproveita deste último; assim, ao concepção do capitalismo como uma ordem
esvaziar periodicamente os poderes públicos social construída sobre determinadas
que asseguram a possibilidade de apropriação separações institucionais, as quais levam a
privada de mais-valor, perturba potencialmente sociedade à crise. O que está em questão não
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vem a ser corrigir apenas os pontos cegos de conjunto dos conflitos relevantes para abranger
Polanyi, mas também poder integrar as suas as lutas extra econômicas, as quais respondem
percepções com as do outro Karl. Voltar-se-á a às incursões desestabilizadoras desse sistema
este ponto no terceiro passo do meu argumento. na sociedade e na natureza. Em A grande
transformação, insistiu de modo eloquente e
persuasivo que as lutas na sociedade
capitalista não são alimentadas
DUPLO MOVIMENTO OU LUTA DE CLASSES? exclusivamente pelos danos econômicos,
Da dimensão “ação social” da crise capitalista
como a exploração, a miséria e o
Agora, porém, é preciso dar o segundo passo e desemprego. Pelo contrário, essas lutas
este aborda o nível “ação social” da teoria da respondem também, com a mesma
crise. Este nível diz respeito às respostas intensidade, às deformações das dimensões
dos atores sociais às suas experiências não-monetizadas da vida, incluindo as
provindas das contradições do capitalismo, ameaças ao ambiente, aos deslocamentos
incluindo-se aí as formas de luta social em das famílias e à devastação das
que se engajam. Na estrutura de pensamento comunidades. (Polanyi, 2001, p. 159-163).
de Polanyi, o elemento central é o seu
Aqui, como antes, a abordagem de Polanyi tem
conceito de duplo movimento. Com esse o potencial de enriquecer a teoria crítica de
conceito, ele procura identificar a forma Marx. O conflito social nas sociedades
característica da luta social que surge em capitalistas tem assumido repetidamente o
resposta às crises sistêmicas do caráter de lutas pela natureza, pela reprodução
capitalismo. De acordo com Polanyi, “a social e contra o endividamento. Estas – julga-
sociedade” luta naturalmente contra as se aqui – são melhor concebidas como lutas
incursões expansionistas do sistema fronteiriças, pois dizem respeito à existência,
econômico, por meio de uma reação localização e caráter das fronteiras que
“espontânea” aos esforços intencionais e separam a economia da política, a produção de
“direcionados” para constituir os mercados mercadorias da reprodução social, a sociedade
como “mercados autorregulados”. O que humana da natureza não humana. (Fraser,
resulta deste jogo de movimento e de 2014a, p. 68-70)
contramovimento é uma extensa série de Essas fronteiras marcam as separações
confrontos entre os partidários da institucionais antes mencionadas e que são
mercantilização, de um lado, e os proponentes constitutivas das sociedades capitalistas. Mas
da proteção social, de outro. Cobrindo um tais limites não são dados de uma vez por
século e meio de história, desde o início do todas. Pelo contrário, os atores sociais
século XIX até o momento em que começou a mobilizaram-se repetidamente diante desses
escrever A Grande Transformação, em meados contornos, buscando realocá-los, contestá-los
do século XX, esses embates são vistos por ou defendê-los, especialmente em períodos de
Polanyi como exemplos da gramática crise – às vezes, eles conseguem redesenhá-
característica do conflito social no capitalismo los. Lutas sobre se, onde e como dividir os
moderno. O movimento duplo é a contraparte Estados dos mercados, as famílias das fábricas
em sua concepção para a luta de classes e a sociedade da natureza são tão
que se encontra nos textos do outro Karl. fundamentais para a sociedade capitalista, tão
(Polanyi, 2001, p. 79-80, 136-40, 147, 156-7) profundamente inscritas em sua estrutura
institucional, quanto as contestações sobre a
Também na questão “ação social”, o Karl do
taxa de exploração ou sobre a distribuição do
século XX divergiu do Karl do século XIX.
mais-valor. Exemplos incluem as lutas por água
Enquanto Marx (supostamente) restringiu os
limpa, moradia, direitos de pesca e cuidados
conflitos relevantes às lutas entre o capital e o
infantis, entre muitos outros. Ultrapassando a
trabalho, os quais refletem as contradições do
problemática da distribuição, essas são lutas
sistema econômico, Polanyi expandiu o
pela própria gramática da vida capitalista. Para
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além do marxismo economicista (que pode não Uma tarefa crucial é superar um ponto cego da
ser bem o marxismo de Marx), não devem ser visão de Polanyi. Ao interpretar (o que aqui é
encaradas nem como contradições secundárias chamado de) lutas de fronteira por meio de um
nem como expressões epifenomênicas de modelo de duplo movimento, ele tornou possível
fundamentos econômicos. apenas duas posições: uma a favor da
“economia” e outra a favor da “sociedade”. O
Com certeza, Polanyi não usa a expressão efeito é constituir a gramática das lutas no
“lutas fronteiriças”. Mas sua ideia do duplo capitalismo em duas direções por meio de um
movimento enquadra-se perfeitamente nessa forte dualismo: de um lado, o partido da
categoria tal como aqui está definida. O seu “mercantilização” encontra-se empenhado em
foco, afinal de contas, é (o que Polanyi entende) estender a lógica da economia à sociedade; de
como a fronteira entre a “economia” e a outro, o partido da “proteção social” está
“sociedade”. Em princípio, portanto, o conceito determinado a repelir tal incursão, defendendo a
de duplo movimento oferece a oportunidade de sociedade (e a natureza) contra o sistema
expandir o conceito de conflito capitalista que, econômico. Não há (aparentemente) outras
em Marx, aparece de modo excessivamente opções. Essa perspectiva, assim como a
restrito e centrado na divisão social de classes, dicotomia economia/sociedade antes
sem cair em noções vazias e sem fundamento considerada, é problemática – e por razões
tais como “multiplicidade” e “contingência”. relacionadas entre si. Por um lado, a ideia do
duplo movimento tem algumas ressonâncias
Mais uma vez, no entanto, seria um erro
normativas desafortunadas. Ao por a
concluir que o Karl do século XX simplesmente
mercantilização em oposição à proteção social,
refuta o Karl do século XIX. As lutas de classe
ela sugere que uma economia fria, perigosa e
continuam importantes e, na verdade, são
volátil está em contradição com uma sociedade
endêmicas na sociedade capitalista. Seria um
calorosa, segura e estável. Mas a “sociedade”
despropósito abandonar essa ideia só porque
não é tão virtuosa assim. A reificação de Polanyi
as linhas de frente da militância trabalhista
encoraja a ignorar os aspectos desagradáveis
estão agora em Guangzhou e não em
dessa “sociedade”, incluindo o sexismo, o
Manchester ou Detroit. Felizmente, também
racismo, a homofobia e o provincianismo
neste caso, não há impedimento para combinar
excludente. Tampouco a “estabilidade” é um
as concepções marxiana e polanyiana. Os
bem absoluto. A fórmula de Polanyi subestima o
teóricos críticos não precisam abandonar a luta
papel emancipatório da mercantilização na
de classe para incorporar a luta “entre
desestabilização das opressões tradicionais. E
domínios”, pois as duas noções são
não consegue validar o seu potencial intrínseco
complementares, não antitéticas. Também aqui,
de desestabilizar o que está posto, de modo
em outras palavras, dois Karls são melhores
inegavelmente emancipatório, das lutas contra
que um.
essas opressões. Aqui, novamente, o outro Karl
Infelizmente, no entanto, nenhum dos dois Karls tem algo importante para ensinar. Melhor do
fornece orientação sobre como combinar suas que Polanyi, Marx compreendeu o caráter
respectivas concepções. Nenhuma delas coloca dúplice do capitalismo e a necessidade de uma
a questão crucial: se as sociedades capitalistas visão dialética.
abrigam dois tipos de conflitos sociais, mas
Além disso, vertentes importantes da luta social
igualmente típicos, como eles se relacionam
não se encaixam em nenhum dos polos da
entre si? A luta entre as classes é
díade “mercantilização/proteção”. Pode-se
inerentemente antagônica à luta de fronteira
mencionar as lutas para abolir a escravidão,
“entre domínios” ou elas podem ser articuladas
libertar as mulheres e derrubar o domínio
politicamente? Eis que, assim, o trabalho de
colonial. Todas elas se desenvolveram durante
integrar as compreensões dos dois Karls ainda
todo o período estudado por Polanyi, mas
precisa ser feito.
nenhuma delas figura significativamente em A
Grande Transformação. Esses movimentos
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eram bravos em sua oposição às formas seu próprio tempo e, muito menos, à época
hierárquicas e excludentes de proteção social, atual. Em parte, porque negligenciaram as lutas
incluindo aquelas que constituíam mulheres, de fronteira. Marx previu erradamente a
escravos e colonos como “dependentes” e os agudização e a simplificação progressiva da luta
impediam de dispor livremente de suas pessoas de classes segundo uma tendência em que, ao
ou de seu trabalho. Mas os abolicionistas, final, o mundo inteiro ficaria dividido em dois
feministas e anticolonialistas dificilmente eram campos, os quais competiriam entre si até que
partidários do “mercado autorregulado”, pois ocorresse uma batalha final. Polanyi foi um
também se opunham aos modos de dominação pouco mais cauteloso, com certeza. Mas ao
mediados pelo mercado, tais como a negligenciar as lutas pela emancipação, ele não
superexploração, a troca desigual e o conseguiu fundamentar sua esperança por uma
imperialismo do livre comércio. Não se alternativa democrático-socialista que pudesse
encontravam situados em nenhum dos lados do acabar com os confrontos crescentes – e
duplo movimento de Polanyi. irreconciliáveis – entre os protecionistas sociais
e os defensores do livre mercado, os quais,
Diferentemente, eles ocuparam uma terceira segundo ele, haviam levado a sociedade ao
posição, que se encontra obscurecida em sua fascismo e à guerra mundial. Os conceitos de
análise, uma posição que chamei de lutas de fronteiras e do movimento triplo
emancipação. Não estavam preocupados nem oferecem correções aos pontos cegos de
em defender a “sociedade” existente nem em ambos esses autores. Ao introduzir as lutas de
dissolver esta última nas “águas geladas do fronteira, supera-se o essencialismo de classe
cálculo egoísta”, esses movimentos procuraram, de Marx e se valida a compreensão mais
em vez disso, superar a dominação, tanto na expansiva de Polanyi sobre a luta anticapitalista.
sociedade como na economia. Para esse fim, Ao introduzir o movimento triplo, supera-se as
eles se aliaram taticamente com os defensores tendências comunitárias de Polanyi e se valida
dos mercados ou com os protecionistas sociais, a concepção mais robusta de emancipação de
dependendo das circunstâncias, mas sem Marx.
endossar o projeto de nenhuma das partes.

Se os teóricos críticos querem fazer justiça às


lutas pela emancipação e toda a gama de REPENSANDO A CRISE CAPITALISTA
conflitos sociais no capitalismo atual, eles Para uma visão integrada
precisam revisar o teor da ação social na
compreensão de Polanyi. A proposta aqui Com isso, chega-se ao terceiro e último passo
aventada é transformar o seu duplo movimento do argumento. Como exatamente os teóricos
em um triplo movimento, compreendendo não críticos podem integrar as compreensões
dois, mas três polos de luta: mercantilização, respectivas dos dois Karls para chegar a uma
proteção social e emancipação (Fraser, 2011). crítica que apreende bem a crise no capitalismo
Como será explicado na seção seguinte, essa contemporâneo? Como se pode combinar os
nova configuração permite aos teóricos críticos pontos fortes de cada uma dessas duas
analisar melhor a gramática das lutas sociais no concepções teóricas, corrigindo também alguns
capitalismo financeirizado – e, acima de tudo, de seus pontos cegos. E como se pode integrar
problematizar as alianças de dois contra um que elementos adicionais que não são encontrados
estruturam a atual constelação. (Fraser, 2013 e em nenhuma delas e que podem ser extraídos
2016) de outras linhas de teorização crítica, tais como
o feminismo, o pós-colonialismo, a teoria crítica
Ambos os Karls, Marx e Polanyi, estavam do racismo e a ecologia política? Como
profundamente interessados na dinâmica da especificamente é possível colher todos esses
luta social nos momentos de aguda crise aportes para formular uma crítica das formas da
capitalista. Mas nenhum deles desenvolveu uma crise estrutural e da luta social que se
perspectiva que fosse totalmente adequada ao experimenta agora no capitalismo financeirizado
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da era atual? dependência das mulheres por meio do


“salário familiar”, assim como sobre a
Não se tentará fornecer aqui uma resposta exclusão racialmente motivada dos
direta e sistemática a essas perguntas. trabalhadores agrícolas e dos trabalhadores
Concluir- se-á, em vez disso, ilustrando os domésticos da Previdência Social. Na
usos potenciais da abordagem que foi aqui década de 1960, essas populações estavam
defendida. se mobilizando ativamente contra uma
situação que exigia delas que pagassem o
Sugere-se, em específico, que os interessados
preço da relativa segurança e da
em entender o significado e as consequências
prosperidade dos outros. E com razão!
da recente eleição presidencial dos EUA podem
ir bem longe por meio dessa abordagem. A Mas suas lutas cruzaram-se fatalmente com
vitória de Donald Trump está relacionada outra frente de luta a qual se desenvolveu
com a interseção das contradições internas em paralelo ao longo das décadas
ao domínio econômico com as contradições subsequentes. Essa segunda frente opunha
“entre domínios” do capitalismo um partido ascendente de livre-mercado,
estadunidense como um todo. Tem também empenhado em liberalizar e globalizar a
relação com a intersecção de dois conjuntos de economia capitalista, aos movimentos
lutas. Considere a transformação histórica do trabalhistas em declínio nos países do núcleo
capitalismo iniciada nos anos 1970 e que, capitalista, outrora a base mais poderosa de
agora, está se desfazendo. O aspecto apoio à democracia social, mas agora na
estrutural dessa transformação é bem defensiva, se não totalmente derrotado. Nesse
compreendido: enquanto o regime anterior contexto, os “novos movimentos sociais
permitia que os estados subordinassem os progressistas”, com o objetivo de derrubar
interesses de curto prazo das empresas hierarquias de gênero, sexo, etnia e religião,
privadas tendo em vista o objetivo de longo viram-se confrontados com populações que
prazo da acumulação sustentada, o regime buscavam defender mundos da vida
atual usa as finanças globais para disciplinar estabelecidos assim como certos privilégios,
os Estados e as nações; privilegia, assim, os agora ameaçados pelo “cosmopolitismo” da
interesses imediatos dos investidores nova economia financeira e pós-industrial. A
privados, impõe austeridade e dá pouca coalisão dessas duas frentes de luta produziu
atenção às necessidades que provém da uma nova constelação política: os proponentes
reprodução social. da emancipação individualista se uniram aos
partidários da mercantilização para minar a
Mas o aspecto político é menos bem
proteção social.
compreendido. E ele deve ser caracterizado
em termos quase polanyianos. Com o O fruto dessa aliança foi um “neoliberalismo
objetivo de promover o crescimento por progressista” que celebrou a “diversidade”,
meio da produção em massa, do consumo a meritocracia e a “emancipação”, mas
de massa e da provisão de bens públicos, o desmantelou as proteções sociais,
capitalismo gerenciado pelo Estado expropriou as poupanças duramente
representou uma nova síntese criativa dos conquistadas da classe trabalhadora e
dois projetos de sociedade que Polanyi consolidou a precariedade generalizada.
considerava inerentemente antitéticos: Hillary Clinton personificou essa constelação.
aquele centrado na mercantilização e aquele Não é de admirar que os partidários da
baseado na proteção social. Mas eles se proteção social, os quais, corretamente,
uniram às custas de um terceiro projeto, sentiram-se derrotados por essa nova aliança,
ignorado por Polanyi, que deve ser chamado tenham ficado “loucos da vida”? Abandonados
de emancipação. Ora, todo o edifício estava por aqueles que tomaram a emancipação de
baseado na predação (neo)imperial do Sul modo truncado e, por isso, favorável ao
Global, na institucionalização da mercado, encontraram em Trump uma
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espécie de voz com acentos de proteção social, ela deve se concentrar em


ressentimento e de chauvinismo. Assim, a forjar uma nova aliança de emancipação e
disputa entre Clinton e Trump foi uma luta entre, proteção social contra a mercantilização
de um lado, o partido “reacionário” da proteção descontrolada. Mas esse projeto só pode se
social e, de outro, um partido “progressista” que tornar realidade se for desenvolvida uma
endossou uma orgia de mercantilização perspectiva crítica que combine livremente, mas
alimentada por dívidas crescentes e por uma de maneira integrada, as concepções de ambos
versão truncada e meritocrática da os Karls, assim como aquelas de outras
emancipação. Ora, essa não é uma batalha correntes (outrora) emancipatórias, como o
que a esquerda deva ficar ausente. O que feminismo, o pós-colonialismo, a teoria crítica
está faltando e agora precisa ser criada é da raça e a ecologia política, dentre outras. As
uma terceira alternativa que deve se basear correntes dominantes desses movimentos
no vasto e crescente fundo de repulsa social se aproximaram do campo neoliberal, mas
contra a ordem presente. agora precisam se afastar dele e, para tanto,
precisam dos dois Karls tanto quanto os dois
Resumindo: em vez da esquerda se aliar à Karls precisam deles.
mercantilização-emancipação contra a

Notas
[1] Tradução de Why two Karls are better than one: integrating Polanyi and Marx in a Critical Theory of the current crisis. Working
Paper der DFG-Kollegforscher-innengruppe Postwachstumsgesellschaften, Universität Jena, 2017.
[2] Professora da “New School” de Nova York: The New School, New York: Henry A. & Louise Loeb Professor of Political & Social
Science.
[3] Ver Fraser (2014b) a respeito dessa leitura de Polanyi.

Bibliografia
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