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TEMPOS
MODERNOS,
TEMPOS DE
SOCIOLOGIA
Volume único
E n s i n o Médio
Capítulo 8 : A s m u i t a s faces
do poder
Bianca Freire-Medeiros
Doutora e m História e Teoria da Arte e da Arquitetura pela Binghamton
University/SUNY.
Pesquisadora do C P D O C / F G V e professora da Escola Superior de Ciências
Sociais da FGV.
10-01205 CDD-301
F U N D A Ç Ã O
1 edição, São Paulo, 2010
a
EDITORA d o BRASIL GETÚLIO V A R G A S
8 As muitas
do poder
faces
Há uma personagem de Tempos modernos que até agora usá-los como lenha, trabalhadores desempregados pro-
não foi apresentada aqui: é uma adolescente descalça, testam em uma rua próxima. Ouvem-se tiros, a Garota se
vestida pobremente, que aparece pela primeira vez rou- aproxima e vê o pai morto, caído no chão. Sem mãe e sem
bando bananas no cais e distribuindo-as entre outras pai, agora as meninas passarão à responsabilidade do Es-
crianças pobres. O entretítulo explica: "A Garota - uma tado. Dois homens engravatados e um guarda vão à casi-
menina do cais que se recusa a passar fome". E a ação nha das órfãs, examinam papéis e encaminham as duas
começa: descobertas pelo dono da carga de bananas, as pequenas para um abrigo de menores. Enquanto isso,
crianças e a Garota fogem em disparada. Ela chega ofe- mais uma vez, a Garota escapa.
gante a uma casa pobre onde estão duas meninas meno-
res, e somos informados, sempre pelo entretítulo, de que
Apresentando Michel Foucault
as três são irmãs e órfãs de mãe. Dali a pouco chega o
pai, deprimido porque não consegue emprego. A Garota O pensador que convidamos para assistir a essas cenas,
distribui bananas, e todos comem alegremente. embora não fosse um sociólogo, marcou o campo das
Na segunda sequência da Garota, enquanto ela e as ciências sociais com suas reflexões sobre a relação entre
irmãs catam pedaços de madeira no cais, certamente para verdade e poder. Seu nome é Michel Foucault.
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M i c h e l Foucault foi um filósofo, hjstoriador, crítico e ativista político francês que d e s e n -
volveu uma teoria e um método de pesquisa próprios, caracterizados por aproximar his-
tória e filosofia. Seus trabalhos abordam temas diversos, como poder, conhecimento,
Foucault foi influenciado pela filosofia da ciência francesa, pela psicologia e pelo
estruturalismo. Já sua atuação política foi influenciada sobretudo pela desilusão com o
comunismo e pelo movimento de maio de 1968 na França. Sua experiência pessoal com
Suas ideias inspiraram tanto críticas quanto apoios fervorosos e influenciaram diver-
Michel Foucault, c. 1969. sas áreas, como a arte, a filosofia, a história, a sociologia, a antropologia e muitas outras.
Para entender a complicada relação entre verdade e como a biologia, a economia política, a psiquiatria e a
poder, Foucault realizou pesquisas sobre temas variados. própria sociologia - e novos dispositivos disciplinares. A
Um dos pontos em que mais se deteve foi a questão da influência progressiva desses novos saberes e a multipli-
disciplina. Como homens e mulheres aprendem a se com- cação desses dispositivos por toda a sociedade levaram,
portar? O que acontece quando não se comportam de acor- segundo ele, à consolidação de um modelo peculiar de
do com o previsto? Em que tipo de justificativas se baseiam organização social: as "sociedades disciplinares" dos sé-
as regras de comportamento? Em que lugares os ensina- culos XIX e XX.
mentos sobre o que é socialmente aceitável e não aceitável A emergência desse novo formato de arranjo social,
são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados? com suas lógicas de controle e penalização, constitui o
Para responder a questões como essas, Foucault investi- tema central de uma das obras mais conhecidas de Fou-
gou a origem e o desenvolvimento de várias instituições de cault, que tem o sugestivo título Vigiar epunir, nascimento
controle, entre elas os abrigos, como aquele para onde as da prisão. Nesse livro, ele nos mostra como, a partir dos
pequenas órfãs de Tempos modernos foram enviadas, e séculos XVII e XVIII, houve o que chama de um "desblo-
as prisões, como aquela de onde Carlitos não queria sair. queio tecnológico da produtividade do poder". Esse des-
Seguiremos, portanto, com Michel Foucault, numa visita bloqueio teria permitido o estabelecimento de procedi-
por algumas instituições de controle e poder. mentos de controle ao mesmo tempo muito mais eficazes
e menos dispendiosos. E isso ocorreu não apenas nas pri-
sões, mas também em várias outras instituições, onde a
Curar e adestrar, vigiar e punir
vigilância dos indivíduos é constante e necessária.
Nos capítulos anteriores, vimos como as transformações Obviamente, mecanismos de disciplina e controle já
trazidas pela Revolução Industrial e a Revolução France- existiam muito antes do surgimento de saberes como a
sa possibilitaram o surgimento de novos hábitos e valo- economia ou a sociologia. Durante o Antigo Regime, nos
res, novas estruturas de pensamento e práticas sociais. lembra Foucault, havia critérios que permitiam identificar
Michel Foucault também se voltou para esse momento de os indivíduos que eram capazes de se submeter às nor-
profunda transformação, em que as instituições sociais mas - os "normais" - e os que, incapazes de respeitá-las,
do Antigo Regime cederam o lugar a sistemas de organi- deveriam receber como castigo a exclusão da vida em so-
zação inéditos. Seu interesse se voltou, sobretudo, para ciedade. Nesse grupo dos que eram afastados do convívio
as condições de surgimento de novos saberes - ciências com os outros encontravam-se aqueles considerados
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"loucos", "maus", "doentes" ou "monstros" - qualquer nados na chamada "nau dos insensatos"; todos os crimi-
um, portanto, que apresentasse "desvios de conduta", nosos eram condenados à pena de morte; quaisquer tipos
quer por conta de sua demência, de sua índole, de sua de "deformados" eram recolhidos aos mosteiros; e os que
moléstia ou de sua aparência. Ao longo da Idade Média, sofriam de males físicos eram levados a hospitais que na
todos os que fossem tidos como "dementes" eram confi- verdade eram "depósitos de doentes".
N a u dos insensatos
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Foucault lembra também que foi a partir do século cina clínica passou a ter como foco o corpo do doente e
XVIII que se iniciou um processo de organização e classi- como.objetivo trazer esse corpo "de volta ao normal". Sur-
ficação científica dos indivíduos, que veio garantir uma giram então expressões como "temperatura normal", "pul-
nova forma de disciplinar e controlar a sociedade. Cada sação normal", "altura e pesos normais". Esse padrão de
"anormalidade" passou então a ser identificada em seus normalidade passou a ser um parâmetro para toda a socie-
mínimos detalhes por um saber específico e a ser encaixa- dade - é claro que há componentes culturais que determi-
da em um complexo quadro de "patologias sociais". nam variações nesse padrão - , e a medicina ganhou uma
Estamos tão acostumados a depender desses saberes dimensão política de controle. Hoje, mais que nunca, vive-
especializados e a conviver com os espaços que lhes são mos em função de ter o corpo "normal", de acordo com to-
próprios que muitas vezes nos esquecemos de que nem dos os padrões, índices e prescrições que a medicina esta-
sempre eles existiram. O nascimento da medicina clínica e belece. Muitas vezes estamos nos sentindo bem e vamos ao
a criação do hospital tal como o conhecemos, por exemplo, médico para um simples exame de rotina. O médico nos
são fenómenos historicamente recentes. Foucault toma examina e diz que há algo errado, algo "que não está nor-
como exemplo o projeto de criação de hospitais surgido na mal". Saímos da consulta com uma lista de remédios que
França em fins do século XVHI, em que pela primeira vez supostamente irão trazer nosso corpo de volta à normalida-
foram expostas regras minuciosas de separação dos vários de. Também nos é apresentada uma longa lista de coisas
tipos de doentes. O médico - e não mais qualquer "curan- que podemos ou não podemos fazer e de alimentos que po-
deiro" - passou a ser o responsável por essa nova "máqui- demos ou não podemos ingerir. É certo que nem sempre
na de curar", que lembrava muito pouco aquele "depósito obedecemos a tudo que nos diz o médico. Porém, ao fim e
de doentes" medieval. ao caho, acreditamos que a medicina, como ciência, tem o
Se a medicina clássica trabalhava com o conceito poder de curar porque tem o poder de saJber mais sobre
vago de "saúde" e procurava "eliminar a doença", a medi- o nosso corpo do que nós mesmos.
A ideia de uma educação que não está a cargo dos acordo com parâmetros pedagógicos é uma invenção do
pais, e sim do Estado, que é oferecida a todos os cidadãos, fim do século XVIII e início do XIX. Acreditamos que a
que tem um conteúdo comum e necessita do espaço da escola tem o p o d e r d e e n s i n a r porque tem o p o d e r de s a -
escola também é fruto dessas transformações de que fala ber quais são os comportamentos desejáveis, quais são os
Foucault. Não por coincidência, a escola organizada de conteúdos imprescindíveis e qual é a didática adequada.
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Jean Beraud, A saída d o L i c e u C o n d o r c e t , óleo sobre tela, 51 x 65 cm, 1903.
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plina e o descontrole de Carlitos atrapalham a produção.
Aproximadamente 74 países adotam a pena de morte, en- Ele é levado ao manicômio para aprender a se comportar
tre eles China, Irã, Arábia Saudita e Estados Unidos. como os demais e novamente se tornar apto a produzir.
A pena de morte foi legalmente praticada no Brasil até a
segunda metade do século XIX. Recorria-se ao enforca-
mento, à espada, à fogueira e a vários outros métodos. A Em uma linha de produção o trabalho é disciplinado, os cor-
última execução no Brasil aconteceu em 1861, na Paraíba. pos são adestrados, e tudo é supervisionado por técnicos
que conhecem o ritmo adequado ("normal"), o produto de
qualidade ("normal") e produtividade esperada ("normal").
Foucault fez uma "arqueologia" - uma investigação
minuciosa da origem e do desenvolvimento histórico - de
Podemos observar que, ao se voltar para a produ-
todos esses saberes: da medicina clínica, da psiquiatria,
ção, Foucault não reduz a questão ao aspecto puramente
da criminologia etc. E não apenas isso como também se
económico. Mesmo nesse contexto, diferentemente de
encarregou de formular uma crítica incisiva das práticas
Marx, ele está interessado não tanto na dominação econó-
disciplinadoras - de controle e adestramento - de cada
mica, mas nas relações de poder que perpassam toda a
uma das instituições onde esses saberes são praticados
sociedade. Em uma entrevista qiie concedeu ao brasileiro
e reproduzidos.
Alexandre Fontana, Foucault resumiu sua posição:
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são os ricos que detêm o poder? Os ricos certamente têm duo, o biopoder dirige-se à massa, ao conjunto da popula-
muito poder, mas não todo o poder. Nem eles, nem nin- ção e ao seu habitat - a metrópole, sobretudo. Isso ocorre
guém. Ninguém é titular do poder, porque ele se espalha porgue o processo de especialização, deflagrado com a di-
em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na visão do trabalho, exige cada vez mais que a população
casa, no mundo público e nas relações afetivas. como um todo seja racionalmente classificada, educada e
Em segundo lugar, Foucault está insistindo em sua controlada para ser, por fim, transformada em força produ-
resposta numa ideia que atravessa toda a sua obra e que tiva. O objeto do biopoder são fenómenos coletivos, como
vimos destacando até aqui: existe uma forte correlação en- os processos de natalidade, longevidade e mortalidade,
tre saber e poder. Instituições como a escola, o hospital, a gue são medidos e controlados por meio de novos disposi-
prisão, o abrigo para menores etc. nem são politicamente tivos, como os censos e as estatísticas.
neutras, nem estão simplesmente a serviço do bem geral da O biopoder mede, calcula, prevê e por fim estabele-
sociedade. Nós é que acreditamos que elas são neutras, le- ce, por exemplo, gue é preciso diminuir a taxa de natali-
gítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na dade de detenriinado país. Como alcançar tal objetivo?
legitimidade e na eficácia dos saberes científicos - como a Controlando o número de nascimentos, ou seja, intervin-
pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social - que lhes do diretamente na vida do conjunto da população. Isso
dão sustentação. Foucault nos ajuda a perceber, portanto, não precisa ser feito por meio de uma lei específica e pu-
que há relações de poder onde elas não eram normalmente nitiva, como na China. O processo de controle não depen-
percebidas. O conhecimento não é uma entidade neutra e de necessariamente da repressão direta do Estado. Mui-
abstrata; ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência tas outras instâncias de poder podem ser mobilizadas,
moderna se apresenta como um discurso objetivo, acima como, as instituições de educação e de saúde ou os meios
das crenças particulares e das preferências políticas, alheio de comunicação de massa. Essas instâncias passam a pro-
aos preconceitos, na prática, ela ajuda a tomar os "corpos duzir discursos sobre as desvantagens da maternidade
dóceis", para usar outra de suas expressões. precoce ou as dificuldades enfrentadas por famílias muito
"Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse
outra coisa a não ser dizer não", provoca Foucault, "você
acredita que seria obedecido?". Por meio de perguntas QUEfUADptASp
como esta, ele nos leva a refletir sobre os mecanismos de
manutenção, aceitação e reprodução do poder. O poder, OMIVUUOlSt..
tal como Foucault o concebe, não equivale à dominação, à
soberania ou à lei. É um poder gue se faz aceito porque
FALTA DE A
está associado ao conceito de verdade: "Somos submeti-
dos pelo poder à produção da verdade e só podemos exer-
cer o poder mediante a produção da verdade", afirma ele.
Nós estamos acostumados a pensar a verdade como inde-
pendente do poder porgue acreditamos gue ela de nada
depende, é única e absoluta. Assim sendo, temos dificul-
dade em aceitar a ideia de que o "verdadeiro" é "apenas" EXraMMENTAk
aquilo gue os próprios seres humanos definem como tal.
Para Foucault, é a crença nessa verdade gue independe O CRACKPARA
das decisões humanas gue nos autoriza a julgar, conde-
nar, classificar, reprimir e coagir uns aos outros.
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numerosas, e o fato é que nós, como população, somos afe-
tados por essas ideias. Introjetamos esses discursos como hanseníase eram parte do cotidiano de muitos cidadãos,
verdades absolutas e não como convenções históricas e so- que sofriam principalmente com grandes epidemias de
cialmente estabelecidas. Mas não custa lembrar, por exem- febre amarela, varíola e peste bubônica.
plo, que para muitas pessoas que vivem em contextos ru- Foi diante desse quadro que Oswaldo Cruz, médico sani-
rais ter uma família numerosa é desejável, porque a mão de tarista convocado pelo presidente Rodrigues Alves para
obra mobilizada na produção é de base familiar. Ou que
higienizar a cidade e a população carioca, passou a tomar
nem sempre ter filhos aos 15 anos foi algo visto com maus
medidas para conter doenças. Era preciso sanear para mo-
olhos. Durante o longo período em que a expectativa de
dernizar. Entre as muitas propostas apresentadas pelo médi-
vida não chegava a ultrapassar os 50 anos, era desejável
co, uma causou especial polémica: a da vacinação obrigató-
que as jovens começassem a procriar tão logo ocorresse
ria, que se tornou lei em 31 de outubro de 1904. De acordo
sua primeira menstruação.
com a lei, brigadas sanitárias, acompanhadas de policiais,
Além das políticas de controle da natalidade, políti-
deveriam entrar nas casas para aplicar, de bom grado ou à
cas de habitação social ou de higiene pública são exem-
plos do biopoder, que é acionado para garantir a resolu- força, a vacina contra a varíola em toda a população.
ção e o controle dos problemas da coletividade. Nem Grande parte da população e setores da oposição se
sempre, porém, tais políticas surtem o efeito desejado... revoltaram contra o autoritarismo da medida. Lojas foram
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2. ASSIMILANDO CONCEITOS 2. Você já viu esta placa e m a l g u m lugar?
1. O b s e r v e o s cartazes d e c a m p a n h a s a b a i x o :
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/tf SORRIA, VOCÊ
J ESTÁ SENDO
FILMADO!
b) De q u e m a n e i r a p o d e m o s p e n s a r no c o n t r o l e social e m
nossa s o c i e d a d e a partir desta i m a g e m ?
0 PODER
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E c o m e c e de novo a aprender Não há nada de errado e m querer consertar uma
Só conserve o seu medo diário falta de acabamento congénita, melhorar a silhueta
E morra agarrado ao poder castigada pelo excesso de comida e pelo sedentaris-
Poder, poder, poder, poder até não mais poder. mo ou atenuar as marcas do tempo. É uma forma per-
O p o d e r . Marcelo Nova e Karl Hummel. Camisa de feitamente compreensível e legítima de conservar (ou
Vénus. Q u e m é você. Polidor: 1996. restaurar) a autoestima. U m nariz menos adunco, uma
Warner Chappell Edições Musicais Ltda. ruguinha cancelada, uns quilinhos aspirados - e eis que
Todos os direitos reservados a beleza deixa de ser apenas a promessa de felicidade,
para citar a frase do escritor francês Stendhal. A ques-
tão é quando se exagera na dose.Tem-se aí uma pato-
A canção O p o d e r s e afina c o m a concepção de p o d e r
logia. Pessoas que não se cansam de encontrar defei-
de Foucault? Destaque a l g u n s v e r s o s que j u s t i f i q u e m
tos ao espelho (na maioria das vezes, inexistentes) e,
sua resposta.
para corrigi-los, perseguem compulsivamente u m pa-
drão estético inatingível sofrem do que os médicos
4. EXERCITANDO A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
chamam de transtorno dismórfico corporal. Descrito
e m 1987 pela Associação Americana de Psiquiatria, o
Q U A N D O O B E L O G A N H A A MÁSCARA D A distúrbio, nos casos mais graves, causa ansiedade e
PLÁSTICA depressão profundas - e pode levar a pessoa a defor-
mar-se nas mãos de cirurgiões inescrupulosos.
B e n f e i t a s e b e m i n d i c a d a s , a s c i r u r g i a s estéticas repre-
Anna Paula Buchalla, Veja, Ed. Abril, 4 jul. 2008.
s e n t a m u mg a n h o p a r a a a u t o e s t i m a . M a s a falta d e
b o m - s e n s o está à v i s t a d e t o d o m u n d o .
Pouco tempo atrás, a escritora americana Stacy Se você pensa que a modificação d o c o r p o é u m fenó-
francês que visitava Nova York pela primeira vez. No fim plástica, engana-se p o r c o m p l e t o . Essa prática já existia
do dia, porém, ele mostrou-se intrigado. Queria saber o e m t e m p o s remotos m e s m o nas s o c i e d a d e s não o c i d e n -
que havia acontecido c o m as pessoas mais velhas na tais. N o Brasil, até hoje o s Caiapós são c o n h e c i d o s por
cidade. Seus rostos eram esticados demais, lustrosos suas ornamentações e pinturas na pele. N a s Filipinas, há
demais. E m Paris, disse ele, os velhos pareciam velhos g r u p o s que t o r n a m seus dentes p o n t i a g u d o s c o m o símbo-
- e não havia nada de errado nisso. A idade do amigo lo d e beleza e s t a t u s . Você já deve ter visto i m a g e n s d a s
francês de Stacy: 8 anos. Sim, até m e s m o uma criança m u l h e r e s girafa africanas, q u e têm o pescoço a l o n g a d o
mais observadora pode perceber que algo de estranho c o m u m colar de múltiplas argolas. Também já deve ter
vem ocorrendo. E não só em Nova York, é claro. Basta ir o u v i d o falar nas mulheres chinesas que apertavam o s pés
brasileira, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Hori- e x e m p l o s que nos m o s t r a m que as modificações d o c o r p o
zonte, para deparar c o m pessoas de pele alaranjada são praticadas e m várias culturas e sociedades. Isso s i g n i -
(sessões de bronzeamento artificial podem dar esse fica que o c o r p o h u m a n o se presta a manifestações c u l t u -
efeito), maçãs do rosto salientes, testa estirada, lábios rais. P o d e m o s c o n h e c e r u m a s o c i e d a d e a partir da relação
inflados e dentes branquíssimos, de uma alvura inexis- que seus integrantes mantêm c o m s e u s corpos.
tente na natureza. É um contingente que, pelo jeito, ten- A reportagem citada discute a modificação d o corpo e m
de a aumentar, graças aos avanços técnicos e ao bara- excesso, que cria aberrações o u resultados insatisfatórios.
teamento dos procedimentos estéticos. Ficou mais Ela nos ajuda a perceber que nem todo tipo de modificação
fácil, enfim, fazer uma intervenção atrás da outra - e corporal é valorizado culturalmente. Muitos aspectos estão
isso dá vazão à obsessão doentia pela manutenção da e m jogo: conceito de beleza; bem-estar d o indivíduo; s t a t u s
beleza e juventude. "O resultado dessa obsessão são que a mudança confere; poder social de q u e m a pratica etc.
bizarrices produzidas por falta de bom-senso não só dos Além da cirurgia plástica, existem nas sociedades o c i -
pacientes, como dos próprios médicos','diz o presidente dentais outras especializações q u e lidam c o m o corpo,
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Regional c o m o a nutrição (que define o que é saudável e o que não
São Paulo, João de Moraes Prado Neto. é saudável na alimentação), a educação física (que estimula
a prática de atividades que c o m b a t e m o s m a l e s d o s e d e n -
tarismo, além de estabelecer padrões de beleza), a estética erros d e s s a natureza p o d e m ter e m c o n t e x t o s o n d e v i g o -
(que propõe d i v e r s o s tratamentos para adiar o envelheci- ra a pena d e morte.
mento, c o m o os fármacos, aparelhos e cosméticos), a m e - Tema para debate: A justiça é c e g a - p o r q u e é i m p a r c i a l
d i c i n a (que propõe tratamentos preventivos e curativos das ou p o r q u e é e q u i v o c a d a ?
enfermidades e oferece recursos de p r o l o n g a m e n t o da
vida) e a m o d a (que propõe padrões d e vestuário que c u l -
6. DE OLHO NO ENEM
turalmente nos s e r v e m c o m o u m a " s e g u n d a pele"). O t e m a d e redação proposto pelo E n e m n oa n o d e 2006
Dê a s a s à sua imaginação sociológica e faça u m a pes- está r e l a c i o n a d o à i d e i a d e p o d e r , t e m a c e n t r a l d a análise
quisa sobre c o m o o s b r a s i l e i r o s e b r a s i l e i r a s s e r e l a c i o - d e Michel Foucault. Leia o e n u n c i a d o e descubra u m a face
n a m c o m s e u s c o r p o s . Escolha u m dos campos acima positiva d o poder. E m seguida desenvolva s u a redação.
(nutrição, educação física, estética, m e d i c i n a e m o d a ) e
1. ( E n e m , 2006) Redação.
a b o r d e aspectos culturais e s o c i a i s r e l a c i o n a d o s ao c o n -
trole d o c o r p o . Não deixe de ficar atento ao que o s e s p e -
U m a vez que nos tomamos leitores da palavra, invaria-
cialistas dizem: c o m o d e f i n e m o que é " n o r m a l " e o que é
velmente estaremos lendo o mundo sob a influência
" a n o r m a l " e que padrões propõem. U s e e m sua p e s q u i s a
dela, tenhamos consciência disso ou não. A partir de
d a d o s estatísticos e l a b o r a d o s , p o r e x e m p l o , pela O r g a n i -
então, mundo e palavra permearão constantemente
zação M u n d i a l d a Saúde ( O M S ) . Após coletar as i n f o r m a -
nossa leitura e inevitáveis serão as correlações, de
ções, organize-as e m cartazes - fotografias, gráficos e t a -
modo intertextual, simbiótico, entre realidade e ficção.
belas são b e m - v i n d o s - e faça u m a exposição na escola.
Lemos porque a necessidade de desvendar carac-
fatos e opiniões para d e f e n d e r s e u ponto d e vista e s u a s avião entrasse por uma janela e saísse por outra!
III. Os vírus estão c a d a vez m a i s resistentes e, para evitar s u a 2005 2006 2007 2008 2009 2010
disseminação, o s infectados também d e v e m usar c a m i s i - c o m m a i o r prevenção
nhas e não a p e n a s a d m i n i s t r a r coquetéis. c o m a prevenção atual
C o m base nesses d a d o s , analise as seguintes afirmações. (C) O Brasil, p r i m e i r o país a e l i m i n a r o tráfico d o m i c o -
I. Ações e d u c a t i v a s de prevenção d a transmissão d o vírus --leão-dourado, garantiu a preservação dessa espécie.
HIV poderão c o n t r i b u i r para a redução, e m 2008, d e m a i s (D) O a u m e n t o da b i o d i v e r s i d a d e e m outros países d e p e n -
de 2 0 % d o s n o v o s c a s o s d e infecção entre o s jovens, e m de d o comércio ilegal da fauna silvestre brasileira.
relação a o a n o d e 2005. (E) O tráfico de a n i m a i s silvestres é benéfico para a preser-
II. Ações e d u c a t i v a s relativas à utilização d e p r e s e r v a t i v o s vação das espécies, pois garante-lhes a sobrevivência.
É correto a p e n a s o que se a f i r m a e m
(A) l.
(B) II.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.
5. ( E n e m , 2007) A f i g u r a a b a i x o é parte de u m a c a m p a n h a
publicitária.
Essa c a m p a n h a publicitária r e l a c i o n a - s e d i r e t a m e n t e c o m
a seguinte afirmativa:
(A) O comércio ilícito d a f a u n a silvestre, a t i v i d a d e d e 38 milhões de vidas! Contribua com essa luta!
Essa f J m~ai<i to MWK k * m * stasr*-
g r a n d e i m p a c t o , é u m a ameaça para a b i o d i v e r s i d a d e
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