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NOVOS PATOLOGISTAS:

UM LEGADO
DE PAIXÃO PELA
BOA ENGENHARIA

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Índice páginas

Prefácio 3

Os Novos Patologistas 7

Introdução 8

Um pouco de Cris:
Patologia das estruturas de concreto
12

Um pouco de Lawton:
O Desprendimento Volumétrico dos Revestimen- 37
tos Argamassados

Um pouco de Matheus:
Termografia por infravermelho: uma técnica que 64
vai além do que os olhos podem ver

Um pouco de Renato:
Patologia dos Revestimentos de Fachada: uma 96
visão holística

Um pouco de Paulo:
109
As verdades Secretas das Cerâmicas

Conclusão 126
Prefácio
Paulo Sérgio F. de Oliveira
Redigir o prefácio deste e-book para mim é uma satis-
fação e uma honra. E há bons motivos para isso!

Há algumas semanas participei de uma Live, organizada


pelo Prof. MSc. Renato Sahade e, poucos dias depois, dei
uma aula para os alunos dele, no Curso de Excelências
Construtivas e Anomalias - Elementos de Vedação e Aca-
bamento, do Mackenzie.

Percebi o carinho e o respeito dos alunos por ele e não


poderia ser diferente. Ensinar a aprender e aprender a en-
sinar move o mundo através do conhecimento e faz de nós
pessoas mais completas.

Tivemos mestres muito especiais que foram e são ex-


poentes da engenharia Brasileira. Alguns nomes que go-
staria de destacar e que se dedicaram à patologia do con-
creto e das edificações, são: Eng. Luiz Alfredo Falcão
Bauer, Prof. Dr. Paulo Helene, Prof. Maria de Azevedo
Noronha e Eng. Ragueb Chauki Banduk.

Obviamente esta lista é longa, mas os nomes que listei


foram muito presentes na minha formação.

3
Contudo, o início de minha carreira em patologia começou
a ser desenhado antes disso, num estágio de férias no IPT,
uns seis meses antes da minha graduação, sob a orien-
tação do Prof. Dr. Paulo Helene.

No final do estágio, ele me convidou para trabalhar com


ele! Eu estava vivendo um sonho: era tudo o que eu queria!

Mas, como nem sempre as coisas evoluem conforme


planejamos, quando me formei e cheguei em São Paulo,
estava instaurada no país uma crise econômica relevante,
a chamada “década perdida”.

Com isso, o IPT cancelou as contratações. Passei por um


período muito difícil até conseguir a minha primeira opor-
tunidade na L.A. Falcão Bauer.

Em paralelo, ajudei o Prof. Paulo Helene, que estava escre-


vendo um livro, o “Manual Prático para Recuperação, Re-
forço e Proteção de Estruturas de Concreto”, que seria pro-
duzido pela Editora PINI.

Como eu estava trabalhando em atividades voltadas para


a terapia do concreto, coube a mim trabalhar neste tema.

4
O livro foi um best seller, tornando-se um material de
referência para todos que trabalhavam e trabalham no
setor ou se interessam por patologia e terapia do concreto.

Coube a mim coordenar e organizar a estrutura do


mesmo, considerando o conceito de um manual prático,
com boas ilustrações e o estabelecimento do vínculo entre
o diagnóstico e as soluções propostas.

Entendi que esta memória é relevante, considerando o


tema deste e-book e, mais do que isso, a minha satisfação
sabendo que modestamente colaborei na produção de
conteúdo para os Novos Patologistas, não somente at-
ravés deste livro, mas também através da publicação de
vários artigos e palestras em eventos relevantes sobre
este tema.

Saber que eu os inspirei de alguma forma, quando


começaram a se especializar em patologia, me enche de
orgulho!

Gostaria de retornar ao Eng. Luiz Alfredo Falcão Bauer,


Prof. Dr. Paulo Helene, Prof. Maria de Azevedo Noronha e
Eng. Ragueb Chauki Banduk, tremendos profissionais que
foram e têm sido de fato a maior fonte de motivação para
todos nós e para os novos patologistas aqui apresenta-
dos.

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E aí reside a magia da construção do conhecimento. Cada
um aprende com quem veio antes, se aprofunda, pesqui-
sa, agrega e transfere novos conteúdos para as próximas
gerações.

Desejo então ao Lawton, Matheus, Cris, Renato e Paulo


sucesso profissional continuado. Que o compromisso
diário de permanecer aprendendo e ensinando faça de
vocês profissionais cada vez melhores e mais sábios, em
benefício das próximas gerações!

Um grande abraço!

Eng. Paulo Sérgio F. de Oliveira

É CEO da ARATAU Construção Modular - www.arataumodular.com


Especializado em Patologia e Terapia do Concreto, Grautes e Revestimen-
tos de Alto Desempenho para Pisos (UK e USA)
Professor dos cursos de Mestrado do IPT e de Pós-graduação da FGV
Mais de 50 trabalhos técnicos publicados no Brasil e no exterior
Escreve artigos para a ConstruLiga, Buildin e Núcleo de Conteúdo do C3

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Os Novos Patologistas

Engenheira Civil e Mestre em Engenharia de Estruturas pela USP.


Especialista em estruturas e em recuperações de estruturas.
Desenvolve projetos de estruturas de concreto armado e metálicas, além
de projetos de recuperação estrutural. Autora de livros. Professora de
pós-graduação, graduação e cursos de extensão de engenharia,
palestrante.Perita judicial e consultora em engenharia civil.
Diretora da Furlan Engenharia e autora de Blog Acadêmico.

Engenheiro Civil, Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologias


das Edificações; Mestrando em Ciências da Cidade; Ministra palestras,
workshops e cursos em Patologia e Engenharia Diagnóstica; Professor de
Pós-Graduação em Patologia das Edificações; Experiência prática em
reabilitação de fachadas em mais 150 edificações e 300mil m²; Diretor
Regional do Instituto de Engenharia de São Paulo; Conselheiro Regional
do CREA-CE; Ex-Diretor Técnico do IBAPE-CE; Membro da Comissão de
Inspeção Predial do CREA-CE;

Engenheiro Civil, Mestre em Estruturas e Construção Civil (UnB) e


pós-graduado em Gestão de Projetos. Autor do livro “Patologia das
Construções” lançado em 2020. É professor em cursos de graduação e
pós-graduação em Engenharia Civil em vários estados do Brasil. Consul-
tor na área de Patologia das Construções e diretor técnico da Temporim
Engenharia e Consultoria. Autor de inúmeros artigos nacionais e interna-
cionais relacionados ao tema patologia das construções.

Eng.º Civil Mestre em Tecnologia de Construção de Edifícios pelo IPT (SP).


Especialista em Materiais de Construção pelo Poli-USP. Consultor em
Patologia de Concreto e Revestimentos há 27 anos. Professor de
pós-graduação nas cadeiras de Vedações, Revestimentos e Sistemas de
Recuperação em várias isntituições do Brasil. Palestrante, articulista,
colunista e avaliador de artigos e revistas técnicas do setor.

Engenheiro Civil, Especislista em revestimentos. Projetista de soluções de


Fachadas. Desenvolvedor de produtos. Poeta.

É professor em cursos de pós-graduação em Engenharia Civil em vários


estados do Brasil. Consultor na área de Patologia das Cerâmicas e diretor
técnico da Planville .Autor do blog Planville2u.

7
Introdução
Novos Patologistas

8
Introdução
Novos Patologistas
“Para mudar o presente, somamos a visão de futuro à
experiência do passado.”

O atual momento da engenharia é de reinvenção.

Diante da crise econômica, a área começa a sentir a


pressão por inovação, especialmente com o crescimento
das startups — que já nascem adaptadas a esse cenário.

Com as demissões e a criação de menos vagas, o engen-


heiro precisa de uma nova visão de sua profissão para ter
ideias de como e onde se (re)colocar.

A requalificação é o motor de oportunidades para constru-


ir carreiras.

E para tudo isso se concretizar, é preciso aprender diaria-


mente.

Acreditamos que a solução para essa transformação


necessária de cenário está em um segmento da engenha-
ria relativamente novo: o das patologias.

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Mas uma barreira o impede de crescer.

Ele é transmitido por meio de um método de educação


velho — aquele em que os especialistas centralizam
todas as informações em si mesmos.

Aos poucos, se perde aí o conhecimento dos pais desses


estudos.

Por isso, preferimos o aprendizado em lugar da edu-


cação. Se a essência do ser humano é evoluir, isso só é
possível compartilhando experiências sem restrições.

Para transformar o futuro da engenharia, devemos hoje


ser e desenvolver uma nova geração de patologistas
perpetuando, de um jeito simples e direto, a tradição de
quem fundou esse segmento.

Sabemos que os verdadeiros ensinamentos são aqueles


transmitidos de um para um e repassados de pessoa
para pessoa.

E é desafiando o status quo que fazemos isso. Em lugar


de diplomas, oferecemos experiências práticas, argu-
mentos, ideias, conexões relevantes.

Ensinamos para a vida real do engenheiro, não para a


prova final.

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Apostamos em um jeito de ensinar que deixa o aluno livre
para seguir o próprio ritmo, sem atrapalhar sua rotina fican-
do preso a uma sala de aula.

Porque aprender não é sobre planejar cada passo. É sobre


erros e acertos.

É sobre viver no presente para crescer todos os dias.

Afinal, só faz o futuro quem aproveita as oportunidades do


agora.

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Um pouco
de Cris
Um pouco de Cris
Patologia das estruturas de concreto

Minha paixão pela engenharia nasceu da admiração em ver


meu avô materno, Dionísio Furlan, elaborar seus projetos e
depois executá-los, tirando-os do papel e os tornando reais.
Sua arte com a madeira era simplesmente apaixonante.

Com técnica impecável e atento aos detalhes, utilizava en-


caixes para unir as partes.

O que resulta em peças resistentes e perfeitamente alinha-


das, alguns exemplares permanecem como novos até os dias
atuais.Com sua personalidade forte influenciou a muitos e
criou, em sua época, o que chamaríamos hoje de “muitos se-
guidores” e, como não poderia deixar de ser, alguns haters
também.

Nada que abalasse sua coragem e determinação, mas que


fizesse com que recitasse frases que entraram para história.
Mas sua frase que mais me marcou e me motivou foi: “Se um
homem já fez, então eu também posso fazer.”

Mesmo com sua mobilidade parcialmente comprometida


após um AVC, ficando com o lado esquerdo paralisado, isso
nunca foi um obstáculo para aquele homem forte e obstina-
do.

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Em tempo algum ele se sentiu menos e nem se usou disso
para tirar qualquer tipo de vantagem. Ao contrário, adaptou
seu próprio carro, tempos que não existiam carros automáti-
cos, e aos finais de semana levava a esposa e as duas netas
a passeios inesquecíveis. Aquelas coisas boas que ficam gra-
vadas na alma pra toda a vida.

Com um exemplo desse, sempre me vem uma força de vonta-


de enorme de fazer com que ele se orgulhasse e se orgulhe de
mim, e que me move sempre nos momentos em que penso
em esmorecer.

Renova minha esperança e me dá forças para o próximo


passo, um impulso de não querer parar jamais e de aprender
e de crescer intelectualmente.

Na minha concepção, o aprendizado em si só tem sentido se


for bem empregado e se for passado adiante. Tenho essa
mania de sempre que, aprendo algo novo, querer passar para
o máximo de pessoas que possam se interessar por aquilo.

Acredito que muitas vezes sou um pouco irritante para os


outros (risos!). Mas é difícil de me conter! Minha mãe sempre
ironiza dizendo: “Lá vai a professora querer ensinar tudo!”
Isso me diverte e ao mesmo tempo levo como um elogio, pois
lecionar é a minha segunda grande paixão.

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Essa nasceu como acontece com todas as crianças, pois, é a
primeira pessoa fora da família que aprendemos a admirar e
obedecer, além de ter um respeito imensurável. Mas nem
todo mundo cresce com essa vontade de querer transmitir
conhecimento.

Me lembro quando criança que a minha primeira aluna foi a


minha cachorrinha Pequinês, Charlote. Eu a colocava numa
mesinha e ela tinha que ver eu dando aula em uma pequena
lousa, que obviamente foi um dos presentes que pedi aos
meus pais.

Às vezes me rendia umas mordidas, mas na maioria do


tempo ela ficava quietinha.

Assim que foi possível, comecei a dar aulas particulares.


Quando as mães vinham trazer os filhos e eu abria a porta,
elas pediam para falar com a professora Cristiana e eu dizia,
sou eu mesma.

Com uma checagem dos pés à cabeça, elas me olhavam


ressabiadas, mas acabavam deixando os filhos para a aula.
Minha reputação era salva quando os resultados positivos
das aulas apareciam no desempenho dos pupilos na escola.

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Minha admiração pela docência só veio a aumentar ao ser
contemplada com as aulas da Professora Lúcia de português
e o Professor Roberto de matemática durante o chamado gi-
nasial na época, no colégio Rio Branco, em São Bernardo do
Campo.

Estudar piano e Ballet Clássico ainda me ensinou a ter disci-


plina e sempre querer fazer melhor. Nádia, minha mãe,
grande amiga e apoiadora em tudo que faço, achava impor-
tante ter a educação em artes em conjunto. E, como sempre,
estava coberta de razão.

Herdou a personalidade forte do pai e sempre esteve à frente


do seu tempo. Com um humor ácido e muita sabedoria, me
ensinou a levar a vida de um modo leve, sem deixar de me
concentrar em meu sucesso. Nossa relação chegou ao ponto
de não mais caber o título “mãe”: ela é muito mais que isso
para mim, não sei se é possível compreender, isso é único
entre nós!

Amo dançar e a decisão foi tomada em prantos em uma


tarde, eu já trocada para a aula de ballet, sentei na escada
para pensar e decidir que maior que meu amor pela dança
era a minha predileção pela engenharia. Me troquei e fui para
a aula do cursinho preparatório para estudar no colégio Ban-
deirantes. Um mundo totalmente novo e de onde saíram
amigos que levo comigo até hoje, em meu coração.

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Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia, me trouxe
amigos inestimáveis e para a vida toda. Desde a primeira
aula de engenharia o meu amor por esta ciência inexata só
fez crescer e querer desbravar mais e mais esse oceano in-
finito! E fiz, do que aprendi com meus mestres, meu lema: “Se
existe um problema, existe uma solução... e o engenheiro vai
encontrar!”

Nunca fui de me acomodar e minha carreira de engenheira


calculista foi sendo construída ao longo das empresas para
as quais prestei serviço, antes de criar minha própria. Come-
cei com edificações residenciais, primeiro os sobrados e
depois os edifícios mais altos.

Passei pela área industrial, na qual tive oportunidade de tra-


balhar com celulose, siderurgia, indústria química e far-
macêutica. Na área hospitalar fiz estruturas para edificações
de diferentes finalidades, como hospitais, clínicas e labo-
ratórios.

Óleo e gás é uma área abrangente e me trouxe muita ex-


periência com clientes bastante rigorosos, onde projetei es-
truturas dentro de várias refinarias, com normas internas es-
pecíficas. O auge da minha carreira como prestadora de
serviços foi quando participei de projetos estruturais de bar-
ragens, essa experiência foi extremamente rica e desafiado-
ra!

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Posso arriscar a dizer que tive sorte com minhas turmas de
estudo. O mestrado na USP também me trouxe amigos com
os quais ainda compartilho ótimos momentos. Minha disser-
tação intitulada “Confinamento dado por lajes e vigas mel-
horando a resistência do pilar que as cruza” foi orientada por
mais uma pessoa de grande inspiração para mim, o Professor
Doutor Fernando Rebouças Stucchi.

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A engenheira patologista se
formou durante todos esses anos
desenvolvendo projetos e procu-
rando a causa de problemas de
obras prontas para as quais eu
era solicitada a resolver.

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Atuei nessa área antes mesmo de eu perceber que ela tinha
um nome específico e quando dei por mim, já estava comple-
tamente mergulhada nesse novo universo que ainda tem
tanto a ser explorado.

Foi quando, então, tive a grande honra de ser convidada pelo


meu amigo Lawton Parente a participar dos Novos Patolo-
gistas, onde descobri mais três pessoas maravilhosas, que
hoje sei que posso chamar de amigos!

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Patologia das
estruturas
de concreto

21
Patologia das estruturas
de concreto
Não é de hoje que associamos as partes da edificação com o
corpo humano. Podemos entender a estrutura de um edifício
como o esqueleto humano.

De forma análoga, os cômodos de uma edificação como os


nossos órgãos, os sistemas circulatório e neurológico como
as instalações hidráulica e elétrica e as manifestações pa-
tológicas podem ser associadas às doenças.

No todo, pode-se associar a Medicina Diagnóstica com a En-


genharia Diagnóstica. E ainda, o médico especialista com o
engenheiro patologista.

Iniciando pela fundação, as manifestações patológicas


podem ocorrer por diversos fatores. As fases de início
também podem variar. Podemos dividir as fases de início em:

Caracterização do comportamento do solo;


Ausência ou falha de investigação do solo;
Análise e projeto das fundações;
Execução das fundações;
Eventos após a construção das fundações; e
Deterioração dos materiais constituintes das fundações

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É de suma importância que o tipo de fundação a ser utilizado
seja definido por um especialista em geotecnia. Solos co-
lapsíveis e expansíveis muitas vezes são difíceis de serem de-
tectados e podem causar sérios danos às edificações.

O rebaixamento do lençol freático também pode ser uma das


causas da alteração do comportamento do solo. De forma
análoga a presença de água não prevista pode ser causado-
ra de futuros recalques da fundação.

Mesmo realizando a sondagem, não é possível investigar o


solo em toda a área a ser edificada. Por isso, a importância da
locação adequada dos furos de sondagem. Deve-se procurar
diversificar o alinhamento dos mesmos para que se possa
conhecer ao máximo o tipo de solo.

O comprimento do furo de sondagem deve ser determinado


em campo no momento da execução dos mesmos, execução
esta que deve, imprescindivelmente, ser acompanhada por
um especialista em solos.

Fundações apoiadas em solos firmes, mas que tem logo


abaixo camada de solo mole, podem sofrer recalques futuros.

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O projeto de fundações, por sua vez, deve apresentar cotas
de assentamento, comprimento previsto das estacas, tensão
admissível do solo e a capacidade de carga das estacas.

Em fundações rasas é importante que seja levado em consid-


eração o bulbo de tensões abaixo da cota de apoio das
mesmas.

Havendo intersecção entre dois bulbos, o solo pode ser solic-


itado por uma tensão maior que sua capacidade e causar re-
calques expressivos nas fundações. Esta atenção é extensiva
para fundações de edificações vizinhas pré-existentes e para
fundações em níveis distintos.

O efeito de grupo pode diminuir a capacidade de carga de


uma estaca. A reação da estaca se dá tanto pelo atrito lateral
com o solo, em toda a extensão da estaca, quanto pela
chamada carga de topo, que é a resistência no contato do
final da estaca com o solo.

Quando as estacas estão muito próximas, pode acontecer o


efeito de atrito negativo e a capacidade das estacas nessas
condições fica reduzida. Assim, deve-se considerar uma ca-
pacidade menor para cada uma das estacas que estiver su-
jeita ao efeito de grupo.

24
FIG.: Efeitos de segunda
ordem em estacas esbel-
tas em solos moles

Fonte: Velloso e Lopes,


2010

O efeito de Tschebotarioff considera empuxo lateral nas esta-


cas, o qual também vai causar momento fletor, podendo levar
à ruína da estaca.

Esse efeito foi o causador da queda de um edifício em Xangai,


em 2009, conforme apresentado na figura abaixo. Ao ser ex-
ecutada uma escavação ao lado da edificação construída, a
água do lençol freático causou empuxo lateral ao se deslocar
pelo solo.

25
FIG.: Queda de edifício em Xangai em consequência do
efeito de Tschebotarioff | Fonte: Blog do PET Civil

Edificações que tem quantidades distintas de pavimentos


devem ser dotadas de juntas de dilatação separando as
partes de modo a permitir um recalque diferenciado de
fundação para cada uma delas.

Algumas vezes, até mesmo o tipo de fundação varia em cada


uma das partes. Como as cargas são muito diferentes é inev-
itável que esta diferença de recalque ocorra: a junta permite
que ocorra sem causar danos à edificação.

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O projeto deve fazer a análise correta das cargas que solicita-
rão a fundação durante toda sua vida útil e também consid-
erar todas as combinações que possam solicitar as
fundações de maneiras diferentes.

Armaduras muito densas ou de grande complexidade,


podem gerar dificuldade na execução ou até mesmo na pas-
sagem do concreto nos espaços entre as barras de aço. Isso
pode causar uma bolha de ar, que não será preenchida pelo
concreto, diminuindo a área resistente da fundação e a ad-
erência entre concreto e armadura.

É importantíssimo que a ligação entre as peças estruturais


seja projetada adequadamente, garantido que o que foi pre-
visto nos cálculos, seja executado para se comportar como
tal.

A execução das fundações é uma fase de extrema atenção.


Tanto as fundações rasas quanto as profundas necessitam
de acompanhamento de engenheiro geotécnico. Para as
fundações rasas, esse engenheiro deve comprovar se a ca-
pacidade resistente do solo na base da fundação está con-
forme prevista pelas sondagens.

As estacas, por sua vez, também precisam atingir a capaci-


dade de carga prevista em projeto, algumas vezes isso é pos-
sível em um comprimento menor que o estimado; outras, é
necessário aumentar esse comprimento até que se consiga a
capacidade de carga.

27
Para fundações apoiadas sobre aterros, deve-se garantir que
estes aterros foram executados e compactados correta-
mente, caso contrário, haverá recalque de fundação. Além
disso, para todo tipo de fundação, a execução deve ser acom-
panhada por profissional habilitado de forma a garantir a
fidelidade ao projetado.

Abaixo da base das fundações, sejam sapatas, radiers, tu-


bulões ou blocos de coroamento, deve ser executada uma
camada de cinco centímetros de espessura de um concreto
magro. Essa camada garante que, ao se lançar o concreto da
fundação, este não se misture com o solo, o que poderia en-
fraquecer e contaminar o concreto.

A qualidade do concreto e a vibração do mesmo devem ser


verificadas evitando que seja utilizado um concreto com re-
sistência à compressão menor que a projetada, que sejam
deixadas bolhas de ar no interior da peça estrutural ou
mesmo que o excesso de vibração cause a segregação do
agregado graúdo, separando da nata de concreto e compro-
metendo a resistência da fundação.

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Estacas podem sofrer desloca-
mentos em sua execução e a
posição final fica diferente da
projetada, assim, é necessária
uma verificação dos esforços
que surgem devido essas alter-
ações e, caso necessário, execu-
tar o reforço adequado.

29
Após a execução das fundações alguns fatores podem com-
prometer sua integridade, tais como: construção de novas es-
truturas nas vizinhanças; deposição de materiais pesados,
em quantidades significativas nas vizinhanças de uma estru-
tura existente; corrosão da armadura das estacas ou da
estaca; ataque de fungos e bactérias; realização de escav-
ações nas proximidades de estruturas; erosão do solo e dete-
rioração dos materiais das fundações.

Tratando-se de estruturas, as principais causas e origens das


anomalias são: falhas na concepção do projeto; má quali-
dade dos materiais; falhas na execução; utilização para fins
diferentes dos calculados em projeto e falta de manutenção
no decorrer do tempo.

A concepção do projeto é um dos pontos de maior importân-


cia para um bom desempenho estrutural. Muitas vezes é
necessário avaliar mais de um modelo de estrutura para que
se chegue a melhor solução, tendo em vista, fatores econômi-
cos, sem abrir mão da segurança e estabilidade.

Para que se dimensione a estrutura adequadamente também


é necessária a definição das ações atuantes e das combi-
nações mais desfavoráveis. Os softwares auxiliam muito
nessa parte, porém, uma análise crítica e experiente é impre-
scindível para a assertividade.

30
Em projeto, deve-se determinar o cobrimento e a relação
água/cimento compatíveis um com outro, caso contrário a ar-
madura poderá sofrer oxidação. Além disso, o projeto deve
contemplar o módulo de elasticidade do concreto, coeficiente
de Poison, resistência característica à compressão, fck e tipo
do aço.

As deformações das estruturas devem estar dentro dos lim-


ites de norma, caso necessário, prever contra-flechas e in-
dicá-los em projetoa de fôrmas.

A compatibilização multidisciplinar dos projetos deve ser feita


a fim de se evitar furação nas estruturas após concretadas. A
demolição parcial ou mesmo a execução de furos depois da
estrutura pronta ponde causar danos que enfraquecerão a
peça estrutural.

Deve-se também procurar detalhar ao máximo o projeto,


evitando-se interpretações erradas e detalhes construtivos
de difícil execução.

Considerando a qualidade dos materiais, para o cimento


deve-se atentar aos aspectos físicos, como finura, início e fim
de pega, resistência à compressão, expansibilidade, calor de
hidratação, aspectos químicos, como perda de resistência ao
fogo e resíduo insolúvel, teores de aluminato tricálcio e de ál-
calis.

31
Os agregados devem ter análise mineralógica e química do
material, evitando contaminantes reativos no agregado, car-
acterísticas físicas, como a distribuição granulométrica e for-
mato dos grãos.

A água, por sua vez, não deve conter cloretos, sulfatos, álcalis
e deve ter o correto teor do pH.

Quando necessário uso de aditivos, é de fundamental im-


portância analisá-los quanto à possível contaminação com
cloretos.

Finalmente, para as armaduras, assegurar o patamar de es-


coamento, o limite de resistência, o alongamento mínimo e as
tolerâncias de desbitolamento e dobramento.

Durante a execução das estruturas de concreto é necessário


cuidado especial na execução das fôrmas, para que não haja
desníveis e deformações que posam comprometer o desem-
penho da peça estrutural.

O escoramento também deve ser projetado de acordo com


cada estrutura e cuidar da compactação do solo de apoio do
mesmo.

32
O posicionamento correto das armaduras é de extrema im-
portância para que a estrutura tenha o comportamento pre-
visto em projeto.

Assim como o adensamento do concreto e o controle de qual-


idade, já comentados para as fundações.

A norma brasileira recomenda que a cura do concreto seja


feita pelo menos por sete dias, estendendo-se a até 14 dias,
caso necessário. Em geral, para uma boa cura, o concreto
deve ser molhado ao menos três vezes por dia.

Algumas manifestações patológicas em estruturas de con-


creto, tem sua origem após a execução das mesmas. Existem
mecanismos de deterioração relativos ao concreto como, por
exemplo, a lixiviação por águas puras ou ácidas, a expansão
por sulfatos ou magnésio ou por reação álcali-agregado e as
reações superficiais deletérias.

Com relação à armadura, pode-se citar a corrosão devida à


carbonatação do concreto e por elevado teor de íons cloro
(cloretos). Outros mecanismos de deterioração são da estru-
tura propriamente dita como as ações mecânicas, movimen-
tações de origem térmica, ações cíclicas (fadiga), deformação
lenta (fluência) e relaxação do aço.

33
Quando for necessária a alteração da finalidade de utilização
da edificação deve-se garantir que as novas cargas a serem
aplicadas não ultrapassem as cargas de projeto. Caso ultrap-
assem, deve ser feita uma avaliação estrutural e, se detecta-
da a necessidade, executar o devido reforço.

A manutenção preventiva também é um fator importantíssi-


mo para que a estrutura mantenha um bom desempenho du-
rante toda sua vida útil.

Sempre que necessária deve ser feita a manutenção correti-


va, esta é executada sempre que detectado um problema es-
trutural. De modo geral a manutenção corretiva é mais cara e
mais difícil de ser executada que a preventiva.

As boas práticas de engenharia sempre devem ser respeita-


das e profissionais habilitados e competentes devem acom-
panhar todo o processo.

Como já dito antes, a engenharia não é uma ciência exata,


por isso, não existe uma receita pronta para todas as situ-
ações. A técnica e o bom senso devem estar unidos para uma
boa solução e a experiência é uma grande aliada.

34

Não temos toda a informação
necessária oriunda das escolas
de engenharia, mas é possível e
aconselhável buscar mais e mais
para sua carreira.

35
Seja se propondo a acompanhar um profissional mais experi-
ente, seja contratando esse profissional para trabalhar em
conjunto, até que se consiga uma autonomia técnica para
continuar em uma carreira solo, se é que podemos chamar
dessa forma.

Ainda assim, a engenharia é surpreendente e todos os dias


nos deparamos com casos diversos, portanto, mesmo após
esse aprendizado, sempre é iminente atuar em conjunto, ou
mesmo solicitar uma consultoria, ao longo da carreira, ao ter
que desvendar algo novo, ou seja, nunca enfrentado antes.

Reconhecer essa necessidade de compartilhar ideias para


buscar a melhor solução não é demérito e sim, demonstra re-
sponsabilidade e ética profissional.

36
Um pouco
de Lawton
Um pouco de Lawton
O Desprendimento Volumétrico dos Revestimentos
Argamassados

Bisneto de Inspetor de Obras, neto de Topógrafo e filho de En-


genheiro Civil, Lawton Parente de Oliveira não poderia, nem
deveria seguir outro caminho senão o da Engenharia. E assim
o fez. Essa é a minha breve história dentro da Engenharia.

Recém-saído do Colégio Militar de Fortaleza, passei no ves-


tibular da Universidade de Fortaleza – UNIFOR em 1993 para
cursar aquilo que viria a ser uma das grandes paixões da
minha vida: a Engenharia Civil. Já em 1994 comecei a tra-
balhar, estagiando em uma área extraordinária: a Construção
Pesada.

Participei de obras de pavimentação rodoviária e aeropor-


tuária, barragens de terra, pontes, canais e aeroportos. Final-
izado o curso e graduado em 1998, e baseado na última
grande obra do estágio, o novo terminal do Aeroporto Inter-
nacional de Fortaleza, me senti atraído pela Construção Civil,
e assim tudo começou.

Montei uma pequena empresa de Engenharia Civil chamada


ENGETERRA, como sócia ninguém melhor, minha esposa
Fernanda Teixeira. A pequena empresa era especializada em
obras gerais, como todo começo de empresas dessa nature-
za deve ser.

38
Fazíamos tudo: guaritas, muros, casas de gás, reforma em
apartamentos, pinturas... até que encaramos um desafio dif-
erente, reabilitar uma fachada, ah... as fachadas. Revitaliza-
mos a primeira fachada em 1999, poucas normas difundidas
mas muito capricho e atenção.

O nome do primeiro prédio não poderia ser mais sugestivo:


Edifício Maria Natividade, realmente ali nascia um engen-
heiro apaixonado pelo que mais fez na sua vida profissional,
reabilitar fachadas. Logo todas as outras “especialidades”
iriam ficando para trás e a reabilitação de fachada ia se tor-
nando uma constante, seguida de longe pela recuperação de
estruturas de concreto armado, sabe como é né? Fortaleza,
litoral, maresia, cloretos...

Aos poucos as fachadas reabilitadas foram se tornando uma


marca registrada da empresa na cidade, pois realmente
seria muito difícil pensar que nas últimas duas décadas, a
história da maioria das fachadas prediais com problemas na
cidade Fortaleza, não tivesse de alguma forma passado a
solução pelo engenheiro Lawton Parente e a ENGETERRA.

Durante toda trajetória de execução de obras de revital-


ização e reabilitação de fachadas de prédios habitados ou
em uso, formamos vários pedreiros, que intitulávamos de ce-
ramistas, pois eram especialistas em assentamento de
placas cerâmicas.

39
Eram “garimpados” dentre os melhores serventes e
meio-profissionais, então os lapidávamos, capacitando e
treinando, evitando ao máximo a rotatividade. Eram verda-
deiras joias, isso foi um dos grandes diferenciais de nosso
sucesso.

Nesses 21 anos, ao olhar para trás posso perceber quantos


sinistros foram evitados, quantas edificações deixaram de
ser um risco e passaram a ter de volta sua função de lar
seguro, quantas unidades condominiais valorizaram e de
quantas melhorias visuais na cidade participamos efetiva-
mente.

Tudo isso trouxe algumas marcas interessantes, realizamos


aproximadamente 200 manutenções, revitalizações, reabili-
tações de fachadas, somando em torno de 300mil metros
quadrados de aplicação de revestimento cerâmico como o
recorde da cidade em altura de demolição controlada em
uma fachada ao superar os 80 metros ou reabilitar três
prédios em um quarteirão composto por quatro ou ainda im-
plantar mais 80 lajes técnicas em concreto implementando
área útil aos apartamentos.

40
Em 2012 resolvi voltar a estudar formalmente. Sentei nova-
mente nos bancos escolares e fiz minha pós-graduação em
Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações. Con-
hecer pessoas novas, mentes novas e principalmente, en-
tender o porquê das coisas.

Daí em diante foram inúmeros seminários, palestras, con-


gressos, aulas e cursos ministrados e assistidos. Paralela-
mente participamos rotineiramente da solução para os
problemas de fachadas, já não mais somente em nossa
cidade, o Brasil era o destino. Está sendo um longo e praze-
roso caminho.

Dentro da Patologia percebi que podemos ajudar as pes-


soas e as edificações, tão intensamente quanto em uma ex-
ecução, pois pensar, planejar e projetar deveriam ser movi-
mentos prévios a qualquer execução, obrigatórios pela
consciência de todos os envolvidos.

Meu mundo se abriu como um caleidoscópio de infor-


mações, e o tema Patologia que a prática há muito já me
atraia naturalmente, a teoria acabou por me fascinar por
completo. Ali decidi que meu futuro profissional estava na
Patologia. E aqui estou, muito prazer, Engenheiro Civil
Lawton Parente, um dos Novos Patologistas.

Espero que todos aproveitem este trabalho, foi feito com


muita dedicação.

41
Desprendimento
Volumétrico

42
Desprendimento Volumétrico
A grande maioria das manifestações patológicas que en-
volvem fachadas de edificações e desprendimentos são con-
sideradas graves por normalmente envolverem energia
dinâmica e impactos intensos.

Essa constatação não é questionada no meio técnico da pa-


tologia das edificações, pois sabe-se que as ocorrências
destes sinistros sempre envolverão altura, volumes em
queda, dificuldades de acesso, manutenibilidade, identifi-
cação de sintomas e, o principal, a segurança das pessoas
que transitam logo abaixo, usuários ou não da edificação.

Este capítulo pretende apontar a mais perigosa manifestação


patológica, dentre as usuais, que ocorre em fachadas de edi-
ficações: o Desprendimento Volumétrico de Revestimento Ar-
gamassado, seja reboco ou emboço, em áreas onde substra-
to é estrutura de concreto.

O Desprendimento Volumétrico é conceituado como o desta-


camento de volumes argamassados da fachada. Ocorre de
forma mais comum por falta ou falha de aderência na inter-
face Chapisco/Estrutura, mas também ocorre na interface
Chapisco/Alvenaria ou ainda internamente na camada arga-
massada.

43
Os substratos de concreto armado, como vigas e pilares, são
os que mais proporcionam Desprendimentos Volumétricos,
pois se suas superfícies não estiverem preparadas adequa-
damente para receber o chapisco e o reboco/emboço, a esta-
bilidade de toda essa camada argamassada será mitigada.

Chapiscos fracos ou mal curados e falta de telas metálicas


adequadas também podem ser a origem do problema. Sem
dúvida o Desprendimento Volumétrico é uma das mais
perigosas manifestações patológicas em revestimento de
fachadas prediais.

FIGURA 1. Sinistro de desprendimento volumétrico sobre


área de concreto armado em fachada

44
Engenheiros Patologistas, experientes em sua lida, conseg-
uem traduzir em palavras os sintomas que são dados pela
edificação ao longo do tempo.

Desta forma pode ser estabelecida uma “comunicação” com


a edificação, pois o prédio "fala" por sinais e sintomas muitas
vezes emitidos por um lapso temporal considerável. No caso
dos Desprendimentos Volumétricos, quais são esses sinais?
Como é possível identificar os perigosos Desprendimentos
Volumétricos em uma fachada?

Para encontrar o ponto inicial, o prenúncio dos desprendi-


mentos, é necessário identificar os principais locais em que
essas manifestações acontecem. Nas fachadas prediais, os
substratos, base para aplicação dos chapiscos seguidos dos
rebocos/emboços são basicamente divididos em dois: super-
fícies em concreto ou superfícies em alvenaria.

45

As áreas onde os revestimentos
argamassados são aplicados
sobre um substrato de concreto
ou concreto armado são as
mais suscetíveis aos Despren-
dimentos Volumétricos.

46
Fazendo um comparativo entre esses substratos citados, ex-
istem na face do concreto, armado ou não, situações que
podem diminuir a aderência do chapisco como baixa porosi-
dade, baixa rugosidade, eventuais falhas de limpezas e la-
vagens de produtos, além de fatores estruturais que podem
pôr à prova essa aderência.

Isto pode ser encontrado nas situações de peças em balanço


estrutural como varandas, sacadas e projeções da edificação.
Outros locais a serem observados são as estruturas dispos-
tas em grandes vãos. Deste modo pode-se deduzir que a de-
formação das estruturas de concreto armado contribui
também de forma importante para a ocorrência do problema.

FIGURA 2. Estruturas mais suscetíveis ao Desprendimento


Volumétrico

47
A forma arquitetônica da também interfere na ocorrência
desta manifestação patológica, edificações mais esbeltas
tendem a uma maior movimentação, fazendo com que a ad-
erência entre camadas argamassadas, sejam testadas con-
stantemente, com maior ou menor intensidade.

As influências naturais externas, como as interferências ter-


mo-higroscópicas, também são importantes fatores deter-
minantes, pois atuam no peso do revestimento argamassa-
do, nas ações e reações caraterísticas de dilatação/con-
tração dos corpos argamassados e ainda a presença da
água e seus efeitos de oxidação de armaduras.

Outros fatores que podem ser apontados como influentes


são as espessuras do revestimento argamassado, ausências
ou inadequação de telas de estruturação, aplicação de ele-
mentos de enchimento como o tijolo maciço, a má qualidade
dos materiais utilizados na obra e procedimentos construti-
vos falhos como cura, traço, falta de limpeza de sujidades
dentre outros.

48
FIGURAS 3 e 4. Alta espessura de camada do revestimento argamassa-
do de reboco/emboço com inserção indevida de tijolos maciços para en-
chimento, ausência de tela de estruturação e resíduos da forma de con-
cretagem.

Concebendo que as deformações e as movimentações das


peças de concreto armado, e da edificação como um todo,
geram esforços solicitantes nos revestimentos argamassa-
dos, e esses esforços são transmitidos pela camada do
chapisco aplicados sobre suas faces, fica claro que a ad-
erência desta interface de contato é solicitada de forma in-
tensa e constante.

Estando os revestimentos argamassados em déficit de ad-


erência, o Desprendimento Volumétrico e o sinistro se
tornam inevitáveis.

49
Os primeiros sintomas dos Desprendimentos Volumétricos
de revestimentos argamassados sobre substratos de estru-
turas de concreto podem ser identificados com antecedên-
cia, na maioria dos casos, de meses ou anos, porém em algu-
mas situações extremas, o lapso temporal é muito curto
entre o surgimento do problema e o desprendimento final.

Esta impossibilidade de precisar o momento exato do de-


sprendimento, torna a situação ainda mais insegura e
perigosa, podendo inclusive dar margem à negligência na
solução técnica do problema.

A ferramenta da Inspeção Predial especializada e dirigida à


fachada detecta com relativa facilidade estes sintomas, po-
dendo também demandar testes de campo e ensaios labo-
ratoriais elucidativos para tomadas de decisões assertivas
que podem evitar desde pequenos desconfortos até graves
sinistros ou tragédias.

Na região do Desprendimento Volumétrico, os fissuramentos


são os principais sintomas prévios emitidos por uma edifi-
cação, juntamente com a presença de som cavo. Destes fis-
suramentos os mais comuns podem ser identificados em 03
(três) tipos clássicos, segue: Tipo 01 – Fissuramento Horizon-
talizado de Face, Tipo 02 – Fissura de Contorno de Borda e o
Fissuramento Verticalizado de Face/Quina.

50
Tipo 01 – Fissuramento Horizontalizado de Face: Ocorre nor-
malmente na região de transição entre a estrutura de con-
creto armado (viga) e a alvenaria;

14º

16º

15º 13º

FIGURA 5 FIGURA 6

FIGURAS 5 e 6. Fissuramentos na mesma região - Encontro de viga e


alvenaria - 16.º, 15.º, 14.º e 13.º Pavimentos

51
FIGURA 7. Esboço da vista frontal do Fissuramento Horizontalizado de
Face: Ocorre normalmente na região de transição entre a estrutura de
concreto armado (viga) e a alvenaria

Tipo 02 – Fissura de Contorno de Borda: Acompanha a


borda inferior na zona de interface entre a estrutura e o
revestimento argamassado de emboço/reboco;

FIGURA 8

52
FIGURA 9.

FIGURAS 8 e 9. Fissuramentos na mesma região – Apontando a espes-


sura do revestimento argamassado de emboço

FIGURA 10. Esboço da vista de fundo da viga, do Fissuramento de Con-


torno de Borda: Ocorre normalmente na região de transição entre a
estrutura de concreto armado (viga) e revestimento argamassado de
reboco/emboço

53
Tipo 03 – Fissuramento Verticalizado de Face/Quina: Acom-
panha a quina da face contigua ao iminente desprendimen-
to, definindo a espessura do emboço e a altura da estrutura
de concreto. Está localizada na zona de interface entre a es-
trutura e o revestimento argamassado de reboco/emboço e
também determina a altura da viga de concreto armado

FACE LATERAL 1 FACE LATERAL 2

FIGURAS 11. Fissuramento Verticalizado de Face/Quina – Fissuramento


na Face Lateral 1 apontando a espessura do revestimento argamassado
de emboço da Face Lateral 2

54
Fissuramento tipo 3

FIGURA 12. Esboço 3D da vista de uma quina de varanda em balanço,


do Fissuramento Verticalizado de Face/Quina: Ocorre normalmente na
região de transição entre a estrutura de concreto armado (viga) e reves-
timento argamassado de emboço/reboco da face contígua

As informações sobre dimensões como altura e largura de


viga, altura e espessura de alvenaria e ainda espessura da
camada argamassada de reboco/emboço, são informações
valiosas em casos estudos técnicos, perícias ou de determi-
nação de métodos construtivos de reabilitação destas
fachadas, podendo também conferir mais precisão às planil-
has orçamentárias das obras de reparos e reconstituições.

55
Para recuperação de fachadas afetadas pelo Desprendi-
mento Volumétrico, alguns pontos devem ser criteriosa-
mente analisados e realizados; um dos principais deles é a
demolição controlada, pois trata-se uma situação de ex-
tremo risco aos operários e às pessoas no entorno próximo à
edificação.

Para tanto deve ser realizado um projeto de sustentação e


coleta de resíduos com volumetria avantajada, pois existe a
possibilidade de toda faixa afetada se desprender subita-
mente quando submetida à vibração da demolição; também
se faz muito importante atentar que, quanto mais alto o
pavimento, maior o risco e a complexidade da demolição
controlada.

A reabilitação, pós-demolição ocorrerá em uma combinação


limpezas e lavagens não ácidas, tratamentos nas superfícies
do concreto, eventuais recuperações de armaduras oxidadas
ou com presença de corrosão, aplicação de chapiscos mais
aderentes ou mesmo os chapiscos especiais aplicados com
utilização de desempenadeira dentada ou rolo, deve contar
invariavelmente fixação de telas metálicas específicas e até
juntas elásticas de movimentação (quando projetadas) atu-
ando nos revestimentos argamassado e cerâmico.

56
O reparo volumétrico não aceita o reaproveitamento do
revestimento argamassado de emboço, mas existe a expec-
tativa no desenvolvimento de produtos de colagem que atu-
arão conferindo a adesividade perdida na interface
chapisco/substrato, vale ressaltar que já existem produtos e
técnicas para fixação em casos de descolamento cerâmico
(finas espessuras).

Nunca é demais lembrar que cada caso é individual, deven-


do ser analisado previamente por engenheiros civis patolo-
gistas e projetistas e ainda, o reparo deve ser executado por
profissionais e empresas especializadas em obras de recu-
peração em prédios habitados.

A seguir um sinistro ocorrido em dezembro/2014 em uma


Edificação na cidade de Fortaleza/CE, algumas observações:

Sinistro: Desprendimento Volumétrico de Revestimento


Argamassado sobro Substrato de Concreto Armado

Manifestação Patológica já recuperada;

Desprendimento volumétrico da região da varanda em


balanço;

Dimensões do Desprendimento:

Extensão do volume desprendido: 6,40 metros,

57
Altura do volume desprendido: 80 centímetros;

Espessura máxima do volume desprendido 12


centímetros;

Altura de queda: Aproximadamente 21,00 metros (6º


Andar)

Ocorreu em dia de sábado aproximadamente às 19h;

Detalhes: Milagrosamente não ocasionou vítimas e feri


mentos às pessoas. Logo após a ocorrência do sinistro,
dado ao barulho intenso e a forte vibração gerada na
zona de impacto (laje em concreto armado) houve a
evacuação a espontânea dos moradores.

FIGURA 13 - Vista da fachada sinistrada – Desprendimento Volumétrico


de Revestimento Argamassado de Emboço sobre Substrato de Concreto
Armado

58
FIGURA 14 FIGURA 15

FIGURA 14 e 15. Grande espessura de camada argamassada

FIGURA 16 FIGURA 17

FIGURA 16 e 17. Área interna atingida pelos escombros. Área dos pilotis
atingida pelos escombros

59
FIGURA 18. Área de análise específica. A figura acima será fracionada
para apresentação de diversas anomalias e falhas

FIGURA 18.1. Ausência de tela metálica específica para estruturação do


revestimento argamassado e auxílio à aderência entre volume arga-
massado de emboço e a peça de concreto (viga) – Tela: Metálica, eletro-
soldada, zincada à fogo, malha quadrada com abertura de 25 x 25 mm,
diâmetro do fio Ø 1,24 mm, densidade 150 g/m², fixada à tiro com pinos
de aço galvanizados e arruelas cônicas.

60
FIGURA 18.2. Espessura final excessiva do revestimento argamassado de
emboço com evidente identificação de 03 camadas de enchimento. Ausên-
cia de tela metálica de ligação entre as camadas de enchimento – Tela:
Metálica, eletrosoldada, zincada à fogo, malha quadrada com abertura de
25 x 25 mm, diâmetro do fio Ø 1,24 mm, densidade 150 g/m², fixada à tiro
com pinos de aço galvanizados e arruelas cônicas.

FIGURA 18.3 FIGURA 18.4

FIGURA 18.3. Revestimento argamassado com baixo índice de aglomer-


antes denotando falta de controle tecnológico na produção e aplicação
da argamassa. Existência de excesso de pulverulência e fragmentação
da camada.

FIGURA 18.4. Aplicação de tijolo maciço ("chapeamento") duplo para


preenchimento volumétrico, anomalia de inserção de corpo estranho,
não existia qualquer estruturação, simplesmente tijolos assentados com
argamassa.

61
1
2

FIGURA 18.5 – (1) Face da viga de concreto armado, substrato, isenta do


chapisco denotando anomalia de falta de adesividade na interface "viga
x chapisco" ficando o chapisco fixado no revestimento argamassado.

(2) Risco iminente de mais desprendimentos volumétricos, revestimento


argamassado de emboço completamente isolado do substrato.

(3) Indícios de oxidação de armaduras da estrutura (viga).

62
FIGURA 18.6. FIGURA 18.7.

FIGURA 18.6. e FIGURA 18.7. Duplo revestimento cerâmico, aplicação


revestimento cerâmico novo sobre cerâmica revestimento cerâmico orig-
inal da edificação, procedimento não aceito para fachadas prediais.

63
Um pouco
de Matheus
Um pouco de Matheus
Termografia por infravermelho: uma técnica que vai além
do que os olhos podem ver

Um pouco da minha história...

Talvez você inicie esta leitura se perguntando: do que se trata


este assunto que vai ser abordado aqui? – Calma! Vou te ex-
plicar tudo, mas além de falar sobre este assunto em específi-
co tenho várias outras coisas para te dizer, tanto implícitas
quanto explícitas e quero de fato te mostrar que seus olhos
podem ir muito mais além do que podem ver.

Antes de iniciar o assunto da termografia por infravermelho


propriamente dito gostaria de trazer aqui um pouco da minha
história e como esta técnica entrou na minha vida, pois posso
dizer que desde minha formação básica de Engenheiro Civil a
mesma me acompanha e tenho evoluído seus estudos desde
então.

Sim, também posso dizer que sou um pouco “precoce” nas


coisas que faço e me considero privilegiado em fazer parte
desse grupo de amigos que denominamos como “Novos Pa-
tologistas” como sendo o membro mais novo do grupo.

65
Essa convicção de ser um pouco precoce naquilo que faço,
parte de quando sai da casa de meus pais com apenas 14
anos de idade. Nesta época, e ainda muito novo, sai do
aconchego e de um certo conforto para enfrentar o primeiro
grande desafio da minha vida, pois após alguns anos me
dedicando ao vôlei, havia decidido tentar carreira neste es-
porte em Americana, interior do estado de São Paulo.

Desde então, nunca mais voltei à casa de meus pais como


morador, mas apenas como visitante e posso dizer que este
primeiro desafio foi o ponto chave para o início da minha car-
reira na Engenharia Civil.

Três anos se passaram e diante daquela intensa rotina de


treinos terminei meu ensino médio sempre com muita dedi-
cação, pois o time me proporcionava uma bolsa de estudos
em uma das melhores escolas da cidade.

Sempre gostei de estudar, mas posso dizer que nunca fui o


“gênio” da escola ou faculdade, mas também nunca admiti
fazer menos do que posso fazer naquilo que me envolvo. O
esforço e dedicação sempre foram coisas que levei a sério em
minha vida, e ainda levo.

66
E após algum tempo me vi com o ensino médio finalizado e
queria continuar meus estudos, porém não sabia como iria in-
gressar na tal da “Engenharia Civil”, que sempre foi uma área
que me chamou atenção mesmo que ainda tivesse aquela
esperança de ter uma carreira no vôlei.

Não pense que estou aqui contando esta história e que talvez
eu seja um ex atleta frustrado e que por não ter conseguido
seguir carreira no esporte fui para a engenharia civil. Muito
pelo contrário, e diante de uma certa imaturidade (ainda era
muito novo) fui percebendo que viver de esporte no Brasil
seria muito difícil e por isso me apeguei tanto aos estudos
que, ao meu ver, seria um caminho que de alguma forma iria
me trazer uma perspectiva além do esporte.

Baseado neste pensamento resolvi me matricular no curso de


Administração, pois uma faculdade proporcionou bolsas para
alguns atletas que faziam parte do time naquela época. Mas
uma semana antes do início das aulas me vi prestes a iniciar
algo que não queria fazer e foi então que cancelei minha
matrícula naquele curso, pois de fato o que queria era estudar
engenharia civil.

67
Alguns meses após ter escolhido não seguir para os rumos
da administração de empresas e ainda treinando e jogando
vôlei na mesma cidade, um amigo que havia jogado comigo
por lá me mandou uma mensagem dizendo que uma facul-
dade em Brasília estava oferecendo bolsa de estudos para
atletas que jogassem vôlei, e que se eu passasse no vestibu-
lar e fosse aprovado pelo técnico em um teste poderia jogar
por lá.

Resultado: duas semanas após esta conversa eu já estava


morando em Brasília e um mês depois eu já estava sentado
em uma cadeira da aula da matéria de “Introdução à Engen-
haria CiviI”.

Mais uma vez o vôlei estava ali me proporcionando uma


grande oportunidade e por isso posso dizer que jamais me
considero como um atleta frustrado, mas sim sou muito grato
ao que o esporte me ensinou, que vai muito além das técnicas
e treinamentos dentro de uma quadra.

Mas, a partir deste momento o meu grande foco estava nos


estudos e o vôlei permanecia em minha vida como um
“hobby” e uma forma de manter o condicionamento físico..

68
Alguns anos se passaram e já durante a minha graduação
tive a oportunidade de fazer um semestre de engenharia civil
na Universidade Católica Portuguesa (UCP) em Lisboa, Por-
tugal (Figura 1).

E foi lá que me apaixonei pela área da patologia das con-


struções, tendo em vista que os portugueses estão muito
mais avançados nesta área do que nós brasileiros, pois por lá
a preocupação em se manter o que já está edificado é bem
maior do que com construções novas. Com isso, a formação
básica em engenharia civil já enfoca muito na área de reabili-
tação e patologia das construções.

Figura 1 – Durante o intercâmbio em Portugal na UCP

69
Retorno então ao Brasil após 8 meses morando em terras
portuguesas e converso com um professor que atuava como
consultor em Brasília na área de patologia das construções.

Depois de ter visto tudo que vi, conversas e pensamentos eu


realmente estava decidido que queria trabalhar nesta área e
apesar de não fazer ideia como isso seria possível e de não
ver nada “construtivo” com meus olhos eu sabia que de
alguma forma isso aconteceria.

Mas... para acontecer eu tinha que correr atrás dos caminhos


para que isso fosse possível.

Foi então que decidi que iria fazer um mestrado depois da


faculdade para atuar com patologia. Neste momento ainda
não sabia se faria o mestrado logo após a faculdade ou
depois de um certo tempo, mas apenas que faria.

Então, fui ver o que “contava pontos” para o mestrado e deste


momento para o final do curso entrei em dois projetos de
pesquisa, na empresa júnior da faculdade, monitoria de algu-
mas matérias, fiz artigos e outros.

70
Apesar de ter feito essas coisas ao longo do curso para
“entrar no mestrado” percebi que realmente gostava daquilo
pois sempre procurei ser um ótimo aluno na faculdade e
gostei de atividades acadêmicas. Mesmo sem saber, ali de
alguma forma eu também já estava sendo preparado para a
outra profissão que exerço, a de professor.

Como ainda não tinha estagiado no curso, pedi ao mesmo


professor que mencionei no parágrafo anterior uma oportuni-
dade.

Por ser um bom aluno, após uma semana de meu pedido fui
surpreendido pela sua resposta positiva, ao ser convidado
para estagiar em uma obra de Brasília onde tínhamos que re-
cuperar algumas estruturas que tiveram problemas executi-
vos.

Detalhe, que a obra tinha como arquiteto responsável Oscar


Niemeyer e calculista Bruno Contarini, os quais nada tiveram
relação com os problemas que ali existiram, pois foram mera-
mente executivos. Posso dizer que foi um imenso privilégio ter
estagiado em uma obra de tal magnitude e o que aprendi ali
em alguns meses, foi essencial na minha formação.

71
Após um período neste estágio fui selecionado para uma
outra oportunidade em uma grande empresa brasileira de es-
coramentos, formas, andaimes e plataformas para estagiar
com obras de infraestrutura na região Centro-Oeste do país.

Como no início de nossas carreiras muita das vezes vivemos


de “ventos de oportunidades” aceitei o desafio, pois havia
grande perspectiva de crescimento de carreira dentro daque-
la empresa.

Ainda que não fosse a área que queria atuar, tive ali experi-
encias fantásticas que contribuíram muito para minha for-
mação profissional, pois neste período tive a oportunidade de
ter contato com grandes obras como: Aeroporto de Brasília,
Estádio Nacional Mané Garrincha, obras de viadutos ro-
doviários, ferroviários entre diversas outras.

Além disso, projeto e execução de escoramentos não apren-


demos em qualquer lugar e lá tive um grande aprendizado.
Como sou grato por estas experiências! Na Figura 2 estava
em uma obra de viaduto em Brasília-DF.

72
Figura 2 – Obra de viaduto em Brasília-DF

Ainda durante esta experiência de estágio tive o meu pri-


meiro contato com a termografia por infravermelho, nosso
assunto central aqui.

Este contato veio por meio de alguns trabalhos desenvolvidos


na empresa júnior da faculdade (sim, neste mesmo período
eu também participava da empresa júnior) e em meu TCC,
ambos proporcionados por aquele mesmo professor que
havia me dado a primeira oportunidade de estágio.

Na empresa júnior o contato foi por meio de serviços que


prestávamos para outras empresas e, no TCC, fiz um estudo
desta técnica associada a utilização de drones para identifi-
car manifestações patológicas em fachadas.

73
Lembra daquele caminho que te falei que havia traçado
alguns parágrafos atrás? Pois é, fui fiel a ele pois era o que
queria e optei pelo mestrado onde me aprofundei ainda mais
em estudos com a termografia, que fez parte da minha dis-
sertação.

Além disso, nestes dois anos mergulhei de cabeça em en-


tender a tão temida “patologia das construções”. Durante
este período tive que renunciar a muitas coisas, mas dois
anos depois acabei o mestrado e me inseri no mercado de
reformas, que me aproximou mais de condomínios, que hoje
são minha principal área de atuação dentro da patologia.

É claro, que há muitas outras histórias entre todas essas que


já contei aqui, mas o fato é que quando decidi trabalhar com
o que trabalho hoje, ainda não sabia como, mas mesmo
assim baseado no que você leu aqui quero te dizer uma coisa.
Muitas vezes precisamos ver além daquilo que nossos olhos
podem enxergar e isso se chama fé.

74

A trajetória até aqui não foi
fácil e ainda não é, mas posso
dizer que a junção dessas
coisas me ajudou e ajuda a
construir minha trajetória
profissional.

75
Talvez você tenha chegado até aqui e pensado: o que isso
tem de relação com a termografia? Então, fique ligado que
nas próximas páginas quero te mostrar esta técnica que uso
no meu dia-a-dia para enxergar mais que os meus olhos
podem ver, para que durante os diagnósticos possamos
traçar o melhor caminho e indicar os tratamentos mais ade-
quados para as manifestações patológicas.

76
A termografia por
infravermelho

77
A termografia por
infravermelho
Assim como na medicina os médicos precisam de exames
auxiliares para emitirem o diagnóstico, entenderem o prog-
nóstico e indicar a correta terapia (tratamento), nós patolo-
gistas também precisamos dos ensaios que muito nos auxil-
iam nos diagnósticos das manifestações patológicas.

Afinal, se entendermos a palavra diagnóstico pela sua origem


essa aplicação fica bem clara, tendo em vista que vem do
grego diagnosticu, em que dia é alusivo a através de, durante,
por meio de e gnosticu quer dizer referente ao conhecimento
de.

Ou seja, dar o diagnóstico significa entender as causas, ori-


gens e mecanismos que trouxeram tal manifestação pa-
tológica. Diante das dificuldades, sinergismos e possibili-
dades de ocorrências na maioria dos casos, a mera con-
statação visual pode ser apenas uma especulação se não
comprovada por meio de ensaios.

78
Podemos dividir os tais ensaios em destrutivos ou não de-
strutivos, em que há ou não a necessidade de extração total
ou parcial de amostras, respectivamente; havendo ainda
alguns autores que trazem a abordagem subdividida
também entre os “parcialmente destrutivos”, que represen-
tam aqueles que afetam apenas de maneira parcial com
pequenas amostras, por exemplo.

Nem sempre é possível optarmos por técnicas não destruti-


vas, mas sempre que possível esta alternativa se torna a
mais vantajosa tendo em vista que poder ter um diagnóstico
preciso sem afetar o meio de alguma forma é o ideal.

A termografia por infravermelho é um ensaio não destrutivo


que capta através de uma câmera termográfica (Figura 3) a
radiação infravermelha emitida pelo objeto analisado.

Como resultado temos um termograma (exemplos obser-


vados na Figura 4), onde por meio de uma imagem visível
com escala de temperaturas é retratada a radiação infraver-
melha emitida pelos objetos, que está diretamente relaciona-
da com a emissividade e temperatura, de forma que o au-
mento da mesma é diretamente proporcional à temperatura.

A técnica possui aplicações em diversas áreas tal como a se-


gurança, medicina, agricultura, veterinária, indústria, mecâni-
ca e outras. Na Figura 4 é possível ver aplicações da medicina
(a), agricultura (b) e em torres de alta tensão (c).

79
Figura 3 – Exemplos de
câmeras termográficas
Fonte: Flir

(c)

(a) (b)

Figura 4 – Exemplos de termograma


Fonte: Flir Systems

A potencialidade e os resultados da técnica realmente im-


pressionam, porém é importante ressaltar a importância da
correção dos parâmetros utilizados na termografia (por ex-
emplo a emissividade, temperatura refletida e distância do
objeto de estudo), que não são pontos centrais deste ebook e
devem ser aprofundados por quem quer compreender melhor
a técnica.

80
Além do mais, existem diversos fatores que podem trazer
erros nas imagens e devem ser considerados, tais como:
horário da inspeção, geometria do objetivo analisado, diversi-
dade de materiais na superfície, reflexões de superfícies
próximas, ângulo de obtenção da imagem e outros.

Resumindo, é uma técnica extremamente útil desde que bem


utilizada e com o conhecimento adequado, tendo em vista
que se executada incorretamente os resultados podem ser
completamente divergentes dos reais, o que altera significati-
vamente a análise.

Na patologia das construções as aplicações da termografia


são muitas e passam por exemplos como infiltrações, despla-
camentos, fissuras e diversas outras.

Quando falamos de aplicações com a umidade podem ser


detectadas infiltrações (Figura 5) ou até mesmo a “famosa”
umidade ascensional proveniente do solo que causa man-

81
Figura 5 – Infiltração em junta estrutural em um subsolo

Figura 6 – Termografia para constatação de umidade ascensional em


paredes de alvenaria

82
Com relação aos desplacamentos dos revestimentos
também há diversos estudos tanto em campo quanto em lab-
oratório que mostram a efetividade da termografia.

Nas figuras 7, 8 e 9 é possível observar um estudo, sob minha


orientação, em que foram simuladas regiões sem aderência
por trás do reboco (revestimento argamassado), por meio da
colocação de uma fita.

Após isso e exposição ao aquecimento dos protótipos foi pos-


sível notar regiões com temperaturas distintas.

Figura 7 – Protótipos de paredes com argamassa e pintura desenvolvi-


dos em laboratório

83
As regiões com descolamentos mencionadas podem ser
vistas na Figura 8 e na Figura 9 é possível observar-se que a
utilização da técnica permitiu a visualização de tais regiões
nos protótipos estudados.

Figura 8 – Localização dos pontos com simulações de anomalias

Figura 9 – Visualização das regiões com descolamentos na região supe-


rior das paredes.

84
Os desplacamentos em revestimentos cerâmicos também
são manifestações patológicas comuns capazes de serem
identificados com a termografia.

É importante destacar que tal fenômeno é evolutivo e que os


descolamentos (cerâmica ainda permanece no local, porém
já perdeu a aderência) evoluem para os desplacamentos
(queda do revestimento).

A Figura 10 comprova isso por meio de imagens captadas em


um período de diferença de três anos (2015 – 2018) em que é
possível observar-se uma região de temperatura distinta
(mais clara), que indicava o descolamento que anos depois foi
comprovado pela queda das cerâmicas.

Além disso, a Figura 11 mostra o estágio avançado de de-


gradação da fachada estudada em 2020.

Figura 10 – Evolução do de-


scolamento para desplaca-
mento

85
Figura 11 – Fachada estudada com imagem de 2020

Para a identificação de fissuras, diversos também foram os


estudos que já comprovaram a utilização da técnica. A Figura
12 mostra um exemplo de aplicação para este caso.

Figura 12 – Fissuras em fachada identificadas pela termografia


Fonte: Bauer, Milhomem & Aidar (2018)

86
Existem diversas outras aplicações da técnica e aqui mostrei
apenas algumas. Mas como te expliquei no início deste
capítulo a termografia é uma técnica que vai muito além do
que os olhos podem ver.

Em muitos casos precisamos disso e enxergar aquilo que


nossos olhos não nos permitem auxilia para que o correto di-
agnóstico possa ser dado e da mesma forma as respectivas
tratativas.

E quer um conselho? Leve isso também para a sua vida, ex-


istem muito mais coisas que seus olhos não podem ver que
as vezes estão bem diante de você. Na termografia focamos
mais nas coisas ruins (anomalias), mas para a vida foque nas
boas! Acredite, lute, vá adiante pois você é mais capaz do que
imagina!

E aí já conhecia a termografia por infravermelho? Gostou da


técnica? Se quiser ter acesso a outros materiais de minha au-
toria totalmente gratuitos e também as minhas redes sociais
basta apontar seu celular para este QR Code abaixo. Te
espero lá para conversarmos sobre patologia das con-
struções.

87
Aponte um celular com um aplicativo leitor de QR Codes.
Alguns celulares já possuem a tecnologia de leitura direta-
mente em suas câmeras.

88
Um pouco
de Renato

89
Um pouco de Renato
Patologia dos Revestimentos de Fachada: uma visão
holística

Quando pensei neste tema, não tinha a menor ideia se estava


utilizando a palavra “holístico” da forma correta.

Normalmente quando nos referimos aos processos construti-


vos, falamos em uma visão sistêmica, pensando no sistema
em si, por exemplo: sistema de revestimento isoladamente
dos demais sistemas como os sistemas de vedação, os estru-
turais, de fundação etc.

Ao consultar o dicionário percebi que estava no caminho


certo:

“holismo: sm

1 Abordagem científica que dá prioridade ao enten-


dimento global dos fenômenos, descartando o pro-
cedimento analítico em que seus componentes são
analisados ou tomados isoladamente”. (Grifo nosso!)

90
Ou seja, quando falamos em manifestações patológicas nos
revestimentos de fachada, precisamos entender que não
basta entender das argamassas ou das vedações etc.

Precisamos ter um conhecimento mais abrangente, entender


o todo, os efeitos de 2ª ordem, as matérias primas, os insu-
mos, os colaboradores diretos e indiretos, as deformações
lentas e por aí vai.

Costumo dizer que sou patologista raiz. Comecei em 1992


para 1993. Final de ano letivo (naquela época o curso era
anual), passando do 3º para o 4º ano. Estava de bobeira pen-
sando o que fazer nas minhas férias quando uma colega me
liga e me chama para estagiar com nada mais nada menos
que a nossa amada e saudosa Profª. Maria Noronha. Aí tudo
mudou!

Sempre gostei de cálculo. Acho que este é um dos pré-requis-


itos para nos enveredarmos pela engenharia. Fui monitor de
concreto, cálculos I e II, mas de repente, estava mexendo com
um universo completamente diferente: a patologia das con-
struções: química, física e ciência dos materiais.

O que era este mundo? Não tinha a menor ideia. Aliás, não
havia estagiado até aquele momento e meu conhecimento de
construção se limitava ao que havia estudado na faculdade
naquele primeiro ano de civil. Não sabia construir, como
então, iria entender uma patologia?

91
Percebi isso na época, pois como se vai descobrir a causa do
problema (diagnóstico), sem saber como se executa correta-
mente? Lembro-me como se fosse hoje: a Noronha me pediu
para fazer uma “prospecção destrutiva” em certa jardineira,
pois ninguém sabia qual o tipo de impermeabilização havia
no local e se ela ainda estava “funcionando”.

E eu deveria levar um colaborador (na época era peão


mesmo) para orientá-lo como deveria fazer àquela “sonda-
gem” e o que queríamos detectar. OMG!

De lá pra cá foi só estudando e trabalhando e estudando. Me


formei em 1993, fiz umas 5 obras da fundação à entrega
final, edifícios residenciais de 16 a 40 pavimentos e ainda um
hotel e um hospital.

Por fim, cansei de obra! Não era feliz e não era pra isso que eu
tinha estudado. Não me conformava em ter que “aprender”
com o mestre (isso foi fundamental até certo momento) ou ter
que ficar brigando com fornecedor atrasado ou – aí era o fim
– ter que levar material dentro do meu carro de uma obra
para a outra. Não estudei cinco anos para aquilo que diziam
que eu deveria ser ou fazer!

92
Voltei a estudar. Iniciei o mestrado em 1995 na Politécnica da
USP. Aquilo era um sonho, mas que virou pesadelo! Entrei nos
meandros das moléculas dos materiais, tive acesso ao que de
melhor havia em tecnologia.

Vi nascer os processos construtivos da ENCOL com a turma


do Sabbatini e as tecnologias do concreto com o Paulo
Helene. Mas, de repente, lá estava eu, de novo, insatisfeito
com àquilo tudo: onde iria aplicar àquilo? Estava me desvian-
do do que realmente eu amava: a patologia das construções!

Termino os créditos na USP e me caso em 1997. Em 1998


abro uma pequena empresa de “Assessoria em Recuperação
Predial”. O nome já dizia tudo: um colega e eu nos aventura-
mos em um universo até então super fechado: o mundo da
Engenharia Diagnóstica e da Inspeção Predial. Lógico que
estes termos só serão cunhados anos mais tarde, mas nós
tínhamos a base da época da Noronha.

93

Nossa sociedade dura apenas 2
anos. Cada qual tomou seu rumo
dentro da Patologia das Con-
struções. Aos trancos e barran-
cos, comecei a criar meu mercado.

94
A princípio era indicado pelos clientes satisfeitos, depois
pelos colegas professores da USP. Mas, o mercado era super
fechado e eu era muito novo (30 anos)!

Como me destacar e mostrar conhecimento sem ter alguém


para me tutorear? Em 2003, então, retorno para fazer o me-
strado novamente, e agora para concluí-lo pelo IPT. Era in-
cabível ser um patologista sem ter um mestrado.

E aí foi o céu! Em 2005 termino minha dissertação sobre


“Avaliação de sistemas de recuperação de fissuras em alve-
narias de vedação” (hoje penso que o melhor seria em “siste-
mas de revestimento”).

De lá para cá um novo mundo se abriu! Crises? Muitas até


hoje! Mas, de repente deixo de ser um qualquer para me
tornar um especialista e um patologista em fissuras e revesti-
mentos.

Óbvio que sem o empurrãozinho de Deus e a parceria da


minha ex-esposa, ainda estaria patinando. Agradeço a
ambos, de coração, todos os dias, por terem me ajudado a
chegar até aqui.

95
A visão holística
A visão holística
Tenho focado minha vida desde 2015 na patologia de facha-
das. Que universo interessante e desafiador. E aqui fica
minha colaboração para este pequeno encarte que prefacia
os Novos Patologistas: a visão holística dos revestimentos de
fachada.

Não pretendo aqui esgotar o assunto – impossível! mas,


provoca-los a pensar diferente do que se “recomendam” as
normas e a reconfigurar o mercado, por que não?

Antes de me especializar em fachadas, era uma patologista


mais generalista e com uma visão idem das fachadas e seus
revestimentos. Hoje, tenho tido a oportunidade de ver suas
facetas e arestas, suas composições e desafios cada vez
maiores.

Antes, achava que as patologias se resumiam ao som cavo,


às fissuras e infiltrações e as soluções mais óbvias seriam a
demolição, reforço, recomposição e impermeabilização. Hoje,
são novos tempos!

Novo olhar sobre este universo desafiador o qual passo a


compartilhar com vocês. E com isso, quero provoca-los a se
aventurarem e a se apaixonarem por este admirável mundo
novo!

97
Uma nova forma de construir
Você já se perguntou o porquê de a engenharia diagnóstica
ter se destacado tanto nestes últimos 10 anos tanto quanto o
BIM e o cálculo estrutural?

De repente virou moda estudar e ser reconhecido como um


engenheiro diagnóstico? De um lado as inovações tecnológi-
cas, a inteligência artificial, o 3D, a nanotecnologia, o concre-
to de alto desempenho (CAD), as estruturas mais altas e es-
beltas e do outro, as famigeradas manifestações patológicas.

Quanto mais avançamos no conhecimento, mais “perdemos


a mão” com o básico e voltamos à estaca zero.

Vários estudos mostram que os edifícios novos, com menos


de 15 anos, apresentam mais de 60% de manifestações pa-
tológicas que os edifícios velhos, com mais de 30 anos. Desa-
prendemos como construir?

98
Primeiro Desafio: a aderência
Parece um tanto quanto óbvio o que está escrito na frase a
seguir, mas sempre digo que a patologia acontece naquilo
que é mais óbvio: nos detalhes!

“Uma das características mais importantes


das argamassas é a sua capacidade de
manter-se aderida ao substrato”.

Não sei precisar de quem é esta frase, mas podemos extrap-


olar para os chapiscos e os revestimentos cerâmicos
também. As cenas das figuras 1 e 2 são mais comuns do que
se imagina. E com um agravante: trazendo riscos de aci-
dentes fatais às pessoas.

Figura 1 – Descolamento e queda de revestimento


argamassado: casal foi surpreendido durante a
madrugada e ficou ferido.

99
Figura 2 – Revestimento
se descola 10 meses após,
causando a morte de uma
criança.

Com a evolução dos concretos de alta resistência, a porosi-


dade é praticamente nula e a resistência dos chapiscos e ar-
gamassas sobre estas estruturas devem ser bem controladas
e avaliadas.

Assim, chamamos a atenção quanto à obrigatoriedade do


preparo da base: cada vez mais se faz necessária a limpeza,
o desbaste abrasivo, o uso adequado do chapisco, e cada
qual para seu substrato, a cura destes chapiscos e a aval-
iação após a cura pelo engenheiro gestor da obra.

Está aí uma etapa que não deveria ser terceirizada, pois é o


primeiro ponto de contato de todas as demais camadas do
revestimento (Figura 3).

100
Figura 3 – De cima para baixo da esquerda para a dire-
ita: (1) desbaste abrasivo; (2) limpeza por meio de
água sob pressão; (3) chapisco convencional sobre as
alvenarias e industrializado desempenado sobre as
estruturas de concreto; (4) cura dos chapiscos; (5) e (6)
testes de resistência de aderência dos chapiscos

101
Segundo Desafio: a retração
das argamassas
Aos poucos deixamos de usar a cal nas argamassas. Aos
poucos deixamos de “roda-las” nas obras. Por outro lado,
temos o advento da chamada industrialização da construção
civil associada à falta de espaço dos canteiros, dos prazos
cada vez mais reduzidos e da expectativa gerada por um
melhor controle de produção das argamassas dosadas
dentro de uma usina ou na indústria.

Isso tudo tem levado a um total descaso por parte dos ge-
stores da obra com o uso dos revestimentos argamassados,
relegando-os a um segundo plano e deixando-os nas mãos
de empreiteiros despreparados e comissionados por m² de
produção.

Temos visto de norte a sul do país argamassas com altas re-


sistências de aderência, como se isso fosse sinônimo de de-
sempenho, porém, totalmente fissuradas, ora com traços
ricos em cimento, ora com traços sem controle de granulome-
tria ou falta de ar incorporado, ora com pouco cimento, mas
com uso de agregados de alta densidade (calcários).

A norma NBR 13749 diz que a resistência de aderência tem


que ser maior ou igual a 0,3 MPa.

102
Mas, qual é o limite superior? Nas imagens da figura 4, temos
duas argamassas em um painel teste com resistências de
aderência diferentes. Qual é a melhor? A que tem melhor ad-
erência? Ou a que tem aderências moderadas e menos fissur-
ação?

Figura 4 – Resistencia média de aderência do painel à esquerda de 0,88


MPa contra 0,67 do painel à direita. Observar o grau de fissuração do
painel à esquerda.

103
Uma argamassa ideal deve ser dosada levando-se em
conta o uso de teores moderados de cimento, cal e aditivos
plastificantes (incorporadores de ar). “Projetadas” de acordo
com as situações de exposição e os ensaios de aderência
devem ser utilizados sempre que a fiscalização julgar
necessária para avaliar e controlar a interação desta com as
suas camadas constituintes e estas com a base.

Terceiro Desafio: o módulo de


deformação
“Mas não bastam os ensaios de aderência? Você quer mais
ensaios?”

Assim me perguntou a engenheira de qualidade de uma


grande construtora. Olhem as imagens da figura 5. Arga-
massas agora com resistências mediadas à tração, porém, o
revestimento totalmente fissurado devido à rigidez (alto
módulo) destas argamassas.

104
E = 15 GPa E = 16,5 GPa
Ram = 0,50 MPa Ram = 0,65 MPa

Figura 5 – Argamassas de
revestimento com alto
módulo de deformação ou
alta rigidez: menor capaci-
dade de absorver defor-
mações.

A elevada rigidez e baixa deformabilidade podem estar rela-


cionadas ao uso elevado de cimento, ao tipo de agregado
(altas densidades), ao grau de empacotamento das partícu-
las da mistura a ao baixo teor de ar incorporado.

Quarto Desafio: o descola-


mento cerâmico
Todos temos acompanhado os mandamentos e não-manda-
mentos cerâmicos do NP Paulo Sérgio, o Paulinho. Este é um
dos casos mais complexos enfrentados pela construção civil
nos últimos 30 anos.

105
Desde o advento das argamassas colantes na década de
1990, nunca antes vimos uma tecnologia dominar em tão
pouco tempo praticamente todos os canteiros de obra do país
e ao mesmo tempo gerar uma patologia tão intensa e tão dis-
tribuída em todos os estados brasileiros, demonstrando
cabalmente a falta de conhecimento e técnica por parte de
toda a cadeia construtiva: da mão de obra aos materiais, da
engenharia aos suprimentos.

Passam dos 3 milhões de m² de descolamento interno. O ex-


terno não se tem ideia, mas só de um cliente nosso, são mais
de 440 mil m² de fachadas na cidade de São Paulo.

Entre as principais patologias, um estudo conduzido dentro


do nosso escritório, em que participamos na avaliação, diag-
nóstico e terapia de revestimentos cerâmicos de fachadas
estão: a expansão por umidade das placas cerâmicas (EPU),
emboço com baixa resistência superficial, falhas de assenta-
mento e ineficiência das juntas.

Observe que 3 delas são decorrentes de falhas da mão de


obra (Figura 6).

106
Figura 6 – Descolamento
cerâmico em fachadas:
falhas de assentamento,
juntas inadequadas e alta
EPU.

Dessa forma, por que não nos aproximarmos mais dos


nossos colaboradores por meio de mais treinamentos e por
que não intensificarmos a fiscalização? E o projeto de revesti-
mento que, a partir da NBR 13755 de 2017, se tornou
obrigatório, deve ser exigido.

107
Conclusão
Como comentamos, não pretendíamos esgotar o assunto.
Poderíamos abordar ainda temas como as espessuras dos
revestimentos argamassados que ou estão demasiadamente
altos ou demasiadamente baixos.

E quanto ao problema da EPU: a norma de métodos de


ensaio para revestimentos cerâmicos limita as placas cerâmi-
cas em 0,6 mm/m, mas será que este valor não é muito eleva-
do para que tanto o emboço como as argamassas colantes e
de rejuntamento suportem as tensões de cisalhamento im-
postas? Os limites não deveriam ser revistos?

Não basta conhecer os materiais e as boas práticas constru-


tivas. Cada vez mais se tem exigido um novo olhar para
nossos sistemas construtivos: um olhar holístico sobre a
história da construção, os materiais, a mão de obra, a gestão
e o controle. Onde estamos construindo nossa casa? Sobre
uma rocha firme e inabalável ou sobre fragmentos de rocha?

108
Um pouco
de Paulo
Um pouco de Paulo
As verdades Secretas das Cerâmicas

Nós realmente somos do que nos alimentamos. Tenho, nestes


muitos anos de idas e vindas, lidas e lides, sempre voltado
aos mesmos temas: cerâmica, poesia e a reler os meus
Pequenos Príncipes.

Tanto a raposa como os meus azuleijinhos, cochicham em


meus ouvidos: “o Essencial a vida é invisível aos olhos. Só se
vê bem com os olhos do coração”. O colírio dos olhos da alma
é, sem dúvida, a poesia. Os versos purificam as palavras! E os
azulejos... dão vida aos pisos e as paredes!

Eu sempre fui impactado por músicas e frases. Ouvindo uma


vez o músico Michael W. Smith, a mística por trás dos versos
de “Secret Ambition¹” me marcou. Se referia a Jesus, qual
seria sua secreta ambição neste mundo.

Sempre que penso em prospectar verdades secretas, não


posso esquecer das também secretas ambições dos envolvi-
dos. Vale a pena ler a letra do Michael. Me permitam, portan-
to:

110
“Secret ambition” (ambição secreta)

Um jovem na colina
Ensinando o caminho que deviam seguir
Cada palavra, conquistando-os
Em cada coração, uma chama que se acende!

Os anciãos, olhando de longe


Vigiando sua presa
Ameaçados pela voz de um exemplo
Guiando suas ovelhas para longe
guiando-as para bem longe!

Ninguém sabia sua ambição secreta


Ninguém sabia sua reputação
Ele quebrou as velhas regras mergulhadas em tradições
Ele rasgou o véu sagrado
Questionando os poderosos
correndo para aqueles que chamavam seu nome
Porém, ninguém sabia que sua ambição secreta
Era a de entregar sua vida.

Sua ira, fazendo o templo tremer


Suas palavras para os sábios
Sua mão, curando no sétimo dia
Seu amor sem disfarces!

111
Alguns dizem: Morte ao radical!
Ele está ultrapassando os limites!
Alguns dizem, abençoado seja o milagre
Deus nos enviou um sinal abençoado
Um sinal abençoado para tempos difíceis

Ohh... Oh... Oh...


Não, não; não, não

Eu te digo que ninguém sabia


Até ele entregar sua vida!
Não!”

Também sempre gostei de cálculo, como o Sahade, o


Matheus, o Lawton e a Cris e, somado com a geometria e a
física, este é um dos pré-requisitos para nos enveredarmos
pela engenharia e termos nos encontrado. Mas, os anos me
levaram a atender pessoas descontentes com placas cerâmi-
cas.

112

E com isso aprendi a lidar com
suas secretas ambições. As
cerâmicas também contêm seus
segredos, e os seus gestores
também suas ambições. E con-
fesso que ainda estou aprenden-
do a lidar com isso!

113
A ciência exata tem seu viés humano e flertamos com as am-
bições das pessoas, com as excentricidades da física e da
química. E sobre nenhuma das três temos controle absoluto.
Apenas precisamos saber tratá-las com equilíbrio.

Eu na verdade me enveredei patologista com vinte e três


anos e não sabia disto até há pouco tempo. Vou contar ra-
pidinho a minha história; vou por uns números, pois os adul-
tos sempre precisam deles para dar valor às palavras.

Comecei aos quatorze anos no CEFET PR, em 1979, e ali


nasceu a paixão pelas edificações. Aos dezessete, quando eu
me achava ao ouvir Violeta Parra, que “a história é uma car-
roça quebrada a beira da estrada”, entrei na Engenharia Civil,
na UFPR (1982).

Aos vinte e dois anos, em 1987, entrei para trabalhar na


Incepa em Campo Largo, a 20 km da minha casa. Mas, eu
que queria fazer prédios, agora lidava todo o dia com azulejos
e pisos. Entre uma encrenca e outra de um consumidor
chateado, levava crianças e velhos a conhecer o caminho de
fabricação das placas cerâmicas. Eram tempos áureos!

114
E fui lidando com gente e com placas cerâmicas. Surgiram,
logo depois, as argamassas colantes. Lembro quando mon-
tamos ao lado da fábrica a Incecol. Seu Maurer, um dos meus
primeiros mentores, mostrava para mim as formulações e
acompanhávamos os testes.

Com ele, aprendi a noção de sistema cerâmico completo. Tín-


hamos que ter o “domínio de todo o processo”, dizia em 1989.
Quando meu amigo, Pedroso, fala isto hoje em 2020 eu
pareço ter um legítimo déjà-vu.

115
E assim foi a estrada onde fui aprendendo a arte de lidar com
as pessoas. Pessoas que fazem cerâmica. Pessoas que as
compram. Pessoas que as assentam. E para mim, sobraram
as que se desiludiram com as cerâmicas e as que reclama-
vam. Em trinta e três anos, atendi 15.276 reclamações! E
assim, de fato, não sei mais as respostas... sei somente as
perguntas que elas devem formular.

Surgiram outras vertentes: os projetos de fachadas e pisos


em 2007 e os grandes temas polêmicos das cerâmicas em
2015.

E aumentando, o desafio cresceu proporcionalmente à


paixão!

Mas, qual será de fato minha ambição secreta?

116
A verdade
secreta das
cerâmicas

117
A verdade secreta das
cerâmicas
Em trinta e três anos, conheci muitas placas cerâmicas,
muitas fábricas, muito jeito de fazer. E aprendi a entender
que, mesmo que uma placa tenha sido feito pela mesma
fábrica, pelas mesmas pessoas e até no mesmo dia, ela pode

Em trinta e três anos conheci, de fato, muitas pessoas e cada


uma têm o seu capítulo. Muitos mocinhos e bandidos. Sim,
nem tudo são flores no mundo dos adultos. E cada um tem
sua secreta ambição pessoal.

E esta é só sua!

118
Então o que melhor aprendi até aqui é que nem tudo que o
vemos ou lemos em relatórios é o que deve definir a nossa
decisão. Devemos ver o que está invisível aos olhos.

E nem tudo o que é secreto é essencialmente ruim ou im-


próprio. Pode ter-se mantido secreto pela falta de acuidade
do meu olhar. E isto, sim, que motiva o Especialista.

E quais são estas verdades


secretas?
As placas cerâmicas são feitas de matérias primas naturais,
prensadas a úmido, queimadas a altas temperaturas e classi-
ficadas por pessoas. Pode ser perfeita? Não! Mas, podem ser
bem feitas.

A maior verdade secreta cerâmica é a sua microestrutura.


Tão íntima que as Normas que os adultos publicaram sobre
ela, não coloca justamente requisitos para ela.

119
Podemos fazer dela uma bela Aldravia¹:
“Torrão de massa vítrea
Em meio a massa porosa
Filossilicato parcialmente fundido
Com foliação preservada,
Lhe resta o triste destino compor a massa porosa
E se expandir.” Eu.

¹O termo Aldravia deriva-se de aldrava: peça de metal presa


à porta das casas, utilizada para chamar os moradores na
chegada de visitantes. A partir dessa imagem, os criadores
da Aldravia batem à porta dos poetas, chamando-os à práti-
ca de uma poesia que lhes permite ampla interpretação.

120

Sim, tateamos as características
superficiais como fazemos com
os adultos. Aprovamos por cor,
tonalidade, tamanho e ab-
sorção. Exatamente como vemos
as pessoas: superficialmente!

121
E não vemos o invisível! A micro estrutura que dela emana:
seu dom (desempenho) ou o seu vício (a manifestação pa-
tológica).

Logo, certo ou errado, nascem do mesmo local, do que é pro-


fundo! Como suas microestruturas, que se transformam no
fogo, este sim é a prova real das inequações que nós adultos
queremos que existam.

Afinal, para quem interessam as respostas corretas?

Quais as verdades secretas


dentro dos poros cerâmicos?
Como as mais antigas cavernas e os mais inóspitos porões,
as argamassas colantes frequentaram e não se estabelece-
ram por muito tempo ali. O que teria ocorrido que não vemos?
Os adultos preferem evidencias que eliminem rapidamente a
caça às bruxas do que de fato compreender os fenômenos
que estão em volta.

Diante de manifestações tão elevadas, não deveríamos nos


atrever a instrospectar por esta alcova?

Não seria este o real papel da Engenharia, agora também di-


agnóstica?

122
Intrepidamente fomos e tateamos estas ligações. Obstante
nossas inúmeras limitações, ousamos fazer este rabisco que
“você” um dia experimentará em seus estudos e apresentará,
sim, um novo olhar. E por favor, me conte. Sei que você está
se despertando!

E como prospectar de fato uma patologia sem ir à micro-


estrutura das placas e das ligações físico-químicas que as
argamassas tramam dentro dos poros cerâmicos?

Estamos diante de um grande dilema no mercado: terem des-


placadas muitas placas cerâmicas por todo o país. E, confes-
so que não posso esconder minha decepção de não ter visto
grandes consórcios de pesquisa, mergulhados de fato na mi-
croestrutura das placas e das argamassas que se en-
volveram neste turbilhão.

Pena! Decisões tomadas a olho nu ao lado de poderosos mi-


croscópios digitais à disposição. Mas, como canta o sábio
palhaço: “Os opostos se distraem, os dispostos se atraem” -
O Teatro Mágico.

Contudo, acreditamos que é sempre tempo de experimentar e


instrospectar esta verdade “sahadiana”: “Uma das carac-
terísticas mais importantes das argamassas é a sua capaci-
dade de manter-se aderida ao substrato”. Também, não sei
precisar de quem é esta frase, meu amigo Sahade, mas orna
com a tua biografia.

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E os óxidos, uma verdade “paloshiana”, que os filossilicatos e
os argilo-minerais, apócrifos, que nos deparamos, perman-
ecerão até quando incógnitos?

Certamente o tempo ainda se provará por você que nos lê.


Acredito em você! Por favor, enxergue muito mais do que enx-
erguei.

Em busca do assentamento
cerâmico de verdade
A última fronteira é a intuição e a percepção da mão humana.
Lidar com gente. Ouvir gente. Encorajar gente. Fazer gente
mudar a maneira de executar de uma forma para outra. Con-
verter.

E temos com isso aprendido e ensinado muito. Humanizar a


dupla colagem de argamassa por exemplo.

E flexibilizar até a mais rígida das argamassas. Mesmo,


também, não estando normatizado por aqui.

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Anti-conclusão
Temos de nos pautar com as Normas. Sim, concordo!
Mas devemos jamais abreviar a análise dos fatos. Devemos ir
a fundo.

Os poetas de fato nunca concluem nada, só lançam pensa-


mentos ao ar.

Por quê? Porque as verdades são sempre relativizadas pelas


ambições secretas de cada um.

Qual é a sua? Ciência? Prosperidade? Legado? Lucro? Arte?


A minha é Engenharia, e ela me enobrece.

De fato, aprendi que, devo sim, concluir de forma autoral. Vai


ser sempre a minha conclusão. Só minha.

Mas acredito numa ciência com sinergia entre os velhos e


novos patologistas. Onde as conclusões se respeitam, se de-
batem, se transformam. O crivo ética-física e muito bom
senso. E a flor das letras à poesia, sempre centradas na tec-
nologia, nesta foto que me representa.

Que por hora venham os Novos Patologistas. Ah... estou novo


Patologista!

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Conclusão
Toda inovação nasce da insatisfação.

São os questionamentos que movem as pessoas.

Não por acaso, o que nos uniu foi a vontade de criar o que
falta na engenharia diagnóstica.

Novos conhecimentos. Novas práticas. Novos especialistas.


Novas inspirações.

Mas, para isso, acreditamos que o primeiro passo é olhar para


trás.

Para o caminho trilhado pelos patologistas que vieram antes


de nós.

Mais importante, para aquilo que não muda: a ética da arte


da engenharia.

Afinal, como uma boa construção, o conhecimento que dura


tem fundações sólidas.

Por isso, queremos não só preservar a história da nossa


profissão, mas também atualizá-la.

E essa missão só poderia ser realizada por meio de uma nova


forma de aprender e ensinar.

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E essa missão só poderia ser realizada por meio de uma nova
forma de aprender e ensinar.

Mais simples e didática, adaptada à rotina profissional. Feita


por todos e para todos.

Foi assim que criamos uma comunidade para trocas entre


diferentes especialistas.

Uma plataforma de conhecimentos com um grande propósi-


to:

Promover, diariamente, o encontro do passado com o futuro


das patologias.

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Todo dia
um novo conhecimento

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@novospatologistas

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