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PROJETO PEDAGÓGICO:
POR QUÊ, QUANDO E COMO –
EDUCAÇÃO INFANTIL
Cristina Mara da Silva Corrêa e Delba Rejania Santos
195
Considerações sobre a organização
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do Projeto Educacional
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na Creche Central da USP
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Cristina Mara da Silva Corrêa e Delba Rejania Santos
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Creche USP/SP
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A partir da segunda metade do século XX, foi Também, durante esse período, os movimen-
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preciso repensar o atendimento institucional às tos populares ganharam expressão como meca-
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crianças de 0 a 6 anos, em razão de alguns fatos, nismos de pressão política. Uma das reivindica-
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tais como: a incorporação das mulheres de clas- ções presentes nesses movimentos referia-se à
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se média no mercado de trabalho, o crescimen- ○
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creche como um direito do trabalhador. Foi nes-
to rápido e desordenado das grandes cidades e se cenário que o movimento de luta por creches
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a falta de espaço para brincadeiras de crianças ganhou força dentro da Universidade de São Pau-
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nesses grandes centros. No Brasil, após o regi- lo, iniciado por um grupo de mães funcionárias.
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me militar, o atendimento às crianças pequenas Em 1982, foi inaugurada a primeira das quatro
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é pensado como uma necessidade para crian- creches existentes hoje na universidade. Desde
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ças carentes, numa atitude especialmente com- a sua criação, a creche teve como pressuposto o
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pensatória. A partir dessa concepção, ganharam trabalho centrado na criança e nas relações fa-
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Na década de 1970, as teorias de privação a creche da USP foi planejada como espaço de
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cultural contribuíram para explicações sim- interação e respeito à criança e à família, con-
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plistas da marginalidade das camadas sociais siderando os direitos destas à atenção de qua-
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mais pobres, reforçando, assim, o caráter lidade, que conjugava o cuidado e a Educação.
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tas de atendimento às crianças pequenas, para atender às necessidades das crianças, num
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Por causa desse contexto, as propostas de racterística dessa creche sempre foi a hetero-
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trabalho, tanto para as crianças em creche, geneidade da população, com vagas destinadas
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travam-se basicamente nos cuidados higiêni- dade. Além disso, sempre foi função da creche
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colar privado não baseado nas mesmas con- graduação das diversas faculdades.
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ções públicas. Assim, as propostas de uma a implantação da primeira creche, foi a defesa
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educação voltada para a criatividade, a socia- do livre acesso dos pais ao ambiente da insti-
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para o atendimento das crianças de classes com a presença dos pais ou de adultos signifi-
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sociais favorecidas. E eram propostas que se cativos para os pequenos. No que diz respeito
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pautavam por estudos e pesquisas da psicolo- à formação da equipe de trabalho, atuam des-
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gia do desenvolvimento, bem como por novas de o início, dentro das creches, profissionais
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Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
Mesmo tendo sido organizada dessa manei- dos cuidados e da aprendizagem, integrando-
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ra, nos primeiros anos de atuação, notava-se que se, assim, as áreas de Saúde e Nutrição. Tor-
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o trabalho acabava por acontecer de forma que o nou-se também necessária a seleção dos con-
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atendimento às necessidades das crianças, prin- teúdos a serem trabalhados com o objetivo de
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cipalmente os cuidados, eram os que orientavam garantir experiências diversificadas a todas as
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a rotina na creche, sendo que os trabalhos desti- crianças que freqüentam a instituição. A for-
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nados às atividades pedagógicas ocorriam, na ma como foi estruturada a rotina reflete a con-
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maioria das vezes, sem intencionalidade. As for- cepção que se tem da criança, como ser capaz 196
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mações do grupo de funcionários aconteciam es- e competente, e do educador, como profissio-
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poradicamente e participavam delas somente as nal capacitado para intermediar as relações
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educadoras, na época denominadas recrea- entre as crianças e destas com o conhecimen-
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cionistas, segundo a carreira da universidade. Em to. Além disso, garantia-se o direito de acesso
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geral, as discussões se concentravam nas relações ao conhecimento. A rotina tem como objetivo
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com as crianças, em casos individuais ou nas ca- oferecer às crianças um equilíbrio entre ativi-
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racterísticas de uma determinada faixa etária. dades dirigidas, brincadeiras, higiene, alimen-
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Apesar de não existir um espaço para pla- tação e tem como intenção garantir a interação
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nejar e registrar o trabalho desenvolvido com das crianças do grande grupo (todas as crian-
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as crianças, alguns educadores, por iniciativa ças do módulo) no pequeno grupo (cada um
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própria, cultivavam o hábito de trocar expe- dos quatro grupos de um módulo) e a integra-
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usando para isso os momentos de sono das educacional. Uma delas foi a implementação
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crianças ou mesmo momentos fora de seu do que se chamou Estudo da Realidade (ER),
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atendimento a crianças maiores de três anos, diano do trabalho, no que dizia respeito tan-
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lho. Muitas dúvidas foram surgindo, e, com interfaces entre os diversos grupos da insti-
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elas, veio a necessidade de um projeto edu- tuição. Durante o tempo em que foi realiza-
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cacional que pudesse interligar as diferentes do, o Estudo da Realidade permitiu identifi-
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áreas que atuavam na creche, bem como da car essas necessidades e propor encaminha-
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crianças. Além disso, parecia necessária uma entendimento sobre o trabalho com crianças
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organização equilibrada da rotina, que tradu- pequenas ficou mais claro para todos os seg-
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do projeto educacional, levaram-se em conta o go dos anos, entre as quais está a formação
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tegral da criança de 0 a 6 anos, o número de ho- e grupos de apoio. Surge, então, o projeto de
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ras que elas passam na instituição e quantos Oficinas, desenvolvido com os grupos de lim-
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anos ficariam ali. A partir dessas considerações, peza, cozinha e lactário, que tinha como pro-
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foi necessário algo que organizasse o tempo, o posta não somente a confecção de materiais
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espaço, as necessidades quanto aos cuidados e brinquedos, mas um espaço para a forma-
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das crianças e as ações que identificavam a cre- ção desses funcionários. Durante os traba-
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depois ser transmitidas às crianças. observá-las em suas brincadeiras. Durante o
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Assim, a construção do projeto educacio- pequeno grupo, acontecem as atividades
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nal foi um processo coletivo e o Estudo da dirigidas pelo educador e planejadas previa-
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Realidade, ou seja, o levantamento de dis- mente para cada faixa etária. São desenvolvi-
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cussões com a comunidade da creche, para dos, aqui, os projetos e as atividades seqüen-
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elaborar, discutir e desenvolver esse proje- ciadas, considerando as diversas áreas do co-
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to, foi um grande aliado. O tempo para a for- nhecimento, bem como os objetivos de tra-
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mação dos educadores foi uma das condições balho para cada faixa etária.
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apontadas, tendo sido implementado ao lon- Consideramos que a estruturação da roti-
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go dos anos. na foi um dos eixos importantes para o de-
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Em razão do horário de atendimento às senvolvimento do projeto educacional na cre-
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crianças, existe troca de turnos de educado- che, pois trouxe equilíbrio entre as atividades
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res entre os períodos da manhã e da tarde, e o propostas e o entendimento de seus signifi-
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planejamento das atividades é feito em con- ○
cados, considerando nossa concepção de
junto entre as equipes desses dois turnos. A Educação. Vale dizer que a forma como está
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formação dos educadores acontece durante organizada a rotina não é estática, está sem-
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rotina está organizada em momentos de co- ças. Exemplo disso foi a alteração, há poucos
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letivo dirigido (ateliês) e de coletivo livre (pá- anos, do momento de sono, que antes era ofe-
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tio), pequenos grupos (atividades dirigidas recido a todas as crianças, sem opção de es-
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em sala com a mesma faixa etária), alimenta- colha. Entendemos, ao longo de discussões,
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ção, sono e higiene. O eixo condutor dessa que o sono não era uma necessidade de todas
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crianças entre diversas faixas etárias e da cre- ofertas diferentes. Atualmente, há na creche
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Os ateliês são organizados com diferentes organizados para o sono ou para brincadei-
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che. Seus objetivos são a interação, a coope- educacional ocorreu nos diferentes segmen-
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ração e a livre escolha das crianças. Além dis- tos da creche, resultado de um trabalho cole-
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so, favorecem a recepção das crianças, pois tivo. Agora, temos diferentes espaços organi-
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são propostas oferecidas pelo educador, mas zados para diálogo, discussões, planejamen-
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não dirigidas por ele, o que permite que ele to e construção desse trabalho.
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Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
Do formal ao cultural:
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a experiência da Escola Balão
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Vermelho com os Projetos de Trabalho*
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Alessandra Latalisa de Sá e Ana Cristina Coura Cheib
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Escola Balão Vermelho/MG
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Introdução
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cada vez mais ampla de seu significado. Enten-
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demos que, mais do que ensinar os conteúdos
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Fundada em 1972, a Escola Balão Vermelho das disciplinas, a escola é um espaço de cultura
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tem como marca o exercício da reflexão sobre a viva, que acolhe toda a diversidade de relações
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sua prática, o que lhe proporciona um ganho presentes na realidade em que está inserida. As-
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muito significativo na melhoria de seu ensino, sim, trabalhar por projetos, hoje, mais que uma
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na medida em que antigas certezas do fazer pe- opção metodológica, é uma postura assumida na
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dagógico podem ser flexibilizadas e dar lugar a forma de conceber e concretizar a Educação,
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novas formas. E é investindo na formação de seus numa nova possibilidade de organização do es-
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sos de ação pedagógica e estabelecendo um Com a intenção de promover essa nova or-
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constante diálogo com outros “saberes”, tanto ganização, reestruturamos a forma de agrupar as
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escola vem conseguindo realizar esse processo. facilitar a formação dos educadores, bem como
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Como parte desse trabalho reflexivo, a esco- a reflexão contínua sobre os eixos curriculares
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1994, para discutir a respeito da necessidade de Dessa maneira, passamos a agrupar nossos
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tornar seus alunos ainda mais participativos no alunos por ciclos de formação, cada um deles
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processo de aprendizagem, desde o planejamen- com dois anos de duração. Tomamos essa deci-
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to. Apoiados, naquele momento, nos estudos de são em 1996, por acreditarmos que o processo
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Josette Jolibert, deu-se início ao que podemos de formação exige um tempo maior e mais flexí-
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chamar de “Pedagogia de Projetos”. vel que aquele induzido pela organização dos
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como Fernando Hernández, Sacristán, entre ou- meio dos projetos de trabalho coletivos, proje-
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tros, em 1998, o novo desafio que nos envolveu tos individuais e módulos de aprendizagem. Essa
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foi delimitar diretrizes curriculares para a escola organização do trabalho tem garantido a possi-
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e explicitá-las melhor aos alunos, pais e educa- bilidade de abordagens globalizadas dos diferen-
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dores. A necessidade veio da prática com proje- tes conteúdos e a participação ativa das crian-
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tos. Desde que a escola assumiu essa pedagogia, ças no seu processo de aprendizagem.
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muitas mudanças e escolhas foram sendo feitas. Para esse contexto, modificamos, também,
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Após quatro anos de percurso, já era possível to- nossa forma de organização do trabalho da equi-
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mar distância e buscar os eixos que estavam ori- pe pedagógica, buscando torná-la ainda mais co-
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entando o trabalho naquele momento. letiva. A experiência atual conta com a coordena-
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Atualmente, a escola vem prosseguindo seu ção de ciclos, que atua juntamente com a direção
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trabalho com projetos, porém numa concepção pedagógica da escola. Essa função é ocupada, a
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* Texto elaborado por Alessandra Latalisa de Sá e Ana Cristina Coura Cheib, em agosto de 2001.
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desenvolvido em uma das turmas, com 19 cri-
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cada seis meses, por um professor da escola, que
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é eleito por seus companheiros do ciclo. Assim, anças entre 5 e 6 anos de idade.
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acreditamos atender melhor às necessidades de É indiscutível, nos dias atuais, a necessidade
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formação e de reflexão sobre o trabalho realiza- de uma intervenção direta da escola na forma-
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do. Estão previstos, ainda, assessorias e grupos de ção de sujeitos capazes de se relacionarem com
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trabalho para atender às necessidades de forma- o meio ambiente, buscando sempre “a aquisição
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ção e de reflexão sobre o trabalho realizado. de conhecimento, de valores, de atitude, de com-
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promisso e de habilidade necessários para a pro-
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Nossos atuais eixos curriculares buscam
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definir as dimensões de formação dos edu- teção e melhoria do meio ambiente; a criação de
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candos que estamos priorizando. Esses eixos novos padrões de conduta orientados para a pre-
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curriculares se estendem da Educação Infantil servação e melhoria da qualidade do meio am-
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à Educação Fundamental e são, também, refe- biente” (MEC, 1991: 7).
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rências para a avaliação do processo e do ren- Por esse motivo, já há algum tempo a escola
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dimento do trabalho. Como tais, eles não são vinha investindo na colocação de lixeiras para a
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estáticos e podem ser reformulados a partir da ○
coleta seletiva e, mais recentemente, aderiu ao
experiência vivida. projeto Circuito Ambiental, que é uma parceria
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• diversidade cultural;
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perspectiva, escolhemos relatar o “Projeto Lixo” ras decidiu realizar um projeto durante o 1o se-
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– trabalho que envolveu toda a comunidade es- mestre de 2001, em que esse tema pudesse ser
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trabalhado.
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mento dado ao lixo. A partir da proposta pelos ciar um processo de mudança de atitude com a
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educadores de reflexões a esse respeito, as cri- comunidade escolar e seu entorno, no que diz
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tiva e reciclagem;
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va e a reciclagem;
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tas de ação que poderiam mobilizar a comuni- • desenvolvessem boas estratégias para viabilizar
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dade para a necessidade de se atentar para essa a coleta seletiva, tanto na escola quanto em suas
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Esse projeto foi realizado no primeiro semes- • conectassem o “problema” do tratamento que
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tre do ano letivo de 2001, na escola Balão Ver- tem sido dado ao “lixo” com uma esfera mais
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melho, pelas turmas da Educação Infantil, com ampla, relacionada à preservação do meio am-
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crianças entre 5 e 7 anos de idade. Ele será, aqui, biente e a formas de sobrevivência;
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O projeto conta com a participação de diversas escolas, que receberam, cada uma delas, um contêiner para a coleta seletiva de lixo. O lixo
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é enviado à Asmare, onde são feitas tanto a triagem e a posterior venda de material, quanto a reciclagem de uma parte dele. Estima-se que
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mais 200 famílias se beneficiaram com o trabalho gerado pelo aumento da quantidade de material coletado.
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Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
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do o conhecimento adquirido durante o projeto A lista, que foi afixada no mural e serviu como
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com a comunidade escolar e extra-escolar. referência durante todo o percurso, tinha os se-
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A partir dessa decisão, cada professora de- guintes itens:
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senvolveu o trabalho com sua turma. Durante • estudar a reciclagem;
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todo o percurso, tivemos vários encontros em • marcar um dia para trazer lixo de casa;
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que foram discutidas as estratégias de interven-
• colocar duas lixeiras na sala;
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200
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ção no processo de conscientização das crian-
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• assistir ao filme da Asmare;
ças sobre o tratamento do lixo, oportunidades
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em que cada uma de nós compartilhava o mate- • visitar a Asmare;
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rial utilizado no estudo e os avanços que a tur- • aprender a reciclar;
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ma havia realizado.
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• contar o que aprendemos para outras pessoas.
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Problematização O desenvolvimento do projeto
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O primeiro momento do projeto foi uma con- A partir de agora, relatarei cada um dos itens
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versa com as crianças. Nessa conversa, fiz uma da lista como momentos importantes no decor-
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série de perguntas às crianças a fim de saber rer do projeto, fazendo uma abordagem das es-
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tema (coleta seletiva e reciclagem do lixo). com as crianças e da relação delas com a pro-
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Reciclagem
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perguntei sobre o objetivo daquele coletor que gem, as crianças informaram que viravam brin-
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havia na escola, todas disseram que era para se- quedos. Então, informei-lhes que diferentes
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Então, ao final dessa primeira conversa, in- A essa altura, outra professora, com sua tur-
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poderiam compreender melhor por que se faz De posse desse material, separei, com a par-
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alizarmos o nosso projeto, organizássemos uma As informações anotadas foram também afi-
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lista com tudo aquilo que não poderíamos es- xadas no mural. Esse estudo, além de esclarecer o
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quecer de fazer. Durante a confecção da lista, destino de cada material, informou às crianças a
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Esse material permaneceu disponível na biblioteca (separado em uma caixa) para todas as turmas envolvidas com o projeto.
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Instrumentalizar as crianças para o estudo e poderia estar todo misturado nem sujo. A primei-
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o tratamento dado às informações3 foram pon- ra proposta foi de uma lixeira para plástico e outra
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tos abordados nesse momento do projeto, em para papel, por serem os materiais mais utilizados
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que trabalhei, com as crianças, estratégias de por nós. No entanto, ficamos sem ter onde colocar
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busca e seleção de informação, bem como de seu o não-reciclável. Após alguns dias de incômodo,
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armazenamento para futuras recorrências. fui até a sala de outra professora, que havia feito
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da seguinte forma: uma lixeira para os recicláveis
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e outra para os não-recicláveis (como na sugestão
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Marcar dia para trazer lixo de casa
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feita aos pais). Levei as crianças até a outra sala para
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Faz parte da cultura da escola a elaboração, verem a boa idéia que tiveram e fizemos o mesmo
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por turma, de um calendário semanal, em que são
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em nossa sala. Diariamente, ao final da aula, uma
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registradas as principais atividades de cada dia. criança leva o lixo até o contêiner.
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Um destes é o “dia do brinquedo” – dia escolhido
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pela turma e no qual cada criança pode levar para
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a escola um brinquedo de casa. Estabelecendo ○
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Assistir ao filme da Asmare
uma relação com esse dia, propus às crianças a Ao organizarmos o roteiro com as principais
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Para que os pais pudessem ajudar as crian- sibilidade de irmos até a Asmare, onde podería-
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ças e compartilhassem da nossa empreitada, mos ver o que, de fato, se fazia lá.
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sugeri que lhes escrevêssemos um bilhete. Nele, O filme, com uma matéria sobre a fundação
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tiva, seria necessário informar o dia em que o zia parte da nossa caixa na biblioteca. Propus às
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lixo deveria ser levado à escola. crianças que assistissem ao filme para conhece-
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sugerir aos pais que tivessem duas lixeiras em nejar a aula, assisti ao filme e programei saltos
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casa: uma para os recicláveis (estes deveriam ser (das partes que continham longas entrevistas) e
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ria levada para a escola, e as crianças se encarre- na cena seguinte). Essa estratégia foi usada vi-
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gariam de fazer a triagem para as respectivas par- sando à maior adequação daquele material para
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pais. E ressaltei para as crianças a importância do ante de uma realidade muito diferente5 daquela
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uso de um instrumento adequado (no caso, o bi- na qual vivem e, além disso, explicitou, de uma
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gadas à associação.
Colocar duas lixeiras na sala
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Sugeri que também levassem para o contêiner procurei trabalhar com elas a importância das
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o lixo produzido em nossa sala. Para isso, ele não atividades realizadas na Asmare para a preser-
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3
Ambos os pontos são parte do currículo da escola, estruturado a partir de cinco eixos: experiências culturais e artísticas, instrumentalização
○
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Nos livros em que estudamos, as crianças obtiveram a informação de que todo material a ser reciclado ou reaproveitado deveria ser lavado,
○
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5
Em nosso currículo, esse ponto tem relação com a diversidade cultural, em que procuramos trabalhar a construção de uma identidade tanto
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a partir do contraste com o diferente, quanto do reconhecimento desse diferente e do respeito a ele.
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202
PAINEL 16
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
vação do meio ambiente. Portanto, não eram projeto tem relação com outro eixo curricular: a
○
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apenas elas que ajudavam a Asmare, mas o tra- “relação cidade–escola”, em que é revelada a nossa
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balho feito lá ajudava a todos nós, na medida que intenção de levar as crianças ao reconhecimento
○
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dava um tratamento adequado ao lixo, evitando da possibilidade de inter-relação entre a escola e
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seu acúmulo e o desperdício de matéria-prima. outras tantas instituições e espaços da cidade. Por-
○
○
A esse respeito, havia lido para elas uma repor- tanto, é importante, para nós, que as crianças te-
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tagem da “Folhinha” do jornal Folha de S.Paulo, nham oportunidade de aprender a reconhecer
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afirmando que, a cada dia, produzíamos mais outros espaços, além da escola, como possíveis 202
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lixo e o planeta continua do mesmo tamanho; fontes para a construção do conhecimento.
○
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portanto, se isso continuar assim, um dia o pla-
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neta estará completamente coberto de lixo.
Aprender a reciclar
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○
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Na Asmare, ao conhecer o lugar onde era fei-
Visita à Asmare
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ta a reciclagem do papel, as crianças puderam
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Permanecemos por duas horas nas depen- observar todo o processo de reciclagem e acom-
○
○
dências da Asmare. Nossa visita foi monitorada panhar as explicações de uma das pessoas que
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por uma das pessoas que trabalhavam com a tri- lá trabalhavam.
○
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agem do material coletado. ○
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Para o registro da explicação, foi feita uma es-
Mais do que ao assistir ao filme, as crianças crita no formato de receita, e esta foi anexada à
○
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se surpreenderam com aquelas pessoas traba- pasta de cada criança. Ao propor que guardassem
○
lhando em meio a montanhas de material. o registro, deixei claro que iríamos recorrer a ele
○
○
Janete, a monitora da visita, explicou todo o pro- quando, no segundo semestre, fôssemos realizar
○
○
cesso de triagem, além de mostrar a reciclagem uma oficina de reciclagem de papel na escola.
○
onde a produção era vendida. crita do que haviam memorizado sobre “como
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○
Enquanto nos mostrava o espaço e falava se recicla o papel” foi um importante momento
○
○
poder trabalhar ali, e contou-lhes sobre um escolha consciente pelas crianças do texto tipo
○
○
“lixão” que havia visitado, onde as pessoas vi- “receita” como o mais adequado para o registro.
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o que aprenderam
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O processo que utilizei foi o seguinte: mos- informações sobre reciclagem e já conseguiam
○
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trava a fotografia, e as crianças se lembravam, estabelecer uma relação entre ela e a coleta se-
○
○
com a minha ajuda (por meio de perguntas e letiva. Portanto, voltando ao mural onde estava
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do que tinha sido fotografado e do que a Janete necessidade de contarem para outras pessoas a
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○
havia dito sobre aquele lugar ou aquela tarefa respeito do que haviam aprendido.
○
○
texto) foi afixado na parede externa à sala para que da escola. Para isso, dividi a turma em equipes,
○
○
outras turmas pudessem conhecer o trabalho da para que cada uma delas fosse até uma das salas.
○
○
Asmare. O texto também foi digitado e distribuí- A tarefa seria falar sobre a importância de se fazer
○
uma pasta com outros registros do projeto. sível, e marcar um dia para que a turma trouxes-
○
○
É necessário ressaltar que esse momento do se o lixo de casa para a escola. Depois, já em nos-
○
○
sa sala, construímos uma tabela em que estavam guagem utilizada àquela própria de um texto
○
○
marcados os dias de cada turma trazer o lixo. Essa publicitário, naquele suporte específico.
○
○
tabela foi afixada no corredor da escola. Feitos os panfletos, iniciamos sua distribui-
○
○
No entanto, já feita a divulgação interna, era ção pelas ruas e prédios em torno da escola. Para
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preciso cuidar da externa. As crianças, quando que essa tarefa fosse viável, contei com a ajuda
○
○
questionadas sobre a melhor maneira de divulgar- de uma funcionária da escola, que, a cada dia,
○
○
mos a necessidade da coleta seletiva, disseram que permanecia com parte das crianças na escola,
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bastava que contássemos a nossa experiência para para que eu pudesse sair com um pequeno gru-
○
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as pessoas com as quais nos encontrássemos. po. Esse trabalho de panfletagem é feito até hoje,
○
○
Então, eu lhes disse que “contar” não era sufi- semanalmente.
○
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ciente, pois as pessoas acabariam se esquecendo, Além do panfleto, produzimos um cartaz que
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já que era preciso memorizar muitos dados (como, foi afixado numa feira de verduras e legumes que
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por exemplo, a cor da lixeira destinada a cada ma- fica em frente da escola. Para a sua confecção,
○
○
terial). Sugeri a confecção de um panfleto que, além da mesma forma como foi feito o panfleto, levei
○
○
de propagar a importância da coleta seletiva, po- ○
para a sala diferentes cartazes que, depois de
deria ajudá-las a ensinar como fazê-la. analisados, serviram de referência para a produ-
○
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Recolhi e analisei com as crianças uma série ção do nosso próprio cartaz.
○
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de panfletos para que elas pudessem produzir o Portanto, aprender a fazer panfleto e cartaz
○
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seu próprio. Durante a análise, chamei a aten- não foi uma situação descontextualizada de
○
linguagem utilizada e como as informações eram contexto real de uso, em que uma comunicação
○
○
organizadas. Todas as observações feitas eram fazia-se necessária e, para que fosse de fato efi-
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anotadas para que, ao produzirmos o panfleto caz, era preciso que as crianças o fizessem de
○
○
referente à coleta seletiva, pudéssemos recorrer forma adequada. Dar acesso às crianças a esses
○
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a elas. As características anotadas foram: objetos sociais de escrita faz parte do que acre-
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nossos alunos.
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menores;
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Avaliação
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rem melhor;
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lefone e o preço;
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• uso de mapa para indicar caminhos; sua relação com a coleta seletiva já havia sido
○
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compre, venha, não perca, venha agora, coma, ficaria o fim do nosso investimento na conscien-
○
experimente;
○
pessoas a comprar;
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situação em que todas as crianças davam palpi- considerou mais importante no nosso projeto.
○
○
tes e eu, além de realizar o registro por escrito, Além dessa avaliação final, o processo de
○
○
fazia intervenções no sentido de aproximar a lin- avaliação esteve presente durante todo o per-
○
204
PAINEL 16
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
○
. Repensar a função da escola a partir dos
○
crianças avaliaram o que haviam aprendido à projetos de trabalho. Pátio, Porto Alegre, ano 2, n. 6, ago/
○
○
out. 1998.
medida que organizavam o conteúdo para ser
○
HERNÁNDEZ, Fernando, VENTURA, Monteserrat. A organi-
○
contado a outras pessoas; quando colocamos
zação do currículo por projetos de trabalho. 5.ed. Porto
○
duas lixeiras na sala, uma para plástico e outra
○
Alegre: Artmed, 1998.
○
para papel, percebemos que o resultado não JOLIBERT, J. Formando crianças leitoras. Porto Alegre:
○
○
estava adequado à nossa necessidade e, após Artmed, 1994.
○
uma avaliação, recorremos à solução encontra- . Formando crianças produtoras de textos. Por- 204
○
○
da por outra turma. Portanto, avaliar é instru- to Alegre: Artmed, 1994.
○
LEITE, Lúcia Helena Alvarez (Org.). Projetos de trabalho:
○
mento necessário para a construção de sentido
○
repensando as relações entre escola e cultura. Belo Ho-
○
e para a continuidade do processo, e não ape- rizonte: Editora Balão Vermelho, 1998. Cadernos de ação
○
nas uma situação estanque, localizada no final
○
pedagógica.
○
do processo. SACRISTÁN, J. Gimeno. Compreender e transformar o en-
○
○
sino. Porto Alegre: Artmed, 1998.
○
. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Por-
○
○
Bibliografia to Alegre: Artmed, 1998.
○
. A educação obrigatória: seu sentido educa-
DELVAL, J. Aprender na vida e aprender na escola. Trad. ○
○
○
○ tivo e social. Trad. Jussara Rodrigues. Porto Alegre:
Jussara Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2001. Artmed, 2001.
○
HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na edu- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinarida-
○
○
cação. Porto Alegre: Artmed, 1998. de: o currículo integrado. Porto Alegre: Artmed, 1997.
○
○
○
○
○
○
○
Projetos pedagógicos
○
○
○
na Educação Infantil
○
○
○
○
Durante muito tempo, nosso trabalho es- participar do Programa Capacitar 1, organizado
○
○
teve totalmente voltado para os cuidados fí- pela Cooperativa de Entidades (Cooperapic), fi-
○
vamos fazer o que sabíamos em relação ao to Social e posto em prática pela ONG Creche-
○
○
atendimento das crianças, mas não havia uma plan, hoje, Instituto Avisa Lá! Nesse programa,
○
○
proposta pedagógica nem mesmo espaço todos os profissionais da nossa instituição pas-
○
onde poderíamos pensar sobre isso. Sentía- saram a receber formação em serviço. A partir daí,
○
○
que nos permitisse olhar as crianças de uma A cada encontro de formação, descobría-
○
○
* Coordenadora pedagógica da Creche da Associação de Mães Unidas do Novo Osasco (Amuno) e formadora da Creche Verbo Divino,
○
associada à Cooperapic/SP
○
espaço educacional. Foi se criando um olhar Compartilhar com os outros também é
○
○
diferente para todos aspectos que envolviam importante para as crianças, pois eles sabem
○
○
as crianças. Começamos a elaborar um proje- que o seu trabalho terá outros leitores e apre-
○
to institucional mais consistente, do qual par- ciadores. Para isso, colocam em jogo tudo o
○
○
ticiparam todos os funcionários da creche. que sabem, tomando decisões e dividindo ta-
○
○
Além de todas as mudanças que envolvia re- refas. Enfim, o comprometimento é maior, o
○
pensar a concepção de criança, desenvolvi-
○
que garante que as aprendizagens sejam mais
○
mento, aprendizagem e ensino, as práticas pe- efetivas e o resultado, o melhor possível.
○
○
dagógicas foram modificadas. Dentre elas, gos- É grande o envolvimento do educador,
○
○
taria de destacar a incorporação dos projetos pois geralmente ele é o responsável pela es-
○
pedagógicos em nosso cotidiano. A experiên- colha do tema. Precisa desenvolver um estu-
○
○
cia com projetos trouxe mais significado ao do prévio e organizado, pois, o tempo todo,
○
○
trabalho e nos permitiu ter outra visão em re- está se confrontando com questões e desafios
○
lação ao trabalho com Educação Infantil.
○
que as crianças vão trazendo. Seu papel é o
○
○
○
de promover situações de aprendizagem de
Concepção de projeto forma significativa. O projeto nos permite
○
○
pedagógico
○
tem atravessado vários momentos da história educador, mas, a partir de sua implantação,
○
○
da Educação e vem se transformando ao lon- o trabalho flui, facilitando nossa ação, permi-
○
○
go do tempo. A concepção que adotamos en- tindo uma visão melhor de quanto e como as
○
crianças aprendem.
○
co o mais próximo possível das práticas soci- Resumindo as vantagens, podemos dizer
○
○
ais. O projeto é um conjunto de situações con- que a prática de trabalho com projetos pos-
○
○
então, um ou mais objetos, que dão visibilida- • a garantia de uma seqüência organizada de
○
○
baile de carnaval, uma fita cassete com músi- • maior envolvimento de educadores e crianças.
○
○
com projetos
○
○
com projetos?
○
○
Para as crianças, há um grande ganho, pois quando as crianças já entendem a relação en-
○
○
se sentem atraídas e motivadas a participar tre as atividades e o produto final. A partir dos
○
sas que já conhecem. projeto por grupo, a cada três ou quatro meses.
○
○
206
PAINEL 16
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – Educação Infantil
○
○
além dos projetos, as atividades permanen- sar um pouco mais. Há possibilidade de tra-
○
○
tes e diferentes seqüências. Se, por exemplo, balharmos com mais conteúdos, pois espera-
○
○
estamos desenvolvendo um projeto de recon- mos que elas avancem no conhecimento do
○
to de histórias conhecidas, teremos muitas código alfabético e da linguagem escrita. As-
○
○
ações envolvendo tanto a linguagem oral sim, são inúmeros os produtos ligados a dife-
○
○
quanto a escrita. Portanto é preciso pensar em rentes gêneros textuais, como a produção de
○
atividades permanentes e seqüenciais que textos informativos, folders, livro de adivinhas 206
○
○
envolvam outras áreas, como movimento, ar- ou rimas etc.
○
○
tes visuais, música etc., para que, em outros A concepção que adotamos entende o pro-
○
○
momentos do dia, as crianças tenham expe- jeto como um conjunto de situações contex-
○
riências diferentes. tualizadas. Há um objetivo final, que é com-
○
○
partilhado com as crianças desde o início. As
○
○
Conteúdos possíveis crianças são envolvidas em uma seqüência de
○
○
atividades com vistas a produzir um evento
na Educação Infantil
○
ou um ou mais objetos, que dão visibilidade
○
○
O mais importante é que, na Educação In- ao processo de aprendizagem. Há um forte
○
○
fantil, podemos diversificar muito, pois não vínculo com uma área de conhecimento, mas,
○
boas escolhas em relação aos projetos. É im- integram sempre diferentes áreas que colabo-
○
○
portante lembrar que todo trabalho pedagó- ram com o produto final.
○
○
gico envolve conteúdos conceituais, proce- Quando esperamos que as crianças avan-
○
uma fita cassete de poesias para doar a um da linguagem escrita, podemos pensar em
○
○
grupo de crianças menores, por exemplo, es- produtos ligados a diferentes gêneros textu-
○
○
oral e escrita, mas também a auto-estima, a folders, livro de adivinhas ou rimas, fita cas-
○
○
PROJETO PEDAGÓGICO:
POR QUÊ, QUANDO E COMO –
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Rosângela Pereira
Elizabete Monteiro
209
Projeto pedagógico:
○
○
○
por quê, quando e como
○
○
○
○
Rosângela Pereira
○
○
Projeto Kellog/SP
○
○
○
○
○
○
○
○
Por quê Brasil e possibilitar a inclusão de diferentes ti-
○
○
pos de texto no mesmo material.
○
Esse trabalho foi realizado em uma sala de
○
Após produzirmos esse primeiro material,
○
aula de jovens e adultos da empresa Método fizemos uma “noite de autógrafos” em que os
○
○
Engenharia, em convênio com a Fundação ○ educandos declamaram poesias de sua auto-
Kellog e o Centro de Estudos Escola da Vila. O
○
duzir um almanaque.
○
mens que desempenhavam diversas funções na Outro projeto foi sobre a Aids, pois era uma
○
○
como unidade básica e sua diversidade no uso vos do estudo por projetos: ter um produto fi-
○
○
social, pois os educandos jovens e adultos, em- nal que possa transmitir os assuntos estudados
○
melhorarem sua competência comunicativa, pois até modificar os hábitos e as atitudes dos mo-
○
carem por meio de mais de uma linguagem. tinuidade ao estudo da reprodução humana e
○
○
educandos.
○
classe, o sentimento de solidão do alunos por ferentes tipos de textos: jornalísticos, contos,
○
○
projeto, a confecção de um almanaque. A idéia O primeiro livro escolhido para ser lido
○
○
desse tipo de portador surgiu por ser um ma- pela classe foi Vidas secas, por se tratar do
○
○
terial muito comum em algumas regiões do tema da migração e ser um texto bem escri-
○
○
210
PAINEL 17
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – EJA
○
○
como modelo e dá a possibilidade aos
○
Estudamos diferentes poesias, exploramos
○
educandos de se apropriarem da organização sua finalidade (despertar sentimentos), decla-
○
○
textual e de uma linguagem diferente, na hora mamos e reescrevemos algumas delas, troca-
○
de produzirem textos de autoria. Depois, le-
○
mos ou completamos algumas rimas que foram
○
mos os livros As mil e uma noites e Estrela so-
○
subtraídas das poesias e, para o almanaque,
○
litária. publicamos versões feitas pelos educandos da
○
Houve também a leitura de diferentes con- 210
○
poesia “Cidadezinha qualquer”.
○
tos (sem que estivessem, necessariamente, li-
○
○
gados ao tema), para que a classe pudesse se
○
Trabalho com os textos
○
apropriar da estrutura narrativa e da caracteri-
○
zação dos textos.
○
Ao trabalhar os diferentes textos, utilizamos:
○
As notícias de jornal trazidas tinham maté-
○
Reescrita. Era feita a leitura de um texto várias
○
rias relacionadas ao tema do projeto. Às vezes,
○
vezes, até que eles o tivessem na memória.
○
trabalhávamos com todo o jornal para estudar-
Depois, era solicitado que o reescrevessem,
○
mos sua organização (divisão por cadernos), a
○
trabalho que possibilita que os educandos se
○
inferência sobre o assunto da notícia por meio
○
○ preocupem somente com a organização do
das fotos ou das manchetes. Depois organiza-
○
Cartas
○
dar cartas, assim como poder ler as que recebi- modificações, quando necessário.
○
○
am. Escrevemos algumas cartas em classe e per- Revisão textual individual. Na produção de tex-
○
eles gostariam de enviar. Um dos educandos do com cada educando. Ou digitávamos os tex-
○
○
levou para a classe um livreto com modelos de tos na forma como eles haviam escrito e discu-
○
cartas. Passamos, então, a reescrevê-las, indi- cisavam ser corrigidas e, normalmente, alega-
○
○
vidual e coletivamente. A correção individual vam que os erros deviam ser da digitação, pois
○
concordância.
○
Esse tipo de texto é direto e objetivo e pos- comentava a história que tinha lido e indica-
○
ção da execução do prato ou objeto. Lemos tex- eram as mesmas para toda a classe, indepen-
○
○
tos instrucionais para confeccionar objetos; le- dente da hipótese que os educandos tinham
○
○
mos ingredientes de receitas para descobrir sobre a língua escrita. O que diferenciava o tra-
○
○
qual prato seria confeccionado, e, pelo estudo balho era a intervenção feita pela educadora
○
do texto “A sopa de pedras”, criamos a receita e com cada um dos educandos e o nível de exi-
○
○
○
○
○
prática de letramento:
○
○
○
experiência de uma escola
○
○
○
pública de Salvador
○
○
○
○
Elizabete Monteiro
○
○
Projeto Axé/BA
○
○
○
○
○
ções, atendemos nove classes, sendo seis no
Contextualização
○
○
turno matutino, com alunos que apresentavam
○
grande defasagem de idade/série, e três classes,
○
○
e adolescentes atendidos pelo Projeto Axé vi- manhã, dez à tarde e nove à noite), com nú-
○
A escola hoje
○
que freqüentavam.
○
○
Essa população costumava chegar ao Pro- Inserida num contexto socioeconômico pou-
○
tência escolar, história essa semelhante à de apresenta alto índice populacional, a escola está
○
○
ticipar das atividades do Projeto Axé, mas, com Apesar desse contexto muito próximo da
○
○
raras exceções, os educandos não ultrapassa- realidade das crianças e jovens atendidos pelo
○
○
do Projeto Axé (1998), revelam que grande par- em relação aos alunos, meninos e meninas do
○
○
te desses alunos, com defasagem de idade/sé- Projeto Axé, que freqüentam a escola.
○
○
rie, passou por múltiplos fracassos na escola. Tanto os alunos que vêm de outros bairros
○
ma muito baixa e não acreditam que são capa- Cristóvão estão expostos aos mesmos sintomas
○
○
zes de aprender. Por causa disso, realizou-se da patologia da nossa cidade (que coincidem
○
○
uma parceria entre o Projeto e a Secretária Mu- com os de outras metrópoles brasileiras): altas
○
no Fundamental de qualidade para as crianças suprimento dos serviços de água e luz, equilí-
○
○
e adolescentes atendidos pelo Projeto Axé e da brio familiar fragilizado, convívio com a violên-
○
No início do ano letivo (abril de 1999), a es- Um aspecto adicional que emerge das ori-
○
○
cola funcionou em uma casa alugada pelo Pro- gens históricas da cidade, importante também
○
○
jeto Axé e, em razão de limitações das instala- na construção da proposta pedagógica da Es-
○
212
PAINEL 17
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – EJA
cola Municipal Barbosa Romeo, é a articulação professor e aluno possam dialogar problemati-
○
○
entre raça e pobreza como variáveis que defi- zar e atualizar as questões e os desafios do co-
○
○
nem a participação precoce da criança no mer- nhecimento.
○
○
cado de trabalho de Salvador. No interior des- Segundo Fernando Hernandez:
○
sa conjuntura, os vínculos já frágeis dos nú-
○
A função do projeto é favorecer a criação de es-
○
cleos familiares dificilmente resistem.
○
tratégias de organização dos conhecimentos es-
○
Nesse contexto, a definição da identidade colares em relação: 1. ao tratamento da informa-
○
do Projeto IIê Ori, desenvolvido na Escola Mu- 212
○
ção; e 2. à relação entre os diferentes conteúdos
○
nicipal Barbosa Romeo, foi construída a partir em torno de problemas ou hipóteses que facili-
○
○
da idéia da sociedade como uma totalidade na tem aos alunos a construção de seus conheci-
○
○
qual nossos alunos estão inseridos. Isso impli- mentos, a transformação da informação proce-
○
cou pensar numa proposta pedagógica que pu- dente dos diferentes saberes disciplinares em
○
○
desse atender a essas crianças integralmente, conhecimentos próprios (Hernández, 1998: 61).
○
○
não só no âmbito de conteúdos conceituais,
○
Sendo assim, o trabalho com projetos cons-
○
mas, principalmente, em relação aos conteú-
○
dos procedimentais e atitudinais, em que éti- titui-se em excelente situação de uso social dos
○
○
ca, valores e estética estejam impregnando conteúdos, que são desenvolvidos de forma sig-
○
nificativa.
Acreditamos que o movimento próprio do
○
permear a sala de aula, possibilitando ao alu- misso do aluno com sua aprendizagem. O fato
○
no aprender pensando.
○
gias pedagógicas.
○
A prática de letramento
○
na escola pública
○
Numa sociedade em constante transforma- ses de EJA, como essa proposta pode ser as-
○
○
cisamos desenvolver uma pedagogia em que vias. No entanto, considerando os rumos que
○
○
as práticas leitoras e escritoras tomaram den- teriam mais interesse por estes e não por aque-
○
○
tro da escola, fomos levados a refletir sobre a les. Grande engano! No levantamento dos co-
○
○
necessidade de repensarmos o nosso fazer pe- nhecimentos prévios dos alunos, observamos
○
○
dagógico, no sentido de tornarmos o ensino da que apenas um já ouvira falar da história de
○
leitura e da escrita menos escolar, buscando “Chapeuzinho vermelho”. Nenhum outro con-
○
○
nos aproximar das situações reais do uso da to era conhecido da turma!
○
○
língua. Isso implica deixar de tratar o ensino Optaram pela leitura dos contos “O patinho
○
da língua da forma que só a escola o trata: me- feio”, “Cinderela”, “João e Maria”, “Os três
○
○
canicamente, sem propósito comunicativo real porquinhos”, “O gato de botas”.
○
○
e com interlocutores fictícios ou, na maioria Essa foi a nossa primeira aprendizagem:
○
○
das vezes, inexistente. definir previamente o que ler, sem um pro-
○
Aqui relatamos dois dos vários projetos que fundo conhecimento da turma, dos seus de-
○
○
foram desenvolvidos na Escola Municipal Bar- sejos latentes e das necessidades imbricadas
○
○
bosa Romeo, que tem como um de seus objeti- na história de vida de cada criança, jovem ou
○
○
vos fazer com que crianças, jovens e adultos que ○
adulto, pode comprometer um “grande pro-
por ela passem sejam verdadeiros usuários da jeto de leitura”, elaborado com a melhor das
○
○
ção era a de Ciências, foi realizado em uma para a escrita, enfatizamos os aspectos macro-
○
O projeto “Era uma vez…” tinha como ob- especialmente aqueles que definimos como
○
○
jetivo geral: “Ler e escrever contos, garantin- indispensáveis para serem assegurados pelos
○
○
ticos do gênero e o destinatário real das pro- narrativa, zonas de descrição com utilização de
○
○
alunos, com idades variando entre 13 e 19 Por fim chegamos à produção dos contos.
○
○
anos, que chegaram à escola em 1999, em sua Os alunos e a professora esperavam ansiosos
○
maioria com a hipótese de escrita silábica ou por esse momento. A proposta de escrita – em
○
○
béticos, apresentavam ainda grande dificul- recursos lingüísticos, ambientação, trama e des-
○
○
dade de produção textual, sem fluência de lei- fecho bem definidos, seqüência narrativa bem
○
O projeto teve como empreendimento fi- espaço privilegiado de articulação das práticas
○
nal a produção de um livro de contos para ser de leitura, produção escrita e reflexão sobre a
○
○
Fica a pergunta: por que contos? O projeto tos de revisão até o ponto em que se decidia
○
foi pensado a partir da surpreendente consta- que o texto estava suficientemente bem escri-
○
○
tação de que os alunos, apesar de terem idade to. Para isso eram feitos rascunhos, alterações
○
○
avançada, ficavam “embriagados” com a leitu- no conteúdo e na forma. A última etapa foi re-
○
○
ra de contos infantis, especialmente os mais alizada com o apoio do computador, por meio
○
a leitura contos menos infantis, partindo do O mais surpreendente é que todos os alu-
○
○
pressuposto de que os alunos, já adolescentes, nos faziam, revisavam, refaziam os seus textos
○
214
PAINEL 17
Projeto pedagógico: por quê, quando e como – EJA
sem queixas. Pelo contrário, permaneciam en- res, que criavam situações interessantes e sig-
○
○
volvidos e extremamente motivados. Alguns nificativas e forneciam informações, permitiu
○
○
objetivos não só conceituais, como procedi- a reelaboração e a ampliação dos conhecimen-
○
○
mentais e atitudinais, foram alçados e um as- tos prévios dos alunos. Foram desenvolvidas
○
pecto ficou assegurado: o entendimento de leituras de textos das mais variadas fontes (jor-
○
○
que, quando escrevemos para alguém, preci- nais, revistas, folhetos, enciclopédia etc.) pes-
○
○
samos escrever de forma que sejamos enten- quisas na Internet, excursões (incluindo o Pro-
○
didos e, em se tratando de um conto, que nos- jeto Tamar). 214
○
○
so texto provoque o deleite. E os contos dos Por fim, chegou o momento da sistemati-
○
○
nossos alunos, com certeza, nos encantaram! zação das informações, para socializar os co-
○
○
Basta lê-los. nhecimentos construídos: alunos e professo-
○
Quanto ao segundo projeto, “Tartarugas ma- res optaram pela realização de um grande se-
○
○
rinhas”, foi desenvolvido nas classes de PEB I minário, aberto à comunidade, a todos os alu-
○
○
(Programa de Educação Básica – EJA – equiva- nos e aos funcionários da escola.
○
lente à 1 a série) e tinha como objetivo geral:
○
Nesse ponto, quero salientar os conteúdos
○
“Valorizar a vida em sua diversidade e a pre- procedimentais desenvolvidos por meio dessa
○
○
servação dos ambientes, por meio do estudo atividade (seminário), como também a interdis-
○
○
çado de extinção”. Os alunos tinham idade que dida em que os alunos elaboraram um folder,
○
conhecimentos intuitivos, adquiridos pela tas, enfim, a fazer uso de todo um repertório de
○
○
cada um. Por outro lado, desenvolveu-se um Essa atividade de fechamento do projeto
○
○
projeto. Incentivados a expor suas idéias para Podemos concluir, portanto, que é possí-
○
○
com outras explicações, os alunos puderam cola pública, seja ela de Educação Infantil,
○
○
rias leituras que tiveram de realizar. vens e Adultos. Tudo depende, evidentemen-
○
○
Esse processo, construído com interven- te, da concepção de ensino que está por trás
○
PROJETO PEDAGÓGICO:
POR QUÊ, QUANDO E COMO
Ivanete Carvalho e Andréa Guida Bisognin
217
As supervisões de
○
○
○
acompanhamento dos projetos
○
○
○
didáticos realizados em aula
○
○
○
○
Ivanete Carvalho e Andréa Guida Bisognin
○
○
Programa Escola que Vale – Fundação Vale do Rio Doce – Cedac/SP
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
O Programa Escola que Vale tem como eixo do e relatórios, os professores que participam do progra-
○
○
processo de formação de professores a realização de ma discutem coletivamente sobre suas dúvidas e difi-
○
projetos didáticos em aula, e seu desenvolvimento
○
culdades e sobre os propósitos que guiam suas tare-
○
é acompanhado por meio de reuniões mensais e fas, antecipam possíveis situações que podem ocor-
○
○
semanais com as coordenações regional e local. rer na salas de aula, decorrentes de decisões tomadas
○
Esses projetos necessitam de planificação de- pelo grupo, trocam informações sobre as aprendiza-
○
○
talhada, avaliação permanente e reorientação das gens das crianças a partir da análise de suas produ-
○
○
ações, em razão dos propósitos didáticos e dos ob- ções e passam a construir gradativamente novos ob-
○
jetivos compartilhados com os alunos. É nesse con- serváveis sobre a relação ensino–aprendizagem.
○
○
texto que as supervisões cumprem papel funda- Neste relato, serão destacadas algumas mu-
○
○
mental, pois criam situações de análise que são, ao danças provocadas por essas estratégias forma-
○
mesmo tempo, favoráveis às transformações nas tivas: a produção e a reflexão coletivas, a formação
○
○
As linguagens expressivas
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
tro de Educação Infantil Municipal (CEI) Profª presença de um programa de formação continua-
○
○
Honorina Pacheco Corrêa, no bairro Rio do Ouro, da e do atendimento à demanda para a faixa etária
○
Caraguatatuba e a Fundação Orsa são parceiras na A proposta pedagógica que está sendo imple-
○
○
gestão pedagógica desse CEI, que respeita a políti- mentada no Centro de Educação Infantil tem, como
○
218
PAINEL 18
Projeto pegagógico: por quê, quando e como
referência, as diretrizes curriculares para o atendi- vidades de caráter interdisciplinar, que procuram
○
○
mento às crianças e, como eixos norteadores, a cri- atender às necessidades, às expectativas e aos inte-
○
○
ança de 0 a 3 anos, a família e a comunidade, a esco- resses das crianças. Na concepção da criança como
○
la e a família. Para o desenvolvimento do projeto cidadã, sujeito com direitos, a participação ativa é
○
○
pedagógico, que tem como tema “Colorindo o nos- um marco na seleção dos temas e das atividades pro-
○
○
so tempo – as crianças descobrindo cores, materi- postas. Descobrir, explorar, experienciar, perguntar,
○
ais e o nosso espaço”, toda a equipe do CEI idealizou interagir com o meio social e físico são atitudes pre-
○
○
e vem realizando planos de ação compostos por ati- sentes no cotidiano do CEI. 218
○
○
○
○
○
Situação
○
autonomia, frente às condições do meio,
○
como um sujeito social e histórico. A pro-
○
O Centro de Educação Infantil Municipal
○
posta está de acordo com a política de Edu-
○
Profª Honorina Pacheco Corrêa surgiu da par-
○
cação Infantil do município, na qual está
ceria entre a Secretaria Municipal de Educação
○
inserida.
○
e a Fundação Orsa, com 26 crianças. Esse nú-
○
○
mero foi aumentando gradativamente e, atual-
○
mente, o centro apresenta a seguinte situação: ○
○
○
Cotidiano
Os horários previstos para
○
○
Centro de Educação Infantil Municipal Profª Honorina Pacheco Corrêa as atividades de alimentação,
○
○
Estrelinha-Azul 12 a 15 meses 18 3
○
2
○
Ouro, Jaraguazinho, Horto Florestal, Ponte As crianças recebem quatro refeições diá-
○
votas, Estrela Dalva, Centro. cionista. O descanso varia de acordo com as ne-
○
○
do adulto para sua sobrevivência e seu cres- Projetos são desenvolvidos de forma a
○
poder ampliar seus conhecimentos e expe- cificidade de cada faixa etária, e com atividades
○
○
○
Experiência em andamento:
○
lho, de recreio ao ar livre, de higiene, de refei-
○
Projeto “Colorindo o nosso
○
ção, de descanso, de pequenos grupos, grande
○
○
roda, intercalados com o tempo de arrumar, pre-
tempo” (as crianças
○
visto durante todo o dia, após cada atividade.
○
descobrindo cores, materiais e
○
○
○
Referenciais o nosso espaço)
○
○
○
Utilizamos, como referencial para o atendi- Esse projeto está sendo desenvolvido no
○
○
mento às crianças, as diretrizes curriculares que Centro de Educação Infantil Municipal Profes-
○
tratam do educar e do cuidar engajados no de- sora Honorina Pacheco Corrêa, Bairro Rio do
○
○
senvolvimento do cidadão em potencial, sujei- Ouro, Caraguatatuba/SP. A Secretaria Munici-
○
○
to com direitos e digno de cuidados educacio- pal de Caraguá e a Fundação Orsa são parceiras
○
na gestão pedagógica deste CEI, que respeita a
○
nais. A proposta se baseia nas diferentes formas
○ política de Educação Infantil do município por
de ver e compreender o mundo, unindo cuida- ○
○
que as formas de expressão ocupem lugar pri- ção continuada e do atendimento à demanda
○
vivam prazerosa e criativamente da arte de cui- A proposta pedagógica que está sendo
○
○
la e tornando-a cada vez mais parceira na arte volvimento do projeto pedagógico, que tem o
○
mento é um processo integrado, que reúne di- descobrindo cores, materiais e o nosso espaço”,
○
○
versos aspectos da vida: biológico, motor, cultu- toda a equipe do CEI idealizou e realiza planos
○
○
diano do Centro de Educação Infantil, sendo in- dades, às expectativas e aos interesses das cri-
○
○
formada dos principais acontecimentos e das anças. Na concepção da criança como cidadã,
○
○
em seus boletins bimestrais. Também buscamos marco na seleção dos temas e das atividades
○
○
voluntária esporádica, por meio do “Amigos da perguntar, interagir com o meio social e fisico
○
○
Educação e cuidados básicos para o desen- dades dirigidas e semidirigidas, deixamos li-
○
○
volvimento das crianças, respeitando suas in- vre o caminho para a criatividade.
○
○
dividualidades, entendendo a criança como um Foi assim que se originou esse plano de ação
○
lhes os meios de desenvolver suas capacidades nosso tempo – as crianças descobrindo cores,
○
○
des de acesso ao patrimônio cultural da socie- nas ações propostas promover a aprendizagem
○
dade em que vivem. ativa das crianças, que nada mais é do que o ex-
○
○
220
PAINEL 18
Projeto pegagógico: por quê, quando e como
perimentar, direto e imediato, dos objetos, das mais para nos mostrar. Pensando nisso, resolvemos
○
○
pessoas e dos acontecimentos. aguçar esse potencial, questionando sobre o arco-
○
○
O CEI do bairro Rio do Ouro tem sua rotina íris, se sabiam o que era, se já tinham visto. Perce-
○
○
dividida em tempos, e um deles é o da grande bemos que algumas demonstravam algum conhe-
○
roda, em que as crianças conversam sobre as- cimento. Resolvemos, em um dia ensolarado, nos
○
○
suntos variados e compartilham experiências. dirigir ao pátio externo com uma mangueira na
○
○
Nossa proposta para aquele dia eram as co- mão, para que elas pudessem experimentar mais
○
res do mundo, que inicialmente deixaram as cri- essa alegria de ver surgir um arco-íris. 220
○
○
anças pensativas, mas logo desencadeou-se uma O dia estava perfeito, ensolarado, e nossa ex-
○
○
série de observações a respeito dos objetos da periência deu certo. E agora, o que fazer? “Não
○
○
sala, das roupas dos amigos, dos espaços exter- podemos nem devemos parar por aqui” – comen-
○
nos da escola e também da natureza. Nessa con- tavam as professoras envolvidas. Surgiu, então, a
○
○
versa, as crianças concluíram que, em tudo no idéia de confeccionar um arco-íris com as crian-
○
○
mundo, havia cores. Foi fascinante ver aqueles ças. Resolvemos integrar, mais uma vez, a família
○
○
olhinhos, que, apesar de já conhecerem as co- e a escola. Enviamos um convite para os pais que
○
res, nunca haviam parado para observá-las, para quisessem participar de uma tarde com seus fi-
○
○
observar a sua organização e presença em nosso lhos no CEI. Aproveitamos o momento para que
○
○
mundo. Aqui utilizamos a música “Arco-íris”, da a massa de modelar fosse elaborada com ajuda
○
○
Xuxa, que fala das cores presentes em nosso co- deles. Inicialmente foram feitas as massas nas
○
tidiano, incentivando as crianças para que acom- cores do arco-íris, utilizando-se uma receita ca-
○
○
e depois registrassem, por meio de desenhos, o mente na mistura das cores, para conseguirem
○
que mais lhes chamou a atenção na música. todas as tonalidades. Foi uma parceria e tanto. Os
○
○
Mais uma vez, pudemos perceber a importân- pais aproveitaram para aprender e ensinar, na re-
○
○
cia e a relevância das cores no cotidiano de nossas lação com seus filhos, e desfrutar de mais um
○
○
o que mais lhes chamava atenção. Confecciona- Essa história, nesse momento, não nos pare-
○
○
mos um mural com todas as figuras escolhidas cia ter fim. Para isso, novas idéias precisavam sur-
○
○
mundo de cores surgiu diante de nossos olhos. Toquinho e Vinícius de Morais, que foi mais uma
○
Pedimos a colaboração dos pais para que alavanca para a nossa imaginação. Começamos
○
○
mandassem uma fruta para o CEI, a fim de fa- escutando a música com as crianças e tentando
○
○
zermos uma deliciosa salada. Como sempre, reconhecer o vocabulário desconhecido para ser
○
○
se em fazer uma enorme salada de frutas com com 26 crianças, fora os adultos envolvidos, e nos
○
○
as cores que estávamos observando. debruçamos sobre mais uma aventura. Um gru-
○
○
Foi então que uma criança observou que nem po ficou responsável por dramatizar a música.
○
○
todas aquelas cores estavam presentes nas tintas Para isso deveríamos confeccionar o material a
○
usadas por elas em pinturas a guache. A profes- ser utilizado; o outro acompanharia, durante a
○
○
sora, então, conduziu-as para o espaço das artes apresentação, com a bandinha da escola, o ritmo
○
○
e questionou como elas poderiam ter mais cores, da música. Foi uma experiência e tanto!
○
○
usando apenas aquelas que tinham no momen- Em outro dia, dirigimo-nos à nossa sala para
○
to. Imediatamente, quase um coro, algumas cri- o momento da conversa, que foi a respeito do mar,
○
○
anças disseram: “Vamos misturar as tintas”. E foi peixes, aquários, conchinhas. Esses nomes são
○
○
o que aconteceu. Experimentaram e descobriram utilizados em cada grupo como identificação dos
○
○
as cores que faltavam e prepararam tintas para espaços do CEI e foram escolhidos pelos alunos
○
que as outras turmas pudessem utilizá-las. de cada grupo, por meio de votação. Nossa turma
○
○
A alegria gerada pela descoberta não parou por do GII, inicialmente assim denominada, perten-
○
○
aí. As crianças são como mágicos e sempre têm algo cia ao grupo do aquário. Pensamos na importân-
○
cia do contato com a natureza e com os seres vi-
○
O dia em que a criança saia com ele da escola
○
vos e concluímos que deveríamos experimentar era uma alegria só: peixe, comida, alegria, res-
○
○
a sensação de cuidar de um animalzinho – e nada ponsabilidade, e todos ao caminho de casa!
○
○
melhor do que um peixinho! Montamos um aquá- Acreditávamos que ainda tínhamos muito por
○
rio em nossa sala, aprendemos a cuidar de nosso
○
fazer com as cores e nos preparamos para a nossa
○
novo “amiguinho” e a dividir as tarefas. próxima etapa, que envolveu um pintor famoso:
○
○
Posteriormente, criamos o dia da visita. Pen- Volpi. Por ele ter, em seus trabalhos, a presença
○
samos que essa vivência deveria extrapolar o es-
○
das cores e ser um artista brasileiro, consideramos
○
paço da escola e adentrar o espaço da família. conveniente um primeiro contato com suas obras.
○
○
Para isso enviamos um comunicado aos pais, Fizemos a reprodução parcial da obra intitulada
○
○
explicando sobre nosso novo companheiro e “As bandeirinhas”, que foi de fácil visualização para
○
pedindo autorização para que o filho pudesse
○
nossas crianças, já que fazem parte da cultura bra-
○
levá-lo para casa e ficar com ele por um dia. Fi- sileira e puderam, assim, ser confeccionadas por
○
○
zemos um sorteio em sala e colocamos, em um nossos alunos. Nessa fase, pretendíamos – e nos
○
○
grande cartaz, o roteiro do peixinho, para que as ○
quando seria a vez de cada uma levá-lo para casa. tura, com cavaletes, avental etc.
○
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Projeto Gonzagão –
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origem, as curiosidades, os cancioneiros, as dan- Luiz Gonzaga viu o futuro do Brasil em suas
○
O trabalho foi direcionado para o desenvolvi- No Nordeste, as pessoas que sofrem com a
○
○
mento da leitura, da escrita e da produção de texto estiagem não têm recursos para investir em alta
○
mentos nas diferentes áreas de ensino, numa visão da emigração, que causa sofrimento e angústia
○
222
PAINEL 18
Projeto pegagógico: por quê, quando e como
fre com o contínuo preconceito social e lin- sertanejo, mas não conheciam a sua história e
○
○
güístico. Portanto, decidimos explorar esse uni- a sua importância na cultura nordestina. Re-
○
○
verso cultural, que divulga tão bem a vida do lataram que, em casa, tinham fitas cassete, mas
○
○
nordestino, com suas dificuldades, seus senti- não gostavam de ouvi-las, porque tinham pre-
○
mentos e seus talentos, que comove todo o ter- ferência por outros ritmos, como axé, pagode
○
○
ritório nacional. e reggae, que eram mais tocadas no momento.
○
○
Pretendemos, então, proporcionar aos nos- Em seguida, foi realizada uma reunião de pais
○
sos alunos, principalmente aos que não tiveram e professores para divulgar o tema do projeto, 222
○
○
acesso ao cancioneiro de Luiz Gonzaga, a opor- sua importância e a necessidade da ajuda da
○
○
tunidade de conhecer, perceber e resgatar o família com recortes de jornais, revistas, livros,
○
○
valor cultural que ele representa para o Brasil, CDs, vídeo etc.
○
promovendo a aquisição de conhecimentos so- Após esse contato, os professores selecio-
○
○
bre a origem, a linguagem, as curiosidades, as naram material informativo como subsídio de
○
○
canções e as danças típicas das festas nordes- pesquisa para os alunos e lançaram as propos-
○
○
tinas, ampliando o vocabulário e associando- tas de construção do conhecimento, por meio
○
o aos trabalhos escolares de maneira signifi- das atividades solicitadas no decorrer do de-
○
○
cativa e prazerosa. senvolvimento do projeto, ou seja, à medida
○
○
Com esse acervo cultural, objetivamos es- que eram solicitadas informações, os alunos
○
○
• explorar a biografia de Luiz Gonzaga e esti- tos oferecidos foram retirados dos sites <http:/
○
○
sertão;
○
biente;
○
O projeto foi desenvolvido em etapas su- ca” que Luiz Gonzaga criou o hino do Nordes-
○
○
cessivas e obedeceu ao processo descrito a se- te, o Nordeste na sua visão mais significati-
○
guir.
○
se da seca.
○
cimentos prévios dos alunos sobre o cantor e Além desses textos, foi consultada a Enciclo-
○
○
compositor Luiz Gonzaga e as questões colo- pédia Ilustrada do Conhecimento Essencial, 1998,
○
cluíram que esse conhecimento se limitava a rios da Língua Portuguesa, na busca do signifi-
○
○
algumas músicas tocadas no mês de junho. Os cado de algumas palavras apresentadas. Com as
○
○
○
vos no mural da escola. Partindo dos textos ofe- músicas e as discussões sobre as letras, hou-
○
○
recidos, os alunos da 4ª série fizeram uma rees- ve sensibilização dos alunos. Eles se mostra-
○
○
crita individual da biografia de Luiz Gonzaga, ram comovidos e solidários com os problemas
○
que foi transformada em reescrita coletiva. Fo- que a miséria causa ao povo nordestino, quan-
○
○
ram expostos também trabalhos de produção e do ouviram, principalmente, a música “Triste
○
○
reescrita de textos sobre a seca no Nordeste, rit- partida”, que conta a situação dos emigrantes
○
mos, danças, entre outros, acervo cultural a que da região, e quando alguns alunos expuseram
○
○
todos que circulavam tinham acesso. a situação de seus pais, que estão em outras
○
○
Além das apresentações e da entoação regiões, como Mato Grosso, São Paulo e Goiás,
○
○
das músicas cantadas e tocadas por ele e por trabalhando para o sustento de sua família.
○
outros intérpretes, também foram apresen- Quanto a essa situação, uma criança disse:
○
○
tados instrumentos musicais utilizados nas “Aqui não tem emprego para todos, estávamos
○
○
diferentes modalidades rítmicas, como forró, passando fome e meu pai foi arranjar dinhei-
○
○
baião, xote e xaxado. Os instrumentos apre- ○
ro em outro lugar”.
sentados e explorados foram zabumba, san- Consideramos que houve uma participa-
○
○
fona e triângulo, sobre os quais, antecipada- ção ativa dos envolvidos, inclusive dos alunos
○
○
mente, se fez pesquisa para saber o signifi- que, nessa oportunidade, conheceram o Nor-
○
○
ciaram e até mesmo treinaram o toque des- apresentando uma aprendizagem significati-
○
○
o trabalho com gramática e ortografia foi efe- fatos e sugerindo alternativas de melhoria na
○
○
tivado por meio de debates, reescrita e pro- qualidade de vida do povo nordestino.
○
○
dução de textos. Com a música “Asa branca” e O Projeto Gonzagão teve sua culminância
○
○
dialeto regional de Luiz Gonzaga, aproveitan- do estudo das tradições especificamente nor-
○
○
do para trabalhar a ortografia e a gramática destinas, nosso projeto destacou que, além dos
○
○
por meio do texto lacunado. Os alunos, aos problemas que enfrentamos no dia-a-dia, te-
○
○
poucos, preencheram as lacunas obedecendo mos também a alegria das festas juninas, com
○
às normas ortográficas da linguagem formal. desfile pelas principais ruas da cidade, mos-
○
○
Com a letra da música “Assum preto”, fo- trando em alas a vida de Luiz Gonzaga, que é
○
○
ram algumas maldades que presenciaram e carregavam faixas e cartazes que, além de
○
○
praticaram. E quanto às que praticaram, pro- contar a história, destacava também os pro-
○
○
meteram não mais fazê-lo. Após esse traba- blemas sociais mais graves, como a fome, a
○
○
lho, foi feita a produção de texto sobre a mal- sede, a exploração do trabalho braçal, o pre-
○
dade dos homens contra a natureza. Entre as conceito e a tristeza da incerteza do amanhã.
○
○
músicas trabalhadas, a que mais comoveu foi Após o desfile, já na escola, pais, professores,
○
○
nino que matou uma rolinha para saciar a sua apreciaram as danças, os pratos típicos, as
○
fome e, assim, prolongar sua própria vida. Isso vestimentas e os fogos que embelezam e atra-
○
○
gerou uma grande discussão. A música consi- em multidões. Realizamos uma grande festa
○
○
derada de maior interesse pelos alunos foi “O com a participação do sanfoneiro da cidade,
○
○
xote das meninas”, pelo ritmo e pela letra, que que estava caracterizado a rigor.
○
que ela fala da chegada da adolescência e do seria possível se não houvesse a participação
○
○
224
PAINEL 18
Projeto pegagógico: por quê, quando e como
○
○
volvimento da comunidade e até mesmo de aprendizagem ativa, interessante, significati-
○
○
pessoas influentes na cidade, como o prefei- va, real e atraente para os alunos.
○
○
to, os vereadores, a secretário de Educação, o Os professores envolvidos no estudo dos PCN
○
gerente do Banco do Brasil e os comerciantes em Ação já entendem que ninguém começa a ter
○
○
que contribuíram financeiramente e se fize- iniciativa e autonomia sem ter tido a oportuni-
○
○
ram presentes no encerramento do projeto. dade de escolher, opinar, criticar e dizer o que
○
Consideramos esse projeto como um pensa e sente. E o projeto pedagógico oferece o 224
○
○
grande avanço na formação continuada dos caminho mais curto para o saber, como destaca
○
○
professores, que vem mostrando, de forma Dewey, quando diz: “Todo conhecimento verda-
○
○
clara e objetiva, a importância de um traba- deiro deriva de uma necessidade. A humanida-
○
lho sistemático e coletivo, gerando situações de desenvolveu-se tratando de obter conheci-
○
○
de conhecimento, ao mesmo tempo, reais e mentos que satisfizessem às suas necessidades”.
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P A I N E L 19
LEITURA NA ALFABETIZAÇÃO
Jacinta de Fátima Camargo Barbieri e Luciana de Almeida Santos
Eliane Mingues
227
Leitura, a alma da alfabetização:
○
○
○
práticas de leitura nas escolas do
○
○
○
município de Itapetininga/SP
○
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○
○
Jacinta de Fátima Camargo Barbieri e Luciana de Almeida Santos
○
○
SME – Itapetininga/SP
○
○
○
○
○
Resumo
○
O objetivo deste relato é apresentar o trabalho
○
que vem sendo desenvolvido pelos professores da
○
○
Educação Infantil, Ensino Fundamental de 1ª a 4ª
○
O objetivo deste relato é apresentar o traba-
○
lho que vem sendo desenvolvido pelas professo- série e da Educação de Jovens e Adultos, com o
○
Itapetininga–SP, com o uso das práticas de leitura de confirmar que é possível ensinar a ler e alfa-
○
○
Essas práticas de leitura são desenvolvidas em realizar ações que pareciam utópicas.
○
○
tura de conto infantil, de livre escolha do aluno, que tes estratégias: “Roda da biblioteca”; “Reconto”;
○
○
e pelos alunos; “Caderno de textos”, inicialmente, mum e prazerosa. Como exemplo, a Escola Mu-
○
○
com textos de memória, ao qual, no decorrer do nicipal de Educação Infantil (EMEIF) Professo-
○
não, lidos com a ajuda do professor, que desper- nidade, tornando-a participativa e comprome-
○
○
Além dessas, outras práticas vêm sendo desen- Toda a semana, na sala de aula da profes-
○
volvidas pelos professores, contando, primeira- sora Ana Maria, há a presença de pessoas que
○
○
mente, com a participação dos pais. Exemplo dis- pertencem a diferentes segmentos da socieda-
○
○
so é a “Leitura comunitária”: a criança leva o livro e de, como jornalistas, radialistas, professores,
○
um caderno, no qual os pais relatam como foi o escritores, pais, coordenadores, que são con-
○
○
momento de leitura feita para o filho. Depois, há a vidados para compartilhar um texto com as
○
crianças.
○
de jornais e revistas, podendo ser, posteriormente, sua maneira. Muitos se emocionam junto com
○
228
PAINEL 19
Leitura na alfabetização
○
sora, nesse momento, também é uma ouvinte
○
atenta e compartilha, juntamente com as crian- significativo, em que seus alunos tiveram a oportu-
○
○
ças, a “Hora da história”. nidade de testar as suas hipóteses, de começar a
○
○
Os alunos vivenciam leituras, testemu- entender que a ação de ler e escrever segue um
○
nhando o leitor como autor, ouvem as palavras mesmo caminho, possibilitando-lhes, por um mo-
○
○
com sons e gestos diferentes dos da professo- mento, verem-se como escritores e leitores.
○
○
ra e de seus amigos. Sabe-se hoje que só é possível aprender a
○
ler, lendo, e a escrever, escrevendo. Portanto, a 229
○
O objetivo da professora Ana Maria, com
○
seus alunos de 3a série, além de despertar o gos- linguagem concebida como atividade e meio de
○
○
to pela leitura, de promover a escuta atenta, interação deverá ser considerada em uso em
○
○
ouvir diferentes pessoas da comunidade conhe- situações concretas e significativas. E como ela
○
cidas ou desconhecidas das crianças, para que se manifesta sob a forma de textos (orais e es-
○
○
elas aprendam os diferentes modos de ler, tam- critos), eles serão tomados como unidades do
○
○
bém motiva as crianças com idade avançada a ensino de língua, destacadas suas funções,
○
○
prosseguir em seus estudos para aprender a ler especificidades, seus modos de construção, os
○
e escrever de maneira diferente das que já fo- portadores (ou suportes) em que aparecem etc.
○
○
ram por elas vivenciadas. Como uma criança aprende a ler? Ou é pos-
○
○
Como justificativa, a professora diz que há sível ler sem saber ler? Muitos são os que fazem
○
○
diferentes maneiras de ouvir ou ler um texto, e tais perguntas. Ainda há muita dúvida em rela-
○
a escolha do livro a ser lido não é feita ao acaso: ção à segunda questão.
○
○
é socialmente aceitável, tanto para o leitor, O trabalho que a professora Vera, da EMEIF
○
○
como para o público. A compreensão da fun- Valter Aliberti Júnior, faz com sua turma de Pré,
○
ça tem múltiplas oportunidades de interagir faz a professora refletir sobre a sua prática, le-
○
○
com diversos tipos de suportes de textos, pro- vando-a a acreditar, sim, e a provar que é pos-
○
○
duzidos em diferentes situações discursivas. sível ler mesmo sem saber, trabalhando com
○
Varginha, zona rural, investiu para conquistar criança, mas pertença ao seu mundo. A classe,
○
○
sua turma, no intuito de alfabetizá-la. Apostou usando das estratégias de leitura, além da boa
○
na leitura. Levou para sua sala revistas, jornais, intervenção da professora, vai identificando o
○
○
livros. Entre os livros apresentados, o que mais conteúdo do suporte de texto. Os alunos vão
○
○
chamou a atenção das crianças foi Matilda, de reconhecendo o valor dos números dentro do
○
○
Road Dahl. A classe ouviu atentamente cada contexto social (telefone, endereço, peso, me-
○
palavra do livro. Empolgada com a turminha didas etc.); identificam as letras dos nomes e,
○
○
que falava e escrevia sobre a história lida, a pro- aos poucos, os pequenos conseguem fazer aqui-
○
○
fessora levou o filme de mesmo nome. As cri- lo que parecia impossível: a leitura.
○
○
anças puderam fazer um paralelo entre o texto O que há por trás da ação da professora é o
○
escrito e o filme, relatando que nem tudo o que fato de ela acreditar que é possível, sim, ler
○
○
estava escrito passou no filme e vice-versa. De- mesmo sem saber e, que, avaliando, observan-
○
○
ram opiniões a respeito do livro e do vídeo. No do, com conhecimento é possível saber como a
○
○
momento, o que mais marcou foi a fala de uma criança aprende a ler.
○
aluna: “Gostei muito do vídeo, mas gostei mes- Conceber um ato de leitura em que são dadas
○
○
porque, enquanto eu ouvia, parecia que eu es- tura determina um acionar pedagógico particu-
○
○
tava dentro da história. Eu ‘senti’ a história”. lar, que, por certo, não vai consistir em “ensinar
○
As crianças puderam falar e expressar-se livre- as letras” e os sons correspondentes, mas, sim, em
○
○
mente, escrever sobre o livro e o filme, porque a pro- oferecer às crianças situações que estimulem a
○
○
fessora não ficou apenas cumprindo uma função antecipar, inferir, decodificar e avaliar.
○
Utilizando o folheto de propaganda, a pro- É importante também saber que ler e escre-
○
○
fessora deu oportunidade às crianças para que ver como atividade de linguagem são faces de
○
○
coordenassem a informação da imagem com as um mesmo trabalho, ainda que sejam proces-
○
○
características do texto, a fim de anteciparem o sos diferentes.
○
que estava escrito no papel. Elegeram letras Foi de fundamental importância para o nos-
○
○
como índice para antecipar o conteúdo do tex- so trabalho de coordenação o envolvimento com
○
○
to, questionaram-se e corrigiram dados que não os programas do MEC, PCN em Ação e PROFA,
○
conferiam com suas antecipações; coordena- com a finalidade de apresentar alternativas de
○
○
ram os dados gráficos – letras e sua configura- estudo, promovendo o debate e a reflexão sobre
○
○
ção – com outros elementos (gráficos ou não), o papel da escola e o do professor na perspecti-
○
○
de modo a obterem significados. va de uma prática de transformação da ação pe-
○
Sabemos que o modelo cumpre um papel dagógica, pois foi possível complementar o pro-
○
○
fundamental no processo de aprendizagem e cesso de formação que a Rede Municipal de Edu-
○
○
garante muitas possibilidades de ampliar o uni- cação de Itapetininga vem desenvolvendo, há
○
○
verso cultural e de entrar em contato com o ○
muito tempo, com os professores da Educação
maior número de informações, tanto na lingua- Infantil e, hoje, se estende ao Ensino Fundamen-
○
○
Portanto, é muito importante que os profes- Muitos professores já adotaram em sua prá-
○
○
sores criem momentos e planejem situações em tica pedagógica o uso de textos para alfabetizar
○
leitura e produção, possibilite a construção pela se leitores. Entre tantas, além das já menciona-
○
○
criança da escrita, da linguagem escrita e de das, citamos aqui aquelas que contribuíram de
○
suas propriedades, o que significa garantir que uma forma ou de outra com nosso relato: Leni,
○
○
as relações entre o conhecimento que a criança Bete, Silvana, Giseli, Tereza e Vanessa, da EMEIF
○
○
tem sobre a escrita (hipóteses) e a escrita como Profª Nazira Iared; Lucilene e Ana Joaquina, da
○
○
ela é sejam relevantes, e não arbitrárias. EMEF do bairro do São Roque; Tereza, da EJA.
○
○
○
○
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○
○
Eliane Mingues
○
○
PCN em Ação/MEC
○
○
○
○
○
O que significa mesmo ser um sujeito alfa- cânicos e sem sentido, que pressupõem que o
○
○
betizado, nos dias de hoje? sujeito nada sabe sobre esse objeto com o qual
○
○
Será que o trabalho de alfabetização, com ele interage, cotidianamente, por meio dos es-
○
jovens e adultos, pode ter como pano de fundo critos espalhados pelo mundo e tão na frente
○
○
a variedade de textos que circulam socialmen- de seus olhos e ao alcance de suas mãos?
○
○
te para que estes pensem sobre a leitura e a es- Mas o que podemos afirmar e pensar que
○
○
crita? Como? De onde retirar essa diversidade? esses indivíduos não sabem? Não sabem jun-
○
O que propor que façam com tais textos? Como tar as letras? Desenhá-las? Não sabem como
○
○
esses escritos aqueles mesmos exercícios me- E se pensarmos no contrário, ou seja, na expe-
○
230
PAINEL 19
Leitura na alfabetização
riência que eles têm com a escrita que está no Por onde começar,
○
○
mundo? O que podemos afirmar e pensar que sa-
○
ou possíveis conteúdos
○
bem? Será que sabem o que é um jornal e o que
○
○
encontrar nele? Será que sabem, só de olhar, se um A partir dessa concepção, algumas sugestões de
○
escrito pode ser uma receita ou uma carta? Será conteúdos para esse trabalho são:
○
○
que conseguem ler nos grandes painéis, espalha- • Leitura diária, pelo professor e pelos alunos,
○
○
dos pela cidade onde vivem, o nome dos produtos dos textos de circulação social para aprecia-
○
que consomem? E o nome dos bancos onde po- 231
○
ção e diversão, para a busca de novas infor-
○
dem ter conta, será que sabem identificar os dife- mações, para aprender mais sobre um assun-
○
○
rentes estabelecimentos que existem lendo seus to, para revisar os textos, para observar como
○
○
nomes, e entrar e resolver seus problemas na agên- um autor resolve suas questões em relação à
○
cia certa? E as contas de consumo que costumam escrita etc.
○
○
receber em suas casas? O que será que podem re- • Escrita diária, do professor e dos alunos, dos
○
○
tirar de informações dessas contas? Será que iden- textos de circulação social para saber escre-
○
○
tificam a escrita de seus nomes? São capazes de ver considerando a função e a estrutura dos
○
pegar o ônibus certo para determinado lugar onde diferentes tipos de textos, para saber utili-
○
○
precisam ir? E comprar um disco do cantor que zar a escrita como recurso no desempenho
○
○
gostam? Será que podem fazê-lo sem errar, ou tro- de suas funções, para aprender a resolver
○
Essas e outras questões costumam aparecer grafia, pontuação, gramática etc.), para de-
○
da professora.
○
solver, deve poder ter acesso a informações e a aprender a ouvir e aprender a participar, ex-
○
○
trazer para dentro da sala de aula os textos de A avaliação, nesse processo de ensino e
○
○
São os textos extraídos dos jornais, das le- desempenho na realização das atividades; da
○
ber ler e escrever, os estudantes jovens e adul- Os instrumentos mais utilizados são: as
○
que o sujeito nada sabe e precisa começar do quadro em que se pontua o que é mais signifi-
○
○
zero, aprendendo primeiro o desenho de letras, cativo na produção de cada aluno; provas que
○
situações em que os textos apareçam inteiros, resolvidos ou salientam as boas soluções encon-
○
○
dos alunos.
○
○
possibilidades de concretizar esse trabalho. Es-
○
○
sas leituras, realizadas pelo professor, se diárias
A partir de tudo que já foi dito, como, en-
○
e de boa qualidade, podem comunicar aos alu-
○
tão, o trabalho pode ganhar forma, contorno,
○
nos comportamentos leitores muito importan-
○
vida? É no dia-a-dia, encontro após encontro,
○
tes, além de servir como matéria-prima para
nas atividades, discussões, leituras e produções
○
○
produções futuras. Um aluno que tem um mo-
que os alunos vão tendo problemas a resolver.
○
delo pobre de língua que se escreve, normal-
○
Pode-se estruturar uma rotina que compre-
○
mente tende a apresentar uma produção pobre
○
enda, em Língua Portuguesa:
○
• Atividade permanente: leitura compartilhada como resultado do que vivenciou. Já um aluno
○
que tem contato com o que há de melhor no
○
da obra de um autor consagrado, feita pelo
○
professor. mundo da escrita poderá, quando solicitado,
○
○
produzir textos de melhor qualidade.
○
• Leitura individual: diversidade textual.
○
○
• Escrita individual ou em pequenos grupos:
diversidade textual. ○
○
Sobre a escrita, que sugestões de
atividades podem ser propostas?
○
○
Exemplo de trabalho com a leitura ainda, de um mural ambulante, que coloca à dis-
○
○
Em que situações, além daquelas vivenciadas posição das outras pessoas que freqüentam a es-
○
○
por leitores particulares, pode-se ouvir em voz cola parte do que estão aprendendo, pesquisando,
○
○
alta e acompanhar o texto, numa situação de lei- descobrindo, podem propiciar ótimas situações
○
de literatura; Alexandre e outros heróis, de coletânea dos poemas mais apreciados pela tur-
○
○
Graciliano Ramos, conhecido autor regionalista; ma, elaborar um baralho com dicas culturais da
○
de Melo Neto; As janelas do Paratii, escrito por das, montar um jornal ou um álbum de família,
○
○
Amyr Klink; O Xangô de Baker Street, de Jô Soa- entre outros, podem ser situações de uso da
○
○
gum momento da escolaridade, quando, cons- palavras, podem ser situações interessantes de
○
○
cientes do papel da leitura de autores consagra- aprendizagem para se pensar nas letras, em seus
○
○
dos, professores, bibliotecários ou outros com- sons e nas suas posições nas palavras, e não dei-
○
partilham com os alunos suas experiências lei- xam de ser situações de verdade do uso da língua.
○
○
toras, fazendo “rodas” ou seções de leitura em Mas como propor tudo isso, se esses jovens
○
○
voz alta. Com jovens e adultos que retomaram adultos não ainda não lêem e não escrevem? O
○
○
seus estudos, essa oportunidade poderá ser papel do professor, como aquele que vai aju-
○
única; portanto, os responsáveis por esse tra- dando, colocando problemas, dando forma ao
○
○
balho não deveriam deixar de fora a literatura. que os alunos pensam, é fundamental. Ele será
○
○
Aquela que o professor aprecia, gosta e que se uma peça básica, pois dele dependerá, em mui-
○
○
não for pela voz dele, o professor, esses alunos tas ocasiões, a escrita do que os alunos podem
○
jamais terão a oportunidade de conhecer, gos- produzir oralmente, a leitura que eles sozinhos
○
○
tar e mergulhar no mundo das letras. ainda não podem fazer, enfim, a organização de
○
○
Dispor de bons livros na sala de aula, ter tudo que for proposto.
○
○
acesso a eles e poder conhecer alguns clássicos O que não se pode perder de vista é que o
○
é sem dúvida uma situação privilegiada de tran- cardápio que se vai oferecer não muda nunca,
○
○
sitar pelo mundo dos livros e aprender com eles. ou seja, vamos continuar a propor que os estu-
○
○
Os textos citados acima são apenas algumas dantes leiam, escrevam, copiem, façam ditado,
○
232
PAINEL 19
Leitura na alfabetização
interpretem o que estão lendo. O que vai mudar so e a consciência de que se aprende a ler len-
○
○
é a qualidade do que será proposto, ou seja, tex- do, e a escrever escrevendo, tendo como pano
○
○
tos bem escritos e de verdade, a interferência de fundo bons problemas para se resolver e boas
○
○
constante do professor durante todo o proces- questões para pensar.
○
○
○
○
○
○
233
○
Anexos Auto-retrato aos 38 anos
○
○
(texto produzido em parceria)
○
Nasceu em 1960, em Lagedão, Bahia
○
○
Exemplos de produções escritas de um Casado duas vezes, tem quatro filhos
○
○
grupo de jovens adultos estudantes Altura: 1,68
○
Sapato nº 40
○
A produção de autobiografias inspiradas no
○
Pesa 58 quilos
○
texto “Auto-retrato” de Graciliano Ramos, rea-
○
Gosta de andar
○
lizada pelo grupo, possibilitou uma brincadei- Gosta de vizinhos, sendo cada um na sua casa
○
ra divertida com a língua escrita: a leitura dos
○
Gosta muito de rádio e televisão
○
textos para que se adivinhasse quem eram seus ○
○
Os alunos que ainda não escreviam conven- Gosta muito de música sertaneja
○
○
É católico não-praticante
○
ziram o texto oralmente e depois, com a ajuda de Primeiro livro que leu: “O Xangô”, de Jô Soares
○
○
Gosta de pescar
○
o texto revisado, que só posteriormente ganhou Auto-retrato aos 33, quase 34 anos
○
○
intitulado Adivinhe quem é quem… Nasceu em 1965, em São Carlos do Ivaí, Paraná
○
A seguir, trechos do livreto. Casado uma única vez, tem dois filhos
○
○
Altura: 1,80
○
Sapato nº 40
○
tão nesta turma, teste seu conhecimento. Abai- Colarinho não sabe
○
○
Gosta de andar
○
Se tiver dúvidas e não conseguir resolver o Tem horror às pessoas que falam alto
○
enigma, vá até o final da sessão e recorte os no- Não usa óculos, não é calvo, mas tem os cabe-
○
○
seguir…
○
○
Gosta de todo tipo de música, principalmente Auto-retrato aos 41 anos
○
(texto ditado para a professora)
○
as sertanejas antigas
○
○
Gosta de ler e os livros que mais gostou foram
○
“O Pássaro Pintado”, mas não se lembra do Nasceu em 1957, em Indaiatuba, São Paulo
○
Casado, tem duas filhas lindas
○
autor, e “Ilusões”, de Richard Bach
○
Altura: 1,74
○
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam:
○
Peso: 79 quilos
Jorge Amado, Jorge Amado e Jorge Amado
○
Sapato nº 39
○
Detesta palavrões escritos e falados
○
Gosta de carro
○
Deseja a morte da violência, da corrupção e
Gosta do trabalho que executa
○
do ódio
○
Gosta da família
○
Escreve poucas coisas à noite bebendo e ou-
○
Não gosta de muito barulho nas horas de lazer
○
vindo música mas somente quando se sente Gostava muito de seu pai, falecido há pouco tempo
○
sufocado
○
Gosta de música, desde que seja em volume
○
Fuma cigarros “Derby” ou de qualquer outra ○
○
baixo
marca Gosta de futebol, mas só assiste quando é de-
○
ro-forte, ajudante de tecelão, porteiro e, atual- Gosta de viver todos os momentos, pois acha
○
○
desconfiado
○
Detesta se sentir enganado ou ver os outros se- Outro importante trabalho com a leitura e a
○
○
Gosta de roupas sociais, mas ainda não tem ne- e materializou em textos informativos em forma
○
Lê e relê o que sempre escreve, buscando uma muitos textos sobre animais; cada um escolheu
○
○
perfeição que nunca consegue um bicho para saber mais e, a partir dos escri-
○
Gosta de polícia na maior distância possível mais importantes. Assim como no exemplo aci-
○
○
Seus maiores amigos: Pai, Mãe, Irmãs, Irmãos, ma, a produção foi marcada por uma variedade
○
Tios e Primos
○
gos
○
se fortalecer
Seguem amostras de algumas produções:
○
Exposição
○
Animal
○
Encerra observando a esposa, porque na sua lação que proíbe a matança dos animais silvestres?
○
○
234
PAINEL 19
Leitura na alfabetização
○
O navegante Vicente Pinzón levou uma fê-
○
mea no navio, e ficou encantado com a bolsa que ou redescobrir os prazeres de conhecer…
○
○
ela tinha na barriga, onde apareciam as cabeças Foi um ano em que pudemos, além de es-
○
dos gambazinhos curiosos.
○
crever, visitar outros mundos por intermédio da
○
Você sabia que o gambá mede 47 cm, mais leitura, e tenho certeza que muitos adoraram e
○
○
37 cm de rabo? aproveitaram muito a viagem.
○
Judivan
○
A companhia de Graciliano Ramos, João
○
Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de 235
○
Você sabia que, pelo tamanho, o leão parti-
○
Andrade, Luís Fernando Veríssimo, Jorge Ama-
○
lha com o tigre o primeiro lugar entre os grandes
○
do, Jô Soares e tantos outros nos foi muito
○
felinos?
○
Um macho adulto pode medir até três metros oportuna!
○
No entanto, esse tempo de trabalho foi só
○
de comprimento do focinho à ponta do rabo, e
○
o começo, e é preciso seguir avançando. E isso
○
pesar mais de 230 quilos?
○
Cícero Fernandes significa continuar lendo, se preocupando
○
○
com a escrita correta das palavras, com a pon-
○
Você sabia que o veado mateiro é castanho? tuação, com a apresentação final dos textos,
○
○
Vive na América do Sul? observando, enfim, como escrevem nossos
○
○
Mede 90 cm de altura?
○
Tem uma gestação de 217 dias? quistas e uma delas é poder apreciar este livro.
○
Parabéns, alunos!
○
da mata.
○
é maior?
○
Cidadezinha qualquer
○
○
professora
○
○
gua Portuguesa.
○
○
○
○
Valdemir
○
○
Gente
○
Cléo Aves no meio das árvores
○
○
Que passam o tempo a cantar
○
○
Gente sem trabalhar E que não precisam pensar
○
Gente sem estudar
○
○
Estudar, trabalhar, avançar Um carro vai devagar
○
○
Levando gente para passear
○
○
Homem precisa trabalhar, Sem beber e sem fumar
○
Pois, sem trabalho, não tem E sempre a cantar
○
○
Como de sua família cuidar
○
○
Devagar as pessoas olham e dizem:
○
○
Criança precisa estudar ○
– Êta vida corrida, cansada e sofrida,
Pois, sem estudo, Meu Deus!!!
○
○
– Êta vida sofrida sem estudar!!! Claro que as aprendizagens desses jovens
○
236
P A I N E L 20
A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA
SALTO PARA O FUTURO
NA FORMAÇÃO CONTINUADA
DE PROFESSORES
Rosa Helena Mendonça
237
A experiência do programa
○
○
○
Salto para o Futuro
○
○
○
na formação continuada
○
○
○
de professores
○
○
○
○
Rosa Helena Mendonça*
○
○
Seed/MEC
○
○
○
○
○
○
Interatividade é uma palavra que está em Essa prática, não faz muito tempo, era pau-
○
voga. Há muitos sentidos para esse termo. Aqui,
○
tada na transmissão de conteúdos, previamen-
vamos nos apropriar da seguinte noção, expres- ○
○
○
te definidos pelos sistemas de educação. Mui-
sa por Bartolomé Pina: “[...] se entende por tos professores foram assim “reprodutores” de
○
○
interatividade o fato de que ambos os extremos um saber cristalizado, respaldado nos rígidos
○
rituais da escola.
○
do mensagens que são recebidas e interpreta- No entanto, sempre houve quem se insur-
○
○
das pelo outro extremo e que, de alguma ma- gisse contra essa ordem, quer do ponto de vis-
○
○
neira, influem no modo como o diálogo conti- ta da reflexão teórica, quer da prática. Freinet,
○
É a partir dessa citação que queremos falar mes, e muitos, anonimamente, nas suas es-
○
○
do programa Salto para o Futuro, da TV Esco- colas e salas de aula, ousaram e ousam bus-
○
○
la. O Salto para o Futuro é mais do que um pro- car alternativas para uma aprendizagem ver-
○
dadeira.
○
ção continuada a distância, que utiliza diferen- E a escola não é só um espaço de aprendi-
○
○
tes mídias, como material impresso, tevê, zagem para o aluno. É o locus privilegiado para
○
○
meça antes do programa de tevê e que consti- órico da educação, apontando para a constru-
○
○
tui o debate, prolongando-se após a sua ção e para a autonomia, tanto do projeto es-
○
um programa de tevê educativo, que pretende que os professores, esses eternos aprendizes,
○
participação tem interferido na concepção dos os alunos aprendam, ou seja, uma formação
○
○
programas? E de que forma a discussão que continuada que tem na escola e no trabalho em
○
○
acontece ao longo dos programas se reflete na equipe as condições essenciais para o seu de-
○
senvolvimento.
○
○
○
○
○
○
* Mestre em Educação pela PUC-Rio; professora das disciplinas Estratégias de Educação Continuada e Novas Tecnologias e Educação na
○
Faculdade de Pedagogia da Unesa e Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro – TV Escola – Seed/MEC.
○
238
PAINEL 20
Salto para o Futuro na formação continuada
○
Orientar os alunos no sentido do cresci-
○
mento e, portanto, do conhecimento é um de- professores, que trocam informações, experi-
○
○
safio que exige do professor competências es- ências? Há também o desejo de ter voz e vez,
○
○
pecíficas, que são desenvolvidas, sobretudo, por meio de questões que muitas vezes denun-
○
no processo de formação continuada, a qual ciam situações de trabalho que precisam ser
○
○
se dá ao longo do exercício profissional, em di- melhoradas, como a falta de tempo para o es-
○
○
ferentes espaços. Na própria escola, nas tro- tudo, a questão salarial, o número muitas ve-
○
zes excessivo de alunos por turma. Há uma 238
○
cas que nela acontecem, por meio de progra-
○
mas específicos, na interação com a comuni- expectativa permanente por respostas pontu-
○
○
dade, no estabelecimento de parcerias e por ais, que envolvem o cotidiano do professor.
○
○
meio de projetos e programas voltados para a Existe, também, um freqüente entusiasmo de
○
formação do professor. falar de experiências exitosas. Como pano de
○
○
O Salto para o Futuro, sendo ao vivo e com fundo, percebe-se uma vontade de exercer o
○
○
recepção organizada, permite também uma direito à formação profissional continuada,
○
○
interlocução com os outros programas do ca- buscando uma sintonia com as tendências
○
nal e com outros projetos, tanto do próprio atuais da educação. Em busca de um entendi-
○
○
MEC quanto de outras instituições voltadas mento desse processo, procurando conhecer
○
○
Esse é um processo em permanente cons- trabalho nas escolas, continuamos, a cada ano,
○
trução. O Salto pretende ser uma contribuição a partir das avaliações e da análise dos progra-
○
○
nesse processo. Nas telessalas, em diferentes mas, a renovar esse diálogo. Investimos na
○
○
estados, são múltiplas as trocas que se estabe- constituição de uma rede que vai sendo tecida,
○
paços de atuação do professor: a comunidade, As trocas, tão ricas quanto imprevisíveis, são
○
○
sores tem as mais diversas motivações. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
○
○
grias? O que os tem motivado na sua partici- ção pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000.
○
○
pação ao longo de uma década? O que os pro- NÓVOA, António. Os professores e sua formação. Lisboa:
○
O que os leva a participar de um projeto de for- SANCHO, Juana M. Para uma tecnologia educacional. Por-
○
○