Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
PANCITOPÉNIA COMO
MANIFESTAÇÃO INICIAL DE DOENÇ
DO CONECTIVO
ANTÓNIO ALVAREZ, TERESA FONSECA, LEONOR CARVALHO
Serviço de Medicina 1. Hospital Universitário de Santa Maria. Lisboa
RESUMO
Descrevemos o caso clínico de uma mulher de 25 anos internada pelo serviço de urgência do
Hospital de Santa Maria com pancitopénia e febre. É apresentada a marcha diagnóstica, com
descrição dos exames complementares utilizados, a terapêutica prescrita e a evolução da doente
durante o internamento e em ambulatório após a alta. Finalmente é discutida a aplasia medular
como complicação do lupus eritematoso sistémico, diagnóstico fmal da nossa paciente, tendo em
conta a sua raridade, com dez casos publicados na literatura médica internacional até à data.
SUMMARY
36
PANCITOPÉNIA
de 12,lg/dl, 3500 leucócitos/mm3 com leucograma nor só muito raràmente.se encontra associada a esta doénça3. À
mal, 250 000 plaquetas/mm3 e VS de 40 mm e está medi leucopénia surge em metade dos doentes com LES e a
cada com 15 mg de prednisona em dias alternados. trombocitopénia em 14% a 26%2. A trombocitopénia deve-
-se à destruição periférica das plaquetas por mecanismos
DISCUSSÃO imunológicos, e só raramente à depressão medular4.
Daqui se conclui que a aplasia medular é uma compli
Ocaso apresentado corresponde a uma doente de 25 anos cação muito rara do LES estando descritos apenas 10 casos
de idade com antecedentes de poliartrite migratória de 2 em todo o mundo até à data~2. O mecanismo proposto é
anos de evolução, internada por pancitopénia e pneumo ainda obscuro, mas pensa-se que esteja relacionado com
nia. um auto-anticorpo dirigido contra um percursor hemato
Para o esclarecimento da pancitopénia, realizaram-se poiético da medula óssea, encontrado em metade dos casos
diversos exames de diagnóstico, que permitiram excluir as publicados3568’1, embora alguns autores proponham um
anemias mielotísicas, anemias mieloblásticas, síndromes mecanis-mo celular auto-imune3
mielodisplásicosi hemoglobinúria paroxística nocturna O tratamento adequado para a aplasia medular no LES
(HPN) e hiperesplenismo como causa provável. Foi feito o está ainda por definir, mas baseia-se principalmente no uso
diagnóstico presuntivo de anemia aplástica, pois estáva de corticosteróides”~’2”3, ciclofosfamida ou azotioprina10
12, androgéneos9 ou plasmaferese568~”, sendo por vezes
mos em presença de uma anemia normocítica, normo
crómica, e hiporregenerativa, sem leucoeritroblastose, com necessário recorrer à associação destas terapêuticas~’2.
medula pobre sem infiltrações ou alterações morfológicas No presente caso a sit ão foi controlada rapidamente
dos elementos celulares, sem esplenomegália ou ade com prednisona nas doses habituais para o tratamento do
nomegálias e sem as características da HPN. LES e durante 8 meses foi possível reduzir a dose neces
As anemias aplásticas são em cerca de 50% idiopáticas. sária para manter a doente assintomática e com valores
As outras causas são congénitas (em que a pacitopénia está laboratoriais aceitáveis.
presente desde a infância), induzidas por agentes químicos O caso clínico que acabámos de descrever demonstra
e físicos, associadas a infecções virais, ao lupus eritema dois aspectos fundamentais. Primeiro, o LES tem formas
toso sistémico (LES) e à fasceíte eosinofílica difusa. de apresentação muito variadas, por vezes raras e graves,
No presente caso, as causas congénitas estavam ex como a aplasia medular, e em segundo lugar,a aplasia do
cluídas à partida. Em relação aos agentes físicos ou quími LES responde relativamente bem à terapêutica farmaco
cos, as únicas exposições conhecidas são aos anovolutórios lógica, o que não acontece nas outras formas de falência
e ao flurbiprofeno, nenhum dos quais incriminado até à medular.
data nesta patologia. A ausência de fasceíte, miosite,
eosinofihia e hipergamaglobulinémia excluia a hipótese de AGRADECIMENTOS
se tratar de uma fasceíte eosinofílica difusa associada a Agradecemos à colega Maria Pilar Coutinho Gomes do Labo
aplasia medular. Fomos pois investigar a etiologia viral, ratório Central de Hematologia, a colaboração prestada na elabo
tendo em conta que havia 4% de linfócitos activados no ração do presente caso clínico.
leucograma inicial. Mas as serologias para os vírus mais
frequentemente incriminados na aplasia medular (vfrus BIBLIOGRAFIA
das hepatites, Epstein-Barr, citomegalovírus e HIV) foram
negativas. 1. TAN EM et al: The 1982 revised criteria for the classification
Restava-nos a hipótese de se tratar de uma situação de of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum. 1982; 25:
1271.
Lupus Eritematoso Sistémico. Tínhamos a favor o facto de 2. BUDMAN DR, STEINBERG AD: Hematologic concepts of
ser uma mulher jovem, com antecedentes familiares con systemic lupus erythematosus. Ann Intern Med 1977; 86:220-9.
cordantes, com história de poliartrite migratória não defor 3. ROFFE C. CAHILL MR, SAMANTA A, BRICKNELL S,
mante, úlceras orais, sintomas sistémicos, pancitopénia e DURRANT STS: Case report. Aplastic anaemia iii systemic
VS elevada. No LES podem também surgir células mononu lupus eiythematous: A celuilar immune mechanism? Br 3 Rheum.
cleadas com citoplasma hiperbasófilo, independentemente 1991; 30: 301-4.
das infecções virais. 4. GRINER PF, HOYER LW: Amegakaryocytic thrombocy
A American Rheumatism Association (ARA) estabeleceu topenia in sistemic lupus erythematosus. Arch Intern Med 1970;
em 1982 os critérios revistos para a classificação do LES, 125: 328-32.
bastando 4 dos 11 critérios para o diagnóstico1. A doente 5. FITCHEN JJ, CLINE MJ, SAXON A, GOLD DW: Serum
inhibitors of hematopoiesis in a patient with aplastic anemia and
apresentava 5 dos critérios necessários: ulcerações orais, systemic lupus erythematosus. Recovery after exchange plasma
artrite, alterações hematológicas, alterações imunológicas pheresis. Am J. Med 1979; 66: 537-42.
(anticorpos anti-DNA nativo positivos) e anticorpos antinu 6. ABDOU NI, LINDSEY HB, POLLOCK A, STECHSCHULTE
cleares positivos. DJ, WOOD O: Plasmapheresis in active systemic lupus erythe
matosus: effects on clinical, serum and cellular abnormalities.
CONCLUSÃO Case report. Clin Immunol Immunopathol, 1981; 19: 44-54.
7. WALPORT MJ, HUBBARD WN, HUGHES GRV: Reversal
of aplastic anaemia secondary to systemic lupas erythematosus
No LES a alteração hematológica mais frequentemente by high-dose intravenous cyclophosphamide. Br Med 3, 1982;
encontrada é a anemia ocorrendo em 57% a 78% dos 285: 769-70.
doentes2. A principal causa é a anemia de doença crónica, 8. BROOKS BJ, BROXMEYER HE, BRYAN CF, LEECH SH:
seguida das anemias hemolíticas auto-imunes que ocorrem Serum inhibitor in systemic lupas erythematosus associatedwith
em menos de um décimo dos doentes. A anemia aplástica aplastic anemia. Arch Intem Med 1984; 144: 1474-7
37
ANTÓNIO ALVAREZet ai.
9. STRICKER RB, SHUMAN MA: A plastic anemia complica 11. BAILEY FA, ULLY M, BERTOU LF, BALL 0V: An
Ling systemic lupus erythematosus: response to androgens in two antibody that inhibits in vitro bone marrow proliferation iii a
patients. Am J. Haematol. 1984; 17: 193-201. patient with systemic lupas erythematosus and aplastic anemia.
10. WINKLER A, JACKSON RW, KAY DS, MITCHELL E, Artritis Rheum 1989; 7:901-5.
CARMIGNANI S, SHARP GC: High-dose intravenous cy 12. SUMIMOTO S. KAWAY M, KASAJIMA Y, HAMAMOTO
closphosphamide treatment of systemic lupas eiythematosus T: Aplastic anemia associated with systemic lupas erythemato
associated aplastic anemia. Arthritis Rheum 1988; 5: 693-4. sus. Am J Hematol. 1991; 4: 329-31.
..;: :;~.
~ .7i~k:
‘~t. ~i
— ___________ i_i
)~ 1
_r
• -
•
— —— —
— - ~--
_
---~
—
-
——
-