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2017

Apostila da Disciplina de
Metodologia da Pesquisa e do
Trabalho Científico

Ementa da Disciplina: O que é pesquisa? O trabalho


científico; Modalidades de pesquisa; Técnicas e
instrumentos de pesquisa; O projeto de pesquisa; O
processo de pesquisa; Normas para redação de trabalhos
científicos; O relatório de pesquisa; Cuidados para o
pesquisador iniciante; Temas e problemas de pesquisa; O
método científico e os tipos de pesquisa; Problema: tema,
problema, hipóteses e variáveis; Estilo e redação de um
texto, observação e linguagem científica; Normas da
ABNT.

Autor: Professor Mestre Hugo


Allan Matos
INTRODUÇÃO FILOSÓFICA À CIÊNCIA E À METODOLOGIA CIENTÍFICA

Hugo Allan Matos


http://lattes.cnpq.br/3791062630331998

Resumo
O texto pretende, de forma introdutória, uma abordagem filosófica da ciência e
da metodologia científica, introduzindo quem o lê a estes três mundos que são
tão próximos, mas que muitas vezes, se distanciam historicamente. Mostrar a
necessidade de introduzir-se a estes três mundos e ensaiar uma aproximação
acessível a qualquer pessoa, entre Filosofia, Ciência e Metodologia Científica é
sua principal característica. Facilitar a compreensão de conceitos fundamentais
da ciência e da metodologia científica é o objetivo principal.

Palavras-chave: Ciência, Metodologia Científica, Pesquisa Científica,


Pesquisa Acadêmica, Métodos de Pesquisa

Introdução

Neste artigo faremos uma abordagem filosófica bibliográfica de


metodologia científica. Se você já sabe o que isso quer dizer, ótimo. Se ainda
não sabe, está convidado a descobrir. Para trilharmos o caminho estruturado
neste texto, será preciso deixar para traz todas as más impressões,
experiências, conceitos ruins, ainda que legítimos, que você, possa trazer
consigo sobre filosofia e ciência. Isso se faz necessário, para que você esteja
em uma predisposição que é essencial a qualquer pesquisa científica e leitura.
Em nosso estudo visitaremos diversos autores e autoras,
confrontaremos alguns deles, para aplicar métodos e o mais importante é que
não iremos sós. Nem eu, nem você. Tentarei sempre acompanhar você nesta
leitura e, dialogando, vamos refletir sobre o conceito de verdade como
fenômeno, depois, falaremos da pesquisa científica, em seguida da
metodologia e técnica da pesquisa e por fim, da aplicação da metodologia
científica no mundo acadêmico. Estes assuntos são interessantes porque, além
de ampliar nosso conhecimento e visão de mundo, nos permitem algumas
ferramentas práticas que podemos usar em nosso cotidiano, em todas as
nossas relações com o conhecimento. Espero que você goste. Vamos lá?!

O Fenômeno como verdade

Ao mesmo tempo que quero com este texto possibilitar ferramentas


teóricas concretas para construir conhecimento, quero que seja um caminho a
nos provocar à construção de conhecimento crítico, fundamentado. Assim,
preciso de sua ajuda para que ele cumpra sua função. Não darei aqui muitas
informações para serem apenas assimiladas, este não é um texto que pretende
ser um discurso que apenas traz verdades a serem assimiladas. Mas, é um
texto que quer dialogar com você e possibilitar que, caso queira, pense junto
comigo. Então, é preciso que você queira, pois, o desafio de chegar ao final
dele está dado. O texto é seu objeto de pesquisa, ao final dele você poderá ter
uma concepção própria, saber o que o texto diz, quais verdades ele traz.
Aqui temos uma junção do que penso, com o que pensam outros
autores e autoras, formando outra coisa, outro conhecimento, ao qual nem eu,
nem outro autor ou autora dos citados poderíamos chegar sozinhos. E mais: a
forma que você interpretará este texto terá suas contribuições para ele,
tornando-o assim, outro texto que não é nem o que escrevi, nem que autores e
autoras citados escreveram. Já parou para pensar o quanto isso é
interessante? A forma que você entende um texto é só sua. No entanto, as
ideias gerais aqui expostas serão comuns a qualquer pessoa que o ler. E
quanto mais você o ler, pensar sobre ele, buscar outras fontes de pesquisas
para comprovar ou negar o que você entendeu, mais você aprenderá. Isso
ocorre cotidianamente, em nossa comunicação habitual, mas dificilmente
paramos para pensar sobre. Qualquer coisa que você diga a outra pessoa,
será interpretado por ela a partir da subjetividade dela. Na maioria das vezes,
ela interpretará aquilo que você diz com intenções diferentes das que você teve
ao dizer. Ou seja, o interpretado já não é mais o dito. E mais, anterior a isso,
dificilmente nós conseguimos verbalizar exatamente aquilo que queríamos
dizer.
Nos dois parágrafos anteriores estão implícitas algumas verdades que
precisamos explicitar: 1. Se existe verdade, não temos acesso, pois acessamos
as interpretações que fazemos das coisas. 2. Construímos conhecimento
quando nos interessamos por algo, pesquisamos e criamos uma interpretação.
3. Isso quer dizer que construímos o objeto. Disso podemos concluir que:

...a atividade de ensinar e aprender está intimamente vinculada


a esse processo de construção de conhecimento, pois ele é a
implementação de uma equação de acordo com a qual educar
(ensinar e aprender) significa conhecer; e conhecer, por sua
vez, significa construir o objeto; mas construir o objeto significa
pesquisar (SEVERINO, 2007, p.25).

Portanto quando dizemos o que algo é, estamos na verdade, ou


reproduzindo o que disseram sobre algo, ou a concepção à qual conseguimos
chegar após um processo de construção do objeto, de pesquisa. Assim, é
impossível aprender ou ensinar, sem pesquisar. É a pesquisa que nos permite
conhecer as coisas, construir uma concepção sobre elas. É por este motivo
que o conhecimento científico está fundamentado na pesquisa.
Neste sentido é preciso representar graficamente o que estamos
dizendo.

Relação entre sujeito e objeto

Fonte: Elaborado pelo autor

Percebamos, portanto, que não há uma relação direta entre sujeito e


objeto. A concepção que temos sobre as coisas é um construto, é uma
percepção que temos a partir de nossa vivência e subjetividade, que pesquisa
e conhece a objetividade externa a partir de uma percepção do que se
apresenta do objeto para nós.
Neste sentido, à verdade – aqui representada pelo objeto – não temos
acesso, como diria Kant. Acessamos, apenas, aquilo que da verdade
conseguimos perceber. A isso chamamos fenômeno. Portanto, todas as vezes
que nos remetermos à palavra verdade, neste texto, é no sentido fenomênico
da palavra.
Sua relação com este texto que lê agora é uma relação fenomênica. E o
mais legal é que cada vez que repetir este exercício, será uma experiência
única em que aprenderá coisas diferentes. E quanto mais pesquisar sobre ele,
sempre aprenderá mais, e você, também, já não será mais a mesma pessoa.

A pesquisa científica

A pesquisa científica se inicia da mesma forma que qualquer outra


pesquisa: com a curiosidade. No entanto, há um cuidado maior com o método.
A principal diferença do conhecimento científico para o conhecimento do senso
comum é o método.
A pesquisa científica é a realização de um estudo planejado,
sendo o método de abordagem do problema o que caracteriza
o aspecto científico da investigação. Sua finalidade é descobrir
respostas para questões mediante a aplicação do método
científico. A pesquisa sempre parte de um problema, de uma
interrogação, uma situação para a qual o repertório de
conhecimento disponível não gera resposta adequada. Para
solucionar esse problema, são levantadas hipóteses que
podem ser confirmadas ou refutadas pela pesquisa
(PRODANOV, 2013, p.43).

É importante salientarmos que não existe conhecimento científico sem


conhecimento de “senso comum”1, mas há aqui, no conhecimento científico,
uma construção mais cautelosa, um caminho – significado de método – mais
estreito a seguir. Há um projeto a ser seguido e um caminho a ser aplicado. Há
técnicas a serem aplicadas. O método científico se distingue, portanto, não só
do senso comum, mas da filosofia, da arte e da religião.
Muitas vezes não entendemos o porquê de tantas normatizações, tantas
regras e detalhes nos cursos de educação formal, sobretudo na graduação e
na pós-graduação. Me arrisco a dizer que iniciação científica, publicação de
artigos científicos, trabalho de conclusão de curso e normas ABNT tendem a

1 Sobre a denominação ‘senso comum’ há muitas críticas. Alves (2007), em seu livro Filosofia da

Ciência, faz uma reflexão filosófica sobre a ciência de forma muito interessante, com exercícios,
questões a serem respondidas e jogos que perpassam o texto. Se você tiver interesse, recomendo
a leitura.
ser cada vez menos compreendidos, sobretudo em nosso mundo atual de
imediatez e praticização das relações. Ocorre que
Participar do desenvolvimento de projetos de investigação
como previstos no Programa de Iniciação Científica e elaborar
trabalhos de conclusão de curso é praticar, da forma mais
pertinente, a construção do conhecimento científico,
modalidade mais adequada de aprendizagem (SEVERINO,
2007, p.26).

É necessário, portanto, se queremos um país com produção científica


relevante, com cultura elevada, valorizar este importante estágio de iniciação
do fazer científico. Nele os estudantes têm a possibilidade de compreender
estes mecanismos. Contudo, mesmo nos cursos de graduação, estes fazeres,
muitas vezes, são mal aproveitados e não permitem compreender que
A pesquisa, como processo de construção de conhecimento,
tem uma tríplice dimensão: uma dimensão propriamente
epistêmica, uma vez que se trata de uma forma de conhecer o
real; uma dimensão pedagógica, pois é por intermédio de sua
prática que ensinamos e aprendemos significativamente; uma
dimensão social, na medida em que são seus resultados que
viabilizam uma intervenção eficaz na sociedade através da
atividade de (SEVERINO, 2007, p.26).

Considerar estas três dimensões da pesquisa nos ajuda a perceber que


não são apenas chatices, burocracias, normas e regras que devem ser
seguidas, pura e simplesmente. Há uma preocupação social e pedagógica,
além da científica, epistemológica. Assim, o esforço em cumprir essa etapa
minimamente, ainda que não nos interessemos pelo tema, ou pelo avanço
científico e social, seria um retorno mínimo que nós, pessoas que temos
acesso ao estudo e à pesquisa, podemos dar à sociedade, que ainda hoje, é,
em grande maioria, excluída dessa possibilidade.

Sobre os métodos de pesquisa

Método quer dizer ‘caminho’, como dissemos anteriormente. Não há


apenas um caminho a seguir para fazer ciência. Há tão variados caminhos,
quantas são as teorias que fundamentam os métodos. Para melhor
compreendermos essa diversidade é preciso saber que:
É oportuno nesse debate, no rol dos autores que tratam do
tema, destacar os conceitos convergentes formulados por
Galliano (1986), Trujillo Ferrari (1982), Lakatos e Marconi
(2003), e Matias-Pereira (2010a). Galliano (1986) define
método como o conjunto de etapas, ordenadamente dispostas,
a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de
uma ciência ou para alcançar determinado fim. Para Trujillo
Ferrari (1982) método é o procedimento racional arbitrário de
como atingir determinados resultados. Para o autor, na ciência
os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam
de início o pensamento em sistemas, traçam de modo
ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um
percurso para alcançar um objetivo preestabelecido. Método,
para Lakatos e Marconi (2003), é o conjunto de atividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos
e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando
erros e auxiliando as decisões do cientista. Por sua vez,
Matias-Pereira (2010a) define método como o roteiro ou os
procedimentos e técnicas utilizados para se alcançar um
objetivo (MATIAS-PEREIRA, 2016, p. 41)

E o caminho que escolhemos aqui seguir, não é nenhum desses, dado o


conceito de verdade que já assumimos, com Severino (2007). Decidimos
adotar como principal a abordagem deste autor, desdobrando-se em uma
abordagem própria, minha, pois, perceba que estamos dialogando com outros
autores e autoras afim de não só atingirmos uma melhor qualidade no texto,
como de possibilitar a você uma diversidade de abordagens.
Antes de começarmos a falar nos métodos científicos e suas
fundamentações epistemológicas, as abordagens, é preciso que nos
lembremos de duas formas de pensar: a indutiva e a dedutiva.
O método indutivo é uma forma de pensar que parte de premissas
particulares para chegar ao conhecimento universal. Podemos dizer, ainda, que
o método indutivo,
partindo de dados particulares (fatos, experiências, enunciados
empíricos) e, por meio de uma sequência de operações
cognitivas, chega a leis ou conceitos mais gerais, indo dos
efeitos à causa, das consequências ao princípio, da
experiência à teoria. Nessa forma de condução do raciocínio, a
premissa maior não é uma verdade absoluta, não contempla
toda a verdade da menor. Ela é válida apenas para um número
restrito de casos; assim não está completamente inserida,
contemplada na maior, e a conclusão não generaliza todos os
casos. É proposta de verdade; verdade comprovada para uma
situação específica e que poderá ser ampliada para outras
situações, desde que sejam repetidos os mesmos elementos
verificados na premissa maior. Portanto, a conclusão é uma
generalização (MICHEL, 2015, p.34)
Esta forma de pensar é oposta ao raciocínio dedutivo, no qual
parte-se de uma verdade estabelecida (geral) para provar a
validade de um fato particular. Caminha-se da causa para o
efeito. Nesse tipo de raciocínio, a premissa maior é uma
verdade absoluta, comprovada e que contempla toda a
proposição contida na premissa menor. Assim, a conclusão
deverá ser necessariamente verdadeira. Parte-se de uma
verdade universal, para se confirmar um elemento que faz
parte desse conjunto maior. Portanto, a dedução é uma
particularização (MICHEL, 2015, p.34).

Raciocínio indutivo e dedutivo são as duas grandes formas de pensar métodos


que estiveram em voga por séculos nas discussões científicas de nossa cultura
ocidental e ainda hoje incitam debates.
Agora, precisamos distinguir ‘métodos’ de ‘técnicas’ a serem aplicadas.
Os métodos variam de acordo com o que pesquisaremos e com nossa própria
visão de mundo (paradigmas) enquanto pesquisadores. Vejamos algumas
formas de pensar que inspiram métodos de pesquisa.
A ciência até a modernidade, era metafísica. A preocupação era
entender a existência das coisas para além do que é físico, do que se pode ver.
Acontece que com o passar do tempo, sobretudo a partir do Renascimento, os
cientistas foram percebendo essa forma de ciência como insuficiente, pois não
era baseada na experimentação sensível, ou seja, prescindia de uma dimensão
empírica para a pesquisa. Sendo assim, novos métodos foram criados. Um
deles, o idealismo, coloca o sujeito como protagonista do conhecimento.
Outro, o realismo, privilegia o objeto, a realidade, na questão do
conhecimento. Esses métodos de pesquisa são antagônicos.
Mais adiante, o filósofo Immanuel Kant, conseguiu conciliar essas duas
posições, instituindo, na modernidade,a ideia da relativização do conhecimento
ao sujeito, ou seja, o conhecimento do objeto varia de sujeito para sujeito, pois
a estrutura transcendental – nosso aparelho cognitivo, dentro das condições
de possibilidade de espaço e tempo - que aprende, é subjetiva. Além disso, na
estrutura transcendental, entende-se que o sujeito apreende a estrutura das
coisas a partir de sua percepção intuitiva dos fenômenos, não sendo possível
perceber as coisas em si, mas apenas os fenômenos a partir da forma como as
coisas a nós se apresentam.
Por sua vez, Augusto Comte, criador do positivismo, entendeu que
assim como as coisas da natureza, os seres humanos, também funcionam
segundo regras naturais possíveis de serem conhecidas e estudadas
cientificamente. Essa ideia é explica da seguinte maneira:
Para a ciência, o real se esgota na ordem natural do universo
físico, à qual tudo se reduz, incluindo o homem e a própria
razão, que é razão natural. O Homem se constitui então como
um organismo vivo, regido pelas leis da natureza, tanto no
plano individual como no social, leis que determinam sua
maneira de ser e agir. Assim, os valores e critérios de sua ação
se encontram expressos na própria natureza sob a forma de
leis de funcionamento que se pode conhecer pelas várias
ciências, aplicando-se o método científico, simultaneamente
experimental e matemático (SEVERINO, 2007, p.107)

Sendo assim, o método científico consegue a partir da observação


empírica e da medição matemática acessar o real, a realidade em si, das
coisas.
A concepção positivista, empírica e matemática, gerou imediatos
resultados na área das ciências naturais, mas não foi bem-aceita pelas ciências
humanas, que entendem que a complexidade e espontaneidade humana não
permite que o sujeito seja compreendido pelo método rígido do positivismo.
Ainda assim, um grupo de filósofos e cientistas naturais de Viena, uniram-se
em torno de uma proposta que fundou a ciência contemporânea: a ciência
neopositivista.
Segundo o neopositivismo, tudo o que vale a pena ser conhecido deve
ser estudado com base na experiência empírica e na medição matemática.
Metafísica, filosofia, teologia, enfim, todo conhecimento que não tenha
possibilidade de aplicação do positivismo é inútil.
O neopositivismo foi bastante criticado, sendo Karl Popper, Thomas
Kuhn e Paul Feyerabend três grandes críticos. Em resposta, surgiram correntes
filosóficas e formas alternativas de fazer ciências, sobretudo as humanas e
sociais. O funcionalismo é um desses métodos, com influência positivista, que
pressupõe que é possível estabelecer uma relação entre o funcionamento do
organismo humano e da sociedade, que é considerada um organismo cujas
partes funcionam para atender as necessidades do conjunto. Segundo o
funcionalismo, é papel das ciências humanas identificar e descrever toda
atividade cultural, social e política econômica, as quais desempenham funções
predeterminadas na sociedade, com base em uma abordagem empírica e com
métodos próprios. Durkheim, Spencer, Malinowski são os três grandes
cientistas dessa corrente.
Outro método com tradição positivista é o estruturalismo– ainda muito
influente nos dias hoje. Segundo o estruturalismo,todas as partes do sistema
são dependentes entre si e, por essa razão, quando uma delas é alterada
provoca alterações em toda a estrutura. Os principais nomes são Saussure,
Lévi-Strauss, Foucault (num primeiro momento) e Althusser (SEVERINO,
2007).
Além desses métodos derivadas do positivismo e seu alto grau de
objetividade e raciocínio lógico, há alguns que privilegiam a subjetividade dos
sujeitos implicados nos fenômenos. Um deles, a fenomenologia, foi
constituído por Edmund Husserl, filósofo e matemático.
A fenomenologia é uma filosofia e ao mesmo tempo um método
científico cuja premissa principal é a compreensão do ser humano e das coisas
que o cercam deve se dar a partir da observação da vida cotidiana, o que deve
ser feito isolando o fenômeno observado de qualquer conhecimento prévio,
como se ele mesmo fosse o início de todo o conhecimento possível.Essa
corrente acredita que não há objeto percebido que não tenha a influência do
sujeito que se projeta no fenômeno. Por essa razão, é necessário retirar do
fenômeno essas influencias do sujeito, para que ele possa ser conhecido de
forma mais autêntica.
Além disso, a fenomenologia reconhece que a consciência é intencional
e por isso capta os fenômenos de acordo com intenções do sujeito. Assim, não
há separação entre sujeito e objeto na apreensão dos fenômenos e na
pesquisa, há o encontro entre a consciência e as coisas, e é isso que permite
conhecer a realidade em si.
Outra corrente que vai na contramão do positivismo é a hermenêutica, que
propõe que “todo conhecimento é necessariamente uma interpretação que o
sujeito faz a partir das expressões simbólicas das produções humanas, dos
signos culturais” (SEVERINO, 2007, p.115). Além da fenomenologia, a
hermenêutica se funda na dialética, psicanálise e estruturalismo. Paul Ricoeur,
Gadamer e Enrique Dussel são três grandes autores dessa perspectiva.
Nossa abordagem neste tema foi mais panorâmica, sequer entramos em
conceitos específicos destes paradigmas epistemológicos, para que você tenha
uma ideia geral sobre a diversidade metodológica das ciências em geral.
Até aqui, desmistificamos o ideário de que há verdades absolutas,
mostrando a complexidade de termos o fenômeno como verdade. Mostramos
ainda, como nasceu a ciência moderna, as principais correntes científicas e
alguns fundamentos filosóficos da pesquisa científica.

Sobre modalidades de pesquisa

Como já percebemos, é necessário toda uma coerência metodológica e


de concepções prévias sobre a pesquisa, para podermos efetuar uma boa
atividade científica. Selecionado o método, é necessário identificar a
modalidade, técnicas e instrumentos de pesquisa. Severino (2017) nos ajuda a
compreender essas questões.
A primeira diferenciação a se fazer é a da pesquisa qualitativa e
pesquisa quantitativa. O positivismo e o neopositivismo são considerados
métodos quantitativos, pois referem-se em geral à quantidade de experiências
empíricas e resultados positivos adquiridos, especificamente à importância da
matemática como na aferição dessa experiência. Os outros métodos, como
vimos, sobretudo os que surgiram em crítica aos empíricos-matemáticos, se
apoiam, justamente, na intenção de que a ciência necessita de resultados mais
qualitativos que quantitativos, que correspondam mais à complexidade e
espontaneidade humanas, que a uma tentativa de enquadrar o sujeito em
relações fixas, determinadas, estruturais. Assim, o que denomina se a pesquisa
é qualitativa ou quantitativa é mais uma questão de abordagem, de foco.
Vejamos alguns exemplos.
A pesquisa etnográfica parte dos processos diários e visa
compreendê-los qualitativamente. Ela pode utilizar a observação participante,
uma estratégiaem queo pesquisador participa do cotidiano pesquisado e vai
registrando descritivamente tanto as experiências, quanto suas análises sobre
elas, sem, porém, interferir nelas. No entanto, quando o pesquisador, além de
interagir com o fenômeno pesquisado, intervém nele, modificando e
aprimorando as práticas pesquisadas, temos a pesquisa-ação. Projetos de
consultoria empresarial, por exemplo, utilizam a pesquisa-ação.
Já o estudo de caso é a escolha de um caso particular, mas
amplamente representativo, que permita inferências e generalizações
posteriores. Os dados são coletados e registrados rigorosamente, seguindo os
procedimentos da pesquisa de campo – que veremos adiante – e a análise
rigorosa deve ser seguida de relatórios.
Por sua vez, na análise de conteúdo analisam-se os discursos
realizados por meio de entrevista ou documentação, buscando o que está por
detrás deles, nas entrelinhas. Trata-se de compreender criticamente o sentido
manifesto e o sentido oculto das comunicações.
Como podemos perceber a variedade de métodos é muito grande e é
relativa aos objetivos da pesquisa, bem como o objeto a ser pesquisado.
Temos ainda, a pesquisa bibliográfica, que consiste em considerar como
referenciais textos escritos sobre o assunto, sejam livros, teses, dissertações,
artigos, etc e que é diferente da pesquisa documental,que considera como
referências não só textos bibliográficos, mas qualquer tipo de documento, como
jornais, fotos, filmes, gravações, etc. A grande diferença entre as duas é que na
pesquisa documental não há tratamento analítico da fonte.
Há também a pesquisa experimental,muito eficiente para as ciências
naturais, geralmente realizada em laboratório, que se concentra na
observação, experimentação e manipulação do objeto afim de compreender
sua composição, relações, funcionalidades, etc. Anotam-se os experimentos e
resultados para posterior tratamento analítico. Esta modalidade se diferencia
da pesquisa de campo, na qual há a observação do objeto em seu ambiente
próprio, podendo ter uma perspectiva descritiva ou analítica. Existem, ainda, a
pesquisa exploratória, que é apenas um levantamento de dados para analisar
se existe a possibilidade de haver uma pesquisa explicativa,que além de
registrar e analisar os fenômenos estudados, objetiva identificar suas causas,
seja pelo método quantitativo, das ciências naturais, ou qualitativo, mais usado
nas ciências sociais e humanas (SEVERINO, 2007).

Sobre técnicas de pesquisa


Assim como as modalidades, ou formas de pesquisas, há ainda as
técnicas, que são bastante diversas e também devem se adequar ao objeto de
pesquisa, objetivos e pesquisador.Existem várias abordagens sobre técnicas
de pesquisa. Aqui apresentarei alguns aspectos da de Marconi e Lakatos
(2010) para quem
Toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas
fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas
empregadas. Esse material-fonte geral é útil não só por trazer
conhecimentos que servem de background ao campo de
interesse, como também para evitar possíveis duplicações e/ou
esforços desnecessários; pode, ainda, sugerir problemas e
hipóteses e orientar para outras fontes de coleta. É a fase da
pesquisa realizada com intuito de recolher informações prévias
sobre o campo de interesse. O levantamento de dados,
primeiro passo de qualquer pesquisa científica, é feito de duas
maneiras: pesquisa documental (ou de fontes primárias) e
pesquisa biblio- gráfica (ou de fontes secundárias) (MARCONI
e LAKATOS, 2010, p. 157)

Para essas autoras, toda pesquisa requer levantar o maior número


possível de dados da maior variedade possível de fontes. Isso ajudará a dar
um caráter mais universal aos resultados do estudo. Por outro lado, é
importante ressaltar que há controvérsias. Numa abordagem qualitativa, por
exemplo, não é o número de fontes que garantirá a qualidade dos resultados,
mas a qualidade argumentativa, descritiva, reflexiva do texto. Neste texto, por
exemplo, optamos por uma abordagem reflexiva, privilegiando a qualidade
mais que a quantidade de fontes referenciais.
E continuando a explorar as afirmações das autoras, como se dá o
levantamento de dados na pesquisa documental e na pesquisa bibliográfica?
Na pesquisa documental,uma vez que a fonte dos dados é
exclusivamente documental, escritos ou não, a coleta pode ser realizada
durante o fenômeno a ser pesquisado, ou depois. Observe a figura a seguir.

Tipos de documentos que podem ser utilizados em pesquisa documental


Fonte: MARCONI e LAKATOS,
L 2010, p.158.

Nesta figura percebemos uma divisão de documentação de acordo com


o tempo em que ela foi recolhida (retrospectiva
(retrospectiva ou contemporânea),
contemporânea com o tipo
de documento (escrito e outros)
outros e de acordo
rdo com a relevância (primária
( ou
secundária). As autoras advertem que se antes o problema era a falta de
documentação, sobretudo nas sociedades iletradas ou que não documentavam
suas pesquisas, hoje o excesso de documentação torna-se
se um problema, em
especial na antropologia e na sociologia. E o fator determinante para ajudar na
escolha qualitativa é, novamente o bom recorte teórico e a boa definição dos
objetivos da pesquisa.
O processo da documentação pode ainda ser realizado a partir da
ciência e definição de sua fonte.
fonte. As fontes podem originar de arquivos
públicos(documentos
documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos
de cartórios ou iconografia),
iconografia arquivos particulares (de
de domicílios, de instituições
privadas e de instituições públicas),
públicas de fontes estatísticas(características
aracterísticas da
população, fatores que influem no tamanho da população, distribuição da
população, fatores econômicos, moradia, meios de comunicação,
manifestações sociais, etc.).
etc. Devemos ainda, distinguir
guir os tipos de documentos
em escritos(documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos
jurídicos e fontes estatísticas) e outros (iconografia, fotografias, objetos,
canções folclóricas, vestuário, folclore).
Outra técnica de pesquisa é a pesquisa bibliográfica. Curiosamente
Marconi e Lakatos (2010) consideram como objeto da técnica de pesquisa
bibliográfica não só os textos escritos, como comumente é considerado, mas:
...até meios de comunicação oral: rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é
colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi
escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive
conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos
por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. (MARCONI
e LAKATOS, 2010, p. 166)

Essa abordagem de Marconi e Lakatos (2010) sobre técnicas de


pesquisa se confunde com o que trouxemos anteriormente sobre métodos de
pesquisa de Severino (2007). Você percebeu? Pois é. A concepção sobre o
que é procedimento técnico e o que é metodologia muitas vezes se confundem
a depender dos autores. A meu ver, há um problema na concepção de técnica
de pesquisa dessas autoras consagradas, que têm nessa obra exemplar, uma
didática muito interessante. Mas como este aqui não é o espaço ideal para
exploramos mais sobre esta hipótese, voltaremos ao Severino (2007), traremos
sua concepção sobre técnicas de pesquisa e veremos que é uma abordagem
mais simples e coerente.Vejamos como Severino (2007) classifica as técnicas
de pesquisa.
A primeira que ele aponta é documentação, que é toda forma de
registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições
de análise por parte do pesquisador. Depois, aponta a entrevista, que pode
ser não diretiva, na qual o entrevistador não interfere no rumo, deixando o
entrevistado livre para falar o que quiser, ou estruturada, em que as questões
são previamente planejadas, direcionadas, com determinada articulação
interna. A outra técnica de pesquisa que ele aponta é a história de vida, que
pode ser autobiográfica, memorial, crônica, e que expressa a trajetória de
sujeitos. Temos ainda, a observação como técnica para acessar ao fenômeno
estudado – perceba que esta técnica é fundamental em toda pesquisa – e o
questionário que deve colher respostas a questões previamente planejadas e
testadas em pequenos grupos antes de ser aplicada (SEVERINO, 2007).
Severino (2007) adverte que as técnicas de pesquisa guardam uma
complexidade, qual seja, a de dever ser compatível com o método e com a
epistemologia – teoria do conhecimento- que funda a pesquisa. Ou seja, não
posso utilizar uma pesquisa de documentação, quando pretendo uma pesquisa
fenomenológica, pois a técnica mais adequada para isso seria a entrevista ou a
história de vida.
É importante ressaltar que a ciência só se classifica como tal, quando
articula seu método, técnica e fundamentação epistemológica:
A ciência, como modalidade de conhecimento, só se processa
como resultado de articulação do lógico com o real, do teórico
com o empírico. Não se reduz a um mero levantamento e
exposição de fatos ou a uma coleção de dados. Estes precisam
ser articulados mediante uma leitura teórica. Só a teoria pode
caracterizar como científicos os dados empíricos. Mas, em
compensação, ela só gera ciência se estiver articulando dados
empíricos (SEVERINO, 2007, p. 126).

A teoria só gera ciência, portanto, se estiver articulando dados


empíricos, tiver um método e técnica bem delimitados, compatíveis e em
sincronia. Penso que conseguimos, até aqui, definir bem o fazer científico e a
pesquisa científica, algumas de suas técnicas, mostramos a variabilidade de
concepções a depender dos autores e a não possibilidade de totalização de
apenas uma perspectiva como verdade absoluta, dado que a verdade é
fenomênica.
Agora passaremos para outra etapa de nosso texto, menos teórica e
mais descritiva, que tange algumas práticas de pesquisa e metodologia
científica na formação acadêmica.

Metodologia científica na universidade

Tudo o que dissemos até aqui, serviu para que compreendêssemos de


forma geral o que é a ciência, a discussão sobre a verdade, assumindo uma
teoria contemporânea de verdade fenomênica, o que é o método cientifico,
alguns métodos, o que é a pesquisa científica e as técnicas de pesquisa.
Agora, falaremos da ciência aplicada na formação acadêmica. Mas,
antes disso, é preciso que eu te dê algumas dicas. Como professor
universitário há 7 anos e professor do ensino básico há mais de dez anos, em
três cidades diferentes, afirmo, com certo grau de certeza, que nossa cultura
não favorece o estudo. Seja pela falta de projeto educacional em nosso país,
seja pelas poucas condições materiais de nossa população em geral, pela
ausência de condições subjetivas. Entretanto, quem irá adentrar este caminho
fascinante que é a pesquisa científica e o mundo acadêmico, não pode deixar,
todos os dias, de se fazer três perguntas básicas sobre o que pretende
pesquisar, antes de iniciar o procedimento de pesquisa propriamente dito:
• Qual é a relevância social e cultural do problema que pretendo
estudar?
• Qual é sua relevância científica?
• Qual é sua relevância acadêmica?
Perceba que coloquei em primeiro lugar a relevância social e cultural. É
triste ver quanto nossa ciência em geral, e a universidade em particular, gasta
dinheiro público e não produz resultados significativos que possam ser
aproveitados posteriormente. Assim, de nossa parte, como pesquisadores e
pesquisadoras, precisamos garantir a relevância da pesquisa, pensando no
aproveitamento posterior, ou seja, em como aproveitá-los com relevância para
o bem social e cultural. Fica a dica!
Agora abordaremos, então, a metodologia científica na universidade.
A primeira coisa que é preciso trazer à tona, é a linguagem utilizada na
escrita científica. Numa abordagem exclusivamente positivista, na qual
pretende-se transmitir uma neutralidade no conhecimento, na relação sujeito
objeto, defende-se uma escrita exclusivamente formal, impessoal:
A característica principal do gênero científico é abordar
assuntos, problemas,indagações, dúvidas, de forma científica e
racional; quer dizer, buscando a sua explicação lógica e
comprovação, tomando-se como referencial uma teoria
existente. O texto científico trabalha com o princípio da busca
da verdade, e particulariza-se pelo alto grau de abstração
necessário do pensamento. Pretensiosamente neutro, os
raciocínios são logicamente concatenados, utilizando
vocabulário preciso, adequado à área, construído sob o rigor
da subordinação e da ausência de emoção. Essas
especificidades do gênero científico fazem dele dependente do
tipo de linguagem utilizada para sua expressão. Por isso, a
linguagem científica não é livre, não é pessoal, deve obedecer
a quesitos universais de apresentação, padronização,
formatação e expressão; assim como não deve chamar para si
a responsabilidade pelo convencimento do leitor. Ela deve ater-
se a ser o instrumento da comunicação científica, não o
propósito. E como instrumento de divulgação da ciência, deve
possuir alguns atributos, alguns condicionantes [...]. (MICHEL,
2015, p. 30)

É preciso perceber que cada livro de metodologia científica tem uma


posição que é antropológica, filosófica e política. Não há neutralidade possível
no conhecimento, portanto, defender isso, em nosso século XXI, não é fazer
ciência e sim ideologia2. E não preciso dizer que sou totalmente contrário,
mais próximo disso que estamos fazendo aqui o texto todo, um diálogo
informal, como duas pessoas amigas, tomando café, olhando para o mar e
conversando sobre ciência, pesquisa e metodologia científica de forma
filosófica. Por que não?
Criou-se em torno da ciência uma aura de glamour, de hermetismo, de
iniciação, como se fosse uma fraternidade na qual você só pode participar se
iniciado for. Isso é próprio do eurocentrismo, sobretudo, mas também de uma
ciência criada para o domínio, aliada com o poder econômico, portanto, uma
ideologia científica, não uma ciência. Muitos autores criticam isso, Karl Popper,
Thomas Kuhn, Feyerabend, Morin, mas aqui, vamos citar apenas um:
Pertence à sagacidade clássica da ideologia esconder-se atrás
da linguagem científica, precisamente porque tal linguagem
alcançou em nossa sociedade o valor de um mito indiscutível.
A ciência não produz tanta certeza. É por definição um
fenômeno questionável. Mas isto é precisamente ideologia, a
saber, produzir a aura de inquestionável, para realizar a
justificação mais convincente possível. Interessa demais à
ciência obter dos que se dizem cientistas, e também do povo
em geral, a confiança relativa a uma atividade que não se
deveria colocar em questão. dada a pretensa integridade de
seus construtores (DEMO, 1985, p. 30)

Perceba que aqui, neste texto que já estamos prestes a concluir, vim
dialogando com você. Utilizando inclusive, muitas vezes, primeira pessoa do
singular, que é o que sou, dado que estou escrevendo o texto sozinho. Mas
algumas vezes, utilizei-me da primeira pessoa do plural, nós, mas não no
sentido que manda a norma, mas considerando que você estava comigo. Pela

2 Esta é outra questão central no livro do Rubem Alves que já indiquei que você leia.
norma, o nós, tratar-se-ia de que o escritor cientista, por ser neutro, falaria em
nome da ciência. É isso que Pedro Demo (1985) está chamando na citação
acima de esconder-se atrás da linguagem científica, de sagacidade clássica. A
ciência que só é ciência se falsificada, quer dizer, só existe avanço científico se
a ciência for descobrindo que o que ela acreditava estava errado, muitas vezes,
abre mão do avanço científico por interesses outros, que não a própria ciência.
Hermetizar-se, alimentar esta áurea do glamour, é uma das possibilidades de
fazer isso. Então, em relação à linguagem científica, enquanto manifestação da
língua, penso que já é momento de falarmos em uma linguagem compreensível
para toda e qualquer pessoa. Imagina a ciência do direito sendo compreensível
e operável por qualquer pessoa?
Mas, não estou defendendo aqui uma não metodologia na ciência,
porque se assim fosse, não seria mais ciência. Continuo defendendo o rigor
metodológico, junto à diversidade metodológica, como defendem tantos
autores. Então é preciso ter normas para se fazer ciência. Com o conhecimento
acadêmico ocorre o mesmo, dado que é científico. No Brasil, a organização
que diz quais normas devem ser utilizadas é a Associação Brasileira de
Normas Técnicas(ABNT), que não normatiza apenas trabalhos acadêmicos,
mas todos os setores.
Perceba que neste texto seguimos as normas ABNT. Desde a medida
das margens, a fonte Arial 12, o espaçamento de 1,5 no texto e 1,0 nas
citações diretas, o recuo de 1,25 no início dos parágrafos, a forma de citação
‘autor, data’(quando há mais de uma obra do mesmo autor) e página, as
referências ao final do texto, tudo segue os padrões da ABNT. Não há segredo,
é consultar e seguir, aplicar. A única forma de melhor aprender é exercitar.
Detalhe: cada instituição cria sua própria normatização a partir da ABNT, para
criar identidade estética, o maior motivo. Revistas Científicas, acadêmicas,
também têm normatizações próprias. Então, é consultar e aplicar, repito. Os
manuais costumam ser bem didáticos. Outra coisa essencial é familiaridade
com o editor de textos. Há recursos úteis como inserir nota de rodapé, a
configuração de estilos das fontes, recursos de revisão de texto, que se você
pode e deve aprender a usar. Faça um curso rápido. Na Internet há várias
opções voltados para formatação de trabalhos acadêmicos.
Sobre o pré-projeto de pesquisa

O pré-projeto de pesquisa é um documento que os pesquisadores


desenvolvem antes de iniciar os procedimentos da pesquisa propriamente dita
e que traz, de forma sumarizada o objetivo da pesquisa, o embasamento
teórico e outros tópicos que informam sobre o que ele pretende realizar.
Não existe uma normatização para o pré-projeto de pesquisa, pois varia
muito em cada instituição. Então, explicarei um modelo simples, com base em
Severino (2007) que atende a maioria das solicitações.Observe a figura a
seguir.

Sequência de tópicos que compõem o pré-projeto de pesquisa

Fonte: Adaptado de Severino (2007)

É importante antes de iniciarmos a descrição das normas para


elaboração de projeto, dizer que antes de começar a escrevê-lo, você deve se
impor um momento anterior, que é o momento de crise. Isso mesmo! Você
precisa romper a cotidianidade – esse é o significado de crise – e colocar-se
um tema a pensar. Portanto, este tema deve ter relação existencial, você
precisa querer pesquisar esse tema.
O tema é mais geral, por exemplo: Ética. Escolhido o tema, é preciso
recortá-lo para um assunto. O assunto é mais específico, por exemplo:
eutanásia. E, em seguida, um problema. Este problema de pesquisa é uma
pergunta que a sua pesquisa precisará responder. Por exemplo: seria ético
permitir a eutanásia para pessoas com câncer terminal?
A próxima etapa é a justificativa; o momento em que você precisa
mostrar como chegou ao tema e ao problema de pesquisa. Aqui é a descrição
de seu caminho pessoal, de como você chegou até aqui, qual o processo, de
onde se originou esse tema e problema, os motivos, etc. Você deve evidenciar,
convencer sobre seu tema-problema. Precisa mostrar clareza do que se quer,
coerência argumentativa de forma técnica, para mostrar que você é capaz de
fazê-lo.
Trata-se de uma justificativa acadêmica, na qual você vai mostrar que
tem condições técnicas de realizar este trabalho, então, tem que justificá-lo,
mostrando tudo o que você já leu sobre, os principais conceitos, autores que
trabalham o tema. Este processo é chamado também ‘revisão de literatura’.
Em seguida, vêm as hipóteses e os objetivos (gerais e específicos).
Nesta etapa, então, você demonstrará algumas hipóteses de solução de seu
problema e seus objetivos gerais e específicos da pesquisa.
Por último a fundamentação teórica. Aqui você tem que mostrar a base
epistemológica, método e técnica de pesquisa, com base nos os textos que
você pensa serem fundamentais para sua pesquisa. Inclusive, já terá que citá-
los. É claro que não se espera um domínio teórico seu, mas avaliadores
querem uma motivação para acreditarem que você é capaz de desenvolver a
pesquisa, que você já sabe mais ou menos por onde começar e que possui as
habilidades técnicas mínimas necessárias para fazê-lo.
Algumas instituições pedem a bibliografia, ou referencial teórico no pré-
projeto.
Exercitando bem esta etapa de elaboração do pré-projeto, o
desenvolvimento de sua pesquisa não tem como dar errado. E não se esqueça:
se não houver o envolvimento existencial com a pesquisa, será muito mais
difícil conduzi-la e terminá-la bem.

Considerações finais

Realizar uma pesquisa científica exige todo um preparo e reflexão


filosófica prévios que a maioria dos textos e materiais sobre o assunto não
dizem. Então, a pessoa inicia um projeto de pesquisa literalmente “do nada”. O
nosso foco no caminho que aqui fizemos, foi de forma introdutória, mostrar a
complexidade e importância do fazer científico, bem como garantir as
ferramentas mínimas, introdutórias para que você possa trilhar bem este
caminho.
Uma breve reflexão sobre a Teoria do Conhecimento, que trata da
questão da verdade, permitiu-nos um feito fundamental que foi o de
desmistificar a razão totalitária neopositivista, que afirma que o fato é a
verdade, mas não diz que ele é um construto social, um fenômeno, e que não
temos acesso à verdade absoluta. Daí ficou muito mais fácil falar de pesquisa,
ciência, metodologias e técnicas de pesquisa. A importância da abordagem que
fizemos, foi exatamente a de a todo momento mostrar o quão fundamental são
as fundamentações filosóficas das abordagens, diferenciando-as de técnicas
de pesquisa e mostrando como são interdependentes. Não é possível fazer
ciências sem ambas, apesar de termos escritores de metodologia científica que
afirmam o contrário, como vimos.
Por fim, falamos um pouco da Metodologia Cientifica na vida acadêmica,
especificamente da hermetização da ciência como mecanismo de exclusão,
como resultado de um processo de domínio cultural eurocêntrico que coloniza
não só a linguagem, como também as posturas, afastando a todos das
ciências. Terminamos com um passo-a-passo para um pré-projeto bem
próximo do que já é o projeto científico, de forma simples e acessível a você.
Espero que tenha gostado do texto, que é só introdutório. Então, agora, você
pesquisar outros?

Referências

ALVES, Rubem.Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e suas regras. 12.ed.


São Paulo: Loyola, 2007.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2.ed.São Paulo:
Atlas,1985.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MATIAS-PEREIRA, José. Manual de metodologia da pesquisa científica.
4.ed. São Paulo: Atlas, 2016
MICHEL, Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em ciências
sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2015.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani C. de.Metodologia do
trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico.
2.ed. Novo Hamburgo: Freevale, 2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed.,
revista e atualizada. São Paulo: Cortez, 2007.

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