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“SISTEMA JURÍDICO CRIMINAL BRASILEIRO - UM CROCODILO

COM ASAS DE BORBOLETA”, ou


quando a empiria revela nossa tradição inquisitorial

VERA RIBEIRO DE ALMEIDADOS SANTOS FARIA


Doutorado em Ciências Sociais e Jurídicas/ PPGSD – UFF
Pesquisadora do InEAC/UFF
Pesquisadora-visitante do CICS.NOVA.UÉVORA

RESUMO
Este artigo resulta de algumas observações a partir de pesquisas mais amplas e
do contato direto com pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, empenhados
em examinar os sistemas brasileiros de justiça criminal e de segurança pública,
comparando-os, por contraste, com outras tradições jurídicas, com vistas a acentuar as
diferentes sensibilidades jurídicas, correlacionadas às experiências históricas e culturais
dessas tradições. O objetivo deste exercício consiste em ampliar as discussões acerca
das “peculiaridades” do sistema jurídico criminal brasileiro, a partir de algumas
reflexões sobre estes contributos que promovem o diálogo entre o Direito e as Ciências
Sociais, notadamente, a Sociologia e a Antropologia.

PALAVRAS-CHAVE: sistema de justiça criminal brasileiro; formas consensuais de


administração de conflitos; inquisitorialidade; pesquisas empíricas em Direito.

INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas duas décadas venho me dedicando a observar e dialogar
com pesquisas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, empenhados em
examinar e descrever algumas peculiaridades dos sistemas brasileiros de justiça criminal
e de segurança pública. Estas observações resultaram tanto do exercício do magistério
superior nos cursos de Direito - junto às instituições da rede privada e pública -, quanto
da participação em instituições de pesquisa, mais especialmente, no Instituto de Estudos
Comparados em Administração Institucional de Conflitos – InEAC, da Universidade
Federal Fluminense/UFF, órgão vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia- INCT e coordenado pelo professor Dr. Roberto Kant de Lima.
Também se insere neste rol de atividades a apresentação de artigos e discussões
sobre temáticas relacionadas aos meus objetos de pesquisa em eventos acadêmicos
nacionais e internacionais, assim como a coordenação de grupos de trabalhos nestes
eventos. Dentre estes últimos, destaco a recente XIII Jornada do Programa de Pós-
graduação em Antropologia da UFF, realizada em novembro de 2019, que possibilitou
coordenar, em parceria com o pesquisador e professor, Dr. Michel Lobo Toledo de
Lima – cuja pesquisa (LOBO, 2017) atualizou minhas observações -, o grupo de
trabalho que juntos elaboramos, intitulado “Discursos, práticas e representações dos
atores jurídico-policiais no atual contexto das políticas de acesso à justiça,
administração institucional de crimes e conflitos e a promoção de cidadania”. Este
grupo acolheu trabalhos de diversos pesquisadores filiados a cursos de graduação e pós-
graduação, dentre os quais cito os de Antropologia; de Segurança Pública e Social; de
Relações Internacionais; de Sociologia e Direito, todos da UFF, bem como o do Direito
das Universidades Veiga de Almeida e Católica de Petrópolis.
Posso afirmar, sem receio de cometer algum equívoco, que minha virada
epistemológica não foi repentina e nem está totalmente concluída, mas, certamente, o
InEAC/InCT - sediado na Universidade Federal Fluminense -, constitui lugar
privilegiado dessa mudança, principalmente em face de sua articulação com uma rede
nacional e internacional de pesquisadores e instituições de ensino, pesquisa e extensão.
O órgão promove uma interlocução, inédita no Brasil, entre as ciências sociais e as
ciências sociais aplicadas, especialmente entre a Antropologia e o Direito, incentivando
a produção de pesquisas empíricas - especialmente inspiradas na etnografia -,
principalmente as relativas aos processos de administração institucional de conflitos, em
perspectiva comparada por contraste com outras tradições jurídicas, na medida em que
tais estudos acentuam diferentes sensibilidades jurídicas (GEERTZ, 2008, p. 249),
correlacionadas às experiências históricas e culturais dessas tradições. Também se
inserem nestes exames os processos de demanda de direitos e por reconhecimento por
parte de diversos atores sociais. Além disso, a rede de pesquisadores e instituições que
integra o InEAC/UFF inclui diversos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação
de vários estados brasileiros e diversos países, como Canadá, Argentina, França,
Estados Unidos e Portugal, o que proporciona a troca de experiências entre os
pesquisadores e suas pesquisas, seja por meio da promoção de eventos acadêmicos, ou a
realização de pesquisas de campo em outros países.
Minha inclusão no InEAC/UFF aconteceu no início de 2010, por ocasião da
realização do meu mestrado em Direito, na extinta Universidade Gama Filho, quando
fui orientada pelo professor Dr. Roberto Kant de Lima e pela professora, Dra. Regina
Lúcia Teixeira Mendes, além de contar com a participação complementar, da profa. e
Dra. Maria Stella Amorim e de diversos colegas pesquisadores que integravam o grupo
de pesquisa ali constituído. Para alguém com formação em Direito e com muitas
décadas de atuação profissional neste campo, esta inserção permitiu o contato com as
pesquisas e os pesquisadores de outras áreas do conhecimento (além da Antropologia e
da Sociologia, as Ciências Políticas, História, Matemática, entre outras), o que passou a
representar um exercício contínuo de ampliação do conhecimento, nem sempre
tranquilo, mas extraordinariamente estimulante. 
Dentre algumas experiências retiradas deste convívio, cito os inúmeros alertas
dos meus orientadores, quando afirmavam: “seu discurso ainda está muito normativo!”.
Também destaco o silêncio e as fisionomias intrigadas dos colegas pesquisadores,
demonstrando incerteza quanto à precisão do objeto de pesquisa que, na época, estava
tentando construir. Estas contribuições – tanto no que se refere ao estranhamento, diante
de algo que para mim era absolutamente “normal”, “comum”, “habitual”, quanto as
indicações de leituras, muitos debates e trocas de experiências -, constituíram um
exercício cognitivo que realizava constantemente para tentar entender o que eles
estranhavam e porque estranhavam, o que foi me permitindo, lentamente, olhar o
mundo do Direito com lentes distintas daquelas que até ali empregava. Também
permitiram descrever e ampliar as discussões acerca das “peculiaridades” do sistema
jurídico criminal brasileiro, como a que apresento neste texto.

DESNATURALIZAR E ABANDONAR O DISCURSO NORMATIVO


Para dar conta deste exercício, a partir do mestrado passei a priorizar a
participação em eventos acadêmicos nacionais e internacionais que dialogassem com as
ciências sociais. Em pouco tempo comecei a perceber que ao tomar o Direito como
objeto de pesquisa - observando-o como uma construção social, precária e local
(GEERTZ, 2006) -, minhas propostas de temas iam deixando de se referir,
exclusivamente, à aplicação efetiva da lei ou de um instituto processual penal, ou a
congruência do sistema jurídico criminal brasileiro com a proposta constitucional, como
era esperado, na maioria das vezes, pelos eventos eminentemente jurídicos.
É certo que os discursos jurídicos (legal, doutrinário e jurisprudencial)
continuaram constituindo dados do meu campo, mas a eles passei a adicionar também
os discursos e práticas dos operadores jurídicos, interessando-me, principalmente, pela
forma como estes atores atualizavam determinados institutos processuais penais e as
representações que elaboravam sobre a forma consensual de administração dos conflitos
e o modo de construção da verdade jurídica no interior do sistema jurídico criminal
brasileiro. Como os discursos dos operadores jurídicos tendiam a aproximar, por
semelhança, alguns institutos processuais penais brasileiros com os de outras tradições
jurídicas - notadamente a anglo-saxônica -, isto também me obrigou a examinar as
diferentes maneiras de compreender e apreender o sentido de justiça (sensibilidade
jurídica, conforme GEERTZ, idem) em cada um destes contextos.
Ao participar dos primeiros eventos acadêmicos que priorizavam o diálogo entre
o Direito e a Sociologia ou a Antropologia, identifiquei dois lados distintos de
construção de análises, que buscavam um diálogo aproximado: de um lado, os
pesquisadores jurídicos, influenciados por seus estudos em ciências sociais e, de outro,
os pesquisadores das ciências sociais que examinavam alguns aspectos do mundo
jurídico. Logo nos primeiros contatos com estes eventos percebi que embora ambas as
análises incidissem sobre institutos, instituições, rituais, dogmas, práticas e discursos do
campo jurídico (BOURDIEU, 2006), o segundo grupo, com muita frequência, incluía
em suas observações o contexto social, histórico e cultural, onde tais objetos de análise
se inseriam, o que despertou minha atenção.
Desde então, tem sido interessante observar o esforço e a ampliação deste
diálogo, além da troca de experiências entre os pesquisadores destas áreas do
conhecimento. No caso dos pesquisadores jurídicos - onde me incluo -, a familiaridade
com o campo observado muitas vezes facilita o ingresso neste local e o contato com os
demais operadores que ali atuam. Todavia, esta familiaridade dificulta o distanciamento
e o estranhamento, necessários à ruptura da normalização e ao olhar investigativo que
questiona o mundo ao redor. Para este grupo, o manejo dos referenciais teóricos e o
emprego dos modos de coleta e análise dos dados, contributos das ciências sociais, não
constituem práticas habituais, dada a ênfase às pesquisas meramente bibliográficas, a
que foram amoldados ao longo dos anos nos cursos de Direito. Já os cientistas sociais,
apesar de familiarizados com os recursos epistemológicos e metodológicos de suas
respectivas áreas do saber, esforçam-se em compreender e apreender, na plenitude, a
linguagem excessivamente hermética - ao ponto de ser apelidada de “juridiquês” -, os
procedimentos, as interações e as relações construídas e sedimentadas no campo
jurídico. Também recordo de alguns destes estudos que tentaram descrever institutos
processuais penais brasileiros, mas quando traduzidos pelos pesquisadores, receberam
significados completamente equivocados, em razão do reduzido ou incompleto
conhecimento da linguagem deste campo, ainda que a descrição da aplicação do
instituto correspondesse, na prática, efetivamente, àquilo que o pesquisador observou.
Há também outro ponto a destacar, pois mesmo quando estes estudos são acolhidos por
seus pares, nem sempre são reconhecidos pelos próprios operadores jurídicos que -
apesar de não desprezarem os méritos intelectuais do pesquisador ou os resultados de
sua pesquisa - preferem classificá-los como algo “de fora do Direito”, em decorrência
da hermeticidade e da irreflexibilidade do conhecimento, tão próprias deste campo,
como Kant de Lima (1995, entre outras obras) e Kant de Lima e Lupetti (2013) já
destacaram.
Aos poucos estas experiências indicaram que para dialogar com os dois “lados”,
uma pesquisa apoiada exclusivamente no que diz a doutrina jurídica, os julgados dos
tribunais ou até mesmo a lei – enquanto resultados da forma como o conhecimento
jurídico é produzido entre nós -, tenderia a apontar apenas um dos variados aspectos da
forma como o campo jurídico brasileiro compreende, atualiza e aplica nosso Direito no
país. Quando a estes dados passei a adicionar a pesquisa de campo e as entrevistas, entre
outros métodos de coleta de dados das ciências sociais e dialoguei com seus referenciais
teóricos, constatei que tanto os discursos quanto as práticas jurídicas, ora se
complementavam, ora se intercalavam, ora se excluíam e essa variação passou a
também constituir um dado da observação. Tal exercício me permitiu entender os
paradoxos, as crises e também as singularidades do nosso sistema jurídico, enquanto
resultado da nossa sociedade e de sua forma bastante peculiar de se constituir e se
caracterizar.

O CROCODILO COM ASAS DE BORBOLETA – O SISTEMA JURÍDICO


CRIMINAL BRASILEIRO
O sistema jurídico brasileiro, notadamente o criminal, do qual retiro minhas
observações, é um campo bastante singular e, ao mesmo tempo, intrigante para os
pesquisadores das diversas áreas do conhecimento e que pretendem entender e
descrever sua forma específica de funcionamento, enquanto (re)produtor do modo como
o conhecimento jurídico é construído entre nós.
O que minha experiência como docente dos cursos de Direito tem indicado é que
muitos dos pesquisadores jurídicos tendem a observar a lei e seus ditames como um
dado que estrutura e orienta todo o campo jurídico e, consequentemente, toda a
sociedade. Para estes, a lei (civil, penal, constitucional, administrativa etc.) é vista como
um corpo imune às interferências externas e internas seja porque decorre de um
processo democrático de construção – que, ao menos em tese, representa a vontade da
maioria -, seja porque é entendida como uma regra imutável em um mundo que
funciona como deve funcionar (um dever-ser).
Desta forma, as pesquisas produzidas neste campo se referem, de maneira geral,
ao descompasso entre aquilo que o texto legal diz e aquilo que é observado na prática
cotidiana do funcionamento deste sistema, por meio do emprego de um discurso de
autoridade. O resultado a que chegam, sem qualquer contato com a empiria, tende a ser
a forma irregular do comportamento do corpo social, que “deveria” se amoldar à lei e,
portanto, considerado “acidental”. Nestes casos, é muito comum apresentarem
descrições que acabam deixando vir à tona suas próprias indignações e críticas acerca
daquilo que consideram um “mau funcionamento”/”mau emprego da lei” ou, em
algumas ocasiões, como uma idiossincrasia do operador/aplicador da norma.
Por experiência própria percebi que estas indignações cegam e normalmente
atrapalham a visão dos eventos jurídicos, tal como ocorrem, na realidade, impedindo o
distanciamento necessário e tantas vezes referido pelos cientistas sociais (VELHO e
KUSCHNIR, 2003, entre outros). Assim, ainda que tais pesquisas resultem na
exposição do funcionamento do campo jurídico, geralmente são repletas de valorações
morais.
Não esvazio a importância da indignação destes pesquisadores (cujo rol me
incluo), já que esta manifestação se refere àquilo que o sistema jurídico brasileiro está
afetando, ou seja, a nossa cidadania, na medida em que uma prestação jurídica imparcial
e justa é o que se espera de um modelo de justiça inculcado em um Estado Democrático
de Direito, tal como foi proposto para o Estado brasileiro. Contudo, no plano das
discussões científicas, os valores morais e pessoais dos pesquisadores podem interferir
na análise dos dados pesquisados e no resultado do seu trabalho, como tantas vezes fui
advertida por meus orientadores.
Por outro lado, esta indignação também revela a existência de um corpo de
profissionais jurídicos que não se veem satisfeitos com o sistema em que atuam,
merecendo ressaltar que muitos de nós integramos grupos de pesquisas do Instituto de
Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos – InEAC/UFF.
Assim, graças a este ambiente, a indignação particularizada foi se constituindo em uma
insatisfação estruturante, que nos instigou a buscar, pelo diálogo com a Sociologia e a
Antropologia, especialmente, a observação do Direito como objeto de pesquisa e
análise. Dito de outra forma, sendo o Direito uma área na qual o conhecimento é
produzido de maneira irreflexiva – ao contrário do que ocorre nas ciências sociais –
nestes grupos os pesquisadores jurídicos, que necessitavam de uma compreensão mais
ampla daquilo que estavam praticando no seu dia a dia, iam conseguindo transformar
esta insatisfação em algo mais elaborado para se tornar produtivo, pois do contrário, a
indignação continuaria resultando em cegueira incapacitante para compreender aspectos
muito sensíveis e significativos do campo jurídico brasileiro. Aliás, muitas das
problemáticas relacionadas às práticas e aos discursos dos operadores jurídicos
originaram inúmeras pesquisas empíricas e etnográficas realizadas ao longo dos últimos
dez anos de existência do InEAC, ampliando o debate sobre as especificidades deste
campo, principalmente por meio da tradução da linguagem e dos significados das
práticas e dos discursos jurídicos para os “não-nativos”.
O “start” destas pesquisas, portanto, se dá a partir da percepção acerca do
estranhamento do funcionamento do sistema de justiça criminal brasileiro. Neste
aspecto, lembro-me de um diálogo que ouvi entre dois colegas do mestrado em Direito,
quando apresentei minhas observações iniciais ao grupo de pesquisa do qual fazíamos
parte na época, na extinta Universidade Gama Filho. Minha tarefa consistia em tentar
descrever para este público, majoritariamente formado por profissionais jurídicos,
excetuando meus orientadores e outros poucos professores, como estava sendo
atualizada a transação penal.
Tentava explicar-lhes como um instituto - criado com o objetivo de promover o
consenso entre as partes integrantes do processo judicial, com vistas a oferecer uma
resposta à infração penal praticada, sem que esta reproduzisse a função penalizante
tradicionalmente praticada pelo nosso modelo de justiça criminal -, estava, ao contrário,
mantendo esta penalização. Ou melhor, arriscava demonstrar que por meio deste
instituto os operadores jurídicos responsáveis por sua operacionalização estavam
“criando” uma modalidade de pena já extinta da legislação penal, uma pena de natureza
corporal. Isto porque, dentre as transações penais que coletei em minha pesquisa de
campo, havia exemplos de inúmeras doações de sangue, estabelecidas como resposta
penal às infrações apuradas por alguns Juizados Especiais Criminais do Rio de Janeiro
(ALMEIDA, 2014). Ao final desta exposição ouvi um colega dizer: “Meu Deus! Mas
esse sistema dos Juizados não funciona!”, ao que outro colega respondeu: “Funciona,
sim! Funciona, porque ele é feito para não funcionar!”.
Mais tarde, quando estava realizando minha pesquisa de doutorado em ciências
sociais e jurídicas na Universidade Federal Fluminense, orientada pelos professores Dr.
Lenin Pires e Dr. Roberto Kant de Lima, resolvi observar a aplicação da colaboração
premiada na justiça criminal federal carioca. Pretendia, assim, continuar a investigação
acerca da forma como estava sendo atualizado este instituto processual penal, recém-
criado, cujo objetivo, segundo os discursos jurídicos, era o de também promover um
modelo de justiça consensual/negocial, tal como a transação penal.
Desta vez, a observação de uma grande amiga - que também é pesquisadora e,
como eu, integrava o sistema jurídico – despertou minha atenção. Diante das diversas
notícias divulgadas pela mídia nacional acerca da prisão e da condenação de inúmeros e
grandes empresários, políticos e diversas autoridades brasileiras, realizadas com base,
exclusivamente, na aplicação deste instituto, ela declarou: “Epa! Agora o sistema está
funcionando!”.
Esta declaração se referia ao fato de que os chamados “crimes de colarinho
branco”1 estavam, finalmente, sendo alvo do sistema de justiça criminal brasileiro, coisa
pouco comum de se ver, até então. Em outras palavras, a aplicação da colaboração
premiada pelos operadores jurídicos, finalmente, parecia estar concretizando a tão
propalada “igualdade jurídica”, o que serviu de grande incentivo à pesquisa. Além
disso, Kant de Lima e Mouzinho (2016), já haviam chamado a atenção quanto ao
emprego de um instituto semelhante à colaboração premiada, e que talvez o tenha
originado - a delação premiada -, que seguia idêntico padrão de operacionalização. Ou
seja, estes autores demonstravam que, no caso por eles examinados (BANESTADO), o
sistema jurídico criminal continuava perpetuando suas práticas e desigualando os
cidadãos, mesmo quando se tratavam daqueles integrantes “do andar de cima da
sociedade brasileira”. Assim, minha pesquisa atualizava, de certa forma, o que estes

1
Dentro da criminologia, a definição desse termo é atribuída ao sociólogo Edwin Sutherland, que o
cunhou em 1939, durante um discurso na American Sociological Association, como "um crime
cometido por uma pessoa respeitável e de alta posição (status) social, no curso de sua ocupação",
conforme Shapiro (1990, p. 346).
pesquisadores observaram, já que também a colaboração premiada não atingia,
indistintamente, a todos os criminosos dos crimes de organização criminosa, dentre eles,
os de corrupção. Também não significou a existência de critérios iguais de aplicação da
lei penal entre eles.
Regulamentado pela lei nº 12.850, de 2013 – que prevê e disciplina o
procedimento para os crimes de organização criminosa -, o instituto da colaboração
premiada tornou-se a principal técnica de investigação empregada no contexto das
investigações criminais que no país se tornaram conhecidas como Operações Lava-Jato.
Assim, o instituto ganhou destaque por constituir meio de obtenção de prova, o que
indicava a importância do debate acerca das práticas e dos discursos dos operadores
jurídicos, responsáveis pela produção da verdade jurídica e encarregados destas
investigações. A importância deste estudo residia também na possibilidade do exame
desta alteração das perspectivas que mobilizavam o campo jurídico brasileiro em
relação à categoria “prova”, representada como justa causa para a instauração da ação
penal e condenação do criminoso.
Esta mudança de perspectiva, portanto, destoava dos discursos jurídicos que
defendiam a noção segundo a qual os elementos probatórios, colhidos na fase das
investigações preliminares, somente atingiriam o status de prova depois de serem
submetidos ao “crivo do contraditório” (TOURINHO FILHO, 2010) 2. Assim, a
categoria sistema contraditório é representada pelos operadores jurídicos como o
conjunto de atos realizados na fase judicial da persecução criminal, no qual as partes
(acusação e defesa) apresentam suas teses (requerimentos), documentos, testemunhas,
argumentos e justificativas e contestam ou questionam os atos da parte adversa, com
vistas a convencer o magistrado, a quem cabe - além de também produzir provas
(prova real)-, decidir a tese que sairá vencedora. De acordo com o campo jurídico,
quando o juiz aceita os argumentos e provas da acusação, profere a sentença
condenatória, impondo a pena correspondente ao crime imputado ao réu. Quando, ao
contrário, aceita a tese e elementos probatórios da defesa, profere sentença
absolutória, excluindo, dessa forma, a responsabilidade penal do acusado.
Kant de Lima (2012, pp. 35-46), no entanto, lembra que o sistema jurídico
brasileiro reproduz a lógica do contraditório, que impede a construção da verdade pelo
2
Dentre outros doutrinadores jurídicos, Tourinho Filho (idem, p. 553, sic) afirma que “Provar é, antes de
mais nada, estabelecer a existência da verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura
estabelece-la. É demonstrar a veracidade do que se afirma, do que se alega. Entendem-se, também, por
prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes ou pelo próprio Juiz visando a estabelecer,
dentro do processo, a existência de certos fatos. É o instrumento de verificação do thema probandum”.
consenso. Esta lógica, segundo o autor, em nada se assemelha ao princípio
constitucional do contraditório (artigo 5º, inciso LV, da Constituição da República de
1988)3. Trata-se de uma técnica escolástica medieval – que tanto orienta as práticas dos
operadores quanto a produção do conhecimento jurídico brasileiro -, cuja característica
principal é a produção de infinitas e antagônicas teses, que jamais se consensualizam.
Esta oposição entre as teses só se define pela intervenção de um terceiro, reconhecido
pela autoridade que possui no campo e que está fora da disputa e não possui relação
com as partes. Este terceiro - representado no nosso sistema jurídico pela figura do juiz
-, é o responsável pela escolha de uma das teses que se opõem, sendo que esta escolha é
que vai interromper a disputa argumentativa, pois sem ela, tenderia ao infinito.
Assim, Kant de Lima (ibidem) também ressalta que a lógica do contraditório,
consiste em um processo de construção da verdade próprio de algumas tradições
judiciárias e acadêmicas, como a técnica de ensino empregada nos séculos XII e XIII e
denominada “disputatio”. Esta técnica se opõe às formas contemporâneas de produção
da verdade jurídica e da verdade científica, na medida em que estas se baseiam em um
processo de construção consensual de fatos, sobre os quais se fazem interpretações
antagônicas e concorrentes, que são orientadas por determinadas regras
preestabelecidas. Na tradição judiciária escolástica, ao contrário, nada pode ser
consensual. Nela, até os chamados “fatos” são objetos de controvérsia, pois como os
próprios operadores jurídicos entrevistados afirmaram, a atividade de produção da
verdade consiste na “apuração da verdade dos fatos”.
Já o conhecimento científico se formula a partir de uma construção de
consensos sucessivos que define fatos, até que por meio de uma “revolução” 4 produza
uma nova e distinta legitimidade, que possa vir a ser contrariada. Neste caso, o
processo que provoca a interpretação não advém de uma autoridade – que, no caso do
3
O princípio do contraditório é considerado como uma garantia às partes litigantes da oportunidade de
manifestarem-se sobre cada ato do processo, e esta é praticada por meio da argumentação jurídica,
“característica da tradição judiciária em que está inserido” (KANT DE LIMA, ibidem). De acordo com
o inciso LV, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 2017).
4
A categoria revolução é retirada de Kuhn (2006, p. 25), que esclarece que os exemplos mais evidentes
de revoluções científicas são aqueles episódios famosos do desenvolvimento científico que, no passado,
foram decisivos para o desenvolvimento científico e estão associados aos nomes de Copérnico, Newton,
Lavoisier e Einstein. De acordo com o autor, cada um deles forçou a comunidade científica a rejeitar a
teoria científica anteriormente aceita, em favor de outra, mais recente e incompatível com aquela. Como
consequência, “cada um desses episódios produziu uma alteração nos problemas à disposição do
escrutínio científico e nos padrões pelos quais a profissão determinava o que deveria ser considerado
como um problema ou como uma solução de problema legítimo” (KUHN, ibidem). O autor também
descreve as maneiras pelas quais cada um desses episódios transformou a imaginação científica.
contraditório, é quem decide a extinção da antítese dos argumentos contrários –,
mas dos próprios adversários, que têm de demonstrar que seus argumentos são mais
convincentes: “é a autoridade do argumento, e não o argumento de autoridade, que
define o destino da disputa”, como lembra (KANT DE LIMA, ibidem). É justamente
em face dessa precariedade, inerente ao conhecimento científico, que seus textos não
serão reproduzidos em manuais (tal como ocorre no Direito), evitando com isso represar
o conhecimento no tempo e no espaço o que impede o raciocínio crítico e reflexivo.
Aliás, é comum encontrar nos manuais de direito brasileiro a afirmação de que
a busca da verdade real está associada à realização da Justiça e esta representação se
refere à concepção acerca do modelo de Justiça que permeia o Direito brasileiro. A
característica principal desta orientação é sua impermeabilidade à empiria e o contato
com outros ramos do conhecimento, resultando uma produção intelectual jurídica autora
de um discurso generalizante, universal, abstrato e de autoridade.
Neste sentido, enquanto porta-vozes do sistema jurídico, os autores jurídicos
defendem a ideia de que o sistema jurídico brasileiro é um sistema acusatório,
diferenciado do sistema inquisitório somente em razão da separação das funções de
acusar e julgar (GRINOVER, 1996, pp. 64-65). Ocorre que em outras áreas do
conhecimento, como a história, por exemplo, o processo judicial é identificado a partir
de outras características que não coincidem com a dos doutrinadores jurídicos
brasileiros. Segundo estes estudos, um processo inquisitorial se caracteriza por ter um
inquérito escrito e secreto e porque nele o magistrado possui poderes de instrução
(LIMA, 1996, pp. 127-128).
Apesar de orientados pelo princípio do contraditório, que estabelece a
possibilidade de as provas e as teses das partes litigantes serem apresentadas e refutadas
na fase judicial5 – fase que o campo jurídico considera como efetivamente adequada
para a produção das provas -, a pesquisa indicava que os operadores jurídicos estavam
atualizando este princípio, antecipando a produção da prova e a aplicação da pena, antes
da fase processual e, portanto, antes de serem apreciadas as provas sobre a autoria e a
5
Esta orientação, contida em doutrina jurídica que compõe os cursos de graduação em direito e os cursos
preparatórios para ingresso nas carreiras jurídicas, é assim apresentada por Badaró (2016, p. 222):
“Dentre as atividades necessárias à tutela dos interesses postulados pelas partes, sobressai a probatória,
pois a prova é indiscutivelmente o momento central do processo, no qual são reconstituídos os fatos que
dão suporte às pretensões deduzidas. Assim, o direito à prova constitui aspecto fundamental do
princípio do contraditório, pois sua inobservância representa negação da própria ação e da defesa. Para
se dar cumprimento à garantia constitucional é necessário que se estabeleça um procedimento
probatório que se desenvolva em contraditório de partes, perante o juiz. Num processo de partes, o
contraditório probatório deve constituir a única fonte de cognição para a jurisdição, não podendo haver
outra fonte de conhecimento para a decisão”.
culpa do criminoso, tal como já havia afirmado, quando examinei a aplicação da
transação penal (ALMEIDA, 2014).
Desta vez, a partir de dados colhidos em trabalho de campo junto à justiça
criminal federal do Rio de Janeiro e entrevistas com representantes do Ministério
Público Federal carioca, entre 2017 e 2019, além do exame de duas, dentre as quase
quarenta investigações, realizadas por este órgão, resolvi debater as consequências desta
mudança para o processo penal brasileiro e para a cidadania brasileira, além de levantar
alguns elementos comparativos, por contraste, com a plea bargaining estadunidense,
apontada por estes atores como instituto semelhante à colaboração premiada (FARIA,
2019).
Todavia, a diferença entre os institutos é relevante. De forma bem sucinta, é
possível afirmar que no Brasil, quando o órgão do Ministério Público consegue pactuar
o acordo de colaboração premiada, o processo judicial não é obstado, como acontece
quando o órgão de acusação estadunidense (prosecutor ou district attorney6) obtém a
plea bargaining. Além disso, a colaboração premiada não visa evitar o custo
econômico7 e pessoal; o risco de condenação para o acusado e de absolvição para o
órgão de acusação; o estresse; o longo tempo percorrido pelo processo, circunstâncias
aventadas no modelo estrangeiro. Aqui, o acordo é apenas uma etapa que antecede ao
processo e este, como já foi afirmado em outros locais, pertence somente ao Estado e
tem o objetivo de descobrir a “verdade real”. A conveniência e a oportunidade de
realizar o acordo de colaboração premiada não passam por nenhuma valoração política
ou pública, como acontece com o instituto estrangeiro.
Nos discursos jurídicos coletados a colaboração premiada se apresenta como
política criminal que tende a beneficiar o autor do crime, na medida em que ao
confessar suas atividades criminosas, delatar seus cúmplices e apresentar provas que
confirmem tais atividades, teria uma redução significativa de sua pena, ou a
possibilidade de cumpri-la em um regime menos rigoroso do que o previsto em lei, ou
ainda, o acesso a outros “benefícios” penais. Trata-se de um acordo escrito e secreto –
6
A equivalência entre o prosecutor norte-americano e o promotor de justiça brasileiro se refere apenas à
atividade acusatória que ambos desempenham no processo penal, principalmente porque nos Estados
Unidos da América, trata-se de profissional diretamente eleito pela população, enquanto aqui, esta
profissão decorre de concurso público de provas e títulos.
7
O Relatório Justiça em Número 2018, do Conselho Nacional de Justiça, informou que somente em
2017, as despesas totais do Poder Judiciário “somaram R$ 90,8 bilhões de reais, o que representou um
crescimento de 4,4% em relação ao último ano, e uma média de 4,1% ao ano desde 2011. O aumento
em 2017 foi ocasionado, especialmente, em razão da variação na rubrica das despesas com recursos
humanos (4,8%). As despesas totais do Poder Judiciário correspondem a 1,4% do Produto Interno Bruto
(PIB) nacional (BRASIL, 2018a).
isto é, sem a participação do juiz, dos delatados ou dos advogados destes, ou do público
-, formulado na sede do Ministério Público Federal e confeccionado entre o pretenso
colaborador e o representante deste órgão, em fase que antecede o início das
investigações criminais.
Assim, a colaboração premiada inaugurava uma forma muito peculiar de
construção da verdade jurídica (e a prova) entre nós. Isso significava que, tal como
ocorreu com a transação penal, independente do teor democrático destes institutos, ao
serem inseridos no nosso sistema jurídico criminal brasileiro, eles não teriam a
capacidade de alterar a configuração deste sistema que, quando muito, se assemelharia à
figura de um crocodilo com asas de borboleta - metáfora criada por Kant de Lima, em
um de nossos encontros de pesquisa, diante dos dados que lhe apresentava por ocasião
da orientação do meu doutorado – em face dessas descobertas.
A pesquisa também indicou a associação direta e inquebrantável entre dois
institutos importantes para o processo penal brasileiro: a prova e a verdade jurídica.
Vale destacar que por esta ocasião, inúmeras pesquisas empíricas realizadas por
pesquisadores jurídicos integrantes do InEAC/UFF, já tinham identificado a ausência de
critérios compartilhados na avaliação das provas e na definição dos procedimentos
jurídicos vigentes em nossos tribunais, podendo-se citar, dentre eles, Ferreira (2003;
2014); Figueira (2008); Mendes (2011); Brito (2013); De Setta (2015); Baptista (2018);
Nunes (2019).
Por este motivo, parecia-me interessante proporcionar um espaço de discussão
acerca da centralidade da categoria prova no processo criminal - tomada enquanto
categoria nativa -, por meio da descrição densa de algumas práticas relativas à sua
produção, bem como realizar articulações entre ela e outras categorias presentes nos
discursos legal, doutrinário e dos operadores jurídicos. Tentei explorar a maneira pela
qual, no campo jurídico brasileiro, perspectivas eminentemente opostas como as
“garantistas” e “punitivistas”, se confrontavam e, com isso, agravavam a tensão entre as
duas concepções de igualdade (igualdade material/igualdade jurídica), acentuado a
percepção de arbitrariedade nas decisões das causas.
Uma das observações realizadas a partir das declarações dos operadores
jurídicos entrevistados se referia ao seu incansável interesse pela busca da verdade real8
8
A verdade real é uma categoria jurídica relacionada à produção de prova pelo juiz. Extremamente
naturalizada pelos operadores jurídicos, resulta da ideia bastante propagada neste campo, segundo a
qual a Justiça somente é obtida se for descoberta a “verdade dos fatos”. Esta concepção gera a estranha
tradução de que os fatos podem mentir, muito embora confirme que as categorias justiça e verdade
estejam intimamente relacionadas.
e da veracidade da prova, o que indicava que para estes atores era possível ocorrer a
dissociação entre verdade, veracidade, prova e fato. Diante dessa busca intensa, percebi
ser possível responder à questão formulada por minha amiga: “por que o sistema
jurídico criminal - que não era para funcionar, já que tradicionalmente era isso que se
esperava dele -, finalmente, estava funcionando?”. A resposta é bem simples: estes
atores jurídicos encontraram (e constituíram) um instrumento que “fez cair a sopa no
mel”, ou seja, o sistema está funcionando da forma como eles queriam e precisavam que
funcionasse: perpetuando o modelo tradicional e mantendo as hierarquias deste campo.
Vale dizer, o poder investigatório atribuído aos representantes do Ministério
Público – em que pese a discussão ainda vigente no campo acerca da sua legitimidade –
apresentava-se como um grande engodo, pelo fato de que não havia investigação
criminal, no sentido estrito do termo, já que a realização das provas cabia, única e
exclusivamente, aos colaboradores. Conforme declarado pelos entrevistados na
pesquisa, os pretensos colaboradores poderiam ser rejeitados quando não apresentassem
provas irrefutáveis (chamadas de provas de corroboração da colaboração) dos crimes
que delatavam e que os operadores esperavam poder processar e condenar. Desta forma,
o que os agentes públicos, representantes do Ministério Público Federal, esperavam dos
colaboradores era uma confissão, mas não uma confissão isolada. Era preciso que junto
a ela o colaborador fornecesse provas indiscutíveis e suficientes para inaugurar a ação
penal e obter a condenação dos envolvidos.
Além disso, essas provas, quando refutadas, passavam a ter relevância penal.
Isso acontecia quando o colaborador mentia. O que acarretava a rescisão unilateral do
acordo de colaboração firmado com o representante do Ministério Público. Tal rescisão
gerava o efeito de fazer incidir contra o colaborador mentiroso não apenas a imputação
do crime de organização criminosa - do qual fez parte e supostamente estava delatando
-, como também o crime de denunciação caluniosa, em face desta mentira. Vale dizer,
pela primeira vez, no sistema jurídico criminal brasileiro, a mentira tinha relevância
jurídica já que produzia o efeito de anular um acordo ou negócio jurídico.
Esta novidade, portanto, afastava o direito de o acusado não se auto-incriminar
(direito ao silêncio), apesar de ainda continuar assegurado constitucionalmente, até os
dias atuais. Assim, os operadores jurídicos estavam atualizando esta norma. Vale dizer,
antes dos procedimentos das colaborações premiadas, o silêncio do imputado/acusado
ou o direito de não realizar prova contra si próprio significava para o campo jurídico um
direito e como tal, não acarretaria a criminalização da mentira, quando empregada como
técnica da defesa. Isso constituía um fato contrário ao que Kant de Lima (1999, p. 29)
viu acontecer no sistema anglo-americano. Denominada pelo campo jurídico brasileiro
como “mentira técnica”, este recurso empregado pelos advogados de defesa, resultava
do fato de até então não haver, no Brasil, a possibilidade de condenação por perjury (da
tradição estadunidense), mas, apenas por falso testemunho. Assim, os operadores
jurídicos que aplicavam a colaboração premiada estavam também criando esta
penalização.
Ressalto, mais uma vez, que diante da prova constituída e integralmente
elaborada pelos colaboradores, a investigação criminal tornava-se irrelevante. Tanto que
os representantes do Ministério Público jamais chegariam aos resultados a que
chegaram sem as colaborações premiadas, como reiteradamente declaravam em suas
entrevistas. Diante disso, restava a estes operadores jurídicos um trabalho sensivelmente
reduzido, centrado na abertura de novas investigações, vinculadas às anteriores, para se
obter novas colaborações, ao que assemelhei a um novelo de lã cujo fio jamais chega ao
fim. Não é de todo descabida a afirmação segundo a qual a rapidez com que se
deflagraram essas investigações é também do tipo “à jato”. E mais, ao receberem tais
acordos, o que resta ao Ministério Público é a confecção de uma peça processual que
será encaminhada ao juiz da causa (ainda sob o regime do sigilo, não acessível ao
delatado ou ao seu advogado). Nesta peça é narrada a dinâmica do fato criminoso e a
participação dos envolvidos, com base no que os colaboradores descrevem e provam,
sendo ainda juntado a esta peça o depoimento (confissão) do colaborador e as provas
por ele apresentadas. Além disso, oferecerá denúncia contra os delatados pelo
colaborador.
A “verdade” contida nas colaborações premiadas cria, a priori, uma presunção
de culpa que dificilmente será contestada na fase judicial posterior, já que para acolher a
denúncia oferecida pelo Ministério Público, o juiz precisa conhecê-la. Além disso, é
este mesmo juiz a quem a lei incumbe a homologação dos acordos de colaboração
premiada, em fase que, inclusive, antecede ao oferecimento da denúncia pelo Ministério
Público. Vale dizer, o juiz também tem conhecimento das provas antes da defesa dos
delatados.
Esta forma de construção da verdade difere de outros modelos originários de
tradições jurídicas mais democráticas do que a nossa, como é, por exemplo, a
estadunidense, pois, como afirmam Kant de Lima (2010); Bisharat (2014) e Ferreira
(2013), entre outros, ali a verdade é consensualizada pelas partes desde os primeiros
atos praticados no sistema de justiça criminal. Não existe a busca pela verdade real, tal
como acontece entre nós, porque as partes acordam entre elas aquilo que será
considerado como fato e, portanto, verdadeiro. Daí, porque na pesquisa indaguei: afinal,
qual é a vergonha em admitirmos que o nosso sistema jurídico criminal é inquisitorial?
Por que não assumimos, de vez, tal característica?
Vale também ressaltar que a discussão acerca do poder de investigação - se
pertence ao Ministério Público ou à Polícia Judiciária -, 9 apresenta-se como tema
relevante, na medida em que revela a disputa pelo poder de selecionar quem será
inserido ou não no sistema jurídico criminal e até, quem sabe, no sistema penitenciário.
Nesta disputa também se insere a gestão do patrimônio financeiro e de bens levantados
a partir das multas impostas aos infratores e das repatriações de altas quantias de
dinheiro desviado por estes grupos criminosos para paraísos fiscais.
Também destaco a associação direta entre esta forma de se “buscar” a verdade
com a inquisitorialidade do sistema jurídico criminal. Trata-se de um modo
aperfeiçoado da inquisição, já que nas colaborações premiadas os colaboradores, além
de produzirem provas, contra si próprios e seus cúmplices, não podem mentir, nem
mesmo para se defenderem. Aqui também existe uma diferença bastante sensível com
as formas anteriormente existentes desta busca, especialmente representadas pelo
Inquérito Policial. Enquanto neste procedimento administrativo, cartorário e
inquisitorial, há uma tendência a se obter a confissão do imputado para, em seguida, a
autoridade policial levantar as provas que reforçam esta confissão (Kant de Lima,
1995), nas colaborações premiadas, ao contrário, esse é o primeiro ato praticado e sem
o qual não se realiza nenhum outro. Neste procedimento - também administrativo e
inquisitorial -, a confissão não vem sozinha. Junto com ela precisam vir todas as provas
de corroboração das declarações do colaborador, sem as quais a colaboração não se
efetiva concretamente, ou seja, o acordo não é válido e nem chega a ser concretizado.
A associação da busca da verdade real com a inquisitorialidade do sistema foi
bem representada, principalmente, nas falas dos operadores jurídicos entrevistados,
quando declararam que “A sociedade brasileira tem que saber o que é que ela quer. Ela
quer o quê? Que se prendam os corruptos ou que se respeitem os princípios garantidores
do processo justo e democrático?”. Esta proposição, em forma de questionamento,
revela que, dentre outros aspectos, na percepção dos operadores jurídicos o sistema
9
Tal discussão foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal por meio da Ação Direta de
Inconstitucionalidade – ADIN nº 3034, além de permanecer, até os dias atuais, ocupando espaço entre
os debates jurídicos. Ver em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2180314.
criminal brasileiro é acusatório e só deixa de sê-lo quando “funciona” para prender os
criminosos do “colarinho branco”. Isto significa que estes atores são insensíveis à
inquisitorialidade do sistema, naturalizando a existência de um processo judicial que se
inicia com a construção de uma “verdade” que despreza o direito de defesa, tanto
quando se trata do inquérito policial, quanto destas investigações criminais da era das
colaborações premiadas.
Por estes motivos, vale indagar, do ponto de vista do modelo de justiça criminal,
no qual a colaboração premiada estaria inserida - segundo os discursos jurídicos e tal
como é tão referido pelos entrevistados em suas declarações -, de qual justiça negocial,
afinal, estes operadores estão falando? Qual “negócio” está sendo construído pelas
partes envolvidas no acordo? Certamente, que para os representantes do Ministério
Público, parece ser um “bom negócio”. Trata-se de um meio de obtenção das provas que
garante a eficácia de sua acusação, sendo esta obtida a um custo extremamente
reduzido, em termos de atividade investigatória. Para os colaboradores, por sua vez, este
negócio pode ser bom, se houver a redução de pena ou a possibilidade de não
ingressarem, sequer, no sistema penitenciário, dentre outras medidas pactuadas com o
órgão de acusação. E para os delatados? Qual negócio é realizado? Nenhum! Ou
melhor, para eles só resta o ônus de desconstituírem todas as provas apresentadas pelo
colaborador, sendo que tal atividade somente será possível na fase judicial. O que está
longe de se traduzir no seu sucesso. Significa afirmar que aqui a “barganha” acontece
conforme a nossa sensibilidade jurídica, ou seja, reproduz as práticas e discursos de
uma herança inquisitorial e que fomenta a desigualdade, enquanto atributo indissociável
da forma como a Justiça brasileira funciona.
A inquisitorialidade, nestes casos, se revela por distintos aspectos. Ora, como o
número de possíveis e potenciais colaboradores envolvidos em uma determinada
atividade criminosa organizada tem sido sensivelmente elevado, os representantes do
Ministério Público passaram a instituir critérios de seleção para saberem quem - dentre
todos os colaboradores que se ofereciam para realizar o acordo -, seria por ele
“beneficiado” com a promessa de redução de pena, ou o melhor regime de cumprimento
desta penalidade etc.. Estes critérios eram variados, não uniformes e, muito menos,
publicitados e, incluíam, até mesmo, uma corrida imaginária “para ver quem chegava
primeiro com as provas” ou quem apresentaria a prova mais irrefutável. Além disso, a
classificação e a avaliação das provas dos colaboradores competiam, exclusivamente,
aos representantes do Ministério Público, conforme idênticos critérios subjetivos,
particularizados e não divulgados. Por outro lado, quando esta concorrência entre
colaboradores inexistia, era possível que estes operadores empregassem a ameaça da
prisão, ou do processo - não apenas contra os colaboradores, mas também seus
familiares e amigos – como forma de “incentivar” esta manifestação.
Por fim, a pesquisa também ressaltou que a eficiência do sistema jurídico
criminal, obtido por meio da eficácia do instituto da colaboração premiada – na medida
em que faz emergir a verdade jurídica, “doa a quem doer”, a qualquer custo -,
necessariamente não implicou no crescimento da cidadania e das garantias do processo
penal criminal, que seria necessário em um sistema acusatorial, de fato. Ainda que
considerada como eficiente para o sistema punitivo brasileiro, porque foi a partir destas
colaborações que se desmantelaram esquemas criminosos de grande vulto e se
desvelaram os procedimentos e rotinas criminosas até então desconhecidas (como a
divisão de papéis entre os participantes das organizações criminosas ou a criação de
offshore10 para desvio do dinheiro, entre outros aspectos), como os próprios
representantes do Ministério Público ressaltaram em suas entrevistas e a grande mídia
também enfatizou em seus noticiários, isso não transformou o processo penal brasileiro,
em termos de reafirmar as garantias processuais, efetivamente necessárias a um modelo
de processo democrático e justo. Ao contrário, a colaboração premiada seguiu
perpetuando e enfatizando a índole inquisitorial do nosso sistema.

ALGUMAS CONCLUSÕES
A perpetuidade da inquisitoriedade do sistema jurídico criminal brasileiro
decorre em razão da sua naturalização pelos operadores jurídicos e da falta de ruptura
com o modelo tradicional do processo penal. Tal resiliência resulta da manutenção de
uma herança ibérica, colonial e escravocrata, que reproduz em seus sistemas jurídicos as
hierarquias e as desigualdades originárias desta tradição. Nela, a novidade de um
instituto processual de índole democrática - por mais significativa que seja, em razão da
introdução de novos procedimentos ou rotinas -, não é capaz de acarretar qualquer
mudança. Vale dizer, quanto mais este sistema muda, mais fica igual.

10
Offshore é um termo da língua inglesa que significa “afastado da costa”, na tradução livre para o
português. Em termos financeiros representa a empresa que tem a sua contabilidade num país distinto
daquele onde exerce a sua atividade principal. Suas contas bancárias são abertas em territórios onde há
menor tributação para fins lícitos.
Tanto que, até mesmo no modelo de justiça negocial brasileiro aflora uma
espécie de consenso que é imposto (pelos agentes do Estado) e difere daquele que é
construído, de forma coletiva, pelas pessoas, como é próprio em sociedades igualitárias.
Por isso, quando os operadores jurídicos se referem à forma consensual, citando,
inclusive, autores e teorias estrangeiras como a de Habbermas (2012)11, para dotarem de
validade seus discursos, na prática, o que realizam, é a imposição de suas próprias
concepções. Ou, como já afirmou Kant de Lima (1999, p. 26), este modelo se funda em
uma “conciliação forçada” dos conflitos, visando à imposição da harmonia e do status
quo, com o fim de manter a hierarquia e a complementaridade entre elementos
substantivamente diferenciados por um sistema que produz regras gerais, interpretadas
particularizadamente por aqueles que detêm um saber privilegiado, para fazer justiça
adequada a todos esses segmentos distintos.
Também vale destacar que desde a formação acadêmica, até a atuação
profissional privilegia-se, entre os discursos e as práticas jurídicas, a lógica do
contraditório, que difere das lógicas adversariais de produção da verdade, dominantes
em outras áreas do conhecimento e nas científicas. Estas últimas “são fundadas na busca
de consensos provisórios sobre fatos que se constroem pela reflexão e a explicitação das
diferentes perspectivas dos envolvidos, em um processo de argumentação
demonstrativa, que visa ao conhecimento de todas as partes legítimas envolvidas no
processo”, como lembra Kant de Lima (2009, p. 29). Segundo este autor, na lógica
adversarial, o consenso entre os pares é fundamental para validar o conhecimento –
como acontece em alguns casos no Trial by jury, onde a unanimidade é requerida.
Ainda de acordo com este autor, no nosso sistema jurídico existe uma valorização
explícita do conhecimento detido de forma particular, não universalmente disponível na
sociedade: quem pergunta sempre sabe mais do que quem responde e é deste saber que
advém a autoridade deste discurso. E é esta lógica do argumento da autoridade que
prevalece nas práticas e discursos dos atores desse campo (KANT DE LIMA, ibidem, p.
29).
Desta forma, a chance de acontecer entre nós um processo criminal negocial,
que consiga expandir a maturidade do cidadão - na medida em que este venha a exercer,
livre e conscientemente, a escolha do caminho a seguir, significando, inclusive, a
escolha de dar ou não prosseguimento ao processo judicial; optar pela modalidade de
11
O acordo, nas colaborações premiadas, está longe de demonstrar a força do melhor argumento, como
se depreende na teoria comunicativa de Habermas, porque retrata a lógica que permeia todo o sistema
jurídico criminal brasileiro, qual seja, a lógica do contraditório.
pena a ser cumprida, diante da assunção de sua culpa etc. -, se limita à retórica, já que
qualquer instituto com tal pretensão vai ser devidamente desfigurado por este sistema.
Isto decorre da impossibilidade de o Direito brasileiro (e seus operadores) se conformar
e se estruturar como um direito dos cidadãos e não como um direito do Estado. Neste
sentido, vale lembrar que a própria fundação das primeiras faculdades de Direito no país
teve a finalidade de formar pessoas para atuarem na administração do Império,
significando que estas instituições – algumas localizadas no centro do poder - não
formavam advogados para atuarem na defesa dos cidadãos brasileiros.
Por isso, a afirmação segundo a qual o sistema jurídico criminal brasileiro “está
funcionando”, significa a perpetuidade do seu modelo original, eminentemente
inquisitorial, fruto de uma sociedade cujos membros não se enxergam como iguais.
Perceber este sistema como um crocodilo com asas de borboleta só é possível aos
pesquisadores jurídicos que conseguem trocar as “lentes” de suas observações.
Este exercício fomenta a ampliação do diálogo com outras áreas do
conhecimento, ainda que, inicialmente, as pesquisas jurídicas, apesar de inovadoras para
seu campo de origem, se situem na liminaridade do Direito e das Ciências Sociais e tais
circunstâncias as coloquem naquele lugar que o antropólogo francês, Victor Turner
(1964) denominou como ambíguo, ou seja, tudo aquilo que tem propriedades
multivocais e contraditórias, tal como os neófitos, os noviços que contradisseram o
dilema de Hamlet, porque "são e não são ao mesmo tempo". O interessante desse
movimento de deslocamento (de afastamento dos modelos tradicionais das pesquisas
jurídicas) é o fato de permitir uma nova relação com aquilo que é examinado: eu troco
minha relação com este objeto de estudo, quando troco meu ponto de observação ou
altero a distância que nos une e separa.

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