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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL

Material de conceitos básicos.


Apenas os conceitos constantes do título e os conceitos correlatos, o ótimo é inimigo do bom.
Forma de montar os conceitos: sempre buscar um padrão/ORDEM de raciocínio que ajude a construí-
lo de forma espontânea;
Prazo: 05/05/2019 + você DEVE ir postando as parciais

Sumário
PONTO 1 - CONSTITUCIONALISMO E TEORIA DA CONSTITUIÇÃO. CONSTITUIÇÃO E NEOCONSTITUCIONALISMO. ........... 17
1. QUAL A DEFINIÇÃO DE CONSTITUCIONALISMO? ........................................................................................................................... 17
2. QUAIS SÃO AS FASES HISTÓRICAS DO CONSTITUCIONALISMO? CITE SUAS CARACTERÍSTICAS. ........................................ 18
3. QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DO CONSTITUCIONALISMO? .................................................................................................................. 19
4. QUAIS AS MAIORES CONTRIBUIÇÕES DO CONSTITUCIONALISMO DO SÉC. XVIII (MOVIMENTO CONSTITUCIONAL NORTE-AMERICANO E
MOVIMENTO CONSTITUCIONAL FRANCÊS)? ....................................................................................................................................... 19
5. O QUE O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO APROVEITOU DE CADA VERTENTE DO CONSTITUCIONALISMO ESTRANGEIRO? ........................ 19
6. SOB A PERSPECTIVA DO CONSTITUCIONALISMO, QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO? ............... 20
7. O QUE É O MOVIMENTO DO NEOCONSTITUCIONALISMO? .............................................................................................................. 20
8. QUAIS SÃO OS MARCOS HISTÓRICO, FILOSÓFICO E TEÓRICO DO NEOCONSTITUCIONALISMO? ................................................................ 22
9. QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS CORRENTES SUBSTANCIALISTAS E PROCEDIMENTALISTAS? ...................................................................... 22
10. O QUE É O CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO .............................................................................................................. 23
11. QUAIS SÃO AS FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL?................................................................................................................. 23
12. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO MATERIAL? ...................................................................................................................... 24
13. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO FORMAL? ........................................................................................................................ 24
14. QUANTO À ESTABILIDADE, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES? ..................................................................................... 25
15. QUANTO À FORMA, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES? .............................................................................................. 25
16. E QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO?.................................................................................................................................... 25
17. QUANTO À ORIGEM, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES? ............................................................................................. 26
18. E QUANTO À EXTENSÃO? ........................................................................................................................................................ 26
19. QUANTO À IDEOLOGIA, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?.......................................................................................... 26
20. O QUE SÃO CONSTITUIÇÕES ORGÂNICAS E INORGÂNICAS? ............................................................................................................ 27
21. QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS CONSTITUIÇÕES PRINCIPIOLÓGICAS E AS PRECEITUAIS? ........................................................................ 27
22. QUANTO À FINALIDADE, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES? ........................................................................................ 27
23. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO PARA VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA? .................................................................................. 28
24. O QUE É A CONSTITUIÇÃO DUCTIL (SUAVE) DE GUSTAVO ZAGREBELSKY? ......................................................................................... 28
25. O QUE É A CLASSIFICAÇÃO ONTOLÓGICA (OU ESSENCIALISTA) DAS CONSTITUIÇÕES DE KARL LÕEWENSTEIN? ........................................ 28
26. COMO SE CLASSIFICA A CONSTITUIÇÃO QUANTO AO PAPEL QUE EXERCE? CONSTITUIÇÃO-LEI X CONSTITUIÇÃO-FUNDAMENTO X
CONSTITUIÇÃO-MOLDURA. .............................................................................................................................................................. 29

27. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO PLÁSTICA? ................................................................................................................................... 31


28. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO EM BRANCO?............................................................................................................................... 31

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29. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO NOMINALISTA? ............................................................................................................................ 32
30. O QUE É HETEROCONSTITUIÇÃO? (CONSTITUIÇÃO HETERÔNOMA). ............................................................................................... 32
31. NO QUE CONSISTE A CONSTITUIÇÃO IDEAL? ............................................................................................................................... 33
32. QUAL A DIFERENÇA ENTRE CONSTITUIÇÕES LIBERAIS E SOCIAIS? .................................................................................................... 33
33. O QUE É CONSTITUIÇÃO INSTITUCIONALISTA, ORAL, ESTRUTURALISTA E INSTRUMENTAL? ........................................................... 33
34. O QUE É CONSTITUIÇÃO JURISNATURALISTA?............................................................................................................................. 34
35. CONFORME A CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL COMO PODEMOS CLASSIFICAR A ATUAL CONSTITUIÇÃO DE 1988? ..................................... 34
36. QUAL O CONCEITO DE BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE? ........................................................................................................... 34
37. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO PARA A TEORIA DISCURSIVA DA CONSTITUIÇÃO DE JÜRGEN HABERMAS: ...................................... 35
38. QUAIS SÃO OS SENTIDOS OU CONCEPÇÕES CLÁSSICOS DE CONSTITUIÇÃO? ...................................................................................... 35
39. QUAL É A DEFINIÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE PARA J. J. GOMES CANOTILHO?......................................................................... 36
40. O QUE SIGNIFICA A MORTE DA CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE, DE ACORDO COM JOSÉ CANOTILHO? ........................................................ 36
41. QUAL O SIGNIFICADO DE CONSTITUIÇÃO PARA A TEORIA DOS SISTEMAS DE NILKLAS LUHMANN ?....................................................... 37
42. DO QUE TRATA A TEORIA DA SOCIEDADE ABERTA DE INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO DE PETER HÄBERLE? .......................................... 37
43. DESCREVA O CONCEITO DE FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DE CONSTITUIÇÃO ABERTA DE KONRAD HESSE: ............................. 38
44. QUAL O SIGNIFICADO DE CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA DE MARCELO NEVES? .................................................................................... 38
45. O QUE É O TRANSCONSTITUCIONALISMO (TESE DO TRANSCONSTITUCIONALISMO)? ......................................................................... 39
46. NO TOCANTE À APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE
JOSÉ AFONSO DA SILVA? ................................................................................................................................................................. 39
47. AS NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA PRODUZEM ALGUM EFEITO? ................................................................................................... 40
48. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE CARLOS AYRES BRITTO E CELSO RIBEIRO BASTOS? ...................... 40
49. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE MARIA HELENA DINIZ? .......................................................... 41
50. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE LUÍS ROBERTO BARROSO? ...................................................... 41
51. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE UADI LAMMÊGO BULOS ?....................................................... 42
52. QUAL APLICAÇÃO DAS NORMAS PROGRAMÁTICAS? .................................................................................................................... 42
PONTO 2 - PODER CONSTITUINTE. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO. NORMAS CONSTITUCIONAIS: HERMENÊUTICA E
FILOSOFIA CONSTITUCIONAL. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO. APLICABILIDADE E EFICÁCIA. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL.
................................................................................................................................................................................... 42
53. QUAL É CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE? ........................................................................................................................... 42
54. QUAIS SÃO OS MARCOS HISTÓRICOS DA TEORIA DO PODER CONSTITUINTE? ..................................................................................... 43
55. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DE PODER CONSTITUINTE NOS MODELOS JUSNATURALISTA E JUSPOSITIVISTA? ......................................... 43
56. QUAL A TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE? ...................................................................................................................... 44
57. QUAL A CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO? .......................................................................... 44
58. O QUE É O PODER CONSTITUINTE MATERIAL E FORMAL?............................................................................................................... 45
59. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO? ...................................................................................... 45
60. QUAIS SÃO OS LIMITES AO PCO ESTABELECIDOS SEGUNDO MARCOS DEMOCRÁTICOS? ....................................................................... 46
61. QUAIS SÃO AS CRÍTICAS DE HABERMAS AOS LIMITES CULTURAIS? NO QUE CONSISTE A TESE DO PATRIOTISMO CONSTITUCIONAL? ............. 46
62. O QUE SÃO OS LIMITES TRANSCENDENTES, IMANENTES E HETERÔNOMOS?...................................................................................... 47
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63. HÁ DIREITO ADQUIRIDO CONTRA O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO? ........................................................................................ 47
64. A NOVA CONSTITUIÇÃO SE APLICA A ATOS PRETÉRITOS QUE PRODUZAM EFEITOS NO FUTURO?........................................................... 47
65. QUAL O MOMENTO EM QUE OCORRE A POSITIVAÇÃO DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO? .......................................................... 48
66. O QUE ACONTECE COM A ORDEM JURÍDICA ANTERIOR? ............................................................................................................... 48
67. O QUE É O PRINCÍPIO DA CONTEMPORANEIDADE? ....................................................................................................................... 48
68. QUAIS OS REQUISITOS PARA A RECEPÇÃO DA LEI ANTERIOR À NOVA CONSTITUIÇÃO? ......................................................................... 48
69. O QUE ACONTECERIA COM UMA LEI PRODUZIDA POR UM ENTE DA FEDERAÇÃO NO REGIME CONSTITUCIONAL ANTERIOR SE, COM NOVA
ORDEM CONSTITUCIONAL, A MESMA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA FOSSE TRANSFERIDA PARA OUTRO ENTE? ................................................... 48

70. O QUE É A TESE DA DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO? O NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO ADMITE? ......................................................... 49


71. O QUE É O FENÔMENO DA RECEPÇÃO MATERIAL DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS? ISSO OCORREU NA CONSTITUIÇÃO DE 1988? ............. 49
72. O NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO ADMITE O FENÔMENO DA INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE? .......................................... 49
73. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR? .......................................................................... 50
74. QUAIS AS ESPÉCIES DE MECANISMOS DE ALTERAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO? ....................................................................................... 50
75. QUAIS SÃO AS LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REFORMA DA CONSTITUIÇÃO? ................................................... 51
76. QUAIS SÃO OS LIMITES MATERIAIS IMPLÍCITOS AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR? .................................................... 52
77. OS LIMITES MATERIAS EXPLÍCITOS (CLÁUSULAS PÉTREAS) SÃO ABSOLUTOS? ..................................................................................... 52
78. O CONTEÚDO DAS CLÁUSULAS PÉTREAS ABRANGE APENAS OUS DIREITOS INDIVIDUAIS OU ALCANÇA OUTROS DIREITOS FUNDAMENTAIS
PREVISTOS NA CF? .......................................................................................................................................................................... 52

79. O ROL DAS CLÁUSULAS PÉTREAS PODE SER AMPLIADO? ................................................................................................................ 53


80. O PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REVISÃO POSSUI LIMITES DISTINTOS? ................................................................................... 53
81. É POSSÍVEL UMA NOVA REVISÃO CONSTITUCIONAL? .................................................................................................................... 54
82. O DIREITO ADQUIRIDO É OPONÍVEL CONTRA O PODER CONSTITUINTE REFORMADOR?........................................................................ 54
83. NO QUE CONSISTE O CHAMADO PODER CONSTITUINTE DIFUSO? .................................................................................................. 54
84. NO QUE CONSISTE A CHAMADA MUTAÇÃO INCONSTITUCIONAL? ................................................................................................... 54
85. HÁ LIMITES PARA A MUTAÇÃO? ............................................................................................................................................... 55
86. QUAIS OS INSTRUMENTOS DE MUTAÇÃO? ................................................................................................................................. 55
87. O QUE SE ENTENDE POR DECISÃO MANIPULATIVA? ..................................................................................................................... 55
88. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES, CARACTERES E LIMITAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE (DERIVADO) DECORRENTE? ......................................... 56
89. O QUE SÃO OS LIMITES VEDATÓRIOS, MANDATÓRIOS, INERENTES E DECORRENTES? .......................................................................... 57
90. EXISTE PODER CONSTITUINTE DECORRENTE DOS MUNICÍPIOS? A LEI ORGÂNICA SERIA UMA CONSTITUIÇÃO? ......................................... 57
91. O DISTRITO FEDERAL POSSUI PODER CONSTITUINTE DECORRENTE? ................................................................................................. 57
92. OS TERRITÓRIOS FEDERAIS POSSUEM PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE? NÃO. ............................................................. 58
93. QUAL A DIFERENÇA ENTRE HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO?..................................................................................................... 58
94. QUAIS SÃO OS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA CLÁSSICA? ............................................................................. 58
95. QUAL O CONTEXTO HISTÓRICO DE SURGIMENTO DO VOLUNTAS LEGISLATORIS E VOLUNTAS LEGIS? DO QUE TRATAM? ............................ 59
96. QUAIS SÃO OS MÉTODOS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO? ........................................................................................................... 59
97. O QUE É O GIRO LINGUÍSTICO DE GADAMER? ............................................................................................................................. 60
98. QUAIS AS CONTRIBUIÇÕES DE WITTGENSTEIN PARA A HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA?................................................................. 61
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99. O QUE É INTERPRETAÇÃO DO DIREITO NA TEORIA PURA DE KELSEN? ............................................................................................. 61
100. QUAL O PAPEL DA DOUTRINA NA TEORIA HERMENÊUTICA DE KELSEN? O QUE É INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA E NÃO AUTÊNTICA?
62
101. O QUE ACONTECE SE O JUIZ ESCOLHER UMA INTERPRETAÇÃO FORA DA MOLDURA?......................................................................... 62
102. QUAIS SÃO AS BASES DO POSITIVISMO JURÍDICO? QUAL A DIFERENÇA ENTRE O POSITIVISMO EXCLUSIVISTA E INCLUSIVISTA E NÃO
POSITIVISTA? ................................................................................................................................................................................. 62

103. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM A HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL DA INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS
INFRACONSTITUCIONAIS? ................................................................................................................................................................ 63

104. O QUE É O MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR DE KONRAD HESSE? ................................................................................. 63


105. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO (TOPOI) INDICADOS POR HESSE? ............................................................................. 64
106. O QUE É O MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO DE THEODOR VIEWHEG? ........................................................................................ 65
107. O QUE É O MÉTODO CIENTÍFICO- ESPIRITUAL DE RUDOLF SMEND? .......................................................................................... 65
108. O QUE É O MÉTODO NORMATIVO- ESTRUTURANTE DE FRIEDRICH MULLER? ................................................................................. 66
109. O QUE É O MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL E A TEORIA DA SOCIEDADE ABERTA DE INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO DE
HÄBERLE? ..................................................................................................................................................................................... 67

110. DO QUE TRATA O DEBATE NO DIREITO CONSTITUCIONAL NORTE-AMERICANO ENTRE OS INTERPRETATIVISTAS E OS NÃO
INTERPRETATIVISTAS? ..................................................................................................................................................................... 67

111. O QUE É A TEORIA DA INTEGRIDADE DE RONALD DWORKIN?...................................................................................................... 68


112. DO QUE TRATA A CONCEPÇÃO PROCEDIMENTAL DE DEMOCRACIA JOHN HART ELY? ....................................................................... 69
113. O QUE É A TEORIA DO MINIMALISMO JUDICIAL DE CASS R. SUNSTEIN? ........................................................................................ 69
114. O QUE SÃO DECISÕES MAXIMALISTAS? EM QUAIS HIPÓTESES ELAS SÃO NECESSÁRIAS SEGUNDO CASS SUNSTEIN? ................................. 70
115. O QUE É A ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E O MOVIMENTO ANTI-TEÓRICO DE RICHARD POSNER? ................................................ 70
116. QUAL A DIFERENÇA ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS?..................................................................................................................... 71
117. O QUE É DERROTABILIDADE NA TEORIA DOS PRINCÍPIOS DE HUMBERTO ÁVILA? ............................................................................. 71
118. QUAL A DIFERENÇA ENTRE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE? .......................................................................................... 72
119. O QUE É A PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS POR MEIO DA TÉCNICA DA PROPORCIONALIDADE? ............................................................. 73
120. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CRÍTICAS AO MÉTODO DA PONDERAÇÃO DESENVOLVIDO POR ROBERT ALEXY? ............................................ 73
121. QUAL A DISTINÇÃO DAS TEORIAS DE ALEXY (PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS PELA PROPORCIONALIDADE) E DWORKIN (INTEGRIDADE DO
DIREITO? ...................................................................................................................................................................................... 74

122. QUAL É A CRÍTICA DE VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA COM RELAÇÃO AOS MÉTODOS E PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL? .... 75
123. QUAL A CRITICA A HERMENÊUTICA JURÍDICA PÁTRIA EXARADA POR LÊNIO STRECK?....................................................................... 76
PONTO 3 - CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE: LINEAMENTOS GERAIS E MODALIDADES. CONTROLE DA
CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL. MANDADO DE INJUNÇÃO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA. .................................................................................................. 77
124. O QUE VEM A SER A SUPREMACIA DA CONSTITUCIÇÃO? ............................................................................................... 77
125. O QUE É O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE?.................................................................................................................... 77
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126. QUAIS OS PARÂMETROS UTILIZADOS PARA O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? ..................................................................... 78
127. APLICA-SE O PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA DA AÇÃO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? E QUANTO AO PARÂMETRO, HÁ
VINCULAÇÃO DO ÓRGÃO JULGADOR? ................................................................................................................................................ 79

128. O QUE É A TEORIA DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE? ...................................................................................................... 79


129. O QUE SE ENTENDE POR BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE? ...................................................................................................... 80
130. QUAL A EVOLUÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL? .................................................................................... 80
131. QUAL A EVOLUÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO COMPARADO? ......................................................... 82
132. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE AS TEORIAS DA ANULABILIDADE E DA NULIDADE NO AMBITO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? .... 83
133. NO BRASIL QUAL TEORIA PREDOMINA? ................................................................................................................................... 83
134. É POSSÍVEL NO JULGAMENTO DE CAUTELAR DE AÇÃO DE CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE HAVER A CONVERSÃO
DIRETA EM JULGAMENTO DE MÉRITO? ............................................................................................................................................... 84

135. PODE-SE DISCUTIR A MODULAÇÃO DE EFEITOS DE DECISÃO EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE APÓS PROCLAMADO O RESULTADO
FINAL? 84
136. O QUE É EFEITO REPRESTINATÓRIO? É O MESMO QUE REPRISTINAÇÃO DA NORMA? ........................................................................ 85
137. QUAIS AS TÉCNICAS DE DECISÃO NA ANÁLISE DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? ................................................................. 85
138. EM RELAÇÃO ÀS FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADES, EXPLIQUE INCONSTITUCIONALIADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO?..................... 86
139. O QUE VEM A SER INCONSTITUCIONALIDADE NOMODINÂMICA E NOMOESTÁTICA? ......................................................................... 86
140. QUAL É A CLASSIFICAÇÃO EM RELAÇÃO À EXTENSÃO E O MOMENTO DA INCONSTITUCIONALIDADE? ................................................... 86
141. O QUE VEM A SER A INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL? ................................................................................................ 87
142. O QUE É INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO? HORIZONTAL E VERTICAL? ..................................................................... 87
143. EXISTE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO CONCRETO? ................................................................................... 87
144. O QUE SE ENTENDE POR VÍCIO DE DECORO? ............................................................................................................................. 88
145. QUAL A NATUREZA DO ORGÃO QUE EXERCE O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? E QUAIS OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS? ........... 88
146. QUAL O MOMENTO QUE PODE SER REALIZADO O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? ................................................................ 88
147. OS EFEITOS DAS DECISÕES EM CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE ATINGEM O STF? E O LEGISLATIVO? .................... 89
148. O QUE É REAÇÃO LEGISLATIVA?.............................................................................................................................................. 90
149. O QUE É ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL? ............................................................................................................................. 90
150. O QUE É A INCONSTITUCIONALIDADE CHAPADA, ENLOUQUECIDA OU DESVAIRADA? ....................................................................... 90
151. QUAL A ORIGEM E CONCEITO DE CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE? ................................................ 91
152. O QUE VEM A SER A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO? .......................................................................................... 91
153. HÁ EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO? QUAIS? ......................................................................................... 92
154. HÁ POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE AMICUS CURIAE NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? .................................... 93
155. O QUE É MODALIDADE ANÔMALA DE INTERVENÇÃO? ................................................................................................................ 93
156. O PARLAMENTAR AUTOR DO PROJETO DE LEI OBJETO DA ADI PODE SER ADMITIDO NO PROCESSO COMO AMICUS CURIAE? E ESTE TEM
DIREITO A SUSTENTAÇÃO ORAL? ....................................................................................................................................................... 93

157. O QUE É ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO? .................................................................................................................. 93


158. NAS ADIS 3406 E 3470 (AMIANTO), O STF ADOTOU A TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES OU A
ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO? ......................................................................................................................................... 94

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159. COMO SE DÁ EFICÁCIA DA DECISÃO DO STF QUE DECLARA, INCIDENTALMENTE, A INCONSTITUCIONALIDADE DE UMA LEI? ..................... 95
160. QUAIS SÃO OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE NO CONTROLE DIFUSO? ......................................................... 95
161. O QUE É O CONTROLE CONCENTRADO IN ABSTRATO? .................................................................................................... 96
162. O QUE NÃO PODE SER OBJETO DE CONTROLE CONCENTRADO? .................................................................................................... 96
163. QUEM SÃO OS LEGITIMADOS DO CONTROLE CONCENTRADO?...................................................................................................... 97
164. E NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA – QUEM SÃO OS LEGITIMADOS DO CONTROLE CONCENTRADO? ............................................. 98
165. QUAL O PAPEL DO ADVOGADO GERAL DA UNIÃO? .................................................................................................................... 98
166. QUAIS AS MITIGAÇÕES DO SISTEMA NORTE-AMERICANO DA NULIDADE NO BRASIL? ....................................................................... 99
167. QUANDO SURGIU O EFEITO VINCULANTE? E O QUE VEM A SER A TEORIA EXTENSIVA DO EFEITO VINCULANTE? ..................................... 99
168. QUAL O OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? .............................................................................................. 100
169. A LEI UTILIZADA COMO OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, É ANALISADA DE FORMA RESTRITA OU
AMPLA? ................................................................................................................................................................................... 100
170. DE QUEM É A COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? ................................................................ 100
171. O QUE OCORRE NO CASO DE TRAMITAÇÃO SIMULTÂNEA DE AÇÕES – NO CASO DE LEI ESTADUAL QUESTIONADA PERANTE A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL NO STF, E PERANTE A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO PERANTE O TJ LOCAL? .................................................................................... 101

172. QUAL O PROCEDIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? ................................................................................... 101


173. QUAL O QUÓRUM PARA JULGAMENTO DA DECISÃO? ............................................................................................................... 102
174. O QUE É CAUSA DE PEDIR ABERTA NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? ....................................................................... 102
175. CABE MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? SE SIM, QUAIS OS SEUS EFEITOS? ...................................... 102
176. PODE SER UTILIZADO PROCEDIMENTO SUMÁRIO NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? .................................................... 102
177. QUAIS OS EFEITOS QUE PODEM SER DADOS À AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE?............................................................. 102
178. QUAL A FINALIDADE DA RECLAMAÇÃO NO ÂMBITO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE?................................................. 103
179. O QUE ACONTECE CASO O ATO NORMATIVO QUE ESTAVA SENDO IMPUGNADO NA ADI SEJA REVOGADO ANTES DO JULGAMENTO DA AÇÃO?
104
180. O QUE ACONTECE QUANDO HÁ ALTERAÇÃO DA LEI IMPUGNADA ANTES DO JULGAMENTO DA ADI? ........................................ 104
181. COM A CONVERSÃO DA MP EM LEI, ANTES DO JULGAMENTO DA ADI, O QUE ACONTECE? ............................................................... 104
182. CABE NOVA ADI CONTRA LEI QUE JÁ FOI JULGADA CONSTITUCIONAL NO ASPECTO FORMAL? ........................................................... 105
183. CABE ADI DE LEI DISTRITAL DE COMPETÊNCIA MUNICIPAL?......................................................................................... 105
184. ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO DE CONSTITUCIONALIDADE PREJUDICA O CONHECIMENTO DA ADI? .......................... 105
185. O ADVOGADO QUE ASSINA A PETIÇÃO DA ADI NECESSITA DE PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS? .................. 105
186. CABE ADI CONTRA RESOLUÇÃO DO TSE? ................................................................................................................................ 105
187. CABE ADI CONTRA RESOLUÇÃO DO CNMP?............................................................................................................................. 105
188. O ESTADO MEMBRO PODE RECORRER DE DECISÃO PROFERIDA EM ADI? ...................................................................................... 105
189. QUAL O CONCEITO, FINALIDADE E OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO – ADI POR
OMISSÃO? .................................................................................................................................................................................. 106

190. É POSSÍVEL CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO(ADO)? EM SENDO POSSÍVEL, PODE O STF
DETERMINAR O PRAZO AO LEGISLATIVO OU AO EXECUTIVO NESSA CAUTELAR DE ADO? ........................................................................... 106

191. APÓS AJUIZADA, PODE HAVER A PERDA DO OBJETO DA ADI POR OMISSÃO? ................................................................................. 106
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
192. QUAIS OS TIPOS DE OMISSÃO PODEM SER ARGUIDOS NA ADI POR OMISSÃO?.............................................................................. 106
193. QUAL A DIFERENÇA ENTRE A AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO E O MANDADO DE INJUNÇÃO? .................................. 107
194. PODE HAVER FUNGIBILIDADE ENTRE MANDADO DE INJUNÇÃO E ADI POR OMISSÃO? .................................................................... 108
195. QUAL A COMPETÊNCIA PARA JULGAR A ADI POR OMISSÃO? LEGITIMADOS E O PROCEDIMENTO? ................................................. 109
196. CABE MEDIDA CAUTELAR EM ADI POR OMISSÃO?................................................................................................................... 109
197. NO CASO DE OMISSÃO, QUAIS AS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS NA ADI POR OMISSÃO? E QUAIS TEORIAS SÃO APLICAVEIS AO
CASO? 109
198. QUAL O CONCEITO, FINALIDADE E COMPETÊNCIA DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE?........................................... 109
199. EXPLIQUE SOBRE O PROCEDIMENTO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE? ............................................................ 110
200. CABE MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE? ........................................................................... 110
201. QUAIS OS EFEITOS DA DECISÃO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE? ................................................................... 111
202. SE EXISTE UMA PRESUNÇAO DE CONSTITUCIONALIDADE, QUAL O SENTIDO DE AJUIZAR UMA ADC? ................................................... 111
203. O QUE É CONTROVÉRSIA JUDICIAL RELEVANTE NA ADC? ........................................................................................................... 111
204. O QUE VEM A SER A TESE DA DUPLA REVISÃO OU DUPLO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE? .................................................... 111
205. QUANTO A ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, QUAL O SEU CONCEITO E HIPÓTESES DE
CABIMENTO? ........................................................................................................................................................................... 112
206. A ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL POSSUI REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA
APRESENTAÇAO DA PETIÇÃO INICIAL? QUAL O PROCEDIMENTO? ......................................................................................... 113
207. CABE MEDIDA LIMINAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL? ................................ 114
208. QUAIS OS EFEITOS APLICÁVEIS À ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, QUAL O SEU
CONCEITO E HIPÓTESES DE CABIMENTO? ............................................................................................................................... 114
209. É POSSIVEL CELEBRAR O ACORDO EM ADPF?........................................................................................................................... 114
210. EVENTUAL DECISÃO EM ADPF PODE ATINGIR A COISA JULGADA? .............................................................................................. 114
211. O TJ PODE EXERCER CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS MUNICIPAIS COM PARÂMETRO NA NORMA DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL? ................................................................................................................................................................................... 115

212. QUAL É A COMPETÊNCIA, O OBJETO E O PARÂMETRO DO CONTROLE CONCENTRADO ABSTRATO FEITO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA? ...... 115
213. CABE RECURSO CONTRA DECISÃO DO TJ QUE JULGA AÇÃO EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO ESTADUAL? ............ 116
214. A FAZENDA PÚBLICA POSSUI PRAZO EM DOBRO PARA INTERPOR RECURSO EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE OBJETIVO? ......... 116
215. EXISTE DEVER DE SIMETRIA O ART. 103, §3ºM DA CF-88? É DE COMPETÊNCIA DO PROCURADOR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA A
INCUMBÊNCIA DE DEFENDER A CONSTITUCIONALIDADE DO ATO NORMATIVO ESTADUAL QUESTIONADO EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE?

117
216. PODEM AS NORMAS REMISSIVAS SER PARÂMETRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL? ......................................... 117
217. CONSTITUIÇÃO ESTADUAL PODE TRAZER ARTIGO QUE ASSEVERA QUE NO CONTROLE CONCENTRADO ESTADUAL DEVE-SE REMETER PARA O
PARLAMENTO SUSPENDER A EXECUÇÃO DA LEI?................................................................................................................................. 117

218. CABE LIMINAR EM ADI INTERVENTIVA? ................................................................................................................................ 117


PONTO 4 - PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. .. 118
219. PREÂMBULO POSSUI EFICÁCIA JURÍDICA? ........................................................................................................................... 118
220. FALE SOBRE O ESTADO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA LAICIDADE ............................................................................................... 118
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
221. O QUE SE ENTENDE POR DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTIAS?............................................................................ 118
222. DE FORMA BREVE, QUAL A DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS? ..................................................... 119
223. QUAIS AS ESPÉCIES DE GARANTIAS FUNDAMENTAIS? ............................................................................................................... 119
224. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ..................................................................................................... 120
225. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DIREITOS DOS HOMENS PARA OS JUSNATURALISTAS, POSITIVISTAS, IDEALISTAS, BEM COMO PARA OS REALISTAS?
QUAIS AS DUAS CONCEPÇÕES QUANTO A NATUREZA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (JUSNATURALISTAS X POSITIVISTAS)? .............................. 121

226. QUAL A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ............................................................................................... 122


227. QUAL A CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO? E PARA A DOUTRINA, É A MESMA CLASSIFICAÇÃO? ............ 122
228. E O QUE SE ENTENDE POR "TEORIA DOS QUATRO STATUS" NOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ............................................................ 123
229. O QUE SE ENTENDE POR DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ......................................................................................... 124
230. QUAIS AS CRÍTICAS À TEORIA DAS GERAÇÕES OU MESMO DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS OU HUMANOS? ........................ 124
231. EM QUE CONSTITUI A DIMENSÃO SUBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? .............................................................................. 125
232. EM QUE CONSISTE A DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ................................................................................. 126
233. O QUE É A EFICÁCIA VERTICAL, HORIZONTAL, DIAGONAL E EFICÁCIA VERTICAL COM REPERCUSSÃO LATERAL?..................................... 127
234. QUANTO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, QUAIS AS TEORIAS APLICÁVEIS ÀS RELAÇÕES PRIVADAS?................................................... 127
235. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS POSSUEM LIMITES? ................................................................................................................... 128
236. EM RELAÇÃO AOS LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, DO QUE TRATAM AS TEORIAS INTERNA E EXTERNA? .................................. 129
237. O QUE É A TEORIA DO LIMITE DOS LIMITES? DO QUE TRATAM AS TEORIAS ABSOLUTA E RELATIVA? .................................................. 130
238. QUAL O NÚCLEO ESSENCIAL E PROPORCIONALIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? .................................................................... 131
239. QUAIS AS FUNÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ............................................................................................................... 132
240. O QUE É UM DIREITO FUNDAMENTAL COMPLETO? .................................................................................................................. 133
241. EM QUE CONSISTE A RESERVA DO POSSÍVEL E QUAIS OS PRINCIPAIS CRITÉRIOS PARA APLICAÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA? ...... 133
242. CLASSIFIQUE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS. ........................................................................................................................... 134
243. QUEM SÃO OS DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ................................................................................................ 134
244. OS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES NO PAÍS SÃO DESTINATÁRIOS? ................................................................................ 135
245. HÁ A POSSIBILIDADE DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA? ............................................... 135
246. HÁ A POSSIBILIDADE DE RECONHECER TITULARIDADE DE DIREITOS HUMANOS À PESSOA JURÍDICA? .................................................. 136
247. É POSSÍVEL A EXTENSÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AOS ENTES PÚBLICOS? ............................................................................ 136
248. QUAL A APLICABILIDADE DO ART. 5º, § 1º, DA CF?................................................................................................................. 136
249. QUAL O INSTRUMENTO JURÍDICO ADEQUADO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? .................................................. 137
250. EXISTEM EFEITOS IMEDIATOS DE NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA? ............................................................................................ 137
251. QUAL O PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO EM CASO DE COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS? EXISTEM LIMITES A TAIS DIREITOS?....... 137
252. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO PODE SER TITULAR DE DIREITOS FUNDAMENTAIS DE NATUREZA MATERIAL? PODE SOFRER DANO
MORAL? ..................................................................................................................................................................................... 138

253. QUAIS SÃO OS NÍVEIS DE CONTROLE JURISDICIONAL EM MATÉRIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS? ..................................................... 138
254. NO CONTEXTO DA PROTEÇÃO DO NÚCLEO ESSENCIAL, O QUE TRATAM AS SEGUINTES TEORIAS: GENERALISTA E INDIVIDUALIZADORA;
OBJETIVA E SUBJETIVA; ABSOLUTA E RELATIVA? ................................................................................................................................. 138

255. O QUE SE ENTENDE POR DERROTABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS? ............................................................................. 139
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
256. REGRAS JURÍDICAS PODEM SER PONDERADAS?....................................................................................................................... 139
257. O QUE SÃO DIREITOS A PRESTAÇÕES? ................................................................................................................................... 140
258. COMO SE DÁ A APLICABILIDADE DOS DIREITOS INDIVIDUAIS? .................................................................................................... 140
259. NO QUE CONSISTE O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? ....................................................................................... 141
260. QUAL A NATUREZA JURIDICA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? ............................................................................................ 142
261. EM RELAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, QUAL O SEU CONTEÚDO ESSENCIAL? BEM COMO O QUE VEM A SER A SUA
DUPLA DIMENSÃO? ...................................................................................................................................................................... 142

262. O QUE É “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL”?............................................................................................................... 143


263. O QUE SÃO DIREITOS A NÃO IMPEDIMENTOS?........................................................................................................................ 143
264. O QUE SÃO DIREITOS A NÃO-AFETAÇÕES? ............................................................................................................................. 143
265. EM QUE CONSISTEM OS DIREITOS A NÃO ELIMINAÇÕES DE POSIÇÕES JURÍDICAS? ......................................................................... 144
266. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE TITULAR E DE DESTINATÁRIO DE UM DIREITO FUNDAMENTAL? ................................... 144
267. O QUE SIGNIFICA O ÂMBITO DE PROTEÇÃO DE UM DIREITO FUNDAMENTAL? ELE ESTÁ SUJEITO A INTERVENÇÕES? ............................. 144
268. O QUE SIGNIFICAM E COMO OCORREM AS LIMITAÇÕES A DIREITOS FUNDAMENTAIS? .................................................................... 144
269. SE TODO O PODER EMANA DO POVO, QUAL É A RAZÃO DE SE RESTRINGIR, POR MEIO DE CLÁUSULAS PÉTREAS, A POSSIBILIDADE DE
EMENDAS CONSTITUCIONAIS? ........................................................................................................................................................ 145

270. O QUE SIGNIFICAM AS RESTRIÇÕES INDIRETAS? ...................................................................................................................... 145


271. QUAL É A DISTINÇÃO CONCEITUAL ENTRE RESERVAS LEGAIS SIMPLES E RESERVAS LEGAIS QUALIFICADAS? ......................................... 145
272. NO TEMA DAS RESERVAS LEGAIS, O QUE SIGNIFICA O CONCEITO DE “RESERVA GERAL IMANENTE DE PONDERAÇÃO”? ......................... 145
273. EM MATÉRIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS, É CORRETO DIZER QUE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DÁ A ÚLTIMA PALAVRA? .............. 146
274. O QUE É O ATIVISMO JUDICIAL? O QUE SIGNIFICA A AUTOCONTENÇÃO? ...................................................................................... 146
275. DO QUE TRATAM AS CRÍTICAS DE LÊNIO STRECK AO ATIVISMO JUDICIAL? O QUE É A PAN-PRINCIPIOLOGISMO E A “SUPREMOCRACIA”? .. 147
276. QUAL A RELAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL DO PRESO À INTEGRIDADE MORAL COM O FENÔMENO DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO
SIMBÓLICA? ................................................................................................................................................................................ 147
277. QUAIS AS TRÊS ONDAS RENOVATÓRIAS DO ACESSO À JUSTIÇA? ................................................................................................. 148
278. O QUE SIGNIFICA O PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL? ...................................................................................... 148
279. O QUE É CLÁUSULA DE PROGRESSIVIDADE EM MATÉRIA DE DIREITOS SOCIAIS? ............................................................................. 149
280. O QUE SIGNIFICA O “EFEITO CLIQUET” DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS? ...................................................................................... 149
281. NO DIREITO COMPARADO, QUAIS SÃO OS DIPLOMAS QUE MARCARAM A POSITIVAÇÃO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS? E NO
BRASIL? ..................................................................................................................................................................................... 150
282. OS DIREITOS SOCIAIS SÃO CONSIDERADOS CLÁUSULAS PÉTREAS? ............................................................................................... 150
283. EM QUE CONSISTE A CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL? E A DO MÍNIMO EXISTENCIAL? COMO ESSES CONCEITOS SE RELACIONAM? 150
284. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL E A EROSÃO DA CONSCIÊNCIA CONSTITUCIONAL? ........................... 151
285. DO QUE TRATA A DOUTRINA CHENERY NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS? ............................................................................. 151
286. O DIREITO À VIDA POSSUI DUPLA ACEPÇÃO, QUAIS SÃO?.......................................................................................................... 151
287. É POSSÍVEL NEGAR TRATAMENTO MÉDICO POR RAZÕES RELIGIOSAS? .......................................................................................... 151
288. AS PESQUISAS COM CÉLULAS TRONCO VIOLAM O DIREITO À VIDA? ............................................................................................. 151
289. É CRIME O ABORTO DE FETO ANENCÉFALO? ........................................................................................................................... 152
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
290. E A INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO? .................................................................................. 152
291. DIFERENCIE EUTANÁSIA, ORTOTANÁSIA, DISTANÁSIA E O SUICÍDIO ASSISTIDO. ............................................................................. 155
292. EMBORA HAJA UMA TENDÊNCIA À ABOLIÇÃO DA PENA DE MORTE, AINDA É POSSÍVEL A SUA UTILIZAÇÃO EXCEPCIONALMENTE, COMO PREVÊ
A PRÓPRIA CF. QUAIS SÃO OS LIMITES PARA O USO DA PENA CAPITAL? .................................................................................................. 155

293. QUAL É A DIMENSÃO MATERIAL DO DIREITO À VIDA? ............................................................................................................... 156


294. QUAIS AS DIMENSÕES DO DIREITO À IGUALDADE? ................................................................................................................... 156
295. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS E O CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL? ........................................................... 157
296. É CONSTITUCIONAL O SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS? ......................................................................................................... 158
297. O QUE É TEORIA DA DISCRIMINAÇÃO INDIRETA (TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL)?........................................................... 159
298. É LEGAL A LIMITAÇÃO DE IDADE PARA PREENCHIMENTO DE CARGOS PÚBLICOS? ........................................................................... 159
299. QUAIS SÃO AS DIMENSÕES DO DIREITO À LIBERDADE? ............................................................................................................. 160
300. O QUE É IMPERATIVO DE CONSCIÊNCIA? ............................................................................................................................... 160
301. A COLOCAÇÃO DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS EM LOCAIS PÚBLICOS SE COADUNA COM A CONSTITUIÇÃO? ............................................. 161
302. O PROSELITISMO RELIGIOSO ESTÁ AMPARADO PELA LIBERDADE RELIGIOSA?................................................................................. 161
303. É NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO PARA A PUBLICAÇÃO DE BIOGRAFIA? ............................................................................................ 161
304. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO PERMITE O DISCURSO DE ÓDIO? .................................................................................................... 162
305. QUAIS SÃO AS RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO? .................................................................................................... 162
306. É POSSÍVEL A DECRETAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA POR JUÍZO CÍVEL?............................................................................ 163
307. A EXTRAÇÃO DE CONVERSAS DE WHATSAPP EXIGE ORDEM JUDICIAL? ........................................................................................ 163
308. HAVERIA EXCEÇÃO AO ACESSO AOS DADOS DE CONVERSAS NO CELULAR? ................................................................................... 164
309. COMO DEVE SER INTERPRETADA A INVIOLABILIDADE DO ARTIGO 5º, INCISO XII, DA CF? A EXPRESSÃO “SALVO NO ÚLTIMO CASO” REFERE-
SE A QUE? ................................................................................................................................................................................... 165

310. O SIGILO BANCÁRIO É PROTEGIDO PELA CF/88? .................................................................................................................... 165


311. A LEI N.º 12.527 REGULA O ACESSO A INFORMAÇÕES PREVISTO NO INCISO XXXIII DO ART. 5º. PODE-SE SUSTENTAR QUE A CITADA LEI
VIOLA O DIREITO À PRIVACIDADE DO ESTADO? UM CIDADÃO PODE SOLICITAR INFORMAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS E SOBRE

VENCIMENTOS DE SERVIDORES? ..................................................................................................................................................... 166

312. QUAL É A AMPLITUDE CONSTITUCIONAL DO CONCEITO DE “CASA”? ........................................................................................... 167


313. ANTE A PROLIFERAÇÃO DE DENGUE, PODE O ESTADO, POR PODER DE POLÍCIA OU VIA JUDICIAL, IMPOR AOS CIDADÃOS O DEVER DE
SUPORTAR O INGRESSO DE AGENTES SANITÁRIOS NOS AMBIENTES PRIVADOS? HÁ VIOLAÇÃO À INTIMIDADE? .............................................. 167

314. SOB QUAIS CONDIÇÕES É LÍCITA A ENTRADA FORÇADA EM DOMICÍLIO?....................................................................................... 168


315. A PREVISÃO DO INCISO IV DO § 1º DO ART. 1º DA LEI Nº 13.301/2016 É INCONSTITUCIONAL POR VIOLAR O ART. 5º, XI, DA CF/88?. 168
316. QUAL A DIFERENÇA ENTRE INTERCEPTAÇÃO, ESCUTA E GRAVAÇÃO TELEFÔNICA? QUAIS DELAS NECESSITAM DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL?
169
317. QUAL A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO DIREITO DE PROPRIEDADE?.......................................................................................... 169
318. MOVIMENTOS SOCIAIS PODEM, A PRETEXTO DE DESCUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE, RETIRAR ARBITRARIAMENTE A
PROPRIEDADE? ............................................................................................................................................................................ 170

319. COMO AFERIR O CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA E RURAL? QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO
DESCUMPRIMENTO? ..................................................................................................................................................................... 170

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
320. EM MATÉRIA DE DIREITO DE PROPRIEDADE, O QUE É REQUISIÇÃO? ............................................................................................ 170
321. QUAL É A NATUREZA DA “EXPROPRIAÇÃO” PREVISTA NO ART. 243 DA CF, RELATIVA ÀS PLANTAS PSICOTRÓPICAS OU À EXPLORAÇÃO DE
TRABALHO ESCRAVO? EXIGE-SE ELEMENTO SUBJETIVO DO PROPRIETÁRIO? ............................................................................................ 170

322. A USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEIS URBANOS E RURAIS, PREVISTA NA CONSTITUIÇÃO, EXIGE DIMENSÃO MÁXIMA OU DESTINAÇÃO
ESPECÍFICA? ................................................................................................................................................................................ 171

323. QUAIS AS DIMENSÕES DO DIREITO À SAÚDE? .......................................................................................................................... 171


324. A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE VIOLA O PRINCÍPIO DA IGUALDADE AO IGNORAR A FILA DE ESPERA? ................................................... 171
325. O DIREITO À MORADIA É CONSIDERADO UM DIREITO SOCIAL? ELE JÁ CONSTAVA DA REDAÇÃO ORIGINÁRIA DA CF? A PENHORA DO BEM DE
FAMÍLIA DO FIADOR NOS CASOS DE INADIMPLÊNCIA DO LOCADOR NOS CONTRATOS DE LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS NÃO VIOLARIA O DIREITO

SOCIAL À MORADIA? ..................................................................................................................................................................... 172

326. NOS TERMOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, HÁ POSSIBILIDADE DE SE REMOVER OS GRUPOS INDÍGENAS DAS TERRAS QUE ELES
TRADICIONALMENTE OCUPAM? ...................................................................................................................................................... 172

327. A PEC Nº 287/2016 PRETENDE IMPLEMENTAR UMA LARGA REFORMA NA SEGURIDADE SOCIAL, A QUAL, SE
APROVADA INTEGRALMENTE, POSSIBILITARÁ QUE O VALOR DO BENEFÍCIO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, ATUALMENTE DE UM
SALÁRIO-MÍNIMO, PASSE A SER ESTABELECIDO POR LEI. ESSA PREVISÃO É CONSTITUCIONAL? ............................................ 172
328. O QUE É PENSAMENTO JURÍDICO DO POSSÍVEL? ..................................................................................................................... 173
PONTO 5 - ORGANIZAÇÃO DOS PODERES: EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO. ..................................................... 173
329. O QUE É UM ESTADO? ....................................................................................................................................................... 173
330. QUAIS SÃO OS ELEMENTOS DO ESTADO? ........................................................................................................................ 173
331. QUAIS SÃO AS FORMAS DE GOVERNO? .......................................................................................................................... 174
332. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE GOVERNO? ........................................................................................................................ 174
333. O BRASIL JÁ ADOTOU O PARLAMENTARISMO? ....................................................................................................................... 175
334. QUAIS SÃO AS FORMAS DE ESTADO? .............................................................................................................................. 176
335. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE CONFEDERAÇÃO E FEDERAÇÃO? ........................................................................................... 176
336. QUAL O MECANISMO QUE IMPEDE A SECESSÃO? .................................................................................................................... 176
337. QUAIS SÃO OS TIPOS DE FEDERALISMO? ........................................................................................................................ 177
338. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO FEDERALISMO?............................................................................................ 178
339. OS MUNICÍPIOS SÃO ENTES FEDERATIVOS? ........................................................................................................................... 178
340. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA MANUTENÇÃO DO FEDERALISMO?............................................................................ 178
341. QUAIS SÃO AS FORMAS DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS? .................................................................................................... 178
342. QUAL É O PRINCÍPIO QUE REGE A DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS? ................................................................................................. 179
343. QUAL É O MODELOS DE DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS ADOTADO PELO BRASIL? .............................................................................. 179
344. QUAL É O MODELO ADOTADO PARA COMPETÊNCIAS TRIBUTÁRIAS? ........................................................................................... 179
345. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADO? ................................................ 180
346. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMEBRAMENTO DE MUNICÍPIO? .......................................... 180
347. CONCEITUE INTERVENÇÃO DE UM ENTE FEDERADO EM OUTRO? ................................................................................................ 181
348. AS HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO FEDERAL CONFIGURAM ROL TAXATIVO OU EXEMPLIFICATIVO? POR QUÊ? ....................................... 181
349. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO? ............................................................................................................... 181
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
350. QUAIS ENTES FEDERADOS PODEM REALIZAR A INTERVENÇÃO? .................................................................................................. 181
351. QUAIS AS ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO FEDERAL? ..................................................................................................................... 181
352. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA INTERVENÇÃO FEDERAL? ......................................................................................................... 182
353. QUAIS AS FORMAS DE COTROLE DA INTERVENÇÃO FEDRAL?...................................................................................................... 183
354. QUAIS AS HIPÓTESES EM QUE CABE A INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO? .......................................................................... 183
355. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO? ............................................................................... 183
356. QUAL A ORIGEM DO PODER LEGISLATIVO? ............................................................................................................................ 184
357. POR QUE, NO SISTEMA FEDERATIVO, UTILIZA-SE O SISTEMA BICAMERAL?.................................................................................... 184
358. QUAIS AS FUNÇÕES TÍPICAS DO PODER LEGISLATIVO? ............................................................................................................. 184
359. E AS ATÍPICAS? ................................................................................................................................................................. 184
360. QUEM A CÂMARA DOS DEPUTADOS REPRESENTA E POR MEIO DE QUAL SISTEMA SE DÁ A ELEIÇÃO? ................................................ 184
361. QUAL É O NÚMERO MÍNIMO E MÁXIMO DE DEPUTADOS FEDERAIS POR ESTADO? QUANTOS SÃO OS DEPUTADOS ELEITOS POR TERRITÓRIO?
185
362. QUAL É O PRAZO DO MANDATO DE DEPUTADO ESTADUAL E QUAL A IDADE MÍNIMA PARA SER DEPUTADO ESTADUAL? ........................ 185
363. QUEM O SENADO FEDERAL REPRESENTA E QUAL O SISTEMA UTILIZADO PARA A ELEIÇÃO DE SEUS REPRESENTANTES? .......................... 185
364. QUAL É O NÚMERO MÍNIMO E MÁXIMO DE DEPUTADOS FEDERAIS POR ESTADO? QUANTOS SÃO OS DEPUTADOS ELEITOS POR TERRITÓRIO?
185
365. QUAL É O PRAZO DO MANDATO DE SENADOR? COMO SE DÁ A RENOVAÇÃO NESSA CASA LEGISLATIVA? QUAL A IDADE MÍNIMA PARA
OCUPAR O CARGO DE SENADOR FEDERAL? ........................................................................................................................................ 185

366. DIANTE DO PRINCÍPIO DA SIMETRIA, É POSSÍVEL VINCULAR OS SUBSÍDIOS DOS DEPUTADOS ESTADUAIS AO DOS DEPUTADOS FEDERAIS? . 185
367. QUAL É O PRAZO DA LEGISLATURA?...................................................................................................................................... 186
368. E DA SESSÃO LEGISLATIVA? COMO ELA SE DIVIDE? .................................................................................................................. 186
369. É POSSÍVEL A CONVOCAÇÃO DE SESSÃO EXTRAORDINÁRIA? QUANDO ESSA OCORRERÁ? QUEM PODE CONVOCÁ-LA E EM QUE SITUAÇÕES?
186
370. QUAIS AS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL? ............................................................................................................... 186
371. QUAIS OS REQUISITOS PARA INSTAURAÇÃO DE UMA CPI? ........................................................................................................ 187
372. É POSSÍVEL AMPLIAR O QUÓRUM PARA INSTAURAÇÃO DE CPI? E REDUZIR? POR QUÊ? ................................................................ 187
373. QUAIS SÃO OS PODERES DADOS À CPI? QUAIS SÃO OS LIMITES A TAIS PODERES?......................................................................... 187
374. QUAIS AS GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO? ..................................................................................................................... 187
375. A QUEM SE APLICA E NO QUE CONSISTE A IMUNIDADE MATERIAL?............................................................................................. 188
376. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DA IMUNIDADE MATERIAL? ......................................................................................................... 188
377. QUAIS OS LIMITES DA IMUNIDADE MATERIAL? ....................................................................................................................... 188
378. O QUE A IMUNIDADE PROCESSUAL ENVOLVE? A PARTIR DE QUE MOMENTO ELA SE APLICA? .......................................................... 189
379. É POSSÍVEL A PRISÃO CIVIL DO CONGRESSISTA? ...................................................................................................................... 189
380. E A FIXAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES (ART. 319/CPP) CONTRA PARLAMENTAR, É POSSÍVEL? SENDO POSSÍVEL, SUJEITA-SE À CASA
LEGISLATIVA? .............................................................................................................................................................................. 189
381. E POSSÍVEL SUSPENDER AS IMUNIDADES DOS CONGRESSISTAS DURANTE O ESTADO DE SÍTIO? ......................................................... 189
382. A IMUNIDADE PROCESSUAL SE APLICA AOS DEPUTADOS ESTADUAIS?.......................................................................................... 189
12
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
383. NO CASO DE CRIME CONTRA A VIDA PRATICADO POR DEPUTADO ESTADUAL, A COMPETÊNCIA É DO JURI OU HÁ PRERROGATIVA DE FORO?
190
384. A IMUNIDADE PROCESSUAL SE APLICA AOS VEREADORES? ........................................................................................................ 190
385. QUAIS SÃO AS COMPETÊNCIAS DO TRIBUNAL DE CONTAS? ....................................................................................................... 190
386. A QUEM COMPETE APRECIAR AS CONTAS DE GOVERNO DE PREFEITO MUNICIPAL? E AS CONTAS DE GESTÃO? ................................... 191
387. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE PROCESSO LEGISLATIVO? ............................................................................................................ 191
388. QUAIS SÃO AS FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO? .................................................................................................................. 191
389. QUAIS AS ESPÉCIES DE INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO? ................................................................................................. 193
390. QUAL O PRAZO DE VIGÊNCIA DE UMA MEDIDA PROVISÓRIA? .................................................................................................... 194
391. ESTADOS E MUNICÍPIOS PODEM EDITAR MEDIDAS PROVISÓRIAS? .............................................................................................. 194
392. QUAIS SÃO AS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO? .................................................................................................................... 194
393. É POSSÍVEL O PREFEITO ITINERÁRIO? .................................................................................................................................... 194
394. QUAL A DIFERENÇA ENTRE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO? ............................................................. 194
395. QUAL A ORDEM DE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO? ................................................................... 195
396. É POSSÍVEL A ELEIÇÃO INDIRETA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO NO BR? SE SIM, EM QUAL CASO? ............................................... 195
397. COMO SE REALIZARÁ A ELEIÇÃO INDIRETA NO CASO DE MANDATO TAMPÃO DE GOVERNADOR? ...................................................... 195
398. CITE ALGUMAS ATRIBUIÇÃO DO PR COMO CHEFE DE GOVERNO. .......................................................................................... 195
399. CITE ALGUMAS ATRIBUIÇÃO DO PR COMO CHEFE DE ESTADO............................................................................................... 196
400. O PR PODE DELEGAR SUAS ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS?.................................................................................................... 197
401. NO QUE CONSISTE A IMUNIDADE PROCESSUAL DO PR? ............................................................................................................ 197
402. QUAIS ATOS FORA DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO QUE NÃO PODEM SER IMPUTADOS AO PR DURANTE O EXERCÍCIO DO MANDATO? .......... 197
403. QUEM JULGA O CHEFE DO PODER EXECUTIVO POR CRIMES COMUNS? ....................................................................................... 197
404. QUEM JULGA O CHEFE DO PODER EXECUTIVO POR CRIMES DE RESPONSABILIDADE? ..................................................................... 197
PONTO 6 - PODER JUDICIÁRIO. ESTATUTO DA MAGISTRATURA: DIREITOS, GARANTIAS E DEVERES.AUTONOMIA
ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA DOS TRIBUNAIS. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS E JUÍZES FEDERAIS. TRIBUNAIS E JUÍZES DO
TRABALHO. TRIBUNAIS E JUÍZES ELEITORAIS. TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES. TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS. DAS
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: MINISTÉRIO PÚBLICO, ADVOCACIA PÚBLICA, ADVOCACIA E DEFENSORIA PÚBLICA. .. 198
405. AS ATRIBUIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO? ................................................................................................................................ 198
406. O QUE É JURISDIÇÃO? ........................................................................................................................................................ 198
407. QUAIS OS PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO? ................................................................................................................................. 198
408. QUAIS SÃO AS PROTEÇÕES ESPECIAIS CONFERIDAS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO AOS JURISDICIONADOS, PARA O FIM DE GARANTIR-LHES
ISONOMIA E MAIOR QUALIDADE NA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL? ......................................................................................................... 198

409. QUANDO SE COMPROVA O EXERCÍCIO DE TRÊS ANOS DE PRÁTICA EM ATIVIDADE PRIVATIVA DE BACHAREL EM DIREITO PARA FINS DE
INVESTIDURA NO CARGO DE JUIZ? ................................................................................................................................................... 199

410. COMO SE DIVIDEM AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO? ...................................................................................................... 199


411. QUAIS SÃO AS GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO PODER JUDICIÁRIO?........................................................................................... 199
412. QUAIS SÃO AS GARANTIAS SUBJETIVAS DOS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO? ........................................................................... 199
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
413. QUEM MAIS, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ, TEM VITALICIEDADE? ............................................................................................... 200
414. EM QUAIS SITUAÇÕES É POSSÍVEL A PERDA DO CARGO POR MEMBRO DO PJ? .............................................................................. 200
415. QUEM TAMBÉM GOZA DE INAMOVIBILIDADE, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ?................................................................................ 200
416. QUAIS SITUAÇÕES EXCEPCIONAM A GARANTIA DA INAMOVIBILIDADE? ....................................................................................... 200
417. QUEM TAMBÉM GOZA DE IRREDUTIBILIDADE, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ? ................................................................................ 200
418. QUAIS SÃO AS VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO PJ? E AOS MEMBROS DO MP? .............................................................................. 200
419. QUAL O FUNDAMENTO PARA O QUINTO CONSTITUCIONAL? ..................................................................................................... 201
420. É POSSÍVEL O FRACIONAMENTO DE PRECATÓRIOS? ................................................................................................................. 201
421. OS ESTADOS-MEMBROS PODEM EDITAR LEIS REDUZINDO A QUANTIA CONSIDERADA COMO DE PEQUENO VALOR?............................. 201
422. O STF É UMA CORTE CONSTITUCIONAL? .............................................................................................................................. 201
423. QUAL É A NATUREZA JURÍDICA DO CNJ? ELE TEM PODER JURISDICIONAL? .................................................................................. 201
424. QUAIS SÃO SUAS PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES? ........................................................................................................................... 201
425. DE QUEM É A COMPETÊNCIA PARA JULGAR DEMANDAS CONTRA O CNJ E O CNMP? .................................................................... 202
426. QUAL É A COMPOSIÇÃO DO STJ? QUEM ESCOLHE SEUS MEMBROS? .......................................................................................... 202
427. QUEM É COMPETENTE PARA JULGAR O INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA? ............................................................ 202
PONTO 7 - DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS. ........................................................................ 202
428. O QUE É O SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CRISES? QUAIS OS PRINCÍPIOS QUE O REGEM? QUAIS INSTITUTOS O INTEGRAM? ....... 202
429. QUAIS OS SISTEMA DE RESTRIÇÕES A DIREITOS FUNDAMENTAIS QUE PODEM SER UTILIZADOS POR UM SISTEMA CONSTITUCIONAL DE
CRISES? 202

430. NO QUE CONSISTE O ESTADO DE DEFESA? A QUEM COMPETE DECRETÁ-LO? ............................................................................... 203
431. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE DEFESA? .................................................................................... 203
432. A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE DEFESA DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO DO CN? ............................................................................... 203
433. QUAIS AS FORMAS DE CONTROLE DO ESTADO DE DEFESA? ....................................................................................................... 203
434. QUAIS DIREITOS PODEM SER RESTRINGIDOS PELO ESTADO DE DEFESA? ....................................................................................... 204
435. NO QUE CONSISTE O ESTADO DE SÍTIO? A QUEM COMPETE DECRETÁ-LO?................................................................................... 204
436. A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO DO CN? .................................................................................. 204
437. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO? ....................................................................................... 204
438. QUAL O PRAZO DE ESTADO DE SÍTIO? ................................................................................................................................... 205
439. QUAIS AS FORMAS DE CONTROLE DO ESTADO DE SÍTIO? ......................................................................................................... 205
440. CABE HC EM RELAÇÃO A PUNIÇÕES DISCIPLINARES?................................................................................................................ 205
441. O MILITAR PODE SE FILIAR A PP? ......................................................................................................................................... 205
442. DIANTE DISSO, O MILITAR PODE SE CANDIDATAR A MANDATO ELETIVO? ..................................................................................... 205
443. CASO SEJA ELEITO, ELE PRECISA SE AFASTAR DA ATIVIDADE? ..................................................................................................... 205
PONTO 8 - TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO: SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL (PRINCÍPIOS GERAIS E LIMITAÇÕES AO PODER
DE TRIBUTAR) E FINANÇAS PÚBLICAS (NORMAS GERAIS E ORÇAMENTOS). ................................................................. 206
444. QUAL O OBJETO DO ESTUDO DO DIREITO FINANCEIRO? ............................................................................................. 206
445. O QUE SE ENTENDE POR ATIVIDADE FINANCEIRA? ................................................................................................................... 206
446. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE FINANCEIRA? ......................................................................................................... 206
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
447. QUAIS AS FONTES FORMAIS DO DIREITO FINANCEIRO? ............................................................................................................. 206
448. É POSSÍVEL O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS ORÇAMENTÁRIAS? ..................................................... 207
449. QUAL O PAPEL DO BANCO CENTRAL? .................................................................................................................................... 207
450. QUAL A ORIGEM DO “ORÇAMENTO”?.......................................................................................................................... 207
451. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DO ORÇAMENTO? ......................................................................................................... 207
452. NO ORÇAMENTO COMO ATO CONDIÇÃO O QUE SE VEDA? ......................................................................................... 208
453. CITE OS PRINCIPAIS PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS ...................................................................................................... 208
454. O QUE É O PRINCÍPIO DA ANUALIDADE/PERIODICIDADE? ........................................................................................... 208
455. O QUE É O PRINCÍPIO DA UNIDADE? ............................................................................................................................ 208
456. O QUE É O PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE? ............................................................................................................... 209
457. O QUE É O PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE? .................................................................................................................. 209
458. O QUE É O PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE? ....................................................................................................................... 209
459. O QUE É RESERVA DE CONTINGÊNCIA? ........................................................................................................................ 209
460. O QUE É EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO ................................................................................................................................... 209
461. O QUE É O PLANO PLURIANUAL?.......................................................................................................................................... 210
462. O QUE SIGNIFICA A LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS? ............................................................................................... 210
463. O QUE SE COMPREENDE POR LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL? ........................................................................................ 210
PONTO 9 - ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA, POLÍTICA URBANA,
POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA. ...................................................................................... 210
464. QUEM COMPETE LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO? ......................................................................................... 210
465. O QUE É ATIVIDADE ECONÔMICA E QUAL O SEU OBJETIVO? ...................................................................................................... 211
466. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS DA ORDEM CONSTITUCIONAL ECONÔMICA? ....................................................................... 211
467. DO QUE SE TRATA A LIBERDADE ECONÔMICA? ............................................................................................................... 211
468. O QUE É O PRINCÍPIO DA IGUALDADE ECONÔMICA? ....................................................................................................... 211
469. O QUE É DEMOCRACIA ECONÔMICA? .............................................................................................................................. 211
470. QUAL A DIFERENÇA DE INTERVENÇÃO E ATUAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA? ....................................................... 211
471. COMO OCORRE A ATIVIDADE ECONÔMICA EM SENTIDO ESTRITO (STRICTO SENSU)? .............................................................. 212
472. EXISTE ALGUMA DIFERENÇA DE TRATAMENTO DE REGIME JURÍDICO DAS EMPRESAS PÚBLICAS QUE EXERCEM ATIVIDADE ECONÔMICA PARA
AQUELAS QUE SOMENTE PRESTAM SERVIÇOS PÚBLICOS? ..................................................................................................................... 212

473. O REGIME DE PRECATÓRIOS É APLICÁVEL PARA AS EMPRESAS PÚBLICAS? .................................................................................... 213


474. O QUE É REURB (REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA) E QUAIS SUAS MODALIDADES? .......................................... 213
475. QUAIS OS LEGITIMADOS PARA REQUEREREM REURB? ............................................................................................................ 213
476. É POSSÍVEL REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE? .......................................................... 214
477. NO QUE CONCERNE O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA? ................................................................................................ 214
478. QUAL A FINALIDADE DO PMCMV?...................................................................................................................................... 214
479. EM CASO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, SEPARAÇÃO OU DIVÓRCIO COM QUEM FICA A PROPRIEDADE DO IMÓVEL?.................... 214
480. É POSSÍVEL O PODER PÚBLICO REALIZAR REMOÇÕES COMPULSÓRIAS DE IMÓVEIS?....................................................................... 214
481. O QUE É A TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL? ................................................................................................ 215
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
482. AS OPERAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE IMÓVEIS DESAPROPRIADOS PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA SÃO ISENTAS DE TRIBUTOS? ........ 215
483. ADMITE-SE DESAPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE PRODUTIVA E DE PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE RURAL?..................................... 215
484. QUAIS OS REQUISITOS PARA A DESAPROPRIAÇÃO URBANÍSTICA SANCIONATÓRIA? ........................................................................ 215
485. O QUE O ESTATUTO DAS CIDADES ACRESCENTA ALÉM DO QUE PREVÊ A CONSTITUIÇÃO?............................................................... 216
486. É NECESSÁRIO ALGUM REQUISITO PARA QUE HAJA O CONFISCO DE BENS OU O BEM SERÁ CONFISCADO DESDE QUE RELACIONADO AO
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E AO TRABALHO ESCRAVO? .......................................................................................................... 216

487. A RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL EM CASO DE CONFISCO OU EXPROPRIAÇÃO-SANÇÃO É SUBJETIVA OU OBJETIVA? .. 216
488. EM CASO DE CONFISCO OU EXPROPRIAÇÃO-SANÇÃO SERÁ DECRETADA A PERDA DE TODO O IMÓVEL OU APENAS DA PARCELA EM QUE HÁ
PRÁTICA DA CONDUTA ILEGAL? QUAL A DESTINAÇÃO DOS BENS APREENDIDOS E DO IMÓVEL USADO DE FORMA ILÍCITA? ................................ 216

489. QUEM POSSUI COMPETÊNCIA PARA DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA? ............................. 217
490. SUPONHAMOS QUE O EXPROPRIADO FOI SUCUMBENTE, OU SEJA, A INDENIZAÇÃO FOI FIXADA PELO JUIZ EM VALOR INFERIOR AO OFERECIDO
PELO INCRA. NESTE CASO, ELE TERÁ QUE PAGAR HONORÁRIOS PERICIAIS AOS ASSISTENTES TÉCNICOS DO INCRA E DO MPF? ...................... 217

PONTO 10 - ORDEM SOCIAL: SEGURIDADE SOCIAL, SAÚDE, PREVIDÊNCIA SOCIAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL; EDUCAÇÃO,
CULTURA E DESPORTO; MEIO AMBIENTE; FAMÍLIA, CRIANÇA E ADOLESCENTE, JOVEM E IDOSO; ÍNDIOS. .................... 217
491. O QUE É SEGURIDADE SOCIAL? .................................................................................................................................... 217
492. QUAL O OBJETIVO DA SEGURIDADE SOCIAL? ............................................................................................................... 218
493. QUAL OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL? ..................................................................................... 218
494. O QUE SIGNIFICA A PROTEÇÃO À SAÚDE? .................................................................................................................... 218
495. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO À SAÚDE? ................................................................................................................ 218
496. COMO SE ESTRUTURA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE? ............................................................................................................... 219
497. QUAIS OS REQUISITOS ATUAIS PARA O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PELO PODER PÚBLICO? ....................... 219
498. O QUE É USO OFF-LABEL DE MEDICAMENTO?......................................................................................................................... 219
499. O PACIENTE PODE EXIGIR DO PODER PÚBLICO O FORNECIMENTO DE MEDICAMNTE PARA USO “OFF-LABEL”? ........ 220
500. O QUE É PREVIDÊNCIAL SOCIAL? E QUAL O SEU REGIME? ................................................................................................. 220
501. QUEM SÃO OS BENEFICIÁRIOS DO REGIME PRÓPRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL? ........................................................................... 220
502. QUAIS OS DOIS MOVIMENTOS DE REFORMA DOS MODELOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL? ............................................ 221
503. O QUE SE ENTENDE POR ASSISTÊNCIA SOCIAL? ....................................................................................................................... 221
504. O QUE É O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC)? ..................................................................................................... 221
505. LEI ESTADUAL PODE VERSR SOBRE ORGANIZAÇÃO DE ENTIDADES ESTUDANTIS? ...................................................... 222
506. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE COMPREENDIDAS PELA DOUTRINA MAJORITÁRIA E O STF? ................ 222
507. HÁ POSSIBILIDADE DE SACRIFÍCIO DE ANIMAIS COM FUNDAMENTO NA LIBERDADE RELIGIOSA? ....................................................... 223
508. A MENCIONADA DECISÃO DO STF NA QUESTÃO ANTERIOR NÃO VIOLA O PRINCIPIO DA LAICIDADE? ................................................. 223
509. QUAL A DIFERENÇA DE LAICIDADE, LAICISMO E ATEÍSMO? ....................................................................................................... 224
510. QUAL A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS NO CENÁRIO INTERNACIONAL? .......................................................................... 224
511. O QUE SÃO SUJEITOS DE DIREITOS? ...................................................................................................................................... 225
512. QUAL O PRIMEIRO DOCUMENTO INTERNACIONAL QUE RECONHECEU AS CRIANÇAS COMO SUJEITOS DE DIREITO?............................... 225
513. DO QUE SE TRATA A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL? ........................................................................................................ 225
514. QUAL A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA DE 1989? .................................................. 225
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
515. HÁ ALGUMA CONVENÇÃO OU TRATADO INTERNACIONAL QUE PROTEJAM CRIANÇAS EM RELAÇÃO AO TRABALHO? ............................. 226
516. QUEM É CONSIDERADO JOVEM PARA O SISTEMA BRASILEIRO? .................................................................................. 226
517. QUAL A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS
IDODOS (2015)? ....................................................................................................................................................................... 227
518. QUEM É CONSIDERADO IDOSO?........................................................................................................................................... 227
519. QUAL A DIFERENÇA DOS ALIMENTOS CONCEDIDOS AOS IDOSOS PARA OS DEMAIS DEVERES ALIMENTÍCIOS PARA
OUTRAS PESSOAS? .................................................................................................................................................................. 227
520. DE QUAIS PARENTES PODE-SE COBRAR OS ALIMENTOS? (NO CASO DE IDOSOS)....................................................................... 227
521. QUAIS OS DIREITOS O IDOSO POSSUI EM RELAÇÃO A SAÚDE (DEVER DO PODER PÚBLICO)?...................................... 228
522. É POSSÍVEL O REAJUSTE DO PLANO DE SAÚDE EM RAZÃO DA FAIXA ETÁRIA?................................................................................. 228
523. OS IDOSOS POSSUEM ISENÇÃO DAS TARIFAS DE PEDÁGIO E DE UTILIZAÇÃO DOS TERMINAIS DE TRANSPORTE
COLETIVO? ............................................................................................................................................................................... 228
524. NO MOMENTO DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL EM 1988, QUALQUER TERRA JÁ OCUPADA PELOS
INDÍOS RECEBEU A PROTEÇÃO ESPECIAL DO DIREITO DE TERRA?........................................................................................... 228
525. O QUE SERIA O RENITENTE ESBULHO? ......................................................................................................................... 229
526. A QUEM PERTENCE AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS INDIOS? ...................................................... 229
527. O QUE SÃO AS CHAMADAS “TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS”? .................................................................. 229
528. QUAL FUNDAMENTO PARA A PROTEÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS? ........................................................................... 229
529. APENAS AS TERRAS DERMACADAS COMO TERRITÓRIO INDIGENA GOZAM DE PROTEÇÃO? ....................................... 230
530. O QUE ACONTECE SE JÁ HAVIA PESSOAS MORANDO NAS TERRAS DEMARCADAS? E SE ESSAS PESSOAS POSSUÍAM TÍTULOS DE PROPRIEDADE
REGISTRADOS EM CARTÓRIO?......................................................................................................................................................... 230

531. OS NÃO ÍNDIOS QUE FOREM RETIRADOS DAS TERRAS DEMARCADAS DEVERÃO SER INDENIZADOS?................................................... 230
532. PARA A DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA É NECESSÁRIO ESTUDO UM ESTUDO TÉCNICO ANTROPOLÓGICO? ................................... 230
533. NO PROCESSO DEMACARTÓRIO É NECESSÁRIO QUE TODOS OS EVENTUAIS INTERESSADOS SEJAM NOTIFICADOS? . 231

PONTO 1 - CONSTITUCIONALISMO E TEORIA DA CONSTITUIÇÃO. CONSTITUIÇÃO E


NEOCONSTITUCIONALISMO.

1. QUAL A DEFINIÇÃO DE CONSTITUCIONALISMO?


A partir dos séculos XVII e XVIII a Constituição ganha contornos tipicamente jurídico-normativos. Isso
porque a ideia de organização constitucional formal (formalizada) dos Estados se estabelece (se funda), de forma
solene, no século XVIII com o denominado "movimento do constitucionalismo" que guarda íntima relação com as
revoluções americana e francesa.
Por sua vez, apesar daquilo que é chamado de ordem constitucional formal não ter surgido no
constitucionalismo inglês, diferente do que ocorreu na tradição americana e francesa, consolidou-se no século XVII
com a Revolução Gloriosa de 1688-89 a afirmação da Supremacia do Parlamento, após um longo processo de

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
sedimentação que teve início no século XIII (com a Magna Carta de 1215). Nesse sentido, passa-se a ter a
Constituição material como efetivamente jurídica, nos moldes modernos (constitucionalismo moderno).
Diante desse contexto histórico, pode-se dizer que o constitucionalismo (moderno) pode ser entendido
como um movimento que traz consigo objetivos que fundam (constituem) uma nova ordem, sem precedentes na
história da constituição das sociedades, formando aquilo que Rogério Soares chamou de "conceito ocidental de
Constituição".

2. QUAIS SÃO AS FASES HISTÓRICAS DO CONSTITUCIONALISMO? CITE SUAS


CARACTERÍSTICAS.
São fases históricas do Constitucionalismo: antiga, medieval, moderna e contemporânea
(neoconstitucionalismo).
O constitucionalismo antigo caracteriza-se especialmente pela inexistência de constituições escritas,
prevalecendo acordos de vontade, pela flexibilidade das alterações das leis e pela irresponsabilidade dos
governantes.
Na Idade Média esse cenário começa a mudar, com a edição de diversos documentos que visavam a
limitação do poder estatal, tais como a) a Magna Carta (1215), Estatuto ou Nova Constituição de Merton (1236),
Petition of Rights (1628), Habeas Corpus Act (1679), Bill of Rights (1689) e Act of Settlement (1701). Esse período,
tem como principais características do constitucionalismo o predomínio da concepção jusnaturalista de
constituição, a existência de autênticas constituições não escritas e a ideia de que a autoridade dos governantes
era fundada num contrato com os súditos.
Na Inglaterra surgiu uma expressão chamada rule of law. Tal expressão possui origem na Magna Carta
inglesa (1215), documento precursor de todas as futuras Declarações de Direitos, já que representa, breve síntese,
a necessidade de submissão do governo às leis.
O constitucionalismo moderno começa no final do séc. XVIII, com as revoluções liberais (francesa e norte-
americana), e vai até a Segunda Guerra Mundial (1945). Até então, não existia Constituição escrita, mas
simplesmente baseada nos costumes. A primeira Constituição escrita que existiu foi dos EUA, em 1787, seguida da
Constituição francesa de 1791.
Com a Constituição escrita surge a rigidez constitucional (processo mais solene, com dificuldade de
alteração de suas normas). A Constituição rígida, por sua vez, é caracterizada pela supremacia, surgindo a ideia de
supremacia da Constituição.
Nessa fase do Constitucionalismo surgiram os direitos de primeira dimensão: direitos fundamentais
relacionados com o valor liberdade, elegendo-se o povo como o titular legítimo do poder (pela Revolução
Francesa).
Quanto ao neoconstitucionalismo, trata-se de um paradigma que surge após a Segunda Guerra Mundial,
que não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação de poder político, mas, acima de tudo,

18
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
alcançar a eficiência da Constituição. Seu modelo normativo é AXIOLÓGICO, porque enquanto o caráter ideológico
do constitucionalismo moderno era apenas limitar o poder, o caráter ideológico do neoconstitucionalismo é o de
concretizar direitos fundamentais.

3. QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DO CONSTITUCIONALISMO?


São objetivos do constitucionalismo:
a) A limitação do poder com a necessária organização e estruturação do Estado, o que, em consequência
ensejou o desenvolvimento de teorias consubstanciadas na praxis, como a "teoria da separação dos poderes",
além de uma redefinição do funcionamento organizacional do Estado; e
b) A consecução de direitos e garantias fundamentais (num primeiro momento, com a afirmação em
termos pelo menos formais da: igualdade, liberdade e propriedade de todos).

4. QUAIS AS MAIORES CONTRIBUIÇÕES DO CONSTITUCIONALISMO DO SÉC. XVIII


(MOVIMENTO CONSTITUCIONAL NORTE-AMERICANO E MOVIMENTO
CONSTITUCIONAL FRANCÊS)?
O Constitucionalismo norte-americano e o Constitucionalismo francês inauguram o chamado
Constitucionalismo Formal.
Os norte-americanos e os franceses também pretendiam transformar o Estado da Política em um Estado
de Direito. Porém, quiseram fazer isso de uma forma pré-determinada, de uma forma publicizada, que nunca se
tinha antes visto no mundo. Assim, é com o constitucionalismo norte-americano e com o constitucionalismo
francês que a Constituição ganha uma forma escrita. Surge a ideia de um pacto entre detentores e destinatários
do poder, o qual seria reduzido a um documento escrito que, vinculando a todos, passaria a conduzir o Estado.

5. O QUE O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO APROVEITOU DE CADA VERTENTE DO


CONSTITUCIONALISMO ESTRANGEIRO?
a) Norte-americano:
- Supremacia da Constituição: o jogo político é protagonizado pelos Poderes Legislativo, Judiciário e
Executivo e organizado pela Constituição. Os norte-americanos perceberam que, para a Constituição efetivamente
determinar as regras do jogo entre os Poderes, teria que estar acima deles. Daí surgiu a ideia de Poder Constituinte,
que se refere à Constituição, e Poderes Constituídos, que são os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário;
- Garantia Jurisdicional: define que o Poder Judiciário será responsável por garantir a supremacia da
Constituição. Os norte-americanos escolheram o Poder Judiciário para defesa da Constituição porque era o Poder
mais neutro, do ponto de vista político, em comparação com os Poderes Executivo e Legislativo. O controle de
constitucionalidade surgiu aqui, em função da garantia jurisdicional (controle difuso feito pelo juiz John Marshall,
em 1803).
- Federalismo, República como forma de governo, etc.
b) Francês:

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
- Garantia de Direitos.
- Separação de Poderes.
Essas ideias estão muito claras no art. 16 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (a
declaração da revolução francesa, de 1789), que estabelece que “A sociedade em que não esteja assegurada a
garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.”

6. SOB A PERSPECTIVA DO CONSTITUCIONALISMO, QUAIS AS PRINCIPAIS


CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO?
a) Preocupação com a efetividade e com a dimensão material dos direitos fundamentais: enquanto a
preocupação antes era com a consagração dos direitos na Constituição, agora se busca que os direitos já
consagrados sejam efetivados. No Estado Liberal, os direitos fundamentais tinham caráter meramente formal. No
Estado Democrático de Direito, os direitos fundamentais passam a ter consagrados sua dimensão material: ex.
direito à igualdade (como diminuição de desigualdades).
b) O Direito deve ser exercido e organizado em termos democráticos: No Brasil, temos mecanismos de
democracia direta e indireta (participação popular).
c) O legislador passa a ter, além das limitações formais, limitações materiais: o legislador não está limitado
apenas em relação ao processo como elabora a lei, mas também ao conteúdo, a substância, das normas que cria.
d) A democracia não é apenas a democracia formal (vontade da maioria e eleições periódicas): hoje, a
democracia é vista em um sentido substancial. Além das acepções tradicionais da democracia, entra um
componente novo: a garantia de direitos fundamentais para todos, inclusive para as minorias.

7. O QUE É O MOVIMENTO DO NEOCONSTITUCIONALISMO?


Inicialmente, é preciso alertar que não exista um único neoconstitucionalismo, que corresponda a uma
concepção teórica clara e coesa, mas diversas visões sobre o fenômeno jurídico na contemporaneidade, que
guardam entre si alguns denominadores comuns relevantes. Nesse passo, pode-se dizer que o
neoconstitucionalismo parte das seguintes premissas: a) constitucionalização do direito, com a irradiação das
normas constitucionais e valores constitucionais, sobretudo os relacionados aos direitos fundamentais; b)
reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e a valorização da sua importância no processo de
aplicação do Direito; c) rejeição do formalismo e a busca mais frequente a métodos ou estilos mais abertos de
raciocínio jurídico como: a ponderação, tópica, teorias da argumentação, metódica estruturante, entre outros; d)
reaproximação entre o direito e a moral; e e) judicialização da política e das relações sociais, com um significativo
deslocamento de poder da esfera do Legislativo e do Executivo para o Poder Judiciário.
De uma maneira geral, a doutrina elenca, ainda:
a) Normatividade da Constituição (Konrad Hesse) – Define que a norma constitucional tem status de norma
jurídica, sendo dotada de imperatividade. Os EUA já aceitavam a normatividade da Constituição desde sua

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Constituição de 1787, mas na Europa não havia essa preocupação, pois para os europeus os direitos fundamentais
eram apenas diretrizes, às quais o Parlamento não estaria vinculado. Hoje, a normatividade é indiscutível.
b) Supremacia Constitucional – essa característica também já existia desde as primeiras constituições
escritas. Para ter supremacia formal, a Constituição tem que ser rígida e, para ser rígida, tem que ser escrita.
c) Centralidade da Constituição – essa característica também é denominada de Onipresença,
Imperatividade, Superioridade, Ubiquidade Constitucional. A Constituição passa a ser o centro do sistema jurídico,
marcada por intensa carga valorativa. A centralidade da Constituição se reflete no fenômeno da
Constitucionalização dos ramos específicos do Direito (ex: constitucionalização do direito civil).
Expressões da centralidade da Constituição:
c.1) Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: quando os direitos fundamentais de primeira dimensão
surgiram, tinham apenas eficácia vertical (somente o Estado era sujeito passivo). Os juristas começaram a
perceber, no entanto, que a violação dos direitos fundamentais não ocorria somente na relação subordinada entre
Estado e cidadãos, mas também na relação de coordenação, entre particulares. Por isso desenvolveram a tese da
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que impõe sua observância nas relações entre particulares.
c.2) Filtragem Constitucional: Define que tudo deve ser interpretado a partir da Constituição, que servirá
de norma de validade de todo o sistema, que deverá estar em consonância com seu espírito. Significa que as leis
devem ser interpretadas à luz dos valores consagrados pela Constituição. Esse é o chamado princípio da
interpretação conforme à Constituição.
c.3) Rematerialização da Constituição: é uma característica comum às Constituições do pós-guerra.
Significa que o conteúdo da Constituição foi revisto e ampliado.
Novos direitos fundamentais foram incorporados às Constituições, que passaram a adotar, também, por
exemplo, diretrizes políticas. Por isso, as Constituições passaram a ser prolixas. É o chamado totalitarismo
constitucional, segundo qual a Constituição passa a tratar de todos os assuntos minimamente importantes,
assumindo, ainda, conteúdo programático, característica da constituição dirigente de Canotilho, que visa a
encontrar mecanismos para a efetiva concretização dos valores consagrados na Constituição.
c.4) Maior Abertura da Interpretação Constitucional: a interpretação constitucional evoluiu e hoje temos
vários métodos específicos para a interpretação da Constituição.
Os princípios são aplicados por meio de um método de sopesamento, da ponderação, e não pelo método
da subsunção (aplicado sobre as normas-regras). O juiz tem que analisar, no caso concreto, o princípio que tem
relevância maior. Não havendo um consenso do que venha a ser a decisão mais correta, a decisão torna-se mais
subjetiva, com mais poder para o juiz. O juiz utiliza a fundamentação para decidir.
c.5) Fortalecimento do Poder Judiciário: antes da Constituição de 1988, somente existia uma ação de
controle de constitucionalidade abstrato, hoje temos cinco: (i) Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica –
ADI ou ADIn (art. 102, I, a, CF/88); (ii) Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva – ADIn Interventiva (art.
36, III, CF/88); (iii) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADIN por Omissão (art. 103, § 2º); (iv) Ação
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Declaratória de Constitucionalidade – ADECON ou ADC (art. 102, I, a, in fine, CF/88); e (v) Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF (art. 102, § 1º, CF/88).

8. QUAIS SÃO OS MARCOS HISTÓRICO, FILOSÓFICO E TEÓRICO DO


NEOCONSTITUCIONALISMO?
Para Luís Roberto Barroso, teríamos como características principais para o surgimento do
neoconstitucionalismo os seguintes marcos:
a) marco histórico: a formação do Estado Constitucional de direito, cuja consolidação se deu ao longo das
décadas finais do século XX;
b) marco filosófico: o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a reaproximação
entre o direito e a ética;
c) marco teórico: o conjunto de mudanças que incluem a força normativa à Constituição, a expansão da
jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional.

9. QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS CORRENTES SUBSTANCIALISTAS E


PROCEDIMENTALISTAS?
O procedimentalismo e o substancialismo são teorias que dizem respeito ao grau de dirigismo que uma
Constituição deve adotar em relação à implementação da pauta de direitos previstos no Texto Constitucional,
notadamente os direitos sociais, econômicos e culturais.
Para os PROCEDIMENTALISTAS, a Constituição é uma moldura de direitos que deve regular apenas o
processo deliberativo da sociedade, ou seja, deve preservar os canais democráticos de formação da vontade, de
modo que a própria sociedade deve escolher sobre a implementação dos direitos previstos na Constituição. Tal
implementação não deve ser uma obra primordial do Poder Judiciário (portanto, rejeita o ativismo), mas, sim,
mediante deliberações da sociedade via Legislativo.
Na visão do procedimentalismo, os resultados na concretização de direitos estão sempre abertos durante
o processo deliberativo, de modo que não há fossilização dos direitos já conquistados. O processo de afirmação
dos direitos é puramente democrático, de modo que cabe ao Poder Judiciário apenas garantir as “regras do jogo
democrático”.

Portanto, o procedimentalismo pressupõe um espaço público independente, com igualdade entre os atores
sociais. Pressupõe, também, uma Corte Constitucional capaz de assegurar os direitos democráticos à participação
na deliberação, exercendo um papel contramajoritário. Os principais autores que adotam essa corrente são:
Habermas, Hart e Garapon.
De outro turno, o SUBSTANCIALISMO acredita no modelo de Constituição Dirigente, muito desenvolvida
pelo constitucionalista português José Joaquim Gomes Canotilho. Acredita em um modelo constitucional onde o

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Poder Judiciário exerce amplo papel de consolidação dos direitos fundamentais, implementando os direitos sociais
sem freios.
Essa teoria da Constituição Dirigente entende que cabe ao Poder Judiciário uma ampla judicialização,
inclusive da Política, de modo a concretizar, para o futuro, os projetos constitucionais.
Na vertente substancialista, é legítimo que os Juízes determinem a realização de políticas públicas, previstas
como princípio na Constituição, ainda que sem a interposição do Poder Legislativo. Nesses casos, é suficiente a
inércia do Poder Executivo em executar aquela promessa constitucional. Sem olvidar-se das divergências teóricas,
pode-se citar como autores que defendem posturas substancialistas: Dworkin, Häberle, Alexy, Warat, Rawls.

10. O QUE É O CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO


Uadi Lammêgo Bulos define que o “constitucionalismo do porvir ou do futuro proporcionará o
aperfeiçoamento de um conjunto de ideias que foram avaliadas ao longo do tempo. Sua concepção parte da
esperança de dias melhores, numa etapa vindoura da evolução humana. Espera-se que a constituição do futuro
propicie o ponto de equilíbrio entre as concepções hauridas do constitucionalismo moderno e os excessos do
constitucionalismo contemporâneo” (BULOS, 2014, p. 97-98).
VALORES FUNDAMENTAIS QUE DEVEM NORTEAR O CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO:
a) Verdade – As Constituições não podem gerar falsas expectativas, somente devendo consagrar o que
puder ser cumprido.
b) Solidariedade – É uma nova perspectiva da igualdade: solidariedade entre os povos, dignidade da pessoa
humana e justiça social.
c) Consenso – A Constituição deverá ser fruto de consenso democrático.
d) Continuidade – As Constituições não devem ficar sofrendo reformas continuamente, como acontece
hoje. Ao se reformar a Constituição, a ruptura não pode deixar de levar em conta os avanços já conquistados.
e) Participação – Consagração da democracia participativa.
f) Integração – Criação de órgãos supranacionais que integrem os povos.
g) Universalização – Consagração de direitos fundamentais internacionais, fazendo prevalecer a dignidade
da pessoa humana universalmente, afastando a desumanização.

11. QUAIS SÃO AS FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL?


No Direito Constitucional distinguimos duas modalidades de fontes, segundo a classificação de Xifra Heras
e Biscaretti di Ruffia: as escritas e as não escritas.
As fontes escritas abrangem:
a) as leis constitucionais;
b) as leis complementares ou regulamentares - figura especial de leis ordinárias que servem de apoio à
Constituição e fazem com que numerosos preceitos constitucionais tenham aplicação;

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c) as prescrições administrativas, contidas em regulamentos e decretos, de importância para o Direito
Constitucional, desde que, recebendo a delegação de poderes, entre o governo no exercício da delegação
legislativa;
d) os regimentos das Casas do Poder Legislativo, ou do órgão máximo do Poder Judiciário;
e) os tratados internacionais, as normas de direito Canônico, a legislação estrangeira, as resoluções da
comunidade internacional pelos seus órgãos representativos, sempre que o Estado os aprovar ou reconhecer;
f) a jurisprudência, não obstante o caráter secundário que as normas aí revestem, visto que, em rigor, a
função jurisprudencial não cria Direito, senão que se limita a revelá-lo, ou seja, a declarar o direito vigente;
g) e, finalmente, a doutrina, a palavra dos tratadistas, a lição dos grandes mestres.
Quanto às fontes não escritas, são, essencialmente, duas: o costume e os usos constitucionais.
O costume forma-se quando a “prática repetida de certos atos induz uma determinada coletividade à
crença ou convicção de que esses atos são necessários ou indispensáveis. Sua importância para o Direito
Constitucional é imensa”. Os usos constitucionais compõem enfim, a segunda categoria das fontes não-escritas.
Sua relevância é maior nos países desprovidos de Constituição escrita ou que a possuem em textos sumários, a
exemplo dos EUA. (BONAVIDES).

12. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO MATERIAL?


No seu sentido formal a Constituição é o conjunto de normas que instituem e fixam as competências dos
principais órgãos do Estado, estabelecendo como serão dirigidos e por quem, além de disciplinar as interações e
controles recíprocos entre tais órgãos. Compõem a Constituição também, sob esse ponto de vista, as normas que
limitam a ação dos órgãos estatais, em benefício da preservação da esfera de autodeterminação dos indivíduos e
grupos que se encontram sob a regência desse Estatuto Político. Essas normas garantem às pessoas uma posição
fundamental ante o poder público (direitos fundamentais).
Para J.J. Gomes Canotilho, Constituição real (material) é entendida como o conjunto de forças políticas,
ideológicas e econômicas, operantes na comunidade e decisivamente condicionadoras de todo o ordenamento
jurídico.
Ressalta-se que o conceito material de Constituição, como ordem jurídica fundamental da comunidade,
abrange, hoje, na sua acepção substancial, as normas que organizam aspectos básicos da estrutura dos poderes
públicos e do exercício do poder, normas que protegem as liberdades em face do poder público e normas que
tracejam fórmulas de compromisso e de arranjos institucionais para a orientação das missões sociais do Estado,
bem como para a coordenação de interesses multifários, característicos da sociedade plural.

13. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO FORMAL?


A Constituição, em sentido formal, é o documento escrito e solene que positiva as normas jurídicas
superiores da comunidade do Estado, elaboradas por um processo constituinte específico. São constitucionais,

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assim, as normas que aparecem no Texto Magno, que resultam das fontes do direito constitucional,
independentemente do seu conteúdo. Em suma, participam do conceito da Constituição formal todas as normas
que forem tidas pelo poder constituinte originário ou de reforma como normas constitucionais, situadas no ápice
da hierarquia das normas jurídicas.
Para alguns autores, a Constituição formal não se confunde com a ideia de Constituição escrita. Nessa
perspectiva, é muito mais que isso, a Constituição formal está pautada na noção de supralegalidade (supremacia),
isto é, na ideia de Constituição prevalece sobre todo o ordenamento ordinário, mesmo o posterior a ela, porque
dotada de supralegalidade (doutrina da supremacia da Constituição). Nesses termos, a única forma de modificação
de uma Constituição formal seria por procedimentos específicos que o próprio texto da Constituição estabeleceria.

14. QUANTO À ESTABILIDADE, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?


Quanto à estabilidade, as constituições podem ser classificadas em:
a) Rígida: é aquela que necessita (requer) de procedimentos especiais, mais difíceis (específicos) para sua
modificação. Esses procedimentos são definidos na própria Constituição. Exemplo: CRFB/88.
b) Flexível: aquela que não requer procedimentos especiais para sua modificação. Exemplo: Constituição
inglesa
c) Semirrígida: aquela que contém, no seu corpo, uma parte rígida e outra flexível. Um exemplo de
constituição semirrígida é a nossa Constituição de 1824.
d) Fixa: é a Constituição que só pode ser modificada pelo mesmo poder que a criou (Poder constituinte
originário). Exemplo: Constituição espanhola de 1876.
e) Imutável: é a chamada Constituição granítica, pois não prevê nenhum tipo de processo de modificação
em seu texto.

15. QUANTO À FORMA, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?


Quanto à forma, as Constituições são classificadas em:
a) escrita: aquela elaborada de forma escrita e sistemática em um documento único, feita de uma vez só
(por meio de um processo específico ou procedimento único).
b) não escrita (consuetudinária): elaborada e produzida com documentos esparsos (de modo esparso) no
decorrer do tempo, paulatinamente desenvolvidos, de forma histórica, fruto de um longo e contínuo
processo de sedimentação e consolidação constitucional. Exemplo: Constituição inglesa.

16. E QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO?


Quanto ao modo de elaboração, classificam-se em:
a) dogmática: escrita e sistematizada em um documento que traz as ideias dominantes (dogmas) em uma
determinada sociedade num determinado período (contexto) histórico. Exemplo: CRFB/88.

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b) histórica: elaborada de forma esparsa (com documentos e costumes desenvolvidos) no decorrer do
tempo, sendo fruto de um contínuo processo de construção e sedimentação do devir histórico.
Exemplo: Constituição inglesa.

17. QUANTO À ORIGEM, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?


a) Promulgada: dotada de legitimidade popular, na medida em que o povo participa do seu processo de
elaboração, ainda que por meio de seus representantes. Para alguns autores, ela se apresenta como
sinônimo de democrática. Como exemplo, poderíamos citar as Constituições brasileiras de 1891, 1934,
1946 e 1988.
b) Outorgada: não dotada de legitimidade popular, na medida em que o povo não participa de seu
processo de feitura, nem mesmo de forma indireta. Ela também é concebida na doutrina como
sinônimo de Constituição autocrática ou mesmo ditatorial. Como exemplos, poderíamos citar as
Constituições brasileiras de 1824, 1937 e 1967.
c) Cesarista: produzida sem a participação popular (de forma direta ou mediante representantes), mas
que, posteriormente a sua elaboração, é submetida a referendum (uma verdadeira consulta
plebiscitária) popular para que o povo diga sim ou não sobre o documento. Essas constituições, sem
dúvida, se aproximam das Constituições Outorgadas (e se distanciam das Promulgadas), pois os
processos de produção (que, obviamente, conferem legitimidade ao documento constitucional) não
envolvem o povo e sim algo pronto e acabado ("receita de bolo") que, de forma não raro populista, é
submetido para digressão popular. Os exemplos desse tipo de Constituição são as Constituições de
Napoleão, na França, e de Pinochet, no Chile, entre outras.

18. E QUANTO À EXTENSÃO?


São classificadas em:
a) Analítica (prolixa): elaborada de forma extensa (formato amplo), com um cunho detalhista, na medida
em que desce a pormenores não se preocupando somente em descrever e explicitar matérias
constitucionais (tipicamente constitutivas do Estado e da sociedade). Como exemplos, podemos citar
as atuais Constituições do Brasil (1988), Portugal (1976) e Espanha (1978).
b) Sintética: elaborada de forma sucinta (resumida) e que estabelece os princípios fundamentais de
organização do Estado e da sociedade preocupando-se em desenvolver no seu bojo apenas as matérias
constitucionais típicas (Organização e estruturação do Estado e Direitos Fundamentais). Em regra são
Constituições eminentemente principiológicas.

19. QUANTO À IDEOLOGIA, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?


a) Ortodoxa: é aquela que prevê apenas um tipo de ideologia em seu texto. Exemplos
recorrentemente lembrados são as Constituições da China e da ex-União Soviética.

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b) Eclética: é aquela que traz a previsão em seu texto de mais de uma ideologia, na medida em que
pelo seu pluralismo e abertura agrupa mais de um viés (linha) ideológico. A atual Constituição
brasileira de 1988 é um exemplo.

20. O QUE SÃO CONSTITUIÇÕES ORGÂNICAS E INORGÂNICAS?


Quanto à unidade documental, as Constituições dividem-se em:
a) Constituição Orgânica: é aquela que é elaborada em um documento único, num corpo único de uma
só vez por um poder competente para tal e que contém uma articulação (interconexão) entre suas
normas (títulos, capítulos, seções).
b) Constituição Inorgânica: é aquela que não é dotada de uma unidade documental. É elaborada por
textos escritos não dotados de uma interconexão que podem ser reunidos posteriormente (e
solenemente) em um documento específico e ser intitulado de texto Constitucional. A doutrina cita
como exemplos as atuais Constituições de Israel e da Nova Zelândia.

21. QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS CONSTITUIÇÕES PRINCIPIOLÓGICAS E AS


PRECEITUAIS?
Constituição Principiológica: é aquela em que predominam os princípios (embora nela possam existir
regras) considerados normas (constitucionais) de alto grau de abstração e generalidade para boa parte dos
doutrinadores pátrios. Um exemplo seria a atual Constituição brasileira de 1988, que atualmente é entendida,
trabalhada e interpretada pelo neoconstitucionalismo como principiológica.
Constituição Preceituai: é aquela em que, embora possa conter princípios, predominam-se as regras que,
para boa doutrina nacional, possuem um baixo grau de abstração e um alto grau de determinabilidade. Um
exemplo citado é a Constituição do México de 1917.

22. QUANTO À FINALIDADE, COMO SÃO CLASSIFICADAS AS CONSTITUIÇÕES?


a) Constituição garantia, abstencionista ou negativa (Constituição-quadro): ela tem um viés no passado,
visando a garantir direitos assegurados contra possíveis ataques do Poder Público. Trata-se de
Constituição típica de Estado Liberal que se caracteriza pelo seu abstencionismo e sua atuação negativa
(de não interferência ou ingerência na sociedade).
b) Constituição Balanço: trata-se de constituição típica dos regimes socialistas (constituições de cunho
marxista). Essa constituição visa a explicitar as características da atual sociedade, trazendo parâmetros
que devem ser observados à luz da realidade econômica, política e social já existente.
c) Constituição Dirigente: tem viés de futuro. É uma constituição típica de Estado social e de seu pano de
fundo paradigmático (democracias-sociais, sobretudo do pós-Segunda Guerra Mundial). Constituições
dirigentes são planificadoras e visam a predefinir uma pauta de vida para a sociedade e estabelecer
uma ordem concreta de valores para o Estado e para a sociedade. Ou seja, programas e fins para serem

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cumpridos pelo Estado e também pela sociedade. Uma das características dessas Constituições, não
raro, é a presença de normas programáticas em seu bojo

23. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE CONSTITUIÇÃO PARA VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA?


Virgílio Afonso da Silva apresenta uma classificação que leva em conta a função ou papel desempenhado
por uma Constituição em um Estado e uma sociedade. Nesse sentido, as Constituições podem ser concebidas
como:
a) Constituição-lei: são aquelas em que a Constituição é entendida como uma norma que está no mesmo
nível das outras normas do ordenamento. Nesse caso, a Constituição não teria supremacia e nem
mesmo vinculatividade formal para com o legislador ordinário, funcionando apenas como uma diretriz
para atuação do Poder Legislativo.
b) Constituição-fundamento: essa concepção de constituição é também denominada de Constituição
total. Nessa perspectiva, "a Constituição é entendida como lei fundamental, não somente de toda a
atividade estatal e das atividades relacionadas ao Estado, mas também a lei fundamental de toda a
vida social". Nesses termos, "o legislador seria um mero intérprete da Constituição e nessa concepção
haveria para os outros ramos do direito pouco ou nenhum espaço livre (liberdade de conformação dos
outros ramos do direito estaria mitigada)".
c) Constituição-moldura: nessa concepção, a Constituição é apenas uma moldura, sem tela e sem
preenchimento. Nesses termos, caberá a jurisdição constitucional apenas a tarefa de controlar se o
legislador age dentro da moldura. Essa concepção, nos dizeres de Virgílio Afonso da Silva, pode ser
entendida como intermediária entre as duas primeiras.

24. O QUE É A CONSTITUIÇÃO DUCTIL (SUAVE) DE GUSTAVO ZAGREBELSKY?


Gustavo Zagrebelslw sustenta que "nas sociedades atuais, permeadas por determinados graus de
relativização e caracterizadas pela diversidade de projetos de vida e concepções de vida digna", o papel das
Constituições não deve consistir na realização de um projeto predeterminado de vida, cabendo-lhe apenas a tarefa
básica de "assegurar condições possíveis" para uma "vida em comum." Ou seja, a Constituição não predefine ou
impõe uma forma de vida (projeto de vida), mas sim deve criar condições para o exercício dos mais variados
projetos de vida (concepções de vida digna). Essa concepção se aproxima (embora com algumas divergências) da
concepção de Constituição defendida pela teoria discursiva do direito e da democracia de Jürgen Habermas que
trabalha justamente a perspectiva do que podemos chamar de constitucionalismo procedimental do Estado
Democrático de Direito.

25. O QUE É A CLASSIFICAÇÃO ONTOLÓGICA (OU ESSENCIALISTA) DAS CONSTITUIÇÕES


DE KARL LÕEWENSTEIN?

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Lõewenstein critica com veemência a classificação tradicional, pois não diz o que realmente é uma
constituição, na medida em que fica presa ao texto da constituição. Desse modo, propõe uma classificação que
visa a estudar o ser das Constituições (a sua essência), ou seja, o que as diferencia de qualquer outro objeto ou
ente, nos seguintes termos:
a) Constituições Normativas: são aquelas em que há uma adequação entre o texto constitucional
(conteúdo normativo) e a realidade social. Há, portanto, uma simbiose do texto constitucional com a
realidade social. Como exemplos, temos: Constituição Americana de 1787; Constituição Alemã de 1949;
Constituição francesa de 1958, entre outras.
b) Constituições Nominais: não há adequação do texto constitucional (conteúdo normativo) e a realidade
social. Na verdade, os processos de poder é que conduzem a constituição, e não o contrário (a
constituição não conduz os processos de poder). Exemplos: as Constituições brasileiras de 1934, 1946
e 1988.
c) Constituições Semânticas: são aquelas que traem o significado de Constituição (do termo Constituição).
Sem dúvida, Constituição, em sua essência, é e deve ser entendida como limitação de poder. A
Constituição semântica trai o conceito de Constituição, pois ao invés de limitar o poder, legitima
(naturaliza) práticas autoritárias de poder. A Constituição semântica vem para legitimar o poder
autoritário (sendo, portanto, Constituições tipicamente autoritárias). Exemplos: Constituições
brasileiras de 1937 (A polaca de Getúlio Vargas), 1967 e 1969 (do governo militar).

26. COMO SE CLASSIFICA A CONSTITUIÇÃO QUANTO AO PAPEL QUE EXERCE?


CONSTITUIÇÃO-LEI X CONSTITUIÇÃO-FUNDAMENTO X CONSTITUIÇÃO-MOLDURA.
a) Constituição-lei: É a constituição que simplesmente não é dotada de supremacia diante das demais leis
do ordenamento. Uma “constituição-lei” consiste em “uma lei como qualquer outra”, em uma lei de mesmo nível
hierárquico das demais leis que compõem o ordenamento.
Ora, se uma constituição não possui sequer supremacia no ordenamento, então não se chega a cogitar da
possibilidade de ela servir como guia para a aplicação do direito.
Deste modo, a função exercida pela “constituição-lei” no ordenamento é uma função meramente
indicativa; as normas constitucionais funcionam como meras diretrizes não apenas para o legislador, como,
especialmente, para o aplicador do direito, os quais não necessariamente as seguem.
O ordenamento jurídico cuja constituição funciona como constituição-lei é, assim, um ordenamento cujo
legislador ordinário possui amplo espaço para conformar o ordenamento jurídico. É que o Código Penal, por
exemplo, é aplicado diretamente (de maneira isolada) – e não apenas após ser “lido à luz da constituição” (ou seja,
o legislador do CP conforma, e muito, a ordem jurídica, eis que suas determinações são aplicadas integralmente,
diretamente!).

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b) Constituição-fundamento (ou constituição-total): É a constituição “entendida como lei fundamental,
não somente de toda a atividade estatal e das atividades relacionadas ao Estado, mas também a lei fundamental
de toda a vida social”.
De plano, veja-se que, assim, a constituição-fundamento é dotada de supremacia em relação às normas
infraconstitucionais (as normas infraconstitucionais não podem contrariar a constituição e, em um eventual
conflito, a constituição prevalecerá).
Mas não é apenas isso. O fato é que, se a constituição-fundamento é a lei fundamental de todo o
ordenamento, então, ela é utilizada como parâmetro não só para a edição de normas infraconstitucionais – como
para a própria aplicação destas (e é esse segundo fato que é o mais relevante!). Ou seja, o Código Penal é lido à
luz da constituição (ideia de interpretação conforme; ideia de filtragem constitucional).
Note-se que isso (fenômeno da filtragem constitucional) é um fenômeno muito recente, típico do
Neoconstitucionalismo: antigamente, na sala de um juiz criminal, não havia constituição, havia tão somente o
código penal.
Daí se dizer que a constituição-fundamento é dotada de “ubiquidade constitucional” (ubiquidade é o dom
de estar em todos os lugares ao mesmo tempo; o dom da onipresença; ideia de totalidade).
E daí se falar também em “direito civil constitucional”, “direito penal constitucional” etc. Corresponde ao
direito civil lido à luz da constituição, ao direito penal lido à luz da constituição. Veja-se: o direito civil,
isoladamente, pode até permitir tal coisa; mas pode ser que o direito civil constitucional não a permita (e aí, no
momento de aplicação da norma, o que prevalecerá é o direito civil constitucional – ao menos em uma perspectiva
Neoconstitucionalista! Ou seja, ao menos em um ordenamento em que a constituição funciona como constituição-
fundamento!).
Assim, o ordenamento jurídico cuja constituição funciona como constituição-fundamento é um
ordenamento cujo legislador ordinário praticamente não possui capacidade de conformação da ordem jurídica.
Obs: conforme Daniel Sarmento e Luis Roberto Barroso, atualmente, vem ocorrendo o fenômeno da
constitucionalização do direito. Ou seja, atualmente, o Direito vem sendo reformulado, vem se tornando, todo ele,
um direito constitucional (no momento de aplicação da norma, todos os ramos do direito vem sendo “lidos” à luz
da constituição). A chamada constitucionalização do direito vem ocorrendo, sobretudo, na Europa.
c) Constituição-moldura: é a constituição que, no ordenamento jurídico, funciona apenas como simples
limite mínimo para a atividade legislativa. Ou seja, ela corresponde a uma simples moldura - sem tela e sem
preenchimento.
Assim sendo, em um ordenamento em que a constituição funciona como constituição-moldura, controlar
a atuação do poder público, verificando o respeito à “moldura” instituída pela constituição, passa a ser tarefa da
jurisdição constitucional.
A ideia da constituição-moldura é antiga na doutrina alemã. Conforme sustenta tal doutrina, a constituição-
moldura se encontra em posição intermediária entre a constituição-lei e a constituição-fundamento. O legislador
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
ordinário possui média liberdade de conformação do ordenamento cuja constituição funciona como mera
constituição-moldura (possui maior espaço para conformar o ordenamento do que o legislador do ordenamento
cuja constituição funciona como constituição-fundamento; mas menor espaço do que o possuído pelo legislador
ordinário do ordenamento cuja constituição funciona como constituição-lei).
OBS: trata-se de classificação concebida por Virgílio Afonso da Silva (professor da USP), que, ao realizar
doutorado na Alemanha, trouxe diversas ideias da doutrina alemã.

27. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO PLÁSTICA?


A constituição plástica é aquela dotada de maleabilidade. Isso porque ela é maleável conforme os influxos
da realidade social (realidade política, econômica, jurisprudencial). Assim, é uma constituição cujo texto pode ser
relido, reinterpretado, à luz de novos contextos, à luz de novas realidades sociais. Por mais que o texto permaneça
o mesmo, ele vai sendo relido, reinterpretado.
Veja-se que o fenômeno em que um mesmo texto da constituição (que não sofre qualquer alteração) vem
a ser reinterpretado à luz de novas realidades sociais corresponde ao fenômeno da mutação constitucional
(chamado por alguns de Poder Constituinte difuso).
A constituição plástica pode ser compreendida, assim, aquela que se sujeita ao fenômeno da mutação
constitucional.
Note-se que o fenômeno da mutação constitucional diz respeito a tão somente reinterpretar o texto da
constituição – e não a qualquer efetiva alteração do texto constitucional (reinterpretar o texto não significa alterar
o texto; reinterpretar significa alterar a interpretação que se faz do texto).
Por essa razão, uma constituição plástica pode se constituir tanto de uma constituição rígida (para cuja
modificação se exige procedimentos especiais) como de uma constituição flexível (aquela cuja modificação não
requer procedimentos especiais). Note-se, portanto, que até mesmo uma constituição fixa, ou uma constituição
imutável, podem ser uma constituição plástica.
Nada obstante, alguns autores (minoritários), entre os quais, o Pinto Ferreira, definem a constituição
plástica do mesmo modo que tradicionalmente se define a constituição flexível (que é aquela cuja modificação
não exige procedimentos especiais). Ou seja, para tais autores (Pinto Ferreira), também a constituição plástica é
aquela cuja modificação não exige procedimentos especiais.

28. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO EM BRANCO?


É a constituição cujo texto não impõe limitações explícitas ao Poder Constituinte Derivado Reformador
(poder de reforma).
Veja-se que, assim sendo, a eventual reforma de uma constituição em branco resta adstrita à
discricionariedade do reformador. Daí o seu nome “constituição em branco” – a mesma ideia de cheque em
branco. Pode ser reformada em qualquer ponto, a qualquer tempo.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O defensor dessa concepção é Siegenthaler.
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, as Constituições fixas foram exemplos de cartas ou Constituições em branco
(BULOS, 2014, p. 107).

29. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO NOMINALISTA?


A doutrina concebe dois conceitos distintos de constituição nominalista (conceito clássico X conceito
moderno).
Conforme o conceito doutrinário clássico, nominalista é a constituição cujo texto, dotado de alta clareza
e precisão, pode ser interpretado e aplicado de maneira satisfatória pelo mero uso do método gramatical (método
literal, conforme a hermenêutica clássica). Não se verifica constituição vigente em tempos atuais que se enquadre
em tal definição (ou seja, na perspectiva tradicional do termo, constituições nominalistas são relíquias históricas!).
Em uma perspectiva moderna, nominalista é a constituição em cujas normas se nota um déficit de eficácia,
um déficit de concretização. É a constituição vigente em um contexto social em que o sistema político corrompe o
código jurídico, em que o sistema político prepondera sobre o código jurídico (“o código político corrompe o código
jurídico”!).
Veja-se, assim, que, na perspectiva moderna do termo, a constituição que é “nominalista” é, de fato, uma
constituição apenas quanto ao substantivo que a encabeça (e daí a terminologia utilizada), eis que, se o código
jurídico sucumbe ao sistema político, então, na prática, a constituição em questão não possui efetividade e
concretização suficientes para vincular condutas para a sociedade.
Assim, constituição nominalista é aquela em que se observa aquilo que Marcelo Neves (professor da USP)
denomina ”constitucionalismo simbólico” .
Veja-se: “Marcelo Neves define, negativamente, a constitucionalização simbólica em termos de déficit de
concretização jurídico-normativa do texto constitucional, que faz com que o mesmo perca sua capacidade de
orientação generalizada das expectativas normativas.”

30. O QUE É HETEROCONSTITUIÇÃO? (CONSTITUIÇÃO HETERÔNOMA).


É a constituição (elaborada e) decretada em um local diferente daquele em que irá viger.
Um exemplo é a constituição cipriota, que foi elaborada e decretada em Zurich, mediante um acordo entre
a Grã-Bretanha, a Grécia e a Turquia. Outros exemplos: a primeira constituição da Albânia; várias constituições da
Commonwealth; a constituição da Bósnia-Herzegovina, de 1995, entre outras.
À ‘heteroconstituição” opõe-se a denominada “autoconstituição” (constituição autônoma, ou
homoconstituição), que é a constituição (elaborada e) decretada no mesmo Estado em que irá viger.
Assim, constituições heterônomas são impostas por outras nações. É o que ocorreu no Japão, por exemplo,
logo após o fim de 2ª Guerra Mundial.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Registre-se, contudo, que o fato de a Constituição ter origem heterônoma nem sempre impede que, com
o tempo, seja ela legitimada pelo povo. A Constituição japonesa é amplamente reconhecida por aquela nação nos
dias atuais, não tendo sido substituída por outra, mesmo depois do fim da ocupação norte-americana. Em verdade,
a ideia de heteronomia está ligada à origem da Constituição.
Obs: não confundir a heteroconstituição com o transconstitucionalismo (Marcelo Neves).
Transconstitucionalismo refere-se à situação em que uma mesma matéria, de natureza constitucional, pertine a
ordens jurídicas distintas.

31. NO QUE CONSISTE A CONSTITUIÇÃO IDEAL?


Trata-se de concepção de José Joaquim Gomes Canotilho.
São pressupostos da constituição ideal:
a) A constituição deve ser escrita;
b) Deve conter uma enumeração de direitos fundamentais;
c) Deve adotar um sistema democrático formal (participação do povo na elaboração dos atos
legislativos);
d) Deve assegurar a limitação do poder do Estado mediante o princípio da divisão dos
poderes.´

32. QUAL A DIFERENÇA ENTRE CONSTITUIÇÕES LIBERAIS E SOCIAIS?


André Ramos Tavares refere-se a constituições liberais e sociais.
As liberais, também chamadas de negativas, impõem a omissão ou negativa de ação do estado,
preservando-se, assim, as liberdades públicas.
As constituições sociais buscam a concretização da igualdade material (e não meramente
formal), e nela são traçados expressamente os grandes objetivos que deverão nortear a atuação
governamental, razão porque são também chamadas de constituições dirigentes.

33. O QUE É CONSTITUIÇÃO INSTITUCIONALISTA, ORAL, ESTRUTURALISTA E


INSTRUMENTAL?
A) Institucionalista: “é a expressão das ideias fortes e duradouras, dos fins políticos, com vistas a cumprir
programas de ordem social” (BULOS, 2014, p. 105). Cita-se o exemplo da Constituição-balanço, em que, a cada
passo da evolução socialista, existiria a necessidade de uma nova Constituição para atender os anseios sociais.
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, essa visão lembra a acepção sociológica. Os defensores dessa concepção
são os autores do quilate de Santi Romano, Maurice Hauriou, Georges Renard e Constantino Mortatis.
B) Oral: nos dizeres de Bulos, é “aquela em que o chefe supremo de um povo reclama, de viva voz, o
conjunto de normas que deverão reger a vida em comunidade” (BULOS, 2014, p. 108).
O defensor dessa concepção é Gasnier-Duparc.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
C) Estruturalista: conforme ensinamentos de Bulos, “é o resultado das estruturas, servindo para equilibrar
as relações políticas e o processo de transformação da sociedade” (BULOS, 2014, p. 105).
Francisco Campos prega que a “constituição não seria apenas certo número de preceitos cristalizados em
artigos e parágrafos, e sim uma unidade estrutural, um conjunto orgânico e sistemático de caráter normativo sob
inspiração de um pensamento diretor” (CAMPOS, 1956, p. 63 e ss.).
A lição supra de Francisco Campos seria também uma definição da Constituição estruturalista.
O defensor dessa concepção é Spagna Musso.
D) Instrumental: para Uadi Lammêgo Bulos, “é aquela em que suas normas equivalem a leis processuais.
Seu objetivo é definir competências, para limitar a ação dos Poderes Públicos” (BULOS, 2014, p. 108).
O defensor dessa concepção é W. Hennis.
Traduz-se como sinônimo de Constituição instrumental as terminologias Constituição como Instrumento
de Governo, Constituição formal ou processual.
Por fim, segundo Uadi Lammêgo Bulos, grande parte dos constitucionalistas da atualidade não admite essa
ideia de Constituição.

34. O QUE É CONSTITUIÇÃO JURISNATURALISTA?


Constituição jurisnaturalista é a constituição advinda dos princípios do direito natural, mormente os
referentes aos direitos humanos.
Nesse sentido, Uadi Lammêgo Bulos anuncia que Constituição jurisnaturalista é a “concebida à luz dos
princípios do direito natural, principalmente no que concerne aos direitos humanos fundamentais. Quer dizer, o
habeas corpus, o mandado de segurança, o direito à intimidade, dentre tantos outros direitos fundamentais,
encontrariam sua justificativa no jurisnaturalismo” (BULOS, 2014, p. 104).
Seu defensor é Victor Cathrein.

35. CONFORME A CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL COMO PODEMOS CLASSIFICAR A


ATUAL CONSTITUIÇÃO DE 1988?
A Constituição Federal de 1988 pode ser classificada da seguinte forma: a) quanto ao conteúdo, é formal;
b) quanto à estabilidade, é rígida (para alguns autores ela é superrígida, em razão do art. 60, § 4º da CR/8866); c)
quanto à forma, é escrita; d) quanto à origem, é promulgada; e) quanto ao modo de elaboração, é dogmática; f)
quanto à extensão, é analítica; g) quanto à unidade documental, é orgânica; h) quanto à ideologia (ou à dogmática),
é eclética; i) quanto ao sistema, é principiológica; e j) quanto à finalidade, é dirigente (embora não com o dirigismo
forte de outrora atualmente relativizado por Gomes Canotilho).

36. QUAL O CONCEITO DE BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE?


Para a corrente majoritária, encampada pelo STF, bloco de constitucionalidade é composto somente pela
Constituição formal e suas normas constitucionais expressas ou implícitas que servem de parâmetro para o

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controle de constitucionalidade (emendas constitucionais e tratados de direitos humanos incorporados nos termos
do § 3º do art. 5º da CF).
Para uma corrente minoritária, o bloco de constitucionalidade deve ser entendido como o conjunto de
normas materialmente constitucionais que não fazem parte da Constituição formal (não inscritos na Constituição
formal) conjuntamente com a Constituição formal (e suas normas formalmente constitucionais além de suas
normas formal e materialmente constitucionais). Assim, fazem parte do bloco de constitucionalidade: normas
infraconstitucionais materialmente constitucionais; Costumes jurídico-constitucionais; e Jurisprudências
constitucionais.

37. QUAL O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO PARA A TEORIA DISCURSIVA DA


CONSTITUIÇÃO DE JÜRGEN HABERMAS:
Para a Teoria discursiva da democracia habermasiana, a Constituição deve ser compreendida como a
prefiguração de um sistema de direitos fundamentais que representam as condições procedimentais para a
institucionalização da democracia, nos âmbitos e nas perspectivas específicas do processo legislativo, jurisdicional
e administrativo, e que garante, ainda, espaços públicos informais de geração da vontade e das opiniões políticas.
Para Habermas, o Direito configura-se como parte de um sistema de normas positivas e obrigatórias; todavia, essa
positividade vem associada a uma pretensão de legitimidade, de modo que normas expressam uma expectativa
no sentido de preservar equitativamente a autonomia de todos os sujeitos de direito.
Habermas afirma, assim, que os indivíduos, como sujeitos de direito, devem, ao mesmo tempo, ser autores
e destinatários do Direito por eles produzidos. Daí a conclusão de que a Constituição (sistema de direitos auto-
atribuídos reciprocamente pelos membros da comunidade) consiste em condição para o exercício recíproco da
soberania popular e dos direitos fundamentais.

38. QUAIS SÃO OS SENTIDOS OU CONCEPÇÕES CLÁSSICOS DE CONSTITUIÇÃO?


Pela perspectiva clássica, temos os seguintes sentidos (ou concepções) de Constituição:
a) Sentido Sociológico (Ferdinand Lassalle): para Lassalle, a Constituição escrita (folha de papel) seria
adequada se, e somente se, correspondesse aos fatores reais de um determinado país, pois, se isto não
acontecer, conforme já citado, sucumbiria diante da Constituição real que efetivamente regularia a
sociedade. Portanto, em sentido sociológico, a Constituição é entendida como os fatores reais de poder
que regem uma sociedade.
b) Sentido Jurídico (Hans Kelsen): Kelsen pretende expurgar do universo da ciência do direito todo e
qualquer conteúdo que não possa ser reduzido ao critério de validade. A Constituição, então, nessa
perspectiva, adquire um significado exclusivamente normativo: ela se transforma no conjunto de
normas mais importantes de um Estado conforme um critério hierárquico. Kelsen traz 2 (dois) sentidos
jurídicos para a Constituição: a) Sentido lógico-jurídico: a Constituição, nesse sentido, deve ser
entendida à luz do conceito de norma fundamental; b) Sentido jurídico-positivo: é a norma superior,
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
ou seja, é a Constituição como norma superior do Ordenamento Jurídico, que dá validade a todas as
outras normas (norma constitucional propriamente dita).
c) Sentido Político (Carl Schmitt): Para Schmitt, toda a normatividade do direito deveria ser atribuída a
uma "decisão política" concreta, cuja magnitude e importância seriam responsáveis por dar forma e
unificar a vontade política existente em uma comunidade; a esse ato, designar-se-ia Constituição.
Portanto, a Constituição seria a decisão política fundamental do povo.
d) Sentido Cultural (J.H.Meirelles Teixeira): essa concepção desenvolve a premissa de que a Constituição
é produto da cultura (fato cultural), desenvolvendo a lógica de que a Constituição possui fundamentos
diversos arraigados em fatores de poder, decisões políticas do povo e normas jurídicas de dever ser
vinculantes. Surge, daí, a ideia de uma constituição total, com a junção dos aspectos econômicos,
sociológicos, políticos, jurídico-normativos, filosóficos e morais a fim de construir uma unidade para a
Constituição.

39. QUAL É A DEFINIÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE PARA J. J. GOMES CANOTILHO?


Com a ruptura em direção ao paradigma do Estado Social, denotando o esgotamento do Estado Liberal -
notadamente, de sua postura formalista e abstencionista -, iniciou-se a discussão de que a Constituição também
deveria passar por uma reestruturação, passando a assumir uma função dirigente, ampliando consideravelmente
os espaços nos quais o Poder Público passava a interferir de modo ativo na sociedade, fornecendo prestações
exigidas pelas demandas sociais que clamavam por "justiça social".
É nesse contexto que se desenvolve a doutrina de Canotilho, afirmando a importância e a necessidade de
que o Estado implemente medidas públicas que atendam às demandas sociais. A Constituição, então, passa a
desempenhar um importante papel de determinação do plano de direção e de transformação da implementação
de políticas públicas na ordem socioeconômica, não podendo mais ser compreendida como um mecanismo
jurídico-político estruturador do Estado e definidor do sistema de competências e atribuições dos órgãos.
Canotilho compreende a Constituição dirigente como um projeto de ação aberto no tempo, com os olhos
voltados para o futuro, carecendo sempre de outras providências normativas que a complemente.

40. O QUE SIGNIFICA A MORTE DA CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE, DE ACORDO COM JOSÉ


CANOTILHO?
Canotilho acabou revendo seu posicionamento, passando a afirmar, pelo menos em um primeiro
momento, a "morte" da Constituição. Nesse ponto, introduz-se a ideia de que a Constituição ou o direito como um
sistema diferenciado não poderia, por si só, operar transformações sociais que dependem de aspectos que
transcendem o seu poder regulatório.
Canotilho assume o ônus de uma ideia de Constituição metanarrativa, passando para aquilo que chamou
de constitucionalismo moralmente reflexivo. Isto é, substituir a falta de eficácia do direito revolucionário por

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
outros esquemas que privilegiem a cooperação da sociedade na transformação do status quo. Seria a adoção de
uma Constituição comprometida, responsável, para que o seu texto não se tornasse inócuo.
A interpretação que se faz da mudança no pensamento de Canotilho está no reconhecimento da
importância democrática que a Constituição deve proporcionar. Não pode ela querer estabelecer per si,
transformações sociais tão bruscas sem o devido apoio da sociedade civil. Isso não quer dizer, de forma alguma,
que se pode abandonar de vez algum caráter dirigente da Constituição, mas apenas reconhecer que existem
tarefas que demandam muito mais do que aquilo que o Direito pode oferecer.

41. QUAL O SIGNIFICADO DE CONSTITUIÇÃO PARA A TEORIA DOS SISTEMAS DE NILKLAS


LUHMANN ?
Influenciado pela sociologia estrutural e funcional de Parson e pela Teoria Autopoiética dos biólogos
Humberto Maturata e Francisco Varela, Luhmann desenvolve a Teoria dos Sistemas. Ele parte da distinção entre o
sistema e seu ambiente (entorno ou mundo circundante), sustentando que cada sistema é fechado do ponto de
vista operacional e organizado a partir de seu código. Logo, não há comunicação entre sistema e seu ambiente
(autopoiesis). Todos os acontecimentos externos são codificados e traduzidos pelo sistema a partir de sua
linguagem própria. É esse código que permitirá a organização do sistema, dotando- o de identidade e
diferenciando-o dos demais sistemas sociais.
Mas, para que isso funcione no nível da sociedade, assistiremos a determinados fenômenos que provocam
uma "irritação" mútua entre dois sistemas sociais, sendo lido por cada um, à luz de seu código - e por isso,
diferentemente. A isso, Luhmann chama de acoplamento estrutural.
É sob esse prisma que a Constituição será compreendida. Funcionalmente, então, a Constituição é o
produto de um acoplamento estrutural entre os sistemas do Direito e da Política.
A Constituição passa a ser o vetor de ordenação do código direito/não direito e, com isso, atua para a
fundação da validade do direito. Isso quer dizer que a ideia moderna de Constituição permite ao Direito a sua
autofundação, sem que tenha de apelar para elementos externos ao próprio Direito - como acontecia com a
tradição do Direito Natural. Assim, o Direito, por meio da Constituição, se fecha com relação ao seu ambiente.
Já no sistema da política, fenômeno similar acontece: a Constituição funciona como elemento legitimizador
da vontade política, justificando-a e desamarrando-a da vinculação a fundamentos éticos, religiosos. morais,
econômicos etc.

42. DO QUE TRATA A TEORIA DA SOCIEDADE ABERTA DE INTÉRPRETES DA


CONSTITUIÇÃO DE PETER HÄBERLE?
Na perspectiva de Peter Haberle, a assunção de uma perspectiva de um Estado Democrático de Direito,
bem como de uma Hermenêutica Constitucional adequada, que visa a autocompreensão da Constituição,
mostram-se como inadequadas se forem construídas (forjadas) tendo como destinatárias uma sociedade fechada
de intérpretes (relegada aos magistrados/tribunais).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O mérito de Haberle está em nos lembrar que a interpretação constitucional não pode mais ser balizada
nas atividades estatais exclusivamente, mas deve criar condições de abertura para penetração de um fluxo
interpretativo que provém da sociedade civil (hipercomplexa e plural). O juiz constitucional, adverte o autor
alemão, apesar de interprete oficial, tem sempre que ter em mente que sua interpretação tem de encontrar (na
medida do possível) correspondência com os demais intérpretes situados na sociedade aberta, o que exigirá dele
uma mudança metodológica e de postura, também, levando em conta sempre a posição e argumentos dos sujeitos
envolvidos.
Nesse sentido, a Constituição não pode ser meramente entendida como o documento escrito, pois, a rigor,
ela seria um "processo público" (aberto) "de interpretação" cotidiana do texto à luz dos contextos que permeiam
as especificidades individuais e sociais.

43. DESCREVA O CONCEITO DE FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DE


CONSTITUIÇÃO ABERTA DE KONRAD HESSE:
Para Hesse, a Constituição não deixa de ser uma norma jurídica. Porém, não é mais considerada uma norma
fechada em si mesma. Antes, está em constante diálogo com a sociedade, modificando-a e sendo também
por ela modificada. Por isso se diz que a Constituição é um sistema aberto de regras e princípios (jurídicos).
Sistema aberto porque está em constante diálogo com a sociedade.
Partindo desse ponto, reconhecerá que a Constituição deve ser compreendida como ordem jurídica
fundamental de uma sociedade, que se estrutura a partir de certos princípios fundamentais. Logo, ao se falar em
sua concretização, levantam- se exigências no sentido de: (1) fixar princípios diretores que conduzam à ideia de
unidade política e de desenvolvimento estatal; (2) fixar procedimentos capazes de solucionar controvérsias
internas à comunidade; (3) fixar uma disciplina de organização e de formação da unidade política e da atuação
estatal; e (4) criar as bases dos princípios componentes da ordem jurídica.
É, portanto, tarefa delegada ao Direito Constitucional a manutenção de sua força normativa, evitando que
questões constitucionais sejam confundidas e diluídas em questões políticas. Para tal é necessário a "vontade de
constituição" (Wille zur Verfassung).
É importante afirmar que Konrad Hesse, além da tese da força normativa da Constituição, desenvolveu,
conjuntamente, a defesa da abertura constitucional.
Nesses termos, a Constituição adequada é aquela na qual projetos alternativos de vida fossem capazes de
conviver sem sucumbirem, recebendo, portanto, a possibilidade efetiva de participarem com igualdade do jogo
democrático.

44. QUAL O SIGNIFICADO DE CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA DE MARCELO NEVES?


A constitucionalização simbólica corresponde à utilização da norma constitucional como símbolo. Isso é, o
legislador constituinte elabora o texto já com intenção de entregar somente um símbolo à sociedade. A
constituição é criada já para ser mero símbolo. Ela confirma valores sociais, mas como meio de conferir status a
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um grupo vitorioso, em detrimento de outro, perdedor, sendo irrelevantes os efeitos concretos. Diante de uma
insatisfação da sociedade, a legislação álibi aparece como uma resposta rápida e pronta do Governo. Também adia
a solução de conflitos sociais mediante compromissos dilatórios.
Anote-se: nas constituições ditatoriais também existe rol de direitos fundamentais; a diferença é que eles
ficam só no papel – não sao observados no mundo dos fatos;
Assim, para Neves, legislação simbólica é aquela elaborada com um dos três objetivos:
1) confirmar valores sociais: refere-se à vitória de determinado grupo social em relação a outro segmento
social conflitante (ex.: Lei Seca nos EUA). Dessa forma, o grupo prestigiado procura influenciar a atividade
legiferante, fazendo prevalecer os seus valores contra os do grupo adversário.
2) demonstrar capacidade de ação do Estado: tem o objetivo de assegurar confiança nos sistemas jurídico
e político. Configura-se através da chamada “legislação álibi” (são respostas para a sociedade – as quais não serão
concretizadas).
3) adiar a solução de conflitos sociais mediante compromissos dilatórios: a legislação busca conformar
partes conflitantes (lei aparentemente progressista), mas não acaba com o conflito; apenas posterga o confronto.

45. O QUE É O TRANSCONSTITUCIONALISMO (TESE DO TRANSCONSTITUCIONALISMO)?


Para Marcelo Neves, o transconstitucionalismo pode ser definido como o entrelaçamento de ordens
jurídicas diversas (estatais, transnacionais, internacionais e até mesmo supranacionais) em torno dos mesmos
problemas de natureza constitucional.
Em nossa sociedade hipercomplexa, estaríamos diante de um novo paradigma constitucional, no qual
questões jurídicas passam a ser, efetivamente, debatidas e discutidas por tribunais de ordens jurídicas diversas,
podendo apresentar soluções diversas à luz dos contextos (e percepções) em que são analisados.
O transconstitucionalismo pode ocorrer entre ordens jurídicas da mesma espécie ou de espécies diferentes,
ou mesmo entre uma pluralidade de ordens jurídicas que podem estar envolvidas simultaneamente na solução de
um caso (como exemplo, teríamos o transconstitucionalismo pluridimensional dos direitos humanos).
No tocante à ordem jurídica que deve prevalecer no caso de decisões conflitantes, Marcelo Neves, advoga
que não é possível uma imposição unilateral (de fechamento), defendendo um "diálogo constitucional" como vetor
desse novo paradigma. Nesses termos, o ponto central se traduz na questão da necessidade (cada vez mais
recorrente) que ordens jurídicas diversas, com pontos de partida diversos, dialoguem (cada dia mais) sobre
questões constitucionais comuns, que afetam ao mesmo tempo ambas as ordens. Portanto, a proposta não é da
primazia de uma ordem ou jurisdição sobre a outra (ou outras), mas, sim, a construção de uma racionalidade
transversal, que permite (viabiliza) um diálogo construtivo entre as ordens jurídicas.

46. NO TOCANTE À APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, QUAIS SÃO AS


ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE JOSÉ AFONSO DA SILVA?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
À luz da teoria de José Afonso da Silva, as normas constitucionais, no que diz respeito a sua eficácia jurídica,
seriam classificadas como:
1) Normas constitucionais de eficácia plena: reúnem todos os elementos necessários para a produção de
todos os efeitos jurídicos imediatos e possuindo aplicação direta. Exemplos: artigos 1º, 22, I; 44; 46 da CR/88.
2) Normas constitucionais de eficácia contida: nascem com eficácia plena, reúnem todos os elementos
necessários para a produção de todos os efeitos jurídicos imediatos, mas podem ter seu âmbito de eficácia
restringido, reduzido ou contido pelo legislador infraconstitucional (ordinário). Exemplos: artigos 50, incisos XIII
(sobre a regulamentação de profissões) e VIII (escusa de consciência), art. 37, 1, da CR/88.
3) Normas constitucionais de eficácia limitada: não reúnem todos os elementos necessários para a
produção de todos os efeitos jurídicos, possuindo aplicabilidade apenas indireta ou mediata. Subdividem-se em:
 Normas constitucionais de eficácia limitada de princípios institutivos: são normas constitucionais
que traçam esquemas gerais de organização e estruturação de órgãos, entidades ou instituições do
Estado. Exemplos: artigos 18 § 2°, 33 caput; 25 § 3°; 90, § 2° da CR/88.
 Normas constitucionais de eficácia limitada de princípios programáticos: traçam tarefas, fins e
programas, para cumprimento por parte dos Poderes Públicos e atualmente pela própria sociedade.
Exemplos: artigos 196; 205; 217; 218 todos da CR/88.

47. AS NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA PRODUZEM ALGUM EFEITO?


Sim, isso porque, nada obstante a necessidade de regulamentação legal, todas as normas constitucionais
têm aplicabilidade (no mínimo os efeitos positivos e negativos elas sempre terão). Com isso, elas sempre terão
uma aplicabilidade ou eficácia jurídica, mesmo sem a atuação
dos Poderes Públicos. É claro que essa aplicabilidade é indireta e mediara e a
eficácia jurídica é limitada, como já observado. Com isso, é correto afirmar que
essas normas não produzem todos os efeitos, mas produzem alguns efeitos
(como dito: o efeito positivo e o negativo).

48. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE CARLOS


AYRES BRITTO E CELSO RIBEIRO BASTOS?
Trata-se de uma classificação que envolve a vocação das normas constitucionais para atuação ou não do
legislador. Dependendo da vocação, elas serão classificadas em:
A) Normas Constitucionais de aplicação: não vão necessitar da sindicabilidade (atuação) do legislador.
Equivale, na teoria de José Afonso da Silva, às normas de eficácia plena. Porém, elas são subdivididas em duas:
 Normas Constitucionais de aplicação irregulamentáveis: não há nenhuma possibilidade de atuação
do legislador, nem se ele quiser. São normas em que "a normatividade surge e se esgota na própria
constituição". Como exemplos autores citam o artigo 2° da CR/88.

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 Normas Constitucionais de aplicação regulamentáveis: não há nenhuma possibilidade de atuação
do legislador para produzir mais efeitos, mas o legislador pode atuar.
B) Normas Constitucionais de integração: necessitam (pedem ou carecem) da atuação do legislador. Entre
elas, temos mais uma subdivisão em:
 Normas Constitucionais de integração completáveis: são aquelas que requerem uma atuação dos
Poderes Públicos para ganharem eficácia plena. Elas se equivalem às normas constitucionais de
eficácia limitada.
 Normas Constitucionais de integração restringíveis: são aquelas normas constitucionais que
requerem uma atuação para a restrição ou contenção de seus efeitos (campo de incidência).
Equivalem às normas constitucionais de eficácia contida.

49. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE MARIA


HELENA DINIZ?
Essa classificação guarda uma semelhança na sua base de fundamentação com a teoria de José Afonso da
Silva. A professora Maria Helena Diniz confirma com o mesmo nome a norma constitucional de eficácia plena.
Também trabalha com a norma constitucional de eficácia contida chamando-a de norma constitucional de eficácia
relativa restringível. E denomina a norma constitucional de eficácia limitada de norma constitucional de eficácia
relativa dependente de complementação.
Porém, acrescenta mais uma classificação para as normas constitucionais. Elas também podem ser de
eficácia absoluta. Elas são justamente as normas constitucionais imodificáveis (insuscetíveis de modificação), que
não podem ser modificadas. Exemplo: artigo 60, § 4° da CR/88, que se intitulam como cláusulas pétreas.

50. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE LUÍS


ROBERTO BARROSO?
Segundo o constitucionalista Luís Roberto Barroso, as normas constitucionais podem ser classificadas em:
a) normas constitucionais de organização: são aquelas que se direcionam aos poderes do Estado e seus
agentes, podendo obviamente repercutir ou causar impacto na esfera dos indivíduos. Elas são normas que definem
competência dos órgãos constitucionais, criam órgãos públicos e, ainda, estabelecem e regulam os processos e
procedimentos de revisão (alteração) da Constituição.
b) normas constitucionais definidoras de direitos: são as normas que envolvem, ou, pelo menos, guardam
relação com os direitos classicamente intitulados de subjetivos. Essas normas, de acordo com a posição ou
enquadramento dos cidadãos em relação às normas, se subdividem em: b.1) normas que originam situações
desfrutáveis que irão depender apenas de uma abstenção; b.2) normas que ensejam a exigibilidade de
prestações positivas do Estado; b.3) normas que agasalham interesses cuja realização (efetivação/viabilização)
dependem da produção de normas infraconstitucionais de cunho integrador.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
c) normas constitucionais programáticas: são aquelas que indicam fins a serem alcançados, bem como
estabelecem princípios ou programas de ação para os Poderes Públicos.

51. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS NA TEORIA DE UADI


LAMMÊGO BULOS ?
Uadi Lammêgo Bulos, ampliando a classificação formulada por José Afonso da Silva, afirma existir mais um
tipo de normas constitucionais. Seriam as normas constitucionais de eficácia exaurida. Como exemplo, temos as
normas constitucionais do ADCT (atos das disposições constitucionais transitórias) que já cumpriram sua função
no ordenamento jurídico, no que tange à perspectiva de regulação jurídico-temporal.

52. QUAL APLICAÇÃO DAS NORMAS PROGRAMÁTICAS?


Conforme salienta Jorge Miranda, “normas programáticas são de aplicação diferida, e não de aplicação ou
execução imediata; mais do que comandos-regras, explicitam comandos-valores. Não consentem que os cidadãos
ou quaisquer cidadãos as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos
tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime
os direitos sociais, têm mais natureza de expectativas que de verdadeiros direitos subjetivos. Aparecem, muitas
vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados.”
Exemplo: Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de
colaboração seus sistemas de ensino.
PONTO 2 - PODER CONSTITUINTE. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO. NORMAS
CONSTITUCIONAIS: HERMENÊUTICA E FILOSOFIA CONSTITUCIONAL. MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO. APLICABILIDADE E EFICÁCIA. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL.

53. QUAL É CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE?


Segundo Bernardo Gonçalves, o Poder Constituinte Originário é aquele poder ao qual incumbe criar ou
elaborar uma Constituição, alterar ou reformar uma Constituição e complementar uma Constituição. Daí os
termos Poder Constituinte Originário (criar), Poder Constituinte Derivado-Reformador (alterar), Poder Constituinte
Decorrente (complementar).
Sua origem se dá quando surgem as Constituições escritas. Certo é que ele nasce como poder no
movimento do constitucionalismo, no século XVIII, que vai inaugurar as Constituições escritas.
No tocante aos marcos teóricos, cita-se a contribuição de Emmanuel Sieyès – que escreveu o livro o que é
o Terceiro Estado?, em 1788. Sieyes separa o Poder Constituinte dos seus poderes constituídos: o Poder
Constituinte institui uma nova ordem, a Constituição, marcando nitidamente uma diferença entre o ato de criação
de uma Constituição e os atos jurídicos subsequentes - subordinando esses atos à Constituição. Portanto,
detentores e destinatários do poder teriam que respeitar o documento produzido (pactuado) por eles (pela nação,
nos termos de Sieyes), pois ambos, como já dito, eram constituídos pelo Poder Constituinte e sua a obra: a
Constituição.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
54. QUAIS SÃO OS MARCOS HISTÓRICOS DA TEORIA DO PODER CONSTITUINTE?
1º Constitucionalismo Inglês: na tradição inglesa, desconhecia-se a figura da constituição como
instrumento de limitação do poder do Monarca. Para tanto, faziam pactos cujo fundamento era assegurar seus
privilégios hereditários já fixados em "velhas leis" de direito (good old laws), que nada mais eram que um corpus
costumeiro de normas transcritas em documentos escritos. Por isso, mesmo as magnas cartas - como o caso da de
1215 - não podem ser tomadas como exemplo de constituição - nem em um sentido embrionário -, já que nunca
tiveram por objetivo a criação de uma nova ordem político-jurídica a partir de um ator abstrato (povo ou nação).
Trata-se, portanto, de instrumentos necessários à manutenção do equilíbrio dos "poderes medievais", uma vez
que apenas traduzem (revelam) o que a tradição e os costumes deixaram inscritos
2º Constitucionalismo Francês: incorpora-se a ideia de Nação como titular do Poder Constituinte, que, por
sua vez, seria capaz de criar uma nova ordem político- jurídico-social, que romperia com a tradição do Antigo
Regime, projetando-se para o futuro. A Constituição, então, surgiria do nada, rompendo com o passado de
opressão e criando uma sociedade nova, mais solidária entre cidadãos politicamente ativos
3º Constitucionalismo Americano: A partir de sua construção preambular – “We the people” -, temos a
indicação de um Poder Constituinte capaz de trazer para realidade jurídica uma Constituição que registre um
conjunto normativo protetivo: (1) da ideia de povo como autoridade política superior; (2) da subordinação do
legislativo às leis que ele mesmo produz e à Constituição; (3) de um sistema equilibrado de interação entre os
Poderes constituídos (checks and balances); e (4) de um conjunto de direitos oponíveis aos Poderes Públicos –
direitos fundamentais. Assim, mais que uma carta de intenções - um projeto para o futuro - a Constituição Norte-
Americana se mostra exercível a todos os cidadãos desde sua promulgação, dizendo a eles quais são seus direitos
fundamentais. A Constituição não é apenas um conjunto de normas, mas um corpo superior a todas as outras
normas (supremacia da Constituição).

55. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DE PODER CONSTITUINTE NOS MODELOS


JUSNATURALISTA E JUSPOSITIVISTA?
Existem duas correntes doutrinárias sobre a natureza do Poder Constituinte:
a) JUSNATURALISTAS (TOMÁS DE AQUINO): trata-se de um poder jurídico ou poder de direito, porque
precisa respeitar as normas do Direito Natural, anterior e superior ao Direito do Estado. Deriva de regra jurídica
anterior ao Estado, que é um poder natural de organizar a vida social de que dispõe o homem por ser livre. Retira
seu fundamento de validade de diploma jurídico que lhe é superior e prévio;
b) JUSPOSITIVAS (KELSEN): trata-se de um poder político ou poder de fato, buscando seu fundamento na
sociedade e não no direito; é um poder histórico, ele simplesmente existe; é uma energia ou força social, tem
natureza pré-jurídica; a polis se sobrepõe ao Estado para dizer, por ela mesma, sob que tipo de Direito,
Constituição, quer viver. É a mais aceita. Os positivistas não admitem a ideia da existência de qualquer outro direito
além daquele posto pelo Estado. No Brasil, essa é a posição predominantemente adotada.

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56. QUAL A TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE?
No tocante à titularidade do Poder Constituinte, Bernardo Gonçalves apresente as seguintes teses:
a) Concepção Clássica: corresponde ao paradigma liberal - o Poder Constituinte Originário, como criador
de um novo texto constitucional, encontrava na figura da Nação o seu titular. Tal ideia decorre da obra do Abade
Sieyès, o que é o Terceiro Estado?, e irá buscar afirmar uma identidade entre o povo e seus representantes que,
por sua vez, se reuniriam com o único propósito de formar uma Assembleia Constituinte para redação do texto
constitucional. Importante frisar que o conceito de nação acaba por envolver uma ideia de homogeneidade
cultural, linguística, econômica e política.
b) Concepção Moderna: a partir das lições de Jellineck irá conceber o titular do Poder Constituinte na figura
do Povo - como conceito jurídico -, ao invés da Nação - conceito este fortemente ligado a noções sociológicas e
antropológicas. A ideia de titularidade do "povo" incorpora feições pluralistas trazendo uma preocupação com a
tolerância e o direito à diferença.

57. QUAL A CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO?


CONCEITO: é aquele que cria uma nova ordem constitucional. É o capaz de fazer nascer uma nova
constituição, é o poder que o povo tem de escrever uma nova constituição para conduzir os seus destinos. Tem a
natureza jurídica política (pré-jurídico), não é norma é fato social, antecede a formação. A sua manifestação ocorre
em um momento de ruptura da sociedade, quando uma nova ordem constitucional precisa ser escrita. Essa ruptura
pode ser: 1) revolução , que pressupõe o uso da força, que se legitima pelas injustiças da ordem anterior, é a
tomada do poder por quem não está no poder; 2) golpe de Estado, é a tomada de poder por quem já está em
exercício de uma parcela de poder; 3) transição constitucional, ocorre quando uma colônia tem a sua
independência preparada pelo colonizador, foi o que ocorreu no Brasil, com a ruptura do regime ditatorial para
um regime democrático, por um amadurecimento político houve o surgimento de uma nova constituição.
NATUREZA JURÍDICA: a doutrina constitucional afirma uma pluralidade de teorias que buscam explicar a
natureza jurídica do Poder Constituinte Originário:
1) Poder de direito (jusnaturalismo): porque é assentado e fundamentado em um direito natural, que é
anterior e superior a qualquer direito positivo (posto). Portanto, temos aí a natureza de um poder de direito
(natural), que é inerente ao homem e a sua natureza.
2) Poder de fato (juspositivismo): que funda a si próprio (pois o direito se expressa de forma máxima na
constituição). Portanto, o Poder Constituinte originário seria uma ruptura que não é jurídica, pois rompe com a lei
máxima se impondo corno força social ou político-social (Carré de Malberg, Celso Bastos, Raul Machado Horta).
Por ter sua natureza divorciada do universo jurídico, os autores dessa linha de compreensão não se preocuparam
em realizar qualquer análise ou estudo a respeito de sua legitimidade.

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3) Natureza híbrida: como ruptura, é um poder de fato, porém na elaboração (produção) de sua obra, ele
se apresenta como poder de direito, na medida em que tem o poder de desconstituir um ordenamento
(revogando-o) e elaborar (constituir) outro, daí sua feição jurídica (Gomes Canotilho, Paulo Bonavides).

58. O QUE É O PODER CONSTITUINTE MATERIAL E FORMAL?


(a) Poder Constituinte Material: Pode ser traduzido no conjunto de forças político-sociais que vão produzir
o conteúdo de uma nova Constituição, a partir da ruptura jurídico-política. Ou seja, se traduz na ideia de direito,
fruto desse conjunto de forças político-sociais. O Poder Constituinte material será exteriorizado pelo Poder
Constituinte formal;
(b) Poder Constituinte Formal: é aquele que vai formalizar a ideia de direito construída por meio do Poder
Constituinte Material. O Poder Constituinte formal será o grupo encarregado de redigir a Constituição.

59. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO?


São características do Poder Constituinte Originário:
1) Inicial: se toda vez que surge uma nova Constituição, temos um Estado novo, então o Poder Constituinte
Originário é sempre inicial, é o marco inicial da ordem jurídica e desse Estado. Diz Canoti!ho que "o Poder
Constituinte Originário é desconstitutivo constitutivo”, ele inaugura uma nova ordem jurídica e política,
rompendo com a anterior.
2) Autônomo: só a ele cabe fixar os termos (as bases) em que a nova constituição será estabelecida e qual
o direito a ser implantado.
3) Ilimitado: quanto a esta característica, existem três teorias:
 Teoria positivista: traz a ideia de que o Poder Constituinte Originário é ilimitado e autônomo, pois
se funda nele mesmo e é ilimitado, do ponto de vista do Direito Positivo anterior. Temos aí a
natureza do Poder Constituinte como poder de fato (pois o direito se expressa de forma máxima na
constituição). Portanto, o Poder Constituinte não é jurídico. Essa tradicionalmente é a tese adotada
na doutrina nacional, apesar de hoje em dia estar, cada vez mais, sendo questionada
 Teoria Jusnaturalista: afirma que o Poder Constituinte Originário não é iilimitado, pois ele irá
guardar limite em cânones do Direito Natural, como a liberdade, igualdade, não discriminação, ou
seja, cânones do "homem em razão de ser homem" derivados da natureza humana, que são
princípios básicos do Direito Natural.
 Teoria (de tendência) Sociológica: defende que o Poder Constituinte Originário é autônomo, pois
exerce funções ilimitadas do ponto de vista do Direito Positivo anterior não estando, a princípio,
preso a nenhum direito positivo pretérito, mas guarda um limite sim no movimento revolucionário
que o alicerçou, ou seja, no movimento de ruptura que o produziu. Nesse sentido, o Poder

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Constituinte Originário guarda limite nele mesmo (na sociedade que está rompendo com o passado
e construindo algo novo).
4) Incondicionado: significa dizer que o Poder Constituinte Originário não guarda condições ou termos
prefixados para a criação da nova ordem constitucional, ou seja, ele mesmo cria as regras procedimentais para a
elaboração da nova Constituição.
5) Permanente: não se exaure com a elaboração da nova constituição. Ele continua presente ainda que em
estado de latência. Note-se que o Poder Constituinte material (povo) seria permanente e o Poder Constituinte
formal (agentes encarregados de formalizar a Constituição) não, pois iria se exaurir com a produção da
Constituição.

60. QUAIS SÃO OS LIMITES AO PCO ESTABELECIDOS SEGUNDO MARCOS


DEMOCRÁTICOS?
Em sua releitura moderna, o Poder Constituinte é assumido a partir de marcos democráticos, que trazem
para a figura do povo (noção pluralista) sua titularidade. Como consequência, passa a ser compreendido como
limitado, marcando uma inovação quanto ao pensamento anterior. Tais limitações seriam de ordem:
• Espaciais (Territoriais): vinculando o Poder Constituinte a uma base territorial determinada.
• Culturais: uma vez que o povo é o titular do Poder Constituinte, é de se esperar um condicionamento a
parti de tradições, da cultura, enfim, do pano de fundo cultural compartilhado por aquela sociedade.
• Direitos Humanos: consolidando-se a partir da segunda metade do século XX, marcando uma retomada
do pensamento jusnaturalista e uma reação ao horror do holocausto nazista, passou-se a defender uma limitação
do Poder Constituinte Originário a direitos suprapositivos, contra a deliberação majoritária, ou provenientes dos
tratados pactuados sobre direito internacional.

61. QUAIS SÃO AS CRÍTICAS DE HABERMAS AOS LIMITES CULTURAIS? NO QUE CONSISTE
A TESE DO PATRIOTISMO CONSTITUCIONAL?
A proposta de Habermas é compreender a ideia de povo para além dessa perspectiva comunitarista -
recolocando a relação entre autonomias pública e privada - por meio da noção de Patriotismo Constitucional,
originalmente cunhada por Dolf Sternberger. Nesse diapasão, o conceito de Povo deixa de ser um dado pré-político
ou extrajurídico para ser reconduzido na forma de um consenso voltado para a compatibilização e coexistência de
distintos projetos de vida boa (compatibilização de culturas).
Diante disso, faz uma crítica aos limites culturais do PCO, defendendo que o cerne do exercício do Poder
Constituinte deve se afastar da procura de um consenso em torno de valores éticos substantivos (culturais),
apostando em um consenso procedimentalista em torno de princípios universais de liberdade e igualdade. Por
isso mesmo, a noção de Patriotismo Constitucional traz à tona um conceito permanentemente aberto e sem
ligações à figura do "nacional".

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Essa conclusão, então, permite a Habermas criticar a tese moderna de que a cultura é modo de limitação
apriorística do Poder Constituinte Originário. Sem querer afirmar a necessidade de desconectarmos das amarras
culturais - o que seria impossível - a proposta é agora de compreendê-la à luz de um processo crítico de
aprendizagem, nos mostrando que, ao contrário do que pensam muitos comunitaristas, nós não somos escravos
dos valores sob o qual nascemos e fomos educados, nos possibilitando, inclusive, superar preconceitos velados
por essas tradições.

62. O QUE SÃO OS LIMITES TRANSCENDENTES, IMANENTES E HETERÔNOMOS?


Para Jorge Miranda, o Poder Constituinte Originário é subordinado a certos limites materiais ou intrínsecos,
como forma de conter a manipulação de representantes que, mesmo inseridos em um regime democrático, não
representam a maioria (garantia da soberania popular). Elenca os seguintes limites:
a) transcendentes: representados pelo direito natural e pelos direitos fundamentais, especialmente os
valores de justiça, igualdade, liberdade e dignidade da pessoa humana;
b) imanentes: são os valores políticos, inerentes à configuração do Estado e da sua soberania;
c) heterônomos: princípios de direito internacional e direitos humanos, como expressões da vontade
nacional e supranacional.

63. HÁ DIREITO ADQUIRIDO CONTRA O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO?


Os chamados direitos adquiridos ocorrem quando determinada pessoa já tenha obtido o preenchimento
de todos os requisitos normativos para obtenção de certa vantagem ou prerrogativa, mas não tenha ainda iniciado
seu desfrute. Segundo as leituras tanto modernas quanto clássicas sobre o Poder Constituinte Originário, a nova
Constituição pode eliminar o direito adquirido, já que tal Poder, supostamente, seria ilimitado e incondicionado.
Nesse sentido, Gilmar Ferreira Mendes sustenta que somente é direito o que com a nova Constituição é
compatível, o que nela retira o seu fundamento de validade. Desse modo, se o que repudiado pelo novo sistema
constitucional não há de receber status próprio de um direito, mesmo que na vigência da Constituição anterior o
detivesse.
Por isso mesmo, a jurisprudência do STF se firmou do sentido de não reconhecer a invocação de direitos
adquiridos que sejam contrários à Constituição em vigor. Desse modo, apenas o constituinte pode criar exceções
ou regras de transições, se entender como melhor tal situação.

64. A NOVA CONSTITUIÇÃO SE APLICA A ATOS PRETÉRITOS QUE PRODUZAM EFEITOS NO


FUTURO?
A Constituição, ao aplicar-se de imediato, não desfaz os efeitos passados de fatos passados (salvo se
expressamente estabelecer o contrário), mas alcança os efeitos futuros de fatos a ele anteriores (exceto se os
ressalvar de modo inequívoco). Reconhece-se assim, como típico das normas do PCO, serem elas dotadas de
eficácia retroativa mínima, já que se entende como próprio dessas normas atingir efeitos futuros de fatos

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passados. Só excepcionalmente elas terão eficácia retroativa média (alcançar pretensões vencidas anteriormente
a essas normas e não pagas) ou máxima (alcançar fatos consumados no passado).

65. QUAL O MOMENTO EM QUE OCORRE A POSITIVAÇÃO DO PODER CONSTITUINTE


ORIGINÁRIO?
O momento da POSITIVAÇÃO ocorre quando a nova Constituição deixa de ser um PROJETO DE
CONSTITUIÇÃO e passa a ser uma nova constituição. A positivação pode ser por: 1) OUTORGA (ato de força do
poder totalitário); 2) PROMULGAÇÃO (último ato da assembleia constituinte) ou 3) REFERENDO (aprovação
posterior pelo povo).

66. O QUE ACONTECE COM A ORDEM JURÍDICA ANTERIOR?


A ordem jurídica anterior permanece vigente, aplicando-se o fenômeno da recepção. Pela teoria da
recepção das leis de Hans Kelsen, as normas infraconstitucionais anteriores à Constituição que forem com ela
materialmente compatíveis serão recepcionadas. Desse modo, o requisito básico para que haja a recepção é
justamente o da não contrariedade, ou seja, a não contrariedade das normas infraconstitucionais anteriores
(existentes sobre a base da Constituição anterior) para com a nova Constituição.
Registra-se que não se exige a compatibilidade formal, hipótese em que a lei será recepcionada com o
status previsto na nova Constituição (ex.: o CTN foi recepcionado com status de LC).

67. O QUE É O PRINCÍPIO DA CONTEMPORANEIDADE?


O princípio da contemporaneidade institui que o Judiciário, ao fazer a análise da recepção, terá que verificar
também, se a lei que pretende ser recebida era compatível com a Constituição sob cuja regência foi editada. Nesse
passo, sustenta-se que a lei que nasceu maculada, ou seja, que possui vício congênito, insanável é impossível de
ser corrigida pelo fenômeno da recepção (tese da impossibilidade da constitucionalidade superveniente).

68. QUAIS OS REQUISITOS PARA A RECEPÇÃO DA LEI ANTERIOR À NOVA CONSTITUIÇÃO?


Para uma lei ser recebida ela precisa preencher os seguintes requisitos:
 Estar em vigor no momento do advento de uma nova Constituição;
 Não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento anterior;
 Ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência ela foi editada (no
ordenamento anterior);
 Ter compatibilidade somente material com a nova Constituição (pouco importando a
compatibilidade formal).

69. O QUE ACONTECERIA COM UMA LEI PRODUZIDA POR UM ENTE DA FEDERAÇÃO NO
REGIME CONSTITUCIONAL ANTERIOR SE, COM NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL, A
MESMA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA FOSSE TRANSFERIDA PARA OUTRO ENTE?

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Gilmar Ferreira Mendes ensina que "não há que se cogitar de uma federalização de normas estaduais ou
municipais, por força de alteração na regra de competência". Por isso sustenta que se o tema era antes da
competência, por exemplo, dos Municípios e se torna assunto de competência federal com a nova Carta, não
haveria como aceitar que permanecessem em vigor como se leis federais fossem - até por uma impossibilidade
prática de se federalizar simultaneamente tantas leis, acaso não coincidentes.
Já Barroso defende que as Leis Estaduais/Municipais devem ser recepcionadas, valendo apenas em seus
Estados, até que venha uma Lei Federal e as revogue em bloco; por melhor garantia da segurança jurídica; do que
não as recepcionar.
Por seu turno, o entendimento é pela manutenção da lei federal no caso de alteração da competência para
as legislaturas estaduais e municipais. Nesse caso, admite-se que as leis seriam municipalizadas ou estadualizadas.

70. O QUE É A TESE DA DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO? O NOSSO ORDENAMENTO


JURÍDICO ADMITE?
A desconstitucionalização se traduz no fenômeno da dinâmica constitucional em que normas de uma
Constituição anterior (Constituição revogada) são recepcionadas pelo novo ordenamento constitucional (pela nova
Constituição), porém com o status de normas infraconstitucionais.
Esse fenômeno não ocorreu no Brasil com o advento da nova Constituição de 1988 em relação a normas
da Constituição de 1967-69, porque não houve previsão nesse sentido pelo constituinte originário. Porém, certo é
que a desconstltucionalização já existiu na Constituição paulista de 1967, que no seu art. 147 dispôs
expressamente que as normas da Constituição paulista de 1947 que não contrariassem a nova Constituição seriam
recepcionadas como normas infraconstitucionais sob a égide do novo ordenamento.

71. O QUE É O FENÔMENO DA RECEPÇÃO MATERIAL DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS?


ISSO OCORREU NA CONSTITUIÇÃO DE 1988?
Esse fenômeno da dinâmica constitucional consiste na possibilidade de normas de uma constituição
anterior serem recepcionadas pelo novo ordenamento constitucional (pela nova constituição) ainda como normas
constitucionais (com o status de normas constitucionais). Nesse caso, os requisitos seriam: a) não contrariedade
com as normas da nova constituição; b) disposição expressa do Poder Constituinte originário; e) prazo
determinado (caráter precário e excepcional).
Como exemplo desse fenômeno, temos o art. 34 do ADCT da CR/88, que mantinha vigentes as normas do
sistema tributário da Constituição de 1967 até a entrada em vigor daquele previsto na CF/88 (que entrou em vigor
a partir do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da Constituição).

72. O NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO ADMITE O FENÔMENO DA


INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE?
Primeiramente, é preciso salientar que o fenômeno da inconstitucionalização superveniente possui duas
acepções, a tradicional e a moderna:

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
a) acepção tradicional: significa que a lei ou ato normativo impugnado por meio de ADI deve ser posterior
ao texto da CF/88 invocado como parâmetro. Assim, se a lei ou ato normativo for anterior à CF/88 e com ela
incompatível, não se pode dizer que há uma inconstitucionalidade. Nesse caso, o que existe é a não-recepção da
lei pela Constituição atual. A questão, então, não seria de inconstitucionalidade, mas de direito intertemporal
(recepção ou não recepção). Essa acepção não é admitida pelo STF (ADI 02/DF)
b) acepção moderna: relaciona-se com o fenômeno do processo de inconstitucionalização. Significa que
uma lei ou ato normativo que foi considerado constitucional pelo STF pode, com o tempo e as mudanças
verificadas no cenário jurídico, político, econômico e social do país, tornar-se inconstitucional em um novo exame
do tema. Assim, inconstitucionalidade superveniente, nesse sentido, ocorre quando a lei (ou ato normativo) torna-
se inconstitucional com o passar do tempo e as mudanças ocorridas na sociedade. Não há aqui uma sucessão de
Constituições. A lei era harmônica com a atual CF e, com o tempo, torna-se incompatível com o mesmo Texto
Constitucional. Essa acepção é admitida pelo STF (ADI 3937/SP).

73. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR?


As constituições obedecem ao princípio da IMUTABILIDADE RELATIVA, ou seja, não são eternas, mas, por
outro lado, não podem ser modificadas de forma contumaz. O poder constituinte derivado reformador, chamado
por alguns de competência reformadora, tem a capacidade de modificar a Constituição Federal, por meio de um
procedimento específico, estabelecido pelo originário, sem que haja uma verdadeira revolução. O poder de
reforma constitucional, assim, tem natureza jurídica, é poder instituído, limitado, condicionado juridicamente, de
2º grau, ao contrário do originário, que é um poder de fato, um poder político, ou, segundo alguns, uma força ou
energia social. Essas modificações não podem ferir o espírito da constituição, só quem pode fazer isso é o poder
originário, mediante um processo de ruptura.
Suas características relacionam-se mais aos mecanismos formais de alteração:
a) Derivado: decorre do poder constituinte originário e da constituição;
b) Subordinado: hierarquicamente em plano inferior, ou seja, está abaixo do poder constituinte originário;
c) Condicionado ou Limitado: só pode ser exercitado nos casos previstos pelo poder constituinte originário,
que estabelece regras que determinam a contenção do seu exercício. É o poder para alterar uma ordem
constitucional pré-existente; além das limitações metajurídicas, terá também limitações jurídicas.

74. QUAIS AS ESPÉCIES DE MECANISMOS DE ALTERAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO?


MECANISMOS DE ALTERAÇÃO FORMAIS: ou seja, com alteração de texto:
a) Emenda – será uma revisão pontual;
b) Revisão – será uma revisão total;
c) Tratados equivalentes à emenda (EC/45);

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MECANISMOS DE ALTERAÇÃO INFORMAIS (Poder Constituinte Difuso) – são as que modificam a CF sem
alterar o seu texto; ocorrem por meio de: interpretação evolutiva, jurisprudência, doutrina, aplicação de conceitos
jurídicos indeterminados. A isso se dá o nome de MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL, por meio da qual são atribuídos
novos sentidos, novos conteúdos, novas visões até então não ressaltados à letra da Constituição. Neste ponto,
destaca-se o que parte da doutrina chama de “Poder Constituinte Difuso”.

75. QUAIS SÃO AS LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REFORMA DA


CONSTITUIÇÃO?
Segundo a doutrina majoritária, a reforma é um gênero que apresenta duas espécies: a Revisão (reforma
geral ou global do texto) e as Emendas (reformas pontuais do texto). Quanto aos limites ao Poder Constituinte
Derivado de Reforma, citam-se os seguintes:
 Temporais: representam uma determinação feita pelo próprio Poder Constituinte Originário no
sentido de proibir ou impedir as manifestações do Poder Constituinte de Reforma em um
determinado lapso temporal. Foi imposto na Constituição do Império de 1824 e também na CF/88
para o exercício do poder constituinte derivado de revisão que só poderia ser realizada após cinco
anos de promulgação da Constituição (art. 3° do ADCT);
 Circunstanciais: por determinação do Poder Constituinte Originário, o texto constitucional pode
trazer uma vedação para alterações em períodos de agitação política extrema, seja em razão de
fatores naturais (catástrofes), seja sociais (golpes, guerra civil ou externa), ou seja, situações de
desequilíbrio ou eclosão social. A Constituição de 1988, em seu artigo 60, § 10, estabelece limites
circunstanciais ao PCD na vigência de intervenção federal, de estado de sítio ou de estado de defesa.
 Formais ou Procedimentais: por determinação do Poder Constituinte Originário, o texto
constitucional consagra um procedimento próprio para que se opere as alterações em seu texto.
No texto constitucional atual tal procedimento está disciplinado para a reforma via emendas no
artigo 60, quais sejam: iniciativa para a apresentação de PECs, turnos de votação e quórum, forma
de promulgação e forma de reapresentação se rejeitada a modificação.
 Limitações Substantivas ou Materiais: são identificadas ou como normas que impossibilitam a
inserção de matérias na Constituição (limites materiais de cunho inferior) ou como normas que
impedem a supressão (abolição) de determinados temas ou matérias estabelecidas em um texto
constitucional (limites materiais de cunho superior). Na Constituição de 1988, esses limites estão
definidos no art. 60, § 4°, que afirma que não será objeto de proposta de emenda constitucional
matéria tendente a abolir: a forma federativa; o voto direto, secreto, universal e periódico; a
separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. As cláusulas pétreas também são
entendidas e denominadas como limites materiais explícitos ao poder reformador. Porém, estas

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não são as únicas limitações materiais (de cunho superior) existentes, tendo a doutrina
desenvolvido a tese da existência, também, de limites materiais implícitos ao poder reformador.

76. QUAIS SÃO OS LIMITES MATERIAIS IMPLÍCITOS AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO


REFORMADOR?
São limites materiais que dizem respeito a determinadas matérias que, embora não estejam literalmente
impedidas de serem abolidas, nos termos expressos do art. 60 § 4° da CR/88, podem ser consideradas como
matérias que também não podem ser suprimidas (abolidas), sob pena de ferir de morte o sistema constitucional
e o seu núcleo essencial engendrado pelo Poder Constituinte Originário. Nesses termos, pode-se citar:
 impossibilidade de revogação dos limites materiais explícitos, art. 60, parágrafo 4º, da CR/88
(vedação da dupla reforma)
 impossibilidade de modificação dos titulares do Poder Constituinte Derivado e do processo
(procedimento) de reforma da Constituição.
 impossibilidade de revogação (supressão) dos princípios fundamentais da República Federativa do
Brasil presentes nos art. I º ao 4° da CR/88. Parte da doutrina entende que, qualquer supressão de
normas atinentes aos fundamentos da RFB (como por exemplo: a soberania, a dignidade da pessoa
humana, ou mesmo a cidadania ou o pluralismo político), restaria por deturpar (deteriorar) o
sistema constitucional e sua intangibilidade.
 Impossibilidade de alteração da forma e do sistema de governo, em razão do resultado do plebiscito
do art. 2º ADCT.

77. OS LIMITES MATERIAS EXPLÍCITOS (CLÁUSULAS PÉTREAS) SÃO ABSOLUTOS?


Para Gilmar Mendes, a estrutura das cláusulas pétreas é mais principiológica do que redacional. Dessa feita,
não é a alteração de sua redação que se mostra vedada pelo Constituinte Originário, mas a desnaturação de seu
núcleo essencial, ou seja, os "bens constitucionais" que ela pretende preservar intocado. Logo, não haveria
qualquer problema em alterar seu texto ou mesmo uma mudança de sua disciplina, mas sim na situação de
supressão ou aniquilação, desfigurando-se a obra do Constituinte Originário. Assim, fica claro que a corrente
majoritária entende que as matérias constantes no art. 60 § 4° da CR/88 não são limites absolutos e podem ser
modificadas (alteradas) desde que sejam para sofisticá-las, porém o que não pode ocorrer é sua supressão,
descaracterizando o núcleo essencial desenvolvido e explicitado pelo Poder Constituinte Originário.

78. O CONTEÚDO DAS CLÁUSULAS PÉTREAS ABRANGE APENAS OUS DIREITOS


INDIVIDUAIS OU ALCANÇA OUTROS DIREITOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NA CF?
Quanto ao conteúdo das cláusulas pétreas, ainda há polêmica em se definir se, além dos direitos individuais
(expressamente determinados no art. 60, § 40), também haveria igual proteção aos outros direitos fundamentais.
O STF, contudo, vem entendendo que as limitações materiais do art. 60 § 4° IV não são apenas aos direitos

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
individuais previstos no art. 5°, mas alcançam outros direitos fundamentais individuais alocados na constituição
(no percorrer da Constituição). Nesse sentido, temos como precedentes: c.1) ADI n° 939 (reconhecimento do
princípio da anterioridade tributária do art. 150, Ili, b, da CR/88); c.2) ADI n° 3.685 (princípio da anterioridade
eleitoral do art. 16 da CR/88); c.3) ADI n° 3.105 (princípio da isonomia tributária do art. 150, li, da CR/88).
No que tange aos direitos sociais, a questão é ainda mais dissonante. Uma corrente advoga que, uma vez
não havendo inclusão expressa pelo Constituinte Originário, dever-se- ia assumir o entendimento que optou pela
ausência de proteção especial. Corrente contrária, por sua vez, compreende que não pode haver a exclusão dos
direitos sociais do rol de cláusulas pétreas, isso porque, se assumirmos uma compreensão do princípio da
dignidade da pessoa humana como fundamento da República, não podemos tomá-la como satisfeita, apartada do
valor social do trabalho, da construção de uma sociedade justa e solidária, da erradicação da pobreza e da
marginalização e da redução das desigualdades sociais. O STF, embora tenha pronunciamentos esparsos e
indiretos (vide ADI nº 1946), não se manifestou, ainda, de forma conclusiva sobre o tema.

79. O ROL DAS CLÁUSULAS PÉTREAS PODE SER AMPLIADO?


Sobre o assunto, existem duas correntes:
a) corrente contrária (Gilmar Mendes): as cláusulas pétreas "fundamentam uma superioridade do poder
constituinte originário sobre o de reforma" e, assim, só o poder Constituinte Originário teria o condão de limitar o
derivado, e não o contrário. Defende a tese de que os direitos fundamentais ampliados por obra de emendas
constitucionais não se tornariam cláusulas pétreas (limites materiais) para o próprio poder constituinte derivado
que os criou, podendo ser futuramente suprimidos.
b) corrente favorável (Bernardo Gonçalves): sustenta que novos direitos fundamentais que ampliem o rol
protetivo intangível de limites materiais à reforma da Constituição não pode ser usurpado sob o fundamento de
que foi criado mediante emenda constitucional, na medida em que direitos fundamentais que se relacionam
obviamente ao exercício da dignidade da pessoa humana não podem ser objeto de flutuações momentâneas
majoritárias, que permitam a supressão de direitos afirmados constitucionalmente, ainda que por obra do Poder
Constituinte derivado.

80. O PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REVISÃO POSSUI LIMITES DISTINTOS?


Pela dicção do art. 3º do ADCT da CF/88, o Poder Constituinte derivado reformador de revisão foi dotado
de limites formais e um limite temporal. Nesse sentido, a revisão seria realizada após cinco anos de promulgação
da Constituição (limite temporal) em Sessão unicameral e com um quórum de maioria absoluta para aprovação
das chamadas "emendas de revisão" (limites formais em relação à forma de tramitação e ao quórum de
aprovação).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Contudo, nos termos da AI (MC) n° 918 e à luz de uma interpretação sistemática da Constituição o próprio
STF deixou assente que as modificações derivadas da revisão constitucional também estariam sujeitas aos limites
materiais previstos nas cláusulas pétreas estabelecidas no art. 60 § 4° da CR/88.

81. É POSSÍVEL UMA NOVA REVISÃO CONSTITUCIONAL?


Segundo o entendimento majoritário, não é possível uma nova manifestação do Poder Constituinte
derivado reformador de revisão , pois o texto do ADCT só estabeleceu a previsão de uma revisão constitucional.
Quanto à possibilidade de uma emenda constitucional para deflagrar uma nova revisão, há duas correntes
que vão se contrapor: a) os que entendem ser possível uma emenda constitucional propiciar uma nova revisão; b)
e os que entendem que não há essa possibilidade, na medida em que iria contrariar a vontade inicial do Poder
Constituinte Originário, se traduzindo em um verdadeiro golpe (fraude ao PCO).

82. O DIREITO ADQUIRIDO É OPONÍVEL CONTRA O PODER CONSTITUINTE


REFORMADOR?
Sobre o assunto, há duas correntes colidentes:
a) primeira corrente: defende que o direito adquirido não é oponível ao Poder Constituinte Reformador,
fundamentando que a origem do instituto do direito adquirido demonstra que seu destinatário é o Legislador
Ordinário, e nunca o Poder Constituinte, seja qual for sua modalidade. Reforça-se tal argumento invocando a
literalidade do art. 5°, XXXVI, que traz que "a lei" não poderá prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada.
b) segunda corrente (majoritária): argumenta que a garantia do direito adquirido foi concebida também
contra o constituinte de reforma, não podendo ser suprimida. Para essa corrente, o vocábulo "lei" previsto no art.
5ª, XXXVI não poderia ser tomada em seu sentido literal, mas interpretado de maneira adequada, como
abrangente de todo instrumento normativo, o que inclui as emendas à Constituição. O STF posicionou-se nesse
sentido no MS 24.875, resguardado o direito adquirido a percepção de remuneração acima do teto previsto na EC
41/2003, com fundamento no princípio da irredutibilidade dos vencimentos.

83. NO QUE CONSISTE O CHAMADO PODER CONSTITUINTE DIFUSO?


Mutação constitucional ou Poder Constituinte Difuso é um processo informal de mudança da Constituição,
alterando-se o seu sentido interpretativo, e não o seu texto, que permanece intacto e com a mesma literalidade.
De modo informal e espontâneo, como verdadeiro poder de fato, e que decorre dos fatores sociais, políticos e
econômicos, encontrando-se em estado de latência.

84. NO QUE CONSISTE A CHAMADA MUTAÇÃO INCONSTITUCIONAL?


A mutação e a nova interpretação não poderão macular os princípios estruturantes da Constituição, sob
pena de se caracterizar inaceitável interpretação inconstitucional e, portanto, combatida mutação
inconstitucional.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
(artigo 102, § 2o., CF) – as decisões definitivas de mérito admitem efeito vinculante, mas, por meio de
decisão do STF admitiu-se o efeito vinculante da decisão liminar, com nítida ofensa à literalidade da constituição;
dizer que a liminar tem efeito vinculante viola-se a literalidade da CF, sem mudar o texto.

85. HÁ LIMITES PARA A MUTAÇÃO?


Sim, citam-se os seguintes limites:
a) o próprio texto da Constituição: não se admitem interpretações que contrariem o texto constitucional,
porque seria admitir que a realidade se impusesse sobre a Constituição, quando é o contrário que se busca: a
Constituição guiar a realidade social. As possibilidades semânticas que o texto comporta são o limite;
b) a identidade da Constituição: o Poder Constituinte Reformador serve para adaptar a Constituição a uma
nova realidade e para a correção de erros de prognose do constituinte originário (quando faz apostas que não se
concretizam). Então se as funções são essas, ele não pode substituir o núcleo de identidade da Constituição, o que
é prerrogativa do Poder Constituinte Originário.

86. QUAIS OS INSTRUMENTOS DE MUTAÇÃO?


a) Interpretação judicial: ex. foro por prerrogativa de função dos ex-detentores de cargos públicos. A CF
silencia. Primeiro, o STF dizia que continuava o foro mesmo após o fim do exercício do cargo (Súmula 394). Depois,
viu-se que o STF estava assoberbado de processos, o que motivou a mudança do entendimento e o cancelamento
da Súmula.
b) Interpretação administrativa: a Res. n. 7 do CNJ proibiu o nepotismo no Poder Judiciário e conferiu uma
nova interpretação ao princípio da impessoalidade. O CNJ exerce atividade administrativa, embora integre a
estrutura do Poder Judiciário. A tese que até então prevalecia era que não seria possível vedar o nepotismo apenas
com base na aplicação direta do princípio da impessoalidade; seria necessário lei formal. Com a Res. n. 7, o CNJ
proibiu o nepotismo. A AMB ajuizou ADI e o STF confirmou a Res. n. 7, dizendo que a vedação ao nepotismo já
decorria dos princípios da moralidade e da impessoalidade, de modo que a Res. n. 7 não seria uma inovação,
apenas veio explicitar uma interpretação do texto constitucional;
c) Interpretação legislativa: Lei n. 11.301/2006 mudou a interpretação do STF sobre aposentadoria especial
dos Diretores de Escola. O STF tinha entendimento restritivo que só contava para a aposentadoria especial
atividade docente; excluía o professor que exercia atividade administrativa, como Diretor. Essa Lei trouxe uma
nova interpretação, prevendo que também os Diretores poderiam contar tempo para aposentadoria especial e o
STF a declarou constitucional.

87. O QUE SE ENTENDE POR DECISÃO MANIPULATIVA?


As decisões “MANIPULADORAS” ou “MANIPULATIVAS” seriam aquelas decisões em que a Corte
Constitucional não se limita a declarar a inconstitucionalidade de determinada norma, agindo como uma espécie
de legislador positivo, modificando o ordenamento jurídico, ao adicionar ou substituir normas, a pretexto de

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conformá-lo à Constituição. Como SUBESPÉCIES das decisões “manipuladoras” ou “normativas”, são elencadas as
sentenças “aditivas” e “substitutivas”.
Nas “ADITIVAS (“MODIFICATIVAS”), a decisão reconhece a inconstitucionalidade de um dispositivo,
justamente na parte que não expressa determinada norma, que seria exigível conter para ser compatível com a
Constituição. Via de regra, essa espécie de decisão decorre da aplicação do princípio da igualdade, onde a Corte
cria uma norma autônoma, estendendo a outras pessoas o benefício antes concedido apenas a certa parcela de
indivíduos expressamente consignados pela norma objeto de julgamento.
Quanto às sentenças “SUBSTITUTIVAS”, ensinam Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e
Paulo Gustavo Gonet Branco: “assim se consideram aquelas decisões em que a Corte declara a
inconstitucionalidade de um preceito na parte em que expressa certa norma em lugar de outra, substancialmente
distinta, que dele deveria constar para que fosse compatível com a Constituição. Atuando dessa forma, a Corte
não apenas anula a norma impugnada, como também a substitui por outra, essencialmente diferente, criada pelo
próprio tribunal, o que implica a produção heterônoma de atos legislativos”.

88. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES, CARACTERES E LIMITAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE


(DERIVADO) DECORRENTE?
O Poder Constituinte Decorrente representa a possibilidade que os Estados-membros, como consequência
da autonomia político-administrativa garantida constitucionalmente, têm de se auto-organizarem por meio de
suas respectivas Constituições estaduais.
Subdivide-se em Poder Decorrente Instituidor (que cria a Constituição Estadual) e Poder Decorrente
Reformador (também chamado anômalo, tem a finalidade de reformar a Constituição Estadual).
Classifica-se como um poder derivado, subordinado e condicionado. Para tanto, devem obedecer às
normas fixadas (limites) na Constituição da República, quais sejam:
 Princípios constitucionais sensíveis: são verdadeiros pontos de equilíbrio para a estabilidade das
instituições da federação. Estão previstos no an. 34, VII, da Constituição de 1988 (forma republicana,
sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal;
prestação de contas da administração pública direta e indireta; e aplicação do mínimo exigido da
receita resultante de impostos estaduais). Seu descumprimento pelos Estados-membros autoriza a
sanção política de intervenção federal.
 Princípios federais extensíveis: são as normas centrais comuns à União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, de observância obrigatória (obviamente também aos Estados) e que percorrem toda a
Constituição (art. 1°, 1 a V; art. 3°, 1 a IV; art. 4°, 1 a X; art. 5°; art. 6° a n; art. 14).
 Princípios constitucionais estabelecidos: são normas espalhadas pelo texto constitucional, que
limitam, vedam, ou proíbem a ação indiscriminada do Poder Constituinte Decorrente. Por isso
mesmo, funcionam como balizas reguladoras da capacidade de auto-organização dos Estados.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Subdividem-se em normas competência (art. 21; art. 22; art. 23 a 25; art. 27, § 3°; art. 30; art. 75;
art. 96, I, a-f, II, a-d, III; art. 98, I e II; art. 125, § 4°; art. 144, § 4º a 6°; art. 145, I a III; art. 155, 1, a-c,
11) e normas de preordenação (art. 27 e 28; art. 37, I a XXI, §§ lº a 6°; art. 39 a 41; art. 42, §§ lº a
11; art. 75; art. 95, 1 a III, parágrafo único; art. 235, I a Xl).

89. O QUE SÃO OS LIMITES VEDATÓRIOS, MANDATÓRIOS, INERENTES E DECORRENTES?


Uadi Lammêgo Bulos subdivide os princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios) em três tipos:
a) limites explícitos vedatórios: proíbem os Estados de praticar atos ou procedimentos contrários ao fixado
pelo poder constituinte originário - exs.: arts. 19, 35, 150, 152, ou limites explícitos mandatórios: restrições à
liberdade de organização - exs.: arts. 18, § 4º, 29, 31, § 1º, 37 a 42, 92 a 96, 98, 99, 125, § 2º, 127 a 130, 132, 134,
135, 144, IV e V, §§ 4º a 7º;
b) limites inerentes: implícitos ou tácitos, vedam qualquer possibilidade de invasão de competência por
parte dos Estados-Membros;
c) limites decorrentes: decorrem de disposições expressas. Exs.: necessidade de observância do princípio
federativo, do Estado Democrático de Direito, do princípio republicano (art. 1º, caput); da dignidade da pessoa
humana (art. 1.º, III); da igualdade (art. 5º, caput); da legalidade (art. 5º, II); da moralidade (art. 37), do combate a
desigualdades regionais (art. 43) etc.;

90. EXISTE PODER CONSTITUINTE DECORRENTE DOS MUNICÍPIOS? A LEI ORGÂNICA


SERIA UMA CONSTITUIÇÃO?
A corrente majoritária entende que não há nos municípios poder constituinte decorrente, sendo somente
afeto aos Estados-membros. Nesse sentido, os fundamentos seriam: a) interpretação literal de que a CR/88 não
dispôs literalmente sobre uma Constituição para os municípios; b) fundamento de que as Leis orgânicas são
subordinadas às Constituições Estaduais e à Constituição da República, nos termos do art. 29 da CR/88, e não
poderíamos ter um poder constituinte decorrente de um poder constituinte que já é decorrente (presente nos
Estados-membros).

91. O DISTRITO FEDERAL POSSUI PODER CONSTITUINTE DECORRENTE?


Há uma divergência no que diz respeito à Lei Orgânica do Distrito Federal. Nesses termos: a) Para autores
como Uadi Lâmmego Bulos, o DF também não é dotado de poder constituinte decorrente. b) Para autores como
Dirley da Cunha Júnior, entre outros, existe no Distrito Federal um poder constituinte decorrente, sendo a LODF
uma verdadeira Constituição no âmbito do DF.
Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal (Reclamação n° 3.436 e ADI n° 1167/DF) decidiu que a Lei
Orgânica do DF é uma manifestação do poder constitucional decorrente que possui o mesmo status jurídico
ostentado pelas Constituições estaduais.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Assim, como o Distrito Federal tem competência legislativa tanto de estado quanto de município, cabe
controle concentrado pelo STF a depender da natureza da norma elaborada. Se a lei ou ato normativo tiver
natureza estadual, é possível esse controle. Caso seja de natureza municipal, incabível ação direta de
inconstitucionalidade para impugná-la.
Se o questionamento da lei ou ato normativo distrital é frente à Lei Orgânica do Distrito Federal, que
corresponde à sua constituição estadual, a competência para julgar ou processar a ADI distrital é do TJDFT.

92. OS TERRITÓRIOS FEDERAIS POSSUEM PODER CONSTITUINTE DERIVADO


DECORRENTE? NÃO.
Não. Os Territórios Federais, de acordo com o art. 18, § 2º, integram a União, não se falando em autonomia
federativa, e, portanto, não se cogitando em manifestação de poder constituinte derivado decorrente. Trata-se de
descentralização administrativo-territorial da União, com natureza jurídica de autarquia federal.

93. QUAL A DIFERENÇA ENTRE HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO?


Quanto à origem etimológica, a palavra 'hermenêutica' tem sua origem, simultaneamente, no verbo grego
hermeneuein e no substantivo grego hermeneia, que são traduzidos comumente como "interpretação", ou seja,
tornar algo compreensível ou conduzir algo à compreensão. Por vez, a palavra 'interpretação' vai surgir como sua
correspondente latina, vinda do substantivo interpres, que designava a pessoa capaz de descobrir ou prever
acontecimentos futuros pelo exame das entranhas de sua vítima.
Embora alguns manuais reduzam o significado de ambos os termos a sinônimos, é possível identificar que
a Hermenêutica desenvolveu-se até alcançar uma nova perspectiva, muito mais ampla e complexa, qual seja a de
uma ou um conjunto de teorias voltadas para a interpretação de algo, não apenas de um texto escrito, mas de
tudo o qual se possa atribuir sentido e significado.

94. QUAIS SÃO OS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA HERMENÊUTICA CLÁSSICA?


O ponto de partida da Hermenêutica foi de uma disciplina instrumental, ou seja, como uma ferramenta
que permite o acesso do leitor ora aos desejos e objetivos ocultos do criador da obra, ou ora como instrumento
que possibilita alcançar um sentido objetivo de um texto, até chegar a ser considerada como um conteúdo
ontológico, isto é, mais que uma mera disciplina acadêmica, ou um mero instrumento para compreensão de algo,
mas sim um elemento que constitui a própria prática cotidiana do sujeito.
Na leitura clássica, corresponderia ao desentranhamento de um significado do próprio texto (instrumento
teórico aplicado na forma de uma teoria da interpretação), desenvolvendo-se historicamente com a contribuição
dos seguintes movimentos/autores:
 Movimento Protestante (Lutero) – a chave da compreensão dos textos bíblicos residiria na
superação das dificuldades linguísticas gramaticais do interprete, sem seu domínio toda tentativa
de entendimento seria frustrada (importância da tradução dos textos para os idiomas de origem
dos fiéis).

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 Iluminismo europeu – compreender o texto e, antes de tudo, compreender os sinais linguísticos
(chave da compreensão reside no domínio da sintática). Neste movimento filosófico, surge a escola
da exegese (Franca), em que a interpretação do direito consiste em uma atividade mecânica e que
busca a real intenção do legislador (voluntas legislatoris).
 Século XIX – Scleiermacher (pai da Hermenêutica moderna) – hermenêutica como uma disciplina
geral das condições de compreensão. Para tanto, necessário o desenvolvimento de regras que
conduziriam a uma interpretação objetiva. Para além da análise sintática, deve se compreender o
espirito do criador por detrás da criação.
 Dilthey – inseriu a hermenêutica em um contexto histórico, fala em circularidade da compreensão,
no limite do conhecimento humano, que apenas pode conhecer o que já conhece.

95. QUAL O CONTEXTO HISTÓRICO DE SURGIMENTO DO VOLUNTAS LEGISLATORIS E


VOLUNTAS LEGIS? DO QUE TRATAM?
Após o sucesso dos movimentos revolucionários norte-americano e francês, consagrou-se a importância
de um mecanismo de separação de atividades no Estado e, especialmente na França, desenvolveu-se um
mobilização de contenção da atividade judicial, refratário à atividade criativa do juiz. O magistrado seria então, o
"bouche de loi" - a boca da lei - que apenas repetiria, sem acréscimos ou modificações, o que foi criado (produzido)
pelo Poder Legislativo.
Nesse contexto, a teoria da interpretação é desenvolvida com base em duas variantes, que foram elevadas
a teorias concorrentes no desenvolvimento da hermenêutica jurídica clássica:
Voluntas legislatoris (mens legislatoris) - defende que a interpretação era a busca pela compreensão do
pensamento do legislador manifestado no texto da lei. Apregoa a importância de se proceder a uma análise dos
documentos preparatórios e discussões preliminares como técnica de dissolver dúvidas sobre a intenção daqueles
que participaram do projeto que gerou a lei.
Voluntas legis (ou mens legis) - defende que o direito não seria fruto de vontades particulares (do
legislador), mas sim de uma convicção comum do povo (Volksgeist). Acaba por buscar uma vontade na lei (inerente
a ela). Daí serem necessários (para cultores dessa perspectiva) métodos de interpretação para a realização dessa
tarefa engendrada pela hermenêutica jurídica clássica.

96. QUAIS SÃO OS MÉTODOS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO?


Constituem os principais:
1) Interpretação Lógico-gramatical: referente à estrutura léxica do texto normativo, de modo que
considera importante para obter o "verdadeiro" significado da norma tanto a ordem das palavras quanto o modo
como foram conectadas. O produto dessa interpretação pode ser: restritivo (quando se limita o sentido de uma
norma, ainda que a sua estrutura literal seja ampla); extensivo (quando se amplia o sentido da norma para além

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do contido em sua estrutura literal); ab-rogante (quando conectando a uma interpretação sistemática, o intérprete
percebe que o sentido da norma vai de encontro ao de outra norma que lhe é superior hierarquicamente).
2) Interpretação Histórico-evolutiva e Sociológica: levam em consideração a estrutura momentânea ou
sua gênesis no tempo. Tércio Sampaio Ferraz Jr. reconhece a dificuldade de apresentar uma distinção precisa sobre
os dois instrumentais, uma vez que ambos se interpenetram. Na realidade, o que se quer é fazer com que o
intérprete desenvolva uma visão mais ampla da norma, saindo na busca dos chamados trabalhos preparatórios
(discussões parlamentares, por exemplo) como elementos auxiliares à construção do sentido histórico da norma.
Já, no que concerne ao levantamento das condições atuais (interpretação sociológica), deve-se buscar o
comportamento das instituições sociais no contexto em que tais fatos previstos pela norma ocorrem.
3) Interpretação Sistemática: enfrenta questões de compatibilidade num todo estrutural, ou seja,
compreende o ordenamento jurídico como um todo dotado de unidade e, por isso mesmo, regido por cânones de
hierarquia (norma superior prevalece sobre a inferior), temporalidade (norma mais nova revoga a norma mais
antiga) e especialidade (norma especial não revoga a norma geral, mas cria uma situação de coexistência, sendo
aplicada no que for esta especialidade);
4) Interpretação Teleológica e Axiológica: busca-se identificar, respectivamente, quais são os fins e quais
são os valores considerados pelo órgão legislativo como importantes. Segundo Ferraz Jr., seu movimento é inverso
quando comparado à interpretação sistemática, pois parte das consequências avaliadas na norma para só depois
retornar ao interior do sistema jurídico. Dessa forma, o intérprete tem que ser capaz de mover com as "previsões"
que o legislador faria, caso tivesse avaliado as consequências.

97. O QUE É O GIRO LINGUÍSTICO DE GADAMER?


Para GADAMER, o interprete, para compreender o significado de um texto, embora deva olhar o passado
e atentar para a tradição, não pode ignorar-se a si mesmo, nem desprezar a situação histórica em que se encontra-
o aqui e o agora – pois o ato de concretização de qualquer norma ocorre no presente e não ao tempo em que ela
entrou em vigor. Na sua principal obra – Verdade e Método – parte da ideia de compreensão da dimensão
hermenêutica como um diálogo, no qual os interlocutores tentam atingir um entendimento sobre algo no mundo.
Por isso mesmo, as Ciências do Espírito não têm necessidade de desenvolver método algum para que possam gozar
do status de ciência.
Gadamer apoia-se nos ensinamentos de Heidegger, sobre o dasein (ser-aí), isto é, a condição do sujeito se
ver imerso em um contexto histórico-linguístico, que molda e fornece um horizonte de sentido (elemento,
simultaneamente, limitador e condição de possibilidade da sua visão). É a partir desses horizontes de que a
compreensão acontece, e ela se faz a partir de uma determinada tradição, operando-se de maneira circular, de
modo que sempre condicionada à revisão das pré-compreensões do indivíduo.
Não se olvida que cada sujeito é dotado de um horizonte, como forma de compatibilizar essa questão,
Gadamer fala, então, de uma fusão de horizontes, de modo que o texto e o intérprete passam a dividir um

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horizonte comum. Logo, não há uma relação de apropriação pelo intérprete do texto, mas um diálogo, seguido de
perguntas e respostas, no qual o intérprete participa, "ouvindo" o que o texto tem a dizer.
Desse diálogo emerge a compreensão que, necessariamente, é algo muito maior que uma mera explicação
ou dissolução de uma obscuridade - como queriam os hermeneutas clássicos. Essa compreensão é sempre seguida
de uma reconstrução para a situação presente do intérprete, ou seja, de um ato conjunto e simultâneo de
aplicação.

98. QUAIS AS CONTRIBUIÇÕES DE WITTGENSTEIN PARA A HERMENÊUTICA


CONTEMPORÂNEA?
Para WITTGENSTEIN, na sua tese dos jogos de linguagem, o significado de uma palavra ou de uma
expressão somente pode aparecer a partir de uma compreensão do seu uso em uma forma de vida (em um dado
contexto). Não é a forma gramatical de uma palavra que define o seu significado, mas a sua forma de utilização
concreta.
Os estudos de Gadamer e Wittgenstein são complementares. Representam uma nova perspectiva da
análise dos argumentos e da linguagem, bem como uma ruptura com a visão dos hermeneutas clássicos (de que
da compreensão era a mera dissolução de uma obscuridade ou uma explicação).
Com o giro hermenêutico, aprende-se que não há um método cientifico que alcance a verdade sobre
objetos (a racionalidade e a ciência tem como pressuposto a falibilidade e precariedade do conhecimento). O olhar
humano é permeado pela historicidade sendo sempre socialmente condicionado (filtrado pelas vivencias e fruto
das nossas tradições). Deste modo, a Hermenêutica Filosófica mostra que nossos conceitos e nossas
compreensões se assentam em pré-conceitos e pré-compreensões, sendo que qualquer pretensão a
neutralidade científica e a verdades cientificas que não sejam apenas precárias e datadas na ciência moderna,
nos levam ao fracasso.

99. O QUE É INTERPRETAÇÃO DO DIREITO NA TEORIA PURA DE KELSEN?


Sua proposta principal, inscrita na sua Teoria Pura do Direito, era desenvolver uma Teoria Geral do Direito,
mas não uma teoria geral do direito austríaco ou francês, por exemplo, mas uma que, em razão de sua
generalidade, pudesse servir para explicar todo e qualquer ordenamento jurídico de qualquer país, em qualquer
tempo.
Para tanto, ele necessitava expurgar da ciência do direito todo conteúdo não jurídico, deixando-os a cargo
de suas ciências específicas (economia, sociologia, religião etc.). Seguindo essa premissa, ele encontra na lógica da
tradição do Positivismo Filosófico uma resposta: desenvolver um método próprio para o direito, que permita ao
cientista compreender e distinguir o que é o conteúdo do direito e o que não é.
Para Kelsen, o conteúdo primordial do direito é a NORMA JURÍDICA, que se traduz por um esquema de
interpretação de uma dada realidade – Kelsen desenvolve um critério metodológico chamado validade.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
VALIDADE é, então, a condição de existência de uma norma jurídica que se dá quando esta encontra sua
existência autorizada por outra norma que lhe é superior. E, acima de todas as normas, inclusive da Constituição,
já que com esta não se confunde, temos a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL.
Para Kelsen, não há um método para definir ou avaliar as interpretações sobre uma norma a não ser a
própria validade. Se tal interpretação for considerada como válida, então ela pode ser aplicada. O ato de escolher
qual das múltiplas interpretações, para Kelsen, é DISCRICIONÁRIO e, por isso, só cabe à consciência do aplicador
do direito aquela escolha.

100.QUAL O PAPEL DA DOUTRINA NA TEORIA HERMENÊUTICA DE KELSEN? O QUE É


INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA E NÃO AUTÊNTICA?
Para Kelsen, a doutrina (interpretação não autêntica) é responsável por descrever – com imparcialidade e
sem juízos de valor- todas as possíveis interpretações de uma determinada norma, delimitando assim, através do
critério de validade, um quadro (MOLDURA) que permitirá ao aplicador (juiz – interpretação autêntica) identificar
quais interpretações são válidas e quais não são.
Assim, a interpretação não autentica seria a realizada por qualquer pessoa que não possa se considerar
um aplicador do direito. Papel este destinado aos doutrinadores (cientistas do direito), responsáveis por descrever
com imparcialidade e sem juízos de valor todas as possíveis interpretações de uma determinada norma. Já a
interpretação autêntica é aquela realizada pelo juiz.

101.O QUE ACONTECE SE O JUIZ ESCOLHER UMA INTERPRETAÇÃO FORA DA MOLDURA?


Segundo Kelsen, se o juiz escolher uma interpretação fora da moldura, tal escolha ainda possui juridicidade
(se transitada em julgado). Essa conclusão acaba por trazer uma incoerência lógica em seu pensamento, pois
autoriza que sejam adotadas interpretações consideradas como invalidas ao direito, isto é, não autorizada por
norma nenhuma. Prevalece apenas o critério da autoridade do órgão estatal que faz da sua vontade o direito da
sociedade – o que alguns autores chamam de GIRO DECISIONISTA na teoria de Kelsen.

102.QUAIS SÃO AS BASES DO POSITIVISMO JURÍDICO? QUAL A DIFERENÇA ENTRE O


POSITIVISMO EXCLUSIVISTA E INCLUSIVISTA E NÃO POSITIVISTA?
O Positivismo Jurídico sustenta-se nas seguintes bases:
a) Tese da fontes – o direito é um fato social.
Para Austin – o direito é um produto histórico das decisões tomadas por aqueles que detêm o poder
político. É direito aquilo que o soberano diz.
Para Hart – as proposições não são verdadeiras apenas em razão da autoridade de quem as determina. A
validade de uma regra depende da sua identificação através de uma regra de reconhecimento.
b) Separabilidade entre direito e moral – o positivismo rejeita a ideia que a juridicidade das normas possa
depender do seu mérito substantivo (moral). No que toca à separação entre direito e moral que surgem
divergências entre os teóricos do Positivismo Jurídico. Nesse ponto, cita-se:
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
- Positivistas Exclusivos (Kelsen, J. Raz e S. Shapiro): defendem que apenas os fatos sociais contribuem
necessariamente para o conteúdo do direito, não podendo os fatos morais contribuir.
- Positivistas Inclusivistas (Hart Ely e Jules Coleman): defendem que possivelmente os fatos morais
contribuem para o conteúdo do Direito, só que se contribuem, é em resultado de algum fato social a que eles se
referem, visto que o Direito deriva de fatos sociais.
- Não Positivistas (Ronald Dworkin): os fatos morais contribuem necessariamente para o conteúdo do
direito.

103. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM A HERMENÊUTICA


CONSTITUCIONAL DA INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS?
Esta possui caráter singular, uma vez que as normas que estão presentes no texto constitucional são
dotadas de particularidades que as diferem das demais normas jurídicas. A saber:
a) Posição privilegiada em termos de hierarquia;
b) Natureza da linguagem das normas constitucionais - dotadas de uma estrutura complexa, formada por
uma construção de regras jurídicas e princípios;
c) Conteúdo especifico - trazem mais que a prescrição de ordens e proibições, prescrevendo normas de
organização superiores as demais, fornecendo a estruturação orgânica do Estado;
d) Caráter político - a Constituição é o instrumento de conversão da vontade política em poder jurídico;
Para Novelino, as características próprias das normas constitucionais seriam :
I) a superioridade hierárquica; II) a natureza principiológica de boa parte das normas de boa parte de suas
normas, sobretudo, no âmbito dos direitos fundamentais; III) a variabilidade do seu objeto, no qual são abrangidos
os mais diversos temas; IV) a diversidade do grau de eficácia e de efetividade das suas normas; V) a origem
compromissória, marcada pela criação de normas orientadas por valores plurais; VI) a alta carga moral e política
de alguns enunciados normativos, cuja interpretação tende a ser fortemente influenciada por valores ideológicos.

104. O QUE É O MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR DE KONRAD HESSE?


Para Konrad Hesse, a Hermenêutica Constitucional deve se voltar para o problema da concretização, ou
seja, do desenvolvimento de uma interpretação das normas constitucionais que leve em conta que a leitura de um
texto normativo tem começo pelo levantamento das pré-compreensões de seu sentido pelo intérprete.
Com esse método, ganham destaque tanto os pressupostos subjetivos (o papel criador do intérprete)
quanto objetivos (as circunstâncias e o contexto no qual se desenvolve tal atividade), de modo que a relação entre
texto e contexto percorre uma circularidade (círculo hermenêutico).
Sendo assim, a interpretação da norma constitucional é sempre um ato no qual o intérprete tem de
preencher de sentido jurídico a norma em questão, mas tendo como seu referencial uma situação histórica
concreta. Para tanto, Hesse apoia-se na criação do seguinte catálogo de topoi, que, pretendendo guiar o intérprete
no curso de sua atividade.
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105. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO (TOPOI) INDICADOS POR HESSE?
a) UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO: exige uma compreensão global dos vários elementos individuais – regras
e princípios – da Constituição, no intuito de harmonizar e prevenir contradições (harmonização de tensões).
Normas constitucionais não podem, nunca, ser tomadas como elementos isolados, mas, sim, como preceitos
integrados que formam um sistema interno unitário.
Para Barroso, não há hierarquia entre as normas da constituição, situando-se todas no mesmo plano de
igualdade. De modo contrário, Virgílio Afonso da Silva (MINORITARIAMENTE), defende que haveria uma hierarquia
formal entre as normas constitucionais que só apareceria no curso da mudança constitucional (cláusulas pétreas).
Para Novelino, representa uma especificação da interpretação sistemática (o caráter unitário impede a tese
da hierarquia de normas constitucionais, não se adotando a tese de Bachof da existência de normas constitucionais
inconstitucionais). STF: impossibilidade de declaração da inconstitucionalidade de normas originais da
constituição.
b) CONCORDÂNCIA PRÁTICA (OU HARMONIZAÇÃO): que defende a inexistência de prevalência de um bem
constitucional sobre outro, de modo que, quando identificado um "suposto" conflito (corretamente: tensão) ou
concorrência entre ambos, devem receber uma leitura compatível, que garanta realidade.
Bernardo Gonçalves alerta que, diferentemente do que sustentam inúmeros doutrinadores brasileiros,
inclusive Gilmar Mendes, a concordância prática não está intimamente ligada à ponderação de bens e valores.
Para Hesse, com o uso da ponderação, corre-se sempre o risco de abandonar a "unidade da Constituição", sendo
métodos incompatíveis.
c) EXATIDÃO FUNCIONAL (CONFORMIDADE OU CORREÇÃO): compreende uma delimitação de
competências entre os órgãos públicos, consectário da separação de poderes, razão pela qual nenhuma
interpretação pode conduzir a uma usurpação de competência ou função de outro.
Doutrina alemã – Constituição Moldura – ao Tribunal Constitucional caberia uma atividade negativa, de
controle do legislador, para que respeite os limites da moldura; o preenchimento da moldura, somente cabe ao
legislador.
Para Canotilho, este seria atualmente considerado mais como um princípio autônomo de competência que
propriamente um princípio de interpretação constitucional.
d) EFEITO INTEGRADOR : que implica perceber a interpretação constitucional como um vetor de
manutenção da " unidade política". Desse modo, têm primazia os critérios ou pontos de vista que favoreçam a
integração e unidade político-social.
e) FORCA NORMATIVA: na solução de problemas jurídicos constitucionais deve ser dada a preferência as
soluções mais apropriadas a fomentar a otimização de suas normas, tornando-as eficazes. Primazia as
interpretações que levem em conta a historicidade da estrutura constitucional e possibilitem a sua atualização
normativa, ao mesmo que garante a eficácia e a permanência as suas normas (máxima eficácia).

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f) MÁXIMA EFETIVIDADE: orienta os aplicadores a interpretarem as normas, a fim de que seja otimizada
sua eficácia, sem, contudo, alterar seu conteúdo. Para Novelino, a efetividade atua como um quarto plano da
norma (existência, validade, eficácia), significando a realização do Direito, a atuação pratica da norma, fazendo
prevalecer no mundo dos fatos os valores e interesses por ela tutelados (BARROSO). Costuma ser invocado no
âmbito dos direitos fundamentais, visando à realização concreta da sua função social. Para tanto, a CF consagrou
um conjunto de ações para garantir seu exercício (HC, HD, MS e MI).
Com o objetivo de evitar o enfraquecimento da normatividade, os princípios da forca normativa e da
máxima efetividade tem sido invocados para desconstituir, via rescisória, decisões de instância inferiores,
transitadas em julgado, baseadas em interpretação divergente da conferida ao dispositivo pelo STF (RE 328.812).
g) NA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS CONFORME A CONSTITUIÇÃO: já que há a possibilidade de uma
pluralidade de sentidos em uma norma, ou seja, de variadas interpretações (em razão de sua abertura semântica),
a interpretação conforme a Constituição impõe uma análise de compatibilidade (adequação) de uma norma
infraconstitucional em face da Constituição, de modo que seu sentido esteja sempre em consonância (em
compatibilidade) com o padrão constitucional (com a Constituição), eliminando quaisquer outros que não se
adéquem a ele.
Ressalta-se que à luz de posicionamentos do STF, a interpretação conforme a Constituição se apresenta,
atualmente, como uma verdadeira técnica de controle de constitucionalidade, indo além de uma perspectiva
hermenêutica (como regra de interpretação).

106. O QUE É O MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO DE THEODOR VIEWHEG?


O método tópico-problemático assume as premissas de que a interpretação constitucional é dotada de um
caráter prático (voltada para a resolução de um problema concreto, pela aplicação da norma ao caso concreto) e
um de caráter aberto ou indeterminado da lei constitucional (permitindo-se, assim, múltiplas interpretações).
A interpretação da Constituição passa por um processo aberto de argumentação (teoria da argumentação),
que assume um pluralismo de intérpretes (todos aqueles que podem se considerar operadores da Constituição),
que se servem de vários topoi (pontos de vistas comuns, lugares comuns, formas de argumentação), sujeitos a
divergências e demonstrações, para se atingir a interpretação mais conveniente ao problema (solucionando o
problema).
Crítica: o uso de topoi como metodologia de interpretação constitucional pode atrair sérias críticas, pois
corre o risco de conduzir a um casuísmo (um verdadeiro casuísmo ilimitado), além de perder de vista o movimento
que a interpretação deveria seguir (tradicionalmente: da norma para o problema, e não, do problema para a
norma).

107.O QUE É O MÉTODO CIENTÍFICO- ESPIRITUAL DE RUDOLF SMEND?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O método científico-espiritual atesta que a Constituição deve ter em conta as bases de valoração (ou ordens
de valores) subjacentes ao texto constitucional, bem como o sentido e a realidade que ela possui como elemento
do processo de integração- não apenas como norma-suporte, como queria Kelsen - mas, ainda, corno perspectiva
política e sociológica, de modo a absorver/superar conflitos, no sentido de preservar a unidade social. Por isso
mesmo, para Rudolf Smend a Constituição é a ordenação jurídica do Estado ou a dinâmica vital da vida estatal,
muito embora o Estado não esteja limitado aos momentos contemplados pela Constituição. Aqui, tanto a
Constituição quanto o Estado são vistos como fenômenos culturais ligados a valores, que funcionam como
elementos integradores supremos da comunidade. O recurso à ordem de valores obriga o intérprete a assumir o
sentimento e a realidade dessa comunidade e a compartilhar do mesmo sistema de valores que ela. Assume-se,
assim, o risco de reduzir o indivíduo à condição de mera peça, desprovida de qualquer diferença significativa ou
de relevo diante de uma imensa estrutura de engrenagens sociais.
Para Bulos, as constituições devem ser interpretadas de modo elástico e flexível, para acompanhar o
dinamismo do Estado, que é um fenômeno espiritual em constante transformação.

108.O QUE É O MÉTODO NORMATIVO- ESTRUTURANTE DE FRIEDRICH MULLER?


Este método trabalha com a concepção de que a norma jurídica não se identifica com seu texto expresso
(NORMA ≠ TEXTO), pois ela é o resultado de um processo de concretização. Portanto, o texto da norma não possui
normatividade, mas sim, apenas validade.
Müller dirá que a normatividade não é produzida pelo texto (o texto seria apenas a forma da lei atuando
como diretriz e limite para uma determinada concretização), mas resulta de dados (um conjunto) extralinguísticos
de tipo estatal-social. Assim sendo, não é teor literal do texto de uma norma que é capaz de regulamentar o caso
concreto, mas, antes, o órgão governamental - seja legislativo, seja administrativo, seja judiciário-, que ao publicar
a decisão, implementa a mesma decisão no caso, concretizando a norma.
A metódica de Müller defende, então, os seguintes postulados:
(a) tem como tarefa investigar as várias funções de realização do direito constitucional (legislação,
administração, jurisdição);
(b) busca captar a transformação das normas a serem concretizadas por uma decisão voltada para a solução
de um problema prático;
(c) se preocupa com a estrutura da norma e do texto normativo a partir de uma conexão entre
concretização normativa e funções jurídicas-práticas;
(d) parte de uma compreensão hermenêutica da norma, que a difere de seu texto;
(e) o texto de uma norma deve ser tomado apenas como um ponto inicial do programa normativo;
(f) uma vez que a norma não pode ser reduzida ao seu texto, ela abrange um "âmbito (campo) normativo",
ou seja, um "pedaço de realidade social" que o programa normativo contempla apenas parcialmente; e

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(g) a concretização normativa, então, deve levar em conta dois elementos: um formado pelos conjunto de
domínios linguísticos resultantes da abertura semântica proporcionada pelo texto do preceito jurídico (programa
normativo) e outro, que diz respeito ao conjunto de domínios reais fáticos, abrangidos em função do programa
normativo, ou seja, a porção da realidade social tomada como estrutura fundamental e que o próprio programa
normativo autoriza a recortar (âmbito ou campo normativo).

109. O QUE É O MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL E A TEORIA DA


SOCIEDADE ABERTA DE INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO DE HÄBERLE?
Häberle defende o comparatismo como um quinto método de interpretação, segundo a listagem de Savigny
(gramatical, lógico, histórico e sistemático). Nesses termos, ele consistiria na comparação de ordenamentos
constitucionais - pela busca por pontos comuns ou divergentes entre dois ou mais ordenamentos jurídicos ou
textos constitucionais - levando, ainda, em consideração seus respectivos contextos. Todavia, há que se destacar
que tal atividade comparativa não detém qualquer independência metodológica, sendo tributária dos demais
métodos e, por isso, se mostra apenas como um recurso a mais a para otimizar seu trabalho hermenêutico.
No tocante à teoria da sociedade aberta de intérpretes da Constituição, Häberle se afasta da questão
atinente a regras ou mesmo a procedimentos modelares para interpretação constitucional, para colocar em relevo
os sujeitos que devem participar desse processo interpretativo da lei maior, defendendo uma ampliação do círculo
de intérpretes constitucionais. Sua teoria alinha-se a uma perspectiva típica de um Estado Democrático de Direito
que busca a abertura e não o fechamento (sociedade fechada de interpretes típica da hermenêutica tradicional
clássica) no processo de concretização e densificação das normas constitucionais.
Crítica: uma radical abertura (alargamento) de intérpretes da Constituição poderia levar ao esfacelamento
(ou enfraquecimento) da unidade da constituição, bem como a déficits na sua força normativa.

110. DO QUE TRATA O DEBATE NO DIREITO CONSTITUCIONAL NORTE-AMERICANO


ENTRE OS INTERPRETATIVISTAS E OS NÃO INTERPRETATIVISTAS?
A) INTERPRETATIVISTAS: defendendo uma posição conversadora, atestam que o intérprete, mas,
principalmente, os juízes, ao interpretar a Constituição, devem se limitar a captar o sentido dos preceitos expressos
ou, pelo menos, tidos como claramente implícitos (textura semântica). Alegam que dar um passo para além das
molduras do texto seria subverter o princípio do rule of Law, desnaturando-o na forma de um direito feito por
magistrados (law of judges). Dividem-se em dois grupos:
- Textualistas (Antonin Scalia): o juiz deve buscar o sentido objetivo do texto constitucional (mens legis –
voluntas legis);
- Originalistas (Robert Bork): o intérprete deve buscar a intenção do legislador (mens legislatoris – voluntas
legislatoris).
B) NÃO INTERPRETATIVISTAS: preza mais pela concretização dos direitos consagrados no texto
constitucional que por sua interpretação formalista. Princípios de justiça, de liberdade e igualdade deveriam falar

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mais alto compondo o "projeto" constitucional de uma sociedade que se preze democrática, ao invés de uma
subserviência cega a uma leitura redutora do princípio democrático. Nesse sentido, enquanto os interpretativistas
vão afirmar que a solução adequada constitucionalmente para os dilemas e conflitos que surgem na seara jurídica
deve ser buscada (e trabalhada) na intenção dos criadores da Constituição, os não interpretativistas, de modo
geral, irão buscar as respostas nos valores (e tradições) advindos da própria sociedade.

111. O QUE É A TEORIA DA INTEGRIDADE DE RONALD DWORKIN?


Para Ronald Dworkin direito deve ser lido como parte de um empreendimento coletivo e compartilhado
por toda a sociedade. Os direitos, assim, seriam frutos da história e da moralidade, no sentido de que observam
uma construção histórico-institucional, a partir do compartilhamento em uma mesma sociedade de um mesmo
conjunto de princípios e o reconhecimento de iguais direitos e liberdades subjetivas a todos os seus membros
(comunidade de princípios).
Logo, ninguém - e principalmente os magistrados - seria livre para decidir casos concretos levados ao
Judiciário (negação da discricionariedade judicial), nem poderia subordinar suas decisões à persecução de metas
coletivas (que beneficiam uma parcela da sociedade em detrimento de outra parcela) se direitos individuais
(corporificados pelos princípios jurídicos) estivessem em discussão, pois detêm primazia sobre as primeiras (metas
coletivas), dado o seu caráter de universalidade. Para tanto desenvolve a Teoria da Integralidade, pautada em duas
metáforas, quais sejam:
a) METÁFORA DO ROMANCE EM CADEIA: na qual cada juiz é apenas o autor de um capítulo em uma longa
obra coletiva sobre um determinado direito (princípio). Ele se encontra, então, não apenas vinculado - e não
amarrado ou subserviente! - ao passado, mas com o compromisso de ler tudo o que já foi feito por seus
antecessores para buscar continuar sua tarefa e redigir um esquema melhor - dotado do que ele denomina
integridade - dos princípios existentes e reconhecidos pela comunidade.
b) METÁFORA DO JUIZ HÉRCULES: quando Dworkin cunha a metáfora de Hércules (um superjuiz com
conhecimento e paciência sobre-humanas) na realidade o que ele deseja é traçar as linhas das posturas de alguém
comprometido com uma teoria hermenêutica condizente com o giro linguístico, capaz de pôr em dúvida suas pré-
compreensões, bem como realizar o movimento da fusão de horizontes, atualizando o texto ao contexto do
intérprete, mas sem perder de vista que o texto, como obra que é, é fruto de uma construção de sentido coletivo
que ultrapassa a vontade e os desejos de seu criador.
Nesse ponto, a teoria de Dworkin apresenta 4 (quatro) pontos que são merecedores de destaque, uma vez
que são pertinentes a esse debate: (1) a negativa da discricionariedade judicial ("decisionismos" ou
interpretações como "ato de vontade do magistrado"); (2) a negativa de que decisões judiciais possam se apoiar
em diretrizes políticas; (3) a importância da noção de devido processo para a dimensão da integridade; e (4) a
própria noção de integridade, que levanta a exigência de que cada caso seja compreendido como parte de uma

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história encadeada, não podendo, portanto, ser descartado sem uma razão baseada em uma coerência de
princípios.

112. DO QUE TRATA A CONCEPÇÃO PROCEDIMENTAL DE DEMOCRACIA JOHN HART ELY?


John Hart Ely faz um contraponto às teorias interpretativistas e não interpretativistas, propondo que os
Tribunais Constitucionais devem assumir um papel de "reforços da democracia", isso porque parte de uma
concepção procedimental de democracia (ao invés de uma concepção substantiva, que permitiria aos magistrados
fazerem escolhas que pudessem ser fundamentadas em argumentos de origem moral ou ética) que se volta aos
problemas de regulamentação dos procedimentos justos e iguais a todos.
Porém, é bom que se diga que, apesar da função reservada aos Tribunais ser sobretudo de fiscalização e
controle da regularidade e da adequada participação de todos no processo político, ele atuaria de forma ativa
em situações ou na ocorrência de eventuais desvirtuamentos do processo político, nos quais a minoria não
conseguisse se sustentar com suas próprias forças.
Sendo assim, o Judiciário não tem (e nem deve) autoridade para alterar decisões fruto de deliberações
democráticas (legislativas), não cabendo a eles a tarefa de uma pretensa interpretação valorativa da Constirnição
garantidora de direitos (já que esses direitos devem ser especificados em uma instância política, não sendo da
alçada de uma instância jurídica), mas podem sim (os Tribunais) agir no intuito da defesa e da preservação de
direitos relativos à comunicação e à participação que constroem a vontade democrática nos processos políticos.

113. O QUE É A TEORIA DO MINIMALISMO JUDICIAL DE CASS R. SUNSTEIN?


Os os minimalistas são juristas que não creem em nenhuma Teoria da Constituição e da Jurisdição como
algo salvador ou mesmo com fins emancipatórios, portanto, não concebem nenhum tipo de compromisso social
por parte do Judiciário, que deveria tão somente se concentrar na solução do caso concreto que têm em mãos.
A ideia básica de Sunstein, então, é que os juízes, no curso de suas sentenças, devem deixar a questão em
aberto, não tendo pressa em apresentar respostas substantivas e conclusivas - ou mesmo brilhantes teses
acadêmicas - para seus jurisdicionados. Sunstein reconhece que o Congresso norte-americano compreende a
dimensão democrática bem melhor que a Suprema Corte e, por isso mesmo, é o mais autorizado para dar respostas
finais sobre todas as questões jurídicas. Com isso, há uma "promoção maior da democracia", com a diminuição
da interferência judicial no processo político. Assim, uma decisão minimalista tem o mérito de deixar um espaço
para que futuras reflexões sobre a mesma se façam, tanto em nível nacional e estadual quanto em nível local.
Sunstein aduz, então, que uma decisão minimalista deve apresentar como características dois pontos:
superficialidade (shallowness) e estreiteza ou restrição (narrowness). Nesses termos, a perspectiva minimalista
teria o condão de fazer: a) que os tribunais não decidam questões desnecessárias para a resolução de um caso; b)
que os tribunais devam recusar a decidir os casos que ainda não estejam maduros ("ripe") para a decisão; c) que
os tribunais devam evitar discutir questões constitucionais; d) que os tribunais devam respeitar seus próprios

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precedentes; e) que os tribunais não devam emitir opiniões consultivas; f) que os tribunais devam seguir os
precedentes judiciais anteriores, mas não necessariamente as opiniões pessoais expressas no voto que não
tenham a força de precedente; g) que os tribunais devam exercer virtudes passivas associadas com a manutenção
do silêncio nas grandes questões cotidianas.

114. O QUE SÃO DECISÕES MAXIMALISTAS? EM QUAIS HIPÓTESES ELAS SÃO NECESSÁRIAS
SEGUNDO CASS SUNSTEIN?
Sunstein também explicita o que ele entende por maximalismo, sustentando que são maximalistas as
decisões judiciais que estabelecem "regras gerais para o futuro" além de "justificativas teóricas ambiciosas". São
decisões que vão ter como característica a "profundidade" (depth) e a "largura" (width). Essas decisões, em
determinados contextos e circunstancias são necessárias (o minimalismo não prevalece sempre, pois não é
absoluto, aliás, como nenhuma teoria interpretativa poderia ser, nos dizeres de Sunstein).
Segundo Sunstein, existem algumas hipóteses, nas quais pode ser recomendável uma construção de
argumentos apoiados em princípios mais amplos e abstratos, especialmente nos casos seguintes:
(i) quando alguma solução mais ampla pode reduzir os custos da incerteza da decisão para o próprio
tribunal e para as partes litigantes, estabelecendo condições para o planejamento prévio, fornecendo segurança
jurídica e previsibilidade aos atores na sociedade de um modo geral ou quando a falta de decisões claras podem
privar cidadãos de um suporte sólido para atuarem democraticamente.
(ii) quando uma postura mais ativista promove objetivos democráticos, ativando pré-condições essenciais
ao funcionamento da democracia deliberativa (ex: caso Brown versus Board of Education).

115. O QUE É A ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E O MOVIMENTO ANTI-TEÓRICO DE


RICHARD POSNER?
Pela ótica de Richard Posner, o pragmatismo tem como núcleo a adjudicação pragmática, segundo a qual
a decisão deve visar o resultado mais razoável, levando em consideração não apenas as consequências do caso
especifico, mas as sistêmicas. A decisão pragmática é baseada em fatos e consequências, sendo simpático a teorias
de natureza empírica e avesso ao uso de teorias morais e politicas abstratas para orientar a tomada de decisão
judicial.
O pragmatismo não tem a pretensão de conduzir a resposta correta, contenta-se com decisões razoáveis,
tendo em conta os interesses conflitantes no caso em questão.
Elementos centrais dessa concepção: ênfase nas consequências, razoabilidade e o caráter prospectivo
(voltada para o futuro).
Bernardo ressalta que Posner é responsável pela análise econômica do direito. A tese central desta análise,
poderia ser sintetizada em uma perspectiva de cunho utilitarista (embora não seja do "tradicional utilitarismo" ou
"puro utilitarismo" que visa a maximizar o "bem-estar", "prazer" ou a "felicidade"), na qual a decisão de um juiz
deve se pautar por uma relação custo-benefício.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
116. QUAL A DIFERENÇA ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS?
Para CANOTILHO, princípios e regras diferenciam-se em razão do:
 Grau de Abstração: princípios- grau de abstração elevado; regras, reduzida;
 Grau de Determinabilidade (aplicação no caso concreto): princípios – carecem de mediações
concretizadoras tanto do legislador quanto do juiz; regras – aplicação direta;
 Caráter de fundamentalidade no sistema de fontes do direito: princípios – natureza estruturante,
ocupando papel fundamental no ordenamento (princípios constitucionais);
 Proximidade da ideia de direito: princípios – standards juridicamente vinculantes radicados na
ideia de justiça (Dworkin); regras- normas vinculativas com conteúdo meramente funcional;
 Natureza normogenética: princípios são fundamentos de regras (função normogenetica
fundamentante).
Bobbio e Del Vecchio, segundo o CRITÉRIO QUANTITATIVO (Grau de Abstração ou de determinabilidade),
citam que as regras teriam baixa abstração e alta determinabilidade. Os princípios, por seu turno, possuem alta
abstração e baixa determinabilidade
ALEXY, em uma crítica à tese de Bobbio, aplica o CRITÉRIO QUALITATIVO, distinguindo-os segundo a forma
de aplicação em casos de colisões. Para o autor, as regras são aplicadas segundo o critério do tudo ou nada
(hipótese de incidência, sendo mandamentos definitivos e cujos conflitos entre elas se resolvem na dimensão da
validade – técnica de subsunção). Já os princípios são aplicados pela dimensão do peso/sopesamento
(mandamentos de otimização, passíveis de cumprimento em diferentes graus em razão das condições fáticas e
jurídicas existentes, preservação da integridade do direito).

117. O QUE É DERROTABILIDADE NA TEORIA DOS PRINCÍPIOS DE HUMBERTO ÁVILA?


Ávila desenvolve uma concepção própria de diferenciação entre regras e princípios, além da explicitação
da possibilidade de superação de normas (superabilidade) através do instituto intitulado de derrotabilidade
(defeasibility).
Para este, tanto as regras quanto os princípios possuem o mesmo conteúdo de dever-ser.
A distinção entre estes seria quanto à determinação da prescrição de conduta que resulta da sua
interpretação, ou seja:
• os princípios não determinam diretamente a conduta a ser seguida, apenas estabelecem fins
normativamente relevantes, cuja concretização depende mais intensamente de um ato institucional de aplicação,
que deverá encontrar o comportamento necessário à promoção do fim;
• já regras dependem de modo menos intenso de um ato institucional de aplicação nos casos normais, pois
o comportamento já está previsto frontalmente pela norma.
Para a derrotabilildade de uma regra deve se ater:

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Requisito material- o grau de resistência de uma regra à sua superação está vinculado tanto à promoção
do valor subjacente à regra (valor substancial específico) quanto à realização do valor formal subjacente às regras
(valor formal de segurança jurídica).
Requisitos procedimentais (formais): i) uma justificação condizente, com demonstração de
incompatibilidade entre a hipótese da regra e sua finalidade subjacente somada à demonstração de que o
afastamento da regra não provocará expressiva insegurança jurídica; 2) uma fundamentação condizente, com
exteriorização racional e transparente das razões que permitem a superação, ou seja, por uma fundamentação
jurídica e logicamente estruturada; 3) comprovação condizente, demonstrando a ausência do aumento excessivo
de controvérsias, de incertezas e de arbitrariedades, bem como a inexistência de altos custos de deliberação.

118. QUAL A DIFERENÇA ENTRE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE?


A PROPORCIONALIDADE tem origem em decisão da Corte alemã, no caso Lüth julgado em janeiro de 1958,
que aplicou, pela primeira vez, esse postulado como critério para a ponderação de bens. A proporcionalidade
apresenta uma estrutura mais complexa que a razoabilidade, que se divide em três sub-regras que devem sempre
ser analisadas em sequência: (1) adequação, (2) necessidade e (3) proporcionalidade em sentido estrito.
Marcelo Novelino trata da Proporcionalidade como um Postulado, isto é, como uma metanorma que
prescreve o modo de raciocínio e de argumentação relacionado às normas restritivas de direitos fundamentais.
Nesse sentido, opera no nível da justificação interna da decisão jurídica, contribuindo para a revelação das
premissas a serem justificadas externamente e para a identificação de erros e inconsistências na fundamentação
de um resultado.
Para Humberto Ávila, o postulado da proporcionalidade trabalha com uma relação típica da causalidade
entre meios e fins, ou seja, dos Poderes Públicos seria exigido para a consecução de seus fins (objetivos) a escolha
de meios adequados, necessários e proporcionais.
Já a RAZOABILIDADE tem origem inglesa. Humberto Ávila traz 03 (três) acepções do princípio da
razoabilidade: Razoabilidade como equidade, como congruência e como equivalência.
 Dever de Equidade (Geral x Individual): importa na adaptação de regras gerais às peculiaridades
do caso concreto, sempre que este foge significativamente à normalidade, tornando a incidência da
regra injusta. Age como uma espécie de “corretivo” da lei nos casos em que ela é injusta por ser
excessivamente geral.
 Dever de Congruência (Norma x Realidade regulada): exige a presença de uma relação harmônica
entre as normas e as suas condições externas de aplicação, quer demandando um suporte empírico
existente para a adoção de uma medida, quer exigindo uma relação congruente entre o critério de
diferenciação escolhido e a medida adotada. Ex.: STF declarou inconstitucional o adicional de férias
para o servidor inativo.

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 Dever de Equivalência (Critério x Medida): impõe certa proporção entre a medida adotada e o
critério que a dimensiona. Nessa hipótese, não há uma relação de causalidade, mas sim de
correspondência entre duas grandezas. Ex.: na fixação das penas, a punição deve ser equivalente
ao ato delituoso.

119. O QUE É A PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS POR MEIO DA TÉCNICA DA


PROPORCIONALIDADE?
Ao desenvolver a Teoria da Argumentação Jurídica, Robert Alexy busca trazer racionalidade para à
hermenêutica constitucional, desenvolvendo um método, um verdadeiro critério racional da ponderação. Nesse
prisma, para Alexy, a racionalidade de uma decisão se dá a partir de uma perspectiva formal, ou seja, se forem
observadas as sub-regras (ou para alguns: máximas) do método (ou critério) da "proporcionalidade":
independentemente do conteúdo concreto da decisão, esta deverá ser considerada racional.
A técnica da proporcionalidade deve observar as seguintes sub-regras:
a) ADEQUAÇÃO: adequado é o meio com cuja utilização um objetivo é alcançado, mas também o meio com
cuja utilização a realização de um objetivo é fomentada, promovida, ainda que o objetivo não seja completamente
realizado.
b) NECESSIDADE: entendida como a imposição de que se adote sempre a medida menos gravosa possível
(de menor ingerência possível) para atingir um determinado objetivo.
Pode-se, assim, concluir que enquanto a adequação exige um exame absoluto do ato, a necessidade
demanda um exame comparativo dos atos.
c) PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: é um raciocínio baseado na relação custo-benefício da
norma avaliada, isto é, o ônus imposto pela norma deve ser inferior ao benefício (bônus) que pretende gerar.

120. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CRÍTICAS AO MÉTODO DA PONDERAÇÃO DESENVOLVIDO


POR ROBERT ALEXY?
As críticas ao método da ponderação apontam as seguintes falhas da teoria desenvolvida por Alexy:
a) desnaturação do princípio da separação dos poderes: a utilização do princípio da proporcionalidade ou
da proibição do excesso pode estimular o constitucionalista e, mormente, a Corte Constitucional ou o órgão que
desempenha função análoga a arrogar poderes que, efetiva ou aparentemente afetam a esfera de competência
dos demais órgãos constitucionais;
b) limitação da supremacia constitucional pela transformação dos Tribunais Constitucionais em
verdadeiras Assembleias Constituintes (poder constituinte originário permanente);
c) desnaturação dos direitos fundamentais e da unidade normativa da Constituição;
d) politização do Judiciário, por meio de decisões utilitárias de custo/benefício sociais;
e) abertura para decisões dotadas de puro arbítrio;

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f) abertura para decisões dotadas de preferências pessoais dos juízes (com a diluição da positividade-
juridicidade da Constituição – “decisionismos”);
g) irracionalidade metodológica; e
h) transformação da Constituição em uma ordem concreta de valores que seriam explicitados pelo Poder
Judiciário (guardião e tradutor de uma " pretensa" virtude cívica).

121. QUAL A DISTINÇÃO DAS TEORIAS DE ALEXY (PONDERAÇÃO DE PRINCÍPIOS PELA


PROPORCIONALIDADE) E DWORKIN (INTEGRIDADE DO DIREITO?
Segundo Bernardo Gonçalves, é equivocado dizer que há compatibilidade entre as teorias de Robert Alexy
e Ronald Dworkin acerca da aplicação dos princípios jurídicos. Na verdade, em sua obra, Dworkin busca refutar a
discricionariedade judicial que está presente na Teoria da Argumentação Jurídica de Alexy, bem como nas ideias
de Hart Ely.
A principal divergência se assenta no fato de que, em momento algum, Dworkin afirma que regras e
princípios podem ser diferenciados em razão de sua estrutura de aplicação ou por características morfológicas (de
forma ou de estrutura); ao contrário, para o autor norte-americano, princípios e regras apresentam uma distinção
lógico-argumentativa, isto é, toma por base não uma construção semântica (dirigida a forma ou estrutura de cada
espécie de normas jurídicas em tese). Nessa perspectiva, é só pela análise das razões trazidas pelos participantes
da discussão é que podemos compreender se a norma invocada funciona como um princípio ou como uma regra
jurídica.
Outra distinção importante e que deve ser destacada provém do fato de Dworkin realizar não uma
separação entre duas espécies de normas jurídicas, mas sim entre três espécies de normas jurídicas: regras,
princípios e diretrizes políticas (esta última não tartada nos estudos de Alexy).
Para Dworkin, um princípio consagra uma exigência de um direito. Já as diretrizes políticas adquirem o
sentido e a aplicação que em Alexy se quer dar aos princípios, pois, enquanto conteúdos relativos, elas podem ser
ponderadas e aplicadas em diferentes graus, mas não os princípios. Os princípios são trunfos, inclusive
prevalecendo contra diretrizes políticas. E mais, dado o caráter flexível das diretrizes políticas, apenas o Poder
Legislativo seria o órgão legitimado para estabelecer definições e programas de aplicação; ao Judiciário, caberia
apenas a aplicação das regras e princípios conforme a dimensão de adequação do caso sub judice, uma vez que a
ele está fechada a porta para a realização de escolhas políticas, que só estão disponíveis para um conjunto de
parlamentares ou congressistas eleitos democraticamente (e, por isso mesmo, representantes de um povo em um
Estado democrático).
Logo, para Dworkin, conflitos envolvendo princípios seriam solucionados por meio de uma análise
cuidadosa e pormenorizada da leitura que a sociedade (e não exclusivamente o intérprete) faz da sua história
jurídica. Nessa leitura, devemos nos esforçar, ainda, para construir um esquema coerente de princípios e de regras
que estão inscritos em nossa prática social. Dworkin denomina, então, de "integridade" uma concepção do direito

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que se destaca por tentar agir assim. Como consequência, um direito que apresente integridade é capaz de
sinalizar e nortear a aplicação dos princípios em face de cada caso concreto, que deve sempre ser tratado como
um evento único e irrepetível.

122. QUAL É A CRÍTICA DE VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA COM RELAÇÃO AOS MÉTODOS E
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL?
O sincretismo metodológico, característico do atual estágio da discussão sobre interpretação
constitucional, impede que se avance na discussão acerca da tarefa da interpretação constitucional. Comum às
análises sobre o tema é o fato de que esses métodos sejam apenas resumidamente explicados, não raro com
base apenas na obra de Canotilho sem que se chegue a qualquer conclusão sobre a relação entre os diversos
métodos, sua aplicabilidade e, principalmente, sobre a compatibilidade entre eles. Assim, não é de se estranhar
que, em trabalhos sobre métodos e princípios de interpretação constitucional, não costumam ser usados exemplos
concretos de sua possível aplicação prática.
As análises costumam limitar-se a expor a ideia teórica central de cada método. Isso é obviamente
insuficiente, pois métodos não são um fim em si mesmos, mas existem para serem aplicados. Por que, então, não
se encontram análises jurisprudenciais concretas com base nesse ou naquele método, isto é, por que não são
utilizados exemplos concretos da jurisprudência do STF - ou de outros tribunais - para que seja exposto como tais
casos teriam sido decididos se tivesse sido usado esse, aquele ou um conjunto de métodos? Talvez porque essa
demonstração seja impossível.
Sincretismo metodológico seria a utilização conjunta - ou a ideia de que essa possibilidade existe - da teoria
estruturante do direito e do sopesamento de direitos fundamentais. Para tanto, será utilizada a teoria dos direitos
fundamentais de Alexy.
Segundo Müller, a racionalidade e a possibilidade de controle intersubjetivo na interpretação e na
aplicação do direito só são possíveis por intermédio de uma concretização da norma jurídica após árdua análise
e delimitação do âmbito de cada norma. Depois dessa árdua tarefa, não há espaço para colisões, porque a norma
simplesmente se revela como não-aplicável ao caso concreto e não se vê envolvida, portanto, em nenhuma colisão
jurídica relevante. Logo, sem colisão, não há razão para sopesamento. O suporte fático de cada direito
fundamental é bastante restrito.
Já a ideia subjacente à teoria dos direitos fundamentais de Robert Alexy funda-se em premissa bastante
diversa. Alexy defende a tese de que os direitos fundamentais têm um suporte fático amplo. Isso significa,
principalmente, que toda situação que possui alguma característica que, isoladamente considerada, poderia ser
subsumida à hipótese de incidência de um determinado direito fundamental, deve ser considerada como
abrangida por seu suporte fático, independentemente da consideração de outras variáveis.
Não parece ser fácil defender, ao mesmo tempo, as teorias de Müller e Alexy, simplesmente porque ambas
partem de concepções irreconciliáveis acerca da definição dos deveres prima facie e definitivo de cada direito

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fundamental. Müller defende que a definição do âmbito de proteção de cada direito fundamental é feito de
antemão, por intermédio dos procedimentos e métodos de sua teoria estruturante e, principalmente sem a
necessidade de sopesamento, enquanto Alexy defende que não há decisões corretas no âmbito dos direitos
fundamentais que não sejam produto de um sopesamento.
No Brasil, contudo, ambas as teorias vem sendo defendidas como se fossem compatíveis entre si. Diante
disso, há o apego a uma lista de métodos e princípios de interpretação constitucional, de caráter meramente
formal, impossível de ser colocada em prática conjuntamente, já que pretende misturar o imisturável. Assim,
apenas emperra qualquer possibilidade de discussão real sobre o assunto e a elaboração de métodos ou critérios
que sejam adequados e, mais importante, realmente aplicáveis à interpretação constitucional em geral, e da
constituição brasileira em particular.

123. QUAL A CRITICA A HERMENÊUTICA JURÍDICA PÁTRIA EXARADA POR LÊNIO STRECK?
Segundo Lênio, há uma crescente necessidade de se colocar limites ao poder hermenêutico dos juízes. Não
é porque texto e norma são coisas distintas que a norma pode ser qualquer coisa, ao alvedrio do voluntarismo,
subjetivismo ou decisionismo do interprete.
Lênio é adepto do giro hermenêutico (ontológico-linguístico) e, com Gadamer, entende o processo de
compreensão a partir da consciência de nossa historicidade (da situação hermenêutica em que se encontra o
interprete) e dos efeitos da história, do "círculo hermenêutico" e da "fusão de horizontes" (interação circular entre
o passado e o presente, ou seja, entre mundo do objeto e o mundo daquele a que se propõe conhecê-lo), da
"diferença ontológica", do "diálogo" e da "linguisticidade".
Defende a construção de uma Teoria da decisão adequada ao Constitucionalismo contemporâneo, em
que temos alguns princípios que terão como função estabelecer padrões hermenêuticos que visarão a:
(I) preservar a autonomia do direito;
(II) estabelecer condições hermenêuticas para a realização de um controle da interpretação constitucional
(imposição de limites as decisões judiciais);
(III) estabelecer que a fundamentação das decisões é um dever fundamental dos juízes e Tribunais (o juiz
não pode fundamentar do jeito que bem quiser ou conforme sua consciência ou ideologias – ideia de
Accountability hermenêutico);
(IV) garantir que cada cidadão tenha sua causa julgada a partir da Constituição e que haja condições para
aferir se essa resposta está ou não constitucionalmente adequada (blindagem contra interpretações
deslegitimadoras e despistadoras do conteúdo que sustenta o domínio normativo dos textos constitucionais).
Ao fazer a sua crítica ao decisionismo judicial, Lênio Streck usa como alegoria a “Teoria da Katchanga”, que
descreve como uma livre autorização para o uso indiscriminado da lista de princípios e direitos fundamentais
previstos na Constituição, sendo desautorizado todo um sistema de lógica e objetividade fundamentativa para
adotar decisões arbitrárias, sem maiores preocupações com o regramento como um todo e com a fundamentação

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detalhada e objetiva, focado apenas na resolução do direito e na hábil solução dos conflitos por meio de um
decisionismo apressado.
O autor entende que devem ser refutadas quaisquer propostas que possam entender a "interpretação
como ato de vontade (ato de poder) do magistrado", sob pena de ferir a própria autonomia do direito (a força
normativa da Constituição) e a própria democracia. Assim, os desejos pessoais dos juízes devem ser suspensos.
Com fundamento em DworKin, defende que os juízes devem lançar mão de argumentos de princípios e não de
argumentos de políticas, garantindo, ainda, a integridade e a coerência
Com isso, independentemente das convicções pessoais ou ideológicas dos Juízes sobre a Justiça ou sobre o
direito, deve haver uma "restrição" a eles (independente e superior) que decorre da integridade, ou seja, da
responsabilidade política de buscar a melhor solução para o caso, interpretando o direito à melhor luz (solução
adequada à Constituição, ou seja, temos aí, um direito fundamental a que a Constituição seja cumprida.

PONTO 3 - CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE: LINEAMENTOS GERAIS E MODALIDADES.


CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
CONSTITUCIONALIDADE. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL.
MANDADO DE INJUNÇÃO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA.

124. O QUE VEM A SER A SUPREMACIA DA CONSTITUCIÇÃO?


A Supremacia da Constituição é pressuposto para o controle de constitucionalidade.
Segundo Hans Kelsen, uma norma jurídica para ser válida necessita buscar seu fundamento de validade em
uma norma superior. Segundo o escalonamento normativo proposto por Hans Kelsen, a Constituição ocupa o ápice
do ordenamento jurídico, servindo de fundamento de validade para a produção normativa subsequente, ou seja,
as normas constitucionais possuem uma força destacada apta a condicionar a validade das demais normas
infraconstitucionais. Como consequência dessa estrutura hierarquizada, fala-se em supremacia das normas
constitucionais em face das demais leis do ordenamento jurídico.
Contudo, só tem supremacia formal a constituição que é rígida (possui um processo de alteração mais
dificultoso que o processo legislativo de alteração das normas não constitucionais). A ideia de controle, então,
pressupõe a noção de um escalonamento normativo, no qual a CF ocupa o grau máximo, caracterizando-se como
norma de validade para os demais atos normativos do sistema.
●Supremacia material: a Constituição possui conteúdo superior ao das demais leis. Toda a Constituição é
dotada de supremacia material.
● Supremacia formal: atributo específico das Constituições rígidas e se manifesta na superioridade
hierárquica das normas constitucionais em relação às demais normas produzidas no ordenamento jurídico.

125. O QUE É O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE?


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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O controle de constitucionalidade é um conjunto de medidas destinadas a garantir a supremacia da
Constituição, mediante uma atividade de fiscalização da validade e conformidade das leis e atos do poder público
em face de uma Constituição rígida, desenvolvida por um ou vários órgãos constitucionalmente designados. Para
tanto, reclama os seguintes pressupostos: a- existência de uma Constituição formal e escrita; b- a compreensão da
Constituição como uma norma jurídica fundamental, dotada de rigidez e supremacia; e c- a instituição de, pelo
menos, um órgão com competência para o exercício dessa atividade de controle.
A ideia de controle está intimamente vinculada à rigidez constitucional. De acordo com Marcelo
Alexandrino e Vicente de Paulo, somente em constituições rígidas, em relação às quais se entende que nenhum
ato normativo delas decorrentes pode modificá-las, é possível verificar-se a superioridade da norma constitucional
em face às demais normas.
Assim, o controle de constitucionalidade é definido como o ato de submeter à verificação de
compatibilidade normas de um determinado ordenamento jurídico com os comandos do parâmetro constitucional
em vigor, formal e materialmente (forma, procedimento e conteúdo), retirando do sistema jurídico (nulificando
ou anulando) aquelas que com eles forem incompatíveis.

126. QUAIS OS PARÂMETROS UTILIZADOS PARA O CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE?
O controle de constitucionalidade é – sucintamente - a verificação da compatibilidade vertical entre
a norma ou ato e a Constituição. A lei nasce com presunção de constitucionalidade com fundamento basicamente
em dois princípios: o democrático e o da separação de poderes. Isto, naturalmente, não implica dizer que a lei
não pode ser reputada inconstitucional, o que se dá justamente no âmbito do controle de constitucionalidade, que
pode ser abstrato (inconstitucionalidade como pedido) ou concreto(inconstitucionalidade como causa de pedir) e
concentrado ou difuso (a depender do critério de fixação da competência do órgão julgador: se a competência
surge em razão da alegada inconstitucionalidade, trata-se de controle concentrado). Há três pressupostos
imprescindíveis para o exercício de controle:
1.Supremacia da Constituição;
2. Rigidez da Constituição;
3. Órgão competente para exercer o controle.
No controle, há dois elementos: o parâmetro e o objeto, porque algo (objeto) só é (in)constitucional em
relação a algo diverso (parâmetro). Parâmetro é a norma/princípio/valor com relação ao qual outra norma ou ato
é questionado. Neste contexto, é oportuno observar a noção de bloco de constitucionalidade, que – malgrado
oriundo do direito francês – Canotilho observou que teve seu desenvolvimento muito assemelhado à ideia de
parâmetro constitucional. Assim, o bloco de constitucionalidade possui duas acepções: restrita [o texto
constitucional] e ampla [texto + normas materialmente constitucionais fora do texto].

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O parâmetro no Brasil é intermediário: texto constitucional [ADCT, emendas e o próprio corpo da
Constituição], princípios implícitos e tratados de direitos humanos aprovados na forma art. 3º, § 5º. O preâmbulo
da CF está excluído, porquanto possui mero valor axiológico/político; estão inadmitidas também as normas
infraconstitucionais, por mais relevante e materialmente constitucional que sejam.
Parâmetro, portanto, é a norma da constituição supostamente violada, ao passo que o objeto do controle
é o ato normativo infraconstitucional supostamente violador.
Assim, de acordo com STF, tirando o preâmbulo, todo o restante da Constituição (e ADCT) pode servir de
parâmetro, inclusive os princípios implícitos.
Com a EC 45/04, o art. 5º, § 3º, CF, passou prever que os tratados e convenções internacionais de direitos
humanos aprovados em dois turnos, com 3/5 dos votos dos membros, têm status de emenda à constituição e,
portanto, podem servir de parâmetro.

127. APLICA-SE O PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA DA AÇÃO DE CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE? E QUANTO AO PARÂMETRO, HÁ VINCULAÇÃO DO ÓRGÃO
JULGADOR?
Segundo Marcelo Novelino, em relação ao objeto, deve ser observada regra da congruência (ou da
correlação ou da adstrição). O STF deve se limitar, como regra geral, à análise dos dispositivos impugnados na
petição inicial. A exceção fica por conta dos casos de inconstitucionalidade por consequência (ou por arrastamento
ou por atração), hipótese em que o STF pode estender a declaração de inconstitucionalidade a dispositivos não
impugnados na petição inicial, desde que possuam uma relação de interdependência com os dispositivos
questionados. Neste caso, portanto, cria-se uma exceção à regra da adstrição ao pedido, admitindo-se a declaração
de inconstitucionalidade de dispositivo não impugnado expressamente na inicial.
Com o parâmetro invocado, a situação é diversa, pois apesar da necessidade de serem indicados os
fundamentos jurídicos do pedido na petição inicial, o STF não está adstrito a eles. Isso ocorre porque na ADI, assim
como em todas as ações de controle abstrato, a causa de pedir é aberta, abrangendo todas as normas integrantes
da Constituição, independentemente dos fundamentos constitucionais invocados pelo requerente. Por essa razão,
no processo constitucional objetivo a conexão entre as ações ocorrerá apenas quando houver identidade quanto
ao objeto impugnado.

128. O QUE É A TEORIA DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE?


O Controle de convencionalidade é termo utilizado para verificar a compatibilidade de ato normativo com
tratado ou convenção internacional, qualquer que seja seu status ≠ controle de constitucionalidade.
Segundo Valerio Mazzuoli, todos os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Estado e
em vigor no Brasil têm nível de normas constitucionais, tanto por hierarquia material ("status de norma
constitucional"), quanto por hierarquia material e formal ("equivalência de emenda constitucional").

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Sendo assim, "que os tratados internacionais de direitos humanos em vigor no Brasil são também (assim
como a Constituição) paradigma de controle da produção normativa doméstica. É o que se denomina de controle
de convencionalidade das leis, o qual pode se dar tanto na via de ação (controle concentrado) quanto pela via de
exceção (controle difuso).
Em suma, para Mazzuoli existem quatro modalidades de controle: de legalidade, de supralegalidade, de
convenionalidade e de constitucionalidade.

129. O QUE SE ENTENDE POR BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE?


Com origem no direito francês o Bloco de constitucionalidade é utilizada para se referir às normas com
status constitucional. A expressão bloco de constitucionalidade não é pacífica na doutrina brasileira, apesar de
utilizada pelo STF.
▪ Sentido estrito: parâmetro de controle de constitucionalidade = CF (-preâmbulo) + princípios implícitos +
TCIDH. É o sentido mais utilizado.
▪ Sentido amplo: abrange todas as normas que tem conteúdo constitucional (e não forma), como o Pacto
de São José da Costa Rica, e as que conferem eficácia às normas constitucionais (ex.: normas que regulamentam
aquelas normas constitucionais de eficácia limitada).

130. QUAL A EVOLUÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL?


A primeira Constituição Brasileira a dispor do controle de constitucionalidade foi a Constituição de
1891, que, por influência da doutrina da judicial review norte-americana, previu um controle judicial
difuso/incidental de constitucionalidade das leis.
A partir de então, todas as Constituições brasileiras asseguraram o controle de constitucionalidade,
conforme o modelo americano. Com a constituição de 1934, foi instituído a reserva de plenário da atuação do
Senado Federal, da representação interventiva e do mandado de segurança.
Contudo, em 1965, por força da Emenda Constitucional n 16, na Constituição de 1946, foi
inaugurado no Brasil o controle concentrado ou também chamado de abstrato da constitucionalidade dos atos
normativos federais e estaduais, com a criação da representação genérica de inconstitucionalidade (atualmente
denominada de ação direta de inconstitucionalidade por ação) à semelhança do modelo kelseniano.
Destarte, neste momento podemos falar que o Brasil passou a adotar um sistema misto, eclético,
de controle judicial de constitucionalidade, que combinava os sistemas ou modelos difuso-incidental, de
competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal e atos normativos estaduais e federais em face da
Constituição Federal, e dos Tribunais de Justiça das Leis e atos normativos municipais em face das Constituições
Estaduais.
Com a Constituição de 88, aplicou-se o modelo concentrado-principal da constitucionalidade, com
a instituição da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, ao lado da já existente, ação direta de

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inconstitucionalidade por ação, ampliando ainda a legitimação para propor estas demandas, retirando a
exclusividade das mãos do Procurador Geral da Republica.

Não havia controle. Supremacia do parlamento e do poder moderador. Cabia ao Imperador o


1824 zelo da Constituição e ao juiz não era dado interpretar as leis, mas meramente aplicá-las.

Modelo americano(difuso e concreto) sob forte influência de Rui Barbosa. Dizia Rui Barbosa: “a
1891 judicial review é matéria de hermenêutica e não de legislação” como forma de afastar o controle
abstrato, que conferiria ao juiz um papel de legislador.

Ainda no plano de um controle difuso e concreto, trouxe relevantes novidades:


➢ Resolução suspensiva do Senado [art. 52, X], a qual foi recentemente objeto de mutação

constitucional segundo o STF no bojo das ADI’s 3.406/RJ e 3.470/RJ; ➢ Reserva de Plenário ou “Full
1934 Bench”, art. 97; ➢ Representação Interventiva ou declaração de inconstitucionalidade para evitar
intervenção federal [art. 36, III] que, na verdade, era ação cuja titularidade cabia ao PGR em que o STF
se manifestava sobre a constitucionalidade da Lei de Intervenção;➢ Mandado de Segurança.

Constituição de caráter ditatorial [Estado Novo – CF Polaca]: ocorrida decisão judicial com
declaração de inconstitucionalidade, o Presidente poderia por questões de “soberania nacional”
submeter a matéria ao Congresso Nacional, que, por 2/3, poderia restabelecer a validade da lei.
Ademais, se o Congresso não estivesse reunido por qualquer motivo, as atribuições passavam ao
1937 Presidente da República, que atuava nesses casos via Decreto-Lei: isto significa que ele poderia tornar
a decisão judicial sem efeito por Decreto-Lei isoladamente. No contexto em que Getúlio Vargas
controlava amplamente o Congresso – inclusive com o seu fechamento -, este modelo representou
ampla ascendência do Poder Executivo.

Restaura o modelo da CF de 1934 e reformula a “representação interventiva” com a inclusão da


possibilidade de declaração de inconstitucionalidade. A grande novidade dá-se, porém, com a EC 16/65
que cria a representação de inconstitucionalidade [a atual ADI], exclusiva do PGR e, assim, institui o
controle concentrado abstrato. A criação do modelo de controle abstrato brasileiro não possui
1946 qualquer finalidade democrática ou republicana, porque se deu um ano após o golpe de 64, no que o
PGR realizava, além da função de MP, a função da AGU de hoje e era exonerável ad nutum: sendo assim,
ele só proporia as representações de inconstitucionalidade no interesse da União.

A novidade surge com a EC 07/77: cria a possibilidade de cautelar na representação de


1967/ inconstitucionalidade, o controle da lei municipal em face da CE e a criação da representação
69 interpretativa, cuja legitimidade era do PGR.

A CF 88 é marcada por um claro redimensionamento do controle de constitucionalidade.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL

Primeiro, há a ampliação do rol de legitimados da ADI. Isto gerou uma mudança radical no controle de
constitucionalidade: o STF passa a exercer de forma muito mais intensa o controle concentrado
abstrato após 1988, o que se soma ao processo de reconhecimento da existência de processos de massa
e com o aumento destas questões de massa torna-se necessária a criação de mecanismos que resolvam
tais problemas de forma molecular, o que revela uma maior importância do problema concentrado
abstrato em face do difuso concreto. Até a EC 16/65, vigia apenas o controle difuso e concreto; após
surge o concentrado abstrato, mas se mantém com uma menor relevância do que aquele; em 88, as
coisas se investem: a primazia é do concentrado abstrato. O que provoca o fenômeno, por sua vez, da
incorporação pelo controle concreto de características do abstrato: “abstrativização” ou “objetivação”
do controle de constitucionalidade, tais como a modulação dos efeitos temporais, ampliação das
possibilidades do amicus curiae, S.V., repercussão geral no caso do RE.
1988 Na CF 88, houve ainda:
➢ Criação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF, o STF
entendia que esta norma era de eficácia limitada e só poderia ser exercido quando regulamentado e o
foi pela Lei nº 9.882/99. ➢ Controle das omissões, que se dá por dois instrumentos criados pela CF

exclusivamente para isto: ADO e mandado de injunção.➢ Ampliação dos remédios [MI, HD, MS
coletivo] e manutenção dos demais que já existiam [MS, HC], bem como a ampliação de outras
existentes [Ação Popular, ACP].➢ Ação Declaratória de Constitucionalidade criada pela EC 3/93;➢
Instrumentos criados pela EC 45/04: ▪ SúmulaVinculante; ▪ Repercussão Geral no RE;▪
Alterações no RE [103, III, d];▪ Alterações na Representação Interventiva [36, III].
➢ Constitucionalização da Reclamação Constitucional que visa a garantir a competência do

STF ou a autoridade das suas decisões [102, I, ‘l’; ➢ Ação Direta de Inconstitucionalidade
estadual.

131. QUAL A EVOLUÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO


COMPARADO?
Em tema de controle de constitucionalidade, é necessário observar três modelos de direito
alienígena: o americano, austríaco e o francês.

Americano Estritamente a respeito do controle, a Constituição americana surge com a cláusula de


supremacia, mas ainda sem resposta para o que deveria ocorrer em casos de sua violação. Os
federalistas – Alexander Hamilton, em especial – “unconstitucional law is not law at all”, a qual
posteriormente é ratificada no rumoroso caso Marbury vs. Madison. Nesse julgamento, fixou-se
o “princípio da nulidade”, assim como se instaurou o controle judicial, difuso e incidental -
judicial review. As três perguntas fundamentais do judicial review são respondidas: a lei contrária

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL

é nula, o exame dever ser feito no caso concreto e cabe ao judiciário resolvê-lo.

Austríaco Hans Kelsen sustentava que o controle de constitucionalidade significa o exercício do


papel de “legislador negativo” – controle político -, o que não poderia ser realizada por qualquer
juiz, mas por um órgão específico: o Tribunal Constitucional. Tratava-se de controle concentrado
e abstrato. Neste sistema, vigia o “princípio da anulabilidade”, porque, para Kelsen, o sistema
não possui contradições, razão pela qual a decisão era constitutiva.

Francês Inicialmente, não havia controle: se uma lei é fruto do parlamento, é fruto dos
representantes do povo, é fruto da vontade majoritária do povo e é, por natureza,
democraticamente legítima, não cabendo ao juiz, que não é eleito, invalidá-la. Posteriormente,
foi instituído o controle político preventivo através do Conselho Constitucional, que se dá sobre
o Projeto de Lei – ainda hoje realizado.
Muito recentemente, entre 2008 e 2010, surgiu a denominada “questão prioritária de
constitucionalidade”, que nada mais é do que a remessa de questão para controle pelo Conselho
Constitucional, uma vez admitida na Corte de Cassação [Direito Privado] ou Conselho de Estado
[Direito Público]. É hipótese de controle político, incidental e repressivo.

132. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE AS TEORIAS DA ANULABILIDADE E DA NULIDADE NO


AMBITO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE?
Teoria da anulabilidade Teoria da nulidade
Sistema austríaco (Kelsen) Sistema norte-americano (Marshall)
A decisão tem eficácia constitutiva A decisão tem eficácia declaratória.
negativa.
Por regra, o vício de Por regra, o vício de inconstitucionalidade
inconstitucionalidade é aferido no é aferido no plano de validade.
plano de eficácia.
Em regra, efeito ex nunc (prospectivo). Em regra, efeito ex tunc (retroativo).
A lei inconstitucional é anulável. A lei inconstitucional é nula.
Produz efeitos até a anulação. Invalidação ab initio (desde a origem).
Preservam-se os efeitos produzidos A lei é natimorta, sequer entrou no
até então. plano de eficácia, sequer chegou a
produzir efeitos.
Pontes de Miranda. Rui Barbosa, Alfredo Buzaid.

133. NO BRASIL QUAL TEORIA PREDOMINA?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A regra, o ato inconstitucional é ato nulo, já nasce morto (efeito ex tunc).
No Brasil, predomina a Teoria de nulidade, mas de forma flexibilizada, tendo em vista os princípios da
segurança jurídica e o da boa-fé. Assim, permite o direito brasileiro a modulação dos efeitos da decisão por razões
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social. Essa técnica, que tem previsão legal em relação ao
controle concentrado, também vem sendo utilizada pelo STF em sede de controle difuso.
É admitida a modulação temporal dos efeitos da decisão, para fazer com que ela tenha efeito ex nunc (a
partir do trânsito em julgado) ou prospectivo (fixando um momento futuro). Pode ser modulado, ainda, o âmbito
de abrangência da decisão (“restringir os efeitos da declaração”).
A lei exige voto de 2/3 dos membros para que seja admitida a modulação.
É cabível a oposição de embargos de declaração para fins de modulação dos efeitos.
Info 780, STF: Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado encerrado e,
por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão.
Info 787, STF: A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em processos anteriores em que
tenha sido adotado entendimento diverso. É necessário recurso ou rescisória, no prazo decadencial. Ademais, se
a decisão que transitou em julgado foi proferida com base no entendimento majoritário da época, não há que se
falar em rescisão.
Eficácia normativa (que retira do plano jurídico a norma, com efeito ex tunc) não se confunde com a eficácia
executiva/vinculante (efeito ex nunc). Os atos passados não estão submetidos ao efeito vinculante da sentença,
nem podem ser atacados por reclamação.

134. É POSSÍVEL NO JULGAMENTO DE CAUTELAR DE AÇÃO DE CONTROLE


CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE HAVER A CONVERSÃO DIRETA EM
JULGAMENTO DE MÉRITO?
O tema foi apreciado pelo STF na ADPF 378 que tratou do procedimento de impeachment. Nesse caso, o
Ministro Fachin, alegando a necessidade de garantir a segurança jurídica, propôs que o julgamento da cautelar já
fosse convertido NO PRÓPRIO JULGAMENTO DE MÉRITO. Por unanimidade, foi acatada a proposta. O decano, Min.
Celso de Mello, ainda alertou sobre a existência de precedentes. Por fim, o Min. Fachin chamou atenção para duas
situações que configuram verdadeiras condições para tal conversão: a) a existência do quórum para o julgamento
de mérito; b) existir todos os elementos de instrução do processo.

135. PODE-SE DISCUTIR A MODULAÇÃO DE EFEITOS DE DECISÃO EM CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE APÓS PROCLAMADO O RESULTADO FINAL?
Consoante entendimento do STF, na ADI 2949, quando o Supremo Tribunal Federal proclama o resultado
de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, não pode reabrir o julgamento para aceitar o voto de um ministro
que estava ausente na sessão, a fim de obter o quórum necessário para a modulação dos efeitos. Segundo o

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Ministro Luis Roberto Barroso, a análise de ADI é bifásica, sendo a primeira fase a de declaração da
inconstitucionalidade e a segunda, sobre a modulação. No caso avaliado, entretanto, Barroso disse que a votação
sobre modular os efeitos já estava concluída, sem se atingir o quórum.

136. O QUE É EFEITO REPRESTINATÓRIO? É O MESMO QUE REPRISTINAÇÃO DA NORMA?


A declaração de inconstitucionalidade de um ato normativo que tenha revogado outro ato normativo
provoca o restabelecimento do ato normativo anterior, quando a decisão tiver efeito retroativo. Ora, se a
declaração de inconstitucionalidade invalida o ato desde a origem, impedindo a produção de qualquer de seus
efeitos, resta obstada a eficácia revogadora do ato. Assim, a norma que teria sido revogada pelo ato nulo continua
tendo eficácia.
≠ Repristinação da norma. A LINDB prevê que, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura
pelo fato de a lei revogadora ter perdido vigência. Aqui se fala em revogação, enquanto no efeito represtinatório
fala-se em nulidade.
Ocorrendo a modulação de efeitos, não haverá efeito represtinatório. Modular efeitos é admitir que o ato
normativo, ainda que inconstitucional, produza efeitos durante determinado período, o que inclui seu efeito
revogador.
Caso verificado vício de inconstitucionalidade também nas normas anteriores que voltariam a produzir
efeitos, deve ser impugnado todo o complexo normativo, até o advento da CF 88, formulados pedidos sucessivos
de declaração de inconstitucionalidade do diploma ab-rogatório e das normas por ele revogadas. Não formulado
pedido expresso de declaração de inconstitucionalidade de todo complexo normativo, a ADI não será conhecida,
por falta de interesse.
Efeito repristinatório tácito: o efeito automático da concessão de liminar, com suspensão do ato
impugnado, é a aplicação da legislação anterior, evitando o vácuo legislativo, salvo expressa manifestação em
sentido contrário.

137. QUAIS AS TÉCNICAS DE DECISÃO NA ANÁLISE DO CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE?
▪ Declaração de nulidade com redução total ou parcial do texto (técnica principal). O tribunal atua como
legislador negativo.
▪ Declaração de nulidade sem redução de texto: o tribunal exclui um determinado sentido atribuível ao
dispositivo sem que haja qualquer alteração no seu texto.
▪ Interpretação conforme a constituição: costuma ser utilizada como técnica de decisão judicial e como
princípio interpretativo.
O STF tem considerado, no controle abstrato, que a declaração de nulidade sem redução de texto e a interpretação
conforme são técnicas de decisão equivalentes.
A declaração de nulidade sem redução de texto é técnica de decisão judicial que só pode ser utilizada no controle
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
abstrato. A interpretação conforme pode ser utilizada como técnica de decisão no controle abstrato ou como
princípio interpretativo também no controle difuso.
▪ Inconstitucionalidade consequencial, por arrastamento ou por atração (já abordada).

138. EM RELAÇÃO ÀS FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADES, EXPLIQUE


INCONSTITUCIONALIADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO?
Quanto ao tipo de conduta praticada pelo Poder Público, estas podem se dividir em:
a)Inconstitucionalidade por ação, considerada positiva ou por atuação: Poder Público pratica uma
conduta incompatível com a constituição. Ex. vedação da progressão de regime na Lei de Crimes Hediondos.
B)Inconstitucionalidade por omissão: Poder Público deixa de praticar uma conduta exigida pela
constituição. Inércia legislativa na regulamentação de normas constitucionais de eficácia limitada. Ex. direito de
greve dos servidores públicos.

139. O QUE VEM A SER INCONSTITUCIONALIDADE NOMODINÂMICA E NOMOESTÁTICA?


Trata-se da norma constitucional ofendida, de forma que esta pode se dar com:
Inconstitucionalidade formal ou nomodinâmica. Esta por sua vez, se subdivide em:
a) - propriamente dita: violação de norma constitucional referente ao processo legislativo. Pode ser
subjetiva (iniciativa de lei) ou objetiva (demais fases do processo legislativo, ex. inobservância do quórum de
aprovação). Assim, o vício de iniciativa é insanável. A sanção do Presidente de lei que deveria ter sido de sua
iniciativa não supre o vício. Superada a Súmula 5-STF.
b) - orgânica: violação de norma constitucional que estabelece competência legislativa para tratar da
matéria.
c) - por violação a pressupostos objetivos. É o que ocorre, por exemplo, quando a medida provisória não
respeita os pressupostos de relevância e urgência (só se realiza o controle quando a inconstitucionalidade é
flagrante). Ex. criação do ICMBio por medida provisória.
Inconstitucionalidade material ou nomoestática: incompatibilidade entre o conteúdo do ato
infraconstitucional e o conteúdo da constituição. Neste em que pese o processo legislativo, constitucionalmente
exigido, pode ter sido fielmente obedecido, mas a matéria tratada é incompatível com a Carta Magna. Por ex. se
uma lei introduzisse no Brasil a pena de morte, está seria materialmente inconstitucional.

140. QUAL É A CLASSIFICAÇÃO EM RELAÇÃO À EXTENSÃO E O MOMENTO DA


INCONSTITUCIONALIDADE?
Quanto à extensão, pode ser total ou parcial:
▪ Total: inconstitucionalidade de toda a lei ou de todo o dispositivo.
▪ Parcial: apenas uma parte da lei ou do dispositivo é declarada inconstitucional.
Admite-se a declaração de inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão, desde que autônoma e não
modifique o sentido do restante do dispositivo. ≠ veto.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Já quanto ao momento em que ocorre a inconstitucionalidade, esta pode ser:
▪ Originária: o objeto é incompatível com a constituição desde a sua origem; ou
▪ Superveniente: o objeto nasce constitucional, mas, em razão de mudança no parâmetro, torna-se
incompatível com a norma constitucional. Segundo o STF, não há que se falar em inconstitucionalidade
superveniente. A questão é resolvida por mera não recepção.
Na doutrina, há duas hipóteses em que alguns autores admitem falar em inconstitucionalidade
superveniente:
- mutação constitucional;
- inconstitucionalidade progressiva: as circunstâncias fáticas justificam a manutenção da norma durante
um determinado período de tempo. Norma ainda constitucional. Ex.: art. 68 do CPP.

141. O QUE VEM A SER A INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL?


Inconstitucionalidade circunstancial é a declaração de inconstitucionalidade de uma norma produzida com
relação a incidência em um caso específico. É possível, assim, que se vislumbre situações nas quais um enunciado
normativo, válido em tese e na maior parte das suas incidências, ao ser confrontado com determinadas situações
concretas, produza uma norma inconstitucional. Um exemplo seria a vedação de liminares contra a Fazenda
Pública previstas na lei 9.494/97, no caso em que o pedido fosse relativo a concessão de tutela antecipada para
que o Estado custeasse cirurgia de vida ou morte.
O STF também não tem admitido a constitucionalidade superveniente, ao fundamento de que o vício é
originário e insanável, acarretando a nulidade do dispositivo. Princípio da contemporaneidade. Ex.: ADI 2.158 –
Taxação dos inativos antes da EC 41/2003.

142. O QUE É INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO? HORIZONTAL E


VERTICAL?
Inconstitucionalidade por arrastamento horizontal é a hipótese de inconstitucionalidade parcial
geradoras da inconstitucionalidade total, isto é, quando dentro do mesmo sistema normativo existe relação de
dependência entre elas, seja lógica ou teleológica.
Inconstitucionalidade por arrastamento vertical é verificada quando a declaração de inconstitucionalidade
incide, por consequência, em norma ligada hierarquicamente à norma objeto do pedido inicial. Explicando melhor:
imagine que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de determinada lei. Agora, imagine que
esta lei é regulamentada por um decreto regulamentador. Se a lei é declarada inconstitucional, o que deverá
acontecer com o decreto que a regulamenta? Obviamente ser declarado, por consequência, inconstitucional!

143. EXISTE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO CONCRETO?


Sim, nos seguintes casos: a) ADI interventiva; b) ADPF Incidental; c) Mandado de Segurança do Parlamentar.
Esses casos são exceções, pois são formas de controle concentrado no STF, mas que partem de um caso concreto.

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144. O QUE SE ENTENDE POR VÍCIO DE DECORO?
De acordo com Pedro Lenza, comprovada a existência de compra de votos, haveria mácula no processo
legislativo, caracterizadora de vício de decoro parlamentar (art. 55, § 1º, CF), a ensejar a inconstitucionalidade da
norma. Haveria mácula à essência do voto e ao conceito de representatividade popular.
Após o julgamento da AP 470, foram ajuizadas ADIs objetivando a declaração de inconstitucionalidade da
Reforma da Previdência (ECs 41 e 47), alegando-se aprovação mediante a compra de votos. Em parecer do PGR,
foi admitida a possibilidade de inconstitucionalidade em decorrência da compra de votos. Falou-se em “vício na
formação da vontade no procedimento legislativo”. No entanto, no caso concreto, o PGR entendeu não haver que
se falar em inconstitucionalidade, pois, ainda que desconsiderados os votos dos parlamentares condenados no
Mensalão, as emendas teriam sido regularmente aprovadas.

145. QUAL A NATUREZA DO ORGÃO QUE EXERCE O CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE? E QUAIS OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS?
O controle de constitucionalidade pode ser realizado tanto no âmbito judiciário, quanto em âmbito político.
Assim temos 2 formas de controle, o Controle jurisdicional: exercido por órgãos do Judiciário; e Controle
político: exercido por órgãos sem poder jurisdicional. Ex. controle exercido pelo Presidente no veto jurídico.
Em relação aos sistemas constitucionais, nos temos:
- jurisdicional: a função principal de exercer o controle é atribuída ao Judiciário. Brasil (jurisdicional misto =
concentrado e difuso). Surgiu nos EUA.
- político: o controle de constitucionalidade não é atribuído a um órgão do Judiciário. França, em que o controle é
exercido por um conselho constitucional.
- sistema misto: determinados tipos de lei se submetem a controle jurisdicional e outros se submetem a controle
político. Suíça, em que as leis dos cantões são controladas pelo Judiciário, enquanto as leis nacionais sofrem
controle apenas do parlamento.

146. QUAL O MOMENTO QUE PODE SER REALIZADO O CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE?
O controle de constitucionalidade, pode se dar de forma preventiva ou repressiva.
A forma Preventiva será exercida durante o processo legislativo.
Legislativo → CCJ.
Executivo → veto jurídico.
Judiciário → Em regra, o Judiciário só exerce o controle de constitucionalidade repressivo. Exceções:
- Proposta de EMENDA constitucional que viole cláusula pétrea;
- Proposta de EMENDA constitucional ou PROJETO DE LEI cuja tramitação esteja ocorrendo com violação
às regras constitucionais sobre o processo legislativo. MS por parlamentar da respectiva casa por inobservância do
devido processo legislativo constitucional. O objetivo principal é assegurar o direito subjetivo do parlamentar ao

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devido processo legislativo, pelo que é considerado um controle concreto. Em caso de perda superveniente do
mandato parlamentar, o feito será extinto ≠ MS coletivo, que continuará para julgamento.
Já a Repressiva será exercida após a publicação da lei.
No Legislativo, ocorre em três hipóteses:
- Congresso, por decreto, pode sustar a parte dos decretos e regulamentos que exorbitar os limites legais. O
mesmo ocorre se o Presidente, na lei delegada, exorbitar os limites da resolução do Congresso.
- Controle em razão da inobservância pelo Executivo dos pressupostos constitucionais da medida provisória
(controle formal) e em razão do conteúdo tratado (controle material).
- Controle (concreto) pelo Tribunal de Contas. Súmula 347-STF.
Executivo:
- O chefe do Executivo pode negar cumprimento a um ato normativo que entenda ser inconstitucional, desde que
esta negativa seja motivada e lhe seja dada publicidade. O descumprimento só é admitido enquanto não houver
uma decisão do STF com efeito vinculante.
1ª corrente: mesmo após a CF 88, esta possibilidade existe (ADI 221-MC; REsp 23.121).
2ª corrente: após a CF 88, tal possibilidade deixou de existir, tendo em vista o fato de a CF atribuir legitimidade
ativa ao Presidente e ao Governador para propor ADI.
3ª corrente: a possibilidade de negativa permanece mas que deve ser acompanhada da propositura da respectiva
ADI.
Judiciário: exercido pelo controle difuso e pelo controle concentrado. O Brasil adota o sistema jurisdicional
de controle combinado ou misto.

147. OS EFEITOS DAS DECISÕES EM CONTROLE CONCENTRADO DE


CONSTITUCIONALIDADE ATINGEM O STF? E O LEGISLATIVO?
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, nas ADIs e ADCs produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta,
nas esferas federal, estadual e municipal.
O efeito vinculante não atinge o plenário do STF (só os demais órgãos do Judiciário). Os ministros e as
turmas ficam vinculados. Se o STF declarar a constitucionalidade da lei, nada impede que futuramente, havendo
motivos razoáveis, o STF se manifeste novamente sobre aquela mesma lei. É o que ocorreu, por exemplo, no caso
da Lei dos Crimes Hediondos.
Se o STF declara uma lei inconstitucional, esta é invalidada e, portanto, não poderá ser objeto de nova
apreciação. Todavia, se uma nova lei com igual conteúdo for aprovada, é possível que o STF realize controle de
constitucionalidade e mude sua tese jurídica anterior. Se o STF também ficasse vinculado ocorreria o fenômeno
de fossilização da constituição.
Em relação ao Legislativo, a não vinculação se refere apenas a sua função legiferante.

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As decisões do STF em matéria constitucional são insuscetíveis de invalidação pelas instâncias políticas.
Isso, porém, não impede que seja editada uma nova lei, com conteúdo similar àquela que foi declarada
inconstitucional, já que o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado às decisões
definitivas de mérito proferidas pelo STF em julgamento de ADI, ADC e ADPF. É superação da jurisprudência,
reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial. É ativismo
congressual.
Em relação às funções fiscalizatória, administrativa e jurisdicional, o Legislativo fica vinculado. Ex.: Súmula
vinculante 13 (nepotismo).
O Tribunal de Contas fica vinculado, já que não exerce função legislativa. O mesmo ocorre com a CPI, que
tem função apenas fiscalizatória.
Quanto ao Executivo, entende-se que o chefe não fica vinculado em relação às competências ligadas ao
processo legislativo (Ex. MP, leis delegadas, iniciativa de projeto de lei, celebração de tratados internacionais).

148. O QUE É REAÇÃO LEGISLATIVA?


Trata-se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão
jurisprudencial. No caso, de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60,
e seus §§, da CRFB/88. No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir
com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao
legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. O Poder
Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa. STF. Plenário. ADI
5105/DF.

149. O QUE É ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL?


O artigo 2º da EC 52/2006, ao determinar que o fim da obrigatoriedade da verticalização das coligações
partidárias fosse aplicável desde as eleições do ano de 2002 (já finda), para que, então, pudesse já ser aplicada às
próximas eleições de 2006, pretendia burlar a regra constitucional trazida pelo artigo 16 da CF, que consagra o
princípio da anualidade eleitoral.
Assim, o Ministro Ricardo Lewandowski entendeu que o constituinte reformador incorreu em desvio de
poder ou de finalidade, ou seja, expediente mediante o qual se busca atingir um fim ilícito utilizando-se de um
meio aparentemente legal. E, mais, afirmou o Ministro, nas palavras de Fábio Konder Comparato, que se buscou,
no caso, o atalhamento da Constituição, utilizando o próprio constituinte reformador de artifícios para abrandar,
suavizar, abreviar, dificultar ou impedir a ampla produção de efeitos dos princípios constitucionais.

150. O QUE É A INCONSTITUCIONALIDADE CHAPADA, ENLOUQUECIDA OU


DESVAIRADA?

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Essas expressões são empregadas pelo STF para designar aquelas situações de Inconstitucionalidade
flagrante, na qual não resta qualquer dúvida sobre a invalidade da norma. Segundo Pedro Lenza, o termo
‘inconstitucionalidade chapada foi utilizada inicialmente pelo Min. Sepúlveda Pertence. Citando ainda que Ayres
Brito falava inconstitucionalidade desvairada ou enlouquecida.

151. QUAL A ORIGEM E CONCEITO DE CONTROLE ABSTRATO DE


CONSTITUCIONALIDADE?
Origem: também denominado de controle difuso ou incidental, tem origem datada de 1803, nos Estados
Unidos, a partir do prcedente “Marbury vs. Madison”,julgadopelo magistrado Marshal, no qual se compreendeu
que o judicial review compete a qualquer magistrado, diante de um caso concreto, com decisão de efeitos ex tunc
(retroativos). Em contraponto, o controle concetrado-abstrato, a partir da formulação de Hans Kelsen, concebeu
uma Corte Constitucional especializada para exercer a função, invalidando a norma impugnada com efeitos apenas
prospectivos (ex nunc).
No Brasil foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto n° 848/1890, que criou a
Justiça Federal, sendo, em seguida, consagrado na Constituição da República de 1891 e mantido em todas as
constituições seguintes. Trata-se da incorporação do modelo norte-americano em solo pátrio, a partir dos
ensinamentos de Ruy Barbosa. Era, até a Constituição da República de 1988, o controle predominante no
sistema brasileiro.
Conceito: o controle difuso, repressivo ou posterior, é também chamado de controle pela via de exceção
ou incidental ou de defesa, sendo realizado por qualquer juízo ou tribunal do poder judiciário. Verifica-se em um
caso concreto, e a declaração de inconstitucionalidade dá-se de forma incidental (incider tantum),
prejudicialmente ao exame do mérito (a alegação de inconstitucionalidade será a causa de pedir processual). A
inconstitucionalidade pode ser questionada em qualquer ação, desde que seja a causa de pedir e não o pedido da
demanda. Após algum dissenso, tal entendimento foi confirmado inclusive no que toca à Ação Civil Pública, sendo
reafirmado em diversos julgados das cortes superiores (ex. STJ, Resp 1.487.032/2015 - “É firme o entendimento
do STJ no sentido de que a inconstitucionalidade de determinada lei pode ser alegada em ação civil pública, desde
que a título de causa de pedir - e não de pedido –, como no caso em análise, pois, nessa hipótese, o controle de
constitucionalidade terá caráter incidental”). A questão da constitucionalidade deve ser suscitada pelas partes ou
pelo ministério público, podendo, ainda, vir a ser reconhecida de ofício pelo juiz ou pelo tribunal.

152. O QUE VEM A SER A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO?


Cláusula de reserva de plenário: originada na Constituição de 1934, impõe que, perante o tribunal, a
declaração de inconstitucionalidade somente poderá ser pronunciada pelo voto da maioria absoluta de seus
membros ou dos membros do órgão especial (art. 97, CF/88). É também denominada de cisão funcional horizontal
da competência, ou seja, o plenário apenas aprecia a questão envolvendo a inconstitucionalidade e devolve o
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processo para o órgão fracionário julgaro mérito; a decisãodo plenário é irrecorrível e vincula o órgão fracionário
no caso concreto, incorporando-se ao julgamento do recurso ou da causa como premissa inafastável. Daniel
Sarmento aduz que uma das justificativas para a referida cláusula é o Princípio da presunção graduada de
constitucionalidade dos atos normativos.
Segundo a Cláusula de reserva de plenário (fullbench, fullcort ou julgamento em banc), somente pelo voto
da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Tem o objetivo de conferir maior segurança
jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando-se que, dentro de um mesmo Tribunal, haja posições divergentes.
Possui a natureza jurídica de condição de eficácia jurídica da declaração de inconstitucionalidade dos atos
do Poder Público.
Súmula Vinculante 10: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário
de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte".

153. HÁ EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO? QUAIS?


Sim, cita-se:
- as Turmas recursais de Juizados Especiais não precisam observar a cláusula de reserva de plenário;
- as Turmas do STF, no julgamento do RE, não precisam observar a cláusula da reserva de plenário;
- em caso de reconhecimento da constitucionalidade, dispensa-se a observância da cláusula de reserva de
plenário (apenas confirmação da presunção de constitucionalidade);
- a discussão em torno da recepção, por não envolver juízo de inconstitucionalidade (mas de revogação),
dispensa a aplicação da reserva de plenário;
- análise de cautelar, já que não se trata de decisão definitiva;
- análise de atos de efeitos concretos (Info 843, STF);
- quando Plenário ou órgão especial do Tribunal já tiver se manifestado pela inconstitucionalidade da
norma;
- Plenário do STF já tiver decidido que a norma é inconstitucional.
- no caso de interpretação conforme a constituição;
- A inobservância da cláusula de reserva de plenário gera a nulidade absoluta da decisão.
- Não há ofensa à cláusula de reserva de plenário quando o órgão fracionário do Tribunal reconhece, com
fundamento na CF e em lei federal, a nulidade de ato administrativo concreto fundado em lei estadual, ainda que
esse órgão julgador tenha feito menção, apenas como reforço de argumentação, à inconstitucionalidade de lei
estadual (Info 546, STJ);

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- não viola o art. 97 da CF, a decisão de órgão fracionário do Tribunal que deixa de aplicar a norma
infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja
resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial de ofensa direta à CF (Info 848, STF).

154. HÁ POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE AMICUS CURIAE NO CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE?
O Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou
se oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o
debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa
ter mais elementos para decidir de forma legítima. Trata-se de verdadeiro fator de legitimação social das decisões
da Suprema Corte, na medida em que democratiza o debate constitucional.
Segundo a doutrina, admite-se a figura em todas as hipóteses de controle concentrado de
constitucionalidade, ainda que não expressamente previstos ou tendo sido vetados dispositivos que tratavam do
assunto. O STF o admite até a entrada do processo na pauta, diferenciando-se do STJ, que o admite até o
julgamento (EDcl no REsp 1.120.295-SP, Primeira Seção, DJe 24/4/2013).

155. O QUE É MODALIDADE ANÔMALA DE INTERVENÇÃO?


Modalidade anômala de intervenção de terceiros é o Colaborador, que não tem interesse jurídico na causa.
Não tem direito de formular pedido ou aditar o pedido delimitado pelo autor da ação.
Cabe ao relator analisar o cabimento da intervenção, sendo que sua decisão pode ser referendada ou não
pelo plenário. O despacho que admite a intervenção do amicus curiae é irrecorrível (NCPC), mas tem sido admitido
recurso da decisão que inadmite a intervenção.

156. O PARLAMENTAR AUTOR DO PROJETO DE LEI OBJETO DA ADI PODE SER ADMITIDO
NO PROCESSO COMO AMICUS CURIAE? E ESTE TEM DIREITO A SUSTENTAÇÃO ORAL?
Lenza entende que sim, ao argumento de que a atuação do parlamentar se reveste de representatividade,
desde que fique demonstrado que atua como representante ideológico de uma coletividade e não em busca
interesses egoísticos.
No entanto, o STF não vinha admitindo o ingresso de pessoa física como amicus curiae (o que foi alterado
pelo NCPC). Fundamentava sua decisão na inexistência de representatividade e no fato de o art. 7º, § 2º, da Lei
9.686/99 admitir somente a manifestação de órgãos ou entidades.

157. O QUE É ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO?


Abstrativização do controle difuso (objetivação, abstração, dessubjetivação das formas processuais): o
procedimento designado abstrativização do controle concreto, expressão cunhada pelo doutrinador Fredie Didier
Júnior, por ocasião da análise das transformações ocorridas no Recurso Extraordinário, consiste na possibilidade

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
de conferir efeitos erga omnes adecisões proferidas em sede de controle difuso/concreto de constitucionalidade.
Essa possibilidade encontra amparo, inclusive, na própria Constituição:
(a) artigo 52, X, CRFB/88: compete privativamente ao Senado, por resolução, suspender a execução, no
todo ou em parte, de leideclarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; tem
prevalecido o entendimento no sentido de que a resolução tem eficácia ex nunc, embora Barroso sustente que
deveria ser ex tunc,porque a norma é inconstitucional desde o início.
(b) ECn° 45/04 – art. 103-A, CRFB/88: após reiteradas decisões acerca da validade, interpretação ou eficácia
de uma norma sobre a qual paire controvérsia atual, judicial ou administrativa, o STF pode editar súmula vinculante
pelo voto de 2/3 dos seus membros, que vinculará os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública.
OBS: o STF não fica vinculado à súmula, podendo, inclusive deofício,revisá-la ou cancelá-la.
(c) o STF importou princípio de controle conhecido como transcendência dos motivos determinantes (os
motivos que fundamentam a declaração de inconstitucionalidade extrapolam os limites da demanda para alcançar
situações idênticas ou semelhantes). OBS. O STF não adota essa Teoria, apesar de o Ministro Gilmar Mendes ser
um de seus expoentes.
(d) repercussão geral (art. 102, §3°, CR): com a EC 45/04 (Reforma do Judiciário) mudou radicalmente o
modelo decontrole incidental, uma vez que os recursos extraordinários terão de passar pelo crivo da
admissibilidade referente à repercussão geral. Assim, com a adoção desse novo instituto haverá uma maximização
da feição objetiva do recurso extraordinário, que passou a ser um instrumento de molecularização de julgamento
em massa.
(e) Nas ADIs 3406 e 3470(Amianto), julgadas em 29.11.17, o STF julgou, incidentalmente, que o art. 2º da
Lei nº 9.055/95 é inconstitucional. Contudo, afirmou que, mesmo sendo incidental, tal decisão teria efeitos
vinculantes e erga omnes, independentemente de resolução do Senado Federal (Informativo 886);
(f) Nos REs 567.985/MT e 580963/PR, o STF realizou, expressamente, a reinterpretação de sua própria
decisão na ADI 1.232/DF (Amparo Social – LOAS). Dessa forma, a decisão dada nos REs, por ter alterado decisão
anterior proferida em sede de controle concentrado, teria também eficácia erga omnes e vinculante,
independentemente de manifestação do Senado Federal.

158. NAS ADIS 3406 E 3470 (AMIANTO), O STF ADOTOU A TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA
DOS MOTIVOS DETERMINANTES OU A ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO?
Há divergência.
Segundo o professor João Paulo Lordelo O caso foi de evidente atribuição de eficácia vinculante sobre
a fundamentação de decisão em controle concentrado. Houve, portanto, transcendência dos motivos
determinantes, pois foi conferido efeito vinculante a uma declaração incidental, que se encontrava na
fundamentação do acórdão em duas ADIs.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Transcendência dos motivos determinantes imprime efeito vinculante à ratio decidendi, ou seja, à parte
da fundamentação necessária e suficiente à conclusão do julgamento. Teoricamente, pode ocorrer em controle
difuso ou concentrado, mas o STF não vem adotando a técnica, aparentemente por uma questão política: o
incômodo que seria julgar um volume grande de reclamações ajuizadas diretamente lá;
Abstrativização do controle difuso: consiste em dar ao controle difuso o tratamento do controle
concentrado, conferindo eficácia vinculante e erga omnes ao dispositivo, para além das partes (o que pode ocorrer
em Recurso Extraordinário e HC, por exemplo).
Segundo Márcio Cavalcante  Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo
STF no julgamento, o certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do
controle difuso.
Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário
do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle
difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser
reinterpretado. Dessa forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em
outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas
confere publicidade a isso.

159. COMO SE DÁ EFICÁCIA DA DECISÃO DO STF QUE DECLARA, INCIDENTALMENTE, A


INCONSTITUCIONALIDADE DE UMA LEI?
A eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a inconstitucionalidade de uma lei:
Concepção tradicional Concepção moderna (atual)
Eficácia inter partes Eficácia erga omnes
Efeitos não vinculantes Efeitos vinculantes

160. QUAIS SÃO OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE NO


CONTROLE DIFUSO?
De maneira geral, a declaração de inconstitucionalidade no controle difuso produz efeitos ex tunc e inter
partes. Em regra, a inconstitucionalidade declarada como questão prejudicial não transita em julgado (limite
objetivo da coisa julgada) nem afeta terceiros estranhos ao processo (limite subjetivo). A doutrina majoritária no
Brasil situa a inconstitucionalidade no campo da nulidade, em razão da supremacia da constituição. Decisão que a
reconhece tem natureza declaratória, e retroage até o nascimento do ato viciado. O STF tem admitido a mitigação
da retroação de efeitos, mediante ponderação de princípios e aplicação analógica do art. 27 da Lei 9868/99 (o que
a doutrina chama de modulação dos efeitos temporais da sentença).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Segundo o art. 52, X, CR/88, cabe ao Senado suspender a lei declarada inconstitucional pelo STF em controle
difuso, no todo ou em parte, conferindo eficácia erga omnes à decisão. Pela doutrina majoritária, o Senado não
está vinculado à decisão do STF, existindo um campo de discricionariedade para decidir pela suspensão ou não da
norma e sua extensão. O Senado tem competência para suspender norma federal, estadual e municipal.

161. O QUE É O CONTROLE CONCENTRADO IN ABSTRATO?


O controle em abstrato de constitucionalidade se dá por meio das ações de controle concentrado: ADI e
ADC (criada pela EC 03/93), ADPF e ADO.
ADI e ADC tem a mesma natureza, são ações com o sinal trocado (caráter dúplice ou ambivalente). A
improcedência da ADI significa reconhecimento da constitucionalidade, da mesma forma que a improcedência da
ADC significa inconstitucionalidade do ato normativo.
Admite-se fungibilidade para ADI e ADPF e para ADI e ADO.
Aspectos comuns:
- Não admitem desistência, assistência e intervenção de terceiros (ver amicus curiae).
- Na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir é aberta. Todo e qualquer dispositivo da CF ou do restante do bloco
de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato
normativo inconstitucional.
Por outro lado, pelo fato de a causa de pedir ser aberta, se o STF julgar improcedente uma ADI, isso quer
dizer que o Tribunal afirmou que a lei impugnada não violou nenhum dispositivo da CF, quer tenha sido invocado
pelo autor ou não. O STF fica adstrito apenas ao pedido.
- Deve haver provocação em relação ao objeto. O STF não pode se manifestar de ofício (regra da adstrição).
Exceção: inconstitucionalidade por arrastamento.
ADI 2182 – Nos casos em que o pedido versar apenas sobre a inconstitucionalidade formal de uma lei, o
STF fica impossibilitado de analisar a sua inconstitucionalidade material.
Info 786, STF: É possível a cumulação em uma só demanda de controle concentrado de pedidos típicos de
ADI e ADC.
A decisão de mérito é irrecorrível, salvo Embargos de Declaração.
Da decisão do relator que indefere a inicial, cabe agravo.
Não cabe Ação Rescisória.
Legitimidade ativa (art. 103, CF): Os legitimados universais são aqueles que não precisam demonstrar
pertinência temática. Já os legitimados especiais só poderão propor essas ações se demonstrarem a existência de
relação causal entre o objeto impugnado e o interesse por eles defendido.
UNiversais (União) e ESpeciais (Estado)

162. O QUE NÃO PODE SER OBJETO DE CONTROLE CONCENTRADO?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
NÃO PODEM SER OBJETO DE CONTROLE CONCENTRADO: a) Súmulas: por não possuírem grau de
normatividade qualificada pela generalidade e abstração, mesmo no caso de súmula vinculante. No caso de SV, há
procedimento de revisão. b) Regulamentos ou decretos regulamentares expedidos pelo Executivo e demais atos
normativos secundários: por não estarem revestidos de autonomia jurídica. Trata-se, no caso, de questão de
legalidade, por inobservância do dever jurídico de subordinação normativa à lei. Decreto que não regulamente lei
alguma: poderá haver ADI para discutir observância do princípio da reserva legal. c) Normas constitucionais
originárias: presunção absoluta de constitucionalidade. No caso de conflito entre si, deve haver harmonização,
segundo caso concreto (princípio da unidade, concordância prática). d) Atos estatais de efeitos concretos: por não
possuírem densidade jurídico-material (densidade normativa) –) Respostas emitidas nas consultas ao TSE: por se
tratar de ato de caráter meramente administrativo, não possuindo eficácia vinculativa aos demais órgãos do Poder
Judiciário; e) Atos normativos já revogados ou de eficácia exaurida: porque a sua eventual declaração teria valor
meramente histórico. OBS: Se a revogação ou a perda de vigência da lei ou ato normativo ocorrer já no curso da
ação de inconstitucionalidade: STF entende pela perda do objeto, com a prejudicialidade da ação, devendo os
efeitos residuais concretos que possam ter sido gerados pela aplicação da lei ou ato normativo não mais existente
ser questionados na via ordinária, por intermédio do controle difuso de constitucionalidade. Exceções: fraude
processual; repetição em outra norma de igual conteúdo; não ter sido o STF informado antes do julgamento.
Gilmar Mendes tem posição diferente sobre a regra: princípios da máxima efetividade e da força normativa da
CRFB; ATENÇÃO: e) Normas anteriores à Constituição: se incompatíveis são revogadas (não-recepcionadas), não
se podendo falar em inconstitucionalidade superveniente. (Conflito de leis no tempo, e não hierárquico). Pode
caber ADPF para, de forma definitiva e com eficácia geral, solver controvérsia relevante sobre a legitimidade do
direito ordinário pré-constitucional em face da nova Constituição.

163. QUEM SÃO OS LEGITIMADOS DO CONTROLE CONCENTRADO?


ROL DE LEGITIMADOS(CONTROLE PELO STF) – mesmo para todas: art . 103 da CRFB

Os legitimados universais são aqueles que não precisam demonstrar pertinência temática. Já os legitimados
especiais só poderão propor essas ações se demonstrarem a existência de relação causal entre o objeto impugnado
e o interesse por eles defendido.

ESTATAL - SEM advogado NÃO ESTATAL - necessita de


já possui capacidade postulatória advogado com poderes específicos
Presidente da República
Conselho Federal da OAB
Procurador-Geral da República
LEG ATIVA UNIVERSAL
Mesa da Câmara dos Deputados Partido Político com representação no CN
(TODA A COLETIVIDADE)
(momento da propositura:mín 1 em CD ou SF
Mesa do Senado Federal
Representado Diretório Nacional ou Executiva
Confederação Sindical (min 3 Federações)
Governador do Estado/DF
LEG ATIVA ESPECIAL Admite associação de associação
(PARCELACOLETIVIDADE) Mesa da Assembleia Legislativa/ Entidade de classe de âmbito nacional:
"PERTINÊNCIA TEMÁTICA": Câmara Distrital a) representante de uma categoria;
Mês do CN não pode b) presente em pelo menos 9 UF (1/3)

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
exceto se restrita a uma área menor (ex: Sal)
PGR - no controle de constitucionalidade, atua na condição de custus constituitionis, ou seja, como fiscal
da supremacia da Constituição (art. 103, § 1º, da CR). Segundo o STF deve emitir parecer, inclusive quando autor
e pode opinar pela improcedência do pedido feito por ele mesmo.
A interpretação dos legitimados costuma ser feita de maneira restritiva.
A entidade de classe tem que ser representativa dos interesses de uma determinada categoria
profissional, social ou econômica. O STF tem admitido a legitimidade de associações compostas por pessoas
jurídicas (“associações de associações”).
Info 826, STF: Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui legitimidade
para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados.
Para verificação do caráter nacional, em regra, aplica-se o art. 7º da Lei 9.096/95 (partidos políticos) – deve
haver a presença em 1/3 dos Estados da federação (9 estados).
STF: Os Conselhos de Fiscalização Profissional de âmbito nacional podem ajuizar ADI, ADC e ADPF? NÃO,
pois não estão no rol do art. 103 da CF/88, que é taxativo. Tais conselhos não se ajustam à noção de entidade de
classe, expressão que designa tão somente aquelas entidades vocacionadas à defesa dos interesses dos membros
da respectiva categoria ou classe de profissionais. Exceção: o Conselho Federal da OAB. Por outro lado, os
conselhos profissionais podem ajuizar ACP, já que são autarquias e, portanto, estão incluídos no rol do art. 5º da
Lei 7.347.
Partido político deve ter pelo menos um representante no CN. A legitimidade ativa do partido político deve
ser aferida apenas no momento de propositura da ação.
Não tem capacidade postulatória (dependem de advogado): partidos políticos, confederações sindicais e
entidades de classe de âmbito nacional.

164. E NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA – QUEM SÃO OS LEGITIMADOS DO


CONTROLE CONCENTRADO?
ROL DE LEGITIMADOS (CONTROLE PELO TJ) – definidos em Constituição Estadual, sendo vedado pela CRFB
que seja atribuída legitimação a apenas uma pessoa. (art 125 §2ª CRFB)

165. QUAL O PAPEL DO ADVOGADO GERAL DA UNIÃO?


A defesa do ato normativo é feita pelo AGU na ADI e não na ADC (vez que não há ato ou texto impugnado
a ser defendido).
Após as informações prestadas pelos órgãos ou entidades das quais emanaram a lei ou o ato administrativo
impugnado, são ouvidos, sucessivamente, o AGU e o PGR, que devem se manifestar, cada qual, no prazo de 15
dias.
Sempre se entendeu que o AGU deveria, necessariamente, defender o ato impugnado, enquanto o PGR
poderia dar parecer tanto favorável quanto desfavorável. Contudo, o STF vem afirmando que há simples direito

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
de manifestação do AGU, sem obrigatoriedade de defesa do ato impugnado, notadamente quando há um
interesse da União na declaração de inconstitucionalidade da lei. O AGU não deve ser entendido como parte, e sim
como uma instituição que é chamada para se manifestar, podendo dizer o que entende, na defesa dos interesses
da União.

166. QUAIS AS MITIGAÇÕES DO SISTEMA NORTE-AMERICANO DA NULIDADE NO


BRASIL?
Apesar de o Brasil ter adotado, ao lado do sistema difuso (EUA), o controle concentrado de
constitucionalidade (de origem austríaca), adotou, quanto à natureza jurídica da norma inconstitucional, em regra,
a teoria da nulidade, afastando-se a tese austríaca da anulabilidade.
Contudo, excepcionalmente, tendo em vista os princípios da segurança jurídica e o da boa-fé, o direito
brasileiro permite a modulação dos efeitos da decisão por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
social. Essa técnica, que tem previsão legal em relação ao controle concentrado, também vem sendo utilizada pelo
STF em sede de controle difuso.
É admitida a modulação temporal dos efeitos da decisão, para fazer com que ela tenha efeito ex nunc (a
partir do trânsito em julgado) ou prospectivo (fixando um momento futuro).
A lei exige voto de 2/3 dos membros para que seja admitida a modulação.
Pode ser modulado o âmbito de abrangência da decisão (“restringir os efeitos da declaração”).
É cabível a oposição de embargos de declaração para fins de modulação dos efeitos.
Info 780, STF: Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado encerrado e,
por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão.
O NCPC expressamente admite a modulação dos efeitos no controle difuso (Art. 525, §13)

167. QUANDO SURGIU O EFEITO VINCULANTE? E O QUE VEM A SER A TEORIA EXTENSIVA
DO EFEITO VINCULANTE?
As decisões proferidas no modelo concentrado de constitucionalidade são de observância obrigatória para
aos demais órgãos do Poder Judiciário e para a Administração Pública (102, §2º). O efeito vinculante surge com a
EC nº 03/93, para a ADC.
Além disso, pela teoria extensiva do efeito vinculante, a coisa julgada além da parte dispositiva,
abrangendo os fundamentos determinantes da decisão (também chamada de teoria da transcendência dos
motivos determinantes). Em geral, os autores entendem que o fundamento determinante é aquele que não pode
ser modifica dos em alteração da parte dispositiva. É a ratio decidendi (razões de decidir)– elemento básico da
decisão. Distingue-se do obter dictum (questões paralelas). A lógica que inspira o efeito vinculante é a de reforço
da posição da corte constitucional. Assim, a corte formula uma regra geral (contida nos fundamentos
determinantes) que não pode ser descumprida. Assim, fixa-se um modelo,cujo descumprimento enseja a

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
reclamação. Atualmente, contudo, não se tem admitido a utilização de tal teoria, nem a reclamação fundada na
transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante. (STF, Rcl 22012/RS, DJ 12.09.2017).

168. QUAL O OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE?


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. (Lei nº 9.868/99 e art102, I, “a”, primeira parte CRFB e 169
a 178 RISTF ) CONCEITO: Tem por objeto principal a própria declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo em tese – federal ou estadual.
OBJETOS: a) Leis (art. 59 da CRFB): emendas constitucionais (por emanarem do poder constituinte
derivado reformador), leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias (por terem força
de lei, mas desde que em plena vigência, ou seja, não convertidas ainda em lei ou não tendo perdido a sua eficácia
por decurso de prazo), decretos legislativos e resoluções (esses dois últimos somente se estiverem revestidos de
generalidade e abstração). b) Atos normativos: qualquer ato revestido de indiscutível caráter normativo, como as
resoluções administrativas dos Tribunais, os regimentos internos dos Tribunais, as deliberações administrativas
dos órgãos judiciários, as deliberações dos Tribunais Regionais do Trabalho (salvo as convenções coletivas de
trabalho) etc. c) Tratados internacionais: sejam com status de EC, Supra legal ou lei ordinária; d) Políticas públicas:
desde que configurada hipótese de evidente e arbitrária abusividadegovernamental, em violação à concretização
dos direitos mínimos existenciais do ser humano (direitos sociais, econômicos e culturais), devendo ainda se
verificar, no caso concreto, a razoabilidade da pretensão, bem como a disponibilidade financeira do Estado para a
implementação da referida política pública.

169. A LEI UTILIZADA COMO OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE,


É ANALISADA DE FORMA RESTRITA OU AMPLA?
No caso a Lei é utilizada em conceito amplo: a) todo ato normativo primário (art. 59, CRFB/88); b) EC -
desde que: (i) viole uma das limitações; (ii) apenas as que versem sobre cláusulas pétreas; (iii) poderes implícitos;
c) lei orçamentária (tem admitido com freqüência – a controvérsia tem que ser suscitada em abstrato.(ADI 5930);
d) decreto presidencial, desde que autônomo - art. 84, VI, CRFB/88; e) tratado internacional - ADI 1480. Ato
normativo (todo aquele que vincula ou obriga um determinado grupo): a) ADI 1694 - TCU – consulta; b) parecer
AGU aprovado pelo Presidente da República; c) resolução do CNJ que interprete diretamente a Constituição - ADC
12 - ADI - férias coletivas - ADI 3367; d) Resolução do TSE;

170. DE QUEM É A COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE?
A LEGITIMIDADE para propor está disposta no art. 103, CR. Já a COMPETÊNCIA será do STF, no caso de Lei
ou ato normativo federal ou estadual (incluindo distrital no exercício de competência estadual) em face da CR. Ou
ainda, do TJ local, no caso de Lei ou ato normativo estadual ou municipal em face da CE (inclui Lei Orgânica do DF);

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
171. O QUE OCORRE NO CASO DE TRAMITAÇÃO SIMULTÂNEA DE AÇÕES – NO CASO DE
LEI ESTADUAL QUESTIONADA PERANTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL NO STF, E
PERANTE A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO PERANTE O TJ LOCAL?
No caso de tramitação simultânea de ações (lei estadual perante a CR no STF e perante a CE no TJ local–
quando há norma da Constituição República repetida na Constituição Estadual: deve-se suspender a ação no TJ
local até o julgamento da ADI no STF.
Caso haja repetição de norma da CRFB na CE: possível controle perante o TJ local, confrontando lei
municipal em face da CE que repetiu norma da CRFB.
Não cabe ADI no STF em face de lei municipal.
O acesso direto só é possível via ADPF.
Na análise de compatibilidade de lei municipal com a Lei Orgânica do Município, o controle é de
legalidade.

172. QUAL O PROCEDIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE?


PROCEDIMENTO: art. 103, §1º e 3°, art. 103, CRFB; arts. 169 a 178, RISTF; Lei n° 9.868/99 - Quando
imprescindível advogado, procuração com poderes especiais, indicando objetivamente lei ou ato normativo
atacados pela ADI; Pode haver indeferimento liminar pelo relator, atacável por agravo, caso a petição sofra de
vício insanável. São casos de inépcia: (i) não indicar dispositivo da lei ou ato normativo impugnado, (ii) não for
fundamentada ou (iii) manifestamente improcedente. Não havendo indeferimento liminar, relator pede
informações aos órgãos ou entidades das quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que devem ser
prestadas em 30 dias do recebimento do pedido. Após informações, ouvidos, sucessivamente, o AGU e o PGR, que
devem se manifestar, cada qual, em 15 dias.
PAPEL DO AGU – art. 103, §3º, CRFB diz que AGU será citado para defender o ato impugnado (Guardião da
Presunção de Constitucionalidade das Leis), mas hoje se diz que há direito de manifestação, sem obrigatoriedade
de defesa do ato impugnado. Não precisa defender quando: a) já houver caso análogo em que o STF tenha
entendido que a norma era inconstitucional - ADI 1616; b) subscrever a ADI; c) norma impugnada feririnteresses
da União; ADI 3916 e 4309. Ademais, a CRFB não prevê sanção para o caso de o AGU não defender o ato impugnado
(ADI 3916).
Gilmar Mendes: AGU não deve ser entendido como parte, mas sim como instituição chamada para se
manifestar, podendo dizer o que entende (um parecer concorrente ao do PGR). Relator pode solicitar informações
aos Tribunais Superiores, aos Tribunais Federais e Tribunais Estaduais acerca da aplicação da norma impugnada
no âmbito de sua jurisdição.
Caso haja necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato; ou de notória insuficiência
das informações existentes nos autos: pode relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão
de peritos ou fixar data para ouvir depoimentos em audiência pública (art. 20, §1º a 3º, Lei 9.868/99). Possível
excepcionalmente, manifestação de outros órgãos ou entidades, se relator considerar relevante a matéria e a
101
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
representatividade dos postulantes para pluralizar o debate e promover legitimação social. Ocorre por meio da
admissão de Amicus curiae (ingresso até a entrada do processo na pauta) que tem direito de apresentar
sustentação oral, nos termos do RISTF, mas não pode recorrer.

173. QUAL O QUÓRUM PARA JULGAMENTO DA DECISÃO?


QUÓRUM PARA JULGAMENTO E DECISÃO – voto da maioria absoluta dos membros do STF (mínimo de 6),
observado quórum para a instalação da sessão de julgamento (mínimo de 8) (Arts. 22 e 23, Lei 9.868/99).

174. O QUE É CAUSA DE PEDIR ABERTA NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE?
CAUSA DE PEDIR ABERTA: não fica o STF condicionado à causa petendi apresentada pelo postulante, mas
apenas ao seu pedido, motivo pelo qual ele poderá declarar a inconstitucionalidade da norma impugnada por teses
jurídicas diversas.

175. CABE MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE? SE SIM,


QUAIS OS SEUS EFEITOS?
Sim, a MEDIDA CAUTELAR NA ADI será concedida, salvo no período de recesso, por decisão da maioria
absoluta dos membros do STF, observado o quórum mínimo para a sua instalação, após audiência (exceto nos
casos de excepcional urgência) dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado,
que se pronunciarão no prazo de 5 dias. Ouvidos AGU e PGR, no prazo de 3 dias cada, se relator julgar indispensável
(Art. 10, caput e §§, Lei 9.868/99). Facultada sustentação oral aos representantes judiciais da parte requerente e
dos órgãos ou autoridades responsáveis pela expedição do ato, na forma do RISTF.
EFEITOS DA MEDIDA CAUTELAR: eficácia contra todos (erga omnes) e efeito ex nunc, salvo se o Tribunal
entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa (ex tunc). Ademais, a concessão da medida cautelar torna
aplicável a legislação anterior acaso existente (efeito repristinatório tácito), salvo expressa manifestação em
sentido contrário (Artigo 11, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.868/99).

176. PODE SER UTILIZADO PROCEDIMENTO SUMÁRIO NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE?
Sim, o PROCEDIMENTO “SUMÁRIO” está previsto no art. 12 Lei nº 9.868/99, visto que, em face da
relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica: poderá o relator,
após a prestação das informações, no prazo de 10 dias, e a manifestação do AGU e do PGR, sucessivamente, no
prazo de 5 dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a
ação.

177. QUAIS OS EFEITOS QUE PODEM SER DADOS À AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
EFEITOS DA DECISÃO: Considerando tratar-se de Ação de caráter dúplice/ambivalente, nos termos do
artigo 24 da Lei nº 9.868/99 “Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou
procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação
direta ou improcedente eventual ação declaratória. Regra geral, possui os seguintes efeitos: (a) erga omnes (b) ex
tunc (c) efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Judiciário e à Administração.
Entretanto, poderá ser dado efeito diverso.
– MODULAÇÃO DOS EFEITOS, por motivos de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá
o STF, por manifestação qualificada de 2/3 de seus membros (8 Ministros), declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo sem a pronúncia de sua nulidade, restringindo os efeitos da referida declaração ou decidindo
que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado, ou seja,
atribuindo-lhe efeito ex nunc, nos termos do artigo 27 da Lei nº 9.868/99, que só terão início a partir do trânsito
em julgado da decisão (e não a partir da publicação da ata de julgamento no DJU). Possível: Interpretação
conforme a Constituição; Declaração de nulidade parcial sem redução de texto .

178. QUAL A FINALIDADE DA RECLAMAÇÃO NO ÂMBITO DA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE?
Tem finalidade de garantir a autoridade da decisão proferida em sede de ADI pelo Supremo Tribunal
Federal. (serve também para reafirmar a competência da Corte e exigir observância de súmulas vinculantes). Não
cabe reclamação contra ato judicial que tenha transitado em julgado. Recl 1880: ampliou legitimados para a
propositura de reclamação, não mais se restringindo ao rol constante no artigo 103 da CRFB e no artigo 2º da Lei
nº 9.868/99, para considerar todos aqueles que forem atingidos por decisões dos órgãos do Poder Judiciário ou
por atos da Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual, municipal e distrital contrários
ao entendimento firmado pela Suprema Corte em ADI (Art. 28, §ú, Lei 9.868/99; art. 102, § 2º, CRFB).
Natureza jurídica da reclamação: Há controvérsia na doutrina (ação; sucedâneo de recurso; remédio
incomum; incidente processual; medida de Direito Processual Constitucional; medida processual de caráter
excepcional). STF: como instrumento de caráter constitucional, com dupla finalidade: preservar a competência e
garantir a autoridade das decisões; Ada Pelegrini: simples direitodepetição (5º, XXXIV).
STF adotou esse entendimento ao permitir a reclamação no âmbito estadual (TJ). Reclamação no âmbito
estadual: é possível, desde que haja previsão da CE, pois se trata de direito de petição.
RESUMO:

PROCEDIMENTOS
MÉRITO CAUTELAR SUMÁRIO
Petição Inicial Petição Inicial Petição Inicial
Amicus Informações (30d) Informações (5d) Informações (10d)
Curiae AGU (15d) AGU/PGR(3d): ouvidos apenas se Relator AGU (5d)
PGR (15d) considerar necessário; PGR (5d)

103
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Perícias,Audiências
Públicas,Informações - -
adicionais - ADI 855
Julgamento:
a) Deferida: ef vinculante; requisitos –
Julgamento Constitucional Julgamento Constitucional
1) norma aparentemente
Inconstitucional Inconstitucional
inconstitucional;
Efeitos: vinculantes, “erga Efeitos: vinculantes,
2) aplicação geraria insegurança.
omnes” e “erga omnes” e
b) Indeferida - sem efeito vinculante,
“ex tunc” “ex tunc”
não quer dizer que a norma seja
inconstitucional. 179. O
QUE ACONTECE CASO O ATO NORMATIVO QUE ESTAVA SENDO IMPUGNADO NA ADI
SEJA REVOGADO ANTES DO JULGAMENTO DA AÇÃO?
De acordo com STF, em regra, haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida
(Info 824, STF).
Exceção 1: não haverá perda do objeto caso fique demonstrado que houve "fraude processual", ou seja,
que a norma foi revogada a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela
produzidos, ex tunc.
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi
repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Ex. norma do CPC 73 repetida no CPC 2015. Não houve
desatualização significativa no conteúdo do instituto.
Exceção 3: não haverá perda do objeto caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado
previamente que houve a revogação da norma atacada. Entender o contrário permitira a manipulação da decisão
do STF (Info 845).

180. O QUE ACONTECE QUANDO HÁ ALTERAÇÃO DA LEI IMPUGNADA ANTES DO


JULGAMENTO DA ADI?
O autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo impugnado
apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original. Se o autor não fizer isso, o STF
não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido pela perda superveniente do objeto. STF. Plenário. ADI
1931/DF, Rel Marco Aurélio, julgado 7/2/2018.

181. COM A CONVERSÃO DA MP EM LEI, ANTES DO JULGAMENTO DA ADI, O QUE


ACONTECE?
Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada, esta ADI não perde o objeto e poderá ser
conhecida e julgada. Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque
não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual permanece a
possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade. Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre
o ato legislativo provisório (MP) e a lei que resulta de sua conversão. ADI 1055/DF

104
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
182. CABE NOVA ADI CONTRA LEI QUE JÁ FOI JULGADA CONSTITUCIONAL NO ASPECTO
FORMAL?
Sim, O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele
reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional. (STF. ADI 5081/DF)

183. CABE ADI DE LEI DISTRITAL DE COMPETÊNCIA MUNICIPAL?


Não, nos moldes da Súmula 642 do STF, “Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito
Federal derivada da sua competência legislativa municipal”.

184. ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO DE CONSTITUCIONALIDADE PREJUDICA O


CONHECIMENTO DA ADI?
A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não prejudica o
conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte a
produzir, em tese, seus efeitos.

185. O ADVOGADO QUE ASSINA A PETIÇÃO DA ADI NECESSITA DE PROCURAÇÃO COM


PODERES ESPECIAIS?
SIM, o advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração
com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação. Caso
esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui
vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI
4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018.

186. CABE ADI CONTRA RESOLUÇÃO DO TSE?


Segundo o STF, é cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de
decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
3/5/2018.

187. CABE ADI CONTRA RESOLUÇÃO DO CNMP?


Cabe ADI contra Resolução do CNMP. A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e
abstrato, editado pelo Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato
normativo primário. STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/4/2018.

188. O ESTADO MEMBRO PODE RECORRER DE DECISÃO PROFERIDA EM ADI?


O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador. A
legitimidade é do próprio governador. Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados. STF. Plenário.
ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
189. QUAL O CONCEITO, FINALIDADE E OBJETO DA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO – ADI POR OMISSÃO?
A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO, esta disposta no art 103, §2º e art 12-A a
12-H Lei 9868/99.
CONCEITO: a ação pertinente para tornar efetiva norma constitucional em razão de omissão de qualquer
dos Poderes ou de órgão administrativo.
OMISSÃO INCONSTITUCIONAL: ausência de norma ou ato infraconstitucional que impeça a ampla
aplicação da norma constitucional de eficácia limitada. Viola princípios da proibição do retrocesso; garantia do
mínimo existencial e dignidade da pessoa humana.
FINALIDADE: tornar efetiva norma constitucional de eficácia limitada, não regulamentada por omissão do
Poder Público ou órgão administrativo.
OBJETO da ADI por Omissão é amplo: a) inércia do Legislativo em editar atos normativos primários; b)
inércia do Executivo em editar atos normativos secundários, como regulamentos e instruções; c) inércia do
Judiciário em editar os seus próprios atos.

190. É POSSÍVEL CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR


OMISSÃO(ADO)? EM SENDO POSSÍVEL, PODE O STF DETERMINAR O PRAZO AO
LEGISLATIVO OU AO EXECUTIVO NESSA CAUTELAR DE ADO?
Sim, em razão da Lei no. 12.063/09, que modificou a Lei n°. 9.868/99, passando a prever a cautelar em
ADO. Ao disciplinar o procedimento específico da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, a Lei n°.
12.063/09, no art. 12-F, § 1o, modificou a Lei 9.868/99, possibilitando o deferimento de cautelar em ADO, que
poderá consistir em: i) suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial;
ii) suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos; ou ainda iii) qualquer outra providência
a ser fixada pelo Tribunal. Segundo o Ministro Gilmar Mendes, em obra doutrinária: como determinar prazo para
providências pelo Legislativo ou pelo Executivo.

191. APÓS AJUIZADA, PODE HAVER A PERDA DO OBJETO DA ADI POR OMISSÃO?
Sim, de acordo com o STF há a perda de objeto da ADI por omissão pendente de julgamento se a norma
que não tinha sido regulamentada é revogada; ou ainda se é encaminhado projeto de lei ao Congresso Nacional
sobre a referida matéria (desencadeado o processo legislativo, não há que se cogitar de omissão inconstitucional
do legislador).
Contudo, a inércia deliberanda das Casas Legislativas pode ser objeto da ADI por omissão: STF reconhece a
mora do legislador em deliberar, declarando a inconstitucionalidade por omissão.

192. QUAIS OS TIPOS DE OMISSÃO PODEM SER ARGUIDOS NA ADI POR OMISSÃO?

TIPOS DE OMISSÃO: pode ser a) total (não há cumprimento do dever constitucional de legislar; Ex.: Art.
37, inciso VII, da CRFB); ou b) parcial (há lei infraconstitucional integrativa, porém insuficiente). b1) Omissão
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
parcial propriamente dita: lei existe, mas regula de forma deficiente (Ex.: Art. 7º, inciso IV, da CRFB); b2)Omissão
parcial relativa (ou “exclusão de benefício incompatível com o princípio da igualdade”):lei existe, outorgando
determinado benefício a uma certa categoria, deixando de conceder a outra que também deveria ter sido
contemplada (Ex.: Súmula 339 do STF).

193. QUAL A DIFERENÇA ENTRE A AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO E


O MANDADO DE INJUNÇÃO?
ADO MI
Art. 103, § 2º, CF Art. 5º, LXXI, CF
Finalidade Tornar efetiva norma constitucional. É Tornar viável o exercício de direitos. É
ação de controle abstrato, em processo controle concreto, em processo constitucional
constitucional objetivo. Controle subjetivo.
concentrado.
Cabimento Faltar norma regulamentadora de Faltar norma regulamentadora de direitos e
qualquer norma constitucional de liberdades constitucionais e das prerrogativas
eficácia limitada. inerentes a nacionalidade, cidadania e soberania.
Competência CF – Competência reservada ao STF. É instrumento de controle difuso limitado, ou
CE – TJ. seja, não se concentra em apenas um órgão, mas
também não é aberto a qualquer órgão. CF prevê
a competência do STF, STJ, TSE e TRE. A
constituição estadual pode atribuir competência
ao TJ ou ao juiz, como ocorre na constituição
mineira.
Legitimidade Mesmos da ADI e ADC. Não terão MI individual: qualquer pessoa que tenha
ativa legitimidade as autoridades omissas, o exercício de um direito constitucionalmente
responsáveis pela elaboração do ato. previsto inviabilizado pela ausência de norma
regulamentadora.
MI coletivo: MP, partido político com
representação no CN, organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos
1 ano, DP.
Legitimidade Órgãos ou autoridades Órgãos ou autoridades responsáveis pela
passiva responsáveis pela elaboração da norma elaboração da norma regulamentadora ou da

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
regulamentadora ou da medida para medida para torna-la efetiva ou viabilizar o
torna-la efetiva ou viabilizar o exercício exercício do direito. Normalmente é do CN,
do direito. Normalmente é do CN, exceto nos casos de iniciativa exclusiva. O STF
exceto nos casos de iniciativa exclusiva. não tem admitido nem litisconsórcio passivo.
Decisão de Dar ciência ao poder I - determinar prazo razoável para edição
mérito competente para a adoção das da norma regulamentadora;
providências necessárias. Se for órgão II - estabelecer as condições em que se
administrativo, fixa-se prazo de 30 dias. dará o exercício dos direitos, das liberdades ou
O prazo pode ser excepcionalmente das prerrogativas reclamados ou, se for o caso,
alterado (para mais ou para menos) pelo as condições em que poderá o interessado
tribunal, de acordo com as promover ação própria visando a exercê-los, caso
circunstâncias do caso e com o interesse não seja suprida a mora legislativa no prazo
público envolvido. determinado.
Para o legislador, o STF faz Obs: será dispensada a determinação a
apenas sugestão de prazo (separação de que se refere o inciso I quando comprovado que
poderes). o impetrado deixou de atender, em MI anterior,
Quórum de presença: 2/3. ao prazo estabelecido para a edição da norma.
Quórum votação: maioria absoluta.
Liminar É possível. Requisitos mais Não cabe liminar em MI.
exigentes: excepcional urgência e
relevante interesse.
Quórum de presença: 2/3.
Quórum de votação: maioria absoluta.
Se a omissão for parcial, a cautelar é de
suspensão do ato. Se for total, podem
ser suspensos processos judiciais e
administrativos ou ser adotada outra
medida.

194. PODE HAVER FUNGIBILIDADE ENTRE MANDADO DE INJUNÇÃO E ADI POR


OMISSÃO?
Não, pois possuem pedidos diversos.
MI x ADI por omissão: a) MI é restrito, pois trata apenas de direitos que envolvam cidadania, direitos
fundamentais, etc.; b) qualquer pessoa pode propor MI; e c) os efeitos do MI são inter partes. Não há fungibilidade
entre ADI por Omissão e Mandado de Injunção: diversidade de pedidos.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
195. QUAL A COMPETÊNCIA PARA JULGAR A ADI POR OMISSÃO? LEGITIMADOS E O
PROCEDIMENTO?
COMPETÊNCIA: (Art. 103, § 2º, CRFB, c.c., analogicamente, art. 102, I, “a”, CRFB) - STF. Segundo o Min.
Gilmar Mendes a Inconstitucionalidade por omissão de órgãos legislativos estaduais em face da CRFB/88, a
competência é perante oSTF.
LEGITIMIDADE: São os mesmos legitimados para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade (Art.
103 da CRFB), inclusive, com as observações sobre a pertinência temática para alguns deles.
PROCEDIMENTO: Lei 9868/99: praticamente idêntico ao da ADI, com peculiaridades: a) relator poderá
solicitar a manifestação do AGU, a ser encaminhada em 15 dias (art. 12-E, §2º), após a manifestação das
autoridades responsáveis pela omissão. Citação do AGU não é obrigatória.

196. CABE MEDIDA CAUTELAR EM ADI POR OMISSÃO?


Sim, a MEDIDACAUTELAR possui caráter de excepcional urgência e relevância da matéria podem ensejar
tal concessão, após audiência das autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão se
pronunciar em 5 dias. Poderá consistir em: suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no
caso de omissão parcial; suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos; outra providência
a ser fixada pelo Tribunal.

197. NO CASO DE OMISSÃO, QUAIS AS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS NA ADI


POR OMISSÃO? E QUAIS TEORIAS SÃO APLICAVEIS AO CASO?
Ato do Poder Legislativa: O STF adota, tradicionalmente, na ADO por omissão total, a tese de cunho não
concretista, pela qual reconhece a mora e dá ciência ao poder competente recomendando que supra a omissão.
Isso vem mudando, cita-se como exemplo, a ADO 25/DF, na qual o STF reconheceu por omissão e declarou haver
mora, por parte do Congresso Nacional, em editar a lei complementar exigida pelo art. 91 do ADCT, fixando um
prazo de 12 meses para que o Legislativo faça a lei. Consignou que, não editada a lei, competia ao Tribunal de
Contas da União (TCU) fixar os valores das compensações (corrente concretista geral).

Ato de órgão administrativo: Em se tratando de órgão administrativo, a mora deve ser suprida em 30 dias,
ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas
do caso. Caso o órgão não supra a omissão no prazo, incorrerá em crime de responsabilidade.

198. QUAL O CONCEITO, FINALIDADE E COMPETÊNCIA DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE


CONSTITUCIONALIDADE?
A AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, está disciplinada na EC 03/93 - que alterou Art. 102 e
103 CRFB - e Lei 9868/1999.
CONCEITO: Ação que tem por finalidade confirmar a constitucionalidade de uma lei federal, impedindo que
a lei não seja questionada por outras ações.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
FINALIDADE: declarar constitucionalidade de lei ou ato normativo (apenas federal), transformando
presunção relativa (iuris tantum) em absoluta (iure et iure), afastando quadro de incerteza sobre a validade ou
aplicação da aludida lei.
COMPETÊNCIA: originária do STF (art. 102, I, a, CRFB). LEGITIMIDADE: mesmos para a ADI.

199. EXPLIQUE SOBRE O PROCEDIMENTO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE


CONSTITUCIONALIDADE?

PROCEDIMENTO: praticamente mesmo da ADI, com observações: petição inicial deve indicar: a) dispositivo
da lei ou ato normativo questionado e fundamentos jurídicos do pedido; b) pedido, com especificações; c)
existência de controvérsia judicial relevante sobre aplicação da disposição objeto da ADC (ADC 1: controvérsia
judicial relevante: a) STF: controvérsia dentro do Poder Judiciário (jurisprudencial); b) Gilmar Mendes: controvérsia
jurídica. Como a lei possui presunção de constitucionalidade, se alguns juízes a tem declarado inconstitucional, já
está caracterizada a controvérsia; c) relevância: possibilidade de ocasionar insegurança jurídica em boa parte do
território nacional). Deve conter cópias do ato normativo questionado e dos documentos necessários para
comprovar procedência do pedido de declaração de constitucionalidade (art. 14, da Lei nº 9.868/99). Petição inicial
será liminarmente indeferida pelo relator se for: inepta, não fundamentada, ou manifestamente improcedente.
Contra essa decisão cabe agravo. O AGU não será citado, pois não há ato ou texto a ser defendido. Vista dos autos
ao PGR, para se pronunciar em 15 dias (art. 19, Lei nº 9.868/99). Havendo pedido cautelar, decisão sobre a liminar
pode ser antes da manifestação do PGR. Caso haja necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de
fato; ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos: pode relator requisitar informações
adicionais, inclusive, a Tribunais Superiores, Tribunais federais e estaduais acerca da aplicação da norma
questionada no âmbito de sua jurisdição, designar perito ou comissão de peritos ou fixar data para ouvir
depoimentos em audiência pública (art. 20, §1º a 3º, Lei 9.868/99). QUÓRUM - Decisão será dada pela maioria
absoluta dos membros do STF (6), presente o número mínimo de 2/3 dos ministros (8).

200. CABE MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE?


Sim, cabe MEDIDA CAUTELAR para suspensão do julgamento de ações que envolvam aplicação da lei
objeto da ação até o seu julgamento definitivo (art. 21, Lei 9.868/99). Suspensão perdurará apenas por 180 dias,
contados da publicação da parte dispositiva de decisão no DOU, sendo esse prazo definido pela lei para que STF
julgue ADC.
Gilmar Mendes: a despeito da lei não prever prorrogação do prazo da cautelar, se a questão não tiver sido
decidida no prazo prefixado, poderá o STF autorizar a prorrogação do prazo. Decisão de deferimento da medida
cautelar será dada pela maioria absoluta dos membros do STF (6) e terá efeito vinculante e erga omnes
(entendimento majoritário), em vista do poder geral de cautela inerente ao poder jurisdicional, cabendo
reclamação.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
201. QUAIS OS EFEITOS DA DECISÃO DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE
CONSTITUCIONALIDADE?
EFEITOS DA DECISÃO: Regra geral, decisão proferida em ADC será: (a) erga omnes(contra todos); (b) ex
tunc; (c) vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública, direta ou indireta,
federal, estadual, municipal e distrital.

202. SE EXISTE UMA PRESUNÇAO DE CONSTITUCIONALIDADE, QUAL O SENTIDO DE


AJUIZAR UMA ADC?
A presunção de constitucionalidade da lei é relativa, podendo ser afastada por qualquer juiz ou tribunal
(controle difuso), além de o chefe do Executivo poder afastar o cumprimento da norma. Assim, é pressuposto da
ADC a existência de controvérsia judicial relevante (requisito qualitativo – STF). A ADC transformará em absoluta
a presunção de constitucionalidade – ao menos até que a matéria seja eventualmente reanalisada pelo STF.

203. O QUE É CONTROVÉRSIA JUDICIAL RELEVANTE NA ADC?


A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição
inicial. Um desses requisitos exigidos é que se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei
objeto da ação. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o
requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é qualitativo e não
quantitativo. (ADI 5316 MC/DF).

204. O QUE VEM A SER A TESE DA DUPLA REVISÃO OU DUPLO CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE?
Lei pode ser ABSTRATAMENTE CONSTITUCIONAL, mas no caso concreto ser tida como INCONSTITUCIONAL,
assim o julgamento abstrato de constitucionalidade não impede que em determinado caso concreto haja
reconhecimento da inconstitucionalidade (ADI 223 - plano Collor).
Gilmar Mendes: tese da DUPLA REVISÃO JUDICIAL OU DUPLO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:
mesmo após o controle concentrado de constitucionalidade, ainda persiste espaço para controle difuso de
constitucionalidade pelas instâncias judiciárias inferiores. Ex. ADC/04: reconheceu constitucionalidade da lei que
proíbe antecipação de tutela contra fazenda pública, mas tribunais vêm entendendo que em determinados casos
concretos pode existir inconstitucionalidade pela proibição de antecipação de tutela contra a fazenda.
Segundo esta tese, adotada na Alemanha, é possível que, mesmo após o Tribunal Constitucional pronunciar-
se acerca da inconstitucionalidade de determinada norma, as instâncias inferiores igualmente dela conheçam,
tendo em vista o caso concreto e calcadas no princípio da proporcionalidade. Assim, mesmo após o controle
concentrado de constitucionalidade, ainda persiste espaço para controle difuso de constitucionalidade pelas
instâncias judiciárias inferiores. Isso, no sistema Brasileiro, seria possível no caso do julgamento de ADC; porém,
em sendo adotada a teoria da nulidade, uma vez que a decisão de ADI possui efeito vinculante, não seria possível

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
discutir-se uma norma retirada do ordenamento em razão da inconstitucionalidade reconhecida.
Problemática: efeito vinculante das decisões de ADI e ADC!
Resumo da ADC
PROCEDIMENTO ADC
MÉRITO CAUTELAR
Petição Inicial Petição Inicial
AMICUS CURIAE:
PGR (15d) PGR (3d) - se o relator considerar necessário
ingresso s/
Perícias, audiências
previsão legal -
públicas.
Julgamento: caráter dúplice: declara Julgamento: tanto concessão quanto
constitucional ou não denegação
Efeitos Vinculantes, “erga omnes” e “ex tunc”. tem efeito vinculante

205. QUANTO A ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, QUAL


O SEU CONCEITO E HIPÓTESES DE CABIMENTO?
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. (art. 102, §1º CRFB, com redação dada
pela EC 03/93 e Lei nº 9.882/99)
CONCEITO: Ação – subsidiária ou residual - destinada a evitar ou reparar lesão a preceito fundamental
resultante de ato do Poder Público (arguição autônoma), bem como existência de controvérsia (divergência
jurisprudencial) constitucional, com fundamento relevante, sobre lei ou ato normativo federal, estadual, municipal
e distrital, incluídos os anteriores à Constituição de 1988, violadores de preceito fundamental (argüição por
equivalência ou equiparação). Antes da regulamentação, pelo fato de entender ser o art. 102, §1º, da CRFB norma
constitucional de eficácia limitada, o STF não apreciava ADPF. A previsão se deu por lei – competência originária
do STF – há quem diga que seria inconstitucional. (Para GM, decorre da jurisdição constitucional). Convém advertir
ainda que, por ora, não cabe ADPF incidental (cisão funcional vertical), em relação a controvérsias constitucionais
concretamente já postas em juízo, salvo se vier a ser editada emenda constitucional com previsão expressa a esse
respeito. GM defende isso na ACP. Hoje, porém, se admite a impugnação de decisões judiciais por meio da ADPF,
antes mesmo de estarem maduras para um RE. Leva-se uma questão constitucional presente no debate de 1ª
instância para abreviá-lo. Nesse ponto, há uma certa semelhança com o incidente de inconstitucionalidade do
controle concreto europeu. Ex: importação de pneus usados. Admite-se também o controle de leis revogadas.
HIPÓTESES DE CABIMENTO: arguição autônoma (art. 1º, caput, da Lei nº 9.882/99) preventiva ou
repressiva e arguição por equivalência ou equiparação (1º, p.u. Lei nº 9.882/99). ADPF autônoma: para lei ou ato
normativo (subsidiariedade) - não há necessidade de se demonstrar controvérsia judicial relevante. ADPF
incidental: caso concreto - necessidade de se demonstrar controvérsia judicial relevante; pode ser ato não
normativo. Art. 102, §1º, CRFB/88:
PRECEITO FUNDAMENTAL: Constituição e lei regulamentadora deixaram de conceituar. Englobam os
direitos e garantias fundamentais da Constituição, bem como os fundamentos e objetivos fundamentais da
República, de forma a consagrar maior efetividade às previsões constitucionais. Segundo a doutrina: preceitos que
112
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
informam sistema constitucional, estabelecendo comandos basilares e imprescindíveis à defesa dos pilares da
Constituição originária, veiculando princípios e servindo de vetores de interpretação das demais normas
constitucionais. Como exemplo: princípios fundamentais dos artigos 1º a 4º; cláusulas pétreas do artigo 60, §4º;
princípios constitucionais sensíveis do artigo 34, inciso VII; direitos e garantias individuais dos artigos 5º a 17. STF
analisa casuisticamente. Não pode atacar ato político, como o veto.
COMPETÊNCIA: STF (Art. 102, §1º, CRFB). LEGITIMIDADE: mesmos legitimados para a propositura da ADI.
E ainda qualquer interessado - pessoa lesada ou ameaçada por ato do poder público (inciso II vetado do art. 2º da
Lei nº 9.882/99), mediante representação, solicitando a propositura da ação ao Procurador-Geral da República,
que, examinando os fundamentos jurídicos do pedido, decidirá acerca do cabimento de seu ingresso em juízo (a
legitimada, na realidade, é a PGR).

206. A ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL POSSUI


REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA APRESENTAÇAO DA PETIÇÃO INICIAL? QUAL O
PROCEDIMENTO?
PETIÇÃO INICIAL: além dos requisitos do art. 319 do CPC, deve conter: a) indicação do preceito fundamental
que se considera violado; b) indicação do ato questionado; c) prova da violação do preceito fundamental; d) pedido
e suas especificações; e) se for o caso, comprovação da existência de controvérsia judicial relevante sobre a
aplicação do preceito fundamental que se considera violado; f) instrumento de mandato de advogado, nos casos
nos quais sua presença é obrigatória. Petição inicial será indeferida liminarmente pelo relator, quando não for o
caso de ADPF, quando faltar algum de seus requisitos, ou quando ela for inepta, sendo cabível contra essa decisão
a interposição de agravo, no prazo de 5 dias. Art. 4º, caput e §2º, Lei 9.882/99.
CARÁTER SUBSIDIÁRIO: Para caber ADPF, não pode haver outro meio de controle em processo objetivo.
Se couber MS, RE, pode caber a ADPF, pois ela gera eficácia geral, ao passo que os outros têm, em princípio, eficácia
inter partes. Ex: ADPF 33 – piso salarial de servidores – lei pré-constitucional revogada – decidiu-se que o princípio
da subsidiariedade legitimava a apreciação da ADPF, pois a existência de pendências judiciais não é bastante para
resolver o caso na amplitude da ADPF.
ADPF CONHECIDA COMO ADI - se o pedido principal for de declaração de inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo por ofensa a dispositivos constitucionais.
PROCEDIMENTO - Após apreciação da medida liminar, o relator solicita informações às autoridades
responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de 10 dias. – cabível amicus curiae, perícia etc. - O
Ministério Público, na condição de custos constitutionis, tem vista do processo, por 5 dias, após o decurso do prazo
para as informações (Art. 7º, §único, Lei 9.882/99).
QUÓRUM E VOTAÇÃO - A decisão deve ser tomada pelo voto da maioria absoluta dos membros do STF
(no mínimo 6), presentes2/3 dos ministros (no mínimo 8). Tratam-se, respectivamente, do quorum de julgamento
(art. 97 da CRFB), e de instalação da referida sessão (art. 8º da Lei nº 9.882/99). Cabe reclamação contra o
descumprimento de decisão proferida, em sede de ADPF.
113
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
207. CABE MEDIDA LIMINAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL?
MEDIDA LIMINAR – pedido será deferido por decisão da maioria absoluta de seus membros (6 ministros).
Caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave ou, ainda, em período de recesso (que é distinto de férias),
poderá a liminar ser deferida apenas pelo relator, ad referendum do pleno (Art. 5º, caput e §1º, Lei 9.882/99).
Relator poderá ouvir, ainda em sede de liminar, os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, bem
como o AGU ou o PGR, no prazo comum de 5 dias (Art. 5º, § 2º, Lei 9.882/99). Liminar poderá determinar que
juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra
medida que apresente relação com a matéria objeto de arguição de descumprimento de preceito fundamental,
salvo se decorrentes da coisa julgada.

208. QUAIS OS EFEITOS APLICÁVEIS À ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL, QUAL O SEU CONCEITO E HIPÓTESES DE CABIMENTO?
EFEITOS DA DECISÃO: decisão na ADPF é imediatamente auto-aplicável (art. 10, §1º, Lei 9.882/99). Possui
eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público (art. 10,
§3º, Lei 9.882/99). Em regra tem efeitos retroativos (ex tunc). Exceção: MODULAÇÃO DOS EFEITOS nos casos em
que, por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, o STF decida, por maioria qualificada de
2/3 de seus membros, restringir os efeitos da declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito
em julgado (ex nunc) ou de outro momento que venha a ser fixado (Art. 11, Lei 9.882/99). Pet 1365: ADPF pode
servir a casos que não chegariam ao STF, apesar de violar preceitos fundamentais. Ex: leis revogadas, leis anteriores
à CRFB/88, leis municipais;

209. É POSSIVEL CELEBRAR O ACORDO EM ADPF?


Sim, desde que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que
comporta solução por meio de autocomposição. Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá
chancelar ou legitimar nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. O STF irá apenas
homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro do âmbito da
disponibilidade das partes. A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a
conferir maior efetividade à prestação jurisdicional. STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 1º/3/2018.

210. EVENTUAL DECISÃO EM ADPF PODE ATINGIR A COISA JULGADA?


Não, consoante entendimento do STF, o meio cabível previsto legalmente para tanto é a ação rescisória
(que possui prazos específicos e hipóteses também específicas).
Não cabe ADPF contra decisão judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de
constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada. - inf 810 STF.

114
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
211. O TJ PODE EXERCER CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS
MUNICIPAIS COM PARÂMETRO NA NORMA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL?
Sim, os Tribunais Estaduais podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais
utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução
obrigatória pelos estados. STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 1º/2/2017 (repercussão geral).

212. QUAL É A COMPETÊNCIA, O OBJETO E O PARÂMETRO DO CONTROLE


CONCENTRADO ABSTRATO FEITO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA?
Competência  o Tribunal de Justiça - TJ é o único órgão que tem competência para exercer controle
abstrato tendo como parâmetro a constituição estadual. A CE não pode atribuir competência também para o STF,
já que as competências do STF devem ser previstas na CF.
Objeto Leis ou ato normativos estaduais ou municipais.
Uma lei estadual pode ser objeto de controle estadual e controle perante o STF ao mesmo tempo
(simultaneus processus). Nesse caso, a ADI do TJ fica suspensa para aguardar decisão do STF. Se a lei for declarada
inconstitucional pelo STF, o TJ vai extinguir o processo por perda do objeto. Se o STF diz que a lei é constitucional
tendo como parâmetro a CF, o TJ deve analisar a constitucionalidade tendo como base a CE. Assim, como o
parâmetro é diferente, as decisões do STF e do TJ podem ser diferentes.
A doutrina entende possível a Constituição Estadual instituir ADC no tocante às leis estaduais em face da
respectiva Constituição Estadual. Contudo, seria necessário observar o modelo da CF, isto é, somente caberia em
face de lei estadual, não de lei municipal (já que a ADC no âmbito federal só abrange lei federal, e não estadual).
Tal entendimento se mostra coerente com a noção de que ADI e ADC são ações ambivalentes.
Parâmetro Só a Constituição Estadual. Algumas CEs previam que o parâmetro podia ser também CF
e Lei Orgânica do Município, mas o STF já declarou a inconstitucionalidade. O controle concentrado abstrato tendo
como parâmetro a CF é exclusivo do STF.
Cabe controle concentrado estadual em caso de normas:
- de observância obrigatória: Ex. art. 58, § 3º, CF – requisitos para criação de CPI.
- remissivas: fazem referência ao conteúdo de determinadas normas da CF. Não tem conteúdo próprio.
- de mera reprodução/repetição: simplesmente reproduzem, por livre e espontânea vontade do constituinte
estadual, normas da CF.
Atenção: TJ pode exercer controle de constitucionalidade abstrato de leis municipais tendo como
parâmetro a CF, desde que se trate de norma de reprodução obrigatória pelos Estados (repercussão geral – Info
852). As normas de reprodução obrigatória ingressam automaticamente nas ordens jurídicas parciais editadas por
esses entes federativos. Ela está presente na Constituição Estadual mesmo que a Carta estadual seja silente.
A omissão pela Constituição estadual de norma constitucional federal de reprodução obrigatória não
impede o controle mediante ação direta contra lei municipal em face dos preceitos omitidos. Ex. Município do RS
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
editou lei criando gratificação para o Prefeito fora do regime de subsídio. O TJ poderá julgar a lei municipal
inconstitucional utilizando como parâmetro o art. 39, § 4º, da CF, que é norma de reprodução obrigatória.
Se o TJ considerar o próprio parâmetro inconstitucional, ele pode, de ofício, declarar a
inconstitucionalidade. É controle incidental feito dentro de controle abstrato. Dessa decisão do TJ cabe recurso
extraordinário para o STF.
Legitimidade ativa A CF não diz quem são os legitimados, mas veda a atribuição da legitimidade a um
único órgão. Não precisa ser observada a simetria quanto ao art. 103 (STF).
Modelo de introversão – legitimados são apenas órgãos do poder público.
Modelo de extroversão – órgãos do poder público e entidades privadas.
Tem doutrina que sustenta que a legitimidade não pode ser atribuída a qualquer pessoa do povo, uma vez
que inviabilizaria o controle em âmbito estadual.
Decisão de méritoEfeito erga omnes, sem previsão de efeito vinculante.

213. CABE RECURSO CONTRA DECISÃO DO TJ QUE JULGA AÇÃO EM CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO ESTADUAL?
Caberá recurso extraordinário para o STF em dois casos:
- quando o parâmetro for inconstitucional.
- quando o parâmetro for norma de observância obrigatória (Info 759, STF).
Chegando esse RE no STF, o Relator poderá, monocraticamente, negar provimento caso a decisão
impugnada esteja de acordo com pacífica jurisprudência do STF sobre o tema.
Neste caso, o recurso extraordinário será um mecanismo de se levar ao STF a análise da matéria, de modo
que a decisão produzirá os mesmos efeitos da ADI – erga omnes, ex tunc e vinculante. Desta maneira, neste caso,
não se aplicará a regra do art. 52, X, da CF, não tendo o Senado Federal qualquer participação.
Já quando o STF dá decisão no controle difuso (efeitos inter partes), o Senado pode suspender a execução
da lei (art. 52, X). No âmbito estadual isso também pode acontecer, podendo a Assembleia Legislativa suspender
a execução da lei estadual. A suspensão da lei municipal será feita pela Assembleia ou pela Câmara Municipal, de
acordo com o que determina a CE. O STF diz que as duas possibilidades são constitucionais, incluídas na capacidade
de auto-organização do Estado.

214. A FAZENDA PÚBLICA POSSUI PRAZO EM DOBRO PARA INTERPOR RECURSO EM


CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE OBJETIVO?
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja
para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata. Não há, nos processos
de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro. Não se aplica ao processo
objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle concentrado

116
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário. STF. Plenário. ADI 5814
MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia,
julgados em 06/02/2019 (Info 929).

215. EXISTE DEVER DE SIMETRIA O ART. 103, §3ºM DA CF-88? É DE COMPETÊNCIA DO


PROCURADOR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA A INCUMBÊNCIA DE DEFENDER A
CONSTITUCIONALIDADE DO ATO NORMATIVO ESTADUAL QUESTIONADO EM
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE?
Segundo o STF, não é inconstitucional norma da Constituição do Estado que atribui ao Procurador da
Assembleia Legislativa ou, alternativamente, ao Procurador-Geral do Estado, a incumbência de defender a
constitucionalidade de ato normativo estadual questionado em controle abstrato de constitucionalidade na esfera
de competência do Tribunal de Justiça. Essa previsão não afronta o art. 103, § 3º da CF/88 já que não existe, quanto
a isso, um dever de simetria para com o modelo federal. Ademais, essa norma estadual não viola o art. 132 da
CF/88 uma vez que a atuação do Procurador-Geral da ALE nos processos de controle de constitucionalidade não
se confunde com o papel de representação judicial do Estado, esse sim de exclusividade da Procuradoria-Geral do
Estado (STF. Plenário. ADI 119/RO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014).

216. PODEM AS NORMAS REMISSIVAS SER PARÂMETRO DE CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL?
Segundo o entendimento atual do STF, não há qualquer tipo de restrição no que se refere à natureza do
dispositivo invocado, devendo ser admitida como parâmetro tanto as normas de observância obrigatória, quanto
normas de mera repetição e até mesmo as normas remissivas. “com a técnica de remissão normativa, o Estado-
membro confere parametricidade às normas, que, embora constantes da Constituição Federal, passam a compor,
formalmente, em razão da expressa referência a elas feita, o ‘corpus’ constitucional dessa unidade política da
Federação, o que torna possível erigir-se, como parâmetro de confronto, para os fins a que se refere o art. 125, §
2.o, da Constituição da República, a própria norma constitucional estadual de conteúdo remissivo” (Rcl 10.500, j.
18.10.2010, CRFB. Inf. 606/STF).

217. CONSTITUIÇÃO ESTADUAL PODE TRAZER ARTIGO QUE ASSEVERA QUE NO


CONTROLE CONCENTRADO ESTADUAL DEVE-SE REMETER PARA O PARLAMENTO
SUSPENDER A EXECUÇÃO DA LEI?
É inconstitucional! No controle concentrado, não se pode ter tal previsão, apenas no controle difuso. O art.
52, X, da CRFB trata do tema.

218. CABE LIMINAR EM ADI INTERVENTIVA?


O diploma legislativo que trata especificamente da ADI Interventiva é a Lei no 12.562/11. O art. 5o dessa
lei prevê expressamente que o Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros,
poderá deferir pedido de medida liminar na representação interventiva. Tal liminar poderá consistir na

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
determinação de que se suspenda o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais ou
administrativas ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da representação
interventiva.
PONTO 4 - PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. DIREITOS E
GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

219. PREÂMBULO POSSUI EFICÁCIA JURÍDICA?


Não tem eficácia jurídica ou normativa, não passando de um discurso político para traçar as ideologias,
convicções políticas ou filosóficas. Não tem obrigatoriedade, mas é fonte de interpretação. A exemplo da ADI que
discutiu a desnecessidade de constar “sob a proteção de Deus” em Constituição Estadual.

220. FALE SOBRE O ESTADO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA LAICIDADE


O Estado brasileiro é laico! Contudo, tal laicidade do Estado não significa inimizade com a fé. Não impede
a colaboração com confissões religiosas, para o interesse público.
Assim, ainda que indigitado princípio imponha a neutralidade estatal em matéria religiosa, tal premissa
não é incompatível com a colaboração entre o Poder Público e representantes das igrejas e cultos religiosos que
vise à promoção do interesse público.
A laicidade estatal revela-se princípio que atua de modo dúplice: a um só tempo, salvaguarda as diversas
confissões religiosas do risco de intervenção abusiva estatal nas respectivas questões internas e protege o Estado
de influências indevidas provenientes de dogmas, de modo a afastar a prejudicial confusão entre o poder secular
e democrático e qualquer doutrina de fé, inclusive majoritária.
Segundo Daniel Sarmento, laicidade não se confunde com laicismo, já que este representa verdadeira
animosidade do Estado para com a religiosidade, enquanto aquela configura apenas relação de neutralidade e
imparcialidade estatal para com todas as manifestações religiosas, de maneira a assegurar o exercício igualitário
da liberdade religiosa, em um ambiente de pluralismo religioso e mundividencial. Por isso mesmo, deve o Estado,
em alguns casos, adotar comportamentos positivos, com a finalidade de afastar barreiras e sobrecargas que
possam impedir ou dificultar determinadas opções em matéria de fé.
Cumpre ressaltar que, quanto à adoção de feriados religiosos pelo Estado brasileiro, justifica-se tal atitude
sob o ponto de vista cultural.

221. O QUE SE ENTENDE POR DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTIAS?


Os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional; enquanto que as garantias são os
instrumentos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente
os repara, caso violado.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Portanto, as garantias fundamentais são também direitos, chamados “direitos-garantia”, pois são
destinados à proteção de outros direitos. Não existem por si mesmas, mas para amparar, tutelar e efetivar
direitos.
Assim, os Direitos fundamentais são direitos ou posições jurídicas que investem os seres humanos,
individual ou institucionalmente considerados, de um conjunto de prerrogativas, faculdades e instituições
imprescindíveis a assegurar uma existência digna, livre, igual e fraterna a todas as pessoas. Compõem um núcleo
intangível de direitos dos seres humanos submetidos a uma determinada ordem jurídica. São cláusulas pétreas e
estão previstos no art. 5º da CF/88, sendo que, segundo o STF, estão espalhados em diversos artigos da Carta
Magna.
Cabe ainda salientar que no ordenamento jurídico pode ser feita uma distinção entre normas declaratórias,
que estabelecem DIREITOS e normas assecuratórias (GARANTIAS), que asseguram o exercício desses direitos.
Porém, convém ressaltar que as garantias de direito fundamental não se confundem com os REMÉDIOS
CONSTITUCIONAIS, pois aquelas são de conteúdo mais abrangente, incluindo todas as disposições assecuratórias
de direitos previstos na Constituição.
As garantias constitucionais marcaram consideravelmente o Estado Liberal e até hoje não perderam a
serventia protetora tanto da Constituição como dos direitos fundamentais. Sofreram alargamento, visto que não
ficaram tão-somente circunscritas à guarda dos direitos fundamentais na projeção clássica do liberalismo.

222. DE FORMA BREVE, QUAL A DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS


FUNDAMENTAIS?
É importante fazer uma distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais. Ambos estão
relacionados aos valores liberdade, igualdade, e são voltados à proteção e promoção da dignidade da pessoa
humana. A diferença é o plano no qual eles estão situados: enquanto os direitos humanos estão consagrados no
plano internacional, os direitos fundamentais situam-se no plano interno, em geral, na Constituição.

223. QUAIS AS ESPÉCIES DE GARANTIAS FUNDAMENTAIS?


A Teoria das Garantias Constitucionais, na primeira metade do século XX passou a ser denominada de
GARANTIAS INSTITUCIONAIS, por força da obra de CARL SCHMITT.
As garantias fundamentais são também direitos, chamados “direitos-garantia”, pois são destinados à
proteção de outros direitos. Não existem por si mesmas, mas para amparar, tutelar e efetivar direitos. Segundo
Ferreira Filho, há três espécies de garantias:
a) Garantias-LIMITE: destinam-se a limitar o poder, são defesas postas a direitos especiais e visam prevenir
violações a direitos, como a proibição de censura para proteger a liberdade de expressão e a proibição de confisco
para garantir a propriedade.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
b) Garantias-INSTITUCIONAIS: consistem no sistema de proteção organizado para a defesa e efetivação dos
direitos: o sistema judiciário, as defensorias públicas e todas as instituições organizadas para a proteção dos
direitos.
c) Garantias-INSTRUMENTAIS: além das garantias gerais destinadas à proteção dos direitos fundamentais,
a CF previu um conjunto especial de garantias instrumentais com que a pessoa pode reivindicar do Poder Judiciário
a prevenção e correção de ilegalidades que ameaçam ou ferem direitos individuais e coletivos. São as denominadas
ações constitucionais ou REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS: habeas corpus, mandado de segurança, mandado de
segurança coletivo, mandado de injunção, habeas data, ação popular e a ação civil pública.

224. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


Os direitos fundamentais apresentam as seguintes características:
a) Historicidade. São produtos da evolução histórica.
b) Inalienabilidade. Esses direitos são intransferíveis e inegociáveis.
c) Imprescritibilidade. Não deixam de ser exigíveis em razão da falta de uso.
d) Irrenunciabilidade. Nenhum ser humano pode abrir mão de possuir direitos fundamentais. Pode até não
usá-los adequadamente, mas não pode renunciar à possibilidade de exercê-los.
e) Universalidade. Todos os seres humanos têm direitos fundamentais que devem ser devidamente
respeitados.
f) Limitabilidade. Os direitos fundamentais não são absolutos. Podem ser limitados, sempre que houver
uma hipótese de colisão de direitos fundamentais.
Em complemento, pode-se citar ainda que:
• Historicidade e universalidade - Os direitos fundamentais são uma construção histórica. Nascidos de
modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.
• Relatividade ou limitabilidade - Nenhum direito fundamental é absoluto. Primeiramente, porque podem
entrar em conflito entre si – e, nesse caso, não se pode estabelecer a priori qual direito vai prevalecer no conflito,
pois essa questão só pode ser analisada diante de um caso concreto. E, em segundo lugar, nenhum direito
fundamental pode ser usado para a prática de ilícitos. Contudo, a restrição aos direitos fundamentais só é admitida
quando compatível com os ditames constitucionais e quando respeitados os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
• Imprescritibilidade – Dizer que os direitos fundamentais são imprescritíveis quer significar que não
podem (em regra) ser perdidos pela passagem do tempo. Contudo, trata-se de regra que comporta exceções, posto
que há alguns direitos fundamentais que são prescritíveis, como no caso da propriedade x usucapião.
• Inalienabilidade - Em regra, são intransferíveis e inegociáveis, pois são desprovidos de conteúdo
econômico-financeiro e seus titulares não podem deles se despojar. Há exceções, haja vista a propriedade que
pode, obviamente, ser alienada.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
• Irrenunciabilidade ou indisponibilidade - Geralmente, são irrenunciáveis, pois não são disponíveis, mas
seus titulares podem deixar de exercê-los. Não podem ser dispostos da forma como convier ao indivíduo, ao menos
em regra. Doutrina contemporânea, de visão mais arejada, prega que somente pode-se alegar indisponibilidade
quando não existir uma renúncia válida, ou seja, quando o indivíduo por um motivo qualquer (por exemplo,
avançada idade) não puder exercer seu arbítrio sem imperativos externos.
• Indivisibilidade - Os direitos fundamentais são um conjunto, não podem ser analisados de maneira
separada, isolada (o desrespeito a um deles é, na verdade, o desrespeito a todos).
• Proibição de retrocesso - impede a revogação de normas garantidoras de direitos fundamentais e a
implementação de políticas públicas de enfraquecimento de direitos fundamentais (efeito cliquet).
• Concorrência - Podem ser exercidos cumulativamente por um mesmo titular.
• Aplicabilidade imediata - Conforme se lê no § 1º do art. 5º da Carta Política brasileira, “as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. O texto se refere aos direitos
fundamentais em geral, não se restringindo apenas aos direitos individuais. Os direitos fundamentais não são
meramente normas matrizes de outras normas, mas são também, e sobretudo, normas diretamente reguladoras
de relações jurídicas. Assim, a própria CRFB autoriza que os operadores do direito, mesmo à falta de comando
legislativo, venham a concretizar os direitos fundamentais pela via interpretativa. Há, contudo, normas
constitucionais, relativas a direitos fundamentais, que, evidentemente, não são auto aplicáveis. Carecem da
interposição do legislador para que produzam todos os seus efeitos. Em razão disso, a doutrina entrevê no art. 5º,
§ 1º, da Constituição Federal uma norma princípio, estabelecendo uma ordem de otimização, uma determinação
para que se confira a maior eficácia possível aos direitos fundamentais.

225. QUAL A DIFERENÇA ENTRE DIREITOS DOS HOMENS PARA OS JUSNATURALISTAS,


POSITIVISTAS, IDEALISTAS, BEM COMO PARA OS REALISTAS? QUAIS AS DUAS
CONCEPÇÕES QUANTO A NATUREZA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
(JUSNATURALISTAS X POSITIVISTAS)?
Para os jusnaturalistas, os direitos do homem são imperativos do direito natural, anteriores e superiores à
vontade do Estado. Já para os positivistas, os direitos do homem são faculdades outorgadas pela lei e reguladas
por ela. Para os idealistas, os direitos humanos são ideias, princípios abstratos que a realidade vai acolhendo ao
longo do tempo, ao passo que, para os realistas, seriam o resultado direto de lutas sociais e políticas.
Em relação às concepções quanto à natureza desses direitos, existem duas:
De acordo com a concepção tradicional, jusnaturalista, são direitos naturais, inerentes à pessoa humana.
O Estado não os criaria, apenas reconheceria direitos preexistentes, decorrentes da própria condição humana. Na
visão jusnaturalista, os direitos fundamentais são conceituados como direitos subjetivos, assentes no direito
objetivo, positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das pessoas com o Estado ou na
sociedade

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Segundo os juspositivistas, são direitos positivos, estabelecidos pela lei, que só existem na medida em que
são incorporados ao direito positivo de um determinado Estado.
Na visão de José Afonso da Silva (positivista), possuem natureza jurídica de direitos constitucionais na
medida em que se inserem no texto de uma constituição ou mesmo constem de simples declaração solenemente
estabelecida pelo poder constituinte. São direitos que nascem e se fundamentam, portanto, no princípio da
soberania popular.
Tem por finalidade básica o respeito à dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder
estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode ser
definido como direitos humanos fundamentais.
Abrange expressamente os brasileiros e estrangeiros residentes no país. No entrando, a doutrina estende
a qualquer pessoa, sejam estrangeiros ou apátridas, naturais ou jurídicas, que disponham de capacidade de fato
ou de direito.

226. QUAL A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


• Magna Carta de João Sem Terra (1215) – é um marco histórico do CONSTITUCIONALISMO e dos
direitos fundamentais. Primeiro instrumento de limitação do poder. Foi um pacto entre o monarca e os barões do
reino em latim, dirigida aos homens livres do reino, únicos que dominavam a língua. Até hoje, é um dos
documentos que integra a constituição inglesa.
• Bill Of Rights (1689) – depois da revolução gloriosa, a monarquia inglesa passou a ser uma
monarquia constitucional, essa foi a primeira manifestação legislativa.
• Declaração Dos Direitos Do Bom Povo Da Virgínia – foi documento que influenciou a constituição
americana (1776).
• Declaração Dos Direitos Do Homem e Do Cidadão (1789) – é o primeiro documento que, apesar de
francês, tem um plano universal, como se vê do artigo 16: toda a sociedade onde não há garantia dos direitos e a
separação de poderes não tem constituição, trata até mesmo do conceito material de constituição.
• Declaração Universal Dos Direitos Do Homem (1948) – da Assembléia da ONU, trata-se de mera
RECOMENDAÇÃO da ONU (natureza jurídica), não impositiva, mas entende-se como costume básico para a
garantia da dignidade da pessoa humana. Assim, há uma corrente que diz que ela é obrigatória, com esse
fundamento. É um documento internacional.

227. QUAL A CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO? E


PARA A DOUTRINA, É A MESMA CLASSIFICAÇÃO?
A Constituição da Republica trata dos direitos e garantias fundamentais no Título II, entende os direitos e
garantias fundamentais como gênero, que tem como espécies:
a) Direitos Individuais (principalmente no artigo 5.º da CF): apesar de estarem sistematicamente elencados
no artigo 5.º, os direitos e garantias individuais também podem ser encontrados em outras partes da CF.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
b) Direitos Coletivos (artigo 5.º, artigo 6.º, e seguintes).
c) Direitos Sociais (artigo 6.º e seguintes).
d) Direitos de Nacionalidade (artigos 12 e 13 da CF).
e) Direitos Políticos (artigo 14 e seguintes).
Uma segunda classificação foi feita por José Carlos Vieira de Andrade, inspirada na classificação feita por
Jellinek. Este divide os direitos fundamentais em três espécies:
a) Direitos de Defesa: foram criados para proteger o indivíduo, cidadão, em face do Estado. Relacionados
à liberdade, são os chamados direitos civis. Impõem principalmente uma abstenção (direitos de caráter negativo).
Exemplos: liberdade de locomoção, liberdade religiosa, liberdade de expressão e manifestação do pensamento e
direito de propriedade.
b) Direitos a Prestações: exigem do Estado prestações materiais ou jurídicas. Geralmente, são os direitos
sociais (educação, saúde, trabalho, moradia). Os direitos a uma prestação estão ligados ao valor igualdade, mais
precisamente a igualdade material está relacionada a esses direitos prestacionais. O objetivo principal das
prestações do Estado é reduzir as desigualdades fáticas existentes.
c) Direitos de Participação: direito de o indivíduo participar da vida política do Estado. São direitos políticos
e os direitos de nacionalidade. Cabe ao Estado atuar na realização das eleições (positivo) e não interferir na escolha
dos eleitores (negativo).

228. E O QUE SE ENTENDE POR "TEORIA DOS QUATRO STATUS" NOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS?
Criada no final do século XIX por Georg Jellinek, importante jurista e filósofo, a Teoria dos Quatro Status de
Jellinek indica quatro posições que um indivíduo pode ficar frente ao Estado. São elas: passiva, ativa, negativa e
positiva.
1) status passivo (subjectionis): o indivíduo está subordinado aos poderes estatais – ordens e proibições,
sendo detentor de deveres com o mesmo. Isso quer dizer que o Estado pode submeter o indivíduo às suas ordens.
Exemplo: as leis que indicam determinada proibição.;
2) status negativo (negativus ou libertatis): ao indivíduo é reconhecida uma esfera individual de liberdade
imune à intervenção estatal, indica a liberdade do indivíduo em relação ao Estado, podendo agir, em algumas
situações, livre da atuação do Poder Público. Exemplo: a liberdade de expressão – exceto as proibições do status
passivo.
3) status positivo (positivus ou civitatis): ao indivíduo é possível exigir do Estado determinadas prestações
positivas, é a possibilidade do indivíduo exigir do Estado alguma prestação, devendo o Poder Público agir de forma
positiva em favor desse indivíduo. Exemplo: a possibilidade do indivíduo exigir, por exemplo, direito à saúde.;

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
4) status ativo (activus): possibilita ao indivíduo participar ativamente da formação da vontade política
estatal, é aquela em que o cidadão exerce seus direitos políticos. Assim, existe a possibilidade do indivíduo
interferir na vontade do Estado. Exemplo: o direito ao voto.

229. O QUE SE ENTENDE POR DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


A Teoria das Gerações/Dimensões de Direitos: doutrina concebida por Karel Vasak, jurista francês, para
classificar os direitos fundamentais conforme os temas da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e
fraternidade). Muito embora haja divergência na doutrina, prefere-se o uso da expressão “dimensões” dos direitos
fundamentais, ante a ideia de complementaridade entre elas e não substituição. Ademais, divergem os juristas,
também, em relação a quantas seriam tais dimensões.
1ª dimensão, direitos voltados à tutela das liberdades públicas, demandam prestações negativas do Estado:
direitos liberais, como vida, propriedade, liberdade.
Envolve os direitos de liberdade, dada a passagem de um estado autoritário para um estado de direito. São
direitos oponíveis ao estado. Surgem com a Magna Carta de 1215.
2ª dimensão, direitos de igualdade (material), demandam prestações positivas do Estado para a realização
da justiça social, do bem estar social e das liberdades sociais: direitos sociais, como moradia, saúde, educação,
alimentação, direitos trabalhistas.
Envolve os direitos sociais, culturais e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de coletividade,
correspondendo aos direitos de igualdade (substancial, real e material e não meramente formal). Surge com a
Constituição do México de 1917 e Constituição de Weimar de 1919.
3ª dimensão, direitos de fraternidade (proteção do homem em coletividade social): direitos de
solidariedade, de titularidade da coletividade ou difusa, como paz, desenvolvimento. São também conhecidos
como direitos metaindividuais (está além do indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do indivíduo
individualmente considerado).
São direitos transindividuais que transcendem os interesses do indivíduo e passam a se preocupar com a
proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade (fraternidade).
4ª Dimensão, direitos de globalização e universalização: são direitos embasadores de uma possível
globalização política rumo a uma sociedade universal aberta ao futuro. Alguns deles são: direito à democracia
direta, direito ao pluralismo, direito à informação e os direitos relacionados à biotecnologia.
Direito ao patrimônio genético (para Bobbio), direito à democracia, à informação e ao pluralismo (para
Bonavides).
5.ª Dimensão: direito à paz (supremo direito da humanidade) para Bonavides.

230. QUAIS AS CRÍTICAS À TEORIA DAS GERAÇÕES OU MESMO DIMENSÕES DOS


DIREITOS FUNDAMENTAIS OU HUMANOS?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
a) a imprecisão terminológica do termo “gerações”: conduz à ideia de substituição de uma geração pela
subsequente.
b) a ausência de verdade histórica: decorre da excessiva simplificação da realidade, desprezando, por
exemplo, o fato de haver a previsão de direitos sociais e culturais já nos primeiros documentos constitucionais do
século XVIII. No Brasil, por exemplo, a Constituição de 1824 garante os “socorros públicos”.
c) defeito funcional: teoria das gerações afirma que cada geração de direitos corresponde a uma função,
distinguindo a primeira geração, em que os direitos possuiriam função de defesa, da segunda geração em que os
direitos possuiriam função prestacional. Ocorre que essa distinção funcional em gerações baseia-se em uma falsa
dualidade. Trata-se da equivocada noção de que os direitos de primeira geração seriam negativos, que não
exigiriam um fazer por parte do Estado, sendo, portanto, não onerosos, o que, supostamente, os diferenciaria dos
direitos de segunda e terceira gerações, que seriam direitos prestacionais, exigindo uma conduta positiva por parte
do Estado, implicando no gasto de verbas públicas. Na realidade, todos os direitos fundamentais exigem do Estado
um complexo de ações de fazer e não-fazer.
d) o problema da fragmentação: a teoria gera o isolamento dos direitos em gerações, atribuindo diferentes
funções a cada grupo de direitos, o que contrasta com a característica da indivisibilidade dos direitos fundamentais,
exortada pela Declaração de Viena de 1993.

231. EM QUE CONSTITUI A DIMENSÃO SUBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


A noção de uma perspectiva subjetiva dos direitos fundamentais engloba a possibilidade do titular do
direito fazer valer judicialmente os poderes, as liberdades ou mesmo o direito à ação ou às ações negativas ou
positivas que lhe foram outorgadas pela norma consagradora do direito fundamental em questão, ainda que tal
exigibilidade seja muito variável e careça de uma apreciação à luz de cada direito fundamental em causa, dos seus
limites, entre outros aspectos a serem considerados. Direitos subjetivos, portanto, são direitos exigíveis perante o
Estado.
Diz respeito à característica de servirem os direitos fundamentais como fontes de direitos subjetivos a seus
respectivos titulares. Sintetiza a faculdade que tem o seu titular - o indivíduo ou a coletividade a quem é atribuído
- de fazer valer judicialmente os poderes, as liberdades, o direito à ação ou mesmo as ações negativas ou positivas
que lhe foram outorgadas pela norma consagradora de direito fundamental em questão. Trata-se de exigir
respeito, especialmente por parte do Estado, aos direitos individuais, donde se tem a percepção de tratar-se de
dimensão negativa - Status negativo, nas palavras de Jellinek!
Os direitos fundamentais são, em primeira linha, direitos individuais, do que resulta a constatação de que,
encontrando-se constitucionalmente protegidos como direitos individuais, esta proteção dar-se-á sob a forma de
direito subjetivo.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Assim, quando nos referimos aos direitos fundamentais como direitos subjetivos, devemos ter em mente
a noção de que ao titular de um direito fundamental é aberta a possibilidade de impor judicialmente seus
interesses juridicamente tutelados perante o destinatário (obrigado).

232. EM QUE CONSISTE A DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


A função dos direitos fundamentais não se limita a serem direitos subjetivos, já que também representam
DECISÕES VALORATIVAS DE NATUREZA JURÍDICO-OBJETIVA DA CONSTITUIÇÃO, que se projetam em todo o
ordenamento jurídico. Em outras palavras, os direitos fundamentais passaram a apresentar-se como um conjunto
de valores objetivos básicos e fins diretivos da ação positiva estatal, e não apenas garantias negativas (e
positivas) dos interesses individuais.
Os direitos fundamentais operam como elementos objetivos fundamentais que sintetizam os valores
básicos da sociedade e os expandem para toda a ordem jurídica (eficácia irradiante), que os identifica como
diretrizes ou vetores para a interpretação e aplicação das normas infraconstitucionais. Assim, tais direitos não
apenas estabelecem faculdades aos indivíduos (dimensão subjetiva), mas estabelecem também deveres,
explícitos ou implícitos, de proteção pelo Estado. Tal dever de proteção exige uma conduta ativa do Estado no
combate à chamada proteção deficiente (dimensão positiva). Assim, exige-se do Estado a necessária proteção
contra ameaça dos atos estatais (verticalidade), como ainda de possível ameaça de lesão proveniente de terceiros,
em especial de (e entre) atos de particulares (horizontalidade), considerando que poderes não estatais podem
vulnerar bens jurídicos tutelados constitucionalmente.
Eis as consequências jurídicas do viés objetivo dos direitos fundamentais:
1) a eficácia irradiante dos direitos fundamentais, na condição de que estes, como direitos objetivos,
fornecem impulsos e diretrizes para a aplicação e interpretação do direito infraconstitucional, implicando uma
interpretação conforme aos direitos fundamentais de todo o ordenamento jurídico.
2) Além disso, a perspectiva objetiva dos direitos fundamentais, aliada ao reconhecimento da supremacia
normativa da constituição e ao controle de constitucionalidade das leis, redunda no fenômeno da
Constitucionalização do Direito, incluindo a questão da eficácia dos direitos fundamentais na esfera particular.
3) Outrossim, são oriundos da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais os deveres de proteção do
Estado, impondo aos órgãos estatais a obrigação permanente de, inclusive preventivamente, zelar pela proteção
dos direitos fundamentais dos indivíduos, não somente contra os poderes públicos, mas também contra
agressões por parte de particulares e até mesmo por parte de outros Estados.
4) Por fim, vinculada à dimensão objetiva, surge também a designada função organizatória procedimental,
no sentido de que a partir das normas de direitos fundamentais extraem-se consequências para a aplicação e a
interpretação das normas procedimentais, e também para a formatação do direito organizacional e procedimental,
a bem de auxiliar na efetivação e na proteção dos direitos fundamentais.

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233. O QUE É A EFICÁCIA VERTICAL, HORIZONTAL, DIAGONAL E EFICÁCIA VERTICAL
COM REPERCUSSÃO LATERAL?
• Eficácia vertical - A História aponta o Poder Público como o destinatário precípuo das obrigações
decorrentes dos direitos fundamentais. A finalidade para a qual os direitos fundamentais foram inicialmente
concebidos consistia, exatamente, em estabelecer um espaço de imunidade do indivíduo em face dos poderes
estatais. Tal proteção, expressada nas relações entre os cidadãos (posição de inferioridade) e os poderes públicos
(posição de superioridade), tem sido denominada de eficácia vertical dos direitos fundamentais.
• Eficácia horizontal - Com a evolução dos direitos fundamentais, fica óbvio que os particulares também
precisam respeitá-los, o que leva à eficácia horizontal: o reconhecimento de que os direitos humanos também
incidem nas relações entre particulares (também chamada de eficácia privada ou externa ou drittwirkung - Direito
alemão).
• Eficácia Diagonal - Surgida mais recentemente, fala-se atualmente em eficácia diagonal dos direitos
fundamentais, que constituiria um tertium genus cunhado pelo jurista chileno Sergio Gamonal Contreras, pelo
qual, ao lado das garantias constitucionais do cidadão frente ao Estado (eficácia vertical) e frente aos próprios
particulares (eficácia horizontal), surge a necessidade de proteção nas relações entre particulares, notadamente
caracterizadas pelo desequilíbrio ou desproporcionalidade (assimetria substancial). No ordenamento positivo, a
eficácia diagonal se expressa nas relações onde estão pressupostas a vulnerabilidade, inerente a todo consumidor
(art. 4º, I, CDC), e nas relações trabalhistas, com o intuito de atenuar a hipossuficiência pressupostamente havida
pelo empregado na relação de trabalho que estabelece com o seu empregador.
Já a ideia de eficácia vertical com repercussão lateral, segundo Rafael Barretto, é desenvolvida pelo
professor Marinoni a partir do direito à tutela jurisdicional ante a omissão do legislador em viabilizar direitos
fundamentais. A tese principia pela afirmação de que a eficácia horizontal dos direitos fundamentais deve ser
mediada pela lei e, quando o legislador se omite, somente resta socorrer-se à jurisdição.

234. QUANTO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, QUAIS AS TEORIAS APLICÁVEIS ÀS


RELAÇÕES PRIVADAS?
Enquanto a eficácia vertical é a aplicação dos direitos fundamentais para reger o poder público frente o
particular, a eficácia horizontal (ou externa ou privada) é a aplicação dos direitos fundamentais às relações entre
particulares. Neste caso, temos as seguintes teorias que justificam a aplicabilidade ou não dos direitos
fundamentais entre particulares:
a) Teoria da ineficácia horizontal: para esta teoria, os direitos fundamentais não podem ser aplicados nas
relações entre particulares. Um dos poucos países que a adotam é os EUA.
b) Doutrina da state action: parte do pressuposto de que os direitos fundamentais só se aplicam às relações
entre o particular e os poderes públicos. A finalidade é tentar afastar a impossibilidade de aplicação definindo,
ainda que de forma casuística e assistemática, em que situações essa aplicação poderia ocorrer. O artifício é a
equiparação de determinados atos privados a atos estatais.
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c) Teoria da eficácia horizontal indireta: adotada pela Alemanha e demais países que estudam
decentemente a matéria. O autor que se destaca é Gunter Durig. O argumento é no sentido de que a aplicação
(horizontal) direta dos direitos fundamentais aniquilaria a autonomia da vontade e causaria uma desfiguração do
direito privado. Os direitos fundamentais irradiam os seus efeitos nas relações entre particulares por meio de
mediação legislativa (efeito irradiador dos direitos fundamentais). As portas de entrada dessa eficácia (horizontal
indireta dos direitos fundamentais) seriam as cláusulas gerais do direito privado.
Há necessidade da intermediação do legislador para a efetiva aplicação dos direitos fundamentais. A
Constituição não investe os particulares em direitos subjetivos privados, mas ela contém normas objetivas, cujos
efeitos de irradiação levam à impregnação das leis civis por valores constitucionais. Com efeito, os direitos
fundamentais são protegidos no campo privado não por normas constitucionais, mas por meio de mecanismos
típicos do próprio Direito Privado.
d) Teoria da eficácia horizontal direta: Surgida na década de 50 na Alemanha, com Nipperdey, e é adotada
em Portugal, Espanha e Itália. A aplicação nas relações entre particulares não deve ocorrer com a mesma
intensidade com que ocorre nas relações com o Estado, em homenagem ao princípio-vetor da autonomia da
vontade. Alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas sem que haja a necessidade de
intermediação legislativa para a sua concretização, posto que seriam oponíveis erga omnes. Resultaria na aplicação
direta dos preceitos constitucionais. Essa foi a tese que prevaleceu no Brasil, na doutrina e, inclusive, no STF e no
STJ.
e) Teoria da eficácia “irradiante” dos direitos fundamentais: Podemos afirmar que importante
consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais é a sua “eficácia irradiante” (Daniel Sarmento), seja
para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração Pública ao “governar”, seja para o Judiciário ao
resolver eventuais conflitos.
Teoria adotada pelo Brasil.
Na prática, é adotada a teoria da eficácia horizontal direta, tendo em vista o RE 158.215-4/RS (determinou
que uma cooperativa aplicasse do direito à ampla defesa na exclusão de sócio) e RE 161.243-6/DF (determinou
que não houvesse estatuto diferenciado entre empregados franceses e demais empregados na empresa Air
France).

235. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS POSSUEM LIMITES?


Quando se estuda direitos fundamentais, deve-se identificar o âmbito de proteção de cada direito, isto é,
o bem jurídico tutelado. Este não se confunde com a proteção efetiva e definitiva, o que possibilita a aferição da
legitimidade de certa situação em face de dado parâmetro constitucional.
A amplitude do âmbito de proteção é diretamente proporcional à possibilidade de um ato estatal restringir
o direito em questão. Há normas constitucionais que estabelecem direitos fundamentais, submetendo-os à reserva
de lei restritiva (expressões “nos termos da lei: art. 5º, VI e XV). Essas normas contêm: (a) uma norma de garantia,

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e (b) uma norma de autorização de restrições. Entretanto, quando o âmbito de proteção é puramente normativo,
é o legislador que, ao editar a norma, vai definir o conteúdo do direito.
Nesses casos fala-se em regulação ou conformação, e não em restrição (ex: art. 5º XXVI a XXVIII, LXXVI e
LXXVII). Nesses casos, existiria o dever de legislar e o dever de preservar as garantias ao legislar. Os direitos
fundamentais enquanto direitos de hierarquia constitucional somente podem ser limitados por expressa disposição
constitucional (restrição imediata) ou mediante lei ordinária promulgada com fundamento imediato na própria
Constituição (restrição mediata). - de acordo com o livro do Gilmar Mendes.

236. EM RELAÇÃO AOS LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, DO QUE TRATAM AS


TEORIAS INTERNA E EXTERNA?
De acordo com André de Carvalho Ramos, a teoria interna defende a existência de limites internos a todo
direito, que estejam traçados expressamente no texto da norma, quer sejam imanentes ou inerentes a
determinado direito, que faz com que não seja possível colisão entre direitos (o conflito é meramente aparente).
Em suma, a teoria interna prega que as restrições aos direitos devem estar expressamente autorizadas pela
Constituição e pelos tratados de direitos humanos, ou, ainda, devem ser extraídas dos limites imanentes de cada
direito. Segundo o supracitado autor, na decisão do “Caso Ellwanger1” consta passagem na qual se identifica a
aplicação dessa teoria.
A teoria interna prega que um direito fundamental existe, desde sempre, com seu conteúdo determinado
e, por isso, o direito fundamental já nasce com seus limites. Assim, “eventual dúvida sobre o limite do direito não
se confunde com a dúvida sobre a amplitude das restrições que lhe devem ser impostas, mas diz respeito ao próprio
conteúdo do direito”. (Gilmar Mendes, fl. 226). Do ponto de vista lógico, a restrição seria desnecessária e até
impossível, já que o alcance do direito fundamental, pela teoria interna, já seria determinado de antemão. Não há,
dessa forma, separação entre o âmbito de proteção do direito e seus limites, o que permite a inclusão de
considerações sobre outros bens dignos de proteção, aumentando o risco de restrições arbitrárias de liberdade.
Com relação à teoria externa, André de Carvalho Ramos entende que esta adota a separação entre o
conteúdo do direito e limites que lhe são impostos do exterior, oriundos de outros direitos. Devem ser observados
dois momentos: 1º) Deve ser delimitado o direito prima facie envolvido; 2º) Investigar se há limites justificáveis
impostos por outros direitos, de modo a impedir que o direito prima facie seja considerado um direito definitivo.
A chave mestra para a teoria externa seria o uso do critério da proporcionalidade. É a teoria adotada
preferencialmente pela doutrina e pela jurisprudência.

http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/verConteudo.php?sigla=portalStfJurisprudencia_pt_br&idCon
teudo=185077&modo=cms
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Aproxima-se dessa teoria a posição de Hesse, para quem os conflitos entre direitos fundamentais podem
ser resolvidos pela concordância prática - os direitos de estatura constitucional podem ser equilibrados entre si,
gerando uma compatibilidade na sua aplicação, mesmo que no caso concreto seja minimizada a aplicação de um
dos direitos envolvidos.

237. O QUE É A TEORIA DO LIMITE DOS LIMITES? DO QUE TRATAM AS TEORIAS


ABSOLUTA E RELATIVA?
Para garantir que a atividade do legislador ordinário não possa efetivamente esvaziar de conteúdo os
direitos fundamentais, surge a teoria segundo a qual as próprias limitações a tal classe de direitos sofrem
limitações (os limites ao exercício de um direito fundamental devem ser limitados).
É proibido proibir o exercício do direito além do necessário. Esses limites, que decorrem da própria
Constituição, referem-se tanto à necessidade de proteção de um núcleo essencial do direito fundamental quanto
à clareza, determinação, generalidade e proporcionalidade das restrições impostas. Protegem o núcleo essencial
do direito fundamental.
É o chamado “limites dos limites”. A concepção dos limites dos limites decorre da teoria absoluta, do
núcleo essencial, segundo a qual o núcleo essencial dos direitos fundamentais estaria protegido de qualquer
intervenção do Estado, independentemente da situação concreta. Assim, haveria uma parte do conteúdo do
direito fundamental suscetível a limitações pelo legislador e outra parte seria insuscetível a limitações,
representando um verdadeiro “limite do limite” para a própria ação legislativa.
Essa ideia se contrapõe àquela defendida pelos adeptos da teoria relativa, segundo a qual o núcleo
essencial seria aferido caso a caso, mediante processo de ponderação entre meios e fins, com base no princípio da
proporcionalidade.
O núcleo essencial seria aquele insuscetível de restrição com base nesse processo. Destina-se a evitar o
esvaziamento do conteúdo do direito fundamental decorrente de restrições descabidas, desmesuradas ou
desproporcionais. Ex: STF entendeu que a exigência de diploma de jornalista para exercer a profissão é exagerada,
violando o próprio núcleo essencial do direito (liberdade de exercício de profissão). É incabível emenda
constitucional para modificar o núcleo essencial das cláusulas pétreas.
Ambas as teorias buscam assegurar maior proteção dos direitos fundamentais contra ação legislativa
desarrazoada.
Críticas: teoria absoluta traz dificuldade em identificar abstratamente a existência desse mínimo essencial
do direito fundamental, podendo-se sacrificar aquilo que se busca proteger. Teoria relativa pode conferir excessiva
flexibilidade aos direitos fundamentais. Os limites são os seguintes:
a) O ato normativo que pode restringir um direito fundamental é a lei em sentido formal (ou emenda
constitucional);

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b) A norma deve ser geral e abstrata. Conforme André de Carvalho Ramos, a restrição pode ser feita
através de uma reserva legal simples (autorização dada pela Constituição a edição posterior de lei que adote
determinada restrição a direito fundamental, não fixando previamente os requisitos, condições ou parâmetros.
Ex: Art. 5º, VI –é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias) ou de uma reserva legal
qualificada (a Constituição, além de estabelecer a reserva de lei, ainda estipula os requisitos e condições que a lei
deve observar. Ex: Art. 5º, XIII –é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Conceitos extras:
Reserva legal subsidiária situação em que direitos são previstos na Constituição sem qualquer menção
à lei restritiva, mas podem ser regulados pelo legislador em face dos demais valores constitucionais;
Reserva geral de ponderação todos os direitos fundamentais estão a ela submetidos, uma vez que estão
sujeitos à ponderação com outros valores previstos na Constituição, relacionados a outros direitos fundamentais
em colisão.
c) Princípio da Proporcionalidade: Reconhece-se ao legislador o poder de conformação dentro dos limites
estabelecidos pela Constituição. No entanto, o excesso de poder no âmbito da discricionariedade legislativa pode
ensejar a censura judicial.
A utilização do princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso envolve a apreciação da
necessidade e adequação da providência legislativa. O meio é adequado se, com sua utilização, o evento
pretendido pode ser alcançado; é necessário se o legislador não dispõe de outro meio eficaz, menos restritivo aos
direitos fundamentais (inconstitucionalidade havendo medidas menos lesivas).
Ao lado da proibição do excesso tem a Corte Constitucional alemã apontado a lesão ao Princípio da
Proibição da Proteção Insuficiente, segundo o qual o Estado deve tomar medidas protetivas adequadas e eficazes
à defesa dos direitos fundamentais.
O princípio da proporcionalidade vem sendo utilizado pelo Supremo como instrumento para solução de
colisão entre direitos fundamentais.

238. QUAL O NÚCLEO ESSENCIAL E PROPORCIONALIDADE DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS?

Núcleo essencial seria a parcela do conteúdo do direito sem a qual ele perde sua mínima eficácia. Forma
de evitar ou contornar o esvaziamento do conteúdo dos direitos fundamentais pelo legislador. Apesar de vedar
expressamente qualquer proposta de emenda tendente a abolir direitos fundamentais (art. 60, §4º), CRFB/88 não
traz de forma expressa a garantia do núcleo essencial, ao contrário da Lei Fundamental alemã e das Constituições
portuguesa e espanhola. Ainda assim, o princípio de um núcleo essencial decorre do modelo garantístico da
CRFB/88. STF tem usado o princípio em vários julgados (HC 82.959, Rel Min. Marco Aurélio, DJ 1º.09.2006, Voto
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Ministro Peluzo no caso de vedação à progressão de regime em cumprimento de pena de crime hediondo: atinge
o núcleo do princípio da individualização da pena).
Proporcionalidade. O legislativo, ao editar normas para conformar ou restringir direitos fundamentais,
corre o risco de agir com excesso de poder. Para que isso não ocorra, deve observar o princípio da
proporcionalidade. Para parte da doutrina o fundamento do princípio da proporcionalidade se encontra nos
direitos fundamentais, para outra parte, no Estado de Direito. O STF parecia colocar seu fundamento nos direitos
fundamentais, mas com a CRFB/88 (ADI 855) o entende como “postulado constitucional autônomo" (Gilmar
Mendes, pg. 256), com sede material no devido processo legal (art. 5º, LIV).
Proporcionalidade é composta pelos subprincípios adequação (medida é apta a alcançar o objetivo
pretendido); necessidade (não existe meio menos gravoso e igualmente eficaz a ser utilizado para atingir o objetivo
pretendido. Teria maior peso na análise);proporcionalidade em sentido estrito (ponderação e possível equilíbrio
entre o significado da intervenção para o atingido e os objetivos perseguidos pelo legislador) “controle de sintonia
fina” para verificar a justeza da medida adotada.
Proibição da Proteção insuficiente: a medida pode, em uma análise metodológica, ser também
considerada desproporcional por não se revelar suficiente para uma proteção adequada e eficaz). O STF utiliza
princípio da proporcionalidade como instrumento para solução de colisão entre direitos fundamentais (HC 76.060,
Rel. Min Sepúlveda Pertence).
Duplo controle de proporcionalidade e controle de proporcionalidade in concreto: qualquer medida
administrativa ou judicial com base na lei aprovada pelo parlamento que afete direitos fundamentais também se
submete ao controle de proporcionalidade.

239. QUAIS AS FUNÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


a) funções de defesa ou de liberdade – têm como função proteger os indivíduos contra o Estado. Exemplo:
não estabeleça pena de morte e não prenda sem enquadramento nas hipóteses legais. Proíbe que o Estado elimine
certas posições jurídicas concretas, vg, o direito de propriedade. A afronta a um direito de defesa deve encontrar
remédio na ordem jurídica com vistas a compelir o Estado a se abster de praticar o ato incompatível com a ordem
constitucional e ainda deve ensejar uma compensação pecuniária
b) funções de prestação – exigem uma obrigação de fazer, uma prestação. Exemplos: educação e moradia.
O Estado deve agir para atenuar desigualdades, estabelecendo moldes para o futuro da sociedade. Podem ser:
(i) prestações jurídicas (cujo objeto do direito será a normação pelo Estado do bem jurídico tido como
fundamental – ex: editar normas jurídicas penais ou de normas de organização e de procedimento) ou
(ii) prestações materiais (consistem numa utilidade concreta – direito á educação, saúde, trabalho, lazer,
segurança, previdência social, assistência, proteção á infância, etc.).
c) funções de proteção perante terceiros – protegem os cidadãos dos demais indivíduos. Exemplos: manter
a ordem, manter polícia; manter um Judiciário capaz de proteger. O Estado teria a obrigação não só de abster-se

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
de violar os direitos fundamentais, mas também de protegê-los de potenciais lesões e ameaças advindas de
particulares no seio social. Isso pode ser atrelado ao direito fundamental à efetividade penal: o indivíduo tem o
direito de que o Estado o proteja dos outros indivíduos, para isso, o Estado precisa ter um aparato judicial penal;
os diretos fundamentais penais do réu são indiscutivelmente importantes, mas além dessa visão, não se pode
esquecer que existe também o direito fundamental da vítima para uma repressão penal adequada, respeitando os
direitos fundamentais do investigado.
OBS – no caso 12.051 perante a Comissão Interamericana de DH, conhecido como caso MARIA DA PENHA
MAIA FERNANDES, a Comissão concluiu que o Brasil descumpriu a obrigação geral de respeitar e garantir direitos.
OBS 2 - “DOUTRINA VELASQUEZ” - Conforme decidiu a Corte Interamericana no Caso Velásquez Rodríguez
VS Honduras, existe a obrigação de o Estado reprimir penalmente as violações de direitos humanos. O Estado,
portanto, responde pela violação do direito à vida e também pela eventual impunidade dos autores das violações.
d) função de não-discriminação – protegem as minorias em relação ao Estado e em relação a terceiros.
e) função de ampliação da participação democrática: os direitos fundamentais de participação são
orientados a garantir a participação dos cidadãos na formação da vontade do País.

240. O QUE É UM DIREITO FUNDAMENTAL COMPLETO?


Segundo Robert Alexy, direito fundamental completo é aquele que reúne um feixe de posições jurídicas,
ou seja, um só direito capaz de gerar diferentes relações jurídicas, como direito de defesa (não fazer), de prestação
(fazer), de proteção, de procedimento etc.

241. EM QUE CONSISTE A RESERVA DO POSSÍVEL E QUAIS OS PRINCIPAIS CRITÉRIOS


PARA APLICAÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA?
Na doutrina de Sustein e Holmes, todos os direitos, desde os que dependem de atuação positiva até aqueles
negativos ou de defesa, implicam custos para o Estado.
A tese da reserva do possível assenta-se na ideia romana de que a obrigação impossível não pode ser
exigida. Por tal motivo, não se considera a insuficiência de recursos orçamentários como mera falácia.
Essa escassez, muitas vezes, é resultado de escolha, de decisão: quando não há recursos suficientes, a
decisão do administrador de investir em determinada área implica escassez de outra que não foi contemplada.
Por esse motivo, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser oposta à efetivação dos
direitos fundamentais, já que não cabe ao administrador público preteri-la, visto que não é opção do governante,
não é resultado de juízo discricionário, nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da vontade
política.
Nem mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso porque a democracia é,
além dessa vontade, a realização dos direitos fundamentais. Portanto, aqueles direitos que estão intimamente
ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez, quando ela é fruto das escolhas do

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administrador. Não é por outra razão que se afirma não ser a reserva do possível oponível à realização do mínimo
existencial.
Por outro lado, a real insuficiência de recursos deve ser objetivamente demonstrada pelo Poder Público,
não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal no campo da
efetivação dos direitos fundamentais.

242. CLASSIFIQUE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS.

CRITÉRIO CLASSIFICAÇÃO EXPLICAÇÃO


Não são essenciais à
Quanto à DIGNIDADE DA PESSOA
MERAMENTE FORMAIS dignidade da pessoa humana.
HUMANA
Artigo 5o. XXIX.
Há uma tese doutrinária,
São essenciais à
ainda não decidida pelo STF, mas
dignidade da pessoa humana,
somente seria cláusulas pétreas os
MATERIALMENTE que é o valor central da
direitos materialmente
FUNDAMENTAIS dignidade, é o direito que
fundamentais
abstraído ameaça a vida humana
digna.
RUY BABOSA DIREITOS Disposições declaratórias
Desde SAMPAIO DORIA, essa
classificação é questionada, já que
pela supremacia da CF, o só fato de
declarar o direito ele já é uma
GARANTIAS Instrumentos assecuratórios
garantia, e ao mesmo tempo os
instrumentos são direitos, ou seja, há
uma mistura entre direitos e
garantias.
INDIVIDUAIS
CLASSIFICAÇÃO FORMAL DA
COLETIVOS
CF/88
SOCIAIS
Há também outros
NACIONALIDADE
espalhados pela CF.
POLÍTICOS

243. QUEM SÃO OS DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil: a disposição exposta no caput do artigo 5o, apesar de
generalista, viabiliza sejam estabelecidas diferenças entre os brasileiros. Exemplo: o brasileiro nato nunca poderá
ser extraditado e o brasileiro naturalizado somente pode ser extraditado por crime comum praticado antes da
naturalização ou por comprovado envolvimento com tráfico ilícito de entorpecentes ou drogas a fim.
Outra distinção entre brasileiros reside na disposição que permite o ajuizamento da Ação Popular somente
por cidadão (pleno gozo de direitos políticos) seja naturalizado ou nato.
Há direitos que somente estão voltados para as mulheres. Exemplo: direito da presa de amamentar os
filhos, idade menor para aposentadoria.
São estabelecidas também diferenças entre ricos e pobres: assistência jurídica gratuita aos que provarem
insuficiência de recursos e gratuidade do registro civil de nascimento e da certidão de óbito aos reconhecidamente
pobres.
Existe, ainda, direito fundamental destinado apenas aos estrangeiros: determinação constitucional no
sentido de vedar a concessão de extradição a estrangeiro por crime político ou de opinião não atinge os brasileiros.

244. OS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES NO PAÍS SÃO DESTINATÁRIOS?


Há divergência sobre o assunto:
1ª corrente (José Afonso da Silva) - só os estrangeiros residentes gozam dos direitos subjetivos
relativamente aos enunciados constitucionais dos direitos e garantias fundamentais. os estrangeiros não
residentes têm proteção em outras normas jurídicas do direito internacional e do direito infraconstitucional [caso
contrário a CF teria utilizado de palavras à toa].
2ª corrente (posicionamento do STF): os estrangeiros não residentes também têm direito em decorrência
do fato da dignidade da pessoa humana ser um dos fundamentos da república (“Os estrangeiros residentes no país
são beneficiários da assistência social prevista no artigo 203, inciso V, da Constituição Federal, uma vez atendidos
os requisitos constitucionais e legais” - RE 587970).
Observações sobre o tema:
- a possibilidade de ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES titularizarem DIREITOS FUNDAMENTAIS já era
reconhecida sob a égide das Constituições anteriores.
- a VEDAÇÃO À EXTRADIÇÃO DE ESTRANGEIRO por CRIME POLÍTICO ou DE OPINIÃO aplica-se tanto aos
ESTRANGEIROS RESIDENTES como aos NÃO RESIDENTES.
O STF não permite a extradição indireta (ainda que o estrangeiro seja passível de expulsão, o Governo
brasileiro não poderá efetivar referida medida compulsória para o mesmo país em que houver decisão de
indeferimento de pedido de extradição).

245. HÁ A POSSIBILIDADE DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM FAVOR DA


PESSOA JURÍDICA?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Também estão protegidas, desde que sejam compatíveis com a sua natureza, ou seja, poderão usufruir
dentro do razoável. Exemplo: impetração de MS pode ser feita por pessoa jurídica, já o HC não é compatível. Mas
há incisos voltados para aplicação de direitos das pessoas jurídicas (XXIX): proteção aos nomes de empresas.
Não haveria porque recusar às pessoas jurídicas as conseqüências do princípio da igualdade, do direito de
resposta, inviolabilidade do domicílio, garantias do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.

246. HÁ A POSSIBILIDADE DE RECONHECER TITULARIDADE DE DIREITOS HUMANOS À


PESSOA JURÍDICA?
Na última opinião consultiva editada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (n.º 22/2016), foi
decidido que as pessoas jurídicas não estão compreendidas no “âmbito de proteção da Convenção” e “a proteção
interamericana de direitos humanos” só compreende as pessoas físicas ou naturais. As pessoas jurídicas não
podem ser consideradas como vítimas no marco dos processos contenciosos ante o sistema interamericano. Esse
entendimento, no entanto, não se aplica: (i) às comunidades indígenas e tribais em relação a “certos direitos
humanos”; (ii) aos sindicatos; (iii) exercício de direitos de pessoas naturais através de pessoas jurídicas.

247. É POSSÍVEL A EXTENSÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AOS ENTES PÚBLICOS?


Toda a teoria dos direitos fundamentais está relacionada à proteção do cidadão, por meio dos direitos
fundamentais. Atualmente, a teoria deve ser temperada, para entender-se que alguns dos incisos do artigo 5o são
usufruídos pelo Estado (Gilmar Mendes).
No STF, embora exista decisão não admitindo a legitimação ativa da pessoa jurídica de direito público para
a impetração de MI (MI 537), parece que houve a superação no MI 725. No caso concreto, entendeu o STF, nos
termos do voto do Relator Gilmar Mendes, que não se deve negar aos municípios, peremptoriamente, a
titularidade de direitos fundamentais (...) e a eventual possibilidade de ajuizamento das ações constitucionais
cabíveis para a sua proteção. Assim, o STF entendeu razoável a hipótese em que o município, diante de omissão
legislativa inconstitucional impeditiva do exercício de direito, se veja compelido a impetrar o MI. (Inf. 466, STF).

248. QUAL A APLICABILIDADE DO ART. 5º, § 1º, DA CF?


Estabelece o dispositivo que os direitos fundamentais têm aplicação imediata, ou seja, sem a necessidade
de atuação do legislador, trata-se de regra que se aplica a todos os direitos fundamentais (sociais, coletivos e
outros), conferindo a maior eficácia possível.
Essa é a regra geral (normas de eficácia plena ou contida), pois há direitos fundamentais que demandam a
atuação do legislador ordinário (normas de eficácia limitada). Dessa forma, em regra, a tutela dos direitos
fundamentais será feita por MS, porque não se demanda a atuação do legislador infra-constitucional, ou seja, fica
afastado o mandando de injunção.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Para alguns autores, há diferença entre aplicação imediata, que seria atributo de todos os direitos
fundamentais (efeitos negativos imediatos), e aplicabilidade imediata, restrita às normas de eficácia plena e
contida.

249. QUAL O INSTRUMENTO JURÍDICO ADEQUADO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS?
Se as normas definidoras de direito fundamental não dependem de atuação do legislador
infraconstitucional para terem eficácia (normas de eficácia plena ou de eficácia contida) seria caso de direito
líquido e certo: instrumento = mandado de segurança.
O art. 5°, §1°, da CF estatui uma presunção relativa de aplicabilidade imediata e plena eficácia para as
normas definidoras de direitos e garantias fundamentais e sempre que possível as normas de direitos
fundamentais serão de eficácia plena ou de eficácia contida. Excepcionalmente uma norma de direito fundamental
pode ter natureza programática. Assim, o instrumento a ser utilizado em caso de violação de norma de direitos
fundamentais programáticas = mandado de injunção.

250. EXISTEM EFEITOS IMEDIATOS DE NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA?


Embora as normas de eficácia limitada exijam complementação para a produção plena de efeitos, tem dois
efeitos negativos imediatos: vincula o legislador, sob pena de inconstitucionalidade; e tem eficácia paralisante ou
ab-rogativa da legislação precedente incompatível.

251. QUAL O PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO EM CASO DE COLISÃO DE DIREITOS


FUNDAMENTAIS? EXISTEM LIMITES A TAIS DIREITOS?
No conflito entre princípios, deve-se buscar a conciliação entre eles, uma aplicação de cada qual em
extensões variadas, segundo a respectiva relevância no caso concreto, sem que se tenha um dos princípios como
excluído do ordenamento jurídico.
A doutrina é uníssona em afirmar que não existe direito absoluto. Assim, os direitos fundamentais não são
absolutos nem ilimitados. Encontram limitações na necessidade de se assegurar o exercício de outros direitos
igualmente consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas), bem
como encontram limites externos, decorrentes da necessidade de sua conciliação com as exigências da vida em
sociedade, traduzidas na ordem pública, ética social, autoridade do Estado etc, resultando, daí, restrições dos
direitos fundamentais em função dos valores aceitos pela sociedade.
Os direitos fundamentais, enquanto direitos de hierarquia constitucional somente podem ser limitados por
expressa disposição constitucional (restrição imediata) ou mediante lei ordinária com fundamento imediato na
própria constituição (restrição indireta – reserva legal simples ou qualificada). Ex: liberdade de reunir-se, sem
armas (XVI), liberdade de locomoção em tempo de paz (XV).
Ainda quanto aos limites dos direitos fundamentais, vigem as teorias interna e externa para justificar a
possibilidade de limites e restrições.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
252. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO PODE SER TITULAR DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS DE NATUREZA MATERIAL? PODE SOFRER DANO MORAL?
A pessoa jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação
da honra ou da imagem. De modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às pessoas
jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção constitucional
da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio
Estado, e não ao particular. Porém, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material, pretensamente
oponíveis contra particulares, a jurisprudência do STF nunca referendou a tese de titularização por pessoa jurídica
de direito público (Julgado do STJ – informativo 534, 2014)

253. QUAIS SÃO OS NÍVEIS DE CONTROLE JURISDICIONAL EM MATÉRIA DE DIREITOS


FUNDAMENTAIS?
No RE 635.659-SP (21/8/15), o min. Gilmar Mendes invocou a Corte Constitucional alemã e discorreu sobre
os três níveis de controle de intervenção ou restrição a direitos fundamentais:
No primeiro nível, o controle realizado pelo Tribunal deve reconhecer ao legislador uma ampla margem de
avaliação, valoração e conformação quanto às medidas que reputar adequadas e necessárias. A norma somente
poderá ser declarada inconstitucional quando as medidas adotadas pelo legislador se mostrarem claramente
inidôneas para a efetiva proteção do bem jurídico fundamental.
No segundo nível, o controle de justificabilidade está orientado a verificar se a decisão legislativa foi
tomada após uma apreciação objetiva e justificável de todas as fontes de conhecimento então disponíveis. Nesse
segundo nível, portanto, o controle de constitucionalidade estende-se à questão de se verificar se o legislador
levantou e considerou, diligente e suficientemente, todas as informações disponíveis, e se realizou prognósticos
sobre as consequências da aplicação da norma.
No terceiro nível, o controle material de intensidade aplica-se às intervenções legislativas que, a exemplo
das leis penais, por afetarem intensamente bens jurídicos de extraordinária importância, como a liberdade
individual, devem ser submetidas a um controle mais rígido por parte do Tribunal. Assim, quando estiver evidente
a grave afetação de bens jurídicos fundamentais de suma relevância, poderá o Tribunal desconsiderar as avaliações
e valorações fáticas realizadas pelo legislador para, então, fiscalizar se a intervenção no direito fundamental em
causa está devidamente justificada por razões de extraordinária importância.

254. NO CONTEXTO DA PROTEÇÃO DO NÚCLEO ESSENCIAL, O QUE TRATAM AS


SEGUINTES TEORIAS: GENERALISTA E INDIVIDUALIZADORA; OBJETIVA E SUBJETIVA;
ABSOLUTA E RELATIVA?
O âmbito do núcleo essencial de um direito fundamental é complexo e controvertido na doutrina, já que
existem diversas teorias a respeito, valendo destacar as seguintes teorias:
a) teoria generalista: entende que não importaria se uma lei viesse a atingir a essência de um direito
fundamental individualmente considerado, desde que subsistisse o sistema dos direitos fundamentais.
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
b) teoria individualizadora: entende que o conteúdo essencial de um direito fundamental é expressão
concreta do direito fundamental.
c) teoria objetiva: entende que o conteúdo essencial serve para proteger tal direito normativo como
instituto jurídico, fazendo com que, quando violado, se estaria a ofender o núcleo essencial dos direitos
fundamentais, de modo que deve ser resguardada a garantia legal e abstrata do texto normativo.
d) teoria subjetiva: o núcleo essencial dos direitos fundamentais tem de resguardar os direitos
fundamentais como posições jurídicas das pessoas como particulares.
e) teoria abstrata (doutrina do preferred freedoms): prega o estabelecimento de hierarquia entre direitos
fundamentais. Nos EUA, aduz-se que um dos direitos fundamentais dotados dessa característica é a liberdade de
expressão, que deve prevalecer prima facie em face de outros direitos fundamentais.
f) teoria absoluta: limites são ínsitos ao direito fundamental.
g) teoria relativa: limites decorrem de colisão e ponderação entre direitos fundamentais. Para ALEXY: “o
núcleo essencial dos direitos fundamentais não impõe nenhuma limitação adicional à ponderação, ao contrário,
decorre de sua utilização”.

255. O QUE SE ENTENDE POR DERROTABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS?


Dirley da Cunha Jr. aponta, em primeiro lugar, que mais adequado seria falar em derrotabilidade dos
enunciados normativos ao invés de derrotabilidade das normas (haja vista serem essas últimas fruto da
interpretação dos enunciados e da intelecção de diversos outros fatores jurídicos e meta-jurídicos).
A derrotabilidade (defeasibility) surge na doutrina de Herbert Hart, quem admite a possibilidade de não
aplicação (afastamento) de determinada norma jurídica em casos particulares, não previstos no enunciado,
quando a aplicação da norma de modo meramente subsuntivo resultar em grave dano. Um exemplo seria a
criminalização da mulher que opta pelo aborto de feto anencéfalo. A criminalização da conduta se mostraria de
uma lesividade desmesurada para uma conduta de periculosidade inexistente e reprovabilidade socialmente
controversa.
Ex: Lenza - flexibilização do art. 20, §3º Lei 8.742/93: Considera-se incapaz de prover a manutenção da
pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-
mínimo.

256. REGRAS JURÍDICAS PODEM SER PONDERADAS?


Quanto à possibilidade de ponderação de regras jurídicas, é necessária a explicitação do referencial.
Majoritariamente (Alexy, Virgílio Afonso da Silva), se entende que não se comporta ponderação entre regras
jurídicas, resolvendo-se a antinomia pelos critérios da hierarquia, especialidade e cronologia. Às regras aplica-se o
tudo ou nada. Nos conflitos entre princípios e regras, tendem essas últimas a prevalecer, a menos que viciadas em
sua constitucionalidade.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Há, entretanto, doutrina que entende pela possibilidade de ponderação entre regras (Humberto Ávila);
contudo, é necessário explicitar que, para esse último, o conceito de ponderação é um pouco distinto daquele
ordinariamente em voga nos tribunais e nas lições doutrinárias majoritárias, uma vez que Ávila se debruça sobre
o sopesamento de razões, motivos pelos quais determinada norma (e nesse ponto, a distinção entre norma-
princípio e norma-regra tem pouca relevância) deve ser obedecida ou aplicada (enforced).

257. O QUE SÃO DIREITOS A PRESTAÇÕES?


Também chamados de direitos prestacionais, são direitos que impõem um dever de agir ao Estado.
Objetivam a realização de condutas ativas por parte dos poderes públicos – status positivo ou status civitatis -, seja
para a proteção de certos bens jurídicos, seja para a promoção ou garantia das condições de fruição de tais bens.
Tais prestações podem ser de duas espécies: materiais (oferecimento de bens ou serviços a pessoas que não
podem adquiri-los ou o fornecimento universal de serviços monopolizados pelo Estado) ou normativas/jurídicas
(criação de normas jurídicas para a tutela de interesses individuais).
São duas também as formas de efetivação: negativas ou positivas, relacionadas como a forma de atuação.
– as prestações negativas se materializam com a tolerância e abstenção de atuação do Poder Público para
com os indivíduos, por exemplo, citem-se as ações referentes ao exercício dos chamados direitos da liberdade; –
direitos fundamentais de primeira geração. Os direitos de liberdade correspondem exatamente a direitos com
caráter negativo e surgiram como expressão da necessidade de abstenção do Estado de interferir na liberdade dos
particulares.
– a prestação positiva é dividida em duas: a prestação positiva normativa e a prestação positiva fática. Na
primeira o cidadão tem o direito de que o Estado regulamente algo, e no segundo, o cidadão tem o direito que o
Estado lhe dá algo.

258. COMO SE DÁ A APLICABILIDADE DOS DIREITOS INDIVIDUAIS?


Os direitos individuais, conforme dispõe o art. 5º, § 1º, da Constituição Federal, possuem aplicabilidade
imediata, o que significa dizer que são autoaplicáveis, ou seja, não dependem da edição de norma
regulamentadora para que possam ser exercidos. Somente quando a Constituição expressamente exigir uma
regulamentação e o direito individual não puder ser efetivado sem a existência de uma legislação
infraconstitucional, é que a norma pode ser interpretada como não autoexecutável.
No entanto, como anota José Afonso da Silva, ter aplicação imediata significa que as normas constitucionais
são dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou
comportamentos que elas regulam. A regra é que as normas definidoras de direitos e garantias individuais (direitos
de 1.ª dimensão, acrescente-se) sejam de aplicabilidade imediata. Mas aquelas definidoras de direitos sociais,
culturais e econômicos (direitos de 2.ª dimensão, acrescente-se) nem sempre o são, porque não raro dependem
de providências ulteriores que lhes completem a eficácia e possibilitem sua aplicação.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
De acordo com José Afonso da Silva, o sentido da regra inscrita no art. 5.º, § 1.º, CF é tornar os direitos
aplicáveis até onde possam ser aplicados. Em segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a
propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o
direito reclamado, por meio da ADO ou do MI.
O STF tende a consolidar o entendimento de que, em se tratando de “Poder”, a ADO seria o instrumento
para fazer um apelo ao legislador, constituindo-o em mora, enquanto o MI, por seu turno, seria o importante
instrumento de concretização dos direitos fundamentais, como vem sendo percebido na jurisprudência do STF.

259. NO QUE CONSISTE O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA?


Dignidade da Pessoa Humana é núcleo axiológico do constitucionalismo contemporâneo, constitui valor
constitucional supremo que irá informar a criação, a interpretação e a aplicação de toda a ordem normativa
constitucional, sobretudo, o sistema de direitos fundamentais. Impõe-se o reconhecimento de que a pessoa não
é simplesmente um reflexo da ordem jurídica, mas, ao contrário, deve constituir o seu objetivo supremo, sendo
que na relação entre o indivíduo e o Estado deve haver sempre uma presunção a favor do ser humano e de sua
personalidade. O indivíduo deve servir de “limite e fundamento do domínio político da República”, pois o Estado
existe para o homem e não o homem para o Estado (Canotilho).
A concepção de dignidade é codefinida pela crença dogmática de que radica em cada ser humano, em si e
por si, pelo só atributo de sua humanidade, um valor imanente, constante, infungível, indissociável, inalienável e
irrenunciável, independente de qualquer merecimento pessoal ou social (valor intrínseco).
Desdobra-se numa série de exigências de respeito, proteção e promoção da pessoa humana, por si mesma
e pelos outros, a partir da satisfação de suas necessidades existenciais essenciais (MÍNIMO EXISTENCIAL).
A associação direta do princípio da dignidade da pessoa humana com a ideologia dos direitos fundamentais
é relativamente recente, passando a ser realizada com mais vigor após a Segunda Guerra Mundial.
A concepção atual de dignidade da pessoa humana tem matriz antropocêntrica, igualitária, universal e
inclusiva, envolvendo em seu núcleo essencial a exigência ética de reconhecimento como pessoa de todo e
qualquer ser humano, em razão de sua simples condição humana. Tal concepção é alimentada pelo
reconhecimento de várias dimensões de direitos humanos.
Previsão constitucional: a CF/88 estabelece que um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito é
a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III). Além disso, a CF/88 afirma que toda a ação econômica tem como
finalidade assegurar a todos uma existência digna (art. 170). Por sua vez, no art. 226, §7, ficou determinado que o
planejamento familiar é livre decisão do casal fundado no princípio da dignidade da pessoa humana. Já o art. 227
determina que cabe à família, à sociedade e ao estado assegurar a dignidade à criança, ao adolescente e ao jovem.
No art. 230, a CF/88 prevê que a família, a sociedade e o estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
defendendo sua dignidade e bem estar.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Documentos internacionais que fazem referência ao princípio: (a) Carta das Nações Unidas de 1945. (b)
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948; (c) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,
de 1966. (d) Estatuto da Unesco, de 1945.

260. QUAL A NATUREZA JURIDICA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA?


Tanto nos diplomas internacionais quanto nacionais, a dignidade humana é inscrita como princípio geral
ou fundamental, mas não como direito autônomo. De fato, a dignidade humana é uma categoria jurídica que, por
estar na origem de todos os direitos humanos, confere-lhes conteúdo ético (ACR, Curso de direitos humanos, 2014,
p. 74). Positivado na Constituição, o princípio da dignidade da pessoa humana costura e unifica todo o sistema
pátrio de direitos fundamentais e “representa o epicentro axiológico da ordem constitucional, irradiando seus
efeitos sobre todo o ordenamento jurídico e balizando não apenas os atos estatais, mas também toda a miríade
de relações privadas que se desenvolvem no seio da sociedade civil e no mercado” (SARMENTO).
A dignidade da pessoa humana constitui um valor que atrai a realização dos direitos fundamentais do
homem, em todas as suas dimensões. É um valor fundamental que se viu convertido em princípio jurídico de
estatura constitucional, seja por sua positivação em norma expressa seja por sua aceitação como mandamento
jurídico extraído do sistema. Serve, assim, tanto como justificação moral quanto como fundamento normativo
para os direitos fundamentais. O princípio da dignidade da pessoa humana pode ser classificado, de acordo com
a modalidade de eficácia, em três categorias: direta (incide à semelhança de uma regra), interpretativa (os
valores e fins nele abrigados condicionam o sentido e o alcance das normas jurídicas em geral) e negativa (implica
na paralisação de qualquer norma ou ato jurídico que com ele seja incompatível).

261. EM RELAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, QUAL O SEU


CONTEÚDO ESSENCIAL? BEM COMO O QUE VEM A SER A SUA DUPLA DIMENSÃO?
O principio da dignidade da pessoa humana tem como conteúdo essencial:
(a) valor extrínseco da pessoa humana – elemento ontológico da dignidade, traço distintivo da condição
humana, do qual decorre que todas as pessoas são um fim em si mesmas, e não meios para a realização de metas
coletivas ou propósito de terceiros;
(b) autonomia da vontade – elemento ético da dignidade da pessoa humana, associado à capacidade de
autodeterminação do indivíduo, ao seu direito de fazer escolhas existenciais básicas; e
(c) valor social da pessoa humana (valor comunitário) ou dignidade como heteronomia – elemento social
da dignidade humana, identificando a relação entre o indivíduo e o grupo.
O doutrinador Ingo Wolfgang SARLET entende que a dignidade é uma construção histórico-cultural. Neste
aspecto a dignidade da pessoa humana é concebida como uma construção que vem sendo feita durante os vários
períodos históricos, também fruto de uma cultura de cada país. Referida construção tem sido levada a cabo por
cada indivíduo particularmente, sendo que aos direitos fundamentais não lhes são cometidos assegurar a
dignidade, mas sim dar condições para que esta se materialize. Por conseguinte, a dignidade apresenta dupla
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
dimensão: positiva e negativa. A positiva seria a do ser humano se autodeterminar, fazer suas escolhas. A segunda
(negativa) seria uma dimensão protetiva, aquela em que, não havendo a primeira, deveria o Estado e os outros
indivíduos lhe assegurar o reconhecimento dessa dignidade. E, através destas dimensões que é possível afirmar
que: "É justamente neste sentido que assume particular relevância a constatação de que a dignidade da pessoa
humana é simultaneamente limite e tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral, de
todos e de cada um, condição dúplice esta que também aponta para uma paralela e conexa dimensão defensiva
e prestacional da dignidade. Como limite, a dignidade implica não apenas que a pessoa não pode ser reduzida à
condição de mero objeto da ação própria e de terceiros, mas também o fato de a dignidade gerar direitos
fundamentais (negativos) contra atos que a violem ou a exponham a graves ameaças. Como tarefa, da previsão
constitucional (explícita ou implícita) da dignidade da pessoa humana, dela decorrem deveres concretos de tutela
por parte dos órgãos estatais, no sentido de proteger a dignidade de todos, assegurando-lhe também por meio de
medidas positivas (prestações) o devido respeito e promoção" (SARLET, p. 32)

262. O QUE É “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL”?


O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que confere ao Tribunal uma ampla
latitude de poderes, somente devendo ser manejada em hipóteses excepcionais, em que, além da séria e
generalizada afronta aos direitos humanos, haja também a constatação de que a intervenção da Corte é essencial
para a solução do gravíssimo quadro enfrentado. São casos em que se identifica um bloqueio institucional para a
garantia dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do princípio da separação
de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o campo das políticas públicas.
Aplicando a técnica, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando a
implementação em todo o país, no prazo máximo de 90 dias, da audiência de custódia, bem como a liberação pela
União, sem qualquer tipo de limitação, do saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na
finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.

263. O QUE SÃO DIREITOS A NÃO IMPEDIMENTOS?


Também chamados direitos a não afetações, direitos a não eliminação de posições de vantagem jurídica
ou direitos de defesa, produzem efeitos que genericamente se podem identificar como direito a não impedimento
de ações – por exemplo, a liberdade religiosa, ao mesmo tempo em que é assegurada enquanto direito, estabelece
um direito ao não impedimento do que ali está estatuído (ou seja, contém um direito à crença e um direito a não
ser impedido de exercê-lo).

264. O QUE SÃO DIREITOS A NÃO-AFETAÇÕES?


Também considerados direitos de defesa, são normas que estabelecem para o Estado obrigações de não
afetar propriedades ou situações do titular do direito. Segundo Alexy, são exemplos: direito à vida, à saúde, à

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
inviolabilidade do domicílio, inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem, inviolabilidade do sigilo
de correspondência e comunicações telefônicas, respeito à integridade física e moral dos presos.

265. EM QUE CONSISTEM OS DIREITOS A NÃO ELIMINAÇÕES DE POSIÇÕES JURÍDICAS?


Dentre os direitos fundamentais há aqueles que, além de estabelecerem em favor do titular uma específica
forma de proteção a um direito a algo, estatuem ao Estado um dever de não eliminar aquelas determinadas
posições, condições ou situações de vantagem jurídica, ou ainda, de prover imediatamente, à cessação de uma
lesão ou ameaça de direito especificamente incluído em seu âmbito de proteção.
Como exemplos de garantia do direito objetivo, citem-se as garantias de rigidez constitucional, separação
de poderes, controle concentrado de constitucionalidade e inalterabilidade da forma federativa. Como garantia a
um direito subjetivo, citem-se as garantias institucionais de propriedade, de herança e direitos autorais.

266. QUAL É A DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE TITULAR E DE DESTINATÁRIO DE


UM DIREITO FUNDAMENTAL?
O titular do direito é o sujeito do direito, é quem figura como sujeito ativo da relação de direito subjetivo.
Aqui incide o Princípio da Universalidade, no sentido de que toda pessoa, por ser pessoa, são titulares de direitos
e deveres fundamentais.
De outra banda, destinatário do direito é a pessoa (física ou mesmo jurídica ou ente despersonalizado) em
face da qual o titular pode exigir o respeito, proteção ou promoção do seu direito. Uma observação importante é
que a titularidade de direitos fundamentais não pode ocorrer de modo prévio para os direitos fundamentais em
geral, mas reclama identificação individualizada, à luz de cada norma de direito fundamental e das circunstâncias
do caso concreto e de quem figura nos polos da relação jurídica.

267. O QUE SIGNIFICA O ÂMBITO DE PROTEÇÃO DE UM DIREITO FUNDAMENTAL? ELE


ESTÁ SUJEITO A INTERVENÇÕES?
Todo direito fundamental possui um âmbito de proteção, que nada mais é do que um campo de incidência
normativa ou suporte fático, e todo direito fundamental está sim sujeito a intervenções neste âmbito de proteção.

268. O QUE SIGNIFICAM E COMO OCORREM AS LIMITAÇÕES A DIREITOS


FUNDAMENTAIS?
Limites aos direitos fundamentais podem ser definidos como ações ou omissões dos poderes públicos ou
de particulares que dificultem, reduzam ou eliminem o acesso ao bem jurídico protegido, afetando o seu exercício
(aspecto subjetivo) e/ou diminuindo deveres estatais de garantia e promoção (aspecto objetivo) que resultam dos
direitos fundamentais.
Com efeito, enquanto as limitações propriamente ditas consistem em mandados ou proibições dirigidos
aos cidadãos (titulares de direitos fundamentais), as chamadas reservas legais não configuram limitações na

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acepção mais rigorosa do termo, e sim autorizações constitucionais que fundamentam a possibilidade de o
legislador restringir direitos fundamentais.
No que diz respeito às espécies de limitações, registra-se substancial consenso quanto ao fato de que os
direitos fundamentais podem ser restringidos tanto por expressa disposição constitucional como por norma
legal promulgada com fundamento na Constituição. A restrição reclama, seja direta ou indiretamente, um
fundamento constitucional para ser válida.

269. SE TODO O PODER EMANA DO POVO, QUAL É A RAZÃO DE SE RESTRINGIR, POR


MEIO DE CLÁUSULAS PÉTREAS, A POSSIBILIDADE DE EMENDAS CONSTITUCIONAIS?
A cláusula pétrea é uma disposição constitucional imutável por opção do legislador constitucional, a bem
de estabilizar certas matérias de maior importância social e jurídica. Não está sujeita ao poder constitucional
reformador, portanto. Tais limitações visam preservar o núcleo essencial do projeto constituinte que, se alterado,
descaracterizaria a própria CF. Jon Elster justifica a existência de cláusulas pétreas através da teoria do pré-
comprometimento. Aduz que as Constituições democráticas são mecanismos de auto vinculação adotados pela
soberania popular para se proteger de suas paixões e fraquezas. Outro fator importante é que, por ocasião da
Constituinte, verifica-se que o fenômeno do “momento constitucional” (Daniel Sarmento), que se caracteriza pela
maior consciência cívica e deliberativa, apta a justificar a limitação dos poderes então constituídos.

270. O QUE SIGNIFICAM AS RESTRIÇÕES INDIRETAS?


São as restrições a direitos fundamentais estabelecidas por lei, com amparo constitucional. Este amparo
constitucional dá-se através das reservas legais, que nada mais são do que disposições constitucionais que
autorizam o legislador a intervir no âmbito de proteção dos direitos fundamentais.

271. QUAL É A DISTINÇÃO CONCEITUAL ENTRE RESERVAS LEGAIS SIMPLES E RESERVAS


LEGAIS QUALIFICADAS?
As reservas legais simples autorizam o legislador a intervir no âmbito de proteção de um direito
fundamental sem estabelecer pressupostos ou objetivos específicos a serem observados, implicando, portanto, a
atribuição de uma competência mais ampla de restrição. Ex.: art. 5º, VII, da CF.
As reservas legais qualificadas têm como traço distintivo o fato de estabelecerem pressupostos e/ou
objetivos a serem atendidos pelo legislador ordinário para limitar os direitos fundamentais. Ex.: art. 5º, XII, da CF.

272. NO TEMA DAS RESERVAS LEGAIS, O QUE SIGNIFICA O CONCEITO DE “RESERVA


GERAL IMANENTE DE PONDERAÇÃO”?
O conceito é apresentado por Jorge Reis Novais para explicar o fenômeno de direitos fundamentais que
não possuem limitações previstas no texto constitucional, mas que, eventualmente, em razão de colisão com
outros direitos fundamentais, poderão casuisticamente ser restringidos, sem que tal restrição afigura-se abusiva.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Como salienta Ingo, a solução amplamente preconizada afirma a necessidade de se respeitar a proteção
constitucional dos diferentes direitos no quadro da unidade da constituição, buscando harmonizar preceitos que
apontam para resultados diferentes, muitas vezes contraditórios.

273. EM MATÉRIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS, É CORRETO DIZER QUE O SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL DÁ A ÚLTIMA PALAVRA?
O crescente ativismo judicial tem gerado uma tensão entre o Poder Judiciário e o Poder Legislativo e, nesse
contexto, cabe perguntar: a qual dos dois cabe a “última palavra” em matéria de interpretação constitucional?
Existem defensores de ambos os lados.
DWORKIN, por exemplo, defende uma supremacia judicial, enquanto WALDRON prega uma supremacia do
parlamento.
Alguns exemplos de argumentos em prol da última palavra judicial são: i) As cortes protegem as pré-
condições da democracia; ii) As cortes protegem os direitos das minorias e impedem a tirania da maioria (caráter
contramajoritário); iii) A Corte é um agente externo imparcial; iv) A Corte é menos falível em questões de princípios
e está mais próxima da resposta certa.
Por outro lado, são exemplos de argumentos em prol da última palavra legislativa: i) O legislativo é mais
representativo; ii) O legislativo representativo é um aperfeiçoamento da democracia direta; iii) A Corte não é
imparcial e não está fora da política; iv) Os juízes não têm representatividade.
Diante deste “cabo de guerra”, no entanto, a teoria dos diálogos (inter)institucionais prega, como seu
próprio nome induz, um maior diálogo entre as instituições incentivando o construtivismo, o debate e às variadas
formas de enxergar o texto constitucional. Para essa teoria, a última palavra é, no máximo, “provisória”, já que,
independentemente de qual instituição tenha a última palavra, não há nada que impeça que a outra instituição
responda.

274. O QUE É O ATIVISMO JUDICIAL? O QUE SIGNIFICA A AUTOCONTENÇÃO?


Na lição do professor e Ministro do STF Luís Roberto Barroso, o ativismo judicial deriva do alargamento
do escopo jurisdicional para causas relacionadas a políticas públicas e cidadania. Nessas lides, não raro
envolvendo discussões acerca do alcance e das restrições a direitos sociais, o judiciário toma papel ativo,
determinando medidas concretas a serem observadas pelos agentes públicos e pela sociedade, em um juízo
substancialmente político, mas juridicamente fundamentado. Dentre os famosos casos paradigma de ativismo
judicial no Brasil, pode-se citar o exemplo da descriminalização do aborto de fetos anencéfalos e a declaração de
constitucionalidade das uniões homoafetivas.
O oposto ao fenômeno do ativismo judicial é a autocontenção. Nas palavras de Barroso: “o Judiciário
procura reduzir sua interferência nas ações dos outros Poderes. Por essa linha, juízes e tribunais (i) evitam aplicar
diretamente a Constituição a situações que não estejam no seu âmbito de incidência expressa, aguardando o
pronunciamento do legislador ordinário; (ii) utilizam critérios rígidos e conservadores para a declaração de
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
inconstitucionalidade de leis e atos normativos; e (iii) abstêm-se de interferir na definição das políticas públicas.
Até o advento da Constituição de 1988, essa era a inequívoca linha de atuação do Judiciário no Brasil”.

275. DO QUE TRATAM AS CRÍTICAS DE LÊNIO STRECK AO ATIVISMO JUDICIAL? O QUE É


A PAN-PRINCIPIOLOGISMO E A “SUPREMOCRACIA”?
Com a CF/88, a posição institucional do STF foi fortalecida pela ampliação de sua competência e dos
instrumentos de jurisdição constitucional. A Corte é responsável por emitir a última palavra em questões
constitucionais substantivas, inclusive validando ou substituindo decisões proferidas por outros órgãos.
A doutrina se refere a esse fato como “supremocracia”, termo que comporta duas dimensões. A primeira
referente à autoridade do STF frente às demais instâncias judiciais, já que intérprete final da Constituição. A
segunda, que decorre da ampliação de suas atribuições de Tribunal Constitucional, refere-se à expansão da sua
autoridade também frente aos demais poderes (executivo e legislativo).
A supremocracia é amplamente criticada pelos doutrinadores, que propõem uma autocontenção da
atuação do Supremo. Segundo eles, em nome do fortalecimento não só das instâncias inferiores, mas da própria
Corte Constitucional, esta deveria se limitar a proferir julgamentos mais qualitativos, envolvendo somente grandes
temas constitucionais.
Outra crítica doutrinária refere-se ao chamado “pan-principiologismo”, em que o julgador cria pseudo-
princípios com base em orientações pessoais para servirem de fundamentação para suas decisões, estas muitas
vezes violadoras da ordem constitucional.
Na colisão entre regras, os princípios ganham fundamental destaque na solução dos conflitos. Porém, os
princípios devem ser legítimos, com fundamentação histórica, política e jurídica.

276. QUAL A RELAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL DO PRESO À INTEGRIDADE MORAL


COM O FENÔMENO DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA?
A Constituição Simbólica é um conceito desenvolvido por Marcelo Neves, sob uma perspectiva sociológica
e sistêmica, para definir a ausência de concretização normativa do texto constitucional, ou seja, a ineficácia ou
não realização das normas constitucionais, mas, em que pese a ausência de normatividade real, a Constituição
acaba servindo como um símbolo social, ou em outras palavras, a Constituição não consegue ser efetivamente
uma norma reguladora da sociedade, mas como um símbolo, como ente quase mítico de fé, presta-se a gerar
crenças sociais, realizando assim um papel muito mais de camuflagem a valores políticos concretos, servindo
àqueles que possuem o poder real. Desse modo, nota-se que há uma dupla perspectiva negativa no
constitucionalismo simbólico, pois, além de não regular as condutas, traveste o poder real em poder legítimo (sem
necessariamente o ser), fazendo com que os valores reais buscados pela sociedade, como democracia e paz, por
exemplo, acabem caindo em total descrédito.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Nesse sentido, a previsão como cláusula pétrea do direito à integridade moral do preso tem o papel
simbólico de camuflar o real desinteresse no tema pelas autoridades, criando o efeito ilusório de compromisso
moral do Estado com as condições dos sentenciados.

277. QUAIS AS TRÊS ONDAS RENOVATÓRIAS DO ACESSO À JUSTIÇA?


O referencial utilizado centra-se na obra clássica de Mario Cappelletti e Bryant Garth, Acesso à Justiça.
Conforme sistematizam os autores, é possível identificar três ondas relacionadas a esse processo.
De início, o conceito de acesso à justiça cinge-se à tutela daqueles que comprovassem insuficiência de
recursos para o patrocínio de suas causas. É nessa onda de “tutela aos pobres” que nascem institutos como o
benefício da gratuidade judiciária, os tribunais de pequenas causas e mesmo a Defensoria Pública.
A segunda onda de acesso à justiça relaciona-se com a coletivização do processo judicial. No Brasil, apesar
de já haver a previsão da Ação Popular desde a década de 1960, esse movimento começa a ganhar fôlego com a
Lei de Ação Civil Pública e com a edição do Código de Defesa do Consumidor, diploma que além de reger as relações
de consumo, serve de base legal para a definição de direitos coletivos em sentido estrito, direitos difusos e direitos
individuais homogêneos. O que é característico dessa onda renovatória é a premente necessidade de
representação em juízo dos direitos metaindividuais.
Quanto à terceira geração, fala-se em “efetivação do processo”. É uma fase contemporânea; pode-se
observar no cotidiano diversos instrumentos relacionados a essa onda: súmula vinculante, repercussão geral, nova
lei de execução. A ideia é aperfeiçoar o sistema, para que ele se torne mais eficiente, mais eficaz.

278. O QUE SIGNIFICA O PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL?


O princípio possui conteúdos positivo e negativo. O conteúdo positivo encontra-se no dever de o legislador
manter-se no propósito de ampliar, progressivamente e de acordo com as condições fáticas e jurídicas (incluindo
as orçamentárias), o grau de concretização dos direitos fundamentais sociais. Não se trata de mera manutenção
do status quo, mas de imposição da obrigação de avanço social.
O conteúdo negativo - subjacente a qualquer princípio - que, no caso, prevalece sobre o positivo, refere-
se à imposição ao legislador de, ao elaborar os atos normativos, respeitar a não-supressão ou a não-redução, pelo
menos de modo desproporcional ou irrazoável, do grau de densidade normativa que os direitos fundamentais
sociais já tenham alcançado por meio da legislação infraconstitucional.
No Brasil, o desbravamento do princípio sob estudo é atribuído a José Afonso da Silva, para quem as normas
constitucionais definidoras de direitos sociais seriam normas de eficácia limitada e ligadas ao princípio
programático, que, inobstante tenham caráter vinculativo e imperativo, exigem a intervenção legislativa
infraconstitucional para a sua concretização, vinculam os órgãos estatais e demandam uma proibição de
retroceder na concretização desses direitos. Logo, o autor reconhece indiretamente a existência do princípio da
proibição de retrocesso social.

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O STF lançou o primeiro pronunciamento sobre a matéria por meio do acórdão prolatado na ADI nº 2.065-
0-DF, na qual se debatia a extinção do Conselho Nacional de Seguridade Social e dos Conselhos Estaduais e
Municipais de Previdência Social. Não obstante o STF não tenha conhecido da ação, por maioria, por entender ter
havido apenas ofensa reflexa à Constituição, destaca-se o voto do relator originário, Ministro Sepúlveda Pertence,
que admitia a inconstitucionalidade de lei que simplesmente revogava lei anterior necessária à eficácia plena de
norma constitucional e reconhecia uma vedação genérica ao retrocesso social.
O princípio tem sede material na CF/88, decorrendo dos princípios do Estado social e democrático de
direito, da dignidade da pessoa humana, da máxima eficácia e efetividade das normas definidoras de direitos
fundamentais, da segurança jurídica e da proteção da confiança, do valor social do trabalho e da valorização do
trabalho humano.
Além disso, o princípio decorre da imposição constitucional de ampliação dos direitos fundamentais sociais,
da redução das desigualdades sociais e da construção de uma sociedade marcada pela solidariedade e pela justiça
social. Levam-se em consideração, ainda, a tendência do direito internacional de progressiva implementação
efetiva da proteção social por parte dos Estados e o argumento de que a negação do princípio significaria que o
legislador dispõe do poder de livremente tomar decisões, ainda que em flagrante desrespeito à vontade expressa
do legislador constituinte.

279. O QUE É CLÁUSULA DE PROGRESSIVIDADE EM MATÉRIA DE DIREITOS SOCIAIS?


A “cláusula de progressividade” encontra-se prevista em tratados de direitos sociais, como o art. 1º do
Protocolo de San Salvador: “os Estados Partes [...] comprometem-se a adotar as medidas necessárias, tanto de
ordem interna como por meio da cooperação entre os Estados, especialmente econômica e técnica, até o máximo
dos recursos disponíveis e levando em conta seu grau de desenvolvimento, a fim de conseguir,
PROGRESSIVAMENTE e de acordo com a legislação interna, a plena efetividade dos direitos reconhecidos neste
Protocolo”.

280. O QUE SIGNIFICA O “EFEITO CLIQUET” DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?


Segundo Dirley da Cunha Jr., um dos postulados mais notáveis que informam a Teoria dos Direitos
Fundamentais é a “proibição do retrocesso”, também conhecido como efeito “cliquet”, que busca a proteção
máxima dos Direitos da Pessoa Humana contra qualquer medida normativa ou política de supressão ou
enfraquecimento.
A expressão “cliquet” é de origem francesa, empregada pelos alpinistas para significar que, a partir de um
determinado ponto da escalada, não é possível retroceder, devendo prosseguir sempre para cima, designando um
movimento em que só é permitida a subida no percurso.
Pois bem, o postulado da “proibição do retrocesso” orienta a evolução dos Direitos Fundamentais, em
especial os Direitos Sociais, aos quais o postulado em tela está mais associado, no sentido de que, uma vez

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reconhecidos na ordem jurídica, os Direitos não podem ser suprimidos ou enfraquecidos, sob pena de
inconstitucionalidade.

281. NO DIREITO COMPARADO, QUAIS SÃO OS DIPLOMAS QUE MARCARAM A


POSITIVAÇÃO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS? E NO BRASIL?
Em tema de Direitos Sociais, os diplomas apontados pela doutrina como marcos da positivação
constitucional são: Constituição Mexicana de 1917; Constituição Alemã de 1919 (Weimar). No Brasil, o marco é a
Constituição de 1934.

282. OS DIREITOS SOCIAIS SÃO CONSIDERADOS CLÁUSULAS PÉTREAS?


No rol das cláusulas pétreas trazido pela CF, não há menção expressa dos direitos sociais. No art. 60, §4º
há apenas a sedimentação dos direitos e garantias individuais como cláusula pétrea. Sabe-se que tanto os direitos
individuais quanto os direitos sociais são espécies do gênero direitos fundamentais.
Todavia, o Constituinte trouxe como cláusula pétrea apenas uma das espécies, e não o gênero. Assim, pela
interpretação gramatical os direitos sociais não sofreriam a imutabilidade constitucional.
Entretanto, o tema não é pacífico na doutrina. Muitos autores divergem dessa interpretação, sobretudo ao
fundamento de que a interpretação gramatical não é a mais apropriada ao caso.
Não há manifestação do Plenário do STF sobre o tema. Parte da doutrina sustenta que os direitos sociais
de índole individual (como os do art. 7º da CF) devem ser considerados como cláusulas pétreas, já que, embora
sociais, não deixam de ser direitos fundamentais do indivíduo. Outra parcela da doutrina entende que todos os
direitos sociais compõem a cláusula pétrea, sobretudo por força do princípio da vedação do retrocesso em matéria
de direitos fundamentais conquistados e da interdependência entre os direitos.

283. EM QUE CONSISTE A CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL? E A DO MÍNIMO


EXISTENCIAL? COMO ESSES CONCEITOS SE RELACIONAM?
A cláusula da reserva do possível, considerada princípio implícito da CF, tem como consequência o
reconhecimento de que os direitos sociais, embora devam ser efetivados pelo Poder Público, o devem ser na
medida das possibilidades financeiras, gerando uma concretização paulatina – e não imediata – dos direitos. Isso
porque, de um lado, as necessidades humanas são ilimitadas e, de outro, os recursos financeiros são finitos.
Já o postulado do Mínimo Existencial, corolário do princípio da dignidade humana, traz a ideia de que há
um núcleo mínimo de direitos sociais que precisam ser garantidos aos cidadãos, sob pena de o Estado privá-los de
uma vida digna. A ideia de mínimo existencial pode ser relacionada com o “estatuto jurídico do patrimônio
mínimo”, que é o título de uma conhecida obra do Ministro do STF, Luiz Edson Fachin.
Assim, o princípio do mínimo existencial traz um limite para a arguição da cláusula da reserva do possível,
não permitindo que o Poder Público argua a impossibilidade financeira nas situações em que o direito versado
relaciona-se com o mínimo de dignidade ao postulante.

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284. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL E A EROSÃO DA
CONSCIÊNCIA CONSTITUCIONAL?
Em caso no qual o STF aventou a possibilidade de reconhecer que o valor do salário mínimo é
inconstitucional (ADI 1.442), pontuou-se que as situações configuradoras de omissão inconstitucional, ainda que
se cuide de omissão parcial, refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a inércia do Estado –
além de gerar a erosão da própria consciência constitucional – qualifica-se, perigosamente, como um dos
processos informais de mudança ilegítima da Constituição, expondo-se, por isso mesmo, à censura do Poder
Judiciário.

285. DO QUE TRATA A DOUTRINA CHENERY NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS?


Segundo a “doutrina Chenery”, o Poder Judiciário não pode anular um ato político adotado pela
Administração Pública sob o argumento de que ele não se valeu de metodologia técnica. Surgiu a partir de um
julgamento da Suprema Corte norteamericana e é bem explicada por um autor chamado Richard Posner, que trata
sobre a análise econômica do Direito, ou seja, sobre os reflexos econômicos das decisões judiciais.
Em temas envolvendo questões técnicas e complexas, os Tribunais não gozam de expertise para concluir
se os critérios adotados pela Administração são corretos ou não. Assim, as escolhas políticas dos órgãos
governamentais, desde que não sejam revestidas de reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo
Poder Judiciário. STJ. AgInt no AgInt na SLS 2.240-SP, Info 605.

286. O DIREITO À VIDA POSSUI DUPLA ACEPÇÃO, QUAIS SÃO?


Acepção Negativa: consiste no direito assegurado a todo e qualquer humano de permanecer vivo (status
negativo). Nesse sentido, o direito à vida é pressuposto elementar para o exercício de todos os demais direitos.
Acepção Positiva: é associada ao direito à existência digna, no sentido de ser assegurado ao indivíduo
acesso a bens e utilidades indispensáveis para uma vida em condições minimamente dignas. Não se limita ao
mínimo existencial, atua também no sentido de assegurar ao indivíduo pretensões de caráter material e jurídico.

287. É POSSÍVEL NEGAR TRATAMENTO MÉDICO POR RAZÕES RELIGIOSAS?


De acordo com a doutrina, o direito à vida tem dupla acepção: direito de permanecer vivo e direito à
existência digna.
Enquanto a inviolabilidade protege o titular contra terceiros, a irrenunciabilidade protege o direito contra
o seu próprio titular. Exemplos dessa última estão nas discussões em torno da eutanásia ou das testemunhas de
Jeová. Os Tribunais, em geral, possuem julgados a respeito da licitude da conduta dos médicos que realizam
transfusão de sangue em Testemunhas de Jeová, ao argumento de que o direito à vida prevalece sobre os demais.
Porém, há uma posição doutrinária (Barroso) no sentido de que, quando se trata de pessoa absolutamente capaz
e consciente, sua vontade deve ser respeitada.

288. AS PESQUISAS COM CÉLULAS TRONCO VIOLAM O DIREITO À VIDA?


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Na ADI 3510, que discutiu a constitucionalidade da lei que permitia pesquisa com células tronco
embrionárias, constatou-se a existência de conflito entre o direito à vida do embrião e, de outro lado, o direito à
vida de inúmeras pessoas que poderão ser salvas com o resultado dessas pesquisas. No STF prevaleceu que direito
à vida de todas estas pessoas serviria como restrição legítima ao direito à vida do embrião.

289. É CRIME O ABORTO DE FETO ANENCÉFALO?


ADPF n. 54. Por maioria, o STF decidiu pela possibilidade de interrupção da gravidez com base nos seguintes
fundamentos: a) antecipação terapêutica do parto não é aborto, mas sim conduta atípica, já que sequer há
possibilidade de atividade cerebral; b) ainda que seja considerada aborto, esta hipótese não seria punível, visto
que, por uma interpretação evolutiva do CP, haveria excludente de culpabilidade; c) a manutenção da gravidez
sem possibilidade de gerar uma vida fere o princípio da dignidade da pessoa humana da mulher.

290. E A INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO?


Segundo o Min. Roberto Barroso, para ser compatível com a Constituição, a criminalização de uma conduta
exige o preenchimento de três requisitos:
a) este tipo penal deverá proteger um bem jurídico relevante;
b) o comportamento incriminado não pode constituir exercício legítimo de um direito fundamental; e
c) deverá haver proporcionalidade entre a ação praticada e a reação estatal.
A conduta de praticar aborto com consentimento da gestante no primeiro trimestre da gravidez não pode
ser punida como crime porque não preenche o segundo e terceiro requisitos acima expostos (letras "b" e "c").
Os arts. 124 e 126 do CP protegem um bem jurídico relevante (a vida potencial do feto). No entanto, a
criminalização do aborto antes de concluído o primeiro trimestre de gestação viola diversos direitos fundamentais
da mulher, além de não observar suficientemente o princípio da proporcionalidade.
A criminalização da interrupção voluntária da gestação ofende diversos direitos fundamentais das mulheres
(autonomia, integridade física e psíquica, direitos sexuais e reprodutivos, igualdade de gênero) com reflexos sobre
a sua dignidade humana. A mulher que realiza um aborto, o faz por se encontrar diante de uma decisão trágica e
não precisa que o Estado torne a sua vida ainda pior, processando-a criminalmente. Desse modo, a mulher que
realiza aborto age de forma legítima, sendo também, por via de consequência, legítima a conduta do profissional
de saúde que a viabiliza.
A tipificação penal do aborto produz também discriminação social, já que prejudica, de forma
desproporcional, as mulheres pobres, que não têm acesso a médicos e clínicas particulares, nem podem se valer
do sistema público de saúde para realizar o procedimento abortivo.
Por meio da criminalização, o Estado retira da mulher a possibilidade de submissão a um procedimento
médico seguro. Não raro, mulheres pobres precisam recorrer a clínicas clandestinas sem qualquer infraestrutura

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médica ou a procedimentos precários e primitivos, que lhes oferecem elevados riscos de lesões, mutilações e
óbito.
Sob a ótica do princípio da proporcionalidade:
- adequação: A medida adotada (punir o aborto consensual) é idônea para proteger o feto? De acordo com
estudos da Organização Mundial da Saúde a criminalização não produz impacto relevante sobre o número de
abortos. As taxas de aborto nos países onde esse procedimento é permitido são muito semelhantes àquelas
encontradas nos países em que ele é ilegal.
Atualmente, existem medicamentos que são facilmente encontrados e que a mulher, ao usá-los, consegue
interromper a gravidez sem que o Poder Público tenha meios para tomar conhecimento e impedir a sua realização.
Desse modo, a criminalização não gera uma diminuição na quantidade de abortos. Eles continuam sendo
realizados constantemente, de forma clandestina e perigosa para a saúde da mulher. Por outro lado, se não
houvesse a punição haveria a possibilidade de estes procedimentos serem realizados de forma segura e sem tantos
riscos.
Na prática, portanto, a criminalização do aborto é ineficaz para proteger o direito à vida do feto. Do ponto
de vista penal, ela constitui apenas uma reprovação “simbólica” da conduta.
- necessidade: existe meio alternativo à criminalização que proteja igualmente o direito à vida do nascituro,
mas que produza menor restrição aos direitos das mulheres?
O Min. Roberto Barroso defendeu que sim. Uma política alternativa à criminalização implementada com
sucesso em diversos países desenvolvidos do mundo é a descriminalização do aborto em seu estágio inicial (em
regra, no primeiro trimestre), desde que se cumpram alguns requisitos procedimentais que permitam que a
gestante tome uma decisão refletida.
As duas razões mais comumente invocadas para o aborto são a impossibilidade de custear a criação dos
filhos e a drástica mudança na vida da mãe (que a faria, p. ex., perder oportunidades de carreira). Nessas situações,
é importante a existência de uma rede de apoio à grávida e à sua família, como o acesso à creche e o direito à
assistência social.
Além disso, muitas gestações não programadas são causadas pela falta de informação e de acesso a
métodos contraceptivos. Isso pode ser revertido, por exemplo, com programas de planejamento familiar, com a
distribuição gratuita de anticoncepcionais e assistência especializada à gestante e educação sexual.
- proporcionalidade em sentido estrito: As restrições aos direitos fundamentais das mulheres decorrentes
da criminalização são ou não compensadas pela proteção à vida do feto? O fato de as mulheres serem privadas do
direito de abortar gera uma maior proteção ao feto?
O STF entendeu que não. Conforme demonstrado, a tipificação penal do aborto produz um grau elevado
de restrição a direitos fundamentais das mulheres. Por outro lado, a criminalização do aborto promove um grau
reduzido (se algum) de proteção dos direitos do feto, uma vez que não tem sido capaz de reduzir o índice de
abortos.
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Dessa forma, não há proporcionalidade em sentido estrito em se manter a punição do aborto consentido
nos três primeiros meses da gravidez.
Praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante
a fase inicial da gestação como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália,
Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.
A criminalização da interrupção da gestação no primeiro trimestre vulnera o núcleo essencial de um
conjunto de direitos fundamentais da mulher. Trata-se, portanto, de restrição que ultrapassa os limites
constitucionalmente aceitáveis.
Primeiro trimestre da gravidez
Vale ressaltar que, pela decisão do STF, só não será punido o aborto consentido (realizado pela mulher ou
por terceiro com sua concordância) e desde que feito nos três primeiros meses da gravidez.
Se for realizado após o primeiro trimestre, continua sendo crime. Existe uma intensa e polêmica discussão
sobre quando se inicia a vida e qual é o status jurídico do embrião durante a fase inicial da gestação. Dentre outras,
há duas posições principais e antagônicas em relação a isso:
1ª) de um lado, os que sustentam que existe vida desde a concepção, desde que o espermatozoide
fecundou o óvulo, dando origem à multiplicação das células.
2ª) de outro lado, estão os que sustentam que antes da formação do sistema nervoso central e da presença
de rudimentos de consciência (o que geralmente se dá após o terceiro mês da gestação) não é possível ainda falar-
se em vida em sentido pleno.
É importante, no entanto, pontuar três observações:
1) Esta decisão foi tomada pela 1ª Turma do STF (não se sabe como o Plenário decidiria);
2) A discussão sobre a criminalização ou não do aborto nos três primeiros meses da gestação foi apenas
para se analisar se seria cabível ou não a manutenção da prisão preventiva;
3) O mérito da imputação feita contra os réus ainda não foi julgado e o STF não determinou o
"trancamento" da ação penal. O habeas corpus foi concedido apenas para que fosse afastada a prisão preventiva
dos acusados.
Exceções em que o aborto não é crime
O Código Penal, em seu art. 128, traz duas hipóteses em que o aborto é permitido:
1ª) se não há outro meio de salvar a vida da gestante. É o chamado aborto “necessário” ou “terapêutico”,
previsto no inciso I.
2ª) no caso de gravidez resultante de estupro. Trata-se do aborto “humanitário”, “sentimental”, “ético” ou
“piedoso”, elencado no inciso II.
Segundo o texto expresso do CP, essas são as duas únicas hipóteses em que o aborto é permitido no Brasil.
3ª) Interrupção da gravidez de feto anencéfalo

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O STF, no julgamento da ADPF 54/DF, criou uma nova exceção e decidiu que a interrupção da gravidez de
feto anencéfalo é conduta atípica.
4ª) Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação
A 1ª Turma do STF, no julgamento do HC 124306, mencionou a possibilidade de se admitir uma quarta
exceção: a interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocado pela própria gestante (art. 124)
ou com o seu consentimento (art. 126) também não seria crime (Info 849).

291. DIFERENCIE EUTANÁSIA, ORTOTANÁSIA, DISTANÁSIA E O SUICÍDIO ASSISTIDO.


A eutanásia consiste em ato de término da vida de doente terminal para abreviar a agonia e os sofrimentos
prolongados. No Brasil, a prática da eutanásia consiste em crime previsto no art. 121, § 1º (homicídio privilegiado,
em face do relevante valor moral na conduta do agente, morte doce, homicídio por piedade). O consentimento do
paciente é juridicamente irrelevante. A depender do caso e da conduta da própria vítima, pode configurar auxílio
ao suicídio.
A ortotanásia (morte justa ou morte digna) consiste, com anuência do paciente terminal, na ausência de
prolongamento artificial da vida pela desistência médica do uso de aparelhos ou outras terapias, evitando
sofrimento desnecessário. A ortotanásia consiste na desistência, pelo médico, do uso de medicamentos e terapias,
pois não há esperança de reversão do quadro clínico nos pacientes terminais. O que mata é a doença, não o
médico. A ortotanásia é regulada pelo Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução n. 1.805/2006, que
dispõe que, sendo o quadro irreversível, e caso assim o paciente o deseje, o médico está autorizado a não lançar
mão de cuidados terapêuticos que apenas terão o condão de causar dor adicional ao paciente.
A distanásia é a prática pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um
enfermo incurável.
Quanto ao suicídio assistido, o Código Penal considera crime induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
prestar-lhe auxílio para que o faça, desde que o suicídio se consume ou da tentativa resultar lesão corporal (CP,
art. 122).

292. EMBORA HAJA UMA TENDÊNCIA À ABOLIÇÃO DA PENA DE MORTE, AINDA É


POSSÍVEL A SUA UTILIZAÇÃO EXCEPCIONALMENTE, COMO PREVÊ A PRÓPRIA CF.
QUAIS SÃO OS LIMITES PARA O USO DA PENA CAPITAL?
Existem restrições constitucionais ao direito à vida que são diretas (escritas ou não escritas) e indiretas. O
art. 5º, XLVII traz uma hipótese de restrição direta ao autorizar a pena da morte em caso de guerra declarada.
Também há restrições constitucionais diretas não escritas, consistentes naquelas impostas por outros princípios
de hierarquia constitucional que, diante das circunstâncias do caso concreto, tenham um peso maior do que o
direito restringido.
O art. 6º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos possui 5 parágrafos que tratam exclusivamente
da restrição à imposição da pena de morte. No mesmo sentido, devem ser mencionadas as Convenções Europeia

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
e Americana de Direitos Humanos, que também possuem regulação impondo limites ao uso da pena capital pelos
Estados.
Esses limites são os seguintes: 1) Natureza do crime. Só crimes graves e comuns podem prever pena de
morte, impedindo-se sua banalização e aplicação a crime político ou comuns conexos a delito político. 2) Vedação
da ampliação. Os países contratantes não podem ampliar a aplicação da pena a outros delitos após a ratificação
desses tratados. 3) Devido processo legal penal. Exige-se rigoroso crivo judiciário para sua aplicação, devendo o
Estado prever o direito à solicitação de anistia, indulto ou comutação da pena, vedando-se a aplicação da pena
enquanto pendente recurso ou solicitação de indulto, anistia ou comutação da pena. 4) Vedações circunstanciais.
As citadas normas vedam a aplicação da pena de morte a pessoas que, no momento da comissão do delito, tiverem
menos de 18 anos de idade ou mais de 70, ou ainda às mulheres grávidas.

293. QUAL É A DIMENSÃO MATERIAL DO DIREITO À VIDA?


A Corte IDH, no CASO NIÑOS DE LA CALLE (VILLAGRÁN MORALES) VS Guatemala, decidiu que o direito à
proteção da vida abarca inclusive as condições materiais mínimas de existência de uma pessoa, cabendo ao
Estado, na promoção da vida, garantir o acesso às condições que garantam uma existência digna. Assentou-se,
assim, que o direito à vida não possui apenas uma faceta dita de defesa, mas é, também, além de um direito civil
e político, um direito econômico e social (INDIVISIBILIDADE DOS DIREITOS HUMANOS). Assim, a Corte exigiu da
Guatemala a adoção de ações sociais e da garantia do mínimo existencial. Além disso, o direito à vida alcança ainda
o dever de o Estado restaurar o “PROJETO DE VIDA” (algo semelhante com a perda de uma chance).

294. QUAIS AS DIMENSÕES DO DIREITO À IGUALDADE?


a) Igualdade formal: significa dizer que não pode haver privilégios e tratamentos discriminatórios.
A igualdade formal está ligada ao chamado Estado liberal e foi idealizada como uma forma de reação aos
privilégios da nobreza e do clero.
Pode ser subdividida em dois aspectos:
•Igualdade perante a lei: comando dirigido ao aplicador da lei – judicial e administrativo –, que deverá
aplicar as normas em vigor de maneira impessoal e uniforme a todos aqueles que se encontrem sob sua incidência.
•Igualdade na lei: comando endereçado ao legislador, que não deve instituir discriminações ou tratamentos
diferenciados baseados em fundamento que não seja razoável ou que não vise a um fim legítimo.
A igualdade formal encontra-se prevista no art. 5º, caput, da CF/88: “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza”.
b) Igualdade material: está ligada a demandas por redistribuição de riqueza e poder e, em última análise,
por justiça social.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
O desenvolvimento da ideia de igualdade material surge a partir da constatação de que não basta proibir
que haja privilégios. É preciso atuar ativamente contra a desigualdade econômica e em favor da superação
damiséria.
Mais do que a igualdade perante a lei, deve-se assegurar algum grau de igualdade perante a vida.
Dessa forma, deve-se garantir a proteção jurídica do polo mais fraco de certas relações econômicas, a
criação de redes deproteção social e mecanismos de redistribuição de riquezas.
Para isso, é necessário que o Poder Público faça a entrega de prestações positivas adequadas em matérias
como educação, saúde,saneamento, trabalho, moradia, assistência social.
A igualdade material encontra-se prevista no art. 3º, I e III, da CF/88, que afirma que a República Federativa
do Brasil tem como objetivos “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicara pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
c) Igualdade como reconhecimento: significa o respeito que se deve ter para com as minorias, sua
identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras.
A injustiça a ser combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais
de representação que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e produziriam
a dominação cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo.
Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens, religião, aparência
física ou opção sexual, como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres, homossexuais e
transgêneros.
O instrumento para se alcançar a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural ou simbólica.
O objetivo é constituir um mundo aberto à diferença (“a difference-friendly world”).
A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que determina
que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Vale ressaltar que, em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material como uma
desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem injustiças cujas raízes se
encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural-valorativa, exigindo ambos os tipos de
remédio.

295. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS E O CONSTITUCIONALISMO


FRATERNAL?
Inicialmente, discutiu-se muito a respeito do Constitucionalismo liberal, que era mais voltado às atitudes
negativas do Estado, deixando os indivíduos livres para tomarem as suas próprias escolhas. Posteriormente,
adotou-se um Constitucionalismo Social, voltado justamente para o atendimento dos direitos sociais das pessoas,

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
como moradia, lazer, educação. Hodiernamente, fala-se em CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL OU ALTRUÍSTICO
(de acordo com o Direito Italiano).
Na ADI 3768, relativo ao direito constitucional de gratuidade aos idosos maiores de 65 anos, tal expressão
apareceu no voto do Min. Carlos Ayres Britto. É um Constitucionalismo, segundo ele, com ações distributivas e
solidárias. Não se trataria de um direito social, mas de um direito fraternal para assegurar direitos tradicionalmente
negligenciados. Relaciona-se, assim, aos direitos humanos de terceira geração - concretizando um objetivo
explicito da CF/88: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. Incorporam-se, assim, posturas estatais AFIRMATIVAS, assecuratórias de abertura
de oportunidades para segmentos sociais historicamente desfavorecidos, como negros, deficientes físicos e
mulheres.
Tal tema vem aparecendo em INÚMERAS decisões do STF: casamento de homossexuais, cotas para negros,
lei da biossegurança, dentre outras. Ex.: o PROUNI, que é mais uma ação afirmativa do Estado, só irá operar se
houver ato de adesão voluntário da instituição de ensino, não sendo uma vinculação forçada e, assim, não violando
autonomia universitária. Por fim, adscreve-se que o STF, na ADI 3.330, reconheceu a constitucionalidade do
PROUNI.
Analisando sob o prisma da igualdade, tem-se que a CF estabelece restrições diretas (licença maternidade,
art. 7º, XVIII), indiretas (possibilidade de diferenças nos critérios de admissão por concurso público) e implícitas
(ações afirmativas). As ações afirmativas são políticas públicas ou programas privados, geralmente de caráter
temporário, desenvolvidos com a finalidade de reduzir, por meio da concessão de algum tipo de vantagem
compensatória, desigualdades fáticas decorrentes de uma hipossuficiência física ou econômica ou de
discriminações.

296. É CONSTITUCIONAL O SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS?


É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos
efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta (STF. ADC 41/DF).
Lei garante observância:
- princípio do concurso público: duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de reparações
históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência.
- princípio da eficiência: não necessariamente os candidatos aprovados em primeiro lugar, segundo o
critério da nota, serão absolutamente melhores que os outros. A noção de meritocracia deve comportar nuances
que permitam a competição em igualdade de condições. Pode-se até mesmo imaginar um ganho importante de
eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas de competência técnica, ou de capacidade de pontuar em concurso,
mas sim de uma dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A eficiência pode ser muito bem-
servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público.

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- princípio da proporcionalidade: a demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi resolvida
com a simples existência de cotas para acesso às universidades públicas. Isso não foi suficiente. O impacto das
cotas raciais não se manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até que
essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. Além disso, a proporção de 20% escolhida pelo
legislador é extremamente razoável. Se essa escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido
estrito, também não haveria problema, porque 20%, em rigor, representariam menos da metade do percentual
de negros na sociedade brasileira.
Por fim, é legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa.
A reserva de vagas tratada pela Lei nº 12.990/2014 vale para todos os três Poderes da União (Executivo,
Legislativo e Judiciário), além do MPU e DPU. Esta lei não se aplica para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios. No entanto, caso estes entes editem leis semelhantes, elas também são consideradas constitucionais.

297. O QUE É TEORIA DA DISCRIMINAÇÃO INDIRETA (TEORIA DO IMPACTO


DESPROPORCIONAL)?
A discriminação de fato acontece quando uma norma jurídica é válida e poderia ser aplicada de maneira
não discriminatória, mas no mundo dos fatos ela acaba discriminando pessoas e grupos. Já a discriminação indireta
acontece quando há uma norma aparentemente neutra e a sua aplicação efetivamente irá discriminar uma pessoa
ou grupo, ou seja, a mera aplicação da norma leva à discriminação.
A discriminação indireta se relaciona com a teoria do impacto desproporcional (disparate impact), de
acordo com a qual normas pretensamente neutras podem gerar efeitos práticos sistematicamente prejudiciais a
um determinado grupo, sendo manifestamente incompatíveis com o princípio da igualdade. Tal teoria foi aplicada
pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 1.946, que tratou da forma de custeio da licença maternidade,
reconhecendo que onerar o empregador nesse caso geraria um impacto desproporcional às mulheres,
prejudicando o acesso ao emprego, bem como a manutenção do vínculo.

298. É LEGAL A LIMITAÇÃO DE IDADE PARA PREENCHIMENTO DE CARGOS PÚBLICOS?


O que diferencia uma discriminação lícita de uma ilícita está na proporcionalidade nos critérios escolhidos
para o descrímen. A discriminação será legítima se esta estiver de acordo com as peculiaridades das funções que
serão exercidas por aqueles que se investirem no cargo público a ser ocupado por meio do concurso.
Com efeito, por via do princípio da igualdade, o que a ordem jurídica pretende firmar é a impossibilidade
de desequiparações fortuitas ou injustificadas.
O entendimento predominante tanto no STF quanto no STJ é de que a imposição de limite mínimo e
máximo é constitucional, desde que:
- haja previsão expressa em Lei, não bastando previsão em edital;
- em razão da natureza e das atribuições do cargo pretendido (pelo princípio da razoabilidade).
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Tal entendimento tem amparo nos seguintes dispositivos: CF, art. 7º, XXX, e art. 37, I.
Súmula 683/STF: "O limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º,
XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser pretendido".

299. QUAIS SÃO AS DIMENSÕES DO DIREITO À LIBERDADE?


A liberdade negativa, civil, de agir ou dos modernos consiste na possibilidade de o indivíduo agir sem ser
impedido ou de não agir sem ser obrigado. Já liberdade positiva é uma liberdade política, no sentido de tomar as
próprias decisões, fazer as próprias escolhas. É a liberdade de querer, de ter opções, ou liberdade dos antigos.
É possível instaurar inquérito policial com base em denúncia anônima? Por quê?
O STF entende que “denúncia anônima” e escritos apócrifos não justificam a instauração de inquérito
policial nem podem ser utilizados como prova processual, exceto se produzidos pelo próprio acusado ou se
constituírem o próprio corpo de delito (Inq. 1957). Por outro lado, a “denúncia anônima” serve para que as
autoridades policiais procedam à averiguação da veracidade das informações, considerada autônoma em relação
à denúncia (MS 24369 MC-DF).
A justificativa está na própria Constituição, que prevê que a manifestação do pensamento é livre, vedado
o anonimato. A vedação ao anonimato consiste em vedação expressa a essa liberdade. A finalidade disso está em
desestimular manifestações abusivas do pensamento (preventiva), permitir a responsabilização civil e penal e
assegurar o direito de resposta (reparatórias).

300. O QUE É IMPERATIVO DE CONSCIÊNCIA?


A liberdade de consciência está prevista no art. 5º, VI e VIII, que não estabelecem inviolabilidades absolutas.
A liberdade de consciência é mais ampla do que a liberdade de crença, que tem uma conotação religiosa.
O chamado “imperativo de consciência” expressa uma espécie de garantia do direito previsto no art. 5º,
VIII, invocada por determinadas pessoas para que não sejam obrigadas a tomar determinadas atitudes. Nesse caso,
o indivíduo terá de cumprir obrigação alternativa fixada em lei sem caráter sancionatório. Apenas se a pessoa se
recusa a cumprir a obrigação alternativa, ficará sujeita a cumprir sanção (art. 15, IV – suspensão dos direitos
políticos). Com relação ao serviço militar, esta escusa de consciência somente pode ser invocada em tempos de
paz (art. 143, § 1º).
A CF estabelece algumas restrições à alegação do imperativo de consciência. A intervenção restritiva será
absoluta quando obrigar a pessoa a assumir determinada conduta sob pena da perda da liberdade ou de um
direito, sendo esse o caso do serviço militar em tempos de guerra. Também pode ser relativa, quando o
comportamento objetado for condição para se obter um benefício ou evitar um prejuízo, como na realização de
concursos públicos em dias que são dias de repouso religioso, sobre a qual já se manifestou o STF: “Em mero juízo
de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternativa para a realização dos exames não se revela em

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
sintonia com o principio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso” (STF, STA
389 AgR/MG).

301. A COLOCAÇÃO DE SÍMBOLOS RELIGIOSOS EM LOCAIS PÚBLICOS SE COADUNA COM


A CONSTITUIÇÃO?
A laicidade significa neutralidade do Estado com relação às várias concepções religiosas. Isso visa à simetria
da liberdade religiosa, permitindo desarmar o potencial conflituoso existente entre as diversas concepções, o que
não significa que argumentos religiosos não devam fazer parte do debate.
Recentemente, foi discutido perante o CNJ se a colocação de símbolos religiosos em locais públicos viola a
neutralidade do Estado. À exceção do relator, os conselheiros entenderam que os crucifixos são símbolos da
cultura brasileira e, portanto, não violam o dever de neutralidade do Estado.

302. O PROSELITISMO RELIGIOSO ESTÁ AMPARADO PELA LIBERDADE RELIGIOSA?


Para o STF, a CF/88 garante o direito à liberdade religiosa e um dos aspectos da liberdade religiosa é o
direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas também o de fazer proselitismo
religioso. Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a também se
converterem à sua religião. Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre
as religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação, opressão,
restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes dos demais grupos. Por outro
lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem o dever de ajudar os "inferiores" para que estes
alcancem um nível mais alto de bem-estar e de salvação espiritual, não haverá conduta criminosa.
Para haver o crime, seria indispensável demonstradar o especial fim de supressão ou redução da dignidade
do diferente, elemento que confere sentido à discriminação que atua como verbo núcleo do tipo. STF. 1ª Turma.
RHC 134682/BA. Info 849.

303. É NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO PARA A PUBLICAÇÃO DE BIOGRAFIA?


Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das
demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia seria uma forma de censura, não sendo
compatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes: “É
inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo
por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes”. Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que
seus direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio
de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova edição
com correção, de direito de resposta etc. (ADI 4815/DF, Info 789).

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304. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO PERMITE O DISCURSO DE ÓDIO?
Nesse julgamento histórico o STF entendeu que "o direito à livre expressão não pode abrigar, em sua
abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. As liberdades públicas não são
incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria CF
(art. 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o 'direito à
incitação ao racismo', dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas,
como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da
igualdade jurídica”.
Caso concreto: o editor de livros Siegfried Ellwanger vinha, no correr dos anos, dedicando-se de maneira
sistemática e deliberada a publicar livros notoriamente anti-semitas e a denegar o fato histórico do Holocausto.

305. QUAIS SÃO AS RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO?


A liberdade de comunicação está prevista no artigo 5º, XII, da CF e tem como âmbito de proteção a
comunicação epistolar (por correspondência), telegráfica, comunicação de dados e comunicação telefônica.
Segundo a Constituição, a restrição desta última é possível com base na lei ou decisão judicial, desde que seja para
fins de persecução na esfera penal.
Há uma modalidade de intervenção possível, consistente na interceptação das comunicações, ou seja, a
interrupção ou intromissão por parte de um terceiro sem o conhecimento de um dos interlocutores (ex: escuta
telefônica) ou de ambos. Não existe consenso sobre se a quebra de sigilo de dados telefônicos caracteriza violação
ao art. 5º, X ou XII, da CF.
Quanto às correspondências, a CF estabelece que o sigilo é inviolável. Porém, não se trata de regra absoluta,
sendo que o sigilo epistolar não pode servir de escudo para a proteção de práticas ilícitas, conforme o STF. Segundo
este entendimento, o art. 5º, XII protege não os dados em si, mas apenas a sua comunicação.
A restrição constitucional prevista quanto à liberdade de comunicação telefônica tem natureza qualificada.
Exige-se: lei regulamentadora, ordem judicial e finalidade de servir à investigação ou instrução criminal. Trata-se
de uma hipótese de aplicação da cláusula de reserva de jurisdição, conceito trazido pelo STF para definir situações
em que a intervenção em direitos fundamentais só é legítima quando determinada por autoridade judicial. Além
da interceptação telefônica, a cláusula incide nos casos de: inviolabilidade do domicílio (inciso XI); prisão, salvo em
flagrante e sigilo legal ou constitucionalmente imposto a processo judicial (STF, MS 27483).
A LC 105/01 permite que autoridades fazendárias requisitem dados bancários diretamente às instituições
financeiras. O STF, em repercussão geral julgada em 2016, decidiu que é possível que o Fisco requisite das
instituições financeiras informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário.
Informativo 893, STF: No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações
jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de notícias e de
opiniões. A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático brasileiro, por

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ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e liberdades. Tanto a liberdade de expressão
como os direitos de privacidade, honra e imagem têm estatura constitucional. Entre eles não há hierarquia. De
modo que não é possível estabelecer, em abstrato, qual deve prevalecer. Em caso de conflito entre normas dessa
natureza, impõe-se a necessidade de ponderação. A retirada de matéria de circulação configura censura em
qualquer hipótese, o que se admite apenas em situações extremas. Assim, em regra, a colisão da liberdade de
expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela
reparação civil. Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista determinada
matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo reclamação.

306. É POSSÍVEL A DECRETAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA POR JUÍZO CÍVEL?


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou constitucional e legal a interceptação telefônica
determinada por juiz em processo cível. Tratava-se de ação na qual se buscava a localização de menor subtraído
por um dos genitores, tendo sido esgotados todos os meios tradicionais na esfera cível de localização pelo oficial
de justiça e por ofícios infrutíferos e demorados (HC 203.405-MS, info 479).
O tema, no entanto, ainda é controverso. Para André de Carvalho Ramos, pode-se justificar a interceptação
telefônica para fins civis, em caso de (i) esgotados os meios usuais para fazer valer o direito da parte requerente e
(ii) para fazer valer o direito de acesso à justiça em prazo razoável. O direito de acesso à justiça (art. 5º, XXXV) deve
ser levado em consideração, ponderando-o também com o direito à privacidade. O sigilo telefônico em processos
cíveis não pode ser absoluto, sob pena de amesquinharmos o direito a uma tutela justa em caso de
imprescindibilidade da interceptação telefônica para fazer valer o direito da parte.

307. A EXTRAÇÃO DE CONVERSAS DE WHATSAPP EXIGE ORDEM JUDICIAL?


Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e
de conversas registradas no whatsapp ou outras mensagens de texto presentes no celular do suposto autor de
fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante (STJ. Info 583).
Na ocorrência de autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável ordem judicial para a
apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas no aparelho estão protegidas pelo sigilo telefônico, que
compreende igualmente a transmissão, recepção ou emissão de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens,
sons ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia fixa ou móvel ou, ainda, por meio de sistemas
de informática e telemática (STJ. RHC 67.379-RN).
Também deve ser aplicada ao caso a Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que
prevê o seguinte:
Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes
direitos:

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I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma
da lei;
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;
O acesso aos dados de celular e às conversas de whatsapp representa uma devassa de dados particulares
e ocasiona uma violação à intimidade do agente. Por essa razão, para que o acesso fosse possível, seria necessária
a prévia autorização judicial devidamente motivada.
Situação diversa e admitida, em alguns julgados, consiste no acesso a agenda telefônica ou aos registros
de chamadas de celular apreendido, pois o sigilo apenas resguardaria a comunicação dos dados e não dos dados
em si.
No HC 91.867/PA, de relatoria do ministro Gilmar Mendes, foi decidido que não violava o princípio da
intimidade o fato de o policial acessar a lista de telefones no celular de um indivíduo. A referida decisão é
eventualmente utilizada como precedente para que policiais possam acessar dados em celulares.
O uso do precedente como uma permissão para o acesso a outros dados pessoais no celular é equivocado,
pois ultrapassa os limites da decisão. Além disso, o uso do precedente decorre de uma má interpretação, uma vez
que, no caso, o ministro fez a pergunta se o acesso à lista telefônica seria uma violação da intimidade. Por concluir
que não, houve a manutenção da licitude da medida policial.

308. HAVERIA EXCEÇÃO AO ACESSO AOS DADOS DE CONVERSAS NO CELULAR?


Há quem defenda que haja a exceção para casos em que há fundada suspeita - a ser justificada
posteriormente - de que a demora na obtenção da ordem judicial represente risco de perecimento de bem jurídico
tutelado, como em casos de violência iminente a terceiro, por exemplo.
A ministra do STJ, Maria Theresa de Assis Moura, no voto-vista no RHC/RO 51.531:
Não descarto, de forma absoluta, que, a depender do caso concreto, caso a demora na obtenção de um
mandado judicial pudesse trazer prejuízos concretos à investigação ou especialmente à vítima do delito, mostre-
se possível admitir a validade da prova colhida através do acesso imediato aos dados do aparelho celular. Imagine-
se, por exemplo, um caso de extorsão mediante sequestro, em que a polícia encontre aparelhos celulares em um
cativeiro recém-abandonado: o acesso incontinenti aos dados ali mantidos pode ser decisivo para a libertação do
sequestrado.
Não se encontra no caso dos autos, entretanto, nenhum argumento que pudesse justificar a urgência, em
caráter excepcional, no acesso imediato das autoridades policiais aos dados armazenados no aparelho celular. Pelo
contrário, o que transparece é que não haveria prejuízo nenhum às investigações se o aparelho celular fosse
imediatamente apreendido – medida perfeitamente válida, nos termos dos incisos II e III do artigo 6º do CPP – e,

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apenas posteriormente, em deferência ao direito fundamental à intimidade do investigado, fosse requerida
judicialmente a quebra do sigilo dos dados nele armazenados.

309. COMO DEVE SER INTERPRETADA A INVIOLABILIDADE DO ARTIGO 5º, INCISO XII,
DA CF? A EXPRESSÃO “SALVO NO ÚLTIMO CASO” REFERE-SE A QUE?
Existe uma razão pela qual a única interceptação que se permite é a telefônica, pois é a única a não deixar
vestígios, ao passo que nas comunicações por correspondência telegráfica e de dados é proibida a interceptação
porque os dados remanescem.
Para o professor Tércio Sampaio Ferraz Júnior, dos quatro meios de comunicação mencionados no artigo
5º, inciso XII, correspondência, telegrafia, dados e telefonia, somente na última se configura a instantaneidade, eis
que ela só é "enquanto ocorre", não deixando vestígios de seu conteúdo quando se encerra, possibilitando, a
posteriori, apenas a verificação de qual unidade telefônica teria ligado para outra. A interceptação da ligação
telefônica por meio do “grampeamento”, apesar de ser uma forma sub-reptícia de violação do direito ao sigilo de
comunicação, constituiria-se na única forma conhecida de resguardo do conteúdo comunicativo, por isso, desde
que presente o interesse público (investigação criminal ou instrução processual penal, segundo reza a CF e a Lei
nº 9.296/1996), afigurar-se-ia possível a realização de investigações com base em vestígios que essa comunicação
deixa.
A Lei Maior não teria feito nenhuma ressalva às outras modalidades de comunicação, por se vislumbrar a
possibilidade de obtenção de provas com base nos vestígios deixados por elas: a carta guardada, o testemunho de
quem leu o nome do remetente e do destinatário, ou de quem viu a destruição do documento, o que se aplica, da
mesma forma, para o telegrama, o telex, o fax ou a recepção de uma mensagem de um computador para o outro.
A comunicação de dados, a correspondência, a comunicação telegráfica deixam provas que podem ser objeto de
busca e apreensão posterior, com autorização judicial.
Como isso é tecnicamente possível, o constituinte não permitiu, absolutamente, a interferência de terceiros
no fluxo comunicativo, o que não induz, necessariamente, a que não se possa ter acesso, posteriormente, à
identificação dos sujeitos e ao relato das mensagens publicadas sempre que o interesse público assim o exigir. O
que a CF veda é a interceptação da correspondência, mas não a autorização judicial para a sua busca e apreensão
antes da remessa ou após a chegada a seu destino.
Daí o equívoco de parte da doutrina e da jurisprudência que têm entendido que a CF/88, no artigo 5º, inciso
XII, por dar reserva de jurisdição apenas para a quebra de sigilo das comunicações telefônicas, permitiria que o
acesso a dados fosse realizado sem a necessidade de autorização judicial.

310. O SIGILO BANCÁRIO É PROTEGIDO PELA CF/88?


SIM. A CF não utiliza a expressão "sigilo bancário", mas isso está sim protegido nos incisos X e XII do art. 5º.
O legislador infraconstitucional reafirmou a proteção ao sigilo bancário no caput do art. 1º da LC 105/2001:
“As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados”.
165
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha acesso aos dados bancários de uma pessoa, é
necessária prévia autorização judicial por se tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das
instituições financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de
informações bancárias de contas de titularidade de órgãos e
MP
entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio público,
não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ. HC
308.493-CE).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF, MS 22934/DF).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a
TCU
operações de crédito originárias de recursos públicos não é coberto
pelo sigilo bancário (STF. MS 33340/DF).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das
Receita
informações dos bancos para o Fisco não pode ser definido como
Federal
sendo "quebra de sigilo bancário".
Fisco SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas
estadual, distrital, de competência, o art. 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao
municipal Decreto Federal 3.724/2001.
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da
CPI
LC 105/2001). Prevalece que CPI municipal não pode.
O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser chamado de
"quebra de sigilo bancário", porque as informações são passadas para o Fisco (ex: Receita Federal) em caráter
sigiloso e permanecem de forma sigilosa na Administração Tributária. Logo, é uma tramitação sigilosa entre os
bancos e o Fisco e, por não ser acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.

311. A LEI N.º 12.527 REGULA O ACESSO A INFORMAÇÕES PREVISTO NO INCISO XXXIII DO
ART. 5º. PODE-SE SUSTENTAR QUE A CITADA LEI VIOLA O DIREITO À PRIVACIDADE DO
ESTADO? UM CIDADÃO PODE SOLICITAR INFORMAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE
RECURSOS PÚBLICOS E SOBRE VENCIMENTOS DE SERVIDORES?
A Lei de Acesso à Informação prevê que “o acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre
outros, os direitos de obter […] informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de
recursos públicos, licitação, contratos administrativos” (inciso VI do art. 7º).
166
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Por seu turno, a CF estabelece, como cláusula pétrea, que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado”, além de estipular o princípio da publicidade na Administração Pública (art. 37, caput).
Na esfera internacional, vale destacar o princípio de n.º 4, previsto na Declaração De Princípios Sobre
Liberdade De Expressão, aprovado pela CIDH em 2000, para o qual “o acesso à informação em poder do Estado é
um direito fundamental do indivíduo. Os Estados estão obrigados a garantir o exercício desse direito. Este princípio
só admite limitações excepcionais que devem estar previamente estabelecidas em lei para o caso de existência de
perigo real e iminente que ameace a segurança nacional em sociedades democráticas”.
Nesse panorama, pode-se entender o acesso à informação, de um lado, como um imperativo de tutela do
Estado, no sentido de que é portador do dever de proporcionar um plexo de instrumentos para a respectiva
concretude, e, de outro lado, como um direito subjetivo que viabiliza o controle da atuação dos agentes públicos
pelo povo (vertical accountability), o que, aliás, decorre do princípio republicano.
O STF decidiu que o sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado
quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos, em caso a
envolver requisição pelo tribunal de contas da união de informações alusivas a operações financeiras realizadas
pelo BNDES (MS 33340).
Além disso, o STF chancelou a divulgação nominal de vencimentos de servidores públicos: “sua
remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de
informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial” (STF. MS 31580).

312. QUAL É A AMPLITUDE CONSTITUCIONAL DO CONCEITO DE “CASA”?


A CF protege a privacidade no art. 5º, X e XI, da CF. No primeiro dispositivo, a privacidade é um gênero,
dentro do qual se protegem a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. A inviolabilidade do
domicílio também tem uma conotação de direito à privacidade.
Conforme decidiu o STF no HC 93050, o conceito de casa deve ser interpretado de maneira extensiva de
modo a abranger espaços privados ou reservados onde alguém exerce atividade profissional.

313. ANTE A PROLIFERAÇÃO DE DENGUE, PODE O ESTADO, POR PODER DE POLÍCIA OU


VIA JUDICIAL, IMPOR AOS CIDADÃOS O DEVER DE SUPORTAR O INGRESSO DE
AGENTES SANITÁRIOS NOS AMBIENTES PRIVADOS? HÁ VIOLAÇÃO À INTIMIDADE?
Relativamente à fiscalização exercida por agentes estatais em estabelecimentos comerciais, o STF, no HC
MC 103325, estabeleceu que o atributo da autoexecutoriedade dos atos administrativos não prevalece sobre a
garantia da inviolabilidade do domicílio. Assim, sem o consentimento do empresário e sem ordem judicial, o agente
não pode ingressar no estabelecimento para realizar a fiscalização.

167
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Especificamente quanto à casa, não há que se falar em autoexecutoriedade em razão do art. 5º, XI, que
exige ordem judicial (reserva de jurisdição). No que concerne à casa de veraneio, há controvérsia porque a lei
admite mais de um domicílio, mas pode-se defender interpretação restritiva de domicílio como moradia, de modo
a afastar a reserva de jurisdição e admitir que lei autorize entrada. Fim do direito a domicílio não é resguardar
propriedade, mas intimidade e privacidade. Lado outro, pode-se analisar com foco no direito de propriedade, que
não é absoluto. Assim, olhando por ponderação, há prevalência da proteção da coletividade, sobretudo ante o
dever do Estado de criar programas de prevenção e combate a doenças.
O próprio art. 5º, XI, da CF prevê restrições consideradas legítimas a respeito da inviolabilidade do domicílio,
consistentes nas chamadas situações emergenciais, nas quais o domicílio pode ser invadido mesmo sem
autorização judicial e sem consentimento do morador: flagrante delito, para prestar socorro ou no caso de um
desastre. A invasão de domicílio também pode ser feita por determinação judicial durante o dia.

314. SOB QUAIS CONDIÇÕES É LÍCITA A ENTRADA FORÇADA EM DOMICÍLIO?


A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas, “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e
de nulidade dos atos praticados. STF. RE 603616/RO. Info 806.

315. A PREVISÃO DO INCISO IV DO § 1º DO ART. 1º DA LEI Nº 13.301/2016 É


INCONSTITUCIONAL POR VIOLAR O ART. 5º, XI, DA CF/88?
Dizer o Direito: De fato, a entrada do agente público para fiscalizar possíveis locais dentro da residência da
pessoa onde o mosquito possa vir a colocar ovos não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no inciso
XI, não podendo ser classificada como situação de "desastre" ou para "prestar socorro", expressões muito intensas
e que não se confundem com mero exercício de poder de polícia preventivo.
Desse modo, é certo que o inciso IV do § 1º do art. 1º da Lei nº 13.301/2016 não encontra autorização no
art. 5º, XI, da CF/88.
Apesar disso, entendo que a previsão do ingresso forçado, na forma como delineada pela Lei nº
13.301/2016, não se revela inconstitucional, devendo ser realizado no caso uma ponderação dos interesses
envolvidos.
A inviolabilidade do domicílio consiste em direito fundamental inerente à pessoa humana. Ocorre que não
se trata de um direito absoluto. Assim, pode ser restringido, desde que observado o princípio da
proporcionalidade.
No caso, tem-se o conflito aparente entre dois valores protegidos pelo Direito: de um lado, a liberdade
individual dos moradores; e de outro, a vida e a saúde desses mesmos indivíduos e de toda a coletividade, que
devem ser protegidas pelo Estado.

168
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Diante disso, deve haver uma ponderação dos interesses envolvidos: ou restringe-se a liberdade individual,
ou então haverá um grave e real risco à saúde de toda a sociedade (incluindo os proprietários e/ou moradores do
imóvel). Não há dúvidas de que, no presente contexto, deverá preponderar a proteção à vida e à saúde, havendo
uma restrição à liberdade individual.
Ressalte-se que a restrição imposta pela Lei nº 13.301/2016 à inviolabilidade de domicílio é pontual,
específica, temporária e mínima.
A entrada forçada só é permitida em três situações excepcionais (imóvel abandonado, morador não
encontrado ou recusa do morador). Além disso, o ingresso compulsório tem apenas uma finalidade: encontrar
possíveis focos de criadouro do mosquito, eliminando-os. Ressalte-se, ainda, que não haverá qualquer prejuízo ao
morador, já que os agentes públicos não irão adentrar na casa para produzir provas contra ele (não se trata de
investigação criminal) nem para retirar de lá seus bens (não é uma medida de busca e apreensão ou de penhora).
Logo, não há violação ao devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88).
Ressalte-se que se fosse necessário buscar autorização judicial todas as vezes em que o imóvel estiver
fechado o trabalho de fiscalização restaria inviabilizado, além de sobrecarregar o Poder Judiciário.
Dessa forma, a medida prevista na Lei nº 13.301/2016 é adequada, necessária e proporcional, sendo a
solução que melhor atende a proteção da saúde pública, que é um dever constitucional do Estado (art. 196),
havendo uma mínima intervenção na inviolabilidade do domicílio.

316. QUAL A DIFERENÇA ENTRE INTERCEPTAÇÃO, ESCUTA E GRAVAÇÃO TELEFÔNICA?


QUAIS DELAS NECESSITAM DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL?
A interceptação telefônica ocorre sem o conhecimento dos interlocutores, ou seja, nenhum deles tem
consciência de que o conteúdo da comunicação está sendo captado por um terceiro; na escuta telefônica, um dos
interlocutores tem conhecimento da ingerência de um terceiro na comunicação; a gravação telefônica é a captação
feita diretamente por um dos comunicadores, sem a interveniência de um terceiro, ou seja, trata-se de uma
autogravação.
Para se deflagrar a interceptação telefônica, nos termos do art. 5º, XII, da CF e da Lei nº 9.296/96, é
necessária a autorização judicial. A escuta telefônica depende de autorização judicial, sob argumento de que, por
ser realizada por terceiro, se exige ordem judicial, em conformidade com o art. 5º, XII, da CF (STF, HC 80.949/RJ).
Já a gravação telefônica não necessitaria de autorização judicial (STF, RE 453.562). Doutrina e jurisprudência têm
alertado que, se as gravações forem obtidas com violação de confiança, nesse caso, serão ilícitas, não por afronta
ao inciso XII, mas sim ao inciso X do art. 5.º da CF, pouco importando haja ou não, neste último caso, ordem judicial,
visto que o inciso X, ao contrário do XII, não ressalva a autorização do juiz como permissivo para as condutas que
afrontem a privacidade (STJ, HC 57.961-SP).

317. QUAL A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO DIREITO DE PROPRIEDADE?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A CF, no art. 5º, tem vários dispositivos que protegem o direito de propriedade, material e imaterial. Nos
termos dos incisos XXII e XXIII, será garantido o direito de propriedade e essa atenderá a sua função social. Uma
proteção ainda maior é conferida pelo inciso XXVI à propriedade voltada para a subsistência familiar.
Para o STJ, o encargo de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena propriedade rural depende:
Requisito 1 (pequena propriedade rural) > trata-se de ônus do executado (devedor). Requisito 2 (propriedade
trabalhada pela família) > não é necessário que o executado faça prova disso. Existe uma presunção juris tantum
(relativa) de que a pequena propriedade rural é trabalhada pela família. Tal presunção é relativa e admite prova
em sentido contrário. O ônus dessa prova, no entanto, é do exequente (credor) (STJ. REsp 1.408.152-PR, Info 596).

318. MOVIMENTOS SOCIAIS PODEM, A PRETEXTO DE DESCUMPRIMENTO DA FUNÇÃO


SOCIAL DA PROPRIEDADE, RETIRAR ARBITRARIAMENTE A PROPRIEDADE?
Segundo entendimento do Supremo, a proteção à propriedade desautoriza a ocupação de terra por
movimentos sociais organizados, ainda que em casos de descumprimento da função social e a pretexto de
promover a reforma agrária (ADI-MC 2213).

319. COMO AFERIR O CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA E


RURAL? QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO?
A CF menciona a função social da propriedade urbana (art. 182, §2º) e da propriedade rural (art. 186).
Todavia, somente estipula os requisitos para o cumprimento da função social da propriedade rural ( aproveitamento
racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições

que regulam as relações de trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores), não o fazendo
quanto à propriedade urbana. Nesse último caso, os requisitos devem vir previstos no Plano Diretor do município,
sendo esse obrigatório para os municípios com mais de 20 mil habitantes.
O descumprimento da função social da propriedade tem como consequência jurídica a desapropriação-
sanção (art. 182, § 4º, III e art. 184). A indenização será feita por meio de títulos da dívida pública (urbana) e, no
segundo, por títulos da dívida agrária (rural).

320. EM MATÉRIA DE DIREITO DE PROPRIEDADE, O QUE É REQUISIÇÃO?


O inciso XXV prevê modalidade de restrição ao direito de propriedade, consistente na requisição civil: “no
caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano”.
A requisição civil distingue-se da desapropriação por ser cabível em casos de necessidades transitórias,
abranger bens e serviços, ser autoexecutória, estar destinada ao uso ou ocupação e só gerar direito à indenização
em caso de dano.

321. QUAL É A NATUREZA DA “EXPROPRIAÇÃO” PREVISTA NO ART. 243 DA CF, RELATIVA


ÀS PLANTAS PSICOTRÓPICAS OU À EXPLORAÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO? EXIGE-SE
ELEMENTO SUBJETIVO DO PROPRIETÁRIO?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Outra restrição à propriedade constitucionalmente prevista diz respeito ao confisco de glebas utilizadas
para cultivo de psicotrópicos e de bens adquiridos com renda do tráfico. Trata-se de confisco porque não há
qualquer indenização. No RE 543974, o STF entendeu que o confisco abrange toda a gleba, não apenas a parte
usada para cultivo da planta psicotrópica.
Quanto ao elemento subjetivo, o STF decidiu, em repercussão geral, que “a expropriação prevista no art.
243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando
ou in eligendo” STF. Plenário. RE 635336/PE (Info 851).

322. A USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEIS URBANOS E RURAIS, PREVISTA NA


CONSTITUIÇÃO, EXIGE DIMENSÃO MÁXIMA OU DESTINAÇÃO ESPECÍFICA?
A usucapião especial de imóveis urbanos (art. 183) e imóveis rurais (art. 191) têm um prazo menor do que
a usucapião extraordinária ou ordinária do CC. No entanto, o beneficiário deve utilizar o imóvel como sua moradia
ou de sua família e não possuir outra propriedade imóvel. Também há limite na extensão da propriedade, sendo
de 250 m2 nos imóveis urbanos e 50 hectares no rural. O imóvel rural, ainda, deve ter sido tornado produtivo.

323. QUAIS AS DIMENSÕES DO DIREITO À SAÚDE?


O direito à saúde pode ser interpretado sob duas dimensões:
- dimensão subjetiva: o prisma subjetivo do direito à saúde indica que é direito público subjetivo. Sobre o
tema, o art. 196 da CF, ao se referir à saúde como “direito de todos”, inclui tanto a dimensão individual quanto
coletiva. No info 810, 2015, em repercussão geral, o STF fixou a tese: “é constitucional a regra que veda, no âmbito
do SUS, a internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio
SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes”.
- dimensão objetiva: concerne ao dever de proteção, o que é subjacente a todo direito fundamental. Assim,
poder publico deve velar pelo cumprimento e implementação das políticas sociais e econômicas idôneas.

324. A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE VIOLA O PRINCÍPIO DA IGUALDADE AO IGNORAR A


FILA DE ESPERA?
A judicialização não pode ser considerada uma violação do princípio da igualdade, visto que o acesso à
justiça por si só já é um direito fundamental consagrado no art. 5º, XXXV. Desse modo, o acesso à Justiça e o direito
dos cidadãos de buscar o atendimento de seus pleitos junto ao Judiciário deve ser compatibilizado e harmonizado
com o direito à igualdade. Ademais, não se pode olvidar que o princípio da igualdade traz em si também um ideal
de justiça distributiva de modo a coletivizar o acesso a direitos, tratando de modo desigual aqueles que de fato
são desiguais, com o objetivo de criar uma situação de igualdade real para todos os integrantes da sociedade,
mesmo que menos afortunados e carentes de recursos. Ademais, não se poderia privar alguém do acesso à Justiça
em razão de outro que não buscou medidas judiciais, visto que ninguém pode ser obrigado litigar em juízo.

171
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Vale ressaltar, contudo, que há medidas extrajudiciais e judiciais para tentar garantir o acesso à justiça aos
indivíduos sem maiores prejuízos a terceiros que não tiveram acesso ao Judiciário, que seriam justamente os meios
coletivos de resolução de controvérsias.

325. O DIREITO À MORADIA É CONSIDERADO UM DIREITO SOCIAL? ELE JÁ CONSTAVA


DA REDAÇÃO ORIGINÁRIA DA CF? A PENHORA DO BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR NOS
CASOS DE INADIMPLÊNCIA DO LOCADOR NOS CONTRATOS DE LOCAÇÃO DE IMÓVEIS
URBANOS NÃO VIOLARIA O DIREITO SOCIAL À MORADIA?
O direito à moradia é previsto expressamente pela CF como direito social fundamental (art. 6º). Porém,
não constava da redação originária, sendo incluído pela EC 26/2000.
Deve-se ressaltar que o direito à moradia não é um direito absoluto, já que a relatividade é uma nota
marcante no tema dos direitos fundamentais. Assim, há situações em que tal direito cede, em parte, para que se
garantam outros direitos.
No âmbito legislativo, deve-se destacar que a Lei 8009/90 excepcionou a impenhorabilidade do bem de
família no caso de obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. Tal disposição legal gerou
muita polêmica na doutrina, sobretudo pelo fato de o fiador poder perder o seu bem de família em razão de
inadimplemento do locatário, sendo que este não perderia eventual bem de família seu. Porém, atualmente o
tema encontra-se pacificado pela jurisprudência, já que o STF (RE 407688) consolidou o entendimento de que o
fiador pode, sim, vir a perder o seu bem de família na hipótese, sendo que a exceção legal não seria
inconstitucional.

326. NOS TERMOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, HÁ POSSIBILIDADE DE SE REMOVER OS


GRUPOS INDÍGENAS DAS TERRAS QUE ELES TRADICIONALMENTE OCUPAM?
A Carta Maior, no capítulo dedicado aos índios, reconhece aos grupos indígenas o direito originário sobre
as terras tradicionalmente ocupadas, assim como as utilizadas para as atividades produtivas, para a preservação
dos recursos ambientais e as necessárias ao bem-estar e a reprodução física e cultural. Ademais, a CF também traz
como regra geral a vedação da remoção dos grupos indígenas de suas terras.
Entretanto, há exceções estipuladas no próprio texto constitucional. É o caso da ocorrência de catástrofes
ou epidemias que ponham em risco a população indígena. Nessa hipótese, a remoção deve ser feita ad referendum
do Congresso Nacional. Outra situação em que a CF também autoriza a remoção dos índios é quando houver
interesse da soberania do País, caso em que se exige deliberação do Congresso.
Deve-se destacar que, em qualquer das hipóteses, garante-se o retorno imediato dos grupos indígenas às
suas terras logo que cesse o risco (art. 231).

327. A PEC Nº 287/2016 PRETENDE IMPLEMENTAR UMA LARGA REFORMA NA


SEGURIDADE SOCIAL, A QUAL, SE APROVADA INTEGRALMENTE, POSSIBILITARÁ QUE
O VALOR DO BENEFÍCIO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, ATUALMENTE DE UM SALÁRIO-
MÍNIMO, PASSE A SER ESTABELECIDO POR LEI. ESSA PREVISÃO É CONSTITUCIONAL?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
De um lado, pode-se sustentar que o mínimo existencial, que encontra supedâneo na dignidade da pessoa
humana, proíbe o retrocesso, sobretudo quando a própria CF delimitou o salário mínimo como expressão do
“estatuto jurídico do patrimônio mínimo” (Fachin).
De outro lado, a assistência social só teria por objetivo atender as necessidades mais básicas, sob pena de
estimular o ócio ou a informalidade. Além disso, em virtude de questões econômicas a que os países estão
submetidos atualmente, questões relacionadas a políticas de austeridade têm sido submetidas ao Tribunal
Constitucional português, gerando o que se tem chamado "JURISPRUDÊNCIA DE CRISE": traduz um “processo
negocial” entre a interpretação normativa da Constituição e a necessidade de ceder perante as “exigências das
circunstâncias”. O Tribunal Constitucional socorreu-se da “prossecução do interesse público” dentro de uma
ordem “transitória” e “excepcional” para decidir no sentido da não inconstitucionalidade de medidas legislativas
que conheceriam outro desfecho não fora o tempo de “crise”. Por exemplo, decidiu pela constitucionalidade de
decisão que diminuía os vencimentos salariais (Acórdão n.º 396/2011). O problema é transformar em regra algo
excepcional, transformando a CF em texto meramente simbólico.

328. O QUE É PENSAMENTO JURÍDICO DO POSSÍVEL?


Gilmar Mendes, citando Peter Häberle, aduz que se trata o pensamento jurídico do possível de uma teoria
constitucional de alternativas, devendo sempre o intérprete pensar em uma terceira ou quarta opção. Desse
modo, a Constituição não pode ser vista como um texto acabado e definitivo, mas sim como um projeto em
contínuo desenvolvimento. Tal teoria foi aplicada no âmbito do STF no julgamento da ADI 1289 referente ao quinto
constitucional. Não havia nenhum membro do MP com mais de 10 anos de exercício, como aduz precisar a CF/88.
Enfrentou a Corte, então, uma inegável lacuna constitucional e entendeu que nesse caso deveria um membro do
MP com menos de 10 anos de exercício assumir e não um advogado.

PONTO 5 - ORGANIZAÇÃO DOS PODERES: EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO.

329. O QUE É UM ESTADO?


Corporação de um povo + assentado num determinado território + poder originário de mando.

330. QUAIS SÃO OS ELEMENTOS DO ESTADO?


1) Povo: conjunto dos cidadãos (nacionais) de um Estado.
Obs.: Não se confunde com população (expressão numérica: habitantes de um Estado) nem com nação
(comunidade histórica, cultural, étnica, linguística e tradicionalmente homogênea).
2) Poder político (governo): espécie institucionalizada (organizado e permanente) de poder social,
possibilidade de alguém (Estado) impor sua vontade sobre os outros e exigir o cumprimento de suas ordens (leis).
Soberania: Poder de mando de última instância numa sociedade política. Liga-se à ideia de poder político.
Obs.: O princípio da soberania vem perdendo sua força, seja em razão da hipertrofia e da influência exercida
por organismos internacionais (ONU, FMI, etc.), seja em razão da influência cada vez maior dos grandes

173
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
conglomerados econômicos, estes sim cada vez mais influentes sobre Estados e governos. Também se fala em
soberania mitigada e internacionalização dos direitos humanos (a partir da Declaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU – 1948).
3) Território: espaço dentro do qual o Estado exercita o seu poder de mando (soberania). O território está
para o Estado assim como o corpo está para a pessoa humana.
Princípio da territorialidade: ordem jurídica do Estado só é aplicável aos fatos ocorridos no âmbito do seu
território (regra).
FORMAS DE GOVERNO SISTEMAS DE GOVERNO REGIMES DE GOVERNO FORMA DE ESTADO
República Parlamentarismo Autoritário Federal
Monarquia Presidencialismo (poder baseado na força)
E ainda (menos relevante) Democrático Unitário
Semipresidencialismo (poder baseado no
Sistema diretorial consentimento)

331. QUAIS SÃO AS FORMAS DE GOVERNO?


# Monarquia:
a. Irresponsabilidade política do governante: The king can do no wrong.
b. Hereditariedade: The king never dies.
c. Vitaliciedade.
# República: “coisa pública” ou “coisa de todos”.
a. Responsabilização política do Governante;
b. Eletividade;
c. Temporariedade: a alternância de poder é uma ideia fundamental na república.
Atenção! A República não consta dentre as cláusulas pétreas. O que consta como cláusula pétrea é a forma
federativa de Estado (art. 60, §4º, I, CF).

332. QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE GOVERNO?


Considera a articulação entre os poderes Legislativos e Executivos. São 03 os sistemas de Governo:
#Presidencialismo: origem EUA (1787)
a. Concentração do poder: a função de chefe de estado e chefe de governo em uma única pessoa;
b. Mandato Temporário
Modos de controle no presidencialismo brasileiro:
a) ação popular (art. 5°, LXXIII, CF/88);
b) questionamento das contas municipais (art. 31, § 3°, CF/88);
c) denúncia de irregularidades ao Tribunal de Contas competente (art. 74, § 2°, CF/88);

174
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
d) controle exercido por meio do voto nas eleições seguintes.
#Parlamentarismo: origem Inglaterra (século XVIII).
a. Divisão de funções do Executivo: função de chefe de Estado (mais simbólica) e a função de chefe de
Governo para pessoas diversas.
b. Ausência de mandato pré-determinado para o Primeiro Ministro.
Modo de controle no parlamentarismo:
a) questão de desconfiança;
b) moção de censura.
#Semipresidencialismo ou Semiparlamentarismo: sistema híbrido parlamentarismo/presidencialismo.
Mesma articulação política do parlamentarismo; porém, o Chefe de Estado será sempre o Presidente da República,
que é eleito diretamente e exerce funções políticas importantes: não é figura meramente simbólica. Surgiu na
França (1958). Exs.: Portugal, Polônia e Colômbia.

333. O BRASIL JÁ ADOTOU O PARLAMENTARISMO?


#SÉCULO XIX (1847 – 1889): PARLAMENTARISMO ÀS AVESSAS. Início do Segundo Reinado. Dom Pedro I
havia abdicado do trono 16 anos antes e Dom Pedro II havia crescido e estava pronto para comandar o Império
brasileiro. Dom Pedro II, como chefe de Estado, tinha o poder de indicar o chefe de governo (presidente do
Conselho de Ministros) e era sempre um membro do partido com maioria no Parlamento.
Peculiaridade desse período: Imperador possuía Poder Moderador, que dava-lhe o direito de dissolver a
Câmara a qualquer momento. Então, formalmente havia uma estrutura parlamentarista, mas o poder final
continuava nas mãos do imperador. O Poder Moderador já existia desde 1824. O modelo parlamentarista de 1847
buscou atenuar seus efeitos, de modo a criar um sistema democrático no país.
#1961 - 1963: PARLAMENTARISMO APÓS RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS. Jânio Quadros renunciou ao
cargo em 25 de agosto de 1961. Seu vice era João Goulart. Setores das Forças Armadas ficaram a postos para
realizar um golpe de estado, pois não tinham simpatia pelas ideias de Goulart (tendências trabalhistas e
comunistas), havendo um receio de que ocorresse uma revolução comunista no país.
O regime parlamentarista, aprovado pelo CN em 02/09/1961, foi uma solução paliativa para agradar os
militares, mantendo a democracia. João Goulart continuou como presidente, com poderes reduzidos
significativamente, sendo que os poderes que lhes foram retirados foram repassados para o primeiro-ministro.
A ideia inicial era manter o sistema vigorando até 1965, final do mandato de João Goulart, quando seria
feito um plebiscito para que o povo decidisse entre parlamentarismo e presidencialismo. Entretanto, o plebiscito
acabou sendo antecipado para o início de 1963.
O resultado foi a vitória do presidencialismo, o que fez com que Goulart voltasse a ter todos os poderes
presidenciais que tinha anteriormente. E assim se encerrou essa rápida experiência parlamentarista no país, a
única desde a proclamação da república.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
#PLEBISCITO DE 1993: o BR teve a oportunidade de adotar o parlamentarismo novamente, mas o
presidencialismo foi a escolha no plebiscito de 1993.

334. QUAIS SÃO AS FORMAS DE ESTADO?


#Unitário/Simples: NÃO há distribuição geográfica do poder político em função do território + polo
central emanador de normas. No Brasil: 1824 a 1889.
#Composto: mais de um centro de poder incidindo sobre a mesma população e o mesmo território.

União pessoal forma monárquica de governo + convergência da linha dinástica de 2 ou + Estados em


uma só pessoa + Estados conservam sua soberania nos planos interno e internacional.
Ex.: união Portugal e Brasil (1826) na pessoa de Dom Pedro IV (Dom Pedro I do Brasil).
União real forma monárquica de governo + convergência da linha dinástica de 2 ou + Estados em
uma só pessoa + vínculos entre os Estados intensos e definitivos (apenas uma pessoa
jurídica de direito público internacional e cada Estado preserva sua autonomia
administrative). Ex.: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815 a 1822).
Confederação Associação de Estados nacionais soberanos por meio de tratado internacional. Os
Estados formadores da Confederação PRESERVAM SUAS SOBERANIAS.
Federação Surgimento/formação de um único Estado com entes federados dotados de autonomia.
Origem: Constituição Norte-Americana (1787).
Federação Brasileira: surge em 1891 (primeira Constituição da República do Brasil).

335. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE CONFEDERAÇÃO E FEDERAÇÃO?


Federação Confederação
É 1 SÓ Estado para a comunidade internacional Pessoa direito público, composta por vários Estados
Estados membros unidos por uma Constituição Membros unidos por tratado internacional
Membros possuem autonomia. Membros possuem soberania.
Vedado o direito de secessão. Indissolubilidade do Estados Membros têm direito de secessão.
Pacto Federativo (art. 1º, CRFB).
Decisões dos órgãos centrais são obrigatórias para Direito de nulificação das decisões dos órgãos
todos. centrais pelos Estados Membros.
Exerce atividades relacionadas a assuntos internos Exerce atividades relacionadas APENAS ao plano
e externos. externo.
Cidadãos possuem a nacionalidade do Estado Cada cidadão preserva a nacionalidade do seu
Federal. respectivo Estado.
Poder central dividido em Legislativo, Executivo e Apenas um órgão comum a todos os Estados:
Judiciário. Congresso Confederal (Legislativo). Judiciário e
Executivo permanecem sendo restritos a cada país.

336. QUAL O MECANISMO QUE IMPEDE A SECESSÃO?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A intervenção federal (art. 34, I, CF).

337. QUAIS SÃO OS TIPOS DE FEDERALISMO?


#Quanto ao surgimento (ou origem):
1 - Por agregação/associação/aglutinação/Estado Perfeito: Estados soberanos cedem uma parcela da sua
soberania para formar um ente único. O poder que era soberano passa a ser autônomo (MOVIMENTO
CENTRÍPETO). Ex.: Estados Unidos.
2 - Por segregação: descentralização política de um Estado Unitário (MOVIMENTO CENTRÍFUGO). Ex.:
Brasil.
Macete:
- CENTRÍPETO: puxa para perto os poderes dos Estados para formar um só.
- CENTRÍFUGO: fuga dos poderes para outros entes.
#Quanto à REPARTIÇÃO de competências:
1 - Federalismo Dualista∕Dual: repartição horizontal (equilibrada) de competências entre União e Estados
Membros. RELAÇÃO DE COORDENAÇÃO. Típica de Estados Liberais Clássicos. Ex.: EUA até 1929.
2 - Federalismo de Integração: repartição vertical de competências. RELAÇÃO DE SUJEIÇÃO dos Estados
em relação à União. Ex: Brasil durante a CF de 1967 e 1969.
3 - Federalismo Cooperativo: repartição horizontal + repartição vertical de competências (estas tuteladas
pela União). Não há hierarquia entre as leis federais e estaduais. Exs.: CRFB/88; EUA após 1929; CF alemã.
Obs.: Brasil –descentralização especial – tríplice ou de modelo tricotômico: União, Estados, DF e Municípios.
Corrente minoritária (José Afonso da Silva): Municípios não são entes federados.
#Quanto à HOMOGENEIDADE NA DISTRIBUIÇÃO de competências (PONTO DE VISTA INTERNO):
1 - Federalismo Simétrico (ou Homogêneo): equilíbrio na distribuição de competências entre entes
federativos de mesmo grau (Estado X Estado; Município X Município). Ex: Federação Norte Americana (EUA).
2 - Federalismo Assimétrico (ou Heterogêneo): assimetria fática decorrente de aspectos
socioeconômicos/culturais requer adaptação do sistema federativo. Ex: Brasil, não temos uma diferença cultural
grande, mas temos diferenças socioeconômicas grandes, por isso a criação de SUDENE.
Doutrina majoritária – Brasil: adota federalismo simétrico, mas consagra algumas regras assimétricas que
buscam equilíbrio/diminuição das desigualdades regionais. Exs.: arts. 3º, III; 43; 151, I; e 159, I, c, CRFB.
#Quanto às CARACTERÍSTICAS DOMINANTES (PONTO DE VISTA EXTERNO):
1 - Simétrico (ou Homogêneo): FEDERALISMO TÍPICO. Adoção do modelo tradicional com características
dominantes de federação clássica. Características: PJ com órgãos nacionais e estaduais; o poderes constituintes
originário e decorrente; a organização bicameral do Poder Legislativo.

177
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
2 - Assimétrico (ou Heterogêneo): federalismo atípico. Rompimento com linhas tradicionais do federalismo
simétrico. Ex.: na federação brasileira há características que nenhuma outra federação do mundo possui como é o
caso da consagração dos Municípios como entes federativos.

338. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO FEDERALISMO?


*Descentralização político-administrativa estabelecida pela Constituição;
* Participação das vontades parciais na formação da vontade nacional (princípio da participação): os entes
que compõe a federação participam da formação da vontade nacional através do Senado.
*Auto-organização dos Estados Membros por meio de Constituições próprias: é a capacidade que os
Estados membros possuem de se organizar através de Constituição própria. José Afonso da Silva também utiliza o
fato de os Municípios não terem Constituições próprias como argumento para afastá-los da natureza de entes
federativos. Para os que discordam do autor, as leis orgânicas nada mais são do que constituições municipais.
Obs.: JAS utiliza-se também dos argumentos de que o Município não tem representantes no Estado e de
que não tem Constituição para defender que não são entes federados propriamente ditos (minoritário).

339. OS MUNICÍPIOS SÃO ENTES FEDERATIVOS?


1ª C (majoritária): sim. Porque o art. 1º da CF inclui na união indissolúvel da federação os Municípios. O
art. 18 da CF, igualmente, elege os Municípios como entes autônomos.
2ª C (José Afonso da Silva): não. É mera autarquia territorial. Ele defende esse ponto de vista dizendo que
não existe federação de municípios (no mundo), razão pela qual, se o município fosse considerado ente federativo,
ele teria a natureza de um estado. Além disso, os Municípios não participam da formação da vontade nacional,
pois não participam do parlamento (os estados têm os senadores).

340. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA MANUTENÇÃO DO FEDERALISMO?


*Imutabilidade da forma federativa: cláusula pétrea (art. 60, §4º, I, CF);
*Rigidez constitucional;
*Órgão encarregado de exercer o controle de constitucionalidade;
*Autonomia financeira dos Estados e dos Municípios;
*Autonomia recíproca: não há hierarquia entre as entidades federadas.

341. QUAIS SÃO AS FORMAS DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS?


#Modelo clássico: compete à União exercer os poderes enumerados e aos Estados os poderes não
especificados, em um campo residual. Fonte: Constituição norte-americana (1787).
#Modelo moderno: a Constituição prevê atribuições exclusivas da União e competências comuns ou
concorrente entre a União e os Estados. Passou a ser verificado após a I Guerra Mundial.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
#Modelo horizontal: NÃO HÁ CONCORRÊNCIA entre os entes federativos. Cada qual exerce a sua
atribuição nos limites fixados pela Constituição e sem relação de subordinação, nem mesmo hierárquica. Advém
do Federalismo Dual/Clássico.
#Modelo vertical: A MESMA MATÉRIA É PARTILHADA entre os diferentes entes federativos, havendo certa
relação de subordinação no que tange à atuação deles. Advém do Federalismo Cooperativo ou de Integração.

342. QUAL É O PRINCÍPIO QUE REGE A DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS?


Princípio da Predominância do Interesse.
Interesse predominantemente geral >> União;
Interesse predominantemente regional >> Estados;
Interesse predominantemente local >> Munícipios.
Exceção: serviços locais de gás canalizados são de competência estadual (art. 25, §2º, CF).

343. QUAL É O MODELOS DE DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS ADOTADO PELO BRASIL?

Sistema complexo de repartição de competências: repartição horizontal (de competências enumeradas e


remanescentes) + repartição vertical (competências concorrentes e comuns).

Quadro de repartição de competência horizontal (NÃO HÁ CONCORRÊNCIA ENTRE ENTES FEDERATIVOS)


União Art. 21, CRFB: competências administrativas (também chamadas exclusivas)
União Art. 22, CRFB: competências legislativas (também chamadas privativas)
Possibilidade Art. 22, Parágrafo único, CRFB.
delegação
Estados Art. 25, §1º, CRFB: competências remanescentes.
Municípios Art. 30, I, CRFB: competência legislativa.
Municípios Art. 30, III, ao IX: matérias de competência administrativa.
DF Art. 32, §1º, CRFB: competências legislativa dos Estados e Municípios.

Quadro de repartição de competência VERTICAL (HÁ CONCORRÊNCIA ENTRE ENTES FEDERATIVOS)


União, Estados, Art. 23, CRFB: competências comuns (administrativas)
Municípios e DF
União, Estados Art. 24, CRFB: competências concorrentes (legislativas)
e DF
Municípios Art. 30, II, CRFB: competência concorrente (legislativa)

344. QUAL É O MODELO ADOTADO PARA COMPETÊNCIAS TRIBUTÁRIAS?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Para distribuição da competência tributária, há enumeração expressa das competências de todas as
entidades federativas (MODELO HORIZONTAL), vale dizer, a Constituição Federal indicou expressamente quais os
tributos que cada ente federado poderá instituir, com competência residual para à União.

345. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E


DESMEMBRAMENTO DE ESTADO?
a) consulta prévia às populações diretamente interessadas, por meio de plebiscito;
b) oitiva das assembleias legislativas dos estados interessados;
c) edição de lei complementar pelo Congresso Nacional.

Estados podem: Mediante


Lei
incorpora-se entre plebiscito
complementar
si; (população
do Congresso
se subdividir; diretamente
Nacional
se desmebrar interessada)

346. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E


DESMEMEBRAMENTO DE MUNICÍPIO?
a) aprovação de lei complementar federal fixando genericamente o período dentro do qual poderá
ocorrer a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios. Atualmente, essa LC não existe;
b) aprovação de lei ordinária federal prevendo os requisitos genéricos exigíveis e a forma de divulgação,
apresentação e publicação dos estudos de viabilidade municipal;
c) divulgação dos estudos de viabilidade municipal, na forma estabelecida pela lei ordinária federal acima
mencionada;
d) consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos;
e) aprovação de lei ordinária estadual formalizando a criação, a incorporação, a fusão ou o
desmembramento do município, ou dos municípios.

Plebiscito
Para criação, Lei Estudo de
(população
incorporação de complementar Viabilidade Lei Estadual
dos Municípios
Municípios Federal Municipal
envolvidos)

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
EC 57/2008: acrescentou o art. 96 ao ADCT, convalidando atos de criação, fusão, incorporação e
desmembramento de municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31/12/2006, atendidos requisitos estabelecidos
na legislação do respectivo estado à época de sua criação. Foi essa a forma adotada pelo legislador constituinte
derivado para regularizar a situação de mais de 50 municípios, criados, na época, com desrespeito ao art. 18, §4º,
CRFB.

347. CONCEITUE INTERVENÇÃO DE UM ENTE FEDERADO EM OUTRO?


Medida excepcional, de natureza política, na qual se possibilita o afastamento temporário da AUTONOMIA
DE UM ENTE FEDERATIVO quando verificadas as hipóteses previstas na CRFB.

348. AS HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO FEDERAL CONFIGURAM ROL TAXATIVO OU


EXEMPLIFICATIVO? POR QUÊ?
Taxativo (numerus clausus). Porque, como toda exceção, as hipóteses de intervenção devem ser
interpretadas restritivamente.

349. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO?


# Excepcionalidade da medida;
# Taxatividade das hipóteses;
# Temporariedade da execução, enquanto subsistirem as razões para que a intervenção ocorra (art. 36,
§1º, CF).

350. QUAIS ENTES FEDERADOS PODEM REALIZAR A INTERVENÇÃO?


A União nos Estados, no DF (art. 34, CF) e em Municípios localizados em Território Federal (art. 35, CF)
Os Estados em Municípios localizados em seu território.

351. QUAIS AS ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO FEDERAL?


1. ESPONTÂNEA: PR pode decretá-la de ofício, s/ qualquer provocação. Hipóteses (art. 34, I, II, III, V, CF).
I - manter a integridade nacional; (defesa do Estado)
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; (defesa do Estado e defesa do
princípio federativo)
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; (defesa do princípio federativo)
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: (defesa das finanças estaduais)
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força
maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
2. SOLICITADA: depende de solicitação do PL ou do PE (art. 36, I, primeira parte, CF). É ato discricionário do
PR. Aplicável para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; (defesa do
princípio federativo) – art. 34, IV, CF
3. REQUISITADA: depende de requisição do PJ (art. 34, IV, VI, VII da CF), e o ato do PR será vinculado (não
atendimento da requisição pelo PR >> crime de responsabilidade – art. 12, Lei 1079/1950).
(a) Requisição do STF: casos de coação exercida contra o Poder Judiciário (art. 36, I, segunda parte, CF):
(b) Requisição do STF, do STJ ou do TSE: desobediência à ordem ou à decisão judiciária (art. 36, II, CF):
*TSE: descumprimento de ordem ou decisão da Justiça Eleitoral.
*STJ: descumprimento de ordem ou decisão do STJ; ou de decisão da JF ou JE que envolvam questões
infraconstitucionais (nesse caso, o Tribunal local fará uma representação ao STJ que, se concordar, requisitará ao
PR).
*STF: descumprimento for de ordem ou decisão do STF, da Justiça do Trabalho ou da Justiça Militar; ou de
decisão da JF ou JE que envolva matéria constitucional (nesse caso, o Tribunal local fará uma representação ao STF
que, se concordar, ele irá requisitará ao PR).
(c) Requisição do STF quando o tribunal der provimento a representação do PGR, nos casos de violação
dos princípios constitucionais sensíveis ou de recusa à execução federal (art. 36, III, c/c art. 34, VI e VII CF).

352. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA INTERVENÇÃO FEDERAL?


#PRESSUPOSTOS MATERIAIS:
I) defesa do Estado: manter a integridade nacional ou repelir invasão estrangeira (art. 34, I e II, CF).
II) defesa do princípio federativo: (i) repelir invasão de uma unidade da Federação em outra; (ii) pôr termo
a grave comprometimento da ordem pública; (ii) garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades
da Federação (art. 34, II, III e IV, CF);
III) defesa de finanças estaduais, destinada a reorganizar finanças da unidade da Federação (art. 34, V, CF);
IV) defesa da ordem constitucional, quando decretada com o fim de prover a execução de lei federal, ordem
ou decisão judicia ou, ainda, para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VI e VII):
#PRESSUPOSTOS FORMAIS:
1 – Decreto PR (art. 84, X, CF) definindo amplitude, o prazo de duração, condições de execução e, se for o
caso, nomeando interventor (apenas na intervenção no PE ou no PE e PL – art. 36, §1º, CF).
2 – Requisitos formais variam a depender de se tratar de intervenção espontânea, solicitada ou requisitada.
a. Espontânea:
- Expedição do decreto presidencial;
- União intervém, sem pedir autorização para ninguém (não há representação interventiva neste caso).
- Controle político a posteriori, em 24h da expedição do decreto presidencial. Realizado pelo CN. Se estiver
de recesso, será convocado extraordinariamente no mesmo prazo.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
b. Solicitada
- Solicitação do PL ou PE. Será ato discricionário do PR acatar a solicitação ou não;.
Obs.: Não há controle legislativo da intervenção. O decreto presidencial limitar-se-á a suspender a execução
do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
c. Requisitada
- Requisição do PJ. Será ato vinculado do PR (não atendimento >> crime de responsabilidade).

353. QUAIS AS FORMAS DE COTROLE DA INTERVENÇÃO FEDRAL?


#Jurisdicional: o STF pode analisar a intervenção, exceto no que diz respeito ao mérito do ato. Cabível nas
hipóteses em que não forem observados os dispositivos constitucionais.
#Político: dispensado apenas nos casos em que a intervenção for decretada para prover a execução de lei
federal, ordem ou decisão judicial ou para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis porque,
nesses casos, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao
restabelecimento da normalidade. O controle político é feito a posteriori, no caso da intervenção espontânea, em
24 h da expedição do decreto presidencial e é realizado pelo Congresso Nacional que, se estiver de recesso, será
convocado extraordinariamente no mesmo prazo.

354. QUAIS AS HIPÓTESES EM QUE CABE A INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO?


Quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios
indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Atenção!
Haverá provimento de representação também para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

355. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO?


#Pressupostos materiais: são os expostos no art. 35 da CF, sendo que, na hipótese do inciso IV, cabe ao
procurador Geral de Justiça ajuizar a representação junto ao Tribunal de Justiça local.
Súmula 614 do STF: Somente o Procurador-Geral de Justiça tem legitimidade para propor a ação direta
interventiva por inconstitucionalidade de lei municipal.
#JURISPRUDÊNCIA: É inconstitucional a atribuição conferida, pela Constituição do Pará, art. 85, I, ao
Tribunal de Contas dos Municípios, para requerer ao Governador do Estado a intervenção em Município. Caso em
que o Tribunal de Contas age como auxiliar do Legislativo Municipal, a este cabendo formular a representação, se

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
não rejeitar, por decisão de dois terços dos seus membros, o parecer prévio emitido pelo Tribunal (CF, art. 31, §
2º). STF. ADI 2.631, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 29-8-02, DJ de 8-8-03.
#Pressupostos formais:
- decreto de intervenção expedido pelo Governador especificando a amplitude, o prazo, as condições de
execução e, se for o caso, nomear o interventor (art. 36, §1º, CF).
- no caso em que a intervenção visar prover execução de lei, ordem ou decisão judicial, representação
interventiva apresentada pelo PGJ perante o TJ.
- submissão, no prazo de 24 horas, à apreciação da Assembleia Legislativa. Nos períodos em que esta não
estiver funcionando, deverá ser feita, no mesmo prazo, uma convocação extraordinária (art. 36, §§1º e 2º, CF).
Esse controle político é dispensado apenas nos casos em que a intervenção for decretada para prover a execução
de lei, ordem ou decisão judicial ou para assegurar a observância dos princípios indicados na Constituição Estadual
(art. 35, IV, CF).

356. QUAL A ORIGEM DO PODER LEGISLATIVO?


Inglaterra, durante a Idade Média, com a finalidade de limitar a autoridade dos Reis.

357. POR QUE, NO SISTEMA FEDERATIVO, UTILIZA-SE O SISTEMA BICAMERAL?


Porque é necessária a instalação de um órgão representativo dos Estados. Apesar de ser uma característica
da federação, nem sempre é o reflexo de um federalismo. Ex: Inglaterra (Estado Unitário), tem a câmara dos lordes
e a câmara dos comuns.

358. QUAIS AS FUNÇÕES TÍPICAS DO PODER LEGISLATIVO?


a) inovação da ordem jurídica (legislar) – art. 48/CF;
b) fiscalização: especialmente arts. 70 e 71/CF. Pode ocorrer de duas formas:
- Político-administrativa;
- Econômico-orçamentária.

359. E AS ATÍPICAS?
Administrar e julgar, a exemplo da contratação de pessoal e julgamento do Presidente da República por
crime de responsabilidade, respectivamente.
Com o advento da EC 32/01, o Poder Legislativo Federal passou também a realizar controle de
constitucionalidade repressivo de medidas provisórias (art. 62, § 5º, CF). Mas, sob certo aspecto, tal atribuição
está incluída na função típica de legislar, já que o STF classifica o controle de constitucionalidade como atividade
legislativa negativa.

360. QUEM A CÂMARA DOS DEPUTADOS REPRESENTA E POR MEIO DE QUAL SISTEMA SE
DÁ A ELEIÇÃO?

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Representa o povo.
A eleição se dá pelo sistema proporcional: Isso se dá a partir da definição do quociente partidário de cada
Partido ou coligação (atenção: as coligações para cargos proporcionais não são mais permitidas a partir das
eleições de 2020 por conta da EC 97/2017).
O quociente partidário é resultado da divisão do número de votos válidos dados sob a mesma
legenda/coligação (desprezada a fração) pelo quociente eleitoral.
O quociente eleitoral é determinado dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral (desprezada a fração, se igual ou inferior a meio, e equivalente a um, se
superior).

361. QUAL É O NÚMERO MÍNIMO E MÁXIMO DE DEPUTADOS FEDERAIS POR ESTADO?


QUANTOS SÃO OS DEPUTADOS ELEITOS POR TERRITÓRIO?
- Mínimo de 8 e máximo de 70 por Estado. Território tem 4 deputados federais.

362. QUAL É O PRAZO DO MANDATO DE DEPUTADO ESTADUAL E QUAL A IDADE


MÍNIMA PARA SER DEPUTADO ESTADUAL?
- Mandato de 4 anos.
- Idade mínima: 21 anos.

363. QUEM O SENADO FEDERAL REPRESENTA E QUAL O SISTEMA UTILIZADO PARA A


ELEIÇÃO DE SEUS REPRESENTANTES?
- Representam os Estados e DF;
- Eleição pelo sistema majoritário simples (não comporta segundo turno).

364. QUAL É O NÚMERO MÍNIMO E MÁXIMO DE DEPUTADOS FEDERAIS POR ESTADO?


QUANTOS SÃO OS DEPUTADOS ELEITOS POR TERRITÓRIO?
Não há mínimo e máximo, são 3 senadores por Estado/DF. Não há senadores eleitos para Território, porque
esses não são entes federados (e o Senado Federal serve para representar entes federados).

365. QUAL É O PRAZO DO MANDATO DE SENADOR? COMO SE DÁ A RENOVAÇÃO NESSA


CASA LEGISLATIVA? QUAL A IDADE MÍNIMA PARA OCUPAR O CARGO DE SENADOR
FEDERAL?
- Mandato de 8 anos, renovação de 1/3 e 2/3, respectivamente, de 4 em 4 anos.
- Idade mínima: 35 anos.

366. DIANTE DO PRINCÍPIO DA SIMETRIA, É POSSÍVEL VINCULAR OS SUBSÍDIOS DOS


DEPUTADOS ESTADUAIS AO DOS DEPUTADOS FEDERAIS?
Não. De acordo com o STF, a vinculação automática de subsídios de agentes políticos de distintos entes
federativos é inconstitucional por violar o princípio da autonomia dos entes federados. STF. Plenário. ADI 3461/ES,
rel. Min. Gilmar Mendes, 22.5.2014. Info 747.
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367. QUAL É O PRAZO DA LEGISLATURA?
4 anos.

368. E DA SESSÃO LEGISLATIVA? COMO ELA SE DIVIDE?


O prazo da sessão legislativa é de 1 ano. Ela se divide em dois períodos, o primeiro vai de 2/fev. a 17/jul.
e a segundo, de 1º/08 a 22/12.

369. É POSSÍVEL A CONVOCAÇÃO DE SESSÃO EXTRAORDINÁRIA? QUANDO ESSA


OCORRERÁ? QUEM PODE CONVOCÁ-LA E EM QUE SITUAÇÕES?
Sim, é possível. Elas ocorrerão nos intervalos deixados pela sessão ordinária.
Podem convocá-la:
- Presidente do Senado: (i) decretação de estado de defesa; (ii) decretação de intervenção federal: (iii)
pedido de autorização para a decretação de estado de sítio; (iv) compromisso e a posse do PR e VPR.
- Presidente da República, Presidentes da Câmara e do Senado ou a requerimento da maioria dos membros
de ambas as casas: (i) urgência ou interesse público relevante. Necessária MAIORIA ABSOLUTA de CADA UMA
DAS CASAS DO CN.

370. QUAIS AS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL?


a) atribuições legislativas: fazer as leis, de acordo com a competência, em observância ao processo
legislativo e com a sanção do PR (art. 48/CF).
b) atribuições meramente deliberativas/administrativas: através de decretos legislativos ou resoluções
(atos concretos, resoluções referendárias, autorizações, aprovações, sustação de atos, fixação de situações e
julgamento técnico – art. 49/CF).
c) atribuições de fiscalização e controle: ocorre por intermédio de vários procedimentos:
(i) pedidos de informação, por escrito, encaminhados pelas Mesas da CD e do SF aos Ministros de Estado
ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República (art. 50/CF);
(ii) comissões parlamentares de inquérito;
(iii) controle externo, com o auxílio do Tribunal de Contas e da Comissão Mista Permanente (art. 166, §1º,
CF);
(iv) fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo, inclusive os da administração indireta (art. 49, X,
CF); e
(v) tomada de contas pela CD quando o Presidente não as prestar no prazo de sessenta dias após a abertura
da sessão legislativa, ou seja, até 15 de abril (arts. 51, II, e 84, XXIV, CF).
d) atribuições de julgamento de crimes de responsabilidade: no julgamento do Presidente e Vice-
Presidente da República, dos Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (nos
crimes da mesma natureza conexos com aqueles), a Câmara dos Deputados funciona como órgão de

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
admissibilidade do processo e o Senado Federal como tribunal político, sob a presidência do Presidente do STF. O
Senado Federal julga também (sem o prévio juízo de admissibilidade pela Câmara dos Deputados) os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União.
e) atribuições constituintes: emendas à Constituição.

371. QUAIS OS REQUISITOS PARA INSTAURAÇÃO DE UMA CPI?


(i) Requerimento de 1/3 dos membros: requisito formal. Curiosidade: Essa forma de CPI foi criada pela
Constituição de Weimar (1919).
(ii) Apuração de fato determinado: requisito substancial ou material.
(iii) Por prazo certo.

372. É POSSÍVEL AMPLIAR O QUÓRUM PARA INSTAURAÇÃO DE CPI? E REDUZIR? POR


QUÊ?
Não é possível ampliar o quórum para instaurar CPI, mas é possível reduzi-lo. Isso porque a CPI é um
instrumento de proteção das minorias parlamentares. Inclusive, o STF entende que não é possível sujeitar a
instauração de uma CPI à decisão do Plenário da Casa Legislativa, porque se estaria criando requisito formal
inexistente.

373. QUAIS SÃO OS PODERES DADOS À CPI? QUAIS SÃO OS LIMITES A TAIS PODERES?
Poderes de instrução processual próprios de autoridade judicial.
Os limites são:
a) Cláusula de reserva de Jurisdição. Exs.: Interceptação telefônica; violação de domicílio; prisão, salvo
flagrante delito; sigilo imposto a processo judicial
b) Direitos e garantias individuais. Exs.: Direito de não produzir prova contra si mesmo (art. 5º, LXIII, CF);
sigilo profissional (art. 5º, XIV, CF).
c) Medidas acautelatórias: se a CPI não tem o poder de punir ou acusar, ela não pode adotar medidas para
conservar a decisão final, pois essa decisão final não é dela. A CPI não possui poder geral de cautela. Logo, não
pode determinar medidas como indisponibilidade de bens; proibição de ausentar-se do país; arresto; hipoteca
judiciária.
d) Autonomia dos entes federativos: Ex.: houve caso em que CPI tentou compelir o Governador de Goiás
a comparecer (condução coercitiva). O STF entendeu que a CPI não teria esse poder, pois haveria interferência na
autonomia federativa. Isso não significa que ele não possa ser investigado se for um assunto que tenha interesse
geral. Se o interesse for local não pode ser investigado por CPI federal.

374. QUAIS AS GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO?


* Imunidade material;
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
* Imunidade processual, subdividida em prisional e processual;
* Isenção do serviço militar; e
* limitação ao dever de testemunhar.

375. A QUEM SE APLICA E NO QUE CONSISTE A IMUNIDADE MATERIAL?


Aplica-se a deputados federais e senadores (art. 53, caput/CF), deputados estaduais (art. 27, §1°/CF),
deputados distritais (art. 32, §3°/CF) e vereadores (art. 29, VIII/CF). Os suplentes não contam com essa
inviolabilidade, pois a inviolabilidade visa proteger a função. Os parlamentares deixam de ter imunidade se eles
estão licenciados também.
Consiste na impossibilidade de os parlamentares serem responsabilizados penal e civilmente por opiniões,
palavras e votos. Eles não podem ser responsabilizados mesmo depois do fim do mandato. Mas essas opiniões
palavras e votos têm que ser proferidas durante o mandato.

376. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DA IMUNIDADE MATERIAL?


Há controvérsia:
1ª C (Pontes de Miranda, Nelson Hungria, José Afonso da Silva): causa excludente de crime.
2ª C (Basileu Garcia): causa que se opõe à formação do crime.
3ª C (Aníbal Bruno): causa pessoal (funcional) de isenção de pena. Crítica: casos de isenção de pena
não obstam inquérito e ação penal, não se coadunando com a circunstância da imunidade material.
4ª C (Magalhães Noronha): causa de irresponsabilidade.
5ª C (José Frederico Marques): causa de incapacidade pessoal penal por razões políticas.
6ª C (Luiz Flávio Gomes - STF): torna o fato atípico.

377. QUAIS OS LIMITES DA IMUNIDADE MATERIAL?


No que se refere aos limites, deve haver vínculo (conexão) entre as palavras e/ou opiniões do parlamentar
e o exercício da função. Sobre as palavras serem proferidas dentro ou fora do recinto:
*Dentro do recinto: tradicionalmente, imunidade absoluta, salvo falta de decoro parlamentar. Dentro do
Parlamento, a imunidade abrange qualquer manifestação do parlamentar, mesmo que se trate de aspectos
privados, particulares. Fica sujeito, contudo, à punição da própria Casa Legislativa (STF. Plenário. Inq 2130/DF, rel.
Min. Ellen Gracie, 13.10.2004. Info 365). Não obstante, mais recentemente o STF parece estar abrandando esse
entendimento (STF. 1ª T. Inq 3932/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. Info 831).
*Fora do recinto: tudo que tiver pertinência com a atividade parlamentar, mas não há presunção,
necessário provar o nexo.
*Em CPI: dentro da CPI o que o parlamentar disser está amparado pela imunidade.
Vereador: Além da exigência funcional, também há uma limitação espacial à imunidade, limitada à
circunscrição do Município. Os demais parlamentares não têm essa limitação geográfica (Superação do

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
entendimento contido na Súmula 3/STF (CANCELADA): A imunidade concedida a deputados estaduais é restrita à
Justiça do Estado).

378. O QUE A IMUNIDADE PROCESSUAL ENVOLVE? A PARTIR DE QUE MOMENTO ELA SE


APLICA?
(i) Foro privilegiado (STF);
(ii) Proteção do parlamentar contra a prisão (salvo em flagrante de crime inafiançável); e
(iii) Nos crimes praticados após a diplomação, uma vez recebida a denúncia, torna possível a sustação
do andamento do processo penal instaurado pelo STF. Ainda, outras garantias envolvem:
As imunidades acima se aplicam a partir da diplomação e, esta última, apenas ao crimes praticados a partir
da diplomação.

379. É POSSÍVEL A PRISÃO CIVIL DO CONGRESSISTA?


1ª C (Uadi Bulos e Marcelo Novelino): Sim.
2ª C (Gilmar Mendes): Atento ao escopo da prerrogativa, qual seja impedir perseguição pessoal do
parlamentar, leciona que a imunidade abrange qualquer ato de privação de liberdade, inclusive prisões
extrapenais.
3ª C (Rogério Sanches): se for execução de alimentos provisórios, não cabe prisão civil do congressista, mas
se for execução de alimentos definitivos, cabe a prisão civil. No caso da prisão civil em alimentos provisórios tem-
se uma cognição sumária, ao passo que nos alimentos definitivos tem-se uma cognição exauriente, devendo
prevalecer o interesse do menor.

380. E A FIXAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES (ART. 319/CPP) CONTRA PARLAMENTAR, É


POSSÍVEL? SENDO POSSÍVEL, SUJEITA-SE À CASA LEGISLATIVA?
O STF entendeu que é possível a fixação de medidas cautelares contra parlamentar. Não obstante, quando
a execução dessas impossibilitar, direta ou indiretamente, o exercício do mandato legislativo, devem ser
submetidas à respectiva Casa Legislativa em 24 horas para deliberação, em aplicação, por analogia, do art. 53,
§2º/CF.

381. E POSSÍVEL SUSPENDER AS IMUNIDADES DOS CONGRESSISTAS DURANTE O


ESTADO DE SÍTIO?
Apenas aos atos praticados fora do recinto do CN que sejam incompatíveis com a execução da medida.
Para isso, são necessários 2/3 dos membros da Casa respectiva (art. 53, §8°/CF).

382. A IMUNIDADE PROCESSUAL SE APLICA AOS DEPUTADOS ESTADUAIS?


Sim, o art. 27, §1º/CF estende aos Deputados Estaduais o estatuto dos congressistas (Princípio da simetria).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A prerrogativa de foro dos Deputados Estaduais é, em regra, do Tribunal de Justiça. No caso de crimes
eleitorais, a competência não será do TJ, e sim do Tribunal Regional Eleitoral. No caso de crimes contra bens,
interesses ou serviços da União, autarquias ou empresas públicas federais, a competência será do TRF.

383. NO CASO DE CRIME CONTRA A VIDA PRATICADO POR DEPUTADO ESTADUAL, A


COMPETÊNCIA É DO JURI OU HÁ PRERROGATIVA DE FORO?
O STF entende que quando a CF fala em “imunidades”, compreende não apenas as imunidades materiais,
mas também a prerrogativa de foro. Entende, portanto, que as imunidades dos Deputados Estaduais foram
estabelecidas pela CF. Não se aplica a Súmula 721 STF, que estabelece que a competência do Júri prevalece quando
o foro é previsto unicamente na CE, já que o foro dos deputados estaduais é estabelecido na CF.

384. A IMUNIDADE PROCESSUAL SE APLICA AOS VEREADORES?


Não há previsão constitucional. Todavia, a Constituição Estadual pode prever. Contudo, quando houver
previsão na Constituição Estadual, a prerrogativa não prevalece em casos de competência previstos na CRFB, como
é o caso dos crimes contra a vida, em que a competência será do Júri (súmula 721 do STF).

385. QUAIS SÃO AS COMPETÊNCIAS DO TRIBUNAL DE CONTAS?


*Fiscalizadora: realizar auditorias e inspeções em órgãos/entidades da adm. direta/indireta, incluindo a
fiscalização de entidades de direito privado que recebam recursos de origem estatal. (CF, art. 71, III a VI).
*Judicante: julgar contas anuais dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos, da adm. Direta/indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público
federal, além das contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade da qual resulte
prejuízo ao erário público (CF, art. 71, II). Viabiliza a imposição de sanções aos responsáveis pelas irregularidades.
*Sancionatória: aplicar, aos responsáveis por ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, sanções
previstas em lei (CF, art. 71, VIII), dentre elas: I) recolhimento de débito; II) multar (proporcionais aos débitos
imputados, por atos irregulares de gestão; por descumprimento de determinação do Tribunal; por obstrução a
auditoria ou inspeção; por infração à Lei de Responsabilidade Fiscal); III) afastamento do cargo de dirigente
responsável por obstrução à auditoria; IV) decretação de indisponibilidade de bens por até um ano; V) declaração
de inabilitação para exercício de funções públicas; VI) declaração de inidoneidade para contratar com o poder
público por até 5 anos; e VII) determinação à AGU de providencias para arresto de bens.
*Consultiva: elaborar parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente pelo PR (CF, art. 71, I), com o
objetivo de fornecer subsídios ao CN para julgá-las (CF, art. 49, IX). A competência para julgamento dessas contas
é do Poder Legislativo, cabendo ao órgão de contas apenas opinar por sua aprovação ou rejeição.
*Informativa: prestar informações solicitadas pelo CN sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas (CF, art. 71, VIII).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
*Corretiva: materializa-se em duas hipóteses: I) fixação de prazo, caso seja verificada alguma ilegalidade
para adoção de providências necessárias ao exato cumprimento da lei; e II) sustação da execução do ato
impugnado, quando não forem adotadas as providências determinadas, devendo a decisão ser comunicada à
Câmara dos Deputados e ao Senado Federal (CF, art. 71, IX e X).

386. A QUEM COMPETE APRECIAR AS CONTAS DE GOVERNO DE PREFEITO MUNICIPAL?


E AS CONTAS DE GESTÃO?
Tanto as de governo do Prefeito quanto as de gestão, serão apreciadas pelas Câmaras Municipais, com
auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de
dois terços dos vereadores. (STF Info 834).
Obs.: Os tribunais de contas vinham entendendo que as contas de gestão seriam de sua competência. Esse
entendimento restou vencido no STF por votação apertada.

387. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE PROCESSO LEGISLATIVO?


a) Ordinário: regra geral do processo legislativo.
b) Sumário: Deve ter uma duração de, no máximo, 100 dias. Só pode ser desencadeado pelo PR, em
projetos de sua iniciativa. CD é a iniciadora (por ser iniciativa do PR), e ela tem 45 dias para discutir e votar; SF
também tem 45 dias para discutir e votar. Se o SF fizer emenda aditiva modificativa, a emenda volta para CD que
tem 10 dias para discutir e votar. 45 +45 + 10 = 100 dias. Se esses prazos não forem observados, as demais
deliberações da casa legislativa em que estiver o projeto de leis ficarão suspensas, com exceção das que tenham
prazo constitucional determinado (ex. MP).
c) Especiais: projetos de emenda constitucional, lei complementar, medida provisória, lei delegada,
resolução e decreto legislativo.

388. QUAIS SÃO AS FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO?


#Fase introdutória: abarca a INICIATIVA
#Fase constitutiva:
a) Discussão pelas comissões: CCJ e temáticas. Após as discussões nessas comissões, geralmente vão para
o Plenário (há PLs que não precisam ir a plenário para serem votados).
b) Votação:
#Regra: ocorrem no Plenário;
#Exceção: votação na comissão em assuntos mais específicos, determinados pelo RI (art. 58, §2º, CF).
c) Aprovação: o quórum de votação (instalação) é de maioria absoluta (mais da metade dos membros), seja
dos membros da comissão (no caso de votação na comissão) ou do Plenário. Na CD, tem-se o total de 513
membros. Logo, o quórum de instalação é de 257 presentes. No SF, são 81 membros. O quórum de instalação é
de 41 presentes.

191
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Quórum de aprovação:
- LO: maioria relativa;
- LC: Maioria absoluta;
- EC: 3/5, em dois turnos em cada casa.
d) Sanção ou veto
I. Sanção:
* Expressa: o prazo para essa sanção é de 15 dias úteis.
* Tácita: decorridos os 15 dias úteis do recebimento, o Presidente não se pronuncia.
* Total;
* Parcial.
II. Veto:
* Expresso: o veto somente pode ser expresso;
* Político: Presidente analisa a viabilidade política do projeto. Interesse público;
* Jurídico: por considerar incompatível com a CF;
* Total;
* Parcial.
#Fase complementar
a) Promulgação: ato no qual se atesta a existência da lei ou da emenda, conferindo-lhe executoriedade.
- EC: é realizada pelas Mesas da CD e do SF.
- LO/LC:
*Sanção expressa: Presidente promulga
* Sanção tácita ou veto: PR promulga em 48 horas; não o fazendo, o Presidente do SF a promulga no mesmo
prazo de 48 horas; não o fazendo, o Vice-Presidente do SF a promulga no prazo de 48 horas.
b) Publicação: A publicação confere obrigatoriedade à lei ou emenda. É o mecanismo pelo qual se transmite
a promulgação da lei (declaração solene de sua existência e de seu conteúdo) aos seus destinatários. Com a
publicação no Diário Oficial, presume-se de conhecimento público a existência e o conteúdo da lei e, por
consequência, seu cumprimento obrigatório. A publicação é condição para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz.

Casa Iniciadora Casa Revisora Presidente da República


1ª Introdutória Apresentação do
projeto/iniciativa ↓
2ª Constitutiva Análise pelas comissões Análise pelas comissões; Pode sancionar (art. 66,
(comissões temáticas, Deliberação; caput/CF) ou vetar (art.
Comissão de Constituição Votação. 66, §1º/CF) e tem 15 dias
e Justiça, que analisa a Aprovada nas duas casas, para tanto.
constitucionalidade. Essas remete-se ao Presidente A sanção pode ser
comissões emitem da República. → expressa (manifesta-se

192
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
pareceres que, em regra, favoravelmente ao
são opinativos). projeto – art. 66,
Deliberação; caput/CF)) ou tácita
Votação, se aprovado, (quando silencia – art. 66,
segue para a Casa §3°/CF).
Revisora, onde seguirá as Já o veto é sempre
mesmas fases). → expresso. Se for o caso de
veto, o PR informa ao
Presidente do SF
(Presidente CN) os
motivos do veto em 48
horas (art. 66, §1°/CF)
3ª Complementar O Presidente do Senado Se o PR sanciona, ele
tem 48 horas para próprio promulga, e quem
promulgar se o PR não o promulga, publica. O PR
fizer (art. 66, §7°/CF). Se dispõe de 48 horas para
este não o fizer, promulgar. Se ele não o
encaminha-se ao vice- fizer nesse prazo, envia-se
Presidente do Senado, para o Presidente do
que também tem 48 hrs. Senado.
para promulgação. Se ele
não o fizer, aí cabe o
controle jurisdicional.
No caso de veto pelo PR, o
Presidente do Senado
Federal irá determinar
uma sessão conjunta para
votar o veto (art. 66, §4° -
em 30 dias – derrubada do
veto requer maioria
absoluta). Se mantém o
veto, arquiva-se, se
derruba o veto,
encaminha para o PR para
promulgação etc.

389. QUAIS AS ESPÉCIES DE INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO?


a. Comum ou geral: não há restrição quanto ao legitimado para iniciar o processo legislativo (REGRA).
b. Concorrente: situações em que a CF atribui a legitimidade a mais de uma autoridade. Ex. matéria
tributária é atribuída ao PR e a parlamentares.
c. Exclusiva: atribuída a apenas um legitimado e que não comporta delegação. Tem caráter
excepcional, devendo ser interpretada restritivamente. Ex. art. 61, §1º (iniciativa do PR, embora seja chamada de
privativa pela CF, pois não pode ser delegada), art. 51, IV (Câmara - organização), art. 52, XIII (Senado- organização),
art. 93 (LOMAN), art. 96, II, “b” (STF) e art. 99, §2º (iniciativa exclusiva do Judiciário). TCU.
d. Privativa: embora atribuída a apenas um legitimado, ela admite delegação. Não há na CF/88 uma
relação de assuntos cuja iniciativa de projeto de lei é de iniciativa privativa. É diferente de delegação de
competência privativa para tratar de determinada matéria (isso existe no art. 22, PÚ/CF). Há autores que não
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
diferenciam competência e iniciativa privativa e exclusiva (ex. Gilmar Mendes e Fernanda Menezes). Eles dizem
que os termos são usados indistintamente.

390. QUAL O PRAZO DE VIGÊNCIA DE UMA MEDIDA PROVISÓRIA?


O prazo de vigência é de 60 dias, com prorrogação automática por mais 60 dias, caso não seja analisada
pelo Congresso. Esse prazo de 120 dias não é contado durante o período de recesso (art. 62, §4º, CF).

391. ESTADOS E MUNICÍPIOS PODEM EDITAR MEDIDAS PROVISÓRIAS?


1ª C: não admite, uma vez que a CF não prevê essa hipótese (silêncio eloquente).
2ª C: os demais entes federativos poderiam editar medidas provisórias. Isso porque os Estados, o DF e os
Municípios são autônomos, o que significa que eles têm autogoverno, autolegislação, autoadministração, auto-
organização. Conjugando auto-organização com autolegislação, poderiam inserir em suas constituições a
possibilidade de editar medidas provisórias, com base no PRINCÍPIO DA SIMETRIA.

392. QUAIS SÃO AS FUNÇÕES DO PODER EXECUTIVO?


#Atribuição típica (primária): o PE precipuamente aplica a lei ao caso concreto, administrando a coisa
pública. Praticar atos de chefe de Estado e de Governo, ou seja, administrar o Estado.
#Atribuições atípicas (= secundárias): desenvolve outras duas atividades de forma atípica:
1 - O PE legisla. Ex.: edição de medida provisória;
2 - O PE julga contencioso administrativo. Ex.: processo administrativo tributário, PAD, em processo
licitatório. Diferença entre julgamento pelo PJ e pelo PE: só o julgamento pelo PJ tem a característica da
definitividade.

393. É POSSÍVEL O PREFEITO ITINERÁRIO?


1ª C: pode, porque a vedação à reeleição é limitada territorialmente.
2ª C: a limitação é espacial, mas ela não se limita exclusivamente ao mesmo território, mas ao mesmo
espaço de influência política. Logo, ele não poderia ser candidato em territórios contíguos, fronteiriços, ou com
uma proximidade territorial muito grande.
3ª C (Gilmar Mendes – prevaleceu no STF): A limitação não é estritamente espacial, mas também
funcional. Logo, o que a reeleição veda é que aquele indivíduo exerça o mesmo cargo em três períodos
subsequentes, não importa por qual município. O que a limitação à reeleição visa impedir é o chamado prefeito
profissional ou itinerante, que são aqueles que têm apoio político e ficam rodando por prefeituras chave.

394. QUAL A DIFERENÇA ENTRE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO DO CHEFE DO PODER


EXECUTIVO?
#Substituição: ocorre quando há um impedimento temporário. Ex. uma viagem, casos de doença, licença.
#Sucessão: ocorre no caso de vacância definitiva do cargo.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
395. QUAL A ORDEM DE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO?
#Substituição:
1º - Vice;
2º - Presidente da CD;
3º - Presidente do SF;
4º - Presidente do STF.
Por isso, todos eles devem ser brasileiros natos.
Obs.: Se o Presidente da CD tiver menos de 35 anos, em caso de substituição, ele poderia assumir a
Presidência da República? Duas posições:
1ª C: não, pois a CF deu importância ao princípio da idade mínima de 35 anos.
2ª C: sim, uma vez que as condições de elegibilidade para o cargo de deputado federal foram preenchidas,
o sujeito exercerá todos os ônus e bônus do cargo.
#Sucessão: Só quem pode suceder o Presidente é o Vice. É a que ocorre, por exemplo, nos casos de
renúncia, cassação, morte, etc.

396. É POSSÍVEL A ELEIÇÃO INDIRETA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO NO BR? SE SIM,


EM QUAL CASO?
É possível quando a vacância do cargo do Chefe do Poder Executivo (tanto do PR quanto de seu vice) ocorrer
nos últimos dois anos do mandato (art. 81, §1º, CF). Neste caso, o Congresso Nacional elegerá tanto o PR quanto
seu Vice no prazo de 30 dias da última vaga. Nesse caso, os eleitos cumprirão o prazo remanescente do mandato.
Essa eleição indireta será regulamentada por lei.

397. COMO SE REALIZARÁ A ELEIÇÃO INDIRETA NO CASO DE MANDATO TAMPÃO DE


GOVERNADOR?
É a lei estadual que irá determinar, sendo inaplicável, no caso, o princípio da simetria. Ou seja, o Estado
não precisa prever o mesmo procedimento previsto na lei que venha a reger o procedimento no caso de vacância
no cargo de PR.

398. CITE ALGUMAS ATRIBUIÇÃO DO PR COMO CHEFE DE GOVERNO.


Art. 84, CF: Compete privativamente ao Presidente da República (rol exemplificativo):
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto (autônomo), sobre:

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão
legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores
do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as
propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta (60) dias após a abertura da sessão
legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;

399. CITE ALGUMAS ATRIBUIÇÃO DO PR COMO CHEFE DE ESTADO.


Art. 84, CF: Compete privativamente ao Presidente da República (rol exemplificativo):
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado
por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
400. O PR PODE DELEGAR SUAS ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS?
Em regra, não. Contudo, a própria CRFB prevê situações em que a delegação poderá ocorrer:
Art. 84, parágrafo único, CF: O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos
incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-
Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.
Assim, é possível a delegação das seguintes atribuições:
VI - dispor, mediante decreto (autônomo), sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;

401. NO QUE CONSISTE A IMUNIDADE PROCESSUAL DO PR?


Consiste no impedimento de processar o PR seja processado por determinados atos durante o tempo do
mandato (a prescrição ficará suspensa). Então, é uma imunidade processual temporária. E somente por atos
estranhos ao exercício da função. Se o ato for praticado no exercício da função ele pode ser processado.

402. QUAIS ATOS FORA DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO QUE NÃO PODEM SER IMPUTADOS
AO PR DURANTE O EXERCÍCIO DO MANDATO?
1ª C (majoritária na doutrina e STF): Seria uma imunidade processual penal. Poderia ser processado,
portanto, pelo ilícito civil, mas não pelo crime.
2ª C (Nagib): Seria uma imunidade geral. A CF, quando quer especificar que a questão é penal, ela
especifica. O que a CF quer é resguardar o PR de eventuais processos que ele possa sofrer na vigência do seu
mandato, permitindo com que ele seja processado apenas pelos atos decorrentes do cargo que ele ocupa. Isso
para que ele se dedique exclusivamente ao cargo.

403. QUEM JULGA O CHEFE DO PODER EXECUTIVO POR CRIMES COMUNS?


- Presidente: STF (após a autorização de 2/3 da Câmara dos Deputados);
- Governador: STJ (não precisa de prévia autorização da ALE);
- Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de autorização prévia da Câmara Municipal).

404. QUEM JULGA O CHEFE DO PODER EXECUTIVO POR CRIMES DE RESPONSABILIDADE?


- Presidente: Senado (após a autorização de 2/3 da Câmara dos Deputados);
- Governador: Tribunal Especial (composto por 5 membros da ALE e 5 Desembargadores, sob a presidência
do presidente do TJ – L. 1079/50, aplicada quando não houver disciplina na CE.
- Prefeito: Câmara Municipal.
197
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL

PONTO 6 - PODER JUDICIÁRIO. ESTATUTO DA MAGISTRATURA: DIREITOS, GARANTIAS E


DEVERES.AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA DOS TRIBUNAIS. SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. TRIBUNAIS
REGIONAIS FEDERAIS E JUÍZES FEDERAIS. TRIBUNAIS E JUÍZES DO TRABALHO. TRIBUNAIS E
JUÍZES ELEITORAIS. TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES. TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS. DAS
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: MINISTÉRIO PÚBLICO, ADVOCACIA PÚBLICA, ADVOCACIA E
DEFENSORIA PÚBLICA.

405.AS ATRIBUIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO?


Para Eugenio Raul Zaffaroni são três funções do Poder Judiciário:
1 - Decidir os conflitos;
2 - Controlar a constitucionalidade das leis; e
3 - Realizar seu autogoverno.
Luiz Flávio Gomes amplia o leque. Para ele, seriam cinco as funções:
1 - Aplicar contenciosamente a lei aos casos concretos;
2 - Controlar os demais poderes;
3 - Realizar seu autogoverno;
4 - Concretizar os direitos fundamentais;
5 - Garantir o Estado Constitucional Democrático de Direito.

406. O QUE É JURISDIÇÃO?


Função atribuída a terceiro (heterocomposição) imparcial para, mediante um processo, reconhecer,
efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas, de modo imperativo e criativo, criando a norma
individualizada do caso concreto, em decisão insuscetível de controle externo, com aptidão para a coisa julgada.

407. QUAIS OS PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO?


- Investidura: exercida por quem tenha sido devidamente investido nela.
- Inevitabilidade: não se pode deixar de se submeter à jurisdição;
- Indelegabilidade: quem titula a jurisdição não pode delegar a função decisória (atos de instrução,
ordinatórios e de execução podem ser delegados);
- Territorialidade: pressupõe um território sobre o qual é exercida;
- Inafastabilidade (art. 5º, XXXV, CF): a lei não excluirá da apreciação do PJ lesão ou ameaça a direito;
- Juiz natural: juiz competente e imparcial.

408. QUAIS SÃO AS PROTEÇÕES ESPECIAIS CONFERIDAS PELO ORDENAMENTO


JURÍDICO AOS JURISDICIONADOS, PARA O FIM DE GARANTIR-LHES ISONOMIA E
MAIOR QUALIDADE NA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL?
I. Vedação à instituição de tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, CF);

198
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
II. Garantia de processamento e julgamento por órgão jurisdicional cuja competência decorra de regras
contidas na CF (art. 5º, LIII, CF);
III. Garantia da imparcialidade do julgador, que não deve ser impedido ou suspeito.

409. QUANDO SE COMPROVA O EXERCÍCIO DE TRÊS ANOS DE PRÁTICA EM ATIVIDADE


PRIVATIVA DE BACHAREL EM DIREITO PARA FINS DE INVESTIDURA NO CARGO DE
JUIZ?
No momento da inscrição definitiva (MP também).

410. COMO SE DIVIDEM AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO?


#Garantias institucionais ou orgânicas: asseguradas ao Judiciário como órgão, dizendo respeito à sua
composição ou aparelhamento. A CRFB assegurou ao PJ garantias próprias, colimando conferir-lhe ampla
independência para o exercício de suas funções.
#Garantias subjetivas ou funcionais: relacionadas à garantia da autonomia da função, constituindo
para seus titulares direitos subjetivos (garantias dos membros da magistratura).

411. QUAIS SÃO AS GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO PODER JUDICIÁRIO?


• Capacidade de autogoverno: possibilidade de eleger seus próprios órgãos diretivos, organizar sua
estrutura administrativa interna, como suas secretarias, serviços auxiliares, e deliberar sobre assuntos próprios,
como realização de concurso, concessão de benefícios e licenças aos seus integrantes. Engloba também atribuições
inerentes ao poder de polícia e ao poder disciplinar;
• Autonomia financeira: o Judiciário elabora sua proposta orçamentária (art. 99, CF). Limites da LDO;
• Capacidade normativa: cada Tribunal tem Regimento Interno. Competência do respectivo Tribunal
(art. 96, I, a, CF);
• Inalterabilidade de sua organização: inalterabilidade de composição dos quadros dos Tribunais,
salvo mediante proposta dos próprios Tribunais (art. 96, II, CF);
• Escolha de seus dirigentes: art. 96, I, a, CF.

412. QUAIS SÃO AS GARANTIAS SUBJETIVAS DOS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO?


a) Vitaliciedade: adquirida após 2 anos de efetivo exercício (só aplicável para juízes de 1º grau –
quando assumem diretamente o Tribunal, já são vitalícios), não admite demissão por meio de PAD. Juiz só perde
o cargo por decisão judicial transitada em julgado.
b) Inamovibilidade: impede que membro do PJ seja transferido de um local para outro, nem mesmo
através de promoção, salvo de houver interesse público (votação de maioria absoluta membros Trib./CNJ).
c) Irredutibilidade de subsídios: no caso de empregados pode haver a redução por acordo ou
convenção coletiva. No caso de servidores em geral, isso não pode ocorrer.

199
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
413. QUEM MAIS, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ, TEM VITALICIEDADE?
- MP (art. 128, §5º, a, CRFB);
- TCU (art. 73, §3º, CRFB);
- Oficiais das Forças Armadas (art. 142, §3º, VI; CRFB); e
- Militares dos estados, DF e territórios (art. 42, §1º).

414. EM QUAIS SITUAÇÕES É POSSÍVEL A PERDA DO CARGO POR MEMBRO DO PJ?


#Regra: decisão judicial.
#Exceções:
- Membros do STF: podem perder o cargo por crime de responsabilidade julgado pelo SF.
- Membros do CNJ: podem perder o cargo por crime de responsabilidade julgado pelo SF.

415. QUEM TAMBÉM GOZA DE INAMOVIBILIDADE, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ?


Membros do MP e da Defensoria Pública

416. QUAIS SITUAÇÕES EXCEPCIONAM A GARANTIA DA INAMOVIBILIDADE?


Conforme julgado do STJ (ROMS 945/AM), o juiz só pode ser removido em três hipóteses:
1 - Quando aceita promoção;
2 - Quando pede remoção;
3 - Por interesse público.

417. QUEM TAMBÉM GOZA DE IRREDUTIBILIDADE, ALÉM DOS MEMBROS DO PJ?


- MP;
- Servidores em geral;
- Militares;
- Membros do TCU;
- Oficiais das Forças Armadas;
- MP.

418. QUAIS SÃO AS VEDAÇÕES AOS MEMBROS DO PJ? E AOS MEMBROS DO MP?
PODER JUDICIÁRIO MINISTÉRIO PÚBLICO
Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer
ou função, salvo uma de magistério (ADI 3126: O outra função pública, salvo uma de magistério. A
STF entendeu que o juiz pode exercer a função de proibição abrange o exercício da advocacia (os
magistério em mais de uma instituição, desde que membros que entraram antes do regime de 88
haja compatibilidade de horários). puderam optar pelo sistema anterior, que
permitia o exercício da advocacia, art. 29, §3º
ADCT – subsistiu até a EC nº 45/04) e participar de
sociedade comercial, na forma da lei.
200
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Receber custas ou qualquer participação em Receber custas ou qualquer participação em
processos (também para o juiz de paz). processos.
Atividade político-partidária Atividade político-partidária (prevista com a EC nº
45/04).
Receber qualquer tipo de auxílios ou contribuições Receber qualquer tipo de auxílios ou contribuições
Quarentena (três anos) Quarentena (três anos)

419. QUAL O FUNDAMENTO PARA O QUINTO CONSTITUCIONAL?


Afigura-se como um instrumento que proporciona uma RENOVAÇÃO E OXIGENAÇÃO aos Tribunais, haja
vista uma pluralidade de experiências vivenciadas por profissionais não oriundos da magistratura de carreira, ou
seja, contribuindo para novas experiências nos tribunais que não as do juiz de carreira. Pode-se mencionar o
caráter de democracia que o referido instituto representa para o PJ, tendo em vista as argumentações jurídicas
diferenciadas que podem ser abordadas por operadores com visões contrárias ao entendimento dos tribunais.

420. É POSSÍVEL O FRACIONAMENTO DE PRECATÓRIOS?


#Regra: não.
#Exceção: possível o fracionamento para as preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à
deficiência.

421. OS ESTADOS-MEMBROS PODEM EDITAR LEIS REDUZINDO A QUANTIA


CONSIDERADA COMO DE PEQUENO VALOR?
Sim, os Estados-membros podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para
fins de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88, pois este não delimita piso e, levando-se em consideração o IDH
dos Estados, é plausível tal redução. STF. Plenário. ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, J. 7/2/2018 (Info
890).

422. O STF É UMA CORTE CONSTITUCIONAL?


É guardião da Constituição, mas não é uma corte constitucional típica porque:
(i) Seus membros não têm mandato fixo;
(ii) Não é o único órgão no Brasil que exerce o controle de constitucionalidade;
(iii) Tem competência para prática de atos distintos do controle de constitucionalidade.

423. QUAL É A NATUREZA JURÍDICA DO CNJ? ELE TEM PODER JURISDICIONAL?


É órgão do Poder Judiciário, mas sem jurisdição, consubstanciando-se em órgão administrativo de controle
do Poder Judiciário e da atividade da magistratura.

424. QUAIS SÃO SUAS PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES?

201
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
a) Controlar a atuação administrativa do poder judiciário, revendo despesas realizadas pelos tribunais
e a utilização dos respectivos recursos orçamentários;
b) Controlar o cumprimento dos deveres dos juízes, inclusive de segundo grau de jurisdição.

425. DE QUEM É A COMPETÊNCIA PARA JULGAR DEMANDAS CONTRA O CNJ E O CNMP?


• MS, MI, HC e HD: STF
• Ações ordinárias: juiz federal (1ª instância)
STF. 2ª Turma. ACO 2373 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/8/2014. Info 755.

426. QUAL É A COMPOSIÇÃO DO STJ? QUEM ESCOLHE SEUS MEMBROS?


Quem escolhe os Ministros do STJ é o PR. No entanto, sua escolha é vinculada a categorias:
• 1/3 dentre os desembargadores dos Tribunais de Justiça (11)
• 1/3 dentre os desembargadores TRF’s (11)
• 1/3 dentre advogados e membros do MP (Lista sêxtupla - 5 de cada e 1 alterna: ora MP, ora
advogado) – Pode ser MPF ou MPE

427. QUEM É COMPETENTE PARA JULGAR O INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE


COMPETÊNCIA?
O STJ. Mas cuidado: apenas o incidente é de competência do STJ. A competência é deslocada para a Justiça
Federal - hipótese de exercício de jurisdição delegada da justiça federal.

PONTO 7 - DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS.

428.O QUE É O SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CRISES? QUAIS OS PRINCÍPIOS QUE O


REGEM? QUAIS INSTITUTOS O INTEGRAM?
O sistema constitucional das crises, definido como o conjunto ordenado de normas constitucionais, que,
informadas pelos PRINCÍPIOS da necessidade e da temporariedade, tem por objeto as situações de crises e por
finalidade a MANTENÇA ou o RESTABELECIMENTO da normalidade constitucional.
Os aludidos princípios determinam que:
a) os meios de resposta tenham sua executoriedade restrita e vinculada a cada anormalidade em particular
e, ainda, ao lugar e tempo específicos;
b) o poder de fiscalização política dos atos de exceção seja de competência do legislativo;
c) haja possibilidade de controle judicial, que deverá ser realizado a tempore e a posteriori.
Ex.: calamidades públicas, situações provocadas por conflitos sociais, como greves, manifestações,
situações de guerra.
Esse sistema é integrado pelo estado de defesa e pelo estado de sítio.

429. QUAIS OS SISTEMA DE RESTRIÇÕES A DIREITOS FUNDAMENTAIS QUE PODEM SER


UTILIZADOS POR UM SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CRISES?

202
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
- Sistema rígido: só pode haver restrições que estejam previstas expressa e taxativamente na CRFB. Grade
preocupação em preservar direitos fundamentais, não os deixando sujeitos à discricionariedade política. É a regra
no Brasil. Exceção: estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, II/CF, no qual não há rol expresso e
taxativo das restrições (situação em que caberá ao PR, com controle do CN, determinar as restrições adotadas).
- Sistema flexível: parte da premissa de que é inviável estabelecer previamente as exceções necessárias
para solucionar situação de crise. Não é adequado estipular um rol taxativo.

430. NO QUE CONSISTE O ESTADO DE DEFESA? A QUEM COMPETE DECRETÁ-LO?


É um estado de LEGALIDADE EXTRAORDINÁRIA. “Constitucionalização das circunstâncias excepcionais”
(Canotilho). Nele se organizam medidas destinadas a DEBELAR ameaças à ORDEM PÚBLICA ou à PAZ SOCIAL.
Caráter PREVENTIVO e REGIONAL (área restrita e determinada).
A medida é privativa do Presidente da República (art. 84, IX), que tem a faculdade de decretar o estado de
defesa.

431. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE DEFESA?


#Pressupostos materiais – ALTERNATIVOS (art. 136, CRFB):
- Grave e iminente instabilidade institucional; ou
- Calamidades de grandes proporções na natureza.
#Pressupostos formais – CUMULATIVOS:
- Oitiva do Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional (parecer meramente opinativo);
- Decretação do Presidente da República;
- Prazo de duração: 30 dias, prorrogável uma única vez;
- Especificação das áreas abrangidas;
- Especificação das medidas coercitivas

432. A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE DEFESA DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO DO CN?


Não há controle prévio do Congresso Nacional.

433. QUAIS AS FORMAS DE CONTROLE DO ESTADO DE DEFESA?


* Político: concomitante e posterior.
- Concomitante ou simultâneo (Art. 136, §§4º a 6º e 140 da CF): apreciação do decreto de
instauração/prorrogação, que lhe é submetido dentro de 24h da edição, acompanhado da respectiva
fundamentação (prazo p/ realização: 10 dias). Se em recesso, convocado extraordinariamente: 5 dias). A Mesa do
CN designa comissão (5 membros) para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas.

203
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
- Posterior (art. 141, PÚ, CF): cessados os efeitos do estado de defesa, as medidas aplicadas em sua vigência
serão relatadas pelo PR, em mensagem ao CN, com especificação e justificação dessas providências. O CN avalia
se houve arbítrio ou excesso >> responsabilização dos executores ou agentes pelos ilícitos.
* Jurídico: também poderá ser concomitante (ex: a prisão por crime contra o Estado deve ser comunicada
imediatamente ao juiz competente; é necessária autorização judicial para prisão ou detenção superior a 10 dias)
ou posterior (envolve a responsabilização de agentes e executores pela prática de atos ilícitos.
PJ poderá reprimir abusos/ilegalidades cometidas durante a execução das medidas do estado de defesa,
por meio de MS, HC. Análise do mérito discricionário por parte do Poder Judiciário é impossível.

434. QUAIS DIREITOS PODEM SER RESTRINGIDOS PELO ESTADO DE DEFESA?


a) de reunião;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
d) ocupação e o uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública;
e) prisão por crime contra o Estado ou outros motivos (período ñ superior a 10 dias, salvo autorização
judicial)

435. NO QUE CONSISTE O ESTADO DE SÍTIO? A QUEM COMPETE DECRETÁ-LO?


Medida de SUSPENSÃO TEMPORÁRIA e localizada de garantias constitucionais. + grave que o Estado de
defesa. É competência privativa do PR.

436. A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO DO CN?


No estado de sítio, o PR deve obrigatoriamente solicitar autorização do CN (que deverá autorizá-la por
maioria absoluta de cada uma das casas legislativas).

437. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA A DECRETAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO?


#Pressupostos materiais – ALTERNATIVOS (art. 137 da CF):
- comoção grave de repercussão nacional, caracterizada por séria crise capaz de COLOCAR EM RISCO AS
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS ou o GOVERNO LEGITIMAMENTE ELEITO ou a ocorrência de fatos que comprovem
a ineficácia das medidas tomadas durante o estado de defesa;
- declaração de estado de guerra pelo presidente da República ou resposta a agressão armada estrangeira.
#Pressupostos formais – CUMULATIVOS (arts. 137 e 138 da CF):
- audiência do Conselhos da República e de Defesa Nacional – manifestação opinativa, ñ vincula PR;
- solicitação ao CN de autorização (decretação/prorrogação);
- autorização por maioria absoluta dos membros do CN (art. 137, PÚ, parte final, CF);

204
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
- edição de decreto pelo PR (duração, medidas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais a
serem suspensas). Após a publicação do decreto, o PR designará o executor das medidas específicas e as áreas
abrangidas.

438. QUAL O PRAZO DE ESTADO DE SÍTIO?


- 30 dias prorrogável por iguais períodos: decretado por comoção grave de repercussão nacional ou
ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
- S/ limitação temporal (enquanto a medida for necessária): guerra.

439. QUAIS AS FORMAS DE CONTROLE DO ESTADO DE SÍTIO?


* Político: O CN realiza o controle político em três momentos:
a) prévio: decretação depende da autorização. Se negativo, será vinculante; se positivo, será discricionário.
b) concomitante: a Mesa do CN, ouvidos os líderes partidários, designará comissão composta por 5 de seus
membros para fiscalizar e acompanhar a execução das medidas (art. 140 da CF);
c) sucessivo: cessado o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo
Presidente, em mensagem ao Congresso, com especificação e justificação dessas providências.
* Jurisdicional: possível ao Poder Judiciário reprimir abusos/ilegalidades cometidas durante a execução das
medidas do estado de sítio.
A análise do mérito discricionário, por parte do Poder Judiciário, NÃO É POSSÍVEL.
Também é possível o controle jurisdicional posterior (art. 141 da CF).

440. CABE HC EM RELAÇÃO A PUNIÇÕES DISCIPLINARES?


A CRFB veda, mas isso não impede a utilização do habeas corpus para questionar a legalidade da punição
disciplinar, como no caso de incompetência da autoridade, falta de previsão legal, inobservância de formalidade
legais ou excesso de prazo da duração da medida restritiva de direito.
A vedação se aplica apenas ao mérito do ato.

441. O MILITAR PODE SE FILIAR A PP?


Não.

442. DIANTE DISSO, O MILITAR PODE SE CANDIDATAR A MANDATO ELETIVO?


Pode. Mas, tendo em vista a vedação à filiação à PP, esta não lhe será exigida como condição d elegibilidade.

443. CASO SEJA ELEITO, ELE PRECISA SE AFASTAR DA ATIVIDADE?


- Se contar menos de 10 anos de serviço, o militar deve se afastar da atividade;
- Se contar mais de 10 anos de serviço, o militar deve ser agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passar automaticamente para a inatividade no ato da diplomação.

205
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL

PONTO 8 - TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO: SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL (PRINCÍPIOS GERAIS


E LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR) E FINANÇAS PÚBLICAS (NORMAS GERAIS E
ORÇAMENTOS).
Obs: SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL (PRINCÍPIOS GERAIS E LIMITAÇÕS AO PODER DE TRIBUTAR) já foi
tratado de forma aprofundada no PONTO 1 de Direito Tributário.

444. QUAL O OBJETO DO ESTUDO DO DIREITO FINANCEIRO?


É a atividade financeira, entendida como o procedimento por meio do qual o poder público vai empreender
medidas para obtenção de receita e realização de despesa.

445. O QUE SE ENTENDE POR ATIVIDADE FINANCEIRA?


Consiste em obter (receita pública), criar (crédito público), gerir (orçamento público) e despender (despesa
pública) o dinheiro indispensável às necessidades, cuja satisfação o Estado assumiu e cometeu a outras pessoas
de direito público.

446. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE FINANCEIRA?


Em primeiro lugar, a atividade financeira não se confunde com as demais atividades do Estado, pois ela
será uma atividade PECUNIÁRIA de administração de recursos do patrimônio público.
Em segundo lugar, além de pecuniária, a atividade financeira é INSTRUMENTAL, porque propriamente
encontra sua razão de ser não por si só, mas sim para coletar recursos e meios em prol da execução das atividades
administrativas.
Em terceiro lugar, a atividade financeira é dotada de JURIDICIDADE, ideia na qual o Estado de direito se
apoiou em prol da segurança jurídica.
Em quarto lugar, a atividade financeira precisa ser dotada de JUSTIÇA FINANCEIRA, permitindo sua
convivência com as outras compreensões da própria organização do estado nacional.
Em quinto lugar, a atividade financeira será dotada de ECONOMICIDADE, de modo a observar não somente
a preservação da regularidade jurídica, mas inclusive, a lógica dos resultados. Essa característica questiona se o
Estado atingiu o maior resultado possível com os recursos disponíveis, papel que se espera do Estado, sobretudo
após a EC no 18/98.

447. QUAIS AS FONTES FORMAIS DO DIREITO FINANCEIRO?


As fontes consideradas primárias são a Constituição, a Lei Complementar Financeira (especial a LC
101/2000 e a Lei n. 4.320/64), Lei Ordinária (leis orçamentárias), Lei Delegada, Resolução do Senado Federal e
Medidas Provisórias. Destaca-se que a medida provisória pode versar sobre crédito extraordinário. Mas, para
tanto, é necessário haver URGÊNCIA e IMPREVISIBILIDADE e a situação caracterizada como tal deve se aproximar
dos exemplos trazidos pela Constituição. Segundo o STF, as situações não são taxativas.
Como fonte secundária enquadram-se os decretos e regulamentos presidenciais.

206
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
448. É POSSÍVEL O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS ORÇAMENTÁRIAS?
Antes, o STF não realizava o controle de constitucionalidade de leis orçamentárias ao argumento de tratar-
se de lei de efeitos concretos, sendo uma lei meramente formal. Era admitido apenas o controle difuso de
constitucionalidade, sendo vedado o controle abstrato de constitucionalidade. A partir do julgamento da ADI 4048
o STF revisou sua orientação e passou a permitir que leis orçamentárias fossem objeto de ação do controle
concentrado de constitucionalidade.

449. QUAL O PAPEL DO BANCO CENTRAL?


É o de emitir moeda. A Constituição proíbe o banco central de realizar operações de crédito com a
estrutura do poder público como um todo. Quer dizer, o banco central só se tem legitimidade constitucional para
fazer operações de crédito com instituições financeiras (exemplo: Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES), mas
não pode o banco central emprestar dinheiro para o INSS.

450. QUAL A ORIGEM DO “ORÇAMENTO”?


A origem do orçamento se dá a partir do século XIII e contempla duas situações: i) evolução no parlamento
inglês; ii) limitação do poder público. Num primeiro momento, orçamento era visto como algo que impunha limites
às despesas e, obviamente, fixava limites à arrecadação. Com as revoluções liberais ou burguesas e o surgimento
do Estado democrático de direito a partir do século XVII e século XVIII, o Estado passa a ser um garantidor mínimo
(Estado liberal) em razão da sua não intervenção, o que se denomina de Estado Gerdame ou absenteísta. Quando
o Estado passa a assumir outras funções, notadamente na virada no século XIX para o século XX, em razão inclusive
de grandes crises surgidas em virtude do modelo de imperialismo econômico, houve um aumento do papel em
que ele desempenhava, já que ele passa a ser chamado a responder aos direitos de segunda dimensão, sendo
obrigado a conviver também com os problemas sociais da época. A relevância disso é que, num primeiro
momento, a atividade financeira se resumia em receita e despesa, em que a despesa era contida pela dose de
receita que se tinha, de modo que a resposta que o Estado liberal dava era: só se podia gastar aquilo que recebesse.
O problema é que a experiência mundial começou a demonstrar situações deficitárias que procuravam
respostas diversas. Ao contrário, passa-se a traçar um cenário de orçamento cíclico, em que homens não
enxergassem apenas, por exemplo, o que hoje se vê em 01 ano, mas sim uma situação de modo a identificar os
ciclos. Evidentemente, essa característica mais marcada a partir do início do século XX fez com que se tivesse toda
uma preocupação de reconhecer as operações de crédito.

451. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DO ORÇAMENTO?


Formalmente, o orçamento é uma lei, posto originar-se de um processo legislativo (artigos 165 e 166 da
CRFB/88) e, tanto é assim, que o STF o admite como objeto de controle de constitucionalidade abstrato. A lei
orçamentária é uma lei ordinária.

207
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Em contrapartida, materialmente, o orçamento é um ato de administração, visto que viabiliza a execução
das medidas administrativas do Estado.
Quanto à sua natureza, prevaleceu a ideia de orçamento como ato-condição, no sentido de que a
administração, para que possa implementar as suas medidas, precisa, antes de tudo, ter disponibilidade de recurso
orçamentário.

452. NO ORÇAMENTO COMO ATO CONDIÇÃO O QUE SE VEDA?


No orçamento como ato-condição são vedados:
a) o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;
b) a realização de despesas ou assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou
adicionais (artigo 167, I e II da CRFB/88).
Não apenas como ato-condição, o orçamento é rígido (orçamento-rigidez), pois o Executivo na elaboração
e na modificação do orçamento não exerce uma atividade ilimitada e sem controle, uma vez que a CONSTITUIÇÃO
VEDA:
a) a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos
recursos correspondentes. Mas vale lembrar que o crédito extraordinário é autorizado constitucionalmente por
meio de medida provisória;
b) a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para
outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa.

453. CITE OS PRINCIPAIS PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS


Pode ser citado os princípios da anualidade, unidade, universalidade e exclusividade.

454. O QUE É O PRINCÍPIO DA ANUALIDADE/PERIODICIDADE?


O orçamento é elaborado para vigorar por um determinado período de tempo, que, em regra, é de um ano
(exercício financeiro). O exercício financeiro coincidirá com o ano civil.
Para a anualidade tem-se a ideia de que todo ano deve ser feita uma lei que produzirá efeitos no ano
seguinte. Essa certeza combina com a máxima de planejamento, mas tem uma visão pragmática que não pode ser
considerada totalmente imperiosa.
Mesmo a Constituição já admite que investimentos superiores possam estar previstos no PPA (art. 167,
§1o), o que não dispensará a correspondente consignação a cada ano.

455. O QUE É O PRINCÍPIO DA UNIDADE?


O orçamento público é um só por ente federativo (daí se dizer que o orçamento público é UNO), ainda que
seja dividido em partes na Lei Orçamentária Anual - LOA (orçamento fiscal, de investimentos e da seguridade
social), sendo incorreto dizer que três ou mais orçamentos públicos.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
456. O QUE É O PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE?
A lógica da unidade acaba carregando a determinação de trazer ao orçamento todas as verbas, despesas e
concepções possíveis. Nesse contexto, além do princípio da unidade, o orçamento será acompanhado do princípio
da universalidade. Sendo a LOA uma só, deverá conter todas as receitas e despesas, abraçando toda a atividade
financeira do Estado.
Então, a LOA vai conter todas as receitas e despesas, tanto da Administração Pública Direta quanto da
Indireta (basicamente as fundações públicas, as estatais dependentes e as autarquias, excetuando-se as de
natureza especial) para possibilitar o controle sobre a gestão pública.

457. O QUE É O PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE?


O princípio da exclusividade consiste na proibição das caudas orçamentárias. Há a ideia de que o que a
exclusividade tende a evitar é a colocação de matérias estranhas à perspectiva orçamentária.
Por outro lado, a doutrina identifica situações excepcionais que não contrariam a lógica orçamentária
porque são produzidas dentro do próprio ambiente financeiro, quais sejam: Autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito ainda que por antecipação de receita orçamentária.

458. O QUE É O PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE?


É um princípio orçamentário com amparo constitucional que concerne à despesa. Isso porque as despesas
são objeto de uma classificação categórica, nos termos do legislador infraconstitucional. Isso significa que toda e
qualquer despesa tem uma dotação de recursos pré-estabelecidos. Conforme a doutrina, significa a certeza de
que toda e qualquer despesa deve ter uma discriminação precisa, clara, determinada, identificada e detalhada de
quais parcelas serão dadas para cada uma delas. Assim, existirá ali uma previsão relacionada à dotação.

459. O QUE É RESERVA DE CONTINGÊNCIA?


É possível ter a criação de créditos extraordinários que surgirão de cenários imprevisíveis. A reserva de
contingência constitui exceção ao princípio da especialidade, porquanto não há necessidade de se especificar, de
forma detalhada, os valores estimados para aquela reserva que será utilizada em casos de extrema necessidade
em despesas imprevistas.

460. O QUE É EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO


O art. 4º, I da Lei de Responsabilidade Fiscal passou a exigir que a LDO imponha a LOA o equilíbrio
orçamentário entre receitas e despesas. Assim, não é possível dentro do ordenamento jurídico nacional a edição
de uma LOA que contenha mais despesa do que receita. Há uma possível mitigação de tal princípio por conta das
próprias características extraídas do art. 166 da CRFB/88. Eventualmente é possível que uma LOA saia com mais
receita do que despesa.

209
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Embora não seja um princípio de índole explícita constitucional, é um princípio previsto no ordenamento
brasileiro, na LRF.

461. O QUE É O PLANO PLURIANUAL?


É uma lei que trata das DIRETRIZES, OBJETIVOS e METAS, e para facilitar a memorização basta se lembrar
do acrónimo DOM. Como o plano plurianual é um plano de médio prazo, razão pela qual ele será uma norma que
trará os programas de duração continuada, bem como terá como conteúdo as despesas de capital que
ultrapassem um exercício financeiro. PPA será desenhado para quatro exercícios nunca coincidentes com o
mandato do chefe do Executivo.

462. O QUE SIGNIFICA A LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS?


A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as METAS e PRIORIDADES da administração pública
federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei
orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das
agências financeiras oficiais de fomento.

463. O QUE SE COMPREENDE POR LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL?


A lei orçamentária anual compreenderá:
I - ORÇAMENTO FISCAL referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração
direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
II - ORÇAMENTO DE INVESTIMENTO das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a
maioria do capital social com direito a voto;
III - ORÇAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da
administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídas e mantidas pelo poder Público.
Enquanto a LOA cuida das opções de aplicação dos recursos, a LDO cuida das metas e prioridades e
orientações, razão pela qual essa norma deve ser produzida no primeiro período legislativo.
A LDO, tal qual a LOA, é uma lei feita para cada exercício e ambas diferenciam-se da PPA, a qual desenha
os objetivos mais macros e com duração de quatro anos nunca coincidentes com o mandato eletivo do chefe do
executivo.
PONTO 9 - ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA: PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE
ECONÔMICA, POLÍTICA URBANA, POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA.

464. QUEM COMPETE LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO?


Nos termos da CF, a competência para legislar sobre direito econômico é concorrente da União, dos Estados
e do DF, devendo a União estabelecer normas gerais sobre a matéria, com exceção do art. 22 ao dispor que
compete privativamente à União legislar sobre: sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; comércio exterior e interestadual.
210
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Embora a CF não mencione os municípios no caput do art. 24, alguns autores (CESPE e FGV se filiam)
defendem que eles podem legislar sobre direito econômico, baseando-se em uma interpretação sistemática do
art. 30, II, da CF.

465. O QUE É ATIVIDADE ECONÔMICA E QUAL O SEU OBJETIVO?


Trata-se da ação destinada a produzir, distribuir ou consumir riquezas com o intuito de satisfazer
determinadas necessidades.
A atividade econômica preocupa-se coma organização dos fatores de produção (capital, trabalho,
tecnologia) para produzir bens, visando a satisfação das necessidades. Em outras palavras, é toda ação destinada
a produzir, distribuir ou consumir riquezas, e dessa forma satisfazes determinadas necessidades.

466. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS DA ORDEM CONSTITUCIONAL


ECONÔMICA?
São eles: Soberania Nacional, Propriedade Privada, Função Social da Propriedade, Livre Concorrência,
Defesa do Consumidor, Defesa do Meio Ambiente, Redução das Desigualdades Regionais e Sociais, Busca do Pleno
Emprego e Tratamento favorecido às empresas nacionais de pequeno porte.

467. DO QUE SE TRATA A LIBERDADE ECONÔMICA?


Trata-se da liberdade da empresa para atuar no mercado, bem como a liberdade de concorrência. A regra
é a livre iniciativa, mas, com fundamento na defesa da coletividade, o Estado pode restringir o exercício da
atividade econômica, impondo os requisitos mínimos necessários para o exercício da atividade econômica. Assim,
a autorização é um ato jurídico negocial aplicável àquelas atividades econômicas que estejam sujeitas ao poder de
polícia estatal.

468. O QUE É O PRINCÍPIO DA IGUALDADE ECONÔMICA?


Trata-se de uma igualdade formal, que busca nivelar os agentes que atuam na ordem econômica,
possibilitando que àqueles que não detém parcela significativa do mercado, também possa participar. A busca
dessa igualdade justifica a implementação de políticas que favoreçam as microempresas e empresas de pequeno
porte. Ex: benefícios fiscais e simplificação de obrigações tributárias.
A CF também prevê a igualdade formal entre o particular e o estado no exercício da atividade econômica
(art. 173, § 1, II, e § 2)

469. O QUE É DEMOCRACIA ECONÔMICA?


Guarda relação com as políticas públicas, que deverão garantir liberdade de iniciativa e emprego, dando
chances iguais de acesso a todos que se encontrem na mesma situação fática e jurídica. Deve ser pautado pela
valorização do trabalho humano, pela defesa do consumidor e pela busca do pleno emprego.

470. QUAL A DIFERENÇA DE INTERVENÇÃO E ATUAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA?


211
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Eros Grau diferencia Intervenção de Atuação baseado na ideia de que intervenção pressupõe a
intromissão de alguém em uma área que não é a sua e, por esse motivo, ele entende que não é adequado se falar
em intervenção do Estado no domínio econômico, pelo fato de existir uma margem em que o Estado pode atuar
na economia. Assim, segundo Eros Grau, prevalece o termo “atuação”.
A atuação tem sua correspondência, por exemplo, na atuação do Estado no que diz respeito a serviços
públicos. O serviço público, como uma atividade necessária a satisfazer necessidades humanas, seria uma atividade
econômica.
A intervenção do Estado na economia se faz necessária quando falamos em atividade econômica em
sentido estrito (stricto sensu), que é aquela atividade que é precípua dos particulares e se insere no âmbito da
livre iniciativa – o Estado só poderá atuar diretamente como agente econômico nesse mercado, que é típico dos
particulares, de maneira excepcional, e por isso denomina-se intervenção e pode ser dada de maneira direta (com
o Estado exercendo a atividade econômica) ou indireta (pressupõe atividade do Estado como agente normativo e
regulador da atividade econômica, mas sem exercer diretamente a atividade).
Com relação à intervenção direta, onde o Estado exerce a atividade econômica, temos a atividade
econômica em lato sensu, que compreende duas espécies:
a) Serviço público – que é o âmbito de atuação do
Estado;
b) Atividade econômica em sentido estrito (stricto sensu) – que é a atividade econômica prestada em
regime de competição.

471. COMO OCORRE A ATIVIDADE ECONÔMICA EM SENTIDO ESTRITO (STRICTO SENSU)?


Esse exercício, por parte do Estado, é excepcional, pois o papel do Estado no domínio econômico é o
gerencial e normativo, de orientar os particulares em certas condutas e reprimir abusos ao poder econômico. A
regra é a exploração de atividade econômica pelos particulares, em um contexto de livre iniciativa.
Existem duas possibilidades de exercício da atividade econômica:
a) Em regime de Competição, também
chamado de “participação” (art. 173);
b) Em regime de Monopólio, que também recebe o nome de exercício da
atividade econômica do Estado por “absorção” (art. 177).
Podemos observar que o Estado só pode atuar neste âmbito, em sentido estrito, se necessário aos
imperativos da segurança nacional ou relevante interesse coletivo.

472. EXISTE ALGUMA DIFERENÇA DE TRATAMENTO DE REGIME JURÍDICO DAS


EMPRESAS PÚBLICAS QUE EXERCEM ATIVIDADE ECONÔMICA PARA AQUELAS QUE
SOMENTE PRESTAM SERVIÇOS PÚBLICOS?
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade jurídica de
direito privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam atividade econômica sem
monopólio e com finalidade de lucro. (Info 910 do STF).

212
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Nesse sentido, temos também julgados do STF que estabelece que as sociedades de economia mista e
empresas públicas que explorem atividade econômica em sentido estrito estão sujeitas ao regime jurídico próprio
das empresas privadas.

473. O REGIME DE PRECATÓRIOS É APLICÁVEL PARA AS EMPRESAS PÚBLICAS?


Em regra, não. Embora, em regra, as sociedades de economia mista e as empresas públicas estejam
submetidas ao regime próprio das pessoas jurídicas de direito privado, o STF tem estendido algumas prerrogativas
da Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços públicos. Exemplos:
Correios (ECT), Casa da Moeda, Infraero e companhias estaduais de saneamento básico (nas hipóteses em que o
capital social seja majoritariamente público e o serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de
lucro).

474. O QUE É REURB (REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA) E QUAIS SUAS


MODALIDADES?
A Reurb é um instrumento jurídico de política urbana, um conjunto de normas gerais e procedimentos, que
abrange medidas jurídicas, ambientais, urbanísticas e sociais, com vistas a tirar da informalidade determinados
núcleos urbanos e seus ocupantes.
O mencionado REURB possui duas modalidades: o de interesse social (Reurb-S) e o de interesse específico
(Reurb-E).
O Reurb-S é de regularização fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados
predominantemente por população de baixa renda, assim declarados em ato do Poder Executivo municipal.
O Reurb-E é de regularização fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados por população
não qualificada na hipótese da REURB-S.

475. QUAIS OS LEGITIMADOS PARA REQUEREREM REURB?


São legitimados concorrentes:
o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretamente ou por meio de entidades da
administração pública indireta;
o Os seus beneficiários, individual ou coletivamente, diretamente ou por meio de cooperativas
habitacionais, associações de moradores, fundações, organizações sociais, organizações da
sociedade civil de interesse público ou outras associações civis que tenham por finalidade atividades
nas áreas de desenvolvimento urbano ou regularização fundiária urbana; 

o Os proprietários de imóveis ou de terrenos, loteadores ou incorporadores; 

o A Defensoria Pública, em nome dos beneficiários hipossuficientes; e 

o O Ministério Público. 


213
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Os legitimados poderão promover todos os atos necessários à regularização fundiária, inclusive requerer
os atos de registro.

476. É POSSÍVEL REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP – ÁREA DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE?
SIM, a Lei 13465/2017 expressamente permitiu a regulação fundiária urbana (Reurb) de núcleos urbanos
informais em áreas de preservação permanente, hipótese na qual é obrigatória a elaboração de estudos técnicos
(art. 11, § 2).

477. NO QUE CONCERNE O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA?


O “Minha Casa Minha Vida” é, antes de tudo, uma “marca”, sob a qual se organiza uma série de
subprogramas, modalidades, fundos, linhas de financiamento, tipologias habitacionais, agentes operadores,
formas de acesso ao produto “casa própria” – esta sim uma característica que unifica as diferentes experiências.
O Minha Casa Minha Vida é, na origem, um programa econômico. Foi concebido pelos ministérios de
“primeira linha” – Casa Civil e Fazenda – em diálogo com o setor imobiliário e da construção civil, e lançado como
Medida Provisória (MP 459) em março de 2009. Após, houve a promulgação da Lei 11.977/2009.

478. QUAL A FINALIDADE DO PMCMV?


As finalidades previstas na Lei 11.977/2009 são: i) criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição
de novas unidades habitacionais; ou ii) requalificação de imóveis urbanos; e iii) produção ou reforma de habitações
rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais).

479. EM CASO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, SEPARAÇÃO OU DIVÓRCIO COM


QUEM FICA A PROPRIEDADE DO IMÓVEL?

Com a mulher, independente do regime de bens, caso comprado na constância do casamento ou da união
estável (art. 35-A, Lei 11.977/2009), SALVO se se houve, no caso, a utilização de recursos do FGTS ou se houver
filhos do casal e a guarda ficar com o marido ou companheiro.

480. É POSSÍVEL O PODER PÚBLICO REALIZAR REMOÇÕES COMPULSÓRIAS DE IMÓVEIS?


Sim. Contudo, os programas de remoções compulsórias para implementação de projetos viários, programas
de desfavelização com eliminação física das comunidades, sem previsão de atendimento habitacional, projetos
para implantação de empreendimentos nocivos ao ambiente, com reflexos na integridade física, psíquica e
patrimonial de população hipossuficiente, compreendem exemplos de políticas públicas que, sob o manto legal,
vulneram a proteção do direito à moradia da população de baixa renda.

214
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
As pessoas em despejo forçado são hipervulneráveis (segurança da posse). Trata-se de uma medida
causadora de um IMPACTO DESPROPORCIONAL, sobretudo quando atinge crianças, adolescentes, idosos,
deficientes, mulheres, indígenas, demais pessoas estigmatizadas.

481. O QUE É A TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL?


A teoria do impacto desproporcional, adotada no Brasil, permite que se constatem violações ao princípio
da igualdade quando os efeitos práticos de determinadas normas, de caráter aparentemente neutro, causem dano
excessivo, ainda que não intencional, aos integrantes de determinados grupos vulneráveis.
Segundo o Ministro aposentado Joaquim Barbosa, a teoria do impacto desproporcional consiste em: “Toda
e qualquer prática empresarial, política governamental ou semigovernamental, de cunho legislativo ou
administrativo, ainda que não provida de intenção discriminatória no momento de sua concepção, deve ser
condenada por violação do princípio constitucional da igualdade material se, em consequência de sua aplicação,
resultarem efeitos nocivos de incidência especialmente desproporcional sobre certas categorias de pessoas” (Ação
afirmativa e princípio constitucional da igualdade, Renovar, 2001, p. 24)
A teoria surgiu nos Estados Unidos, em 1971, com o caso Griggs x Duke Power Co. Logo, sua construção é
jurisprudencial. Questionou-se o critério de promoção praticado pela empresa – um teste de conhecimento gerais,
não relacionados ao cargo – que seria desfavorável a trabalhadores negros, por terem sido obrigados a estudar
em escolhas segregadas de pior qualidade. Apesar de aparentemente neutro, o teste aplicado perpetuava a
situação de inferioridade dos negros, tendo sido vedado pela Suprema Corte. A Corte Europeia também aplicou a
teoria em Bilka- Kaufhaus v. Von Hartz, mas em relação a desigualdade de gênero.

482. AS OPERAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE IMÓVEIS DESAPROPRIADOS PARA FINS DE


REFORMA AGRÁRIA SÃO ISENTAS DE TRIBUTOS?
Não são isentas de tributos (gênero), mas apenas de impostos (espécie), federais, estaduais e municipais.

483. ADMITE-SE DESAPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE PRODUTIVA E DE PEQUENA E


MÉDIA PROPRIEDADE RURAL?

De desapropriação para fins de necessidade ou utilidade pública, sim. A não suscetibilidade de


desapropriação nesses casos é apenas para fins de reforma agrária.

484. QUAIS OS REQUISITOS PARA A DESAPROPRIAÇÃO URBANÍSTICA SANCIONATÓRIA?


Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação
de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com
pagamento em títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de
resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.

215
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
485. O QUE O ESTATUTO DAS CIDADES ACRESCENTA ALÉM DO QUE PREVÊ A
CONSTITUIÇÃO?

Além dos requisitos previstos no art. 182 da Constituição Federal para a desapropriação devem ter
decorrido 05 anos de IPTU progressivo e Juros Legais de 6% ao ano (no caso de desapropriação por descumprimento
da função social propriedade urbana. Lembre-se que na desapropriação comum/ordinária o valor dos juros legais
é de 2%).
Ademais, destaca-se que nessa modalidade de desapropriação não incidem juros compensatórios! Os juros
compensatórios não incidem sobre a desapropriação de imóvel urbano que não cumpre a sua função social,
somente na desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou de interesse social. Além de que os impostos
não podem ser pagos com o valor que se tem a receber (não pode compensar com crédito tributário).

486. É NECESSÁRIO ALGUM REQUISITO PARA QUE HAJA O CONFISCO DE BENS OU O BEM
SERÁ CONFISCADO DESDE QUE RELACIONADO AO TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES E AO TRABALHO ESCRAVO?
Não, o confisco independe de quaisquer requisitos além dos previstos no art. 243 da CF, bastando a
demonstração de que está relacionado à exploração de trabalho escravo ou tráfico de drogas.

487. A RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL EM CASO DE CONFISCO OU


EXPROPRIAÇÃO-SANÇÃO É SUBJETIVA OU OBJETIVA?
Segundo o STF, em sede de repercussão geral (info 851), a responsabilidade do proprietário é subjetiva (e
não objetiva), mas há uma inversão do ônus da prova (o proprietário deve comprovar que não incorreu em culpa).
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário comprove
que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.

488. EM CASO DE CONFISCO OU EXPROPRIAÇÃO-SANÇÃO SERÁ DECRETADA A PERDA


DE TODO O IMÓVEL OU APENAS DA PARCELA EM QUE HÁ PRÁTICA DA CONDUTA
ILEGAL? QUAL A DESTINAÇÃO DOS BENS APREENDIDOS E DO IMÓVEL USADO DE
FORMA ILÍCITA?
Conforme entendimento do STF, a expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que o cultivo
ilegal ou a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele. Ademais, não cabe indenização
ao proprietário.
Em se tratando de bens móveis, o poder público deverá utilizá-los no combate ao tráfico de drogas ou
recuperação de viciados e, no caso de imóveis, serão destinados ao assentamento de colonos que farão a plantação
de gêneros alimentícios e medicamentos. Assim, é vedada a incorporação destes bens ao patrimônio público.
No tocante à exploração de trabalho escravo, parte da doutrina entende que se trata de uma norma de
eficácia limitada (“na forma da lei”). Assim, enquanto não houver a edição desta lei, a desapropriação sob este
fundamento não poderá ser adotada.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A redação anterior falava em glebas de terras. Gleba traduz imóvel rural – sempre! E o dispositivo anterior
se referia apenas a cultivo de plantas drogas psicotrópicas e drogas afins. A EC 81 ampliou a desapropriação
confiscatória para abranger, também, as propriedades urbanas e propriedades com exploração de trabalho
escravo. A Constituição define a destinação que será dada a propriedade desapropriada: reforma agrária e a
programas de habitação popular.

489. QUEM POSSUI COMPETÊNCIA PARA DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL


PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA?
Compete privativamente à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel
rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
emissão, e cuja utilização será definida em lei.
O título da dívida agrária abrange apenas a terra nua, pois as benfeitorias úteis e necessárias serão pagas
em dinheiro.

490. SUPONHAMOS QUE O EXPROPRIADO FOI SUCUMBENTE, OU SEJA, A INDENIZAÇÃO


FOI FIXADA PELO JUIZ EM VALOR INFERIOR AO OFERECIDO PELO INCRA. NESTE CASO,
ELE TERÁ QUE PAGAR HONORÁRIOS PERICIAIS AOS ASSISTENTES TÉCNICOS DO
INCRA E DO MPF?
Não, conforme entende o STJ, nas ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma
agrária descabe a restituição, pelo expropriado sucumbente, de honorários periciais aos assistentes técnicos do
INCRA e do MPF.
Os assistentes técnicos do INCRA e do MPF são servidores de carreira das instituições. Não foram, portanto,
contratados de maneira particular para a realização do acompanhamento deste trabalho pericial. Logo, o
expropriado não deverá pagar qualquer valor a este título.
Assim, sendo os assistentes técnicos servidores de carreira da Administração Pública ou do MP, não é
devido o pagamento de honorários periciais pelo expropriado sucumbente, considerando que tais profissionais
recebem remuneração por esse serviço em razão do cargo que ocupam.
PONTO 10 - ORDEM SOCIAL: SEGURIDADE SOCIAL, SAÚDE, PREVIDÊNCIA SOCIAL E
ASSISTÊNCIA SOCIAL; EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO; MEIO AMBIENTE; FAMÍLIA,
CRIANÇA E ADOLESCENTE, JOVEM E IDOSO; ÍNDIOS.

491. O QUE É SEGURIDADE SOCIAL?


A seguridade social é o conjunto de ações do Estado no sentido de atender às necessidades básicas
de seu povo nas áreas de Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Compete à União legislar privativamente
sobre essa matéria (art.22, inciso XXIII, CF/88). Significa oferecer proteção aos indivíduos em casos de contingência
social para que possam ter o mínimo de paz e segurança, mantendo um padrão de dignidade de vida para passar
por aquela situação de risco.
217
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Esses três direitos (saúde; previdência e assistência) formam um conjunto que visa a garantir para
materializar a proteção para um valor constitucional que é a SEGURANÇA SOCIAL.

492. QUAL O OBJETIVO DA SEGURIDADE SOCIAL?


É garantir o valor da segurança, essencial ao Estado Democrático de Direito, na sua dimensão de segurança
social.

493. QUAL OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL?


São os seguintes princípios: Universalidade da Cobertura (a SS deve alcançar todos os riscos sociais);
Universalidade do Atendimento (a SS deve alcançar todas as pessoas); Seletividade e Distributividade na
Prestação dos Benefícios e Serviços; Uniformidade e da Equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais; Irredutibilidade (nominal) do valor dos benefícios; Equidade na forma de participação no custeio;
Diversidade da base de Financiamento; e Caráter Democrático e Descentralizado da Administração.

494. O QUE SIGNIFICA A PROTEÇÃO À SAÚDE?


A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem
à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

495. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO À SAÚDE?


Uma corrente de pensamento argumenta que, pela redação do artigo 196, trata-se de norma de eficácia
limitada de natureza programática, o que implicaria aplicabilidade mediata e, para alguns, inviabilizaria a sua
cobrança direta perante o Poder Judiciário em caso de ausência de espécie infraconstitucional – lei, decreto ou
portaria, por exemplo – que concretize a política pública.
Outra corrente, por seu turno, afirma que se trata de direito fundamental, e, segundo preceito expresso do
artigo 5º, parágrafo 1º, da Constituição, “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata”. Segundo essa corrente, o direito à saúde tem aplicabilidade imediata e, inclusive, para certos
autores, eficácia plena.
O melhor entendimento é o ponto médio entre os anteriores: o direito à saúde é norma programática –
pois é o que deflui naturalmente da redação do preceito –, porém com máxima efetividade e possibilidade de
concretização pelo Judiciário em caso de inércia do Administrador, nos termos do artigo 5º, parágrafo 1º, da Carta
Maior.
A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito
à saúde como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE
685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/03/2013).

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Para alcançar esse objetivo, a Carta Constitucional determinou a criação de um sistema único
de saúde (SUS), que tenha como uma de suas diretrizes o “atendimento integral” da população (art. 198, II, da
CF/88).

496. COMO SE ESTRUTURA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE?


As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único de saúde, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única
em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo
dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade (art. 198, CF)

497. QUAIS OS REQUISITOS ATUAIS PARA O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PELO


PODER PÚBLICO?
A partir de 4/5/2018 a concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a
presença cumulativa dos seguintes requisitos: a) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e
circunstanciado expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; b)
incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; c) existência de registro do medicamento
na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
A mencionada data se justifica em razão da decisão do STJ, em sede de recurso repetitivo, que modulou os
efeitos da sua decisão, de forma que os requisitos acima elencados sejam exigidos somente quanto aos processos
distribuídos a partir da data da publicação do acórdão, ou seja, 4/5/2018.
Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior a 4/5/2018, é exigível apenas um requisito que
se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a demonstração da imprescindibilidade do medicamento.

498. O QUE É USO OFF-LABEL DE MEDICAMENTO?


Off-label é uma expressão em inglês que, em tradução literal, significaria “fora de indicação”.
Para que um medicamento seja fabricado ou comercializado no Brasil, ele precisa de registro (autorização)
na Anvisa. Ao pedir o registro de um medicamento, o fabricante ou responsável apresenta à autarquia as
indicações daquele remédio, ou seja, para que enfermidades a droga foi testada e aprovada. Essas indicações (e
sua respectiva eficácia) são baseadas em pesquisas e testes que levam anos para serem concluídos.
Ocorre que, muitas vezes, um medicamento que foi planejado para determinada finalidade, quando entra
no organismo humano, acaba trazendo outros benefícios que não haviam sido previstos. Esse efeito inicialmente
não previsto é percebido pelos médicos, que passam a receitar aquele medicamento não apenas para aquela
indicação inicialmente pensada e sim para outra finalidade que não havia sido prevista.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Quando isso ocorre, dizemos que há a prescrição e o uso do medicamento off-label, ou seja, fora da sua
indicação. Assim, o medicamento off-label é aquele cujo médico prescreve para uma determinada finalidade que
não consta expressamente na sua bula.

499. O PACIENTE PODE EXIGIR DO PODER PÚBLICO O FORNECIMENTO DE MEDICAMNTE


PARA USO “OFF-LABEL”?
Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para uso
off-label. Excepcionalmente, todavia, será possível que o paciente exija este medicamento caso esse determinado
uso fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA. Em outras palavras, o requisito do registro na
ANVISA afasta a possibilidade de fornecimento de medicamento para uso off-label, salvo se autorizado pela
ANVISA.

500. O QUE É PREVIDÊNCIAL SOCIAL? E QUAL O SEU REGIME?


Trata-se de um seguro social no qual a pessoa deverá pagar contribuições para estar assegurado. O
pagamento das contribuições, no entanto, não garante o recebimento do benefício e sim a proteção, caso ocorra
o risco.
O regime geral é de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial. Esse regime tem como autarquia federal responsável o INSS desde 1990.

501. QUEM SÃO OS BENEFICIÁRIOS DO REGIME PRÓPRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL?


Os beneficiários do RGPS se dividem em segurados e dependentes.
Os segurados são as pessoas físicas que mantêm relação jurídica de direito público com a Previdência Social,
pagando, em regra, contribuições e fazendo jus aos benefícios e serviços, se preenchidos os requisitos.
Pela própria definição, tangencia-se o princípio da obrigatoriedade da filiação, pois esta é compulsória.
Tem-se também o princípio da territorialidade da filiação, pois quem exerce trabalho remunerado no Brasil
e não seja servidor efetivo/militar, é segurado obrigatório.
Os segurados se dividem em obrigatórios e facultativos.
Os Segurados Obrigatórios são todos aqueles que trabalham e auferem renda, mesmo que sem registro em
sua CTPS e mesmo que seja uma empresa pirata, é segurado obrigatório para a previdência social.
O segurado facultativo, por sua vez, são os indivíduos que não exercem atividade laboral e não estão
abarcados pelo RGPS ou outro regime de previdência, é basicamente o indivíduo sem cobertura previdenciária
alguma. Este indivíduo, pelo princípio chamado Universalidade da Cobertura, pode facultativamente aderir ao
RGPS.
Já os dependentes (econômicos) têm uma relação derivada com a Previdência Social advinda da filiação do
segurado. Estes fazem jus aos benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão (benefícios), bem como a serviço
social e reabilitação profissional (serviços).

220
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Os dependentes são beneficiários indiretos da Previdência Social. São três categorias:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21
(vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental(em qualquer grau) ou deficiência
(física ou sensorial) grave;
Neste caso, a dependência econômica é presumida e absoluta, não admitindo prova em sentido contrário.
Porém há uma exceção de acordo com a juris da TNU, que é o caso do filho inválido em que a invalidez tenha
ocorrido após ele ter completado 21 anos.
II - os pais; (Necessário comprovação de dependência econômica, porém não precisa ser absoluta e total).
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;

502. QUAIS OS DOIS MOVIMENTOS DE REFORMA DOS MODELOS DE PREVIDÊNCIA


SOCIAL?
É a reforma estrutural e reforma não-estrutural. Esta última busca o aperfeiçoamento do sistema público,
com o fito de fortalecê-lo financeiramente a longo prazo. Já as reformas estruturais visam modificar
radicalmente o sistema público, seja introduzindo um componente privado como complemento ao público, seja
criando um sistema privado que concorra com o público.

503. O QUE SE ENTENDE POR ASSISTÊNCIA SOCIAL?


A assistência social existe para resgatar o ‘status’ de cidadania daquele indivíduo que está alijado do mínimo
à sua subsistência.
Na assistência – que também é universal (mitigada – somente daqueles que dela necessitar) e gratuita – a
cobertura é concedida ao que tiver necessidade.
São diretrizes para a organização das ações governamentais na área da assistência social: a descentralização
política-administrativa e a participação, por meio de organizações representativas.

504. O QUE É O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC)?

É a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provido por sua família.
Destaco que o INSS cuida de Previdência e não da assistência. Porém, o Decreto 6.214/07 delegou ao INSS
a gestão do BPC. O dinheiro sai da União e quem operacionaliza é o INSS, assim, quem responde judicialmente é o
INSS e a União não tem legitimidade passiva nessas demandas.
Em termos populares, o BPC é conhecido como LOAS.
A Lei prevê que o benefício será suspenso quando a pessoa com deficiência exercer atividade remunerada,
inclusive na condição de MEI. Extinta a relação de trabalho e encerrado o pagamento do seguro-desemprego, não

221
Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
tendo o beneficiário adquirido direito a benefício previdenciário, poderá ser requerida a continuidade do
pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de perícia médica ou reavaliação. A contratação de pessoa
com deficiência como aprendiz não acarreta a suspensão do benefício, limitado a 2 (dois) anos o recebimento
concomitante da remuneração e do benefício. Essas são as regras peculiares do LOAS deficiente.
A lei prevê que o benefício deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da continuidade das
condições que lhe deram origem. O professor destaca a edição de uma Medida Provisória – 767/2017 que previu
a possibilidade de revisão para reavaliação em qualquer tempo na aposentadoria por idade e no auxílio-doença.
No LOAS a regra permaneceu.

505. LEI ESTADUAL PODE VERSR SOBRE ORGANIZAÇÃO DE ENTIDADES ESTUDANTIS?


SIM, todavia a lei não se aplicará às instituições federais e particulares de ensino superior considerando
que elas integram o “sistema federal”, de competência da União.
É constitucional lei estadual que: • assegure, nos estabelecimentos de ensino superior estadual e municipal,
a livre organização dos Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais dos Estudantes. •
estabeleça que é de competência exclusiva dos estudantes a definição das formas, dos critérios, dos estatutos e
demais questões referentes à organização dos Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais
dos Estudantes. • determine que os estabelecimentos de ensino deverão garantir espaços, em suas dependências,
para a divulgação e instalações para os Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais
Estudantis.
Deve-se acrescentar, por fim, que é inconstitucional que essa lei estadual preveja multa para as entidades
particulares de ensino em caso de descumprimento das medidas acima listadas, uma vez que esta norma
(aplicando a multa) viola a competência legislativa da União para dispor sobre o sistema federal, bem como a
isonomia, uma vez que estabelece multa exclusivamente em desfavor das universidades privadas.

506. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE COMPREENDIDAS PELA DOUTRINA


MAJORITÁRIA E O STF?
São apresentadas quatro espécies do significado de meio ambiente:
- Meio ambiente natural compreende a flora, a fauna, a água, a terra, etc. É aquele que não tem ação
humana.
- Meio ambiente cultural é o patrimônio histórico-cultural. São os símbolos da criatividade humana que
agregam valor à própria sociedade. Exemplos: os monumentos, o carnaval, etc.
- Meio ambiente artificial refere-se às cidades, ao urbanismo. Ex: cidade em que não há coleta de lixo,
sendo possível ACP para proteger o meio ambiente artificial, que é o ambiente urbano.
- Meio ambiente do trabalho trata das condições de saúde e salubridade do local de trabalho. Há, inclusive,
Súmula do STF, de nº 736, aduz que “compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”. É uma
Súmula preocupada com o meio ambiente do trabalho.

507. HÁ POSSIBILIDADE DE SACRIFÍCIO DE ANIMAIS COM FUNDAMENTO NA


LIBERDADE RELIGIOSA?
Em março de 2019, em sede de repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser constitucional
a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana.
A competência para legislar sobre proteção da fauna e do meio ambiente em geral é concorrente, estando
dividida entre a União, Estados, DF e Municípios (art. 24, VI c/c art. 30, I, da CF/88).
Logo, compete à União editar normas gerais sobre o tema, cabendo ao Estado suplementar essa legislação
federal (art. 22, § 2º). Vale ressaltar que a norma editada pelo Estado não contraria aquilo que está previsto nas
normas gerais da União, sob pena de ser inconstitucional.
No caso concreto, o STF considerou que o art. 2º, parágrafo único, da Lei estadual não ofendeu a
competência da União para editar normas gerais de proteção do meio ambiente. Isso porque não existe lei federal
tratando sobre o sacrifício de animais com finalidade religiosa. Logo, a lei estadual, ao tratar sobre o tema, não
infringiu normas gerais da União.
A discussão em foco envolve a exegese de normas fundamentais, estando relacionada com o exercício da
liberdade de culto e de liturgia, o qual possui proteção constitucional e internacional.
A prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são “patrimônio cultural imaterial”. Vale ressaltar
que o Estado brasileiro tem o dever de proteger as “manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215, § 1º).

508. A MENCIONADA DECISÃO DO STF NA QUESTÃO ANTERIOR NÃO VIOLA O


PRINCIPIO DA LAICIDADE?
De início, destaca-se que o princípio da laicidade significa dizer que o Estado brasileiro é laico (secular ou
não-confessional), ou seja, não existe nele uma religião oficial (art. 19, I, da CF/88). Assim, por força deste princípio,
o Estado não pode estar associado a nenhuma religião, nem sob a forma de proteção, nem de perseguição. Há,
portanto, uma separação formal entre Igreja e Estado.
O STF entendeu que a referida lei não viola o princípio da laicidade.
A proteção legal às religiões de matriz africana não representa um privilégio, mas sim um mecanismo de
assegurar a liberdade religiosa, mantida a laicidade do Estado.
Desse modo, a lei estadual, na verdade, está de acordo com o princípio da laicidade. Isso porque a laicidade
do Estado proíbe que haja o menosprezo ou a supressão de rituais, especialmente no caso de religiões minoritárias
que poderiam ser subjugadas pelo Estado.
A CF promete uma sociedade livre de preconceitos, entre os quais, o religioso.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A cultura afro-brasileira merece maior atenção do Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de
preconceito estrutural.
A proibição do sacrifício de animais em seus cultos negaria a própria essência da pluralidade cultural, com
a consequente imposição de determinada visão de mundo.

509. QUAL A DIFERENÇA DE LAICIDADE, LAICISMO E ATEÍSMO?


A laicidade significa a neutralidade do Estado brasileiro em relação ao fenômeno religioso. O Estado deve
garantir simetricamente a liberdade religiosa sem favorecer determinadas religiões e sem prejudicar outras. A
garantia simétrica da liberdade religiosa, segundo Habermas, é uma forma de desarmar o potencial conflituoso
que existe entre as várias religiões e de assegurar o pluralismo religioso.
Já o Laicismo é uma espécie de antirreligião, ou seja, trata-se de uma perspectiva refratária ao fenômeno
religioso. O Estado brasileiro não é refratário ao fenômeno religioso; pelo contrário, é amigo da religião (v.g. isenta
os templos de culto), incentivando o fenômeno como algo que desempenha um papel social.
Por fim, o ateísmo é a negativa da existência de Deus. Também não é o caso do Estado brasileiro.

510. QUAL A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS NO CENÁRIO INTERNACIONAL?


No Caso Mary Ellen em 1874, Mary Ellen foi atendida pela missionária adventista Etta Angell Wheeler após
relatos de vizinhos por ser vítima de maus-tratos no seio de sua família. No entanto, verificou-se à época que
inexistiam leis protetivas aplicáveis às crianças e aos adolescentes, de forma a punir ou ao menos evitar práticas
semelhantes.
Não se conformando com a situação, Etta buscou a ajuda da Sociedade Americana para a Prevenção da
Crueldade contra Animais (American Society for the Prevention of Cruelty to Animals - ASPCA), representada por
Henry Bergh e, perante a corte norte-americana, invocou a aplicação analógica da legislação que vedava a prática
de maus tratos a animais para a proteção da menina Mary Ellen.
Outro marco histórico relevante foi a 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918), em função do número de
adultos mortos e, por conseguinte, aumento do número de crianças e adolescentes órfãos, tornando-se um
problema no contexto mundial.
Imediatamente após a 1ª Grande Guerra foram criadas a Liga das Nações e a Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Assim, a OIT foi criada com o fito de tutelar os direitos dos trabalhadores, mas acabou por tutelar
também os direitos das crianças e dos adolescentes, como, por exemplo, logo no início dos seus trabalhos, ao
editar um documento que proibia o trabalho de crianças no período noturno e outro que vedava o trabalho de
crianças menores de 14 (catorze) anos na indústria.
Em razão do aumento do número de órfãos durante a 1ª Grande Guerra, foi criada a Associação Salve as
Crianças, que existe até hoje e, a partir de sua atuação, instituída a Declaração de Genebra ou Carta da Liga em

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
1924. Foi o primeiro documento internacional de ampla proteção às crianças, não se limitando a questões voltadas
ao trabalho como nos documentos da OIT, embora ainda não as considere como sujeitos de direitos.

511. O QUE SÃO SUJEITOS DE DIREITOS?


Trata-se daquele a quem se pode imputar direitos e obrigações através da lei. Todas as pessoas, sejam elas
físicas ou jurídicas, são sujeitos de direito.
É importante referir que os sujeitos de direito podem ser de dois tipos:
-Sujeitos de direito individuais, que são os cidadãos individuais que são capazes de adquirir direitos e
obrigações. Também são conhecidos como pessoas naturais ou físicas.
-Sujeitos de direitos coletivos, que são aqueles que se constituem como pessoas jurídicas.

512. QUAL O PRIMEIRO DOCUMENTO INTERNACIONAL QUE RECONHECEU AS


CRIANÇAS COMO SUJEITOS DE DIREITO?
A Declaração dos Direitos da Criança – 1959 foi um documento paradigmático na temática da criança, pois
foi o primeiro documento internacional a reconhecer a criança como sujeito especial de direitos, pessoa em
estágio peculiar de desenvolvimento físico, psíquico e moral, não mais como um mero recipiente, como sujeição
passiva a uma proteção instituída. Em outras palavras, a criança passa a ter direito à proteção, direito à educação,
direito à alimentação e, dessa forma, passa a ter o direito de exigir o cumprimento aos seus termos.
Não obstante, como qualquer declaração, não traz em seu corpo mecanismos destinados à exigência do
seu cumprimento pelos Estados signatários. Limita-se a enunciar direitos, inspirando os Estados na formulação da
legislação interna, sem, contudo, gerar obrigações. Porém, essa declaração não trouxe mecanismos de fiscalização
quanto ao seu cumprimento.
Importante notar que o reconhecimento da criança como sujeito de direitos especiais inaugura a doutrina
da proteção integral, uma vez que lhes são reconhecidos os mesmos direitos dos adultos, e tantos outros em
função do estágio peculiar de desenvolvimento em que se encontram.

513. DO QUE SE TRATA A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL?


A doutrina da proteção integral é considerar as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos;
considerar a infância como um direito social; considerar as crianças e adolescentes como pessoas em estágio de
peculiar desenvolvimento.
Foi a nossa Constituição Federal de 1988 que inaugurou (internamente) a fase de proteção integral no
Brasil.

514. QUAL A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA DE 1989?


É o documento de maior relevância, uma vez que além de reconhecer a criança como sujeito de direito,
possui força cogente em relação aos Estados que aderirem ao seu texto.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Também é o documento com o maior número de adesões e ratificações dentre todos os demais textos
internacionais. Os Estados Unidos da América é o único país que não aderiu ao texto da Convenção.
Por meio da ratificação se dá a adesão ao documento no plano internacional e, a partir da promulgação, o
Brasil se obriga internamente ao cumprimento do seu conteúdo.
Como Convenção de direitos humanos, submete-se ao § 3º do artigo 5º, da Constituição Federal. Porém,
considerando que sua promulgação ocorreu em data anterior ao texto acrescentado ao referido parágrafo 3º,
conforme entendimento exarado pelo STF, tem o status supralegal, mas infraconstitucional.
Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, criança é definida como o menor de 18 anos, salvo se
a maioridade for atingida em momento anterior, de acordo com a legislação interna; superior (melhor) interesse
da criança, um dos maiores valores voltados à criança, por declarar o gozo de uma proteção especial em relação
aos demais sujeitos de direitos, devendo seus direitos prevalecerem como regra, embora não de forma absoluta;
Comitê sobre os direitos da criança, que tem por função o recebimento de relatórios encaminhados pelos Estados,
a cada 5 (cinco) anos, relatando os casos de cumprimento e de descumprimento dos termos da Convenção.
Atente-se para o fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), assim como a Constituição da
República (1988), teve por inspiração o texto da Convenção sobre os Direitos da Criança. O Brasil ratificou a
Convenção sobre os Direitos da Criança em 24/09/1990 e foi promulgada pelo Decreto 99.710/90, em 21/11/1990.
O Estatuto de Criança e do Adolescente é de 13/07/90. Portanto, a ratificação da Convenção foi depois da
promulgação do ECA.

515. HÁ ALGUMA CONVENÇÃO OU TRATADO INTERNACIONAL QUE PROTEJAM


CRIANÇAS EM RELAÇÃO AO TRABALHO?
Há duas Convenções que protegem crianças em relação ao trabalho:
Convenção 138/1973 - Idade Mínima de Admissão ao Emprego (Decreto 4.134/2002) – Esse decreto é o
decreto de execução pelo Presidente da República, que determina a aplicação interna no Brasil dessa Convenção.
Convenção 182/1999 - Piores Formas de Trabalho Infantil (Decreto 3.597/2000) – O Brasil também é
signatário dessa Convenção, ratificando por meio do Decreto 3597/2000.

516. QUEM É CONSIDERADO JOVEM PARA O SISTEMA BRASILEIRO?


Para o Estatuto da Juventude, temos que o jovem é a pessoa entre 15 (quinze) anos completos e 29 (vinte
e nove) anos completos (30 incompletos).
Assim, denomina-se jovem adolescente ou adolescente jovem a pessoa entre 15 (quinze) anos completos
e 18 (dezoito) incompletos, para os quais há aplicação concomitante do ECA e do Estatuto da Juventude. Portanto,
há uma dupla proteção.
Agora quem tem entre 18 (dezoito) anos e 29 (vinte e nove) anos fala-se em jovem ou jovem adulto.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
A partir de 30 (trinta) anos, é só adulto.

517. QUAL A IMPORTÂNCIA DA CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE A PROTEÇÃO


DOS DIREITOS HUMANOS DOS IDODOS (2015)?
Essa convenção se destaca por ser documento internacional e vinculante, ou seja, tem a possibilidade de
ser obrigatória para os Estados que a ela aderirem. A pessoa idosa está em um estágio peculiar de vida e, portanto,
necessita de um tratamento especializado.
Foi criada no contexto da OEA (Organização dos Estados Americanos), ou seja, é um documento regional.
Ainda está em fase do aceite precário e o Brasil foi o primeiro Estado a assinar o documento.
É, portanto, uma Convenção de Direitos Humanos da Pessoa Idosa, que considera o idoso a partir das suas
características específicas. Considera o processo de envelhecimento saudável, foca no fato de que o idoso precisa
ter sua vontade respeitada e, se estiver no pleno domínio de condições mentais, deve dirigir a sua própria vida. É
só considerar a pessoa idosa como alguém em um estado peculiar da vida.

518. QUEM É CONSIDERADO IDOSO?


Em regra, é a pessoa que possui 60 anos de idade ou mais (deve-se tomar cuidado, pois é diferente do
texto do art. 230, § 2º da Constituição). Contudo, alguns dos direitos estabelecidos no Estatuto do Idoso só se
aplicam a pessoas a partir dos 65 anos, como a gratuidade para passe livre nos transportes públicos e a concessão
do benefício assistencial “LOAS” para idosos maiores de 65 anos e de baixa renda (benefício mensal de um salário
mínimo).

519. QUAL A DIFERENÇA DOS ALIMENTOS CONCEDIDOS AOS IDOSOS PARA OS DEMAIS
DEVERES ALIMENTÍCIOS PARA OUTRAS PESSOAS?
O Estatuto do Idoso traz uma regra especial, diferente do Código Civil, no sentido de que a obrigação
alimentar por força do Estatuto do Idoso tem natureza solidária, podendo o idoso escolher entre os prestadores.
Código Civil só traz o binômio básico necessidade vs. possibilidade; paga alimentos quem pode e no
montante que pode, recebendo quem precisa no montante que precisa; é divisível, mas há uma ordem quanto ao
pagamento dos alimentos (ascendentes, em regra, e na falta, busca nos descendentes ou se parte para linha
colateral, caso necessário).
No Estatuto do idoso a obrigação alimentar é solidária e não segue regras de ascendência ou descendência
como no Código Civil. O idoso escolhe de quem receber o amparo alimentar. Isso serve para dinamizar a solução
do problema dos alimentos da pessoa idosa.
Durante muito tempo, parte da doutrina dizia que tais disposições deveriam ser desconsideradas face ao
disposto no Código Civil. Contudo, hoje a posição (tanto doutrinária, quanto jurisprudencial) é mais pacífica,
aceitando-se as disposições do Estatuto.

520. DE QUAIS PARENTES PODE-SE COBRAR OS ALIMENTOS? (NO CASO DE IDOSOS)

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Na linha reta de parentesco (ascendentes e descendentes), não há limitação quanto a quem será o
alimentante (entendimento pacífico), é independente do grau.
Contudo, na linha colateral de parentesco, o parentesco do alimentante se restringe ao segundo grau
(entendimento predominante – só até irmãos). Esse entendimento é feito com base na interpretação de acordo
com o art. 1.697 do Código Civil.
O STJ adota essa posição e inclusive já negou alimentos para idoso pleiteado de prestador parente colateral
de terceiro grau (REsp 1.032.846. Rel. Min. Nancy Andrighi. Julgado em 18/12/2009).
Contudo, há divergência da doutrina mais moderna de direito de família (capitaneada por Maria Berenice
Dias). Para ela, na linha colateral, o alimentante pode ser de até quarto grau (tios e primos, por exemplo), o que
se sustentaria pela linha de vocação hereditária prevista no art. 1.829, IV, do Código Civil, que não limita os
colaterais ao segundo grau.

521. QUAIS OS DIREITOS O IDOSO POSSUI EM RELAÇÃO A SAÚDE (DEVER DO PODER


PÚBLICO)?
De acordo com o Estatuto, o idoso tem direito a: (A) Atendimento pelo SUS, com atenção especial à
prevenção (se aplica a toda a proteção do direito à saúde, não apenas aos idosos); (B) Fornecimento gratuito de
medicamentos, especialmente os de uso continuado (também é um ponto muito lembrado em provas), além de
próteses e órteses. (C) Atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e
esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas,
filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural;
(D) Vedação à discriminação nos Planos de Saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade.

522. É POSSÍVEL O REAJUSTE DO PLANO DE SAÚDE EM RAZÃO DA FAIXA ETÁRIA?


SIM, desde que: a) haja previsão contratual; b) sejam aplicados percentuais razoáveis; c) sejam
preenchidos os requisitos previstos na Lei 9.656/98 (que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência
à saúde); d) seja observado o princípio da boa-fé objetiva, que veda reajustes absurdos e aleatórios que onerem
em demasia o segurado, conforme o entendimento do STJ.

523. OS IDOSOS POSSUEM ISENÇÃO DAS TARIFAS DE PEDÁGIO E DE UTILIZAÇÃO DOS


TERMINAIS DE TRANSPORTE COLETIVO?
De acordo com a Primeira Turma do STJ, a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com
renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos, prevista no art. 40, I, do Estatuto do Idoso, não se limita ao valor
das passagens, abrangendo eventuais custos relacionados diretamente com o transporte, em que se incluem as
tarifas de pedágio e de utilização dos terminais (info 641).

524. NO MOMENTO DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL EM 1988,


QUALQUER TERRA JÁ OCUPADA PELOS INDÍOS RECEBEU A PROTEÇÃO ESPECIAL DO
DIREITO DE TERRA?
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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
Somente são reconhecidos aos índios os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupem se a área
estiver habitada por eles na data da promulgação da CF/88 (marco temporal) e, complementarmente, se houver
a efetiva relação dos índios com a terra (marco da tradicionalidade da ocupação). No entanto, mesmo a terra não
se enquadrando no conceito do art. 231, caput e § 1º da CF/88, a União pode decidir acolher as populações
indígenas naquela área. Para isso, porém, terá que desapropriar as terras, pagando justa e prévia indenização em
dinheiro aos proprietários, considerando que, não sendo terras tradicionalmente ocupadas por índios, essa área
não se constitui em bem da União (art. 20, XI).

525. O QUE SERIA O RENITENTE ESBULHO?


O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e persistente até
o marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de 1988, materializado por
circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória judicializada. Vale ressaltar que, para que se caracterize o
renitente esbulho, é necessário que, no momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem
disputando a posse da terra ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos
anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.

526. A QUEM PERTENCE AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS INDIOS?


Pertencem à União (art. 20, XI, da CF/88). No entanto, essas terras destinam-se à posse permanente dos
índios, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
Em suma, são bens da União, mas para serem usadas pelos índios. Por isso, alguns autores classificam essas
terras como sendo bens públicos de uso especial.

527. O QUE SÃO AS CHAMADAS “TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS


ÍNDIOS”?
Segundo o § 1º do art. 231 da CF/88 são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios: as que eles habitam
em caráter permanente; as utilizadas para suas atividades produtivas; as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar; e as necessárias a sua reprodução física e cultural (segundo
seus usos, costumes e tradições).

528. QUAL FUNDAMENTO PARA A PROTEÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS?


A proteção das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios representa um aspecto fundamental dos
direitos e das prerrogativas constitucionais assegurados ao índio. Sem ter a garantia de que irá permanecer nas
terras por eles já tradicionalmente ocupadas, os índios ficam expostos ao risco da desintegração cultural, da perda
de sua identidade étnica, da dissolução de seus vínculos históricos, sociais e antropológicos e da erosão de sua
própria consciência.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
529.APENAS AS TERRAS DERMACADAS COMO TERRITÓRIO INDIGENA GOZAM DE
PROTEÇÃO?
Os índios possuem direitos sobre as terras por eles ocupadas tradicionalmente. Tais direitos decorrem da
própria Constituição e existem mesmo que as terras ainda não estejam demarcadas. No entanto, o legislador
determinou que a União fizesse essa demarcação a fim de facilitar a defesa desses direitos.

530.O QUE ACONTECE SE JÁ HAVIA PESSOAS MORANDO NAS TERRAS DEMARCADAS? E SE


ESSAS PESSOAS POSSUÍAM TÍTULOS DE PROPRIEDADE REGISTRADOS EM CARTÓRIO?
Os não índios devem ser retirados do local, salvo se integrarem as comunidades indígenas locais e os
próprios índios permitirem a sua presença (ex.: um não índio que é casado com uma índia e já more no local,
fazendo parte da comunidade).
O que se está querendo dizer aqui é que os não índios não possuem o direito subjetivo de permanecer no
local mesmo que provem que lá moravam de boa-fé ou mesmo que apresentem documentos de propriedade dos
imóveis localizados na área.
A CF/88 determinou que são nulos os atos que reconheçam direitos de ocupação, domínio (propriedade)
ou a posse relacionados com imóveis localizados dentro de terras indígenas. Logo, se um não índio possuir uma
escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis afirmando que ele é proprietário de um lote
existente dentro de uma terra indígena, esse registro é nulo e extinto, não produzindo efeitos jurídicos.

531. OS NÃO ÍNDIOS QUE FOREM RETIRADOS DAS TERRAS DEMARCADAS DEVERÃO SER
INDENIZADOS?
NÃO. Em regra, os não índios que forem retirados das terras demarcadas não têm direito à indenização.
Isso porque eles estavam ocupando terras que pertenciam à União. Logo, mesmo que tivessem supostos títulos
de propriedade, estes seriam nulos porque foram expedidos em contrariedade com o art. 20, XI e art. 231 da
CF/88.
Entretanto, há uma exceção: tais pessoas poderão ser indenizadas pelas benfeitorias que realizaram no
local, desde que fique provado que a ocupação era de boa-fé.

532. PARA A DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA É NECESSÁRIO ESTUDO UM ESTUDO


TÉCNICO ANTROPOLÓGICO?
O procedimento de demarcação das terras indígenas é regulado pelo Decreto 1.775/96, que estabelece,
em seu art. 2º, a necessidade de ser elaborado um estudo técnico antropológico e levantamento da área
demarcada. O Superior Tribunal de Justiça (Info 571, 2015) entende que a realização da etapa de levantamento da
área a ser demarcada é imprescindível, ainda que já tenham sido realizados trabalhos de identificação e
delimitação da terra indígena de maneira avançada. O descumprimento dessa etapa configura violação do devido
processo legal administrativo e enseja vício de nulidade da demarcação.

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Projeto CONCEITOS BÁSICOS 2019 – DIREITO CONSTITUCIONAL
533. NO PROCESSO DEMACARTÓRIO É NECESSÁRIO QUE TODOS OS EVENTUAIS
INTERESSADOS SEJAM NOTIFICADOS?
O Decreto nº 1.775/96 não exige que eventuais interessados na demarcação sejam notificados
diretamente a respeito da existência do procedimento (ex: pessoas que possuem títulos de propriedade da área a
ser demarcada). Basta que seja publicado um resumo do relatório circunstanciado nos Diários Oficiais da União e
da unidade federada onde se encontra a área sob demarcação - publicação essa que também deve ser afixada na
sede da Prefeitura Municipal da situação do imóvel (art. 2º, § 7º do Decreto nº 1.775/96). Isso já é suficiente para
garantir o contraditório. Vale ressaltar, no entanto, que nesta publicação deverá constar o nome do interessado
ou de sua propriedade rural (ex: Fazenda Terra Boa). Assim, não há nulidade em processo de remarcação de terras
indígenas por ausência de notificação direta a eventuais interessados, bastando que a publicação do resumo do
relatório circunstanciado seja afixada na sede da Prefeitura Municipal da situação do imóvel. STJ. 1ª Seção.MS
22816-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/9/2017 (Info 611).

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