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LÍNGUA BRASILEIRA

DE SINAIS

Autora: Ana Regina e Souza Campello

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Fabiana Schmitt Corrêa

Revisão Gramatical: Iara de Oliveira

Diagramação e Capa:
Carlinho Odorizzi

Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial.

419
C193l Campello, Ana Regina e Souza.
Língua Brasileira de Sinais / Ana Regina e Souza Campello.
Indaial : UNIASSELVI, 2011. 153. p.: il

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-550-5

1. Língua Brasileira de Sinais


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
Ana Regina e Souza Campello

A Professora Ana Regina e Souza Campello é


responsável pela disciplina da Área da Surdez e de
Língua de Sinais Brasileira. É doutorada em Educação
de Surdos – Processos Inclusivos e mestranda em
Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC. Trabalha como professora adjunta de ensino
de Línguas: Língua de Sinais Brasileira e professora de
EAD – Ensino a Distância, no curso de Letras Libras da
UFSC. Publicou vários artigos e livros: Existir para existir.
Pedagogia Visual: Sinal na Educação dos Surdos. Onde
você quer chegar? Re-reflexão crítica: Seminário
promovido por instituição oficial de educação em um
estado da região sul brasileira no ano de 2004. A
Constituição política, social e cultural da língua
brasileira de sinais – Libras. Educação dos
Surdos: políticas, língua de sinais, comunidade
e cultura surda (2010).
Sumário

APRESENTAÇÃO��������������������������������������������������������������������������� 7

CAPÍTULO 1
Libras��������������������������������������������������������������������������������������������� 9

CAPÍTULO 2
Fonologia da Língua de Sinais�������������������������������������������������� 43

CAPÍTULO 3
Morfologia da Língua de Sinais������������������������������������������������ 75

CAPÍTULO 4
Sintaxe da Língua de Sinais����������������������������������������������������� 109

CAPÍTULO 5
Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira������� 133
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina trata da Língua de Sinais Brasileira. Em termos linguísticos é
definida como uma língua sinalizada, constituída pelas pessoas Surdas, que tem
identidade e cultura própria e que é compartilhada entre indivíduos ou coletivos
das pessoas Surdas.

A língua de sinais brasileira, cuja lei e decreto garantem, no Brasil, por parte
do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos e
particulares, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua
Brasileira de Sinais como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente
das comunidades surdas do Brasil.

Na vídeoaula é apresentada a Língua de Sinais Brasileira, que é a língua


natural da comunidade Surda, e no caderno de estudos apresentaremos
conteúdos que possam servir de ajuda na compreensão, assim como dicas e
atividades para reflexão durante o curso.

Vamos citar exemplos mais comuns no dia a dia: você já pensou ou teve
vontade de entender os diálogos sinalizados entre ou com pessoas Surdas
em algum momento da sua vida? Já tentou entender como a Língua de Sinais
Brasileira funciona dentro da estrutura das línguas faladas?

Para entender ou conhecer sobre a Língua de Sinais Brasileira apresentamos


a disciplina dividida em cinco capítulos, que depois poderão ser aproveitados para
fazer seus futuros projetos profissionais. São eles:

O Capítulo 1 – Investiga sobre as variedades das funções dos linguistas


e amplia o conhecimento sobre o uso das propriedades da Língua de Sinais
Brasileira utilizada pela comunidade Surda, bem como os recursos do sistema de
transcrição de sinais na prática de transcrição.

Capítulo 2 – Trata-se de processos fonológicos e suas comparações,


exercitando na prática a formação fonológica de sinais através de cinco
parâmetros da língua de sinais. Dentre eles, os recursos da Configuração de Mãos
no momento da formação de sinais e de fazer entender o porquê das restrições
na formação de sinais.

Capítulo 3 – Trata-se de processos morfológicos e suas comparações,


através de elaborações de lista da formação morfológica durante o exercício, para
mais tarde, utilizar os argumentos de cada processo morfológico, interpretando,
finalmente, os sinais através das narrativas.

Capítulo 4 – Trata-se de pesquisa nos sites e vídeos, coletando as narrativas


Surdas e fazendo comparações. Dentre as coletas, elaboramos a lista da
formação sintática durante o exercício para, posteriormente, construir argumento
para cada formação de interrogativas e seus aspectos e, finalmente, coletar, ler e
interpretar os verbos e concordância através das narrativas.

Capítulo 5 – Trata-se das coletas das narrativas Surdas e suas comparações.


Elaboramos a lista da semântica e pragmática durante o exercício. Construimos
argumentos em todos os aspectos dos sentidos e significados para, depois, fazer
a categorização, leitura e interpretação dos sentidos e dos significados dos sinais
através das narrativas.

No caderno de estudo, você terá contato com as bibliografias e algumas


leituras complementares que poderão servir de ajuda no transcorrer do curso,
assim como as atividades propostas.

A autora.
C APÍTULO 1
Libras

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Entender o conceito da profissão linguísta e sua função.

99 Entender o uso das propriedades da língua de sinais da comunidade Surda.

99 Compreender os vários tipos de sistema de transcrição de sinais.

99 Utilizar os recursos do sistema de transcrição de sinais na prática de transcrição.


Língua brasileira de sinais

10
Capítulo 1 Libras

Contextualização
Apresentamos a trajetória da comunidade Surda e sua língua como ponto
de partida na construção da identidade cultural, sociológica e educacional dos
sujeitos Surdos. O texto apresenta três tópicos a serem compreendidos no início
do curso, que são: O papel do linguista da Língua de Sinais Brasileira, cuja função
é de fazer entender / compreender / captar / registrar o que mostram os sinais
durante o comportamento / ação / perfomance dos sujeitos Surdos em um evento
comunicativo, sem pré-julgamento ou influência sobre a decisão.

Com a inserção da gramática da Língua de Sinais Brasileira, foi necessário


entender também as propriedades desta e, finalmente, o uso de vários sistemas
de transcrição de língua de sinais para registrá-la de modo fiel, de acordo com
sua modalidade viso-gestual.

O papel do linguista da Língua de


Sinais Brasileira
Sabemos que a Língua de Sinais Brasileira, conhecida simplesmente por
LSB ou LIBRAS, é reconhecida pela Lei no 10.436 de 24 de abril de 2002, no seu
artigo e parágrafo 1º (BRASIL, 2002):

Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e


expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros
recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais


- Libras a forma de comunicação e expressão, em que o
sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura
gramatical própria, constituem um sistema linguístico de
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de
pessoas surdas do Brasil.

O objetivo da Lei é enfatizar a necessidade de que a Língua


O objetivo da
Brasileira de Sinais - Libras seja objeto de uso comunicativo corrente Lei é enfatizar a
nas comunidades surdas. Além disso, procura assegurar a presença necessidade de que
de profissionais (pesquisadores e professores) na área da linguística a Língua Brasileira
e de educação, intérpretes nos espaços formais e instituições, como de Sinais - Libras
na administração pública direta e indireta; pesquisar acerca da Língua seja objeto de
uso comunicativo
de Sinais Brasileira; difundi-la através das publicações e a inclusão
corrente nas
do ensino da Língua de Sinais Brasileira nos cursos de formação comunidades
de Educação Especial, Fonoaudiologia, disciplinas de Licenciatura, surdas.

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Língua brasileira de sinais

Magistério e profissionais intérpretes, sendo optativo para o aluno e obrigatório


para a instituição de ensino.

Veja a lei e sua regulamentação através do Decreto no 5.636/05


de 22 de dezembro de 2005:

Lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10436.htm

Decreto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/
2005/decreto/d5626.htm

Portanto, o espaço da língua de sinais e suas pesquisas começaram a


aparecer nos diversos estados brasileiros através das universidades brasileiras,
que desenvolvem pesquisas e conhecimentos na área da linguística e de língua
de sinais. Para atender melhor, o artigo 4º da lei afirma (BRASIL, 2002):

Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas


educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal
devem garantir a inclusão nos cursos de formação de
Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em
seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira
de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.

Foi necessária e urgente a implantanção em tempo curto da disciplina de


Língua de Sinais Brasileira nos estudos e no ensino em cursos de nível médio e
superior. Atualmente, o ensino infantil e básico está em fase da regulamentação
através de projeto de lei que tramita no Congresso Nacional. Isso exigiu o
processo de criação de conhecimento, através de pesquisas realizadas em outros
países, para poder atender a demanda de pessoas interessadas em receber o
conhecimento e de aprender a língua da comunidade Surda. Também para
organizar os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, requerendo uma estrutura
organizada dentro do currículo como as outras línguas orais e orientações aos
gestores nas implantações da língua de sinais nos currículos de ensino básico,
sem desprestigiar a língua escrita. É fundamental o uso das duas línguas para
tornar o cidadão Surdo bilíngue, no que se refere à diferenciação gramatical.

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Capítulo 1 Libras

Atividade de Estudos:

1) Qual a importância do reconhecimento da Língua de Sinais


Brasileira para a comunidade Surda. Comente, também, as
contribuições que a Lei e seu decreto trouxeram para a sociedade
brasileira.
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Historicamente, os primeiros estudos da língua de sinais já vieram desde o


século XIV. Em 1644, o inglês Bulwer J. B. escreveu um livro de língua de sinais
inglesa: Chirologia: on the natural language of the hand, acompanhado de figuras
das mãos e seus significados. O tema chirologia, traduzido como quirologia,
é muito citado por Bulwer(1644) nos seus estudos da língua de sinais porque os
gestos das mãos são importantes para os Surdos e são vistos como o domínio
da comunicação deles. Menciona, também, que “era recompensa da natureza que
os Surdos devem se comunicar através de gestos”, e acredita firmemente na “a
necessidade que opera a Natureza nos homens que nascem Surdos e Mudos, que
podem discutir, mostrar, sinalizar retoricamente por sinais”. (BUWLER, 1644, p.
5). O livro do autor esclarece que a quirologia é um dicionário de gestos manuais,
citando o seu significado e o uso de uma ampla gama de fontes literárias, religiosas
e médicas. Quirema é um manual para o uso efetivo do Gesto de falar em público.

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Língua brasileira de sinais

Quirologia - Do grego quiro = mão e logia = estudo, ou seja, o


estudo ou conhecimento adquirido através das mãos.

Técnica de conversação por meio de sinais feitos com os


dedos (por exemplo: o alfabeto dos surdos-mudos); DACTILOLOGIA
(HOUAISS, 2010).

Quirema – segundo Stokoe (1960), são as unidades


formacionais dos sinais (configuração de mão, locação e movimento)
e o estudo de suas combinações.

Segundo os dados da Felipe (1998) outro livro de pesquisa de língua de


sinais também apareceu na Inglaterra, em 1895, com o livro denominado: The
sign of Language of the deaf and dumb de autoria de R. W. Nevins.

Como naquela época não tínhamos muito acesso à informação, devido a


distância geográfica e à ausência de computador, os registros foram importantes
na área dos estudos linguísticos. Nos Estados Unidos, os próprios Surdos,
oriundos da Gallaudet University, em 1848, publicaram os Annals of the Deaf,
que é o inventário da cultura surda americana, juntamente ao inventário de
sinais dentro da Língua de Sinais Americana (ASL). Os manuais foram: The sign
language: a manual of signs, de J. L. Long, e Handbook of the sign language
of the deaf, de S. Michael, no período de 1918 e 1923. Estes inventários foram
muito importantes porque ajudaram na pesquisa da evolução de Língua de Sinais
Americana.

No período de 1923 em diante, nos Estados Unidos, houve imposição do


uso da filosofia oralista nas escolas. A pesquisa na área ficou suspensa por
causa do conflito de interesse e de ideologia: oralismo X língua de sinais. Em
1960, o estudo da língua de sinais americana (ASL) ficou mais reconhecido
quando W.C. Stokoe, pesquisador e professor de inglês da Gallaudet University,
percebeu a diferença da gramática linguística utilizada pelos alunos Surdos na
sala de aula e fora do contexto educacional. Publicou o artigo Sign Language
Structure: an outline of the visual communication system of the American Deaf,
na revista Studies in Linguistics, Occasional Papers 8. Em 1965, juntamente à
equipe composta de pessoas Surdas e ouvintes, Stokoe, Casterline e Croneberg
publicaram A Dictionary of American Sign Language. A partir de então, da década
de 70 para cá, milhares de publicações foram editadas em todo o mundo sobre
as diversas línguas de sinais, mas a Língua de Sinais Americana ainda está em
número maior de pesquisas financiadas pelo governo e instituições de pesquisas.

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Capítulo 1 Libras

Atividade de Estudos:

1) Pesquise em sites de busca e escreva o porquê da área linguistica


ter parado seu desenvolvimento durante este período. Quem foi
um dos precursores da filosofia oralista nos Estados Unidos?
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Saiba mais sobre William Stokoe na seguinte página:

http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.html

Se você não souber ler em inglês, utilize um tradutor on-line e


tente decifrar a tradução automática.

Acesse o link que indicamos a seguir e conheça a família


das línguas de sinais existentes no mundo:

http://www.ethnologue.com/show_family.asp?subid=23-16

Os estudos linguísticos das línguas de sinais iniciaram com Stokoe (1960),


pois até aquele momento, todos os estudos linguísticos concentravam-se nas

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Língua brasileira de sinais

análises de línguas orais (faladas) e Stokoe (1960) foi o primeiro a trabalhar


diferente, mudou a mentalidade da área linguística, apresentando uma análise
descritiva da Língua de Sinais Americana, através da metodologia transcrição
de língua de sinais. Isso possibilitou, pela primeira vez, um linguista apresentar
os elementos linguísticos de uma língua de sinais. Assim, as línguas de sinais
passaram a ser vistas como línguas de fato e de direito linguístico da comunidade
Surda.

Os linguistas Você pode observar o uso da terminologia “fonema” e “fonética”.


têm utilizando os Os linguistas têm utilizando os termos fonética e fonologia para tratar
termos fonética
de fenômeno natural ou social observável cientificamente nas línguas
e fonologia para
tratar de fenômeno de sinais, desconsiderando o significado de sua raiz, fon-, que é
natural ou social som, elemento ausente da estrutura da língua de sinais americana.
observável Stokoe, em 1965, no evento internacional de linguistas, propôs o termo
cientificamente nas “quirema”, retornando a pesquisa do Bulwer (1644), em substituição à
línguas de sinais, terminologia “fonema”, para designar elementos linguísticos de língua
desconsiderando
de sinais. Havia, na época, duas correntes: a favor - defendendo que
o significado de
sua raiz, fon- o conceito de quirema é o mesmo que de fonema e que o uso de duas
, que é som, terminologias com o mesmo conceito só geraria discussões; contra -
elemento ausente o outro argumentava que o novo termo era também incorreto porque
da estrutura da este só envolvia a mão, havendo vários outros aspectos e outras
língua de sinais partes do corpo envolvidos na realização da língua de sinais, o que não
americana.
combinaria com esta terminologia.

Atividade de Estudos:

1) Pesquise os conceitos dos termos: “fonética” e “fonologia” e


responda abaixo:

a) Estes termos se aplicam à língua de sinais?


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b) Explique o porquê da contradição dos termos “fonética e


fonologia” para a língua de sinais.
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Capítulo 1 Libras

c) Como você, como futuro/a pesquisador/a da língua de sinais, vai


divulgar a diferença de termos ao público em geral. Onde fará isso?
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A motivação do uso da terminologia “quirema” tem um processo histórico-


cultural em que usamos a língua de sinais como usuários de uma língua e não
como árbitros. Aos profissionais línguistas, é imprescindível fazer todas as
imersões da língua de sinais para poder comprender e identificar a língua de
sinais propriamente dita.

Por isso, é fundamental que os linguistas que exercem a profissão


É importante
ou fazem pesquisa na área da língua de sinais dominam a língua de mostrar que o
sinais pela modalidade viso-gestual. Como cita a professora Quadros linguista precisa
(2004, p. 28), a “língua é um sistema de signos compartilhados por uma saber muito sobre
comunidade linguística comum” e para interagir com pessoas Surdas ou a língua envolvida,
pesquisar com os informantes Surdos no território brasileiro dentro do no caso a língua
de sinais, entender
“espaço de língua de sinais brasileira”, é preciso entender e conhecer
bem as culturas do
os “sinalizantes-visuais” desta língua. Sem o conhecimento da língua povo Surdo que
de sinais seria impossível dar continuidade a esta pesquisa e avaliá-la. usa essa língua,
ter familiaridade
Portanto, é importante mostrar que o linguista precisa saber muito com cada tipo
sobre a língua envolvida, no caso a língua de sinais, entender bem as de estrutura, os
conteúdos, a
culturas do povo Surdo que usa essa língua, ter familiaridade com cada
interpretação,
tipo de estrutura, os conteúdos, a interpretação, a tradução e se informar a tradução e se
antes sobre o assunto que será abordado no momento de pesquisa. informar antes
sobre o assunto
Segundo a pesquisa etnográfica do Erickson (1984, 1986), não que será abordado
se usam critérios de classificação (certo/errado) para a língua de no momento de
pesquisa.
sinais, mas a preocupação é entender / compreender / captar o que
mostram os sinais durante o comportamento / ação / perfomance dos
sujeitos Surdos em um evento comunicativo. A denominação “familiarização com
o estranho” não necessita julgar os valores morais e culturais, mas respeitar e
tentar colocar-se no lugar do outro, como, por exemplo, respeitar o espaço e uso
efetivo comunicativo da língua de sinais.

Isso também implica a ética, que é uma aptidão ou capacidade de mobilizar


conhecimentos para satisfazer a um determinado fim e nunca o contrário.

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Língua brasileira de sinais

Sobre a resistência dos pesquisadores ou linguístas à língua de sinais ou à


língua sinalizada (WILCOX, 2005), podemos afirmar que ocorre pelo fato de que
todos os sinais novos (o que acontece comumente com os linguistas ouvintes
quando têm pouco contato com a língua de sinais) que aparecem e suas ideias
encontram forçosamente oposição, e não houve uma única inserção que ocorresse
sem lutas. A resistência, nesses casos, está sempre na importância dos resultados
previstos, pois quanto mais ela aparece, maior será o número de interesses
ameaçados. Se for um sinal notoriamente falso ou mal pesquisado, considerado
sem consequências, ninguém se perturba com ele e o deixará passar,
confiante na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeiro, se está
assentado em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um
A Língua de Sinais
Brasileira é a secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de
primeira língua um perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se
da comunidade interessa (no caso de nome e prestígio). E é por isso que se lançam
Surda e não contra ele e os seus adeptos (no caso da comunidade Surda). Para isso,
valorizar somente é necessário combater o ego dos linguistas e levar sempre em
os usuários que se
consideração e lembrar que a Língua de Sinais Brasileira é a primeira
utilizam dela como
segunda língua. língua da comunidade Surda e não valorizar somente os usuários que se
utilizam dela como segunda língua.

Atividade de Estudos:

1) Qual a crença sobre o papel de linguista no aprendizado da outra


língua distinta?
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2) Qual a crença sobre a língua de sinais por parte dos linguistas


quando a aprendem?
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Capítulo 1 Libras

A função dos linguístas de Língua de Sinais Brasileira prevê, na sua


competência:

• traduzir e interpretar a Língua de Sinais Brasileira para a Língua Portuguesa


e vice-versa, não sendo necessário ser intérprete de língua de sinais, cuja
profissão e função se diferenciam;

• traduzir e interpretar a Língua de Sinais Brasileira para escrita de sinais e


vice-versa;

• traduzir e interpretar os sistemas fonológicos, morfológicos, sintáticos,


pragmáticos e semânticos da Língua de Sinais Brasileira;

• entender o sentido e significado de todos os sinais e seus contextos;

• defender a língua de sinais da comunidade Surda;

• ser neutro nas situações e não interferir nos anseios e desejos do movimento
Surdo;

• vestir a “camisa” ou “familiarizar-se” com a língua de sinais brasileira e sua


cultura;

• elaborar projetos, incluindo sempre as pessoas Surdas como pesquisadores/


as e não como informantes ou objetos de estudo de campo;

• participar, por força da ética, nas Associações e eventos promovidos pela


comunidade Surda.

Com a regulamentação do decreto baseando da Lei no 10.436/02 cresceu


o número significativo de pessoas ouvintes interessadas em pesquisar a Língua
de Sinais Brasileira. A profissão dos linguistas também cresceu. A questão do
crescimento do número não é pelo ingresso no “mundo dos Surdos”, o que é pouco,
mas sim pelos contatos diários, exposição da língua de sinais e aprofundamento do
contexto da Surdez, da cultura e da língua de sinais durante a formação acadêmica
(licenciaturas e bacharelados), adquirindo, assim, o “estranhamento/familiarização”
e choque cultural durante o período de entrada neste mundo.

Aqui no Brasil, o primeiro pesquisador autodidata da Língua de Sinais


Brasileira foi Flausino da Gama, ex-aluno e repetidor do Instituto Nacional de
Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (Rio de Janeiro).
Junto com o diretor publicou, em 1875, o livro: Iconografia dos Signaes dos
Surdos-Mudos, com as figuras dos sinais copiados da Língua de Sinais Francesa

19
Língua brasileira de sinais

e legendas traduzidas para o português. Neste período não estava envolvido no


estudo da Língua de Sinais Brasileira propriamente dita. O objetivo do livro era
difundir para a comunidade ouvinte a necessidade de aprender a Língua de Sinais
Brasileira para poder comunicar-se com os Surdos.

Na década de 1980, em Recife, saiu o primeiro Boletim sobre o estudo da


Língua de Sinais, elaborado pelo GELES, da UFPE – Universidade Federal de
Pernambuco. Neste Boletim, citou-se que a língua de sinais utilizada pelos surdos
das capitais do Brasil era denominada de LSCB, ou seja, Língua de Sinais dos
Centros Urbanos Brasileiros, por causa da existência de outra língua de sinais
no Brasil, a LSUK - Língua de Sinais dos índios Urubus-Kaapor, descoberta por
um linguista americano do Summer Institute e, depois, apresentada em estudos e
registrada em livros pela linguista Lucinda Brito.

Para preservar e defender a língua de sinais no contexto político e linguístico,


a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS
denominou a língua de sinais como LIBRAS – Língua de Sinais Brasileira, em
1988. Alguns linguistas preferem referir-se a ela usando a sigla LSB, seguindo a
nomenclatura do padrão internacional da língua de sinais que é Língua de Sinais
Brasileira – LSB.

Em 1996, em Petrópolis, na Câmara Técnica, com o apoio da CORDE -


Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
responsável pelo evento, procurou-se a introdução de subsídio ao Projeto de Lei
da Senadora Benedita da Silva, juntamente com a FENEIS, atualmente Lei Libras
no 10.436/02, para a oficialização da LIBRAS em âmbito nacional. Para reafirmar
a importância do uso da língua de sinais na sociedade foi criada uma metodologia
para ensino de LIBRAS pela FENEIS, com a primeira edição do material “LIBRAS
em Contexto”, em parceria com MEC.

Atividade de Estudos:

1) Comente sobre a evolução do material de Libras.


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Capítulo 1 Libras

Para reforçar a necessidade de usar a língua de sinais no contexto educacional,


foi realizado o II Congresso Latino-americano de Bilinguismo, em 1998, que foi
uma era histórica na introdução da proposta de educação bilíngue para os Surdos,
assim, podemos mostrar que a língua de sinais é de fato, de direito e verdadeira.

Mais tarde, vários/as linguistas começaram a publicar artigos e livros sobre


a Língua de Sinais Brasileira, como Lucinda Brito, Eulália Fernandes, Ronice
Quadros, Lodenir Karnopp, Tanya Fellipe e muitos outros.

Atividade de Estudos:

1) Escreva em duas tabelas os nomes dos linguistas Surdos e Não-


Surdos (Ouvintes) em nível brasileiro.
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2) Igualmente, escreva os títulos dos estudos da Língua de Sinais


Brasileira relevantes para a pesquisa da língua de sinais.
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Aos poucos, os próprios surdos começaram a participar como pesquisadores


das línguas de sinais durante o ingresso nas universidades públicas. A
Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1989, abriu o primeiro concurso
público para professor assistente na área de Língua de Sinais Brasileira. Como
não havia mestrado, a Universidade Federal de Santa Catarina abriu, em 2005,
a primeira pós-graduação lato sensu (mestrado) da área linguística. No entanto,
ainda temos poucos linguistas Surdos investigando a língua de sinais do seu país.

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Língua brasileira de sinais

Conhecendo alguns linguistas

Os primeiros linguístas Surdos norte-americanos foram Ted


Supalla e Carol Padden

Figura 1 – Primeiros linguistas surdos norte-americanos.

Fonte: Disponível em: <http://www.bcs.rochester.edu/people/supalla/


supalla1.gif&imgrefurl=http://www.bcs.rochester.edu/people/supalla/&usg=__
dE9I3HG8A7TtKEgZd7MqS>. Acesso em: 26 mai. 2011.

No Brasil, a primeira professora concursada na UFRJ, Myrna


Salerno, também é pesquisadora da Língua de Sinais Brasileira há
vários anos.

Figura 2 – Myrna Salerno, primeira professora surda concursada na UFRJ.

Fonte: Disponível em < http://br-pt.sonico.com/u/14899294/Myrna-Salerno-Montei


ro&usg=__8xehc3v3vqC2l7zv70UtSQ1mNms429>. Acesso em : 25 mai. 2011.

A Dra. Ana Regina e Souza Campello foi uma das primeiras


surdas a estudar a Língua de Sinais Brasileira na pós-graduação, em
2005. Em seguida, surgiram outras linguistas formadas, assim como
Shirley Vilhalva, Heloise Gripp e Nayara Adriano (em ordem nas fotos):

22
Capítulo 1 Libras

Figura 3 – Primeiros pesquisadores surdos da Lingua de Sinais Brasileira.

Fonte: A autora.

Propriedades das línguas e das


línguas de sinais
Temos cinco (5) propriedades da língua de sinais. Vamos ver os aspectos de
cada propriedade e não se esqueça de acessar os links para que possa entender
melhor, visualizando os exemplos de algumas propriedades.

a) Flexibilidade e Versatilidade

A língua de sinais, como outras línguas faladas, tem suas características


próprias e significativas. Diferentemente de outros códigos ou sistemas de
comunicação, como o sistema de comunicação de teatro ou de mímica. A língua
de sinais pode ser utilizada como meio de persuasão, de sugestão, de pedido, de
ordenamento, de elaboração do pensamento no futuro; para fazer planos, emitir
diversas opiniões, cantar uma música rap ou hip-hop, influenciar a decisão dos
outros e tudo o que existe na comunicação no dia a dia.

Para compreender um pouco mais sobre a Flexibilidade e a


Versatilidade, acesse os links abaixo:

1 – poesia - http://www.youtube.com/watch?v=TxOiY9VL0AY
2 – questões da prova de Prolibras - http://www.youtube.com/
watch?v=aPEEwDKqWzo
3 – ordem de manifestação em libras - http://www.youtube.com/
watch?v=vc0fzOOz5oM

23
Língua brasileira de sinais

Atividade de Estudos:

1) A partir dos vídeos e do que foi discutido sobre a flexibilidade e


a versatilidade da Língua de Sinais Brasileira, qual relação você
conseguiu estabelecer desses dois conceitos teóricos.
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b) Arbitrariedade

Os sinais da língua de sinais (os signos linguísticos) são convencionados e


reconhecidos pela comunidade Surda, portanto, todos os sinais convencionados
são arbitrários. Isso possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade da
língua com o uso das imotivações entre a forma e o significado; e motivação entre
a forma e o significado (iconicidade). Também, existem, atualmente, as variações
linguísticas de sinais de cada estado do Brasil, assim como as palavras da língua
falada.

Exemplos:

Figura 4 - Árvore – Sinal motivado (tem Figura 5 - Certo – Sinal imotivado (não
relação entre a forma e significado) tem relação entre a forma e significado)

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/ Fonte: Disponível em: <www.ines.’.br/


VRAsD8>. Acesso em: 12 abr. 2011. dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011

24
Capítulo 1 Libras

Homonímia de Sinais

Figura 6 - Óbvio (Santa Catarina) Figura 7 - Oportunidade (Rio de Janeiro)

Fonte: Disponível em: <www. Fonte: Disponível em: <www.


ines.gov.br/dicionariolibras>. ines.gov.br/dicionariolibras>.
Acesso em: 12 abr. 2011. Acesso em: 12 abr. 2011.

Atividade de Estudos:

1) Pesquise no Youtube, ou em outros sites, sobre uma das


propriedades da língua de sinais, comentando com seus colegas
sobre a arbitrariedade da Língua de Sinais Brasileira.
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c) Descontinuidade

Apresenta sinais distintos entre eles e seus significados são descontinuados


através de parâmentros e níveis linguísticos diferentes. Estes sinais não permitem
a confusão entre os significados apresentados dentro do contexto no qual será
sinalizado. Vamos ver os exemplos abaixos:

25
Língua brasileira de sinais

Mesma Configuração de Mãos Mesmo ponto de locação Movimento diferente

Figura 8 - Irmã(o) (esfregar Figura 9 - Igual (os dedos indicadores


os dedos indicadores) batem ao mesmo tempo)

Fonte: Disponível em: <www. Fonte: Disponível em: <www.


ines.gov.br/dicionariolibras>. ines.gov.br/dicionariolibras>.
Acesso em: 12 abr. 2011. Acesso em: 12 abr. 2011.

Configurações de Mãos diferentes Mesmo Ponto de Locação Movimento diferente

Figura 10 - Procurar (A CM “P” Figura 11 - Nu(a) (A CM “D”


esfrega no dorso da mão do lado esfrega no dorso da mão esquerda
esquerdo em movimento circular) em movimento raspante)

Fonte: Disponível em: <www. Fonte: Disponível em: <www.


ines.gov.br/dicionariolibras>. ines.gov.br/dicionariolibras>.
Acesso em: 12 abr. 2011. Acesso em: 12 abr. 2011.

Mesma Configuração de Mãos Ponto de Locação Diferente Movimentos diferentes

Figura 12 - Futuro (movimenta- Figura 13 - Férias (o sinal se


se para frente) Fonte: movimenta em círculo)

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/


Fonte: Arquivo da autora.
AhmhGj>. Acesso em: 12 abr. 2011.

26
Capítulo 1 Libras

Atividade de Estudos:

1) O que você compreende sobre a descontinuidade da Língua de


Sinais Brasileira.
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d) Criatividade e produtividade

Os sinais podem ser produzidos em infinitas sentenças, seguindo de


um conjunto finito de regras gramaticais da língua de sinais. São produtivas e
criativas, assim como quaisquer outras línguas de diversas modalidades (escrita,
visual, falada, retórica, etc.).

Abaixo você tem a indicação de dois sites que ilustram a


criatividade na língua brasileira de sinais, vale a pena você assisti-los.

Rap em Libras - http://www.youtube.com/watch?v=ylyltLkVINw


SMS em Libras - http://www.youtube.com/watch?v=0PxbHlBWWgY

e) Dupla Articulação

A língua de sinais
A língua de sinais só funciona quando as duas articulações formam só funciona
uma combinação. Por exemplo, uma unidade mínima por si só não tem quando as duas
significado, mas quando juntar outra unidade mínima, qualquer que articulações
seja Configuração de Mãos, Ponto de Locação ou Movimentos, pode formam uma
dar significado e sentido. Veja o exemplo abaixo: combinação.

27
Língua brasileira de sinais

Figura 14 – Exemplo de dupla articulação

Configuração de Mãos
(uma unidade mínima)

Movimento
(uma unidade mínima)

Juntando as 3 unidades mínimas


Ponto de Locação (Configuração de Mãos + Movimento
(uma unidade mínima) + Ponto de Locação) = Pesquisar

(palma da mão)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br/dicionariolibras>.


Acesso em: 12 abr. 2011. (Com adaptações).

Atividade de Estudos:

1) Pesquise exemplos de dupla articulação na língua brasileira de


sinais.
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28
Capítulo 1 Libras

f) Padrão
A língua de
sinais tem um
A língua de sinais tem um conjunto de regras convencionadas pela conjunto de regras
comunidade Surda e não pode ser produzida de modo incorreto. Assim convencionadas
como todas as línguas, as regras devem ser observadas visualmente. pela comunidade
Vamos observar os exemplos de sinais errados e certos abaixo: Surda e não pode
ser produzida de
modo incorreto.
Figura 15 – Sinais corretos e errados na língua de sinais.

errado certo

errado certo
Fonte: Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/acessasp/3977486434/
in/photostream/>. Acesso em: 12 abr. 2011.

g) Dependência estrutural

A língua de sinais, assim como outras línguas, tem suas relações estruturais
entre os elementos e não ocorrem ao acaso. Vamos ver os exemplos abaixo:

• J-U-L-I-O AMAR ++++(aspecto durativo)


• AMAR++++(aspecto durativo) J-U-L-I-O
• FACULDADE SINAL
• SINAL FACULDADE

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Língua brasileira de sinais

Atividade de Estudos:

1) Comente sobre a dependência estrutural da língua de sinais


brasileira.
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Seria interessante ver a história do Pinóquio em Língua de


Sinais Brasileira. Nele, você poderá ver as infinitas possibilidades
que a língua de sinais oferece por ser uma língua criativa, produtiva
e é de tirar o fôlego!

Link: http://www.youtube.com/watch?v=WNh4-sHwU1E

Os sistemas de transcrição das


línguas de sinais
Há algumas questões que podem ser pensadas na pesquisa de língua de
sinais e sua tradução, por exemplo: Como vamos traduzir de modo fidedigno a
língua de sinais através dos sinalizantes? Somos capazes de captar todos os
sinais e sua expressividade através de expressões faciais? Há tantas questões
que podem ser resolvidas com uma ferramenta: transcrição de dados de língua
de sinais. A transcrição de língua de sinais é muito importante para a pesquisa
de qualquer língua de sinais do mundo. Através dela, podemos estudar, analisar,
perceber, pesquisar, descrever, em todos os níveis de análise, uma língua
(fonológico, morfológico e sintático). Esta ferramenta é recente nos estudos
linguísticos de língua de sinais. Stokoe (1960) foi quem realizou o primeiro trabalho
com a Língua de Sinais Americana (ASL). A partir de então, as línguas de sinais
foram reconhecidas como língua, graças às pesquisas analíticas e científicas.

30
Capítulo 1 Libras

Aqui no Brasil, a introdução da transcrição de língua de sinais foi realizada


pela linguista Brito (1982). O processo de transcrição de dados, desde então,
vem sofrendo adaptações de metodologias porque a língua de sinais, através da
modalidade gesto-visual e trimendisional, dificulta a captação de cada detalhe e do
espaço de sinais. Os avanços tecnológicos propiciaram uma melhor descrição das
línguas de sinais, conforme apresentam Quadros; Pizzio (2007). Outros autores,
McCleary e Viotti (2007), mostraram a grande dificuldade nos sistemas de notação,
ou seja, nas formas de representar os sinais nos sistemas de transcrição de dados
porque cada grupo de pesquisa utiliza uma notação diferente ou adaptações de
um mesmo sistema de notação, de acordo com seu objeto de estudo, dificultando,
assim, a padronização e propõem, no futuro, o armazenamento dos trabalhos
coletados em um único banco de dados, acessível a qualquer pesquisador.

a) Sistema de Transcrição para a LIBRAS

As línguas de sinais têm características próprias e existem sistemas Sistema de notação


de convenções. Antigamente, usavam-se estas convenções (veja tabela em palavras”
a seguir) para escrevê-las, utilizando vídeo para reproduzir a distância. porque as palavras
Este sistema, conforme Felipe (1988,1991,1993), é um “Sistema de de uma língua
notação em palavras” porque as palavras de uma língua oral-auditiva oral-auditiva
são utilizadas
são utilizadas para representar aproximadamente os sinais. Estas
para representar
convenções vêm sendo utilizadas para poder representar, linearmente, aproximadamente
uma língua espaço-visual, que é tridimensional. Veja abaixo a tabela os sinais.
comparando os estudos de Brito (1982) e Felipe (1988,1991,1993).

Quadro 1 – Comparação dos estudos de Brito (1995) e Felipe (1988, 1991, 1993).

CATEGORIAS BRITO (1984) FELIPE (1988,1991,1993)


Letra maiúscula em português para con- Os sinais da LIBRAS, para efeito
ceitos da LIBRAS: de simplificação, serão represen-
HOMEM TRABALHAR MUITO. tados por itens lexicais da Língua
GLOSA
O verbo vem sempre na forma infinitiva, Portuguesa (LP) em letras maiúscu-
posto que não há flexão para modo e las. Exemplos: CASA, ESTUDAR,
tempo verbal em LIBRAS. CRIANÇA, etc.
Um sinal, que é traduzido por
Quando duas ou mais palavras em
duas ou mais palavras em língua
português são necessárias para traduzir o
portuguesa, será representado
conceito que é representado por um único
PALAVRA pelas palavras correspondentes,
sinal em LIBRAS, eles devem ser ligados
COM HÍFEN separadas por hífen, por exemplo:
por hífen.
CORTAR-COM-FACA, QUER-
NÃO-QUERER, BEBER-PINGA, COMER-
ER-NÃO “não querer”, MEIO-DIA,
-MAÇÃ.
AINDA-NÃO, etc.

31
Língua brasileira de sinais

Um sinal composto, formado por


dois ou mais sinais, que será repre-
SINAL COMPOS- sentado por duas ou mais palavras,
TO mas com a ideia de uma única coisa,
serão separados pelo símbolo ^, por
exemplo: CAVALO^LISTRA (zebra).
Usamos letras separadas pelo hífen
quando se trata de soletração digital: A datilologia ( alfabeto manual), que
é usada para expressar nome de
#J-O-Ã-O#R-I-O pessoas, de localidades e outras
Este tipo de soletração é usado quando palavras que não possuem um sinal,
DATILOLOGIA
se trata de nome próprio de pessoa e de está representada pela palavra
lugar ou, então, quando não há sinal para separada, letra por letra, por hífen,
o conceito expresso na palavra da Língua por exemplo: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-
Portuguesa. É o caso dos empréstimos, E-S-I-A.
marcados por #.
O sinal soletrado, ou seja, uma
palavra da língua portuguesa que,
por empréstimo, passou a pertencer
à LIBRAS por ser expressa pelo
SINAL SOLETRA- alfabeto manual com uma incorpo-
DO ração de movimento próprio desta
língua, está sendo representado pela
datilologia do sinal em itálico, por
exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O,
QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc.
Na LIBRAS não há desinências para
Como se pode observar em Verbo-Di- gêneros (masculino e feminino) e nú-
recional e Pronomes (tabela a seguir), mero (plural), o sinal, representado
não há marcação de gênero nem nos por palavra da Língua Portuguesa
verbos com flexão ou direcionais e nem que possui estas marcas, está termi-
nos pronomes. Assim, se a pessoa é do nado com o símbolo @ para reforçar
DESINÊNCIAS sexo feminino, esta informação deverá a ideia de ausência e não haver
ser inferida através do contexto. No caso confusão, por exemplo: AMIG@
de ambiguidade, o enunciador pode se “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s)
servir do sinal feminino (sinal que aparece e frio(s)”, MUIT@ “muita(s) e mui-
nas expressões menina em oposição a to(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”,
menino) após o pronome ou antes dele. EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@ “mi-
nha(s) e meu(s)” etc.

32
Capítulo 1 Libras

As expressões faciais e corporais podem Os traços não-manuais: expressões


expressar interrogação facial e corporal, que são feitos
(___ ____), exclamação (__!___), topi- simultaneamente com um sinal,
calização (__t___), negação (___ñ___), estão representados acima do sinal
intensidade (___int___), força ilocucioná- ao qual está acrescentando alguma
ria (___EFp____), no caso de um pedido, ideia, que pode ser em relação ao:
(___EFo___), no caso de uma ordem, a) tipo de frase ou advérbio de
etc., e serão representadas, respectiva- modo: interrogativa ou ... i ... neg-
mente, pelos símbolos abaixo, entre os ativa ou ... neg ... etc.
pontilhados acima da porção do enuncia- Para simplificação, serão utiliza-
TRAÇOS NÃO
do onde elas aparecem: dos, para a representação de frases
MANUAIS
__t___ nas formas exclamativas e inter-
CARRO, EU COMPRAR NOVO (Eu rogativas, os sinais de pontuação
comprei um carro novo) utilizados na escrita das línguas
__ ___ orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!
NOME, pro2 (Qual é o seu nome ) b) advérbio de modo ou um inten-
___!____ sificador: muito rapidamente exp.f
BONITO Loc1 (Que bonito isto aí!) “espantado” etc.
___ñ____ Exemplos:
ACREDITAR VOCÊ (Não acredito em exclamativo
você) NOME
Os verbos que possuem concordân-
TRAÇOS NÃO
cia de gênero (pessoa, coisa,
MANUAIS
animal), através de classificadores,
VERBOS COM
estão representados por um tipo de
CONCORDÂNCIA
classificador em subscrito. Exem-
DE GÊNERO
plos:
ATRAVÉS DE
pessoaANDAR,
CLASSIFICADO-
veículoANDAR,
RES

coisa-arredondadaCOLOCAR, etc.

33
Língua brasileira de sinais

Os verbos que possuem concordân-


cia de lugar ou número-pessoal,
através do movimento direcionado,
estão representados pela palavra
correspondente com uma letra em
subscrito que indicará:

a) a variável para o lugar:


i = ponto próximo à 1a pessoa,
j = ponto próximo à 2a pessoa,
e k’ = pontos próximos à
3a pessoas, e = esquerda,
VERBOS COM
d = direita;
CONCORDÂNCIA
DE LUGAR OU
b) as pessoas gramaticais:
NÚMERO-PES-
1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3a pessoas
SOAL
do singular;
1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3a pessoas
do plural;
1p, 2p, 3p = 1a, 2a e 3a pessoas
do plural;

Exemplos:
1s DAR2S “eu dou para “você”,
2sPERGUNTAR3P “você pergunta
para eles/elas”,
kdANDARk,e “andar da direita (d)
para à esquerda (e)
Às vezes, há uma marca de plural
pela repetição do sinal. Esta marca
será representada por uma cruz no
PLURAL
lado direto, acima do sinal que está
sendo repetido:
Exemplo: GAROTA +

34
Capítulo 1 Libras

Quando um único enunciado é realizado


Quando um sinal, que geralmente é
com ambas as mãos ao mesmo tempo,
feito somente com uma das mãos,
colocam-se os sinais simultâneos um
ou dois sinais estão sendo feitos
acima do outro, isto é, em linhas difer-
pelas duas mãos simultaneamen-
entes, vindo na primeira linha o(s) sinal(is)
te, serão representados um traço
SINAL COM realizado(s) com a mão dominante (mão
abaixo do outro com indicação das
DUAS MÃOS direita para os destros).
mãos: direita (md) e esquerda (me).
Outras estratégias podem ser utilizadas
Exemplos:
na transcrição de enunciados e textos,
IGUAL (md) PESSO@-MUIT@
porém, estas são as mais básicas e nos
ANDAR (me)
limitaremos a elas, que constam no livro
IGUAL (me) PESSOAEM-PÉ (md).
da autora Lucinda Brito.
Quando o verbo é direcional, isto é, apre-
senta flexão, marcando sujeito e objeto,
usamos números de 1 a 3 para marcar as
pessoas no singular ou 1p, 2p e 3p para
VERBO DIRECIO- as pessoas do plural.
NAL 1DAR2 LIVRO (Eu dei o livro para você)
3pTELEFONAR1 ONTEM (Elas/eles me
telefonaram ontem)
3PERGUNTAR1p VERDADE (Ele/Ela nos
disse a verdade).
Os pronomes em LIBRAS são representa-
dos da seguinte forma:
PRONOMES
pro3 NÂO-GOSTAR pro1 (Ela/ele não
gosta de mim)
Os pronomes demonstrativos e os advér-
PRONOME DE- bios de lugar são representados por
MONSTRATIVO Loc i - este/aqui
OU ADVÉRBIO Loc j – esse/aí
DE LUGAR Loc k – aquele/a, ali/lá
Loc é o símbolo para locativo.
Os classificadores são representados
pelas iniciais CL: acompanhadas de
símbolos de configuração de mãos que
CLASSIFICADO-
são utilizadas para representar a classe
RES
semântica que representam.
CARRO CL: V BATER CL: G1 POSTE (O
carro bateu no poste)

Fonte: Disponível em: <http://www.ines.gov.br/ines_


livros/37/37_003.HTM>. Acesso em: 12 abr. 2011.

35
Língua brasileira de sinais

Atividade de Estudos:

1) Para praticar a transcrição de língua de sinais, use os sistemas


de Brito e Felipe para analisar os sinais pelo link: http://www.
youtube.com/watch?v=xnK25QJgSYc

Resposta abaixo:

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b) Sistemas de transcrição em Libras

Com as tecnologias avançadas, foram criados vários sistemas de transcrição


de dados em línguas de sinais disponíveis, a seguir você poderá listamos os
sistemas mais utilizados, com uma breve explicação e o link para que você possa
acessá-los:

BTS - Berkeley Transcription System - Berkeley System (BTS)


foi projetado para a transcrição de sinais através de vídeos com a
linguagem ao nível do significado dos componentes. O objetivo do
sistema BTS é fornecer um meio de transcrever a língua de sinais
com os seguintes objetivos:

36
Capítulo 1 Libras

• Compatibilidade com programas de chat formato e CLAN (Childes);


• representação linear numa linha contínua digitada, utilizando
apenas caracteres ASCII;
• representação ao nível do significado dos componentes;
• A representação plena de elementos de verbos polycomponential;
• representação dos elementos manual e não-manual;
• representação de seu olhar, desvio de função, atenção visual;
• representação de gestos e de outros atos comunicativos;
• notação das características de interação adulto-criança (sinais
das crianças e seus erros, que se sobrepõem através de
autocorreção).

File Make Pro – Desenvolvido para gerenciar detalhes, monitorar,


organizar e arquivar fotos, vídeos e outros arquivos multimídia, exibir
informações da web ao vivo, ligadas aos seus dados no seu banco
de dados. Possui conexões ao vivo de duas vias para os seus dados
SQL e suas organizações. Compartilha dados com o Windows e Mac
simultaneamente através da rede ou através da web. Site: <http://
www.filemaker.com/>.

ANVIL (Annotation of video and language data). Desenvolvido


por Michael Kipp, do DFKI (Centro Alemão para Pesquisas em
Inteligência Artificial), para a anotação de comunicação não-verbal.
Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações. Disponível
gratuitamente para fins educacionais e de pesquisa.

Para plataformas PC, Mac e Unix. Site: <http://dfki.de/~kipp/


anvil/>.

ELAN (EUDICO - Linguistic Annotator). Criado pelo Instituto Max


Planck de Psicolinguística especificamente para análise linguística,
está sendo desenvolvido junto a um grupo de pesquisadores de
línguas de sinais. Permite múltiplas trilhas customizáveis para
anotações e vídeos simultâneos. Distribuído gratuitamente para
plataformas PC, Mac e Unix.

Site: <http://www.lat-mpi.eu/tools/elan/>.

CLAN (Computerized Language Analysis). Desenvolvido na


Universidade

Carnegie Mellon para analisar dados transcritos no formato


CHILDES. Não é um software específico para transcrição a partir

37
Língua brasileira de sinais

de vídeo, mas permite a interligação de trechos da transcrição com


trechos de áudio e vídeo. Compatível com o Berkeley transcription
system for sign language research (BTS). Distribuído gratuitamente
para plataformas PC, Mac e Unix na base de troca de dados com o
projeto CHILDES.

Site: <http://childes.psy.cmu.edu/>.

SIGNSTREAM. Desenvolvido pelo American Sign Language


Linguistic Research Project, da Universidade de Boston,
especificamente para pesquisa com línguas sinalizadas. Permite
múltiplas trilhas customizáveis para anotações e vídeos simultâneos.
Disponível para plataforma Mac, mediante compra de licença por
uma quantia simbólica.

Site: <http://www.bu.edu/asllrp/SignStream/>.

TRANSANA. Ferramenta para transcrição e análise qualitativa


de dados em áudio e vídeo, desenvolvida no Wisconsin Center for
Education Research. Permite interligação de trechos da transcrição
com trechos de áudio e vídeo. Transcrição livre, sem predefinição de
trilhas. Disponível gratuitamente para plataforma Windows.

Site: <http://www.transana.org/>.

Destes vários sistemas de transcrição, o ELAN é o que tem sido utilizado


pelos pesquisadores, linguistas e bolsistas de projeto de pesquisa de língua de
sinais aqui no Brasil, na tentativa de padronizar as transcrições da Língua de
Sinais Brasileira.

Por esta razão, vamos ler a reprodução da parte do texto base das autoras
(QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008, p.39)sobre o ELAN:

[...] é descrito como uma ferramenta de anotação que


permite que você possa criar, editar, visualizar e procurar
anotações através de dados de vídeo e áudio. Foi projetado
especificamente para a análise de línguas, da língua de sinais
e de gestos, mas pode ser usado por todos que trabalham
com corpora de mídias, isto é, com dados de vídeo e/ou áudio,
para finalidades de anotação, de análise e de documentação
destes. É de fácil interface entre as diferentes informações,
permitindo um número ilimitado de registros determinado pelos
pesquisadores. Comporta conjuntos de diferentes caracteres

38
Capítulo 1 Libras

e exporta os registros como documentos de texto. Através


deste sistema, o pesquisador pode visualizar diferentes
blocos de informação simultaneamente (como os vídeos, as
glosas, as traduções das glosas, as marcas não-manuais,
os sons associados aos sinais, o contexto, os comentários,
entre outros.). No momento em que o pesquisador fixa em
um ponto determinado da transcrição, imediatamente os
outros blocos de informação relacionados a ela aparecem.
Os vídeos podem ser salvos como documentos *.mpg ou
*.mov e visualizados de diferentes formas. Até quatro vídeos
podem ser visualizados simultaneamente, sendo que os
mesmos podem ser sincronizados (no caso de vídeos de uma
mesma imagem, porém de ângulos diferentes) com o mesmo
tempo. É possível, inclusive, abrir uma tela exclusiva para os
vídeos que podem ser rodados no tamanho da tela e facilitar
a visualização de detalhes. Os vídeos podem ser rodados
em diferentes velocidades e cada quadro pode ser localizado
apresentando-se uma variedade grande de opções (próximo
quadro, quadro anterior, começo do vídeo, final do vídeo,
volta um segundo, segue um segundo, volta um pixel (menor
unidade de imagem)).

Algumas Considerações
Apresentamos, neste capítulo, os objetivos, as funções e a competência dos
linguistas da área de língua de sinais. Para ter a “imersão” da Língua de Sinais
Brasileira, é fundamental ter na mente a ampliação de conhecimento sobre o
uso das propriedades da Língua de Sinais Brasileira utilizada pela comunidade
Surda. E para ambientar, gravar, analisar os dados da língua de sinais, use os
vários sistemas de transcrição de sinais, de acordo com a possibilidade, o tempo
e a facilidade do manuseio das ferramentas na prática de transcrição. Com o
desenvolvimento da tecnologia, a ferramenta de transcrição ficou mais fácil e
acessível ao público em geral.

Referências
BRASIL. Lei no 10.436 de 24 de abril de 2002. Estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Brasília: MEC. Disponível em: < http://www.planalto.gov.
br/ccivil/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 25 maio 2011.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1982.

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FELIPE, T.A. O Signo Gestual-Visual e sua Estrutura Frasal na Língua


dos Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1988.

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de conclusão da disciplina História da Análise do Discurso, (Doutorado em
Lingüística) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991

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Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva/Instituto Houaiss, 2001. CD-Rom 1.

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estudo piloto da transcrição de narrativas na língua de sinais brasileira (LSB). In:
SALLES, H. (Org.) Bilinguismo e surdez. Questões linguísticas e educacionais.
Goiânia: Cânone Editorial, 2007.

QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L.; REZENDE, P. Libras – IV. Texto Base da


Letras – Libras - Ensino a Distância. UFSC: Florianópolis, 2008.

QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L. Aquisição da língua de sinais brasileira:


constituição e transcrição dos corpora. In: SALLES, H. (Org.) Bilinguismo e
surdez. Questões linguísticas e educacionais. Goiânia: Cânone Editorial, 2007.

QUADROS, R. M. de. Efeitos de Modalidade de Língua: As Línguas de Sinais.


Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.167-177, jun. 2006. Disponível
em: <http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=120&layout=abstract>.
Acesso em: 12 abr. 2011.

40
Capítulo 1 Libras

WILCOX, Sherman. Aprender a Ver. Petrópolis: Ed. Arara-Azul, 2005. Disponível


em: <http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/livro2.pdf>. Acesso em: 12 abr.
2011.

STOKOE, James. Decorative and ornamental brickwork: 162 photographic


illustrations. New York : Dover Publications, 1960.

41
Língua brasileira de sinais

42
C APÍTULO 2
Fonologia da Língua de Sinais

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Constatar o processo fonológico da língua de sinais brasileira.

99 Comparar a diferença entre a língua de sinais e a língua oral.

99 Compreender os cinco parâmetros da língua de sinais.

99 Aprofundar o conceito sobre Configuração de Mãos, Ponto de Locação,


Orientações de Mãos, Movimento e Expressões Faciais/Corporais.
Língua brasileira de sinais

44
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Contextualização
Vamos conhecer, neste capítulo, os conceitos e exemplos na área da fonologia
dos sinais, principalmente, das unidades funcionais do sinal - configuração de mão,
movimento, locação, orientação de mãos, bem como expressões faciais e corporais.
Além disso, iremos conhecer e compreender as restrições na formação de sinais.

A Fonologia das Línguas de Sinais, presente nos aspectos teóricos deste


caderno, explica que a fonologia faz parte do ramo da linguística. O objetivo dela
é identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, elucidando
descrições e explicações. Também oferece uma teorização básica e uma revisão
da literatura na área da fonologia dos sinais. Vamos conhecer, neste capítulo,
os conceitos e exemplos na área da fonologia dos sinais, principalmente, das
unidades funcionais do sinal - configuração de mão, movimento, locação,
orientação de mãos, bem como expressões faciais e corporais.

Neste capítulo iremos aprender um pouco sobre a fonologia da língua de


brasileira de sinais, para tanto este capítulo está dividido em três seções: 1)
Organização fonológica das línguas de sinais; 2) Parâmetros da Língua de Sinais;
3) As restrições na formação de sinais.

Organização fonológica das línguas


de sinais As línguas de
sinais por serem
As línguas de sinais por serem da modalidade gestual-visual (ou da modalidade
espaço-visual), cuja informação linguística é recebida e vista pelos gestual-visual (ou
espaço-visual),
olhos, são produzidas e sinalizadas pelas mãos.
cuja informação
linguística é
A organização fonológica da língua de sinais possui dois recebida e vista
parâmetros, que são: pelos olhos, são
produzidas e
• primários: são as mãos (configuração de mãos), que se sinalizadas pelas
mãos.
movimentam no espaço em frente ao corpo do interlocutor
(movimentos) e o espaço onde se articulam os sinais em
determinados pontos (locações).

• secundários: as mãos se posicionam de acordo com o movimento


(orientações de mãos) e o interlocutor usa várias expressões corporais e
faciais como elementos extralinguísticos.

45
Língua brasileira de sinais

Sobre o sinal, que é o léxico ou sinalário (no caso da língua de


O sinal tem os
mesmos princípios sinais), pode-se dizer que tem os mesmos princípios linguísticos que a
linguísticos que a palavra das línguas orais, pois tem uma gramática.
palavra das línguas
orais, pois tem uma Um sinal pode ser utilizado em:
gramática.
a) Uma mão – para articular um sinal, dependendo do discurso do
interlocutor, como mostra o exemplo abaixo:

Figura 16 – Sinal: Cavalo

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

b) Duas mãos - um sinal pode ser articulado com as duas mãos, por exemplo:

Figura 17- Sinal: Cruz

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 10 abr. 2011.

c) Duas mãos na condição de simetria – um sinal pode ser articulado com as


duas mãos em um mesmo movimento, por exemplo:

Figura 18 - Sinal: blusa (movimento de cima para baixo)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

46
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

d) Duas mãos na condição de assimetria – um sinal pode ser articulado com


as duas mãos em movimentos diferentes (alternância de movimentos), por
exemplo:

Figura 19 - Sinal: economia, administração, econômico (movimento em rotação)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

e) Uma mão dominante e outra mão não-dominante (passiva) – de acordo com a


restrição de sinais e de interação entre as mãos, um sinal pode ser articulado
com as duas mãos com configuração de mãos iguais e movimentos diferentes,
por exemplo:

Figura 20 - Sinal: árvore (o cotovelo do braço direito – braço dominante - pousa


em cima do dorso da outra mão esquerda – mão não-dominante ou passiva).

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

f) Uma mão dominante e outra mão não-dominante (passiva) – de acordo com a


restrição de sinais e de interação entre as mãos, um sinal pode ser articulado
com as duas mãos com configuração de mãos diferente e movimentos
diferentes, por exemplo:

Figura 21 - Sinal: nu (o dedo da mão direita – mão dominante - movimenta raspando


levemente no dorso da mão esquerda que fica parada – mão não-dominante ou passiva)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

47
Língua brasileira de sinais

g) Mão destra ou mão canhota – o sinal pode ser articulado de acordo com a
habilidade do interlocutor. Para restringir o sinal de acordo com a habilidade
das mãos, tem-se que usar a posição do braço e das mãos em vertical, por
exemplo:

Figura 22 - Mão esquerda

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=p0YMldORFDA>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Figura 23 - Mão direita

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

É errado usar as É errado usar as duas mãos sem critério, como mostram as figuras
duas mãos sem a seguir. Na primeira, o usuário usou a mão direita e, na segunda, usou
critério. a mão esquerda. A posição do sinal “amar” é sempre no lado esquerdo.

Figuras 24 e 25 – Uso equivocado das mãos

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


48 watch?v=8VK7LeVy5p8>. Acesso em: 12 abr. 2011.
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Atividade de Estudos:

1) Procure nos dicionários digitais (www.ines.gov.br e outros) ou no


youtube as palavras-chave sinais em libras e capture 10 sinais
diferentes: 5 mostrando o uso de duas mãos e 5 mostrando o
uso de apenas uma mão (tanto na habilidade esquerda quanto
na direita). Se souber adivinhar os nomes, escreva-os abaixo da
imagem capturada.

Dica: para conseguir capturar as imagens do site, sugirimos que


clique nas teclas CTRL + PRTSC SYSRQ e ao mesmo tempo sobre
a imagem e passe para PAINT.
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Parâmetros da Língua de Sinais


Nos anos de 1960 a 1970, o pesquisador e professor americano Stokoe
e seu grupo de pesquisadores se dedicaram à pesquisa de línguas de sinais,
comparando as estruturas e a organização dos elementos das línguas de sinais
com os das línguas orais. Descobriram que na descrição e análise estrutural da
Língua de Sinais Americana (ASL) os sinais são vistos como partes de um todo
(fonemas que compõem morfemas e sinais).

Stokoe (1982) propôs os parâmetros em ASL, cujas unidades não são


carregadas separadamentes, assim como:

(1) a. Configuração de mão (CM)


b. Locação da mão (L)
c. Movimento da mão (M)

49
Língua brasileira de sinais

Para validar a teoria do Stokoe, Hulst (1993 apud QUADROS; KARNOPP,


2005) mostra as diferenças entre as duas línguas: orais (sequencialidade) e de
sinais (simultaneidade), como mostra o quadro abaixo:

µ = morfema.
[ ] = um fonema ou conjunto de especificações representando uma
determinada palavra (CM, M ou L).

Quadro 2 – Diferenças entre línguas orais e de sinais

[s] [o] [l] [ ] (CM)


µ
sol [ ] (M)
µ
sol [ ] (L)

Língua oral Língua de Sinais

Fonte: Quadros e Karnopp (2005, p. 49).

Veja abaixo a figura dos parâmetros fonológicos da Língua de Sinais


Brasileira:

Figura 26 – Parâmetros fonológicos da Língua de Sinais Brasileira

Cada unidade do
parâmetro tem
seus aspectos
diferentes. Para
comparar a sua
diferença, cabe
aos pesquisadores Fonte: Disponível em: <http://www.rebecanemer.com.br/
identificar cada surdos/libras.html>. Acesso em: 12 abr. 2011.
unidade, usando
os contrastes
que mostram Durante a análise, Stokoe estabeleceu o primeiro parâmetro:
suas diferenças configuração de mãos, locação e movimentos. Depois, com o
no significado pesquisador Battison (1974, 1978 apud QUADROS; KARNOPP,
dos sinais. Suas 2005), estabeleceu o segundo parâmetro que é: orientação de mãos e
diferenças de expressões faciais e corporais. Os novos conceitos passaram a fazer
significados são
parte do sistema fonológico de línguas de sinais. Em 1990, aqui no
denominadas de
pares mínimos. Brasil, a linguísta Lucinda Brito (1990, 1995) apresentou no seu livro as
propriedades de cada parâmetro de Língua de Sinais Brasileira.
50
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Cada unidade do parâmetro tem seus aspectos diferentes. Para comparar


a sua diferença, cabe aos pesquisadores identificar cada unidade, usando os
contrastes que mostram suas diferenças no significado dos sinais. Suas diferenças
de significados são denominadas de pares mínimos.

Exemplo:

Figuras 27 e 28 - Sinais em configuração de mãos iguais e movimentos diferentes

Sinais em configuração de mãos iguais e movimentos diferentes

entender saber

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Figuras 29 e 30 – Sinais em configuração de mãos iguais e locação diferente

Sinais em configuração de mãos iguais e locação diferente

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Figuras 31 e 32 – Sinais em configuração de mãos diferentes e locação igual

Sinais em configuração de mãos diferentes e locação igual

Mentira, mentir Deixar para lá

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

51
Língua brasileira de sinais

O que é par mínimo?

Na fonologia, o par mínimo são duas palavras ou frases, numa


determinada língua, que dependem unicamente de um só fonema
para distinguir o seu significado. São comumente usados para indicar
que dois sons constituem dois fonemas distintos nessa língua.

Ex:
a) Língua Portuguesa – bola / cola
b) Língua de Sinais – aprender / laranja

Figuras 33 e 34 – Indicação de um par mínimo na língua de sinais.

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Atividade de Estudos:

Vamos exercitar com os olhos!

1) Procure nos dicionários digitais (www.ines.gov.br e outros) ou


no youtube as palavras chaves: sinais em libras e identifique
dez pares mínimos de cada tipo, diferentes dos que foram
apresentados no material, ou seja, com diferença apenas na
configuração da mão, apenas na locação e apenas no movimento.

Vamos conhecer cada unidade dos parâmetros a seguir:

a) Configuração de Mãos

É uma unidade mínima da fonologia da língua de sinais brasileira. Muitos


pesquisadores e linguistas (BRITO, 1995; FELIPE, 1998) apresentaram vários

52
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

inventários de Configuração de Mãos que são coletados em diversas cidades


do Brasil. Porém, atualmente, apresentaremos as 75 configurações de mãos,
conforme o quadro da linguista Faria-Nascimento (2009) abaixo:

Figura 35 – Configuração de mãos

Fonte: Faria-Nascimento (2009).

O que é Configuração de Mãos? É uma unidade mínima


fonético-fonológica da língua de sinais. Na língua portuguesa, a
palavra ou item lexical “certo” é formada dos seguintes componentes
ou unidades, por exemplo:

em português falado

/sertu/

Temos aqui cinco sons ou fonemas, isto é, cinco componentes


ou unidades mínimas da palavra falada “certo”.

em português escrito

certo

53
Língua brasileira de sinais

Fonte: Exemplo tirado do site <www.ines.gov.br>.


Na libras

O sinal “certo” a CM é utilizado pelo número 62

Figura 36 – Sinal de “certo”.

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Se está interessado(a) em conhecer as unidades mínimas de


fonética e fonemas da língua portuguesa, acesse o site: http://web.
letras.up.pt/srodrigues/pdfs/term_ling_actas.pdf

Lá você vai entender o porquê do uso de fonemas das línguas


orais serem distintas da língua de sinais. O nosso “fonema” é a
Configuração de Mãos.

Acesse o site www.ines.gov.br, veja no lado esquerdo a tabela


“Ordem”, clique “Mãos” e verá as diversas configurações de mãos.
Se você for clicando em cada um deles e acabará aprendendo que
cada configuração de mãos tem os seus sinais próprios.

54
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Durante a articulação de sinais, através dos dedos ou das palmas das mãos,
a CM pode permanecer na mesma ou mudar para outra configuração. Nesta
mudança, acontece o movimento interno ou externo da mão, que é o ponto
principal da CM.

b) Movimento

Os autores Ferreira-Brito e Langevin (1995) definem que os


Ferreira-Brito e
movimentos das mãos do enunciador na língua de sinais precisam Langevin (1995)
representar o objeto e o espaço. A complexidade do movimento, como definem que
um dos parâmetros, ocorre porque envolve várias formas e direções, os movimentos
tais como movimentos internos, externos, os movimentos do pulso e os das mãos do
movimentos direcionais no espaço. (KLIMA; BELLUGI, 1979). enunciador
na língua de
sinais precisam
Não são somente estes tipos de movimentos, a autora Ferreira- representar o
Brito (1990) enfatiza que o movimento pode estar também no antebraço. objeto e o espaço.
Os movimentos direcionais podem ser unidirecionais, bidirecionais
ou multidirecionais. A maneira descreve a categoria que envolve a
qualidade, a tensão e a velocidade do movimento. A frequência se
refere ao número de repetições de um movimento. Veja abaixo o quadro
das categorias do movimento.

TIPO
Contorno ou forma geométrica: retilíneo, helicoidal, circular, semicircular, sinuoso, angular,
pontual;
Interação: alternado, de aproximação, de separação, de inserção, cruzado;
Contato: de ligação, de agarrar, de deslizamento, de toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou
de pincelar;
Torcedura do pulso: rotação, com refreamento;
Dobramento do pulso: para cima, para baixo;
Interno das mãos: abertura, fechamento, curvamento e dobramento (simultâneo/ gradativo).
DIRECIONALIDADE

Direcional

- Unidirecional: para cima, para baixo, para direita, para esquerda, para dentro, para fora, para
o centro, para a lateral inferior esquerda, para a lateral inferior direita, para a lateral superior
esquerda, para a lateral superior direita, para um específico ponto referencial;

- Bidirecional: para cima e para baixo, para esquerda e para direita, para dentro e para fora, para
as laterais opostas – superior direita e inferior esquerda;

Não-direcional

55
Língua brasileira de sinais

MANEIRA
Qualidade, tensão e velocidade:
- contínuo;
- de retenção;
- refreado.

FREQUÊNCIA
Repetição:
- simples;
- repetido.
Quadro 3 - Categorias do parâmetro Movimento na LIBRAS
Fonte: Ferreira-Brito (1990).

O que é Movimento?

Define os movimentos das mãos do enunciador na língua de


sinais.

Veja o movimento das mãos do Intérprete de Língua de


Sinais no noticiário, clique no site: http://www.youtube.com/
watch?v=9HBH9g1M8ZU

Aprecie os tipos: direcionalidade, maneira e frequência.

Atividade de Estudos:

1) Clique no site www.ines.gov.br e observe os cincos sinais: casa,


pato, trabalhar, economia e nascer.
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Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

2) Descreva todos os sinais acima mencionados, o tipo de


direcionalidade, a maneira e a frequência.
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c) Locação

Há vários autores brasileiros que utilizam terminologia diferente, assim como


Ponto de Articulação, Ponto de Locação ou mesmo Locação, mas os conceitos
são os mesmos.

A autora Lucinda Brito (1990, p.33) mostra, na figura abaixo, o espaço


utilizado na realização de sinais.

Figura 37 – Espaço utilizado na realização de sinais.

Fonte: Brito (1990, p. 33).

No espaço de enunciação há um número finito (limitado) de pontos, que são


denominados “pontos de articulação” ou “locação”. Não existem somente estes
pontos no espaço, denominado de espaço neutro, alguns pontos podem ser
direcionados e tocados nos diversos locais, como na ponta do nariz, e outros mais
abrangentes, como na frente do tórax. Vejamos o quadro abaixo elaborado pelos
linguístas Brito-Ferreira e Langevin (1995).

57
Língua brasileira de sinais

Quadro 4 – Categorias do parâmetro locação na Libras.

CABEÇA TRONCO
Topo da cabeça Pescoço
Testa Ombro
Rosto Busto
Parte superior do rosto Estômago
Parte inferior do rosto Cintura
Orelha
Olhos Braços
Nariz Braço
Boca Antebraço
Bochechas Cotovelo
Queixo Pulso
MÃO ESPAÇO NEUTRO
Palma
Costas das mãos
Lado do dedo indicador
Lado do dedo mínimo
Dedos
Ponta dos dedos
Dedo mínimo
Anular
Dedo médio
Indicador
Polegar
Fonte: Ferreira-Brito e Langevin (1995)

Para perceber a mensagem através do espaço de enunciação dos


interlocutores, é necessário estar frente a frente, onde a visualização é mais
visível, com os olhares fixos e diretos para os olhos de outro interlocutor. Veja a
figura abaixo:

Figura 38 – Posição para visualizar melhor os sinais

Fonte: Disponível em: <http://laurent.verlaine.pagesperso-


58 orange.fr/>. Acesso em: 12 abr. 2011.
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Em virtude da situação ou das circunstâncias, os interlocutores estarem


longe ou perto, o espaço de enunciação varia: se for longe, a sinalização tende a
aumentar; se for perto a sinalização será diminuida. Isso não impede de entender
porque o espaço e seu ponto de articulação têm suas posições ideais para mostrar
os enunciados. Por exemplo:

Figuras 39 e 40 – Interlocures perto ou longe

Longe Perto

Fontes:Disponíveis em: <http://www.odiario.com/geral/noticia/330023/surdez-


nao-limita-renan/> e <http://www.criativopunk.com.br/2008/04/19/wizkid-novas-
fronteiras-na-interacao-humano-computador/>. Acesso em: 12 abr. 2011.

O que é Locação (ou Ponto de Articulação ou Ponto de Locação)?

Segundo Friedman (1977, p. 4), “o ponto de articulação é aquela


área no corpo, ou no espaço de articulação definido pelo corpo, em
que o sinal é articulado”.

O ponto de articulação pode ser nos ombros, no nariz, na palma


da mão, na cabeça, no peito, nas coxas, etc., conforme figuras abaixo:

Figuras 41, 42 e 43 – Exemplos de pontos de articulação.

Sinal: estudar Sinal: estudar Sinal: estudar


Locação: neutro Locação: neutro Locação: neutro

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

59
Língua brasileira de sinais

Acesse o site: <http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos


/uel2007/147.htm> e reflita sobre a possibilidade de um Surdo-
Cego aprender a Língua de Sinais Brasileira. Formule 3 perguntas
e coloque no fórum para seus colegas compartilharem.

d) Orientação de Mãos

Outro parâmentro, cuja pesquisa apareceu depois do parâmetro primário, é o


da orientação de mãos. O autor Battison (1974) e seus seguidores pesquisadores
enfatizaram a necessidade de incluir este parâmetro na fonologia das línguas
de sinais, já que com a análise de comparação de pares mínimos em sinais,
apresentada por Stokoe, mostrou-se a mudança de significado somente na
produção de diferentes orientações da palma da mão. (BATTISON, 1974;
BELLUGI; KLIMA; SIMPLE, 1975).

A linguista brasileira Ferreira-Brito (1995) complementa, apresentando em


suas pesquisas seis tipos de orientações da palma da mão na língua de sinais
brasileira: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita ou para a
esquerda, de acordo com a discursividade do interlocutor.

Veja a figura abaixo. Ela ilustra os seis tipos de orientação.

Figura 44 – Orientações de mão.

60
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Fonte: Marentette (1995, p. 204).

O que é Orientação de Mãos?

Por definição, orientação é a direção para a qual a palma da


mão se dirige na produção do sinal. Veja as figuras abaixo:

Figuras 45 e 46 – exemplos de orientação de mãos.

Sinal: Língua de Sinais


Sinal: Estudar
Orientação de Mãos para
Orientação de Mãos para cima
o lado contralateral

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Atividade de Estudos:

1) Observe os cincos sinais: casa, pato, trabalhar, economia e nascer.


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Língua brasileira de sinais

2) Descreva em um quadro separado para cada sinal:

a) todos os tipos de orientações de mãos;


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b) todos os tipos de movimentos;


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c) todos os tipos de locação.


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e) Expressão facial e corporal

Comparando os diversos autores e seus pontos de vistas com a terminologia,


as expressões faciais/corporais ou expressões não-manuais (movimento da face,
dos olhos, da cabeça ou do tronco) na língua de sinais exercem dois papéis:
marcação de construções sintáticas; marcação de sinais específicos.

Na função sintática, as expressões não-manuais marcam sentenças:

• interrogativas sim-não (observe as expressões faciais que marcam a


sentença interrogativa);

Figuras 47 e 48 – Interrogativas sim-não.


Sim na sentença interrogativa Não na sentença interrogativa

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

62
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

• interrogativos QU-

Figura 49 – Indicação dos interrogativos QU.

Quem? Quantos? (de quantidade)

O que? Quanto custa?

Quem é esta pessoa? Que é isso?

Que é isto? (refere-se das coisas) Quando?

Que dia? Qual?

Qual um/a deles/delas?

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

63
Língua brasileira de sinais

• orações relativas (no caso de; dada a circunstância, de que aconteça);

Figura 50 – representação de orações relativas.

A soletração ritmica S-I significa o pronome SE


__n__
Exemplo da frase: S-I CHOVER, IR PRAIA

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

• topicalização: é o tema do discurso que apresenta uma ênfase especial,


posicionado no ínicio da frase e seguido de comentários a respeito desse
tema. (QUADROS; KARNOPP, 2000). Exemplo:

___int____

FLAMENGO, GOSTAR+++ VER JOGO

Também pode ocorrer na função sintática duas expressões não-manuais


na marcação de interrogação e negação que são sinalizadas ao mesmo tempo.
Exemplo:

Figura 51 – Duas expressões não manuais na marcação de interrogação e negação.

___n___ __?__

PODER TER CASA

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Os linguístas Ferreira-Brito e Langevin (1995) baseando-se nas pesquisas


de Baker (1983), identificaram várias expressões não-manuais da língua de sinais
brasileira, conforme quadro abaixo:

64
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Quadro 5 - Categorias do parâmetro Expressão facial e corporal na LIBRAS.

ROSTO
Parte inferior
Parte superior Bochechas infladas
Sobrancelhas franzidas Bochechas contraídas
Olhos arregalados Lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas
Lance de olhos Correr da língua levantada contra a parte interna da bochecha
Sobrancelhas levantadas Apenas bochecha direita inflada
Contração do lábio inferior
Franzir do nariz
CABEÇA
Balanceamento para frente e para trás (sim)
Balanceamento para os lados (não)
Inclinação para frente
Inclinação para o lado
Inclinação para trás
ROSTO E CABEÇA
Cabeça projetada para frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas
Cabeça projetada para trás e olhos arregalados

TRONCO
Para frente
Para trás
Balanceamento alternado dos ombros
Balanceamento simultâneo dos ombros
Balanceamento de um único ombro
Fonte: Ferreira-Brito e Langevin (1995).

As expressões não-manuais também se constituem de componentes lexicais


que marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa,
advérbio ou aspecto.

O que é expressão facial e corporal?

As expressões faciais e corporais são utilizadas para estabelecer


tipos de frases, como as entonações na língua portuguesa, por isso,
para perceber se uma frase em LIBRAS está na forma afirmativa,
exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa, é preciso
estar atento(a) às expressões facial e corporal que são feitas
simultaneamente com certos sinais ou com toda a frase. Exemplos:

65
Língua brasileira de sinais

Figura 52 – Frase interrogativa

Quem é esta pessoa?

Fonte: Disponível em: <http://www.ines.gov.br/ines_


livros/37/37_006.HTM>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Atividade de Estudos:

1) Assista a qualquer vídeo do youtube e escreva as diferenças entre


a expressão facial / corporal das pessoas Surdas com a expressão
facial das pessoas não-Surdas. Por que isso acontece?
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As regras mais
importantes são as
Restrições na formação de
restrições físicas
e linguísticas
sinais
para elaborar
Como você aprendeu nos parâmetros anteriores, as regras mais
as possíveis
combinações importantes são as restrições físicas e linguísticas para elaborar as
entre as unidades possíveis combinações entre as unidades mínimas na formação de
mínimas na sinais: configuração de mão, movimento, locação e orientação de mão.
formação de sinais: Algumas restrições são construídas e convencionadas pelo sistema
configuração de perceptual (visual) e outras pelo sistema articulatório (fisiologia das
mão, movimento,
mãos).
locação e
orientação de mão.

66
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

O sistema articulatório (fisiologia das mãos) é importante na produção de


sinais, pois a comunidade ouvinte tem pouca percepção visual e acaba errando
ou distorcendo o uso das CM. Por exemplo, o sinal correto para designar “língua
de sinais” exige que se use a CM de acordo com o quadro de Faria-Nascimento
(2009) número 54:

Figura 53 – Uso correto da articulação. Figura 54 – Uso incorreto da articulação.

Correto, porque as duas Errado, porque as duas mãos


mãos são separados se aproximam muito

Fonte: Disponível em;<http://www.


Fonte: Disponível em: <www.ines.
youtube.com/watch?v=auwiwpPPhyg>.
gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011
Acesso em: 12 abr. 2011

Outro erro ou distorção visual nos aspectos de locação é fazer os sinais na


frente do rosto. Os sinais produzidos nunca devem ficar em frente dos olhos, e
sim em frente do tronco, conforme os exemplos abaixo:

Figura 55 – Posição correta para a locação. Figura 56 – Posição incorreta para a locação.

Certo Errado

Fonte: Disponível em:


Fonte: Disponível em: <www.ines. <http://www.youtube.com/
gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011. watch?v=Hzf9xuQM4Bo&feature=related>.
Acesso em: 12 abr. 2011.

A comunidade Surda usa os olhos como uma das propriedades do sistema


de percepção visual, que marca e restringe a produção de sinais, como se pôde
observar nas figuras da locação (Figuras 55 e 56). O autor Siple (1978 apud
QUADROS; KARNOPP, 2005) mostrou que a acuidade visual é maior na área
da face, pois é em tal região que o interlocutor fixa o olhar. Portanto, é mais fácil
perceber ou detectar pequenas diferenças em CM, L, ou M.

67
Língua brasileira de sinais

Você sabia?

Souza (http://www.editora-arara-azul.com.br/revista/02/compar2.
php) descreve que para os surdos os campos perceptuais de
movimentos, formas e cores são detalhes que se destacam.
Portanto, os sujeitos surdos são conhecidos por serem “pessoas
visuais”, ou seja, por serem surdos, dispõem de uma maior acuidade
visual, abrangendo até 180 graus.

Na complexidade Como já explicamos no começo deste capítulo a respeito dos sinais


dos sinais, as com o uso de duas mãos, as restrições fonológicas na formação ideal
restrições na e organização de sinais podem ser exemplificadas pelas restrições em
formação de sinais, sinais produzidos pelas mãos.
através do sistema
de percepção visual
Na complexidade dos sinais, as restrições na formação de sinais,
e da capacidade
de produção através do sistema de percepção visual e da capacidade de produção
manual, fluem manual, fluem mais facilmente se forem produzidos e percebidos com
mais facilmente se mais controle e versatilidade da língua.
forem produzidos
e percebidos com Para produzir sinais pode-se fazer: (a) sinais produzidos com uma
mais controle e
mão, (b) sinais produzidos com as duas mãos em que ambas são ativas
versatilidade da
língua. e (c) sinais de duas mãos em que a mão dominante é ativa e a mão
não-dominante serve como locação (mão passiva), como se observa
nas figuras das letras “e” e “f” da organização fonologia de língua de
sinais brasileira.

Battison (1978) propôs as duas restrições fonológicas para as categorias


abaixo:

a) Condição de Simetria:

• para as duas mãos – a CM deve ser a mesma, a locação deve ser a mesma
ou simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado.

• para as duas mãos – a CM deve ser diferente, a locação deve ser a mesma ou
simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado.

68
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Por exemplo:

Figura 57 – Exemplos de Condição de Simetria.

Exemplo a Exemplo b

Diferente Estudar Brincar

Igual

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

b) Condição de Dominância:

Esta condição estabelece que se as mãos não dividem a mesma CM, então,
a mão ativa produz o movimento e a mão passiva serve de apoio e apresenta uma
das CM não-marcadas, como mostram as imagens a seguir:

Figura 58 – Exemplos de Condição de Dominância.

Sinal: árvore (o cotovelo Sinal: chocolate (os dedos Sinal: pesquisar, pesquisa
do braço direito - braço indicadores da mão direita (o dedo indicador da mão
dominante - pousa em - mão dominante - alisam direta - mão dominante
cima do dorso da outra levemente o dorso da outra - alisa a palma da mão
mão esquerda - mão não- mão esquerda - mão não- esquerda - mão não-
dominante ou passiva). dominante ou passiva) dominante ou passiva - em
linha perpendicular)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Na articulação de sinais, a mão não-dominante ou passiva serve como uma


adição de informação ao que se deseja transmitir ao outro interlocutor.

69
Língua brasileira de sinais

Acesse o site http://www.feneis.org.br/page/artigos/Teoricas_


de_Lingua_de_Sinais.pdf. Na página 211 há um capítulo com o
título “Modalidade e aquisição da língua: estratégia e restrições
na aprendizagem dos primeiros sinais”, do autor Richard P. Meier.
Analise, reflita e discuta com seus colegas a respeito das restrições
na formação de sinais das crianças Surdas.

Atividade de Estudos:

Pesquise no dicionário digital (www.ines.gov.br), crie 3 sinais


com a condição de dominância INCORRETA.
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Quer conhecer mais os sinais e, assim, aprender as


comunicações no dia a dia?

Veja nas indicações de vídeos a seguir os vários tipos de


Cumprimentos e formas de cumprimentar, como se dá o batismo de
sinal e muitos outros:

1) O vídeo da Rebecca (ouvinte) de São Paulo. É importante notar


que estes sinais são oriundos das variações regionais. Por
exemplo, os sinais de “Tudo bem” (depois da pergunta de Tudo
bem?) e “boa noite” são os sinais de São Paulo.

70
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

2) O vídeo da Juliana Cipriano (ouvinte) de Joinville (Santa Catarina)


também apresentou seus outros sinais de variações regionais.
Estes sinais são mais utilizados na comunidade Surda. Veja o link:

a) http://www.youtube.com/watch?v=AxC8AroKDt8
b) http://www.youtube.com/watch?v=UXk0bdKnpBQ
c) http://www.youtube.com/watch?v=8jERJ5tdtH4

3) No vídeo “Mãos de Sinais” você aprenderá os sinais da região do


Sul – Paraná.

http://www.youtube.com/watch?v=mBeLLxSUW9k

Aprendendo os sinais das cores:


http://www.youtube.com/watch?v=-XxCA9jMhls

Aprendendo os sinais do calendário:


http://www.youtube.com/watch?v=oa3EOYECZVI

Sinais de data comemorativa:


http://www.youtube.com/watch?v=qYDIzg92swc

Sinais de animais domésticos:


http://www.youtube.com/watch?v=Gu2jv9PplOY

Sinais de verbos:
http://www.youtube.com/watch?v=lriBIS3jZp0
http://www.youtube.com/watch?v=9r4AKZvS1do

Sinais de tempo:
http://www.youtube.com/watch?v=YOk3KT6DBT4

Sinais de outros vocabulários:


http://www.youtube.com/watch?v=hXj2B8QX4wA

Sinais de sentimentos:
http://www.youtube.com/watch?v=MaOpziW7P-U

Sinais de alimentos – tempos – numerais:


http://www.youtube.com/watch?v=tG6YX0L6Gr4

Sinais de Legumes e Verduras:


http://www.youtube.com/watch?v=QYhBzydY8Q0

71
Língua brasileira de sinais

Sinais de Dias:
http://www.youtube.com/watch?v=TPlVnu8tRf0

Sinais de Antônimos:
http://www.youtube.com/watch?v=VPUDeBvj-Vo

Sinais de Animais Selvagens:


http://www.youtube.com/watch?v=L0rfXVyfaig

Sinais de Aves:
http://www.youtube.com/watch?v=IV5UZqYqEXg

Sinais do Meio de Transporte:


http://www.youtube.com/watch?v=q-7k9sUl0EY
http://www.youtube.com/watch?v=0frbac0cmz8

Escolaridade – mostra os contextos educacionais que envolvem


a educação e seus materiais:
http://www.youtube.com/watch?v=lV8prbKqg8s

Mapa do Brasil e do mundo – mostra os sinais e a cultura


brasileira e do mundo:
http://www.youtube.com/watch?v=lIuVRGEIaOs

Família – mostra os sinais de cada família:


http://www.youtube.com/watch?v=0yr_K_hOt2E

Bom estudo!

Algumas Considerações
O presente capítulo abordou os aspectos da fonologia dos sinais na Língua
Brasileira de Sinais. Primeiramente vimos a organização fonológica dos sinais,
dando destaque aos termos, aos conceitos da área de articulação, às unidades
formacionais dos sinais e às regras das restrições na formação de sinais.
Também apresentamos vários exemplos para elucidar as teorias da literatura
sobre a fonologia da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) na descrição dos
parâmetros fonológicos: - configurações de mão (CM), movimento (M), locações
(L) ou ponto de articulação (PA), orientação da mão (Or) e expressões faciais e
corporais ou não-manuais (ENM).

72
Capítulo 2 Fonologia da Língua de Sinais

Referências
BAKER, C.; PADDEN, C. American Sign Language: a look at its history,
structure and community. Silver Spring: T.J. Publishers, Inc., 1983.

BATTISON, R. Lexical borrowing in American Sign Language. Silver Spring,


MD: Linstok, 1978.

BELLUGI, U; KLIMA, E.S; SIMPLE, P. Remembering in signs. Cognition, 1975.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1995.

FARIA-NASCIMENTO, S. P. de. Representações lexicais da língua de sinais


brasileira. Uma proposta lexicográfica. 2009. Tese (Doutorado) - Universidade
de Brasilía, UNB / LIP / Centro Lexterm, 2009.

FELIPE, T. A relação sintático-semântica dos verbos na língua brasileira


de sinais – Libras. v. I e II, Tese (doutorado) Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro 1998.

FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática da língua de Sinais. Rio de Janeiro:


Tempo Brasileiro, 1995.

INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS SURDOS - INES. Disponível em:


<ines.gov.br>. Acesso em: 12 abr. 2011.

KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua


Brasileira de Sinais (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de
pais surdos. 1994. Dissertação (Mestrado) _ Pontifícia Universidade Católica de
Porto Alegre, Porto Alegre, PUCRS, 1994.

______. Aquisição Fonológica na Língua Brasileira de Sinais: estudo


longitudinal de uma criança surda. 1999. Tese (Doutorado) - Pontifícia
Universidade Católica de Porto Alegre, Porto Alegre, PUCRS, 1999.

KLIMA, E.; BELLUGI, U. Wit and poetry in American Sign Language. Sign
Language Studies, n. 8, p. 203-224, 1975.

______. The signs of language. Cambridge, MA: Harvard University, 1979.

73
Língua brasileira de sinais

MARENTETTE, P. F. It’s in her hands: A case study of the emergence of


phonology in American Sign Language. 1995. Dissertation (PHD) - Department of
Psychology, McGill University, Montreal, 1995.

QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos


linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2000.

STOKOE, James. Decorative and ornamental brickwork: 162 photographic


illustrations. New York : Dover Publications, 1982.

74
C APÍTULO 3
Morfologia da Língua de Sinais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Esclarecer a formação dos léxicos.

99 Identificar os processos de formação de sinais.

99 Definir o processo morfológico da língua de sinais.

99 Registrar as descrições imagéticas.


Língua brasileira de sinais

76
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Contextualização
Apresentamos os aspectos, as propriedades e a formação dos A Língua de Sinais
léxicos na morfologia que podem mudar o significado e o sentido. Brasileira é a
O texto apresenta cada processo morfológico da língua de sinais, língua natural da
assim como toda língua oral. É igualmente importante refletir sobre comunidade Surda.
cada formação de sinais e sua descrição imagética, pois elas podem
descrever cada objeto, animais e pessoas. Fazemos tal apresentação no intuito
de treinar as captações e a inserção de alguns elementos na gramática da Língua
de Sinais Brasileira.

Formação dos léxicos da Língua de


Sinais Brasileira
Acabamos de esclarecer, no capítulo anterior, que a Língua
As unidades
de Sinais Brasileira é a língua natural da comunidade Surda e mínimas da
apresentamos suas estruturas a partir das unidades mínimas e de sua Língua de Sinais
formação. Agora, vamos conhecer os léxicos e, nos itens posteriores, Brasileira possuem
veremos como os léxicos se formam através da morfologia. Com a morfemas, que é
formação da morfologia, os significados mudam. um acréscimo de
outros elementos
que podem
As unidades mínimas da Língua de Sinais Brasileira possuem modificar os
morfemas, que é um acréscimo de outros elementos que podem significados.
modificar os significados. Este morfema possui duas estruturas:

a) Morfemas lexicais

São as unidades convencionadas pela comunidade Surda, como mostram as


figuras abaixo:

Figura 59 – Morfemas Lexicais

PATO

FELIZ

77
Língua brasileira de sinais

ÚTIL

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

b) Morfemas gramaticais

São as unidades que foram acrescidas nos morfemas lexicais, como mostram
as figuras abaixo:

Figura 61 – Morfemas gramaticais

PATO(s)
em PLURAL

Figura 60 – Morfema gramatical – Patos


Fonte: A autora.

FELIZ (mente)
em ADVÉRBIO
DE MODO

(in) ÚTIL
Em NEGAÇÃO

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.


78
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Atividade de Estudos:

Observe o desenho e marque o X de acordo com a figura:

1)

a) ( ) EL@ BEBER ÁGUA


b) ( ) EL@ BEBER ÁGUA++++

2)

a) ( ) EL@ NÃO-AMAR
b) ( ) EL@ AMAR

3)

a) ( ) EL@ BATER++++
b) ( ) EL@ BATER

4)

a) ( ) EL@ CARINHOS@++++
b) ( ) EL@ NÃO-CARINHOS@

Fonte: CELES (2006).

79
Língua brasileira de sinais

Também há outros morfemas que são acrescidos ou diminuídos de


acordo com a marca de substantivos para verbos e vice-versa, marcas de grau
aumentativo e de diminutivo, marcas de aspectos continuativo, repetitivo, etc.,
marcas de negação e classificadores que veremos nos outros itens deste capítulo.

Apesar da Processos de Formação de


modalidade viso-
gestual, a estrutura Língua de Sinais Brasileira
morfológica
tem suas Assim como a língua oral, as línguas de sinais têm suas
particularidades
estruturas processadas de forma morfologicamente parecida.
dentro da
complexidade Apesar da modalidade viso-gestual, a estrutura morfológica tem suas
dessa estrutura. particularidades dentro da complexidade dessa estrutura.

O que é morfologia?

Segundo a autora Quadros (2008), morfologia é o estudo da


estrutura interna das palavras (faladas ou sinalizadas), ou seja, das
unidades mínimas com significado (morfemas) e todos os aspectos
relacionados a elas (sua distribuição, classificação, variantes, etc.).
Envolve, também, os processos de formação e derivação das
palavras.

Apresentaremos os aspectos importantes a serem estudados neste capítulo,


apesar de haver vários aspectos da morfologia que ainda não foram estudados
e pesquisados. Quadros e Karnopp (2004) apresentaram uma revisão de alguns
estudos realizados com a Língua de Sinais Americana e que, em várias situações,
são aplicadas à Língua de Sinais Brasileira: derivação de sinais, flexão e tipos de
verbos. Agora vamos estudar cada um deles.

a) Derivação de sinais

As autoras Quadros e Karnopp (2004), em seu livro e em sua pesquisa,


explicam que, baseando-se na teoria de afixação morfológica na raiz léxical,
Aronoff, Meir e Sandler (2005) encontraram um tipo de afixação na ASL (Língua
de Sinais Americana). A afixação se deu pelo processo de gramaticalização de
léxicos que, como o tempo, vai se desenvolvendo dentro da língua. No entanto,

80
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

apesar da sua existência durante este tempo, os pesquisadores verificaram que é


difícil descobrir e identificar antes tal afixação como elemento constituinte.

Aronoff, Meir e Sandler (2005) propuseram as diferenças entre a simultaneidade


e a sequencialidade das estruturas morfológicas, conforme quadro a seguir:

Quadro 6 - Diferenças entre a simultaneidade e a


sequencialidade das estruturas morfológicas

Simultâneo Sequencial
- Universal entre as línguas de sinais. - Específico para cada língua de sinais.
- Relacionado à cognição espacial. - Não relacionado à cognição espacial.
- Motivado. - Arbitrário.
- Não relacionado a palavras livres. - Gramaticalizado de palavras livres.
- Coerente semanticamente. - Menos coerente semanticamente.
- Produtivo. - Produtividade limitada.
- Menos variação individual. - Variação individual considerável.
Fonte: Adaptado de Aronoff, Meir e Sandler (2005).

Na estruturas simultâneas, os morfemas são afixados uns aos outros, mas


de outras formas. Quadros e colaboradores (2008) evidenciaram que:

• a ocorrência, a função gramatical e a forma das construções morfológicas


sequenciais são específicas de cada língua;

• as construções morfológicas sequenciais são variáveis entre os sinalizantes;

• as construções morfológicas sequenciais são frequentemente de produtividade


limitada.
Quadros (2008) complementa que nos morfemas afixados há uma restrição
fonológica que reforça essa forma como um sufixo: ela pode ocorrer apenas com
uma raiz, realizada com uma das mãos.

Dentre os processos de formação, apresentaremos alguns elaborados pelas


autoras: derivação; composição; incorporação de números; incorporação de
negação; empréstimos do português.

• Derivação

A derivação de sinais muda a categoria do substantivo para a categoria do


verbo, como vemos nos exemplos a seguir:

81
Língua brasileira de sinais

Figura 62 – Derivações entre substantivo e verbos

aula estudar

pensamento pensar

leitura ler

pente pensar
Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Atividade de Estudos:

1) Correlacione as lacunas do lado esquerdo com as lacunas do


lado direito:

82
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

a)

b)

c)

Fonte: CELES (2006).

O que é derivação de sinais?

Segundo Quadros (2004), a derivação de sinais se trata da


criação de um sinal a partir de outro. Resulta na mudança do
significado lexical ou na categoria lexical.

Nos exemplos apresentados há mudança de padrão de movimento. No


substantivo, o movimento é curto e refreado, repetido de modo mais rápido. No
verbo, o movimento é longo e demorado, repetido de modo mais lento.

• Composição

Segundo as autoras Quadros e Karnopp (2004), a composição se realiza


através de uma regra: contato. O contato do primeiro sinal, do segundo sinal
e da possibilidade do terceiro sinal, que é mantido. Quando se fizer uma nova
composição com o novo sinal, através do novo contato, que pode ser em qualquer
locação do corpo, cria-se novo sinal. O sinal ESCOLA é composto pelos dois

83
Língua brasileira de sinais

sinais: CASA e ESTUDAR. Quando os dois sinais se movimentam ou fazem


composição através de contato, os sinais de origem das duas são apagados,
formando um único sinal: ESCOLA.

Figura 63 – Sinal de Escola

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Também há outros exemplos:

–– Cardiologista

Figura 64 – Sinal de Cardiologista


Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

84
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

–– Colorido

Figura 65 - Sinal de Colorido


Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

• Incorporação de números

As autoras também apresentam a incorporação do numeral ao sinal.


Dependendo das variações linguísticas, há regra de restrição de sinal quando são
incorporado os números. A incorporação de números é, no máximo, de quatro,
como mostraremos nos exemplos abaixo:

Figura 66 - Sinal de uma vez.

1 vez

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 67 – Sinal de duas vezes

2 vezes

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

85
Língua brasileira de sinais

Figura 68 – Sinal de dois dias

Dois dias

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 69 – Sinal de uma hora

Dois dias

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Se acrescentarmos os números 1, 2, 3 e 4 aos sinais de “vez”, “dia” ou “hora”


vamos acabar adicionando os sinais aos números.

• Incorporação de negação

A incorporação da negação também se dá em alguns verbos através da


adição de um movimento: movimento da cabeça de um lado para o outro junto
com os sinais, por exemplo:

86
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Figura 70 – Sinal de não poder

NÃO-PODER

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2011.

Figura 71 – Sinal de não querer

NÃO-QUERER

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 72 – Sinal de não ver

NÃO-VER

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Atividade de Estudos:

1) Relacione os números de acordo com as figuras:

1 – Composição
2 – Negação
3 – Números

87
Língua brasileira de sinais

a)

____________________

b)

____________________

c)

____________________

d)

____________________

e)

____________________

f)

____________________

Fonte: CELES (2006).

88
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

• Empréstimos do português
A derivação de
sinais se dá também
A derivação de sinais se dá também no empréstimo do no empréstimo
português, quando o sinal é produzido através da soletração. Mas do português,
esta derivação sofre um processo de lexicalização para moldar-se às quando o sinal é
regras da Língua de Sinais Brasileira. Observe, por exemplo, o sinal produzido através
da soletração. Mas
SAL. Este tem duas configurações de mãos: S e L. Começa-se com
esta derivação sofre
a configuração de mão S, que é representada também como alfabeto um processo de
manual, e no final a letra L, que também é representada como alfabeto lexicalização para
manual. No momento da soletração S-A-L, a configuração de mão moldar-se às regras
(ou também com alfabeto manual) da letra A some no processo de da Língua de Sinais
lexicalização, transformando-se em S-L. Na regra (restrição de sinais), Brasileira.
o processo fonológico tem que ter no máximo duas configurações de
mãos e produzido com uma mão. Pode-se usar as duas mãos, dependendo do
contexto, por exemplo: a produção de poesia, que tem seus ritmos, utiliza-se das
duas mãos para expressar outro sentido.

Figura 73 – Sinal de sal

O-V-O (OVO)

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Outros exemplos:

Figura 74 – Sinal de ovo

O-V-O (OVO)

Fonte: Disponível em:<http www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

89
Língua brasileira de sinais

b) Flexão

Não existe somente a derivação de sinais, há outros processos de flexão na


Língua de Sinais Brasileira. O livro das autoras Quadros e Karnopp (2004) mostra
que os autores Klima e Bellugi (1979) identificaram outros processos de flexão a
partir de estudos realizados com a Língua de Sinais Americana.

Atividade de Estudos:

1) Marque um X na soletração correta?


a)

(  ) Cida
(  ) Cada
(  ) Cedo

b)

(  ) Claro
(  ) Calor
(  ) Bolor

c)

(  ) Como
(  ) Cão
(  ) Com

d)

(   ) VER CADA-UM


(  ) NUNCA-VI
(  ) VER-NUNCA

Fonte: CELES (2006).

90
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Segundo a autora Quadros (2004), a flexão tem como função


principal marcar privilégios de ocorrência distintos, através das
categorias gramaticais peculiares a determinadas classes de
palavras.

As flexões em sinais também podem ser:

• Pessoa (dêixis)

É para marcar as referências pessoais no verbo de concordância. Também


o referente é realizado através das apontações ou do direcionamento para
diferentes locais de espaço, identificando quando estes estão presentes ou não
estão presentes no discurso. Veja as figuras:

Figura 75 – Flexão de pessoa (dêixis)


EU VOCÊ OU TU

Fonte: Disponível em : <http://www.youtube.com/


watch?v=HtqFPDOjQFQ&feature=related>. Acesso em: 20 mai. 2011.

Figura 76 – Indicação de referente (Pessoa)

Fonte: UFSC (2008)

91
Língua brasileira de sinais

Nos verbos de concordância:

Figura 77 – Verbo de concordância – Avisar-me

AVISAR-ME

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=dWGMMuJZR0A>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 78 – Verbos aconselhar e avisar

ACONSELHAR EL@

AVISAR TODOS

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=9r4AKZvS1do>. Acesso em: 15 maio 2011.

92
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

• Número

É para indicar o singular (eu e ele/a) e dual, trial e múltiplo (ele/as, nós).
Para identificar a diferença entre o singular e o plural percebe-se a repetição de
sinal. No caso de verbos com concordância, percebe-se a direção de sinais para
determinados números de referentes. Veja as figuras:

Figura 79 – Indicação de singular

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=HtqFPDOjQFQ&feature=related>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 80 - DUAL Figura 81 - TRIAL

Fonte: Disponível em: <http://www. Fonte: Disponível em: <http://www.


youtube.com/watch?v=OKWl- youtube.com/watch?v=OKWl-
SUhu5A&feature=related>. SUhu5A&feature=related>.
Acesso em: 15 mai. 2011. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 82 – NÓS Figura 83 - DAR-TODOS

Fonte: Disponível em:<http www.ines. Fonte: Disponível em:<http www.ines.


gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011. gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Figura 84 - DAR-EL@

Fonte: Disponível em:<http www.ines.


gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011. 93
Língua brasileira de sinais
• Grau

É para apresentar os tipos de graus junto às expressões faciais e corporais


para distinguir pequeno, menor, grande, muito grande, gigante, muito alto, muito
baixo, muito longe, longíguo, muito perto, pertinho, etc., como mostram as figuras:

Figura 85 – Indicação de grau (adjetivo)

CASA PEQUENA CASA GRANDE

HOMEM GORDO++++

ALTO++++

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=c2GsJ6A41ts>. Acesso em: 15 mai. 2011.

94
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Figura 86 – Indicação de grau (distância)

LONGE++++ PERTO----

Fonte: CELES (2006).

• Aspecto

Esta categoria está subdividida em:

–– Aspecto distributivo: está relacionado à flexão de número nos verbos


com concordância e também nos verbos espaciais.

–– Exaustiva: o movimento da ação é repetido exaustivamente.

Figura 87 – Aspecto distributivo exaustivo

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=9r4AKZvS1do>. Acesso em: 15 mai. 2011.

–– Distributiva específica: quando o movimento da ação no ato de distribuição é


direcionado para referentes específicos.

95
Língua brasileira de sinais

Figura 88 – Aspecto distributivo específico

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=9r4AKZvS1do>. Acesso em: 15 mai. 2011.

–– Distributiva não-específica: quando o movimento da ação no ato de


distribuição é direcionado para referentes indeterminados, como, por
exemplo, para o público ou para todos.

Figura 89 – Aspecto distributivo não-específico

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=9r4AKZvS1do>. Acesso em: 15 mai. 2011.

–– Aspecto temporal: refere-se à distribuição temporal e não envolve a


flexão de número.

–– incessante: o movimento da ação ocorre incessantemente.

96
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Figura 90 – Aspecto temporal incessante.

VIAJAR
Fonte: Brito (1995).

–– ininterrupta: o movimento da ação inicia e continua de forma ininterrupta.

Figura 91 – Aspecto temporal ininterrupto

VIAJAR+++
Fonte: Brito (1995).

–– habitual: o movimento da ação apresenta recorrência.

Figura 92 – Aspecto temporal habitual

FALAR

Fonte: Brito (1995). 97


Língua brasileira de sinais

–– contínua: o movimento da ação apresenta recorrência sistemática.

Figura 93 – Aspecto temporal contínuo

FALAR-SEM-PARAR
FALAR-PELO-COTOVELO

Fonte: Brito (1995).

–– duracional: o movimento da ação tem um caráter durativo, permanente

Figura 94 – Aspecto temporal duracional

ELA PASSAR TODOS-OLHAR-CONTINUADAMENTE


Fonte: Brito (1995).

–– Aspectos de marca de tempo


A Língua de
Sinais Brasileira
A Língua de Sinais Brasileira não possui formas verbais na marca
não possui formas
verbais na marca de tempo como a Língua Portuguesa. Algumas delas se flexionam para
de tempo como a número e pessoa.
Língua Portuguesa.
Algumas delas se Quando o verbo se refere a um tempo passado, futuro ou presente,
flexionam para é marcado com expressões indicativas de tempo, por exemplo: ONTEM,
número e pessoa.
SEMANA-PASSADA, ANTEONTEM, ANO PASSADO são interpretados
como tempo passado, já ocorrido. Observe as figuras abaixo:
98
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Figura 95 – Aspecto de marca de tempo passado.

ONTEM ANTEONTEM ANO-PASSADO

Fonte: Brito (1995).

Os sinais de advérbio de tempo, como AMANHÃ, SEMANA-QUE-VEM, ANO-


QUE-VEM marcam o futuro.

Figura 96 – Aspecto de marca de tempo futuro.

ANO-QUE-VEM

Fonte: Brito (1995).

Os sinais de HOJE e AGORA mostram o presente. Observe a figura:

Figura 97 – Aspecto de marca de tempo presente.

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

c) Tipos de verbos

Estudando a revisão da literatura da Língua de Sinais Americana, Quadros e


Karnopp (2004), por meio da pesquisa da Padden (1983), revisaram e compararam
os verbos na Língua de Sinais Brasileira, dividindo-os nas seguintes classes:
99
Língua brasileira de sinais

• verbos simples.

São os verbos que não se flexionam em pessoa e número e não incorporam


afixos locativos, porém alguns desses verbos apresentam flexões de aspecto,
como vimos nos itens acima. A maioria dos verbos que estão nos pontos de
locações no corpo são verbos simples. Também há alguns que são feitos no
espaço neutro ou espacial.

Vamos ver nas figuras abaixo exemplos de verbos simples:

Figura 102 – Verbos incorporados nos pontos espaciais ou neutros

Figura 98 – Verbo simples entender

Leitura

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=VC16GV0ItjY&feature=related>. Acesso em: 15 mai. 2011.
Figura 99 – Verbo simples conhecer

Conhecer

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=VC16GV0ItjY&feature=related>. Acesso em: 15 mai. 2011.
Figura 100 – Verbo simples desculpar

Desculpar

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=VC16GV0ItjY&feature=related>. Acesso em: 15 mai. 2011.
Figura 101 – verbo simples ouvir

Ouvir

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=VC16GV0ItjY&feature=related>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=er4-


3TwuvdE&feature=related>. Acesso em 15 mai. 2011.

100
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Existem certos verbos que precisam ser incorporados nos pontos espaciais
ou neutros, dependendo dos contextos dos enunciados, por exemplo:

Figura 103 – Verbos incorporados nos pontos espaciais ou neutros

PEGAR + ENTENDER + PARA-DEPOIS + EST@

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=er4-


3TwuvdE&feature=related>. Acesso em 15 mai. 2011.

Neste exemplo, o sinal de PEGAR foi estabelecido em um ponto no espaço


(mão direita no lado esquerdo) e o sinal de ESTE/A (mão direita no lado direito)
foi realizado em outro ponto (local espacial), tornando o enunciado definido e
específico.

• Verbos com concordância

São os verbos que flexionam pessoa, número e aspecto, mas não incorporam
afixos locativos, como mostra a figura abaixo:

Figura 104 – Verbos com concordância sem afixos locativos

DAR PERGUNTAR

RESPONDER PROVOCAR

ENVIAR DIZER
Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.
101
Língua brasileira de sinais

Nestes exemplos, os verbos são subdivididos em concordância pura e


reversível. Isso quer dizer que os movimentos destes verbos podem ser alternados
em sentido contrário, como mostra a figura abaixo:

Figura 105 – Exemplos de verbos com concordância pura e reversível.

DAR PERGUNTAR

RESPONDER PROVOCAR

ENVIAR DIZER
Fonte: A Autora.
A direcionalidade
é muito importante Estes verbos com concordância apresentam a direcionalidade
porque está (em inglês é chamado de blackward) e a orientação de mãos. A
associada direcionalidade é muito importante porque está associada às relações
às relações
semânticas, já que há dois pontos distintos no espaço da Língua de
semânticas, já que
há dois pontos Sinais Brasileira: fonte e alvo e vice-versa. Quando a orientação da
distintos no espaço mão volta para o objeto da frase sinalizada é associada na sintaxe
da Língua de Sinais como Caso, por exemplo, da glosa em sinais:
Brasileira: fonte e
alvo e vice-versa.
Figura 106 – Verbos com concordância que apresentam
direcionalidade e orientação de mãos

EU VER “M” (SINAL DE MARIA)

102
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

“M” (SINAL DE MARIA) VER-ME

“M” (SINAL DE MARIA) OLHAR-PARA-MIM

Fonte: A Autora.

• Verbos espaciais (junto com o ponto de locação no espaço +loc)

São os verbos que têm afixos locativos. Observe os exemplos na figura


abaixo:

Figura 107 – Verbos espaciais

COLOCAR IR CHEGAR

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

• Verbos classificadores ou verbos manuais (QUADROS, 2004) ou


descrição imagética (CAMPELLO, 2008).

Os verbos, objetos e pessoas são incorporados durante a ação. Os


classificadores são representados pelas configurações das mãos. Observe os
exemplos dessa classe e suas respectivas configurações de mãos:

–– de verbos:

103
Língua brasileira de sinais

Figura 108 - Verbos classificadores de verbos.

COLOCAR-BOLA (Configuração de Mão )


Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

–– de objeto:

Figura 109 – Verbos classificadores de objeto.

BONECO-MADEIRA (Configuração de Mãos )


Fonte: Disponível em : < http://wn.com/pritlibras>. Acesso em: 25 de mai.2011.

–– de pessoas:

Figura 110 – Verbos classificadores de pessoas.

PESSOA-ANDAR (Configuração de Mãos )


Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 mai.2011.

104
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Descrição Imagética
O ato de “ver” também é um instrumento de medida para as
O ato “ver” faz
observações das formas que transportam a imagem apreendida no parte de um todo
espaço. O ato “ver” faz parte de um todo no caso da Língua de Sinais. Na no caso da Língua
Língua de Sinais, com sua estrutura viso-gestual, não se estabelecem de Sinais.
simplesmente formas, tamanhos, distâncias, direções e espaços
para, em seguida, compará-los parte por parte. Especificamente,
vemos estas características nos movimentos dos sinais e suas configurações,
locações, orientações e espacialidade como propriedade do campo visual total.
Há, contudo, outra diferença igualmente importante. As várias qualidades das
imagens produzidas pelos sentidos da visão não são estáticas, tudo é dinâmico
e está sempre em movimento, dependendo da relação sujeito, outros sujeitos,
signo, espaço, tempo, processados pelo próprio ato de “ver”.

Na descrição imagética ou das “transferências” (CUXAC, 2001), a visualidade,


implícita na modalidade viso-gestual-espacial, tem sua estrutura gramatical distinta
da língua oral pelo efeito visual que abrange a iconicidade, a corporeidade, as
representações relevantes da imagética, a analogia, a característica não discreta
das unidades significativas, as manipulações espaciais e a pertinência do espaço
de realização das mensagens gestuais, o caráter impreciso das distinções verbal/
não-verbal e semântico-sintático. (CUXAC, 2001). Isso está presente em todos
os enunciados pragmático-conversacionais, narrativas, poética e, até mesmo, nas
análises da área de sociolinguística. Verejamos os exemplos das figuras abaixo:

Figura 111 - URSO Figura 112 – Representação de Urso

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/


Fonte: A Autora.
fQmexX>. Acesso em: 15 maio 2011.

105
Língua brasileira de sinais

Figura 113 - CAVALGAR Figura 114 – Representação de cavalgar

Fonte: Google (2011) Fonte: A Autora.

Figura 115 - Bola Figura 116 – Representação de bola.

Fonte: Disponível em: <https://goo. Fonte: A Autora.


gl/2NzNnQ>. Acesso em: 15 maio 2011.

Atividade de Estudos:

1) Faça uma pesquisa sobre as descrições imagéticas.


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106
Capítulo 3 Morfologia da Língua de Sinais

Algumas Considerações
Finalizando este capítulo, enfatizamos a morfologia como estrutura complexa
da Língua de Sinais Brasileira. É importante pesquisar nos sites sobre os
processos morfológicos e suas comparações para um melhor entendimento e
“ver” as complexidades da língua de sinais, bem como para dar continuidade ao
estudo dos próximos capítulos.

Para não perder o contato, procure exercitar os “olhos” durante os exercícios


nos sites como o youtube, que possui histórias infantis sinalizadas, e processar
mentalmente os argumentos de cada processo morfológico para, enfim, interpretar
os sinais através das narrativas.

Referências
ARONOFF, M.; MEIR, I.; SANDLER, W. The paradox of sign language
morphology. Language, New York, v. 81, n. 2, p. 34-52, 2005.

ARONOFF, M. et al. Morphological universals and the sign language type. In:
BOOIJ, G.; Van MARLE, J. Yearbook of Morphology. Netherlands: Kluwer
Academic Publishers, 2004. p. 19-38.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de


Janeiro:Tempo Brasileiro, 1995.

CAMPELLO, A. R. S. Aspectos da visualidade na educação de Surdos.


Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC. 2008.

CELES - Centro de Estudo em LIBRAS e educação de Surdos. Módulo 1, 2 e 3.


FENEIS-CE. Fortaleza: Impressão Desenhart Gráfica Rápida, 2006.

CUXAC, Christian. As línguas de sinais: analisadores da faculdade de


linguagem. 14 dez. 2001. Disponível em: <http://aile.revues.org/document536.
html>. Acesso em: 15 maio 2011.

INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DOS SURDOS - INES. Disponível em:


<www.ines.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2011.

KLIMA, E.; BELLUGI, U. The signs of language. Cambridge: Harvard University


Press, 1979.

107
Língua brasileira de sinais

PADDEN, C. Interaction of morphology and syntax in ASL. 1983. Dissertation


(Doctoral) - University of California, San Diego, 1983.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos


linguísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004.

QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L.; REZENDE, P. Libras – IV. Texto Base da


Letras – Libras - Ensino a Distância. UFSC: Florianópolis, 2008.

108
C APÍTULO 4
Sintaxe da Língua de Sinais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Definir o processo sintático de língua de sinais.

99 Identificar a formação de frases.

99 Nomear as marcas da formação de interrogativa.

99 Reconhecer os verbos e a concordância da língua de sinais.


Língua brasileira de sinais

110
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Contextualização
Apresentamos, neste capítulo, as definições dos processos sintáticos de
língua de sinais e a forma de identificar a formação de frases. Para formar uma
frase, é necessário nomear as marcas da formação de interrogativa, de acordo com
o contexto. Sem falar da inserção dos verbos e a concordância da língua de sinais.
As construções sintáticas dão mais significado e sentido nas captações visuais e
mentais, reconhecendo cada elemento na gramática da Língua de Sinais Brasileira.

A sintaxe é a área da gramática que trata da estrutura da sentença.


Analisar alguns aspectos da Língua de Sinais Brasileira requer “enxergar” A sintaxe é a área
ou “ler” esse sistema que é viso-espacial e NÃO oral-auditivo. da gramática que
trata da estrutura da
sentença. Analisar
Na revisão da literatura linguística, Quadros e Karnopp (2004)
alguns aspectos da
mostram que, na pesquisa do linguísta Siple (1978), a Língua de Língua de Sinais
Sinais Americana – ASL usa mecanismos espaciais para que as Brasileira requer
informações gramaticais se apresentem simultaneamente com o sinal. “enxergar” ou “ler”
Na produção de Língua de Sinais Americana, faz-se necessário usar a esse sistema que é
“incorporação” como mecanismo espacial para expressar localização, viso-espacial e NÃO
oral-auditivo.
número, pessoa e o “uso de sinais não manuais” (como movimentos do
corpo e expressões faciais). Vejamos como é o uso destes mecanismos
na Língua de Sinais Brasileira:

Figura 117 – Incorporação (de concordância) – Movimento repetitivo

AVISAR-EL@

Fonte: Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=9r4AKZvS1do>. Acesso em: 27 maio 2011.

Figura 118 – Uso de sinais não manuais

1) GOSTAR-NÃO (Não gostar de alguma coisa)

111
Língua brasileira de sinais

2) SENTIR+++ (Ficar muito sentida)

3) CUIDAR+++ (Cuidar bem dela/e)

Observação: Inclui vários Movimentos


do corpo e Expressões faciais
dependendo dos enunciados

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=hiQkZitLMVc>. Acesso em: 27 maio 2011.

Na figura 118 há várias interpretações, dependendo da


Na Língua de
Sinais Brasileira expressão facial associada ao sinal, porque na Língua de Sinais
os sinais não Brasileira os sinais não estão expressos diretamente nas palavras
estão expressos (sinais), mas na expressão facial usada em várias possibilidades, no
diretamente uso simultaneamente com o sinal e produzido em um determinado
nas palavras contexto.
(sinais), mas na
expressão facial
usada em várias
possibilidades.
Formação de Frase
Em primeiro lugar, vamos entender que o sistema pronominal
O tipo de apontação
mencionada acima e de concordância verbal são espaciais e depois trataremos dos
é produzida tanto mecanismos espaciais elaborados por Siple (1984 apud QUADROS;
com referentes PIZZIO; REZENDE, 2008).
presentes como
com referentes Na literatura americana, os linguistas Bellugi e Klima (1982
não presentes e
apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) já deixaram claro que a
referente anafórico
no contexto do formação de frase sintática com referência pronominal, concordância
discurso. verbal e relações gramaticais na Língua de Sinais Brasileira também é
“apontada”, assim como na Língua de Sinais Americana.

112
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

O tipo de apontação mencionada acima é produzida tanto com referentes


presentes como com referentes não presentes e referente anafórico no contexto
do discurso.

Referente presente é o elemento envolvido no discurso (a primeira, a


segunda e a terceira pessoa) e, para apontar determinado referente, utiliza-se o
dedo indicador apontando para quem o sinalizante se refere, por exemplo:

Figura 119 – Indicação de referente presente

ELES/AS

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=OKWl-


SUhu5A&feature=related>. Acesso em: 27 maio 2011.

O que é referente presente?

O referente presente é como marca da localização com valor de


identificação e só se sabe a quem se refere tendo conhecimento da
situação de comunicação.

Assistindo o vídeo abaixo você irá compreender o referente


presente:

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=
viewlink&link_id=712&Itemid=2

113
Língua brasileira de sinais

Outro ponto importante é a direção do olhar. Quando fizer


A apontação é
direcionada a um apontação na referência pronominal de VOCÊ, seu dedo indicador
local espacial já apontará para o peito do receptor, assim como olhos, que são
convencionado direcionados ao olhar do receptor. Diferentemente dos pronomes ELE
(arbitrário mesmo / ELA ou ELES / ELAS, os olhos do sinalizante continuam direcionados
que seja invisível), para o olhar do receptor, mas a apontação será na direção deles/as
ao longo do plano
(ao lado esquerdo ou direito do sinalizante presente ou não-presente
horizontal ou frontal,
em frente ao corpo - ausente) e não em frente do receptor, como mostra a figura acima.
ou ao lado do Baker e Cokely (1980 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008)
sinalizador. explicaram que as relações espaciais para referentes presentes e
não-presentes, através de figuras, mostram a importância da direção
do olhar para captar a compreensão do significado da referência pronominal e
anafórica.

Referente não presente ou ausente: a apontação é direcionada a um local


espacial já convencionado (arbitrário mesmo que seja invisível), ao longo do plano
horizontal ou frontal, em frente ao corpo ou ao lado do sinalizador. Pode ser usada
para referir-se a objetos, pessoas e lugares no espaço, conforme as figuras abaixo:

Figura 120 - Referente ausente (ESS@ / EST@ / AQUEL@ PESSOA)

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=a5HJBod5gIc>. Acesso em: 27 maio 2011.

Figura 121 - Referente ausente (VER EL@, EST@, AQUEL@) em frente do sinalizante

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=a5HJBod5gIc>. Acesso em: 27 maio 2011.

Figura 122 - Referente ausente (BORBOLETA VOANDO) em verbo direcional

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


114 watch?v=a5HJBod5gIc>. Acesso em: 27 maio 2011.
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Figura 123 - Referente ausente (EL@ OU OUTROS


SIGNIFICADOS COMO AQUEL@ REFERENTE)

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=_rIC-


GnxDgI&feature=related>. Acesso em: 27 mai. 2011.

O que é referente ausente?

Refere-se aos indicadores do reino ausente ou da fantasia


(mas recordado pelo narrador e transmitido ao ouvinte). Assim, o
ouvinte consegue ver e/ou ouvir os indicadores que o narrador está
transmitindo.

Acessando o link a seguir você poderá visualizar o referente


ausente: <http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task
=viewlink&link_id=712&Itemid=2>.

Os autores Bellugi e Klima (1982), Petitto (1987) e Loew (1984), mencionados


no livro de Quadros, Pizzio e Rezende (2008), mostram que o Referente Anafórico
é a referência nominal, chamada de correferente, que requer que o sinalizante
aponte (olhe ou gire o corpo) para um local estabelecido uma vez e depois volte a
apontar duas ou três vezes, depois de outro local estabelecido, referindo àquele
nominal, dependendo do discurso e do contexto introduzido. Observe a glosa das
frases sinalizadas abaixo:

115
Língua brasileira de sinais

O símbolo IX é o índice da marcação do correferente pronominal. Os números


que acompanham os índices XI1, XI2, XI3, etc., são as sequências nas quais o
sinalizador quer referir o espaço em que o referente está presente, mesmo ausente.

O que é referente anafórico?

Segundo o site abaixo, a anafórica remete para um elemento já


enunciado ou concebido.

Acessando o link a seguir você poderá visualizar o referente


anafórico:

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task
=viewlink&link_id=712&Itemid=2

Há, ainda, outras referências à terceira pessoa na situação de sinalização


com referentes não-presentes no discurso. Veremos os exemplos das autoras
Lillo-Martin e Klima (1990 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008:

Figura 124 – Indicador de referência à 3ª pessoa.

M-A-R-I-A-N-A IR IGREJA. P-E-D-R-O IR PRAIA


Fonte: Adaptado de Lillo-Martin e Klima (1990, p. 193).


116
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Estes referentes pronominais são associados aos pontos no espaço. Esses


pontos, para o autor Loew (1984 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008),
não são distribuídos de modo aleatório no espaço porque há certas regras na
seleção do local. Não é necessário estabelecer os pontos de forma arbitrária
porque o sinalizante sempre quer associar o local real do referente ao local no
espaço de acordo com o discurso. Mas os pontos serão sempre arbitrários,
mesmo no discurso, quando se quer apontar os referentes ausentes. Também
podem indicar ou apontar os referentes descritos que não têm nada a ver com os
outros referentes ou para falar alguma coisa, por exemplo:

M-A-R-I-A-N-A CHEGAR IX1 ONTEM IX¬2 MESMA CASA IX3 DEIXAR


CARTA

M-A-R-I-A-N-A CHEGAR AQUI ONTEM. AQUI MESMA CASA EL@


DEIXAR CARTA

(Referente) (ponto) (ponto) (ponto)

Os pontos no espaço neutro em relação à localização “real” dos Os pontos no


referentes dependem sempre da perspectiva de quem está produzindo espaço neutro
e vendo os sinais de forma “imaginária”, porém real no discurso. em relação à
localização “real”
dos referentes
O referente pronominal de NÓS, em sinais, apresenta duas formas dependem sempre
que são distintas: da perspectiva
de quem está
a) Ima delas representa referentes presentes, como mostra a figura produzindo e vendo
abaixo: os sinais de forma
“imaginária”, porém
Figura 125 - Nós-vocês real no discurso.

Fonte: A Autora.

b) Referentes não presentes no discurso, como mostra a figura abaixo:

Figura 126 - Nós-el@s ou Nós-todos

Fonte: A Autora.
117
Língua brasileira de sinais

Como já explicamos, os referentes presentes, não-presentes, referentes


anafóricos e referentes pronominais são pontos específicos no espaço da
sinalização mencionados anteriormente. Baker e Cokely (1980) e Loew (1984),
citados por Quadros, Pizzio e Rezende (2008), apresentam vários mecanismos
para estabelecer referentes no espaço, na frase sintática em Língua de Sinais
Brasileira. São eles:

a) Estabelecer o sinal em uma localização particular. É uma forma de estabelecer


se o sinal permitir, como mostra o exemplo abaixo:

Figura 127 - Supermercado

Fonte: A Autora.

b) Apontar um substantivo em uma localização particular. São os espaços para


definir a localização espacial, acompanhados do referente. Quando sinalizam
determinados sinais, sempre acompanham a direção do olhar, dependendo
da direção (lado esquerdo, lado direito, de cima, de baixo, etc.), como mostra
o exemplo abaixo:

Figura 128 - Supermercado

Fonte: A Autora.

c) Direcionar a cabeça, os olhos e o corpo em direção a uma localização particular,


fazendo o sinal ou apontando para um substantivo. É um dos mecanismos
espaciais para definir, nos quais os movimentos da cabeça, dos olhos ou de
corpo acompanham a “apontação” ou um sinal para determinado referente ou
substantivo ou ponto de locação. Veja o exemplo abaixo:

Figura 129 - Est@ supermercado

118 Fonte: A Autora.


Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

d) Usar a apontação para referir o pronome antes de um sinal. Veja o exemplo


abaixo:
Figura 130 - El@

Fonte: A Autora.

e) Usar um pronome numa localização particular quando a referência é óbvia,


sem se esquecer de usar a apontação para determinar a referência no ponto
de locação. Veja o exemplo abaixo:

Figura 131 - El@

Fonte: A Autora.

f) Usar um classificador (que representa aquele referente) em uma localização


particular. É um mecanismo muito importante e se utiliza como “transferência
imagética”, cujos detalhes são transferidos mentalmente para o signo visual e,
consequentemente, repassa para a imagem visual que acaba transmitindo o
tamanho, forma, espaço, e dá “toque visual” por meio de sinais. Também se usa
para representar o referente em descrições imagéticas. Veja os exemplos abaixo
em que a Configuração de Mãos pode ser usada como referente:

Figura 132 - 2 pessoas se encontrando

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=KqIYmkPROls>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 133 - 1 pessoa balançando

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=KqIYmkPROls>. Acesso em: 27 mai. 2011.
119
Língua brasileira de sinais

g) Usar um verbo direcional quando é óbvio o referente. Os verbos são os


recursos muitos úteis para direcionar o ponto da partida ao ponto de chegada
para determinado sinais, conforme o exemplo abaixo:

Figura 134 - Coelho correr

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=KqIYmkPROls>. Acesso em: 27 mai. 2011.

h) Estabelecer o referente. É um dos instrumentos para definir o referente mesmo


visível ou não visível em determinadas locações espaciais.

Figura 135 - Aquel@, Est@, Ess@, Lá....

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=_rIC-


GnxDgI&feature=related>. Acesso em: 27 maio 2011.

i) Usar marcação não-manual (através de expressão facial). é a expressão


facial e gramatical que complementa o discurso por meio de movimentos
da cabeça e movimentos do corpo. (LIDDEL, 1980 apud QUADROS;
KARNOPP, 2004, p.132).

Figura 136 - EST@ PESSOA

Fonte: A Autora.

j) Marcar o estabelecimento de referentes no espaço da frase sintática de SVO


(Sujeito – Verbo – Objeto).

EL@ VER CARRO

120
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

k) Marcação da flexibilidade na sentença que pode ser também OSV e SOV


quando há concordância e as marcas não-manuais.

CIRCO EL@ GOSTAR


EL@ CIRCO GOSTAR

l) O advérbio varia.

AMANHÃ JOÃO COMPRAR CARRO


JOÃO COMPRAR CARRO AMANHÃ

m) A topicalização muda a ordem da frase.

a) FUTEBOL, JOÃO GOSTAR

b) FUTEBOL, JOÃO NÃO-GOSTAR

____?____
c) FUTEBOL, JOÃO GOSTAR

_____?_____
d) EST@ BOLA-FUTEBOL, ONDE JOÃO PEGAR

n) Do verbo sem concordância pode derivar a estrutura da SOB.

a) EU PERDER LIVRO PERDER


b) EU LIVRO PERDER

o) Elevação do objeto no verbo com concordância.

_____Neg_____
MARIANA PEDRO DAR LIVRO

121
Língua brasileira de sinais

p) Omissão dos sujeitos como o objeto.

Figura 137 - Mariana dá livro ao Pedro

PEDRO MARIANA

Fonte: CELES (2006).

q) Ordem VOS pode ocorrer em contexto de foco contrastivo.

___?____
QUEM COMPRAR CARRO JOÃO MARIA

As autoras americanas Lillo-Martin e Klima (1990 apud QUADROS; PIZZIO;


REZENDE, 2008) resumem os três aspectos importantes sobre o sistema
pronominal da ASL e que podem ser aplicados na Língua de Sinais Brasileira:

• Um número potencialmente infinito de pronomes - Do ponto de vista da


gramática, tem-se o número infinito do sistema pronominal da Língua
de Sinais Brasileira, assim como outras línguas, como Língua de Sinais
Americana. O número infinito mostra a possibilidade de haver, em quaisquer
outros dois pontos associados com determinados referentes, outro ponto
diferente. Portanto, as autoras Lillo-Martin e Klima (1990 apud QUADROS;
PIZZIO; REZENDE, 2008) mostram que os locais referenciais e as formas
pronominais distintas não são listáveis porque têm restrição para arbitrar os
locais ou pronomes no sistema de apontação. Por exemplo:

a) TER MULHER IX1 IX2 IXa


A ambiguidade nas b) DOIS VIAJAR BRASIL ENCONTRAR IX1 RIO MAIS
línguas faladas CEARÁ IX2 AMAZONAS IXa
é mais difícil de
ser encontrada
nas línguas de • Referentes não-ambíguos - A ambiguidade nas línguas faladas é
sinais por causa
mais difícil de ser encontrada nas línguas de sinais por causa da
da exposição do
espaço, elaborada exposição do espaço, elaborada pelos pronomes estabelecidos
pelos pronomes em pontos específicos. Este recurso é mais específico na
estabelecidos em modalidade espaço-visual, o que não é encontrado na língua
pontos específicos. falada. Por exemplo:

122
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

a) J-O-Ã-Oa CONTAR P-E-D-R-Ob ESPOSA DELEa CAIR


Tradução: “João contou ao Pedro que sua esposa caiu”

b) J-O-Ã-Oa CONTAR P-E-D-R-Ob ESPOSA DELEb CAIR.


Tradução: “João contou ao Pedro que sua esposa caiu”

Mas Ferreira Brito (1982) pesquisaram e encontraram que a Língua de Sinais


Americana e a Língua de Sinais Brasileira apresentam semelhanças no sistema
pronominal. Os três pronomes pessoais do singular são idênticos nas duas línguas -
o dedo indicador estendido, orientado em direção à localização do referente, menos
as diferenças encontradas nos pronomes do plural. Os pronomes possessivos
também apresentaram distinções, como mostra a figura abaixo:

Figura 138 - SEU – SUA – DELE – DELA

Fonte: A Autora.

Ferreira Brito (1982) encontraram a ambiguidade na Língua de Sinais


Brasileira porque o pronome possessivo do sinal PRÓPRIO apresenta
variedade de significados. A Configuração de Mão é a mesma para todos, mas
as locações mudam seus sentidos. Uma delas significa ELA MESMA, como
mostra a figura abaixo:

Figura 139 - PRÓPRIO/A

Fonte: A Autora.

Acompanhemos os exemplos em glosa abaixo:

Ex: MULHER AMA POSS CRIANÇA – Não sabemos se a mulher ama as


crianças como se fossem seus filhos ou as crianças em questão.

123
Língua brasileira de sinais

• Mudança de referência - Bellugi, Lillo-Martin, O’Gray e VanHoeck (1990


apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) mostraram que a Língua de
Sinais Americana tem muitas formas de estabelecer os referentes em pontos
específicos ao redor do corpo do sinalizante, como a forma de correferência.
Quando um referente é definido a um local, essa definição pode ser mantida
até em uma mudança futura. A mudança acontece quando os novos sinais
são estabelecidos em locais diferentes do anterior, dependendo do discurso,
através de uma mudança na postura do corpo do sinalizante. A mudança do
local referencial pode ser transferida durante uma narrativa, por exemplo,
se o sinalizante quiser sinalizar descrevendo um evento passado ou quiser
sinalizar algo relacionado a tal evento, ele mostrará o mesmo local no espaço,
a relação entre os participantes, o tempo e o evento no local real. A glosa mais
explícita pode ser assim:

EU pode significar
PEDRO ou MARIANA

A mudança da posição do corpo associada à sinalização é um recurso


convencionado, arbitrário e regido por regras da modalidade viso-gestual.

Formação de Interrogativas

Na frase sintática em Língua de Sinais Brasileira há formação de frases
interrogativas. É muito comum usar a expressão facial quando se quer fazer
pergunta:

Figura 140 - Interrogações

COMO? QUEM?

124
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

O QUE? QUANDO?

ONDE? PORQUE?
Fonte: CELES (2006).

As expressões faciais requerem muitos exercícios faciais, compreendendo


as seguintes feições:

• sobrancelhas levantadas;
• sobrancelhas abaixadas e cabeça levantada;
• sobrancelhas franzidas;
• movimento lateral da cabeça com a boca para baixo;
• assentimento;
• assentimento rápido;
• sobrancelhas levantadas e boca aberta;
• sobrancelhas franzidas e boca torta para baixo.

Atividade de Estudos:

Para fazer as atividades, acesse o dicionário de LIBRAS no site:


http://www.acessobrasil.org.br/libras/

1) Forme três frases sinalizadas em cada pergunta interrogativa.


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
125
Língua brasileira de sinais

_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) Vamos relacionar a coluna da direita com a esquerda em que


aparecem as glosas de forma interrogativa:

PORQUE VOCÊ
NÃO- CONVIDAR IR
SUA ESCOLA.

ONDE MINH@
NAMORAD@

Q-U-M EST@ PESSOA

EL@ VIAJAR RIO


QUANDO-PASSADO

Fonte: CELES (2006).

Formação de Verbos
Padden (1983 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) mostra as formas
de verbos da Língua de Sinais Americana que podem ser utilizadas na formação
de frases sintáticas em Língua de Sinais Brasileira. São elas:

a) Verbos simples

Os verbos simples não se flexionam em pessoa e número e não aceitam


afixos locativos, por exemplo, os verbos CONHECER, ANDAR, CHEGAR.

126
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Figura 141 – Exemplos de verbos simples

As línguas de
Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br/dicionariolibras>. sinais apresentam
Acesso em: 12 abr. 2011. sinais que são
icônicos, ou seja,
b) Verbos classificadores que representam
nitidamente o
referente, tornando
Outra característica da língua de sinais diz respeito à iconicidade, o sinal transparente
com a utilização de Configuração de Mãos. As línguas de sinais e permitindo que
apresentam sinais que são icônicos, ou seja, que representam a compreensão
nitidamente o referente, como, por exemplo, o sinal de casa, tornando o do significado seja
sinal transparente e permitindo que a compreensão do significado seja mais facilmente
apreendida.
mais facilmente apreendida.

Figura 142 – Exemplos de verbos classificadores



Fonte:Disponível em: <www.ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011.


127
Língua brasileira de sinais

c) Verbos manuais

Representam ações em que uma pessoa está segurando ou fazendo alguma


coisa com os instrumentos “invisíveis”.

Figura 143 – Exemplos de verbos manuais

PASSAR-BATOM

PUXAR-CADEIRA-BALANÇO

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=KqIYmkPROls>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Atividade de Estudos:

Faça seus treinos.Tente sinalizar as seguintes ações:

a) Carrinho quebrando;
b) Canudo rolando;
c) Espelho rachando;
d) Cano vazando;
e) Pessoa correndo;
f) Carro batendo no poste;
g) Pessoa carregando uma pedra muito pesada;
h) Pessoa passando lápis nas sobrancelhas;
i) Gato miando;
j) Ema voando;
k) Canguru saltando;
l) Galo picando outro galo.

128
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Funções dos Verbos


Liddell (1990 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) mostra as funções
dos verbos quando são incorporados os referentes/interlocutores e as três
situações distintas em que ocorrem:

a) Com referentes presentes

Quando o outro interlocutor está presente fisicamente, o verbo pode ser


usado para definir-se como essa pessoa e a apontação é direcionada diretamente
a ela.

b) Com referentes “imaginários” como presentes

Os verbos são direcionados como se houvesse um interlocutor invisível


presente fisicamente.

c) Com pontos espaciais

Os verbos são direcionados a pontos onde foi estabelecido um interlocutor.

Concordância
Os verbos com concordância flexionam-se em pessoa, número e aspecto,
mas não incorporam afixos locativos, por exemplo, os verbos responder, perguntar
e dar.

Padden (1983 apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) apresenta as


formas de concordância pessoal-direcionais da seguinte maneira:

a) 1ª pessoa: próximo ao corpo do sinalizante;

b) 2ª pessoa: na direção do receptor, determinado pelo contato do olhar com o


receptor real ou marcado discursivamente;

c) 3ª pessoa: o marcador de concordância terá o mesmo ponto no espaço neutro


assinalado à 3ª pessoa.

O verbo PERGUNTAR na Língua de Sinais Brasileira pode ser usado


como exemplo dessa classe verbal. Para saber reconhecer o verbo direcional
(com concordância) é preciso focalizar onde o local do sinalizante está como

129
Língua brasileira de sinais

primeira pessoa, o local do interlocutor como segunda pessoa e outros locais


(ou pontos) dos interlocutores como terceira pessoa do discurso. Padden (1983
apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008) deixou claro que a primeira pessoa
é fixa por causa da posição como sinalizante ou interlocutor dentro do discurso e
as da segunda e terceira pessoas apresentam seus locais diferentes no espaço,
dependendo do contexto do discurso. Então, a concordância apresenta as
variações e as direções distintas. Vamos observar abaixo as suas possibilidades
de acordo com o contexto do discurso:

Verbo PERGUNTAR na Língua de Sinais Brasileira:

Figura 144 – Verbo perguntar

EU PERGUNTAR - PERGUNTAR PARA EL@ - PERGUNTAR ELES/AS

Fonte: CELES (2006)

O verbo PERGUNTAR é direcionado do sinalizante para o


O verbo
PERGUNTAR é interlocutor, portanto, o verbo com concordância indica quem é o sujeito
direcionado do e o objeto da frase sintática. Percebe-se o ponto da partida e ponto da
sinalizante para chegada e o movimento do verbo.
o interlocutor,
portanto, o verbo Nota-se que os movimentos para a segunda e a terceira pessoas
com concordância
mostram os inúmeros referentes presentes no discurso.
indica quem é o
sujeito e o objeto
da frase sintática. Há alguns casos em que os verbos são reversíveis, como mostra
Percebe-se o o exemplo abaixo:
ponto da partida e
ponto da chegada Figura 145 – Verbo perguntar (reversível)
e o movimento do
verbo.

EL@ ME PERGUNTAR

Fonte: CELES (2006).

130
Capítulo 4 Sintaxe da Língua de Sinais

Há verbos que são recíprocos, isto é, verbos que podem usar


Há verbos que são
uma ação utilizando as duas mãos ao mesmo tempo, como se fossem recíprocos, isto é,
pessoas ou objetos. Na Língua de Sinais Brasileira temos os verbos verbos que podem
PAQUERAR ou MISTURAR. usar uma ação
utilizando as duas
Figura 146 – Verbos recíprocos (paquerar e misturar) mãos ao mesmo
tempo, como se
fossem pessoas ou
objetos.

EL@S PAQUERAR COMIDA MISTURAR

Fonte: CELES (2006).

Esses verbos são mais utilizados nos pontos espaciais.

Atividade de Estudos:

Acesse o youtube, capte e colete os sinais dos verbos em


concordância e verbos recíprocos, lembrando-se de que são os
verbos que estão sempre nos pontos espaciais.

Algumas Considerações
Finalizando o capítulo, cabe a nós pesquisarmos nos sites os vídeos, coletar
as narrativas Surdas e fazer comparações por causa da sua modalidade viso-
espacial, que é distinta da língua falada. Para aprimorarmos mais, é imprescindível
elaborar a lista da formação sintática durante o exercício. Tentar fazer entender o
argumento de cada formação de interrogativas e seus aspectos e, enfim, coletar,
ler e interpretar os verbos e concordância através das narrativas.

131
Língua brasileira de sinais

Referências
BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1982.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos


linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

QUADROS, R. M.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais V.


Texto Base. Letras-Libras – Modalidade Ensino a Distância. Florianópolis: Editora
da UFSC, 2008.

132
C APÍTULO 5
Semântica e pragmática da
Língua de Sinais Brasileira

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Entender a diferença dos significados e sentidos.

99 Apontar as diferenças dos sentidos e significados.

99 Reconhecer a diferença entre sentido e significado.


Língua brasileira de sinais

134
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

Contextualização
Aqui no Brasil, temos poucos estudos sobre este tema e, neste capítulo, vamos
explorar os aspectos gramaticais que podem ajudar no desenvolvimento de estudo.

Classe Gramatical
Segundo Quadros e Karnopp (2004), na Língua de Sinais Brasileira é possível
criar um novo sinal utilizando um significado já existente, porém um contexto que
requer uma classe gramatical diferente. Os níveis semântico e pragmático são
os estudos dos significados individuais de um sinal, do agrupamento de frases, e
descrevem a significação dos sinais no contexto e no discurso.

Na classe gramatical, podemos citar:

a) Na derivação – de substantivo para verbo e vice-versa. O que se nota é a


diferença de movimento. Por exemplo: CADEIRA – SENTAR

Figura 147 - Est@ cadeira quebrada (substantivo com movimento repetitivo)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 148 - Sentar aqui (o movimento do verbo se faz em uma vez só)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 149 - El@ ouvinte (o movimento da mão se abre e fecha várias vezes)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

135
Língua brasileira de sinais

Figura 150 - El@ ouvir barulho (o movimento da mão se abre e fecha em uma única vez)

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

b) Nos sinais compostos – na composição de dois sinais preexistentes para criar


um novo sinal, porém apresenta significados diferentes.

Figura 151 - Onde sapataria

___?___

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 152 - Onde açougue

___?___

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 maio 2011.

Figura 153 - Onde igreja

___?___

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 maio 2011.

Há o primeiro sinal, CASA, e quando se associa a um outro sinal diferente


(SAPATO, CARNE e CRUZ) acaba criando um novo sinal. É preciso atentar para
o contexto da frase e nunca para o primeiro sinal.

136
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

c) Flexão – o sinal é flexionado de acordo com as expressões faciais. A expressão


facial pode ser a mesma, mas a frase sinalizada muda de significado.

Figura 154 – Exemplos de flexão

EU PREOCUPAR VOCÊ SOZINHA ANDAR MADRUGADA

MINHA MÃE PREOCUPAD@

EU PRESSENTIR V-A-I ACONTECER ALGUMA-COISA

EU TER PRESSENTIMENTO

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

d) Item lexical – os itens lexicais são os mesmos, mas os significados são


diferentes, dependendo do contexto onde são inseridos.

Figura 155 – Exemplos de item lexical

HOJE SEXTA-FEIRA IR BOATE


137
Língua brasileira de sinais

VONTADE COMER PEIXE

___!____

EL@ BRANCA

EL@ TER HÁBITO ESCOVAR-DENTES

EL@ ACOSTUMAR PASSEAR RIO-DE-JANEIRO

EL@ TREINAR+++

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

e) Sinais de contato - no campo semântico, os sinais de contato no corpo ou


próximos às partes do corpo fazem parte do campo semântico específico, por
exemplo:
Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

138
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

f) Vários itens lexicais para a mesma ação com os sentidos diferentes:

Figura 156 – Exemplos de sinais de contato

INTELIGENTE

NA PARTE DA CABEÇA

PENSAR

DIFÍCIL

ANDAR

EM FRENTE DO PEITO
(ESPAÇO NEUTRO)

AÇOUGUE

CADEIRA

139
Língua brasileira de sinais

ACOSTUMAR

NO MEMBRO DO CORPO

ADOECER

EDUCAD@

Figura 157 – Exemplos itens lexicais para a mesma ação com sentidos diferentes

FALTA ALGUMA-COISA

EL@ FALTAR ONTEM

EL@ FALTAR COMPROMISSO

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

140
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

g) Apontação – através de apontação os significados se tornam diferentes, por


exemplo:

Figura 158 - Como pronome demonstrativo: ESS@, EST@, AQUEL@

Fonte: Disponível em:<http://www.vitoria.es.gov.br/servidoronline.


php?pagina=noticias&idNoticia=5674>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 159 - Como pronome pessoal: ELE

Fonte: Disponível em:<http://www.vitoria.es.gov.br/servidoronline.


php?pagina=noticias&idNoticia=5674>. Acesso em: 27 maio 2011.

Figura 160 - Como referente ausente

Fonte: Disponível em:<http://www.vitoria.es.gov.br/servidoronline.


php?pagina=noticias&idNoticia=5674>. Acesso em: 27 mai. 2011.

141
Língua brasileira de sinais

Figura 161 - Como referente presente

Fonte: Disponível em:<http://www.vitoria.es.gov.br/servidoronline.


php?pagina=noticias&idNoticia=5674>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 162 - Advérbio de lugar: Lá e Longe

Fonte: Disponível em: <http://www.clictribuna.com.br/noticias/servidores-


de-gravatai-terao-curso-de-libras/>. Acesso em: 27 mai. 2011.

h) Substantivos, adjetivos, verbos e outras classes gramaticais são sinalizados


com pouco ou muito movimento, intensidade ou repetição do sinal.

Figura 163 - OUTRA VEZ, DE NOVO – movimento único


REPETIR – Movimento contínuo
MAIS – dependendo do contexto, que pode ser em um
só movimento ou movimento contínuo.

Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 maio 2011.

142
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

Figura 164 – Indicações de intensidade, repetição de sinal modificando significado

PARA QUE? COMO?

VERDE VERBO
Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br>. Acesso em: 27 mai. 2011.

i) Verbos com flexão - a direcionalidade através do movimento, cujo ponto de


origem pode referir ao sujeito ou ao objeto.

Figura 165 – Exemplo 1 de verbos com flexão

EU DAR EL@
(SUJEITO-VERBO-OBJETO)

El@ DAR PARA MIM


(SUJEITO-VERBO-OBJETO)
VERBO REVERSÍVEL

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=Pna03Bue1PY>. Acesso em: 27 mai. 2011.

143
Língua brasileira de sinais

Figura 166 – Exemplo 2 de verbos com flexão

AVISAR-ME
(SUJEITO-VERBO-OBJETO)
VERBO REVERSÍVEL

AVISAR TODOS
(SUJEITO-VERBO-OBJETO)

ELES OS AVISARAM
(Objeto dir.- Sujeito - Verbo - Objeto ind.)

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=J3wbpATlm9Q&feature=related>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Em alguns casos, os verbos com flexão apresentam marcas de sujeito e


objeto de forma invertida (ou reversível), isto é, o objeto é marcado primeiro no
ponto de origem do movimento do sinal verbal e o sujeito é marcado pelo ponto
final do movimento do sinal verbal.

O último exemplo acima apresenta uma topicalização do objeto direto, o que


faz com que a ordem seja Objeto direto - Sujeito - Verbo - Objeto indireto.

j) Incorporação por argumento – é muito utilizado quando há características


espaciais e icônicas dos sinais. Por exemplo, o verbo BEBER mostra este
tipo de incorporação se tiver objeto direto do verbo, assim como mostram as
figuras abaixo:

144
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

Figura 167 - Beber/tomar -


Figura 168 - Comer-maça
Tomar café - Beber chá

Fonte: Disponível em: <http://www. Fonte: Disponível em: <http://www.


ines.gov.br/ines_livros/35/35_003. ines.gov.br/ines_livros/35/35_003.
HTM#1.2.7>. Acesso em: 27 mai. 2011. HTM#1.2.7>. Acesso em: 27 mai. 2011.

Figura 169 - Chupar-laranja Figura 170 - Comer-uva

Fonte: Disponível em: <http:// Fonte: Disponível em: <http://


librasnasescolas.blogspot.com/p/frutas- librasnasescolas.blogspot.com/p/frutas-
em-libras.html>. Acesso em: 30 mai. 2011. em-libras.html>. Acesso em: 30 mai. 2011.

k) Role-Shift – é o uso da perspectiva dos pontos de referência (através da


direção do olhar ou da posição do tronco do sinalizante para os pontos de
referência) ao invés da apontação para estes pelo sinalizante, conforme os
exemplos abaixo:

Figura 171 – Exemplo de Role-Shift

Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/


watch?v=4Dtw_d_dH_0>. Acesso em: 30 mai. 2011.

Na mudança da posição do corpo ou da direção do olhar, o sinalizante pode


sinalizar ‘eu’ quando, na verdade, quer significar ‘Carlos’.

l) Configuração de Mãos - Ferreira Brito (1995) , nos estudos sobre os atos de


sinalização envolvendo os sinais de “pedidos”, “egoísmo” e “problema”, mostra
que a polidez na Língua Brasileira de Sinais está focalizada nas formalidades
e informalidades. Ela mostra que as posições das configurações de mãos, nas
conversações, determinam tipos de relações sociais e da esfera hierárquica
dos interlocutores participantes das conversações. Veja os exemplos abaixo:

145
Língua brasileira de sinais

Figura 172 – Exemplos de formalidade e informalidade

CONFIGURAÇÃO DE MÃOS CONFIGURAÇÃO DE MÃOS


MOSTRA PEDIDO OU POR FAVOR, COM PEDIDO MAIS IRÔNICO
DE MANEIRA MAIS ENFÁTICA

CONFIGURAÇÃO DE MÃO CONFIGURAÇÃO DE MÃO INDICA


INDICA PESSOA EGOÍSTA PESSOA QUE SÓ PENSA NELA

CONFIGURAÇÃO DE MÃOS CONFIGURAÇÃO DE MÃOS


INDICA “PROBLEMA SEU” INDICA “PROBLEMA MEU”
Fonte: A Autora.

Atividade de Estudos:

1) Vamos treinar captando os sinais? Procure nos dicionários de


língua de sinais e anote cinco sinais de cada categoria:

146
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

a) Substantivos X verbos;
b) Sinais compostos;
c) Configuração de Mãos;
d) Verbos com flexão.

Sentido x Significado
Neste item, vamos aprender o significado das palavras, o que não é fácil,
pois não serão inseridas as gravuras, o que demandaria longo tempo. Como há
tecnologia a nossa disposição, poderemos captar os sinais através dos sites, como
youtube e outros, para assimilar os significados no contexto. Os significados dos
sinais são difíceis de definição certa porque ela apresenta diferentes contextos e
sentidos de acordo com a cultura da origem ou das cidades.

Como qualquer outra


O estudo partiu dos estudos de ASL e, como qualquer outra
língua, apresentou
língua, apresentou mecanismos próprios para criação e elaboração mecanismos próprios
de itens lexicais. Apresentaremos as citações dos exemplos dos para criação e
vários processos, em ASL, que são mencionados, um a um, na área elaboração de itens
da semântica (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008): lexicais.

1. Processos de Composição – Dentro da coleção de sinais inventados coletada


pelos pesquisadores, há muitas unidades compostas, nas quais dois ou mais
sinais são usados para expressar conceitos anteriormente não designados.
Na LIBRAS, são encontrados vários exemplos envolvendo este processo,
dentre eles, pode-se citar os sinais compostos que, como na ASL, apesar de
apresentarem formas diferentes, têm como equivalente no Português e no
Inglês “anti-concepcional”, os sinais PREVENÇÃO GRAVIDEZ.

2. Substantivos compostos – A composição lexical na ASL ocorre de modo a


permitir a extensão dos significados, bem como a criação de novos sentidos.
Um exemplo na ASL deste tipo de derivação é DORMIR AMANHECER que
significa ter dormido demais.

3. Compostos inventados – Muitos sinais inventados ou recém-formados, que


fazem parte dos dados coletados por Bellugi (1975), são compostos “ad-
hoc”. Um exemplo, comum a LIBRAS é a PILULA CALMA, que equivale no
Inglês e no Português a “tranquilizante”. Estas combinações podem passar
a ser substantivos compostos, integrando-se à língua. Esta é uma maneira
produtiva de expandir o léxico a partir de radicais já existentes.

147
Língua brasileira de sinais

4. Compostos com indicadores de tamanho e formato – Estes compostos derivam


de uma classe de formas, chamada de indicadores de tamanho e formato que
não apresenta equivalente no Inglês. Há vários exemplos no Inglês, como
RETÂNGULO VERMELHO com o significado de “tijolo”. Exemplos similares a
estes são encontrados na LIBRAS, como RETÂNGULO CONSTRUÇÃO para
“tijolo”, CARTA RETANGULAR para “envelope”, RETÂNGULO ÔNIBUS para
“passagem”, RETÂNGULO DINHEIRO para “talão de cheques”.

5. Compostos coordenados – Foi constatado um conjunto de sinais na ASL


que consiste em uma sequência de sinais seguidos de um sinal que significa
ETC, com o composto inteiro se referindo a um conceito ordenado. Por
exemplo: LAVADORA - SECADORA - FOGÃO ETC que corresponde a
“eletrodomésticos”. Para termos comuns como “frutas”, “verduras”, “meios
de comunicação”, “meios de transporte” e outros, não existem sinais simples
em ASL, o que ocorre é o empréstimo do Inglês através da soletração ou
a composição coordenada, conforme o exemplo acima mencionado. Na
LIBRAS, verifica-se o mesmo processo. Por exemplo, para “frutas”, usa-se o
composto coordenado MAÇA LARANJA ETC, como mostra figura abaixo:

Figura 173 – Exemplo de composto coordenado.

MAÇA - LARANJA - ETC

Fonte: A Autora.

Este processo, ao contrário dos descritos anteriormente, não apresenta


uma ordem fixa nos itens lexicais para compor tal significado. É um processo
que apresenta um ritmo especial, por exemplo, na LIBRAS, conforme a figura
acima, para significar “frutas”, tanto o sinal para “maçã” como para “laranja” são
realizados no mesmo ponto de articulação, facilitando a composição do sinal e
são enfraquecidos, minimizando a transição de um sinal para o outro.

6. Processos derivativos – Entre os sinais inventados na ASL há um grande


número de itens que se derivam morfologicamente de um único sinal. Isto reflete
um processo derivativo dentro da ASL pelo qual os itens lexicais básicos podem
ser construídos de várias maneiras. Nela há muitos substantivos e verbos
relacionados derivativamente. Por exemplo, ANALISAR e ANÁLISE. Na LIBRAS,
pode-se verificar exemplos como este, SENTAR, SENTADO, SENTADO-
EM-RODA que apresentam variações no movimento, COMPREENDER e
COMPREENSÃO, que variam a configuração da mão e o movimento.

148
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

Atividade de Estudos:

1) Vamos treinar captando os sinais? Procure nos dicionários de


língua de sinais e anote cinco sinais de cada categoria:

a) Processo de composição;
b) Substantivos compostos;
c) Compostos com indicadores de tamanho e formato;
d) Processos derivativos.

Como vimos acima, também há processos que envolvem um significado


figurativo, como a expressão idiomática. Os processos de flexão e de derivação
podem ocorrer com os processos de composição para expandir o léxico da Língua
de Sinais Brasileira e expressar, indefinidamente, novos conceitos, como vemos
nos exemplos abaixo de expressões idiomáticas:

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS EM
LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA (GLOSA)
LÍNGUA PORTUGUESA
1) Acertar na mosca PESSOA RESPONDER PERFEITO
PESSOA FAZER ALGUMA COISA ERRADA VOCÊ
2) Pisando na bola
FICAR-MAGOAD@
3) Horas a fio PESSOA ESPERAR+++ HORAS
4) Engolir sapo PESSOA RECLAMAR+++ VOCÊ FICAR-QUIET@
5) Chorar pelo leite derramado PESSOA FAZER-ERRAD@ ARREPENDER

Portanto, pode-se verificar que o vocabulário das línguas de sinais é rico,


expandido por um grande número de processos para a criação de novos conceitos.

Atividade de Estudos:

1) Procure 5 expressões idiomáticas da Língua Portuguesa, que não


as mencionadas no exemplo, escreva e faça transcrição para a
Língua de Sinais Brasileira.
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149
Língua brasileira de sinais

Captação e Compreensão
Este capítulo pode apresentar repercussões na ação pedagógica,
A língua de sinais
uma vez que requer os treinamentos visuais de sinais. A língua de
se mostra como
sinais se mostra como um instrumento imprescindível - em comparação
um instrumento
imprescindível - a uma língua oral ou até mais na sua dificuldade de codificar sem
em comparação acompanhamento gestual-coverbal - para transmitir, em qualquer
a uma língua oral atividade da linguagem pedagógica, conhecimentos relativos à
ou até mais na geometria plana, à geometria no espaço, às ciências da terra, à
sua dificuldade astronomia, à biologia, à anatomia, à química, à física quântica, à
de codificar sem física mecânica, etc. Acontece, do mesmo modo, com as atividades
acompanhamento
descritivas (descrição de lugares, planos de cidades), narrativas (as
gestual-coverbal.
contações de ficção, contos) e lúdicas, como as brincadeiras infantis.

Em relação ao cinema, podemos observar que a tradução para o português


brasileiro ou a tradução para a Língua de Sinais Brasileira exige uma visão
perceptiva do filme e existem técnicas de narração relativas a ele, dando nome ou
especificando cada detalhe em sinais ou na sua iconicidade, no que diz respeito
aos planos sucessivos. É possível que as cenas dos filmes científicos do cinema
tenham influenciado as cenas e estratégicas das narrações de sujeitos surdos como
narradores ou locutores; mas isso não é o único caso. Há a hipótese, levantada por
meio de pesquisas de LS ou de Campello (2008) sobre os Surdos isolados ou de
pequenas comunidades,de que os Surdos que não têm esta cultura cinematográfica
ou televisiva também criam os sinais icônicos de forma econômica e tipos de recorte
e de estruturações similares àquelas dos que vivem tal cultura.

As questões discutidas neste capítulo podem contribuir para resolver as


principais dificuldades existentes nos processos tradutórios: a) ausência da
fluência da captação de cada detalhe e do encadeamento das estruturas (a
impressão de que não se poderia fazer melhor ou de que não se poderia fazer
diferente); b) captação da presença das zonas de transição de uma estrutura
para o outra, como exemplos mencionados nos capítulos anteriores; c) coesão
gestual dos sinais econômicos que consiste em alterar o ponto de vista em curso
de realização de uma mesma estrutura: para descrever a velocidade do foguete
subindo ao céu, por exemplo, é preciso efetuar as realizações espaciais e de
movimentos para dar conta do movimento de subir e em movimentos giratórios;
d) poucos usuários da língua de sinais, como segunda língua, sinalizam bem
e utilizam este recurso em tal método. As pessoas têm a necessidade de uma
mudança de ponto de vista, seguida do movimento, e esta visualização obriga a
ruptura da sequência precedente.

Se essas cenas são filmadas, temos o movimento por meio de uma câmera, a
qual nos dá a ver e sentir o efeito da estruturação que conduz à contação de história
em língua dos sinais, que é mais adequada para qualquer análise epistemológica.

150
Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

É inegável a comparação com as cenas dos filmes de cinema: a possibilidade


de mostrar que a Língua de Sinais Brasileira deu lugar a estratégias narrativas
culturais próprias ao mundo dos Surdos, caracterizadas por uma abundância de
cenas, recortes, extratos dinâmicos e de processos que se encaixam em qualquer
processo mental e visual. Elas evocam mais movimentos das cenas, de mudanças
de ângulos, de posição ou distância, tendo, assim, os movimentos que mostram
entoação dos personagens na escrita.

O que se vê na narrativa, na contação de histórias, no sistema conversacional,


nas piadas é bastante parecido com a sucessão cinematográfica, em que as
atividades específicas e gerais das estruturas icônicas se entrelaçam umas as outras
em sentido análogo: transferência de forma = grandes detalhes; transferências de
localização = planos sequênciais; transferências de incorporação (e mudanças de
papéis) = planos alternados de personagem e de objetos não-animados (e sucessão
de planos sobre os diferentes personagens e objetos).

O conceito ou significado da visualidade é amplo porque as relações de cada


nível em campos diferentes, quer seja na biologia, na física, na física nuclear,
na psicologia ou nas ciências humanas, manifestam-se como uma série de atos,
um modo de proceder, um procedimento ou uma conduta complexa. No caso da
“experiência visual” humana, é necessário verificar algo que ainda não tem uma
existência efetuada e que determina e regula os diferentes atos antes de culminar
num resultado real, ou seja, a determinação não vem do passado, mas sim do futuro.

Esta “experiência visual” na sua atividade humana pressupõe a No caso da


intervenção da consciência, do conhecimento, da noção, na qual o “experiência
resultado existe duas vezes e em tempos diferentes: resultado ideal – visual” humana, é
quando se quer obter, existe primeiro idealmente, como mero produto da necessário verificar
consciência e os diversos atos dos processos visuais que se articulam ou algo que ainda não
se estruturam de acordo com o resultado que se dá primeiro no tempo, tem uma existência
efetuada e que
isto é, o resultado ideal. Para adequar isso, é preciso expor com precisão
determina e regula
um resultado ideal no ponto de partida até chegar à fórmula do modelo os diferentes atos
ideal original. O segundo resultado é o produto real, cujas relações antes de culminar
de produção, agente ou sujeito Surdo ativo e sinalizante adquirem, num resultado
independentemente de sua vontade e de sua consciência, características real, ou seja, a
como produtos intencionais, incluindo também o progresso histórico, determinação não
para superá-lo daquele que ninguém desejou. A finalidade é a expressão vem do passado,
de certa atitude do sujeito Surdo em face da realidade. mas sim do futuro.

Vamos supor que as línguas de sinais, que são objetos cognitivos, se


configurassem melhor que as línguas orais devido a uma modalidade linguística
da faculdade de linguagem. Tendo em conta que faz parte das disposições
humanas poder representar – figurar, transferir ou descrever imageticamente -
sobre apoios bidimensionais ou tridimensionais os animados, os inanimados, as
coisas, os objetos, os esquemas substanciais, os acontecimentos, nada permite

151
Língua brasileira de sinais

Uma rotulagem excluir prioritamente esta aptidão de representar o que é característico


cognitivo-semântica da linguagem humana. Sem esquecer o apoio quadridimensional, que
é, então, suficiente oferece a modalidade viso-gestual e que possibilita pragmaticamente
para dar conta a essas representações de dizer permanecendo o uso da imagem dos
dessa tomada da objetos. Uma rotulagem cognitivo-semântica é, então, suficiente para
forma. dar conta dessa tomada da forma.

Portanto, é necessário que toda a “experiência visual” na atividade humana


se apresente como preparação de finalidade e de produção de conhecimento em
íntima unidade. A relação do pensamento e a ação requerem a intermediação das
finalidades que o sujeito Surdo submete a apreciação.

A teoria e prática da “experiência visual” se fundem porque para se atuar


na prática é preciso de uma atividade teórica. Não é uma posição absoluta e sim
relativa, ou trata-se de uma diferença, da visualidade, pois vamos considerar que
nas relações entre teoria e prática, diremos que a primeira depende da segunda,
na medida em que a prática da “experiência visual” é fundamento da teoria, uma
vez que indica com precisão a definição de desenvolvimento e progresso do
conhecimento visual.

Esperamos que este capítulo possa dar contribuições para uma melhor
compreensão acerca dos aspectos da visualidade e do uso da “descrição
imagética” para a educação de sujeitos Surdos do Brasil. Sem esquecer a
importância da necessidade de criar um Estudo Visual para desenvolver,
aprofundar, preservar os registros imagéticos e uma pesquisa acerca das
descrições imagéticas que irão contribuir mais para o desenvolvimento da
pesquisa na área linguística e, consequentemente, darão suporte linguístico para
a futura formação dos discentes dos Cursos da UNIASSELVI que poderão, assim,
ter uma melhor qualidade de vida.

Os fragmentos da imagem, nas figuras apresentadas nos capítulos anteriores,


da sua parte imagética, articulam-se ou se estruturam como elemento de um
todo ou de um processo visual total que culmina na mudança de uma matéria-
prima, base ou fundamento. Para isso, é necessário inserir os links dos vídeos do
youtube ou assistir ao DVD que acompanha este caderno de estudos.

Atividade de Estudos:

1) Comente, expondo suas próprias opiniões, sobre a importância


da percepção e compreensão na Língua de Sinais Brasileira.
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Capítulo 5 Semântica e pragmática da Língua de Sinais Brasileira

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Algumas Considerações
Finalizando, cabe ao estudante a pesquisa em sites, vídeos, para coletar
as narrativas Surdas e fazer comparações, elaborando listas da semântica e
pragmática durante o exercício. Para treinar as percepções visuais e cognitivas, é
preciso elaborar, argumentando todos os aspectos dos sentidos e significados e,
finalmente, coletar, ler e interpretar os sentidos e significados dos sinais através
das narrativas.

Referencia
BELLUGI, U; KLIMA, E.S; SIMPLE, P. Remembering in signs. Cognition, 1975.

BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1995

CAMPELLO, A. R. S. Aspectos da visualidade na educação de Surdos.


Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC. 2008.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos


linguísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004.

QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais V.


Florianópolis: UFSC, 2009

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