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PGR-00065884/2019

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
SECRETARIA DE PERÍCIA, PESQUISA E ANÁLISE
Centro Nacional de Perícia

LAUDO TÉCNICO Nº 56/2019 - SPPEA

REFERÊNCIA Inquérito Civil nº 1.29.002.000125/2015-31


UNIDADE SOLICITANTE PRM Caxias do Sul/RS
AUTORIDADE REQUERENTE Luciana Guarnieri
EMENTA Meio Ambiente. Flora. Supressão de vegetação.
Espécies em extinção. Área de preservação
permanente. Corte ilegal de espécies florestais nativas.
Cambará do Sul/RS.
TEMÁTICA Meio Ambiente e Patrimônio Cultural
GUIA DO SISTEMA PERICIAL SPPEA/PGR - 001068/2018
COORDENADAS Feição considerada: (x)pontual ( )linear ( )poligonal
GEOGRÁFICAS Lat/Long dec.: -28.883611° Lat. -50.019167° Long.

1. INTRODUÇÃO

Por meio da guia SPPEA/PGR – 001068/2018, a Procuradora da República


Luciana Guarnieri solicitou análise sobre a reparação dos danos ambientais provocados por
Dieno Borges Pinto (já falecido), autuado várias vezes pelo Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama entre 1999 e 20011, por extrair
araucárias (Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze), xaxins (Dicksonia sellowiana Hook.) e
outras espécies nativas de forma ilegal, em Cambará do Sul/RS.
Os seguintes quesitos foram apresentados pela procuradora: (a) se, com os
elementos existentes nos autos, permanece sendo necessária a apresentação de Plano de
Recuperação de Área Degradada – Prad pelos herdeiros do autuado; (b) caso positivo, se os
parâmetros fixados pelo Ibama (número de mudas, possíveis localizações, etc.) para a
apresentação do Prad estão adequados; (c) outros apontamentos que o perito considerar
pertinentes.

1 AI 05884-D, de 7/7/99 (Descrição: “Corte de 97 pinheiros e 20 xaxim em Área de Preservação Permanente


conforme Notificação nº 207478”); AI 82668-D, de 29/10/99 (Descrição: “Por cortar 376 araucárias e 270
árvores folhosas de diversas espécies e 355 xaxins, sem autorização do Ibama”); AI 195735-D, de 6/9/01
(Descrição: “Corte seletivo de 15 árvores da espécies araucárias com volume total de 55,135 metros cúbicos”).

Avenida Ephigênio Salles, 1.570 – CEP 69060-020 – Manaus-AM


Tel.: (91) 3182-3100
Para atendimento da demanda, esta signatária realizou leitura da cópia
digitalizada do inquérito civil em referência (enviada pela assessoria da procuradora), análises
em Sistemas de Informações Geográficas – SIGs e consultas a normas e documentos técnico-
científicos relacionados aos temas abordados.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PROPRIEDADE DO AUTUADO E AS ÁREAS


DANIFICADAS

Durante as análises, verificou-se que os dados disponíveis nos autos sobre a


propriedade de Dieno Pinto são inconsistentes e incompletos.
Segundo o Ibama (Fl. 117), o imóvel em questão abrange 109,40 hectares,
conforme descrito na matrícula e no Prad apresentado pelo autuado em 2002. Já a empresa de
consultoria Causa Verde, contratada por Danilo Pinto, apontou, em dezembro/2016, uma área
de aproximadamente 55 hectares (Figura 1) como sendo o imóvel de Dieno. Essa área, além
de não corresponder à indicada anteriormente pelo autuado, também não é compatível com o
registro cartorial enviado pela mesma empresa em maio/2017 (Fls. 106-108), referente a um
imóvel de 727.144 m2 (ou 72,7 hectares), do qual apenas uma parte, de 29.286 m 2, pertencia a
Dieno.

FIGURA 1 – Primeira delimitação (em vermelho) realizada pela empresa Causa Verde para as terras de
Dieno Borges Pinto, abrangendo cerca de 55 hectares. Fonte: IC 1.29.002.000125/2015-31, fl. 92.

Em setembro/17, a Causa Verde apresentou um novo laudo (Fls. 144-166),


informando que a área pertencente a Dieno à época das autuações era de 223,47 hectares

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(Figura 2) – muito maior, portanto, do que a reportada pelo infrator em 2002. Consta também
que, após o falecimento do autuado, sua propriedade foi dividida entre os herdeiros, cabendo
ao Sr. Danilo uma fração de aproximadamente 64 hectares. O laudo não foi acompanhado de
documentos cartoriais que corroborassem os dados fornecidos quanto à propriedade original e
às derivadas desta.

FIGURA 2 – Segunda delimitação (em vermelho) realizada pela empresa Causa Verde para as terras de Dieno
Borges Pinto, abrangendo 223,47 hectares. Fonte: IC 1.29.002.000125/2015-31, fl. 166.

Com o objetivo de confirmar as informações do laudo, esta signatária plotou,


em SIG, as bases vetoriais do Acervo Fundiário 2 do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – Incra e do Cadastro Ambiental Rural – CAR 3, confrontando-as com as
duas áreas indicadas pela empresa.
Desse modo, foi possível localizar cinco imóveis do CAR (Figura 3)
sobrepostos às áreas atribuídas a Dieno4, e que possuem as seguintes denominações5: “DIENO
BORGES PINTO” (2 imóveis), “Danilo Pinto”, “Maria Helena Nazário Pinto” (nome da
esposa de Lauro Antônio Pinto, um dos descendentes de Dieno) e “Fazenda São Gonçalo e
Lobo” (nome compatível com o registro cartorial apresentado).

2 Disponível em: <http://certificacao.incra.gov.br/csv_shp/export_shp.py>. Acesso em: 24 janeiro 2019.


3 Disponível em: <http://www.car.gov.br/publico/municipios/downloads>. Acesso em: 25 janeiro 2019.
4 As bases vetoriais do Incra não apresentam sobreposições com as áreas analisadas.
5 Extraídas do CAR estadual (Disponível em: <http://www.car.rs.gov.br/#/site>. Acesso em: 29 janeiro 2019).

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FIGURA 3 – Plotagem das áreas delimitadas pela empresa Causa Verde e dos imóveis registrados no CAR.

Assim, tal conjunto de imóveis parece ser resultante da fragmentação da


propriedade de Dieno. Todavia, não engloba toda a área atribuída ao autuado – há porções que
não estão dentro de nenhum imóvel inscrito no CAR e que, possivelmente, foram repassadas a
terceiros. Além disso, o imóvel denominado “Maria Helena Nazário Pinto” tem
aproximadamente 57 hectares fora dos limites traçados no último laudo técnico, levantando a
suspeita de que, na verdade, as terras outrora pertencentes a Dieno ultrapassam a extensão
informada pela Causa Verde.
Também há incertezas quanto às áreas atingidas pelas infrações, cuja
localização exata não é descrita (por meio de carta e/ou coordenadas geográficas) nos AIs e
demais documentos do Ibama constantes dos autos6. Consequentemente, não foi possível
verificar se elas coincidem com a área danificada de 20,32 hectares delimitada no laudo
técnico de 2017.
Até 25/5/2018, as terras atribuídas ao autuado permaneciam, em sua maior
parte, cobertas por remanescentes de Floresta Ombrófila Mista em vários estados de

6 Ver fls. 10 (Relatório de Fiscalização), 51-52 (Relatório de Vistoria), 53 (AI 75884-D), 54 (AI 82668-D), 55
(AI 195375-D), 77-79 (Parecer 02023.000032/2015-67), 116-117 (Parecer nº 24/2017), 180 (Informação
Técnica nº 17/2018).

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conservação. No entanto, apresentavam também trechos desmatados de grande relevância
ambiental, situados no interior das florestas, Áreas de Preservação Permanente – APPs de
recursos hídricos (rios, nascentes e olhos d'água perenes) e Reservas Legais – RLs propostas
no âmbito do CAR (Figura 4).
Em conjunto, esses trechos desmatados totalizam, pelo menos, sete hectares.
Cabe ressaltar que a estimativa não considerou as APPs de alguns cursos d'água intermitentes
(vetorizados pelo Centro de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS7), que, até o presente momento, não foram incluídas na base do CAR.

FIGURA 4 – Imagem disponível no programa Google Earth Pro, de 25/5/18, a qual demonstra a existência, nas
terras atribuídas ao autuado, de vários trechos desmatados em remanescentes florestais, APPs e RLs do CAR.

Há, ainda, APPs em ambientes não florestais – classificados como banhados 8 –


que foram parcialmente suprimidas entre 29/7/13 e 12/9/15, devido à criação de um
reservatório a jusante9, com aproximadamente 9,7 hectares (Figura 5). Ao que parece, as áreas
de banhado que restaram se encontram degradadas em razão de queimadas e, possivelmente,
de outros fatores comuns em propriedades rurais, como pisoteio de gado e presença de
espécies vegetais exóticas.

7 <http://www.ecologia.ufrgs.br/labgeo/arquivos/downloads/dados/Base_50k_RS/Lat_long/>. Acesso em: 31


janeiro 2019.
8 Os banhados são áreas úmidas, alagadas de forma permanente ou periódica, cujas condições hidrológicas
propiciam o estabelecimento de uma vegetação predominantemente herbácea ou herbáceo-arbustiva (Referência:
SIMIONI, J. P. D; GUASELLI, L. A. Banhados: abordagem conceitual. Boletim Geográfico do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, n. 30, p. 33-47, 2017).
9 Diz-se de algo situado mais abaixo, na direção do fluxo hídrico.

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FIGURA 5 – Sequência de imagens disponíveis no Google Earth Pro, com destaque para as APPs de banhados (em verde) identificadas nas terras atribuídas a Dieno Pinto.
Tais APPs foram afetadas pela criação de um reservatório a jusante, entre 29/7/13 e 12/9/15, e por incêndios ocorridos em 2016. Os pontos brancos na terceira imagem
representam focos de queimadas detectados por satélites, disponíveis na plataforma BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe
(<http://www.inpe.br/queimadas/bdqueimadas#>).
3. RESPOSTAS AOS QUESITOS

a) Se, com os elementos existentes nos autos, permanece sendo necessária a apresentação
de Plano de Recuperação de Área Degradada – Prad pelos herdeiros do autuado.
Não foi possível verificar a situação atual das áreas danificadas por Dieno
Borges Pinto entre 1999 e 2001, pois sua localização exata não consta dos documentos
apresentados pelo Ibama (autos de infração, relatórios, entre outros). De qualquer forma,
entende-se que há necessidade de um Prad abrangendo todas as terras outrora pertencentes ao
autuado, as quais apresentavam, em 25/5/18, diversas porções degradadas dentro de
remanescentes florestais, APPs e RLs propostas no âmbito do CAR.
Ademais, é possível que as áreas de extração ilegal necessitem de ações de
enriquecimento florístico, caso ainda não tenham recuperado a diversidade em termos de
composição de espécies.

b) Caso positivo, se os parâmetros fixados pelo Ibama (número de mudas, possíveis


localizações, etc.) para a apresentação do Prad estão adequados.
Os parâmetros fixados pelo Ibama para o Prad constam da Informação Técnica
nº 17/2018-Ditec-RS/Supes-RS (Fl. 180 dos autos) e referem-se aos seguintes aspectos: (i)
quantidade de mudas (deverão ser plantadas mais 13.400, em complementação às 1.600 já
estabelecidas); (ii) locais de plantio (foi sugerido que sejam recuperadas as clareiras existentes
na mata e as APPs degradadas, sem mata ciliar); e (iii) espécies (as mudas deverão ser de
espécies nativas diversas, não apenas de araucária).
Entende-se que as recomendações sobre a quantidade de mudas e as espécies
são adequadas, considerando que: (i) o critério utilizado pelo Ibama para calcular o número
total de mudas corresponde ao critério estadual de reposição florestal vigente à época das
infrações, dado pela Lei nº 9.519, de 21 de janeiro de 1992; (ii) nas terras atribuídas a Dieno
Pinto, havia, em 25/5/18, pelo menos sete hectares desmatados em clareiras, APPs e RLs
propostas no CAR, que poderão ser recuperados por meio do plantio de 11.667 mudas, com
espaçamento de 3 m x 2 m10; (iii) o restante das mudas poderá ser empregado no
reflorestamento de outras APPs, ainda não incluídas na base do CAR, ou no enriquecimento
florístico de matas secundárias já existentes; (iv) além da araucária e do xaxim, diversas
outras espécies nativas foram exploradas ilegalmente pelo Sr. Dieno, conforme o AI 82668-D;
(v) do ponto de vista ecológico, é mais apropriado plantar diversas espécies do que apenas
uma.
Com relação aos locais de plantio indicados pelo Ibama, sugere-se que, além

10 Trata-se do espaçamento mais comum nos plantios de mudas convencionais, realizados em área total.
(Referência: ISERNHAGEN, I. et al. Diagnóstico ambiental das áreas a serem restauradas visando a definição de
metodologias de restauração florestal. In: RODRIGUES, R. R.; BRANCALION, P. H. S.; ISERNHAGEN, I.
Pacto pela restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São
Paulo: Lerf/Esalq, 2009. 256 p. Disponível em:
<http://www.lerf.esalq.usp.br/divulgacao/produzidos/livros/pacto2009.pdf>. Acesso em: 4 fevereiro 2019.)

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das clareiras e APPs sem mata ciliar, sejam incluídas as RLs desmatadas (desde que aprovadas
pelo órgão ambiental competente) e as áreas afetadas pela extração ilegal que ainda não
tiverem recuperado a diversidade de espécies. Por outro lado, deverão ser excluídas do plantio
as APPs de banhados, para as quais a introdução de mudas de espécies arbóreas não parece ser
uma estratégia de recuperação adequada (outras medidas poderão ser empregadas nesses
locais, como proteção contra o fogo, restrição à entrada de gado e controle de plantas
exóticas).
Cabe ressaltar, ainda, que as recomendações da Informação Técnica nº 17/2018
não contemplam todos os aspectos importantes para o êxito do plantio de mudas (como, por
exemplo, os critérios para seleção das espécies e o diagnóstico in loco das condições atuais
das áreas degradadas) e, dessa forma, não eliminam a necessidade de os herdeiros do autuado
submeterem um novo Prad à análise dos órgãos ambientais competentes.

c) Outros apontamentos que o perito considerar pertinentes.


Visto que não foi possível apurar a real extensão das terras que pertenciam a
Dieno Pinto, nem verificar os atuais responsáveis por todas as suas frações, entende-se que os
herdeiros de Dieno deveriam apresentar documentos complementares ao MPF e ao Ibama, a
fim de esclarecer, de maneira definitiva, as dúvidas de ordem fundiária.
Embora a maior parte das terras atribuídas ao autuado tenha permanecido
coberta por florestas nativas até tempos recentes, é esperado que, com a fragmentação da
propriedade original, o desmatamento aumente em cada um dos imóveis derivados, já que boa
parte das florestas não está enquadrada como APP ou RL. Uma alternativa para a preservação
dessa cobertura florestal “excedente”, fora de espaços territoriais especialmente protegidos,
seria a criação de Cotas de Reserva Ambiental – CRAs, instituídas pela Lei nº 12.651, de 25
de maio de 2012.
A importância de se preservar os remanescentes florestais e de recuperar áreas
degradadas na região é reforçada pelo alto grau de desmatamento das Florestas Ombrófilas
Mistas – que faz dessa tipologia a mais ameaçada do país, conforme Kersten, Borgo e
Galvão11 – e pelo fato de o município de Cambará do Sul integrar a zona de amortecimento
dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, segundo o plano de manejo dessas
Unidades de Conservação12.
Não se sabe, até o momento, se a criação do reservatório de 9,7 hectares, que
suprimiu parte das APPs de banhado nas terras atribuídas a Dieno, foi precedida de

11 KERSTEN, R. A.; BORGO, M.; GALVÃO, F. Floresta Ombrófila Mista: aspectos fitogeográficos, ecológicos
e métodos de estudo. In: EISENLOHR, P. V. et al. (Org.). Fitossociologia no Brasil: métodos e estudos de caso.
1 ed. Viçosa: Editora UFV, 2015. v. 2, p. 156-182.
12 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS
AMBIENTAIS RENOVÁVEIS. Plano de Manejo do Parque Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral -
Encarte 1. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/mata-
atlantica/unidades-de-conservacao-mata-atlantica/2195-parna-de-aparados-da-serra>. Acesso em 7 fevereiro
2019.

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licenciamento ambiental. Assim, seria importante averiguar também a situação desse
reservatório junto ao órgão ambiental competente.
Destaca-se, por fim, que o Prad exigido pelo Ibama se refere, unicamente, à
reparação dos danos ambientais descritos no AI nº 82668-D (ver fl. 180 dos autos). Portanto,
permanece em aberto a reparação dos danos descritos nos demais autos de infração lavrados
em nome de Dieno Pinto (05884-D e 195735-D).

É o Laudo.

Manaus, 14 de fevereiro de 2019.

[Assinado digitalmente]
MARIANA PIACESI BATISTA CHAVES
Analista do MPU/Perícia/Engenharia Florestal
Assessoria Nacional de Perícia em Meio Ambiente

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