Sei sulla pagina 1di 83

I

Fernanda Farias de Albuquerque

(o e Maurizio Jannelli
CAtu história é o avesso de um I
conto de fadas. Uma história de tran- I

sexualismo, crime e castigo. Do I

i
nordeste brasileiro a uma prisão itali-
l
ana, a traietória de Fernando Farias de
Albuquerque, que virou Fernanda, que
I

;
i' ;;-\
L ' ."ry*'' &

ü#,ll *)-rt,;'';:l WWü,#Sdffi


I
virou Princesa. A fuga e a prostituição I
I
nas grandes eidades do Brasil e da I

Europa. 0 embate entte a provocação I


I
do desejo clandestino de noite e o
I
enfrentamento do desprezo precon-
1

ceituoso de dia. Uma certeza simples,


.

nas palavras de Princesa: "homens de


i
l

um lado, mulheres de outro. E eu?"


',1.
I
ll
i, Depoimentos de um
l

ffâvestl hrasileiro â
t,'.
ll-' um,líder dâs,BÍigâdas
,_
Vêrmelhas

A
I
EOIÍORÀ
NOVA
FBÔNTEIRA

§EIUPBT
ta
UM BOM
LIVR']

9
i

Local: prisão de Rebibbia, Roma. A infância pobre no nordeste brasileiro.


Personagens: Maurizio lanelli, 43 A ambigüidade sexual. A luta pela vida
l
anos,' ex-integrante das Brígadas na Europa. Os travesüs. A prostituição. I

Vermelhas, condenado por seqüestros e O crime. Uma história trágica saída


atentados terroristas; Giovanni diretamente da vida e que, quando
Tamponi, ex-camponês da Sardenha, alcança os jornais, ganha as cores do
condenado à prisão perpétua por sensacionalismo e as tintas de todos os
assalto abanco; Fernando, aliás preconceitos. Um livro que é um soco
Fernanda Farias de Albuquerque, a no estômago.
Pincesa, 32 anos, nascido na cidade
paraibana de Alagoa Grande, travesti,
Este liwo foieditado em 1994 na
condenado a 6 anos por prostituição e
Itália, com o título Princesa, por uma
tentativa de homicídio.
cooperativa chamada Sensibili alle
foglie, dedicada a textos em prosa e
Este livro registra uma entrevista com verso, extraídos da realidade contem-
por Maurizio com a
Princesa feita porânea , contendo narrativas trágicas
aiuda de Giovanni, através de um de personagens marcados pela margi-
caderno que ia e vinha entre as celas e nalizaçào.
uma inftnidade de bilhetinhos.

Capa:

I Ana Paula Niemeyer


Fe rnctntla Faritts de Albuquerque
.Llourizio Jannclli

A ?rincesa
Tiadução
Elisa Byington

A
I
EDITORA
NOVA
FRONTEIR,
Titulo original: PRINCESA

O Edizioni Sensibili alle Foglie Cooperativa ar.1., janeiro de 1994.

Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela


E»rrox,q Nova FnoNlerna S.A.
25 Botalogo
Rua Barnbina,
CEP: 22251 050 Rio de Janciro Rl llrasil
Tel.: 537 8770 Fax: 286-675.5
Endereço telegráfico: NEOFRONT
Sumario

lltlisio rle or-igirrris


Joano .1ngt:Iit,t J'.lriIa,l1cI Io Pn:Íácio, 7
l{cvisão tipoqrálic.r Breves Anotaçõcs sol)re o Contexto, 15
I utio l crrt:iro r/., .§,rrrz.r
A Princesa, 23
,lloritt Jo;t: t/c .\lrrt'. lnnrr
Entrevista, 133

('ll' llrasil. L'.rtrlogrq,io rrr lirnte


Sitrrlit.rto Natiorrrl rlos l:rlilorts rlt l.irros, Il].

Albuquerrque, Fernanda Farias clc, 1963


A3 I I A princesa : a lristória do trar.csti brasileiro na Europa escrita por um
dos lídtrts c1a l3rigadaVcrmelha / Fcrnanda Farias dcAlbuquerquc, Mauri
zio Jannclli ; tradução Elisa Bvington. llio de Janeiro : Nova Frontcira,
1 995.

126p.

tsBN 85-209 0650_8

l. l'r'avcslis lrrasjleirris l:uxrp.r ('onrlitri's sriciais. 2. l)risões


Luropa. I. Jannelii, À4rurizio. ll. l ittrlo.

Cl)l) 106.76
95-071) C|)LI I 055. l
U
§Jl
Fr,nN aN»,r l-.rnl.,rs »r. A r ltrr2ur,nqrrr,/ M,lunru-ro l,rNi.rr,r r.r

A I'rinccsa nascc (lo cncrontro irnprovár,cl cntr:c um cx-terr()-


rista italiano e um travesti brasik:iro, cm ll,orna, na prisão: Maurizio,
rluas vczes con<lcna<lo à prisão perpótua por sua atuaçio n() grul)n
armado <las Briga<lasVcrn-rr:lhas nos anos 70; Fcrnanda, cumprin<lt.»
pcna rlc scis an<;s p(»'ter crsÍàqucado a zela<krra cla pensão on<lc vivia.
Aparcntcmcntc urra aut«rl>iografia, o livr«r na r.erdacle tcm
dois aut«>res. I)ara cr>ntar a história clc Prinr:csa, misturaranr-sc (luas
i<lcnticlatlcs quc, (l() I)ont() de vista socioer'<>nômico, c,ultural, sexual
c aÍetir«r, não poclcriam st:r mais rlistantes. O quc os aproxima? Pr<r
r,avclmcnte um ccrto carátcr trágico comum a ambos.
"C)s prcsos cs('rcvcrrr scm parar", cotrta Mauriz.io. "Em qual

qucr pc<lacinho dc papel, nas paredcs, or.r<lc Íor. Por ncccssi<lacle <le

fàzer um balançcr. l)ara contir.ruar a viver (m algum lugar." Na pri


são, Fcrnanrla escrcvcr sua prripria histriria. Inicialmcnte uma práti-
c:a consolatória, a cs<:rita para c:la sc transÍclrma na possibili<lade <le

recompor os pcrlaç<.rs da sua irlcnticla«le Íi'agmentacla. Por nrais duro


quc scja, é a oportunida<lc de concluistar uma biografia c um lugar
para si no mundo.
Maurizio, ao contrárit-r, parcce ter sido atrai«lo pela razão
ol)()sta: a história <lr: Fernanda reprcsentà para elc a ocasião de

9
l:l,tr.i.r\».t Ir'tttt.ts tlt, Atuttrlrtt urlttt,/M'ttttrlzto Jrx:'lt't tt
A I)nr..:r't,s.r

s;io rccusa<los durante o tlia 1le


los mcsm()s «:licntcs (lLlc ()s Procl-t
livrar-sc por unr instantc rkr pcso rla sua própria lriograÍia. klcrn-
ral1l (le noitc.,,A socic<larlc quc não salre tnc itrvctltar
scln mc
tiÍica«lo socialrncntc com unt 1)assa(l() <lc raclicalisnro irlcol<igico, e
conl A violência <la luta arnratla (lue , I)ar.1 elc tr.rn t'arla vcz urcnos <lcsprczar."

senti<lo. Maurizio cs('rc\:c ('()nl() sc isto Íosse a sua única nraneira


Maurizio firi llrcso crn l-c)81' Na clloca, scrcs c()ln() Fcrtrantla
air-rrla nã0 Íâziam partc rla reali(I.1(lc urballa t'trrolléia.
l)cllois <lc onzc
rle Íugir. Conllna<lo a um l)rcscnte cornplctalrcntc prcr-isivt'I, cs-
.lros passatlos ctr prist-rcs tle scguranl:a tnlixinla, clc ó transÍcri<l<r
crevcr i.r trajctr!ria rlc Princcsa signilicir tarnbón-r unra r.iagcm que
n()rm.1l «rntlc r,ô llcla prirncira v(lz csscs tlovos atorcs
ele r.rão porlc Íàzcr. l)arâ Lll-na l)risã()
(l«rrn ironia hitchr:ockiana, Maurizio cornl)ara sua c'onclicão rluc a socit'tlatlc tlesllt'ia ali tler.rtro'

no nrurrrl«r a unra arnpulhcta scm arcia. [)cntnr <lo unilcrso rlos


l)t:s«lc il itlit:i<l tltls atltls 80, o f.crrôrrlCno ('rcsC('u <lc tl-rtltltl
os travcstis <l«rrninam as noitcs uas t'alça«las, não
s<'r
clistintilo irlentif icaria s«i arluclcs csl)ant()s(). Ilojc
l)res()s, csta espót'ic rlc r'«rn<lcna-
curopi'ias.
tkrs à prisã«i pcrpótua, qu(' n() lugar rcscrvarlo ao Ilnal da l)('na 1ôm
granrlcs c.itlarlr-s l.»rasilcir.rs, mas rle trttitas citlatlcs
«l..rs
sob tr
cscrito: Nunc'a. Scnr luturo, su.r no1'ão <lo tcmpo liri csvaziarla, Na ltália, ir llrostittriç'ão rlc tr-avcstis ó tratatla Pcla iml)rcnsa
títul«r
.,1
viaiIos" () qLlant() lrast.r llara trão rlcixar tlúr'i<las (luatlt()
tornou-sc urna i«lóia scrr-r scnti<[o.
'larnbern a nat:ionali«larlc lrrcrloll-rinantc tlos scus l)r()tag()nistas' Jut'tttl t'ottl n
1;ara Fernar-r«la, o lutur-o c urlâ nraleria proibirla.
irr-ra-qc,r <lc sc,sualirlirrlc troltic'.1,
st'trl sc rlar cotrla,
Na sua tragi:dia <lc nTulhcr aprisionarla rlcntnr <lo corpo <lc un'r
'rova't'ltl-tt,tltc
o Brasil cxl)()rt()u trat.estis crtr clttar-rtiilai[c tlos últimos <luitrzc atros.
homcn'r, a norrnali<laclc a clual cl.r sonha não 1;assa tlc unra
r:or-r-r
,,Na Euroltir a nas calcatlas. LIrI llaraíso'" Irnigrarl
tliragt'rn. () Polir.ia nio nrata
ltrcscntc ocltl)a Llln l)cqu('lt() cspa!'(), à t'roitc, às ntar
tcs Por razõcs clttt' r'ã«t alórn tlas llrcssirt's ct'otlôtl'ticras'
gcns rla s«rcicrlarlc.
"l)uas rncta«lcs clc coto firram os Maisl-rallitua<l<latelxt«ls1><llític<ls,Matrrizitlseirrrpror'isalic:
ltrirr-rciros pt'itos".
n-rcr.rs
cri«rnista rlar lirrrna à trisc'a Il.lrrJti\Ia tlt, [','rnarltla. l)cciilc t'sc'rc
ltara
Fcrnanrla c'onstrrli sua irlcnti<larlc Íênrinina contra lotlas as t'crtc
('()ll)()
unl l)('s(ltli'
ri.la n.r ltrirrrr.ir..r l)('ss().1.-lt'.tl).rlh.r 1l.r('it rrtr'll)('llt(
zas anatôtnicas. ljabrica para si uln c()rl)() rlc rnulht'r c'om hrlrmô
satkrr <lci:iÍl-ar "r língua, a gcOgral'ia, «rs st:ntil'trcntos clcscritos
t'ric.rs c silir:ont:. () r'«rrpo c()rn () qual cla scmprc s«rnhou r:r>nrluis ltara
ltor aquclc scr hurnano rlcsr'onhr:citl0. Il,t't'oustrtii o ltniYerso c a
tarlo c:om pcças ar,'r-rlsas, s«rl> nrt:rlirla para penctrar rro imagir-ráricr
masculino. "Uma nrr-rlher con-r pênis, cu st'i", rliz t'la. Um hcrr-na trajct<5ria<It:PrinccsaclclN<lr<lcstcllrasilcirtlàscalçaclascurtl-
, strguinrkr a hist<lria es(.rita pr»-
cl.r. Lhna história quc \iai-
fioclita. Irnagcnl mitológica cluc apcla à n«rssa n«rstalgia rlc uma lti.ias
sc tletall'ranilo 1>or t'tlnta tlas llcrguntas fi'itas por
Maurizio ('n1 uln
[)ivina. Incluictantc, c algurnas vczcrs, n-rolrstru
unicla<lc pcr<litla.
<lc
osa na vcrsão pr«rÍàna. ()s travcstis tracrn a lrlgica rlualista que caderno c1uc,,r.iaja rlc urna ccla ltara outra" com a itltcrmccliação
sobrc t-' corl-
rlividiu o r-nun<lo crn rnasculirro e feminino. Aceitos no mun«lo rlas
Giovauni, ctlmo clc c()nta nàs su;ts "Brcvcs anotaçircs

Íàntasias eróticas rnasculinas c f'cmir-rinas algurnas r.czcs tcxto", no início tlo livro.
,

II
IO
FInNt:.1D,\ F.,rRt,ls l:t, At.t'ltit]LllillQI Il'l Mr\uRtzttl J tNlt't't't
A Prrrxc ls,c

cicla conro ser humano' O tcxto já lbi objeto tle montagens teatrais
Durantc os (l()is anos quc rlurou a prcpalaç:iio rlo livro, Mau-
dircitos loram comPrados Para o cinclna' Maurizio' alóm
dc:
rizio c Fcrnancla só sc: falaranr duas vczr-'s. L)r:ntro rlc uma arquitctura c seus

inr.untarla para scgrcgar e controlar os inrlivít:luos, criarn-sc relaç:õcs iáterescritooutrashistórias,t()rnou-sePontodCref-erêncianosdC-


uma tese (lc
cliliccis tlc irnaginar. Lon-qris r:orn'rlores, janclas cr»l gratlt's, l)()rtàs bates solrrc os transexuais e atualmcntc cstá preparantlo

blinrla<las, inlir-ritas rcgras a scrcm (Lunl)ri<las cin:unscl-c\'('nr Lull c()- sociologia sobrc o assLtnto'
uma
ticliano tlcscor-rhccitkr. Pavilhõcs rigorosamcnter scpara<los c Inicialmcnte, tra<luzir Princesa Para o 1>ortuguôs Parccia
1>ara n<is
tt:ria si<lo
sr.7ru.§ lnuit() tlifi:rcntt's <lt' um la<kr os brigarlistas, intclcctr-r.'ris rla tcntativa cle rct:ncontrar a língua original na qual o livro
algumas vczes
prisào; rlo outro os tra\cstis, na stur uraioria imigrantcs brasilcir-os cscrito.Tbria, bcm entcndido, mas não Íbi' Apcsar clc
tcr sido possívc,l iclcntificar a Inàtriz brasilcira r]c ccrtas Íàlas'
na
lirnitan-r o Lr()ntat() ontrc ()s <kris a um nrínin-rci ir-rimaginár,cl. Estas
tcxto não Í'oi assim' Os originais <le Fernan<la nã<r
('on\'('rsas sclnprc atrar,('s <lc grarlcs firram grava<las e parte maior partc cl<>

italian() cuia ma-


tlclas ó alrrr:st'ntacla c'orno apônrlic't' r'ro lin.rl rlo livro. f'oram cscritos cm PortLlguôs. Foranr cscritos nLlm

Ilscrcvcr a "autobiogl'afia" <lc alguórn tão <lif'cr-cntc «lc si c triz brasileira ó, cleccrto, muito clara: guasc tant() quanto scu P()r-
seguranrcnt(' urn grirnclc <lcsaÍlo. Maurizio o <lcfinc como "aproxi- tuguês é hojc marcado pelo italiano'

rnar-sc rlas razões <lo outro até o ponto cm quc clas sti ltorlenr st'r Procurci cntão scr o mais ficl possível à linguagcm c à pon-
cscrritos (lc
aceitas." Ur.na rnistura di-' Ii1'ão <lc tolcrância c pr(xrcsso <lc conhe- tuação cncontraclas por Maurizio Para clar Íirrma aos
cimcnto, rlurantc o r1ual, crn mcio a tanti'rs rliÍ'crcnças, Maurizio O aspecto às vezcs desajcitado, cstrangciratlo' a Pon-
Fcrnan<la.
a tlerscrevcr a
porlc sc apoiar cm algun'ras scmclhancas. Na construc;ão rlo tcxt<r tuação clue lcmtlra um ca(lcrno clc notas, ajuclam
cle rnirnctiza, até tornar invisír,cl, a própria cxpe riôncia <lc violôn- história clc I'rincesa. Para <lcspir a lingua <lcssas caractcrísticas'
cu corria o risco clc a<lulterar a iilc:ntitlatlc tlo livro
c <lcstruir <l
c'ia, <lt' clan<lcstinirlaclc, dc tàlsa i<lcnti<la<lc c Íuga.
O lil'ro cronsLrntc olhar para <lcntro rlo mun<lo clcls travcstis. pcrsonagem tlc parte da sua história'
A crucza e a violêncria clo c«rntcú<lo não irnl;t-<lcrn o leitor tlc apro- Mantivc o tcrmo transexual - com Írec1üência abreviatl<r
usado cm italiano' A rigt>r elc se aplicaria somcntc
aos
ximar-se cla scnsibili<laclc <lr: Fcrnanrla ao sr: cnrociun.lr (om suà para trans -
de scxo' mas
soli<lão. Ain<la quc a vida não tcnha tratarlo muit«r bem as aspira- travestis que sc submctcratn a cirurgia Para mu(lar
c prótescs
entre clcs clesigna os que Íizeram' à custa <lt: hormônios
ções clc cacla um <lclcs, Maurizio c Fcrnancla sf,,r I)(ss()as s('m ran-
Í'eminina' Nã<l
cor. Apcsar clc sercm rlois rcbelrli:s por <lcfinição, prcrlomina nclcs dc silicone, a opção Permanente Por uma aparência
esPartilhos e
mais uma simples quc:stão tle acessórios
c no livro um ('erto tom pacrato c aÍ'cttroso. - Perucas'e irrcversível'
Scr clona rle uma biografia rlcu a Fernanrla maior rligni<la<lc. maquiagcm --, mas <le investimento mais profunclo
Foi a própria Fernancla qut: me pecliu para manter
em Português essa
A repercussão que o livro tcve na Itália, o cspaço quc concluistou na
designação. Sua identidade de transexual foi reforça<la
pcla experi-
imprensa e na teler,isão deram-lhc a possibiliclade rlc ser (rc) conhc-

r3
r2
A PnrNcl,s,t

ência cla prisão. Na penitenciária masculina de Rebibbia, onde estcvc


presa, o pavilhão ocupaclo pelos "trans" é totalmente separado; nem
mesmo os Bdls que tomam hormônios são admiticlos. Para ela, con-
forme me explicou, transexual significa"três sexos". Princesa é uma
soma.

Breves anotações
sobre o contexto

t+
Urntr crisc proÍunrla lcr'ou Fcrnarrila à bcira rlo irrcp.rrár,t'1.
Naclucle rlia, narlut:lc nror-ncnto, a cs('rita surgiu rlcsr»-rlcnarlarncnlc
(:n) suil r,irla. Giovanni, que cntão cst:rcvia ('()nt()s autobi
ltrrrlucn«rs
ográfit:«rs solrrt' sua r.irla rlc pastor rlc rtrlranhos, ri'c.citor-r,lhc o rcmó-
rliti: cscrcvcr'1:lara nào sc tlcspcrlaç'ar, para rt'sistir à aç.ã«r rlcvast.r<lora

rla prisão, para não sc cscluc(.(-r rlc tcr nascitlo lir,rt'. Na ópoca, cu
cstava organizanrlr., scus csrrritos ('sl)ars()s c âcalx'i tarr-rbónr cnr,«rlvitlo

pc»- ac;uela prática \:it.rl . I;()i assim c1uc, por mais tlc urn ano, r.a«lcr
nos c [>ill'rctir-rlros viaiararr cntrc a rnil'rha r.cla, a r.cla rlc (]ior,anni c
a rlr Fcrnan<la. ()s nossos l)cnsàm('nt()s, as <list'ussõcs, os rrt>ssos tlias
lirra.n'r <lcsvia<los lrrust'arncr-rtc para lcrrit(iri()s incxplora<los. Fcr
nanrla nos introtluziu (:m unr muntkr tlcsconhccitkr, o munrlo clris
transr-xuais. Scu tcxto ltro<luziu um <tutnr tcxto, o rncu. Lcntârn('n
tc, urn c'onrluzinrlo a() ()utro, alrrimos csl)aç,o para () cnc()ntr(), l)ara
o c:«rnhcc'imcnto rnútuo c inÍ'initos ()utr()s jogos subtraídos ao olhar
<krs guarrlas. Clomo trôs cquilibristas, n«rs pcl-seguim()s, int,r.rtos, à{r

longo rlo fio rle urna cspiral c;ristolar quc nos lcvou para alé:n'r ckls

muros, alóm rlo crárcere. Assir-n nasceu A Princesa. [)c unr cncontrcr
irrcgular, <lc trôs histórias, clc trôs pess()as clue chegaram à prisão
scguin(l() trajertórias cliv,--r'sas: a luta armacla tlas BrigadasVcnnelhas,

t7
Fr nr rr»r Ftntts nr t\r rrrrrlLrr nr2trr /M..rtrrr.rzrr.r J,rxrr,r rr
A I'nrrr:t,s.'r
<lcnação, urn «lt:stir-ro: a prisão pcrpótua. \'cio mc cumprir-ncntar, tí-
a minha; a prostituição t]'anscxllal, a tlc Fernancla; a vida tlc pastor
nhamos nos t:onhccrirlo <lerz anos antt:s no cárcerc <lt' scgr-rranç'a má
t' um lrsllt«,, a tlt' Ciovanni.
xin-ra rlc Fossonrlrronc.Lancou un'r olhar rlc c-spccialista à r-ninha nova

rn«rrarlia c nrc inlirrr-n()u cluc «r incluilino qllc nlc preccrlcra na ccla


o ccnário <l«t cncontro foi o cárccrc de Rcbibbia. A c'cna, a chc-
tinha acabatkr rlt' abanrloná la às prcssas, rlcpencluran<lo-sc c()rn uma
garla ao pavilhão G8 de um grull)() rlc lrrigadistas Cm ltlcna c:ri-
corcla no l)('s('()!:(). Nos abracarnos, Íic'.rrnos ['clizt:s rlc n()s rccncon
sc cle idc-nti<larlc. A luta arrnarla tirtha ai:abatl«r, as antigas ccrtczas
trar. Dcpois clr' Íiri cr-r-rlxrra, tirrha urn (()rrl)rorr-risso. Lir:r Fernancla,
quc ()s uniant cstavan-r csfãccla<las. EIcs vinhar]l <lt'l«rngc, rle mi- (llre () espcrala n.r jane la, atrás <lt' rrnra gr-ailc gr()ssa (lue rl.rva para <r

lharcs clc <lias sertrltrc iguais, acostuma<los aos sigtros tlt- urn lle - ('ànrl)() ck: Iirtclrol ('sel)arava o sct()r rlos transr-xuais.Atralcs tlas gra
qucno uniYcrso cxclusiYar]]cnt(' tnasculino. Eu cra urll tlcles. Il-ri-
<lcs, cla làlara rkr llrasil, <la Arnazôni.r, tla sua hislriri.r rlc proslilr-rição.
cialr-r-rcntc, t'nct.ntro COln ()s trans lt()S tlCs<lri.nt.u. I'erlumcs
' Li t'lc, tla Sarilcrrha, <la aritlcz rla tcrra, tla su.r vitla. Invcntararr LlnrA
rlc rnulhcr inVa<lirarrr o|fàtos rlcsabituatlos; saias, tnt:ias c sutiãs
língna própria, r'«rnstruíranr urn nrun«l«r. [rlt' acomparrhou-lhe ()sj
l)as-
janclas intcrrotrtllcraur a mon<ltotra continuicla<lc
ltcnclurarlos nas sos <lurantc t<xla a rlur.rção rlo proct'sso t', rlcpois rl;r st'rrtt'nc'a, rerli
<lo panorar-na r:arccrário anteri()r. ['ara nós, os rcr'olucionári«rs tlc
giu os rcclut'r-irncrrtos lrurocráticos nt'r'r'ssári«rs l)ara (lu(' t'la olrtivcssc
um tempo, t«rlhi<los pelas rigorosas atatluras tla i<lcologia' aquc
alguns <lias tlc lilrt'rtlarlr:. Ilomcu t'Julit'ta, assim c'ranr charna<los 1-rc-
lcs corpos lirt«rcr>Piarlos clas rcvistas -scxl/, intCrrlita«[os na ])as
los outr«rs, tlc gozaç'iio. Mas a lrrisào ó r,clhacir, c a brinca«lcira {r cl'rcia
sâgc-m rlc urn s(,x() a outro, ç()nstituiram urn at-t:trtatlo ao vclhtr
<lt' agrcssão c makla<lr'. Naquclc pt'rír,<lo, cluem lalavir r'orn as "lri
n]orlo <lc Coml;rlrta mcrlto na l)risã(). Clomo rcsll<llltlcr aos llctli-
t'has" cra vi«rlent.tntt'ntt' cstigrnatiza<lo pckrs outr()s l)r('s()s. Muitcis
rlos cluc faziarn <lc screm char-na<las no Í'er-ninin«r? Às llrov()caç,-rts
<lut rian'r alàstar rlc si c rlo noss«r sctor .r<1ucla vizinhant'a contarnina-
cxagerarlas? Mas, sobreturlo, c9m9 intc-rpretar «rs tl,r,r>s làtltas
rla. Mas Giovanni j.i t:stava saturarlo «lc prisão c <lc'prt'sos. (]uinzc
rras quc tlc troitc colncÇâram a habitar noss()s sotlhos?
altos cntrc aqucl.rs parccIcs crarn «lt'tttrtis l)ara qur] clt't'otrtinuassc a
Nos <livitlimos em clois l)arti(l()s. () tlos in<liÍ'crcntt:s acluc
prcstirr atcnçiio às firÍirt'as, c assirn as histrlrias clc Fcrnanrla cr»rti-
Ies que, sult«rnho, corn um esfi>rqrr inaurlito, «leci«liram repriurir c
nLlaranr a prccnc'ht'r seus rlias.
calar qualc;uer crrtoção c o rlos cllrc, c()m mil autoiustiÍicativas,
rlcram ouvi«los ar>s sc-ntintentos cr>ntratlitórios rlc atrar,:ão c repulsa
A carla l)ass()
()s c<luilibristas arrist:am-st a c'rir no vJzio, t,s-
traziclos p(»- a(luclâs ambigüirla<lcs. Eu particil)ci (lcstc último e co-
cilarn, scrn tcr c:crtcza tla terr;r sob r>s 1rós. Irernanrlrr, r'ntrc uma
nhcci Fern:rn<la atravtis dc Giovanni.
página c ()utra «los scus escritos, tlcspcncou ccrrl vczcs. l)crrlcu cr
Gior,anniJàmponi é ur-Il [)ast()r cla Sarclt:nha. Há tlczcseis anos
ccluilílrrio pclos tropeços <lc urna irlcr.rticlailc scxual c'ontinuamcnte
ele tinha cntão <lezoito - <lcsc'cu <lo monte Alzu em l>usca cle
- sul»r, ctirla a tcnsão, sclnprc re<hsc'utir la. Baqueou assustarl«rrar-nen-
Íbrtuna, assaltou um l>anco à mão armafla c encgntrou, alé:m cla con-
I9
r8
A Prr.t:'rc t,s,t Ft,RN.|,I r't l r.,rRrr\s l I' Ar.BUrltrr,rrr2Lil. / MÀURIlt() J.,rrrlt,l.t t

tc cliante cla brr.rtal t:omunicaç:ão clc scr soropositiva; r,acrilou Por rlorto particr-rl.rr a Giorgio Bcnl-enati, pcla paciônc:ia com quc sLt

causa (la clistância rla Íàmília, pelas lrrutalirlacles tlo cárcc.rc. Faltou-
l)ort()u c inccntirrru csta tcntativa. E a Ombretta Borgia c Giancar-
lhc. o chão sob os pi.s, t: cla agarrolr-so a ntis. E nr5s a cla. Porclutr lo Sin.roncclli pcla ajucla que mc rlcrarn na rcvisão flnal clo tcxto.
tant() cu c'onro Giovanni ansiár'am()s [l()r rtnt scntitlo, Lll]t tcml)o, Naturalnrcntr:, os Iirrritcs c as insuficiônc,ias 1;crtenccrn intcirarrrc:n,
uma iclcntirlatlc tlivt:rs«rs dos cluc c()ntinuallttlttr: ltosstr (r.tr(L'l'Lir() tc aos autort's.
rnAr('a\'à. Li, por tlois anos, () tcxt() tltr lrt:rnatttla sult«rrtou, setlt sc
r()mp('r, () pcrs() «las nossas pcrguntas, os silôncios, .rs rctotla<las c os M.,rr rurzlo J,r.ilr,r r r

aban<lont.rs.

['ara nrc r'«rr-nunicar c'om fcrnatt<la, c'ontribuí ativarncnttt


para a construl'ào cla "nor'.r lingua". LIrna variacào, csc'rita c oral,
cluc rt-sultc,u <la quín-ric'a ilas n«rssas linguas matcl-lras. () portu
guôs, o italiar-ro c o c[ialt'1o s;rnlo. [)c'stc írltin'ro, nos t:scrilos tlc
Fcrnanrla eristi'rn rastros rlr:li«:iosos qtlc rcl)()rtàr-n il() setl proli's-
sor. () tcxto original, ttasc'itlo sti 1>ara n<js, liri sttct'ssil'alnt'ttttr
rnanipularlo l)ara sc t()rnrr .rr','ssír't'l a rrrn pitblitro tnais .rrnltlo.
Mesn-ro assim, as nrãos c origcns t ultttrais tlir"crs.rs talvcz irirttla
scjam rcconhct:ír'cis n;r rctlaçiio linal.
tl Princcstt, enlirn, trão c st:não o Íi'agntt:nt«r ama<lurcci<lo tltr
unra história mai«rr, cluc vai alcrn tlo tcxt(). Unra histtiria quc potlc
ria cornccar na últinra linha tkr livro: tlcstlc ir prisão ató as sttrltrcsas
rlc um ('nc()ntr(). A tarerfã <lt: torná-la r,isír.cl ao lcitor Íiri con[iarla
a cstas brcr,'cs notas introtlutórias.

A icleia rle transfi;rrnar Princeso crn livro rne f<ti sugcricla por
Renato C)urcio*, o erlitor quc, além tle c«rmpanheiro <L: r'iagcrn, ó

testemunha clcsta oscilantc avcntura. f)cxr tarnbi:lrt um aqracleci-

+ "LiderhistóricoclasBrigadasVermelhase<lirctordaCoopcrativaEditorialSensiblcallc-
Foglie"

2t
\)
k\.)
U

ê.,,.

\
Eu tir-rha scis anos c Cic:cra Maria rla (ioncrcição, n-rinha mãc, c:an

sada clo tr;rlralho na lavoura, rne pcgâvir nos lrraçlrs c rne tleitala na
carna rlc casal . Mcio aclormcciclo, cu a scntia, t: ainrla a sinto, rlcs,
lrir rnc suavelrcnte ct short c a camiscta.
Manuerl lralias rlc Allruclucrrluc', o mariclo, tinha nrorrirlc>
cluanrlo cla ain<la rnr: trazia r-ra barriga. Não antcs, porem, rlc tcr
post() no t'nunclo rninhas rluas irntãs t: urn irmão. Alnírlc, a rnais
vc'lha, Alrlc'nor, prirnciro horncrri, t: Atlt'lai<[r:.'lirclos t'asarlos,
<>

toclos r-r-rigrarlos para as cirla<les granclcs rlo Brasil: São Paulo c


Ilio clc Jarrciro.
A últirna a sair clc c'asa firi A<lclai<lc. Á1r.".,, a cortt:iava, cla
Íicor,r grár,irla. Cíccra botn Íbgo na cirl.rrlc. l)cixou a r()ça rlc mi,
lho e algoilão, paltiu para cima rlo p,rrlrc, prcfcito. Rccrlamou
rl«r

scu clireito, dela c rle sua íllha: ulrl c.lsarncnto, tinha cluc scr. Em
principio, a Íâmília ,lc Álvaro sc opôs à prctcnsão. f)r'pois rkrna
Inacrina intcrvcit.r, Íalou corn torlos, pôs tuclo no lugar. (lhoraranr
na igrej;r, Í'estejaranr no Sítio. I'ara mim c m('us primos, guaraná c
rlocc rlc goiaba. I'ara r:lcs, os granrles, licor clc jurtrbcl>a c churras
co. Uma Í'csta norrlcstina. Matarar-n um bczcrro c rlois pc'rus. Ál
r,aro ler,oLr Arlelaidt' embora. Eu c Cíccrar flcarnos sris.


A Prr.rlt'r s,t FL,trl.tsr>.r I; rrrr,\s ul Ar trttiltn Ir,(.)ut,/MÀul{rlro ].rxNt t t t

[-]nt«'os r.rngi(los cla cerrna rlc casal, to<l.rs as noitcs, ilcpois Mas cra cla nristurava às scnrclrtcs, c'u satria, Para mc tran-
c1r-rt'rn

quc «r sol c () n-rilho tinhan'r cxauritlo suas Íbrças, cu c()lhia scu pri ter p()r l)crt(): Ircrnantlinho, t,t'nhA r-ne Iazcr trompanl'ria. Vcnha
mcir«r suspiro <lc alír'io. Mamãc, onrlt' r'stá rneu pai? Morrr:u, Fcr- sel)arar o r.nilho tlo Ícijão!
nanrlinho. Nirrgucn'r vai ()cupar o lugar rlclc, nt-nr pata mirr, rrt'rrr

par.r r'«rcô. Cíccr.r chorava torlas as suas lágrin-ras para Matlucl F-a (]u.rnrl«r r> insulto passa a at'ot-trpatrltar mcll rr()mc, cla crtutc-
rias, a sua solirlão. Eu aninhackr <[r'r.rtro <lacluclc scntimcnto, cla r-nc ca a sussurr.lr, ao cntar<lecer, «lcpois <la Avt' Maria: Agora vocô já ó
apcl'tava a<l pcito. grantlt', I)()r (luc nào tl«rrme nà c.lrllil (lLlc ('ra tlt'Aklcnor? Nào, 1t<lr
fâr,or, lá t'u sonho conr a flot-csta.'lt'll ut-tr t'at'ltorr<) qLlo InL'Ittortlc,
Ir.tr cra â vaca. Gcnir, o touro, Ivanilrlo, «r lrczcrro. "§Àort c ri I lorlcrrr I)rcto quc'batc ctn nritr-r. São t'str'rri.rs tlo scr-t csltírit.o, cla
camisctit «lcspirl«rs ('orn prcssa <lcntro «lo tnato. L«rngc clc torlris, rnr: tri.rr.rrliiilizava. (]Llan(Ic., r'oc:ô tlortt.tc, c]c sai viaiantl«r tr r'ô (r ollv('
cra o scgrt,rlo. (lcr-rir nruqia e mc l)('r'\(gui.r. Uma brincarleir.'r tlc muitrs t'oisas. l)t'pois r,olta c tc c'()nt.r. Assitn são os s<.rnhos. (loisas
cr"r-rpurrircs, ;rcgação c rcspiraçircs olcgantcs. Elc r.nontava a \'â('a, lror-ritas t'r'«risas Íi'ias. (]uantl() a ()rr!'a tc assttstar t'«r Ilot't'tcttt l)rt'ttr
crrrlcnroninharlo cm cima rlc rnim. Mcxia, Ícito filhotc rlr l;icho tc m.rltratar, r'lrlrra o ('orlx) (()nr a tatt-tist'ta. Nào rlurr-r-ra ttu c t«rcô
trcp.r<lo na I)('rrla <l«r ckrno. Pinto <lc nrcnin() c esfi'egação. Iranil- não tcrá nrc<lo. Mas t'rào tlt'ixe o cspirito sc z.lng.lr, sctrào t'lc rtãtr
<lo, o lrt'zerro, l)rirninho clcsajcitarlo, t:nfiar,a o Íircinho r-rar;uclt' r'olta r-nais, c cnti() r'oc'ô corrt' 1;t'rigo. Vi'rtr <locnc'.r (' ltt()rt('.
ir.rfcrno. Llnrcrlcc:ia c chupava abaixo tla rninhir lrarriga. C)h! Ir.r
niltlo, procr-rrir a tct;rl A rlinha I)e(lucna tcta. Irngolicla, r-nr-rtila<la. I;r.r lirzia pipi na ('arna, nrc l.lctrziir Ír't'rr1c t't'ostas c'ot't't o sil'ral
Cót'cgas c unr arrcpio clc alcgria. L]«rrr Gcnir mclaclo e sern Íôlr:- <la c'r'uz, sonhava ('()m A f-lorcsta. (lonlirrut'i Ittolhantlo c,s lcrtq'«'ris c
go, o f ogo tinha acabarlo. E cu, nt'abir<l«r. Mas Ivrrnilrlo rec'()lneÇa- a tlornrir t'ottt cla ató os quatorzc itlt()s.V'stirlo cot-l-t I crtt'tis('tâ ('()
va: tii, tcrrr ir or,clha r.: o carneiro, () {ato c gata. Um clomingo, tio ;ri'satlclo rlo Hor.trem l)rct«r, ató ltojc.
João surgiu rlo narla c nos tlcscolrriu. Nos clcu uma sur-ra, rlcpois
c()nt()Ll tu<lo para Clícera. Manrãt', ('()nr() nàscctn ls tri.rtrc.tsi, I- l)cr-rs qLlc traz n()

avião rla nrt'irr noi1e . Eu tal-r-rbónr nast'i assittr? Siur, []crtr.rtr<lirtl-ro.


Mcnin«rs coisa tlo rlialrol Lcvt'i surra ilt:la tarnbcm. hrtcr- N«r rlia scgtrintc, invcnlci l)t'ittri (rllr Llrra cattta ilt'
a rninha vcrsào.
vcio tia Mar-ia, a rnull'rcr do ti«r João: C)íc:cra, chcgal Não vô qut' ó capinr st'<:o t't'spcrci, olhos para () (('Lt, tt.rvião c o fllhinho. llrirt-
un'r nrcnino, c1r-re são sir blincarlciras rlc criança! cava c()nr Josc:lla a lrrit-rcaclcira tlt' larnília. Clasinha, partclirthas c
Comcq'ou a gran(lc vigilânc'ia, o contr()lc. Gcnir c h'anilrlo papóis Íânriliarcs. Eu, a tnãc. Mas ttão t'ra t'trcia troitc c'cla, i'r-rinl.ra

o Fcrnanrlinho vir lrrincar ccinosco!


ir-rsisliarr: tia Cíccra, rlcixa prin-rinha, cllvcncnoll pior qur'ttnta urttttt: Mas r,ocê não ó r'rtu

Não, tetn traba]ho para làzcr cm casa, tern os grios para tatar. Ihcr, r'oc'ô c homen.r!

26 27
 PnrNcrsa Fr,nN,qN».r. F,rrrt,ls ur, Arnu«2trr,n<2ur./ M,lunrzro Jaxlr,r r.r

f Fernan<linho é mc-lhor do quc uma filha nrulhcr, acorrla ceclo esÍàrelada, passos que afundam na poeira, pcdras, mata clc espinhos
I

ô mõ traz na cama café e tapioca docc. Lava os pratos e já quer lavar


e aridez. A lc'ste, velozes, na direção de Remígio, um cruzamento de
roupa também. Ncm mcsnlo Alaírle e Aclelairlc aos sc]te anos Íàziam estradas com seis pistas para Campina Grandc, João Pessoa c Picuí.
tanto.

Dona Inac'Ína c suas lilhas: Maria Apareci<la c Maria <las Gra


ças. Chcgavam à nossa casa tlcpois tl<i pôr,clo s<>1.Viúva há pouc<r
tcrnl>o, Inac'ina lnantinha as rluas filhas .r sete chavcs. por causa <la Tinha scte an()s c não sabia () quLr era pccatlo. ()s gran«lt:s mc
r1u,.:lc inferno
<lc homcns cluc roclcianr as meninas scm
Pai, <lizia. csc'onrliarn as palavras, r:u as rottl;ava: r'ê ctlrno sc colnl)()rta o Fcr-
vinha,.r à nossa casa Para <krscascar li'ilã, c dcbulhar rnilho. As rluas nanrlinho? Não brinca c()mo os oLltros rncninos, qll()r scrxpre sc
r.iúr'as, as <luas Íilhas, c cu c()m clas. Iiogão rlc lcnlra, laml>ião a gás lazt'r <lc mr-rlher para clcs!
e hist<irias tle Tr-ancoso: fábulas e lt:n<las norrlcstirrirs. As nrcninas nre alàstavanr: Inas rrrc:ê ó mt'nitto, \'ai c()m ()s
lnacina sabia t:ontar. Era um cncAnt(). N«5s, t'ru volta, rt-1trc rrcninos! c Aparcc'itla rnc tlcl'cntliarn, r'ai havcr st'rnprc al-
J<»st'Íà
scntár'anros. Maria rlas Graças cornc(.ava com a sua ct-rtcza: Fcr- guóm para nrc rlt-fcn<lt'r. Então t'u ficava, «lcsaÍ'iava. Can'rinhava
na.<linl'ro t1 ,
prínc.ipe, c ('u, a csp()sa. Nào, cu c()tltcsta'a, tarr[:lórn r'«rrlo clas, as n'rcr-rirtas. Aumr-lttarant os conlrolcs. Cíccra mc c()n-
qu('ro ('asar ('oln o;lrincipcl ()h! mas voc'ê é rnt:nino c não nrt:nina, Íi<lr-r aAltlir. Ijlc tinha quinl,:c anos, vinru lr-rcu guartla c'ostas. Irla pt'r-
nã, 1>rrlcl Pr>r cluc não? Eu tar,bóm qucro urn 1trír.rc.ipe e.t.antarlol
{Llrltala, ele c ontava.
Não! Vrcê nà«r 1>orlc! Dava cm confusào c briga. Maria Altarccirla
mc «lcícn«lia: Sinr, Fcrnan<ljnho tambónr r,ai casar c()m () príncilrcr Aos sábados, ern Remígio, vcntlcm-se pcixe seco c erlas mi-
cncantarlo! Doc'c Aparecirla. lagrosas. Sapatos e lingcric para os camponcscs. E o clia da Í'eira. Ca-
minhões, ônibus e ambulantes chcgam de Carnpina Granclc, de So-
Clriação <lc aninrais c plantaç'õcs tlcsenhanr a tcrrâ lânea. À tardc, todos para o Íutcbt>l. Chegavar-n ctn ban<los, <le to<los
1>lar-ra acr
nc»-tc rla casa <las Farias. Mas um olhar ao sul trar-rsÍirrma a paisagcm
os municípi<)s, para o cmpurra-cmpurra à bcira do gramado vcrdc.
cm verrrlc úrnirlo, l)ássaros c caçadorr:s. lLcpous. s«r[> a sornbra tlc-r.r- Alclir, contrariaclo, estava semprc ao meu laclo. Torcida c vivas para
sâ, um rctalho rla ar-rtiga Ílorcsta c«rrroí<la. lrlanícic. Muitas horas de mim: Olha o vearlinho! Olha o mulher-
os jogadores, xingação para
caminharla antcs cluc a dcsolacão cla caatinga moracla rlc <lcmô zinha! Ate trrcsmo Gcnir e Ivanil<lo se enturmavam, riam dc mim.
ni«rs, banrlidos c santos cluc:imc tu<lo na Ílxiclcz <1, rlesertr.Tbrra Eu pegava pc(lras duras e atirava nclcs. Mulhcrzinhas são vocês, {i-

28 2g
Ft,ul.txtr'r l:r\l{1,\S l)l At Htttlttt,ul.ittt'/M'rtttttztt> J rxlt't t t

A I)rrrrct s.,t

na rlistância, vi aParcccr Arlir-r<10. Cl«rnhccia cle bcm, era (l() nosso


lhos cla puta! Alguns mc cnÍrcntavarr: () qur: r«rcê clissc? Ilu rlisst:
rnunic:íPio. Carninhava ziguezagr-rcan(l(), () sol a llino c a pritnc:ira
filhos <la pr"rta! Dcsgraçatlos! Al«lir rnc <lt:Íi'n«lia. Alclir, r,ocô rlcÍi'ntlt:
() quc vocês têrn a \'('r ca<'haça no c()rl)o.
tum vca<linho! ('orr1 isto? L)cixcrn o rlcnino
ScuArlir.r<lo, tlci-ra cu vcr sctl caralh«r! Mas qucm ó t'ssc «lialr<r
cnl paz. Ahl se r'or'ô o <lcÍi:ntk't' Ix)r(pl('gosta <k'lc! MasAltlir cra <r

clue Cstii Íalan<lo?! On«le: r'ocô st'csc«rnrlt', cn<liatrrarlo?Vcio Yirl«lo,


r.nais lirrtc, ninguórn tinha coragen'r <lc lratt'r nclc.
1>rocuran«lo r-ra t'ninha dirt:çào. Irmt'i ('()r.lgclll c, clt- lctn<-'o na t:alrc-
('a, nr('levantci t'to caltirn alto. Sou ctl, Ircrnan(linhol O rluc r'«rt'ô
()lha, Fcrnanrlinho, e ver<la«lc a(luil() (lLrr. ()s ()Lltlos nrt.nir-ros
c1uCr, r-ncnil-torArlir-rtlo, tlcixa ett \'('r () t('tl Se tua tlràc tc ouvt',
rlizcr.r.r <lc r'<>t'ô? () r;uê? I)izcrlr quc vocô g<>sta tlt'làzcr as c'oisas «las
1.)au!

Clil tC nrata! Clír,cra não cstá cln ('asa, r'iàjor-r Para () Part() tltl ,,\<lelai-
rnulht'rt's. Não, r.rão c r,cxlarlc, Alclirl Mirs t'om (lorir vor:ô laz!Vai,
rlc. Sc l)re nr()st.rar, tc llrcllat'. ttlra qalinh,r t'ttl tl,u lit'.r.
tira o sáorl , var)r()s t()lnitr lranho rlc rir>. [:r-rgi con'r rlr'<lo, r:orri ltara '.t'ô
l)t'gttt'i-o lrela mão. Ltt sctt', t'lc tritrta atros' Fcc'lrt'i o t'rrl
firra rlo nrato. l)ois pulos, Altlir rnc ap.rnhou rlc volta. Era «r nrais
casa c Yoci l)arÀ () arr1r.rzór-n tlo SCvt'ritro. (i«rrnltrci Íiarlo unra girr-
Íc>rtc rlc t«r«l«rs, tnc jogorr no c'hào.'li'rrtor-r, fot'qou. l)csistiu. lii«'oLr
raf.r rlC licor «lc I'ara a (lí<'t'r.r, itrlentt-i. Matci a galinha'
ltrrr-rbcba.
alr-tt'<lronta«l() (()ln () 11)('Ll mcclo. lltr sctt'anos, elc cluir-rzt'. Não «liga
St.t-r-rntt,tlrr, I'r.i() t.omo unt ass.rssi|ro.'l'irci lhc as l)cnas c rIc lc|at]
narla a Llít't'ra, scnão tc r-nato!
tci nr ltonta rlt>s 1tós ltara iogá la rlr.ntro rlo ltant'lão. Agora às l)()rtas
t.. jarrt,l.rs t,stã() lct'hatlas, c A Contirlir, r'ozinhartrlo nO Íirgo. Elc t'stá
Alrlir", r'u r;ut't'ia tanto <luc clt'gosl.rsst'tlt'nrir». (]r-rcria sinr-
scnt.xl(), lr.ltc tlt'r,agar c transltira "rzcrlo. ()lha ltara nrint t't'al"r.
Plcsrnuttt'r» lrt'rn rlt'lr'. Sirlria <1ut't'lt'rrio irr rnt'rn.r1ar. Hu cra.l \'.1('.r,
Não o llCrt'<> rlt'r'ista encluirttto t'irt'ttlo' l:stá scr-rlllrc'ali,lrcsa«l«r, na
g()stavil tlt'scr rlt'nin.r (()nr.ts rnt'ninas, ('()nr ()s lrrin'r<ls. N.io t'titt'n
t.ir<lt,irl. Arpt'rlroptnrlo. Na r.i«larlc (' pa r()!'.1, os horncps z()rnl>.rr.am
dia a difamação.)Veado palavra cortante, eu intuía a ofensa, cla
-
ramente. Mas não sabia que dentro daluele som estava o meu des-
rlt,le e irs ntnlht'rcs não o clucria|n. Arlinrlo, insisti, cnqLlant() a ga-

'ava proteção em Cícera, onde sua vista alcançava era


linl-ra r'ozinha r.,rcô ntc ltt()stra? Nãrl,ltriruciro o alm«rc-o. Elt'co-
nlcll .t g.llilth.r rncio crua t: sc cntbriagOu tlt'firtiti\.atncntc: tira a
território respcitatlo. Por todos. Pcrto rlt:la, ncnhuma piadinha err-r
r()Lll)a, Íi(ir nu, liernanclinho! Não, Arlirttlo, clttcro só YCr () tcu (ra-
voz alta. Sr! alguns olhares tortos. Corn ela t:u era obediente; Iongc
rall-r()! Ijlc lt.r,ant«ru, ltcrtlcr-r c t:ut'ontilru o cquilílrrio. ()sc'ilanrlo,
<lcla, st tn- r't'rgonha.
alrrilt.-r ('.11!'a c lrrttou ltara lilra' t:rcto t: gran«lc' Etnllunhou o,au
rluro. Suava, lru[àr'rtlo cotrro car,alo (luc l)ux:r o araclo. A cara trans-
Seu Josó, deixa eu \rer scu caralhol Josl: olhou em volta
t<>rna<la ltcla cxc.itação. Eu, altaYora<lo. (]r-rcria manclá lo embora,
sem sucesso. Imprecou contra são Scl>astião c continuou na dire-
o anir.ual .-lcr-rtei gritar, saíram sri lágrintas. Irlobilizado na cama tlc
ção da Í-eira. Era sábado e passaram cinco Josés desconhecidos.
Eles tambérn xingararn o santo protetor e continuaram. Depois,
casal. Entre «rs ioclhos rlclc, liquci ntclt()r clo que un-r passarinho.

3r
lo
A Pntxcr,s,r Ft,Rr.,r:rD,r F,rHr,rs Dr Àr BUrlL.rr,nrlrrr./Mr\uRrzr() J,,rNNr,r r r

Mas «r animal teve um pouco clc massa cinzenta. Dcsistiu, não Íbr- água, troncos rlc árl'orcs como jangatlas amontoarlas rlc c:arlár,crcs.
çou a passagem. Não consigo esqueccr: cu chorando, enquanto clc Àr r,,r"r; attl mcsrno corpos rle homens c mulhcrcs, serm clistinção.
sc csli-ega .'reslolcga. Depois, em cima do meru omlrro, um cruspc []arc:os vir.rrltis c barrac'os boiando, rc«luzirlcis a n'ril pcrlacos. Jun-
quente e melatlo. Elc acabou, eu aterrorizatlo. Animalzinho amt:- tci mc à pcclucna procissão, a<-l metlo c cstupor quc ()s unia. Entrc:
dronta<lo. Tia Maria bateu com força à porta, ele Íugiu pcla jane la. clt's t'stava l)aulo.
Mas como, Fcrnanciinho, uma galinha intt-ira só para vocô? Gâguc Aos sábarlos, tlurantc a parti<la, clc assistia à rninha tlilàma
jei uma mcntira, cla viu a c'lesortlcm <la cama. O meu trcm«rr, a cã«r rnas r-rão rlizia narla. Não rre àcllsava, não nrc «lcfi'nrlia. l;azcrr-
rctii:ôncia. lloje tenho ccrtcza dc clue ententleu tu<lo. Lt'r'ou-mc clciro. []ic:ava rlistantt: ('()rr() i1 su.r ricltrcza. l)urantc as li'stas rlo lroi,
embclra cle c:asa suspcnso a un-r palmo tlo chão. Nã«r mc tlcixou o lrai nralrtinha-o st'mpr-c ('()m r:lr', cra o scru orgullto, o hur<lr:irt».
sozinho ncm mais um minuto, até a volta cle minha tnãc. 'lir<los r>s an()s sLla larnília patrot:inar'.r a lcsta c'.llnl)()ncsi1, o lrtrrrrl,a

nrctr lroi .

T'inha quc ar:ontccer, acontcrccu. I)ona Cliccra, tcm (lucr pa- Alàstou st' tlo qrtrlro brittr';rnrlo ('()nl () r'achorro. Scgui.o
gar uma garraÍà rle jurubclra quc o Fernran<linho pcgotl no sáb;rrlo
lrcla nrargenr,:rtó on<lc o rio st'cstreila r'l tnata llrc apcrta as
rla Íbira. Scvcrino cobrou a rlívi<la a minha Inàc. milr{cns c()m () unrbr-rze iro t' a lrirraúlta. () irltimo t:stt-e itanrcnto
() clue você ÍLz rl«r Iir:or? Bebi to<lo, marnãc! Ela f'cchou as .rntcs clLlc a clucr[.r rl'água o rlcr"ore , r'ápirl,r t'turbulcrtt.r) l)unl cs-
portas e janelas, tirou rlo armário Lrnra vAra <lc rnarmc[o: ârl)ust() pelho c'l.rro (' trans[)ar('ntc. Águas calrnas, unra lagoa. I'aulo c'o-
da caatinga, cslrinhoso. Varinha afla<l.r c rcsistcntc, clut: tlcixa rnar l']r('(r()r,l a b:rnh.rr sc. [:]r'rtrci n'ágtta t.tnrlri'nr.'l:unun<'os na tnã«r,
cas Íinas c()rno urra lâmin.r. Batcu em rnim cromo nrrr-rt':r t.inha t'cito. água lrclos jot'lltos. () cltrc vor'ô cstá f.rzcnilo arlui?Vinr t,cr «> t'io.
Tint(), l,rntr,, .tti ('u l)( rls,il'(lu( n)( l)lJtJl'iJ. Não rô clue cstá t ht'io, rluc ir pcrigt)s() parà r'ocôi Vejt>, nras trã«r
Por rlue vor'ê batt: e'm rnirn c tia Mari;r não batc cm Gt:nir? tcnho tnr:tlo.
I Porquc qucr«r criar urn 1llho e não um nralanrlro. Sc voc:ô fizcr as
frcrn.rr-r<linho, ó r'trrlarl,'c;uc vor'ô ó','t:arlo?Vt'.rtl«r. Novanrcr-r
coisas rlo rliabo, r,ai par.r a prisi,r.l)ilrr,r inÍi:rnol 1r'a<1trt:la palavra lLrncn()sa cotno c'oral, c'olrra tlo rlcst'rto. [{cssoar';r
Na c:ama tlt: casal, os vcrgalhire:s sc translbrrn.lràrn c loratn scnrl)rc onrlc t'tt ('stavil. Nào ficluci cotn rair,n, não rcspt»rrli .

corlpcns.rckrs com caritrhos suavcs. [)occs e] selr] prcssa, ('()lrr() as


Aproxirlou-sc, cu s.rlria () (lllc cst.rva acontt.r:er. Não
1>ara
cançõr:s rlc ninirr quer rre etnbalaram. tugi. Conscgui Í.ilar ('orl unr lio rlu voz, utna vozinha: mt: clr:ixc, nãr.r

clucro! Para minr cra aintla urn jogo, ('u .r. \'A(iI. Elc fbz conr lirrca c
Clom o prinTciro sol, tlcpois rla cstacão tlas chur,as, () pcquc rrc penetr-ou. Llra a prinrcira vcz. Barriga er t'abec;a c()ntorceram-sc
no rio c'm cheia cra unr cspctáculo. Hotrcns c mulht:rcs tlcsciam num suplício. Elc cnrliabx)u c()lrr rninha rlor. llapitlamcntc vi a água
para aclmirar sua potôncia, o <lcsfilc. Bois e cavalos ir-rc:harl«rs tlcr
tingir sc de vcrmclho. Er-r'rlrranqucc:i tlc mctlo. Vrmitt:i c chorei tle

12
33
A I)ntxt't,srr Ft,trnlxrrr li.rnr.'rs ur Ar trurlut,t«1ur,/M.rrrrrrzrt.r J,rxNr,r t t

dor, dc reIrI()rs(). "St' r'oc'ô f-izer as c()isas (:l() <liabti, r'ai Para a prisão nrcnto viaiár,arnos a r:anrinho tlo nri'tlico, a can'rinho rla vcr<la

c para o inf-crno!"4 ftlrrc subiu de rcpentc, t()m()Lt conta tle nrinl. cle. Urna autori<l.rrlc inrlisr:utír.cl . (]uasc c()m() () Patlre ou o prcl'ci

Tremia clc me<lo, cle vc'rgonha. () clutr rrrcô Í'ez tron'rigo? l'irulo tanl- to. Mas não. Ál'r,arc não tcvc essa satisfà1'ão. O rlor-r1or mc rr.rccli
bé,r.r.r cr-nltalirlcc,cu. Mas r.occ1 rlucria!, rIisse . Era vt'l1'lailc, cu rluCria. cou c r[r:;rois quis Íàlar c'<irnigo a sris: qr-ral g.rll'ro tlc árvorc, mcr-rinol
L)oia mas cu clucria. Simltlcs e inac,citár'el, csta ó a tninha lcr-nbrança. Não r,ou (ontar narla, rlas ltromcte nunca mais st' tlcixar t:nc'a1telarl
Foi assim rluc a<:ontcct'tr. clrrri ltcla marg(:m rl() rio, t[c'c'ima abaixo, l'Tol)tt 1o, tti,, rl, ix,, nuttt.l ttlJis.

à ,r.r'ura tlc cr'as, pinhã, r<,x., ,rc1ucla cluc elst.rnca () sall{uc,


(r()à-

gula. () r:ach«1116 c6r1tinuaya a ç()rr(,r lhc t'rn Iglta, ir llrilcar c saltar. lzacl l)ias, r'intc .'rnos. Mari.r Nazarclh Montcir-o, ainrla lro-
l)aukr tcnt.r,r cnxugar rninhas lágrintas e tietcr a ht'm.rr.rgia: rnas ó nita t'scrn i<la<lc. I)iri<liam as tluas classcs rla Esr:ola Munic'ipal
rcalntcntr: a ltrirneir-ar r,Cz? Sirn. l,or clue Vocô não rnt'<lissc? Ilt'rtlatl pcrto <lo Sí1io. LIma c:onlirs.io tlc trinta, (luàr'r'ntà ( riJn(.tri, ( ntrc
rlinho, r,oc,ô não ltorlc t.ontar isso cnr r:asa! [)iga rluc r',rtô t'airt t'rtl n()\'c (' tlt'zcsscis anos. Alr:lir, (irrnir, Joscrlà, Aparccitla, M.rriir rlas
c.ir-na <lt, uma pc<lra t'u'r t,ima rlr unt Piur. I)ig.r o tlrtt'clttiscr, (irar,'.rs, l;r-arrcisr'o, l{iltlo, ll.ohsrirr, l.uiz. Hu tanrbórn. Ilu tinha
Ponturla,
mas nà<l c'ontt- ttiltla! 1r()v('an()s. Lá trstaran-r totlos t'r'orn clcs a rlinha <lilirrnaq'io: st'u

Iru tiltha «rito, t:lc tlt'ztrsst'is. I)ias, o scnhrir viu o |crnan<lirrl-rti? Antla lcito nrulhcrl R.ilrlo gri
tavir Íi:ito rnaluco. Izacl I)ias mt' r:hanr<.ru: Irernanrlinh«r, .rnrlc,
Elc cst.i Íi.rvCntlo! I'álitlo ('()rn() unr catlilr'cr! I'ct'tlc s:rtrgttt: lur()str('l)Jra à gcnlc c'onro r'or:ô ar-r<lal Fiquci vcrrnclho rlt'r'r'rgo
'le lo para () hosPital! Naclut'lc <lia A<lclaitlc nha, rnas rlci o rncrr sÀon. Viu, pro li'ssor-? Antl;r Íi,ito nrr-rlhcr,
Pclo ânus! rnos cltrc lcr;i.
lrc'i-

,, Á1r.".,, (,stavan1 lá t'nr r..rsa.]'ranqüilizararn ()iccra, ltrc l)useram to veadinho!


no t-,anc,o rlt' tr-ás <lo autont<ivcl c ltartiratn 1tar.r Rtrrnigio. Istratllttr para São Paulo ou para o Rio dinheiro fácil ele!,
-
pclls()rr (,ln \.()z alta A<k'lairlt' , c()ln() ó ltossivt'l cair <ltr utlr
galho e machucar o ânus? No t1'ri:tlit o \:aln()s satlcr a Vcrtla<lc, rcs-
p<'rnrlcu Álvor,r, lt:r'attt.rntlo o tonl tl;r vt»2. Corno sc tlisscsst': ó inirtil
"Vcarlo, t()nril vcr-gonha, aprcr-rrlc a st'r hornc'rn.""Vca«l«r gos

t:rÍlcar sc lamcntanrlo aí atr:is, vocô não ntc Íàz tlc lrol,o, stri o rlut-: 1a tlc tonrar no cr-r."Vrar,anr bolinhas rl,.: papcl, me bornl,arclcavan'r
vocô li:zl Ele ilcsc:onfiirr.tr. Alvaro s('mprc rlcsconllou rlc rnirn, rlt'srlc c'onr bjll'rrtinltos r:srrritos cm lirlhrs anrass:rrlas. Jogar,an'r nas r-r-rinhas

antcs dc ('asar C()rri A<lclai<k:. Scnrltrc- ntc olhou rlc l.,anrla, rontlava, costas ('n(luant() cll ('stava n() clua<lro nLr{r(). Cht:ga, filhos tla puta!

suas susl)eitas. Não tinha cora.qern de tlizcr (]uanclo sair rlaqtri quclrro a cara rle vot:ôs corn ulna pcrlra. I'crlia
1>rocuranrlo conÍlrmar
para a ciícera, não ela não pcrrnitiria. Espcravir clue os {atos ajurla a Izael L)ias. Elc rcclucl>ra\:a c rrlc irnitala corn \roz alcrninarla:
ltorlia,
Íàlassem por cle. Eu tjnha entcntlitlo scu iogo e cntão t'lcscrt»-rfiava Fala, cliga para nrirrr, Fcrr-ranrlinhi), () qLl.r você <1ucrr? Eu crnurlcc'ia,

taml>i:m. Ele procurava ulna Prova, eu a escontlia. Naqueler nro- cobcrto dc'r,crg«rnl'ra.
A Pnrnclrs,q Fr,nNaN»,1 F.qRrirs r)r. At.trrqur,nr2ur,/M.rurr.rzlo
J.lN:,rr-.r.t.r

Rildo me odiou durantc toclos os anos de escola. O motivo serpenteava na direção cla cidacle. cheguei cedo e esconcli os pés cle-
é simples: nunca dei o cu para elc. Diante dos grandcs, mc insul baix. da cartcira. Maria da Guia, treze anos de malclacle, orho de uru-
tava: homem-fêmea, aprencle a ser mach<>! Comigo, choraminga- bu, não dcixou cscapar a noviclade: IrroÍ-essora! ven}a ver os pés de
va: Fernanclinho, deixa eu meter o caralho no seu cu. Caralhinho Fernanclinholvcnha ver, é . mulherzinha! Mas Maria Nazareth Mon-
rie menino.Vinha me ccrcar no banheiro junto com lLobson e Luiz: teiro não era Izael Dias. Em classe me deÍ'endia.viu csmaltc e taman-
tira a roupa, mulherzinha, scnão vai lcvar porrada! Envenenava as cos, I)assou a mão na milrha cabc:ça. Calou a gozação. Dcpois veio rne
meninas contra mim. Estcla grudou chicletes nos meus cabelos. Íàlar a sós: Fernandinho, cssas são coisas de mulhcr, unhas pintadas,
Peguei uma pedra e quebrei a cabeça dela. tamancos. Tüa n-rãe viu r«tcê sair vesticlo assim? Não, não viu.

Os mcninos se masturbaram no banheiro, recolherarn a gos- Cíccra raspou mc:us cabek)s a zcro. Tirou fora a vara <lc
ma na mão e me passaram na cara. Chorci cle raiva, rasguei tudo. marmelo, arncacou me man<lar para a Febem. Um c<>rretivo.
Livros, cadcrnos. Em troca, ler.ci uma sllrra e fiquci de castigo. Aquele <lia Íoi um inÍ-crno, l>riguci com todos. Depois tla
cscola, no caminho <le casa, Gcnir c outros dois me agrccliram com
Aldir, por que você não me dcfen<le mais? Não posso, Fer- perJras: Frcsc.!Vca«lo! Eu respondia:Vcado é você, Genirl Meu
ltai
nandinho, não posso rnostrar qucr gosto de você. Meu pai me expul- tc bater, Fernan<li,ho! Então mcu cunha<lo vai matar tcu pail
'ai
saria dc casa, Cícera me rnataria. Eram três c mc batcram até sangrar.

Aldir, meu protetor. Dcpois <le Paulo, ó com ele que inicio Os cornentár-ios corriam e eLl os captava.,,Não poclem()s con_
minha carreira <le pccado. Não serrtia o gue sinto agora. Não sei. tinuar a manter na cscola um rnenino quc sc coml)orta como mu_
Fazia tudo como brincadcira, dep<-ris lanrentava e dizia para n-rim lher."."É assim porque não tem um pai quc Íàça ele virar homem.,,
mesmo: Fernan<linh<), r,ocê não é uma nTulher!
Eu queria sornente o seu bem. Por isso r,ou com ele. Por Genir estava fàlanrlo com uma galinha. Estava sozinho, senta-
isso acabo aos tapas com sua amiga, a namora<linha dele. clo no, ,-reio do mancliocal alto. Eu trazia aincla as marcas da briga e
os calrelos a zero. Rolci uma pcdrinha na <lireção dcle, i,terrompi <>

Que tamancos lindos, marnãe! Posso calçá-los? São cle mulher, diálog.. Elc nern mesmo sc virclu: Sei que é você, mulhcrzinha, .r,em
Fcrnandinho! Mas são lindos, mamãel Ganhei: tá bem, mas só dentro cá! Só se for para brincar rle touro c vaca. Ele sorriu amarcl., tira-
(l('cas.1, senão dizem coisas feias de você! Cícera foi para a lavoura e lnos a roupa. Dobrei os ombros até o chão e n-le mostrei. Ele não
.u l).u',1 a cscola. Antes, peguei o esmalte rosa cintilante e pintei as mugiu, não enlouqueceu se esfrcganclo em mirn. Forcou, sem brin_
rrrrl,,r;,1,,s;11's. l)us os tamancos e saí pela estradir-rha de terra que car. Enfiou dcntro, mas deu um pulo da sombra para o sol. Gritando,

36 37
A l)ttrxcr,sq Fr,rrnan»,r FaRras or Alntrqtrr,nqur,/ M,eunrzro J,txNrr.lr

sc lcr.'antou conl () pitrto verr-uclho, sanguc na tnio. () ta[r3-1qg tinha *, sério e circunspecto. Todos repctiam: Inteligente, inteligente. Deu
,,f
arrcbentaclo. l-ugiu 1tc<lindo socorro, soc«trro! Ficlr-rtri .iunto c()lrl a esgotamento nervoso: Aquela mulher fez ele perder a cabeça, di-
galinha, cscon«lirl<l na sombra ck-l r:apirn alto. I'rui nt<»rliclo P()r ultl ziam no Sítio. Aldenor era louco, mas era linclo. Pele branca e
cach<-,rro magr() c làr-nintol Ninguóm at:rc<ljtou nclc. Ninguem l)cll- olhos azuis. Como a Cícera.
s()u cr.rr mim. Um l>rintle ao lneu srlrriso, lindo e satisÍ'cito com a(lLl(:- Eu tinha onze anos quanclo ele voltou para casa sem mulher
la vingança. nem filhos, só com a sua loucura. Vi o se masturbando e um im
pulso que não contive me lcvou para junto dele enquanto dormia.
Livrc' cnÍirn, era Carnaval . Na<la tle xingamcnto, nenhut'tt Cheguei perto, era meu irmão, com uma carícia de leve nas par-
olhar torto. Eu tinha «lcz anos c Cíccra tne tlcixou l>riltcar. Escon<li, I ..:.d:i tes. Ele acordou e me mandou embora. Encheu o quarto de passos
t''-
os cal>clos num lt:nço r.crcle e azul amarraclo na cabcça c tlci utrt n,!i"-i1t, <leum lado para o outro. Palavras furiosas, envcnenadas. Fernan-
bcm na tcsta. l)us unr vcstitl«r crottrltritltt ilc alg«rtlãozinho br-al-rt'o. dinho é r,eado!Vcado, pela primeira vez aquele som odioso ultra-
l)intci os ollros, passci l>atot'r'r ('I)Lls ()s salt«rs allos rlc minha llrãt'. passou os limitcs, ressoou dcntro da nossa casa. Cícera ouviu, se

Finalmcntl:. Nosso Sítio organizAvA utlt blot'o. It'rt'c'onhccivcis, os assustou. Chamou a polícia e Aldenor foi internado.
homcns sr- escontlian-r atrás tlc assusta«lr>ras utást'ar;rs tlt: boi, <:alrra
c, borlt:. Máscaras tlc n'racleira c <lt' (Jutros st: Íantasiavar.r.t Na terra tcm a igrcja e a prisão. Quem vai à igreja vai para
ltaltclão.
rlt' urr"rlhcr.Tirrlram granclcs barrigas, «»no A«lclaitlc antcs tlo par- o céu, quem vai para a prisão vai para o inÍ'crno. Cícera me que-
to. As lr-rulhcrt's, livrcs, sc exibiat-t-t tot-tto ltutas. I)t'<>r'ot'alam, por- ria no céu e me levava à igrcja. Homens dc um lado, mulhercs clo
quc st:m borrlcl, <liziar-r-r, nà«r tt'ttt Carnat-al. Turl<t cra acotnparlh.r<ltr outro. As crianças misturaclas até treze anos. Por duas vezes, no
pcl«r ritlr-ro lct'tto r: tratlicional <l«ls l;utt'rlros. .l'altt'las c [lac'ias «lt' confessionário, o padre me apertou:
n-rctal 1;rcpara«los cspccrialmctrtc l)ara () evcttto. No Síti«r onr'lc nlo- ----Vrcê rouba?
rár'am<-,s não havia l>antla nct'n itrstrut't'tctttos ntusit'ais; só 1lt'rt'us- Sim, uns trocaclos.
são. () lratucluc t'ra cnsurtlccc<lor. A ltocira en)l)astava () su()r (' () -_ calunia2
ritmo ao longo tla cstratlinl'ra <lc l{crtrigio. A l'rantla n()s csPerava na Não, não clifamo ninguém.
praç'a rla citlatlc: para atacar «t li'cvo, os rattc'hrts ('()utrÀs rlarlças.
- Brií'a?
õ
Sim, às vezes na escola.
Altlenor tinha cnlou<lttt'c'i<lo. Culpa «la rllulhcr clelc, rl.rt>ç'a - Faz coisa suja?
rlc lroa Íamília. Ela clucria unra vitla livre, gar.rhou três filhos para - Não!
criar. Queria scr tlaclat't-rc, cltr ganhar,a a vitla c<tmt> mec:ânico. Al-
-(mentia, não entendia)
<lcnor, Cícera g()stava ilelc. () prinreir«r varão tla Íàlttília, homcm Têm algum pecaclo que você não consegue confessar?

38 19
A PnrNcEs,t
FHRN,lr.ro,c F,qnr,rs or Ar.lur2urnr2ur,/M,runrzur J,lNNr,r.r.r

Não! mato. Três pauladas no meio das costas mc derrubaram no chão.


-Como
penitência tive que rezar dez pai-nossos, dez ave-ma- Era certo, clc teria me mataclo. Eu tiúa irlo até o rio para ver a
rias, dez salve-rainhas. A segunda vez foi diferente:
pcscaria: traira e curumbatá. Enquanto eu fiquei ali caído no chão,
Você rouba? rnuitos passaram perto de mim: Mas como, veadinho, antes você
- Sim, uns trocaclos.
gostava, agora reclama?
-(na feira comprava
esmalte e batom mas guardei segredo)
Faz coisa suja?
-(silêncio) rctirc! Eu tinha c'cr
Si: há un.r clialro no nrcio clc r'<is, <1uc sc

tcza, o tlialro cra cu. Fiquci rlc to«las as ('orcs. lllc rnc Ílxou <l«r
coisa suja?
-Faz
(fiquei
púlpito, c'alou a algazarra rlos ma<'hos. A i'alamirla<lc se abatia s()-.r,r r,, ,. ,
vermelho de vergonha)
l»'t'rninr,'.'rr,hi,rrlt irrstrltosJl( tn('sm()aigrcj.r.ontlt't'u*.r..ar'r' , ,
Fala! Você tem o que confessar e não confessa! Faz coisa
sula?
- cn('()ntr()s sccrct()s c pccatlos no rio. "St'há um <liabo no r.r-rci<.r,l"rl ,]"i ii .

vrls, clur: sc retirc!" Elc 1l'z o sinal-rla-ct-uz, cm nornc rlo I'ai, <lr>r' ,.n \i ..'
Sim, faço.
- Filho e do Espírito Santo, e iniciou a Santa Missa. Saí da igreja de ,. 'I
\
Com seus amiguinhos ou com suas amiguinhas?
- Vou com os meninos.
cabeça baixa.
-
Você se faz de mulher para seus amigos?
- Sim, me faço de mulher para eles. Al<lcnor ia c voltava clo hospital. Enchia a casa dc 1>alavras:
- Cíccra, você está t:riando um homcm-fêmca, Fernando é vcado! Ela
repetir isso, vai para o infernol
Se você
tiplicou a penitência: e dentro de uma semana quero você fingia quc não cra com cla, não ouvia rnais nada. Brigar com louc<r
novamente no conÍ'essionário. é horrívcl, dese,spcrador. Um dia acontcceu um pandemônio. Elc
pcgou tocl«>s os mcus livros ci rasgou-os. Cíccla fcz com qucr o intcr-

Na mesma noite João Paulo me pegou pelo pescoço e me nasscm novamentc. Voltou um môs depois, para não voltar nunca

arrastou para o mato: Estou cle pau cluro, pau de homem grancle, mais: dcsapareccu na caatinga, clirão os caml)oncscs. C)nde a terra sc:

veadinho! Os outros viam e ouviam. Gargalhavam. Não, com você esÍàrcla em poeira, cnterra os passos e scca as gargantas.
não quero! Depois da experiência com Arlindo eu tinha medo dos
grandes, ia só com os meninos. Mas ele me pegou pelo pescoço e Eu não participava mais da ginástica rlos mcninos. A diretora
me resignei a sucumbir na chacota, nos gritos, no entusiasmo ani- agora freqücnto o ginásio
-- --- mantinha-se alerta: Fernando, não
mal. Tive um lampejo de ódio: conto tudo para sua mulher, seus tenho nada contra você, mas aqui clentro você tem que se compor-
filhos! Ele gruúiu umas palavras, o porco: Se você fizer isso eu te tar. Caso eu Íiquc sabendo que você serve de mulher para qualquer

+o +l
A Pnlrc'r,s..r Ft,rrx,,rxDl Fr\rrrAS l)1, At Bltrlltt,ttllttt,/M,ltttrtzttl JrNlt,l t.t

tlos rapazes, te mando cmbora c nenhum outro colégio te accita. -frcPava no cajuciro c a carla
Nor«lcstc. À, u"r.,si punha ató lrrinins'
Fora <laqui, faça o que quiser. E <:u fàzia, Íi'eqüentemente. Chcgava tiro rl«rs caçatlorcs cu Íàzia o cco c (:antava. () clut: r'ocô cstá lazcndo
antes e ia embora por último para evitar os xingamentos e a conÍ'u- aqui, mcnitro? Colht:ntlo lruta. Você csPanta a cac'a, r'olta pra casal
são. Na classe, escondido, me perliam encontros no rio. Eu ia. Não, s<! tlcl-lois quc vocô nte mostrar scu <:aralho! ( ) mcu José amal-
<liç'oar'.r ()s s.1nt()s IIas cu não rlesistia, sal>ia trrt-t-tt, Íàzcr' Era a minha
Francisco era um arnigo. Sabia bcrn quem eu era: veado, vca- prcsa quoti<liana. No cmaranha«lo rl0 t:t:rrarl«r clCs c'ctliam r.rruitis-
«linho, mas não queria que, por isso, os outr-os me discriminassclr. sirnos à rninha sr,rlrmissão. Eu calttava o <lcscio nos olhr>s rlcles,
Uma vez só. Somente uma vez maniÍ'est«ru alguma intenção mali- entrc as t'«rxas. St'nh«rr Josó, tleixa cu vcr scLl c'aralho! l)alavras mági
ciosa ern rclação a mim. Uma curiosiclaclc. Eu disse que não, não por Cas, tcrrCll)()tcavant as calretças c1;nt «lt:sassoss('g() c crrnlirsão. N6 cclt--
vergonha, certamcnte. Mas para rnanter um amigo. Era o único quc, rackr o l'rínt'iPt'rcitt.rva c()lnig(), ctl o scrViit' Cot'n a lrrxra, cont o c'tt'
nos scte quilômetros de estra<la quc separavam o Sítio da esr:ola «lc:

Remígio, me oferecia companhia. Dcpois até ele passou a mc prcs- Vi'a<lo! LIIn tlia tIcsscs tc cnflo a esllingartla Ir() cu c Íàç:o sair
sionar, sufircante: Fernanclo, vai, an<la como homem, pára rle <lar pcla lroca! L]ratrr t'irtto ou scis. Urrr tlclt's, havt'ria ()Lltras vczcs'
sàou,! Quem me via logo entcndia, c eu gostar.a disso. Aqucles setc rcagiu mal i\ n.riDha aurlácia.Vrcô r'rão s('('lt\'('rg()nlta rle scrr"ir tlc
cluilômetros eram o meu cspaço <lc libcrdade, dccidi apror,eitá-la rnulht,r l)ara ()s n]t'us arl)igos? Mas ()s ()utr()s,.r s«ls, crarrr torlos
to<la. Dissc a Cícera que tinha briga<lo com Francisco e quc a partir n-rcr,rs J«rsós. Irnpt:<liraln, não ltcrmitiratn'
tlaquele dia ia fazer outro caminho para ir à cscola soziúo.
hlu cra sozinho. Não sci <lizcr l)x)('urava tlt'ntro tlaquelas
«r (lLl('

O novo caminho atravcssa o mato c a lavoura, encontro serm- cabcç'as <lltras, <'a[,t'ças liacas. Naqut'lcs sLl()r('s itzt'tlos, rnelados, na
pre alguém que se aproxima. Camponcscrs polrrcs, caçadores. Os cluelcs tno<l<ls Yioletttrts, rutlcs. Mirs Íoi assir-n r;ut' .ttrlYt'rsci ()s tneus
homens já não me assustam. Eu os pxrcuro, cles me csperam. Faç<r cluat«rrzt', <lttilrze, tlezcsscis anos. Clct'ttt'ttas tlt' t'nt'ontros' rL-enc()n

o quc quero. Francisco insistia, rne ltunha clc sobreaviso. É pt-.rigoso tros.Jiôs \'('z('s lx)r scmana, rlois Josós tle t'atla t'"r. É.,,-,-,o contagem
andar sozinho pelo mato, tem cobra, gato-do-mato! Pobre Francis- p,r l;aix.. Vi'rtc c quatro cncontr()s 1l.r rnôs <lttrantc cluatro an,s:
c(), quanta ingenuidade. rnil c c'em \'czes alttcs tla rninha llartitla l)ara Clàl'nJ)illa Grancle.

Mamãe, l-ou colhcr Íiuta no mato. Ela não responclia. Cícera Clít'cra não sc tlava conta, não sc rtrsignava: Fcrnantlinho,
não ouvia, não tinha mais olhos l)ara ver. Imbu, cajarana, pitoml>a, cluanrlo crcsccr, \ai scr oÍicial clo cxórcito, tlizia' LIrn tio rlrgani-
Íiutas clo mato, quc eu não colhia. Esconcliclo, me maquiava, chama- zou tu<lo c crhcgtlu <t clia rla visita para a a<lnrissão a«r serviço rni-
va a atenção. Amarrava um lenço na cabcça como as camponesas do litar. Dcixci cluc cla flzc-sse para não ror-rbar-lhc acluela última cs-

+2 +1
A Prrr:.rcr.s,r
Fr,nr,lxu.r F.\nr,rs nr, Ar ntrqur.nrlur/M.tunrzro J.lNrrrr,r r r

perança. A última brecha de clúvida. Aldenor, eu _ onde cstava atrás c fechou as calças: Você sc: travcste! Eu ncguei, ele insistiu.
o crro? Nela? Em nós? Fora de todos nós? Cícera vivia simples_
Como não? Parece mais n-rulher do quc homcmlVocê já cste\.e com
mcnte: mulheres cle um lado, homens do outro. E eu? A
pele dela rnulherr? Ncguei novamente, mas cra vcrcla«lc, ó verrlarle: nunca na
tinha enclurecido, seu rosto se banhava cle lágrimas silenciosas:
rrrinha vida cstivc com mulher. E com homr:ns? Carne-murcha me
Fernanrlo, amanhã o ônibus para Campina Grancle
partc cedo, olhava bem na cara, cu sentia, lia bem na minha consciência. Fiquei
vocô r'ai? Sim, mamàc, vou.
vcrmclho c admiti: sim, só três vczes, lbrça<lo. Forçaclo? Sim, lbrça-
«lo.Tinha flnalmcnte rne clcclararlo e clc rc:laxou: Mas como passou
Entramos cm grupos, separados por orclem alÍàbética,
eu pela sua cabeça se alistar? Por que você não sc rleclarou antes <las
com o F de Farias. Todo mundo nu como mamãe pôs no
mundol pror,as? Tinha mcdo rle ir para a prisão. Não, você não vai para a
Uma orclem, voz rouca clc sargcnto.Tiro só a camisa, com
vergonha. prisão. A vi<la é sua e você pocle sc danar como quiser. CertiÍicado <lc
Eu disse nul Obeclcço, tiro a calça, a cu(,ca. Em cima cle
mim mil rcscrvista, <lispcnsado por exccsso dc contingente. Não escrevo que
olhares tortos, olhos de <liabo. Esperavam só que eu falassc
para ter l'ocê ó r,ca<lo, assim vocô tcrá um p«>blema a mcnos. Dois solda<los
certeza, para comcçar com os insultos. Um rapaz me
pcrguntou: rre cscoltaram atravi:s daquelc vcspciro, ató o último portão.
Vrcô também quer ser militar? Sim, rcspondi. Riu na minha
cara,
mijo cle hiena. Botou Í'ogo na sala. Olhcm que presente o Exérci-
"Cícera, «lersistc, Fcrnan<lo nunca vai ser camponês nem mi-
to nos dál Vai fazer a f'elicidade de toclos, paus gran«les e
pequenos. litar. Deixa clc vir morar conosco cm Carnpina Grande, trabalhar
A gargalhacla Íbi gcral, ali dentro u,r fervilhar cre vcrmcs. Tocou a (-'m uma fálrrica. Áluur,, vai ajurlá 1o. Poclerrá acabar a t:scola cm
corneta, amansaram todos. Chegou a minha vcz: cinco passos à Írcn- algum curso noturno.""Com a c:on<lição -- cla conscntiu <lcle
telVire! Abaixe ! Aperte o pau com Íorçal Hesitci, o tcnentc_médico
r-ir a<> Sítio e cu ir por semana."
à cida<lc duas vczcs
apertou por mim. Dobre para a frentel Abriu meu cu. Empurrou
Era 1981 e Arlclairlc, qucricla irmã, acloçou Álru.,, c subme-
algo: machuca? Nãol O quc você sabe fàzer? Sei cozinharl
Risacla tcu Cícera ao mcu <lcsejo. Abanrlonar o campo, vivcr na cirla«le.
geral, uns vermes. Continuaram com exercícios psicotécnicos
e de
língua portuguesa. Parecia que tinha acabado, mas nào, I

para mim Com a cscuridão rla noitc, no parquinho quc eu tinha es-'
tiúa uma prova a mais. O sargento da comissão <le exame abriu colhido para esconderijo, visto mcus nov()s trajcs. 'firo as calças
uma porta lateral, se acomodou no divã e me fez sinal
para entrar. compridas c-ponho calcinhas <le mulhcr. Minha nova liberdade,
O tempo de eu me sentar e ele já estava com o pau para fcrra,
carne um arrepio. Uma neccssidacle. Apertadíssimas, as calcinhas con-
murcha. Meus olhos se perderam no vazio, não
queria. Inútil, ele têm um scxo que maltrato. Quc alundo na pelc do saco c puxo e
levantou e botou o pau na minha cara. Chupal Abaixei a
cabeça e o cmpurro para trás, entre as coxas. No tecido das calcinhas, leve,
olhar, Nossa Senhora das Dores: Não, isso eu não faço.
Deu um passo um sulco vcrtical na frente sugcre uma fen<la feminina. Um cnga-

+5
I
A PnrNcr'sa Ft rrr.rlr r'r [;.lrU.\s r rr r\r uLrtptft,ttrlttt / M tt tutzto J:\N\r:r r I

no, o meu sonho. Depois, saia azul de pregas, comprida até o Fic'aranr torlos cluit'tos, atct.rtorizarlos ct,nr a Í'irtrrcza <la etlu-
joelho, que combino com blusa bege e gola de rendinhas. A ma- c arlora.
quiagem leve, discreta, completa a preparação. Estou pronta para tt'rrpo tlcpois, cla nrt'stna nre c()nvoc()u na l)re senca
Algr-rrn
o meu passeio na cidade. Incerta, me equilibrando em sapatos <le oito pnrli'ssort's: [--ariirs, ncsta t's<ola tcrn tttttitas ltt()(as quc
femininos, saio do parque e confio minha honradez a clois rivros rlalr()ranr ral)azes <lir tua c'lassc, nã«r crie prolrlen'ras. Nio, rrão ha
apertados sobre o peito. Eu, estudante. vcr.í problcnrls. Scrci cliscrcto n()s Ilrcus cncontr()s. l'asso a Íl-c-
(liicntar () l)ar(luc tlo Açutlc Novo, ruclas cscuras c vaziits. São ra-
Ângela e Angélica. Duas primas da cidacle que eu não co- vitla na t'itlatlt'.
1>azcs ;rcrlunra<los, t'l'nl,clczatl«rs 1>cla
nhecia. Ricas, elegantíssimas.
Angólica entendeu logo que era uma rlesculpa a minha: É Na Íálrrita, ('()rtava borrat'ha l)ara a sola <los sapatos. Un-r
para o Carnaval, me emprcsta a saia e os sapatos para os ensaios? p«rlrlt:rna, unra rilrica vcz. Unr Josi'«lt'ntacacio nrJl'('()Lr Lrl(()ntr-()
Sorriso docc e armário aberto. Era atriz clc- tcatro, mc ajuclava a no lranhcinr, t'u act'itci. l]ccrhan'ros a I)()rtâ c clc se satisl'cz logo. Sai
escolher. Guarclou rneu segre<lo. Ângela, ao contrário, esta\ra sem- ant('s, nlas outr«r Josi' ir-t-otnl-rt u t',rnr prt'potôrtc'ia. l)t'1><>is ttutr«r.
pre distraída. Não me olhava. Livros sobre a mcsa, livros debaixo A<lrrcle infi'liz tir-rha cornbinarl«r cortt <lois conrpatlrt's. Jotlos casa
do braço. Uma estudante. Roubei-lhe as calcinhas e o modo <le rlos, mc tlcst'javatn.'l'ivt- qut'rt ttttttt'i;u'J usJr o lratrht'iro p.rra cvi
caminhar pela cirlade. tar outras t'rnlrosclrlas t' não st'r Iuatrtlatlo ct-ttl,ot',t. I)cpois tlaquclt'
cpisrirlio houvt' s<'r pia<Iinl'ras, I,rirrc'arlciras.
A dirctora do Colegio Evangólico, oncle eu Íreqüentava o
-'' . Àl'l' :

curso noturno, convocou uma assembleia de alunc_rs do sexo mas_ Vestirlo rlt' t',stu<lante cll ('r.r li'liz. In-ritava nrttlht'r l)ara cn('()rr
culino. Ditou, na minha presença, o novo regulamento: trar Llrn horrrt'rt-r.Vô sc logo, s()Ll tlrtr travcsti. Não tt'lrlr«r as nrctlitlas
Fernândo Farias não <leve entrar n<l banheiro clos ho_ li'mininas, n)Js ()s livr.rs n'rt' I)r()t('g('m, tnc clào sc{urattça. (larninh<r
-
mens no horário em que o local é Íreqüentado pelos outros. rlc rroitt', rk'pois rla esc'ola, l)()r ruas rluasc <lcsertas, tttovinrcntaclas
eue
ninguém se atreva a provocá-lo quando ele for sozinho. s()lrentc pckr I',rrol <los carros c 1>t'las vitrinas accsas. ()arlpina (iran-
Fernando Farias não cleve vir à escola vestido de mulher, <[c ó uma ci<la<lczinha crlucacla, sil-nples, aintla rr»n àr rural.Trczentas
-
sob pena de expulsão. rril alnras. l)ur.rr-rtc o rlia, nrcu útti<rr tortnento são os t-trcnin«rs. Htn
Fernando Farias cleve sair dez minutos antes do Íim clas ban<los, rnc cxarnina,m, não «rrusigo tnc livrar tlclcs: O vcatlinho!
aulas.
-
Fernando Farias Íàrá ginástica no clia em que o ginásio Adelaiclc c Álvaro começraram a dizer palavras <luras e a Í'e-
-
estiver vazio. Haverá um professor voluntário só para ele. char a cara. Por cu chegar em casa scmpre tardc, pelo meu modo

+6
A PnrrvcEsa I-t'ttx,lso,,r F,lnl,rs r.rr, Ar rtrrltrr,trrlLtt,/M,,rrtntzlt.r J,llxt,r t.t

de falar e de caminhar. Por causa dos meus cabelos que cresciam. comPcnsou sua ignorância cxibinclo a obra-prima: Este é rneu Íilhol
Em casa tinha os sobrinhos e eu dissimulava o vício. Fingia de ho- Ah! Sauro Afonso mc csqua(lrinhou rapiclamentc, um olhar c cntcn
mem, mas logo se via. «lcu turlo, o proÍcssor. Elc sc vestia de cultura, atl: tlt: pijarna a ostcn-

tava. Mcsrno nu não cra c()m() ()s outros. No hospital, com o "trom-
Uma noitc, na rua Antônio Veloso, perto cla estação dos «lia" punha cacla um no sou lugar. A distância justa. l)ccliu c olrtcvc
ônibus, meu coração disparou. Aldir caminhava na minha dire- urr lcit() no mcu quart(): Junto a cstc born rapaz quc krgo estará

ção. Ele ia em f'rente com andar de camponês. Eu dc saia compri- curatl«r c voltará aos csturlos. Cíccra fbi cmbora Íe liz c tranqüila com
da e livros apertados contra o pcito. Não aconteceu nada, cle não a no\.a proteção. O Arlvogatkr iria totr-rar ccinta tlc rnim. l)esperliu-
me rcconheceu e seguiu adiante . Fiquei <lesnorteado. Fugi apavo- sc ('()nr um beijo e Sauro AÍirnso clo Amaral, a<lvogatlti c proÍêssor rlo
rado na direção do parque dos meus travestimentos. Precisava Cológio Estadual rkr l>airro tkr l)rata, cnÍlou a mã«r sob os meus lcn-
acabar com o meclo. Estava nervoso c não mc dei conta dos dois r,'<!is, cntre as minhas r'oxas. Ac'aric'iou minha barriga bcln ctnbaixo.
policiais que me seguiam. Esperaram qlle eu mexesse no canteir<t Agiu conr as luzcs apaga(las, cluanclo atkrrurcci <lr'pois tlc uma injc-
onde tinha escondido minhas roupas cle homem. Então, <le rc- c;ão analgesica. Oh! profl'ss«rr, () quc o scnhor cstá fãzcntlo? Na«la,
pente, mc assustaram com um quicto ou atiro! Acreditavam ter vocô gcn-ria no sonho, rcsolvi nrassagear sua barriga. () cnl'crmcirtr
surpreendiclo um ladrão. Bateram em mim e obtiveram a vcr<la- nos sur])rc'enrleu cm posc ol>scrna. C) proÍcss()r csta\ra roubatlti. As
de. "Mas este é o cunhado de Álvarol" Uma vergonha, um boÍ'e- <listânc:ias cncurtarlas, nâqucla posição Lrra ul-n tlt'pravatlo corno tan-
tãol Álvaro finalmcnte conseguiu a conÍ)rmaç:ão que procurava: tos. Não, natla tlisso, rlr'pois <lc uma ve larla trot:a tlc amcaças, Saur<r
Agora eu sei o que você fàzl rcstalrclcceu sua autorirla<lc. () outro, por respt:ito ()u p()r rlinhciro,

nã<> <lissc narla à dircl'ão. () prolcssor tcvt- alta t' lcrrru consigo intac-
Um passo atrás. Sauro Afonso do Amaral, este é o problerma. ta a honradez. Mas rlcixou scu númcro dc tr:lt'lirnc c cu, no tlia sc-
Quarenta e um anos, a<lvogado.e profcs§or do Colegio Estadual guintc, rla cnÍerrnaria rlr> hospital, já telcÍirnal,a. Saur«r, o prin-rcirr-r
do bairro rla Prata. Tinha se apaixonarlo por mim e eu por ele. horncm rla minha virla. Hrlrncrn macluro. Tiro sua roupa crlx ciuart()s
Conheci o no hospital Antônio Tàrgino. Tinham me internaclo com rlc lrotcl, cle rne leva para passicar cle automrlvcl. Scntatlos no bar tla
urgência por causa <le uma mistura de ovos, Ieitc e abacaxi que me rua Mac:icl Pinhciro, pc(lilnos ccrr.eja e guaraná.
embrulhou a barriga. Apendicite, foi o primeiro diagnóstico. Logo
rcdimensionaclo como simples intoxicação. Cícera correu à minha Elc me qucria dc calças compridas, rliscrcto. Eu, clc- minis-
cabeceira, foi ela quem me apresentou Sauro. Tin}a se aproximado saia c:intilante. Um conÍ'lit<> rlr:licatlo o n()ss(). Rcsolvitlo em parte
do homem de leis com deferência de camponesa e o eterno problc- pcla pr/rpria situação. O 1>roÍcssor rcpito, homem de mil re-
ma de briga na demarcação das nossas terras. Depois, com orgulho, Íinamcntos..- vivia scpara<lo da mulher. Morava na crasa da mãe

48
A ['trii'rt t,s.l l:t,11.,,\xo,r F,urr,r: rr, Ar uurlrrr,rrrltu /M ttttrtzto J ixrt tt t

já irlosa c()ri uma Íilhinha tlt: tlt'z anos. Iiri por rcspcito à fnmilia trscutan<lo. Eu, ilc totlas rs corcs, inventava, quan<l«r urla brtzinir, vin-
inrp«rrtantt: quc ccrli a() sLru pctlirlo: S<5 cralç:as cromprirlas, lrlernan- rla tlir rua, rlistraiu toilos rl;r n-rinha tnentira.'lircava scnr t:ortrpostura,
rlo, rncsrno à n«ritc. nral-etlut:atkr. LIma vez, outra, c nrais ()utra verz. fira Sauro, t'r,t sabia.

h,lc tocar,a, cu <lcsc'ia. LIm tocpc, tlcvia scr um t(xlltc só, t'trt:u I)cusl
A n'ràc, rnulhr,r scvcra c n'ruit«r rcligir)sa, a()s rlon-ringos rlt'ixa- M.rs o pr«rlcssor tinha cnlouquct:itl(), csta\à Íirr-a tlc si, tlc tanto vitih<.r
\,a () quart() para ir à nrissa. Nris nos rlr:spíarn«rs n() quilr't() ao larlo. c tcsão. lluzin.rva, act:lcrava «le ttnr latlo l)arà ()utr() n.r ruazinha. (]ut'
Sauro <lclrois rnc conr,irlava para alnror,'ar'.'lixl«rs jr-rntrs, a vclha, Sau ria rlc
lrossuir logo, irnc<liatarncntc. Atlclairlc liri à jarrtrla: f'crtratrtlo,
ro, a lilhinha c cu: l'-t:rrtt-rrrrlo, scu jovcnr anrigo, unr t'strrrlantc, scu aquclr: Irotrct'r-t (luc esta\-.l t'«»n rrrc'ô rro hospital L'stá lá t'trtltai-rtt!
pullikr. Aprt'scntacircs cn) \'()z lraixa, talhc:rcs tlt'prata, sala na 1rc- Á1.,n.,, t' (lít'cra tarlbi'nr sc tlclrrur,':rram.'liiclos os tnoratlon's tla rua
nunrlrr.r t: rnolrili;r cs('Llra J)()rtlrgucsà. lirram par.r as j;rrrclas. ()lhnr,arn o cspt'táculo rltrc o prrrÍi'ssor tlava «lc

si t'«lo scu anr()r. t'.nlouqut:r'itkr, o 1rânico lnc l)cg()u pcla galgantr e


Homctu tlc tultur.r, já tlissc. Elt' prcfi:ria tirar rnir-rh.rs calq'as, rnt'rlcrrulx.,u.Vrzcs c vultos r"iraratn <lc ta[,cç,a para lr.rixo. [)ci trôs
cr t'u, lt'r'antar a saia. LInr ccluír,or'() n() aln()r. Nio rnantivt) a l)r1)ln('s pilss()s para tr;is c nr('clr('()stt'i na 1>art:tlc o1'ros1a à jancla. l)t'srlraici.
sa. I-.nconrlirlo, conlinuava m('us lrasscios solitários. Não r:onscguia Ciccra vt'io cttt mcll s(x()rro, A<lclairle t.rnrbórn tlt'ixorl a jant'la.
abrir rnào. lioi numa tlac;uc[,rs rroitr:s rlut: t:rrcontrci Altlir t'rninha Alvanr n.io, Alvanr, oll'ros rlt'lirgo, r'ntaixava t'ro lugar ('('rt() () irltilrrrr
r:abcç'a pirou. pcrlar:inho <lo st'u c1r:t,l,r'a-t'abcça. S<i nrinha rnãt', trssittt clut'r'oltci a

rnirn, ntc.lrrast()u n()\,ilnr('nt('para <lcntrtt tkr st'tt <lt'lirio: Alr! o a«l

Agor:a cu sci o cluc r'or,ô laz! Ur-na r,t:rgr»rha, unra bofi:tirtla. r,,q.rtltrl, (liss( ('ilr l(,ttr t( sl)( il()s{r.
Álvor,, tinha sirlo inlorn,a«ki. Mas rrão c()nt()Lr para (iít'rrr.r n('nr l)a
ra Atlclaick' solrrc mitrha llrisã«r. Nunta ;rurgunlt i l)()r'qu(, ni, tivt' Lrra <lia 8 clc rnaio <lt' 19ii2, c tutlo rlcsl'rt'nt'ott t'tn t'ima tle
tcmp(), lrcrn (Í)ragcrn. Acontcc'cu qu(r, n() rlia scguintc, r-ninha rnãc rnirn. Foi pcla lcrgr>r'rha rlt'scr rlcscolrcrtr.r, pc:la coragctl) cluc elr
r,cio almoc'ar cron()s('o. Eu csl.rva t:ni Pânico c()ll (),1ur.'Álr'.r.,,
P,,,1r., nifu tinha. Por causa tlt' Alvaro (lLlc n)c lrrcssionava, llg]:$U!:sÀÁI+
ria «lizer ll"rc. Chcguci (-m câsa tarclt', cra rlor.r'ring«r. Ilu c Sauro tinhir it"tu,ll:l.c.-qu§ria...ç:çr.nxr's:q lràrt ç1.a,-l'ttl.<llllLn.rlitü]a saia cu.nã().1tudil
rnos apror,citado a rt'ligiosirlarlc nratt'r'na. Finalnrcntc, r'stár,anros tc rcnunt,ipl. l)or tutJo isto c 1t«rr tatttas ()utras coisas mais, t-rar;ucla
cs;rcranrlo, onrlc vor'ô cstcvc? Na casa rlc nnra ;rrniga, rnamãc. É r'r-rt:s noitc crrxcrguci sti uma sairla, a luga. A ()utra, () sui<:itlio, rra i:poca
nro? () rost.o cle Clíccra sc ilurninou ('()Ír ulrr qranrlt: sorris«r. Arlclairlc rrrt-: parcc:ia «:lar-norosa «lcrnais.
apr-ovcitou a <lcixa: Conta qrara rninr, Fernanclo, conl'essa, r'ocê cstá
apaixrinarlr.,? Conta para nós, clucm é csta amiga? Preguci ulra rrcll Na nrt:sma noitc cscal;r-rli 'lirtluci no núr-ncro 4l
<lr: casa.
tira, encluant,, Álvor,, mr: oihanclo scnrprc nrais t«rrto Ílcava srj rla rua I'ctlro Ar-r-rórico c1-uairtlo cra (luasc mcia noitc. S.ruro alrriu.

§o {1
A PnrNc r's,r F r, tr N.,t N »,,r l.-.l n r r s n r, A r.n u <lr r r, nrlu r' / M.l L r rr rz ro :r N l rr r
J.,r

O imbecil, preocupado com a hora, espiou pela fresta da porta uma pr()tagonista. Clíccra, Á1,o.,,, Saur«r AÍbnso a Íuga. pr-rc para
o quarto cla mãe. EIa não tinha acordado, aincla bem: Fernanclo, lirra, c'hora, conta tuc[o. In<:lusir.c o l)r-azcr cle scr agarrarla, não tinha
,..,.,,:\,.\,.r
calma, Íàla baixo. Não posso mais ficar em casa, Sauro, Ál.,u.o .rinrla rlt'z arr,s; lltrrt.lraür 4Í[gl l3s rli,rl,r-uras s.'m pu.l,,r-(lu(.rn(.f.,.ti.1
t'
i;
sabe de tudo, logo contará para Cícera c Adelaide. Eu cstava bê- ziam r-nulhr-'r- p41-3 anos, cu cra a vaca, n() carnl)o, makr, ..;1 ,; ',
r-ro
-qJ.ç15.TrLrz('
bado, Fcrnanclo, me perdoc, te desejava tanto. Não precipite a Irrr,il r' '
lgar'atl, ar,'
:
i,ragens rct'rnstruí<las, inr.cr-rtarlas pa'a urn J.stl
situação, volte para casa, não me comprometa, não cliga o meu r«rlantc cluc acelera, <lctrri'ia c frcia. As imagens po\,()arr o carro.
nome! Um merda, o profêssor. Sussurrou: Se você não se tral.es- Aprisionan-r a cal,cça rlclc. Irr-r cst6u ali, «lir,iclirle, in<lf'crrsiv9, clquâln
tir eu encontro uma pensão para você, depois a gentc \,ê, tudo L Fcr.an<la cintila c (.onta sua histrlria,
1tuta, t,sturlantc.
()ll.ro
1;ara
vai se ajustar. Gritei na cara dele um vai-tomar-no-cu que en- t'la, «rlh. lrari*rinr. lrnc.lhi<1. crn Ll,r.a.t., r,iaj. pt:le.r ci<ladt tl.
cheu a casa. Ele correu para a mãe . Eu comprei uma passagcm rtoite. Ao alcancc «lcle , rlentr«r rlo carro, s«ru a írnica saí<lir ao tráf'cgo
para João Pessoa. Duas horas dc ônibus e destino ignoratlo. rlt'<k:scjos no clr.ral o aprisionci: Ei, Josc, tl rrrci,clr-rc rlirige () pan()-
rrtrna onrlc scus l)cltsilmcntos rlerraltitrn. Sirn, (:u g()st() cla cott-
Entre um passo e outro Ílca o abismo. E era exatamente ali Íi'ssa , ó urn jato qucntc rlcntro tlc rnim. ()lhcnr para clc, é un-r
que eu flutuava. Nem antes nem clepois. Na espuma, entre as pcdras .f.sé, scu ('()rl)o rcsl)()rdc às rni,has pirla'ras ('or-n() sc firsscnr cl.t:.s
c o mar. Não sabia mais quem cra, o quc queria, aonde ia. Caminha- t hicotarlas. I'ararl. ..
sinal vcrmclh,, r'arla .crasiã, palpita no
l)cca-
va com a mala apertacla na mào e a noite marca<la pelo rclogio. ,l«r, eu, s('crctanterltc, apcrt() c rlilat«r nr('u prazer. () c'u. [:crnan<lo,

sou csPct'ta<krr clc rnim rrcsnla. Fclnanrla m(' surl)rccntlt', incsPcr;r-


Um táxi parou junto à calçada, na janela surgiu uma cara ,1.r, libcra<la. Jcitr>s e trcjcitos. Mora nr> rrcu (.()rl)(), cng«rlc () nr(,u
branca de uns vintc anos: r'.rbo, a bic'l-ra. Eis-rnc irclui, honrcm lôrnc.r conr r-rur
Josc,para,rnim c
Ei, quer uma carona? . tcsão (lll(' n()s invatlc enrluanto viajanros por urra orla rlesr.onhcc.i<lir
Quero. t;rrc rlcixa a cidarlc ltara trás. Agora cu sci, basta urna brisa r: clc cairá,
Só Deus sabc o quanto eu queria. Quero 5i6 conÍlrmei. ,trn , a*1.'1,, ,1.. , aItas, ao ;lrilnt'iro s()l)t.().
-
sem um endereço aonde ir.
Entrei no automóvel sem hesitação, Oh, Josc, sc eu pu<lcsse nasccr mulhcr para unr homcr.r-r.
Mas aquelas palavras tinham me reanimado. Deixei meus medos na [)cvagar, r'lc rnanolrra cm urn ac()stamcnt() dcsr:rto, pára <>
calçada, do la<lo cle Íbra. Dentro, só eu e.ele. Dentes brancos e t arro. Abrc âs pL-rnas c os lrraços c()ln um boccio que i: urna cxplí-

cheiro de gasolina. Suas mãos apertam o volante. r'ita entrcga. As cartas rlo c:astclo r.oam pelos arcs. ConÍirsas. Abrcr
Onde você quer ir? ,, zipcr rlofeans c()m a ponta <las unhas, crnlrrulho rle pre:sc.nte. Luz
-Olhos claros, flores na janela: os olhos dele diante <le mim.
,l.r lua, uma carícia na nuca mc manrla para baixo. Entre mcus lábir>s
Um palco. Fernanda, a minha nova liberdade, ocupa o palco como ,r stra capitulação -- minha submissão. Chupa, você chupa mclhor

52 53
A I'ntxtts,r Ft trrtrnt Ftntts »t Àl urrrlrrr rrrlrrr ,/Mlrrrr,t ro J.iNxt,t It

clo clue um;r rnLllhcr. Eu seri, "Fcman<'linho é melhor tlo cltte uma l)iantc rlo placrar <los ôr-ribus a voz rlc lzacl Dias, a l>csta hu
Íllha rnulhcr", Ciccra dizia. Hu a ouvia r: aintla a oLlc(), cnquant() rlana, r'oltou a zombar Llr-r rll('us otrvi<los: Í:, lrcrnan<linho, cluar-rrl«r
engu[o. ('rcsccr, r,ai para o Rio ou Sãri ['aulo, rlinhciro Íác'il pra clc! Não, cu
r"ou ó para lk'cilir, lllho rla putal L'r, cscolhi l{t't'iÍi:, nrcsnr() IX)rque
Josó, tne cleixa al.qum <linhciro ltara ctrntinltar.
Sin'r, c'ompra uma l)assagctn c volttr Para ('asa. A n<litc ó a gcncrosi<larlc rlo jovcm c'hol',:r rlc táxi não r'orrscntia na<la alcn'r

Í'cita rle ncgr()s, banclitltrs . elrr.r[[u.. F. t'ist',, tlc li<la. <lisso. Não tinha rlinheirrr sullc'icntc. Mas nãt, ( r.r inrl)()t-tJt)te, t'u
nào partia para c'hcgar, t'u lugia t: ponto. Longc rlc t«xlos, lorrgt'rla

Carninho p()r cntr'(' r Jos tst.t'tritos t: ittcsllcratlos clsllaç«rs, st' cxt'tu('.io rla rnit-rha scntcnt'.r: sri Ircrnanrlo, calç'.rs uornprirlas c pau

guintlo as paretles clscuras t[e ltri:tlios silcnciosos tr tlt'sc<»lhct:itl«rs.


tluro. I:u anrà\'a um horncn'r par-a clcs cra unr t'rinrr', unr.r'r-(l)i()

f)eslizo tr-rirnertizarlo rlerntnr rlt: ut't-t itntlar ntasc'uJitto, atrarcsso olha <lc horror. I'ara nrirn, trrra culp.r, o al,.rn<lono, rlr'ntro rlt'url rnunrlo
rcs notLtrnos, olhos YigilantCs cluc lrr('rlcixarll s( l1l rL'sl)il'J('f,o. t'oll) cluc' ttã<l tinha lantasi.r I).lr-.r nr( in\( ntill s( nl rnt' tlt'sltrc'2,-rr. Ncnr

o cora«;ão para«l«r. l'rcsa lác'il, attin'ralzinho scnl toclt ncrn rclirgio. hotnctn ncn'r nrr-tlhcr. sri vt'ar[o t' cLr ar-r«rnrl>.rtlo! St'rrs rnt'rtl.rsl
A citlatlt: clesconhccritla [rz f'crnrcntar tlt'tttro tlc nrirn unta inquit'ta l)iantc <l.r bilht.tcria, ctr rlt'lirava (()rlt cstas c<.risirs. ()s pcn-

ção quc rlesantla crn ca()s, é o ntutttlo intcjro qllc Ínc anlcilç4,
([LIe sârncnt()s são tlt' lrojc. lint«rrpt't'irlo pcla horrír'cl rroitt' 1r.rssarla,

Íirgc ao nreu controlt:. Estou só. Sttguro Íirtrte ir tnala, 1rt>utras t:oisas. constguia s<'r contar «rs cltrilônrctr()s (lu(' nrc scl).rra\àrn rlo Sítio.
[)ois vc-stitlos tle Angólica, as calcinhas clcla, urn t'arlcrno tlc rlratc (]ttc tttc s('l)aravanl tlo I Ionrt'nr Prt:to c rlos nrcus (]ui
1rt'sa<lt'los.
rnática elr, a cstu(lantc. Nã«r, para c.rsa ttã«r volto. nhentos rnc l)arc(cran'r strllt'it'ntcs, t' r'ntào liri para llt't ilc.

Com utla nrcntira bato i\ porta rla tlclt:gat:ia: l'ertli «r ôni I)cixci a rnala r-ro <lcprlsito rlt'lrag.rgt'ns c voltci l can.rir.rhar.

bus, posso licar aqui? (]uantlo amanheccr vou ctr[',ora. São ge rl- Novat'nt'nttr tta <lir«'c'ão rlo nrar, irtc () p()rt(). Anrlo pclos ,rnt'ora<lou-

tis, tre inrlic:am urrr solá, I'cclortrnto c itrtltntlo clc gortlura, otrdt: r'os, lrr:la lrraia, cnr t'tir:io a unr lirrrniguciro rlt'rostos rlcsconhct'i
tlcitar. () ternpo rlc totnar fiilcgo, tlc lt,mbrar rapitlan'rtrnttr <lc t'ni- ,los clue uma chuva (lLrcl)tc, imlrrt'r'ista, tlispcrsa ra.ltirlanrr.trtc' r'n-r

nha mãc que nrc qucria militar. Cotno elcs. Ur.n balulho rlc vo rrril «lircçõt's. Iric'o stizinho, rrrollr.rrlo. Sigo ir orla.rte os prinrciros
zcs, l'err<ls e tratcr clc portas nrc tlcvolr.c à rcalir'ladc. EntraI't't, t'o<1ucirr.rs c bananciras. A cirlatlc sc alàsta, <lcntro rla noitt'. () sono
.lrr;tslanr uma corrL-ntc, coln os Pulsos amarraclos uln gigantc ne - , lrt'ga em nreio à {rama irnrirla, c()ln () alír'io tl.rs lá.grirnas c a l>ar

gro tr'.rnslrira <!lco c c()spe sângllc um bancliclo. Mt: lulmina r iga c'heia rkr cor:o cluc rluclrrc'i r: ckrr'orci.

,,,rrr ,,s,rlhos vt-adosl LItna catrcta<'la, «,r policial batc ntt ouvitlo Ao arnanhcccr sou acorrlarla por clois ncgros rlur' lâzcnr cooTrcr

(
praia. )ll'ram na nrinha rlircç:ão c'()nl() sc olha um cat'h«rrro m(n-to,
,l,,.rrrirrr,rl .lnt('s (lt.lc cle acabc <lc xingar.'finha qutr scr, ao ama r r,r

rrlr, ,, r t'rr t orrtirrtr.lria rninha Íirga. \( rn l)arar- l)ara ver. As;rernas não mc sustLrntam, trcrncnr lxn'('ausa

5+ tt
A PnrN( t,s,r Fir,rrr.a:urr\ F.lttt,ts ot' AI ttttrltu'rrqitt,/M,,rtttrtzttl J.l:.txt,t tt

da Íbme, <la un,iilacle. Com o sol alto, sou novalrcnte atraído ltcla ta. Ao primciro olhar clc já tinha cntenrlirlo. Uma caixa clc biscoi-
ciclacle. Fujo Ícito <loiclo por calçatlas c ruelas. Corrcnclo, cotn ntetlr,r 1os, guaraná c cluas tcialhas. Tlrmci um banho, c:omi os bisi--tiitos t:

dc apanhar Lr com vcrgonha <lc scr la<lrão. Vcatlinho, roubci meu al- <lcixr:i o rcsto com elc. Clontra a vonta(lc, cluas vezcs no cu a

moco. Lst<;u cr.,mpletarncntr: Íirra de t'nim. Boca t:mpastarla c artria na lcsta dclc. (]uarrilo raiou o tiia, mc rlc,u o cnclt'reço clc urna pcnsão:
cabeçra há <l«ris <lias. Mastigo o quc rr-,ubo c já pcnsci no iant:rr; alórn L.[sa mcu n()me (]()1n() c:rctlcncial. Eu agratlctri .

rliss,, ni,r r,,u, al.ltn .lisso tt.t,, s, i.


Façro r[e tutlo: lavo roupa clc canra, crozinho, limpo os

Tt-nho clur: rlcscansar, I)arar a ciilatlc rluc gira <lcprcssa clc rluartos. Faq'o clualqr-rcr t't,isJ l)()l'tlrrlJ r'.Irrr;I ('tluas rt'Íi'içõcs p()l-
rnais na n'rinha catreça. Entro na igrcja t:m lrustra rlc um pouc«r tlt' r I i.r.

paz, cntrc santos portugut st's c ct'istos nr'gr()s. l'ara f'echar os Mariluci c'ar.r-<lc trrt:o lârt:jott o b«rt-tt ncgricio, ttrvt: c'otnltai-
olhos, cntre tctos ricos rlc ()ur() c crLlzcs int'rusta<las tlt'csn-rr-ral- rão. Enc;uarlr-ou a situaç:ã() c'()ll t'luas palavras.
tlas. Lugar segur(), s«rb o altar, à lrrcic'ura tlc urn p()tlc() tlc c:alrr-ra. Vrr'ô sc trirvcstc?
Lhn jovt'm 1 adrc, pass()s rápidos tlcntro tla batina I)rcta, nr(r sur Sinr, às yczcs, nr.rs r-.1n 1'r-.llqitr,, irt i para krnge tla pcnsão.

prr:cncle u cluanrl«r ou tinha acabarlr., tlc mc rcc'oll-rcr-. Ltrvanros ttttt Hstá lrt'rn, 1>oclc corncl'ar já.
susto. Elt- tinha cluc l'cc:har o portão: para salvar o out-() t: as ltin Era pirrir s('r ulrl rt'nasc'it'ncnto, inIcrno. Às crinio tla
1«ri trn-r

turas rnurais, dissc. rnanhi tt'nho quc l)ro[)arar o caÍ'ó para vintc. ()pcrários qttc tr-alr;t
ljccl'ra cornigo <lr:ntro, Iit'o sti para tlorrnir! lharn rro cilm[)(), san<luír'hr', t'aló, unr p(]Lt('() rlc lcitt'. Atrtt.s, n<r

Nào, r'ncontrc unr trab.rlho e tcrá on<lc tlorrrir! ('ntan1o, sir-r'«r Mariluc'i na c'anra: Fcrrtantlo, o t'aÍi'cstá li-iol As
,luas Íllhas rnulhcrcs: Irernantlo, cstá qtrcutc rlcrnais! ()s tlois lj
O parlrc raciocrinava tlirt:ito, cu tinha clttcr elrcontrâr um trà- lhos horncns, rcclar-nanrlo: I;rrrnantlo, ó tartlc, traz o c'aÍ'ó! As oittr
balho. É dai que sc recomcça. Ollio arliantc, mcus l)assos tomam lctir'«r a roulra sr"rja rl«rs c lrirnhi'iros. Vrlto
cluartos, limpo c[ràc>s
()pt'rárit)s c[Llc
um rum(). Bato à porta dc hoti:is c rcstaurantcs. Arrisco até: ntes- l)àr'à a cozinha às onzc c l)r(tl)ar() r'intc aln'roços.
m() uma oficina, a única abcrta às tlcz ila noitc. tr.ibalhallr na c'ic[atlc, arroz c lc'ijão. Erlin.rnclo tarnlri'nr t('tlt scr.l
Faço clualqucr- coisa pol iluas rcÍ'ciçõcs c ulna cama ontlc Itrgar à r'r'rt'sa. [)clrois rnc pt'<lt: o rabo. [--. crt <lou, tlt'pois rlo cxlrtt-
rlormir. rlientc, scnrl)l't: nc>s lunrlos tla ollcin;r. Ac'aba«lo o aln-roco, lavo os

l)r'àtos c a r()ul)à suja. lraçro tutlo lror cluas rtrfciçõ('s c Lltltà


Espcra o Íirn do cxpcclicntc aí nos Íun<los, gal'oto, \,ou ('ama

cnc()ntrar um trabalh«: para voc'ê. ontli'«lorrnir. À noitr: cstou acab:rtlo, nr.rs rt:sist«r clc olhos abr:rtos:
Duas r,r'zes no cu. E,clinando scm pcscoÇo, o proprictárit.r, rra tclcvisão tem a rninha norcla prctcritla. Passatlas só tluas senra
entrou no quartinht) com cara radianter rle qucm clecidiu Íàzr:r'Í'es- rras, já mc puncm colr tal)as c alncàçras, por um <:opo rluelrra«lo,

g6 57
A PnrNt'r,s,r Fr,rrr,rrir.rr I;,rur,\s nl' ALuttr.rultrrltrt,,/M trttrrzro J,rxxr rr r

por um atraso no almoço. É Mariluci: Você é como se Í'ossc <la nrull'rcl para r,ocrô. l)or causa clcstc Í'<rrrr5 quc Inc t«rnra por rlc-n-

família, Fernando. Depois, me trata como a um cão. tro, por cste s passos rle r]anca scur volt.r atrás.
Parecia um bom começo, foi um inferno.
Eu tir-rha na calrcça o rrlcu nro<k'lo, 1;1[1'5cj«r: S<)nia Braga. Na

Antônio, quarenta anos, casado, dois Íilhos. Tinha vinrlo rlo tclcvisào, t-ros olh«rs <los Josós rlt' t«rtkr o lJrasil. Belt'za l)ara ('()ntcm-
Rio dc Janeiro por causa de trabalho. Quanclo mc viu, não pcrdcu plar, Irunila prcr-niir<la c lroca <lcscnharla. Scrlr-rtora. Sôniir lSraga rnr:
tempo. Enquanto fazia a Íàxina ele me imprensou no canto pedin- l-runrilhava () c()rlx) r'nre mortlia a.rlnra. Eu igr-ral a c'la, trnr sonho.

do um encontro: Ao meio-dia no chuveiro, <lisse. Dava para ir e eu


fui. Ele Íbi rápiclo como um coelho e logo me vi com algum dinhei- Lhn jovt'rr Josl', rnilitar rlir Aerorráutica, sc alrr«rxinrou clc
ro no bolso. f)urou quarenta e cinco dias e Í'oi uma brincadeira dc rnir.n no clubc. S<i <lu.rs músicas, <lu.rs «lanç'as c rlepois <lirct«r para

esconde-escon<le . Eu trabalhava corno um escrâvo, ele bêbaclo mc o rrotcl. A noitt'irrtt'ira c()n) Lln) hornt'rrr na ('arra. Li a prirncira
espiava. Me agarrava rápido nos lugares certos, nas horas iustas. vcz. lrstrcla no si'tinro c'cu, crnl>riagarlo, tlcntro <lc unr lrt'ijo cluc
Um risco divertido, tomei gosto pelo brinquedo. Lindo homem, a n-rc' transÍirrnr.'l ('n1 r-nulhcr para clt'.'l'inl'ra rlccirlirlo, sl> Irt'rnan<la.

lembrança é um prazer. Logo Íbi embora e senti a Íàlta dele e <los [:s1c scrá () nr('Ll Íuttrro, o sonho. []lc vt'io c()m ur1r lrorr.rt'rn, clrcon-
trocados. tr()Lr ul)ra rnulhcr. l{osto cour t'osto, lr«ri'a na lroca. [i'rnarr<la, t'omo
joscla c Apax:r'irla: lrarriga rcrl«rn<la c Íi'nrla cntrc as 1;t'rnas. Assim

Conheço a cidacle, giro de noite . Tudo escuro, mas assim cLl nrc st:ntia. Antci cot'no ttnra rrrttlht'r- Jlnà ulll honrt'rl . Irlc cra

mesmo vejo a linha e os limites que não devo ultrapassar. Con- Iin<lissirno c ctr lhc rlissc n'ril sins, p«rr u.ril tlcscjris. N4as coisa lroa

torno e evito os territórios perigosos. Descubro percursos e es- .rcaba logo c tlt'rnarrhà cle nrr rlcixott ('()m nr.lus r-norkrs.

conderijos. Sei aoncle ir, saia de Angélica e calcinhas de renda. Iiri o álrrrol, clialro rlc vt:a<linho, cru não lrt'ijo vt'.r<lo na

Começo a Íreqüentar o Batutas de São José. O clube. Muitas mu- lroca.

theres c cu cntre elas, discreto. Rosto pintaclo e calça justa. Falo I)clant'a pct'r< l urarla abai,xo tlir lrirrriga, Ft:rn.rr-r<lo s()mcntc
com elas, as mulheres, e os homens se aproximam: carrrpári, uis- Iicrnanilo.

que ou voclca? Só de brincadeira ele diz para mim:Vem, vem dan- Não, scu nrc«lal Para nriln cra <le r,c'rrla<lc.

çar o forró, vem dançar comigo. Oh, o meu Josó do clube me Íàz
dançar como mulher, dançar junto, eu, Fernanda. Um casal entre Vrcô rlucr cluc tcus pcitos crcsçrarli Simplt:s, r,cnrlem hor
tantos. Sim, esta noite não quero dançar com mulher nenhuma, rrrônios na Íàrnrár'ia, Anaciclin, scn.r rcccita, são pastilhas anticon-

quero clançar com você, veadinho! Sim, me aperta, José. Eu de t t'pcionais. A lxrr.r<la? Dcpois tc <ligo, tcr-n a Scr.crina l>onrl>arlcira,

verdade, você de brinquedo. Me abraça, José, que eu me quero .rlgumas inieç<)cs <lc silicone.

ç8 59
A PRt:lc'r,sir Frnr,qr»l FRnras or Ar-nut2ur,nque /Maunrzttr JnNNrru

no clube. Todos os ]osés para ela. Pcrnas


É Vânia, conheci tem razão, o que cstou fazenclo aqui? Depois cle dois meses, con-
apertadas no final escuro das meias. Fixadas num espartilho que tinuo sem um tostão no bolso. Pensava, todos dormiam, fecliam.
despe a alma antes que a minissaia tlisfarce o vício. O tabu. Um Roncavam, desmaiados entre as cobertas, viravam e reviravam o
slrsto entrc as coxas, bcm embaixo onclc eles pegam os dcpra- cansaço operário que lhes agitava o sono. Um clormitório, uma
vados. Simpatiza cornigo, cilios postiços e muito l>atom vcrmclho. tristeza cle futuro. Não, eu não. Vânia tem razão, o que ó que eu
(Vânia é intocár,el, inviolável, suspensa em dois saltos altos é a pcr- estou Íàzendo aqui? E então, clito e feito. O espelho me absorveu
feição pers<.rniÍlcada. Dcsej o perfeito, perfeitamente realizaclo. En - toda, me engoliu no seu reflexo. Lentamentc comecei com a ba-
carnado. Forma realizada para scr violada, tocada. Só clc noitc, s1r se, acabei com o rímel e o batom. Minissaia e salto alto, caminhei
com pagamento.) Ela me leva pcla mão, irmãzir-rha. Eu, o patinhcr decidicla para a avenida Antônio Falcão, a praia de Recife. Zona
feio, ela a <liva. "Anaciclin para corneçar." boa, gente rica, oncle dar o cu se transforma em bom negócio. A
vergonha me congelou em ulna ruazinha lateral: para começar,
Anaciclin, vinte c oito comprimiclos por caixa. Não sci cs- aqui cstá bcm, ;>cnst'i .
pcrar c tor-r-ro toclos clc urra vez, misturados com suco de cen()u- O quc você está fazendo aqui, sua bicha?
ra. Debaixo clas cobertas, olhos no tcto, espero o amanheccr de
-(ela revira com raiva a bolsa)
dois seios rnágicos. Espcro, como cspcrrava o avião cla meia-noitc. -- A mesma coisa que vocô, veaclol
Josefa envcncnava: Mas você é homcm, o ar-iào nào vai te tràzcl' (cu procuro apavorada no lixo)
ncnhum ncnóm! Vomitci urra mancha vermelha, rne contorci rle -- Fora!
clor. Fernan<lo resistia a mim, se rebelava. A durcza <lo seu corp(). (uma gilete entre os dedos)
Peito liso c bunda quadracla. Um homem. "F<-ri o , vcacli-
álcooJ - Não, não vou.
nho, eu não bcijo vea<lr> na Lroca." Vou te dominar, Fernanclo. ()s (um caco dc vidro na rrtão)
meus Josós não beiiarão um horncrn. Escondi o r.ômito c a <lor Você não é mulher escancaro logo é travesti! Pou-
dentro clc urn silêncio sofrido. Amanhcceu e anoiteceu novanlcn-
-,
ca coisa melhor do que eu, então vou ficar e batalhar na mesma
te. Corri para Vânia, quc já esta\ra na calçada. calçacla, nojenta!
Fernanda, r,ocê é da roça mesmo. Só <lois, no máxiuro
quatro comprimiclos por clia e os peitos cresccm. Devagar, a<>s Mas não era exatamente assim. Ela não era só um pouqui
poucos você vai yer que eles cresccm. nho melhor do que eu. Meu olhar se acabava no rego que lhe
aparecia entre os peitos. Já tinha me con<'lenado: bicha sem peito
Na pensão as calças compridas eram obrigatorias, as vozes c sem bunda. Concorrência impossivel. Ela logo se deu conta e

me davam ordens no nrasculino. Insul:ortár,el. Eu remoía: Vânia transformou sua fúria em grancle risada.

6o 6r
A l'rl.rrcr,s.r I;r,lrr tln t [],\rr.\s r)r. At.ut ttlt.tl ntlttt,/M,tttttlzto J rx"rt,l l t

l)cr-rsci quc v()cê Íirssc r.rma rlacluelas bichas cluu rouban-r vcr-g(mha. IJstar tlisponivt'l nrc<liar-rtc Pagàrtent(). Mas o princ'i1lal es
os c:licntcs c cstragarn a praçà, aquelas rlcgcncr.rclas, ft:ias, cluc tava li'ito, os Joscs agt»-a são client('s: cu sirvo c clcs ltagam.
cncostan) a faca na gocia rlos n'rcus Josés. Não, clt: sua croncorrên
t:ia não tcnho nrcilo. Naclue la noilc Íirrarn quatr(). Scrr,i!:«rs (lif'ercntcs, algr-rn-r trrr

Vtrrtlarlc, rla concorrôncia cla nào tinha na(la tcmt'r, cr.r


.1 caclo. Narla maLl. Mas nào era s«i o rlinherirt) qLl('tllc 1)rett(lia ali atc
linrlíssin'ra. E a rninha l)rinlcira noitc (lc c'a1ç,arla, c()nli,ssci . (lorro- .is trôs rl.r manliã. Eu sott 1r cssà a (lttcstão. B.rto a ('alç'a(la (r()nl
l)tlta,
\'cu sc c mc lclou lrcla rrião ató a bcira-rnar. ()Lltr()s vint('. triltta travt:stis. Sor-r tlt'st'iarla. Mc t'xilro r-ro f'cnrinin«r.
Fui tlcixarla rlortro <lt' urna rcsplantlur:ôncia rlc lartiis accs()ri, Fcrttantla ó tttn sÀ,,ri'.
bttziuas c cstrclas a cr«lu abcrto. Rt:cilc. Corlo Llnr (orncta,Vâniir sc

làzia ilurlinar c ilurrinara. Era o sonho cm açrào, unra l'ilir rlc Josós frra a prirnt:ira r,t'2, o]hos baixos, intir-rtitlatlo. Mas ltor tlt'ntro,
solrrc guatro ro<las. Mil ci»-cs. I'clcs nt'gras, lrr.rnr:as c luzcs «rÍirs cu cn('.rl)ct.r(1.r. (]ut'ro t-neus Pt:itOs, (lrt('r() ullra burltla gran([c l)arà
('antcs. Azuis, r't:rrlcs, r'o vair,órn <lt'lrci«rs t'ac:clcra.rlor"r:s. Urn c'ar scr lalr-rlrirla l)()r'(.stcs Jos{'s clut'rlc «:lia rti«> salrt'ttr lltc aIItar. Entr(l
l'osscl (lc Íârriis larnpcja solrrc buntl.rs rlcsnrcrli«las, bocas tlcrrarn.r pcnsarncntos rle vingirnça c tlcscjos, nã() n)c tlt'i tont:r tla polícia clutr
rlas, pcitos, ligas t: rurrrrlas. [rrcvo! Irc[rnr c'arnar,alcsca: Mostra o rlut' t:hcgou rlt'rclrcntt'. S«rt'os t'c'Ittttes: [irra, Íirra <[ac1r.ti, r't'a<[os rnalrli-

r.oc'll tctn cntrt' as (()xàs, Vânial (lonr a saia lcr.antacla r:la lazi.r o tos! Ilui lt'nta, mc l)cgàranr () trart(tarilm c()ltt as ()ll1ràs tlt'lltr«r tlc urlt
l)rc!'(), às r,cz,:s qucrian'r o 1rau tarnbónr, a<luclr.s pcrvcrtirlos. Na qa$ào. Ur-r-r t'spttát:ulo tk'srnontatlo. Ma<luiagttrs (lestcit.ls c rost()s
orla, os travcstis rlavan'r sÀ,rn'r: r-rril Joscs iarn bcijar arluclr.s rabos. artassarkrs. (lhciros lirrtt:s t'ntic'tório ltarir to<k,s ('otn () llru nl ntào.
Entrci rx) ('irc() anrt'tlrontiltl.r c Íhsc'inatla. 51> horlrcns. Irui lichada c, libcra<la às scis tla rnanhã.

Vânia sc rkrspctlitr t t u, tot t.t, nrt p,rsic:ionci rliscrcl.r à rlis


t.incja. Longc cl.r rilralta, l)ara est()n(l('r nrinlras insulir:iôrrcias. Mas Mariluc'i m(' csl)cra\:il lirra ilc si . J«rgirtlos P()rta a1()râ, L-sPa-

logo aprcnrlcrià, cr.r qLrcria. () tlialro salrc como cu cluuria. Chcgararl lharlos coln vi«rlônc:ia, pctlaços tlt' mitn: os vestiilos dt: Angi:lica,
os làrriis rlc urn Josc clr: cintliiunla anos l)ara rnim tambónr: Entra no ii maquiagcnr, ()s sapat()s t:otnlrratlos ('()n1 () (linh('ir() clc Antônio,
carro, dissc. F,r'rtrei. Primt'iro Llma ])er"nà <lcpois a outra.Vai scr tlr:n torlo o mcll [)c.lucll() enxoval : Sua lricha, lirra tlt:sta casa. Elâ
tt'o rkr <:arro, pcnsci . Mas não, \,anr()s l)ara ull hotcl, clc rlucr assiur. cstava enfurt:r'i<la, lcvci unl gr.rn(lc sust(). Era caPaz (lcr mc matar.
'lcrn unra cara sória clue lrlc intirnirla. Nào i' fác'il sc virar naqut:lc tipo Sirn, se tivcssc sabitlo quo cu tr-ansa\'â cout scu lllho ela, olnbros
rlc mcn:arl«r, não é Íác'il rlcclarar () I)rcç() pcla prinrcira r,cz. N«r cluar rlc l;oxearlor, o tcria leito. Mc joqaria rleutro da vala. Nrt buraco
to, ele mc quis dc quatro. Depois r,cstiu as calcas: Quarrto ti? Com«r, rlr:iraixr.r tla iancla on(le () t-naritlo tinha sc suiciclatlo. Imagino ser
não sa[>c?Vrt:cl tcrl clue livcr, não? (]uin]rcntos c'ruzaclos cstá l>cm? por aqucle. nlulhcrã(), nutn (lia ilc lúria c()mo este'
.lssassina(lo
Il.espon<li quc sim. Clorn um lr:r,c ntor,irrtcnto rlc r'alrr'r'a, traí rninhr lalvez por causa tlc uma cacleira tlcixarla fbra tlo lugar. Mariluci

6t
A PnrNcr,s.,r Irr,nN,,\l.lD.l F,\RrÀs Dr,, Ar rrurlrll]rrr]ur,/M,llrRrrr() Jr\\Nrlr rl

tcria me matarlo, ombros rlc gigantc. () Íilho dcla tinha insistirlo, -l-rezentos
quilômctros, uma Íuga de cinco horas. Eu já sa-
pag(), c eu tinha ceclido. Constrangida porcluc não queria.Tinha lria quc naquela ciclarle trabalhava-sc bc-n'r na câlçadâ. Cinco ou
mos um pacto, "narla clentro (lc casa, natla com ()s mcus filhos", scis mcst:s clc hormônios e rle noitc \rou cor-rscguir um bom michê,
eu tlc.l,ia ter respeitarlo. Mas não Íoi assirn er agorâ eu tcrnia a puta com alguns trâÇos Í'cmininos. Fcr-nanrla, finalmcntc scm hu
vingança. Suspirci alir.iarlo, cla não suspcita\ra cla transgrcssão. nrilhaç'ão. (lorno Vânia. Estava cxcitarla c assustada. Cansacla cla
Quan<lo se acalrnou, tomci coragcrr l)arà protcstar: Vocô tcrrr rroite passaclà c (laquela l)or passar. Parou trm táxi clctalhe re-
cluc mc pagar, Marilur:i, trabalhci como urn cliabo, agora r.ocê ('orr(-ntLr , clcsta \.ez Lln) r,clho ncgro dcsbotaclo, um cinqücntão
tcrn cluc n'rc pagar! Ela talr,t'z nào csprrrassc nrinha rcr,oltir, talvcz ,1r-re <lerlonstr-al,a ccm anos.
tcnha pcnsa<lr-, nos clicntcs rla noitc c sc acalnroLr. Era un-r tlia rlc Sobe, r,carlir-rho, ciuc tc <lou uma carona.
muito traballro c não potlia prcsr:intlir ilc mirn. lLccolhi minhas Não, r'rão (luor().
coisas unra l)()r uma, t'ntrci no quart() c rlcsl>i, c:holanclo, saia r: Vrcô não porlc licar aqui, sc os l)an(li(l()s tc pcgam, tc
bIusa. Vcsti as r()ul)às rlc f]crnantlo c t:orncc,ci a
l)rcparar o calc. rn:rtarrl !

Minha c'abcça girâ\,a scm l)i1rilr, sr.ml)rc c()nr il mcstri.l l)crgulrta: Fi<1uci c()m rrlo(l(), âccitcri. E,lc 1àlou rlc urn l)utcir() c (lc um
Mas o <lucr cstou Íàzcnrlo aclui? No nrcio tlc.ssa nr.gr-a<la, c,onr 1o<l<r l,on-r sa[ário l)ilra trà[)alhJr scll batrrr calçarla. Inr tror:a cluis n'rc'u
o rlinhciro quc nrc ()sl)cra nir orla? l'rr';rarci () alnr()(() tarnbónr. r,rbo. Eu tlci. Dc latlo, no banr'o tlo aLltom(i\rcl, c()m () nariz rrvi
Cl.rra-tlc cr.rtlo rnlis ct'«lo otr rnais tarrlt'vai s.rlrt'r, cu l)(,ns.rva, Ll t.urrlo o t'hciro rlo scr-r'caralho Ícrlorcnto. ['orc:o. Àr,lua. tla tna
vai rnc nratar. Ciht,gou tarnlrl'nr a horl rlo jantar. Vai «lcsr.obr"ir o rrlrã, rnantcr:Lr il pr()nlcssa. Fui a1>rcst:ntatlo a [)arniã«r, () gcrcntc
r'ício rlo fllh«r c cnlourluccer'. Iscurcct:u, passci rlc c;u.'rrto t'rn ,l<;, bortlcl. Novc
lrlttas, LtIn.r l)()rL'aria tle casa. ) tr'nrp, ttt t t':sát'i.
(

quârto rccolhcnrkr ull p()r.l( () tlc «linht'ir«r tlos h<lspcrlus ause ntcs, ('rcs('cr mcus l)cit()s, rlt:pois pr-rlo lirra, pcnst'i.
1,.rra Íazrrr'
t:harnt:i um táxi c toclr-rci Íirgo na cozinha. I,apc'l c panos cnr c.irna
<lo Íirqãr>. "Mariluci, cstá scrvi<krl" LIrlr vcackrlT I)arniào, () cplc \r()cô llrctcn(lc c()ln unla l)i
Ela não cstar.a, «rs hrisper<lcs cstavaln lora. () incônrlio <1uci , lra na t:as;r?
rnou alto, as lalrnrcrlas saíarn lrcla janela. Ilipnotizarla, rlisturacla \hi rccrclrt'r ()s clicntcs. I)c tlia larií a limpcza, à r.roitr:
na n-rultirlão cluc sc junt«ru nà rLlà, cu olh.rr,a. Acluclas chamas mc st'rlirá as bcl:,iclas. Vai c:ozinl'rar r: lâzcr as c()ntas das pcrccntaqcns.
clttcimavam ltor tlentro, tlc ving.rnca. l)cpois, o cst;rm;ticlo rla cx li'rá urn ()r(lcna(l() ilormir n() mcll quarto ()u na cama
ir-rsto. Vai
plosão rlo bujào rlc gás tlr:sr.ir)rl rncus pcnsâmcnt()s. Na<la <lc grar,c, ( ()nr vocôs.
ncnhum nrorto. C)hcgor-r o táxi e no mci«i rla confirsão o motorista Stj de olhar-, as l)Lltas cspclhavam minha tlil'crcnça: semprc
só ouviu «r comando: I)ara Natal ! Il.io Granc:lc tlo Nortc, cle obc<lc- ('s()rncntLr vcado; ainrla scrn pcitos c c()ln utna pclanca el)tr:cr as
ceu. Era rlia 20 rkr junho ck: 1982. rnil brincatlciras, clutlian'r rnc \t:1'nuJ.
l)( r'nas. Fui ac'olhirla com

64 6ç
a
l
A l)urNo,s,r Ft,lrN,lx»,1 F.qRt.cs ot, At trttr.rttt'tt12ttt,/M,rLrtrtzlo Jrr.rrut't.t.t

Qucriam pcgar n() mcu l)âu, cu o r-scon<lia. I)ornrirn()s crn qua- Gilrla cra lóslrica, os homens não lhe bastavam. (Jucria a

tr() na calna (le casal . Muito jove:r'rs, as trôs putas c cu. Convcr- rnirr, qucria trcpar t'otligo. As 1tu1as mc clisseratn: Se apaixonou
salam cntrc e las, histórias <lc uma certa noitc. Vícios cxtravagan- p«rr você, licrnantlinha. A maltlita csticava as nti.s. nlL- l)t:{.l\'a en

tcs c amantcs t:nvcnena<los. MAs, na cama granrle, a Íi'sta era totla trc as c()xâs. No iI-rít'io, na c'onÍirsão <la lrrir-rca<lcira gcral, não en
para mim. Riram muito (lo pu<lor que m(' fàzia enÍiar a cara na tcr.rrli acluclc tlr:scjo. I)cpois tutlo veio à tt»ra. Ac«ruteceu <luanclo
parc<lr-, <1c costas para clas. Nã«r me toqLlcm, eu rlissc, não clucro tlc Darniã<i pr:rliu para licar c'«rmigr>: Sr! uma horil.rl-ra e
ur.n ar-r'rigo
carinh() tlc mttlhcr. Ilosa, <lcitatla ao trtt'Lt latlo, arloç:ou a't,oz:Tá tc rlou urr prcscntc. llu tlisst: rluc sim. l)c vcz clll (lLlân(l() cu tam-
bem, Fcrnan<linha, tt'rcspeito. Mas tira a cara «la parccle, olha bcn-r tinha tnctts clicntcs. Utrt scrvico «la casa, só para poucos. f)is-

para lnim, <liz cluc cll s()Ll bonita. Ilisos <lc água clara, flor-t's no crctamr:t'rtt:, scm atrapall-rar «r tralrall-ro tlas I-r'rulhcrcs. l)issc (luc siln

rnerio rlo csgot(). LIma ern cima <la outra, as i:guas rclinchavam ('()rn o c'ot.tscntirnr:nttl tlc L)anriã«r e cntratrrc)s no (lLlarto. Motrtatlo

p()r ('allsa das minhas cralc'inhas rlt'rcnrla. (Jr.rt:;rau lir.r<lc», Fcrnan t'r"n cima tlc t.nitr, clc me Íbrlia na bcira «la cama. () csllclh<> tlc ur.u

tlinhal Verm cornigo qut' tc aprcs('nt() um ('licntc c'hcio tlc irnagi- r,t'lho armário cololrial rnc «lt'l'olvia sua ('ara «rsstt<la c agonizantc.
nal:ão. L)inhcir<>, rlinhcirc, dinheiro! As [;rinc:arlciras mc alrroxi- Iiu terria irilorarlo rlt'smontar acluela cxltrcssão sória rlernais crrlll-r
maram clelas t' trouxcrarn tarnbi'rr rcspcito. unra risatla t'strontlosa. Estava r-rtcio cuÍi5rica, lllas tlã«r ousava' Si

It'ncir>so, r'lt' gcn-ria s('tt pràzcr triste e rcgular ('()lll() A r-nortc. Eis
l)amião, o patrão, era urna vclhar rnaricas, inculra<la, unra bi- <1uc, rle r('l)('lltc, l;ctrt tro ntcio tla hist«iria, tl-rc largou c l)artitl Ícit()
cha não assumirla. Nã<> <lucria (plc sLr soulrcsse. (]uan<lo o anrantc turn rlial,o 1>ara c.in'ra tla ltistola tlut: hirvia tlcixa<lo rla t'abcccira' Scllr

não estar.a, (lucria quc cu tlorrnisst'n() (luart() cot-n t'lc: [)iz para as <lizt'r unra palavr.r, <lcr-r tlois tiros na tlirt'ç'ão rla jant'la. Algtri'm nos
mcninas que ('Ll te errrab«r, não clttt:ro quc a(luclas lir-rguarurlas co cspiava. A t'asa to«la c'orreu assustatla l)ara a n()ssa llorta' [.]ltr saiu
rncr.rtr:rn por ai o meu vír'io. Ingênuo!Tlr<las sabiarn, to<las rian'r <lt'lcr vcstitlo c tristc, c-xatatnctttc ('()lro tinh.1 entratlo. Ilcz unl sinal para
pclas costas, as r'íboras. Esconcli<kr, I)orqu(' l)amião nã<l pc«l«rava l)amiào, (luc l)or sua \rcz liquitlrtu o assullto (r()111 ull-ta ll'astr: Urn
nar]a. Na l)rcscnça dclc cran'r torlas rcspcit()sas, p()rquc ele c-ra urn t,o4cLtrt tlissc. Mas as l)Lltas salriarn c ir('(r()ntal'anr. I:ra (iilcla clue

homr:m rluro mas também justo. l{igorr)so nas contas c no pagaÍrcn r-nc cspiava. EIa mcstna confirtnou, qttan«l«r mc- <I.'crlarou scll amor:
to rlas pcrcentagcns. Damião não roubar,a l)utas, «rli:rccia urn lu
as Vrcê e lósbico c()Irl() cu, Fcrnantlo, Íica t:«rl-nigo. (lrutlor-l ct-n mirt
gar scgur() onclc trabalhar. Afcrra uln ()u outr<l scrr,icinho extra com com as mãos e a l>oca c cu ltcrtli «r controlc. Livrci mc tlcla com
qrlem aqui vos fàla. O abaix«r assina<kr. Para l{osa, o putciro cra urna urn ctnpurrão, quclrrci uma garrafà c tt'ntci atingir seu l)csc()ç().
casa ol-r(lc rnorar. LIma cstranha lamilia à clual pcrtenccr, onde cstava l)amião rnc irnpcrliu t:oln t.não lirmc. (Juis mc nlanrlar ctnbora,
eu tarnbém: Ferrnanrlinha, a última a chcgar. Darnião nã«r pertloava tratla, ntas as putas iuterl'icralr a nlcu Íavor:
É cla qu" () perseguc há tluas sclnanas. () patrão câlou a bt>ca de

66 67
A Pnr:rcr,s.,r [ir,tr:r.l:'r»..i F,\llt.rs lr] Arrtrrltrr,ur2rrr,/Mtrrllzto J.lxxt.t.t t

-f
torlas e impôs uma convivêncria pacílicra. l)urou pouLr(), aqucla nral H t'rorra lcl o. inha riczoito anos Lr e u rlezenovc.'ll-abalhar.a nurl
clita não tinha sc c:onfbrmacio. bar cla Estação, Ír-cqücntava a casa por curiosirla<le. Aquclc vclho ma
ri<:as rlo Damião tarnlrórn tinl-ra notaclo o rn()vimentrt: Fcrnailinho,
-Iirca
Rubirosa, apreselttacl«rra rlc ter,ê, Iteitos ccr-tos e bunrla <lig,r, clc é teu rr»'tcja<lor ou rrm r:lier.rte? Conhcci clc r-ra Estação,
clcscornunal . l)ara os brasilciros, urn trans ó perlêito quando tcrn-l \,cm p()r causa (las rTrulhcrcs, responrli. Mas I Ic:ror'ralclo não Vinha;ror
buntla granrle: um bclo rabo, o lrumburn. E-luca linha as n'rr:tlirlas .rausa rlas putas, cu ponsava sem (lizer. Elc vent sri ltor ntinha causa c
ccrtas.'I'inha turlo r: alón-r rlisso c'ra ri<:a, pro<luto rniiagroso tla te- cu já dcliro rlc t:iúnrcs tkr intcressc tlo patrão c tlas nrulhcrt:s cluc rlãrr
linha. Era unr <los transcxuais mais fàmos«rs rlo }3r-asil, unt clos l)ri- cm cima. LIrr <lia, lirlici<larlc, clc pcrgur.rtou por mim. Qucria ir para
meir()s. I Iojc mora cm (it:r.rc:lrra, «lizcm, «rpt:rarla c fêliz. Na <';rsa o quarto con'rigo. Foi um rlcsastrc. Gikla sc a(liant()Lt na minha ausôn-
clas putas, cra cla qucrn nrc Íàzia Íicar grudada na televisão. E, cn- c'ia:Vai clnbora, Ilcronaldo, tlcixa fcrnantlo t-rn 1raz, clc é nrcu pri-
quanto isso, L'u continuava a t()ntar Ariac'iclin, quatr() cornltrir-nirlos nro, nã«r <1ucr na<la c'orn voc'ô. Rosa ouviu tuclo: Hcronal<lo, cspcra,
p()r (lia, scguinrlo os consr.lhos tlcVânia.Tuca Rubirosa tinha iclo a não liga para cla, r'ou charnar- a Ft:rnancla. Gilrla cnltir.rqucc'cu tlc
l'aris c motlcla<'lo bunrla c sci()s r:or-n silic«rnc. Corpo <lc nrtrll'rrrr e ciiunes c mr: alt.atrç'ciu, gilctc na rnào, tlcbaixo clo c'httve,iro:\,'trcô ó só
r()sto cr()lr() Sônia l}'aga. Modr:lo tlos incus rnoclclos. l)a telcr,isã«r, rncu, Ft'rnanrlo, 1e amt-r, qur:ro vot:ô toclo para luirn! []u gosto tlc
cla ilurninar,a o nrLru caminh(). hon-rcrn rr r-rão clc r-nulhr:r, tira as mãos tlt'mitn. Mc ilcixc cll l)az,
lrruxa lcsl>icra. Cotrto Lrma louca, Irua, clcspt'ici unra chur,a tltr so<r«rs

()s honnônios ('()m()caranr a naclucla cara i<liota c r-naltlita, t'rn cirra <l.r cntlcmottiarla. Arrantpici
Procluzir os prinrciros cli.itos.
l)ois csboços, tlois l)citirlh()s l)cqLlcn()s, unr alivio. l)ia apris rlia os sanguc rlcl,r t:orn uma r.clha torncira, lbrça lurios:r qttr: não sc acallna
bicos gi'rrninAvanr, se inturrcsc:iarn. I)uas arcolas cscllras sc alarg.r- \:a. (]u.rsc matci (]iltl;r. llosa c as outras n-rr- inrPctlirarn, sc cn('arrc
ràm Lrm r,«rlta para sustcntar o llrtrcscintcr-rt«r. Pontas scnsír,cis a c:a«la gararn tl«r rcsto cor-n chutcs c cllspcs. [)r:s<:i transtorna<la c pctli um
caric:ia, ao toqlrc rlo algo<lào rla r:arriscta. Cresci:rm. Irara cs1>arrto encontro a Heronaltlo, À, c,itr,,,, na Estaç:ão. Hlc tlissc'<1uc sim, cu lui
rlc lLosa, putà (l() coraç:ão alegrc; para mim, clue c'onsumia c-spclhos lrontual. l)an-rião nã«r rnc l)cr(l()aria olltra vez, cu salria: Ilcnrnalclo,
c sonhos, Ft-n'ranrla tor)ra\'.r lirrma. Fr;ra tlc rrrim tambcln, os clit:n- tclrh«r qtrt: ir crnbora rlali, mt'alttga um apartatncntinho, t'u pago,
tcs rnc c<tní'irrrtavam a translbrmacã«t, cu rlte (la\,.r r:onta ltor tnil r,ou làzcr mir:hô. Mas clc'tc'inrou c()nl outra altcrnativa: Sc vocô sabc
clctalircs. As putas ajurlaran'r no rr.rilagrc. Em cinco mcscs rnclhora trrzilhar rlc r.cllarle , tc' alrrljo cr)tl)r'csr ) r.rn (rasa rlc Íàmilia. Accitci,
ran.r n'rinha rr"racluiagcrn e pentcaclo. Aprcntli a rne clcspir c rne r,estir rnais 1;or cle rlo quc pt:lo tralral].ro.
com mil malícias parà capturar o tlesejo tl«rs Josós. Ei, Fcn-ranrlinha,
clesclc quc r-ocê está aqui Ile.ronaldo aparccc cr«rm muita Írcqüência. Mtrtlr:i mL- para l), rnta Ncgra. L'as.r tl. ulna 1àmjlia guc oÍcrcr
Eu tambi:rn tinha notatlo c iá estar,a apaixonada. r:ia um quarto c:orrl l>anhciro, telcfbnc e tclt:visão. Uma casa à bcira-

68 69
A ]:'tttxcr,st Fr,rrx,cxt;,\ F:\ltlAS l)1,4t trrtrlttt,Hrlttt'/M''rtttrtzto Jr\NNI:l'l I

mar, gcnte ric'a, char,c clctrônica l)ara entrar. I)r. Nilr> c clona Mcr- r.roites ins<>ne-s, o córcbro desmilingüitlo' EIe me trai' mc al)ando
cc(lcs Inc acolhcram s('ln l)rcconccito c crorrl um bonr orclcna<lo. amanhcccndo quall(lo qutrirrrci garganta' r'isccras c Pul-
11()u! Esta\,a
Sabiam qucnl cu r:ra. Hcronalrlo tinha sirlo franco, (' cles, c()ml)rc ntõcs com uma mistura rlc vcnt:no para ratos, água sanitária c ólecr
cnsivr»s. Raranrcntr: cncontrei as trôs Íilhas; pcrcliclas r.ros la[ririntos <licsel. Vrmitci esPtlma l>ranc'a c sangtlc, pclc» nariz, pela
lroca' Nãrr
cla c:asa, esturlavam para a Lrni\,cr-sirlaclc. Era um paraís«r, c a casa <las sci clue r-n mc ler.ou c:om cmerrgôncia para o hospital. Acor«lci
tlcpois
()(luPava
putas, r'ista <lali, parec'ia cnr,olta nas chalnas rlo inÍ'crno. Às cin,,,r clois clias con-r ttrbos na gàl'gàlltà t- tlo nariz. Fcrt]antla
e a
<lC
meia cu coln('!'âvà na r'ozinha, às oito tinha acabarlo o scrr''i<rr. l{c ('cna, mâs clt- não voltou. []ra <lt-'zernlrro cle l9U2'
nur-rcici à p«rstituição, clucria sri Hcronal<lo. Nos t'ncontrár'ar-nos
al)cnas à noitc, cu mc vestia clc mulhcr: beijos na lrocit c r-nãos nos Tivt: alta rlo l-xrspital c, p(»to rlo ônibus, recitava () mcu
r1()

Íirn ttutn lrantro. Sozitlha' uln tral)(), as Pcss()as tnc cvitantltr


pcitos. Urna «lclít'ia. Mas a Iuz tlo <lia nos scl)arava c cu soÍiia.'l'inha loga<la
(.()rno ul-na lcltrosa. Mas a r,i<la «rÍi'recc cncontros llara tl Mal
('cllcon-
cluc n1c contcntar, o aconlo er-a arlucle :Vcnho sti à r-roitc. Elt: narno-
r-ava Luna rnoq:a. Narla rlcnrais, 1>t'nsci, r'ou rr>ul:,ar o nar-norarkr «lcltr. tr()s para Llcm. Narlur:lc rlia o llcm aParcccu ('()lll â cara tltr carlos.
«r

Vru Ijcar corl t'lc só para rnil-n, r'<»r cor-rcluistá Io com«r uma n'rulhcr I)czoito anos, tllulirto e Ycarlo:VX:ô tcnr llara ot-r«lt'ir? Não, não tc-
conrluista urn lromcrn. Mt-us peitos r'ào cn'st'cr. Mcus cluarlris st'rãcr \,cm c()ntig(), n-rãc-lctê não Yai st: incot-ntxlar.Tt'tô,treza,
r.rho. Er-rtãr>

pcrli:it«rs com() ()s rla llr-rl>irosa. Llcronaklo vai scr s<i o mcu lr",r,. É ncgra, cara csburac'atla pcla Inisória' Mãos tnarc'a«las por rnil rugas'

ccrto. Mas «lc <lia, quirnrkr ele não cstava l)erto, o ciirr-r-rc inchrrva ('()mo a r.asa onrle tlortnia. Urna Íârela. l'or scus Íilhos tinha tnistura-

rlt'n1ro rle rnim. Nír c<>rnr'Ç{r, rlcsabirlàva r'«rrtr t.ristt'zas rcpcntinas, rlo sanguc, rnistura<l«r scmentt's c Corcs. Sant«rs Cristàos c orixás atri-
rlcltois vixru raiva, rlcst:nll-catla. "Nunca \,ou ('onscguir scr rnulhcr canos. Ti.tô ntc at',lhtu scm l)crguntar uatla, lll.-ts cu ti.ha c'rcsci<ltr

<lc <lia t: <lc noitc." Translrortlar,a, o;>rimirla <lcntnr tlc tristczas clur: rlcntro tlt' outra hist<iria, histrlria calrot'la'
rnc torturarrarn a alma: clc trcPa r'onr outra, làla r:onr outra, lrt'ija
"Ncgro, cluat'rtl«r não claga na cntratla, ('aga lla saitla'" Cíccra
outra. Fccha<la r-raclucla tnansão, eu oscilava <lc um t()rnlento a ()u
não admitia contcstirçãO. E cu tinl-ra trat-ua<lo tr«r sr:io rlcla' Tinha
txr. Ele cra mcu t: Íui proi'urá-kr crn plena luz rlo rlia. No trabalho,
sugad() torla aqr"rcla lista clo IJctn c tlo Mal, tlos lJrins c clos
Pequcrllâ
nA casa <la mãc, com l)ar-niã«r, para saber st'cra ali clur'clc mc traía:
Maus. Mãc-[etê rlissc sim à rninha prcsctlcâ, cu ali com o cstômagrr
Não, Ijcrnanrlo, Hcronaltkr não al)arcccu n'rais. l{osa cra r-r-rinha
e ncgros' Cuitlaram tlc
arniga nras não acrcclitci ncla, cra unra l)u1a. Em pouc:os «lias, minha
qucimatlo c llclc m()rena' ctltre mulatt)s
a

r-nim (lurantc urn môs c e,t Íi:r,creir,, cluanclo m(' rcstal)clcci


t«rtal-
f'clrrc, o ciúnrc, <lcr-orou totlo o paraíso em r,olta. Engolir-r rncu s()r
lÍrente, tlcixci os stls conr stra própria miséri'r'
riso c rne cusl-riu no ir-r1'crr-ro. Jotkr rnuntlo virou mcu ininrigo. I)«;r
três <lias e trôs noiters, transtornarla, rotlci ruas c praias à proc'ura <lc Escrcvi uma carta Para Cícera: Fugi por<1uc não sou urn ho-
Hcnrnalclo. Ncl.rhum vcslígio, ele tinha surnirlo. Se ncgava. Foranr Incm. Não gosto (las lnulhcres, nasci para alrar os homens'Vlcô não

7o 7L
I

A PnrNcss,l FcnN,qNtr,q Fantls trt' At ntlqulnqur/M''runtzto J'txt'tt't'l't

quer entend... Álru.o também não, toclos em Remígio me olham l),rra os clientcs quc,
depois do expedientc, vinham pagar pclo
torto. Não tive coragem cle assumir diante de você. Quando miúa ,,r.:u rabo. Discretamente, sem bater calçatla, porquc "na Bahia
vergonha acabar, volto. i corno ir à guerra", as Putas iá tinham me avisado' Agora, den-
tro clc uma bolha escura, eu vacilava' Risomar gostava de mim
Chcgou a resposta: Não posso ficar sozinha, você é meu fi- ( no restaurante eu me sentia protegicla daquela citlacle, confusa
lho, vou te buscar aí em Natal. (,()mo a minha cabeça. Misturada. Amcdrontada clentro daquc-
Ir. Í'ervilhar negro e desbotado que, à sombra de arranha céus
Cícera vinha, eu fugia. No rlia seguinte, no ônibus para Sal- c igrcjas coloniais, cruzava Nosso Senhor do BonÍlm com ori-
xás, coca-cola e mãcs-de-santo. Risomar cra bom comigo, mas
a
vador, ganhava terreno, sempre mais ao sul do Sítio. Mil quilôme-
tros pareciam suficientes. Olhava para trás e fugia. Novamente, lcntação irresistivel: Princcsa, um sÀou'' Pirotécnica' Decido: de
mais uma vez. Adiante não via, não sabia. O que vem pela Írcnte rlia, cozinheira, tlc: noite, grandc puta' Dcpois de algumas sema-
só Deus sabc. r1as, me scnti pronta e clesci a rua Chilc llara arriscar a calçacla'
Uma f'csta.
Salvador cngoliu os pensamentos sobre minha mãe dcntro
de uma bolha quente feita de lixo, defumador c azeite-de-rlendê Avenicla Otávio Mangabeira, bcira-n-rar' Eles chcgam, caras
frito: Churrascaria RodaViva, no Pelourinho! O motorista dc tá- tle tliabo, caras dc macaco: bicha, te arrcbentamos o cu; uns ani-
xi ncgro arrancou sem lrlc dirigir um olhar. Paguci e entrei per- mais.Vai, scgura as
José, clcle, scgura, segura firme, vai, enfia
Pcrnas
guntando por Risomar. Era ele quem movimentava o rcstaurante. por <lcntro clcsse cu, enche esse bastão de merda' Caras de diabo'
vez com
Sangue árabc misturado com português. Uma família de clonos caras <le cão: enfia até esse pau sair pela boca, acaba tlc Llma
de restaurantes. A indicação foi o último presentc de Têtê. Tive a vontacle dessa bicha dc clar o cu. Aqueles Porcos' Ncgros, eram
uma boa acolhicla, um trabalho na cozinha c um lugar para dolrnir. cinco policiais ncgrr:s: Abrc- a boca, bicha, abre a boca tlelc José, vai'
Ii.ccomecei a olhar em reclor. No espelho, meus seios cresciam. comc estc cigarro, veado, queima a língua, seu chupa-pau' Covar-
Sempre Anaciclin, quatro comprimidos por dia. rles, caras de hiena. Porracla, sangue: Atira, <lá logo um tiro na cabe-

ça tlessa irnunclície, atira,


merda! Mcu Deus, nãooo, Cristo me aju-
Fernanclo ou Fernandinha? Como você quiser', Risomar. cla! Mija em cima clesta porcaria de homem, anda, antla, larga
ele'

Então você vai ser a princesa da minha cozinha. Eis-me aqui, Íbi vamos, vamos embora! Mãe Santíssima, não me abanclona, dá-mc
Risomar quetn me batizou. Por causa rle um filé à parnigiana que Í'orças para chegar em casa, aintla quero viver'
conquistou seu paladar e rne Í'ez cair nas suas graÇas. Princesa até Negros, eis o meu óclio.
mcsmo para os cozinheiros e garçons ncgros. Princesa tambérn

72
A PnrNcr:s,q
Fr,Rrt:.ltr,,t Fi\rrAs l)1,AIttttr.ittt tttlttt./MrLltr.tzrtI J,,rx:lt,t.r.l

Edson, um negro. Foi o terceiro homern rla minha vida.vinte umÍ/.y, () lnLru hotnetn. Um ma
c'(')cs: sc clar.a como r-nulhcr l)ara
e sete anos, mulher e dois filhos, preguiçoso demais para trabalhar.
ricão, pcnsci quc Íbsse- \'cnen() clella: erltrc travcstis tcl11 scmPrc
o sobrinho dava duro na cozinha <lo Rodaviva: princesa, tio Edson invcja c ciúmc. Mas algr-rma vcrtlaclr: haYia, trcllar conl t'lc trão era
quer te conhecer, vai te esperar no Ílm do expedientc. Eu aincla csta-
lrom. Na canra cr-A cu (lucln irlsistia: \'alll()s transar? Era ttm hrr
va con'alescente. Tàlvcz tenha me agarrado a cle por amor, talvez
rncm Írio, clue trão sal>ia o <1uc qucria. Uma tristi-za. Eu clucrcntlo
por rnedo.
scr pernt:tra<la, clc com rnil <lescr-rl1tas. Ilstar'"r cotlrigo só por <lil'rhci
Depois rla'iolência, desisti da calçada por algumas semanas.
r(), se apr()vt'itirva.
'rinham me prescrito um tratamento
com antibióticos. Minha vida
se resumia ao restaurante: cheiro de fritura e suor, r,estida de co-
ltor <linhciro cluc tlt-ixo clc Ínzcr. LIm
St! p«rr tlinl'rciro, ir sti
zinheiro. Repito, o trabalho era bom, bem pago. Mas eu qucria,
|osé r,ct-t't c'ot-u mão c bo<'a cntre as n-rinhas lx'rllas para ctl<lut'eccr
queria novamente aclueles olhares em cima de mim. Todos aclucles
nrcu pall. Estou ali, nrinissaia lcvantarla ati'«rs cluatlris t'seios ao
Josés para mirr. Foi assim que recornecei: só <luas ou três horas r,cnto, nras não cnrlurecc narla. ['aga 11«rltrarkr, sri ltor trabalho <lcixtr
p.r noite, promctia a mim mcsma. Mas dcpois fica,a na rua até <1uc clc làça.rssir-r-r. L)cbaixo tltr mim, (lucr scr comiclo, lnas lneu
amanhecer tcsolrra grande dentro da bolsa. I)ara os merclas e os
Pau cstá n.rt'i.r lrornba. Charna
no Íêminirlo: Vcrn, I'rin-c'-e'.ra, tlctltro
meninos.
-
rlc n]im. Não t:onsigc), hortlôttio clemais. As arnigas tir]hanr avisat[o:
Não cxagerc', Fcrnantla, s«! o rttccssário;lara os peitos, o bastante
Edson olhava sem pestanejar, eu fazia e desfazia: cozir.rhciro e (rtstrtr, stnio vt,c'ô 1lt-rtlt'urna làtia dr->
l)ara quc t:lcs c'ontinucm J
grandc puta. Amor para ele, michê para os clientes. Têtas que florcs- c,rnh,.:cc, muitos são pe'r- Li.
merca<lo. Sã«r cliintcs «lc c'i<la<lr:, rocô 1á :

ciam, barba por làzer. Tüdo e o contrário de tudo -* a guerra c a (]uatro c«rmpritni<los tlc Anaciclin por dia talvt:z lirsscrn
).1ll:l-ti.l,,r
Tüdo parecia Íâzer senticlo <lcntro daquela bolha quente, llahia
Í'esta.
tlcrr,ais. Mas t'ram pcitos c qtrarlris o quc ctl clutrria, não t'l-tc inr;lor-
deToclos os Santos, clcntro da miúa cabeça.Tinha também a cartci-
tava ncm utl poutlttinhr> t<>tn o pau I-tl«rlt'. Ao coutrário, lcria io
ra cheia' meus Josós com dinhc'iro corrente e Errson que me sorria.
gaclo na latrir-rir aqucla carnc ntur<'ha. Mas tr:nl'r«r cltttt c()nte lltar cssc
Dinheiro fár:il e ele clepenclente mim. Em poucos meses abri con- rlr. i'
cle
rlcpravado. l)rcciso ganhar muito dinhcir«r t:ou csscs t-nariclos
ta no banco, aluguei um quarto no pelourinho, comprei um Voyage.
<lc cirlarlr:, Pais ltcrilirlos, lnaLls lllhos rlas rlctrripolcs r'orrotr]Piclas.
Não para mim, quc não tinha carteira, mas para ele, que eu queria
Qucr cluc I-t-tt'tts scios balattt't,n-r enquant() () I)cnetro, cssc t-trcrtla'
ao meu lado como uma mulher quer um hornem.
Diz que l)aga () dotrro, «r triltlo, c vem esÍrcgan<lo a bunrla c chora-
minga c (lLtcr Incu pau <lerttro. Canso e sof)"«r cnquantcl mcxo e cle
"O teu Edson é maricas, princesa,,,,,Gasta teu c]inheiro com ()
se cmpina. buncla-arrcl>itatla. Escapo, I)r()cLiro rcÍúgi<l na fànta
'{inao:.:!,,"os veados", "Gosta de ser enrabadol,'Uma
bicha. A pior das trai- sia. A reali<la<lc sc csluma c a \'()z clelc <lesallarcce. Longc, lr-rc reen

7+ 7t
Fr,nN,rNort F,ctrt,\s trf. At.stt()uEllQtll'/Mi\t.lnlztt> J'aNNtt-t.l
A Prmc t,s,q

uma
contro nos reflexos de uma imagem ondulada, estremecida pelo briguei dc grito e unha na cara' Quebrei
clo. Bêbada cle uísque,

movimento das ápras. Eu e Paulo nas águas silenciosas. Cheiro de gârrafa para arrebcntar a cara
tlele' mas faltou coragem' Afundei o
meu braço. Uma cicatriz selnPre' Cortc na carnc' Por
mato e terra molha<la de cnxurracla. Eu tinha oito anos, m<: lamen- ,i.k,, ,r,, Para
espatifada no meio tla rua e
tava mas queria ao mesmo tempo. É a minha \roz quc ouço. São uma pessoa quc poderia mc encontrar
mc salvar' Eclson Íugiu' iurei que não me
apai-
minhas as covinhas que toco sobre costas clesconhccidas enquanto não fazcr nada Para
o final cra semPrc o mesmo'
trepo, suando e mexen<lo com força. Estou embaixo dc mim, dcn- x()naria mais. Qucria ser amatla, mas
tro rle mün. José c só transparôncia <le água clara. Não o <-ruço mais,
Chega um Josó rle cinqiienta anos:
Mostra tuclo' Princesa!
não o vc-jo mais. Elc não existe mais. Sou cu que como () mcu ral>o,
concorrôn-
que cstou comigo.Tbda dentro dc mim, só para mim. De repcnte, qrrcr rlrrwlÉ o icito, Salvador não t( Natal' tcm muita
Então é precis()' eu gosto'
dois faróis accsos a cem por hora cantarn pneus na curva Í'echarla. cia, apesar de não scr Rio nerrr Milão'
a rninissaia até o rcgo mc escolhc' José' mostro
cla bunda:
Roubam a cena da escuritlão e continuam, rlesafianclo a mil esse Abaixo
rl clele' Ele diz: Sobc' vamos
ccmitério <le janclas apaga<las. O ofuscamcnto mc cler,olvc à reali- rc,nclas, digo coisas quc incham pau
para o motcl. Chegamos c elc:
tira â rouPa' Pousa uma pistola
dadc. Ei-lo novâmente, ó ainrla aquele mercia quc está cmbaixo cle -
nas cucrcas' Vcio e
mim. Gcmc, <lebruçaclo no capô do automóvcl. Olha cle csguelha o scrpcntc. Tcm também um punhal cscondido
lico nua no pátio' Filho cla
uma princesa sobre <lois saltos altos quc mexe c o enraba no csta- Íuio, r.clho noiento. Pulo pela janela c
I as forças' Chegam <lois poli-
cionamcnto. Ele goza, eu não. Não goz<-r, não é aquele o mcu pra- putal Grito Por socorro com to<las
ciais, corrc também o diretor do
motel: Não gritc' seu merda'
zcr, ó só cocô no pau. Estou em outr() lugar. Acabci, conto o dinhei-
et esquece ' Pagou todo mun
r() e ponto. vocô assusta os clientes, se vestc logo
sua bicha' senão é
rlo c os policiais também: E você Íica quieto'
e clavam
pior para você-Vciam só, os caras clc <liabo sabiam «lc tudcl
Rosana estava na calçada trabalhanclo por conta própria. Seus
peitos eram de dar inveja. Dois tcsõcs. Arrancados, cortaclos, rnu- cobertura.
tilados. O pau também, cortado, arranca(lo, amputaclo. Dela, tinha
vem semPre nos corrcndo atrás
sobrado só aquelc montinho horrenrlo, um ritual. O corpo licou Qucm a Sente quer longe'
casa' me esconclia' mas Eclson
irreconhecível. Carbonizaclo, pela gasolina c por uma cabeça cnde- (acaba grudanclo)' Eu muclava <le
Í'umaclo, ameaçando' Semprc com
a cabcça
moninhada. Putos. me achava- Chegava
1a<1o' Eu ia logo entregan(lo
Íêita dc maconha c um comPaclre ao
ele vinha sempre um ami-
Vi com rneus olhos. Edson c-stava com um Bal na praia. To- algum dinheiro, mas não bastava' Com
mavam sol, os ÍbÍinhcls. Os merdas. Eu tinha <laclo meu coração c go novo, e eu ali trabalhandográtis' galinha dos ovos de ouro' À'
mulher e filhos' Meus ganhos
mcu dinhciro a uma bicha. Espcreri cm casa, elc chcgou me enojan- minhas custas, ele mantiúa vicios'

I
17
76
Flr,rx,rNua F,tnt,qs trt, Alu-t<2ulnr2ur/ M'tutlrzlo JaNnt't.L'l
A PnrNc'r,s,r

ou
se cvaporavam como água ao sol. A polícia bateu à minha porta Risomar foi taxativo: Você tem que deciclir' Princesa'
e deixa o tra-
corn uma multa salgadíssima. Aquelc maldito tinha atropelaclo um cleixa a Prostituição e trabalha ou vai ser prostituta
depois de
velho, cu pagava. Fiz cscândal() com o sol>rinho, corn a mulhcr. balho. Escolho a vida tlc prostituta' É, mesmo Porquc'
sc recupera' in-
Depois pedi a Risomar quc me deixasse rlormir no rcrstâurante. uma pequena quecla clcvida aoVírus, o mcrcado
. Er-rcapeta<lo' com algo mais'
(liverso' aPavorante' Eu
Ele tleixou, mas na<la voltaria a scr como antes e tudo mudou. candescente
viagcm ó outra'
não entcnclo, tenho semPrc camisinhas' Minha
"Princesa, se csconclc. Não tleixe quc os clier-rtes te vcjam na tenho outras metas.
cozinha. Esconrlc essas tetas, põe uma roupa <lccente: tem gcnte
Anaciclin, semPre quatro comprimidos por dia'
Fcrnanclo
almoçanclo. A Aids está solta, llichas c travcstis mctem mc<Io."
se consome lentamentc'
diminuem'
Valquíria tinha vinte anos, uma Íêliciclarlc. Estava amanhe O pau míngua, os testículos encolhem' Os pêlos
os quaclris se alargam. Fernanda cresce'
Um petlaço clepois clo ou-
cenrlo, Praia <le Amaralina. Nirs todas em volta, enquanto ela ia
dcsco clos céus à tcrra' um cliabo um
cmbora. Urna garraÍà quebracla cnÍiacla no ânus. C<lca-Cola gran tro, gcsto sobre gcsto, -
<le . Fizeram até perícia: violcntarla com pcrlaços de pau, hemorra t:spelho. Minha viagem'
gia interna.
Iara era a mais bonita do Brasil depois cla
Roberta Close'Trin-
escr:las tle samba' Faros &
Urna rlol de cabcça, agora basta qualqucr rlor rle lran'iga ta anos, disputacla pala deslilar em totlas as
c Playboy cclebravam sua nuclez com papel brilhantc' Mulata
para quc cm volta clc mim sc: lcvante ulna murallha de olhos <les Fotos
::l
clara, alta Íeito uma alemã' Corpo perfeito'
muita plástica e silicone'
I l.conÍlados. A Aicls, essa malclição, pega o giz c tra(ra scus limites ---
Iara se prostituía tle vez
eu fora, cles <lentro. Mcsmo n() rcstaurantc. Ela mcxe com tu(l(), Viagens a Paris e três apartamentos no Rio'
é logico'
cstá prcscntc cm to<los os cantos: uma tossczinha na cozinha c lá em quando, por vício, não por necessidadc'
semPrc colrl ca-
vem cla com rnil cochichos nas rninhas costas. I'rinccsa r.rão (: n.rais Eu tinha acabaclo dc fazer dois clicntes
-
a encontrei-
a princc'sa do Ro<laViva, é uma maçã envenenarla. misinha na bolsa' Batalhava mais um José quando
aconselhou um novo
Na calçada, A Pestc sc mostra com os cassetcrtes da polícia Foi ela qucm me pôs a pulga atrás da orelha'
se perclcndo'
caras cle rliabo, rcvistando as bolsas: Vearlo, mostra as carnisi destino: Rio ó a cidacle certa, aqui você está
nhas! Na<la, então toma porrada.
sem ca-
Eles chegarn desarvorados, roubam' violentam -
Por cluas vezes
Igreja de SantaTêresa, Rogéria e um cliente. Dois tiros na misinha. São maconheiros, ncgros, desempregados'
são clonos cla ciclade'
cabeça. Os corpos deixados no átrio da igreja. É a matança. me pegam, roubam e dão porracla' À noite'

78
l9
A Prunct,sa
Fr,Rr,r,cNo,A F,lnrls »r, Ar.uuqurnqur/ M,runrzro J,tNxrllr

Têmos medo, nos dcfendemos. Na calçada, em


cinco ou seis. Fa_ drecida. Lava banheiros e Íàz faxina numa pensão. Cara sem luz,
cas, tesouras e brigas. Fugas, saltos quebrados
e cicatrizes. entrou na igreja e se pendurou com uma corda no pescoço flor
de plástico murcha.
-
Em setembro de 1985 fujo para o Rio. por causa dos
elogios
da Iara e do medo dos negros.
Severina, a bombadeira, me tranqüilizou: Não, no rosto nada
de silicone líquido, é arriscado demais. Hesitei:Tênho medo, Seve-
Na calçada das grandes ci«lades, Severina, a bombaclcira,
rina. Como, medo? Se você quer virar mulher, tem que passar pela
expõe suas obras de arte. Corpos bombaclos, rrrodulados,
seringa_ dor, só depois vai ser Fernanda. Foi convincente, durante uma se-
dos com silicone. Explosão jamais vista de cxibição
e de sonhos. mana me prostituí com rnil truques para juntar o dinheiro necessá-
Mil rnoclclos a sercm seguidos mc confundem maravilhacla,
ame_ rio. Arranquci cem Josés das já-bombadas para realizar meu sonho:
drontacla. Eu, coisa pouca coisinha. Olho e cscolho: É perla
- <r Princesa como Perla. É, ,*u cópia, porque no Rio tuclo é possível.
meu modelo. DeÍinitivo. perla, quem me vê clepois cla aplicaç:ão No Rio basta sonhar e o sonho se realiza.
rio siliconc revê Perla. Rer,ê suas pernas longas
que, como areia ao
vento, sobem lentamente para o c(:u.
Novembro de 1985. Severina, cm casa, bomba meus qua-
dris com injeções de silicone líquiclo. Sem anestesia.
Diana Fofio pcrdeu a cara, percleu tudo. prccisa
se esconder
da luz c da vista dos clientes. Seus olhos: duas bolinhas
brirhantes Dezembro de 1985, o professorVinicius, em sua clínica, me
afuncladas, sumidas na dcvastação <lo siricone.
sua boca: corte ver- aplica próteses de silicone nos seios. Com anestesia.
melho-horror sobrc uma bola de esponja. Diana Fofio
tinha bom-
bado o rosto e não lhe sobrava mais nada. DcÍbrma<la,
reperentc. Uma Í-clicidade contida pela espera infinita. Como se no es-
Um erro. Os Josós agora fogem dela. Ela espera os velhos e bêba-
pelho, durante vinte e dois anos, eu tivesse sempre visto aquelas
dos, se cxibe de crostas. O silicone a traiu. Scu rosto
clespencou, linhas, aquelas formas. Duas metades cle coco Í'oram meus pri-
deÍbrmado, como plástico no calor. Ele abaixa o vi<lro,
ela entra meiros scios, as primeiras redondices que suavizaram meu pequc-
com as costas c as náclegas em c-xp.sição. Ele se dá
conta e grita de no corpo. Cícera descobriu e levei uma surra. Passaram-se quinze
susto: Fora, monstro brochante! Ela encosta a tesoura
no pescoço anos e agora, finalmente, eis-me aqui com quadris, exagerados,
dele: Seu merda, paga assim mesmo. O silicone atingiu
o olho. largos e sinuosos como as margens do São Francisco. Meus passos
Diana F«rÍão está acabada, uma forma estragada.
sc tirasse o sirico- ficam Í'emininos com estas curvas. Curvas que me estreitam sua-
ne, ficaria cega: sem ver o munclo que olha
para ela. Mas, scm a vemente a cintura para chegar sem pressa até os peitos: duas ma-
operação, para ela sobra só o mundo quc detesta.
Mercadoria apo_ Um toque final, falta só um toque para
çãs maduras e perfumadas.

Bo
8r
A l)rrrxct,sq lrr.rrx rxD.r lu.llrt,ts DI At tttttlttl 11Q{11,/M\tlRIllo J.rNxr.t tt

complctar. Scrá um âm()r scguro cluc nrc Íàrá cleciclir. l)or ora, sua Prir-r'rcira noitt:. Foi na avcnitlaAugr-rst<l Strl'cro. () garoto tnc cs
estou [;cm, assirn. Eu n.rc sentia l)cnr (liante dc L)cus c <los hcr r.olheu: (]ucro r'<tcô! Flu rlissc clur: nã«t, {:orn Llltt tlt('ll(rr rnt lrrisc.rrrr
rncns. Na cabeça c r-r«r cspelho: Fcrnanila, lransexual . a scr l)rcsa. Mas tt rn.ris velho sc olcrec't:tt c'ottto garanti.r t: firi cclrn
elcs. ()hcgar-n()s A urr cstac.ionarncnto scrnirlt'st'r1o t' <:lcntro tlo au1«r-
Luz rlo dia, tiro a r()upa e <leito na arcia. Vru à praia. Naqucle r-n<!r,cl llrluci logo n.r ltosicão l)ara c()rrtcntar o mcnino. L,lc rnt: agar
Íorrniguciro, s()u urrla cntrc muitas. ConÍundirla na multirlão.'lênho t-()Ll (,om lirrç:a rlc anirnal. E o 1trc1túc:io, rontpr.rtrlo-st:, lcz c()rTl (plc
tu<[o n«r lugar e pass«r tranqüila, prr:sc-r'rtc c inr,isír,cl l)ara os passântcs clc <lcsst, gritos lanr.ir-ralttcs, Lrnt l>ár[r,rr(). l)cirorr ;r <:antisinha tlcn

rlislraídtis: un'ra nrulhcr. Fcr.ranrla agora mc rcsponcie scmprc Lr()rrr tro rla rninha ll-rntla t' rrtc lantlruzou «lt. sangut' sem l)âri]r tlc gritar.
mais Íorça, rctritruirla conr rnil atcncõcs ató cntão rlcscor-rhcc:irlas: um () ir.r-rrào Ycio logo amcacan«lo c cu tcntci exPlicar <1r-rc a canrisinha
homct'r.r quc abre a porta, a gcntilcza rlc urn scnhor rlc itlarlr:, a pis cxisti;r, irinrla rlue lt() lll()ntcnto t'lc não a r,issr'. Fitttost:, tlisstl tlu cttt
cadinha clc unr garot(). Só rlcpois das aplicraçircs cu soubc para valer tonr ltrolissional. Alcrn rlisso, Josc, o Prolrlt.nta ó cluc' scu irmãozinh<r
o clur- signiÍicava st:r mulhcr no rncio dc mil tlcsc:onhccirlos.']irckr I.uut guloso, por.isso sc ntlr.hLrcor-r!'l ir,c clrre ir r'on'r t'lcs ito hosllital,
rnuclou, ató mcsrlo ()s s()ns rla rninha \,()z l).rssaraln tr vilrrar rlc outro on«[c, ÍclizntCntc, o rncrlirrr r,onlirrrtr>u rtrinha Icrsão. LIns rlcz <li.rs
nrorlo. Eu tan-rbem muclci . Fui litcralr-ncntc arrastarla l)ara urn ()utr() tlCltois Ioltaranr, (' () nt('n()t' sc satislez. F, fi-t'r1ii,'ntt tlut st j.itll 0s

n-tttnrlo: «r rnunclo rlas mull'rcres. transcxuais a t't'ltbrart:t't't tais init'iaçilcs.

Un-ra rnuI[.rer- ('orn l)au, cu sei.


M:::"_Syg"g!g:-"r]gg*qg*j-q St'r,t'ritra l',«rrnl,rrtlttira t' o <lorttor Viniclius tivcratn tnãos tlc

..1!ll.l_i-lll"gll:h*.-fSf', E cu os ajurlo. Dou garantias. Sci cs<:onrlê-lo f.rrla c'oluigo t:, tlurantc alguns tli.rs, llt'nsci cltrc minh.r firg.r tivtrsstr
cron, habilirlarlc c cxpcl-iôr'rcia sol; a minissaia. Apcrtatlo crn cal t.hcgatlo ao I'inr. Mt'ilurli itlcia. [)ois nril t'cluinht'r'rt«rs
c.orn t'sta
cinhas clásticas. Minguarlo 1'rt:los hormônios. Anrassarlo tlc tal nro quilôrnctros, ttlna ilistârtt:ia clrtt' tla!a llara r'<ll1ar- (-lotno rnulhcr

,*.:::: :: ::: I]":,,::t-1"*:,'r:11:1:


('1:i
'ly: l-Lll'''' t]ã:'*:i):t
o*:t'* assurnirla, t:ut:ontràr (líccra: ctr, lllha <lcla, rlot'tnal. Nr.tllca mais
jIí"i,rr.r:alrt ,r, ;r,..,-.:,.1,,',n.Vi,t'rn (. m(.snt().rssitn st.(,ntl)(,,'t.,,,, .,,,1 tt'ria lic:r<lo vt:rtnclha tle vt:rgonha. B.rtia c'alçatla t' sonh;rva nlinha
i-,, ," cu firssc tocla mull-rcr-. E este "corn<, se" para nTirn ó ,rrit,,.|, r,olta com p()lttl)à () circurrstância. l'arrria tl,'ttr.'r't'tlrl,:r (r()lll() s(l
;J|SJl.:Z tudo.lEmbaraç:ackrs c()m a situação, a nraioria 1>rcl'crc cron- vr:nrlc carnc tto ntatatlouro. Vivt'ria conl ulll hollrctn ('()rll() lru
flar na aparôncia convcncional : peitos, l>unrla, tuclo no lugar, c,n- talytz artista cnt algut'n t:lubc. Mais alguns arl()s 1a lratalha c
ll-rcr,
tão, sc-nhorita. Na ltraia c n() reslaurantc. Pala rnim a vicla ó or.rtra.) turia porlitl«r irbrir urn lrarzinh«), ut]ta [ruticluc, talYcz utn rr]stau
rantr:, lrrinrciro lttrclucno t' tlcl;ois tnaior. Etn rcstttt'to, clcpc-ris clc:
E,u nrc scnti rcalmcntr: maravilhosa quan<lo, algumas noites Scvrrrina n-rcu Ír,tturo tirtha virado un-ra Íesta. l'obrc irliotal
depois ila aplicação, um cliente habitual trouxe o irnrÀo mcn()r l)àril

82 8r
A PnlNcr,s,r Ft,nr,lNt>,r Fanl,ts trtl At'uuqttt'nqut'/M'lrttrtzto J'lltNsl-t'l

Diana chupava a mais não porler. Tàlvez seja brutal clizer as- barato, pcnsei no camburão. EIa Íaz' selnPre assim' murmurou uma
sim, mas a história ó, era, exatamente esta. O problema l: quc ela bicha ao mcu lado. Sert const'guir Yer a cena, out'íatnos ela gritar
cn(liabrada. Foi arrastatla dali c para mim já estava morta' Mas
prestava csse scrviço aos policiais. Até aqui, nacla dc mau. Todos os na

transcxuais ce(lcm às ameaq:as rla polícia. Para mantcr boas relações, noite scguintc, milagrosatrentc, ei-la novamcntc na batalha, no cal-
para evitar uma noitc ncl xarlrcz ou uma surra (le cassetctes. Mas A cara inchada de porracla. Ató nrls cum-
çarlão rla aveni<la Atlântica.
Diana cxagcrava. Ela cra a rainha da polícia carioca, uma protegicla. primentamos, ela tambóm cra nor<lcstina, <le Ft>rtaleza' Dcllois,
Chegava a patrulha, rlistr-ibuia câcete para todo laclo e cla ali, chupan- ca<la urna foi cuiclar clo ltróprio trabalho. Eram três rla manhã quanclo
do tudo o quc podia. Aquilo para ela tiúa virarl<> quasc uma paixão. un-ra patrulhinha convi<lou a Parâ L]ntrar. Ela accitou tle ll<>m graclo'
Eu não gostava claquela história, mas dcixava para lá, cra problema vi com meus olhos, ela inclo crnbora chcia rlc paixão e rcvcrências.
dela. Urna vcz nos pegaram na avcnirla Atlântica cncluanto trabalhá- sem
Três clias clelxris loi encontracla na praia clc BotaÍogo. Sem scios c
\ralrtos em concorrência. Junto tinha mais outroi; cinqiicnta transc- pau. Cortes tlc là«:a e cinco balas na boca'
xuais. O carnburão chegou com r,árias patrulhinhas rle apoio c foi um
panrlemôr'rio. Urn <lcus nos acucla. Acontccia c<rn-r Írcqüência, por () cassctetc vcio cima para baixo e arranc<>u três pont<ls do
cle
causa de algum pervcrtido que- clenunciava um roubo. Por causa da meu sci«r clircito. Fui apanha<la sozinha' longc do -qruPo, por culpa
droga quc rolava ali. Por causa «la Mal<lita, ou mcsmo, simplcsmr:n- dc um clientc- quc me largou no subúrbio. Ft'cararn o carro c salta-
te, por nossa causa, órarnos um atcntaclo à moral c a<ls bons costu- ram batcndo as P()rtas. Novamentc clcs, no l{io, pior quc na Bahia:
mcs. Dc qualquer moclo, naqucla noitc nrc dei conta tlc quc para caras <lc clialttt, caras <lc macaco. Acuatla nulrl canto, llor instintcl
Diana a história ia acaLrar mal. Ela não accitava aquclc tratamento. puxei bolsa vintc centímctros <lc tcsoura aÍiada. Agretli o primei-
<la
Não queria subir no camburão: Mas como, ainrla ontcm à noitc eu ro quc chcgou pcrto. Uma cara tlc cão, policial' Ncrgro' O sangue
o prazcrzinho <lc vocôs, e agora vocês me re-
era llainha, fazcnrlo aincla não tinha cscorri<lo pelas fuças clclc e cu já estava arrePcnclida
compensam colrr errpurrões c pontapós? Eram palavras que, no rlc to<la coragem. Em geral, quanclo não tenho cscapatória'
aclue:la
meio daquelazorra, passavam leves como água-<lc-rosas seguidas só não luto, mc resigno. Finjo <le morta ou mer submcto' Faço cena'
por algumas cusparadas na cara. O quc o sargento não engoliu Íbi corno sc o cliabo já tivesse se cncarrega<lo do meu fim, com a csPe-
outra coisa. A inÍêliz, de fato, não segurou a língua e comcÇou a rlizcr rança rlc quc o outro cc:<la, mucle <lc iclóia. um desvio na linha reta
os nomes, Íàzer chamada. Um por um, com nomc e sobrcnomc. rlas intcnçõcs <lo adversário. Mas naquela noite eu teria transpassado
Todos os seus clientcs, todos policiais. Foi naquela altura quc as coi- o coração animal. Foi por isso que levei um susto comigo mesma:
<1o

sas ficaram realmentc pletas e rnais clcum quc estava ali perclcu a iam me liquidar pclr acluela audácia. O cassetete chcgou com malda-
cara. Caras negras, caras de diabo. Diana se demonstrou incorrigí rlc no seio quantlo eu iá estava clobrada cm dois Por um golpe na
vel. Uma missionária daverclaclc, custe o que custar. Não r,ão deixar barriga. caí cstiracla na calça<la sob uma chuva <le "bicha desgra-

84 8ç
I;l,nx.r:rtr.l F,tlrt.ls Irt, At truqttlRqttt'/Mttttrtzto J rNll't I t
A Pxl:,rcr,s.a

não r:ra nacla:Vrtrê r'ai vet-,


çada", porra<las e chutes. Ncm me clei conta quando acabou. Foram João l'aulo llotou, tnas tlissr: cluc
Joã«t Paul<l rrstu<laYa cngcnharia.Vc'io
Iogct cle \,oltará a sorrir. para
embora como tinham chcgado. Portas baten<lo e cantando pneu no
asfalto. Era uma noitc cle sexta-fcira, em dezembro de 1985, e meu ntim na ar.cni<la Augusto Severo. Um môs cleltois, não cra mais urrt
peito sangrar,a muito. t licnte, mas mcu alnante. Um garotão criatirrr no scxo' tlm t-trachrr

t,l.rcio clc Íàntasia. Na«la a ver conl E<lsor-t, a l>icha. Nunl domingtr
Tivc qur: esperar a scgunda-Íêira para ouvir o dr. Vinicjus di- rnc cont,iclou pâra alnto(ar c lcz uma Pr()Posta: alugarrrlos juntos
zer que, nacluclc ínterirn, a f-crirla tinha infcccionarlo. Tirou a prótc- ur11 allartament() c «[ividirmos as (lcsl)csas. Eu clissc quc
sill, mas
se e mcu pcito Íicou como um sorriso clesclenta<lo. Olhar no cspelho (,stava scrn rlit-rhciro: Vru trabalhar ctn Sã<t Paulo llor ul]1a sclllana'
virou utn csÍorço, aquela cicatriz contorcia mcus pensamcntos. Eu rlcluris alugamos o al)artamcnto. I)cnsr:i cm são Paulo 1lt>rc1uc
1á sc

buscava o c<>nforto da cirurgia para atenuar a dcprcssão: Daqui a seis qanl.rar,a mais, rliziar.r.r as colcgas. Elc 1tr«rtcstou l)()r ('aLlsa tla sepa
meses vocô volta a ter tu<lo no lugar. Com uma opcração novir-rha e r.ação, tiven-ros ult)a briga. cornt) rrari(lo c mulhcr, g<>stt:i tla coisa.
um pcito rrovo. Caso eu tivessc clinheiro para pagar. l:r-rr.hi a cena (lc lágrirnas c rnalícia, c1uc, acatrou sc rcsolvctltlo c()m

LrrI íinal Íê1i2. J«rão lraulo aceitou a itlí'ia rla minha llartitla.
Lorcna Íbi a rninha salvação. Uma bicha, um velho travcsti.
Pesscia sinct:ra c amiga clessc jcito não cncontrci rr,ais. Foi no scu
Lh]-r clcsr'<>nht't'i<lo sc altroxirn«ru rlc'1etô quall(l() cla saia clo
apartamcnl'o quc encontrci rc:Íúgio e assistôncia. Pouco dinhciro e
ltotcl ouro Prcto, na rtra tla L.apa.-l'inha ar:altatlo um Prograrna. Ele
tlntl solitlarit'rla<le.
vcio t:otn sL'guraltL;a: cla teria rottlla<l«r, c()lll urrla [àc'a etrt'ostacla na
Mas Íbi Scverina qucr rnc lcr.antou o moral. Com un-ra se- qarganta rlclc, sua ntísera corrcntinha c a cartt:ira tlt' «linl-rciro. Avar-r-
(luCntC, ncrv()s(), gritar-rilo Colll() Ltlll rlcslairaclo.
gunda aplicação dc silicone nos quaclris, mc pôs na onda novaürcrn- !,()1 Ct(),1 O sanguC
te: Você 1;aga quanrlo Íicar boa, Princesa. Rctorrrci flôlego. Duas l)cu-lhc um tixr no coracão e ()utr() nas crlstas.Ti:tê trr<lrrctt na hora.
belas ná<lcgas, casadas para semprc com o meu rabo, me consclla- Morrcu inor:Cntc. Porclue a aut()ra clo assalto rlão tir-rha sitrlo
rarn cla scparaÇão dc um seio. Eu sabia que o rcgo macio quc une ,.,[a, r-nas urna crlpia sua. LIma irnbccil igualzinha a cla, l;tltrlratla pela

e separa aquclas montanhas atrai meus Josés mais do que os tlois lltcsnta rn.clelo.Têtô morrcu Por um crr(), Lltn cnga-
r-r-tcsr-r-r«r
',ão:
montinhos no peito. A bun<la c1 a vcrdadeira tcntação. Tão antiga no rlr: ltcssoa. () <lcsconhecirlo rlisparou cluando cll (.stalil cl'rtrantlo
que até mcsrno o cliabo quc não possui uma Í'erve de invcja. no hotel com um r:licntt: quc har,ia acal)a(lo rle ltcgar. ll,cnunciei ao
- e voltci casa Passan(lo mal.
Enfim, mc consolava. Severina mc encorajou: Mas krgico quc você l)rograma Parâ
pode r.oltar para a calçada.V<>cô é linda, quem é quc vai notar essc
teu defeitinho no peito? Fui para São Paulo com uma agcnrla pretlctcrminatla' Só ho
tt:l . trabalho por uma scmana. Nã, vi nada, não llz na<la alcm clis

87
86
A PnrNr:r,s,r Fr,rr:lt:'to,l Fltrtrs ot, At ttur]ur,tr«.2ttr,/M,qtrtrtzto J;tnxr'[t

so, foi tudo bem. João Paulo tinha me convencido e a distância au- mos inveja clela. Imitar.aTinaTurncr, f)iana Ross e outras cantoras
mentou a gamação. Ele me queria mulher de dia e dc noite, isso americanas. O clisc-jóquci punha a música, Ilrenda rechcava a

para mim bastava. Não era um qualquer, como Edson. Tinha um cena com gcstos pr()vocantcs. O Íilho dc um juiz' um mcnor, clcu-
carro lindo, um emprego na Petrobrás. Err resurno, depois do pa- thc <luas facaclas no Pescoc'o' Por ciúmcs, clissc no proccsso'Tinha
rêntese paulista, eu estava correndo para os braços dele quarrdo flagrado ela com scu mclhor amigo. l)<>is mescs <lcpois o garoto,
tropecei em Jaqueline, um trans muito discreto c sem ciún-res. Veio o assassino, anilava solt«l llcla avcnicla Augusto Severo' Ninguém
se desculpando comigo por uma trepada com João Paulo. Ou rne- pr()testou, as outras continuaram a tirar lcite <la tcta clele'
lhor, elc tinha pago c ela fcito o programa: Só isso, Princesa, um
clientc como outro qualquer. Não sabia que era o teu homem. Mas Dcsciam no Galcãci, o âcroPorto <1o Rio' Chcgavam cm
aqui se faz e aqui se paga, então é melhor cu te contâr logo: Elc vai pcncas, to<las exltulsas tla Eurolla. Nas calçadas, passavam as in
com todasl lbrrnaçõcs: Trabalha-sc muito [>em na Espanha, França e Itália'
Scis mescs rlc batalha tlã<l para comPrar um aPartamcnto no Rio'
Ele tinha feito c eu tinha ficaclo sabcndo. Rcalmente uma be- Sim, em Paris tcm que l)agàr um pc<lágio Para ocuPar a calça<la'
la volta, realmcnte unr bom começo. Não me chateei com Jaqucli- As veteranas exltloram c <litam as regras. Mas o <linhr:iro c tanto
ne. Tivesse Í'eito por maldade, eu cortaria a cara dela. Briguei com quc sobra scmprc muito. Os homens sãc» mais <lepravaclos tlo que

João Paulo, que insistia em negar tu<lo. Não mandei ele ir tomar no os brasilc:ir«)s, mAs Pagaln bcm. Os italianos mais tlt> que t<ltlos'
cu porque era cducado demais. Aqucle mentiroso.Tinha jurado por A policia? Não ntata nas ruâs.
todas as coisas: Parei com os trans, tudo acabaclo. Tinha me feito
perder a cara, aquele merda. Todas na avenida Augusto Scvero iam Não cra P()uco. Nt> Rio matavam como sc Íôsscmos galinhas'
rir nas minhas costas: Princesa dá o coração grátis, nós a bun<la, Tiôs ou quatro por sernanâ. As noticias v()avâm rlc uma t:alçatla para
com pagamento! Eu queria arrebentar com ele, e fiz Íêito mulher outra, e tlc marlrugacla iá lian-ros a notinha no iornal'
que briga com o marido. Depois disse para ele se mandar e me clci- As mulhercs, não' Elas cram poupadas pctlos ban<lidos c pela
xar em paz. Em vez disso, ele ficou obcecado. polícia. Tinham abanclonarlo as ruas c Íaziam n-richê nas casas.

Brencla, a linda Brenda. Uma artista. Toda plásticas e sili- Mas nem tudo eram tiros e facadas.
cone, uma beleza muito Í'eminina. Batalhávamos juntas na avenida
Augusto Sevcro dc segunda a quinta. Depois ela me <leixar,a para ftsn31a de Brasilia. Fica sabendo que está com Aids e se
-
com :urna overdose de heroína.
fazer seu show no Papagaio, uma boate do Rio. Subia no palco e as mata
luzes eram todas para ela. Na aveni<la Augusto Severo todas tínha-

88 89
A l)rrrrt t s..t
[]r n.,rr..ru\ I--rrrrrs nr Ànlitrlttt trrlttt /M.'rLtlttzto J.lri:.lt,t t-t

Niterói. Expulsa cla lrrança.-lixlo o scr-r (linhe]iro, ,l,r l{io Yinrla rle Milão tcm unt clesmaio. Mon-c Yintc c qllatr()
r-
Jane clc
urna pcqucna lirrtuna, é conÍlscr.rdo pcla polícia Íianccsa.Vcilta para 1,,,r'.rs clepois no hosl)itàl . Há quel't'r Íale ct.rl Lrma quc(la tlc llrcs

o ll.io c rctoma a calç:acla.Tlrnra picatla rle cocaína e bcbc Íêito lou- ,r,r. llá clucm tliga quc tiri a hcroina. Há qucn'r iurc qr-rc firi Air:ls

ca. Fura o olhn rlc um policial c()r'n Lllrla te sourarla. Vivc scm runlo, I rrlrninantc.

1>rocurarla pcla polícia carioca. I'ega Airls. Mrirrc rle cirrosc lrcpá-
tica nt.r hospitnl. Acácia. Nascitla clrr M.lnaus, t'orac'ão <la Arnazônia. LIrna
l,,.la írtrlia, alta, uln nrertro r: oitt'nta. Fogc tla cscravitlão clos garirll

Alcione, urubu nralvarlo. Ern 1985, <lcsr:obre rluc ó so 1,,rs.Vcnt ltara a Itália crll 86. l)r:Pois rlc rluirtro ntcs('s, r-olta rita.
lo1-rositiva.
-lirnta
o suicirlio se jog.rn<lo <lo sótirno anrlar. ()s llos de ('()lnl)ra Lll-n al)ar-tântt't-tto rli: r'inttl r"nil tlólart's t'trl Sio I'altlo c um

cletricirla<lc arnortizam o impacrto. Qucbra ,,rr-ro lin«[o. Colct:iona I)crLl(].1s. (lonlinua intlo t'r'oltatltlo rla Itália.
l)Lrrr)as e braç«rs mas
salva a r.itl;r. Sai clo hospital c volta a fàzcr ll.clta sctrt c.artrisinl-ra c chi'ir.r c'ocaína. Morrc rlc Ai<ls no hosPilal.
l)r()grama. Sern c,arr-risi-
nha: Assirn c()ln() ou pergur:i, rler'«rlr,o, rliz para as an-rigas. Assalta \o tcstarnt'ltto, clcixa tutlo p.rra o tronlllatlht'ir«r italiirrlo.

urn homcm, pai rle trôs lllhos. Espcta o pcsc()ç,() <lr:lt: cor-n urna
scringa cnsangiicnta<la. L)cpois clc trcls mescs, cle c LIIV p()siti\.o. Sitr-ronc, t-nais t'otlht't'i<l.r t:<ln-ro L.rrrnj i nlr.l. [' l't'rtlt'r'
Vcrlta à rua hrclian«ipolis c tlispara (luatro tiros na cara rlcla. lrcla c lirrtc. É,,,rt,1,,,ri1iYa.Viri .\;lraia to<los os tiias. (i«rrllllanllci

r.a r,lc batall-ra na rlla Augusto Sc'r,r:ro. Não lcnt mc<l«r <la (l()11('()r

Suzi, c«;r'rhccirl;r corno Suzi Iircirc. E , 1r-.rrst'xual rnais r.ôr.rCi.r. Sr.rl-rPrc gcl-rtil t,ortr ttlrlrls. Fl intcrna<la no hosllital. Morrc

vcll'ro rlc São l'aulo. Scsscnta anos. Não Íaz mais t inuo <lias rlcPois. Não tt't.tt l.Iliília. Scu t'or1lo Vai Par:i a Llniycr
l)r()grama.'l'raba-
lha c:orl«r cozinhcira elr Llnla casa ontlc rn()rall ()utr()s <lez trans. sirlarlc «lo 11io.

Berbe c lturna rraconha vintcr c (luatr() horas por rlia. Morre rlcAirls
no hcispital. Valmor, a prol)rictária cla casa, cuirla clcla aÍ'ctuosa- I'ara rnitn, clc tinha licatlo malut'o. Não nrt' largala. Joãcr
mcnte attt: «r Ílrn. ()rganizr r.pJ{J () r'nter-l-(, tarnbém. Soliclarictla- ['aul(), rcjcitatlo c'orno Alttàlltc, r'oltaYa c'omo t:litlntc. I)rimCir<l im
pkrrava, tlcpois t't'ttr olrrigava: I'ago o l)r(){rall}a, clllà() \'()cô tcnl
(ltlc
rlc rala para utn transexual.
rlar. lrara r-nirn!'li>rlas as noitcs liizia o shon.zinhct. Eu ia Pa|a a c'anla e

Gcral<lina <lc llecilc. Cincliir:nta c <ltiis anos. Gcrencia tlclt«ris arran(.à\'a o rlinl'rciro lrCru na cara tk'lc. () trairl«rr t'horar,a. Se

uma casa habitarla p«rr rrintc transexuais. Antt'cipa o <linheiro clas rlanaYa fi:ito tloitlo, t'ttt tlutt'i;l su.l llJlll()rJ(la. Cht'guci a l)cllsar
passag(.ns para a Europa. É muit«r amiga rla polícia paulista.Ti»na quc o córcl>r-o rl,:lr- tiYcssct Virarlo l)àç()Cir. Ellt crinra clc n'rirl-r, juraYa
picada rlc hcroína. É sor«rpositiva. Raspa a zero o cabelo rlc clois quc era arnor. I)cbaixo clelc c:u Inc cntt'cliata, cansacla r:laqucla insis-
trans cariocas que paquet-a\ram tênr:ia. A situaç,ão ltiorou tlia aPris clia. Mas «r rlinl.rr:iro, passatla a
sc-u gar()to. f)cscc no ac-rop()rto

91
t-t
A PRrNcrs,q FtlnN''rlir''t F'lnt'ts trt' At.ltltltll:R{ltll:/M;\Lllllzlo JIN:'lt't

com peclradas --as


ccninha inicial, cu cmbolsava numa boa. Depois ele ficava ali me \r'rebcntacla pelos paus c correntcs' Torturada
alugando com um monte de histórias. Não me deixava trabalhar. rrrulhcrezinhas com seus maridos, os
lilhiúos com os papais'
Floriano Peixoto es-
Larguei a avenida Augusto Severo e fui para outra calçada. Mas não lirirncos, lin«las Íàmiliazinhas brancas' A avenicla
Estraçalhada' Eu mc sal-
mudou nada. Ele tinha grudado em mim como cachorro gruda em r,i lirrpa por uma noite, Karina assassinacla'
cadela no cio. vci p<tr um triz, com os sapàtos na mà() t' a aiuda da sortc'

C) quc eu
Quanclo finahnente o cloutorVinicius me opcrou novamente Já conhccia
o maPa <le São Paulo' todas as calçadas'
csquentar' As minhas ti-
o seio, para mim o Rio era só mais uma cidadc a ser deixada. No dia nio conhecia cra o Írio' e as rouPas Para
22 de maio de 1986, dia do mcu aniversário, decidi partir para São rihan, sitlo cscolhi(las par-a a vitla rle puta
oll Para tlar uma de macla-
dc noitc nào prott'qian-r'
Paulo. Cidade eclucada, civilizada. Assim cu pensàva, assirn c-spera- nrc. I)uclica ou dcspucloracla' Minhas rouPas
va. Que idiota. 'l'ir,equc me cquipar c()m um impermcál'cl quc ia até o 1lc' Quasc
chegar c largar o lugar clc
nLla, rrrc escontlia debaixo tla capa 1-rara
Tinl-ra uma bunda
"Limpe São Paulo, txate um trar,esti por noitc." Era cssa a me- trabalho. Na c,alçacla batalhava nua Í'cito Pantcra'
trópole industr:ial do Brasil. Anunciada nos muros, uma gucrra sctrsacional e t' collants e tutlo Ir«l lugar' O mcu José llaulista
pcit<ls
-11'\
contra a peste Bay e os travestis -- contra o Vírus e a prostituição. .aia com. um Pato' E-gJ&-n9--ur9§!l*r**!:g*Y§l{i**tl-t:gd''-u"i "'
a.,*o, <lelc, quar]clo r-,r.-'\"v;';i'"
Chegaram em massa numa scxta-feira à noite, surgiram no Íim da I)crturbava o run<ro <r.s olhos clelc, cntrc "r
Mas a n<'ite eln São l'attlo t'rl I'ria' c para
tontittu'rr a st'r
aveni<la Floriano l)eixoto. Uma nuvem de decência pública. Türbu- ,rproxitn.tra.
Uiscluc c votlca' Entorpccia <>
lenta. Uma procissão clc olhos de vidro, ofuscantes. Faróis <1ue pantcra cotrrecci a bcbcr tk: vertlaclc'
devoram a lua, caninos brancos. Motos, carros c gt:nte a pé. A passo, i'órcbro, ()s Estava sozitrha c <ltlspcncava'
Pcnsamcnt<ls'
Ientamente. As mulheres com os mariclos, os filhos com os pais. Agi-
Oliria' a
tam peclaços de pau, tÍazem pedras e correntes. Lirnpam a cidacle. I)epois cle d<lis meses' aluguci um aPartamcntinho'
Não me discrimi-
São uma nuvem que avanÇa no centro da rua, margeando as calçadas. scnhoria, pccliu só pontualitlarJc no Pagamento'
minhas histórias
Eu já tinha Íicaclo esperta, vigilante. Fazia o meu trabalho cscondida nou. Nasceu uma amizatlc' Ficou allaixonada pclas
fàlár'arr-rc>s tL: homens'
atrás de uma árvore, na cur\ra. l)ali bastava um olhar clc relance para tle amor e Por mcus projetos' Entrc mulhcres'
ter uma visão panorâmica da avenida e llcar atenta. Karina, não. Ela EIa mc rt:speitava Porque, tlurante o
clia' cu cra discrcta' saias com-
lcvava clicntcs Para casa' Passava
estar.a de corpo e alma entregue ao seu sÀorv, empenhar]a na concor- pritlas c anclar <lc scnhora' Nunca
o trans c cscantlaloso' Por
rência. Por isto eu os vejo e ela não. Acclerarn, dcz, vinte centauros silencic>sa c ela gostava' Porque t:m gcral
roul>o e «lroga' assal-
de motocicleta.Vão adiante da massa ameaçadora e cercam Karina, ondc ele ancla, tctlt sermPre confusão, putaria:
que fica no meio deles. A infcliz virou caça, é presa está perdida. tos e assassinatos.
-
93

il
A I)lrlc.r,s.l
[:r nN.\xo,r [;.lrrr,rs r.rr. A r rlrrrpr rr,Hrlrrr, / M,qLrnrzto Jalxt,t.n

('.rstiga\"a.r honra clclt:s. ['or culpa rlc gentc c()mo cla,Tôtê e outras
Margô: ltcle clc co«leiro c cspírito
rlc lobo. Mulata alta, um
mctro c ritenta. o srion'rrt:ra era inoc'cntes l)agaram c()rn a virla. Eu também, l)()r l)()uc() não tive o
a traiç'ã.. F.rça rrc rutacrrir
cre n)csmo Íirn, culpa rlc umazinha (lLlc era a minha cópia.
na ativa. IJcm vcstirla c
pr()vocantc. Mas taml>ónr prcpotcnte '.xe
c <le_
gcncraila. Subia no autorrrjvcl c, (.om () (l
Batalhava na avcnirla Inrlian<lpolis c urrr scnhor muito ccluc:ar.lcr
ganta, assaltar.a .
clie,te. I)eixar..r .,,,,,,.,,;:';t :*Ti: ::_ .1"li mc l)erguntou () Ilrcç(). f)uzt'ntos c'ruza<los pcla tr-cparla só crrm
boÍ'ctõcs t: a chavc qucrrratra rrcntr.
rra ignicão. Era presr:rvativo.Varnos para Llrn n-rott'I, sugt'ri. Não, r,am«rs tlansar aclui
cla quc, rrer:i<ria
c.r.ro dc'ia scr f-cr'to o scrviçr.. E . José' tinha quc ser ,rrcrrie,te n() carr() lncsln(), clc t'r'spon<lcu. Mt: lcr"ou para um cstaci«rnamcnto
Ilor(ruc' rl' contrário' \'oa'a,-l s()c()s e ràcarras. M*gô quc- nã«r era o <lc scrrl)rc. Falava [rcm, r'ia-sc rluc cra u]n proÍ'cssor:
cra má c pcrr-
vc.ti<la' I-utava Ít:ifr r<l,o c()ntra
ho,rcns ca ,.rír:ia. Na r:arçarra, Caitt o scu bat«rnr, clc <lissc olhantlo lrara l>aixo, c()m() (plcln l)roclrra.
ex,r'rnha ()s seus troÍéus: 's
Pist,ras c caniv.tcs st,qüestra<r.s ao ir-rin-ri- lnstintivatlcntc lrrc abaixci, tatcan<lo com a palrna cla rnão. Foi aí que
go' Llnra gucrra Í'cita trc tantas pcqucra.s
rratarhas r:lc mc al)()ntou lu-n rcr,<!l'r'cr no ouvirlo: Irilha <la putA, r:am{rs acr:rtar
.cssoais. A .r<ls-
tituiç:ão,ara cla cra issr.
euanclr., o inli:liz quc caia.as suas garras as «rntasl Não, vocô cstá cngirna<lo, não sou cu! I)r:volvc o dinhciro
türha algurr-ra i«lóia oxtra'ag.1rtc,
cra (.al)az rle cstr_r,rá_1,. Não e a ('()rrcnlc rlc ouro! l'orlc llcgar tu<lo, rnas juro quc não Íui eu. I)or
torrava l-r.rmôri«rs c ti,ha uma
Íorça anin.ral. E lácil inraginu,-
u 1.,, fàr'or, Josó tliabol «rll'ra bcn'r na minha car.r, não Íui cu!'le mato
rnilhaç:ã. <lo
Prbr.-croitarir. Ia Para fbrrcr c saía Íb<ri<r,: uma Í.cri<ra ilo rrcsmo jcito, bicha <krs ir.rfl'rnos! Dcvia atirtrr nas rluas infêlizcs, eu
rn.rtiÍlcantc' Mar gô cra a ruíra rr«r
n.rcrca<r.. A a'cni<ra In<rianó..lis não tcnho narla a vcr! 'lL rnato <lo rrlcslllo jcito, scu c'u-arromba<lo.
sc lil>cror-r <rcra c.rn quatro lirrs caril>rc trinta .
.it,. Mais quarenla Puxou mcus calx:krs, nras t'lcs Qut'ria A c'crtcza, Íicou na
nãr> saiarn.
c oi1<r horas rlc sofi-imcnt o atroz. rlúvi<la. Mcus calrckrs clJm rtrcus, trio t t'arl postiçr)s corro os tlclas.

Qtris r.cr rninha cartr:ira rL- i<lcntirlarlc, licou conr,cncido tlc quc não
cu Íbsst, santa. T.inl,ra Íicarlo cspr:rta,
Nã<-l <1ur.:
tinha sickr cu. l)r'u <lois soc'«rs na rnirüa cara par-a sc consolar.
chcia <lc malí-
cia' já rlissc' o,crca<r«r rlc sã- pauro
tarnbém tinha Ílca<r, «riÍícir,
cncal>ctarl.. A. ,r,stc, quanrir> Eu conhr:cia acluclazit'rhas c1r-re tinhan'r rouba<lo o tipo.Traba-
r.rão tc c,lrsumia
scntia ir.rconto'.,,inirro;, atacrava
.or tlcntr-o (cu nrc
lhavarn juntas, .rs duas mc:r<las. Erarn cspecialistas cm scrvicinhos
1;cr. Iarro rrc Ítrra (:()m r)aus c rcvfir'c-
rcs' o <linhcir. já .ão crlrria cspcciais. Sabia tambóm o cndcrcç'o rlclas, nras nãr> rlissc nada.
tão lrácil. Entã, eru tamrrr,m, rrt-.
r,r:z .n
cluanrlr, para i,tcirar a ,.itacra, Dt:pois rlc uma scmana as rluas tinhanr sumirlo. Balea<las e
sur>traía urnas c.artciras. Só
rrc crien-
tes bêl>atlos rnar:onha<los. S<i quan<l<; crsta'An1 torturarlas. Jogarlas r'omo Iix«r na lixcira.
'u rr_ruit. <l«rirl.s c s.rl
condr'ç:ircs rlc rnc rccorrhecer.
Margô cxagcra\ia. Não c:r-itico
quem Dois mil c cluinhent<ls cluilômetr<)s mc scparavam rlc Cíc:c
t.ma <linhcir-r dos c1r-rc tôr-n. Mas.,ru
o.,u[ro,,n c.m aquclcs i.rbrizc-s. ,u, Á10.u.., cArlclai<lc. Um suspiro longo, uma melancolia. Reco-

9+
95
A pRrNc.r.s,c

FLnN,qN»,,\ FRRt,cs Dr ALBu<2ut':ltqur/ Mauntzlrl J,tt'lNllt-t.l

mecei a sonhara gran.e volta ao lar: Fernancla, Íêmea


e aÍ'ortu-
It's cinco vezes. Da tcrceira, eu já tibha gritado: Deixa eu trabalhar,
nada. No corpo mc sentia bem, renascida.
Mas a fortuna cstava
,le:mônio! O meclo não deixou que eu me aproximasse. Peguei uma
longe: na Europa, era claro. A via mais
longa era a mais brevc.
Para construir meu pequeno tcsouro, pccira mas clesisti cla icléia. A moto, na garoa, envolta na Íümaça do
para vr>ltar para casa. t'scapamento. Ele, montaclo, me olhava fixo. Resolvi provocar, rebo-
lan<lo com andar de baiana. Levantei a saia para esfregar minha bunda
Olíria rlava conselhos para o rncu bem:Vocô
tcm que encon-
trar urn homem, Fernanda. Dcixa a virla bcm na cara dele: Olha, imbecil, pode vir arar a vala, se você tiver
cla calça<,Ia. Escrcvc para
araclo que baste! Ele foi embora, seguiclo Por um coro de palavrões
j,., nlãc,.ula dcvc cstar se acabanrlo <lc tristeza. Pcguci
,, ',
, lápis c papel
que não acabava mais.
"1 ',.. L' ('scre'l para casa. Antcs, no cntanto, Íui a u,,r ÍbtógraÍb
,: c cas_
;; ' - 'tigu.i três poses <racluclas. Estou'ir.a, sou bela.
".' transexual, csta
Passaram-se três clias e c'le voltou a me plantar o farol na cara'
cra a imagem que cu qucria mantlar.
Fcchei o cnvclope, rnas antcs
Tomei coragem e scgui a luz para xingá-lo cara a carâ. Mas ele, como
<lc 1>ôr no correi<l Íicluci
na..vi<ra, tive rnccro rrc cxagcrar. como
Cíccra rcagiria ao impacto? Não cra homcm urna enguia, escapuliu. Depois voltou Para Perto. No mesmo lugar'
o lllho çre ela tinha
As colegas r,icram me perguntar se eu o conhecia. Se aquele era o
pari<lo? Foi assim quc <lcs'iei a carta
para urri cn<rercço obríc1u..
Man<lci turro para Arrelai<re, a irrnãzinha mcu protetor. Eu clisse que não, e fomos totlas para cima dcle' Ele
cntenrrcria. As paravras
ziguezagueou tle novo e escaPou de uma tesoura<la que teria Í'eito um
ajuclariar, a prcparar . cnc.ntro .<im
<l«:la n-rc
minha rnãe. c.rn belo estrago. Naqucla noite, novarllcnte me impediu de trabalhar'
aqucla quc, cm público, mc qucria
rnilitar.
Voltei para casa irritada, ameclrontatla' Oliria, mulher de bom senso,
Iançou ahipótese de que João Paulo tivesse voltado. Esqueci de con-
Irnrir-el, () ,r()t()r ainrra Iigarr,. APag«ru
as ruzcs «ra rnrt. t,t... tar. João Paulo, o louco, aquelc insistente, depois do abandonr> tinha
tinu<>u rn.ntar,r. LI,r.aPuz c.rrria s('rr r()sto. [).is rrur-ac:.s \,.(.r,
urlr l)ara rcspirar. L.rr, gut:rreir.. À <ristâr.ia,
l)ara me seguido até São Paulo. A chateação clurou uma semana. Mas São
p,r 1rás rra ár'.rc qut,
nrr' 1>r,tegia rl.s r'ral-iatencionarl,s, Paulo, sorte minha, era maior do que a sua loucura. Me esconcleu
t.u c«rntr.la'a ,cu, ,-rorimcr.rtrr..
u'r carr«r cnc()stolr
bem, e ele acabou desistindo. Quando aluguei o aPartamento contei
P.rt. cle rni,r. LI,r <rlir:ntc, lt,,tarrcatc. A ,r,t.
arranr()u r cobu atrás rlr> r'.rr.. A<r'lt'r1), para a Oliria esta história também. E ela, a sábia, agora juntava as

Pisc<irt . Ía*rr
n()\,arric,t. a moto
cm cirna <lo espclh.. Iluzi.,u c , ÍLrlan, coisas e dava essa interpretação. Respondi-lhe que o homem da
rl' crarr. rc'r,r-r . ,rai.r sus-
1o' liri não poclia scr João Paulo. Ele era grande e esse aqui, pequeniniúo'
sc mantlanrla st'rn ,urir () A moto sc cnfiru no rastr()
I)r'(..(1).
L'Pass()Lr rasParclr, ca(lLr.r1to e,
Então anota a placa e clá queixa na polícia, concluiu a demente' Tá
air-rrla nã. tinha r,e rcfirit. rla s,rPrc_
sa' c,nrPlt-.,, a xrlta ,«r cluarteirã() ccrto, Olíria! E se for um policial? E se for um banclido e acabar
o r)i11.()u n()vanrcnt(, r-r. p,'t. rr.
partirlir' h-r-rór'el, sclttprc ('om o rn.t,r ligacio. prcso? Aí, sim, é que estou Íiita.
Es,arrt,u ,rcus clit,r.r-

96
Ft,ni{'q)'Jo'{ F/\RlAs l)t. Alt}tlqut'nqul/ Mrutrtz-to Ja:rut:lu
A PRINcr,s,c

Masaru Tàkeda, cara chata, japonês. Era ele o homem do r,r:irrnento naufragado, mantido só por causa da menininha'Vercla-

mistério. Reconheci Iogo quando me pediu o programa. Xinguei rlr', posso conÍirmar, era tuclo verdade'

bastante e mandei ele embora: Sai pra lá, clepravado, você me fez vivcm en-
Um homem casado! Além cle tu<lo orientall EIes
perder vinte clientes! Um revólver na cara abaixou minha tempe-
llt'si, Fernancla, não pode durar' Era ()líria' desde o início ela
se
ratura. Pior, quanclo ele me man<lou subir na moto eu já estava tão logo esbocei
,,1rôs ao meu romance japonês' Imediatamente'
praticamente morta. Empinou arrancando e eu me agarrei, aper-
intuito: uma convivência com o pcqtlenino' Ccrto' se
tivesse
rrrcu
tada com peitos e barriga nas costas dele. A cada aceleração, eu me teria clcscar-
ti<lo outra possibilidaclc, outro homcm, scguramente
agarrava. Quanto mais aperta<la, mais sentia que era isso que ele Masaru' Não porque
t.rtlo aquelc. Não sentia amor de l'crdade por
clesejava: sentir-se abraçado por trás. Era essa a fantasia clele. Só eu Procurava'
..'lc fosse de outra raça. Sir-nplcsmente, nã<> era quc
o
isso, inofensiva. Meu guerreiro seguia disparaclo sob os arranha-
Mas cu estava sozinha, c sozinha não sci ficar'
céus, e eu grudada nele. Bicha, pensei no começo, mas os fatos me

Masaru tinha vinte e três anos' Era sócio de uma


desmentiram. emPresa

que adrninistrava um restaurante e era


funcionário <laTclcsp' técni-
Em cima de mim, foi leve como uma borboleta. O amor dcbaixo cla mi-
co em informática. Domingo dc manhã, buzinava
dele, só uma batida de asas. Arado pequeno demais, ou o campo nha janela. Olíria e cru nos clebruçávamos parâ
vcr a rua' Ela olhava

torto Parâ cle: Com aquelc homem você não tem futuro'
cultivado demais. Mas depois maravilha demorou acarician- Fernantla'
-
do as minhas costas. Beijos, beijocas,
-
tantos beijinhos. Poderia ju- Oliria' Cara para
E eu, setnpre mais clócil: Elc me leva para Passear'
rar, era a primeira vez com um transexual. sorriclentes' Só
cima, Masaru nos enquaclrava entre duas amêntloas
ele apcrtado' para
Llm accno c eu dcscia. Subia na moto c abraç:ava
Muitos dizem, quem experimenta o amor transexual não o brinquetlo <lc scnrprc. T<>da vez me lcvava a lugarcs novos' Almo-
Mc lcvou
consegue mais passar sem.Vira uma paixão. Masaru virou cliente no rcstaurantc, Passcio com Íbto no Jardim Zoológico'
c,'o
me aPrcsentou à
fiel. Vinha quase todas as noites, só comigo, que o agarrava com até mcsmo na Íàzenda da família' O desgraçaclo
braços e coxas na moto que corria. Na intimidade, começou a me senhora Mitsuko, sua mãc: Quero te apresetrtar
uma amiga' clisse
uma mulher
tratar como se eu Í'osse mulher dele. Cada dia um presentinho, um ele.Eu não dissc palavra' Nunca sc'ube sc a velha viu
perfume, uma camiseta. Fantasiava uma amante e eu pulei dentro ou um transcxual.
daquela alucinação. No entanto, tinha aquele revólver na cara, e a
assim' Para
lembrança ainda me deixava desconfiada. Revistei-lhe a carteira, Masaru não pagava mais o Progralna, eu qucria
Só para nós <lois'
encontrei minha surpresa. Masaru era casado. Mulher japonesa e min'r só Presentcs, para ele nacla cle camisinha'
filha recém-nascida. Para se Íàzer perdoar as mentiras, falou de um tínhamos cluas noites inteiras Por semana'

s8
 Ptrtrt r rr Fr,nN.r:rnir F..rnr.;rs or At.tltt<]urnr2ttt, / MRu trrzlo J,llttNt lr t

Era feverciro (le 1987 e alguns meses antcs tinha sido for_ pêlos, aquele traitlor. Foram ondas cnormes, foÍbqueiras c malicio-
ma(lo o novo governo rlc Jânio Qua«lros. Com um projeto sirnples sas, durante tocla a conversa. Balançávamos na mesma direção. EIa,
e linear: acabar com a criminalirlade e a prostituição. L)csandaram
qucrendo me convenccr a largá-lo. Eu, porque não conseguia me
a matar travcstis c pivetes. Esquaclrõcs damortc, grupos dc mo_ âpossar dele totalmentc.
ralistas e polícia.Todos sc inÍlamaram, com respaldo do go'crno.
os muros foram cobe'tos por cartazcs: "Lirnpe são paulo matan- Olíria diz que você vai me deixar, Masaru.
do um tra.r,esti por noitc."As calçatlas r.iraram campo <lc batalha.
- Olíria diz que você não Pensa no meu futuro.
Eu só não vinha para a Europa por câusa rlc Masaru. - Olíria diz que você vai voltar para a tua mulher.
- Olíria diz que com você eu Perco dinheiro e tempo inu-
Não sei por quc tinha ciúmcs <laquclc homcm. Masaru não -
tilmente.
cra abs.lutamcntc () rrrcu tipo. scm pôlos c com o pau mínimo. Mas
a felici<ladc clue elc não mc da'a na cama compcrlsa'a com cuiclarlos, Olíria não diz porra nenhuma! Fernan«la, chega, pára de
c.m mil deliciosas atençõres. Ach«r quc cra por isso c1uc, quanto rnais -
Íàlar daquela enxerida!
me
o tcmpo passava, mais eu qucria ter clc perto. Tbrlo para rnim. Só
para mim. Tirclo mcu. C.,ro explicar csta cor-rÍusã.? Nã<l cra mcu Começamos a brigar e não paramos mais.
tipo, mas eu queria clc para mim. E assim, o ciúmc é () meu tormcn-
to. Dc um momento para outro comecc_.i a suspeitar traiçõcs e passei Você tem que parar de fazer programa, é perigoso de-
a contr.lar
scus passos com clois tcleÍonemas -
Por rlia. A inscgurança mais, Fernanda.
tinha planta<lo suas semc-ntcs. Na minl.ra cal>cça iá brotavam E você, deixar tua mulher e vir viver comigo! Quero um
''e^le- -
jantes: uma Ílorcsta, e eu <lentro <lela.
futuro!
Não posso, tenho rninha filha.
Com Olíria eu discutia <lia e noitc: Sabe lá quc mcntiras ele Então você nào me ama.
deve contar para a,ulher?, dissc, fingindo superiori<laclc c pouco_
-
caso. Mas um certo tom <lc voz traiu miúa liaqueza, mcu ciúme.
Quero ir para o Rio no Carnaval!
Olíria sc dcu conta imediatamente e mcrgulhou clc cabcça naque- - Não, você vai para lá desfilar nua e bêbada feito puta'
las águas. Deu cambalhotas, aumentou as onrlas. A língua rlcla r.irou
- Não sou tua mulher, faço o que bem entendo'
uma cauda «lc baleia- caí também na rc<le e comecei a mc <lebatcr -
cle tal modo que aquilo virou logo uma tempestacle. Embarcamos na \i
Quem forçou a trégua foi a polícia paulista. Uma
jo..9ni+1i9 I

mesma canoa, eu e Olíria, criticando aquele duas-caras, aquele sem_ me surpreendeu com a bunda de fora, no melhor do meu slrow'
, \,
1-:
loo IOI
A PnrNcrsa
Fr,nNsr»,r F,qRns DE AL.utrr2ulnqur,/M,runrzro ]^NNEr-r.r

Ultraje ao pudor e ficha. Os caras cle macaco me


seguraram dois
Olíria, satisfeita, tentou comcntar com um bem-que-te-avi-
dias no xadrez. Um deles tentou raspar
meus cabelos a zero. Al_
sei. Afundei o barco dela batendo-lhe a porta na cara de uma vez
guém fez com que ele desistisse. Masaru naquela
ocasião foi real_
mente um anjo. Mandou um advogado e ajeitou por todas.
as coisas com um
falso contrato de trabalho no seu restaurante.
Fui sorta e seguiram-
Mudei de casa, aluguei um apartamento na periÍêria. Che-
se dias de paz. Mas minha cabeça logo
recomeçou a maquinação.
guei a subir até o décimo quarto andar do novo prédio. Me vi des-
Você trepou com sua rnulher! Estou sentindol rnilingüida no asÍàlto, adiei o gran.finale. Comecci a bcber para va-
- ler, quase fiquei louca. Todos os japoneses pareciam com Masaru,
Você me trai com alguma bicha maldita,
- pervertido!
cu os seguia, chamava. Na noite, botava pra quebrar com um sáow
A progressão foi vertiginosa e logo chegou de baixo nivel, descomposto. Pcrdi a coroa, não era mais Princ_e,s4,
ao cume.
Ia à luta com qualquer um que chegasse perto. Batia carteila, meu
Você faz programa sem camisinhal Não hálito fedia a álcool. Se tivessc continuado naquele caminho teriam
- confio mais, Fer_
nandal me matarlo, com rer,ólvcr ou faca.
Se você rnc deixar, faço escân<ialo com a tua Íàmílial
-
Chega, tudo acabado cntre nós. Erarn quatro.Tiês mulatos e um negro. Bandidos. Revólver na
-
càbeça, me arrastaram para clentro cle um carro caindo aos pcdaços.
Corri ao banheiro pàra cortrr os pulsos. Elc se antci.ipou
a Me levaram para Í'ora cla cidadc e pararam na estrada: Fala, ontle você
mirn com um soco na cara. Foi ao ho,spital
para saber se c_ra soro_ esconde a coca? Eu levàva porrada a cada resposta negatil,a: Eu não
positivo. Deu negativo.
cheiro, só bebo e basta! Não acreditaram e amarraram meus
pés e mãos: Fala, ou acabamos com você! Não, levo vocês para a
Mas o fim verdadeiro veio algurn tempo depois.
euando a
mürha casa, teúo o dinheiro clo aluguel, vocês podem comprar o
mulher, mexendo na pasta clo marido, encontrou
rluas fotos. Dois
instantâneos feitos no po. O chcÍê, um crioulo, deu as ordens e levei-os até o meu prédio.
Jardim zoologico, com clecricatórias assina-
Dois ficararn tomando conta <lo carro. Outros dois subiram comigo.
das: uma como Princesa, outra como
Fcrnanda. o drama virou ca_
Pegaram o diúciro e o meu rabo também. Um depois clo outro,
tástrofe quando, remexendo mais um
pouco, ela encontrou a foto_
sem nenhuma proteção. Não se deram conta, mas treparam com uma
cópia dos meus clocumentos. Embaixo cla
Íbto, bem visível, tiúa o
nome e o retrato: Fernando Farias, pele morena, morta. Antes cle ir embora, o crioulo encostou a faca no meu pau:
sexo masculino.
Beleza, sc você quiser posso te operar agora mesmo! Foram embora
Era dezembro de 19g7 e Masaru me mandou
deÍinitiva_
me deixando com urna risada que era como o r,ômito do inÍ'erno.
mente para os quintos dos infernos.

ro2
IÔ3
FltrNr:l»,rFatlt,qstlI.Atuu<2rtrtrqttt./M,lunIzt<lJ,lt.tNrt't-t
A PruNces.t

No ar,ião para Lisboa cu sonhava rosas e ll<>rers. O cálculo rnas fotos que tinhavisto' Disse-lhe que não se PreocuPasse' que
Venh<> no fim clo ano' pro-
era simples, tuclo decidiclo: seis mcses «le trabalho na Espanha ou ela entenclcria tudo na minha volta:
quatro na Itália bastavam para mc aprumar. Organizei a viagcm n.r eti.
cm poucos dias. Cr»nprci a passaqcm sem pcdir clinhciro cmprcs-
cle fazer cscala em
taclo, para continuar in<lependentc. Viajei sozinha, não precisava avião aterrissou cm Lisboa clcp<lis
O
Casablanca. Eram nove horas dc
uma manhã clc primavera'
me embolar com as outras: através tlas histórias clas expulsas, iá

sabia tuclo o quc precisava satrcr. Na Europa a polícia não mata nas
do aeroporto de Lis-
ruas. Um paraíso. Cheguci na capital espanhola tlircto
e quatrocentos dólarcs para
boa. Dc táxi, doze horas tle viagem
t> motorista. Calle Atocha,
13, o endereço' A pensão' no centro
A cscuridão <lo lado clc fora da janclinha altsorvcu o tncu
c]a cirla<le . O clrlno c]râ um
jovcm brasileiro. Alcy, foi cle
olhar c meus pensamcntos. No vazio, minha cabcça se cnchcu <le histórico
tarifas' Mil pesetas Para a boca' duas mil
para
ansiedarlc e Íiguras Íâmiliarcs: Cicera, A<lelaitle ÁI"u.,r, ,rt"., (lucm mc Passou as
" aumentar o PreÇo até cinco' setc mil
cunharlo. A carta c()m as três Íbtos pl"ovocantes que n-ranrlei para r> rabo. No hotcl cu podia
três frascs em espanhol quc elc
Adclai<lc tinha chegado à ilestinatária, minha irmã tinha cun-rpri- pesctas. Pcrguntei-lhe tambóm
rlo a rnissão. Não sci tle quc modo, nras tinha prepara<lo Cíccra ('screveu cm ulII PaPclzinho'
para a visãcl clas Íbt'os. Antcs de viaial teleÍonei ltara sabcr o efci-
Dc Madri não sabia nacla' nãr me intcrcssava nada' não vi
to causa<lo. Adclai<le, entrc risos c lágrimas: Sc vocô souL>cssc,
tiases ern língua estrangeira me
Fcrnan<lo, nossa mãe ficou atortloatla, não acrcditou, não qucr na<la. Uma calçacla, um hotel, três
bastaram. E lógico, a murJança <lc
clima' as ruas' as igreias' os pré-
acrcditar quc aquela Íirto scja você.Tcirnou ft'ito iumcnto, diz
cla

que ainda não está catluca, que te pôs no munrlo belo c macho. dios. Quase tuclo cra iliÍ-erente, uma solenicladc' Eu estava Potlco

ligando. Na Europa não te matam a


tiros' Isto era importantc' istcl
Chora a tua morte, espcrra a tua volta: um milagrc. l)erguntci
De mim os espanhóis queriam
por Al<lenor c ela rc,spondcu: Não, não voltou. To<los tlizcm que bastava. O resto, coisa para turista'
f'echar o negócio' Ma<lri
continua a vagar pela caatinga, pcrseguinclo urna visão. l)erguntci sexo e eu tinha vinclo clc muito longe para
valia a pena. Eu tinha essa certeza'
A ela eu tinha confiado minha
p,r. Ál"u.o, scu mari<lo, e cla mc confortou: Não, Fernantlo, st:
mais longo era a t'ia mais curta
é elc o problcma potle voltar scm mc<lo. Ele cntcnclcu, Íicou cleterminação, a particla' O caminho
isso uí' a relação com aquela ciclacle
mais comprcensivo. Falci taml>ém corn minha mãe, para tranqüi- para acumular meu tcsouro' É
o qualto' tomei um banho e pecli a
Alcy que
liz.á-la de qr.re cu estava vivo. Ela rcconht:ceu minha voz: Fcrnan- lá "rauuo clara. Aluguci
no Paseo cle la Castellana' no
dcr, o segundo macho da Íamilia. Perguntou como eu ganhava a chamasse um táxi Para ell ir batalhar
que
vida, contei uma rncntira. Dcpois falou conÍusanlcnte dc algu- ccntro. Estava cansatla mas não hcsitei' Cinco trans brasileiros

ro5
to+
A PRrxcrsa
Ft,nx,tN»,r FAnr,rs nE Ar ruqur,nqur,/ M,runrzro J,lxxt-lll
moravam na pensão me disseram
para esperar por eles, para
eles me iniciassem. Farejei
que Fresca -- que diabol eu estavâ frcsca, as outras, murchas.
a putaria e clisse que não,
que eu queria -
Não que fosscm mais feias, pelo contrário, eram lindíssimas,.muito
ir iogo, sozinÀa.
rnais nrulheres do que eu, pelo menos algumas. Incandescentes, to-
rlas tinham trabalho de sobra. Bem confcccionadas, os Josés espa-
Botei o pe fora do táxi e fui nhóis compravam importados. O diabo sabe o que cles compravam.
cercacla por palavras rápiclas,
palavras desagradáveis. Cortantes Os corpos eram encantadorcs, bombados com artc no Rio ou em
e dcsconhecidas.
Uma briga
com más intenções. Eram
todos transexuais espanhóis. São Paulo. Mas no rosto, na<la, uma porta barrada. Por ali não se ia
O choÍêr
do táxi tinha me largado na
calçacla er-rada. Fui rápida c entrei a lugar nenhum. A vida, a morte rlcixava murcha a superficie. Heroí-
imediatamente de volta no
carro. vortei clesiludi.a na, cu soube dcpois.Torlas na on<la, todas drogadas. Eu não mc pi-
o-u.grr.u,lu
para a pensão. Alcy me explicotr " cava, ainrla não cheirava. Saltava aos olhos, mc ven<lia bem.
o crro: As brasileira, ficam ,1"_
pois da ponte, naquela mesma
rua. podia ter acabacio mal, prin_
cesa' os trans espanhóis têm
ódio cre vocôs. porquc vocês Mara, chamada <le Mara Scxy, uma conhecida do Brasil, quis
abaixa-
ratrr as tarifas. por causa
da zorraquc vocês fazem pelas ruas com <lesfàzer, invejosa, <la minha super solicitação: Princesa, você trcpa
os clicntes c cor,, a porícia'
Subi para o quarto e crormi
clireto até grátis ou Íâz dcscontos colossaisl Não, eu aplico a nossa tabela, sou
a tarclc do rlia seguintc.
proÍissional !

O mcu primeiro espanhol pagou Trinta c dois clientes- não é brinqucdo , Íiquei com o
duas mil pesetas. O segun_
do, mil. Depois foram mais rabo doendo. Pelo amor dc Deus, muitos, uma boa mctade, ti-
clois mil. Eu dcscia cle um
carro, subia nham passado por outras vias. Mas o restantc, que nào ela pouco,
em outro' Rápida, rapidíssimos
os europeus. verdacieiros
coclhos. tinha transitado por ali mesmo.
Eu nunca tinha visto tanto
,inheiro, nllnca tinha trabarhado
tanto.
Tinha caberos pretos até a
cintura, rninissaia brasireira
sobre crois
saltos que me puúam na Quando o trabalho i: demais, tem as pomadas. O assunto é
lua. A única morena da noite.
yaivém acelerado. Foi um desagradável, cru, mas necessário. As pomadas, cu ia dizenclo, Xi-
A cada <lez minutos, um
Jose queria minha boca locaína e Furacin, eram as que eu usava no Brasil a conselho das
ou me comer por trás. Trinta
e dois clientes. Não é Êácil
imaginar. vetcranas. Acontcce, pode acontecer: entre dez clientes, pode ser
DiÍícil' rearmente' Foi mcu recorrl
pessoal. Eu estava rresca de Brasil
e isto dizia alguma cojsa que dois ou três tenham o pau Íbra do normal. É a minha estatis
aos clientes. Eu sentia,
pelo modo como tica, inteiramentc pessoal. A ruptura de uma veia no ânus é a con-
eram atraídos pelo meu sorriso.
Venclia exotismo, e só às
seis .a seqüência freqüente. Nesse caso são três ou quatro dias de repouso
manhã acabei de realizar o
últirno sonho. Exausta.
e muito dinheiro pelos ares. Para evitar inciclentes, pomada anes-

ro6
t07
A PnlNcr,sa
Flnx.,ri'rn,r Flrrrrs or, Antrr]rurrrlrrr/M.qtrH.rzro .l,tNrr,r-u

tésica, que aumenta a elastici<lade. Antes


<lo trabalho, contra as in_ go ao banco trocar as pcsetas por <lólarc,s. Foi a rninha primeira
Í'ecções, cu cnÍiava uma aosc de Furacin,
pomada antibiótica. ser-
via também como pl.cvençào, contra os I)oupança em verrlinhas. Alcy Í'oi brincalhão: Se a Íéria é cssa, po
excessos.
rrho uma pcruca c venho para a Castellana também. Oh, Alcy, r,ocê
Tüdo cra diferente, antes rio tempo da camisinha.
Há clcz ia Ílcar com â bunda <loenrlo!
anos' Quando o sexo não tinha aincra viraclo
este grancre prorrre-
ma e eu trabalhava sem nada. Então acontecia
clo esperma dos Na calçacla, muitos clierntes me tomavam por Perla, a minha
clientes Íicar no intestino. Dcpois de cacla
um, eu fazia alimpe- inspiração. Ficluei entusiasmarla com a notícia <lc quc ela estava por
za, mas nunca ficava perÍ'eita e o restante
só saía rlcpois .t. ulgr_ lá e comecci a perguntar por seu l ararleirt>. Soube que cla, mesmo
mas horas. Esses acúmulos e os machucados
eram terrcnopropí- cnl Matlri, cra a rainha. Pcrla tlo Rio, tinha sid«l ela o mcu rnodclo,
cio para infecções. Na época, se usava
pcnicilina. Injeção feita o deÍinitivo. I)rinccsa & Pcrla, irmãs gêmeas. Duas jóias <lc Severina,
pclo farrnacêutico, pcla amiga ou pela veterana.
a bomba<leira. Fui pcrguntanclo dc bicha em bicha. Eu, a cópia, cm
l>usca clo original. Tt;rlas a conheciam, me reconhcciarn. Mas nin-
Mas, às r.ezcs, clo fundo clo abismo __ surpresal _,
ouve-se guém sabia onde cla tinha itlo parar. Foi cnrbola, cla assirn qnc rnui-
uma granrle gargalhada. Aconteceu antcs
do tempo <la camisinha, na mistório. Dcpois vcio a inÍormac;ão: Perla não quer
tas rcsolviam o
Bahia' Eu tiúa já Í'cito uns quatro ou
cinco cricntes c tinha passacro
scr vista, só por vocô, utra exc:ecão. Diantc de mim, ela me olhou,
uma horinha scm nada, sem trabalho,
quan<lo chcgou u_
1nré .1. nós nos olhamos. A c<5pia c o original . Dcita<la cm uma cama, <lentro
cinqüenta anos. Um camponês ruclc. Veio
logo crn cima c o vair,ém <le um quartinho clc hospital. Ai<ls rnanif'csta cra a scntcnça. Nos
rleu em sucção, aspiranclo, para Íbra .to
â.rri'o rcsto .l"r,,r;" p";.; olhos clc:la, Íl'csca como c'ra, não passci <le uma sau<ladc. Uma Íbto-
clientes prccedentes. O pobre matuto
se deparou corrr o mcmbro
graÍia amarelcci<la, urn passa<lo pcr<lido. Pcrla cstava morrcn<lo. Bri
banhaclo dc um esperma que não era
dele . Viu que escorria dcnso,
lhava, rcllcti<la nos mcus olhos, toda a crucl<latle <lo meru <lcstino.
lbra da cabeça do pau, e Íêz uma cara cle
parvo, aparvalhaclo. Abso_ Insuportavelmente. Não, não sou a cópia, cla não é o originall Gru-
luta perplexidade. I)assou um minuto
e ele tirou as conclusões: ohr <lcnta, só de ver olhanrlo cla clue me olhar'.r - , jogou cm cima
Virgem Santa, vocô goza pcla bunclal Ficou
pasmo, scm ação. por cle mim aquclc hr>rror cle futuro. A docnça. Eu, não, a ruína <lela nãcr
nada no munclo eu iria <lesiludi_lo,
c.rrigi_lo. É verrlacle, .lirr" .ir_ r,ai scr a minha. Vou me lir,rar rlcssc <lestino, <lcssa pr<>Í-ccia. Perla
do, eu gozo pela bunda.
não cspcrou, não conseguiu sup<>rtar. Sc matou dias rlepois, com
tÍna overtlose de hcroína.
Tiinta e dois clientes. No dia seguinte me
clediquei às poma_
das e ao repo,so já tinha contado o dinheiro. uma
noite madri_
-
lenha valia um mês
Foi por culpa cla Íilha <lo Rei. Passou à noite pclo Paseo de
de Brasil. Fantásticol pe<li para o Alcy
ir comi_ la Castcllana num automóvcl brilhante, cheio de pompas e luzes

lo8
ro9
A Pnrxt rs.q
Fr,nNaNna F,rtrt,rs nt, A t.nuqLtt,nqut,/ M.cuRIzlt) J,lnNet.t.t

em volta. Foi assim que viu todas,


esplêncliclas e nuas. Assim con_
Acabou sentlo um camiúoneiro cspanhol quem nos fez atra-
tavam os trans _ as putas. Mas
a filha clo Rei da Espanha,
sempre vessar a Íronteira.
segundo elas, parece que não
gostou do espetáculo. Tâlvez pela
Com mais tluas c:aronas chcgamos ao cruzamento da cstra-
exibição excessiva de tantas bundas
imorais. Târvez por causa de
da Marselha--Nice. Estávamos alucinaclas, sujas c Íâmintas' Bri-
tocla aqucla imigração invertida,
do Brasil ao centro <lo antigo im_
gamos, etr e a icliota. A nojenta cismou com a minha mala só por-
pério. Pegou a caneta e escre\reu nos jornais: ..Veados,
é preciso que ninguóm parava. Para calar a boca cla cretina, joguci tudo na
limpar Madril" Foi por isto, explicaram
as minhas colegas, que
depois de uma semana que eu
beira da estrada. Não mudclu nacla, Ilcamos ali a noitc inteira.
estava ali, os guarclas me
pegaram Chcgor-r a polícia, nos escondemos. Sctrr visto, cra erxpulsão na
pelo braço' Gentilmente, crevo reconhecer,
Íui con'iclacra a liberar ccrta. f)e manhã voltamos Pâra a cstracla. Antcs tivemos outra
a calç:ada. Foi culpa cla filha do
Rei, <lizia_se, e Íui obrigada a re_
fazer logo as malas e partir
briga. Definitiva, rlesta vc-2. Ela voltou para trás, cu segui cm
para Milào. O centro histórico, depois
daquele artigo no jornal, ficou
Íi'cntc na clireção cla ltália, e,rn busca cle Íortuna.
irnpossiver para os trans brasilei-
.,rr. É.r-o, toleraclas só na estracla.
No escuro, fora da citlade. Nas calça<las da via Mclchiorrc Gioia, perto da cstação na
LIma miséria, perigosa, além clo
rnais. Muitos clientes não aparc_
ciam nos encontros. por isso decicli
Corso Garibaldi, tlcixc:i clc saber se era macho ou fênlca, mulher
mc mudar. minha primeira noite, quc
ou homem. Foram eles, os milancses <la

me confundiram as idéias. E não cra porque os seus olharcs estivcs-


Combinei com uma bicha da
pensão, eu conhecia o caminho
scm voltatlos para os céus quc e:les não viam o mais homcm de:
e algumas palavras em italiano.
Outras também me deram endere-
toclos os hclmcns, o Anclrógino: o A<lão bissexual-
ços úteis em Milão.
Não, eles não pcnsavam, Pagavam e Pcgavam. Olhavam para
À{adri--Barcelona foi a primeira
etapa. Tocla de trem.
baixo, no mcio rlas minhas pernas. Foram as mãos <leles, seus dcsejos
Barcelona_Figueiras, a seguncla.
Só dc táxi. miúa Írágil certeza cirúrgica: Fcr-
cstranhos que cmbaralharam a
A cem quilômetros da França, na
estracla, comeÇamos a pe_ nanda ainda precisava <le um esÍbrço final, um Pequcno defeito a scr
dir carona para entrar. De carona,
um caminhão era o icleal. Dois
franceses nos deixaram subir
eliminado. Não, para eles aquela impcrfeição era decisiva. Funda-
com a promessa cla entrada clanclesti-
mental. Logo me clei conta, no estacionamento atrás do Luna Park.
na. Antes quiseram transar. pouco
antes cla fronteira, os putos nos
Foram quinze, c quasc todos guiscram tocar. Qucriam ver, queriam
despejaram na beira da estrara.
saquei rogo que a coisa estava
mar- sentir meu pau duro dentro da mão. Só assim gozavam; mesmo as-
parada e fui obediente,
submissa como um carneirinho.
A outra sim, é preciso clizer, em cima de mim, muitos cleles eram homens
resolveu aprontar uma cena. Ganhou
logo um soco na cara e Íicou
sem a mala.
pra valer. Quando o primeiro clicnte tomou a iniciativa, achei que
era normal. No Brasil também acontecia, havia também essa faixa cle

III
A PnrNcr,s;r
Flun,tNDn F,ltttrts Dr Al.cutlttt,ntlttr,/Mi\LIRI/-l() J,llne tt t

mercado. Mas, no décimo quinto,


pcnsei quc Milão inteira fosse de_
mo, o clono, quc prol:unha e providenciava. Têlefbnava logo Para
pravada. É, p.r.qr" quando um
José vinha e pagava bcm, eu, espon_ a clelegacia quan<lo cncontrat'a na pcnsào alguém que traficava,
taneamente, pensava que ele
queria minha parte feminina. Mas de_
brigava <le navalha ou gilcte. O mcsm<l acontecia com quem não
pois <laqucles quinze, e foi só a primeira
pro\?, me aconteceu dc respeitava o regulamcnto: dc tlia, ninguém saía cla pensão vcsticla
tudo. Era macho e fêmea que me
queriam. tle puta. Nenhurn clicnte era reccbido nos quartos. No coniunto
me pareceu uma boa, ató mcsmo o tlono policial .

Oitocentas c clcz mil iiras, resultado


rla primcira noite, me
ofercciam uma boa saícla para aqucle
clcsnortcamento. Um toma_ Um clientc de quarcnta anos frcou o carro na fientc clas mi-
lá dá-cá, um compromisso quc toclas
as pessoas, em alguma me_
nhas ct.rxas e cla janela parccia sugerir algo extr-avagantc. Eu, quc- não
rlida, são obriga<las a aceitar no -,.
trabalho.
Nunca cntendi sc os enten{ia italiano, respon{i colrl o sernlão <lecorado: trinta com al,'
milanescs compravam uma mulhcr
com paLl ou um homcm com
boca, cinqücnta a trepada. No quarto' duzentos, c eu os l""u'u 1'u'o|li
peitos. Mas isso não intcressà\.a, era só
1>or trabalho, rlava pé. No o Bari ou para o sercna. Elc insistia com detalhes quc eu não conse-
Íun.o, aprisionarJa num lirnite in'isível,
eu trabalhava por um Íu_
guia entenclcr. Entrei no cal'ro assim rnesmo e atrás clo Luna Park elc
turo totalmente í'eminino.
tilou lbra um par de algemas. Era assiflr que clc me qucria, amarra<la
ao volante. Eu <lisse que não e cle <lobrou o PreÇo' Continuci a recu-
Encontrei acom<ldação na pensão
Giava, na Via «lel Lazaret_ sar e clc Íbi pirando. Ficando excitaclo com a cliscussão. I)issc umas
to. Rcencontrei um pedaço da rua Indianópolis
c cla avcni<la Au_ coisas c clc repcnte Êicou autoritário. Tirou Í'ora o distintivo dc polí-
gusto Sevcro: Jessica, Lenir, Angólica, Tàís,
Cintia Closc, Tâmara cia, dobrou minha rcsistôncia. Ganhou a particla. Comigo Prcsa ao
e outras que não lcmbro o nome.
Fiquei corn uma cama no quarto
r,olantc, Íicou livrc para pegar ondc qucria.Tàlvcz f'ossc claquelc jeito
da Jessica. PreÍ'cria ficar sozinha,
mas a situação cra tipo Jotação
quc' elc sonhava os criminosrls' Pagou tlobrado c mc levou clc volta
esgotada e aquela Í'oi a única solução.
EIa era bem vulgar, e para
dircitinho. Virou um cliente habitual'
mim, que de dia era madame, Íical,a impossível
u.,du.,rol; juntas.
Não Íazia isso no Rio, cluanto mais
cm Milão. Eu c muito, só para fazet shopping. Ia sozinha,
Jcssica pela via Dc <lia eu não saía
Montcnapoleonc. Não, não ia <lar.
Com cla e com to<la a puta<la
passeaya pelo Corso Bucnos Aires' C<lmprava Íigurino duplo' Mi-
eu não queria enturmação <lurante
o clia. Na pensão Giava, to<las
nissaias clásticas e collants pretos para a noite. Jeans e saias compri-
anrlavarn na linha. O clono tinha
siclo da polícia, cliziam, e isto,
clas parao dia. Nas butiqucs escolhia tambénr de acorclo com as
para mim que não tomava picada nem
roubava, cra uma gran<le
preferências clos mcus li'c'gucses. Para aqucle que me queria toda
vantagem. De Íàto, quanclo a
polícia chegava era só para controlar
vcsticla de preto; Para outro que me queria de túnica indiana com-
os passaportes.
euanto às Í'olhas de cxpulsão, era com elc mes_
pricla. Saía rla pernsão também para comcr. spaghetti alla bolognese c

112
IIJ
A PnrNr:lsa
Fr,RN,cNu,\ F,q.Rr.As nr, Ar lur2ur,nr2rtr/M,cunrzro J.lNNr,r.r.l
tortellini logo viraramas minhas paixões. Mas adorava
tarn'ém os rlela, essa cra a minha Íàntasia. A irléia quc me fermentava na cabe-
restaurantes chineses e os tailancleses,
oncle ia de vez em quanclo.
Sempre completamente só, longe ca. Fiquei nua e era a estrela. IJm cometa, clc mc acariciou a bun-
das outras e dos problemas.
Era cla. Foi cntão quc mc impus: Ela tem quc ir embora, cu dissc con-
quase uma freirinha. Mas, para
ser sincera, na maioria clas vezes
o victa. Não, clc respondeu, não é esse o pacto. Ela fica olhando sem
dia se resumia a um brer,íssimo
passeio. para comer um peclaço
de tocar em você. Eu esta\ra a mil: Com cla aqui, não trcpo! Ela ficou
pizzo ou engolir tm calzone no bar
mixuruca a dois portões cle clis_
tância. Sempre sozinha. Fazia quieta, cstava cxcitacla. Entrou na cama quando ele já estava me
compras para ouvir o gracejo
clc um comorrlo. Pulei Í'eito uma mola. Não, desgraçarla, com você eu não
vendedor que me esquentava
o coração.
querol Sc aproximou, a cobra, Íàlava com«r sc: lambcssc os meus
ouvid<>s. Era cla, mais do que cle, qucm me clueria. Se você tocar
Encostaram < uma Mercerles que parecia um
navio' Ele' ern mim, cluebro tudo! Não gosto <lc carinho de mulher! Foram
elegantíssimo, ,- n'o* oo:*: gritos, vozcs altas. Fiquci Iouca. Elc intcrveio
;_T ;_:J::;H::*', f;
assusta<lo, afastou-a,
Mi r ão qu e,ur," .,."r.ff,
gos ou nas praias tailandesas. Ela, tcvc quc insistir para contê-la e conscguir Íazô-la raciocinar. Naquc-
Iouríssima, perfeita para a situa-
la altura a noitc tinha acabado c eu cstar,a puta da vida. Me vesti,
ção. Propunham uma noite juntos e foram logo
a«r porl,o, um rni_ elcs sc vcstiram para me levar <lc volta até a via Melchiorre Gioia:
lhão e quinhentas mil liras.
Como juntos? Juntos, ele respon<lcu.
Eu, vocô e minha mulher, na minha Quenr scr paga pelo tempo que per«li. Elc comecou a regatear:Tà:
casa. Com você, tuclo l>em,
retomei a palavra, mas com mulher clou riuzcntos. Não, quero os seteccntos. EIa cstava com óclio, pa-
eu não transol Ele pe.ia <lc_
mais, insistiu. Não, eu não faço reccn<l<; rnais uma puta do que uma marlame. E,le não punha a mão
mulher gozar! Foram ._ú.r.u, ,ru,
.epois cle dez minutos voltaram no bolso, o misc-rável. Frearam o carro na fl-cntc da Polícia Finan-
pu.u Jrrrhu calçacla. Ela tomou
" a ccira c sairam <lo automór,el. Ligaram r> alarrnc c saíram de perto,
palavra, reverente: O.k., só você
e ele, eu fico olhando e não faço
nada. Mas pago só setecentos! às prcssas. O carro começou a assoviar com() se estivesse sendo ar-
Acrescentou
pescoço na clireção rta janela. pe<li rornbado. Lcvci um susto, do quartel iam pcnsar que era eu a ladra
ao n"-";n;:::'_'"t:'"tT.*
sim, fica ftanqüila, ela só olha c não clcs <ls tran-rbiquciros. Veado, vestida rlc puta, tcriam me de-
mas não toca em r,.ocê. Entrei
no tido. Fugi correnrlo, scm um tostão no bolso.
automóvel e zarpamos para uma
casa milionária de três anclares.
Eu
nunca tinha entrado errr uma
casa assim. Música, uisque, e fiquei
completamente bêbada.Tirdo Jcssica tinha arranjado um namora<lo. Dcixou o quarto por
girava em volta, minha cabeça
girava. um apartamento. Cassandra ocupou a vaga <lela. A infeliz mc rou-
Entendi logo que era ela a encliabra<la.
DesaÍiava, provocava e eu
entrei no jogo. Ele me quis nua, bou logo mil c oitocentos dólares e mais uns francos suíços. Tirou
comece i o striptease.Mas eu olhava
era para ela. Para mantê-la longe, dc dentro do álbum de fotografias oncle eu os cscondia. Foi ela
para me afastar. Roubar o homem
qucm roubou, tenho certeza. O rlono-policial organizou uma re-
tr+
rr5
A l)trt:'tt t,s,r
FItrNtND.,r Fr\tr\\ i)t, At trLIr.)ttt,irrlrrr,/M ttrRrzro Jr\NNl r.l r

vista gcral, sc'm resultad.. -l-irha si<l, r'la, cassanrlra, a bic,ha ilt:s.-
rnais na<la. llrigávarr.r«ts cntrc nós Lr c()m os clicnles. Ilntre as plasti-
ncsta. l)as t:oisas ck:la, cruri.sa,e,tr', ,à. tinha sun-ri<I, ,ir<la. liii
llcirtlas c aqr.tclas scln siliconr:. P«rrcluc t'las, para cnli'cntar a concor-
csl)orta, mt: r.ub.u antcs rlt'i..'r.s l>atalhar nas calça<las rlo r:cnri- rôncia, punl-rarn ()s l)recos lá ernbaixo, acabavar-n c()n1 o mcrcaclo.Tr
tóri. M.nurncntale. vcrlta'r.r.s jtrrrtas tlc ,-rarrrugarla e, quanrl, rlt:s-
rlas sc gabavam rlc tcr cncontrarlo o gar<>tinlro, o nanrr.,rarlo. Lógiccr
.,bri, t'la lingiu surPrcsa. T'ir-rha, sumirr«r ta,rbér, rluas firt«rs .r.r-
qut'o <lc r:a<la uma cra scr.r-rl)re «r rnais lronito.Tinha nrul>o e tráÍlco
rle t'u csta'a rcalmcnt. li,rla, rluas P.scs m.i, ousatlas. llt,r.istci as rlc rlroga. LIrna zona scm Íim, fâca<las. A t'.r<l:r batirla rla polícia, s.ría
c P.r rnais clc u.a'cz.stir.c a
r'«risas «lcla
l)orto <le rlar-lhr: urna scml)rc algunra cxpulsão. Mas, para c:arla vintc quc iam crnlrora, na
Íi<'arla. Jtr. c1u. tcria Ícit,, l)ras, (:o,. <l«rn.-;;.ricial,
cu iria Ptrrar qucla ópoca, c'ht'gavam quarenta. I)o Ilrasil, urn.r r.'r:r<laclcira inr,.rsão.
irncrliatarrt:ntc na Prisã.. cr.rssan<lrir r.rinha ir-rirnig.. Tir<las
'ir,u
rnc «lc'ar, razã., cra r:la a la<lr"a. l3riga,r.s,ras cla nã, cltris ir-
enr- C)onosco, os traÍ'icantes 1âzianr bons lrcg«i<'i«rs. Não vr.n<lian-r
bora rlo qLràrt(), lui cu cluc tivc rluc nru<lar <lc l.rotcl.
nas c'alq:arlas l)or(luc t'r.r Íácil cncrontrar algun-r policial atrás ile mi-
t'hô. A cr>isa t'hcgava rlirctamcntc no hotcl, ('r.1 um trar-rs argcntino
Mc ,rurlci l)ara o hrtr:l cila'a, ,a i)..tacci.. euar<r, nrt,
'ia qr,rc orgarrizala a tlistril;uiçào.'ltxlas c'ht'iravanr, algurnas sc pir:avarn.
Irr.lrrrr rlaquclir c',tra<la, .à. r'cj, r-r.ris a I)()rta qLlc c..rluz a. c<li- No hotel, só <luas rcclrsavam. E cr-r, ilcpois rk'rrnra s('r-n.rrJ, nào t'r.r
fit'i.'vr'io unra boca cluc arrcganlra,s «rt'ntcs. LIn'r aninrar c<,rn
1>r,rc rnais nnra <lt'ssas rIr-r.rs.
rlc urulru t'cstô,ag. () P.c«li. tinha as r,ísccras ..rr.r.rPi-
rlc açrr.
rlas. Ali rl.ntrc sc .r.rararh.rv.r trrr.r n,v.l. rlt' v.rrncs. vintc (, (lua-
l'rinct'sa, tcu hálito está horrír'cl. Sc chcga no nariz <lo r:lit'n
tr(), sc ac'asala'am cnt'c cl.s. A ,ri,r, já rlissc, aqu.ras coisirs rlavarrr
tc, t'lt' não vai tc clucrcrl Milão não i: R.io, aqui traball'ra-sc c()m cocA
Irr.ir. Nã, rlue iss. ni() JC().r('('('\s(. lr('r
Pt'rsã. (iia'a. Mas ali cr-a t'hcroína. [:ira Gianna cluc arrrnscll-rava. Eu, para po«lcr- ser pantcra,
tu<l<> r'rn .rrlc.n, lirnP.. vigiarl,
1>cl. 1>.li<'i.rl. (]ur'rcnrl., rla'a Para cngolia unra r-nistura rlc uísquc c campári. llt'bi.r rnuito, c à noitc Íl-
I)rcs('r'ar scu Pr<iPri. r-sl)a!'(). N, Lllara, cra i.Possi'cl . Tirha um <'ava Ilais leve . Ela cntr()u n() qLlàrt() ('()l-n Lrnra Íilt'ira de'pr! r-narrom:
r'.rnórci, qu. acabar.a i,rc'ita'clrnt..te te c.rascancl,. urn
P.rta-a- larga o álrrrol, t'hcira essa aqui, o c'licntc não vai rnais scntir o baftr.
1l<lrta cntrc clas c «rs clicntcs tarnlrónt. Nào r'onscgui ac'abar a Íiieira. () Íirgo rnc saía pclos olhos c vomitci
(]ua.<I. .ntrci ali já tinha ar:urrula<I, n.r'c mil rl/rlarcs,
rrais na privarla ati'o ar cluc tinhn rcspirarlo. () r';rkrr sulria pclo meu c()r-
tlcz rnil c tcria'oltad. (()rr llrcLr l)c(lucn() tcsouro. Esta'a lrr:r,,.a p(), as r()ul).1s mc qucimar.am. Mc rr:fiz tlo <rh<l<1uc r: uma hora clepois
llur<l;>a, via fi.almcnte nas('cr. s,l r.ri,, tambérn. H.jc cu lr:rn-
Parir batalhava nuir pcla via Melchiorrc Gioia. Às .lua* tla manhã, Gianna
lrr«r, mc rcvcj, cntran<I. naciuclc h,tcr c o sol Ílcanclo prcto. Aluguci
vcio r,cr corn() cu csta\ra. Cheirarnos outra Íilcira, c'ustou cinqüenta
ut, cluarto no qui.t. anr]ar. cr>r-,<) sclnl)rc, c1r-rcria ficar s.zinha, mas
mil liras. Vrlte i para o hotel às seis rla rlanhã, rlorrni atc cansar. Fui
n<l clara turlo se cml>.la'a. crirPos c \()zcrs, c não cntcrrrlia
'ocê acor<la<la <lc tar<lc com outra Íllcira. l)aguci mais cinqüenta c rol'i

r r6 t t7
A PrrNr:rse Fr:nN,lxt rn Fi\RlÀs Dt: AI tlurlurnqut, / M.lLttrtzto J'lxNet't'l

pelo precipício. Com o inverno veio a porrada, no Írio era impossí- controla, vamos fàzer por nossa contal Camisinhas c seringas nos
vel trabalhar sem heroína. Só o casaco de peles não bastava. Além clo estacionamentos oncle as crianças brincam. Fila de automóveis, bu-
que, em Milão, para quem não se exibia obscena a concorrência era zinas, briga e caos até às cinco da manhã! Basta, vamos fàzer limpeza!
massac:rante. Mais eu cheirava, mais me dcspia. Doicla cle heroina, Tinham tantas manchctcs nos jornais e Protcstos na tclevisão!
saíck:»

ven(lia o rabo e não sentia nacla. Mas cra a primeira vez quc cu via em Miião tamanho vcndaval de
paus e cabos dc guar<la chuva.Tive rnedo, mas não me scnti perdicla'
Um clientc de trinta c cinco anos me ofcrcccu mcio rni]hão Aqui na Europa, não matam no meio tla rua. Mas, naquela noite, se
para uma noite inteira. Perguntou se eu chcrirava cocaína. Já estava acontccesse um cara-a cara, não ia clar só em soco c paulada' Os
a pico, traçava clc tudo e não hesitei. Era um lindo n-rorcno. Tinha veados, postos em dificuldadc, não são clelicadinhos. Elcs r'êm de
barba e bigodes erspessos e prctos. Atlótico, corpo (lc mo<lclo. Di- longc, <lc um corP() de hon,cnr c de cida<lcs imensas e esf-omeaclas'
rigiu corn pressa para um nrotel em Varcse. Fez cu me clcspir e A maioria briga rlc Íàca. Se pintasse urn corpo-a-corpo, ltotlia até dar
depois pecliu minhas calcinhas. Vestiu as, pernas peluclas <lc macho cm morte. Mas chcgaram sircncs e luzcs pisc:anrlo' l'alavras violcn-
acima. Depois quis minhas mcias c os sapatos tle salto. Foi para a tas cntre a policia e os manif'cstantes, acusações c batc-bocas' Os
Írentc do espelho e começou a fazer posc. Dc frente, tlc lado e cle gritos esvaziar:am a raiva e, para nós quc Í'ugíamos, o risctl tiúa se

costas. Vrltinha para um lado c para o outro. Caí na gargaihada dc transl'ormado sti erm uma Íblha <lc expulsão.
tão grotesco quc cra, ri<lículo. Um homerm dc barba e bigode vcs-
No Clara, naquela noitc' muitas estavam putas <la vida' Di-
titlo clc puta. Não sei se já ri tanto em minha vida. Ele cra simpá-
ziam tcr visto c:licntes cntre os manifestantcs.
tico, não se oÍ'cndcu. Dissc para cle, me dobrando dc tanto rir:
Pcguci um trcm Para mcr aÍâstar <laclucla tempesta<le' Acon-
Vocô e lindo, é mulher e é barbuclalTotalmcnte toma<lo pela pró-
selha<la por Marly c Severina, fui para Montccatini. Uma linda ci-
pria imagcm, elc ncm me ouviu. Sentada na cama, cu «rlhava para
cla<lczinha, pequcna. Fiquei hospcclada no Buenos Aires por duas
ele e uma nuvcm preta, um pcnsamento cscuro me atravessou o
semanas. Dc dia Íàzia programa na beira <la cstracla. De noitc batia
semblante: Tcm um homem clentro clas minhas roupas! O númercr
as calçaclas dc La Spczia.Viareggio e Forte clei Marmi cram cidade-
do sapato dele era o mesmo meu.
zinhas ondc tambcm tínhamos um bom mcrcado. Mas entre táxi,
hotcl c heroína, eu gastava rnais dt: meio milhão por clia e no bolso
Eram mil, talvez clois mil. Mas aqucla tempestaclc eu já co-
não sobrava quase nacla.
nhecia. Foi se condensando à distância, com «lireito a raios, relâm-
pagos e trovoadas ameaçadoras. Tinha haviclo a invasão e agora, na Os espelhos se espatifaram. Fragorosamente, tilintando' Os
via Melchiorre Gioia, mas também na via Pirelli, no San Siro e no vidros clas janelas voaram pela via Pontaccio abaixo' Começou as-
Monumentale, os habitantes <lecidiram se manifestar: A polícia não sim, às nove da manhã. Quatro trans, quatro buldogues de minis-

r r8 I I9
A I'turcr,s t
Fr rrl.lr»,r lr,tttt.ts ot, At uurlttt,tirlttt ./M.lLttrtzro J.t'.r:.rt,r.r r

saia Ícchar.r. .r saí(la.


Nós, as outl'as, totras lá <rcntr., r,,irarn.s val- ()
l)ront() pâl'a v()ar. garotinho tinha unra cnvcrgarlura rlc rrrrnilão
quírias gur:rrciras. vintc Fúrias enr.uclrcc'iiras. chcirarnos,
lrcbc- um malanciro. Acp-rcrlc r-r'rcnino tirrl-ra mc fcito pcr<lcr a c:abeça. Clhcio
nr()s c n()s lanç'a,rs .uma gucrra .,ntra «r uni.,t.rs., <lc,rolinrlo cr rlc vi<la, para t'nin-r cra unr orgulho tt:r clc na calla. l'ara as outlas, só
hoti'l inirrigo. (]uc:brarn,s turl.. A.ran.ár,am.s as <ra pias Parcclc,. invcja. L)cixci cotr clc trôs corrcntcs rlc ouro. Uma rlclas pus-lhc ncr
A .ai'a rnáscara <lc ur,a Í'csta satânica. Ftrriosa,cntc. Nirr-
'ir.u l)osc()\'() c clr: accitou o l)r('scnl('. Fiquci l«rg«r «rm <'iúmcs, inc-r'itavcl-
guóur c:..scgui. rr,s r'«rrrtcr. Saír',.s <lrs quartos scguirl.rs
Por fir,ra- lncnt('. Prcn<li () l)a eorr('ntc c()nr unr t'lir, na nuca, carla uma (luc se
ça i'firg,. (lrit,s .ras.trli,.s, ('()rÍ)()s Í'c.inirr.s. As Rai,has, as pu-
aproxirnava virara n'rinha ininriga. Eu suspeitar.a rlc to<las, nào 1.lo
tas llu,rrlas tkrurarlas, s.rPr'r.rtcs rl. rlc,rôai.. r)c rcPc.tc.
Ilastou tliam I-tt'tr olhar para clc. Mas () gar()t() cra,lcscara,l,r, eu sabia, tinha
r-rr,"r tlúr'i<la
c .c;u.la t'xPl.s.i, rncrgulhru .a r.alir.ia: [r.i c]assan-
visto r'ot.r.ro e lc voava c o t'stikr cra tlc gigolô. Clhcgava pcrto <las rlue
dral Ír cla a la<lral llastr»u i.si,rrar, r'ir«^r r:cr.1.za. Agarr.rra,.r-,a
Pclos c:hciravarn c ia logo clut:rt'nrl«r o rabo; cluanrl«r rccusavanr, clc r'lran
calrt'l,s c rrlsg.irarn lht'as r.u1>irs. A .ara t-rrsangiit,.ta<la,
,assacra- tagcavir. Arrancava rlir-rht'iro clclas, cra lronitinho, cra fllho «lo rl<>no.
rla rlt'P.r.arla. I)ur.tr
l)()Lrc(), (.Ll csta'a lá <lc.tr«r. N. rr.i, <lar;ucla I)or iss«r cra rlisputarl«r por to<las. Na<lucla noitc cnr:ontrci-o lrt'm à
z()r.r, ('Ll .rl,rrlar'.r urhas t',nr1iri«las. [)c c'irssa,<lra
,ã, ti't, r,<>r-r.r- v«rntatlc no solá, t'nr crrnrpanhia rla Jorrlana, ur-r'ra bit l'ra nraravilhr>sa.
Paixi., a i.i.rig.r. l'ira«la, csta'a rl,irr.r <rc rrtroína. subi ,, cr,.rrt(), 'lircl.r
silicrrnarla, fl'csca li'r'sca rlc llrasil. Er.r rrtais nrulhcr rlo quc cu,
sal't'i r.r rlut'<la'a, toq,ci Í,g,,. rt'st,.r'rrtci Íugir <r.
i.Ícrnr>, r.as entrt'i crn pânico. I)asst'i na Íi-r'ntc rlos <lois <'onro st' na<la liissc. Ele
as (r.atr() rFrt' csta'ar-n .a
1r.rta Íer:hararn .r s.írla. (Juc grir^irc i<róiar lcvanlolr c vcio r-nt' entr('{ar a t'har,c «lo quarto. Alraixt'i .r gola <lcr
LI^ra taga<la. (]tr.r'i.rr-. a aj,<ra rr.r
P,rícia, [)()rq,(.r.las,.rs Iinrri.rras, suótt'r clclc 1;ara vcr sc ainrla t'st.rva usarrclo a rnir-rh.r corrortc. Não,
st: r'..sitlt'ra'ari) as r'íti,ras, t'a rk'r.astac'à«r,,rcr.r,r.irla.
LIrn at, «lc r-nc rlissc, pus rlc r,olta no cofr-r'. Subi 1>ara o cluint«r anrlar t'pckr tcr
justil'a, u.rr.i'irga.ça ('()r1tra. rnu.<r.
r)()r (.àusa tr, r«rtrrr, clrrt,ti It:lirrrc alastci tla rrurc'orrcntc. Sobc, <lissc ltara t'lc, rlut'nr as tr-ôs

.rl-r.rrrr srll'irl,: u.s ci,tliit'.t.r ,iirhircs tlesa;>arcc.crarn
<lr>s c.Íi-t,s rl. c'orrt'ntcs! [-ilc botou as trôs na rnir.rh.r rrrão, jogut'i turl«r rlcr.rtro rla
hr,tcl. Scis <laqur'lt's c'a, ,r('Lrs. ('ttrtthin)cri, b,,bcir.s
e Pririi,iais priva<la corr-r a clt:sc'arga at'iona<la. No rt'rlcnroir-rho <las águas, os olhos
ocLrl)ar'à, a li-c.te <1, clara, <lcrarn r-rr.a ,lharra, cha*arar-,
rr,Íbr tl.--lc sc Íbrarn.Viu «r our<l sunrir c nrc ilcu urll s(x() rla ('Ara: I<liota,
çr. Na tlcl.gac:ia, Pcrliranr n()ss()s.r'ist,s rrt'I>.-lnarêr.rc.ia c a lrriga puta <los inli'rnos! Filho rla pr-rta ó r'oci'! (]ucria rlar «lc prt'scntt'para
rec()l1rc(r()rr. l), r,ulr. aà, c1ucri.r., a.rn salrt,r. Garha.r,s Íirlhir tlc aqucla bunrl.r sentarla lá t'rnbaixol Eu tinha lliraclo. Lstávam«rs iuntcr
cxltrrlsão t' o I'rotcl Íiii li,t.haclo lrrir algumas scnrallas. rla porta c Íi't:hei os clcrlos rlclc cr-rtrc os l>atcr.rtr-s. (]ucl>rou ur.na rlas
fàlangctas. [rkr urr«ru clc <krr c cu cabcc'.r «Lrcntc .uncJCCi mc
Eu ti.rha rrrltarl. <laTlrsc'r.r urn <ria antcs. Nã. c..tci, nras no jogar <[a jancla para tentar sc{urá-lo. No <lia segr,rir.rtc, cm Mi[ão,
hott'l cu tr('l)a\'â grátis c«rrn , Íilho rl, rl.no. Mario, urn ra1;az <le particil lci tla rlevastac'ão.
ilezcsscte anos. Urr passarinho qr-rc olhar.a para Íirra rlo ninho, já

t)o
A PnrNt t,sr
Fr.rrx,ixur Flrrns Lrr, Ar nrrlur,nrlrrr,/M:\uurzro J.,ir.,lr-L-r.i

A Primeira f.lha clc expulsã() não cra um gran(lc prol)rcma.


Prorn(:ssa f'cita tcm quc scr mantida. P.'qut'i um ar ilr, pàr.l ()
Eu batalhar'.r cm Milão mas
iá Pcrnsa\.a em Roma. uma boa praça Ilrasil. Anters rlc crhcgar cm casa parci crn São Paulo para me rcÍhzer
onr]a sumir p,r algurnas sc[ranas, nãa queria v.ltar
a beira <la
lrara claheroina. Não cheirci, tentci. Qucria mc aprcsentàr com o rosto
cstrarla. Pcrli para Jessica mc hos;rerrlar na casa tlcla. Ela tinha
urn accso, ilurninarla. Scrr-r vcstígios tla somlrra pálida rlc Milão.
namoratlo c um ar)artamcntinh.. I'erriu uma i:irra rrcsl>r.1-r.sitarra
pcla sublr.ação tlo quar.tr. Mas, com cla, arranjar h.r..ína lrã, cra 'lirrlos ers;rcrar,arn Fcrnanrlr-,, o que tinhir irlo embora. Mas
prolrlema. Conr cla, tinha cntrega crn rlornicílio.
cu não tinha mais vcrgonha, era Fernanrla cluc vol1ala. Ia enír'en
1ar Clíc'r:r.r, Álvn.,, e Arlclaitlc, minhas trôs prcocrrrl)aç(-)('s. Voltava
um cli.ntrr rnc alr.rckru,r. M.numcntalt:. unr igual a ,utr'
l)arâ l)cr1() rla minha nriL', nlJs nio rluclia r-ctornar à minha nas-
clualclucr', natla rlc nrais. char,r)u m(-u n()nlc: r)rir-rc:esa,
r'ra r«rcê ccntc. ()niler sc é ou mac'ho ou fôrnea, irrcmctliavclrnente. Conrcr
quc eu P.cura'al Entrci n() .arr() c saquci lrg. r1u. s. tratar.a clc. o riozinho quc atrir\,cssa rninha tt:rra, cll tinha nru<larlr., r'lc nornc er

un'r lrrbrc c:.ita<I., sLrm gr-ar)a. Nãri


Porclr-r. cu s.ja ,ras rlc t<>rpo scguin<lo o nrcll clrrs(), a ontla c'ornpri<la qur lcr,.r l)ara o
'irlcr-rtc,
P()r(lu. clc tent.u Pcclir clcsr:or-rt.. Eram trinta na lr..a c cinclüt:nta rnar. Fin.rlmcr)tc cu e ra lrcrnanrla, ncnr í/(rl/ rrcrn hornossr:xual . l'or
n, rab.' Elc sabia,,ras tinha s<i quart'nta mil liras. Fui rrura, trisse
r;uc rlinha n'ràc qucria (lllo clr liissc rnilitar-? Cír'era rnisturar.a os
quc nã,: cclrn <lcsco.to, Pr().ura ,utra. T-á brm, clc cliss. r,a.so,
grãos, cu não sabiir scpar'á-los. l)cntro rla .rrrnatlilha, não consc-
Íi.o crrm a lr.aa, .ãr tanh, cri.qücnta. Crnrr:t,ei (.(),
l)r(:ssà Pàl.a guia n.rc libt'rar. Não lirssc por aclur:lc truquc inic'ial, l)()r causâ
licluitlar log.. assunt(), nras cle nã. g,za'a. I,assr-ru r-rnr nri,uto,
«lac;rrclt: nreu corp() cluc não lnc c()rrcsp()nrlia, cu trrria vivirlo bcm
lr:ntar,r'ntr:. L)cPois cir-rcr, c nacla. () maxilar Lronrcçr()u
a cl«rer.'R,n cor-n cla.'lcnho c'crttza: lrcr-nanrlinha, tlcnttrr rlt' crasa, cla gostava.
tci tudo, cle l.ez cm quanrl«r lcvant.ava os olhos, rk,sola<la. Natla,
ti'e clucr rlar urn tLrnlP(). l)iss. para clc s. aPr.ssar, trinta r-nir e u
l)or \(rcô ó rncu Í'ilho7 Mas cu tc'llz lrorncrn! (Jl'rorou, sc scntiu
nãci podia raiar «r dia ali. Voltci à p,sição, trc carreçra
r>aixa, tcntei culpirrll. Clulpou l)cus, o rliabo, p()r' causà tlaquclc c'apricho rlur:
mil truqucs rl, oÍício. Natla, . pau clcrc cra crc b.rracha, r-rão lic:ava
tinha t:nr,olviclo un-r inoccntc. []crnanclinh«r, scu lill'ro. (]r-rcria rnc-r-r
dur,. Sc cu nã. o tirasse <la boca, tcria acar»arr. m.rd.nrr.. corta-
pcrrlão. Tinha c'rrvt:lht:cirIo, soluçava l)()r ('allsa rla confusão. Dc
clt f.ra, para satislàzer os n'raxilarcs, que irnProral'am
Para ser Íi:- p«ris clt'r:irliu, ('()nl o r()sto sccr() er rluro. Eu conhecia bcm aclucla
chaclos.Virei rle c.stas, clerrotada, c <lisse O.x., mc_- rcnrl.,
l)assa as r:xprcssão: Vrccl cstá r'ivc.r, isso é o rnais importantcr. Sim, cstava
outras rlez ,'ril liras c Íica corr a bunrla. Ere Íbi igualmentc
<lcrno- r,ir'o, ain<la qr-rc clt: saias. Mclhor assim <lci cluc l>aniliclo ou t:rinri
rado, mexcu c- gozou. Era o l)omr:nico, l,ai r.irar meu amant.c.
n()s(): .1 porta ilo paraiso não tinha siclo t'echarla para rnim. I'r'r'grrrr
Meu namorado.
toll sc cu ia casar, sc urn rlia po<lcria tcr lllhos.

t2)
Fr,nn,lN»,t F,tnt,qs tltl At uuqrtt,nqut,/M'lutr'tz-to JlnNlL.lt
A l)nrxcr,s.t

nós nem
Aclclairle ria rlc sc acabar. Uma risada cristalilla, cyaporou as nho dele. A mulher não digeriu a exclusão' Não entenclia'
um
lágrirnas maternas. Envolvcu tr>clos na alegria e começou a festa. ligamos. Só Cícera se clcu conta do ciúme clela' Levou-a Para
de Aldir para
Ttrrnou rrinha mão, nos Í'cchamos no quarto: Fernancl«r, Fernandi- canto e disse-lhe que não se PreocuPasse' As atenções
dele que
nha, mc rnostra, você é como eu entrc as pernas tambem? Não, não comigo não eram pecaclo. Era o Fernandinho, priminho '
acariciava. Ingenuamente, a caipira matutou: se aquela
te rn()str(), tenho vergonha! Minha irmãzinha ria, lcvantava rninha o marido
no clia
saia. Entrei no jogo c mostrci os pcitos. A br-rnda tarnbóm, era per- mulher é um homem, então não devo ter ciúmes' Coitada'
Í-cita. Ela ria com os olhos, maravilhosamentc incróclulos. Quis saber seguinte veio sc dcsculPar.
tlos r-neus alnores. Contci quc tinha utn namoraclo. Falamos rlc ma-
cluiagr:m c rlas minhas roupas. Um luxo, cru estava empctecatla Í'eito Maria Aparecida Íbi uma alegria: Oh, Fernandinho' oncle
Ficamos ínti-
unra marlanre .Tra'Áa cmbrulhos c embrulhinhos. l)rcsentes c()mpra- cstá o seu príncipc encantado? Na ltá.lia, Aparecida'
dis-
clos ern Milão, pcrÍumr:s, blusas c vcstirlinhos. mas, ela perguntou se eu ficava menstruada' Fiquei vermelha'
farcci, mudando tle assunto'
Vi Roscr c Eclvânia pc'la primcira vt:2. Duas sobrinhas tle oito
e n()\,c anos. Brincavam, corriam, autnentaram a c<lnÍusão. Vor,ó! Genir me surpreendeu. Apareceu de batüa, bigocles' dois
É tia Fc,rnanda, o tio cluc estávarnos csperan<lo? Ciccra não sabia filhos e a seguncla mulhcr. O tourinho tir-rha crcscido' Nos Pergun-
e recome-
mais c'omo r:x1:licar. Sim, Fernanclo é a tia <le vocôs. Uma mágica. tamos o que tinha acontecido. Chegou Ivanildo também
no mato'
çou a Í'esta. Nós três, as brincacleir-as
Á1.-o..,, r-ninha outra l)rc()c'upaçào, uma surprcrsa: r'liante <la-
Em Campina Grancle abri uma conta no banco' uns oito
mil
qucla morena boazu<la, foi gcntil c tolclantc. Até rncsmo cngraça-
com
do. Na hora cla parti<la, insistiu para cu ficar. clólarcs. Granclc parte clo meu tcsout:o tinha siclo consumido
Lisboa' jurei
aquele malclito r'ício. No avião, voando outra vez Para

Eu era uma fábula, torlos queriam mc al>raçar. I'ara o Sítio, paramim mesma quc não ia mais cheirar' Só três meses de trabalho
a minha metamorÍ'osc cra um acontecimcnto cxcepcional. intcnso, c dcPois voltrria.

Aklir, mcu primciro ciúme, primeiro scntimcnto. Bateu à A primeira noite, no Monutnentale' trabalhei sem heroína'

porta com a mulher. Entrou, já cstava velho. Indeciso, <leu um Na segunda, recomecei pior do que antes'
passo c clcpois nos abraçamos. Eu cstava perfumacla, bem vcsti<la,
como uma artista de telcvisãr:. Mc apertou com f'orça. Nosso se- Domenico virou um cliente habitual' Sempre clcntro do

grcrlo tinha sido guardaclo. Falarnos muito, rle mim, dele , <lo filhi- carro, para ele o hotel ficava caro' Era demorado' interminável'

r25
r2+
FLtti"l.l:ltra F,rntas tlr At uurluenqul'/M'lunlztt> Jalxrt L't
A PnrNcr,s.c

Eu não fazia clescontos, depois ele virou meu marido. O príncipe Um era gorclo e o outro magro: Senhorita, seu PassaPorte
encantado instalar,a alarmes, era operário. Propus lua-de-mel no por Ílar,or. Aconteceu quando eu estava an(lando com Daniela pela
Brasil. Pedi a ele quc alugasse um apartamento para mim e ele Palestro. Ela acabava de se afastar Para encontrar o traficante.
'ia
alugou. Na via Leoncavallo, num belo cdifício. Para juntar os três Heroina, em Roma também, inexorar.elmente. Eu csPerava olhando
milhões de iiras das luvas, parti para a capital. Milão estava em- uns br>nccos <le pelúcia que me cspiavam curiosos cle dcntro cla vi-

pesteada, inr,aclida pela concorrência. De Roma, ao contrário, trina: O passaPorte está na pensão Primavera, na via Príncipe Ame-
cleo, rcspondi ncn'osa aos policiais. Com o coração a mil, cheguei
falava-se bem.
A velha, Olhos de Monstro' cstava Parada na
escoltaala pelos dois.
porta. Na pcnsão, na ausência <lo dono, cra ela quem govcrnava'
Estreci na via Padre Semeria, a Feira de Ron-ra era o ponto cle
Entregou meu PassaPorte, me afastaram cla conversa' Os dois, a ve-
reÍ-erência. Um palco mixuruca. Um inicio extravagante. Um baca-
lha e o dono que chegou também. lntuí onde aquilo ia dar, peguei a
na grisalho pagou o triplo para beber uisque no rrlcu sapato. Virou
chavc do quarto e me Íêchei dcntro" Pcio telefone chamei a velha:
cliente Íixo. Dclicaclamcnte, uma vez por semana, retirava sc:u cálice
por Íavor; não tleixe eles entrarem. Impossível, são cla polícia! Bate-
do meu pe. Enchia até a borda c' o levava ritualmente à boca. No
ram, abri. Entraram, o gordo c o magro. O primeiro mc agarrou
sapato, o delirio delc. Percorria os contornos cor-n a boca, tocava
logo. O segun(k), hipócrita, dizia para cle me largar' O gorclão co-
corl o rosto. AÍêtuosamente, cntre as mãos, ele l>eijava o bico.
mcu o rteu rabo, o outro ficou olhando.
Depois escolhi o Eur*, trabalhava debaixr: do gran<le cogu-
melo <le cimento, era a rninha zona preÍ'eri<la. l{uas largas, no meio
Escondi<la debaixo da cama: Domenico mc trai, pensei, es-
do vcrde, concorrência na mc<lida. Não precisar,a endiabrar a ofer-
peran(lo que clc chcgasse em casa. Obsessivamcnte, eu estava
de
ta corr-r bunda cle fora, striptease cr outros artifícios. O clicnte roma-
novo por aquele sentimento devastador: Fica sozinho
ltossuí«la
no cra compcnetrado, às vezes cu chegava a trabalhar dc saia com-
cinco tlias por selrlana, é lógico, vai com as outras e Paga o Progra-
prida, até mcsrro para poder provocar na hora certa. À beira do
ma. Ou entãcl traz mulheres no apartamcnto, o maridinho' Eu ti-
rio, o Lungotevere era tarnbóm um lin<lo passcio. A árca ern volta
nha voltado para Milão um dia antcs do previsto, queria fazer uma
clo estádio Flaminio eu já tinha descartaclo antes rnesmo clc chegar.
surprcsa. Sabia que, naquela noite, ele passaria pela l,ia Leoncavallo
Ali ficava a putaria. Espetáculos arrepiantes, o mc:smo carrossel de
ir para a casa da mamãe. Ou'r'i quando mexeu com a chave
antes «le
faróis, brigas, buzinas e protcsto dos moradores. Um circo baru-
na porta mas não corri para abraçá-lo. Me enfiei debaixo da cama,
lhento, a baticla da polícia era certa.
fiquei esconclicla. Tüclo certo, não trazia mulher nem trans com ele'

x llair«r projt:tarLr rro linal rlos anos 30 p.rrl st'r scrlc rl.r Exposi5io Llnilcrsal ile lloma
Fez o que <Jevia fazer' aPagou as luzes e fechou a Porta' Eu fiquei

(1942), t:ujas irriii.ris prrnrlrr'('cr.llr (r)rn() scu n()nr('. 1N. cla'1.) clentro, cheirei uma llleira para dormir. Mais outra, ao acordaq me

r2J
t26
A l:'rrrlcr sA
Ill.rr:'r.r\n,r I-,,tttl.1: nt, At trtltlttt.trlltrt,,/M ltttrtzttl Jr:lxt,l tt

prel)arci para o fi, tle semana cl. rriatramc. À bcira rro lag,inho rro mc largou, continuou trerpantlo, unla tragerlia, nlc aPcrtava o PaLl
I<lroscalo, prcltaranclo urn jantarzinho crn casa.
tanrbénr: Já quc cstttu aqui l'ou até o Íitn, a iustit'icatiYa. Pagou cin-
qiienta e saiu correrttlo, o prazt't'<lelc cor-ria atrás.
c)lhos tle Monstro, a
Lqllerra tinha cornccarro: São rroentcs, é
P,r iss. cl,c transarn c.r'n r'r.jcr-rt:rl Não ir rla sra c«rnta, iml>c- t'r(. ( rà uma Inorta. ()ssutla,
'oc,ô, Mic'helc trabalhar.r tto L-utlgott r
.il, c1r-rc-r. sri'cr. qu. vrc:ê ia tlizcr- sc clcsc'.brissc qlle tcu lilho SCir Carnc n.,nhuma. Unt.r noicir.r rlc mun<lo t'ontinuava a querrcr o
trcr)a c()rn os tra.sl f'.s1r, na ('a.a rrcrc, t:.isa irnunrra,
P,rh, r:rc sr:xo rlcla. I)agatam, Para r,haÍurilar naqucltr ccrnitório. No Flamini«r,
lrara Íirra rlc casal Vrcô c in'cjrsa, l)()r.cluc só r:.r.rscguc t.r- tcrrrltr) antcs, cril Unla cstrcla. Lour-a, origCrn alcnlã. Urn anjo
t()s, ('cu garh«r.s garoti.hos. fri.c1ücnta a,.s, ()lh,s tltr 'r,lh.s 1tout.o
Mrnstr' quc atcrrissott trt-n Rorna Yintlo tlo llrasil ' No Lung<>tcYert:, con\rcr
n«rs orliava, rlc <lctr:s1ar-.r. l..rtlr.a rlt. 1.rç1-lr.r;111,1i, a gorrlorra. Llr»l a samos cinc.«r ntinutos. A Aitls cra rnais <lo quc'tibYia, to<los os sinais
rlcsc.ll>. rla Ii,Pcza, rlesaPa.r:r:iar,.,s Lu tir-rha subirl. crorrr mcus ollros, I)âravam o c;rrr() c cla cntrava.
'irlrrs. lrcnr r-r,irlcr-rtcs.Vi Cor-n

'clir:ntc Pa.a Í.rzcr un) l)r()grarna cluc rrurriu a n.itc intcira. r).lo clorno vocô tern c()ragLllt, Michclc? Pára c.om isso, st:não c a ruír'ra!
c;uart,, nessrrs crasos, paga se scnll)rc «r rl,br.. E i: o crli.ntc clue
[:lcs r'ôcrn a ln()rtc amltttl.rntc r: não ligarn. ]'agan'r l)or um orgasmo
liraha a c.nta. () r'r'rc, fcz turl, cr:r1., rnasj a rrcgor-a'cia c.brar
rlc rlcntRr rl«r tlcsastrc. Não batcrr) bcrn rla cabcça. Não cltturcm camisi
rnirn ..r'arrcr-rtc , tlinhcir',. E.r.r.lr,u lrriga, ÍLi r,encnr>sir.
A g,.r, nha, Pagam tlobraclo st'r'otrô at:citir. Mas Michelc já era unr c:a<lár'cr,
ra tir.rha c'.rrc('arl.. Pcla hist<5ria .()m os ckris
P«rlir:iais, pt,lrs r.u- r,ia sc. L)eus tlr cóu, ncnt rncsnt() n«t LJrasil tcrian-r clur:rido aquelc
b's, t:;r crara <lc satisfhcão rlcl.. Lhn saP,, rrarr.,..lrigocrutra. No I.trngotcYr:rc, r:lcs Íâzcnrlo piarlinha
michô.vi C()m mclls olhos. c:

rcgatt'antl«r () prcç() (r()tr a l1l(n-t(r' A prlllria m()l-tc, aqucla que clcts


()utra filt:ira rlc ht:roína.Tr-ôs h«rras rla rranl-rã, «r últi,r. t.licn- tôm n«r c'oração. Ela não, Michclc cstava IiVa. Clonl muito custo, ia
tc. Urr <larluclcs c()m ar rlc flm tlt: noitc. Botlt,-huiltling, grar.ata lior_r-
à luta por causa rlc trôs gralr-ras rlc hcroina. Para os vícrios <lccatlcntes
xa r cat:hinhrs. () tcrno, uma csPéc:ic rrc ,riÍirrnr.. Sào t,<r.s igr-rais,
rlacluqlcs mt,r<las, cstava l)()Ltco sc lixantlo. Em rcvolta, rcsignarla
a,rlanr 1rr»' I)rati às ,.r,c e rncia cla ,-ra.hã. [;trlsilk:atl.s, arrr-rn-rarli-
rlcntro cla slta ruína. Tbrrivclmcnte, r'ivia. Dolor«)sâmcntc, morrcu
nh«rs. Para mir,r,. últirn, Íàtura,crt.
rla r-roitacla. I)cr-rtr, rlc un.r tlc inlccção ltuln-ronar. Acalrou assint, rrotn .r Ai<ls c a hcroína'
lrckr auton'rrlr'cl, mr:
I)cnctrou pr»- trás.V.ir) c()r, â r-r,riio nrc t(xrar na
fr-c'rte: Mas r,ccl ó h,rncr,l Exclarnou, ric.u ncrr.s(), tc'c
rncrr.. Calu sc picava para valer, as vcias <la virilha lá erstavam secas'
c.rncç.u a lratcr nas mi.has costas. Não me nracrhuc,a, clt:r,olr,. cr
h-rjctou uma rlosc s;em cliluir e nt()rftrll na h«rra. Cbm cla, nacluela
rlinl'rr:ir.l -Il-ntci
nrc aÍlrstar, clc mc seglrr()u. Mcxer<I,, . hi1>ócrita. <luas rlcsgraçraclas. As Íllhas puta viram cla rnor-
noitc, tinha outras cla
r-ógic'. sabia! Naquerla hc»'a rla,arlrugatla, só tr-ar,esti. Mais dcr
c1r-rc
rcr. Não moveram ur-r-ra palha. As hienas ain<la tir-aram o relógio tlcr
qur: sabiclo, cle rncntia. Mcntia si pr<iprio,,ve,a<lo cnrustirlo..Nãcr
lrara braço rlcla. Rcvistaram as rouPas, às gavctâs. As lirminhas ainda rou-

rz8 t2g
A Pntn.-ct,sa FrRx'lNt>a F'lRLqs ol' At-guQut'nQuE/M'quntzttl J'rNNrt't't

Domenico di-
baram-lhe dez mil dólares. Arrastaram o corpo para fora do aparta quarto, iluminei minha desolação' Têlefonei para
mento pelos pés. Largaram ela nas escadas para não terern problemas zenclo que estava mal: Vem para Roma,
não agüento ir para Mi-

com a polícia: O dinheiro scrvc aos vivos, os mortos não sabcm usá- lão. Adormeci, anestesiada por mais uma
fileira cle heroína'
lo! As cluas rlesgraçadas eram conterrâncas dela. Não organizaram
me aPresentava
nem o enterro, o tlaslado do caixão. Jogada nas escadas. É por isso Domenico não queria assumir a situação' Não
excessiva' dirão os
que me cnvcrgonho da miúa classe. Entre os transexuais tem só aos irmãos, aos pais. É lo"t", é uma pretensão
Mas eu acredito que um homem tem que ter
cora-
invcja c ciúmc. Maldadc, roubo c intriga. É assim, o resto ó tudr,r bem-pensantes.
de Deus e da sociedade' Domenico
conversa Íia<la, conto <la carochinha. Sou cu Fernan<la quem «liz, gem de assumir o que faz, diante
cla família. Era frágil, eu via' Paguei
o avião clele para
Princcsa transexual. iiú, -"do
O namorado ia che-
Roma. Recebi-o bem, antes cheirei mais uma'
banho de loia' comprei saPatos na
Mais uma filcira, a noite sc escoava. No Eur, na via Cris- gar, meu mariclinho. Dei-lhe um
minha noite cle sá-
toÍoro Colombo, não me dei conta de que já tinha anranhcci<lo. lriu M".rrlorru. Cheia de sacos e sacolas, encenava
Dei por mim vcstirla rlc puta no meio rlc tanta gente, a luz <lo <lia bado com um belo homem ao la<lo' Uma
normalidacle' a minha lou-
comigo' va-
revclava o desmoronamento. Arrasacla, dcpois tlc tantos corpos cura. Do quarto ia ao banheiro cheirar esconclida:Vem
sabe' não Posso' minha
cm cima. C) c:asaco dc lcoparrlo sintótico, compra<lo cm uma loja mos para o Brasil, não agüento mais' Você
sair do pântano' mas
popular do Esquilino, rne rlcnunciava como um rcfletor aceso na mãe está doente.Têntava me agarrar a ele para
Ele voltou para Milão' na
ribalta: urn palhaço, fe<lor de mijo no caÍó da rnanhã. Eram sete não conseguia. Cedia, a lama me envolvia'
horas c eu ali no mci«r cle-' macacõcs <lc operário, cstu<latttes e segunda-feira recomecei'
ernpregaclas que iam para as casas rle Íamília fazer limpeza. Torkrs
Olhos de Monstro me atacava' Cuspia nas minhas
pegadas'
iam para o trabalho, clignamentc. Não tinha táxi nem pagantlo
da otttra vez?
com ouro, aÍuntlei na vergonha. Eu, que <lurantc o clia sempre O gorclo e ô magro voltaram: Onde está a morena
o saPo' a conficlente Íàlava
Íui maclarne, confundi<la c()m as clesgraçarlas. Com aquclas que Está no quarto, semPre às sete cla noite'
<lepois da noitacla ainda insistcm cm volta da Estação. Acabaclas, eles. Eu odiava ela, odiávamos todas' Era
uma espiã' Vi tudo
com
da Daniela' Bateram' toque de
maquiagem l>orrada no rosto. Entram c saem das pcnsõres, não pela fresta e me refugiei no quarto
param. Trafegam, barba por Íâzer. I'rocuram coca e heroína, as polícia. Ninguém abriu a foram embora desiluclidos'
Porta,
páginas errarlas. Semprc fora clo lugar. Por isso eu saía pouco <la
folha de ex-
pensã<>, r.oltava do trabalho quando ain<la estava escuro. Mas na Fui apanhada com a bunda de fora' tive a quarta
quela noite tinha me clistraido. No ônibus todos me olhavam, pulsão. Mais umae seria ou expulsa' O advogado me explicou
Presa
tudo' Saí da Itália
eu sentia r> olhar tle minha mãe em cima dc mim. Accndi a luz do o procedimento, Paguei salgaclo mas ele arranjou

r 30 t3r
A PnrNc r,se FLnir.,rxLr,t F,rntRs »t, At-luqut,nqul/M,q.unlzto ],trNt,t-L.l

num vôo para Lisboa, só por três dias. Entrei de volta pela Suíça, Meu Deus, que faço? Mc lambuzo outra yez, mas não há camisi-
sempre clandestina. Aquela breve saída ajeitava miúa posição. Pre- nha quc clê conta dele. Por que não vou embora? Devagar, vai cle-
cisava de diúeiro e na mesma noite quc pousei em Fiumicino vindo vagar, animal! Pára, scu puto, não agücnto! Perco sangue, me es-
de Linate montei novamentc no carrosscl rodopiante. Recomecei a quenta entre as coxas. Fora daqui, monstro, me deixa em paz. Ele
trabalhar: Caracalla, Eur e Lungotevere. Cheirava coca e heroína pa- scgura a cabeça com as mãos, eu o insulto. E só um infeliz, mas eu
ra trabalhar. tabalhava para cheirar. l)o tesouro acumulado não so- não agüento. Todos embora, qucro só <lormir.
brava quase nada. Gastava tudo entre Roma e Milão, droga, viagens
e tudo o mais. No cofie cla pensão Primavera sobrayam só quatro mil Estava mal, com o sangue coagulatlo entre as Pernas. Mais uma

dólares. Uma miséria. Eu tinha parado de sonhar. cheirada, queria acabar, Í'echar os olhos na miúa cama. Reabri-los
cntre parecles Íàmiliares:Amanhã volto para o Brasil, Iargr: tudo. Mas
Risco os olhos de cores, borro a boca dc batom. Não é mais Olhos cle Monstro estava na porta me esperando. Quero mcu dinhei-
aquelc belo ritual, perÍumo o corpo, Ievo-o para a liquidação ro, velha, amanhã r,ou embora. Nada de clinheiro, Princesa, teu coÍre
Íinal. Cuspo esperma e lambuzo o rabo. Cheiro heroína, não te- está vazio, ria aquela babona. O sapo maldito. Tira fora o dinheiro
nho mais futuro. A Europa se apagou, eu \rago no escuro. Não sei clue depositei, scnão te matol Chama a polícia, sc tiver coragcm! Duas

mais o que quero, por que continuo. Não amanhece mais, não amigas me tir:aram dali e mc fecharam no quarto. lmóvel, o universo
sei mais quem sou. Perla, meu Deus, que destino, não consigo clcspencava em cima de mim. Mil mãos mc faziam em pcdacinhos:
mais me livrar clela. Ouço vozes. Cícera, quero dormir. Faz com Eu mato aquele diabol Abri a porta, ela estava arrumanclo a cozinha.

que eu adormeça dentro do tcu carinho. Deixo tudo, r,olto para Eu via só o horror, não via nada. Deu um grito, fiquei cega. Esfaqueei

casa. Por que scrá quc este put«r está buzinando? Sim, sim, faço o munclo golpcanclo ela nas costas. Ela agarrou mcu braço com Íorça
o programa: cinqüenta na bunda, trinta para chupar, mas abaixa <lcsumana. O monstro continuava a vomitar em cima de mim:Veaclo
esse farol clesgraçadol Meu Deus, assim não, isso é um inferno, clesgraça<lo, man<io te prender. EnÍjei a scgunda c a terceira faca«la.

esse ó um infeliz. Entre as pernas tem um pau grosso como fundo Eu sou <lcsgraçada. A velha, no chão, gemendo. Sangrava, cra tam-
de copo, um pobre-coitado. Fala, fala, fala, quer falar cla sua des- bóm uma pobr e-coitacla. Fora tle mim, corri pela via Manin na dire-
graça. Todas as mulheres o abandonaram. Mas o que tenho eu a ção da igrcja <1o Esquilino. Estavam me seguinclo, os xingamentos me
ver com isto? Cada um queima sozinho no próprio inf'erno. feriam as costas. Era uma clesgraçada, iam me linchar. Gritei quc cra
O nosso, entre as pernas. Não, para você não faço o programa, assassina, me entreguei à patrulhiúa que passava. Pedi ajuda, a n-ra-
você é cloente, vai com uma puta. Ele fala comigo, estou no cscu- tilha raivosa arrcganhava os dentcs. A patrulha me levou embora al-
ro. Bato uma fileira, não desço do automóvel. Ouço mas não es- gemada. Estava salva, longe daqucla multidão incxistente.
cuto. Sopra vento na minha cabeça. Um pobre-coitaclo, um lixo.

r32 r ll
A PnrNcrs.q

Houve o processo, a sentença: condenada a seis anos por ten-


tativa de homicídio. Fui submetida a exames: sífilis e HIV positivo.

Sem esforço, nos braços do <lemônio, na Europa chega-se


em voz baixa, silcnciosamente. Aqui neste país, não sc morre es-
tronrlosamentc. Baleada ou esÍàque:acla, entre gritos e tesouras.
Aqui a gente desaparece quieta qLlietâ, em voz baixa. Silenciosa-
mente. Sós e clesesperadas. De Aids c cle heroína. Ou então den-
tro de uma cela, cnforcada na pia. Como a Celma, que eu gostaria
de lernbrar. Dormia na cela ao laclo, dentro rleste outro inÍêrno Entrevista
on<le hoje vivo e que clccidi não contar.

t3+
Mauttlztcr : Princesct. Qyal é a história deste nome?

FenNaN»,t: É uma história curiosa. Aos vintc anos, cm 1983, eu


trabalhar,a em um restaurantc muito Íàmoso: um restaurante cujos
donos cram clois irmãos, aml)os oflciais da Aeronáutica. Chama
vam-sc Omar e Risomar. Eu trabalhava na cozinha c substituía o
cozinheiro, quc se chamava Arlindo. Um dia Risomar queixou-se
com Arlindo. Disse-lhe quc não tirasse folga cxatamcnte nos rlois
clias rla semana em que ele vinha almocar, I)orque ninguém sabia
fazcr scu prato preÍ'erido: o Íile à parmigiana. Arlindo responclcu
quc har.ia outra pess()a que poderia fazê-Io igualmentc bom. Riso-
mar pcrguntou quem era c Arlinc]o respondcu quc cu seria capaz:
Fcrnandinha. Foi assim que Risomar, na Ê'cnte dc todos, dissc:
Ollra, minha l)rinccrsinhâ, s(r você conseguir Íàzer o hlé à parmi-
giana corÍro cu gosto, vai ser a princcsa do mcu restâurante . I)ouco
[]sta cntrcYista liri rcalizarlma prisio, r'r»n r ajurla <lc Gior'.rnni'lhruponi. Grar,ns .r cle, rlcpois chamci o garçom para leyal o prato para Risomar. Toclos na
íiri 1>.ssi'cl lazcr'iajar t:ntrc a st'r'àr "dos l>rigarlistas" c .r'!ros trars.xuais,'.
I)(,queno cozinha pensaram quc eu ia lcvar uma bronca. Em r,cz clisso, Riso-
< a<icrn. .rnrarcl, ,,tk' t'u esrte'ia .ls
l)crgunlas. Âs rcsPrstas crrcgar a.r rrcp.is dc al-
guns rlias, snPt,ran<kr i.rr,rprcc,sircs, mar me deu parabóns e aunlentou meu salário. Foi assim que virei
l)()rta)(,s r Proil>ii,õcs. l,1rc uma pergunta e
()utra, ao lo:tg. d.s,tcs('s quc Íbr.t.r ncccssárir)s
Parà â rcalizacão rla uttlc'ista, acon Princesa. Dcpois, na noitc, muitos clientcs me procuravam per-
tt'tlr.rm mil trtisas clut'ttão são Int'ncit»rad.rs r.às cluais apt'nas se alutliu na intrgrlrrcão.
guntanclo: Quem é a bicha chamada Princcsa? Aqui no cárcerc cle

r36 r)7
A Pnl.':t r,s.r
Fl,rrN,lNDrr Fanres Dr, Ar.nuqrrr,rrrprrr, / M,runrzro JrNnH-t-t

llebibbia, cn'r 91, quan(l() cu cht_-guci, os ()utros tr.arrs r,c crnhe


<laqui, conheci urn deles. Era meu cliente e mc chama'r,a de Fernan
«riam crrmo Princcsa. Hoje prcfiro scr chamarla rlc Fcrnirnda.
cla. Quan«lo me e)ncontr(>u aqui <lcntro, talvez para não atrair suspei
É rnais rliscrct., Princcsa ,ã, tlá entcn«rcr. ccrta rrunr
1>ara
'cz, tas, passou a me chamar de Fernando. Comprecndo perfeitamente
l'»ar, urn trans mc char,.u clc I'rinct'sa c t«rrr«ls .s crlicl-rtes sc r.ira-
raln l)ara ver quem cra a tal l)rincesa. Fernanrla ó rnais rlisr:rt,to. quc ele tcnha agitlr-r assim. Alguns clelers, cle brincadeira, serrr quc os

outros vcjam, mc charnarn no Í'crninino, uma coisa normal. C) <lire


tor cla pcnitcnciária tamb(:m mc chama rlc- Fernanclo, é: lógico. Mas,

I-ortr tltt strisão, acontccitr tocô .scr or'triqttro ct Ji.\clttir


sc ele tivessc me coúeci<lo do larlo de Íbra, não tcúo clúvida de que
[)(tr(t.tcr thrrmrttrd
mc chamaria dc Fernanrla. O pa<lre mc charna rle Ferrnancla. Os vo-
pcl t, nonte.Jàtn inino lc lcr nonlo?
luntários <la Caritas e alguns mir<licos mc chamam de Fernancla. Mas
1: uma cxrisa normal pâra estas pcrssoâs arlotarem clois cornportamcn-
Nã«r, nunr:a
Prcc-isci rlis.uti,ruit, Para (lue
lrc t.[ra'rass.,r rlc
tos. Para os pres()s, no cntanto, a regra ó uma só c pronto: Fcrnanda.
I;crna,«1.r. M.sr,, .-ls l)ass(ras r;uc c',rhcciàla 11)eu n.nrt' <lt. h.-
I)csde qLlc estou na prisão, só <[ois entrc os prcsos quc conherço me
lr)cm, ('()rrl() os «lonos <las Pcnsõcs onrlc nrorci, nrc Chanra|ar-n «le
('orrr lt.spt.i(o. chamam no masculino. Nunca cnten<li por quc só a mim chamam
Ft rnarrtla.
n«r masculino, cnquanto outr()s trans, muito mais horrrens do clue
I'r,ra
Prisãr, (lLr..rl .)c <'..h.r'iir r,r' t.har-r'ra'a rlc []r,r,an-
<la

<la, rrcsrn. c;uaarlo s.rbia 11r-re r)() ,'l('r.l


cu, elc's chamam no Í'crninino.
l)assal)ort. t's1ar.a t,s.rit.
lit'rna,<1,; .u t'ntã. rnt' r'ha.r'r,r,ar, rl. scnh.r-a ,u scrh,rita. I;.ra,
trunca tivr: pr.l.,lt'r'..rs n.ste scnti<1.. Nur-rc.r. N.s rcstaurantt,s, os
Há ttlgum tempo vi um tÍans chtrmado Kclly fuillar.firiosamentc porque
garç'ons [rrc crharnar-anr rlc scnhorita. McsDro os c,]it,r-rtcs (lr.lc rnc
Ltm pÍcso, com ,lesprezo, tinhtt chamatlo clc de hicha. lsso ocontecc com
usavam r.'orlo hornerrl r.n(. r-(.sl)(.itar.arn t.rrrno rnulhcr.
.lreqLiônci cr nu pr isão? [,.f-ora?

Não, acontecc só na prisão. Do laclo <le Íbra, <leircncle cle como a


E ncr prisão, conto é ,7uc
gttanlas, os Ltücntcs ltcnitcnciários, os ntérlicos
t»s

pcssoa sc comporta. Lá Íora, isso não acontcce com quem se com-


c os olttros prcsos chantottt t,ocô?
porta bcm. Cornigo quasc nunca acontcccu, sr5 com algum bêbado.

Na prisão os guar<las, p«rr rcspcito ao pr<lprio tralralho, Çpr'l_.Sçr, !,* t.an' gg*g.gg*;j&Eüglgl&lgltittjggrisão. Pcl«r
por ctrusa rJa
<lirccão, me chamam n. masc.ulirr; sãr> ,briga<lr_»s. Mas, sc- cslir.cs_
modo corno sc comp()rta, clizc-m que parccc uma garotinha. Ela sc

chama Celma. É rcalmc'nte a mais ferninina, na voz e no conrlx)r1.r


sr:,r lá Íbra, .ã. r,c r:har,ariarr ,o
,rasculin,, mc chan-rariar, t]e
mento. Mesmo assim, vi presos c guardas charnanclo ela tlc biclr,r. Vi
Fcrnarrla, tcnho c:crteza. I{á cl.is an.s, quanrl. cu ai,<la cstava Íora
uns guardas charnanclo a Gianna, urn trans muito rnulht'r, tk' lri« lr.r

r38
t39
FtlnN,cNt r.A Fantls t» At'ttuqurnrtrr'lt'/ Mauutzto J'INNI't-rt
A PnrNr:r,sa

também. Neste caso, talvez seja pelo modo como ela se comporta. Scja como for, é vcrdatle que tem clientes que nos peclem

Entre nós nunca usamos esta palavra. Mesmo sc alguns tôm barba, um comportamento masculino. Esta é a confusão' Na maioria das
se en-
sempre tive respeito por eles. Mesmo se não concordamos em na vezes, são casados ou têm namora(la' E aí quc muita gente
gana, quanclo pcnsa que o homem que vai com os
trans é' neces-
tla, ao menos nisso nos rcspeitamos.
sariamcnte, veaclo. Não e bem assim'
Lógico, se elc é visto com úm ga! é cliferentc ! Porque o ga7'
lbcô.fica com rait'a quantlo alguém tliz que você e gav ou homossexual? qual aspccto Í'cminino elc tem Para oferecer a um homem?
Enfim, tem clientes quc quercm tlos trans só comportamentos de
Fico com muita raival Porcluc, ain<la quc cu Íàça partc cla mesma homem. Tem outros que querem do trans os clois dcsctmpenhos:
raça, façra aquilo que lazern o cto! orr o homosscxual, somos «liÍi:- <lc homem e cle mulher.
() gay sc aprr:scnta rliante cla Íàmília como hornt'm, r.cstido
rcrntes.
dc- homcm. S<i escon<lirlo conÍ'essa quc ó fcamca. Muitos clclcs vão

com rnulhercs Lr conr homcrrs. f)c1-lois, ató gravata usam. C) trans, l,,la prisão, entre os transexuais, há quem se comPorte como homcm?

pclo contr'ári<1, sc travcstc rlc mulhcr' <liar.rtc rle torla a socic«la<lc.


Sim, há quem se comPorte assim. Não só na prisão, mas
Íbra tam-
Mcsrno clue haja 1;ouca tliÍ'crt'ncra cntrc gcrt,, homossexual c trans, e
scja quasc turlo a mcslna coisa, o 17,11, ri rcscrvarlo cncluanto o trans lrém. A razá<t ô.o diúeiro' Eu também mc fiz de homem Para ganhar
uma
não tcrl me<kr, é assumirlo, se m()stra corno é totlo munclo. <linheiro com esses clicntes. Mas nunca me fiz <lc homcm Para
1>ara
O hornossexrral é rliscrcto, cscc-rn<lc scu mal-estar, scu r,ício, <las mulher ou outro trans. Para mim um trans que sc comporta
Pal"a

como Í'or, carla um tcm scu rno<lo dc scr. como homcm Para outro trans é uma tristeza, um nojo' Conheço
l)(-ssoas cstranhas. Scja
tantos que fazem. Eles tentaram comigo também' LáÍorac aqui
tlcn-
(lisse que não.
tro. um trans meu conterrâneo tcntou. Insistiu, eu
Se entendi bem, destle que você decidiu virar Fernanda, inclusive no as- Não sci quc Prazer pode existir em se fàzcr cle mulhcr Para outro
trans, para mirn é um tédio. Eu sempre só aceitei amor tlos homens
()
pecto .físico, passaram a te chamar no.feminino; mcrs acontece alguns
hometts, ainda que um pouquiúo fantasiosos' Acho que um
transe-
clientes pedircm seruiços como homem?
xual que sc faz de homcm Para outro transcxual, na prisão, fazia
tam-

Sim, mas estes não são clientes só clos transexuais, são clientes das bém fora; quer clizer que gosta é de mulhcr e não de homem'
mulheres também. Não existe uma característica pela qual se possa Conheciumgarotoquegostavadeanclarrlemoto'subiatrás
clele, fazia a ele. Meus Peitos encostavam nos seus
{iio e me agarrci
afirmar que eles trepam só com os trans. Seguramcnte, eles tran-
sam com as mulheres também. ombros. EIe clisse que gostava de scntir meus peitos nas suas costas

r+r
r+o
A I'nlrct,s,r Ft,tt\ rtNl rrt Fr\lLlÀs l )f A t lti trlttl'lrtlt lt' / M'tt ttrtzlc l J"tNxl't tl

()u qua
cnquant() antlar,a dc m«rto. l)cpois rlaqur:lc passcio r.i clue aquclc ga tcriam vinrlo comig(); Para não pcr<lcr a ca(la noitc dois, três
roto cra homcrn dc r,crclarlc. E[r: só tinha aclur:la fântasia <lilcrcntc, pc- tro clictrtes cluc me rctldiam, no mínimo, <luzcntas ou trt-zentas mil
liras. c<rrn o sfiiptcosc os clicntes Ílc'ar,arn satisfc'itos c cu ganhava
culiar-. Então cu l)crgur)tci: Mirs quanrl<-r voc:c1 leva as rr()!r.ls na m()to cli-
()utros
ro<:ê scntr: o nr('snro l)l-azer qu(: sentc cornigo? Ele rcspontlcu quc não nheiro. E.ra olrrigarla a fazcr' Na c:alça<la cstava I-x) meio cle
g()stava <los pcitos rlas rlulhcrcs para aqucla fàntasia. 1l-ão cra vca(l(), trans, rlas (los t'catlos, cntim, <liantc clc h«rmens tle to«los os
Putas,
() tllet-t
cra honrcl-r-r, c l)cnso <1ttc cr»rtinuc a scr ati'hojc. F.u sci, clur-t-rr tivcr a tipos. Caso cu tiYcssc vc-rg()llha' ()s ()utx)s trans tcriam leYaclo
(]uantlo não tinha
lítrgua vcncnosa pr«ivavclnrcntc vai tcr um l)cnsanr('nto nraltloso. Clicntc. Não cra íár.il, I]avia a (,()n(.()rri,ncia.
.(),c()rrôncia, cu tra|alhar,a atét r.cslitla n'rtlralmente. Em rcsut]].,
à

(le «lia' era


noitc t'tt cra l)uta. Mas, nos ambicntcs ontle trat-rsitava
Em certo momcnto (ld tLto t'i(ld vocô rlccirliu rirar l:arnunda rle ,lict c rle urna tnulhtrr c selnl)ro Íui rt'spcita<la'
noitc. (.omo cra a bcrnanrltt tlo dio? E cLtmo cra tt tla noitc? (]uanrlo cu ain<la cra utn gg,, ott rrrcll.ror, <1uaut[o t'u aitrtla nãtr
ainila
tinha Pcit«rs c cra ulra coisa <1ttt: rrão tlaYa llara erltendcr; rluantlo
l)cpois rle chcgar ontlc cu tinha quc rntru c()rl)o clc sili<'onc t'
crhega<lo, aincla não tinha nenhum trac-o fi:rlinino, Ilão tinha as 1lr<lteses
lir,cssc uruclarlo, a rlilic'ulrla<lt' pcrnrancc'ia .r nrcslra. I'ara vir,r'r cu a rkrsagtrm h<lrnrotral clue t'nl'ro hoic; cntão, na
('11<'ca,
lá tinha intcn-
tinha c;uc mc' pr«rstitr-rir. l)c out«r rnoclo, t:<.rmo ia fazcr para pagar tle ({)piar (' cle scr conro r-rrtra atriz llrasilcira nlr.tito fàtn<lsa,
a Sônia
ç.ão
Ilraga. Eu a via uos lil[ies, na tclcvisão no lJrasil' C]omo Inulhcr'
«l alugucl, colrcr, c'()nrprar x)upas t: torlas às olrtras cr>isas? Sônia

(lon-rec'ci a rnc prostituir há <lcz anos. São coisas cluc a(\)ntc- c.abclos rnuito t ourllt'itlos trrtno (-Ll g()st(). A llclt-
Braga c l)erfi.ita.Tl'rr-r
cctn ató nrcsnr() na vitla rlc uttra nrrrll-r,.:r normal. l)ara rrão rlcpcnrlcr <lela I'nrrlrcrlâ, mas não (ls(:Llrâ' () r()sto ulll P('Ll((.)
lnJgrír' n'itl al'rc-
rlc ninguórn, para vir,cr rlo rncu jcito. Scja corno (' ser-r-r1lrc tivc
1i»-, t'n gosto rle rlonrla<lo. No r-rrcu morlo rle vcr) s('u tisirrr perft'ito. Eu
vivt:r assirr. L)c noitc l<xlos rlt: rêcrn. Clorn<) l)uta, sL'qltcr() ganhar c veitr
cste sonho: s(,r cotTto sônia llraga. Holc, se mc olho no csllell'ro
algun-r rlir-rhciro a nrais, tr:nho rluc cxlx)r rrcu corl)(). Mas s«! dc noitc, Sônia l3raga tras rcvistas, ('()tlstato rluc a <lit'crença c p«rttca!
só no h-rgar ontlc vou para aclucle tipo dc tralralho. A tarclc, ou nlcs-
nr«r à noitc, cluanrlo não trabalho, g()sto dc rnc rrstir Liorn() ulr.l uru-
Iher casatla. Mcst-no quc cu nã«r tcnh.r um rnarirlo, scrnl)r(' rne ('orrl- E'risrcm cntrc () corPo ('onstruí'lo pe lt>s frorrsexual'ç
'lif'crenças 'lc -formo
portci corlo Lllrla l)uta;
assit'n. Nunca saí l)or aí <lur:antc o rlia vr:stiila brttsilciros c o cotpo cLtnstruítlo ltclLts trtrnscxuais italianos?
mc <lá noio urna mulhcr qllc sc conrl)orta com() I)uta na fientc <le
to<lo mun<lo, na fi'cntc clas crianças ou tl«rs r.c]hos. Dr.rrantc o dia Sim,atliÍert'nç'acxisttreómuitovisivcl'['araostranscxuais
bcm
i' lrreciso se <lar r> rcspcito. Nunca l'i'l. sttiptc(tse de <lia, a não ser na lrrasileiros, () corllo ó cttnstrr.ríckr (r()m a Prcocr'lPação <lc: tornar
praitr. Dc noitc, sim, fiz para aqucles clicntcs que rlc outro rnoclo não cvi<lcntc a ltarte quc rnais chama a atet-rção de5 [6p11:ns' principal-

t+2 t+)
FsnN'cNo'{F'rRt'qsDt'At'tuqur'tr<2ur/M'lttntz-toJ'e:lNrut
A Pnlrcr.sa uma veia
Mas é menos arriscada, porque quanclo a agulha pcga
rosa.
o bumbum' o
mente dos homens brasileiros' Esta par te é a bunda'
necessar]:s
u dor' Para mim foram
ou uma artêria, você logo "ttt"
rabo. Quando você tem uma bela bunda, está
tudo certo! Depois' parecia que eu estava Pa.n-
de aplicação.
duas horas e r,inte minutos
se faz um bom tra- suportar
tem as outras partes do corPo nas quais, quando ca-ma Porque não conseguia
do. Queria me levantar da
masculinos' O peito *:^:-"1,,1,11
balho, é possível eliminar até 600^ dos traços que era a clor cla beleza " "t:
toda aquela dor, mas sabia
brasileiros' As mulheres brasi- acho que não conscgulrla
grancle não agra<1a muito aos homens a sangue Íiio três vez-es' Hoie'
fiz aplicaçao
ao Íísico' mas' na
leiras devem tcr o pcito de um tamanho aclequado aquele sofrimcnto'
resistir novamente a toclo bra-
bunda, todas exageram. Fiz com um transexual
Eu fiz aplicação só no bumbum'
bunda Pequcrna'
Os transexuais italianos têm peito grancle e de
sileiro que mora no Rio
Muitos têm medo da aplicação cle silicone e' quanclo ouvem
falar 1"*]:'-tl1':"::il:-:J::J:J;il
Brasil' E um tran
foi expulsa e voltou Para o
muita importância Construiu o
dos riscos, <iesistem. C)s trans italianos nào dão silicone' Severina' é assim que ela se chama'
cação clo
Basta que o peito seja
à bunda, se PreocuPam mais com os peitos' centenas cle corpos' "*1",:'l'::
corpo <le muitos transexuais'
grande e Para eles está tu«lo certo'
'
ela tcm cinqüenta ou cinqüenta
e ctncrl
ros trans brasilciros' Hoic
No Brasil tcm Pessoâs que
ficam ricas aplicando silicone'
anos de i<la«lc'
outras lâzem as
um méclico' botar próteses'
Os
Algumas trabalham cm clínicas especializadas' O peito convém lâzer com
clos f'eitos com
aplicações na PróPria casa' hormônio são clit-erentes
o silicone' peitos quc crcsceln com scm Parar'
No Brasil foram os travcstis que comcçaram a usar é preciso tomar hormônio
próteses. t'ara os primeiros
corno era possível que qualqucr modo'
depois disso muitas mulheres se Pcrguntaram elcs rlesaparccem' Eu' cle
porquc, sc você parar,
um transexual tivesse um corPo fcminino mais bonito
e harmonioso prótesc arre-
hormônios' Porque tivc uma
tenho semprc que tomar
rlo quc o tlclas. São muitas rs mulhcres quc invciam os trànsexuais' assim visivel (um peito
bentada e' que não se note um clcÍêito
Para
é exatamcnte ter a tomar hormônios até quando
porque a característica do transexual brasileiro obrigada a
maior do quc o outro)' sou
faz'erem apli-
tr'r.rd" bela e gran<le. Dcpois deles, Í'oi a vez das atrizes
assim como no
putlcr rtfazcr a oPcl'açio'
cações dc silicone no peito também' Mas
no peito
-
é muito perigoso. Alguns trans brasileiros
Íizcram aplicação anestesia e exis'
rosto -'- aplicação de silicone com
Existem especialistas que'fozem
Lrola' ficott clcforma- as aplicações em casa'
ile silicone no rosto e o rosto inchou como uma são méclicos eJaz'em
tem osbomba'lo'u'' q'"' não
tipos possíveis de aplicação: o primeiro se faz
com anes- são tÍansexuais como Severina?
<lo.Têm dois meJalartlt'"o'' pu"o'''? Todos
l/ocê po<le
tesia, o segunclo, a sangue frio' Este tipo a sangue
Íiio é aqucle pre-
faz a aplicação' Já são legalizaclos' Mas
Íêriclo pelo bombaclor ou bombadeira, que é quem de silicone em casa não
Os que fazcm aplicações
de silicone; eram sem- que saiba tle
houve muitos mortos Por causa da aplicação tem suas e no Brasil a polícia' ainda
ca<la país "gtu''
anestesia é muito dolo-
pre trans que exageravam' A aplicação sem
1+5
t++
A PtrrNc'lsa
Fr,rrx,rNo,r F.lur.rs »r, A r.ruqtuu<2u1,/ M.ltrnrzr() J^NNt:t.Lt

tudo, Í)nger não saber. O problema é


que estcs br:mbaclores _ qucl Você conhece alguma historia dos bomba,lores Je silicone?
geralmente são transexuais -- creveriam
ter um pouco mais ae c,i-
rla.o e resprnsabili.ade, porque nas aplicações
fr:itas em casa o risco Conheço tantas! AIem da Ser,erina, tcm outras l>on-rbarleiras muito
<le morte ó semprc muito alto.
Acontcce, às vezes, que alguérn
sistc a uma operação rle siliconc,
as_
ltor exernplr>, são dois trans quo moraln no
boas. Jclma e Fiorella,
depois compra o materia.r c sai es-
Rio. Já a Eunice é mulher c mora em São Paulo. João é homem e
palhanrlo clue também sabe Íàzer aplicações.
Nestes casos, o primei_ tambem trabalha ern São l'aulo. Marli é urn trans c vive ern Recif'c,
ro cliente que cai nacluelas mãos de'e se consiclcrar uma pcxsoa cle
agora se operou e mora cm alguma ci<la<lezinha aqui na ltália. Casa
sortc quan<lo não acontece nada,
porque, se a seringa pega um vaso da. A írltima \rez gue a vi Íbi emViareggio, em lnarço tlc 89. Manucla
que vai para o coração ou para o pulmão,
é morte certa. Muitos é trans e vive cm São Paulo. Daniela estava em Curitiba. Agora mor-
transcxuais morreram cleste morlo
no Ilio e cm São paulo. reu, n'rAs Íiri <> primciro trans a fazer aplicação cle silicone no Brasil.
Atualmerntc as clínicas legais são cinco
ou scis. Há alguns Morreu em ufir <lcsastrc clc automóvcl.Tbclas viraram bombarleiras
anos erarr cluas ou três cm todo o
Brasil. Iam as mulhercs e as aprcnclen<lo das r>utras. Dqrois tcrn a Rosana Staisc, ir transexual e
artistas. Só agora é que começam a ir
alguns trans em processo vivc em Belo Horizontc. Ncuza é outra, é mulherr e r,ivc cm Carnpi-
clc transformação.
nas, pcrto de São Paulo.
É isto oí, noventa e cinco por cento
rlos corpo.s feitr>s cnm Os bornbaclores existem há nTais ou menos trcze anos. Ago-
silicone são ilegais; são feitos pelos
bomba<lores. Elcs são quasc to_ ra aumentaram, tem rnuitos novos. Não existern escolas ltara r,irar
dos transexuais. São ()s transcxLlais
mais rcsponsáveis; não são pes_ bon-rbador: é prcciso aprender com alguérn. São uns tlerz Íàmosos
soas cluaisqut_-r. Severina,
ltor excmltlo, é Lrm transexual qllc nunca em to<lo o Brasil: duas mulhcres, um homem e scte transcxuais.
te-ve problema com as aplicaçõcs. Fiz
torlas as rninhas aplicações As clínicas mais fàmosas são a do dr. Vinicius, no Rio, on<lc pus a
com ela. Sdrda última vcz me senti mal. Morava
cm São paulo prôtese nos seios, «: outra cm São Paulo, do <lr. Iran, a mais conhe-
e Sevcrina Íicava no Rio. Tinha I'cito
a apricação e não <revcria ter cicla. Hoje c-n-r rlia clevc haver outras no\ras.
viajarlo clc volta no mesmo cria. Mas
assim rrlesmo; uma via-
'iajei Quasc to<los os trans Íi-eqüentam os bombaclores. Só vão às
gem tão longa quanto Milào-Roma.
euanrlo cheguc-i a São paulo, clinicas para lâzer os pcitos ou então quan<lo têm problcmas com
estava saind<) um pouco de silicone
rro laao clireito cr, quacrril. Ern
o siliconc. Acontece que, a um cirurgião, r,ocê não pode pedir
1986, queria Íàzer os peitos <le silicone
líqui.., mas a Severina *e a quanticlaclc dc silicone que quer: é elc que clcci<le. Com o bom-
clisse quc era perigoso e me
aconselhou procurar um mérlico para ba<lor quem clecidc é o trans. As mulheres vào aos nréclicos, por-
aplicar as próteses.
qLlc: as mulhcres tên-r medo de exagerar. Os trans, não, antes de
chegar ao móclico eles já rlecidiram. São eles que clecidem, é esta
a conversa.

r+6
t+7
A PnrNcrr;sa Fr,nn,rn»a Fnnt,ts t>l AI-tlttt2utnrlttt,/ Maunlzto J,lNNlt-t.t

ComoJoi teu enconlro com a Severina? de heroína. Suicídio. Tinha se inietado cinco gramas, depois de saber
que estava com Aids já maniÍêsta. É.u-o, uma a cópia da outra, eu e
Nos conhecemos em setembro de 1985. Eu vinha de Salvador, Ba- Perla. Mas, para chegar a ter um corPo como o de Perla, foi necessária
hia, e fui morar num apartamernto em frente ao dela, na mcsma uma segun(la aplicação. Perla c Princcsa Carkrs & Fernantlo.
--
rua. Na Bahia eu já tinha ouvido falar que Severina era a melhor. Severina foi um clos primeiros trans, quero dizer, quando eu
Estava no Rio há três dias quanclo, passando perto de uns cinco ou nasci cla já era trans. Vivia cle Prostituição, e em 1980 Íbi Para Paris'
seis trans que con\..ersavam com uma senhora, parei e perguntei a Mas não teve sorte e foi expulsa. Em 81 foi para Curitiba fazcr as

já conhecia de vista, se conheciam Severina, a


<lois rleles, que eu aplicações com l)aniela. Na volta, trouxcr uma certâ quanticlade de
bombadeira. Foi a senhora quem me respondeu: Sou eu. Aquela silicone. Fez as aplicações nela própria e acabou virando utna bom-
senhora era um trans, era ela, Severina em pessoa. Perguntou se eu badcira famosa. Severina fcz também o corPo de algumas mulhcrcs.
queria me bombar. Respondi que tinha medo. E ela: Como medo? Ela tinha alguma prática porque, quando ain<la era go7 e vivia com a
Se você quer ser mulher:, tem que suportar a dor-, só assim você se família, era enfermeira. Já sabia ondc pôr a scringa com o silicone.
transfcrrma em mulher. De qualquer modo eu já tinha intenção de Hojc em <lia é muito expcriente. Estive com cla aqui na Itália, em
pôr urn pouco de silicone para ficar com um pouco <le quaclril, 88, em Milão. Ela tinha vindo Íàzcr aplicações em alguns trans.
como as mulhercs. Dcpois ela me perguntou cle onde eu era: Cam- Quanclo se Íàz a aplicação, scis horas antes e scis horas depois
pina Grande, Paraíba. Foi uma surpresa: ela também, vinte anos não se potle comer nada. Nem tomar bebidas alcoólicas, como vi-
antes, tinha partido de Campina Grancle para o Rio. Éramos con- nho ou uisque, nacla.
terrâncas. Perguntou por que eu não tinha vindo direto para o Rio, No tlia marcado, Scverina mc fez entrar em um quarto ontle
eu contei para ela a minha vida. Ela me contou a dela. Disse que, tinha uma cama dc ferro com um colchão duro. Poderia ter levado
se eu quisesse, podia fazer logo a aplicação de silicone e pagar <Je- alguérn pal"a yer, mas quem tinha coragcm cle vir?Vcio uma colega
pois. Quanclo Íui à sua casa vi tantos quadros, tantas fotogralias de que, quanclo me viu com todas as agulhas enfiadas na pele, gritou
trans famosos que tinham passarlo por suas mãosl Eram corpos be- tanto que aumcntou o meu medo. Normalmente a llombacleira não
líssimos. Todos feitos com silicone, lindos de rnorrer. Trabalhei du- quer a presenca <le cstranh<ts enquanto faz as aplicações. Depois da
as semanas na calçada, naturalmentcpara juntar o dinheiro. operação, é aconselhável Ílcar na cama por três ou quaü'o clias' ca-
-
Foi então que vi o corpo <le um trans. Então pedi a Severina para minhando não mais cle cinco ou <lez minutos seguidos por <lia.

me fazcr igual. Era Perla, um transexual de cabelos escuros e pele


morena como a minha.
Quando, em 88, revi Perla em Madri, tanta gente me confundia Doniela, você diz,-foi o primeiro transexuol que usolt silicone no Btasil,
com elal lamento muito que ela tcúa morrido na Espaúa. Overdose em E I .Você poderia Jàlor um pouco sobrc ela?

r48 t+9
A I)nrlcr st Ft tr:r.,t:'l rt F,ttrr,ts nr. A rrtrtlr rr,uqr rr,/ M.,rr rrrizro J,rr rt,r t l

l)anicla loi urna quc tlr\rc sucersso não por sua bc'lcza, mas por causa rlualcluer outra l)artc rkr corpo, o silicrine pLrnetra na carnc, protun-
rlo silic:onc. Em 1980 firi para Paris e pôs prótcses cle silic'one com rlarncnte. Então, par.r tirar o silic«».tc qr-re já pernctr()u na carnc, é
urn cilurgião plástir:o.Vrltou rlt: Paris c()m uma bcla grana. Corno prcciso ir a um bonr c'irurgião plástico. () rnirrlico teim cluc usar ins-
transexuai era perfeita. Dcpois cla viagcnr à França, não 1>recisou trurrcntori muito solisticarkrs, tenr clur abrir, rlclicatlamct'ttc', mús
mais st: prostituir, c()mcçrou a Iàzer aplicaçõcs cle siliconc em trans culo pol mirsculo, l)ara scl)àrar o silic'onc cla carne . Ali:rn tlisso, para
c tarnlrónr crl mulhcrcs. tirar o siliconc, ó nerccssário làzcr unia ;rncstcsia perÍcita.
Foi cla qucm Í-cz () corlx) rlc urn tlos transexuais mais boni- Até hojt: não r-i nenhurn tràns cluc cluiscssc loltar atrás. Mas
tos clo Brasil, Rolrerta C]lose. l{obcrta é uma artista c rnotlclo lrra- conhcci rlois trans l;rasilciros (iuc, [)ol" r'ausa <lc r:lcÍirrrnacõt's, tir-r:
silcira. E opcrarla c vive no Rio; c conl'reciila por rnuitos fi-anccscs, ram que lirar partc rlo silir'«rnc. LInr clcles tiliha tt l'()sto c o (orp()
suícos r: italianos. n'ruito lronilc)s nlas tinha t'xagcr-a<lo nos clua<Jris; tirou utn l)()Llc(),
L)aniela lêz otrtros morlelos, por- cxcrnplo aTirca Rubirosa, mas licou c()rn a c:icatriz. () otttro tirou o silicotrc tlo rost«r. Tinha
rluc atuaL.ncntc vivc cm (lerrclrra. () c'orpo tla"luca é csplônrlitlo. clcmais. Mas o rlr'fcito licou. Nunca vi algucnr tir;rr o siliconc
1>osto
Jarlc'v i: outr«r corpo rnoclelaclo por l)aniela.'lêluia l.ipe, o trans para r,oltar a scl' ('orn() alrt('s.
rnais fârnoso clt: São l)aulo, lbi c,la qucrn Í'cz, t,,m su.ls nrios.
IIojc, csscs lrans quc tivcram ()s corl)()s bombarlos por I)a-
nicla são os mais lr«»it«rs rkr torlos. L)aniela era càpaz cle transÍbrmar -loÀrc o.s (licntcs.lbcô tcre ccnrcr.r.r, tLtnto no Brttsil conto nd Eltropd, c

11r-ralclncr c()rl)() masc'r.rIirro ern l'crrrirrino. l--azê-los pcrli:itos (:()lno o na suo hisltiriLl yocê cont(t (lLtc os (licntcs italjtutos mc refiro às cx
tlas mulhcrcs.
1:tcriônt:iLts Jc ,'llilão c Âonrtl sio rntri.i crlutrttlos, rrlcnos t,io/ctrlos r/tr

Danicla cra urra artista, conlo a llobcrta Close. As rluas, .1uc Lt.s ,lo Âio c .§ão Poulo, mas tornbém mrli.s t'jciosos. l'ttcô porlcrirt ,lizer
para chegar onrlc cl'rcgar-am, partiranr tl.r prostitr-riç'ão. 'làlvcz a gucris .stio ,ts difircnços? O quc quer tlizcr"lnoi.s vicio.ço.ç'?
prostituicã«r não sc aclccluasse a elas, mas, se roc:ê pretcn<le muitcr
tla r.irla, tcrx quc sc pnrstituir, assim ilizem. ()s clientcs italianos, r.,u rnelhor, a maioria tl«rs clicntt's italianos,
oitr:nta p«rr c't'nto, gostam rlc r,'ci- tarnbónr a par:t('nrasculina clos

transt-xuais, c nào só a Íelninina. l)ou um cxcn'rplo. Quando r-rm


Depois de aplicado, é pttssível tirar o sjlicone?lbcê conhece histórias de r:licntc c:hc-ga para rninr t' paga atlitrntatl«r, pcnso dc saicla comigo
i transexuais tlue quiserttn voltor otrás? lncsllil clc está paganrlr) l)orque qucr rninha buncla c ponto.
<1uc
I

i Mas, na Itália, nn rnaior partr: tlas vr:zcs não é assim.


Lcigico clue é possível tirar, mâs e urrra operação muito <lclicaila, TL:m clientes que sim, qucrcm mcLl ralro, mas insistem tam-
i

porquc, clcpois ilc aplicaclo no rosto, no peito, nos quadris ou em bérn para quL- eu rne rnasturbc. Cllicntcs clut insistr'nr [)àr.t \'{'r e

rto I'I
À PntNcr,s.,r Fr,uN,rNr rA F.lnr,{s l >t' At uuqut,rrqLtl, /M,quntzto l,rxNI,t.t.t

pcgar no meu pau. Já mc acontcceru tliversas vezes (le clicntcs Íinanceira, etluca<lo. L)izia: Faço s<i 69 e basta. Gosto dc comer e

pagarem só crom a con<lição clc cu mc masturbar. Nãri era inrpor- não cle ser comirlo. Dizia assim.
tante que eu chcgassc ao orgasmo; para eles o importantc cra ver São estes os vícic.»s mais Íreqücntcs dos italianos. Não quc
aquele espetáculo. Muitos rlessers clientes não são bichas, são s<r no nio haja c'licntcs quc prctcnclam cstc tipo
Rit-r e em São Paulc-,
mente pessoas que conosc() lilrr:ram sua hc»noss.,xualiclarle latcnte. dc scrvico. Ilá, mas são a minoria. Aqui na Itália são a maioria.
Antes de r.ir para a prisão, ern Roma, cu tinh.r um t'lit.ntc Dc qualquer modo, acho que são h«rmossexuais aquerlcs clicntes
lixo nril liras por vez. No carro. Eli: nãcr
cluc nle paÇqava <luzcntas quc chupam ou qucrcrn ser pencrtra(los pclos trans. Quanto aos
mc t()cava r-ra frente, cornia a rninha bunila. Mas, antes, eu tinha outros, nã«r os critico. Eles gostam do espetácrulo. No meu mo<l<r
quc mc masturbar na Írcntc clclc. A primcira \rcz que ele me pc clc ver, não são ga;.'s. Outra clif'crcnça entrír os clicntcs curol)eus
rliu, cntcnrli e dissc: Não gosto rlc mc thzcr rlc hornem para
nã«r c os lrrasileiros é clue aqr-ri pagam aclianta<lo. No Brasil, pâgam
voc'ê. Mas clr- rcspontlcu: Não, s1l quero ver clc llctrr rluro c você clepois.
sc masturl>ar. h'rsistiu, c, cont() cstavant crr-r jogo <luzcntas rnil li- EnÍim, são cstc's os r'ícios mais peculiarcs c ll'cciüentcs tlos
ras... Et-rÍirn, mc concentrei narlr-rilo cluc clc qucri.r L', nl('snr() que clicntes r-oman()s c milancscs, víirios rliÍ'crentcs claqttclcs tlos cli-
não Íirssc () rn()u l)razcr, Ílz. Mc scntia mulhcr c horncrn ao mes, cntes rlo Rio ot-t São I'aulo.
mo tcmp(). Era prcr.isto n() l.t)cu trabalho c cu tinha que fãzer,
l)r'('( isJ\J rl,, .lirrht ir,,.
Tem outros c'lir.ntcs quc gost.un rlc corncr os transcxuais, Como é organizada a imigração transexual?
rnâs antcs qucrLrnl scr c:or-nicl<ts. Assim ('ot1x) tcnt cas()rj crn qucl
os clicntcs, h«rmcns con'r bartra c bigoclc, (lucrcm chupar os tran Não existe nenhuma organização. Pode acontecer que, quando um
st:xuais. Não posso esconrlcr, não posso ncgar qlrLr liz e expelimen transexual é expulso da Europa, chega no Brasil e não tem dinheiro
tci tu(lo isso. Nã«r mc cnvcrgonho <'le <lizer qr-rc muitas vczcs satisÍiz pâra voltar, então se dirige a outro trans quejá está com a vida arru-
meus clicr-rtt:s tlcixanrlo cluc explorasscm minha partc n-rasculina. mada. Fazem um acordo para pagar a pâssagem. Algumas vezes o
Fiz clc tutlo, nrcsn)() o que não mc agrarlar,a. Era lirrcatla a aceitar, trans que deu o dinheiro vem pessoalmente receber. Outras vezes
pclo dinhcirol Mas quuro Íi-isar cpc liz só con'i homcr.rs. (lom ou- espera a volta do devedor. Uma espécie de agiotagem. Alguns desses
tros trans ou com n'rulhcrcs, ncm sob âmeaÇa clc mortc consegui- financiadores são trans prepotentes, às vezes trabalham em cum-
riam cluc cu Íizcrssc scrxol plicidade com a polícia carioca ou paulista. À. ,"r", eles esperam a
()rrtro r'ír'io rlos clir:ntcs cluc cncontrei clil,crsas vczcs ó aquc- volta, mesmo daqueles que já saldaram a dívida, e pedem mais di-
le <le lâzer 69. As vLrzcs, prrà scr sincera, com alguns clicntcs cu nheiro. Alegam algum motivo como, por exemplo, um atraso no
gostava. Lembro rlc um senhor bem vesticlo, limpo c dc boa posiçãcr pagamento. Acontece então de alguns se rebelarem. De qualquer

| 52 r53
T
Frnltltl,t Fanl.cs trt, At.trtrt2ut'nqur'/ Miu'lltlzl() J'l:'r:lt'l't'l
A Prrr:.:r'r,s.,r

(ltando um üans brasileiro chega à Eutoptt, a quem se dirige Pdra or-


rnorl«r, a rnaioria <los transexuais lrr:rsileiros vcm à Europa por conta
ganiz,ar sua vicla?
prripria, colno cLr fiz. Vai sLr a ulna agênc'ia <lc r.iagens, pcrle-sc o
cnrlcrcc-o <lc uma pcr.rsão ou <k: unr hotel t' llr()lrto. A cliÍlcr-rl<lacle é a
língua. No ilricio a situacão e rltrra, Irras gcralmcntc tcrr algurirn que
A ninguén"r. A prin.reira coisa que faz é llrocurar um hotel ou uma

cc»rht'r'c portuguôs c, na maioria <las 'l,ezcs, crhcganrlo n«r lrtgar se


pcnsão. Depois, pergunta ao (lono cla pensão, ou a outro transe-
xual que já está ali há mais tc'lrrPo, o nomc clas ruas onde se Pros-
ellc()ntrâIn outr()s tralts...
tituir. Ou então, pede â urn chofer dc táxi para ler'á-lo a algum
lugar que ele conheça colrr ccrteza. Outras vezes, simplcsmentc'
basta começar a caminhar c apai'ece logo alguém que te pára e que
Qtc Trcrcttrsos us(r/rl ().§ fttnsc.rttois pcl rLt cnlr(ir tltntlcstinomcntc no Ikilia?
poclc dar boas dicas. Como iá <lisse, a coisa mais <liÍicil é a língua'
Ain<la que para um transcxual, mesmo estrangeiro, r-rão seja assim
Corn li't'c1iiônc'ia cn1r.u-rr atrar'ós <la Franç'a, pt'la fi-«rntt'ir-a rlcVcnti-
nTiglia. ()u pela Suíç'a (Cihiasso ou L.«rcar-no). Atravcssarr a Í)-()ntei-
tão diÍicil: sobrc certos assllntos basta ltouco Para sc Íaztrr enten-
<ler. Bastam os gestos, Para não dizer quc os clierntes... aPrendem
ra csr'onrli<los rle ntr'o <lr' caminhões c()nl a ctrnrplic'i<la<lt' tlos carni-
nhont'iros. Ou t'n1ão cntranl pcla Átrstria, ou pcla Iugoslár,ia, logo o português.

atravcssan<lo as nront.rnhas, rlt'rroitc, ir;rc. Lir-r passci <luas rrczes


pt-la lr-ontcir-a «le Vt'ntir-niglia cst'«n<lirla rlt'ntro rlc urn r'.rminhão.
são os trans que na Europa cobram peda5lio Pdtd o uso 'los calcatlas?
I)c <;r,r1rr vcz passci tranqiiilanrentc scntarla n() ('Arr() rlc url scnhor Qtem

quc conht'<ria l,r:rn a políc-ia <lc ll-«rntr:ir.r. À, n'r.'r,.,, ar'«rntt't:t'alguns


São os transexuais que chegaram primeiro na Europa, aqllcles qur: se
entr.lr('llr t'orn tlottrrlcntos lnls«rs. (ionheqo hist<irias <lc trans que
irnpõem com PrePotência aos outros. São aiuclados pclos homens,
passàranr, .'ngananrlo a policia, ('()r)r passal)(>rtcs rlt: r'r'rtrIhcr.
'lirtlos os prolrlt'mas r1r,rt'hojt'os trans ('nc'()lrtranr ou então eles se impõem com a proteção tla polícia. Sim, porque
l)ara cntrar na
Itália são rrrnscqiiôrrt'ia alguns velhos trans trabalhavam Parâ a polícia. Isto aconteceu na
<las rlcsor<lens quc arrrntcccram rlcpois cla chc-
França. Na Itália, crarn principalmente os homens italianos, e não
gatla crn rrAssa. ()s prinrr:iros quc c'l.rcgararn na Itália nos anos 85,
transexuais brasileiros, que cxploral'am' Em Paris tinha um transe-
86 t'ht'gavarn tr.rncliiilamcnt(' ('()nr() turist"rs no acr()l)()rto r:le Fiu
rnir:ino. ()r-r cntã«r tle trcnr. Enr U6 <lesembarcarnnr vintc c scis transc
xual chamailo Elisa. Era uma tlas primeiras a chegar. Tiúa se torna-
clo coúecida cntrc os árabes c colaborava com a polícia. Ela coman-
xuais r.ro porto rlc (iôr-x»'a. Tinham <lcixarlo lJarcckrna nurrr navio,
dava uma rua lãmosa em Pigalle. Onde trabalhavam vinte, r'inte e
torlr>s tilcrarn vistos rlc turistas. I1oie, nen-r tru-n «lcz rrilhõcs no bolscr
cinco transexuais, to<las as noitcs. Elisa comanclava e controlava. co-
clcs tc <lariarn o visto. Sri rlcixarn cr)trar sc v«rc:ô tern um trab.rlho ou
brava pedágio e impunha multas. Os otttros trans iam Iá assim mes-
casa rle larnilia para or.r<[c ir. l'l«rjc cxistc rnais contnrlc.

tç+
r tt
A Ptttxt:l,srt
Fr,nx,rx»,r FrHr.'rs ur, Ar rtrrlrrr,rrrlrrr,/M,qrrllzro .),rl:lr,r.r.r

rno, p()rque o iugar rcndia muito dinhciro. Mas Elisa não tral>alhava
ninos r-- mais (livcrticlos clo quc os trans italian()s. P()r isso os trans
sozinha. Vinha scmpr-e numa Mercerlc-s, ac.onrpanharla por trôs ol'l eur()Pcus pcrclcm scus clicntcs.
quatro áraLres. Os trans tinham qut: pagar quanto cla deciclia, scnão C)s clicntcs italianos são rt':rlmcntt: r'icios«rs. Elcs gostam rle:
ela os tirava clali. EIa já licava sabenrlo quanclo o trans saía <lo Brasil
vLrr scmpre caras novas. Urn cliente que passa tocla sernana c vê scrn
c sâbia quanrlo erlc chcgava cm Paris. Claso cle não accitasse as suas mcsmas caras vai cc»n
prc as a prirncira novirla<lc quc apârccc. E aqucla
cxrncliçõcs, cla Íàzia com qllc clt: Íbsse cxpulso. Lnccliatarnentc. Elisa
n«rvirlirtl«: somos nós. Há tarnlróm o caso rlos clicntcs Ílx«rs. Lcml>ro
liri assassina<la lrrutalmcntc l1a portâ clo scu al)artamcnt() por ()utro lr- c rluc crn Milão tinl-ra urn clicntc cluc saía muito cornigo c cluc tinha
transcxual brasileiro quc nã() agücntava mais «,rs abusos clcl.r. Esta his- merlo da rielirrqüência ilos outros trirns. I'orlc acontcccr tar-n[rórr rlc
trlria acrrntcccu há uns rloze anos.
um clientc sirnpatizar conr unl trans, ficar cr»n clc c p(xrt().
t No Bois rlt: I3oulognc, não cra uma únicra bicha qucr-n c«r-
tnanrlava, mas c'inco ou scis velhos transcxuais quc e'xigianr o peclá
gio. [)e clualqucr mo(l(), (.rJl]l n1(.n()s pcrigosos rlo clur: Elisa. '['cnt
<hlbrença entre bcrt.alhur ntts cLtlçtrtltrs t]o Rio c Sào Pau/o ott nds tle
São st:mprc os rnais vclh«rs quer abusarn. Mas, na ltália, na
l4ilão c Roma?
maioria rlos casos, nãt» t:or-rscguiran'r Íàzer nacla, porqut: os hotncns
já tinhan-r o<:uparlo o csl)aço. [)ois trans quc tcntaram usar arlui na
Sirn, tcm clilêrcnça. flna cnormc rliÍ'crcnç'a. Nas calç:aclas rlc llorna
Itália os rli:torlos cluc usâ\,arn na lrr-ança firranr p.rr.rr-nà l)risi(). ou Milão, um transexllal c1uc, trab.rlha honestarncntc, scrn agrcrlir
Acrcrlito quc hojc cssas histórias scjan-r nlcn()s lr-cqiicntt:s. os r:lientes c scrn sc rlcixar cnr«rlvcr no tráÍico <lc «lrcga, nunca vai
acabal rnassacrailo no rneio tla rua, corlo acontccc no Rio c crn Sãcr

Paulo. No Brirsii, para scr assassina<lo basta urna antipatia, basta nã<r
Em tl4tttlri você tcve Ttroblemos com os trdns cspanhóis
t Í)orqltc tinha er quercir trcpar grátis con, ccrtos iniliví<luos. C)utras vczcs a l)cssoa
ratlo de crtlçado. Porle me contdr como e o rclttção cntle os trons bntsi-
i
paga crorl) a r,irla erros cometirlos pol outro trans. l,á tcnr muita
leiros e os itolittnos? E litillioso?
r iol,'nt i.r t ,1is, t'imitta1j,,.

É. C) r-r'rot'ivo ó que os clicntes cur()l)erus, scntlo muito r.iciosos,


gostanr que o trans clê sáon,. Os curopeus vêcm que os l>rasilciros Potle me contar Ltma noite llilão e Romu? Os lugares,
cle prostituição ern
se mostrâm mais, são mais espetac:ulares rlo que os trans rnilanc-
os episódios, o clima?
ses ou rontanos. Dcpois, os tralls brasilciros satisfàzen-r «r cliente
de toclos os jeitos, c:oisa qur: às vezcs os trans italianos não fàzem.
Em Milão, na via Mclchiorrc Gioia, pcrto da Estação Garibalrli,
Muitos clientcs rlizem cluc vêm conosco porquc somos mais Íêmi
parecia uma passarela, urn tlesfile. No verão, tlurava clas nove r]a

r56 I r'1
[:r ril,rrri,r l].\nr,\\ »r, Àt.rurlut,trtlLtt /Nl,\ttntzto J,ixxl,t.t t

A Prir.lcr sl

cluc ()s r:licnt.cs rontanos gostanr rlas pcsso.rs nrais sóri.rs, pclo tr-re-
noitt: ató;rs «'in<ro tla rnanhã. (]uase torlas llcár'arr()s nuAs. Eu tra-
nos firi assim clue cu etrtcnili n() ln(ru tralralho t'trtrtr l{otrra t'Mi-
lralhala tlc nrinissaia e salto alto. No inr,c'rno trabalhar,'a corn un)
lão. Nas rllas (lc Roma nunca l)rccrisci ficar nua c()n)() crn Milão.
casa('() tlc pclcs at(' o jot'lho, I)or [)aix() r'estia uma calt:inha c nà(li1
Assirn l'ncsnr() làttrrara ntais tlo qtI('cnr Milão. Nir via Flarr-rinia r:u
mais. N4uit()s trans, no inr.urno, tiravam até rrt'st-r-ro a <:alcinha r: sc
cobriirnr s<i r'orrr () cAsa('() rle peles. Ali o srri;rrcosc cra «rlrrigatório,
sri ia rluanrlo tinha cluc 1âlar conr algurlra l;icha. Eu prcllria bata-
lhar no Lur-rgoter-cre r no Ilur.
p()r(luc .r conc:orrônc:ia era Íortissinra. Chcg.rn'ros a() p()nt() (lc t()
Irn NIilão, Mrlcl'riorrc Liioia, tir.rha s('ml)rc] ur)) Er.rIr-
na via
rlas tazcrrnos srriptcrrsc. (]r-rcrn (luise sse tralralhar tinha cluc Íàzcr.
'l-inl'ra clut' [.rzr-r, rlcsm() <[c sÀon,. As noitcs rlc r,r'rào, o t'óu t-nar,tvilhoso, a t'ua 1(xla ilunli
qucm cra sória. Sobrctu<kr 1>ara os rnila-
natla. As l)css()as csta\:arr rlc fórias, llras na r,ia Mclclrior-rc Ciioia
nLrscs, (lu('t'ran'r rr-ruito rnais vicrictsos rlo cltrc ()s r()rran()s. No cluo-
nun('a l;ltà\'anl ('arr()s. Ate <lc rnatrl'rã.-Iirrlos os lrans tralrirlhirr,an't.
ticliano, st'r-rrn trans b.rtia quinzc.tLllotrl)\'('is r-rur-n.r sri noitc, c'o
Elr-r Íazia un'r.r n-rótlia rlt'«lcz ('arr()s lror noitc. I'clo nrt'rros (luillh('lr
rne('ava o lratc boca. A inr,cja. Alguóm ('()lnccavà à (lizcr (lLlc cra
tas n'ril liras n«r lrolso crarn ccrtas. Na r'poca não Íirl.rva (luas('t)a(lâ
l)()r-(lue e[a Íazi.r rlcscotrto; quc tinha que ir elnl)()ra.
(]trt'r-n tinl'ra
rlc italiano. No c'arro. clt'otr clcs, tnc nroslralarn os ttt«rttLltttt'n1os
cora{er}r nlàn(lava as invt'josas à rncr<la t'llc:rr.a. C]r-rcn'r cr;r tlilc-
rle Milã«r: l)i.rzz.r t)uotito, I'orta Vcncza, Corso But'ttos Aircs ttc.
rcntt'ia cmlrora. l)c'1>ois tinh.r os xinganrcntos c()ln ()s clicntt's; as
c1r'. As r,czt's algum trans [rrasilciro, cluc tttc «'onlrt't'ia <lo ltirasil,
rlisr:ussõcs sol',rc clucr-r'r tinha trabalha<lo rnais, solrrc qucnr tinha
nrc lc'r,ar,a l)ilra l)ass('ar. Llu aintla nào conltct'ia a h.:rr>ína (chcirava
crhegarlo a tlcz rnil <lólarcs cnr (lois «ru trôs nirsrs, Llu(nr J rluinz,',
rlt'r'cz crn rluantlo) c talvez não lirsst'n('nl rrl(srrl. s()r-í)l)írsilira.
qLt('tn.1 r'intc nril; lofirc'as sobrc clucni cra t'xpulsa, sobrc clr.rcm sc'
Est.rva r'ontcntc ('()n) () c1i.rc Íãzia. Estar,a orgulltosa tlc st't'pt'ostitu-
rlrogavl . []al.rva-se rlos c'licr"rtcs l.rabituais rla rua, <laclntles (lr.lc l)a
ta. Comigo vinham pcss()as quc, nrcsll() t'u st'ntlo cstratrgr:ira e
gavanr bcrl, «laqrrcles (luc rcs('rvararr unra noitc 1>ara chcirar r'<r
nào salrt:nrl«) ('()nvcrsàr, alrtgavanr () lne u c()rl)(), Ir)(' r.lsin\,;tt)r, I)ras
cain.r corl ()s triurs. N<>spira vcr qllcln tinha o corlto
rlcsltiarn()s
cntcnrliar-r-r rluc aclucla pnrtissão cra nr('u trorlo <le vivt'r, tlc s«rlrrc
mais bonit«r. f)iscutíarnos sobrc: qrrem tinha Íeito plástic'a, solrrc
r,ir,cr. Mas, r'ro meio <lc torlo aclut'lc, sonho, tinha scnrPrc unra alr-
qucrn tinha n.lr-n()ra(l() e (lucm não tinha. Erarn estes os assunt()s.
gústia rlt'ntrri rIo croraçrào. l)ur-antt'a noitt inli'ira ('lt ('rà r'isita<la
Ern l{oma tirrha nrenos ('()nflsã() «[o quc crn Milào. No Eur
por ttrntos, rnas tlclrois, rlc n:1:»ctrtc, tinh.r clue rctotnar o c'atlitrh<r
trabalhava sc lrcrn. A via Irlarninia cra a zona rlc nrai«rr tumulto. Eu
rlo hotcl c lic'ar f'cc'ha<la rlurantc' o ilia intciro. l-.t'a cntão quc cLt In(l
nunca ia lá. Na prirlcira noite clue trabalh«ri cm lloma, Íui para a
scntia para b;ri-ro; urna Il*+i()a joqatla lirra, quc nào làziir partc tla
avcnirla CristoÍirro C.lolornbo, cm urra csquina na rlla I'aclrc Sc
soc'icrla<lc.'1-inha quc pàssar o rli.r funto ('om ()s ()utr()s tratrs clt:n
rncria, pc'rto <la Feira rlc Rorna. Era novcmbro ilc 88. Nar'la cle:
tro rlo hotcl .-l'inha (lllc mc clistrair no clualto ató a noitc, quar-rcl<r
bate lrocas, na(la (lc Íriptaasc, nada <le c'onfirsão c()ll A polícia.
cstava pronta n()!arncntc p<rra;r rua Mr:lchiorrc Gioia, par.r.r r,ia
A polícia não rlcixava. De qualcper mo(lo, não era l)recis(), por

I59
I'E
A Ptrtrr t.r

Abruzzi para o espetáculo. Para a via Abruzzi eu ia depois das


duas cla manhã, clepois que as mulhcrcs tinham largado a calçada.
Todos me conheciam com o nomc artístico de Princesa. Alguns
milaneses riam e perguntâvam: Por que você se chama Princcsa?
É ,r-,-r.,rr., como outro qualquer Josó, um nomc qualquer cu
ri:sponclia.

r6o
o.rrurf r[) orH 050 ISaaa .l.li) ()15oP]()fl 5Z 'rurqutfl tnH
'
\r'\^ VtllrLL\( )ll, J !.\( )N \ill( ) l.l( lfJ

r lrl:-od os-lo(ltu.).)u oli)(l itl)J(l rstlit-I,\tl sllu o-t.\ll JlsJ ol)tPlluo,)u.l ()PN

r ()l) lldtcl
'it-65
J oun,rtlns otl,tt,r 'tch'.r t1r o 'il-111,
l)l()Íl trJlod i) ol()ltu 11
'-trq1nil--r'r11 t-ro1rp-4rlrcl 'ccltr tp so r
't-rl1rtor,1 troN t-r()lrl):l r:1rtl s,rlrrl (tlt,l()l olottl oP solllolol s()
'l'91/al otl:ot ttrt 'rttt.rtllr.l loJ ()lxJl tttt olrrstr odtl 1.;
l.)]tl()-l:l u.rr, ç l-r,, I, r11 L t.tr:cl
' tl-l
1

i-.tnt1tttrlJ t.)rll-l:-) tlrd'51r1r1 Jl) orltu tlÍJ


'o1tru,1 otç Jl).ll)rI)t.) lu o\-si)-t(lttll lol í)-l'\ll.)ls:l

r''ür. ,'
I '.r

'Í.

Potrebbero piacerti anche